Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FICHA CATALOGRÁFICA
Myers, Isabel Briggs & Myers, Peter B.
Os 16 tipos de personalidade e seus dons especí cos / Isabel Briggs Myers & Peter B. Myers;
tradução de Gabriel De Vitto Fernandes — Campinas, sp: Editora Auster, 2023.
Título original: Gis Differing: Understanding Personality Type.
isbn: 978-65-87408-95-8
1. Psicologia individual / Personalidade 2. Tipologia
I. Autor II. Título
cdd 155.2 / 155.2’64
Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por
qualquer meio ou forma, seja ela eletrônica ou mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer outro
meio de reprodução, sem permissão expressa do editor.
A todos os que desejam fazer pleno uso de seus
dons.
Assim como num só corpo temos muitos membros,
e nem todos os membros desempenham a mesma
função, assim, ainda que muitos, somos um só
corpo em Cristo, e todos, membros uns dos outros.
Temos dons diferentes [...]. (Rm 12, 4−6)
Sumário
P
P
N
PARTE I: T
Capítulo I: Uma explicação sistemática para as diferenças de personalidade
Capítulo II: As dimensões da teoria de Jung
B
N R
P
E ste é um livro feito para a família. Seja a sua família composta por parentes consangüíneos,
amigos íntimos ou colegas de trabalho, as idéias e conceitos aqui presentes podem ajudá-lo
a compreender a si mesmo e suas reações no processo de viver todos os dias, além de poderem
ajudá-lo a compreender e apreciar as reações daqueles ao seu redor que, com dons diferentes,
parecem estar marchando no ritmo de outro tambor. Se você já se perguntou sobre as diversas,
muitas vezes surpreendentes, formas pelas quais pessoas importantes para você, ou apenas
pessoas ao seu redor, parecem olhar para o mundo ou reagir a situações, este livro será de seu
interesse. Se você tiver problemas para entender ou se comunicar com alguém com quem se
importa — um pai, um lho, um colega de trabalho ou um parceiro amoroso — as idéias
presentes neste livro podem ser exatamente o que você procura.
A autora, Isabel Briggs Myers, foi minha mãe. Após uma luta de vinte anos, ela acabou
sucumbindo ao câncer, aos 82 anos, pouco antes da publicação da primeira edição. Seu
objetivo era ajudar as pessoas a serem felizes e e cazes no que escolhessem fazer, e a força
desse desejo lhe deu a energia necessária para continuar até que o livro estivesse pronto. É
uma homenagem ao seu insight que, desde 1980, mais de 100 mil pessoas tenham lido Os 16
tipos de personalidade e seus dons especí cos, com mais cópias vendidas a cada ano que
passa.
Jung escreveu sobre sua teoria dos tipos há mais de 70 anos, mas como psicólogo praticante,
ele geralmente via pacientes com problemas psicológicos graves e estava principalmente
preocupado com o desenvolvimento malsucedido ou desequilibrado de tipos que ele
encontrava em pessoas que eram ine cazes, infelizes e buscavam ajuda pro ssional. Ele não
estava particularmente interessado nos aspectos de tipos psicológicos apresentados por
pessoas saudáveis e normais. Além disso, ele escreveu em alemão para um público altamente
especializado de psicólogos. Mesmo a tradução para o inglês de sua obra Tipos psicológicos é
uma leitura pesada. Não é surpreendente, portanto, que sua teoria dos tipos de personalidade
tenha encontrado pouco entusiasmo entre pessoas comuns interessadas na personalidade
humana.
Isabel Myers, por outro lado, embora não tivesse formação em psicologia, dedicou toda a
segunda metade de sua vida a interpretar e adaptar a teoria de Jung para ajudar pessoas
normais e saudáveis a entender que é normal ser um indivíduo único, muitas vezes bastante
diferente daqueles ao seu redor, e que muitas, se não a maior parte, das diferenças, dos
problemas e mal-entendidos que eles possam ter experimentado com outros, podem ser
explicados em termos das perfeitamente normais, mas diferentes, escolhas na forma como as
pessoas recebem e processam informações.
A premissa deste livro é que cada um de nós possui um conjunto de dons, um conjunto de
ferramentas mentais que nos sentimos confortáveis em usar e, portanto, recorremos a elas no
cotidiano. Embora todos tenhamos acesso às mesmas ferramentas básicas em nossa caixa de
ferramentas psicológicas, cada um de nós prefere uma ferramenta (ou conjunto de
ferramentas) em particular para uma tarefa especí ca. É nosso conjunto único de preferências
que nos confere nossa personalidade distintiva, e nos faz parecer semelhantes ou diferentes
dos outros.
Um problema que comumente leva muitos de nós ao estresse é a aparente incapacidade, por
vezes, de comunicar algo que nos parece muito claro e pessoalmente importante a alguém de
que gostamos a ponto de tornar sua opinião importante, ou pelo menos entender a sua
importância para nós. Podemos nos sentir magoados e rejeitados pela falta de reconhecimento
da nossa preocupação, ou podemos car perplexos com o fracasso daquela pessoa em apreciar
a lógica de nossa posição. Em Os 16 tipos de personalidade e seus dons especí cos, Isabel
Myers nos oferece explicações reconhecíveis para esses e muitos outros usos normais, mas
diferentes, das nossas ferramentas de personalidade, e aponta o caminho para os usos
construtivos das diferenças humanas.
Para ajudar a contextualizar este livro, talvez seja apropriado conhecer um pouco da história
de como ele foi escrito. Isabel Myers e sua mãe, Katharine Cook Briggs, estavam interessadas
na teoria de Jung havia aproximadamente 16 anos, quando a Segunda Guerra Mundial levou
muitos homens da força de trabalho industrial para o serviço militar e muitas mulheres
tiveram que sair de suas atividades normais para substituí-los. Como, para a maioria dessas
mulheres, o pesado ambiente de trabalho industrial era um território novo e desconhecido,
minha mãe e minha avó acharam que o conhecimento das preferências de personalidade das
pessoas, nos termos da teoria junguiana dos tipos, poderia ser uma ajuda valiosa para
identi car o tipo de tarefa para o trabalho de guerra em que alguém sem experiência prévia
relevante poderia se sentir mais confortável e ser mais e caz. Elas procuraram em vão por um
teste ou algum indicador das preferências junguianas de uma pessoa, até que nalmente
decidiram criar o seu próprio. O resultado se tornou o inventário de personalidade Myers-
Briggs Type Indicator® (Indicator ou ®). Como nenhuma delas era psicóloga ou
psicometrista, elas tiveram que começar do zero.
Enquanto trabalhavam juntas para compreender e correlacionar suas observações, elas não
tiveram problemas. Mas quando, em 1943, produziram o primeiro conjunto de questões
destinadas a ser o , caram cara a cara com uma dupla oposição da comunidade
acadêmica.
Em primeiro lugar, nenhuma das duas era psicóloga, nem tinha diploma avançado ou, na
verdade, qualquer treinamento formal em psicologia, estatística ou construção de testes. Em
segundo lugar, a comunidade acadêmica (e até mesmo os estudiosos junguianos e analistas
daquela época) tinha pouco interesse na teoria junguiana dos tipos psicológicos e, portanto,
ainda menos interesse em um questionário de auto-relato que pretendia identi car o tipo
junguiano criado por duas mulheres desconhecidas que eram, “por óbvio, totalmente
desquali cadas”. No entanto, Isabel Myers não era tão desquali cada assim. É verdade que ela
não tinha o treinamento acadêmico formal nas disciplinas necessárias, mas tinha uma mente
de primeira ordem e, por mais de um ano, aprendeu com alguém que era um especialista
quali cado nas técnicas e ferramentas de que precisava. Essa pessoa era Edward N. Hay, que,
na época, era gerente de recursos humanos de um grande banco na Filadél a, e dele aprendeu
o que precisava saber sobre construção de testes, pontuação, validação e estatística.
Eu tenho uma convicção pessoal de que grande parte da dor e do estresse não-físicos em
nosso mundo é resultado de mal-entendidos entre pessoas geralmente bem-intencionadas e
não é causada por desacordos irreparáveis. Se isso for verdade, grandes ganhos na qualidade
da vida cotidiana devem ser possíveis para cada um de nós por meio de uma melhor
compreensão de nós mesmos e de como coletamos nossas informações, processamo-las,
chegamos a conclusões ou decisões e comunicamos nossos pensamentos e desejos aos outros.
Uma cooperação e harmonia maiores devem ser possíveis se pudermos compreender e
apreciar as maneiras pelas quais os outros diferem de nós, bem como encontrar maneiras de
nos comunicar com os outros de uma forma que eles possam entender e com a qual eles
possam se sentir confortáveis.
