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Artigo 28, CPP - Ementas

DOE_17-11-2021
Assunto: não cabimento de suspensão condicional do processo – ausência de requisitos subjetivos –
crime de receptação dolosa
EMENTA: CPP, ART. 28. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO (ART. 89 DA LEI N. 9.099/95).
RECEPTAÇÃO DOLOSA SIMPLES (CP, ART. 180, CAPUT). AUSÊNCIA DE REQUISITOS
SUBJETIVOS. ACENTUADA CULPABILIDADE. DESCABIMENTO DA MEDIDA.
1. O cabimento da suspensão condicional do processo não se prende, exclusivamente, a requisitos de
ordem objetiva. Além disso, como expressamente dispõe a Lei, é necessário que a “culpabilidade, os
antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias
autorizem a concessão do benefício”.
2. No caso dos autos, o grau de reprovabilidade do comportamento do réu mostrou-se acentuado,
porquanto se trata da receptação de veículo automotor, com placas falsas, numeração de chassi e motor
adulteradas, transformado em “dublê”, revelando as circunstâncias concretas que o acusado possuía
relação próxima com receptador profissional de veículos roubados.
3. Atitudes com os traços da praticada fomentam a criminalidade cotidiana, no que se refere às infrações
patrimoniais, justificando-se a não propositura do benefício.
Decisão: deixa-se de propor a suspensão condicional do processo ou de designar promotor de justiça
para fazê-lo e insiste-se na postura já adotada pelo Douto Promotor de Justiça natural”.

DOE_10-07-2020_EMENTA 2
Assunto: análise de promoção de arquivamento do inquérito policial - revisão
EMENTA: Inquérito policial instaurado para apurar disparo de arma de fogo (Lei nº 10.826/03, art. 15),
lesões corporais dolosas praticadas por policial militar que usava arma da corporação (CPM, art. 209,
caput) e ameaça (CPM, art. 223), mas não estava em serviço por ocasião do fato. Promoção de
arquivamento alicerçada na negativa de disparo pelo policial, embora haja perícia confirmatória de que a
arma havia sido disparada recentemente, assim como parte da prova oral. Pedido de remessa ao Juizado
Especial Criminal, no tocante ao crime de lesão corporal praticado contra uma das vítimas. Discordância
judicial, que culmina na aplicação do art. 28, do CPP.
SOLUÇÃO: Com a máxima vênia do Douto Promotor de Justiça, razão assiste à Magistrada, uma vez
que há laudos de exame de corpo de delito que comprovam as lesões corporais sofridas pelas vítimas
das agressões. O exame pericial da arma de fogo da Polícia Militar comprova que ela havia sido disparada
recentemente. Há laudo pericial confirmatório do estado de embriaguez do acusado, cuja conduta é
altamente reprovável, por disparar arma da corporação em lugar habitado e em suas adjacências, sem
motivo aparente, e em seguida investir contra pessoas que estavam no bar, agredindo-as e lesionando-
as e ainda ameaçando uma delas, de sorte que sua conduta despropositada poderia ter resultado em
desfecho mais grave. Embora o investigado, policial militar, não estivesse de serviço na ocasião, os fatos
devem ser submetidos ao crivo da Justiça Militar, uma vez que as condutas delitivas estão intrinsecamente
ligadas à sua função pública, pois ele agiu fazendo uso de arma de fogo da corporação. Embora superada
a Súmula 47 do STJ pela Lei nº 9.299/96, que revogou a alínea f do art. 9º, II, do Código Penal Militar, o
Superior Tribunal de Justiça tem considerado em vários precedentes mais recentes que, em tais situações,
em que haja uso de armamento da corporação, ainda que o policial militar não esteja em serviço, a
competência é da Justiça Militar (HC 115.053/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado
em 26/10/2010, DJe 22/11/2010; CC 131.306/RS, Rel. Ministra MARILZA MAYNARD
(DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/SE), TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 26/02/2014, DJe
13/03/2014). Restituam-se os autos ao Juizado Especial Criminal, para que proceda ao seu
encaminhamento à Justiça Militar, onde o Promotor de Justiça ao qual forem distribuídos atuará como
longa manus do Procurador-Geral de Justiça, oferecendo denúncia e prosseguindo nos demais termos da
ação penal, até final decisão.
1. O acusado dirigiu-se ao local, com a arma da Polícia Militar do Estado de São Paulo, disparou-a
defronte do bar, ali ingressou, identificando-se falsamente como “policial civil”, indagando acerca de
disparos anteriores que ali teriam ocorrido. Em seguida, agrediu duas pessoas, ferindo-as, com a arma, e
ameaçou por gestos o dono do bar, sempre de arma em punho. Estava embriagado, o que se provou
pericialmente. A arma foi periciada, constatados vestígios de disparo recente. Parte da prova oral confirma
isso. O investigado nega ter disparado, embora admita ter agredido as pessoas que ali estavam.
2. O disparo de arma de fogo está previsto no art. 15, da Lei nº 10.826/03, mas os delitos de lesão
corporal dolosa simples e ameaça têm figuras próprias no CPM (arts. 209 e 223). Aquele é considerado
crime militar impróprio, por extensão.
3. O investigado praticou os delitos quando não estava de serviço, mas se valendo de arma da
corporação e agindo essencialmente em razão de sua função pública. Embora superada a Súmula 47 do
STJ, por força da Lei nº 9.299/96, que revogou a alínea f do art. 9º, II, do CPM, o STJ, em precedentes
mais recentes, tem decidido no sentido de que em tais situações, em que o policial militar comete delitos,
não estando em serviço, mas valendo-se de armamento da corporação, a competência é da Justiça
militar.
4. Restituição dos autos ao Juizado Especial Criminal para que proceda ao seu encaminhamento à
Justiça Militar.
O Promotor de Justiça ao qual forem os autos distribuídos atuará como longas manus do Procurador-
Geral de Justiça, oferecendo denúncia e prosseguindo nos demais termos da ação penal, até final decisão.

DOE_10-07-2020_EMENTA 3
Assunto: análise de promoção de arquivamento do inquérito policial - confirmação
EMENTA: Inquérito policial instaurado com a finalidade de apurar crime de estelionato, em sua
modalidade fundamental (CP, art. 171, caput). Promoção de arquivamento baseada na ausência de
provas de autoria do crime. Discordância judicial, que culmina na aplicação do disposto no art. 28, do
CPP.
SOLUÇÃO: Razão assiste à Douta Promotora de Justiça, com a máxima vênia da MMª Juíza do DIPO 3,
uma vez que os elementos reunidos no caderno investigatório não se traduzem em indícios mínimos de
autoria, que emprestem justa causa à persecução criminal em juízo. Insiste-se, portanto, na promoção de
arquivamento, que se baseou em razoável valoração dos elementos de convencimento contidos nos
autos, com as ressalvas do art. 18, do CPP.
1. O ofendido, pela internet, interessou-se por empréstimo pessoal. Em contato com os autores do
anúncio, estes, mediante fraude, empregando ardis, o convenceram de que, para obtenção do crédito, ele
precisaria efetuar dois depósitos bancários, no valor de R$ 500,00 cada, para determinada conta bancária.
2. O correntista, pessoa que não tem registro de antecedentes criminais, foi ouvido e narrou que mantinha
aquela conta bancária exclusivamente para recebimento de valores atinentes ao PIS e ao FGTS.
Desconhecia os depósitos e negou por completo envolvimento no esquema do golpe do falso empréstimo.
3. Esse relato não é despropositado ou de todo inverossímil, sabido que é comum estelionatários valerem-
se de contas de outras pessoas, por vezes movimentadas sem que tais pessoas disso tenham
conhecimento, para que não sejam eles, autores da fraude, identificados e alcançados pela investigação
criminal.
4. As diligências alvitradas pela Douta Magistrada não modificarão o quadro de absoluta ausência de
provas de autoria do fato. Ademais, com o devido respeito à MMª Juíza, cumpre lembrar que o art. 3º-A,
do CPP, que está com sua eficácia suspensa por força de liminar deferida pelo Ministro Luiz Fux, no bojo
das ADIs 6298, 6299, 6300, 6305, dispõe: O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa
do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação.
5. Ante o exposto, com a renovada vênia da MMª Juíza, insiste-se na promoção de arquivamento do
inquérito policial, com observância das ressalvas do art. 18, do CPP.

DOE_04-07-2020
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, ART. 181, §2.º
Assunto: revisão de remissão, como forma de exclusão do processo, em face da discordância judicial
quanto à aplicação de medida consistente no pagamento de dois salários mínios ao Fundo Municipal de
Saúde, para priorização à aquisição de materiais e equipamentos médico-hospitalares necessários ao
combate da pandemia da covid-19 – manutenção da proposta ministerial
EMENTA: Adolescente que incorre em ato infracional análogo ao art. 309, do Código de Trânsito
Brasileiro, ao pilotar motocicleta sem possuir habilitação legal, na via pública, evadindo-se à abordagem
policial e empreendendo manobras temerárias, rebaixando o nível de segurança no trânsito, gerando
perigo de dano. Promotor de justiça em exercício na vara da Infância e Juventude de Cajamar propõe a
remissão, como forma de exclusão do processo, com a inclusão de prestação de natureza social, mediante
pagamento de 2 salários mínimos ao Fundo Municipal de Saúde, priorizando-se a aquisição de
equipamentos médico-hospitalares, materiais e insumos necessários ao combate à pandemia da covid
19, invocando o aviso 121/2020 – PGJ – CGMP. A Magistrada discorda da medida proposta e afirma que
seu cabimento estaria limitado aos procedimentos de natureza criminal e em acordos de não persecução
cível, mas não em sede de procedimento para apuração de ato infracional, aplicando o art. 181, § 2º, do
ECA.
SOLUÇÃO: Remessa conhecida no sentido de que assiste razão ao douto Promotor de Justiça, com a
máxima vênia da MMª juíza, uma vez que muito embora o aviso 121/2020 – PGJ - CGMP não se refira
expressamente ao Estatuto da Criança e do Adolescente, a medida proposta atende ao princípio da
proporcionalidade ou da razoabilidade. O adolescente tem potencial econômico para arcar com a
prestação proposta, de suma importância considerando o período excepcional que vivemos, pela situação
de calamidade pública oficialmente declarada por causa da pandemia causada pelo corona vírus. A
medida tem ainda efeito pedagógico, pois faz com que o adolescente ofereça benefício à coletividade, por
conta do ato infracional por ele praticado, que causou situação de perigo concreto ao trânsito, a outros
condutores e transeuntes em geral, por ensejar perseguição policial. O art. 116 do ECA é permeado por
nítida preocupação de reparação patrimonial, mas o parágrafo único contém ressalva no sentido de que,
não sendo possível tal reparação (no caso concreto, não houve dano patrimonial propriamente dito),
poderá ser aplicada outra medida adequada. Ou seja, a medida proposta não se reveste de ilegalidade,
arbitrariedade ou abuso de poder, é suficiente e necessária diante do ato infracional praticado e atende
ao princípio da proporcionalidade. Por isso, insiste-se na remissão como forma de exclusão do processo,
com a inclusão de prestação social na forma de pagamento de 2 salários mínimos ao Fundo Municipal de
Saúde, priorizando-se a aquisição de insumos e materiais médico-hospitalares necessários ao combate à
pandemia da covid 19, com a renovada vênia da MMª Juíza.

DOE_30-06-2020
Assunto: análise de promoção de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO DESTINADO À APURAÇÃO DE CRIME DE
DESACATO (CP, ART. 331). INVESTIGADO DESCONTENTE COM A ATUAÇÃO DE GUARDAS CIVIS
MUNICIPAIS, QUE REALIZAVAM TRABALHO DE FISCALIZAÇÃO E AUTUAÇÃO DE CONDUTORES
POR ESTACIONAMENTO IRREGULAR DE VEÍCULOS. DIRIGE-SE AOS GUARDAS CIVIS
MUNICIPAIS, DIZENDO QUE SÃO TODOS LADRÕES, CORRUPTOS, QUE ACEITAM PROPINA, QUE
RECEBEM PRÊMIO E COMISSÃO PELAS MULTAS APLICADAS, CHAMANDO UM DELES DE (XXX) E
DE (XXX) AO VER QUE HAVIA SIDO AUTUADO, FAZENDO AINDA MENÇÃO DE AGREDIR O AGENTE
PÚBLICO, NO QUE FOI CONTIDO PELOS DEMAIS GUARDAS CIVIS MUNICIPAIS QUE ESTAVAM NO
LOCAL. PROMOÇÃO DE ARQUIVAMENTO BASEADA EM AUSÊNCIA DE DOLO, SUSTENTANDO
QUE PALAVRAS MAL-EDUCADAS, EM MOMENTO DE EXALTAÇÃO, NÃO TRADUZEM O ÂNIMO
SUBJETIVO NECESSÁRIO À TIPIFICAÇÃO DO DELITO DO ART. 331 DO CP. DISCORDÂNCIA
JUDICIAL, QUE CULMINA NA APLICAÇÃO DO ART. 28, DO CPP.
SOLUÇÃO: COM RAZÃO A ILUSTRE MAGISTRADA, COM A MÁXIMA VÊNIA DO DOUTO PROMOTOR
DE JUSTIÇA. HÁ PROVA DE MATERIALIDADE E INDÍCIOS DE AUTORIA DO DELITO DO ART. 331,
DO CP, TENDO O INVESTIGADO AGIDO COM ÂNIMO DE MENOSPREZAR E DIMINUIR OS
SERVIDORES PÚBLICOS NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO E EM RAZÃO DELA. LIBERDADE DE
EXPRESSÃO OU MESMO EXALTAÇÃO DE ÂNIMOS NÃO AUTORIZAM O DESACATO, CRIME QUE
SE HARMONIZA COM O DISPOSTO NA CONVENÇÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS
(STJ – PRECEDENTES). ANTE O EXPOSTO, RESPEITADO O PRINCÍPIO DA INDEPENDÊNCIA
FUNCIONAL, DESIGNA-SE OUTRO PROMOTOR DE JUSTIÇA PARA OFICIAR NOS AUTOS E
DILIGENCIAR NO SENTIDO DE VERIFICAR A POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO DISPOSTO NO
ART. 76, DA LEI Nº 9.099/95, OU PARA PROVIDENCIAR AS OITIVAS DOS AGENTES PÚBLICOS E
DO INVESTIGADO E PARA OFERECER DENÚNCIA E PROSSEGUIR NOS DEMAIS TERMOS DA
AÇÃO PENAL, ATÉ FINAL DECISÃO, CASO NÃO SEJA CABÍVEL, NÃO SEJA ACEITA OU NÃO SEJA
HOMOLOGADA EVENTUAL PROPOSTA DE TRANSAÇÃO PENAL. EXPEÇA-SE PORTARIA,
DESIGNANDO-SE O SUBSTITUTO AUTOMÁTICO, FACULTADA A COMPENSAÇÃO PREVISTA NAS
RESOLUÇÕES Nº 302/2003 E 488/2006 (CSMP, PGJ, CGMP).

DOE_27-06-2020_EMENTA 1
Assunto: arquivamento indireto (controvérsia acerca da capitulação jurídica do fato: art.140, caput, do
Código Penal, ou art. 20, caput, da Lei n. 7.716/1989)
EMENTA: INQUÉRITO POLICIAL EM PRINCÍPIO INSTAURADO VISANDO APURAR CRIME DE
INJÚRIA NA FORMA SIMPLES. PROMOTOR DE JUSTIÇA EM EXERCÍCIO NO JUÍZO CRIMINAL
COMUM, VISLUMBRANDO O DELITO DO ART. 140, CAPUT, DO CP, REQUER A REMESSA DOS
AUTOS AO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL. A MMª JUÍZA DISCORDA DA REMESSA E ENCAMINHA
A QUESTÃO À PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA, POR ENTENDER QUE O CRIME A
CONSIDERAR É O DO ART. 20, CAPUT, DA LEI N. 7.716/89, NOS TERMOS DA DECISÃO PROFERIDA
PELO STF NO JULGAMENTO DA ADO 26 E DO MI 4733.
SOLUÇÃO: CUIDA-SE DE HIPÓTESE DE ARQUIVAMENTO INDIRETO, QUE SE VERIFICA QUANDO
O MEMBRO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DECLINA DA ATRIBUIÇÃO E REQUER A REMESSA DO
EXPEDIENTE A OUTRO JUÍZO QUE CONSIDERA ENTÃO COMPETENTE E O JUIZ DISCORDA DA
POSTULAÇÃO, MAS, PELO PRINCÍPIO DA INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL, PRECISA APLICAR O
DISPOSTO NO ART. 28, DO CPP, POR ANALOGIA, PARA QUE O PROCURADOR GERAL DE JUSTIÇA
DECIDA QUAL A OPINIÃO DELITIVA A SER CONSIDERADA E, VIA DE CONSEQUÊNCIA, A QUEM
CABE A ATRIBUIÇÃO PARA OFICIAR NOS AUTOS. REMESSA CONHECIDA E DIRIMIDA NO
SENTIDO DE QUE ASSISTE RAZÃO À MAGISTRADA, COM A MÁXIMA VÊNIA DO DOUTO
PROMOTOR DE JUSTIÇA, POR HAVER ELEMENTOS NOS AUTOS QUE APONTAM PARA CONDUTA
PREVISTA NA LEI N. 7.716/89, NOS TERMOS DO JULGAMENTO PROFERIDO PELO STF NA ADO 26
E NO MI 4733.
1. No caso concreto, há notícia de que o investigado dirigiu-se à vítima, que é transexual, e lhe
disse que ela e outros travestis jamais seriam iguais ou melhores que as mulheres e que ela nunca seria
nada.
2. A conduta, pelo teor da ofensa propalada, extrapola os limites do mero crime de injúria, mesmo
qualificada pelo preconceito pela orientação sexual (CP, art. 140, § 3º), crime este que tem vítima certa e
determinada.
3. O investigado, com seu comportamento, ofendeu não apenas a vítima, mas uma gama
indeterminada de pessoas que sejam transexuais. Daí, nos termos do emblemático julgamento proferido
pelo Supremo Tribunal Federal, ao julgar a ADO 26 e o MI 4733, enquanto não houver norma penal em
sentido estrito, criminalizando comportamentos como a transfobia e a homofobia, aplica-se a Lei n.
7.716/89, para alcançar tais condutas.
4. O crime de racismo é inafiançável e imprescritível (CF, art. 5º, XLII). Esse tratamento mais
rigoroso decorre de um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, que é o princípio da dignidade
humana (CF, art. 1º, III). Advém ainda de um dos objetivos fundamentais da República que visa dar
concretude àquele princípio: promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade
e quaisquer outras formas de discriminação (CF, art. 3º, IV).
5. As pessoas transgênero já tiveram reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal, em 2018, o
direito fundamental subjetivo à modificação do nome e do prenome em seu registro civil, assim como a
alteração de sua classificação de gênero, independentemente de se submeterem à cirurgia para mudança
de sexo. Nesse sentido, julgamento proferido no RE 670.422, Relator o Exmo. Ministro Dias Toffolli, j.
15.08.2018, e o Tema 761 – Possibilidade de alteração de gênero no assento de registro civil de
transexual, mesmo sem a realização de procedimento cirúrgico de redesignação de sexo.
6. Com a máxima vênia do Douto Promotor de Justiça, considerar o fato versado nos autos injúria
simples (CP, art. 140, caput) implicaria desconsiderar a pioneira decisão proferida pelo Supremo Tribunal
Federal no julgamento proferido na ADO 26 e no MI 4733. E esta Procuradoria-Geral de Justiça tem –
tanto quanto possível – como parâmetro de atuação, na formulação das políticas criminais do Ministério
Público de São Paulo, as decisões proferidas pelos Tribunais Superiores (STF e STJ).
7. Além disso, o Ministério Público é Instituição que tem como um de seus deveres institucionais a
defesa intransigente dos direitos humanos. Isso implica combater toda forma de discriminação das
pessoas, por motivos de raça, etnia, região de origem, religião, orientação sexual, com base nos
instrumentos constantes do ordenamento jurídico vigente e também com base no precedente vinculante
do Supremo Tribunal Federal, ao invocar a aplicação da Lei n. 7.716/89 para condutas que impliquem
transfobia e outros comportamentos que violem os direitos das pessoas transgênero, enquanto não houver
norma penal em sentido estrito acerca do tema.
8. Ante o exposto, considerando que o caso dos autos encerra, em tese, delito a ser perquirido nos
termos da Lei n. 7.716/89, designa-se outro Promotor de Justiça para funcionar nestes autos e para
diligenciar, visando reunir mais provas para instrumentalizar eventual propositura de ação penal,
cumprindo-lhe, ao depois, atuar com independência funcional em face dos elementos de convencimento
reunidos nos autos.
9. Recomenda-se ao Douto Promotor de Justiça designado que, nos termos da orientação conjunta
expedida pela PGJ/CGMP, não proponha acordo de não persecução penal no caso concreto, por se tratar
de crime de ódio, imprescritível e inafiançável, nos termos do art. 5º, XLII, da Constituição Federal.
10. Expeça-se portaria, designando-se o Substituto Automático, facultada a compensação em
conformidade com os Atos Normativos nº 302/2003 e 488/2006 (PGJ/CGMP/CSMP).

DOE_27-06-2020_EMENTA 2
Assunto: revisão de pedido de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: FURTO SIMPLES CONSUMADO EM MINIMERCADO. ACUSADA PRESA EM FLAGRANTE
DELITO (CP, ART. 155, CAPUT). VALOR DOS BENS POUCO ACIMA DE 10% DO SALÁRIO MÍNIMO.
ACUSADA REINCIDENTE E QUE OSTENTA CONDENAÇÃO ANTERIOR POR LATROCÍNIO (CP,
ART. 157, § 3º). PROMOÇÃO DE ARQUIVAMENTO BASEADA NO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
DISCORDÂNCIA JUDICIAL, QUE CULMINA NA APLICAÇÃO DO ART. 28, DO CPP.
SOLUÇÃO: COM A MÁXIMA VÊNIA DO DOUTO PROMOTOR DE JUSTIÇA, O PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA NÃO PODE SER ADMITIDO NO CASO CONCRETO. O VALOR DOS BENS
ULTRAPASSA O LIMITE DE 10% DO SALÁRIO MÍNIMO, PRECONIZADO PELOS TRIBUNAIS
SUPERIORES. ALÉM DISSO, A ACUSADA É REINCIDENTE E TEM CONDENAÇÃO ANTERIOR
DEFINITIVA POR LATROCÍNIO CONSUMADO (CP, ART. 157, § 3º). ISSO FAZ COM QUE NÃO
ESTEJAM PRESENTES OS REQUISITOS ELENCADOS PELA SUPREMA CORTE PARA QUE SE
APLIQUE, AO CASO CONCRETO, O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA (HC n.º 94.931, RELATORA
MINISTRA ELLEN GRACIE). ANTE O EXPOSTO, DESIGNA-SE OUTRO PROMOTOR DE JUSTIÇA
PARA OFERECER DENÚNCIA, INTERPOR RECURSO ADEQUADO NA HIPÓTESE DE SUA
REJEIÇÃO, E PARA PROSSEGUIR NOS DEMAIS TERMOS DA AÇÃO PENAL, ATÉ FINAL DECISÃO,
FACULTANDO-SE AO ILUSTRE PROMOTOR DE JUSTIÇA DESIGNADO VALER-SE DA
COMPENSAÇÃO PREVISTA EM CONFORMIDADE COM O DISPOSTO NOS ATOS NORMATIVOS
302/2003 E 488/2006 (CSMP, PGJ, CGMP). EXPEÇA-SE PORTARIA, DESIGNANDO-SE O
SUBSTITUTO AUTOMÁTICO.

DOE_10-06-2020_EMENTA 1
Assunto: revisão de arquivamento de inquérito policial – confirmação do arquivamento
EMENTA: Inquérito policial destinado à apuração de suposto crime contra a economia popular, previsto
no art. 2º, IX, da Lei nº 1.521/51 (pirâmide financeira). Esta Procuradoria-Geral de Justiça inicialmente
resolveu conflito negativo de atribuição, no sentido de que o procedimento deveria tramitar perante o juízo
criminal comum, não na vara do Juizado Especial Criminal, pela complexidade da matéria, que
provavelmente demandaria prova pericial, entre outras (art. 77, § 2º, da Lei 9.099/95). No juízo criminal
comum, a Douta Promotora de Justiça fez razoável valoração dos elementos de convencimento contidos
no caderno investigatório, ponderando que o caso não comporta a necessidade de prova pericial, pois as
provas reunidas no inquérito policial demonstram que se tratava de um sistema de parceria para fins
comerciais, sem a necessidade de pagamento de valores por ocasião do recrutamento das pessoas
interessadas, de modo que o parceiro contratado auferiria comissões, de acordo com seu desempenho.
Discordância judicial, aplicando o art. 28, do CPP, baseada na decisão proferida anteriormente no conflito
negativo de atribuição, decidido por esta Procuradoria-Geral, considerando que o caso demandaria
aprofundamento da investigação, prova pericial etc.
SOLUÇÃO: Considerando que a Douta Promotora natural valorou de forma razoável os elementos de
prova, insiste-se na promoção de arquivamento, com a devida vênia da Culta Magistrada, com
observância das ressalvas do art. 18, do CPP, ante a manifesta ausência de justa causa para que a
persecução criminal prossiga visando apurar crime contra a economia popular.

MP 19.757/20
Autos n.º 0006689-85.2017.8.26.0577 – MM. Juízo da 3.ª Vara Criminal da Comarca de São José dos
Campos
Réus: (...)
Assunto: recusa de formulação de acordo de não persecução penal - manutenção
EMENTA: Ação penal proposta por homicídio culposo (CP, art. 121, § 3º), em face do manuseio
imprudente e disparo de arma de fogo, que atingiu a cabeça de uma jovem, acarretando-lhe a morte. Os
acusados se evadiram do local, levando consigo a arma de fogo e se omitiram, deixando de prestar
socorro à vítima. Recusa de formulação do acordo de não persecução penal previsto no art. 28-A, do CPP,
pelo Ministério Público, baseada na gravidade concreta do fato, em suas circunstâncias, e na
personalidade distorcida revelada pelos acusados, que faziam uso de bebida alcoólica ao mesmo tempo
em que se permitiam, com manifesta imprudência, o manuseio de arma de fogo cujo disparo ceifou a vida
de uma jovem. Além disso, se evadiram e não prestaram socorro à vítima. O acordo, segundo o Douto
Promotor de Justiça, não seria suficiente e necessário para repressão e prevenção do fato criminoso.
Encaminhamento à instância revisora do Ministério Público, nos termos do art. 28-A, § 14, do
CPP. SOLUÇÃO: Manutenção da recusa de proposta do acordo previsto no art. 28-A, do Código de
Processo Penal, pois a avença, no caso concreto, não seria suficiente e necessária para repressão e
prevenção do fato, em que se evidencia a culpabilidade exacerbada dos agentes, que faziam uso de
bebida alcoólica e ao mesmo tempo se permitiam manusear imprudentemente arma de fogo carregada,
cujo disparo atingiu de forma letal vítima jovem. Além disso, os acusados se evadiram do local do fato,
levando consigo a arma, deixando de prestar socorro à ofendida. Por tudo isso, insiste-se na recusa de
formulação do acordo de não persecução penal, restituindo-se os autos ao E. Juízo de origem, para
prosseguimento da ação penal.

MP 19.137/20
Autos n.º 1501061-04.2019.8.26.0599 – MM. Juízo da 2.ª Vara Criminal da Comarca de Piracicaba
Réu: (...)
Assunto: recusa de formulação de acordo de não persecução penal
Ementa: Ação penal em curso por violação ao art. 306, do Código de Trânsito Brasileiro (Lei nº 9.503/97).
Acusado que, beneficiado inicialmente pela suspensão condicional do processo, descumpre as condições
e dá causa à revogação do benefício nos termos do art. 89, § 3º, da Lei nº 9.099/95. Pleito da Defensoria
Pública no sentido de que o Ministério Público proponha o acordo de não persecução penal. Recusa
ministerial motivada, baseada no desinteresse do acusado pela Justiça Negocial, o que se evidencia pelo
descumprimento das condições da suspensão condicional do processo, dando ensejo à revogação do
benefício. Encaminhamento à instância revisora do Ministério Público, nos termos do art. 28-A, § 14, do
CPP. Solução: manutenção da recusa ministerial, devidamente fundamentada, por ausência de requisitos
subjetivos. Cumpre observar, ademais, que, se o descumprimento do acordo de não persecução penal
pode ser utilizado pelo Ministério Público como fundamento para o não oferecimento da suspensão
condicional do processo (CPP, art. 28-A, § 11), forçoso convir que o descumprimento da suspensão
condicional do processo é indicativo da ausência de requisito subjetivo para o acordo de não persecução
penal.

MP 18.870/20
Autos n.º 1504814-30.2020.8.26.0050 – MM. Juízo do DIPO 4 (Comarca da Capital)
Indiciado: (...)
Assunto: revisão de pedido de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: Furto simples consumado de produtos avaliados em R$ 60,89, no interior de supermercado.
Materialidade e autoria demonstradas. Acusado confesso, primário. A Douta Promotora de Justiça
promoveu o arquivamento da investigação criminal, sustentando que estão presentes os requisitos para
aplicação, ao caso concreto, do princípio da insignificância. Houve discordância judicial, com aplicação do
disposto no art. 28, do CPP. SOLUÇÃO: Com a máxima vênia da MMª Juíza, insiste-se na promoção de
arquivamento: o valor dos bens subtraídos é inferior a 10% do salário mínimo vigente; o acusado é primário
e confesso; os bens subtraídos foram recuperados de pronto e restituídos ao estabelecimento comercial,
que não suportou prejuízo; estão presentes, com efeito, os requisitos elencados pelo Supremo Tribunal
Federal, para que se aplique, ao caso concreto, excepcionalmente, o princípio da insignificância, a saber:
a inexpressividade da lesão ao bem jurídico; a ausência de periculosidade social da ação; a falta de
reprovabilidade da conduta; a mínima ofensividade do comportamento do agente (cf. HC n. 94.931, rel.
Min. Ellen Gracie). Daí, correta a promoção de arquivamento, na qual insiste-se.

MP 12.740/20
Autos n.º 1533016-51.2019.8.26.0050 – MM. Juízo do DIPO 4 (Comarca da Capital)
Investigado: (...)
Vítima: (...)
Assunto: revisão de pedido de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28, “CAPUT”. FURTO QUALIFICADO. AGENTES QUE SE VALERAM DE
DESTREZA E RETIRARAM O ENVELOPE DE TERMINAL DE AUTOATENDIMENTO, SUBTRAINDO R$
120,00 (CENTO E VINTE REAIS) DO INTERIOR DESTE. INVESTIGADO RECONHECIDO, APÓS OS
FATOS, POR AGENTE DE SEGURANÇA DO BANCO, COM BASE EM IMAGENS DAS CÂMERAS DE
SEGURANÇA. IMAGENS, PORÉM, QUE NÃO EXIBEM, EM MOMENTO ALGUM, A FACE DOS
FURTADORES, QUE TRAJAVAM BONÉ. ELEMENTO FRÁGIL PARA EMBASAR A PERSECUÇÃO
PENAL EM JUÍZO. ACUSAÇÃO QUE DEVE SER EXERCIDA COM LASTRO MÍNIMO. ARQUIVAMENTO
CONFIRMADO.
Cuida-se de inquérito policial instaurado para apurar crime de furto qualificado (art. 155, §4.º, inciso II e
IV, do Código Penal) cometido por sujeitos não identificados em face do BANCO SANTANDER S.A.
Segundo se apurou, dois indivíduos, fazendo uso de um objeto não identificado, subtraíram, para si, R$
120,00 (cento e vinte reais) em dinheiro, de um dos terminais de autoatendimento de uma agência da
instituição. Os agentes, portanto, valendo-se de destreza, consistente em fazer uso de um aparato
habilmente confeccionado para retirar os envelopes dos terminais de autoatendimento, o empregaram e
conseguiram subtrair o numerário.
No curso das investigações, a testemunha, analista de segurança do Banco, declarou que, através de
imagens, reconheceu o investigado como um dos autores do fato. No laudo pericial acostado, porém, não
foi possível detectar a imagem do agente, na cena do crime, de modo a confirmar se se cuida do
investigado. O suspeito negou os fatos, afirmando ser correntista do banco, mas declarou que não é a
pessoa retratada nas imagens.
Concluídas as providências inquisitivas, a Douta Promotora de Justiça requereu o arquivamento da
investigação, afirmando que são frágeis os indícios de autoria, tendo em vista que as imagens capturadas
não exibem o rosto da pessoa responsável pelo crime, impedindo o reconhecimento do investigado como
um dos autores do fato. O MM. Juiz, entretanto, discordou do pleito, por considerar bancária que as
declarações do funcionário da agência se mostrariam suficientes para a propositura da ação penal, motivo
pelo qual aplicou à espécie o art. 28 do Código de Processo Penal e remeteu o expediente a esta Chefia
Institucional.
A razão se encontra com a Douta Promotora de Justiça, com a devida vênia do Digníssimo Magistrado.
Isto porque os indícios de autoria se fundamentam exclusivamente nas declarações da testemunha,
analista de segurança do Banco, o qual disse ter reconhecido o investigado através de imagens. Ocorre,
entretanto, que tais imagens que lhe serviram de fonte encontram-se nos autos e estas, em momento
algum, exibem o rosto dos furtadores, de maneira que se revelaria temerária a propositura de uma ação
penal com base nesse único e isolado elemento informativo.
Solução: insiste-se no arquivamento requerido, com a ressalva do art. 18 do Código de Processo Penal.

MP 9.570/20
Autos n.º 1515788-63.2019.8.26.0050 – MM. Juízo do DIPO 4 (Comarca da Capital)
Investigado: (...)
Assunto: revisão de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. APROPRIAÇÃO INDÉBITA MAJORADA (CP, ART. 168, §1.º, III). PEDIDO DE
ARQUIVAMENTO FUNDADO NA EXCLUSÃO DO CARÁTER CRIMINOSO DO FATO EM RAZÃO DA
COMPOSIÇÃO CIVIL CELEBRADA ENTRE A INVESTIGADA E A VÍTIMA. HIPÓTESE EM QUE A EX-
FUNCIONÁRIA DA EMPRESA, MEDIANTE ACESSO ELETRÔNICO À CONTA BANCÁRIA E MEDIANTE
USO DO RESPECTIVO CARTÃO, REALIZOU DIVERSAS TRANSFERÊNCIAS E SAQUES, NUM
PERÍODO SUPERIOR A UM ANO. FATO QUE CONSTITUI, EM TESE, FURTO QUALIFICADO PELO
ABUSO DE CONFIANÇA (CP, ART. 155, §4.º, II). CONTINUIDADE DELITIVA (CP, ART. 71, “CAPUT”).
O presente inquérito policial foi instaurado para apurar a conduta da investigada, a quem se imputou o
crime de apropriação indébita majorada (CP, art. 168, §1.º, III), praticado em face de empresa onde
trabalhou. Segundo a representante legal da vítima, ficou apurado por meio do exame dos extratos
bancários da empresa, que a ex-funcionária, no período de dezembro de 2017 a março de 2019, efetuou
diversas transações bancárias, como saques e transferências, retirando da conta corrente da pessoa
jurídica diversos valores monetários em seu proveito. De acordo com o cálculo realizado pela empresa, o
montante desviado corresponderia a R$ 58.686,46 (cinquenta e oito mil, seiscentos e oitenta e seis reais
e quarenta e seis centavos). A investigada, após ser descoberta, celebrou acordo com a pessoa jurídica,
assinou um termo de confissão de dívida no valor de R$ 44.215,23 (quarenta e quatro mil, duzentos e
quinze reais e vinte e três centavos), tendo quitado parte desse montante (R$ 30.500,00 – trinta mil e
quinhentos reais). Ao ser interrogada, BEATRIZ confessou os fatos.
O Douto Promotor de Justiça, depois de concluídas as providências de polícia judiciária, requereu o
arquivamento da investigação, aduzindo que a celebração do acordo de composição civil afastaria o
caráter criminoso do fato.
O MM. Juiz, contudo, indeferiu o pleito ministerial e enviou o procedimento a esta Procuradoria-Geral de
Justiça, com fulcro no art. 28 do Código de Processo Penal.
Deve-se acentuar, de início, que a capitulação jurídica efetuada, no sentido de se tratar de apropriação
indébita majorada, não reflete com fidelidade os elementos de informação trazidos à tona no curso da
investigação policial. Isto porque a investigada não detinha a posse legítima dos valores depositados na
conta corrente da empresa. Em verdade, possuía acesso à conta bancária, tendo domínio sobre os dados
necessários para realizar a movimentação, mas jamais em seu benefício pessoal. Do mesmo modo,
sequer poderia utilizar os cartões para saques como o fez, pois, conforme ela mesma admitiu, não ficava
na posse deste, que deveriam permanecer no interior da empresa. Houve, em tese, furto qualificado pelo
abuso de confiança (Código Penal, art. 155, §4.º, inc. II), praticado em continuidade delitiva (art. 71, caput).
Existiria apropriação indébita se a increpada detivesse a posse desvigiada dos valores, e, posteriormente,
traindo a confiança depositada, agisse com animus rem sibi habendi.
De todo modo, independentemente do crime patrimonial cometido, a celebração de composição civil, que
sequer foi quitada integralmente, não tem o condão de excluir a natureza criminosa do fato. Seria como
atribuir à reparação do dano a eficácia de, retroativamente, afastar o dolo da conduta. De acordo com o
Código Penal, eventual ressarcimento dos danos (se realizado na integralidade), não constitui sequer
causa extintiva da punibilidade, senão possível causa obrigatória de redução de pena, em face do
“arrependimento posterior” (art. 16).
Sob outro ângulo, se parece ao Douto Representante do Ministério Público inadequada, in casu, a
propositura da ação penal, a legislação coloca à sua disposição uma medida específica: o acordo de não
persecução penal, previsto no art. 28-A do Código de Processo Penal. Este configuraria, sem dúvida, um
caminho dotado de maior eficácia para repressão e prevenção do crime.
Solução: designa-se outro promotor de justiça para oferecer denúncia ou avaliar o cabimento do acordo
de não persecução penal, prosseguindo no feito em seus ulteriores termos.

MP 7.846/2020
Autos n.º 1500752-92.2020.8.26.0228 – MM. Juízo da 27.ª Vara Criminal Foro Central da Barra Funda
(Comarca da Capital)
Réu: (...)
Assunto: recusa de formulação de acordo de não persecução penal
EMENTA: CPP, ARTS. 28, “CAPUT”, E 28-A. REVISÃO DE RECUSA DE ACORDO DE NÃO
PERSECUÇÃO PENAL. DENÚNCIA QUE IMPUTA AO AGENTE CRIME DE TRÁFICO NA MODALIDADE
FUNDAMENTAL (ART. 33, “CAPUT”, DA LEI N. 11.343/06). AUSÊNCIA DE CONFISSÃO DO
INVESTIGADO, QUE SE MANTEVE EM SILÊNCIO NO AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE. RECUSA
DEVIDAMENTE JUSTIFICADA NOS AUTOS. RATIFICAÇÃO DA POSTURA MINISTERIAL. ACORDO
DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL DESCABIDO.
Cuida-se de processo-crime imputando ao acusado o crime do art. 33, caput, da Lei n.º 11.343/2006.
Segundo se apurou, no dia 09 de janeiro de 2020, por volta das 10 horas, na Rua Arquiteto Professor
Chaves, n.º 10, Cidade Tiradentes, nesta Capital, o agente trazia consigo, para fins de entrega ao
consumo de terceiros, 70 (setenta) porções de maconha, sem autorização e em desacordo com a
determinação legal. Os policiais civis receberam notícia anônima sobre o tráfico de drogas no local, onde
já havia sido realizada prisão em flagrante também pela mercancia ilícita, fatos registrados no boletim de
ocorrência 162/2020. Assim, diante das circunstâncias, os servidores foram até o local, avistando o
denunciado na companhia de outros dois indivíduos e praticando o comércio de drogas.
O Douto Promotor de Justiça ofereceu a exordial, tendo a MM. Juíza, antes do recebimento da denúncia,
o instado a se manifestar sobre a viabilidade de oferta de acordo de não persecução penal, considerando
a recente entrada em vigor da Lei n.º 13.964/2019, que inseriu o art. 28-A ao Código de Processo Penal.
O Ilustre Representante do Ministério Público, contudo, afastou a possibilidade de incidência do instituto
apresentando diversos fundamentos. A MM. Juíza, não obstante, discordou da recusa e, com fundamento
no art. 28-A, §14, do Código de Processo Penal, determinou a remessa dos autos a esta Procuradoria-
Geral de Justiça.
É preciso sublinhar, de início, na esteira do Enunciado n.º 21, PGJ – CGMP – Lei n.º 13.964/19, que “a
proposta de acordo de não persecução penal tem natureza de instrumento de política criminal e sua
avaliação é discricionária do Ministério Público no tocante à necessidade e suficiência para a reprovação
e prevenção do crime. Trata-se de prerrogativa institucional do Ministério Público e não direito subjetivo
do investigado”.
No caso dos autos, não estão preenchidos quer o pressuposto da confissão, quer os requisitos legais
necessários à elaboração do acordo. No presente feito, com salientado pelo Ilustre Promotor Natural, não
houve a confissão do tráfico por parte do denunciado, pois ele permaneceu em silêncio por ocasião de
seu interrogatório policial. Além disso, trata-se de infração penal com pena mínima superior a 4 (quatro)
anos, pois se cuida de imputação de crime de tráfico de drogas, na modalidade fundamental (art. 33,
“caput”, da Lei n.º 11.343/06). Em casos tais, revela-se descabido o pedido de revisão, nos termos do
Enunciado n.º 29, PGJ – CGMP – Lei n.º 13.964/19: “O pedido revisional fundado no §14 do art. 28-A do
Código de Processo Penal não terá seguimento nos casos em que a pena mínima prevista para o delito
foi igual ou superior a 04 (quatro) anos (art. 28-A, “caput” e §1.º do Código de Processo Penal) [...]”.
Ademais, a natureza do delito é incompatível com o instituto em questão. Nesse sentido, o Enunciado n.º
22, PGJ – CGMP – Lei n.º 13.964/19: “O acordo de não persecução penal é incompatível com crimes
hediondos ou equiparados, uma vez que não atende ao requisito previsto no ‘caput’ do art. 28-A do Código
de Processo Penal, que o restringe a situações em que se mostre necessário e suficiente para a
reprovação e prevenção do crime”.
De igual forma, não incide a minorante do §4.º do art. 33 da Lei de Drogas, pois, como bem anotou o
Ilustre Representante Ministerial, de forma amplamente fundamentada, os elementos objetivos do fato
tornam inviável sua aplicação, de vez que a quantidade apreendida potencializa a confecção de 390
(trezentos e noventa) porções. De se destacar, outrossim, que o local da prisão já era conhecido dos
policiais como ponto de venda de drogas, pois há registro de boletim de ocorrência por tráfico, lavrado em
data anterior. Neste sentido, já se posicionou o Supremo Tribunal Federal: “(...) A aplicação do causa de
diminuição do art. 33, § 4°, da Lei 11.343/2006 exige que o agente seja primário, de bons antecedentes,
não se dedique a atividades criminosas nem integre organização criminosa. O fato de o paciente possuir
uma “boca de fumo”, onde comercializa rotineiramente substância entorpecente, tem o condão de afastar
a característica de tráfico privilegiado, uma vez que comprova a sua dedicação à atividade criminosa...”
(RHC 131.828, Relator Min. RICARDO LEWANDOWSKI, 2ª Turma, julgado em 07/02/2017, publicado
em 21/02/2017).
Há, portanto, obstáculos insuperáveis à formulação da proposta, tanto de ordem objetiva quanto subjetiva.
Frise-se, derradeiramente, que, por se cuidar, em tese, de tráfico de drogas, delito equiparado a hediondo,
para o qual a Constituição Federal impôs tratamento jurídico-penal severo (art. 5.º, inc. XLIII), a formulação
do negócio jurídico processual jamais poderá se reputar necessária e suficiente para a reprovação e
prevenção do crime.
Conclusão: ante o exposto, com fundamento no art. 28-A do Código de Processo Penal e no arts. 1.º e
4.º, inciso I, ambos da Resolução n.º 1.187/2020 – PGJ-CGMP, insiste-se na recusa na oferta do acordo,
restituindo os autos ao juízo competente para o prosseguimento do presente feito.

MP 86.329/19
Autos n.º 0000770-40.2014.8.26.0539 – MM. Juízo da Vara da Comarca de Santa Cruz do Rio Pardo
Réu: (...)
Assunto: recusa de aditamento da denúncia por ocasião do encerramento da instrução criminal (CPP, art.
384, §1.º)
EMENTA: CPP, ART. 384, §1.º. “MUTATIO LIBELLI”. RECUSA QUANTO AO ADITAMENTO DA
DENÚNCIA. CONTROVÉRSIA RELATIVA AO ENQUADRAMENTO LEGAL DOS FATOS (LESÃO
CORPORAL GRAVÍSSIMA OU TENTATIVA DE HOMICÍDIO). DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA (CP, ART.
15). INOCORRÊNCIA. ADITAMENTO DA EXORDIAL QUE SE RECOMENDA.
A questão subjacente reside em estabelecer se o comportamento atribuído à ré configura crime de lesão
corporal gravíssima (CP, art. 129, §2.º, II) ou tentativa de homicídio (CP, art. 121, c.c. art. 14, II). O
elemento subjetivo do injusto, embora difícil de ser determinado, pode ser encontrado por meio de outros
elementos. O autor da conduta, no mais das vezes, não o verbaliza, limitando-se a praticar seu
comportamento em busca de um desiderato enclausurado em sua psique. A falta de comunicação a
terceiros do opróbrio motivador do delito, todavia, não impede aferir-se qual sua meta optata, notadamente
quando se avalia, no contexto dos fatos e mediante o cotejo das provas colhidas, a maneira como se
portou diante da cena criminosa.
No caso em tela, a acusada, conforme resultou amplamente demonstrado, prenunciou o escopo de matar
a vítima e, quando por ele desafiado a fazê-lo, armou-se com uma faca e o golpeou violentamente,
atingindo-o no pescoço, provocando corte profundo. Já o tendo atingido e ferido gravemente, insistiu no
ato, não logrando atingi-lo novamente por circunstâncias alheias à sua vontade, eis que a vítima conseguiu
morder seu punho e impedir nova estocada. Na sequência, o sujeito passivo conseguiu se evadir do local
e procurar ajuda de terceiros, sendo socorrido pelos vizinhos, que percebendo a urgência acionaram o
resgate, permitindo que houvesse socorro eficaz e encaminhamento ao nosocômio, onde se realizou
intervenção cirúrgica seguida de internação hospitalar.
Parece-nos, desta feita, que a cessação do iter criminis foi involuntária, isto é, o ato consubstancia
tentativa de homicídio. Dessa forma, em que pesem as judiciosas ponderações do competente Promotor
de Justiça oficiante, parece-nos que não cabe falar, na hipótese vertente, em desistência voluntária ou
arrependimento eficaz (CP, art. 15).
Conclusão: designa-se outro promotor de justiça para oferecer o aditamento à denúncia, cumprindo-lhe
oficiar na causa até sua conclusão final.

MP 85.300/19
Autos n.º 1517967-18.2019.8.26.0228 – MM. Juízo do DIPO 3 (Comarca da Capital)
Indiciada: (...)
Assunto: revisão de pedido de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. PEDIDO DE ARQUIVAMENTO FUNDADO NO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. ADMISSIBILIDADE CONDICIONADA AO PREENCHIMENTO DOS VETORES
EXIGIDOS PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: A) AUSÊNCIA DE PERICULOSIDADE SOCIAL; B)
REDUZIDA REPROVABILIDADE DO FATO; C) MÍNIMA OFENSIVIDADE; E, D) ÍNFIMA LESÃO
JURÍDICA. BEM SUBTRAÍDO AVALIADO EM R$ 100,00 (CEM REAIS). FURTO QUALIFICADO (CP,
ART. 155, §4º, II E IV). INDICIADO REINCIDENTE ESPECÍFICO EM FURTO, PRESO EM FLAGRANTE
POR ESTE MESMO DELITO ALGUNS MESES ANTES DO FATO. OFERECIMENTO DE DENÚNCIA
QUE SE IMPÕE.
Cuida-se de investigação penal instaurada a partir da lavratura de auto de prisão em flagrante, visando à
apuração do crime de furto (art. 155, §4.º, II e IV, CP). Consta dos autos que, no dia 25 de julho de 2019,
o indiciado foi preso em flagrante delito, após ter subtraído para si, com auxílio de terceira pessoa não
identificada, do interior de uma residência, um par de tênis da marca “Nike”, avaliado em R$ 100,00 (cem
reais).
Os antecedentes criminais do increpado apontam condenação anterior transitada em julgado por furto, de
maneira a configurar a reincidência, além de prisão em flagrante, pelo mesmo delito, em janeiro deste
ano.
Concluídas as providências de polícia judiciária, a Douta Promotora de Justiça requereu o arquivamento
dos autos, por entender que à espécie dever-se-ia aplicar o princípio da insignificância. A MM. Juíza,
contudo, apontando cuidar-se de pessoa que pratica reiteradamente crimes patrimoniais, discordou de tal
posicionamento e encaminhou a questão para análise desta Procuradoria-Geral de Justiça, nos termos
do art. 28 do CPP.
A razão se encontra com a Digníssima Magistrada, com a devida vênia da Ilustre Representante
Ministerial. No caso em tela, o valor do bem subtraído (superior a dez por cento do salário mínimo), aliado
à natureza do crime (furto qualificado) e ao fato de se cuidar de pessoa que reiteradamente comete furtos
impede a aplicação do princípio da insignificância.
Tais características fazem com que não se preencham os requisitos exigidos pelo Supremo Tribunal
Federal como necessários à aplicação do princípio da bagatela; a saber: a inexpressividade da lesão ao
bem jurídico; a ausência de periculosidade social da ação; a falta de reprovabilidade da conduta; a mínima
ofensividade do comportamento do agente (cf. HC n.º 94.931, rel. Min. Ellen Gracie).
O objeto material foi avaliado em R$ 100,00 (cem reais); referida cifra ultrapassa o equivalente a 10%
(dez por cento) do salário mínimo vigente ao tempo do fato, impedindo, de per si, o reconhecimento da
tese invocada; confira-se: “Embora pequeno o valor da res furtiva - duas bolsas térmicas no valor de R$
105,80, correspondente a aproximadamente 11% do salário mínimo vigente à época, subtraídas de
estabelecimento comercial local -, a reincidência específica e a habitualidade delitiva também específica
do paciente, caracterizadas pela existência de outras ações penais e inquéritos policiais em curso, são
suficientes para afastar a aplicação do princípio da insignificância. Precedentes. (...)” (STJ, HC
520.536/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, 6.ª TURMA, julgado em 15/10/2019, DJe de 18/10/2019).
Além disso, conforme se consignou, cuida-se de investigado que reiteradamente comete infrações
patrimoniais, obstando a incidência do princípio multicitado: “(...) No caso, os pressupostos para o
reconhecimento da bagatela não se encontram preenchidos, pois se trata de acusado reincidente
específico e que possui outros registros criminais, circunstâncias que indicam a especial reprovabilidade
do seu comportamento, suficientes e necessárias a recomendar a intervenção estatal. (...)” (STJ, AgRg
no HC 491.376/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, 5.ª TURMA, julgado em 27/08/2019, DJe de
26/09/2019).
Trata-se, por fim, de furto qualificado, delito cuja reprovabilidade igualmente repele a incidência do
princípio da bagatela: “(...) FURTO QUALIFICADO PELO CONCURSO DE AGENTES.
REPROVABILIDADE ACENTUADA DA CONDUTA. FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. DECISÃO
MANTIDA. (...) II - Esta Corte tem entendimento pacificado no sentido de que não há que se falar em
atipicidade material da conduta pela incidência do princípio da insignificância quando não estiverem
presentes todos os vetores para sua caracterização, quais sejam: (a) mínima ofensividade da conduta; (b)
nenhuma periculosidade social da ação; (c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento, e; (d)
inexpressividade da lesão jurídica provocada. III - É inaplicável, na hipótese, o denominado princípio da
insignificância, tendo em vista que, apesar do pequeno valor da res furtiva, o delito praticado pelos
recorrentes, conforme consignado na decisão monocrática recorrida, foi cometido mediante concurso de
agentes, circunstância apta a obstar a incidência do referido princípio, por denotar maior reprovabilidade
da conduta. (...)” (STJ, AgRg no REsp 1.829.890/SC, Rel. Ministro LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/PE), 5.ª TURMA, julgado em 15/10/2019, DJe de
21/10/2019).
Solução: designa-se outro promotor de justiça para oferecer denúncia, interpor recurso na hipótese de
sucumbência quanto ao recebimento da denúncia e prosseguir nos ulteriores termos da ação penal.

