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O HOMEM, O MAÇOM E A MAÇONARIA

Ir.'. Hércule Spoladore

O Homem é um ser complexo, estranho e imperfeito. Às vezes se


julga senhor do mundo e às vezes em depressão, ou quando algo em
sua vida não está bem se sente muito pequeno inútil e destruído.
Em seus momentos de fantasia, aspira ser Deus, sendo que jamais
poderá vir a sê-lo.

Quer ser imortal, pois não admite a morte, mas nunca se lembra que
se perpetua através de seus genes em seus descendentes.

É um ser gregário, aliás, condição vital para sobreviver. Desde


os tempos das cavernas ele aprendeu a viver em grupo. É curioso.
Pergunta muito, muito embora não tenha respostas para causas
maiores de sua existência. Isto lhe traz um conflito existencial
muito grande. Quer conhecer a todo custo o que se passou com as
civilizações anteriores e quer entrar em contato com seres
inteligentes do Universo.

Explora o Cosmo como um todo e em particularidades, explora a


própria Terra, em busca de suas raízes, suas origens, sem tê-las
conseguido até a presente data. Desconhece a razão da vida e da
morte, e temeroso diante das forças telúricas e universais passou
a respeitar venerar e até idolatrar o criador invisível de tudo.
Ai reside o princípio religioso da maioria dos Homens, mais pelo
temor da grandiosidade que o cerca, que pela sua inteligência, a
qual é limitada.

É um ser vicissitudinário. Em sua mente existem milhões de


fantasmas de ideias, de sonhos, de tal forma que ele muda sempre,
para uma evolução maior ou menor, mas amanhã nunca será o mesmo
de hoje. Nunca será o mesmo em todas as épocas de sua vida, embora
mantenha suas características de personalidade. Nos últimos
séculos e especialmente no último, sofreu todas as influências
possíveis e imagináveis quer pela evolução do próprio pensamento
humano quer pelos verdadeiros saltos científicos dados pelas
invenções e pelas tecnologias modernas. O meio intelectual e moral
foi mergulhado e envolvido por estas descobertas. No último século
o desenvolvimento científico da Humanidade foi maior que em toda
a história da atual civilização e civilizações anteriores. As
descobertas científicas aconteceram e acontecem sem qualquer
antevisão do futuro

As suas conseqüências não previsíveis dão forma para a nossa atual


civilização. Quer dizer, não há uma programação objetiva e direta
direcionada a um ponto futuro para conduzir a Humanidade. A ciência
empurra o homem. Às vezes ele não sabe aonde irá parar. Os
cientistas não sabem para onde estão indo e nem aonde querem
chegar. São guiados por suas descobertas, às vezes imprevistas e,
grande parte por acaso. Cada um destes cientistas representa o seu
próprio pensamento estabelece suas próprias diretrizes para si e
para a sociedade. Por analogia, o mesmo caso acontece com a
Internet. Não sabemos o que irá acontecer. Teremos que “pagar”
para ver.

O Homem estuda desesperadamente as leis da natureza, estas,


deveriam só ter valor quando chegassem até ele diretamente, não
filtradas pelo véu intelectual repleto de costumes incorretos e
tendenciosos, chegando assim a sua mente sem preconceitos,
consumismos, conformismos e distorções. Aí ocorrem os sofismas,
especialmente dirigidos por interesses financeiros manipulados por
grupos multinacionais.

O comportamento humano em função destes fatores muda verticalmente


de tempos em tempos, ao sabor de uma mídia controlada por estes
grupos, que explora as invenções da maneira que mais lucro lhes
dá, dando uma direção equivocada à Humanidade em muitos setores.
E esta praga ataca o Homem na política, na religião, no comércio
e em todos os segmentos da vida, e ainda no que é mais complexo,
no seu relacionamento.

O Homem é um ser emocional, agressivo, intuitivo e faz pouco uso


da razão para resolver seus problemas. Age mais pela emoção.

