Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Título
O FisióSOFO. Para uma reabilitação filosófica e postural
Autor
Luís Coelho
Design da capa
Pedro Teixeira
Direitos Reservados
© Manufactura, 2023 e Autor
Edição 112
Janeiro 2023
Impressão e acabamento
Europress - Indústria Gráfica
www.europress.pt
Depósito legal
509628/22
ISBN
978-972-559-457-5
Distribuição
Europress - Editores e Distribuidores de Publicações Lda.
www.europresseditora.pt
(FRONTISPÍCIO)
«Um corpo e um nome sou
aqui procuro um lugar
não sei bem para onde vou,
nem o que irei encontrar
questiono o percorrido
nesta viagem sagrada
para que terá servido
correr tanto nesta estrada.»
7
Luís Coelho
esforço iniciado há vários anos, e finaliza alguns processos, sem que se aban-
done, deveras, o cepticismo visceral que me caracteriza. É a obra mais longa
que alguma vez publiquei, é, tal-qualmente, resultante de um trajecto que
permitiu “dar-se tempo”, procurando, claro, que o tempo se atrasasse até à
suspensão relativa. Tentei que não ficasse muito por dizer, mas, obviamente,
não pude rever completamente aquilo que já foi objecto dos meus livros pre-
téritos. A obra vigente é um pouco mais formal do que o que já tenho feito,
tendo, por pouco tempo, regressado ao mundo das publicações em revistas
indexadas, com o objecto de apresentar uma faceta mais “profissional”. O
processo relativo ao funcionamento dessas publicações atrasou, por vezes, o
trabalho feito neste, e para este, livro. Já em tempos fui bastante crítico desses
aspectos da vida de publicação, mantém-se o intento íntimo. Por outro lado,
toda a jornada de reflexão e escrita tem-me levado a extinguir, crescentemen-
te, a minha vida “social”, “normal”, pelo que me vou avizinhando da morte,
da solidão mais absoluta, num caminho que, desde há algum tempo, se afi-
gura no pleno misantropismo, numa verdadeira antropofobia. O meu des-
prezo pelo “ser humano” nunca foi tão grande, tão genuíno. É o resultado de
um excesso de zelo moral e tético, do exercício da minha obsessividade cogi-
tadora, que não permite, normalmente, grandes euforias ou esperanças, e
que desilude, facilmente, um mundo de falsidades, incoerências, “relativis-
mos”, tornando-me progressivamente incapaz de suportar o “Outro”, pelo
que me entrego, de corpo e alma, e a cem por cento, a este projecto de escri-
ta, para o qual todos os instantes contam. Todo o meu tempo tem sido dedi-
cado ao pensamento. Reduzi-me ao essencial, faço, apenas, o mínimo para
manter-me vivo, o resto é para a empresa da escrita. Quando penso estar
mais “liberto”, bem me vejo novamente mergulhado no pleito de uma (i)razão
que encandeia. Não fujo, nunca, da obsessão, mergulho nela e esquivo-me o
menos possível. Tento resistir o mais possível à jornada, mas também à dúvi-
da. Sem a capacidade de tolerar a dúvida não é possível viver. A grande e
miserável verdade de que não existe Sentido ou Verdade, a Realidade que
fulmina, tudo isto não advém de modo plenamente voluntário, é o desidera-
to de uma viagem que culmina na óbvia conclusão de que a felicidade não é
compatível com o objecto filosófico. Não obstante o absurdo de tudo, aqui
fica um contributo. Que ele procure o inexistente para convencê-lo de que
não está só, de que ainda é possível viver, apenas, para a Razão, e, claro, para
um Deus ausente que, ainda assim, vai alimentando alguma dose de culpa.
8
Aforística
Tenho o prazer de vos informar aquilo que não me dará prazer algum
dizer: o segredo do prazer é ser efémero.
9
Luís Coelho
Não me vejo a fazer certas coisas. Mas aposto que podia ser outras coi-
sas sem me ver nelas. Se ganhar a aposta, não terei como pagar.
Certas pessoas ofendem-nos de uma maneira tal que até fico envergo-
nhado, sem saber como agradecer.
10
O FisióSOFO
A poluição sonora não tem de ser filtrada. A não ser que sejamos nós o
filtro. No acordo perfeito entre o ruído e o que o produz.
Disseram mal de mim. Foi por Bem, porque ouvi tudo sem censura.
Mal sabiam eles que já lhes escapava. Nem eu próprio sabia.
Quem se cria tem a liberdade de se destruir. Mal dos que são gerados e
invejam a perfeição.
11
Luís Coelho
O materialismo poupa tempo ao Espírito. É por isso que este nunca tem
tempo para nada.
O positivismo prescricionista é uma abreviatura do pensamento. Já a
Razão é uma caricatura da Realidade.
O positivismo é uma fuga à criatividade. Disse o criativo, pouco inspi-
rado.
Sem Deus, qualquer ciência levará a Deus. É por isso que todos têm
medo de ser livres. Ninguém quer ter de prestar contas aos homens de ciên-
cia.
“Deus quer o nosso melhor.” Disse Leibniz à sua Alma. Com as móna-
das rindo todas da aparência.
12
O FisióSOFO
Não fui feito para ser feliz, mas para inventar a felicidade.
13
Luís Coelho
14
O FisióSOFO
15
Luís Coelho
16
O FisióSOFO
Dizer que não há “pensamento positivo” não é ser pessimista, é ser rea-
lista. De um “real” que se pensa “negativamente”. Topas? Ainda achas que
falo de optimismo? És, de facto, muito positivo.
17
Luís Coelho
18
O FisióSOFO
toda a nossa ciência é-nos dada sobretudo como produto acabado, não per-
mitindo que possamos, normalmente, cumprir um exercício racional verda-
deiramente autónomo, selvagem. Os homens buscam, muitas vezes, na Espi-
ritualidade mais abstracta uma possibilidade de tomarem as rédeas do
Conhecimento, que é, bem vendo, um modo de tomarem as rédeas do seu
auto-conhecimento. Coisa que não pode ser fundacionalmente conseguida,
porque Conhecer é precisamente ser o próprio Objecto conhecido. E fazer o
luto da dualidade Sujeito-Objecto é, afinal de contas, a razão de ser de um
caminho de eterno retorno, de revolução constante, por entre os diferentes
modelos do conhecer. O positivismo é “positivo” na medida de um optimis-
mo do conhecer da realidade em si-mesma, da coisa em si, mediante a regu-
laridade intersubjectiva. Este é o pesadelo do crítico, como do espiritual teo-
lógico. Mas é a “norma” mais saliente do vulgo, do “senso comum”, com este
a enxergar, na modernidade, uma redenção inexprimível noutros tempos. O
que, não obstante, nos rememora o facto de que todo o conhecimento pre-
tende, de certo modo, justificar o senso de cada um, a crença primeva de
cada ente. Todos pretendem conhecer-se “positivamente”, e ter uma relação
“positiva”, imediata (na interpretação de Ortega Y Gasset) com o Objecto.
Nesse sentido, todos continuam a querer o Espírito, no seu intuito de “Gno-
se”, a realidade “material”, “positiva”, é dominante na modernidade, mas o
caminho não promete cessar, senão quando a ciência for capaz de apaziguar
devidamente as consciências. A paz é a fixação da Ordem cósmica, é o anelar
de uma regularidade “final”, é gorar completamente as expectativas, a intrín-
seca esperança. Este pessimismo que finda não promete nada de bom.
19
Luís Coelho
20
O FisióSOFO
bem como a lógica, “reduz”, o “positivismo” alveja com sua síntese mutacio-
nal. Ele é o próprio “espírito” “pós-moderno” de transformação, é o “fim da
Filosofia”, a palavra final com que a ciência pode reorganizar a Sociedade. O
seu produto é holista e “contínuo”, não é genuinamente prescritivista, é como
um algoritmo do intrínseco Significante que se compraz utilitariamente com
o maior “bem social”. Há, aqui, uma proximidade com o “algoritmo de inso-
frimento”, a que me tenho referido noutros livros, qualquer coisa que é ime-
diatamente consequencial, mensurável nos elementos, mas só compreensível
no Todo. Obviamente, e como já dissemos, a face pragmática é fundamen-
talmente “grupal” e não individual.
¶
Aproveita o tempo. Quando achares que ele não chega, estás no bom
caminho. E quando achares que é inútil perder tempo, já passaste a meta.
21
Luís Coelho
22
O FisióSOFO
23
Luís Coelho
Não sou orgulhoso. Só tenho orgulho em ser digno. Ora, acontece que
eu sou digno do meu orgulho.
¶
Para viver bem é preciso sacrificar tudo aquilo que, geralmente, nos faz
sentir bem, restando o bem que nos sentimos no momento espontâneo em
que o Bem se espalha, suspendendo os pêndulos.
24
O FisióSOFO
25
Luís Coelho
26
O FisióSOFO
Por vezes, quanto mais nos batemos pelos outros mais eles nos batem. É
justo, também nós nos batemos quando se batem por nós, num bate-bate de
suspeição.
27
Luís Coelho
Não sacrifiques tudo por amor. Sacrifica tudo ao Amor. Mas fá-lo com
amor.
¶
Fui tão bom que acabei a pagar na vida seguinte as saudades que deixei.
O talento é uma larva com borboletas na barriga. Com ele fiz uma cintura
gástrica. E o fígado cresceu, ganhando asas. E o mundo venceu uma hepatite.
Com o balão subindo a escada do equilíbrio. Na prova da polícia da pensarreia.
Fui ao alfaiate. Quis tirar-me as medidas. Disse que a fita não chegava.
Viu-me ao microscópio, mas ceguei-o com a luz. Partiu-me o vestido da lame-
la, na vingança da lente. Da Objectiva, fugi para a ocular. Queria ser olho, o
olho de quem vestia.
¶
Há, apenas, que ser um “pobre diabo” para contar a história do “Bom
Deus”.
28
O FisióSOFO
Quem tem boca vai a Roma. Mas, quem se cala, vai a todo o lado.
Em Roma sê (des)humano. Torna-te ruína. Terás visitas o ano inteiro,
mas sem a dor do veraneio. Tirarão selfies contigo, onde terão a cura da soli-
dão. Ficarás, para sempre, guardado na memória do dilúvio, na espuma que
naufraga e consolida o tempo. Em Roma sê humano, a falar de retratos da
“Pietà”, não te esqueças de morrer.
Dizem que o PAN é uma seita dos comedores de seitan. Pensavam que
era Apolo, e saiu-lhes Baco com nudez, festa e bruxaria. Mas sem a carne da
letargia. Já o Touro ressuscita e têm medo da alegria. Não devem temer quem
tem pano para mangas. Até o Touro perdoa e a redenção não tem espeto.
(01/06/2019)
O meu gato pergunta se é preciso ter medo do PAN. Dei-lhe mais patê,
não fosse o Diabo tecê-las.
29
Luís Coelho
30
O FisióSOFO
O que o materialismo não quer é que tomem o seu luxo por Deus. De
resto, podem andar todos enganados.
Numa viagem, há que olhar para trás. Ora para apreciar, ora para ver
quem se atrasa. Alguns até apreciam os que se adiantam.
31
Luís Coelho
modo a fasquia da escrita, como do pensamento, que, depois dela, será difícil
“evoluir”. Só quem a leu compreende do que falo. Mas quem se limitou à
“Sibila” não conhecerá o milagre. Ao contrário do que muitos pensam, “A
Sibila” não é necessariamente o seu melhor livro, e não representa, de todo, o
seu escrever aforístico. Mas está lá a alma do Norte, das famílias repletas de
fantasmas, das histórias que se enchem de camadas de significação. É verdade
que, para lê-la, para conseguir a memória de trabalho requerida ao seu acom-
panhamento, é preciso estar num daqueles dias em que não nos importamos
de suar. Ninguém pode lê-la a sangue frio, só com o sangue cheio de vonta-
de. Façam-no, por exemplo, com “Vale Abraão”. E, depois, vejam o filme.
Ou vejam o filme primeiro e leiam o romance depois. E voltem a ver o filme.
Foi assim que comecei com a Agustina. Ainda não terminei. Nunca termina-
rei. (03/06/2019)
32
O FisióSOFO
33
Luís Coelho
34
O FisióSOFO
Qual é coisa qual é ela cai no chão fica amarela? É a Luz, que, quando se
levanta, perde a cor e não se adivinha. Todos os que dizem vê-la são caídos
em desgraça. Claro, a cada um sua razão. Porque se fosse só uma a Razão,
estaríamos mais perto de saber que somos nós a Luz e a própria adivinha.
35
Luís Coelho
A dor próxima é isso mesmo: uma dor, vale pouco mais que a dor de
muitos, que é, na verdade, um sofrer temporal, para os outros é uma abstrac-
ção, raiz do fingimento, e este só existe porque, antes da dor, há um Princí-
pio demandando a empatia, ou uma reacção determinada. Mas o próprio
Princípio cria o artifício da superação, pelo qual é possível fazer valer a His-
tória por muitos anos; a mudança precisa de um embate mais preciso, de um
sofrer concreto, que, com a História, acabará por ser mitificado, perdendo o
seu poder moderador.
36
O FisióSOFO
Agora que faço anos, agradeço ao tempo ter tido a paciência de esperar
por mim. Se fosse o meu aniversário, não agradeceria.
A tua cara não me é estranha. Por isso, das duas uma: ou és a minha
cara-metade ou a minha cara chapada. De qualquer das formas, não vale a
pena convidar-te para sair. Já te fizeste convidada.
Os talentos, agora, são tantos, que temo a inflação. Valorizo, cada vez
mais, os que se deflacionam. Soam a ouro pago a escudos. No mundo actual,
ser menor é ter talento.
37
Luís Coelho
Para quem não sabe, a par do incesto, o peido é o mais universal dos
sacrilégios sociais. Felizmente, que a Sociedade arranjou a solução: ou incha
ou bufa. Mas cuidado, que a bufa de hoje é o (l)inchamento de amanhã.
Entretanto, quem peida é Rei. Sem súbditos.
38
O FisióSOFO
39
Luís Coelho
ela venha a ser traída pela “paixão”, mais cedo ou mais tarde. O ente mais
“afectado”, sofrido, possui uma imagem distorcida da Realidade, as suas
“ideias” são inadequadas, e, no entanto, pode ser que tenha a Realidade que
se adaptar a ele, talvez seja a Razão que tem de ser cambiada pela acção do
pretérito “desadaptado”. Quando dizemos que alguém é “dono da Razão”,
há que especificar preliminarmente o que é a Norma, qual é o Domus Racio-
nal. Porque o “louco” pode ser qualquer um que se aparte do que domina, e,
contudo, o Domínio não será, provavelmente, muito diferente do que a phy-
sis, a Razão natural, prepondera.
¶
40
O FisióSOFO
41
Luís Coelho
é acreditar que é possível desvelar. Mas o homem está destinado a ter uma
Estrutura afeccional, em que a Cognoscência não é, nem pode ser, perfeita. A
nossa “moral” nunca é absoluta, ela parecerá sê-lo se se aproximar da physis ou
da Norma, mas estará sempre “a caminho de”, que é o destino do Humano
imperfeito.
¶
O niilista mais perfeito não é o que diz que Deus não existe, mas o que
diz que a existência de Deus é perfeitamente inútil. Se Deus fosse útil já não
seria Deus, a utilidade é uma projecção de uma Natureza que se quer num
alvo consequencial, e, no entanto, é mágica, misteriosa, a essência da vida, da
Vontade de vencer, é a própria utilidade, como a consequencialidade, que
nos leva a perguntar “para quê” conservar o que não tem sentido conservar,
alguns dirão que é a Deus que compete responder, mas Ele não tem destas
preocupações, Ele é a intrínseca Natureza a fazer-se para a pergunta, é o mis-
tério da Vida “cega”.
¶
42
O FisióSOFO
43
Luís Coelho
44
O FisióSOFO
Num mundo que é uma confusão, quem procura a Ordem está, decer-
to, confuso.
O são de espírito esquece-se, até, de renunciar. Mas ouvi dizer que o seu
corpo é uma jangada. Alguns usam-na sem o colete de salvação.
45
Luís Coelho
1
Junho de 2019, publicado na revista «Triplov.com», em Julho de 2019, e no jornal
«O Diabo», em três partes/números, em Agosto de 2019.
46
O FisióSOFO
47
Luís Coelho
48
O FisióSOFO
49
Luís Coelho
dem a sua neurose. O pior que pode acontecer é aumentar o nível de neuro-
se, que é, a bem ver, uma maneira de perpetuar o acto “terapêutico”. Os
melhores clientes sofrem mais da mente do que do corpo (no sentido estri-
to). E quando sofrem do corpo, é a mente a causadora. Se os mandamos para
um psiquiatra eles limitam-se a mudar de terapeuta. Se os tratamos muito
bem, eles são obrigados a lidar com um problema emocional que pretendem,
de todo, evitar. Manter um tratamento “corpóreo” é uma forma de ir ali-
mentando a ilusão. Bom para o terapeuta. Bom para o Sistema. Se ganham
consciência “mental” da problemática, arriscam-se a entrar num caudal de
compensações internas intermináveis. Tornam-se, assim, clientes do psicana-
lista, cuja função passa por eternizar a “interpretação”. É outro modo de
ilusão. Porque, na mais avassaladora das hipóteses, quererá o paciente mudar
o que o envolve. Ora, não seria mau de todo para muitos terapeutas. Um
paciente que dá a volta à vida pode estragar a vida a muitos outros. Bem
vemos que se traça, aqui, uma dialéctica, mas, para a compreender, é neces-
sário “espírito”. A ciência moderna não é sensível ao tema, não entende que a
própria História humana é um placebo gongórico.
A Saúde pode e deve ser compreendida globalmente, ela recruta os
principais paradigmas da história da Filosofia. Mas também abre as portas ao
relativismo. Se tentamos controlar todas as variáveis acabamos num estado
de Caos. O controlo perfeito seria a saúde “absoluta”. Até que este exista, é
preciso caucionar os dois modelos fundamentais: um “materialista”, que
sonha com a estabilidade; outro, “espiritualista”, que se vê renascido. O
modelo de investigação “estatístico-probabilística” medeia, em parte, os dois
paradigmas, mas também mostra a limitação de cada um deles.
Se os estudos estatísticos apontam para determinada realidade, ela não
é, de todo, explicada causalmente pelos primeiros. Sabemos que mesmo as
terapêuticas “não convencionais” possuem estudos com resultados apreciá-
veis. Investigações de qualidade discutível, é claro, mas não é de todo “cientí-
fico” desprezá-las. Os “cépticos” chegam, bastas vezes, a recusar-se a ler tais
estudos, o que atesta um preconceito. Parcialmente explicável socialmente, o
que dirime o seu lado “objectivo”. Mas um preconceito igualmente nos ter-
mos da própria base “científica”, “física”, da coisa. A grande substrução de
cepticismo dos “cientificistas” reside menos nos estudos em si do que na
viabilidade biofísica das terapêuticas em análise. Por exemplo, por não acei-
tarem as bases da homeopatia, é indiferente que manem centenas de estudos
que atestem a sua eficácia. O seu preconceito é de raiz metodológica e con-
50
O FisióSOFO
51
Luís Coelho
ção criativa com regras e guidelines que só podem fazer sentido estatistica-
mente. Decerto que estas “normas” têm o intuito de abrigar o paciente da
insipiência de muitos terapeutas, mas um trabalho robótico, um acto “signi-
ficante”, não pode valer o “significado” de uma intervenção genuinamente
compreensiva. Muitas vezes tenho dito que, se o terapeuta não pode ser “dia-
léctico”, mais vale não ser terapeuta. De facto, um trabalho dinâmico exige
uma concentração especial, um esforço singular de acomodação à unicidade
do paciente. É, talvez, mais fácil ser “piloto automático”. Não, decerto, para
os criativos. Quiçá seja este um erro, uma doença, dos criativos, dos terapeu-
tas “neuróticos”, que, às tantas, se põem a inventar o mundo. E o pior é que
ainda se arriscam a despertar esse poder nos pacientes. Ninguém gosta dos
criativos, dos engenhosos. O mundo moderno está feito para a economia do
espírito. Mesmo o futuro fortemente algorotmizado aspira fender, de vez, o
espírito. Mas, certamente, não terá a estaticidade do prescritivismo legalista,
porque o Ser é dinâmico e se faz em cada momento (o que acarreta que o
Significante futurável conterá elevada significação, na medida em que inclui-
rá grande riqueza adaptativa; o futuro trará, com obviedade, a materialização
de muito pensamento – e sentimento – do que, até agora, faria parte do mun-
do do “espírito” – sendo esta uma determinação “material” (vide o materia-
lismo dialéctico), alvar, positiva, com um vértice de liberdade virtual e uma
consequência equalizadora; se bem que, segundo o “utilitarismo”, o ponto de
partida é o de um valor imparcial dado igualmente a cada um, vide Bentham
e Mill, não obstante, o que é útil para o Colectivo poderá exigir um trabalho
bem diverso do que pode ser entendido enquanto “terapia individual”, se
bem que a estruturação do Ser implica, à partida, a sua pacificação na relação
com o “outro” –, o que acarreta, também, a perda de alguma liberdade para
errar, o erro é o veículo da mudança, a previsão do pensamento é, tal-
-qualmente, o controlo do mundo exterior, a sua previsão com um nível de
erro menor, o que, de mais a mais, aleita outra Escala de criação subjectiva e
outro mundo exterior, mais “pequeno”, onde tudo se repercute, e se volta a
prever, a determinar, o que transparecia livre).
Um terapeuta igualmente dinâmico é uma raridade no presente. Será,
identicamente, uma raridade no futuro. Mas, enquanto houver Fisioterapia
“humana”, dificilmente matarão a minha inventividade. Tal como a ciência
que a ceva. Ciência da physis e da psique. Presentemente, só a intervenção
“liberal” tem tolerado aos fisioterapeutas tal actuação rebelde. Diria, até, que
a verdadeira Fisioterapia só pode ser praticada marginalmente. Livre de códi-
52
O FisióSOFO
53
Luís Coelho
Na hora de criar, cada um que te critica deve valer por dez dos que te
elogiam. Na hora de celebrar, cada um que te elogia deve valer por dez dos
que te criticam. A não ser que te critiquem os que criam. Neste caso, há que
criar nova celebração.
54
O FisióSOFO
Nasci e pedi, logo, recurso. Mas tive um mau advogado, não conseguiu
provar que eu era livre. Assim, cresci em silêncio. Mais tarde, farei o luto.
Quando já não tiver escolha possível.
¶
Se ganhasse um euro por cada vez que se faz um bom uso da Razão,
pedia um empréstimo ao Banco. (Por isso, estou cheio de dinheiro. Falso.)
55
Luís Coelho
Tenho dias... Mas as noites são todas Uma só. Nelas crio-me. Sem que
me (a)pareça.
¶
Há opiniões que se soltam para formar o Absoluto. Ouvi dizer que algu-
mas matam os “opinion makers”. Os únicos que se salvam são os que desfazem
opiniões.
¶
Seria um perfeito inútil se não fizesse tanto por isso. Pior, sabem que é
inútil, que está longe de saber-se irrelevante.
56
O FisióSOFO
mas, também, envolve maior sofrer, o que, de mais a mais, poderá propiciar
outras vias de recompensação científica. Mais pessoas leva à exponenciação
de necessidades, mas tal-qualmente à argúcia das potencialidades. Mais dese-
quilíbrio pode significar maior equilibração futura, e esta poderá gerar a
latente dessensibilização, o que hoje equilibra amanhã será insuficiente, o
que não significa que este mesmo aforismo não possa ter a sua re-solução
num simples alvejamento medicamentoso, ou no placebo da vida moderna
capaz de calar a angústia, como a própria dialéctica temporal. Quiçá seja essa
a maior via, pois bem vemos que não há solução racional possível, as possibi-
lidades são infindas, as hipóteses de aleitamento e compensação temporal,
social, multiplicam-se, resistindo a qualquer possibilidade de previsão.
57
Luís Coelho
claro, parece ser o de, meramente, existir, transpor a Essência numa linha
temporal de absurdidade.
58
O FisióSOFO
equivalente nos diferentes entes, em todos eles existe um jogo dual de prazer
+ sofrer que visa a alternância “normativa”, e é esta dança que gera a dinâmi-
ca constante de redenção que concorre para um Absoluto maior onde já
nada acontece.
Onde não puderes morrer, não te demores. Onde não puderes viver,
não te assumas.
Acreditar que uma coisa resulta é fazer com que ela resulte de um modo
que fará dela menos credível ao ponto de, mais tarde, resultar menos. É o
poder de uma Comunidade, de uma cientificidade sistemática. Sobre alguns
59
Luís Coelho
Não sei línguas estrangeiras. É por isso que me faço, sempre, entender.
Não me entendo com as línguas. Talvez por pensar que me entendo.
Eles entendem-se e não nos enganam. Sempre que se zangam, já sabe-
mos como vai acabar. Se não fosse previsível, não se zangariam.
Quando for possível fazer omeletas sem ovos, as relações terão os dias
contados.
60
O FisióSOFO
Faço questão de ser idiota. Para não ser um idiota sem questões. A fazer-
-me passar pelas respostas.
Se digo desdigo. Então calo-me e passo por burro. Querem, logo, mon-
tar-me. Se protesto, dizem que teimo.
Muitas vezes, os que menos expressam o que sentem são os que mais
sentem o que expressam. É questão de economia, e de economizar a sinceri-
dade.
61
Luís Coelho
Todas as minhas partes estão de acordo com as tuas partes. Só falta con-
cordarmos.
Quase tudo nas notícias é um “velho” que passa por “novo”. Por isso
sou chato, porque não maquilho a Realidade. Quando já nada há de “ilusó-
rio”, resta a ilusão da idade. Assim, mudo de canal com a bengala da espe-
rança.
62
O FisióSOFO
63
Luís Coelho
64
O FisióSOFO
A fama tem a fama de acabar depressa. É por isso que nunca se acaba.
Não, não quero ser famoso, por enquanto ainda há quem me tome pelo que
sou. É questão de acaso, como a minha identidade, que vai buscar ao destino
tudo aquilo que nunca chega a ser.
É facto comum tomar o comum por um facto. Lógico, não é? Nem por
isso, é, apenas, uma questão de moral.
Há que sofrer para bem perecer. Parece mal, eu sei, mas é melhor do
que padecer.
65
Luís Coelho
A maior tentação da “tábua rasa” (Locke) está em fazer dela uma tábua
de engomar.
¶
Quem conta anedotas, e tem talento, não é uma anedota, mas um livro
fechado.
¶
66
O FisióSOFO
Não oiças atrás das portas, sobretudo quem fala sozinho. Podes passar
por louco, a querer roubar os sonhos alheios.
67
Luís Coelho
Quem não tem onde cair vivo, há-de cair morto. Moribundo da memó-
ria.
Não escrevo o que está certo, mas o que fica bem. Porque o que bem
fica está sempre certo.
«– A: Tu és de compreensão lenta!
– B: Obrigado.
– A: Como consegues?
– B: Não perguntando.
– A: E como é que isso se faz?
– B: Continuas sem entender.»
68
O FisióSOFO
«– A: Estás irreconhecível!
– B: Obrigado!
– A: Não era um elogio.
– B: Por isso te agradeci.»
¶
O meu riso é risível. Tão-só, não vos posso autorizar a que riam sem ser
de mim. Já sei, é ridículo!
¶
Onde estou, não tenho rede. Estou por um fio. Não, não estou a ser
hermético.
¶
69
Luís Coelho
70
O FisióSOFO
71
Luís Coelho
Não perguntes o que o (teu?) Espírito pode fazer por ti. Pergunta o que
tu podes fazer por Ele.
Não perguntes o que o teu corpo pode fazer por ti. Dá-lhe, logo, a res-
posta.
Tu não tens um Espírito, porque o Espírito não existe, e, por isso, Ele
também não te tem a ti, és livre, livre de fazer todas as asneiras que Outros
prepararam. A tua Liberdade é o Ser, quando a Consciência É. Outros dirão
que a Consciência é sempre de algo, e, se te irritam, talvez tenham razão, ou
terão uma razão, há várias, diversas valências que impactam diversamente, e,
portanto, não há Justiça, até porque tu não acreditas no Igual. Mas mesmo
que acreditasses, serias desigual ao acreditar, se bem que, acreditando, sosse-
72
O FisióSOFO
Ser um corpo é conceder que ele seja o próprio Ser. Assim, limitamo-
-nos a obedecer-lhe. É livre esta possibilidade de nos largarmos nas mãos do
Destino. A maior crueza é a e-moção pura, onde nos abrimos ao Nada. Só aí
sobressai o Espírito, e pomos de lado o destino. O Espírito é um anelar do
“Outro”. Ele é mimetizado pelo Princípio que se enlaça. Quem não enlaça, e
quem não cresce na responsabilização moral, pode sempre gerar outra moral,
novel destino, Princípio renovado a pôr a máscara da deidade. O Princípio
culpabiliza um “outro”, atordoando o corpo. Pode ser que a emoção tenha
de ser vivida e esgotada. A emoção viciosa cria a Consciência heresiarca. Pode
querer o terapeuta calar subitamente o corpo, subtilizando o esforço medita-
tivo. De resto, a emoção vivenciada cria a Consciência subtil a tragar o Espí-
rito e o mutismo.
73
Luís Coelho
74
O FisióSOFO
75
Luís Coelho
76
O FisióSOFO
do à ponta, sem que alguém equilibrasse a proa. Era uma queda preparatória,
no oceano do desengano, com Neptuno magoando o tridente.
77
Luís Coelho
78
O FisióSOFO
2
Agosto de 2019, publicado na revista «Triplov.com» e, numa versão encurtada, no
jornal «O Diabo».
79
Luís Coelho
80
O FisióSOFO
81
Luís Coelho
Como pode ser visto, as coisas não são tão simples como parecem mui-
tas vezes. Mas, recuperando a ideia de síntese, uma intervenção global,
abrangendo os dois paradigmas, com mais ou menos enfoque num deles (há
que lembrar que certos pacientes parecem incluir-se escrupulosamente num
modelo preciso, mas esta percepção, por parte do terapeuta, é sempre dubi-
tável, o profissional constrói, e placebetiza, o paciente, e vice-versa), é possí-
vel e desejável. Por outro lado, a noção de “idiossincrasia” é fundacional para
entender profundamente o erro brutal de tantas asneiras que se fazem nos
ginásios, com exercícios concebidos para as “massas liberais”, com flexibili-
dade perfeita e sem problemas de maior. O trabalho de ginásio, bem como a
totalidade dos desportos, não se adapta à individualidade (e a adaptação ade-
quada dependeria de um conhecimento nímio da patonormatividade, coisa
quase sempre inexistente entre os profissionais). Posturas há muitas, pro-
blemas são a regra, o que serve a um não serve a outro. A actividade física
não é, bastas vezes, recomendável à saúde articular, sobretudo se vicia a pos-
tura, se compromete a posição. O trabalho de força é, por natureza, repressi-
vo da idiossincrasia. O que não invalida a sua importância em termos neuro-
lógicos, segundo o ponto de vista da programação neuromuscular, aqui, sim,
empreendemos, de novo, na síntese, numa intercessão simultaneamente
postural e funcional. Mas cuidai para que o benefício não seja obtido à custa
de novas compensações. A não ser, claro, que seja essa a intenção, porque
isto, bem vendo, é tudo relativo. Tudo depende, aliás, do objecto que está em
jogo, já lá vai o tempo em que eu mesmo era paradigmaticamente dogmáti-
co. No meu «O anti-fitness ou o manifesto anti-desportivo (...)» (Contra-
-Margem, 2008), defendi a gravidade de enaltecer o modelo “postural” a todo
o custo, mas, com a própria experiência, tornei-me menos radical, permitin-
do mais compensações. Com obviedade, tomamos várias vezes a liberdade de
reforçar com menos restrições o paciente sem alterações posturais evidentes,
e, do mesmo modo, nada nos impede de mobilizar as vértebras de um indi-
víduo com retracção posterior. É a inerente sensibilidade empírica do tera-
peuta que admite, de certa maneira, “dar uma no cravo e outra na ferradu-
ra”, o alongamento pode ser moderado e acompanhado de tracção manual e
movimento, depois, o paciente poderá ter de se virar de barriga para baixo,
para assestarmos a terapia manual (a qual ganha com a preparação postural e
a tracção prévia da coluna), reduzindo a possibilidade de a coisa se complicar
em termos “discais”. A intervenção deve harmonizar realidade, paradigma e
placebo, verdade “moderna”, espírito “positivo”, e realidade “pós-moderna”,
82
O FisióSOFO
83
Luís Coelho
84
O FisióSOFO
são, nada mais nada menos, que a consequência das lordoses da cadeia poste-
rior, e, eventualmente, da retracção do diafragma, músculo que tem inser-
7
ções sobretudo a nível lombar .