MP 85.077/19
Autos n.º 1500981-83.2019.8.26.0132 – MM. Juízo da 2ª Vara Criminal da Comarca de Catanduva
Investigado: (...)
Assunto: revisão de arquivamento de procedimento administrativo criminal
EMENTA:
1. Inquérito policial instaurado visando apurar crimes de calúnia e injúria (CP, arts. 138 e 140),
supostamente praticados contra o Prefeito Municipal de Catanduva, procedimento instaurado com base
em requerimento por este formulado, imputando aos requeridos a veiculação de ofensas ao alcaide, em
grupo de aplicativo de mensagens WhatsApp e em redes sociais, como o Facebook.
2. O requerimento de instauração de inquérito narra, em suma, que os investigados acusaram o prefeito
municipal de Catanduva de fraude em licitação para contratação do serviço de transporte do município,
taxando-o, vinculando-o à referência “prefeito pomar”, “laranja” e de Robin Hood às avessas, de inimigo
do povo. Os investigados negaram que tenham sido os autores das ofensas, embora sejam
administradores do grupo de mensagens por aplicativo. Disseram ainda que o autor das ditas ofensas foi
excluído do grupo e que não comungam das colocações dele.
3. A D. Promotora de Justiça de Catanduva promoveu o arquivamento da investigação criminal, por não
vislumbrar crimes contra a honra no caso concreto. Além disso, os investigados, administradores de grupo
de whatsapp, não são autores das considerações supostamente ofensivas. Ponderou que existe a
suspeita de que o Prefeito Municipal tenha incorrido nas infrações penais referidas, tanto que se instalou
Comissão Processante para apurar os fatos.
4. O MM. Juiz, porém, discordou da promoção de arquivamento e aplicou o disposto no art. 28, do CPP,
ponderando que não há à primeira vista circunstâncias que elidam a tipicidade ou ilicitude das ofensas e
que o animus injuriandi não pode ser afastado de plano.
5. SOLUÇÃO:
Razão assiste em parte à D. Promotora de Justiça ao requerer o arquivamento do procedimento
investigatório no que concerne ao crime de calúnia (CP, art. 138).
Além da Comissão Processante instalada para apurar os fatos narrados, vinculados às supostas ofensas,
há ainda inquérito civil em trâmite perante a Promotoria de Justiça do Patrimônio Público da Comarca de
Catanduva, com o encaminhamento de promoção de arquivamento ao E. Conselho Superior do Ministério
Público do Estado de São Paulo, para julgamento.
Consta ainda que o prefeito de Catanduva teve o mandato cassado pela Câmara, em razão dessa questão
relacionada ao transporte municipal, entre outros fatos.
Ou seja, as críticas, embora contundentes, não configuram, em tais circunstâncias, o crime de calúnia,
nos termos do art. 138, do Código Penal, de modo que, em relação a este crime, insiste-se no pedido de
arquivamento, com a máxima vênia do MM. Juiz.
Igual conclusão, porém, não se estende ao delito do art. 140, do Código Penal, pois o investigado poderia
perfeitamente ter feito as críticas com animus narrandi, sem vincular a imagem do ofendido a várias
laranjas, atrelando-o à referência “prefeito pomar”, “laranja”, “Robin Hood às avessas”, “inimigo do povo”.
A liberdade de manifestação do pensamento de fato não é absoluta, sendo certo que o homem público de
modo geral está sujeito ao juízo crítico da sociedade e de seus personagens, de modo que as críticas,
mesmo contundentes e não raro ofensivas, são inerentes ao Estado Democrático de Direito.
Porém, aquele que deliberadamente se excede no exercício da liberdade de manifestar o pensamento
responde pelo excesso, presentes, no caso, indícios do crime de injúria, nos termos do art. 140, c.c. art.
141, II, III e IV, do CP. Isso porque o art. 5º, IV, da Constituição Federal, resguarda a liberdade de
manifestação do pensamento, mas também assegura o direito de resposta, proporcional ao agravo, além
da indenização por dano material, moral ou à imagem (art. 5º, inciso V) e ainda protege a honra e a
imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação (art. 5º, inciso X).
Ante o exposto, acolhidas em parte as razões invocadas pela D. Promotora de Justiça, insiste-se na
promoção de arquivamento do inquérito policial, no tocante ao crime de calúnia (CP, art. 138), com a
máxima vênia do MM. Juiz.
Mas, em relação ao delito de injúria (CP, art. 140, c.c. art. 141, II, III e IV), é caso de prosseguimento da
investigação criminal, identificando-se e ouvindo-se o investigado, oferecendo-se depois denúncia (CP,
art. 145, parágrafo único), prosseguindo-se até final decisão.
Em respeito ao princípio da independência funcional, designa-se outro Promotor de Justiça para intervir
nos autos, facultada ao Ilustre Designado a compensação prevista em conformidade com os Atos
Normativos nº 302/2003 e 488/2006.

MP 84.913/19
Autos n.º 1523676-34.2019.8.26.0228 – MM. Juízo do DIPO 3 (Comarca da Capital)
Indiciado: (...)
Assunto: revisão de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. CP, ART. 311. ADULTERAÇÃO DE SINAL IDENTIFICADOR DE VEÍCULO
AUTOMOTOR. INSERÇÃO DE FITA ADESIVA PARA ALTERAR OS SINAIS ALFANUMÉRICOS DA
PLACA DO AUTOMÓVEL. CONDUTA TÍPICA. INEXISTÊNCIA DE ELEMENTOS INFORMATIVOS,
CONTUDO, QUE DEMONSTRAM TER O INDICIADO SIDO O AUTOR DA ADULTERAÇÃO. O AGENTE
NÃO CONDUZIA O VEÍCULO, MAS VASCULHAVA O CAPÔ DO BEM EM BUSCA, SEGUNDO ELE, DA
BATERIA. AUTOMÓVEL QUE FORA ROUBADO HÁ OITO DIAS E QUE ESTAVA ABANDONADO EM
VIA PÚBLICA, COM DIVERSOS ACESSÓRIOS RETIRADOS. ARQUIVAMENTO MANTIDO QUANTO
AO DELITO CONTRA A FÉ PÚBLICA, SEM PREJUÍZO DA CONTINUIDADE DE DILIGÊNCIAS,
POSTULADA PELO DOUTO PROMOTOR DE JUSTIÇA, PARA ANÁLISE DE EVENTUAL CRIME
PATRIMONIAL.
Trata-se de inquérito policial visando à apuração dos crimes de receptação dolosa simples (art. 180, caput,
CP) e adulteração de sinal identificador de veículo automotor (CP, art. 311).
Segundo consta, no dia 1.º de outubro de 2019, por volta das 07 horas e 25 minutos, o indiciado foi
surpreendido por policiais militares manipulando o motor de um veículo estacionado. Tendo em vista o
nervosismo demonstrado pelo agente ao visualizar os servidores, foi abordado. Em revista pessoal, nada
encontraram, porém, notaram que havia fita adesiva nas placas do automóvel, alterando a numeração
original, de modo a ocultar a origem do bem. Em pesquisa, verificaram que se tratava de veículo produto
de roubo, praticado há poucos dias (em 22 de setembro de 2019).
O agente estava com a chave do veículo em sua mão esquerda, sendo ela apreendida pelos milicianos. O
indiciado negou ter sido o responsável pela colocação da fita adesiva e afirmou que não teria qualquer
relação com o veículo e, que na oportunidade de sua detenção, estava em busca da bateria do automóvel,
que não encontrou.
Concluídas as providências de polícia judiciária, o Douto Promotor de Justiça requereu o arquivamento
dos autos, pois, em relação ao crime do art. 311 do CP, destacou inexistir elementos que apontem o
agente como o responsável pela inserção da fita adesiva e, com relação à receptação (CP, art. 180, caput),
requisitou diligência complementar, afirmando que o indiciado não praticou quaisquer dos verbos
nucleares do tipo penal, acentuando a informação de que o automóvel estaria sem a bateria, conferiria
reforço à versão do increpado, de que se cuidaria de veículo abandonado por terceiro.
A MM. Juíza deferiu o retorno do expediente à origem, mas, quanto ao crime do art. 311 do CP, não
acolheu o arquivamento requerido, obtemperando que se a inserção de fita adesiva constituiria o crime
em questão, motivo pelo qual aplicou à espécie o art. 28 do CPP.
Com a devida vênia da Digníssima Magistrada, assiste razão ao Nobre Membro do Parquet. Muito embora
o ato de inserir fita adesiva de maneira a modificar os símbolos alfanuméricos de placa de veículo
automotor constitua crime, não há nos autos qualquer elemento de informação que permita concluir tenha
sido o indiciado o responsável pela colocação da fita. Com efeito, restou incontroverso o fato de que o
agente não foi surpreendido na condução do automóvel. Tratava-se, em verdade, de veículo estacionado,
com diversos acessórios faltantes (consoante declarações do proprietário do bem), tendo o sujeito sido
surpreendido vasculhando o motor do carro, segundo ele, em busca da bateria, que ali não se encontrava.
Imputar a ele o crime contra a fé pública, nesse cenário, configuraria deduzir uma acusação sem suporte
nos elementos informativos apurados no curso da fase inquisitiva.
Solução: insiste-se no arquivamento formulado, com a ressalva do art. 18 do CPP.

MP 84.910/19
Autos n.º 1500659-49.2019.8.26.0557 – MM. Juízo da 1.ª Vara Criminal da Comarca de Barretos
Denunciado: (...)
Assunto: aditamento da denúncia para inclusão de coautor
EMENTA: CPP, ART. 28. TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS (LEI N.º 11.343/06, ART. 33, “CAPUT”).
PEDIDO DE ARQUIVAMENTO EM FAVOR DA GENITORA DO ACUSADO, QUE, QUANDO DA
APROXIMAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR, PROCUROU SE DESFAZER DE PARTE DA DROGA
COMERCIALIZADA POR SEU FILHO. INTUITO DE FAVORECER O AGENTE, DE MANEIRA A
PERMITIR QUE ELE SE FURTASSE DA RESPONSABILIDADE PENAL. ARQUIVAMENTO QUE SE
MANTÉM.
Cuidam os autos de ação penal movida pelo Ministério Público em face de agente, imputando-lhe o crime
de tráfico ilícito de drogas (Lei n.º 11.343/06, art. 33, “caput”). O Ilustre Promotor de Justiça, ao propor a
ação penal, requereu o arquivamento do caso em favor da genitora do acusado (coindiciada). Segundo
obtemperou, a ela não se pode imputar conduta punível, pois o único ato por ela praticado consistiu em,
por ocasião da diligência policial, tentar ocultar 16 (dezesseis) pinos de cocaína, os quais foram
apreendidos pelos milicianos, a despeito de sua atitude.
O Nobre Representante Ministerial destacou ter se demonstrado, inclusive com base nas declarações dos
servidores, que a única intenção da investigada era proteger o filho, inexistindo indícios de que colaborava,
de algum modo, com a atividade por ele desempenhada. Acrescentou, ainda, que seu comportamento
poderia constituir, em tese, favorecimento pessoal (CP, art. 348), o qual não seria punível no caso em
tela, haja vista a escusa presente no §2.º da disposição.
A MM. Juíza, contudo, entendeu de modo diverso, julgando que à indiciada seria possível atribuir
participação no delito, porquanto ela, por sua condição, teria ciência da atividade do filho, não sendo
plausível que sua ação se limitasse a se desfazer das substâncias ilícitas. Ademais, ao receber a droga
do filho, passara a deter a guarda das substâncias entorpecentes e, portanto, teria incorrido no tipo penal.
Em razão disso, nos termos do art. 28 do CPP, enviou o expediente a esta Procuradoria-Geral de Justiça.
A razão se encontra com o Douto Promotor de Justiça, com a máxima vênia da MM. Juíza. Segundo se
deduz dos elementos de prova colhidos, a única atitude que os policiais militares presenciaram a
investigada praticar foi, depois de avistar a viatura, retornar rapidamente ao imóvel, dele saindo após
alguns segundos, dizendo que necessitava urinar. Os policiais não se opuseram e, quando ela saiu do
banheiro, efetuaram revista no ambiente e não encontraram vestígios de urina, mas 16 (dezesseis)
eppendorfs contendo cocaína, que ela admitiu ter tentado dispensar para favorecer seu filho. O acusado
assumiu a propriedade da droga e o propósito de traficá-la. A indiciada, de sua parte, confessou que
tentou ajudar o filho se desfazendo de parte da droga. Os fatos, portanto, são incontroversos.
A questão reside em determinar se a atitude da agente, ao procurar dispensar parte das substâncias
psicoativas, por si só, permite imputar a ela o crime de tráfico de drogas. A resposta nos parece negativa.
Como bem anotou o Douto Promotor de Justiça, agiu tal investigada com dolo de ajudar o filho a se subtrair
da ação policial, e não com intuito de auxiliá-lo na difusão de substâncias psicoativas.
Como se sabe, o enquadramento típico da conduta exige que o fato se amolde ao tipo objetivo, isto é, que
o agente realize todas as suas elementares objetivas e normativas, mas que também se subsuma ao tipo
subjetivo, isto é, fazendo-se necessário atuar de maneira consciente e voluntária, no sentido de realizar o
fato e malferir o bem juridicamente protegido.
Sob o aspecto da tipicidade subjetiva não se enquadra no delito equiparado a hediondo, porquanto não
houve o propósito de auxiliar o agente na difusão das substâncias psicoativas. A conduta da investigada
poderia, quando muito, configurar favorecimento pessoal, imputação que se descarta desde logo, haja
vista a isenção de pena que lhe favorece, por sua condição de genitora do agente, nos exatos termos do
art. 348 do CPP.
Solução: insiste-se no arquivamento deduzido, com a ressalva do art. 18 do CPP.

MP 76.756/19
Autos n.º 1501739-02.2019.8.26.0637 – MM. Juízo da Vara Criminal do Foro da Comarca de Tupã
Indiciado: (...)
Assunto: controvérsia acerca do cabimento de acordo de não-persecução penal (art. 18 da Resolução n.º
181, de 2017, do CNMP)
EMENTA: Inquérito policial para apuração do crime de embriaguez ao volante (CTB, art. 306), em que o
D. Promotor de Justiça vislumbra indícios de materialidade e autoria do delito, mas, atento aos termos das
Resoluções 181/17 e 183/18, do CNMP, propõe acordo de não persecução penal, sob as condições
previstas na Resolução do CNMP, postulando a homologação judicial do acordo. Pleito indeferido pela
Magistrada, sob os seguintes fundamentos: a) o instituto é inconstitucional, pois a resolução do CNMP
regula matéria em que a competência é privativa da União, para legislar (CF, art. 22, I); b) se o titular da
ação penal vislumbra indícios de materialidade e autoria, em tese está obrigado a oferecer denúncia.
Finalmente, aplicou por analogia o disposto no art. 28, do CPP, e o art. 18, § 6º, da Resolução 181/2017,
do CNMP, a fim de que esta Procuradoria-Geral de Justiça revise a postura ministerial. Em suma, este o
relatório do necessário. Esta Procuradoria-Geral de Justiça tem defendido que o acordo de não-
persecução penal, observados os requisitos implementados pelas Resoluções 181/17 e 183/18, do
CNMMP, é o futuro do processo penal, atende aos interesses da sociedade e do próprio acusado, no
sentido de que haja resposta célere aos delitos nos quais é permitido. Além disso, o Ministério Público,
titular exclusivo da ação penal pública, nos termos do art. 129, I, da Constituição Federal, tem o poder-
dever de verificar a presença dos requisitos para celebração do acordo, formulá-lo com observância das
diretrizes constantes das resoluções supramencionadas, do CNMP, e submetê-lo à apreciação judicial,
não estando prevista nem mesmo a exigência de homologação judicial. Se o juiz não concordar com os
termos do acordo proposto, poderá encaminhá-lo à revisão desta Procuradoria-Geral de Justiça. Se
entender que está em termos, deverá devolvê-lo ao Ministério Público, para que, no âmbito desta
Instituição, se dê o efetivo cumprimento do avençado. Além disso, a pendência de duas ações diretas de
inconstitucionalidade perante o STF não constitui óbice à celebração do acordo de não-persecução penal,
pois em nenhuma delas a Suprema Corte emitiu decisão afastando a vigência dos dispositivos da
Resolução 181/17, tampouco proibiu a celebração do acordo de não-persecução penal. SOLUÇÃO:
insiste-se na adequada postura do Digno Promotor de Justiça da Comarca de Tupã, no sentido de que
efetivamente formalize o acordo proposto, com observância das diretrizes traçadas nas Resoluções do
CNMP, submetendo-o à apreciação judicial.
MP 63.442/19
Autos n.º 1500405-41.2019.8.26.0116 – MM. Juízo da 2.ª Vara da Comarca de Campos do Jordão
Adolescente: (...)
Assunto: revisão de arquivamento de procedimento para apuração de ato infracional
EMENTA: ECA, ART. 181, §2º. PEDIDO DE ARQUIVAMENTO DE PROCEDIMENTO APURATÓRIO
POR ATO INFRACIONAL. TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS. ADOLESCENTE SURPREENDIDO
EXERCENDO A FUNÇÃO DE “OLHEIRO” DO TRÁFICO (ART. 37 DA LEI DE DROGAS). APREENSÃO
DE MAIS DE UM QUILO DE COCAÍNA, MAIS DE UMA CENTENA DE PORÇÕES DE “CRACK”,
ELEVADA QUANTIA EM DINHEIRO, BALANÇA DE PRECISÃO E ANOTAÇÕES COM CONTABILIDADE
RELACIONADA À COMPRA E VENDA DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS. NEGATIVA DO
ADOLESCENTE REITERADA EM OITIVA INFORMAL. PEDIDO DE ARQUIVAMENTO BASEADO NAS
DECLARAÇÕES DO MENOR, EM OPOSIÇÃO A ABUNDANTE QUADRO PROBATÓRIO REUNIDO NA
FASE INQUISITIVA. DESCABIMENTO. PROPOSITURA DA REPRESENTAÇÃO QUE SE RECLAMA.
O procedimento foi instaurado para apurar suposto ato infracional equiparado ao delito de informante do
tráfico ilícito de drogas (Lei n.º 11.343/06, art. 37).
Segundo se apurou, policiais militares foram deslocados ao sítio dos acontecimentos para investigar
informação anônima que uma residência era ponto de venda de drogas. A informação também apontava
a existência de um menor que exercia a função de "olheiro" e auxiliava no preparo para comercialização
das drogas.
Ao se aproximaram do local, avistaram o adolescente, o qual, tão logo notou a aproximação dos
servidores, tentou se evadir, mas foi abordado em seguida. Os integrantes da equipe perceberam, nesse
mesmo instante, a presença de uma mulher, posteriormente presa em flagrante, na sacada da residência
suspeita, que, ao ver a guarnição, correu para o interior do imóvel, trancando a porta.
Os servidores observaram pela janela da cozinha uma movimentação, enquanto o restante da guarnição
batia à porta e visualizaram outra mulher, igualmente detida, colocando alguns objetos em uma de suas
roupas.
Os milicianos ingressaram no imóvel e localizaram junto à roupa de uma das mulheres R$2.290,70 (dois
mil, duzentos e noventa reais e setenta centavos) em dinheiro e cerca de 23 (vinte e três) pinos contendo
cocaína. No interior da casa, foi encontrado, embaixo da cama de casal, quase mil invólucros
característicos de embalagem de cocaína (eppendorf), uma balança de precisão e papéis com anotação
de contabilidade de tráfico de drogas. Havia, outrossim, no imóvel, mais de um quilo de cocaína e mais
de cem porções de “crack”. Há nos autos fotografias da elevada quantidade de material, revelando
verdadeira pequena empresa de comércio de substâncias psicoativas.
O adolescente foi apreendido e declarou à autoridade policial que estava dormindo em sua residência
quando foi abordado pela Polícia.
O Douto Promotor de Justiça realizou a oitiva informal do menor, que novamente alegou que estava
dormindo em sua residência, negando envolvimento com o tráfico e, levando em conta esse elemento,
requereu o arquivamento dos autos. O MM. Juiz, discordando de tal posicionamento, entendeu por bem
aplicar à espécie o art. 181, §2.º, do ECA, remetendo o expediente a esta Procuradoria-Geral de Justiça.
Com a devida vênia do Douto Representante Ministerial, assiste razão ao Digníssimo Magistrado; senão
vejamos. A deflagração da ação socioeducativa, do mesmo modo que a acusação criminal, pressupõe
sejam reunidas, na fase preliminar, prova da materialidade e indícios suficientes de autoria. No caso dos
autos, tais elementos se revelam abundantes. As fotografias retro citadas, bem como o laudo de
constatação, não deixam qualquer dúvida acerca da materialidade do ato infracional. Quanto à finalidade
de mercancia, a natureza e a quantidade de droga, bem como o modus operandi, não deixam qualquer
dúvida a respeito.
De outra parte, em que pese a negativa do adolescente, as declarações dos policiais militares foram
unânimes em apontá-lo como “olheiro” e, de fato, ele assim se comportou. Deve-se destacar que, em face
do pedido de arquivamento, o menor foi colocado em liberdade e, conforme consta dos autos, foi
novamente apreendido, dois dias depois, em razão de nova conduta subsumível a ato infracional
equiparado a tráfico de drogas. É caso, portanto, de oferecimento de representação, até para que, em
juízo, em cognição exauriente, sejam os fatos devidamente apurados.
Solução: designa-se, para tal fim, outro promotor de justiça, o qual prosseguirá no feito em seus ulteriores
termos.

MP 55.808/19
Autos n.º 0076950-70.2018.8.26.0050 – MM. Juízo do DIPO 4 (Comarca da Capital)
Indiciados: (...)
Assunto: revisão de requerimento postulando o sobrestamento da investigação
EMENTA: CPP, ART. 28. REQUERIMENTO DE SOBRESTAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL
RELATADO, ATÉ A CONCLUSÃO DE JULGAMENTO, EM GRAU DE RECURSO, DE CRIME CONEXO.
EXISTÊNCIA, NOS AUTOS, DE PROVA DA MATERIALIDADE E INDÍCIOS DE AUTORIA.
ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. REPRESENTAÇÃO FORMULADA PELA D. AUTORIDADE POLICIAL
PARA A DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA. CRIME DE AÇÃO PENAL PÚBLICA.
SOBRESTAMENTO INVIÁVEL. PRAZO PRESCRICIONAL EM ANDAMENTO. OFERECIMENTO DE
DENÚNCIA QUE SE IMPÕE.
O oferecimento de denúncia, como é cediço, se satisfaz depois de constatados, nos elementos de
informação coligidos, prova da materialidade e indícios suficientes de autoria.
Conforme reiteradamente tem assentado esta Procuradoria-Geral de Justiça, não se trata de fazer um
juízo definitivo de censura, mas apenas de constatar a existência de um mínimo de embasamento para a
deflagração do devido processo legal, pois: “não se exige, na primeira fase da persecutio criminis, que a
autoria e a materialidade da prática de um delito sejam definitivamente provadas, uma vez que a
verificação de justa causa para a ação penal pauta-se em juízo de probabilidade, e não de certeza” (STJ,
HC n.º 100.296, rel. Min. ARNALDO ESTEVES LIMA, 5.ª TURMA, DJe de 01/02/2010).
É evidentemente lícito ao Parquet deixar de ajuizar a peça exordial, a despeito de relatado o inquérito,
quando vislumbrar diligências imprescindíveis para tanto, nos termos do art. 16 do CPP. Entendem-se
como tais aquelas sem as quais não é possível oferecer denúncia.
No caso em tela, requereu-se o sobrestamento da persecução penal, cujo inquérito já foi relatado há mais
de seis meses, para aguardar o julgamento de recurso de apelações interpostas pelas defesas dos réus
(condenados em primeiro grau) em processo relativo a crimes conexos.
Nestes autos, apurou-se materialidade e autoria de graves delitos, com representação para decretação
da prisão preventiva dos indiciados pendente de parecer ministerial.
De ver que o deslinde da citada ação penal em nada interferirá na formação da opinião delitiva neste
procedimento. Isto porque se trata de outros indiciados e infrações penais diversas, estranhas, portanto,
ao objeto do processo que se encontra em grau de recurso.
Obtempere-se, ainda, que estando o multicitado feito em grau de recursos exclusivos da defesa, não há
sequer a possibilidade de ampliação da acusação, motivo pelo qual, com mais razão, inexiste fundamento
de fato ou de direito a conferir suporte ao sobrestamento pleiteado.
Importante destacar, outrossim, que o prazo prescricional encontra-se em andamento, a despeito da
ausência de prosseguimento à persecução penal nestes autos, que reúnem diversas degravações de
conversas telefônicas entre os investigados, comprovando seu ativo envolvimento em tráfico de drogas,
associação para o tráfico e organização criminosa.
O oferecimento de denúncia, destarte, é medida que se impõe, sobretudo diante da urgência que o caso
recomenda, posto que as indiciadas se encontram presas preventivamente.
Solução: designa-se outro promotor de justiça para oferecer denúncia e prosseguir no feito em seus
ulteriores termos.

MP 49.277/19
Autos n.º 1500041-37.2019.8.26.0159 – MM. Juízo da Vara Judicial da Comarca de Cunha
Acusado: (...)
Assunto: controvérsia acerca do cabimento de acordo de não-persecução penal (art. 18 da Resolução n.º
181, de 2017, do CNMP)
EMENTA: CPP, ART. 28. ACORDO DE NÃO-PERSECUÇÃO PENAL. RESOLUÇÃO 181, DE 2017, DO
CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. APLICAÇÃO EM SEDE DE INQUÉRITO POLICIAL.
PRESSUPOSTOS, REQUISITOS E CONDIÇÕES. RECUSA MINISTERIAL EM FORMULAR O
ACORDO. ENCAMINHAMENTO DA QUESTÃO À PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA PARA
ELABORAÇÃO DE ACORDO NÃO FORMULADO PELO PROMOTOR NATURAL. IMPOSSIBILIDADE.
PRERROGATIVA INSTITUCIONAL. EXEGESE DO ART. 18, §6º, DA RESOLUÇÃO 181/2017 DO CNMP.
Cuida-se de ação penal movida pelo Ministério Público, imputando ao acusado o crime de furto praticado
no período reservado ao repouso noturno (CP, art. 155, §1º). Na cota de oferecimento da peça vestibular,
o Douto Promotor de Justiça requereu a juntada de certidão de antecedentes criminais dos denunciados
e deixou de propor acordo de não-persecução penal, por entender, em síntese: (i) tratar-se de inquérito
policial e não de P.I.C. – Procedimento Investigativo Criminal; (ii) que o acordo é uma faculdade do
Ministério Público, já que a Resolução diz que o Ministério Público "poderá"; (iii) que um dos acusados,
no presente caso concreto, nada confessou; e (iv) que a Promotoria não tem convênio com nenhum local
para que os réus prestem serviços.
O MM. Juiz, todavia, entendendo que o acusado preencheria todos os requisitos elencados no artigo 18
da Resolução n.º 181, de 7 de agosto de 2017, do Conselho Nacional do Ministério Público, aplicou à
espécie o art. 28 do CPP, determinando o envio dos autos a esta Procuradoria-Geral de Justiça.
Não assiste razão ao Digníssimo Magistrado. Aqui não se discute a validade jurídica do acordo de não-
persecução penal. Não obstante, calha mencionar que se cuida de prerrogativa ministerial prevista na
Resolução n.º 181/17, com a redação da Resolução n.º 183/18, do Conselho Nacional do Ministério
Público (CNMP).
Sob a ótica desta Chefia Institucional, o acordo de não-persecução penal representa um inegável avanço
ao combate eficaz da criminalidade no Brasil, ao mesmo tempo em que assegura a efetividade do Direito
Penal, por meio de um mecanismo propiciador de uma resposta célere e proporcional ao fato. O
instrumento jurídico extraprocessual do acordo de não-persecução penal representa, no sentir desta
Procuradoria-Geral de Justiça, uma ferramenta para o fortalecimento do Ministério Público e da Justiça
Criminal. Trata-se, sem exagero, do futuro do processo penal. Os questionamentos que têm sido feitos
acerca da adequação do princípio da barganha ao sistema brasileiro são improcedentes. Uma análise
criteriosa dos artigos 5.º, inc. XXXV, 22, inc. I e 129, inc. I, da Constituição Federal revela que, se não
trata expressamente deste mecanismo, a Carta Magna tampouco traz qualquer tipo de veto a ele.
Não há dúvida de que as resoluções do CNMP, a quem compete regular a atividade do Ministério Público
no que tange à atuação dos promotores de Justiça na fase extrajudicial, estão em plena conformidade
com a Carta Magna. O Supremo Tribunal Federal, em mais de uma oportunidade, reconheceu deterem
os Conselhos Nacionais de Justiça e do Ministério Público poder normativo primário, de tal modo que, por
meio de suas resoluções, podem inovar a ordem jurídica. O ex-Ministro Carlos Britto, em voto proferido
na ação declaratória de constitucionalidade n.º 12-MC/DF, registrou, quanto ao tema, que: “Dá-se que
duas outras coordenadas interpretativas parecem reforçar esta compreensão das coisas. A primeira é
esta: a Constituição, por efeito da Emenda 45/04, tratou de fixar o regime jurídico de três conselhos
judiciários: a) o Conselho da Justiça Federal (inciso II do parágrafo único do art. 105); b) o Conselho
Superior da Justiça do Trabalho (inciso II do § 2º do art. 111-A); e c) o Conselho Nacional de Justiça (art.
103-B). Ao cuidar dos dois primeiros Conselhos, ela, Constituição, falou expressamente que as
respectivas competências – todas elas, enfatize-se – seriam exercidas “na forma da lei”. Esse inequívoco
fraseado “na forma da lei” a anteceder, portanto, o rol das competências de cada qual das duas instâncias.
Ora, assim não aconteceu com o tratamento normativo dispensado ao Conselho Nacional de Justiça. Aqui,
a Magna Carta inventariou as competências que houve por bem deferir ao CNJ, quedando silente quanto
a um tipo de atuação necessariamente precedida de lei”. Idêntica disciplina constitucional foi deferida ao
Conselho Nacional do Ministério Público, como se deduz da leitura do art. 130-A do Texto Maior. Suas
resoluções, desse modo, apresentam hierarquia normativa de par com as leis. Daí porque não subsiste a
alegação de subversão da competência legislativa privativa da União, disposta no art. 22 da CF, ou mesmo
de ofensa ao art. 24 do CPP. Quanto ao último, que consagra o princípio da obrigatoriedade da ação penal
pública, é preciso compreendê-lo como um “dever de agir” do membro do Ministério Público. Com a
barganha, que pressupõe algum tipo de sanção ao criminoso, esse dever estaria cumprido, o que
soluciona qualquer eventual questionamento de ordem infraconstitucional à utilização do acordo de não-
persecução penal.
O instituto em análise, de acordo com o art. 18, caput, 1.ª parte, da Resolução n.º 181/2017-CNMP,
pressupõe não seja caso de arquivamento da investigação, sem distinguir qual espécie; isto é, pode ser
realizado no âmbito de um procedimento investigatório criminal ou de um inquérito policial, como bem
ressaltou o MM. Juiz. Os demais pressupostos encontram-se no art. 18, §1.º. São eles: a) que não seja
cabível a transação penal, nos termos da lei; b) que o dano causado não seja superior a vinte salários
mínimos ou a parâmetro econômico diverso definido pelo respectivo órgão de revisão, nos termos da
regulamentação local; c) que o aguardo para o cumprimento do acordo não tenha o condão de acarretar
a prescrição da pretensão punitiva estatal; d) que o delito não seja hediondo ou equiparado e nos casos
de incidência da Lei n.º 11.340/16.
Em seguida, o dispositivo epigrafado enumera os requisitos materiais objetivos do instituto, a saber: a)
que a pena mínima cominada no tipo seja inferior a 4 (quatro) anos (consideradas as causas de aumento
e diminuição aplicáveis); b) que o crime não tenha sido cometido com violência ou grave ameaça à pessoa;
c) que o investigado tenha confessado formal e circunstanciadamente a sua prática. Há, ainda,
requisitos materiais subjetivos, consistentes em: a) o investigado não incorrer em alguma das hipóteses
previstas no art. 76, § 2.º, da Lei nº 9.099/95 (ou seja, não tenha sido condenado, pela prática de crime,
à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva); b) não ter sido beneficiado com transação penal
anteriormente, no prazo de cinco anos; c) apresentar favoráveis seus antecedentes, conduta social,
personalidade, bem como os motivos e as circunstâncias; c) a celebração do acordo deve atender ao que
seja necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do crime.
Há que se observar, igualmente, um conjunto de requisitos formais ou procedimentais, relacionados com
o registro da confissão e das tratativas, sua formalização nos autos e a comunicação à vítima. A confissão
do agente e as tratativas do acordo serão registrados pelos meios ou recursos de gravação audiovisual,
devendo o investigado estar sempre acompanhado de seu defensor (art. 18, §2.º). O acordo deverá ser
formalizado nos autos, indicando com clareza suas condições, eventuais valores a serem restituídos e as
datas para cumprimento (art. 18, §3.º). Depois de fechado o acordo, é preciso comunicar a vítima e
submetê-lo à apreciação judicial (art. 18, §4.º). Concretizada a avença, com o aval do Poder Judiciário,
surge para o Ministério Público o dever de implementá-lo (art. 18, §5.º). Cumpridas essas exigências,
abre-se a possibilidade de ajustar, com o agente, a barganha processual, mediante as seguintes
condições, a serem ajustadas de maneira alternativa ou cumulativa: a) reparar o dano ou restituir a coisa
à vítima, salvo impossibilidade de fazê-lo; b) renunciar voluntariamente a bens e direitos, indicados pelo
Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do crime; c)
prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena
mínima cominada ao delito, diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo Ministério Público;
d) pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Código Penal, a entidade pública
ou de interesse social a ser indicada pelo Ministério Público, devendo a prestação ser destinada
preferencialmente àquelas entidades que tenham como função proteger bens jurídicos iguais ou
semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; e)
cumprir outra condição estipulada pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível
com a infração penal aparentemente praticada.
Durante o acordo, o investigado fica sujeito aos seguintes deveres, que decorrem da lei, embora seja
recomendável ficarem expressamente consignados no termo de ajuste celebrado (art. 18, §8.º): a)
comunicar ao Ministério Público eventual mudança de endereço, número de telefone ou e-mail; b)
comprovar mensalmente o cumprimento das condições, independentemente de notificação ou aviso
prévio, devendo, quando for o caso, por iniciativa própria, apresentar imediatamente e de
forma documentada eventual justificativa para o não cumprimento do acordo.
No caso de inadimplemento, seja por descumprimento das condições acordadas ou por inobservância
dos deveres acima mencionados (art. 18, §9.º), o membro do Ministério Público deverá oferecer denúncia,
podendo utilizar o descumprimento do acordo como justificativa para o não oferecimento de suspensão
condicional do processo (art. 18, §10). Cumprido integralmente, promove-se o arquivamento da
investigação (art. 18, §11).
Conforme dispõe o art. 18, § 6.º, da Resolução n.º 181/2017 do CNMP, o juiz pode considerar incabível o
acordo, bem como inadequadas ou insuficientes as condições celebradas, remetendo os autos ao
procurador-geral, que poderá adotar as seguintes providências: a) oferecer denúncia ou designar outro
membro para oferecê-la; b) complementar as investigações ou designar outro membro para complementá-
la; c) reformular a proposta de acordo de não persecução, para apreciação do investigado; d)
manter o acordo de não persecução, que vinculará toda a Instituição.
Destaque-se que somente se admite a remessa ao Procurador-Geral de Justiça, em questões relativas
ao cabimento do acordo, quando o magistrado entender incabível (art. 18, §6.º). A Resolução, com efeito,
não previu como caso de remessa a situação em que o juiz considera cabível o acordo não formulado
pelo promotor natural (hipótese dos autos). Isto acentua a natureza jurídica da medida, como prerrogativa
institucional do Ministério Público.
Solução: ratifica-se a postura ministerial quanto à não-formulação do acordo de não-persecução penal.

MP 47.901/19
Autos n.º 0003884-35.2017.8.26.0004 – MM. Vara Criminal do Foro Regional da Lapa (Comarca da
Capital)
Autor do fato: (...)
Assunto: indeferimento de pedido de declaração de extinção da punibilidade por “abolitio criminis”
EMENTA: CPP, ART. 28. CONTRAVENÇÃO PENAL DE IMPORTUNAÇÃO OFENSIVA AO PUDOR
(LCP, ART. 61). SUPOSTA “ABOLITIO CRIMINIS”. INOCORRÊNCIA. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE
TÍPICO-NORMATIVA. CONDUTA DO AGENTE QUE SE AMOLDAVA AO “CRIME ANÃO” E, COM A
SUPERVENIÊNCIA DA LEI N. 13.718/18, SE SUBSUME AO DELITO DE IMPORTUNAÇÃO SEXUAL
(CP, ART. 215-A). “NOVATIO LEGIS IN PEJUS”. IRRETROATIVIDADE DA NOVA LEI (CF, ART. 5º, INC.
XL) E, COMO CONSEQUÊNCIA, ULTRATIVIDADE DA FIGURA CONTRAVENCIONAL. FATO, PORÉM,
PRATICADO HÁ MAIS DE DOIS ANOS E, PORTANTO, ATINGIDO PELA PRESCRIÇÃO DA
PRETENSÃO PUNITIVA (CP, ART. 114, I).
O fato praticado pelo agente, consistente em tocar, com pênis ereto e exposto, o braço da vítima, no
interior de vagão de trem, se subsumia, ao tempo dos fatos, ao “crime anão” e, com a superveniência da
Lei n.º 13.718/18, ao delito de importunação sexual (CP, art. 215-A).
De acordo com a tese formulada pelo Douto Promotor de Justiça, tratar-se-ia de “abolitio criminis”. Esse
entendimento, porém, não se figura acertado, com a devida vênia, pois o comportamento não perdeu, em
momento algum, o caráter de ilícito penal. Em verdade, o que configurava mera contravenção penal, com
a nova Lei, tornou-se crime contra a liberdade sexual, capitulado no art. 215-A do CP. Essa figura típica
descreve o ato de: “Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer
a própria lascívia ou a de terceiro: Pena – reclusão, de um a cinco anos, se o ato não constitui crime mais
grave”.
Nota-se, deste modo, que a conduta não deixou de ser penalmente típica em momento algum. Trata-se
de situação regida pelo princípio da continuidade típico-normativa, pelo qual o comportamento, que até
então se subsumia ao um tipo penal, passa a se enquadrar em outro, dada a revogação do anterior.
Semelhante fenômeno ocorreu, por exemplo, em 2009, quando a Lei n.º 12.015 revogou o art. 214 do CP,
que tipificava o atentado violento ao pudor, passando a conduta antes descrita nesse dispositivo a se
subsumir ao crime de estupro, cuja redação foi ampliada por força da mesma Lei.
Há, em verdade, um conflito de leis penais no tempo, pois o ato configurava, ao tempo da ação, uma
contravenção penal, punida exclusivamente com multa e, atualmente, constitui um crime apenado com
reclusão. A nova lei penal gravosa (“novatio legis in pejus”), como é sabido, não tem aplicação retroativa
(CF, art. 5.º, inc. XL), de tal modo que a hipótese retratada nestes autos continua subsumível à
contravenção penal.
Ocorre, porém, que o fato foi cometido em abril de 2017, isto é, há mais de dois anos e, nos termos do
art. 114, inc. I, do CP, quando o fato é apenado somente com multa, a prescrição da pretensão punitiva
ocorre no biênio. Não há nos autos qualquer causa suspensiva ou interruptiva da prescrição, de tal modo
que ocorreu, de fato e irremediavelmente, a extinção do “ius puniendi” estatal.
Solução: insiste-se na declaração da extinção da punibilidade, porém com base na prescrição da
pretensão punitiva.
MP 47.900/19
Autos n.º 0073054-19.2018.8.26.0050 – MM. Juizado Especial Criminal do Foro Regional da Lapa
(Comarca da Capital)
Autor do fato: (...)
Vítima: (...)
Assunto: indeferimento do pedido de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. ASSÉDIO SEXUAL (CP, ART. 216-A). AGENTE QUE, VALENDO-SE DE SUA
ASCENDÊNCIA INERENTE À FUNÇÃO DESEMPENHADA, CONSTRANGEU A VÍTIMA,
PRETENDENDO OBTER VANTAGEM OU FAVORECIMENTO SEXUAL. CONDUTA QUE EXTRAVASA
O SIMPLES “FLERTE”. MENSAGENS ESCRITAS, TRANSMITIDAS À VÍTIMA, QUE DEMONSTRAM
INSISTÊNCIA EM PRATICAR, COM ELA, ATO LIBIDINOSO. CONSTRANGIMENTO EVIDENCIADO
NOS AUTOS.
Pelo que se apurou, a ofendida trabalhava há 14 (catorze) anos na agência Central dos Correios, na
função de “agente” e, ao tempo dos fatos (23 de janeiro de 2018), era subordinada do autor, o qual exercia
a função de coordenador.
A declarante, estando de férias, precisava entrar em contato com seu gerente, sendo-lhe então fornecido
o telefone do agente e, no meio das conversas sobre o trabalho, o autor lhe disse, entre outras coisas:
“Sabe que você é muito linda, vou tomar você de seu marido”. A chamou, ainda, de “gostosa” e “putinha”.
A vítima chegou a bloqueá-lo em mais de uma oportunidade em sua rede social, mas o agente, por meio
de aplicativo de mensagens, insistia em contatá-la, constrangendo-a com falas sexualmente
assediadoras.
O fato objeto do presente protocolado se subsume, em nosso sentir, ao crime de assédio sexual. Referido
delito contra a liberdade sexual atinge a capacidade de autodeterminação da vítima. Conforme já enfatizou
o Egrégio Supremo Tribunal Federal: “defrontamo-nos com um tipo novo, que revela como procedimento
penalmente condenável constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual,
prevalecendo-se o agente de sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerente ao exercício
de emprego, cargo ou função. Colho do art. 216-A do CP, determinados aspectos, elementos, e aí vejo,
nessa figura penal, um avanço na cultura, objetivando – muito embora possam constar como agente o
homem ou a mulher – a recuperação do que denominado, até mesmo em romance em voga, o sagrado
feminino. O preceito, o texto legal direciona à liberdade no trabalho, à liberdade em sentido amplo. Mais
do que isso, visa a preservar a dignidade daquele – não me refiro aqui ao homem ou à mulher – que
presta serviços” (RTJ 194/105).
O verbo nuclear da infração capitulada no art. 216-A do CP é “constranger”, que, no âmbito do dispositivo
significa causar constrangimento, desconforto do ponto de vista da sexualidade ou do pudor.
Nesse sentido, a conduta do agente causou inegável constrangimento, tanto que a ofendida chegou a
bloqueá-lo em mais de uma oportunidade, como se nota nas mensagens trocadas por ambos. O autor,
desse modo, interferiu ilicitamente na liberdade sexual da vítima, importunando-a para que fizesse algo
(de cunho sexual) contra a sua vontade.
No art. 216-A, constrange-se a vítima mediante a simples proposta indecorosa – o que claramente se deu.
O crime, justamente por isso, consuma-se independentemente da realização de qualquer prática dotada
de erotismo. O caso dos autos retrata mais que um inocente flerte ou gracejo, mas um reiterado e
insistente constrangimento, com vistas à realização de ato libidinoso. Note-se que o agente referiu-se ao
sujeito passivo como “putinha” e “gostosa”, revelando seu propósito lúbrico.
Ademais disso, trata-se crime próprio, exigindo, do sujeito ativo a condição de superior hierárquico ou
ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função, elemento presente no caso em análise,
justamente por se cuidar do coordenador ao qual a vítima era subordinada.
Solução: designa-se outro promotor de justiça para oficiar nos autos e oferecer denúncia ou propor
transação penal (com base nos parâmetros normativos do art. 76 da Lei n.º 9.099/95), cumprindo-lhe
oficiar nos ulteriores termos deste feito.
MP 43.813/19
Autos n.º 0081176-21.2018.8.26.0050 – MM. Juízo do DIPO 4 (Comarca da Capital)
Indiciado: (...)
Assunto: controvérsia acerca do cabimento de acordo de não-persecução penal (art. 18 da Resolução n.º
181, de 2017, do CNMP)
EMENTA: CPP, ART. 28. ACORDO DE NÃO-PERSECUÇÃO PENAL. RESOLUÇÃO 181, DE 2017, DO
CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. DECISÃO JUDICIAL QUE NÃO RECONHECE A
VALIDADE CONSTITUCIONAL E LEGAL DA MEDIDA. NEGÓCIO JURÍDICO IMPLEMENTADO, COM
INTEGRAL CUMPRIMENTO. INSTITUTO, PORÉM, QUE ESTÁ EM PERFEITA CONSONÂNCIA COM A
ORDEM CONSTITUCIONAL. OBSERVÂNCIA, NO CASO CONCRETO, DE TODOS OS PARÂMETROS
DEFINIDOS NA CITADA RESOLUÇÃO. PEDIDO DE ARQUIVAMENTO CONFIRMADO POR ESTA
PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA.
Cuida-se de termo circunstanciado instaurado para apurar o crime de estelionato (CP, art. 171, caput),
praticado, em tese, por JOSUEL SOUZA DA SILVA.
Concluídas as providências de polícia judiciária, a Douta Promotora de Justiça, verificando o
preenchimento dos requisitos estipulados na Resolução n.º 181, de 2017, do Conselho Nacional do
Ministério Público, celebrou com o indiciado acordo de não-persecução penal. A MM. Juíza do DIPO,
porém, indeferiu o negócio jurídico-processual, deixando de homologá-lo. Não obstante a r. decisão
judicial, o acordo foi integralmente cumprido, motivo pelo qual a Nobre Representante Ministerial requereu
o arquivamento dos autos. A Digníssima Magistrada, por fim, considerou inviável a celebração do acordo
de não-persecução penal no caso em tela. Obtemperou que, mesmo em se admitindo a
constitucionalidade da medida, não estariam preenchidos os requisitos exigidos à sua formulação, por se
cuidar de estelionato majorado (vítima idosa) e por existir a notícia de que o autor cometeu ato semelhante
contra outra pessoa maior de sessenta anos. Esses fatores indicariam que o acordo não seria adequado
e suficiente à prevenção e repressão do fato. Destacou, outrossim, que a reparação do dano antes do
oferecimento da denúncia não é causa impeditiva de oferecimento de denúncia. Em face disto, aplicou à
espécie o art. 28 do CPP, determinando o envio dos autos a esta Procuradoria-Geral de Justiça.
Não assiste razão à Digníssima Magistrada. As recém-editadas normas do Conselho Nacional do
Ministério Público (CNMP), que instituíram a possibilidade do acordo de não-persecução penal por
intermédio das resoluções n.º 181/17 e 183/18, representam um inegável avanço ao combate eficaz da
criminalidade no Brasil, ao mesmo tempo em que asseguram a efetividade do Direito Penal, por meio de
um mecanismo propiciador de uma resposta célere e proporcional ao fato.
O instrumento jurídico extraprocessual do acordo de não-persecução penal representa, no sentir desta
Procuradoria-Geral de Justiça, uma ferramenta para o fortalecimento do Ministério Público e da Justiça
Criminal. Trata-se, sem exagero, do futuro do processo penal. Os questionamentos que têm sido feitos
acerca da adequação do princípio da barganha ao sistema brasileiro são improcedentes. Uma análise
criteriosa dos artigos 5.º, inc. XXXV, 22, inc. I e 129, inc. I, da Constituição Federal revela que, se não
trata expressamente deste mecanismo, a Carta Magna tampouco traz qualquer tipo de veto a ele.
Não há dúvida de que as resoluções do CNMP, a quem compete regular a atividade do Ministério Público
no que tange à atuação dos promotores de Justiça na fase extrajudicial, estão em plena conformidade
com a Carta Magna. O Supremo Tribunal Federal, em mais de uma oportunidade, reconheceu deterem
os Conselhos Nacionais de Justiça e do Ministério Público poder normativo primário, de tal modo que, por
meio de suas resoluções, podem inovar a ordem jurídica. O ex-Ministro Carlos Britto, em voto proferido
na ação declaratória de constitucionalidade n.º 12-MC/DF, registrou, quanto ao tema, que: “Dá-se que
duas outras coordenadas interpretativas parecem reforçar esta compreensão das coisas. A primeira é
esta: a Constituição, por efeito da Emenda 45/04, tratou de fixar o regime jurídico de três conselhos
judiciários: a) o Conselho da Justiça Federal (inciso II do parágrafo único do art. 105); b) o Conselho
Superior da Justiça do Trabalho (inciso II do § 2º do art. 111-A); e c) o Conselho Nacional de Justiça (art.
103-B). Ao cuidar dos dois primeiros Conselhos, ela, Constituição, falou expressamente que as
respectivas competências – todas elas, enfatize-se – seriam exercidas “na forma da lei”. Esse inequívoco
fraseado “na forma da lei” a anteceder, portanto, o rol das competências de cada qual das duas instâncias.
Ora, assim não aconteceu com o tratamento normativo dispensado ao Conselho Nacional de Justiça. Aqui,
a Magna Carta inventariou as competências que houve por bem deferir ao CNJ, quedando silente quanto
a um tipo de atuação necessariamente precedida de lei”. Idêntica disciplina constitucional foi deferida ao
Conselho Nacional do Ministério Público, como se deduz da leitura do art. 130-A do Texto Maior. Suas
resoluções, desse modo, apresentam hierarquia normativa de par com as leis. Daí porque não subsiste a
alegação de subversão da competência legislativa privativa da União, disposta no art. 22 da CF, ou mesmo
de ofensa ao art. 24 do CPP. Quanto ao último, que consagra o princípio da obrigatoriedade da ação penal
pública, é preciso compreendê-lo como um “dever de agir” do membro do Ministério Público. Com a
barganha, que pressupõe algum tipo de sanção ao criminoso, esse dever estaria cumprido, o que
soluciona qualquer eventual questionamento de ordem infraconstitucional à utilização do acordo de não-
persecução penal.
Conforme se observa no caso dos autos, encontram-se preenchidas todas as exigências previstas na
multicitada Resolução para a formulação do acordo de não-persecução penal, não havendo óbice à sua
realização.
A existência de ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil, bem como da ADI 5790, proposta pela Associação dos Magistrados Brasileiros
(AMB), perante o Supremo Tribunal Federal (ADI 5793), acerca do tema, não pode constituir impedimento
à celebração do acordo de não-persecução penal, nos termos postos acima, em consonância com as
diretrizes traçadas pelas Resoluções 181/17 e 183/18, ambas do Conselho Nacional do Ministério Público,
que estão em plena vigência, cuidando-se ainda de avença que atende aos interesses da sociedade e
também do acusado.
Cumpre observar que pesquisa feita no “site” do Supremo Tribunal Federal, no tocante ao andamento da
ADI 5790, mostra que não houve nenhuma deliberação da Suprema Corte no sentido de sustar a vigência
dos dispositivos das resoluções supramencionadas, do Conselho Nacional do Ministério Público,
tampouco no sentido de proibir a celebração de acordos de não-persecução penal. A mesma assertiva é
válida no tocante à pesquisa feita acerca do andamento da ADI 5793. Inexistem, portanto, no plano
jurídico, até este momento, quaisquer fundamentos para que se negue plena vigência ao disposto nas
Resoluções n.º 181/17 e 183/18, ao disporem acerca do acordo de não-persecução penal.
Destaca-se, derradeiramente, que a Douta Promotora de Justiça observou todos os pressupostos,
requisitos materiais e formais, bem como condições exigidas na multicitada Resolução, merecendo,
destarte, encômios por sua atitude.
Solução: Diante disso, e considerando a natureza jurídica da medida, como prerrogativa institucional do
Ministério Público, decorrência do disposto no art. 129, I, da Constituição da República Federativa do
Brasil, ratifica-se a postura ministerial quanto à formalização do acordo de não-persecução penal,
deixando-se de designar outro promotor de justiça para atuar no caso. Insiste-se, deste modo, no
arquivamento do expediente.