Carl Jung escreveu sobre arquétipos — aqueles símbolos, mitos e conceitos que parecem ser
inatos e compartilhados pelos membros de uma civilização, transcendendo e não dependendo
de palavras para comunicação e reconhecimento. Diferentes culturas podem ter diferentes
formas para seus arquétipos, mas os conceitos são universais. Se o tipo de personalidade for
um desses conceitos, e se for universal em todas as culturas, religiões e ambientes, que desa o
temos diante de nós! Até poderia ser possível que a reação “aha”, experimentada ao reconhecer
algo sobre si mesmo ou a razão de uma diferença em relação a alguém, se estenda a uma
família internacional através de fronteiras políticas e econômicas, a m de trazer
compreensão, respeito e aceitação das diferenças entre povos de nações, raças, culturas e
convicções distintas. Isabel Myers, pouco antes de sua morte, expressou como seu maior
desejo que, muito depois de partir, seu trabalho continuasse ajudando as pessoas a reconhecer
e apreciar seus dons. Acredito que ela caria satisfeita com a crescente apreciação do seu
trabalho quinze anos após sua morte.
Washington, ..
Março de 1995
As implicações da teoria, no entanto, vão além das estatísticas e só podem ser expressas em
termos humanos. Os 16 tipos de personalidade e seus dons especí cos apresenta um relato
informal do tipo e suas consequências, conforme apareceram para nós ao longo dos anos.
Neste material, espero que pais, professores, estudantes, conselheiros, clínicos, clérigos — e
todos os outros que estão preocupados com a realização do potencial humano — possam
encontrar uma justi cativa para muitas das diferenças de personalidade com que se deparam
em seu trabalho ou com as quais precisam lidar em suas vidas particulares.
Foram necessárias três gerações para fazer este livro: o profundo insight da intuição
introvertida de minha mãe () sobre o signi cado do tipo; minha própria convicção
introvertida-sentimental () sobre a importância das aplicações práticas do tipo; e a
inestimável combinação de visão extrovertida, impulso intuitivo, dom da expressão e senso de
prioridades do meu lho Peter () — sem a qual estas páginas talvez nunca tivessem sido
concluídas.
Fevereiro de 1980
P
O shumana
16 tipos de personalidade e seus dons especí cos é um livro sobre a personalidade
— sua riqueza, sua diversidade, seu papel no desenvolvimento de nossa carreira,
de nosso casamento, e do próprio sentido da vida. Foi escrito por uma mulher para quem a
observação, o estudo, e a avaliação da personalidade foram paixões dominantes por mais de
um século.
A estrutura conceitual pela qual Isabel Myers organizou suas sensíveis e otimistas
observações é a tipologia de Carl Jung, levemente modi cada e elaborada por Myers e sua
mãe, Katharine C. Briggs. A teoria de Jung, uma vez assimilada, fornece uma bela estrutura
para entender tanto as semelhanças quanto as diferenças entre os seres humanos.
Essa história começa com o casamento, em 1886, entre duas pessoas extraordinariamente
talentosas: Katharine Cook e Lyman Briggs.
Os Briggs tiveram uma lha, Isabel, a quem educaram em casa, exceto por um ou dois anos
na escola pública. Isabel Briggs entrou no Swarthmore College aos 16 anos e se formou no
primeiro lugar de sua turma em 1919. Em seu terceiro ano, ela se casou com Clarence Myers.
Até o início da Segunda Guerra Mundial, ela atuou como mãe e dona de casa, embora tenha
encontrado tempo para publicar dois exitosos romances de mistério, um dos quais chegou a
ganhar um prêmio disputado contra uma história de Erle Stanley Gardner.
Leitora assídua, ela freqüentava bibliotecas para aprender sozinha o que precisava saber
sobre estatística e psicometria. Ela se tornou aprendiz de Edward N. Hay, que, mais tarde,
fundou uma das primeiras empresas de consultoria de pessoal a ser bem-sucedidas nos
Estados Unidos. Ela persuadiu inúmeros diretores de escolas no oeste da Pensilvânia a
permitir que testasse seus alunos, passando longas noites avaliando perguntas e tabulando
dados.
Durante a primeira década deste trabalho, Myers recebeu pouco apoio externo, à exceção de
membros de sua família. Por meio de seu pai, ela conheceu um reitor de uma faculdade de
medicina que permitiu que ela testasse seus alunos, uma oportunidade que ela expandiu ao
longo dos anos até obter resultados de para mais de 5 mil estudantes de medicina e 10
mil enfermeiras.
A resposta da psicologia institucionalizada aos esforços de Myers foi certamente fria, se não
hostil. Em primeiro lugar, a avaliação da personalidade foi considerada um empreendimento
duvidoso por muitos psicólogos. Além disso, entre os poucos interessados em teoria e
avaliação da personalidade, as tipologias não gozavam de boa reputação. As escalas de traços e
fatores eram o foco da pesquisa, e certamente a falta de credenciais institucionais de Myers
não ajudou o a ganhar aceitação. Não há evidências de que Myers tenha se intimidado
pelos céticos ou pelos críticos. Pelo contrário, ao longo das décadas de 1950 e 1960, ela
continuou a encurralar diretores e reitores em seus escritórios e extrair acordos para gerir o
.
Embora durante os últimos anos de Myers já fosse evidente que o Indicador de Tipo
provavelmente se tornaria o método de avaliação de personalidade mais amplamente utilizado
por populações não-psiquiátricas, Myers nunca demonstrou o grau de vaidade ou presunção
que tamanha realização poderia justi car: ela permaneceu satisfeita, grata e sempre
entusiasmada com a utilidade do Indicador. Tampouco houve sequer uma gota de amargura
por todos os anos de condescendência e rejeição.
Essas atitudes características de Isabel Myers carão evidentes nas páginas a seguir. Seu foco
ao longo deste livro está na beleza, na força, nas in nitas possibilidades da personalidade
humana em todas as suas variedades fascinantes. Ela provavelmente não defenderia a
perfectibilidade da espécie humana, mas mesmo após todos os acontecimentos dolorosos e
desoladores das últimas quatro décadas, Myers manteve uma comovente fé nas pessoas e um
revigorante otimismo na humanidade, os quais fazem de Os 16 tipos de personalidade e seus
dons especí cos muito mais do que um importante tratado do Indicador de Tipo Myers-
Briggs. Estamos felizes em trazê-lo para você.
John Black
Julho de 1980
N
I ndependentemente de você ter feito ou não o teste de personalidade Myers-Briggs Type
Indicator, este livro irá ajudá-lo a entender a estrutura, a teoria e muitos usos do tipo de
personalidade, com base no pensamento de Carl Jung e, posteriormente, ampliados pela
equipe mãe-e- lha, de Katharine Briggs e Isabel Briggs Myers, desenvolvedoras do método.
Além disso, se você for um dos 2,5 milhões de pessoas que a cada ano fazem o teste de
personalidade , a obra Os 16 tipos de personalidade e seus dons especí cos o ajudará a
alcançar uma compreensão mais profunda do seu próprio tipo e seu potencial de
desenvolvimento. Se você não fez o teste e deseja fazê-lo, entre em contato com um consultor
certi cado, consultor de carreira, psicólogo ou outro pro ssional quali cado em sua área. Se
você não conseguir encontrar uma referência por meio de alguém que você conheça e em que
con e, escreva para o National Board for Certi ed Counselors, em Greensboro, Carolina do
Norte.
PARTE I: T
C I: U
E stá na moda dizer que o indivíduo é único. Cada um de nós é o produto de sua própria
hereditariedade e ambiente e, portanto, é diferente de todos os outros. De um ponto de
vista prático, porém, a doutrina da individualidade não é útil sem um estudo de caso exaustivo
de cada pessoa a ser educada, aconselhada ou compreendida. Até o momento, nós não
podemos presumir, com segurança, que a mente de outras pessoas funciona de acordo com os
mesmos princípios que a nossa. Com demasiada freqüência, outras pessoas com quem
entramos em contato não raciocinam como raciocinamos, ou não valorizam as coisas que
valorizamos, ou não estão interessadas no que nos interessa.
O mérito da teoria apresentada aqui é que ela nos permite esperar diferenças especí cas de
personalidade em determinadas pessoas, assim como lidar com as pessoas e as diferenças de
maneira construtiva. Resumidamente, a teoria é que muitas variações aparentemente casuais
no comportamento humano não se devem ao acaso; são, na verdade, o resultado lógico de
algumas diferenças básicas e observáveis no funcionamento mental.
Essas diferenças básicas dizem respeito à maneira como as pessoas preferem usar suas
mentes, mais especi camente, a maneira como percebem e fazem julgamentos. Perceber é
aqui entendido de modo a incluir os processos de tornar-se consciente de coisas, pessoas,
ocorrências e idéias. Julgar inclui o processo de chegar a conclusões sobre o que foi percebido.
