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Acompanhamento a pacientes com câncer

Hospital Conceição

Lucas 24.13-35
1. Perceber: Conhecer-se mutuamente, trocar experiências, reconhecer modelos de
percepção; aprender a reconhecer quando uma pessoa é um paciente terminal.

2. Acompanhar: Sentir como o acompanhar faz bem, observar o caminho à nossa


frente, entender o caminho do doente e acompanha-lo na sua jornada.

3. Ouvir: Aprender a ouvir um ao outro, observar as necessidades do doente terminal,


aprender a audição ativa.

4. Compreender: Tentar compreender melhor um ao outro, prestar atenção naquilo


que não se fala, entender a “linguagem” do doente terminal; aprender a sentir e a
ver com os olhos e o coração do outro.

5. Prosseguir: Como está o desenvolvimento do grupo? Como está nossa disposição


em continuar no acompanhamento a doentes terminais? Perceber crises, avaliar de
forma realista as próprias forças, preocupar-se consigo mesmo.

6. Permanecer: Exercitar a proximidade, permanecer junto do doente terminal,


cuidar, consolar, apoiar, estar presente.

7. Soltar: Despedir-se, desprender-se, soltar, perceber despedidas na vida e na morte e


ensaia-las, ritualizar a despedida.

8. Levantar: Levantar-se, seguir o caminho, observar mudanças, exercitar a


esperança, permitir o luto, admitir transformações.

As fases psicológicas do processo de morrer

Elisabeth Kübler-Ross, uma médica e psicóloga suíça que atua nos U.S.A.,
juntamente com uma equipe de pastores e estudantes de teologia, teve a idéia de dialogar
com pacientes em fase terminal e registrar o seu comportamento diante da morte. Ela o fez
mediante a autorização dos próprios doentes. O seu livro “Sobre a morte e o morrer”
alcançou reconhecimento internacional em pouco tempo. As suas observações ajudam a
entender pacientes que passam por uma fase mais ou menos longa de sofrimento antes de
morrerem e que têm conhecimento da gravidade de sua doença.

a) Fase da negação: Quando uma pessoa recebe a notícia de que está acometida de
uma doença grave, ela freqüentemente rege dizendo: “Não, não pode ser verdade.
Eu não!” A negação da possibilidade da morte é a atitude inicial mais comum. Essa
negação pode chegar ao ponto de a pessoa achar que se trata de um engano no
diagnóstico e, não raro, troca de médico para se certificar de que sua doença é
realmente grave. Kübler-Ross acrescenta, contudo, que essa reação inicial “não
significa que o mesmo paciente não queria ou não se sentia feliz e aliviado em
poder sentar-se mais tarde e conversar com alguém sobre a sua morte próxima”.
Trata-se de uma necessidade de, por assim dizer, rejeitar inicialmente uma realidade
para, depois, ir digerindo-a aos poucos, na medida em que for se fortalecendo
interiormente para aceita-la.
b) Fase da revolta: Quando não mais for possível negar os fatos, explodem os
sentimentos de inconformidade, de angústia, de tristeza e de raiva. “Por que
justamente eu?” Ás vezes a revolta se dirige ao próprio Deus. “Por que Deus, que
dizem ser bom e misericordioso, permite que isso aconteça comigo?” Nessa fase
não convém que a pessoa que acompanha o moribundo seja afoito em fazer
apologias de Deus ou procure achar explicações plausíveis. O que o paciente precisa
é de alguém que o ouça e o aceite em sua inconformidade e em seu sentimento de
revolta. Não lhe dar oportunidade para externar esses sentimentos só aumentará sua
revolta e sua solidão.
c) Fase da barganha: A barganha é uma atitude do paciente de pretender negociar
com Deus e de procurar fazer um acordo com ele. Trata-se de uma tentativa de
estabelecer um comprometimento mútuo: “Se tu, ó Deus, restabeleceres minha
saúde, eu me comprometo a levar uma vida mais consagrada a ti e ao próximo.” É
essa a postura que leva milhares de pessoas doentes a fazerem promessas a Deus
que posteriormente procuram cumprir em dias de romarias a determinados
santuários. No fundo, trata-se de uma tentativa de manter acesa a esperança de cura.
d) Fase de depressão: Quando a pessoa percebe que a doença avança e que não há
mais como nega-la, passa a predominar um profundo sentimento de perda. Em se
tratando de pessoas mais jovens, - mas não só elas – passam a se preocupar com o
futuro dos filhos, com a continuidade do trabalho que vinham desenvolvendo e com
demais questões pendentes. A possibilidade de que tudo possa chegar em breve a
um fim é, agora, muito mais real. Pode se instalar tristeza e depressão. Nessa fase o
paciente tende a ser mais aberto para o diálogo e para externar sentimentos. Aqui é
importante que se ofereça proximidade física e espiritual, bem como a certeza de
que ele não está só.
e) Fase da aceitação: O moribundo percorreu um penoso caminho de altos e baixos,
de luta e resistência, de negação e de revolta, de negociação e de preparação para o
pior. Agora se instala uma fase de entrega. Não há mais forças nem se vê mais
grande sentido em continuar lutando. O corpo já está frágil, o espírito cansado. O
moribundo dorme bastante. Já não lhe interessam mais tanto os acontecimentos à
sua volta.A comunicação com ele se dá, muitas vezes, mais num nível não verbal do
que com muitas palavras. Aqui gestos falam mais alto do que as palavras.

Os estágios acima descritos não precisam ocorrer sempre, nem se sucedem


necessariamente na ordem exposta. Ás vezes predomina um estado de espírito, às vezes
outro, outras vezes os estágios se confundem. Também a duração de cada estágio ou fase é
variável de pessoa para pessoa.
Segundo Kübler-Ross, a única coisa que persiste em todos os estágios com maior ou
menor intensidade é a esperança. É literalmente verdade que a esperança é a última que
morre.
O diálogo poimênico não deve alimentar em demasia essa esperança do moribundo,
nem tampouco questiona-la. A esperança é fundamental para que o moribundo consiga
carregar a sua cruz. Além do mais, não é o nosso Deus um Deus de esperanças? Não é ele o
fundamento de toda esperança? A poimênica cristã se alimenta da esperança que crê “contra
a esperança” (Rm 4.18) e vive da certeza do salmista que diz: “Entrega o teu caminho ao
Senhor, confia nele e o mais ele fará” (Salmo 37.5).

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