MP 39.812/19
Autos n.º 1508257-71.2019.8.26.0228 – MM. Juízo do DIPO 3 (Comarca da Capital)
Indiciado: (...)
Assunto: revisão de pedido de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. PORTE DE MUNIÇÃO DE USO PERMITIDO, SEM AUTORIZAÇÃO OU EM
DESACORDO COM DETERMINAÇÃO LEGAL OU REGULAMENTAR (ART. 14, “CAPUT”, DA LEI N.
10.826/03). PEDIDO DE ARQUIVAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL FUNDADO NA ATIPICIDADE
MATERIAL DA CONDUTA, POR AUSÊNCIA DE POTENCIALIDADE LESIVA. IRRELEVÂNCIA. CRIME
DE PERIGO ABSTRATO. TIPICIDADE FORMAL E MATERIAL. DENÚNCIA QUE SE IMPÕE.
Colheram-se elementos de informação suficientes para confirmar que o objeto apreendido se encontrava
em poder do indiciado. Trata-se de porte de munição de uso permitido, submetida a exame pericial
acostado ao inquérito policial, o qual concluiu serem as peças eficazes. O fato se subsume, em tese, ao
art. 14, caput, da Lei n.º 10.826/03. Como ressalta GUILHERME DE SOUZA NUCCI, foi correta a postura
do legislador em tutelar a posse ou porte de munições de arma de fogo: “Quer-se, no Brasil, efetivar o
controle estatal de arma de fogo em geral, contando, para tanto, com os acessórios – igualmente
perigosos – bem como levando-se em conta a munição – sem a qual a arma de fogo é inútil. Surpreender
alguém portando grande quantidade de munição, por exemplo, sem autorização legal, pode ser conduta
mais grave que o singelo porte de um revólver calibre 38, devidamente registrado. Logo, não vemos
infringência a nenhum princípio penal, mormente o da proporcionalidade...” (Leis Penais e Processuais
Penais Comentadas, Vol. 2, 10.ª ed., Rio de Janeiro, Forense, 2017, pág. 26).
A jurisprudência trilha idêntico caminho: “É pacífica a jurisprudência dos Tribunais Superiores no sentido
de que os delitos de porte de armas e munição de uso permitido ou restrito, tipificados nos artigos 12 e 16
da Lei nº 10.826/2003, são crimes de mera conduta e de perigo abstrato, em que se presume a
potencialidade lesiva, sendo inaplicável o princípio da insignificância independentemente da quantidade
apreendida” (STJ, Ag.Rg. no R.Esp. 1.682.315/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
6.ª TURMA, julgado em 07/11/2017, DJe de 13/11/2017). No mesmo sentido: “A teor dos precedentes
desta Corte, o porte ilegal de munição, ainda que não associado a arma de fogo de calibre compatível, é
lesivo à segurança pública e compromete a paz social. Por tal razão, em princípio, é incabível a aplicação
do princípio da insignificância ao crime previsto no art. 12 da Lei n. 10.826/2003 (...)” (STJ, Ag.Rg. no
R.Esp. 1.621.389/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, 6.ª TURMA, julgado em 27/06/2017, DJe
de 01/08/2017). De acordo, ainda, com a Suprema Corte, tratando de ato semelhante ao retratado neste
expediente: “Mostra-se irrelevante, no caso, cogitar-se da lesividade da conduta de portar apenas a
munição, porque a hipótese é de crime de perigo abstrato, para cuja caracterização não importa o
resultado concreto da ação” (STF, HC 113.295, Relator Min. RICARDO LEWANDOWSKI, 2.ª Turma,
julgado em 13/11/2012; grifo nosso). Conclui-se, portanto, que o porte de munição constitui conduta formal
e materialmente típica.
Há perícia confirmando a eficácia da munição apreendida, inexistindo, destarte, óbice para o oferecimento
de denúncia, porquanto confirmadas, em sede inquisitiva, materialidade e autoria do delito.
Solução: designa-se outro promotor de justiça para oficiar nos autos e oferecer denúncia, prosseguindo
nos ulteriores termos da ação penal a ser instaurada.

MP 36.540/19
Autos n.º 1500444-13.2019.8.26.0189 – MM. Juízo da Vara do Juizado Especial Criminal da Comarca de
Fernandópolis
Assunto: revisão de requerimento de arquivamento de termo circunstanciado
EMENTA: CRIME DO ART. 307 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO (LEI N. 9.503/97). VIOLAÇÃO
DA SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR IMPOSTA ADMINISTRATIVAMENTE. PEDIDO DE
ARQUIVAMENTO FUNDADO NA ATIPICIDADE DA CONDUTA, COM BASE EM PRECEDENTE DO STJ,
NO JULGAMENTO DO HC 427.472. DISCORDÂNCIA JUDICIAL QUE CULMINA NA APLICAÇÃO DO
ART. 28 DO CPP, UMA VEZ QUE O TIPO PENAL EM COMENTO NÃO FAZ DISTINÇÃO, BASTANDO
QUE A SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR OU A PROIBIÇÃO DE SUA OBTENÇÃO TENHAM SIDO
IMPOSTAS COM FUNDAMENTO NO CÓDIGO DE TRÂNSITO. A DECLARAÇÃO DE VOTO VENCIDO
DO MINISTRO NEFI CORDEIRO NO HC 427.472 É NESSE MESMO SENTIDO. A JURISPRUDÊNCIA
MAJORITÁRIA DO TJSP CAMINHA NA MESMA DIREÇÃO. A TESE Nº 409 DO SETOR DE RECURSOS
EXTRAORDINÁRIOS E ESPECIAIS DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO É NO
SENTIDO DE QUE A VIOLAÇÃO À SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR VEÍCULO AUTOMOTOR
CARACTERIZA O CRIME DO ART. 307 DO CTB, AINDA QUE DECORRENTE DE IMPOSIÇÃO
ADMINISTRATIVA. 1. Trata-se de termo circunstanciado que visa a apurar o delito de violação da
suspensão do direito de dirigir, pela autora, que dirigia numa rodovia na comarca de Fernandópolis e
envolveu-se num acidente de trânsito ao chocar-se contra o canteiro central da rodovia e depois com uma
galeria de águas pluviais. 2. Os policiais militares rodoviários constataram na ocasião que ela estava com
o direito de dirigir suspenso, penalidade imposta por órgão do DETRAN, SP. 3. O pedido de arquivamento
formulado, com a devida vênia, não comportava de fato acolhimento. 4. Com o devido respeito ao
entendimento que restringe o alcance do art. 307 do CTB ao descumprimento de decisões judiciais que
tenham imposto a suspensão do direito de dirigir ou a proibição de sua obtenção, não é este o espírito da
norma penal incriminadora em questão, que tem relevante papel no sentido de tutelar não apenas a
Administração Pública e a Administração da Justiça, como também a segurança viária. 5. Cria-se perigoso
precedente e sério desestímulo ao importante papel das autoridades administrativas, quando se coloca
fora do alcance do tipo penal a suspensão do direito de dirigir decretada administrativamente. 6. O tipo
penal não faz distinção alguma, contenta-se com suspensão imposta com fundamento no Código de
Trânsito e este prevê tanto a suspensão imposta administrativamente como aquela decretada
judicialmente. 7. Ambas são alcançadas pelo tipo penal do art. 307 do CTB. SOLUÇÃO: Designação de
outro Promotor de Justiça para intervir nos autos, proceder nos termos do art. 76 da Lei nº 9.099/95, se
estiverem presentes os requisitos legais, ou para oferecer denúncia e prosseguir nos ulteriores termos da
ação penal, se não tiver cabimento, não for aceita ou não for homologada a transação penal. Expeça-se
portaria designando o substituto automático.

MP 32.968/19
Autos n.º 1500101-46.2019.8.26.0341 – MM. Juízo da Vara Judicial da Comarca de Maracaí
Réu: (...)
Assunto: revisão de proposta de suspensão condicional do processo
EMENTA: CPP, ART. 28. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. PROPOSTA ELABORADA
PELO MEMBRO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. DISCORDÂNCIA JUDICIAL. DESCABIMENTO DA
INTERVENÇÃO DA PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA. NÃO CONHECIMENTO.
O mecanismo de controle contido no art. 28 do CPP vincula-se ao cumprimento dos princípios da
obrigatoriedade e da indisponibilidade da ação penal pública (arts. 24 e 42 do CPP). Justamente por esse
motivo, quando o Representante do Parquet deixar de formular a proposta de suspensão condicional do
processo (art. 89 da Lei n.º 9.099/95), não pode o Juiz de Direito aplicá-la de ofício, devendo, ao revés,
encaminhar o feito para análise da Chefia do Ministério Público (Súmula n.º 696 do STF).
Na hipótese dos autos, contudo, o Douto Promotor de Justiça requereu fosse concedido ao acusado o
sursis processual, postura com a qual o Magistrado não concordou e, por esse motivo, enviou o
procedimento à Procuradoria-Geral de Justiça.
A controvérsia surgida nesta causa não deve ser resolvida com a intervenção deste Órgão. É de ver que
a medida despenalizadora acima mencionada somente se aperfeiçoa quando judicialmente homologada.
Significa que, sem a chancela do Poder Judiciário, a benesse não tomará lugar, cumprindo ao interessado,
se assim entender, ingressar com as vias de impugnação adequadas.
Solução: deixa-se de conhecer da remessa, determinando-se o retorno do procedimento à origem para
seu regular andamento.

MP 31.295/19
Autos n.º 0071521-25.2018.8.26.0050 – MM. Juízo da Vara do DIPO 3, Foro Central Criminal da Barra
Funda (Comarca da Capital)
Investigada: (...)
Assunto: revisão de promoção de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: INQUÉRITO POLICIAL INICIADO POR AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO, POR
CRIME DE ESTELIONATO. ACUSADA SURPREENDIDA COM CARTÕES DE BILHETE ÚNICO, NOS
QUAIS HAVIAM SIDO INSERIDOS FRAUDULENTAMENTE MAIS DE 1350 REAIS EM CRÉDITOS. A
INDICIADA CONFESSOU QUE ADQUIRIA CARTÕES COM ‘CARGA DOBRADA’ E IRIA REVENDÊ-LOS
A USUÁRIOS EM ESTAÇÃO DE TREM DA CAPITAL. PROMOÇÃO DE ARQUIVAMENTO ALICERÇADA
NO ARGUMENTO DE QUE NÃO HÁ BASE MÍNIMA PARA A PERSECUÇÃO PENAL EM JUÍZO.
INVIABILIDADE. HÁ BASE PARA DENÚNCIA PELO DELITO DO ART. 180, §1º, DO CÓDIGO PENAL.
1. A acusada foi autuada em flagrante delito por policiais civis, pois foi noticiado que estava em estação
de trem da Capital, abordando usuários e vendendo bilhetes abaixo do preço oficialmente estabelecido.
2. Com ela foram apreendidos seis cartões de bilhete único, cinco com numeração e um deles sem
numeração aparente. 3. Relatório preliminar da SPTRANS confirmou que os créditos foram inseridos nos
cartões de forma irregular, fraudulenta, e não pelo sistema da empresa. Funcionário da empresa depôs
no mesmo sentido. 4. A investigada admitiu que comprava cartões ‘com carga dobrada’, de outra pessoa,
para revender. 5. Há base empírica suficiente, portanto, para autorizar o oferecimento de denúncia pelo
delito do art. 180, §1º, do CP, que alcança inclusive aqueles que exerçam atividade comercial ou industrial
informalmente. SOLUÇÃO: Designação de outro Promotor de Justiça para oferecer denúncia e prosseguir
nos ulteriores termos da ação penal, facultada ao ilustre designado a compensação prevista nos Atos
Normativos nº 302/2003 e 488/2006. Expeça-se portaria designando o substituto automático.

MP 31.181/19
Procedimento Investigatório Criminal n.º 0014704-38.2018.8.26.0050 – MM. Juízo da 20.ª Vara Criminal
do Foro Central da Comarca da Capital
Denunciados: (...)
Assunto: arquivamento implícito de termo circunstanciado
EMENTA: CPP, ART. 28. ARQUIVAMENTO IMPLÍCITO SUBJETIVO DE PROCEDIMENTO
INVESTIGATÓRIO CRIMINAL. INEXISTÊNCIA. DENÚNCIA QUE DEIXA DE INCLUIR UM DOS
INVESTIGADOS. SUPOSTA OMISSÃO DETECTADA PELA AUTORIDADE JUDICIÁRIA QUANTO A
TAL PESSOA. ESCLARECIMENTOS FUNDAMENTADAMENTE FORNECIDOS PELO DOUTO
PROMOTOR DE JUSTIÇA. REMESSA CONHECIDA, A FIM DE RECONHECER ESCORREITA A
POSTURA MINISTERIAL. ARQUIVAMENTO CONFIRMADO.
Cuida-se de ação penal movida pelo Ministério Público, por meio do Grupo de Atuação Especial de
Repressão à Formação de Cartel e à Lavagem de Dinheiro e de Recuperação de Ativos – GEDEC,
imputando aos acusados os crimes de corrupção passiva e corrupção ativa majorados.
Concluídas as providências investigatórias, os Doutos Promotores de Justiça ofertaram denúncia e
arrolaram um dos suspeitos como testemunha de acusação. O MM. Juiz, diante disso, instou o Ministério
Público a esclarecer a postura, que lhe pareceu ofender o princípio da indivisibilidade da ação penal
pública. Os esclarecimentos foram apresentados, com exposição das razões de fato e de Direito que
levaram o Parquet a inserir o indivíduo no rol de testemunhas no lugar do pólo passivo da denúncia.
O MM. Juiz, então, julgou ter ocorrido “arquivamento implícito”, aplicando à espécie o art. 28 do CPP e
determinando o envio do caso a esta Procuradoria-Geral de Justiça.
Com relação ao chamado “arquivamento implícito”, trata-se de figura inexistente em nosso ordenamento
jurídico e, pelo que dos autos consta, não foi o que ocorreu. É de se lembrar que o MINISTÉRIO PÚBLICO,
enquanto Instituição essencial à função jurisdicional do Estado, tem o dever de manifestar-se, judicial e
extrajudicialmente, de modo fundamentado. É o que decorre dos arts. 129, inc. VIII, da CF, 43, inc. III, da
Lei n.º 8.625/93 e 169, inc. VII, da Lei Complementar Paulista n.º 734/93. Admitir a figura do chamado
arquivamento implícito seria, portanto, corroborar com ato que viola expressamente dever funcional do
Parquet. Como salienta GUILHERME DE SOUZA NUCCI, “não pode haver pedido de arquivamento
implícito ou tácito. É indispensável que o promotor se manifeste claramente a respeito de cada um dos
indiciados, fazendo o mesmo no que concerne a cada um dos delitos imputados a eles durante o inquérito.
Assim, não pode, igualmente, denunciar por um crime e calar quanto a outro ou outros”. (Código de
Processo Penal Comentado, 3ª edição, São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2004, p. 126-127).
HERÁCLITO ANTÔNIO MOSSIN ensina, no mesmo sentido, que, “O requerimento do Ministério Público
objetivando o arquivamento do inquérito policial ou de outras peças de informação deve ser devidamente
fundamentado, porquanto em termos de ação penal pública sempre se encontra em jogo o interesse
coletivo, no sentido da punição do culpado ou de nenhuma coação sobre ele incidente, quando não houver
razão de ordem fática ou de direito capaz de justificá-la” (Comentários ao Código de Processo Penal – à
luz da doutrina e da jurisprudência, Barueri-SP, Manole, 2005, p. 74). MARCELLUS POLASTRI LIMA
assevera com propriedade que: “...o denominado ‘arquivamento implícito’ não existe no direito pátrio, pois
é forçoso reconhecer que o artigo 28 do CPP só prevê o arquivamento explícito e que tanto o artigo 18 do
mesmo diploma legal como a Súmula 524 do STF também só se aplicam nos casos de arquivamentos
requeridos e deferidos” (Ministério Público e Persecução Criminal. 4ª ed. Rio de Janeiro, Lumem Iuris,
2007, p. 250). O Egrégio Superior Tribunal de Justiça já teve oportunidade de se manifestar a respeito do
tema: “O silêncio do Ministério Público em relação a acusados cujos nomes só aparecem depois em
aditamento à denúncia não implica arquivamento quanto a eles. Só se considera arquivado o processo
com o despacho da autoridade judiciária (CPP, art. 18)” (RT, 691/360). O Augusto Supremo Tribunal
Federal analisou a questão nos seguintes termos: “PRISÃO PREVENTIVA - CONCESSÃO DA ORDEM
EM HABEAS CORPUS - EXTENSÃO. Tendo ocorrido a extensão de ordem formalizada em habeas
corpus, dá-se o prejuízo da impetração em que é paciente o beneficiário do julgamento anterior. CRIME
TRIBUTÁRIO - INICIAL - BALIZAS. Atende ao figurino legal denúncia imputando crime tributário presente
a assertiva de não haver sido informada a existência de certo numerário à Receita Federal. INQUÉRITO
- ARQUIVAMENTO IMPLÍCITO. O ordenamento jurídico não contempla o arquivamento implícito do
inquérito mormente quando articulado a partir do fato de o Ministério Público ter desmembrado a iniciativa
de propor a ação considerados vários réus e imputações diversificadas” (HC n. 92.445, rel. Min. MARCO
AURÉLIO, DJe de 02/04/2009; grifo nosso).
Por tal motivo, sempre que o órgão ministerial deixar de se manifestar quanto a um ou alguns dos
indiciados ou crimes investigados no âmbito do procedimento investigatório, cumpre ao magistrado
determinar o retorno dos autos ao membro do Parquet, para que expressa e fundamentadamente requeira
o que de direito (como de fato ocorreu na hipótese vertente). Nesse sentido, o escólio do já citado
GUILHERME DE SOUZA NUCCI: “Cabe ao representante do Ministério Público oferecer razões para
sustentar o seu pedido de arquivamento. Sem elas, devem os autos retornar ao promotor, a mando do
juiz, para que haja regularização” (op. cit., p. 126).
Quanto ao mérito da remessa, a razão se encontra com os Ilustres Promotores de Justiça do GEDEC,
haja vista que a mera ciência do agente a respeito da negociação espúria não o torna concorrente da
infração penal. Deve-se anotar que ele não efetuou qualquer conduta positiva apta a influenciar
causalisticamente na produção do resultado jurídico e, além disso, não possuía dever jurídico de agir para
impedir o resultado.
Solução: conhece-se da presente remessa, insistindo-se no arquivamento expressamente formulado em
relação ao investigado, com a ressalva do art. 18 do CPP.

MP 30.950/19
Inquérito policial n.º 0004721-15.2018.8.26.0050 – MM. Juízo do DIPO 4 (Comarca da Capital)
Investigado: (...)
Assunto: revisão de pedido de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: INQUÉRITO POLICIAL DESTINADO À APURAÇÃO DO CRIME DE APROPRIAÇÃO
INDÉBITA (CP, ART. 168, § 1º, III). PROMOÇÃO DE ARQUIVAMENTO BASEADA NO
RESSARCIMENTO HAVIDO, APONTANDO PARA AUSÊNCIA DE DOLO DO INVESTIGADO E PARA A
ATIPICIDADE DA CONDUTA. DISCORDÂNCIA JUDICIAL, QUE CULMINOU NA APLICAÇÃO DO
DISPOSTO NO ART. 28, DO CPP. COM RAZÃO O MM. JUIZ, UMA VEZ QUE O RESSARCIMENTO
HAVIDO, SOMENTE DEPOIS DE LAVRADO BOLETIM DE OCORRÊNCIA, NÃO AFASTA O DELITO.
STJ: PRECEDENTES. 1. O investigado, advogado, foi contratado pela vítima para ajuizar ação, visando
o recebimento do valor do seguro DPVAT, em face do falecimento do marido dela, vítima de acidente de
trânsito. 2. A ação foi acolhida e o valor levantado pelo investigado, que não efetuou, porém, o devido
repasse à vítima. 3. A prova oral constante do inquérito policial noticia que o fato não foi episódio isolado,
mas era comportamento reiterado do investigado, que comumente deixava de fazer os repasses de tais
valores às vítimas em situações análogas. Presentes, portanto, prova de materialidade e indícios mínimos
de autoria do crime do art. 168, § 1º, III, do CP. Há justa causa para o oferecimento de denúncia, consoante
precedentes do C. STJ: (AgInt no HC 477498-SP, relator Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO,
SEXTA TURMA, julgado em 21.02.2019, DJe 11.03.2019). SOLUÇÃO: Designação de outro Promotor de
Justiça para oferecer denúncia e prosseguir nos ulteriores termos da ação penal, facultando-se ao ilustre
designado a compensação prevista em conformidade com os Atos Normativos nº 302/2003 e 488/2006.
Expeça-se portaria, designando o Substituto Automático.
MP 29.768/19
Autos n.º 0002250-84.2017.8.26.0236 – MM. Juízo da Vara Criminal do Foro da Comarca de Ibitinga
Vítima: (...)
Assunto: revisão de requerimento de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: Inquérito policial destinado à apuração do crime de homicídio culposo de trânsito (CTB, art.
302). Promoção de arquivamento alicerçada no argumento de que não restou provada a responsabilidade
criminal do investigado, pois o local do fato não permitia visibilidade superior à distância de 300 metros.
SOLUÇÃO: Há prova de materialidade e indícios de autoria do crime de homicídio culposo de trânsito,
pois as provas técnica e oral coligidas no inquérito policial demonstram que o investigado, na condução
de caminhão destinado ao transporte de cana-de-açúcar, ingressou na rodovia em momento inoportuno
e por isso obstou a trajetória do ofendido, que conduzia uma caminhonete e colidiu com a lateral do
caminhão. O argumento de visibilidade limitada para o motorista do caminhão não é hábil para afastar a
responsabilidade criminal do investigado, pois se a visibilidade não era tão ampla, maiores deveriam ser
as cautelas por ele adotadas no momento de cruzar a rodovia, uma vez que era perfeitamente previsível
a possibilidade de surgir algum veículo que por ela transitasse, como efetivamente aconteceu, com o
desfecho letal, em face da sede, gravidade e complicações oriundas das lesões sofridas pelo ofendido
por conta do impacto da caminhonete contra a lateral do caminhão canavieiro. A alegação do investigado
de que talvez o veículo conduzido pela vítima estivesse em velocidade alta é totalmente órfã de prova.
Além disso, não há compensação de culpas em Direito Penal. Eventual dúvida, se houver, nessa fase
deve ser dirimida em prol da sociedade. Houve, além disso, no caso concreto, a supressão do mais
importante dos bens jurídicos: a vida humana. Tudo isso aponta para a presença de justa causa para a
persecução criminal em juízo, pelo crime de homicídio culposo de trânsito (CTB, art. 302). Designa-se
outro Promotor de Justiça para oferecer denúncia e prosseguir nos ulteriores termos da ação penal, até
final decisão, facultada a compensação prevista em conformidade com os Atos Normativos nº 302/2003
e 488/2006. Expeça-se portaria, designando o Substituto Automático.

MP 29.764/19
Autos n.º 0002691-13.2012.8.26.0116 – MM. Juízo da 2.ª Vara Judicial da Comarca de Campos do Jordão
Investigados: (...)
Assunto: revisão de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: INVESTIGAÇÃO CRIMINAL INSTAURADA VISANDO APURAR O CRIME DE PECULATO,
PRATICADO PELOS INDICIADOS EM PREJUÍZO DO MUNICÍPIO DE CAMPOS DO JORDÃO (CP, ART.
312, § 1º). PROMOÇÃO DE ARQUIVAMENTO ALICERÇADA NA PRESCRIÇÃO VIRTUAL,
SUSTENTANDO QUE, CONSIDERANDO A ÉPOCA DE COMETIMENTO DOS DELITOS, NÃO TENDO
HAVIDO, AINDA, RECEBIMENTO DE DENÚNCIA, NÃO SE JUSTIFICA A PERSECUÇÃO PENAL EM
JUÍZO, EM FACE DA PERSPECTIVA DE PENA, QUE CONDUZIRIA, FATALMENTE, AO
RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO DE PUNIR DO ESTADO. DISCORDÂNCIA
DO MAGISTRADO, QUE APLICOU O DISPOSTO NO ART. 28 DO CPP, INVOCANDO A SÚMULA 438
DO STJ E O TEMA 239 DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO, COM TESE DE REPERCUSSÃO GERAL. 1.
Os investigados nestes autos, servidores públicos lotados na Prefeitura do Município de Campos do
Jordão, são alvo de investigação criminal, uma vez que, destacados para administração e repasse dos
valores referentes ao FGTS dos agentes municipais regidos pela CLT, entre outras condutas, promoveram
individualizações indevidas da verba, efetuando pagamentos em duplicidade ou em valores superiores ao
devido, ora em benefício próprio, ora em benefício de terceiros a eles ligados por parentesco ou amizade,
acarretando prejuízo aos demais servidores e ao erário. 2. A promoção de arquivamento do D. Promotor
de Justiça Substituto, lastreada no argumento da prescrição virtual, não comporta acolhimento. A
ação penal pública subordina-se ao princípio da obrigatoriedade (CPP, art. 24). 3.
O argumento de que a imposição de pena, no futuro, ensejará a prescrição retroativa (CP, art.
110, § 2º, na redação anterior à Lei nº 12.234/10, não procede, pois a hipótese é sujeita a várias
contingências, de modo que não se pode excluir a possibilidade de modificação na descrição típica,
ensejadora de crime mais grave (mutatio libelli – CPP, art. 384), e não se pode ainda ter garantia alguma
de que a pena efetivamente aplicada no caso concreto irá ater-se ao seu patamar mínimo. 4. Além disso,
a prescrição “antecipada” ou “virtual” lastreia-se, como se ponderou acima, na prescrição retroativa. Tal
modalidade de prescrição constitui criação brasileira e se mostra única em todo o Mundo. Sua
insubsistência, inclusive, vinha sendo sustentada pelo Colendo Colégio Nacional de Procuradores-Gerais
de Justiça, o qual manifestara expresso apoio e auxílio técnico ao Projeto de Lei n.º 1.383/2003, do
Deputado Federal Antônio Carlos Biscaia, que visava à supressão de dita modalidade de causa extintiva
da punibilidade e que veio a ser aprovado, transformando-se na Lei n.º 12.234, de 05 de maio de 2010. 5.
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme nesse sentido (STJ, RHC n. 33.795/SP, rel.
Ministra LAURITA VAZ, 5ª Turma, j. em 11/03/2014, DJe de 26/03/2014). 6. Finalmente, a Súmula 438 do
STJ, proíbe o reconhecimento da prescrição virtual: “É inadmissível a extinção da punibilidade pela
prescrição da pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente da existência
ou sorte do processo penal”. SOLUÇÃO: Designação de outro Promotor de Justiça para intervir nos autos
e dar-lhes o encaminhamento que considerar adequado, segundo sua independência funcional, facultada
a compensação prevista nos Atos Normativos nº 302/2003 e 488/2006. Expeça-se portaria designando o
substituto automático.

MP 28.647/19
Autos n.º 1500710-03.2019.8.26.0576 – MM. Juízo da 5.ª Vara Criminal da Comarca de São José do Rio
Preto
Investigado: (...)
Assunto: revisão de arquivamento de procedimento administrativo criminal
EMENTA: Termo circunstanciado instaurado visando a apuração do crime de calúnia (CP, art. 138)
praticado em tese contra Magistrado, por pessoa que formulou representação ao CNJ, Conselho
Nacional de Justiça, alegando morosidade processual em feito afeto à competência da 1ª Vara da
Fazenda Pública da Comarca de São José do Rio Preto. Promotor de Justiça promove o arquivamento
da investigação, sustentando que não houve imputação falsa de fato definido em lei como crime, não
configurado, portanto, o delito de calúnia. O ofendido discordou, enumerando suas razões por escrito,
antes da decisão acerca da promoção de arquivamento. Magistrada aplica o disposto no art. 28, do
CPP, considerando principalmente as razões apontadas pelo ofendido. SOLUÇÃO: A representação
formulada contra o Magistrado foi objeto de arquivamento no CNJ e também perante o TJSP. Apesar de
reconhecido pelo TJSP que de fato houve demora, ponderou-se que tal fato, por si só, não justificaria a
intervenção disciplinar, principalmente ante as informações prestadas pelo Magistrado. Não se identifica
na conduta da investigada, ao representar, o ânimo de ofender a honra do Magistrado. Não estão
presentes os elementos do crime de calúnia. Não há lastro mínimo e nem justa causa para a
persecução penal em juízo. Insiste-se, portanto, na promoção de arquivamento formulada pelo D.
Promotor de Justiça.

MP 27.987/19
Autos n.º 1504776-52.2019.8.26.0050 – MM. Juízo do DIPO 4 (Comarca da Capital)
Indiciado: (...)
Assunto: análise de promoção de arquivamento do inquérito policial
EMENTA: Inquérito destinado à apuração do crime de receptação dolosa no exercício de atividade
comercial (CP, art. 180, § 1º). Promoção de arquivamento fundada no argumento da ausência de
elementos mínimos para a persecução criminal em juízo. Discordância judicial, com aplicação do art. 28
do CPP. SOLUÇÃO: O acusado foi autuado em flagrante delito porque, no estabelecimento onde mantém
comércio de peças de motocicleta, foi apreendido um motor de motocicleta com a numeração suprimida,
além de outros componentes, sem prova de origem. Laudo pericial concluiu que o motor apreendido teve
sua numeração picotada. A MMª Juíza aponta a necessidade de mais diligências, porque as notas fiscais
apresentadas não estão em nome do investigado, além do que não consta tenham sido periciados os
demais componentes apreendidos. Há base empírica suficiente para o oferecimento de denúncia pelo
delito do art. 180, § 1º, do CP, e as diligências sugeridas pela Magistrada poderão ser requeridas na cota
introdutória de oferecimento da inicial. Designa-se, portanto, outro Promotor de Justiça para oferecer
denúncia, providenciar as diligências supramencionadas e prosseguir nos demais termos da ação penal,
até final decisão. Faculta-se ao Ilustre Promotor de Justiça designado valer-se da compensação prevista
em conformidade com os Atos Normativos nº 203/2003 e 488/2006. Expeça-se portaria designando o
substituto automático.

MP 25.496/19
Autos n.º 0063330-40.2008.8.26.0050 – MM. Juízo do DIPO 3 (Comarca da Capital)
Investigados: (...)
Assunto: revisão de promoção de arquivamento do inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. LAVAGEM DE BENS E CAPITAIS (ART. 1.º DA LEI N.º 9.613/98). EXTINÇÃO
DA PUNIBILIDADE DOS CRIMES ANTECEDENTES. FATOS PRATICADOS ANTES DO ADVENTO DA
LEI N.º 12.683/12, QUE DEU NOVA REDAÇÃO AO ART. 2.º, §1.º, DA LEI DE LAVAGEM. PEDIDO DE
ARQUIVAMENTO SUSTENTADO NO FATO DE AS INFRAÇÕES ANTECEDENTES ESTAREM
RECONHECIDAMENTE PRESCRITAS. ARGUMENTO DE QUE A MODIFICAÇÃO DE 2012 SERIA
NOVATIO LEGIS IN PEJUS QUANTO AO TEMA RELATIVO AOS DELITOS ANTERIORES CUJA
PUNIBILIDADE SE EXTINGUIU. OFERECIMENTO DE DENÚNCIA, PORÉM, QUE SE FAZ
NECESSÁRIO. ALTERAÇÃO LEGISLATIVA DE CARÁTER EXPLICATIVO, SEM O CONDÃO DE
ALARGAR O ESPECTRO DE ATUAÇÃO DO IUS PUNIENDI. SITUAÇÃO QUE, MESMO ANTES DA LEI
N.º 12.683/12, DEMANDAVA A MESMA SOLUÇÃO, POR FORÇA DA REGRA GERAL PREVISTA NO
ART. 108 DO CP. PRECEDENTES.
A modificação legislativa operada na Lei n.º 9.613/98, pela Lei n.º 12.683/12, teve caráter meramente
explicativo. O legislador, com a mudança redacional, apenas explicitou o que antes já se entendia, sem,
portanto, ampliar a esfera da punibilidade do crime tratado na mencionada Lei.
A regra atualmente expressa no art. 2.º, §1.º, da Lei de Lavagem já se encontra prevista no sistema
jurídico-penal brasileiro desde 1940, quando da redação original do Código Penal, estando, hoje, no art.
108 deste Diploma. De acordo com o dispositivo: “A extinção da punibilidade de crime que é pressuposto,
elemento constitutivo ou circunstância agravante de outro não se estende a este. Nos crimes conexos, a
extinção da punibilidade de um deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da
conexão”. Ressalte-se que a norma geral contida no Código se aplica à legislação penal extravagante, ex
vi do art. 12 deste Diploma. Não se cuida, dessa forma, de novatio legis in pejus.
De mais a ver, como bem ressaltou a MM. Juíza, a jurisprudência do Egrégio Superior Tribunal de Justiça
já havia sinalizado, anteriormente à Lei n.º 12.683, que a extinção da punibilidade do delito anterior não
impedia a apuração da lavagem. Nesse sentido, STJ, HC 207.936/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI,
QUINTA TURMA, julgado em 27/03/2012, DJe de 12/04/2012.
Solução: designa-se outro promotor de justiça para oferecer denúncia e prosseguir no feito em seus
ulteriores termos.

MP 24.183/19
Autos n.º 0018112-37.2018.8.26.0050 – MM. Juízo do DIPO 3 (Comarca da Capital)
Investigado: (...)
Assunto: revisão de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: Inquérito policial instaurado visando a apuração de subtração de veículo automotor (CP, art.
155). Promoção de arquivamento alicerçada no argumento de que não há base mínima para a propositura
de ação penal. Discordância judicial que culminou na aplicação do art. 28, do CPP. SOLUÇÃO: Há prova
de materialidade e indícios de autoria do crime de furto, que deve ser imputado ao investigado, pois este
procurou por policiais militares, afirmou que teria adquirido o veículo por mil reais e, pelo baixo preço pago,
desconfiava de sua origem ilícita, isso depois de mais de dois meses com o veículo sob seu poder. Além
disso, consta que irmã do proprietário do bem subtraído viu imagens de segurança do cenário da
subtração e apontou, com certeza, o investigado como autor do furto do veículo. Há base empírica
suficiente, portanto, para que se proponha ação penal pela subtração do automóvel. Designação de outro
Promotor de Justiça para oferecer denúncia por furto e prosseguir nos ulteriores termos da ação penal,
até final decisão, facultada ao ilustre Promotor de Justiça designado a compensação prevista em
conformidade dos Atos Normativos nº 302/2003 e nº 488/2006.

MP 23.195/19
Autos n.º 1500047-89.2019.8.26.0629 – MM. Juízo da 1ª Vara Criminal da Comarca de Tietê
Indiciada: (...)
Assunto: revisão de pedido de arquivamento do inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. CRIME DE FALSO TESTEMUNHO (CP, ART. 342). INVERACIDADE DAS
DECLARAÇÕES RECONHECIDA NA DECISÃO CONDENATÓRIA, QUANDO SE ANALISOU TODO O
CONJUNTO PROBATÓRIO. MENTIRA DETECTADA PELO JULGADOR, QUE NÃO O INFLUENCIOU
NA PROLAÇÃO DA SENTENÇA. IRRELEVÂNCIA. ARQUIVAMENTO FUNDADO NA NATUREZA
MARGINAL DAS DISCREPÂNCIAS ENTRE AS DECLARAÇÕES PRESTADAS PELA TESTEMUNHA NA
FASE POLICIAL E EM JUÍZO. DIVERGÊNCIA, PORÉM, SOBRE ASPECTO FUNDAMENTAL, POIS
SUGERIA O DEPOIMENTO MENDAZ QUE A DROGA APREENDIDA TERIA SIDO FORJADA PELA
POLÍCIA. OFERECIMENTO DE DENÚNCIA QUE SE IMPÕE.
O falso testemunho (CP, art. 342) é crime formal, cuja consumação dá-se quando o sujeito fizer afirmação
falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, em depoimento prestado em processo judicial, ou
administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral.
O valor a que o legislador outorga proteção especial, na fattispecie considerada, reside no resguardo da
administração da Justiça, com ênfase no interesse na correta apuração da verdade em processos
judiciais, administrativos, inquéritos policiais e juízo arbitrais e, consequentemente, na adequada
aplicação do direito.
A infração pode ser cometida de três modos distintos: mediante uma afirmação falsa, negando-se a
verdade ou calando-se a respeito desta. Na primeira situação, ocorre a falsidade positiva: assevera-se um
fato ou informação mentirosa. Na segunda, a falsidade negativa: nega-se a verdade da qual se tem
conhecimento. Na última, a reticência: silencia-se a respeito do que se sabe ou explicitamente se recusa
a externar a informação.
Em todas as modalidades, que são equiparadas para efeitos legais, o que justifica a incriminação não é,
como dizia HUNGRIA, o contraste entre o depoimento e a realidade dos fatos, mas entre o conteúdo das
declarações e a ciência da testemunha (Comentários ao Código Penal, 2.ª edição, Rio de Janeiro,
Forense, 1959, Vol. IX, pág. 476).
Repise-se, ainda, que o crime contra a administração da Justiça tem natureza formal, consumando-se no
momento em que se encerrar o depoimento no qual se fez a afirmação falsa, se negou ou calou a verdade
em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral.
Nesse sentido, há orientação do Egrégio Superior Tribunal de Justiça: “(...) É pacífico o entendimento
desta Corte Superior no sentido de que o crime de falso testemunho é de natureza formal, consumando-
se no momento da afirmação falsa a respeito de fato juridicamente relevante, aperfeiçoando-se quando
encerrado o depoimento, podendo, inclusive, a testemunha ser autuada em flagrante delito” (STJ, AgRg
no AREsp 603.029/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, 5.ª TURMA, julgado em 23/05/2017, DJe de
29/05/2017).
O crimen do art. 342 do CP, ademais, não exige qualquer finalidade especial a que se dirija o
comportamento. Em outras palavras, trata-se de delito doloso, para o qual basta a voluntariedade do ato
e a consciência por parte do agente da inveracidade das alegações.
Não é necessário que as declarações induzam o julgador a erro, sendo suficiente que se mostrem
potencialmente lesivas, isto é, capazes de influenciar fraudulentamente no resultado da lide. Não se deve
confundir potencialidade lesiva com efetiva lesão, algo que o tipo penal não exige. Precedentes
jurisprudenciais.
Solução: designa-se outro promotor de justiça para oferecer denúncia e prosseguir nos ulteriores termos
da ação penal.

MP 22.948/19
Autos n.º 0014712-15.2018.8.26.0050 – MM. Juízo da 22.ª Vara Criminal do Foro Central Criminal da
Barra Funda (Comarca da Capital)
Ré: (...)
Assunto: revisão de recusa ministerial em propor suspensão condicional do processo
EMENTA: Ação penal proposta pela prática do delito do art. 7º, IX, da Lei nº 8.137/90, pesando contra a
ré a acusação de ter peças de carne, em depósito, para vender, em condições impróprias ao consumo.
Recebida a denúncia, a MMª Juíza provocou o Ministério Público a se manifestar acerca da possibilidade
de aplicação do disposto no art. 89, da Lei nº 9.099/95 (suspensão condicional do processo). A Digna
Promotora de Justiça recusou motivadamente a formulação da proposta, afirmando que embora o tipo
penal referido preveja alternativamente a aplicação isolada da pena de multa, deve ser considerada a
pena privativa da liberdade mínima cominada, de 2 anos de reclusão, que obstaria, segundo esse
entendimento, a incidência da suspensão condicional do processo. A MMª Juíza, então, aplicou o art. 28,
do CPP, por analogia, e encaminhou os autos a esta Procuradoria-Geral de Justiça, nos termos da Súmula
696, do STF. SOLUÇÃO: Embora a suspensão condicional do processo não seja direito público subjetivo
do acusado, cumprindo ao titular da ação penal aferir sempre o cabimento de medidas despenalizadoras,
nos termos da Lei nº 9.099/95, em decorrência do disposto no art. 129, I, da CF, no caso concreto, em
que se prevê a aplicação alternativa de multa, de forma isolada, não há como afastar a incidência do
sursis processual, preenchidos pela acusada os requisitos de natureza subjetiva, considerando que ela
não registra antecedentes criminais. Nesse sentido, a doutrina de Ada Pelegrini Grinover e outros autores
(Juizados especiais criminais, São Paulo, RT, 2005, pp. 269-270) e a jurisprudência de nossos Tribunais
Superiores (STJ, HC 125.850-SP, Relatora Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 31.05.2011, DJe
08.06.201; STF, HC 83926, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Segunda Turma, julgado em 07/08/2007,
DJe-101 DIVULG 13-09-2007). Esta Procuradoria-Geral de Justiça formula, assim, proposta de
suspensão condicional do processo, nos termos do art. 89, da Lei nº 9.099/95, sob as seguintes condições:
i) comparecimento mensal e obrigatório em juízo para justificar suas atividades; ii) proibição de frequentar
determinados lugares a serem estipulados judicialmente; iii) proibição de ausentar-se da comarca onde
reside sem autorização judicial; iv) e obrigação de prestar serviços à comunidade ou entidades públicas,
pelo prazo de dois meses, perfazendo 60 (sessenta) horas de tarefas gratuitas. A homologação será feita
pelo E. Juízo de primeiro grau, não se identificando a necessidade de designação de outro Promotor de
Justiça para atuar em lugar da D. Promotora de Justiça natural, por ter esta Procuradoria-Geral de Justiça
cuidado de formular a proposta de suspensão condicional do processo.

MP 23.484/19
Autos n.º 1504954-49.2019.8.26.0228 – MM. Juízo do DIPO 3 (Comarca da Capital)
Indiciado: (...)
Assunto: arquivamento indireto (controvérsia acerca da capitulação jurídica do fato – tráfico ou porte de
droga para consumo pessoal)
EMENTA: Inquérito policial iniciado por auto de prisão em flagrante delito, visando apurar os crimes de
tráfico de droga (art. 33, caput, Lei 11.343/06), resistência (CP, art. 329, caput), e lesão corporal simples
(CP, art. 129, caput), em face do disposto no art. 329, § 2º, do CP. Promoção de arquivamento alicerçada
no argumento de que o investigado não foi surpreendido realizando ato de venda da droga, concluindo no
sentido da ausência de elementos mínimos para a persecução penal em juízo. Discordância judicial, que
culmina na aplicação do art. 28, do CPP. SOLUÇÃO: Há prova de materialidade e indícios de autoria dos
crimes acima mencionados, uma vez que o investigado, de bicicleta, se dirigia ao fluxo da “cracolândia”,
local em que sabidamente há grande concentração de usuários e traficantes de droga; ao avistar os
guardas civis metropolitanos, tentou evadir-se. Ofereceu resistência à abordagem, mediante violência,
mordendo o braço de um dos guardas municipais, ferindo-o levemente. Com o investigado, na parte frontal
de um calção que trajava, os agentes encontraram 144,8 gramas de “crack”, composto à base de cocaína,
em 3 porções. As circunstâncias em que se deu a prisão do investigado, o local, assim como a expressiva
quantidade de droga, que comportaria o fracionamento em cerca de 600 porções, além dos antecedentes
dele, por tráfico de drogas, são dados que apontam para a presença de elementos que autorizam a
propositura de ação penal pelo crime de tráfico de droga, além dos delitos de resistência e lesão corporal
simples. Designa-se outro Promotor de Justiça para oferecer denúncia e prosseguir nos ulteriores termos
da ação penal, até final decisão, facultando-se ao Ilustre Promotor de Justiça designado a compensação
prevista nos Atos Normativos nº 302/2003 e 488/2006. Expeça-se Portaria, designando o Substituto
Automático.

MP 19.937/19
Inquérito Policial n.º 0068908-32.2018.8.26.0050 – MM. Juízo da Vara Criminal do DIPO 4 (Foro Central
Criminal da Barra Funda, Comarca da Capital)
Assunto: revisão de promoção de arquivamento de inquérito policial (CP, art. 203)
EMENTA: Inquérito policial instaurado visando à apuração do delito do art. 203, do CP, na conduta de
empregadora, que além de não ter pago as verbas trabalhistas a que se comprometeu em acordo
celebrado no âmbito da Justiça do Trabalho, também deixou de restituir a CTPS do ofendido, que havia
retido ilegalmente. O documento não foi restituído nem mesmo com a expedição de mandado de busca
pela Justiça do Trabalho. Notícia de fato que primeiro tramitou no âmbito da Justiça Federal, tendo o MPF
declinado da atribuição e pugnado pela remessa do expediente à Justiça comum estadual, perante a qual
a Digna Promotora de Justiça pugnou pela instauração de inquérito policial para apurar o delito acima
mencionado. Promoção de arquivamento baseada no argumento de que houve a prescrição da pretensão
punitiva do Estado, nos termos do art. 107, VI, c.c. art. 109, do CP. Discordância judicial, com aplicação
do art. 28, do CPP, embasada no argumento de que o delito, nas circunstâncias em que ocorreu, assumiu
a feição de crime permanente, aplicando-se então a regra do art. 111, III, do CP, no sentido de que a
prescrição somente começa a correr do dia em que cessa a atividade criminosa, o que não se verificou
no caso concreto. SOLUÇÃO: Assiste razão, em parte, à Magistrada, pois há indícios de autoria e de
materialidade, assim como justa causa para a persecução criminal em juízo, mas não pelo crime do art.
203, do CP, e sim pelo delito de supressão de documento (CP, art. 305), que na modalidade de ocultar
tem a natureza de crime permanente, aplicando-se, então, a regra relativa à prescrição do art. 111, III, do
CP, não verificada a cessação da atividade criminosa, pois o documento não foi restituído ao ofendido.
Designação de outro Promotor de Justiça para oferecer denúncia e prosseguir nos demais termos da ação
penal, até final decisão, facultada ao ilustre Promotor de Justiça designado a compensação prevista nos
atos normativos 306/03 e 488/06.

MP 19.561/19
Autos nº 1500452-16.2019.8.26.0536 – MM. Juízo da 6.ª Vara Criminal da Comarca de Santos
Denunciado: (...)
Assunto: aditamento da denúncia para inclusão de coautor
EMENTA: CPP, ART. 28. INQUÉRITO POLICIAL RELATADO. AGENTE INDICIADO POR TRÁFICO DE
DROGAS (LEI N.º 11.343/06, ART. 33, CAPUT), RESISTÊNCIA (CP, ART. 329, CAPUT) E LESÃO
CORPORAL DOLOSA LEVE (CP, ART. 129, CAPUT), POIS, ALÉM DA COMERCIALIZAÇÃO DE
SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS, EMPURROU VIOLENTAMENTE O POLICIAL POR OCASIÃO DA
BUSCA PESSOAL A QUE SERIA SUBMETIDO, DERRUBANDO-O NO SOLO E CAUSANDO-LHE
LESÕES CORPORAIS. DENÚNCIA OFERECIDA SOMENTE PELO CRIME EQUIPARADO A
HEDIONDO. PEDIDO DE ARQUIVAMENTO QUANTO AOS DEMAIS FUNDADO NA LICITUDE DA
CONDUTA DO AGENTE, QUE SERIA AMPARADA PELO “NEMO TENETUR SE DETEGERE”.
DESCABIMENTO. PRIVILÉGIO CONTRA A AUTOINCRIMINAÇÃO QUE NÃO CONSTITUI DIREITO
ABSOLUTO E NÃO CONFERE, PORTANTO, LICITUDE A COMPORTAMENTOS COMO O
RETRATADO NOS AUTOS. ADITAMENTO DA DENÚNCIA QUE SE IMPÕE.
Segundo narra a denúncia, o acusado trazia consigo e guardava 7 (sete) pinos contendo cocaína e 12
(doze) pedras de “crack”. O agente fora preso por policiais militares e, por ocasião da abordagem, recusou-
se a permitir fosse alvo de busca pessoal, oferecendo resistência, com emprego de violência física,
consistente em empurrar o policial e derrubá-lo no chão, causando-lhe lesões corporais de natureza leve.
A Douta Promotora de Justiça, ao propor a ação penal, imputou ao agente o crime equiparado a hediondo,
mas, quanto à resistência e à lesão corporal, requereu o arquivamento, aduzindo que se cuida de condutas
lícitas, porquanto amparadas pelo privilégio contra a autoincriminação. A MM. Juíza recebeu a denúncia,
porém indeferiu o pedido de arquivamento elaborado, por entender criminosa a reação do agente e, neste
aspecto, enviou o expediente a esta Procuradoria-Geral de Justiça, nos termos do art. 28 do CPP.
A razão se encontra com a Digníssima Magistrada, com a máxima vênia da Nobre Representante
Ministerial; senão, vejamos. É importante ressaltar que os fatos são incontroversos, até porque a atitude
do acusado, de se opor à execução de ato legal, mediante violência consistente em empurrar o policial,
derrubando-o, bem como a lesão corporal daí decorrente, foram inclusive narradas na petição inicial. A
divergência reside em saber se essa conduta é lícita, como entendeu a Ilustre Promotora de Justiça.
Como já decidiu o Plenário da Suprema Corte, nos autos do Recurso Extraordinário n.º 971.959, rel. Min.
FUX, j. em 14 de novembro de 2018, o privilégio contra a autoincriminação não constitui direito absoluto.
Trata-se de permitir ao suspeito, acusado ou réu o direito de não ser compelido a participar de
determinadas medidas de cunho probatório, mas jamais pode ser ampliado de modo a lhe conceder um
salvo-conduto para praticar ações que visem a furtar-se da responsabilidade criminal. Na mesma linha, a
decisão tomada pelo Pretório Excelso no julgamento do Recurso Extraordinário n.º 640.139, rel. Min.
TOFFOLI, j. em 07 de outubro de 2011, quando se firmou a tese de que o investigado, acusado ou réu
não tem o direito de falsear a própria identidade. Essa posição do Supremo Tribunal Federal, inclusive,
implicou na alteração da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e na edição subsequente, por esta
Corte, da Súmula n.º 522. Seguindo esta ordem de ideias, jamais se pode reconhecer lícita a conduta do
investigado que, para não ser apanhado com objetos materiais de crime, emprega violência contra
autoridade pública competente para realizar, nos limites da Lei, busca pessoal.
Afastado o fundamento invocado no pedido de arquivamento ministerial, o aditamento da denúncia se
torna imperioso, afinal, o exercício da ação penal por parte do Ministério Público é um dever, incumbindo-
lhe, destarte, incluir todos os crimes atribuídos ao agente na investigação, desde que o faça –
evidentemente – com o devido respaldo na prova colhida.
Solução: designa-se outro promotor de justiça para aditar a denúncia, nos termos anteriormente expostos,
devendo prosseguir na ação penal em seus ulteriores termos.

MP 18.711/19
Autos n.º 1500054-28.2018.8.26.0561 – MM. Juízo 2.ª Vara Criminal da Comarca de Fernandópolis
Indiciado: (...)
Assunto: revisão de arquivamento de inquérito policial
Ementa: Inquérito policial iniciado por auto de prisão em flagrante delito, destinado à apuração dos crimes
de lesão corporal qualificada pela violência doméstica (CP, art. 129, § 9º), ameaça (CP, art. 147) e injúria
(CP, art. 140). Materialidade e autoria demonstradas por laudo pericial e pelas declarações da vítima e
depoimentos dos policiais ouvidos nos autos. Vítima que comparece perante a Autoridade Policial e se
retrata, sob o argumento de que reatou o convívio com o companheiro. Pedido de arquivamento formulado
pelo D. Promotor de Justiça sob o argumento de que falta justa causa, ante o desinteresse da vítima, que
sequer compareceu à audiência designada nos termos do art. 16, da Lei nº 11.340/06. Discordância do
Magistrado, que aplicou o art. 28, do CPP. SOLUÇÃO: A retratação da vítima somente produz efeito em
relação aos crimes de ameaça e injúria (CP, arts. 147 e 140), mas não em relação ao delito de lesão
corporal dolosa qualificada (CP, art. 129, § 9º), de ação penal pública incondicionada, nos termos da
Súmula 542 do STJ e ADI 4424, julgada pelo STF. Presentes prova de materialidade e suficientes indícios
de autoria, o oferecimento de denúncia se impõe, nos termos do art. 129, § 9º, do CP, designando-se
outro Promotor de Justiça para tanto e para prosseguir nos ulteriores termos da ação penal, até final
decisão, facultada ao Ilustre Promotor de Justiça designado a compensação prevista nos atos normativos
302/03 e 488/06. Publique-se a Ementa.
MP 16.248/19
Autos n.º 1500213-15.2018.8.26.0417 – MM. Juízo da 3.ª Vara Judicial da Comarca de Paraguaçu Paulista
Indiciado: (...)
Assunto: controvérsia acerca do cabimento de acordo de não-persecução penal (art. 18 da Resolução n.º
181, de 2017, do CNMP)
EMENTA: Inquérito policial para apuração do crime de falso testemunho em processo penal (CP, art. 342,
§ 1º), em que o D. Promotor de Justiça vislumbra indícios de materialidade e autoria do delito, mas postula,
atento aos termos das Resoluções 181/17 e 183/18, do CNMP, a intimação da defesa, para que manifeste
eventual interesse na celebração do acordo de não-persecução penal. Pleito indeferido pela Magistrada,
sob os seguintes fundamentos: a) o instituto é inconstitucional, pois a resolução do CNMP regula matéria
em que a competência é privativa da União, para legislar (CF, art. 22, I); b) se o titular da ação penal
vislumbra indícios de materialidade e autoria, em tese está obrigado a oferecer denúncia; c) além disso,
estão em julgamento perante o STF duas ADIs que questionam dispositivos da resolução 181/17, uma
proposta pelo Conselho Federal da OAB, outra pela Associação dos Magistrados Brasileiros (ADIs 5793
e 5790), de modo que seria recomendável, então, aguardar o pronunciamento da Suprema Corte sobre a
matéria. Finalmente, aplicou por analogia o disposto no art. 28, do CPP, a fim de que esta Procuradoria-
Geral de Justiça revise a postura ministerial. Em suma, este o relatório do necessário. Esta Procuradoria-
Geral de Justiça tem defendido que o acordo de não-persecução penal, observados os requisitos
implementados pelas Resoluções 181/17 e 183/18, do CNMMP, é o futuro do processo penal, atende aos
interesses da sociedade e do próprio acusado, no sentido de que haja resposta célere aos delitos nos
quais é permitido. Além disso, o Ministério Público, titular exclusivo da ação penal pública, nos termos do
art. 129, I, da Constituição Federal, tem o poder-dever de verificar a presença dos requisitos para
celebração do acordo, formulá-lo com observância das diretrizes constantes das resoluções
supramencionadas, do CNMP, e submetê-lo à apreciação judicial, não estando prevista nem mesmo a
exigência de homologação judicial. Se o juiz não concordar com os termos do acordo proposto, poderá
encaminhá-lo à revisão desta Procuradoria-Geral de Justiça. Se entender que está em termos, deverá
devolvê-lo ao Ministério Público, para que no âmbito desta Instituição se dê o efetivo cumprimento do
avençado. Além disso, a pendência de duas ações diretas de inconstitucionalidade perante o STF não
constitui óbice à celebração do acordo de não-persecução penal, pois em nenhuma delas a Suprema
Corte emitiu decisão afastando a vigência dos dispositivos da Resolução 181/17, tampouco proibiu a
celebração do acordo de não-persecução penal. SOLUÇÃO: insiste-se na adequada postura do Digno
Promotor de Justiça da Comarca de Paraguaçu Paulista, com a recomendação de que convide a ilustre
defensora nomeada a comparecer à Promotoria de Justiça a fim de que manifeste eventual interesse na
celebração do acordo, formalize-o, se for o caso, com observância das diretrizes traçadas nas Resoluções
do CNMP, submetendo-o à apreciação judicial.

