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SINOPSE

Sophia Santos era ainda uma menina quando viu a sua vida virar de cabeça pra baixo. Aos
17 anos de idade ela passou por uma situação que nenhuma mulher no mundo gostaria de
viver: Um estupro.
Arrancaram dela a força, toda a sua alegria, toda a sua pureza e confiança nas pessoas,
mais precisamente, nos homens.

Três anos se passaram e a dor por tudo o que aconteceu com ela, permaneceu… A dor e o
Gustavo, seu filho, fruto do abuso que sofreu. Uma mulher forte e determinada que vê em
seu filho a única razão para viver e lutar por algo melhor em sua vida, mesmo ele sendo
fruto de um ato tão nojento e repulsivo.

Rodrigo Albuquerque, Delegado da Policia Federal, frio, calculista e reservado. Para
Rodrigo tudo tem que ser no devido tempo dele e do jeito que Ele achar melhor. É um
homem de poucas e precisas palavras, convicto em tudo o que faz e imponente. Rodrigo
Albuquerque é um homem que não passa despercebido por ninguém, nem mesmo quando
quer, sua arrogância exala por onde passa.

Um homem rancoroso e uma mulher machucada pela vida, mas que precisa se fazer forte.
Duas pessoas quebradas, de formas diferentes. Dois corações solitários. Duas
personalidades completamente diferentes… Mas um único amor que será bem mais forte
do que todas as diferenças e dificuldades há por vir.








[…]




PRÓLOGO

Sophia

Três anos atrás…

Eu estava subindo as escadarias do morro, já estava escuro e deserto… Também, duas
horas da manhã… Aqui por esses lados costuma ser bastante deserto… Como hoje é
sábado e tem baile na quadra, que fica para o outro lado da comunidade, todo mundo
deve estar lá, então está ainda mais deserto do que de costume.
Eu estava com medo. Por mais que fosse conhecida ali, nunca sabemos o que esses
meninos com a cabeça cheia de drogas são capazes de fazer. Voltava da festa da Camila,
uma amiga minha que mora no Leblon, ela e o irmão me trouxeram até o pé do morro.
Eles até queriam subir comigo, mas eu achei melhor não. Faltava apenas duas quadras
para eu chegar em casa quando escuto um barulho de moto e logo em seguida um farol
parando a minha frente. Reconheci como sendo a Kawasaki preta do DG, ele era o chefe
do morro e eu o odiava, odiava o jeito que ele me olhava. Ele era nojento, me dava medo.
Ele sempre dizia que um dia eu ainda seria dele. E todas às vezes, eu me arrepiava da
cabeça aos pés, com medo do que ele poderia fazer comigo para conseguir isso. Muitas
meninas do morro matariam e morreriam pra ficar com ele. Elas o acham extremamente
lindo, o que eu também não posso negar, ele tem lá sua beleza. Ele é loiro, não aqueles
loiros exagerados, mas, mais puxado para um castanho claro, seus cabelos tinha um corte
bem baixo, mas mesmo assim era um pouco arrepiado, seus olhos azuis, sua barba por
fazer, seu físico forte de academia e algumas tatuagens pelo corpo. E o que me dava mais
medo, era sua cara fechada. Toda a sua beleza ia por água abaixo quando eu olhava para
aquele rosto fechado como se a qualquer momento ele fosse fazer algo de ruim comigo.
Para muitas, ele era um deus grego, mas eu não conseguia sentir nada do que elas
sentiam. Já presenciei muitas brigas entre as mulheres para ver quem conseguiria ir pra
cama com ele. Mas a única coisa que eu sentia por ele era medo e nojo.
O DG me lança um olhar, que faz o meu corpo inteiro se arrepiar de medo, e desce da
moto. Por incrível que pareça estava só.

- Oi gatinha, não acha que está tarde demais pra ficar andando sozinha aqui na favela? –
diz ele passando a mão nos meus cabelos cacheados. A vontade que eu tinha era sair dali
correndo.
- Nã-não… Eu já estava subindo… com licença. – tento passar, só que ele se põe na minha
frente novamente.
- Ei… Pra quê essa pressa toda?
- Te-tenho que ir, minha mãe deve estar preocupada. – o que é verdade.
- Então chega ai, te dou uma carona. – diz pegando no meu braço me levando para perto
da moto.
- Nã-não precisa, eu já estou chegando.- tento me desvencilhar do seu aperto no meu
braço, mas é em vão.
- Relaxa gata. – diz montando na moto. – Senta aí.
Eu estava com medo, eu queria sair correndo dali, eu não tinha um pressentimento muito
bom, mas se eu também não fosse ele poderia fazer algo depois.
Respiro fundo, segurando a vontade de chorar de medo e subo na moto segurando sua
cintura.
Ele coloca a moto em movimento, e quando eu penso que ele vai virar na esquina da
minha casa ele passa direto. Na mesma hora um desespero começou a tomar conta de
mim.
- DG minha casa é ali. – digo um pouco nervosa.
- Eu sei minha linda, mas a gente vai dar um passeio antes. – pelo tom da sua voz sei que
está sorrindo.
Um calafrio subiu pela minha espinha e uma vontade de me jogar daquela moto e sair
correndo, tomou conta de mim. Mas eu não consegui dizer nada, eu estava com medo, o
meu corpo não reagiu na hora. Eu só queria que ele tivesse me levado para casa. Na
verdade, eu não queria nem ter cruzado com ele por aqui. Quando dou por mim o vejo
parando a moto em frente a sua casa, que era no maior ponto da favela. Não penso duas
vezes e desço da moto tremendo de medo do que ele poderia fazer comigo. Quando penso
em sair andando de volta para a minha casa, o ouço me chamar e sinto sua mão no meu
braço.
- Vem… Vamos entrar.
- Nã-não, eu vou pra casa. – os meus olhos já cheios de lágrimas e eu forço a minha voz
a permanecer firme.
- Calma aí. – ele chega perto de mim e me prende entre ele e a moto.
- Vamos entrar e conversar um pouco. – sua boca desce para o meu pescoço e sua mão
segura firme a minha cintura.
- Não… me deixa ir embora, por favor. – nessa altura as lágrimas já desciam livremente
pelo meu rosto. Eu não consegui segurar.
O medo de ele querer me forçar a fazer algo com ele, tomou conta de mim.
- Não precisa ficar com medo. – começa a beijar meu pescoço, e aquilo estava me
matando, eu sentia um nojo tão grande, eu queria ir embora dali. – Vai ser rápido. –
sussurra no meu ouvido.
Suas últimas palavras me provocaram ainda mais medo e certeza de que ele seria sim
capaz de me forçar a fazer algo que eu não queira fazer. E mesmo sem querer, começo a
chorar mais. Tento me desvencilhar do seu aperto, mas ele me prende mais contra si. Eu
tentava chutá-lo, mas nada adiantava, ele era muito mais forte. E com essa força ele
conseguiu me levar para dentro de sua casa.
- DG, por favor, me deixa ir embora… Por favor. – as lágrimas caiam sem parar e o
desespero começou a crescer assim como o medo.
Ele me joga no sofá e se deita por cima de mim.
- Não se faça de difícil Sophia. – beija o meu pescoço e apalpa meu peito com força.
- Eu sei que você quer. Todas me querem e com você não é diferente.
- NÃO! EU NÃO QUERO! ME SOLTA! – eu estava desesperada.
Eu tentava de toda forma afastá-lo de mim, mas ele era mais forte. Seus braços
conseguiam me segurar com força entre o seu corpo e o sofá.
- Para de ficar fazendo cu doce, Sophia. – ele leva outra mão até minhas pernas, e sobe
por toda a extensão, tocando minha intimidade por baixo do vestido.
Eu comecei a me debater ali naquele sofá. Eu não queria assim. Não queria que minha
primeira vez fosse um estupro.
- Por favor, DG, me deixa ir pra casa, eu não quero… Me solta! – eu tentava de toda
forma tirá-lo de cima de mim, mas era em vão.
O DG para as suas mãos na minha perna e a aperta com força. Sua expressão agora é de
raiva. Seus olhos ficam escuros e como se não fosse possível eu fico com mais medo
ainda.
- Foda-se que você não quer. Eu quero, caralho, e já estou cansado de ser bonzinho com
você.
Suas mãos sobem para os meus seios e rasga o meu vestido. Eu me debato no sofá com
ainda mais força, na esperança de conseguir tirá-lo de cima de mim. Mas não adianta, ele
não desiste. Ele é mais forte.
- Você fica esse tempo todo me provocando e chega agora vem dizer que não quer?
Ele parecia ter dez mãos, elas passavam rápidas e precisas por todo o meu corpo, não me
dando chances nenhuma de sair debaixo dele.
- VOCÊ É MALUCO, EU NÃO FIZ NADA! – grito em seu rosto.
Suas mãos descem novamente pelo meu corpo e para na minha intimidade, ainda
tampada pela calcinha que a cobria, mas ele fez questão de rasga-la.
- ME SOLTA!!!
Grito desesperada quando sinto-o arrancá-la de mim.
- Ah Sophia, fez sim. Você com esse seu jeitinho quietinha de menina moça, me excita, me
fascina. Você é diferente das putas aqui do morro… – ele enfia o seu rosto no meu
pescoço, passando sua leve barba nele, fazendo-me arrepiar de nojo e uma vontade
imensa de vomitar, me invade.
- Eu sei que você também me deseja. – diz passando a mão na minha intimidade. – Eu
sempre imaginei como seria o meu pau aqui dentro dessa bucetinha virgem.
- NÃO, NÃO, POR FAVOR! NÃO FAZ ISSO, POR FAVOR! – grito, ainda mais
desesperada, ao perceber que ele não desistirá.
Eu já estava sem voz, estava sem forças. Mas eu também não queria me deixar vencer por
ele. Eu não queria que fosse assim.
- Você vai gostar, eu sei que vai. – diz no meu ouvido e lambe a extensão do meu pescoço
me deixando com ainda mais nojo dele e de seu toque em mim.
Ele se levanta para tirar sua bermuda e eu vejo ali uma chance de me levantar e fugir. E é
isso que tento fazer. Mas sou impedida por sua mão nos meus cabelos, puxando-os com
toda força. Eu só consegui sentir o meu corpo bater novamente no sofá, o que fez um
gemido de dor sair da minha boca e as lágrimas descerem com mais força. Ele termina de
tirar a boxer rapidamente e seu membro, já ereto, pulou para fora. Nesse momento eu
percebi que não tinha mais volta. Eu percebi que ele não voltaria atrás no que estava
fazendo.
Eu não estava acreditando que Deus ia me deixar passar por uma coisa dessas. O que eu
fiz pra merecer isso?
Sinto o corpo do DG cair por cima do meu, e agora, eu não tenho mais forças para
impedir, eu não tinha mais como impedir.
Fecho meus olhos com toda a força do mundo para não ver a pior cena da minha vida
que viria em seguida.
Ele me invadiu… cruelmente, sem que eu o permitisse. Ele me rasgou por dentro e por
fora. Ele não poderia me invadir dessa forma.
Doeu tanto… Uma dor fora do normal, eu estava sendo rasgada cruelmente, sem que eu
quisesse aquilo. Eu estava sendo tocada nojentamente, sem que eu quisesse aquilo. Eu
estava sendo beijada rudemente, sem que eu quisesse aquilo.
A cada gesto de vai e vem que ele fazia dentro de mim, um grito saia de minha boca e o
meu choro se intensificava.
Sua boca passeava por todo o meu corpo, assim como suas mãos, que hora apalpava
meus seios, hora puxava os cabelos de minha nuca, hora apertava a minha bunda.
Em um dado momento eu só conseguia sentir raiva de toda essa situação e nojo dele e de
mim mesma por deixa-lo fazer isso comigo. Eu tinha que ser mais forte pra lutar contra
isso… eu tinha.
- Muito mais gostosa do que eu imaginava, em Preta! Ah! – Diz e geme alto no meu
ouvido.
Eu estava me sentindo humilhada e quebrada demais até para pedir pra ele parar de fazer
aquilo, então eu deixei. Deixei que fizesse o que quisesse, e ele fez. Ele me fez ficar de
quatro, me fez ficar de lado, me colocou em cima da mesa, depois voltou para o sofá.
Eu já não me suportava mais, as lagrimas já havia secado… Eu não estava mais ali…
Não estava.
Se ele me matasse ali mesmo eu não me importaria nem um pouco.
E então ele finalmente gozou, senti o seu liquido quente me invadir e eu fechei meus olhos
com força e agradecendo a Deus por finalmente ter acabado. Ele saiu de dentro de mim e
se deitou no chão.
Eu ainda estava inerte jogada no sofá, meus olhos agora fitavam firmemente o teto
daquela sala, ainda sem acreditar que isso tudo aconteceu. Mais do que a dor física que
eu sentia, a emocional me matava. Eu me sentia completamente imunda e humilhada… A
pior mulher do mundo. Todo o meu valor tinha ido embora a partir do momento em que
ele me invadiu daquela forma tão nojenta e cruel.
Depois de alguns segundos deitado no chão, eu vejo pela minha visão periférica, ele se
levantando e saindo da sala. Eu sequer tenho forças para levantar, quero, mas não
consigo. As lágrimas agora começam a cair silenciosamente, a dor no meu corpo e na
minha alma só fazia-me sentir pior. Minutos depois ele volta com uma toalha amarrada
na cintura, o seu cabelo está molhado e um vestido na mão, ele para de frente para mim,
ainda deitada no sofá.
- Para de chorar, porra. – diz irritado e joga o vestido em cima de mim.
Levo minhas mãos até o meu rosto e seco-o lentamente.
- Toma, veste esse vestido da Isabela, deve dar em você. – diz se afastando de mim.
- Po-posso ir ao banheiro? – digo bem baixo e tento cobrir, inutilmente, o meu corpo
envolvendo os meus braços nele.
- Vai lá. – diz agora já entrando na cozinha.
Com muito sacrifício me levanto do sofá e vou andando vagarosamente até o banheiro.
Assim que tranco a porta atrás de mim, eu me permito desabar no chão em lágrimas.
Eu ainda estou tentando entender por que comigo.
Permito-me ficar alguns minutos jogada naquele chão, deixando as lagrimas sair.
Quando eu finalmente consigo me levantar, vou até o chuveiro, jogo uma água no corpo,
apenas para tirar os vestígios de sangue. Saio, me seco com uma toalha que tinha ali e
coloco o vestido que ele me deu, ficou parecendo uma blusa de tão curto, mas vai ser com
ele mesmo que irei. Enxugo minhas lágrimas e saiu do banheiro de cabeça baixa. Quando
chego à sala o encontro sentado no sofá, agora de bermuda e fumando um cigarro. O
ódio que eu estou sentindo por esse homem agora é tão grande, que eu seria capaz de
pegar essa arma que está em cima de sua mesa e atirar em sua cabeça.
Abaixo-me com muita dificuldade, pois as dores no meu corpo eram enormes, pego minha
bolsa no chão e quando estou quase abrindo a porta, sinto o corpo do DG me prensando
contra ela. Ele segura na minha cintura com força, e um medo de que ele faça tudo
novamente, toma conta de mim.
- Se contar isso que aconteceu aqui pra alguém, eu mato a sua mãe e faço o mesmo
contigo.
Minha mãe não, ela é a única pessoa que eu tenho. A pessoa que eu mais amo nesse
mundo. Eu não permitirei que ele faça nada com ela.
- Entendeu? – diz entredentes e aperta forte o meu braço. Eu balanço a cabeça
afirmando que sim.
– RESPONDE CARALHO. – grita no meu ouvido e me aperta com mais força.
- Sim… Entendi. – minha voz sai tremula e quase inaudível.
- Tá. Pode ir. Se eu precisar de você de novo eu te chamo.
Antes de desgrudar o seu corpo nojento do meu, ele deixa um tapa na minha bunda e um
beijo no meu pescoço. Eu mordo minha boca de raiva e nojo e passo minha mão
lentamente no pescoço tentando limpar o beijo.
Saí o mais rápido que consegui de dentro daquela casa e fui andando, ou melhor, me
arrastando pelos becos quase desertos da favela. Os únicos que se encontravam nas ruas
eram os traficantes, que mexiam comigo por onde eu passava, acredito eu que seja pelo
tamanho minúsculo do vestido que eu estou usando. E cada assovio ou cantada que eu
recebia, eu sentia ainda mais medo de alguém me agarrar novamente. Por conta disso eu
passei a praticamente correr e nem ousava olhar para os lados. Apenas para baixo. A
cada passo que eu dava um gemido sôfrego de dor saia de minha boca. Eu ainda não
conseguia acreditar que eu passei por isso…
Meia hora depois eu finalmente chego em casa e graças a Deus a minha mãe estava
dormindo no sofá. Decido, então, ir tomar um banho primeiro antes de acordá-la, eu não
quero que ela me veja com essa roupa e com essa cara de choro, por mais que se eu tomar
um banho, eu sei, que essa cara não vai sair.
Fico algumas horas debaixo do chuveiro me esfregando com a bucha. Minha pele já
estava vermelha e ardida, mas eu não me importava, eu queria era tirar todo o vestígio
dessa noite horrível que tive. As lágrimas se misturavam com a água que caía do
chuveiro, os soluços saiam baixos de minha boca. Deixo o meu corpo cair no chão do
banheiro, junto os meus joelhos e começo a esfregar com força as minhas pernas, braços
e rosto. Mesmo com a dor que sentia no rosto e eu provavelmente me ferindo por conta da
força com que eu esfregava, eu não me importava. Machucado ou dor nenhuma naquele
momento seria maior do que a que eu estava sentindo. Depois que tive a total certeza de
que estava realmente limpa, eu saí de dentro do box, me sequei e coloquei o pijama que eu
tinha pego antes.
Assim que eu saí do banheiro dei de cara com a minha mãe no corredor.
- Oi minha filha, você demorou. Eu estava preocupada.
- Desculpa mãe, é que eu acabei me empolgando e perdi a hora de voltar. – digo de
cabeça baixa, sem ter coragem de olhá-la.
- Poxa, por que não me avisou? Poderia ter me ligado, eu teria ido lá embaixo te buscar.
– diz um pouco brava e ao mesmo tempo eu via preocupação em seus olhos.
- Eu imaginei que a senhora já estivesse dormindo. Eu vi o quanto estava cansada hoje,
não queria atrapalhar seu descanso. Daqui a pouco a senhora tem que acordar pra ir ao
trabalho…
- Não importa, poderia ter me ligado mesmo assim. – ela passa sua mão levemente pelo
meu queixo, obrigando-me a olhá-la.
- Mãe, eu cheguei e a senhora estava dormindo. – falho desastrosamente na tentativa de
dar um sorriso pra ela.
- Eu apenas tirei um cochilo, sem nem perceber. Eu vi quando você chegou… Por que
demorou tanto no banheiro? – pergunta e me olha desconfiada.
Merda!
Eu não posso e nem vou falar nada pra ela do que aconteceu. Não vou mesmo.
- Estava com dor de barriga. Comi muito brigadeiro na festa.
Ela sorri e passa a mão pelos meus cabelos molhados.
- Lavando o cabelo antes de dormir, garota, já disse que faz mal.
Eu já estava cansada de encará-la, de olhar pra ela e agir naturalmente como se nada
tivesse acontecido nas últimas horas. A única coisa que eu queria era que ela parasse de
falar e me deixasse ir para o meu quarto e chorar mais e mais.
- Eu passo o secador rapidinho antes de dormir, não tem problema.
- Huum! E como foi a festa? – pergunta e pelo o que eu a conheço eu sei que se eu não a
cortar agora, ela vai querer falar até o amanhecer.
- Mãe, será que a gente pode conversar amanhã? Eu estou cansada, preciso dormir.
Ela sorri de lado, leva a mão ao meu rosto e diz.
- Tudo bem minha filha, pode ir. – ela deixa um beijo na minha testa e me olha. – Mas na
próxima vez eu quero que você venha pra casa mais cedo ou que me liga pra eu ir te
buscar. É perigoso pra você ficar andando por aí sozinha à noite.
- Eu sei mãe. – minha voz saiu um pouco trêmula, mas eu não deixo transparecer pra ela
o meu real estado.
Só eu sei o quanto é perigoso andar por aí sozinha, mãe.
Vou para o meu quarto antes que ela resolva conversar mais comigo. Deito minha cabeça
no travesseiro, as lágrimas voltam e eu não consigo segurar… Deixo que caiam.

[…]

- O que você está me falando, Sophia? – diz a Camila com os olhos arregalados em
espanto.
Duas semanas se passaram depois do abuso que eu sofri, e até então eu não tive coragem
de contar nada para ninguém. Eu estava no colégio, eu estudo no Pedro II, um dos
melhores colégios do Rio de Janeiro. Graças a Deus eu sempre fui muito estudiosa e
centrada na minha vida, principalmente quando o assunto era estudos.
A Camila é a minha melhor, e única, amiga, ela tem a mesma idade que eu. Só que o estilo
de vida dela é completamente diferente do meu, ela mora numa região nobre do Rio, sua
família tem uma estabilidade financeira que, nem se a minha mãe fizesse faxina em dez
casas por semana, conseguiria. Mas nem por isso ela se acha melhor por isso e muito
menos tem a minha amizade por esse motivo, a Camila é uma amiga sem igual… e louca,
bem louca.
Durante todas essas semanas eu passei quieta no meu canto. Eu não queria sair de casa,
não queria conversar com ninguém, só queria ficar na minha. Eu apenas queria ficar só e
tentar, de alguma forma, tirar toda essa dor e nojo de mim mesma que me corrói. Porém,
é impossível esconder algo da Camila. Desde o primeiro dia que ela me encontrou, após o
ocorrido, ela percebeu que eu não estava legal e que havia acontecido algo. Mas eu
sempre negava, dizendo estar tudo bem, mesmo ela já ter me pego chorando pelos cantos
varias vezes.
Eu tinha medo e vergonha de contar tudo o que eu vivi, pra alguém. Eu não sabia como
ela ia reagir. Eu tinha medo também do DG descobrir e fazer algo com a pessoa. Mas por
outro lado eu também me sentia sufocada. Depois de tanto insistir e de fazê-la me
prometer que não contará nada a ninguém, eu contei para a Camila o que aconteceu
comigo na noite de seu aniversario. E como sempre acontecia quando eu me lembrava de
tudo o que eu vivi, as lagrimas invadiram meus olhos e uma dor fora do normal
dilacerava o meu peito.
- Eu não estou acreditando no que você acabou de me falar, Sophia. – seus olhos
transbordam de lagrimas. – Isso… isso… isso é horrível. Você tem que denunciar esse
cara, Soph! Isso não pode ficar assim!
A essa altura éramos as duas chorando copiosamente no banheiro.
- Não… Mila, você me prometeu que não ia contar nada a ninguém, por favor, não conta.
Ninguém pode saber. – digo desesperada segurando em suas mãos.
- Mas amiga ele não…
- Ele disse que ia matar minha mãe caso eu falasse para alguém, por favor, não conta. Eu
sei que ele tem poder pra isso, ele é o chefe do morro. Ele pode. – eu estava desesperada.
Ele pode fazer o que quiser comigo, só não quero que toque na minha mãe. A minha mãe
não!
- Soph, eu tenho um primo que é Delegado, eu posso falar com ele e…
- Não… Por favor, não conta nada, eu te peço, Mila. – seguro com mais força suas mãos
nas minhas.
Ela para um tempo parecendo observar o meu desespero e aflição.
- Tudo bem amiga, mas é porque você está implorando e também porque eu conheço
muito bem esses caras, sei do que são capazes.
Diz chorando e passando suas mãos pelo meu rosto.
- Eu não acredito que não me contou isso antes, eu poderia ter te ajudado. Isso tudo é
culpa minha, se eu tivesse subido com você…
- Se não fosse naquela noite ia ser em outra, não é de hoje que ele me cerca, só que eu
nunca pensei que ele realmente poderia fazer algo assim. – enxugo minhas lágrimas.
- Ai amiga, eu sinto tanto por você. – diz me abraçando forte.
Eu sabia que nela poderia confiar. Ela é uma irmã que eu nunca tive.
Ficamos horas naquele banheiro, ela me consolando, e eu tentando de alguma forma
apagar toda aquela noite horrível da minha mente.

[…]

- Amiga, já é a quinta vez que você vomita só hoje. – dizia a Camila segurando meu
cabelo enquanto a minha cabeça estava praticamente dentro do vaso.
Havia se passado um mês e pelo menos uma boa notícia eu tive em meio a isso tudo: o
DG tinha sido preso semana passada em uma operação que teve lá no morro. Isso foi um
alívio pra mim, me ver, finalmente, livre daquele cara nojento. Eu espero que ele apodreça
naquela cadeia, ou melhor, que o mantém lá dentro.
- Já estou melhor. – me levanto e vou até a pia lavar a boca. – Deve ter sido algo que
comi.
Vejo-a cruzar os braços na altura dos seios e me olhar de um jeito estranho.
- O que foi?
- Sophia… Isso me parece outra coisa. – diz chegando mais perto.
Eu sabia muito do que ela falava. E não, eu não queria. Eu não aceitaria isso.
- Não Camila. – digo séria e me viro novamente de frente para a pia.
- Não custa nada fazer um teste, Soph, só para descartarmos logo essa hipótese.

[…]

Depois de muita espera, o meu nome finalmente é chamado pela recepcionista. Vou até o
balcão de atendimento e pego o envelope de suas mãos. Eu estava ansiosa, nervosa e com
medo de abrir e dar de cara com um resultado que eu tanto temo. Eu não queria carregar
o fruto de um abuso dentro de mim, eu não queria carregar esse fruto pela minha vida
inteira. Já basta o estrago que aquele crápula fez com o meu psicológico. Eu não sei se
saberei viver com mais esse peso em mim.
A Camila pega o envelope da minha mão e guarda em sua bolsa, logo em seguida ela
pega na minha mão e me arrasta até a entrada da clínica, faz sinal para um taxi, ele para,
nós entramos e seguimos em direção a sua casa.
Fiquei todo o caminho calada, nada saia da minha boca, mas isso não impedia de fazer
com que a minha mente estivesse uma completa bagunça. Nesse momento tudo se passa
por ela.
Deus! Eu só quero que esse exame dê negativo.
Chegamos na casa da Camila e ela me leva diretamente para o seu quarto.
- Pode ficar tranquila, minha mãe não está em casa. – diz fechando a porta do seu quarto
atrás de si.
- Tá, abre logo esse exame, Mila. – eu estava aflita, ansiosa… Com medo, muito medo.
- Tá…
Ela respira fundo, rasga o envelope e começa a ler o exame.
- E ai Camila? – perguntou apertando minhas mãos com força uma na outra. O meu
corpo tremia de nervoso e minha boca estava completamente seca. Parecia que a
qualquer momento eu poderia perder os sentidos.
- Sophia… – diz baixinho e respira fundo. Meu coração acelera e eu só consigo pensar no
pior.
- De-deu positivo. – diz e abaixa o papel, levando agora o seu olhar de encontro ao meu.
O seu desespero só não é maior que o meu nesse momento.
Conforme eu fui assimilando suas palavras, eu fui vendo o meu mundo desmoronando.
Não! Não podia ser verdade. Eu não estou grávida daquele homem. Eu não aceito estar
grávida daquele homem.
- Vo-você leu direito? – vou até ela e pego o papel de sua mão. – Deixa eu ver isso aqui.
Eu tremia, mal conseguia segurar o papel em minhas mãos, a minha vista estava turva
pelas lagrimas que não paravam de descer, mas isso não me impediu de ler o resultado
escrito em letras garrafais no canto da folha: POSITIVO. Eu entrei em desespero. Não
bastava eu ser estuprada, eu ainda teria que carregar pra sempre um fruto disso. Eu só
queria saber o que eu fiz pra merecer algo assim. A minha vida acabou, todos os meus
sonhos, os meus planos, tudo acabou.
O resto de forças que eu ainda tinha dentro de mim para lutar, foi embora.
- Amiga calma. – diz se sentando ao meu lado na cama e me abraçando.
- Como você quer que eu tenha calma, Camila? Eu estou grávida! Grávida de um bandido
nojento, que sem pena nenhuma abusou de mim. Como você quer que eu fique calma?
Minhas lágrimas caiam sem parar, eu consigo ver a minha vida terminando de ir para o
buraco agora mesmo.
O que eu faço da minha vida agora?
- Você o quê?! – diz a tia Patrícia entrando no quarto.
Ela tinha os olhos arregalados em surpresa, parecia horrorizada com o que acabou de
ouvir.
- Mãe, quantas vezes eu já disse que a senhora tem que bater na porta antes de entrar,
caramba? – diz a Camila se levantando e logo em seguida me olhando como se pedisse
desculpas pelo acontecido.
Ela ignora totalmente o que a Camila disse e vem até a mim, ajoelhando-se na minha
frente.
- Sophia, isso é sério? Você realmente foi…
- Mãe, por favor, nos dê licença.
- Cala a boca, Camila. – diz olhando para sua filha, mas logo volta sua atenção pra mim
novamente. – Soph você pode confiar em mim, ok? – diz passando as mãos nos meus
cachos.
Ela sempre foi bem atenciosa e carinhosa comigo. A tia Patrícia sempre foi uma pessoa
super legal, não era nenhuma dondoca cheia de frescura, muito pelo contrário, sempre
muito simples e atenciosa quando se tratava dos filhos.
E pelo visto ela não vai sair daqui antes de ouvir novamente da minha boca o que
aconteceu.
- Si-sim. – digo não conseguindo segurar o choro.
Ela levanta e me abraça forte. Chorei mais ainda em seus braços.
- Sua mãe sabe? – pergunta, sentando-se ao meu lado na cama.
Posso ver os seus olhos também marejados.
- Não… Tia! Olha! Não conta nada disso pra ninguém, por favor! – imploro chorando.
- Sophia, isso é muito sério. Você está grávida, você foi estuprada. O cara que fez isso
com você tem que pagar.
- Quanto a isso a senhora não precisa se preocupar, ele já está preso. E eu espero que não
saia nunca mais.
- Você já sabe o que vai fazer em relação a essa gravidez?
- Nã-não sei. Eu não quero isso… – digo com raiva.
- Eu não imagino o tamanho da dor que você deva estar sentindo agora, Soph. Mas você
também não pode esquecer que essa criança é tão vitima quanto você.
- Eu sei! Mas eu não vou conseguir carregar isso aqui dentro de mim, eu não vou
conseguir amar essa criança como ela merece ser… E se for pra ser assim é melhor eu
tirá-lo de mim…
Por outro lado eu também sei se vou conseguir fazer isso.
Que merda!
Por que comigo, Deus? Por que justo comigo?
- Olha, você que sabe. Mas como experiência própria de quem já teve um aborto…
- Mãe você já abortou? – a Camila pergunta espantada.
- Sim, minha filha. – diz pra ela e logo se vira pra mim novamente. – E Sophia, não é uma
das melhores sensações nem de longe, talvez você não vá conseguir colocar sua cabeça
no travesseiro e dormir tranquila lembrando que matou uma vida, pior, que matou seu
próprio filho.
- Mas eu não sei o que fazer, eu não vou falar isso pra minha mãe. Eu não consigo. – levo
minhas mãos ao rosto o tapando e um soluço alto sai de minha boca.
- Tudo bem, eu te entendo, mas pense melhor. Não vá fazer algo que você vá se arrepender
depois. Você pode ter a criança e se depois que nascer você ainda não conseguir ter nem
um pouquinho de sentimento por ela, se ele te recordar todos os momentos horríveis que
você passou, você pode dar para adoção ou alguém que queira. O que não falta são
casais doidos para ter filhos e não podem.
- A senhora está certa. – digo um pouco insegura.
Eu não sei se serei capaz de prosseguir com essa gravidez, mas eu também não sei se
serei capaz de interrompê-la desta forma.
- Então você vai continuar com a gravidez?
- Eu vou me dar um tempo para pensar. Eu também não acho que teria coragem de matar
alguém, seria desumano demais acabar com uma vida dessa maneira. Essa criança não
tem culpa de eu ter passado por tudo o que eu passei, ela não merece.
- Faça como achar melhor. – diz passando a mão nos meus cabelos. – Mas saiba que
sempre que precisar, estaremos aqui do seu lado pra tudo, tudo mesmo.
- É amiga, sempre. – diz a Camila ajoelhando na minha frente e segurando a minha mão
com força.

[…]

Três meses depois…
- VOCÊ O QUÊ?! – minha mãe praticamente cuspiu essas palavras duramente na minha
cara.
Quando eu percebi que não daria mais para esconder da minha mãe, eu resolvi contar.
Três meses. Eu já estou com três meses de gestação. Não foi fácil esconder a barriga, os
enjoos, as lágrimas… Eu aceitei que de qualquer jeito, uma hora ou outra, ela ficaria
sabendo, afinal de contas se eu decidi continuar com a gestação, agora não tem mais
como parar. Porém me faltava a coragem para dizer a ela o que aconteceu… Quer dizer,
inventar uma história para justificar essa gravidez. Pois se depender de mim, a minha
mãe nunca saberá a verdade. Olho para o seu rosto cansado e vejo os seus olhos em uma
expressão de incredulidade, desgosto e raiva.
Merda!

- Mãe eu… Me desculpa. – comecei a chorar mais ainda.
Normal. Isso é o que eu mais venho fazendo ultimamente: Chorar.
- Por que Sophia? Não foi por falta de conversa. Quantas vezes sentamos para conversar
sobre o assunto e eu sempre te deixei à vontade pra me dizer quando você quisesse
transar ou tivesse transado? Eu sempre te deixei a par dos cuidados que teria que tomar.
- E-eu…se-sei … mãe…desculpa. – me sento no sofá abaixando a cabeça com vergonha
de encará-la.
- Quem é o pai?
Agora que ferrou tudo de vez. Eu não podia dizer pra ela que essa criança é fruto de um
estupro, até porque ela ia querer saber quem foi, e eu não colocaria minha mãe em risco.
Por mais que ele agora esteja preso, eu sei do poder que ele tem, se ele quiser, mesmo de
lá de dentro, ele mata minha mãe e a mim também.
- ME RESPONDE, SOPHIA! – ela grita e instantaneamente o meu corpo se encole no
sofá.
- E-e-eu… Não sei. – digo e vejo a decepção estampada no seu rosto.
- Co-como assim você não sabe, Sophia?
- E-eu não sei, mãe.
- MINHA FILHA VIROU UMA PUTA AGORA, É ISSO?
As palavras dela me machucaram. Eu preferiria morrer ao escutar essas palavras saindo
de sua boca e ver o seu olhar de decepção pra mim.
- Mãe não é assim tamb…
- É assim sim! Você virou uma puta, Sophia, está pior que essas garotas ai do morro, nem
o pai do seu filho você sabe quem é.
Ela chega mais perto de mim, pega com força no meu queixo me fazendo olhá-la.
- Eu tenho vergonha de você, você não é minha filha, não é a menina que eu criei sozinha
com todo o sacrifício do mundo… – ela solta meu rosto com força. – Eu me mato de
trabalhar pra dar o melhor pra você, Sophia, e você faz isso?
- De-desculpa mãe.
- Eu fui a sua amiga esse tempo todo, sempre estive do seu lado. Eu pensava que você
confiava em mim. – diz me olhando com raiva – Você não se deu nem o trabalho de me
avisar que estava dando pra cidade inteira.
- Não é assim, mãe. Eu não…
- CALA A BOCA, GAROTA. EU NÃO QUERO MAIS OUVIR SUA VOZ. SAI DA MINHA
FRENTE! – ela grita com o rosto próximo ao meu e aponta o braço em direção ao quarto.
Não penso muito e me levanto, me arrasto para o meu quarto e me jogo na cama,
deixando as lágrimas caírem à vontade pelo meu rosto.
Eu prefiro ver minha mãe falando essas coisas de mim do que vê-la morta.
Por ela eu suporto isso tudo.




[…]




1º CAPÍTULO

Sophia

Três anos se passaram e agora me vejo aqui desempregada com minha mãe sem poder
trabalhar e o meu filho, que agora tem dois anos de idade.
Sim, eu realmente tive o bebê e não me arrependo nem um pouco da escolha que fiz. O
Gustavo é a criança mais linda do mundo. Infelizmente ele se parece um pouco com o
desgraçado do DG, os olhos, por exemplo, são os mesmos. Mas o amor que eu sinto por
ele é tão grande que eu não consigo sentir raiva por ele, de alguma forma, me lembrar
daquele desgraçado, muito pelo contrário, eu o amo muito e não me vejo sem ele.
Minha relação com a minha mãe não é a mesma desde o dia em que eu contei que estava
grávida, ela não me expulsou de casa, como eu pensei que faria, mas também não temos a
mesma relação de antes. Sempre quando temos alguma discussão ela não perde a chance
de jogar na minha cara o fato de eu não saber quem é o pai do meu filho.
Eu acabei perdendo realmente a confiança da minha mãe.
Eu consegui entender o lado dela por ter agido assim, eu realmente não tinha motivos
nenhum para “Fazer o que fiz”. Ela não sabe o que realmente aconteceu então eu tento não
sentir raiva dela por isso.
É claro que me dói ver a minha mãe distante de mim. Mas eu não tiro sua razão por me
tratar assim.
Ela não aceita até hoje o fato de eu não saber quem é o pai do Gustavo.
Por conta disso eu virei motivos de fofoca em toda a Rocinha.
“A santinha que de um dia pro outro engravidou e não sabe quem é o pai do bebê.“
“A nova puta da favela.”

E por aí vai.

Eu tento não me importar com os rótulos que me deram depois disso, mas é difícil, ainda
mais para minha mãe. Ela sempre teve orgulho de mim, por eu ter conseguido entrar em
uma das melhores escolas do Rio naquela época e por eu ser uma ótima filha. Ai, de
repente, acontece tudo isso e minha vida vira de cabeça pra baixo.
Como eu engravidei no último ano escolar, eu consegui terminar os meus estudos. Claro,
sofri também muito na escola por conta do preconceito por eu estar grávida aos 17 anos.
Mas eu sempre tinha a Camila do meu lado pra me defender de todos. Mas infelizmente
não deu pra eu fazer minha tão sonhada faculdade de Medicina. Um tempo depois de eu
ter terminado os estudos e do Gustavo ter nascido eu até tentei fazer um cursinho de
técnico de enfermagem. Não era a medicina que eu queria, mas pelo menos estaria
trabalhando na área da saúde que é meu sonho. Mas não deu, na época o Gustavo estava
com sete meses e eu não tinha como pagar alguém pra ficar com ele, então acabei
desistindo. Quando meu filho completou um ano, eu consegui emprego em uma pizzaria,
aqui mesmo na comunidade, não era muito, o que eu ganhava, mas dava pra ajudar minha
mãe com algumas coisas dentro de casa e comprar leite para o meu filho, que pra mim era
o essencial. Eu poderia passar fome, mas ele não. Como minha mãe trabalhava em casa de
família ela chegava em casa cedo e eu só pegava no trabalho na parte da noite, então ela
podia ficar com o Gustavo para eu trabalhar.
O Gustavo é a única alegria da casa, parece que quando minha mãe está com ele esquece
todos os problemas e esquece que eu sou o seu desgosto. Ela diz que, pelo menos, eu fiz
algo bom nessa vida. Pra falar a verdade de uns tempos pra cá, ela até que vem me
tratando um pouquinho melhor, ainda não temos a mesma relação de antigamente, mas
pelo menos ela me dirige a palavra com mais frequência e de uma forma mais amena. Eu
sinto que aos pouquinhos eu vou conseguir a confiança da minha mãe de volta.
Eu fiquei bastante tempo trabalhando naquela pizzaria, não era lá grandes coisas, porém
era uma grande ajuda. Mas infelizmente, há dois meses eu fui mandada embora, na
verdade a pizzaria fechou. Desde então eu venho procurando emprego novamente. Agora
mais do que nunca. Minha mãe acabou tendo um problema no joelho e não pôde mais
trabalhar, agora por enquanto nós vivemos da aposentadoria que ela está recebendo, o que
é muito pouco pra dois adultos e uma criança de dois anos que gasta muito. Eu já não sei
mais o que fazer, onde procurar, a quem recorrer. Já coloquei currículos em todas as lojas
possíveis e nada. Agora mesmo acabo de chegar em casa depois de passar o dia inteiro
entregando currículos praticamente no Rio de Janeiro inteiro. Abro a porta e vejo aquela
bolota branca de olhos incrivelmente azuis correndo em minha direção.

- Mamã… mamã. – vem ele de braços abertos.
- Oi meu amor. – digo o pegando no colo e apertando-o nos meus braços.
Ele pega o meu rosto em suas mãos e me dá um beijo bem molhado.
- Que saudade que eu estava de você, meu amor.
- Dade, dade – diz eufórico.
Ele agora está começando a falar as coisas. Está naquela fase de repetir o que os adultos
falam.
- Como foi hoje, Sophia? Conseguiu alguma coisa? – diz minha mãe na cozinha, lavando a
louça.
- Nada mãe. – sento no sofá com o Gustavo em meu colo – Entreguei currículo em todas
as lojas possíveis. Todas diziam o mesmo. Que se eu fosse escolhida entrariam em
contato.
- Tem que ter fé… Você vai conseguir algum emprego, eu sei. - Deus te ouça, mãe. – digo
e desço o Gus para o chão me sentando ali mesmo no tapete com ele.
Viro-o de frente para mim e começamos a brincar. Não demorou muito e o celular
começou a tocar. O pego dentro da minha bolsa e dou uma pequena olhada antes de
atender vendo que é a Camila.
- Oi Mila, como está de viagem? – ela tinha ido para Nova York passar as férias.
- Acabei de chegar em casa, Soph. E estou morrendo de saudade de vocês.
- Nós também. né Gus? – digo brincando com o Gustavo. Ele faz um “ É ‘’ e eu começo a
rir.
- Que coisa mais fofa da dinda… – pelo o que eu a conheço, está apertando a própria
bochecha. – Traga ele aqui amanhã, minha mãe vai fazer um almoço pra comemorar
porque eu finalmente voltei para casa. E eu quero matar a saudade de vocês dois.
- Tá bom, Mila, vamos sim. – aceito de imediato, eu estava com saudades da minha amiga,
fazia dois meses que não nos víamos.
- Me fala. Como você está?
- Eu estou bem… Cansada, mas bem. Andei hoje o dia inteiro atrás de um emprego e
nada.
- Ainda tá nessa, amiga? Pensei que já tinha conseguido algo.
Ela até tentou me colocar na empresa do pai dela, mas não tinha como. Todos os cargos
estavam ocupados. E de jeito nenhum eu ia tirar o emprego de uma pessoa pra eu entrar,
jamais. Eles precisam tanto quanto eu.
- Quem me dera, acho que seria mais fácil eu ter um caso com o Caio Castro do que
arrumar um emprego no Rio de Janeiro em meio essa crise toda. – digo e ela começa a rir
do outro lado. Não aguento e começo a rir também.
- Só você mesmo, Sophia.
- Estou falando sério, está muito difícil arrumar emprego hoje em dia.
- É realmente…
- Realmente o que Camila? Você é rica, não precisa trabalhar.
- Ai que você se engana viu mocinha… Meu pai está enchendo o meu saco pra eu ir junto
com ele pra empresa.
- E não vai por quê?
- Ai lá é muito chato, você sabe que o que eu gosto mesmo e de adrenalina, né. Eu estava
falando com aquele meu primo Delegado e ele disse que vai começar as inscrições para a
prova da Civil. – diz animada.
Ela e esse primo. Ela fala tanto dele pra mim, mas eu nunca tive a oportunidade de
conhece-lo, parece ser uma pessoa muito ocupada, pois em todas as festas da família, que
eu estou presente, é claro, ele nunca está.
- E você vai fazer? – pergunto.
- Estou querendo… Lógico que se eu fizer vai ser escondido, né. Se o meu pai souber ele
corta minhas asinhas antes mesmo do voo…
- Vem com a vovó, vamos comer. – diz minha mãe pegando o Gus do meu colo.
Volto minha atenção a minha conversa com a Camila.
- Eu não sei por que você não abre logo o jogo pra ele e diz que não quer assumir a
empresa. Você já ficou três anos fazendo uma faculdade que não gostava. Agora vai ficar
também a vida trabalhando com o que não gosta?
- Ah sei lá, eu queria ser igual ao meu irmão, sabe? Meio que foda-se pra vida. Mas eu
tenho medo de decepcionar o meu pai.
- Pior que decepcionar o seu pai é passar a vida fazendo o que não gosta só pra agradá-lo.
- É… Você tem razão.
Olho para a cozinha e vejo minha mãe e o Gustavo em uma guerra com a comida. É
sempre assim, minha mãe nunca consegue dar comida na boca dele. Quando consegue, ela
já está cansada de tanto brigar.
- Mila, vou desligar, o Gus não quer deixar minha mãe dar comida pra ele, e eu vou dar
uma mãozinha aqui. A coitada já deve estar cansada de correr atrás dele o dia todo.
- Gustavo sendo Gustavo. – diz rindo. – Tudo bem amiga, vai lá… E ó, te espero aqui
amanhã em.
- Pode deixar, estaremos ai.
- Beijos.
Desligo e logo me levanto indo em socorro a minha mãe.
- Come meu filho, está gostoso. – diz minha mãe tentando enfiar a colherinha com a
comida, dentro de sua boca. Só que ele, turrão como sempre, não abria. Balançava a sua
cabeça de um lado para o outro dizendo que não.
Tive que rir com essa cena.
- Mãe, deixa que eu dou, pode ir descansar que eu cuido dele agora. – digo e lhe dou um
sorriso, fico feliz quando ela me retribui e sai em direção ao seu quarto.
Sento-me na cadeira e puxo sua cadeirinha para mais perto de mim. Pego o prato na mão e
encho a colher de comida.
- Olha meu filho, aviãozinho. – começo a fazer a colher de aviãozinho, o que o faz rir e eu
sem perder tempo nenhum, coloco a colher dentro de sua boca. – Olha que gostoso, filho.
Ele a princípio faz uma carinha de choro, mas depois parece gostar e engole a comida,
logo em seguida abrindo a boquinha pra eu colocar mais. Minutos depois ele já estava
alimentado, já era oito horas da noite, e eu vi que ele já estava com seus olhinhos
acanhados, pego-o em meus braços e levo ao banheiro lhe dando um banho, coloco sua
fralda, a roupinha de dormir e me deito com ele na minha cama. O Gustavo
instantaneamente leva sua mãozinha até o meu rosto e eu dou leves palmadas em sua
bunda. Ele sempre dormia rapidamente quando fazia isso. E hoje não foi diferente, ele
rapidamente pegou no sono. Levanto-me com ele nos braços e o coloco dentro do berço ao
lado da minha cama.
Pego uma muda de roupa velha no guarda-roupa e vou direto para o banheiro. Deixo a
água quente cair sobre minha cabeça me fazendo relaxar do dia cansativo que eu tive hoje,
e ao mesmo tempo sem nenhuma esperança de que conseguiria algo que pudesse mudar
essa minha situação.
Depois de um tempo debaixo do chuveiro, decido sair, visto minha roupa e vou para a
cozinha, esquento a comida no micro-ondas e como. Assim que termino lavo a pequena
louça que sujou e volto para o quarto, vou até o berço do Gus e lhe dou um beijo.
Como eu estava muito cansada, me deito deixando que o sono me leve, com a esperança
que amanhã será um novo dia, com novas oportunidades. E realmente, algo dentro de mim
me dizia que amanhã seria um ótimo dia pra mim.


[…]


Rodrigo

Que porra! Eu não aguento mais, tanta coisa na minha cabeça, tantos problemas pra
resolver. São os pepinos na Delegacia, os problemas na minha casa. Agora minha
empregada resolveu que vai se aposentar, eu não posso ficar sem empregada dentro de
casa, eu não sei fazer porra nenhuma e odeio ficar tendo que comer fora, nada se compara
a uma boa comida caseira. A Zeiva, minha empregada atual, disse que ficaria comigo só
por mais duas semanas e que depois eu teria que me virar, pois ela não poderia mais ficar.
Eu não sei mais o que fazer, minha cabeça está cheia, eu estou estressado… Resolvo ligar
para a minha mãe, do que jeito que é, vai ficar feliz em poder me ajudar com isso. E ela
provavelmente deve conhecer alguma agência boa para contratar uma empregada.

- Oi meu filho como você está? Estou com saudades, faz tempo que não aparece aqui. –
diz tudo rápido sem me dar chances nenhuma de falar.
- Oi mãe, preciso da sua ajuda. – vou direto ao ponto. Não gosto dessa melação toda. Eu
prefiro e gosto de ficar mais na minha, por isso que fui morar fora de casa bem cedo.
- Nossa, filho! Não sei como ainda me surpreendo. Você só me liga quando quer algo,
mesmo.
Vai começar a porra do drama.

- Mãe, a senhora vai poder me ajudar ou não? – pergunto já sem paciência.
- Fala Rodrigo, o que você quer?
- Eu preciso de uma empregada nova, e eu não estou com tempo pra procurar uma agora.
- E a Zeiva?
- Ela vai se aposentar… Mãe eu preciso de uma empregada pra ontem, a senhora consegue
pra mim?
- O que eu não faço por você né meu filho… Pode deixar que eu arrumo isso pra você.
- Obrigado mãe. – já ia desligar quando ouço sua voz novamente.
- Filho aparece qualquer dia… Estou com saudades. – diz com uma voz de choro.

Isso me parte o coração, não é que eu não ame minha mãe, é lógico que eu a amo muito.
Mas eu não consigo demonstrar muito bem os meus sentimentos por ninguém, não que eu
queira ser assim, mas é que a vida me fez assim, Ele, me fez assim… O responsável pela
pior fase da minha vida, me deixou marcas e me fez ser o que sou hoje, um homem
fechado, quebrado, com um coração intocável. Tudo isso por culpa daquele desgraçado
que se dizia meu pai…
Balanço a minha cabeça lentamente, expulsando esses pensamentos.
- Pode deixar mãe, quando der eu apareço.
- Amanhã vai ter um almoço na casa da sua tia Patrícia, ela vai fazer um almoço pra
comemorar a volta da Mila, aparece lá.
- Eu vou ver mãe, não prometo nada. – digo me jogando no sofá.
- Tá bom então, estaremos te esperando de qualquer forma… Boa noite meu querido, Te
amo.
- Boa noite, mãe.
Finalizo a ligação e olho no visor as horas: 20:30hrs.
Eu preciso relaxar, ando com a cabeça muito cheia de tudo, preciso descarregar isso.
Vou até minha agenda do celular e em meio a tantos números escolho a Lívia, a mais
obediente.
No segundo toque ela atendeu.
- O que devo a honra da sua ligação, Mestre? – diz com uma alegria contida na voz.
- Está livre hoje, Lívia?
- Para o senhor eu estou sempre, Mestre.
- Então se arruma que daqui a uma hora eu passo ai pra te buscar.
- Alguma preferência, Mestre?
- O de sempre: vestido preto, cabelos soltos, salto alto e o principal… sem calcinha. –
ouço um leve gemido do outro lado da linha e abro um pequeno sorriso em satisfação.
- Sim, Mestre.

Finalizo a ligação e subo pro quarto pra me arrumar. Só essa sessão mesmo pra conseguir
relaxar. É sempre assim, quando estou estressado escolho uma das minhas acompanhantes
e a levo para o clube de dominação no qual eu sou um dos sócios. Lá eu saio leve e
relaxado depois de uma ótima transa com uma acompanhante muito gostosa e obediente
como a Lívia.
E não, eu não sou um louco, sádico. Eu não faço nada que machuque as mulheres,
raramente eu procuro o clube, não é como se essa prática fosse uma necessidade para
mim. Não é como se eu não soubesse viver sem, pois eu sei e consigo. Mas eu gosto de
variar de vez em quando e eu descobri que é bem prazerosa a sensação de estar fortemente
no comando de tudo.

[…]



2º CAPÍTULO

Sophia
Acordo com o meu despertador de todas as manhãs: o choro do Gustavo. Levanto-me da
cama e o vejo em pé dentro do berço fazendo beicinho, assim que me vê sentada na cama,
ele para de chorar. Dou um pequeno sorriso com isso e saio da cama com toda a preguiça
do mundo, vou até o berço o pegando no colo. O coloco em cima da cama, troco sua
fralda, vou até a sala e o coloco no cueiro, ligando a TV em seguida, no desenho que ele
gosta. Vou até o banheiro e rapidamente faço minhas higienes. Volto para a sala e ele está
do mesmo jeito que o deixei minutos atrás. Vou para a cozinha e faço sua mamadeira, o
retiro do cueiro e sento-me no sofá com ele em meu colo. Dou a mamadeira para ele, que
rapidamente segura em suas pequenas mãos, mas sem desgrudar nenhum minuto os seus
olhos da TV.
Minha mãe entra na sala e nos cumprimenta.
- Bom dia filha, bom dia meu querido. – diz dando um beijo no Gustavo.
- Bom dia mãe.
- Pelo visto o Gus madrugou hoje em. Ainda são sete da manhã.
- É, mas em compensação ele também dormiu a noite todinha, não acordou nenhuma vez.
- Vai se acostumando que agora vai ser sempre assim. Nessa idade eles costumam acordar
bem mais cedo.
- É, percebe-se. – digo dando um beijinho no rosto dele.
Minha mãe vai para a cozinha, eu acredito que para fazer o café da manhã.
Fico olhando para ele e observando pela milionésima vez os seus traços. É tão lindo é o
meu filho. Hoje em dia não me imagino mais sem ele, não consigo nem acreditar que um
dia eu cogitei a possibilidade de tirá-lo de mim. Apesar de todas as dificuldades que
estamos passando agora, eu não me arrependo da escolha que eu fiz. Se eu pudesse mudar
algo nisso tudo seria apenas na forma que ele foi concebido. Eu agradeço a Deus todos os
dias por aquele desgraçado estar preso. O DG com certeza saberia que eu estava esperando
um filho dele se não estivesse preso. E eu não ia querer que o meu filho nascesse no meio
de bandidos. Tudo bem que de certa forma não mudou quase nada, eu continuo morando
na favela, até porque não temos como sair daqui, tudo que temos é essa casa aqui no
morro, e também minha mãe acharia muito estranho, eu querer sair daqui de repente. Mas
conhecendo o DG como eu conhecia, ele me obrigaria a ficar com ele, e eu não ia querer
decepcionar mais ainda a minha mãe, fazendo-a pensar que tinha tido um caso com um
bandido.
- Sophia o café já está pronto. – me chama da cozinha.
Vejo que o Gus já mamou todo o leite, então o desço do meu colo e colocou-o sentado no
chão, ele como sempre muito entretido com o desenho passando na TV. Vou até a cozinha
me sento à mesa de forma que dê para vigiar o Gus na sala. Tomo o café da manhã junto
com a minha mãe e a cada dia mais eu fico feliz da nossa relação que aos poucos, mas
bem aos poucos mesmo, está voltando ao normal. Eu tento não forçar nada, deixo que as
coisas aconteçam naturalmente. Conversamos um pouco sobre coisas aleatórias e quando
terminamos de tomar o café da manhã a ajudo a lavar a louça. Vou para o quarto e arrumo
uma pequena bolsa com as coisinhas que vou levar do Gus para a casa da Mila. Por volta
das nove horas vou me arrumar, apesar da casa dela não ser tão longe assim da favela, eu
quero chegar lá cedo pra aproveitar o dia. Assim que me apronto, pego o Gustavo na sala e
o arrumo também. Depois de prontos eu pego a bolsa, colocando-a no meu ombro, o
Gustavo no colo e antes de sair de casa me despeço da minha mãe.
- Mãe, eu já estou indo. Tem certeza que ficará bem sozinha?
- Claro, Sophia, pode ir.
- Qualquer coisa me liga, tá?
- Pode deixar, fica tranquila. Vocês vão voltar tarde?
- Não, de tardinha a gente está de volta. – vou até a minha mãe dando um beijo em sua
bochecha. – Tchau mãe.
- Tchau, vão com Deus.
Saio de casa e ao olhar aqueles tantos de escadas que tenho que descer já fico cansada.
Tomo coragem e começo a descer. Alguns minutos depois, me encontro no pé do morro e
pego uma vã que me levará até o ponto de ônibus que tenho que pegar para chegar até a
casa da Mila. Algumas poucas horas depois eu chego ao condomínio e já encontro a
Camila na portaria me esperando. Ela vem correndo na minha direção e me abraça.
- Meu Deus que saudades que eu estava de vocês. – diz ainda agarrada a mim e ao Gus.
- Eu também, amiga, você me fez tanta falta.
- Ai! – o Gus geme entre a gente. Acabei esquecendo-me que estávamos nos abraçando
muito forte e ele se encontrava entre nós duas.
- Ai amor da dinda, vem aqui. – a Mila pega ele do meu colo e começa a apertá-lo em seus
braços. Ela sabia que isso o deixava bastante irritado, mas sempre teimava em fazer. O
Gus já estava vermelho de tanto tentar desgrudar aquela louca dele.
- Eu também morri de saudades de você, meu amorzinho.
- Como foi de virgem?
- Ah foi fantástico, Nova York é perfeita, da próxima vez que eu for eu vou levar vocês
comigo.
- Só que não né amiga, até parece que tenho dinheiro pra isso.
- E eu disse que EU iria levar vocês, sendo assim, eu pagarei.
- De jeito nenhum, Camila.
- Receba como um presente de aniversário para os dois.
- Não Camila, eu nunca irei aceitar isso. E vamos parar com essa conversa… Eu estou
cansada, quero sentar. – mudo de assunto tentando fazê-la esquecer dessa ideia louca.
Eu nunca aceitaria isso.
- Me empolguei tanto que esqueci que estávamos aqui na portaria ainda. Vamos o
motorista está nos esperando ali.
Ela pega na minha mão e me arrasta até o carro, entramos e dentro de cinco minutos já
estávamos em frente a sua casa. Nós descemos e a tia Patrícia veio nos receber.
- Sophia, menina que saudades. – me abraça, depois de me soltar vai até a Mila e pega o
Gustavo dos seus braços. – Como esse menino está grande, ele está muito lindo.
- É, e muito levadinho também. – digo rindo.
- Isso é bom, significa que tem saúde.
- Ah! Graças a Deus, isso ele tem bastante mesmo. – sorrio levemente.
- Vamos entrar meninas, já está todo mundo aí.
Assim que passo pela porta de entrada da sala, dou de cara com a família da Mila quase
toda ali, tinha umas tias dela, os primos que conheço da época da escola e o Fernando,
irmão da Mila, também estava. A maioria estava com roupa de banho, acredito que
estavam na piscina, com esse calor que faz lá fora não esperava outra coisa mesmo. A
Mila pega a bolsa do meu ombro e leva para o seu quarto. Cumprimento a todos e a tia
Patrícia, como uma tia babona que é, saiu apresentando o Gustavo para todo mundo na
casa, que ainda não o conhecia, as mulheres ficaram encantadas com ele.
- Amiga você trouxe biquíni?
- Não, nem sabia que vocês iam tomar banho de piscina.
E mesmo se eu soubesse não traria, eu morro de vergonha de usar biquíni ou qualquer
coisa que não me deixe confortavelmente tampada.
- Não importa, eu te empresto um.
- Não! Não precisa, eu não vou entrar na piscina.
- Tem certeza Soph? Está muito quente. – diz levantando uma sobrancelha.
Realmente está muito quente, mas não vou ficar de biquíni na frente dessas pessoas de
jeito nenhum.
- Tenho sim, estou naqueles dias. – minto.
- Então tá bom.
Diz e sobe as escadas novamente, eu acredito que seja pra trocar de roupa, e eu vou até o
meu filho, que faz a alegria da mulherada naquela rodinha.
- Tia ele está atrapalhando a senhora? Se estiver pode me dá ele.
- Que nada minha querida, pode deixar, ele é tranquilo.
- O seu filho é muito lindo… Sophia né? – diz uma mulher de cabelos castanhos e olhos
verdes. Muito linda. Já tinha um pouco de idade, dá pra perceber, mas não é velha demais,
muito pelo contrário, é bem conservada.
- Sim. – sorrio.
- Que cabeça a minha! Nem apresentei direito vocês. Soph, essas são minhas irmãs, a
Fátima, Helena e a Julia. – diz apontando para cada uma delas.
- Prazer.
- O prazer é todo nosso. – diz a moça que tinha me dirigido a palavra minutos atrás, que
descobri se chamar Júlia.
Vejo que a simpatia e beleza vêm de família mesmo.
- Senta aí querida. – a Helena diz apontando para o espaço vago no sofá.
Um pouco envergonhada me sento ao seu lado.
- E o Rodrigo, Júlia? Ele vai vim? – pergunta a minha tia.
- Ai Patrícia, você sabe muito bem como é o seu sobrinho, né? Falei com ele ontem lhe
informei sobre o almoço que teria e ele disse que se desse, viria.
- Eu não gosto nem um pouco desse jeito dele. Ele fica tão lá na dele, isso me preocupa.
Eu estava boiando totalmente no assunto. Mas resolvi não prestar muito atenção.
Olho para o Gustavo e o vejo em pé no colo da tia Patrícia, mexendo em seu cabelo.
- Eu também não gosto. Ele é tão fechado, só sabe trabalhar e trabalhar… Ele ontem me
ligou me pedindo pra arrumar uma empregada pra ele.
Acendeu uma luzinha na minha cabeça quando ouvi a palavra empregada. Mas também
não me atrevi a me pronunciar.
- Mas e a empregada dele? – pergunta a Fátima.
- Vai se aposentar.
- Ela é que deve ter se cansado do homem ranzinza que é o seu filho, Julia, parece ter 60
anos ao invés de 33. – diz a Helena fazendo as outras rirem.
- Mas a questão é que ele quer uma empregada pra ontem. E eu não sei onde vou encontrar
uma pessoa de confiança pra ficar lá na casa dele tão rápido assim. E vocês sabem bem
como ele é com essa questão de segurança. Não posso colocar uma pessoa que ele
considere perigosa lá dentro.
Nossa, pelo jeito que elas falam esse cara, ele deve ser um saco.
Penso distraída enquanto mexia em minhas unhas.
Não parece nem ser o primo maravilhoso que a Camila descreve de vez em quando.
- Sophia.
- Sim tia? – digo levantando minha cabeça rapidamente para encará-la.
- A Camila estava me falando que você estava atrás de um emprego. Já conseguiu?
- Sim, eu estou. Mas não consegui nada até agora, está difícil. – solto uma respiração
pesada.
Ela olha para as irmãs de um jeito estranho e depois todas olham para mim.
Espera aí, será que é o que eu estou pensando? Ela quer que eu…
- Você tem alguma experiência para trabalhar em casa de família? – pergunta a Júlia.
Não eu não tenho, mas eu sempre fiz tudo dentro de casa. Quando minha saia para
trabalhar eu que cuidava da casa.
Mas era a minha casa, não a casa dos outros.
- E-eu não dona Julia. Mas eu não estou entendendo, a senhora quer que eu trabalhe para o
seu filho?
- Sim, por que não? Apesar de eu estar te conhecendo agora, você me parece ser uma
pessoa bem confiável…
- Até porque se não fosse eu não a deixaria entrar na minha casa. Eu te conheço há anos,
Soph, sei que é de confiança e sei que meu sobrinho vai gostar de você.
- Se a minha irmã diz, eu confio na palavra dela.
Meu Deus, eu não sei o que dizer. Quem diria que um emprego iria vir assim do nada. Mas
eu também não sei o que fazer. Eu não estou em condições de ficar rejeitando trabalho,
mas eu também não tenho experiência.
- E ai Sophia, você aceita?
- Eu não sei Julia, eu nunca trabalhei como empregada antes. Não que eu não saiba fazer
os afazeres domésticos, não é isso. Mas é que eu realmente nunca trabalhei na casa de
alguém. Ainda mais ricos iguais a vocês, eu não sei fazer aqueles tipos de comidas
chiques, eu só sei fazer comida simples e…
- Perfeito, o meu filho odeia esse tipo de comida “de rico“ – faz aspas com o dedo. – Ele
valoriza é uma boa comida caseira.
Eu não sei o que dizer, eu estou muito tentada a aceitar.
- E o salário é ótimo, eu te garanto. Só tem um “porém”.
- O quê?
- Você terá que dormir lá, pois ele gosta de acordar e ter café da manhã pronto na mesa e
também ter sempre alguém a sua disposição á hora que ele precisar.
- Mas, eu tenho o Gustavo, eu não posso deixá-lo sozinho com a minha mãe, ela está com
um problema na perna, não pode ficar correndo atrás dele o tempo todo. O tempo que ela
fica com ele é curto, então não muda muito, agora a semana inteira, eu acho que não vai
dá. – digo um pouco triste, eu até queria aceitar esse emprego, mas depois dessa.
- Olha, então vamos fazer assim, eu vou te dar um tempo pra pensar direito sobre o
assunto e tentar resolver o que fará, só não demora muito, viu?
- Tudo bem, eu vou pensar. – digo agora um pouco mais aliviada.
- E ai Gustavo, vamos para a piscina com a titia? – a Camila chega gritando com ele que
parece entender, pois fica eufórico pulando no colo da tia Patrícia.
Ela o pega do colo da mãe, tira sua roupa o deixando apenas de fralda e vai para a piscina.
Fico ali conversando com as tias e a mãe da Camila, elas são bem legais. Mas era também
inevitável eu não pensar na proposta que a Julia me fez, realmente é irrecusável, mas eu
não tenho com quem deixar o Gustavo, e nem me atreveria a pedir para leva-lo para a casa
desse tal de Rodrigo. Pelo o que eu ouvi delas, ele é bastante conservado, gosta da sua
privacidade e eu levando uma criança pra lá mudaria completamente isso.
Almoçamos todos juntos, foi um dia bem agradável.
Quando já estava entardecendo eu resolvi ir embora, não gosto muito de ficar andando
pelo morro a noite e o Gustavo também já tinha caído no sono. A Camila se ofereceu para
nos levar em casa e eu aceitei, afinal estava cansada e não aguentaria ficar pegando ônibus
com o Gustavo no colo. Sem falar que de carro eu levaria muito menos tempo do que de
ônibus.
- Você vai aceitar a proposta da minha tia pra trabalhar na casa do Rodrigo? – diz
passando a mão pelos cabelos do Gus, que dormia tranquilamente em seu colo.
- Não sei, Camila, eu vou pensar. Eu não tenho com quem deixar o Gustavo e a minha mãe
não pode ficar com ele a semana inteira.
- Posso ficar com ele se você quiser, não é problema nenhum pra mim.
- Lógico que não, Camila, você tem sua vida, não vou fazer isso com você.
- Sophia, quando eu te disse que estaria com você sempre que precisasse eu estava falando
sério. E ficar com o meu afilhado não é nenhum sacrifício. Todos lá em casa amam ele,
tenho certeza que não se importariam de ele ficar lá conosco durante a semana.
- Mas eu não me sentiria a vontade jogando a responsabilidade do Gustavo pra cima de
você. Obrigada mesmo, amiga por querer me ajudar, mas eu vou tentar resolver isso de
outro jeito. Eu preciso desse emprego.
- Tudo bem. Mas já sabe, se mudar de ideia, eu fico com ele sem problema nenhum.
Dou o assunto por encerrado e seguimos o caminho em silêncio. Trinta minutos depois o
motorista estava parando o carro no pé do morro.
- Quando chegar em casa me liga, tá? – me dá o Gustavo e depois deixa um beijo no meu
rosto.
- Está bem, Camila. Tchau.
- Tchau.
Saio do carro e começo a subir o morro. Só Deus sabe o quanto eu estou cansada, minhas
pernas ainda doem de ontem, mas forço-me a andar um pouco mais rápido.
Chego em casa e encontro minha mãe na sala assistindo TV, vou até o quarto coloco o Gus
no berço e ligo para a Mila avisando que havíamos chegado bem em casa.
Volto para a sala e conto para a minha mãe a proposta que a dona Júlia tinha me feito, ela
achou o máximo.
- Mas mãe, eu terei que dormir lá. Eu não tenho com quem deixar o Gustavo, a senhora
não pode ficar correndo atrás dele o tempo todo.
- Minha filha a gente dá um jeito, o que não pode é você perder essa oportunidade. Você
mesma disse que o salário é ótimo. Eu com a minha aposentadoria posso te ajudar a pagar
uma creche pra ele ficar, aqui no morro mesmo. Ai eu ficaria com ele só a parte da noite
que ele não dá trabalho nenhum.
- Não sei mãe, eu não sei se vou aguentar ficar longe dele. Não sei se vou conseguir deixar
ele na creche com pessoas que eu não conheço.
- Fica tranquila, Sophia, a filha da Maria, trabalha naquela creche ali na rua de trás, é
confiável.
Maria é uma amiga que a minha mãe tem desde a adolescência.
- Então a senhora acha mesmo que eu devo aceitar esse emprego?
- Sim Sophia. Se o salário for bom mesmo como disse, você pode até mesmo ir juntando o
dinheiro para a sua faculdade.
- Ah mãe, eu já até desisti de fazer a faculdade faz tempo.
- O quê? Como assim você desistiu? Claro que não, sempre foi o seu sonho ser Médica.
- Eu sei mãe, mas depois que o Gustavo nasceu eu cheguei à conclusão de que não vou
conseguir. Agora eu tenho um filho pra sustentar e criar. A faculdade requer tempo e
dinheiro. Duas coisas que eu não tenho agora. Pelo menos agora, nesse momento, vai ser
um pouco impossível.
- Se você sou… – ela parece se arrepender do que iria dizer e não termina a frase.
Mas eu sei bem o que ela iria me falar.
“Se você soubesse quem é o pai do seu filho isso não estaria acontecendo.“
- Desculpa, filha, eu não…
Ela tenta pegar minha mão, mas me levanto do sofá me afastando dela.
- Tudo bem, não tem problema, mãe. Eu já estou acostumada com o fato de a senhora não
ter superado isso e de ter sempre a necessidade de estar jogando isso na minha cara.
Saio da sala deixando-a sozinha.
Sim eu já tinha de fato me acostumado, mas isso não mudava o fato de que doía ouvir tais
palavras. Porque sim, eu sei muito bem quem é o pai do meu filho. Mas eu não posso dizer
para sua própria segurança.
Entro no banheiro, tiro minhas roupas e entro debaixo do chuveiro, deixando minhas
lágrimas misturaram-se com a água que caía dele.


[…]

Rodrigo
Estava com trabalho até o pescoço. Já não aguentava mais ficar trancado dentro daquela
sala com aqueles papéis para analisar, ainda bem que a Clara estava me ajudando.
Estávamos no meio de uma investigação do caso de um peixe muito grande.
Estávamos investigando a participação do Deputado Federal Hernandes Felix em desvio
de dinheiro público. A investigação, claro, é sigilosa, falta pouco, bem pouco para
conseguirmos as provas concretas para prendê-lo.
Jogo os papéis em cima da mesa e me despreguiço na cadeira. Olho as horas no relógio e
me assusto. A hora passou muito rápido.
- Meu Deus, Clara, a hora passou tão rápido que eu nem percebi. Você deve estar
morrendo de fome e eu te prendi aqui o dia inteiro.
- Realmente, estou faminta. – diz olhando para a minha boca. – Mas estava tão entretida
aqui que nem liguei.
- Pode ir comer alguma coisa, eu ainda vou ficar mais um tempinho aqui.
- Não quer vim comigo? – diz dando um sorrisinho de lado.
Eu sei que a Clara me quer. Ela tenta disfarçar, mas eu já saquei e a vi várias vezes me
olhando com desejo. Mas eu não gosto de misturar sexo com trabalho.
- Não. – seu sorriso vai se desfazendo aos poucos. – Vou ficar mais um pouco aqui.
- Quer que eu peça pra alguém trazer algo pra você comer?
- Não precisa, obrigado. Tudo o que eu preciso está aqui. – digo levantando minha
inseparável garrafa térmica cheia de café.
- Ok então.
Dá de ombros e sai.
Eu volto minha atenção para os documentos a minha frente e fico mais algumas horas ali
até receber uma mensagem da Camila. Se tem uma pessoa na qual eu me dou bem, essa
pessoa é a Camila, apesar de ser bem mais nova que eu, ela é a única que consegue me
entender e me dar o meu espaço, que todo mundo tenta invadir.
Aquela baixinha é além de prima uma irmã pra mim. Ela é a única que consegue tirar um
Rodrigo mais carinhoso de dentro dessa rocha que eu sou.
“Fiquei te esperando aqui em casa o dia inteiro e nada de você aparecer. Fiquei triste. :(

Sorrio e respondo.
“Desculpa, Mila, é que eu estou atolado de trabalho, não tive nem tempo de sair de
dentro da delegacia hoje. Me desculpa.“
Mando a mensagem e começo a arrumar as coisas em cima da mesa, já tinha quebrado a
minha linha de raciocínio, vou levar esses documentos para casa, lá eu trabalho com mais
calma. Arrumo todas as folhas dentro de uma pasta e me levanto sentindo meu pescoço
doer. Ouço novamente o barulho de mensagem apitando no meu celular e pego vendo
outra mensagem da Camila.
“Tudo bem, você está desculpado só porque o assunto é trabalho. MAS É TRABALHO
MESMO NÉ?”
“Haha ciumenta nem um pouco, né? Sim é trabalho”
Respondo e logo em seguida saiu da sala. Daqui a pouco o delegado do plantão da noite
iria chegar para pegar o meu lugar, se é que ele já não chegou.
Ouço outro barulho e abro a mensagem.
“Já disse que não gosto de te dividir com essas putinhas que você surra. E acho muito
bom mesmo que o motivo de não ter vindo seja apenas o trabalho.”
Sorrio com isso.
Ela é a única da minha família que sabe que eu sou um dominador. Acho que as outras
pessoas não reagiram muito bem com essa notícia.
Ela um dia me pediu para leva-la ao clube, colocou na cabeça que queria ser a porra de
uma submissa, eu claro não deixei. Eu lá vou deixar aqueles filhos das putas tocarem na
minha priminha. Nunca.
Entro no meu carro e respondo.
“Te juro, só trabalho mesmo… Agora eu vou dirigir, depois nos falamos”
Envio e em questão de segundos ela me responde.
“Acho bom mesmo… E tudo bem, depois nos falamos. Beijos.”
Coloco o celular no banco ao lado e vou em direção a minha casa.
Minutos depois já estava estacionando o carro na garagem. Assim que desço meu celular
toca e vejo no visor que é a minha mãe.
- Oi mãe!
- Filho, como você está? Por que não foi no almoço na casa da sua tia?
- Muito trabalho mãe.
- Você tem que descansar, só sabe trabalhar, trabalhar e trabalhar…
- Tá mãe. A senhora me ligou para isso? – digo tentando não ser grosseiro com ela. Mas
acho que acabei sendo.
- Nossa, filho, não! Não foi pra isso, mas é que eu me preocupo. – sua voz saiu triste.
- Então foi pra quê?
Entro em casa e um cheiro delicioso de comida caseira invade minhas narinas, fazendo
minha barriga roncar alto.
- Eu te liguei pra avisar que eu achei uma empregada pra você… Bom, ela ainda não
aceitou de fato, mas eu sei que vai.
- Como assim ela não aceitou ainda? Pensei que ia procurar em uma agência ou sei lá…
Subo as escadas rapidamente, entro no meu quarto retirando o coldre junto com a minha
arma colocando em cima da cama. Coloco as pastas com os relatórios em cima da
cabeceira e me sento na cama tentando tirar o sapato.
- Eu até ia meu filho, mas eu achei essa menina e…
- Menina, mãe? – pergunto incrédulo.
- Sim, ela é de confiança Rodrigo.
- E onde encontrou essa pessoa?
- Ela é amiga da Camila.
- Amiga da Camila? E por acaso as amigas dela sabem fazer algo a não ser ir ao shopping
fazer compras e reclamar da vida boa que elas têm? Eu pensei que a senhora iria me
ajudar, mas estou vendo que não.
- Calma meu filho, ela não é assim. Ela está precisando do emprego, só que ela ainda vai
pensar, pois ela tem um filho e não sabe se vai poder dormir ai durante a seman…
- Ela tem um filho? Isso não vai dar certo, Dona Julia. Eu não quero uma empregada que
tenha que ficar saindo sempre por causa de criança.
- Eu sei, mas dá uma chance pra ela, Rodrigo. Você tem que parar de ser assim, tão egoísta
e só pensar em si mesmo. Tem um mundo aqui fora, tem pessoas que precisam de ajuda, o
que é o caso dela.
- Eu estou pouco me fodendo pra isso mãe, eu só quero uma empregada que fique sempre
a minha disposição sem que nada atrapalhe.
- Olha o jeito que você fala comigo, Rodrigo, eu sou sua mãe… – respiro fundo. – Dá uma
chance para ela, vai. O que você acha de ela ficar ai um tempo de experiência e depois se
você não gostar você troca?
- Não sei não. Essa mulher ai deve nem saber lavar uma roupa direito.
- Ai que você se engana viu… Vai Rodrigo, não custa nada.
- Aaaaah – levo minha mão livre a cabeça bagunçando meus cabelos. – Está bem, manda
essa mulher vir, mas qualquer coisinha, eu digo qualquer coisinha mesmo que ela fizer de
errado, eu a mandarei embora na mesma hora.
- Tudo bem, Rodrigo, mas a questão agora é esperar ela resolver a situação dela.
- Porra! Agora eu vou ter que ficar esperando por ela. É isso?
- Meu filho entenda…
- Tudo bem mãe, só não demore muito. A Zeiva só ficará aqui por mais duas semanas,
esse foi o prazo que ela me deu. E se dentro desse prazo essa mulher já não estiver aqui
em casa nem precisa vir mais. – digo e desligo o celular em sua cara.
Porra, agora eu terei que ficar esperando a vontade da empregada de querer vir trabalhar.
Já estou vendo que essa porra não vai dar certo.
Tiro minha roupa e vou para o banheiro, entro debaixo do chuveiro e deixo a água quente
cair sobre meu corpo o fazendo relaxar.

[…]



3º CAPÍTULO


Sophia
Já tinha resolvido a questão do Gustavo, ele ficará o dia inteiro na creche e assim que
fechasse a Helen, filha da amiga da minha mãe, o traria para a casa e minha mãe ficaria
com ele na parte da noite.
Pego o meu celular e procuro na agenda o número da dona Julia.
No quinto toque ela atende.
- Alô.
- Oi dona Julia, sou eu a Sophia.
- Oi minha querida. Tudo bom com você?
- Tudo sim. E com a senhora?
- Bem também, obrigada… Bom se você está me ligando é porque já tem uma resposta
para a minha proposta. Estou certa?
- Sim senhora. Já tenho.
- E então?
- Eu aceito o emprego, lógico, se ainda estiver de pé.
- É lógico que está, fico feliz de ter aceitado. Tenho certeza que não vai se arrepender.
- Eu sei que não.
- Quando você pode começar?
- Quando a senhora quiser.
- Amanhã está bom?
- Sim, está.
- Então arruma as suas coisas que você vai precisar durante a semana, amanhã eu vou te
buscar.
- Não senhora, não precisa se incomodar. – até porque seria muito perigoso ela aparecer
aqui no morro, sozinha.
- Não é incomodo nenhum, faço questão de ir ai te buscar, eu sei onde você mora…
- Então a senhora sabe que é perigoso e…
- Não tem problema eu vou com o meu segurança, fica tranquila.
- Então se é assim, tudo bem. – me dou por vencida depois de perceber que ela não
desistiria de jeito nenhum.
- Amanhã ás 9:00hrs eu estarei ai te esperando, tudo bem?
- Sim dona Julia, estarei lá no pé do morro à sua espera.
- Então está bom, minha querida. Tenha um bom dia.
- A senhora também… E dona Julia. – digo antes que ela desligue. – Muito obrigada pela
confiança.
- Não tem nada que agradecer. A gente se ver amanhã.
- Sim senhora.
Finalizo a ligação e aproveito que o Gustavo está tirando o sono da tarde e vou arrumar as
coisas que vou precisar. Amanhã ainda é quarta-feira, então vou levar a quantidade de
roupa que irei precisar para três dias. Segundo ela, no sábado eu já posso voltar para a
casa.
Coloco meus produtos higiênicos, roupas para dormir, e algumas roupas para trabalhar, eu
ainda não sei se serei obrigada a usar uniformes ou não, então pra não correr o risco de
ficar sem nada para vestir, coloco umas mudas de roupas mais velhinhas. Deixo a bolsa
arrumada perto da cama e saio do quarto encontrando a minha mãe na sala assistindo TV.
Depois do episódio de ontem à noite, nós quase não nos falamos direito. Ainda me dói
ouvir essas coisas. Por mais que eu saiba que não é verdade isso que ela diz, dói.
- Sophia?
- Oi. – respondo catando uns brinquedos do Gustavo que estavam espalhados pelo chão.
- Filha, me desculpa. Eu não quis dizer aquilo ontem…
- Mas disse mãe, ou melhor, quase disse… Eu já entendi que a senhora se envergonha de
mim pelo fato de eu não saber quem é o pai do meu filho, eu entendo sua raiva. Entendo
que eu te decepcionei. Mas eu não mereço que a senhora me lembre sempre que eu fui
uma puta, vagabunda, que não sabe quem é o pai do próprio filho.
- Também não é assim, Sophia. – ela diz com os olhos marejados.
- É assim sim, mãe, ou a senhora se esqueceu das palavras que me disse há três anos?
Porque eu não me esqueci, mãe. Eu me lembro de cada palavra que você me disse naquele
dia.
- Filha me desculpa. Eu não devia ter te dito aquelas coisas, eu estava de cabeça quente.
Tenta se por no meu lugar…
- Eu não guardo mágoas da senhora por conta disso não, mãe, mas eu não guardo mesmo.
Eu só precisava colocar isso pra fora, só precisava mostrar pra senhora como eu me sinto
todas as vezes que joga esse fato na minha cara.
Ela se levanta e vem até a mim, pega na minha mão e me leva para sentar no sofá. As
lágrimas caiam pelo seu rosto cansado e eu estava me segurando para não fazer o mesmo.
- Me desculpa filha, eu mais do que você sofri com isso, você não sabe o quanto me doeu
dizer aquelas coisas. O quanto eu me senti mal te rejeitando como filha, pois de certa
forma foi isso que eu fiz… Mas não pense que eu não te amo, Sophia. – passa suas mãos
pelos meus cabelos, e eu já estava a ponto de chorar. – Você é a minha filha, minha vida,
você é tudo que eu tenho… Quer dizer, agora tem o Gus também. – diz e dá um sorriso –
E apesar de tudo, eu te agradeço por trazer ele ao mundo. Eu nunca te disse isso… Mas eu
sinto muito orgulho de você por querer continuar com a gravidez do mesmo jeito. Muitas
garotas no seu lugar optariam por um aborto, mas você não.
- Eu nunca teria coragem de fazer uma coisa dessas, mãe, é o meu filho, ele não tem culpa.
Digo e minha mente volta para aquela noite e todas as cenas horríveis das coisas que
passei, invadem a minha mente. Balanço a minha cabeça de leve e tento não demonstrar a
minha repulsa.
Realmente, o meu filho não tem culpa de nada mesmo. Ele é tão vítima quanto eu, nessa
história toda.
- Eu sei que não, minha filha, eu te conheço muito bem. E eu tenho muito orgulho de você
por isso, por ter enfrentando isso como uma mulher… Meu Deus, na época você só tinha
17 anos, e você me enfrentou, me disse toda a verdade, você poderia ter me inventado
qualquer coisa, mas não, você me disse a verdade.
Eu já não conseguia mais segurar as lágrimas, a dor no meu peito me corroía de tal forma
que me deixava sem ar.
Como eu queria contar toda a verdade. A real verdade!
Como eu queria não ter precisado mentir.
Como eu preferiria não saber de fato quem é o pai do meu filho, do que ter passar por essa
situação.
– Pra ser honesta com você eu não sei se no seu lugar eu teria feito o que você fez, não…
Apesar de tudo o que aconteceu, das coisas que eu te falei até hoje, são sempre sem
pensar, filha. Eu sinto orgulho de você, sinto orgulho da mulher que você se tornou tão
cedo… Eu só queria te pedir uma coisa, que eu já deveria ter pedido há anos. – ela para,
dá um suspiro e aperta forte as minhas mãos. – Me desculpa filha, por tudo que eu te disse,
você não sabe como eu me arrependo de cada palavra.
- Não precisa pedir desculpas, mãe.
- Precisa sim, eu não fui a mãe que eu deveria ser pra você naquela época, eu só pensei no
que as outras pessoas achariam de mim e de você… Eu não me coloquei no seu lugar, eu
não fiquei verdadeiramente do seu lado quando você mais precisou de mim. Você errou,
mas eu também não tinha o direito de te julgar e nem dizer aquelas coisas pra você. Eu
estraguei a relação maravilhosa que nós tínhamos, eu sou a culpada. Desculpa-me, filha.
- Mamãe… – tento dizer, mas ela me corta.
- Por favor, diz que me perdoa? – ela chorava muito, assim como eu.
- Claro que sim, mãe. – ela não espera nenhum segundo mais e me abraça.
E como eu senti falta desse abraço. Tanto tempo sem trocarmos esse pequeno gesto de
carinho. Para muitos, isso não significa nada, mas pra mim esse abraço significa um
recomeço… Para nós duas. É tão bom ter a minha mãezinha de volta.