Neste sentido, é importante fazer os profissionais entenderem que o
treino de força da musculatura extensora jamais poderá ajudar no trabalho
de reeducação postural. As lordoses e as escolioses são, por excelência, o
resultado dessas retracções posteriores. Como tal, o tradicional fortalecimen-
to da musculatura lombar é um erro de tratamento insuportavelmente pres-
crito pelos mais variados médicos e praticado pelos mais variados terapeutas,
quando, no fundo, só os métodos baseados no alongamento da musculatura
6, 8, 9 10, 11
tónica – método Mézières , Reeducação Postural Global e Stretching
12, 13
Global Activo – e no fortalecimento da musculatura abdominal profunda
(o método Pilates é o mais paradigmático) poderão ajudar na reeducação da
postura e alívio sintomático a longo prazo. Acrescido a isto, não podemos
deixar de valorizar o papel da posturologia, da sofrologia e da psicomotrici-
dade.
O trabalho de fortalecimento da musculatura extensora ao nível dorsal
em doentes com hipercifoses a este nível só poderá resultar em duas coisas:
em nada de relevante, pois é impossível lutar contra uma retracção dominan-
12, 13
te com outra retracção oponente , ou num novo desequilíbrio.
O que é de certeza errado realizar, e que é efectivamente efectuado
compulsivamente pela classe médica, é encaminhar os jovens para desportos
como a natação. Este desporto pode ajudar a aliviar os sintomas, mas jamais
poderá constituir uma fonte fiável de reeducação da postura, pois, para além
de estar ausente a gravidade e de ser impossível a realização dos alongamen-
tos, a natação é destra na criação de diafragmas bloqueados em inspiração (o
13
ponto de partida para as grandes deformidades posturais) .
Infelizmente, muitas outras actividades, como o Yoga, são também con-
tra-indicadas para o trabalho postural, pelo excesso de posturas em exten-
14
são . Por outro lado, desportos como a musculação ou outros de activação
muscular assimétrica podem ser considerados como a porta de entrada para
a criação de uma série de desequilíbrios posturais; leia-se a obra “O homem é
15
um animal assimétrico” do ortopedista Leandro Massada .
Porém, começa a surgir uma luz ao fundo do túnel, pois já são vários os
sítios onde se realiza trabalho de alongamento e Pilates adaptado às crianças
e adolescentes com alterações posturais. Só falta mesmo consciencializar os
profissionais de primeiro contacto para este facto.
85
Luís Coelho
Referências bibliográficas
1. Coelho L, Almeida V, Oliveira R. Lombalgia nos adolescentes: identificação
de factores de risco psicossociais. Estudo epidemiológico na região da grande
Lisboa. Rev Port Saúde Pública 2005;23:81-90.
2. Fairbank JC, Pynsent PB, Van Poortvliet JA, Phillips H. Influence of anth-
ropometric factors and joint laxity in the incidence of adolescent low back
pain. Spine 1984;9;461-4.
3. Balagué F, Nordin M, Skovron ML, Dutoit G, Yee A, Waldburger M. Non-
specific low back pain among schoolchildren: a field survey with analysis of
some associated factors. J Spinal Disord 1994;5:374-9.
4. Balagué F, Troussier B, Salminen J. Non-specific low back pain in children
and adolescents: risk factors. Eur Spine J 1999;8:429-38.
5. Goldberg M, Scott S, Mayo N. A review of the association between cigaret-
te smoking and the development of non-specific back pain and related out-
comes. Spine 2000;25:995-1014.
6. Mézières F. Révolution en gymnastique orthopédique - Causes et traitement
des déviations vertébrales et algies d'origine musculaire. 1965, Paris.
7. Souchard Ph-E. Le diaphragme. 1980, Essai, Paris.
8. Bertherat T. Le corps a ses raisons. 1976, Éditions du Seuil, Paris.
9. Denys-Struyf G. Le manual du mézièriste. 1995, Éditions Frison-Roche,
Paris.
10. Souchard, Ph-E. Le champs clos - Bases de la Rééducation Posturale Globa-
le. 1998, Essai, Paris.
11. Souchard, Ph-E. Les scolioses - Traitement kinésithérapique et orthopédi-
que. 2001, Masson, Paris.
12. Souchard, Ph-E. Le stretching global actif. 1996, Éditions Désiris, Paris.
13. Grau N. Le stretching global actif au service du geste sportif. 2002, Le Pou-
soë, Paris.
14. Myers TW. Anatomy trains - Myofascial meridians for manual and move-
ment therapists. 2001, Elsevier Health Sciences, England.
15. Massada L. O homem é um animal assimétrico. Especulação sobre um estudo
antropométrico efectuado em jovens atletas. 2006, Editorial Caminho, Lisboa.
86
O FisióSOFO
4
Publicado em «Fisio», Janeiro de 2008.
87
Luís Coelho
5
Publicado em «TDT Online», edição 1, 2010.
88
O FisióSOFO
89
Luís Coelho
90
O FisióSOFO
91
Luís Coelho
ponsável pela fama mundial do método Mézières. Mais tarde, certos métodos
como o “Corpo e Consciência” de Courchinoux viriam a reproduzir um
pouco a filosofia da antiginástica.
b) ‘Cadeias Musculares e Articulares’ (ou ‘método GDS’) de Godelieve
DenysStruyf (1995) – Denys-Struyf, fisioterapeuta e retratista, concebeu um
conjunto de posturas designativas de estados “psico-físicos” e personalísticos
específicos e idiossincráticos.
c) ‘Morfoanálise’ de Peyrot – à semelhança do anterior, é um método
também de dimensão claramente “psicofísica”, demonstrando a importância
que o método Mézières tem para a “psicossomática”.
d) ‘Reeducação Postural Global’ de Souchard (1981) – talvez o método
mais parecido com o original, o RPG, acusado por muitos autores por cons-
tituir um plágio de Mézières, diferencia-se por preferir posturas mais activas
(em número de oito), utilizadas segundo o tipo de retracção global dominan-
te (posterior ou anterior). Ph-E Souchard contribui, em muito, para tornar
mais científicos os princípios do método Mézières, mas o facto de negligen-
ciar quase completamente o método de onde foi beber a “inspiração” é
demonstrativo de uma certa falta de honestidade intelectual.
e) ‘Cadeias musculares’ de Busquet (1996) – grande conhecedor da ana-
tomia humana, Leopold Busquet concebe um conjunto de várias cadeias
dinâmicas (cadeias de flexão e extensão, cadeias cruzadas), para além de uma
cadeia estática posterior. É o mais dinâmico dos métodos neo-mézièristas.
f) ‘Reconstrução Postural’ de Michael Nisand (2004, 2006) – é o mais
científico dos métodos, para além de ser o mais fiel ao original. Criado nos
anos 90, logo após a morte de Françoise Mézières, é o mais “neurológico”
dos métodos, pois, enquanto, por exemplo, o RPG vai seguir um trajecto
mais “miofascial”, a ‘Reconstrução Postural’ vai valorizar todas as modalida-
des de trabalho postural que facilitem a “inibição tónica” da musculatura
postural. Em termos metodológicos, apesar de não existirem referências de
similitude histórica, é possível encontrar semelhanças entre a ‘Reconstrução
Postural’ e métodos de intervenção neurológica como o conceito de Bobath.
Todos os métodos neo-mézièristas dão grande importância às posturas
de inibição dos excessos musculares, incluindo aqueles – relacionados com
os anteriores – que propõem a “inclusão do analítico dentro da globalidade”
como o que advoga o Bienfait (1995) da “Reeducação estática funcional”. Em
geral, o grande contributo dos métodos da linha de Mézières constitui a visão
indissolúvel de que a patologia músculo-esquelética adquirida resulta, sobre-
tudo, da existência de músculos de acção desinibida. Tal concepção acarreta
92
O FisióSOFO
93
Luís Coelho
94
O FisióSOFO
95
Luís Coelho
96
O FisióSOFO
dúvida certas certezas. De facto, como tantas vezes é exemplificado por Popper,
as “certezas” de Newton vieram a ser fortemente contestadas por Einstein.
A existência de uma evolução da ciência por um processo de refutação
constante de hipóteses leva a considerar o critério de “falsificabilidade” como
algo que diferencia o científico do pseudo-científico. Por exemplo, certas “ciên-
cias”, como a psicanálise ou o marxismo, não são verdadeiras ciências segun-
do o critério do racionalismo crítico popperiano. Por outro lado, esse mesmo
critério permitirá a Popper possuir um argumento que enalteça a ideia de que
a ciência evolui racionalmente, a desmando das teorizações historicistas, que
Popper tantas vezes adversou.
97
Luís Coelho
8
Referência: Coelho, L. Raquialgias: Modelos fisioterapêuticos e preventivos. Gazeta
Médica. 2020; 7(3).
98
O FisióSOFO
99
Luís Coelho
100
O FisióSOFO
101
Luís Coelho
102
O FisióSOFO
103
Luís Coelho
104
O FisióSOFO
Devemos julgar as pessoas pelas aparências. O resto não pode ser julga-
do.
105
Luís Coelho
Estava zangado comigo. Até parecia trovejar. As coisas que a mente arranja!
106
O FisióSOFO
107
Luís Coelho
108
O FisióSOFO
do. As Leis são estáveis. Subsiste um Igual, ou, pelo menos, a sua percepção.
Mas, bem sabemos que há diferenças “racionais”, e é quando uma diferença
maior esgrime a desadaptação que surge a revolução compensatória. A seme-
lhança é liberal, como em Spencer ou Spengler, ela irá esculpir a nova Estru-
tura “racional”, social, contratual, capaz de fazer frente à ameaça crescente.
Este processo “artificial” é baseado no “natural”, com a evolução a represen-
tar um mecanismo semelhável, aliás, a novel Razão estende a Natureza, bem
como a necessidade egóica. Quando a Razão se estende culturalmente, o
mecanismo é semelhável ao que acontece com o Princípio religioso e patriar-
cal. Obviamente, um contexto “social” contende diversos Princípios idiossin-
cráticos, mais ou menos adaptativos, e em mutação constante. A compensa-
ção/adaptação securiza, a desadaptação mobiliza. O movimento precisa da
contundência da Estrutura, quando esta é excessiva, mobiliza-se novo “Arché”.
Existe, sempre, uma dualidade entre Pater e mater, o Grupo e a idiossincra-
sia, este duelo esboça uma dinâmica progressiva que caminha no sentido de
uma evolução, intermediada pela Evolução “espiritual”, meditativa. As duas
nutrem-se, uma explica a outra, e nelas se reserva todo um Sentido, que é a
própria dualidade perfazendo-se incansavelmente.
Não obstante, no sentido espiritual, e também psicanalítico, a evolução
é sempre retroactiva, ela visa retroceder para um Estado mais selvagem e
primevo, em que o Igual é “anárquico” e “acrático”. Isto implica refazer e
matar a memória, Aqui, onde o Passado vence e recalcitra, mortificando a
intrínseca dualidade. Este é o Sonho, a esperança, de um sono perfeito, capaz
de esgotar toda a progressão. Não é esta a evolução “biológica”, que se faz,
por ora, no sentido da complexificação crescente. Mas esta implica uma tota-
lização imorredoura, onde o Tudo não é Nada, porque este exige que o tem-
po ande para trás e que a gravidade pronuncie o elemento Uno, a mónada
infinitesimal, indivisível. Mas, reparai que o Nada aparente possui, em si,
uma incomensurabilidade de elementos conexos, esta é outra Escala, onde o
Todo se firma tamanhamente no duo estratégico e complexificador. A com-
plexidade é haver Razão progressiva, uma fuga ao Imediato, um distancia-
mento entre Sujeito e Objecto que secundariza a distância entre o “eu” e o
“outro”. Para que os “entes” sejam Uno é preciso que eles vociferem na mul-
tiplicidade, na visão estarrecedoura de um Objecto distante e que se torna
automaticamente mais distante ainda. Há, aqui, uma mobilidade dançada,
um salto em altura, um projecto de crescimento constante, de eterna decom-
posição tomística, há, também, uma razão que pensa não haver qualquer
109
Luís Coelho
110
O FisióSOFO
111
Luís Coelho
112
O FisióSOFO
Quando for grande quero ser pequeno. Ninguém me apoia nesta ambi-
ção. O que a torna necessariamente menor.
113
Luís Coelho
114
O FisióSOFO
115
Luís Coelho
116
O FisióSOFO
117
Luís Coelho
{O PANfilismo9}
O PANfilismo e a PANfobia têm algo em comum: retratam, ambos, um
estado de apreensão face a uma realidade moderna, uma peleja paradigmáti-
ca que não é, bem vendo, nova, nem está longe de terminar.
O surgimento e afirmação do PAN não seria possível sem que se verifi-
casse um cisma face à modernidade industrial. Num contexto hipermoderno,
marcado pelo vazio da individualidade feérica, não é estranho que existam
desadaptados, sujeitos irredutíveis à sociedade de mercado. Há, aqui, um pro-
blema profundo, que é de mote psíquico. A luta contra o paradigma dominan-
te é, somente, uma manifestação. E ela traz consigo a necessidade de espiri-
tualização, a egofobia, a resistência face à ciência “materialista”. O neurótico
procura, como tal, a nova “religação” ao Espírito, à natureza, ao “Todo”. Não
sendo capaz de afirmar o seu “ego”, pretende assim demovê-lo do cenário
identitário, ignorando que isto é, per se, defesa egóica. A busca espiritual camu-
fla uma nova, antiga, religiosidade, bem como uma pretensão de evangeliza-
ção; a intenção é a remissão da culpa, e, com ela, a redenção de todos os
outros, que conspurcam o tecido social. A “missão” é estendida à totalidade,
porque se acredita existir um karma colectivo que se reflecte no destino de
cada um. A preocupação é, mais uma vez, egóica. Subsiste uma semelhança
com a esquerda pós-marxista e pós-moderna, a qual criou, em tempos, uma
atmosfera de suspeição face à ciência, na sua relação com a indústria e o capi-
tal. O liberalismo científico é, assim, repreendido, optando-se por uma via
“holística”, que reacorda o vetusto modelo pré-científico. As práticas tera-
pêuticas não convencionais, o modo “orientalista” de interpretação da reali-
dade, tudo isto parece belo e puro, até porque reacende o interesse pela natu-
reza. A Razão natural é, de facto, importancionalizada, de alguma forma,
defende-se o “modus” anarquista, primevo, de viver. A ética primitiva e a
colectivização utópica são traços de um certo marxismo, face ao qual a com-
petitividade e o capital parecerão pecaminosos. Existe, portanto, uma obses-
são pela “felicidade”, e uma fixação com a Luz, que remete para a crença,
para a fé. Os “espirituais” pretendem ser “racionais”, mas ignoram que toda
a sua iluminação é falsa e estende um “pathos”. Pior, acabam mesmo por ser
punitivos face aos “alienados”. Mas não pensemos que esta é uma religiosi-
dade à antiga, porque, aqui, também consta o artifício da individualidade. E
do hedonismo. Que dizer dos retiros e das modas do “mindfulness”? Colo-
cam a capa do “Espírito”, onde subsiste, tão-só, o ego, e o prazer.
9
Setembro de 2019, publicado no jornal «O Diabo».
118
O FisióSOFO
119
Luís Coelho
120
O FisióSOFO
121
Luís Coelho
122
O FisióSOFO
123
Luís Coelho
124
O FisióSOFO
125
Luís Coelho
126
O FisióSOFO
127
Luís Coelho
ser perfeita, mas ele terá de se responsabilizar por ela. Se a escolha é imperfei-
ta é porque não satisfaz, “adequadamente”, a Razão plena, primeva. Se as
condições de escolha fossem “perfeitas”, não haveria nada a escolher. Uma
“compensação” pode ser mais ou menos autêntica. Ela suprime parte da
ansiedade, mas impele à defesa. De algum modo, a compensação implica
uma “objectificação” do “Ego”, sem que este sinta dominar plenamente. A
escolha “perfeita” é libertadora, desvenda o Objecto, bem como o Senhor.
Mas este é um “deus” benevolente, que se arrisca a cair na inércia, na passivi-
dade. É preciso que outro “deus”, um Objecto superegóico, crie a irrisão,
complexificando a emergência de um caminho. Não caminhar é próprio de
um “deus”, ou daquele que, perante a escolha, abdica de prosseguir. O
“Nada” é este estado de indecisão, quando se adensa a fractura entre Sujeito
e Objecto. Mas é, também, saber que qualquer escolha implicará enlaçar um
Objecto que é sujeito de um Objecto maior. Mas o acto mental de tomar
consciência da iniquidade da escolha é, já, escolher. Quem se abstém escolhe.
Com a consciência de que não podia deixar de o fazer. Por isso está justifica-
do. Mas não perante o outro, que possui, tal-qualmente, a sua “tragédia”
pessoal, a sua escolha, o seu devir.
¶
128
O FisióSOFO
129
Luís Coelho
130
O FisióSOFO
Alguns só sabem a sorte que têm quando lhes sai a Sorte grande. Têm o
azar de aproveitar a oportunidade e de viver o momento. A partir daí, tudo é
conquista.
131
Luís Coelho
132
O FisióSOFO
constante. A Noésis é o que É, quem diz que a possui está, decerto, a ser
enganado pela esfera empírica, porque nós estamos condenados a viver na
nossa escala. Uma escala de visão é uma limitação tética, ontológica, com-
pondo uma parte insignificante da coisa em si. O que conseguimos “reduzir”
pode ser expresso pela lógica. O que é mental ultrapassa, pelo menos por
agora, tal redução “analítica”. As ciências humanas assumem a subjectividade
como parte inexorável da investigação. O sujeito faz parte do próprio Objecto
que se investiga. E investigar, como agir, é transformar a razão ética, o intrín-
seco Humano. A Razão noética não muda, transmuta-se, sim, a razão no
sentido hegeliano. As ciências naturais tentam retirar o humano da equação,
quando agarram uma Realidade, comummente a assumem atomisticamente,
como última. Não sabem, no entanto, se estarão a ser enganados pelo empíri-
co. Mas o engano é intrínseco ao Humano, e ele inclui-se no movimento, na
práxis, que transtorna o inerente h/Humano. Por isso, a realidade muda
constantemente, como o alvo de uma intervenção social. Também mudaria a
prescrição social, o “meio-termo” aristotélico, o algoritmo de menor sofri-
mento, actuar no Humano, conhecê-lo, é fazer crescer a Escala de observa-
ção, é assumir mais devir, e desocultar mais passado, multiplicando as solu-
ções, mutando a re-solução que se presta a partir de um Nada. Este Nada é a
assunção da dificuldade em controlar as diferentes variáveis, é admitir a fra-
queza da visão empírica, a passividade actuante de um passado que se recons-
trói perfidamente. Pensar na solução é, já, puxar o mundo para um outro
estado, novo design ético, o que transmuda o alvo, o algoritmo, a realidade. É
tecer um novo modus (des)compensante, o que pode levar muitos a acredita-
rem ter alcançado a verdade, pacificando, assim, a sua relação com o mundo,
mimetizando o Princípio, desocultando a memória de um tempo que nunca
se viveu e de um mundo que permanecia por desvelar. Também, aqui, reside
a ilusão, como no que caminha sabendo que nunca deixará de o fazer.
133
Luís Coelho
Também sou gago. Acontece sempre que tento ficar em Silêncio. Quan-
do conseguir, chatearei muito mais. Comemorarei com a bandeira branca. Se
cá estiver.
134
O FisióSOFO
135
Luís Coelho
Quem rejeita diz sempre que está cansado. Porque cansa dizer que se é
rejeitado.
136
O FisióSOFO
ria sobrevir com a morte. A ataraxia é, assim, uma suspensão do juízo ilusó-
ria, uma tentativa de matar a profundidade racional, para que possa soçobrar
o “exterior” remanescente. Mas este “exterior” não cessará de ameaçar o
céptico. Pudera ser este dono da almejada tranquilidade, há quem defenda
que o dogmático também poderá ser seguro de si, sobretudo se o seu “dog-
ma” convergir com a identidade, própria e alheia, afecta à tolerância. Esta
resulta naturalmente do enlace de uma physis securizadora. Mas, se, no dog-
mático, existe uma crença adaptativa, no céptico, a crença é menor e o juízo é
evitado. O cepticismo resulta de uma desistência em encontrar a “evidência”,
pode ser, entretanto, um modo de evitar a Culpa da escolha, da decisão. O
evitamento da decisão poderá criar, também, ansiedade, mas esta não durará
muito tempo, sendo que a serenidade poderá sobressair, um pouco à imagem
do processo meditativo.
137
Luís Coelho
138
O FisióSOFO
139
Luís Coelho
140
O FisióSOFO
Quando uma deputada se demarca do seu partido sei que ainda há espe-
rança para o partido.
O circo só vence quando os eruditos tentam falar mais alto que os palha-
ços. É queda garantida. Sem rede.
141
Luís Coelho
Na verdade vos digo que o lobo que sobe a montanha tem menos fome
do que o que a desce.
Quem ferve em pouca água não nos aquece. Mas quem nos resiste
impassivelmente dá-nos uma banhada. De gelo. Acontece, porém, que me
derreto com gelados. E isto seria meritório se eles não se derretessem bem
mais depressa comigo.
Agora que sou mestre quero ter um discípulo. Ensiná-lo-ei para que se
torne meu mestre.
Agora que sou terapeuta quero ter um paciente. Para que eu possa
adoecer.
Quando me tornar imortal, criarei quem me mate.
Não, não quero ser compreendido, isso seria limitar-me. Sou macros-
cópico, o que pisas é a minha saudade. Quando me ouvires será para te jul-
gar, aqui, onde a ressaca se transmuda e a penumbra se enche de orgulho.
142
O FisióSOFO
Tenho orgulho no meu gato. Tentei mudar de lugar com ele. Bufou-me.
143
Luís Coelho
Deus joga aos dados para que, dele, surja o plasma (Basílio de Cesareia),
que é viciar o jogo das intenções. A criação é necessariamente imperfeita,
doutra maneira seria inútil. Perfeitamente ressurge a Lei, na repetição respi-
ratória, dual. A criatividade é fazer surgir novel Lei, renovado Divino, capaz
de exaurir a responsabilidade face a um outro Deus.
O Espírito é pensar não haver com que fazer algo de novo. Mas pensar
renova a decisão material. Como quem cria a partir da Coisa, em queda
estrepitosa no caudal do Sonho. Quem cai para se levantar é incessantemente
imperfeito, porque repete o erro de querer ser deus.
144
O FisióSOFO
145
Luís Coelho
Uma lesão...
Fisioterapeuta “desportivo”: “Não treinou o suficiente.”
Fisioterapeuta “postural”: “Foi treino a mais.”
Se eu ganhasse um euro por cada vez que vejo fazer-se uma asneira no
ginásio comprava um ginásio.
As pessoas que tentam passar-se por aquilo que não são nem sonham
aquilo que podem ser.
Pior cego do que aquele que não quer ver é o que vê.
146
O FisióSOFO
{O Deus gay}
A propósito da polémica do “Jesus gay”, convém estiraçar alguns itens
prementes, que, de algum modo, marcam a sempre irredutível questão do
antagonismo entre o “Espírito” e a “matéria”.
O Cristo Jesus (Unigénito), enquanto Filho, desdobra a realidade Divi-
na, Ele é o próprio Deus, sua extensão, não é inferior ao Pai. O cordão umbi-
lical para o Homem é representado pelo Verbo, a Lei, que é o inerente Cristo,
anterior ao Homem e seu gerador. O Homem é criado por Deus à sua ima-
gem e semelhança. À sua imagem, porque o Homem também é Divino, o seu
Princípio Era o Verbo. À sua semelhança, porque o Homem tende já para a
“queda” face à Lei, necessária ao caminho de regresso, o qual implica certa
similitude divina.
O Cristo é o agente de activação dessa semelhança. Deus Verbo, desce,
sem que alguma vez perca a divinidade, para abraçar a condição humana, des-
virtuada pelo adversário diabólico. Para facilitar a percepção de uma inteligên-
cia inferior, Jesus veste-se de carne e convive com os homens. Na medida em
que é Deus, à sua imagem, o Cristo não tem sexo, ou, no limite, é bissexual. O
Verbo de cada um de nós, que confere à nossa Origem, é, igualmente, bisse-
xual. É, grandemente, a experiência cultural que permitirá veicular a identida-
de sexual (não desprezando, claro, factores genéticos, embrionários e epigené-
ticos), a qual, se representa psiquicamente no formato de uma diferenciação,
que resulta do diálogo entre o Princípio pré-verbal (aliás, Verbal) e a continui-
dade social que subjaz à orientação dominantemente heteronormativa.
A “norma” heterossexual parece, quase, antagonizar o Princípio bissexual.
Um pouco como se figurasse o “corpo” recusando a androginia espiritual. Mas,
com efeito, no seu quadrante fortemente “patriarcal”, a religião valoriza a “nor-
ma” face à Origem. Porque é próprio do Humano definir-se na “multiplicação”
sexual, reproduzindo a natureza. Esta diferenciação é prévia à necessidade futu-
rável de obliteração do corpo, requerida à plenitude salvífica. Pelo que, no limite,
para o Homem se tornar um “Cristo”, precisa de recuar, de maneira a anelar o
Verbo. Mas este não é o objecto do “materialismo”, da vivência “física”, que, às
tantas, desespera o caminho, e recruta, até, diferentes possibilidades de desenvol-
vimento. É neste contexto que, adversando a natureza heterossexual, outros
modos de identificação podem surgir, por convergência de um Princípio pessoal
assaz “diferente” com a identidade homossexual. Esta demarca o “incesto” sim-
bólico, terror da psicanálise, como da religião; para estas, a homossexualidade
pode representar uma heresia, até porque convida à maturação de novos arqué-
147
Luís Coelho
148
O FisióSOFO
149
Luís Coelho
Sobre “André Ventura”: Não digo que ele não seja pior que os outros,
mas os outros não são melhores.
¶
150
O FisióSOFO
151
Luís Coelho
julgamento, com a segunda vinda do Cristo. Mas somente nós nos julgamos,
consecutivamente, com base nas referências que disparam imerecidamente.
A determinação, único palanque genuíno da “materialidade”, justifica-nos,
ainda assim, tal como legitima a aproximação à Palavra universal, o que não
implica maior Ordem.
152
O FisióSOFO
153
Luís Coelho
154
O FisióSOFO
155
Luís Coelho
156
O FisióSOFO
terapeuta impassível. E, no entanto, pode ser que este não seja, jamais, um
terapeuta; ser “terapeuta” é, sempre, uma necessidade de auto-salvação.
Obrigação que nutre o manancial empírico adstrito ao falso “princípio”.
Um “ideal” implica, concomitantemente, um ressalto empirista, o ali-
mento do “senso comum”, que, para o materialista, está presente no dogma
“espiritual”, afrontado como falso e projectivo. E isto inclui o “princípio” no
sentido “psicanalítico”, que poderá bastar-se numa mera construção expe-
riencial. Mas mesmo esta parte dum “antes” que conforma, mormente, o
devir. Um trabalho terapêutico futurável visa, constantemente, modificar o
pretérito. Numa perspectiva “demiúrgica”, e apelando à analogia da fisiote-
rapia de reeducação postural, o equilíbrio “moral” depende do alongamento
do dogma que ladeia a tensão da musculatura posterior e da fortificação da
musculatura agónica, anterior, feita para a acção. O agonismo de uns é o
antagonismo de outros, que, por sua vez, é uma oportunidade de agonismo.
Mas a acção “moral” é, igualmente, um modo contratual de simbiose evolu-
tiva, em que vários agentes ganham. E se isso causa prazer, ou felicidade, não
tem de ser menos moral.
O equilíbrio referente à moral impassível é, tal-qualmente, sereno no
dogma, bem como na acção, livre do último. Quando já não existe “pacien-
te”, mas somente “agente”, capaz de ser Cristo e de não se importar com isso.
Uma “moral” sã implica mansidão. Se existe demasiada consciência de um
sacrifício, essa moral pode fazer as vezes de uma compensação, de um
“pathos”, que, ainda assim, pode levar à solvência de muitos outros. Por
outro lado, a moral “sacrificial” leva frequentemente à ruptura, bem como ao
relativismo. Quando o indivíduo está prestes a questionar a moral, prontifi-
ca-se a criar uma nova. Nem sempre a postura corpórea aparentemente
“anormal” é inaceitável. Comummente, nem causa dores, mas daí a ser enca-
rada como a melhor para a sustentação a longo prazo vai um grande passo.
Uma postura/moral “anormal” gera o mote de muitas outras posturas “anor-
mais”. Entretanto, quando o “anormal” já é “normal”, os antigos adaptados
podem perder o chão, isso fica a depender da força da estrutura “originária”.
Nenhuma acção terapêutica é indiferente relativamente ao Colectivo.
De algum modo, qualquer interferência representa um “pecado”, porque
afasta o “ser” do seu trajecto. Um movimento num sentido reforma o eixo de
normalidade, transtornando o equilíbrio global. Pode ser que, no todo, não
haja qualquer diferença, porque existe compensação permanente. Os níveis
relativos de dor/sofrimento e prazer/felicidade serão constantemente os mes-
157
Luís Coelho
mos, o que, de mais a mais, torna toda a vida inútil, um verbo de encher,
convidando, ainda mais, à transcendência. Um terapeuta pode ajudar na
concorrência para a nadificação, mas mais provavelmente apascenta o “eter-
no retorno” que o processo da vida convoca. Daí que o mesmo processo seja
de aprendizagem incessante, se bem que nunca aprendemos nada de novo,
somente desvelamos sucessivamente o que sempre lá esteve. O jogo terapêu-
tico é um saltar constante entre escalas de “visão”, mas o Todo é inamovível,
Deus não conhece transformação ou perspectivas. O “terapeuta” não é um
“deus”, e, no entanto, todos constituímos “deuses sendo”, e “deuses” por
desvelar. O trajecto de um perturba o trajecto de outros, eventualmente
pode, até, complicá-lo. Não há um modo absoluto de prever todos os dados,
havê-lo, controlar todas as variáveis, é ser, já, Deus.
Perante a figurada inutilidade de todo o processo, o “ser” não deixa,
jamais, o seu caminho. O “terapeuta” que há em cada um de nós não pode,
simplesmente, desistir. O “Nada” criado pela suposta equipotencialidade
céptica não passa de mais uma “escolha”. A “morte” também é uma escolha,
no fundo de uma subjectividade canhota. Ao vivermos, escolhemos, conti-
nuamente, morrer, porque o esforço de vida é um acto de morte. Defrontan-
do o aparente “absurdo” do caminho, resta o “absurdo” da vivência que con-
tagia. A vivência é multiplicidade, e esta é a matriz da Unidade. Num tempo
em que todos querem ser terapeutas, convém firmar que não há momento
mais feliz para o terapeuta do que aquele em que este deixa de o ser.
A multiplicação de terapeutas é, irmãmente, uma manifestação de mui-
tas almas perdidas. Tentam agarrar-se na relação de poder com o “paciente”.
“Terapeuta” passou a ser marca, sinal de notoriedade social. E isto é paralelo
à nova obsessão pelo “new age”. Espiritualidade egóica, desprovida da razão
que ascende e da fé que descende. Vazio filosófico, por um lado, espiritual e
religioso, por outro. Há uma crença, é certo, mas não se trata de uma parti-
lha da deidade. A moral e a prática “religiosa” passam por compensações,
virtude falsa, distância cruel a Deus. Estes “espirituais” são, por sua vez,
adversados pelos “positivistas” radicais, ignaros na relação com a razão, a
inventividade e a fé. Afectos aos resultados numéricos, nem são capazes de
compreender que “o todo é maior do que a soma das partes”, desvirtuando o
aspecto holístico, e isentando a “clínica” de uma moral geradora de sentido.
Não se limitam a perder-se, deitam a perder muitos outros, que ficam,
entrementes, vulneráveis aos “falsos deuses”. Se existir um placebo, é um
resultado, ainda assim, mas há, mais uma vez, um apartar da realidade pri-
158
O FisióSOFO
159
Luís Coelho
160
O FisióSOFO
É bom quando deixamos que abusem de nós até à insaciedade. Para que
o grito de revolta surja na mesma proporção, saciando tantos que haviam
emudecido. Mas quando estes não se saciam, abusam do nosso grito.
Quem ama por um ganho qualquer nem sabe o que perde. Mas se sou-
besse perder-se-ia.
Quem dá a face por uma causa está vivo. Quem dá sempre a outra face é
a grande causa.
161
Luís Coelho
Se tens mérito não te percas, pode ser que te reconheçam. E, aí, estarás
perdido!
¶
O seu amor era um cancro. Quando a alma deixou de ser irradiada, ele
metastizou. Fez-se nova Alma, a irradiar os tolos do serviço. Ficaram curados
dos seus amores, na presteza da paixão.
