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CONSIDERAÇÕES SOBRE A LOGOTERAPIA E A ANÁLISE


EXISTENCIAL COMO LEITURAS DO FUNCIONAMENTO DO
PSÍQUICO: UMA REVISÃO DE LITERATURA

LEONE AGAPITO LIMA1,


FRANCISCO FLÁVIO FIRMINO2,
LEONICE ABREU PEREIRA3,
PATRÍCIA MENDES LEMOS4

Resumo: Este trabalho objetiva apresentar a teoria psicológica de Viktor Emil Frankl, destacando
brevemente seu histórico, os conceitos da tríade trágica e os pilares da escola frankliana: Liberdade da
Vontade, Vontade de Sentido e Sentido da Vida. Destacamos que a relevância para tal estudo é o fato de
que a Logoterapia e Análise Existencial está implicada ao contexto social contemporâneo, cujas fatores: de
falta de sentido, o “vácuo” existencial e a interrogação acerca do sentido da vida, têm se tornado cada vez
mais presente.
Palavras-Chave: Pilares da Logoterapia. Tríade trágica. Viktor Frankl.

Abstract: This paper aims to present the psychological theory of Viktor Emil Frankl, highlighting briefly
his history, the concepts of the tragic triad and the pillars of the Frankish school: Freedom of Will, Will to
Sense and Sense of Life. We emphasize that the relevance for such a study is the fact that Logotherapy
and Existential Analysis is implicated in the contemporary social context, whose factors: lack of meaning,
existential “vacuum” and questioning about the meaning of life, have become more present.
Keywords: Pillars of the Logotherapy. Tragic triad. Viktor Frankl.

ANAIS do III Encontros Acadêmicos da Faculdade Luciano Feijão.


INTRODUÇÃO

Viktor Emil Frankl é o fundador da logoterapia. O termo que faz referência a esta linha
de pensamento e compreensão, pode ser traduzido como ‘terapia através do sentido’, tradução
feita pelo próprio fundador da Terceira Escola Vienense de Psicoterapia no livro Um sentido para a
vida. O autor em questão nasceu na cidade de Viena, Áustria, em 1905. De família judaica, perdeu
os pais, um irmão e a primeira esposa nos campos de concentração durante a Segunda Guerra
Mundial, lugar onde o mesmo passou por quatro campos de concentração nazista durante os
anos de 1942 e 1945.
Sobral-CE, novembro de 2018.

1 Aluno do 9º semestre de Psicologia pela Faculdade Luciano Feijão (FLF). E-mail: leonehpl@hotmail.com.
2 Aluno do 9º semestre de Psicologia pela Faculdade Luciano Feijão (FLF). E-mail: fflaviobiologia@gmail.com.
3 Aluna do 9º semestre de Psicologia pela Faculdade Luciano Feijão (FLF). E-mail: niceabreup@hotmail.com.
4 Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC/CE). Docente em Psicologia na Faculdade Luciano

Feijão. E-mail: ptmenl_78@hotmail.com.


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Alguns podem pensar que Viktor Frankl fundou a logoterapia enquanto esteve nos
campos de concentração, mas sua interrogação sobre o sentido da vida começou ainda na
infância, como ele mesmo afirmava: “a Logoterapia surgiu então na casa onde nasci” (Frankl,
2010, p. 26). Desde criança o pai da logoterapia queria ser médico, fato que se concretizou, e
especializou-se em neurologia e psiquiatria. Antes de ser deportado trabalhou no Hospital
Psiquiátrico de Viena, exerceu a psiquiatria também no setor particular e por dois anos foi o
responsável pelo departamento de neurologia no hospital de Rothschild.
Em abril de 1945, com o fim da Segunda Guerra, Viktor Frankl foi libertado dos campos
e retornou para Viena. Em julho daquele mesmo ano, num intervalo de nove dias, o livro Em
busca de sentido foi escrito. Esta obra o tornou conhecido mundialmente. Viktor Frankl escreveu
cerca de 39 livros, trabalhou como professor de neurologia e psiquiatria na Universidade de
Viena foi diretor da Policlínica de Viena por 25 anos, trabalhou como logoterapeuta, viajou por
muitos países, no Brasil esteve duas vezes, compartilhando suas experiências e formando
logoterapeutas. Aos 92 anos o pai da logoterapia faleceu em sua terra natal.