[…]


- Mãe, qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo, a senhora me liga, ouviu?
- Filha, tudo bem, pode ir tranquila, não vai acontecer nada. Não é Gus? – pergunta para o
Gustavo que estava no seu colo. Ele olha pra ela e em seguida para mim e balança a
cabeça dizendo que sim.
São 08h30min da manhã e eu estou me despedindo dos dois. Mas eu ainda não tive
coragem de sair de casa, eu não queria deixar o meu filho. Eu sei que ele vai estar em
ótimas mãos, mas meu coração fica apertado, eu nunca fiquei um dia longe dele.
Pego ele do colo da minha mãe e o abraço forte, não conseguindo segurar as lágrimas que
sem eu ao menos perceber, caem pelo meu rosto.
Meu Deus, eu vou estar só algumas horinhas de distância longe dele, mas parece que eu
vou para outro país.
- A mamãe vai ficar alguns dias longe, tá?
Eu falava como se ele realmente estivesse me entendendo. E eu acreditava que sim, pois
ele me olhava atento a cada palavra que saia de minha boca.
- Mas eu prometo que vou ligar todos os dias pra ouvir sua vozinha. Eu quero que se
comporte com a vovó e não apronte, tudo bem? – ele balança a cabeça como quem diz
“sim” e nós rimos. – Eu te amo muito, filho. – o aperto mais nos meus braços e dou-lhe
um beijo.
- Amo mamãe. – ele diz ainda abraçado a mim e com sua mãozinha passando de leve pelo
meu cabelo. Como se não fosse possível, eu chorei mais ainda.
- Agora eu tenho que ir. –passo ele para o colo da minha mãe e dou-lhe um abraço e um
beijo.
- Se cuida, minha filha. Quando puder liga, tá?
- Pode deixar, mãe, ligo sim.
Saio de casa com o coração apertado por ter que deixá-lo, se eu pudesse o levava comigo.
Mas isso é por ele, só por ele que estou fazendo esse sacrifício de ficar tanto tempo longe.
Isso me fez lembrar de quando eu era criança e minha mãe tinha que fazer a mesma coisa
comigo para ir trabalhar. Ela sempre procurou me dar tudo de melhor que estava ao seu
alcance, já que éramos apenas nós duas.
O meu pai eu nem cheguei a conhecer, ele morreu uns meses antes de eu nascer, e minha
mãe, sem ajuda nenhuma, me criou sozinha. E eu tenho muito orgulho dela por isso. É por
ela e pelo meu filho que estou fazendo isso, eu quero dar uma vida melhor para eles.
Quem sabe um dia eu consiga tirá-los da favela. Não que eu não goste de viver aqui, mas é
que me remete muitas lembranças horríveis que tento inutilmente esquecer. Todas as vezes
que olho para esses becos, para esses bandidos andando pra cima e pra baixo na favela, eu
me lembro dele, me lembro do que ele fez comigo. Eu sei que já tem muito tempo, mas
não deixa de doer. Aquelas lembranças horríveis não deixam de ser vivas aqui dentro de
mim.
E um outro motivo pelo qual eu desejo sair daqui, é porque não temos sossego. Nós nunca
sabemos quando pode acontecer algum tiroteio, uma invasão, e com isso, vivemos sempre
com medo.
Eu queria poder viver num lugar onde eu não me preocupasse em deixar o meu filho
brincando em frente de casa. Eu sei que hoje em dia é um pouco complicado. Mas eu sei
que existem lugares mais tranquilos do que aqui, pra se viver.
Eu tenho fé de que um dia eu consiga sair desse lugar…
Quando chego ao pé do morro já consigo avistar o carro preto parado, e na frente dele, a
dona Júlia estava encostada.
Assim que chego perto do carro ela me surpreende com um abraço.
- Bom dia, Sophia.
- Bom dia, dona Julia.
- Sem o dona, por favor, assim me sinto mais velha do que já sou… – diz e sorri. –
Vamos?
- Claro, vamos.
Ela abre a porta de trás e dá passagem para que eu entre no carro, logo em seguida ela
entra e o motorista coloca o carro em movimento.
- Sophia, antes de tudo eu tenho que te dizer algumas coisas.
- Claro, pode falar.
- É que… Como que eu vou dizer, o meu filho ele não é muito sociável e quando ele quer,
até mesmo quando não, ele pode ser bem grosso. – ela parecia um pouco envergonhada
dizendo aquilo. – Então eu quero que tenha um pouquinho de paciência com ele, eu sei
que no fundo ele é um homem bom. Ele só não gosta que invadam a privacidade dele… E
não sei se você sabe também, mas ele é um Delegado, então não se espante se ele fizer
algumas perguntas um pouco evasivas demais.
Eu já sabia que ele é o primo Delegado da Camila, ela sempre me falou dele, dizia o
quanto ele era legal e a apoiava em seguir a carreira policial que ela tanto sonhava. Mas
parece que a Júlia está me descrevendo um cara completamente diferente do que a Mila
me descreve ele.
- Entendi, pode ficar tranquila. Eu só irei fazer o meu trabalho.
- E mais uma coisa… – ela respira fundo e parecendo estar um pouco envergonhada,
continua. – É que quando eu disse que você era mãe e que não tinha muita experiência, ele
não recebeu isso muito bem, então eu fiz um trato com ele de que você ficaria lá, digamos
de teste, sabe? Se ele não gostar…
- Ai eu vou embora. – completo.
- Sim… Mas eu confio em você e sei que vai dar tudo certo. É só você fazer as coisas do
jeito que ele gosta e na hora certa.
- Tudo bem, eu vou fazer o possível pra ele gostar de mim. – digo tentando tranquiliza-la.
- Eu sei que vai, e também sei que ele vai gostar de você. – ela me direcionou um sorriso
que é impossível não retribuir.
Demos o assunto por encerrado e fizemos todo o caminho em silêncio. Um tempinho
depois o motorista entrava com o carro em um condomínio muito lindo e com uma
segurança bem pesada, devo dizer. Só tinha casas enormes e magníficas, eram ainda mais
lindas do que a casa da Camila, e olha que a Camila mora em uma mansão.
Uns cinco minutos depois o motorista para o carro em frente a uma enorme casa, ela é
gigantesca por fora, e assim como o condomínio em si a casa também é muito segura, os
muros são incrivelmente altos e com cercas elétricas ao alto.
Realmente esse homem é obcecado por segurança. Também, pudera, ele é um Delegado,
não pode ficar dando sopa por aí.
Eu só tenho que tomar cuidado quanto a isso, ninguém no morro pode saber que eu vou
trabalhar na casa de um Delegado, se não eu estou morta.
A Julia toca o interfone e não demora muito, uma mulher atende. Elas trocam meia dúzia
de palavras e em seguida o portão é aberto.
Assim que entro meu queixo novamente vai para o chão. Se por fora a casa já parecia
grande, por dentro é bem maior do que aparentava. Tem um enorme jardim e uma espécie
de academia, pelo o que deu para eu ver, nos fundos da casa e uma enorme piscina não
passou despercebida por mim, também.
É realmente muito linda e grande essa casa, não dá pra acreditar que só uma pessoa mora
aqui sozinha.
- Vem minha querida. – diz a Júlia me puxando pela mão.
Acompanho-a e entramos pela cozinha, já consigo sentir um cheiro delicioso de comida e
encontro uma senhora na base dos 50 anos em pé de frente para o fogão.
- Bom dia, Zeiva.
- Bom dia, dona Julia. – diz a mulher se virando para nós.
- Zeiva essa daqui é a Sophia, a nova empregada que eu te falei. Sophia essa é a Zeiva, ela
vai ficar aqui com você só até amanhã, ela te explicará tudo o que você tem e tudo o que
você não tem que fazer aqui.
- Ok, Julia, entendi.
- O meu filho está?
- Não senhora, ele já saiu pra Delegacia. Mas disse que hoje volta para o almoço.
- Ah então eu ficarei pra fazer uma surpresinha pra ele. – diz com um sorriso. – Vou ficar
lá na sala. Fica bem ai, Sophia?
- Sim, dona Júlia, pode ir.
Ela acena e se retira da cozinha.
- Sophia, né? – pergunta a Zeiva.
- Sim.
- Então, eu vou terminar aqui e vou te mostrar onde você irá dormir. Só um minutinho. – a
mulher tinha um sorriso simpático para mim e eu não consegui não retribuir.
- Tudo bem. – digo deixando minha bolsa sobre a mesa – Quer ajuda?
- Ah eu aceito, você pode cortar uns legumes pra mim. Pega ali na geladeira.
Vou até a geladeira e pego os legumes que ela me pediu e vou para a pia os descascando.
- Porque você faz o almoço dele tão cedo? Ainda é 10h20min hrs.
- Na verdade eu só estou adiantando algumas coisas. Quando o que tenho que fazer
demora muito, eu já começo a fazer bem cedo, pois o senhor Rodrigo gosta de chegar em
casa e a comida já estar pronta, ele não gosta muito de atrasos.
- Ah entendi.
Término de descascar tudo e coloco na panela com água.
- Vamos, eu vou te mostrar onde você irá ficar. – diz secando suas mãos no pano de prato
logo o colocando sobre a mesa novamente.
Vou até a mesa, pego minha bolsa que tinha posto lá em cima, e a acompanhou para fora
da cozinha.
Quando eu entrei, não percebi, mas de frente para a porta da cozinha, tem um quartinho. A
Zeiva abre aquela porta e vejo o cômodo, que é até que espaçoso para uma pessoa. Tem
uma cama de casal encostada na parede e uma janela ao lado, que dava visão para a
academia do outro lado do quintal, tem também um guarda roupa e uma porta ao lado
direito, que depois de abrir vejo que se trata de um banheiro. O lugar até que era
aconchegante, na verdade maior do que o meu quarto em casa. Agradeço a Deus por ter
um ar condicionado ali, pois o calor do Rio de Janeiro castiga a gente.
- Você pode fazer suas refeições lá na casa mesmo, só que sempre depois do Senhor
Rodrigo.
- Tudo bem.
Ela vai até o guarda roupa, e na parte de cima, retira um saco plástico e me dá.
- Se troca e coloca esse uniforme, pode se acomodar, te espero na cozinha para te passar
algumas coisas.
- Está bem.
Ela sai e eu entro no banheiro trancando a porta. Tiro a roupa e coloco o uniforme, que é
um vestido. Isso ficou na metade das minhas pernas, não posso abaixar muito se não corro
o risco de mostrar o que não devo. Coloco a sapatilha de pano branca que estava junto
com o uniforme, prendo meus cachos em um rabo de cavalo no alto e deixo uns fios
caindo sobre meu rosto.
Deixo as minhas coisas para arrumar depois à noite, quando eu estiver tempo e saio do
quarto.
Chego à cozinha e a Zeiva já começa a me explicar tudo o que eu devo fazer. Nessa casa
tudo tem um dia certo pra ser executado. Tem um dia para lavar a roupa, e outro para
passa-las, outro para arrumar toda a casa, e quando ela diz arrumar é realmente arrumar,
não apenas passar uma vassoura. Tem o dia de arrumar a academia. Sim ele também
gostava da academia limpa, enfim, tem dia para tudo.
A única coisa que eu não preciso fazer é limpar a piscina nem o jardim. Ela me disse que
isso é com um homem responsável que vem todas as sextas-feiras fazer isso.
Ela me explicou também tudo o que ele gosta de comer, e tudo o que ele não gosta.
Admito que isso eu tive que anotar em um caderninho. Eu devo estar em pé as 05h30min
da manhã para fazer o seu café, pois ele sai bem cedo de casa para ir para a delegacia. Isso
quando não faz plantão a noite e chegava mais o menos nesse horário ás 05h30min /
06h00min.
Cheguei à conclusão de que esse homem tem algum tipo de transtorno, deve ter TOC não
é possível, ele gosta de tudo no tempo e na hora dele. Estou vendo que vai ser um pouco
difícil, mas eu vou fazer o meu máximo, não posso perder esse emprego.
A Zeiva deixou que eu terminasse de fazer o almoço, pois disse que eu deveria me
acostumar. Eu fiquei um pouco nervosa, mas ela me tranquilizou e acabei esquecendo que
estou aqui a trabalho, coloquei na cabeça que estou cozinhando para mim e não para um
homem cheio de mimimi.
12h00min o almoço já estava pronto. Agora é espera-lo para começar a servir.
Não demorou muito e escuto o barulho do portão da garagem se abrindo, deduzi que seria
ele chegando.
Eu estou nervosa, meu coração está acelerado e eu não sei por quê. Na verdade eu sei sim,
eu estou com medo de ele não gostar de mim e me mandar embora de cara. Eu não posso.
Eu preciso muito desse emprego, eu preciso ficar.
- Pode colocar a mesa, Sophia. – diz a Zeiva.
Vou até os armários, pego as louças e começo a arrumar a mesa para dois.
Quando estou colocando os pratos em cima da mesa, ouço uma voz que faz todo o meu
corpo se arrepiar.
- Vou tomar um banho rápido e desço, eu estou morrendo de fome.
Meu Deus, que voz é essa?
É uma voz rouca, grave, passa autoridade, imponência…
Respiro fundo e engulo seco.
Volto minha atenção para a mesa e continuo arrumando a mesma.
Quando termino, pergunto a Zeiva se fiz certo e ela diz que sim. Novamente ouço aquela
voz que me fez arrepiar, a Zeiva me olha e muda totalmente sua postura ficando ereta. A
imito.
E é nessa hora que eu o vejo, o homem mais lindo que eu já vi em toda a minha existência
nessa terra. Ele tem um ar de superior que o faz ficar mais lindo ainda. Os seus olhos é de
um azul tão fascinante que eu não consigo me desprender. Um corpo maravilhosamente
malhado e definido, ele é enorme, mas não exageradamente enorme. É na medida certa.
Sua camisa preta aperta seus músculos o que o deixa ainda mais lindo.
Vejo-o me olhar de baixo pra cima, fazendo cada parte do meu corpo se arrepiar.
Oh Deus, o que é isso? O que está acontecendo comigo? O que está acontecendo com o
meu corpo?
Eu nunca senti nada parecido antes.
O jeito que ele me olha me faz sentir coisas, coisas que eu não sei explicar, pois nunca
senti antes.
São sensações novas pra mim.
[…]


Rodrigo.
Chego em casa e dou de cara com a minha mãe sentada no sofá com um álbum de fotos
nas mãos.
Ela sabe muito bem que eu odeio quando vem aqui em casa sem avisar.
- Oi meu filho. Eu estava te esperando. – diz se levantando e vem até a mim, me dando um
abraço.
- Está fazendo o que aqui, mãe? – as palavras saem mais rudes do que eu imaginava.
Vejo os seus olhos se enchendo de lágrimas e imediatamente me arrependo das palavras
ditas.
- Eu vim trazer a Sophia. – diz ela com a voz um pouco embargada. – E resolvi ficar para
almoçar com você.
Ah, a empregada nova. Tinha me esquecido completamente que ela começaria hoje.
- Mas estou vendo que você não quer a minha presença aqui, então eu vou embora.
Diz pegando sua bolsa que estava sobre o sofá.
Me praguejei mentalmente por ser assim, por não conseguir tratá-la de outro jeito. Mas se
hoje eu sou dessa forma, ela tem sua grande parcela de culpa.
Antes que ela saia pela porta da sala, eu a chamo.
- Não mãe, não precisa ir. – digo e dou um passo para ir até ela, mas paro.
Ela também para próximo á porta e se vira pra mim.
- Eu sei que não sou bem vinda aqui, então é melhor eu ir embora.
- Mãe. – respiro fundo e aperto com força minhas mãos. – Fica… Eu quero que a senhora
fique.
Eu sinto falta dela, sinto falta de viver diariamente com ela, de chegar em casa e tê-la me
recebendo. Mas eu não consigo, não consigo fechar os olhos e esquecer tudo o que
aconteceu, não consigo esquecer tudo o que eu vivi… Tudo o que nós vivemos e que ela
não fez nada para tentar mudar… Ela não se preocupou em tentar mudar.
Se eu me afastei, se eu, mesmo sem querer, machuco-a com as minhas palavras. A culpa é
dela.
Ela anda até a mim e me abraça, mas eu não consigo retribuir.
- Desculpa por tudo…
Separei-me dela, pois quando ela começa assim eu sei bem do que ela vai falar e eu não
quero me lembrar de tudo aquilo novamente.
Antes que ela volte a dizer algo, eu me viro em direção ás escadas e começo a subir.
- Vou tomar um banho rápido e já desço, estou morrendo de fome.
Ninguém viveu o que eu vivi, ninguém sentiu a dor que eu senti. Então eu não admito que
ninguém me julgue pelo o que eu sou hoje… Eu não admito.
Entro no quarto, tiro minha roupa e vou para o banheiro, tomo um banho rápido, colocou
uma calça jeans escura e uma blusa preta, calço o coturno preto do uniforme e desço.
Encontro minha mãe sentada no sofá, mas assim que me viu, veio até a mim e fomos para
a cozinha.
- Filho não seja grosseiro com ela.
- Ela quem, mãe?
- A Sophia. Ela precisa do emprego, então vê se releva.
Ah é! A empregada.
- Ela só terá o emprego de verdade se ela fizer por merecer.
Digo e dou o assunto por encerrado. Entro na cozinha e posso sentir o cheiro maravilhoso
de comida caseira, não há nada melhor que isso. Mas assim que olho para a minha frente,
outra coisa rouba completamente a minha atenção. Meu Deus, quem é essa mulher? Ela é
linda.
Que pergunta idiota, Rodrigo. É lógico que é a Sophia. Mas ela é tão linda, tão jovem. Sua
pele é negra, seus cabelos são cacheados, mas não dá pra saber o comprimento, pois ela os
prendeu ao alto de sua cabeça e deixou alguns poucos fios soltos, caindo sobre o seu rosto,
dando um charme a mais. Seu corpo, meu Deus que corpo é esse? De jeito nenhum essa
mulher tem um filho, não mesmo. Olho-a de baixo para cima tentando gravar cada parte
desse corpo na minha mente. Quando chego ao seu rosto, paro alguns segundos olhando
para sua linda boca, perfeitamente desenhada, levemente carnuda. Perfeita.

Subo mais um pouco e nossos olhares se cruzam.

Imagens dela de quatro, com suas mãos amarradas e sua boca tampada sendo
prazerosamente palmeada por mim, vem a minha mente. Não que eu seja um sádico, e que
toda mulher que eu veja pela rua, eu pense isso. Não! Mas ela tem um ar tão singelo…
Tão meiga, um ar tão… Submisso. Foi impossível não pensar.
Porra! O que está acontecendo?
Ela é minha empregada.
Mas que ela é uma porra de uma tentação, ela é.
Ela é diferente, totalmente diferente. Ela é simples, mas tem uma beleza fascinante. E é
isso que a deixa mais linda ainda, essa simplicidade toda misturada com a timidez que é
nítida em seu olhar.
- Filho?
- Oi mãe. – percebo que estava muito tempo calado e encarando-a.
Balanço de leve a cabeça tirando esses pensamentos da minha mente.
Eu não posso.
Não posso.
- Essa é a Sophia, filho.
- Percebi. Agora você já pode servir o almoço, pois já estou morrendo de fome e não tenho
o dia todo. – digo ainda encarando-a.
Ela rapidamente acena a cabeça positivamente e a abaixa.
Sento-me no meu lugar na mesa e minha mãe ao meu lado.
- Não precisava ser tão grosso.
- Mãe, não venha querer me dizer como tratar meus empregados. Se eu ficar dando
confiança, daqui a pouco vão querer, ao invés de dormir no quartinho dos fundos, dormir
na minha cama.
Se bem que eu não acharia de tão ruim assim tê-la na minha cama.
Espanto esses pensamentos.
Que merda! Isso é loucura.
Vejo-a colocando a comida em um prato, e em seguida põe o prato á minha frente, e assim
consigo sentir seu cheiro maravilhoso. Não da comida, mas dela.
Porra, o que está acontecendo comigo, droga?
O que essa mulher tem pra me deixar assim?
Merda!
Obrigo-me a parar de pensar nisso e começo a comer.
Hoje a Zeiva caprichou, a comida estava maravilhosa. Sentirei falta desse tempero dela,
ela é uma ótima empregada, além de cozinhar bem, sabia o seu lugar. Não tentava se meter
na minha vida, tem boca, mas praticamente não fala… Só espero que essa Sophia seja
assim também.
- Que delicia. Quem fez? – diz minha mãe.
- Eu. –
Diz a Sophia. E pela primeira vez eu escuto a sua voz. Ela é doce e calma…
- Está maravilhosa, Sophia. Não é filho?
- Dá pra comer.
Digo sem querer admitir que a sua comida está maravilhosa.
Minha mãe me olha me repreendendo, mas nem ligo, eu estou na minha casa.
Disfarço e a olho novamente. Ela parece incomodada com algo, não sei o que é, mas
também não me importo.
Termino de almoçar e saio da cozinha. Vou para o meu quarto, faço minha higiene e saio.
Chego na sala e minha mãe vem com o seu sermão de sempre, de que eu teria que trata-la
bem e dar uma chance para ela.
A chance eu já estou dando…
Ela tinha liberado o motorista e me pediu uma carona até em casa, como é caminho para a
delegacia, não me importei. A deixei em casa e segui o meu caminho para o trabalho.
Não consegui me concentrar em nada, todas as vezes que eu tentava me concentrar nos
casos há minha frente, aquela boca me vinha em mente.
Ah! Quantas coisas eu poderia fazer com aquela boquinha.

[…]


4º CAPÍTULO

Sophia
Meus pensamentos ainda estão nele. Na forma como ele me olhou. Na forma como o
meu corpo estranhamente reagiu a isso. Eu não sei o que se passou comigo naquela
hora, só sei que eu nunca senti aquelas sensações antes.
Tenho que tirar esses pensamentos loucos da minha cabeça, pois ele é o meu chefe, e
eu farei o possível para que seja por muito tempo.
Agora eu entendo do que as tias dele falavam lá na casa da Camila. Ele realmente é
muito ranzinza e grosseiro. Já vi que realmente gosta de tudo na hora e do jeitinho
dele. Estou vendo que vou ter um pouquinho de dificuldades com ele. Resolvo deixar
esses pensamentos de lado e fazer o meu trabalho. A Zeiva me disse que quanto mais
na minha eu ficar, mais chances eu tenho de conseguir esse trabalho definitivamente.
Ela passou a tarde toda me mostrando onde fica cada coisa que irei precisar, me
mostrou como ele gosta que arrume o quarto dele. Sim, até pra isso ele tem frescura.
Por volta das sete horas da noite ela estava arrumada para ir embora e um medo
começou a se apossar de mim.
- Mas você já vai? Eu pensei que ia ficar aqui hoje. – digo insegura por ter que ficar
sozinha, não me sinto tão preparada.
Na verdade eu estava era com medo de passar a noite nessa casa, sozinha com esse
homem.
- Sim minha querida. Mas pode ficar tranquila, tenho certeza que você vai ficar bem.
Você entendeu tudo o que eu te disse para fazer, não entendeu?
- Sim.
- Então, fica tranquila, não vai acontecer nada. É só você ficar na sua, só falar com ele
quando realmente for preciso. Pois quando ele quer pode ser bastante grosseiro.
- Entendi.
- Então. – ela pega sua bolsa e coloca no ombro – Eu vou indo.
- E que horas ele chega? Eu preciso saber pra fazer o jantar.
- Pode ficar tranquila que se ele vier para jantar em casa hoje ele vai ligar. Se ele não
ligar, nem precisa fazer nada, pois ele não vem.
- Entendi.
- Então eu vou indo. A gente se ver amanhã.
Ela sai pela porta da cozinha e me deixa ali, naquela casa enorme sozinha.
Não é possível uma pessoa conseguir morar numa casa tão grande assim sozinho. Será
que ele não se sente só, aqui? Eu me sentiria. Eu não me vejo mais morando sem
minha mãe e meu filho. Ainda mais ele que não tem namorada, isso quem me disse foi
a Zeiva. Não que eu tenha perguntado… Na verdade eu perguntei sim. Mas não que eu
estivesse interessada em saber. Só fiquei mesmo bastante intrigada em saber que ele
vive aqui sozinho.
Deixo esses pensamentos, que não vão me levar à lugar nenhum, de lado. E vou para o
quartinho ligar para a minha mãe. Entro, mas deixo a porta entreaberta para caso o
telefone tocar dentro da casa, eu escutar.
Disco o numero da minha casa e no quarto toque ele atende.
- Alô.
- Oi mãe.
- Oi minha filha, como estão as coisas ai?
- Bem, mãe, o homem é todo sistemático, parece até ser um pouco louco.
Minha mãe solta uma pequena gargalhada do outro lado e diz.
- Com o tempo você se acostuma minha querida.
- Eu espero que sim… Mas e o meu filho, cadê ele?
- Iiih o Gustavo está dormindo.
- Mas já mãe? Está muito cedo. – digo um pouco triste, pois eu tinha esperanças de
conseguir falar com ele antes de dormir.
- Pois é, ele chegou da creche super cansado, filha. A Helen disse que brincou o dia
inteiro. Você acredita que ele nem chorou?
- Sério, mãe?
- Sim, ai ele chegou dei um banho nele, a comida e acabou dormindo.
- Poxa que pena, eu queria falar com ele. – digo decepcionada.
- Tudo bem, filha, amanhã assim que ele chegar, eu te ligo.
Começo a ouvir o telefone de casa tocar e saio correndo de dentro do quartinho antes
que ele desligue.
- Mãe, tenho que desligar agora. Amanhã a gente se fala, dá um beijo no Gus pra mim.
– falo tudo muito rápido já pegando o outro telefone na mão.
- Tá bom filha, se cuida.
Desligo o celular e rapidamente atendo o telefone da casa.
- Alô. – digo ofegante.
- Estou indo jantar em casa. – aquela voz, meu Deus, consegue ser ainda mais grossa
pelo telefone.
- Si-sim senhor. – digo ofegante.
Quando penso que ele me responderia de volta, ele desliga o telefone na minha cara.
Grosso, idiota.
Ainda bem que ele não pode ler os meus pensamentos, senão, eu acho que já seria
demitida hoje mesmo.
Volto para a cozinha e começo a fazer o jantar, que foi bem mais rápido, pois resolvi
fazer uma coisa bem prática em cima do que ele gosta de comer.
Por volta das 20h30min ele chega e dou graças a Deus de ter terminado de fazer a
comida justo naquela hora. Coloco a mesa e fico o esperando aparecer na cozinha para
jantar. Meia hora depois isso acontece. E caramba! Porque ele tem que ser tão lindo?
Ele vestia uma calça de moletom, APENAS. Sim, apenas isso. Seus cabelos estão
molhados pelo banho recente. Seu cheiro exala em toda a cozinha, e que cheiro
maravilhoso.
Meu Deus! O que está acontecendo comigo? Eu nunca fui assim. Na verdade, depois
do que aconteceu comigo há três anos, eu nunca mais consegui me interessar ou sentir
uma atração forte por homem nenhum. Não que eu esteja interessada no Senhor
Rodrigo, mas é que eu nunca senti essas coisas estranhas e…
- Vai ficar ai me olhando ou vai me servir? – diz um pouco rude, me fazendo despertar
dos meus pensamentos.
Envergonho-me na hora.
Sério que eu estava o encarando esse tempo todo?
Se eu pudesse, enfiava minha cabeça pelo ralo da pia e sumia.
Abaixo minha cabeça com vergonha de olha-lo novamente.
- Desculpe-me.
Vou até a mesa, pego o seu prato e começo a servi-lo, ainda muito envergonhada do
episodio ocorrido.
Deposito novamente o seu prato a sua frente e ele começa a comer. Agora não sei o
que fazer. Não sei se fico aqui na frente dele até que ele acabe de comer. Vai que ele
queira que eu limpe a sua boquinha também, já que não pode nem fazer o próprio
prato. Idiota!
Resolvo ficar quieta num canto próximo a pia.
Eu tento, juro que tento manter meus olhos longe dele, mas não consigo. O seu físico
bem trabalhado me chama a atenção. Eu devo estar com uma cara de idiota ridícula
olhando para ele desse jeito.
Merda! Eu espero que ele não tenha percebido que eu estou o encarando. Não quero
que ele pense que eu quero algo com ele, ou que eu estou cobiçando, pois não é isso.
É só que… Realmente me chama atenção… Ele me chama atenção.
Assim que ele acaba de comer, se levanta e com o seu prato em mãos, vem andando na
minha direção como um predador. Seus olhos estão firmemente grudados aos meus.
Começo a ficar nervosa, o jeito intimidante que ele me olha me faz arrepiar, a sua
imponência… Ah essa imponência… Meu Deus.
Ele para na minha frente, encosta o seu corpo levemente ao meu. Rapidamente
arregalo os meus olhos e o meu coração começa a acelerar. Ele passa o prato por trás
do meu corpo e o coloca dentro da pia. Passa suas mãos lentamente pela minha cintura,
não as deixando muito tempo ali, leva a sua boca para o meu ouvido e diz.
- Muito gostosa. – sua voz grossa ao pé do meu ouvido, me fez arrepiar por inteira.
E eu estou odiando isso.
- Ãn? – é a única coisa que sai da minha boca.
Ele passa a me olhar e se afasta de mim.
- A comida… Estava muito gostosa.
Engulo seco. Minha respiração está acelerada e eu não sei o motivo. Mentira! Eu sei
sim, é esse homem aqui na minha frente.
- O-obrigada.
Ele sai da cozinha me deixando ali, ainda sem saber o que fazer.
Eu não entendo como ele consegue fazer isso comigo. Como consegue fazer com que
o meu corpo reaja desse jeito. Eu.não.entendo!
Resolvo espantar esses pensamentos e essas sensações e fui arrumar a mesa. Acabei
até perdendo a fome depois dessa.
Depois de ter arrumado a cozinha, eu não o vi mais. Não sabia se poderia ir para o meu
quarto, ou se ele precisaria de mim novamente. Depois de muito pensar se deveria ou
não, vou em direção ao seu quarto, mas antes que eu possa subir as escadas, da sala
mesmo, consigo ver as luzes da academia acesa. Vou até lá e assim que chego na porta
vejo-o sentado num aparelho, que eu não faço a mínima ideia do nome, puxando
alguns pesos.
Está lindo, o seu suor escorrendo pelo seu rosto e barriga e…
Meu Deus eu estou enlouquecendo só pode, ele é o meu chefe.
- O que você quer? – diz soltando o ferro que puxava com os pesos, fazendo um
barulho estrondoso em toda a academia. O que me fez pular de susto.
- É… Eu – ele se levanta e pega uma toalha se secando. logo em seguida bebendo um
líquido da garrafinha.
- Você o quê? – pergunta parecendo estar sem paciência.
- O senhor vai precisar de mim ainda, ou eu já posso me recolher?
Ele me olha por inteira novamente e reserva um tempo especial para os meus lábios.
Meu deus, por que ele faz isso?
- Pode ir. – diz e rapidamente volta para o seu aparelho.
Saio rapidamente daquela academia e vou para o meu quarto, sem jantar mesmo. A
única coisa que eu quero é descansar, tomar um banho e vê se esses pensamentos e
essas sensações loucas passa.
[…]


Acordo com o som irritante do despertador. A minha vontade era de jogá-lo na parede
e depois voltar a dormir. Só que aí, me lembrei de que não estava na minha casa, e sim
no trabalho.
Forço-me a levantar, me arrasto até o banheiro tomo um banho rápido e coloco o meu
uniforme, prendo meu cabelo no alto em um rabo de cavalo, coloco a sapatilha e saio.
Ainda está amanhecendo, o que me deixa ainda mais mau humorada. Eu odeio acordar
cedo.
Entro na cozinha e começo a preparar o café da manhã dele, me atrevo a fazer um
bolo. A Zeiva me disse que ele adora bolo de laranja com calda de chocolate.
Olhei as horas no relógio na cozinha e vi que daria tempo de fazer o bolo antes de ele
sair para a Delegacia.
Quando vi que o bolo estava quase assado comecei a fazer a calda de chocolate.
Depois do bolo pronto, arrumo a mesa colocando-o no centro dela, assim como o café
e outras variedades para que ele pudesse escolher o que gostaria de comer.
06h30min em ponto ele aparece na cozinha com o seu uniforme, que é uma calça jeans
escura e uma blusa preta com o símbolo da Polícia Federal desenhado em um brasão
do lado esquerdo do peito e nas costas da blusa pude ver que estava escrito
“Delegado”.
Eu estava terminando de arrumar a mesa quando ele chegou. E assim que viu, pareceu
um pouco surpreso ao olhar a mesa posta daquele jeito, mas não diz nada. Apenas se
senta e muito diferente de ontem, começa a se servir.
Sim, sem nenhum “Bom dia Sophia, como está?“
Não sei como ainda espero algum gesto de gentileza dele.
- Bom dia, Senhor. – me atrevo a dizer.
Ainda me encontrava parada ao seu lado, um pouco próxima.
- Bom dia. – responde seco.
Saio de perto dele e me posiciono perto da pia. Já virou costume sempre ficar ali
parada.
O vejo pegando a faca e cortar um pedaço do bolo colocando-o no prato a sua frente.
O mesmo ele faz com o café, colocando-o em sua xícara.
Observo cada movimento que ele faz levando o pedaço de bolo até a boca e fico na
esperança de que ele diga algo, se gostou ou não, mas ele nada disse. Nem mesmo
pude notar nada em sua expressão que continua a mesma. Carrancudo, mas lindo.
“Sophia para com isso!” Grita o meu subconsciente.
Sou despertada dos meus pensamentos pela sua voz.
- Foi você mesma quem fez? - diz se referindo ao bolo.
- Si-sim senhor. – eu tenho que parar urgentemente com essa coisa de ficar gaguejando
toda vez que falo com ele. ISSO É RIDÍCULO!
Ele não diz nada. Nem um elogio, nem nada. Corta mais um pedaço de bolo levando
ao seu prato novamente.
Bom, eu acho que isso é um bom sinal.
Assim que ele termina de comer me atrevo a perguntar.
- O senhor gostou do bolo?
Ele levanta a cabeça e me olha sem expressão nenhuma, se levanta e se põe a minha
frente ficando em uma distância considerável de mim.
Estranhamente meu corpo começou a tremer levemente.
Eu já disse que odeio isso?
Não? Pois eu odeio!
- Você sabe que está aqui em fase de teste ainda, não sabe? – diz sério.
- Sim senhor. – o seu perfume é tão bom…
- Eu não sei se minha mãe deixou isso claro pra você. Mas eu odeio quando as pessoas
tentam invadir minha privacidade, odeio quando fazem as coisas sem o meu
consentimento.
- Sim Senhor Rodrigo, ela me disse. – droga, será que eu já fiz algo de errado?
- Eu fiz algo de errado?
- Você ficará aqui por um mês em período de experiência, se eu achar você apta pra
trabalhar pra mim, você continua. – mais uma vez ele não respondeu minha pergunta.
– Caso contrário, te mando embora. Mas pode ficar tranquila que se esse for o caso
você vai receber cada centavo pelos dias que trabalhou, agora se eu te considerar apta
para trabalhar comigo eu irei fazer tudo conforme a lei manda, assinarei sua carteira e
lhe darei todos os benefícios… Mas isso só depende de você.
Diz e sai me deixando sozinha ali naquela cozinha. Eu não entendo qual é a desse
homem. O porquê de ele ser tão fechado, grosseiro, tão na dele. Mas… Eu também não
estou aqui pra tentar entende-lo, estou aqui pra trabalhar e eu vou fazer de tudo para
conseguir esse emprego de vez.

[…]
5° CAPÍTULO


Rodrigo
Um mês… Um mês com aquela tentação dentro da minha casa. Eu já não sabia o que
fazer pra não fode-la. Porque sim, essa é a vontade que eu tenho todas as vezes que eu
olho para aquela boquinha perfeita dela. Para aqueles olhos negros. Toda vez que a vejo
sorrindo sozinha pelos cantos da casa… E que sorriso.
Porra eu tenho que parar com isso!
Como se passou um mês eu tenho que dizer o meu veredito pra ela. Já que eu tinha
prometido que depois de um mês de teste lá em casa, eu ia decidir se a contratava ou não.
E porra eu queria muito, muito mesmo que ela tivesse feito algo de errado para eu manda-
la embora. Mas ai não, pra me foder mais ainda ela é uma excelente empregada. Faz tudo
no tempo certo, respeita o meu espaço. Faz um bolo de laranja maravilhoso… Qual é?!
Posso fazer o que se amo bolo de laranja com calda de chocolate, e ela sabe fazer um
como ninguém? Mas claro que eu não disse isso pra ela. E nem vou dizer. Mas vai ser
difícil, muito difícil ficar com essa mulher dentro da minha casa o tempo todo, vai ser
difícil olha-la e não poder toca-la, não poder foder do meu jeito. O jeito Rodrigo
Albuquerque de foder uma mulher.
Eu sei o que estão pensando. Que eu posso muito bem demiti-la e pronto. Mas eu também
não quero ser injusto, eu prometi pra minha mãe que daria uma chance pra ela e que se ela
fosse boa eu a contrataria. E ela realmente é muito boa… Ótima… Maravilhosa. Em todos
os sentidos.
Nem eu estou me reconhecendo mais. Eu não sou assim. Não costumo me importar com
os problemas alheios, os que acontecem fora do meu trabalho, obviamente. Mas ela é
diferente. Não sei explicar, mas a Sophia é diferente. Isso se vê pela forma com que ela
fala com as pessoas, ela cativa, consegue prender a atenção das pessoas de uma forma
encantadora. Agora eu entendo porque minha mãe gostou tanto dela assim que a viu.
Parece que mesmo com os problemas que tem, ela procura sempre dar a volta por cima.
A Camila me contou um pouco sobre ela, admito que quando descobri que ela mora na
Rocinha não gostei nem um pouco da informação. Porra eu sou um delegado, não posso
ter uma moradora de favela dentro da minha casa. E não é simplesmente pelo fato dela
morar lá, eu sei que a grande maioria são pessoas honestas. Mas nunca se sabe quem é a
“fruta podre” da árvore. Eu não sabia se ela poderia estar aqui a mando de alguém, não
sei. Porém, a Camila me garantiu que ela era uma ótima pessoa e que não tinha
envolvimento nenhum com os bandidos da favela. Por mais que eu saiba que minha prima
não se envolveria com gente assim, eu obviamente fiz a minha investigação. E realmente
ela não tem nenhum envolvimento com o trafico, o que me deixou mais aliviado, mas
mesmo assim eu fico ligado, nós nunca sabemos do que as pessoas são capazes de fazer.
Vai que ela está enganando a todos.
A Mila também me contou dos problemas financeiros que ela e a mãe estavam passando, e
que a mãe estava impossibilitada de trabalhar. Quando percebi já estava perguntando até
sobre o pai do filho dela. Achei estranho o fato da Camila não querer me contar nada a
respeito do mesmo. Mas também não insisti. Não me dizia respeito. Mas que eu fiquei
com uma pulga atrás da orelha, eu fiquei.
Eu realmente não sei por que fico tão preocupado com tudo que diz respeito a essa mulher.
Eu nunca fui assim.
O que ela está fazendo comigo?
Porra!
Olho no meu relógio de pulso e vejo que já está quase acabando o meu plantão. Eu preciso
relaxar e já sei o que fazer.
Pego o meu celular e ligo para a Lívia, que prontamente atende.
- Boa noite, Mestre.
- Está livre hoje, Lívia?
- Para o senhor sempre, Mestre.
Sempre muito obediente, uma ótima submissa.
- Me encontre daqui á uma hora no clube.
- Sim senhor.
- Quero que me espere na minha suíte, do jeito que eu gosto, você já sabe qual é.
- Sim senhor.
- Pegue a chave da suíte na recepção. E já sabe, sem atrasos.
- Pode deixar senhor, estarei lá.
Desligo o celular e volto a minha atenção para os papéis a minha frente.
Tenho que arrumar um jeito de tirar a Sophia da minha cabeça. E foder alguém é um ótimo
jeito.
Perco-me no tempo e vejo que já deu a minha hora, quando o delegado do próximo
plantão entra na sala.
- E ai cara, ainda está por aqui? – diz Bernardo um velho amigo meu ainda da época da
faculdade.
- Fala ai Bernardo. – levanto e o cumprimento. – Acabei perdendo o tempo aqui com esses
casos.
- Como está indo a investigação do caso do Hernandes? – diz se sentando na cadeira a
minha frente.
- Falta pouco para conseguirmos colocar as mãos nele. Bem pouco…
- É, eles são espertos, mas nós somos bem mais. – junto os papéis em cima da mesa e
coloco dentro da pasta.
– Já que você já chegou para assumir seu posto, eu estou indo.
- Tchau.
Saio da delegacia e vou em direção a minha casa, tenho que tomar um banho primeiro.
Coloco o carro na garagem e entrou pela cozinha… E porra! Isso já é tentação.
Encontro a Sophia com o seu corpo totalmente esticado tentando pegar alguma coisa
dentro do armário em cima dela. Não seria problema nenhum se a porra do seu vestido do
uniforme não estivesse mostrando claramente suas belas pernas roliças e por pouco não
mostra sua bunda. Acho que se ela levantasse mais um pouquinho…
Fiquei extasiado e excitado com aquela cena. Não sei o porquê, vejo mulheres
completamente nuas na minha frente quase todos os dias e nem por isso fico excitado
assim tão rapidamente.
Balançando a cabeça pra espantar esses pensamentos. Levo a pasta com os documentos a
minha frente na tentativa de tapar a minha crescente ereção.
- Sophia o que está fazendo? – eu mesmo me surpreendo com o tom da minha voz que
saiu mais grave e rouca que o normal.
Ela rapidamente se vira abaixando o seu vestido, e mesmo sendo negra pude ver seu rosto
levemente avermelhado o que a deixava ainda mais linda.
Porra.
- O-oi senhor.
- O que você estava fazendo? – pergunta novamente tentando inutilmente tirar meus olhos
de suas lindas pernas.
- Eu.. É que.. Eu estava tentando pegar a vasilha ali. – ela aponta para cima, mas não me
dou o trabalho de olhar. – Só que é muito alto.
- E por que não subiu em cima de uma cadeira já que não estava alcançando?
“Assim me poupava uma ereção por tentar imaginar o quão perfeito deve ser sua bunda
por baixo desse pano.”
Como se eu já não imaginasse isso… Mas agora com a cena que acabei de presenciar e
pelo fato de eu não vê-la por completo, minha mente começa a imaginar várias coisas… E
porra! Isso está dificultando mais ainda as coisas aqui embaixo.
- Eu não pensei nisso, senhor.
Se ela soubesse o quanto me excita quando me chama de senhor…
Se eu fechar os olhos já consigo até vê-la como minha submissa.
Porra, porra. Para de pensar essas coisas, Rodrigo.
- O que você quer? Eu pego pra você.
- Aquela ali. – apontou para uma tigela de vidro dentro do armário.
Sem tirar a pasta da minha frente, vou até lá, pego a tigela e a entrego em seguida.
- Já posso servir o jantar? – diz me olhando um pouco envergonhada, segurando a vasilha
com força em suas mãos próximas ao peito. Ela parecia ansiosa para a minha resposta.
Vejo-a passar a língua de leve sobre os lábios, os umedecendo. Nessa hora eu me vi
perdendo totalmente o controle.
Eu preciso sair daqui.
- Eu não vou jantar. Na verdade eu já estou saindo. – digo e dou as costas pra ela para sair
da cozinha o mais rápido possível. Mas ai, eu me lembro de algo, porém, não ouso olhá-la
novamente, e de costas mesmo eu digo.
- Ah! E providencie os seus documentos pra a sua contratação. Irei assinar sua carteira. –
não espero para ouvir o que ela iria falar e saio rapidamente da cozinha.
O que me deixa com mais raiva é que parece que ela faz essas coisas para me deixar
louco, mas sequer percebe. Isso é o que me deixa mais puto. O fato de ela me deixar louco
e fascinado sem intenção alguma.
Entro no meu quarto já retirando a minhas roupas e as jogando pelo chão. Entro no box e
ligo o chuveiro no frio.
Recuso-me a me masturbar pensando nela, me recuso. O meu pau está duro igual uma
pedra. Porra, como ela faz isso? Que droga. Começo a pensar em coisas broxantes.
Minha mãe transando, Minha mãe transando…
Meu pau murchou na hora e agradeci a Deus por isso.
Depois de um banho não muito demorado, eu saio do banheiro e coloco uma roupa
qualquer. Pego minha arma colocando na cintura, as chaves do carro e saio de casa. Dessa
vez pela sala, não quero correr o risco de vê-la de novo, não sei se conseguiria me segurar
dessa vez. Trinta minutos depois chego ao “Prazer Clube” estava atrasado, mas não me
importo, quem está pagando sou eu.
Entro no clube, vou direto para o andar dos quartos e destranco a minha suíte. Como uma
ótima submissa que é, encontro a Lívia ajoelhada de frente para a porta com suas mãos
sobre os joelhos, sua cabeça baixa e o melhor. Nua. Entro e fecho a porta atrás de mim.
Ela continua na mesma posição, não mexeu um musculo sequer.
- Olha pra mim. – ordeno.
Ela calmamente levanta o seu olhar. É possível ver a excitação no seu rosto, ela estava
completamente corada e pressionava forte suas coxas uma na outra.
- Pare. – digo pegando um chicote no armário ao lado.
Não preciso falar o que, ela já sabe do que estou falando.
- Desculpe-me mestre. – diz relaxando as pernas.
- Não me lembro de ter lhe dado permissão para falar. – bato de leve o chicote na minha
mão.
Ela nada diz. Mas vejo mais desejo ainda em seus olhos.
Pegou-a pelos cabelos loiros, arrancando um gemido de dor dela. Levo-a até umas
algemas penduradas no teto e levanto os seus braços a algemando ali. Depois faço o
mesmo com os pés, só que com as algemas presas ao chão. Deixou-a totalmente aberta ali
pra mim. Dou uma volta olhando todo o seu corpo nu a minha frente. Vou até a cômoda e
pego uma venda colocando em seu rosto.
Começo a distribuir chibatadas em seu corpo, mas nada que a machuque, nenhum desses
instrumentos machuca. O máximo que causa é uma leve ardência. Eu não faço nada para
machucá-las, apenas para dar prazer, tanto para elas, quanto pra mim.
Altos gemidos saiam de seus lábios. Ela tentava inutilmente juntar as pernas na procura de
algum alívio. Já podia ver sua excitação descendo pelas suas pernas. Levo minhas mãos
até sua intimidade e começo a masturba-la, o que a deixou ainda mais louca, ela já não
mais gemia, mas sim gritava. O som fino de sua voz começou a me incomodar. Jogo o
chicote no chão e com a outra mão tampo sua boca. Acelerei os movimentos e já podia
sentir suas paredes apertando meus dedos. Não demorou muito e ela ejaculou na minha
mão. Eu simplesmente amava quando ela fazia aquilo.
Saio de trás dela e dou um tempo para que se recupere. Vou até a bancada, retiro minha
arma da cintura colocando-a sobre a mesma. Pego uma mordaça, volto até onde ela está e
coloco em sua boca. Retiro minha roupa e visto a camisinha.
Sem pedir permissão e sem aviso nenhum, entro com força dentro dela, fazendo-a se
sobressaltar e soltar um gemido abafado pela mordaça. Começo a estoca-la com rapidez. E
estava tudo indo bem, tudo indo perfeitamente bem. Até que aquela boca me vem á
cabeça. Aquelas pernas. Aquela bunda e porra! Sinto o meu pau ficando cada vez mais
duro. Comecei a estocá-la com ainda mais raiva, com ainda mais força e ainda mais fundo.
Como Ela conseguia fazer isso comigo?
Eu não entendo.
- Sophia… – quando dou por mim gozo chamando o nome dela bem baixinho.
Porra eu não acredito que eu chamei o nome dela enquanto gozava dentro de outra.
Caralho.
Porra.
TODOS OS PALAVRÕES DO MUNDO!
Eu não estou acreditando no que eu acabei de fazer. Eu gozei dentro da Lívia chamando a
Sophia. O que essa mulher está fazendo comigo? Merda!
Perdi totalmente o tesão. Saio de dentro dela, jogo a camisinha fora, coloco minha boxer e
a calça, vou até a Lívia, que tem um olhar interrogativo em minha direção. Assim que a
liberto das algemas e tiro a mordaça de sua boca, ela me questiona.
- Posso saber quem é Sophia e porque você estava pensando nela enquanto transava
comigo?
Diz sem medo nenhum. Eu podia ver raiva em seus olhos. A olho sem acreditar na sua
ousadia.
- Quem você pensa que é pra falar desse jeito comigo? – me aproximo dela lentamente,
posso ver o seu olhar mudar de raiva para medo.
- Me-me desculpa, Mestre é que… que eu não gostei voc…
- Era só o que me faltava agora. Eu não lhe devo satisfações de nada. Afinal, você não faz
de graça, eu desembolso uma boa grana com você. Eu te pago pra foder e nada mais que
isso. Se esqueceu?
- Nã-não Mestre. – se encolhe e sua voz saiu trêmula. Posso dizer que é por causa do
choro que ela está prestes a deixar cair.
- Então eu te chamo do jeito que eu quiser; Sophia; Maria; Joana… Porra! Só o que me
faltava agora, querer me dizer o jeito que eu tenho que te tratar. Daqui a pouco vai querer
o que? Fazer-me de submisso, é?
- Nã-não. Desculpe-me, Mestre. – ela já não conseguia mais impedir as lágrimas de cair.
- Se veste e vamos embora. – termino de colocar a minha blusa e ponho a arma na cintura.
Olho pra ela, que limpava suas lágrimas. Ela vai até um canto do quarto, pega o vestido
colocando-o rapidamente. A peço a chave da suíte, ela vai até a fechadura da porta na
parte de dentro, retira e me entrega. Saio do quarto e abro espaço pra que ela passasse.
Assim ela o faz de cabeça baixa. Fecho a porta e a tranco. Saio daquele corredor e me
dirijo para o segundo andar do clube, onde se localiza o bar. A Lívia já ia vindo atrás de
mim, quando eu a paro.
- Pode ir embora agora, eu quero ficar sozinho. E pode deixar, que mesmo não merecendo,
o dinheiro estará na sua conta amanhã mesmo.
Não espero uma resposta sua e me viro continuando o meu trajeto.
Entro no enorme bar do clube e me sento em um dos sofás mais afastado.
O “Prazer Clube” é dividido em três partes enormes, o primeiro andar é onde tem a
recepção, e assim que passa por ela se encontra um enorme clube, onde há várias mulheres
com roupas provocantes – se é que posso chamar aquilo que elas vestem de roupas – se
insinuando em postes de pole dance e shows de stripers também acontecem ali. E se o
homem quiser ele pode pagar pra passar a noite com aquelas mulheres. Nem todos que
frequentam o Prazer Clube são dominadores. Apesar de ser um clube especificamente de
submissão, há homens que vem aqui apenas para uma transa normal. Ou para ser o
submisso de uma dessas mulheres.
No segundo andar é onde ficam os quartos. Aqui há cerca de trinta quartos, todos muito
luxuosos.
No terceiro andar fica o bar, aqui os caras vem apenas para beber, é totalmente diferente
do primeiro andar. Tem uma música baixa e a luz também é bem pouca. Sofás e mesas são
espalhados pelo salão e assim como todos os outros espaços, o terceiro andar é bem
espaçoso. E no último andar é onde ficam os escritórios dos donos do clube.
Saio dos meus devaneios com a garçonete a minha frente.
- Boa Noite senhor Rodrigo. Vai pedir o que essa noite? – diz com um sorriso no rosto.
- Duas doses de Whisky.
Ela anota o meu pedido e logo sai, mas em questão de minutos ela volta com ele. Levo o
copo á boca e é inevitável não pensar na besteira que fiz há alguns minutos atrás. Porra eu
devo estar ficando louco, ou essa mulher tem algum tipo de poder… Isso! Macumba, essa
mulher deve ter jogado uma macumba muito braba pra cima de mim. Não é possível.
Nunca nenhuma mulher me deixou assim.
Estou chegando á conclusão de que terei que fode-l… Poorra! Não! Não, eu não posso
fazer isso. Que raiva! Mas uma coisa, que eu não sei se me conforta ou se me deixa ainda
mais maluco por tê-la é que, eu já percebi que ela também não é tão imune a mim assim.
Muito pelo contrário, eu vejo o jeito que ela me olha. Na forma que o corpo dela reage
quando eu chego perto. A vibração do seu corpo quando escuta a minha voz.
Eu sei que ela também me deseja.
Eu sei que sim. Mas isso não muda o fato de que não posso mudar e muito menos misturar
as coisas. Ela é minha empregada, eu não posso estragar tudo transando com ela.
Não posso!

[…]

Sophia
- Não, por favor! Não faça isso, por favor! – imploro deixando as lágrimas caírem
livremente pelo meu rosto.
Ele me jogou na parede o que fez com que eu soltasse um gemido alto de dor.
- Eu já disse que você é minha, Sophia e que a hora que eu quiser, eu vou te foder.- diz
passando suas mãos nojentas pelo meu corpo.
- Não! Me solta! Para! – já estava cansada de lutar contra ele.
- Huuum. – Cheira os meus cabelos. – Você sempre se fazendo de difícil, né Sophia. Eu
goto disso.
Suas mãos agora descem para o meio das minhas pernas. Tento de qualquer jeito impedir
que ele me toque novamente. Mas sinto meu rosto esquentar de repente, o que me faz
pular de susto.
Ele me bateu.
- Eu queria ser bonzinho com você, Sophia. – diz acariciando o meu rosto, onde segundos
atrás tinha dado um tapa. – Mas você não colabora, parece que você gosta quando eu te
bato.
- Eu te imploro, por favor, não faz isso! – eu lutava com todas as minhas forças contra ele,
mas parece que nada adiantava.
- Shiiiiu! Vai ser gostoso, você vai ver. – toca minha intimidade, e eu fecho os meus olhos
em repulsa. – Vai dizer que você não gosta quando eu te preencho com o meu pau?
- NÃO! ME SOLTA! – fico ainda mais desesperada.
Eu não quero isso. De novo não.
Por que ele faz essas coisas comigo?
Eu não entendo! Ele tem a mulher que quiser no morro, mas ele sempre faz isso comigo.
Sempre quer me machucar.
Quando o vejo abaixando a sua calça, eu começo a me desesperar ainda mais. Eu estou
sempre tentando lutar contra isso até o último segundo. Na esperança de que ele se
arrependa, ou de que alguém escute os meus gritos e venha ao meu socorro. Mas isso
nunca acontece. Ele sempre conseguia fazer o que queria fazer comigo… Ele sempre
conseguia me machucar.
- NÃO DG! ME SOLTA! NÃO FAZ ISSO, EU NÃO QUERO. – sinto ele me penetrar e
junto com a dor, as lágrimas descem ainda mais pelos meus olhos. – VOCÊ ESTÁ ME
MACHUCANDO! PARA! POR FAVOR!
-
-
-
-
-
-
- Sophia. – sinto mãos nos meus braços.
- ME SOLTA. – tento me desvencilhar do seu toque.
- Sophia acorda. – suas mãos agora passam pelo meu rosto.
- ME SOLTA! VOCÊ ESTÁ ME MACHUCANDO! EU NÃO QUERO. PARA COM
ISSO, POR FAVOR!
- SOPHIA. – sou sacudida fortemente e acordo em um pulo me sentando na cama. Meu
corpo está completamente suado. Meu rosto molhado pelas lágrimas que insistiam em cair
sem parar e o meu corpo tremia muito. Olho ao meu redor e vejo o Rodrigo sentado na
minha cama de frente pra mim com um olhar preocupado. As lágrimas ainda desciam
pelos meus olhos, soluços saiam de minha boca…
Será que ele nunca vai me deixar em paz?
Fazia tempo que eu não tinha esses pesadelos com ele e eu agradecia a Deus por isso. Era
sempre aterrorizante pra mim, ter esses pesadelos e me lembrar do momento horrível que
passei com ele. São cada vez piores. Cada vez mais reais.
- Ei, fica calma, foi só um pesadelo. – diz tentando me acalmar.
- Ma-mas… pa-parecia, tão re-real. – junto os meus joelhos os abraçando.
Ainda posso sentir os seus toques nojentos sobre a minha pele.
Que vontade de vomitar.
- Fica calma, Sophia. – surpreendentemente ele se senta ao meu lado na cama e passa os
seus braços pelos meus ombros, me abraçando.
De inicio me esquivo um pouco do seu toque. Mas ele não deixa que eu me afaste e me
prende mais em seus braços.
- Foi só um pesadelo, fica calma. – sua voz sai suave na tentativa de me tranquilizar. Uma
de suas mãos agora acariciava o meu cabelo.
Um gesto que eu nunca esperaria vir do Rodrigo. Nunca! Mas eu estranhamente me senti
bem, muito bem ali nos braços dele. Eu nunca pensei que deixaria um homem me tocar
daquele jeito. Eu sei que não é nada demais. Mas depois do estupro eu passei a olhar os
homens com outros olhos. Eu sei que nem todos são como o DG, mas ele me deixou
feridas que serão difíceis de cicatrizar. E o Rodrigo é o primeiro homem no qual eu me
sinto segura perto. É o primeiro homem que não me dá medo quando encosta em mim. Eu
não sei o que ele tem. Mas de alguma forma ele me faz bem, mesmo com esse jeito
estúpido e grosseiro dele… Ele me faz bem.
Quando dou por mim o meu choro já tinha cessado e a tremedeira também.
- Quem é DG? – me assusto com a sua pergunta.
Será que eu tinha dito alguma coisa?
Com certeza. Se não como que ele saberia sobre o DG?
Encolho-me mais em seus braços em vergonha. O que será que eu falei?
Será que…
- Desculpa. Eu sou um idiota mesmo. Não precisa dizer… Eu fiquei preocupado. Eu
estava entrando e escutei os seus gritos. Você gritava para um tal de DG parar, pois ele
estava te machucando. Eu pensei que tinha alguém aqui fazendo algo com você… –ele me
aperta mais em seus braços e a sensação de segurança aumenta. – Eu não pensei duas
vezes e arrombei a porta. Quando entrei você estava se debatendo na cama e grita…
- Para, por favor. – solto um soluço e me aperto mais em seus braços.
Cada palavra que saía de sua boca me fez relembrar tudo o que passei. Tudo o que senti…
- Desculpa.
Ficamos quietos por um tempo e quando eu estava quase dormindo novamente o ouço
dizer…
- Eu não sei o que esse cara fez pra você ou com você, mas ele te deixou uma ferida muito
grande… Posso dizer até que é até um pouco parecida com a minha. – diz a última parte
bem baixinha. Só fui capaz de escutar, pois sua boca estava próxima ao meu ouvido.
Ele deixa um beijo no topo da minha cabeça e se estica ao meu lado me fazendo deitar de
vez no seu peito, em momento nenhum retirou os seus braços ao redor do meu corpo. Aos
poucos fui perdendo os sentidos e adormeço em seus braços.

[…]

Rodrigo
Estaciono o carro na garagem, saio de dentro dele, ativo o alarme e vou em direção a casa.
Mas paro imediatamente, assim que escutei uns gritos vindos em direção do quarto da
Sophia. Aproximo-me mais e consigo escutar o que ela diz.
- NÃO! ME SOLTA.
Chego mais perto e tento abrir a porta, mas está trancada. A primeira coisa que me vem à
cabeça é que tem alguém ali dentro tentando fazer algo com ela. Mas descarto totalmente
essa hipótese, pois esse condomínio é muito seguro, os muros da minha casa são muito
altos… A não ser que ela tenha o deixado entrar.
Merda Sophia!
Saco a minha arma e a posicionei a minha frente. Ouço mais gritos, o que me faz ficar
com mais raiva de quem quer que seja que está lá dentro.
- NÃO DG! ME SOLTA. NÃO FAZ ISSO. EU NÃO QUERO! VOCÊ ESTÁ ME
MACHUCANDO. PARA, POR FAVOR!
Os gritos dela são desesperados, parecia que ela pedia para o tal cara parar, mas ao mesmo
tempo tentava também pedir ajuda. Seu tom de voz está sofrido… Desesperado.
Não espero mais nenhum minuto sequer. Tomo uma pequena distância da porta e com
apenas um chute, ela se abre. Assim que entro, sinto o meu peito se apertar com a cena
que vejo.
Ela se encontra deitada na cama. Lágrimas caem freneticamente pelos seus olhos
fechados. Mesmo com o ar condicionado ligado, o seu corpo soa, ela se debate sobre a
cama na esperança de tirar algo de perto dela.
Abaixo a arma e coloco-a na minha cintura. Incomodado em ver toda a agonia, medo e
raiva que ela transmite, eu vou andando à passos largos até ela. Sento-me na cama ao seu
lado e tentou acordá-la.
- Sophia. – toco levemente o seu braço.
- ME SOLTA! – ela grita fugindo do meu toque.
- Sophia acorda. – chamou desta vez um pouco mais calma. Acariciou de leve o seu rosto,
na esperança de que ela acorde. Mas nada.
- ME SOLTA! VOCÊ ESTÁ ME MACHUCANDO. EU NÃO QUERO. PARA! – há tanta
dor e nojo em sua voz.
Dá para ver por sua feição o nojo que ela sente e a necessidade que tem de tirar algo de
cima dela. Isso acabou comigo.
Não suportando mais vê-la desse jeito, resolvi tentar acordá-la de uma maneira mais
precisa.
- SOPHIA! – grito e sacudo os seus braços.
No mesmo instante ela se levanta eufórica. O desespero e o medo em seu olhar fez com
que eu me lembrasse de coisas horríveis do passado. Meu coração se aperta. Não sei se
pelas lembranças ou por vê-la desse jeito. Acho que é uma mistura dos dois.
Ela ainda muito atordoada, se senta na cama, junta os seus joelhos e os abraça. Ela olha
muito assustada para os lados e logo depois abaixa a cabeça entre as pernas. Parece querer
se proteger de alguma coisa… De alguém
- Ei! Fica calma, foi só um pesadelo. – digo tentando acalmá-la. Mas eu mais do que
ninguém sei o quanto um simples pesadelo pode mexer com a mente de uma pessoa.
- Ma-mas… pa-parecia, tão re-real.
Eu posso me ver ali no lugar dela.
Não penso em mais nada. Quando eu percebo, já estou sentada ao seu lado a envolvendo
em meus braços. Assim como minha mãe sempre fazia comigo quando eu tinha que viver
todas aquelas cenas tão real na minha cabeça, novamente. E na esperança de acalmá-la, eu
a abraço forte.
- Fica calma, Sophia.
Ela tenta por um momento se distanciar de mim, mas eu não permito. Não permito que ela
saia dos meus braços nenhum segundo sequer. Eu acho que mais para confortá-la, eu
estava fazendo isso para me confortar. É tão bom tê-la em meus braços, sentir o seu
cheiro…
- Foi só um pesadelo. Fica calma. – afago de leve os seus cabelos e deixo um beijo. Eles
cheiram tão bem.
Percebi que ela já estava calma o suficiente, quando não pude mais ouvir seus soluços e
nem sentir o seu corpo tremendo junto ao meu. Eu me atrevi a perguntar.
- Quem é DG? – no momento em que as palavras saem de minha boca, sinto-a se contrair
mais nos meus braços e sei que ela não vai querer tocar no assunto. Pelo menos não agora.
- Desculpa. Eu sou um idiota mesmo. Não precisa dizer… Eu fiquei preocupado. Eu
estava entrando e escutei os seus gritos. Você gritava para um tal de DG para que ele
estava te machucando. Eu pensei que tinha alguém aqui fazendo algo com você… – a
apertou mais em meus braços, não sei o porquê, mas a ideia de outro homem a tocando me
causa raiva. – Eu não pensei duas vezes e arrombei a porta. Quando entrei você estava se
debatendo na cama e grita…
- Para, por favor. – ela solta um soluço e se aperta mais em meus braços. Nesse momento
eu sei que tenho que parar de falar. Isso não faz bem a ela.
- Desculpa.
Eu não sei o que esse cara fez a ela, mas com certeza não deixou boas marcas. Não deixou
mesmo.
- Eu não sei o que esse cara fez pra você ou com você. Mas ele te deixou uma ferida muito
grande… Posso dizer até que é um pouco parecida com a minha. – a ultima frase saiu
meio que sem pensar, de minha boca.
Espero que ela não tenha escutado.
Resolvo me deitar na cama. Sem soltá-la, encosto minha cabeça no travesseiro e a deixo
deitar-se sobre o meu peito. Deixo um beijo sobre sua cabeça e não demora muito, sinto
sua respiração ficar mais lenta. Ela dormiu.
Vê-la daquele jeito, me fez recordar de coisas do passado que eu me obriguei a apagar da
minha mente. Mas que mesmo assim, de vez em quando, essas lembranças insistiam em
me atormentar…
-
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- Para Carlos, não faz isso. Desculpa. Eu não tinha que ter dito nada. – minha mãe
implorava desesperada, sentada no sofá da enorme sala, para que o homem que eu
chamava de pai não a agredisse novamente.
- Quantas vezes eu tenho que falar que eu não lhe devo satisfações da minha vida? – ele
desfere um tapa no rosto de minha mãe, que solta um grito alto.
- Mas eu mereço respeito. – parecendo cansada de toda aquela situação ela se levanta do
sofá e mantém uma postura firme diante do homem à sua frente. Mas ainda é possível ver
o olhar de medo dela diante do mesmo.
Eu estava escondido no topo das escadas, assistindo toda aquela cena que se repetia
quase todos os dias.
- Eu não aguento mais ser humilhada por você. Não aguento mais ver você chegando em
casa sempre com esses perfumes baratos dessas vagabundas que você pega na rua. Você
não faz questão nenhuma de esconder de mim o que faz, muito menos das pessoas de fora.
- Esconder o que, mulher? Que as da rua são muito melhores do que você? – ele solta
uma gargalhada sarcástica e continua. – Isso eu faço questão de jogar na sua cara
mesmo. Olha pra você! Não sei nem como tem coragem de sair de casa. Você está gorda.
Feia. Não é mais aquela gostosa da época em que nos casamos. Você só serve pra ficar
dentro de casa e fazer as coisas que eu mando, do jeito que eu quero e gosto. E pra cuidar
daquela peste que você chama de filho.
- NÃO FALA ASSIM DO RODRIGO!
O meu pai levanta a mão e desfere um tapa sobre a face da minha mãe, que cai sentada
no sofá.
- QUEM VOCÊ PENSA QUE É PRA GRITAR COMIGO? – e nisso ele vai pra cima dela e
começa a desferir tapas e socos nela. – VOCÊ NÃO É NADA. NADA!
Minha mãe gritava para que ele parasse, mas de nada adiantava.
Eu estava com medo. Eu queria ir ajudar minha mãe, mas sempre que eu me metia no
meio dos dois ele acabava me batendo também. Mas eu também não podia deixá-la
apanhar. Eu não podia deixá-lo fazer aquilo novamente.
Quando dei por mim já estava no meio dos dois.
- Para pai! Não bate na mamãe.
Digo tentando não chorar. Eu tentava a todo custo deixar minha voz firme, o que não
adiantava muita coisa.
- Filho, sai daqui. Vai pro seu quarto. – minha mãe dizia aos prantos.
Olho para ela e vejo seus lábios sangrando devido ao corte. E seus olhos vermelhos e
inchados.
- CALA A BOCA GAROTO! SAI DAQUI SENÃO VAI SOBRAR PRA VOCÊ TAMBÉM.
Ele pega pelos meus braços me jogando no chão, fazendo com que eu me machucasse um
pouco devido a queda. Mas deixei a dor que eu sentia completamente de lado quando vi
que ele continuava batendo na minha mãe. Não penso duas vezes e o empurrou tentando
afastá-lo dela. Ele me olha em fúria e desfere um soco no meu rosto, o impacto me fez ir
ao chão. Ele leva suas mãos até sua cinta a retirando da calça. Assim que ele levanta o
braço para me bater a minha mãe se joga em cima de mim me abraçando. Eu tentava a
todo custo tirá-la de cima de mim, mas eu não conseguia. Eu não queria que ela
apanhasse mais por minha causa.
Em algum momento ele a tirou de cima de mim, a jogou novamente no chão e se
direcionou a mim, para agora sim, conseguir me bater. Minha mãe pedia a todo o
momento para ele parar, pois eu não tinha culpa de nada e que eu era apenas uma
criança e não merecia aquilo. Mas ele mesmo assim não ligava. Ele só batia, batia e
batia.
Eu podia sentir o local onde ele batia arder, aos poucos, podia jurar que minha pele, em
algum momento daquela tortura toda, estava se abrindo devido ao contado da fivela com
a minha pele. E a única coisa que eu consegui fazer foi me encolher no chão. Eu não
derramei nenhuma lágrima sequer. Nada! A única coisa que eu sentia naquele momento
era dor e raiva. Muita raiva.
Não sei quanto tempo durou aquela tortura. Não sei se foi meia hora, uma ou duas. Mas
quando ele finalmente se cansou disso ele colocou a cinta novamente na calça, saiu pela
porta e nunca mais voltou.
Neste dia a minha mãe me pegou no colo. Me levou para o meu quarto. Trancou a porta e
se deitou comigo na cama abraçando-me fortemente.
- Me desculpa filho. Me desculpa! – ela dizia chorando. O arrependimento era notório na
sua voz.
E eu, nada disse.
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-
-
-
Na manhã seguinte àquele dia, recebemos a notícia de que o meu pai tinha morrido em um
acidente de carro. Minha mãe ficou arrasada. Chorou uns três meses seguidos. E eu? Hum!
Eu nada senti. Não chorei, não senti nenhuma dor sequer no meu coração pela perda que
tive. Posso dizer até que fiquei feliz.
Sim! Feliz.
Eu era apenas uma criança. Eu só tinha 11 anos na época e ele fazia aquelas coisas. Eu era
inocente. Eu apanhava de graça, assim como minha mãe.
O meu pai assim como eu, era um Delegado da PF. Por muito tempo durante a minha
infância, antes de ele começar a agredir a minha mãe, ou devo dizer, até eu perceber o que
acontecia na minha casa, eu o idolatrava. Eu tinha orgulho de chegar para os meus amigos
na escola e falar que o meu pai era um Delegado e prendia os bandidos maus. Ele era o
meu herói. Eu realmente tinha orgulho dele. Meu sonho sempre foi seguir os seus passos.
Mas quando eu o vi agredindo a minha mãe pela primeira vez, todo aquele encanto, todo
aquele orgulho que eu sentia por ele, foi por água abaixo.
Eu lembro que na época eu tinha apenas sete anos quando eu vi pela primeira vez ele a
agredindo. Eu já sabia que aquilo que ele estava fazendo com ela era errado. Eu sabia, pois
eu via minha mãe chorando, via aquela expressão de dor nos seus olhos. Foi quando eu fui
tentar me meter no meio e acabei apanhando junto com ela. E isso se repetia quase todos
os dias, pois eu não queria deixá-lo fazer aquilo com a minha mãe. Então, na tentativa de
impedi-lo, eu acabava apanhando também. Depois daquele dia eu passei a olhar o meu pai
com outros olhos. O respeito que eu tinha por ele deu lugar ao medo. Eu sempre pedia pra
minha mãe pra irmos embora, nós tínhamos condições para isso. A tia Patrícia também
sempre nos oferecia a casa dela pra ficarmos, mas minha mãe não queria ir embora. Ela
dizia que não podia deixar o meu pai sozinho. Que ele só fazia aquelas coisas por causa do
estresse do trabalho e que aquela fase ruim iria passar. E realmente passou, mas só depois
que ele morreu. Eu ficava com raiva por ela fazer isso. Eu sentia raiva da minha mãe, pois
eu não entendia o porquê de ela querer continuar com ele, mesmo ele sendo daquele jeito.
Mesmo ele sempre batendo nela. Mesmo ele a humilha sempre que podia… Eu não
entendia! Eu cheguei a pensar que ela gostava de tudo aquilo. De toda aquela humilhação
que ela passava e por conta disso já cheguei a ficar dias sem falar com ela, na época.
Pra mim ela sempre foi a maior culpada, pois ela podia mudar aquela situação, mas ela
não queria. Ela parecia gostar. Me doía ver a minha mãe ser tratada daquele jeito. Me doía
vê-la sofrendo pela morte de um homem que nunca a respeitou. Mas essa dor acabou
virando raiva por ela ser uma pessoa tão sem amor próprio… Sem amor ao próprio filho!
Nenhuma criança merece passar pelo o que eu passei. Mas muitas mulheres, assim como a
minha mãe preferiu, optam por continuar nessa situação. Eu não sei se é porque gostam ou
por medo. Mas pra mim não tem explicação. Eu tenho certeza que se o meu pai não
tivesse morrido naquela noite, ele continuaria nos espancando sempre que pudesse e
minha mãe não tomaria atitude nenhuma para mudar essa situação. É por isso que eu
tenho tanto rancor dela. Eu sei que rancor é um sentimento muito ruim, ainda mais para se
ter de uma mãe. Mas eu não consigo evitar. Eu a amo, Amo muito, mas eu não consigo e
nem dá pra apagar da minha mente as lembranças, e do meu peito as feridas, que a atitude
dela de aceitar aquela relação com o meu pai, me causou.
Depois disso eu nunca fui o mesmo. Eu mudei completamente o meu jeito na escola, até
mesmo em casa com a minha mãe.
O meu desejo de ser um policial não saiu de dentro de mim por causa dele, pois apesar de
ele ter sido a minha grande inspiração na época, eu realmente gostava da profissão e eu
não ia deixar que ele tirasse esse desejo de mim.
Até hoje eu odeio quando sou comparado ao meu pai. Eu não sou parecido com ele.
Sim! Eu bato em mulheres, mas com o consentimento delas, para dar prazer para as
mesmas. E não para machucar, igual o meu pai fazia. Eu nunca teria coragem de encostar
um dedo numa mulher como o meu pai fazia. Eu não tenho!
Posso dizer que sim, uma parte desse meu lado Dominador. Esse meu lado mais na minha,
ás vezes um pouco grosseiro demais com as pessoas, tenha a ver com o trauma que eu vivi
na infância com o meu pai. Mas eu não me considero igual a ele em nada do que eu faço.
Eu nunca teria coragem de encostar um dedo em uma mulher para bater sem o seu
consentimento.
Sinto lágrimas descendo pelos meus olhos e rapidamente seco. Ainda me dói lembrar
essas coisas. Eu me proibi de pensar nisso. Eu bloqueio todos os pensamentos que se
relacionem àquele homem, mas o que eu vivi aqui agora com a Sophia me fez lembrar
tudo.
Balanço a cabeça rapidamente, me proíbo de pensar nisso novamente. Não vai acrescentar
em nada na minha vida. Nada!
Olho para a janela e vejo que já está quase amanhecendo. Passei a noite inteira aqui, com
Sophia em meus braços. Não consegui pregar os olhos um minuto sequer. Olho para ela,
que ainda dorme tranquila.
Ela é tão linda, sua boca… Ah! Resisto à tentação de beijá-la. Por mais que eu queira
muito, não vou fazer isso. Não agora e não com ela desacordada…
PORRA QUE DROGA EU ESTOU FALANDO?
Nem agora e nem nunca.
Eu realmente estou ficando maluco… Mas maluco por ela!
Que desgraça de mulher é essa?
Decido me levantar e ir para o meu quarto antes que eu faça uma loucura aqui. Retiro-a
com todo o cuidado de cima de mim. Ela se mexe um pouco assim que a ajeito no
travesseiro, mas não acorda.
Saio do quarto encosto a porta, que com o chute que eu dei, acabou quebrando a
fechadura. Tenho que arrumar amanhã. Vou em direção a minha casa. Passo na cozinha e
bebo um copo d’água, logo depois subo para o meu quarto. Tomo um banho rápido e
durmo.


[…]

6° CAPÍTULO
Sophia
Espreguiço-me na cama, ainda de olhos fechados. Assim que os abro, olho para o relógio
em cima do criado-mudo que marca 08h00min. Me desesperaria se fosse qualquer outro
dia, mas hoje é sábado, dia de ir pra casa. Mais precisamente minha folga.
Olho para o lado direito da cama e o vejo bagunçado. Me viro na cama ficando de bruços
sobre o lado bagunçado, assim que coloco meu rosto sobre o travesseiro, sinto um
perfume diferente. Eu conheço esse perfume… Não tem como esquecer dele e do dono
muito menos.
As memórias de ontem à noite, invadem minha mente, fazendo com que eu me
envergonhe completamente do que eu fiz.
Droga.
Agora o que será que ele deve estar pensando de mim?
Deve estar achando que eu sou uma louca que fala enquanto dorme e que ainda o agarra
no meio da noite.
Tudo bem que quem entrou aqui foi ele, eu não o chamei…
Ou chamei?
Ai droga! O pior de tudo é que eu nem sei o que eu disse.
Será que eu disse alguma coisa que venha a me comprometer futuramente? Afinal de
contas, ele é um delegado, não custaria nada pra ele pesquisar sobre quem é DG, ainda
mais ele sabendo que eu moro na Rocinha, só ligar uma coisa à outra e pronto.
Um milhão de vezes droga.
Eu não posso deixar que nada aconteça com a minha família.
Esse desgraçado não me deixa em paz nem mesmo quando está preso. Até assim ele vem
atormentar a minha vida.
Olhando para os lençóis bagunçados e o travesseiro amaçado embaixo de mim amassado,
a impressão que dá é que ele passou a noite aqui… Comigo.
Não, ele não fez isso.
Ou fez?
Não! Não mesmo. Ele só deve ter ficado aqui até eu pegar no sono, ele deve ter achado
que eu ficaria com medo de dormir de novo, o que de fato eu realmente estava. Eu não
queria ter aquele pesadelo tão real, novamente. E graças a Deus, pois eu tive o resto da
noite de sono tranquilamente bem. Mas tem uma coisa que não sai da minha cabeça. São
suas ultimas palavras.
“Eu não sei o que esse cara fez pra você ou com você, mas ele te deixou uma ferida muito
grande… Posso dizer até que um pouco parecida com a minha.”
O que será que aconteceu com ele? Eu não faço a mínima ideia do que seja, mas eu posso
dizer que é por conta disso que ele é tão retraído, tão grosseiro com as pessoas…
Resolvo deixar esses pensamentos de lado, isso não me diz respeito e também não vai me
levar a lugar algum ficar me metendo na vida dele.
Levanto-me da cama e me direciono até o banheiro. Faço minhas higienes, tomo um
banho, não muito demorado, coloco uma calça jeans clara e uma blusa de manga na cor
preta e volto para o quarto. Arrumo a cama e é inevitável não sentir o seu cheiro nas
cobertas. Quando percebo, estou levando a coberta até o meu nariz para poder sentir
aquele cheiro maravilhoso novamente.
“Droga Sophia, pare com isso.”
Repreendo-me e volto a fazer minha cama. Assim que pronta, arrumo minhas coisas na
bolsa, volto para o banheiro e tento dar um jeito nos meus cabelos rebeldes. Resolvi deixa-
los soltos mesmo. Volto para o quarto e calçou uma sapatilha.
Saio do quartinho e fecho a porta do jeito que dá.
Entro na casa para ver se tinha algum sinal do Rodrigo, para avisá-lo que já estava de
saída, mas não o vejo na parte inferior da casa. Decido não subir, não quero acordá-lo.
Então resolvi escrever um bilhete avisando que já tinha ido e que qualquer problema me
ligasse. Essa parte eu escrevia mais por educação, pois eu sempre torcia para que ele não
me ligasse coisa nenhuma. Que resolvesse seus problemas por si só, pois eu não queria de
jeito nenhum ser tirada de perto do meu filho, justamente nos únicos dias que eu tinha para
passar com ele.
Saio da casa e por dentro dou graças a Deus de não ter o encontrado, pois eu tenho certeza
que não saberia como reagir diante dele, depois de ontem á noite. Eu ficaria muito
envergonhada, espero que até segunda ele esqueça completamente o que aconteceu. Tá!
Eu sei que não vai, mas não custa nada ser otimista.
Ando todo o enorme condomínio o mais rápido que eu consigo. Não vejo a hora de chegar
em casa e matar a saudade da minha bolinha.