MP 15.150/19
Autos n.º 0003929-13.2018.8.26.0066 – MM. Juízo da 1.ª Vara Criminal da Comarca de Barretos
Réu: (...)
Assunto: revisão de recusa ministerial em aditar a denúncia (de lesão corporal seguida de morte para
feminicídio)
EMENTA: CPP, ART. 28. ADITAMENTO DA DENÚNCIA NA FASE DO DESPACHO LIMINAR.
POSSIBILIDADE. CONTROVÉRSIA ACERCA DA DINÂMICA DOS FATOS E, CONSEQUENTEMENTE,
EM SUA CAPITULAÇÃO JURÍDICA. DENÚNCIA QUE, COM BASE NA VERSÃO DO AGENTE,
DESCREVE O FATO COMO LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE. TESTEMUNHA QUE ALEGA
TER PRESENCIADO, NA NOITE ANTERIOR, A DISCUSSÃO DO AGENTE COM SUA EX-
COMPANHEIRA, POR CIÚMES, QUANDO ELE DECLAROU QUE A MATARIA. EMENDA DA
EXORDIAL QUE SE IMPÕE.
Cuida-se de ação penal movida pelo Ministério Público, imputando ao denunciado o crime de lesão
corporal seguida de morte (CP, art. 129, §3.º), figurando como vítima sua ex-companheira.
O Ilustre Representante Ministerial, ao oferecer denúncia imputando o crime preterintencional retro
mencionado, descreveu a conduta do agente como se resumindo a um único golpe, do tipo “gravata”,
tendo a vítima, em sua defesa, reagido e, nessa condição, caído e chocado a face no chão.
A MM. Juíza, porém, não aquiesceu com a análise do material informativo colhido e sua interpretação
por parte do Douto Promotor de Justiça, apontando haver elementos suficientes para reconhecer um
crime de feminicídio, encaminhando a questão a esta Procuradoria-Geral de Justiça, nos termos do art.
28 do CPP.
A denúncia, como se percebe pela comparação entre a forma como narrou os fatos e os dados
informativos amealhados no inquérito, baseou-se, quanto à dinâmica, na versão do agente.
Esta, porém, não encontra eco nos testemunhos reunidos ao longo da investigação.
Uma das testemunhas foi clara ao destacar que presenciou o autor asseverando que mataria a vítima:
“...Esse fato gerou muito ciúmes em (...), companheiro dela e prometeu matá-la...” (fls. 54).
Confirmou-se, por exame pericial, ademais, a relação de causalidade entre as lesões apresentadas pela
ofendida e seu falecimento. Houve esclarecimentos pelo expert, o qual consignou ter ocorrido “fratura do
osso nasal”, “afundamento dos fragmentos à esquerda e nível hidroaéreo (provável sangramento) no
seio maxilar direito, ou seja, vários pontos foram traumatizados”.
Isso é o quantum satis para, nesta fase da persecução penal, imputar ao agente o crime de feminicídio,
cometido por motivo fútil (CP, art. 121, §2º-A, inc. I, c.c. §2.º, inc. II). O Egrégio Superior Tribunal de
Justiça já reconheceu a convivência entre as qualificadoras supracitadas, conforme se nota no seguinte
julgado: “(...) 2. Caso em que o recorrente foi denunciado por tentativa de feminicídio qualificado,
acusado de ter perseguido a vítima, sua ex-companheira, até sua residência e, na posse de uma faca,
após discussão em que insistia para ver o celular da ofendida, desferiu-lhe diversos golpes, ao que
consta dos autos na presença do filho do casal, circunstâncias que, acrescidas ao motivo determinante
do crime - insatisfação com o término do relacionamento conjugal -, demonstram a reprovabilidade
diferenciada da conduta perpetrada, apta a autorizar a manutenção da custódia cautelar. (...) 4. Recurso
ordinário improvido.” (STJ, RHC 91.679/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, 5.ª TURMA, julgado em
22/05/2018, DJe de 30/05/2018).
Sublinhe-se que nesta fase da persecução penal vigora o princípio in dubio pro societate, impondo que
eventuais dúvidas – quando existentes – sejam dirimidas em favor da propositura da ação no sentido da
infração mais grave. Nesse sentido, a jurisprudência do Colendo Superior Tribunal de Justiça: “(...) No
caso, somente com a análise aprofundada de todo o conjunto probatório a ser produzido durante a
instrução criminal será possível identificar, categoricamente, a intenção do militar ao efetuar o disparo de
arma de fogo no carro da vítima. Havendo fundada dúvida quanto ao elemento subjetivo, o feito deve
tramitar na Justiça Comum, por força do princípio in dubio pro societate. (...)”. (STJ, CC 129.497/MG,
Rel. Ministro ERICSON MARANHO – DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP, 3.ª SEÇÃO,
julgado em 08/10/2014, DJe de 16/10/2014). Nada obsta, por óbvio, que durante a instrução criminal,
sob o crivo do contraditório, apure-se que outro foi o elemento subjetivo do injusto, operando-se então a
desclassificação.
Solução: conhece-se da presente remessa para designar outro promotor de justiça para aditar a
denúncia e prosseguir no feito em seus ulteriores termos, acaso o Ilustre subscritor da exordial persista
no exercício do cargo.

MP 15.149/19
Autos n.º 0000088-44.2017.8.26.0066 – MM. Juízo da 1ª Vara Criminal da Comarca de Barretos
Vítima: (...)
Assunto: revisão de requerimento de arquivamento de inquérito policial
Ementa: Homicídio culposo de trânsito (CTB, art. 302, § único). Materialidade e indícios de autoria
presentes nos autos. Denúncia que se limitou a imputar o crime ao condutor de motocicleta, o qual, sem
possuir habilitação, dirigia veículo desprovido de iluminação traseira, e deteve sua marcha em alça de
acesso a trevo, o que fez com que o condutor da ambulância que vinha atrás abalroasse a traseira do
motociclo, disso resultando a morte da ocupante da garupa do veículo. Pedido de arquivamento formulado
no tocante ao motorista da ambulância e quanto ao crime do art. 303, do CTB. Aplicação do art. 28, do
CPP. Considerando que o abalroamento se deu em alça de acesso de trevo, em que a velocidade era de
40 km/h, há indícios de que o motorista da ambulância também concorreu culposamente para a eclosão
do evento danoso e, via de consequência, para a morte da ofendida, elementos que justificam que a
persecução penal em juízo se desencadeie também em relação a ele, mesmo porque houve a supressão
do bem da vida, o mais importante dos bens jurídicos, o que recomenda sejam os fatos apurados com
profundidade na instrução criminal, sob o crivo das garantias constitucionais do contraditório e da ampla
defesa. Solução: Designação de outro Promotor de Justiça para aditar a denúncia a fim de imputar ao
motorista da ambulância o delito de homicídio culposo de trânsito e para prosseguir nos ulteriores termos
da ação penal, até final decisão.

MP 5.493/19
Autos n.º 1505470-06.2018.8.26.0228 – MM. Juízo do DIPO 4 (Comarca da Capital)
Indiciado: (...)
Assunto: revisão de pedido de diligências em inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. ROUBO MAJORADO E ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA. INDICIADO PRESO.
REQUERIMENTO DE RETORNO DO INQUÉRITO POLICIAL À ORIGEM PARA DILIGÊNCIAS
COMPLEMENTARES. PROVIDÊNCIAS, NO CASO, ÚTEIS, MAS PRESCINDÍVEIS. OFERECIMENTO
DE DENÚNCIA QUE SE IMPÕE, EM FACE DO PRINCÍPIO “IN DUBIO PRO SOCIETATE”.
O oferecimento de denúncia, como é cediço, se satisfaz depois de constatados, nos elementos de
informação coligidos, prova da materialidade e indícios suficientes de autoria.
Conforme reiteradamente tem assentado esta Procuradoria-Geral de Justiça, não se trata de fazer um
juízo definitivo de censura, mas apenas de constatar a existência de um mínimo de embasamento para a
deflagração do devido processo legal, pois: “...a propositura da ação penal exige tão somente a presença
de indícios mínimos e suficientes de autoria. A certeza será comprovada ou afastada durante a instrução
probatória, prevalecendo, na fase de oferecimento da denúncia o princípio do in dubio pro
societate.” (STJ, RHC 79.154/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, DJe de 10/08/2017).
É evidentemente lícito ao Parquet deixar de ajuizar a peça exordial, a despeito de relatado o inquérito,
quando vislumbrar diligências imprescindíveis para tanto, nos termos do art. 16 do CPP. Entendem-se
como tais aquelas sem as quais não é possível oferecer denúncia.
O princípio da obrigatoriedade da ação penal pública (CPP, art. 24), não obstante, requer seja feita uma
distinção entre a diligência útil e a imprescindível. A primeira consubstancia a providência hábil a
esclarecer melhor o fato, mas desnecessária sob a perspectiva do quantum satis para o oferecimento da
denúncia; nesse caso, impõe-se ajuizar a ação penal, postulando-se, na cota introdutória, sua realização.
Considera-se imprescindível a colheita do elemento informativo sem o qual o ingresso da demanda
provocaria flagrante constrangimento ilegal, pela ausência de prova da materialidade e indícios de autoria.
No caso sub examen, porém, os elementos empíricos reunidos no curso da investigação conferem
suficiente amparo à denúncia. Há nos autos os depoimentos dos policiais militares que prenderam o
indiciado, todos congruentes entre si, além das declarações da vítima. Os milicianos confirmaram o
encontro de parte do dinheiro subtraído e um fuzil calibre 556 com dois carregadores e cinco munições
intactas e moedas. Além disso, três vigilantes e um motorista da empresa vítima relataram a dinâmica dos
fatos e reconheceram os objetos apreendidos. O valor total subtraído, ademais, encontra-se indicado no
boletim de ocorrência acostado aos autos.
O oferecimento de denúncia, destarte, é medida que se impõe, sobretudo para evitar o relaxamento da
prisão preventiva imposta ao indiciado.
Solução: designa-se outro promotor de justiça para oferecer denúncia e prosseguir no feito em seus
ulteriores termos.

MP 3.360/19
Autos n.º 0000320-06.2018.8.26.0621 - MM. Juízo da Vara Única da Comarca de Cunha
Acusado: (...)
Assunto: controvérsia acerca do cabimento de acordo de não-persecução penal (art. 18 da Resolução n.º
181, de 2017, do CNMP)
EMENTA: CPP, ART. 28. ACORDO DE NÃO-PERSECUÇÃO PENAL. RESOLUÇÃO 181, DE 2017, DO
CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. APLICAÇÃO EM SEDE DE INQUÉRITO POLICIAL.
PRESSUPOSTOS, REQUISITOS E CONDIÇÕES. RECUSA MINISTERIAL EM FORMULAR O
ACORDO. ENCAMINHAMENTO DA QUESTÃO À PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA PARA
ELABORAÇÃO DE ACORDO NÃO FORMULADO PELO PROMOTOR NATURAL. IMPOSSIBILIDADE.
PRERROGATIVA INSTITUCIONAL. EXEGESE DO ART. 18, §6º, DA RESOLUÇÃO 181/2017 DO CNMP.
Cuida-se de ação penal movida pelo Ministério Público, imputando ao acusado o crime do art. 14 da Lei
nº 10.826/03 (posse ilegal de munições de uso permitido). Na cota de oferecimento da peça vestibular, o
Douto Promotor de Justiça requereu a juntada de certidão de antecedentes criminais dos denunciados e
deixou de propor acordo de não-persecução penal por entender, em síntese: (i) tratar-se de inquérito
policial e não de P.I.C. – Procedimento Investigativo Criminal; (ii) que o acordo é uma faculdade do
Ministério Público, já que a Resolução diz que o Ministério Público "poderá"; (iii) que um dos acusados,
no presente caso concreto, nada confessou; e (iv) que a Promotoria não tem convênio com nenhum local
para que os réus prestem serviços.
O MM. Juiz, todavia, entendendo que o acusado preencheria todos os requisitos elencados no artigo 18
da Resolução n.º 181, de 7 de agosto de 2017, do Conselho Nacional do Ministério Público, aplicou à
espécie o art. 28 do CPP, determinando o envio dos autos a esta Procuradoria-Geral de Justiça.
Não assiste razão ao Digníssimo Magistrado. Aqui não se discute a validade jurídica do acordo de não-
persecução penal. Não obstante, calha mencionar que se cuida de prerrogativa ministerial prevista na
Resolução n.º 181/17, com a redação da Resolução n.º 183/18, do Conselho Nacional do Ministério
Público (CNMP).
Sob a ótica desta Chefia Institucional, o acordo de não-persecução penal representa um inegável avanço
ao combate eficaz da criminalidade no Brasil, ao mesmo tempo em que assegura a efetividade do Direito
Penal, por meio de um mecanismo propiciador de uma resposta célere e proporcional ao fato. O
instrumento jurídico extraprocessual do acordo de não-persecução penal representa, no sentir desta
Procuradoria-Geral de Justiça, uma ferramenta para o fortalecimento do Ministério Público e da Justiça
Criminal. Trata-se, sem exagero, do futuro do processo penal. Os questionamentos que têm sido feitos
acerca da adequação do princípio da barganha ao sistema brasileiro são improcedentes. Uma análise
criteriosa dos artigos 5.º, inc. XXXV, 22, inc. I e 129, inc. I, da Constituição Federal revela que, se não
trata expressamente deste mecanismo, a Carta Magna tampouco traz qualquer tipo de veto a ele.
Não há dúvida de que as resoluções do CNMP, a quem compete regular a atividade do Ministério Público
no que tange à atuação dos promotores de Justiça na fase extrajudicial, estão em plena conformidade
com a Carta Magna. O Supremo Tribunal Federal, em mais de uma oportunidade, reconheceu deterem
os Conselhos Nacionais de Justiça e do Ministério Público poder normativo primário, de tal modo que, por
meio de suas resoluções, podem inovar a ordem jurídica. O ex-Ministro Carlos Britto, em voto proferido
na ação declaratória de constitucionalidade n.º 12-MC/DF, registrou, quanto ao tema, que: “Dá-se que
duas outras coordenadas interpretativas parecem reforçar esta compreensão das coisas. A primeira é
esta: a Constituição, por efeito da Emenda 45/04, tratou de fixar o regime jurídico de três conselhos
judiciários: a) o Conselho da Justiça Federal (inciso II do parágrafo único do art. 105); b) o Conselho
Superior da Justiça do Trabalho (inciso II do § 2º do art. 111-A); e c) o Conselho Nacional de Justiça (art.
103-B). Ao cuidar dos dois primeiros Conselhos, ela, Constituição, falou expressamente que as
respectivas competências – todas elas, enfatize-se – seriam exercidas “na forma da lei”. Esse inequívoco
fraseado “na forma da lei” a anteceder, portanto, o rol das competências de cada qual das duas instâncias.
Ora, assim não aconteceu com o tratamento normativo dispensado ao Conselho Nacional de Justiça. Aqui,
a Magna Carta inventariou as competências que houve por bem deferir ao CNJ, quedando silente quanto
a um tipo de atuação necessariamente precedida de lei”. Idêntica disciplina constitucional foi deferida ao
Conselho Nacional do Ministério Público, como se deduz da leitura do art. 130-A do Texto Maior. Suas
resoluções, desse modo, apresentam hierarquia normativa de par com as leis. Daí porque não subsiste a
alegação de subversão da competência legislativa privativa da União, disposta no art. 22 da CF, ou mesmo
de ofensa ao art. 24 do CPP. Quanto ao último, que consagra o princípio da obrigatoriedade da ação penal
pública, é preciso compreendê-lo como um “dever de agir” do membro do Ministério Público. Com a
barganha, que pressupõe algum tipo de sanção ao criminoso, esse dever estaria cumprido, o que
soluciona qualquer eventual questionamento de ordem infraconstitucional à utilização do acordo de não-
persecução penal.
O instituto em análise, de acordo com o art. 18, caput, 1.ª parte, da Resolução n.º 181/2017-CNMP,
pressupõe não seja caso de arquivamento da investigação, sem distinguir qual espécie; isto é, pode ser
realizado no âmbito de um procedimento investigatório criminal ou de um inquérito policial, como bem
ressaltou o MM. Juiz. Os demais pressupostos encontram-se no art. 18, §1.º. São eles: a) que não seja
cabível a transação penal, nos termos da lei; b) que o dano causado não seja superior a vinte salários
mínimos ou a parâmetro econômico diverso definido pelo respectivo órgão de revisão, nos termos da
regulamentação local; c) que o aguardo para o cumprimento do acordo não tenha o condão de acarretar
a prescrição da pretensão punitiva estatal; d) que o delito não seja hediondo ou equiparado e que não
seja caso de incidência da Lei n.º 11.340/16.
Em seguida, o dispositivo epigrafado enumera os requisitos materiais objetivos do instituto, a saber: a)
que a pena mínima cominada no tipo seja inferior a 4 (quatro) anos (consideradas as causas de aumento
e diminuição aplicáveis); b) que o crime não tenha sido cometido com violência ou grave ameaça à pessoa;
c) que o investigado tenha confessado formal e circunstanciadamente a sua prática. Há, ainda, requisitos
materiais subjetivos, consistentes em: a) o investigado não incorrer em alguma das hipóteses previstas
no art. 76, § 2.º, da Lei nº 9.099/95 (ou seja, não tenha sido condenado, pela prática de crime, à pena
privativa de liberdade, por sentença definitiva); b) não ter sido beneficiado com transação penal
anteriormente, no prazo de cinco anos; c) apresentar favoráveis seus antecedentes, conduta social,
personalidade, bem como os motivos e as circunstâncias; c) a celebração do acordo deve atender ao que
seja necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do crime.
Há que se observar, igualmente, um conjunto de requisitos formais ou procedimentais, relacionados com
o registro da confissão e das tratativas, sua formalização nos autos e a comunicação à vítima. A confissão
do agente e as tratativas do acordo serão registrados pelos meios ou recursos de gravação audiovisual,
devendo o investigado estar sempre acompanhado de seu defensor (art. 18, §2.º). O acordo deverá ser
formalizado nos autos, indicando com clareza suas condições, eventuais valores a serem restituídos e as
datas para cumprimento (art. 18, §3.º). Depois de fechado o acordo, é preciso comunicar a vítima e
submetê-lo à apreciação judicial (art. 18, §4.º). Concretizada a avença, com o aval do Poder Judiciário,
surge para o Ministério Público o dever de implementá-lo (art. 18, §5.º). Cumpridas essas exigências,
abre-se a possibilidade de ajustar, com o agente, a barganha processual, mediante as seguintes
condições, a serem ajustadas de maneira alternativa ou cumulativa: a) reparar o dano ou restituir a coisa
à vítima, salvo impossibilidade de fazê-lo; b) renunciar voluntariamente a bens e direitos, indicados pelo
Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do crime; c)
prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena
mínima cominada ao delito, diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo Ministério Público;
d) pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Código Penal, a entidade pública
ou de interesse social a ser indicada pelo Ministério Público, devendo a prestação ser destinada
preferencialmente àquelas entidades que tenham como função proteger bens jurídicos iguais ou
semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; e)
cumprir outra condição estipulada pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível
com a infração penal aparentemente praticada.
Durante o acordo, o investigado fica sujeito aos seguintes deveres, que decorrem da lei, embora seja
recomendável ficarem expressamente consignados no termo de ajuste celebrado (art. 18, §8.º): a)
comunicar ao Ministério Público eventual mudança de endereço, número de telefone ou e-mail; b)
comprovar mensalmente o cumprimento das condições, independentemente de notificação ou aviso
prévio, devendo, quando for o caso, por iniciativa própria, apresentar imediatamente e de
forma documentada eventual justificativa para o não cumprimento do acordo.
No caso de inadimplemento, seja por descumprimento das condições acordadas ou por inobservância
dos deveres acima mencionados (art. 18, §9.º), o membro do Ministério Público deverá oferecer denúncia,
podendo utilizar o descumprimento do acordo como justificativa para o não oferecimento de suspensão
condicional do processo (art. 18, §10). Cumprido integralmente, promove-se o arquivamento da
investigação (art. 18, §11).
Conforme dispõe o art. 18, § 6.º, da Resolução n.º 181/2017 do CNMP, o juiz pode considerar incabível o
acordo, bem como inadequadas ou insuficientes as condições celebradas, remetendo os autos ao
procurador-geral, que poderá adotar as seguintes providências: a) oferecer denúncia ou designar outro
membro para oferecê-la; b) complementar as investigações ou designar outro membro para complementá-
la; c) reformular a proposta de acordo de não persecução, para apreciação do investigado; d) manter o
acordo de não persecução, que vinculará toda a Instituição.
Destaque-se que somente se admite a remessa ao Procurador-Geral de Justiça, em questões relativas
ao cabimento do acordo, quando o magistrado entender incabível (art. 18, §6.º). A Resolução, com efeito,
não previu como caso de remessa a situação em que o juiz considera cabível o acordo não formulado
pelo promotor natural (hipótese dos autos). Isto acentua a natureza jurídica da medida, como prerrogativa
institucional do Ministério Público.
Solução: ratifica-se a postura ministerial quanto à não-formulação do acordo de não-persecução penal.

MP 105.276/18
Autos n.º 1500505-69.2018.8.26.0297 – MM. Juízo da Vara do Juizado Especial Criminal da Comarca de
Jales
Autor do fato: (...)
Assunto: revisão de promoção de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. ARQUIVAMENTO DE TERMO CIRCUNSTANCIADO. REQUERIMENTO
MINISTERIAL FUNDADO NA INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 305 DO CTB. POSIÇÃO DA
PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA NO SENTIDO DA CONSTITUCIONALIDADE DA DISPOSIÇÃO
LEGAL. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO PRIVILÉGIO CONTRA A AUTOINCRIMINAÇÃO. DECISÃO
PROFERIDA PELO STF NO RE 971959, EM SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL, NO SENTIDO DA
CONSTITUCIONALIDADE DA FIGURA TÍPICA DO ART. 305, DO CTB. SOLUÇÃO: ADITAMENTO À
DENÚNCIA POR ESTA PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA E DESIGNAÇÃO DE OUTRO
PROMOTOR DE JUSTIÇA PARA PROSSEGUIR NOS ULTERIORES TERMOS DA AÇÃO PENAL. No
que tange à tese jurídica relativa à inconstitucionalidade do art. 305 do CTB, muito embora existam
respeitáveis entendimentos nesse sentido, como aquele adotado pelo Colendo Órgão Especial do Egrégio
Tribunal de Justiça de São Paulo, com tal ponto de vista não comunga esta Procuradoria-Geral de Justiça,
consoante, inclusive, se manifestou no incidente de inconstitucionalidade examinado pela Corte
Bandeirante (Incidente de Inconstitucionalidade n.º 990.10.159020-4).
O dispositivo legal consubstancia uma imposição necessária à tutela da segurança viária e à efetiva
satisfação da responsabilidade jurídica decorrente da prerrogativa de conduzir veículos automotores em
via pública. Além de se fazer presente na legislação de diversos países, tal norma jurídica constitui
mandado de criminalização convencional, decorrente da Convenção de Viena sobre Trânsito Viário,
ratificada pelo Brasil por meio do Decreto n.º 86.714, de 10 de dezembro de 1981.
Não há falar-se, em nosso entender, em ofensa ao privilégio contra autoincriminação. O motorista, a
permanecer no palco dos eventos, não está por esse motivo assumindo sua culpa e, ademais disso, segue
mantendo incólume seu direito de permanecer em silêncio ou, até mesmo, deixar de relatar os fatos com
fidelidade, em nome de seu direito de defesa – até porque, em nosso ordenamento jurídico, inexiste o
crime de perjúrio.
Calha citar trecho do voto vencido elaborado pelo eminente Desembargador REIS KUNTZ, exarado no
Incidente de Inconstitucionalidade retro citado: “Ao tipificar a conduta de afastar-se do local do acidente,
não determinou o legislador que o motorista produziria qualquer prova contra si, mas sim, o fez para
facilitar a apuração dos fatos, a responsabilidade dos envolvidos e, havendo vítima, numa louvável
demonstração de solidariedade humana. Efetivamente, o fato de tão somente permanecer no local do
sinistro já contribui em muito para a averiguação das circunstâncias do acontecimento, ainda que o
condutor se negue a prestar qualquer informação, utilizando-se da prerrogativa constitucional de ficar
calado, poderá identificar de antemão os envolvidos no acidente. Não se afastar do local do sinistro não
significa produzir qualquer prova contra si. (…). Mesmo assegurado o direito do acusado se manter silente,
não está ele dispensado de comparecer a todos os atos do processo, seja ele administrativo ou judicial.
Ainda há que se considerar também o objetivo jurídico tutelado na indigitada norma, o bem maior que o
legislador pretendeu proteger que, na hipótese, é a administração da justiça. A disposição legal estabelece
uma obrigação jurídica a todos os motoristas, consistente em não se evadirem de locais de acidente de
trânsito, seja quando está em jogo responsabilidade civil ou criminal.”
Vale destacar, outrossim, que o Egrégio Superior Tribunal de Justiça já reconheceu a constitucionalidade
do preceito legal retro citado: “(...) 1. O art. 305 do Código de Trânsito, que tipifica a conduta do condutor
de veículo que foge do local do acidente, para se furtar à responsabilidade penal ou civil que lhe possa
ser atribuída, não viola a garantia da não autoincriminação, que assegura que ninguém pode ser obrigado
por meio de fraude ou coação, física e moral, a produzir prova contra si mesmo. (...)” (STJ, HC 137.340/SC,
Rel. Ministra LAURITA VAZ, 5.ª TURMA, julgado em 20/09/2011, DJe de 03/10/2011).
EUGÊNIO PACELLI e DOUGLAS FISCHER, em percuciente análise sobre o tema, destacam que:
“Tornou-se prática comum no Brasil referir-se ao direito ao silêncio como um suposto princípio da não
autoincriminação. Na realidade, as coisas não são bem assim. A garantia do direito ao silêncio, como
vimos, reafirma a necessidade de controle racional das decisões judiciais, de modo a impedir que o órgão
julgador se valha do silêncio ou da negativa de respostas às perguntas como critério de certeza ou de
convencimento judicial. De outro lado, há, dentre inúmeras garantias e direitos subjetivos do cidadão
brasileiro, direito à intimidade, à privacidade, à incolumidade física e psíquica, à honra, à imagem (art. 5º.
X e XII, CF), que não podem ser tangenciados pelo Poder Público, salvo nos limites autorizados no texto
constitucional, de que é exemplo, a exigência de autorização judicial para a interceptação telefônica, para
a expedição de mandado de prisão e para a busca e apreensão domiciliar (art. 5º, XI, XII e LXI, CF). É no
conjunto desse rol de direitos individuais que se resume o nemo tenetur se detegere, ou, se quiser, a não
autoincriminação. O que não se pode afirmar, ao contrário do que se canta por aqui em verso e prosa, é
que o acusado teria o direito a não participar de qualquer medida probatória – contra si -, bastando assim
desejar. Não existe esse direito. Nem aqui e nem em lugar nenhum dos ordenamentos jurídicos do mundo
ocidental, incluindo os Tratados Internacionais de proteção aos direitos humanos. O que se garante, junto
ao direito ao silêncio, é a proteção efetiva do acusado contra ações lesivas aos mencionados direitos
individuais (integridade física, psíquica etc.). Exatamente por isso, pode o Estado conduzir coercitivamente
o acusado à audiência de instrução e julgamento, quando houver a necessidade de reconhecimento de
pessoa, na produção de prova testemunhal (art. 260, segunda parte, CPP). Evidentemente, o dispositivo
não se aplica ao interrogatório, visto tratar-se de meio de defesa, a critério exclusivo da defesa. Pensamos
também não haver qualquer mácula na exigência de submissão ao conhecido bafômetro, na medida em
que aludida providência – abstratamente – não afeta direitos subjetivos, ao menos na intensidade que
devem merecer proteção. É certo que estamos nos referindo à medida em abstrato. Pode ocorrer que
determinada diligência nesse sentido, concretamente, venha implicar efetiva violação a direitos
individuais, o que ocorreria, por exemplo, na exposição indevida da imagem de alguém à curiosidade
pública, durante a realização do exame. Essa, a exposição, sim, violaria direitos; a exigência de soprar o
aparelho, por si só, não. Como também não violará direitos fundamentais a submissão a exame clínico
para a comprovação da embriaguez, tal como previsto no art. 277 e art. 306, § 3º, da Lei nº 9.503/97
(CTB), ainda que contra a vontade do agente. Evidentemente, dele não se poderá exigir colaboração, no
que tange aos atos que só possam ser por ele praticados. De se ver, no ponto, que o direito brasileiro não
contempla muitas hipóteses de intervenções corporais, embora esse leque de alternativas tenha sido
incrementado com a Lei nº 12.654/12, que institui a identificação genética, e com a Lei nº 12.760/12, que,
alterando diversos dispositivos da Lei nº 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro), prevê também a perícia
médica para a comprovação de alcoolemia, vedada, contudo, por ausência de previsão, a coleta de
sangue.” (PACELLI, Eugênio. FISCHER, Douglas. Comentários ao Código de Processo Penal e sua
Jurisprudência. São Paulo: Editora Atlas, 2013. pp. 391-392).
No caso concreto, o delito se perfez, pois além de dar causa a acidente de trânsito, por desrespeitar sinal
de parada obrigatória em cruzamento, o autor do fato se evadiu, para evitar a responsabilidade civil e
penal derivadas do fato.
Além disso, o STF, no julgamento do RE 971959, em sede de Repercussão Geral, Relator o Ministro Luiz
Fux, no dia 14 de novembro de 2018, decidiu pela constitucionalidade do delito do art. 305, do Código de
Trânsito Brasileiro, por considerar que esta figura típica não fere o direito à não autoincriminação.
SOLUÇÃO: aditamento à denúncia e designação de outro Promotor de Justiça para prosseguir nos
ulteriores termos da ação penal, até final decisão.

MP 99.762/18
Autos n.º 0002306-41.2018.8.26.0541 – MM. Juízo da 1ª Vara da Comarca de Santa Fé do Sul
Investigada: (...)
Vítima: (...)
Assunto: revisão de promoção de arquivamento de inquérito policial
Ementa: CPP, ART. 28. APROPRIAÇÃO INDÉBITA COM CAUSA DE AUMENTO, POR TER SIDO
PRATICADA EM RAZÃO DO OFÍCIO, EMPREGO E PROFISSÃO (ART. 168, § 1º, III, DO CP). PROVA
DE MATERIALIDADE E INDÍCIOS DE AUTORIA. A INVESTIGADA, ASSISTENTE SOCIAL, TINHA A
GUARDA PROVISÓRIA DO ADOLESCENTE-VÍTIMA, QUE RECEBIA BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO
CONTINUADA DO INSS, EM RAZÃO DE SER PORTADOR DE RETARDO MENTAL, E ERA ELA QUEM
GERIA TAIS RECURSOS. NESSA CONDIÇÃO, APROPRIAVA-SE DOS VALORES, MANTENDO NA
CASA DELA CONSIDERÁVEL MONTA DE DINHEIRO EM ESPÉCIE, QUE SOMENTE FOI PARA O
BANCO QUANDO INSTADA A PRESTAR CONTAS. DEPOIS, SACOU NOVAMENTE OS VALORES.
ELEMENTOS SUFICIENTES PARA QUE A PERSECUÇÃO PENAL SEJA DEFLAGRADA PERANTE O
PODER JUDICIÁRIO PARA MAIS AMPLA APURAÇÃO DOS FATOS, SOB O CRIVO DOS PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. PEDIDO DE ARQUIVAMENTO QUE
NÃO REUNIA DE FATO CONDIÇÕES DE ACOLHIMENTO.
Trata-se de inquérito policial destinado à apuração do delito do art. 168, § 1º, III, do CP.
A investigada, assistente social, tinha a guarda provisória e a incumbência de gerir valores oriundos de
benefício de prestação continuada a que adolescente, acometido de retardo mental, fazia jus.
Nessa condição, os autos noticiam que a investigada apropriou-se de valores do menor, sendo certo que
a acusada disse que mantinha em sua residência considerável montante de dinheiro em espécie.
Tais valores somente foram depositados no banco, quando a investigada foi instada a prestar contas da
destinação do numerário que lhe cabia administrar.
Consta ainda que por longo período, a conta esteve desprovida de valores, conforme demonstram os
extratos bancários que constam dos autos.
Suficientes, portanto, os elementos reunidos para que se conclua que há prova de materialidade e indícios
de autoria do crime de apropriação indébita com causa de aumento de pena, em razão do ofício (CP, art.
168, § 1º, III).
SOLUÇÃO: designação de outro Promotor de Justiça para oferecer denúncia e prosseguir nos ulteriores
termos da ação penal.

MP 98.741/18
Autos n.º 0000876-07.2016.8.26.0159 – MM. Juízo da Vara Judicial da Comarca de Cunha
Acusado: (...)
Assunto: controvérsia acerca do cabimento de acordo de não-persecução penal (art. 18 da Resolução n.º
181, de 2017, do CNMP)
EMENTA: CPP, ART. 28. ACORDO DE NÃO-PERSECUÇÃO PENAL. RESOLUÇÃO 181, DE 2017, DO
CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. APLICAÇÃO EM SEDE DE INQUÉRITO POLICIAL.
PRESSUPOSTOS, REQUISITOS E CONDIÇÕES. RECUSA MINISTERIAL EM FORMULAR O
ACORDO. ENCAMINHAMENTO DA QUESTÃO À PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA PARA
ELABORAÇÃO DE ACORDO NÃO FORMULADO PELO PROMOTOR NATURAL. IMPOSSIBILIDADE.
PRERROGATIVA INSTITUCIONAL. EXEGESE DO ART. 18, §6º, DA RESOLUÇÃO 181/2017 DO CNMP.
Cuida-se de ação penal movida pelo Ministério Público, imputando ao acusado o crime do art. 12, da Lei
nº 10.826/03 (posse ilegal de armas de fogo e munições de uso permitido). Na cota de oferecimento da
peça vestibular, o Douto Promotor de Justiça requereu a juntada de certidão de antecedentes criminais
dos denunciados e deixou de propor acordo de não-persecução penal por entender, em síntese: (i) tratar-
se de inquérito policial e não de P.I.C. – Procedimento Investigativo Criminal; (ii) que o acordo é uma
faculdade do Ministério Público, já que a Resolução diz que o Ministério Público "poderá"; (iii) que um dos
acusados, no presente caso concreto, nada confessou; e (iv) que a Promotoria não tem convênio com
nenhum local para que os réus prestem serviços.
O MM. Juiz, todavia, entendendo que o acusado preencheria todos os requisitos elencados no artigo 18
da Resolução n.º 181, de 7 de agosto de 2017, do Conselho Nacional do Ministério Público, aplicou à
espécie o art. 28 do CPP, determinando o envio dos autos a esta Procuradoria-Geral de Justiça.
Não assiste razão ao Digníssimo Magistrado. Aqui não se discute a validade jurídica do acordo de não-
persecução penal. Não obstante, calha mencionar que se cuida de prerrogativa ministerial prevista na
Resolução n.º 181/17, com a redação da Resolução n.º 183/18, do Conselho Nacional do Ministério
Público (CNMP).
Sob a ótica desta Chefia Institucional, o acordo de não-persecução penal representa um inegável avanço
ao combate eficaz da criminalidade no Brasil, ao mesmo tempo em que assegura a efetividade do Direito
Penal, por meio de um mecanismo propiciador de uma resposta célere e proporcional ao fato. O
instrumento jurídico extraprocessual do acordo de não-persecução penal representa, no sentir desta
Procuradoria-Geral de Justiça, uma ferramenta para o fortalecimento do Ministério Público e da Justiça
Criminal. Trata-se, sem exagero, do futuro do processo penal. Os questionamentos que têm sido feitos
acerca da adequação do princípio da barganha ao sistema brasileiro são improcedentes. Uma análise
criteriosa dos artigos 5.º, inc. XXXV, 22, inc. I e 129, inc. I, da Constituição Federal revela que, se não
trata expressamente deste mecanismo, a Carta Magna tampouco traz qualquer tipo de veto a ele.
Não há dúvida de que as resoluções do CNMP, a quem compete regular a atividade do Ministério Público
no que tange à atuação dos promotores de Justiça na fase extrajudicial, estão em plena conformidade
com a Carta Magna. O Supremo Tribunal Federal, em mais de uma oportunidade, reconheceu deterem
os Conselhos Nacionais de Justiça e do Ministério Público poder normativo primário, de tal modo que, por
meio de suas resoluções, podem inovar a ordem jurídica. O ex-Ministro Carlos Britto, em voto proferido
na ação declaratória de constitucionalidade n.º 12-MC/DF, registrou, quanto ao tema, que: “Dá-se que
duas outras coordenadas interpretativas parecem reforçar esta compreensão das coisas. A primeira é
esta: a Constituição, por efeito da Emenda 45/04, tratou de fixar o regime jurídico de três conselhos
judiciários: a) o Conselho da Justiça Federal (inciso II do parágrafo único do art. 105); b) o Conselho
Superior da Justiça do Trabalho (inciso II do § 2º do art. 111-A); e c) o Conselho Nacional de Justiça (art.
103-B). Ao cuidar dos dois primeiros Conselhos, ela, Constituição, falou expressamente que as
respectivas competências – todas elas, enfatize-se – seriam exercidas “na forma da lei”. Esse inequívoco
fraseado “na forma da lei” a anteceder, portanto, o rol das competências de cada qual das duas instâncias.
Ora, assim não aconteceu com o tratamento normativo dispensado ao Conselho Nacional de Justiça. Aqui,
a Magna Carta inventariou as competências que houve por bem deferir ao CNJ, quedando silente quanto
a um tipo de atuação necessariamente precedida de lei”. Idêntica disciplina constitucional foi deferida ao
Conselho Nacional do Ministério Público, como se deduz da leitura do art. 130-A do Texto Maior. Suas
resoluções, desse modo, apresentam hierarquia normativa de par com as leis. Daí porque não subsiste a
alegação de subversão da competência legislativa privativa da União, disposta no art. 22 da CF, ou mesmo
de ofensa ao art. 24 do CPP. Quanto ao último, que consagra o princípio da obrigatoriedade da ação penal
pública, é preciso compreendê-lo como um “dever de agir” do membro do Ministério Público. Com a
barganha, que pressupõe algum tipo de sanção ao criminoso, esse dever estaria cumprido, o que
soluciona qualquer eventual questionamento de ordem infraconstitucional à utilização do acordo de não-
persecução penal.
O instituto em análise, de acordo com o art. 18, caput, 1.ª parte, da Resolução n.º 181/2017-CNMP,
pressupõe não seja caso de arquivamento da investigação, sem distinguir qual espécie; isto é, pode ser
realizado no âmbito de um procedimento investigatório criminal ou de um inquérito policial, como bem
ressaltou o MM. Juiz. Os demais pressupostos encontram-se no art. 18, §1.º. São eles: a) que não seja
cabível a transação penal, nos termos da lei; b) que o dano causado não seja superior a vinte salários
mínimos ou a parâmetro econômico diverso definido pelo respectivo órgão de revisão, nos termos da
regulamentação local; c) que o aguardo para o cumprimento do acordo não tenha o condão de acarretar
a prescrição da pretensão punitiva estatal; d) que o delito não seja hediondo ou equiparado e nos casos
de incidência da Lei n.º 11.340/16.
Em seguida, o dispositivo epigrafado enumera os requisitos materiais objetivos do instituto, a saber: a)
que a pena mínima cominada no tipo seja inferior a 4 (quatro) anos (consideradas as causas de aumento
e diminuição aplicáveis); b) que o crime não tenha sido cometido com violência ou grave ameaça à pessoa;
c) que o investigado tenha confessado formal e circunstanciadamente a sua prática. Há, ainda,
requisitos materiais subjetivos, consistentes em: a) o investigado não incorrer em alguma das hipóteses
previstas no art. 76, § 2.º, da Lei nº 9.099/95 (ou seja, não tenha sido condenado, pela prática de crime,
à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva); b) não ter sido beneficiado com transação penal
anteriormente, no prazo de cinco anos; c) apresentar favoráveis seus antecedentes, conduta social,
personalidade, bem como os motivos e as circunstâncias; c) a celebração do acordo deve atender ao que
seja necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do crime.
Há que se observar, igualmente, um conjunto de requisitos formais ou procedimentais, relacionados com
o registro da confissão e das tratativas, sua formalização nos autos e a comunicação à vítima. A confissão
do agente e as tratativas do acordo serão registrados pelos meios ou recursos de gravação audiovisual,
devendo o investigado estar sempre acompanhado de seu defensor (art. 18, §2.º). O acordo deverá ser
formalizado nos autos, indicando com clareza suas condições, eventuais valores a serem restituídos e as
datas para cumprimento (art. 18, §3.º). Depois de fechado o acordo, é preciso comunicar a vítima e
submetê-lo à apreciação judicial (art. 18, §4.º). Concretizada a avença, com o aval do Poder Judiciário,
surge para o Ministério Público o dever de implementá-lo (art. 18, §5.º). Cumpridas essas exigências,
abre-se a possibilidade de ajustar, com o agente, a barganha processual, mediante as seguintes
condições, a serem ajustadas de maneira alternativa ou cumulativa: a) reparar o dano ou restituir a coisa
à vítima, salvo impossibilidade de fazê-lo; b) renunciar voluntariamente a bens e direitos, indicados pelo
Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do crime; c)
prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena
mínima cominada ao delito, diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo Ministério Público;
d) pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Código Penal, a entidade pública
ou de interesse social a ser indicada pelo Ministério Público, devendo a prestação ser destinada
preferencialmente àquelas entidades que tenham como função proteger bens jurídicos iguais ou
semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; e)
cumprir outra condição estipulada pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível
com a infração penal aparentemente praticada.
Durante o acordo, o investigado fica sujeito aos seguintes deveres, que decorrem da lei, embora seja
recomendável ficarem expressamente consignados no termo de ajuste celebrado (art. 18, §8.º): a)
comunicar ao Ministério Público eventual mudança de endereço, número de telefone ou e-mail; b)
comprovar mensalmente o cumprimento das condições, independentemente de notificação ou aviso
prévio, devendo, quando for o caso, por iniciativa própria, apresentar imediatamente e de forma
documentada eventual justificativa para o não cumprimento do acordo.
No caso de inadimplemento, seja por descumprimento das condições acordadas ou por inobservância
dos deveres acima mencionados (art. 18, §9.º), o membro do Ministério Público deverá oferecer denúncia,
podendo utilizar o descumprimento do acordo como justificativa para o não oferecimento de suspensão
condicional do processo (art. 18, §10). Cumprido integralmente, promove-se o arquivamento da
investigação (art. 18, §11).
Conforme dispõe o art. 18, § 6.º, da Resolução n.º 181/2017 do CNMP, o juiz pode considerar incabível o
acordo, bem como inadequadas ou insuficientes as condições celebradas, remetendo os autos ao
procurador-geral, que poderá adotar as seguintes providências: a) oferecer denúncia ou designar outro
membro para oferecê-la; b) complementar as investigações ou designar outro membro para complementá-
la; c) reformular a proposta de acordo de não persecução, para apreciação do investigado; d)
manter o acordo de não persecução, que vinculará toda a Instituição.
Destaque-se que somente se admite a remessa ao Procurador-Geral de Justiça, em questões relativas
ao cabimento do acordo, quando o magistrado entender incabível (art. 18, §6.º). A Resolução, com efeito,
não previu como caso de remessa a situação em que o juiz considera cabível o acordo não formulado
pelo promotor natural (hipótese dos autos). Isto acentua a natureza jurídica da medida, como prerrogativa
institucional do Ministério Público.
Solução: ratifica-se a postura ministerial quanto à não-formulação do acordo de não-persecução penal.

MP 98.394/18
Autos n.º 0002183-46.2017.8.26.0616 – MM. Juízo do DIPO 3, Foro Central Criminal da Barra Funda
(Comarca da Capital)
Suscitante: 13.º Promotor de Justiça Criminal da Capital
Suscitado: 2.º Promotor de Justiça de Ferraz de Vasconcelos
Assunto: adequação típica da conduta, furto ou receptação dolosa, com reflexo na atribuição funcional
EMENTA: CONFLITO NEGATIVO DE ATRIBUIÇÃO. DIVERGÊNCIA ACERCA DO CORRETO
ENQUADRAMENTO DOS FATOS E, COMO REFLEXO, DO FORO COMPETENTE. FURTO
CONSUMADO (CP, ART. 155) OU RECEPTAÇÃO DOLOSA SIMPLES (CP, ART. 180, “CAPUT”).
SUBTRAÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR E CELULAR DA VÍTIMA PRATICADA NA COMARCA DE
SÃO PAULO. AUTOMÓVEL ABORDADO POR POLICIAIS MILITARES, POUCO TEMPO DEPOIS, EM
FERRAZ DE VASCONCELOS, COM O INDICIADO CONDUZINDO-O E AINDA DE POSSE DO
CELULAR DO OFENDIDO. INDICIADO ADMITE AOS MILICIANOS A PRÁTICA DO FURTO.
ELEMENTOS INDICIÁRIOS QUE APONTAM PARA O INDICIADO A PRÁTICA DO CRIME DE FURTO.
ATRIBUIÇÃO DA DOUTA SUSCITANTE (PROMOTORA DE JUSTIÇA CRIMINAL DA CAPITAL).
O investigado foi abordado por policiais militares que haviam checado as placas do veículo e deliberaram
pela abordagem, ante a notícia de que havia sido furtado em São Paulo.
Segundo se apurou, a vítima da subtração havia estacionado o veículo na via pública, no bairro da Água
Rasa, e se ausentou por volta de duas horas e meia, constatando, ao retornar, o furto ocorrido.
Interrogado formalmente, o investigado silenciou. Porém, na ocasião da abordagem, admitiu aos
milicianos a prática da subtração.
De tal quadro pode-se inferir, ao menos por ora, a ocorrência, em tese, do delito de furto consumado
perpetrado em São Paulo, local da subtração.
Muito embora o sujeito passivo não tenha reconhecido o agente ou mesmo este tenha sido surpreendido
com petrechos indicativos do furto, o fato de ser encontrado na posse do bem, conduzindo-o em via pública
de outra Comarca, pouquíssimo tempo após a tomada do objeto material, o coloca em posição
inegavelmente comprometedora e sugestiva de que fora ele próprio o rapinador. Supor que o investigado
cometera receptação em vez de furto é admitir, no caso em apreço, a existência de terceira pessoa, com
quem não manteria qualquer acordo prévio, a qual, depois de consumar a infração antecedente, transferiu
a ele o bem, o que não só fere a lógica como também se afigura temporalmente inviável (a vítima do furto
relatou o crime por volta das 18h e a abordagem do investigado com o veículo e com o celular dela ocorreu
por volta das 19h, em Ferraz de Vasconcelos).
Há, destarte, elementos indiciários que corroboram a posição adotada pela Douta Promotora de Justiça
Suscitada. Frise-se, por derradeiro, que nesta fase da persecução penal vigora o princípio in dubio pro
societate, consoante entendimento do Colendo Superior Tribunal de Justiça (CC 129.497/MG, Rel.
Ministro ERICSON MARANHO – DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP, 3.ª SEÇÃO, julgado em
08/10/2014, DJe de 16/10/2014).
Nada obsta, por óbvio, que durante a instrução criminal, sob o crivo do contraditório, outras provas possam
modificar o quadro que até o momento se anteviu.
Solução: conhece-se do conflito para dirimi-lo, declarando que a atribuição para oficiar no feito incumbe à
Ilustre Suscitante, designando-se outro representante ministerial para atuar nos autos, de maneira a
preservar a independência funcional da Douta Suscitante.

MP 89.661/18
Autos n.º 0005885-06.2018.8.26.0635 – MM. Juízo do DIPO 4 (Comarca da Capital)
Indiciado: (...)
Assunto: revisão de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. ADULTERAÇÃO DE SINAL IDENTIFICADOR DE VEÍCULO AUTOMOTOR (CP,
ART. 311). MODIFICAÇÃO DE PLACA DE VEÍCULO MEDIANTE EMPREGO DE FITA ADESIVA
PLÁSTICA. MATERIALIDADE E AUTORIA DEMONSTRADAS NA FASE INQUISITIVA.
ENTENDIMENTO PACÍFICO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA NO SENTIDO DA
CONFIGURAÇÃO DO CRIME. TESE 157 DO SETOR DE RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS E
ESPECIAIS DO MPSP. DESIGNAÇÃO DE OUTRO PROMOTOR DE JUSTIÇA PARA OFERECIMENTO
DE DENÚNCIA.
Cuida-se de inquérito policial destinado à apuração de crime de adulteração de sinal identificador de
veículo automotor, pela utilização de fita plástica adesiva modificando caracteres alfanuméricos da placa.
Segundo se verificou nos autos, policiais militares que realizavam patrulhamento pelo local flagraram o
investigado conduzindo um automóvel marca “Mercedes Benz”, modelo “C-180K”, com a placa adulterada
por meio de fita adesiva.
Realizada a abordagem, constatou-se que o numeral “0” fora provisoriamente adulterado para “8”.
A matéria objeto deste procedimento inquisitivo deve ser solucionada, no entender desta Procuradoria-
Geral de Justiça, no sentido da “Tese 157 do Setor de Recursos Extraordinários e Especiais desta
Procuradoria-Geral de Justiça, publicada no DOE de 12 de junho de 2003”, segundo a qual: “Caracteriza
o crime do artigo 311 do Código Penal o fato de o agente adulterar as placas do automóvel com utilização
de fita adesiva.” (D.O.E., 12/06/2003, p. 32).
Ademais disso, o Colendo Superior Tribunal de Justiça tem reiteradamente decidido no sentido de que
mesmo a aposição de fita plástica adesiva sobre número da placa de veículos automotores configura o
delito do art. 311 do Código Penal, o que justifica a revisão do posicionamento antes adotado por esta
Chefia Institucional. Isso porque, a rigor, o tipo penal contenta-se com adulteração de sinal de identificação
de veículo automotor e não implementa nenhuma elementar no sentido de que a alteração de sinal
identificador seja definitiva. E o bem jurídico tutelado, ou seja, a fé pública (Título X, Capítulo IV, do Código
Penal), quer se trate de alteração provisória de sinal identificador de veículo automotor, com a inserção
de fita adesiva sobre a numeração da placa, quer se trate de alteração definitiva, com a repintura da placa,
por exemplo, é ofendido em qualquer uma das situações. Nesse sentido, entre outros: “ (...) 2. Este
Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento no sentido de que é típica a conduta de alterar placa
de veículo automotor, mediante a colocação de fita adesiva, conforme ocorreu na espécie dos autos. Isto
porque a objetividade jurídica tutelada pelo art. 311 do CP é a fé pública ou, mais precisamente, a proteção
da autenticidade dos sinais identificadores de automóveis. Precedentes. (...)” (HC 407.207/SP, Rel.
Ministro RIBEIRO DANTAS, 5.ª TURMA, julgado em 12/09/2017, DJe de 21/09/2017).
Solução: designa-se outro Promotor de Justiça para oferecer denúncia e prosseguir nos ulteriores termos
da ação penal, até final decisão.

