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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ENVELHECIMENTO NA

SOCIEDADE ANGOLANA

Contextualização histórica sobre as representações sociais da pessoa idosa nas


sociedades Angolana.

Envelhecer em algumas comunidades de Angola, constitui um acto de respeito e honra, embora


em outras e principalmente em zonas rurais envelhecer, além das mudanças nos planos
biológicos e fisiológicos, o idoso tem de lidar com a estigmatização, a exclusão, o afastamento
social e outros, esses aspectos são muitas vezes influenciadas pelos mass midia. Tal como afirma
Machado (2021), Os mass media produzem efeitos sobre os seus destinatários e fazem com que
estes construam uma realidade social do meio que os envolve.

Devido a influência dos mass midias nalguns casos a representatividade social da pessoa idosa
tem sido molestada e distorcidas devido a adequação das realidades alheias a nossa. Para
Machado (2021), as representações sociais sempre influenciam na compreensão sobre a estrutura
da interação social, a fusão das práticas culturais e comportamentais dos indivíduos bem como,
realçar os códigos que favorecem a construção da consciência colectiva.

As sociedades mecanizadas não se adequou as exigências das sociedades industrializadas,


sendo assim excluídas, marginalizadas e eliminadas dos convívios sociais normais. Segundo,
Saveia (2009, p.57) “como consequência do excesso de trabalhadores disponíveis, os mais
jovens e os mais velhos encontram dificuldades para inserirem-se no mercado de trabalho. Os
primeiros pela falta de experiência e os mais velhos pela dificuldade de adaptação”.
Os espaços que se oferecem a pessoa idosa, nesses lares, muitas vezes são limitados ou
mesmo inexistentes, por estes serem sempre associados a; impedimentos quotidianos,
feitiçarias...
Entretanto, pode-se conotar a problemática da pessoa idosa nas sociedades Angolana,
particularmente, como tendo o seu início nestas fases da vida, difícil do País, pois, muitos
familiares por várias razões acabaram abandonando os seus idosos nas ruas ou mesmo a um
lar da terceira idade, para aderirem a novas formas de vida de limitada a um menor número de

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membros, o que não seria possível com um idoso a bagagem. Como afirma Saveia (2009,
p.55):
neste século XXI, marcado pelos avanços da tecnologia microeletrónica, o trabalho
passa a assumir um conteúdo crescente intelectual, em contraposição ao conceito de
trabalho físico, manual. É neste ponto que em muitos postos de trabalho a pessoa idosa
é excluída, descriminada, isolada e marginalizada, pelo facto de não se adequar a
realidade dos trabalhos e as formas de trabalhos exigidos pelo século da globalização.
Segundo, Couto (2007, p. 20);
os avanços tecnológicos levaram à criação de novos empregos, para os quais os idosos
não estariam preparados, ficando, desta forma, fora do mercado de trabalho. A redução
do status dos idosos é consequência da transformação das sociedades agrárias em
sociedades modernas e industriais.
O Idoso e a percepção social nas comunidades

A pessoa idosa, fruto das experiências adquiridas ao longo da vida e dos convívios socais,
percebe a comunidade de uma maneira, o mesmo acontece com a comunidade que percebe o
idoso através das experiências anteriores ou por vias das informações adquiridas e construídas
por via dos mass midias, que podem boas ou más. Tal como afirma Machado (2021), torna-se
fundamental perceber que os conteúdos de notícias dos meios de comunicação de massa
podem facilitar os indivíduos na ancoragem para o seio de novos elementos apreendidos desta
notícia. Para Cury (2015, p.55). “Os Pais da Psicologia se revirariam em seus túmulos se
soubessem que o útero social se tornou uma fábrica de pessoas doentes”. Segundo, Levet
(1995, p. 83) “O envelhecimento no homem não é somente sofrido; cada qual, procura
conduzi-lo segundo as normas da sociedade a que pertence, e segundo o seu próprio sistema
de valores”. A sociedade acusa o idoso de práticas de feitiçaria, assédio e abuso sexual,
desordem social, e faz o mesmo com as crianças, os adolescentes, os jovens, deficientes e as
mulheres, o que nos leva a perceber que apenas maltratamos os mais fracos, quem causa os
males sociais afinal? Na perspectiva de Saveia (2009, p.25);
a nossa história de vida, desde o nascimento até à morte, caracteriza-se pela passagem
por organizações sociais, responsáveis pelo processo de socialização. Nascemos em
hospitais, e por eles passamos sempre que temos problemas de saúde, frequentamos
creches, clubes e Igrejas, passamos parte significativa de nossas vidas em escolas nos
preparando para, posteriormente, passar boa parte dos nossos dias em organizações,
prestando algum serviço ou produzindo alguns bens que todos consomem, para que no
final, podemos viver tranquilos.