[…]


- MÃE! CHEGUEI. – grito fechando a porta atrás de mim.
- Mamãe, mamãe. – o Gustavo aparece na sala correndo na minha direção.
O meu coração se enche com essa cena. A melhor sensação do mundo é depois de passar a
semana toda fora, ser recebida desse jeito. Ele sempre fazia isso, sempre que ouvia a
minha voz, vinha correndo ao meu encontro e eu nem preciso falar que me derretia toda.
- Meu amor. – o pego no colo e o abraço forte.
- Menino, já disse pra não correr assim. – dona Marta entra na sala desesperada, mas assim
que o vê no meu colo fica mais tranquila. – Oi minha filha. Já chegou.
Ela vem até a mim e me dá um abraço.
- Como foi no trabalho essa semana?
- Ah mãe! Foi como sempre… – me sento no sofá com o Gustavo no meu colo. – Um
pouquinho cansativo, mas eu acho que o fato de eu dormir lá ameniza. Eu durmo bem
cedo e acordo bem cedo também. Acabo me acostumando.
E como o Gustavo sempre fazia, direcionou suas mãos para os meus cachos e começou a
puxá-los de leve. Fazia o mesmo movimento repetidas vezes.
- Ele finalmente vai assinar a minha carteira, disse pra eu levar todos os documentos
precisos pra ele regularizar tudinho. – digo com um sorriso enorme no rosto.
Um sorriso de felicidade e de alívio, por finalmente ter conseguido.
- Graças a Deus né, minha filha. Agora podemos ficar mais tranquilas.
- Sim, mãe. Mas agora me conta. Como esse garoto se comportou durante a semana?
- Muito bem, você acredita que ele acorda antes mesmo do horário já pedindo pra ir pra
creche? – diz sorrindo.
- Sério, mãe? Então ele está gostando mesmo de lá.
- Sim minha filha e muito. Ele passa o dia inteiro lá, então de certa forma já se acostumou
com as crianças…
Ela me contou como ele se adaptou rápido na creche e eu fiquei feliz. O meu medo no
inicio não era só de ele ficar lá sozinho, sem ninguém de minha confiança por perto. Mas
também que ele se desacostumasse comigo. Eu senti medo de que ele se esquecesse de
mim. Loucura, eu sei. Mas eu senti medo dele se afeiçoar a outra pessoa e não ligar muito
pra mim. Afinal de contas eu ficaria a semana toda fora de casa e quando eu voltasse só
ficaria dois dias junto com ele. Mas eu sempre me tranquilizava quando eu chegava em
casa e era recebida por um abraço caloroso, um beijo molhado e um “ Saudades,
mamãe”do meu filho. Isso tirava todas as minhas loucas inseguranças, de que ele poderia
se esquecer de mim.
Passo o resto do dia brincando com o Gus. Não me importo nem um pouco com o cansaço
que toma o meu corpo, a única coisa que me importa é o meu filho nesse momento e o
sorriso dele de felicidade é um remédio para levar todas as minhas dores embora.
Por volta das 20h00min foi quando eu pude ter algum descanso, pois o Gustavo já estava
dormindo. Vou para o banheiro, tomo um banho demorado e depois sento com a minha
mãe na sala para assistir um programa qualquer que passava na TV naquele momento.
Que eu por sinal nem prestava atenção, estava tão cansada que estava quase dormindo ali
mesmo naquele sofá. Os meus olhos estavam quase se fechando quando ouço meu celular
tocar. Preguiçosamente estico o meu braço e pegou o celular que estava sobre a mesinha
do lado do sofá. Antes de atender vejo no visor que é a Mila.
- Oi Camila. – minha voz sai um pouco rouca por conta do sono.
- Desculpa por te acordar Soph. Não sabia que estava dormindo.
- Não cheguei a dormir de fato, você não deixou. – digo com uma falsa irritação na voz.
- Foi mal Soph. – diz sorrindo.
- Tudo bem.
- Bem… Estou te ligando pra te fazer uma intimação.
- Nossa! Intimação, o que foi que eu fiz, em? Vou ser presa, é?
- Não sua boba, trabalhar pro meu primo está afetando você.
“Ô se está”
- Então me fala. O que é? – tento expulsar esses pensamentos da minha mente.
- Minha mãe quer vocês aqui amanhã.
- Pra quê?
- Até parece que você não conhece minha mãe. Como se pra ela precisa ter algum motivo
pra você vir aqui em casa e trazer o meu gordinho junto.
Realmente. Se fosse pela tia Patrícia nós ficaríamos lá o tempo inteiro. Ela é tão carinhosa
com a gente. Não sei se é pelo fato dela saber da minha história e sente pena de mim, ou
se é realmente porque ela gosta mesmo da gente por perto. Mas eu prefiro acreditar que
ela gosta verdadeiramente da gente. Ela não parece nos querer por perto apenas por pena,
isso não é dela.
- Amiga não vai dá.
Olho para a minha mãe que estava atenta ao programa que passava na TV. Eu não posso
deixá-la sozinha em pleno domingo. Não mesmo. Eu não faria isso com a minha mãe.
- E posso saber por quê?
- Eu não vou deixar minha mãe sozinha. – assim que eu falo isso, minha mãe desprende
sua atenção da TV e me olha com um olhar de repreensão.
- Sophia.. – ela começa a dizer, mas não dou ideia e volto minha atenção para a Mila no
telefone.
- Trás ela ué, minha mãe vai adorar.
- Não sei se ela vai querer não, amiga.
- Pois diga que é um convite meu e da minha mãe. Te garanto que ela não vai rejeitar.
- Ok. – me dou por vencida.
- O que você resolver me avisa. Amanhã estarei ai pra te buscar se vocês forem vim. O
que eu sei que vão.
- Está bem Mila, pode deixar. – digo sorrindo.
- Dá um beijo no meu bolotinha pra mim.
- Dou sim, amiga.
Finalizo a ligação e minha mãe logo vem falando sem parar.
- Será que eu posso saber aonde você não vai por causa de mim, Sophia? Eu já disse pra
você parar de recusar os convites pra sair com a Camila por causa de mim. Eu posso ficar
muito bem sozinha, viu?
- Ei, ei, calma mãe. Na verdade eu não recusei, disse que veria com a senhora.
- Ver o quê comigo?
- A tia Patrícia e a Mila chamou a gente pra almoçar lá na casa dela amanhã.
- De jeito nenhum. Eu não vou á casa dela. Só pessoas ricas de classe, eu não sei me portar
perto de pessoas assim.
- Aah nada a ver, mãe. Quantas vezes eu tenho que dizer que elas não são assim como a
senhora pensa? Bom, a Mila não preciso nem falar nada que a senhora a conhece muito
bem. E posso dizer que ela é a mesma coisa que a mãe dela. Ela é super gentil não faz
nenhuma distinção de mim e da Camila. Até porque ela também veio de baixo, sabia mãe?
Ela não nasceu rica não.
- Mesmo assim…
- Ah e outra, ficará feio pra senhora rejeitar o convite dela novamente. Não é a primeira
vez que elas te convidam e a senhora nega.
Ela para, coça a cabeça, pensa um pouco e responde.
- É, você tem razão… Tudo bem, eu vou.
- A senhora vai ver como ela é um amor de pessoa.
- Espero mesmo. – diz e volta sua atenção para a TV.
Pego o meu celular e envio uma mensagem para a Camila avisando que iriamos ao tal
almoço. Ela logo me reponde dizendo que nos esperaria amanhã de manhã no pé do
morro. Pego o celular e vou para o meu quarto dormir, pois meus olhos não aguentavam
mais continuar abertos de tanto sono.

[…]

- Bom dia, Mila. – digo dando-lhe um abraço.
- Bom dia meninas. – ela dá um abraço na minha mãe e depois se volta para mim e pega o
Gustavo do meu colo.
- Cada dia que passa esse garoto está ficando mais lindo, gente.
- Mais esperto e mais levado… – acrescenta minha mãe.
- Minha mãe ficou muito feliz que a senhora aceitou o nosso convite, tia Marta. Ela
sempre quis te conhecer.
- É até vergonhoso, vocês eram amigas há tantos anos e eu nunca ter conhecido a sua mãe
pessoalmente.
- É mesmo, mãe. – concordo com ela.
- É, mas o importante é que finalmente vocês irão se conhecer, minha mãe está eufórica.
Entramos no carro e partimos em direção a casa da Mila.
Assim que chegamos foi àquela festa de sempre. A dona Julia estava lá e me recebeu com
toda a sua simpatia, assim como á minha mãe também. Assim que já havíamos nos
cumprimentados sentei com a minha mãe na varanda enquanto a tia Patrícia e a Julia tinha
ido a cozinha ver o almoço. O pai e o irmão da Mila estavam no escritório e ela como
sempre sumiu por ai com o Gustavo.
Ouço o interfone tocar, mas não dou muita importância.
- Viu mãe! Eu não disse que elas eram legais?
- É mesmo minha filha, eu me sinto até mal por ter julgado elas assim antes de conhecer.
- Eu disse.
Assim que elas voltam iniciamos uma conversa muito animada. Eu fiquei feliz por ver a
minha mãe se distraindo um pouco, ela só fica dentro de casa, quase não sai. Tem uma
única amiga no morro e mesmo assim ultimamente elas quase não se falam.
Me dou conta de que a Camila realmente sumiu com o meu filho e isso não é tão boa coisa
assim. Ela mima aquele garoto como ninguém e depois quem sofre em casa sou eu.
- Gente, eu vou atrás da Camila. Do jeito que essa garota é, deve estar fazendo todas as
vontades do Gustavo, enchendo ele de doces.
- Ah você pode ter certeza disso, minha querida. – diz a tia Patrícia.
Saio da enorme varanda de descanso e entro na casa.
Ouço a voz da Camila falando com alguém na sala e imagino que seja o Gustavo. Um
pouco antes de entrar no cômodo, eu falo.
- Camila, o quê você fez com o meu filho? Aposto que está entupindo a barriga da criança
de doces né sua maluca.
Assim que entro na sala me surpreendo totalmente com a cena que eu vejo. Pisco várias
vezes para ter certeza que é exatamente isso. O Gustavo se encontrava com um pirulito na
boca. Mas não. Não foi isso que me chamou a atenção nem de longe, mas não foi mesmo.
E sim o Rodrigo. Ele está segurando o Gustavo no seu colo e tem um sorriso muito lindo
nos lábios. Posso falar que um sorriso nunca visto por mim. Durante todo esse mês que eu
passei na casa dele posso dizer que nunca o vi sorrindo nenhuma vez. Ele, assim como a
Camila, estava sentado no chão, no meio da sala e o Gustavo estava sentado em suas
pernas.
Eu sinceramente não sei por que fiquei tão em choque assim. Não sei se foi pelo sorriso
maravilhoso estampado nos seus lábios, ou pelo meu filho estar super à vontade no colo
de um estranho. Mas eu fico com a primeira opção. Ou as duas juntas?
- Iih Gus! Esconde o pirulito que a mamãe chegou, esconde. – a Mila brinca com ele,
fazendo com que ele solte uma gargalhada gostosa e encoste a cabeça no peito do Rodrigo.
Tento sair do meu transe e me aproximo deles.
- Muito bonito, Dona Camila. Eu sabia que você estava entupindo ele de doces. Agora
mesmo que ele não almoça.
Tento não transparecer o efeito que esse homem me causa ao me olhar desse jeito que ele
está a olhar agora.
- Desculpa Soph, mas é que eu não resisti. Ele me olhou com esses olhinhos pidões e eu
dei.
- Espera aí. Ele que é o seu filho?
Aquela voz rouca me faz esquecer completamente da bronca que eu ia dar na Camila
naquele momento.
Olho para o Rodrigo e o vejo muito surpreso, ainda a espera da minha resposta.
Essa reação pra mim já é super normal. As pessoas nunca pensam que ele é o meu filho.
Sempre acham que eu sou alguma babá, mas nunca que eu sou a mãe. O Gustavo não se
parece nada comigo, pode ser que o seu jeito de ser, seja sim, um pouco parecido, mas na
fisionomia nada. Ele é branco, com os seus olhos incrivelmente azuis e o seu cabelo preto
escorrido. Se eu não estivesse acordada na hora do parto e assistindo tudo, até eu poderia
dizer que ele não era o meu filho. Realmente eu só servi pra carregar ele nove meses
dentro de mim, pois ele não se parece em nada comigo. A não ser a cor dos cabelos e
algumas pessoas dizem que temos o mesmo sorriso.
- Sim. – respondo.
Ele parece ainda mais surpreso que anteriormente.
- Nossa… Ele não…
- É eu sei. Não se parece comigo. Acredite senhor Rodrigo, eu ouço muito isso quando
saio com ele na rua.
- Acredito. – ele diz ainda com seus olhos presos aos meus.
Olho para o Gustavo e o vejo passar o pirulito de leve na camisa do Rodrigo sujando-a.
Merda!
- Filho, não faz isso. – vou para perto dele e quando estava prestes a pega-lo do colo do
Rodrigo, o mesmo me impede.
- Pode deixar. Está tudo bem. – diz segurando-o mais firme.
- Ele está sujando a sua blusa.
- Não tem problema.
- Tem sim. – “Pois vai ser eu que vou lavar, meu querido.”
Tiro o Gustavo dos seus braços. Mas ele começa a chorar olhando para o Rodrigo, fazendo
beicinho.
E para a minha total surpresa ou devo dizer, vergonha, ele estica os braços para o Rodrigo
novamente e diz.
- Papa…
Eu não sei onde enfiar a minha cara nesse momento.
Eu sabia que ia chegar uma hora na vida dele que ele pediria e/ou perguntaria pelo pai.
Mas tinha que ser justo agora? Tinha que ser justo com o Rodrigo?

[…]


Rodrigo
Atravesso o enorme portão do condomínio em que a Camila mora. Só essa peste mesmo
pra me fazer sair de casa em pleno domingo. Mas eu realmente estou devendo uma a ela,
desde o dia em que eu não fui a sua pequena recepção quando ela chegou das férias. Então
eu não tive como negar o seu convite, ou melhor, intimação, se não a pestinha não ia me
deixar mais em paz.
Estaciono o carro em frente à casa da tia Patrícia e desço ativando o alarme. Toco o
interfone, a Camila que atende e prontamente abre o portão para que eu entre. Assim que
atravesso os enormes portões de ferro, dou de cara com a Camila em pé em frente a porta
principal da casa, que dá acesso para a sala. Mas o que me intrigou foi a criança em seus
braços. Um menino, muito lindo por sinal.
- Até que enfim apareceu, cara. – me dá um tapa no ombro antes de me dá um abraço
apertado, mesmo com o menino nos braços.
- Ai titia. – ele resmunga e ela se separa de mim.
- Desculpa meu amor, a titia sempre faz isso né. – diz sorrindo e fazendo cócegas no
menino, que soltou uma gargalhada gostosa.
- De quem é essa criança, Camila?
- Você já já saberá. Vem. – diz e pega na minha mão, me arrastando para dentro da casa.
Chegamos na sala e tinha uns poucos brinquedos espalhados pelo chão. Ela se senta no
chão e coloca o menino no meio de suas pernas para brincar com ele. Eu me dirijo para o
sofá e me sento, observando o jeito como a Mila trata o menino.
É notório o amor que ela sente por esse garotinho. E é até um pouco estranho eu pensar
isso, mas é quase impossível não ter. Ele é tão fofo e cativante. O seu sorriso me lembra
alguém, mas eu não consigo me lembrar quem.
- Cadê o Fernando, Mila?
- Está no escritório com o meu pai.
- Seu pai ainda não desistiu de levar ele pra empresa não, é?
- Que nada, o velho é persistente. Ele ainda tem esperanças que meu irmão mude de ideia.
- Mas e você? Se inscreveu para fazer a prova da Civil?
- Siiiim. – diz animada – Nossa você não tem noção do quanto eu estou nervosa.
- Já falou pro seu pai?
- Não, você está louco! Se eu falar ele vai fazer de tudo pra não me deixar fazer. Eu contei
pra minha mãe, ela ficou super feliz.
Quando eu ia responder sou impedido pela voz doce do menino.
- Titia, bala. – ele pede em pé, de frente para a Camila.
- Gus não pode, mamãe vai brigar com a gente se eu te der bala antes do almoço.
- Bala, titia. – o menino faz uma carinha de choro.
A Camila me olha parecendo pedir ajuda.
- Não olha pra mim não em. Você sabe que eu não sou muito chegado à crianças, ou seja,
não sei o que fazer nesses momentos. Se vira.
Ela olha para o menino que estava a ponto de chorar e depois olha pra mim de novo e se
levanta do chão.
- Passa o olho nele um minutinho só, eu já volto. – diz e vai saindo me deixando ali com
aquele menino.
- Ou Camila, não. Volta aqui. E se ele chorar, cara? – não adiantou de nada, ela já tinha
sumido pelos corredores.
Olho para ele que tinha um olhar interrogativo direcionado para mim. Chegava a ser
engraçado, nós nos encarávamos, ele com um olhar interrogativo e eu com medo. Sim.
Medo dessa criança começar a chorar e eu não saber o que fazer.
De repente ele começa a andar na minha direção. E era até que fofo vê-lo andando. Ele é
bem gordinho e como parecia ter aprendido a andar recentemente, tombava o seu corpo de
um lado para o outro, para andar. Ele chega na minha frente, põe sua mão por cima da
minha e tenta me puxar para levantar.
- Binca… Vem bincar. –diz um pouco enrolado.
Eu não sabia o que fazer. Ele continua me puxando, então eu levantei do sofá e deixei que
ele me guiasse. Quando chegou perto dos brinquedos ele sentou-se no chão.
- Senta. – diz batendo a mãozinha do seu lado, no chão.
Ele tem um sorriso lindo estampado no rosto. Não consegui dizer não. Sentei-me ao seu
lado e ele me deu um carrinho para brincarmos. Ele estava super empolgado. Conversava
comigo como se fosse gente grande. Lógico que falava coisas que só ele conseguia
entender, mas eu fingia que entendia tudinho. Eu me senti estranhamente bem com ele, eu
não sei o que esse garotinho tem que me deixou assim. Deve ser sua pureza. Logo eu que
nunca fui muito chegado a crianças, estou aqui brincando e me sentindo muito confortável
perto de uma.
Me surpreendo quando ele vem com um carrinho nas mãos e senta no meu colo. Ele
começa a dizer coisas incompreensíveis para mim, mas eu novamente fingia que as
entendia. A Camila entra na sala novamente com um pirulito nas mãos e parece se
surpreender a me ver daquele jeito com o menino, que por sinal, não sei o nome.
- Doeu ficar com ele um tempinho?
Apenas reviro os olhos e balançou a cabeça de leve. Ela sorri.
- Bala, titia. – o menino fica eufórico quando vê o pirulito nas mãos da Camila.
Rapidamente larga o carrinho no chão e vai até ela.
- Toma. – a Camila tira o plástico do pirulito e dá para o menino, que prontamente o leva
até a boca.
- Mas a mamãe não pode saber de nada. Se ela chegar você esconde em. – diz e tenta
pegá-lo no colo, mas surpreendentemente ele volta para onde eu estou e se senta
novamente nas minhas pernas.
Fico surpreso, mas não me importo com o gesto dele.
- É assim é moleque? A titia aqui se mata pra conseguir o docinho pra você, corre o risco
de morrer caso sua mãe descubra que estou te dando isso antes do almoço e não ganho
nem um abraço… Já se bandeou pro lado desse aí, é? – diz com uma falsa irritação e se
senta do nosso lado.
- Qual o nome dele? – perguntou acariciando os cabelos negros do menino sentado nas
minhas pernas.
- Gustavo. – diz olhando para o garoto, mas logo depois volta a sua atenção a mim. –
Parece que o Gus conseguiu derreter o coração de gelo do Senhor Rodrigo. – diz divertida.
Eu nada digo. Realmente ele tinha conseguido isso. Mas preferi me calar.
Agora, parando um pouco pra pensar, eu realmente já tinha ouvido da boca da Camila
sobre um tal de Gustavo. Não tenho muita certeza, mas eu acho que era afilhado dela. Eu
nunca me interessei em saber mais sobre isso, até porque ela raramente tocava no assunto.
Assim como eu também não faço a mínima ideia de quem seja a mãe desse menino. E
uma estranha curiosidade de saber quem é, me atingiu, porém, quando eu ia perguntar
sobre ela, eu escuto uma voz familiar e paro na hora.
- Camila, o quê você fez com o meu filho? Aposto que está entupindo a barriga da criança
de doces né sua maluca.
COMO ASSIM MEU FILHO?
Ela é a mãe do Gustavo?
Não! Não é possível.
Ela parece tão surpresa quanto eu ao vê-la ali. Eu sei que ela e a Mila são super amigas,
mas eu não esperava vê-la aqui hoje e muito menos que esse garoto que está nos meus
braços fosse o filho dela.
- Iih Gus, esconde o pirulito que a mamãe chegou. Esconde. – a Mila brinca com o
menino, fazendo com que ele solte uma gargalhada gostosa e encoste a cabeça no meu
peito.
- Muito bonito dona Camila. Eu sabia que você estava entupindo ele de doces. Agora
mesmo que ele não almoça.
Encaro-a descaradamente, não me importando e ao mesmo tempo não acreditando nisso
que está acontecendo aqui.
-Desculpa Soph, mas é que eu não resisti. Ele me olhou com esses olhinhos pidões e eu
dei.
Não aguento e perguntou, pra ter total certeza.
- Espera aí. Ele que é o seu filho?
- Sim.
- Nossa… Ele não…
- É eu sei. Não se parece comigo. Acredite senhor Rodrigo, eu ouço muito isso quando
saio com ele na rua.
- Acredito.
Pode ter certeza que eu acredito.
Ele não parece em nada com ela, a não ser o sorri.. Isso! O sorriso! Era por isso que eu
estava achando o sorriso familiar. Os sorrisos são idênticos, mas fora isso e a cor dos
cabelos dele, eles não se parecem em nada. Nada mesmo. Com certeza esses olhos azuis e
a cor de pele clara, ele puxou do pai.
- Filho, não faz isso. – ela chega perto de mim e tenta tirá-lo dos meus braços. Mas eu
estava gostando dele aqui, então não a deixei tirá-lo de mim.
- Pode deixar. Está tudo bem. – o seguro mais firme.
- Ele está sujando a sua blusa.
Olho para baixo e o vejo todo distraído, passando o pirulito na minha blusa.
- Não tem problema. – digo simples, pois realmente não tem.
- Tem sim.
Ela não espera que eu rebata e o retira do meu colo. Assim que ela o pega, ele abre a boca
e começa a chorar. Mas o que mais me surpreende é quando ele estica os seus bracinhos
de novo na minha direção e diz do jeito dele…
- Papa…
Eu fiquei um pouco assustado sim. Eu admito. Mas nada comparado á cara que a Sophia
está fazendo. Eu estranhamente não me importei com o fato dele ter me chamado de pai.
Quem deve se importar é o pai dele. Eu pelo menos ficaria chateado vendo o meu filho
chamando outro de pai.
- Fi-filho não!
- Papai, mamãe! Papai. – ele intensifica o choro e mantém os seus braços direcionados a
mim.
A Sophia a cada segundo que passa, fica mais constrangida com a situação. A sua pele
negra novamente está levemente corada.
E porra, eu já disse o quanto ela fica linda quando cora?
Merda eu tenho que parar com isso.
- Filho não! Ele não é o seu papai. – ela me olha, muito constrangida. – Me desculpa
senhor Rodrigo. É que ele… Ele nunca.. Nunca disse e não sei o que deu nele….
Desculpa.
- Não tem problema nenhum, Sophia. Pelo menos não pra mim. Quem não irá gostar nada,
nada, é o pai dele.
Ela fica um pouco estranha quando toco no assunto de pai. Posso até dizer que vi seus
olhos lacrimejarem. Mas tento não me importar com isso e continuo.
- Por mim está tudo bem.
- Mesmo assim, me desculpe.
O Gustavo continua chorando e pelo o que eu vejo, ele não vai parar tão cedo. Então eu
me levanto e caminho até eles. Encosto minha mão nos braços dele, que tenta se jogar
para o meu colo. Mas a Sophia o segura mais forte.
- Posso pega-lo? – peço e vejo que ela vai negar, mas antes que diga algo, eu tento
novamente.
- Só pra ele se acalmar, pois parece que não vai ficar quieto tão cedo.
- Eu não quero atrapalhar o senhor. Não precisa.
- Não é trabalho nenhum. Me dê. – a ultima frase saiu mais como uma ordem do que como
um pedido. Mas não me importei.
Ela passa o seu filho, que ainda chora, para os meus braços. E na mesma hora ele para de
chorar e me dá um sorriso safado, como quem diz: “Eu sabia que fazendo charme eu
conseguiria”. O que me fez rir.
Ele leva o pirulito que segurava fortemente no sua mão, até a boca e encosta sua cabecinha
no meu ombro.
- Iiih parece que ele gostou de você em, Rodrigo. – diz a Mila se levantando do chão e
ficando ao nosso lado.
- É. Parece que sim. – digo sorrindo, sem desgrudar os meus olhos dos da Sophia.
- Ele vai dormir. – ela avisa. – Quando você cansar pode me dá-lo, Senhor Rodrigo.
- Sem o Senhor, aqui você não é a minha empregada. Então não precisa me chamar assim.
- Tudo bem, Rodrigo. – percebo que ela ficou um pouco incomodada ao me chamar pelo
meu nome. Enquanto eu me senti irritantemente bem ao ouvi-la me chamar assim. Ela só
não precisa e nem vai, saber disso.
- Amiga, deixa o Gus ai com o Rodrigo e vamos lá no quarto comigo rapidinho. Preciso te
mostrar uma coisa.
Ela olha para a Mila, depois direciona o seu olhar pra mim novamente e assente com a
cabeça.
- Qualquer coisa é só chamar. – ela diz para mim.
- Tá, tá, tá! Ele chama, fica tranquila. Agora vem. – a Camila puxa ela escada acima eu
volto os meus olhos para o menino que está nos meus braços.
Sento-me no sofá e vejo que ele já está prestes a dormir. O ajeito em meus braços e tento
tirar o pirulito de sua mão, mas ele não deixa. Então eu deixo, para não fazê-lo chorar, ele
se aconchega mais no meu peito e fecha os olhinhos de vez.
Não sei o que acontece comigo quando o assunto muda pro lado da Sophia.
Primeiro foi ela, agora o filho.
Será que sempre tudo que se liga a essa mulher vai me deixar tão vulnerável assim?

[…]



7° CAPÍTULO

Sophia

- Será que a senhorita pode me explicar que clima foi aquele lá embaixo? – diz a Camila
se sentando em sua cama de frente pra mim, após ter fechado a porta.
Eu sabia que ela não iria me mostrar coisa nenhuma.
Que droga.
Pior que nem eu sei explicar o que acontece comigo quando eu vejo aquele homem.
- Que clima o que Camila? Do que você está falando? – decido me fazer de desentendida.
- Sophia! Não me faça de idiota, garota. Até parece que eu não vi o jeito que você e o
Rodrigo estavam se olhando lá embaixo.
- Não tinha jeito nenhum.
- A tá, ok. Vocês só não se comeram porque eu e o Gus estávamos lá.
- Que isso Camila.
- Que isso, que isso… Que isso nada, eu vi. Vem cá, você é o meu primo estão se
pegando? – pergunta com um sorrisinho idiota no rosto e eu me assusto com a pergunta.
- Claro que não, Camila. Você está louca? Ele é o meu chefe.
- Então quer dizer que se ele não fosse o seu chefe, você teria ficado? – Ela levanta a
sobrancelha e me manda um olhar desconfiado.
- Camila! Não.
- E por que não? Ele é um gato se não fosse meu primo eu dava uns pegas bonito nele.
- Meu Deus. – digo sorrindo.
- Anda! Me responde. Por que não?
- Por que nós somos completamente diferentes, Mila. Você mais do que ninguém o
conhece, sabe do temperamento dele. Eu não sei se aguentaria ficar com um cara tão
estúpido igual a ele…
- Ah o Rodrigo é uma pessoa maravilhosa. Só basta saber como lidar com ele.
- Poxa, então ninguém sabe lidar com ele, né? Eu nunca o vi sendo diferente com
ninguém. Tirando ontem que…
Me calo vendo que já estava falando demais. Mas já era tarde, pois a Camila tinha ouvido.
- Tirando ontem o quê? O que houve ontem? – Diz se curvando na cama, ficando bem
próxima a mim.
Droga.
Eu não vou conseguir esconder isso dela já que eu comecei a falar. Ela vai me atazanar até
que eu diga.
- Fala logo, estou esperando.
- Não aconteceu nada demais. É que ontem eu meio que tive um pesadelo e ele… – sinto o
meu rosto esquentar de vergonha.
Droga. Sério que vou ter que contar isso?
- Ele o quê garota? Fala!
- Ele foi ao meu quarto e me confortou.
- Sério? – tinha um enorme sorriso estampado no seu rosto. – Me conta mais.
- E foi isso. – Minto.
- Pra cima de mim, Sophia? Anda, continua.
- E… Eu dormir nos braços dele depois e eu acho que ele dormiu comigo. Eu senti o seu
cheiro forte nas cobertas, pela manhã…
- EU DISSE! EU SABIA! – grita se levantando da cama, eufórica.
- O quê? Do que você está falando, Camila? Olha, não rolou nada tá legal. Eu sabia que
você ia pensar besteira. Não era pra eu ter contado.
- Você está gostando dele, Sophia.
Isso não é uma pergunta e sim uma afirmação.
- O-o quê? Não! Está louca. Eu já disse ele é o meu chefe e…
- Mas quem disse que o fato dele ser o seu chefe te impede de gostar dele? Você é mulher
e ele é homem.
- Mesmo assim, não tem nada a ver.
Ela volta a se sentar na minha frente e diz olhando nos meus olhos.
- Você tinha que ter visto a sua cara enquanto falava dele, Sophia. Enquanto dizia que o
cheiro dele estava nas cobertas. Caramba, você sorriu de lado. Os seus olhos brilharam.
Você suspirou, garota. Você falou de um jeito que eu nunca vi você falando assim na
vida… E os olhares que vocês trocaram lá embaixo? Quase que eu mesma tirei o Gustavo
de seu colo pra deixar vocês dois á sós pra se comerem. Sério, eu nunca vi o Rodrigo
olhando daquele jeito pra ninguém. E muito menos você, nem quando você era
apaixonada por aquele nosso amigo de classe do primeiro ano, lembra? – faço que sim
com a cabeça. – Nem pra ele eu te vi olhando daquele jeito. E olha amiga, que você era
louca por aquele garoto.
Ela solta uma risada e continua, sem me dá chances de me defender. Por um lado
agradeço, pois eu realmente não sei o que dizer.
- E não me vem dizer que é coisa da minha cabeça porque não é, e você sabe disso. Eu só
quero saber de uma coisinha. Pode confiar em mim. Vocês já ficaram?
- Que droga, Camila! Eu já disse que não. Não há nada entre a gente, ok? Nada! Tira essa
ideia louca da sua cabeça.
- Ok. Podem não ter nada ainda. Mas pelo o que eu conheço o meu primo não vai durar
muito tempo isso não.
- Pois se depender de mim nunca vai acontecer nada. E antes que você diga alguma
coisa… Sim! Eu sinto algo por ele. Eu só não sei o quê, Camila. Eu tenho medo. Eu não
sei se é simplesmente atração ou se é algo mais forte. Eu não sei. Eu nunca senti isso.
Posso dizer que ele foi o primeiro homem a despertar algo em mim, depois de tanto
tempo. Ele faz o meu corpo reagir de uma forma… De um jeito que nunca reagiu… Mas
nós somos completamente diferentes. Não daria certo. Na verdade eu nem sei se ele
realmente me vê com esses olhos ou apenas como uma empregada.
- Ahh isso eu posso te garantir, minha querida. Ele não te ver apenas como uma
empregada não.
- Camila fala sério. Olha pra mim, você acha mesmo que um homem daqueles vai querer
algo comigo?
- Acho sim. Lógico que eu acho. Porque ele não ia querer? Você é linda, simpática, a
pessoa mais forte e guerreira que eu já vi na vida. Eu acho sim, que não só ele, mas outros
caras podem se interessar por você.
- Até parece… Isso não vale de nada pra ele, Camila… Ele tem a mulher que quiser aos
pés dele. Você acha mesmo que eu com a minha simpatia vou interessá-lo?
Pronuncio a palavra “simpatia” em um tom irônico.
- Você por acaso já viu as mulheres com quem ele sai? Você por acaso já viu uma dessas
mulheres lá na casa dele?
- Não.
- Então pronto, Sophia. Ele só sai com elas pra se “divertir” – faz aspas com o dedo. – Ele
nunca apresentou nenhuma dessas mulheres á família e muito menos as levam em sua
casa, pois ele diz que na cama dele não deita qualquer mulher que ele acha pela rua. Eu
apenas as conheço por que já saímos, algumas pouquíssimas vezes, juntos. São mulheres
bonitas, sim não posso negar. Mas são todas vulgares, mulheres que não se dão o respeito,
Sophia. Várias vezes ele me disse que nunca se casaria ou assumiria algo de fato com
elas…
- Então porque ele insiste em sair com esse tipo de mulheres.
- Sexo. Única e exclusivamente por causa do sexo que elas proporcionam a ele. Nada mais
que isso… Olhando pra você, eu vejo que era exatamente você que estava faltando na vida
dele. Você chegou pra mudar a vida do Rodrigo completamente, Sophia. E eu estou vendo
que está conseguindo. Pelo o que você acabou de me falar e pelo o que nós acabamos de
presenciar lá embaixo.
- Você está falando da vergonha que eu passei com o Gustavo o chamando de pai?
- Não, eu estou falando da aproximação dele com o Gus. Quem o conhece sabe que ele
não é muito chegado á criança. Eu vi o jeito que ele ficou quando o Gus estava no colo
dele, ele parecia outra pessoa. Ele fez questão de ficar com o seu filho lá embaixo, foi
mais surpreendente ainda. E o Gustavo o amou, tanto que o chamou de pai.
- Camila, isso não quer dizer nada. O Gustavo é apenas uma criança. É normal, ele deve
ter aprendido na creche. Um monte de crianças juntas dá nisso. Eu sabia que a qualquer
momento ele chamaria pelo pai, mas eu não esperava que fosse logo com o Rodrigo.
- Não é normal não e você sabe, Sophia. Me diz quando você viu o Gustavo tão à vontade
no colo de um estranho, como ele estava com o Rodrigo?
- Nunca. – digo bem baixinho abaixando a cabeça.
- Então pronto.
- Camila, acontece que eu não quero me enganar achando que ele sente algo por mim, mas
na verdade não. Entende?
- Sim, eu te entendo. Mas mesmo assim eu acho que você tem que se dar uma chance. Eu
estou falando isso independente de ser com o Rodrigo ou não. Depois do que houve com
você, você simplesmente se fechou pra qualquer outra relação. Sempre quando um homem
chega perto de você, você simplesmente se afasta. Não deixa rolar. Eu sei que aquele cara
deixou marcas em você.
- Mas é que é difícil Camila.
- Eu sei que deve ser muito difícil de recomeçar… Quer dizer, eu imagino. Mas você tem
que se dar a oportunidade de conhecer um cara legal e ser feliz. Os homens não são todos
iguais àquele desgraçado
- Eu não preciso, eu estou bem assim. Não preciso de homem na minha vida pra ser feliz.
O homem da minha vida é o Gustavo, não tem espaço para outro aqui dentro.
Ela respirou fundo, parecendo perceber que não vai conseguir mudar a minha opinião.
Alguns segundos depois sua mãe entra no quarto.
- E a mania de entrar sem bater permanece. – diz a Camila, bem baixinho. O que me fez
rir.
- Eu ouvi Camila. – ela direciona um olhar matador pra filha e depois continua. – O
almoço já está pronto, meninas, vamos comer.
- Vamos sim, estou morrendo de fome. – diz a Camila me puxando.
Assim que chegamos à sala, encontro o Rodrigo do mesmo jeito que deixei quando eu sai;
sentado no sofá com o Gustavo dormindo em seu colo. A Julia estava do seu lado e
acariciava os cabelos do Gus.
- Parece que o Gustavo conseguiu derreter o turrão ali. Nem acreditei quando cheguei aqui
na sala e vi essa cena.
- É porque a senhora não viu o que aconteceu antes, mãe. – diz a Camila sorrindo.
- E o que aconteceu?
Dirijo um olhar mortal pra ela, como sinal dela não dizer nada.
- Nada mãe. Só o Rodrigo brincando de carrinho com o Gustavo, parecia uma criança. E o
Gus até que gostou dele. – Diz e dá de ombros.
- Será que dá pra vocês pararem de falar de mim como se eu fosse um monstro. – ouço
aquela voz rouca, que me faz olha-lo. Mas rapidamente desvio o meu olhar quando vejo
que o mesmo me encarava.
- Jamais meu querido. Monstro não, que isso. Só que você sempre deixou bem claro sua
aversão á crianças.
- É. Mas o Gustavo é uma criança diferente.
Todos na sala ficamos mudos.
Eu nunca tinha visto o Rodrigo tão relaxado. Tão… Normal, digamos assim. Ele não
parecia estressado como aparentava todos os dias. Parece que a mãe e a tia estavam tão
surpresas quanto eu. Já a Camila não. Parece que essa versão do Rodrigo é muito normal
pra ela. O que não é nem um pouco para nós… Quer dizer. Pra mim.
O Rodrigo se levanta com o Gustavo ainda em seu colo, anda até a mim e para na minha
frente.
- Onde eu posso colocá-lo?
- Me dê ele que eu coloco no quarto da Camila. – estico os meus braços e ele o passa o
meu filho.
Subo. Coloco-o na cama e faço uma barreira com os travesseiros para que ele não caia.
Desço novamente e encontrar o Rodrigo na sala conversando com o Fernando.
- Oi Soph. Como está? – o Fernando me cumprimenta.
- Bem, Nando. E você?
- Melhor agora. Com uma Preta dessas na minha frente não tem como ficar mal. – ele se
levanta e vem até a mim me dando um abraço e deixa um beijo na minha bochecha.
De uns tempos pra cá ele começou a me tratar assim. Eu não sei se é brincadeira dele ou
se é sério. Ele sempre foi muito brincalhão com todos. Ele é o tipo de cara que não gosta
de levar a vida muito à serio, muito pelo contrário. Mas ele fala essas coisas pra mim com
uma seriedade, que eu não sei sé é brincadeira ou não.
Ouço o Rodrigo arranhar a garganta, o que faz com que o Nando me soltasse do seu
abraço. Mas mesmo assim ele continua com sua mão na minha cintura, mantendo uma
distância considerável.
- Vamos almoçar. – diz o Rodrigo se levantando do sofá e vindo para perto da gente.
- Vamos. – digo e me dirijo para o corredor que dava na enorme varanda, mas ainda com o
Nando ao meu alcanço com a mão na minha cintura.
E isso me incomodava. Não de modo que me deixava com medo ou algo assim. Não. Mas
me incomodava pelo fato do Rodrigo estar do meu outro lado com um olhar matador.
Aquele Rodrigo conhecido por mim parece ter voltado.
Chegamos à enorme varanda da casa e apresso o passo, para tentar, de uma forma meio
que sutil, retirar as mãos do Nando de minha cintura. Cumprimento o Senhor Jorge, o pai
da Mila. Vejo minha mãe ajudando a tia a colocar a mesa. Vou até o distante sofá onde a
Camila está sentada mexendo em seu celular e me sento ao seu lado.
- O que foi agora? – pergunta jogando o celular de lado.
- O seu irmão. Já te falei que de uns tempos pra cá ele está me tratando diferente?
- Já. E eu já disse que não precisa se preocupar. – pega o celular de novo e começa a
mexer. Sem desgrudar o olhar do celular ela continua falando. – Ele é assim mesmo, já
deu em cima de todas as minhas coleguinhas– diz irônica – Eu estava até estranhado ele
não ter feito o mesmo com você. – solta uma risadinha. A olho espantada e ela continua. –
Mas pode ficar tranquila que ele não é de insistir não. Por enquanto ele só investindo ao
poucos, como você não fala nada ele continua. Mas se você deixar bem claro que não
quer, ele não vai ficar enchendo o seu saco não. Fica tranquila.
- Menos mal…
A tia nos chama para comer e rapidamente tomamos os lugares na mesa. O Nando fez
questão de sentar do meu lado e por azar. Sim! Azar. O Rodrigo sentou na minha frente e
isso me deixou um pouquinho incomodada. Pois eu o sentia me olhando o tempo todo e eu
não tinha a coragem de olhá-lo. Ele me intimida. O pior de tudo é que eu estava
começando a achar que a Julia estava percebendo, pois ela olha para mim e para o filho,
com um sorriso muito estranho no rosto.
Tirando essa parte, um pouco desconfortável pra mim, o almoço foi maravilhoso.
O Nando continuou com suas investidas “discretas” e eu comecei até a achar graça disso.
Eu nunca vi o Fernando com esses olhos. Não que ele não fosse bonito e atraente. Porque
sim ele é. E muito. A sua pele é bronzeada pelas suas idas constantes a praia. Ele adora
surfar. Seus cabelos negros e os lindos olhos azuis. Ele é lindo, mas nunca me chamou a
atenção dessa forma. Vou ter que deixar bem claro pra ele que entre a gente não vai rolar
nada.
Assim que terminamos de arrumar a mesa, eu subi para ver se o Gus estava bem. E assim
que chego no quarto o vejo sentado na cama chorando bem baixinho. Um costume que ele
tem todas as vezes que acorda após tirar um cochilo. Ele sempre acorda um pouco
enjoado.
Pego ele no colo e ele imediatamente encosta a cabeça no meu ombro, ainda
resmungando. Começo a andar de um lado para o outro tentando fazer com que ele pare de
resmungar.
- Está tudo bem aí?
Assusto-me um pouco com a voz do Rodrigo e me viro dando de cara com ele parado na
porta, com os seus fortes braços cruzados. Assim que o Gustavo o ouve, retira
rapidamente sua cabeça do meu ombro, olha para o Rodrigo e para de chorar.
Será que até com o meu filho ele tem que mexer?
Droga.
- Não senh… Quer dizer. Rodrigo. Está tudo bem.
- Eu estava passando e o ouvi chorando. Pensei que havia acontecido alguma coisa.
Ele entra no quarto e para de frente pra mim. Me olha por alguns instantes e depois dirige
o seu olhar para o meu filho.
- Ele costuma acordar um pouco enjoado mesmo. É normal.
- Posso pegá-lo? – diz passando a mão pelos cabelos do Gus.
Surpreendo-me com a pergunta. Eu realmente nunca imaginaria vê-lo dessa forma como
está agora. Nem parece o meu chefe de verdade.
- Claro.
Não preciso nem passar o Gustavo para o seu colo, pois no momento em que ele estica os
braços para pega-lo o Gustavo praticamente pula para os seus braços. O Gustavo começa a
dizer coisas incompreensíveis, mas o Rodrigo o olhava atentamente e fingia que entendia
tudo. Ele se senta na cama e o coloca sobre sua perna. Me sento ao seu lado e fico vendo
aquela cena.
Como eu queria que o meu filho tivesse um pai. Como eu queria que ele tivesse sido feito
de outra maneira. Eu espero que ele não me trate como minha mãe me tratou quando eu
for obrigada a mentir pra ele em relação ao pai.
Olhando a cena à minha frente, me dá uma tristeza enorme e faz-me sentir inútil. O meu
filho nunca vai ter um pai. Isso é algo que eu infelizmente nunca poderei dar ao meu filho.
- Você deve sentir muita falta dele, não é? – sou despertada pela voz do Rodrigo.
Abaixo a minha cabeça não aguentando sustentar seu olhar por muito tempo.
- Muito. Antes de eu ir trabalhar na sua casa eu nunca tinha ficado um dia sequer longe
dele. Foi bastante difícil nas primeiras semanas, ter que sair de casa e deixá-lo.
- E agora, não é mais?
- É. Lógico que é, mas esse sacrifício é por ele… Por ele e pela minha mãe. Pra conseguir
um dia dar uma vida melhor para os dois, tirá-los de lá. Conseguir colocar as coisas dentro
de casa, nunca deixar que nada falte à ele. Por isso eu suporto toda essa saudade.
- Você fala como se fosse só você. O pai dele não te ajuda com as despesas do filho?
Droga. Por que ele tinha que tocar no assunto do pai do Gustavo?
Eu não sei o que falar. Eu não quero que Ele pense que eu sou uma puta. O que me deixa
louca, pois eu nunca quis me importar com o que as outras pessoas pensavam de mim.
Mas de alguma forma, o fato dele pensar o mesmo que os outros pensam de mim. Me
incomoda.
- Não… Na verdade e-ele… não queria e…
- Você está me dizendo que ele nem sequer registrou o Gustavo? – pergunta surpreso e…
Indignado?
- Não-não, ele não quis. – respiro fundo tentando não deixar as lágrimas caírem.
- Ele é um filho da puta de um covarde. – me assusto com sua voz e principalmente com o
que ele disse. Transmitia raiva e sim. Indignação.
– Me desculpa…
Ele me pedindo desculpas? Esse definitivamente não é o Rodrigo que eu conheço.
- É que não entra na minha cabeça, como uma pessoa pode rejeitar ou fazer mal á uma
criança. Tudo bem que eu não sou a pessoa mais chegada a crianças que existe na terra.
Na verdade eu procuro até manter certadistância, o que não é o caso com o Gustavo. Mas
eu também não consigo entender como as pessoas conseguem fazer mal ao próprio filho,
ou então rejeitá-los. Isso não entra na minha cabeça.
Definitivamente eu não conheço esse homem que está na minha frente. Ele não é o
Rodrigo para o qual eu trabalho. Não é mesmo.
- A única pessoa que perdeu com isso tudo foi ele. – diz e abaixa o seu olhar para o
Gustavo que tinha a cabeça deitada em seu peito, agora. – Nunca vai saber o quão lindo e
esperto o Gustavo é.
Fico sem ação diante de suas palavras. Ele parece não se importar com isso e continua
olhando para o Gustavo em seus braços.
Eu fiquei um bom tempo calada depois disso. Não tive coragem de dizer nada depois
daquilo. Eu só queria ir embora.
O Gustavo começou a resmungar que estava com fome e eu me lembrei de que ele
realmente não havia almoçado. Eu o peguei nos meus braços e junto com o Rodrigo,
descemos. Eu fui diretamente para a cozinha e agradeci mentalmente pelo Rodrigo ter ido
para a varanda, onde se encontravam todos.
Eu fui até a geladeira, peguei a comida do Gustavo que a Mila havia posto lá. Coloquei-a
no micro-ondas para esquentar e dei em sua boca. Assim que ele terminou de comer tudo
nós nos juntamos ao pessoal na varanda. O Gustavo assim que viu o Rodrigo quis ir até
ele, não consegui impedi, quando dei por mim ele já estava agarrado no não Rodrigo e não
quis se desgrudar mais. Isso de alguma forma me preocupa. Eu não quero que ele se
apegue ao Rodrigo, pois o Rodrigo não é o pai dele. O Rodrigo não vai estar presente em
sua vida e eu não quero que o meu filho sofra com isso. Eu sei que ele só tem dois anos,
mas as crianças se apegam muito rápido as pessoas, e isso que está acontecendo agora é a
prova viva disso. Eu nunca vi o Gus tão á vontade assim com nenhum estranho. Ele está
tão feliz. Eu nunca o vi sorrindo da maneira como está enquanto brinca com o Rodrigo.
Já estava entardecendo e nós estávamos nos despedindo de todos para irmos embora. A tia
Patrícia fez minha mãe prometer que voltaria mais vezes e o mesmo comigo e o Gustavo.
- Vamos. Eu levo vocês.
- Não precisa Rodrigo. – até porque o Nando e a Mila nos levariam.
- Precisa sim. Eu sei onde você mora, não vou deixar vocês irem sozinhas. – abro a minha
boca para protestar, mas ele não deixa. – E sem discussão. – ele diz sério.
Minha mãe me olha como quem dissesse para aceitar logo.
- Okay.
Ele se despede da mãe, que o pede para não demorar a aparecer. É notória a felicidade dela
em ver o filho com a família. Me despeço de todos e logo saímos. Encontro o carro
estacionado em frente a casa. Abro a porta de trás e dou passagem para a minha mãe
entrar junto com o Gus. Quando eu ia entrar também, ele me impede.
- Você vai na frente.
Não tive coragem de contraria-lo e deixei que o Gustavo fosse atrás com a minha mãe.
Antes de fechar a porta, eu vejo pelo seu olhar que ela tinha muitas perguntas para fazer e
que não esperava para chegar em casa e descarrega-las em cima de mim.
Passamos todo o caminho até em casa, calados. A não ser pelas coisas que o Gustavo
tagarelava no banco de trás. Alguns longos minutos depois, ele pára o carro na entrada do
morro. Mas eu vi que ele estava um pouco observador demais, olhava para todos os lados
e digitava algo rapidamente no celular.
- É… Obrigada pela carona, Rodrigo. – digo retirando o cinto de segurança.
Ele faz um aceno com a cabeça e dá um sorriso sem dentes pra mim.
- Vamos mãe. – digo e abro a porta saindo do carro.
- Tchau garotão. – ele se despede do Gustavo que sorri para ele e se despede com um
aceno de mão.
- Até amanhã, Sophia.
- Até amanhã, Rodrigo.
Fecho a porta e o vejo sair dali rapidamente. Eu e minha mãe subimos o morro e alguns
longos minutos depois estávamos em casa. Eu fui direto para o banheiro, dei um banho no
Gustavo e coloquei o seu pijama. Volto para a sala, coloco-o dentro do cueiro e ligo a
televisão no canal de desenhos para entretê-lo enquanto eu faço sua comida.
Vou para a cozinha, pego alguns legumes dentro da geladeira e começou a descascá-los.
- Agora eu entendo o porquê de você às vezes reclamar do seu chefe. – diz minha mãe
entrando na cozinha, me fazendo pular de susto.
- Ai mãe! Que susto.
- Ele é bem severo, né? – o seu tom é um pouco desconfiado. Agora, desconfiada do que.
Eu já não sei.
- Sim mãe, ele é.
- Mas é bem bonito também, não acha? – diz agora me encarando.
- Eu não estou entendendo a senhora! – digo soltando a faca e me virando pra ela.
- Eu vou ir direto ao ponto porque eu não gosto de rodeios.
- Por favor. – digo a incentivando.
- Você e ele. Vocês tem alguma coisa?
- Ah mãe! A senhora também não né, por favor.
- O que foi? Parece tá. E se mais alguém pensa como eu é porque realmente parece mesmo
que vocês dois…
- Mas não tem nada, mãe. Ele é o meu chefe. Apenas isso. Nós não temos nada.
- Eu vi o jeito que ele olha pra você. – continua insistindo no assunto.
- Jeito mãe, que jeito? Não tem jeito nenhum. – digo já sem paciência para falar sobre esse
assunto.
- Você Sophia, pode até não perceber, mas todo mundo vê. Pode não estar rolando nada
entre vocês, mas eu sei que você sente algo por ele.
- Mãe… Para. – digo séria.
Não quero tocar nesse assunto novamente. Não quero outra pessoa tentando colocar essas
coisas na minha cabeça. Não quero começar a me iludir com coisas que não existem e sair
machucada disso tudo.
- Ele é só o meu chefe. Apenas isso. Não tem nada demais. Eu não sinto nada por ele e ele
também não sente nada por mim. Agora vamos parar de falar sobre isso? Obrigada! De
nada!
Me viro para a pia, pego a faca e volto a fazer o que estava fazendo.
- Tudo bem. Se você diz. – diz e se retira.
Mais uma pra ficar colocando minhoca na minha cabeça não dá. Não dá mesmo.
[…]

8° CAPÍTULO
Sophia

Acordo com o som do despertador. Vejo que marca cinco e meia da manhã. A segunda-
feira é o único dia em que eu não preparo o café da manha do Rodrigo, pois eu chego um
pouco mais tarde, pelo fato de eu não ter dormido em sua casa no dia anterior.
Me levanto com toda a preguiça do mundo. Vou para o banheiro, tomo um banho gelado
para me despertar, se não é capaz de eu dormir debaixo do chuveiro mesmo do jeito que
eu estou cansada. Depois de um tempo, o tempo necessário para que eu realmente me
desperte, saio do box e me arrumo. Coloco uma calça jeans escura e uma segunda pele
preta. Ajeito o meu cabelo e passo um batom nude na boca e nada mais.
Volto para o quarto, pego minha pequena bolsa que deixei arrumada. Volto novamente
para a cozinha preparo o café rapidamente, assim que pronto coloco em uma xicara e
começo a toma-lo.
- Bom dia, filha. – diz minha mãe entrando na cozinha.
- Bom dia, mãe. Não está cedo demais pra senhora estar acordada, não? Ainda são
06h00min.
- O cheiro de café me despertou e daqui a pouco terei que arrumar o Gus pra creche
mesmo. Então não faz diferença.
- Ah sim.
Levou a xícara à boca, bebendo o último gole e logo em seguida a depósito dentro da pia.
Vou para o meu quarto, me sento de frente para o berço do Gus e começo a acariciar de
leve os seus cabelos, com cuidado para não acorda-lo.
Todas as segundas-feiras eu fazia a mesma coisa. Ficava um tempo ali o olhando dormir,
até eu finalmente tomar coragem de ir embora. Me doida o coração todas as vezes que
fazia isso, mas é preciso. Depois de um tempinho ali, me levanto, dou-lhe um beijo e saio
do quarto. Encontro com minha mãe na sala, me despeço dela e saio de casa.
Quando estava me virando para fechar o portão de casa, algo faz o meu corpo se petrificar
no lugar e um arrepio sobe pela minha espinha. Pisco várias vezes e mesmo com medo,
decido me virar novamente na mesma direção para ter certeza do que vi. Mas quando me
viro não há mais nada lá.
Eu poderia jurar que vi aquele par de olhos azuis que tanto assombrou minhas noites de
sono. Giro o meu corpo e varro os meus olhos por toda aquela rua a procura de algum
sinal dele. Mas não encontro nada.
“Isso é coisa da sua cabeça, Sophia. Ele está preso. Não tem como ele sair de lá.“ – tento
me convencer disso.
Deve ser coisa da minha cabeça. Deve ser por causa do pesadelo que eu tive com ele
sábado.
Ele está preso, eu acho que ele não teria como sair de lá.
Pelo menos eu espero.
Tento tirar essas coisas da minha cabeça. Respiro várias vezes tentando me tranquilizar.
Tranco o portão e saio em direção ao ponto.

[…]

Finalmente chego à casa do Rodrigo e vou rapidamente preparar as coisas para o almoço.
Vou para o meu quartinho, vejo que ele já concertou a fechadura da porta. Troco de roupa,
colocando o meu uniforme e volto para a cozinha. Começo a adiantar as coisas para o
almoço e enquanto deixo a panela no fogo, vou para o quarto do Rodrigo para arruma-lo.
Assim que entro no quarto dele o seu cheiro inebriante entra nas minhas narinas. E parece
que aqui o cheiro dele é ainda mais forte. Começo por abrindo as cortinas e logo em
seguida fui arrumar a cama que ele deixou bagunçada. Vou para o banheiro, dou uma
ajeitava em sua bancada que estava um pouco bagunçado e depois vou para o seu enorme
closet. Como o restante do quarto, ali havia algumas pouquíssimas roupas jogadas pelo
chão, nas quais eu fui catando e separando as sujas das limpas. Quando eu abri o seu
guarda roupa para guardar as roupas limpas, eu vi que a enorme gaveta que pegava uma
boa parte do guarda roupa, que por sinal, vivia trancada por uma chave estava um
pouquinho aberta. A curiosidade tomou conta de mim. Eu sempre quis saber o que ele
guardava naquela gaveta pra haver uma tranca. Cheguei a pensar que fosse dinheiro, mas
descartei essa possibilidade quando descobri que tem um cofre no escritório.
Eu estava em uma luta interna entre abrir ou não abrir.
Se ele trancava era porque havia coisas que não me dizia respeito. Mas se ela esta
abertinha agora é porque ele já não faz questão de “me esconder” o que quer que seja que
esteja ali. Mas ele também sempre deixou claro que não gosta quando invadem a
privacidade dele.
E droga! Por que eu tenho que ser tão curiosa?
Ah que se dane. Ele não está aqui mesmo. Nem vai perceber que eu mexi.
Coloco as roupas que estão em minhas mãos, em cima do sofá que tem ali no centro, volto
para perto da gaveta e termino de abri-la. Arrependendo-se logo em seguida de ter feito.
Eu posso apostar que estou querendo ficar vermelha. Consigo sentir meu rosto queimar de
vergonha. Eu não acredito no que estou vendo. Ajoelho-me de frente para a gaveta e pego
um daqueles vários chicotes nas mãos. Assim como chicotes, ali havia palmatórias,
algemas, que se não estivessem onde estão, poderia até dizer que são para o uso de
trabalho dele. Havia aqueles tipos de mordaças. E o que realmente me deixou muito
constrangida; vibradores. Muitos vibradores e plugs anal. Não entra na minha cabeça de
que um cara daquele precise de um vibrador. Será que ele não dá conta, é isso?
Não é possível, um cara daquele tamanho… Se só o jeito que ele me olha me faz sentir
coisas. Imagina esse homem em uma cama.
“Meu Deus, Sophia que pensamento é esse, garota?” – me repreendo.
Começo a reparar melhor naqueles instrumentos. Não são coisas comuns que um homem
tem em casa pra satisfazer sua parceira. Quem usa uma corrente, coleira, chicote e
algemas pra satisfazer algué…
Espera aí! Só se ele for um dominador.
Não… Será?
Por essas coisas que eu estou vendo aqui nessa gaveta, parece que sim.
Agora está explicado porque ele é daquele jeito. Agora eu entendi o que a Camila quis
dizer sobre o Rodrigo não assumir as mulheres com quem sai. Agora tudo faz sentido pra
mim. Esse jeito autoritário dele, em querer sempre dominar tudo.
Merda!
Coloco todas aquelas coisas novamente dentro da gaveta e a fecho. Pego as roupas em
cima do sofá e desço correndo. Chego à cozinha a tempo de desligar a panela de arroz que
estava prestes a queimar. Levo as roupas para a lavanderia e coloco-as na máquina de
lavar.
Ainda não consigo acreditar no que eu acabei de ver. Não entra na minha cabeça isso. Ele
bate em mulheres. É isso?

[…]


Agora mais do que nunca não consigo desprender a minha atenção dele, que se encontra
sentado á mesa.
Se eu soubesse que ficaria assim não tinha mexido naquela gaveta. E seria melhor mesmo.
Eu não consigo entender como uma pessoa se submete a ser agredida e ainda deixar que o
cara transe com ela depois disso, ou durante. Sei lá.
- Algum problema, Sophia? – pergunta sem desgrudar os seus olhos de mim.
- Án?… – digo ficando ereta. – É… não senhor. Nenhum, por quê?
- Você está me encarando mais que o normal. Está inquieta e está me deixando também.
Droga, ele percebeu.
Cacete.
- Na-nada não senhor. Está tudo bem. É só que eu estou apreensiva para saber se o senhor
gostou da minha lasanha.
- É boa. – diz curto e grosso.
Volta a atenção para o seu prato e eu respiro aliviada. Eu tenho que disfarçar, não posso
ficar dando na pinta desse jeito.



Já tinha ligado para minha mãe e dado um beijo de boa noite no meu filho. Agora eu me
encontrava sentada na cama com a imagem de todas aquelas coisas na minha cabeça,
novamente…
Já tinha passado da meia noite, mas eu não conseguia pregar os meus olhos. E o motivo de
tal coisa, era o homem maravilhoso do outro lado do jardim. Ele vestia apenas uma
bermuda mole e estava na academia. Eu não sei o que da na cabeça de uma pessoa em
malhar a essa hora da noite.
Obrigo-me a me deitar e tirar os meus olhos da janela. Mas nem isso me impediu de
pensar nele. De repente começou a subir um calor insuportável pelo meu corpo, o que era
estranho, pois o ar estava ligado na temperatura mais baixa. Meia hora girando na cama e
nada do sono vir e do calor abaixar, eu me sento novamente e olho para a janela e as luzes
da academia já estavam apagadas. Decido então por me levantar e ir até a casa beber um
copo d’água e pegar um ar, pra ver se esse calor passa.
Assim que entro na cozinha, acendo as luzes e vou direto para a geladeira pegar uma
garrafada de água. Levo-a até a bancada enchendo um copo com um pouco de água, logo
em seguida devolvendo a garrafa à bancada.
- Sophia é você? – a voz do Rodrigo me assustou e me fez derramar um pouco de água,
que caiu sobre o meu baby doll. O que não seria problema nenhum se ele não fosse branco
e estivesse colando nos meus seios nesse momento.
Assim que ele entra na cozinha e me vê, ele para e fixa os seus olhos nos meus seios. Eu
rapidamente cruzo os meus braços na altura dos mesmos, para os tamparem, ainda com o
copo na mão.
- Porra assim não dá. – ele desfere bem baixo, mas fui capaz de ouvir. Os seus olhos
continuavam nos meus seios, agora tampados.
Ele parece perceber que estou um pouco desconfortável, devo dizer assim. Pra falar a
verdade, nem eu mesma sei o que sinto agora. Ele tira os seus olhos dos meus seios e sobe
para me encarar.
- O que está fazendo acordada á uma hora dessas?
- Eu perdi o sono e acabei ficando com sede.
- Parece que tivemos o mesmo problema, então. – diz lentamente. Seu olhar varreu por
todo o meu corpo em questão de segundos, mas logo depois ele os voltava para os meus
olhos. O meu rosto queimar de vergonha e a vontade que eu tenho e de sair correndo
daqui.
- Parece que sim. – digo por fim.
Não aguentando mais manter essa tensão toda. Viro-me para a pia, coloco o copo dentro
da mesma. Pego a garrafa de água para guardá-la novamente na geladeira, mas quando
vou me virar, dou de cara com uma parede de músculos na minha frente.
- Não guarde. Também quero um pouco. – diz com seus olhos fixos nos meus lábios.
Sinto-o tirar a garrafa de minha mão e ao contrário do que eu pensei, ele não se distanciou
de mim para pegar o copo. Ele vaga seu olhar pelos meus seios molhados e meus lábios.
Vejo-o passando sua língua lentamente sobre seus lábios, os umedecendo, logo em seguida
ele deixa uma mordida em seu lábio inferior e volta a olhar fundo nos meus olhos. Uma
estranha vontade de beijá-lo me atinge. Mas me contenho. Nunca faria uma coisa dessas.
- Foda-se. Eu não aguento mais. – sua voz sai baixa e mais rouca que o normal.
- Do que o Senh…
Sou impedida de continuar, pois sinto sua mão segurando forte a minha nuca, me levando
para próximo dele. Ele rapidamente coloca a garrafa de água em cima da pia e puxa a
minha cintura me colando a si. Arregalo os meus olhos em surpresa. Eu não acredito no
que ele está fazendo, mas também não recuo.
Eu quero isso. Quero muito.
Ele sobe um pouco sua mão de minha nuca e agarra os meus cabelos com força. Olha mais
uma vez para a minha boca e meus seios…
- Puta que pariu. – ele diz.
Não perca mais tempo nenhum e toma a minha boca na sua. Meu corpo começa a tremer
em seus braços. Os meus braços moles jogados aos lados do meu corpo. Meus olhos
estavam abertos em surpresa. Eu não acredito que ele me beijou. E mesmo atônica eu
estava gostando.
Obrigo-me a reagir. Abri de leve a minha boca e ele a invade brutalmente com sua língua.
Subo minhas mãos para os seus cabelos e os puxou de leve fazendo com que ele solte um
gemido na minha boca. O calor que eu estava sentindo há minutos parece que triplicou.
Ele enrolar sua língua na minha e começa a fazer uns movimentos com a mesma.
Movimentos esses que estava me deixando louca. Eu sentia a minha calcinha molhar e
minha intimidade contrair.
Como isso é possível com apenas um beijo?
Ele não me tocou nem nada.
Deixo-me levar pelo beijo. Até que eu me toco do que eu estou fazendo. Isso não deveria
estar acontecendo. Isso é errado. Ele é o meu chefe. O que ele vai pensar de mim?
Ele vai achar que eu estou aqui com outras intenções. E não é.
Desço minhas mãos, que estavam nos seus cabelos, e as posiciono em seu peito. Deixo-me
aproveitar por mais alguns segundos a sensação de ter nossas bocas coladas. A sensação
de sentir o seu gosto, o seu toque. Quando vejo que já fui longe demais, o empurro. Com
muita relutância ele separa sua boca da minha. Mas continua com suas mãos em minha
cintura e sua testa colada á minha. Sua respiração, assim como a minha, está acelerada. Os
seus lábios estão rosados e inchados. Ele abre os seus olho devagar e eles estão mais
escuros, posso dizer que escuro de desejo.
- Is-isso… Não deveria… Não deveria ter acontecido. – falo com muita dificuldade por
conta da respiração acelerada.
Na verdade não era isso que eu queria dizer. Eu queria dizê-lo o quanto eu gostei de senti-
lo. O quanto eu gostei de estar em seus braços… Eu queria continuar neles e não sair
nunca mais.
Droga! Eu não estou mais me reconhecendo.
- Por quê? Eu sei que você queria esse beijo tanto quanto eu.
Não me dá chances nenhuma de responder e novamente sobe sua mão para a minha nuca e
toma a minha boca em um beijo ainda mais feroz que o anterior. Eu não tenho forças pra
me afastar e deixo.
O Rodrigo desce suas mãos pelo meu corpo o acariciando, fazendo-me arrepiar. Ele pega
na minha cintura me colocando sentada em cima da bancada da pia, a segura com força e
me aproxima mais dele. Posso sentir seu membro duro roçando na minha intimidade.
E cacete! Isso é tão bom.
Essa sensação é muito boa.


[…]



Rodrigo
Tanto que eu evitei. Tanto que eu lutei contra isso.
MAS ELA TINHA QUE MOLHAR A PORRA DO BABY DOLL BRANCO E ME
DEIXAR DE PAU DURO?
Nesse momento eu perdi o pouco de juízo que eu tinha e fui pra cima dela. Não dei
chances para que ela saísse dos meus braços… Para que ela fugisse. Nem me importei se
estava ou não sendo grosseiro com ela. O que eu acredito que não, pois ela estava
gostando muito. Sei que estava.
Porra o seu gosto… Sua boca é melhor do que tudo que eu já tenha imaginado um dia. Ela
é quente, doce, maravilhosamente boa.
Porra! Se eu estou assim por conta de um beijo, não imagino o que essa mulher pode
provocar em mim, em cima de uma cama e nua.
Não dou ideia para o que ela disse. Eu sei que ela falava aquilo da boca pra fora. Ela
queria o beijo tanto quanto eu. Eu sei muito bem disso. Novamente não a deixo dizer uma
palavra a mais. Pego-a pela cintura, colocando com força em cima da bancada da pia. E
sem perder tempo nenhum calo a sua boca com a minha. Com minhas mãos apertando
forte sua fina cintura, a trago um pouco mais para perto de mim. Esfrego o meu pau ereto
em sua intimidade. Ela solta um leve gemido, que me deixa ainda mais louco de tesão. Ela
enrola suas pernas na minha cintura fazendo com que o contato seja um pouco maior. E
porra! Está muito bom. Mas seria muito melhor se estivéssemos nus e de preferencia, na
minha cama.
Tiro minha mão direita de sua cintura e vou subindo lentamente por sua barriguinha. A
cada toque meu eu sentia seu corpo se arrepiar em resposta. Sem desgrudar nossas bocas,
minha mão sobe mais, ela solta um gemido mais alto e abafado quando finalmente consigo
tocar seu seio. Eles são tão durinhos e macios. Nem parece que já é mãe. Quando estava
indo passar a minha mão para o outro seio, ela desgruda rapidamente sua boca da minha e
me empurra com toda força.
A sua respiração é acelerada e suas bochechas estavam vermelhas. Eu podia ver um misto
de arrependimento e vergonha em seu olhar. Ela desce da bancada e abaixa a cabeça, em
momento nenhum ela me olha. Decido chegar perto dela novamente, mas ela se afasta.
- Não chega perto! Por favor. – ela estica os seus braços para manter uma certa distância
nossa.
- Sophia não preci…
- Isso foi um erro… Droga que vergonha. – ela está visivelmente envergonhada. Nem nos
meus olhos ela tem coragem de olhar, o seu olhar é fixo ao chão.
Percebendo que eu não irei mais me aproximar dela, ela cruza os braços e encolhe os
ombros.
- O senhor deve estar pensando que eu sou uma pu…
- Não! Lógico que não. Por que eu pensaria algo assim de você?
- O senhor ainda pergunta? Olha! Eu não sou assim tá legal. Eu não sei o que deu em mim
agora, mas…
- Tesão, isso foi o que deu em você. – digo e dou um passo para perto dela, que recua.
- O Senhor, por fav…
- Se você realmente não quiser que eu te foda agora, é melhor que pare de me chamar de
senhor.
Ela rapidamente levanta a sua cabeça, me olha assustada e dá um passo pra trás.
- E-eu vou embora daqui. É melhor você arrumar outra empregada.
- O quê? Não! Você não vai embora. Eu não vou deixar. – digo firme.
De jeito nenhum eu vou deixá-la sair da minha vid… Da minha casa desse jeito.
- Você não pode me impedir, eu vou embora sim.
Ela se vira para sair da cozinha. Mas com apenas algumas palavras ela petrifica no lugar.
- Você vai deixar o Gustavo passar necessidades por conta do seu orgulho besta?
Ela se vira. Agora com um resquício de incredulidade e raiva no seu olhar.
- Eu prefiro que ele passe necessidades, a eu ter que ir pra cama com você.
Posso ver os seus olhos lacrimejarem. Mas ela respira fundo fechando-os.
Porra! Eu não deveria ter dito isso. Não deveria tocar no nome do Gustavo. Eu estou
sendo um filho da puta jogando tão baixo desse jeito. Mas eu realmente não entendo essa
reação dela e muito menos a minha de querer tanto mantê-la aqui, perto de mim.
Muitas mulheres não perderiam a oportunidade de ir pra cama comigo. Seja pela minha
aparência. Pelo cargo que eu ocupo que enche os olhos de muitas mulheres, ou pelo meu
dinheiro. Mas com ela… Com a Sophia isso parece não ter importância nenhuma. E essa é
mais uma prova de que ela é totalmente diferente de qualquer mulher que eu venha a ter
conhecido um dia.
Sem sombra de dúvidas ela é diferente.
- Olha Sophia, me desculpa. Eu errei. Realmente eu errei. Não deveria ter feito isso. Não
deveria ter te beijado.
- Não deveria mesmo. – diz séria.
- Só não vá. Pensa no Gustavo. Pensa na sua mãe. Pensa na vida melhor que você quer dar
á eles.
- Eu já disse que não vou tran…
- Eu não quero transar com você. – as palavras saíram de minha boca com mais
agressividade do que deveria.
Vejo-a ficar totalmente envergonhada, mas logo depois ele volta à expressão normal.
- Vamos esquecer o que acabou de acontecer aqui, tudo bem? Isso não significou nada. Foi
só um beijo e mais nada. Isso não vai se repetir.
Porra é tudo mentira. Se dependesse de mim isso se repetiria por muitas e muitas vezes. Se
dependesse de mim eu estaria a fodendo agora nesse exato momento. Mas algo dentro de
mim não pode e não quer deixa-la sair, não quer deixa-la ir embora. Algo dentro de mim
estranhamente quer tê-la por perto. E quando ela disse que iria embora um medo muito
grande tomou conta de mim.
- E então? Vai ficar?
Ela fecha os olhos, respira fundo algumas vezes e quando os abri, posso ver seus olhos
coberto por lágrimas.
E porra! Isso acabou comigo.
- Pe-pelo o meu filho eu vou ficar… Mas agora quem quer distância sou eu. Agora sou eu
que peço para que só se dirija a mim em caso de extrema urgência.
Caralho! Eu não estou me reconhecendo. Eu nunca deixaria uma empregadinha falar
assim comigo. Nunca deixaria uma empregadinha me fazer exigências. Mas ela não é
qualquer uma.
Ela nunca foi qualquer uma.
QUE PORRA DE MULHER!
- Vai ser melhor assim. Cada um no seu devido lugar. Você como uma simples empregada
e eu como o homem que paga suas contas.
Falo e antes que eu me virei para ir embora vejo uma lágrima descendo pelo seu olho. Isso
me machucou mais ainda.
Melhor assim.

[…]



Sophia
O meu coração está quebrado. Eu senti uma dor tão grande quando eu ouvi aquilo tudo
saindo de sua boca.
Continuo parada aqui na cozinha deixando que as lágrimas descessem. Não moveu
nenhum músculo desde o momento em que ele disse aquelas coisas pra mim e logo em
seguida saiu da daqui.
Se eu pudesse. Se tivesse opção de escolha, eu sairia por aquela porta e não voltava nunca
mais. Mas eu não posso. Eu não posso deixar esse emprego. Eu não posso deixar o meu
filho passando necessidades por um orgulho meu.
Eu não sei o que deu em mim em deixar o beijo chegar onde chegou. O pior é que eu
estava gostando. Gostando muito. Gostando de sentir suas mãos fortes em minha cintura.
O jeito que ele me segurava era um pouco possessivo, um pouco grosseiro, mas nada que
me assustasse. Nada que me trouxesse más lembranças. Na verdade esse homem tem o
poder de me fazer esquecer tudo quando está por perto. Ai ele começou a me tocar de um
jeito mais intimo, que fez meu corpo inteiro se acender. Mas eu não podia. Eu não podia
deixar aquilo tudo continuar. Eu sabia muito bem onde aquilo tudo iria parar. E eu não sei
se ainda estou preparada pra isso. E mesmo se estivesse, não seria com ele que
aconteceria. Nunca que permitiria algo assim. Então eu me afastei.
Eu não sabia onde enfiar minha cara. Não sabia o que fazer. A vergonha tomou conta de
mim e a primeira coisa que veio a minha cabeça, foi ir embora, sair dessa casa… Da vida
dele. Eu não suportaria olha-lo todos os dias e lembrar o que aconteceu aqui nessa
cozinha. Quando ele tocou no nome do meu filho, eu tive a certeza de que teria que sair
daqui. Eu não imaginava que ele seria tão baixo ao ponto de usar o Gustavo para me levar
pra cama… Mas não. Não era isso. Ele deixou bem claro que não me queria. Deixou bem
claro que o beijo não significou nada. Deixou bem claro que eu não passava de uma
empregadinha pra ele… Deixou bem claro que ele pagava as minhas contas.
E na medida em que ele ia dizendo essas palavras, uma vontade grande de chorar me
invadia. Mas eu não ia fazer isso. Não na frente dele…
Enxugo as lágrimas que teimavam em cair. E nem eu sabia o real motivo de estar
chorando tanto assim. Não sei se foi pelo sentimento de rejeição dele, por ele deixar bem
claro que eu não passo de uma empregada, ou por ele ter jogado na minha cara que eu
dependo dele. O que não é de toda mentira, pois se não fosse por ele me dar uma chance
eu nem sei o que seria de mim e da minha mãe com aquela aposentadoria dela.
Resolvo voltar para o meu quarto. Eu não quero correr o risco dele voltar para a cozinha e
me ver chorando desse jeito.
Tranco a porta do quarto e me jogo na cama obrigando as lágrimas a pararem de cair…
Proíbo-me de chorar por causa dele. Ele não merece… Eu não mereço.

[…]


A semana que se passou, foi a pior de todas. Nós não nos falamos uma vez sequer. Não
que antes nos falássemos como se fossemos melhores amigos, também não era assim. Mas
posso dizer que pelo menos não ficava um clima chato e incômodo entre a gente.
Parecia que a cada dia que se passava e eu ali perto, mas ao mesmo tempo tão longe dele,
o que eu sento por ele ia crescendo mais e mais. E eu me odeio muito por isso. Eu me
odeio por estar nutrindo um sentimento por um cara que apenas me ver como uma
empregada.
Hoje já é sexta-feira e eu estou arrumando a minha pequena bolsa para voltar pra casa
amanhã e ver o meu filho. A única coisa que me deixava feliz nesse momento.
O Rodrigo não veio para casa jantar. Melhor. Ele até veio, mas se arrumou e saiu sem nem
mesmo dizer pra onde. Mas eu não esperava que ele fizesse isso. E também não me
importava saber para onde ele estava indo. Com certeza bater em alguma mulher por ai.
Desde o dia em que eu vi aquelas coisas em seu quarto, a ideia de que ele é um dominador
não sai da minha cabeça. Mas eu também não me atreveria a perguntar, até porque ele iria
saber que eu mexi nas coisas dele sem sua autorização e poderia sobrar pra mim.
Assim que termino de arrumar a minha bolsa, pego o meu celular com a intenção de ligar
para a minha mãe. Mas ela é mais rápida.
- Oi mãe. – atendo o celular.
- Filha. – sua voz era de desespero. Podia ouvir o choro do Gustavo bem alto atrás e um
barulho que eu conheço muito bem: de tiro.
E na mesma hora eu já comecei a entrar em desespero.
- Mãe o que está acontecendo? – pergunto, preocupada.
- Filha, não vem pra casa amanhã. A polícia está subindo o morro.
- Que droga mãe. Como assim? Por quê?
- O DG minha filha, ele voltou.
Quando ouço o nome daquele nojento, meu corpo começa a tremer e a certeza de que sim,
eu o vi naquele dia, toma conta de mim. Não consigo impedir e as lágrimas já começam a
descer sem parar.
- Mamãe, como assim ele voltou? Ele estava preso, mãe. – me controlo para não gritar.
Ainda podia ouvir os tiros do outro lado da linha que era o que me deixava ainda mais
desesperada. Com medo de que alguma bala acerte o meu filho ou minha mãe.
- Ele fugiu e voltou para o morro, minha filha. A polícia parece ter descoberto que ele está
aqui e estão atrás dele. O tiroteio está muito forte. O Gustavo está assustado, não para de
chorar.
- Mãe, por favor, me diz que isso é mentira. Me diz que ele não voltou. – o choro sai com
tanta intensidade, que o meu pescoço e seios já estão totalmente molhados pelas lágrimas.
- Minha filha, fica calma…
- Mãe! Como eu posso ficar calma? Esse nojento voltou. Vocês estão agora no meio de um
tiroteio. NÃO TEM COMO EU FICAR CALMA, MÃE.
Levanto-me da cama e começo a andar de um lado para o outro no quarto, procurando
alguma solução. Mas não tinha. Não há nada que eu possa fazer nesse momento.
- Mãe, pelo menos me diz que a senhora e o Gus estão protegidos?
- Sim minha filha, nós estamos aqui encolhidinhos no chão. Eu estou tentando distrair o
Gus, mas não adianta. O barulho dos tiros está ficando cada vez mais alto e está
assustando-o mais ainda.
- Meu Deus, mãe! Coitado dele. -Uma sensação de impotência toma conta de mim. Eu
deveria estar lá com o meu filho protegendo-o. Ele não merece passar por uma situação
dessas. Ele é tão pequeno.
- Filha, fica tranquila. Vai ficar tudo bem. Ora minha filha, ora.
- Mãe eu não quero saber, eu vou para aí amanhã. Eu vou tirar vocês dois daí.
- Sophia, você vai tirar a gente daqui e nos levar pra onde? Para e pensa. Nós não temos
pra onde ir.
- NÃO SEI MÃE! EU DOU O MEU JEITO, MAS EU NÃO VOU DEIXAR VOCÊS
DOIS AÍ.
- Filha não adianta. Faz o que eu te falei. Fica ai esse final de semana e quando as coisas
se acalmarem aqui, você vem.
- Mas mãe… Eu não posso… – um soluço de choro sai da minha boca. Levo minha mão
ao alto da cabeça e segurou os meus cabelos com força. – Eu não posso deixar vocês ai…
O meu filho… Não posso.
- Sophia, por favor! Eu não sei o que eu faria se acontecesse algo a você. Fica ai. Eu cuido
do Gustavo. Vai ficar tudo bem aqui.
- Mãe, por favor, promete que vai me manter informada. Eu não vou consegui dormir,
então eu peço pra que me ligue sempre que der.
- Tudo bem minha filha, eu vou ligar. – ela já ia desligando quando eu a impedi.
- Mãe espera. Deixa-me falar com o Gustavo.
Eu sei que ele não vai me entender. Mas eu precisava. Eu precisava tentar acalmar o meu
filho de alguma forma. Eu sei pelo desespero do seu choro, que ele estava muito
assustado.
Quando minha mãe me avisa que já posso falar eu começo tentando acalmá-lo.
- Meu filho…
- Mamãe. – ele chama o meu nome em desespero, o que faz o meu coração apertar e
começo a chorar mais ainda.
- Filho, olha vai ficar tudo bem com você, tá? Não precisa ter medo a mamãe vai ir te
buscar e…
Fico alguns míseros segundos conversando com ele, tentando fazer com que ele se acalme.
E eu que deu certo, pois ele cessou o choro.
Despeço-me da minha mãe, com a promessa de que ela me manteria informada de tudo
que ocorresse por lá.
Eu não consigo acreditar que esse monstro voltou. Eu sabia que tinha o visto. Sabia que
não era coisa da minha cabeça. O desespero toma ainda mais, quando eu penso que ele já
possa estar da existência do Gustavo. Ele não é burro. Não é idiota. Ele com certeza irá
ligar as coisas e saber que o Gustavo é filho dele.
Que merda!
Ele não pode. Não pode voltar depois de tanto tempo pra assombrar a minha vida. Não
pode!
Passo a noite inteira acordada, rolando na cama. Não consegui pregar os olhos um minuto
sequer. Ouço o Rodrigo chegando, que por sinal foi um pouquinho tarde, mas não me
importei. Tinhas outras coisas muito mais relevantes para eu me preocupar naquele
momento.
Minha mãe me ligou algumas poucas vezes durante a noite, apenas para me tranquilizar. O
tiroteio ainda estava acontecendo lá, o que me deixava mais aflita. Ela me disse que com
muito custo conseguiu fazer o Gustavo se acalmar. Mas eu não. Eu não estou calma. Eu
não consigo ficar calma. Não com a minha família lá correndo risco. Não com aquele
estuprador nojento de volta.
Assim que amanheceu minha mãe me ligou dizendo que o tiroteio já havia acabado, mas
que a situação ainda estava muito feia lá na Rocinha. Os policiais ainda se encontravam no
pé do morro e a quantidade de mortos era enorme. Ainda assim ela me aconselhou a não ir
para casa. Por um lado eu agradeço, pois eu não quero trombar com aquele homem por lá.
Mas por outro, eu quero ir, pois preciso ver com os meus olhos se o meu filho está
realmente bem. E eu não vou descansar enquanto não fizesse isso. Eu darei o meu jeito,
mas farei.
Por volta de 08h00min me levanto da cama e vou para o banheiro. Tomo um banho,
coloco uma bermuda um pouco acima das minhas coxas, uma regata branca e deixo os
meus cabelos soltos.
Por mais que eu vá ficar aqui esse final de semana, não significa que eu vá trabalhar. Até
porque são meus dias de folga. Assim que saio do banheiro o meu celular toca e é a
Camila.
- Oi amiga.
- Soph, como você está? Já fiquei sabendo que aquele cara fugiu. E o Gus e sua mãe, estão
bem? – diz tudo muito rápido e pela sua voz está bastante preocupada.
- Amiga, eu estou com medo. Eu conheço o DG, eu sei do que ele é capaz de fazer. E se
ele descobrir o Gus e tentar fazer algo? Eu não sei o que eu faço. – a vontade de chorar
novamente me atinge, mas eu tento me controlar.
- Meu Deus fica calma Soph. Onde você está?
- Na casa do Rodrigo. Minha mãe disse que era melhor eu ficar aqui esse final de semana.
As coisas não estão nada boas pra eu subir o morro hoje.
- Eu entendo claro. É melhor você ficar ai mesmo.
- Mas Camila eu estou preocupada. O meu filho e a minha mãe estão lá sozinhos. Eu não
vou conseguir, eu tenho que vê-los pra ter certeza de que eles estão realmente bem.
- Pede ajuda ao Rodrigo.
- Não. – digo rapidamente.
- Sophia, para de ser orgulhosa. Esquece por um momento o episódio do beijo e pensa no
seu filho, na sua mãe.
Sim, a Camila sabe do beijo. Ela sabe de tudo, eu contei a ela. Até mesmo a parte em que
ele disse aquelas coisas… Mas enfim, isso não vem ao caso.
- Você tem razão. Pelo menos agora eu tenho que deixar o meu orgulho de lado.
- Eu vou ai te ajudar. Daqui a 15 minutos eu chego ai.
- Está bom Mila, obrigada.
Desligo o telefone e a na mesma hora ouço a minha barriga roncar de fome.
Saio do quarto e assim que entro na cozinha, eu paro petrificada na porta. Tento focar os
meus olhos novamente para ter certeza de que é isso que eu estou vendo; uma mulher loira
vestida com uma blusa do Rodrigo mexendo em algo dentro da geladeira.
Quem é ela? O que faz aqui?
“Que pergunta idiota, em Sophia. Tomar o seu lugar de empregada e que não foi. Pelo
jeito que está vestida, ela veio tomar foi outro lugar.”– diz a minha terrível consciência.
Não sei qual lugar ela veio roubar, eu de fato nunca tive um. Esse espaço sempre esteve
disponível.
Perdida em meus estúpidos pensamentos, que não me levam à lugar algum. Percebo que
ela notou a minha presença quando ouço sua voz falar comigo.
- Quem é você? –
Volto a minha atenção total a ela e vejo-a me olhando de cima a baixo. O seu olhar
direcionado a mim, era de total nojo.
Quando eu estava preparada para responder, o Rodrigo entra na cozinha…. MERDA!
Por que ele não colocou uma roupa?
“Uma Sophia passando vergonha em 3, 2, 1…”– diz minha consciência mais uma vez,
mas dessa vez eu tenho que concordar, eu vou passar vergonha se eu não controlar pra
onde olho.
Eu nunca tinha visto-o desse jeito. O máximo foi um shorts de malhar. Mas nunca de
boxer. E meu Deus. O que é isso? Não estou falando do abdômen, pois esse eu de có cada
curva, de tanto que eu olho. Retiro o meu olhar de onde não deveria estar e viro para o
outro lado. Olho para um ponto qualquer na cozinha, apenas para tirar o foco desse
homem.
- Clara, o que você está fazend…
Assim que ele percebe minha presença na cozinha, vejo pela minha visão periférica, que
ele pára imediatamente e pensa em voltar por onde veio. Mas a tal da Clara é mais rápida e
vai até ele, ela praticamente pula no pescoço do Rodrigo e o beija.
Abaixo minha cabeça para não ver a cena e respiro fundo para controlar a dor no meu
peito e as lágrimas que queria descer. Mas eu não deixo. Mesmo com a cabeça levemente
abaixada consigo vê-lo afastando-a.
- Quem é essa? – ela o pergunta com o mesmo tom de nojo.
- Minha empregada. Que por sinal não deveria estar aqui, hoje. – levanto a minha cabeça e
percebo que ele tem seus olhos presos a mim.
- Desculpa senhor Rodrigo. É que eu tive um probleminha e…
- Empregada vestida desse jeito? – ela me interrompe e só o tom da sua voz, misturado
com o som irritante da mesma, começou a me tirar do sério – Parece que está aqui para
outra coisa e não pra trabalho, com esses trajes. – ela me olha novamente de cima para
baixo e a expressão de nojo continua presente.
- O que você está insinuando com isso? – digo com a raiva já transbordando.
Quem essa mulher pensa que é pra dizer isso?
- Insinuando nada. Eu estou dizendo. Isso não é roupa de empregada. Não de doméstica e
sim de outro tipo de empregada. Se é que você me entende.
- Olha aqui, eu não admito que você fale assim comigo. – quando eu vi já estava de frente
pra ela, com o meu dedo apontado na sua cara.
A Clara continua com sua pose de superior e seu sorrisinho de deboche, parecendo amar a
minha reação. O que mais me doía era o Rodrigo ao lado dela, quieto. Em momento
nenhum ele se meteu para me defender.
“Mas estamos falando do Rodrigo, não posso esperar algo assim dele.” – digo a mim
mesma.
- Posso apostar que é uma favelada morta de fome. Já está até querendo arranjar barraco. –
ela abre um sorriso nojento e balança a cabeça de um lado para o outro.
Ah eu não vou deixar essa mulher falar assim de mim. Não vou mesmo!
- Olha VOCÊ…
- Pare as duas. – diz o Rodrigo com sua voz firme e forte. Ele parece ter percebido que eu
não ia deixar isso barato.
Eu já estava a ponto de meter a mãos na cara dessa mulher. Eu nunca fui de partir pra
agressão. Muito pelo contrário. Eu sempre fui mais de levar desaforo pra casa do que
arrumar confusão pela rua, eu sempre detestei isso. Mas essa mulher conseguiu me tirar
totalmente do sério, a ponto de querer meter a mãos na cara dela.
O Rodrigo se vira para ela e diz.
- Acho melhor você ir embora.
- O quê? Por que Rodrigo? Eu achei que íamos passar o dia juntos. – diz com um ar de
decepção.
- Não. Acho melhor você ir.
- Está me dispensando, é isso?
- Eu não te prometi nada. Foi apenas sexo. Nunca disse que seria mais do que isso.
Ela engole em seco. Parecendo estar muito sem graça, ela dirige agora o seu olhar raivoso
pra mim, que estou me segurando para não rir de sua cara.
Se fosse outra pessoa, ou se ela não tivesse me tratado do jeito que tratou, eu até sentiria
pena dela, pois nenhuma mulher merece ser tratada assim, como ele está a tratando agora.
Mas como é ela, eu não me importo. Acho até muito bem feito.
- O que você está olhando sua negrinha?
Ainda por cima é racista?
Ah não!
- O que você disse? – pergunto sentindo a raiva voltar novamente.
O Rodrigo assim como eu a olhava com incredulidade. Quando ela se prepara para
responder, o Rodrigo a impede.
- Saia daqui agora, Clara. – ele fecha os olhos, respira profundamente e aperta as próprias
mãos com força. A raiva é presente em sua fala é nítida.
Ela parece perceber a gravidade de suas “simples” palavras.
- Rodrigo não me interprete mal…
- Eu quero que você cale a boca e saia da minha casa agora. Aproveita que eu vou te dar a
chance de trocar de roupa… Aliás pode levar essa blusa com você, não irei mais usar isso.
- Rodrigo você… Está me tratando assim por causa dessazinha?
Ele fecha os olhos e respira fundo. Novamente.
- Se você não sair daqui agora mesmo eu serei obrigado a te prender por injúria racial…
Na verdade é isso que eu deveria fazer nesse momento. – ele cruza os braços e se vira pra
mim. – Se você quiser eu faço isso agora, Sophia. É só dizer.
- O que? – a Clara praticamente grita. Seus olhos estão arregalados e seu rosto passa a
fazer mais ainda jus ao nome, pois ela perdeu totalmente a cor.
O Rodrigo ainda mantinha aquela postura imponente de sempre, mas agora ele transmite
mais raiva.
- Eu estou esperando a sua resposta, Sophia. Eu só preciso dela pra fazer o que eu tenho
que fazer.
- So-sophia, você entendeu errado. Não foi isso que eu quis diz…
- Nós sabemos muito bem o que você quis dizer, Clara. – diz o Rodrigo.
- Rodrigo… Deixa isso pra lá. – digo cansada.
- Você tem certeza, Sophia? – pergunta novamente parecendo não acreditar na minha
decisão.
- Sim. – digo e balanço a cabeça. Olho com desdém para a mulher ao lado dele e depois
volto a minha atenção para o mesmo.
- Ela não vale tudo isso. Eu tenho pessoas importantes que precisam realmente da minha
atenção neste momento. E essa aí não está inclusa… Ela não vale a pena
Eu quero saber da minha família. Eu quero ver o meu filho e saber se ele está realmente
bem. Essa preconceituosa de merda eu só quero que suma daqui e não volte nunca mais.
- Já que você quer assim. – ele dá um aceno de levo com a cabeça e se vira novamente
para olhar a mulher ao seu lado. – Eu te dou cinco minutos pra te ver fora da minha casa,
Clara. – ele diz entredentes.
- Rodrigo não…
- Trinta segundos já se foram. – diz firme.
- Você não sabe a besteira que está fazendo.
Assim que a Clara sai da cozinha, o Rodrigo volta a sua atenção para mim e eu o
agradeço.
- Obrigada. Eu acho que se você não tivesse se metido eu teria partido para agressão. Ela
estava me tirando do sério.
- Eu não sabia que ela era assim. Trabalho com ela há anos e nunca a vi agindo dessa
forma.
Ah então eles trabalham juntos?
Quer dizer que ela é uma policial. Então foi até bom mesmo eu não ter enfiado a mão na
cara dela, se não eu poderia até ser presa…
Alguns minutinhos depois, ela desce e avisa ao Rodrigo que está indo embora. Ele nem se
presta o papel de olhá-la, muito menos de respondê-la. Antes de ir, ela me direcionou um
olhar mortal. Mas eu não me importei. Ela tem é que me agradecer por eu não ter feito o
que deveria ter feito se eu não estivesse com a minha cabeça em outro lugar.
O Rodrigo foi para o quarto e eu abri a geladeira, peguei uma garrafa d’água e tomei um
copo. Em questão de segundos ele já está de volta na cozinha, mas desta vez,
completamente vestido. Ele se coloca ao meu lado, próximo a enorme pia, pega um dos
copos dentro do armário e se serve com a água também.
O seu cheiro, como sempre, me tirou do chão. Por isso fiz questão de me afastar.
- O senhor quer que eu faça o seu café?
Digo procurando coragem para, de alguma forma, que nem eu sei qual, lhe pedir ajuda.
- Aceito. – ele se vira de frente para mim e encosta-se à bancada da pia com o copo de
água na mão. – Mas não era pra você estar em casa, Sophia?
- Sim, mas é que…
- Oi gente! Cheguei. – diz a Camila entrando na cozinha e me interrompendo.
- Camila, o que você está fazendo aqui á essa hora?
- Ainda não falou com ele né? – ela faz um pequeno bico e coloca as mãos na cintura.
- Falar o quê comigo? O que está acontecendo?
Na mesma hora ele desencosta o seu corpo da bancada, deixando-o ereto. Coloca o copo
dentro da pia, cruza os braços na altura do peitoral e intercala seu olhar entre mim e a
Camila.




