Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
| ARKEOS 31 |
FICHA TÉCNICA
ARKEOS é uma série monográfica, com edição de pelo menos um volume por ano,
editada pelo Centro Europeu de Investigação da Pré-História do Alto Ribatejo,
que visa a divulgação de trabalhos de investigação em curso ou finalizados, em
Pré-História, Arqueologia e Gestão do Património. A recepção de originais é feita
até 31 de Maio ou 30 de Novembro de cada ano, devendo os textos ser enviados
em suporte digital, incluindo título, resumo e palavras-chave no idioma do texto do
artigo, em inglês e em português. Os trabalhos deverão estar integrados na temática
do volume em preparação e serão submetidos ao conselho de leitores. A aprovação
ou rejeição de contribuições será comunicada no prazo de 90 dias.
CONTACTAR
CEIPHAR | Centro de Pré-História do Instituto Politécnico de Tomar
Estrada da Serra, 2300 TOMAR | PORTUGAL
e do
Tomar | 2012
Autores
Davide Delfino
Grupo “Quaternário e Pré-História” do Centro de Geociências
(uID73 F.C.T.)
Instituto Terra e Memória / Instituto Politécnico de Tomar
davidedelfino@libero.it
Dragos Gheorghiu
National University of Arts, Bucharest, Romania
gheorghiu_dragos@yahoo.com
Isabel M. Dias
Instituto Tecnológico e Nuclear, Sacavém, Portugal
isadias@itn.mcies.pt
Jayshree Mungur-Medhi
Grupo “Quaternário e Pré-História” do Centro de Geociências
(uID73 F.C.T.)
Universidade de Trás os Montes e Alto Douro
Instituto Terra e Memória, Portugal
jayshree.mm@gmail.com
João Coroado
Instituto Politécnico de Tomar, Portugal
jcoroado@ipt.pt
Luiz Oosterbeek
Grupo “Quaternário e Pré-História” do Centro de Geociências
(uID73 F.C.T.)
Instituto Politécnico de Tomar
Instituto Terra e Memória, Portugal
loost@ipt.pt
Moustapha Sall
Département d’Histoire, FLSH, Dakar, Senegal
moustaphsall@yahoo.fr
Pedro Cura
Instituto Terra e Memória, Portugal
pedro-cura@hotmail.com
Simona Scarcella
CNRS, UMR 5608 Traces, École des Hautes Études en Sciences
Sociales, France
simonas@ehess.fr
Tom O. Miller
Professor Aposentado, antigamente pesquisador do Museu
“Câmara Cascudo”, atualmente Professor Voluntário
do Departamento de Antropologia da UFRN, Brasil
tomiller@bol.com.br
Virgínia Fróis
CIEBA – Centro de investigação e de Estudos em Belas Artes
da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa / Secção
de Investigação e de Estudos em Ciências da Arte e do Património
– Francisco de Holanda / Escultura Cerâmica, Portugal
virginiafrois@gmail.com
Shaping techniques, pots forms and cultural relationships: A case study in two
63 | Gambian villages
Moustapha Sall
Tecnologia cerâmica:
o sentido de uma pesquisa
LUIZ OOSTERBEEK
JEDSON FRANCISCO CEREZER
ABSTRACT: The genesis of ceramic contexts’ studies in the region is presented, within
the models on the agro.pastoral expansion, indicating some of the current research pers-
pectives.
Referências
RESUMO: Este artigo trata de uma abordagem arqueométrica realizada sobre cerâmica
arqueológica Guarani na região central do estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Durante
as escavações do sítio RS-JC-57, sítio Wilmöth Röpke, no município de Ibarama, Rio
Grande do Sul, Brasil, A partir das análises de assinaturas químicas realizadas sobre frag-
mentos cerâmicos, buscamos estabelecer uma proposta a partir da organização social dos
índios Guaranis que permitam uma abordagem social para explicar a variedade de diferentes
tipos de componentes da pasta que remetem a distintos locais de extração de argila, uso
de antiplásticos, etc.
Introdução
O sítio arqueológico estudado encontra-se no município de Ibara-
ma, estado do Rio Grande do Sul, Brasil, na área hoje inundada pela
formação do lago da usina hidrelétrica de Dona Francisca. A localização
do sítio, em coordenadas geográficas UTM, são as seguintes:
Coordenadas do centro do sitio e extremidades, a partir de Mercator
(UTM): N = 6.740.538,112; E = 279.151,293, N = 6.740.443,634, E
= 279.045,299; N = 6.740.476,532 E = 279.152,497.
A escavação foi realizada em duas áreas contíguas, consideradas
anteriormente como dois sítios arqueológicos, os sítios RS-JC-56 e
RS-JC-57, que na verdade correspondem a uma área de ocupação e um
local de descarte de material a beira do rio Jacuí (SOARES, 2005). Para
melhor compreender, as áreas escavadas foram as seguintes:
DESENHO 1. Perfil
do local do sítio, com
a barranca do sítio à
esquerda. O croqui
original está publicado
em Schmitz, Rogge e
Arnt (2000, p. 207),
modificado por Soares
(2005, p. 40)
Cerâmica e arqueometria
Panelas
Tigelas
Talhas
Tigelas de beber
Pratos
para a abertura. Assim teremos vasilhas fundas quando suas alturas forem
maiores ou iguais a dois terços de seus diâmetros máximos, cujos índices
serão maiores ou iguais a 0,7 (de 0,66). De outro modo teremos vasilhas
rasas quando suas alturas forem menores ou iguais do que um terço de seus
diâmetros máximos, cujos índices serão menores ou iguais a 0,3 (de 0,33).
Aquelas que apresentarem índice maior do que 0,3 e menor do que 0,7 serão
de profundidade mediana. (…) Entre as ñaetá (tigelas, nota do autor) e as
ñaembé (pratos, nda) a distinção se fez pela profundidade, predominando as
medianas para as primeiras e as rasas para as segundas.
Sendo assim, a classificação em pratos ou tigelas seguiu este critério,
ou seja, da inclinação do perfil da borda em relação ao sentido horizontal
do diâmetro de boca. Mesmo assim, uma vez que se está tratando de
fragmentos de borda, registra-se a dificuldade de classificação e o escla-
recimento nos critérios aqui utilizados.
A distribuição dos artefatos no espaço e a preposição de inferências
para organização social
A distribuição dos fragmentos cerâmicos em todos os setores demons-
tra a dispersão destes ao longo de toda a área escavada (as grandes áreas em
branco nos setores V e VI devem-se à manutenção de blocos testemunho
que não foram escavados pelas equipes) (ver gráficos 01 e 02).
GRáFICO 1.
Dispersão de todos os
fragmentos cerâmicos
do setor 1.
GRáFICO 2.
Dispersão de todos os
fragmentos cerâmicos
dos setores III a VI.
GRáFICO 3.
Dispersão da
cerâmica que
encontrava-se
fragmentada e
cujas peças foram
reconstituídas nos
setores III a VI.
GRáFICO 4.
Dispersão dos
fragmentos de borda
de panelas no Setor
1. Observe-se que
todas as dimensões
estão presentes,
contribuindo para
a hipótese de uma
família nuclear.
GRáFICO 5.
Dispersão dos
fragmentos de borda
de panelas nos setores
III a VI. Nas elipses,
todas as dimensões
estão presentes,
contribuindo para
a hipótese de duas
famílias nucleares.
Conclusão
Bibliografia
ABSTRACT: The chaîne opératoire concept has the aim to study the ceramic production in
a technological perspective. In this paper I proposed to extend this concept for the study
of the decorative process too. The phases of the decorative chaîne opératoire are illustrated,
as the methodological approaches applied to their analysis.
RESUMO: O conceito de cadeia operatória tem como objetivo estudar a produção cerâmica
numa perspectiva tecnológica. Neste artigo proponho o alargamento do conceito para o
estudo do processo decorativo também. São ilustradas as fases da cadeia operatória decorativa,
bem como as abordagens metodológicas aplicadas na são análise.
I. Introduction
Description of artefacts, in particular ceramic and lithic, has always
been a considerable goal in an archaeological research because only
through the definition of their characteristics it is possible to better de-
fine social and economic factors of pre and protohistoric cultures.
Nevertheless, in the history of archaeology different approaches
have interested the study of ceramic and lithic finding. The typological
approach, based both on the classification and on grouping of similar
elements, has played an important role in the identification of cultural
boundaries, i.e. spatial and temporal limits of ancient cultures. This
approach has been largely criticized and invalidated by the post-proces-
sualist school, according to which archaeologists are not perfectly objec-
tive and then a classification could not represent a realistic description of
the past (Arnold, 1971; Chilton, 1999; Dunnel, 1978). More in general,
this debate oppose an etic outlook, as it is typology, to an emic system
of analysis that implies a remark on the cultural context to which the
artifacts belong.
Within an emic perspective, it is possible to include the chaîne opé-
ratoire concept. In the case of a pottery study, it means to consider the
artifact as the result of a technical process that depends by a series of
choices between different alternatives. These choices are linked to diffe-
rent aspects: skill and knowledge of the potter, organization of pottery
production, environmental constraints, e.g. availability of raw materials,
and practical or symbolic function of the final product (Hurcombe,
2007, 3; Lemonnier, 1986; Roux, 2003).
FIG. 1.
Principal phases of Conception of the decorative scheme
the decorative chaîre
opératoire
fi
Finishing
fi
Technique
fi
Execution
fi
Final finishing
References
ARNOLD, D. E. (1971) Ethnomineralogy of Ticul, yucatan Potters: Etics and
Emics, American Antiquity, 36, 1, 20-40.
CAMPS-FABRER, H. (1966). Matière et art mobilier dans la préhistoire nord-afri-
caine et saharienne, Arts et Métiers Graphiques, Paris.
CHILTON, E. S. (1999). One size fits all: typology and alternatives for ceramic
research, In Chilton, S. E. (ed) Material meaning: critical approaches to the interpreta-
tion of material culture, University of Utah Press, Salt lake City, 44-60.
CRESSWELL, R. (1996). Prométhée ou Pandore? Propos de technologie culturelle,
Kimé, Paris.
DUNNEL, R. C. (1978). Style and function: a fundamental dichotomy, Ameri-
can Antiquity, 43, 2, 192-202.
HURCOMBE, L. M. (2007). Archaeological artefacts as material culture, Routledge
London.
LEMONNIER, P. (1976). La description des chaînes opératoires: contribution
à l’analyse des systèmes techniques, Techniques et Culture, 1, 100-151.
LEMONNIER, P. (1986). The Study of Material Culture Today: Toward an
Anthropology of technical Systems, Journal of Anthropological Archaeology, 5, 147-
-186.
MAROIS, R. J. M. (1975). Quelques techniques de décoration de la céramique impres-
sionnée: correspondance des termes français et anglais, Musée National de l’Homme,
Collection Mercure, Commission Archéologique du Canada, n.° 40. National
Museum of Canada, Ottawa.