AS CONDIÇÕES PARA O SURGIMENTO DA LOGOTERAPIA

Destacamos, por exemplo, o que Frankl relata na sua autobiografia que aos quatro anos,

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numa certa noite ele foi como que despertado com a ‘consciência’ de que um dia ele iria morrer.
Ele diz que nunca teve medo da morte, o que de fato o incomodava era se a transitoriedade da
vida fazia com que ela perdesse o sentido. A questão sobre o sentido da vida foi o que o moveu
desde criança. No livro Em busca de sentido ele escreve: “A busca do indivíduo por um sentido é a
motivação primária em sua vida, e não uma “racionalização secundária” de impulsos instintivos”
(FRANKL, 2015, p. 124).
No ensino médio já tinha curiosidade por assuntos da psicologia. Também foi neste
período em que se comunicou com Freud por meio de cartas e o encontrou pessoalmente
quando já estava na faculdade de medicina. Teve contato com Alfred Adler, fundador da
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psicologia do desenvolvimento individual. Ainda nos anos de estudos conheceu a obra de Max
Scheler que se tornou importante referência para aquilo que já se forjava, a logoterapia. Por volta
dos quinze ou dezesseis anos Viktor Frankl proferiu uma palestra intitulada o sentido da vida.
Sobre esta fase o autor escreve:
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Naquela época eu estava desenvolvendo duas de minhas ideias centrais: que, na


verdade, não podemos questionar sobre o sentido da vida, porque somos nós
mesmos que estamos sendo questionados – somos nós que temos que
responder às perguntas que a vida nos coloca. E essas perguntas que a vida nos
coloca só podem ser respondidas à medida que somos responsáveis pela nossa
própria existência. (FRANKL, 2010, p. 63).
Estas duas ideias, sobre como encontrar o sentido da vida e da postura responsável frente
a mesma são questões que estão implicadas em todo o processo psicoterapêutico. Para a
logoterapia é a pessoa que é interpelada a todo instante pela própria vida sobre o seu sentido.
Então é o sujeito quem tem de responder a esta pergunta e, isto só será possível com atitude
responsável pela própria vida.

A Logoterapia se constitui por meio de três fases distintas: (1) o trabalho de


aconselhamento de Frankl nos centros de prevenção ao suicídio na década de 1920. (2)
O desenvolvimento de um sistema de pensamento calcado em filósofos como Max
Scheler, Karls Jaspers, Martin Heidegger, Ludwing Binswanger e Martin Buber, e,
posteriormente, validado por sua própria vivência nos campos de concentração no
período da Segunda Guerra Mundial, como prisioneiro comum. (3) Uma extensa
casuística que se configura em uma metodologia terapêutica descrita em livros no
período pós-guerra. (AQUINO, 2015, p. 46)
Como fora dito acima, a logoterapia não foi fundada nos campos de concentrações
nazistas, no livro Em busca de sentido Viktor Frankl diz que levou consigo manuscritos importantes
sobre a Logoterapia, estas anotações se perderam nos campos. Ele afirma que os anos como
prisioneiro lhe proporcionaram amadurecimento sobre suas teorias, ele pôde comprovar, junto

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aos companheiros que a falta de sentido fazia a diferença na vida dos recrutas. Aqueles que
tinham um sonho, um objetivo, um porquê viver tinham mais resistência do que os que achavam
que a vida já não tinha mais razão de ser, estes morriam mais rápido, desistiam mais cedo.