162
O FisióSOFO
ser controlado a priori, pelo terapeuta, mas não haveria modo directo de
controlar a Vontade de Deus, a não ser pela regra da carne, o que faz com
que a Vontade passe por determinação em tudo semelhante à carnal, ou tal-
vez isto não passe de um equívoco fornecido pela frequência da expectativa,
pela regularidade. Mas a Liberdade plena seria trair a última, o que acresceria
algo ao Sistema, não importando, para nós, o quê, pois só a resultante “ele-
mentar” nos diz respeito, o resto é esperança e Sonho.
163
Luís Coelho
164
O FisióSOFO
165
Luís Coelho
166
O FisióSOFO
167
Luís Coelho
168
O FisióSOFO
As acções livres podem não ter nada a ver com a moral, provindo do
Nada e acometendo a evolução, mas elas não poderão ser pensadas ou com-
preendidas, se falamos das suas consequências, quebra-se a “liberdade”. Quan-
do explicamos a acção, também nos subtraímos à liberdade, mas ela pode ser
“livre” no sentimento, com mais ou menos moral. Pode, igualmente, consi-
derar-se uma Universalidade “material” sem Deus, com ou sem liberdade.
Como pode considerar-se Deus como o único Juiz das liberdades sem juízo
próprio, mas se a recompensa premeia a “boa” liberdade no Céu, isso terá,
decerto, pouco impacto no Sistema “terreno”.
169
Luís Coelho
170
O FisióSOFO
171
Luís Coelho
172
O FisióSOFO
173
Luís Coelho
174
O FisióSOFO
175
Luís Coelho
que” não seja redutível ao “cérebro”, quiçá até o corresponda, mas, pelo
menos por enquanto, ela sustenta uma realidade global bem mais rica, auto-
-suficiente e “oculta”, na medida em que esconde, vela, muito do que a neu-
rologia não pode figurar. A presunção de “objectividade” não implica, por-
tanto, uma physis, mas é representada teoreticamente por ela. De igual modo,
uma nova “Razão dominante” poderá representar um “Ideal”, na medida em
que se aparta da physis harmónica, primaveril, parecendo, até, que nos
encontramos face à psicose, no sentido em que nos apartámos da realidade
primeira, metafísica. Esta Realidade, em Absoluto, é Deus, e o homem é Deus
se for Sujeito totalmente independente do - e, como tal, totalmente incluso
no - Objecto. O estado de compensação é um “ter um Deus”. O Deus clássi-
co é um Nada, para o qual concorre um Verbo de relação primitiva do Sujei-
to atendo-se Objecto. Na modernidade, acresce-se um contexto “materialis-
ta”, no seio do qual alguns “clássicos” poderão jazer desadaptados. Para estes
a adaptação implica regressão ao estado de “Deus”, a sua pós-modernidade é
um retorno à Deidade, encarada como Verdade. Mas para aqueles que vêem
em Deus uma ilusão, o regresso ao Espírito poderá ser atido como mais uma
compensação. Mas a Verdade, no sentido individual, é estar em equilíbrio,
numa proximidade harmónica entre o EU e o Objecto, tão-só. Pode ser que
isto descompense a visão de outrem, mas é este “outro” que estará em desar-
monia. O que pode veicular a sublimação do seu próprio Princípio, desadap-
tando muitos dos que ele considerava “iludidos”. Ao encarar tal processo,
julgar-se-á dono da Verdade, mas a sua é apenas a sua. Os mais frágeis são,
com obviedade, os menos definidos. A neurose é uma falha na diferenciação,
é a intrínseca dúvida, o Nada da suposta “livre-escolha” idiossincrática. Para
o “relativismo”, qualquer Princípio é legítimo, se permitir o equilíbrio de
uma maioria. Como refere Feyerabend, o “relativismo” não é equalizar todas
as verdades, mas dar a todas igual oportunidade de mostrarem a sua valida-
de. O que, numa perspectiva absolutista, poderá ser encarado como perdulá-
rio, perigoso, porque se multiplicam as hipóteses, não havendo, sequer, um
modo absoluto de testar seja o que for, porque o objecto a testar muda de
momento a momento, e pode implicar tempos muito diferentes. E isto só faz
sentido numa perspectiva “empirista”, que se subtrai à visão “racionalista”,
idiossincrática, complexificante, do indivíduo. Este, já por si, protagoniza
uma luta entre diversos centros de consciência, uma labuta entre o “eu” pro-
fundo e o superficial, que tenta, per se, satisfazer simultaneamente o incons-
ciente superficial e o inconsciente arquetípico. O “superficial” é mais idiossin-
176
O FisióSOFO
177
Luís Coelho
Culpa. Mas ela produz ainda mais defesa, exponenciando a consciência face
ao instinto. O pensamento é uma tentativa de chegar ao Princípio, pode,
contudo, fazer explodir novel Razão, origem de uma diáspora de “razões”
face ao Inconsciente basilar. Na Razão dominante pode ser replicado o sen-
timento de uma “liberdade”, já na razão neurótica existe o peso da escolha. A
primeira poderá, até, implicar uma ética determinista e/ou materialista,
mesmo com o assomo de uma liberdade que poderia ter aparecido esponta-
neamente. Claro que, às tantas, pode vislumbrar-se uma possibilidade de
teoria libertarista, sobretudo se concorre um outro Princípio. A Liberdade
sentida plenamente exige, claro, um recuo desculpabilizador maior, um
encontro com o Inconsciente Colectivo, com a sua Energia espiritual, mesmo
assumindo que esta é, tal-qualmente, “material”. O pleno Verbo implica,
ainda assim, um nível mínimo de consciência insofrida, pelo que a Energia,
em absoluto, é já o Nada.
178
O FisióSOFO
179
Luís Coelho
180
O FisióSOFO
pessoal não normótico. Se este é firme, a sua presença não se ofende com a
Norma, pelo que pode não existir qualquer tentação de “paternalização”,
mas se o Princípio vem de trás, do Inconsciente prévio, ele representa,
somente, uma compensação, que, às tantas, se pode substituir, também, à
“paternalização”. A última poderá, quiçá, representar um poder demolidor,
considerado inútil pelos “estruturados”, equilibrados, que não deificam a
Norma e que não tentam deificar-se. O “normal” não obedece cegamente à
Norma, nem projecta a sua Norma, ele abraça a Norma e persiste. A sua dife-
rencialidade é um anelar de um domínio ético, suficientemente prazeroso e
equilibrado. Ele não quer dominar, nem é dominado. Aqui, consigna-se a
Felicidade equilibrada, o princípio do Prazer, capaz de construir uma vivên-
cia moral, demiúrgica. Esta moral “natural” é a Razão mais vera, o Sentimen-
to mais elevado, tendo ela que se coadunar com a Cultura, a Norma mais
artificial, que, ainda assim, compete na construção da consciência, como da
Razão. Por vezes, os desadaptados da “Norma” compensam, precisamente,
com uma projecção da moral “natural”. Pode ser caso de coragem moral,
mas pode, igualmente, ser a neurose a permitir o mergulho numa moral mais
arquetípica. No limite, estaria o Espírito, que já afasta o Sujeito do intrínseco
objecto “egóico”. A Norma “dominante” contém algo da Natureza e algo da
Cultura, a adaptação normativa implica-as. Quando existe repressão, a pro-
jecção do Princípio pessoal pode não incluí-las, mas, assim, aumenta a possi-
bilidade de desadaptação, se bem que a dita projecção poderá ir buscar força
ao Arquétipo. Novel moral implica desadaptação para muitos outros, mas a
compensação pode, sempre, advir da Razão “natural”, como de outro Prin-
cípio ou Arquétipo. Se o Princípio pessoal não se coaduna com as estruturas
arquetípicas é porque, provavelmente, não requereu compensação ou projec-
ção. Será, portanto, firme e/ou estará compensado com a Norma. Ambos os
paradigmas “materialista” e “espiritualista” possuem certa proximidade arque-
típica, a Razão natural intersecta-os. É normal que, temporalmente, eles se
substituam, num regime de “eterno retorno”, que é como caucionar a perpé-
tua neurose civilizacional.
Nas sociedades científicas, pode ser que a “ciência”, a physis, seja valori-
zada ao ponto de constituir o dogma “familiar”. A Verdade depende, assim,
da Autoridade “moderna”. E ela é, em si mesma, placebetária, procedendo,
presumivelmente, da acção do perito ou do terapeuta “objectivo”. Neste
181
Luís Coelho
182
O FisióSOFO
Sou humilde. Não peço nada da vida. Ela não tem nada que me interes-
se.
A minha melhor decisão foi ter dito “Deus, tu não decides por mim!”
Só mais tarde vi que era o meu reflexo na montra.
A única decisão perfeita é pôr os outros a decidir por nós. Nem Deus
decidiria tão bem. (Acerca disto, não presto contas a ninguém).
183
Luís Coelho
Depois de tudo o que lhe disse, ele ainda teve a lata de me ouvir. Não
lhe perdoei.
Como é que aqueles que dizem não haver objectividade em quem esco-
lhe morrer são os mesmos que dizem havê-la na escolha da vida? Não é a
morte mais objectiva que a vida? Não é bem mais objectivo não temer a mor-
te?
184
O FisióSOFO
185
Luís Coelho
Dizer que a Vida é divina não nos obriga a nada, passe-se a heresia vita-
lista. Não sabendo, de todo, o que nos reserva o outro mundo, neste, a
Liberdade só pode expressar-se como determinação. E, com esta, ressurgem
as variáveis Divinidade e Liberdade individual que labutam para desferir o
golpe fatal de um cômputo de insofrimento. Mas os que mais sofrem são,
precisamente, os que sentem mais o peso da determinação e que, por isso,
anseiam mais pela libertação. Os “outros” podem sempre defender-se com o
Divino, mas não são, tal-qualmente, imunes à desorganização interna. A
imposição de um dogma é o anseio de uma estabilidade. Quando “matar” é,
até, um modo de provocar a reacção de um Deus passivo.
186
O FisióSOFO
187
Luís Coelho
Sofria! Estava morto por saber o valor da Vida. Ninguém lhe dizia.
Tinham medo de morrer.
A morte é sempre digna. Não é Deus que o diz. É a própria Vida. Quan-
do vive de buscar Deus.
188
O FisióSOFO
189
Luís Coelho
típica” do que outras. Havendo algo realmente “melhor” seria, acaso, prefe-
rível defender este modelo. Se bem que tal não desmancha a potencialidade
de uma transformação empírica. O problema desta visão dogmática está na
possibilidade de existência de mais uma projecção “empírica”, do “senso
comum”, na perspectiva de Bacon. Porque, se toda a singularidade transfor-
mante implica certa neurose, não há motivos para pensar que a personalidade
não é, na verdade, mais uma compensação, no sentido da “vontade de
poder”. Esta seria, como tal, uma “liberdade” cultural, que, ainda assim,
poderia ser a projecção do Arquétipo, na medida de uma reacção face à frus-
tração.
Na mesma medida em que o “diferenciado” pode ser encarado como
“anormal”, neurótico, podemos ponderar o “anormal” como estruturado.
Jung considera um caso em que a homossexualidade masculina adviria da
identificação “edipiana” com a mãe, sendo que a heterossexualidade seria a
reacção estruturadora de assunção da plena singularidade “dianteira”. Mas não
estará, aqui, presente, mais uma vez, uma projecção precipitada da psicanálise?
Não poderia a homossexualidade consubstanciar a estrutura “normal” do
indivíduo, mesmo assumindo certa fusão – ou, talvez, algo de genealógico –,
sendo que a sua patologização adviria da projecção do próprio terapeuta? Por-
que uma fusão é uma “estrutura”, ainda assim. E, de modo semelhável, neuró-
ticos somos todos nós.
Todo o mundo me dizia que o que eu via era uma alucinação. E eu con-
cordei. O mundo era a alucinação.
190
O FisióSOFO
191
Luís Coelho
192
O FisióSOFO
Quando o filho/a não “mata” o Pai/mãe, é provável que ele tente domi-
nar outra figura, ou talvez permaneça agarrado à figura primeva. O “terapeu-
ta” pode ser agente substitutivo ou negocial. O excesso produz ameaça e pro-
jecção.
Quem ama e não pede por mais nem sabe o que perde. Porque já não
tem nada a perder.
Não perdeste uma boa oportunidade para estar calado. Porque estar em
Silêncio não é oportuno, é a oportunidade.
193
Luís Coelho
194
O FisióSOFO
195
Luís Coelho
pensa e abstrai. Já não se trata de fazer com que o trabalho mobilize as ener-
gias libidinais, ou de que a Realidade crie mecanismos prazerosos de abstrac-
ção, trata-se de superar completamente o paradigma da labuta, colocando a
libido ao serviço da Criação, que é o modelo, por excelência, da pós-
-modernidade, onde a ciência e a automação substituem a força manual do
homem, e o Espírito emprega o Sonho, a força da fantasia. A última não dei-
xa, todavia, de constituir uma projecção neurótica, que abarca a potência de
um Inconsciente que pede para se expressar, o que poderia ter sido escusado
por outro tipo de compensação ou mediante o exercício de uma terapia
anamnésica. Esta consigna o modelo do recuo, coisa considerada impraticá-
vel na modernidade. O trabalho de um terapeuta pode, ainda assim, ser con-
siderado como frustrador da revolução, por consentir a felicidade, quando o
novo paradigma quer muito mais, nomeadamente a realização integral do
“ser humano”, mediada pela prática da criatividade. O novel modelo exige,
apesar de tudo, a força revolucionária dos desadaptados, levando, talvez, à
desadaptação de muitos outros que se servem da Norma. Em período mater,
a última coloca a ciência ao serviço da produção de necessidades artificiosas,
processo pelo qual o Princípio do desempenho se perpetua. A alienação inte-
gra todo o mecanismo “moderno”, o objecto é o de projectar uma felicidade
impermanente que mimetiza o Princípio do prazer. Mas este é, na melhor
das hipóteses, escravizado pela Realidade, servindo, assim, a minoria pluto-
crata. O modelo “liberal” cria, inclusive, a própria noção de que o intento da
pós-modernidade não supera a mera utopia, levando a que a potencial massa
revolucionária substitua o seu objecto pela prática das terapêuticas, do lazer,
do entretenimento, do que sirva para confortar. Conforto que não redime
plenamente, nem o paradigma pós-moderno o faz, se bem que se aproxima
mais tacitamente da remissão do pretérito, podemos conceber o período do
equilíbrio igualmente como algo frustre, prestes a originar o novo período
involutivo. Mas somente esta dinâmica permite o deslocamento do Princípio
da Realidade, porque o Equilíbrio pleno é já não haver Realidade, mas se a
Consciência perdura é necessário que existam mecanismos sempre renová-
veis de vivência erótica, o que pode acarretar a sublimação cada vez mais
criativa da fantasia, do Sonho, do Espírito. A Arte surge, assim, como criado-
ra das suas próprias necessidades, de outras modalidades de projecção do
Colectivo ancilar, este processo, sim, é retroactivo, pelo que um Passado cada
vez mais recôndito pode ser sublimado até que a pura Inconsciência tome a
dianteira. Mas esta terá, talvez, a própria defesa consciente, de uma Realidade
196
O FisióSOFO
197
Luís Coelho
198
O FisióSOFO
199
Luís Coelho
200
O FisióSOFO
Disse-te que não saía com desconhecidos. E tu, pondo a máscara, lavas-
te-me a boca com sabão. Tarde de mais, já estava contagiado. Muito depois,
quando te amei de verdade, outros tentaram higienizar-me.
201
Luís Coelho
202
O FisióSOFO
{Coronavírus e Fisioterapia11}
O que diferencia genuinamente a Fisioterapia das outras práticas de
saúde ligadas à motricidade é o toque. O contacto manual funde-nos com o
paciente, laborando um objecto comum. O caminho é racional e idiossincrá-
tico. A multiplicação do Coronavírus não mata a racionalidade ou a indivi-
dualidade, antes exponencia a sua necessidade. Porque uma situação inédita
implica medidas criativas. E porque uma condição de “excepção” obriga à
coragem moral de estar “com”, sem o desabrigo da quarentena tácita.
Muitos “modernos” gostariam que a Fisioterapia fosse progressivamente
massificada e desindividualizada. Conseguiram, sim, que o número exponen-
cial de pacientes nas clínicas colocasse todos em risco. Não há higiene manual
possível quando se tratam dezenas de doentes em simultâneo. Há, apenas, a
pertinência da higiene dos comportamentos, que se vendem como receitas a
pacientes desinvestidos e sem o necessário acompanhamento ciente. A indivi-
dualidade possibilita encadear ciência de “grupo” e racionalidade personaliza-
da. Mesmo em contexto de pânico, em “estado de sítio”, é possível e recomen-
dável “parar” para que uma estratégia seja esboçada com coerência.
É verdade que algumas tarefas “fisioterapêuticas” podem ser considera-
das adiáveis. O que, de mais a mais, convida ao desemprego dos profissionais
precários. Mas é também verdade que certas necessidades irão urgir, obri-
gando ao encadeamento de uma nova dinâmica. Necessidades “respiratórias”
e de exercício não podem deixar de recrutar os terapeutas num novo contex-
to “de banco”, e até nocturno. Os cuidados de enfermagem, per se muito
respeitáveis, não são “Fisioterapia respiratória”. E “Cinesiterapia respirató-
ria” é um conceito esquivo, e não exclusivo aos fisioterapeutas. O método
específico destes profissionais possui um alcance único, “evidente” e, mais do
que nunca, imprescindível.
11
Publicado no jornal «O Diabo», na «revista Bica» e em «Triplov», Março de 2020.
203
Luís Coelho
204
O FisióSOFO
Quando me dizem que “brinco com coisas sérias” nunca sei se estão a
brincar comigo.
¶
205
Luís Coelho
zo é a melhor cura. E que de nada serve ser catastrofista. Aquela malta treina a
imunidade de grupo. A melhor vacina para o sarampo, aliás, Coronavírus.
Disseram-te para tossir para o cotovelo, não para assobiar para o lado.
O que não te mata põe-te em quarentena. Por isso, somos mais fortes.
Costumo ser muito tolerante com as crianças. Porque elas têm sempre
desculpa. Mas vou passar a ser, também, tolerante com os adultos. Porque
eles têm a desculpa de não serem crianças.
206
O FisióSOFO
O que vejo, agora, nas ruas, é o Homem que tantas vezes tenho acusado.
O animal está a mostrar as garras. Pergunto-me quantas vítimas serão neces-
sárias para produzir a genuína Consciência? E que é dos filósofos que, entre-
tanto, parecem absortos nas suas realidades, na lonjura do ego mnésico, que
é dos poetas, que continuam a escrever para si-mesmos? A Arte precisa de vir
para a rua, revelar a sua máscara de rendição. Mas, quando a porca torce o
rabo, temos o quê, a matança do porco? Prometo ser testemunha, prometo
não calar o que vejo, que não é surpresa alguma, mas continua a não ser
bonito.
207
Luís Coelho
Conspira-te. Para que possas expirar-me. O que ficar de mim em ti, não
o aspirarei.
Para estes tempos, hei-de comprar uma arma. Para matar o pânico.
208
O FisióSOFO
Estou infectado de Amor. Por isso, alugo-me! Para que possam sair de
casa. E crescer sem higiene.
209
Luís Coelho
{Ecce Coronavírus}
Desci, enviado por meu Pai, para julgar-vos.
Eis a minha Ordem de trabalhos:
• Iludir-vos e desiludir-vos conforme a consciência;
• Adoecer-vos, ora matando-vos, ora acordando-vos;
• Vingar os fracos, entre desadaptados e microrganismos;
• Vingar a natureza, que já respira de outro modo;
• Mostrar-vos que a Lei humana de nada vale;
• Instaurar a Nova Ordem Mundial, pela desordem;
• Eliminar-vos, enfim, da face da Terra.
É favor assinar por baixo.
Aviso, desde já, que muitos se farão passar por mim. Não temeis: qual-
quer um serve.
Março de 2020
Feliz dia do Pai, Senhor Estado. A mãe “democracia” já foi para a cozi-
nha?
210
O FisióSOFO
211
Luís Coelho
A vacina, por agora, é a poesia. Esta nunca nos traiu. “Mas cuidai os
idos de Março!”
Os poetas estão no mundo para se sacrificar. O vírus capitalista é, ape-
nas, para os tentar.
¶
Lá fora, a chuva ri-se de mim. Tem a mania de que o planeta não a apri-
siona.
¶
Para mim, este tempo só não conta como retiro, porque vivo assim todo
o ano. Presente, porque são os outros que se retiram.
Tenho pena das crianças de agora. Devem pensar muito mal dos pais.
Por sorte, o trauma delas pode fazê-las pensar melhor deles, mais tarde.
212
O FisióSOFO
213
Luís Coelho
12
Publicado na «revista Bica», Março de 2020.
214
O FisióSOFO
dá, acaba sempre por absorver muitos dos que permaneciam num limbo,
enquanto outros morrem ou fenecem.
Para quem a distanciação social é, apenas, “mais do mesmo”, não é pos-
sível deixar de afirmar, insolentemente, “Je suis Coronavírus”. E a ordem de
mudança soa intrépida enquanto, com gáudio, se vê desferir o golpe da for-
tuna, do sortilégio confinado. Porque o novo vírus é a modificação desespe-
rada do arquétipo. Perante a qual, o antigo “normal” reage com a leveza de
uma falsa união, tecnologizada pelo medo.
Se o vírus é uma oportunidade para recuperar a “razão de ser” “huma-
no”, isso não nos obriga a ater-nos ao “demasiado humano”. Podemos apro-
veitar para matar uma série de viroses que têm vindo, progressivamente, a
brandir a golpada da venalidade. O Coronavírus não é, enfim, o inimigo. O
“Humano”, este sim, é que está a mais. O Coronavírus aproveitou-se, somente,
da nossa fraqueza “normativa”, e fez por sobressair. E veio, quiçá, relembrar
alguns de que somos “natureza”, nudez, fragilidade, perante as quais a “cultu-
ra” deplora o seu lugar.
O “Humano” pode e deve reconstruir-se. E isso passa, primeiro, por um
período de quarentena, pelo obrigatório gládio da individualidade, pelo rigor
da clausura redentora, pelo “retiro” capaz de reiniciar o sistema. Mas não se
trata de perpetuar a distância, de destruir as relações, de mortificar a mestria
e a rugosidade. O “indivíduo” mata o “indivíduo”. Para muitos, a óptica
segundo a qual “vamos todos ficar bem” é, acima de tudo, uma reprodução
do Homem que já se rebobinava. À falta de um retorno, existe, sempre, a
reconstrução, e esta partilha natureza e aventura. Diria que “Vamos todos
ficar diferentes”. Se já nada será como dantes, façamos, ao menos, com que o
“dantes” nos ensine, aliás, nos choque e force a restaurar a razão num tempo
em que o pior vírus é, ainda, humano. E, antes que a máquina nos sobrepuje,
antes que os números desqualifiquem o que temos de “espírito”, há que tor-
narmo-nos uno com o novo vírus, a nova realidade, há que chorar, sofrer,
fazer o luto, e, finalmente, avançar.
O avanço poderá ser feito da mesma dilapidação da moral, da excisão
da razão, do triunfo da Hipermodernidade. Ou poderá tecer-se de uma pós-
-modernidade em que a ciência não desmente a sabedoria, e a matriz de que é
feita. Teremos de ser nós a decidir se o retorno ao “Espírito”, necessariamen-
te laico, se concebe num novel modo de viver, ou se implica a assunção da
morte nadificadora. O novo vírus é um aviso. A forma como lhe responder-
mos é, já, a sequência imprescindível. Se, entretanto, escolhermos uma via
215
Luís Coelho
“eugénica”, estaremos, afinal de contas, a dar ao vírus toda a razão para nos
destruir. Mas se escolhermos enlaçar a Natura, seremos, quiçá, capazes de
abraçar tantos outros vírus dum modo compreensivo, maturador. Sincera-
mente, para a Natureza, a morte do Homem implica um risco bem menor.
Mas, parece-me, o contrário não é verdade. E desferir o golpe contra as raízes
é, tal-qualmente, desferir o golpe contra a Razão. A mesma razão que foi
trabalhada sagazmente pelos grandes “vírus” de cada tempo. No último pla-
no, a atitude racional condiz com a anuência viral da morte, em contraste
com a visão científico-liberal, que se limita a fazer azular o problema, na
conquista telúrica, não remissiva, do futuro. Vencer o vírus, tão-somente, é
tratar a manifestação, sem que a causa seja importada. Ao contrário do que
se possa pensar, mesmo, e sobretudo, em “estado de emergência”, a Filosofia
é mais requerida do que nunca; ela previne e instrui a própria ciência, huma-
nizando-a, também, e escusando a tentação fáustica, que, aqui, se coloca no
pólo oposto da libido.
Um jogo de força com um vírus é como quem se entesa contra um ini-
migo. Aqui, queremos menos falo de potência derrisória e mais incesto unifi-
cador. Menos violentação constante e de proa liberal, mais coito de multidão
espirituosa. Não, não creio na lógica de luta e/ou fuga, que é, de facto, a reac-
ção “emergente”. Creio no receptáculo da desilusão, da derrota, na plena
redenção. Se ela cria a fuga é para que não exista contágio de uma normali-
dade “louca”. Por isso, o evitamento social não é só de agora, como de agora
é o ensejo de intransigência. Há que sair à rua, em desacordo e desacato,
quebrar as barreiras, mas barricando, de vez, a grosseria da competitividade.
O Coronavírus aguarda. Aguarda pelo isolamento, que é toda uma pro-
filaxia do viver humano. Que se estende da individualidade para a totalidade.
E a última inclui o enlace de muitas possibilidades “virais”. O maior misan-
tropo é o Homem Superior. Façamos com que a desadaptação seja comutada
pela tolerância. Somente a aceitação, o amor, pode criar a perfeita adaptação,
que é ser o próprio mundo presenteado pelo Humano nu. Não, “não vamos
todos ficar bem”, nem “melhor”, nem “pior”, “sejamos Bem”. E se “ficarmos
mal”, que seja por Bem. (Repitam, porventura: “Vamos todos ficar mal”,
porque doentes estaríamos se continuássemos bem, depois da actual expe-
riência. A doença é um vírus impensado. A infecção é a multidão que se
arruína, pior, que esconde a ruína. O vírus é a segunda vinda de Cristo, já
não para remir, mas para julgar. Sim, este é o Apocalipse. Mas outra Era virá!
Porque um Cristo que descende lembra-nos algo acerca do Verbo irreprimí-
216
O FisióSOFO
Não, não “vamos todos ficar bem”. Vamos todos ficar mal. Mas é um
mal que vem por Bem. Porque mal seria se bem ficássemos depois do mal de
agora. Seria um pouco como o antigo bem que se devém com o mal, tal e
qual um malmequer. E há que ser Rosa.
Hoje, atravessei a estrada com pouco cuidado, pelo que disse ao condu-
tor do veículo que quase me atropelava:
– Desculpe, foi descuido, devia ter respeitado a sua buzina.
– Condutor: Mas eu nem buzinei.
– Eu: Mas devia ter buzinado!
¶
217
Luís Coelho
13
Publicado no jornal «O Diabo», Abril de 2020.
218
O FisióSOFO
Hoje estavam menos pessoas na rua do que em minha casa. Devo fazer
a quarentena na rua?
219
Luís Coelho
Não vivemos um dia de cada vez, revivemos todos os dias num instante
furtivo. E cada vez que o fazemos amansamos o futuro.
Já que tenho o proveito vou ter a fama. Para que aproveitem a infâmia.
E eu possa desaprovar.
Toma, lá, uma ilusão. Aliviaste-te? E, agora, vais embora? Não tenhas
medo, eu dou pouco trabalho, sou um peso leve.
Sinto que sou de outro mundo. E que o vírus não me assusta. Terei
imunidade diplomática?
220
O FisióSOFO
A Verdade quis publicar um artigo “peer review”. Foi recusado por con-
flito de interesses.
A Mentira submeteu um artigo à “revisão por pares”. Foi recusado por
um ímpar.
Quis ganhar pelo vazio de ser vencido. Lutou por uma causa perdida.
221
Luís Coelho
{Procuram-se filósofos...14}
Ser “filósofo” não é para quem quer, é para quem pode. Queira o Esta-
do criar as condições para que mais “possam”, mas o “estado de arte” da
Filosofia em Portugal é de mote a reproduzir a querença desabrigada, capaz
de gerar pseudofilósofos como “zombies” processados industrialmente. Se ao
menos fossem “mortos-vivos” da sofística não se perderia tudo. Mas estes
“filósofos” da máquina académica não são dados à ambiguidade ou ao relati-
vismo, antes esculpem, diariamente, o apetrecho da Autoridade com que,
alguns, chegam, inclusive, a alimentar um projecto de uma Ordem dos Filó-
sofos.
Projecto que, logo à partida, mostra que não há, aqui, filósofos – e, ago-
ra, contradizendo-me –, antes sofistas que denegam a Filosofia na medida em
que a transformam num instrumento de poder e decisão. O verdadeiro sofis-
ta é, precisamente, aquele que nega e afirma, para fazer perseverar o Ego,
antes fosse pela ubiquidade do pensamento, mas o sofista nem isto assume,
porque isso seria arcar que a Filosofia possui todas as nuances de auto-
-negação. Mas a honestidade intelectual exige isto mesmo, que se mostre,
constantemente, como a Filosofia inclui “pano para mangas”, desonestidades
e paradoxos crescíveis.
Não é defeito, é feitio. Ser “filósofo” é ter várias “filosofias” a correr no
sangue, é vivê-las, duvidando, debitando a linha da falácia permanente. Onde
uma filosofia pretende imperar, onde a própria Filosofia, como um todo,
pretende imperar, não existe filósofo, existe Domínio (vide o meu «A Razão
Neurótica. Um livro de auto-desajuda», 2019, Manufactura Editora). E este é
a tentação irredutível de todo o “profissional” de Filosofia. À boleia da ideia
de que a Filosofia pode e/ou deve ser profissionalizada. Quando a Liberdade
jamais pode transformar-se em profissão.
A Filosofia não pode, sequer, ser ensinada, só pode ser sentida, viven-
ciada, exaurida pela urgência do auto-conhecimento. Haver, num país pró-
14
Publicado em «Diário do Minho», Abril de 2020.
222
O FisióSOFO
223
Luís Coelho
Comigo não vale a pena fazer-me olhinhos. Porque sou todo ouvidos.
224
O FisióSOFO
primeiros. Para que esses não tivessem que ensinar aqueles de que o exemplo
é sempre ad hominem.
“Nem tanto ao mar nem tanto à terra”, disse o fogo com ar de éter.
A vida dele era uma seca. Usavam-no, até, para secar as lágrimas.
225
Luís Coelho
226
O FisióSOFO
Ficaste com uma falsa ideia sobre mim. Por isso te agradeci teres-me
enriquecido. Infelizmente, partiste a achar que sou um vendido.
Não penses que sou um vendido. Comigo é negócio sempre aberto. Mas
o preço não aumenta sempre. Cambio-me segundo o mundo.
Aceito o desafio do meu amigo Luís Coelho e, a partir de hoje, vou publi-
car capas de dez “Nadas” de que gosto, uma por dia. Entretanto, proponho o
desafio a Deus, sabendo que, com sua preguiça de Sempre, não deixará de
cumprir a tarefa, nomeando todos os seus demiurgos e algum cordeiro.
227
Luís Coelho
«– A: Tens razão!
– B: Tenho razão em quê?, eu não disse nada!
– A: Tens razão... tal como já te tinha dito.»
228
O FisióSOFO
Num mundo onde todos estão em crise ninguém está em crise. Digo-o
agora, enquanto é tempo, não vá a crise passar.
Era um professor tão bom, tão bom, tão bom, que tinha a sala sempre
cheia. De dúvidas. Pior, ensinava a sobreviver-lhes.
229
Luís Coelho
Se respeitas quem não te respeita tens o meu respeito. Para que possa
merecer respeito.
¶
230
O FisióSOFO
231
Luís Coelho
Nos tempos que correm, é preciso um milagre para acreditar que a Gra-
ça dispensa milagres.
232
O FisióSOFO
233
Luís Coelho
234
O FisióSOFO
Agora que estamos na fase do derrube das estátuas, posso sugerir uma
estátua ao “derrubador desconhecido”?
235
Luís Coelho
236
O FisióSOFO
237
Luís Coelho
238
O FisióSOFO
239
Luís Coelho
240
O FisióSOFO
Todos fazem o melhor que podem. É por isso que alguns são tão maus.
Acordei, fui à porta, vi que o mundo tinha acabado. Voltei para a cama.
Ainda ia no primeiro sono.
Muitas vezes digo que não vi, mas, depois, vou a ver e vejo que já vi,
doutro modo, não teria visto.