PURRI, R., SCARCELLA, S. (in press). Experiments and technological analy-
sis on the neolithic ceramics from Lamezia plain – Calabria, In Gheorghiu, D.,
Children, G. (eds) Experimenting the past. The position of experimental archaeology in
the archaeological paradigm of the 21st century, BAR International Series.
ROUX, V. (2003). A Dynamic Systems Framework for Studying Technological
Change: Application to the Emergence of the Potter’s Wheel in the Southern
Levant, Journal of Archaeological Method and Theory, 10, 1, 1-30.
ABSTRACT: The pottery, in the set of material culture, is the most found and available evi-
dence, thereby assuming a central role in the study and interpretation of the prehistoric and
protohistoric societies. Often this material is studied only by its typological aspect or by the
technological one. This contribution presents part of a work done in a regional scale about
Bronze Age ceramics, taking into account all available data: formal, decorative, technolo-
gical and contextual. This working model can be adopted by any research which has the
purpose of improvement the interpretation of prehistoric and protohistoric societies.
FIG. 1. A região da
Liguria na Itália do
Norte Oeste com os
sítios estudados.
1. Bric Tana;
2. Camogli;
3. Pignone; 4. Zignago;
5. S. Antonino di
Perti; 6. Bric Reseghe
Classificação tipológica:
– Na fase 1: tigelas carenadas, taças, vasos troncoconicos. Decora-
ções de bandas sulcadas horizontais e decorações de estilo “Appen-
ninico” (Fig. 2);
– Na fase 2: tigelas carenadas, taças, vasos cilíndricos e biconicos.
Decorações de estilo de tradição da fácies da Scamozzina, linhas
de sulcadoras verticais, alinhamentos horizontais de impressões
digitais ou de incisões (Fig. 3);
– Na fase 3: tigelas carenadas, taças e vasos biconicos. Decorações
de grupos de linhas sulcadas horizontais e verticais com couvinhas
por cima, sulcadoras de anéis cumpridos (Fig. 4).
FIG. 2. Zignago,
cerâmica da fase do
Bronze Médio 3
FIG. 3. Zignago,
cerâmica da fase do
Bronze Recente 1
FIG. 4. Zignago,
cerâmica da fase do
Bronze Recente 2
Tecnologia cerâmica:
– na fase 1 costuma-se usar um desengordurante prevalentemente
grosseiro não ligado as formas, a espessura das paredes da cerâmica
são regulares nas formas de mesa, no acabamento das superfícies
repare-se uma dicotomia entre as formas de mesa alisadas e as
formas de trabalho/conservação rugosas, no cozimento não dife-
rencia entre as classes formais, sendo toda a cerâmica cozida de
modo não refinado;
– na fase 2 o tamanho do desengordurante perdura sendo não ligado
as formas, grosseiro e também médio, a espessura das paredes é
regular nas formas de mesa e de trabalho/conservação e repare-se
o uso do suporte móbil para trabalhar as formas, o acabamento das
superfícies é mais variado, aparecendo formas de mesa polidas, o
modo cozimento permanece igual á fase 1;
– na fase 3 o uso do desengordurante não muda, a espessura das
formas é standard só nas formas de trabalho/conservação, o acaba-
mento das superfícies parece mais decorativo nas formas de mesa
e mais em função do uso nas formas de trabalho/conservação, o
cozimento é o mesmo para todas as formas, mas é um pouco mais
refinado.
Bibliografia
RESUMO: Na gênesis das problemáticas ligadas ao estudo dos grupos ceramistas guaranis
do Sul do Brasil, a compreensão do processo tecnológico de produção cerâmica sempre de-
monstrou fragilidade e dissonâncias em seu enquadramento. Nossa tentativa foi desenvolver
um método de pesquisa aplicável a esses contextos que tem por meio o uso da arqueologia
experimental. Tal método é apresentado como um protocolo metodológico dentro do
contexto da expansão guarani.
ABSTRACT: In genesis of the issues related with the study of Guarani ceramic groups
of southern Brazil, the understanding of the technological process of ceramic production
always showed weakness and dissonances in its framework. Our attempt was to develop a
research method applicable to those contexts, using the experimental archeology. This me-
thod is presented as a methodological protocol within the context of Guarani expansion.
Introdução
As problemáticas da arqueologia Guarani se mesclam com a história
das pesquisas sobre os próprios Guaranis. A dimensão desses paradigmas
pode ser facilmente percebida na maneira como são apresentados os
estudos relacionados. Se olharmos simplesmente para a grafia onde a
expressão “Guarani” aparece já é suficiente para notar as várias disso-
nâncias a respeito do tema.
Essas dissonâncias têm suas origens ainda no século XIX e se arrastam
até hoje. Trata-se de uma história marcada por problemas interpreta-
tivos, no que diz respeito aos grupos humanos, a cultura material e,
sobretudo a língua por eles falada.
O que tentamos fazer de forma resumida e dinâmica é encontrar as
origens dessas dissonâncias e ao mesmo tempo definir uma terminologia
para ser usada neste trabalho, sendo Tupi enquanto tronco linguístico,
Tupi-guarani para família linguística, Guaranis enquanto identidade
étnica conforme proposto por Soares (2002) e para a cultura material
referimo-nos aos artefatos produzidos pelos antepassados das sociedades
indígenas Guaranis (Soares, 2005: 8).
Outras questões relevantes são colocadas no que se refere a “Ex-
pansão dos falantes Tupi-guarani” (são entendidas como relevantes na
Processo metodológico
Como forma de repensar as questões inerentes a tecnologia da cerâ-
mica Guarani avançamos sobre os estudos da arqueologia experimental,
levantando questões baseadas em problemáticas arqueológicas. Essas
problemáticas se referem às etapas necessárias para obter uma vasilha
cerâmica em condições de ser utilizada, exigindo para isso rigores me-
todológicos e de registros em cada fase desenvolvida, para com isso
controlar os “erros” que por ventura ocorra e sejam evidentes somente
ao final do processo produtivo.
Partimos do princípio de que a experimentação não resolve todas
as incógnitas advindas das outras metodologias, mas serve para eliminar
possibilidades ou variantes, sendo isso, este trabalho visa conseguir:
eliminar hipóteses para avançar sobre outras prerrogativas, ligadas prin-
cipalmente aos aspectos inerentes a produção bem como aos agentes
tecnológicos e processos pós-deposicionais do material cerâmico.
Nosso objetivo primário consistente em comparar formas cerâmicas
Guaranis inteiras com seus fragmentos, numa tentativa de compreender
melhor o registro arqueológico e o processo produtivo. Na prática isso
ocorre normalmente num processo inverso, há apenas os fragmentos de
vasilhas que já foram inteiras, ou somente vasilhas inteiras, sem nunca
ser possível observar uma peça e depois os seus fragmentos.
Diante disso iniciamos a reprodução de um conjunto de aproxima-
damente quarenta peças de diferentes formas e tamanhos que pudessem
virar objeto de estudo.
Ao passo que começamos a desenvolver a metodologia da expe-
rimentação notamos que para se chegar a uma peça inteira e cozida
existem muitas variantes que devem ser levadas em consideração e que
são muito importantes para determinar padrões de escolhas dentro das
estratégias que compõe as várias etapas do processo produtivo, ou “ca-
deia operatória” da cerâmica Guarani.
O processo experimental desenvolvido tem a seguinte lógica: obter
peças inteiras que se enquadrem na morfotipologia da cerâmica Guarani
Panela | “Yapepó” Talha | “Cambuchi” Prato | “Ñaé, Ñaembé” Copo | “Cambuchi caguabã”
É muito provável que algumas das peças por nós reproduzidas sejam
de baixa freqüência dentro dos tipos arqueológicos, porém como se trata
de um trabalho experimental manteve-se a opção de reproduzir vasilhas
dentro dos tamanhos indicados, principalmente por esse trabalho não ser
uma reprodução dos percentuais de amostras de um sítio arqueológico
especifico, ou mesmo de uma região.
4. Processo produtivo: O processo produtivo abrange todas as etapas
de produção e demais condicionantes necessárias para se obter uma vasi-
lha cerâmica. Para facilitar o entendimento dispomos as diferentes etapas
compreendendo cinco aspectos gerais de análise: Argila; Antiplástico;
Pasta; Estrutura de combustão e Peça:
4.1. Argila: O material argiloso pode ser classificado de várias for-
mas, dependendo de qual especialista está dialogando sobre a matéria.
Cientistas de solos, mineralogistas, geólogos ou ceramistas usam defi-
nições próprias para caracterizar o material argiloso, convergindo todas
no mesmo ponto, que de modo geral pode ser classificado quimicamen-
te como “silicato de alumínio hidratado” (Al2O3.2SiO2.2H2O). Nos
materiais argilosos há variações na relação entre os três componentes
(alumina, sílica e água), dependendo do tipo de argila. Em média a por-
centagem fica na casa de: Alumina 39,4%, Sílica 46,6%, Água 13,9%.
(Bona, 2006)
Ao observar a estrutura química dos materiais argilosos, notamos
que estas não apresentam grandes variações, e que em todas as famílias
das argilas a estrutura é semelhante, podendo haver pequenas con-
centrações de determinados tipos de materiais em umas que em outras
não há. E esses minerais são considerados como impurezas e podem
ser tão diversificados quanto os elementos da tabela periódica. (Gomes,
1988)
As argilas utilizadas na experimentação são de diversa natureza. Al-
gumas recolhidas por nós em barreiro, outras adquiridas no comércio
especializado. Dependendo da origem da argila é necessário maior ou
menor trabalho para a matéria atingir o estado ideal. As argilas de prove-
niência industrial, adquiridas no comércio especializado, necessitam de
menor trabalho; já as recolhidas em barreiros naturais exigem trabalho
redobrado.
Para os trabalhos de experimentação primamos por uma boa argila
para compor a pasta. Entre os vários critérios necessários a pureza é
o primeiro; note-se que entendemos por “pureza”, a argila limpa de
elementos não argilosos com dimensão superior a 2mm. Para limpar as
argilas optamos pelo método da decantação.
Tendo as argilas limpas o passo seguinte seria o amassamento; este
pode ser feito de várias formas, amassando com os pés, com as mãos ou
com algum instrumento mecânico, em nosso caso optamos por amassar
a argila já com o antiplástico agregado, por isso amassamos a pasta e não
a argila.
Das argilas recolhidas no barreiro, apenas uma foi utilizada, não para
compor pastas, apenas como “barbotina”, as demais foram descartadas
em testes macroscópicos, por não terem a consistência ideal para a ma-
nufatura de peças, sendo todas muito “magras”.
De maneira popular podemos distinguir as argilas por serem gor-
das e magras. Essa relação está entre a maior ou menor quantidade de
colóides que possuem na sua composição. As argilas gordas são muito
plásticas e, devido à alumina, deformam-se muito mais no cozimento.