[…]




9° CAPÍTULO
Rodrigo
Porra! Eu não podia segurar o meu pau?
Eu nunca gostei de misturar sexo com trabalho. Até porque as mulheres não costumam
aceitar muito essa ideia de sexo sem compromisso. Elas gostam de rotular muito as coisas
e eu sabia muito bem que a Clara era uma dessas. Ontem nós saímos com alguns amigos
da delegacia para beber. Eu até estava precisando espairecer um pouco. A Sophia estava
me deixando louco. Eu nunca pensei que ficar sem falar com ela as poucas palavras que
trocávamos normalmente, me afetaria tanto. Eu já não estou me reconhecendo mais…
Fomos á um barzinho muito frequentado por policiais e passamos uma boa parte da noite
ali. A Clara á todo momento se insinuava “discretamente” pra mim. Eu tentei não dar
ideia. Não que ela não fosse atraente. Pois sim. Ela é. Mas eu não queria problemas. Nós
trabalhamos no mesmo departamento de polícia e eu não queria que depois ficasse um
clima chato.
Na hora de ir embora ela me pediu uma carona, disse que seu carro estava na oficina. Eu
muito contragosto lhe dei a bendita carona… Mas no meio do caminho, quando eu parei o
carro no sinal vermelho, do nada ela começa a passar a mão pela minha perna e subi-la
para o meu pau.
Bem direta.
De inicio eu lutei um pouco contra. Mas quando eu vi, ela já estava com o meu pau na
boca. E já que ela queria tanto, não seria eu que tiraria o seu brinquedinho. Mas eu a tratei
do jeito que ela merecia ser tratada naquele momento. Pressionei sua cabeça no meu pau
fazendo com que ela o engolisse por inteiro, não me importando com o fato dela ter
engasgado. Quando eu solto sua cabeça, ela a levanta rapidamente, posso ver seus olhos
cheios de lágrimas e seu rosto vermelho. Ela parecendo não se importar, respira fundo e
toma novamente o meu pau em sua boca.
- Isso sua puta, chupa direitinho, vai.
Digo e ela geme com o pau na boca. O sinal abriu e eu voltei a colocar o carro em
movimento. Quando eu dou por mim já estou estacionando-o carro na garagem da minha
casa. Assim que desligo o carro, gozo dentro de sua boca e ela faz questão de engolir
tudinho.
Entro em casa e ela vem atrás de mim. Assim que abro a porta do quarto de hospedes, a
jogo na cama e não me importando com mais nada, a fodo. Da maneira que tinha que ser.
Da maneira que ela merecia
Vocês devem estar se perguntando agora, o porquê de eu ter a levado para o quarto de
hóspedes e não o meu. É simples. Na minha cama não deita qualquer uma. Eu já fiz
demais trazê-la pra minha casa. Ela não merecia isso tudo. Uma foda com ela no carro já
seria de bom tamanho. Mas quando eu vi já estava aqui, então…

[…]


Assim que eu acordei e olhei para o lado e vi a Clara deitada na cama, eu percebi a
besteira que eu tinha feito. Mas agora não dá mais para voltar atrás. Porra Rodrigo! Você
só faz merda.
Levanto-me da cama e vou ao banheiro. Faço as minhas higienes, tomo um banho e assim
que saio do box, me enrolo na toalha. Volto para o quarto, mas não encontro a Clara onde
eu deixei.
Porra! Onde essa mulher foi?
Vou para o meu quarto, coloco uma boxer e desço. Não a encontro na sala, então deduzo
que esteja na cozinha. Vou para a cozinha e ela realmente está. Mas porra! O que a Sophia
está fazendo aqui? Hoje era o dia de folga dela. Normalmente nesse horário ela já havia
saído daqui a muito tempo.
Por algum motivo, que eu realmente não sei qual. Eu fiquei com medo do que a Sophia
pensaria da Clara aqui e vestida daquele jeito. Ela com certeza não é burra. Sabe que rolou
algo…
E caralho, eu realmente não sei por que estou me importando com o que ela vai pensar
sobre isso.
A Clara vem até a mim e me dá um beijo. Afasto-me dela rapidamente. Mas ai ela me
mostra um lado dela que eu nunca vi. Eu trabalho com a Clara um bom tempo e nunca vi
esse lado dela. Não sabia que era preconceituosa.
E isso é umas das coisas que eu não tolero. Pra mim todos são iguais, independente de cor,
raça ou gênero sexual. Ela falou com a Sophia de um jeito que me fez ficar com nojo de
ter colocado o meu pau nessa mulher. Mandei-a sair da minha casa antes que eu mesma a
levasse presa daqui. E pode ter certeza que eu faria isso. Só não fiz porque a Sophia não
quis denunciá-la.
Depois que ela foi embora eu percebi que estava apenas de boxer e com a Sophia muito
próxima a mim. E isso não daria certo. Não daria mesmo. Então eu fui até o quarto e
coloquei uma roupa. Quando eu voltei para a cozinha, ela estava encostada na bancada da
pia de costas para mim. Ah essa bancada! Só de lembrar o que quase fizemos em cima
dela… Para Rodrigo. Para!
Vou até ela e me seguro o máximo que eu consigo para não envolvê-la em meus braços.
Ela não sabe a falta que eu sinto de tocar em sua pele. De sentir os seus lábios nos meus.
De ouvir sua voz… Como me faz falta ouvi-la todos os dias falando comigo. Por mais que
fosse coisas simples e bobas. Eu sinto falta. Mas isso tudo é culpa minha, só minha.
Otário!
Assim que me coloco do seu lado na pia, ela sai de perto. Isso se tornou bem comum nos
últimos dias e isso, de uma forma que eu detestava com todas as minhas forças, me
matava por dentro. Eu não queria sentir o que eu sinto quando estou perto dela. Eu não
queria sentir tanta vontade de tê-la pra mim, como eu sinto. Eu já me conformei em saber
que o que eu sinto por essa mulher é muito mais que tesão. Eu não sei como ela conseguiu
fazer isso comigo. Não sei como ela conseguiu me deixar tão vulnerável assim.
Ela me tira dos meus devaneios me perguntando se eu queria que ela fizesse o meu café.
Eu claro, não rejeito. Mas eu ainda não estava entendendo o porquê dela estar ali.
- Aceito. Mas não era pra você estar em casa?
- Sim, mas é que…
- Oi gente! Cheguei. – me surpreendo com a Camila entrando na cozinha.
Mas o que ela está fazendo aqui?
- Camila, o que você está fazendo aqui á essa hora?
- Ainda não falou com ele, né? – ela faz um pequeno bico e coloca as mãos na cintura.
- Falar o quê comigo? O que está acontecendo?
Solto o copo na pia, cruzo os braços e intercalo o meu olhar entre as duas.
- Eu estou esperando pra ver quem vai ser a primeira a me explicar o que está
acontecendo.
A Sophia olha para a Camila um pouco preocupada, parecendo pedir ajuda.
- É que..senhor Rodrigo.. e-eu.
- É o seguinte, Rodrigo. – diz a Camila percebendo que da boca da Sophia não irá sair
nada. – Precisamos da sua ajuda.
- Pra quê?
- Está tendo uma operação lá na Rocinha e a coisa está feia. A Sophia está preocupada,
quer ver o filho e a mãe. Só que a mãe dela disse que é melhor ela não ir, pois a situação lá
não está nada boa.
- Mas aconteceu alguma coisa com o Gustavo? – pergunto preocupado. Por algum
momento a possibilidade de ter acontecido algo com esse menino fez meu coração se
apertar.
- Não, senhor Rodrigo. Mas é que eu estou muito preocupada. Eu só queria ver eles e ter
certeza de que está tudo bem.
- E aí eu pensei que você como delegado pudesse nos ajudar a entrar lá, sei lá. – completa
a Camila.
- Por que não me falou isso antes, Sophia? – agora quem está preocupado sou eu.
- Eu fiquei com vergonha de te pedir ajuda.
- Pois não tem que ter vergonha de me pedir nada quando se trata do Gustavo. – passo as
mãos rapidamente pelos meus cabelos e saio da cozinha.
Vou para o meu quarto e ligo para a delegacia pedindo o numero do delegado que estava
responsável por essa operação.
Ligo para o delegado Borges que prontamente atende.
- Oi Borges, aqui é o Delegado Rodrigo Albuquerque.
- Oi Rodrigo, o que devo a sua ligação?
- Eu quero que você me deixe a par sobre essa operação na Rocinha.
- Desculpa a pergunta. Mas por que o senhor quer saber? A PF não é muito ligada nessas
coisas. E estou sabendo que o senhor está responsável sobre outra investigação.
O erro das pessoas é acharem que a polícia federal só lida com “peixe grande”, digamos
assim. Mas não é bem assim não. O dever da Polícia Federal é exercer a segurança pública
do país, bem como dos bens e interesses da união. Exercendo a atividade de polícia
marítima, aeroportuária e de fronteiras, repressão ao tráfico de entorpecentes, contrabando
e descaminho, e exercendo com exclusividade as funções de polícia judiciária da União.
Mas como geralmente nesses casos de tráfico e invasões em morros são comandados pela
PM ou Civil. As pessoas acham que a PF não se envolve.
- É motivo pessoal. A minha empregada mora ai, o filho dela e a mãe estão no meio disso
tudo e Ela está desesperada. Eu queria arrumar um jeito de tirar os dois daí.
- Isso é loucura, Rodrigo.
- Eu sei. E é por isso que eu quero que você me deixe a par de tudo o que está
acontecendo.
- Bom. Tudo bem… Acontece que o DG, um dos bandidos mais perigosos do Rio de
Janeiro, fugiu do presídio…
Assim que eu ouço esse nome, lembro-me imediatamente do dia em que a Sophia teve um
pesadelo. Ela chamava por ele. Melhor. Pedia para ele parar de machucá-la.
Respiro fundo tentando conter a raiva que começa a surgir dentro de mim. Que nem eu
mesmo sei ao certo por que.
- Recebemos denúncias de que ele estaria aqui. E de fato está. Tentamos invadir ontem,
mas esses bandidos estão mais armados do que a polícia. Então resolvemos recuar pela
manhã, quando vimos que não ia dar jeito e que não conseguiríamos mais subir.
- Há quanto tempo ele estava preso?
- Três anos, mais ou menos. Foi preso em uma operação que fizemos aqui no morro.
- Eu quero assumir essa operação com você.
- O quê? – ele pergunta parecendo não acreditar.
- Isso mesmo que você ouviu. Eu quero assumir essa operação junto com você.
Eu não sei o que. Mas algo dentro de mim, diz que eu preciso pegar esse cara. Que eu
preciso colocar as minhas mãos nele.
- Pra mim vai ser um prazer trabalhar com o melhor delegado do Rio de Janeiro.
- O prazer vai ser todo meu. Não sei por que, mas estou doido para colocar as mãos nesse
bandido desgraçado.
- Todos nós estamos, Rodrigo.
Finalizo a ligação, entro no closet, coloco minha calça jeans escura, minha blusa preta do
uniforme e meu coturno. Coloco o coldre na cintura e minha arma, pego o celular e saio
do quarto.
Antes de ir, eu tenho que ter uma conversa com a Sophia. Eu não sei o que esse cara fez
pra ela. Mas eu vou descobrir. Ela vai me contar. Ou eu não me chamo Rodrigo
Albuquerque.
Chego à sala e encontro as duas sentadas no sofá.
- Demorou Rodrigo. Mas pelo visto parece que vai ajudar a gente.
Ignoro a Camila e direciono o meu olhar para a Sophia.
- Quero falar com você. No escritório. E sozinha. – assim que termino de falar me viro e
vou em direção ao escritório.
Entro e deixo a porta entre aberta. Me sento no sofá apoiando os meus cotovelos na perna,
esperando ela chegar. Uns minutos depois ela entra na sala, com o seu típico ar de
submissa… Menina assustada.
Porra! Isso não é hora de se excitar Rodrigo.
Foco.
- Senta aqui. – digo me referindo ao sofá, onde eu estava sentado.
Ela nada diz, mas poderia ver o medo estampado no seu olhar.
- Senhor Rodr…
- Pare de me chamar de senhor. – as palavras saíram rude demais de minha boca e fez com
que ela se sobre saltasse de leve. – Pelo menos agora… Me chame de Rodrigo. Apenas
Rodrigo.
Ela acena a cabeça e continua.
- Rodrigo, aconteceu alguma coisa?
- Isso é você quem tem que me dizer.
- Co-como assim?
- Quem é DG e o que ele fez com você? – seus olhos se arregalaram em surpresa e ela
mexe sua boca diversas vezes abrindo e fechando na tentativa de dizer algo. Mas nada sai.
- Eu quero a verdade. Não adianta me dizer que não foi nada, porque eu sei que houve
alguma coisa. Sophia não mente pra mim, eu preciso saber.
Posso ver os seus olhos agora cheios de lágrimas, que ela insistia em segurar.
- E-eu não sei… Não sei do que você está falando. Nã-não aconteceu na…
- Para de mentir, Sophia. – me controlo para não gritar, mas minha voz sai um pouco
alterada.
Me levanto do sofá e começo a andar de um lado para o outro na sala. Posso ouvir o seu
choro baixinho e isso me deixa com ainda raiva desse bandido. Eu sei que ele fez algo
com ela… Eu sei que fez.
- Há três anos… – ela começou com sua voz baixa e trêmula pelo choro. - … Eu subia o
morro. Estava vin-vindo da festa de aniversário de 17 anos da Mila.
Lembro bem dessa festa. Ela ficou meses sem falar comigo porque eu não fui.
Continuo andando pela sala e ouvindo atentamente cada palavra que com tanta dor saia de
sua boca.
- Já era um pouquinho tarde. Minha mãe tinha dito pra eu ir para a casa cedo. Ela não
gostava muito quando eu dormia na casa da Mila… – seus olhos estavam fixos em suas
mãos postas sobre suas pernas. – Ela e o Nando me levaram até o morro. Ela até quis subir
comigo, mas eu achei muito perigoso, então a convenci que eu iria bem sozinha…
Conforme ela ia falando, o choro ia caindo livremente pelo seu rosto. A cada palavra dita,
ela fechava os olhos com força e respirava fundo, parecendo reviver tudo aquilo
novamente.
E me doía vê-la daquele jeito. Ver o sofrimento em suas palavras e em seu rosto.
- Eu já estava chegando em casa… Faltava pouco. Algumas quadras. Foi quando ele
apareceu.
- O DG?
- Sim. – solta um soluço.
- Ele… Ele era nojento. Eu o odiava. Odiava a maneira que ele me olhava… Odiava o
jeito que ele falava comigo. Eu sempre tive medo. Sempre procurei manter distância….
Mas… Mas naquele dia não deu. Naquele dia éramos apenas nós dois lá.
Eu aperto minhas mãos com extrema força, tamanha é a raiva que eu estou sentindo nesse
momento.
“Ele não fez o que eu estou pensando que fez. Ele não fez.” – eu repetia isso como um
mantra na minha cabeça.
Pelo próprio bem dele. Que ele não tenha feito o que eu acho que fez.
- Eu estava com medo. Na verdade eu sempre tinha medo até dos olhares dele… Eu queria
ir embora, sair de lá correndo. Mas eu tinha medo, medo que ele fizesse algo comigo…
Mas talvez se eu tivesse corrido nada daquilo teria acontecido.
- Eu já entendi. Não precisa continuar… Eu já entendi – falo entre dentes e dou um soco
na parede perto de mim, encosto minha cabeça nela ficando de costas pra a Sophia. Mas já
pensando numa forma de matar esse desgraçado, filho de uma puta.
- Ele perguntou se eu queria carona. – ela ignora totalmente o que eu disse e continua. –
Eu disse que não precisava, mas ele insistiu. Praticamente me obrigou a sentar na moto
dele. Quando dei por mim ele já estava parando a moto e frente a sua casa… Eu tentei,
tentei fugir, tentei me soltar, mas de nada adiantou.
Com muito custo me viro para olhá-la e a vejo levanto as mãos ao rosto. O seu choro sai
ainda mais alto. Vou até ela e a abraço forte, tentando inutilmente de alguma forma tirar
essa dor dela.
- Não precisa continuar. Eu já entendi.
Como eu pude comparar a sua dor com a minha? São situações diferentes, bem diferentes.
Mas que ninguém merece passar.
Ela desencosta sua cabeça do meu peito e diz olhando nos meus olhos.
- Eu era quase uma criança… Eu sei. Eu tinha 17 anos na época… Mas eu era… Eu era
virgem e… E ele.. Ele tirou isso de mim da forma mais suja que uma pessoa poderia
tirar… Eu não conseguia entender como ele sentia prazer com o meu sofrimento. Como
ele sentia prazer com a minha dor…
Ela não aguenta continuar e encosta sua cabeça novamente no meu peito.
- Por que você não me falou isso antes Sophia? Eu poderia te ajudar.
- Não é assim que funciona, Rodrigo. As pessoas acham que é só chegar e falar que está
tudo certo. Mas não é assim. Isso é humilhante. É vergonhoso. Nenhuma mulher merece
passar por isso na vida… Nenhuma.
Ela tem razão. Eu vejo como as mulheres, vitimas de abusos sexuais, agem depois. Elas
ficam traumatizadas, se sentem humilhadas.
- Quem mais sabe disso?
- A Camila, tia Patrícia e agora você.
- A minha tia sabe e não me procurou pra te ajudar? – não acredito!
- Eu pedi a ela que não contasse nada. Eu estava desesperada com a gravidez e em qual
desculpa eu daria a minha mãe em relação ao pai da criança que…
- Espera. – a afasto de leve a fazendo olhar pra mim. – Esse filho da puta desgraçado é o
pai do Gustavo?
- Sim. – ela diz e abaixa o seu olhar do meu.
Parece se envergonhar. Ela não tem nada que se envergonhar. Ela tem é que ter muito
orgulho de ser essa mulher forte que é. Muitas no lugar dela teria abortado, mas eu não
tiro de jeito nenhum a razão delas de fazer isso. Eu não tenho a mínima ideia do quanto
deva ser doloroso para uma mulher carregar um fruto de um estrupo e ao mesmo tempo
conseguir amá-lo como a Sophia ama o seu filho. Cuidar do jeito que ela cuida. A forma
como ela faz de todo o possível pela felicidade e bem estar dessa criança.
Realmente essa mulher á minha frente é única. A minha admiração por ela cresce cada vez
mais.
A Sophia não existe.
Trago-a novamente para os meus braços e sussurro no seu ouvido.
- Você é a mulher mais forte que eu já conheci em toda a minha vida, Sophia. – deixo um
beijo sobre sua cabeça e abraço-a com força e ela retribui da mesma maneira.
- Sua mãe sabe disso?
- Não. Eu não tive coragem de contar pra ela. O DG me ameaçou, disse que a mataria caso
eu contasse.
Típica ameaça de estuprador.
- Eu disse pra ela que não sabia quem era o pai do Gus.
- O quê?
- Era isso ou ver minha mãe morta. E eu prefiro vê-la decepcionada e com raiva de mim
do que perdê-la pra sempre.
Eu não acredito no que eu estou ouvindo. Ela preferiu que a mãe pensasse que ela era uma
“puta” do que contar toda a verdade?
- Você em momento nenhum pensou em tirar a criança?
- Lógico que pensei. De cara foi a primeira coisa que veio na minha cabeça. Eu não
achava que conseguiria ama-lo. Pra mim, todas as vezes que eu o olhasse eu me lembraria
do estupro… E foi ai que entrou a sua tia. Ela me fez mudar de ideia. Mas pra falar a
verdade eu também não conseguiria matar uma criança. Mesmo a odiando no começo, eu
não conseguiria.
- E ele não te faz recordar dos momentos que você passou nas mãos daquele cara?
- Na primeira vez em que ele se mexeu dentro da minha barriga eu senti algo diferente. Eu
senti um amor fora do normal surgi dentro de mim. Eu achava aquilo uma loucura. Eu
nunca entendi essa coisa de amor incondicional que eu ouvia as mães falando, sabe?
Aquele amor que você mata e morre. Eu não entendia até senti-lo mexer dentro de mim…
Essa mulher é maravilhosa. Como pode alguém fazer mal á ela?
Eu estou aqui totalmente arrependido da forma na qual eu a tratei dias atrás. Agora eu
entendo o seu lado de se afastar. Entendo o seu medo. Isso tudo é trauma. Com certeza a
partir de hoje eu vou trata-la diferente. Completamente diferente.
- Agora respondendo a sua pergunta. Sim. Ás vezes eu me lembro dele. Até porque o
Gustavo é muito parecido com ele. Os olhos são os mesmos. – já posso sentir minha blusa
molhada por suas lágrimas. Mas eu não me importo. Não me atrevo a soltá-la um segundo
sequer – Mas o amor que eu sinto por ele é tão grande que eu não consigo sentir raiva
dele, por de alguma forma, me lembrar de tudo o que passei… Eu não sinto.
- Você não existe, Sophia. – acaricio de leve as suas costas e sinto o seu corpo relaxar
junto ao meu. Mas nem por isso o seu choro cessou. – Ele sabe do Gustavo?
- Não. Pelo menos eu acho que não. Quando ele foi preso eu tinha acabado de descobrir a
gravidez. E agora ele voltou..e-eu não sei. É disso que eu tenho medo. Rodrigo, ele é
maluco. Eu não sei o que ele é capaz de fazer com o meu filho se descobrir que ele é fruto
daquele estupro.
Pego o seu rosto em minhas mãos a fazendo olhar nos meus olhos.
- Você confia em mim?
- Confio.
Ela diz rápido, sem pensar duas vezes.
- Então fica aqui que eu vou trazer o Gustavo e a sua mãe.
- Como assim, trazer eles?
- Eu não vou deixa-los lá no morro correndo perigo. Eu conheço a mente dos bandidos sei
do que são capazes de fazer, Sophia.
- Eu também sei Rodrigo… Mas eu não tenho o direito de tirar sua privacidade, seu
silencio.
- Eu não me importo…
- Mas eu sim. Eu não vou trazer minha família toda pra cá… Eu… Eu só quero vê-los pra
saber se eles estão realmente bem.
Eu não me importaria nem um pouco com o Gustavo aqui em casa. Eu me afeiçoei a ele
de uma forma que chega a me assustar. Assim como com a mãe dele.
- Tudo bem, Sophia. Tive uma ideia melhor então… Não adianta que eu não vou deixa
você e o Gustavo no mesmo lugar que aquele filho da puta desgraçado. Então eu vou até
lá, tento tirá-los da favela e levo para um apartamento que eu tenho em Copacabana.
- Não vou…
- Lá ou aqui. Você decide. Mas eu não vou deixar vocês naquele morro, pelo menos não
enquanto esse cara estiver vivo, que será por pouco tempo.
Ela me olha assustada.
Não falo mais nada. E não. Eu não disse isso da boca pra fora. Realmente quando eu puser
as mãos nesse desgraçado vou matá-lo. Mas primeiro vou fazê-lo sofrer e pagar por todo
mal que causou a Sophia.
- Eu não quero atrapalhar…
- Sophia, você não vai atrapalhar. Eu não uso aquele apartamento, ele está lá abandonado.
Não vai me custar nada levar vocês pra lá. E como eu disse, é por pouco tempo até eu
meter as mãos nesse cara.
- Tudo bem. Eu aceito.
- Ok. Liga pra sua mãe e manda ela juntar todas as coisas de vocês.
- Eu vou tentar, mas eu acho que vai ser um pouco difícil. A minha mãe é bem cabeça
dura.
- Você vai ser obrigada a contar a verdade pra ela.
- O quê? – ela me olha assustada e faz um sinal de negação com a cabeça, repetidamente e
por fim diz. – Não!
- Sophia é para o próprio bem de vocês. Você também terá que denunciá-lo.
- Não Rodrigo. Eu não vou fazer isso. – seus olhos estão arregalados e posso ver medo
estampado neles.
- Sophia, você tem que fazer isso.
- Não.. Ele disse… Ele disse que ia matar a minha…
- Sophia confia em mim, eu não vou deixar nada acontecer com vocês. Confia em mim.
- Eu confio, mas…
- Mas nada Sophia… Olha! Eu não vou te obrigar a fazer nada que você não queira. Mas
isso seria o certo a se fazer.
- Me deixa pensar um pouco?
- Claro.
Olho no relógio e vejo que já perdi tempo demais aqui. Me levanto e ela se levanta
também se pondo a minha frente.
- Obrigada por ter me escutado. Melhor… Por ter me entendido e não me julgado.
- Você não tem que agradecer. – levo minha até a sua nuca, segurando-a de leve.
Ela fecha os olhos e respira fundo. Olho para sua boca e uma vontade imensa de beija-la
me atinge. Sem pensar duas vezes grudo o meu corpo no dela calmamente, para não
assusta-la e com a outra mão seguro sua cintura.
Ela continua com seus olhos fechado e agora sua respiração era um pouco mais acelerada.
Encosto a minha testa na dela e roço nossos lábios. Ela abre levemente a boca e eu faço
algo que nunca fiz antes.
- Posso?
Peço permissão e ela acena levemente com a cabeça. Sem pensar duas vezes, colo nossos
lábios e me delicio com o seu beijo. Ela leva suas mãos para o meu cabelo os puxando de
leve, eu a trago para mais perto de mim. Aprofundo o beijo e ela solta um leve gemido.
Isso é novo pra mim. O beijo é terno, apaixonante. Um beijo que eu nunca tinha provado
em toda a minha vida…
- Gente que demora é ess…A Opa! Desculpa ai. – A Camila já ia fechando a porta
novamente, mas ela já tinha estragado o clima mesmo, então…
- Que porra em Camila. – digo ainda colado na Sophia que escondia o seu rosto no meu
pescoço.
- Desculpa gente. Não queria atrapalhar ai não, viu?
- Mas atrapalhou.
- Foi mau ai. – diz sorrindo boba.
Já sei o que ela está pensando.
- Foi péssimo!
- E-eu vou lá ligar pra minha mãe. – diz a Sophia antes de sair do escritório.
A Camila vem até a mim e agora me olha sério.
- Rodrigo, por favor! Não brinca com ela. Ela não é igual a essas mulheres que vocês está
acostumado a surrar, não.
- Eu sei Camila. Eu já sei que ela é diferente. Eu já sei de tudo.
- De tudo o quê?
- Do DG.
- Então você sabe que por conta disso ela é um pouco fechada, digamos assim.
- Eu sei Mila. Mas eu estou disposto a enfrentar. Eu estou disposto a mudar isso…
- O que fizeram com o meu primo em? – diz com um sorriso enorme.
- Eu não sei. Me pergunto isso toda hora. Essa mulher virou minha vida de cabeça pra
baixo e eu estranhamente gosto disso. Eu já não me vejo mais sem ela ao meu lado.
Mesmo que seja assim, sem tocá-la. Eu só quero tê-la por perto.
- Você está apaixonado e ela também. E não adianta negar.
- E nem poderia.


[…]


Saio de casa e dou a chave do meu apartamento para a Sophia. A Camila ficou de leva-la
até lá.
Antes de sair, falo para a Sophia que quando eu voltar iriamos ter uma conversa sobre nós
dois. E ela apenas assentiu, mas era notória a sua timidez.
Assim que entro no carro, pego o meu celular e ligo para um amigo meu que trabalha
comigo. Irei precisar muito dele para tirá-los de lá. Ele ficou de se encontrar comigo no
morro. Alguns minutos depois coloco o meu carro perto das inúmeras viaturas paradas ali
e me junto ao Delegado Borges.
- E ai Rodrigo?
- Borges. – lhe dou um aceno de cabeça e aperto sua mão.
- Então, eu preciso tirar duas pessoas daí. E eu vou entrar.
- Isso é loucura, Rodrigo. Se você subir eles vão atirar em cima de você.
- É um risco que irei correr. Mas eu tenho um plano e eu vou precisar de sua ajuda. Na
verdade, só se der errado.
- Se estiver ao meu alcance. – diz e faz um sinal com a cabeça para que eu continue.
- É o seguinte… Eu já tenho homens de minha confiança lá em cima, inclusive pelos
arredores da casa onde eu irei buscar essas pessoas. Eu irei subir por uma entrada que vem
da mata, que segundo aos meus homens, está livre. Eu só preciso saber se eu posso contar
com vocês se algo der errado? Eu já até chamei reforços, caso precisem.
- Rodrigo os bandidos devem estar de olho em todas as entradas da favela.
- Os que estavam os meus homens já demos um jeito. E nós sabemos que eles não irão
colocar a cara agora, estão muito bem escondidos. Eu tenho homens infiltrados lá comigo,
mas eu preciso saber se posso contar com você se algo der errado.
- Claro que pode. Estamos juntos nessa, não estamos?
- Estamos. Qualquer coisa eu te passo o rádio.
Entro no meu carro e ligo novamente para a Sophia, ela me diz que a mãe já está a minha
espera.
- Rodrigo. – diz antes que eu desligue o celular.
- Oi.
- Se cuida, por favor. Se você perceber que é muito perigoso, desiste.
- Está tudo bem Sophia. Já chegou ao apartamento?
- Já.
- Ok. Então não saia daí enquanto eu não chegar.
- Tudo bem.
Finalizo a ligação com a Sophia e ligo novamente para o Eduardo, um dos meus homens
que estão infiltrados lá em cima. Ele novamente me garante que a entrada pela lateral está
liberada. Vou o mais rápido que posso e quando chego à entrada, vejo os três bandidos que
fazia a vigilância daquele ponto, deitados no chão com tiros em suas cabeças e dois dos
meus policiais ali em pé.
- Senhor Rodrigo, pode ir, está tudo limpo. É só pegar essa reta aqui que é a única que dá
acesso a carros e que dá direto na casa da senhora.
Assim que ele termina de me indicar o caminho, pega o seu rádio e ouço-o avisando para
os outros infiltrados que eu já estava chegando.
Fui dirigindo mais cuidadosamente pelas ruas desertas da favela. Podia ver alguns corpos
jogados pelas vielas na qual eu passava perto. Todos os comércios estão fechados e
ninguém se atrevia a colocar o rosto para fora de casa.
Assim que chego ao endereço no qual a Sophia me deu, destravar as portas do carro e
antes que eu possa pegar o meu celular, o Eduardo aparece ao lado do meu carro abrindo a
porta e colocando duas malas dentro.
- A Senhora Marta e o menino já estão vindo, senhor.
- Seja rápido. Não podemos dar bobeira aqui.
- Sim senhor.
Ele volta para dentro da casa e não demora muito, vejo a dona Marta com o Gustavo, que
dormia em seus braços. O seu olhar era desesperado, ela rapidamente entra no carro e o
Eduardo coloca uma terceira mala dentro fechando a porta logo em seguida. Rapidamente
dou ré no carro e saio dali.
- Não sei nem como agradecer ao senhor por isso. Mas não precisava, nós estávamos bem.
- Precisava sim. Quando a Sophia conversar com a senhora, a Senhora vai ver que
precisava.
- Como assim?
- Quando chegar ao apartamento vocês conversam. – digo por fim.
Volto pelo mesmo caminho que eu vim e logo eu já estava na pista. Um suspiro aliviado
sai de minha boca. Graças a Deus deu tudo certo. Pra falar a verdade foi até fácil demais.
Mas o importante é que eu consegui tirá-los de lá em segurança.
Meia hora depois parou o carro no estacionamento do prédio. O Gustavo já estava
acordado e quando percebeu a minha presença, abriu um sorriso lindo pra mim e esticou
os braços para que eu o pegasse. Sem pensar duas vezes eu o pego do colo da avó. Ele
envolve seus braços no meu pescoço e deixa a sua cabeça deitar no meu ombro. Eu deixo
um beijo no seu pescoço e o seguro com mais firmeza em meus braços.
Esse menino é tão puro. E consegue tirar o melhor de mim, nos piores momentos.
Chamo uns seguranças do prédio para me ajudarem com as malas e entro no elevador
junto com a dona Marta. Aperto o botão do último andar e assim que o elevador para na
cobertura eu abro a porta do apartamento adentrando-o. Quando a Sophia vê o Gustavo no
meu colo, ela corre na minha direção nos envolve em seus braços. Ela distribui beijos pelo
rosto do filho sem parar.
- Filho eu fiquei tão preocupada. – ela diz encostando o seu rosto no rosto do Gustavo.
Solto, por um momento, uma das mãos que eu segurava o Gustavo e envolvo-a na cintura
da Sophia, trazendo-a para mais próximo. Deixo um beijo em sua cabeça e por um
momento, em meio á essa loucura toda, eu me senti leve. Eu me senti bem. Me senti o
Rodrigo de sete anos de idade. Quando eu era apenas um menino feliz que sonhava em
seguir os caminhos do pai “herói“. Aquele menino feliz.
É assim que eu me sinto quando estou perto desses dois. Um homem feliz.
Olhando assim parecíamos até uma família. Mas só parecíamos.

[…]



10° CAPÍTULO

Sophia
Eu fiquei tão feliz quando vi o Rodrigo passar por aquela porta com o meu filho nos
braços, que eu não me importei com mais nada e o abracei, ainda com ele nos braços do
Rodrigo. Meu coração estava tranquilo agora, em ver que ele estava bem e minha mãe
também.
Percebo que estou muito tempo aqui desse jeito, abraçando no Rodrigo. Me afasto
lentamente dele e pego o Gustavo no meu colo.
- Não chora mamãe. – diz o Gustavo limpando o meu rosto com suas mãos.
- Eu estou feliz que estou te vendo, meu filho. Nós passamos tanto tempo longe. Eu fico
com saudade. – deixo um beijo em sua bochecha e o apertou mais em meus braços.
- Saudade mamãe. Saudade. – diz e envolve os seus braços no meu pescoço abraçando-me
forte.
Vou até minha mãe que está em pé perto da porta e a abraço.
- Você tem muitas coisas para me explicar, mocinha.
- Eu sei mãe. Mas pode ser depois?
Ela me dá um aceno de cabeça e volta o seu olhar para toda a cobertura. Eu tive a mesma
reação que ela, quando entrei aqui. Eu deveria saber que o Rodrigo não teria um simples
apartamento. Essa cobertura é enorme e linda, ele me disse que estava abandonada, mas
não é o que parece, pois todos os cômodos estão muito bem mobiliados e a vista desse
lugar é maravilhosa. De frente para a praia e ainda tem uma piscina aqui. É tudo muito
lindo.
Sento-me no sofá com o Gus no meu colo e o aperto em meus braços. Só de pensar que
aquele maluco está solto e que ele pode saber da existência do meu filho, me dá medo. Ele
é louco, eu não sei nem o que ele seria capaz de fazer com o Gus. Mas o que me conforta é
que estamos agora longe do morro. Ele não vai poder fazer nada com a gente aqui, o
Rodrigo me prometeu que não vai deixar que nada de ruim aconteça com a minha família.
E eu confio nele… Confio muito. Tanto que eu contei sobre o DG pra ele. Não foi fácil me
abrir e ter que me lembrando de todas aquelas coisas pela qual eu passei. Mas eu não
conseguiria mentir pra ele. Eu estranhamente me senti mais aliviada depois de ter contado
tudo o que me aconteceu. Eu de inicio tive medo. Medo de ser julgada. De ele não
entender o meu lado de querer ficar com o Gustavo, mesmo depois de tudo que aconteceu.
Mas a sua reação foi o que mais me surpreendeu. Ele não me julgou. Apenas me ouviu e
me disse coisas que me confortaram. Ele fazia-me sentir protegida em seus braços…
E seu beijo… Do jeito que eu me lembrava, só que ainda melhor. Ele foi mais carinhoso.
Segurava-me com firmeza, mas não com brutalidade. Era mais como quem dizia: “Não
vou te deixar ir nunca mais“. Mas eu não quero me iludir com isso. Ele disse que queria
ter uma conversa comigo sobre nós dois. Eu não faço a mínima ideia do que ele vai falar,
mas eu estou ansiosa pra saber, porém, ao mesmo tempo o meu coração está apertado com
medo de que o que ele queira me dizer, não seja nada do que eu anseio em ouvir.
Droga! Esse homem tem que ser tão imprevisível assim? Não dá pra eu saber o que ele
está pensando ou querendo fazer. Essa sua linda carranca não deixa brecha para nada.
Depois de um bom tempo ele me chama para conversar. Eu deixo o Gustavo com a minha
mãe, que me dá um olhar cheio de perguntas. Ela não é boba, sabe que está acontecendo
alguma coisa entre eu e o Rodrigo. Coisa essa que nem eu sei ao certo o que é. Só nos
beijamos duas vezes.
Ele pega na minha mão e vai me direcionando até a enorme varanda. Subimos uma escada
que dar acesso à área da piscina, onde há uma churrasqueira e uma pequena varanda com
alguns sofás dispostos. E foi em um deles que nós nos sentamos.
O Rodrigo solta minha mão e apoia seus braços em suas pernas. Seus olhos são
direcionados ao chão, está pensativo ou escolhendo as palavras que irá dizer. Eu não me
atrevi a dizer uma palavra.
- O que você está fazendo comigo, em Sophia?
Eu não entendi a sua pergunta. Não faço a mínima ideia do que ele está falando.
- Aãn? – a única coisa que sai da minha boca.
- Porra mulher! – ele agora passa suas mãos freneticamente pelos seus cabelos,
bagunçando-os. – Você realmente não tem noção do que você causa em mim?
- Não. – digo segurando um sorriso que está louco para brotar em meus lábios.
- Desde o momento em que eu te vi pela primeira vez na minha cozinha, eu sabia que não
conseguiria te ter longe de mim. Eu tentei! Eu juro que tentei. Mas eu não sei o que você
tem, que me desarma todo. Quando eu estou com você, eu simplesmente me esqueço de
tudo e de todos ao meu redor. Esqueço até mesmo quem eu sou.
Ele dizia tudo isso olhando intensamente dentro dos meus olhos.
- Tem algo muito forte que nos une e você sabe disso… E porra! Está vendo? Olha como
eu estou falando. Eu não sou assim! Olha o que você faz comigo.
Solto uma gargalhada baixa. Por incrível que pareça eu continuo com os meus olhos fixos
aos seus. Agora quem precisa desse contato visual sou eu. Eu preciso tentar enxergar além
do que eu vejo. Além do que ele está me dizendo. E eu estou conseguindo. Eu vejo
sinceridade em seu olhar. Em suas palavras…
- O que eu quero dizer é que eu não vou conseguir ficar na mesma casa que você vinte e
quatro horas por dia sem te tocar. Sem provar do seu beijo, que já virou um vicio pra mim.
Você não sabe o sacrifício que eu estou fazendo aqui pra não te beijar agora e…
Não o deixou continuar. Pego o seu rosto em minhas mãos e colou nossas bocas sem me
importar com mais nada. Eu já ouvi o suficiente. Eu não sei como será a continuação da
conversa, mas eu não me importo mais com nada que ele me disse. Já ouvi o suficiente.
O Rodrigo rapidamente leva suas mãos para a minha cintura, me fazendo sentar em suas
pernas. Abro minha boca dando passagem para a sua língua entrar de modo grosseiro, mas
delicioso. Ele aperta com força minha cintura quando eu começo a chupar sua língua. Já
posso sentir sua ereção crescendo na minha bunda. Mas eu estranhamente não me importo
com isso. A segurança que ele me passa não me deixa sentir medo de mais nada. Quando
eu estou ao lado dele eu me sinto segura… Protegida. Eu percebi hoje que ele não fará
nada para me machucar. Eu sei que não.
Ele desgrudar nossas bocas, sua respiração, assim como a minha, é ofegante.
- É melhor parar. – me dá um beijo rápido e me faz sentar no sofá de novo.
Vejo-o muito discretamente levar a mão até o seu membro, ajeitando-o na calça.
- Está vendo o que você faz comigo? Me faz perder o controle.
- E isso é bom?
- Não. Pois eu não posso fazer com você tudo que eu tenho vontade, quando eu perco o
meu controle.
- Tipo? – se ele me disse que bateria em mim com aquelas coisas que encontrei em sua
gaveta. Eu não sei o que dizer.
Eu não me submeteria a algo assim.
Ele balança a cabeça e respira fundo encostando suas costas no sofá.
- Nada. Esquece.
- Posso te fazer uma pergunta?
- Pode.
- Eu quero que você me diga a verdade. – ele acena e eu continuo. – Você é um
dominador?
Vejo seus olhos se arregalarem assim que termino de dizer. Ele rapidamente desencosta
suas costas do sofá e me encara.
- De onde você tirou isso? – seu modo relaxado deu lugar aquela postura imponente de
sempre. O que me dá ainda mais certeza.
- É que… Eu fui arrumar o seu quarto e a sua gaveta do guarda roupa, aquela que tem uma
tranca, estava aberta e…
- E você sentiu no direito de mexer nas minhas coisas? – sua voz é grave.
Por um momento eu fico com medo. Mas deixo-o de lado e assumo uma postura mais
confiante diante dele.
- Não. Eu apenas fui fecha-la e vi. – minto. – Eu fiquei curiosa, admito, em saber se você
era ou não um Dominador. Eu sei que não tenho muita experiência, digamos assim, nessas
áreas. Mas isso não significa que eu não saiba distinguir um simples objeto de prazer para
objetos usados nesses tipos de… Pratica?! Digamos assim.
- O que mudaria pra você, se eu dissesse que sou e que eu te quero como minha submissa?
Olho-o espantada, não acreditando em sua pergunta. Ou proposta? Não sei. Isso só
comprova as minhas suspeita de que ele é sim um Dominador.
- Não mudaria nada. Mas eu nunca me prestaria a esse papel de submissa. – digo a
verdade.
De minha parte nada mudaria. Eu o trataria da mesma forma e o que eu sinto por ele não
passaria. Mas de jeito nenhum me submeteria a ele.
Posso ver um pouco de decepção no seu olhar.
- Mas você ainda não respondeu a minha pergunta.
Ele respira fundo e sem desgrudar o seus olhos dos meus, responde.
- Sim. Eu sou um dominador.
Eu não fiquei surpresa em ouvir essas palavras saindo de sua boca. Até porque eu já tinha
quase certeza. Agora eu tenho tantas perguntas para fazê-lo, só não sei se teria respostas.
Mas não custa nada tentar.
- O que te levou a fazer isso?
Eu não estou o julgando, é apenas uma pergunta. Eu realmente quero saber o que dá na
cabeça de uma pessoa a ter prazer agredindo outra. Isso é algo que não entra na minha
cabeça.
O que eu irei fazer agora não é uma comparação, o Rodrigo está longe de ser igual ao DG.
Mas essa coisa de sentir prazer com a dor alheia me lembrou do que eu vivi. Eu via prazer
nos olhos do DG vendo minhas lágrimas caindo, meus gemidos de dor e minhas suplicas
para parar…
- Muitas coisas que não vem ao caso agora. – diz ríspido.
- As mulheres… Com quem você sai… Elas fazem por…
- Por dinheiro e prazer. Mais por dinheiro – responde neutro como se fosse a coisa mais
normal do mundo. Mas querendo ou não, de fato é.
Ele sai com prostitutas. Não! Porque pra mim a mulher que vai pra cama com a outra
pessoa por dinheiro, não tem outro nome a não ser prostituta. Elas ainda apanham pra isso.
- Elas deixam você bater nelas por dinheiro?
- Sophia, acredite ou não. Tem pessoas que gosta. E eu não sou louco, eu sei qual o limite
das minhas submissas. Eu nunca faria nada para machucá-las. Eu não faço nada que elas
não gostem que pratiquem nelas, tudo que eu faço é para o prazer de ambos.
Minhas. Elas. Nelas…
É mais de uma. Também, o que eu poderia esperar de um homem desse tamanho? Ele não
se saciaria com apenas uma.
Fico imaginando como deve ser cada uma deles. Ele é um homem que aparenta escolher
muito bem quem vai levar pra sua cama. Imagino uma mulher mais linda que a outra.
Mulheres como a Clara, podre e vazias, mas lindas e “gostosas” ao olhar de um homem. E
eu não me encaixo em nenhum desses requisitos. Mas eu não estou me queixando. Eu
agradeço a Deus por não ser assim. Eu acho que nem se eu estivesse passando fome, teria
coragem de me vender por dinheiro. Eu acho que isso não justifica. Há vários meios em
que as pessoas podem se virar para ganhar dinheiro e elas escolhem a maneira mais
“fácil”. Que pra mim de fácil não tem nada.
- Era disso que eu tinha medo. É por isso que eu escondo esse meu lado das pessoas. Elas
nunca me entendem. – ele levanta e anda de um lado para o outro.
- Mas é difícil, Rodrigo… – Me levanto ficando de frente para ele. – Olha! Eu não estou te
julgando. Há um motivo pra você gostar disso. Eu não sei qual e você não quer falar.
Okay! Eu entendo essa parte. Mas é um pouco difícil de entender isso tudo, sabe? Como
alguém consegue sentir prazer assim? Um sexo normal não te satisfaz?
Depois que a pergunta sai de minha boca sinto meu rosto esquentar e a vergonha tomar
conta de mim.
“Que droga de pergunta é essa Sophia? Nem você mesma sabe como é.”
Ele me olha e a surpresa, pelas minhas palavras ditas, é nítida em seu rosto.
- Sim Sophia, me satisfaz. Antes que você pense que eu sou um maluco. Se é que já não
está pensando… Esse não é o único meio que eu uso pra me satisfazer. – ele diz e vem
andando em minha direção. E a cada passo seu, eu dava dois para trás.
- Eu consigo muito bem me satisfazer com um sexo normal, mas às vezes a mesmice
cansa. – sinto minhas costas baterem na parede e percebo que não tenho mais para onde
correr. O Rodrigo sem desgrudar os seus olhos dos meus, junta o seu corpo no meu e
segura minha cintura com força.
- Eu procuro o clube apenas quando eu estou muito estressado. Dominar me acalma nessas
horas.
Ele passa seu nariz pelo meu pescoço e continua.
- Ou quando uma certa morena, de cabelos cacheados e um corpo que me faz enlouquecer,
anda viajando os meus sonhos de madrugada… – sua mão sobe e desce na minha cintura.
Seu nariz ainda percorre o meu pescoço e deixa pequenos beijos pelo local. – Me fazendo
acordar com uma porra de uma ereção que nem com os pensamentos mais broxantes do
universo eu consigo fazer com que ela vá embora. Ai eu sou obrigado a tentar de outra
forma, se é que você me entende. – mais um beijo no meu pescoço e o meu corpo todo se
arrepia. – Mas de nada adianta. Nem assim eu consigo fazer com que essa mulher saia da
minha mente. Parece que ficou ainda mais forte desde o dia em que eu beijei-a pela
primeira vez.
Ele roça os seus lábios nos meus. Eu fecho os olhos na esperança de que ele me beije
realmente, mas isso não acontece. O Rodrigo desce sua boca para o meu pescoço e
continua distribuindo beijos e mordidas, me deixando completamente arrepiada e
molhada. Devo dizer. Se suas mãos não estivesse em minha cintura, eu com certeza estaria
no chão. Minhas pernas estão feito gelatina.
- Ela não sai da minha cabeça. Ela me enfeitiçou apenas com o seu jeito. – um beijo e uma
mordida em meu pescoço. – Com seu beijo.
Ele sobe e me dá um beijo rápido. Sem língua. Sem nada. Apenas juntou nossas bocas e
no final puxou meu lábio inferior mordendo-o de leve.
Caramba isso é tão bom. Essa tortura é tão boa.
- Eu estou ficando maluco… Eu te quero pra mim, Sophia.
Ele segura o meu rosto em suas mãos e diz olhando fixamente nos meus olhos.
- Eu sou capaz de abrir mão de tudo por você. Porra! – xinga e fecha os olhos, logo
abrindo-os em seguida. – Olha como eu fico. Como eu falo quando estou perto de você. –
sem soltar o meu rosto, ele encosta sua testa na minha e roça de leva, segundos depois ele
as separa e deixa um beijo na minha testa.
- Tudo mesmo? Até deixar as suas submissas de lado?
- Sem pensar duas vezes. Eu não preciso delas quando eu tenho você.
Ele toma a minha boca e eu me entrego. Eu não vou lutar contra. E nem poderia. Eu
acredito nele. Acredito quando ele diz que vai deixar suas submissas. Ele me passa
confiança em absolutamente tudo que fala e faz.
Eu levo as minhas mãos para o sua nuca e ele desce as suas para a minha cintura,
grudando-me mais em seu corpo, não deixando espaço nenhum entre nós.
Se alguém um dia me dissesse que eu estaria aqui, agora, com esse homem maravilhoso
me beijando e dizendo essas coisas pra mim. Eu riria da cara da pessoa.
- Você não precisa mais trabalhar na minha casa. Eu quero que você vá morar lá comigo
junto com o Gustavo. Eu quero vocês do meu lado o tempo todo e…
- Calma! Calma Rodrigo. Vamos com calma, ok?
- Qual o problema?
- Eu não vou morar na sua casa… Quer dizer. Não desse jeito. Eu vou continuar
trabalhando lá até eu encontrar outro emprego pra mim. Se você não se importar, é claro.
- É lógico que eu me importo. Eu não quero você trabalhando pra mim. Agora você é
minha namorada eu não vou deixar…
- Espera ai. – digo sorrindo, não acreditando no que eu estou ouvindo. – O que você disse?
- Disse que eu não quero você trabalhan…
- Não. Eu estou falando da parte da namorada.
Ele fica totalmente envergonhado e eu começo a rir. Nunca o vi desse jeito.
- Eu disse namorada? – ele tem um sorriso tímido e lindo nos lábios, que eu nunca tive o
prazer de ver.
- Sim! Você disse. – eu não consigo medir o tamanho do meu sorriso e da minha felicidade
nesse momento.
Parece que tudo que me preocupava minutos atrás, agora por um tempo foi embora, dando
lugar a alegria que estou sentindo ao ouvir essas palavra.
- Pois é isso mesmo, namorada. Agora você é minha namorada.
- Você sabe se eu quero namorar com você?
- Qual é Sophia. Eu já tenho 33 anos na cara. Nem na idade de pedir em namoro eu estou
mais… Então aceita logo.
- Mas você não me fez nenhum pedido. Praticamente está me impondo isso. – estou me
divertindo muito com isso.
A cara que ele está fazendo é a melhor. Está na cara que ele nunca tinha feito isso antes.
- Que porra, Sophia.
- Você tem uma boca muito suja, sabia? –sorrio.
Ele revira os olhos e coça a cabeça. Ele é tão lindo.
- Sophia, você quer namorar comigo?
- Você tem certeza de que é isso que você quer, Rodrigo? – agora eu falo sério. Ele
percebeu que agora eu não estou brincando.
Eu realmente quero que ele tenha certeza do que está fazendo. Eu não sou igual às
mulheres com quem ele está acostumado a se envolver. Por mais que eu confie nele de
olhos fechados, não sei se conseguirei me entregar totalmente para ele. Eu não quero que
ele se prenda a alguém assim. Ainda mais ele sendo quem ele é.
- Lógico que tenho Sophia. Eu não entendi a pergunta.
- Rodrigo, nós somos diferentes. Eu sei que não tenho nada a ver com as mulheres que
você está acostumado a sair. Você já sabe da minha história e apesar de eu confiar
cegamente em você, eu não sei se algum dia conseguirei me entregar totalmente a alguém.
Não é nada com você é só que…
- É exatamente pelo fato de você ser diferente de todas elas, que você é tão especial pra
mim. Você acha mesmo que algum dia eu assumiria algo com aquelas mulheres Sophia?
Nunca! A única pessoa que importa pra mim é você. Eu estou apaixonado por você, pelo
seu filho… – ele dá um sorriso e seca as lágrimas que escorriam pelo meu rosto, sem eu ao
menos perceber. – E eu espero o seu tempo. Seja ele quanto tempo durar. Eu espero.
- Rodrigo, você está falando realmente sério? Eu não… Não suportaria ser enganada dessa
forma.
Por um momento passou pela minha cabeça que seria impossível isso tudo ser verdade.
Aquele homem que mal olhava para a minha cara quando eu cheguei a sua casa. Agora
vem dizer que está apaixonado e que quer namorar comigo. Isso tudo é tão surreal.
- Olha pra mim, Sophia.
Ele segura meu rosto firmemente me obrigando a encará-lo.
- Eu quero você do meu lado. Eu quero você na minha vida. Eu estou apaixonado por
você. Você é a única que eu quero ver ao acordar de manhã e a última ao dormir a noite.
Acredita em mim.
- Eu também estou apaixonada por você.
Ele enxuga as minhas lágrimas e cola as nossas bocas. Isso parece um sonho e se for, eu
não quero acordar nunca mais.
- Mas eu ainda vou continuar trabalhando lá. – digo assim que separo nossas bocas. – Pelo
menos até eu achar outra coisa. E sem discussão.
- Estou vendo que em relação a isso eu não vou poder fazer nada, né?
- Não. Eu nunca aceitaria ser sustentada por você.
- Pois eu não me importaria nem um pouco ter que cuidar de você e do Gustavo.
- Mas eu sim, Rodrigo. Ele não é responsabilidade sua, mas sim, minha. Eu não quero que
você se sinta obrigado a nada que envolva ele.
Ele me olha parecendo estar um pouco ofendido com as minhas palavras. Não foi essa a
minha intenção. Eu só quis deixar claro que ele não é responsável pelo meu filho.
- Mas não é obrigação nenhuma, Sophia. Eu gosto do Gustavo como se fosse um filho pra
mim e eu não me importo em cuidar dele e tê-lo como um. Não adianta você tentar nos
afastar, pois eu sinto que ele sente o mesmo por mim.
- Mas eu não quero que você pense que eu quero jogar essa responsabilidade pra cima de
você. Eu não tenho esse direito.
- Eu não me importaria nem um pouco, eu já disse. Mas vamos deixar esse assunto de
lado, eu não quero brigar com você no nosso primeiro minuto de namoro.
- Também não. – digo sorrindo. Ainda não conseguindo acreditar completamente.
- Pode deixar que eu arrumo um trabalho pra você… E antes que você diga que não
precisa. Eu te digo pra deixar de ser orgulhosa pelo menos uma vez na vida e aceitar a
minha ajuda.
- Eu aceito a sua ajuda. – digo sabendo que realmente não adiantaria de nada eu lutar
contra ele.
Demos o assunto por encerrado.
Ele me pega pela minha cintura iniciando um novo beijo. Ficamos mais alguns minutos
namorando. É tão estranho falar isso… Namorando. Eu nunca namorei na vida e vou
começar logo agora com o meu chefe louco e lindo. Ainda mais vestido desse jeito que o
valorizava pra caramba. Por mim ele ficaria o tempo inteiro fardado e armado. Fica tão
mais lindo.
Algumas horas depois ele diz que tem que ir embora, pois tem que trabalhar no caso do
DG. Isso me deixa aliviada, saber que tem alguém se empenhando em colocar esse
desgraçado atrás das grades novamente. Voltamos para a sala e encontro todo mundo do
mesmo jeito que deixei.
A Camila também já estava de saída e enquanto ela se despedia do Gustavo o Rodrigo
pega o meu rosto em suas mãos e me dá um beijo demorado, não rolou língua, nem nada,
só tocamos nossos lábios em um longo período, o que me deixou muito sem graça. Olho
para a minha mãe e a Mila que nos olhava espantadas.
- Dona Marta não se assuste. Eu e sua filha estamos namorando. Pena que eu não possa
ficar aqui pra conversar com a senhora sobre isso. Tenho muito trabalho pela frente, mas
eu volto para conversarmos com calma.
Ele vai até onde a Mila está com o Gustavo no colo, deixa um beijo em sua cabeça e
depois sai. Todas nós estávamos surpresas, eu queria conversar com a minha mãe com
mais calma depois, mas o senhor dono de tudo voltou e abriu a boca grande.
- Isso é verdade? Vocês estão namorando? – diz a Camila com seus olhos levemente
arregalados e um sorrisinho no rosto.
- Sim, mas depois eu te conto os detalhes.
- Vou cobrar. – ela sorrir, me dá um abraço e um beijo, e vai embora.
Assim que ela vai embora, a minha mãe me olha com aquela cara de que quer respostas
para todas as perguntas que tem em mente.
- Depois mãe. Depois.
Pego o Gustavo nos meus braços e faço igual a todos os sábados quando chego em casa;
dou total atenção ao meu pequeno que já começou a explorar todo o apartamento. E minha
mãe foi fazer o almoço com o pouco de comida que ainda tinha aqui.
Almoçamos e depois, como está muito calor, subi com o Gustavo para a piscina. Ficamos
a tarde inteira, até ele se cansar. Depois nós descemos, dei um banho nele que não
demorou muito para dormir. Eu também fui tomar o meu banho. Saio do banheiro e vou
para o quarto que, pelo tempo que eu ficarei aqui, será o meu. Assim que entro nele,
encontro minha mãe sentada na cama a minha espera.
- Agora vamos conversar. E não adianta fugir igual você fez o dia inteiro.
- Ok mãe. - Me sento na cama ao seu lado e respirou fundo tomando coragem para falar.
- Eu quero saber primeiro o porquê do seu chefe, namorado… já não sei de mais nada. –
sua expressão é de total confusão. – Enfim. Eu quero saber porque ele tirou a gente do
morro?
- Por causa do DG.
- O que o DG tem a ver com isso? Ele está lá e a policia está atrás dele, eu sei. Todo o
morro sabe. Mas o que nós temos a ver com isso? Já fiquei com você lá em tantas
operações e nada aconteceu…
- Mãe, eu vou precisar que a senhora me escute até o final sem me interromper, pois eu
não sei se terei coragem de contar isso se não for tudo de uma vez.
- O que foi?
- E principalmente, só tire suas conclusões, ou venha me julgar quando eu tiver terminado
de falar. Me promete?
- Prometo. Mas fala logo. – está nitidamente curiosa e nervosa.
Eu respiro fundo uma, duas, três… Quatro vezes para tentar tomar coragem. Fecho os
meus olhos e abaixo a minha cabeça não suportando encará-la neste momento.
- O DG é o pai do Gustavo.
- Como assim, aquele bandido é o pai do Gustavo, Sophia?
Levanto a minha cabeça e vejo incredulidade em sua face. E aquele mesmo olhar de
decepção de três anos atrás, está presente novamente em seus olhos.

[…]

11° CAPÍTULO

Sophia
- Sophia, me diz que isso é mentira. Me diz que é uma brincadeira sua. Você não se
envolveu com aquele marginal. Você não fez isso.
Aquele olhar de desgosto continua presente e um medo de que ela não acredite em mim,
tomou conta.
- Mãe, a senhora prometeu que iria ouvir até o final sem me interromper.
- Mas o que você está me falando é…
- MÃE, EU FUI ESTUPRADA!
Não acho outro jeito de falar sem que ela me interrompa, a não ser assim.
Curta, grossa e direta.
Os seus olhos agora estão arregalados em surpresa. Posso ver incredulidade nos mesmos.
E isso aumenta mais ainda o meu medo de ela não acreditar em mim. Minha mãe agora
está sem fala. Ela abre e fecha sua boca diversas vezes na tentativa de dizer algo. Mas
nada sai.
- Eu não acredito que a senhora realmente acreditou que eu me envolveria com ele de pura
e espontânea vontade. Isso só prova que você não me conhece nem um pouco.
Surpreendentemente eu estou firme. Minha voz não está trêmula e aquela vontade de
chorar que habitava em mim mais cedo, quando eu disse tudo para o Rodrigo, não existe
mais. Eu não sei explicar o porquê disso. Mas eu simplesmente estou mais confiante
agora. O que não significa que ainda não me doa lembrar aquelas coisas. Porque sim. Dói
e muito. Mas eu estou me mantendo forte diante disso tudo. Eu tenho que me manter forte
- Co-como assim… Você… Você foi estuprada minha filha? – suas lágrimas caem
livremente. Ela ainda me olha sem entender direito. Está procurando respostas.
- Você lembra há três anos atrás, quando eu fui ao aniversário da Mila e a senhora me
mandou ir pra casa cedo? – ela acena com a cabeça e leva suas mãos até a boca a tapando
como quem não acreditasse no que estava ouvindo.
- Então… Naquele dia quando eu estava subindo o moro eu encontrei com o DG e ele me
ofereceu uma carona. Eu não queria. Você mais do que ninguém sabia o quanto eu o
odiava. Mas ele praticamente me obrigou e eu tive que ir. Eu não tive escolha. Eu
realmente pensei que ele me levaria pra casa, mãe. Mas não foi isso que aconteceu.
Quando eu percebi, ele já estava parando em frente à casa dele. Eu não tive saída. Eu fiz
tudo o que estava ao meu alcance naquele dia para que ele me soltasse. Para que ele
deixasse ir embora. Mas de nada adiantou. Ele não se importou… Aconteceu.
Eu estou surpresa com a maneira na qual eu cotei toda a história, resumidamente e tão
tranquilamente. Eu quero poupa-la dos detalhes e me poupar também de ter que me
lembrar de tudo o que eu passei, novamente, tudo isso em menos de um dia.
Minha mãe chora feito uma criança. Ela não tem coragem de olhar nos meus olhos em
nenhum momento e eu não sei se isso é bom ou ruim. Não sei o que ela está pensando de
mim, agora. Não sei se ela acreditou realmente. Mas tudo indica que sim.
- Por isso que naquele dia eu cheguei mais tarde. Não foi porque eu perdi a hora de voltar
pra voltar pra casa. Foi porque aquele nojento atravessou o meu caminho e abusou de
mim.
- Por-por que você não me falou nada, minha filha?
- Ele disse que ia te matar caso eu contasse pra alguém.
Ela solta um soluço e seu choro se intensifica.
- Você deveria ter me contado Sophia. Eu não teria te tratado daquela forma. Você não
sabe como eu estou arrependida, minha filha.
- Não mãe. Eu não queria que a senhora me tratasse diferente só por saber que eu fui
estuprada e que eu carregava um fruto disso. Eu queria o seu apoio independente de eu
saber ou não quem era o pai do meu filho. Isso eu não tive da Senhora. Muito pelo
contrário. A senhora me humilhou. Eu escutei coisas saindo de sua boca que me
machucaram. Coisas que eu nunca esperaria um dia ouvir. Palavras que me machucaram e
machucam até hoje.
- As pessoas falavam de você e…
- Eu não estava nem ai para o que as pessoas falavam de mim, mãe. Será que a senhora
não entendia isso? A única coisa que me importava. A única opinião que era relevante pra
mim, era a sua. E o que senhora fez? Me rejeitou como filha… Mas o pior de tudo não era
isso. O pior era viver com a senhora na mesma casa e ver o seu olhar de nojo, de desprezo,
de desgosto pra mim todas as vezes que você chegava em casa. A vergonha que você
sentia ao andar comigo na rua e ouvir os cochichos da favela inteira. Isso me doía, mãe.
Era com isso que eu me importava. Muitas vezes eu pensava em ir embora. Sair de casa e
deixar você sozinha. Talvez assim a vergonha que você sentia de mim, passava… Mas ai
eu lembrava que eu não tinha onde cair morta. Se eu saísse de casa seria eu e meu filho
agora embaixo de alguma ponte pedindo esmola. Isso se eu conseguisse chegar a tê-lo.
- Eu não sabia que você se sentia assim, Sophia… Me desculpa! Por favor! Me desculpa!
– ela agora segura com força as minhas mãos, mas ainda não me olha.
- Mas eu me sentia, mãe.
- Eu imagino o quanto você sofreu guardando isso tudo pra você todos esses anos… – Ela
por um momento solta sua mão da minha e enxuga rápido suas lágrimas. Mas rapidamente
volta a segurá-la e dessa vez o seu olhar acompanha o meu.
Arrependimento, culpa e tristeza transbordavam pelos seus olhos.
– Eu vou entender se você não quiser me perdoar. Eu juro que vou. E-eu não mereço… Eu
não fui a mãe que tinha que ser pra você… Eu já te pedi perdão por isso uma vez, mas
agora eu vou pedir quantas vezes for preciso, para que você me perdoe de verdade minha
filha… Eu disse que me orgulhava de você antes, por me encarar e contar, o que na época
eu achava que era a verdade… Ma-mas agora… Agora eu tenho ainda mais orgulho e
admiração por você, Sophia… Eu nunca vou me perdoar por ter te julgado. Por ter te
tratado daquela maneira. Você poderia ter tirad…
- Eu nunca faria isso. – falo seca.
- Eu sei que não… - ela solta um soluço e abaixa a cabeça novamente. – Você não poderia
ter guardado isso pra você. Você sofreu sozinha por todo esse tempo, minha filha, e eu sou
a culpada. Eu piorei a situação não ficando do seu lado. Não te apoiando… Por favor, filha
me perdoa.
- A única coisa que eu queria era que a senhora estivesse do meu lado, independente de eu
saber ou não quem era o pai do meu filho. Afinal. Mãe não é pra essas coisas? Mãe não é
pra estar ao lado dos filhos em todos os momentos, sejam eles bons ou ruins? Mãe não é
aquela que fica do nosso lado sempre quando todos nos viram as costas?
- Mas eu nunca te deixei minha filha.
- Sim mãe, você me deixou… Não foi porque mesmo depois daquilo tudo eu continuei
vivendo no mesmo teto que você, não significa que você não tenha me abandonado… Nos
seus simples gestos de não olhar na minha cara. De me dar muito mal um bom dia… Você
estava fazendo exatamente o que me disse que faria. Deixando de ser a minha mãe e sendo
apenas a mulher com quem eu dividia uma casa.
- Me desculpa filha. – podia ver o desespero e o arrependimento em seus olhos e em suas
palavras.
- Eu te desculpo mãe, lógico que eu te desculpo. Mas eu me senti na obrigação de te
mostrar como eu me senti todos esses anos.
- Eu nunca vou me perdoar por isso. Nunca vou me perdoar por não ter te ouvido. Por não
ter te tratado da maneira que eu deveria…
- Eu já disse que te perdoei mãe.
- Po-posso te dar um abraço?
Não respondo mais nada e a abraço. Ela me aperta fortemente em seus braços e consigo
sentir um alivio muito grande dentro de mim, por finalmente ter contado tudo isso para
ela. Não sei quanto tempo ficamos assim, mas quando percebi, eu também estava
chorando igual a ela. Tudo que não veio durante a conversa, durante as lembranças.
Caíram agora. Ela se solta de mim e seca o meu rosto.
- Eu nunca vou me perdoar pelo o que eu fiz com você, nunca.
- Mãe, eu não quero que a senhora fique se martirizando por isso, ouviu?
Ela acena sua cabeça.
- Mas eu ainda não entendi porque o Rodrigo nos tirou da favela e nos trouxe pra cá.
- Por causa do DG, mãe. Ele não sabe da existência do Gustavo. Bom, pelo menos eu peço
a Deus que não saiba. E ele é maluco, se ele não sabe ainda, seria questão de tempo pra
isso acontecer e ele tentar fazer algo contra ele, lá.
- O Rodrigo sabe de tudo?
- Sim mãe. Eu contei tudo pra ele. Ele vai ajudar a prender o DG novamente. Por isso ele
nos trouxe pra cá, ele achou muito perigoso ficarmos lá.
- Ele gosta mesmo de você, Sophia… E do Gus.
- O Gus também gosta muito dele. A senhora acredita que naquele almoço lá na casa da
Mila, ele chamou o Rodrigo de pai?
- Mentira? – pergunta incrédula.
- É verdade. Eu fiquei morrendo de vergonha, mas o Rodrigo nem se importou.
- E você?
- O que tenho eu?
- O que você sente por ele?
- Ah mãe! Eu me apaixonei por aquele ogro, arrogante, estupido… Eu não sei como isso
aconteceu. Quando eu percebi, de dez coisas que eu pensava, oito era sobre ele.
- A forma com que os seus olhos brilham quando você fala dele, é única… Eu já sabia que
tinha algo entre vocês. Eu via a forma que vocês se olhavam naquele almoço. Eu acho que
não só eu percebi, mas todo mundo…
Ficamos mais um bom tempo ali conversando. Eu me sentia muito aliviada por ter
finalmente contato tudo a ela. Eu ainda a sentia bastante envergonhada era notório isso. Eu
realmente perdoei a minha mãe e agora sim eu posso dizer que não guardo nenhuma
magoa ou ressentimento dela. Tudo que eu tinha que falar eu falei nessa conversa. Tudo
que estava entalado na minha garganta, tudo que eu segurei durante esses três anos tinha
finalmente saído de dentro de mim. E eu fico aliviada, pois eu sentia que a qualquer
momento eu poderia explodir com tantas palavras não ditas. Mas agora estava tudo
esclarecido. Minha mãe agora já sabia de toda a verdade.
Depois ela saiu e foi para o seu quarto dormir. Eu fui até o quarto da frente, peguei o
Gustavo e o coloquei na minha cama para dormir comigo. Não confio em deixa-lo
sozinho. Me deito ao lado dele, mas antes que eu possa fechar os olhos e dormir, o meu
celular toca. Eu vejo no visor que é o Rodrigo. Pego o celular, me levanto e vou para a
sala atende-lo para não acordar o Gustavo.
- Alô. – atendo me sentando no enorme sofá.
- Oi Sophia, sou eu. Como foi a conversa com a sua mãe?
- Não foi nada fácil, Rodrigo. Mas da minha parte foi mais tranquilo do que eu imaginei.
- Como ela encarou?
- Ela chorou muito. Posso dizer que ela ficou com remorso da maneira que me tratou
naquela época. Mas agora já está tudo bem.
- Tudo mesmo?
- Sim, está tudo bem… – sorrio com sua preocupação. – Está fazendo o quê?
- Acabei de chegar em casa agora da delegacia… Essa casa fica tão vazia sem você…
Queria você aqui nos meus braços, agora. – ouço sua respiração funda do outro lado da
linha.
Como são as coisas, não é mesmo? Quem diria que algum dia eu escutaria o Rodrigo me
dizendo essas coisas?
- Eu também queria muito estar nos seus braços, agora. – confesso bem baixinho e posso
sentir o meu rosto queimar.
Merda!
- Posso apostar que você corou. – ele diz sorrindo.
- O quê? Por quê? Como assim? – digo tudo muito rápido arrancando uma gargalhada
rouca dele, que me fez arrepiar levemente.
- Eu te conheço, Sophia… Estranhamente eu te conheço muito bem.
- Ah é? Será que conhece mesmo? Então eu duvido você acertar o que eu estou pensando
agora.
- Isso é fácil. Você está pensando em como seria bom estar agora deitada em meus braços,
sendo acariciada por mim. Com meus beijos sendo distribuídos por todo o seu corpo
maravilhoso. Em nossas línguas em uma luta excitante por espaço… – ouço-o gemer
levemente do outro lado e eu me arrepio. – Posso jurar que agora você está mordendo seus
lábios e que seus olhos estão fechados imaginando tudo isso que eu acabei de falar,
acontecendo.
Droga! Obrigo-me a abrir os olhos e parar de morder a merda da boca, depois dessa.
Como ele consegue fazer isso?
Acho que vou ter que tomar outro banho.
Como que ele consegue me deixar assim apenas falando essas coisas?
ELE NÃO ENCOSTOU UM DEDO EM MIM, CARAMBA. ELE NEM SEQUER ESTÁ
PERTO DE MIM.
- Ro-rodrigo é melhor você ir dormir. – digo e respiro fundo.
- Eu sabia. – solta aquela gargalhada que me deixa ainda mais fora de mim.
- Boa noite, Rodrigo. – antes que eu possa desligar o telefone o ouço dizendo.
- Boa noite, morena. Tenha uma ótima noite e sonhos deliciosos comigo.
- Desejo o mesmo, Delegado.
- Porra Sophia…
Desligo o telefone na sua cara e corro para o banheiro para tomar outro banho e ver se
esse calor infernal passa.