Esse teu modo de ser não te faz justiça. Não mudes, gosto de fazer justi-
ça pelas minhas próprias mãos.
241
Luís Coelho
Era tão bom, tão bom, tão bom, que não tive outra opção senão tornar-
me mau. Arranjei, logo, namorada.
¶
O que mais lamento na vida é não ter arranjado mais razões para me
lamentar. Não tive vida para isso.
Perco anos de vida a pensar no que a vida poderia ter sido. E o pior é
que nunca me lembro dos anos que perdi.
242
O FisióSOFO
243
Luís Coelho
244
O FisióSOFO
245
Luís Coelho
246
O FisióSOFO
247
Luís Coelho
248
O FisióSOFO
249
Luís Coelho
250
O FisióSOFO
poral. Por sua vez, o fenómeno “sente-se” muitas vezes “livre”. O que o deter-
minista encara, na melhor das hipóteses, como uma aproximação do mesmo
à Razão primeva.
251
Luís Coelho
252
O FisióSOFO
253
Luís Coelho
254
O FisióSOFO
255
Luís Coelho
256
O FisióSOFO
257
Luís Coelho
258
O FisióSOFO
sempre da categoria do Princípio, mas isto é, mais uma vez, impor uma
visão, contudo, sem terreno, é impossível conceber o que quer que seja, se
bem que qualquer concepção torna o terreno lodoso, fazendo multiplicar as
vertentes de um bestiário de ilusões.
259
Luís Coelho
260
O FisióSOFO
261
Luís Coelho
262
O FisióSOFO
Bem te dizia que não ias ser feliz por lá, que eu fui e não partilho a feli-
cidade.
O que fui, e já não aceito, é apócrifo. É favor não ler. Se responder por
mim, não serei eu.
263
Luís Coelho
almoço. Foi injusto, só tinha comido leitão e já estava capaz de uma conges-
tão. Disse-lhe, mas ele não percebeu a rima. Entretanto, enquanto arranja-
vam os Tradutores Universais, escapei dali a grunhir. Perceberam a piada?
Ele também não.
Quando era mau, diziam que era poeta. Quando me tornei poeta, disse-
ram que era psicografia. Imaginem, só, se tivesse ficado entre os dois. Diriam
que era plágio.
Saber que alguém deixou de fumar por se juntar ao “Chega”, mais do que
um incentivo ao fumo, é a prova cabal de que há muitos ex-toxicodependentes
que, apenas, se limitaram a trocar uma droga por outra. Recomendo a criação
dos “Chegófilos anónimos”, sob pena perpétua... (02/09/2020)
264
O FisióSOFO
Confesso que géneros e ideologias não fazem o meu género. Estou a ver
se degenero num idealista.
265
Luís Coelho
Ele era bom com toda a gente, tinha uma moral irrepreensível. Mas,
depois, descobri que, afinal de contas, ele gostava das pessoas.
266
O FisióSOFO
Ele era paritário. Achava que todos os homens ilustres tinham de ter
uma mulher por trás. Colhendo os louros.
267
Luís Coelho
Ele era paritário. Achava que por trás de uma grande mulher, há sempre
um grande cota.
15
Setembro de 2020, publicado na revista «Triplov.com», Outubro de 2020, e em «Health-
news», Dezembro de 2020.
268
O FisióSOFO
269
Luís Coelho
ter o efeito de aumentar ainda mais a deformidade. Mas, por exemplo, Sou-
3
chard concebe que tal só poderá suceder se não existir um modo adequado
de controlar todas as compensações, coisa que o seu método (RPG) propen-
de face ao original de Mézières.
A perspectiva “compensatória” é, na realidade, um modo de confiança
4
no equipamento “observacional”, ao estilo de Francis Bacon , mas que não
escusa os defeitos empíricos que o mesmo filósofo aponta aos modelos dog-
máticos. O que é observado e assumido como lei é francamente movido por
um comportamento corpóreo, que mesmo sendo assumível como universal,
não dispensa a visão paradigmática. O que inclui a mesma óptica a posteriori,
aquando da efectivação de um modelo “miofascial” que sugestiona simulta-
neamente a avaliação e o tratamento. Avocar que este modelo permite escul-
pir uma morfologia é, talvez, especular o que o intrínseco modelo entende
não poder ser comprovado por défice de tempo de estudo e por incapacidade
de controlo de variáveis nesse mesmo tempo delongado. Por sua vez, é possí-
vel conceber que a resultante vera em alguns sujeitos poderia ser apagada por
uma “não resultante” em outros sujeitos, isto se nos referirmos a estudos “gru-
pais”, que, consabidamente, cancelam o efeito “casuístico” e não permitem,
muitas vezes, estudar a inter-relação de variáveis. Mas acontece que a mesma
táctica “desculpabilizadora” é utilizada por proponentes de outros métodos
com elevados níveis de abstracção, o que pode envolver a pura charlatanice.
Daí que, ainda mais quando se trata da mera sintomatologia, seja fundamental
acrescer o “efeito placebo”, o qual tende a ser demonizado pelo positivismo.
Há, ainda, que ater a problemática anamnésica e dialéctica. O paradig-
ma “postural” convida à intervenção constantemente dialógica entre o tera-
peuta e o que o corpo do paciente “narra”. Mas como pejar a cronologia das
alterações, se houve uma evolução ascendente ou descendente, se a postura
“presente” pode ou não ser considerada “funcional”? Numa perdulária hipó-
tese, a intervenção gera ainda mais dor, mergulhando o paciente ainda mais
fundo na necessidade de “positivar” o resultado. Mas, decerto, muitos tera-
peutas conceberão a legitimidade de uma intervenção em que a “dor” é impli-
cada enquanto “caminho” inevitável. Mas será mesmo legítima esta interven-
ção? Não será preferível, meramente, compensar? Mas isto poderia contender
um tratamento já mais “funcional”, anti-sintomático. Que também não dis-
pensa o placebo, mas permite, talvez, delinear melhor o seu sortilégio.
Relativamente à coluna vertebral, há que conceber que assim como o
alongamento poderá ajudar a libertar o processo articular, também poderá
270
O FisióSOFO
271
Luís Coelho
272
O FisióSOFO
273
Luís Coelho
274
O FisióSOFO
275
Luís Coelho
276
O FisióSOFO
Referências bibliográficas
1. Mézières F. La révolution en gymnastique orthopédique. Paris: Vuibert;
1949.
277
Luís Coelho
278
O FisióSOFO
16
Publicado em «Observador», Outubro de 2020.
279
Luís Coelho
17
Publicado em «Gerador», Outubro de 2020, e em «Birdmagazine», Novembro de 2020.
280
O FisióSOFO
281
Luís Coelho
Anjos e demónios já são casados... pela Igreja. Só falta terem uma união
“de facto”.
282
O FisióSOFO
18
Outubro de 2020, publicado em «Healthnews», Março de 2021, e em «Triplov», Maio
de 2021.
283
Luís Coelho
6
parte menos “adequada”, ou, na linguagem de Leibniz, mais “confusa” ( ), da
relação com a Razão –, menos certo é que “exista” Espírito enformando o
corpo. E menos certo é, porque, aqui, não nos apoiamos em nada, e se o
fazemos, se contabilizamos, já é matéria. Neste sentido, é tudo “matéria”, e o
monismo fisicalista vence a prestação, mas não mata toda a pendência “racio-
nal” que o Espírito consagrou durante milénios (notemos que tanto o espiri-
tualismo quanto o dualismo cartesiano não mudam, genuinamente, nada no
que nos pretendemos expor). E, assim, atemos um corpo formatando uma
Razão, que, aliás, se torna uma medida da irracionalidade, da subjectividade,
tudo é corpo, tudo se resume a ele, ao seu “alvo”, à consequência salvífica,
7 8 9
que traz consigo um “absurdo” ( , , ) de possibilidades telúricas.
Assumindo-se, então, o “Espírito” como sentimento, e assumindo, por
sua vez, o corpo como “locus” do mesmo, no seu sentido ora consciente, ora
inconsciente, poderíamos pejar a dualidade “epistémica” em causa na matriz
postura vs. movimento que, aliás, a própria Estrutura arrola na sua “estética”,
como no modelo defendido por alguns “arquitectos” do corpo.
Se tomarmos o ráquis enquanto eixo de equilíbrio, vértice do bipedis-
mo consciente, colocando, obviamente, no seu topo, o centro da plena Cons-
ciência superegóica, poderíamos dividir o corpo em: (a) zona posterior,
essencialmente inconsciente e defensiva, constituída por músculos, mormen-
te, hipertónicos, tensos, que se organizam em Cadeias neuro-mio-fasciais,
que sustentam o corpo, bem como o equilíbrio “postural”. Segundo o mode-
10 11 12
lo mézièrista ( , , ), estes músculos nunca relaxam por completo, são mui-
to fortes, mas não pendem à hipertrofia, sendo que funcionam como um
“todo”, fazendo com que o alongamento de uma parte da “Cadeia muscular”
implique o encurtamento de outra parte, num jogo de compensações. Estas
podem ser provocadas por contracção excessiva ou por alongamento igual-
mente excessivo. São, enfim, o aparelhado das defesas “prévias”, dominantes,
espirituais. São o dogma do corpo. E isto não se esgota no funcionamento.
Porque, ao depender excessivamente, por um lado, de pré-noções empíricas
13
( ), e, por outro, de uma matriz abstracta, a intrínseca teoria das Cadeias
14 15 16
musculares possui o seu “quantum” de “relativismo dogmático” ( , , ), que
torna tudo menos sustentável nos termos de um “curto-prazo” funcional e
empírico. O “princípio observacional” de Mézières tem comportamento de
Lei, e parece partilhá-lo às nossas próprias “noções”, mas, aqui, radica um
perigo, que é o de se abstractizar, projectar, “idear”, parte do que se pretende
“prévio” e “absoluto” (e que finda por sê-lo porque acreditamos nisso, pelo
284
O FisióSOFO
285
Luís Coelho
286
O FisióSOFO
ções, desenhar uma “evolução” é, mais uma vez, sobrepujar o peso do para-
digma. O esquema básico de Mézières assenta na tríade lordose + rotação
interna dos membros + bloqueio diafragmático em inspiração. As alterações
são consideradas primariamente miofasciais e requerem o alongamento. Por
sua vez, o trabalho de força costuma ser deplorado pelo paradigma, porque
se assume que todo o trabalho “resistido” alimenta as compensações. Con-
trariamente à ideia de que existe “isolamento” do trabalho muscular, o
modelo concebe, à semelhança do que também acontece com o conceito
Bobath, que o treino assoberba a musculatura “postural”, nutrindo a defor-
mação e prejudicando a funcionalidade.
Assim, teríamos o caso de a postura ser molestada pela função. Se é que
se pode considerar “função” o que o modelo “postural” considera, muitas
vezes, constituir uma violência. Daí que, bastas vezes, se recomende a realiza-
ção do alongamento preparatório a frio, para que este limite o dano de uma
função, agora sim, tornada mais operante. Mas não se trata, aqui, de alongar
a musculatura do movimento, mas somente a “postural”, a hipertónica. Uni-
camente por este meio se poderá escusar minimamente o dogma, para tornar
mais evidente o trabalho da zona anterior (b) do corpo, essencialmente “fási-
ca”, funcional, liberal, capaz de esculpir novel moral. Esta consciência poderá
ser imediatizada pelo “esgotamento” da postura “psicossocial”, que é como
quem exaure as defesas em nome de um modelo sóbrio. Mas se a postura não
tiver sido alongada suficientemente, também a acção anterior será excessiva,
compensatória, imprimindo, por sua vez, mais tenacidade à postura. E isto
inclui, obviamente, os aspectos emocionais, que sobejam, assim, por uma
Culpa mortificadora.
Como já dissemos, não existe uma postura “ideal”, pode até acontecer
que uma nova postura encontre o equilíbrio, ela é “normal” na medida em
que se equilibra com a função e o sintoma. Portanto, o que se visa não é uma
postura dada previamente, mas um equilíbrio entre a Estrutura e a função,
que é, identicamente, uma harmonização dos lugares da Razão e do manan-
cial empírico. Para haver função empírica é preciso haver Razão, mas se esta
se excede, o percipiente acabará sublimando a sua própria Razão, que é um
modo de se assumir empiricamente. Mas isto, claro está, pode implicar uma
circularidade, na medida em que o “outro” pode, por sua vez, ser lesado.
Ora, é escusado dizer que o equilíbrio entre músculos tónicos inibidos e
músculos fásicos trabalhados em força permite uma maior verticalização da
coluna, assim como melhora o alinhamento articular. E isto não é tirar a
287
Luís Coelho
288
O FisióSOFO
respeito pela virtude idiossincrática. O que não invalida o papel, também ele
placebetário, das actividades de grupo, que actuam no conjunto “positivo”,
que, aqui, se contrai numa “pós-modernidade” da resultante, do alvo conse-
quencial. Também esta tem a sua “postura”, prestes a revolucionar o Colecti-
vo de ambivalências.
Se, entretanto, Sujeito e Objecto se tornarem um só no Imediato in-
-consciente, o Sistema penderá necessariamente para o alvo da Culpa, para a
condição de um corpo, ora, dominado, que não levará muito tempo a
conhecer o seu estertor. A instabilidade cria o movimento, para isto há que
apetrechar Estrutura para que esta possa ser desafiada pelo agente “desporti-
vo”. Toda esta circularidade radica num equilíbrio mais abrangente, numa
20
“harmonia predefinida” ( ), cuja parte manifesta sempre se reconstrói numa
“mesmidade” que se tange de “des-sensitização”. A condição “motriz” desa-
fiará, constantemente, a estabilidade “postural”, e isto garante a prolificação
de uma linha incalculável de arquétipos, que, porém, não deverá afastar-se
muito da plena Origem “natural”, de uma “physis” iniciática. O regresso ao
“Espírito” é um retorno ao corpo, à sua crueza desnudada, ao movimento
perpétuo, à postura “perfeita”. No corpo, o equilíbrio implica uma redução
das forças que actuam sobre os músculos posturais, eis a pacificação da dua-
lidade, uma postura “tolerante”, que é forte por ser “longa”, permitindo a
acção melíflua, assertiva, sobre um mundo, entretanto, atido como menos
agressivo. Esta é a impassibilidade do Verbo, a ordem de um Cristo, que,
ainda assim, traz consigo as instruções do movimento “certo”, que é “acertar
o alvo” do Objecto impudico.
Trabalho de equilíbrio e de coordenação é, logo, um modo de rectificar
a relação de uma liberalidade corpórea com a ascese racional, com esta a
depender, fortemente, de uma cultura. Isto não extingue o papel paradigmá-
tico da “positividade”, que é, ainda assim, mais um modelo, se bem que
“normativo” no plano de uma modernidade “líquida”. Enquanto paradigma
dominante, a “positividade” atesta um desejo inolvidável, mas, também,
evitativo do aprofundamento dialéctico. É assim que o descomedimento da
manifestação “positiva” se converte, frequentemente, na defesa dogmática,
do mesmo modo que a crueza do corpo pede, comummente, a magia do
“espírito”, a obrigatoriedade de uma pureza originária, e, similarmente, pós-
-moderna.
Jaz no “desporto” uma tarefa de aglutinação dos modelos, bem como da
dupla vertente física e emocional, que, aliás, se alicerça na própria moderni-
289
Luís Coelho
dade do “labor”. Contudo, este “labor”, este corpo “produtivo”, cala, conse-
cutivamente, as tentativas de aprofundamento dialéctico, agindo como palia-
tivo perante a desfaçatez de uma actividade fortemente lúdica, criativa. Mas a
tarefa heurística não se esgota no movimento, ela age como beneplácito dian-
te de um Sistema opressivo, libertando o corpo para a racionalidade “libidi-
21
nal” ( ), que é prover a Unidade corpo-mente, que, no limite, enceta pela
abnegação.
Referências bibliográficas
1. Spengler O. O homem e a técnica. Guimarães; 1980.
2. La Mettrie. O homem-máquina. Lisboa: Editorial Estampa; edição original
de 1747.
3. Fichte JG. Fundamentos da doutrina da ciência completa; Lisboa: Edições
Colibri; 1794/1795.
4. Schelling FW. Exposição da ideia universal da filosofia em geral e da filoso-
fia da natureza como parte integrante da primeira. Edição original de 1803.
5. Espinosa B. Ética. Lisboa: Relógio D'Água Editores; edição original de 1677.
6. Leibniz G. Discurso de metafísica. Lisboa: Edições 70; edição original de
1686.
7. Kierkegaard S. Temor e tremor. Guimarães Editores; edição original de 1843.
8. Camus A. Le mythe de Sisyphe. Gallimard; 1948.
9. Sartre J-P. As palavras. Amadora: Livraria Bertrand; edição original de 1964.
10. Mézières F. La révolution en gymnastique orthopédique. Paris: Vuibert;
1949.
11. Nisand M. La méthode Mézières: un concept révolutionnaire. Paris: Édi-
tions Josette Lyon; 2005.
12. Coelho L. O anti-fitness ou o manifesto anti-desportivo. Introdução ao
conceito de reeducação postural. Quinta do Conde: Contra-Margem; 2008.
13. Bacon F. Novum organum. Porto: Rés; edição original de 1620.
14. Popper K. The logic of scientific discovery. Julius Springer; 1934.
15. Popper K. The open society and its enemies. Routledge & Kegan Paul,
Ltd.; 1945.
16. Popper K. The poverty of historicism. Routledge & Kegan Paul, Ltd.; 1957.
17. Kuhn T. A estrutura das revoluções científicas. Lisboa: Guerra e Paz; edi-
ção original de 1962.
290
O FisióSOFO
{O negacionismo científico19}
Para uma maioria “normativa”, negar a ciência é negar a própria reali-
dade. Para uma minoria “desadaptada”, negar, ou questionar, a ciência cons-
titui o genuíno exercício do cepticismo. Porque este deve, sobretudo, duvidar
da intrínseca capacidade de conhecer. Na medida em que este “conhecer”
inclui um auto-conhecimento que não pode ser efectuado por completo. Isso
seria ir ao “exterior” de que se duvida. Assim, o negacionista não nega, somen-
te, a ciência, nega-se a si-mesmo, no exacto sentido em que se procura com
avidez.
Sequiosa procura, esta, que estende a hesitação a um mundo convertido
à hipermodernidade concretista, esta assusta e elide uma personalidade que
se recusa a aceitar uma “normalidade” cruenta, isenta de magia, e, por isso,
de qualquer possibilidade de redenção. É normal, portanto, que o mito cura-
tivo – que é, na verdade, uma forma de desmitificar a rede de signos onde se
entretece o sintoma psicossocial – e as terapêuticas irredutíveis ao “número”
sejam, sempre, mais arrojados nesse pleito de uma busca que um simples
anti-depressivo convida a fazer cessar e transformar num resquício de enzi-
mas.
O negacionista não se limita a pedir um Sentido, ele quer conjurar um
mundo de fantasmas, onde deuses e titãs se vêem, subitamente, evocados e
tragados a uma modernidade que prometia desligar-se do passado. O nega-
cionista nega o futuro sem o pretérito, renega o movimento não indultado
pela memória.
Mas este trajecto não é estranho ao objecto filosófico, que, constante-
mente, opôs o capricho da razão ao desiderato de um empirismo sensaciona-
lista. A “ciência” nunca pôde escusar a razão, nem pode fazê-lo agora. Mas o
19
Publicado em «Birdmagazine» e em «Healthnews», Dezembro de 2020.
291
Luís Coelho
292
O FisióSOFO
isenta não merece ser sacrificada aos interesses da indústria. Claro está que o
(pós)marxismo se serve, perfeitamente, deste campo, que, a bem ver, acaba por
ser usar a moral como fonte de ciência.
O espírito conspiratório, o clima de suspeição generalizada, tudo isto é
fruto de uma desorganização psíquica capaz, por si mesma, de gerar frutos.
Entre eles, a própria psicanálise, entrelaçada, talvez injustamente, nos cam-
pos da pseudociência. A fragilidade é o alicerce de toda a grande teoria.
Curioso que, por vezes, seja esta, também, a condição do movimento “libe-
ral”. Quanta psicanálise, e quanta pseudociência, será necessária para fazer
brotar o “espírito” científico-liberal nas mentes que lhe resistem com o com-
plexo de um “Espírito” que brota das cavernas inconscientes e tece o espectro
do Colectivo? Não é a ciência que irá exaurir os “espirituais”, estes preferem
o calibre do placebo, que é mais paliativo do que curativo. E para que o
espectro cresça, nada melhor do que minar a liberdade de pensamento. Pior
do que uma ciência pouco atraente é a ciência castradora. Se ela se excede,
torna-se dogma. Daqueles que asseguram e prescrevem a verdade, desenhan-
do os futuros fantasmas. Mas destes nunca nos poderíamos, verdadeiramen-
te, ver livres. Porque a verdade é que a verdade não existe. Existe, tão-só, um
Ideal que se propaga nas escolas e inflama os corações mais autónomos. E
estes são, todavia, os que não se conformam à norma. Mas isto, claro, é o que
diz a minha própria inconformidade.
Sempre quis estar numa posição de poder. Para poder justificar-me com
a responsabilidade de não ter poder.
293
Luís Coelho
Quando fizeres uma asneira diz que “É para os apanhados!”. Serás per-
doado. Porque ninguém gosta de sofrer sozinho.
Quando crio, certifico-me, sempre, de que sou eu que crio. Para que a
prepotência não morra solteira.
Não justifiques uma birra. Senão, acabarás a embirrar com a sua razão.
294
O FisióSOFO
20
Novembro de 2020, publicado em «Healthnews», Dezembro de 2020.
295
Luís Coelho
so corpo, seja como território químico sem história, seja como terreno de
ilusionismo bacoco. A tríade Fitness + Wellness + Terapias não convencio-
nais possui, bem vendo, um intento de subjugação do corpo perfeitamente
compatível com um modelo que denega a “racionalidade libidinal” (Marcu-
se). Não é melhor este “espírito” de plástico do que a atitude aparentemente
cínica da modernidade “positiva”. O que o “corpo Covid-19” nos propõe,
mais do que nunca, é a desmitificação “record” dos territórios vigentes. Num
tempo em que “egos” poderão matar mais do que a doença, é preciso clarifi-
car os lugares do que sabemos e podemos saber. E isto implica que a Saúde é
impartível da Filosofia, e a ciência da epistemologia. Para que soçobre um
corpo tão “reabilitado” que seja capaz de (se) reabilitar continuamente na
relação com os seus próprios fantasmas.
Quando me perguntam por que sou o que sou, assumo que a pessoa em
questão se candidata ao lugar. Autorizo, sempre, a permuta. Mal sabe que
não mando em mim.
Vi um rato. Quase gritei. Tarde de mais, ele fugiu. Mais tarde, quando
cheguei a casa, o gato apanhou-me, à traição.
296
O FisióSOFO
Cheira a génio. Pensa à génio. Cria como génio. Mas é um valente saca-
na. Então não é génio. Ouviste sacana? És um ingénuo.
297
Luís Coelho
298
O FisióSOFO
Snifei-te. Tinhas o meu cheiro. Por isso te perguntei com quem estives-
te.
299
Luís Coelho
21
Publicado em «Healthnews», Novembro de 2020, e em «Birdmagazine», Dezembro
de 2020.
300
O FisióSOFO
301
Luís Coelho
Mas não há “estalo” que o salve, se não houver uma equilibração das forças.
O “endireitamento” vero da coluna não se consegue, aliás, pelo reforço da
musculatura posterior, mas, sim, pelo alongamento, porque a musculatura
em questão contrai melhor precisamente por possuir maior comprimento, e
as contracções “posturais” não são como as do “movimento”, elas são cons-
tantes e moderadas no esforço.
A dinâmica do corpo é complexa, muito mais fica por dizer. Lembro
que, durante vários anos, dei aulas de grupo de “Reeducação Postural”, afec-
tas a problemas de coluna. O aspecto lúdico e quase circense das aulas podia
ser muito atractivo e, até, terapêutico, mas sentia, frequentemente, que, na
tentativa de chegar a todos, não conseguia suprir as necessidades individuais
dos meus pacientes. Em algumas clínicas, os pacientes são colocados nas
“classes”, com as suas credenciais de “fisioterapia”, apenas porque o grupo
satisfaz mais financeiramente. É “para render”, diziam os meus antigos
patrões, mas, para ser um bom instrutor, tinha, por vezes, de me esquecer
enquanto “terapeuta”. Não interessa que o Pilates seja, ou não, “clínico”,
porque tudo é “clínico” na medida em que serve um propósito de saúde físi-
ca e/ou mental. Mas sem “meter as mãos” no paciente, é difícil obter certos
resultados. O actual contexto do Covid-19 veio nutrir, ainda mais, o trabalho
“à distância”. É, talvez, bom para a autonomia, mas que interessa que esta
exista se não se chegou, “a priori”, à profundidade do “Ser”?
22
Publicado em «Healthnews», Dezembro de 2020.
302
O FisióSOFO
303
Luís Coelho
ser limitados às variáveis isoladas, juntando tudo temos uma coisa comple-
tamente diferente; daí, também, que a prática do terapeuta-paciente tenha de
ser vivida, não basta ler protocolos ou seguir as instruções de um vídeo. Às
tantas, é preciso deixar cair a “máscara”, e arriscar a sedução. Todo o acto
terapêutico é um acto de amor. Amor passional, o duo tece a paixão com
que, muitas vezes, terapeuta e paciente se entretecem. Subsiste, nisto tudo,
coito capaz de mortificar todas as esperanças razoáveis. É por isso que a rela-
ção terapêutica vilipendia, virtualmente, a moral clássica. Há uma “raciona-
lidade libidinal”, que, segundo Marcuse, envolve todo o corpo e a relação
deste com um tecido social crescentemente livre do labor, do esforço inglório
e alienado, do temor da fornicação “erótica” (Bataille).
Não é possível “matar de amor” o nosso paciente sem que morra a
Fisioterapia rigidamente “positivista”. Não é possível amar sem arriscar vio-
lar a “lei”, sem violar minimamente o território do “outro” com que preten-
demos criar os frutos de uma nova quimera. O acto “terapêutico” é uma
violação só parcialmente consentida do paciente, e do futuro onde já não
vigora o tempo.
304
O FisióSOFO
305
Luís Coelho
Dizem que a vacina nos mete um chip, para que dêem, sempre, connos-
co. Ainda bem, que eu já me perdi há muito.
Dizem que a vacina nos muda o ADN. Mas eu nem sou de apegos.
Dizem que a vacina nos torna reféns da Realidade. Alguma vez fomos
livres? (08/12/2020)
306
O FisióSOFO
Ele tem genuíno respeito pelo meu cão. Não o roubou, raptou-o. E só o
fez para que lhe pudesse roubar a ideia.
Sentia-me atraído para ti. Mas não era por ti. Era por Deus, para a ver-
gonha da Saudade.
¶
307
Luís Coelho
Morrer é só ser visto por inteiro. Por isso, quando morrer, não digam
que me conheceram pessoalmente. Eu não o farei, e, para isso, darei provas
de estar Vivo.
308
O FisióSOFO
Tenho fobia de espaços comuns. Não sei que fazer quando morrer,
temo ter todo o espaço do mundo. Bem sei que, agora, sou apenas uma
aproximação, imaginem quando me vir em todo o lado.
309
Luís Coelho
310
O FisióSOFO
Não vou fingir que o mal e o bem são coisas diferentes, isso seria bom
demais. Vou ser mau e exigir o supremo Bem, que é o Universo sendo indife-
rente perante um capital de Consciência. Para ele, tanto faz que sejam três ou
três mil entes, mas já não lhe seria totalmente indiferente que o planeta
engordasse e engolisse tudo, se bem que nele não haveria algo para se quei-
xar, somente um resquício de Deus no cérebro ignaro de algum sobrevivente.
Claro está que cada um se sente deus, apesar de isso ser indiferente aos
outros, todavia, a Verdade deveria interessar a todos, haverá, decerto, inte-
resse em haver legislador, que mais não é do que Superego do tecido univer-
sal. Mas, no limite, tanto faz que seja isto ou aquilo, existe, até, a consciência
vingativa perante um Homem que vilipendia a Verdade, que morra tudo e
fiquem uns poucos adulando tamanha deidade, mas Deus é a Verdade dos
que cá estavam, e isso inclui a propensão para a imperfeição, lutar contra ela
é ir arrimando Verdade “de facto” com Verdade placebetária, Ego com Supe-
rego, redesenhando constantemente a linha da Virtude, perante a qual uns
cumprem e se orgulham e outros se desculpam perante os últimos. Obvia-
mente, é preciso que exista desafio, maldade, só isto move a Roda, porque
Nada seria permanecermos certos do futuro, como do passado, que é o
mesmo que dizer que somos Agora eternamente. E a consciência não quer
esse Agora, quer a vida, a dissidência, doutro modo teríamos permanecido
imediatos. Do mesmo modo, anseio pelo elogio, por me seguirem, para, logo
a seguir, querer trair tamanha estabilidade, há quem só saiba ser mártir, que é
uma maneira de ser superconsciente, explicá-lo a mim mesmo é também
martirizar-me, tentando fazer colapsar a Culpa, desvelar para logo me reve-
lar, materializar-me sempre, sentir-me, perpetuando o Sujeito no desafio do
Objecto, filosofar é isso mesmo, resistir ao Espírito, desconfiar dele, insistin-
do na Ideologia que se exige incompreensível, inalcançável, porque com-
preender é esgotar, matar o movimento.
311
Luís Coelho
Não vale a pena dizer aos portugueses “É bem feita, toma que é para
aprenderes!”. Eles pensam, sempre, que é de um “outro” que se fala.
312
O FisióSOFO
Há que cancelar, desde já, o dia dos namorados. Por isso, desejos... só ao
postigo.
Caro Vírus, caros polícias da liberdade, peço desculpa por ainda estar vivo.
Em dia de votos, não tenho uma caneta que escreva. Não é boicote, é,
mesmo, preguiça. E é por isso que a caneta é mais forte do que a espada.
313
Luís Coelho
Submeti-me à vida, para revisão cega. Era míope: fui aceite, com altera-
ções. Recusei-me. Por isso, tornei-me público.
23
Referência: Coelho, L. Postura e articulações: Fisioterapia e epistemologia. Gazeta
Médica. 2021; 8(3).
314
O FisióSOFO
315
Luís Coelho
316
O FisióSOFO
317
Luís Coelho
dinâmica para a do terapeuta. Por sua vez, este reagirá na medida da flexibi-
lidade das referências internas. Um adequado, e não excessivo, “alongamen-
to”, poderá prevenir o agravamento da dinâmica, e, só depois, poderá refor-
çar-se a ligação com o exterior, fortificando, também, a estrutura, de um
modo “excêntrico”, delongável. O modelo “anterior”, fundamentalmente
empírico, deplora, comummente a teoria, a flexibilização, dando importân-
cia, sobretudo, à força, que, por sua vez, é deplorada, vulgarmente, pelo
modelo “posterior”, que defende que a mesma cria a sobrecarga das cadeias
defensivas. Só é possível agradar a ambos os modelos, recrutando o equilí-
brio, sempre fátuo, do Sistema.
Tal implica, portanto, o alongar do dogma, antecipando o reforço da
relação. Claro está que o aspecto “empírico” é mais facilmente mensurável
que o aspeito “posterior”, porque este respeita ao “longo prazo” identitário.
E, por isso mesmo, o modelo “estrutural” pode revelar-se críptico, dado ao
relativismo da resultante, nunca sabemos o que de facto está na origem, nun-
ca podemos ter a certeza de lá ter chegado, não é possível assegurar o “fim”
desta dinâmica, pelo que alguns remetem o processo para a própria dialéctica
interminável, e outros se impacientem com a sua infalsificabilidade.
A dialéctica em causa é psicofísica, possibilitando a conversão corpo-
-mente. Assim, o excesso dogmático pode produzir a dor emocional, disfar-
çando o esgotamento da cadeia muscular posterior, tal como a dor física
pode exprimir o esgotamento psíquico. A experiência clínica tem levado,
muitas vezes, a considerar que, sobretudo, as situações persistentes manifes-
tam a incapacidade de abstracção de um sofrimento “neurasténico”, pare-
cendo, até, que muitos dos pacientes da Fisioterapia são fundamentalmente
pacientes psíquicos que pretendem manter-se enquanto tal. Este sofrimento
telúrico poderá adaptar-se mais ao “ideal”, à “episteme”, do paciente, do
mesmo modo que o “positivismo” é, frequentemente, uma incapacidade de
se espiritualizar uma condição. Por sua vez, o excesso de “espírito” pode ser
interpretado como uma incapacidade de positivar uma dinâmica “material”.