Já as argilas magras são mais porosas e frágeis, devido ao excesso de sílica
e essa relação faz com que as partículas se mantenham ligadas de formas
diferentes. (Bona, 2006).
QUADRO 1. Teste
de qualidade para as
argilas recolhidas em
estado natural.
A.1 amostra 01
A.2 amostra 02
A.3 amostra 03
A.4 amostra 04
No caso das argilas magras nota-se que a ligação das partículas não é
homogênea fazendo com que ocorram rachaduras como podemos ver
acima. Por esse motivo optamos pela compra de argilas “gordas” que
pudessem assegurar a qualidade da manufatura.
A. Pasta 01; B. Pasta 02; C. Pasta 03; D. Pasta 04; E. Pasta 05;
Cor seca: M 47; Cor seca: M 50; Cor seca: M 50; Cor seca: M 75; Cor seca: M 49;
Cor coz.: M37. Cor coz.: M37. Cor coz.: M37. Cor coz.: M37. Cor coz.: M37.
QUADRO 2. Teste
de plasticidade e
coloração
4.5.2. Acabamentos
Para este trabalho reservamo-nos a utilizar a expressão “tratamento
de superfície” para tudo que diz respeito ao que é visível e disposto
na superfície de uma peça cerâmica, independente de ser uma técnica
produtiva ou decorativa.
No conjunto de peças produzidas seguimos a relação estabelecida
entre forma e tratamento de superfície para cada classe, menos para as
pintadas, pois para este conjunto a superfície manteve-se alisada. Sendo
assim optamos em utilizar apenas três tratamentos de superfície aplicados
nas classes correspondentes.
QUADRO 3.
Técnicas de
tratamento de
superfície
7. Fotografia
Além de fotográficas ilustrativas para o processo produtivo usamos
como parte da metodologia, fotografias para cada uma das peças tiradas
na posição ortogonal com a resolução mínima de 8.0 mega pixels, em
quatro visões diferentes, que são: para as peças em etapa seca, apenas de
perfil com a boca para baixo; com as peças cozidas além de perfil com
a boca para baixo também de perfil a boca para cima, do fundo externo
e da parte interna.
8. Testes adicionais
Tendo uma peça cozida, com todas as fotografias e medidas tiradas, é
possível submeter às peças aos mais variados testes. Nós optamos por fazer
num primeiro momento o teste que indica a taxa de absorção e, num segun-
do momento, para algumas peças selecionadas o teste de “aquecimento”.
9.1. Bordos
Relativamente aos bordos apresentamos duas possibilidades de men-
suração: “ábaco de círculos concêntrico” e “sistema de círculos a partir
de um compasso para obter o raio”. O objetivo é recuperar o diâmetro
de boca da peça. Para chegar a esse resultado todos os fragmentos de
cada peça foram postos sobre estes procedimentos de análise, inclusive os
muito pequenos, para com isso termos a dimensão mínima do fragmento
que pode ser utilizado para se obter resultados confiáveis.
As análises dos bordos contam com informações prévias obtidas di-
retamente na peça antes da fratura, que são: desenho do bordo em folha
milimétrica e raio obtido por meio de transferidor, com três pontos de
reta sob ângulos de 45 graus ao centro.
Reflexões
O processo metodológico de experimentação arqueológica descrito
aponta para questões que podem ser observadas com um olhar tecno-
lógico, não querendo dizer que seja essa a essência, mas é somente isso
que conseguimos recuperar, de resto entramos num campo especulativo,
sujeito a interpretações momentâneas, com risco de repetir os velhos
erros do passado, erros que marcaram a arqueologia Guarani por repetir
indistintamente alguns mitos, “mitos que se tornaram verdade acadêmi-
ca” (Noelli, 1993: 11) e foram reproduzidos ao longo do tempo tanto
por etnólogos e antropólogos como por arqueólogos.
A nossa experimentação traz algumas contribuições nesse sentido.
Não apresentamos conclusões, mas sim reflexões, sobretudo no que
concerne à manufatura, tratamento de superfície e cozedura do material
cerâmico.
Se hoje existem peças cerâmicas compondo coleções arqueológicas
e essas têm datações por volta 1500 mil anos BP (Noelli, 2008: 31), é
certo que existe uma tecnologia que permitiu esse avanço no tempo e
esta tecnologia está ligada diretamente com a manufatura e cozedura
das peças.
Quando falamos de cozedura lembramos que o fato de um material
cerâmico ter atingido a temperatura necessária para fazer a inversão do
quartzo, aproximadamente aos 573°C, não quer dizer que seja o sufi-
ciente para ser uma “boa cerâmica”; é preciso mais – por volta de 900°C.
Para atingir essas temperaturas não é muito difícil, visto que um material
incandescente está no mínimo a uma temperatura de 800°C., portanto,
as cerâmicas Guarani são cozidas a baixa temperatura, mas baixas na escala
das cerâmicas o que corresponde a temperaturas até 1000°C.
Outra questão relevante está no tipo de fratura e na coloração das
paredes, que demonstramos ser muito mais uma questão de composição
das pastas para o primeiro, e da atmosfera de cozedura para o segundo,
do que da temperatura atingida por uma peça durante a cozedura, pois
em nossa experimentação os resultados apresentaram variações nesses
dois aspectos em cozeduras com temperaturas idênticas, na casa dos
900°C.
Relativamente aos “tratamentos de superfície” a reflexão que con-
seguimos fazer sobre esse tema diz respeito, principalmente ao “corru-
gado”, alisado e ungulado, uma vez que não utilizamos o pintado. La
Salvia e Brochado (19892: 38) levantam questões sobre o que é produti-
vo e o que é decorativo, “Seria possível fixar a distância que separa um
do outro? Aquilo que é produção e o que é decoração?”
Agradecimentos
Referências
ABSTRACT: The studies of the chaînes-opératories has neglected the corporeality of the
operator, therefore the present study proposes an approach to technology, which will in-
volve ergonomics. The present text discusses the ergonomics of Chalcolithic kilns, trying
to recover the human aspect of technology, forgotten in archaeological studies.
I. History
The French school of anthropology was the first to approach the
relationship between body and technology (Mauss, 1935; Leroy Gour-
han, 1943/5; Leroy Gourhan, 1964/5) and used structuralism to ana-
lyze the chaînes-opératories (Creswell, 1976; Lemonnier, 1983; Lemon-
nier, 1993/2002; Schlanger, 1994).
Although they started from the analysis of the human body in rela-
tionship with the materials, the subsequent studies neglected the human
presence (i.e., the human body) within the technological stages. Even if
embodiment or corporeality are mentioned in relationship with technology
(for an extended bibliography see Dobres, 2000), ergonomics was not
applied to the study of the chaînes-opératories.
II. Method
To solve this problem, I suggest a presentation of the technological
stages in connection with human anatomy, physiology and the me-
chanical principles of the human body (i.e., ergonomics). Since this
complexity of the human activity should be the ultimate goal of any ar-
chaeological investigation I propose experimental archaeology to study
the ergonomics of ancient technologies. In this perspective I will try to
present the functioning of a Chalcolithic kiln from the personal experi-
ence of the ergonomics of the basic operations.
FIG. 1. A child
helping to position the
vases on the platform.
Vadastra village 2002.
Photo D. Gheorghiu.
the apertures of the kiln are sealed with wet clay. The total duration of
the chaîne-opératorie described is between 5 to 18 hours, depending on
the load, fuel, and temperature of the environment, and on the style of
firing of the potter.
V. Conclusion
The present text tried to describe the chaîne-opératorie of the kiln as
an embodied set of technological sequences. Seen from a moderno-
centric perspective the ergonomics of the kiln compelled the operator
to postural positions or extreme visual experiences, which seem par-
ticularly demanding for the modern operator. But the squatting and
crouched positions could be relaxing for part of the muscles as one can
see from examples from different traditional societies.
I am aware that my personal sensorial experience was significantly
determined by my formative culture; but after many experiments, I
arrived to incorporate the chaîne-opératorie as habitus, and embody its
ergonomics.
Bibliography
ABSTRACT: The study of pottery making in two Gambian villages (Katchang, Njacounda)
showed that shaping techniques constituted a parameter allowing for a characterization of
the deepest facets of artisans identity. In this area, potters use a combination of coiling and
molding which permit to produce particular pots, different to the others coming from the
Sereer, Wolof, and Mandingo neighborhood. A meticulous analysis of this behavior had
permit to argue a technical intermarrying which is a result of cross-cultural influence.
Introduction
The study of the shaping technique in the pottery manufacturing
process is variously appreciated. In archaeology, the usual step consisted
to classify artifacts excavated or collected during surveys on the basis of
physical and decorative variations. Such methodology, although it is
useful and necessary for the typology of the many sherds, is not sufficient
to explain technical choices and, therefore, to analyze and interpret in
an objective way established classifications. To allow a meticulous analy-
sis of the pots, the ethnoarchaeological studies were directed towards the
identification of the techniques used during the shaping of the pots, and
especially the various interpretations of these technical choices.
Indeed, for some researchers, the choice of a technique is subor-
dinated to the various constraints of the matters (Bronitsky 1986; Franken
1971), to the shape of the container made (Orton & Al 199; Rice 1987;
Rye 1981) or to the scale of production (Rye 1981; Sinopoli 1991). For
others the main interest is the cultural behaviors of the craftsman. For this
late argument, the studies shown that the shaping techniques are made
conspicuous by their discretion, and do not leave marks on the products.
They are distinguished from the other stages by the specificity of the
gestures used, rather than of the matters or the tools. The observations
show that during the knowledge transmission many masters require
Area of study
Study was conducted in two Gambian villages (Katchang and Nja-
counda) located in the west bank of Gambia River (Present Gambia is
a small independent country border by Senegal).
FIG. 1. Location of
the two Gambian
villages (Katchang,
and Njacounda).
These villages are settled by “Soocé” people, who are also present
in the South, and the south-east of Senegal. The term “Soocé”, used in
the mid-west, designates two sub-groups. The first refers to the People
of Iron Age period, coming from the central zones of Ghana empire
(7th-8th centuries). They were the tumulus builders, and were mixed
with the first Sereer migratory waves coming from the Middle Senegal
valley (Pélissier 1966, Gravrand 1983).
Making Paste
The clay is collected from dried back-waters, and rice fields. To
ensure its malleability, the potters usually add some temper (grog). The
mixture is carried out by kneading.
FIG. 2.
Shaping
Shaping techniques vary essentially as regards the initial roughing out
of the bottom of the vessels. In Katchang village, the coiling technique is
used. Potter makes first a coil by rolling paste, and begins shaping with
a lateral crushing of a coil in the palm of a hand, while using knee as
support. At the top of the support, the process continues by using coils
to build the others parts of the pot.
FIG. 3. (Figure 2.
Shaping process in
Katchang village.)
FIG. 4. (Figure 3.
Shaping process in
Njacounda village.)
FIG. 5. (Figure 4.
Shaping techniques,
and pots forms in the
two villages).