Juntos, a percepção e o julgamento, que compõem uma grande parte da totalidade da
atividade mental das pessoas, governam muito do seu comportamento externo, porque a
percepção — por de nição — determina o que as pessoas vêem em uma situação, e seu
julgamento determina o que elas decidem fazer a respeito. Assim, é razoável que diferenças
básicas na percepção ou julgamento resultem em diferenças correspondentes no
comportamento.
Assim que as crianças exercem uma preferência entre as duas formas de perceber, tem início
uma diferença básica no seu desenvolvimento. As crianças têm domínio su ciente de seus
processos mentais para poder usar os processos favoritos com mais freqüência e negligenciar
os processos de que menos gostam. Qualquer que seja o processo que pre ram, seja a
sensação ou a intuição, elas o usarão mais, prestando mais atenção ao seu uxo de impressões
e moldando sua idéia de mundo a partir do que o processo revela. O outro tipo de percepção
cará de fundo, um pouco fora de foco.
Assim, por uma sequência natural de eventos, a criança que prefere a sensação e a criança
que prefere a intuição se desenvolvem em linhas divergentes. Cada uma se torna relativamente
adulta em uma área onde a outra permanece relativamente infantil. Ambas canalizam seus
interesses e energias para atividades que lhes dão a chance de usar a mente da maneira que
preferem. Ambas adquirem um conjunto de traços super ciais que surgem das preferências
básicas abaixo. Esta é a preferência : para sensação e para intuição.
Essas duas maneiras de julgar também parecem auto-evidentes. A maioria das pessoas
concordaria que toma algumas decisões com o pensamento e outras com o sentimento, e que
os dois métodos nem sempre alcançam o mesmo resultado a partir de um determinado
conjunto de fatos. A teoria sugere que é quase certo que uma pessoa goste e con e em uma
forma de julgar mais do que na outra. Ao julgar as idéias apresentadas aqui, o leitor que
considera primeiro se elas são consistentes e lógicas está usando o julgamento do pensamento.
Um leitor que considera primeiramente se as idéias são agradáveis ou desagradáveis, apoiando
ou ameaçando idéias já valorizadas, está usando o julgamento de sentimento. Qualquer que
seja o processo de julgamento que uma criança pre ra, ela o usará com mais freqüência,
con ará mais nele implicitamente e estará muito mais pronta para o obedecer. O outro tipo de
julgamento será uma espécie de opinião minoritária, ouvida parcialmente, sendo muitas vezes
desconsiderada por completo.
Assim, a criança que prefere julgar por meio do pensamento se desenvolve em linhas
divergentes da criança que prefere julgar mediante o sentimento, mesmo quando ambas
gostam do mesmo processo perceptivo e partem das mesmas percepções. Ambas são mais
felizes e e cazes em atividades que exigem o tipo de julgamento para o qual estão mais bem
preparadas. A criança que prefere o sentimento torna-se mais adulta no manejo das relações
humanas. A criança que prefere o pensamento torna-se mais hábil na organização de fatos e
idéias. Sua preferência básica pela abordagem pessoal ou impessoal da vida resulta em traços
super ciais distintos. Esta é a preferência : para pensamento e para sentimento.
Qualquer que seja a combinação particular de preferências de uma pessoa, outras com a
mesma combinação tendem a ser as mais fáceis de entender e gostar. Elas tenderão a ter
interesses semelhantes, uma vez que compartilham o mesmo tipo de percepção, e a considerar
as mesmas coisas como importantes, pois compartilham o mesmo tipo de julgamento.
Por outro lado, as pessoas que diferem em ambas as preferências serão difíceis de entender e
difíceis de prever — com a exceção de que, em todas as questões discutíveis, elas
provavelmente assumirão posições opostas. Se essas pessoas opostas forem apenas conhecidas,
o con ito de pontos de vista pode não importar, mas se forem colegas de trabalho, associados
próximos ou membros da mesma família, a oposição constante pode ser uma tensão.
Muitos con itos destrutivos surgem simplesmente porque duas pessoas estão usando tipos
opostos de percepção e julgamento. Quando a origem de tal con ito é reconhecida, torna-se
menos irritante e mais fácil de lidar. Um con ito ainda mais destrutivo pode existir entre as
pessoas e seus empregos, quando o trabalho não faz uso da combinação natural de percepção
e julgamento do trabalhador, mas exige constantemente a combinação oposta.
Elas estão mais interessadas em fatos a respeito de pessoas do que em fatos sobre coisas e,
deste modo, tendem a ser sociáveis e amigáveis. Além disso, são mais propensas a ter sucesso e
car satisfeitas em um trabalho onde seu calor pessoal pode ser aplicado de forma e caz à
situação imediata, como em pediatria, enfermagem, ensino (especialmente infantil), trabalho
social, venda de bens tangíveis e trabalhos de “serviços em que seja preciso sorrir”.
s tendem a ser lógicos e engenhosos e são mais bem-sucedidos na resolução de problemas
em um campo de interesse especial, seja pesquisa cientí ca, computação eletrônica,
matemática, os aspectos mais complexos das nanças ou qualquer tipo de desenvolvimento ou
pioneirismo em áreas técnicas.
Todo mundo provavelmente já conheceu todos os quatro tipos de pessoas: pessoas , que
são práticas e objetivas; as simpáticas e amigáveis ; as , que se caracterizam por seu
entusiasmo e insight; e as , que são lógicas e engenhosas.
O cético pode perguntar como quatro categorias aparentemente básicas de pessoas poderiam
ter passado despercebidas no passado. A resposta é que as categorias foram notadas
repetidamente e por diferentes investigadores ou teóricos.
Vernon (1938) citou três sistemas de classi cação derivados de métodos diferentes, mas que
são surpreendentemente paralelos. Cada um re ete as combinações de percepção e
julgamento: urstone (1931), por meio da análise fatorial das pontuações de interesse
vocacional, encontrou quatro fatores principais correspondentes ao interesse nos negócios, nas
pessoas, na linguagem e na ciência; Gundlach e Gerum (1931), a partir da inspeção das
intercorrelações de interesse, deduziram cinco “tipos de habilidades” principais, a saber:
técnica, social, criativa e intelectual, com o acréscimo da habilidade física; Spranger (1928), a
partir de considerações lógicas e intuitivas, derivou seis “tipos de homens”, a saber:
econômico, social, religioso e teorético, com o acréscimo do estético e do político.
A preferência extroversão-introversão
Outra diferença básica no uso da percepção e do julgamento pelas pessoas surge do seu
relativo interesse pelos seus mundos externo e interno. A introversão, no sentido que Jung lhe
deu ao formular o termo e a idéia, é uma das duas orientações complementares em relação à
vida; seu complemento é a extroversão. Os principais interesses do introvertido estão no
mundo interior dos conceitos e idéias, enquanto o extrovertido está mais envolvido com o
mundo exterior das pessoas e coisas. Portanto, quando as circunstâncias permitem, o
introvertido concentra a percepção e o julgamento nas idéias, enquanto o extrovertido gosta
de direcioná-los ao ambiente externo.
Isto não quer dizer que alguém esteja limitado ao mundo interior ou exterior. Os
introvertidos bem desenvolvidos podem lidar habilmente com o mundo ao seu redor quando
necessário, mas fazem seu melhor trabalho dentro de suas cabeças, em re exão. Da mesma
forma, os extrovertidos bem desenvolvidos podem lidar e cazmente com idéias, mas fazem
seu melhor trabalho externamente, em ação. Para ambos os tipos, a preferência natural
permanece, como a preferência pelo uso da mão direita ou esquerda.
Por exemplo, alguns leitores, que gostariam de chegar às aplicações práticas dessa teoria,
estão olhando para ela do ponto de vista extrovertido. Outros leitores, que se interessam mais
pelo insight do que pelo que a teoria pode fornecer para a compreensão de si mesmos e da
natureza humana em geral, estão encarando-a do ponto de vista introvertido.
Entre as pessoas , os introvertidos () elaboram seus insights lenta e cuidadosamente,
buscando princípios eternos. Os extrovertidos () têm o desejo de se comunicar e colocar
suas inspirações em prática. Se os resultados dos extrovertidos são mais abrangentes, os dos
introvertidos podem ser mais profundos.
A preferência julgamento-percepção
Mais uma preferência entra na identi cação do tipo — a escolha entre a atitude perceptiva e
a atitude julgadora como um modo de vida, um método de lidar com o mundo ao nosso
redor. Embora as pessoas devam usar tanto a percepção quanto o julgamento, ambos não
podem ser usados ao mesmo tempo. Portanto, as pessoas vivem alternando entre as atitudes
perceptivas e julgadoras, às vezes de forma bastante abrupta, como quando um pai com uma
alta tolerância ao barulho das crianças subitamente decide que já basta.