Obviamente, a “psique” é “espírito” e “matéria” ao mesmo tempo, ou só
“matéria” para o modelo “anterior”, “moderno”, que “normativiza” o “posi-
tivo” face ao “espiritual”, e que poderá convidar-nos a patologizar os “espiri-
tuais”, que, na sua desadaptação, logo concretizam o sofrimento e demoni-
zam a cientificidade.
Assim, poderá o paciente manter-se perpetuamente em Fisioterapia, vivi-
ficando, normativizando, a condição dolorosa, com esta a resultar, comum-
318
O FisióSOFO
319
Luís Coelho
320
O FisióSOFO
Não sou “Open Access”, nem me revejo nos pares. Não terás um caso
comigo, escusas de me pesquisar.
¶
321
Luís Coelho
322
O FisióSOFO
Pior seria achar que a “Vontade de poder” cura a sífilis. Nem Deus curou.
323
Luís Coelho
sem que saibamos só existe porque subsiste numa mente, todas as imagens
são produto de uma adição sempre renovada de ideias, capazes de se interli-
garem na memória “associativa”. A resultante não prova a existência da
matéria, é somente “ideia”.
Há uma idade a partir da qual tudo nos dói. Deixamos de saber fingir.
Humano inóspito,
apresento-te
a (minha) Mãe.
Procura o teu maior diamante,
e sentir-te-ás humilhado.
324
O FisióSOFO
{O demónio do empreendedorismo
(ou o bem que sabe fazer mal)24}
O que posso desfazer por si? Com que ilusão poderei relançá-lo na bus-
ca implacável pelo Si? Numa realidade em que o empreendedor é rei, como
conseguir empreender em marcha-atrás, na queda retumbante pelo Todo?
Escusai sábias noções, não existe como salvar-nos da procura piedosa por
uma resposta. Atirai-vos de uma arriba, pode ser que caias do círculo vicioso
que viceja e alquebra. Primeiro é reconhecê-lo, fazer o luto pelo qual a Culpa
se vê exaurida e reiniciada, não te poupes nunca, que o mesmo é dizer que a
indiferença se verá renascida, embrutecida.
Empreender é poder abraçar um Objecto, só o faz quem não quedou
num qualquer modo de “cepticismo filosófico” (Nietzsche), para o primeiro
converge a força concorrencial dos “espíritos animais” que flamejam em
correria secreta. Não importa o que te move, desde que o faças sem te senti-
res culpado. A mínima hesitação, e estará aberta a porta da reflexão, que é o
fim da maratona de absolvição. O empreendedorismo não deve olhar a
meios, doutro modo coloca o torniquete no futuro. Como é bom potenciar a
guerra, o mal é o bem necessário, a compaixão é a força extintora da mudan-
ça. Se te apiedas, perdes-te. E, aí, começa novel movimento que, no limite, te
forçará a crescer para além da barreira dos “golos”.
Bem vês como a queda é obrigatória, necessário será fazer magoar(-
-nos), e, subitamente, num relance, talvez te vejas aliviado da pressa, porque
já fizeste ceder tudo o que te cercava. Maldito o dia em que seremos capazes
de nos encarar para além da destruição, porque é aí que se inicia o maior
empreendimento, que é construir repletos de dor e dúvida, insistindo per-
manentemente em recolocar-nos o jogo da identidade. Empreender pedindo
ajuda, como dói, como tritura ter de depender de um “outro”, mas é preci-
samente aí que nos transtornamos “Outro”, na primícia da elevação. Mirai
esta paz de empreendimentos, até o vazio parecerá cheio, prestes a fazer-nos
ceder à potência de uma miragem. Colocai-vos em bom lugar, o filme está
24
Publicado na revista «Progredir», Julho de 2021.
325
Luís Coelho
326
O FisióSOFO
O toque de Midas não está no ouro, mas, sim, na morte, que é de Ouro.
Nunca perdemos quem nos morre, somos nós que morremos quando
nos perdem.
Não me desculpes porque o que disse foi sem pensar. Doutro modo,
não seria verdade.
Era preciso que tivesse existido mais desarmonia em Voltaire para que
este tivesse compreendido Leibniz. Disse-te isto ontem, enquanto a cama
tremia.
327
Luís Coelho
Já disse ao Destino que sou incompatível com o mundo, mas ele insiste
em transplantar-me. Não tem resultado, porque, ao invés de ser o mesmo
espírito com corpos diferentes, tenho tido, consecutivamente, o mesmo cor-
po com espíritos diferentes.
Há quem tenha tantos certificados que não consegue provar ter vivido.
Posso atestá-lo. Sem avaliação. Só por ter vivido.
Liberdade é a pura irresponsabilidade, daí que não suceda dar razão aos
actos órfãos e ao mal pelo mal.
328
O FisióSOFO
Ele era tão verdadeiro que admitia contradição. Doutro modo, seria
absurdo.
Era feliz e não sabia. Naquela altura perdia o tempo todo a dizer isto.
Se pensas ser livre, podes lavar daí a ideia. Senão, serás seu escravo.
329
Luís Coelho
Se, de facto, Deus desse nozes a quem não tem dentes, os quebra-nozes
não ganhariam vida na imaginação profética e milagrosa da adversidade.
Disse-me a fada dos dentes, aleitando-me.
Deus não me há-de castigar por não concordar com o seu Plano. A não
ser que o apanhe de Surpresa. Aí, é vê-lo a perder a Razão. Mais tarde, des-
culpa-se com a história dos Universos paralelos. Mas, então, sou eu que me
passo, não gosto de duplos, nem do imprevisível. Ah!, confessa Deus, sabias
que ia escrever isto! Não me respondes, que alívio.
Abençoado Deus, que faz as pedras caírem, e as pedradas para elas vol-
tarem a casa. Como um salmão que se come cru ou grelhado, antes comer
que ser comido.
¶
Sem personalidade, eu? Defendo tudo e o seu contrário, mas sou sem-
pre do contra, que eu não gosto de me contradizer. Excepto, quando todos
esperam que o faça.
¶
330
O FisióSOFO
É verdade que tudo tem uma explicação. Mas há coisas que são Segredo
de Estado. Se assim não fosse, não sairíamos do mesmo estado.
331
Luís Coelho
«Se você tiver o “ter” sem o “ser”, não pertence a você.» (Cristiano Ronal-
do)
Se você tiver o “Ser” sem o ter, deixará de tratar as pessoas por “você”.
Até porque, como, na realidade, estar vivo não é o contrário de estar
morto, Sendo, pertences a todo o lado. Basta que percas todo o desejo de
viver (Krishna), porque “se não se amar não se vive” (António Coimbra de
Matos). Morto estou eu por ver que quem diz que misturo contextos deve ser
o mesmo que acha a frase do psiquiatra genial. Até porque o homem morreu.
Por isso É um você, e não Tem.
¶
Nas experiências com ratos tudo resulta, nas experiências com humanos
resulta a ratice. Quem o diz não é o rato Mickey, como asseguram os positi-
332
O FisióSOFO
vistas. Quem o diz é uma ratazana. E os negacionistas afirmam que isto não é
ratice.
¶
Quando souberes pôr a dor por escrito, far-ta-ei traduzir, só para ter o
prazer de te ver sofrer por mim a dor que não me atrevo a sentir.
Quando a palavra desdiz a Lei, Deus fica a pensar no seu erro, tomara
que pudesse perdoar-lhe a oportunidade que me deu de o assaltar nas traves
dormentes.
¶
Se queres ser útil, não proponhas nada, dar-te-ia tudo para que pudes-
ses solucionar o Segredo da deriva perpétua, essa é a terapia vera, andar a
esconder-me onde apanhar o fruto da perfídia.
O meu gato não pede, exige. É o perfeito cão de guarda. Às visitas, propõe
enigmas, feito esfinge. Todos se escapam entre arranhaduras. Pode, assim, ser a
minha casa como pirâmide onde desenho mistérios e escondo a morte do corpo.
333
Luís Coelho
Devemos amá-las para que nunca precisemos de esperar delas mais do que
elas esperam de nós.
A última vez que ouvi a frase “Confia na minha palavra!” fugi a sete pés.
Pensava que era o Silêncio a falar.
334
O FisióSOFO
335
Luís Coelho
336
O FisióSOFO
337
Luís Coelho
quica ou fisicamente, o que, por sua vez, gera mais imposição dogmática, a
qual poderia ser minorada por determinado grau de compensação psicofísi-
ca. Certa “postura” psicofísica influenciará as referências do meio, a própria
Norma cultural, que se inscreve directa ou geracionalmente. Há, aliás, um
caudal social de referências psicofísicas, que podem ir do mais complexificá-
vel sofrimento à dor mais cruenta, o que, de mais a mais, nos rememora o
facto de que o terapeuta trata e trata-se, e trata uma coisa bem mais vasta,
que se reflectirá em si-mesmo. Entretanto, não podemos olvidar a questão do
Placebo, que é como tratar a dor e não a causa, e que, semelhavelmente aos
métodos “locais”, poderá levar a mais compensações posturais, se é que não
altera a própria referência neurológica. Curiosamente, quando reflectimos os
papéis da dor e da função, remetemos a discussão para uma questão de
sofrimento vs. vida. Se nos limitássemos a alargar o caudal de flexibilidade
das referências neurológicas e/ou posturais, o exagero poderia vir a afectar a
função, que é uma questão que, no mundo actual, talvez não se coloque em
termos “vitais”, mas que não deixa de ser pertinente no sentido bioético. A
qualidade de vida é também uma necessidade “vital”, e o terapeuta não se
limita a suprimir o sofrimento, possibilita, igualmente, o alerta biológico,
que pode, eventualmente, traduzir-se num combate “vitalista”, ou talvez não,
porventura entrará em sinergia com outros instintos sociais no grande
empreendimento da sobrevivência. Mas, claro, este implica um “quantum”
de sofrimento, uma Referência global, que é sempre comparável, na medida
em que sugere um Equilíbrio só variável em escala, tamanho ou dimensão. E
porque é sempre comparável, o “eterno retorno” não pode ser obviado, do
mesmo modo que uma compensação psicofísica se destina a não durar eter-
namente. É o intermediar das compensações que faz o conjunto plangente
das dinâmicas intersubjectivas, mal sabe o terapeuta que é, apenas, uma peça
no desenrolar do processo, aliás uma peça necessária e simultaneamente
inútil, que faz por reproduzir o mesmo esforço de vida que alimenta tantas
ilusões. O terapeuta é tão inútil quanto a vida, o seu refrigério é meramente
temporal, mas não deixa de permanecer um destino de quem explora a pos-
sibilidade de produzir um “bem”, que constantemente achamos poder per-
durar. Este “bem”, este enorme Placebo da vida, pode, por breves instantes,
remeter-nos para uma sensação de que tudo vale a pena, mas essa é uma
projecção tão-só, o que há é desequilíbrio permanente, um “bem” requer
necessariamente um “mal”, e isto é o que é, independentemente do que dese-
jemos, pensá-lo é arriscar uma indiferença, uma impassibilidade, que deveria
338
O FisióSOFO
339
Luís Coelho
340
O FisióSOFO
341
Luís Coelho
342
O FisióSOFO
343
Luís Coelho
Verdade inalcançável. Daí que não importe que exista um sobejo de “logo-
centrismo” (Derrida, «Gramatologia», 1967), e que este subscreva uma visão
prévia da Realidade, porque, de qualquer modo, é requerido um plano de
funcionamento mental; poderíamos, claro, firmar a ampla liberdade “espiri-
tual”, quiçá a libertinagem do Sentimento, mas, aqui, não colheríamos,
decerto, as vantagens da ciência, que, obviamente, são maiores para quem,
previamente, se delineia na realidade psíquica epistémica. A ciência tem
demonstrado possuir uma robustez salvífica superior à do Dogma “senti-
mental”, crente, sobretudo se anunciarmos a importância da quantidade
“vitalista”, organicista, poderíamos, claro, dizer que a vida não interessa, que
não convém, sequer, prolongar esta agonia do Humano, que o objecto do
“Insofrimento” é o efectivo “fim da História”, que, de algum modo, nos con-
vida à mortificação à Schopenhauer, em oposição à visão de um Nietzsche,
que é afecta à cientificidade, ao perdurar orgânico pejado com o objecto da
própria Ciência pela ciência, aqui poderíamos tanger, mais uma vez, o desi-
derato do Super-Homem eugénico, quiçá fosse este o curso para o pleno
desvelar, mas este é, ainda assim, “morte”, a não ser que a plena Imortalidade
constitua o grande objectivo, mas também esta quererá o Insofrimento; e que
fazer dos pequenos, do seu sofrimento, devemos dizimá-los na sua incapaci-
dade? Existe, porventura, esse desejo “liberal”, o que, de mais a mais, é reve-
zar o determinismo desculpabilizador por um “libertarismo” responsabiliza-
dor, com este a ser esgrimido, especialmente, quando nos sentimos capazes
de afrontar as susceptibilidades alheias. Quem não desejou, já, extinguir os
energúmenos, a “gentalha”, em prol do pleno Conhecimento? Mas esta é,
mesmo assim, uma necessidade de salvação própria, de extinção de um desa-
juste face à Infância logóica privada, chamem-lhe “Espírito” se quiserem,
com ou sem transcendência quântica, é uma “queda”, também, um aflorar
da Razão “causal”, que muito deve à Representação (Schopenhauer). Daí o
aspeito subjectivo, e a necessidade plena de dialectizar o assomo de um “Espíri-
to” que a Psicologia “positiviza” no formato de uma exegese Cognitivo-emo-
cional, mas este é um caminho pouco concreto, pouco experimental, infalsifi-
cável, e a Ciência quer-se “clara”, numeralmente concludente, afinal de contas,
tudo é “elemento”, e tudo é contabilizável, a Compreensão também é redutí-
vel ao espartilho “medicamentoso” dos números, aqui, o “Espírito” é afun-
dar-nos consecutivamente no plano tomista da Realidade, como quem aban-
dona o planalto “dual”, mas se assesta numa Escala que é dual à mesma,
assumindo que nos prostramos “inteiros” na escala. Perdendo de vista a
Unidade, o tempo reactualiza a necessidade de retroacção saudosista, regres-
344
O FisióSOFO
345
Luís Coelho
346
O FisióSOFO
347
Luís Coelho
348
O FisióSOFO
349
Luís Coelho
noscível “real”, pode ser, até, que a Razão se torne a própria Realidade, escu-
sando, portanto, a necessidade da “experimentalidade”. Esta replica, não
obstante, o seu ascendente sobre o Real inclusivo de diversos “entes”, os
quais remetem, idiossincraticamente, para diferentes possibilidades racionais
e interpretativas. Cada interpretação reconstrói, por sua vez, o mundo,
modificando a Realidade, também a dos outros “entes” com as suas realida-
des psicofísicas. O Relativismo submete a Experiência à quota interpretativa,
somente o positivismo pretende ver nela uma mudança “real” no tecido da
“Physis”. Cada intento “físico” constitui um alvo Racional, e este cria, na
medida do “experimentalismo”, a quota de teorias expressivas de “hipóteses
experimentais” factíveis, mas sempre na relação “dual”, cognitiva, perceptiva,
com um mundo, que, ainda assim, assumimos existir “objectivamente”. Tan-
to faz que ele exista ou não, há, sempre, um “Real” qualquer, e uma dúvida
que consubstancia o seu “pathos”, bem como a intenção de solução, com-
pensação, da dor de “existir”. Uma Solução transforma o dualismo cartesia-
no num monismo “Real”, onde tudo se enforma de Sentido “existencial”, se
é Espírito ou matéria, Sujeito ou Objecto, a questão não se coloca se fizer
sentido, porque, quando tudo se esculpe internamente, o Sujeito recria-se no
imediato, onde todas as experiências terão sido desveladas ao olhar do Abso-
luto, relativo de um Absoluto maior, que é o instante contínuo a partir do
qual Tudo se adentra sem tempo para a hesitação.
350
O FisióSOFO
351
Luís Coelho
352
O FisióSOFO
353
Luís Coelho
354
O FisióSOFO
355
Luís Coelho
356
O FisióSOFO
te, com toda a sua resultante aproximativa, “amorosa”, e isto pode dissolver
qualquer dogma, seja ele “espiritual”, “religioso” ou “cientificista”, eventual-
mente com a consecução de um dogma conjunto, Uno, que, de qualquer
modo, pode produzir os seus próprios escolhos, heresiarcas que expressarão
a novel dualidade “patológica”. A revolução é interior mas provém de fora,
sendo, assim, positiva, manifestação de uma diferença “paciente” na medida
da tolerância do Sistema “agónico”. Esta tolerância diminui e substitui-se
pela agência “resistente” paralelamente à transformação do “paciente” no
agente da nova Saúde. Qualquer modo de compensação não sublimatória
poderá acalmar o Sistema no seu ímpeto transformativo, mas também pode-
rá fornecer-lhe outras variáveis enriquecedoras, mais aproximativas e har-
monizantes ou mais diferenciadoras e intentadoras de um “pathos”, cuja
“morte” poderá conceber-se enquanto implosão dos agentes ou enquanto
plena re-solução estruturadora, que é a Vida a tornar-se completamente
insofrida e imediata. E, no entanto, a imediaticidade da Consciência é bruta-
lizar o território dos corpos, que ora perdem a Condição ética vitalista, que
garante o revezamento da preocupação “vital” pela despreocupação insofri-
da, em que o “ciclo vital” se despolariza. O “pathos” é, assim, uma polariza-
ção compatível com a vida, cujo grau de “agência” é a medida de uma tole-
rância consecutivamente testada e oprimida, ele é a própria Vida sofrida,
cujos deslizamentos na harmonia constantemente progridem no sentido de
uma aproximação polar na aprendizagem dos processos que se concebem
holisticamente com a proa num Equilíbrio perpetuamente maior, desafio
infinitesimalmente semelhante no “eterno retorno” de uma involução cuja
dependência temporal é o de uma aventura que, de certo modo, expressa a
luta da Vontade, cuja multiplicidade é, apenas, a escala aproximativa, mate-
rializada, da Unidade, e esta é o aspecto agente de uma materialidade maior,
outra desorganização constante a apelar a novel mobilização temporal e tera-
pêutica, interferência, apesar de tudo, determinada pela Causa incausada, ou
pelo caminho eterno para trás, pela busca inacabável de um Princípio inal-
cançável, onde ousaríamos ler as Instruções de uma demiurgia surda, a gra-
vidade quântica inacessível à mente túrgida do Humano, cuja condição apela
necessariamente à dualidade nosológica, a qual impõe, ilusoriamente, a regra
de uma Normalidade, com base na relação já viciada do princípio i-racional
com a Realidade, mas, lembremo-nos que tudo se inicia com a função “exte-
rior”, com a relação do corpo com a corticalidade crescível e socializável, que
não pode abster-se de deixar de fornicar com a mãe do mundo, para que o
357
Luís Coelho
358
O FisióSOFO
no respeito pela sua Individualidade, o que inclui o jogo das suas variáveis
funcionais. Isolar experimentalmente e grupalizar positivamente são formas
de estudar, de conceber um rigor “científico” necessário à Verdade. Mas o
domínio casuístico é longitudinal e sensível ao Placebo, nele não é possível
separar tão estritamente a(s) realidade(s). A tolerância “dogmática” aumenta
o grau de aceitação de holisticidades “variáveis”, permitindo, inclusive, con-
ceber muitas outras “normalidades”. O que o modelo “estrito” patologiza
pode, muitas vezes, ser “normalizado” numa perspectiva que visa o Sujeito
na sua íntima “diferença”. Esta diversificação de “normalidades” é, obvia-
mente, absurda para o materialismo estrito, do mesmo modo que o relati-
vismo assusta qualquer verdade estabelecida. O relativismo em causa reacor-
da, portanto, algo do antigo Holisticismo, mas precisa, apesar de tudo, de
receber o aval do materialismo “moderno”, que é mais tolerante e perspecti-
vista. Nos seus excessos fabulísticos, este relativismo “placebetário” terá de
ser, necessariamente, contido pelo modelo “falsificabilista”, que impõe um
trajecto de cientificidade. A “ciência” ajudará a conter a inverdade, prevenin-
do o fenecimento funcional, vital. Se não existir uma forma qualquer de
rigor, a tolerância excessiva poderá obviar referências muito pouco adequa-
das. E, no entanto, o “adequado” é, igualmente, reflexo do paradigma epis-
témico, enquanto que o “desadequado” é pai da mudança.
359
Luís Coelho
360
O FisióSOFO
361
Luís Coelho
362
O FisióSOFO
363
Luís Coelho
364
O FisióSOFO
também esta que permite construir o “outro”, bem como a sua dialéctica, e,
também, o que nele se transforma, mas, aqui, todo o plano “placebetário” é
encarado como o que é verdadeiramente “real”. A Ética é a própria vida no
plano de um “sentir-se” e de um agir “enquanto tal”, não é encarada como
proveniente de Deus, nem como parte de um plano de “determinação” fisi-
calista. A “práxis” de Marx é mais “materialista”, a perspectiva de Schope-
nhauer ou Freud também, e nestes está patente um determinismo que não
importa à Subjectividade pura, reino de plena abstracção.
365
Luís Coelho
366
O FisióSOFO
Não há, assim, uma diferença nítida entre “Ser” e “Ego”, a materialida-
de subscreve-os, o que alguns entendem como “ego” é “Ser” e vice-versa, há,
367
Luís Coelho
368
O FisióSOFO
com risco de surgir um novo embate “realista” mais difícil de sanar. O estado
de “Ser” implica que toda a realidade é perfeita, mas isso não significa que
não deva ser esgrimida a culpa pragmatista capaz de fazer estender o equilí-
brio entre o Espírito sereno, “passivo”, e a ansiedade vitalista. É esta última
que, aliás, fornece a resultante do processo Racional, calá-la é matar a dor
que prescreve a harmonia “dual”. O problema do Placebo sempre esteve no
seu “irrealismo”, daí a importância do quadrante “positivo”, que é uma outra
forma de fenomenalidade. Na verdade, esta é a vertente que soçobra perante
o “Ser”, aquando do seu esgotamento psíquico. Matar a necessidade é permi-
tir a visão objectiva, se bem que a dualidade deficitária consente, constante-
mente, esboçar a compensação mimetizadora do estado “individuacionante”.
Claro está que o último, a ser irrealista, acabará, sempre, por sofrer uma
“regressão”, que mais não é do que o impacto do “Ser” com a crueza da
empiricidade.
369
Luís Coelho
27
Referência: Coelho, L. Fisioterapia, neurologia e filosofia. Gazeta Médica. 2021; 8(4).
370
O FisióSOFO
das cadeias miofasciais, pela inibição da tensão excessiva. Jaz o alicerce teoré-
tico segundo o qual o estado da articulação depende fortemente das condi-
ções de postura e alinhamento. Assim, a par da demonização do trabalho de
força, sobretudo da zona posterior já demasiado “forte” (porque constituída,
principalmente, por músculos com função postural e de fácil encurtamento,
6
e que nunca relaxam por inteiro ), o alongamento insuficiente, bem como o
excessivo, faz por perpetuar o jogo de “deformações”. O segundo referido
poderá originar defesas ou compensações, expressadas empiricamente pela
“dor”. Esta pode ser, também, suscitada pela identicamente demonizável
7
“higiene postural” , que faz por reforçar conscientemente estruturas essen-
cialmente inconscientes e tónicas.
O alongamento exagerado, o descomedimento na prescrição do para-
digma, exprime, assim, a manifestação sintomática, que o mesmo seria dizer
que o paciente reage ao excesso do seu terapeuta. Este é um exceder moral,
com que o paciente pode reagir compensatoriamente com renovada moral
empírica, novel postura, capaz de renovar o objecto da função indolor. A
resultante implica muito mais do que um certo comprimento muscular, é, a
bem ver, um carácter da postura, essencialmente neurológico, que exprime a
adequação da (i)razão descendente à sensitização ascendente, da vontade
“agente” à pretérita paciência empírica. Este é, portanto, o equilíbrio monís-
tico em que a sensação produz a razão, o movimento delineia a posição e a
função arquitecta o alinhamento, a verticalização do intrínseco ráquis, que
“ascende” espiritualmente em confronto e síntese com a realidade, produ-
zindo o “Ser”, que é normativizar, totalizar, a dimensão clínica, que não dei-
xa de exprimir uma dicotomia, bem como a visão fragmentária do próprio
corpo. Esta vertente dual é reguladora, o estado de “Ser” é a nova normalida-
de, se bem que reificada pela realidade. Porque o equilíbrio não pode deixar
de compatibilizar o objecto do “insofrimento” agente com o princípio da
Realidade percipiente, que o mesmo é dizer que se equilibram terapeuta e
paciente num trajecto “vitalista” que destrona consecutivamente a visão clí-
nica fragmentária, tendencialmente dogmática, em nome de uma holistici-
dade sana.
O potencial holístico integra a realidade clínica na novidade contínua
duma patonormatividade neural, postural, heurística, que se obtém crescen-
temente pela acção espontânea, individuadora, sintetizadora, de um “Eu”
aberto à relação e eticamente desvelado. Tal objecto dispensa a prescrição
dogmática, potenciando o movimento, a força, que, agora, pode ser livre-
371
Luís Coelho
372
O FisióSOFO
373
Luís Coelho
374
O FisióSOFO
A ninguém ocorre que pode viver para além da morte no mesmo estado
de sofrimento que o matou. Pelo menos, a ninguém ocorre matar-se por isto.
375
Luís Coelho
376
O FisióSOFO
377
Luís Coelho
pode aligeirá-la, que o mesmo é dizer que podemos aligeirar o trabalho mus-
cular, promovendo o equilíbrio postural. Este contribui para a verticalização
do “duo”, com obrigatória aproximação da “totalidade” cimeira e axial. O áxis
é o ráquis, que cresce, entrecortando, mesmo assim, as duas esferas necessárias
ao labor científico. Labor terapêutico, tendencialmente “igual”, mas de posi-
ções definidas, vitais à harmonia muscular. Porque, em qualquer postura, exis-
tirá uma parte mais defensiva e outra mais “activa”. Que os papéis sofram uma
inversão “transferencial” não é coisa rara, isto mostra a plasticidade do traba-
lho terapêutico; o terapeuta é, bem vendo, constantemente paciente do seu
paciente, pelo que as dores se partilham, mas deve subsistir o equilíbrio.
Claro está que, em matéria de conversão mente-corpo, tudo isto se
repete. Quando a “psique” dói em exagero converte-se na manifestação
somática. Se calamos o corpo completamente, obrigamos a psique a recon-
verter-se. E este (des)equilíbrio não pode ser reduzido à relação “dual”, ele
impõe-se a um Sistema mais vasto, que, por sua vez, se impõe ao complexo
terapêutico. Nada pode prevenir as desmesuras do exterior, mas o equilíbrio
em causa cria a robustez postural necessária. Trata-se, assim, do paciente do
Sistema passar a agente, quiçá terapêutico, do conjunto. Sem um “fim” preci-
so, porque a vida é desvelar e revelar em retorno perpétuo. Mas soçobra o
“Ser”, não espírito absoluto, nadificador, mas parte da Vida consciente.
Bem vemos que o dualismo terapêutico é crescentemente monista, mas
nunca assume completamente a unidade, senão quando já não há terapeuta
ou paciente, mas somente “Ser”. E, no entanto, do “espírito” só se poderá
cair na matéria, pelo que, mais uma vez, se implora o equilíbrio, que é uma
maneira de perpetuar a vida “insofrida”, perpetuamente crescível para o
exterior. As possibilidades futuráveis são inúmeras, mas somente a boa pos-
tura poderá patrocinar a evolução diferencial, criativa, plenamente empírica.
E isto implica que também a Razão “ideal” se deverá fazer polícia da clínica
grupal. Não se pretende alicerçar o equilíbrio na regra do conjunto, nunca se
perdeu de vista a especificidade, a idiossincrasia, o palco psico-físico onde
tudo acontece dinamicamente, fenomenicamente. Este é um corpo que fala, e
as suas dores são a sua sinfonia. Um corpo mudo (para o outro) é, frequen-
temente, um corpo inaudível para o seu dono. Quiçá não seja seu dono, mas
sim um escravo da percepção. Mas a percepção heurística só faz sentido num
corpo intencional, sem as muralhas que frequentemente desmantelam o
livre-arbítrio, fazendo ressoar a mesma inconsciência que adviria do apaga-
mento completo da dor consciente, das “dores do mundo” (Schopenhauer).
378
O FisióSOFO
379
Luís Coelho
380
O FisióSOFO
381
Luís Coelho
382
O FisióSOFO
estas é sempre sensorial, “de fora”, mas a flexibilidade estrutural cria a robus-
tez. Impor um modelo terapêutico é trair as referências ascendentes, bem
como as descendentes, no formato de um “nocebo”.
Claro está que a “normalidade” referencial se revê no “comum” societá-
rio, qualquer ameaça surge de fora, mas a partir de dentro, de outro indiví-
duo, ou do próprio meio. A referência psicogénica estranha pode, então, ser
mais placebetária ou nocebetária. A flexibilidade, tanto ascendente, quanto
descendente, diminui o risco de transformação algésica. Menor flexibilidade
aumenta o risco de algo mudar, no limite é a própria referência “social” que
muda. Portanto, aumentar a flexibilidade miofascial e nociceptiva pode ser
vantajoso, mas há que aduzir certos limites, que são os da própria “normati-
vidade” idiossincrática e psicossocial.
Regressando à dualidade “placebo” vs. “empirismo”, reforça-se, mais
uma vez, a importância do referencial empírico, clínico propriamente dito,
porque ele é a própria “normatividade” em ambiente moderno. Apelar ao
placebo é, bem vendo, apelar à descompensação, porque muitos sabem que
ele é lesto e de pouca durabilidade. Nos que nele não acreditam, a eficácia é
menor. Os que mais acreditam nele, ou, pelo menos, no seu conteúdo abs-
tracto, são precisamente os menos psiquicamente robustos, tal-qualmente os
pós-modernos em ambiência científica. O método empírico serve, assim,
mais ao próprio empirismo normativo, não podendo, claro, desleixar-se o
aspeito psíquico, idiossincrático. De igual modo, o placebo idiossincrático
poderá sofrer da erosão empírica e sensorial consignada pelo “exterior”.
Impor um modelo poderia, aqui, passar por impingir um referencial norma-
tivo único, mas, para além da fraca legitimidade da coisa, poderá não se
ganhar muito com isso. No outro pólo, atemos a vertente definitivamente
dual, criando, quiçá, mais tolerância para todos os envolvidos no Sistema.
Ganha a própria “normatividade” com alguma tolerância face às terapêuticas
não convencionais, doutro modo, poderá desenhar-se uma forma de resis-
tência gritante, com envolvimento de muitos “inocentes”. Ganha, ainda
mais, o “todo” com o equilíbrio empírico permanente, que tem de contar,
obviamente, com uma moral mais ou menos estável, mas, também, com a
probabilidade de uma mudança mais ou menos sensível.
Se bem que a moral empírica implica alguma fragmentação lógica, a
bem do rigor “material”, esta distância nunca poderá ser de modo a abortar a
intrínseca “totalidade” terapeuta-paciente, no entanto, se avocá-la é, já, um
placebo, levá-la a um extremo destrói a própria liberdade dialéctica do Siste-
383
Luís Coelho
Os que sabem que nada sabem têm o dever de evitar que os outros che-
guem a semelhante saber.
384
O FisióSOFO
micas entre as duas práticas. Faça-se a sua análise, bem como o caminho de
síntese, coisa não irrelevante para a compreensão da própria relação médi-
co/terapeuta - paciente.
Precisamente a última, por assentar numa díade onde avultam deslo-
camentos internos e transferências psicossociais, coloca o assento no que
alguns contrapõem à cirurgia: o facto de possuir um quadrante fortemente
“impessoal”, biomecânico, qualidade cruenta capaz de distanciar o objecto
“paciente”. Mas a Fisioterapia não é menos biomecânica e impessoal na sua
tecnicidade (não apenas manual), ela, tal como a cirurgia, não pode escusar-
-se ao seu papel “fisiológico”, sem o qual não passaria de pouco mais de um
placebo confortador; a relação “dialéctica” é o lugar da dicotomia cujos pólos
terapeuta/médico e paciente requerem o necessário afastamento objectivo,
arcaboiço do próprio modelo científico-positivo, sem o qual a intrínseca
relação psíquica não se perfaz.
Claro está que a qualidade psíquica parece avultar mais na relação tera-
pêutica contínua, sendo que ela põe em destaque uma série de itens “ideais”,
que assumem, particularmente na Fisioterapia, o papel de dogmas, que, às
tantas, a aproximam do fantasma da pseudociência.
1
Já Claude Bernard alertava para o excessos escolásticos da lógica inter-
na, passíveis de esculpir a teoria incompatível com o acontecimento fisiológi-
co. Mas a última não pode, de todo, ser denegada, é, na verdade, ela que aco-
de ao raciocínio clínico, e é a este, à sua qualidade observacional empírica
2
(Francis Bacon ), que acodem as grandes teorias, os sistemas de forte com-
ponente abstracta.
