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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS

Vara de Meio Ambiente, Desenvolvimento Urbano e Fundiário do DF


SAM, sala 03, térreo, Setores Complementares, BRASÍLIA - DF - CEP: 70620-000
Horário de atendimento: 12:00 às 19:00

Número do processo: 0703247-24.2020.8.07.0018

Classe judicial: TUTELA ANTECIPADA ANTECEDENTE (12135)

Assunto: Liminar (9196)

Requerente: OBRAS SOCIAIS DA ORDEM ESPIRITUALISTA CRISTA

Requerido: DISTRITO FEDERAL e outros

DECISÃO INTERLOCUTÓRIA

Trata-se de TUTELA DE URGÊNCIA ANTECEDENTE ajuizada por OBRAS SOCIAIS DA


ORDEM ESPIRITUALISTA CRISTÃ - OSOEC (“VALE DO AMANHECER”) em face do
DISTRITO FEDERAL, COMPANHIA IMOBILIÁRIA DE BRASÍLIA – TERRACAP e C. Q. O. –
CONSTRUTORA QUEIRÓZ OLIVEIRA LIMITADA – EPP.

Em síntese, a autora informa que sempre defendeu a instalação de uma Unidade Básica de Saúde - UBS
no território em que suas atividades são desenvolvidas. Disse que, inclusive, ofereceu ao Governo do
Distrito Federal dois locais em que essa unidade poderia ser instalada.

Informa que o Distrito Federal, a Terracap e a ré C.Q.O. iniciaram a instalação de uma UBS no território,
entretanto em um local absolutamente inconveniente, destruindo campos de futebol, pista de skate e
inclusive um palco de apresentações teatrais e musicais.

Na inicial, a autora destacou também que a obra destruiria o Portal do Vale do Amanhecer, monumento
religioso de extrema importância para os fiéis.

Pediu liminar para que essa obra fosse suspensa até o devido esclarecimento dos fatos.

De início, este Juízo, embora tenha reconhecido expressamente que a probabilidade do direito da autora
não estava tão evidente no momento da propositura desta ação, deferiu, por cautela, a liminar pleiteada,
levando em conta principalmente as informações prestadas pela autora de que a construção da UBS
destruiria monumentos religiosos antigos e de extrema importância para os seguidores da religião.

Assim, com esse receio e visando a manter o estado de coisas até que os fatos estivessem esclarecidos, a
liminar foi concedida e as partes intimadas a se manifestarem, com a orientação expressa ao cartório para
que, depois de formado o contraditório, os autos voltassem à conclusão para ratificação ou reconsideração
da decisão.

Todas as partes rés se manifestaram, defendendo a regularidade da obra e destacando que ela não
destruiria o Portal do Vale do Amanhecer.

Número do documento: 20052218002078500000060719141


https://pje.tjdft.jus.br:443/consultapublica/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=20052218002078500000060719141
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A Procuradoria do Distrito Federal, valendo-se de sua prerrogativa prevista no inciso VIII do art. 7º da
Lei nº 8.906/94, solicitou um horário para ser atendido por este magistrado.

Essa solicitação foi atendida e, conforme certidão de Id. 63367676, este Juízo deu conhecimento às partes
possivelmente interessadas para que, se quisessem, participassem da reunião.

A reunião ocorreu de forma online, por videoconferência, com ampla participação das partes, de seus
advogados e do Ministério Público, representado por duas promotorias.

Novas manifestações da autora foram apresentadas e, ao final, o Ministério Público deu seu parecer de Id.
63728238.

É o relatório.

Passo a decidir sobre a tutela de urgência, de forma definitiva nesta primeira instância.

Como se sabe, a concessão de tutelas de urgência está condicionada à presença cumulativa de dois
requisitos, quais sejam (1) a probabilidade do direito; e (2) o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo. É o que exige o art. 300 do Código de Processo Civil.

No caso dos autos, depois do contraditório formado e de todos os documentos que me foram
apresentados, não vislumbro a presença de nenhum dos dois requisitos, razão pela qual a revogação da
tutela de urgência é medida que se impõe.