MP 88.416/18
Autos n.º 0013097-29.2014.8.26.0050 – MM. Juízo do DIPO 4 (Comarca da Capital)
Indiciadas: (...)
Assunto: revisão de pedido de arquivamento do inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. CRIME DE FALSO TESTEMUNHO (CP, ART. 342). INVERACIDADE DAS
DECLARAÇÕES RECONHECIDA NA DECISÃO CONDENATÓRIA, QUANDO SE ANALISOU TODO O
CONJUNTO PROBATÓRIO. MENTIRA DETECTADA PELO JULGADOR, QUE NÃO O INFLUENCIOU
NA PROLAÇÃO DA SENTENÇA. IRRELEVÂNCIA. DENÚNCIA.
O falso testemunho (CP, art. 342) é crime formal, cuja consumação dá-se quando o sujeito fizer afirmação
falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, em depoimento prestado em processo judicial, ou
administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral.
O valor a que o legislador outorga proteção especial, na fattispecie considerada, reside no resguardo da
administração da Justiça, com ênfase no interesse na correta apuração da verdade em processos
judiciais, administrativos, inquéritos policiais e juízos arbitrais e, consequentemente, na adequada
aplicação do direito.
A infração pode ser cometida de três modos distintos: mediante uma afirmação falsa, negando-se a
verdade ou calando-se a respeito desta. Na primeira situação, ocorre a falsidade positiva: assevera-se um
fato ou informação mentirosa. Na segunda, a falsidade negativa: nega-se a verdade da qual se tem
conhecimento. Na última, a reticência: silencia-se a respeito do que se sabe ou explicitamente se recusa
a externar a informação.
Em todas as modalidades, que são equiparadas para efeitos legais, o que justifica a incriminação não é,
como dizia HUNGRIA, o contraste entre o depoimento e a realidade dos fatos, mas entre o conteúdo das
declarações e a ciência da testemunha (Comentários ao Código Penal, 2.ª edição, Rio de Janeiro,
Forense, 1959, Vol. IX, pág. 476).
Repise-se, ainda, que o crime contra a administração da Justiça tem natureza formal, consumando-se no
momento em que se encerrar o depoimento no qual se fez a afirmação falsa, se negou ou calou a verdade
em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral.
Nesse sentido, há orientação do Egrégio Superior Tribunal de Justiça: “(...) É pacífico o entendimento
desta Corte Superior no sentido de que o crime de falso testemunho é de natureza formal, consumando-
se no momento da afirmação falsa a respeito de fato juridicamente relevante, aperfeiçoando-se quando
encerrado o depoimento, podendo, inclusive, a testemunha ser autuada em flagrante delito” (STJ, AgRg
no AREsp 603.029/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, 5.ª TURMA, julgado em 23/05/2017, DJe de
29/05/2017).
O crimen do art. 342 do CP, ademais, não exige qualquer finalidade especial a que se dirija o
comportamento. Em outras palavras, trata-se de delito doloso, para o qual basta a voluntariedade do ato
e a consciência por parte do agente da inveracidade das alegações.
Não é necessário que as declarações induzam o julgador a erro, sendo suficiente que se mostrem
potencialmente lesivas, isto é, capazes de influenciar fraudulentamente no resultado da lide. Não se deve
confundir potencialidade lesiva com efetiva lesão, algo que o tipo penal não exige. Precedentes
jurisprudenciais.
Solução: designa-se outro promotor de justiça para oferecer denúncia e prosseguir nos ulteriores termos
da ação penal.

MP 80.499/18
Autos n.º 0085034-94.2017.8.26.0050 – MM. Juízo do DIPO 4 (Comarca da Capital)
Investigado: (...)
Assunto: revisão de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. ADULTERAÇÃO DE SINAL IDENTIFICADOR DE VEÍCULO AUTOMOTOR (CP,
ART. 311). MODIFICAÇÃO DE PLACA DE VEÍCULO MEDIANTE EMPREGO DE FITA ADESIVA
PLÁSTICA. MATERIALIDADE E AUTORIA DEMONSTRADAS NA FASE INQUISITIVA.
ENTENDIMENTO PACÍFICO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA NO SENTIDO DA
CONFIGURAÇÃO DO CRIME. TESE 157 DO SETOR DE RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS E
ESPECIAIS DO MPSP. DESIGNAÇÃO DE OUTRO PROMOTOR DE JUSTIÇA PARA OFERECIMENTO
DE DENÚNCIA.
Cuida-se de inquérito policial destinado à apuração de crime de adulteração de sinal identificador de
veículo automotor, pela utilização de fita plástica adesiva modificando caracteres da placa.
Segundo se verificou nos autos, guardas civis municipais que realizavam patrulhamento pelo local,
flagraram o investigado conduzindo um automóvel marca “Toyota”, modelo “Corolla”, com a placa
adulterada por meio de fita adesiva.
Realizada a abordagem, constatou-se que a placa do veículo fora alterada com fita isolante preta,
convertendo o numeral “0” em “8”.
A matéria objeto deste procedimento inquisitivo deve ser solucionada, no entender desta Procuradoria-
Geral de Justiça, no sentido da “Tese 157 do Setor de Recursos Extraordinários e Especiais desta E.
Procuradoria-Geral de Justiça, publicada no DOE de 12 de junho de 2003”, segundo a qual: “Caracteriza
o crime do artigo 311 do Código Penal o fato de o agente adulterar as placas do automóvel com utilização
de fita adesiva.” (D.O.E., 12/06/2003, p. 32).
Ademais disso, o Colendo Superior Tribunal de Justiça tem reiteradamente decidido no sentido de que
mesmo a aposição de fita plástica adesiva sobre número da placa de veículos automotores configura o
delito do art. 311 do Código Penal, o que justifica a revisão do posicionamento antes adotado por esta
Chefia Institucional. Isso porque, a rigor, o tipo penal contenta-se com adulteração de sinal de identificação
de veículo automotor e não implementa nenhuma elementar no sentido de que a alteração de sinal
identificador seja definitiva. E o bem jurídico tutelado, ou seja, a fé pública (Título X, Capítulo IV, do Código
Penal), quer se trate de alteração provisória de sinal identificador de veículo automotor, com a inserção
de fita adesiva sobre a numeração da placa, quer se trate de alteração definitiva, com a repintura da placa,
por exemplo, é ofendido em qualquer uma das situações. Nesse sentido, entre outros: “ (...) 2. Este
Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento no sentido de que é típica a conduta de alterar placa
de veículo automotor, mediante a colocação de fita adesiva, conforme ocorreu na espécie dos autos. Isto
porque a objetividade jurídica tutelada pelo art. 311 do CP é a fé pública ou, mais precisamente, a proteção
da autenticidade dos sinais identificadores de automóveis. Precedentes. (...)” (HC 407.207/SP, Rel.
Ministro RIBEIRO DANTAS, 5.ª TURMA, julgado em 12/09/2017, DJe de 21/09/2017).
Solução: designa-se outro Promotor de Justiça para oferecer denúncia e prosseguir nos ulteriores termos
da ação penal, até final decisão.

MP 71.867/18
Autos n.º 1500031-63.2018.8.26.0050 – MM. Juízo da Vara do Juizado Especial Criminal do Foro Central
Criminal da Barra Funda (Comarca da Capital)
Indiciado: (...)
Assunto: revisão de arquivamento de inquérito policial
Ementa: CPP, art. 28. Pedido de arquivamento fundado em ausência de elementos aptos à propositura
da ação penal. Receptação de aparelho de telefone celular produto de crime. Fato capitulado como
receptação culposa (CP, art. 180, §3º). Prova da materialidade e indícios de autoria. Confissão do agente
amparada por depoimento testemunhal. Indícios de que houve receptação dolosa (CP, art. 180, caput).
Remessa dos autos ao juízo comum para subsequente oferecimento de denúncia.
Pelo que se apurou, o agente foi surpreendido em via pública por policiais militares no final da madrugada
em atitude suspeita e, submetido a busca pessoal, com ele foi encontrado um aparelho da marca “Apple”,
modelo “iPhone”. A Polícia prontamente confirmou tratar-se de produto de furto, ocorrido um mês antes
da abordagem.
O agente, quando ouvido na Delegacia de Polícia, admitiu que adquirira o objeto no dia anterior, de um
desconhecido, na região conhecida como “Cracolândia”, pagando por ele R$ 10,00 (dez reais).
O pedido de arquivamento, neste cenário, não pode prosperar, com a devida vênia do Douto Promotor de
Justiça.
Há, inclusive, base empírica suficiente para se imputar ao agente o crime de receptação dolosa simples,
diversamente do que se excogitou em sede inquisitiva.
De ver que é de conhecimento notório que os aparelhos celulares possuem, cada qual, um número
denominado IMEI e que, em simples consulta à “internet”, pode-se conferir se o bem ostenta ou não
origem espúria. A subtração de tais objetos, ademais, tem adquirido números muito expressivos e, em
paralelo, há uma constante divulgação pela imprensa de tais ocorrências, pondo a população em alerta
e, inclusive, informando a todos sobre as medidas preventivas para impedir a aquisição de aparelhos de
origem espúria. Não há como afastar, desse modo, a conclusão de que o increpado praticou fato
penalmente típico. Ainda que houvesse dúvida acerca do elemento subjetivo, se mostraria razoável dirimi-
la, nesta fase, com base no princípio “in dubio pro societate” (STJ, RHC 98.769/DF, Rel. Ministro FELIX
FISCHER, 5.ª TURMA, julgado em 16/08/2018, DJe de 22/08/2018).
Nada impede, por óbvio, que a instrução criminal demonstre o contrário, operando-se a consequente
desclassificação do ilícito.
Solução: pugna-se pelo retorno dos autos à origem e por sua redistribuição a uma das Varas Criminais
do Foro Central da Capital, cumprindo ao membro ministerial que o receber atuar como “longa manus” do
Procurador-Geral de Justiça, oferecendo denúncia pelo crime de receptação dolosa simples e oficiando
no feito em seus ulteriores termos.
MP 64.819/18
Autos n.º 0001764-27.2018.8.26.0572 – MM. Juízo da 1.ª Vara Judicial da Comarca de São Joaquim da
Barra
Investigado: (...)
Assunto: análise de pedido de remessa do feito à Justiça Federal indeferido judicialmente (arquivamento
indireto)
EMENTA: CPP, ART. 28. ARQUIVAMENTO INDIRETO. INVESTIGAÇÃO PENAL INSTAURADA PARA
APURAR DELITO DE CONTRABANDO (CP, ART. 344-A). SUJEITO QUE EXPÔS À VENDA
CIGARROS IMPORTADOS. AUSÊNCIA DE INDÍCIOS DE QUE FORA O INDICIADO O
RESPONSÁVEL PELA IMPORTAÇÃO DOS PRODUTOS. TRANSNACIONALIDADE AUSENTE.
COMPETÊNCIA ESTADUAL. PRECEDENTE DO STJ. ATRIBUIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE
SÃO PAULO.
Cuida-se de investigação penal instaurada para apurar o crime de contrabando (CP, art. 334-A, §1.º, inc.
IV). Segundo se apurou, policiais civis se dirigiram ao estabelecimento empresarial de responsabilidade
do investigado e, em seu interior, encontraram 13 (treze) pacotes de cigarro da marca “EIGHT”, de
origem estrangeira (Paraguai), expostos à venda.
Concluídas as providências de polícia judiciária, a Douta Promotora de Justiça, em judiciosa
manifestação, obtemperando que se trataria de crime de competência da Justiça Federal, requereu o
envio dos autos à citada Justiça. O MM. Juiz, porém, indeferiu a remessa, por considerar que, ausente
indícios de transnacionalidade da conduta, cumpriria à Justiça Estadual apurar o fato.
Registre-se, inicialmente, que, muito embora não tenha havido pedido formal de arquivamento dos
autos, tem-se em vista o chamado “arquivamento indireto”. Tal figura ocorre justamente quando o
Representante do Ministério Público declina de sua atribuição e pugna pelo endereçamento do
procedimento a outro juízo supostamente competente e o julgador, discordando do pleito, o indefere.
Deveras, não pode o magistrado simplesmente obrigar o promotor de justiça a examinar o mérito da
causa, promovendo o arquivamento do inquérito ou oferecendo denúncia, sob pena de violar o princípio
da independência funcional, mas, sobretudo, o princípio da demanda. A solução viável em tais
situações, portanto, só pode ser a aplicação analógica do art. 28 do CPP.
No mérito, é de se reconhecer que a razão se encontra com o Digníssimo Magistrado, com a máxima
vênia da Ilustre Membro Ministerial; senão, vejamos. Muito embora se trate o contrabando, a princípio,
de delito de competência federal, o Egrégio Superior Tribunal de Justiça fixou entendimento de que,
quando não comprovada a internacionalidade da conduta, compete à Justiça Estadual o processo e
julgamento do caso; confira-se: “CONFLITO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL E JUSTIÇA
ESTADUAL. CONTRABANDO DE MAÇOS DE CIGARROS. AUSÊNCIA DE INDÍCIOS DA
INTERNALIZAÇÃO DO PRODUTO ESTRANGEIRO PELO AGENTE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
ESTADUAL. (...) 2. A Terceira Seção desta Corte Superior já se pronunciou no sentido de que para, a
configuração do delito contrabando, é indispensável a demonstração de indícios da transnacionalidade
da conduta delitiva do agente, sendo a confissão insuficiente para a comprovação da introdução da
mercadoria estrangeira no território nacional. Precedente. (...)”. (STJ, CC 157.803/SP, Rel. Ministro
JOEL ILAN PACIORNIK, 3.ª SEÇÃO, julgado em 23/05/2018, DJe de 06/06/2018).
Solução: conhece-se da presente remessa, designando-se outro promotor de justiça para oficiar nos
autos e formar sua opinião delitiva.

MP 57.163/18
Autos n.º 0000258-28.2017.8.26.0159 – MM. Juízo da Vara Judicial da Comarca
de Cunha
Indiciados: (...)
Assunto: controvérsia acerca do cabimento de acordo de não-persecução penal
(art. 18 da Resolução n.º 181, de 2017, do CNMP)
EMENTA: CPP, ART. 28. ACORDO DE NÃOPERSECUÇÃO PENAL. RESOLUÇÃO 181, DE 2017, DO
CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. APLICAÇÃO EM SEDE DE INQUÉRITO POLICIAL.
PRESSUPOSTOS, REQUISITOS E CONDIÇÕES. RECUSA MINISTERIAL EM FORMULAR O
ACORDO. ENCAMINHAMENTO DA QUESTÃO À
PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA PARA ELABORAÇÃO DE ACORDO NÃO FORMULADO PELO
PROMOTOR NATURAL. IMPOSSIBILIDADE. PRERROGATIVA INSTITUCIONAL. EXEGESE DO ART.
18, §6º, DA RESOLUÇÃO 181/2017 DO CNMP. 1. Cuida-se de ação penal movida pelo Ministério Público
imputando aos acusados os crimes de furto qualificado (CP, art. 155, § 4.º, incisos I e IV) e corrupção de
menores (artigo 244-B da Lei n.º 8.069/90). Na cota de oferecimento da peça vestibular, o Douto Promotor
de Justiça requereu a juntada de certidão de antecedentes criminais dos denunciados e deixou de propor
acordo de não persecução penal por entender, em síntese: (i) tratar-se de inquérito policial e não de P.I.C.
– Procedimento Investigativo Criminal; (ii) que o acordo é uma faculdade do Ministério Público, já que a
Resolução diz que o Ministério Público "poderá"; (iii) que um dos acusados, no presente caso concreto,
nada confessou; e (iv) que a Promotoria não tem convênio com nenhum local para que os réus prestem
serviços. 2. O MM. Juiz, todavia, entendendo que ao menos um dos denunciados preencheria todos os
requisitos elencados no artigo 18 da Resolução n.º 181, de 7 de agosto de 2017, do Conselho Nacional
do Ministério Público, aplicou à espécie o art. 28 do CPP, determinando o envio dos autos a esta
Procuradoria-Geral de Justiça. 3. Não assiste razão ao Digníssimo Magistrado. Aqui não se discute a
validade jurídica do acordo de não-persecução penal. Não obstante, calha mencionar que se cuida de
prerrogativa ministerial prevista na Resolução n.º 181/17, com a redação da Resolução n.º 183/18, do
Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). 4. Sob a ótica desta Chefia Institucional, o acordo de
não-persecução penal representa um inegável avanço ao combate eficaz da criminalidade no Brasil, ao
mesmo tempo em que assegura a efetividade do Direito Penal, por meio de um mecanismo propiciador
de uma resposta célere e proporcional ao fato. O instrumento jurídico extraprocessual do acordo de não-
persecução penal representa, no sentir desta Procuradoria-Geral de Justiça, uma ferramenta para o
fortalecimento do Ministério Público e da Justiça Criminal. Trata-se, sem exagero, do futuro do processo
penal. Os questionamentos que têm sido feitos acerca da adequação do princípio da barganha ao sistema
brasileiro são improcedentes. Uma análise criteriosa dos artigos 5.º, inc. XXXV, 22, inc. I e 129, inc. I, da
Constituição Federal revela que, se não trata expressamente deste mecanismo, a Carta Magna tampouco
traz qualquer tipo de veto a ele. 5. Não há dúvida de que as resoluções do CNMP, a quem compete regular
a atividade do Ministério Público no que tange à atuação dos promotores de Justiça na fase extrajudicial,
estão em plena conformidade com a Carta Magna. O Supremo Tribunal Federal, em mais de uma
oportunidade, reconheceu deterem os Conselhos Nacionais de Justiça e do Ministério Público poder
normativo primário, de tal modo que, por meio de suas resoluções, podem inovar a ordem jurídica. O ex-
Ministro Carlos Britto, em voto proferido na ação declaratória de constitucionalidade n.º 12-MC/DF,
registrou, quanto ao tema, que: “Dá-se que duas outras coordenadas interpretativas parecem reforçar esta
compreensão das coisas. A primeira é esta: a Constituição, por efeito da Emenda 45/04, tratou de fixar o
regime jurídico de três conselhos judiciários: a) o Conselho da Justiça Federal (inciso II do parágrafo único
do art. 105); b) o Conselho Superior da Justiça do Trabalho (inciso II do § 2º do art. 111-A); e c) o Conselho
Nacional de Justiça (art. 103-B). Ao cuidar dos dois primeiros Conselhos, ela, Constituição, falou
expressamente que as respectivas competências – todas elas, enfatize-se – seriam exercidas “na forma
da lei”. Esse inequívoco fraseado “na forma da lei” a anteceder, portanto, o rol das competências de cada
qual das duas instâncias. Ora, assim não aconteceu com o tratamento normativo dispensado ao Conselho
Nacional de Justiça. Aqui, a Magna Carta inventariou as competências que houve por bem deferir ao CNJ,
quedando silente quanto a um tipo de atuação necessariamente precedida de lei”. Idêntica disciplina
constitucional foi deferida ao Conselho Nacional do Ministério Público, como se deduz da leitura do art.
130-A do Texto Maior. Suas resoluções, desse modo, apresentam hierarquia normativa de par com as
leis. Daí porque não subsiste a alegação de subversão da competência legislativa privativa da União,
disposta no art. 22 da CF, ou mesmo de ofensa ao art. 24 do CPP. Quanto ao último, que consagra o
princípio da obrigatoriedade da ação penal pública, é preciso compreendê-lo como um “dever de agir” do
membro do Ministério Público. Com a barganha, que pressupõe algum tipo de sanção ao criminoso, esse
dever estaria cumprido, o que soluciona qualquer eventual questionamento de ordem infraconstitucional
à utilização do acordo de não-persecução penal. 6. O instituto em análise, de acordo com o art. 18, caput,
1.ª parte, da Resolução n.º 181/2017-CNMP, pressupõe ((NG)) não seja caso de arquivamento da
investigação, sem distinguir qual espécie; isto é, pode ser realizado no âmbito de um procedimento
investigatório criminal ou de um inquérito policial, como bem ressaltou o MM. Juiz. Os demais
pressupostos encontram-se no art. 18, §1.º. São eles: a) que não seja cabível a transação penal, nos
termos da lei; b) que o dano causado não seja superior a vinte salários mínimos ou a parâmetro econômico
diverso definido pelo respectivo órgão de revisão, nos termos da regulamentação local; c) que o aguardo
para o cumprimento do acordo não tenha o condão de acarretar a prescrição da pretensão punitiva estatal;
d) que o delito não seja hediondo ou equiparado e nos casos de incidência da Lei n.º 11.340/16. 7. Em
seguida, o dispositivo epigrafado enumera os requisitos materiais objetivos do instituto, a saber: a)que a
pena mínima cominada no tipo seja inferior a 4 (quatro) anos (consideradas as causas de aumento e
diminuição aplicáveis); b) que o crime não tenha sido cometido com violência ou grave ameaça à pessoa;
c) que o investigado tenha confessado formal e circunstanciadamente a sua prática. Há, ainda, requisitos
materiais subjetivos, consistentes em: a) o investigado não incorrer em alguma das hipóteses previstas
no art. 76, § 2.º, da Lei nº 9.099/95 (ou seja, não tenha sido condenado, pela prática de crime, à pena
privativa de liberdade, por sentença definitiva); b) não ter sido beneficiado com transação penal
anteriormente, no prazo de cinco anos; c) apresentar favoráveis seus antecedentes, conduta social,
personalidade, bem como os motivos e as circunstâncias; c) a celebração do acordo deve atender ao que
seja necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do crime. 8. Há que se observar, igualmente,
um conjunto de requisitos formais ou procedimentais, relacionados com o registro da confissão e das
tratativas, sua formalização nos autos e a comunicação à vítima. A confissão do agente e as tratativas do
acordo serão registrados pelos meios ou recursos de gravação audiovisual, devendo o investigado estar
sempre acompanhado de seu defensor (art. 18, §2.º). O acordo deverá ser formalizado nos autos,
indicando com clareza suas condições, eventuais valores a serem restituídos e as datas para cumprimento
(art.18, §3.º). Depois de fechado o acordo, é preciso comunicar a vítima e submetê-lo à apreciação judicial
(art. 18, §4.º). Concretizada a avença, com o aval do Poder Judiciário, surge para o Ministério Público o
dever de implementá-lo (art. 18, §5.º). Cumpridas essas exigências, abre-se a possibilidade de ajustar,
com o agente, a barganha processual, mediante as seguintes condições, a serem ajustadas de maneira
alternativa ou cumulativa: a) reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, salvo impossibilidade de fazê-lo;
b) renunciar voluntariamente a bens e direitos, indicados pelo Ministério Público como instrumentos,
produto ou proveito do crime; c) prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período
correspondente à pena mínima cominada ao delito, diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado
pelo Ministério Público; d) pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Código
Penal, a entidade pública ou de interesse social a ser indicada pelo Ministério Público, devendo a
prestação ser destinada preferencialmente àquelas entidades que tenham como função proteger bens
jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; e) cumprir outra condição
estipulada pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível com a infração penal
aparentemente praticada. 9. Durante o acordo, o investigado fica sujeito aos seguintes deveres, que
decorrem da lei, embora seja recomendável ficarem expressamente consignados no termo de ajuste
celebrado (art. 18, §8.º): a) comunicar ao Ministério Público eventual mudança de endereço, número de
telefone ou email; b) comprovar mensalmente o cumprimento das condições, independentemente de
notificação ou aviso prévio, devendo, quando for o caso, por iniciativa própria, apresentar imediatamente
e de forma documentada eventual justificativa para o não cumprimento do acordo. 10. No caso de
inadimplemento, seja por descumprimento das condições acordadas ou por inobservância dos deveres
acima mencionados (art. 18, §9.º), o membro do Ministério Público deverá oferecer denúncia, podendo
utilizar o descumprimento do acordo como justificativa para o não oferecimento de suspensão condicional
do processo (art. 18, §10). Cumprido integralmente, promove-se o arquivamento da investigação (art. 18,
§11). 11. Conforme dispõe o art. 18, § 6.º, da Resolução n.º 181/2017 do CNMP, o juiz pode considerar
incabível o acordo, bem como inadequadas ou insuficientes as condições celebradas, remetendo os autos
ao procurador-geral, que poderá adotar as seguintes providências: a) oferecer denúncia ou designar outro
membro para oferecê-la; b) complementar as investigações ou designar outro membro para complementá-
la; c) reformular a proposta de acordo de não persecução, para apreciação do investigado; d) manter o
acordo de não persecução, que vinculará toda a Instituição. 12. Destaque-se que somente se admite a
remessa ao Procurador-Geral de Justiça, em questões relativas ao cabimento do acordo, quando o
magistrado entender incabível (art. 18, §6.º). A Resolução, com efeito, não previu como caso de remessa
a situação em que o juiz considera cabível o acordo não formulado pelo promotor natural (hipótese dos
autos). Isto acentua a natureza jurídica da medida, como prerrogativa institucional do Ministério Público.
Solução: ratifica-se a postura ministerial quanto à não-formulação do acordo de não-persecução penal.

MP 56.094/18
Autos n.º 0028853-39.2018.8.26.0050 – MM. Juízo do DIPO 4 (Comarca da Capital)
Indiciado: (...)
Assunto: indeferimento de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. BUSCA PESSOAL EFETUADA PELA GUARDA CIVIL METROPOLITANA.
ESTADO FLAGRANCIAL CONFIGURADO. TRÁFICO DE DROGAS. CRIME PERMANENTE.
RESISTÊNCIA À ABORDAGEM, COM EMPREGO DE AMEAÇA EXERCIDA COM EXIBIÇÃO DE FACA
AOS SERVIDORES. FATO PENALMENTE TÍPICO E ANTIJURÍDICO. PEDIDO DE ARQUIVAMENTO
FUNDADO NA ILICITUDE DA PROVA OBTIDA, EM RAZÃO DA FALTA DE ATRIBUIÇÃO DA GUARDA
CIVIL PARA EFETUAR ABORDAGENS E REVISTAS PESSOAIS. FUNDAMENTAÇÃO QUE COLIDE
COM A LEI N.º 13.022/14, QUE REGULA A ATIVIDADE DAS GUARDAS MUNICIPAIS E COM O ART.
301 DO CPP. OFERECIMENTO DE DENÚNCIA QUE SE IMPÕE.
Consta dos autos que, no dia 05 de abril de 2018, por volta das 10 horas, na Rua Helvétia com a Alameda
Dino Bueno, bairro Santa Cecília, nesta Capital, na região conhecida como “Cracolândia”, guardas civis
metropolitanos avistaram o agente em atitude suspeita e decidiram abordá-lo. O increpado, então, ao
receber ordem de parada e revista, brandiu um facão e ameaçou os servidores, resistindo à determinação
exarada, o que fez necessário empregar força física para contê-lo.
Revistado, apreenderam-se em seu poder 16 (dezesseis) porções de cânhamo e diversos recipientes
plásticos idênticos, utilizados para embalar a droga.
Concluídas as providências de polícia judiciária, o Douto Promotor de Justiça entendeu que a guarda
municipal não teria atribuição para realizar abordagem e revista pessoal, tornando ilícita a prova obtida a
partir de sua atuação, motivo pelo qual requereu o arquivamento do caso. A MM. Juíza entendeu de modo
diverso e aplicou à espécie o art. 28 do CPP.
Com respeito à legitimidade da atuação da guarda civil, não se mostra acertada a interpretação adotada
pelo Ilustre Membro Ministerial. As atribuições das Guardas Municipais encontram-se definidas na Lei n.º
13.022, de 2014, a qual prevê, em seu art. 5.º, dentre outras: “IV - colaborar, de forma integrada com os
órgãos de segurança pública, em ações conjuntas que contribuam com a paz social; e, (...) XIV -
encaminhar ao delegado de polícia, diante de flagrante delito, o autor da infração, preservando o local do
crime, quando possível e sempre que necessário”. Ademais disso, o agente se encontrava em estado
flagrancial, o que legitimaria a atuação não só da Guarda Civil, mas de qualquer pessoa do povo para
detê-lo, nos termos do art. 301 do CPP.
De outro lado, o Egrégio Superior Tribunal de Justiça já consolidou entendimento no sentido da validade
de ações semelhantes à que se verificou nos autos, encetadas pelas Guardas Civis, afastando o
argumento acerca da ilicitude da prova daí obtida; confira-se: “(...) 2. Na hipótese dos autos, não há falar
em nulidade da sentença e do acórdão sob a alegação de irregularidade na prisão em flagrante, visto que
os integrantes da Guarda Municipal flagraram o paciente, em via pública, na posse de entorpecentes
destinados à mercancia, estando suas condutas amparadas pelo art. 301 do Código de Processo Penal,
segundo o qual qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem
quer que seja encontrado em flagrante delito. 3. Apesar das atribuições previstas no art. 144, § 8º, da
Constituição Federal, se qualquer pessoa do povo pode prender quem quer que esteja em situação de
flagrância, não se pode proibir o guarda municipal de efetuar tal prisão. 4. Em razão do caráter permanente
do tráfico de drogas, cuja consumação se prolonga no tempo, a revista pessoal ou domiciliar que
ocasionou a prisão em flagrante, não representa prova ilícita (Precedente). 5. ‘Habeas corpus’ não
conhecido”. (STJ, HC 286.546/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, 6.ª TURMA, julgado em
22/09/2015, DJe de 15/10/2015)
O arquivamento, destarte, não se afigura como o melhor caminho. Não se pode olvidar, por fim, no que
pertine à suficiência de provas para o ajuizamento da denúncia, que não é exigível o mesmo rigor
necessário para lastrear uma condenação criminal: “Segundo pacífica jurisprudência desta Corte Superior,
a propositura da ação penal exige tão somente a presença de indícios mínimos e suficientes de autoria.
A certeza será comprovada ou afastada durante a instrução probatória, prevalecendo, na fase de
oferecimento da denúncia o princípio do in dubio pro societate.” (STJ, RHC 79.154/SP, Rel. Ministro FELIX
FISCHER, 5.ª TURMA, DJe de 10/08/2017).
Solução: designa-se outro promotor de justiça para atuar no caso e prosseguir no feito em seus ulteriores
termos.

MP 52.417/18
Autos n.º 0021292-61.8.26.0050 – MM. Juízo da Vara do Juizado Especial Criminal do Foro Central
Criminal da Barra Funda (Comarca da Capital)
Autor do fato: (...)
Assunto: revisão de promoção de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. PEDIDO DE ARQUIVAMENTO. RECEPTAÇÃO CULPOSA (CP, ART. 180,
§3º.). AUTOR DO FATO QUE NÃO COMPARECEU À AUDIÊNCIA PRELIMINAR REQUERIDA PELO
MINISTÉRIO PÚBLICO. PLEITO DE ARQUIVAMENTO DA INVESTIGAÇÃO CALCADO EM
CONSIDERAÇÕES GENÉRICAS DE “OPORTUNIDADE E CONVENIÊNCIA”. PROVA DA
MATERIALIDADE E INDÍCIOS DE AUTORIA, PORÉM, QUE JUSTIFICAM O OFERECIMENTO DE
DENÚNCIA POR RECEPTAÇÃO DOLOSA SIMPLES (CP, ART. 180, CAPUT). REDISTRIBUIÇÃO DOS
AUTOS A UMA DAS MM. VARAS CRIMINAIS DO FORO CENTRAL DA CAPITAL.
Trata-se de investigação penal instaurada visando à apuração de suposta receptação culposa. Pelo que
se apurou, policiais militares em patrulhamento de rotina na região central da Capital, quando avistaram
dois indivíduos em atitude suspeita, os quais se espantaram e tentaram se dispersar ao perceber a
aproximação dos milicianos, mas foram detidos. Em busca pessoal, nenhum deles portava documento de
identificação. Com o investigado, foram encontrados dois aparelhos de telefone celular, das marcas
“Samsung” e “Apple”, ao passo que com o indivíduo que o acompanhava, a quantia de R$ 220,00
(duzentos e vinte reais) em espécie. Questionado a respeito do dinheiro, este admitiu que acabara de
recebê-lo do investigado, porque teria negociado com ele a venda do celular “Samsung” localizado em
sua posse. Em diligências, descobriu-se que o objeto havia sido roubado pelo sujeito em poder do qual o
dinheiro foi localizado, duas horas atrás. O autor do fato admitiu, ademais, que havia negociado o aparelho
do agente quando a Polícia o abordou.
Concluídas as providências de polícia judiciária, o Douto Promotor de Justiça requereu a designação de
audiência preliminar, mas, como o agente não foi localizado e, portanto, a ele não compareceu, em nova
manifestação entendeu por bem o Ilustre Membro do Parquet requerer o arquivamento, por julgar
“temerária” a propositura da ação penal, levando em conta uma análise de “custo e benefício”. O
Digníssimo Magistrado, porém, discordou do posicionamento externado, por vislumbrar que os elementos
amealhados apontam, a princípio, para a prática do crime de receptação culposa (art. 180, §3.º, do CP),
motivo pelo qual remeteu a questão para análise desta Chefia Institucional, com fundamento no art. 28 do
CPP.
Com a devida vênia do Nobre Promotor de Justiça, assiste razão, em parte, ao Digníssimo Magistrado.
Em que pese as ponderações ministeriais, a propositura da ação penal (ou elaboração de proposta de
transação penal) se afigura como medida correta; senão, vejamos. Considerações de ordem pragmática,
com referência a argumentos de oportunidade e conveniência, não servem de razão válida a condicionar
o exercício da ação penal pública, data maxima venia. Não se pode admitir que considerações subjetivas
calcadas numa análise genérica de custos e benefícios, ainda mais quando desprovidas de qualquer
referência, por menor que seja, ao caso concreto, sirvam de empecilho ao prosseguimento da persecução
penal. É de ver que o sistema processual penal brasileiro adota, em matéria de crimes de ação penal
pública, o princípio da obrigatoriedade (CPP, art. 24), o qual retira do Parquet qualquer possibilidade de
efetuar o exame da conveniência e da oportunidade em se propor uma demanda criminal. A única
mitigação existente diz respeito ao princípio da oportunidade regrada, aplicável às infrações de menor
potencial ofensivo, o qual, ainda assim, não confere discricionariedade ao Ministério Público na avaliação
da postura a ser implementada, pois, não sendo caso de arquivamento, exige a análise do preenchimento
dos requisitos legais para a propositura da transação penal ou, quando ausentes, impõe o oferecimento
de denúncia.
No caso dos autos, não há dúvida a respeito da conduta praticada pelo agente, em relação ao celular da
marca “Samsung”, apresentando o procedimento inquisitivo lastro mais do que suficiente para o
oferecimento da denúncia pelo crime de receptação dolosa simples (CP, art. 180, caput). Não é demais
sublinhar que a propositura da ação penal deve se dar sempre que presentes prova da materialidade e
indícios de autoria e, no caso concreto, ambos podem ser identificados. Ficou claro tratar-se o aparelho
de telefone celular da marca “Samsung” de produto de roubo cometido cerca de duas horas antes dos
fatos ora investigados. Quanto à autoria, o investigado forneceu explicação vaga para a posse deste bem,
dizendo que não tinha ciência de que se tratava de produto de ilícito e que não sabia informar onde ou de
que forma adquiriu o telefone, embora tenha admitido que estava negociando um aparelho celular quando
foi abordado pelos servidores. Destaque-se, ainda, que a região em que se procedeu à abordagem é
conhecida pela ocorrência de grande comércio ilícito de objetos dessa natureza. Assim, a despeito do
entendimento do MM. Juiz, conforme se depreende dos elementos informativos colhidos neste
procedimento inquisitivo, verifica-se que há indícios reveladores de que o increpado não praticou infração
de pequeno potencial ofensivo, configurando-se, em verdade, o crime de receptação dolosa simples (art.
180, caput, CP). Há de ser aplicado, no caso concreto, o princípio in dubio pro societate (nesse sentido:
CC 129.497/MG, Rel. Ministro ERICSON MARANHO – DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP,
3.ª SEÇÃO, julgado em 08/10/2014, DJe de 16/10/2014).
Solução: requer-se o retorno dos autos à origem e sua redistribuição a uma das MM. Varas Criminais do
Foro Central da Capital, cumprindo ao membro ministerial que o receber atuar como longa manus do
Procurador-Geral de Justiça, oferecendo denúncia pelo crime de receptação dolosa simples (art. 180,
caput, CP).

MP 51.410/18
Autos n.º 0001102-98.2017.8.26.0022 – MM. Juízo da 2.ª Vara Judicial da Comarca de Amparo
Investigado: (...)
Assunto: revisão de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. ADULTERAÇÃO DE SINAL IDENTIFICADOR DE VEÍCULO AUTOMOTOR (CP,
ART. 311). MODIFICAÇÃO DE PLACA DE VEÍCULO MEDIANTE EMPREGO DE FITA ADESIVA
PLÁSTICA. MATERIALIDADE E AUTORIA DEMONSTRADAS NA FASE INQUISITIVA.
ENTENDIMENTO PACÍFICO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA NO SENTIDO DA
CONFIGURAÇÃO DO CRIME. TESE 157 DO SETOR DE RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS E
ESPECIAIS DO MPSP. DESIGNAÇÃO DE OUTRO PROMOTOR DE JUSTIÇA PARA OFERECIMENTO
DE DENÚNCIA.
Cuida-se de inquérito policial destinado à apuração de crime de adulteração de sinal identificador de
veículo automotor, pela utilização de fita plástica adesiva modificando caracteres da placa.
Segundo se verificou nos autos, guardas civis municipais que realizavam patrulhamento pelo local,
flagraram o investigado conduzindo a motocicleta Yamaha/Fazer, com a placa adulterada por meio de fita
adesiva.
Realizada a abordagem, constatou-se que a placa da motocicleta havia sido alterada com fita isolante
preta, convertendo a letra “F” em “E”.
A matéria objeto deste procedimento inquisitivo deve ser solucionada, no entender desta Procuradoria-
Geral de Justiça, no sentido da “Tese 157 do Setor de Recursos Extraordinários e Especiais desta E.
Procuradoria-Geral de Justiça, publicada no DOE de 12 de junho de 2003”, segundo a qual: “Caracteriza
o crime do artigo 311 do Código Penal o fato de o agente adulterar as placas do automóvel com utilização
de fita adesiva.” (D.O.E., 12/06/2003, p. 32).
Ademais disso, o Colendo Superior Tribunal de Justiça tem reiteradamente decidido no sentido de que
mesmo a aposição de fita plástica adesiva sobre número da placa de veículos automotores configura o
delito do art. 311 do Código Penal, o que justifica a revisão do posicionamento antes adotado por esta
Chefia Institucional. Isso porque, a rigor, o tipo penal contenta-se com adulteração de sinal de identificação
de veículo automotor e não implementa nenhuma elementar no sentido de que a alteração de sinal
identificador seja definitiva. E o bem jurídico tutelado, ou seja, a fé pública (Título X, Capítulo IV, do Código
Penal), quer se trate de alteração provisória de sinal identificador de veículo automotor, com a inserção
de fita adesiva sobre a numeração da placa, quer se trate de alteração definitiva, com a repintura da placa,
por exemplo, é ofendido em qualquer uma das situações. Nesse sentido, entre outros: “ (...) 2. Este
Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento no sentido de que é típica a conduta de alterar placa
de veículo automotor, mediante a colocação de fita adesiva, conforme ocorreu na espécie dos autos. Isto
porque a objetividade jurídica tutelada pelo art. 311 do CP é a fé pública ou, mais precisamente, a proteção
da autenticidade dos sinais identificadores de automóveis. Precedentes. (...)” (HC 407.207/SP, Rel.
Ministro RIBEIRO DANTAS, 5.ª TURMA, julgado em 12/09/2017, DJe de 21/09/2017).
Solução: designa-se outro Promotor de Justiça para oferecer denúncia e prosseguir nos ulteriores termos
da ação penal, até final decisão.

MP 49.093/18
Autos n.º 0004857-82.2016.8.26.0114 – MM. Juízo da 2.ª Vara Criminal da Comarca de Campinas
Vítima: (...)
Assunto: revisão de promoção de arquivamento homologado judicialmente
EMENTA: CPP, ART. 28. INQUÉRITO POLICIAL ARQUIVADO POR DECISÃO JUDICIAL. PEDIDO DE
RECONSIDERAÇÃO ELABORADO PELO SUPOSTO OFENDIDO. DESCABIMENTO. RECURSO AO
PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA. INADMISSI-BILIDADE.
A decisão que arquiva o inquérito policial produz coisa julgada formal e, por esse motivo, somente pode
se dar a alteração na situação concreta mediante o surgimento de provas novas (CPP, art. 18 e Súmula
n. 524 do STF).
Não se admite recurso administrativo ao Procurador-Geral de Justiça, ou medida inominada equivalente,
quando arquivado judicialmente o inquérito policial, sob pena de malferir o princípio do promotor natural.
Solução: deixa-se de conhecer do pedido de revisão de arquivamento de inquérito policial.

MP 47.489/18
Autos n.º 0037319-29.2015.8.26.0114 – MM. Juízo da 5.ª Vara Criminal da Comarca de Campinas
Investigados: (...)
Assunto: análise de pedido de remessa do feito à Justiça Federal indeferido judicialmente (arquivamento
indireto)
EMENTA: CPP, ART. 28. ARQUIVAMENTO INDIRETO. INVESTIGAÇÃO PENAL INSTAURADA PARA
APURAR CRIMES DE APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA (CP, ART. 168-A) E
APROPRIAÇÃO INDÉBITA COMUM (CP, ART. 168). EMPRESA QUE DEIXOU DE RECOLHER
VALORES DEVIDOS AO INSS E AO FGTS. INQUÉRITO REMETIDO À JUSTIÇA FEDERAL, QUE
ARQUIVOU O CASO COM RELAÇÃO AO DELITO DE SUA COMPETÊNCIA (CP, ART. 168-A).
PROMOTOR DE JUSTIÇA QUE, INSISTINDO NA COMPETÊNCIA FEDERAL, REQUEREU FOSSE
SUSCITADO CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PEDIDO INDEFERIDO AO ARGUMENTO DE
QUE O CRIME REMANESCENTE É DE COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL. AUSÊNCIA
DE LESÃO A BENS, SERVIÇOS OU INTERESSE DA UNIÃO. OFENSA A INTERESSE PARTICULAR.
INFRAÇÃO DE COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA PAULISTA. ATRIBUIÇÃO DO PROMOTOR DE JUSTIÇA
OFICIANTE.
Cuida-se de investigação penal instaurada para apurar os crimes de apropriação indébita comum (CP,
art. 168, caput) e previdenciária (CP, art. 168-A, caput), cometidos pelos investigados, representantes de
empresa responsável por efetuar o recolhimento dos valores devidos ao INSS e ao FGTS dos
funcionários, apresentando, mensalmente, guias comprobatórias. Estas, porém, se revelaram falsas, de
tal maneira que se evidenciou ter a empresa, por meio de seus representantes, se apropriado dos valores
correspondentes aos recolhimentos que deveriam ser efetuados ao Instituto Nacional de Seguridade
Social e ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.
Concluídas as providências de polícia judiciária, o Douto Promotor de Justiça, obtemperando que se
trataria de crimes de competência da Justiça Federal, por se tratar de comportamentos perpetrados contra
entidades da União, requereu o envio dos autos à citada Justiça, medida deferida judicialmente.
O Nobre Procurador da República, contudo, destacou que não se afiguraria viável a propositura de ação
penal pelo crime de apropriação indébita previdenciária, destacando que, segundo entendimento
majoritário, firmado no âmbito do STF e do STJ, referida infração seria de natureza material e, nessa
medida, sujeita ao regime jurídico da Súmula Vinculante n.º 24 do STF, isto é, somente se configuraria o
delito depois da constituição definitiva do crédito tributário, o que não ocorreu. Em face disto, requereu o
arquivamento do caso quanto a tal fato e, por considerar que a infração remanescente seria de
competência estadual, propugnou pelo retorno dos autos à Justiça Paulista. O pedido de arquivamento foi
acolhido no âmbito da Justiça Federal, bem como o requerimento de remessa.
O Ilustre Promotor de Justiça, então, requereu fosse suscitado conflito negativo de competência,
reiterando os argumentos anteriormente expostos. A MM. Juíza, todavia, demonstrou concordar com a
argumentação elaborada pelo Parquet federal e, considerando que a infração subsistente (apropriação
indébita de valores relativos ao FGTS) seria de competência estadual, entendeu por bem aplicar à espécie
o art. 28 do CPP e encaminhou a questão para análise desta Procuradoria-Geral de Justiça.
Cuida-se o caso de “arquivamento indireto”, o qual se dá quando o Representante do Ministério Público
declina de sua atribuição e pugna pelo endereçamento do procedimento a outro juízo supostamente
competente e o julgador, discordando do pleito, o indefere. Deveras, não pode o magistrado simplesmente
obrigar o promotor de justiça a examinar o mérito da causa, promovendo o arquivamento do inquérito ou
oferecendo denúncia, sob pena de violar o princípio da independência funcional, mas, sobretudo, o
princípio da demanda. A solução viável em tais situações, portanto, só pode ser a aplicação analógica do
art. 28 do CPP.
Quanto ao mérito do incidente, a razão se encontra com a Digníssima Magistrada, com a máxima vênia
da Ilustre Membro Ministerial. A conduta subsistente nestes autos, considerando o arquivamento da
investigação quanto ao crime federal, reside na apropriação indébita de valores devidos a título de Fundo
de Garantia por Tempo de Serviço. Essa conduta, mesmo em tese, não lesa bens, serviços ou interesse
da União, mas malfere interesse particular dos empregados cujas verbas deixaram de ser recolhidas.
Nesse sentido, há precedentes do Egrégio Superior Tribunal de Justiça: “CONFLITO DE JURISDIÇÕES.
FALSIFICAÇÃO DE GUIAS DE RECOLHIMENTO DE FGTS E FINSOCIAL. AUSENCIA DE OFENSA
DIRETA A BENS, SERVIÇOS OU INTERESSE DA UNIÃO E A SEUS ENTES (ART. 109, IV, DA CF/88).
PREJUIZO A BENS DE PARTICULARES. CRIME DE ESTELIONATO, EM TESE. COMPETENCIA DO
JUIZO COMUM ESTADUAL. PRECEDENTES. (CC 8.147/SP, Rel. Ministro ADHEMAR MACIEL,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 20/10/1994, DJ 28/11/1994, p. 32561)”.
Solução: conhece-se da presente remessa, designando-se outro promotor de justiça para oficiar nos autos
e formar sua opinião delitiva.

MP 43.297/18
Autos n.º 0001095-53.2017.8.26.0654 – MM. Juízo da Vara da Infância e Juventude da Comarca de
Vargem Grande Paulista
Adolescente: (...)
Assunto: revisão de concessão de remissão como forma de exclusão do processo, desacompanhada de
medida socioeducativa
EMENTA: ECA, ART. 181, §2.º. ATO INFRACIONAL EQUIPARADO A RECEPTAÇÃO DOLOSA
SIMPLES. REMISSÃO CUMULADA COM MEDIDA SOCIOEDUCATIVA NÃO RESTRITIVA DE
LIBERDADE. DISCORDÂNCIA JUDICIAL QUANTO À POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DE TAL
MEDIDA. CABIMENTO, EM TESE, DA POSTURA MINISTERIAL. POSIÇÃO PACIFICADA PELOS
TRIBUNAIS SUPERIORES. CASO CONCRETO, CONTUDO, INCOMPATÍVEL COM A SOLUÇÃO
AVENTADA.RECEPTAÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. ADOLESCENTE QUE RESPONDE A OUTRO
PROCEDIMENTO NA VARA DA INFÂNCIA POR ATOS INFRACIONAIS EQUIPARADOS A TRÁFICO
DE DROGAS E ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. AJUIZAMENTO DA REPRESENTAÇÃO.
Consta dos autos que o adolescente foi surpreendido por guardas civis em poder de veículo automotor
produto de furto, cometido dois meses antes. Menor que admitiu ter adquirido, com recursos próprios, o
veículo de pessoa que somente indicou a alcunha.
Ouvido pela Douta Promotora de Justiça, entendeu por bem esta propor-lhe a remissão, cumulada com
medida socioeducativa de prestação de serviços à comunidade.
A remissão foi, contudo, indeferida, por entender o MM. Juiz que a providência, quando proposta pelo
Parquet, não pode ser cumulada com medida socioeducativa.
Deve-se destacar que a jurisprudência já fixou a possibilidade de o Ministério Público conceder ao
adolescente remissão, como forma de exclusão do processo, cumulada com medida socioeducativa,
desde que esta não tenha natureza restritiva de liberdade. Não procede, com o devido respeito, o
argumento de que não haveria meios jurídicos para efetivá-la, caso o menor a descumprisse. Nesse caso,
deve-se proceder de maneira análoga à hipótese de descumprimento da transação penal, isto é,
promovendo-se a representação. O Egrégio Superior Tribunal de Justiça já pacificou o assunto; confira-
se: “(...) Essa remissão pré-processual é, portanto, atribuição legítima do MP, como titular da
representação por ato infracional e diverge daquela prevista no art. 126, parágrafo único, do ECA,
dispositivo legal que prevê a concessão da remissão pelo juiz, depois de iniciado o procedimento, como
forma de suspensão ou de extinção do processo. Ora, o juiz, que não é parte do acordo, não pode oferecer
ou alterar a remissão pré-processual, tendo em vista que é prerrogativa do MP, como titular da
representação por ato infracional, a iniciativa de propor a remissão pré-processual como forma de
exclusão do processo, a qual, por expressa previsão do art. 127 do ECA, já declarado constitucional pelo
STF (RE 248.018, Segunda Turma, DJe 19/6/2008), pode ser cumulada com medidas socioeducativas
em meio aberto, as quais não pressupõem a apuração de responsabilidade e não prevalecem para fins
de antecedentes, possuindo apenas caráter pedagógico. A medida aplicada por força da remissão pré-
processual pode ser revista, a qualquer tempo, mediante pedido do adolescente, do seu representante
legal ou do MP, mas, discordando o juiz dos termos da remissão submetida meramente à homologação,
não pode modificar suas condições para decotar condição proposta sem seguir o rito do art. 181, § 2°, do
ECA, o qual determina que, "Discordando, a autoridade judiciária fará remessa dos autos ao Procurador-
Geral de Justiça, mediante despacho fundamentado, e este oferecerá representação, designará outro
membro do Ministério Público para apresentá-la, ou ratificará o arquivamento ou a remissão, que só então
estará a autoridade judiciária obrigada a homologar". As medidas socioeducativas em meio aberto,
portanto, são passíveis de ser impostas ao adolescente em remissão pré-processual e não pode a
autoridade judiciária, no ato da homologação, deixar de seguir o rito do art. 181, § 2°, do ECA e excluí-las
do acordo por não concordar integralmente com a proposta do MP. Havendo discordância, total ou parcial,
da remissão, deve ser observado o rito do art. 181, § 2° do ECA, sob pena de suprimir do órgão ministerial,
titular da representação por ato infracional, a atribuição de conceder o perdão administrativo como forma
de exclusão do processo, faculdade a ele conferida legitimamente pelo art. 126 do ECA.” (STJ, R.Esp.
1.392.888-MS, Rel. Min. Rogerio Schietti, julgado em 30/6/2016, DJe 1/8/2016; noticiado no Informativo
STJ n.º 587/agosto de 2016 – grifos nossos).
O caso concreto, todavia, não indica ser a remissão a medida mais adequada. A conduta do adolescente
se revela grave e merecedora de censura, por se cuidar de receptação de veículo automotor efetuada
pouco tempo depois da subtração do bem. De mais a ver, o fato de o menor estar respondendo a processo,
no mesmo juízo, por crime equiparado a hediondo, confirma não ser este caso de aplicação de remissão,
ainda que cumulada com medida socioeducativa.
Desse modo, ainda que relevantes as ponderações que sustentaram a r. manifestação ministerial, esta
Chefia Institucional possui entendimento em sentido contrário sobre o cabimento de remissão para
portadores de maus antecedentes.
Solução: designa-se outro promotor de justiça para ajuizar a ação socioeducativa e prosseguir no feito em
seus ulteriores termos.

