Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SECRETARIADO EDITORIAL
José Luís Madeira
CONSELHO DE REDAÇÃO
Domingos de Jesus da Cruz
Helena Maria Gomes Catarino
José D’Encarnação
Maria Conceição Lopes
Pedro C. Carvalho
Ricardo Costeira da Silva
Vasco Gil Mantas
CONSELHO CIENTÍFICO
Alain Tranoy (Université de Poitiers)
Ana Margarida Arruda (Universidade de Lisboa)
Germán Delibes de Castro (Universidad de Valladolid)
Javier Sánchez-Palencia (Centro de Ciencias Humanas y Sociales, CSIC - Madrid)
Jorge de Alarcão (Universidade de Coimbra)
Luís Raposo (Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa)
Manuel Martín-Bueno (Universidad de Zaragoza)
Martín Almagro-Gorbea (Universidad Complutense de Madrid)
Mário Barroca (Universidade do Porto)
Primitiva Bueno Ramírez (Universidad de Alcalá de Henares)
Tania Andrade Lima (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Trinidad Nogales Basarrate (Museo Nacional de Arte Romano)
SECRETARIADO ADMINISTRATIVO
Eunice Dionísio
PROPRIEDADE
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra | Instituto de Arqueologia
EDIÇÃO
Imprensa da Universidade de Coimbra
Todos os contributos (artigos e recensões) devem ser submetidos através da plataforma Open Journal Systems (OJS)
no link http://impactum-journals.uc.pt/login
Toda a correspondência deve ser dirigida a:
INSTITUTO DE ARQUEOLOGIA
VOLUME
VOLUMELVIII
LVI
COIMBRA 2019
Gonçalo de Carvalho Amaro1
Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
(FCSH) da Universidade Nova de Lisboa.
https://orcid.org/0000-0003-0075-2117
amarogoncalo@gmail.com
Resumo: Na América Latina tem existido, nos últimos tempos, uma maior
preocupação pela integração das comunidades locais nas decisões
sobre o modo como estas devem ser representadas em museus.
Este processo tem-se notado sobretudo com as comunidades indí-
genas, mudando claramente os paradigmas ocidentais sobre como
expor a cultura material do passado e na representação de povos
com diferente matriz cultural. Com este texto pretendemos apre-
sentar duas exposições recentes realizadas em Santiago do Chile
sobre a cultura mapuche, debatendo as estratégias usadas pelos
seus curadores para mostrar os objetos dessa comunidade indíge-
na e também a complexa relação da museologia com o património
arqueológico.
1
Investigador no Projeto Horizon 2020 (Portuguese Partner DGPC): Museums
and Community; Concepts Experiences and Sustainability in Europe, Latin America
and the Caribbean – ICOM EU-LAC MUSEUMS, Grant Agreement 693669.
Abstract: Lately, in Latin America, there has been a greater concern for the
integration of local communities in the decisions about how they
should be represented in museums. This process has been noted
mainly with indigenous communities, clearly changing the Wes-
tern paradigms on how to expose material culture of the past and
on the representation of people with a different cultural matrix.
With this text we intend to present two recent exhibitions held
in Santiago de Chile about Mapuche culture, debating the strate-
gies used by the curators to show the objects of this indigenous
community and the complex relationship between museums and
archeological heritage.
Introdução
2
Denominação usada na generalidade dos países latino-americanos, seguindo o
termo inglês de First Nations.
3
A palavra mapuche é utilizada tanto para o singular como plural, como é utili-
zada na construção frásica em castelhano, na qual é usada tanto para el mapuche como
los mapuche. A justificação assenta no facto de que a construção da palavra em si em
mapudungun já indica pluralidade: mapu (terra) e che (gente).
4
O conceito de appropriate museology (museologia apropriada ou museologia
intermédia em português) de Kreps inspira-se na proposta de Ernst F. Schumacher
(2001) de uma tecnologia apropriada ou intermédia, na qual o economista alemão
propõe uma tecnologia que seja adequada ao contexto específico de cada comunidade e
pensada para o desenvolvimento das comunidades do terceiro mundo, desenhada para
ter especial atenção aos aspetos meio-ambientais, éticos, culturais, sociais e econó-
micos da comunidade a que se dirige.
5
A apresentação pública da exposição está disponível em vídeo online:
http://hemisphericinstitute.org/excentrico/pt-br/436/francicso-huichaqueo-3/.
[Em linha], consulta a 9 de Janeiro de 2018.
6
Entrevista Radio Universidad de Chile http://radio.uchile.cl/2016/07/28/presen-
tan-primera-exposicion-de-plateria-mapuche-tradicional/. [Em linha], consulta a 9 de
Janeiro 2018.
7
Curiosamente, um dos textos mais críticos sobre os museus de arqueologia até
foi realizado por dois investigadores europeus: os britânicos Michael Shanks e Chris
Tilley, que, numa argumentação típica do início do pós-processualismo e de aproxi-
mação à teoria social da década de 80, indicam que os museus arqueológicos não são
capazes de representar a riqueza cultural dos objetos expostos e, mais grave ainda do
que esse aspeto, dão uma ideia errada do passado: «distorcing it through selection and
classification, creating a particular historical narrative» (Shanks & Tilley 1987, 68).