Conclusion
This methodological approach shows the potential that an ethnoar-
chaeological study could contribute largely to the methodology which
can be used for pottery analysis, and also to the knowledge of popula-
tion’s cultural dynamics.
Study of shaping techniques in the two Gambian villages shows the
use of coiling is beyond all the ethno-linguistic frontiers, as they are set
today. Its diffusion is largely due to the movement of women.
References
RESUMO: Da fala das mulheres falarei dos seus potes, falarei das oleiras e da sua técnica.
Da possibilidade de recuperar a arte e das novas necessidades, da possibilidade da arte
contemporânea se constituir como uma hipótese de valorização. Da valorização da olaria
destas mulheres se constituir como um processo para o desenvolvimento, ser uma voz. Da
investigação, da criação artística e da formação dos jovens da comunidade, a projecção do
lugar e a potenciação para o futuro.
ABSTRACT: Of speech of women I will speak of their pots, I will speak of potters and of
their technique. Of the possibility of recover the art and the new needs, of the possibility
of contemporary art constitute itself as an improvement hypothesis. The appreciation
of these women`s pottery will constitute a development process, it will be a voice. From
the research, artistic creation and training of youth in the community, the projection of
the place and enhancement for the future.
KEyWORDS: Cape Verde; pottery from women; art; local culture; development; sus-
tainability.
DA ÁGUA, OS POTES
(…) agu dja seka (…) nu ta baba ku poti, nu ta apanha agu (…) homi ta baba
ku se poti na ombro, ta apanha agu pa nu enchi poti (…)
Nha Lúcia
1. Introdução
A arte da olaria em Cabo Verde desenvolve-se desde o povoamento
das ilhas e seguiu um modelo de origem africana, era feita por mulheres,
sem o recurso ao torno, provavelmente contaminada por modelos eu-
ropeus trazidos para as ilhas pelos colonos portugueses, no entanto esta
tese carece de estudo que a comprove. A olaria desenvolveu-se em três
centros oleiros nas ilhas de Santiago em Trás di Munti e Fonte Lima, e
na ilha da Boa Vista no Rabil.
O trabalho que se apresenta foi realizado em Trás di Munti, por ser
o local onde a arte da olaria estava inactiva e onde se tinha desenvolvido
com excelente qualidade abrangendo uma faixa muito significativa de
famílias. Trás di Munti situa-se na vertente Norte da Ilha de Santiago
estende-se uma península (fig. 1), que culmina no Monte Graciosa com
643 metros de altitude. A superfície dos fonólitos estende-se até aos
relevos de Trás di Munti, os quais dominam uma superfície estrutural
“(…) kes alguém ki ta fazeba kes poti la, grandi la, dja ka mori, so kes mudjer
bedjo, kes moda nha mãe, kes ki era nha tia, es kusas, tudu Trás di Monti li tinha
kes mudjer grandi ki ta fazeba, ta fazeba, ta vinha kumprado li na kasa, tudu dia
Dimingu bem kumprado li na kasa (…)
Pascoinha
FIG. 1. Oficina da
mestra Pascoalina
Borges
FIG. 2. Localização
das áreas de recolha,
barreiros e objectos
FIG. 3. Figurado
oficina da mestra
Isabel Semedo
FIG. 6. Museu de
Nacional de Etnologia
de Lisboa – pote
de água e moringos
(recolha António
Carreira)
FIG. 7. Exposição
Guardar águas no
Palácio Ildo Lobo e na
Galeria Municipal de
Montemor-o-Novo
FIG. 8. Formação na
Faculdade de Belas
Artes / Oficina expe-
rimental de etnocerâ-
mica e a exposição na
Galeria Municipal de
Montemor-o-Novo
FIG. 9. Centro de
Artes e Ofícios
FIG. 9. Centro
Interpretativo/
/Instalação
“Da água dá fala”
Bibliografia
ABSTRACT: Besides being an attempt to use different analytical methods to find the most
appropriate techniques in the characterisation and dating of a ceramic collection, this study
brings forth the compensating nature of these analytical methods. The ceramics to be stud-
ied consist of a sample from an important collection of Estrada foundation which will form
part of a future museum in Abrantes Portugal. Analytical methods included mineralogical
analysis; chemical analysis and Thermoluminescence Dating. The ten ceramics were finally
found to be modern copies having six source of production.
RESUMO: Este estudo, para além de ser uma tentativa de usar diferentes métodos analíticos
para procurar as técnicas mais apropriadas para caracterizar e datar uma colecção cerâmica,
evidencia a natureza compensatória destes métodos analíticos. As cerâmicas a estudar con-
sistem numa amostra da importante colecção da Fundação Estrada, que fará parte de um
futuro museu em Abrantes, Portugal. Os métodos analíticos incluíram análise mineralógica,
análises química e datação por termoluminescência. Por fim, as dez cerâmicas foram iden-
tificadas como cópias modernas com seis fontes de produção.
Introduction
“From the initial survey of a potential site to the laboratory analyses
that can last for years after the digging is over, archaeologists and physical
scientists are collaborating to learn more about the past that ever could
have been summarised using classical methods alone” (Zurer, 1983; 26).
Large proportion of archaeological and archaeometric investigations
are oriented towards Heritage, having as their main objectives: identi-
fication, better understanding, and preservation.
The present study has a similar focus: multiple analytical approaches
are applied to better understand a ceramic group, which forms part of
an important collection in Portuguese Heritage. Actually, artefacts and
works of art kept in museums originated in many cases from ancient
private collections. In such cases, a partial or total absence of historical
information may create additional problems concerning their authenti-
city. Hence there is a need for proper study in order to attribute each
artefact the corresponding culture, to develop their contextualisation
and investigate their authenticity. The study of museum collections and
Objectives
The collection under study will soon find its place in the future mu-
seum Museu Iberico de Arqueologia e Arte, in Abrantes Portugal and
out of it the 10 ceramics were studied with the following objectives:
1. Establish the authenticity and absolute dates;
2. Finding the mineralogical and elemental fingerprint of the sam-
ples to group the ceramics and indicate which of them may have
the same source;
3. Come out with the most appropriate method for the future study
of the collection;
4. Look into the compatibility and compensating aspects of different
methods and to stress on their complementary needs;
5. Application of analytical methods cannot merely be adopted from
the physical sciences but must be developed to address key issues
in archaeology and heritage (Whitbread, 2001). Through this
work there is also an attempt to look into the archaeological and
heritage problems as from a chemist approach and vice versa.
Hence it is experimentation in trying to address this problem of
gap between archaeology and archaeometry.
Methods
Due to the mixture of artefacts from different time periods and
absence reliable associated documentation, the first approach was to
classify and group the ceramics based on their typology and style. They
were placed in a relative time line and attributed to the analogous cul-
ture and geographical distribution. Thereafter, thermoluminescence da-
ting was applied for an absolute chronology.
Thermoluminescence dating is an appropriate method to date ceramic
as the latter is an insulator and semiconductor and has absorbed energy
during exposure to radiation; characteristics needed for TL dating. The
basic principle is that clay and its temper of pottery lose their accumulated
geological dose when the pot is fired during its manufacture thus setting
the thermoluminescence to zero. The newly formed pot is now subjected
to natural radiation from its surroundings and the pottery accumulates an
absorbed dose which is proportional to its archaeological age.
In its simplest form
Age (years) = Palaeodose (Gy)/Annual Dose rate (Gy)
The palaeodose also known as equivalent dose (DE) was calculated
using 3 different techniques:
1. The Regenerative Technique, which applies incremental irradia-
tions to aliquots that have first been measured for their natural
signal and thus zeroed. This procedure ‘regenerates’ the growth
curve from zero and the natural signal is fitted into the curve by
interpolation.
1 disc of each specimen was heated up to 500°C and the TL was
measured thus obtaining the natural dose and at the same time setting
TL of the sample to 0. The sample was then given an artificial Beta
dose and the regenerated signal was measured. The measurement and
irradiation was conducted in a Risø DA-15 automatic reader with BG25
and HA3 detection filters to detect in the blue emission region, and a
90
Sr/90Y irradiator (Bøtter-Jensen et al., 2000) giving 0.065±0.001 Gy/s
to fine polymineral grains on aluminium discs for 50 seconds (Richter
et al 2003) that is 3.25 ± 0.05 Gys. The data was then plotted on a
graph of Temperature against the TL counts followed by a calculation
of integrals for each measured signal of each sample. The 351-450° C
integral was used and the integral equation: Artificial dose x [Natural
integral/(Bleach+dose integral)] was used to calculate the palaeodose.
2. The second technique used consisted of the Multiple Aliquot
Additive Dose Technique. Incremental irradiations are given to
different aliquots that still retain their natural dose which results
in enhancement of the luminescence signal and a growth curve is
constructed plotting irradiation against luminescence signal. The
natural signal forms the lowest point on this curve, which is then
extrapolated back to zero dose to estimate DE.
2 discs for each sample were allocated to get the natural dose and
beta dose were given to 8 discs in group of two, each time doubling
the dose. The 8 aluminium discs for each sample were irradiated in
Daybreak 801E calibrated to 0.145 Gy/s, and were allowed to rest for
3 to 2 weeks before measurement. The discs were preheated at 140°
C for 16 hrs before being measured in a Risø reader using BG25 and
HA3 detection filters. The data was plotted to draw a curve to see the
peaks at each given dose. Thereafter, TL integral was calculated. Integral
200-399°C was used to calculate the palaeodose.
FIG. 1. Integrals
against cumulative
predose
For dating, apart from the palaeodose, the radioactivity that is the
annual dose has to be calculated as well. It consists of calculating how
much dose the sample may have received each year. For most of the
samples annual dose is provided equally by potassium, thorium and ura-
nium and a few percentages from rubidium and cosmic rays. The data
obtained by INAA undertaken for the chemical analysis which gives the
rate of decay of potassium, uranium and thorium, is used to calculate
the rate of ionization in the crystals. To finalise the Gamma dose it is
important to consider the Gamma dose rate of the sample’s surroun-
dings. As there is a lack of information on the context of the samples,
the Gamma dose was calculated using the ‘Local hypothesis’ (Zink et
al, 2005) that is assuming that the pot was buried in Portuguese soil or
similar soil. An average Gamma dose of the Portuguese soil was calcu-
lated based on the gamma doses in a selection of Portuguese soils and
sediments. Water content/moisture is another aspect to be considered
while calculating the annual dose. Water of the pottery or in the soil
where the pottery was, absorbs part of the radiation before reaching the
thermoluminescence grains; that is water decreases the radioactivity per
Results
Mineralogical study
Chemical study
Dating
ceramics recently affected by heat (being one of the hypothesis) but in-
stead are recently manufactured ceramics. Thus, TL points out that most
of the ceramics are 19th-20th Century A.D at the most 14th-15th Century
A.D production. The results are summarised in the and not 8th-5th cent
BC production which the typology pointed.
analyses the paste and can identify trace elements. Micro-EDXRF is ef-
ficient but not ideal for detailed chemical analysis especially if questions
of Provenance are treated. Nevertheless, being a non-destructive meth-
od it is highly useful and can be the first step in chemical analysis.