Consabidamente, a Fisioterapia pode e deve estender a Cirurgia nas suas
diversas dimensões clínicas, bem como em “actos” modelares: há que disten-
der as estruturas retraídas, as cicatrizes, quiçá o que a cirurgia acabou de
libertar, há que reforçar o que se enfraqueceu pela sutura, fazer o levante, o
equilibrismo, do acamado, deslocar o paciente apático, tudo isto fomenta os
ganhos da cirurgia, por vezes, é o único modo de funcionalizar os ganhos
operatórios. Guidelines são, muitas vezes, estabelecidas, parecem receitas,
mas são, a bem ver, uma forma de defender o clínico dos seus próprios
excessos dogmáticos, teoréticos, os quais transcrevem a desmesura do acto
terapêutico, colocando, frequentemente, a resultante cirúrgica em risco. E
não se trata, aqui, só de um problema de excesso de zelo, trata-se do facto de
o zelo poder urdir a própria descompensação interna, psíquica, que nenhum
placebo poderá contender no seu tempo útil.
385
Luís Coelho
386
O FisióSOFO
387
Luís Coelho
“retracção” do paciente face ao método, ao dogma. Por seu turno, uma com-
pensação deste processo emocional, poderia fazer sobressair, novamente, a
dor. Porque ela não foi tratada “realisticamente”. Por outro lado, note-se que
mesmo o êxito em fazer dirimir a dor pode conter os seus riscos, porque a
ausência “empírica” de sintoma poderá convidar a novos excessos posturais
e/ou emocionais, perpetuando, como tal, o processo. Quanto ao terapeuta,
poderá vivenciar coisa análoga, muitas vezes compensando o próprio pacien-
te. Porque a ausência de dor convida, igualmente, ao exceder do método,
como da “persona” do terapeuta; porque o excesso de sintoma reproduz, no
terapeuta, a frustração emocional. Mas o Sistema não se esgota no duo tera-
peuta-paciente, invoca todos os outros clínicos, bem como o Colectivo
Social. Uma desmesura paradigmática pode levar a uma reacção “ressentida”
prestes a urdir novel moral, e esta é, bem vendo, tão legítima como qualquer
outra, se bem que ela conflitua com outros agentes, e também com a Norma,
no caso de se exceder. E a ausência de sintoma poderá, tal-qualmente, fazer
expressar as morais para além de um limite “natural” aceitável.
Portanto, o paradigma representa o dogma “ideal”, a idiossincrasia, que
pode ser aceite até determinado ponto, sobretudo se for funcional. Mas se ela
implicar dor para o agente, ou outros agentes, isto poderá fazer abortar a
metodologia. A manifestação sintomática é, assim, um alerta empírico, que,
epistemicamente, representa a Clínica nomotética, a Norma fisiológica. Assim,
ao invés de pretendermos, por um lado, a receita higiénica, ou, por outro, a
“reeducação” livre, mais receitaríamos o equilíbrio, ao qual não será, decerto,
estranha a harmonia social e do meio. E é, precisamente, do exterior que
surge o novo desafio empírico, se bem que o equilíbrio defendido cria novel
robustez pacificadora.
Logo, não poderíamos continuar a limitar-nos ao mero alongamento,
mesmo que realizado com moderação, é preciso invocar os métodos mais
“locais”, como a mobilização, a terapia manual e o reforço. Mas estes são
devidos especialmente à musculatura fásica, liberal, do corpo, àquela que está
feita para o movimento. No caso das “hérnias discais”, sobressai a importân-
cia do movimento em extensão (incluindo a terapia manual), bem como o
reforço da musculatura profunda. Estes são métodos mais locais, com resul-
tados mais “factíveis”. Eles contribuem para impor um limite aos métodos
“dogmáticos”. Um ráquis operado tem tudo a ganhar com o movimento, o
reforço, não devendo ser ameaçado pelo excesso de tensão, de estiramento. O
que não implica que devamos olvidar o papel da idiossincrasia.
388
O FisióSOFO
389
Luís Coelho
seus excessos, a sua “dor” previne um sofrimento bem maior. Mas se é para
permanecer perpetuamente no encalço da solução terapêutica, mais vale a
garantia empírica, que, de qualquer forma, consente um acompanhamento
indefinido. Precisamente porque esta é uma solução importante, podendo
acordar, entretanto, a esfera emocional, terá o cirurgião/terapeuta de fazer as
vezes do terapeuta “holístico”. Bem vemos que não é possível escusar a dua-
lidade em jogo, como o seu equilíbrio.
Claramente, consta a perspectiva cínica segundo a qual o cirurgião sal-
varia, sobretudo, os proponentes do seu modelo, patologizando os holísticos.
Mas os últimos são igualmente bem-vindos a um modelo, que, de qualquer
modo, represa a singularidade clínica bem mais do que os paradigmas dog-
máticos. Entre a liberdade “material” e o dogma “pré-moderno”, a medicina/
fisioterapia fez a sua escolha aparentemente mais salvífica. De resto, há que
escolher entre um equilíbrio fátuo que pode durar indefinidamente e um inso-
frimento impassível. Mas isto seria como escolher entre a vida e a morte. E a
vida, neste caso, é a maioria empírica capaz de fazer frente ao futuro. Se lhe
adicionarmos a componente pacificadora, pode ser que o caminho futurável se
defina de outro modo. Mas, com mais ou menos mortificação, a dualidade é o
preço da consciência. Ela não poderá ser encarada, apenas, nos termos de um
cirurgião que dá vida e de um fisioterapeuta que dá a qualidade de vida, ela
exige que ambos os agentes sejam equilibradamente duais, vivos para o “sofri-
mento” da consciência dialéctica que o paciente vem desafiar. Alongar o dog-
ma e reforçar a liberalidade é o alvo “objectivo” de um (des)equilíbrio tenden-
cialmente pessoal, que abarca ambos os intervenientes. Não há como fugir ao
processo, é o destino do “clínico” de excepção ser a regra da vida.
Referências bibliográficas
1. Bernard C. Introdução à medicina experimental. Guimarães edições; edi-
ção original de 1865.
2. Bacon F. Novum organum. Porto: Rés; edição original de 1620.
3. Mézières F. La révolution en gymnastique orthopédique. Paris: Vuibert; 1949.
4. Souchard Ph-E. Le champs clos. Paris: Maloine; 1981.
5. Coelho L. O anti-fitness ou o manifesto anti-desportivo. Introdução ao
conceito de reeducação postural. Quinta do Conde: Contra-Margem; 2008.
6. Popper K. The open society and its enemies. Routledge & Kegan Paul, Ltd.;
1945.
Novembro de 2021
390
O FisióSOFO
Sempre que alguém diz que ri por último morre alguém às gargalhadas.
391
Luís Coelho
Fazia o contrário do que queria. Diziam que era irresponsável. Por isso
mesmo, não se traía.
Ele acreditava ser perseguido por fantasmas. Tinha razão: era persegui-
do por acreditar em fantasmas.
30
Novembro de 2021, publicado em «Healthnews», Janeiro de 2022.
392
O FisióSOFO
393
Luís Coelho
394
O FisióSOFO
Não há razão suficiente para acreditar em Deus. É por isso que Ele exis-
te: para nos tornar ingratos.
395
Luís Coelho
A mente é como um pano do pó: quando está cheia, suja mais do que
limpa.
¶
Que o horror do mundo seja uma “casa dos espelhos” não é de admirar,
mas que eu, grotesco, não me admire ao espelho, é ainda mais horrendo.
Tomara que, disto, houvesse um reflexo, mas tudo o que sei é o que “outro”
me contou, espelhando-se.
¶
A minha mãe
Como já muitos sabem, aquando da cirurgia de colocação do eléctrodo
no cérebro (para DBS), para controlo dos sintomas do Parkinson, a minha
mãe teve um pequeno AVC. Terá sido da cirurgia? Outros factores podem ter
tido impacto? É difícil saber. Mesmo eles, no Hospital, têm dúvidas, e ela
ainda está em exames. Quando a vi no dia da cirurgia com toda aquela disar-
tria (dificuldades na fala) não ganhei para o susto. No dia anterior, a minha
mãe parecia adivinhar algo, quase que se despediu de mim. Mas eu nem disso
sou capaz, de me despedir da minha mãe. Chamem-me “menino da mamã”
à vontade, mas não estou pronto a perdê-la, e também não quero que me
devolvam uma mãe diferente, que a minha é a melhor. Sim, sou de apegos
“edipianos”, mas é assim mesmo. Mas, voltando ao tema de base, o fantástico
COVID + regras das visitas no Serviço de Neurologia do Hospital impedem-
-me de aprofundar uma avaliação neurológica. À primeira vista, os movimen-
tos e a cognição parecem preservados. O que é mais saliente é a paresia facial
e, sobretudo, a disartria. E, claro, uma vontade enorme de não repetir a expe-
riência. É a minha vontade, também. Agradeço os contactos de todos os que
se embrenharam no acontecimento, ela parece estar melhor, mas só quando
a tiver por perto passarei a pente fino toda a sua condição, para nada nos
escapar. Entretanto, ela já só deseja ter “alta”. O mais urgente para ela, agora,
396
O FisióSOFO
é a Terapia da Fala, que vale mais se for iniciada o “quanto antes”. Felizmen-
te, a sua fala é bem compreensível. Mas, como ela diz, o azar nas cirurgias
persegue-a. Pela minha parte, já vivi todos os sentimentos, desde tristeza até
à vontade raivosa de mudar o mundo, bem vendo, é um pouco como nos
dias normais. (02/12/2021)
¶
397
Luís Coelho
398
O FisióSOFO
399
Luís Coelho
400
O FisióSOFO
401
Luís Coelho
Compete-me dizer que resistir à morte não desiludirá Deus, Ele espera
que te torças por Ele no desejo pelo muro do amante correspondido.
402
O FisióSOFO
Não pronunciarás em vão o teu nome. Para que sejas Senhor, teu Deus.
Pronunciarás em vão teu nome. Para que seja Senhor, teu Deus.
31
Dezembro de 2021, publicado em «Healthnews», Abril de 2022.
403
Luís Coelho
404
O FisióSOFO
Não quis que fosse olho por olho, para não ficarmos cegos. Limitei-me,
assim, a partir-lhe os óculos, por motivos de tolerância.
405
Luís Coelho
Um dia serei tão famoso que não temerei perguntar na rua “Quem sou
eu?”. Saberão responder-me melhor do que conseguirei encontrar-me.
Um dia serei tão famoso que não temerei mais perder-me de que me
encontrem.
Um dia serei tão adulto que temerei perder-me de vista. Pior seria
encontrarem-me.
406
O FisióSOFO
Deus, por seres tão absoluto, nunca te encontro onde estás. E tu estás
em todo o lado onde me encontro.
Quem é que tu pensas que és para decidir o que fazer com a tua vida? Se
pensas, não És!
Todas as manhãs são dia de São Nunca à tarde. Digo-o desde sempre,
quando desperto.
É bom que tenhas um problema, senão não saberás o que fazer com o
problema da vida. Isto não é aviso, ameaça ou promessa, é um “déjà vu”.
Num mundo em que ninguém respeita nada, educar alguém para res-
peitar os outros é violência infantil. Sugiro, então, que violentem as vossas
crianças, para que elas superem o trauma do mundo.
407
Luís Coelho
Dizem-me, sempre, que sou 5*, quando queria ser anã branca.
32
Publicado em «Healthnews», Janeiro de 2022.
408
O FisióSOFO
409
Luís Coelho
Sou tão bom que, quanto mais tento mostrar-me convencido, menos
consigo convencer.
410
O FisióSOFO
Tenho uma dúvida autobiográfica. Mas não a escrevo, para não a esque-
cer. Fico, assim, a dever-lhe a minha morte, para ser paga na próxima memó-
ria.
Fiz-te uma maldade. Mas não foi por mal. Foi para que te lembrasses de
retaliar-me. Mas, se te esqueceres, não te perdoarei o bem que não me fizeste
de amar-te.
411
Luís Coelho
rar que há somente movimento temporal feito de Estruturas que se vão reifi-
cando ciclicamente. Poderia, assim, não existir qualquer Sentido, ou pode ser
que não possamos, tão-só, desocultá-lo. Tentar fazê-lo é, já, obviar o produto
neurótico que enriquece o Sistema. A razão neurótica alicerça a grande
Estrutura, talvez à distância da Natureza, como do Espírito primaveril, a
partir da qual não poderíamos ocultar a potencial transcendência. Esta, bem
como a moral, não depende de um Deus judaico-cristão, aliás, a própria
moral não depende do Espírito, há, provavelmente, apenas “matéria”, pelo
que a Estrutura é, igualmente, matéria, estabilidade capaz de esboçar uma
moral, uma previsibilidade. Obviamente, tal Estrutura luciferina poderia ser
de mote a patologizar um crente à antiga, também ele poderá representar a
novel razão neurótica, apta a fazer ressurgir uma antiga estabilidade. Cada
moral apreende uma nova razão, e esta surpreende renovada Realidade.
Quando a realidade muda, muda, também, a percepção racionalizadora de
cada “ente”, tudo é um conjunto de forças materiais, mas, claro, esta é, iden-
ticamente, a percepção de um materialista, ele pode mudar, com a necessária
modulação racionalizadora. Uma transformação da realidade racional impli-
ca uma nova idiossincrasia na percepção de uma novel Ciência. A mutação
da razão é, também, a transformação do Passado, do que empreendemos no
Logos primário, ou, até, no Eros cosmogónico, no qual, supostamente, esta-
ria toda a reserva espiritual que a Vida permite exaurir na circularidade tem-
poral. Até um materialista sublimatório poderia constituir parte dessa reser-
va, quiçá surgisse tal “coisa” a partir do “nada”, que importa donde vem
tamanha “liberdade”, desde que ela fira a pureza do Sistema, da estabilidade
de um Espírito superconsciente, superegóico, societário? Aquilo que é subli-
mado, generalizado socialmente, evoca novel confiança, neste caso poderia
ser “empírica”, mas a maior fatia de Objecto seria a intrínseca transformação
do sublimado no “Espírito” ausente; no mínimo, teríamos alguma impassibi-
lidade carnal, e isto poderia ou não afrouxar a tentação do “espiritual”, que
seria neurótico e “material”, ainda assim, prestes a criar sua própria solução
societária, inclusa da crença de ser o vero “Espírito”, e a crença acrescenta-se
ao Sistema, fere o conjunto. Esta é a dialéctica hegeliana à distância de um
“Espírito Santo”, mas não exclusiva das pequenas Estruturas cíclicas, que,
possivelmente, se engrandecem tomisticamente no plano de uma Realidade
“viva” cada vez mais rica e soberba. A “vida”, o absurdo, é tactear perpetua-
mente o processo dialéctico, qualquer Algoritmo poderia conter uma solução
transtornadora da dualidade, mas há que prever, também, a necessidade de
412
O FisióSOFO
33
Publicado em «Página Um», Janeiro de 2022.
413
Luís Coelho
414
O FisióSOFO
415
Luís Coelho
Assim como quem não quer a coisa, diz-lhe que preferes sonhar.
416
O FisióSOFO
“Se disseres a maior verdade da pior das maneiras, perdes a razão”. Dis-
se o retórico. Deram-lhe razão. E ainda bem, porque já tinha perdido a dis-
cussão anterior.
Após a Criação, ao sétimo dia, um homem exclamou: “Eu não teria fei-
to melhor!” Logo Deus, na sua omnisciência, afogou o homem no futuro.
Mas não se preocupem. Porque o Filho do Homem já o tinha perdoado.
Fiz o que não devia só para que pudesse alimentar-me. Não obstante,
não pus o sal na mesa, para contrariar o gosto.
O que o banqueiro mais queria era que lhe assaltassem o banco. Só para
que lhe desculpassem a riqueza da casa. A casa, claro, é o banco. Mas não vou
pedir desculpa pelo acrescento. Já sou pobre que baste.
417
Luís Coelho
Ou eu não me chame Luís se não hei-de lutar pelo direito a não ter
nome!
Há pessoas que fazem da ofensa o seu dia a dia. São inofensivas para
quem vive de noite.
No caso “Choy vs. Scimed”, não me pronuncio. Porque, por mais que
tente, acham sempre que sou imparcial.
Quem lê para ser feliz não conseguirá fazer os outros serem felizes a ler.
418
O FisióSOFO
419
Luís Coelho
420
O FisióSOFO
Se queres que alguém ouça a sua verdade, não o ouças. E se queres que
ele se oiça entre ruídos, não discutas com ele: não te ouvirias. Não digas
nada, já sei que não me darás ouvidos.
Quando alguém se permite sacrificar por uma maioria que com tal con-
sente não está a fazer um favor a esta maioria, porque, em breve, a maior
parte dela será sacrificada pela possibilidade de vir a ser mais um “alguém”;
sobra, quiçá, aquele que não se importa de ser sacrificado, talvez por saber
que existe tal maioria. Quando, no entanto, a maioria estiver disposta a sacri-
ficar-se pelo “alguém”, não haverá sacrificado por que lutar, no devir, não
421
Luís Coelho
História da Filosofia para parvos: Era uma vez uma coisa que se inven-
tou para fazer dos outros parvos. O fim? (Não, o fim é demasiado parvo para
ser contado.)
422
O FisióSOFO
O Valor é tão raro que se torna mais fácil encontrá-lo num indivíduo
do que num conjunto deles.
¶
Uma Deôntica começa, sempre, com algo de uma Razão natural, pro-
longando, talvez, o seu aspecto Ético, incluindo a Idiossincrasia, que é o que
possibilita a função “liberal”. O Liberalismo inclui o duo “Estrutura vs. fun-
ção”, e ele projecta-se num “maior número” Real, que, por sua vez, recalcitra
numa Deôntica. É preciso que o Real possua outra ameaça capaz de fazer
moldar a Razão dominante. E esta sublima o papel da moral. Que acarreta a
“consequencialidade” deôntica. E pouco interessa que esta seja “Espírito” ou
“matéria”, ela impõe, sempre, uma determinidade livre.
423
Luís Coelho
Se lutas para que gostem de ti, tem esperança: um dia, gostarás de ti.
Querida,
vais fazer-me o favor
de arranjar um amante,
preciso de recuperar-me
para a poesia,
sem ti, claro,
não será profecia.
424
O FisióSOFO
425
Luís Coelho
É fácil fazer a dor diminuir. É mais difícil provar que fomos nós a con-
segui-lo. E é, ainda, mais difícil provar que a dor, de facto, diminuiu.
426
O FisióSOFO
Todas as conversas vão dar ao amor. Pelo que nos compete desconver-
sar. Não por dever, mas por puro sadismo, que é desesperar por um embrião
que não consegue saldar a Alma.
Era preciso deixar de viver n/d/este país, para sermos o próprio país.
Faríamos com que a cauda da Europa passasse por hélice.
Eu cegava a olhos vistos. Era uma cegueira de vaidade. Viste? Não, não
viste. Não quiseste, por isso, pode ser que te envaideças de não partir para
onde Já não taparás o coito melífluo dos sentidos.
427
Luís Coelho
A morte fez-me a vida negra. Quando vir a Luz, vou ter uma conversi-
nha com ela: não lhe direi Palavra, para a pôr no desemprego. A ver se ela
sente a vida na pele. E o pior é que ela não pode pôr-se termo, não a deixa-
rão, dirão que ela não tem o direito a escolher.
Era assim que pretendia dizer-te que te amo: mostrar-te como posso
viver sem ti. E, no entanto, se puderes dar-me uma mãozinha, prometo dis-
pensar-te a cabeça.
¶
Ele não tem razão, ele é a própria Razão, por isso, pode mentir à vonta-
de, que estará sempre certo. Certo?
¶
Era uma Verdade bem intencionada. Caíam os seus anjos do Céu, como
mentiras a morrer por mais.
¶
428
O FisióSOFO
Não sou mitómano, para isso era preciso que acreditasse em mitos, e eu
nem acredito na minha existência.
Há tolices que se pagam caras. Havia, por aí, um tolo que acreditava em
Deus. Deram-lhe, logo, um desconto, não fosse ele fazer dos outros tolos.
“Por culpa de alguém não se fia a ninguém.” Pôs o Cristo Jesus à porta
do Templo, depois de expulsar os vendedores. Mais tarde, o Cristo retirou
todos do Inferno, antes do Cristianismo começar a fiar os vendilheiros da
alma.
429
Luís Coelho
Se ele disser que compreende tudo por que estás a passar, dá-lhe a tua
compreensão. Mas não lho dês a entender, que ele não ia compreender.
Nunca deixes de acreditar em Ti, porque, no fim, verás que o que encon-
trares é inacreditável. Não acreditas? Já lá chegaste e ninguém me avisou? Não
acredito!
Se vires algum futuro por perto avisa, que eu sou “à antiga” e preciso de
dar corda ao relógio.
430
O FisióSOFO
Ele era tão esperto que até ético se tornava. Arrepiei-me todo!
Ele achava que todos lhe deviam alguma coisa. E não é que até tinha
Razão? Só faltava darem-lha.
«– A: Foi bom toda a vida. Todos o ignoraram. No fim, onde foi enter-
rado, até a árvore apodreceu.
– B: Foi para o Céu?
– A: Ia a caminho, mas, a certa altura, mudou de sentido, que não que-
ria ser enganado outra vez.»
Se achas que foste injustiçado toda a vida, experimenta ser Deus. É uma
eternidade de “má-fé”.
431
Luís Coelho
Se viveres uma boa vida, há uma coisa de que podes ter a certeza: a
maioria das pessoas continuará a não fazer ideia de quem és.
Se morrer amanhã, sabes, então, que podes Sempre contar comigo. Se,
entretanto, estiver vivo, não apagues a mensagem, para não ter de a escrever
novamente.
432
O FisióSOFO
Não lamento não ter sido pai: se tivesse sido, poderia estar o meu filho a
lamentar-se por mim.
Ele chorou tanto no funeral que ia jurar que era por não ter morrido.
Para a próxima, chore menos, que é preciso manter as aparências. São sete
palmos de lágrimas ou ainda o matam à pazada. Ora, ninguém quer morrer
sem a dignidade do estertor. Os bons não morrem no dilúvio ou à paulada.
Ainda têm tempo para pensar na melhor forma de dignificarem a morte,
lamentando o facto de não terem partido mais cedo.
433
Luís Coelho
Preparei o meu testamento: estás morto por saber o que lá pus, não
estás? Só por isso já vale a pena tê-lo feito, não vá eu morrer antes.
434
O FisióSOFO
Desliguei o meu despertador sem dar por isso: Que inveja que eu tenho
daquele que o fez!
435
Luís Coelho
Tento, por tudo, ser impopular, mas há sempre quem tenha esperança
em mim: é desesperante!
Se a poesia rima, agradeçam ao acaso, que eu, por mim, nem teria feito
qualquer reparo.
436
O FisióSOFO
Num mundo onde alguns têm de temer por existirem tal como são,
temo sentir-me envergonhado por coexistir. Talvez porque não seja tal como
existo.
Era um poema a voar, sem asas: todo o mundo era um Céu, encardido
de analogias.
Li-me num livro. Não sei como acabei. Emprestei-me e não fui devolvi-
do. Espero não me ver num jornal, já sei que sou pós-verdadeiro, não preciso
de assustar ninguém.
Li-me num livro. Não sei como acabei. Devolvi-me à biblioteca. Não
me comprei na livraria, pela via das dúvidas. E para não ter de emprestar-me
sem ser devolvido.
437
Luís Coelho
Quando der uma queda saiba como cair. Não vá o Diabo tecê-las.
Cai no real, o Diabo és tu!, pensas que és algum anjinho?
Não basta que a Terra esteja num canto do Universo, é preciso que o
meu Universo esteja num canto da Terra, e, ainda assim, continuarei a pedir
desculpa ao mundo por, com ele, coexistir.
Universo, vamos acabar a nossa relação, o problema não és tu, nem sou
Eu, é o Humano que há em mim.
Gostaria de dizer que vou ter saudades tuas, Universo, mas, quando me
for, é para cuidar dos teus submissos, encher-me-ei de problemas e, note-se,
ajudarei, que é mais do que Tu fazes.
438
O FisióSOFO
“Essa Alma fica-te a matar!” Era o meu robot a bajular-me. Mas eu não
fui na conversa, que não tenho garantia.
439
Luís Coelho
Não era suposto este ano ser ainda melhor do que o anterior? Se assim
continuarmos, ainda se acabam os anos antes de podermos mostrar o que
pior temos. Seria uma desilusão não haver quem pudesse festejá-lo, e nós que
andamos há tanto tempo a preparar-nos, praticamente desde que há deuses.
(24/02/2022)
440
O FisióSOFO
Ele não olha a fins para atingir o meio. Até se tornava virtuoso, quando
se esquecia do que fazia.
Eles não fazem a mínima ideia do que estão a fazer. Limitam-se a fazer o
que sabem. Para não ficarem com uma ideia errada do mundo. Que pena
seria saberem o que fazem, ainda ficariam com um mundo baralhado de
ideias, um erro metabólico de trocas alimentícias.
441
Luís Coelho
Pai perdoa-lhes, porque eles sabem exactamente o que fazem. Não lhes
perdoes, por fingirem não saber. Já basta que Tu lhes faças o que não sabem,
tantos nascimentos imaculados, inesperados, em homens traídos pela memó-
ria num Sistema de néscias determinações infecundas.
Diz não à Paz, para que a guerra não te doa: pode ser que apareça um
Herói e te surpreendas sereno. Pior, pode ser, até, que cresças com esse herói
e te tornes puramente Originário. Queres maior guerra do que a Criação
imediatamente acidental? É a paz mais difícil de suportar, porque não podes
declarar-lhe guerra com as palavras certas.
442
O FisióSOFO
Não, não lhes perdoo não me terem dito que bebia dos mesmos defei-
tos, porque criaram o risco de me perdoar. Far-lhes-ei o favor de esquecê-los
para não ter de me desculpar. Punir-me é a melhor forma de os reconduzir à
lembrança imaculada.
¶
Dói-me a consciência, por isso não te mordo. Mas se não me doesse não
teria razões para te morder. E não te vou mostrar a contradição, tenho medo
que me mordas. E eu não tenho a vacina para tal agonia, ainda podia pôr-
-me, aqui, a pensá-la. Assim, fico-me pela dor de dentes, talvez escreva sobre
ela, antes que se torne infecção ou dentadura.
Se soubesses o que eu sofro por ti, passarias a sofrer tu por mim. Assim,
antes que me peças para sofrer mais um pouco, terei a iniciativa de te escon-
der o Segredo, porque mais vale uma traição indolor do que sofreres por
teres sido traída. Por isso, não me traias, ficas, assim, avisada sem o saber.
Um dia, rir-me-ei de tudo, quando já não puder trair a minha precaução,
porque o Segredo serei eu mesmo (a)visado.
443
Luís Coelho
Ele disse-me acreditar num mundo objectivo. Pena que o mundo já não
acredite em mais teorias da conspiração.
Ouvi dizer que podemos matar o Putin que não somos acusados de
homicídio. O que este (Super)homem tem feito pelos direitos humanos!...
(05/03/2022)
444
O FisióSOFO
Conheci um russo que, afinal, era ucraniano. Ufa!, o que vale é que não
sou preconceituoso!
Dizia-me ele que não podemos chegar à Realidade objectiva. Mas, lírico
como é, há-de arranjar maneira de me impingir qualquer coisa melhor do
que a Imaginação permite. É a tragédia da Verdade superlativa.
Uma vida não criativa é digna de ser vivida. Doutro modo, não perde-
ríamos tempo a viver. No máximo, justificar-nos-íamos continuamente pelo
acto de dar vida. À velocidade da Luz.
445
Luís Coelho
Conheces as minhas Causas? Não mas dites, para não ter de pagar a fac-
tura. No fim, veremos quem tem Razão, por mim até podes ficar com ela,
para que a minha vida não se acabe nunca numa explicação incansável.
Quando alguém me diz “Ouve o teu coração” fico, logo, com arritmias.
Sugiro que digam, antes, “Ouve o teu cólon!”. Que o meu anda obstipado
com conselhos.
446
O FisióSOFO
A paz sempre foi motivo de guerra. É por isso que negoceio, perpetua-
mente, os meus conflitos.
Estar morto não é prova de Eternidade, veja-se o caso da vida, que nem
se consegue provar num segundo.
Não, estar morto não prova nada, é por isso que degustamos a vida,
para tomar o gosto pelo tempo perdido.
447
Luís Coelho
Fiz-te bem e não era minha intenção. Queres melhor que isto? Só se não
tivesse feito nada. Mas, estando destinado a agir, vou-me fingindo para enga-
nar o Passado, que é a melhor maneira de recriar o mundo onde a intenção já
não é uma tentação.
Não perdi o jeito, só mudei o estilo de vida: agora, vão os outros viver
por mim, para que possa dar um jeito ao risco.
448
O FisióSOFO
Estava morta por se ver livre de si-mesma. Era o que a prendia à vida. E
ela sabia-o, por isso mesmo se matava pelo paradoxo, para coser a pele, a
fronteira, que a colocava no ponto preciso da Irresolução. Era aí que se sentia
livre, quando não podia pensar, sequer, em escolher.
449
Luís Coelho
deres por ti, já todos se deram a render. Não lhes faças o favor de decidir por
eles, deixa-os morrer de viver. E se quiserem enganar-te com a felicidade,
deixa-te levar, só para que possas dar-lhes um paraíso a termo (in)certo.
Ficar-se-ão por pouco tempo; se forem espertos aproveitar-se-ão do “termo”
para se porem a prazo na aprendizagem do incerto permanente, que é como
quem faz amor com o Absurdo.
Com sorte, ainda serei apostado num futuro onde a Imaginação terá
sido esgotada. Não darei azar, darei Vida, que é bem pior.
Sinto muito mas quem não se ressente não é filho de boa gente, é órfão.
450
O FisióSOFO
Se alguma vez te amaste, ouve-me bem; doutro modo, nem terás como
ouvir.
¶
Achas bem que te tenha sofrido? Não tarda ainda me ponho a amar-te,
sem intenção.
¶
Tudo o que fiz por ti foi sem intenção. Que mais posso fazer?
451
Luís Coelho
34
Março de 2022, publicado no jornal «O Diabo», Agosto de 2022, e em «Biosofia»,
n.º 51, Centro Lusitano de Unificação Cultural, 2022.
452
O FisióSOFO
453
Luís Coelho
454
O FisióSOFO
Aquilo que posso ambicionar no que não sou é a Saudade do que pode-
ria ter sido.
¶
Nenhuma forma de civilidade é tão imperfeita que faça com que outra
mais perfeita seja necessariamente melhor.
Não ter tempo para a vida é lutar para que o tempo não largue a vida.
Os bem sucedidos não darão pela sucessão das Eras, far-se-ão o mapa dos
acidentes funéreos, sem que a lamúria possa trazê-los à Eternidade dos arre-
pendimentos.
¶
455
Luís Coelho
so, um Universo: ias sentir-te ainda mais perdido; mas, ao menos, poderias
queixar-te à Autoridade. Não faria diferença que o vizinho respondesse por
ela, poderíamos fingir-nos ignóbeis.
Claro está que importaria saber se certos indivíduos jogam com o bara-
lho todo. Os mais loucos têm trunfos na manga.
Tive uma branca! Não foi por querer, foi, aliás, por Necessidade de não
querer. Porque era feliz e sabia-o. Mesmo nos cinzentos.
456
O FisióSOFO
Há, sempre, algum motivo que se submete aos motivos que nos fazem
andar. É por isso que vamos andando.
457
Luís Coelho
são descritivas, porque a Causa não é Final. Quando o for, teremos a com-
preensão perfeita e Nada, e ninguém, a compreender. Tudo o que dizemos
afecta a “materialidade”, porque, quando atemos “Espírito” puro, obtemos o
equilíbrio mais perfeito, que só se perde ao regressarmos ao tempo, mas esta
materialização só pode ser explicada nos termos da sua “consequencialida-
de”. Obter, por sua vez, “Espírito” a partir da “matéria” é, igualmente, esgo-
tar a explicação. O esgotamento do trajecto “absurdo” repercute o FIM/Ori-
gem, já o “Nada” não possui qualquer ingrediente, ficando o resto para o
mistério que extravasa a nossa consciência. É possível que os ciclos Evolução
vs. involução existam até ao esgotamento das possibilidades arquetípicas,
pode ser, também, que o processo criativo seja “paralelo” e que, longitudi-
nalmente, haja mera repetição.