Quanto à probabilidade do direito, a autora não conseguiu se desincumbir do seu ônus. Isso porque,
pelo que está demonstrado nos autos, o terreno onde se está construindo a Unidade Básica de Saúde –
UBS é um terreno público, de modo que cabe à Administração Pública, no desempenho da sua função
típica administrativa, dar a destinação que, na sua avaliação política, for a mais adequada.

Assim, não cabe ao particular nem ao Poder Judiciário estabelecer o local onde serão prestados os
serviços públicos (principalmente aqueles essenciais, como é o caso dos serviços de saúde).

Neste ponto, vale destacar que, quanto à possibilidade de se construir a UBS em local próximo que
atenderia aos anseios de todas as partes, não cabe ao Poder Judiciário fazer esse controle. Trata-se de
questão política que na Política deve ser resolvida. Afinal, a definição de qual terreno público será
utilizado para a instalação da UBS é questão de mérito administrativo, que se define de acordo com a
conveniência e oportunidade da Administração Pública e não é passível de controle pelo Poder Judiciário.

O fato é que, se não houver nenhuma ilegalidade (e, no caso dos autos, não vislumbro nenhuma, ao menos
neste momento de cognição sumária), a decisão da Administração Pública é soberana e deve ser
respeitada, sob pena de violação à necessária harmonia entre os Poderes da República, prevista no art. 2º
da Constituição da República.

Importante destacar que o Poder Judiciário, em diversos precedentes, vem se posicionando no sentido de
que ocupações de imóveis públicos não se consolidam com o decurso do tempo.

Com esse entendimento, este Egrégio Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios – TJDFT já
autorizou inúmeras demolições de residências e, inclusive, de templos religiosos.

Nesse sentido todos os seguintes precedentes: Acórdão 1165768, 00297211520168070018, Relator:


JOÃO EGMONT, 2ª Turma Cível, data de julgamento: 10/4/2019, publicado no DJE: 24/4/2019. Pág.:
Sem Página Cadastrada; Acórdão 1010135, 20160020474893AGI, Relator: VERA ANDRIGHI, 6ª
TURMA CÍVEL, data de julgamento: 5/4/2017, publicado no DJE: 18/4/2017. Pág.: 357/420; Acórdão
1206977, 07133300720178070018, Relator: JOSAPHA FRANCISCO DOS SANTOS, 5ª Turma Cível,
data de julgamento: 2/10/2019, publicado no DJE: 17/10/2019. Pág.: Sem Página Cadastrada.

Número do documento: 20052218002078500000060719141


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Ou seja, pelos precedentes acima citados, nota-se que o Poder Judiciário é constantemente provocado para
se manifestar sobre questões fundiárias que envolvem direitos fundamentais, e reiteradamente vem
decidindo em favor da Administração Pública.

O direito da autora ao respeito às suas crenças sem dúvida é importante e deve ser respeitado. Entretanto,
assim como todo direito fundamental (inclusive os direitos à liberdade e à vida), não é absoluto. Ele não
está acima de outros direitos fundamentais igualmente importantes, como, por exemplo, a moradia, que
constantemente é impactada com demolições promovidas pelo Governo do Distrito Federal.

E, por uma questão de isonomia, se o Poder Judiciário permite a demolição de residências simplesmente
por terem sido construídas em área pública sem a devida autorização, não é razoável que embargue a
construção de uma Unidade Básica de Saúde – UBS que sequer vai destruir nenhum monumento religioso
físico da autora (como se verá adiante).