The Mineralogical and chemical data of the ceramics were even
useful in the Thermoluminescence Dating process of these ceramics. An
obvious one is the use of data generated from INAA (for K, Th, and U)
in calculating the Annual Dose. Moreover, the mineralogical data of the
sediments (taken from inside the ceramics as proof of context) allowed
us to reject the sediments to calculate the doses for the external environ-
ment. Moreover, when amorphous silicate was identified in one of the
sediments it was hypothesised that ceramics could have got accidently
heated during its museological history. In this case the Regenerative and
Multiple Aliquot technique would not give palaeodose. These observa-
tions lead to adoption of the Predose Technique.
All the methods have their own advantages, disadvantages and limi-
tations. None of the analytical methods is really perfect that is why it
is always better to use more than one method as they compensate each
other. However, for such a collection it is highly advisable to go for the
non-invasive method first followed by the invasive and at last the des-
tructive methods if really required. However, if dating or authenticity
test is required the invasive aspect is inevitable for even a small amount
of powder is required for the purpose.
Finally, it can be said that along with the authenticity it has also
been able to test different analytical methods on the 10 samples of the
collection and test for several hypotheses. All the analysis conducted
and the different methods used, are compensating and help to build up
in the understanding of the ceramics and eventually the collection. As
suspected, the collection does have some copies of artefacts.
Actually, it is normal to find copies in museums’ collections as many
museums have been buying artefacts from different sources to enrich
their collection and often without authenticity test. However, it does
not mean that the whole collection should be characterised as fake and
ignored. On the contrary proper studies have to be undertaken for
proper sorting and characterisation, thus achieving an important part in
proper heritage management of the collection and the future museum.
Museum collections contain heteroclite items with unspecified archaeo-
logical context, origin and mode of acquisition. Some of these items
have been submitted in the past to more or less ingenuous unspecified
restorations, while others are mere copies, pastiches or fakes. Museum
emerged from personal collection of noble families’ particular attention
given to antiquities since the middle age. Artists tried to make objects
as close in appearance as possible to the originals: the Renaissance and
the 19th century being the most prominent periods. Since the opening
in 1888 of the Chemical Laboratory of the Royal Museums, Berlin,
directed by Friedrich Rathgen, for the study, authentication and preser-
vation of cultural heritage; there has been huge progress in analytical
techniques. To accomplish this work, science-based study, art history
and conservation–restoration are carried out together. Nowadays, an in-
creasing number of analytical techniques are applied to museum objects
(Guerra, 2008). Hence, analysing the collection of Estrada Foundation
(collection under present study) add up in this global move.
Acknowledgement
This work was conducted at the Insitituto Politecnico de Tomar,
Instituto Tecnologico e Nuclear, Lisbon and Spectroscopy lab at Musée
de L’homme Paris under the supervision of Dr. J.Coroado, Dr. M.I.
Dias and C.I. Burbidge and to whom I am highly grateful. I further
thank Dr. L. Oosterbeek, the director of the Erasmus Mundus master
in Portugal during which this work was conducted. I further express
my gratitude to Dr. F. Frölich and his team from the Spectroscopy lab
and Dr. A. Zink and Dr. F. Gaultier from the Louvre Museum, Paris. I
am grateful to the Estrada Foundation and to the team working on this
collection for allowing me to work within and be part of the project. As
this work was conducted in relation to my master thesis as an Erasmus
Mundus Student, I take the opportunity to thank each and everyone
related to this programme.
Bibliography
RESUMO: Os objetivos do Manual em questão são de (1) dar mais um passo na sistema-
tização e operacionalização da Arqueologia brasileira, no caso específico atual, no estudo
da cerâmica; (2) contribuir para a comunicação científica intersubjetiva na Arqueologia
brasileira ao refinar a nossa linguagem de dados além do patamar pioneiro alcançado pelo
Seminário de Curitiba em 1964, e que, essencialmente, ficou estacionário desde então,
e, contribuir com novas perspectivas de análise aproveitando os resultados de pesquisas
etnoarqueológicas realizadas no País.
Fundamentando a abordagem etnoarqueológica do Manual nas experiências de campo e
laboratório – etnoarqueologia e arqueologia – os autores apresentam a confecção da cerâ-
mica do ponto de vista de uma atividade humana, a da artesã, com as suas escolhas dentro
das possibilidades e limitações da matéria prima.
A partir desse fundamento, elaboram uma classificação numérica em linguagem adaptável
a processamento mecânico.
1. INTRODUÇÃO
O objetivo do presente estudo é de apresentar um manual etno-
arqueológico da cerâmica para aplicação em análises de laboratório de
material arqueológico.
Objetivos da Análise
Objetivos do Manual
O Universo de Estudo
Orientações Teóricas
2. DA ARGILA À PASTA2 2
Este tópico deve
muito a SHEPPARD,
Propriedades Físicas da Argila 1957.
Existem diversas razões para que a argila possa ser encontrada sob
várias formas. Ocorre, às vezes, ser difícil distinguir as diversas impurezas
que uma argila possa conter. Apenas observando o depósito nos é im-
possível detectar o grau de mistura e os elementos componentes de uma
determinada argila. O material estranho encontrado é, na maioria das
vezes, composto por grãos derivados da rocha-mãe. Minerais de várias
fontes são encontrados junto às argilas sedimentares, tais como, quartzo,
feldspato, carbonatos, oxidas de ferro e outros minerais. Devido às suas
impurezas, os sais solúveis absorvidos e o material vegetal e animal em
decomposição afetam as propriedades as argilas e, especialmente, as suas
reações ao calor. As impurezas mais encontradas são quartzo e outras
formas de sílica, com grãos de vários tamanhos, desde o coloidal até os
mais grossos. O tamanho do silte (0,02 mm a 0,002 mm) é mais comum,
e o efeito mecânico deste é de reduzir a plasticidade da argila. Sílica em
Plasticidade
3. PROCEDIMENTO DA ARTESÃ
Escolha da Argila
Uma das maiores preocupações da ceramista é a escolha da argila
adequada. Esta precisa conter os ingredientes essenciais para a fabricação
de uma boa peça.
Esta seqüência operacional tem início com a obtenção da matéria prima.
A argila é, via de regra, recolhida às margens ou nos leitos de rios ou córregos
situados a distâncias variáveis da aldeia, sendo que muitas vezes a disponibi-
lidade de um bom suprimento de barro é um dos fatores condicionantes da
escolha de um novo lugar para a sua instalação (LIMA, 1986, p. 74-5).
5
ARNOLD (1978) Geralmente existem depósitos de argila nas proximidades das aldeias,
observa que as comu-
nidades agrícolas nem que, mesmo servindo para outros fins, podem ou não reunir as qualida-
sempre tem boas fontes de des procuradas pela artesã indígena para a confecção da sua cerâmica5.
argila dentro do seu espaço Por essa razão, muitas vezes, o local de encontro da argila preferida situa-
vital, e, freqüentemente, se a muitas léguas da aldeia (WÜST, 1984, p. 312; MILLER, 1978b,
terras que apresentam
boas amostras de argila p. 12), como entre:
adequada (por afloramento
devido à erosão) podem, Grupos como os Kayabí, Araweté, Tiriyó e Tapirapé que se deslocam
por esta mesma razão, ser em expedições que chegam a durar vários dias, em busca de um material que
impróprias ou pobres para tenha a qualidade necessária para se obter um resultado satisfatório na con-
a agricultura, enquanto fecção dos vasilhames. Nestes casos é coletada uma quantidade que abasteça
a boa terra agrícola pode
ocultar quaisquer depósitos
as ceramistas por um bom período de tempo (LIMA, loc. cit.).
de argila apropriada para a
cerâmica. As comunidades Lima acrescenta que alguns grupos aproveitam tais expedições para
produtoras de cerâmica, coletarem também os aditivos tais como antiplásticos.
limitadas a utilização de Entre os Caingáng, por exemplo, existe uma distinção até o nível
recursos próprios, vão
fabricar produtos de acordo
lingüístico para designar o barro que é bom (para cerâmica) daquele que
com estes mesmos. Arnold não serve. Em geral, para testar a qualidade do barro, a ceramista o esfrega
vê “a fabricação da cerâmi- entre os dedos, mas entre os Bororo, Tukuna e Tiriyó, uma técnica obser-
ca entre os Pokom do Vale vada era de experimentar na boca (MUCCILLO; WÜST, 1984; LIMA,
de Guatemala como uma
adaptação a terras pobres 1986, p. 174-5). Estes meios são utilizados para verificar se a argila é “gor-
para agricultura, mas que durosa” ou “pegajosa” o suficiente para ser aproveitada. Lima também cita
têm recursos para a cerâ- certos grupos, como os Kaxinawa, que fazem um ensaio ou experiência
mica… Comunidades com queimando uma pequena amostra do barro na fogueira (loc. cit.).
recursos diferentes dispo-
níveis produzem cerâmicas
diferentes enquanto as que
possuem materiais seme- Limpeza da Argila
lhantes (mesmo que possam
ter experiências históricas
diferentes) produzem A ceramista prefere trabalhar com argila livre de impurezas grossas
cerâmicas semelhantes. Este (raízes, pauzinhos, pedrinhas, etc.). Por isso torna-se necessário a sua
fator explica porque há tão limpeza. Adicionando água e amassando o barro com as mãos, a artesã
pouca semelhança entre
as cerâmicas produzidas
consegue retirar da argila estes materiais indesejáveis, beliscando-a cons-
nas comunidades pokom: tantemente e descartando os objetos encontrados.
a evidência cerâmica para
a sua unidade lingüística Esta limpeza, dependendo do grupo, pode ser executada ainda junto ao
e cultural é apenas uma depósito original antes do transporte. Livre de detritos, o barro é então muito
semelhança básica de bem amassado, sendo simultaneamente testada a sua consistência. Entre os
técnica, mas não se reflete Kayabí, a argila é não apenas amassada, mas também socada em um pilão
diretamente na cerâmi-
ca por si só” (p. 58-9).
com um pouco de água (Idem).
Comunidades produtoras
de boa cerâmica colocam Outra técnica utilizada, mas só por artesãos contemporâneos, é a de
os seus produtos nos peneirar o barro depois de quebrado, visando, contudo, o mesmo fim
mercados livres regionais (COSTA, 1985, p. 131).
para consumo em outras
comunidades. No entanto,
Não temos nenhuma notícia de grupos indígenas do nosso continen-
Van der Leeuw conclui, na te utilizando o processo de decantação para a limpeza da argila, embora
base dos seus trabalhos, que seja evidente sua simplicidade e muito maior eficiência na retirada de
a quantidade de cerâmica impurezas. Talvez seja porque, no nível artesanal da tecnologia cerâmi-
caseira produzida depende
diretamente da distância ca, as impurezas desempenham um papel suficientemente importante
de centros de produção, na que uma maior eficiência na sua remoção seja contraproducente.
ilha de Negros, Filipinas, e
também Virgínia colonial,
onde os colonos europeus Divisão do Trabalho
utilizaram a cerâmica
indígena. “A produção ca-
seira da cerâmica encontra Em geral, a tecnologia cerâmica tradicional é de domínio das mulhe-
saída fora do sistema de res, visto que está correlacionada às atividades domésticas. Lima encon-
mercados, através de canais trou como exceções apenas os yanomami, Mayongong e, especialmente,
de parentesco e amizade.