458
O FisióSOFO
459
Luís Coelho
Claro está que o Sujeito Absoluto já não se coloca na relação com a vida,
ele é a própria Vida imediata. O Equilíbrio perfeito esgota as possibilidades
vitais. Se há ainda um real estranho, é preciso que a Razão se adapte, se coloque
nesta relação, o que não acontece se o Princípio for muito rígido. Este, se for
lato, conseguirá alguma adaptabilidade, mas existe um limite enquadrado na
estranheza “real”. A última obriga ao deslocamento racional, ao seu enrique-
cimento. Se a Razão é absoluta, ela envolve a própria Realidade. Na Consciên-
cia pura, o Real é pleno e deixa de existir. A vida exige a “consciência de” um
Real que possui alguma percentagem de estranheza. Se ele sai completamente
do potencial racional, é um pouco como se o indivíduo não tivesse Estrutura
ou que esta não permitisse a sua adaptabilidade. O “desequilíbrio” não pode
ser excessivo. Mas a sua ausência cancela o crescimento racional.
460
O FisióSOFO
Assim como o Espírito pode ser controvertido pelo pólo de uma deter-
minidade “material”, também a “matéria” se vê equilibrada pelo pólo “espiri-
461
Luís Coelho
462
O FisióSOFO
463
Luís Coelho
Claro está que o desequilíbrio global é sempre induzido pelos que são
descompensados pelo Sistema Razão » Realidade dominante, especialmente
pelos que são pouco flexíveis e duais, ou seja, pelos que são “identitários”
inseguros. Mas o movimento global do Sistema depende, sobretudo, dos
duais, da migração destes para onde a Realidade prepondera, adaptando-lhe
o seu poderio racional pouco seguro de si. O pólo mais duradoiro depende
da força expressiva dos seus adeptos, normalmente, não deverá fugir muito
da “Physis” Universal. Enquanto existirem elementos frágeis e duais, a Reali-
dade vai permitir-se transformar-se irremediavelmente, dando, temporal-
mente, possibilidades às minorias, o que não apaga o lado Universal, a plena
maioridade moral. Um afastamento lato da “Physis” implicará, certamente,
uma excessiva polarização desestabilizadora.
464
O FisióSOFO
465
Luís Coelho
Uma Razão mais tolerante cria mais equilíbrio, porque serve mais Rea-
lidade, e porque absorve mais realidade “rebelde”, mas também existe a pos-
sibilidade de o equilíbrio ser estável e limitar-se a mudar de lugar e/ou con-
teúdo Razão » empirismo. Assim não há polarização ou despolarização, há,
apenas, movimentação do Eixo do equilíbrio no plano da Realidade empíri-
co-racional. Mas mesmo nesta perspectiva é possível conceber um limite,
sem o qual nos restaria viver uma possibilidade de equilíbrio vantajosa para o
“Eu” em oposição a um “outro”. Esta é a admissão de uma polaridade perpé-
tua, embora harmónica, em que a dualidade temporal opõe a vida, a função,
ao desígnio da morte despolarizadora.
466
O FisióSOFO
467
Luís Coelho
Que ninguém diga que não está pior. Por minha saúde!
468
O FisióSOFO
Bem e mal são, de facto, dois pólos necessários que constroem um equi-
líbrio mais ou menos isomórfico, pelo que fazer o bem é tão (in)útil quanto
fazer o mal, de qualquer modo, os papéis têm de ser representados, o “mal” é
a dualidade puramente obviada, desocultada, que reage, sempre, aquando de
uma Determinidade operante, crescente, que, de qualquer maneira, requer a
subjectividade, doutro modo, seria já o Objecto despolarizado. Assim, um
algoritmo de insofrimento seria, de todo, inútil, porque o “todo” é invariável,
quando um pólo se torna dominante, o outro reduz em tamanho, mas
aumenta na intensidade, como na reactividade. Obviamente, é o próprio eixo
de “normalidade” maioritária que cria a suspeita, senão a inaceitação, relati-
vamente ao que digo, e esse “choque” produz subjectividade, “mal”, uma
determinidade capaz de esculpir um “bem” à distância.
469
Luís Coelho
dizer que são as escalas que fazem a abstracção diferencial, mas, mais uma
vez, isto não equivale a nada, porque, equivaler é familiarizar, mantém-se,
portanto, o desenho de uma espiritualidade enquanto materialidade por
concretizar, são estas as nossas referências, que, de algum modo, nos vêm
relembrar que vida e morte são exactamente o mesmo.
470
O FisióSOFO
Uma “filosofia” não sobrevive sem que conceba o seu oposto polar,
nem que seja como inimigo “dualizador”. Dualizar é racionalizar, afastamo-
-nos do equilíbrio para que o Equilíbrio permaneça. Mesmo com “lingua-
gens” diferentes, a busca é, sempre, de algo comum, de uma Razão que não
seja tão diaspórica que leve ao Nada, ao Absurdo pleno do Incompreensível.
Cada Filosofia, bem como o seu pólo oposto, constitui, assim, um aparelho
de Razão familiar, com capacidade para agregar, securizar, e, igualmente,
com a potencialidade de ditar o seu afastamento “dual”, desequilibrante, que
não deixa de justificar a primeira. Se a queda “dualizadora” não for exagera-
damente díspar, ela volta-se, sempre, sobre si-mesma, alterando o familiar,
desferindo o golpe da/à Identidade. Mais do que isso já é plena distância,
mas, assaz, simultaneidade.
¶
Quanto mais inveja o Sujeito tem do Objecto mais o Objecto se lhe sujei-
ta, que é um modo do Objecto se sacrificar. Mas a objectificação do Sujeito há-
de conhecer o dia de se sujeitar a novel dualidade. Graças a Deus, aliás, ao
Objecto, porque a dualidade é o fundamento do Sujeito, sem a qual se tornaria
Inconsciente. A queda é, sempre, para a consciência, mas, às tantas, se ele se
perde de vista, entrava-se na divisão polar excessiva, potência de morte, quan-
do a Razão se estranha. Seria preciso fazer-nos daquela escala para perceber-
mos que a Razão se aviva “novamente” num Sujeito emancipado.
471
Luís Coelho
472
O FisióSOFO
473
Luís Coelho
474
O FisióSOFO
475
Luís Coelho
sem que morramos, sem que percamos a “consciência” familiar, este “eterno
retorno” implica, claro, infinitamente um “Outro”, sem o qual não existiria
mediação “dual”, onde um se “reduz” fenomenologicamente, outro “descen-
de”, se o Sistema é dual é porque é interdependente, doutro modo, os pólos
seriam “eles mesmos”, independentes, livres. Qualquer Filosofia prescreverá
uma Razão “ideal” que fará cair o Humano no mesmo jogo dialéctico, que
existam escalas, ou que tudo permaneça Igual, é o mesmo, é a mesma “mate-
rialidade”, a mesma racionalidade, para lá da qual a imaginação não conse-
gue quebrar as regras. Bem vemos que o paradoxo explica o que é simples, o
Verbo é uma tentativa de silenciar o “retorno”, mas, quanto mais nos apro-
ximamos dele, mais nos mortificamos, e isso, para alguns, é fugir à sua
determinidade, ao seu próprio “Verbo”, e todos possuem sua justiça, quem
me dera poder catapultar-me para além da mesma lógica, é o Princípio Uno
que me limita, nele está toda a multiplicidade, e, se algo mais existe, é estra-
nho a esse Uno, e à compreensibilidade, se se coloca para além das possibili-
dades, será unipolar independente, mas, se fere, é tragado à dualidade fami-
liar, que é o que acontece na tentativa de compreender o que nos transcende,
o Sonho é aviltante, o pesadelo são todos os sonhos por cumprir.
O meu partido faz hoje anos que se partiu. Dantes não fazia anos e era
sempre Hoje.
476
O FisióSOFO
Claro está que o empírico dirá ser a Razão filha da Realidade, da Natu-
reza, mas algum pós-modernismo pretende colocar a segunda ao serviço da
primeira, não deixando, no entanto, de ir buscar à Moral o sistema de con-
trolo do Eixo temporal. E é certo que esta forma de Placebo poderá singrar,
mas é possível que a Realidade constitua a sua grande limitação. Aliás, mes-
mo a visão racional dos pós-modernos é limitada pela Realidade. Esta é aceite
mais absolutamente pelos empiricistas, que, entretanto, não recusam, neces-
sariamente, a ideia de que só vemos a Realidade que a Razão permite. E é aí
que se encontra a grande necessidade humana, também ela limitada pelo eixo
Razão » Realidade. Possibilidades maiores parecem pouco relevantes, se bem
que a Imaginação é, igualmente, filha da necessidade de tranquilização, a
qual, por seu turno, se coloca na dependência de uma despolarização Razão »
Realidade, mas isto é o que diz a nossa Razão familiar, as referências neuro-
lógicas. Bem sabemos que há, inclusivamente, a tendência dominante para a
Razão se adaptar à Realidade, obviamente, se a Realidade se alterar radical-
mente, a excessiva polarização poderá levar à morte da Razão, que, todavia,
já era seu objecto, isto, claro, novel presunção “familiar”. Quando a Realida-
de se altera profundamente, é possível que uma minoria racional mais bem
adaptada sobreviva para formular novel eixo Razão » Realidade, aqui as coi-
sas poderiam mudar um pouco, mas a minha Razão limitar-me-á na visão
desse novo manancial subjectivo, que, assumo, estaria adaptado a uma Reali-
dade a modos de produzir uma ligação “utilitária”. E o “útil” continua a ser a
relação sincrónica Razão » Realidade, que, de mais a mais, vem revelar o
“mesmo” de sempre, a potencial tautologia.
477
Luís Coelho
relação mediada com a Realidade. A Realidade fez perdurar uma Razão utili-
tária que foi sublimada e criou a mediação com a própria Realidade.
478
O FisióSOFO
479
Luís Coelho
Quanto mais adoecia, mais esperança tinha. Depois, percebeu que era
ao contrário: quanto mais esperava, mais adoecia. Era a mesma coisa, viu,
depois, em desespero. E adiantou-se, enfim, à dor, para doer-se ainda mais
no atalho da contradição.
480
O FisióSOFO
À seringa de Botox, limitei-me a dizer: “Com que cara vais dizer às pes-
soas o teu preço?” Enfim, lá me paralisou com a evidência.
Quem não se dá a escolher entre viver e morrer não vive a valer. Mas
quem escolhe não morre a valer.
481
Luís Coelho
482
O FisióSOFO
é viver pela primeiríssima vez, que é ver que já não tem de escolher coisíssi-
ma alguma. Assim, torna-se parte da moral que o queria fazer viver à força.
Mas isto não é, já, estar morto? Pois claro que sim, mas ele pôde matar-se à
vontade, o que, de mais a mais, mata a moral, mas também a ressuscita. Ora,
ser livre, bem como perder o medo da morte, não mata a ética, é um seu
pressuposto. O mais que poderia acontecer é que as pessoas se matassem
cedo de mais. Frustrar-lhes o caminho pode, não obstante, servir-lhes de
mote. Mas se lhes dás palco, arriscas-te a assegurar, ainda melhor, a velha
moral restritiva. Não há, assim, necessidade de moralizar, mas, apenas de
deixar de dar palco à questão, que, ainda por cima, pode fazer sofrer até mor-
rer. Quem precisa, muito, da velha moral, tem, em absoluto, medo da liber-
dade de morrer, e isto mata, também; mata, aliás, quem ainda tem muito
para sofrer, para que possa, deveras, perder o medo de ser livre. Saber se o
sofrimento compensa ou não, esta é a grande questão, se soubéssemos res-
ponder-lhe em absoluto estaríamos mortos. Pretendem os moralistas res-
ponder-lhe, e eles falam pela morte, mas para matarem os outros à sua
medida. São tão “livres” mas não se livram de querer matar, que é uma for-
ma de se matarem para serem, finalmente, livres. Até lá, sofrerão a irraciona-
lidade, e o medo de poderem desejar matar-se antes de morrerem vivos o
ludíbrio da morte morrida.
483
Luís Coelho
Clonei um Deus, mas não é a mesma coisa: este nem se queixa de não
ser original.
¶
484
O FisióSOFO
implica uma relação dual mais ou menos local, sistemática, em que mesmo a
Razão moral é neurótica, e tudo é, aliás, neurose, porque tudo requer movi-
mento, continuidade harmónica em que Sujeito e Objecto se igualam constan-
temente. A Razão neurótica de um “agente” é o nível mais despolarizado de
outrem, o Sujeito que cria resposta dual é, ele mesmo, sujeito a outrem, subjec-
tividade de um Outro. Cada elemento desempenha um duplo papel de Sujeito
e Objecto, e cada momento requer o Igual Real, Racional, em que tudo é certo
e tudo muda, mesmo assim.
¶
Claro está que o Espírito se poderá opor à Razão dual, mas esta pode
implicar uma reacção Unitária, do Ego tornado Ser. Esta é uma posição mate-
rialista, mas que, na mente de alguém, implicará algum acordo unitário, o que
não evita que corpo e mente constituam sempre uma Unidade material, aqui
atemos o Imediato em que cada elemento está sempre certo. A imediaticidade
corpórea contrasta com a dualidade moral, para esta teria de haver, de alguma
forma, um Ser e um ego, mas, mesmo aqui, as posições podem ser alternadas
de acordo com o papel desempenhado. O Ser compensa o Ego, puxando-o
para si, mas o Ego também pode fazer as vezes de Ser, egotizando o pretérito
Ser, e todos estes conceitos resumem-se a uma Substância, onde a moral iguala
a tendência do comportamento. O que confunde, por vezes, a compreensão é a
própria dualidade basilar envolvida na Consciência, e mesmo isto é somente o
que a mente alcança, pois que, noutros sistemas, diferentes mentes implicarão
fenomenologias diversas, e cada uma será Uno em si-mesma, naquilo que
permanece enquanto Coisa, por oposição ao significado que lhe imputamos.
485
Luís Coelho
Há quem nunca beije num primeiro encontro. Eu, cá, nunca me encon-
tro num primeiro beijo.
486
O FisióSOFO
487
Luís Coelho
488
O FisióSOFO
Colocar uma pedra sobre o assunto é como colocá-la num sapato: ficas
sem par e ainda fazes sapateado.
489
Luís Coelho
490
O FisióSOFO
sincrático, vogando no Caos que a “Physis” tantas vezes representa. Mas ela
pode relevar uma Razão moral perante o Objecto Uno, pós-moderno, reque-
rendo seu próprio Domínio. O Sujeito só poderá sê-lo se existir um Objecto
suficientemente familiar, suficientemente distante. Uma razão demarca tal
relação, e exige a Unidade, mas esta torna a Razão obsoleta.
491
Luís Coelho
492
O FisióSOFO
excedida, a dor remete para a desdita empírica, esta nova Razão trará a Reali-
dade para a sua zona indolor, a neurose pode abarcar temporariamente os
grandes territórios de segurança empírica, ela implica uma Razão que avança
de modo a mitigar-se na transformação do “pathos” em “Logos” e em “ethos”.
493
Luís Coelho
cam numa guerra evolutiva, involutiva, que visa equilibrar, minorar o nível
de dor, despolarizar, para que a razão terminante se mortifique ao ponto de
criar a sua própria durabilidade homeostática; mas este é, frequentemente,
um falso equilíbrio, a razão passa a irracionalidade, e tudo não passa de um
jogo de compensações, querer defrontar a Causa racional plena é, também,
querer esgotar o Sistema, como quem encontra o Sentido e a zona de recuo
absoluto, é, portanto, a nossa incapacidade que nos leva à necessidade de
equilibrar os pólos racionais cognoscíveis, equilíbrio que tem de integrar,
obrigatoriamente, qualquer outro tipo de eixo herético. Frequentemente, o
que estranha em demasia não (se) entranha, é outra defesa, inquirindo, pre-
cisamente, na Razão dominante, a sua “razão de ser”. A neurose é a regra, é
ela que age como “determinante” requestando o Indeterminado, que é,
somente, uma região de Determinidade pura, onde o Sentimento de Liber-
dade é absoluto. Isto, claro está, é semelhável à Ideia de Liberdade propria-
mente dita, podemos considerar que a zona em questão é a porta de entrada
para o Imperativo Categórico (Kant), e, não obstante, o Imperativo de hoje
pode ser “hipotético” amanhã, de qualquer modo, nada poderá provar-se
enquanto categórico, cada mente terá a sua própria Lei, mas o que se prova
nunca pode provir do Nada, mas pode agir enquanto tal. A neurose pessoal é
a Lei de cada um, a nossa consciência é, sempre, totipotente, o que a faz titu-
bear são as outras consciências, sujeitos, que adoptam o aspecto de Objecto,
infalivelmente possante. Quando uma consciência se vê fragilizada poderá
querer compensar-se com alguma outra que lhe seja familiar, mas isto é, já,
um modo de se objectificar, para tornar “outrem” seu sujeito. Se este proces-
so é voluntário, isso significa que ainda não é, completamente, Objecto, é
preciso que a sua acção enquanto “Superego” não seja voluntária para que o
“objecto” passivo se adopte como “agente”. Entretanto, este pode não conse-
guir roubar “Realidade” ao outro Agente, o que implica que se mantém na
faixa de insegurança. São os elementos constitutivamente “duais” que fazem
ponderar o Sistema. A Razão mais “forte” abraça mais Realidade, mas tam-
bém a normaliza e descura, dando a possibilidade à razão recessiva de se
tornar ainda mais forte, de modo a absorver mais elementos “duais”. Mas,
quando há passividade de ambos os lados, pode ser que as razões existam
paralelamente, alimentando, mutuamente, a mesma Razão dominante, que
não deixou de ser dual e “manifesta”, e que é, em simultâneo, toda a razão
que nos interessa. Haver quem tenha, realmente, mais razão não o torna
inevitavelmente dominante, crer que isso ocorre é a facécia do positivismo,
494
O FisióSOFO
495
Luís Coelho
496
O FisióSOFO
comum, é possível alguma harmonia, e ela tem sido conquistada pela Razão
moral, que já recolhe alguma da sua objectividade do Corpo. As ciências
sociais fazem, bastas vezes, dela o seu objecto “práxico”, as ciências físicas
buscam nela uma fonte de contenção para o Caos da “Physis”. Onde é mais
difícil buscar a “diferença” é, justamente, na moral. O que se coloca muito
para além dela parecerá Indiferente. Mas é diferente precisamente pela indi-
ferença. Que não existe solução para a tentativa de permanecer na dúvida
“impassível”, ela parte de algo preciso e aterra, constantemente, em vários
locais, ambicionando não estacar em nenhum, para poder recusar a “posi-
ção”. É uma forma de Caos, de “Physis”, de absurdo, em que as oscilações
são tantas e tão rápidas que parecerão uma coisa coesa e estanque. Um pouco
como sucede com o Todo/Uno/Nada, mas o niilista fica-se pela ameaça, pela
dificuldade em tomar posição, buscando uma moral “justa” na empresa de
esgotar as variáveis, como se estas não o prendessem constantemente ao pas-
sado, à terra, frustrando, permanentemente, a (in)Determinação. Tudo neste
Ser dual é aparente e placebetário, tudo nele é superfície, é ele que determina
as grandes transformações, necessitando, para isso, duma moral que acaba
por renegar. Em certas alturas, a pressão social fá-lo-á escolher o caminho
dos Valores, mas o filósofo mais “desprezível” perder-se-á nas “linguagens”,
é um incapacitado social que se recusa ao orgasmo da completude, até por-
que essa não é racionalizável, cientificável, inteligível, e ele não pode escusar-
-se à aparência da Razão, perante a qual avilta, inalteravelmente, a outra apa-
rência, a da Razão manifesta e dominante. Recusando escolher, escolhe-se,
sempre, a si mesmo, dirá que é pelos outros, será certamente, quando, por
acaso, se obviar na postura definida, heterossexual, quando quiser deixar a
bissexualidade indiferente e cambaleante do demiurgo, carcaça de Deus homos-
sexual, incestuoso, pré-verbal, pré-Logos.
497
Luís Coelho
egóica. No entanto, esse “ego” não deixa de preterir esta Razão, pode, até,
pretender uma outra, mas que não é necessariamente vantajosa. A Razão
moral possui, precisamente, esta ambiguidade: pune e redime, em simultâ-
neo, o “estranho” ao Domínio, o que, de mais a mais, é uma extensão da
própria dualidade. Entretanto, o “amaldiçoado” poderia e/ou deveria cum-
prir o caminho necessário de enlace com a Razão dominante, só aqui poderia
abraçar algum tipo de altruísmo, que, de qualquer modo, é menos prescritivo
do que “natural” e egóico para o, actualmente, “Ser”. Pode, no entanto, o
Sujeito neuroticizado conceber uma moral nova, com maior ou menor capa-
cidade de enlaçar uma maioria, este intento poderá, até, ser minorado, preci-
samente pelo conteúdo “compassivo” da moral dominante, é o ensejo de
culpabilizar que cria o repúdio egóico do “outro”, que o mesmo considera
justo, até porque provindo de uma determinação “estranha”. Dentro dele, ele
é o seu Objecto “total” e o seu intuito é totipotente, não poderá deixar de
agir deste modo, e é a tolerância que pode, precisamente, tranquilizar o seu
intento. Pode, também, constituir o modo de se transformar a “dor” no pro-
cesso necessário de crescimento, se bem que, logicamente, o “Eu” culposo
poderá achar que este é um caminho desnecessário, inútil. Poderá abreviá-lo,
e pode, tal-qualmente, criar novel moral dominante, que, é, a bem ver, outro
modo de abreviar o sofrimento. Aqui, atemos um “mal” que se torna útil a
novel domínio, como se fosse outra forma de “dores de crescimento”, a
resultante pode implicar o domínio polar de um “mal” que arrisca a Trans-
cendência, sendo esta como a Liberdade polar em vida, que se mune de uma
(in)determinidade e avança, compensatoriamente, para outra (in)determi-
nidade. O conjunto das compensações recria o desenho vitalista de um Abso-
luto que pretende conceber-se entre determinadas balizas demiúrgicas, com
estas a aterem, precisamente, um centro de domínio e uma periferia de cul-
pabilidade, e a periferia é o polarizar maleficente, futuramente beneficente.
Claro está que todo o “Ego” se sente com “direito a” e ele possui-o, mas,
obviamente, há, sempre, um Domínio que o castiga e desmotiva, gerando,
ainda mais, culpa, e alimentando um círculo vicioso que o alicerça num “mal”
cada vez maior, num pecado cada vez mais vero, num trajecto que parece
cada vez mais “patológico” e “sensível”, em que tudo se empreende como
“inimigo”. O círculo vicioso empurra este sujeito para um nível cada vez
mais periférico e minoritário, até que ele se transforme numa coisa irrelevan-
te, podendo, claro, acontecer que, um dia, uma mudança qualquer na Reali-
dade leve o Sistema para a sua proximidade, dum modo tal que leva a reco-
498
O FisióSOFO
nhecer a benignidade do sujeito, a um ponto tal que pode, até, estender esse
“bem” a um passado que, supostamente, o injustiçou. Mas não é o passado
que se enganou, é o presente que modifica o passado a seu jeito. O passado
andava enganado, porque também foi presente de outro passado. E o presen-
te tal-qualmente enganado/enganoso projecta, desde já, um futuro igualmen-
te enganado, com novas vítimas, que são os da antiga Estrutura e sem grande
segurança ou flexibilidade “dual”, que criarão, eventualmente, outras víti-
mas, mas apenas se replicarem o seu padrão num mundo que, entrementes,
não o reproduz, o que faz, portanto, com que surja uma nova geração pato-
logizada. Esta, entretanto, pode ser evitada se a geração for segura da sua
estrutura ou cambiar esta com a Realidade, porquanto, abraçada. Os insegu-
ros são, sobretudo, os que são abalados na “estrutura base”.
O sofrimento pode, portanto, ser encarado como uma via para a Razão
moral ou para edificar outra moral, em ambos os casos o terapeuta pode
intervir, restando os outros em que o sofrimento parecerá inútil, e é aqui que
o suicídio cria o seu ascendente. No entanto, na medida em que afecta a
Razão moral, poderá implicar-se nos que a esta já não são completamente
devedores, pode, portanto, o suicídio de alguém ser fonte de crescimento
para outrem, no sentido de outra moral, mas, se se pretende a pura liberdade
egóica, corre-se o risco de preterir a vida em favor dum mal escolhido por si
mesmo, aliás, pela preguiça de viver. Muitas vezes, ser favorável à “morte
assistida” ou ao suicídio é, precisamente, uma resultante do sofrimento aten-
dido como inútil, até porque é impossível saber se ele vai levar a algum
Objecto pragmático (e parece não fazer sentido sofrer apenas para aprender a
morrer), mas não deixa de haver, aqui, uma certa egomania, até porque se
esquecem todos os outros que poderiam sofrer com o processo; no entanto,
como já dissemos, esta liberdade egóica não pode deixar de fazer parte do
sistema de “tolerância”, compaixão, da Razão, nem que seja por mero intuito
“terapêutico”. A compaixão implica, sempre, alguma “queda”, algum sub-
-nivelamento moral, doutra maneira ela não seria precisa para nada, mas,
quando ela é imposta, poderá ter o efeito oposto; mesmo que essa imposição
resultasse para algum sujeito (porque o produto poderia compensar o pro-
cesso), é muito provável que outros indivíduos acabassem sendo chocados,
patologizados, na sua subjectividade.
499
Luís Coelho
Eu não sou o indivíduo que está a escrever esta frase. Muito menos
quando acabar de a escrever. E tu não és quem a leu, nem o que barafusta
com o facto.
500
O FisióSOFO
501
Luís Coelho
assim que as coisas procedem, com a intrínseca ilusão que a própria Deter-
minação coloca como condição absoluta, e é igualmente essa que permite
conceptualizar a grande psicose do Sistema, a qual inclui um múltiplo feixe
de neuroticidades morais. Quando a “patologia” é demasiado grande, a tole-
rância, a leniência, reage de modo a permitir essa neuroticidade quase psicó-
tica, como quem a coloca de lado; é preciso que a determinidade não se
exclua plenamente do Sistema para que este a atenha enquanto ameaça.
Aquilo que se afasta muito psicotiza ou releva de outra moral que, entretan-
to, cai na pretensão de recrutar a sua própria razão moral. Ater uma morali-
dade absoluta é a última defesa do Homem enquanto animal superior, com
ela se pretende universalizar aquilo que, precisamente por ser Universal,
possui pouca expressividade determinística. É a “diferença” que encena a
mudança, é, também, ela que desafia plenamente uma moral que é projecta-
da para o Superior, para um terreno de Liberdade perfeita, que, não obstante,
precisa da razão carnal para se fazer sentir como “coisa” moral. Os adeptos
desta razão, desta liberdade, dirão que o materialismo não os compreende,
mas essa “liberdade” de sentimento é constantemente o que personifica a
Moral atida como suprema e categórica. Quanto à dúvida, é esta que, de
algum modo, perfaz a verdadeira compleição filosófica, porque é ela que
produz a queda da razão perfeita, daquela coisa que já é quase Sabedoria.
Nenhum sábio duvida da sua moral, se o faz, a Sabedoria torna-se Filosofia,
capaz de produzir a resposta perfeita, que é transcorrer todo o eixo de mora-
lidades na psicose do absurdo. Caminho perfeito não existe, e virá quem
apregoe um outro nível ou escala de abstracção “espiritual”, mas, mesmo
aqui, só poderemos contabilizar outras razões carnais que se colocam dialec-
ticamente entre a sua inDeterminidade securizadora e a ameaça neuroticiza-
dora. E a ameaça é permitida no domínio da tolerância da própria Razão
primeva, bem como numa razão moral que quer prevenir a sua possibilidade
diacrónica. A tolerância é, assim, a condição de serenar a inDeterminidade,
bem como a de lhe esculpir a transformação numa outra determinidade,
como num outro eixo de Realidade “psicótica”.
502
O FisióSOFO
503
Luís Coelho
seu intrínseco esgotamento, que é facilitado por uma Regra, entretanto torna-
da Dogma. É, também, esta Razão moral que obvia todas as outras que a desa-
fiam. É função da sua tolerância, que reside no intento, na possibilidade, de
qualquer residente na Razão primeva. Claro está que o Dogma apresenta a
prescrição como medida de um Destino, mas é função da liberdade desafiá-lo
para que o mesmo seja alcançado, mesmo que pela medida de outra razão,
passível de ser prazenteira. Se esta razão é ou não ilusória, é muitas vezes difícil
dizê-lo. Ela age como “real” e profunda, mas pode ser, somente, o caminho
para uma coisa mais “real” ainda. Se o tempo dirá a verdade, tal também não
pode ser garantido, como se o sofrimento compensa ou não, abreviar o cami-
nho pelo suicídio é um direito, mas igualmente ilusório porque projecta a
Consciência viva para um estado que já não a inclui. Querer fazer fenecer o
sofrimento em vida pode ser, tal-qualmente, ilusório, porque tal coisa implica
fenecer, igualmente, a zona de prazer. Aliás, se o indivíduo supostamente
“livre” cria saudades do visado prazer é porque, afinal de contas, não era livre,
ainda tem necessidade de se dualizar para que possa visar, mais uma vez, a
Unidade i-racional, no seio da qual já não almejará a transcendência factual,
que, de resto, irracionalizaria, de todo, o Ser, esgotando todas as morais.
504
O FisióSOFO
O indivíduo que quer ser livre não se verá livre de “si mesmo” enquanto
o desejar. É preciso que acredite ser livre e se mova de modo a confirmá-lo
quando já não houver Ego para o fazer. Se deseja matar-se não deseja, muitas
vezes, matar o Ego, mas, somente, o sofrimento. No acto de morrer talvez
possa ver como se trai a si mesmo, morrendo de vez e perdendo de vista a
Felicidade que pensava vir a encontrar.
Não é possível negar, de todo, o acto de se ser livre, porque o próprio
“viver” pede liberdade no acto de a negar. E enquanto o fizer, livre não será.
Ninguém é tão livre que se livre de desejar a plena Liberdade. Quando
lha prometemos, iludimo-lo, porque o que lhe é prometido não condiz com
505
Luís Coelho
o que ele constrói dentro de si. Se o desejo se torna Realidade, talvez possa,
ainda, viver o momento em que se arrepende da escolha, por ter, de facto,
escolhido abandonar-se, abandonar o Ego, a “relação com”, a “consciência
de”. O que obtém mata a auto-consciência, pelo que o “matar-se” não salva
ninguém, senão de “si mesmo”.
Quando convencemos as pessoas de que possuem liberdade moral, que-
remos, em última análise, criar um certo isomorfismo (moral), certa identi-
dade. O objecto é poupar moralmente o “outro”. Mas isto faz-se à custa de
apagar as fronteiras do Ego dum modo inicialmente “terapêutico”, mas que
pode levar à plena morte do Ego. O objecto do isomorfismo moral é a morte,
tão-só. Porque a Impassibilidade já constitui uma aproximação a este estado.
Não acreditar na moral de abnegação aumenta a probabilidade de agirmos
egoicamente, aqui o sofrimento acresce-se para todos, mas aumenta também
a probabilidade de recompensa afecta ao retorno à moral. Retorno que está
implícito no próprio liberalismo, a “morte” pede o regresso à Razão.
A liberdade no sentido nietzschiano também pode pedir o Espírito,
mas, aqui, não havendo moral abnegadora, é mais difícil respeitar o “outro”
e que este respeite o “Eu”, assim, a ameaça torna-se regra, há mais movimen-
to, mais prazer “material” e diaspórico, mais distância à morte, e, ao mesmo
tempo, maior probabilidade de morte. O único modo de adiar a morte está
em aproximarmo-nos, suficientemente, dela. O moralista, muitas vezes, pres-
creve a moral, para que o “outro” morra sem se aperceber, e ele mesmo não
lhe segue as pisadas, conhecendo o paradoxo e manipulando-o a seu gosto.
Mas o Sistema acabará por se virar contra ele.
506
O FisióSOFO
ra, mas também por questões da ordem da defesa dessa Cultura. Claro está
que poderíamos burilar outras possibilidades racionais e principescas, que
teriam de ser livres, pelo menos na intenção, porque o produto é de morrer,
e se o sucesso é (quase) absoluto, é provável que a dissidência surja para fazer
mover o Sistema numa luta que sabe estar perdida, dada a sua condição
minoritária. O “menor” sobrevive se o Domus for suficientemente tolerante,
que é o mesmo que dizer que o “menor” é permitido, e, por isso mesmo, não
sublima com a mesma força, o mesmo grau de ameaça empírica.