Não se desconhece o fato de que a construção da UBS poderá causar algum embaraço às festividades e
aos relevantes ritos religiosos da autora. Entretanto, mais uma vez invoco um precedente deste Egrégio
Tribunal, que autorizou a demolição de templo religioso simplesmente porque estava erigido de forma
irregular em terreno público:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÕES DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE E ANULAÇÃO DE ATOS


ADMINISTRATIVOS CONSUBSTANCIADOS EM AUTOS DE EMBARGO, INTIMAÇÃO
DEMOLITÓRIA E DE DESCUMPRIMENTO DE EMBARGO. PARTES: AGEFIS, DISTRITO FEDERAL
E ENTIDADE RELIGIOSA SEM FINS LUCRATIVOS E OBJETIVOS SOCIAIS. OBRAS ILEGAIS.
IMÓVEL PÚBLICO. OCUPAÇÃO IRREGULAR. EDIFICAÇÃO ILEGAL. AUTOS DE EMBARGO E DE
DEMOLIÇÃO. NULIDADE INEXISTENTE. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. PROPRIEDADE
EVIDENCIADA. POSSE INDIRETA. IMPERATIVO LEGAL. POSSE. ASSEGURAÇÃO. ATRIBUTO
INERENTE AO DOMÍNIO. OCUPAÇÃO. REGULARIZAÇÃO. PREENCHIMENTO DOS
PRESSUPOSTOS LEGAIS (LC/DF Nº 806/2009). AUSÊNCIA. PROTEÇÃO POSSESSÓRIA.
CONCESSÃO AO ENTE PÚBLICO. LIMINAR. INDEFERIMENTO. RECURSO DA PARTE
ESBULHADORA. DESPROVIMENTO. PRETENSÃO ANTECIPATÓRIA PREJUDICADA.
GRATUIDADE DE JUSTIÇA. POSTULAÇÃO. PREPARO. RECOLHIMENTO. ATO INCOMPATÍVEL
COM A BENESSE. CERCEAMENTO DE DEFESA. DOCUMENTO. APRESENTAÇÃO ANTES DA
SENTENÇA. DESCONSIDERAÇÃO. INFORMAÇÃO JÁ CONSTANTE DOS AUTOS. NOTÍCIA
ANALISADA. PREJUÍZO INEXISTENTE. NULIDADE INOCORRENTE. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS. MAJORAÇÃO DA VERBA ORIGINALMENTE FIXADA EM
DESFAVOR DA VENCIDA. SENTENÇA E APELO FORMULADOS SOB A ÉGIDE DA NOVA
CODIFICAÇÃO PROCESSUAL CIVIL (NCPC, ART. 85, §§ 2º E 11).

1. A efetivação do preparo encerra ato incompatível com o pedido formulado pela apelante almejando
ser agraciada com gratuidade de justiça, pois denota que está em condições de suportar os custos da
demanda em que está inserida sem prejuízo para sua economia pessoal, e, ademais, a benesse, conquanto
possa ser postulada e deferida a qualquer tempo, somente pode ser concedida com efeitos ex nunc,
tornando inviável que seja postulada como forma de alforria de encargos sucumbenciais já fixados sem
nenhuma ressalva, e, em se tratando de pessoa jurídica, ainda que desprovida de objetivos lucrativos, é
condicionada à comprovação da incapacidade financeira.

2. Salvo as situações que encerram violação a regramentos de ordem pública - pressupostos processuais
e condições da ação - e implicam prejuízo a qualquer dos litigantes, não se afigura legítimo, consoante
as balizas instrumentais do processo, se afirmar nulidade processual se o vício não implicara nenhum
prejuízo aos litigantes, conforme emerge do princípio da instrumentalidade das formas, derivando dessa
apreensão que, tendo a sentença se manifestado sobre a questão versada no documento juntado a
destempo aos autos pela secretaria do juízo, conquanto não tenha se pronunciado especificamente sobre
o documento, porquanto o que reportara já constava dos autos, a omissão, não implicando prejuízo à
parte, torna inviável que seja içada como fato apto a macular o devido processo legal conduzindo à
anulação do provimento jurisdicional.

Número do documento: 20052218002078500000060719141


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3. A administração pública é municiada do poder-dever de fiscalizar as construções erigidas em áreas
urbanas, podendo embargá-las e até mesmo demolir as obras executadas em desconformidade com o
legalmente exigido sem prévia autorização judicial, não estando o detentor de imóvel público, sob a
alegação de que sua ocupação é passível de regularização, infenso à ação estatal, inviabilizando a
desqualificação da legitimidade das autuações de embargo e intimação demolitória que lhe foram
endereçadas por ter erigido obra de forma irregular e ilegal com o escopo de, elidida a atuação
administrativa, ser imunizada a obra que erigira à margem do legalmente tolerado.