A logoterapia propõe uma análise sobre o noético e conduz a ele. Trata-se de


uma análise frente à existência, e não da existência. Nesse sentido, concebendo o
ser humano enquanto ser noético, Frankl apresenta algumas capacidades
humanas inerentes às possibilidades da existência enquanto poder ser.
(CORRÊA, 2013, p. 40).
Faz-se necessário explicar o sentido do termo noético na logoterapia e, para tal, tomamos
como referência Lukas (1989, p. 29) que diz: “a dimensão propriamente do homem,
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‘especificamente humana’ também chamada na logoterapia, dimensão noética, por derivação da


palavra grega noûs, noetos (= espírito, mente) ” e como aponta Pereira (2013), quando se fala de
espírito enquanto noûs, podemos entendê-lo como “inteligência”, “intelecto”.
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“A logoterapia e a análise existencial são, respectivamente, aspectos de uma mesma


teoria. E, em verdade, a logoterapia é um método de tratamento psicoterápico, enquanto a análise
existencial representa uma corrente antropológica de pesquisa” (FRANKL, 2017, pp. 55 – 56). A
questão central é o modo como a pessoa se porta frente a existência e não a existência
propriamente. A atitude do homem é o que fará a diferença, a maneira como este responde aos
fatos.

A TRÍADE TRÁGICA

Segundo Viktor Frankl, existem três realidades inerentes a nossa condição humana, das
quais não podemos nos furtar. Mais cedo ou mais tarde seremos confrontados com o que pode
ser chamado também de “otimismo trágico”, que ele denomina por: dor, culpa e morte.
Precisamos convir que são três realidades desafiadoras e quando temos que lidar com
circunstâncias em que essa tríade “aparece”, alguns de nós achamos que vamos sucumbir e há
quem sucumba de fato.
Todos nós já vivenciamos realidades dolorosas, e dores que vêm das mais variadas
circunstâncias. Quem nunca precisou lidar com a culpa? Já ouvimos relatos de pessoas sobre a
culpa ser algo atribuído a pessoas não evoluídas intelectualmente, mas essa experiência nos parece

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ser própria de todos nós. Quem pode fugir da morte? Quem pode impedir a morte dos seus
entes queridos? Sabemos que cada pessoa pode reagir de modos diferentes, não havendo ‘receitas
prontas’ aplicáveis às variações de comportamentos frente à lida com a finitude.
Independentemente de como estejamos, a existência exige de nós, todos os dias, uma atitude e
uma escolha. A logoterapia se debruça sobre tais questionamentos existenciais.
Frankl explica sua teoria sobre a tríade trágica:

Como é possível dizer sim à vida apesar de tudo isso? ”. Como, para, colocar a
questão de outra forma, pode a vida conservar seu sentido potencial apesar dos
seus aspectos trágicos? No final das contas, “dizer sim à vida apesar de tudo”,
para usar o título de um livro meu em alemão, pressupõe que a vida,
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potencialmente, tem um sentido em quaisquer circunstâncias, mesmo nas mais


miseráveis. E isso, por sua vez, pressupõe a capacidade humana de transformar
criativamente os aspectos negativos da vida em algo positivo e construtivo. Em
outras palavras, o que importa é tirar o melhor de cada situação dada. O
“melhor”, no entanto, é o que em latim se chama optimum – daí o motivo por
que falo de um otimismo trágico, isto é, um otimismo diante da tragédia e
tendo em vista o potencial humano que, nos melhores aspectos, sempre
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permite: 1. transformar o sofrimento numa conquista e numa realização


humana; 2. extrair da culpa a oportunidade de mudar a si mesmo para
melhorar; 3. fazer da transitoriedade da vida um incentivo para realizar ações
responsáveis (FRANKL, 2015, p. 161).
O sentido da vida, apesar de todas as contrariedades, advém da forma como se lida com
cada realidade. A logoterapia não tem uma visão pessimista da vida, mas pelo contrário, leva em
conta as potencialidades do ser humano, suas possibilidades de transcender a qualquer
circunstância. Para Frankl (2016) é uma característica do homem a capacidade de “definir-se e
redefinir-se”, o homem precisa tomar consciência de que as coisas, as realidades mudam, as
pessoas mudam. Aqui cabem os ditos populares: “enquanto há vida, há esperança” e “se a vida
lhe der limões, faça uma limonada”, só podemos dizer que não tem mais jeito quando o sujeito
morre.
De fato, existem realidades que não podem ser mudadas, tem coisas que fizemos e que
não tem como apagar, na verdade o que foi feito está feito e ponto final, não escolhemos muitas
vezes o que pode nos acontecer ou não, o que podemos escolher e de forma responsável, é que
atitude devo tomar a cada instante. Como já foi dito, a vida nos pergunta qual o sentido que
damos a ela a cada momento. A logoterapia “se preocupa, em primeiro lugar, com o sentido
potencial inerente e latente em cada situação que uma pessoa enfrenta ao longo da vida” (Frankl,
2015, p. 166).