8
Aqui o outro é entendido no conceito de aquele que é diferente, que tem outra
cultura, que não é civilizado, tendência maioritária no âmbito científico desde o ilumi-
nismo até ao pós-guerra.
9
Portugal não está de todo imune a estas situações, muito pelo contrário. Tendo
sido um dos últimos países a abdicar das suas colónias, acaba por ter, nos seus museus,
um conjunto importante de objetos suscetíveis de serem reclamados e também capazes
de criar situações incómodas – devido à sua expografía – para certas comunidades. O
trabalho de Elsa Peralta, Lisboa e a Memória do Império. Património, Museus e Espaço
Público (2017), aflora em parte esta problemática para o caso português, centrando-se
fundamentalmente na cidade de Lisboa.
10
Ver exemplos apresentados por Lilla Vonk (2015) sobre os museus de Quai
Branly (França) e Rijsksmuseum Volkenkunde (Holanda), ou ainda o trabalho nos
museus escandinavos com as comunidades Sami (Kreps 2015).
11
Native American Graves Protection and Repatriation Act (NAGPRA) ou, se
quisermos, lei para a proteção e repatriação dos cemitérios dos nativos americanos,
aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos em 1990. Nesse mesmo ano, através
dessa lei, as comunidades de povos originários requereram a cerca de 5000 instituições
do país a devolução às comunidades indígenas de esqueletos, restos humanos e vários
objetos considerados sagrados (Renfrew & Bahn 2008, 553). Pouco depois, segui-
ram-se leis similares, ainda nos anos 90, no Canadá, Austrália e, mais tarde, em alguns
países da América Latina. Os estudos sobre a repatriação de objetos indígenas torna-
ram-se, na atualidade, um tema complexo e com várias matizes, com alguns avanços e
recuos – como o caso Kennewick – não existindo espaço para aflorar devidamente este
tema, sugere-se a leitura de Bray 2001; Smith 2004; Killon 2008; Gnecco & Ayala
eds. 2010.
12
Nahuelpán utiliza este termo inspirado no conceito visual de “zonas cinzentas”,
de Primo Levi, para assim caracterizar o sentido sombrio e cinzento das dinâmicas
sociais traumáticas (Nahuelpán 2013, 12-13).
13
Em 2008 chegou mesmo a realizar-se, no seio do 6.º Congresso Mundial de
Arqueologia, uma sessão sobre povos indígenas, património e território: encontros e
experiências partilhadas, que visava convocar as organizações socias, comunidades
Reflexões finais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Adams, Ruth (2010) – The V&A: empire to multiculturalism? Museum and society,
8(2), p. 63-79.
Ayala, Patricia (2008) – Políticas del pasado: indígenas, arqueólogos y Estado en
Atacama. Santiago: Ediciones IIAM.
Alegría, Luis; Gänger Stefanie; Polanco, Gabriela (2009) – Momias, cráneos y ca-
níbales. Lo indígena en las políticas de “exhibición” del Estado chileno a finales
del siglo XIX. Nuevo Mundo, Mundos Nuevos [Em linha], colocado em linha a 3
de fevereiro de 2009, consulta a 20 de dezembro de 2017.
Alvarado, Margarita; Mege, Pedro; Báez, Cristián (2001) – Mapuche. Fotografías
siglos XIX y XX: Construcción y montaje de un imaginario. Santiago: Pehuén
Editores.
Alvarado, Margarita (2012) – Fotografías de los pueblos originarios. Categorías esté-
ticas-antropológicas en la visualidad de los indígenas de Chile. Los pueblos ori-
ginarios en los museos. Propuestas curatoriales y museográficas Precolombino,
vol I. Santiago: Museo Chileno de Arte Precolombino, p. 61-86
Alvarado, Margarita; Gallardo, Francisco; Cordua, Pablo; Cobo, Catalina (2016)
– Nuevas narrativas para remotos y venerables artefactos: La Colección profe-
sor Gastón Soublette y el Aula de Arte “Nuestros pueblos originarios”. Revista
Diseña 10, p. 6-17.
Amselle, Jean-Loup (2010) – Le retour de l’indigène. L’Homme, 194, p 131-138.
Anderson, Kay (2000) – Thinking “Postnationally”: Dialogue across Multicultural,
Indigenous, and Settler Spaces. Annals of the Association of American Geogra-
phers 90(2), p. 381-391.
Atalay, Sonya (2006) – Indigenous Archaeology as Decolonizing Practice. American
Indian Quarterly. University of Nebraska, 30 (3&4), p. 280–310.
Barreiro, José (2012) – De extinción a supervivencia: proceso de autointerpretación
indígena en el Museo Nacional del Indígena Americano, institución Smithsonian.