MP 41.616/18
Autos n.º 0094499-69.2013.8.26.0050 – MM. Juízo do DIPO 3 (Comarca da Capital)
Vítima: (...)
Assunto: análise de pedido de remessa do feito à Justiça Federal indeferido judicialmente (arquivamento
indireto)
EMENTA: CPP, ART. 28. FURTO PRATICADO CONTRA AGÊNCIA FRANQUEADA DOS CORREIOS.
DECLINAÇÃO DE ATRIBUIÇÃO EM FAVOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. AUSÊNCIA DE
LESÃO A INTERESSE DA UNIÃO, SUAS EMPRESAS PÚBLICAS OU AUTARQUIAS.
JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. ATRIBUIÇÃO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO DE SÃO PAULO.
Cuida-se de investigação penal instaurada para apurar o crime de furto cometido contra agência
franqueada dos Correios. Segundo a notitia criminis, uma pessoa desconhecida ingressou, durante a
madrugada, mediante retirada de telha e destruição parcial do estuque, no interior do estabelecimento e
subtraiu, para si ou para outrem, valores que havia no caixa e encomendas de clientes.
Concluídas as providências de polícia judiciária, a Douta Promotora de Justiça oficiante declinou de sua
atribuição, ponderando se tratar de delito de competência da Justiça Federal, para onde requereu o envio
dos autos.
O MM. Juiz, entretanto, discordou do pedido formulado, aduzindo que a conduta, não produziu mácula a
bem, serviço ou interesse da União, suas empresas públicas ou autarquias, cuidando-se, destarte, de
infração de competência da Justiça Comum Estadual. Diante disso, encaminhou a questão para análise
desta Procuradoria-Geral de Justiça, nos termos do art. 28 do CPP.
Registre-se, inicialmente, que, muito embora não tenha havido pedido formal de arquivamento dos autos,
tem-se em vista o chamado “arquivamento indireto”. Tal figura ocorre justamente quando o Representante
do Ministério Público declina de sua atribuição e pugna pelo endereçamento do procedimento a outro juízo
supostamente competente e o julgador, discordando do pleito, o indefere. Deveras, não pode o magistrado
simplesmente obrigar o promotor de justiça a examinar o mérito da causa, promovendo o arquivamento
do inquérito ou oferecendo denúncia, sob pena de violar o princípio da independência funcional, mas,
sobretudo, o princípio da demanda. A solução viável em tais situações, portanto, só pode ser a aplicação
analógica do art. 28 do CPP. EUGÊNIO DE OLIVEIRA PACELLI e DOUGLAS FISCHER ponderam a
respeito do tema que a solução, na falta de dispositivo expresso na legislação, partiu da jurisprudência do
Egrégio Supremo Tribunal Federal: “Assentou-se, então, que o juiz, não concordando com a manifestação
ministerial, deveria valer-se do disposto no art. 28 do CPP (art. 62, LC n. 75/93, no âmbito do Ministério
Público Federal), submetendo a questão à instância de revisão do respectivo parquet. O entendimento ali
adotado determinaria, então, ou a designação de outro membro para o oferecimento de denúncia, ou a
remessa dos autos ao juiz cuja competência tenha sido apontada na manifestação do Ministério Público.
Por isso, por não se tratar propriamente de um arquivamento, já que não se alega a ausência de crime e
nem de provas de sua existência, cunhou-se a expressão arquivamento indireto, cujo maior mérito é,
repetimos, apresentar uma solução para o então insuperável entrave na persecução penal” (Comentários
ao Código de Processo Penal e Sua Jurisprudência, São Paulo, Atlas, 2012, p. 76).
De ver que, no caso em tela, o prejuízo foi integralmente suportado por instituição privada, qual seja, a
agência franqueada dos Correios. No sentido de que se cuida de hipótese de competência da Justiça
Comum Estadual, há jurisprudência consolidada do Egrégio Superior Tribunal de Justiça; confira-se: “(...)
2. Nos termos da jurisprudência desta Corte, o fundamento que justifica a exclusão de danos financeiros
à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos quando o furto ou roubo ocorre em agência franqueada é
o fato de que, no contrato de franquia, a franqueada responsabiliza-se por eventuais perdas, danos,
roubos, furtos ou destruição de bens cedidos pela franqueadora, não se configurando, portanto, real
prejuízo à Empresa Pública. (...)”. (STJ, CC 145.800/TO, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, 3.ª SEÇÃO, julgado em 13/04/2016, DJe de 25/04/2016; grifo nosso)
Solução: conhece-se da presente remessa, designando-se outro promotor de justiça para oficiar nos autos
e formar sua opinião delitiva.

MP 40.773/18
Autos n.º 0013780-27.2018.8.26.0050 – MM. Juízo do DIPO 3 (Comarca da Capital)
Investigado: (...)
Assunto: análise de promoção de arquivamento do inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. FURTO (CP, ART. 155). AGENTE QUE SE APODERA DE VEÍCULO DE SEU
EX-PATRÃO, SEM AUTORIZAÇÃO. AUTOMÓVEL DANIFICADO EM RAZÃO DE ABALROAMENTOS
PROVOCADOS PELO AGENTE. PEDIDO DE ARQUIVAMENTO FUNDADO NA SUPOSTA
ATIPICIDADE, POR SE TRATAR DE “FURTO DE USO”. REQUISITOS NECESSÁRIOS À
CONFIGURAÇÃO DO INSTITUTO AUSENTES, POIS O OBJETO MATERIAL NÃO FOI DEVOLVIDO
ESPONTANEAMENTE, MAS APREENDIDO POR AGENTES PÚBLICOS E SE ENCONTRAVA COM
DANOS MATERIAIS. OFERECIMENTO DE DENÚNCIA QUE SE IMPÕE.
O investigado, ex-empregado da vítima, apoderou-se do automóvel, realizou ligação direta, e saiu
conduzindo o bem sem autorização do proprietário. Em seguida, colidiu com outro veículo, evadindo-se
do sítio do evento e, após, chocou-se contra um imóvel, danificando o bem. Desmaiou momentaneamente
e, quando recobrou a consciência, novamente se evadiu.
O tipo penal previsto no art. 155 do CP pressupõe, além do dolo, consistente na vontade e consciência
de subtrair a res, o elemento subjetivo específico, decorrente das elementares “para si ou para outrem”.
Ausente o ânimo de assenhoreamento definitivo, desconfigura-se o crime, verificando-se, no lugar, o
chamado “furto de uso”.
Tal comportamento, todavia, requer seja a utilização momentânea e que resulte na devolução espontânea
do bem, com seu status quo preservado.
Na hipótese concreta, o bem foi apreendido pela Polícia após as sucessivas colisões, tendo o agente
empreendido fuga nos dois acidentes em que se envolveu.
Há, ainda, a viabilidade jurídica de se imputar ao agente o tipo penal descrito no art. 305 do CTB, cuja
constitucionalidade já foi sustentada por esta Procuradoria-Geral de Justiça, sendo este entendimento,
inclusive, adotado pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça (RHC 89.931/CE, Rel. Ministro REYNALDO
SOARES DA FONSECA, 5.ª TURMA, julgado em 12/12/2017, DJe de 18/12/2017).
Solução: designa-se outro promotor de justiça para apresentar a peça acusatória, devendo prosseguir nos
ulteriores termos da ação penal.

MP 37.510/18
Autos n.º 0071669-41.2015.8.26.0050 – MM. Juízo do DIPO 3 (Comarca da Capital)
Autor do fato: (...)
Assunto: revisão de promoção de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. CTB, ART. 306 (COM REDAÇÃO DADA PELA
LEI N. 11.705/08). NÍVEL DE DOSAGEM ALCOÓLICA ATESTADO POR ETILÔMETRO
(“BAFÔMETRO”). VALIDADE. POSTERIOR EXAME CLÍNICO, REALIZADO UMA HORA E QUARENTA
MINUTOS APÓS, QUE NÃO CONSTATOU A ALCOOLEMIA. PREVALÊNCIA DA PROVA COLHIDA NO
MOMENTO DA CONDUTA. INEXISTÊNCIA DE DIREÇÃO IRREGULAR. IRRELEVÂNCIA. CRIME DE
PERIGO ABSTRATO. OFERECIMENTO DE DENÚNCIA QUE SE IMPÕE.
O nível de dosagem alcoólica, que constitui requisito típico, foi comprovado materialmente em exame
pericial realizado in loco, no momento da conduta, por meio de etilômetro (“bafômetro”), constatando-se o
índice de 0,58 mg/L (cinquenta e oito miligramas por litro de ar expelido pelos pulmões) (vide art. 2º, II, do
Decreto n. 6.488/08). A investigada foi, posteriormente, encaminhada ao Instituto Médico Legal e, uma
hora e quarenta minutos após a abordagem, colheu-se material para exame clínico, o qual não detectou
remanescerem vestígios de embriaguez.
O confronto dos elementos informativos amealhados no curso da investigação há de ser efetuado de
maneira crítica, não se admitindo que uma prova se sobreponha às demais, sem se verificar as condições
em que produzida. No caso em tela, dois exames periciais foram realizados: um deles no exato instante
da perpetração da conduta criminosa e outro, horas após. O primeiro apurou quantidade de álcool por litro
de ar expelido pelos pulmões capaz de incriminar o investigado; o segundo não concluiu pelo estado
inebriante. A contradição, destaque-se, é aparente. Isto porque, como é sabido, o organismo humano
possui condições, com o passar do tempo, de eliminar o álcool ingerido.
De mais a ver, ainda que se pudesse reputar conflitante o cenário probatório, nesta fase da persecução
penal as dúvidas devem ser dirimidas em favor da sociedade (nesse sentido: STJ, Conflito de
Competência n. 113.020, rel. MIN. OG FERNANDES, julgado em 23 de março de 2011). Há de prevalecer,
destarte, a constatação aferida no momento da ação.
O delito em questão configura crime de perigo abstrato e sua descrição legal não atenta contra princípios
constitucionais, até porque é científica e estatisticamente comprovado que a condução de veículo
automotor por quem ingeriu álcool ou substâncias psicoativas em determinado patamar põe em risco a
incolumidade física e a vida de terceiros, dada a diminuição dos reflexos, da percepção sensorial e motora,
entre outros (vide , nesse sentido, HC n. 109.269/MG, Rel. Ministro LEWANDOWSKI, j. em 27/09/2011,
DJe de 11/10/2011).
Solução: designa-se outro promotor de justiça para oferecer denúncia e prosseguir nos ulteriores termos
da ação penal.

MP 31.438/18
Autos n.º 0001218-52.2017.8.26.0589 – MM. Juízo da Vara Única da Comarca de São Simão
Investigados: (...)
Assunto: revisão de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. CRIME MATERIAL CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. ART. 1º, INC. IV, DA
LEI N.º 8.137/90. PEDIDO DE ARQUIVAMENTO FUNDADO NA EXISTÊNCIA DE AÇÃO ANULATÓRIA
DE DÉBITO FISCAL. DÍVIDA TRIBUTÁRIA QUE JÁ FOI OBJETO DE LANÇAMENTO DEFINITIVO.
INDEPENDÊNCIA DAS INSTÂNCIAS PENAL E EXTRAPENAL. POSSÍVEL QUESTÃO PREJUDICIAL
QUE, SE O CASO, DEVERÁ SER PROCESSADA NOS TERMOS DO ART. 93 DO CPP, SEM O
CONDÃO, TODAVIA, DE SUSPENDER OU ENCERRAR O ANDAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL.
A questão central reside em determinar se eventual suspensão judicial acerca da exigibilidade do tributo,
cujo lançamento definitivo se concretizou, obsta o prosseguimento da persecução penal. A resposta,
segundo nos parece, é negativa. Não há dúvida que as instâncias penal e extrapenal (administrativa,
fiscal, cível) são independentes. Essa autonomia, porém, não é absoluta, tanto assim que a Suprema
Corte editou a Súmula Vinculante n.º 24 reconhecendo que “não se tipifica crime material contra a ordem
tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo”.
Uma vez concretizada a via administrativa, porém, revela-se aperfeiçoado, no plano da tipicidade, o crime
fiscal. Eventual questionamento judicial a respeito da exigibilidade do tributo tem o condão, quando muito,
de afastar o dolo ou, ao menos, de apontar para uma possível suspensão da (eventual) ação penal, nos
termos do art. 93 do CPP. Não há que se falar, porém, em suspensão do inquérito policial.
A investigação penal há que prosseguir, até porque, enquanto a questão está sendo debatida na órbita
civil, a prescrição tem o seu curso inabalado.
Afigura-se correto, desse modo, dar continuidade às diligências inquisitivas, identificando-se os
responsáveis pela sonegação fiscal para então, concluído o inquérito, avaliar se há elementos para ajuizar
a ação penal.
Nada impede, repise-se, que se entenda por aplicar, depois de recebida a denúncia, a providência descrita
no art. 93 do CPP, consistente em suspender o processo penal, a fim de aguardar a solução da prejudicial
na órbita civil.
Solução: afastando-se o fundamento invocado para o arquivamento originariamente deduzido, designa-
se outro promotor de justiça para prosseguir no feito, acompanhando as investigações até sua conclusão,
devendo dar-lhe, ao final, o encaminhamento que entender adequado, segundo sua independência
funcional.

MP 30.788/18
Autos n.º 0016189-86.2017.8.26.0348 – MM. Juízo da 1.ª Vara Criminal da Comarca de Mauá
Autor do fato: (...)
Assunto: revisão de pedido de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. LESÃO CORPORAL QUALIFICADA PELA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E
AMEAÇA. PEDIDO DE ARQUIVAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL. DECLARAÇÕES DA OFENDIDA
VERSUS NEGATIVA DO AUTOR. BASE SUFICIENTE PARA A PROPOSITURA DA AÇÃO PENAL,
SOBRETUDO QUANDO SE CUIDA DE NARRATIVA VITIMÁRIA VEROSSÍMIL, CONFIRMADAS AS
LESÕES SOFRIDAS POR EXAME PERICIAL. CRIME CONEXO. FURTO. SUBTRAÇÃO DO APARELHO
DE TELEFONE CELULAR DO SUJEITO PASSIVO. INAPLICABILIDADE DA ESCUSA ABSOLUTÓRIA,
PREVISTA NO ART. 181, I, DO CP, EX VI DO ART. 183, I, DO CP, C.C. ART. 7º, IV, DA LEI 11.340/06.
OFERECIMENTO DE DENÚNCIA QUE SE IMPÕE.
Cuida-se de investigação penal instaurada para apurar os crimes de lesão corporal qualificada pela
violência doméstica (CP, art. 129, §9.º), ameaça (CP, art. 147) e furto (CP, art. 155, caput), cometidos,
em tese, pelo investigado em face de sua então esposa.
Pedido de arquivamento fundado na existência de versões controvertidas nos autos, ausentes
testemunhas presenciais, acrescidas da impossibilidade de esclarecer a dinâmica das agressões. No
tocante à ameaça, tratar-se-ia de frases ditas no calor da emoção, sem intenção de concretizá-las. Quanto
ao suposto furto, incidiria a imunidade penal absoluta.
Examinando-se os elementos informativos, nota-se que embora o investigado negue as agressões e as
ameaças, é certo que apresentou versão dos fatos compatível com aquela narrada pela vítima, conferindo
a esta, portanto, credibilidade. Ademais, o laudo pericial confirmou que a ofendida sofreu lesões corporais
de natureza leve (“equimose em flanco esquerdo”), compatível com a agressão por ela narrada.
Quanto às ameaças, como é cediço, a palavra da vítima configura suporte hábil a embasar a instauração
da persecutio criminis in judicio, conforme reiterada jurisprudência, notadamente em casos relacionados
com violência doméstica, a qual, de regra, se dá intramuros. Assim, embora as versões do autor e da
vítima sejam controvertidas, as palavras desta não merecem ser desconsideradas nesta etapa da
persecução penal. A respeito, confira-se: “ (...) 3. No que se refere ao crime de ameaça, a palavra da
vítima possui especial relevância para fundamentar a condenação, notadamente se a conduta foi praticada
em contexto de violência doméstica ou familiar. Precedente. (...)” (STJ, HC 327.231/RS, Rel. Ministro
RIBEIRO DANTAS, 5.a TURMA, julgado em 10/03/2016, DJe de 17/03/2016).
Há, portanto, base suficiente para o ajuizamento da ação penal, considerando ainda o princípio da
obrigatoriedade (CPP, art. 24, caput), já que os elementos de informação coligidos confirmam a prática
dos delitos narrados pelo sujeito passivo.
Deve-se ponderar, por não menos oportuno, que o ajuizamento da demanda não representa um juízo
definitivo de censura, mas apenas a constatação de um mínimo de embasamento para a deflagração do
devido processo legal: “Segundo pacífica jurisprudência desta Corte Superior, a propositura da ação penal
exige tão somente a presença de indícios mínimos e suficientes de autoria. A certeza será comprovada
ou afastada durante a instrução probatória, prevalecendo, na fase de oferecimento da denúncia o princípio
do in dubio pro societate.” (STJ, RHC 79.154/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, 5.ª TURMA, DJe de
10/08/2017).
Com relação ao furto, afigura-se igualmente viável a propositura da ação penal, eis que inaplicável à
hipótese a escusa absolutória contida no art. 181 do Código Penal. Isto porque o próprio Estatuto
Repressivo determina, em seu art. 183, inc. I, que a imunidade supracitada não incidirá se o fato for
cometido com violência contra a pessoa e, no caso sub examen, houve violência contra mulher, no sentido
preconizado no art. 7.º, inc. IV, da Lei Maria da Penha. Esse Diploma, com efeito, prescreve que: “são
formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: (...) IV - a violência patrimonial,
entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus
objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos,
incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades”.
Solução: designa-se outro promotor de justiça para oferecer denúncia e prosseguir no feito em seus
ulteriores termos.

MP 28.668/18
Autos n.º 0000401-73.2018.8.26.0032 – MM. Juízo da 2.ª Vara das Execuções Penais e da Infância e
Juventude da Comarca de Araçatuba
Adolescente: (...)
Assunto: revisão de concessão de remissão como forma de exclusão do processo, desacompanhada de
medida socioeducativa
EMENTA: ECA, ART. 181, §2.º. ATO INFRACIONAL EQUIPARADO A DESACATO. ADOLESCENTE
QUE, DEPOIS DE CONDENADO POR ATO ASSEMELHADO A TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS,
CONSIGNA NO TERMO DE AUDIÊNCIA DIZERES OFENSIVOS AO JUIZ. CONCESSÃO DE
REMISSÃO SEM MEDIDA SOCIOEDUCATIVA. PEDIDO MINISTERIAL EMBASADO NO
CUMPRIMENTO, PELO MENOR, DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO POR FATO
DIVERSO, O QUE TORNARIA INÓCUA QUALQUER PROVIDÊNCIA ADICIONAL. DESCABIMENTO.
PROPOSITURA DA REPRESENTAÇÃO.
Consta dos autos que, na sala de audiências da MM. Vara da Infância e Juventude da Comarca, ao assinar
o termo de audiência, depois de ser condenado por ato infracional equiparado a tráfico de drogas, o
adolescente consignou no documento os dizeres: “juiz vai tomar no cú” (sic).
Muito embora as consequências do ato infracional não se equiparem, quanto à dimensão e finalidade, às
penas criminais, não se pode admitir, no entender desta Chefia Institucional, que um adolescente
submetido à medida de internação fique, só por isso, a salvo da imposição de outras providências legais.
O caráter não cumulativo de tais medidas não pode tolher o ajuizamento de novas representações, sob
pena de se criar inaceitável faixa de impunidade.
Deve-se obtemperar, ainda, que não se trata de inútil esforço processual, até porque é possível, mesmo
que em tese e remotamente, que o feito onde condenado o inimputável seja anulado, o que faria perder a
vigência da internação em cumprimento. Há de se ter em mente, ademais, que o caráter pedagógico e
educativo das disposições do Estatuto da Criança e do Adolescente ver-se-ia frustrado se o Estado, pura
e simplesmente, abandonasse a persecução diante de todo e qualquer novo ato infracional perpetrado.
Outra ponderação merece registro. A se admitir a tese encampada, qualquer fato cometido por menor de
dezoito anos durante o cumprimento de medida de internação ficaria impune, por mais grave ou ignóbil
que se mostrasse. É como se a lei concedesse ao adolescente uma “carta branca” para cometer os ilícitos
que bem entendesse. Um precedente com esse teor não pode ser admitido.
Acrescente-se, por derradeiro, que a Lei n.º 12.594, de 18 de janeiro de 2012, ao dispor a respeito do
Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), prescreve em seu art. 45 providências a
serem adotadas durante a execução das medidas socioeducativas, mas que não obstaculizam a
instauração do processo de conhecimento.
Solução: designa-se outro promotor de justiça para ajuizar a ação socioeducativa e prosseguir no feito em
seus ulteriores termos.

MP 8.518/18
Autos n.º 0000923-37.2018.8.26.0635 – MM. Juízo do DIPO 4 (Comarca da Capital)
Indiciadas: (...)
Assunto: revisão de pedido de arquivamento de inquérito policial
CPP, ART. 28. ARQUIVAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL FUNDADO NA ATIPICIDADE DA
CONDUTA, DIANTE DA IMPOSSIBILIDADE DE DETERMINAÇÃO DO ELEMENTO SUBJETIVO DO
FURTO. INDICIADAS SURPREENDIDAS NO INTERIOR DE ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL,
LOGO APÓS TEREM OCULTADO, SOB SUAS VESTES, MERCADORIAS. O DELITO NÃO SE
CONSUMOU, PORÉM, DADA A INTERVENÇÃO DE UM FUNCIONÁRIO, QUE SUSPEITOU DA
ATITUDE DAS INVESTIGADAS E AS ABORDOU. COMPORTAMENTO QUE CONSTITUI TENTATIVA
PUNÍVEL. “ANIMUS FURANDI” DEVIDAMENTE COMPROVADO, INCLUSIVE PELAS PRÓPRIAS
INDICIADAS, QUE CONFESSARAM O CRIME EM SEU INTERROGATÓRIO. OFERECIMENTO DE
DENÚNCIA QUE SE IMPÕE.
O escrutínio dos elementos de informação carreados nos autos autoriza concluir pela ocorrência do delito
contra o patrimônio em sua forma tentada.
Note-se que as declarações colhidas nos autos demonstraram, com a necessária segurança, terem as
investigadas ingressado no estabelecimento empresarial e recolhido os bens que desejavam subtrair, com
o claro propósito de sair dali levando consigo as mercadorias escolhidas, sem realizarem o devido
pagamento. O “animus furandi” foi corroborado, ademais, pelo modo de agir das increpadas e por seus
próprios interrogatórios, onde confessaram o crime.
Pode-se concluir, desta forma, que os sujeitos ativos, no mínimo, deram início à execução de um delito,
não consumado por circunstâncias alheias às suas vontades. Com efeito, dá-se o começo de execução
desde as atitudes imediatamente anteriores e subjetivamente vinculadas ao princípio da conduta típica.
No caso, o “iter criminis” percorreu suficientemente a fase punível; ao serem as investigadas
surpreendidas no interior do estabelecimento comercial com mercadorias escondidas sob suas vestes,
restou configurado o “conatus proximus”. Em caso semelhante, o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado
de São Paulo já decidiu pelo afastamento da tese de meros atos preparatórios: “(...) 1. No caso dos autos,
a conjugação dos elementos probatórios leva ao suficiente grau de certeza quanto à materialidade e à
autoria dos fatos descritos na denúncia (confissão do réu e delação das testemunhas, sob o manto do
contraditório, confirmadas pelos documentos lavrados no âmbito de Inquérito). 2. O fato de um
estabelecimento comercial estar dotado de dispositivos eletrônicos, dirigidos para a sua segurança e
contar, outrossim, com seguranças ou com vigias, não impede, necessariamente, a consumação de um
crime de furto ou de qualquer outro crime contra o patrimônio, quando muito, podendo dificultar a sua
prática, exigindo, da parte do agente, cuidado e cautela maiores, mais atenção. Mas, repito, toda a
parafernália eletrônica e todo o sistema de segurança, mesmo humano, destinados a impedir a prática de
um crime, como no caso dos autos, de furto, não inviabiliza a sua consumação. Daí porque não se falar
da ineficácia absoluta do meio escolhido pelo agente, este sendo o entendimento da melhor
jurisprudência. Precedentes do STF e do STJ. 3. Uma vez que o agente adentrou no local da senda
delitiva, apoderou-se dos objetos visados, escondeu-os, e somente foi detido no momento em que iniciada
a tentativa de saída do estabelecimento comercial sem pagar pelas mercadorias, não há como sustentar
que a sua conduta restringiu-se a atos meramente preparatórios. A concreção de atos no mundo
fenomênico, diretamente voltados à consumação do crime, obsta a referida interpretação. Com efeito, a
conduta do réu muito distou da mera cogitação e da simples aquisição de meios ou instrumentos para
uma futura e eventual prática criminosa. (...)” (TJSP - APL: 00023049020128260344 SP 0002304-
90.2012.8.26.0344, Relator: Airton Vieira, Data de Julgamento: 24/09/2015, 1ª Câmara Criminal
Extraordinária, Data de Publicação: 22/10/2015).
Houve, é certo, atos idôneos e inequívocos tendentes à consumação do crime, finalisticamente orientados
à lesão patrimonial do estabelecimento-vítima. Cumpre sublinhar, outrossim, que a falta de efetiva
subtração não desautoriza a imputação do crime patrimonial, consoante já decidiu o Egrégio Superior
Tribunal de Justiça: “RESP - FURTO - TENTATIVA - CONFIGURAÇÃO. Para que se configure a tentativa,
no crime de furto, basta que se inicie a execução, não sendo necessária a efetiva subtração. Recurso
desprovido.” (STJ, R.Esp. n. 173.503/RS, Rel. Ministro JORGE SCARTEZZINI, QUINTA TURMA, julgado
em 02/09/1999, DJU de 04/10/1999, p. 81).
Assim, nada obstante as investigadas tenham sido surpreendidas por funcionários ainda dentro do
estabelecimento comercial, não é possível cogitar-se de atipicidade das suas condutas. Registre-se,
desde já e “ad argumentandum tantum”, o descabimento da tese da insignificância, uma vez que, no
presente caso, embora a quantia em questão possa ser considerada de pequeno valor, estão ausentes
os requisitos exigidos pelo Supremo Tribunal Federal para a sua incidência, a saber: a inexpressividade
da lesão ao bem jurídico; a ausência de periculosidade social da ação; a falta de reprovabilidade da
conduta; a mínima ofensividade do comportamento do agente (cf. HC n.º 94.931, rel. Min. Ellen Gracie).
Isso porque, no caso em apreço, as investigadas possuem diversas passagens criminais anteriores. Uma
delas responde a processo por delito semelhante e a outra increpada ostenta outras condenações,
havendo contra ela, no momento do flagrante, inclusive, dois mandados de prisão. Consubstancia o fato,
ademais, furto qualificado, o que denota acentuada reprovabilidade e, portanto, igualmente impede o
reconhecimento da bagatela. Inegável, nesse contexto, estarem ausentes os requisitos elencados pela
Corte Suprema.
O oferecimento de denúncia, destarte, com a consequente instauração do devido processo legal, é a
medida que se impõe, eis que presentes os requisitos da forma tentada, quais sejam, o dolo, o início da
execução e sua não consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Solução: designa-se outro promotor de justiça para oferecer denúncia e prosseguir no feito em seus
ulteriores termos.

MP 7.828/18
Autos n.º 0000110-19.2017.8.26.0514 – MM. Juízo da Vara Única da Comarca de Itupeva
Indiciada: (...)
Assunto: revisão de pedido de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. PORTE DE MUNIÇÃO DE USO PERMITIDO, SEM AUTORIZAÇÃO OU EM
DESACORDO COM DETERMINAÇÃO LEGAL OU REGULAMENTAR (ART. 14, “CAPUT”, DA LEI N.
10.826/03). PEDIDO DE ARQUIVAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL FUNDADO NA ATIPICIDADE
MATERIAL DA CONDUTA, POR AUSÊNCIA DE POTENCIALIDADE LESIVA. IRRELEVÂNCIA. CRIME
DE PERIGO ABSTRATO. TIPICIDADE FORMAL E MATERIAL. DENÚNCIA QUE SE IMPÕE.
Colheram-se elementos de informação suficientes para confirmar que o objeto apreendido se encontrava
em poder da indiciada. Trata-se aquele de munição de uso permitido, submetida a exame pericial acostado
ao inquérito policial, o qual concluiu ser a peça eficaz ao disparo. O fato se subsume, em tese, ao art. 14,
caput, da Lei n.º 10.826/03. Como ressalta GUILHERME DE SOUZA NUCCI, foi correta a postura do
legislador em tutelar a posse ou porte de munições de arma de fogo: “Quer-se, no Brasil, efetivar o controle
estatal de arma de fogo em geral, contando, para tanto, com os acessórios – igualmente perigosos – bem
como levando-se em conta a munição – sem a qual a arma de fogo é inútil. Surpreender alguém portando
grande quantidade de munição, por exemplo, sem autorização legal, pode ser conduta mais grave que o
singelo porte de um revólver calibre 38, devidamente registrado. Logo, não vemos infringência a nenhum
princípio penal, mormente o da proporcionalidade...” (Leis Penais e Processuais Penais Comentadas, Vol.
2, 10.ª ed., Rio de Janeiro, Forense, 2017, pág. 26).
A jurisprudência trilha idêntico caminho: “É pacífica a jurisprudência dos Tribunais Superiores no sentido
de que os delitos de porte de armas e munição de uso permitido ou restrito, tipificados nos artigos 12 e 16
da Lei nº 10.826/2003, são crimes de mera conduta e de perigo abstrato, em que se presume a
potencialidade lesiva, sendo inaplicável o princípio da insignificância independentemente da quantidade
apreendida” (STJ, Ag.Rg. no R.Esp. 1.682.315/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
6.ª TURMA, julgado em 07/11/2017, DJe de 13/11/2017). No mesmo sentido: “A teor dos precedentes
desta Corte, o porte ilegal de munição, ainda que não associado a arma de fogo de calibre compatível, é
lesivo à segurança pública e compromete a paz social. Por tal razão, em princípio, é incabível a aplicação
do princípio da insignificância ao crime previsto no art. 12 da Lei n. 10.826/2003 (...)” (STJ, Ag.Rg. no
R.Esp. 1.621.389/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, 6.ª TURMA, julgado em 27/06/2017, DJe
de 01/08/2017). De acordo, ainda, com a Suprema Corte, tratando de ato semelhante ao retratado neste
expediente: “Mostra-se irrelevante, no caso, cogitar-se da lesividade da conduta de portar apenas a
munição, porque a hipótese é de crime de perigo abstrato, para cuja caracterização não importa o
resultado concreto da ação” (STF, HC 113.295, Relator Min. RICARDO LEWANDOWSKI, 2.ª Turma,
julgado em 13/11/2012; grifo nosso). Conclui-se, portanto, que o porte de munição constitui conduta formal
e materialmente típica.
Há perícia confirmando a eficácia da munição apreendida, inexistindo, destarte, óbice para o oferecimento
de denúncia, porquanto confirmadas, em sede inquisitiva, materialidade e autoria do delito.
Solução: designa-se outro promotor de justiça para oficiar nos autos e oferecer denúncia, prosseguindo
nos ulteriores termos da ação penal a ser instaurada.

MP 7.596/18
Autos n.º 0002635-76.2017.8.26.0189 – MM. Juízo da 2.ª Vara Criminal da Comarca de Fernandópolis
Indiciados: (...)
Assunto: indeferimento do pedido de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. FALSIDADE IDEOLÓGICA (CP, ART. 299). AGENTE QUE NOMEIA
FALSAMENTE OUTRO CONDUTOR EM NOTIFICAÇÃO DE AUTUAÇÃO RELATIVA A INFRAÇÃO DE
TRÂNSITO. INVERACIDADE DA INDICAÇÃO DETECTADA PELA ADMINISTRAÇÃO. IRRELEVÂNCIA.
CRIME CONTRA A FÉ PÚBLICA CONFIGURADO, POIS SUA EXISTÊNCIA NÃO REQUER DANO
EFETIVO, MAS MERAMENTE POTENCIAL. OFERECIMENTO DE DENÚNCIA QUE SE IMPÕE.
Cuida-se de inquérito policial instaurado para apurar conduta consistente em inserir declaração falsa em
documento público, ao informar inveridicamente condutor infrator, em notificação de autuação de infração
de trânsito.
Na hipótese concreta, o motorista responsável pela irregularidade administrativa foi identificado no ato da
abordagem, e o proprietário do veículo, ao ser notificado, entrou em contato com o sujeito a quem o
vendera, o qual fez constar falsamente seu nome como autor do ilícito administrativo.
A conduta em tese praticada configura falsidade ideológica (CP, art. 299). Com efeito, dá-se o falso ideal
ou expressional quando alguém mente no tocante ao conteúdo de documento fisicamente verdadeiro. Não
é o exterior que é falso, mas o interior, a ideia exposta no documento. Cuida-se a falsidade ideológica,
portanto, da mentira reduzida a termo. Nesta, “o agente forma um documento até então inexistente para,
através dele, fraudar a verdade. O documento assim elaborado pelo falsificador é extrinsecamente
verdadeiro, pois quem o escreve é efetivamente quem aparece no texto como seu autor; o que há nele de
inverídico é o conteúdo ideológico, pois seu texto é falso ou omisso em relação à realidade que deveria
consignar” (Sylvio do Amaral, Falsidade Documental, p. 47).
O falso ideal também fica sujeito à verificação dos quatro requisitos gerais relativos à falsidade
documental, a saber: a mudança da verdade (immutatio veritatis), a imitação da verdade (immitatio
veritatis), compreendida como verossimilhança do conteúdo, a potencialidade de dano (falsum punitur
licet nemini damun inferret, sufficit enim quod potuit damnum inferre) e o dolo (animus fallendi).
O falso expressional não envolve a modificação da peça, do instrumento, do objeto, etc., mas a inserção
de conteúdo inverídico sobre estes. Assim, deve a mentira aposta no documento ser hábil a iludir, o que
jamais se cogitará quando a verdade falseada for inverossímil. A falsidade ideológica pressupõe, portanto,
como em todos os crimes contra a fé pública, idoneidade (capacidade de enganar o homem médio) e
potencialidade lesiva. Com respeito ao dolo, outra característica do falso ideal reside em que não basta o
elemento subjetivo genérico, pois requer também a existência de uma finalidade ulterior à qual deve a
conduta do agente dirigir-se, consistente no fim de “prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade
sobre fato juridicamente relevante”. Note-se que a lei condiciona a existência do delito a que o conteúdo
do falso refira-se a fato juridicamente relevante. Entende-se como tal a declaração capaz de criar, alterar
ou extinguir relações jurídicas, algo que constitua a essência do ato ou documento, e não uma simples
mentira sem maiores consequências legais.
Restou claro que o agente, ao inserir declaração falsa da que devia ser escrita (o nome do verdadeiro
condutor infrator), atuou com o fim de prejudicar direito e criar obrigação sobre fato juridicamente
relevante.
O crime objeto desta investigação consuma-se independentemente de qualquer resultado material. A
infração penal sub examen não exige a produção de resultado naturalístico para efeito de consumação.
Cuida-se de crime formal, cuja fase consumativa coincide com a inserção da declaração com relevância
jurídica. Deve-se observar, tão somente, se o documento encontra-se completo e acabado (conclusão
inarredável a que se chega no caso concreto). Não há falar-se, ademais, na inexistência de efeitos
jurídicos decorrentes da elaboração do falso requerimento, porque a inveracidade foi detectada pela
Administração. Isto porque os crimen falsii, consoante já se assentou, não requerem dano efetivo, mas
potencialidade de dano. Do mesmo modo, não é possível desqualificar o papel onde a falsidade foi
lançada como documento, pelo fato de ter sido a fraude detectada. Não se cuida a notificação de infração
de trânsito, em si, documento sujeito (necessária e obrigatoriamente) à verificação ou conferência pelo
Poder Público.
Solução: designa-se outro promotor de justiça para propor a peça inaugural, devendo prosseguir nos
ulteriores termos da ação penal.

MP 7.569/18
Autos n.º 0003674-56.2017.8.26.0659 – MM. Juízo da Vara do Juizado Especial Criminal da Comarca de
Vinhedo
Autor do fato: (...)
Assunto: revisão de promoção de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. ARQUIVAMENTO DE TERMO CIRCUNSTANCIADO. REQUERIMENTO
MINISTERIAL FUNDADO NA INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 305 DO CTB E, EM CARÁTER
SUBSIDIÁRIO, NA FALTA DE DOLO. POSIÇÃO DA PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA NO
SENTIDO DA CONSTITUCIONALIDADE DA DISPOSIÇÃO LEGAL. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO
PRIVILÉGIO CONTRA A AUTOINCRIMINAÇÃO. CONDUTA INVESTIGADA, PORÉM, QUE NÃO SE
SUBSUME AO TIPO PENAL. PECULIARIDADES DO FATO. ARQUIVAMENTO MANTIDO.
No que tange à tese jurídica relativa à inconstitucionalidade do art. 305 do CTB, muito embora existam
respeitáveis entendimentos nesse sentido, como aquele adotado pelo Colendo Órgão Especial do Egrégio
Tribunal de Justiça de São Paulo, com tal ponto de vista não comunga esta Procuradoria-Geral de Justiça,
consoante, inclusive, se manifestou no incidente de inconstitucionalidade examinado pela Corte
Bandeirante (Incidente de Inconstitucionalidade n.º 990.10.159020-4).
O dispositivo legal consubstancia uma imposição necessária à tutela da segurança viária e à efetiva
satisfação da responsabilidade jurídica decorrente da prerrogativa de conduzir veículos automotores em
via pública. Além de se fazer presente na legislação de diversos países, tal norma jurídica constitui
mandado de criminalização convencional, decorrente da Convenção de Viena sobre Trânsito Viário,
ratificada pelo Brasil por meio do Decreto n.º 86.714, de 10 de dezembro de 1981.
Não há falar-se, em nosso entender, em ofensa ao privilégio contra autoincriminação. O motorista, a
permanecer no palco dos eventos, não está por esse motivo assumindo sua culpa e, ademais disso, segue
mantendo incólume seu direito de permanecer em silêncio ou, até mesmo, deixar de relatar os fatos com
fidelidade, em nome de seu direito de defesa – até porque, em nosso ordenamento jurídico, inexiste o
crime de perjúrio.
Calha citar trecho do voto vencido elaborado pelo eminente Desembargador REIS KUNTZ, exarado no
Incidente de Inconstitucionalidade retro citado: “Ao tipificar a conduta de afastar-se do local do acidente,
não determinou o legislador que o motorista produziria qualquer prova contra si, mas sim, o fez para
facilitar a apuração dos fatos, a responsabilidade dos envolvidos e, havendo vítima, numa louvável
demonstração de solidariedade humana. Efetivamente, o fato de tão somente permanecer no local do
sinistro já contribui em muito para a averiguação das circunstâncias do acontecimento, ainda que o
condutor se negue a prestar qualquer informação, utilizando-se da prerrogativa constitucional de ficar
calado, poderá identificar de antemão os envolvidos no acidente. Não se afastar do local do sinistro não
significa produzir qualquer prova contra si. (…). Mesmo assegurado o direito do acusado se manter silente,
não está ele dispensado de comparecer a todos os atos do processo, seja ele administrativo ou judicial.
Ainda há que se considerar também o objetivo jurídico tutelado na indigitada norma, o bem maior que o
legislador pretendeu proteger que, na hipótese, é a administração da justiça. A disposição legal estabelece
uma obrigação jurídica a todos os motoristas, consistente em não se evadirem de locais de acidente de
trânsito, seja quando está em jogo responsabilidade civil ou criminal.”
Vale destacar, outrossim, que o Egrégio Superior Tribunal de Justiça já reconheceu a constitucionalidade
do preceito legal retro citado: “(...) 1. O art. 305 do Código de Trânsito, que tipifica a conduta do condutor
de veículo que foge do local do acidente, para se furtar à responsabilidade penal ou civil que lhe possa
ser atribuída, não viola a garantia da não autoincriminação, que assegura que ninguém pode ser obrigado
por meio de fraude ou coação, física e moral, a produzir prova contra si mesmo. (...)” (STJ, HC 137.340/SC,
Rel. Ministra LAURITA VAZ, 5.ª TURMA, julgado em 20/09/2011, DJe de 03/10/2011).
EUGÊNIO PACELLI e DOUGLAS FISCHER, em percuciente análise sobre o tema, destacam que:
“Tornou-se prática comum no Brasil referir-se ao direito ao silêncio como um suposto princípio da não
autoincriminação. Na realidade, as coisas não são bem assim. A garantia do direito ao silêncio, como
vimos, reafirma a necessidade de controle racional das decisões judiciais, de modo a impedir que o órgão
julgador se valha do silêncio ou da negativa de respostas às perguntas como critério de certeza ou de
convencimento judicial. De outro lado, há, dentre inúmeras garantias e direitos subjetivos do cidadão
brasileiro, direito à intimidade, à privacidade, à incolumidade física e psíquica, à honra, à imagem (art. 5º.
X e XII, CF), que não podem ser tangenciados pelo Poder Público, salvo nos limites autorizados no texto
constitucional, de que é exemplo, a exigência de autorização judicial para a interceptação telefônica, para
a expedição de mandado de prisão e para a busca e apreensão domiciliar (art. 5º, XI, XII e LXI, CF). É no
conjunto desse rol de direitos individuais que se resume o nemo tenetur se detegere, ou, se quiser, a não
autoincriminação. O que não se pode afirmar, ao contrário do que se canta por aqui em verso e prosa, é
que o acusado teria o direito a não participar de qualquer medida probatória – contra si -, bastando assim
desejar. Não existe esse direito. Nem aqui e nem em lugar nenhum dos ordenamentos jurídicos do mundo
ocidental, incluindo os Tratados Internacionais de proteção aos direitos humanos. O que se garante, junto
ao direito ao silêncio, é a proteção efetiva do acusado contra ações lesivas aos mencionados direitos
individuais (integridade física, psíquica etc.). Exatamente por isso, pode o Estado conduzir coercitivamente
o acusado à audiência de instrução e julgamento, quando houver a necessidade de reconhecimento de
pessoa, na produção de prova testemunhal (art. 260, segunda parte, CPP). Evidentemente, o dispositivo
não se aplica ao interrogatório, visto tratar-se de meio de defesa, a critério exclusivo da defesa. Pensamos
também não haver qualquer mácula na exigência de submissão ao conhecido bafômetro, na medida em
que aludida providência – abstratamente – não afeta direitos subjetivos, ao menos na intensidade que
devem merecer proteção. É certo que estamos nos referindo à medida em abstrato. Pode ocorrer que
determinada diligência nesse sentido, concretamente, venha implicar efetiva violação a direitos
individuais, o que ocorreria, por exemplo, na exposição indevida da imagem de alguém à curiosidade
pública, durante a realização do exame. Essa, a exposição, sim, violaria direitos; a exigência de soprar o
aparelho, por si só, não. Como também não violará direitos fundamentais a submissão a exame clínico
para a comprovação da embriaguez, tal como previsto no art. 277 e art. 306, § 3º, da Lei nº 9.503/97
(CTB), ainda que contra a vontade do agente. Evidentemente, dele não se poderá exigir colaboração, no
que tange aos atos que só possam ser por ele praticados. De se ver, no ponto, que o direito brasileiro não
contempla muitas hipóteses de intervenções corporais, embora esse leque de alternativas tenha sido
incrementado com a Lei nº 12.654/12, que institui a identificação genética, e com a Lei nº 12.760/12, que,
alterando diversos dispositivos da Lei nº 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro), prevê também a perícia
médica para a comprovação de alcoolemia, vedada, contudo, por ausência de previsão, a coleta de
sangue.” (PACELLI, Eugênio. FISCHER, Douglas. Comentários ao Código de Processo Penal e sua
Jurisprudência. São Paulo: Editora Atlas, 2013. pp. 391-392).
A despeito do entendimento desta Chefia Institucional sobre a vigência do art. 305 do CTB, não nos parece
haver base suficiente – no caso dos autos – para a propositura de ação penal ou proposta de aplicação
imediata de pena alternativa.
De ver que o tipo exige que o motorista fuja do local para se furtar à sua responsabilidade civil ou criminal
e, no caso dos autos, a condutora somente se retirou depois de verificar que o motociclista estava bem
(fisicamente) e, ainda, após ter fotografado sua placa. Ora, depois do registro fotográfico das placas, não
há como reconhecer que ela, ao se retirar do sítio do abalroamento, almejava evitar sua responsabilização
jurídica. De mais a ver, não se afigura desarrazoada a alegação de que sentiu medo por estar com uma
criança de dois anos de idade, numa possível situação de confronto com o piloto do biciclo, o qual jugou
estar acompanhado de alguns amigos (com quem conversava).
Solução: insiste-se, portanto, no arquivamento desta investigação, com a ressalva do art. 18 do CPP.

MP 5.917/18
Autos n.º 0002011-82.2017.8.26.0009 – MM. Juizado Especial de Violência Doméstica e Familiar contra
a Mulher do Foro Regional de Vila Prudente
Autor do fato: (...)
Assunto: revisão de pedido de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. CRIME DE LESÃO CORPORAL QUALIFICADA PELA VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA (CP, ART. 129, §9º) E AMEAÇA (CP, ART. 147), EM CONTEXTO DE VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER (LEI N. 11.340/06). VÍTIMA QUE SE MANIFESTOU NO
INQUÉRITO NO SENTIDO DE “RETIRAR A QUEIXA”. PEDIDO DE ARQUIVAMENTO LASTREADO NA
IRRELEVÂNCIA JURÍDICO-PENAL DAS CONDUTAS, DECORRENTE DO PRINCÍPIO DA BAGATELA
IMPRÓPRIA. LESÃO DE NATUREZA LEVE, COMPROVADA PERICIALMENTE E SUBSIDIADA POR
FOTOGRAFIAS ANEXADAS AOS AUTOS, REVELADORAS DO VIOLENTO SOCO NO OLHO E EM
OUTRAS REGIÕES DO CORPO. OFERECIMENTO DE DENÚNCIA QUE SE IMPÕE.
Segundo se apurou, a vítima e o agente conviviam há três anos, quando, na data dos fatos, o autor chegou
embriagado à casa onde residiam, deu início a uma discussão verbal, a ameaçou de morte e desferiu
violentos socos em seu olho esquerdo, boca, braços e região peitoral.
O sujeito passivo compareceu à Delegacia de Polícia e narrou os fatos, solicitando a adoção de
providências, além de medidas protetivas de urgência.
Passados sete meses, ambos foram intimados a comparecer ao Distrito Policial, sendo auscultados na
mesma data. O agente negou todas as imputações e a ofendida se retratou, dizendo que o investigado
não a agrediu da maneira anteriormente narrada, declarando que desejava “retirar a queixa”.
Sua narrativa, porém, contraria não só o exame pericial, como as fotografias comprobatórias das
agressões.
Concluídas as providências de polícia judiciária, a Douta Representante Ministerial requereu o
arquivamento invocando o princípio da “bagatela imprópria”, no sentido de se cuidar de conduta
penalmente irrelevante, haja vista a manifestação do sujeito passivo se retratando.
A retratação operada, contudo, não se mostra válida. Com relação à ameaça, crime de ação penal pública
condicionada, sua validade se sujeita ao regramento do art. 16 da Lei Maria da Penha. Não se pode deixar
de frisar que a fala da vítima em favor do agente foi prestada quando ela compareceu, na companhia do
agressor, ao Distrito Policial.
A lesão corporal dolosa leve, de sua parte, é crime de ação penal pública incondicionada, motivo por que
se mostra de todo indiferente eventual retratação da ofendida. Vale citar, a respeito, a decisão da Suprema
Corte na ADIn 4.424 e na ADC 19, além da Súmula 542 do STJ: “A ação penal relativa ao crime de lesão
corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada”.
O princípio da bagatela imprópria, de duvidosa aplicabilidade, se revela de todo inadmissível, porque
importa em admitir ter o Poder Judiciário a possibilidade de reconhecer, de modo discricionário, que a
imposição da pena fica ao talante do magistrado. A não aplicação da sanção em decorrência de sua
pretensa desnecessidade somente se encontra autorizada quando há expressa autorização legislativa. É
justamente para isso que existe o instituto do perdão judicial, o qual, segundo o Código Penal, é cabível
somente quando previsto em lei (art. 107, inc. IX). Acrescente-se, outrossim, que a legislação brasileira
adotou a teoria normativa pura da culpabilidade, opção que repele, de per si, a tese invocada no pedido
de arquivamento. Com efeito, o princípio da bagatela imprópria funda-se na teoria funcionalista da
culpabilidade, para a qual a aplicação da pena requer, além do juízo de reprovabilidade, a análise da sua
necessidade concreta. Note-se, ainda, que o multicitado princípio, na forma em que sustentado, tem como
premissa a tese que entende se prestar a pena exclusivamente à prevenção especial, quando, em
verdade, seu escopo se dirige igualmente à prevenção geral e à reprovação pelo ato cometido (vide art.
59, caput, do CP). Registre-se, por não menos oportuno, que, se aplicada a casos de violência doméstica
ou familiar contra a mulher, a ideia de bagatela imprópria vai de encontro com a Lei Maria da Penha e
com os compromissos internacionais assumidos pelo país no sentido do firme combate à violência de
gênero.
Esse tipo de filosofia, que premia indevidamente o agressor, foi duramente combatido pela Suprema Corte
no julgamento das ADIn 4.424 e ADC 19. Conflita, inclusive, com recente Súmula do STJ: “É inaplicável
o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito
das relações domésticas” (Súmula 589).
O oferecimento de denúncia, tendo em vista haver prova da materialidade e indícios de autoria, portanto,
é a providência que se impõe, ressalvada a necessidade de se adotar a providência do art. 16 da Lei Maria
da Penha no que tange ao delito de ameaça.
Conclusão: designa-se outro promotor de justiça para oferecer a peça inaugural e prosseguir nos ulteriores
termos da causa.