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PILARES DA LOGOTERAPIA

Frankl acredita que o homem sempre é livre, porém, ele não desconsidera os limites, não
desconsidera os fatores que independem do sujeito, como por exemplo: ter câncer ou não ter,
isto não depende da vontade ou decisão de ninguém. Mas quando Frankl fala que o homem é
livre, não está dizendo que o homem é “livre de”, por exemplo: de sofrer um acidente, de ser
assaltado, etc., mas a liberdade entendida pelo fundador da logoterapia é a “liberdade para”, para
escolher apesar das circunstâncias.
Sobral-CE, novembro de 2018.

A compreensão de homem para Viktor Frankl vai além das dimensões ambientais e
culturais.

O homem, portanto, é mais que produto de processos de aprendizagem, é mais


que o resultado da interação entre ambiente e fatores genéticos. Ele possui
capacidades de autodeterminação e de responsabilidade por suas decisões. E
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essas são algumas das potencialidades que fazem dele uma pessoa. Na
perspectiva frankliana, a pessoa é noética, ou seja, é considerada para além de
suas dimensões biopsicossociais (CORRÊA, 2013, p. 39).
Para a logoterapia a dimensão noética é a mais “profunda do ser humano”. Ainda que o
ser humano seja atingido diretamente pelo meio no qual está inserido, por fatores psicológicos e
por seus fatores genéticos, este não está condicionado a eles. Aquino (2015, p. 53), escreve sobre
a logoterapia, que “atua, sobretudo como uma abordagem adequada para o tratamento de
questões existenciais relacionadas com frustração da vontade de sentido de vida. ”

A LIBERDADE DA VONTADE

Neste primeiro pilar, a logoterapia compreende o homem como um indivíduo que é


sempre livre, lembrando que é sempre livre para e não livre de, livre para decidir que atitude tomar
a partir das circunstâncias que a vida lhe apresentará. Para Viktor Frankl o homem é livre “para a
formação do seu caráter”, isto porque ele tem a capacidade do autodistanciamento, que é a
capacidade de não se deixar determinar por aquilo que o “cerca” no ordinário do dia a dia.
Corrêa (2013, p. 43) escreve: “O que importa à Logoterapia é saber acordar a consciência
do homem, como um despertador, de modo que possa se responsabilizar pela própria vida”. É
um processo em que o próprio sujeito vai descobrindo que pode escolher, apensar das

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circunstâncias.

O que acentuamos é o fato de que o homem (...) toma posição em relação a ele;
o fato de que ele sempre se “posiciona” de algum modo e de que esse
comporta-se é justamente um comportar-se livre. Tanto em relação ao mundo
circundante natural e social, em relação meio exterior, quanto em relação ao
mundo interior psicofísico vital, em relação ao meio interior, o homem toma
posição a cada instante de sua existência. (FRANKL, 2017. P. 95)
Segundo Santos (2016) a liberdade da vontade é aquilo que possibilita ao homem superar
os “condicionamentos biopsicossociais”, isto porque Frankl se opõe veementemente ao
“pandeterminismo”. Liberdade e responsabilidade são duas coisas que não se separam. O homem
é livre para e é responsável pelo que escolhe. Frankl inclusive aponta para a finitude da vida
Sobral-CE, novembro de 2018.