Konrad Lorenz, prêmio Nobel de 1973, zoologista austríaco admite


que a agressividade do Homem seja uma herança genética de seu
passado animal e que o Homem não seria fruto do meio em que vive.
As guerras para ele serão inevitáveis por maiores que sejam as
conquistas sociais e científicas da Humanidade. Apesar de ter sido
combatido pela maioria dos psicólogos do mundo inteiro, ele parece
ter razão. As guerras continuam existindo e a forma de destruição
do próprio Homem cada vez mais sofisticada. A invenção mais moderna
de autodestruição chama-se terrorismo.

Os Homens para se organizarem criaram regras disciplinares e entre


elas a Ética e a Moral, que tanto se escreve a respeito e há
autores que as consideram a mesma coisa. Anato Le France em seu
livro “Os deuses têm sede”, cita que o que chamamos de Moral não
passa “de um empreendimento desesperado de nossos semelhantes
contra a ordem universal, que é a luta, a carnificina e jogo cego
dos contra.

A Moral varia na cronicidade das épocas, pois o que serviu para


nossos pais, não serve para nossos filhos” (Mazie Ebner
Eschenbach).

A Moral seria, pois, para entendermos melhor, o estudo dos costumes


da época e a Ética, a ciência que regula as regras pertinentes.

Os Homens ditos civilizados costumam afirmar que a Ética é um


princípio sem fim. Mas o mesmo Homem que é um ser competitivo,
agressivo, emocional e que seria capaz de destruir a si e ao mundo
em determinadas situações, ele também é em outros momentos bom,
caridoso, compreensivo, leal, capaz de gestos de desprendimento
em favor de seus semelhantes.

Dentro desta dualidade se procura ainda que de forma muito


superficial, traçar uma pálida silhueta do Homem, já que é
impossível descrevê-lo profundamente como um todo. Todo Maçom é
um Homem, pelo menos no sentido genérico e, como tal não escapa
as especificações boas ou más citadas na descrição deste perfil
traçado.

A Maçonaria traz a esperança de mudar os Iniciados para melhor.


Isto até chega acontecer verdadeiramente para poucos, e estes
entenderão que a Ordem é antes de tudo uma tentativa de levar os
adeptos ao seu autoconhecimento e ao estudo das causas maiores da
vida e que também sua função no mundo atual será político-social.
Entenderão que a Maçonaria é para eles uma forma de evolução ética,
moral e espiritual.

Outro grupo de Maçons vive nesta ilusão, mas não vai de encontro
a ela. É medíocre e conformado, aceita tudo, mas sabe muito bem a
diferença. Apenas por uma questão de não duvidar, aceitar as coisas
erradas passivamente, e por preguiça mental letárgica não luta e
espera que as coisas aconteçam. Porem, a maior parte dos Maçons
jamais entenderá o desiderato verdadeiro da Ordem. Jamais
entenderá esta meta, mas acreditará equivocadamente de que a está
conseguindo.

A maioria dos Maçons não lê, não estudam, criticam os que querem
produzir algo de bom, querem saber quem será o próximo venerável,
e querem que a sessão termine logo, para “demolirem os materiais”
e sorverem o precioso líquido que traz eflúvios etílicos, das
“pólvoras amarela e vermelha”, nos “fundões” das lojas, onde
excelentes Irmãos cozinheiros preparam iguarias divinas. Até nem
podemos condená-los, já que são Homens e como tal não são
perfeitos.

Os Maçons de um modo geral trazem para dentro das Lojas, todas as


transformações e influências que existem no mundo profano, e sem
se aperceberem tentam impor suas verdades como se fossem as
verdades ditadas pela Ordem.

Está havendo um grande equívoco na Maçonaria atual, pois esta, tem


em seus princípios valores antigos tradicionais aparentemente
conservados através dos rituais, costumes escritos, constituições
etc., que muitos Maçons têm a pretensão de está-los seguindo, sem
que isto seja verdade.