Há momentos para perceber e momentos para julgar, e muitas vezes em que qualquer uma
das atitudes pode ser apropriada. A maioria das pessoas acha uma atitude mais confortável do
que a outra, sente-se mais à vontade com ela e a usa com a maior freqüência possível ao lidar
com o mundo externo. Por exemplo, alguns leitores ainda estão acompanhando esta
explicação com a mente aberta; eles estão, pelo menos por enquanto, usando a percepção.
Outros leitores já decidiram se concordam ou discordam; eles estão usando o julgamento.
Há uma oposição fundamental entre as duas atitudes. Para chegar a uma conclusão, as
pessoas que usam a atitude julgadora precisam desligar a percepção. Todas as evidências já
existem, e tudo o mais é irrelevante e imaterial. Está na hora de chegar a um veredito. Por
outro lado, na atitude perceptiva, as pessoas desligam o julgamento. Nem todas as evidências
foram apresentadas; novos desenvolvimentos ocorrerão. É muito cedo para fazer algo
irrevogável.
Essa preferência faz a diferença entre as pessoas julgadoras, que ordenam suas vidas, e as
pessoas perceptivas, que simplesmente as vivem. Ambas as atitudes têm mérito. Qualquer uma
delas pode ser um modo de vida satisfatório, se a pessoa puder mudar temporariamente para a
atitude oposta quando for realmente necessário.
Os indivíduos podem, assim, ser descritos, em parte, declarando suas quatro preferências,
como . Pode-se esperar que tal pessoa seja diferente das outras de maneiras
características de seu tipo. Descrever pessoas como s não infringe seu direito à
autodeterminação: elas já exerceram esse direito preferindo e e e . Identi car e lembrar
os tipos de pessoas mostra respeito não apenas pelo seu direito abstrato de se desenvolver
conforme as linhas de suas próprias escolhas, mas também pelas formas concretas como são e
preferem se diferenciar dos outros.
Da mesma forma, as pessoas precisam de alguma força governante em sua composição. Elas
precisam desenvolver seu melhor processo a ponto de dominar e uni car suas vidas. No curso
natural dos acontecimentos, cada pessoa faz exatamente isso.
Por exemplo, os s que acham a intuição mais interessante do que o pensamento
naturalmente darão prioridade à intuição e subordinarão o pensamento a ela. Sua intuição
adquire uma validade pessoal inquestionável que nenhum outro processo pode alcançar. Eles
gostarão, usarão e con arão mais nela. Suas vidas serão moldadas de forma a dar o máximo de
liberdade para a busca de objetivos intuitivos. Como a intuição é um processo perceptivo, os
s lidarão com o mundo pela atitude perceptiva, o que os torna s.
Eles consultarão seu julgamento, seu pensamento, apenas quando não entrarem em con ito
com sua intuição. Mesmo assim, eles o usarão apenas até certo ponto, dependendo de quão
bem desenvolvido ele está. Eles podem fazer bom uso do pensamento em busca de algo que
desejam por causa de sua intuição, mas os s não permitirão que o pensamento rejeite o
que estão buscando.
Por outro lado, os s que consideram o pensamento mais atraente do que a intuição
tenderão a deixar o pensamento tomar conta de suas vidas, deixando a intuição em segundo
lugar. O pensamento ditará os objetivos, e a intuição só poderá sugerir meios adequados para
alcançá-los. Como o processo que eles preferem é julgador, esses s lidarão com o mundo
pela atitude julgadora; logo, eles são s.
Da mesma forma, alguns s encontram mais satisfação no sentimento do que na sensação;
eles deixam que seus sentimentos tomem conta de suas vidas, colocando a sensação em
segundo lugar. O sentimento é então supremo e inquestionável. Em qualquer con ito com as
outras funções, o sentimento domina. A vida desses s será moldada para servir a seus
valores emocionais. Por causa da preferência pelo sentimento, um processo julgador, eles
lidarão com o mundo pela atitude julgadora. Eles são .
Os s prestarão atenção real à sua percepção, à sua sensação, apenas quando esta estiver
de acordo com o seu sentimento. Mesmo assim, eles a respeitarão apenas até certo ponto,
dependendo de quão bem a desenvolveram. Eles não reconhecerão dúvidas levantadas pelos
sentidos sobre algo valorizado pelo seu sentimento.
No entanto, outros s acham a sensação mais grati cante do que o sentimento e tenderão a
colocar a sensação em primeiro lugar e o sentimento em segundo lugar. Suas vidas serão
moldadas para servir a seus sentidos — para proporcionar um uxo de experiências que
forneçam algo interessante para ver, ouvir, saborear ou manipular. O sentimento poderá
contribuir, mas não interferir. Como a sensação, um processo perceptivo, é preferido, esses
s lidarão com o mundo pela atitude perceptiva e, portanto, são s.
Para os extrovertidos, o processo dominante está preocupado com o mundo exterior das
pessoas e coisas, ao passo que o processo auxiliar tem que cuidar de suas vidas interiores, sem
o que os extrovertidos seriam extremos na extroversão e, nas opiniões de seus companheiros
mais equilibrados, super ciais.
Se as pessoas não percebem que há um general na tenda que supera de longe o ajudante que
encontraram, elas podem facilmente presumir que o ajudante é o único responsável. Este é um
erro lamentável. Isso leva não apenas a uma subestimação das habilidades do introvertido,
mas também a uma compreensão incompleta de seus desejos, planos e pontos de vista. A
única fonte para tal informação privilegiada é o general.
Uma precaução fundamental ao lidar com introvertidos, portanto, é não presumir, apenas
pelo contato comum, que eles revelaram o que realmente importa para eles. Sempre que
houver uma decisão a ser tomada que envolva introvertidos, eles devem ser informados sobre
isso da maneira mais completa possível. Se o assunto for importante para eles, o general sairá
da tenda e revelará uma série de novidades, e a decisão nal terá mais chances de ser acertada.
A preferência pode ser usada para determinar o processo dominante, mas deve ser usada
de forma diferente com extrovertidos e introvertidos. O re ete apenas o processo usado
para lidar com o mundo exterior.
Extrovertido Introvertido
Extrovertido Introvertido
A abordagem de Jung tem vários efeitos indesejados. Ao ignorar o auxiliar, ele ignora as
combinações de percepção e julgamento e suas amplas áreas de interesse para os negócios, as
pessoas, a linguagem e a ciência. Os resultados dessas combinações — as formas cotidianas
nas quais os tipos são encontrados — são descartados em sete linhas da página 515 (ver
página 45 deste livro). Deste modo, outros pesquisadores, que reinventaram as categorias sob
diferentes nomes, desconheciam os paralelos entre suas descobertas e as teorias de Jung.
Outra conseqüência importante de ignorar o processo auxiliar se nota na distorção das
descrições feitas dos tipos individuais introvertidos. Estes tipos dependem do auxiliar para sua
extroversão, ou seja, para suas personalidades exteriores, sua comunicação com o mundo e
seus meios de ação. Retratá-los sem auxiliares é retratá-los sem extroversão — incapazes de se
comunicar, de usar seus insights ou de causar qualquer impacto no mundo exterior.
Em vista do profundo apreço de Jung pelo valor dos introvertidos, é irônico que ele deixe
que sua paixão pela abstração o traia e o leve a se concentrar em casos de introversão “pura”,
não apenas descrevendo pessoas sem extroversão alguma, mas, aparentemente, apresentando-
as como formas típicas dos introvertidos em geral. Deixando de considerar que os
introvertidos com um bom auxiliar são efetivos e desempenham um papel indispensável no
mundo, Jung abre a porta para um mal-entendido generalizado de sua teoria. Muitas pessoas a
entenderam tão mal que consideraram a diferença básica entre extrovertidos e introvertidos
como uma diferença de ajuste em vez de uma escolha legítima de orientação.
Poucos dos leitores de Jung parecem ter percebido que suas concepções tipológicas tinham
relação com os problemas cotidianos familiares à tarefa de educar as pessoas, aconselhá-las,
empregá-las, comunicar-se com elas, assim como viver em uma mesma família. Por décadas,
portanto, a utilidade prática de sua teoria não foi explorada.
