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CAPÍTULO IV – VIDA ESPÍRITA (continuação)

III Percepções, Sensações e Sofrimentos dos Espíritos

Quando desencarnado, e de volta ao plano espiritual, o espírito pode passar a ter


percepções diferentes das que tinha quando encarnado. Porém, isso vai variar de
espírito para o outro, conforme seu grau de adiantamento moral e, portanto, seu nível
de desmaterialização.

Por exemplo, algumas percepções melhoram, independentemente do grau evolutivo,


pois para qualquer espírito, o fato de ter se desvencilhado da matéria já é um entrave a
menos, um invólucro pesado do qual está livre. É o caso da inteligência, que, por ser
um atributo do espírito, se torna mais límpida e clara. Porém, isso não significa que o
espírito terá mais conhecimento. Quanto mais se aproximam da perfeição, mais
conhecimento tem. Os mais inferiores são mais ignorantes.

Da mesma forma, os espíritos, de maneira geral, passam a ter uma percepção do


tempo diferente de quando estavam encarnados, pois uma contagem longa de tempo
na Terra pode significar alguns instantes no mundo espiritual.

Assim, um espírito desencarnado pode ter uma visão mais nítida e ampla de presente,
passado e futuro. Mas essa extensão e nitidez também vão depender de seu grau
evolutivo. Por exemplo, alguns poderão lembrar mais nitidamente de episódios de sua
vida encarnado, inclusive de outras existências, mas não conseguirão chegar à sua
origem espiritual. Também pode, conforme o grau de depuração, ter uma ideia de
futuro, como se fosse o presente, mas não tem permissão de revelar esse futuro, nem
pode antever com precisão o que Deus prepara para ele. Essa percepção, logicamente,
vai aumentando, na medida em que o espírito se aproxima mais de Deus.

Lembrando que somente os espíritos superiores é que conseguem ver Deus e


compreendê-lo. No entanto, todo espírito, por ter em si a essência divina, pode sentir,
perceber aquela advertência ou inspiração sutil em seu interior. Essa percepção é mais
nítida para o espírito que se encontra fora da matéria e, quanto mais for elevado, mais
essa voz lhe fala claramente.
O que também podemos entender que Deus conta com espíritos superiores, seus
emissários, que têm permissão para falar conosco em nome do Pai. De qualquer
maneira, para ouvirmos essa voz, é preciso silenciar, meditar, orar, criando ambiente
para que essa comunicação ocorra e tenhamos “ouvidos” para elas.

Visão dos espíritos

Ao contrário dos encarnados, os espíritos não dependem de luz externa para ver.
Quando desencarnam e ainda são inferiores, essa visão é turva e pode ir se clareando e
tornando nítida com o entendimento que tem de seu desencarne e libertação do corpo
físico (e isso não depende de ser espírito superior, mas de ter uma consciência e
aceitação do processo). Portanto, não há obstáculos materiais nem trevas, o que
possibilita que vejam mais distintamente tudo na comparação com os encarnados. Eles
veem pela luz própria, são capazes de se deslocar com a velocidade do pensamento.
Porém, essa extensão de alcance varia conforme seu grau evolutivo. Os espíritos
superiores conseguem ter uma visão de conjunto, pois têm uma visão mais abrangente
e se deslocam mais rapidamente por diferentes pontos.

A visão do espírito não está, portanto, localizada nos olhos especificamente. A


faculdade faz parte de todo o ser. O mesmo ocorre com a audição, que os espíritos
também possuem, sem depender de um órgão, como no caso dos encarnados, que são
os ouvidos. Porém os espíritos captam a música celeste, algo que nós não podemos
explicar (que vemos nos livros de André Luiz). Para os espíritos, comparar os sons
celestes com os sons terrenos, é como, para os encarnados comparar uma sinfonia
com os sons mais selvagens.

Os espíritos também são mais sensíveis às belezas naturais, que são diversas nos vários
globos e nós estamos muito longe de conhecê-las todas. Para os espíritos elevados, há
a beleza de conjunto, diante das quais praticamente somem as belezas dos detalhes
(harmonia).

Sofrimentos físicos

Os espíritos conhecem os sofrimentos e necessidades físicas, mas não os sentem como


quando encarnados. Assim, também não sentem fadiga que exija repouso como as do
corpo. O que ele sente é a necessidade de repouso moral, pois suas atividades são
basicamente intelectuais. Então, seu pensamento diminui de atividade, deixa de ter um
foco específico. No entanto, quando mais evoluído vai se tornando o espírito, menos
ele sente necessidade de repouso.

E surge a dúvida; então, por que alguns espíritos reclamam de frio ou de calor?

Lembrança de situações vividas quando encarnados. E experimentam essa sensação


quando se lembram do corpo material. Mas lembremos de que a sensação e a
lembrança ficam na memória e portanto, acompanham o espírito. E essa lembrança é
que leva ao sofrimento, mas não existem, sobre a alma, os efeitos que o calor ou o frio
poderiam provocar nas células do corpo físico.

Por exemplo, um espírito desencarnado não sofrerá, em caso de manifestação, mais


nos períodos mais frios ou quentes ou numa situação que envolva um incêndio ou uma
nevasca, por exemplo.