MP 2.709/18
Autos n.º 0003096-29.2017.8.26.0066 – MM. Juízo da 1ª Vara Criminal da Comarca de Barretos
Indiciada: (...)
Assunto: revisão de pedido de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. PEDIDO DE ARQUIVAMENTO INDEFERIDO JUDICIALMENTE.
REPRESENTANTES LEGAIS DE IMOBILIÁRIA QUE, DOLOSAMENTE, DEIXARAM DE REPASSAR À
PROPRIETÁRIA DOS IMÓVEIS OS VALORES PERCEBIDOS A TÍTULO DE ALUGUÉIS
REGULARMENTE PAGOS PELOS INQUILINOS. CONDUTA PRATICADA REITERADAMENTE
CONTRA O SUJEITO PASSIVO DESTES AUTOS, BEM COMO EM FACE DE OUTRAS VÍTIMAS,
EXISTINDO DIVERSOS INQUÉRITOS E AÇÃO PENAL EM CURSO POR ATOS SEMELHANTES. MÁ-
FÉ SUFICIENTEMENTE CONFIGURADA. COMPORTAMENTO, CONTUDO, QUE NÃO CONFIGURA
APROPRIAÇÃO INDÉBITA, MAS VERDADEIRO ESTELIONATO. PRESENÇA DE DOLO AB INITIO.
OFERECIMENTO DE DENÚNCIA QUE SE IMPÕE.
Há provas suficientes de que os investigados, de maneira reiterada, se apropriaram de diversos valores
de que não eram os legítimos credores, senão meros intermediários, deixando de repassá-los à verdadeira
proprietária.
Não ocorreu, contudo, apropriação indébita, mas verdadeiro estelionato. Explica-se: dá-se a apropriação
indébita quando o agente legitimamente detém algum objeto, em nome alheio, e, a partir de um dado
momento, passa a agir como se dono fosse.
Para que se configure o delito em estudo exige-se que o agente ingresse de boa-fé na posse ou detenção
do bem, mantenha a posse ou detenção lícitas e desvigiadas e, ao depois, inverta o ânimo da posse,
agindo como se dono fosse.
O sujeito, frise-se, há de ingressar na posse do objeto de boa-fé, pois caso já tenha intenção, ex ante, de
não entregá-lo, repassá-lo ou devolvê-lo ao legítimo dono, pratica estelionato.
Muito embora não se presuma a má-fé, no caso em análise, esta pode ser deduzida a partir de diversos
dados empíricos comprovados nos autos. Note-se que o fato se encontra adequadamente demonstrado
pelos documentos juntados aos autos, que comprovam que os agentes receberam os aluguéis, os quais
não foram repassados ao sujeito passivo, bem como pelos depoimentos das testemunhas e de uma das
inquilinas, que confirmou ter realizado os pagamentos diretamente à imobiliária.
Nem mesmo os investigados negaram as condutas, tendo restado inconteste, desta feita, que, embora os
locatários tenham realizado os devidos pagamentos, referidos valores não foram repassados à ofendida.
A alegação da investigada de que não sabia o motivo do pagamento acordado não ter sido realizado e a
afirmação do increpado de que a imobiliária enfrentava dificuldades financeiras se mostraram
inverossímeis e constituem, ao que tudo indica, escusas evasivas para se furtar da responsabilidade
penal, não sendo aptas a afastar a má-fé que os demais elementos de informação revelam.
Ademais, os fatos narrados nestes autos não são isolados, mas consubstanciam comportamento reiterado
dos investigados em face de outras vítimas, tudo a reforçar a presença do dolo ab initio e, portanto, da
prática de um verdadeiro estelionato.
Não há falar-se, desta feita, em mero ilícito civil (como excogitou o Douto Promotor de Justiça) ou em
crime de apropriação indébita (como apontou a MM. Juíza).
O estelionato se aperfeiçoa quando presentes quatro requisitos fundamentais: a) que a vítima seja
induzida ou mantida em erro; b) que o agente se utilize, como meio executório, de fraude; c) que procure
obter vantagem ilícita, para si ou para outrem, em prejuízo alheio; d) o prejuízo objetivado deve ter
natureza concreta, significando qualquer dano à vítima capaz de trazer vantagem ao autor. Todos esses
requisitos se fazem presentes.
Há, destarte, elementos de informação suficientes para o oferecimento de denúncia, que deve se dar
quando presentes prova da materialidade e indícios de autoria: “Segundo pacífica jurisprudência desta
Corte Superior, a propositura da ação penal exige tão somente a presença de indícios mínimos e
suficientes de autoria. A certeza será comprovada ou afastada durante a instrução probatória,
prevalecendo, na fase de oferecimento da denúncia o princípio do in dubio pro societate.” (STJ, RHC
79.154/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, 5.ª TURMA, DJe de 10/08/2017).
Solução: designa-se outro promotor de justiça para oferecer denúncia e prosseguir no feito em seus
ulteriores termos.
MP 129.395/17
Autos n.º 0092315-04.2017.8.26.0050 – MM. Juízo do DIPO 3 (Comarca da Capital)
Indiciada: (...)
Assunto: arquivamento indireto (controvérsia acerca da capitulação jurídica do fato – tráfico ou porte de
droga para consumo pessoal)
CPP, ART. 28. ARQUIVAMENTO INDIRETO. INQUÉRITO POLICIAL INSTAURADO PARA APURAR
TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS (ART. 33, “CAPUT”, DA LEI DE DROGAS). REQUERIMENTO
MINISTERIAL DE REMESSA DOS AUTOS AO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL PARA APURAR
SUPOSTO PORTE DE DROGA PARA CONSUMO PESSOAL (ART. 28 DA LEI N. 11.343/06).
DISCORDÂNCIA JUDICIAL. REMESSA À PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA. EXAME DOS
ELEMENTOS INDICIÁRIOS: QUANTIDADE RAZOÁVEL DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS; LOCAL E
CIRCUNSTÂNCIAS DA PRISÃO DA INDICIADA; FORMA DE ACONDICIONAMENTO DOS OBJETOS
MATERIAIS; POLICIAIS QUE VISUALIZARAM A ENTREGA DA DROGA A TERCEIRO; INCREPADA
QUE ADMITIU INFORMALMENTE O COMÉRCIO DA DROGA E, FORMALMENTE, OPTOU POR
PERMANECER EM SILÊNCIO; INDICIADA QUE FORA PRESA EM FLAGRANTE DUAS SEMANAS
ANTES DOS FATOS, POR TRÁFICO DE DROGAS, E QUE SE ENCONTRAVA EM LIBERDADE SOB
CONCESSÃO DE CAUTELARES ALTERNATIVAS À PRISÃO. ATRIBUIÇÃO AFETA AO DOUTO
PROMOTOR DE JUSTIÇA CRIMINAL.
Cuida-se de inquérito policial instaurado a partir da lavratura de auto de prisão em flagrante visando à
apuração da suposta prática do crime de tráfico ilícito de drogas. O Ilustre Promotor de Justiça Criminal,
não vislumbrando qualquer elemento de informação sugestivo de ato destinado à difusão ou
comercialização do objeto material, entendeu configurado o delito tipificado no art. 28 da Lei de Drogas e
requereu a remessa do procedimento ao Juizado Especial Criminal.
O MM. Juiz, discordando de tal posicionamento, encaminhou a questão para análise desta Procuradoria-
Geral de Justiça, aplicando à espécie o art. 28 do CPP. Pondere-se, de início, que a situação retratada
nos autos configura o chamado “arquivamento indireto”. Tal figura se dá justamente quando o
Representante do Parquet declina de sua atribuição e requer o envio dos autos a outro juízo supostamente
competente e o Magistrado, discordando do requerimento, o indefere. Deveras, não pode o Julgador
simplesmente obrigar o Membro do Ministério Público a examinar o mérito da causa, promovendo o
arquivamento do inquérito ou oferecendo denúncia, sob pena de violar não só o princípio da
independência funcional, mas sobretudo o princípio da demanda. A solução viável em tais situações,
portanto, só pode ser a aplicação analógica do art. 28 do CPP.
No que pertine aos elementos informativos carreados, chama atenção o fato de que se trata de quantidade
razoável (onze porções) de substâncias psicoativas (cocaína), acondicionadas de tal modo que se
encontravam dispostas à imediata tradição (em pinos plásticos). O local e o horário da abordagem,
outrossim, sugerem atividade de mercancia. A suspeita, ademais, foi surpreendida praticando
comportamentos sugestivos de venda de drogas a terceiros. Consta, ademais, que a própria investigada
admitiu informalmente aos policiais a traficância quando detida, embora optasse por permanecer em
silêncio ao ser interrogada pela d. autoridade policial. A increpada, ainda, foi presa em flagrante por tráfico
de drogas duas semanas antes dos fatos, ocasião em que surpreendida trazendo consigo 59 (cinquenta
e nove) porções de cânhamo e 12 (doze) porções de cocaína, mas se encontrava em liberdade em razão
de ter sido agraciada com medidas cautelares alternativas à prisão. Ambas as detenções, aliás, se deram
em locais próximos. Há, portanto, robusto cenário a amparar a imputação por delito equiparado a
hediondo.
Deve-se ponderar que em casos como o presente, no qual se debate a capitulação jurídica da conduta,
deve-se aplicar o princípio in dubio pro societate, consoante jurisprudência sedimentada do Egrégio
Superior Tribunal de Justiça (STJ, RHC 79.154/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, 5.ª TURMA, DJe de
10/08/2017).
Solução: conhece-se da presente remessa para designar outro promotor de justiça para oferecer a
denúncia, devendo prosseguir nos ulteriores termos da causa.
MP 122.936/17
Autos n.º 0009540-28.2017.8.26.0309 – MM. Juízo da 3.ª Vara Criminal da Comarca de Jundiaí
Autor do fato: (...)
Assunto: revisão de promoção de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE (CTB, ART. 306) E DIREÇÃO SEM
HABILITAÇÃO GERANDO PERIGO DE DANO (CTB, ART. 309). ALCOOLEMIA CONSTATADA POR
EXAME DE SANGUE. MOTORISTA NÃO HABILITADO QUE CONDUZIA VEÍCULO AUTOMOTOR EM
VIA PÚBLICA E COLIDIU COM AUTOMÓVEL ESTACIONADO. EMBRIAGUEZ CONFIRMADA POR
PERÍCIA, CONFISSÃO DO INTERROGADO E PROVA TESTEMUNHAL. OFERECIMENTO DE
DENÚNCIA QUE SE IMPÕE.
Cuida-se de indeferimento judicial de pedido de arquivamento de inquérito policial, fundado na alegada
ausência de elementos informativos que demonstrassem ter o investigado conduzido de maneira anormal
o veículo automotor ou que tivesse dado causa à colisão constatada. A realidade dos autos, todavia,
descortinou cenário diverso.
Com efeito, o agente foi abordado após se envolver em acidente de trânsito, no qual atingiu a traseira de
veículo estacionado em via pública – o que evidencia sua responsabilidade na colisão. O guarda civil que
realizou a abordagem, ademais, constatou o estado de embriaguez do investigado por meio dos sinais
exteriores, bem como verificou que ele não era habilitado para conduzir veículos. O proprietário do
automóvel atingido igualmente declarou que o autor apresentava sinais visíveis de embriaguez. Além
disso, o exame ao qual se submeteu o increpado apurou a concentração de 3,0 (três) gramas de álcool
por litro de sangue. O interrogado, em seu pregressamento, admitiu que ingerira bebida alcoólica.
Restaram suficientemente comprovadas, destarte, a autoria e a materialidade dos delitos de embriaguez
ao volante (CTB, art. 306) e direção sem habilitação (CTB, art. 309), sendo cabível, portanto, o
ajuizamento da ação penal neste caso.
O crime de embriaguez ao volante, ademais, é de perigo abstrato, conforme reiterada jurisprudência (vide
STJ, AgRg no REsp 1.638.451/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, 6.ª TURMA,
julgado em 02/05/2017, DJe de 11/05/2017) e, ainda que assim não fosse, ficou estreme de dúvidas ter
ele, não só gerado perigo, como provocado dano, ao colidir com automóvel estacionado em via pública.
Solução: designa-se outro promotor de justiça para oficiar nos autos, oferecer denúncia e prosseguir no
feito em seus ulteriores termos.

MP 111.343/17
Autos n.º 0015951-59.2015.8.26.0050 – MM. Juízo do DIPO 4 (Comarca da Capital)
Indiciado: (...)
Assunto: indeferimento do pedido de arquivamento do inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. PEDIDO DE ARQUIVAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL. CP, 157, §2.º, INC.
I (ROUBO MAJORADO) E CP, ART. 158, §3.º, PRIMEIRA PARTE (EXTORSÃO QUALIFICADA NA
MODALIDADE “SEQUESTRO RELÂMPAGO”). RECONHECIMENTO FOTOGRÁFICO. VALIDADE
COMO MEIO DE PROVA PARA EMBASAR A DENÚNCIA.
A vítima foi abordada enquanto estava em seu veículo, parada em um semáforo na Capital, por um
indivíduo a pé que, mediante grave ameaça exercida com emprego de arma de fogo, obrigou-a a abrir o
automóvel e nele ingressou. Ato contínuo, o increpado afirmou que só queria dinheiro e exigiu que a
ofendida conduzisse o veículo até uma agência bancária, onde o autor permaneceu no carro (no qual se
encontrava o filho da vítima, criança de seis anos de idade, dormindo no banco de trás). A ofendida
entregou o valor sacado, o dinheiro que trazia consigo em sua bolsa, o aparelho de celular e o seu relógio,
sendo, na sequência, obrigada a conduzir novamente o indiciado até próximo ao local de origem.
Na Delegacia de Polícia, ao analisar o álbum de fotografias de criminosos envolvidos com delitos
patrimoniais, a ofendida reconheceu o agente como sendo o sujeito ativo dos delitos.
Há nos autos, portanto, prova da materialidade e indícios suficientes de autoria. Eventuais providências
complementares para a localização e inquirição do agente, bem como para seu reconhecimento pessoal,
embora úteis, não se revelam imprescindíveis, podendo ser requeridas na cota de oferecimento da
denúncia e concretizadas em juízo. A jurisprudência, convém ressaltar, é robusta em admitir que
semelhante contexto propicia base empírica adequada para se deflagrar a “persecutio criminis in judicio”;
confira-se: “RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO EM
CONTINUIDADE DELITIVA. NEGATIVA DE PARTICIPAÇÃO NO DELITO. RECONHECIMENTO
FOTOGRÁFICO DO RÉU. VALIDADE PARA EVIDENCIAR INDÍCIOS DE AUTORIA. PRISÃO
PREVENTIVA. GRAVIDADE CONCRETA DO DELITO. MODUS OPERANDI. RISCO DE REITERAÇÃO.
NECESSIDADE DA PRISÃO PARA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. SEGREGAÇÃO JUSTIFICADA.
RECURSO ORDINÁRIO IMPROVIDO. 1. A identificação fotográfica do suspeito, na fase inquisitiva,
mostra-se suficiente para embasar a existência de indícios da autoria, exigidos para a decretação da
prisão preventiva. Precedente. (...)” (STJ, RHC 54.890/RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, 5.ª TURMA, DJe de 26/10/2015).
Observe-se, ademais, que o sujeito passivo permaneceu em poder do agente por extenso razoável de
tempo, tornando ainda mais confiável o reconhecimento efetuado.
Existem elementos suficientes, portanto, para o ajuizamento da demanda. Deve-se ponderar, por não
menos oportuno, que o ajuizamento da demanda não representa um juízo definitivo de censura, mas
apenas a constatação de um mínimo de embasamento para a deflagração do devido processo legal:
“Segundo pacífica jurisprudência desta Corte Superior, a propositura da ação penal exige tão somente a
presença de indícios mínimos e suficientes de autoria. A certeza será comprovada ou afastada durante a
instrução probatória, prevalecendo, na fase de oferecimento da denúncia o princípio do ‘in dubio pro
societate’.” (STJ, RHC 79.154/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, 5.ª TURMA, DJe de 10/08/2017).
Solução: designa-se outro promotor de justiça para oferecer denúncia e prosseguir no feito em seus
ulteriores termos.

MP 111.197/17
Autos n.º 0000649-52.2017.8.26.0621 – MM. Juízo da Vara Criminal da Comarca de Lorena
Indiciado: (...)
Assunto: arquivamento indireto (controvérsia acerca da capitulação jurídica do fato – tráfico ou porte de
droga para consumo pessoal)
CPP, ART. 28. ARQUIVAMENTO INDIRETO. INQUÉRITO POLICIAL INSTAURADO PARA APURAR
TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS (ART. 33, “CAPUT”, DA LEI DE DROGAS). PROMOTOR DE JUSTIÇA
QUE CONCLUI TRATAR-SE DE PORTE PARA CONSUMO PESSOAL (ART. 28 DA LEI N. 11.343/06).
DISCORDÂNCIA JUDICIAL. REMESSA À PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA. EXAME DOS
ELEMENTOS INDICIÁRIOS: QUANTIDADE RAZOÁVEL DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS DE
ORIGEM PLÚRIMA, LOCAL DA PRISÃO DO AGENTE, FORMA DE ACONDICIONAMENTO DOS
OBJETOS MATERIAIS. POLICIAIS QUE VISUALIZARAM A ENTREGA DA DROGA A TERCEIRO, O
QUAL, OUVIDO NO AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE, CONFIRMOU QUE A COMPRARA DO
INDICIADO. ATRIBUIÇÃO AFETA AO DOUTO PROMOTOR DE JUSTIÇA CRIMINAL.
Cuida-se de inquérito policial instaurado a partir da lavratura de auto de prisão em flagrante visando à
apuração da suposta prática do crime de tráfico ilícito de drogas. O Ilustre Promotor de Justiça Criminal,
não vislumbrando qualquer elemento de informação sugestivo de ato destinado à difusão ou
comercialização do objeto material, entendeu configurado o delito tipificado no art. 28 da Lei Antidrogas e
requereu a remessa do procedimento ao Juizado Especial Criminal da Comarca.
O MM. Juiz, discordando de tal posicionamento, encaminhou a questão para análise desta Procuradoria-
Geral de Justiça, aplicando à espécie o art. 28 do CPP. Pondere-se, de início, que a situação retratada
nos autos configura o chamado “arquivamento indireto”. Tal figura se dá justamente quando o
Representante do Parquet declina de sua atribuição e requer o envio dos autos a outro juízo supostamente
competente e o Magistrado, discordando do requerimento, o indefere. Deveras, não pode o Julgador
simplesmente obrigar o Membro do Ministério Público a examinar o mérito da causa, promovendo o
arquivamento do inquérito ou oferecendo denúncia, sob pena de violar não só o princípio da
independência funcional, mas sobretudo o princípio da demanda. A solução viável em tais situações,
portanto, só pode ser a aplicação analógica do art. 28 do CPP.
No que pertine aos elementos informativos carreados, chama atenção o fato de que se trata de quantidade
razoável (aproximadamente cem porções) de substâncias psicoativas de origem plúrima (cocaína e crack),
acondicionadas de tal modo que se encontravam dispostas à imediata tradição. O local e o horário da
abordagem, outrossim, sugerem atividade de mercancia. O suspeito, ademais, foi surpreendido
entregando uma porção da droga à testemunha, a qual, ouvida no auto de prisão em flagrante, esclareceu
que conhecia o agente como traficante de droga e ali estava para adquirir a substância. Muito embora em
poder do indiciado somente foi encontrada a porção que seria entregue ao usuário, a cinco metros dele,
localizaram-se as demais substâncias psicoativas.
Deve-se ponderar que em casos como o presente, no qual se debate a capitulação jurídica da conduta,
deve-se aplicar o princípio in dubio pro societate, consoante jurisprudência sedimentada do Egrégio
Superior Tribunal de Justiça (vide, entre outros, STJ, CC 129.497/MG, Rel. Ministro ERICSON
MARANHO – DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP, 3.ª SEÇÃO, julgado em 08/10/2014, DJe
de 16/10/2014; RHC 79.154/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, 5.ª TURMA, DJe de 10/08/2017).
Solução: conhece-se da presente remessa para designar outro promotor de justiça para oferecer a
denúncia, devendo prosseguir nos ulteriores termos da causa.

MP 110.222/17
Autos n.º 0000918-98.2017.8.26.0360 – MM. Juízo da 1.ª Vara Judicial da Comarca de Mococa
Indiciados: (...)
Assunto: análise de promoção de arquivamento do inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. PEDIDO DE ARQUIVAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL. CRIME DE USO
DE DOCUMENTO PÚBLICO FALSIFICADO (CP, ART. 304, C.C. ART. 297, CAPUT). MOTORISTAS DE
EMPRESA QUE UTILIZARAM CARTEIRAS NACIONAIS DE HABILITAÇÃO FALSIFICADAS. FATO
APURADO MEDIANTE CONSTATAÇÃO DE QUE OS INVESTIGADOS NÃO CONSTAVAM DO
SISTEMA DE TRÂNSITO COMO HABILITADOS. AUTORES QUE CONFESSARAM A
IRREGULARIDADE DOS DOCUMENTOS, MAS ALEGARAM QUE OS DESTRUÍRAM. INQUÉRITO
INSTRUÍDO COM PROVA ORAL E CÓPIA REPROGRÁFICA DOS DOCUMENTOS. BASE SUFICIENTE
PARA O AJUIZAMENTO DA DENÚNCIA.
Não há dúvida que as infrações penais objeto deste procedimento investigatório inserem-se na categoria
de delicta facti permanentis, isto é, são infrações que deixam vestígios e, nessa medida, sua comprovação
haverá de ser feita com base em exame de corpo de delito, nos termos do art. 158 do CPP.
O legislador processual penal, contudo, deixa claro, a uma, que o exame de corpo de delito pode ser
realizado direta ou indiretamente e, além disso, adverte que na impossibilidade de se efetivar essa prova,
sua falta pode ser suprida por prova testemunhal, a teor do art. 167 do CPP.
O exame de corpo de delito direto, como é cediço, consubstancia aquele efetuado a partir da análise
imediata dos vestígios do crime, o que, em matéria de falsidade documental, consistiria em examinar o
próprio documento espúrio.
O exame indireto, de outra parte, aperfeiçoa-se quando o perito não tem contato imediato com o corpo de
delito, mas com elementos secundários que o registraram. Transpondo esse conceito para o caso sub
examen, equivaleria a intentar a confecção da perícia a partir da análise de cópia do documento espúrio.
Há, por fim, o caminho jurídico de suprir a impossibilidade de realização do exame de corpo de delito por
meio de prova oral, a qual, no caso dos autos, abunda.
Assinale-se que, a se admitir a inviabilidade da deflagração da persecução penal, estar-se-ia premiando
os agentes, que se encarregaram de destruir os vestígios do delito, com a impunidade.
Destaque-se que, conforme relatório de investigação, realizadas pesquisas das carteiras nacionais de
habilitação enviadas pela empresa, concluiu-se pela falsidade dos documentos, uma vez que os dados
pessoais dos funcionários ora investigados não constavam dos registros de dados da Base de Índice
Nacional de Condutores e Infoseg.
Há, ainda, a comprovação nos autos de que os investigados (motoristas da empresa) fizeram uso dos
referidos documentos, existindo cópias reprográficas das CNHs espúrias.
Não se pode desconsiderar, por fim, que todos os agentes, quando ouvidos, confessaram a aquisição
irregular dos documentos e sua apresentação à empresa.
Desse modo, muito embora não tenha havido a apreensão dos documentos originais, se revelam
presentes nos autos indícios suficientes de autoria e materialidade a autorizarem o oferecimento da
denúncia.
Não se pode perder de vista que não se trata de fazer um juízo definitivo de censura, mas apenas de
constatar a existência de um mínimo de embasamento para a deflagração do devido processo legal, pois:
“Segundo pacífica jurisprudência desta Corte Superior, a propositura da ação penal exige tão somente a
presença de indícios mínimos e suficientes de autoria. A certeza será comprovada ou afastada durante a
instrução probatória, prevalecendo, na fase de oferecimento da denúncia o princípio do in dubio pro
societate.” (STJ, RHC 79.154/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, 5.ª TURMA, DJe de 10/08/2017).
Solução: designa-se outro promotor de justiça para oferecer denúncia e prosseguir no feito em seus
ulteriores termos.

MP 109.205/17
Autos n.º 0064960-87.2015.8.26.0050 – MM. Juízo do DIPO 3 (Comarca da Capital)
Autores do fato: (...)
Assunto: análise de promoção de arquivamento do inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. INQUÉRITO POLICIAL INSTAURADO PARA APURAR CONDUTA DE
FUNCIONÁRIO DE CLUBE, RESPONSÁVEL PELA CONTRATAÇÃO DE EMPREGADOS, QUE
REALIZA A ADMISSÃO DE FUNCIONÁRIO FANTASMA E, MEDIANTE REFERIDO ARTIFÍCIO, OBTÉM,
EM BENEFÍCIO PRÓPRIO E DE TERCEIRO, OS VALORES CORRESPONDENTES AOS SALÁRIOS
INDEVIDAMENTE PAGOS. MATERIALIDADE COMPROVADA DOCUMENTALMENTE. AUTORIA
INDICIARIAMENTE DEMONSTRADA. PEDIDO DE ARQUIVAMENTO FUNDADO NA FALTA DE
LOCALIZAÇÃO DOS SUSPEITOS, IMPEDINDO QUE SE COLHESSE SUAS VERSÕES.
DESCABIMENTO. OFERECIMENTO DE DENÚNCIA QUE SE IMPÕE.
A materialidade delitiva do estelionato não deixa dúvidas, haja vista a documentação acostadas nos autos
pelos advogados do clube.
No que tange à autoria, embora os investigados não tenham sido localizados para prestar
esclarecimentos, a autoria restou indiciariamente evidenciada. Um dos agentes era funcionário do setor
de “RH”, sendo o responsável pela inserção de seu comparsa como funcionário (“fantasma”), eis que
forneceu os dados deste e promoveu o respectivo pagamento, sem que ele tivesse de fato, a qualquer
tempo, se apresentado ao clube.
Registre-se que não se pode excluir a participação efetiva do “funcionário fantasma” na empreitada
criminosa, pois há indícios suficientes para tanto, tendo em vista que consta de boletim de ocorrência
acostados aos autos que os autores residiam juntos, o que foi confirmado pelo vizinho do endereço ali
fornecido, informado que eles se mudaram dali.
A não localização dos agentes não é motivo para arquivamento do feito, tendo em vista que estão
identificados, constando dos autos as respectivas qualificações.
Verifica-se, portanto, que a deflagração da ação penal, neste cenário, é medida que se impõe.
Observe-se, ainda, que há outras diligências possíveis para a localização dos investigados, como
expedição de ofício ao CAEx, à Receita Federal e ao Banco no qual um deles mantinha a conta em que
eram feitos os pagamentos pelo clube, mas tais providências são prescindíveis, podendo ser requeridas
na cota de oferecimento da exordial.
Cumpre sublinhar que não se trata de efetuar um juízo definitivo de censura, mas apenas de constatar a
existência de um mínimo de embasamento para a deflagração do devido processo legal, mesmo porque:
“Segundo pacífica jurisprudência desta Corte Superior, a propositura da ação penal exige tão somente a
presença de indícios mínimos e suficientes de autoria. A certeza será comprovada ou afastada durante a
instrução probatória, prevalecendo, na fase de oferecimento da denúncia o princípio do in dubio pro
societate.” (STJ, RHC 79.154/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, 5.ª TURMA, DJe de 10/08/2017).
O oferecimento de denúncia, neste cenário, é medida que se impõe.
Solução: designa-se outro promotor de justiça para oferecer denúncia e prosseguir no feito em seus
ulteriores termos.

MP 109.198/17
Inquérito Policial n.º 0003981-63.2017.8.26.0318 – MM. Juízo da Vara Criminal da Comarca de Leme
Investigados: (...)
Assunto: revisão de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. PEDIDO DE ARQUIVAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL. CRIME DE
PREVARICAÇÃO (CP, ART. 319). AUTORIDADE POLICIAL QUE, DURANTE O PLANTÃO, À
DISTÂNCIA, ORDENA ESCRIVÃ DE POLÍCIA A NÃO AUTUAR EM FLAGRANTE O PROMOTOR DE
“BAILE FUNK” E O PROPRIETÁRIO DO LOCAL PELO CRIME DE VENDER BEBIDA ALCÓOLICA A
MENOR DE 18 ANOS (ECA, ART. 243). FATO CORROBORADO POR PROVA TESTEMUNHAL E POR
SUPOSTAS IMAGENS DE CÂMERAS SITUADAS NO LOCAL. DOLO DE PREVARICAÇÃO
CONFIRMADO INDICIARIAMENTE PELO FATO DE QUE O PROMOTOR DO BAILE, O PROPRIETÁRIO
DO LOCAL E AS TESTEMUNHAS DESTE CRIME FORAM LIBERADOS SEM SEQUER SEREM
QUALIFICADOS NA DELEGACIA DE POLÍCIA. ALÉM DISSO, A MÍDIA COM AS SUPOSTAS IMAGENS,
ENTREGUE PELA POLÍCIA MILITAR À CIVIL, FOI POR ESTA DEVOLVIDA AO PROMOTOR DO
EVENTO, QUE, POSTERIORMENTE, APAGOU AS IMAGENS. SENTIMENTO PESSOAL QUE SE
BUSCAVA ATENDER, TRADUZIDO NA COMODIDADE DE NÃO TER QUE COMPARECER
PESSOALMENTE AO DISTRITO POLICIAL, DURANTE A MADRUGADA, PARA A REALIZAÇÃO DO
FLAGRANTE, IGUALMENTE CONFIRMADO. OFERECIMENTO DE DENÚNCIA OU FORMULAÇÃO DE
PROPOSTA DE TRANSAÇÃO PENAL QUE SE IMPÕE.
Sobejam elementos informativos de que, a despeito da plena ciência que tinha o Delegado de Polícia
investigado, senão da lesão sofrida por um dos policiais militares (sobre a qual nenhum registro fora
elaborado), da existência da mídia com imagens supostamente relativas à venda de bebidas alcóolicas a
adolescentes, optou por simplesmente ignorá-la.
O investigado, nesse sentido, deixou de diligenciar para conferir as imagens capturadas e, a depender do
conteúdo, efetuar a prisão em flagrante do promotor e do dono do estabelecimento.
Ainda que o conteúdo não fosse comprometedor nesse sentido, o que se admite ad argumentandum
tantum (haja vista que um dos policiais que teria assistido ao conteúdo afirmou justamente o contrário),
não teria o menor cabimento deixar de apreender a mídia e simplesmente devolvê-la ao promotor do
evento.
Essa postura, somada ao fato de que o promotor do baile e o dono (ou arrendatário) do “Canecão” foram
simplesmente liberados sem sequer serem qualificados, sendo-lhes devolvida pela Polícia Civil a mídia
entregue a esta pela Polícia Militar, sem maiores formalidades, só vem a confirmar a existência de uma
omissão criminosa.
Tudo está a indicar que o sentimento pessoal a que visava atender consistia em sua comodidade, para
não ter que comparecer pessoalmente, de madrugada, ao plantão policial, para a lavratura do flagrante
delito.
Optou por permanecer à distância, determinando a simples expedição de um boletim de ocorrência,
ordenando a liberação, como se na Delegacia de Polícia jamais tivessem passado, as pessoas acima
citadas e a mídia com imagens da venda de bebidas a menores.
Também confirma a prevaricação o fato de, por ordem do investigado, não ter se colhido o depoimento
do conselheiro tutelar, o qual, aliás, presenciou o crime do ECA e qualificou sete adolescentes que fizeram
uso de bebida alcóolica no baile.
Repise-se que não há dúvida alguma da entrega do “HD” pelos Policiais Militares à Polícia Civil (fato
praticamente incontroverso, haja vista o teor do BOPM, as declarações de todos os policiais militares
auscultados, do Conselheiro Tutelar e do próprio promotor do evento).
Não se nega tenha a autoridade policial autonomia para avaliar eventual estado flagrancial e, a partir de
um juízo de tipicidade, decidir pela lavratura, ou não, do respectivo auto. A atividade do Delegado de
Polícia, com efeito, importa em função que, embora sub legem, não escapa a um mínimo de interpretação
técnico-jurídica. De mais a ver, a Lei n.º 12.830/13 reconhece expressamente que o Delegado de Polícia
exerce carreira jurídica e, por tal motivo, não lhe pode ser defeso emitir interpretação sobre a aplicação
concreta da norma jurídico-penal. No caso em tela, porém, não se trata disso, mas de deixar de tomar
qualquer atitude de Polícia Judiciária (sobretudo) com relação ao crime do ECA e, para agravar, “ocultar”
no boletim de ocorrência informações que demonstrariam o equívoco da postura.
Esse cenário se revela compatível com o dolo de prevaricar.
Deve-se ponderar, por não menos oportuno, que o ajuizamento da demanda não representa um juízo
definitivo de censura, mas apenas a constatação de um mínimo de embasamento para a deflagração do
devido processo legal: “Segundo pacífica jurisprudência desta Corte Superior, a propositura da ação penal
exige tão somente a presença de indícios mínimos e suficientes de autoria. A certeza será comprovada
ou afastada durante a instrução probatória, prevalecendo, na fase de oferecimento da denúncia o princípio
do in dubio pro societate.” (STJ, RHC 79.154/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, 5.ª TURMA, DJe de
10/08/2017).
Solução: designa-se outro promotor de justiça para oferecer denúncia ou formular proposta de transação
penal (segundo os critérios do art. 76 da Lei n.º 9.099/95), devendo prosseguir nos ulteriores termos da
demanda.

MP 102.861/17
Autos n.º 0009717-89.2016.8.26.0482 – MM. Juízo da 3.ª Vara Criminal da Comarca de Presidente
Prudente
Investigado: (...)
Assunto: revisão de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. PORTE DE ARMA BRANCA (LCP, ART. 19). ARQUIVAMENTO FUNDADO NA
ATIPICIDADE DA CONDUTA, POR AUSÊNCIA DE NORMA REGULAMENTADORA. DESCABIMENTO.
SUBSISTÊNCIA DO DISPOSITIVO LEGAL MENCIONADO, O QUAL FOI DERROGADO NO TOCANTE
ÀS ARMAS DE FOGO. PROSSEGUIMENTO DO TERMO CIRCUNSTANCIADO.
Cuida-se de termo circunstanciado em que o agente foi surpreendido por policiais militares, os quais foram
alertados que aquele poderia estar armado. Quando o encontraram, efetuaram busca pessoal e
localizaram uma faca serrilhada no bolso direito de sua calça, tendo o autor alegado que a portava porque
estava sendo ameaçado e tinha a intenção de matar um indivíduo batera em seu rosto.
Concluídas as providências de polícia judiciária, o Douto Promotor de Justiça requereu o arquivamento
dos autos, asseverando, em síntese, cuidar-se de fato penalmente atípico.
A conduta objeto deste procedimento investigatório, porém, se reveste de tipicidade formal e material.
Deve-se destacar que o argumento acerca da impossibilidade de aplicação da elementar “sem licença da
autoridade” não merece prosperar, de vez que em matéria de armas brancas, como bem assevera
ANDREUCCI: “não existe órgão que expeça autorização (...). Daí por que todo o porte de arma branca é
proibido” (Legislação penal especial, 3.ª ed., São Paulo, Saraiva, 2007, pág. 505). No mesmo sentido,
SÉRGIO DE OLIVEIRA MÉDICI, em clássica obra, pondera: “O agente que, ostensivamente, num lugar
público, apresenta-se com uma navalha à cinta, pode praticar a contravenção do art. 19? Cremos que
sim, diante da impropriedade do emprego do instrumento e de outras circunstâncias objetivas, que sempre
devem ser levadas em consideração” (Contravenções Penais, 2.ª ed., Bauru, Jalovi, 1980, pág. 77).
O outro ponto a ser tratado refere-se à definição de arma branca. Entende-se como tal todo instrumento
vulnerante, de ataque ou de defesa, não abrangido pelo conceito de arma de fogo. Dividem-se em armas
próprias (especialmente destinadas a servirem como tal) e impróprias (instrumentos criados para outra
finalidade, empregados pelo autor da conduta como objetos vulnerantes).
Com relação às últimas, seu uso dentro do âmbito das suas finalidades específicas constitui fato lícito.
Fora daí, configura a contravenção penal.
Ressalte-se que a faca foi descrita no laudo pericial e poderia eficazmente ser utilizada como instrumento
pérfuro-cortante, podendo produzir danos, intimidações, ameaça, lesões corporais, com capacidade lesiva
letal, conforme ficou consignado no trabalho técnico realizado.
Acrescente-se, por outro lado, que a jurisprudência já firmou entendimento sobre a subsistência da
infração mencionada: “RECURSO ESPECIAL. PENAL. ART. 19 DA LEI DAS CONTRAVENÇÕES
PENAIS. REVOGAÇÃO PARCIAL. ART. 10 DA LEI n.º 9.437/97. SUBSISTÊNCIA DA CONTRAVENÇÃO
QUANTO AO PORTE DE ARMA BRANCA. 1. Com a edição da Lei n.º 9.437/97 (diploma que instituiu o
Sistema Nacional de Armas e tipificou como crime o porte não autorizado de arma de fogo), o art. 19 da
Lei das Contravenções Penais foi apenas derrogado, subsistindo a contravenção quanto ao porte de arma
branca. 2. Recurso especial conhecido e provido”. (STJ, R.Esp. n. 549.056, rel. Ministra LAURITA VAZ,
DJU de 01/03/2004, p. 194).
Destaque-se, derradeiramente, que o Supremo Tribunal Federal encontra-se em vias de julgar a matéria,
valendo destacar que, embora tenha reconhecido repercussão geral no caso, não determinou a
suspensão das investigações penais e processos criminais em andamento (cf. A.R.Ext. n.º 901.623, rel.
Min. Edson Fachin), como o fizera em outras oportunidades (vide R.Ext. n.º 966.177, rel. Min. Luiz Fux).
Daí se conclui, a contrario sensu, ter a Corte Suprema determinado o regular prosseguimento dos
procedimentos que tenham como objeto o art. 19 da LCP.
Diante da prova encartada, portanto, não se pode afastar a ocorrência do crime anão.
Solução: designa-se outro promotor de justiça para prosseguir no expediente.

MP 89.068/17
Autos n.º 0001669-06.2017.8.26.0548 – MM. Juízo da 3.ª Vara Criminal da Comarca de Campinas
Indiciados: (...)
Assunto: revisão de promoção de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. PRISÃO EM FLAGRANTE POR EXTORSÃO MAJORADA (CP, ART. 158, §1.º).
PEDIDO DE ARQUIVAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL. DESCLASSIFICAÇÃO PARA EXERCÍCIO
ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES (CP, ART. 345), DELITO QUE SE PROCEDE MEDIANTE
QUEIXA. NÃO OCORRÊNCIA. ACORDO VERBAL DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS SEXUAIS. VÍTIMA
COBRADA EM VALOR SUPERIOR AO AVENÇADO, INCREMENTADO DIVERSAS VEZES POR ELA E
SEU COMPARSA. OFENDIDO CONSTRANGIDO MEDIANTE A DESTITUIÇÃO DA POSSE DE SEU
VEÍCULO A PAGAR O VALOR A MAIOR. EXIGÊNCIA DE VANTAGEM ECONÔMICA INDEVIDA E
INFLIÇÃO DE MAL GRAVE E INJUSTO APTOS A CONFIGURAR EXTORSÃO. OFERECIMENTO DE
DENÚNCIA QUE SE IMPÕE.
Segundo narrou o ofendido no auto de prisão em flagrante, contratou a realização de um programa sexual,
dirigindo-se a um imóvel onde estacionou seu veículo. Afirmou ter ajustado o valor de R$ 100,00 (cem
reais) como contraprestação pelo serviço prestado, mas a autora exigiu, dentro do imóvel e depois de
tomar as chaves de seu veículo, o pagamento de um valor superior. O sujeito passivo, então, pagou o
total de R$ 300,00 (trezentos reais), mas alegou que ainda assim não logrou de volta a autorização para
sair do local com seu automóvel. Permaneceu por toda a noite no local e, pela manhã, o proprietário do
imóvel, coautor, exigiu o pagamento de R$ 1.000,00 (mil reais) para liberar o veículo, tendo sido levado
por um funcionário do local ao banco para tentar sacar o dinheiro, sem êxito por ausência de saldo em
sua conta corrente. Retornaram ao local dos fatos e, depois de constatar que o agente não liberou seu
veículo, dirigiu-se à Polícia e, acompanhado por integrantes da Instituição citada, recuperou o bem.
A tese na qual se fundou o pedido de arquivamento, no sentido de que se cuidaria de exercício arbitrário
das próprias razões, se mostraria pertinente, em tese, na hipótese de se tratar de atitude efetuada como
resposta ao não pagamento pelo cliente do serviço relativo à prestação sexual, na linha de precedente do
Egrégio Superior Tribunal de Justiça (HC 211.888/TO, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, 6.ª
TURMA, julgado em 17/05/2016, DJe de 07/06/2016).
Nestes autos, contudo, a situação é diversa. A narrativa do ofendido sugere tenha ele caído numa
verdadeira “armadilha”. Muito embora não tenha sido mencionado pelo sujeito passivo ato específico de
violência física contra sua pessoa ou efetivos dizeres ameaçadores, a situação de vulnerabilidade em que
se encontrava, com os increpados (possivelmente auxiliados por funcionários do imóvel) efetuando
exigências de entrega de quantia em dinheiro, aponta para uma ameaça implícita, o que é suficiente para
configurar o crime de extorsão. A própria ideia de não devolver o automóvel se o numerário não fosse
entregue constitui promessa de inflição de mal grave e injusto. Vale acrescentar a informação registrada
no depoimento dos policiais civis, apontando para a ocorrência de inúmeros relatos similares na Comarca
por parte de diferentes vítimas.
Dá-se a extorsão, com efeito, quando o sujeito ativo constranger alguém, mediante violência ou grave
ameaça, com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que
se faça ou deixar fazer alguma coisa.
Não se pode afastar, portanto, a ocorrência do crime patrimonial citado, notadamente nesta etapa da
persecutio criminis in judicio. O oferecimento de denúncia, destarte, com a consequente instauração do
devido processo legal, é a medida que se impõe.
Solução: designa-se outro promotor de justiça para oferecer denúncia e prosseguir no feito em seus
ulteriores termos.

MP 89.056/17
Autos n.º 0000998-45.2013.8.26.0120 – MM. Juízo da Vara Judicial da Comarca de Cândido Mota
Vítimas: JOSÉ EDUARDO ERMÍRIO DE MORAES, ELIZETE APARECIDA ROMANGNOLI PIVETA
ASSUNÇÃO, LETÍCIA ROMANGNOLI PIVETA ASSUNÇÃO, LUIZ RODRIGUES MARCONDES FILHO e
LUCIANA AGUIAR DA COSTA E SOUZA
Assunto: análise de pedido de remessa do feito à Justiça Federal indeferido judicialmente (arquivamento
indireto)
EMENTA: CPP, ART. 28. ARQUIVAMENTO INDIRETO. INVESTIGAÇÃO PENAL INSTAURADA PARA
APURAR EVENTUAL RESPONSABILIDADE PENAL DECORRENTE DA QUEDA DE UM AVIÃO. CRIME
TIPIFICADO NO ART. 261, C.C. ART. 263 DO CP. PEDIDO DE REMESSA À JUSTIÇA FEDERAL.
INDEFERIMENTO JUDICIAL COM REMESSA DOS AUTOS À ESTA PROCURADORIA-GERAL DE
JUSTIÇA. INFRAÇÃO DE COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL. AUSÊNCIA DE
CRITÉRIO DEFINIDO PELA JURISPRUDÊNCIA PARA O DESLOCAMENTO À JUSTIÇA COMUM
FEDERAL. ATRIBUIÇÃO DO PROMOTOR DE JUSTIÇA OFICIANTE.
Cuida-se de investigação penal instaurada para apurar eventual responsabilidade penal decorrente da
queda de um avião que possuía registro junto à ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) na categoria
TPP (Transporte Privado de Pessoas), motivo pelo qual não era habilitado a efetuar voos fretados (como
ocorreu in casu). Segundo esclareceu, ainda, a mencionada agência reguladora, a aeronave deveria ser
registrada em categoria diferente (TPX – Transporte Público Não Regular), o que eleva as exigências
quanto ao nível de segurança operacional e a experiência e treinamento de pilotos. Além da falta de
capacitação do condutor do avião, sua esposa atuava como copilota, sem possuir habilitação para o
desempenho dessa função. Esse conjunto de fatores resultou na configuração, em tese, do crime tipificado
no art. 261 do CP, imputável, em tese, ao proprietário da aeronave e ao dono e administradores da
empresa responsável pela contratação do serviço (irregular) de voo fretado.
Em face disto, o Douto Promotor de Justiça oficiante declinou de sua atribuição, ponderando se tratar de
delito de competência da Justiça Federal, para onde requereu o envio dos autos. A MM. Juíza, entretanto,
discordou do pedido formulado, aduzindo que a conduta, embora relativa a comportamento relacionado
com aeronave, não produziu mácula a bem, serviço ou interesse da União, suas empresas públicas ou
autarquias, cuidando-se, destarte, de infração de competência da Justiça Comum Estadual. Diante disso,
encaminhou a questão para análise desta Procuradoria-Geral de Justiça, nos termos do art. 28 do CPP.
De ver que o crime de atentado contra a segurança de transporte aéreo está descrito no art. 261 do CP.
Cuida-se de infração que visa à tutela da incolumidade pública, nomeadamente por meio da tutela da
segurança coletiva ligada ao transporte marítimo, fluvial ou aéreo. Dada a natureza pluriofensiva das
infrações contidas no Título VIII, onde se insere o art. 261 do CP, visa-se também à salvaguarda das
pessoas, seja quanto à sua vida ou integridade corporal, e do patrimônio alheio.
Quanto à competência, não se pode afirmar que o tipo penal objeto desta investigação configure, de per
si, delito cujo exame incumbe à Justiça Comum Federal. Com efeito, ainda que seja tarefa da União
explorar, diretamente ou mediante concessão, autorização ou permissão a navegação aérea (art. 21, XII,
da CF), na hipótese de sinistro relacionado com eventual ineficiência na execução ou prestação segura
do serviço, a responsabilidade não compete ao citado ente federativo, mas recai sobre o concessionário.
Esse foi o entendimento adotado pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça em caso análogo ao destes
autos. (STJ, 3ª Seção, Conflito de Competência n. 145.787, Rel. Min. REYNALDO SOARES DA
FONSECA, julgado em 11/5/2016).
Solução: designa-se outro promotor de justiça para oficiar nos autos e formar sua opinião delitiva.

MP 87.797/17
Autos n.º 0000232-37.2016.8.26.0556 – MM. Juízo da 2.ª Vara Criminal da Comarca de Araraquara
Interessado: (...)
Assunto: recurso contra arquivamento de inquérito policial dirigido ao PGJ
EMENTA: CPP, ART. 28. INQUÉRITO POLICIAL ARQUIVADO EM PARTE POR DECISÃO JUDICIAL
DEFERINDO REQUERIMENTO DO PROMOTOR DE JUSTIÇA. PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO
ELABORADO PELO INTERESSADO, A FIM DE QUE A PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA
DESIGNE OUTRO MEMBRO PARA ATUAR NO FEITO E ADITAR A DENÚNCIA. INADMISSIBILIDADE.
No caso dos autos, o Ilustre Representante do Ministério Público entendeu por bem oferecer denúncia em
face do investigado, imputando-lhe o crime de embriaguez ao volante (Lei n.º 9.503/97, art. 306, caput, e
§1.º, inc. II). O Nobre Membro do Parquet não incluiu na acusação os crimes de homicídio culposo,
omissão de socorro no trânsito e fuga do local do acidente (CTB, arts. 302, §1.º, 304 e 305). Referida
manifestação, contra a qual se insurge o recorrente, foi integralmente acolhida pelo MM. Juiz.
O peticionário, irresignado com a postura do Douto Promotor de Justiça e do Digníssimo Magistrado,
pugnou a esta Procuradoria-Geral de Justiça a revisão da manifestação exarada, com a designação de
outro membro ministerial para atuar no caso.
A decisão que arquiva o inquérito policial, ainda que em parte, produz coisa julgada formal e, por esse
motivo, somente pode se dar a alteração na situação concreta mediante o surgimento de provas novas
(CPP, art. 18 e Súmula n.º 524 do STF).
Não se admite recurso administrativo ao Procurador-Geral de Justiça quando arquivado judicialmente o
inquérito policial, sob pena de malferir o princípio do promotor natural.
Solução: deixo de conhecer do pedido de revisão de arquivamento de inquérito policial.

MP 70.072/17
Autos n.º 0002036-21.2017.8.26.0066 – MM. Juízo da 1.ª Vara Criminal da Comarca de Barretos
Denunciado: (...)
Assunto: aditamento da denúncia para inclusão do delito de associação para o tráfico
EMENTA: CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, ART. 28. REVISÃO DE PEDIDO DE ARQUIVAMENTO
PARCIAL DE INQUÉRITO POLICIAL. INVESTIGAÇÃO PENAL INSTAURADA VISANDO À APURAÇÃO
DE CRIMES DE TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS (LEI 11.343, ART. 33, “CAPUT”), ASSOCIAÇÃO PARA
O TRÁFICO DE DROGAS (LEI 11.343, ART. 35, “CAPUT”) E POSSE IRREGULAR DE MUNIÇÃO DE
USO PERMITIDO (LEI 10.826/03, ART. 12). DENÚNCIA QUE CAPITULA SOMENTE OS CRIMES DE
TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS E POSSE IRREGULAR DE MUNIÇÃO DE USO PERMITIDO. PEDIDO
DE ARQUIVAMENTO, QUANTO À ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO, POR AUSÊNCIA DE INDÍCIOS
DE ESTABILIDADE E PERMANÊNCIA. INDEFERIMENTO JUDICIAL. ADITAMENTO DA DENÚNCIA
QUE SE IMPÕE COMO MEDIDA NECESSÁRIA.
Cuida-se de ação penal movida pelo Ministério Público imputando a um dos acusados os crimes de tráfico
ilícito de drogas (artigo 33, “caput”, da Lei n.º 11.343/06 c.c. artigo 29, “caput”, do CP) e posse irregular
de arma de fogo de uso permitido (art. 12 da Lei n.º 10.826/03), na forma do artigo 69, “caput”, do Código
Penal e à outra denunciada, o crime o de tráfico ilícito de drogas (artigo 33, “caput”, da Lei n.º 11.343/06,
c.c. artigo 29, “caput”, do CP).
Segundo se apurou, policiais militares integrantes da Força Tática de Barretos realizavam patrulhamento
visando ao combate do tráfico de drogas na região e se dirigiram ao bairro Derby Club após o recebimento
de diversas denúncias sobre a prática de tráfico de drogas pelo morador de uma residência
especificamente mencionada.
Ao chegarem ao local, avistaram o denunciado, que estava na calçada em frente à residência, do outro
lado da rua, e o observaram entregando algo para um rapaz, que, por sua vez, entregou dinheiro ao
increpado; ao perceber a aproximação da viatura, este dispensou algo no chão e passou por cima.
Realizada a abordagem, em busca pessoal foi apreendida uma porção de cânhamo nas mãos do
comprador e, com o agente, quantia em dinheiro, além de uma tesoura que estava no bolso de sua
bermuda. No chão, entre os dois, foi localizada uma porção de cânhamo esfarelada, droga essa
dispensada pelo acusado ao notar a aproximação policial.
Enquanto era realizada a abordagem do denunciado, a codenunciada saiu do interior da residência de
seu comparsa carregando uma bolsa, tendo sido abordada pela viatura que dava suporte à ocorrência.
No interior da bolsa, foram encontrados 01 (um) pote de vidro contendo 03 (três) invólucros plásticos de
maconha, 61 (sessenta e um) microtubos plásticos e 01 (uma) trouxinha contendo cocaína; 03 (três)
balanças de precisão; 01 (um) rádio comunicador “HT”, saquinhos plásticos para geladinho; 01 (um)
caderno e 01 (uma) caderneta com anotações manuscritas, indicativas de tráfico de drogas.
Após as abordagens, foram realizadas diligências no interior da residência do denunciado, ocasião em
que os policiais encontraram, no quarto do agente, no interior de uma mochila, um porta-óculos dentro do
qual havia porções de pó branco e 07 (sete) munições intactas de calibre 38. Ainda no quarto, dentro do
armário, foi localizado um saco plástico, contendo 82 (oitenta e dois) microtubos plásticos vazios e 01
(um) pote de fermento, materiais comumente usados para preparar em embalar drogas. Apreendeu-se,
ainda, sobre um móvel, mais quantia em dinheiro, fracionada em diversas cédulas.
Em seus interrogatórios, os denunciados permaneceram em silêncio.
Ouvido na Delegacia, o adquirente da droga se declarou usuário e relatou tê-la comprado do acusado.
O Ilustre Representante Ministerial, quando do oferecimento da peça inicial, manifestou-se pelo
arquivamento do inquérito em relação ao artigo 35, “caput”, da Lei 11.343/06, argumentando com base na
ausência de elementos suficientes para caracterizar a associação prévia dos denunciados, quais sejam,
a estabilidade e a permanência da associação para o fim de praticarem o tráfico de drogas, os quais são
indispensáveis para a caracterização do tipo penal.
A MM. Juíza, discordando de tal posicionamento, enviou o expediente a esta Procuradoria-Geral de
Justiça, nos termos do art. 28 do CPP.
A análise dos elementos de informação reunidos neste caderno investigatório demonstra que o aditamento
da denúncia é medida que se impõe. No caso em estudo, há indícios de autoria e prova da materialidade
do delito de associação para o tráfico (art. 35 da Lei n.º 11.343/06). Isto porque, conforme relatado pelos
policiais militares responsáveis pela abordagem, a dupla formada pelos acusados já havia sido alvo de
denúncias anteriores, descrevendo o auxílio de uma mulher ao agente, a qual se encarregava de retirar
as drogas da residência dele ao perceber a realização de abordagem pela polícia na região.
Afirmaram, também, que a comparsa teria admitido ter sido orientada pelo acusado nesse sentido, isto é,
a retirar todas as drogas e objetos relacionados ao tráfico, sempre que a Polícia procedesse a abordagens
no local.
Na audiência de custódia, os investigados disseram que a increpada trabalha, diariamente, há seis anos
na residência do sujeito, fato este que constitui outro elemento apto a demonstrar um vínculo diário,
longínquo e estável entre ambos.
Relevante, ademais, o caderno e a caderneta apreendidos no local dos fatos apontam anotações de
sofisticado controle da contabilidade do tráfico de drogas em pontos de vendas espalhados em todo o
Município, com possível gerenciamento de organização criminosa de abrangência nacional,
especificando, também, a localização de cada ponto de venda, com indicação do respectivo responsável,
dos volumes de vendas e dos valores devidos por cada membro, inclusive com menção a indivíduos
conhecidos como integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital.
À vista destes abundantes elementos de informação, outra não pode ser a atitude senão atribuir-lhes
também a prática do crime de associação para o tráfico.
Cumpre lembrar o escólio de Paganela Boschi e Afrânio Silva Jardim. De acordo com o primeiro: “para o
desencadeamento da persecução, basta que as provas sejam capazes de despertar um juízo de suspeito,
o suficiente para mostrar que a acusação não é um fruto de criação cerebrina ou mero capricho da
acusação” (Ação Penal, Rio de Janeiro, Editora AIDE, 1997, 2.ª ed., p. 94). O processualista carioca, de
sua parte, obtempera: “Ressalte-se, entretanto, que uma coisa é constatar a existência da prova do
inquérito ou peças de informação e outra coisa e valorá-la, cotejá-la. É preciso deixar claro que a justa
causa pressupõe um mínimo de lastro probatório, mas não prova cabal. É necessário que haja alguma
prova, ainda que leve. Agora, se esta prova é boa ou ruim, isto já é questão pertinente ao exame do mérito
da pretensão do autor, até porque as investigações policiais não se destinam a convencer o Juiz, tendo
em vista que o sistema acusatório e a garantia constitucional do contraditório, mas apenas viabilizar a
ação penal.” (Direito Processual Penal, Rio de Janeiro: Forense. 11ª ed., pág. 98).
Conclusão: designa-se outro promotor de justiça para aditar a denúncia, de modo a atribuir aos
denunciados também a prática de associação para o tráfico, devendo prosseguir na ação penal em seus
ulteriores termos.