● Nas descrições anteriores, não pretendi dar aos meus leitores a impressão de que esses
tipos puros ocorrem freqüentemente na realidade.1
● A experiência mostra que o processo secundário é sempre aquele cuja natureza é diferente,
embora não antagônica, do processo principal. Assim, por exemplo, o pensamento, como
processo primário, pode ser facilmente combinado com a intuição enquanto auxiliar, ou, de
fato, pode se combinar igualmente bem com a sensação, mas... nunca com o sentimento.3
Resultado das combinações entre percepção e julgamento
Conseqüentemente, quase nenhum dos seus seguidores, exceto Van der Hoop, parece
entender o princípio envolvido. Com efeito, eles supõem que as duas funções mais
desenvolvidas são usadas na esfera principal (tanto extrovertidos quanto introvertidos) e que a
outra esfera é deixada à mercê das duas funções inferiores. Jung escreve:
Para todos os tipos que aparecem na prática, o princípio é que, além do processo principal consciente, há também um
processo auxiliar relativamente inconsciente, que, em todos os seus aspectos, é diferente da natureza do processo
principal.5
A parte central do trecho acima é a a rmação “em todos os seus aspectos”. Se o processo
auxiliar for diferente do processo dominante em todos os aspectos, ele não poderá ser
introvertido quando o processo dominante for introvertido. Pelo contrário, ele deverá ser
extrovertido se o processo dominante for introvertido e introvertido se o processo dominante
for extrovertido.6 Esta interpretação é con rmada por Jung em dois outros trechos, o primeiro
sobre o pensador introvertido e o segundo sobre o extrovertido.
As funções relativamente inconscientes de sentimento, intuição e sensação, que equilibram o pensamento introvertido,
são qualitativamente inferiores, com um caráter primitivo e extrovertido.7
Quando o mecanismo da extroversão predomina […], o processo com maior diferenciação tem uma aplicação contínua
de extroversão, enquanto as funções inferiores são colocadas a serviço da introversão.8
Os 16 tipos resultantes
Quando o processo auxiliar é levado em consideração, os tipos de Jung se dividem em dois.
No lugar do simples pensador introvertido, há o pensador introvertido com sensação e o
pensador introvertido com intuição. Desta forma, há 16 tipos no lugar dos oito de Jung.
Dezesseis seria um número difícil de manter em mente se os tipos fossem categorias
arbitrárias e não-relacionadas, mas cada um é o resultado lógico de suas próprias preferências
e está intimamente relacionado aos outros tipos que compartilham algumas das mesmas
preferências. (As relações podem ser visualizadas de forma lógica e fácil com o conhecimento
da Tabela de Tipos no Capítulo , Figura 2).
Na tentativa de determinar o tipo de uma pessoa por meio da observação, não é necessário
considerar todas as 16 possibilidades ao mesmo tempo. Qualquer preferência que pareça ser
razoavelmente certa reduzirá as possibilidades pela metade. Por exemplo, qualquer
introvertido pertence a um dos oito tipos de introvertidos. Se for um introvertido intuitivo, ele
pertencerá a um dos quatro tipos . Se essa pessoa preferir o pensamento ao sentimento, o
tipo será ainda mais re nado para . Na etapa nal, a identi cação do processo dominante
dependerá da preferência .
Em vez disso, Jung divide os tipos em racionais e irracionais; os tipos “racionais” são aqueles
cujo processo dominante é o pensamento ou o sentimento, e os “irracionais” são aqueles cujo
processo dominante é a sensação ou a intuição. Esta distinção é de pouca utilidade prática
para determinar o tipo de uma pessoa. A racionalidade do tipo sentimental introvertido, por
exemplo, é muito interior e sutil para o observador perceber com alguma certeza, ou mesmo
para o sujeito descrever. É mais seguro depender de reações relativamente simples e acessíveis.
Quando a teoria de Jung foi publicada em 1923, Katharine percebeu que ia muito além da
sua própria e a estudou intensivamente. Juntando os trechos citados anteriormente neste
capítulo, ela os interpretou como signi cando que o processo auxiliar dirige a vida exterior do
introvertido. Ela olhou para a vida exterior de seus amigos “meditativos” para ver se isso era
verdade e concluiu que sim.
Sua própria compreensão dos tipos “espontâneos” a preparou para reconhecer a atitude
perceptiva e a atitude julgadora — e o fato de que elas formam um quarto par de opostos. A
inclusão da preferência junto das outras preferências, , e , completou o sistema. As
análises que ela elaborou naquela época — resumindo os efeitos de cada uma dessas quatro
preferências — forneceram, muito tempo depois, a chave para a determinação prática do
tipo.10
Uma vez que os aspectos mais super ciais do tipo costumam ser os mais fáceis de descrever,
muitas reações triviais são úteis para a identi cação, mas essas são apenas minúcias para
mostrar em que direção o vento sopra. Elas não são o vento. Seria um erro supor que a
essência de uma atitude ou de um processo perceptivo ou de julgamento é de nida por seus
efeitos super ciais triviais ou pelos itens de teste que a re etem ou pelas palavras usadas para
descrevê-la. A essência de cada uma das quatro preferências é uma realidade observável.
É fácil para as pessoas perceberem que há a escolha entre dois mundos nos quais podem
concentrar seu interesse. Um é um mundo externo onde as coisas acontecem fora dos
indivíduos ou “sem” eles, em ambos os sentidos da palavra, e o outro é um mundo interno
onde a atividade está dentro da mente do indivíduo, de modo que o indivíduo é uma parte
inseparável de tudo o que acontece.
Ficará evidente para as pessoas também, embora talvez mais claramente quando aplicado
aos outros do que a si mesmas, que elas podem escolher entre duas atitudes ao lidar com o
mundo exterior. Podem percebê-lo sem nenhuma inclinação para julgá-lo no momento, ou
podem julgá-lo sem fazer nenhum esforço adicional de percepção.
Quando as pessoas consideram seus próprios processos mentais, ca evidente que mais de
um tipo de percepção é possível. As pessoas certamente não estão limitadas ao relato direto de
seus sentidos. Através das mensagens sutis da intuição, as pessoas também podem se tornar
conscientes do que as coisas poderiam ser ou do que pode ser feito.
Finalmente, as pessoas podem ver, pelo menos nos outros, que existem dois tipos de
julgamento, um por meio do pensamento e outro por meio do sentimento. Todo mundo
conhece os dois diariamente, às vezes usados adequadamente e às vezes não.
A existência dos opostos não é, portanto, nada novo, como o próprio Jung aponta. Eles são
de conhecimento comum, uma vez que as pessoas param para pensar sobre eles. A
di culdade, observa Jung, é que eles parecem muito diferentes para diferentes tipos. Pessoas
de cada tipo experimentam os opostos à sua maneira. Mesmo com conhecimento “perfeito” de
todos os 16 pontos de vista, ainda seria impossível de nir os opostos em termos que
satis zessem a todos. No entanto, quando as pessoas renunciam a de nições formais e, em vez
disso, consultam a realidade de suas próprias experiências, podem concordar que em cada
uma das quatro áreas mencionadas há uma escolha de opostos que pode ser experimentada,
como quer que as dicotomias sejam de nidas.
O novo insight pelo qual Jung sintetizou esse conhecimento foi o reconhecimento de que
uma escolha inicial entre esses opostos básicos determina a linha de desenvolvimento da
percepção e do julgamento da pessoa e, portanto, tem profundas consequências no campo da
personalidade. Essa idéia magní ca torna possível uma explicação coerente para uma
variedade de diferenças humanas simples, para complexidades de personalidade e para
satisfações e motivações amplamente diferentes. Também sugere uma nova dimensão
importante na compreensão do desenvolvimento dos jovens.
Jung viu sua teoria como uma ajuda para a autocompreensão, mas a aplicação da teoria
(como a própria teoria em si mesma) se estende para além do ponto em que Jung se contentou
em parar. Os conceitos dos tipos lançam luz sobre a maneira como os indivíduos percebem e
julgam e sobre as coisas que mais valorizam; os conceitos dos tipos são, portanto, úteis sempre
que uma pessoa deve se comunicar ou viver com outra, ou tomar decisões que afetam outra
vida humana que não a sua.
PARTE II: E
C III: T
C omo as pessoas de cada tipo devem experimentar os opostos à sua
própria maneira, os leitores naturalmente verão a teoria dos tipos e
as consequências reais das preferências de seus próprios pontos de
vista à luz das preferências às quais eles próprios se habituam. As
discussões nos capítulos seguintes e as estatísticas que os leitores
podem coletar signi carão muito mais para eles depois que eles
tiverem visto os tipos por si mesmos.
O obstáculo óbvio é que existem 16 tipos, que são muitos para serem
lembrados pela memória bruta. Suas qualidades distintivas podem ser
vistas melhor por comparação e contraste. A maneira mais fácil de
lembrar o que é lido e observado sobre cada tipo é preencher uma
“Tabela de Tipos” com familiares e amigos.
Por outro lado, quando uma amostra de nida por ocupação, diploma
universitário, escolaridade, ou qualquer propensão é distribuída em
uma Tabela de Tipos, uma concentração em uma área da tabela pode
apontar novos fatos sobre os tipos naquela área.