Isto deve produzir padrões
Waharibo. Uma hipótese interessante para testar, nestes casos, seria se o
erráticos de distribuição” predomínio masculino na cerâmica associa-se com a forma de expansão
refletidos na Arqueologia. dos povos de fala caribe, onde grupos masculinos conquistavam grupos
Local de Trabalho
estudiosos encontra uma ligação histórica entre as tribos que falam o Aruak
e o uso da cinza silicosa. Esta correlação é válida, exceto para os Aruak do
extremo sul (Paraguai) e do norte (Índias Ocidentais) que não revelam este
traço cultural. É de se supor que, qualquer que seja a filiação étnica, a cinza
como tempero foi desenvolvida primeiro no baixo amazonas. É significativo,
em termos de meio ambiente, que este seja um desenvolvimento da floresta
e não dos Andes (loc. cit.).
Na região do Araguaia, presume-se que a prática foi introduzida
pelos povos de fala tupi, e foi adotado pelos Carajá e Bororo, que são
de tronco lingüístico macro-gê.
De acordo com MUCCILLO e WÜST (1984, p. 324), os Bororo
fazem o cariapé da casca de “orelha de burro” queimado e pulverizado,
para “dar força ao pote”, mas, na falta deste, é utilizado osso de gado,
queimado e peneirado, o que, neste estado, tem a mesma aparência de
cariapé. Os Carajá também utilizavam as cinzas de uma árvore mais co-
nhecida como “cega-machado”, e cuja madeira é rica em sílica, como
também a casca de “orelha de burro”.
4) Carvão: os Xokléng apresentam um caso curiosos, acrescentando
carvão à massa onde os Caingáng acrescentaram “pó de caco”.
Uma informante disse que o carvão procede da casca de uma ár-
vore, e o pesquisador conseguiu verificar que a árvore em questão
era um coqueiro, afastando-se a hipótese de ser cariapé. Ainda,
uma segunda informante usou carvão de lenha comum. Desco-
nhecemos a utilidade do carvão na massa, mas duvidamos que
servisse como antiplástico (MILLER, 2008).
5) Cauixi: Ribeiro nos informa que este antiplástico consiste nas “es-
pículas de animais espongiários… de água doce, que, reduzidas a
cinzas e misturadas ao barro, servem de tempero para a fabricação
de vasilhame” (loc. cit.). Willey comenta que este desenvolvi-
mento é evidentemente amazônico, conhecido também no rio
Guaporé, no Orenoco, na região de Santarém e entre os Carajá
e Canichana.
6) Outros: antigamente os Carajá também se utilizavam da cons-
trução (“casa”) de um cupim encontrado em árvores “e da qual
resulta uma cinza muito boa” (WÜST, 1984, p. 313). Wüst tam-
bém menciona o uso de fragmentos do casco de tartarugas.
Preparo da Passta
Com a mistura dosada de argila, água e antiplástico a pasta se torna
homogênea. A argila é dividida em “bolas”, que são temperadas com
antiplástico e água até atingir a consistência desejada. No caso dos Cain-
gáng, a pasta é socada no pilão, e a artesã testa a sua consistência com os
dedos. Não existe uma medida exata, pré-estabelecida, para determinar
o “ponto” da massa. Este é obtido através do constante acréscimo do
material usado como antiplástico e água. As ceramista Xokléng, como
também as da Baía de Paranaguá, preparam a massa sem a utilização do
pilão. Apenas amassando a pasta com as mãos, elas alcançam a mistura
ideal. O “ponto” da massa também é verificado com os dedos. É muito
importante que a massa seja bem preparada, pois, se for seca demais,
tende a rachar e fragmentar-se. E, se for molhada demais, não poderá
manter a forma desejada pela artesã.
Implementos Usados
A ceramista se utiliza de vários instrumentos para executar o seu
trabalho, em cada etapa deste. No preparo da massa, os Kayabí, Bororo,
Caingáng e Xokléng se utilizam do pilão para triturar o antiplástico
e (com exceção dos Xokléng) para pisar a massa. Os Bororo e Cain-
gáng se utilizam de uma peneira de aço para peneirar o antiplástico. Os
Carajá, Caingáng e Xokléng amassam e trabalham a pasta sobre uma
tábua, enquanto uma informante caingáng se utilizava de uma pequena
bacia. Caingáng e Xokléng usaram canecas para água e panelas para o
antiplástico. Uma informante caingáng, muito idosa, se recusou a fazer
a cerâmica dizendo que “a gente se suja muito”, pois evidentemente ela
não usou da tábua e sim do colo.
Os artesãos de Santo Antonio do Potengi utilizam ferro ou cepo de
pau para quebrar o barro, e uma pequena tábua, como instrumentos de
trabalho equivalentes aos citados para os índios. Os Carajá usam também
de caixas de madeira e latas de alumínio para armazenamento do barro.
Para o adelgaçamento e polimento das paredes, outros instrumentos, tais
como uma pedra muito lisa (Caingáng) para polir, pedra essa encontrada
arqueologicamente, inclusive em Angicos e Georgino Avelino, RN.
Para a mesma finalidade, os Xókleng usam uma semente ou castanha
muito lisa, e os Caingáng também utilizando de uma colher.
Estando o barro pronto, a ceramista senta-se em geram sobre uma es-
teira, couro ou tábua, colocando nas proximidades todo o material que será
utilizado durante a confecção das peças; a argila, que é depositada sobre
as folhas de palmeira, antigos vasilhames emborcados, ou então trançados
de fibras vegetais; as vasilhas com água, que podem ser cabaças ou antigos
recipientes de cerâmica; as vasilhas com os temperos e os instrumentos para
o alisamento, como pedaços de cabeça, conchas, seixos, coquinhos, cogu-
melos, esponjas, palha de milho, panos, colheres velhas, etc.” (LIMA, 1986,
p. 175).
4. TÉCNICAS DE CONSTRUÇÃO
As técnicas utilizadas na manufatura da cerâmica são basicamente
quatro: (1) modelagem, (2) acordelamento em anéis ou em espiral, (3)
“espalmar” ou bater entre uma espátula ou pá e uma pedra curva (bi-
gorna), (4) montagem com auxílio de um molde.
As duas primeiras podem ser empregadas em conjunto ou isolada-
mente, e as duas últimas, de forma mista.
As “Bolas” ou “Bolachas”
A este ponto a argila já está “temperada”, e são retirados pedaços que
serão amassados com as mãos, formando, assim, as “bolas”. Esse processo
dá início à modelagem.
As bolas confeccionadas pela artesã podem apresentar várias formas,
dependendo do tipo de vasilhame que será modelada, ou da operação
que está sendo executada no momento. Os formatos comumente usados
são: globo, cone, cilindro, globo-disco, globo-cone e cilindro-cone.
Modelagem
A modelagem pode ser uma técnica muito simples, mas não exclu-
sivamente, também pode produzir resultados de alta qualidade. O vaso
pode ser modelado a partir de uma bola de argila preparada, ou empre-
ga-se um cesto, uma pedra ou outro vaso para esticar a argila. É possível
que seja a primeira técnica de construção de vasos (WILLEy, 1986, p.
232-3). Mais comum, no entanto, é o seu emprego só para vasos peque-
nos (p. ex., xícaras para cafezinho, entre os Caingáng paulistas), fusos,
figurinhas, cachimbos, ou fundos de peças cujas paredes são construídas
por outros meios.
Um molde usado em alguns locais da América do Sul é o trançado.
Nesta técnica, o vaso é construído dentro de um cesto.
Bastante comum no Brasil é a modelagem do fundo e construção das
paredes por outras formas. O fundo pode também ser feito ao colocar
o “disco” de argila no fundo de uma tigela emborcada. Em seguida
utilizando a técnica de espalmar, a ceramista vai distendendo a massa até
obter o formato desejado. Em geral, usa-se como molde uma cerâmica
emborcada, como observamos, ou mesmo uma pedra. Entre as cera-
mistas da Baía de Paranaguá, usou-se também o trançado (cesto) para a
mesma finalidade (LOELL-SCHEUER, 1969).
Moldado
Formação do Fundo
Acordelamento
Os roletes são confeccionados pela artesã Carajá com o uso das mãos,
sendo em seguida encaixados sobre a borda da peça em construção. Para
fixar melhor o rolete, a artesã pressiona-o com os dedos, primeiro sobre
a parte interna e depois externa da peça (Caingáng, Xokléng).
Os Caingáng formam os roletes com as mãos, em seguida molham a
borda superior interna da peça, para depois os fixarem. O objetivo de o
rolete ficar parcialmente sobreposto, no interior da peça, é de aumentar,
através do adelgaçamento (raspagem) posterior, a área de contato (portanto
de adesão) entre os mesmos. Este procedimento diminui o perigo da peça
rachar ao longo da linha da junção. Esta prática pode ser reconhecida nas
fraturas das peças arqueológicas, pois a secção transversal do pedaço do anel
achatado, fraturada a adesão com os imediatamente inferior e superior, tem
a forma de um losango em vez de um quadrado de cantos arredondados.
Os Bororo, como os Caingáng e Xokléng, empregam a modelagem
para a parte inferior (base) e roletes para a parte superior (paredes) da
Hábitos Motores
Adelgaçamento
Durante o processo de raspagem, para provocar o crescimento e
adelgaçamento das paredes, dando a forma final ao corpo do vasilhame, a
peça é colocada diretamente no chão ou no colo da artesã com o objeti-
vo de tornar o seu manuseio mais fácil durante o alisamento das paredes.
Nesta etapa do trabalho a ceramista apóia uma mão na parte interna da
peça, fazendo esta girar, enquanto a outra alisa ou raspa a parte externa.
Posteriormente, é utilizado um pedregulho molhado, pedaço de pau em
forma de meio-cilindro, sabugo de milho ou pedaço de cabaça para a
raspagem. Os Caingáng se utilizam muito destes pedaços de madeira.
Uma informante Xokléng usou uma faca comum de mesa, mas
afirmou que anteriormente era usada uma faca de taquara.