Los pueblos originarios en los museos. Propuestas curatoriales y museográficas
Precolombino, vol I. Santiago: Museo Chileno de Arte Precolombino, p. 11-18.
Bengoa, José (2000) – La emergencia indígena en América Latina. Santiago: Fondo de
Cultura Económica de Chile.
Bennett, Tony (1998) – The Exhibitionary Complex. New Formations 4, p. 73-102.
Besterman, Tristram (2006) – Museum ethics. In Sharon Macdonald (ed.) – A Compa-
nion to Museum Studies. Malden, Mass.: Blackwell, p. 431–441.
Brodie, Neil & Tubb, Katheryn eds. (2002) – Illicit Antiquities: the Theft of Culture
and the Extinction of Archaeology. London: Routlege.
Carvalho Amaro, Gonçalo de & García Rosselló, Jaume (2012) – Cadena operativa
y tecnología. Una visión etnoarqueologica de las alfareras mapuches de Lumaco.
Boletín de la Sociedad Chilena de Arqueología 41/42, p. 53-78.
Carvalho Amaro, Gonçalo de & García Rosselló, Jaume (2013) - Estudo etnoar-
queológico da produção cerâmica mapuche no vale de Lumaco (Chile). Proces-
sos técnicos e conceitos simbólicos. Almadam II série 17 (2), p. 96-107.
Karp, Ivan & Steven Lavine (eds.) (1991) – Exhibiting Cultures. The Poetics and Poli-
tics of Museum Display. Washington, D.C.: Smithsonian Institution.
Killion, Thomas (2008) – Opening Archaeology: Repatriation’s Impact on Contempo-
rary Research and Practice. In Opening Archaeology: Repatriation’s Impact on
Contemporary Research and Practice. Thomas W. Killion, ed. Santa Fe: School
for Advanced Research Press, p. 3-26.
Kohl Phillip & Fawcett, Clara (1995) – Archaeology on the service of the state:
theoretical consideration. Nationalism, Politics and the practice of Archaeology,
Phillip Kohl & Clara Fawcett (eds.). Cambridge: Cambridge University Press,
p. 3-20.
Kreps, Christina (2008) – Appropriate museology theory and practice. Museum mana-
gement and Curatorship 23 (1), p. 23-41.
Kreps, Christina (2015) – Appropriate museology and the “new museum ethics”. Nor-
disk Museologi 2, p. 4-16.
Latour, Bruno (1998) – La tecnología es la sociedad hecha para que dure. In Miguel
Domenech & Francisco Tirado (eds.). Sociología Simétrica. Ensayos sobre Cien-
cia Tecnología y Sociedad. Barcelona: Gedisa, p. 109-142.
Lonetree, Amy (2012) – Decolonizing Museums. Representing Native America in Na-
tional and Tribal Museums. Chapel Hill, NC: University of North Carolina Press.
Lord, Beth (2006) – Foucault’s museum: difference, representation, and genealogy.
Museum & Society 4 (1), p. 1-14.
Lowenthal, David (1985) – The Past is a Foreign Country History. Cambridge: Cam-
bridge University Press.
Martí I Puig, Salvador (ed.) (2007) – Pueblos Indígenas y Política en América Latina.
El reconocimiento de sus derechos y el impacto de sus demandas a inicios del
siglo XXI. Barcelona: Fundación CIDOB.
Macdonald, Susan (2003) – Museums, National, Postnational and Transcultural Iden-
tities. Museum and Society, 1(1), p. 1-16.
Meskell, Lynn (1998) – Introduction Archaeology matters. In Archaeology under
Fire: Nationalism, politics and heritage in the Eastern Mediterranean and Mid-
dle East. London and New York: Routledge, p. 1-13.
Miller, Daniel (2008) – The Comfort of Things. Cambridge: Polity Press.
Mignolo, Walter (2002) [1999] – Historias locales/diseños globales. Colonialidad,
conocimientos subalternos y pensamiento fronterizo. Madrid: Akal.
Nahuelpan, Héctor (2013) – Las “zonas grises” de las historias Mapuche. Colonialis-
mo internalizado, marginalidad y políticas de la memoria”. Revista de Historia
Social y de las Mentalidades 17 (1), p. 11-33.
Olsen, Bjornar (2012) – O regresso das coisas e a selvajaria do objecto arqueológico.
In Godofredo Pereira (ed.). Objectos Selvagens. Lisboa: Imprensa Nacional da
Casa da Moeda, p. 71-83.
Onciul, Bryony (ed.) (2015) – Museums, Heritage and Indigenous Voice Decoloni-
zing Engagement. New York: Routlege.
Peers, Laura & Alison Brown (eds.) (2003) – Museums and Source Communities. A
Páginas web:
http://radio.uchile.cl/2016/07/28/presentan-primera-exposicion-de-plateria-mapuche-
-tradicional/.
http://hemisphericinstitute.org/excentrico/pt-br/436/francicso-huichaqueo-3/