O que acontece em realidade é que a maioria destes valores acaba


sendo letras mortas, pois o Maçom na sua condição de Homem que
recebe todas as influências citadas do mundo profano,
especialmente no terreno das comunicações, informações e do
moderno relacionamento humano, traz para o seio da Maçonaria, tudo
o que ele está sofrendo e se envolvendo fora das lojas, tais como
a competitividade desleal, o consumismo exagerado, a agressividade
incontida, a ganância pelo poder, a vaidade auto-idólatras, enfim
uma série de situações que ele mais cedo ou mais tarde, quando
fizer uma análise de consciência, se o fizer, pois a maioria nem
isso faz, ele verá que não foi bem isso que ele pretendia da Ordem.
Então vem a desilusão total, uma das causas de esvaziamento das
nossas lojas

Fala-se em tradição na Maçonaria, mas em realidade esta foi se


distorcendo aos poucos, pois os tempos são outros e tudo muda, e
as mudanças ocorrem sem se apercebê-las, pois muito embora
aparentemente ligado ao passado, o Maçom vive o tumultuado mundo
presente A Maçonaria a exemplo da nossa civilização atual foi,
organizada sem o conhecimento da verdadeira natureza do Maçom.
Embora feita só para Maçons não esteja ajustada ao real espaço que
ela deveria ocupar.

O modernismo, como não podia deixar de ser, também chegou à Ordem.


Hoje, em muitas lojas não se usam mais as velas e sim lâmpadas
elétricas. Os rituais foram acrescidos de práticas que não
existiam na Maçonaria primitiva. Os templos se tornaram suntuosos,
e, ricas colunas os adornam. Acabou-se a simplicidade de outrora.
Apareceram cerimônias enxertadas, inventadas, rebuscadas.

Constroem templos para todos os lados. Um templo às vezes fica


ocioso por vários dias da semana, onde poderia ter uma loja
funcionando a cada dia e os demais templos construídos com muito
sacrifício de alguns, poderiam ser uma escola, um lar de velhinhos,
ou qualquer outra modalidade de prestação de serviços enfim, uma
obra que depois de construída seria doada a sociedade.

As pendengas políticas entre os lideres da Ordem, chegam a tal


rivalidade que com freqüência são levadas às barras dos tribunais
na Justiça comum.

A ganância pelo poder é um fenômeno bastante freqüente na mente


de alguns Maçons. Um simples cargo de venerável, às vezes é
disputado de forma bastante ignóbil, não maçônica, pelos
oponentes. Imaginem então, o que ocorre quando de trata de eleição
para o cargo de Grão-Mestre.
Não se concebe e não se justifica que este poder temporal maçônico
que em realidade não significa coisa alguma em matéria do
Conhecimento que a Ordem pode proporcionar, cause tanta cobiça,
tantas situações anti-maçônicas, as quais observamos com
freqüência, sendo que a maioria dos Maçons fingem que não as estão
vendo.

Sábio foi um juiz profano que não acatou uma ação de um líder
maçônico contra outro, alegando que os problemas de Maçons fossem
resolvidos dentro da própria Maçonaria já que a Justiça tinha
coisas mais importantes a tratar. A Maçonaria foi exposta nesta
situação, ao ridículo.

Como é triste, como é doloroso, como doe no fundo da alma quando


um Irmão torna-se falso, difama, conspira e tenta destruir outro.
Às vezes seu próprio Padrinho é o atingido ou um Irmão que tanto
lhe queria. E isto sempre ocorre não pela Dialética que é adotada
pela Maçonaria que é a arte de poder se expressar e alguém
contrariar ou contraditar uma opinião para se chegar a uma verdade,
mas tão somente por inveja doentia ou vaidade.