Instrumentos de Adelgaçamento
5. SECAGEM E QUEIMA
Secagem
O encolhimento que ocorre durante a secagem pode ser medido
através da mudança no comprimento ou do volume de uma peça. Essa
característica preocupa bastante a ceramista, pois um encolhimento de-
masiado acarretará rachaduras no vasilhame. Em geral, quanto mais fina
a argila maior será sua taxa de encolhimento. Isto acontece porque a
contração causada pela perda de água em uma argila de partículas finas, e,
consequentemente, de maior área de superfície (das partículas), é maior,
ou seja, ela retém mais água que uma argila grossa. Em compensação,
uma argila de granulação fina é, em geral, sensivelmente mais forte.
Uma vez alcançada a forma desejada, em geral estreitamente condiciona-
da pela função a que se destina, a peça é levada a secar em um local arejado
e fresco, à sombra normalmente de um dia para o outro, ou mais raramente
durante vários dias, até estar em condições de ser posta ao sol. Uma expo-
sição direta aos raios solares pode trazer resultados desastrosos, na medida
em que a ação do calor não se exerce uniformemente, podendo ocasionar
rachaduras (LIMA, 1986, p. 176).
Tratamento da Superfície
Durante o período da secagem, já com o barro parcialmente seco,
a peça passa por repetidas sessões de raspagem e polimento, para fazer
desaparecer os sinais dos roletes, quaisquer outras irregularidades da su-
perfície, e produzir uma superfície mais regular e lisa. A raspagem mais
grossa é feita logo no início deste período, usando conchas, pedaços de
cabaça ou cuia, sabugo de milho, pau, couro, pano ou, recentemente,
facas e colheres de metal. Durante este processo, as paredes ficam mais
finas e regulares, portanto também usamos o termo “adelgaçamento”.
O processo de raspagem deixa marcas ou estrias na superfície, devido
à técnica de arrastar estes objetos através da superfície úmida e parcial-
mente mole. Este trabalho de nivelamento pode variar em grau de apri-
moramento e de regularidade ou irregularidade. O procedimento pode
Em geral o ato de polir produz estrias que podem ser vistas ao refletir
a luz. Mas quando o trabalho é bem feito a superfície da peça brilha por
igual, após este polimento a cerâmica está pronta para ser queimada.
Engobo
O engobo tem a finalidade de diminuir a porosidade e, portanto, a
taxa de absorção de líquidos pela parede da peça. Pode ser utilizada a
mesma argila que na pasta, ou uma argila de cor diferente. O engobo
é aplicado após a primeira queima, e a peça queimada de novo. Se não
houver uma segunda queima, a cor do mineral aplicado torna-se “fugi-
tivo”, podendo desaparecer após muito lavar a peça ou o caco.
Para verificar se uma peça possui ou não o engobo, é preciso obser-
var, através da lupa, se existe uma camada de argila mais fina e homogê-
Queima
Antes da queima, propriamente dita, alguns povos aproximam as
peças do fogo com o objetivo de esquentá-las. Em geral este fogo é
o mesmo sobre o qual os alimento são preparados. Os Xokléng fize-
ram um fogo aberto, na frente da casa, com a mesma finalidade, talvez
porque já usavam o fogão a lenha em casa. O mesmo fogo foi usado,
posteriormente, para a queima. Os Caingáng retiraram as brasas do fo-
gão à lenha e as colocaram no chão com a finalidade de esquentá-lo,
colocando as peças em cima do chão esquentado, no local onde depois
seria feita a queima (aqui também, na frente da casa).
Na história da cerâmica a técnica mais antiga utilizada para a cocção
de objetos de argila era a queima em fogo aberto. Este processo faz com
que quase todas as peças apresentem manchas escuras na parede, devido
à excessiva proximidade à lenha, cujo carvão inibe a livre circulação de
oxigênio em volta. As argilas carbonáceas, quando não completamente
oxidadas, adquirem tonalidades cinzentas de uma gama desde marrom
escuro até marrom alaranjado. As tonalidades mais claras provêm de
oxidação mais completa. As tendências para outras cores são resultado
da mistura de outras impurezas químico-mineralógicas na pasta. Por
exemplo, o vermelho vem da hematita, enquanto a limonita produz
amarelo ou amarelo-alaranjado. O branco vem da caolinita pura, que
é rara na natureza. O preto, usado para tinta ou desenhos, pode vir de
óxidos férricos numa atmosfera de redução; para atmosferas de oxidação
(como todos os casos de fogo aberto), as únicas verificadas no nosso País,
o mais adequado é o manganês.
Nas poucas pesquisas etnoarqueológicas efetuadas no País, a queima
observada foi em fogo aberto, sem fazer nenhuma escavação para pro-
teger as peças em brasa do vento, pois uma rajada deste teria o efeito de
danificar as peças pelo encolhimento diferencial, pedaços da superfície
descascando explosivamente, ou a peça simplesmente se rachando e
quebrando. Com os ventos verificados no Rio Grande do Norte, por
exemplo, á difícil conceber uma queima de cerâmica levada a bom
termo no meio as rajadas. Na cerâmica popular, encontramos várias
soluções para esse problema. O forno fechado, como o de assar pão
no quintal, é muito raramente usado. Mais comum é um buraco num
barranco, ou diretamente no chão. Primeiro faz-se um fogo para es-
quentar o chão ou fundo do buraco, depois as peças são depositadas
sobre as cinzas e, por sua vez, cobertas de lenha. Vasos colocados de
boca para baixo impedem a circulação de ar (oxigênio) no seu interior,
com o resultado de a oxidação incompleta do material orgânico deixar
o interior da peça preto.
Quando se queima os óxidos de ferro, as cores que estes assumem
dependem da temperatura, duração do período de cocção e condições
atmosféricas (oxidação ou redução). As formas amorfas de óxido férrico
se cristalizam entre 400º e 600ºC. Esta transformação se chama fulguração
por causa da aparência das peças enquanto produzem (emitem) calor.
Esfumaramento
O processo de esfumaramento (ou esfumaçamento) entre os Cain-
gáng se desenvolve depois da queima e tem como resultado um aumento
da impermeabilidade da peça (embora a explicação dos índios seja de
fazer a peça “mais bonita”).
A cor preta procurada pela oleira Caingáng (ou Xokléng, Bororo) não
se produz numa atmosfera de oxidação; daí advém a técnica Caingáng de
esfumaramento, ao inserir a peça em brasa num ambiente de material orgâ-
nico, assim produzindo uma atmosfera de redução, depois de terminado o
processo de oxidação (MILLER, 1978b, p. 28).
Esfriamento
Os artesãos de Santo Antonio do Potengi retiram a lenha carboniza-
da do fogo, deixando as peças esfriar até o dia seguinte. As artesãs Cain-
gáng deixam esfriar depois do esfumaramento, o esfriamento levando
menos de uma hora.
Envernizamento
Vários povos aplicam uma resina às peças já queimadas para imper-
meabilização e embelezamento, e é bastante comum entre os povos
brasileiros e no continente em geral. Infelizmente, alguns autores têm
chamado este processo também de “vitrificação”, o que não conside-
ramos aconselhável, porque alguns povos (como os Pueblos do Rio
Bravo) praticam a verdadeira vitrificação, que consiste em passar engo-
bo contendo uma mistura especial de mineral ou quartzo moído com
corantes minerais na superfície das peças já queimadas, para em seguida
fazer uma segunda cocção a temperatura mais alta, provocando uma
superfície vitrificada por derretimento do quartzo. Em certos casos,
uma forma de sal grosso pode ser usada para se conseguir um resultado
semelhante.
6. ASPECTOS FORMAIS
Formas
A terminologia de classificação das formas do vasilhame manufatu-
rado artesanalmente e usado por comunidades tradicionais reflete uma
tentativa de o classificador impor categorias funcionais a determinadas
formas na base tão somente de critérios de forma. Só no caso de BRO-
CHADO (1977) e de RIBEIRO (1988) há definições que começam
com a forma, dimensões e proporções, para se preocupar com a função
em seguida; e, no caso de MILLER (1978b) a intenção é de se utilizar
da classificação êmica indígena para depois definir a gama e os limites
de forma, tamanho e proporções, citando por último a função atribuída
pelos índios. Aqui vamos seguir mais de perto os primeiros dois autores,
pois a classificação do terceiro, sendo êmico, diz respeito especifica-
mente a um único novo, enquanto os outros apresentam classificações
derivadas de diversas fontes.
Vasos ou panelas: BROCHADO faz a distinção entre “panela”
(“pot”) e “tigela” (“bowl”) na base da proporção entre altura e largura,
o primeiro sendo de “altura igual ou maior do que o diâmetro máximo”
(op. cit., p. 71). Cita que “algumas vezes a abertura superior é mais ou
menos constrita”. RIBEIRO define “panela” como sendo uma “vasilha
larga e funda, provida ou não de tampa, usada para cozinhar alimentos
e/ou fermentar bebidas” (op. cit., p. 25-6). Em seguida ela cita três
variedades, sendo
a) Vasiforme (em forma de vaso, sendo o diâmetro do bocal igual ou um
pouco menor que o do fundo).
b) Gameliforme (em forma de gamela, baixa, atarracada, com o diâmetro
da boca aproximadamente igual ao do fundo).
c) Alguidariforme (em forma de alguidar, larga, rasa, de forma trapezoi-
dal ovalada) (idem).
Silhueta
Na silhueta da peça temos vários elementos ou poucos, dependendo
da complexidade da sua forma total. Os elementos fundamentais são (1)
fundo, (2) forma interior (forma-I), (3) bojo, (4) forma superior (forma-
II) quando tiver, (5) pescoço ou colar, e (6) borda. Entre qualquer par
destes em seqüência, pode haver uma inflexão suave ou abrupta. Nota-se
que a seqüência destes elementos vai de baixo para cima, ou seja, segue
a seqüência da sua manufatura.
As silhuetas podem ser simples, sendo essencialmente de apenas uma
forma fundamental (Fig. 2) ou compostas, combinando mais de uma
(Fig. 1). As formas fundamentais são:
1) Globular ou esférica
2) Meia esfera
3) Meia calota
4) Ovóide
5) Cônica
6) Cilíndrica
7) Quadrangular
8) Afunilada
FIG. 1. Formas de
vasilhame composto
FIG. 2. Formas
fundamentais
Efígies
Vasos em efígie são comuns na região andina, no Caribe, Orenoco
e no baixo e médio Amazonas. No Peru são feitos em moldes, com
incrível variedade, sendo freqüentemente retratos de príncipes e outros
governantes, feitos como em linha de montagem tal que muitos lugares
podem dispor de um retrato do chefe do distrito ou província, como
nas nossas repartições públicas hoje,
Vasos em efígie são freqüentes como urnas funerárias na Amazônia.
São muito raros no Nordeste do Brasil.
Adornos
Alças e asas são amplamente distribuídas no continente, mas são mais
características da tradição neobrasileira (populações mestiçadas continu-
ando a tradição cerâmica indígena, principalmente tupi-guarani). Os
exemplos que encontramos no Rio Grande do Norte, evidentemente,
datam de períodos de contato com europeus.
Bicos, para o despejo de líquidos, são características também de po-
vos em contato com europeus ou da tradição neobrasileira.