humana, para o fato da transitoriedade da existência, que diante desta consciência o indivíduo é
como que convocado a responder com responsabilidade pela própria vida. Sabendo que somente
ele pode responder por si próprio.
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“O homem, portanto, sendo capaz de decidir criar e criar-se, é livre no seu decidir, uma
liberdade que não é uma falta de limitação, mas que, na verdade, é muito mais a sempre
possibilidade de decisão” (ANDRADE, 2015, p.28). A liberdade humana não é ilimitada. O
homem, ao longo da vida, vai se deparar em meio a situações que não escolheu, seja a nível
cultural, a nível de algum sofrimento ou mesmo dos próprios limites, por exemplo. A liberdade
da qual a logoterapia fala é sempre de uma liberdade frente a algo. A partir das situações o
homem vai escolhendo como se posicionar. O homem é colocado como o protagonista da
própria existência, aquele que não está obrigado a ser o que a cultura, a psiquê ou quaisquer
eventos “sugerirem”.

A VONTADE DE SENTIDO

O que chamo de vontade de sentido pode ser definido como o esforço mais básico do
homem na direção de encontrar e realizar sentidos e propósitos” (FRANKL, 2011, p. 50). O
homem necessita encontrar um sentido que de algum modo justifique uma atitude, uma postura,
que o faça suportar e resistir frente a situações de profundas dores ou do vácuo existencial. É
uma questão de sobrevivência. Este é interesse mais básico, é o interesse primário do ser
humano, aponta Frankl.

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O sentido é uma categoria transcendente e objetiva, mas que, por apresentar
um caráter também pessoal e singular, deve ser buscada através de um
instrumental chamado “consciência”. Este instrumental, por ser um
constituinte humano, jamais poderá dar ao homem a plena certeza acerca do
sentido último da vida de cada indivíduo, mas é o mais alto aporte que ele
detém na busca vital pelo sentido (DOMINGOS, 2015, p. 150).
A vontade de sentido é como uma “mola propulsora”, é aquilo que leva o homem a
autotranscender, ou seja, a apontar para algo além de si mesmo, a olhar para fora de si próprio.
Para Frankl, é por meio da consciência, “consciência atenta e bem formada”, que o homem
conseguirá se atentar para o fato de que cada circunstância “apela” para um sentido. Segundo o
psiquiatra, é apenas por meio da consciência que o homem poderá se posicionar.
Sobral-CE, novembro de 2018.

A vontade de sentido, constitui, em meu entender, um dos aspectos básicos de


um fenômeno antropológico fundamental a que dou o nome de transcendência de
si mesmo. Esta autranscendência do existir humano consiste no fato essencial de
o homem sempre apontar para além de si próprio, na direção de alguma causa a
que serve ou de alguma pessoa a quem ama. (FRANKL, 2016, pp. 24 – 25).
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Este segundo pilar da logoterapia trata da dimensão motivacional da pessoa, que aponta
para a necessidade que o sujeito tem de encontrar um sentido. Segundo a logoterapia, a vontade
de sentido é a principal motivação humana. É o que se pode dizer que se refere à uma procura de
propósito, a uma finalidade. Frankl defende que o sentido para a vida constitui um fator de
proteção a vida humana.

SENTIDO DA VIDA

Poderíamos perguntar qual é o sentido da vida para a logoterapia, em que consiste este tal
sentido? Pode-se imaginar que existe um único sentido para uma vida inteira, que o sentido para a
vida pode ser encontrado de forma abstrata ou ainda que o sentido para vida se assemelhe a bem-
estar, a uma “paz de espírito”, a uma impertubilidade da alma, como diriam os gregos antigos.
Segundo Frankl (2015) o sentido da vida sempre vai se diferenciar de pessoa para pessoa. A cada
dia o sentido pode mudar e, inclusive a cada hora. O autor acredita que o sentido não é único e o
mesmo para a vida toda.
O sobrevivente de número 119.104 - Frankl - ressalta que a pergunta sobre o sentido da
vida é feita pela própria vida e a resposta para esta pergunta é concreta, assim como a vida de