[…]


12° CAPÍTULO

Sophia

Suas mãos passavam lentamente, mas ao mesmo tempo com precisão sobre minha coxa
esquerda, enquanto sua boca estava colada na minha em um beijo carnal, necessitado,
deliciosamente bom.
Ele desgruda sua boca da minha e desce distribuindo beijos molhados e mordidas pelo
meu pescoço até chegar aos meus seios. O Rodrigo retira sua mão de minha coxa e leva
até a beirada da minha blusa a levantando lentamente. Seus olhos brilham assim que vê
meus seios expostos pra ele.
- Sem sutiã… Como eu amo isso. Facilitando o meu trabalho.
Abocanha o meu seio direito e aperta o esquerdo com força, mas nada que me machucasse
e sim que me fizesse ficar ainda mais encharcada. Ele muda e passa a sugar o meu seio
esquerdo e apertar o direito na mesma intensidade. Gemidos contidos saiam de minha
boca.
O Rodrigo solta os meus seios e desce distribuindo beijos por toda a minha barriga. Em
momento nenhum ele desgrudava aqueles maravilhosos olhos azuis dos meus. Quando
chega na minha cintura ele coloca suas mãos uma em cada parte do meu shorts e o
arranca. Posiciona o seu rosto entre minhas pernas e passa o seu rosto de leve na minha
intimidade sem a tocar de fato.
Eu já não aguentava mais. Eu queria que ele tirasse toda essa agonia de dentro de mim, eu
queria que ele me tocasse. Eu queria senti-lo.
- Rodrigo… Por favor!
- Por favor, o quê? Fala o que você quer.
- Eu quero você… Quero… Agora.
- Seu pedido é uma ordem, meu amor.
Ele leva sua boca até a minha cintura e tira a minha calcinha com a mesma. Merda! Por
que ele tem que ficar me olhando desse jeito enquanto faz isso? Eu acho que não vou
aguentar muito tempo se ele não…
_
_
_
_
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Acordo com minha respiração acelerada, suada e… Molhada.
Que droga! Eu não acredito nisso. Não acredito que tive um sonho erótico com ele. Isso é
praga dele, só pode. Que vergonha.
Olho no relógio em cima do criado mudo e vejo que ainda é 08h00min. Ninguém merece
acordar a essa hora da manhã em um domingo. Ninguém merece mesmo.
Aproveito que o Gus ainda está dormindo e vou direto para o banheiro, do quarto mesmo.
Rapidamente tiro minha roupa e me enfio debaixo da água gelada.
Ainda posso sentir o seu toque em cada parte do meu corpo, foi tão real, as sensações
eram tão reais. Fico imaginando como ele realmente deve ser nessas horas. Se for igual ao
meu sonho eu já sei que é maravilhoso Quando dou por mim, estou apertando os meus
seios da mesma forma que o Rodrigo os apertava no meu sonho. Não acredito que estou
fazendo isso. Me tocando pensando nele! Tudo bem que agora somos namorados, mas é
estranho.
Ele vive dizendo que eu o mudei. Mas ele me mudou mais ainda. Olha só o que eu estava
fazendo.
Resolvo sair do banho quando vejo que o meu fogo já tinha abaixado. Esse homem vai ser
minha perdição. Eu sei que vai. Saio do banheiro enrolada na toalha, quando chego ao
quarto vejo o Gustavo sentado na cama coçando os olhinhos e resmungando algo.
- Já acordou, meu filho. – o pego no meu colo, deixo um beijo em sua bochecha e ele me
retribui.
O coloco novamente sentado na cama e vou até as minhas malas, que ainda estão
espalhadas pelo quarto, pego um sutiã, calcinha, um shorts jeans e uma regata. Me visto e
pego o Gustavo, retiro sua fralda e dou um banho rápido nele.
Vou para a cozinha e o Gus vem andando atrás de mim. Chega a ser engraçado a forma
como ele anda, tombando para os lados. Vou até a porta que dar acesso a enorme varanda
e a fecho. Não quero correr o risco do Gus ir pra lá e se machucar. Ligo a TV no desenho
que ele gosta e vou para a cozinha deixando-o lá atento ao desenho. Faço o seu leite e
depois volto para a sala o encontrando agora em pé de frente para a TV dançando a
musiquinha do programa. É a coisa mais fofa do mundo.
Ok! Eu admito. Sou uma mãe muito babona.
Me sento no sofá e fico assistindo ele dançando, até que ele cansa e vem até a mim
pedindo a mamadeira. Dei na mão dele que com muito sacrifício senta do meu lado no
sofá e começa a bebê-la.
É impressionante como ele está grande. O tempo passou tão rápido. Ele está tão esperto.
Ficamos a manhã inteira apenas assistindo televisão. Depois de um tempo minha mãe
chegou e fomos tomar o café da manhã. Na parte da tarde ela foi fazer o almoço e eu
continuei na sala brincando com o Gustavo.
A campainha toca e eu estranho um pouco, pois o porteiro não avisou que estava subindo
alguém. Me levanto do chão e vou abrir a porta, dando de cara com aquele homem
maravilhoso que me fez acordar toda molhada hoje.
Que merda! Já sinto meu rosto queimar. Ele vem até a mim, pega pela minha cintura e me
dá um beijo longo deixando-me sem ar.
- Senti falta disso. – diz ainda com sua boca próxima a minha e deposita um rápido
selinho.
Ele me solta e entra no apartamento indo até o Gustavo que nos olhava com uma
expressão interrogativa. Tranco a porta e vou para perto deles, me sentando no sofá.
- Fala ai garotão. – diz o Rodrigo pegando ele no colo e depositando um beijo em sua
cabeça.
O Gustavo, não muito diferente, passa os braços em volta do pescoço do Rodrigo e
deposita um beijo carinhoso em sua bochecha.
- Papai. Binca, papai. – diz o Gustavo se mexendo no colo do Rodrigo para que ele o
descesse.
Antes que eu possa repreendê-lo, o Rodrigo me impede.
- Claro meu filho. – diz com um sorriso de orelha a orelha.
- Rodrigo… – o repreendo.
Eu já disse que não quero isso. Não quero que ele se sinta na obrigação de ocupar essa
vaga de pai do Gustavo. Eu sei que o meu filho sente falta de uma presença paterna, mas
eu não quero que o Rodrigo se responsabilize por algo que ele não é obrigado.
- Já disse que não me importo, Sophia. – se volta novamente para o Gustavo e diz. –
Vamos brincar de quê?
- Cainho.
- Ok. Escolhe o seu carro então. – diz se sentado no chão e colocando o Gus do seu lado.
Levanto-me do sofá, deixando os dois sozinhos e vou para a cozinha.
- Quem chegou, Sophia?
- Rodrigo.
- Que cara é essa?
- Nada. – me encostou ao lado dela na bancada da pia e cruzo os meus braços.
- Mas mal começaram a namorar e já brigaram?
- Não mãe. Nós não brigamos. É só que eu não gosto quando o Gustavo chama o Rodrigo
de pai. Eu não quero que o Rodrigo pense que eu quero me aproveitar dessa situação pra
jogar a responsabilidade do Gustavo pra cima dele. E eu também não quero que o meu
filho se iluda achando que o Rodrigo é o pai dele, porque não é. Eu não quero que o meu
filho sofra com isso.
- É complicado, Sophia. Mas você tem que conversar com o Rodrigo.
- E a senhora acha que eu já não fiz isso? Mas ele diz que não se importa.
- Então se ele não se importa com isso, filha, não vejo problema nenhum.
- Acontece mãe, que eu não sei quanto tempo vai durar isso tudo que eu e o Rodrigo
estamos vivendo. Uma coisa sou eu sair machucada dessa história toda. Outra coisa bem
diferente é o meu filho sair machucado disso.
- Mas ele parece gostar tanto de vocês.
- Eu sei mãe, mas sei lá. A gente nunca sabe o que pode acontecer.
- Não fica pensando no que pode acontecer, Sophia. Foca no que vocês estão vivendo
agora, no presente.
- Eu vou tentar… Quer ajuda ai com alguma coisa?
- Descascar As batatas pra mim, por favor.
Faço o que minha mãe pediu e a ajudo com o resto do almoço. Não voltei mais para a sala,
deixei os dois lá sozinhos. De vez em quando eu ouvia a risada gostosa do Gustavo e eu
sabia que não deveria me preocupar, pois ele estava sendo muito bem vigiado pelo
Rodrigo.
Quando o almoço estava ficando quase pronto, eu peguei os talheres e os pratos e levei
para a enorme mesa na sala. Passo perto dos meninos que estão muito entretidos ainda
brincando.
Quem diria que o Gustavo derreteria o coração de gelo desse ogro.
Arrumo a mesa para três pessoas e volto para a cozinha para ajudar minha mãe a trazer a
comida. Ela já estava terminando de fazer a papinha do Gustavo, então eu voltei para a
sala. Me sento no sofá e o Rodrigo se levanta do chão e se senta ao meu lado. Ele passa
suas mãos pela minha cintura e me beija, levo minhas mãos para a sua nuca e arranho de
leve fazendo-o soltar um baixo gemido em minha boca.
- Gus, vamos almoçar.
Minha mãe chega na sala, fazendo com que nos paremos de nos beijar. O Gustavo vai até
ela que o dirige até a mesa.
- Vem, vamos almoçar. – Pego na mão do Rodrigo e o dirijo até a mesa.
Ele se senta ao meu lado e minha mãe faz o Gustavo sentar em uma cadeira ao seu lado.
Sirvo o Rodrigo e logo depois a mim. Minha mãe dividia sua atenção em tentar dar
comida ao Gustavo e se alimentar. Eu até disse pra ela que eu poderia fazer isso, mas ela
não quis.
Almoçamos todos em silêncios, hora ou outra, trocamos algumas poucas palavras, mas
nada que engata se de fato em uma conversa.
Assim que terminamos de almoçar, eu me levanto e começo a recolher as louças de cima
da mesa e o Gustavo como sempre, foi atrás do Rodrigo.
- Pode ir descansar mãe, eu arrumo aqui. Eu sei que sei joelho está doendo.
- Pior que está mesmo, Sophia.
Ela vai para o quarto e eu continuo recolhendo as louças de cima da mesa e levando-as
para a cozinha. Numa dessas idas e vindas, vejo o Gustavo subindo no sofá, onde o
Rodrigo está sentado. Ele se senta do colo do Rodrigo e encosta a cabeça no peito dele.
Ele vai dormir.
- Ele vai dormir. – aviso e entro na cozinha.
Lavo toda a louça e quando estava secando-as, sinto braços fortes envolvendo a minha
cintura. Ele coloca o seu rosto na curvatura do meu pescoço cheirando-o profundamente e
logo em seguida depositando um beijo no local.
- Não fica brava comigo. – diz ao pé do meu ouvido.
- Eu não estou brava com você, Rodrigo. – coloco o prato em cima da pia e ele me vira de
frente pra ele.
- Sophia, eu não posso fazer nada se ele me quer como pai dele. Eu sei que você não gosta
disso…
- Eu já te expliquei o porquê de eu não gostar.
- E eu também já disse que não me importo e que eu te conheço. Eu sei muito bem que
nunca se aproveitaria dessa situação pra arranjar um pai pro seu filho… Sophia se tem
uma coisa que eu sei, é reconhecer uma pessoa mau caráter. E você não é uma.
- Mas as pessoas, elas vão falar.
Logo eu que nunca me importei com o que pensariam de mim, agora estou me
importando.
- Foda-se o que as pessoas irão falar disso, Sophia… O que importa é que eu sei o que eu
sinto por aquele garoto e pelo o que ele sente por mim.
- Eu só não quero que ele sofra depois.
- Como assim?
- Rodrigo, eu não sei quanto tempo vai durar isso que a gente está vivendo. Eu não quero
que o meu filho saia machucado dessa história,
Ele leva suas mãos para o meu rosto os segurando firmemente, fazendo com que eu o
encare.
- Se depender de mim, vocês nunca sairão machucados de história nenhuma, porque eu
não vou deixar vocês saírem da minha vida.
Diz e toma a minha boca em um beijo calmo. Suas mãos descem para a minha cintura me
grudando mais nele, sua língua toma conta de minha boca lentamente excitante. Levo
minhas mãos rodeando o seu pescoço, ele me pensa na pia e as imagens do sonho que eu
tive essa noite, toma conta de mim, fazendo com que aquele calor muito conhecido por
mim volte. Antes de separar nossas bocas ele morde de leve meu lábio inferior chupando-
o logo em seguida.
- Você vai ser a porra da minha perdição, Sophia. – sua voz sai ainda mais rouca que o
normal.
- Eu digo o mesmo, Delegado.
Ele gruda nossas bocas novamente sem pensar duas vezes em um beijo mais quente…

[…]


Acordo com o som irritante do despertador. Arrasto-me para o banheiro e tomo um banho
bem rápido, coloco uma calça jeans e uma blusa preta de manga curta. Dou um beijo no
Gustavo, que dorme tranquilamente.
Pego o meu celular, minha bolsa e saio do quarto. Vou para a cozinha, como uma fruta e
depois vou até o quarto da minha mãe avisando-a que já estou indo para a casa do Rodrigo
e que provavelmente tentaria aparecer durante a semana para vê-los. Não resisto e passo
novamente no meu quarto e encho o Gus de beijo para depois, enfim, sair de casa.
Vou andando até um ponto de ônibus que tem próximo ao prédio e não demora muito para
meu ônibus passar e rapidamente já havia chegado ao ponto de ônibus próximo ao
condomínio do Rodrigo. Vou andando tranquilamente até lá. Quando chego à portaria,
passo sem sacrifício nenhum. Vinte minutos depois já tinha chegado à casa do Rodrigo. E
meu Deus do céu! O que esse homem fez com essa casa? Nem parece que eu a deixei
impecável quando saí daqui, no sábado.
Tem caixas de pizzas jogadas pela cozinha. Ele deve ter comido pizza em todas as
refeições. Louças sujas dentro da pia… Se a cozinha que é um lugar que ele pouco
frequenta, está assim, eu imagino o seu quarto.
Vou até o meu quartinho e troco a minha roupa pelo uniforme. Começo a arrumar a
cozinha, que foi até mais rápido do que eu imaginei. Surpreendentemente a sala está
intacta, só passei pano nos móveis e dei uma varrida de leve, assim como os outros
cômodos. Só não posso falar o mesmo do quarto do Rodrigo, está uma zona. Parecia que
passou um furacão aqui. Roupas jogadas para todos os lugares, sapato sujos de terra. Só de
ver me dá nervoso.
Demoro um tempo a mais limpando o quarto. Alguns minutos depois o Rodrigo me liga e
diz que não viria almoçar em casa, pois tinha que terminar uma missão. Não entendi muito
bem do que se tratava. Ele disse algo sobre prender algum deputado que estava envolvido
em desvio de dinheiro publico. Não entendi muito bem. Mas ele me disse que viria para o
jantar.
14h00min marca no relógio e eu já havia terminado de fazer tudo o que tinha que fazer.
Passei o resto tarde entediada, sem ter nada para fazer. Fiz uma pequena porção de
macarrão, apenas para eu comer e depois dormi. Sim. Dormi no trabalho. Estou
começando a ficar muito mal acostumada com essa historia de namorar o meu chefe.
Acordo exatamente na hora que eu costumo começar a preparar o jantar. Vou até o
banheiro, tomo um banho bem rápido e deixo o uniforme de lado, colocando uma
bermuda e uma regata rosa.
Não demora muito e o Jantar já está pronto. E minutos depois o Rodrigo chega.
- Oi minha linda. – diz e me dá um beijo.
- Oi. – digo e sorrio, com o seus lábios ainda próximos aos meus. – O jantar já está pronto.
Quer que eu te sirva agora?
- Vou tomar banho primeiro. – passa pela porta e logo depois volta. – E coloca mais um
lugar na mesa.
Diz e sai da cozinha sem falar mais nada. Quem será que vai jantar aqui hoje com ele?
Faço o que me pede e um tempo depois ele aparece na cozinha. Seus cabelos molhados
pelo banho recém-tomado e o seu cheiro maravilhoso tomou conta de toda a cozinha. Meu
Deus! Como eu amo esse cheiro.
Ele envolve seus braços na minha cintura e diz com sua boca bem próxima a minha
orelha, fazendo-me arrepiar completamente.
- Ah se você soubesse como me deixa, quando me olha assim. – deposita um beijo no meu
pescoço e um gemido involuntário saia de minha boca.
- E eu posso saber como? – me atrevo a perguntar.
- Me deixa louco pra te fazer minha aqui mesmo nessa cozinha, em cima dessa mesa. –
Arfo e sinto o meu rosto pegar fogo e minha intimidade pulsar.
QUE MERDA.
Afasto-me de leve, ele me puxa novamente para perto dele e esfrega de leve sua ereção em
mim.
- Está vendo como eu te desejo?
- Ro-Rodrigo.. Não faz…
Ele me cala com um beijo. Suas mãos seguram possessivamente minha cintura. Não me
afasto. Não consigo e não quero. Sua mão desce e aperta de leve, mas com precisão a
minha bunda contra ele. O que me faz soltar um gemido baixo.
Afasto-me dele, mantendo uma distancia considerável. Minha respiração está acelerava e
posso sentir minha boca levemente inchada pelo beijo. Ele se aproxima de mim
novamente, desta vez, mais calmo. Suas mãos estão mais suaves em mim, sua testa agora
grudada a minha e seus olhos presos aos meus.
- Desculpa. Eu não queria te assustar.
- Mas você não me assustou. É só que…
- Só que o quê? – ele leva sua mão ao meu rosto e retira os poucos fios de cabelos que
estavam caídos sobre o meu rosto.
- E-eu tenho um pouco de medo… Não por você. Eu sei que você nunca me machucaria.
Mas eu não sei o que, e como, fazer. Eu não sei se eu realmente estou preparada pra isso.
- Você quer?
- Si-sim. Mas é estranho… Eu…
- Você confia em mim?
- Como eu nunca confiei em alguém, em toda a minha vida.
- Então não precisa se preocupar. – seus lábios roçam no meu, conforme as palavras saem
de sua boca. – Deixa que eu te ensino como se faz.
O Rodrigo me beija e suas mãos descem novamente para a minha cintura levantando-me,
fazendo com que eu enrole minhas pernas em sua cintura.
Sem desgrudar sua boca da minha ele começa a caminhar para fora da cozinha.
- E a sua visita? – digo separando os nossos lábios por um momento.
- Que visita? – ele enruga a testa e tomba a cabeça um pouco para o lado direito,
parecendo não entender o que eu quis dizer.
- Você disse pra colocar mais um prato na mesa.
- Pra você, bobinha.
Ele sorri por um segundo e logo depois cola as nossas bocas novamente. Agarro com força
o seu pescoço, seus beijos desceram pela minha nuca, fazendo todo o meu corpo se
arrepiar.
O Rodrigo sobe a escada ainda comigo em seus braços e assim que chega ao seu quarto,
ele bate a porta fechando-a. Ele se senta na cama, ainda comigo no seu colo. Suas mãos
exploram todo o meu corpo que estava fervendo de desejo. Ainda com as minhas pernas
envolta a sua cintura, me sento completamente em seu colo, ele solta um breve gemido e
consigo sentir sua ereção roçando de leve em minha intimidade. Isso me faz deseja-lo
mais ainda. Suas fortes mãos, sobe e desce pela lateral do meu corpo e para quando chega
na barra da blusa. Por um momento ele desgruda nossas bocas e levanta a blusa tirando-a
de mim. Seu braço passa forte pela minha cintura me apertando ainda mais contra ele,
novamente.
Quando dou por mim, suas mãos ágeis, já subiram até o fecho do meu sutiã, abrindo-o.
Ele arranca o meu sutiã delicadamente jogando-o no chão.Eu fecho os meus olhos
rapidamente, pois a vergonha de encara-lo neste momento, me atinge.
Sinto sua boca colar rapidamente na minha em um beijo rápido.
ele logo diz no seu modo mandão.
- Abre os olhos. – seu tom autoritário, mas ao mesmo tempo tão carinhoso fez com que eu
fizesse rapidamente o que ele me disse. Assim que os abro, dou de cara com suas linda
orbes azuis, que agora estão escuros… Transbordando desejo.
- Eu quero que você esteja de olhos abertos, vendo tudo que estou fazendo com você. – ele
leva sua boca próximo ao meu ouvido. – A não ser quando estiver gozando intensamente.
Ai sim, você não vai conseguir mantê-los abertos.
Não me dá chances nenhuma e me beija novamente. Suas mãos agora seguram firme e
excitantemente os meus seios. Ele desce sua boca para os meus seios chupando-os com
força. Os gemidos saem de minha boca sem pedir licença. Posso sentir seu membro
endurecendo cada vez mais embaixo de mim. E senti-lo me deixa ainda mais sedenta e…
Necessitada dele.
Ele se levanta comigo ainda em seu colo e me deposita na cama. Captura a minha boca em
um beijo rápido e desceu distribuindo-os pelo o meu corpo. Desabotoa o meu short e o
desce lentamente, jogando-o no chão, assim que o tem fora do meu corpo. Rodrigo sobe
beijando minhas pernas e quando chega entre elas… Próximo ao meu ponto mais sensível
neste momento, ele segura uma perna de cada lado do seu rosto e depositou um beijo
sobre minha intimidade, ainda coberta pela calcinha.
- O seu cheiro é maravilhoso. – Diz e leva suas mãos até a minha cintura rasgando-a.
Ele começa a distribui beijos por toda a minha intimidade e quando eu menos espero, sinto
sua língua passando por ela toda. Um gemido alto, até demais, sai de minha boca e eu
mordo o meu lábio inferior na tentativa de contê-lo. O meu rosto está pegando fogo.
Sinto-o enfiar um dedo em mim e fazer movimentos de vai e vem. De início o seu toque
me causou um pequeno incômodo, mas com o passar do tempo, ficou muito prazeroso.
Sua língua rodeando o meu clitóris, deixando fortes chupadas no mesmo ajudava bastante
para isso. Os movimentos que sua língua faz em minha intimidade estão me deixando
louca. A cada minuto que passa, fica cada vez mais gostoso. Não quero que ele pare. Um
gemido alto saiu de minha boca, eu mordo os meus lábios e apertou com força as
almofadas do meu lado. Involuntariamente minhas pernas tentam se fechar, mas sou
impedida pelo Rodrigo, que ainda se mantém no meio delas. Ele retira o seu dedo de
dentro de mim e passa a sua língua por toda a minha intimidade.
Não tenho coragem de abrir os olhos e encará-lo agora. Sinto o meu corpo relaxado em
um nível…
O Rodrigo sobe em cima de mim mas não deixa o seu peso cair por completo. Ele gruda a
sua boca na minha e posso sentir o meu gosto em sua língua.
- Você é maravilhosa, Sophia. – sua voz sai extremamente rouca e isso fez todo o fogo
reacender novamente dentro de mim.
Passo minhas mãos por todo o seu abdômen, enquanto ele me beija novamente. Ele
esfrega sua ereção na minha barriga e segura com força as minhas coxas.
Ele se levanta por um momento, arranca sua calça e com ela a boxer vai junto fazendo
com o seu enorme membro pule para fora. Não consigo disfarçar a minha surpresa ao
olha-lo nu. Meu deus ele é enorme. Será que isso tudo vai caber?
Ele vai até o criado mudo, pega uma camisinha, rasgar e colocar em seu membro. Vem
para a cama, se deita novamente sobre mim e busca a minha boca. Parecendo ter lido os
meus pensamentos ele diz olhando fundo nos meus olhos, o que me deixa um pouco
envergonhada…
- Pode ficar tranquila que cabe. E se não der a gente dá um jeitinho… – meu rosto queima
de vergonha. – Você me deixa ainda mais excitado quando fica envergonhada.
Beija-me novamente. Sua mão passar levemente sobre minha intimidade e o sinto
direcionar o seu membro para a minha entrada. O meu coração começa a acelerar, o
nervosismo aumenta um frio toma conta da minha barriga. Ele parecendo perceber o meu
estado de nervosismo e para o que estava prestes a fazer e me obriga a olhá-lo.
- Fica calma. Eu não quero e nem vou te machucar. Só que pra você sentir prazer, tem que
relaxar.
Aceno minha cabeça e ele me beija novamente. Suas mãos sobem e desce lentamente pelo
meu corpo. Ele desce deixando os seus beijos no meu pescoço e depois sobe novamente
distribuindo-os carinhosamente por todo o meu rosto. Sinto-o se posicionando novamente
na minha entrada e respiro fundo. Ele para de distribuir seus beijos pelo meu rosto, sobe
uma de suas mãos e segura o meu rosto de leve mantendo-me fixa ao seu olhar. Sinto-o
me penetrar devagar. Levo minhas mãos para a suas costas e arranho de leve, numa forma
de fazer com que a dor que estou sentindo amenize. Ele para um pouco, deixa um beijo na
minha testa e depois de um tempinho acariciando o meu cabelo e dizendo-me que a dor
passaria, ele penetra mais um pouco e para. Sei que ainda não deu tudo. Eu sabia que não
daria. Ele espera que eu me acostume com o seu tamanho e logo depois começa a estucar.
A dor de antes, deu lugar ao prazer enorme que se apossou do meu como. Percebendo isso,
ele começou a estocar com mais força e um pouco mais rápido. Gemidos altos saiam de
nossas bocas. Ele sai de dentro de mim e se senta na cama trazendo-me pra cima dele,
fazendo com que eu ficasse sobre o seu membro, mas sem me penetrar ainda.
Minha respiração estava acelerada, minha intimidade estava pulsando, necessitada de
contato. O Rodrigo leva suas mãos para a minha cintura e fez com que eu desça devagar.
Conforme ele ia me preenchendo o prazer e o alívio por finalmente tê-lo, era maior ainda.
Quando o sinto, desta vez por completo, dentro de mim, ele pega minha cintura e começa
a fazer movimentos de subir e descer, sempre distribuindo beijos pelos meus seios e rosto.
Começo a pegar o ritmo dele e faço os movimentos, sozinha.
- Deliciosa demais.
Sua voz saiu rouca e sexy ao pé do meu ouvido. Ele aperta forte a minha bunda me
prendendo mais nele, fazendo-me parar os meus movimentos por um tempo.
O receio e vergonha que eu sentia há minutos atrás foram embora.
Eu me entreguei. Entreguei-me de corpo e alma pra ele. E não me arrependo.
Aquelas mesmas sensações de anteriormente consome o meu corpo. Só que agora, ainda
mais forte.
- Porra Sophia! Goza pra mim.
Dou mais algumas estocadas e sinto o meu corpo amolecer sobre o dele. Seu nome sai de
forma rouca em minha boca.
- Rodrigo.
Isso fez com que ele também se liberasse dentro de mim, enchendo a camisinha.
- Sophia. – meu nome saiu quase inaudível.
Nossos corpos suados e ofegantes. Um colado ao outro. Ele ainda dentro de mim. Isso
tudo é tão bom, tão novo e tão estranho ao mesmo tempo.
Eu nunca me imaginei assim. Muito menos com o Rodrigo.
E hoje eu vejo que se não fosse com ele, não seria com mais ninguém.

[…]




Rodrigo
Nossos corpos continuam suados e colados um no outro. Continuo também dentro dela. A
melhor sensação do mundo é poder senti-la. Sentir o seu gosto, o seu corpo nu colado ao
meu. Sentir a sua respiração ofegante e seu rosto escondido na curvatura do meu pescoço,
os seus gemidos, horas contidos, horas escandalosos, saindo de sua boca. Ela é
simplesmente perfeita.
Isso tudo é tão novo pra mim. Esse sentimento… Essa transa. Eu nunca tive um sexo
assim. Eu não estou falando do sentido Dom. e Sub. Até porque eu já disse que isso não é
um vicio pra mim. Eu consigo muito bem me satisfazer em uma transa “normal”. Mas eu
falo que é diferente, pela forma como tudo aconteceu. A forma como eu estranhamente
consegui me controlar e não ser rude e grosseiro com ela, como eu sempre fui em toda a
minha vida.
Eu queria que fosse algo especial pra ela. Eu queria que ela fizesse dessa noite a sua
primeira vez. Que ela, pelo menos por um momento, esquecesse-se tudo o que ela viveu
no passado, tudo que aquele filho da puta fez com ela. E só queria que ela se recordasse
desta noite.
Da nossa noite.
E com toda certeza do mundo essa noite foi bem especial pra mim. Não foi uma transa
qualquer. Tinha algo que nunca teve nas outras tantas. Tinha paixão. Tinha carinho. Tinha
sentimento. E eu não sabia que desse jeito era tão bom.
Estou parecendo até um boiola pensando desse jeito. Mas é que realmente tudo isso que
aconteceu hoje aqui, é novo pra mim. E eu gostei disso, gostei muito.
Sinto o meu pau endurecer novamente dentro dela e ela rapidamente retira seu rosto do
meu pescoço e me olha acanhada. Tomo sua boca na minha e ela se mexe um pouco no
meu colo. Um gemido contido sai de minha boca e no mesmo instante, posso senti-la
apertando-me dentro dela, novamente… E porra! Isso é muito bom.
- Que tal um banho? – digo distribuindo beijos em seu pescoço.
Ela faz movimentos lentos e torturantes. Subindo e descendo em cima do meu pau.
- Uhuum. – apenas geme e acena com a cabeça.
Levanto-me da cama, ainda com ela no meu colo, e vou para o banheiro. Coloco-a sentada
em cima da bancada da pia, dou duas leves estocadas e me retiro de dentro dela. Tiro a
camisinha, que por incrível que pareça, não tinha estourado, jogando-a no lixo.
Vou até a enorme banheira e ligo as torneiras para enchê-la mais rápido. Jogo alguns sais
de banho dentro e me volto para a Sophia que esta exatamente onde eu a deixei. Ela esta
fazendo um coque em seus cachos, lindamente. Posso ver seu rosto ainda corado, seu
olhar é um pouquinho baixo.
Vou até ela e passo minhas mãos por sua cintura, colando nossos corpos e deposito um
beijo em seu pescoço. Eu amo fazer isso. Amo sentir o seu cheiro e amo mais ainda deixa-
la levemente marcada pelas mordidas que deixo ali.
- Está arrependida? – pergunto apenas para ter mais certeza de que não. Ela não está
arrependida.
Ela passa seus braços pelo meu pescoço juntando mais os nossos corpos e diz.
- Não. Eu não estou arrependida. Se eu tenho uma certeza nessa vida é que eu não estou e
nunca irei me arrepender de ter me entregue a você.
O meu ego foi até o céu e voltou.
Se fosse qualquer uma falando isso pra mim eu nem me importaria. Mas ela não. Ela é
diferente.
- Obrigada por ter feito a minha primeira vez a mais especial de todas.
Eu a entendo quando ela diz “primeira vez” mesmo já tendo um filho. Aquela vez não
valeu pra ela. Foi algo sujo. Forçado. Não pode ser considerado de fato como uma
primeira vez.
Para o homem, a primeira transa é normal. Basta aparecer uma menina que nos deixe com
tesão e pronto. Acontece. Mas com as mulheres, não. É diferente. Para elas, ou pelo menos
para a maioria delas, têm que haver sentimento e ser com uma pessoa especial. E a Sophia
não teve isso. A chance de escolher quem seria o seu primeiro, foi tirada dela.
- Também foi muito especial pra mim. Acredite. – deixo um beijo no seu pescoço. – Mas
ainda não acabou.
Deixo um beijo rápido nos seus lábios e vou até a banheira desligando as torneiras. Volto
para onde a Sophia está, pego-a pela cintura descendo-a da bancada. Nós fomos até a
banheira, eu entro primeiro e logo depois ela vem, sentando-se na minha frente. Minhas
mãos começam a tocar lentamente, mas com precisão, todas as partes de seu corpo,
enquanto beijos e mordidas são distribuídos por seu pescoço. Ela deixa sua cabeça tombar
no meu ombro dando-me ainda mais acesso para fazer o que tanto amo. Uma de minhas
mãos estão apalpando o seu seio e outra o seu clitóris.
- Rodrigo… – ela geme o meu nome e isso faz com que o meu pau pulse.
Eu aperto seus seios lentamente. Bem lentamente, quase não fazendo contato nenhum.
Quando eu sinto que ela está prestes a gozar, acelero um pouco os movimentos em seu
clitóris. Ela leva sua mão e coloca sobre a minha que esta em seu seio, apertando-a com
força. O que me faz soltar uma risada.
Posiciono minha boca próxima ao seu ouvido e digo baixinho.
- Você gosta assim? Gosta quando eu aperto o seu seio desse jeito? – deixo uma mordida
no lóbulo se sua orelha e apertou com força o seu seio fazendo com que um gemido tímido
saia de sua boca.
- Go-gosto. – sua respiração está acelerada, ela esmaga minha mão entre suas pernas
tamanha é o prazer. Resolvo acabar com sua agonia e aumento mais a velocidade da
minha mão em sua intimidade.
Quando ela prende mais as suas pernas e um gemido alto sai de sua boca, eu sei que ela
gozou.
Assim que sua respiração está mais regular, ela se vira, coloca suas pernas de cada lado do
meu corpo e me beija. Levo minha mão até o meu pau extremamente duro e coloco perto
de sua entrada. Sem desgrudar os nossos lábios, ela desce…. E porra! Eu já disse o quanto
é bom ter o meu pau dentro dela? O quão quente e apertada ela é? Ela é deliciosa demais.
A Sophia começou a fezes os movimentos de subir e descer de vagar e depois foi
aumentando cada vez mais…
Depois que gozamos intensamente, nós realmente tomamos um banho de verdade.
A Sophia saiu da banheira, pegou uma toalha e se enrolou nela. Eu fiz o mesmo e saímos
do banheiro.
- Estou morrendo de fome. – digo depois de minha barriga ter roncado.
- Eu também. – diz com aquele sorriso lindo estampado no rosto. – Vou ao meu quarto
colocar uma roupa e te espero na cozinha para jantar.
- Tudo bem.
Ela vai até os pés da cama, pega a suas roupas jogada ali e antes que ela saia do quarto eu
a pego pela cintura e beijo-a novamente. Quando nos separamos, eu enfim deixei-a sair,
ainda enrolada na toalha e eu fui para o closet colocar uma roupa.
Eu tenho que arrumar um emprego pra ela como eu prometi. Não que eu não goste de tê-la
aqui em casa. Muito pelo contrario. Mas é que é estranho eu ter que pagar a minha
namorada para cuidar da minha casa. Eu não me sinto bem com isso. Eu queria que ela
viesse pra cá morar comigo. Ela e o Gus… É claro. Eu amo aquele garoto e não vejo
problema nenhum em tê-lo aqui comigo. Se fosse preciso até a dona Marta poderia vir se
ela quisesse. Eu só quero e preciso da Sophia perto de mim. Por dois motivos. Primeiro
que eu já esqueci-me completamente como é viver sem a ela. O que é uma porra do
caralho, porque eu vivia muito bem sem sua presença. Até ela aparecer na minha vida…
Mas agora… Eu estou tão ridiculamente dependente dela. Querendo tê-la sempre por
perto. E o segundo motivo pelo qual a quero perto de mim é que aqui seria mais segura pra
ela e para o Gus. Não que aquele apartamento não seja, mas esse condomínio é muito mais
seguro. Sem falar que o DG não descobriria do paradeiro deles aqui, e mesmo se
descobrisse, ele não seria doido de invadir a minha casa. Hum! Aquele maluco, filho da
puta está solto por ai e meu faro diz que ele não vai deixar os dois em paz. E no meu faro
eu confio, pois ele já me ajudou pra caralho.
Se ele soubesse da vontade que eu tenho de mata-lo, ele já teria arrumado um jeito de se
mandar até do país. Outra coisa que seria impossível pra caralho pra ele…
Coloco uma boxer, uma bermuda e uma camiseta preta e desço. Não me dou ao trabalho
de “arrumar” o quarto e deixo-o do mesmo jeito que está. Já, já voltaremos pra essa cama.
Chego à cozinha e a Sophia está tirando os pratos do micro-ondas, colocando-os em cima
da mesa.
- Eu sei que você não gosta muito de comida requentada no micro-ondas, mas é que está
fresquinha, eu fiz tem pouco tempo. Eu só dei uma esquentadinha porque ninguém merece
comer comida fria, ainda mais quando tem queijo nela.
- Tudo bem, Sophia, sua comida é deliciosa de qualquer jeito. – digo sentando-me à mesa.
Ela pára de abrir a geladeira e me olha espantada.
- Espera aí. Você disse que minha comida é deliciosa? É isso mesmo? Rodrigo
Albuquerque elogiando a minha comida?
Ela diz divertida, mas posso ver verdade nesta brincadeira. Solto uma risada e levo minha
mão à cabeça coçando-a.
Porra! Está vendo o que ela faz?
- Sophia, mesmo não te falando isso, você sabe que eu amo sua comida.
- Meu Deus! O que está acontecendo aqui? O que fizeram com o Delegado ogro, mandão
e mal humorado pra quem eu trabalho?
Sorrio com de suas palavras.
- Foi domado por uma morena linda. – me levanto e vou até ela abraçando-a. – Mas não
deixe ninguém saber disso.
Ela passa os seus braços pelo meu pescoço e diz olhando nos meus olhos.
- Pode deixar. Eu não irei estragar a sua reputação de Delegado ogro, mal humorado.
- Acho bom mesmo. – deixo um beijo rápido em sua boca, solto-a e volto a sentar-me à
mesa.
Ela pega o suco dentro da geladeira, coloca sobre a mesa e se senta ao meu lado.
Eu nunca pensei que um dia eu me sentiria tão bem ao lado de uma mulher, como eu me
sinto ao lado da Sophia. Ela disse a alguns dias atrás que não temos nada a ver um com o
outro. E realmente, nós não temos. Somos completamente diferentes. Mas eu acho que foi
exatamente por isso que eu me apaixonei por ela. Foi por essa simplicidade e carisma. A
Sophia mesmo machucada pela vida, nunca deixou o sorriso de lado.
Porra! Olha eu aí novamente pensando igual um boiola.
Que porra! Olha o jeito que eu fico. O jeito que eu penso quando estou perto dessa mulher.
Ninguém pode me ver agindo desse jeito. Ninguém mesmo!
Terminamos de comer e colocamos a louça na e pia ela veio se despedir de mim.
- Boa noite. – diz depois de desgrudar as nossas bocas.
Ela já ia saindo quando eu puxo-a para perto de mim, novamente.
- Onde você pensa que vai?
- Dormir. Amanhã eu tenho que estar de pé cedo pra fazer o seu café da manhã.
- Ok. Mas aonde você pensa que vai?
- Está surdo Rodrigo? Dormir. No meu quarto. – falou parecendo meio óbvio.
- Sim eu entendi a parte do dormir. Mas você não vai dormir no seu quarto e sim no meu.
- Sério? – diz e levanta uma sobrancelha e me olha parecendo não acreditar.
Ela não achou que depois de tudo o que fizemos no meu quarto, eu a deixaria dormir
sozinha aqui em baixo, né?
- Muito sério. A partir de hoje eu te quero na minha cama todas as noites. Quero você
dormindo do meu lado, sempre.
Ela deixa um sorriso bobo escapar e eu a puxo em direção as escadas.
- Espera Rodrigo. Eu tenho que escovar os dentes.
- Tem escova no meu armário. – pego-a pela mão e começo a puxá-la, não dando tempo
para que ela tente fugir de mim.
Quando chegamos ao quarto, ela foi direto para o banheiro e pegou uma das escovas de
dente, nova, que tinha ali. Esperei que ela saísse, entrei no banheiro e fiz as minhas
higienes. Quando voltei ao quarto ela estava arrumando os travesseiros e a coberta para
deitarmos.
Assim que me deito na cama, ela faz o mesmo deitando-se ao meu lado. Eu puxo-a para o
meu peito e passo os meus braços por sua cintura, ela me dá um beijo demorado e encosta
sua cabeça em meu peito novamente, envolvendo seus braços no meu corpo. Apago a luz
dos abajures e deixo o sono me vencer.
Com toda a certeza do mundo, eu tive a melhor noite de todas… Com a melhor mulher.

[…]



13° CAPÍTULO

Sophia
Acordo com beijos sendo distribuídos pelo meu pescoço e mãos fortes segurando-me pela
cintura. Quando finalmente consigo abrir os meus olhos, me viro e vejo o Rodrigo atrás de
mim, sorrindo. Sem pensar muito ele me rouba um selinho demorado e depois volta a me
apertar em seus braços.
- Bom dia. – ele diz.
- Bom dia… Que horas são? – digo tentando me soltar dos seus braços para ver as horas
no relógio, do outro lado do criado mudo. Mas ele não deixa.
- Huuum… – ele se vira para o lado e olha no relógio. – 07h30min.
- O QUÊ!! – me solto dele rapidamente, levanto-me da cama e corro até o banheiro. –
Meu Deus! Eu dormi demais. E você está mais que atrasado para o trabalho. Caramba! Eu
tenho que preparar o seu café da manha e…
- Calma. – ele diz chegando no banheiro e me abraçando por trás.
- Calma nada, Rodrigo. O que você está fazendo assim, desse jeito ainda? Vai se arrumar
enquanto eu preparo o seu café. – eu ia sair do banheiro, mas ele me puxou de volta.
- Sophia, calma. Eu não vou para a delegacia hoje. – diz sorrindo.
- Ah não? – digo agora ficando mais tranquila.
- Não. Hoje é o meu dia de folga. Depois da operação de ontem, eu mereço.
- Aquela que você falou do deputado e de não sei mais o quê?
Ele solta um sorriso e responde.
- Sim. – ele me solta, pega sua escova de dente e eu faço o mesmo. – Foram meses de
investigações incansáveis. Dias sem dormir. Muita dor de cabeça. Mereço pelo menos um
dia de folga depois disso.
Ele começa a escovar os seus dentes e eu faço o mesmo.
Assim que terminamos ele diz.
- Ainda bem que eu já acabei com essa investigação. Está tudo resolvido. Agora eu vou
poder me dedicar totalmente ao seu caso.
- Espero que vocês consigam prendê-lo o quanto antes. Não aguento mais viver nessa
insegurança e sempre com medo.
- Cadeia vai ser muito pouco pra ele, Sophia. – ele diz seco e sai do banheiro deixando-me
sozinha.
Eu não deveria mais tocar nesse assunto. Eu não me importo com o que vai acontecer com
o DG quando o Rodrigo encontra-lo. Eu nunca fui de desejar o mau para as pessoas. Mas
eu realmente ficaria muito mais tranquilo a partir do momento em que eu visse o DG
morto e bem longe de mim e do meu filho. Só não quero que o Rodrigo faça nada que o
comprometa depois. Droga!
Coloco a escova no lugar, saio do banheiro e encontro o Rodrigo saindo do closet com
uma bermuda de malhar e sem camisa. Ele já ia saindo do quarto quando eu o chamei
novamente.
- Ei! Onde você pensa que vai?
Essa é a hora de fazer o que eu sempre tive vontade de fazer.
- Malhar.
- E essa cama vai ficar assim?
Ele olha para a cama e depois olha pra mim, leva sua mão a cabeça e começa a coça-la.
Eu juro que estou me segurando para não rir.
- E o que você quer que eu faça?
- Arrume-a.
- Eu não. – diz e enruga a testa. Sua expressão é de indignação. Como assim ele está
indignado? É obrigação dele arrumar a própria cama.
- Aah! Você sim. Pode vindo. Está mais do que na hora do Senhor aprender a fazer sua
cama.
- Ah fala sério. Eu nunca arrumei minha cama em toda a minha vida. – ele está
inconformado, sua cara estava fechada e a raiva é notória.
- Vem cá. – digo cruzando os braços. – Quem arruma a sua cama nos finais de semana?
- Ninguém. – ele diz simples. Mas a raiva ainda estava presente. Ele sabe que eu não vou
deixa-lo em paz, enquanto ele não arrumasse essa cama.
Eu poderia muito bem fazer isso sem problema nenhum, até porque esse é o meu trabalho.
Mas eu vou aproveitar que ela está um pouco relaxado, digamos assim, e vou ver se ele
realmente vai fazer o que eu estou mandando.
- Como assim ninguém? – digo rindo.
- Sophia eu simplesmente não arrumo a minha cama. Eu deixo-a bagunçada até você
chegar segunda-feira e arrumar. – diz sem paciência.
- Meu Deus do céu eu não estou acreditando nisso. Que homem preguiçoso. Mas hoje isso
vai mudar.
Vou até a porta onde ele está parado e puxo-o para perto da cama.
- Você vai arrumar ela direitinho, tá meu querido. É bem simples e você deveria saber
arruma-la como ninguém, já que gosta tanto do jeito que ela fica quando está arrumada. –
digo e viro as costas para sair.
- Sophia, eu não vou…
- Te espero na cozinha para o café da manhã… Não demore.
Antes de eu sair do quarto, escuto-o dizer.
- Eu devo ser a porra de um babaca, por estar cumprindo ordens dessa mulher. Caralho! –
sua voz está carregada de ódio. O que me fez rir mais alto ainda.
E eu não pude deixar de alfinetar mais.
- Olha a boca suja, Delegado.
- Não fode mais ainda, Sophia.
Saio rindo, desço as escadas e vou para a cozinha. Lavo a pequena louça de ontem e
alguns minutos depois o Rodrigo chega na cozinha com uma tromba do tamanho do
mundo. Não consigo segurar o riso.
- Brigou muito com os lençóis?
Ele me dá um olhar mortal, que se fosse á alguns meses atrás, eu até sentiria medo, mas
hoje nem me atinge mais.
- Eu nunca arrumei uma cama na vida. – diz inconformado.
Vou até a cafeteira e pego o café, colocando-o em cima da mesa junto com as outras coisas
que já estavam dispostas.
- Pra tudo tem uma primeira vez na vida, amor. – digo sem pensar e imediatamente paro
de sorrir, sentindo o meu rosto esquentar.
O semblante do Rodrigo muda completamente.
- Do quê você me chamou?
- Na-nada. – digo rápido e me viro indo até a geladeira para pegar a geleia.
Quando eu me viro ele está em pé atrás de mim com aquele sorriso “Molha calcinha”… A
minha calcinha.
- Repete. – isso foi uma ordem.
- Esquece Rodrigo…
- Repete. – ele diz passando as mãos pela minha cintura juntando os nossos corpos.
Ele cola a sua boca na minha em um beijo quente e sedento. Suas mãos apertam com força
minha cintura e sua língua possui com maestria a minha.
Esquece o sorriso “Molha Calcinha”. Ele perde completamente para esse beijo
maravilhoso.
- Amor. – digo assim que nossas bocas se separaram.
Ele dá aquele sorriso novamente e me beija novamente.
- Você é a única pessoa que consegue me deixar com raiva e feliz em uma mínima
diferença de tempo.
- Isso é bom? – pergunto com um sorriso idiota no rosto.
- Não quando eu quero te matar por me dar ordens.
Solto uma gargalhada e ele me olha feio.
- Para de drama. Você só arrumou uma cama. Imagina se arrumasse a casa inteira,
sozinho.
- Olha! Nem vem em. – ele se afasta olhando-me assustado.
- Vamos comer logo. – digo me acabando de rir com a sua expressão.
- Huum… Eu tenho que arrumar outro emprego pra você urgentemente.
Sentamo-nos a mesa e começamos a tomar o café da manhã. Quando terminamos, eu fui
arrumar a mesa e ele se levantou para ir malhar.
- Sophia, que tal a gente trazer o Gus aqui, hoje?
- Pra quê?
- Ah pra ele ficar aqui com a gente. Você mesma diz que sente falta dele… E… Eu posso
dizer que também já estou.
É inevitável não sorrir com isso. Por mais que eu não queira que ele se sinta responsável
pelo Gustavo, é bom saber que ele gosta do meu filho e tem vontade de tê-lo por perto.
- Mas eu tenho coisas a fazer, Rodrigo, e ele não para. – tudo bem que o que eu tenho para
fazer hoje são coisas rápidas, que não tomam muito do meu tempo.
- Eu olho ele pra você. A gente fica na piscina, está calor. Por mais que tenha piscina no
apartamento eu sei que sua mãe não vai conseguir ficar com ele lá.
- Realmente não.
- Então? – ele passa os braços pela minha cintura, aproximando-me dele e pergunta. –
Posso ir lá busca-lo?
- Tá! Pode.
Ele deixa me dá um beijo e se solta.
- Vou malhar primeiro e depois eu vou. Liga para a sua mãe, avisando.
- Tudo bem.
Ele sai da cozinha e vai para a academia do outro lado do quintal. Eu ligo para a minha
mãe e aviso que o Rodrigo irá buscar o Gustavo daqui a pouco e que ela deveria arrumar
uma pequena bolsa com as roupas dele.
Vou ao meu quarto, retiro a minha roupa de dormir e também deixo o uniforme de lado,
colocando uma bermudinha jeans e uma regata preta.
Saio do quarto e volto para a cozinha, arrumo-a e vou fazer tudo que está programado para
o dia de hoje. Como eu disse. Nessa casa tudo tem o dia certo de ser executado. O que eu
acho muito bom, pois facilitava muito a minha vida. Eu não fico sobrecarregada com
várias coisas para fazer em um dia.
Subo para o quarto do Rodrigo e… Está vendo como ele sabe sim fazer uma cama! Ele só
é preguiçoso e mandão.
Vou para o banheiro, arrumo-o e pego as roupas sujas. O mesmo eu faço com o closet.
Levo todas as roupas para a lavanderia e coloco na maquina, junto com as outras tantas
roupas sujas que tinha ali para lavar.
Agora é só esperar acabar, estender e passar.
Volto para a cozinha e penso no que posso fazer de almoço, hoje. Escolho o que eu vou
fazer e deixo os ingredientes já preparados. Enquanto não tem nada mais para fazer, volto
para o meu quarto. Eu disse que hoje havia pouca coisa a ser feita. Agora é esperar as
roupas ficarem limpas e secas para passá-las. Enquanto isso, resolvo arrumar a minha
bagunça.
Estando sozinha agora é inevitável não pensar na noite de ontem. Foi maravilhoso. A
forma como ele me tratou, como ele me fez esquecer completamente de tudo e apenas me
entregar a ele de corpo e alma. Eu nunca pensei que sexo seria tão bom, tão gostoso. Até
porque a única experiência que eu tive, até ontem, foi horrível. Então pra mim sexo seria
sempre dor e lágrimas. Mas o Rodrigo me mostrou que não é assim. Ele me mostrou que
posso sim sentir prazer… E que prazer.
Eu pensei que ficaria com vergonha, mas surpreendentemente eu me soltei mais do que eu
imaginei. Ele deixou até que eu comandasse na banheira e…
Droga! A banheira.
Caramba! Eu não me lembro dele ter usado camisinha.
Que merda! Não! Ele realmente não usou. Meu Deus! Eu não posso e não quero
engravidar de novo. Um filho só já basta. A minha vida já está uma bagunça. Eu mal
consigo me sustentar com um filho, imagina com dois. Não! Não mesmo. Mas eu também
não sei o que fazer agora… Eu… Droga!
Eu não tomo nenhum anticoncepcional. Até porque eu não tinha pretensão nenhuma de
deixar algum outro homem me tocar, novamente desse jeito. Droga! Arrependo-me
amargamente por isso. Eu vou ter que comprar uma pílula do dia seguinte. Esse é o único
jeito.
- Sophia, eu estou indo. – O Rodrigo entra no meu quarto já arrumado.
- Que cara é essa? Aconteceu alguma coisa? Você está pálida, Sophia.
- A camisinha.
- O que foi? – ele dá aquele sorriso safado. – Quer transar de novo? Não precisamos dela,
eu…
Ele passa as mãos pela minha cintura e eu o impeço.
- Eu não quero transar.
“Pelo menos não agora” – Balanço a minha cabeça de leve espantando esse pensamento, e
contínuo.
- Você não usou a camisinha ontem, Rodrigo.
- Usei sim. – ele diz franzindo a testa.
- Na banheira não.
- Porra é verdade… Mas com o que você está preocupada? Eu sou limpo e…
- Eu também sou, graças a Deus, Rodrigo. Mas é que eu não tomo nenhum
anticoncepcional. E eu não quero ter outro filho tão cedo.
Ele parece um pouco decepcionado e tira as suas mãos da minha cintura, afastando-se um
pouco.
- E por que não?
Eu olhei-o incrédula.
- Pelo amor de Deus, Rodrigo! Olha bem a loucura que está a minha vida. Você realmente
acha que mais uma criança seria bem vinda, agora? Eu posso mal com o Gustavo, imagina
mais um.
- Eu cuido de vocês.
- Não Rodrigo! – digo firme. – Eu não quero outro filho agora. E outra, nós começamos a
namorar não tem uma semana, eu não quero engravidar logo de cara. Não sei nem sei se
algum dia, eu vou querer ter outro filho.
- Você não quer ter um filho comigo, é isso? – ele tinha aquela postura imponente, mas eu
conseguia ver um pouco de tristeza em seus olhos. – É pelo fato de eu ser um…
- Rodrigo, por favor! Não é nada disso. – chego perto dele, mas ele se afasta. – Não faz
isso. Por favor!
- Já entendi. Você não quer ter um filho comigo.
- Rodrigo, não foi isso que eu quis dizer. Eu me expressei mal e você está sendo infantil
agindo desse jeito.
- Eu vou ir buscar o Gustavo e passo numa farmácia e trago uma pílula pra você. – ele diz
com a cara fechada e sai deixando-me sozinha.
Que droga! Ele está agindo feito um menino birrento de 12 anos de idade. Nunca pensei
que um homem daquele tamanho poderia agir de uma forma tão imatura assim. Eu me
expressei mal com minhas palavras, eu sei. Mas ele também não quis me dar ouvido. Era
pra eu ter ficado quieta e ter comprado essa pílula sozinha, sem avisá-lo.
Termino de arrumar o meu quarto e vou para a sala, esperando eles chegarem.O relógio
marcava 10h40min quando o Rodrigo chegou na sala com o Gustavo no colo. Ele tinha
um sorriso no rosto olhando para o Gustavo, que conversava animadamente com ele. Pude
ver em suas mãos, uma sacola de farmácia e na outra a bolsa do Gustavo. Ele me olha e
sua expressão agora é séria. O Gustavo percebe a minha presença e começa a pular
animado no colo do Rodrigo.
- Mamãe, mamãe.
- Oi meu filho. – eu vou até ele para pega-lo no meu colo, mas ele passa um braço pelo
meu pescoço me puxando para um abraço. O meu rosto ficou encostado no peito no
Rodrigo e eu aproveito a ajudinha que o Gustavo deu e passo os meus braços pelo corpo
dos dois, abraçando-os não me importando com o Rodrigo, que pela sua cara fechada,
ainda estava puto comigo. Deixo um beijo no Gustavo e me solto.
- Papai piscina, mamãe. – ele diz eufórico batendo as mãozinhas.
O incomodo em ouvir isso saindo de sua boca ainda não saia de dentro de mim. Porém, eu
resolvi seguir o conselho do Rodrigo e não ligar para o que as pessoas possivelmente iriam
dizer. Mas isso não significa que eu aceitei completamente essa história. Porque não. A
única que ainda tem a total responsabilidade e obrigação sobre o Gustavo, sou eu.
- É meu filho, que legal. Está calor, né?
- É calor. – ele diz e eu sorrio.
O Rodrigo coloca o Gustavo no chão e me entrega a sacolinha da farmácia.
- Toma. Essa você pode tomar até 48 horas depois da relação. – diz ainda sério.
Não me dá chances de responder e vai até o Gustavo, que brincava com os enfeites da
mesinha de centro da sala. Pelo o que eu o conheço é melhor deixa-lo por um tempo.
Depois eu tento conversar com ele novamente.
- Vamos colocar a frale eu mda de piscina, Gus? – ele diz pegando-o no colo e ele vibra.
Ele sobe com o Gus e eu vou para a cozinha tomar essa bendita dessa pílula. Eu sei que
ela não é 100% segura, mas agora é tomar e orar pra não engravidar.
Resolvi já começar a fazer o almoço, pois já são quase 11h00min. Alguns minutos depois,
ouço os dois descerem a escada, sorrindo. O Rodrigo leva ele vai para a piscina, mas não
passa pela cozinha…
Já estava tudo pronto, inclusive a papinha do Gustavo. O relógio já marca 12h00min e
pela hora, eles com certeza já estavam com fome. Arrumo a mesa e vou até a piscina
chama-los. Encontro o Rodrigo segurando o Gustavo em seus braços fazendo-o boiar na
água. O meu filho achava muita graça naquilo, pois não parava de rir um minuto sequer e
o Rodrigo também. Assim que o Rodrigo me vê, ele levanta o Gustavo levando-o para
perto do seu corpo abraçando-o. E a sua expressão pra mim é a mesma de anteriormente.
- Mamãe, vem piscina.
- Depois meu amor. Agora está na hora de comer. Vem!
- Não mamãe. – ele faz bico e como eu conheço bem, ele vai fazer manha para não sair da
piscina.
- Vamos comer Gus. Depois a mamãe vem na piscina com a gente. Tudo bem?
Ele olha para o Rodrigo e acena.
Meu Deus, como ele consegue fazer isso? Eu jurava que eu ia ter uma briga e tanto para
tirá-lo da piscina.
O Rodrigo sai com ele da piscina e… meu Deus. Esse homem não pode andar desse jeito
por ai não, minha gente. Esse corpo maravilhoso “coberto” apenas por uma sunga preta.
Isso é de deixar qualquer uma fora de controle.
Ele passa por mim, pega a toalha que estava na espreguiçadeira e começa a secar o
Gustavo.
- Deixa que eu troco a fralda dele. – digo esticando os meus braços.
Ele passa o Gus para mim e eu vou em direção a casa e no meio do caminho, ouço sua voz
me avisando.
- As coisas dele estão no meu quarto.
Aceno e continuo andando.
Retirar a fralda molhada e tomo a liberdade de dar um banho rápido nele, no banheiro do
Rodrigo. Acho que ele não vai se importar. Enrolou na toalha, chego ao quarto e vejo o
Rodrigo já vestido com uma bermuda, sem camisa e esfregando uma toalha em seus
cabelos para secá-los. Ele adora ficar sem camisa quando está em casa. Isso é pra ferrar
com o meu psicológico. Depois me perguntam o porquê eu ficava o encarando tanto.
Coloco o Gus na cama e o visto.
Descemos e sentamos a mesa. Esse foi o pior momento de todos, ficou um clima tenso
entre nós, que era quebrado apenas quando o Gus falava algo com o Rodrigo. Eu não
queria falar nada com ele agora por causa do Gus. Mas quando estivermos a sós, nós
vamos ter uma conversa. Ah se vamos.
Dei a comida ao Gus que se dividia em dar atenção a comida e ao Rodrigo, que brincava
com ele o tempo todo.
Assim que terminamos, como sempre, ele dormiu.
- Coloque-o na minha cama.
- Vou colocar no meu quarto que é melhor. Consigo ouvir caso ele chore.
Vou para o quarto, ajeito o Gustavo na minha cama e coloco alguns travesseiros em volta
para que ele não caia. Volto para a cozinha para arrumá-la e o Rodrigo continua no mesmo
lugar, sentado à mesa. Sento-me ao seu lado.
- Sério que a gente vai ficar desse jeito, Rodrigo? – pergunto séria e ele me olha. Ainda
está com aquela mesma postura imponente de sempre.
Às vezes isso me excita, outra me irrita. Como agora.
- Desculpa. – ele diz bem baixo.
É um filho da mãe mesmo. Nem pra pedir desculpa ele larga esse jeito dele.
- O quê? – pergunto fingindo não ter ouvido.
- Desculpa. Eu realmente agi de uma forma infantil. – agora ele diz mais alto, se impondo
mais. Mas continua com a mesma postura. – Eu só quero saber o porquê de você não
querer ter um filho comigo?
Respiro bem fundo e fecho os olhos, logo em seguida os abrindo novamente.
- Não é que eu não queira ter um filho com você, Rodrigo. Eu me expressei mal. É só que
a minha vida está uma bagunça e você mais do que ninguém sabe disso… E pode parecer
que não, mas eu tenho sonhos, sonhos esses que eu não sei se um dia conseguirei realiza-
los, pelo fato de eu já ter uma prioridade na minha vida e ele é o meu filho. Por ele eu
coloquei todas as minhas vontades em segundo plano, mas isso não significa que eu desisti
completamente. E poxa, vindo mais um filho agora só vai atrapalhar mais ainda. Não que
eu não fosse ama-lo por conta disso, logico que eu amaria, assim como amo o Gus, mas
não viria em uma boa hora. Eu não quero ter outro filho por acidente. Se for pra eu
engravidar de novo. Se for pra nós dois termos um filho algum dia, eu quero que ela seja
no mínimo bem planejado e no momento certo. Não sem pensar. Tudo bem que pode
acontecer, vai haver dias que vamos esquecer e é logico que se acontecer eu não vou tirar.
Mas eu vou fazer o possível pra evitar uma gravidez agora, nesse momento da minha vida.
Tenta me entender, por favor.
- Me desculpa Sophia, eu só pensei na minha vontade de formar uma família com você e
não me importei em saber como você se sentia em relação a isso.
Abro um sorriso ao ouvir isso sair de sua boca.
Ele quer formar uma família comigo…
- Eu agi feito uma criança, estou bastante envergonhado.
- Tudo bem. – digo me sentando em seu colo, passo minhas mãos pelo seu pescoço e ele
suas mãos pela minha cintura. – Pra não ocorrer mais esse problema, eu vou procurar um
medico e passar a tomar remédio certinho. Ok?
- Porra nenhuma. Você vai procurar uma médica. Nada de homem não.
- Meu Deus. – solto uma gargalhada alto. – Sério que você é ciumento?
Digo mais para provocá-lo, pois eu realmente iria procurar uma médica mulher.
Médico é só uma maneira de falar, em geral.
- Claro que não. Eu só não vou deixar outro homem tocar no que é meu.
Ele me beija me calando. E me leva para o seu quarto. Sim. Transamos de novo, posso
dizer que foi ainda melhor que ontem. Ele estava mais bruto. E meu Deus. Desse jeito foi
ainda melhor, mas não foi bruto ao ponto de me machucar. Não. Pois a sua brutalidade
tinha uma pitada de carinho. É difícil de explicar, mas o seu jeito meio bruto de ser, me
passa mais segurança em seus braços. Eu me sento única. Agora eu entendo o porquê as
pessoas falam que o bom da briga é a reconciliação.
Realmente é muito boa. É ótima.

[…]


14° CAPÍTULO

Diogo ( DG )
Três anos… Três anos preso naquele inferno de lugar. Três anos longe da minha mulher.
Sim, minha.
A Sophia é minha e de mais ninguém. Ela é e sempre foi. Eu fui o primeiro homem em sua
vida eu sou o pai do filho dela.
Ela não sabe, mas todos esses anos que passei longe, eu nunca deixei de saber um passo
sequer que ela dava. Eu tinha os meus homens sempre por perto, seja lá onde quer que ela
fosse.
Quando eu fiquei sabendo que ela estava grávida, eu não tive dúvidas, sabia que era meu
filho. Eu fui o único homem na vida dela e eu sabia que era meu, pelo simples fato de eu
ter feito isso propositalmente. Eu não usei a camisinha com a intenção de engravidá-la e
tê-la pra sempre ao meu lado.
Eu sempre fui louco na Sophia. Ela era diferente. Era a única mulher do morro que não
dava a mínima pra mim e para o meu poder. E isso me excitava, me fazia querer ela pra
mim, sempre mais. Todas as outras putas do morro faziam questão que eu as notassem.
Muitas vezes elas brigavam para ver quem conseguiria ir pra minha cama naquela noite.
Elas me queriam por vários motivos: pela minha beleza; pelo meu poder; pelo o que eu
proporcionaria a elas não só na cama, mas também fora dela caso eu as escolhessem com
minhas putas fixas. E isso enchia os olhos delas. Menos os da Sophia. Ela não era assim.
Ela era completamente diferente. Eu sempre a via descendo o morro bem cedo, antes
mesmo de o sol estar posto, para estudar.
Eu sempre achei essa porra de estudos uma perda de tempo. Eu estudei até os meus 16
anos, foi quando o meu pai, o antigo dono da Rocinha, começou a ter problemas com a
saúde e eu fui obrigado a largar a escola, mesmo contra a vontade de minha mãe que pra
falar a verdade, naquela época a sua vontade não valia de nada. O que meu pai dizia
dentro da favela era lei, assim também valia para dentro de casa. E se ela ou qualquer um
ousasse discordar dele sofreria com as consequências. Aquilo não me abalava nem um
pouco. O meu pai sempre me disse que as mulheres tinham que ser tratadas daquela
forma. Que elas nos deviam obediência sempre. Então eu não me espantava quando o via
batendo em minha mãe. Se ele fazia aquilo é porque, com certeza, ela estava merecendo.
Fiquei junto ao meu pai cuidando dos assuntos da favela. Naquela altura do campeonato,
eu com 17 anos, já participava de invasões e era praticamente um sub dono do morro. O
meu pai a cada dia mais piorava ainda a sua saúde e eu já sabia que o velho não iria durar
muito tempo. Pouco tempo depois de eu ter completado os meus 18 anos, ele morreu e
com isso, eu fiquei com comando da favela nas mãos. Não foi fácil eu me impor, não foi
fácil para as pessoas me respeitarem. Afinal, eu só tinha 18 anos e já era dono de uma
favela do tamanho da rocinha, nem mesmo os caras que trabalhavam comigo não
colocavam muita fé em mim. Tentavam invadir várias vezes, tanto a policia, quanto as
facções rivais, na esperança de que, com a morte do meu pai e com um “garoto” no
comando do morro, eles conseguiriam. Mas eu calei a boca de todo mundo. Eu consegui
impor respeito em muito pouco tempo. E toda a favela viu que comigo não se brinca.
Com um tempo eu acabei ficando mais frio. Esse contato mais intenso, digamos assim,
com o crime, me transformou completamente. Não demorou muito e a minha mãe também
se foi. E ai só restou eu e a Isabela, mas ao contrário de mim, ela não tem nenhum contato
direto com o tráfico.
Eu lembro como se fosse hoje a primeira vez que eu notei a Sophia e ela me enfeitiçou
com a sua ingenuidade e beleza. Eu tinha 25 anos, até então eu nunca tinha reparado nela.
Eu estava descendo da boca e passei em frente a sua casa, era de manha bem cedo, no
horário que ela costumava ir para a escola. Ela estava linda com aquele uniforme da
escola: uma saia azul rodada, uma blusa branca de botões com o brasão da escola bordado
no peito, uma sapatilha preta e a sua meia que ia até a sua panturrilha. O seu uniforme me
deixava louco e excitado. Neste dia, assim que ela viu parado, encarando o seu corpo e
imaginando como eu a teria para mim, eu pude ver medo em seus olhos. E isso me deixou
louco. Me deixou ainda mais excitado e com vontade de fazê-la minha.
Depois daquele dia, eu passava todos os dias e naquele mesmo horário em frente a sua
casa para vê-la. Eu oferecia carona a ela, mas ela sempre com medo, negava e saia
praticamente correndo de perto de mim. Mas algo dentro de mim me dizia que aquilo era
apenas vergonha e que ela também me desejava.
Eu tentei por incansáveis vezes ficar com ela. Mas nem um beijo ela me dava. Eu poderia
ameaça-la e tê-la pra mim, mas naquela época eu gostava daquela brincadeira de gato e
rato. Aquilo me excitava e eu imaginava que uma hora ela finalmente cederia. Fiquei
nessa durante dois anos. Até um dia que Deus colocou ela no meu caminho. E ela estava
muito gostosa com aquele vestidinho preto apertado e eu não resisti. Já estava tarde e ali
naquele canto estava deserto por conta do baile que ocorria na quadra. Não perdi tempo e
logo cheguei nela. Ela a principio desviou de mim. Mas eu já tinha dentro de mim a
certeza de que daquele dia não passava, ela seria minha de qualquer jeito. Eu já estava
cansado de jogar.
Ela lutou um pouco contra, mas pela primeira vez, ela finalmente aceitou minha carona.
Essa foi a deixa para o que eu queria. Não perdi mais tempo, a levei pra minha casa e fiz o
que eu tanto quis fazer todos aqueles anos. E para tê-la pra sempre ao meu lado, eu a
engravidei propositalmente. Depois que eu a tive uma vez, eu vi que não conseguiria mais
ficar longe. Até que eu fui preso. Eu nunca tinha sido preso em toda a minha vida porque
eu sempre fui esperto, eu nunca deixei eles chegarem tão perto assim para colorem as
mãos em mim. Mas daquela vez, naquele dia eu vacilei. Deixei uma das entradas da favela
sem proteção e eles chegaram até a mim por lá. Quando eu vi, já estava dentro da viatura
sendo levado para a cadeia. Mas agora eu voltei. Voltei para ter o que é meu de direito: a
Sophia e o meu filho. Todos esses anos que eu passei longe, não teve um dia que eu não
tramasse cada parte da minha fuga. Demorou. Mas chegou.
A primeira coisa que fiz quando consegui minha liberdade foi ver a minha morena. Tanto
tempo sem vê-la pessoalmente e eu já não aguentava mais toda a distância. Eu também
queria ver o meu filho. Eu recebia fotos deles, mas nada comparado a vê-los
pessoalmente.
Escondo-me em um beco e fico ali em frente a casa da Sophia. Não muito diferente de
alguns anos atrás, ela sai de casa bem cedo. Só que hoje, eu sei que é pra trabalhar. Os
soldados que eu colocava pra ficar atrás dela, me disseram que ela está trabalhando na
casa de um delegado federal. Admito que fiquei muito puto quando soube. Eu não queria
minha mulher à semana inteira dormindo na casa de um homem, imagina então ele sendo
um verme de um policial.
Quando eu percebo que ela me viu, eu rapidamente saio dali. Eu não queria que ela me
visse. Pelo menos não ainda. Acompanhei a ida do meu filho à creche, de longe é claro.
Ele estava tão grande e era a minha cara. Já consigo imagina-lo correndo pela favela
inteira e quando eu não puder mais, ele que vai comandar isso tudo aqui.
Na sexta feira à noite, estávamos muito bem na boca fazendo os preparativos do baile de
sábado, que seria a comemoração da minha volta. Estava tudo calmo, até ouvirmos uns
barulhos de tiro. Não pensei muito e peguei o meu fuzil que estava jogado em cima da
mesa e na mesma hora um dos vapores entram na sala correndo.
- Patrão, eles estão invadindo. – diz ofegante.
- Eles quem? – pergunto carregando o meu fuzil.
- Os policia. Eles descobriram que você fugiu e estão tentando invadir.
- Mas não vamos deixar não porra. Vamos mandar esses filhos das putas ralá. Temos mais
armamentos que eles. Vamos pra cima.
Digo saindo da sala. Já consigo ver os soldados descendo o morro correndo e metendo
bala nos policia.
- Ei DG! Não é melhor você se esconder em algum lugar não, mano? É muito perigoso, se
os cana te pegar de novo cê vai pra vala. – Diz o Marcelinho, o meu gerente.
- O caralho que eu vou me esconder, por acaso eu tenho cara de cuzão? Vamo enfrentar
eles, porra.
- Você que sabe. – diz e dá de ombros.
- Manda os caras ocuparem todas as entradas, até as da mata. Não podemos dar bobeira
igual da ultima vez.
- Falou chefe. – diz e sai correndo com o seu fuzil nas mãos.
Vou junto, mas com alguns soldados me cobrindo. Não arregramos em nenhum momento.
Metemos bala mesmo em cima desses vermes. Passamos a noite inteira nessa troca intensa
de tiro. No meio da noite sentimos eles recuarem um pouco, mas mesmo assim não
pararam e nós também não. Estávamos com um armamento mais forte e isso nos
favoreceu.
Logo pela manhã, quando eles viram que não recuaríamos e que eles estavam perdendo
bastantes homens, eles recuaram. Mas uma grande tropa continuou instalada na entrada da
favela.
Vou para a minha casa, tomo um banho e resolvo deitar um pouco. Tinha homens armados
até os dentes em volta da minha casa. Eu estava bem protegido ali e também sabia que os
policiais não tentariam subir novamente agora.
Acordo e já era de tarde. Depois dessa guerra eu acabei ficando preocupado com o meu
filho.
Chamo um dos homens que faziam a segurança da minha casa.
- Eu quero que você vá até a casa da Sophia e traga o Gustavo pra cá.
- Mas e a velha? Ela vai empatar.
- Da um jeito nela. Só não mata.
Ele acena e sai.
Vou para a cozinha comer alguma coisa e de repente o Marcelinho entra igual um furacão
pela sala.
- O que foi?
- Os soldados que estavam na entrada lateral da mata foram encontrados mortos.
- PORRA! COMO ASSIM?
- Eu não sei. Eu estava chamando eles no rádio pra ver se estava tudo nos conforme lá, só
que os caras não tava respondendo. Mandei uns homens irem lá ver o que tinha acontecido
e eles estavam caídos no chão os dois com um tiro na cabeça.
- QUE PORRA! ELES DEIXARAM OS CARAS ENTRAREM… – ando pela sala
tentando pensar. – Aumenta a segurança por aqui e em todas, todas as entradas… Eles não
podem me pegar, não vou voltar para aquele lugar.
O homem que eu mandei ir buscar o Gustavo entra sozinha na sala.
- Cadê o meu filho?
- Ele não estava lá, senhor.
- PORRA! COMO NÃO? EU VI A HORA QUE ELE CHEGOU ONTEM E AQUELA
VELHA NÃO SAI PRA LUGAR NENHUM.
- Eu não sei explicar, senhor. Mas nós envadiu a casa dela lá e não tinha ninguém.
Entramo nos quartos e não tinha nenhuma roupa nos armários. Passei o rádio para os
muleque que estavam por aquela área e ninguém viu eles saindo.
- PORRA! COMO NINGUEM VIU O MEU FILHO SAINDO, CARALHO? – paro um
tempo e penso.
Porra! Deve ser aquele filho da puta daquele delegado, caralho. Só assim pra ela conseguir
sair daqui com o meu filho sem que ninguém veja. Com certeza foi aquele filho da puta.
Eu sei que foi. E ainda matou dois dos meus homens.
- QUE PORRA! – digo jogando um vaso de vidro na parede.
- O que foi DG?
- Alguém tirou o meu filho daqui e mataram aqueles homens e eu só sei uma pessoa que
teria o interesse de tira eles daqui.
- Quem DG?
- A Sophia.
- Ela não ia matar dois homens. – diz o Marcelinho.
- Mas aquele delegado pra quem ela trabalha, sim.
- Porra e o que você quer fazer? O cara é delegado, cara e provavelmente já estão bem
longe daqui.
- NÃO INTERESSA, PORRA! É O MEU FILHO E MINHA MULHER. EU QUERO
ELES AQUI COMIGO… Você. – aponto para o homem que ainda continuava parado na
minha sala. – Chama o Flavinho aqui.
O Flavinho foi o cara que eu deixei responsável por me dizer cada passo que a Sophia
dava enquanto eu estava preso.
Não demorou muito e ele entrou na sala.
- Fala chefe.
- Eu quero que você volte a seguir a Sophia. Quero que descubra onde ela está agora.
- Mas o senhor tá ligado que ela tá trabalhando na casa de um delegado, não tá?
- Foda-se! Se vira, eu te pago não é atoa.
- Mas ela fica a semana inteira lá na casa dele e o condomínio é todo cheio de segurança…
- Eu não quero saber, porra. Dá o seu jeito. Nem que você tenha que dormir a semana
inteira na calçada em frente da porra aquele condomínio pra saber pra onde ela vai depois,
você vai ter que descobrir pra onde ela foi.
- Tudo bem chefe.
- Está esperando o quê? Vai logo porra.
Ele sai dali correndo e eu vou para o meu quarto. Eu vou descobrir onde ela está e vou
trazer ela e meu filho de volta pra favela, mas dessa vez é pra ficarem do meu lado e na
minha casa.
Eu vou trazer eles de volta pra mim. Ah eu vou!


[…]