507
Luís Coelho
“outro” que representa o “ruído”, o atrito, e se este existe é porque há, já,
avanço do “Eu” do Estado natural de Ser indómito para o estado de “Eu”
neuroticizado, dualizado pelas razões, responsabilizado a escolher novel
estado de Natureza indómita. A dualidade da “Physis” é representada pela
dualidade da própria Razão, que se expressa no movimento dubitador, que
um outro pretende responsabilizar, e que se perde no Domínio natural e,
portanto, irresponsável, in-consciente. A aproximação ao Domínio irrespon-
sabiliza o “Eu” no “Si” e em relação ao “outro”, o seu “movimento” é o seu
Superego tomando as rédeas, pelo que (se) responsabiliza. A Culpa é expres-
são de uma dualidade compensatória, a “escolha” dum Domínio é a Descul-
pabilização, o processo é atido no sentido de irracionalizar, tornar Incons-
ciente, o que, entretanto, já não é atido enquanto escolha, mas como coisa
natural, Justa, Domínio seguro Irresponsável. É como se o movimento “racio-
nal” evoluísse no sentido de uma Vontade in-consciente, pelo que o grande
Imperativo é Categórico na medida em que se torna Vontade, e a dúvida é,
sempre, “hipotética”, carnal, responsabilizadora, mas, apenas, se existe dúvi-
da, porque a segurança espelha o Domínio, e a dúvida maior é dualização
indómita, processo sempre responsabilizador, mas que a Vontade dilacera
nos termos, materialísticos, da Inconsciência. Bem vemos que os lugares
operados no Sistema se correspondem, bem como a imagem de uma duali-
dade racional, que é a da própria “Physis”, e que existe dentro de nós, na
relação que o Superego estabelece com a in-consciência. Claro está que apli-
camos uma maior responsabilização segundo a dúvida iniciada por uma
Estrutura “maior”, onde a grandeza é tornada, materialisticamente, “núme-
ro”, e onde ela se espelha dualmente no movimento do “menor” aplacando a
Culpa no abraçar de um Domínio natural.
508
O FisióSOFO
509
Luís Coelho
510
O FisióSOFO
511
Luís Coelho
O acto imoral de um indivíduo pode ser atido pelo mesmo como perfei-
tamente legítimo, como parte da sua própria Indeterminidade ética, o mora-
lizador é quem se afasta desta, quem se coloca na zona de dor, quem pede
responsabilização perante a sua própria Culpa. É o moralizador que se duali-
za. Quando o moral sente que é obrigado a fazer algo que o trai moralmente,
este também se dualiza, também se afasta da sua indeterminidade. Claro está
que não existe pura Indeterminidade, sempre reagimos racionalmente a algo
512
O FisióSOFO
513
Luís Coelho
514
O FisióSOFO
Claro está que o Objecto, o Uno, é o instante desejado, mas ele é inalcan-
çável, e é por isso que tentar chegar ao primeiro racionalmente implica, neces-
sariamente, a irracionalização do Sujeito, aliás, do Objecto, que o mesmo é
dizer que o Imediato é, sempre, falso, ou, pelo menos, infalsificável (Popper).
Daí que o conhecedor imediato não possa, muitas vezes, provar aquilo que
presume Óbvio, mesmo o esforço para o fazer transtorna, transforma, o Óbvio
noutra coisa, e aquilo que é “comum” é o que pretende ser objectivo, mas não
se larga, aqui, o “conhecimento de”, o Observador tenta, claro, afastar(-se)
(d)o Objecto, mas arrisca-se a vê-lo com cada vez menos pormenor. Quanto
mais objectivo tenta o conhecimento ser, menos Objecto possui. Quanto mais
Objecto pensa o Sujeito possuir mais o Sujeito é possuído pelo Objecto, a Sub-
jectividade é um processo aferente que parte do Objecto-Sujeito.
515
Luís Coelho
ambos os casos o Objecto pode ser modificado, pelo que, no instante seguin-
te, novas relações serão estabelecidas.
516
O FisióSOFO
Morte prevenida vale por duas vidas: para que a dúvida não reencarne.
517
Luís Coelho
Assegurou-se de que não levava nada consigo para a outra vida. Só isso
o distraiu de partir indesejado. Não chegou onde queria, continua, sem que-
rer, a caminhar.
Mais vale roubar do que pedir para roubar. Excepto quando roubamos
a dignidade alheia. Para isso basta pedir.
518
O FisióSOFO
519
Luís Coelho
520
O FisióSOFO
521
Luís Coelho
522
O FisióSOFO
523
Luís Coelho
524
O FisióSOFO
Se tens a certeza de que tudo é relativo, então podes ter a certeza de que
nem tudo é relativo, mas se duvidas disto não desesperes, qualquer polariza-
ção tende para a sua rápida consumação indeterminadora, esta capacidade
do Sistema se fazer render pela Razão familiar limita a empresa filosófica,
porque dissolve a dúvida, onde reside o Princípio mais vero, o Princípio dos
Princípios, que a Razão moral empreende, muitas vezes, como morte, e é,
precisamente, o seu risco que nos dualiza e assegura novel Razão pacificado-
ra. Se conseguirmos tolerar melhor a dor, a dúvida, conseguiremos desafiar
mais o Sistema, mas também pode acontecer que nos expulsemos do mesmo,
o que, de mais a mais, é tragar novel Razão, menos familiar, e que pode, qui-
çá, empreender-se naquilo que a minha familiaridade não quer aceitar, preci-
samente por lhe trazer a dolorosa dúvida.
525
Luís Coelho
“Com o mal dos outros posso eu bem.” Só porque discordo com ele,
não respondo por mim.
526
O FisióSOFO
Quando alguém pede amizade (no FB) para vender coisas, não terá aca-
bado, precisamente, de vender a amizade?
527
Luís Coelho
“Compreender não é perdoar” é o que diz quem pede perdão por com-
preender.
Não vejo a hora de não ter tempo. Para que o tempo não se acabe. E
possa fazer-se continuamente no desejo de que se extinga. E por se extinguir
no desejo, não morre na intenção.
528
O FisióSOFO
Sofre de honestidade aguda, pelo que, para não ser um perigo para
outros, devemos considerar que representa um perigo para si-mesmo.
Vê o que mais ninguém vê, excepto o que está à frente dos olhos, que
não faz diferença alguma.
Querida, esta é aquela altura do ano em que faço mais um ano do que
tu. Não te preocupes, far-te-ei uma espera tal que o tempo não mais se lem-
brará de nós.
529
Luís Coelho
Já disse várias vezes que a Realidade nunca se repete. Cansa tanta Ori-
gem.
530
O FisióSOFO
531
Luís Coelho
532
O FisióSOFO
533
Luís Coelho
Que o Sentido não é a meta, que é, bem vendo, o infindável correr para
a meta, isto convém que não se saiba, para que o Sentido continue operando
maciçamente, mas, mesmo que se soubesse, não deixaríamos, por isso, de
correr à frente do Destino, tentando enganá-lo, que é, aliás, o que acontece
quando confundimos Escalas, que as diferenças são isso mesmo, perspecti-
vas, um dançar constante, pretendemos aprofundar-nos sempre mais, mas
seremos, apenas, reis do nosso pouso, vicejando face à diferença alheia, que-
rendo obstaculizar com nossa gravitas, mas esta nem sequer vale para além
da resultante.
534
O FisióSOFO
535
Luís Coelho
Agradeço a todas as pessoas sem as quais não seria possível estar, aqui, a
agradecer-lhes o facto de não se mostrarem agradecidas por tudo o que
poderiam agradecer-me. Não vos agrada? Grato!
Ouvi dizer que o caso de difamação que hoje acaba gerou vários outros
casos de difamação. Não foi do exemplo, foi de discuti-lo sem exemplo. 01/
06/2022
Para deixar a nossa pegada, é preciso que a poeira assente. Doutro modo,
seremos pó.
536
O FisióSOFO
36
Referência: Coelho, L. Fisioterapia e farmacologia: Epistemologias. Acta Farmacêu-
tica Portuguesa. 2022; 11(1).
537
Luís Coelho
538
O FisióSOFO
539
Luís Coelho
Há, então, clínicos que preferem estabilizar a condição dolorosa com verten-
tes terapêuticas meramente anti-sintomáticas. Mas, aqui, mais uma vez, caí-
mos na possibilidade de proporcionar novas “liberdades” ao corpo passíveis
de complexificar o quadro “causal”. Medicamentos analgésicos administra-
dos sem um tratamento adequado da causa do problema poderão promover
novo sofrimento racional e, por consequência, empírico. Ora, o paradoxo
não deixa de exprimir o “estado de arte” de intervenção clínica de muitos
profissionais em muitas condições. Assim, talvez o único modo de dirimir a
polarização vigente esteja na necessária equilibração dos modelos: as dores
precisam dum trabalho “causal” e de um outro, anti-sintomático, sem que
qualquer um deles seja excedido. A algia filosófica tem, desde há muito,
compatibilizado Razão e empirismo, por vezes dum modo desarmónico. A
harmonia entre a cadeia racional e o movimento empírico permite, não obs-
tante, fazer crescer a linha raquidiana, pacificando o “Ser” na despolarização
Sujeito-Objecto, Terapeuta-paciente.
A harmonização entre holisticidade e cientificidade é, de resto, o mote
de qualquer boa terapêutica, isto se pretendemos “estabilizar” o Ser, escu-
sando o perigo da transformação desnecessária. Aliás, só há vera Razão se
houver acordo com a empiricidade, o placebo é demonizado porque é “irrea-
lista”, mas o seu carácter só se desvela na medida em que o preteritamente
racional se revela irracional. Claro está que, de certo modo, tudo é racional e
irracional ao mesmo tempo, justamente porque tudo é compensação. Aqui, é
6
o próprio “relativismo dogmático” (Popper ) que brota e pretende ver-se
estabilizado pelo rigor empírico, e dirá o dogma que este fenece a possibili-
dade de transmutação, e o paradoxo não cessa, mas, como já vimos, a tera-
pêutica medicamentosa está envolvida, irmãmente, nos dois pólos, porque
pode estabilizar, mas pode, também, proporcionar a compensação transfor-
madora. E assim como um terapeuta, ou um farmacêutico, poderá aliar
polarmente as diversas vertentes epistémicas, isto não será em desprimor de
se aliarem as diferentes áreas terapêuticas, conluiando esforços clínicos.
O terapeuta sabe, por exemplo, que um alongamento primoroso pode
reflectir-se numa dor neuropática, sabe que pode acrescer-lhe o movimento,
o trabalho de força, mas sabe, tal-qualmente, que um medicamento poderá
minorar a dor e a inflamação, possibilitando mais função. A farmacoterapia
alia-se, reiterando-se essencial. Também o farmacêutico não esquece as variá-
veis psicogénicas, simplesmente as coloca num plano paralelo. E este plano,
excedendo-se, pode convidar ao abandono do mesmo fármaco que permite
540
O FisióSOFO
tolerar, francas vezes, uma psicoterapia. Mais difícil seria tolerar “ad infini-
tum” uma terapia dolorosa, com a promessa da salvação vindoura. Nem
todo o sofrimento se justifica. Não parece razoável estender indefinidamente
uma terapêutica sem o adequado suporte empírico. Há transformações tão
sofridas que se tornam incompatíveis com a vida “funcional”. Quando a
mutação é exagerada, acaba por ocorrer uma polarização Terapeuta-paciente
passível de banir os elementos do Sistema. Como se a nova Razão fosse, de
todo, estranha, familiarmente irracional.
Diante dos excessos compensatórios, o prescritivismo farmacológico
pode parecer securizante – também ele seria, quiçá, um placebo –, mas não
deve, todavia, perder-se a riqueza dialéctica, que não é impossível para a
Farmacologia, no fundo, o que se pede é o jogo compensatório da vida exa-
minada, a dialéctica constante, mas cerzida pelo equilíbrio (psico)somático.
Os excessos da própria ciência são de mote a produzir a necessidade placebe-
tária, a tolerância, a flexibilidade, é o melhor remédio.
Referências bibliográficas
1. Foucault M. Les mots et les choses. Gallimard; 1966.
2. Coelho L. Raquialgias: Modelos fisioterapêuticos e preventivos. Gazeta Médi-
ca. 2020;7(3).
3. Mézières F. La révolution en gymnastique orthopédique. Paris: Vuibert;
1949.
4. Souchard Ph-E. Le champs clos. Paris: Maloine; 1981.
5. Coelho L. O anti-fitness ou o manifesto anti-desportivo. Introdução ao
conceito de reeducação postural. Quinta do Conde: Contra-Margem; 2008.
6. Popper K. The open society and its enemies. Routledge & Kegan Paul, Ltd.;
1945.
541
Luís Coelho
{Oncologia e Fisioterapia:
Epistemologia da dor e função37}
A relação da Oncologia com a Fisioterapia é dual como todas as relações
vitalistas, mas um equilíbrio as comunica, bem como as suas componentes
epistémicas, o seu binómio «Insofrimento vs. função», de resto o binómio
que caracteriza a harmonia que se estabelece entre a medicina curativa e a
paliativa, e entre a ciência médica e a Fisioterapia, que se desvela na sinergia
empírica que sempre defendemos.
Essa sinergia está bem patente na própria Fisioterapia, no modo como
esta “ars” compatibiliza a dimensão psicossocial dos métodos de maior ampli-
tude abstracta com a vertente científica das técnicas que se aplicam perfeita-
mente ao modelo “biomecânico” em Saúde. Aliás, a harmonia empírica e
biomecânica só pode ser obtida no esforço concomitante de aplicar ao “curto
prazo” funcional a urgência da teoria, se não houver equilíbrio, o Insofri-
mento não pode ser funcional ou, até mesmo, vital.
Certa Fisioterapia pretende, bastas vezes, fazer sobressair o seu aspecto
psicossocial, aplicado ao (in)sofrimento, esquecendo que a vida, que a pró-
pria medicina alopática, exige o traçado empírico da dor, a algia do equilíbrio
passível de escusar as piores consequências. Sabemos que alguns métodos
dogmáticos podem prometer a salvação, pela extinção da dor, ou, quiçá,
fazendo-a sobressair, mas são muitas vezes estes que mais ameaçam a quali-
dade da vida, até pelo modo como pretendem sobressaltar-se face à medicina
medicamentosa, como se fosse possível negar a química da vida.
Mas haver química é haver uma harmonização clínica representada pela
própria linha média raquidiana, que, de algum modo, divide uma zona pos-
1, 2, 3
terior do corpo, rígida e hipertónica , “locus” das grandes teorias, duma
zona anterior, liberal, afeita ao movimento. Os excessos dos métodos “poste-
riores” poderão matar o equilíbrio álgico, seja porque o calam, seja porque o
exacerbam, criando, assim, um risco para a própria vitalidade, destruindo a
função urgente da máquina relacional. É verdade que o excesso também
4
pode fazer urgir um novo equilíbrio, uma nova relação “erótica” da Estrutu-
ra com a função, como da Razão com a Realidade displicente, mas este é um
risco que nem sempre vale a pena correr. Por vezes, o caminho para o “inso-
37
Junho de 2022, publicado em «Healthnews», Outubro de 2022.
542
O FisióSOFO
frimento” poderá, tão-só, matar. Pelo que é preciso que a Fisioterapia sempre
se acautele na sua apologia da “qualidade de vida” face à simples “vida”, não
vá matar-se a dualidade, que, bem sabemos, deve, continuamente, prevale-
cer, na dialéctica da existência.
Uma função indolor é, claro, o objecto mútuo de Medicina e Fisiotera-
pia, e estas não podem excluir-se da harmonia raquidiana, que é de crescer
“espiritualmente”, se a teoria for adequada à função cientificadora. Nisto,
também a Fisioterapia deve ser questão “de vida ou de morte”, paralelamente
à Medicina, com seu binómio constante trabalhando para a Unidade, que é,
tal-qualmente, o Uno “terapeuta-paciente”, e a harmonia entre o aspecto
psicossocial, e até placebetário, e o aspecto profusamente biomédico, que se
consubstanciam, prevenindo as compensações desadequadas, as dores/sofri-
mentos que poderiam ser evitadas. O sofrimento mais genuíno é, aqui, a dor
inútil, que certos dogmas pretendem muitas vezes alavancar, mais tarde sen-
do, acaso, traídos por um equilíbrio global mais disfuncional, que, ainda
assim, compõe o seu intrínseco trajecto dialéctico e equilibrante. A Unidade,
de qualquer modo, não é a morte da relação clínica, é, apenas, a harmoniza-
ção da autonomia do seu desiderato crescente, que, infelizmente, terá, algum
dia, a sua finalização independente.
Todo o processo em causa não pode expulsar-se da realidade clínica, a
própria Filosofia é Saúde, ou, talvez, a doença da Saúde, as narrativas são,
também, as dos profissionais, que sofrem clinicamente com o paciente, são –
eles mesmos – pacientes, percipientes dum equilíbrio que deve evoluir para
um esquema do Corpo que integra e é integrado, constantemente, numa
Unidade maior, numa psicossociologia clínica que não se subtrai ao rigor da
sua elementaridade biomecânica.
Referências bibliográficas
1. Coelho L. Raquialgias: Modelos fisioterapêuticos e preventivos. Gazeta Médi-
ca. 2020;7(3).
2. Mézières F. La révolution en gymnastique orthopédique. Paris: Vuibert;
1949.
3. Souchard Ph-E. Le champs clos. Paris: Maloine; 1981.
4. Freud S. Para além do princípio do prazer. Relógio D'Água; edição original
de 1920.
543
Luís Coelho
544
O FisióSOFO
545
Luís Coelho
FB. A julgar pelos comentários que vêm a seguir, já não ponho aqui
nada, que é para aprenderem a não julgar pelas aparências.
Num país que não acredita em si mesmo, o mínimo que eu posso fazer
por vocês está em não vos dar esperanças. O resto é surpresa.
546
O FisióSOFO
Referências bibliográficas
1. Coelho L. O anti-fitness ou o manifesto anti-desportivo. Introdução ao
conceito de reeducação postural. Quinta do Conde: Contra-Margem, 2008.
547
Luís Coelho
548
O FisióSOFO
549
Luís Coelho
Quando deixar de ter contas para pagar, direi o que penso do mundo.
Até lá, estarei ocupado.
550
O FisióSOFO
Eu sou mais do género de não ter sexo. Não é Ideologia, é mesmo ser
virgem.
¶
551
Luís Coelho
4
mastigatório e podal – cria a aferência que o corpo consome e a postura
exprime. Os receptores são a voz da ascendência “sensitiva”, deles provém a
riqueza do mundo exterior, ou seja, a fonte de um novo equilíbrio postural,
que, constantemente, se conforma “activamente” pela vertente “agónica” da
relação dos centros superiores com o que é seduzido pelos “sentidos”. A dua-
lidade epistémica demarca a harmonia, o desequilíbrio é polarizador e con-
vida à tensão “posterior”. Cabe ao terapeuta propiciar o “alongamento” neu-
romuscular, mas, se este se exceder, os músculos “enfartam-se” e surge a
“angina”, a algia, bem como a disfunção, que é o oposto da despolarização
terapeuta-paciente (agente-percipiente, Sujeito-Objecto). Reforçar ou alon-
gar excessivamente é providenciar a ligação desarmónica com o meio, pode,
até, ser que o “excesso” da musculatura óculo-motora “recrie” a deficiência
postural, mas a maior deficiência, a vera cegueira, provém de olvidar o aspec-
to neuronal, que é, seguramente, o grande agente do estado muscular. E, para
ele, o equilíbrio é o que propicia a função indolor, que, de mais a mais, com-
patibiliza a recepção terapêutica com a nova atitude neuromuscular, o estado
do Objecto músculo-esquelético com o da verdade do Sujeito cognitivo.
A dualidade reitera a relação equilibrada do fundo epistemológico que
inclui fisioterapia articular e medicina neurológica, mas, atendo à riqueza do
mundo terapêutico, é preciso criar a aceitação de outros equilíbrios, de
outras posturas “correctas”, que, ademais, permitem desafiar a própria esta-
bilidade científica, compondo uma nova visão, novel fisiologia, que, mais
uma vez, não pode esquecer o papel dos “centros superiores”, e do receptor
visual, que é, ainda assim, o fulcro das “cadeias musculares”, do eixo raqui-
diano que tende para o crescimento espiritual, fazendo ressentir renovadas
formas de equilíbrio álgico, em que o caminho para o Insofrimento é cum-
prido na novel visão cega, lucidez da actividade céptica, inclusa de terapeutas,
médicos e outros pacientes, na abrangência do que parece esperar a nova
Fisioterapia, em substituição da via frequentemente passiva, que tem gerado
5
a deficiência postural de uma clínica que resvala, consecutivamente, entre os
6
excessos dogmáticos das teorias e os excessos fortificadores do “labor” cien-
tificista.
Assim sendo, cabe à Fisioterapia genuinamente harmónica apreender
do olhar da Oftalmologia aquilo que poderá consignar o seu equilíbrio empí-
rico, o que demora a acontecer na obrigatória promessa epistémica. Não
basta que existam fisioterapeutas “oculares”, “neurológicos”, ou ortoptistas,
porque é a própria Ortodoxia que precisa de aprender a flexibilizar-se, refor-
552
O FisióSOFO
Hoje, que andei com más companhias, acho-me irresistível. Por isso
chamei-te, para que me resistisses.
Preso por ter cão e preso por não ter. Em resumo: sê cão!
553
Luís Coelho
A sua felicidade será debitada em breve. Por favor, não responda a esta
mensagem. Sobretudo com um “sorriso” :).
554
O FisióSOFO
Na noite das bruxas, a Morte virá avisar-me que voltará no dia das
mentiras. Fiquei confuso a agradeci o trabalho de me mentir piedosamente.
Não era assim que queria morrer, a fazer contas à vida.
Quem se vê grego a ler um estóico tem de ser espartano para falar com
um. Se saber esperar é uma virtude, desesperar por um estóico é santidade.
“Quem diz é quem é.” Foi com esta frase que se destruíram muitas
identidades e se desvelaram muitos traumas. Deveria ser um “mantra”.
Ando a trabalhar para ser Sem-abrigo, mas não consigo arranjar lugar
em Lisboa. É injusto que não possa viver no meu lugar de trabalho.
555
Luís Coelho
“Quem não sente que uma grave doença o assalta está mentalmente doente.”
(Hipócrates)
Fizemos Amor, mas foi sem intenção. Doutro modo, seria pecado.
Abriste a boca e saiu asneira. Mas quem ficou com a mosca fui eu. E
ainda dizem que o mundo é injusto!
556
O FisióSOFO
Eis o que li num livro de profecias: Este livro terá sucesso suficiente para
você estar a lê-lo. Pena que o leitor não possa dizer o mesmo.
557
Luís Coelho
Se pensas que falas comigo dessa maneira ainda tens muito para pensar.
Já eu não tenho maneiras, pelo que me dispenso de ti, não vá lembrar-me de
ter modos.
558
O FisióSOFO
Não tenhas esperança, fá-la! Ah, não queres trabalhar? Ainda há espe-
rança para ti. Reservei-a no restaurante mais próximo, faço questão de te
servir, a sobremesa fica para mim.
Esteve, sempre, calado: O que queria, ele, dizer com aquilo? Se ainda
disparatasse não se perdia tudo.
Ouve bem, porque é a primeira vez que vou dizer isto, e irei repeti-lo
tantas vezes quantas as necessárias para te convenceres que é a última. Não,
não sou criativo, sou apenas Filho de Deus.
559
Luís Coelho
Caros Condóminos, queiram largar a Terra, para que seja feita a respec-
tiva manutenção. Levem os vossos haveres, e, à saída, esqueçam o caminho
de regresso. Sim, é verdade, vocês são, apenas, inquilinos.
É, para mim, pacífico que “Deus” seja um bom “nome de guerra” para
fazer a paz. Até porque tem diminuído o Factor de Impacto.
Filmes da minha vida? Aqueles que me fizeram pensar que o filme era
eu. Quem me dera que fosse sempre assim, sozinho na sala, personificando-
-me.
Hoje nada farei contra vós, para evitar desagradar-vos, não quero dar-
-vos esse prazer.
560
O FisióSOFO
Só não perdes a cabeça porque ela não está agarrada ao pescoço. Não
fiquei com o resto, era demasiado belo para isso.
Para quê perder tempo com a vida quando se pode passar a Eternidade
a servir de desculpa aos outros para não viverem atempadamente? Sai dessa,
não te apresses a viver, morre às prestações.
A grande prova da vida: não ter como provar que se arranjou um modo
de sobreviver sem uma âncora. Todos acham que me drogo. E, infelizmente,
as análises à urina são “inconclusivas”.
561
Luís Coelho
Se sentes que este é o pior dia da tua vida, não desanimes: piores dias
virão.
562
O FisióSOFO
Ser humano e agir em prol do Humano: Há, lá, melhor forma de ferir a
“Lei das Incompatibilidades”? Só por isso sou “trans”, em breve assumirei
novel espécie.
Que nunca digam que me vendi: vou patentear-me. Mas isso não podem
dizê-lo, seria pouco original.
563
Luís Coelho
Na rua, quando passas, finjo, sempre, que não me vejo. Resulta tão bem
que foges, logo, a procurar-me.
Não olhas onde vês? Observa-me, vês como nunca me verifico, como
fico com as melhores vistas?
Nenhum dinheiro no mundo paga o sonho de (se) ser rico. Basta saber
que uma esmola vale um pesadelo.
Que aldrabe as pessoas, isso é lá com ele, mas que seja estúpido, é into-
lerável.
564
Índice Remissivo
Abraham H. Maslow, 365, 366, Emil Cioran, 127
367, 368 Étienne Bonnot de Condillac, 132
Agostinho de Hipona, 162, 562
Agustina Bessa-Luís, 31, 32 Félix Guattari, 123
Albert Camus, 39, 272, 278, 290, Flávio Justino, 140
403, 404, 405, 454, 550 Francis Bacon, 49, 89, 190, 270,
Antonio Gramsci, 361 278, 290, 315, 316, 343, 372,
Aristóteles, 131 385, 390, 414, 453
Arthur Schopenhauer, 112, 230, Françoise Mézières, 86, 88, 89, 90,
234, 276, 278, 342, 344, 365, 91, 92, 93, 94, 95, 100, 270, 277,
378, 380, 384, 472 284, 287, 290, 314, 316, 319,
Auguste Comte, 13, 14, 15, 16, 17, 337, 372, 379, 390, 541, 543,
20, 46, 350 545, 548, 550, 553
Friedrich Nietzsche, 38, 194, 276,
Baruch de Espinosa, 18, 24, 25, 32, 278, 291, 325, 327, 342, 344,
33, 36, 37, 38, 49, 283, 290 345, 360, 364, 367, 376, 405,
Basílio de Cesareia, 144 463
Bergson, 195 Friedrich Schiller, 198
Blaise Pascal, 226, 230, 231 Friedrich Wilhelm Schelling, 244,
Boécio, 164, 165 276, 278, 283, 290
Bronisław Malinowski, 123
Gaston Bachelard, 322
Carl Jung, 172, 180, 187, 189, 190, Georg Wilhelm Friedrich Hegel,
194 48, 123, 124, 125, 198, 275, 278,
Charles Sanders Peirce, 361, 380, 409, 474
384, 452 George Berkeley, 121, 128, 129,
Christian Wolff, 247 323, 495
Cícero, 138 Georges Bataille, 304
Clarice Lispector, 311 Gilles Deleuze, 123, 259, 493
Claude Bernard, 343, 347, 349, Gilles Lipovetsky, 198
354, 380, 385
Giovanni Boccaccio, 209
Claude-Adrien Helvétius, 132
Gottfried Wilhelm Leibniz, 12,
246, 247, 284, 290, 291, 327
David Hume, 121
Guilherme de Ockham, 224
Edgar Morin, 25, 403, 405 Gustave Le Bon, 362
Edmund Husserl, 223, 364, 365,
472 Hans Jonas, 411
567
Henri Bergson, 400 Karl Popper, 47, 89, 95, 96, 97, 98,
Herbert Marcuse, 48, 113, 114, 273, 278, 290, 343, 389, 390,
194, 195, 197, 198, 199, 213, 405, 408, 409, 515, 540, 541
275, 278, 291, 296, 304, 404,
405, 553 Ludwig Feuerbach, 361
Herbert Spencer, 18, 109
Martin Heidegger, 127
Immanuel Kant, 25, 38, 120, 171, Max Stirner, 398, 400
246, 247, 248, 249, 250, 251, Meister Eckhart, 462
494, 518 Michel Foucault, 206, 243, 254, 260,
Imre Lakatos, 350 265, 271, 277, 278, 291, 355, 356,
409, 426, 537, 539, 541, 553
Jacques Derrida, 344, 550 Michel Henry, 364, 365, 380, 405
Jacques Lacan, 123 Miguel de Unamuno, 372, 373,
Jean Baudrillard, 97 374, 452
Jean-Jacques Rousseau, 212, 321, Mikhail Bakunin, 361, 400, 401
322, 400
Jean-Paul Sartre, 127, 252, 290 Nicolas Malebranche, 230, 231,
Jeremy Bentham, 52, 58 234, 235, 503
Jesus Cristo, 139, 140, 147, 149, Nicolau Maquiavel, 61
151, 152, 154, 156, 157, 159, Novalis, 198
164, 216, 217, 218, 237, 276,
277, 289, 351, 353, 429 Orígenes, 139
João Escoto Erígena, 164 Oscar Wilde, 55
Johann Gottfried von Herder, 198 Oswald Spengler, 109, 290
Johann Gottlieb Fichte, 242, 243,
Paul Feyerabend, 163, 176, 273,
283, 290, 404, 405
278, 351, 409
John Locke, 66, 128
Paul Ricoeur, 273, 278
John Searle, 47
Paul Watzlawick, 314
John Stuart Mill, 52, 58
Paulo (de Tarso), 139
José Ortega Y Gasset, 19
Piotr Kropotkine, 107, 400
Julien Offray de La Mettrie, 273,
Pirro, 136
278, 283, 290
Platão, 48, 131, 132, 323, 409
Jürgen Habermas, 39, 130, 415
Plotino, 136, 139
Karl Mannheim, 364 Protágoras, 163
Karl Marx, 123, 320, 361, 365 Pseudo-Dionísio (o Areopagita),
139
568
René Descartes, 24, 25, 472 Thomas Kuhn, 51, 93, 290, 351
569
OBRAS DO AUTOR
571
Proceedings World Congress AIESEP “Lifestyles: the Impact of Education
and Sport.” Edições FMH (pp.153-162).
Coelho, L., Almeida, V., & Oliveira, R. (2006). Bases de intervenção do fisio-
terapeuta no doente com espasticidade: paradigmas e abordagens de acção
clínica. Sinapse, 6(1): 18-29.
Almeida, V., Coelho, L., & Oliveira, R. (2006). Lombalgia inespecífica nos
adolescentes. Identificação de factores de risco biomorfológicos. Estudo epi-
demiológico na região da grande Lisboa. Re(habilitar) – Revista da ESSA, 3,
65-86.
Coelho, L. (2006). Abordagem às deformidades posturais na infância e ado-
lescência: um novo paradigma. Acta Pediátrica Portuguesa, 37(6), CIII.
Coelho, L. (2007). O treino da flexibilidade muscular e o aumento da ampli-
tude de movimento: uma revisão crítica da literatura. Motricidade, 3(4), 22-
-37.
Coelho, L. (2008). O efeito da variável tempo de estiramento estático na fle-
xibilidade muscular: uma revisão sistemática da literatura. Revista Portuguesa
de Fisioterapia no Desporto, 2(1), 45-57.
Coelho, L. (2008). O método Mézières ou a revolução na ginástica ortopédi-
ca: o manifesto anti-desportivo ou a nova metodologia de treino. Motricida-
de, 4(2), 21-39.
Coelho, L. (2008). Abordagens de fisioterapia no tratamento da paralisia cere-
bral: principais paradigmas. Acta Pediátrica Portuguesa, 39(3), LII-LIII.
Coelho, L. (2008). Abordagens e paradigmas de fisioterapia neurológica: uma
revisão. Re(habilitar), 7, 65-118.
Coelho, L. (2008). O método Mézières ou a revolução na ginástica ortopédi-
ca. Acta Reumatológica Portuguesa, 33, 372-373.
Coelho, L. (2009). A fisioterapia e o serviço nacional de saúde: a realidade
incontornável. TDT online, Março/Abril, 4-5.
Coelho, L. (2009). Podemos confiar na ciência?... A importância da epistemo-
logia e a especificidade das ciências da saúde. TDT online, Julho/Agosto, 4-6.
Coelho, L. (2009). Lombalgia nos adolescentes: Identificação de factores de
risco de natureza biomorfológica. Estudo de levantamento na região da grande
Lisboa. Revista Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia, 17 (I) 15-31.
572
Coelho, L. (2010). Mézières' method and muscular chains' theory: from pos-
tural re-education's physiotherapy to anti-fitness concept. Acta Reumatológi-
ca Portuguesa, 35(3), 406-7.
Coelho, L. (2010). A Reeducação Postural segundo Mézières e suas implica-
ções para a Fisioterapia: a “revolução na ginástica ortopédica. TDT online, 1,
4-8.
Coelho, L. (2010). Os efeitos da “reeducação postural global”. Uma revisão
sistemática da literatura. TDT online, 4, 10-17.
573