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Ninguém quer ser velho, mas isto é um processo involuntário e que se desenvolve de
forma gradativa e lenta, com perdas nos planos biológicos, psicológicos e sociais. A prática de
associação a pessoas idosas a casos de feitiçaria é dos maiores problemas enfrentados por
indivíduos nesta franja da sociedade em Angola. Alexandre (2014, p.134), afirma que;
em muitas situações, as pessoas, nesta parte do continente, vivem convencidas de que,
tudo que lhes acontece, é fruto de qualquer coisa de difícil explicação. A morte de um
ente querido tem sempre uma causa e todos assim pensam. Se não, é o Tio, que é a
base do desaparecimento físico de quem tenha morrido, a infertilidade encontra outra
explicação sobre alguma pessoa da família que não tenha beneficiado da moeda do
dote.
Na visão do autor e que concordamos, podemos acrescer que a Cultura de acusação e
associação da pessoa idosa a actos maléficos ou o causador de todas as desgraças sociais,
constitui um factor de exclusão e marginalização para a pessoa idosa. Basta olharmos para a
realidade das causas da morte nas zonas rurais e algumas urbanas, onde, o caixão é posto à
cabeça para procurar o vitimador, e que muitas das vezes é a pessoa idosa o achado, mesmo
que a causa da morte seja doença, acidentes e o uso abusado do álcool para os jovens. Todos
sabemos que, os abortos, as drogas, as pílulas ou anticoncepcionais mal aplicadas e vendidas
em todos os mercados abertos e acedidas deforma não prescrita, causam infertilidade, mas por
cá a uma justificação simples “os meus avós e tios são bruxos, estão a me travar”. Não se
pode negar ou afirmar a existência de práticas associadas ao feitiço, pois não existem
comprovações científicas para uma ou outra. A pessoa que um caixão lhe empurra ou panca,
por quais meios acontecem, ninguém explica ao certo, a infertilidade de uma menina que
abortou mais de uma vez, encontram no culpado hipotético, terreno fértil para isolar-se da
sociedade e da família, alem do factor idade.
Outros sim, os mais velhos deveriam ser considerados, respeitados e reverenciados pelos
mais novos, pois a nossa cultura prega o respeito aos nossos superiores independentemente
das fragilidades físicas e diminuições, próprias da idade. Entretanto, fruto do novo modelo
económico e de famílias, essa importância vai mudando. Ainda com o factor idade,
encontraremos o afastamento, a exclusão o isolamento social dos velhos que já se transformou
num problema da sociedade actual ligada aos idosos.
As crianças deveriam aprender a conviver com os idosos, para herdarem as regras orais
da socialização e a preparação para acolherem os futuros idosos, no caso nós, sem
descriminação, exclusão ou medo. Para Py, Sá, Pacheco & Goldman (2006, p. 166) “a relação

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entre velhos e crianças que se dá na família ou em acções na comunidade resulta numa troca
enriquecedora tanto para os mais jovens como para os que estão envelhecendo”. Segundo
Grifa & Moreno (2011, p. 95) “os relacionamentos entre os avós e os netos são o vínculo
adulto mais significativo da relação entre Pai e filho”. Para Schaie e Mckienze, (1980), “a
variabilidade e a diversidade aumentam com a idade, e assim a multiplicidade de padrões de
conduta e traços de personalidade é maior na velhice do que em qualquer outra idade”. (W.
Schaie & S.C. McKenzie, 1980 como citado em Grifa & Moreno 2011, p.88).
A velhice para Oliveira (1993, p. 78), é “a coroação da escala da vida. O indivíduo chega
à velhice possuindo um acúmulo de experiências e conhecimentos adquiridos através dos
acertos e desacertos que a vida oferece”.

Muitos Idosos, têm sido abandonados como consequência; da perda do controle


emocional, redução da força física, dificuldades económicas, pobreza extrema dos familiares,
doenças graves e por esta razão apresentam sinais de desvalorização social, por apresentarem
problemas ligados a crescente sensação de não pertencerem ao meio social, falta de
obrigações diárias, incapacidade de contribuir para a vida ou dar algo aos outros. Segundo
Monteiro e Queirós (1997, p.141), “a velhice, na sociedade, corresponde uma baixa de
estatuto”. As sociedades rurais em relação as urbanas nalguns casos, conservam os seus
idosos e oferecem a eles respeito, atenção, amor e utilidade, nas reuniões para resolução de
conflitos comunitários por exemplo, a palavra da pessoa idosa é tida em conta, até no
momento da sentença e não só. As sociedades rurais mantêm os seus idosos, por formas a
manterem a transmissão dos seus hábitos culturais e não só. Toda e qualquer sociedade
precisa de referências para transmissão dos seus padrões culturais e de conduta, no caso
alguém com maior idade é sempre uma boa referência para repassar experiências de vida.
Problemas psicossociais do idoso