15° CAPÍTULO
Sophia
Hoje eu estou indo para o meu novo emprego.
Sim, eu finalmente consegui arrumar um trabalho que não fosse com o Rodrigo, na
verdade foi o próprio que conseguiu esse emprego pra mim, assim como ele disse que
faria. Demorou um tempinho, pra ser mais precisa, um mês, até porque eu também não
queria deixa-lo sem empregada. Eu sei bem como ele fica irritado em ter que fazer as
coisas, então eu fiquei trabalhando para ele até que ele conseguisse achar uma nova
empregada pra ficar no meu lugar.
O trabalho que ele arranjou pra mim é em uma loja de grife em um shopping na barra
perto de sua casa, eu serei vendedora é claro. Mas o horário é super acessível caso eu
queira começar na minha faculdade no próximo ano, que é o que eu tenho em mente. Sem
falar também que o salário de lá é ótimo e se eu vender bem, no final do mês ainda ganho
uma comissão. É o emprego que eu pedi a Deus.
Eu perguntei ao Rodrigo como ele conseguiu esse emprego tão rápido assim e ele me disse
que a dona da loja é uma amiga antiga dele.
Uhuum amiga antiga. Ele acha que eu caí nessa. Aposto que deve ser uma das muitas que
ele já pegou por ai.Mas isso também não me importa mais, eu confio nele e não tenho
motivos para desconfianças.Mas mesmo assim é inevitável não sentir um ciumezinho em
pensar nas outras que ele já teve pela vida.Deixo esses pensamentos de lado, antes que eu
fique louca, e levanto-me da cama. Vou até o quarto do Gustavo, sim eu arrumei um
quarto pra ele. O Rodrigo insistiu que ele precisava de um quartinho só dele, pois ele já
estava ficando grandinho, e se eu não o tirasse de minha cama agora, seria difícil fazer
isso depois.Ele pensa que eu não sei que ele fez isso na intensão de dormir comigo às
vezes.Mesmo eu alegando que não precisava e que ficaríamos nesse apartamento por
pouco tempo, ele não me deu ouvidos e arrumou o quarto que estava sobrando para o
Gustavo. O quarto é todo decorado em azul bem claro e uma parede dedicada apenas á um
enorme adesivo de todos os super heróis da Marvel. O Gustavo ficou louco quando viu,
ele não sabia se dava atenção aos brinquedos, ao adesivo na parede ou na cama em
formato de carrinho. Ele ficou radiante. E eu nem preciso falar que o Rodrigo também não
ficou muito diferente disso ao ver a felicidade do Gus, né?
Entro no seu quarto, que é de frente para o meu, e encontro o Gustavo ainda dormindo. O
acordo, pois ele também vai para a creche nova que eu o coloquei, aqui próximo do
apartamento mesmo. Ele levanta um pouco manhoso, mas o levo para o banheiro e dou-
lhe um banho, coloco o uniforme da creche e vou para a cozinha já encontrando a minha
mãe preparando o café da manhã.
- Bom dia, mãe.
- Bom dia, filha.
- A senhora pode dar o leite para o Gus enquanto eu tomo meu banho?
- Claro, querida.
Volto para o quarto, escolho a minha melhor roupa. Sim eu tinha que ir vestida da melhor
forma possível para o trabalho, afinal de contas a loja era de grife em um dos maiores e
melhores shoppings do Rio de janeiro, eu não podia chegar com minhas roupas surradas
de sempre. Já estou até vendo que esse trabalho vai me dá muita despesa por conta
disso.Vou para o banheiro tomo um banho rápido, sem molhar os meus cabelos. Saio
enrolada na toalha e vou para o quarto. Visto uma calcinha e uma calça jeans escura de
cintura alta nova e uma blusa de seda frente única preta. Coloco um salto preto, nunca fui
fã de saltos, usava apenas quando era preciso e a dona da loja me deixou bem claro na
entrevista que era obrigatório o uso deles.Eu sinceramente não sei pra quê isso, estou
vendo que meus pés não vão aguentar uma hora em pé encima desses saltos aqui.Eu até
perguntei, sem parecer grosseira é claro, para a Fabiola, a dona da loja, o porquê dos
saltos. E ela me disse que a loja dela é muito bem frequentada e ela não admite que suas
empregadas não estejam próximo ao nível de suas clientes. Concordei sem pestanejar,
obviamente, mas no fundo estava achando aquilo tudo muito desnecessário.
Maquio-me, não faço nada muito forte, apenas um lápis, rímel, uma sombra clarinha e um
batom vermelho, o meu favorito.Solto o meu cabelo e tento deixá-lo no seu típico
bagunçado arrumado. Assim que termino pego minha bolsa e saio do quarto.
Sento-me à mesa junto com a minha mãe e o Gus e tomo apenas uma xícara de café, isso
me segura até a hora do almoço.
- Já terminou a mamadeira, filho?
- Sim mamãe. – diz ele se levantando da mesa e ficando em pé na minha frente.
Solto uma gargalhada e o abraço.Cada dia que passa ele está ainda mais esperto.Pego a
sua mochilinha em cima do sofá, me despeço da minha mãe e saímos do
apartamento.Saímos do prédio e fomos andando até a creche que é quatro quadras depois
do apartamento.
- Tchau meu filho, de tarde mamãe vem te buscar, tá bom? – digo ajoelhada na sua frente.
- Tá bom mamãe. – ele me dá um beijo na bochecha e vai até um amiguinho que estava o
esperando dentro da creche.
Depois que vejo que ele realmente entrou, eu vou andando até o ponto de ônibus mais
próximo.Já são08h30min e eu tenho que estar no trabalho as09h30min, ou seja, se tudo
der certo eu consigo chegar lá na hora certa e não me queimar com a minha chefe no
primeiro dia de trabalho.
Vou andando distraidamente até o ponto mais próximo, mas… Sabe quando você tem a
sensação de que está sendo seguida?Eu estou tendo essa sensação agora. Na verdade não é
de agora, há algum tempo que eu estou com isso. Não sei se é coisa da minha cabeça ou
não, pelo fato do DG estar solto. Olho para trás e vejo um monte de gente atrás de mim,
todas pareciam estar atrasadas para o trabalho e nem me notaram parada no meio da
rua.Balanço a minha cabeça tirando essa ideia louca de dentro de mim e continuo
andando. Chego ao ponto na hora certa, pois o meu ônibus já estava lá. Aperto o passo e
consigo pegá-lo e por incrível que pareça consegui ir sentada.
Desço em frente ao shopping e aquela mesma sensação horrenda me acompanha. Apresso
o meu passo e entro no shopping, sentindo-me mais segura aqui dentro com esses
seguranças.Olho para trás e novamente não vejo nada suspeito. O que me faz pensar que
eu estou completamente louca.Pego o elevador e paro no 4º andar, não demorou muito, eu
achei a loja e entrei já dando de cara com a Fabiola, a minha patroa.
- Huum pontual. Gosto assim. – ela me olha de cima a baixo e eu por um momento fiquei
com medo, até ver um sorriso de satisfação em seu rosto. – Amei sua roupa, é assim que
tem que ser. Parece que entendeu bem o que eu quis dizer.
- Obrigada senhora.
- Sem o senhora, nem sou velha pra isso. Chame-me apenas de Fabiola.
E não é velha mesmo. Ela é linda, super jovem, pouca coisa mais velha do que eu, uns 25
anos mais o menos. Tem um corpo de dar inveja a qualquer uma e seus cabelos lindamente
lisos e escorridos em um preto natural até a altura da sua cintura. E sem falar de sua
elegância.
- Okay… É..o que eu tenho que fazer agora? – digo um pouco sem jeito.
- Venha até a minha sala.
Diz me guiando até o elevador. Entramos e em segundos já estávamos no segundo andar
da loja. Ela entra em sua sala e eu logo em seguida. A Fabíola se senta em sua cadeira e
me mostra a cadeira a sua frente para eu me sentar. Ela pega o telefone, disca um numero
e o leva à orelha.
- Jéssica, venha até a minha sala, por favor.
Ela coloca o telefone novamente no gancho e se reclina na cadeira.Não demorou muito e
uma mulher, também bem nova e elegante, entra na sala. Assim como a Fabíola, ela estava
muito bem arrumada e tinha um sorriso simpático no rosto.
- Sim Fabiola?
- Essa é a Sophia, a mulher que eu te falei.
- Ah sim! Prazer Sophia. – diz me estendendo a mão para me cumprimentar.
Cumprimento-a e ela se senta na cadeira ao meu lado.
- Eu preciso que você a oriente nesse primeiro dia. Mostre-a o que tem e o que não tem
que fazer, como tratar as clientes e… O resto você já sabe, né Jéssica?
- Sim, já sei.
- Então podem ir.
- Tudo bem. – ela se levanta da cadeira e me encara. – Vamos Sophia?
- Claro. - me levanto e a acompanho até a porta. Saímos do escritório e a acompanho pelo
pequeno corredor.
- Vou te levar até a nossa salinha para você guardar as suas coisas.
Aceno e ela logo abre uma porta e entra. O local era um pouco pequeno, mas tinha um
sofá e uma mesa. Em um canto tinha um armário de ferro com várias repartições,
semelhantes àqueles de escolas, só que com repartições bem mais largas.
- Esse aqui é o seu armário. – ela abrindo uma das portas mostrando-me. – Ele está sem
cadeado ainda, até porque não tinha ninguém usando, mas se quiser deixar trancado é só
comprar um e coloca-lo. Ou se preferir pode deixar sem mesmo.
- Ok, entendi. – vou até ela e coloco a minha bolsa dentro do armário.
- Se você quiser nas suas horas de almoço pode descansar aqui nesse sofá… E ah! Outra
coisa, você não precisa vir com esses saltos sempre, o armário também serve pra isso,
pode vir com uma sandália mais baixa e colocar o salto aqui. – diz e direciona-me um
pequeno sorriso.
- Nossa, muito obrigada, os meus pés agradecem. Eu nem comecei a trabalhar e eles já
estão doendo.
- Normal, com o passar do tempo você se acostuma. – diz sorrindo. – Agora vem, vou te
mostrar o deposito e depois a gente desce pra você começar o seu primeiro dia de trabalho.
- Okay.
A acompanho novamente pelo corredor e entramos em uma outra sala, que já era bem
maior. Não foi muito difícil para eu descobrir que se tratava do deposito, pois tem varias
roupas, sapatos e todos os itens que são vendidos na loja. Depois que ela me mostrado
tudo que precisava, descemos e eu finalmente comecei a trabalhar.
Até que não é nenhum bicho de sete cabeças trabalhar aqui, o único ponto negativo são os
saltos, eles cansam demais e essa loja bomba, sempre está cheia de gente, vulgo, madames
e patricinhas, até porque uma roupa aqui é mais cara que a creche do meu filho. Os
sapatos e as jóias então eu nem falo nada. Mas fora isso é super fácil trabalhar aqui.
A Jessica me disse que temos sempre que estar com o sorriso no rosto independente se
estamos felizes ou não. Sempre sorrindo… Sempre sorrindo…
O Rodrigo me mandou uma mensagem, que eu respondi rapidamente por conta do
movimento da loja. Ele disse que passaria aqui na hora do almoço para irmos almoçar
juntos e eu respondi que tudo bem.
Passei o resto da manhã atendendo as clientes. A Jessica me disse que o movimento estava
maior por conta do natal e do ano novo, essa época do ano costuma encher. Ainda bem
que tinha mais quatro meninas lá e mais a Jessica, que mesmo sendo a gerente não deixa
de nos ajudar com o atendimento.
Já era meio dia e o movimento estava um pouco menor. Não estava atendendo ninguém no
momento, as outras meninas estavam fazendo isso.
Meu corpo estava levemente debruçado sobre o balcão enquanto eu conversava com a
Jessica. Mas ela de repente desvia os seus olhos do meu e encara algo atrás de mim, sua
boca estava aberta e se ela não fechasse ia babar. Ah se ia!
- Meu Deus o quê que é isso? Me chama de bandida e me prende. Senhor que calor. – ela
leva o papel que estava em suas mãos para o alto e começa a se abanar.
Não consigo controlar o riso.
- O que foi?
- Ai meu deus ele está vindo pra cá. – ela diz se aprumando e soltando o papel em cima do
balcão.
- Ele quem?
Quando eu vou virar para ver o que está acontecendo, sinto mãos fortes, mãos essas que
eu conheço muito bem, passar pela minha cintura e um beijo ser deixado na minha nuca.
- Boa tarde, Morena. – ele sussurra no meu ouvido e eu me arrepio.
Olho para a Jessica… e tadinha, ela está super sem graça. O seu rosto está vermelho feito
um tomate e seu olhar tem um misto de incredulidade e vergonha… Muita vergonha.
- Boa tarde, amor. – digo virando-me pra ele, que sem pensar muito rouba um selinho de
mim.
- Aqui não, é o meu trabalho. – digo me afastando um pouco do seu aperto.
Agora eu sei o porquê do comentário da Jessica, ele está fardado, lindamente fardado. E
eu odeio isso, eu sei que é o trabalho dele, e que ele tem que usar uniforme. Mas ele não
pode ser igual àqueles delegados que usam terno? Mas naão, imagina. Ele tem que colocar
uma droga de uma roupa que aperta todos os seus maravilhosos músculos e ainda com
essa arma na cintura que o deixa ainda mais gostoso. Que droga, estou com calor.
Está vendo o que esse homem faz comigo? Mas a quem eu estou tentando enganar? Acho
que até de burca esse homem no passaria despercebido. Ele chama a atenção por onde
passa, não importa o jeito que esteja vestido.
Olho ao meu redor e todas. Eu disse TODAS as mulheres da loja estão vidradas nele. O
pior é que eu não posso brigar com elas, ele realmente provoca isso nas mulheres onde
quer que ele passe. Eu sou a prova viva de que é impossível não cair nos encantos desse
homem. Mas que dá uma raivinha de vê-las cobiçando o meu homem. Aah dá. Me viro
para a Jessica e ela está do mesmo jeito. Chega a ser engraçado.
- Boa tarde. – diz o Rodrigo cumprimentando-a.
Ela solta um suspiro e logo responde.
- Bom di… é, não… Boa tarde.
- Você já está liberada para o almoço? – diz apertando de leve a minha cintura.
- Não sei… – me viro para a Jessica que agora já está na sua postura profissional. – Já
posso ir, Jessica?
- Claro, Sophia, pode ir sim.
- O senhor Rodrigo Albuquerque e a sua mania de parar onde chega. Você nunca muda,
né?
Olho para o lado e vejo a Fabiola vindo com um sorriso enorme para perto da gente. Ela
chega bem perto do Rodrigo e lhe dá um abraço apertado e demorado, até demais para o
meu gosto. Quando eu dou por mim já estou com meus braços cruzados e minha cara
fechada para aquela cena. Eu não quero saber se ela é minha patroa ou não. Não é por isso
que vou achar bonito ela se esfregar desse jeito, no Rodrigo. E sem falar que ela é linda.
Nessas horas a insegurança bate forte.
Ela se desfaz do abraço, mas continua com as mãos sobre os ombros dele.
- Como você está? Veio fazer o quê aqui?
- Estou bem. Vim pegar minha namorada para almoçar. – diz ele indiferente.
Bom… Muito bom.
- Ah é mesmo, tinha me esquecido que ela é seu casinho. – diz bem baixo, mas eu consigo
escutar.
- Casinho não. Namorada. Futura esposa. – diz rude.
Abro um sorriso debochado, mesmo sabendo que ela não veria, pois está de costas para
mim.
- Nossa. Sério isso? O senhor sem amarras vai se casar? Era você mesmo que vivia
dizendo que nunca se casaria. – diz divertida.
- Nunca me casaria com qualquer uma. Mas sim com a mulher certa e ela é a Sophia. – ele
respira fundo e eu já sei que está perdendo a paciência. Ele tira o braço dela de seu ombro
sutilmente e em seguida me olha.
- Vamos, amor?
- Claro, eu vou pegar a minha bolsa.
Saio dali e entrou no elevador. Pego a minha bolsa rapidamente e volto para a loja
encontrando-o do mesmo jeito que deixei. Ela ainda continua tentando puxar assunto com
ele, que pelo o que eu o conheço, estava respondendo por educação.
- Vamos? – digo fazendo volta a sua atenção à mim.
- Vamos.
A Fabíola vai até ele e o abraça novamente deixando um beijo em sua bochecha.
Olha! Eu vou perder o emprego sem nem mesmo começar direito, mas eu vou dar na cara
dela se ela continuar se jogando pra cima do Rodrigo…
Ele se solta dela, vem até a mim e coloca uma mão nas minhas costas. A Fabiola olha a
cena e fica um pouco sem graça. Ele faz um pequeno aceno de cabeça para a Jessica,
despedindo-se dela e me impulsiona levemente para andar e assim eu faço.
Antes que eu saia da loja, a Jessica me chama.
- Uma hora e meia, Sophia, contando de agora.
- Tudo bem, Jessica.
Assim que saímos da loja fomos direto para o estacionamento.
E cacete. É impressionante a cara de pau dessas mulheres assanhadas. Elas estão vendo
que ele está comigo, de mãos dadas e mesmo assim não disfarçam na hora de olhá-lo, falta
pouco me jogarem dessa escada rolante e pegarem o Rodrigo pra elas.
Entramos no estacionamento, ele destravou o carro e entramos. Todo o caminho até ali eu
não disse uma palavra e ele também não. Ele tira o carro do shopping e dirige até sua casa,
que é bem próxima dali.
- Amor, você está tão quietinha. O que foi?
- Nada. – falo cruzando os braços.
- Então tá.
- Eu vou perguntar uma ultima vez. Você já transou com aquela mulher? – digo com raiva,
descruzo os meus braços e olho para ele, que tinha o olhar preso na estrada, mas mesmo
assim conseguia ver o seu olhar de espanto.
- Meu Deus do que você está falando? Que mulher?
Ele pára o carro no sinal e me olha intrigado.
- Não se faça de desentendido, Rodrigo. Estou falando da Fabíola.
- Nã..não. – ele diz parecendo óbvio.
- E você está gaguejando por quê?
- Sei lá, Sophia é isso é o que você faz comigo, porra… Eu não transei com ela. De onde
você tirou isso?
- Ah de onde eu tirei isso? Será que era da intimidade que ela estava tendo com você lá na
loja? Faltava pouco ela trepar em cima de você.
- Ela é uma… Colega da época da escola, Sophia. – diz sem importância – Só isso. Nós só
estudamos na mesma escola, não foi nem na mesma classe… Nós nunca tivemos nada. –
ele volta a colocar o carro em movimento.
- Huum tá.
- Porra eu estou falando sério, Sophia.
- Uhum eu acredito.
E eu realmente acreditava, ele me pareceu muito sincero. Só que isso não mudava o fato
de que eu ainda estava puta com aquela mulher.
- Vai amor, desemburra essa cara. – diz ele passando a mão pela minha coxa. – Isso é
bobeira…
- Dá próxima vez que for me buscar no trabalho, vê se deixa essa arma, o distintivo e o
uniforme em casa e vai de burca.
Ele solta uma gargalhada alta e me olha. Isso me deixou com ainda mais raiva.
- Ciúmes, amor? – diz com um sorriso enorme.
- Lógico que não, só acho que não tem necessidade de você andar desse jeito chamando
atenção das mulheres por onde passa.
- Então estamos quites, querida porque eu não vejo a porra da necessidade de você estar
andando com essas costas de fora. Isso é o quê? Falta de pano? O que não falta é roupa lá
em casa. Vou te dar uma blusa minha pra você colocar. – diz agora sério.
- Sua prima que me deu e eu amei.
- Vai amar ela por pouco tempo. – diz
- O que você quer dizer com isso?
- Nada querida. – diz cínico.
- Não, você não vai rasgar a minha blusa como faz com as minhas calcinhas. – digo com
os olhos arregalados depois de entender o que ele quis dizer.
Ele nada diz, apenas levanta uma de suas sobrancelhas e levanta um pouco os seus lábios
para o lado direito.
- Rodrigo não.
Continua calado.
Ele tem esse poder de mudar o foco da conversa pra mim, sempre quando eu estou com
raiva dele. Ele sempre faz isso.
Não demorou muito chegamos ao condomínio e em questão de minutos já estávamos
parados na garagem.
Entramos na casa e já posso sentir o cheiro delicioso da comida. Vou com ele até a cozinha
e encontro a senhora, de uns 40 anos mais ou menos, que estava virada para o fogão.
- Maria já pode arrumar a mesa. Daqui a pouco eu volto para comer, só vou tomar um
banho.
Ele diz fazendo a mulher pular em frente ao fogão, ela se vira para nós e acena.
Ele logo pega a minha mão me puxando dali. Ele joga minha bolsa no sofá e me puxa em
direção as escadas.
- Rodrigo, o que você está fazendo?
Digo assim que entramos em seu quarto. Ele tranca a porta e toma a minha boca na sua em
um beijo desesperado, suas mãos passeiam pelas minhas costas nuas…
- Eu quero você agora. – não dar chances nenhuma de responder e toma a minha boca
novamente.
Ele leva suas mãos agora para a minha bunda apertando-a com força e isso faz com que
um gemido saia de minha boca. E ele desce suas mãos para as minhas coxas fazendo com
que eu enrole minhas pernas em sua cintura.
- Rodrigo….eu… eu só tenho uma hora e meia.
- Tempo suficiente para fazer o que eu quero fazer com você.
Volta a me beijar e quando eu vejo já estamos no banheiro e o meu corpo depositado em
cima da bancada. Ele leva suas mãos para o botão da minha calça, abrindo-a, ele retira a
minha blusa de dentro dela e a levanta para tirá-la do meu corpo.
- Eu só não rasgo essa porra agora, porque você não vai ter o que vestir depois. Mas da
próxima vez ela não me escapa.
Diz e busca a minha boca, suas mãos vão para os meus seios, apertando-os com força. Eu
já não conseguia mais conter os gemidos que saiam incontroláveis pela minha boa. Ele
separa sua boca da minha e a desce para o meu seio direito chupando-o com força. Seguro
sua cabeça em minhas mãos fazendo com que ele fosse mais forte e assim ele fez…
Depois de um tempo dando uma atenção especial para os meus seios, ele se separa de
mim, retira o seu distintivo e o seu coldre da cintura colocando-os sobre a bancada onde
eu estava sentada, retira também sua blusa e eu passo minhas mãos pelo seu peito
musculoso. O Rodrigo sorri safado pra mim e abaixa a sua calça junto com a boxer,
fazendo com que o seu membro pulasse para fora, e retira o sapato.
Ver esse homem completamente nu na minha frente me deixou ainda mais molhada e
sedenta por ele.
O Rodrigo retira o meu sapato jogando-os em qualquer lugar do banheiro e me retira da
bancada arrancando a minha calça e minha calcinha junto. Ele pega na minha mão, me
leva para dentro do box e me beija. Assusto-me quando sinto gotas de água gelada caindo
sobre minha cabeça. Se eu não estivesse tão necessitada em senti-lo, eu o xingaria até a
morte por ter molhado o meu cabelo. Mas eu não me importei.
Sinto sua mão na minha intimidade e ele começa a fazer um vai e vem gostoso e
torturante. O Rodrigo enfia um dedo dentro de mim e depois outro, mas não os deixou por
muito tempo, pois ele logo os tirou e se ajoelhou na minha frente.
E cacete! Essa cena é maravilhosa.
Ele levanta uma das minhas pernas e começa a passar sua língua rapidamente por toda a
minha intimidade, oras enfiando em minha entrada, oras ele mordia de leve o meu
clitóriso que me levava a loucura e eu já estava sentindo que o meu orgasmo estava
chegando. Levo minhas mãos para a sua cabeça, puxo os seus cabelos com força e ele
intensifica o movimento com sua língua. Sinto o meu corpo relaxar e um gemido mais alto
sai de minha boca. A minha perna treme, mas eu sou segurada pelo Rodrigo antes que eu
vá para o chão. Ele me beija fazendo com que eu sinta o meu gosto em sua língua, assim
que separa nossas bocas, ele me solta por um segundo, desliga o chuveiro e sai do box
indo até o armário pegando uma camisinha. Ele abre, joga o plástico fora e já ia colocando
em si mesmo, quando eu falo.
- Deixa que eu coloco?
Ele me olho e consigo ver seus olhos ficarem mais escuros. Nem parece que acabei de ter
um orgasmo maravilhoso. Já estou completamente molhada novamente e ainda mais
necessitada de tê-lo me preenchendo.
- Nunca ousaria negar um pedido desse.
Ele entra no box e eu pego a camisinha de sua mão. Já está mais do que na hora de eu ser
um pouco mais ousada. Eu sempre deixo ele controlar tudo, eu só controlo quando ele me
dá a deixa. Mas hoje será diferente. Eu vou tomar uma atitude e vai ser agora.
Olho para o seu membro completamente ereto em minha frente e me ajoelho de frente
para ele.
- Ai caralho. – ele diz e soca a parede ao lado.
Eu ainda não tinha feito nada.
Solto uma risada e pego o seu membro em minhas mãos. Começo a fazer movimentos
lentos de cima para baixo, repetidas vezes. Olho pra cima e vejo o Rodrigo com seus olhos
fechado, sua boca semi-aberta e sua cabeça jogada levemente para trás.
Não penso duas vezes e levo o seu membro para a minha boca. De início apenas chupo o
topo e rodeio minha língua envolta dele.
- PUTA QUE PARIU, SOPHIA. – ele soca a parede novamente e eu retiro a minha boca
de seu membro.
- Quer que eu pare?
- Porra, claro que não. Caralho, continua, não para.
Volto minha atenção para o seu membro pulsante na minha mão e o levo novamente na
minha boca. Era a primeira vez que eu faço isso, mas ele parece estar gostando muito, pois
os seus gemidos eram altos e palavras safadas saiam sem pudor algum de seus lábios. E
aquilo estava me excitando muito, ver este homem se segurando para não perder o
controle, por minha causa é excitante vê-lo desse jeito e saber que a causadora disso tudo
sou eu.
Coloco o máximo que consigo dentro da boca e o resto eu fazia movimentos rápidos.
Chupo-o com mais força e rodeio minha língua envolta de sua glande, novamente. Seus
gemidos saem cada vez eram mais altos.
Vejo que ele está próximo de gozar e o retiro de minha boca e paro de masturba-lo.
- Porra Sophia… vo..você.. vai ser a porra do meu fim. – ele diz ofegante.
Coloco a camisinha em seu membro e ele rapidamente me levanta, virando-me de costas
para ele, fazendo os meus seios e rosto encostarem na parede e ele empina a minha bunda
levemente para ele. Mordo o meu lábio segurando um gemido ao senti-lo entrar em mim
lentamente.
- Porra, eu nunca me canso de estar dentro de você. Você é tão gostosa, tão quente, tão
apertada… Tão minha… Só minha.
Ele começa a estocar com força dentro de mim e meus gemidos, eu já não conseguia mais
conter. Ele distribuía beijos e mordidas pelas minhas costas e apertava com força a minha
bunda. Eu já estava sentindo os espasmos do orgasmo voltar a tomar conta do meu corpo,
novamente. E o Rodrigo parece ter percebido isso, pois ele leva sua boca ao meu ouvido e
diz com a sua voz rouca e grossa…
- Goza Sophia, goza bastante no meu pau. – ele aperta com força a minha cintura e
aumenta as estocadas.
Não aguento muito tempo e imediatamente obedeço sua ordem e gozo loucamente em seu
membro e um gemido alto sai de minha boca. Logo em seguida ele também se libera
dentro de mim.
O Rodrigo fica um tempo imóvel, ainda dentro de mim, sua respiração quente no meu
pescoço fazendo todo o meu corpo se arrepiar, suas mãos fortes segurando com firmeza o
meu corpo para não cair. Tudo isso é tão bom. É tão bom senti-lo dessa forma…
Depois de alguns longos minutos nessa posição, ele se retira de dentro de mim e joga a
camisinha fora. E depois ele voltou para, realmente, tomarmos o banho.
Assim que terminamos, nós saímos do Box, nos secamos e nos vestimos novamente.
- A minha vontade é de te matar por ter molhado o meu cabelo, Rodrigo. Agora ele vai
demorar um século pra secar. – digo olhando para o meu cabelo molhado, pelo reflexo do
espelho e passo a toalha insistentemente na tentativa de seca-lo.
- Vai dizer que não valeu apena? Saiu com o cabelo molhado, mas também te proporciona
orgasmos maravilhosos. – diz passando as mãos pela minha cintura levando-me para mais
perto dele.
Sinto o meu rosto esquentar, mas não dou o gostinho para que ele perceba que me deixou
sem graça. Eu ainda não me acostumei em ouvi-lo falando essas coisas após o sexo. Na
hora eu não me importo, eu até gosto, mas depois eu fico um pouco envergonhada.
- Vamos comer logo, que eu estou morrendo de fome e só tenho meia hora.
Ele solta uma gargalhada.
- Eu não consigo te entender como você sente vergonha de falar de sexo, mesmo depois de
tudo que a gente faz. – ele deixa um beijo no meu pescoço e sai do banheiro.
Fomos para a cozinha e almoçamos bem rápido, porque eu realmente não podia chegar
atrasada. Assim que terminamos, nós subimos e escovamos os dentes. Enquanto o Rodrigo
colocava o seu maldito uniforme eu colocava o meu maldito salto e ainda tentava
inutilmente secar o meu cabelo.
- Já estou pronto, vamos?
- Calma, tenho que me maquiar.
Ele revira os olhos e assentiu saindo do quarto.
Maquio-me rapidamente e assim que termino, eu desço o encontrando na sala.
- Temos quinze minutos. – ele avisa.
- Então vamos logo. – pego minha bolsa e vou em direção a garagem.
- Eu juro que vou rasgar essa porra. – ele diz entre dentes. Já eu, finjo que não ouvi e
continuo andando. Entramos no carro e saímos de casa.
Não demorou muito e ele parou o carro em frente ao shopping, me despeço dele com um
beijo rápido e saio praticamente correndo para conseguir chegar na hora certa, na loja.
Trabalhei o resto da tarde tranquilamente, já tinha conseguido pegar o ritmo. Não demorou
muito 18h00min já marcava no relógio. Saio da loja e aquela mesma sensação de estar
sendo vigiada me perseguia ali.
Eu já estava começando a achar que realmente tinha alguém me seguindo, não era possível
ser só coisa da minha cabeça. A mesma coisa continuou no ônibus. E na creche do
Gustavo quando eu fui pega-lo lá.
Eu só me senti tranquila quando coloquei os meus pés dentro de casa.
Tem alguém me seguindo. Eu sei que tem. Isso não é coisa da minha cabeça… Não é
possível.

[…]




16° CAPÍTULO
Sophia
Fecho a porta e o alívio toma conta de mim. O Gus solta a minha mão e corre até a minha
mãe abraçando-a forte.
- Que cara é essa, Sophia?
Solto minha bolsa no chão mesmo e me jogo ao seu lado no sofá e levo as minhas mãos ao
peito.
- Mãe, eu acho que estou sendo seguida… Eu acho não, tenho certeza.
- Ai meu deus, como assim? Você acha que é o…
- DG? Com certeza, mãe, ele é a única pessoa que teria interesses em mim. – levo minhas
mãos ao rosto por um instante, tapando-os – Eu estou morrendo de medo, se ele está me
seguindo significa que ele já sabe do Gus e já sabe onde nós estamos.
- E o que você vai fazer, minha filha?
Tiro minhas mãos do rosto e encaro-a. Sua expressão é de medo, assim como eu.
- Eu não sei mãe. Eu só sei que tenho que falar com o Rodrigo, eu não posso esconder isso
dele.
Levanto-me do sofá e pego minha bolsa que há minutos eu havia jogado no chão, pego
meu celular e envio uma mensagem para ele.
“Preciso falar com você. Quando puder, me ligue”
- Eu vou dar um banho no Gustavo pra você, pela sua cara eu sei que está cansada.
- Ai obrigada mãe, eu estou mesmo.
Ela sai com ele em direção ao corredor dos quartos e eu retiro os meus saltos esticando as
pernas no sofá.
Assim que faço isso meu telefone toca. Rodrigo.
- Alô.
- O que está acontecendo, Sophia? – consigo sentir a preocupação em sua voz.
- Você já está em casa?
- Não, estou na delegacia ainda. Saio daqui á uma hora.
- Você pode passar aqui em casa?
- Porra Sophia, você está me deixando preocupado, caralho. Aconteceu alguma coisa com
o Gustavo, com você?
- Não. Mas eu prefiro falar pessoalmente.
- Porra, - ouço sua respiração funda do outro lado da linha. - Tudo bem. Quando eu sair
daqui eu passo ai para conversarmos.
- Obrigada, amor. Beijos.
- Beijo.
Levanto-me do sofá e vou andando lentamente, por conta das dores em meus pés, até o
quarto. Assim que entro, retiro a minha roupa e vou direto para o banheiro. Deixo que a
água quente caia pela minha cabeça fazendo com que todo o meu corpo se relaxe por um
instante.
No começo eu até pensei que essa sensação de estar sendo vigiada seria coisa da minha
cabeça pelo fato do DG estar por ai. Mas não é possível, isso está acontecendo não é de
hoje, não é de hoje que eu tenho essa sensação de estar sendo vigiada, porém eu não dei
muita importância, até agora. Hoje eu realmente tive uma sensação muito estranha, de que
a qualquer momento algo de ruim aconteceria… Ai! Um arrepio sobe pelo meu corpo só
de pensar que o DG possa estar atrás de mim e do meu filho.
Saio do banheiro e coloco uma bermuda e uma regata simples. Ajeito o meu cabelo e os
deixo secando naturalmente, vou para a sala e encontro o Gus sentado no chão brincando
com os seus carrinhos.
- Mamãe, bianca.
- Vamos, vamos brincar.
Sento-me ao seu lado e começo a brincar com ele. Já consigo sentir o cheiro de comida
vindo da cozinha e sei que minha mãe está fazendo o jantar. Não demorou muito tempo e
a campainha tocou e eu sei que é o Rodrigo, pois ele é o único que sobe sem ser
anunciado.
Assim que abro a porta ele entra e me beija. Como ele veio do trabalho ele está fardado, só
que ao contrario de hoje cedo a sua arma não está amostra em seu coldre e eu sei o porquê.
Ele não gosta de ficar armado, desse jeito, perto do Gustavo, ele diz que não é uma boa
ficar armado perto de uma criança de dois anos. Então quando ele não a esconde na
cintura debaixo das roupas, ele deixa no carro.
- Papai, papai. – diz o Gus eufórico.
Separo-me do beijo e o vejo correndo até a gente. Ele abraça as pernas do Rodrigo, que
abaixa e o pega no colo.
- Oi filhão, como foi na escolinha hoje? – diz depois de deixar um beijo sobre sua cabeça.
- Escolinha legal, papai.
Os olhos do Rodrigo brilham cada vez que o Gustavo o chama de pai.
Eu já desisti de tentar explicar para o Gus que ele não é o papai dele. Mas ele parece não
querer entender. E por mais que seja difícil de admitir, quem está ao lado do Gus quando
ele mais precisa, quem sempre faz de tudo um pouco por ele, é o Rodrigo, e tudo que eu
mais temi que acontecesse, aconteceu. O Gustavo se apegou a ele de uma forma que chega
a assustar. Quando o Rodrigo não vem, ou demora muito para ligar, ele pergunta pelo
papai dele.
Os dois ficaram conversando por um tempo até o Rodrigo me olhar, e apenas por ele eu
entendi que era a hora de dizer o que tanto me afligia. Deixei o Gus com a minha mãe por
um tempo e levei o Rodrigo para o meu quarto.
- Agora me fala o que está acontecendo. Você não tem noção do quanto eu fiquei
perturbado no trabalho nas últimas horas, não consegui me concentrar em nada mais.
- Senta. – pego em sua mão fazendo-o sentar-se de frente para mim, na cama.
- O que foi? Você quer terminar?
- Não, claro que não. – falo um pouco desesperada demais.
- Então o que foi? – diz ríspido.
- Eu vou ser direta. – digo e ele apenas acena com a cabeça – Rodrigo eu acho que… eu
acho não, eu tenho certeza de que eu estou sendo seguida.
- Porra, como assim Sophia?
- Sei lá Rodrigo, eu sinto isso não é de hoje, parece que onde quer que eu vá tem alguém
me vigiando. Eu até pensei que era coisa da minha cabeça, mas sei lá…
- Porra Sophia, era pra você ter me dito isso antes. – ele se levanta da cama nervoso e
começa a andar pelo quarto. – Você não devia ter me escondido isso. VOCÊ NÃO TEM
NOÇÃO DO PERIGO QUE VOCÊ ESTÃO CORRENDO? – ele grita, mas respira fundo
passando as mãos nos cabelos, tentando se acalmar. – Nós estamos falando de um
bandido, Sophia, bandido esse que teve coragem de te estuprar cruelmente, sequestrar
vocês seria pouco pra ele.
- De-desculpa Rodrigo. – digo com dificuldade devido ao bolo que se formou na minha
garganta. – Eu só não achei que era relevante, pensei que fosse coisa da minha cabeça.
- Sophia, é lógico que era relevante. Você tem noção de que agora eles já sabem onde você
mora?
- E-eu sei. – uma lágrima desce do meu olho, mas eu a seco rapidamente. – É isso que me
deixa com mais medo ainda de ele fazer alguma coisa com o Gus.
- Eu vou dar um jeito. – Diz ríspido.
O Rodrigo vira de costas pra mim e anda à passos largos até a porta, mas algo o faz parar
abruptamente e se virar de volta para mim. E da mesma forma que ele foi, ele voltou e me
levantou da cama com uma só mão, envolvendo-me em seus grandes braços logo em
seguida.
- Eu sou um estupido, grosseiro, eu sei. Mas é que eu não sei o que eu faço se acontecer
alguma coisa com vocês, Sophia… e-eu não sei. Você e o Gus são muito importantes pra
mim. Você sabe disso.
- Desculpa por não ter falado antes.
- Tudo bem. Eu vou colocar seguranças pra andar com vocês… E isso não está em
discussão, Sophia, amanhã mesmo terá um dos meus homens de confiança que trabalham
comigo, aqui, pra te acompanhar onde vocês forem.
- Tudo bem, eu sei que é para o nosso bem.
- Amor olha pra mim. – diz pegando o meu rosto em suas mãos. – Eu vou pegar esse cara
e a gente vai viver em paz. Nem que eu tenha que levar a minha vida inteira, mas eu vou
fazer esse desgraçado pagar por tudo que ele fez com você.
- Eu só quero… que você tome cuidado Rodrigo. – as lágrimas invadem os meus olhos
novamente. – Eu não quero te perder, não quero que nada aconteça com você. Eu quero e
preciso que você me prometa Rodrigo que se você perceber que está perigoso demais,
você desiste, por favor?
- Eu não vou prometer isso, Sophia.
- Rodrigo, eu..eu não suportaria te perder. Você… e-eu te amo, amo muito. – digo sem
vergonha nenhuma de admitir isso. Essa é a primeira vez que eu me declaro dessa
maneira. – Você foi o homem que me trouxe à vida, você me mostrou que sim, é possível
viver, é possível amar, é possível sentir prazer depois de tudo que eu passei. Você e o meu
filho.. vocês me dão forças pra enfrentar tudo que vem pela frente. É por vocês, e eu não
suportaria… Não suportaria viver em um mundo em que não haja a sua arrogância, sua
estupidez… em que não haja o amor da minha vida.
Não suportaria menos ainda saber que eu posso perdê-lo por minha culpa, de certa forma.
Eu agradeço tudo o que ele fez e faz por mim, mas eu não quero que ele faça nada que o
comprometa. Eu não quero ser a culpada por destruir a vida dele. Eu digo isso, pois, pelo
pouco que eu o conheço ele seria capaz de qualquer coisa para nos proteger… e ele
também não hesita em deixar isso bem claro em todas as nossas conversas.
Ele me olha com seus olhos cheios de lágrimas e com o maior sorriso do mundo.
- Repete a parte do eu te amo?
Solto uma gargalhada e repito várias vezes…
- Eu te amo, te amo, te amo, te am….
Ele toma minha boca na sua em um beijo calmo e apaixonante impedindo-me de
continuar.
- Eu também te amo Sophia, te amo muito. Eu soube disso desde quando eu larguei o
BDSM sem pensar duas vezes, por você. Eu vi que eu realmente te amava, eu vi que era
com você que eu iria formar uma família. Mesmo você sendo turrona e não querendo falar
sobre isso agora, eu sei que um dia conseguirei te convencer. – ele solta uma gargalhada e
me dá um selinho. Ele pega o meu rosto em suas mãos e leva o seu olhar ao meu. – Eu
prometo que vou me cuidar. Eu não vou desistir, eu nunca desisto e eu não vou te enganar
falando que vou recuar quando o negocio começar a esquentar, porque eu não vou. Eu vou
me cuidar, me cuidar por você e pelo nosso filho.
Me beija novamente.
Eu sei que ele vai se cuidar, eu vi verdades em sua fala, mas isso não me deixou nem um
pouco tranquila, eu ainda tenho medo de que algo aconteça a ele, e eu não me perdoaria
nunca por isso.

[…]


Duas semanas se passaram depois da minha conversa com o Rodrigo, e desde então eu
não ando mais sozinha. Cada dia da semana tem um policial diferente me acompanhado de
casa até a creche do Gus e da creche para o meu trabalho, não ando mais de ônibus, pois
os “seguranças” me levam em seus carros. Eu prefiro assim, pois me sinto muito mais
segura, aquele sensação de estar sendo vigiada não me acompanha mais e isso é muito
bom.
Hoje já é natal e vamos todos para a casa da Camila, a mãe dela nos chamou para
jantarmos lá, eu sei que todo ano tem um jantar de família lá na casa dela nesta época do
ano, vão todas as tias, os primos, enfim. Família toda reunida.
Minha mãe está super animada, depois que ela viu que a tia Patrícia e a Júlia eram gente
boa, ela se sente mais à vontade agora para ir até a casa dela.
Eu já estava quase pronta, faltava apenas terminar a minha maquiagem, e como sou
bastante desastrada na hora de me maquiar, deixei para colocar a roupa depois. Fiz uma
maquiagem clara do jeito que eu gosto, mas abusei no batom vermelho. Sim! Eu amo
batom vermelho. Depois da maquiagem pronta, pego o macacão branco em cima da cama
e o coloco e em seguida faço o mesmo com o salto, que agora depois de duas semanas
árdua de trabalho já me acostumei um pouquinho com eles.
Saio do quarto e vejo o Rodrigo já na sala com o Gus sentado em seu colo.
Como os meus homens estão lindos. – penso.
O Rodrigo está com uma calça jeans escura e uma blusa social branca dobrada até o seu
cotovelo. Simples, mas lindo.
- Vamos? – falo fazendo ele notar a minha presença.
Ele passa o seu olhar pelo meu corpo inteiro e para no meu discreto decote. E quando eu
digo discreto, é realmente discreto.
- Calma Rodrigo, não pira. É natal. É natal. – ele fala baixinho, mais para ele do que pra
mim.
Sorrio e vou até ele sentando ao seu lado no sofá.
- O que foi Rodrigo?
- Nada, você está linda… Só acho que falta um pouco de pano aqui nessa área, não? – diz
sinalizando para o meu seio. – Mas tudo bem… tuuudo bem, não vou falar nada. Você está
maravilhosa, Morena.
Diz e me beija e assim que nos separamos eu levo minhas mãos à sua boca limpando-a do
batom que ficou ali.
- Mais ciumento que você não existe.
- Não é ciúmes é só zelo. Estou cuidando do que é meu. Só estou tranquilo porque eu vou
estar do seu lado o tempo todo, só por isso não estou me importando muito para esse
decote ai.
- Uhum. – digo e depois solto uma gargalhada.
Ele bufa e volta sua atenção para o Gustavo.
Pouco tempo depois minha mãe chega na sala já arrumada e saímos do apartamento.
Entramos no carro, que estava estacionado na garagem do prédio, o Rodrigo colocou o
Gus na sua cadeirinha, minha mãe tomou o seu lugar ao lado dele e eu o meu ao lado do
Rodrigo. Em menos de meia hora já estávamos na casa da Mila. Estava tudo muito lindo, a
decoração parecia até daquelas casas Americanas em épocas Natalinas, estava a coisa mais
linda do mundo.
Como previsto, estava presente a família toda. Fiquei um pouco envergonhada, pois assim
que chegamos atenção foi toda para a gente. Não sei o que os deixaram tão surpresos, se a
minha presença, a presença do Rodrigo, ou as duas coisas. Mas logo a Mila e a tia Patrícia
chegaram para nos cumprimentar.
- Feliz Natal amiga. – ela me abraça forte e eu retribuo. – Oi amor da tia, eu estava com
saudades. – ela pega o Gus no colo, cumprimenta o Rodrigo e a minha mãe.
- Feliz Natal tia.
- Feliz Natal, minha querida. – diz a tia Patrícia me abraçando.
E foi assim pelos próximos vinte minutos, no mínimo, até ter certeza que
cumprimentamos a todos, fui apresentada para toda a família e era inevitável não ver os
olhares de incredulidade e surpresa de todos ao ver o Rodrigo ali, principalmente com uma
criança em seus braços e uma mulher ao seu lado.
Deixei o Rodrigo junto com uns tios dele conversando e minha mãe com a tia Patrícia e
suas irmãs, e o Gus, como sempre, grudado no Rodrigo.
Eu estava em um canto conversando com a Mila e umas primas dela sobre a prova que ela
tinha feito algumas semanas atrás para civil. Ela achava que tinha ido bem, mas também
não queria se dar falsas esperanças e chegar na hora se decepcionar com o resultado.
De repente, no meio da conversa, sinto uma mão passar pela minha cintura e me assusto
um pouco, pois não eram as mãos do Rodrigo… de jeito nenhum aquele era o toque dele.
Sinto um beijo sendo deixado no meu pescoço e escuto um…
- Feliz Natal, morena. Você está muito linda, sabia?
Viro-me e vejo o Nando com um sorrisinho safado direcionado a mim.
- Feliz natal, Nando. – digo um pouco sem graça por sua aproximação.
Tento me afastar um pouco, pois eu conheço bem o namorado que tenho e se ele nos ver
assim desse jeito, já era.
- Estava com saudades, Você sumiu. – diz agora me abraçando.
Falho totalmente no minha missão de afastá-lo de mim.
- É. – digo um pouco sem graça – Muito trabalho, eu não tenho mais tempo pra nada.
Digo me afastando levemente.
A Camila me olha percebendo o meu desconforto, e ela, assim como eu, parece não saber
o que fazer. Suas primas parecem perceber também o clima, mas não falam nada.
Quando o Nando ia se pronunciar novamente ele para e não sei o por que. Até sentir as
mãos do Rodrigo em minha cintura levando o meu corpo de encontro ao seu.
- Oi Fernando. – diz sério e seco. Mesmo sem olhá-lo eu sei que está furioso apenas pelo
tom de sua voz.
- E ai Rodrigo. – ele diz um pouco sem graça.
- O que você tanto quer agarrando a minha namorada? – diz sem rodeios e enfatiza no:
minha.
- Nada, nós somos apenas velhos amigos e eu vim cumprimentá-la. Não é, Sophia? –
aceno rapidamente afirmando que: sim. Ele continua. – Mas eu não sabia que… que vocês
estavam namorando.
- Impossível você não saber, Fernando, minha mãe fez questão de anunciar para a família
inteira. E você também não é nenhum idiota, nos viu chegando juntos.
- Eu ouvi sim, por alto, mas eu não sabia que era sério.
- Pois é, muito sério. E da próxima vez que eu ver suas mãos na cintura dela novamente e
te ver beijando a minha mulher, eu arranco a sua mão e sua língua fora. Já que não dá pra
arrancar sua boca.
- Rodrigo. – repreendendo-o.
- E eu não estou brincando. – ele dizia isso calmo e seu tom de voz era baixo, mas tinha
raiva impregnada nela.
- Ooou primo, calma. – diz levantando as mãos em forma de rendição. – Eu só estava
cumprimentando ela, sem maldade nenhuma.
- Uhum. Sem maldade. Eu sei. – diz e aperta a minha cintura com mais força ainda em
direção ao seu corpo.
- Gente, vamos acalmar os ânimos, né? – diz a Mila tentando apaziguar a situação. –
Nando eu acho que o papai está te chamando ali com os tios.
Ele apenas acena e sai.
As meninas ficaram olhando para o Rodrigo um pouco surpresas e eu podia ver elas com o
riso preso.
- Meu Deus, primo, você realmente está mudado. Foi fisgado direitinho. – diz a Angélica.
- Nem me fale Angélica. – diz a Mila rindo e fazendo as outras rirem também. Não
consigo me segurar e sorrio junto.
Vejo que ele estava ficando mais nervoso e pego na sua mão levando-o para longe dali.
Vejo que o Gus estava brincando com umas crianças que estavam na festa e ficou
tranqüila. Vou com o Rodrigo até o jardim que estava vazio.
- Ei, desamarra essa cara.
- Quem aquele idiota pensa que é pra te tocar daquele jeito?
- Ele sempre me tratou assim, amor. Não tem maldade nenhuma. – digo tentando acalmá-
lo. Não queria formar uma discórdia entre os primos.
- E eu sou otário agora, né Sophia?… Você acha mesmo que eu não vejo o jeito que ele te
olha; o jeito que ele beija a sua bochecha, mas querendo beijar a sua boca? Eu observo
isso não é de hoje.
- Amor esquece isso, ele pra mim não significa nada, eu o vejo apenas como um amigo e
mais nada. Eu só tenho olhos para você. – digo e o beijo.
- Mas ele não te ver como amiga, caralho. Será que é difícil pra você entender isso?
- Tá, mas ele nunca vai conseguir nada de mim. E eu acho que depois do episódio ali da
sala ele nunca mais vai chegar perto.
- E eu espero mesmo.
- Eu só não queria que vocês ficassem sem se falar por minha causa, vocês são primos.
- Fica tranquila que é só ele não chegar perto de você e está tudo certo.
- Pra quê isso tudo, Rodrigo? Você não confia em mim, é isso? – digo e cruzo os braços na
altura dos seios.
- Porra, é claro que eu confio em você, Sophia. Eu não confio é nele
- E eu que me achava ciumenta. – digo baixinho.
- Já disse que não é ciúmes, só estou cuidando do que é meu.
Demos o assunto por encerrado e ficamos ali um tempo. Depois a Tia Patrícia nos chamou
para o jantar e tivemos que entrar. Estava tudo maravilhoso, o jantar correu tranquilamente
bem, naquela hora todas as crianças já estavam cansadas e dormindo.
Foi tudo perfeito, posso dizer que foi o melhor natal de toda a minha vida. Eu estava com
pessoas que eu amo e que eu considero muito, ao meu lado, e isso era o que importava. Eu
tinha um homem maravilhoso ao meu lado e estava muito feliz.
O relógio marcava 03h30min da manhã e a maioria dos convidados já tinha ido embora,
só estavam mesmo os tios e primos da Mila que eram de outro Estado e iriam dormir ali.
Já havia me despedido de todos, menos da dona Julia e assim que cheguei próxima à
mesma, ela pegou na minha mão e me levou para um canto mais afastado. Ela me abraçou
forte e eu a retribuí. Ficamos bastante tempo assim até ela me soltar. Vejo lágrimas em
seus olhos.
- Muito obrigada.
- Por que Julia? Eu não fiz nada. – digo soltando um sorriso leve.
- Por trazer o meu filho de volta. – as lágrimas agora caiam sem parar.
- Como assim? – pergunto sem entender o que ela quis dizer com aquilo.
- Você não tem noção de quanto tempo o Rodrigo não passa o natal com a família. Ele
todo ano dava a desculpa de que iria trabalhar, Ele acha que eu não sei, mas ele fazia
questão de trocar o seu plantão para noite, pra não passar o natal com a família.
- Ma-mas por que Julia?
- Por culpa minha. Única e exclusivamente minha. Eu fiz muito mal ao meu filho na sua
infância e até hoje eu tento reparar esse erro de alguma forma, porém ele é sempre muito
fechado, às vezes ele me dá uma brecha, mas dura pouco tempo. Logo aquela postura dele
volta novamente… E você não sabe o tamanho da minha felicidade em vê-lo aqui hoje,
com a família, interagindo, em ver vocês dois juntos… Eu sempre soube, desde a primeira
vez que eu te vi, que você traria o meu filho de volta. Eu vi em você tudo o que faltava
nele… Muito obrigada, muito obrigada mesmo. Esse foi o melhor presente de natal que eu
poderia receber: a presença do meu filho.
- Nossa.. e-eu não sei nem o que dizer, Julia, eu não sei mesmo. Mas… você não precisa
agradecer nada, pois, assim como eu trouxe o seu filho de volta, como você está falando,
ele fez o mesmo comigo… E eu sei que ele guarda algo que o machuca muito, eu nunca
quis entrar muito no assunto porque eu sei o quanto dói remexer no passado.. Mas eu não
consigo acreditar que a senhora tenha feito algum mal a ele.
- Pois eu fiz… – diz e olha para o nada. – Eu poderia ter evitado tanta coisa, mas eu
resolvi fechar os olhos e fingir que estava tudo bem… Só que não estava.
- Eu não vou perguntar o que aconteceu, pois eu acho que isso diz respeito somente a
vocês dois, mas quando ele se sentir a vontade pra me contar eu vou estar aqui para ouvi-
lo.
- Você é muito especial, Sophia, muito obrigada por ter aparecido em nossas vidas. Muito
obrigada mesmo.
Diz e me abraça.
Eu não consigo imaginar o que aconteceu que os deixaram assim e os afastaram, e acabou
tornando o Rodrigo nesse homem que ele é agora… ou era, sei lá. Mas foi algo que
machucou muito os dois.
Soltamos-nos ao ouvir a voz do Rodrigo atrás de mim me chamando.
- Vamos Sophia?
- Claro. – digo, mas ele não presta atenção em mim, mas sim na senhora ao meu lado que
tentava controlar as lágrimas.
- Mãe, a senhora está chorando por quê? – diz ele chegando perto dela preocupado.
A Julia solta um sorriso leve e responde.
- Nada meu filho. – ela enxuga o rosto com as mãos e volta o seu olhar ao filho
novamente. – Me dá um abraço?
Ele hesitou um pouco, mas foi até ela e a abraçou forte. Pude ouvir um soluço sair da boca
da Julia e eu confesso, fiquei emocionada.
Eles ficaram bastante tempo abraçados e depois se soltaram.
Vejo que o Rodrigo também está com os olhos vermelhos, mas não derramou nenhuma
lágrima. Ele deposita um beijo na cabeça da mãe, se despede e vem até a mim pegando na
minha mão.
- Cuida bem dessa menina, Rodrigo, ela é muito especial. Não a deixe sair de sua vida
nunca.
- Pode deixar, mãe, eu estou cuidando. – ele dá um sorriso de lado e depois saímos.


[…]

17° CAPÍTULO
Sophia
Assim que chegamos em casa o Rodrigo levou o Gustavo, que dormia em seus braços,
para o quarto e minha mãe também foi para o dela. Retirei os meus saltos e fui andando
até o meu. Encontro com o Rodrigo se retirando do quarto do Gus deixando a porta entre
aberta, entro no quarto e ele vem atrás de mim. Quando ouço o barulho da porta sendo
fechada, me viro e passo os meus braços pelo pescoço do Rodrigo e deposito um beijo
rápido em sua boca.
- Dorme aqui hoje?
- Claro, amor. – diz acariciando a minha cintura.
Ele estava um pouco estranho, estava distante, parecia triste. Eu acho que deve ser pelo o
que aconteceu lá na casa da Mila antes de sairmos. Resolvo deixar isso de lado, não iria
perguntar nada, eu sei bem como ele é. Quando estiver à vontade para falar, ele vai falar.
Afasto-me dele e passo a chave na porta, trancando-a. Fomos até o banheiro e tomamos
banho juntos… sim, apenas um banho. Trocamos caricias e beijos, mas não passou disso.
Eu via que ele não estava bem e isso me doía, eu nunca o vi daquele jeito. Ele nem parecia
aquele homem cheio de si, mandão e muitas vezes arrogante…
Saímos do banheiro, nos trocamos e deitamos na cama. Por incrível que pareça estávamos
sem sono, por mais que já fosse quase quatro da manha. Ele sentou e encostou suas costas
na cabeceira da cama e me trouxe para o meio de suas pernas fazendo-me deitar em seu
peito. Envolvi os meus braços ao seu redor e ele deixou um beijo sobre minha cabeça.
- Amor, você quer conversar? – me atrevo a perguntar.
Ele respira fundo e se cala por um tempo, parecendo pensar.
- Por que minha mãe estava chorando quando eu cheguei lá?
- É porque ela estava me contando o quão feliz ela estava por você estar mais próximo da
família, agora. Ela me disse que há anos você não passa o natal com a família. Sua mãe
sente falta disso, sabia?
Ele dá um suspiro longo, mas nada diz. Continua passando suas mãos lentamente pelos
meus braços.
Ficamos um tempo calados até que ele se pronuncia novamente.
- Só isso que ela disse?
Desvencilho-me dos seus braços e me sento, ainda entre suas pernas, só que agora de
frente para ele. Percebo que os seus olhos estão vermelhos, secos, mas vermelhos. Há
tristeza neles.
- Ela… – paro e penso se tenho que realmente falar isso. – Ela me disse também que sente
muito sua falta, e que se sente culpada, por algo que aconteceu no passado com você e que
te transformou desse jeito e te afastou de todos.
Ele respira fundo.
- E ela te contou o que aconteceu?
- Não Rodrigo. E nem eu perguntei o que houve porque eu acho que isso não diz respeito a
mim, e sim a vocês dois. Apesar de eu achar que a Julia nunca seria capaz de fazer nada
para te machucar. Ela te ama e eu vi a tristeza nos olhos dela contando isso, eu vi dor… Eu
como mãe não me imagino longe do meu filho nunca e nem vê-lo me tratando desse jeito.
Ele abaixa a cabeça parecendo envergonhado.
- Eu não quero que você pense que estou julgando você, não é isso. Só estou me
colocando no lugar da sua mãe. Eu sei, sempre soube, que havia acontecido algo com
você, mas eu não vou te obrigar a me contar. Quando você se sentir à vontade, quando
você confiar em mim a ponto de querer se abrir comigo, eu estarei aqui pra te ouvir.
Levo a minha mão até o seu rosto e o levanto fazendo com que ele me olhasse.
- Ouviu? Eu sempre, sempre estarei aqui pra te ouvir. Quando você se sentir à vontade
pode me dizer. E se não quiser também eu irei entender.
Ele envolve suas mãos na minha cintura e em um movimento rápido ele me coloca
sentado em suas pernas e desce suas mãos para a minha cintura me abraçando forte.
Abraço-o também na mesma intensidade e deposito um beijo em seu rosto que estava
deitado sobre meus seios.
É tão estranho vê-lo assim, tão vulnerável, tão quebrado.
- O meu pai espancava a minha mãe.
Ele diz bem baixo, posso sentir o tremor em sua voz, seu enorme corpo se encolheu nos
meus braços.
Eu fico sem ação.
Eu realmente não esperava que ele se abrisse comigo assim, não agora. Mas por um lado
me deixa muito feliz saber que ele confia em mim, assim como eu confiei em contar a
minha história para ele.
Ele levanta a cabeça e me olha, uma lágrima escorre de seus olhos e eu levo minhas mãos
até seu rosto secando-a.
O Rodrigo me faz deitar um pouco em seu colo e encostar o meu rosto em seu peito, suas
mãos acariciam lentamente o meu corpo.
Eu sei o que ele está fazendo.
Ele não quer que eu o veja chorando.
Não ouso levantar o meu rosto e continuo deitada em seu peito.
- Ele… ele nem sempre foi assim. Ou pelo menos eu é que não percebia o que ele fazia.
- Quando você percebeu isso?
- Eu tinha sete anos na época, foi a primeira vez que eu o vi agredindo ela, eu sabia que
era errado aquilo que ele estava fazendo, pois eu via dor no olhar da minha mãe. Mesmo
pequeno eu fui tentar ajudar ela… Foi quando ele me bateu também. Até aquele dia, os
meus pais nunca haviam levantado a mão pra me bater, até porque eu sempre fui uma
criança calma, e aquele homem fez isso e da pior maneira possível… – ele para por um
tempo e respira fundo. – Eu admirava o meu pai, ele era um herói pra mim, sabe? Ele
também era um delegado, assim como eu. Ele foi minha grande inspiração, até aquele dia,
depois dali, todo o meu respeito e admiração por ele foi embora, dando lugar ao medo e a
raiva…
- Quanto tempo durou isso?
- Depois desse dia eu poderia até contar nos dedos as vezes que ele não chegava em casa
estressado e nos batia. Isso acontecia frequentemente. Essa tortura durou até os meus onze
anos, foi a ultima surra que eu e minha mãe levamos. Quando ele terminou, me deixando
caído no chão sangrando e minha mãe toda roxa ao meu lado, ele saiu pela porta de casa e
nunca mais voltou. E eu agradeço a Deus todos os dias por esse monstro estar morto.
Nunca passou pela minha cabeça de que ele tinha sofrido tanto assim na infância.
Realmente, ele tinha razão quando disse naquele dia em que eu tive o pesadelo.
Nossas dores são parecidas.
- Mas por que você trata a sua mãe desse jeito? Pelo o que você me disse ela sofreu muito
também, assim como você.
- Porque ela poderia ter acabado com esse sofrimento, Sophia. Ela poderia e deveria se
impor, ela não deveria ter deixado ele encostar as mãos nela para agredi-la. Mas a partir do
momento que ele fez isso pela primeira vez e ela o perdoou, ela estava permitindo ele
fazer isso sempre. Eu sentia raiva dela, porque nós poderíamos sair de casa, nós
poderíamos viver só nós dois, ela poderia ter acabado com o nosso sofrimento. Mas não.
Ela apesar de tudo, quis continuar com ele, ela quis continuar vivendo com um homem
que não tinha respeito algum por ela, que a maltratava e a humilhava sempre que tinha
chance. Sim eu era criança na época, mas eu percebia as coisas e isso me indignava. A tia
Patrícia nos oferecia a sua casa para morarmos, mas ela não queria. Ela dizia que não
podia deixar o marido sozinho… Isso me fazia odiá-la da mesma forma que eu odiava
aquele cara. Eu cheguei a pensar que ela gostava daquilo tudo, que ela gostava de apanhar,
de ser humilhada, pois ela não fazia nada para mudar aquilo. Quando ele morreu, a minha
mãe ficou em depressão por três meses, isso fez eu me distanciar mais ainda dela, eu tinha
raiva dela por vê-la sofrendo por um cara que fez tanto mal pra gente… Às vezes eu
chegava a pensar se eu não estava sendo seco demais, sem coração, pois apesar de tudo
que ele me causou, ele era o meu pai… Em algum momento da minha vida, eu o amei…
Mas ai depois eu chegava à conclusão que não, eu não era um “sem coração” e sim que a
minha mãe não tinha vergonha na cara e era uma fraca por sofrer por um homem que
nunca a respeitou.
- Eu te entendo Rodrigo. Eu te entendo completamente… Mas apesar de tudo ela é sua
mãe. Ela te ama e não merece ser tratada assim. Você já procurou ouvir o lado dela nessa
história toda?
- Sophia, nada justifica.
- Mas mesmo assim Rodrigo, procura ouvir o lado dela da história. Pode ser que
realmente, nada a prendia a ele, vai ver que ela o amava muito e mesmo apanhando queria
continuar ao lado dele… Mas ela está arrependida e isso é notório… E essa mágoa, esse
rancor ai dentro de você não vai te fazer bem, muito pelo contrario só vai te fazer mal
Rodrigo. E você sabe disso.
- É eu sei, mas eu não consigo, Sophia.
Levanto o meu rosto e o encaro.
- Agora é a minha vez de falar pra você deixar o seu orgulho de lado e ir conversar com
ela.
Ele solta um sorriso fraco e abaixa a cabeça.
- Tudo bem.
- Ela vai ficar muito feliz e eu sei que você também vai ficar mais feliz e aliviado por ter
conversado com ela. Você pode se fazer de durão com todo mundo, mas eu sei o quanto
você a ama e o quanto você sente falta de estar perto dela. Eu vi a sua preocupação ao vê-
la chorando hoje e ela também percebeu e ficou feliz.
- Eu amo a minha mãe e nunca vou deixar de amá-la, mas os acontecimentos do passado
me impedem de me aproximar mais dela.
- Eu sei, quer dizer, agora eu sei o por que. Mas eu acho que está mais do que na hora de
vocês se reaproximarem novamente. – digo sorrindo e fazendo com que ele sorria também
para mim.
Ele envolve os seus braços em minha cintura abraçando-me novamente e me beija, um
beijo demorado, mas calmo. Suas mãos acariciavam-me lentamente fazendo-me arrepiar
por inteira.
- Obrigado por me ouvir. – diz com sua boca ainda próxima a minha.
- Não tem que gradecer. Não é pra isso que servem os namorados? Para ouvirmos um ao
outro e nos ajudar?
- Não sei, acho que é. Nunca namorei antes. – diz sorrindo e eu soltei uma gargalhada.
- Eu também não, mas eu acho que é isso sim.
Ele gruda as nossas bocas novamente, só que agora em um beijo mais necessitado. Ele me
faz sentar em seu colo de frente para ele, minhas pernas estão cada uma em um lado de
seu corpo. Ele leva suas mãos para a minha bunda, apertando-a com força fazendo com
que nossas intimidades se choquem.
- Eu sei que os namorados servem pra isso.
Diz com aquele sorriso safado de Molha calcinha, não consigo evitar um sorriso.
- Você não presta, só pensa em sexo.
Ele aproxima a sua boca do meu ouvido e diz fazendo-me arrepiar.
- E você ama isso.
Solto um gemido quando sinto beijos sendo deixadas no meu pescoço, e logo em seguida
mordidas. O Rodrigo toma a minha boca na sua e sinto suas mãos em minha cintura
segurando na barra da blusa, ele a levanta lentamente e separa nossas bocas por um
instante para passar com a blusa. Ele para um tempo encarando os meus seios, eu levo as
minhas mãos até eles e começo a aperta-los, jogo a minha cabeça pra trás e deixo os
gemidos saírem bem baixinhos de minha boca. Posso sentir o seu membro pulsar embaixo
de mim.
Olho para ele, que está com sua boca aberta e me olhava sem piscar.
Começo a fazer movimentos lentos em cima de seu membro e continuo a tocar os meus
seios, agora com mais precisão. Sinto minha calcinha completamente encharcada e minha
intimidade pulsando rapidamente a procura de contato. Aumento os movimentos em
minha cintura e rebolo com mais rapidez sobre seu membro, ainda coberto, mas é visível a
enorme ereção.
- Porra Sophia. – ele leva as suas mãos para a minha cintura e começa a fazer os
movimentos por si só. – Você roçando assim no meu pau eu vou acabar gozando sem nem
mesmo começarmos.
- Não. – digo ao pé do seu ouvido. – Eu quero que você goze na minha boca.
Ele geme alto e segura com força minha cintura.
- Que caralho Sophia! – sinto o seu membro pulsar embaixo de mim.
- Uhuum. – um gemido leve sai de minha boca. – E eu quero o seu na minha boca agora.
- Cadê a minha namorada e o quê você fez com ela?
- Está bem aqui, meu amor. – deixo um beijo em seu pescoço e ele geme – Só resolveu
tomar um pouquinho mais de atitude.
Deixo uma mordidinha e um beijo em sua orelha e vou descendo distribuindo beijos sobre
o seu peitoral descoberto. Ele tinha os seus olhos arregalados e sua boca aberta em
surpresa. Chego na barra de seu shorts e o retiro com a boca.
Subo distribuindo beijos em suas pernas e dou de cara com o seu membro enorme e
grosso, totalmente convidativo para estar dentro da minha boca. Sem tocá-lo com a mão,
passo minha língua em toda a sua extensão e posso vê-lo se mexendo. Eu gostei de tê-lo
provado da primeira vez, não é tão nojento quanto eu achei que fosse, na verdade eu
também fiquei bastante excitada em tê-lo dentro da minha boca.
Pego o membro dele em minhas mãos e começo a fazer movimentos lentos de subir e
descer, o Rodrigo apertava com força o lençol e mordia o lábio para reprimir os gemidos.
Levo a minha língua até ao topo de seu membro e rapidamente o enfio por completo em
minha boca.
- Porra que boquinha gostosa.
Ele leva as suas mãos para o meu rosto segurando-o e começou a fazer movimentos
lentos. Depois de um tempo, ele retira suas mãos e eu começo a fazer movimentos mais
acelerados e a parte que não coube em minha boca eu fazia rápidos movimentos de subir e
descer com a mão. Já poderia sentir as veias de seu membro pulsando rapidamente, as
mãos dele estavam fechadas em punhos em cima da cama.
- Porra Sophia, eu vou gozar. – diz com sua voz um pouco falha.
Subo a minha boca até a cabeça de seu membro e rodeio os lábios no local passando a
minha língua em volta.
- Goza, goza na minha boca.
Volto a fazer o movimento anterior e sinto quatro jatos quentes dentro de minha boca.
Engulo sem pensar muito, senão com certeza eu jogaria fora. Aquilo era horrível. Mas
pelo momento eu nem me importei muito e o chupei por uma última vez, retiro de minha
boca em seguida.
- Caralho… Sophia esse..esse foi… foi o melhor oral de toda a minha vida… Você não
imagina quantas vezes eu imaginei o meu pau dentro dessa sua boquinha gostosa… E
caralho é melhor do que qualquer coisa que eu tenha imaginado.
Sento-me sobre o seu membro e ele solta um gemido baixo, busco sua boca e começo um
beijo. Sinto suas mãos indo para dentro do meu short de dormir e ele toca em minha
intimidade, que já estava bastante necessitada de contato.
O Rodrigo me vira na cama e quando eu percebo, já estou sem o meu shorts e sua boca já
possuía toda a minha intimidade, chupando-me com voracidade, como se fosse a ultima
coisa que ele fosse fazer na vida. A minha boca já estava inchada e dolorida de tanto que
eu a mordia para não deixar que o gemido saísse alto. Quando o sentir penetrar dois dedos
dentro de mim e ao mesmo tempo sugar com força o meu clitóris, eu não aguentei muito e
gozei.
O Rodrigo se levanta e procura a minha boca.
- Onde tem camisinha aqui?
- Não tem. Mas não tem problema, eu já fui ao medico, amor, já estou tomando o
anticoncepcional certinho já faz um tempo.
- Então tudo bem.
Ele me beija e eu com muita dificuldade nos viro na cama. Fico por cima dele e pego o
seu membro em minha mão, posiciono-o perto da minha entrada e desço fazendo com que
ele me preenchesse por completo, a cada centímetro que entrava, um gemido saia de
nossas bocas. Quando sinto que não dá mais, eu paro um pouco, mas logo começo a me
movimentar de forma lenta. O Rodrigo leva suas mãos para a minha cintura apertando-a
com força, a fim de controlar os movimentos. Com o passar do tempo as estocadas
estavam mais rápidas e fortes e o prazer maior ainda.
Em um movimento rápido ele nos virou na cama e me coloca de barriga pra baixo, com
rapidez, abre as minhas pernas e levanta levemente a minha bunda, ele me penetra rápido
e sem aviso nenhum fazendo com que um gemido, abafado pelos lençóis, saia de minha
boca. Ele deixa o seu corpo cair de leve sobre o meu e começa a estocar rapidamente
dentro de mim.
Rodrigo distribuía beijos, mordidas e chupões pelo meu pescoço, o que eu tenho certeza,
ficará marcado amanhã.
Já consigo sentir minha intimidade pulsar mais rápido e uma onda muito forte de prazer
consumir o meu corpo.
- Amor, não para… aaah…. ma..mais rápido.. aah.
Ele dá um tapa forte na minha bunda e a segura com força, da uma ultima estocada com
força até o final, encostando em um local dentro de minha intimidade que me
proporcionou um prazer enorme, mais ainda do que eu já sentia naquele momento, que me
fez gozar violentamente. Ele morde com força as minhas costas e sinto os jatos de seu
orgasmos me preencher.
O Rodrigo continua dentro de mim, agora deixando o seu corpo cair por completo sobre o
meu e isso estava me deixando sem ar. Ele dá mais um tapa forte em minha bunda e beija
o local, onde em minutos atrás havia deixada uma dolorosa mordida e se retira de dentro
de mim deitando-se ao meu lado.
Eu estava exausta, mas satisfeita.
Meu corpo estava relaxado em um novel que eu não conseguia nem me mexer e minha
respiração aos poucos ia se normalizando.
O Rodrigo me puxa para o seu peito e coloca a mãos sobre o local onde ele me mordeu.
- Me desculpa por isso.
- Não importa.
- É porque você não está vendo como está. Amanhã ficará muito pior.
- Já ouviu falar que mordidinha de amor não machuca? – digo sorrindo safada para ele.
Ou tentando.
- O que deu em você hoje? Você nunca foi assim.
- Não sei, só cansei de ser bobinha, de te deixar sempre tomar a iniciativa… Por quê?
Você não gostou?
Pergunto receosa.
- Lógico que eu gostei. Confesso que fiquei assustado no começo, pois nunca vi você
assim. Mas eu gostei, gostei muito. Pode tomar o controle da situação sempre que quiser. –
diz sorrindo e me beija.
- Te amo. – digo olhando em seus olhos.
- Também te amo Sophia, muito.



[…]



18° CAPÍTULO

Sophia
Um mês depois…
Como o tempo passa rápido. Já estamos em janeiro e amanhã o Gus faz três anos. Nós
vamos fazer uma festinha pra ele lá na casa do Rodrigo, isso tudo foi ideia dele, ele está
mais animado que eu, para essa festa. Convidei todos os amiguinhos do Gus da creche e
ele também está super animado. Só sabe falar da festinha dos super heróis que ele vai
ganhar.
Já era tarde da noite e já tínhamos adiantado algumas coisas da festa. Eu estava super
cansada do trabalho, dia de sábado o movimento lá é uma loucura.
O Rodrigo já tinha ido para a casa dele e eu estava com a Mila aqui em casa me ajudando.
O Gus já estava dormindo há muito tempo, graças a Deus
Vou para o quarto, tomo um banho relaxante e me deito na cama. Logo a Mila entrou no
quarto, com o seu banho já tomado e se deitou ao meu lado. Como estávamos muito
cansadas nem conversamos e logo ela se tapou, fechou os olhos e dormiu. Ela sempre
dormiu muito rápido.
Viro-me de costas para ela e ajeito meu cobertor preparando-me para dormir, mas o toque
do meu celular me impede. A minha vontade era de não atender. Quem é liga às duas
horas da manhã? Pelo amor de Deus! Mas ai eu pensei que poderia ser o Rodrigo, então eu
atendi.
- Alô. – minha voz sai um pouco rouca do quase sono que eu tive.
A pessoa do outro lado da linha nada diz. Mas eu sei que tem alguém, pois eu ouço uma
respiração
Tiro o celular da orelha, olho no visor e o numero estava no desconhecido. Levo-o
novamente para a orelha e pergunto.
- Alô, quem é?
Ouço uma gargalhada bem baixa do outro lado e o meu corpo se arrepia de medo.
Eu conheço essa gargalhada. Eu nunca me esqueceria dela. Nunca.
Sinto os meus olhos se encherem de lágrimas e rapidamente encerro a ligação sentando-
me rapidamente na cama. Desligo o aparelho e jogo-o em cima da poltrona perto da porta.
Quando eu percebo, as lágrimas já estão descendo pelos meus olhos e eu não consigo
conter.
- Amiga, o que foi? – ouço a voz grogue da Mila e seus braços passando pelos meus
ombros.
- O DG… ele… ele me ligou. – abaixo minha cabeça encostando-a nos meus joelhos e
choro mais.
- Como assim Soph, ele te ligou?
- Ele me ligou… agora..ele..ele. – não consigo terminar e choro mais alto. Os soluços
saiam pela minha boca e minhas lágrimas desciam sem parar.
- O que ele te disse? – não consigo responder, eu só sei chorar.
Eu já desconfiava que ele estava me seguindo daquela vez. Eu sabia que ele estava solto
por ai e conhecendo como conheço, sabia também que não me deixaria em paz. Mas
nunca recebi nenhuma ligação assim e eu sei que era ele, eu conheço essa risada nojenta
de longe.
- Amiga, calma. O que ele falou?
- Na-nada, ele não falou nada.
- Então como você sabe que era ele, Soph?
- A risada… a risada dele, eu nunca me esqueceria dessa risada nojenta. Era ele, eu sei que
era.
- Eu vou ligar pro Rodrigo então. – ela diz se levantando da cama.
- Não Camila! – Digo desesperada
- Por que não Sophia? Ele vai saber o que fazer.
- Não, ele… ele, se ele souber ele vai querer vim pra cá. Eu o conheço. E é perigoso, e
se… se o DG fez essa ligação com esse intuito? Com o intuito de tirar o Rodrigo de dentro
de casa e fazer algo contra ele?
- Mas ele nem sabe de vocês dois, Sophia.
- Se ele realmente estava me seguindo como eu acho que estava, ele sabe sim, Camila.
Vamos….vamos esperar, amanhã eu falo com ele.
- Sophia isso é sério. Ele tem que saber. Essa ligação vai ajudar pra caramba na
investigação.
- Eu sei… e-eu vou falar, mas eu não quero que ele corra perigo mais do que já está
correndo.
- Tá, você tem razão. – ela volta a se deitar e me puxa pra deitar ao seu lado. – Agora
dorme que amanhã o dia começa bem cedo.
- Eu não sei se vou consegui dormir depois dessa ligação, Camila. – digo enxugando as
minhas lágrimas.
- Vai sim. E qualquer coisa é só me gritar que eu estou aqui do seu lado pra te socorrer. –
diz e deposita um beijo em minha bochecha.
Respiro fundo e me viro de frente para ela. Não demorou muito e ela pegou no sono.
Mas eu não conseguia pregar os olhos, aquela risada ecoava á todo momento na minha
cabeça e as lembranças de anos atrás voltou á tona.
Um aperto tão grande preencheu o meu coração, como se fosse acontecer algo de ruim ou
estivesse acontecendo. De repente eu senti uma grande necessidade de abraçar o meu
filho.
Me levanto da cama e vou andando com lagrimas pelo meu rosto até o seu quarto. Assim
que entro ele estava dormindo tranquilamente em sua caminha. Me espremo em sua
pequena cama e me deito ao seu lado o abraçando com força e deixo um beijo em sua
cabeça.
- Mamãe?! – ele diz manhoso pelo sono.
- Shiiiu, dorme meu filho. – deixo um beijo em seu rosto e o trago para mais próximo de
mim, ele se aninhou ao meu corpo e dormiu novamente.
Só assim eu consegui dormir também…

[…]


- Amor, está tudo bem? Você está distante, já te chamei várias vezes e você não me escuta.
- Desculpa Rodrigo, é que estou um pouco cansada, só isso.
Ainda não contei pra ele sobre a ligação de ontem. Estávamos no meio da festa do
Gustavo e eu não ia contar agora. Eu conheço bem o Rodrigo, ele iria querer sair daqui
direto pra delegacia, ou até mesmo pra Rocinha.
- Mesmo? Não tem nada que você queira me falar?
- Não amor, só cansaço mesmo. – sorrio e selo rapidamente a sua boca.
- Vamos lá, o fotógrafo está nos chamando para tirar foto.
- Vamos.
Fomos e tiramos várias fotos com o Gus e os amiguinhos dele, ele estava muito feliz,
como eu nunca o vi em toda a minha vida. O Gustavo apresentava todo orgulhoso o
Rodrigo para seus amiguinhos como o seu papai. Era a coisa mais fofa. Eu vou agradecer
ao Rodrigo o resto da minha vida, por proporcionar esses momentos para o meu filho, que
com certeza, eu nunca conseguiria proporciona-los sozinha.
Essa é a primeira festa de aniversário do Gustavo. Sim, ele só foi ter uma festa com três
anos de idade. Isso porque o Rodrigo insistiu que não poderia passar mais um ano em
branco e a festa está a coisa mais linda do mundo.
Como a casa do Rodrigo é bastante espaçosa, a arrumação ficou linda. Ele fez várias árias
com brinquedos e pula-pula, piscina de bolinha e animadores de festas. Como não poderia
ser diferente o tema foi dos super heróis, o Gus ama e eu seu preferido é o SuperMan, que
é a fantasia na qual ele está vestido agora, é a coisa mais fofa do mundo e o Rodrigo
também adora.
Não preciso nem dizer que as mães das crianças estão secando o Rodrigo, porque isso já
era de se esperar. Com o tempo eu vou aprendendo a controlar os meus ciúmes e não
querer enfiar a minha mão na cara de todas que o olha com segundas intenções. Até
porque se eu fosse fazer isso com cada uma que o olhasse assim, tadinha da minha mão. Já
estaria cheia de calos de tanto bater.
Cantamos parabéns para ele e logo em seguida o bolo foi servido. Não demorou muito os
convidados foram indo embora e só restou a família.
O Guns acabou dormindo no colo da Julia de tanto que estava cansado, ela o levou para o
quarto dele que tem aqui na casa do Rodrigo. Ele fez um quarto para o Gustavo aqui
também, pois as vezes que passamos o final de semana inteiro aqui.
Sento-me no colo do Rodrigo, que estava jogado sobre o sofá, visivelmente cansado.
Passo minhas mãos em volta do seu pescoço e ele passa as suas pela minha cintura dando-
me um beijo rápido.
- Cansado amor?
- Pra caramba. – suas mãos subiam e desciam lentamente pela minha cintura fazendo-me
arrepiar levemente. – Não sabia que festa de criança era tão cansativa assim.
- Pra falar a verdade, nem eu.
- Mas valeu a pena, só de ver aquele sorrisinho no rosto dele valeu pra mim.
- Obrigada amor. Obrigada por tudo. – digo e busco a sua boca novamente.
- Você não precisa agradecer nada Soph, eu já disse que eu fico feliz em vê-lo feliz… Em
te ver feliz. – ele passa a mão pelo meu rosto tirando meus cabelos dali.
Deito minha cabeça em seu ombro e o abraço mais forte deixando um beijo na curvatura
do seu pescoço.
- Eu te amo muito Rodrigo, muito mesmo. Aconteça o que acontecer nunca, nunca duvide
do meu amor por você… nunca.
Antes que eu pudesse impedir, as lágrimas já estavam caindo.
E nem eu sabia por que.
Não sabia o porquê daquelas palavras ali naquele momento. Eu só senti uma necessidade
imensa de dizê-las.
- Eu também te amo muito, Sophia e nunca duvide disso.
Um soluço sem querer escapole de minha boca e ele me faz olha-lo.
- Soph, por que você está chorando? – diz olhando fundo nos meus olhos e enxuga de leve
o meu rosto. – Amor você está estranha, está acontecendo alguma coisa que eu não sei?
- Rodrigo eu rec…
- Filho eu estou indo.
Quando eu ia contar pra ele sobre a ligação, a Júlia aparece. Merda! Justo agora que eu
tomei coragem!
Limpo rapidamente o meu rosto.
- Estava chorando, querida? Aconteceu alguma coisa?
- Não, não foi nada Julia. Está tudo bem.
- Mesmo?
- Mesmo.
- Se o meu filho estiver aprontando com você, me fala que eu dou uns bons tapas nele.
- Mãe! – exclama o Rodrigo.
- Pode deixar, Julia. – digo sorrindo. – Mas não é nada, está tudo bem.
- Então ta, eu acredito em você. Rodrigo vem me dá um abraço, filho que eu estou indo.
Levanto-me do colo do Rodrigo, ele vai até ela dando-lhe um abraça e deposita um beijo
em sua cabeça.
Sim, eles finalmente se acertaram. Já estava mais do que na hora disso acontecer, eles
conversaram e ele finalmente tirou todo o rancor que sentia pela mãe. Eu não sei como foi
essa conversa, até porque não é da minha conta. Mas parece que foi bem esclarecedora pra
ele.
- Soph eu vou dar uma carona a sua mãe, já que vocês vão ficar aqui.
- Por que ela não fica aqui também, Sophia?
- Você sabe muito bem como aquela mulher é, Rodrigo. – digo sorrindo. – Vou lá me
despedir dela.
Saio dali e a Julia e o Rodrigo vem atrás, mas ao contrário da mãe que continua ao meu
lado, ele entra em casa.
- Tem certeza que não quer dormir aqui hoje, mãe? A senhora vai ficar lá sozinha.
- Tenho minha filha, pode ficar tranqüila que qualquer coisa eu ligo.
- Tudo bem então.
Despeço-me dela e da tia Patrícia, e da Mila que também já estavam indo.
Depois de todos terem ido embora eu entro, fecho a casa e subo para o quarto. Encontro o
Rodrigo saindo do banheiro com uma toalha amarrada na cintura. Ele vai para o closet e
eu me sento na cama para retirar minha sandália dos pés.
Depois ele volta e se senta ao meu lado abraçando-me e deixa um beijo rápido nos meus
lábios.
- Amor, eu estou muito cansado, será que a gente pode continuar a nossa conversa
amanhã?
- Tudo bem amor, pode. Vai descansar.
Beijo-o e ele se joga na cama.
Não tem importância de eu esperar até amanhã para conta-lo sobre a ligação. Ele está
realmente muito cansado, coitado, precisa descansar um pouco.
Vou para o banheiro, tomo um banho um pouco demorado e depois vou até o quarto da
frente e dou um beijo no Gus que dormia profundamente. Deixo a porta do quarto um
pouco aberta e me deito ao lado do Rodrigo que já dormia, sinto-o se mexer na cama e
logo em seguida o seu braço passa pela minha cintura levando-me de encontro ao seu
corpo.
- Boa noite, amor. – ele diz com uma voz bem rouca de sono e deixa um beijo no meu
pescoço.
- Boa noite.
Não demorou muito os meus olhos foram pesando e quando percebi já tinha dormido.

[…]


Acordo com uma criaturinha pulando em cima de mim e gritando…
- Mamãe, escola mamãe.
Ele gritava repetidas vezes e ao mesmo tempo pulava em cima de mim. Abro os meus
olhos assustada. Pra ele estar acordado deve ser muito tarde e eu não posso me atrasar para
o trabalho de jeito nenhum. Mas assim que olho o relógio ao lado da cama, vejo que ainda
são 07h00min da manhã.
- Está cedo ainda meu filho. – digo coçando os meus olhos. – O que você está fazendo
aqui nesse quarto?
- Não sei. – ele fez uma cara engraçada e levantou as mãos.
O Rodrigo deve ter colocado ele aqui antes de ir para a delegacia.
- Okay, você já me acordou mesmo, então vamos tomar um banho.
Levanto-me da cama e o levo para o banheiro, dou um banho rápido e coloco a roupa da
creche que eu havia trago ontem, pois já sabia que dormiríamos aqui.
Desci com ele nos braços e encontrei a Maria sentada na cozinha.
- Bom dia Maria
- Bom dia. – diz com um sorriso simpático e dá um leve aceno de cabeça.
- Maria eu posso te pedir um favorzinho?
Ela logo se levanta da mesa e se põe a minha frente.
- Claro Senhora.
- Sem o senhora, por favor, eu já disse isso. É Sophia, apenas Sophia.
- Tudo bem. – diz e sorri um pouco sem graça – Mas o que você quer que eu faça?
- Você pode fazer o leite do Gustavo e dar pra ele, por favor, enquanto eu me arrumo? –
pergunto um pouco sem jeito.
- Claro.
Coloco o Gus sentado na cadeira pego o seu babador e coloco, não quero correr o risco
dele sujar o uniforme.
- Mamãe já volta tá meu amor?
Ele acena.
Subo, me arrumo rápido e arrumo também a cama do Rodrigo e depois saio já pronta.
Tomo o café da manhã rapidamente e quando saio do portão já encontro o Douglas, o
policial que nos acompanharia hoje, à nossa espera.
- Bom dia, Douglas. – digo sorrindo.
- Bom dia, Sophia. Bom dia, Gustavo. – fala bagunçando os cabelos do Gus.
- Bom dia. – ele responde o fazendo sorrir.
Entramos no carro e fomos rumo à creche do Gus primeiro, por mais que o Shopping fosse
bem perto da casa do Rodrigo, e a creche, digamos que um pouquinho distante, eu fiz
questão de passar lá primeiro. Ainda estava em tempo, eu não me atrasaria. Como
estávamos de carro, tudo é mais rápido. Então vinte minutos depois já estávamos parados
em frente à creche.
Depois que deixamos o Gus lá nós voltamos para a Barra e não demorou muito chegamos
ao Shopping.
- Muito obrigada, Douglas.
- Que nada. Já sabe né? Se for almoçar fora do Shopping me liga pra eu vir te buscar, se
não for, de qualquer jeito ás seis horas eu estou aqui para te pegar.
- Tudo bem.
Desço do carro e entro no Shopping.
Passei a manhã inteira trabalhando, não tive tempo de parar nenhum minuto, o movimento
está muito puxado e por um lado isso é bom, pois a comissão no final do mês é maior.
Deu a hora do almoço e como sempre eu e a Jessica, que virou uma grande amiga minha
aqui na loja, fomos almoçar juntas.
Depois daquele episodio do Rodrigo aqui na loja ela veio toda sem graça se desculpar
comigo pela forma que ela agiu, e eu claro não tive porque não desculpar. Não posso
culpar as mulheres por eu ter um homem maravilhoso que chama atenção por onde passa,
e ela não tinha como adivinhar que ele era o meu namorado. Mas depois que ela me pediu
desculpas e eu a desculpei, nós passamos a nos dar muito bem. Ela me ajudou a me
adaptar na loja e nós sempre almoçamos juntas, isso quando o Rodrigo não vem me buscar
para almoçarmos juntos. Ela é uma ótima pessoa, meio doidinha, mas ótima.
Já tínhamos comido e resolvemos passar no Mc Donald’s pra tomar um sorvete, eu
simplesmente amo, e ainda tínhamos bastante tempo sobrando.
Sentamos na praça de alimentação e começamos a comer o sorvete.
A Jessica começou a falar sobre o carinha que ela conheceu na balada no sábado, alguma
coisa dele ser bom de cama e ser muito grande. Não entendi muito bem, na verdade eu
estava longe. De repente aquela mesma sensação de que algo de errado está acontecendo
toma conta de mim. Eu senti a necessidade de ver o meu filho nessa hora, mas eu não
podia, não podia simplesmente sair dali. Eu tinha apenas vinte minutos restante, não ia dar
tempo de eu ir lá na creche e voltar, não ia dar.
- Soph, está tudo bem? Eu estou falando aqui e você nem está ouvindo.
- Sei lá. Eu estou com um pressentimento muito ruim. Eu preciso ver o meu filho.
- Calma isso é coisa da sua cabeça. Olha já já o expediente acaba e você vai ver ele e vai
ver que está tudo bem.
- É, você está certa. Eu estou ficando um pouco paranoica. – digo mais para ela, pois eu
não me convenci totalmente disso.
Terminamos o sorvete e voltamos para a loja.
Eu trabalhei o tempo inteiro mal, eu não via a hora de sair daquele lugar e ir para casa e
ver que o meu filho estava bem e que era só coisa da minha cabeça.
As horas passaram lentamente, mas assim que as 18h00min marcaram no ponteiro do
relógio, eu sai apressadamente dali, nem a Jessica eu esperei. Cheguei ao estacionamento
de fora do Shopping e o Douglas já estava lá. Entro rapidamente no seu carro e ele seguiu
em direção à creche.
- Está tudo bem, Sophia?
- Está Douglas. – digo forçando um sorriso. Ele pareceu não acreditar muito, mas também
não disse nada.
Assim que ele para o carro em frente á creche, eu desço e atravesso a rua, tinha alguns
pais que buscavam os seus filhos naquele horário saindo dali com eles. Cheguei perto da
mulher do portão e antes que eu possa perguntar pelo meu filho, ela diz…
- Oi Sophia. O Gus já foi. – com um sorriso simpático nos lábios, que pela primeira vez eu
não consegui corresponder.
Senti minhas pernas fraquejarem e meu coração gelar.
- Como assim ele já foi? Eu só estou vindo buscá-lo agora, não é possível ele ter ido.
- O pai dele veio buscá-lo.
- Aãn! Como assim?
O Rodrigo não me avisou nada que viria buscar o Gustavo, e sempre quando ele faz isso,
ele despensa o policial do dia, vai me buscar e na volta passamos aqui.
Comecei a me desesperar de verdade quando ouço ela dizer…
- É o pai do Gus, o… como é o nome dele mesmo… Diogo eu acho, não era o Rodrigo
não… Isso mesmo, Diogo o nome dele, os olhos eram os mesmos, o rosto e tudo… O Gus
é a cópia do pai. – já podia sentir meu coração bater aceleradamente e meus olhos se
encherem de lágrimas.
Ele pegou o meu filho.
– Ele disse que você pediu pra ele vir buscá-lo, porque ia se atrasar um pouco no trabalho.
- Co..como…. como vocês dão o meu filho a um estranho? – eu já estava me alterando. –
E sem a minha autorização?
- Nunca faríamos uma coisa dessas, Sophia, ele entrou, conversou com a diretora e sim,
ela falou com você, inclusive você autorizou a saída dele.
- Eu não autorizei nada, vocês estão malucos…
De repente o meu celular começa a tocar. Eu olho no visor e o número é desconhecido.
É ele, só pode ser ele.
Atendo.
- Oi meu amor, como você está? – aquela voz nojenta ecoa pelo telefone e isso me faz
sentir mais nojo e raiva do que eu um dia já senti por esse homem.
- Eu quero o meu filho, seu desgraçado. O que você fez com ele?
- O nosso filho? Ele está ótimo, só falta você aqui, amor pra família ficar completa.
- Você é maluco, tem problemas mentais… Solta ele agora DG ou…
- Morena, eu acho melhor você vim pra casa, o Gustavo não para de chamar por você e…
- Você está maltratando o meu filho seu desgraçado? – a raiva começou a me tomar de
uma forma tão grande, que as lágrimas que estavam em meus olhos secaram.
- Eu não fiz nada minha querida… ainda. Mas se você não aparecer aqui em uma hora e
meia eu acabo com a vida do desgraçado daquele delegado e da sua mãezinha. E você
pode ter certeza nunca mais verá o Gustavo. Nunca mais.
- Você não teria coragem de fazer isso.
- Você sabe que sim. – ele diz e solta uma gargalhada no final.
Nojento.
- Vou te mandar uma foto agora, pra você ver que eu não estou de bobeira.
Não demorou muito e meu celular vibrou sinalizando uma mensagem. Por um momento
retiro o celular da orelha e abro a mensagem, tinha duas fotos. Uma em frente ao prédio do
Rodrigo no qual nós estamos morando agora e na outra foto era o Rodrigo saindo do seu
carro em frente á delegacia e nessa foto em especial tinha um cano de uma arma próximo
á câmera, apontada para o Rodrigo. A foto parecia ter sido tirada de longe, mas era o
Rodrigo eu sei que era.
Escuto o DG me chamando e levo o telefone à orelha novamente.
- Tudo bem eu vou.
- Muito bem, mulher esperta. Tem um dos meus homens ai envolta vai até um deles.
- Não, eu estou acompanhada e eu vou sozinha depois.
- Sophia. Não tenta me enganar, eu tenho todos na minha mira inclusive o delegadinho de
merda. Se você estiver me enganando…
- Eu não estou te enganando, em uma hora eu chego ai, eu prometo.
- Tudo bem então.
Antes que ele desligue, eu o paro.
- Espera! DG deixa eu falar com o meu filho? Por favor!
- Tá. – ele demora um tempo e depois começo a ouvir o choro do Gus de longe e o meu
coração imediatamente se apertou. Eu conheço o meu filho, sei que está com medo. –
Pode falar.
- Filho, é a mamãe.
- Mãe, mãe com medo. – ele chorava muito e isso me destruía ainda mais.
- Calma amor, a mamãe já está chegando. Vai ficar tudo bem. – minha voz falha um
pouco, mas respiro fundo tentando me controlar.
- Tá. Já chega, já se falaram… Agora Sophia, sem gracinhas entendeu, ou então nunca
mais vai ver o Gustavo e aquele bosta vai pra vala, assim como sua mãe. – diz e desliga o
telefone na minha cara.
Seguro o celular com força na minha mão e respiro fundo, tento me tranqüilizar e tirar a
preocupação que com certeza toma conta do meu rosto e atravesso novamente a rua indo
em direção ao carro. Eu só não vou direto daqui, pois eu sei que o Douglas não vai me
deixar só, enquanto eu não estiver em casa. Entro no carro e ele me olha.
- Ué, cadê o Gustavo?
- Você falou com o Rodrigo?
- Sim, falei com ele de manhã.
- Só?
- Só. Por quê?
- Nada.
- E cadê o Gustavo? – pergunta novamente, agora desconfiado.
- Ele já foi… o.. oo Rodrigo veio buscá-lo. Sem me avisar, acredita? Quase fiquei louca.
Agora vamos logo pra casa que eu estou muito cansada.
- Claro.
Ele pareceu não acreditar muito, mas também não disse nada.
Como a creche era perto de casa, não demorou muito para chegarmos. Antes de descer eu
dispenso o Douglas alegando que não sairia mais de casa hoje e que ele poderia ir embora.
Subo correndo e agradeço a Deus por não encontrar a minha mãe na sala, entro no meu
quarto e tranco a porta.
Eu não sei o que fazer.
Eu tenho, tenho que contar para o Rodrigo, ele tem que saber. Mas se eu contar eu ponho a
vida das pessoas que eu mais amo no mundo em risco. Eu não tenho muito tempo pra
pensar, não sei muito o que fazer.
Pego um papel e uma caneta e começo a escrever uma carta. Eu espero que ele me perdoe
por isso. Eu espero que ele não me odeie… que ele me entenda. Mas eu tenho que fazer
isso. É o meu filho e eu não pensaria duas vezes em abrir mão de minha própria vida por
ele. O Gustavo precisa de mim nesse momento.
Termino de escrever a carta e percebo que está toda molhada pelas minhas lágrimas, dobro
e coloco dentro de um envelope.
Saio novamente do quarto e a casa continua quieta, vou bem de vagar até o quarto da
minha mãe e ela está dormindo. Saio dali antes que ela acorde.
Assim que chego à portaria eu deixo a carta discretamente com o porteiro, pois eu poderia
muito bem estar sendo vigiada por um dos homens do DG. Deixei bem claro para o
porteiro para entregar a carta somente ao Rodrigo.
Saio do prédio e pego o primeiro ônibus, que eu vejo que me deixaria perto da Rocinha.
Cada metro que o ônibus andava, parecia que o meu coração iria pular para fora, de tão
nervosa que eu estava.
Assim que o ônibus para no ponto perto da favela, eu desço e começo a caminhar
apressadamente para dentro. Quando chego na entrada da favela um dos moto táxis que
ficam ali, para a moto na minha frente.
- Monta aí, vou te levar pro chefe.
- Não preci…
- São ordens dele, anda logo. – o cara era meio mal encarado e não parecia estar com
muita paciência.
Subo na moto e agarro na sua cintura. Ele sobe o morro rápido demais para o meu gosto, a
sensação que eu tinha era que a cada curva que ele dava nas vielas, nós iriamos bater de
cara em algum muro ou poste. Não demorou muito e ele parou a moto em frente de uma
casa enorme, e muito linda por sinal. Ali eu soube que era a casa do DG. Só ele teria
condições de fazer uma casa dessas aqui na favela, e também é obvio, pela quantidade de
“soldados” – como são chamados os traficantes que tomam conta deles – que tinham
envolta da casa.
Um deles veio até a mim e colocou a mão nas minhas costas e me empurrou de leve para
entrar.
- Vamo que o patrão tá locão que você ainda não chegou.
Assim que entro na casa, dou de cara com o desgraçado que acabou com a minha vida há
três anos.
Ele tinha um sorriso maior do que a cara, ele era nojento, só de olhá-lo me dava vontade
de vomitar e ao mesmo tempo o medo me invadia. Mas eu não vou deixa-lo perceber isso,
não vou.
- Minha morena finalmente chegou. – ele diz se levantando da poltrona, que o deixava
com um ar de dono de tudo, e veio andando até mim. A minha vontade era de correr, mas
eu tive que me conter.
Pelo Gustavo. Tudo isso é pelo Gustavo.
Ele chegou mais perto de mim, perto até demais, e tentou me tocar, mas eu desviei.
- Cadê o meu filho? Eu quero vê-lo.
- Calma meu amor. Você já vai ver o moleque… – cada passo que ele dava em minha
direção, eu dava dois para trás, até que eu senti a parede. Não tinha mais pra onde correr.
Ele me prensou nela.
- Me deixa matar essa saudade que eu estou de você. – O DG leva sua mão para o meu
rosto acariciando-o e a outra segura com força a minha cintura, sua boca nojenta estava
bem próxima a minha.
E eu já podia ver tudo se repetindo novamente… Tudo


[…]




19° CAPÍTULO
Rodrigo
Eu estava feliz, muito feliz com o rumo que a minha vida estava levando. Eu nunca pensei
que um dia poderia perdoar de fato a minha mãe depois de tudo o que aconteceu.
Nunca pensei que seria capaz de amar alguém, como eu amo a Sophia e o Gus. Sem
sombra de duvidas ela é a mulher que eu quero viver pra sempre ao lado.
Eu estava na delegacia lendo alguns documentos sobre o caso do DG, a lista do cara é
extensa apesar de só ter sido preso uma única vez, ele tinha seu nome envolvido em
grandes assaltos bancários, sequestros e muito mais, e sem falar que ele é o maior
traficante de armas e drogas do Rio. Só que o cara é esperto, sabe o que faz e como faz e
isso dificulta um pouco o nosso trabalho, mas por pouco tempo, pois eu vou colocar as
mãos dele.
Se fosse por mim eu já teria invadido aquele morro há muito tempo, mas devido ao
fracasso que foi a ultima operação feita pelo Borges, ele acha melhor nós esperarmos um
pouco e formar uma estratégia melhor do que a anterior. Eu concordei com ele, não
podemos agir precipitadamente e colocar tudo a perde e ainda por cima por nossas vidas
em risco.
Saio dos meus pensamentos quando o meu celular toca. Penso que é a Sophia, pois pelo
horário ela já tinha saído do trabalho e hoje nós não nos falamos. Mas não era ela, e sim o
Douglas.
- Fala Douglas.
- Oi senhor Rodrigo…
- Aconteceu alguma coisa? – já logo pergunto, pois sinto que ele está estranho.
- Não senhor, quer dizer. Quem vai me dizer isso é o Senhor. O Gustavo está bem?
- Como assim? Por quê dessa pergunta? Aconteceu alguma coisa com ele e eu não estou
sabendo?
Digo começando a ficar preocupado.
- Ué, mas ele não está com o Senhor?
- O quê? Claro que não Douglas, eu estou na delegacia ainda, não sai daqui pra nada.
- Mas a Sophia disse que você tinha pegado ele na creche hoje.
- Como assim? Eu não peguei ninguém. Porra me explica isso direito, Douglas.
- Eu sabia, ela estava muito estranha.
- QUE PORRA DOUGLAS! ME FALA O QUE ESTÁ ACONTECENDO.
Levanto-me da cadeira e começo a andar de um lado para o outro.
- Eu fui com ela hoje na creche e quando chegamos lá ela foi pegar o Gustavo, eu fiquei a
olhando de longe e vi ela se alterando um pouco com a senhora que trabalhava lá. Depois
ela atendeu o celular e ficou um tempo conversando com alguém. Quando ela chegou ao
carro eu perguntei pelo Gustavo e ela disse que o senhor tinha ido buscá-lo sem avisar. Eu
achei ela estranha, mas não quis perguntar mais nada. Mas eu achei que tinha alguma
coisa errada, senhor, ela estava nervosa. Ai eu resolvi ligar para o senhor.
- Porra Douglas. Onde você a deixou?
- Em casa, Senhor.
- Onde você está agora?
- Em casa.
- Me encontra lá no apartamento dela. Agora.
- Claro senhor, estou indo agora mesmo.
Pego as minhas chaves em cima da mesa e arrumo rapidamente os documentos. Saio da
sala apressado e me esbarro na Clara.
- Nossa Rodrigo, calma, onde você vai com tanta pressa?
- Preciso sair um pouco mais cedo hoje, Clara. Se tiver qualquer problema me liga.
Depois do episodio lá em casa nós não falamos mais sobre o ocorrido e quando ela soube
que eu estava com a Sophia, também não tocou no assunto. Nos falamos apenas quando o
assunto é relacionado a delegacia. O que eu agradeço. Mas isso não impede que eu a
pegue me olhado muitas vezes com malicia. O que me incomoda, como nunca me
incomodou antes.
Entro no meu carro e alguns minutos depois eu já estava parando em frente ao
apartamento. Já posso avistar o carro do Douglas e assim que ele me vê, vem na minha
direção.
- Você tem certeza do que você me falou, Douglas?
- Tenho sim senhor, absoluta.
- Você realmente a deixou em casa.
- Sim, eu ainda esperei um tempo e a vi subindo, só depois eu fui embora.
Viro-me e entro no prédio, como o porteiro já me conhece ele abriu o portão pra mim sem
dificuldades. Já estava passando reto por ele, quando o mesmo me chama.
- Senhor Rodrigo, tenho uma carta pro senhor.
- Carta? Que carta?
- Essa aqui. – ele me estende a carta. – A dona Sophia me pediu pra entregar em suas
mãos.
Pego a carta de suas mãos.
- Ela está em casa?
- Não senhor, ela saiu tem uma hora mais ou menos.
- Puta que pariu. Ela saiu sozinha? – me controlo pra não me alterar mais.
- Sim senhor.
- Caralho. – passo as mãos rapidamente pela minha cabeça e meu coração se aperta.
Está acontecendo alguma coisa. Que porra! Eu sei que está.
Vou para um canto e abro a carta. Meu coração para assim que leio a primeira linha.
“Amor, quando você estiver lendo essa carta eu provavelmente já estarei na Rocinha. Eu
imagino que você deva estar se pergunto o que eu estou fazendo aqui. Você não vai gostar
nem um pouco da resposta. O DG pegou o Gustavo e eu não podia deixá-lo sozinho, é o
meu filho… nosso filho! Eu tive que ir até ele. Eu sei que você vai se perguntar o porquê
de eu não ter te avisado antes. Eu quero que saiba que não foi por falta de confiança, mas
sim por medo de te perder, perder as pessoas que eu amo. Ele ameaçou matar você e a
minha mãe e ainda sumiria com o Gustavo se eu não fosse. Eu sei que deveria ter te
contado antes de tomar essa decisão e ir até ele. Não pense que eu não acreditei em todas
as vezes que você disse que nos protegeria, pois não é isso. Eu acredito, amor, eu confio
muito em você. Mas eu não podia deixar que nada de ruim acontecesse com as pessoas
que eu mais amo nesse mundo.
Eu sei que agora você deve estar com raiva de tudo e de todos, inclusive de mim, por não
ter te contado nada. Mas eu não poderia deixar e nem suportaria que nada acontecesse à
você. Lembra que eu te disse que eu te amo muito e que era pra você nunca duvidar desse
amor? Então, eu repito: Eu te amo, você é tudo pra mim. O meu coração está apertado por
ter feito isso sem falar com você. Sei que está com raiva agora. Mas nunca se esqueça que
eu te amo… Nós te amamos. E estamos te esperando.