Essas sensações que ficam na memória se assemelham aos casos dos amputados que
ainda continuam sentindo dores nos membros que não possuem mais. No caso dos
encarnados amputados, as sensações foram guardadas no cérebro.

No caso dos desencarnados, as percepções ficam registradas no perispírito, que é o


liame entre o corpo físico e o espírito. E não só leva essas sensações do corpo material
para o espírito como também acompanha o espírito depois do desencarne. Por esse
motivo é que pessoas que cometeram suicídio ou tiveram uma vida com abusos
envolvendo a saúde e o uso do corpo físico carregam esses sinais, que vão refletir em
seus estágios de recuperação e até em novas e futuras encarnações. Mas a sensação da
dor no desencarnado não está necessariamente localizada no respectivo órgão, pois
ele não dispõe mais do corpo. É algo mais generalizado.

Essas sensações podem ocorrer no processo da morte física, durando mais ou menos
tempo, conforme o grau de adiantamento do espírito.

Se é menos espiritualizado, o espírito não entende que morreu e seu perispírito


demora para se desligar do corpo, fazendo com que ele sinta, inclusive os vermes que
começam a devorar sua matéria, lhe dando desespero. O problema é que nesse caso
não é uma memória do perispírito, mas algo que ocorre em tempo real.
Aí, uma comparação interessante:

Considerando que é o perispírito que leva as sensações do corpo ao espírito (e formará


essa memória), se o perispírito não se ligasse ao espírito, depois da morte do corpo,
tudo o que ele sentiria seria um corpo morto.

O contrário também: se o espírito se desligasse e não mantivesse ligação com o


perispírito, ele não teria as sensações que aquele perispírito registrou e que vai lhe
comunicar. É o que acontece com os espíritos completamente purificados, já que eles
se desligam do corpo que lhes foi ofertado para reencarnar, mas, uma vez
desencarnados, não carregam um perispírito. Pensemos em Jesus. Esse processo é
gradativo: quanto mais o espírito vai evoluindo, mais eterizado vai se tornando seu
perispírito e, menos memória ele leva das sensações da carne, pois tende a sofrer cada
vez menos influência da vida material.

Mas se eles não têm as sensações ruins, não têm também as boas, da vida corpórea,
como as lembranças dos perfumes, da boa música. Porém, esses espíritos, em seu
meio, desfrutam de sensações tão mais evoluídas, sensações íntimas, encantos
indefiníveis, dos quais nem temos ideia.

Importante lembrar que os espíritos, mesmo os mais elevados, têm percepções,


sensações, audição e visão, o que ocorre por todo o seu ser e não por meio de órgãos
específicos, como no caso dos encarnados. Não sabemos como se dá esse processo,
pois os próprios espíritos não podem nos explicar, pois não conseguiríamos
compreender. Seria o equivalente a tentar explicar nas linguagens mais selvagens
conceitos de artes, ciências e filosofia.

Os espíritos menos evoluídos, com perispírito mais denso, no entanto, são alcançados
mais facilmente pelas manifestações terrenas, como os odores, os sons. Estes chegam
a eles por meio das palavras, que provocam uma vibração que os alcança, o que pode
ser captado não necessariamente por palavras, mas por transmissão de pensamento.
Também entre os espíritos menos evoluídos, eles têm em si as faculdades de todas as
percepções, sem depender de um órgão pontual, um sistema que vai se desenvolvendo
quanto menos denso se torna o envoltório material.
Quando um espírito elevado vem nos visitar, ele reveste-se temporariamente de
perispírito terrestre e suas percepções se aproximam das dos espíritos vulgares. Porém,
espíritos em diferentes graus evolutivos podem tornar suas percepções ativas ou nulas
conforme sua vontade ou necessidade. Os mais elevados conseguem se tornar
invisíveis aos menos evoluídos, mas não o contrário. No entanto, algo que todos são
obrigados a ouvir são os conselhos dos espíritos mais elevados que eles.

Sofrimento continua?

Então fica a dúvida: depois de desencarnados, podemos continuar a sofrer? Sim e não.
Podemos escolher não sofrer mais, conforme nossas escolhas.

Se uma pessoa enfrenta problemas de saúde como consequência de suas escolhas


nesta vida, em anos anteriores, o espírito também têm sofrimentos ou não conforme
suas escolhas na vida encarnada. Quanto mais desligar-se das interferências da
matéria, menos sensações penosas terá.

Aí entra o livre arbítrio. Domar as paixões animais: ódio, inveja, ciúme, orgulho,
vaidade, egoísmo. Que pratique o bem, que não dê ao material mais valor do que
deve. Assim, não terá lembranças penosas na vida futura.

E se sofreu fisicamente, enfrentou restrições, pobreza material? Essas questões não se


tornarão sensações ruins que o acompanharão, pois estarão vinculadas ao corpo físico,
morto.

Os espíritos explicam que acompanharam muitos espíritos que desencarnaram e


durante um bom tempo. E perceberam que os sofrimentos estão relacionados às
condutas e que a nova existência, fora da vida corpórea, se torna uma fonte de
felicidade para os que optaram pelo bom caminho.

Resumindo: os que sofrem é porque escolheram, quiseram. E só podem queixar-se de


si mesmo. Tanto no outro mundo quanto neste.
IV Ensaio teórico sobre as sensações nos Espíritos

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