Para identi car tipos e grupos de tipos, as letras são mais precisas e
convenientes do que as palavras. Um grupo de tipos com uma ou mais
preferências em comum pode ser de nido precisamente pela(s)
letra(s) comum(s), disposta(s) em ordem padrão, com travessões onde
as letras não são adjacentes.
Neste livro, uma designação de tipo deve ser tomada em seu sentido
mais amplo. Os oito tipos na metade esquerda da Tabela de Tipos são,
portanto, todos tipos sensitivos, e os oito tipos na metade direita são
todos intuitivos.
Freud Jung
Darwin Einstein
Roosevelt (ambos, Lincoln
eodore e Franklin
Delano)
C V: E
Eles podem até querer dedicar sua vida a trabalhar lidando com
números. Os tipos sensitivos são sólidos e precisos e gostam de
exatidão, então eles são bons contadores, administradores de folha de
pagamento, navegadores e estatísticos.
Para que a criança sensitiva exerça seu dom especial de realismo, ela
deve ter acesso aos fatos e tempo para assimilá-los. Enquanto as
crianças intuitivas gostam de aprender por insight, as crianças
sensitivas preferem aprender por familiarização. Os tipos sensitivos
têm maior probabilidade de brilhar em cursos que envolvem muitos
fatos sólidos, como história, geogra a, educação cívica ou biologia.
Eles estão em desvantagem correspondente em assuntos baseados em
princípios gerais. Freqüentemente, o problema pode ser simplesmente
que o professor foi muito breve e abstrato ao referir-se aos princípios e
passou por eles tão rapidamente que os alunos sensitivos não tiveram
tempo de relacioná-los aos fatos. A física, por exemplo, pode ser um
pesadelo para os de mente concreta.
Desejando Desejando
principalmente principalmente
possuir e desfrutar, e oportunidades e
sendo muito possibilidades, e sendo
observadores, eles são muito imaginativos, eles
imitativos, querendo são inventivos e originais,
ter o que outras bastante indiferentes em
pessoas têm e fazer o relação ao que outras
que outras pessoas pessoas têm e fazem, e
fazem, e são muito são muito independentes
dependentes de seu de seu ambiente físico.
ambiente físico.
Tipos sensitivos Tipos intuitivos
É determinado É determinado
principalmente pelo fator principalmente pelo
objetivo e serve para fator subjetivo e serve
fazer o indivíduo se de guia para a
sentir corretamente, isto aceitação ou rejeição
é, convencionalmente, emocional de vários
em todas as aspectos da vida.
circunstâncias.
Ambos são caracterizados pela expectativa habitual; ambos têm compreensão rápida.
Cada uma das descrições a seguir trata de dois tipos que diferem
apenas na escolha do processo auxiliar. A primeira descrição considera
os dois tipos de pensamento extrovertido, e , no que eles têm
em comum e nas maneiras pelas quais se diferenciam. A próxima
descrição lida com os dois tipos de pensamento introvertido, e
, da mesma forma. Em seguida, são discutidos tipos de
sentimento extrovertido e introvertido, tipos de sensação extrovertida
e introvertida e intuitivos extrovertidos e introvertidos.
Como esperado, a maior semelhança entre um tipo extrovertido e um
tipo introvertido ocorre quando os dois tipos diferem apenas na
preferência . Eles terão então a mesma combinação de percepção e
julgamento, e suas vidas exteriores serão moldadas pelo mesmo
processo extrovertido. As semelhanças tendem a ser mais marcantes
na vida diária e menos marcantes quando algo muito importante está
em questão e o processo dominante do introvertido assume o controle.
O lado da sombra
As descrições são projetadas para se aplicar a cada tipo no seu
melhor, como exempli cado por pessoas normais, bem equilibradas,
bem ajustadas, felizes e e cazes. Portanto, a descrição básica pressupõe
um bom desenvolvimento das funções dominante e auxiliar. Na
verdade, os tipos vêm em estados de desenvolvimento amplamente
diferentes. Se o processo auxiliar não estiver desenvolvido, a pessoa
não terá equilíbrio entre julgamento e percepção, e também entre
extroversão e introversão. Se o processo dominante também estiver
subdesenvolvido, não restará muito do tipo, exceto suas fraquezas.
Nesse contexto, qualquer sugestão pode ser feita com mais graça do
que seria o caso. Todos gostam de ser tratados com delicadeza, mas
isso é especialmente importante com subordinados, que não podem
lutar por seus próprios pontos de vista, e com lhos, maridos e
esposas, que só podem fazê-lo à custa da paz familiar.
O contraste entre o real e o ideal pesa mais sobre os s, que estão
mais conscientes do estado atual das coisas, do que sobre os s,
cuja intuição sugere caminhos esperançosos de melhoria. Os s
também são mais propensos a sofrer uma conseqüente falta de auto-
con ança. Para ambos, o contraste oferece um problema mais agudo
do que para os outros tipos. A solução vem com o uso sincero da
percepção e compreensão como um modo de vida. Como este é o
modo de adaptação ao mundo destinado a eles, devem ter nele uma fé
adequada, trabalhar nisso e ser capazes de usá-la tanto nas
di culdades externas quanto nas internas. Con ando na percepção,
eles nem mesmo tentam abrir caminho através de um obstáculo; eles
“vêem” seu caminho através dele. Se eles encontrarem descon ança,
indiferença ou antagonismo, o que pode bloquear seus esforços
externos ou ameaçar sua paz interior, freqüentemente realizarão, por
meio da compreensão, o que nunca poderia ser alcançado por um
ataque frontal decisivo. Esopo contou sobre um viajante que tirou sua
capa sob os raios do sol, depois que os mais ferozes esforços do vento
não conseguiram arrancá-la dele. A maioria das pessoas descongela no
calor da compreensão genuína e acrítica.
Os s geralmentetêmumdomparaalinguagem.
Aturmadoúltimoano do ensino médio que foi analisada durante a
validação inicial do Indicador de Tipo incluía quatro mulheres .
Uma delas era a editora da revista da escola e foi eleita pela turma
como a aluna com “maior probabilidade de sucesso”. Uma delas era
editora do anuário, editora literária da revista e oradora da turma. A
terceira ganhou uma bolsa aberta de quatro anos e tornou-se editora
do jornal da faculdade. A quarta, que tinha a mesma combinação de
imaginação e linguagem, mas menos habilidade para usá-la no mundo
exterior, escreveu uma poesia assombrosa na qual falava pelos
“sonhadores” que “vagam pelos horizontes dos vivos”.
Seu prazer e absorção dos fatos é uma função essencial, parte de sua
curiosidade vigorosa. Um tipo sensitivo extrovertido escreveu para
mim: “É verdade que tenho na minha cabeça um volume tremendo de
fatos sobre assuntos sem nenhuma relação uns com os outros e estou
sempre interessado em saber mais”. Como outros tipos , os s e
s são curiosos sobre qualquer coisa nova que é apresentada
diretamente aos seus sentidos — novos alimentos, paisagens, pessoas,
atividades, objetos, dispositivos ou artifícios. No entanto, coisas novas
que não podem ser apreendidas pelos sentidos — idéias abstratas,
teorias etc. — parecem menos reais e muito menos aceitáveis: qualquer
coisa misteriosa é bastante desagradável, pois mina a segurança de um
mundo factual. Uma nova idéia nunca é totalmente apreciada ou
con ável até que haja tempo para dominá-la e xá-la rmemente em
uma estrutura de fatos sólidos.
Portanto, os tipos sensitivos extrovertidos são melhores em lidar com
variações do conhecido e familiar, ao invés de lidar com o que é
inteiramente novo. Seu ponto forte é o manejo impecável das coisas e
situações, de preferência temperadas com alguma variedade.
No lado pessoal, esses tipos são fortes na arte de viver. Eles valorizam
os bens materiais e dedicam tempo para adquiri-los, cuidar deles e
desfrutá-los. Eles valorizam muito o prazer concreto, desde boa
comida e boas roupas até música, arte, as belezas da natureza e todos
os produtos da indústria do entretenimento. Mesmo sem essas ajudas,
eles se divertem muito com a vida, o que os torna uma companhia
divertida. Eles gostam de exercícios físicos e esportes, sendo,
geralmente, bons nisto; se não, eles são bons torcedores para aqueles
que o são.
Na escola, eles não têm grande consideração pelos livros como uma
preparação para a vida ou como um substituto para a experiência em
primeira mão. A maior parte de seus estudos é trabalho de memória;
embora essa técnica seja su ciente em alguns cursos, não é su ciente
em física e matemática, nas quais os princípios devem ser
compreendidos.
Junto com suas virtudes sólidas e evidentes, elas têm uma qualidade
estranha e encantadora que pode não ser aparente até que sejam muito
bem conhecidas. Suas impressões sensoriais causam uma vívida reação
privada à essência da coisa sentida. A reação é própria e imprevisível.