Eu sei que você vai ir nos tirar da Rocinha. E eu sei também que eu poderia ter evitado
isso tudo, mas eu quero que você entenda que pela minha família eu sou capaz de fazer
tudo.
Mas eu só queria te pedir pra não fazer nada de cabeça quente, Rodrigo, por favor. Não vai
agir com raiva, desespero, como eu sei que você está agora. Você mais do que eu sabe que
agir assim não leva a nada. E como eu disse: Eu confio em você e eu sei que vai nos trazer
de volta.

Eu te amo muito. E mais uma vez, me desculpe por isso.
Tente me entender.”
Porra, eu não estou acreditando que ela fez isso. Não estou acreditando que ela fez uma
burrada dessas.
Que droga! Ela tinha que ter me contado, tinha que ter confiado em mim. Eu arranjaria um
jeito de tirar o Gus de lá sem ela precisar se expor a esse cara mais uma vez.
Só Deus sabe o que ele pode estar fazendo com ela nesse momento. Só de imaginar a
minha raiva triplica.
Raiva dela, por não ter me contado nada.
Raiva daquele bandido desgraçado por estar com a minha mulher e meu filho agora.
Chuto com força a lixeira do meu lado e amaço a carta em minhas mãos.
- Senhor o que houve? – pergunta o Douglas chegando perto de mim um pouco assustado.
- Aquele bandido filho da puta os pegou, Douglas.
- E o que nós vamos fazer agora, senhor?
- Vamos subir a Rocinha.
- Calma. – ele segura o meu braço me impedindo de continuar – Não pode ser assim,
Senhor, a gente tem que pensar.
- PENSAR É O CARALHO DOUGLAS, VOCÊ NÃO ESTÁ ENTENDENDO. É A
MINHA MULHER E MEU FILHO QUE ESTÃO NAS MÃOS DE BANDIDOS,
AGORA.
- Eu sei, senhor. Mas nós não podemos agir sem pensar. Nós vamos colocar a vida deles
em risco.
Paro pra pensar um pouco e me lembro do pedido da Sophia na carta.
- O senhor é o melhor delegado que eu já vi em toda a minha vida, o mais centrado e
calculista também. E tem que continuar assim, senhor. Não deixe o emocional te abater.
Não podemos colocar tudo a perder, pois agindo de cabeça cheia vamos colocar não só a
vida dos dois em risco, como a nossa também.
- Você tem razão. Obrigado Douglas.
- Que nada senhor. Agora a gente tem que pensar com calma no que vamos fazer e como
fazer, pra não colocar a vida de ninguém em risco.
- Vamos pra delegacia do Borges, precisamos agilizar essa invasão para o mais rápido
possível, eu não posso deixa-la nas mãos daquele cara, eu sei muito bem do que ele é
capaz de fazer.
- Então vamos logo, não podemos perder tempo.
Eu me obriguei a me controlar e não jogar a porra toda pro alto e invadir eu mesmo
sozinho aquela porra daquela favela e tirá-los de lá. Mas como o Douglas disse, eu não
posso deixar o meu emocional falar mais alto e estragar tudo. Por mais que o meu coração
esteja apertado e que a minha vontade agora seja de jogar tudo pro alto e ir buscá-los. Eu
tenho que manter a calma e pensar direito no que fazer para tirá-los de lá.
Entramos no carro e alguns minutos depois já estávamos parados em frente à delegacia na
qual o Borges comandava.
Entramos e eu expliquei todo o acontecido para o Borges e também já tomei providencias
contra aquela creche. Eles não vão sair impune de tudo isso, eu não vou deixar. Eles não
podem entregar uma criança á um desconhecido. Eu vou foder com a vida de todos que
trabalham naquele lugar.
Assim como o Douglas me disse, o Borges reforçou de que não podemos agir de cabeça
quente. Se quiséssemos realmente tê-los bem e de volta, teríamos que trabalhar em equipe
e com cautela o que poderia levar um tempo. Mas eu não ia aguentar muito tempo longe
deles, ainda mais sabendo que estão nas mãos daquele desgraçado que poderia muito bem
abusar da minha mulher novamente.
- No mínimo uma semana.
- O QUÊ??
- Rodrigo, presta atenção…
- PORRA BORGES, VOCÊ NÃO ESTÁ ENTENDENDO! É A MINHA MULHER E
MEU FILHO LÁ. EU NÃO POSSO ESPERAR NEM MAIS UM DIA, QUEM DIRÁ
UMA SEMANA.
- Rodrigo, você melhor do que ninguém sabe que uma invasão como essa não pode se
resolver de um dia para o outro.
- PODE SIM PORRA!
- Olha, eu sei que você está nervoso e de cabeça quente, mas no fundo você sabe que eu
tenho razão.
O foda é que ele realmente tinha razão, não podemos resolver isso de um dia para o outro.
Uma invasão requer tempo, planejamento, no mínimo, para sair tudo certo. E mesmo
assim as vezes dá errado.
- Ainda mais Rodrigo, que se o DG já sabe que vocês dois estão namorando, ele com
certeza espera que você vá buscá-los, com certeza ele está nos esperando. Então não
podemos aparecer assim. Por isso mesmo que devemos pensar com calma no que vamos
fazer.
- Okay, você está certo. Mas eu não sei se aguentarei esperar por uma semana. Se chegar a
tanto eu mesmo invado aquela porra sozinho.
Levanto-me da cadeira e saiu da sala sem olhar pra trás. A raiva e o medo me consome.
Raiva por não poder fazer nada agora, pois eles realmente tinham razão. Aquela porra
daquela favela é grande e pelo resultado da ultima invasão, pode se ver que eles estão
muito mais bem armados do que a policia. E medo de ele fazer algo com ela. Se ele
encostar um dedo dela novamente. A morte dele que seria dolorosa, agora será mil vezes
mais dolorosa e lenta. Bem lenta.
Assim que chego em casa o meu celular toca e é o numero da casa da Sophia, com certeza
é a dona Marta.
- Alô.
- Oi… é Rodrigo, desculpa te atrapalhar agora. Mas é que a Sophia não chegou até agora
com o Gus, eu estou ligando para o celular dela e ela não atende. Ai eu fiquei preocupada,
já liguei pra Camila, mas ela disse que não viu eles dois hoje e eu queria saber se estão
com você.
- Olha dona Marta, a senhora vai precisar ficar calma agora.
- Como assim, Rodrigo? O que está acontecendo?
Respiro fundo e falo.
- Eles estão com o DG.
- O..o que? Como assim?
- Eu não sei explicar ao certo o que houve, dona Marta, mas o DG pegou o Gus e a Sophia
foi até a Rocinha por chantagem do DG.
- Meu deus, a minha filha…ele… ele é um louco, Rodrigo ele vai…
- Calma, fica calma que eu já estou resolvendo isso. Eu só preciso que a senhora fique em
casa, okay, não saia daí por nada. Eu vou mandar uns policiais fazerem a sua segurança.
Mas eu preciso que a senhora me prometa que não vai sair de casa por nada.
- Tu..tudo bem Rodrigo. – ela já estava chorando demais. – Só trás a minha filha e o meu
neto pra casa, por favor.
- Eu vou levar dona Marta, confie em mim.
Desligo o celular e não demorou muito ele já tocava novamente, e dessa vez era a Camila.
Essa seria difícil.
- Fala Camila.
- Rodrigo, por favor, me diz que a Sophia e o Gus estão com você.
- Não, eles não estão, Camila.
- Porra, Rodrigo eles sumi…
- O DG os pegou, Camila. – cada vez que essas palavras saíam de minha boca, a raiva me
invadia e com ela a vontade de jogar tudo pra cima e ir pra Rocinha também.
- Como assim Rodrigo? – ela estava nervosa e isso era notório em sua voz.
Eu expliquei toda a situação para ela, no final ela já estava chorando horrores.
- Rodrigo, você não pode deixa-los lá. Aquele cara… ele… ele pode abusar dela de novo
e…
- Você acha que eu não sei disso, porra? Mas se eu agir de cabeça quente vai ser pior.
- Eu posso ajudar e…
- Você não vai ajudar porra nenhuma, você vai ficar na sua. Eu não quero mais um no
meio disso tudo.
- Mas…
- Mas o caralho Camila, você está me entendendo? Você vai ficar quieta na sua e deixar
que eu faça o meu trabalho.
- Tu…tudo bem.
- Agora vai dormir, Camila, e me deixa trabalhar.
- Até parece que vou conseguir dormir depois dessa.
- Então faz qualquer coisa, só fica na sua e não se meta. Não quero você em perigo.
Encerro a ligação e me sento no sofá.
É inevitável não deixar as lágrimas caírem em pensar que eles estão nessa e eu não posso
tirá-los de lá agora. Mas não vai adiantar nada eu ficar igual a um banana chorando.
Levanto-me seco as lágrimas do meu rosto com força, vou até o meu escritório e começo a
procurar alguns contatos que eu precisarei muito. Eu vou usar as minhas influencias para
conseguir agilizar mais isso. Eu vou invadir esse morro e tirar a minha família de lá e
matar aquele filho da puta com as minhas próprias mãos.
O DG não tem noção a mínima noção do ódio que causou em mim, muito menos do que
eu sou capaz de fazer com esse sentimento tão ruim me corroendo.


[…]


20° CAPÍTULO
Sophia
Suas mãos se encontravam uma em minha cintura me acariciando de leve e a outra em
meu rosto. Posso ver prazer em seus olhos, e o seu sorriso nojento não saia de seu rosto.
É inevitável não me lembrar de tudo aquilo novamente. Só que agora eu não posso mais
ser fraca. Não posso deixar esse medo transparecer.
Eu tenho o meu filho, que está em algum lugar desse morro, precisando de mim. E por um
momento eu tenho que respirar fundo e deixar toda essa dor, todo esse trauma de lado e
reagir. Reagir por ele.
Eu prometi pra mim mesma, que nunca mais deixaria o DG encostar em mim daquela
maneira e nem de maneira nenhuma.
Ele ia chegando mais perto e eu ia tentando tirar suas mãos de mim. Mas era em vão. Ele
era muito mais forte.
- Me solta DG. – tento deixar minha voz firme para não transparecer o medo. Mas ele não
se importa.
- Você nunca muda, não é? Sempre marrenta, fazendo cu doce, mas na hora…
Em um movimento rápido, ele consegue capturar a minha boca, e suas mãos agora
envolvem brutamente a minha cintura. Meu celular começa a tocar insistentemente em
meu bolso e ele leva a sua mão para a minha bunda e antes de tirar o meu celular do bolso
ele a aperta. O que me faz grunhir de nojo.
O DG separa a sua boca da minha por um momento e eu a limpo com as minhas mãos,
tento me soltar dele, mas ele me prendia com tanta força na parede que estava me
deixando sem ar. Ele olha no visor do celular e eu consigo ver que é o Rodrigo me
ligando.
- É o merdinha, filho da puta. – diz jogando o celular com toda força na parede fazendo
com que ele pare de tocar.
Antes que eu possa dizer algo e tentar me soltar dele, ele toma minha boca novamente. Eu
já estava muito enjoada com aquilo tudo, eu sentia que poderia vomitar a qualquer
momento. Fecho minha boca com força não dando acesso nenhum para ele, e começo a
distribuir socos pelos seus braços na tentativa de me soltar. De repente eu ouço um choro
na sala e uma voz feminina.
- Diogo ele não para de chorar, faz alguma coisa, eu não aguento mais.
Nesse momento eu mordo a boca do DG com força e ele se afasta de mim.
- PORRA SOPHIA!
O seu olhar era de raiva. Ele leva sua mão até a sua boca que sangrava pela intensidade da
mordida. Mas antes que ele faça alguma coisa, eu saio correndo em direção a Isabela, a
irmã do DG, que estava com o Gustavo nos braços.
Pego o meu filho rapidamente de seus braços, ele me abraça com força e deixa sua cabeça
cair no meu ombro.
- Calma meu filho. – dizia passando as mãos por suas costas. – Está tudo bem. A mamãe
está aqui agora.
- ‘To com medo, mamãe.
- Não precisa ter medo meu amor. Eu estou aqui, agora. – deixo um beijo em sua bochecha
e ele me olha. Seus olhos e bochechas estavam extremamente vermelhos pelo choro.
- Eles fizeram alguma coisa com você, meu filho? Eles te machucaram?
- Você acha que eu sou um monstro, né Sophia?! Até parece que eu ia fazer alguma coisa
com o moleque, ele é meu filho.
Ele diz vindo da cozinha com um gelo na boca.
- Eu não acho que você é um monstro. Você É um, seu desgraçado. E não, ele não é o seu
filho, nunca foi e muito menos será.
- Ele é meu filho sim, porra. – ele joga o gelo no chão e vem pra cima de mim com raiva.
Eu recuo. A Isabela entra na nossa frente o impedindo de chegar mais perto.
- Diogo para. Olha o seu filho, você está assustando ele, deixando ele com medo, cacete. É
isso que você quer? Que ele tenha medo de você?
- Não caralho, mas ela falando que ele não é o meu filho, isso me tira do sério.
- Mesmo assim, você fazendo isso só vai fazer com que ele te considere menos ainda
como pai.
Eu nem sequer me atrevi a me meter na conversa, eu apenas observava.
Vê-se que a Isabela não é que nem o irmão, pelo menos é o que parece, eu nunca tive
contato com ela, até porque ela sempre foi muito na dela. Ela falava com quem falava com
ela, e como eu também era assim, o resultado era nenhuma de nós duas nos falarmos. Mas
o que eu não fazia muito questão e também pelo fato da minha mãe não gostar muito que
eu tivesse contato com ninguém do tráfico eu não me importava nem um pouco. Por mais
que ela não tivesse nada a ver com as coisas que o irmão fazia. Mas bem ou mal, ela vivia
daquilo.
- Aah caralho tá desculpa ai. – ele diz estressado, pega uma arma que eu nem vi, mas
estava em cima da mesinha de centro, coloca na cintura e sai da casa.
Segundos depois ele volta e aponta a arma pra mim.
- Não tente nenhuma gracinha pra tentar sair daqui, ou você já sabe. – a sua voz tinha um
tom frio, que me fez arrepiar por inteira, eu via raiva em seus olhos e verdades em cada
palavra.
Ele novamente sai, mas dessa vez não volta.
O Gustavo já tinha parado de chorar, mas mesmo assim não se desgrudou de mim. A
Isabela se senta no sofá e me chamou para sentar também. Penso duas vezes antes, mas
por fim aceito. Ela não ia me faria nenhum mal, pelo menos eu acho. O pior já foi embora
e de qualquer jeito, eu já estou aqui, já estou ferrada mesmo. O negocio agora é eu ter fé
de que o Rodrigo tenha recebido a carta e que ele venha nos tirar daqui o mais rápido o
possível.
Sento-me ao seu lado, mas um pouco mais afastada.
- Eu nunca imaginaria que o Gustavo fosse filho do meu irmão… Meu sobrinho. – ela
franze a testa parecendo pensar. – Cara, isso é tão surreal. Você era a menina mais na sua
que eu já vi nessa Rocinha, eu poderia jurar de pés juntos que você era a única que nunca
daria moral para o meu irmão.
Ela falava e em cada palavra tinha incredulidade e espanto.
- Tanto que quando se espalhou por ai a noticia de que você estava grávida e não sabia de
quem era o pai, eu logo pensei que era fofoquinha de gente que não tinha o que fazer.
Nunca que a Sophia que eu via passando na rua toda quietinha e na dela, ficaria grávida
tão cedo, muito menos não saber quem era o pai do próprio filho.
- Vai ver foi por isso que o seu irmão fez o que fez. Porque ele sabia que eu nunca daria
moral pra ele.
- Como assim, Sophia? Eu não estou entendendo. O que o meu irmão fez?
- Ele me estuprou, Isabela.
- O..o quê você está me falando, Sophia? – ela parecia não acreditar nas minhas palavras.
Seus olhos se encheram de lágrimas sua expressão era de incredulidade.
- Que o seu irmão me estuprou, ele me forçou a transar com ele. O seu irmão foi o culpado
de eu não conseguir mais ser tocada por homem nenhum por três anos da minha vida. O
seu irmão foi responsável por me ferir da maneira mais suja que existe no mudo. O seu
irmão tirou a minha virgindade da pior forma possível. O seu irmão é a pessoa mais
nojenta e sem escrúpulos que eu já vi em toda a minha vida e a única coisa que eu quero
dele é distancia. Se eu estou aqui hoje, Isabela é por causa do meu filho, que ele teve a
crueldade de sequestrar.
Quando eu terminei de falar ela se encontrava em lágrimas no sofá. Ela chorava de
soluçar. E eu não entendia o porquê daquilo.
Até parece que ela não conhece o irmão que tem. Ela leva as suas mãos ao rosto
parecendo não acreditar em tudo o que eu disse.
Não sei como, mas o Gustavo já estava adormecido em meu colo.
- E-eu não estou acreditando. Is-iisso não é.. não é possível, Sophia. O meu irmão, ele…
ele é bandido eu sei, mas ele não é um estuprador. Ele nunca faria uma coisa suja dessas.
Ele tem uma irmã..ele… ele não faria isso.
- Mas ele fez, Isabela, ele foi cruel. Sem pena. E posso dizer que ele não se arrependeu
nem um pouco por todo mal que ele me causou todos esses anos. O seu irmão é um
doente, ele precisa de tratamento. Ele realmente acha que eu sinto algo por ele… Huum!
Mas eu sinto mesmo, sinto nojo, sinto raiva por tudo que ele me causou. Nada mais que
isso.
- E-eu… eu realmente não consigo entender como ele pode, como ele teve coragem de
fazer isso com você, Sophia. Ele sempre teve a mulher que ele queria aqui no morro, não
tem sentido ele fazer isso.
- Vai ver foi por isso. Eu era a única que não dava a mínima pra ele. Eu estava pouco me
importando se ele era ou não o dono do morro, se ele era ou não bonito, não estava nem i
para poder que ele exercia aqui, pois era exatamente isso que as mulheres gostavam nele.
Eu simplesmente não gostava dele, eu não me sentia bem com seus olhares… E com o
tempo eu aprendi que os homens gostam das mulheres difíceis, das mulheres que não dão
à mínima pra eles.
- Eu nunca imaginei que o Diogo fosse capaz de fazer uma coisa dessas, ele é sangue frio,
já fez e faz várias coisas erradas, mas agora, á estuprar alguém isso é demais pra mim.
Ela estava inconformada.
Surpreendo-me quando ela me abraça. Não consigo retribuir, pois estou segurando o
Gustavo.
- Eu queria tanto te ajudar a sair daqui, Sophia, mas eu não posso.
- E eu acho que nem conseguiria. Eu vi o tanto de bandidos armados tem ali fora. Não vai
ser tão fácil assim eu sair daqui.
- Mas eu não vou te deixar sozinha um minuto, ouviu bem? Eu não vou deixar que ele
abuse de você novamente.
- Eu nunca permitiria que ele me fizesse isso de novo. Mas mesmo assim eu agradeço,
Isabela, muito obrigada.
- Não precisa agradecer. É o mínimo que eu posso fazer. Você não tem noção do quanto eu
estou envergonhada disso tudo.
- Você não precisa se envergonhar de nada, não foi você que fez isso comigo.
- Mesmo assim.
Ela me dá um sorriso fraco e eu retribuo.
- Você pode colocar ele no meu quarto.
- Não.
Não confio em deixa-lo sozinho nessa casa. Eu não sei do que aquele maluco é capaz de
fazer.
- Ei, fica tranqüila, não vai acontecer nada com ele. Eu sei que o meu irmão é louco e eu
tive mais certeza ainda depois do que eu acabei de saber. Mas ele não faria mal nenhum ao
Gustavo. Desde quando ele chegou aqui ele tenta se aproximar, mas parece que o Gustavo
tem medo dele.
- As crianças sentem mais do que a gente quando as pessoas são do mal.
- Tá, mas fica tranquila que eu não vou deixá-lo fazer nada com o Gustavo. Pelo menos
quando eu falo, ele me ouve. E o Diogo acabou de sair agora, pelo visto foi pra boca, não
vai voltar tão cedo, e seu braço vai cansar e você deve estar com fome.
- É..eu realmente estou morrendo de fome.
- Então pronto. Vamos lá, a gente o coloca na cama e depois fazemos a janta. Tudo bem?
Ela me parecia estar sendo muito sincera, mas eu tinha medo de que desse a louca no DG
e ele machucasse o meu filho, ou disso tudo ser apenas um teatrinho dela. Mas ela me
parecia tão sincera em suas palavras. A Isabela teria que ser uma ótima atriz se ela
estivesse mentindo.
- Tudo bem.
Deixo o Gustavo no seu quarto e depois descemos para a cozinha para fazermos algo para
comer.
Eu estava inquieta, com medo do DG aparecer a qualquer momento e tentar algo, ou só
dele aparecer mesmo já me deixava aflita.
Eu estava torcendo para que o Rodrigo tivesse lido a carta e já estar traçando algum plano
para nos tirar daqui.

[…]

Levanto-me da cama correndo e vou até o banheiro que tinha ali naquele quarto para
vomitar todo o meu jantar. Fico cerca de dez minutos com a cabeça abaixada na borda do
vaso colocando tudo o que comi, para fora. Minha cabeça estava zonza e eu tive que me
controlar para não desmaiar.
Quando me sinto um pouco melhor, levanto-me devagar, vou até a pia e lavo minha boca.
Volto novamente para o quarto e me deito na cama tentando controlar a tontura.
Isso aqui parece mais uma prisão do que um quarto. O DG nos colocou aqui dentro assim
que ele chegou da boca, ele ainda estava com raiva e nos trouxe para cá. Um quarto bem
escondido no final do corredor. Por um lado eu agradeci muito a Deus por isso, pois ele
não tentou mais nada. Apenas nos jogou aqui e disse que seria nosso quartinho por tempo
indeterminado, ou só até a gente aprender a conviver com ele. Pelo menos foi isso que ele
disse.
O quarto tem uma cama grande e um banheiro. Mas em compensação as janelas são todas
reforçadas por grades de ferro e bem fechadas com cadeados. Assim como a porta também
é trancada pelo lado de fora, também por um cadeado. Eu já estava me sentindo sufocada
aqui naquele quarto. E também fiz de tudo para não dormir, com medo de que isso tudo
fosse um truque e ele aparecesse de madrugada querendo me estuprar de novo. Mas o
cansaço do meu corpo falou mais alto, quando eu vi já estava acordando com o vômito
entalado na garganta. Só tive tempo de chegar ao vaso e pôr tudo pra fora.
Isso é tão estranho, eu não comi nada de diferente e nada que me fizesse mal, muito menos
estragado.
A última vez que eu senti esses sintomas eu estava… Grávida.
CACETE EU ESTAVA GRÁVIDA!
Mas não, não é possível. Daquela vez que eu e o Rodrigo transamos sem camisinha eu
tomei a pílula do dia seguinte e também fui ao médico para tomar os remédios certos e a
Doutora me garantiu que eu não estava grávida. Depois desse dia eu passei a tomar os
remédios certinhos, eu não me esquecia de tomar nenhum dia sequer. Até alarme para me
lembrar eu colocava.
Não! Não pode ser.
Eu não estou grávida novamente, não agora, não no meio dessa loucura toda.
Eu não posso e eu não estou.


[…]
21° CAPÍTULO
Sophia
Três dias.
Três dias nesse inferno de casa.
Três dias tendo que aguentar o nojento do DG tentando encostar em mim, mas eu
agradeço a Isabela por estar sempre por perto e, de alguma forma, o impedir de me tocar
da forma que quer.
Três dias vomitando toda vez que acabo de comer algo. Merda! Eu já estava começando a
acreditar que eu estava realmente grávida. O que me deixava ainda mais desesperada. Não
sei como eu pude dar um mole desses. E o pior é que a Isabela já estava suspeitando disso
também.
- Sophia, esses enjoos estão muito frequentes, você não acha não? – diz ela levantando
uma sobrancelha.
- Que nada, Isabela. Vai passar. Deve foi alguma coisa estragada que eu comi.
- Huum. Coisa estragada? Espera mais alguns meses que você vai ver essa coisa estragada
crescendo dentro de você.
- Não estou te entendendo. – me faço de sonsa.
- Ah está entendendo, está entendendo sim. E sabe também que o DG não vai gostar nada
nada de saber disso.
- Isabela, por favor. Não fala nada pra ele. Na verdade eu nem sei se estou mesmo grávida
ou não.
- Pode ficar tranquila que eu não vou falar nada. E só tem um jeito de termos a certeza
absoluta de que você está ou não grávida… Fazendo o teste.
- Eu não posso nem colocar a cara na porta, Isabela, até parece que seu irmão vai me
deixar ir á uma clinica.
- Tem o teste de farmácia. Eu vou lá, compro e você faz, ai tiramos a duvida se você está
grávida ou não.
- Tudo bem… é melhor mesmo eu fazer isso pra ter certeza e acabar com essa agonia.
- Então tá, você fica ai que eu já volto. – ela vai até sua bolsa e a pega.
- Espera, você vai me deixar aqui sozinha?
Eu comecei a entrar em desespero, porque eu nunca tinha ficado sozinha nessa casa, ela
sempre esteve comigo e eu me sentia segura. Com ela por perto eu sabia que o DG não
faria nada, pois por algum motivo ele respeita e ouve a irmã.
- Calma, Sophia, eu vou rápido. Não demoro, eu juro.
- Não Isabela. – imploro desesperada.
- Confia em mim. Eu não vou demorar. E ele saiu pra boca agora pouco, não volta tão
cedo.
Ela me abraça e sai fechando a porta.
Olho aquela sala vazia e começo a me arrepender de ter a deixado sair.
O Gustavo estava dormindo, na verdade ultimamente ele só vem fazendo isso. Eu estou
muito preocupada com ele. Eu sei que ele está assim porque sente a falta do Rodrigo. Ele
vive chamando pelo pai, mas eu infelizmente não posso fazer nada. Eu tenho que esperar.
Esperar que o Rodrigo venha nos buscar.
Eu tenho medo que o meu filho adoeça com isso. As crianças sentem muito com a
separação e também percebem quando as coisas não estão boas. Eu sei que ele sente muito
com a ausência do Rodrigo, eu também sinto.
Já se passaram três dias e ele não apareceu, às vezes o desespero me faz pensar que ele
não virá nos buscar, mas ai eu me lembro de suas promessas e também do que eu deixei
escrito na carta, eu tenho certeza que ele está fazendo-as: “Esfriar a cabeça e não fazer as
coisas sem pensar.”
E eu prefiro me segurar a isso. Eu acredito que ele está trabalhando para nos tirar daqui…
eu sei que está
Assusto-me quando vejo a porta se abrindo e o DG entrando.
Assim que ele me vê o seu sorrisinho escroto brota em seu rosto e ele vem andando em
minha direção. Eu me levanto do sofá e tento sair da sala, mas assim que eu me viro, sinto
suas mãos segurando com força a minha cintura me prensando em seu corpo.
O seu nariz vai em direção ao meu pescoço me cheirando e deixando um beijo nele.
- DG me solta. – levo minhas mãos para onde as suas estavam me apertando, na tentativa
de me soltar.
- Aaah, hoje você vai ser minha, morena. Eu cansei de esperar, já fui bonzinho demais.
- Não DG, me solta. Não faz isso.
- Aaah eu vou fazer, vou fazer sim.
DG me segura firme e começa a subir as escadas com muita dificuldade, pois eu me
debatia em seus braços na intenção de que ele me soltasse. Ele entra em seu quarto e me
joga na cama. Enquanto ele fecha a porta eu me levanto e tento de alguma forma sair dali,
mas antes que eu consiga passar pela porta ele segura minha cintura novamente me
jogando na cama.
O DG se deita por cima de mim e começa a beijar o meu rosto e pescoço. Começo a
desferir tapas e mais tapas por seu rosto. Tento mexer minhas pernas para acertar as suas
partes intimas, mas ele as prende, me impedindo de fazer.
- ME SOLTA SEU NOJENTO. SAI DE CIMA DE MIM. – eu batia com força em seu
rosto. Mas não adiantava.
Sinto dois tapas fortes em meu rosto e a ardência vem logo em seguida e junto com ela, as
lágrimas. Ele leva a sua mão para o meu pescoço apertando-o com um pouco de força.
Isso me fazia ficar sem ar aos poucos.
Ele leva a sua outra mão para a minha barriga e desce para a minha intimidade dentre o
short e começa a tocá-la.
- Me..me sol-solta. – eu me debatia lentamente, pois seu corpo me prensava com força
contra a cama me impedindo de me movimentar com facilidade.
Eu buscava forças de onde não tinha para tirá-lo de cima de mim. Eu não vou suportar e
também não vou deixa-lo fazer isso novamente. Eu já podia sentir o meu ar faltar cada vez
mais.
As forças só voltam quando eu ouço o choro do Gustavo. Mesmo fraca eu me debatia.
- Me..solta. SAI DE CIMA DE MIM. – não sei como, mas consegui gritar.
A Isabela disse que não demoraria, então se ela estivesse chegado me ouviria, com certeza.
- SOCORRO!!! – digo e tento puxar mais o ar, mas era em vão. Sua mão apertava cada
vez mais forte o meu pescoço e a outra tocava com brutalidade a minha intimidade.
De repente escuto a porta sendo escancarada e a voz desesperada da Isabela em seguida.
- DIOGO O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?!
Não demora muito eu sinto o seu corpo sendo retirado de cima de mim.
Fecho as minhas pernas, me encolho na cama de lado e levo as minhas mãos para o meu
pescoço na tentativa de aliviar a dor. Minha respiração é acelerada e o choro sai
descontrolado.
- VOCÊ TÁ MALUCO DG? ABUSANDO DA GAROTA! – ouço uma voz masculina
falando com ele.
- ELA É MINHA CARALHO, TEM QUE FICAR COMIGO QUANDO EU QUISER E A
HORA QUE EU QUISER, PORRA.
- EU TENHO NOJO DE VOCÊ, DIOGO, EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ ESTAVA
FAZENDO ISSO NOVAMENTE COM ELA. – agora era a Isabela que falava, eu podia
sentir raiva transbordando em sua voz.
- OLHA COMO VOCÊ FALA COMIGO, ISABELA. ME RESPEITA, PORRA!
- VOCÊ PERDEU TODA A SUA MORAL COMIGO, DIOGO. TODA! VOCÊ NÃO
TINHA O DIREITO NENHUM DE FAZER ISSO. NÃO É ASSIM QUE SE
CONQUISTA ALGUEM, TRANSANDO COM ELA A FORÇA.
- Garota eu vou te…
- VAI FAZER O QUE, DIOGO? VAI ME MATAR? VAI ME ESTUPRAR TAMBEM
IGUAL VOCÊ FEZ COM ELA?
Por um momento eu volto o meu olhar para os três e reconheci o homem parado, ele era o
Marcelinho o gerente da boca.
Olho rapidamente para o DG e seus olhos estavam vermelhos, e sua expressão era de
tristeza. Posso dizer que nunca o vi assim.
- SAI DAQUI DIOGO!
- Essa é a minha casa, Isabela e você já está me tirando do sério, a minha vontade é de
enfiar uma bala no meio da sua testa.
- Então enfia. – ela da um passo a frente o encarando.
Ele saca a arma e aponta pra ela, que não se estremece e continua na mesma postura.
- Não me surpreenderia nem um pouco se você fizesse isso. Depois que eu descobri que
você abusou dela. Pra mim você é capaz de fazer qualquer coisa, inclusive matar sua
própria irmã.
- Você está me testando.
- DG para. – o Marcelinho entra na sua frente. – Você andou cheirando, mano?
- Vai se foder, Marcelo. – diz com raiva.
- Vamos sair daqui. Deixa a Bela.
- Que porra de intimidade é essa com a minha irmã?
- DIOGO SAI DAQUI. – a Isabela grita e ele a olha por um tempo e depois sai do quarto.
O Marcelinho vai atrás dele e a Isabela senta na cama me abraçando.
- Obrigada… Obrigada Isabela… se você… se vocês não tivessem chegado eu… eu nem
sei.
- Me desculpe por isso.
- Ca-cadê o meu… filho? – continuo ouvindo o choro do Gustavo.
- Ele ainda está no meu quarto.
- Eu quero sair daqui. Eu quero ver o meu filho. – digo me tentando me levantar
lentamente da cama.
- Claro, vem. – ela pega na minha mão e me ajuda a levantar.
Ajeito a minha roupa e limpo o meu rosto.
Assim que chego ao quarto da Isabela, encontro o Gustavo deitado na cama e chorando.
Essa cena acabou comigo. O meu filho estava sofrendo e eu não podia fazer nada, nada
pra mudar isso. O pego nos meus braços e eu não consegui fazer nada para fazÊ-lo parar
de chorar, eu só me abracei a ele e me permiti chorar também.
Eu já não estava aguentando mais aquilo tudo. Já não aguentava toda aquela dor. Não
aguentava mais viver trancafiada nesse lugar. Não aguentava mais ficar longe do
Rodrigo… Do meu delegado. Mas eu confio nele e sei que ele vai vir nos buscar, eu sei
que vai.

[…]


- Sophia, eu acho que já podemos fazer o teste.
O Gustavo já tinha voltado a dormir, o que por um lado era bom, pois ele não via as coisas
horríveis que acontecia aqui ou que poderia vir a acontecer. Mas por outro lado me
preocupa muito, eu sei que isso não é normal.
O DG depois do episodio do quarto, saiu com o Marcelinho e não voltou mais. Já está
quase escurecendo e pelo o que eu o conheço, já vai chegar daqui a pouco para nos trancar
no quarto, como sempre faz, e só nos tirar de lá na hora do almoço, que eu suspeito que
ele faça isso apenas por pedido da Isabela.
Então eu realmente acho que agora seria uma ótima hora de fazer esse teste.
Pego o teste da mão da Isabela e vou para o banheiro em seu quarto. Leio a bula e faço
tudinho o que estava escrito.
Isso deve ser um alarme falso ou algo que eu comi e com certeza não me caiu bem. Porque
não é possível. Não é possível eu estar grávida agora, eu me cuidei. Eu tomei todas as
cartelas certinhas.
Passado o tempo necessário, eu volto para o banheiro e pego o teste.
Meu coração falha uma batida quando eu vejo o resultado.
Eu estava realmente grávida. Mas não tem como. Isso é impossível. Eu não posso estar
grávida novamente, ainda mais agora, no meio dessa loucura toda.
Eu não posso.
- E ai Sophia? – ela entra no banheiro e me olha. – Huum, só de olhar essa sua carinha eu
já até sei o resultado.
- E-eu não sei como isso aconteceu. Eu sempre tomei a pílula certinha e…
- Olha, eu não sou nenhuma expert nessa coisa ai de anticoncepcional, mas eu morro de
medo de engravidar cedo, o que me leva a pesquisar bastante. Eu li uma vez que o certo é
que nós temos que esperar, no mínimo, um mês pra começar a ter relações sem a
camisinha para não engravidar. Você fez isso?
- Sei lá..eu, eu não me lembro, Isabela.
- E todas nós sabemos que só o anticoncepcional também não é garantia de nada. Mas sim
anticoncepcional e camisinha.
- Que droga… Isabela, por favor. Não fale nada disso pro DG, por favor.
- Até parece que eu vou fazer uma coisa dessas. Até porque se ele souber que você está
grávida do Delegado lá, eu nem sei do que ele é capaz de fazer.
- Nem eu.

[…]


Hoje faz cinco dias que eu estou aqui.
As minhas esperanças já estavam indo embora.
O Gustavo piorava cada dia mais. Hoje mesmo ele amanheceu com febre.
Ninguém veio nos tirar do quarto ainda e nós já estamos morrendo de fome.
O DG depois daquele dia não me tocou mais. Mas em compensação agora nós ficamos
mais tempo trancados aqui nesse quarto. Saímos apenas para comer e é uma coisa bem
rápida. Logo ele nos tranca novamente. A Isabela até tentou fazer com que ele mudasse de
ideia em relação á isso, mas ele não á ouvia mais.
Resolvo tomar um banho levantar da cama e ir tomar um banho, pois o calor nesse quarto
é insuportável. Pego uma roupa da Isabela, que ela havia colocado aqui pra mim, e vou
para o banheiro. Tomo um banho rápido e quando saio do banheiro, vejo o DG sentado na
cama acariciando o Gustavo.
- Por que ele só dorme?
- Porque ele está doente.
- O que ele tem? Por que não me disse antes, eu levava ele ao médico.
- A doença dele não é nada que um médico possa resolver. Se ele está assim é por sua
culpa.
- Minha culpa nada. Eu não fiz nada pra ele.
- Ah! E nos manter em cárcere privado não é fazer nada, DG? As crianças sentem e
sentem mais do que a gente com isso tudo. Essa doença dele é emocional ele está com
saudade do… – fico quieta antes que eu fale besteira e piore a situação.
- Saudades de quem, Sophia? – ele se levanta e vem andando até a mim. Mas diferente das
ultimas vezes, eu não recuo. Eu continuo parada.
Eu tenho que me mostrar forte. Não posso deixa-lo perceber que me atinge.
- Do merdinha? Do bosta daquele delegado? Era isso que você ia falar?!
- Sim DG era isso, sim. Está satisfeito? Ele sente falta do pai dele.
- EU SOU O PAI DELE, PORRA! – ele grita com raiva e dá um soco numa parede
próxima.
- Não. Você não é. Nunca foi e nunca vai ser. Você foi apenas um maldito que acabou com
a minha vida e ironicamente isso resultou na melhor coisa que eu tenho hoje, que é o meu
filho. Mas não, você não é o pai. Quando eu mais precisei você não estava lá, quando ELE
mais precisou, você não estava lá e sim o Rodrigo. E não… de jeito nenhum isso é uma
queixa. Eu agradeço a Deus todos os dias por você ter sido preso, por você não ter tido
nenhum tipo de contato com o meu filho, até agora. Por você nunca ter me ajudado na
criação dele. Eu te agradeço muito, muito mesmo. Eu prefiro realmente que o meu filho
pense que eu fui uma puta do que ter um pai nojento e sem escrúpulos nenhum, como
você.
Em um movimento rápido ele coloca as suas mãos no meu pescoço apertando-o com força
e me prensando na parede.
- Quem você pensa que é pra falar assim comigo?
- E-eu.. me-me solta.
- Você é uma vadia. – ele me dá um tapa forte na cara. –Me deve respeito, você é minha
mulher e o Gustavo é o meu filho sim.
- Vo-cê..é.. ma-lulu-co. Me solta.
- Por que está demorando tanto, Diogo? – a Isabela entra no quarto e ele me solta. Eu
respiro fundo na tentativa de recuperar o meu ar.
- Diogo o que você estava fazen…
- NÃO FODE ISABELA SE NÃO SOBRA PRA VOCÊ TAMBÉM.
Ele sai do quarto com tudo e eu me sento na cama deixando as lágrimas caírem.
A Isabela senta do meu lado e me abraça.
- Eu não aguento mais, Isabela. Eu tenho que sair daqui, tenho que tirar o meu filho
daqui… eu.. eu… eu não aguento mais ver ele sofrendo desse jeito. Eu estou vendo o meu
filho morrendo aos poucos na minha frente e eu não estou fazendo nada para impedir.
- Sophia eu vou te ajudar. Eu não sei ainda o que vou fazer, mas eu vou te ajudar. Eu não
aguento mais ver a sua agonia e muito menos o Gustavo desse jeito. E você tem que
cuidar desse bebezinho que está vindo ai. – essa parte ela falou bem mais baixo. – Eu vou
te ajudar. Mas temos que pensar com calma no que fazer. Vamos descer e comer vocês já
estão muito tempo sem comer.
Acordo o Gustavo com muita dificuldade, pego-o no colo e descemos para a cozinha. Ele
já não quer mais nem andar, fica apenas no meu colo. Com muita dificuldade eu consegui
fazer com que ele se alimentasse. Ele estava tão magrinho e pálido. Não é mais àquela
criança cheia de vida que vivia com um sorriso enorme no rosto, como ele era algumas
semanas atrás. E isso me preocupa muito, eu sei que isso está fazendo muito mal á ele.
- Mamãe eu quero o papai. – ele dizia com a cabeça deitada em meu ombro.
- Calma meu amor, o papai já está vindo nos buscar. – digo acariciando os seus cabelos.
Na verdade eu falei aquilo mais para me conformar do que para conformar a ele.
Já tinham se passado cinco dias e nenhum sinal dele. Eu não queria, mas já estava
começando a perder as esperanças…

[…]


Estava sentada na sala junto com a Isabela, já tínhamos acabado de almoçar e ela não teve
coragem de nos prender novamente no quarto, e o DG tinha saído e não tinha voltado
mais. O Gustavo estava acordado e nós estávamos sentados no sofá assistindo TV. Foi
quando escutamos fogos de artifícios sendo soltos, eram vários. E eu conhecia bem esses
tipos de fogos. Isso queria dizer que estava tendo invasão.
O meu coração se enche por um momento de alegria em pensar que poderia ser o Rodrigo
e que ele finalmente veio para nos buscar.
- Invasão, Sophia. – a Isabela diz, assustada.
- Eu sei. – eu abri um sorriso enorme e meu coração se encheu de esperanças.
- E você está sorrindo por quê?
- É ele, eu sei que é ele.
- Será?
- Eu sei que é.
Não demorou muito e os barulhos de tiros começaram a tomar conta de toda a favela. Um
dos bandidos que fazia a guarda da casa entrou correndo, com um fuzil nas mãos.
- O patrão mandou vocês duas se esconderem no quarto onde a Sophia fica, agora. Ele já
está subindo. – quando ele ia sair a Isabela o chamou de volta.
- Ei ei.. perai. Quem está invadindo?
- A porra toda. PM, CIVIL, BOPE tu acredita que até Federal tem nessa porra? – dava pra
ver o medo em sua voz.
Em anos morando aqui eu nunca vi uma invasão dessas. E com certeza eles não estão
preparados para isso tudo. Não estão mesmo. E isso é o que me deixa ainda mais confiante
de que eu irei sair daqui hoje.
Nesse momento eu comecei a ouvir um barulho muito alto de helicóptero, posso até me
arriscar em dizer que eles estão sobrevoando em cima da casa. Agora os barulhos de tiros
eram bem mais altos. Com certeza os policiais já se encontram aqui perto. O soldado sai
correndo para fora da casa sem esquecer-se de nos lembrar para nos escondermos.
- Vem Sophia. – a Isabela segurou na minha mão.
- Eu não vou me esconder coisa nenhuma, eu vou ficar aqui. Eu sei que o Rodrigo vai vir
me buscar.
Eu pego o Gustavo no colo e ele me abraçava forte, devido ao barulho dos tiros. Por
incrível que pareça não está chorando. De repente escutamos um barulho de vidro se
quebrando na parte de cima da casa e não demorou muito, seis homens encapuzados
desceram as escadas correndo, nos assustado. Mas me tranquilizo assim que vejo os
uniformes pretos da policia.
Olho para cada um deles, na esperança de que o Rodrigo esteja com eles. E ele está, eu
não preciso que ele tire a touca pra eu saber que é ele. Eu sei que é.
Sem pensar duas vezes eu corro para os seus braços, ele coloca o seu fuzil pra trás e nos
envolve em um abraço forte, cheio de saudades e protetor.
Como eu senti falta disso.
Não consigo evitar as lágrimas que caiam insistentemente pelos meus olhos.
- Está tudo limpo aqui embaixo. – diz um dos policiais.
- Vo-você veio. Você veio nos buscar. – eu o abraço com toda a força do mundo e pela
primeira vez o Gustavo não se incomodou com isso.
- Eu nunca deixaria vocês aqui, Sophia. Eu prometi proteger vocês, não prometi? –
balanço a cabeça. – Eu falhei nessa missão uma vez, mas eu não vou falhar nunca mais.
Levanto a touca até a sua cabeça deixando-a enrolada no meio de sua cabeleira e lhe dou
um beijo. Um beijo rápido, mas que renovou todas as minhas forças para lutar.
- Papai. – o Gustavo diz com sua voz um pouco embargada e seus olhinhos cheios de
lágrimas.
Por um momento pude ver o mesmo se repeti com o Rodrigo.
Ele o pega dos meus braços e o abraça forte, dizendo…
- Oi meu filho, eu senti tanto a sua falta meu pequeno. – vejo uma lágrima escorrendo de
seus olhos e ele apertar o Gustavo com mais força em seus braços.
- Senhor, já conseguimos chegar com o carro aqui.
Quando o policial chamou a nossa atenção, eu fui me dar conta de que os tiros haviam
cessado.
- Conseguiram controlar tudo?
- Eles recuaram, Senhor. Viram que estávamos muito mais fortes.
Eu conheço bem essa voz. Era o Douglas.
- Então vamos, Sophia. E vocês dão um jeito nela. – ele fala se referindo a Isabela.
Ela já me olhou com medo e ao mesmo tempo me pedindo ajuda. Assim que viu um dos
policiais apontando o Fuzil pra ela e indo em sua direção.
- NÃO! Não fazem nada com ela, por favor.
- Mas ela é irmã do DG, também é cúmplice, Sophia, tem que ser levada à delegacia.
- Mas foi ela quem me ajudou Rodrigo, ela me ajudou a mantê-lo longe de mim esses dias
todos. Se não fosse por ela eu nem sei.
Ele respira fundo e solta um palavrão apertando as mãos.
- Ele tocou em você, Sophia? Ele abusou de você novamente? – ele dizia entre dentes,
podia ver a raiva viva em sua voz.
- Ele só não conseguiu graças á ela, mas ele tentou. – falo baixo.
- QUE PORRA! EU VOU MATAR ESSE FILHO DA PUTA É AGORA. – Ele pega na
minha mão – O carro está a onde, Douglas?
- Na área lateral da casa, senhor.
Ele sai me puxando sem me dar chances nenhuma para me despedir da Isabela.
Eu sentirei falta dela, mas estou feliz por estar finalmente indo pra casa.
Ainda tenho que conversar com o Rodrigo sobre a minha gravides. Pelo o que eu o
conheço ele vai amar saber da noticia.
Saímos da casa e a cena era a pior do mundo. Tinha corpos espalhados para todos os
lugares. Mas o local estava cheio de policiais. O carro preto está parado na lateral da casa
onde dava acesso para a mata.
Assim que entro no carro, o Rodrigo coloca o Gustavo sentado ao meu lado, eu me afasto
um pouco e espero que ele entre também, mas ele não faz isso.
- Rodrigo, entra. Vamos embora.
- De jeito nenhum. Eu vou caçar aquele desgraçado até o inferno. Só saio daqui com o
cadáver dele nas mãos.
- Papai, vem papai.– o Gus pedia com aqueles olhinhos em suplica.
O Rodrigo para por um momento parecendo pensar e logo responde.
- Meu filho, o papai não vai poder ir com vocês agora. Mas eu prometo que depois eu
chego lá em casa pra gente brincar. Tudo bem? – ele diz acariciando os cabelinhos do Gus,
que o olha atento a cada palavra. Depois de pensar um pouco ele assente.
- Rodrigo, por favor, se cuida.
- Eu vou me cuidar, amor. Eu prometo.
Assim que ele fecha a porta do carro, abaixa a touca e segura o seu fuzil. Ele acena e
começa a andar com uns policiais até uma viatura que estava um pouco longe do nosso
carro. Pra ser mais exata, na esquina de frente para a casa do DG.
Os dois policiais que nos levaria para casa, entraram no carro. E foi ai, que ainda olhando
para o Rodrigo, eu o vi. O DG parado em frente ao portão da sua casa, segurando uma
arma, que estava apontada diretamente para o Rodrigo. Os outros policiais estavam
distraídos e não o viram ali, até porque ele acabou de aparecer. Eu vi esse momento. E ele
é maluco, completamente maluco. Ele vai atirar no Rodrigo. Mesmo sabendo que
provavelmente morrerá em seguida.
Não penso em mais nada. Eu vejo em seus olhos que ele vai atirar. Consigo ler a contagem
regressiva em seus lábios.
No momento em que o policial ligou o carro onde eu me encontro, eu não pensei muito e
abri a porta do mesmo e sai correndo. Eu corri como se a minha vida dependesse daquilo.
E ela realmente depende, pois o Rodrigo é a minha vida… ele faz parte dela.
Quando eu consegui ler a contagem em seus lábios, estava no numero dois.
Eu não pensei muito e gritei pelo Rodrigo, ainda correndo.
- RODRIGO!!!
Isso fez com que ele se virasse para mim… E depois disso tudo aconteceu rápido demais.
Eu só me vi na frente do Rodrigo, um barulho de tiro foi ecoou pelos meus ouvidos e uma
ardência começou a se fazer em minha barriga. Ouço mais dois tiros e antes que eu vá
para o chão, consigo ver o DG também sendo acertado e caindo e os policiais irem até ele.
Quando sinto a minha cabeça bater no chão tudo perde o sentido.
Tudo escurece.
A única coisa que eu consigo ouvir é a voz desesperada do Rodrigo ao fundo.
- Sophia… Sophia, meu amor, por favor! Não faz isso comigo. Eu te amo. Não me deixa.
Por favor, acorda. SOPHIA EU TE AMO. NÃO ME DEIXA.
E tudo perdeu o sentido de vez.


[…]

22° CAPÍTULO
Rodrigo
Finalmente chegou o dia da invasão. Não levou uma semana como o Borges previu, mas
também foi graças a mim que fiquei igual um maluco todas essas noites sem conseguir
dormir em busca de solução para tirá-los logo de lá.
Esses cinco dias foram de longe os piores da minha vida. Tê-los longe de mim esse tempo
todo, nas mãos de um bandido e ainda mais sem saber o que estava acontecendo, o que
aquele desgraçado estava fazendo com eles, me fez enlouquecer e pensar em mil maneiras
de acabar com a vida daquele desgraçado dolorosamente. Eu realmente espero que ele não
tenha tocado em um fio de cabelo da Sophia e do Gustavo. Ou então eu vou ser obrigado a
ser ainda mais torturante na hora de sua morte. Se ele soubesse o tamanho da minha raiva
e sede de tÊ-lo em minhas mãos, nesse momento. Ele desapareceria do planeta.
Estavam todos preocupados com a Sophia e o Gus. A Camila então nem se fala. Ela me
ligava todos os dias perguntando se já tinha alguma noticia e quando eu iria buscá-los. A
dona Marta já é um pouco mais contida. Apesar de ela estar bastante preocupada, ela fica
mais na dela. Ela confia muito em mim, e em Deus, e sabe que levarei sua e filha e seu
neto de volta para casa.
Avisei para elas que a operação seria hoje. Elas estavam confiantes e ao mesmo tempo
nervosas, a dona Marta foi até para a casa da Camila pra ficarem juntas nesse momento.
Eu estava no centro de treinamento do BOPE, já tinha me equipado, já estava com o fuzil
em punho, já havia dado as ultimas ordens para os policiais da minha equipe. Tudo pronto
para a invasão. Já tinha deixado bem claro que eu queria o DG vivo e eles já sabiam pra
onde que ele deveria ser levado assim que colocássemos as mãos nele. Lógico que o resto
dos policiais não sabe disso. Isso é apenas entre a minha equipe e eu.Se alguém descobrir
eu corro o risco de perder o meu cargo e ser destituído totalmente da policia, mas se eu
perder, eu vou perder com gosto por ter matado aquele desgraçado. Mas eu já trabalhei
bastante em relação a isso, para que ninguém, além da minha equipe, saiba disso.
Eu disse que usaria das minhas influencias para agilizar as coisas e eu usei. Como o DG é
o homem mais procurado do Rio de Janeiro e a UPP já queria tomar conta da Rocinha há
muito tempo. Eu como não sou bobo nem nada, resolvi juntar o útil ao agradável.
Consegui convencer o secretario de segurança que agora seria uma boa hora para a
invasão. E claro, expliquei também o meu caso pra ele. Ele sabendo que sozinho apenas
com a PM não conseguiria nada, pois todos nós sabemos do poder de armamento da
Rocinha. E como eu disse que minha equipe também ajudaria, ele logo cedeu. E dai foi
fácil conseguir com que o BOPE e a Civil entrasse nessa, pois eu tenho vários amigos lá.
Nessas horas que percebemos quem são os nossos amigos. E eu posso dizer que sim eu
tenho, pois não é qualquer um que aceita entrar nessa por nada.
Já estava tudo resolvido.
Eu e uma parte da minha equipe entraríamos na favela por cima. Quando eu falo de cima,
é de cima mesmo, o helicóptero do BOPE vai levar eu, o Douglas e mais uns cinco
policiais por cima.
Por um lado esperar todo esse tempo foi bom, pois descobrimos até qual é a casa do DG.
E segundo o nosso informante é lá que ela se encontra. Ou seja, vamos soltar lá naquela
área enquanto os policiais invadem por baixo e pela mata.
Se tudo o que nós organizamos der certo na prática, eu vou consegui sair de lá com a Soph
e o Gus e de quebra a UPP consegue se instalar na Rocinha.
Todas as viaturas e os camburões já tinham saído. Só faltava a gente.
- VOCÊS ENTENDERAM, NÉ? EU QUERO O DG VIVO NA MINHA MÃO.
Repito novamente para eles não se esquecerem eu que quero ter o prazer de matar aquele
desgraçado da forma que ele merece.
Já até preparei um lugar apropriado para isso.
- SIM SENHOR. – respondem todos em uníssono.
- ENTÃO VAMOS LOGO.
Fomos para o local onde estava o helicóptero e subimos.
Desço a minha touca e posiciono o meu fuzil, assim como os outros policiais e o
helicóptero já começa a decolar.
Não demorou muito e já estávamos sobrevoando a Rocinha, do alto já conseguíamos ver o
estrago que a policia estava fazendo. Já estava dominado uma boa parte da favela. Mas eu
não me importava com isso, eu queria era tirar a minha família dali. O resto não me
importa.
- Chefe, já pode descer se quiser, a área está limpa.
Um dos policiais me passa o rádio avisando.
- Tudo bem. Continua ligado ai, nós desceremos direto dentro da casa do DG.
- Okay senhor.
Finalizo a conversa e penduro o rádio novamente no colete.
- Desce mais um pouco. Nós vamos cair dentro da casa dele. – aviso para o piloto que
assente e rapidamente faz o que eu mandei.
O piloto desce com o helicóptero o mais baixo que pode e assim que foi liberado, um dos
policiais jogou a escada presa ao helicóptero e começou a descer. Como ele era o único
experiente nesse tipo de operações, deixei que fosse primeiro, e fez com maestria o seu
trabalho.
Ele ainda segurando a escada, tomou impulso o que fez a mesma balançar, fez isso
repetidas vezes até que ele conseguiu se aproximar de uma janela, no andar superior da
casa, e quebra-la com chute. Daí foi fácil até ele tomar impulso novamente e conseguir
entrar.
Eu já podia avistar os policiais em frente da casa e os corpos dos bandidos que
provavelmente faziam a segurança daquela área, jogados ao chão, claramente mortos.
Assim que o policial conseguiu entrar, foram descendo um por um pela escada e eu a todo
o momento olhava para baixo a procura de alguém que pudesse nos transmitir algum risco.
Ou até mesmo o DG. Deixei para ir por ultimo e assim que chegou a minha vez, eu desci o
mais rápido que consegui. Não parecia, mas aquela escada balançava muito. Assim como
os outros, eu fiz os mesmos movimentos para buscar impulso e conseguir entrar. Como eu
não era doido eu não ia me jogar dali, eu deixei para me jogar contra a janela quando a
escada estivesse mais próxima da mesma. E assim eu fiz entrando no quarto. Logo vi a
escada sumindo e o barulho do helicóptero ficando cada vez mais longe.
- Podemos ir senhor, está limpo aqui em cima. – olho para o quarto e vejo apenas três
policiais no cômodo.
- Okay, vamos então. – digo e aceno.
Posiciono o meu fuzil e vou atrás dos policiais. Quando chego ao corredor os outros três
estão lá. Eles fazem um sinal com a cabeça indicando que desceriam. E assim fizeram
rapidamente, nos dando cobertura.
Assim que cheguei à sala eu a avistei e me esqueci de tudo. Eu abaixei a minha guarda
totalmente. Enquanto os policiais faziam toda a revista na área de baixo eu não conseguia
fazer outra coisa a não ser olhá-la.
Assim que ela e a Isabela, irmã do DG, percebem a nossa presença elas se assustam. O
que para a Sophia leva pouco tempo, pois não demora muito ela vem em minha direção
com o Gustavo nos braços e me abraça.
O seu gesto me deixa surpreso e emocionado.
Como ela sabia que era eu ali?
Coloco o meu fuzil pra trás e enrolo os meus braços em seu corpo o abraçando com toda a
força do mundo. Matando toda a saudade que eu senti dela e do Gus esses dias. Por um
momento eu cheguei a pensar que eu não conseguiria nunca mais fazer isso. Ela chorava
nos meus braços e eu nunca fiquei tão bem em ver alguém chorando.
- Vo-você veio. Você veio me buscar.
- Eu nunca deixaria vocês aqui, Sophia. Eu prometi proteger vocês, não prometi? – ela
acena com a cabeça ainda abraçada a mim. – Eu falhei nessa missão uma vez, mas eu não
vou falhar mais.
Ela retira o seu rosto do meu peito e com apenas uma mão levanta a minha touca e me dá
um beijo rápido. E como eu senti falta dela, do seu toque, do seu gosto.
- Papai. – ouço a voz fraca do Gustavo e levo a minha atenção a ele. Ele estava tão
diferente, estava pálido e mais magro, não tinha aquele sorriso lindo de sempre nos lábios
e nem aquele mesmo brilho alegre no olhar que agora é ocupado por uma tristeza e
lágrimas a ponto de transbordar. Essa imagem fez o meu coração se apertar e uma vontade
imensa de chorar, me atingiu.
E isso só faz a conta daquele filho da puta crescer mais ainda comigo.
Pego o Gustavo no meu colo, o abraço com força e ele me retribui o abraço quase que na
mesma medida.
- Oi meu filho, eu senti tanto a sua falta meu pequeno. – não consegui segurar e uma
lágrima desceu.
Eu estava me segurando para não deixar cair mais. A minha vontade era de chorar feito
uma criança com ele em meus braços, sem me importar com o que os outros iriam pensar.
Mas eu não podia mostrar a minha fraqueza. Eu tenho o DG pra pegar ainda e eu não
posso deixar o meu emocional me abalar agora.
- Senhor, já conseguimos chegar com o carro aqui. – o Douglas me avisa.
- Conseguiram controlar tudo?
- Eles recuaram senhor, viram que estávamos mais fortes.
- Então vamos, Sophia. – digo pegando em sua mão. Olho para os policias que ali estavam
e para a Isabela. – E vocês, dão um jeito nela.
- NÃO. – a Sophia grita assim que os policiais apontam a arma pra ela. – Não fazem nada
com ela, por favor.
- Mas ela é irmã do DG, também é cúmplice, Sophia, tem que ser levada à delegacia.
- Mas foi ela quem me ajudou Rodrigo, ela me ajudou a mantê-lo longe de mim esses dias
todos. Se não fosse por ela eu nem sei.
Respiro fundo e fecho os meus punhos.
- Ele tocou em você Sophia? Ele abusou de você novamente? – eu dizia aquilo com
tamanha raiva que nem eu estava me reconhecendo.
Se ele estivesse tocado nela novamente eu jogaria pro alto todos os meus planos que tenho
de torturá-lo e acertaria um único tiro no meio de sua cara.
- Ele só não conseguiu graças á ela, mas ele tentou. – ela diz baixo.
- QUE PORRA, EU VOU MATAR ESSE FILHO DA PUTA É AGORA. – pego
novamente em sua mão. – O carro está a onde, Douglas?
- Na área lateral da casa, senhor.
Puxo a mão dela tirando-a de dentro daquela casa, já posso ver o carro na lateral e com a
escolta dos policiais que estavam ali na frente, nós fomos até lá. Ela entra no carro, eu
coloco o Gustavo sentado do seu lado e deixo um beijo em sua cabeça.
- Rodrigo, entra. Vamos embora.
- De jeito nenhum. Eu vou caçar aquele desgraçado até o inferno. Só saio daqui com o
cadáver dele nas mãos.
- Rodrigo…
- Papai, vem papai. – o Gus pedia com aqueles olhinhos em suplica.
Mais um pouco eu realmente desistiria de tudo e voltava pra casa com eles, mas eu não
posso. Eu prometi que pegaria aquele desgraçado e eu vou fazer isso, se eu não der um fim
nisso, ele nunca nos deixará em paz.
- Meu filho, o papai não vai poder ir com vocês agora. Mas eu prometo que depois eu
chego lá em casa pra gente brincar, tudo bem? – eu dizia acariciando os seus cabelinhos e
ele me olhava atento. Depois de pensar um pouco ele assente.
- Rodrigo, por favor, se cuida.
- Eu vou me cuidar, amor. Eu prometo.
Abaixo a touca, posiciono o fuzil pra frente, fecho a porta do carro e me junto aos policiais
indo para a viatura que estava na esquina.
Passo pela casa do DG e tudo continua da mesma forma sem nenhuma movimentação
estranha. Ele com certeza á essa hora já deve saber da invasão na casa dele e
provavelmene que a Sophia já está à salva. Ele deve estar escondido em algum lugar dessa
favela, mas eu estou disposto a virar isso de cabeça pra baixo.
Estava quase chegado perto da viatura quando eu ouço a Sophia gritando o meu nome.
- RODRIGO!!!
Isso me faz virar rapidamente para ver o que está acontecendo. Mas nesse momento tudo
acontece rápido demais. Em questão de segundos eu escuto três tiros e vejo a Sophia indo
ao chão. Olho rapidamente para a direção de onde veio o primeiro tiro e vejo o DG caído
no chão e um dos policiais já em cima dele.
Eu sem pensar muito retiro o meu fuzil das costas, jogo-o ali mesmo no chão e vou
correndo para onde a Sophia estava caída.
Foi difícil chegar até ela, as minhas pernas pareciam pesar uma tonelada e meus olhos
estavam embaçados pelas lágrimas e a dor no meu coração não ajudava de nada. Retiro a
minha touca e me jogo no chão ao seu lado.
Eu não estava acreditando no que estava vendo. Não podia ser. Ela não fez isso.
Ela não podia ter feito isso.
Deixo o meu corpo cair de leve sobre o dela e a abraço, não me importando com o seu
sangue que possivelmente iria me sujar.
- Sophia… Sophia, meu amor, por favor! – as lágrimas desciam com toda força pelos
meus olhos e um bolo grande se formou na minha garganta – Não faz isso comigo. Eu te
amo. Não me deixa. Por favor, acorda. SOPHIA, EU TE AMO. NÃO ME DEIXA. – grito
a ultima parte a sacudindo de leve.
A dor no meu peito era insuportável. Parecia que a qualquer momento o meu coração
explodiria dentro de mim de tão apertado que estava.
- Sophia… meu amor, por que você fez isso? POR QUE, SOPHIA?
Eu já não conseguia mais sentir sua respiração
Eu estava louco, desnorteado.
Eu não consigo entender o porquê dela ter feito isso. Eu estava de colete ele não me
acertaria e certamente não sairia vivo daqui. Eu tinha perdido a mulher da minha vida. E
mais uma vez isso era por culpa minha, só minha. Eu deveria ter prestado mais atenção,
deveria ter cuidado melhor dela.
- Amor, não faz isso comigo. Volta, volta pra mim, por favor, volta.
Eu não me importava com os policiais a minha volta me olhando. Eu não me importava.
Eu só queria a minha mulher de volta.
- Senhor, a gente tem que levar ela para o hospital, agora. – dizia o Douglas em pé ao meu
lado.
Ele tinha um olhar de pena.
- Não adianta… Ela não está respirando mais. – digo e me jogo novamente sobre ela.
Ele pega o pulso dela caído no chão e o aperta de leve.
- Senhor ela ainda tem pulso. Bem pouco, mas tem. Vamos leva-la para o hospital agora.
Uma esperança toma conta de mim. Ela ainda tem chance.
- Vamos, pega o carro. – seco as minhas lágrimas. O que foi em vão, pois elas não
paravam de cair.
Tento voltar a minha postura. Mas eu não consigo. Eu não vou conseguir.
Olho para o DG caído no chão e pergunto para um dos policiais se ele havia morrido.
- Não senhor. Levou dois tiros. Um na perna e o outro no braço, apenas. O que a gente
faz?
- Não mata. Leva ele para o galpão. E o deixe bem vivo. O prazer de mata-lo vai ser meu.
- Sim senhor.
Pego a Sophia nos meus braços, vou até a viatura e entro com ela. O Douglas já estava me
esperando lá dentro com outro policial.
- Senhor, pra onde nós levamos o Gustavo? – um dos policiais que estava responsável por
tirá-los daqui, me pergunta.
Meu Deus tem o Gustavo ainda. Eu queria vê-lo, mas eu não posso deixar a Sophia.
- Ele viu o que aconteceu?
- Não senhor, não viu, mas ele está chorando e muito agitado.
- Leva ele pro mesmo lugar, pra casa da Camila.
- Sim senhor.
- Vamos logo Douglas.
Ele acelera com o carro e pega o atalho pela mata, que seria o jeito mais rápido de chegar
ao hospital agora, pois os corpos pelo meio da favela atrapalharia tudo.
Levanto um pouco o rosto da Sophia, levo a minha boca ao seu ouvido e digo baixinho.
- Não me deixe, por favor… Não nos deixe. O Gus precisa de você, eu preciso de você,
amor. Aguenta firme… Eu te amo.
Deixo um beijo em sua testa e a trago para mais perto de mim.
Nessa hora eu vejo que sua cabeça também estava sangrando muito e eu não tinha
percebido antes. Isso me deixou ainda mais preocupado.
Não demorou muito e chegamos ao hospital, eu não perdi tempo e desci correndo com ela
nos braços, chamando por ajuda.
- SOCORRO, ALGUEM ME AJUDA AQUI.
Eu estava desesperado. Ela estava praticamente morta em meus braços e eu não podia
fazer nada. Me senti um completo inútil por não poder impedir, com as minhas próprias
mãos, que o pior aconteça com ela, nesse momento.
Visto o estado que a Sophia estava nos meus braços e o meu desespero, não demorou
muito e chegaram quatro enfermeiros com uma maca e me pediram para colocá-la sobre
ela. Rapidamente a coloco e eles correm com ela para uma porta de ferro, sumindo das
minhas vistas.
Jogo-me no chão e deixo minha cabeça cair sobre as minhas mãos.
Isso não pode estar acontecendo. Não pode! Se ela morrer eu nunca vou me perdoar por
isso.
Ela entrou na frente de uma bala por mim, mesmo sabendo que eu não me machucaria por
conta do colete, mas ela mesmo assim fez isso.
Eu não vou aguentar perdê-la. Eu não vou aguentar viver em um mundo onde ela não
exista.
- Senhor Rodrigo, levanta, vem. – diz o Douglas agachado ao meu lado. – Vamos sentar
ali e esperar por noticias.
Ele pega na minha mão e me ajuda a levantar. Nessa hora o meu celular começa a tocar, eu
o retiro do meu bolso e vejo que é a Camila. Não estou com cabeça pra isso agora. Eu sei
que ela tem que saber, mas eu não vou conseguir da essa noticia para ela.
- Atende pra mim. – dou o celular para o Douglas.
- É pra falar que a Sophia foi…
- Sim, pode falar. Eu não saberia dar essa noticia.
Ela sai da minha vista e eu vou para os bancos que tinham na recepção do hospital. Assim
que me sento, uma enfermeira chega na minha frente com uma prancheta.
- Com licença. Foi o Senhor que trouxe essa moça que acabou de entrar, não é mesmo?
- Sim.
- O senhor tem algum grau de parentesco com ela ou apenas a socorreu?
Sério que ela ainda tem coragem de me fazer essa pergunta depois de ver o meu estado?
- Minha namorada. – digo por fim
- Pode preencher a ficha dela pra mim, por favor?
Eu não estava com cabeça nenhuma pra isso, mas eu sei que é necessário, então eu pego
prancheta de suas mãos e começo a preencher tudo. Assim que termino a entrego.
A enfermeira já ia saindo quando eu a chamo novamente.
- Como ela está?
- Olha senhor, ela está sendo preparada para entrar em uma cirurgia muito complicada
agora.
- Ela pode…
- Essa cirurgia é um pouco delicada, então eu sugiro que se o senhor tem alguma religião,
ou qualquer fé que seja, que se apegue a ela agora e peça pela vida da… – ela olha na
ficha. – Sophia.
Diz e sai.
Eu não tenho nenhuma religião. O que não significa que eu seja ateu, até porque eu
acredito sim, que existe um Deus que criou tudo e todos, mas é que eu nunca fui muito de
seguir doutrinas. O que me faz arrepender amargamente agora. Mas eu resolvi me agarrar
ao Deus que a dona Marta sempre intercedia pela Sophia e que eu sempre ouvia a minha
mãe falando quando era pequeno.
Eu não sei nem como se faz isso. Mas eu peço que ele não deixe que nada aconteça a
Sophia, que nada aconteça com a minha vida.
Deixo minha cabeça cair para trás encostando-a na parede. Não conseguia conter as
lagrimas e muito menos a dor insuportável que sufocava o meu coração. Eu nunca senti
nada assim. Nunca tive tanto medo de perder alguém, como eu estou agora de perder a
Sophia.
O Douglas voltou, se sentou ao meu lado e me entregou o telefone.
- Ela disse que está vindo pra cá, Senhor.
- Obrigado. – digo sem animo nenhum e coloco o celular no bolso. – Você já pode ir,
Douglas.
- De jeito nenhum, eu vou ficar aqui com o Senhor.
Olho pra ele e aceno com a cabeça.
- Obrigado, Douglas.
Não demorou muito e eu vejo a Camila entrando no hospital com a minha mãe e a Dona
Marta.
- Rodrigo diz que a minha amiga está bem, por favor. – a Camila estava chorando assim
como as outras.
Ela se senta do meu lado e pega na minha mão.
- Eu não sei de nada ainda, Camila, ela entrou para a cirurgia agora pouco. – seco o meu
rosto.
- Mas essa cirurgia ela… ela pode…
- Dona Marta, ora. Só faz isso, ora, por favor.
Eu posso ter parecido um pouco insensível falando assim com ela. Mas é que eu não
queria dar falsas esperanças, assim como eu também não gostaria de recebê-las. Ela se
senta em uma das cadeiras e começa a chorar, a minha mãe vai até ela e senta do seu lado
a abraçando.
- Rodrigo… co-como isso foi acontecer?
- Ela-ela entrou na minha frente, Mila. Esse tiro era pra ser pra mim. – não consigo
segurar e começo a chorar novamente.
Ela me envolve em seu abraço e eu desabo de vez.
Eu nunca pensei que ficaria tão vulnerável e tão quebrado em toda a minha vida.
Nem quando o meu pai morreu eu sofri tanto quanto vendo a Sophia nesse estado.
Sem vergonha nenhuma eu deixo minha cabeça cair pelo seu ombro e com isso as
lágrimas desciam com ainda mais força. Depois de um tempo, que foi longo, eu me soltei
do seu abraço e deixei minha cabeça tombar novamente na parede.
- Você não quer ir em casa trocar essa roupa suja de sangue, Rodrigo? Eu vou com você,
depois a gente volta.
- Eu não vou sair daqui enquanto não tiver nenhuma noticia dela, Camila. E nem adianta
insistir.
- Tudo bem então. – concorda percebendo que eu realmente não sairei daqui agora.
- Onde está o Gustavo?
- Ele ficou com a minha mãe. Ele está tão magrinho, Rodrigo, tão pálido eu fiquei tão
preocupada quando o vi.
- Eu também fiquei.
- A minha mãe ficou de cuidar dele e levá-lo ao médico, ele não parece estar muito bem.
- Faz isso pra mim, por favor. Ele realmente não está bem, mas eu não vou conseguir sair
daqui agora pra ver isso.
- Tudo bem, a minha mãe vai cuidar dele.
Não sei quanto tempo ficamos sentados esperando alguma noticia. Mas já estava de noite,
o ponteiro do relógio da recepção marcava 22h00min da noite e nada de noticias dela. Eu
já estava ficando mais louco ainda a cada minuto que passava sem noticias. Já estava a
ponto de atravessar aquela porta de ferro e ver o que estava acontecendo, quando um
médico chega na recepção.
- Familiares da Sophia Santos.
Eu rapidamente me levantei e fui até ele.
- Eu! Fala doutor, como ela está? – digo tudo muito rápido demais.
- A cirurgia foi muito complicada e fizemos de tudo o possível e…
- Doutor a minha filha morreu? – disse a dona Marta em prantos.
- Calma senhora. Não! A sua filha não morreu, mas devido a queda ela provavelmente
bateu com a cabeça em alguma pedra ou em algo que resultou em um traumatismo
craniano.
- Isso quer dizer que? – eu já não aguento mais essa enrolação toda.
- Ela entrou em coma.
- Como assim? Isso… isso não pode estar acontecendo. – eu não estou acreditando no que
ele acabou de dizer.
Isso é mentira.
- Ela perdeu muito sangue e como eu disse, na queda ela deve ter batido em algo que
causou o traumatismo.
- E quando que ela volta, doutor?
- Olha senhor, isso só depende dela. Única e exclusivamente dela, tudo que nós podemos
fazer até aqui, nós fizemos pra mantê-la viva. Porém, não vamos parar de tentar fazer com
que ela volte, mas como eu disse, isso depende dela também responder ao tratamento.
Eu não estou acreditando nisso. Ela tem que voltar, tem que voltar pra mim… pra gente.
- E eu sinto muito, mas não conseguimos fazer nada em relação ao bebê. – ele
complementa.
Como assim, bebê?
- Que bebê, doutor? – a Camila é mais rápida na pergunta.
- Vocês não sabiam que ela estava grávida?
Eu não conseguia dizer nada, apenas chorar.
Eu não estou acreditando que ela estava esperando um filho meu. O filho que eu tanto
quis, que eu tanto pedi a ela. E quando isso finalmente acontece eu sou privado de
acompanhar o crescimento do meu filho.
Se antes eu já estava quebrado, agora eu nem sei descrever com palavras como me sinto.
- Não doutor. – a Camila diz e me abraça.
Não consigo retribuir, não consigo reagir. Apenas sentir… Apenas chorar!
- Ela estava com dois meses de gestação. Fizemos de tudo para tentar segurá-lo, mas ela
perdeu bastante sangue e o tiro pegou em uma região muito delicada, o que dificultou
mais ainda ela conseguir segurar o bebê.
Dois meses.
O meu filho já tinha dois meses e eu não sabia.
Ele morreu.
Morreu por minha causa. Por eu não ter protegido ela como eu disse que iria proteger, por
eu não ter tomado conta da minha família como eu disse que tomaria.
Eu sou um bosta.
Eu não vou me perdoar nunca por isso. Nunca!
- Eu sinto muito. – diz o médico e ele já ia se retirando quando eu o chamei.
- Doutor eu posso vê-la? – minha voz saiu falha por conta do choro e pelo bolo que havia
na minha garganta me impedindo até de respirar direito.
A dor que eu sentia era tanta que apenas em respirar o meu peito doía.
- Sinto muito, mas agora não. As visitas serão liberadas apenas amanhã. – ele diz e se
retira de vez.
A dor que eu estou sentindo nesse momento é imensa e indescritível. Eu perdi o meu filho,
o filho que eu tanto desejei, o filho que eu tanto quis ter com a mulher que eu amo. E tudo
isso por irresponsabilidade minha.
Eu poderia jogar a culpa pra cima do DG pra diminuir essa culpa que me consome por
dentro. Mas eu errei, eu sei que eu errei. Não que ele não tenha a sua culpa, pois sim ele
tem. Mas eu tinha que ter protegido ela e os meus filhos. Eu tinha! Eu tinha que ter
protegido a minha família.
- Ela estava grávida, Camila. – digo assim que ela me abraça novamente. – Ela perdeu o
nosso filho por minha culpa.
- Meu filho, não se culpe por isso. – sinto as mãos da minha mãe alisando as minhas
costas.
Me solto da Camila e viro de frente para a minha mãe para olhá-la.
- Você não teve culpa de nada, querido.
- Tive sim, mãe, aquela bala era pra mim. Eu deveria ter prestado mais atenção, eu deveria
ter cuidado dela como eu prometi cuidar.
- Eu sei que você cuidou da minha filha, Rodrigo. – a Dona Marta diz me olhando. –
Agora a gente tem é que ter fé que ela vai sair dessa.
- Depois dessa eu nem sei se tenho mais. – digo passando as mãos pelo meu rosto
rapidamente.
- Não fala assim, meu filho. Tem que ter fé sim, fé de que ela vai sair bem dessa. Você não
a quer de volta?
- Eu não a quero de volta, mãe… Eu preciso dela de volta.
- Então pronto. Então temos que ter fé de que vai dar tudo certo, porque vai dá.
Eu nada disse, apenas voltei para a minha cadeira me sentando ao lado do Douglas.
Eu não queria sair um dali um minuto, mas eu também tinha coisas á fazer, tinha contas a
acertar. Ainda mais depois dessa.
- Douglas, ele já está no galpão? – digo baixo o suficiente para somente ele me escutar.
- Sim senhor, só está a sua espera.
- Então vamos.
Digo me levantando.
- Onde você vai meu filho?
- Vou em casa trocar de roupa e resolver um problema rápido.
- Posso ir com você, se quiser. – diz a Mila.
- Não precisa Mila, o Douglas vai comigo. Qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo, me
liga que eu venho correndo, ouviu?
- Tudo bem.
- Se cuida meu filho.
- Vou me cuidar mãe.
Saio dali com o Douglas e encontro a viatura parada ainda em frente ao hospital e o outro
policial, que nos acompanhou até aqui, estava sentado no banco do motorista, eu me sento
ao seu lado e o Douglas atrás.
- Para a sua casa, Senhor?
- Não. Para o galpão.
Não quero perder nem mais um segundo pra colocar as mãos naquele desgraçado.
Ele vai se arrepender por tudo que ele fez.
Vai se arrepender até de ter nascido.