Pescoços ou gargalos se encontram na cerâmica indígena do País,
embora não sejam comuns. Os Caingáng os colocam apenas nas garrafas
pequenas de kiki.
Os Bororo aplicam, sobre a borda do recipiente, duas “orelhas” em
lados opostos (marca de um clã). Entre as ceramistas da Baía de Parana-
guá, observamos o uso de alças nos potes, que são colocados em direção
horizontal ou vertical. Utilizam rolos achatados, que são colocados no
ombro da peça, já perfurados e fixados na parte interna da mesma. Os
elementos acrescentados à forma original, tais como pescoço, bico, alça,
asa ou cabo, de acordo com função em vista, não anularam as formas
primordiais ou fundamentais.
Vasilhame Compósito
Vasilhame conjugado, como o “cuscuzeiro”, uma peça sendo perfu-
rada com um pauzinho como coador, para ser sobreposta a outra onde
se ferve a água, evidentemente existia já em tempos pré-históricos, tanto
quanto os coadores, mas a informação ainda é pouco (ver SCHMITZ
et al., 1980).
Cerâmica Não-vasilhame
Na América do Sul existem muitos objetos de cerâmica que não
são vasilhame. No Rio Grande do Norte temos contas, rodas de fuso e
cachimbos. No País também existem carimbos planos e cilíndricos, e,
em outros lugares, apitos, ocarinas, flautinhas, estatuetas ou figurinhas
e incensários.
Bordas
Lábios
A “extremidade terminal da borda” (RIBEIRO, 1988, p. 34), com
apenas cinco variações apresentadas pelos autores da “Terminologia”
(ver fig. 4), é preparado, atualmente, com faca, couro ou folha ume-
decida, ou ainda só com dedos e unhas. LOELL-SCHEUER (Ibid)
cita formas com técnicas de fabricação de lábios (1) planos, (2) planos
oblíquos, (3) arredondados e (4) apontados. Ribeiro ainda acrescenta
que a sua forma final pode ser ondulada, dentilhada ou serrilhada, além
de plana.
FIG. 3. Bordas
Classificação das bordas
(a face externa do vaso
à direita): 1. direta; 2.
expandida; 3. extrovertida;
4. reforçada internamente;
5. dobrada; 6. reforçada
externamente; 7. cambada;
8. contraída; 9. vasada
(ôca); 10. introvertida;
11. vertical; 12. inclinada
interna; 13. inclinada
externa. De, Terminologia
Arqueológica Brasileira
para a Cerâmica.
FIG. 4. Lábios
Classificação das lábios:
1. plano; 2. redondo; 3.
apontado; 4. biselado; 5.
dentado ou serrilhado. De,
Terminologia Arqueo-
lógica Brasileira para a
Cerâmica.
7. DECORAÇÃO
Na arte decorativa temos, em primeiro plano, a distinção entre (1)
a natureza do elemento formal e a sua produção, e, (2) o arranjo dos
elementos para formar um desenho (“design layout”).
Abordaremos, em primeiro plano, o aspecto formal dos elementos
e a sua produção. Costuma-se, a esse nível, fazer também o contraste
entre a decoração plástica e a pintada.
Não há acordo completo sobre o que é e não é decoração. Por
exemplo, o grande trabalho feito no polimento até brunidura, por par-
te dos Caingáng, envolve toda a superfície externa do vaso (podendo
incluir a externa da tigela), no qual caso o elemento formal decorado é
a unidade do artefato. No polimento com o pedregulho molhado, este
é arrastado, normalmente, por movimentos lineares paralelos à borda
do vaso, mas ocasionalmente, pode haver faixas alternadas de estrias
de polimento vertical e horizontal. Nestes casos, o SEMINáRIO que
desenvolveu a “Terminologia Arqueológica Brasileira para a Cerâmica”
tomou a posição de que não se trata de “decoração” e sim de “tratamen-
to de superfície”. No entanto, o fato de não alisar e igualar as marcas de
raspagem com o sabugo ou a “falta propositada de alisamento esterno
dos roletes que formam o vaso” deixando a superfície “corrugada”, elas
Decoração Plástica
Decoração Pintada
A decoração pintada pode ser aplicada antes ou depois da queima.
No primeiro caso, são corantes minerais, normalmente misturados com
argilas, ou minerais argilosas tais como taguá (argila com hematita, de
cor vermelha) ou tabatinga (argila branca). No caso das tintas de origem
vegetal (jenipapo, urucum, fuligem com óleo, etc.) só podem ser adi-
cionadas após a queima, por causa da oxidação.
Os Caingáng ocasionalmente esfregam as peças com um nódulo de
hematita após a queima, o que proporciona uma cor ou desenho fu-
gitivo. Os Carajá pintam os seus vasilhames com uma argila vermelha.
A tinta é preparada apenas acrescentando água. Em seguida, é aplicada
com os dedos ou com um talo de buriti com a extremidade envolta em
algodão. Segundo WÜST (1984, p. 315), “atualmente são empregadas
para a decoração dos recipientes e outros artefatos cerâmicos também
tintas de origem vegetal tais como o urucum misturado com óleo, óleo
de algodão misturado com fuligem ou com suco da fruta do jenipapo”.
As ceramistas da Baía de Paranaguá também usam do talo de buriti
com algodão para pintar desenhos, e ainda os dedos ou uma pena de
galinha.
Implementos Usados
A ceramista se utiliza de uma grande variedade de instrumentos, na
fase de aplicação dos ornamentos. Dentre eles podemos cita: taquarinha,
pedaço de couro, pedra ovalada, pauzinhos de extremidade triangular
e aguçada, sabugo de milho, lâmina, e outros – incluindo os próprios
dedos e unhas. RIBEIRO (op. cit., p. 33) cita nominalmente alisadores,
entalhadores, escovadores, impressores, perfuradores, pincéis, polidores,
raspadores, e vitrificadores, todos com os seus pormenores.
8. PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DE
LABORATÓRIO
Introdução
FIG. 5. Ficha de
Análise de Cerâmica)
Campo A: Identificação
Campo B: Pasta
material orgânico.
Um furo perpendicular à superfície, atravessando a parede do vaso
ou peça (ou caco), total ou parcialmente, é mais provável de ser uma raiz
infiltrada durante o tempo em que o caco se encontrava no solo.
0 = Não visíveis
1 = Material orgânico queimado
2 = Pequenas, poucas
3 = Bem nítidas, poucas
4 = Pequenas freqüentes
5 = Pequenas e nítidas, freqüentes
6 = Achatadas/alongadas
7 = Furinhos alongados perpendiculares
Coluna 21 Coluna 22
0 = Nada visível 0 = Mais nada acrescentada
1 = Areia 1 = Mais argila/silte
2 = Argila/Silte 2 = Mais piçarra/hematita
3 = Piçarra/Hematita 3 = Mais material orgânico
4 = Material orgânico (ocos) 4 = Mais mica
5 = Mica 5 = Mais material orgânico e mais mica
6 = Areia mais argila
7 = Areia mais piçarra
8 = Areia mais material orgânico
9 = Areia mais mica
Coluna 25: Tamanho dos grãos dos aditivos naturais. Aqui se mede
os maiores dos grãos arredondados.
0 = nada visível
1 = menores de 0,5mm
2 = aprox. 0,5mm
3 = aprox. 1,0mm
4 = aprox. 1,5mm
5 = aprox. 2,0mm
6 = aprox. 2,5mm
7 = aprox. 3,0mm
8 = aprox. 3,5mm
9 = 4,0mm ou maior
Campo C: Queima
0 = não há
1 = pequena (inferior a 2 cm)
2 = média (2-4 cm)
3 = grande (5 cm ou mais)
4 = mais de uma
5 = nas duas superfícies, inteiramente
6 = apenas superfície externa (inteira)
0 = não há
1 = pequena (inferior a 2 cm)
2 = média (24 cm)
3 = grande (5 cm ou mais)
4 = mais de uma
5 = nas duas superfícies, inteiramente
6 = apenas a superfície interna (inteira)
Campo D: Forma
A forma, s aplicações e o acabamento são as áreas onde o artesão
tem a maior liberdade criativa em potencial, restringida apenas pelas
exigências da função (objeto para conter algo, normalmente líquido) e
da tradição (normas ou expectativas). Isto significa que é uma potencial-
mente rica em possibilidades de livre escolha, no exercício das atividades
humanas. Tradicionalmente, tem sido considerado, pelo arqueólogo, a
área onde mais e pode encontrar (estatisticamente) as normas ou bitola
mentais da sociedade.
4 = aproximadamente 2,0cm
5 = 2,5cm
6 = 3,0cm
7 = 3,5cm
8 = 4,0cm
9 = 4,5cm
3 – meia calota
4 = cônica
5 = cônica
6 = cilíndrica
7 = quadrangular
8 = afunilada
9. RETROSPECTO
A arqueologia moderna é uma Ciência Social que procura informa-
ção sobre o comportamento de seres humanos organizados em socie-
dades integrados por uma cultura. Portanto, procura informação com-
portamental de indivíduos, normalmente no passado, para induzir os
padrões culturais que norteiam essas sociedades. Então a nossa análise
de artefatos e dos seus contextos deve conduzir a informação sobre o
comportamento de gente no passado e, daí, as regularidades que espe-
lham a cultura no passado.
No estudo da cerâmica arqueológica temos [1] a matéria prima com
as suas possibilidades e limitações, [2] os objetivos (os produtos sendo fa-
bricados segundo modelos compartilhados entre os membros da socieda-
de) e meios (escolhas e hábitos motores envolvidos) de quem modificou
essa matéria prima e [3] um resultado, o qual deve ter pistas intrínsecas
sobre os objetivos e meios do artesão desconhecido e falecido. Isto exige
[4] uma linguagem descritiva intersubjetiva, para que todos sabemos o
que significam os termos, e para que os modos de atividades possam ser
quantificados para comparação e para testes de significado.
Construímos em cima de informações derivados da indústria cerâ-
mica (SHEPARD, 1957), da Etnoarqueologia (COSTA, 1985; LIMA,
1986; LOELL-SCHEUER, 1969, 1982; MILLER, 1978b, 2008; MUC-
CILLO e WÜST, 1984; WÜST, 1984), tanto quanto da Arqueologia
(BROCHADO, 1977; MEGGERS e EVANS, 1970; NASSER, 1971,
1974; SEMINáRIO, 1966), procurando as integrar. Tratamos da maté-
ria prima (Capítulo II), do procedimento da artesã (Capítulos III a V) e
de aspectos dos fins (Capítulos VI e VII), ou seja, os modelos conceituais
aos quais os objetos concretos devem se aproximar. Elaboramos um pro-
cedimento de análise de laboratório de material cerâmica arqueológica
que segue essas diretrizes, incluindo métodos tradicionais, ao lado de
outros novos (Capítulo VIII). Este procedimento envolve modos numa
classificação codificada susceptível a manipulação quantitativa. Em outro
Bibliografia