É impossível saber que associações engraçadas e inesperadas de idéias
ocorrem por trás de sua calma externa. Somente quando estão “de
folga” — relaxando da extroversão, da responsabilidade e da atitude de
julgamento — eles dão expressão espontânea a essa percepção interior.
Neste momento, podem dizer o que lhes vem à mente e dar aos outros
um vislumbre de suas percepções e associações, que podem ser
absurdas, irreverentes, comoventes ou hilárias, mas nunca previsíveis,
porque sua maneira de sentir a vida é intensamente individual.20
Este é um bom tipo para contadores. Também parece ser ideal para
datilógrafos. O chefe de um departamento central de datilogra a
selecionou três operadores como tendo o temperamento perfeito para
o trabalho; eles foram escolhidos por sua precisão, continuidade,
concentração e capacidade de se contentar sem socializar no trabalho.
Todas as três eram mulheres bem marcadas, embora
aparentemente apenas cerca de uma mulher em vinte e três pertença a
esse tipo.21
• São incansáveis no que lhes interessa, mas acham difícil fazer outras
coisas.
• Odeiam rotina.
Segue-se que essas pessoas não podem ser coagidas com sucesso. Elas
nem chegarão a ouvir nada sem sua própria permissão, mas aceitarão
uma oferta de fatos, opiniões ou teorias para livre consideração. Neste
sentido, o reconhecimento do que é verdadeiro deve ser con ado à
excelência de sua compreensão.
Quando a boa vontade é escassa, o con ito dos opostos pode ser
sério. A teoria dos tipos é informalmente con rmada pela di culdade
que os tipos opostos têm em se dar bem uns com os outros e pela
economia de atrito que muitas vezes resulta quando eles entendem a
base de sua oposição.
Por mais lógicos que tentem ser, os tipos sentimentais nunca são
lógicos o su ciente para estimar o custo total de algo que os atrai. Eles
se bene ciarão ao consultar um pensador genuíno e ouvir o pior. O
pensador deve considerar genuinamente os méritos da proposta, e
ambos podem proceder com proveito mútuo.
As conclusões que podem ser tiradas do estudo desses 375 casais são,
necessariamente, provisórias. Os sujeitos eram principalmente pessoas
com graduação universitária ou pais de estudantes universitários. Eles
eram voluntários, com idades variando de 17 a 85 anos. A maioria dos
casamentos ocorreu entre 1910 e 1950, e todos os participantes, exceto
alguns dos mais jovens, zeram o Indicador de Tipo após o casamento.
Jung diz que os atos da sombra de uma pessoa não devem ser
tomados como atos da pessoa. Obviamente, esta é uma injunção difícil
de obedecer, mas é importante em um casamento. Se o
comportamento da sombra de uma pessoa for levado em conta, o
parceiro pode não apenas se sentir ferido e ressentido, mas o
ressentimento pode ativar a própria sombra do parceiro; em sério
detrimento do relacionamento, pode ocorrer uma amarga
recriminação — não entre os parceiros, mas entre suas sombras.
Muitas das críticas dos pensadores não são feitas com a expectativa
de produzir mudanças. Elas são apenas jogadas fora ao passar de um
pensamento para outro. Mesmo que os pensadores tenham
consciência de sua tendência crítica e a refrêem discretamente em seus
horários de trabalho e contatos sociais, eles (especialmente os )
sentirão que em casa têm direito a desabafar, com força, de maneira
pitoresca e com o exagero característico dos para o bem da ênfase.
Entre os alvos de suas críticas casuais podem estar os amigos, parentes,
a religião, a política, as opiniões sobre qualquer assunto do tipo
sentimental, ou apenas algo contado com a intenção de divertir o
pensador; e, dessa forma exagerada, as críticas não serão verdadeiras.
O parceiro sentimental freqüentemente se sentirá tentado a defender
algo ou alguém contra essa severidade indevida. A tentação deve ser
fortemente resistida.
• As coisas têm que ser feitas. Ou elas têm que ser cultivadas, criadas
ou pescadas no mar ou desenterradas da terra. Aqui está o conceito de
esforço humano como a mola-mestra da civilização.
• As coisas têm de ser pagas. Quando as pessoas querem algo que não
podem fazer ou não querem fazer por si mesmas, elas devem obtê-lo
de outra pessoa e pagar por isso. Para ganhar o dinheiro para pagar
por isso, devem fazer algo útil que outras pessoas queiram e estejam
dispostas a pagar. Aqui está o conceito de comércio e o conceito de
dinheiro como meio de troca.
Um bom começo nos princípios mecânicos pode ser feito por meio
das antigas “máquinas simples”. Cada uma, à sua maneira, permite que
as pessoas façam um trabalho que está realmente além de suas forças,
e o faz pelo dispositivo de estender o esforço por um tempo ou espaço
prolongado. Os princípios subjacentes de alavanca, roda e eixo, polia,
parafuso, cunha e plano inclinado podem ser apontados em coisas
familiares. Por exemplo, o princípio da alavanca é demonstrado
quando a criança desliza até a ponta de uma gangorra para equilibrar
um companheiro mais pesado, ou quando uma criança abre uma
tesoura mais do que o normal para cortar algo grosso.
Algumas crianças, que não têm a sorte de freqüentar tais escolas, não
descobrem os princípios da leitura sozinhas ou com a ajuda dos pais.
Espera-se que adquiram um vocabulário de “palavras visuais” antes de
aprender a pronunciar palavras. Essas crianças confundem suas
mentes com falsas suposições: que não há uma boa explicação de
como ler, ou certamente o professor a teria dado; que um leitor deve
encontrar uma maneira de lembrar cada palavra separada — uma
tarefa que ca mais difícil quanto mais se lê; e que não há como ter
certeza do que é uma palavra até que o professor a diga. Eles aprendem
pelo método word-attack, ou seja, identi cam uma palavra por sua
forma geral ou por seu lugar em uma página familiar ou lembrando o
que vem a seguir na história ou olhando a gura mais próxima.
Nenhuma dessas técnicas improvisadas é con ável na leitura real de
material novo. Elas apenas obscurecem o problema real e sua solução.
O verdadeiro problema é que a criança que não aprende a traduzir as
letras em sons só consegue “ler” de memória e não tem como lidar
com novas palavras.
Por exemplo, a mulher que achava que tinha que ler todas as
perguntas do teste três ou quatro vezes (ver p. 92) foi desa ada por
colegas de trabalho a fazer uma forma paralela do teste que ela havia
feito ao se candidatar ao emprego, mas dessa vez ela deveria ler cada
pergunta apenas uma vez. Embora ela tenha concordado com
relutância, sua segunda pontuação de foi 10 pontos mais alta do que
a primeira.
A outra opção me foi indicada aos quatro anos, em uma conversa que
recordo palavra por palavra:
antes do
Exceto depois do
Ou quando soa como aye
Como em neighbor ou weigh.
s também concentram sua atenção nos fatos, mas lidam com eles
com cordialidade pessoal. Eles tendem a ser simpáticos e amigáveis, e
gostam de ocupações que fornecem ajuda prática e serviço para as
pessoas. Na amostra de vendas e relacionamento com o cliente, 81%
eram , e entre os estudantes de enfermagem e educação, os
representavam 44% e 42%, respectivamente. s se saem bem em
especialidades médicas envolvendo atenção primária, pro ssões
relacionadas à saúde, serviços comunitários, educação (especialmente
elementar) e educação física. Mas entre os estudantes de direito,
aconselhamento e ciências, os s representavam apenas 10%, 9% e
5%.
A anestesiologia fez seu apelo mais forte aos e ; sua aguda
vigilância é reforçada pela capacidade do introvertido de se
concentrar por um longo tempo. A anestesiologia não atrai os outros
tipos de , e , talvez porque sua extroversão tende a
encurtar seu tempo de atenção.
Figura 36 Atração de especialidades para cada tipo
Ela estava certa, mas como poderia saber? Ela deve ter olhado para as
quatro letras daquele tipo, selecionado, da breve explicação, as
características marcantes associadas a cada letra, e as reunido em um
retrato reconhecível: atenção voltada para o mundo exterior; respeito
pelos fatos e capacidade de detalhamento; julgamentos baseados em
causa e efeito; e decisão imediata — administradores.
Embora o processo favorito possa ser útil por si só, sozinho não será
saudável, seguro para a sociedade ou, em última análise, satisfatório
para o indivíduo, porque carece de equilíbrio.