O facto de muitos idosos residirem em lares de acolhimento e ruas de uma ou de outra


forma, se constitui em uma espécie de afastamento ou exclusão social para a pessoa idosa,
pois ela perde o seu papel e a sua identidade dentro da sociedade e tem que se moldar a uma
realidade mais fechada e limitada. Esse afastamento ou exclusão do convívio social favorece
ao idoso o sentimento de inutilidade, podendo nalguns casos causar transtornos psicológicos,
principalmente os depressivos. Goldman & Goldman (2000, p.45), afirmam que;

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os mais frequentes conflitos na velhice têm sido os problemas financeiros ligados à
urbanização, industrialização e os deles decorrentes: isolamento social, confinamento
em asilos, desolação, dependência, desvalorização, desprestígio, preconceitos,
hostilidades, agressividades, desconfianças, ansiedade, actividade defensiva, perda de
autoridade e de auto-afirmação. Esses problemas atingem todas as faixas etárias,
podendo ser agravados pela idade.
Os idosos de um modo geral, sofrem e pagam pelos efeitos cruéis da economia, da
velhice marginalizada, descriminada, excluída e afastada, assim como os efeitos da frustração,
decorrentes da impossibilidade de integrar-se na economia consumidora. Do ponto de vista da
família e da sociedade, são, sem dúvidas, relegados a plano secundário ou pressionados a
buscar soluções institucionais, na medida em que a maior parte das famílias tem pouca ou
nenhuma condição de oferecer abrigo e prestar assistência médica regular.
Uma das causas para o desajuste dos velhos na família e na sociedade é; a falta de
espaços e actividades viradas para a sua idade, deixando-os irritados, descontentes e com um
forte sentimento de inutilidade. Conforme Martins (2001), a marginalidade a que é submetido
o idoso na sociedade actual, diz nos: exactamente o ponto de vista social para a pessoa idosa.
O velho tornou-se sinónimo de solidão e recolhimento, isto quando não é tratado como
criminoso ou retardado mental, quando for o caso é levado em camisa de força para os
abrigos, sanatórios e/ou casas similares. Segundo Santiso (2007, p. 26).
é muito diferente a pessoa de idade que vive na zona rural, integrada à sua família,
cumprindo um papel na economia de sua casa e de seu meio, transmitindo aos seus o
tesouro de sua experiência e de sua afectividade, da pessoa que vive sozinha na cidade,
num meio urbano que pode lhe ser hostil e, no qual, pode sentir-se mais agredida,
insegura, impelida a um isolamento defensivo.

As fontes dos factores stressantes e causadores depressivos são na sua maioria de origem
externa ao idoso. Estes conforme Cury (2015), podem ser; social, psíquica e orgânica, ligadas
à carga genética e a alterações do metabolismo cerebral, em especial dos neurotransmissores.
Segundo Bandeira (2014, p.30);
o envelhecimento faz parte de um processo natural do ser humano que ninguém pode
fugir, salvo por razão da morte. Nesta etapa da vida é comum surgirem limitações
físicas que podem influenciar no aspecto psicológico alterando o modo de vida de
muitos indivíduos e seus familiares. “A depressão é um transtorno neuropsiquiátrico
caracterizado principalmente pela tristeza e sentimentos de inutilidade ou perda da
auto-estima. As causas da depressão no idoso configuram-se numa multiplicidade de
factores onde actuam a própria limitação física, exclusão social e discriminação, falta

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de amparo e apoio emocional por parte de familiares, o abandono, o aparecimento de
doenças incapacitantes, entre outros. Alem destes factores, também pode ocorrer a
percepção da imagem corporal, a frustração dos insucessos na vida, o pessimismo com
relação ao futuro e o medo da morte fazem parte das vivências dos idosos.

Para Levet (1995, p.35),“a personalidade do indivíduo está submetido no decurso da


idade a uma série de grandes perturbações”. Constituem problemas psicossociais a pessoa idosa a
depressão, Alzheimer, o mal de Parkinson, o afastamento, a exclusão social, baixa auto-estima,
sentimento de inutilidade, marginalização, descriminação, acusação de feitiçaria, violência física e
psicológica.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Angola: Swakon Editora.
Bandeira, F. (2014). Perturbações Quotidianas e as Pessoas que Sofrem. Brasil: tm editora.
Couto, M., C., P., P. (2007). Factores de risco e de protecção na promoção de resiliência no
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Griffa, M., C. & Moreno, J., E. (2011). Chaves para Psicologia do desenvolvimento:
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Levet, M. (1995). Viver depois dos 60 anos. Lisboa: Instituto Piaget.
Martins, E. (2001). Os velhos na comunidade indígena. [s.l.]: Senecta
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Cury, A., (2015). O código da inteligência. Rio de Janeiro, Brasil, Brasil: Sextante
Machado, J., E., M., & Paulo, N.C., & Esteves, C. H., (2013). Direito constitucional angolano.
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Machado, A., V., (2021). Representações sociais e os meios de comunicação social. Luanda:
Mwanapo.

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