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cada sujeito é concreta. Cada momento exige uma postura específica e cada pessoa responde de
modo singular. E o sujeito precisa ter consciência de que cada momento é único, que ele é único,
portanto, sua resposta e postura é ímpar, que se ele não responder ao seu modo e com
responsabilidade ninguém o fará.
A pergunta se é possível encontrar sentido na vida em qualquer circunstância, ainda que
nas mais adversas, ainda que saibamos que ela é breve foi o que moveu Frankl na construção da
sua teoria psicológica. Não foi o medo da morte que o fez estudar medicina, filosofia, psicologia,
psicanálise, etc., mas foi o fato de acreditar que existe no ser humano a necessidade de encontrar
um porquê para estar realizando tal atividade, tal escolha. Como ele relata na sua experiência nos
Sobral-CE, novembro de 2018.

campos de concentração, os prisioneiros que já não conseguiam ter um por que estarem vivos
desistiam de lutar, desistiam de resistir.
Para Frankl o sentido da vida não estar na ausência do sofrimento ou na busca pela
felicidade, estes dois fatores não podem ser um imperativo que dizem se a vida tem sentido ou
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não. Para a logoterapia, “o ser humano não é alguém em busca da felicidade, mas sim alguém em
busca de uma razão para ser feliz, através – e isto é importante – da realização concreta do
significado potencial inerente e latente numa situação dada” (Frankl, 2015, p. 162). A felicidade
acontece quando o sujeito encontra uma razão pela qual valha a pena cada momento. A felicidade
não tem um fim em si mesma, mas é uma espécie de “efeito colateral” de quem encontra um
sentido.
Frankl aponta que os homens experimentam uma espécie de vácuo existencial. Muitas
vezes se tem como viver, mas lhes falta um porquê viver.

Se nos perguntarmos o que é que produz o vazio existencial e o que pode tê-lo
causado, temos a seguinte explicação: ao contrário dos animais, não são os
instintos e as pulsões que dizem ao ser humano o que ele tem de fazer. E, ao
contrário do que acontecia no passado, também as tradições não lhe dizem
mais o que deve fazer. Sem saber o que é imperioso fazer e sem saber o que
deve fazer, também já não sabe mais o que quer. E qual a consequência? Ou ele
quer apenas aquilo que os outros fazem, e isso é o conformismo, ou o oposto:
ele só faz aquilo que os outros querem – querem dele. (...) há ainda outra
manifestação que é consequência do vazio existencial: trata-se de uma
neurotização específica, a “neurose noogênica”, que etiologicamente tem sua
razão de ser no sentimento de falta de sentido, na dúvida em relação ao sentido
da vida ou à perda da esperança na existência de um tal sentido (FRANKL,
2016, p. 17).
Frankl não afirma que o vácuo existencial está no fato de um sujeito se questionar pelo

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sentido da vida, ao contrário, ele considera importante que as pessoas se perguntem, se
questionem, não aceitem razões, respostas advindas da cultura, religião, enfim, respostas prontas.
Segundo ele, perguntar pelo sentido da vida é um “ato de maturidade intelectual”.
O fundador da logoterapia defende a ideia de que o principal objetivo das pessoas não
está na busca do prazer ou na fuga da dor, mas em perceber um sentido em cada circunstância.
Para a logoterapia pode-se encontrar o sentido da vida de três diferentes modos, como: “1.
criando um trabalho ou praticando um ato; 2. experimentando algo ou encontrando alguém; 3.
pela atitude que tomamos em relação ao sofrimento inevitável” (Frankl, 2016, p. 135).
O primeiro ponto diz daquilo que o homem pode criar no espaço em que habita, daquilo
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que ele constrói e pode fazer a diferença na vida de outros indivíduos beneficamente. Já com
relação à segunda maneira, Frankl explica que pode ser quando a pessoa experimenta, tem
experiências com coisas que o mundo, as pessoas, oferecem, como coloca ele: com “a bondade, a
verdade e a beleza” e encontrando alguém, mas este encontro só é verdadeiro, autêntico por meio
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do amor, para ele, esta é a única maneira de se ter acesso ao outro no mais íntimo da sua
“verdade”, das suas potencialidades. E a terceira, não se trata de buscar o sofrimento, mas de
como lidamos com ele no cotidiano de nossas vidas, considerando que não há quem viva sem ter
passado pela experiência do sofrer.
No artigo Logoterapia: compreendendo a teoria através de mapa de conceitos, Santos (2016) aponta
as cinco características do sentido de vida para a logoterapia, que são: o sentido da vida é único,
assim como cada pessoa é única; é incondicional, Frankl acredita que é possível encontrar sentido
em qualquer situação; é mutável, não é o mesmo a vida inteira, varia a cada circunstância; é o que
tenciona, é o que move o ser humano; é concreto, como cada realidade da vida é.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Viktor Emil Frankl (1905 – 1997), médico, psiquiatra, neurologista, filósofo, professor e
sobrevivente do Holocausto da Segunda Guerra Mundial, criou a logoterapia e análise existencial,
considerada a terceira escola de psicoterapia vienense, antecedida pela Psicanálise de Sigmund
Freud e Psicologia Individual de Alfred Adler. Esta escola de psicoterapia aborda temas
importantes e inerentes à existência do homem moderno, como por exemplo, o vazio existencial.
Discutimos sobre a tríade trágica, composta pelo sofrimento, culpa e morte. A logoterapia