4. A realização de qualquer construção em área urbana depende da obtenção de prévia autorização


administrativa por parte do interessado, resultando que, optando o particular por erigir edificação em
imóvel público irregularmente, assume o risco e os efeitos da postura que adotara, legitimando que a
administração, municiada do poder-dever de que está municiada, exercite o poder de polícia que lhe é
assegurado, promovendo sua demolição como forma de restabelecimento do estado de direito, cujas
balizas derivam certamente do direito positivado como forma de viabilização da vida em sociedade de
forma ordenada e juridicamente tutelada.

5. Conquanto situado o imóvel em local passível de parcelamento e regularização, inexistindo qualquer


procedimento volvido a esse desiderato proveniente do poder público, a invasão e detenção praticadas
pelo particular não se legitima nem a possibilidade macula os atos administrativos levados a efeito com o
único escopo de, defronte as ilegalidades, coibir as obras erigidas à margem do legalmente exigido,
devendo ser prestigiada a atuação da administração pública.

6. Conquanto constituída sob a forma de sociedade civil volvida a atividades religiosas e fins
filantrópicos, não está a entidade religiosa imune à observância do acervo material que guarnece o
estado de direito, consubstanciando esbulho a invasão de imóvel público que praticara e ilícito
administrativo a construção de acessões na área ocupada, tornando as obras passíveis de embargo e
demolição e, outrossim, imperativa a reintegração do ente público detentor do domínio na posse do
imóvel que lhe pertence como expressão do domínio que ostenta.

7. Visando o ente público beneficiado com tutela possessória a concessão de tutela provisória destinada
a viabilizar sua imediata reintegração na posse do imóvel litigioso, desprovido o recurso da parte
contrária, restando legitimado a executar a tutela possessória que obtivera, notadamente porque
eventuais recursos constitucionais por ela manejados não estarão municiados ordinariamente de efeito
suspensivo, o recurso que aviara com aquele único desiderato resta irreversivelmente prejudicado.

8. Editada a sentença e aviado o apelo sob a égide da nova codificação processual civil, o desprovimento
do recurso implica a majoração dos honorários advocatícios originalmente imputados à parte
recorrente, porquanto o novo estatuto processual contemplara o instituto dos honorários recursais,
devendo a majoração ser levada a efeito mediante ponderação dos serviços executados na fase recursal
pelos patronos da parte exitosa e guardar observância à limitação da verba honorária estabelecida para
a fase de conhecimento (NCPC, arts. 85, §§ 2º e 11).

9. Apelações conhecidas. Preliminar rejeitada. Desprovido o recurso da entidade religiosa. Prejudicado


o apelo do Distrito Federal. Honorários recursais fixados. Unânime.

(Acórdão 1040206, 20150110442442APC, Relator: TEÓFILO CAETANO, 1ª TURMA CÍVEL, data de


julgamento: 16/8/2017, publicado no DJE: 24/8/2017. Pág.: 134-157)

Ou seja, um templo religioso que foi construído sem a devida observância da legislação aplicável foi
demolido.

Mais uma vez invocando o princípio da isonomia entre os jurisdicionados: se este Tribunal admite que
um templo físico de uma igreja (dentro do qual igualmente se realizam orações e rituais religiosos)
seja demolido simplesmente porque está construído sem a devida autorização, não é razoável que se
embargue uma obra relevante para a população local porque a sua localização trará certos inconvenientes
às cerimônias religiosas da autora.

Número do documento: 20052218002078500000060719141


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Importante destacar que não se está aqui comparando a atividade da autora com uma ocupação irregular
do solo. Não é isso. O que se quer demonstrar é que, nas vezes em que o Poder Judiciário se deparou com
direitos fundamentais tão nobres quanto à liberdade religiosa sendo afetados pelos interesses do Estado no
desempenho regular da sua função administrativa, determinou, nos casos concretos, o sacrifício daqueles
direitos.