MP 68.723/17
Inquérito policial n.º 0005270-12.2016.8.26.0562 – MM. Juízo da 5.ª Vara Criminal da Comarca de Santos
Denunciado: (...)
Assunto: arquivamento implícito de termo circunstanciado
EMENTA: CPP, ART. 28. ARQUIVAMENTO IMPLÍCITO DE INQUÉRITO POLICIAL. IMPOSSIBILIDADE.
DENÚNCIA RELATIVA AO DELITO DE AMEAÇA (CP, ART. 147). SUPOSTA OMISSÃO DETECTADA
PELA AUTORIDADE JUDICIÁRIA QUANTO AO DELITO PATRIMONIAL NARRADO PELA OFENDIDA.
REMESSA CONHECIDA, A FIM DE DETERMINAR O RETORNO DOS AUTOS À ORIGEM, PARA QUE
O DOUTO PROMOTOR DE JUSTIÇA SE MANIFESTE EXPRESSAMENTE A RESPEITO DA INFRAÇÃO
PENAL CONEXA.
Cuida-se de ação penal motiva pelo Ministério Público imputando ao denunciado o crime de ameaça (CP,
art. 147), em contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher. O inquérito policial que subsidiou
a denúncia foi instaurado para apurar, além do citado crime contra a pessoa, a contravenção penal de
perturbação da tranquilidade (LCP, art. 65), o crime de dano simples (CP, art. 163, caput), injúria simples
(CP, art. 140, caput) e furto simples (CP, art. 155, caput).
Concluídas as providências de polícia judiciária, o Douto Promotor de Justiça requereu nova inquirição da
ofendida, a fim de que esclarecesse se o autor devolvera o aparelho de telefone celular que dela
arrebatara por ocasião dos fatos. O sujeito passivo informou, então, somente ter recebido o aparelho
depois de avisar uma amiga em comum que lavrara o boletim de ocorrência noticiando a subtração,
aduzindo, ainda, que o telefone lhe fora devolvido intacto, porém sem o chip.
O Ilustre Representante Ministerial, então, ofertou denúncia imputando ao agente a ameaça, mas nada
requereu quanto ao crime conexo de ação penal pública.
O MM. Juiz determinou nova análise do feito pelo Parquet, para que se manifestasse a respeito do furto
ou eventual roubo, tendo o Nobre Promotor afirmado que “não se apurou nos autos crime contra o
patrimônio”, motivo por que entendeu o Digníssimo Magistrado que deveria se aplicar à espécie o art. 28
do CPP, determinando o envio do caso a esta Procuradoria-Geral de Justiça.
Com a máxima vênia do Douto Membro Ministerial, se faz mister manifeste-se expressamente acerca da
ocorrência do crime patrimonial noticiado nestes autos, com relação ao qual, frise-se, ele próprio requereu
diligências complementares.
É de se lembrar que o MINISTÉRIO PÚBLICO, enquanto Instituição essencial à função jurisdicional do
Estado, tem o dever de manifestar-se, judicial e extrajudicialmente, de modo fundamentado. É o que
decorre dos arts. 129, inc. VIII, da CF, 43, inc. III, da Lei n.º 8.625/93 e 169, inc. VII, da Lei Complementar
Paulista n.º 734/93. Admitir a figura do arquivamento implícito seria, portanto, corroborar com ato que viola
expressamente dever funcional do Parquet. Deve-se ressaltar que renomados autores comungam dessa
linha de pensamento. Como salienta GUILHERME DE SOUZA NUCCI, “não pode haver pedido de
arquivamento implícito ou tácito. É indispensável que o promotor se manifeste claramente a respeito de
cada um dos indiciados, fazendo o mesmo no que concerne a cada um dos delitos imputados a eles
durante o inquérito. Assim, não pode, igualmente, denunciar por um crime e calar quanto a outro ou
outros”. (Código de Processo Penal Comentado, 3ª edição, São Paulo, Editora Revista dos Tribunais,
2004, p. 126-127). HERÁCLITO ANTÔNIO MOSSIN ensina, no mesmo sentido, que, “O requerimento do
Ministério Público objetivando o arquivamento do inquérito policial ou de outras peças de informação deve
ser devidamente fundamentado, porquanto em termos de ação penal pública sempre se encontra em jogo
o interesse coletivo, no sentido da punição do culpado ou de nenhuma coação sobre ele incidente, quando
não houver razão de ordem fática ou de direito capaz de justificá-la” (Comentários ao Código de Processo
Penal – à luz da doutrina e da jurisprudência, Barueri-SP, Manole, 2005, p. 74). MARCELLUS POLASTRI
LIMA assevera com propriedade que: “...o denominado ‘arquivamento implícito’ não existe no direito pátrio,
pois é forçoso reconhecer que o artigo 28 do CPP só prevê o arquivamento explícito e que tanto o artigo
18 do mesmo diploma legal como a Súmula 524 do STF também só se aplicam nos casos de
arquivamentos requeridos e deferidos” (Ministério Público e Persecução Criminal. 4ª ed. Rio de Janeiro,
Lumem Iuris, 2007, p. 250). O Egrégio Superior Tribunal de Justiça já teve oportunidade de se manifestar
a respeito do tema: “O silêncio do Ministério Público em relação a acusados cujos nomes só aparecem
depois em aditamento à denúncia não implica arquivamento quanto a eles. Só se considera arquivado o
processo com o despacho da autoridade judiciária (CPP, art. 18)” (RT, 691/360). O Augusto Supremo
Tribunal Federal analisou a questão nos seguintes termos: “PRISÃO PREVENTIVA - CONCESSÃO DA
ORDEM EM HABEAS CORPUS - EXTENSÃO. Tendo ocorrido a extensão de ordem formalizada em
habeas corpus, dá-se o prejuízo da impetração em que é paciente o beneficiário do julgamento anterior.
CRIME TRIBUTÁRIO - INICIAL - BALIZAS. Atende ao figurino legal denúncia imputando crime tributário
presente a assertiva de não haver sido informada a existência de certo numerário à Receita Federal.
INQUÉRITO - ARQUIVAMENTO IMPLÍCITO. O ordenamento jurídico não contempla o arquivamento
implícito do inquérito mormente quando articulado a partir do fato de o Ministério Público ter desmembrado
a iniciativa de propor a ação considerados vários réus e imputações diversificadas” (HC n. 92.445, rel.
Min. MARCO AURÉLIO, DJe de 02/04/2009; grifo nosso).
Por tal motivo, sempre que o órgão ministerial deixar de se manifestar quanto a um ou alguns dos
indiciados ou crimes investigados no âmbito do inquérito policial, cumpre ao magistrado determinar o
retorno dos autos ao membro do Parquet, para que expressa e fundamentadamente requeira o que de
direito (como de fato ocorreu na hipótese vertente). Nesse sentido, o escólio do já citado GUILHERME DE
SOUZA NUCCI: “Cabe ao representante do Ministério Público oferecer razões para sustentar o seu pedido
de arquivamento. Sem elas, devem os autos retornar ao promotor, a mando do juiz, para que haja
regularização” (op. cit., p. 126).
Solução: conhece-se da presente remessa, determinando o retorno dos autos ao Promotor Natural para
que expressamente forme sua opinião delitiva a respeito da suposta infração conexa.

MP 68.422/17
Autos n.º 0077079-46.2016.8.26.0050 – MM. Juízo do DIPO 3 (Comarca da Capital)
Investigados: (...)
Assunto: revisão de pedido de reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva
EMENTA: CPP, ART. 28. PEDIDO DE RECONHECIMENTO DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELA
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. CP, ART. 242 (PARTO SUPOSTO). FATO OCORRIDO HÁ
QUINZE ANOS, REVELADO OFICIALMENTE COM O ENVIO DE INFORMAÇÕES À PROMOTORIA DE
JUSTIÇA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE, EM 2016. PRESCRIÇÃO INOCORRENTE. TERMO INICIAL
QUE SE DÁ COM O CONHECIMENTO OFICIAL DO FATO, NOS TERMOS DO ART. 111, INC. V, DO
CP. PROVA DA MATERIALIDADE E INDÍCIOS DE AUTORIA. ADITAMENTO DA DENÚNCIA QUE SE
IMPÕE.
O requerimento ministerial lastreou-se no reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva em
abstrato, sob o argumento de que a certidão de nascimento, na qual um dos suspeitos figura falsamente
como pai da menor, fora lavrada em 2001 e, em face do transcurso de dilatado lapso temporal, encontrar-
se-ia extinto o ius puniendi.
Ocorre, todavia, que em se cuidando de comportamentos cometidos mediante falsificação ou adulteração
de assentamento de registro civil, tal qual a infração capitulada no art. 242 do Código Penal, a prescrição
somente começa a correr quando o fato se torna conhecido da autoridade.
Significa dizer que o dies a quo não deve ter como parâmetro quer a consumação, quer a ciência, pelo
autor, da prática delituosa, mas o instante em que os órgãos encarregados da persecução penal têm
conhecimento do ilícito (CP, art. 111, inc. IV).
A respeito do tema, assim decidiu o Egrégio Superior Tribunal de Justiça: “(...) Não se vislumbra a
ocorrência da prescrição em relação aos delitos previstos no art. 242 do Código Penal, se não transcorrido
o prazo previsto para tanto. A partir da data em que os fatos se tornaram públicos, tem início a contagem
do prazo prescricional da pretensão punitiva, a teor do art. 111, inc. IV, do mesmo Diploma de Lei. (...)”
(HC 31.077/GO, Rel. Ministro GILSON DIPP, 5.ª TURMA, julgado em 04/12/2003, DJ de 25/02/2004, p.
203).
O ato incriminado, como se percebe pelo exame dos elementos informativos, somente veio à tona quando
comunicado à Promotoria de Justiça da Infância e Juventude do respectivo Foro Regional, no ano de
2016, motivo por que está longe de ter sido atingido pela prescrição. Há, de outro lado, prova da
materialidade e indícios de autoria, reclamando-se o oferecimento de denúncia.
Solução: designa-se outro promotor de justiça para oferecer denúncia e prosseguir no feito em seus
ulteriores termos.

MP 60.657/17
Autos n.º 0000575-41.2017.8.26.0445 – MM. Juízo da Vara do Juizado Especial Criminal da Comarca de
Pindamonhangaba
Indiciado: (...)
Assunto: revisão de pedido de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. CRIME DE MAUS TRATOS NA FORMA SIMPLES (CP, ART. 136, CAPUT).
GENITOR QUE DESFERE CHUTES, SOCOS E ESGANA O FILHO ADOLESCENTE, DEPOIS DE ESTE
SE RECUSAR A LHE AUXILIAR EM TAREFAS LABORAIS. ABUSO NOS MEIOS DE CORREÇÃO E
DISCIPLINA CONFIGURADOS. AGENTE QUE, DE ACORDO COM A GENITORA DO MENOR, POSSUI
PERSONALIDADE VIOLENTA E EXPLOSIVA. INFORMAÇÃO CORROBORADA PELOS DIVERSOS
ANTECEDENTES CRIMINAIS APONTANDO CASOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM QUE O AUTOR
FIGURA COMO INVESTIGADO, RÉU E CONDENADO. OFERECIMENTO DE DENÚNCIA QUE SE
IMPÕE.
Pelo que se apurou, o investigado ordenara ao filho que o acompanhasse nos afazeres laborais, mas o
ofendido se recusara, despertando reação exacerbada no agente, o qual, a pretexto de corrigi-lo ou
discipliná-lo, desferiu contra ele chutes e socos, além de apertar seu pescoço, esganando-o.
Muito embora o investigado tenha negado o fato, asseverando que reagira à investida do próprio filho, as
declarações da mãe e testemunha presencial o desmentem. Essa, inclusive, relatou a personalidade
violenta e explosiva do agente. Há nos autos, ainda, mais de uma centena de laudas de documentos
apontando os antecedentes criminais do suspeito, nos quais ele figura como sujeito ativo de delitos
relacionados com violência doméstica.
O ajuizamento da ação penal, em semelhante cenário, é a providência indicada, haja vista o princípio da
obrigatoriedade da ação penal pública – capitulado no art. 24 do CPP, do qual a regra inserida no art. 28
do mesmo Estatuto atua como mecanismo de controle.
Conclusão: designa-se outro promotor de justiça para oferecer denúncia e prosseguir no feito em seus
ulteriores termos.

MP 47.076/17
Autos n.º 0001166-58.2017.8.26.0168 – MM. Juízo da 1.ª Vara Judicial da Comarca de Dracena
Autor do fato: (...)
Assunto: revisão de pedido de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. CRIME DE AMEAÇA E CONTRAVENÇÃO PENAL DE VIAS DE FATO, EM
CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. PEDIDO DE
ARQUIVAMENTO. SUPOSTA AUSÊNCIA DE INDÍCIOS DE AMEAÇA CALCADA NA NEGATIVA DO
INDICIADO. IRRELEVÂNCIA JURÍDICO-PENAL DA CONTRAVENÇÃO PENAL DECORRENTE DOS
PRINCÍPIOS DA INSIGNIFICÂNCIA E INTERVENÇÃO MÍNIMA, TORNANDO-A UM FATO
DESPROVIDO DE RELEVÂNCIA SOCIAL E IMPORTÂNCIA NO PLANO CONCRETO. REALIDADE
APURADA NO INQUÉRITO POLICIAL, CONTUDO, QUE CONTRARIA OS FUNDAMENTOS
INVOCADOS NA MANIFESTAÇÃO MINISTERIAL. AMEAÇA COMPROVADA PELAS DECLARAÇÕES
DA VÍTIMA E DE TESTEMUNHAS. CENÁRIO IDÊNTICO NO QUE TOCA ÀS AGRESSÕES
PERPETRADAS, CUJA GRAVIDADE FOI EXPOSTA NAS FOTOGRAFIAS ANEXADAS AOS AUTOS,
REVELADORAS DO VIOLENTO TAPA NO ROSTO DESFERIDO CONTRA A VÍTIMA, DAS MARCAS
DAS MÃOS DO AGRESSOR NOS PULSOS DA OFENDIDA, DENTRE OUTROS VESTÍGIOS.
OFERECIMENTO DE DENÚNCIA QUE SE IMPÕE.
Segundo se apurou, o indiciado e a vítima conviveram por cinco meses, separando-se e reconciliando-se
nesse período, até que, no dia 27 de janeiro de 2017, o agente a agrediu fisicamente, com tapa no rosto,
soco no estômago e apertou fortemente seus braços. Dois dias depois, enviou mensagem de texto a
terceiro, dirigida, porém, à declarante, ameaçando-a. Há testemunhas dos fatos e a ofendida fotografou
as marcas das agressões sofridas.
O agente negou a prática dos ilícitos penais que lhe foram atribuídos, dizendo – em síntese – que ele é
quem fora vítima de agressão.
As medidas protetivas requeridas pelo sujeito passivo foram deferidas judicialmente.
Concluídas as providências de polícia judiciária, o Douto Representante Ministerial afirmou, em cota, que
“não há indícios de ameaça”, pois o indiciado alegou que não está ameaçando ninguém e, quanto às vias
de fato, em manifestação anexada ao inquérito, asseverou que se trata de fato penalmente atípico, dada
a ausência de ofensividade ao bem jurídico, considerando, ainda, o princípio da intervenção mínima e o
“postulado da insignificância”, acrescentando que se trataria de “delitos de pequena monta”, cujas
incidências “não fazem a menor diferença na esfera social e nem no plano concreto”, razão pela qual
requereu o arquivamento dos autos.
No caso dos autos, porém, tanto o crime de ameaça quanto a contravenção penal de vias de fato se
revelam suficientemente demonstrados. O delito contra a pessoa encontra base empírica sólida nas
declarações do sujeito passivo e no depoimento das testemunhas, em particular do genro da ofendida, o
qual confirmou ter recebido mensagem de texto em seu telefone celular, enviada pelo autor do fato, no
qual ameaçou a vítima.
No que tange à agressão perpetrada, são igualmente robustos os elementos informativos a ampará-la.
Existe, nesse sentido, a fala da ofendida, corroborada por testemunha presencial e pelas fotografias
reveladoras da gravidade dos fatos, os quais longe estão de representar situações que “não fazem a
menor diferença na esfera social e nem no plano concreto”.
Deve-se ressaltar, ademais, que a Lei de Contravenções Penais encontra-se em pleno vigor e, a despeito
de possíveis excessos que ela possa conter, não se pode, em bloco, considerá-la inapta a tutelar bens
juridicamente relevantes. No caso em tela, com mais razão. Isto porque se cuida, em tese, de vias de fato
cometida em contexto de violência doméstica ou familiar contra a mulher, cuja gravidade impede,
inclusive, a aplicação das medidas despenalizadoras contidas na Lei n.º 9.099/95. A norma inserta no art.
41 da Lei Maria da Penha, com efeito, afasta por completo a Lei dos Juizados Especiais Criminais de atos
relacionados com violência doméstica ou familiar contra a mulher e, como já definiu a Suprema Corte, se
aplica a crimes e a contravenções penais. Tal disposição há de ser interpretada não apenas de modo
literal (o que excluiria o delito anão), senão sistemática, histórica e teleologicamente. Significa dizer que
se deve buscar uma interpretação que extravase o método puramente gramatical e, mais do que isto,
prestigie os elementos sistemático, histórico e teleológico. Com referência ao critério sistemático, há de
se ter em conta o disposto no art. 33 do mesmo Diploma, o qual determinou cumprir às Varas Criminais
e, posteriormente, aos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher “conhecer e julgar as
causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as previsões
do Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação processual pertinente”. Nota-se, destarte, que a
competência dos Juizados Especiais Criminais foi afastada de modo abrangente, compreendendo todas
as causas criminais. Com relação ao elemento teleológico, não há dúvida alguma de que o espírito da lei
foi dar maior proteção ao núcleo familiar, independentemente da nomenclatura do ilícito penal. Vale dizer
que a mens legis, relativamente ao alcance de seus institutos, prega a análise do contexto em que o
comportamento ocorreu, ou seja, se possui relação com violência doméstica e familiar, nos termos do
disposto no art. 5.º, I, c.c. o art. 7.º, I e II, da Lei n.º 11.340/06. No que pertine ao elemento histórico,
constitui fato notório e de há muito reconhecido a elevada gravidade de tais condutas. Durante anos tais
atos foram subsumidos à Lei dos Juizados Especiais com desastrosas consequências para as vítimas do
crime. Deveras, mulheres eram (e são) covardemente agredidas no âmbito de seu lar e, por temor ou
vergonha, não comunicavam o fato às autoridades. Das poucas que se decidiam a fazê-lo, muitas
voltavam atrás e se retratavam, seja por verificarem que nada se fazia para protegê-las ou por terem sido
novamente ameaçadas ou agredidas pelos agentes. Daí a razão de ser do art. 16 (que estabelece a
necessidade de confirmação em juízo da retratação da representação nos crimes de ação penal pública
a ela condicionada) e das medidas protetivas dos arts. 22 a 24 da Lei. Nos casos em que o evento era
comunicado à Polícia e a ofendida não recuava em sua atitude, aplicava-se a Lei n.º 9.099/95 e, sendo o
sujeito primário e de bons antecedentes, recebia uma proposta de transação penal, muitas vezes resumida
ao pagamento de valores em dinheiro a entidades ou à entrega de cestas básicas. Ou seja, o autor do
fato desembolsava uma quantia em dinheiro e se via livre da acusação, retornando ao lar para conviver
com a vítima. Por este motivo é que não se permitem “aplicação, nos casos de violência doméstica e
familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a
substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa” (art. 17 da Lei n.º 11.340/06). O art. 41
da Lei mencionada coloca-se na mesma linha de Política Criminal dos dispositivos acima mencionados,
consistente em tratar com severidade infrações relacionadas com violência doméstica ou familiar contra
a mulher. Parece-nos, aliás, que agiu bem o legislador. Essa atitude coaduna-se com a moderna
concepção do postulado da proporcionalidade, em sua faceta relativa à proibição de proteção deficiente,
a qual deve atuar como “recurso auxiliar” para determinação da medida do dever de prestação legislativa,
estabelecendo-se um padrão mínimo das medidas estatais do qual não se pode abrir mão, sob pena de
afronta à Constituição. Nesse sentido, a obra de LUCIANO FELDENS, intitulada “A Constituição Penal: a
dupla face da proporcionalidade no controle de normas penais” (Porto Alegre, Livraria do Advogado,
2005).
A conclusão que aqui se sufraga já foi acolhida pela jurisprudência dos tribunais superiores; senão
vejamos: “VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – ARTIGO 41 DA LEI Nº 11.340/06 – ALCANCE. O preceito do artigo
41 da Lei nº 11.340/06 alcança toda e qualquer prática delituosa contra a mulher, até mesmo quando
consubstancia contravenção penal, como é a relativa a vias de fato. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – ARTIGO
41 DA LEI Nº 11.340/06 – AFASTAMENTO DA LEI Nº 9.099/95 – CONSTITUCIONALIDADE. Ante a
opção político-normativa prevista no artigo 98, inciso I, e a proteção versada no artigo 226, § 8º, ambos
da Constituição Federal, surge harmônico com esta última o afastamento peremptório da Lei nº 9.099/95
– mediante o artigo 41 da Lei nº 11.340/06 – no processo-crime a revelar violência contra a mulher” (STF,
HC 106.212, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 24/03/2011, RTJ 219/521; vide,
ainda, STJ, HC 356.619/MS, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, 5.ª TURMA, julgado em 16/03/2017, DJe
de 23/03/2017).
Conclusão: designa-se outro promotor de justiça para oferecer a peça inaugural e prosseguir nos ulteriores
termos da causa.

MP 41.878/17
Autos n.º 0015770-87.2017.8.26.0050 – MM. Juízo do DIPO 4 (Comarca da Capital)
Indiciado: (...)
Assunto: análise de promoção de arquivamento do inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. FURTO (CP, ART. 155, §4.º, INC. II). FUNCIONÁRIO DE FUNILARIA QUE SE
APODERA DE VEÍCULO DE CLIENTE, SEM AUTORIZAÇÃO, SENDO SURPREENDIDO POR
POLICIAIS COM O BEM. AUTOMÓVEL DANIFICADO EM RAZÃO DE ABALROAMENTO PROVOCADO
PELO AGENTE. PEDIDO DE ARQUIVAMENTO FUNDADO NA SUPOSTA ATIPICIDADE, POR SE
TRATAR DE “FURTO DE USO”. REQUISITOS NECESSÁRIOS À CONFIGURAÇÃO DO INSTITUTO
AUSENTES, POIS O OBJETO MATERIAL NÃO FOI DEVOLVIDO ESPONTANEAMENTE, MAS
APREENDIDO POR AGENTES PÚBLICOS E SE ENCONTRAVA COM DANOS MATERIAIS.
OFERECIMENTO DE DENÚNCIA QUE SE IMPÕE.
O indiciado, funcionário da funilaria onde a vítima deixara seu veículo para reparos, apoderou-se do
automóvel e saiu conduzindo o bem sem autorização do proprietário ou do representante do
estabelecimento empresarial. Em seguida, o agente colidiu com um poste, danificando o carro. Ato
contínuo, policiais militares o abordaram e lhe deram voz de prisão em flagrante
O tipo penal previsto no art. 155 do CP pressupõe, além do dolo, consistente na vontade e consciência
de subtrair a res, o elemento subjetivo específico, decorrente das elementares “para si ou para outrem”.
Ausente o ânimo de assenhoreamento definitivo, desconfigura-se o crime, verificando-se, no lugar, o
chamado “furto de uso”.
Tal comportamento, todavia, requer seja a utilização momentânea e que resulte na devolução espontânea
do bem, com seu status quo preservado.
Na hipótese concreta, o bem foi apreendido pela Polícia em poder do agente, antes da necessária e
espontânea devolução. Ademais disso, encontrava-se danificado, porquanto o agente colidiu com um
poste.
Solução: designa-se outro promotor de justiça para apresentar a peça acusatória, devendo prosseguir nos
ulteriores termos da ação penal.

MP 37.872/17
Autos n.º 0000776-25.2017.8.26.0189 – MM. Juízo do Juizado Especial Criminal da Comarca de
Fernandópolis
Autor do fato: (...)
Assunto: revisão de pedido de arquivamento de termo circunstanciado
EMENTA: CPP, ART. 28. CONDUÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOR NA CONTRAMÃO EM RODOVIA.
TRAFEGAR EM VELOCIDADE INCOMPATÍVEL COM A SEGURANÇA ONDE HAJA GRANDE
MOVIMENTAÇÃO OU CONCENTRAÇÃO DE PESSOAS, GERANDO PERIGO DE DANO (CTB, ART.
311). ARQUIVAMENTO FUNDADO NA ATIPICIDADE DA CONDUTA, POR NÃO HAVER PROVA DAS
ELEMENTARES DO TIPO. DESCABIMENTO. SUBSISTÊNCIA DO DISPOSITIVO LEGAL QUE PREVÊ
COMO FATO TÍPICO A DIREÇÃO PERIGOSA (LCP, ART. 34), O QUAL FOI DERROGADO SOMENTE
NO TOCANTE AOS COMPORTAMENTOS DEFINIDOS NO ARTS. 306, 308, 309 E 311 DO CTB.
SUBSISTÊNCIA NO QUE TANGE ÀS DEMAIS HIPÓTESES DE CONDUÇÃO PERIGOSA.
PROSSEGUIMENTO DO TERMO CIRCUNSTANCIADO.
Deve-se registrar que, com a edição da Lei n.º 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro), o art. 34 da Lei
das Contravenções Penais foi parcialmente revogado, subsistindo a contravenção quanto à direção
perigosa de indivíduo habilitado, afora os casos previstos nos arts. 306 e 311 do CTB.
Há, na espécie, antinomia aparente (solucionável mediante subsunção), própria (entre normas jurídicas),
de primeiro grau, em que operam, na solução do conflito, dois critérios: o temporal e o da especialidade,
cumprindo estabelecer que, em situações como a que se afigura, convivem harmonicamente ambos os
tipos penais, desde que se entenda conter o crime anão o tipo geral e os delitos de trânsito, os especiais.
Nesse sentido, já decidiu o Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo, como se poder conferir, entre outros,
no julgamento do RSE n. 0005548-76.2012.8.26.0318, rel. Des. Damião Cogan.
Pondere-se, ademais, que descabe falar em bis in idem decorrente da caracterização de infração
administrativa, isto porque o art. 256, § 1.°, do CTB estabelece: “A aplicação das penalidades previstas
neste Código não elidem as publicações originárias de ilícitos penais decorrentes de crime de trânsito,
conforme disposições de lei”.
Solução: designa-se outro promotor de justiça para prosseguir no expediente e verificar o cabimento de
transação penal (art. 76 da Lei n. 9.099/95).

MP 34.257/17
Autos n.º 0062905-32.2016.8.26.0050 – MM. Juízo do DIPO 4 (Comarca da Capital)
Investigado: (...)
Assunto: revisão de pedido de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. INQUÉRITO POLICIAL. FURTO QUALIFICADO PELA ESCALADA (CP, ART.
155, §4º, INC. II). PEDIDO DE ARQUIVAMENTO FUNDADO NO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
INDICIADO PORTADOR DE ANTECEDENTES CRIMINAIS. RES FURTIVAE AVALIADA EM R$ 200,00
(DUZENTOS REAIS). NÃO-PREENCHIMENTO DOS CRITÉRIOS EXIGIDOS PELOS TRIBUNAIS
SUPERIORES PARA RECONHECIMENTO DA INFRAÇÃO BAGATELAR. OFERECIMENTO DE
DENÚNCIA QUE SE IMPÕE.
No caso dos autos, o agente pulou o muro da residência do ofendido, que se encontrava desabitada, e,
depois de ingressar no imóvel, subtraiu para si relevante quantidade de fios de cobre. O vizinho, que
depôs no auto de prisão em flagrante, visualizou o indiciado dentro da residência onde furtava os objetos
e chamou a Polícia. Os policiais militares foram ao local e surpreenderam o agente em via pública, com
uma sacola cheia, tendo ele corrido a pé ao ver os milicianos. O increpado, porém, foi detido em flagrante.
A res furtivae foi avaliada em R$ 200,00 (duzentos reais).
Os antecedentes criminais do agente revelam que já esteve preso e respondeu a ação penal por furto
qualificado e porte ilegal de arma de fogo de uso proibido.
Com a devida vênia, a tese na qual fundamentou a competente Membro do Parquet seu pleito de
arquivamento do expediente não vem sendo aceita – nestes termos – por esta Procuradoria-Geral de
Justiça, em que pese suas judiciosas razões.
Restou evidenciado o furto consumado de objetos cujo valor econômico – embora não expressivo – não
se mostra insignificante. A cifra in casu o equivalente a 10% (dez por cento) do salário mínimo vigente ao
tempo do fato, impedindo, de per si, o reconhecimento da tese invocada, nos termos do entendimento do
Egrégio Superior Tribunal de Justiça; confira-se: “HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO. NÃO
CABIMENTO. FURTO SIMPLES TENTADO. PLEITO DE ABSOLVIÇÃO. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. NÃO INCIDÊNCIA. EXPRESSIVIDADE DA LESÃO PATRIMONIAL. VALOR DOS
BENS SUBTRAÍDOS QUE ULTRAPASSA 10% DO SALÁRIO MÍNIMO VIGENTE À ÉPOCA DOS FATOS.
RESTITUIÇÃO DOS BENS. IRRELEVÂNCIA. RECONHECIMENTO DO FURTO PRIVILEGIADO.
REDUÇÃO DA PENA NO PATAMAR DE 1/3 (UM TERÇO). AUSÊNCIA DE FLAGRANTE ILEGALIDADE.
RES FURTIVA AVALIADA EM MAIS DE 70% DO SALÁRIO MÍNIMO. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.
HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. (...) 2. Esta Corte Superior tem seguido, na última década, o
entendimento de que para a aplicação do princípio da insignificância deverão ser observados os seguintes
vetores: a) mínima ofensividade da conduta do agente; b) nenhuma periculosidade social da ação; c)
inexpressividade da lesão jurídica e d) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento do agente.
Tais vetores interpretativos encontram-se expostos de forma analítica no HC 84.412, Rel. Min. CELSO
DE MELLO, SEGUNDA TURMA, julgado em 19/10/2004, DJ 19.11.2004. Todavia, no julgamento do HC
123108/MG, Rel. Ministro ROBERTO BARROSO, TRIBUNAL PLENO, julgado em 3/8/2015, DJe 1/2/2016
essas balizas foram revisitadas. 3. No caso em análise, o furto foi praticado no dia 9/5/2011, quando o
salário mínimo estava fixado em R$ 545,00 (quinhentos e quarenta e cinco reais). Nesse contexto,
seguindo a orientação jurisprudencial desta Corte, a res furtiva avaliada em R$ 425,74 (quatrocentos e
vinte e cinco reais e setenta e quatro centavos), não pode ser considerada de valor ínfimo, por superar
10% do salário mínimo vigente à época dos fatos. Precedentes. 4. A restituição dos bens não obsta o
reconhecimento da materialidade delitiva. Precedentes. 5. A tese no sentido de que o prejuízo sofrido pela
vítima é menor que o valor de mercado dos bens não foi analisada na apelação originária do presente
writ. A análise do método de avaliação do laudo pericial configuraria indevida supressão de instância e
revolvimento fático-probatório incabível na via estreita do writ. 6. A conduta praticada pelo paciente tem o
condão de afetar substancialmente o bem jurídico protegido, qual seja, o patrimônio. No caso em análise,
não se identifica um furto insignificante, mas sim um furto de pequeno valor, que configura o tipo
privilegiado previsto no art. 155, § 2º, do CP. 7. O valor do bem subtraído constitui fundamento idôneo
para se aferir o patamar de redução da pena relativo ao furto privilegiado. Ressalte-se, que a res furtiva
foi avaliada em mais de 70% (setenta por cento) do salário mínimo. (...) (STJ, HC 379.719/SC, Rel. Ministro
JOEL ILAN PACIORNIK, 5.ª TURMA, julgado em 14/02/2017, DJe de 17/02/2017)
Conforme reiteradamente tem decidido a Procuradoria-Geral de Justiça, admitir como atípicos
comportamentos desse porte é, nas palavras do eminente Desembargador Francisco Bruno, agir como
se o próprio Estado dissesse ao autor do fato: “Isto não é crime, o senhor está autorizado a fazê-lo
novamente” (Apelação n. 990.10.079006-4, j. em 29.7.10, 9ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de
Justiça de São Paulo).
Como é cediço, o Colendo Supremo Tribunal Federal tem colocado limites à aplicação do princípio da
insignificância, ao exigir o cumprimento de quatro vetores para sua incidência, a saber: a inexpressividade
da lesão ao bem jurídico; a ausência de periculosidade social da ação; a falta de reprovabilidade da
conduta; a mínima ofensividade do comportamento do agente (cf. HC n. 94.931, rel. Min. Ellen Gracie).
Ressalte-se que o investigado teve instaurados outros procedimentos contra si, anotando-se nestes,
inclusive, já ter respondido a ação penal por furto qualificado. Ausente, desta forma, o vetor relativo à
inexistência de periculosidade social. Cuida-se, por fim, de furto qualificado, comportamento cujo grau de
reprovabilidade igualmente afasta o reconhecimento do crime bagatelar. Não se encontram preenchidos,
desta feita, os necessários vetores exigidos pela Suprema Corte para a aplicação do princípio invocado
na manifestação ministerial.
Esse vem sendo o posicionamento, inclusive, do Egrégio Superior Tribunal de Justiça em casos
similares: “(...)INSIGNIFICÂNCIA. REITERAÇÃO DELITIVA. ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO.
RELEVANTE LESÃO AO BEM JURÍDICO. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA
EXTENSÃO, DESPROVIDO. (...) 2. O "princípio da insignificância - que deve ser analisado em
conexão com os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima do Estado em matéria
penal - tem o sentido de excluir ou de afastar a própria tipicidade penal, examinada na perspectiva de
seu caráter material. (...) Tal postulado - que considera necessária, na
aferição do relevo material da tipicidade penal, a presença de certos vetores, tais como (a) a mínima
ofensividade da conduta do agente, (b) nenhuma periculosidade social da ação, (c) o
reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a
inexpressividade da lesão jurídica provocada - apoiou-se, em seu processo de formulação teórica, no
reconhecimento de que o caráter subsidiário do sistema penal reclama e impõe, em função dos próprios
objetivos por ele visados, a intervenção mínima do Poder Público." (STF, HC 84.412-0/SP, Rel. Ministro
CELSO DE MELLO, DJU 19/11/2004.) 3. A jurisprudência desta Quinta Turma reconhece que o princípio
da insignificância não tem aplicabilidade em casos de reiteração da
conduta delitiva, salvo excepcionalmente, quando as instâncias
ordinárias entenderem ser tal medida recomendável diante das circunstâncias concretas.
4. Hipótese na qual resta evidenciada a contumácia delitiva do réu, em especial crimes patrimoniais, o
que demostra desprezo sistemático pelo cumprimento do ordenamento jurídico. Nesse passo, de rigor
a inviabilidade do reconhecimento da atipicidade material, por não restarem demonstradas as exigidas
mínima ofensividade da conduta e ausência de periculosidade social da ação. Mais: tratando-se de
crime de furto qualificado pelo rompimento de obstáculo,
circunstância concreta desabonadora, nos termos da jurisprudência
deste Tribunal Superior, não se admite o reconhecimento da atipicidade material da conduta. 5.
Recurso parcialmente conhecido e, nessa extensão, desprovido”. (STJ, RHC 78.919/MG, Rel. Ministro
RIBEIRO DANTAS, 5.ª TURMA, julgado em 09/03/2017, DJe de 17/03/2017; grifos nossos).
Solução: designa-se outro promotor de justiça para oferecer denúncia e prosseguir nos ulteriores termos
da ação penal cumprindo-lhe interpor os recursos cabíveis na hipótese de sucumbência.

MP 34.255/17
Autos n.º 0039416-63.2016.8.26.0050 – MM. Juízo do DIPO 4 (Comarca da Capital)
Indiciada: (...)
Assunto: revisão de pedido de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. INQUÉRITO POLICIAL. FURTO SIMPLES (CP, ART. 155, “CAPUT”). PEDIDO
DE ARQUIVAMENTO FUNDADO NO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INDICIADA PORTADORA DE
ANTECEDENTES CRIMINAIS. RES FURTIVAE AVALIADA EM R$ 37,98. NÃO-PREENCHIMENTO DOS
CRITÉRIOS EXIGIDOS PELOS TRIBUNAIS SUPERIORES PARA RECONHECIMENTO DA INFRAÇÃO
BAGATELAR. OFERECIMENTO DE DENÚNCIA QUE SE IMPÕE.
Apurou-se nos autos que a indiciada ingressou no supermercado e subtraiu, para si, dois frascos de
desodorante, avaliados em R$ 37,98 (trinta e sete reais e noventa e oito centavos). A agente os colocou
dentro de uma sacola e saiu do local, sem passar pelos caixas e efetuar o devido pagamento,
consumando-se a infração (segundo entendimento acolhido pela jurisprudência atualmente majoritária –
vide STJ, REsp 1524450/RJ, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, 3.ª SEÇÃO, julgado em 14/10/2015, DJe de
29/10/2015: “Consuma-se o crime de furto com a posse de fato da
res furtiva, ainda que por breve espaço de tempo e seguida de perseguição ao agente, sendo
prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada”). Sua ação foi acompanhada por um funcionário do
supermercado, que a deteve e acionou a Polícia Militar.
O reconhecimento da infração bagatelar, no entender desta Procuradoria-Geral de Justiça e sempre
respeitado o princípio da independência funcional, deve ser pautado pela verificação dos vetores exigidos
pelos tribunais superiores para sua incidência. Assim, de acordo com a Suprema Corte, a aplicação do
princípio da insignificância exige: (i) a ausência de periculosidade social; (ii) a reduzidíssima
reprovabilidade do ato; (iii) a mínima ofensividade; (iv) a ínfima lesão jurídica.
Quanto ao primeiro vetor, o que se tem em mente é a repercussão, no plano social, da conduta delituosa.
Nessa medida, não se tem admitido, salvo em raríssimas exceções, premiar com a insignificância sujeitos
que reiteradamente praticam infrações penais. Essa postura leniente, na visão da jurisprudência
dominante, tenderia a colocar em perigo a sociedade, porque resultaria até mesmo num incentivo implícito
a que o agente voltasse a repetir atos semelhantes.
O segundo vetor diz respeito à análise da gravidade concreta do fato perpetrado, não se admitindo
considerar irrelevantes penais – via de regra e, ad exemplum, delitos qualificados.
Quanto à terceira diretriz, cuida-se de aquilatar qual foi o bem jurídico maculado. Se o patrimônio, pode,
a princípio, admitir eventual bagatela, outros valores como o meio ambiente, a saúde pública ou a
Administração Pública (a princípio), não podem.
Há, por fim, o quarto vetor, relativo à intensidade da afetação do bem jurídico. Só há atipicidade material
quando tal lesão ou perigo forem de tal forma inexpressivos que não põem em risco a incolumidade do
bem. Pode-se citar, a título de ilustração, o entendimento atual do STJ no sentido de impedir o
reconhecimento da insignificância quando o valor do bem jurídico ultrapassa a 10% (dez por cento) do
salário mínimo vigente ao tempo do fato. Esses vetores, insista-se, devem ser analisados em conjunto.
No caso em tela, embora se cuide de furto simples consumado e a res furtivae tenha sido avaliada em R$
37,98 (trinta e sete reais e noventa e oito centavos), a indiciada apresenta diversas passagens criminais,
repelindo a aplicação do princípio multicitado. Consta em sua folha de antecedentes duas condenações
penais por tráfico de drogas, além de um inquérito policial por furto tentado. Além disso, é relevante
destacar que a increpada, por ocasião da prática delitiva, cumpria medida. Solução: designa-se outro
promotor de justiça para oferecer denúncia e prosseguir nos ulteriores termos da ação penal.

MP 34.208/17
Autos n.º 0002033-17.2017.8.26.0050 – MM. Juízo do DIPO 4 (Comarca da Capital)
Vítima: (...)
Assunto: indeferimento do pedido de arquivamento do inquérito policial para prosseguimento de diligência
EMENTA: CPP, ART. 28. ROUBO QUALIFICADO (CP, ART. 157, §3.º, 1.ª PARTE). PEDIDO DE
ARQUIVAMENTO FUNDADO NA FALTA DE ESCLARECIMENTO DA AUTORIA DELITIVA. VÍTIMAS
QUE DESCREVERAM PORMENORIZADAMENTE O AUTOR. AUSÊNCIA DE TENTATIVA DE
RECONHECIMENTO FOTOGRÁFICO EM ACERVO POLICIAL. INEXISTÊNCIA, NOS AUTOS, DE
EXAME DE CORPO DE DELITO. DILIGÊNCIAS IMPRESCINDÍVEIS.
Segundo apurado, um indivíduo não identificado ingressou em um salão de beleza e, mediante grave
ameaça exercida com emprego de arma de fogo, anunciou o roubo e ordenou à vítima que entregasse o
aparelho de telefone celular que tinha às mãos.
Como a ofendida não atendeu a ordem, o agente apontou a arma em sua direção, momento em que a
genitora dela, para defendê-la, colocou-se em sua frente, sendo que o autor acabou efetuando um disparo
que atingiu o fêmur desta, provocando fratura óssea exposta, evadindo-se em seguida sem nada subtrair.
O procedimento investigatório, como bem ponderou o Douto Promotor de Justiça, carece de elementos
informativos aptos ao oferecimento da denúncia, dada a falta de esclarecimento da autoria delitiva.
Ocorre, entretanto, que existem providências concretas tendentes ao esclarecimento do ocorrido ainda
não efetuadas. De notar que consta dos autos que as vítimas descreveram pormenorizadamente as
características do agente. Não se intentou, porém, a realização de reconhecimento fotográfico em acervo
da delegacia, ou em acervo central, afigurando-se esta diligência como necessária e potencialmente apta
a elucidar a autoria delitiva.
Necessário, outrossim, venha aos autos exame de corpo de delito na vítima alvejada, a fim de aquilatar
pericialmente a natureza da lesão por ela sofrida. Acaso não tenha comparecido ao IML, deverá a prova
ser obtida por meio de exame indireto, a ser realizado com base na ficha clínica de atendimento hospitalar.
Solução: designa-se outro promotor de justiça para oficiar nos autos, requisitando as diligências acima
citadas, sem prejuízo de outras que julgar pertinentes, cumprindo-lhe, ao final, manifestar-se com absoluta
independência funcional.

MP 26.544/17
Autos n.º 0000341-29.2016.8.26.0628 – MM. Juízo da 4.ª Vara da Comarca de Itapecerica da Serra
Réus: (...)
Assunto: recusa de aditamento da denúncia por ocasião do encerramento da instrução criminal (CPP, art.
384, §1.º)
EMENTA: CPP, ART. 384, §1.º. “MUTATIO LIBELLI”. RECUSA QUANTO AO ADITAMENTO DA
DENÚNCIA. CONTROVÉRSIA RELATIVA AO ENQUADRAMENTO LEGAL DOS FATOS (LESÃO
CORPORAL E CÁRCERE PRIVADO QUALIFICADO OU TENTATIVA DE HOMICÍDIO QUALIFICADO).
AUSÊNCIA DE INÍCIO DE EXECUÇÃO DE CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA. MANUTENÇÃO DA
EXORDIAL.
A questão fundamental reside em saber se o comportamento atribuído ao agente configura crime de lesão
corporal (CP, art. 129, caput) e cárcere privado qualificado pelo resultado (CP, art. 148, §2.º) ou tentativa
de homicídio qualificado (CP, art. 121, c.c. art. 14, inc. II). O elemento subjetivo do injusto, embora difícil
de ser determinado, pode ser encontrado por meio de dados empíricos objetivamente apurados no
procedimento investigatório. O autor da conduta, no mais das vezes, não o verbaliza, limitando-se a
praticar seu comportamento em busca de um desiderato enclausurado em sua psique. A falta de
comunicação a terceiros do opróbrio motivador do delito, todavia, não impede aferir-se qual sua meta
optata, notadamente quando se avalia, no contexto dos fatos e mediante o cotejo das provas colhidas, a
maneira como se portou diante da cena criminosa.
No caso em tela, há que se examinar se os agentes, quando arrebataram o ofendido e o privaram de sua
liberdade, a fim de “julgá-lo” por suposto estupro de vulnerável cometido, além do cárcere privado
qualificado, deram início à execução de um homicídio, o qual não teria se consumado por circunstâncias
alheias à sua vontade (já que a vítima conseguiu escapar do cativeiro). A resposta parece negativa. A
prova colhida durante a instrução processual revelou que os acusados privaram a liberdade do ofendido
e o mantinham em cárcere privado até que sobreviesse deliberação de parte de seus “superiores” acerca
do destino da vítima. Não havia, portanto, até o instante em que o sujeito passivo logrou fugir do local em
que se encontrava detido, decisão a respeito do desfecho a ser dado. Conforme declararam os policiais
auscultados neste processo, a vítima estaria sujeita a três possíveis destinos: ser absolvida (hipótese na
qual não sofreria outro crime), ser condenada a algum tipo de lesão grave ou tortura e, por fim, ser morta.
Parece-nos, desta feita, pelos elementos amealhados, que, até o momento em que a vítima conseguiu
fugir do cativeiro, o dolo na conduta dos agentes foi apenas o de mantê-la em cárcere privado e de lesioná-
la. Não houve, de fato, início de execução do delito contra a vida, com cessação do iter criminis
involuntária, para que o ato consubstanciasse tentativa de homicídio.
Conclusão: insiste-se na imputação inicial, deixando-se de designar outro promotor de justiça para oficiar
nos autos.

MP 26.223/17
Autos n.º 0019954-33.2016.8.26.0564 – MM. Juízo da 1.ª Vara Criminal da Comarca de São Bernardo do
Campo
Autora do fato: (...)
Assunto: revisão de arquivamento de termo circunstanciado
EMENTA: CPP, ART. 28. CONTRAVENÇÃO PENAL. EXPLORAÇÃO DE JOGO DE AZAR. MÁQUINAS
CAÇA-NÍQUEIS LOCALIZADAS EM ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL. EQUIPAMENTOS
DESLIGADOS NO INSTANTE DA APREENSÃO. IRRELEVÂNCIA. LAUDO QUE CONFIRMOU TRATAR-
SE DE OBJETOS DESTINADOS À PRÁTICA ILÍCITA. PERÍCIA QUE REVELA, AINDA, EXISTIR
NUMERÁRIO NO INTERIOR DAS MÁQUINAS, DENOTANDO SEU USO PRETÉRITO.
ARQUIVAMENTO NÃO CONFIRMADO.
A infração penal objeto deste procedimento inquisitivo dá-se com a exploração do jogo de azar, sendo
desnecessário que, no instante da apreensão, encontrem-se as máquinas ligadas e em efetivo uso.
Em casos análogos, o Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo já reconheceu a existência do ilícito penal,
como se pode verificar nas Apelações n° 0006726-95.2010.8.25.0565 (9.ª Câmara de Direito Criminal) e
nº 0014567-44.2010.8.26.0565 (14.ª Câmara de Direito Criminal). Vide, ainda, entendimento do Egrégio
Superior Tribunal de Justiça (HC 54.803/RS, Rel. Ministro GILSON DIPP, 5.ª TURMA, julgado em
06/06/2006, DJ de 01/08/2006, p. 492).
O arquivamento não pode prosperar. Não se trata de elaborar um juízo definitivo de censura, mas tão
somente de reconhecer a presença do mínimo indispensável para a formulação da persecutio criminis in
judicio.
Solução: designa-se outro promotor de justiça para analisar o cabimento da transação penal ou o
oferecimento de denúncia.

MP 26.026/17
Autos n.º 0004575-33.2016.8.26.0635 – MM. Juízo do DIPO 4 (Comarca da Capital)
Assunto: revisão de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. VIOLAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS. VENDA OU EXPOSIÇÃO À VENDA DE
MÍDIAS CONTRAFEITAS. FATO FORMAL E MATERIALMENTE TÍPICO. ÂNIMO DE LUCRO
SUFICIENTEMENTE COMPROVADO. PERÍCIA EFETUADA POR AMOSTRAGEM. PROVA DA
MATERIALIDADE E INDÍCIOS DE AUTORIA. OFERECIMENTO DE DENÚNCIA QUE SE IMPÕE.
SÚMULAS 502 E 574 DO STJ.
O comportamento delitivo praticado pelo increpado, além de formal e materialmente típico, encontra-se
indiciariamente caracterizado nos autos. Com efeito, ficou fora de dúvidas ter sido ele surpreendido por
policiais civis expondo à venda excessiva quantidade de “CD’s” contrafeitos.
O propósito de comercialização igualmente resultou demonstrado, em decorrência das seguras
declarações dos servidores responsáveis pela diligência.
Os argumentos expostos no sentido da natureza grosseira da falsificação, da ausência de perícia em
todos os objetos apreendidos e da falta de indicação dos titulares dos direitos autorais violados não podem
ser acolhidos.
A relevância penal do ato foi reconhecida na Súmula n.º 502 do STJ: “Presentes a materialidade e a
autoria, afigura-se típica, em relação ao crime previsto no art. 184, § 2º, do CP, a conduta de expor à
venda CDs e DVDs piratas”.
Sobre a desnecessidade de exame em todas as mídias apreendidas e identificação dos titulares dos
direitos autorais violados, há a Súmula n.º 574 do STJ: “Para a configuração do delito de violação de
direito autoral e a comprovação de sua materialidade, é suficiente a perícia realizada por amostragem do
produto apreendido, nos aspectos externos do material, e é desnecessária a identificação dos titulares
dos direitos autorais violados ou daqueles que os representem”.
O argumento de que se cuida de falsidade grosseira, por fim, não pode ser aceito, pois não se trata de
crime contra a fé pública e por que os eventuais adquirentes têm ciência da origem espúria do material.
Solução: designa-se outro promotor de justiça para oficiar na causa e oferecer denúncia, devendo nela
prosseguir em seus ulteriores termos.
MP 23.035/17
Autos n.º 0016730-73.2011.8.26.0302 – MM. Juízo da 1.ª Vara Criminal da Comarca de Jaú
Assunto: recusa de aditamento da denúncia por ocasião do encerramento da instrução criminal (CPP, art.
384, §1.º)
EMENTA: CPP, ART. 384, §1.º. “MUTATIO LIBELLI”. RECUSA QUANTO AO ADITAMENTO DA
DENÚNCIA. CONTROVÉRSIA RELATIVA AO ENQUADRAMENTO LEGAL DOS FATOS (LESÃO
CORPORAL GRAVE OU TENTATIVA DE HOMICÍDIO). DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA (CP, ART. 15).
INOCORRÊNCIA. ADITAMENTO DA EXORDIAL QUE SE RECOMENDA.
A questão subjacente reside em estabelecer se o comportamento atribuído ao réu configura crime de
lesão corporal grave (CP, art. 129, §1.º, II) ou tentativa de homicídio (CP, art. 121, c.c. art. 14, II). O
elemento subjetivo do injusto, embora difícil de ser determinado, pode ser encontrado por meio de outros
elementos. O autor da conduta, no mais das vezes, não o verbaliza, limitando-se a praticar seu
comportamento em busca de um desiderato enclausurado em sua psique. A falta de comunicação a
terceiros do opróbrio motivador do delito, todavia, não impede aferir-se qual sua meta optata, notadamente
quando se avalia, no contexto dos fatos e mediante o cotejo das provas colhidas, a maneira como se
portou diante da cena criminosa.
No caso em tela, o acusado, conforme resultou amplamente demonstrado, colheu o ofendido com um
facão, golpeando-o violentamente na cabeça, a ponto de provocar, segundo narrativa das testemunhas
auscultadas em juízo, uma abertura em sua cabeça (“tampa”). De seu ato pode-se supor, ao menos, o
dolo eventual, isto é, o fato de que ele, com seu modo de agir, assumiu o risco de produzir a morte da
vítima. Além disso, as mesmas testemunhas afirmaram que o agente somente não desferiu outros golpes
porque o ofendido desmaiou e o réu supôs que ele havia falecido.
Parece-nos, desta feita, que a cessação do iter criminis foi involuntária, isto é, o ato consubstancia
tentativa de homicídio. Dessa forma, em que pesem as judiciosas ponderações do competente Promotor
do Júri, parece-nos que não cabe falar, na hipótese vertente, em desistência voluntária ou arrependimento
eficaz (CP, art. 15).
Conclusão: designa-se outro promotor de justiça para oferecer o aditamento à denúncia, cumprindo-lhe
oficiar na causa até sua conclusão final.

MP 21.159/17
Autos n.º 0005447-91.2016.8.26.0168 – MM. Juízo da Vara do Juizado Especial Cível e Criminal da
Comarca de Dracena
Assunto: revisão de pedido de arquivamento de inquérito policial
EMENTA: CPP, ART. 28. CONTRAVENÇÃO PENAL. EXPLORAÇÃO DE JOGO DE AZAR. “JOGO DO
BICHO”. ARQUIVAMENTO FUNDADO NA INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI DE CONTRAVENÇÕES
PENAIS. FATO FORMAL E MATERIALMENTE TÍPICO. INTERVENÇÃO ESTATAL LEGÍTIMA.
CONDUTA PENALMENTE RELEVANTE. ARQUIVAMENTO DESCABIDO.
Deve-se ressaltar, logo de início, que a Lei de Contravenções Penais encontra-se em pleno vigor e, a
despeito de possíveis desconformidades ou excessos que ela possa conter, não se pode, em bloco,
considerá-la inapta a tutelar bens juridicamente relevantes.
De se enfatizar que referido Diploma Legislativo foi recepcionado pela Carta de 1988, conforme sólida
jurisprudência firmada.
De outra parte, é de se ver que nosso ordenamento jurídico não permite que a lei seja revogada pelos
costumes.
Quanto ao tipo contravencional em questão, nossos Tribunais reconhecem, de forma reiterada, que a
exploração de “jogo do bicho”, definida no artigo 58, da Lei das Contravenções Penais, constitui
efetivamente atividade ilícita (STJ – RESP 215.153/SP, Relator Min. JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, DJ
de 11/06/2001).
Solução: designa-se outro promotor de justiça para analisar o cabimento da transação penal ou o
oferecimento de denúncia.

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