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entende que é possível, a partir do sofrimento, tornar esta experiência uma conquista e também
uma realização. Com a culpa é possível encontrar mecanismos de mudança, para uma melhoria.
Da morte, é possível, a partir da consciência de que a vida é uma realidade transitória, buscar
realizar atos responsáveis.
Apresentamos os pilares da terapia centrada no sentido, a liberdade da vontade, a vontade
de sentido e sentido da vida. Onde dissemos que o primeiro pilar da escola frankliana aponta para
a capacidade humana de fazer escolhas, de tomar decisões frente a quaisquer situações
deterministas ou adversas. Sobre a vontade de sentido, Frankl defende que há no homem uma
necessidade, que segundo ele é primária, de encontrar sentido. E no terceiro pilar, o sentido da
Sobral-CE, novembro de 2018.

vida, o filósofo defende que este sentido não é único, que muda ao longo da vida e que não é
dado, mas encontrado pela própria pessoa.
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REFERÊNCIAS

ANDRADE, R. R. A logoterapia como uma proposta peculiar de psicologia humanista. Logos e Existência: revista
da Associação Brasileira de Logoterapia e Análise Existencial. 4 (1), 23-35, 2015.
AQUINO, A. A. T. Et al. Logoterapia no contexto da psicologia: Reflexões acerca da análise existencial de Viktor
Frankl como uma modalidade de psicoterapia. Logos e Existência: revista da Associação Brasileira de Logoterapia
e Análise Existencial. 4 (1), 45 – 65, 2015.
CORRÊA, A. D; RODRIGUES, D. M. C. Finitude e sentido da vida: do torpor à tarefa. Logos e Existência:
revista da Associação Brasileira de Logoterapia e Análise Existencial. 2 (1), 37 – 46, 2013.
DOMINGOS, P. T. A autêntica imago hominis no limiar entre a filosofia e a psicologia. Logos e Existência:
revista da Associação Brasileira de Logoterapia e Análise Existencial 4 (2), 143-151, 2015.
FRANKL, E. V. A vontade de sentido: fundamentos e aplicações da Logoterapia. São Paulo: Paulus, 2011.
__________. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração: 28 ed. São Leopoldo – Sinodal:
Petrópolis: Vozes, 2015.
__________. Logoterapia e Análise Existencial: texto de seis décadas. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2017.
__________. O que não está escrito nos meus livros: memórias. São Paulo: É realizações,
2010.
__________. Sede de sentido. 5 ed. São Paulo: Quadrante, 2016.
__________. Um sentido para a vida: psicoterapia e humanismo. Aparecida - São Paulo: Santuário, 1989.
PEREIRA, S. I. A ética do sentido da vida: Fundamentos Filosóficos da Logoterapia. Aparecida – São Paulo:
Idéias & Letras, 2013.
SANTOS, D. M. B. Logoterapia: compreendendo a teoria através de mapa de conceitos. Arquivos Brasileiros de

ANAIS do III Encontros Acadêmicos da Faculdade Luciano Feijão.


Psicologia. 68 (2): 128-142 128: Rio de Janeiro, 2016.

Sobral-CE, novembro de 2018.

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