Portanto, das duas funções hábeis, uma deve ser o “general” e a outra
deve ser o “ajudante”, atendendo a assuntos menores, mas necessários,
que o general deixa de fazer (ver pp. 38–40). Se o general tem uma
natureza julgadora, o ajudante deve fornecer a percepção como base
para o julgamento, mas o ajudante de um general perceptivo precisa
fornecer decisões para implementar a visão do general. O ajudante de
um extrovertido deve fazer a maior parte da re exão, enquanto o
ajudante de um introvertido terá que agir.
Em julgadores extrovertidos
Em perceptivos extrovertidos
Em introvertidos
Pressões do ambiente
Os melhores exemplos de desenvolvimento de tipo resultam quando
o ambiente imediato das crianças encoraja suas capacidades inatas. No
entanto, quando um ambiente totalmente con itante com suas
capacidades força as crianças a depender de funções ou atitudes não-
naturais, o resultado é uma falsi cação de tipo, que rouba suas vítimas
de seus verdadeiros eus e as transforma em cópias inferiores e
frustradas de outras pessoas. Quanto maiores as possibilidades
originais, maior a frustração e a tensão da insatisfação. Jung diz que
“como regra, sempre que tal falsi cação tipológica ocorre como
resultado de in uência externa, o indivíduo torna-se neurótico mais
tarde... muitas vezes provocando um estado agudo de exaustão”.35
Falta de oportunidade
Um obstáculo mais óbvio ao desenvolvimento é a simples falta de
oportunidade de exercer as funções ou atitudes mais favoráveis. Sem
saber, os pais freqüentemente recusam aos lhos as condições
necessárias para um bom desenvolvimento do tipo: os jovens
introvertidos que não têm paz ou privacidade, os extrovertidos
desligados das pessoas e da atividade, os intuitivos amarrados a
questões rotineiras factuais, as crianças sensitivas das quais se exige
que aprendam tudo por meio de palavras sem nada para ver ou
manusear, os jovens pensadores que nunca recebem uma razão ou
oportunidade para discussão, os tipos sentimentais em uma família
onde ninguém se importa com a harmonia, os tipos julgadores para
quem todas as decisões são proferidas por um pai excessivamente
decisivo, e os jovens perceptivos que nunca têm permissão para correr
e descobrir.
Falta de incentivo
A falta de incentivo muitas vezes restringe o desenvolvimento do
tipo. O crescimento é um processo de expansão, e as crianças não
expandem sua percepção ou seu julgamento até que tentem fazer algo
bem.
Dez anos atrás, eu estava menos con ante. Se este livro tivesse sido
publicado naquela época, teria terminado com o capítulo anterior e
poderia ter dado a impressão de que o desenvolvimento do tipo segue
um cronograma e deve ser alcançado em uma determinada idade ou
não. Não creio agora que isso seja verdade. O desenvolvimento de um
bom tipo pode ser alcançado em qualquer idade por qualquer pessoa
que se preocupe em entender seus próprios dons e o uso apropriado
desses dons.
Uso da percepção
Uso do julgamento
Se o grupo for composto por tipos muito diferentes, será mais difícil
chegar a um acordo do que se o grupo fosse homogêneo, mas a
decisão terá uma base muito mais ampla e cuidadosamente
considerada e, portanto, correrá menos risco de dar errado por algum
motivo imprevisto.
Algumas etapas deste exercício são mais fáceis do que outras. Aquelas
que usam suas melhores funções são divertidas. As outras podem ser
difíceis no início, porque exigem pontos fortes de tipos muito
diferentes do seu, e esses são pontos fortes nos quais você tem
relativamente pouca prática. Quando o problema é importante, você
pode querer consultar alguém para quem esses pontos fortes vêm
naturalmente, porque ele ou ela pode ter uma visão totalmente
diferente da situação e pode ajudá-lo a entender e usar o seu lado
oposto negligenciado.
Uma boa maneira de começar a busca por uma carreira é olhar para
as ocupações que mais atraem as pessoas cuja percepção e julgamento
mais apreciados são os mesmos que os seus (ver o Capítulo ). Não
descarte outros campos; se você se sentir atraído por um campo
impopular para o seu tipo, poderá se mostrar valioso como fornecedor
de habilidades complementares e defensor das mudanças que precisam
ser feitas. Tenha em mente, no entanto, que se a maioria das pessoas
nessa ocupação for oposta a você tanto no processo de percepção
quanto no de julgamento, é improvável que elas lhe dêem muito apoio;
você precisará entender seus tipos e se comunicar cuidadosamente
quando precisar de sua cooperação.
Temos dons diferentes, segundo a graça que nos foi dada; quem tem
o dom da profecia, use-o segundo a regra da fé; quem tem o
ministério, exerça o ministério; quem tem o dom de ensinar, ensine;
quem tem o de exortar, exorte [...]. (Rm 12, 4−8)
B
, . . Myers-Briggs Type Indicator preferences as a
differentiating factor in skill acquisition during short-term counseling
training. 1975. [Livro não publicado].
Isabel leu muito durante toda a sua vida. Ela adorava escrever e
começou sua própria carreira como escritora aos 14 anos, com “A
Little Girl’s Letter”, publicada no Ladies Home Journal. Ela publicou
várias histórias e poemas na década seguinte. Isabel entrou no
Swarthmore College em 1915 e formou-se com as mais altas honras
quatro anos depois. Foi aqui que ela conheceu e se casou com Clarence
G. Myers (conhecido como Chief).
Com o pai, Isabel Myers aprendera que uma das coisas mais
emocionantes da vida é descobrir algo que ainda não se sabe ou fazer
algo que ainda não foi feito. E com a educação não-convencional que
recebeu de sua mãe, ela aprendeu que não é preciso treinamento
formal para atingir uma meta — quando necessário, sempre há livros e
recursos à mão. Assim, ela começou a trabalhar seriamente para
expandir as idéias junguianas de tipo que sua mãe discretamente vinha
estudando havia duas décadas.
6 Van der Hoop (que inclui os efeitos do auxiliar em suas descrições dos tipos) levanta este
ponto explicitamente: “O processo subsidiário freqüentemente tende a controlar a adaptação na
direção para a qual o processo dominante não está orientado. Por exemplo, um introvertido do
tipo pensador empregará seu instinto [sensação] ou sua intuição particularmente para ns de
ajuste externo. Ou um intuitivo extrovertido buscará contato com o mundo interior por meio
do pensamento ou do sentimento” (hoop, 1939, p. 93).
8 Carl Gustav Jung, 1923, p. 426. As traduções revisadas dessas passagens citadas podem ser
encontradas na Bolligen Series xx, v. 6 (jung, 1971, pp. 405, 406, 387 e 340).
9 “Sensorial” também tem conotações distrativas que foram evitadas pelo uso da forma mais
curta “sensação”, e “processo” foi usado em vez de “função”, de modo que os processos mentais
de percepção e julgamento podem ser discutidos em qualquer nível sem a distração de um
termo menos familiar.
12 Em um estudo inicial e inédito de Isabel Briggs Myers, o Indicador de Tipo foi dado a
alunos do sexo masculino do décimo primeiro e do décimo segundo anos de um colégio que
atende toda a cidade de Stamford, Connecticut. Os introvertidos representavam 28,1% dos 217
alunos do décimo primeiro ano e 25,8% dos 182 do décimo segundo ano.
20 Um tipo sensitivo introvertido disse sobre um admirador extrovertido: “Ele reclama que
quando estamos juntos é ele quem fala. Realmente, é uma conversa de mão dupla — o que ele
diz para mim e o que eu digo para mim. Só que o que eu digo não é em voz alta”.
21 Este incidente é da pesquisa pessoal não publicada da autora no First Pennsylvania Bank
(Filadél a). A razão de freqüência é do Capítulo 3, Figuras 6 e 7, mostrando os dados coletados
pelo autor e processados pelo Educational Testing Service.
30 A taxa total de abandono da faculdade de medicina é um pouco mais alta do que essas
porcentagens indicam. As desistências permanentes conhecidas desta amostra não incluíram
nem os alunos que desistiram antes de sua turma fazer o Indicador de Tipo, nem os que
desistiram temporariamente e depois foram admitidos e se formaram em outra escola.
31 *signi cativo no nível .01; **signi cativo no nível .001; outros signi cativos no nível .05
36 Um estudo inicial e inédito de Isabel Briggs Myers é a base das a rmações deste capítulo
sobre as freqüências dos tipos na população em geral. O Indicador de Tipo foi dado a alunos do
sexo masculino do primeiro e segundo anos do ensino médio de um colégio que atende toda a
cidade de Stamford, Connecticut. Entre os 217 alunos do primeiro ano, 28,1% eram
introvertidos e 26,7% eram intuitivos; entre os 182 alunos do segundo ano, 25,8% eram
introvertidos e 33,0% eram intuitivos. A porcentagem de intuitivos pode ter aumentado porque
os tipos sensitivos deixaram a escola depois que sua freqüência não era mais obrigatória.