Assim sendo, não há razões para que se proíba a construção de uma UBS para evitar um incômodo ao
exercício do direito à liberdade religiosa e de culto dos fiéis do Vale do Amanhecer.

O fato é que, infelizmente, temos inúmeras demandas importantíssimas em nossa sociedade e não
conseguimos atender a todas de forma plena. Sempre será necessário certos sacrifícios (desde que o
núcleo essencial de um direito fundamental não seja atingido) para se viabilizar a prestação de outras
utilidades.

No caso dos autos, embora este magistrado reconheça que a construção causará certos incômodos aos
fiéis do Vale do Amanhecer, não se tratará de obra que eliminará por completo o exercício da liberdade
religiosa e de culto desses fiéis, não havendo razões jurídicas que justifiquem o embargo da obra.

Assim, pelas razões acima, não vislumbro a presença da probabilidade do direito da autora, o que,
por si só, inviabiliza a concessão da tutela de urgência.

Ocorre que, além da ausência da probabilidade do direito, não vislumbro também o alegado perigo de
dano.

Em primeiro lugar, porque, ao contrário do que foi alegado pela autora nestes autos, o Portal do Vale do
Amanhecer não será afetado. As imagens trazidas aos autos deixam claro que a UBS será construída com
certa distância do Portal.

Quanto ao campo de futebol, do outro lado da pista há outras duas quadras que podem ser utilizadas.
Quanto à pista de skate e o palco, podem ser reconstruídas ao lado da UBS e, ainda que não pudessem,
não é razoável que se impeça a construção de uma UBS para evitar a demolição dessas construções.

Quanto às festividades que seriam realizadas no local, a autora, ao menos neste momento de cognição
sumária, não trouxe aos autos comprovação idônea de que elas são realizadas de forma frequente no local
da obra.

Quanto aos Abatás (orações dos médiuns em conjunto), não há nos autos nenhuma evidência de que eles
se realizam exclusivamente naquela localidade. As próprias fotos trazidas pela autora indicam que os
Abatás são itinerantes e não ocorrem exclusivamente num mesmo lugar.

Assim, a construção da UBS, embora possa causar algum embaraço à realização dos Abatás, não irá
inviabilizá-los por completo. E, como já dito acima, embora todos os direitos fundamentais (dentre eles o
da liberdade religiosa) sejam de extrema importância e de observância e respeito obrigatórios pelo Estado
(status negativo de Jellinek), eles não são absolutos e podem sofrer limitações.

Dessa forma, pelas razões acima, que evidenciam neste momento a inexistência dos requisitos do art. 300
do Código de Processo Civil, a reconsideração da decisão de Id. 63244992 é medida que se impõe, razão
pela qual REVOGO A DECISÃO DE ID. 63244992 e INDEFIRO A TUTELA DE URGÊNCIA
pleiteada nestes autos.

Intime-se a autora para que, nos termos do § 6º do art. 303 do Código de Processo Civil, emende a petição
inicial, sob pena de indeferimento e extinção do processo sem resolução de mérito.

Nessa emenda, deverá a autora se atentar para o fato de que a ré C. Q. O. – CONSTRUTORA


QUEIRÓZ OLIVEIRA LIMITADA – EPP apenas cumpre os termos de um contrato
administrativo, de modo que, aparentemente, não possui qualquer poder de decisão. Assim,

Número do documento: 20052218002078500000060719141


https://pje.tjdft.jus.br:443/consultapublica/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=20052218002078500000060719141
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incluí-la no polo passivo da ação principal poderá ensejar a sua exclusão por ilegitimidade passiva
e, consequentemente, a condenação da autora a arcar com verbas sucumbenciais em relação a ela.

Publique-se. Intime-se.

Brasília/DF, em 22 de maio de 2020.

GUILHERME MARRA TOLEDO

Juiz de Direito Substituto

Número do documento: 20052218002078500000060719141


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