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SEEU - Processo: 4400036-02.2023.8.13.0280 - Assinado digitalmente por FABIOLA KARINE NOGUEIRA TEAGO - ***.***.

756-43
[51.1] JUNTADA DE PETIÇÃO DE INCIDENTE DE EXECUÇÃO PENAL - Outros em 01/12/2023

Apelação Criminal Nº 1.0000.23.127124-8/001

<CABBCAADDAABCCBDCAABACABDCBAADBACBCAADDADAAAD>

Validação em https://seeu.pje.jus.br/seeu/ - Identificador: PJSKU ZLRF7 7NNAE X228B


Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006.
EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL – TRÁFICO PRIVILEGIADO – PENA –
RECONHECIMENTO DO PRIVILÉGIO PREVISTO NO § 4º, DO ARTIGO 33,
LEI 11.343/06 - POSSIBILIDADE – DEDICAÇÃO DO RÉU À ATIVIDADE
CRIMINOSA NÃO COMPROVADA – PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS
LEGAIS PERTINENTES.
- Sendo o réu primário e portador de bons antecedentes e não havendo
elementos aptos a demonstrar, com segurança, a sua dedicação a
atividades criminosas ou que integre organização criminosa, impõe-se o
reconhecimento da incidência da causa de diminuição de pena prevista
no § 4º, do artigo 33, da Lei 11.343/06.
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 1.0000.23.127124-8/001 - COMARCA DE GUANHÃES - APELANTE(S): HIAGO HENRIQUE
FERREIRA PINHO - APELADO(A)(S): MINISTÉRIO PÚBLICO - MPMG

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 2ª CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da
ata dos julgamentos, em dar provimento ao recurso. Alvará de soltura

DESA. BEATRIZ PINHEIRO CAIRES


RELATORA

Fl. 1/6
SEEU - Processo: 4400036-02.2023.8.13.0280 - Assinado digitalmente por FABIOLA KARINE NOGUEIRA TEAGO - ***.***.756-43
[51.1] JUNTADA DE PETIÇÃO DE INCIDENTE DE EXECUÇÃO PENAL - Outros em 01/12/2023

Apelação Criminal Nº 1.0000.23.127124-8/001

Validação em https://seeu.pje.jus.br/seeu/ - Identificador: PJSKU ZLRF7 7NNAE X228B


DESA. BEATRIZ PINHEIRO CAIRES (RELATORA)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006.


VOTO

Através da respeitável sentença anexada ao documento de


ordem nº 49, Hiago H.F.P. viu-se condenado como incurso no artigo
33, c/c artigo 40, IV, ambos da Lei 11.343/06, recebendo a pena de 07
anos e 06 meses de reclusão, a ser cumprida em regime semiaberto,
mais a de pagamento de 750 dias-multa. Segundo a acusação, em 29
de dezembro de 2022, por volta de 06h, na residência situada à
avenida Governador Milton Campos, em Guanhães, o denunciado
tinha em depósito, para fins mercantis, 03 buchas, 05 plantas de
maconha e uma pedra de crack, além de possuir uma pistola Taurus,
calibre 38, carregada com 12 munições, sem autorização e em
desacordo com determinação legal ou regulamentar.
Inconformado, apelou o sentenciado, visando o reconhecimento
da incidência da causa de diminuição de pena prevista no § 4º, da Lei
11.343/06, alegando preencher os requisitos legais pertinentes. Pugna,
ainda, pelo deferimento dod direito de aguardar em liberdade o
julgamento do recurso.
Contrariado o recurso, subiram os autos e, nesta instância, a
douta Procuradoria de Justiça opinou no sentido de seu
desprovimento.
É o relatório resumido.
Conheço do recurso, presentes os requisitos legais de
admissibilidade.
Inicialmente cumpre reconhecer que encontra-se prejudicado o
pedido do sentenciado para aguardar em liberdade o julgamento do
apelo, diante do julgamento que ora se faz.
Feita a observação, passo ao exame do recurso.

Fl. 2/6
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Sobejamente comprovadas autoria e materialidade delitivas,

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insurge-se o apelante apenas contra o não reconhecimento da

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incidência da causa de diminuição de pena prevista no § 4º, do artigo
33, da Lei 11.343/06.
E, nestes estreitos limites, razão lhe assiste.
Como cediço, para a concessão do benefício previsto no § 4º,
do artigo 33, da Lei 11.343/06, o acusado deve ser primário, portador
de bons antecedentes, não integrar organização criminosa e nem se
dedicar a prática de atividades criminosas.
Na espécie, constata-se que o réu é primário, portador de bons
antecedentes, tendo a causa de diminuição de pena em questão sido
indeferida por entender o douto sentenciante que ele se dedica a
atividades criminosas e integra organização destinada a esse fim.
Consta da decisão recorrida:

Registre-se que a arma de fogo apreendida com o acusado, além


de plenamente municiada constitui de alto poder lesivo,
considerando suas características (pistola semiautomática calibre
.380), além de que é registrada em nome de terceiro, tendo sido
objeto de recente furto na residência do seu proprietário, na
cidade vizinha de Sabinópolis/MG (id 9711165618, sequencial
16-22), para o que o acusado sequer deu qualquer explicação,
indicando, de fato, seu envolvimento com a prática de outros
crimes, mormente uma organização criminosa que vem se
instalando na Comarca de Guanhães, voltada para o domínio de
território do tráfico de drogas.
Noutra banda, inaplicável no caso em tela a causa de diminuição
de pena (privilégio) prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº
11.343/2006, uma vez que o acusado, além da variedade de
drogas apreendidas (cocaína, maconha em barra e plantão), o
acusado ainda tinha sob sua posse arma de fogo municiada,
objeto de furto em outra cidade, a qual se destinava a proteção
do réu, envolvido em facção criminosa que está em guerra com
outro grupo, que visa dominar o tráfico de drogas na região,
consoante relatório circunstanciado de investigação já
mencionado em alhures.
Desta feita, não se tratando da prática de tráfico ocasional,
inaplicável a figura do tráfico privilegiado (f. 15, documento de
ordem nº 15).

Ouso divergir do ilustre sentenciante.

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A meu sentir, não houve comprovação nos autos de que o réu

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integre organização criminosa e nem de sua dedicação a práticas

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criminosas.
Apesar de constar do relatório circunstanciado de investigações
que o apelante encontra-se envolvido com a prática da mercancia
ilícita, vez que na sua residência funcionaria uma “boca de fumo”, tal
afirmação não restou claramente comprovada, cumprindo ressaltar que
o referido relatório foi produzido no curso de investigação pertinente a
crime diverso (art. 121, CP) do que é apurado nos presentes autos.
A dedicação do réu à atividade criminosa deve restar
suficientemente comprovada nos autos, por meio de elementos
probatórios concretos, não podendo ser reconhecida com fundamento
apenas em relatório de investigações realizadas pela Policia Civil, sem
que outros elementos de prova a corroborem.
Se nem mesmo a existência de inquéritos policiais e ações
penais em curso podem afastar a incidência do § 4º, do artigo 33, da
Lei 11.343/06, conforme pacificado pela Terceira Seção do Superior
Tribunal de Justiça, em julgamento de recursos especiais repetitivos
(Tema 1.139), o que dirá um mero relatório, não reforçado por outros
elementos de convicção seguros.
Cumpre ressaltar que o réu foi preso em flagrante por guardar
em residência quantidade inexpressiva de drogas, sendo 03 buchas
(27,96g) e 05 plantas de maconha, além de uma pedra de “crack”
(2,95g).
Na oportunidade não houve apreensão de balança de precisão,
anotações de nomes seguidos de valores e nem de materiais
destinados à preparação de drogas.
A circunstância de o apelante estar portando arma de fogo não é
de molde a comprovar sua dedicação à atividade criminosa do tráfico
ou que ele integre organização criminosa.

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Portanto, sendo o réu primário, portador de bons antecedentes e

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não havendo elementos aptos a demonstrar, com segurança, a sua

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dedicação a atividades criminosas ou que pertença a organização
destinada a tal fim, impõe-se o reconhecimento da incidência da causa
de diminuição de pena prevista no § 4º, do artigo 33, da Lei 11.343/06.
Passo à reestruturação da pena.
Como se depreende da sentença questionada, na primeira fase
dos cálculos dosimétricos a pena-base foi fixada no patamar mínimo
previsto, ou seja, 05 anos e 500 dias-multa, quantum que foi mantido
na segunda fase, diante da inexistência de circunstâncias agravantes
ou atenuantes.
Sobre este montante, na terceira fase, por força da minorante
ora reconhecida, reduzo a pena de metade, alcançando a pena
provisória de 02 anos e 06 meses e 250 dias-multa, a qual se aumenta
de metade, ou o correspondente a 01 ano, 03 meses e 125 dias-multa,
por força da majorante prevista no § 4º, do artigo 33, da Lei 11.343/06,
concretizando a sanção em 03 anos, 09 meses e 375 dias-multa.
Esclareço que a escolha da fração intermediária decorreu da
variedade de drogas e da qualidade de uma delas.
Considerando a quantidade de pena e as circunstâncias judiciais
favoráveis, estabeleço o regime aberto para o seu respectivo
cumprimento.
Presentes os requisitos legais, substituo a pena privativa de
liberdade do réu por duas restritivas de direitos, consistentes em
prestação de serviços à comunidade à razão de uma hora de tarefa por
dia de condenação, observada a detração, além da prestação
pecuniária no valor de 01 salário mínimo, encarregando o Juízo de
origem de determinar a entidade beneficiária.
Pelo exposto, dou provimento ao recurso para reconhecer a
incidência da causa de diminuição de pena prevista no § 4º, do artigo

Fl. 5/6
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33, da Lei 11.343/06, reduzir a reprimenda aplicada, impor o regime

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prisional aberto e substituir a pena privativa de liberdade por restritiva

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de direitos, nos moldes consignados neste voto.
Expeça-se alvará de soltura.
Custas, na forma da lei.

LVARÁ DE SOLTURA

DES. NELSON MISSIAS DE MORAIS (REVISOR) - De acordo com o(a)


Relator(a).

DES. MATHEUS CHAVES JARDIM - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "DERAM PROVIMENTO AO RECURSO."

Fl. 6/6

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