Porem existe o reverso desta análise. Não podemos afirmar que o


Maçom como o Homem em si seja totalmente mau. Ele é dual. Foi
criado assim. Ele tem o seu lado mau, mas luta desesperadamente
para ser bom, sendo que maioria das vezes não consegue. É a eterna
luta do Homem. O ofendido altruísta costuma usar a qualidade cristã
do perdão e ai volta a abraçar o Irmão que lhe ofendeu. E tudo
acabam em fraternidade, às vezes sincera e às vezes falsa. “A mão
que afaga é a mesma que apedreja”. (Augusto dos Anjos

Não podemos negar que nos causa tanta alegria, quando ficamos
conhecendo um Irmão que nos é identificado como tal, onde quer que
se esteja. Especialmente longe da cidade onde moramos. E comum
este Irmão abrir seu coração, sua residência sua loja. Isto é
realmente lindo na Ordem. É uma satisfação muito grande e uma
realidade inconteste.

Outra situação boa que costuma acontecer na Ordem é a hospitalidade


fraterna com que somos recebidos em outras lojas não importando a
Obediência. Esta situação acontece nas lojas-base, não havendo
mais atualmente a discriminação que havia outrora determinada
pelos líderes das ditas Obediências. Foi um avanço social dentro
da própria Ordem muito importante. Já não existem mais “primos”,
agora somos irmãos de verdade, salvo algumas raras exceções.

O dualismo no Maçom continuará, ele é genético, mas a Maçonaria


espera que seus adeptos desenvolvam somente o lado bom. Sua
doutrina é toda voltada para esse fim. Então, não culpemos a Ordem,
por distorções ou digressões, estas são inerentes ao Maçom, ao
Homem imperfeito.

Entretanto, a Ordem deveria mudar o esquema de suas sessões


imediatamente. Gastamos ¾ de uma sessão com problemas
administrativos.

Aí está o grande mal. É aí que reside a nossa grande falha. Se


houvesse uma sessão administrativa mensal, onde uma diretoria
capaz resolvesse todos os problemas rotineiros, e as demais
sessões fossem abertas e fechadas ritualisticamente, mas sua
seqüência fosse tão somente de trabalhos apresentados, debates,
instruções, doutrinação, têm certeza de que mesmo aqueles Maçons
que não lêem, não estudam, aprenderiam muito e tomariam gosto pela
leitura, pois seriam despertos de um sono que talvez a própria
maneira atual de ser da Ordem seja responsável.

Ainda no quesito “Diretoria ou Comissão”, vivenciamos


constantemente perda de um precioso tempo debatendo metodologias
sobre eventos, campanhas, e outros assuntos pertinentes as
atividades da Loja no mundo profano, ora, porque não constituir
várias “Comissões ou Diretorias”, para que as mesmas tenham
autonomias na organização, promoção e decisões sobre o assunto na
qual a ou as mesmas está (ao) imbuída (as)? Assim, com certeza
desafogaria a sobrecarga sobre a administração da Loja, a qual
poderia focar mais seu tempo nos trabalhos ritualísticos com os
IIr.:, delegando a eles independentemente de Grau a
responsabilidade do mesmo pesquisar, elaborar e apresentar em loja
trabalhos referentes assuntos maçônicos, de forma que, o mesmo
estaria enriquecendo seu conhecimento, assim teríamos uma dinâmica
mais atraente, desnecessária a participação constante de
“Profanos” realizando palestras em loja, o que já é percebido o
descontentamento da maioria.

Temos acreditar no Homem, no Maçom, mesmo ele não sendo um ser


perfeito. Ele desde que devidamente preparado poderá ainda a vir
a ser o esteio da Humanidade. Estamos no momento mal doutrinado.
Temos que nos rever e modernizar, o futuro já é hoje. Vivemos num
mundo de informações. Estas não podem ser sonegadas ou deixar de
serem assimiladas. Já estamos ficando para trás em muitos
segmentos da sociedade. Não aguentaremos por muito tempo o modelo
anacrônico que estamos seguindo se não nos atualizarmos. Isto
qualquer Maçom poderá deduzir, se refletir um pouco sobre a Ordem.

Acreditamos que a Maçonaria redespertará, e que num futuro bem


mais próximo do que imaginamos tudo mudará para melhor. Porque,
apesar de todas as influências negativas ou não ela conservou sua
essência iniciática. E este fator manterá sua unidade simbólica e
espiritual perene.

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