23° CAPÍTULO

Rodrigo
Desço da viatura o mais rápido possível e entro no galpão.
Com a raiva que eu estou, com a dor no meu peito por ela estar daquele jeito por minha
causa, por ela ter perdido o nosso filho por minha causa. Eu vou descontar tudo isso nele.
Tudo isso e mais um pouco.
Assim que entro, posso vê-lo sentado em uma cadeira amarrado no meio do galpão. Seu
braço e perna estavam sangrando e o seu rosto estava pálido e baixos gemidos de dor
saiam de sua boca.
Isso é pouco, muito pouco.
Os dez policiais de minha equipe estão aqui também. Apenas a minha espera.
Assim que eu chego perto do DG, ele levanta a cabeça devagar e me olha com um sorriso
debochado na cara.
- O bostinha chegou. – diz e logo depois solta um gemido.
- Perdeu a noção do perigo? – digo tranqüilo, por fora, pois por dentro eu estava me
segurando pra não matá-lo agora mesmo. Mas eu não quero que a morte dele seja assim.
Quero uma morte bem lenta e dolorosa. Quero que ele sinta a dor que eu estou sentindo.
- Eu não tenho medo de você, seu bosta. – diz com raiva carregada na voz.
- Não precisa ter medo, eu não quero isso de você. – e realmente não queria. – Mas eu vou
fazer você pagar por tudo que fez a Sophia… Tudo.
- Eu não fiz nada com ela, tudo que aconteceu foi por querer dela, apenas… E aah como
foi bom ter o meu pau dentro dela, como foi bom ter ela gemendo loucamente embaixo de
mim, me pedindo sempre mais e….
Não aguento e dou um soco forte em seu rosto.
Eu sei que é mentira. Mas eu não vou aguentar ficar ouvindo ele falando assim dela. Ele
vira o seu rosto lentamente me olhando e eu o acerto novamente, fazendo-o gemer de dor.
- Como foi pra você saber que a sua mulherzinha estava esses dias todos sendo fodida por
mim?
E ele continua.
- Cala a boca seu merda. – a raiva transbordava de mim, mas por algum motivo minha voz
sai baixa.
- O que foi? Não aguenta ouvir a verdade? Fodi, fodi mesmo, todos os dias. Ela
enlouquecia todas as vezes que eu tocava nela…
- Você é doente.
Eu sei que é mentira, a Sophia me disse que ele não tinha tocado nela dessa forma e eu
acredito nela. Mas o que me deixa com raiva nisso tudo é saber que mesmo ele não tendo
abusado dela novamente, ele tentou.
- Você que é um otário. – solta uma gargalhada. – Criando o filho de um dono de morro.
Como foi pra você ficar com o meu filho esse tempo todo e sabendo que ele era um
bastardinho pra você? Sabendo que ele é meu filho e que um dia vai herdar tudo que eu
tenho?
- Ele não é o seu filho. Eu sou o pai dele e não, ele nunca vai herdar nada que é seu.
- É um otário mesmo…
Não aguento mais e dou dois socos nele, sua boca começa a sangrar e ele me olha ainda
com aquele sorriso cínico. E isso me deixou com mais raiva.
- Para de ser covarde e me solta, porra. Vamos brigar de homem pra homem.
- Douglas, solta ele.
Digo retirando o meu colete e jogando no chão.
- O senhor tem certeza?
- EU ESTOU MANDANDO SOLTAR ELE, PORRA. –grito sem paciência.
Ele acena e faz o que eu mando.
Retiro também o coldre e coloco no chão.
- Levanta, vamos brigar feito homem, apesar de você não ser um, não é isso que você
quer?
Eu estava enfurecido, ele conseguiu me tirar ainda mais do sério.
Ele me olha por um tempinho e se levanta um pouco devagar da cadeira, por conta de sua
perna baleada.
- Eu vou te mostrar se eu não sou. – ele sussurra apenas para ele, mas eu fui capaz de
ouvir.
Quando ele pensou em me dar um soco, eu fui mais rápido e dei uma canelada em sua
costela, o que o fez ir ao chão, se contorcendo de dor.
- LEVANTA PORRA, VOCÊ NÃO QUER BRIGAR FEITO HOMEM? – me agacho
perto de seu rosto, ele estava imóvel e seu rosto incrivelmente vermelho.
Eu sei o poder que minha canelada tem. Eu lutava Muay Thai quando era jovem e eu
sempre ganhava por nocaute com a minha canelada. E pelo jeito que ele está, intacto e
visivelmente prendendo o choro e os gemidos, eu sei que quebrei alguma costela.
Pego pelos seus cabelos, levantando de leve a sua cabeça para que ele me encarasse.
- Levanta daí e vem lutar como o homem que você acha que é. – jogo sua cabeça com
força no chão, dessa vez ele não conseguiu conter o gemido. – ANDA PORRA.
Ele com muita dificuldade apoia os seus braços no chão e tenta se levantar, mas antes que
ele consiga levantar, o seu corpo cai novamente ao chão e um gemido alto sai de sua boca.
- O que foi machão?! – coloco o meu pé em cima de sua costela exatamente onde eu
chutei, e como previsto ela estava quebrada. – Cadê aquela marra toda?
Piso novamente, bem mais forte e agora ele começa a gritar de dor.
- AAAAAAI PARA, PARA TÁ DOENDO.
- Iiiih estão vendo ai pessoal? A marra dele não dura muito tempo não.
Me abaixo e coloco o meu rosto perto do dele, mas ainda com o meu pé em suas costelas,
o que é bem pior, porque antes o que era apenas uma pressão, agora são noventa e dois
quilos em cima de uma, ou várias, costelas quebradas.
- Ou será que essa marra dele é só com mulheres? Só com mulheres que não conseguem se
defender de você? Só com as mulheres que você estupra?
- AIAIAI, PARA, POR FAVOR, PARA.
- Olha como ele é educado, está pedindo até, por favor. Acho que eu devo relevar, não é
Douglas?
Digo irônico.
O Douglas me olha com um sorriso cínico na boca e responde.
- Não senhor, eu acho que o senhor deveria dar mais uma chance pra ele te mostrar o
quanto ele é homem. Porque até agora eu só vi um bosta.
- É! Você está certo.
Levanto-me, mas antes piso mais um pouquinho em suas costelas o fazendo gritar mais
alto.
- Não dá pra acreditar que o fodão está chorando assim por causa de um chute de nada na
costela… Então eu acho que você não vai aguentar muito a nossa outra brincadeira não.
- Para com essa porra e me mata logo.
- Te matar? – ando até uma mesa com várias ferramentas sobre ela, que eu precisarei para
esse servicinho, pego uma barra de ferro e volto para onde o DG ainda se encontra
deitado.
- Está muito cedo, DG. Nem começamos as brincadeiras ainda.
- Você vai me torturar…
- Eu? Te torturar? Jamais.
Eu já não estou mais me reconhecendo. A raiva que eu sento pelos últimos acontecimentos
e principalmente por ele, ainda toma conta, mas agora de um jeito diferente.
Eu sempre fui um homem sério, na minha, seco e frio. Mas eu nunca me vi do jeito que
estou agora. A frieza em minha voz saía de uma maneira nunca ouvida por mim, antes. E
eu estranhamente não me importo com isso, pelo menos não agora.
- Mas se você gosta tanto de abusar de mulheres indefesas, eu acho que você gostaria
também de experimentar como as suas vitimas se sentem. – digo alisando a barra de ferro
a minha frente. – Eu acho que você vai gostar, não é? Já que sentia tanto prazer fazendo
isso com outras mulheres.
Eu nem sei se ele estuprava de fato outras meninas ou não. Mas a meu ver, quem tem
coragem de fazer com uma, faz com várias.
- Não, não. Você está maluco. NÃO! – ele diz desesperado e isso estranhamente me deixa
muito bem.
A minha cabeça estava gritando que aquilo era o certo a se fazer, que ele teria que pagar
por tudo, tudo que ele fez a Sophia. E que aquilo que eu estava prestes a começar a fazer
era o justo, até pouco pra ele. E eu estava adorando vê-lo daquela forma. Mas o meu
coração quebrado me dizia que eu não estava agindo certo, que eu, como um homem da
lei, deveria tratá-lo da forma que a lei manda. Mas como a lei desse país é muito falha, eu
sei muito bem onde vai dar isso tudo.
Tudo se repetiria novamente.
Ele vai ser preso, depois foge e faz as mesmas coisas.
E eu não posso, não posso deixar mais uma vez esse desgraçado estragar as nossas vidas.
Porque sim, eu tenho certeza que a Sophia vai voltar pra mim. Eu sei que vai.
Deixo esses pensamentos de lado.
Isso não me faz bem.
Eu não posso deixar esse meu lado frio ir embora. Não posso.
- Que isso, a machão está chorando de novo?
- Porra, não faz isso. Me mata, faz o que você quiser, menos isso.
Agacho-me perto dele novamente e olho em seus olhos.
- Lembra que suas vitimas também não queriam? Lembra que elas pediam pra você parar?
E você lembra o que você fazia? … Você continuava, e continuava, e continuava…
- Por favor…
- Assim como elas não tinham o direito de escolha… Você também não tem.
Levanto-me e jogo a barra de ferro para o policial Lucas, que a pega rapidamente.
- Ele é todo seu.
Digo e me viro saindo do galpão.
Consigo ouvir os seus gritos desesperados e logo em seguida o Douglas me chamando.
- Senhor, vai ir pra casa? Quer que eu te leve?
- Não precisa, eu quero ficar sozinho. – digo tentando não ser grosseiro com ele que foi
um grande amigo todo esse tempo. – Você será os meus olhos e ouvidos aqui dentro.
Depois que eles acabarem com ele lá dentro não fazem nada até eu chegar.
- Sim senhor. – ele me joga a chave do carro e eu pego no ar.
Entro e saio daquele meio de mato. Uma hora depois eu estava em casa, o relógio já
marcava quatro da manhã. Coloco o carro na garagem ao lado do meu e entro em casa.
Vou direto para o meu quarto e tiro a farda suja de sangue.
Ligo a banheira e me sento dentro dela esperando encher. E é inevitável não pensar nela
naquela cama de hospital e desacordada. Sem previsão nenhuma de quando acordaria.
Sabe-se lá quando ela vai acordar. Mas eu vou estar aqui, vou estar aqui esperando ela
voltar pra mim… Pra gente. Nem que isso demore dias, meses e anos, mas eu vou estar
aqui esperando por ela para que possamos formar a nossa família. Eu, ela, o Gus e os
vários irmãozinhos que ele vai ter.
Não me importo de estar parecendo uma mulherzinha pensando assim, realmente não me
importo. Eu nunca pensei em ter uma família antes, até porque eu pensava que não poderia
amar alguém á ponto de querer isso. Eu achava que por conta do que aconteceu comigo,
eu não saberia ser um bom pai e muito menos amar alguém da maneira que eu a amo. Mas
ai ela aparece, ela aparece com aquele jeito meigo e simples dela e muda tudo, muda
completamente tudo na minha vida. E com ela, ela trás o Gus, a pessoinha mais
importante pra mim… O meu filho e eu não aceito que dizem o contrário disso, porque ele
é o meu filho sim. Eu o amo como se fosse um e eu sei que o que ele sente por mim
também é carinho e amor, de um filho para com um pai. E isso tudo, essas duas pessoas
que mudaram tanto a minha vida, me fizeram querer mais, bem mais ao lado deles, algo
bem mais forte e duradouro do que um simples namoro e apego.
Eles me fizeram querê-los de fato na minha vida, pra sempre. Querê-los á tal ponto que eu
não conseguisse mais me ver sem os dois ao meu lado e passasse a programar coisas para
um futuro bem distante com eles.
E eu não vou deixar que isso se acabe assim, eu não vou deixa que ela se vá.
Eu vou estar aqui, não importa quanto tempo dure, mas eu vou estar aqui quando ela
voltar.

[…]


Três dias depois…
A Camila sai em prantos do quarto onde a Sophia está. Ela vem até a mim e me abraça
forte.
- Eu… eu não aguento ver ela daquele jeito, Rodrigo.
Não digo nada, apenas a abraço forte. Se eu abrisse a boca, com certeza choraria e eu não
queria fazer isso em publico novamente. Naquele dia foi um momento de dor e fraqueza,
que eu não pude e nem quis segurar.
- Ela tem que voltar logo pra gente. – ela diz se desfazendo do meu abraço.
Apenas aceno com a cabeça e ela entende que eu não vou falar mais nada.
- Vai lá. – ela cena em direção a porta e eu entro.
Eu deixei pra entrar por ultimo pra ter mais tempo com ela, e eu acabava sempre entrando
sozinho, pois sempre que eu a via do jeito que está agora, toda intubada, eu sempre
chorava, nunca aguentava vê-la desse jeito.
Ando devagar, pego a poltrona, arrasto para a beirada da cama e seguro com força a sua
mão.
Fico alguns minutos apenas olhando para ela, as lagrimas desciam silenciosamente. Eu
fazia movimentos lentos em sua mão e quando tomo coragem as palavras saem falhadas
pela minha boca.
- Amor… Volta pra mim. – abaixo a minha cabeça sobre a sua mão, que eu continuava
segurando firmemente, e deixo as lágrimas virem.
- Eu sinto tanto a sua falta… o Gustavo também. Ele pergunta por você todas as noites… –
levanto a minha cabeça e deixo um beijo em sua mão. Olho em seus olhos fechado e
continuo. – Eu ainda não tive coragem de trazê-lo aqui… Eu falo pra ele que você está
fazendo uma viagem muito longa e que quando voltar, você vai trazer um boneco enorme
do SuperMan pra ele… só assim ele consegue dormir. Mas a primeira coisa que ele faz
quando acorda… é.. é chamar por você – minha garganta embola nessa hora e o meu
coração se aperta.
- E-eu não sei se você realmente consegue me escutar. – como eu sempre fazia nesses três
dias em que ela está aqui eu falo. – Se você consegue me escutar… aperta a minha mão,
por favor. Eu só preciso saber se você pelo menos me escuta.
E como sempre, nada acontecia.
- Mas eu prefiro acreditar que sim… Eu te amo, e preciso de você de volta. – me levanto e
deixo um beijo demorado na sua testa e minhas lágrimas molham o seu rosto.
- Me desculpe senhor, mas o tempo já acabou. – diz a enfermeira parada na porta.
Deixo um ultimo beijo em sua testa e falo bem baixinho no seu ouvido.
- Eu te amo.
Solto lentamente a sua mão e saio do quarto.

[…]


Chego ao galpão e encontro o DG deitado em cima de um papelão com suas mãos
algemadas.
Ele é tão ruim que conseguiu sobreviver a todos esses dias a nossa tortura, as balas não
estavam mais alojadas em seu corpo. Eu mesmo fiz questão de tirar uma por uma com
uma faquinha de cerra. Esterilizada é claro, pois sou uma ótima pessoa. Não sei como ele
não morreu desidratado ou até mesmo por alguma infecção em sua perna e braço por conta
dos buracos expostos. Mas eu posso dizer que esses dois membros ele já não tem mais. Já
passou de roxo para o estagio de cheirar mal, bem mau.
E isso me deu uma ideia.
Passo por ele e pelos policiais que estavam aqui hoje e entro no quartinho onde eu deixei
algumas coisas que usaria com ele guardado.
Pego uma garrafa cheia de soda caustica e volto para onde eles estavam.
Chego perto do DG, que estava com os olhos fechados, dou um chute em seu braço e o
chamo.
- Levanta porra.
Ele resmunga e abre os seus olhos lentamente.
- Acho que já está na hora de você tomar um banho, não acha? Você está fedendo.
- Me-me mata logo… eu não aguento ma-mais.
- Calma, estou me divertindo tanto com as nossas brincadeiras, não quero acabar ainda…
E eu ainda tenho planos pra você, por isso que estou falando que precisa de um banho.
Ele olha para a garrafa do meu lado e consigo ver o desespero em seus olhos.
Isso não é nada perto do que ele merece.
- Não…não faz isso, me mata. ME MATA LOGO!!!
- Eu estou achando você afobado demais.
Pego a garrafa em minhas mãos e começo a abri-la.
Jogo o liquido de dentro dela sobre a sua pele e conforme eu ia jogando, gritos altos e
sôfregos saiam de sua boca, podia ver o produto corroendo sua pele e isso me satisfazia.
Uma parte de mim dizia que eu estava sendo um monstro, mas a outra parte dizia que era
o certo a se fazer.
- PARA, TÁ QUEIMANDO, PARA, POR FAVOR.
Eu não me conformei e só parei de jogar o liquido quando não tinha mais nada na garrafa.
Me viro e vejo os policiais me olhando com incredulidade e posso dizer que medo
também, mas eu não me importei. Eu já estava ficando cansada dessa “brincadeira”. Já
estava satisfeito, vê-lo sofrendo desse jeito me deixava em paz, eu me sentia vingado por
tudo que ele causou na vida da Sophia.
Não me importo com os olhares dos policiais e falo.
- Já pode preparar os pneus, porque vai ser hoje. Já cansei disso.
Digo e saio, vou para um tipo de sala que tinha ali e me sento na cadeira.
Ainda posso ouvir os gritos escandalosos do DG e isso me deixava em paz e, saber que ele
estava sofrendo. E tudo o que eu queria que ele sentisse era dor. Apenas dor e mais nada!
Ele merecia muito mais, merecia sofrer bem mais antes da sua morte, mas eu já estou
cansado de olhar para a casa desse crápula e vê-lo vivo. Ver que todo o mau que ele
causou a minha família não foi vingado ainda.
Meia hora depois o Douglas entra na sala.
- Senhor, já está tudo pronto.
- Vamos então. – me levanto da cadeira e pego a minha touca. – Já colocou ele no carro?
- Sim senhor. O cara está quase morrendo já, ele não aguenta muito tempo não.
- Então vamos que eu quero ter o prazer de vê-lo queimando vivo.
Saímos do galpão e havia cinco carros parados em frente, já estava de noite e esse era o
horário perfeito para fazer o que eu tinha em mente.
Posso vê-lo dentro de um saco dento no porta malas, que já estava sendo fechado, entro
nesse mesmo carro e tomo a direção e dirijo até a Rocinha. O que eu tinha em mente era
bastante arriscado, mas eu tomei bastante cuidado em relação a isso. A UPP está se
instalando lá aos poucos e na parte onde vamos ir eles nem conseguiram chegar ainda,
mas o trafico também não comanda mais. O que não significa que não tenha ainda os
bandidos espalhados pelo local. Subimos pelo caminho da mata e paramos no ponto mais
alto da favela, onde acontecia realmente esses tipos mortes por aqui.
O lugar estava deserto, era um morro bem alto de onde se podia ver toda a favela e uma
parte bem grande do Rio, o lugar era bem escuro o que facilitava pra gente. Eu desço do
carro e me junto aos outros policiais que estavam tirando o DG da mala, ele gemia de dor,
mas era um gemido agonizante de quem realmente estava a beira da morte.
Os policiais começam a tirar os pneus de dentro dos carros e consigo ver o desespero nos
olhos do DG, sua pele já estava bem queimada por conta da Soda caustica.
- Não faz isso, por favor. Me da um tiro na cabeça, no coração. Qualquer coisa, mas não
me queima vivo… ou quase vivo.
Não dou ouvidos para o que ele me diz e coloco a touca, por mais que esse lugar esteja
deserto eu não quero correr o risco de alguém aparecer. Eu quero que a morte dela seja
dada a entender que foi por bandidos e não por mim.
Ajudo os policiais a colocarem ele em pé, o que foi bem difícil, pois suas pernas já não
conseguiam sustentar o seu corpo, e fomos colocando os pneus em volta de seu corpo.
Ele chorava feito criança.
- Por favor, cara, não faz isso. Eu não quero morrer assim. Eu já aprendi, já to fodido o
suficiente, eu estou arrependido…
- O seu arrependimento não vale de nada… Assim como você. – pego a garrafa com
gasolina e começo a jogar sobre ele. – Eu estou fazendo um favor pra sociedade.
Pego o fosforo e acendo.
- NÃO, NÃO. POR FAVOR, NÃO!
- Já deu pra você.
Jogo o fosforo em cima dele e o fogo começa a se alastrar. O seu grito desesperado é bem
alto, mas dura pouco tempo.
Fico vendo aquelas chamas e podem me chamar de monstro, mas eu me sinto muito
aliviado em saber que esse homem não vai nunca mais infernizar a minha vida. E fico
mais aliviado ainda em saber que eu fui o causador de sua morte.
Eu nunca fiz nada parecido com o que eu fiz com o DG em todos esses dias, mas eu
também não tenho um mínimo de remorso em relação a isso, eu me sinto satisfeito por
fazê-lo pagar por tudo que fez. Nunca fui tão sangue frio em toda a minha vida, mas valeu
a pena.
Muito apena. Mas a Sophia não pode saber disso, conhecendo ela como eu conheço, sei
bem que ela não ficaria nem um pouco feliz em saber a forma como eu o matei… Não por
ele, mas por mim.

[…]


24° CAPÍTULO
Rodrigo
Dois meses depois…
Dois meses haviam se passado e nada de ela voltar, estava tudo do mesmo jeito, ela não
reagia quando conversávamos com ela, ela ficava apenas imóvel naquela cama. E eu já
não aguentava mais, a cada dia que passava e eu a via daquele jeito eu me sentia pior
ainda. Eu não via a hora de ela levantar daquela cama e a gente sair daquele hospital,
juntos.
Quando nós vimos que já tinha se passado uma semana e nem sinal de ela acordar, a dona
Marta concordou comigo que era a hora da gente levar o Gustavo até ela. Até porque nós
não sabíamos até quando ela iria ficar naquele hospital, nós desejávamos que fosse pouco
tempo, mas já se passaram dois meses e nada.
A reação do Gustavo foi diferente da que eu pensei que seria. Ele não chorou como eu
pensei que fosse fazer ao ver a mãe naquele estado. Ele ficou triste, mas assim como nós
sempre fazemos quando vamos visitá-la, ele apenas conversou com ele, da maneira dele é
claro, mas conversou.
Eu passo todos os dias no hospital para visita-la e assim que saio de lá vou para o meu
apartamento onde a dona Marta continua morando com o Gustavo, pois eu gosto sempre
de coloca-lo pra dormir, e depois volto para a casa… Mas uma coisa que me incomoda
todas as vezes que eu vou visitar a Sophia é aquela mulher lá, a Isabela, irmã do DG. Ela
me olha como quem soubesse de tudo o que eu fiz e estivesse me julgando em
pensamentos…
Olhar pra ela quase todos os dias me remete lembranças que eu queria esquecer. Não por
arrependimento, mas sim porque eu não gosto de me lembrar o quão sangue frio eu pude
ter sido, a ponto de matá-lo daquela maneira. Mas é como dizem: A dor nos muda. E ela
realmente me mudou… e mudou pra pior.
Naqueles dias eu estava louco, completamente maluco, um verdadeiro sádico. Eu não
pensava, apenas agia, agia na raiva, com a dor de ver a minha mulher todos os dias nesse
hospital. Com a dor de ter perdido um filho que eu nem tive a chance de conhecer. Eu
juntei tudo isso, todas essas dores e a raiva e agi feito um monstro, eu queria que ele
pagasse por tudo que fez, não só a Sophia, como também as outras pessoas inocentes. Eu
queria que ele sofresse muito, antes de morrer, queria que ele implorasse pela morte. E
isso tudo realmente aconteceu. Mas por que agora, tanto tempo depois, eu não me sinto
mais tão satisfeito igual eu me sentia há dois meses?
Como eu disse, não chega a ser arrependimento.
Eu acho.
Pelo menos não de ter matado ele. Mas sim da forma como tudo aconteceu até chegar a
morta-lo de fato, eu nunca pensei que seria capaz de fazer aquelas coisas. Mas eu não
pensava, apenas agia. Agia e eu realmente não conseguia me reconhecer. Eu não era
daquele jeito… Eu não sou daquele jeito, mas a minha ira me transformou de uma forma
assustadora.
Eu em toda a minha vida repugnei tanto os policiais corruptos que eu acabei agindo feito
eles. Acabei forjando, de certa forma, uma morte. Eu planejei tudo friamente e fiz dando a
entender que fossem bandidos de outras facções, ou até mesmo a própria facção, matando
ele.
E eu de fato consegui isso.
No dia seguinte as noticias de que um corpo carbonizado foi encontrado em pneus, na
Rocinha, começou a rodar as TV’s e não demorou muito para que os exames
comprovassem que era o DG. E o caso foi deixado de lado, não só pelo fato dele ser um
bandido e a policia não dá a mínima para a morte de um, como também a forma como
aconteceu isso, deu a entender que foi rixas de bandidos.
Às vezes eu tenho sonhos com aquele dia e acordo assustado. Mesmo matando aquele
infeliz ele continua infernizando a minha vida. Será que esse é o preço que se paga por
matar uma pessoa daquela forma? Ser infernizado?!
Eu sei que meu lugar no inferno já está bem guardado por conta disso. Tanto que eu
enojava e sentia raiva do meu pai com as coisas que ele fazia, eu consegui ser ainda pior
que ele e isso me envergonha. Eu não sei como vou ter coragem de olhar para a Sophia
depois de tudo isso. Eu a conheço e sei que ela não concordaria com o que eu fiz. Apesar
de ele ter feito muito mal a ela eu tenho certeza que não era desse jeito que ela queria que
ele terminasse, pelo menos não pelas minhas mãos… não que eu fosse o causador dessa
morte cruel.
Eu não vou ter coragem de contar pra ela, mas pelo o que eu a conheço ela vai querer
saber o que houve com ele…
Hoje, a parte de mim que sempre me dizia naquele dia para eu parar, agora sofre por algo
chamado remorso. Mas a outra parte que me dizia para continuar, que aquilo era o certo a
se fazer, me diz pra esquecer, pois ele mereceu cada castigo sofrido, que ele mereceu
passar por tudo que passou.
E eu dividido nessa, realmente não sei o que pensar, não sei o que fazer e muito menos o
que dizer.

[…]


Sete meses depois…
Estava na delegacia e como sempre contava os minutos no relógio para eu sair dali e ir ver
a Sophia.
Eu estava começando a perder as esperanças de que ela fosse realmente acordar algum dia.
Mas mesmo assim eu nunca saía do lado dela, nunca deixava de ir visitá-la. Eu estava
sempre ali.
Faltava pouco mais de uma hora para o meu turno acabar e eu estar finalmente livre para
visitá-la.
Estava lendo algum dos casos em que eu estava de frente quando a Clara entra na sala.
- Com licença, Rodrigo.
- Fala Clara! – digo soltando os papéis de minhas mãos e deixando sobre a mesa, levando
a minha atenção para ela, parada a minha frente.
- É que, depois do horário a gente vai dar uma esticadinha naquele barzinho que a gente
sempre ia, lembra? – aceno pra ela, já sabendo o que ela quer. – Ai como hoje é sexta e
tudo mais, eu queria saber se você não quer ir com a gente.
Ela fala e faz aquela cara de puta encubada dela, que somente eu consigo ver.
Eu sei o que ela está tentando fazer, fazer o mesmo da vez em que transamos, armando
uma situação pra ir pra cama comigo novamente.
Ela faz a mesma coisa toda à semana, quando não é me convidar pra ir ao barzinho é me
pedindo carona com a velha desculpa do carro na oficina. A carona eu até dou, mas só
isso. Sempre deixei claro pra ela que sou comprometido e que nunca trairia a Sophia.
- Você sabe muito bem que eu não vou mais a esses lugares, não sei por que ainda perde o
seu tempo me chamando.
- Aah é que eu sempre tenho a esperança que você aceite sair com a gente. Se divertir um
pouco, sabe?
A gente… sei.
- E outra, eu te vejo tão pra baixo desde quando aquelazi… é… a Sophia, entrou em coma.
- Se eu quisesse realmente me divertir eu faria isso, e pode ter certeza que eu não
precisaria da sua companhia pra tal.
- Nossa Rodrigo, não precisa falar assim, também… – o seu rosto estava vermelho e posso
sentir sua voz um pouco tremula.
- Eu só quero o seu bem, achei que te fazer esquecer que a Sophia está numa cama de
hospital, por um minuto, fosse te fazer melhor.
- Mas quem colocou na sua cabeça a ideia de que eu quero me esquecer dela? – a
paciência já estava acabando.
- Qual é Rodrigo. Ela já está a sete meses naquela cama, inconsciente. Você realmente tem
alguma esperança que ela volte?
- Isso não é da sua conta. Eu só quero que você saia dessa sala agora mesmo, antes que eu
perca o resto da paciência que ainda me sobra.
- Tudo bem, me desculpe por me importar com você, Rodrigo e querer o seu bem… E o
seu bem não é sofrer por uma pessoa acamada que você nem sabe se um dia voltará
mesmo ou não. Você não merece isso, você merece uma pessoa feito você, uma pessoa
que vai estar sempre aqui e….
- Eu já encontrei essa pessoa, e ela não é e nunca será vocÊ. Essa pessoa é Sophia, a qual
eu vou ficar esperando por quanto tempo for preciso. – me levanto da cadeira borbulhando
de raiva e abro a porta da sala. – Agora saia daqui e só dirija a palavra a mim quando for
algo relacionado ao trabalho. Eu não admito você e nem ninguém se metendo na minha
vida. Entendeu?
- Tudo bem Rodrigo, mas era pro seu…
- Agora sai. – digo apertando com força a porta, pois a minha vontade era bater nela por
ter falado desse jeito, mas eu nunca faria algo assim, então pra extravasar a minha raiva eu
estou praticamente arrancando a porta com a mão.
Ela me olha e posso ver lágrimas em seus olhos antes de ela se retirar.
Fecho a porta, me sento novamente na cadeira e tento me concentrar no meu trabalho.

[…]

Chego ao hospital e faço o mesmo processo de sempre. Passo na recepção, pego o meu
cartãozinho de visitante, vou em direção ao quarto da Sophia e higienizo as minhas mãos
antes de entrar.
Já consigo vê-la no estado que está e não chorar, mas não significa que o meu coração não
doa vendo-a nesse estado.
Sento-me ao seu lado como sempre fazia e pego em sua mão.
- É meu amor, mais um dia… Mais um dia sem poder ouvir sua voz, sem poder te beijar…
Você não sabe o quanto é difícil te ver desse jeito, ou até saiba de tanto que eu me lamento
disso aqui com você. – solto uma risada fraca. – Mas eu só queria te dizer o quanto preciso
de você de volta, eu já não aguento mais, não aguento mais, Sophia te ver desse jeito. Não
aguento mais vir aqui pra esse hospital te ver ao invés de chegar em casa e te encontrar na
cozinha fazendo o nosso jantar. Ainda me dói muito todas as vezes que eu me lembro do
nosso bebê. É difícil quando eu tenho que explicar ao Gustavo que eu não sei quando a
mamãe dele vai acordar, pois isso só depende de você reagir, os médicos estão fazendo
tudo o que deve ser feito, Sophia, mas você também tem que lutar, você não pode se
entregar a isso. Por favor, não desista, não desista de você, não desista da gente… Não
desista de viver.
Passo minha mão pelo seu rosto e logo em seguida abaixo minha cabeça sobre nossas
mãos. Deixo um beijo ali e as lágrimas descem.
- Eu te amo… Preciso tanto de você, Sophia, tanto.
Por um momento eu podia jurar que ela tinha apertado a minha mão, mas eu não sabia se
era mesmo aquilo ou coisa da minha cabeça.
Levanto o meu rosto e eu não posso acreditar no que estou vendo.
Quanto tempo eu esperei por isso!
Os seus olhos estavam abertos, levemente abertos por conta da claridade, eu acredito, e
logo em seguida ela os fecha apertando-os com força, parecendo realmente que a claridade
a incomodava.
Eu não consegui ter nenhuma outra reação a não ser chorar, chorar e mais nada.
- Meu Deus, eu não acredito. – me levanto e me debruço de leve sobre ela. – Você
acordou, Sophia, você acordou… você voltou pra mim, eu sabia que você ia voltar… Eu
sabia, eu sabia.
Eu distribuía beijos sobre seu rosto, a minha vontade era de arrancar aquele tubo e beijar a
sua boca, mas eu não sabia o que isso causaria então eu me contentei em apenas beijar o
seu rosto.
Ela abre os olhos novamente, agora aguentando mantê-los abertos por um pouco mais de
tempo.
- Meu Deus, eu não estou acreditando, você não sabe quanto tempo eu sonhei e esperei
por esse momento. – digo passando as minhas mãos pelo seu rosto e cabelo.
Quanto tempo eu esperei por esse momento.
Lembro-me de que tenho que chamar o médico, e aperto o botãozinho ao lado da cama.
Não demorou muito e o medico junto com dois enfermeiros entram no quarto correndo.
- E-ela acordou, doutor, ela acordou.
- Eu vou precisar que você se retire para fazermos uns exames. – ele sabendo que eu iria
recusar, continua. – Por favor, Rodrigo. Depois desses exames você vai poder ficar com
ela quanto tempo quiser.
- Tu-tudo bem. – deixo um ultimo beijo em sua testa e antes que eu saia do quarto, consigo
ver o seu olhar de desespero direcionado a mim e o meu coração se parte. Um enfermeiro
me acompanhou até a recepção e disse.
- Acho melhor o senhor avisar a família enquanto isso, eles vão adorar saber que ela
acordou.
Ele sai, eu pego o meu celular e ligo para a Camila.
- Oi Rodrigo.
- Mila ela acordou. – a minha felicidade era tão grande, eu esperei tanto tempo pra poder
dizer isso.
- Meu Deus, Rodrigo, graças a Deus… Como? Quando foi isso?
- Agora, Camila, e-eu estava com ela. Eu estava falando com ela como sempre falo e ela
apertou minha mão, depois eu vi os seus olhos abertos, Camila ela voltou, depois de tanto
tempo ela voltou.
- Meu Deus, Rodrigo, e-eu não estou acreditando, eu estou indo para ai. – ela assim como
eu, chorava.
- Tá, avisa a todo mundo ai, liga pra dona Marta pra mim, por favor.
- Eu não estou em casa, mas eu aviso, pode deixar que eu aviso.
Desligo o telefone e me sento naquela cadeira tão conhecida por mim nesses últimos sete
meses
Meia hora depois a Camila chega ao hospital com o… Douglas?
Mas como? Eu perdi alguma coisa aqui?
- Como ela está? – ela me abraça e me olha esperançosa.
- Não sei ainda, o médico me mandou sair do quarto pra fazer os exames nela. – digo
ainda olhando para o Douglas, não acreditando no que estava acontecendo.
- Cara… Eu perdi alguma coisa aqui? – digo apontando para os dois
- O quê? Eu e o Douglas?
Aceno parecendo meio obvio.
- Aah a gente está se conhecendo. – ela diz como se fosse a coisa mais simples do mundo.
- Conhecendo? – digo olhando para ele. – E eu posso saber a quanto tempo vocês estão se
conhecendo?
- Aaah! – ele coça a cabeça sem graça e me olha. – Uns quatro meses, eu acho.
- Porra. E quando vocês iriam me contar que “estavam se conhecendo”? – faço aspas com
os dedos.
- Ah Rodrigo, sei lá é a gente não queria contar nada pra ninguém, agora, nem mesmo a
minha mãe sabe… – ela para e pensa. – Bom… Ela não sabe quem é exatamente, mas
sabe que tem alguém… coisa de mãe metida a saber de tudo.
- Mas nem pra mim, cara? Você é meu amigo, Douglas e você Camila é como se fosse a
minha irmã. Eu acho que deveria saber.
- Ah, mas é que estava tão bom do jeito que estava que eu nem me lembrei de avisar nada.
– ela olha pra ele ri de um jeito safado e morde de leve o canto da boca.
PORRA QUE NOJO, CARA.
- Da pra parar?
- Aãn?!
- Essa safadeza ai, Camila, nós estamos em um hospital. E eu não sou obrigado a ter
imaginações sobre o que vocês estavam fazendo de tão bom que você chegou a se
esquecer de me avisar.
- Aah ai o problema já é seu e da sua imaginação fértil. Eu não disse nada.
- É não disse, mas deixou pouca coisa pra minha mente começar a formar coisas. Porra
que nojo.
- Ai o problema já não é meu. – ela vai até o Douglas e o abraça de lado.
Só isso que me faltava.
Resolvo deixar esses dois de lado, pelo menos por agora, e volto a me sentar na cadeira a
espera de mais noticias. Não demorou muito e a minha mãe, a tia Patrícia e a dona Marta,
junto com o Gustavo, entram na recepção.
Assim que a tia Patrícia vê a Camila e o Douglas abraçados ela solta um sorrisinho e um
olhar cheio de perguntas para a Camila.
Vou até a dona Marta a cumprimento e pego o Gustavo no colo.
- Papai, eu vou vera mamãe?
- Sim meu filho, você vai ver a sua mãe. Mas hoje é diferente, ela está acordada, vai poder
falar com você.
- Sério papai? – diz eufórico e pula nos meus braços.
- Sim, meu filho.
Vejo o sorriso mais lindo brotando em seu rosto o que me faz ficar ainda mais feliz com
isso tudo. Graças a Deus ela acordou e nós vamos finalmente conseguir seguir com as
nossas vidas, sem que nada possa nos atrapalhar.


[…]

25° CAPÍTULO
Sophia
Ouço aquela voz de sempre me chamando e sinto o seu toque em minha mão.
Eu estava em um lugar escuro… Era sempre assim, sempre essa escuridão. De vez em
quando eu ouço algumas vozes falando comigo, mas não consigo saber quem é, mas eu
consigo sentir a dor e muita vezes o desespero nelas.
Eu queria sair dali, queria sair daquele lugar escuro, eu queria voltar pra casa, para o meu
filho e esse bebê que eu estou esperando. Eu não sei o que aconteceu, eu só sei que eu não
consigo abrir os olhos e sair daqui e isso me angustia. Em meio ao meu desespero interno
de sempre, lutando para acordar, ou seja lá em que estado eu estou, minha mente consegue
fazer algo que não conseguia fazer, ela parou para prestar atenção no que aquela voz tão
sofrida falava comigo.
- É meu amor mais um dia…
Essa voz, eu… eu acho que eu conheço essa voz, mas ainda está bem distante em minha
mente.
- Mais um dia sem poder ouvir sua voz, sem poder te beijar…
Rodrigo… é o Rodrigo.
Eu sinto… Sinto-o segurar a minha mão… A sua voz… Ela está tão triste, tão sofrida.
- Você não sabe o quanto é difícil te ver desse jeito, ou até saiba de tanto que eu me
lamento disso aqui com você. Mas eu só queria te dizer o quanto preciso de você de volta,
eu já não aguento mais. Não aguento mais, Sophia te ver desse jeito, não aguento mais vir
aqui pra esse hospital te ver ao invés de chegar em casa e te encontrar na cozinha fazendo
o nosso jantar. Ainda me dói muito todas as vezes que eu me lembro do nosso bebê.
Ele sabe do bebê!
- É difícil quando eu tenho que explicar ao Gustavo que eu não sei quando a mamãe dele
vai acordar, pois isso só depende de você reagir, os médicos estão fazendo tudo o que deve
fazer, Sophia, mas você também tem que lutar, você não pode se entregar a isso. Por favor,
não desista, não desista de você, não desista da gente. Não desista de viver.
O meu filho… Ele precisa de mim, o Rodrigo precisa de mim.
Eu ainda não entendi direito o que aconteceu e muito menos porque eu vim parar aqui,
mas como ele disse: Eu preciso voltar, preciso voltar por eles. Mas eu não consigo. Eu não
tenho forças o suficiente pra voltar, seja lá onde eu estiver nesse momento.
Eu sei que o meu filho precisa de mim.
Os meus filhos precisam de mim.
O Rodrigo precisa de mim.
Eu tenho que ser forte.
Sinto um toque leve e carinhoso em meu rosto e depois esse toque desce para minha mão e
é possível eu escutar bem lá no fundo. Bem no fundo um…
- Eu te amo… Preciso tanto de você, Sophia, tanto.
Essas simples palavras serviram como um dispositivo que me deu forças, forças não sei de
onde, pra voltar, seja lá de onde eu estava, mas eu voltei.
Depois de tanto tempo na escuridão, assim que abro os meus olhos a luz extremamente
clara irrita os meus olhos, mas antes que eu os feche, consigo vê-lo de relance com sua
cabeça abaixada, posso ouvir o seu choro e sentir lágrimas escorrendo pela minha mão.
Aperto a mão do Rodrigo de leve, na verdade isso foi o máximo que eu consegui fazer
naquele momento. E segundos antes de eu fechar os olhos por completo, consigo ver
aqueles lindos, mas ao mesmo tempo, agora tristes, olhos azuis me olhando.
O seu choro se intensifica.
- Meu Deus eu não acredito.
Sinto o seu corpo de leve sobre o meu. E a minha vontade era de retribui-lo o abraço, mas
eu ainda estava um pouco sonolenta e aquele tubo na minha boca me incomodava.
– Você acordou, Sophia, você acordou… Você voltou pra mim, eu sabia que você ia
voltar… eu sabia, eu sabia.
Ele dizia aos prantos, distribuía beijos e mais beijos pelo meu rosto.
Consigo finalmente deixar os meus olhos abertos, a claridade já não me incomodava tanto.
Incomodava um pouco, mas eu conseguia mantê-los abertos.
- Meu Deus, eu não estou acreditando, você não sabe quanto tempo eu sonhei e esperei
por esse momento.
Ele passava as mãos freneticamente pelo meu rosto e cabelo, parecia não acreditar em me
ver acordada, imagino. Os seus olhos que há minutos estavam tristes. Agora transbordam
felicidades. Pouquíssimo tempo depois, chegam três homens todos de branco e um deles
pede para o Rodrigo se retirar. Presumo que seja o médico. Vejo o Rodrigo o olhando
como quem dissesse que não sairia de perto de mim, mas o médico o convenceu de que
logo ele poderia me ver novamente. Mas eu não queria que ele fosse, eu queria que ele
ficasse aqui comigo, ao meu lado, como sempre esteve todo esse tempo.



Quinze dias depois…
Depois que eu acordei do coma… Nossa!… Coma.
Eu nunca me imaginei um dia ficar assim. Mas depois que eu consegui acordar, não foi
fácil. A primeira vista eu me vi desesperada por não consegui formar uma frase sequer e
nem ficar em pé direito. E isso foi um martírio pra mim, eu tinha tantas perguntas a fazer,
tantas. A única coisa que eu sei é que eu levei um tiro e devido a minha queda eu bati forte
com a cabeça, o que me levou a ter um traumatismo craniano. E dessa parte eu me lembro,
me lembro perfeitamente desse dia. Me lembro do medo que eu tive na hora, medo do
Rodrigo morrer. E eu simplesmente não pensei em nada, eu apenas agi. E posso dizer que
eu faria tudo novamente, por ele.
Essa foi a única coisa que o medico me falou, e eu ficava agoniada por não consegui falar
direito, então eu acabava desistindo de perguntar as coisas. Eu fiquei muito triste quando
eu ouvi do médico que eu havia ficado sete meses em coma, triste por saber que se eu
fiquei sete meses deitada nessa cama dormindo e eu estou exatamente do jeito que eu
sempre fui, na verdade até um pouquinho mais magra, isso significava que eu tinha
perdido o meu bebê. Que eu tinha perdido o filho tão desejado do Rodrigo. Ele foi
totalmente inesperado pra mim, mas eu em momento nenhum o amei menos por conta
disso, e eu no meu intimo já estava fazendo planos para quando ele estivesse maior, já
podia ver a felicidade do Rodrigo quando eu contasse pra ele que estava esperando o filho
dele. Já podia ver a felicidade do Gustavo em ter um irmãozinho, ou até mesmo os ciúmes
dele. Mas tudo isso foi por agua abaixo quando a minha ficha caiu e eu percebi que foi
impossível ele ter sobrevivido àquele tiro.
Com muita dificuldade eu consegui perguntar, em pouquíssimas palavras, ao médico sobre
o bebê, apenas para eu ter certeza. Mesmo com minha dificuldade na fala ele conseguiu
entender e me disse que não pôde fazer nada para segurá-lo. E aquilo foi horrível pra mim,
por mais que eu na época tivesse ficado sabendo á muito pouco tempo sobre a gravidez, eu
já o amava, eu já havia criado um vinculo muito forte com ele. E a única coisa que eu
consegui fazer, foi chorar. Chorar pela dor de ter pedido um filho que eu não tive nem a
chance a conhecer direito. E o Rodrigo em meio a sua inútil tentativa de me consolar,
também se entregou ao choro. E eu me sentia culpada, muito culpada por isso, eu com o
pensamento de proteger o Rodrigo, não pensei em nosso filho na minha barriga, não
pensei em momento nenhum que estava colocando a vida do meu filho em risco. Eu
apenas agi sem pensar e com medo de perdê-lo que acabei perdendo uma outra pessoinha
também muito importante pra mim.
Depois desse momento eu resolvi que iria lutar pra melhorar e sair de vez do hospital, eu
tinha que ficar totalmente boa para o Gustavo e para o Rodrigo. Eu me dedicava todos os
dias com as sessões com a fonoaudióloga e com a fisioterapeuta, eu queria ver resultados
rápido, eu queria seguir minha vida e sair dali.
O Rodrigo estava á todo momento ao meu lado, era notório a felicidade dele em me ver
acordada. O Gus também, na primeira semana ele achou um pouco estranho, pois as
palavras saiam super desconexas de minha boca.
Eu queria também saber o que houve com o DG. A Isabela vem me visitar sempre que
pode, nem ela e nem ninguém me falaram nada a respeito dele. Mas eu percebia que o
Rodrigo ficava incomodado todas as vezes que a Isabela ia me visitar, e eu a via olhando
para ele de um jeito estranho, jeito de quem sabe de algo. E eu estou muito curiosa e
apreensiva em saber o que tinha acontecido com ele, se ele estava preso ou não. Eu resolvi
não perguntar nada sobre ele, não enquanto eu não estiver totalmente boa.
Em uma semana fazendo a fisioterapia eu já conseguia ficar em pé sozinha. A médica me
disse que eu sou um verdadeiro milagre, pois não é muito normal para uma pessoa que
passou sete meses desacordada não ficar com nenhum tipo de sequela grave, como perda
de memoria e os movimentos das pernas. Até porque eu bati com a cabeça e isso é coisa
séria, tão séria que por conta dessa batida na cabeça eu fiquei sete meses em coma. No
meu caso a perda do movimento e da fala, foi temporária, tanto que em duas semanas eu já
estava conseguindo falar e andar pelos corredores do hospital. O que impressionou mais
ainda os médicos.
- Você realmente é uma guerreira, menina. – diz a Mônica a minha fonoaudióloga. – Eu
nunca vi alguém se recuperar tão rápido que nem você.
- É a vontade de sair daqui e ir pra casa logo, de volta pra minha família.
Eu sorrio pra ela e a abraço.
- Muito obrigada… por me ajudar.
- Não precisa agradecer. Só de ver esse sorriso lindo e esse brilho de felicidade nos seus
olhos eu me sinto com a sensação de dever cumprido.
Nos separamos, ela deixa um beijo em minha testa e se despede de mim, alegando que
tinha outros pacientes para cuidar. Me ajeito na cama e não demorou muito o Rodrigo
entrou no quarto com o Gustavo nos braços.
- Oi mamãe, olha quem voltou pra te visitar!– diz o Rodrigo fazendo uma voz engraçada.
Abro um sorriso enorme e estico os meus braços
- Oi meu amor.
- Consegue falar, mamãe? – o Gus pergunta entusiasmado.
- Sim meu amor, mas eu estou vendo que você está falando melhor do que eu, em.
Meu Deus, quanto tempo eu perdi longe do meu filho, ele está tão crescido, agora consigo
entender praticamente tudinho que ele fala. Não parece nem que foram sete meses que eu
dormi, mas sim um ano. Eu devo ter perdido tanta coisa. Eu fico imaginando o quanto ele
deve ter sofrido me vendo desse estado.
- Senti sua falta, mamãe. – ele diz acariciando os meus cabelos como sempre fazia.
- Eu também senti, meu amor. – o abraço forte, e ele me retribui.
Não consigo evitar as lágrimas que já começaram a descer. Sinto os braços do Rodrigo em
volta da gente e sinto o seu beijo em meu rosto e logo em seguida ele faz o mesmo com o
Gus.
- Minha família… Eu esperei tanto por isso. – diz o Rodrigo bem baixo.
- Obrigada. – direciono o meu olhar para ele que tinha os seus olhos vermelhos. – Muito
obrigada por ter cuidado tão bem do meu fil..
- Nosso filho. – ele me corrige me fazendo abrir um sorriso.
- Muito obrigada por ter cuidado do nosso filho esse tempo todo. Muito obrigada por não
ter desistido de mim… de nós, em nenhum momento. – sinto as mãos do Gus no meu
rosto limpando as lágrimas que escorriam.
- Não chora mamãe. Tá tudo bem, tá tudo bem. – ele dizia carinhoso com suas mãozinhas
ainda em meu rosto e logo em seguida me abraça forte.
Não consegui segurar a risada e o choro também.
- Onde ele aprendeu isso?
- Deve ser porque eu sempre fazia a mesma coisa com ele todas as vezes que ele chorava
chamando por você.
- Rodrigoo… – choro mais, parecia que agora eu só sabia fazer isso nos últimos dias. Mas
é que eu não conseguia segurar a emoção de ouvir essas palavrinhas, esses simples gestos
de carinho vindo deles. Coisas tão simples, mas que significam tanto pra mim… Tanto.
O Rodrigo me envolve novamente em seus braços e me dá um beijo calmo e apaixonante
que eu tanto amo.
[…]


O medico já tinha passado e assinado a minha alta, eu não estava nem acreditando que
depois de tanto tempo aqui em coma, e mais alguns longos dias em tratamento, eu
finalmente vou poder voltar pra casa. Eu finalmente estou bem, já consigo andar
perfeitamente bem e falar também. Eu agradeço a Deus todos os dias por não ter me
deixado com nenhuma sequela.
Eu estava bem feliz, o Rodrigo já estava me esperando para me levar pra casa, ele disse
que a minha mãe ficou em casa com o Gus, que estava com um pouquinho de febre, eu já
logo me preocupei, mas o Rodrigo me garantiu que ele já estava melhorando, só que a
minha mãe achou melhor ficar com ele em casa.
Já tinha pegado a minha bolsa e me despedido dos meus anjos, os meus médicos. Se não
fossem por eles eu nem sei o que seria de mim. Depois de tudo isso que eu passei, depois
de ver a dedicação da fisioterapeuta e dos outros médicos comigo, eu tive ainda mais
certeza de que é isso que eu quero pra minha vida. É essa profissão que eu quero seguir.
O meu sonho sempre foi trabalhar na área da saúde, mais especificamente com as
crianças. Mas depois de tudo o que eu passei, depois dos dias que eu fiquei aqui. E depois
de ver a dedicação em cada um deles para ver a minha melhora. Eu tive a total certeza de
que eu seguiria a carreira de fisioterapeuta. Eu senti na pele a sensação de ficar sem andar,
foi por pouco tempo, graças a Deus, a doutora Simone que me ajudou muito e ao meu
esforço também. E eu sei o quanto é bom você aos poucos recuperar aquilo que perdeu, eu
sei o quão mágico é cada novo passo que você dá parecendo ser o primeiro de sua vida, o
que pra muita gente de fato é o primeiro. E eu via a dedicação e a alegria no semblante da
Simone todas as vezes que eu conseguia, todas as vezes em que eu pensava em parar e ela
me reanimava.
E é isso que eu quero pra mim.
Deve ser a melhor sensação do mundo, você olhar para a pessoa e ver que você foi uma
das responsáveis pela recuperação dela. E eu quero isso, quero sentir isso.
Depois de muita emoção eu saí do hospital e fomos em direção ao apartamento. Não
demorou muito e chegamos, o hospital não era tão longe assim, então foi bem rápido.
Apesar de não precisar, pois eu já estava andando muito bem, o Rodrigo abriu a porta do
carro pra mim e me ajudou a descer, pegamos o elevador e em alguns minutos estávamos
na cobertura.
Está do mesmo jeitinho que eu me lembrava, não mudou nada.
O Rodrigo coloca a chave na porta e a abre, assim que eu entro, não consigo impedir as
lágrimas novamente.
Estavam todos ali reunidos na sala em pé a minha espera e tinha até um cartaz enorme
escrito “Seja bem vinda novamente Sophia!!!“
Não me dão tempo de entrar direito em casa e a Camila logo vem e me abraça forte.
- Ai amiga, você não tem noção de como eu estou feliz em ter você de volta. – ela me
apertava forte em seus braços e chorava, assim como eu, e por um momento ela se desfaz
do abraço e me olha sério. – Nunca mais faz isso com a gente, por favor.
Apenas aceno com a cabeça e ela volta a me abraçar. Mas foi obrigada a me soltar, pois os
outros também queriam me cumprimentar. Estavam todos ali, até o pai da Mila, o Douglas
que o Rodrigo me disse estar namorando com a Mila e o Nando também.
- Eeh morena, que susto você deu na gente, em… Eu senti muito a sua falta. – diz ele me
abraçando.
Ouço o Rodrigo coçando a garganta o que faz com que o Nando me solte do seu abraço
um pouco sem graça e isso tira gargalhadas de todos.
- Para de ser ciumento, meu filho. – diz a Julia do seu lado.
- Só estou cuidando do que é meu. – ouço ele dizer, mas não dou ideia e continuo
cumprimentando a todos.
- Ai minha filha, eu estou tão feliz que você está bem, que voltou pra casa, eu orei tanto
pra você sair bem dessa. – minha mãe me tinha forte em seus braços e chorava
copiosamente, isso me fez chorar mais ainda.
- Oooh mãe!
- Eu te amo tanto, minha filha. Eu fiquei com tanto medo de te perder.
- Eu também te amo mãe.
Nós nos soltamos e ela limpa de leve o meu rosto. Depois que passou essa parte dos
choros e abraços, nós fomos comer, porque sim, tem comida. Afinal é uma festa de
recepção, não pode faltar comida.
Estava sentada no sofá e o Rodrigo como sempre ao meu lado me enchendo de caricias.
Eu estou amando essa versão dele. Não que ele não fosse carinhoso comigo, pois ele era,
sempre foi. Mas ele não mostrava muito esse carinho todo em publico.
- O que aconteceu com você, em?
- Por que, amor?
- Sei lá, você está diferente, mais carinhoso… Não que eu esteja reclamando, mas é que
você não costumava mostrar esse carinho todo em publico.
- Depois do que eu passei com você naquele hospital, Sophia, eu não tenho mais vergonha
de mostrar esse lado meu mais carinhoso quando estou com você por perto. A sensação
que eu tive de quase te perder me enlouqueceu. – ele desvia o seu olhar do meu e eu acho
isso estranho, pois ele sempre gostava de falar olhando nos meus olhos. Sempre!
- Aconteceu alguma coisa enquanto eu estava em coma, que eu precise saber, Rodrigo?
- Não amor… Não aconteceu nada… – ele está estranho – Só que eu fiquei com medo de
te perder e não quero passar por isso nunca mais. E quero deixar bem claro pra você e pra
todos o quanto eu te amo.
- Eu também te amo muito, meu amor. – digo e tomo os seus lábios no meu.
Suas mãos sobem e descem na minha cintura, em um movimento lento e sem malicia, levo
minhas mãos para o seu rosto o segurando e abro minha boca de leve deixando-o me
invadir com a sua lingua, mas o beijo não durou muito tempo…
- Vão procurar um quarto vocês dois, por favor.
- CAMILA!!! Isso é coisa que se fale.
- Aaah mãe, não tem nenhuma criança aqui…
- Mesmo assi…
- Deixa tia. – digo sorrindo. – Não tem problema, já estou acostumada.
Ela vem até o sofá onde nós estamos e se senta no nosso meio.
- Sai daí Rodrigo, deixa eu matar a saudade da minha amiga.
- Camila a min…
- Aaah você tem a noite inteira pra matar essa saudades, meu amor, agora me deixa aqui
com ela um pouco. – ela passa o seu braço pelo meu pescoço e me abraça de novo.
- Porra cara, seu namorado tá ali, vai lá.
- Já disse que não tenho namorado… Ainda – ela diz essa parte mais baixa. – Vai lá você
conversar com o seu amigo e me deixa aqui. Temos muito o que conversar.
- Porra. – ele fecha a cara e se levanta indo para perto do Douglas.
- Você continua não prestando. – digo sorrindo.
- E você ama isso que eu sei. – ela deixa um beijo na minha bochecha, se levanta pegando
na minha mão e me arrastando para a varanda. – Aqui é mais tranquilo.
- Me conta desse namoro ai. Como que aconteceu isso?
- Aaah como é bom ter você falando novamente. – diz divertida me fazendo rir.
- Anda me fala. Não muda de assunto.
- Não é bem um namoro ainda, né… Nós estamos nos conhecendo.
- Uhum Camila, eu te conheço bem… bem o suficiente pra saber que você é capaz de
enrolar um cara por meses quando o sexo dele é bom e você não quer nada a mais com ele
a não ser isso.
- Mas com ele é diferente, Soph, eu sinto sim algo por ele, algo muito forte e é isso que me
assusta e me faz querer adiar mais ainda esse compromisso sério, até ter certeza de que ele
sente o mesmo por mim, sabe? Eu não quero sofrer tudo de novo, eu não quero entrar em
mais um relacionamento em que eu amo e ele apenas gosta.
- Agora eu é que vou te dar o conselho que você sempre me dava… Você não pode deixar
de embarcar em um relacionamento só porque um único otário te fez sofrer uma vez…
- Uma não né amiga.
- Várias vezes. – digo revirando os olhos e arrancando uma risada dela. – E outra, todo
mundo vê o jeito que ele te olha, eu via o jeito que ele cuidava de você sempre quando
vocês iam ao hospital me ver… Eu não sei o que ele sente por você, até porque a única
pessoa que pode dizer isso é ele, mas não é um simples gostar e eu acho que você deve
sim dar uma chance pra ele… Pra vocês.
- Você acha mesmo?
- Sim eu acho… Ele é um gato, educado, legal. Não recomendaria outro pra você a não ser
ele.
- Vou pensar com calma em ralação a isso… aah meu Deus, eu nem te contei, né?
- O que?
- Com toda essa loucura eu esqueci de te falar que eu agora… na verdade há um tempo,
sou a mais nova policial civil. – ela diz com um sorriso lindo e todo orgulhoso. E comigo
não é muito diferente.
- Eu não estou acreditando, Camila, sério isso?
- Muito sério.
- Meu deus eu não acredito que eu perdi isso, Mila. Eu queria tanto estar do seu lado nesse
momento.
- Mas de certa forma você estava comigo, inconsciente, mas estava… cada etapa que eu
passava eu ia lá e fazia questão de te contar tudo, sempre.
Eu a abraço e deixo uma lagrima cair, mas logo a seco. Chega de choro, Sophia!
- Eu estou tão feliz por você… Quer dizer então que agora além de ter um namorado
policial, a minha melhor amiga também é?
- Sim. – ela diz dando aquele sorriso lindo.
- E o seu pai, como ele reagiu com isso tudo?
- No começo foi muito difícil quando eu disse pra ele que tinha passado no concurso
publico, ele não acreditou que eu havia feito aquilo pelas costas dele. Chegou até a me
proibir de fazer as outras fases. Mas o meu nome é Camila, não é bagunça. – não aguento
e solto uma risada - Eu não ia deixá-lo destruir o meu sonho por simples capricho dele, eu
até saí de casa por um tempo.
- Sério amiga?
- Uhuum, minha mãe odiou a minha decisão, mas eu não queria continuar morando
debaixo do mesmo teto do cara que, ao invés de me apoiar na minha escolha, queria me
obrigar a fazer algo que eu não queria. Minha mãe com o tempo também acabou
entendendo o meu lado de sair de casa. Mas ela estava sempre comigo, cada etapa que eu
passava, ela estava sempre lá comigo… Depois de um tempo o meu pai veio me pedir
desculpas e ficou tudo certo e eu voltei para casa. Mas a vontade de morar sozinha
permanece, mas dessa vez eu vou planejar melhor tudo direitinho.
- Ainda bem que ele caiu na real e viu que você é feliz fazendo o que faz, né!
- Ainda bem mesmo.
Ficamos mais um tempinho ali conversando e quando foi anoitecendo eles foram embora.
Menos o Rodrigo, esse iria dormir aqui comigo. Depois de tanto tempo vamos finalmente
ficar juntos e sozinhos.
[…]


26° CAPÍTULO
Sophia
Suas mãos passavam lentamente pelas laterais do meu corpo, fazendo-me arrepiar por
completa. Ele leva a sua boca para o meu ouvido e fala bem baixinho, me fazendo arrepiar
mais ainda.
- Senti tanto a sua falta… – logo abaixando e deixando uma leve mordida em meu pescoço
e em seguida um beijo no mesmo lugar. – Senti falta do seu corpo assim no meu. – ele
desce suas mãos para a minha bunda a apertando de leve e um gemido involuntário sai de
minha boca. – Senti falta do seu beijo.
Ele toma a minha boca na sua em um beijo lento, mas ao mesmo tempo muito excitante,
sinto as suas mãos agora na minha cintura segurando-a com força forçando o contato dos
nossos sexos.
Suas mãos vão agora para a barra da minha camisola e a levanta lentamente, por um
instante ele separa nossas bocas e passa com a camisola pela minha cabeça retirando-a por
completo. Meus seios estão totalmente amostra e o Rodrigo os olhava como se fosse coisa
de outro mundo, ele morde o seu lábio com força e leva as suas mãos aos meus seios
segurando-os com força fazendo-me gemer.
- Oooh Rodrigo.
Ele os aperta com ainda mais força e em questão de segundos ele já estava com um dos
meus seios na boca chupando-o com vontade, enquanto apertava o outro. Eu estava muito
excitada e por conta disso rebolava lentamente em cima de sua enorme ereção. Ele começa
a chupar o outro seio, mas não demorou muito e em um movimento muito rápido nos
virou na cama, ficando por cima de mim.
Nossas bocas se grudam novamente e suas mãos apertavam com força a minha cintura, o
Rodrigo esfregava sua ereção na minha intimidade com força e isso me fez separar as
nossas bocas e soltar um gemido alto, até demais.
- Shiiiu meu amor, assim você vai acordar a casa inteira.
- Então para de me torturar, Rodrigo, eu não aguento mais, eu quero você dentro de mim.
– digo me mexendo lentamente debaixo dele.
- Você vai me ter dentro de você, meu amor. – diz e funga o meu pescoço. – Mas antes eu
vou matar a saudade que eu estava do seu corpo. – ele deixa um chupão no meu pescoço e
logo em seguida um beijo. – Vou te chupar todinha, primeiro…
- Aaah.
Ele deixa um rápido selinho em minha boca e vai descendo distribuindo beijos, chupões e
mordidas por todo o meu corpo. Ele para na minha barriga e alisa a sua mão sobre a
pequena cicatriz do tiro, ele deixa um beijo sobre ela e continua descendo com os seus
beijos. Assim que chega à minha intimidade ele abre com rapidez as minhas pernas
fazendo com que eu ficasse totalmente exposta para ele e deixa um beijo nela, ainda
tampada pela pequena calcinha vermelha que eu vestia.
Em questão de segundos sinto as suas mãos nas laterais da minha calcinha e as retira de
mim jogando em qualquer canto do quarto, ele passa suas mãos pela minha intimidade
delicadamente e logo as substitui pela sua língua.
- Aaaah Rodrigo.
Não consigo conter o gemido que saía de minha boca, eu estava fervilhando de prazer, eu
queria contato, minha intimidade pulsava querendo ardentemente senti-lo, e a cada minuto
que passava sem tê-lo era uma tortura pra mim. O Rodrigo segura as minhas pernas com
força e começa a movimentar a sua língua com maestria em minha intimidade, oras ele a
enfiava em minha entrada, outras, circulava o meu clitóris e logo após, chupando-o com
toda a vontade do mundo. Eu mordia os meus lábios contendo os gemidos que queriam
sair de minha boca, minhas mãos apertavam com força os lenções e eu me contorcia de
prazer sobre a cama.
Sinto um tapa forte ser deixado na lateral da minha bunda e um gemido alto sai da minha
boca.
Olho para o Rodrigo que tinha um sorriso extremamente safado e sexy direcionado para
mim.
- Eu quero que você goze na minha boca Sophia, eu quero sentir o seu gosto. Agora. – sua
voz saiu rouca e extremamente sexy.
E aquilo nem de longe foi um pedido, mas sim uma ordem. O meu corpo prontamente o
obedece quando sinto dois dedos entrando em mim e sua boca chupando fortemente o meu
clitóris. Aquilo era tudo que eu precisava para me desmanchar em seus dedos. Pego o
travesseiro que estava do meu lado, coloco-o sobre o meu rosto e solto um alto gemido,
que foi abafado pelo travesseiro. Sinto sua língua ainda passando pela minha intimidade e
o meu clitóris e meu corpo se contorcia loucamente sobre a cama, eu estava muito sensível
pelo recente orgasmo, mas ele mesmo assim não parava.
Por um momento retiro o travesseiro do meu rosto e peço.
- Ro-Rodrigo… Por fa-favor… ooh!! – mordo os meus lábios e desisto de tentar falar algo
quando sinto o meu corpo relaxar novamente.
- Tão gostosa. – sobe em cima de mim e me beija. – Tão minha… – ele passa a sua mão
pelo meu rosto e diz olhando fixamente em meus olhos. – Só minha…
Beija-me novamente e toca os meus seios. Eu levo a minha mão até o seu membro e o
aperto de leve fazendo-o soltar um rouco gemido, ele estava extremamente duro e eu,
ainda mais necessitada de senti-lo dentro de mim.
O Rodrigo parecendo ler os meus pensamentos, se levanta com rapidez, retira a sua boxer
fazendo com que o seu membro pulasse para fora da mesma. E em um movimento rápido
ele já estava por cima de mim, me beijando novamente. Sinto o seu membro ir em direção
a minha entrada, mas antes que ele possa me penetrar eu nos viro na cama ficando por
cima dele e me sento sobre o seu membro, mas me penetrar ainda.
- Deixa que eu comando. – digo baixinho em seu ouvido e o sinto arrepiar.
- Eu deixo você fazer o que você quiser, Sophia. – diz e solta um gemido quando eu rebolo
de leve sobre ele.
Suas mãos passavam lenta, mas precisamente por todo o meu corpo apertando-o e
fazendo-me enlouquecer cada vez mais.
Não aguento esperar mais nenhum minuto e pego o seu membro pela base, me levanto de
leve, mas logo em seguida deixando o meu corpo cair, fazendo com que ele me penetrasse
lenta e excitantemente. O Rodrigo segurava a minha cintura com força, seus olhos
estavam fechados e sua boca levemente aberta. Ele pulsava dentro de mim, me fazendo
querer perder o resto do controle que eu ainda tinha. Quando o sinto por completo, solto
um gemido baixo e sinto as mãos do Rodrigo na minha cintura me impulsionando a me
movimentar.
- Porra Sophia, por favor, se mexe logo… caralho, tão apertada…
Ainda sem me mover, me debruço sobre ele e começo a beijar o seu pescoço lentamente,
chego ao seu ouvido e falo baixinho.
- Abra os olhos, Rodrigo. – mordo o lóbulo de sua orelha e o sinto pulsar mais, dentro de
mim. – Eu quero você me olhando.
- Você vai me fazer gozar desse jeito. – ele diz ofegante.
- Que isso amor, mas a gente nem começou.
Ele leva as suas mãos a minha cintura e começa a me movimentar lentamente. Gemidos
baixos saiam de sua boca e o mesmo acontecia comigo.
- Você tem noção de quanto tempo eu estou sem sexo?
- Não, mas eu realmente espero, para o seu próprio bem, que sejam sete meses e algumas
semanas – digo e mordo a sua orelha.
Um gemido rouco sai de sua boca e ele começa a me movimentar com mais rapidez e eu o
ajudo com os movimentos.
- Foram a porra dos sete meses e algumas semanas sim… Que está me fazendo parecer um
moleque virgem, agora.
Rebolo em seu membro e ele solta um gemido e da um tapa em minha bunda me virando
na cama, ficando por cima de mim.
- Desculpa, mas eu não estou aguentando mais.
Ele deixa o seu corpo cair de leve por cima do meu e começa a me estocar com vontade e
rapidez, eu mordia o seu ombro para abafar os gemidos e arranhava as suas costas. Ele não
teve calma e nem cuidado nenhum e eu estava amando aquilo, nossos gemidos contidos se
misturavam pelo quarto e eu a cada minuto que passava sentia o meu orgasmo chegando.
- Ma-mais rápido, Rodrigo… aah!!!
Ele atendeu ao meu pedido e começou a me estocar mais e mais rápido. Não demorou
muito e o meu corpo convulsionou de prazer embaixo do dele e logo após ele também
gozou dentro de mim.
O Rodrigo toma a minha boca na sua e depois se joga do meu lado, ele passa os seus
braços em volta de mim, levando o meu corpo relaxado para o seu peito.
- Eu senti tanto medo de não poder ficar mais assim com você. – ele fala baixinho e deixa
um beijo na minha cabeça.
- Não pensa mais nisso, amor. Eu estou aqui do seu lado agora, não estou? – minha mão
acariciava o seu peitoral e a dele passava lentamente pelas minhas costas.
- Está amor… está.. – ele diz baixo e eu pude sentir uma pitada de medo em sua voz, não
sabia o porquê, mas desde que eu acordei eu o percebi um pouco estranho, não sei explicar
como, mas ele estava estranho.
- Rodrigo aconteceu alguma coisa que eu deveria saber?
- Não, amor… Não aconteceu nada.. – ele se deita sobre mim e me rouba um selinho. –
Esquece isso… Eu ainda não matei a minha saudade de você.
Suas mãos passam novamente pelo o meu corpo, reacendendo-o novamente e fazendo-me
esquecer completamente do que estávamos falando.
Dessa vez fizemos amor, calmo e carinhoso.
Eu amo a forma como ele me toca. Como o meu corpo reage única e exclusivamente a ele.
Como ele me faz sentir tão dele com apenas um olhar, com apenas um toque…

[…]

Acordo com o Rodrigo bastante agitado ao meu lado, ele se mexia na cama e dizia coisas
desconexas, seu rosto estava soado e podia ver desespero nele.
- Sai… não… NÃO!!!
- Rodrigo. – toco o seu rosto de leve na esperança de que ele acorde, mas ele continua
agitado.
- Eu não vou deixar você tocar neles novamente… – ele dizia entredentes.
- Amor, acorda. – o chacoalho de leve. – Rodrigo, acorda.
- Eu te mato antes, seu desgraçado.
Ele estava agora se debatendo mais forte e isso me assustava.
- Rodrigo. RODRIGO! – falo mais alto e ele levanta da cama assustado.
Sua respiração era ofegante ele tinha as mãos na cabeça e puxava de leve os seus cabelos.
- Será que ele não vai me deixar em paz nunca? – ele diz bem baixinho, quase não fui
capaz de ouvir.
Sento-me do seu lado e passo a mão pelo seu ombro. Posso ver pela janela que já está
amanhecendo.
- Amor está tudo bem, foi só um pesadelo.
- É o preço que eu estou pagando. – ele diz bem baixinho, só fui capaz de ouvir, pois
estava bem próxima dele.
- Do que você está falando, Rodrigo?
- Na-nada. – ele se levanta, vai para o banheiro e eu vou atrás dele.
- Rodrigo, você está estranho, está diferente. Eu sinto que você me esconde algo e isso não
é de hoje. Você vai me falar o que está acontecendo ou vai ficar esperando eu saber por
outras pessoas?
Ele joga a água no rosto e logo em seguida pega a toalha secando-o.
- É complicado, e-eu não sei nem como começar.
- Pois comece pelo começo. – digo o encorajando.
Ele volta para o quarto e se senta na cama, abaixa sua cabeça encostando-a em suas mãos.
Eu já estava começando a ficar nervosa e com medo do que ele tinha pra falar.
E se ele tivesse me traído esse tempo todo que eu estive em coma? Por um lado eu não o
culparia, pois ninguém tinha certeza de que eu realmente voltaria e não seria justo com
ele, me esperar todo esse tempo e ainda cuidar da minha família, mas mesmo assim ele
fez, o que me faz ter ainda mais a prova do seu amor por mim. Mas ainda assim eu ficaria
muito magoada se eu descobrisse que ele realmente ficou com outra. Porém, ele também
havia me dito que não ficou com ninguém e eu confio nele.
- O DG…
Ao ouvir esse nome o medo volta a tomar conta de mim, mas eu não deixo transparecer.
- O que tem ele?
Eu estava torcendo para que ele falasse que estava preso, pelo menos assim eu poderia
respirar aliviada.
- Eu o matei. – ele levanta a cabeça de leve e me olha por poucos segundos e depois
desvia o seu olhar do meu.
- Aãn… co-como?
Eu não estava acreditando no que estava ouvindo, eu sempre ouvia de sua boca que
quando finalmente colocasse as mãos no DG ele o mataria, mas eu não levava muita fé,
não que eu não acreditasse que ele fosse capaz de fazer isso, mas é que eu sempre pensei
que ele o prenderia, apesar de ele sempre ter deixado bem claro pra mim que isso era
pouco pra ele.
- Isso mesmo que você ouviu.
- Como isso foi acontecer? – sim, eu quero saber.
Uma parte de mim estava triste, não pelo DG, mas sim pelo Rodrigo. Eu não vou ser
hipócrita e falar que não estou aliviada com a morte dele, pois eu estou. Mas é que eu não
queria e nunca quis que o causador disso fosse o Rodrigo, entende?
Ele leva as mãos á cabeça e bagunça os cabelos.
- Sophia… você realmente quer saber? – ele me olha por um momento e vejo os seus
olhos lacrimejados.
- Me diz você. Você se sentirá melhor, me contando?
Sim eu quero muito saber, mas não o obrigaria me falar nada. E pelo o que eu conheço o
Rodrigo, ele também não aguentaria muito tempo me escondendo algo. É notório, pela
forma que ele vem agindo comigo, que esconder isso, o incomoda.
Ele abaixa a cabeça novamente e eu continuo em pé de frente pra ele.
- Eu o torturei…
- Como assim, Rodrigo?
- Você realmente quer saber? – pergunta novamente.
- Agora que você começou, termine, por favor.
Ele apenas acena a sua cabeça e continua…
- Eu…
Ele começa a dizer tudo o que ele fez com o DG e conforme ele ia me contando, ainda
mais incrédula eu ficava. Eu não conseguia acreditar que ele teve o sangue frio de queimá-
lo vivo e de tortura-lo daquela maneira.
O Rodrigo não fez isso. Ele não é assim. Ele não ia se sujar dessa maneira. O Rodrigo é
mais do que isso.
Eu não consigo segurar as lágrimas que descem sem parar, eu ainda não consigo acreditar.
Mas não era pelo DG, eu realmente acho que ninguém merece uma morte assim, mas eu
não estou chorando por ele, por um cara que só me fez mal. Essa dor que eu estou
sentindo e essas lágrimas são por saber que o Rodrigo fez algo assim. E que a culpada por
ele agir dessa forma foi eu.
- E tanto tempo depois eu não me sinto mais satisfeito, eu tenho remorso, Sophia. Não por
ter matado ele, pois se eu tivesse como voltar no tempo e tivesse a oportunidade de mata-
lo novamente eu o mataria sem pensar duas vezes, mas não seria daquela forma… Eu
deixei com que a dor que eu sentia por ter perdido o nosso filho, por você estar naquela
cama, em coma, me transformasse em um Rodrigo muito pior do que eu já era… E eu
apenas agia, Sophia.
Sento-me na poltrona que estava atrás de mim, não aguentando ficar de pé, abaixo a minha
cabeça sobre minhas mãos e continuo ouvindo-o.
- Eu me sentia satisfeito, muito satisfeito vendo-o queimando vivo e sofrendo. Eu queria
que ele sofresse, Sophia, eu queria que ele implorasse pela morte, e eu consegui isso.
Quando eu o vi queimando, eu me senti totalmente vingado, por você. Eu me senti
aliviado… Mas depois de um tempo eu já não me sentia mais tão satisfeito, a minha
consciência estava pesando por ter agito feito um…
- Um bandido? – completo a sua fala, mas com uma dor no coração.
Me doía dizer aquilo, me doía ouvir aquilo, mas era o que de fato aconteceu. Posso estar
parecendo ingrata, até porque ele fez isso por mim, mas eu realmente preferiria que ele
fosse preso do que o Rodrigo se sujar dessa forma.
Eu não consigo reconhecer essa pessoa que ele está me descrevendo. Não é ele.
Eu sei que ele nunca foi flor que se cheire, nunca foi a pessoa mais amável e nem a mais
educada, mas eu nunca esperaria algo assim dele, ele é e sempre foi tão amoroso e
cuidadoso com o meu filho que eu não consigo imaginá-lo fazendo tais coisas. E só de
pensar que ele se tornou esse monstro que me descreve, por minha causa. Eu me sinto
dilacerada… culpada. Se não fosse por mim ele não faria isso. Olha no que eu o
transformei.
- Sim Sophia, eu agi feito um. Foi tudo de caso pensando, para realmente dar a entender
que foram bandidos o matando… Eu sei que não posso voltar atrás, o que está feito está
feito, e como eu disse, não me arrependo de tê-lo matado, mas sim da forma como tudo
aconteceu até chegar à morte.
- Por que, Rodrigo? Você poderia ter prendido ele… Você devia ter prendido ele. Mas
você resolveu… você resolveu se igualar a ele… Porque foi isso que você fez. – solto um
soluço e falo. – Você se igualou a ele Rodrigo, que droga!
Passo as mãos rapidamente pelos meus cabelos.
- Eu sei Sophia, me desculpe. – o sinto ajoelhado na minha frente. O seu olhar direcionado
a mim, era um olhar totalmente desesperado. – Por favor, Sophia, eu fiz tudo aquilo
pensando em você, pensando em vocês…
- Você não merecia ter sujado as suas mãos desse jeito, Rodrigo. Será que você não
entende que a minha indignação é por você e não por ele?
- Eu sei… mas infelizmente eu percebi isso tarde demais. – ele pega na minha mão e me
olha. – Não se afaste de mim por causa disso, Sophia. Por favor, não se afaste. – sua outra
mão sobe para o meu rosto o acariciando. – Por isso que eu não queria falar nada, eu sabia
que você agiria dessa forma… Mas Sophia, não me deixe, por favor.
Eu não sei o que dizer, eu não sei o que fazer.
Eu não suportaria ficar longe dele, mas eu preciso digerir isso tudo, eu preciso tentar
entender. Eu preciso pensar a respeito disso tudo.
Eu não consigo ver o meu Rodrigo no homem que ele me descreveu.
- Rodrigo… e-eu, eu preciso digerir essa noticia, eu preciso pensar. Eu preciso de um
tempo.
Ele me olha sem acreditar e vejo lágrimas descendo de seus olhos.
- Sophia você não pode me deixar, não pode, Sophia.. Eu te amo.
- Eu também te amo, te amo muito, Rodrigo. Mas eu não amo esse cara que você me
descreveu, ele não é você. Você não é assim. Eu causei isso em você. E é por isso que eu
preciso desse tempo, por isso que eu preciso pensar, eu preciso me afastar. Eu… me
desculpa.. eu preciso pensar. – choro ainda mais.
Me dói tanto dizer isso, me dói tanto vê-lo sofrendo.
Ele me esperou todo esse tempo e eu com certeza estou parecendo uma ingrata agindo
dessa forma, mas eu simplesmente não posso fechar os olhos pra isso. Eu não posso fingir
que a forma como ele resolveu essa situação toda não me incomodou, eu simplesmente
não posso fazer isso.


27° CAPÍTULO


Sophia
Eu não estaria sendo verdadeira com ele agindo dessa forma. Pelo simples fato de eu saber
que eu tenho a minha grande parcela de culpa por ele ter feito o que fez, por ele ter agido
daquela forma. Meu coração dói muito vendo-o neste estado.
Eu sei que ele está arrependido da forma como agiu, mas isso não tira o grande peso das
minhas costas e não muda o fato de que eu ainda preciso digerir tudo isso, não muda o fato
de que eu realmente não consigo vê-lo mais da mesma forma e que ele errou. Errou por
mim, mas errou. E isso me assusta. Me assusta pensar que ele foi capaz de agir dessa
forma por mim. Eu sei que foi pelo meu bem e do meu filho, mas isso não me deixa
menos assustada e menos culpada. Se fosse qualquer outra pessoa que tivesse feito isso, eu
com certeza não me espantaria tanto, mas não foi qualquer pessoa. Foi ele. Foi o Rodrigo
e eu não esperava isso vindo dele, nunca esperei.

- Me desculpa Rodrigo, por favor, me desculpa. Mas eu preciso disso, eu preciso desse
tempo pra eu pensar, pra eu tirar essa cul…
- Você está com pena dele? Depois de tudo o que ele te fez. - ele diz parecendo um pouco
indignado.
- Lógico que não, não fala besteira, Rodrigo. Eu sei que nenhuma pessoa merece morrer
daquela forma, e mesmo assim eu não vou ser hipócrita de dizer que eu não me sinto
aliviada em saber que ele nunca mais vai atormentar a minha vida, que a partir de agora eu
posso sair pela rua sem medo de estar correndo risco. Pois sim, eu me sinto muito aliviada
com isso. Mas entenda que eu não queria que você tivesse feito isso, Rodrigo. Eu não
queria que você tivesse sujado as suas mãos e se igualado aquele crápula. Eu não queria
que…. - o bolo na minha garganta me faz parar e um soluço sai de minha boca. Meu rosto
está extremamente molhado pelas lágrimas e com o Rodrigo não é diferente. – que fosse
você a fazer aquilo, pelo simples fato de eu saber que você não é assim. E isso de alguma
forma assusta, me assusta e ao mesmo tempo eu me sinto extremamente culpada em saber
que você agiu daquela maneira por minha causa… Única e exclusivamente por minha
causa, Rodrigo.
- Culpada? Você não é culpada de nada, Sophia, eu fiz porque eu amo vocês e pra protegê-
los, apenas.
- E é exatamente por isso, Rodrigo. Eu te conheço, eu sei que você é arrogante, frio e
totalmente sem paciência com algumas muitas pessoas. Mas eu te conheço o bastante pra
saber que você não teria coragem de fazer algo do tipo, sem um motivo muito forte… E
essa droga desse motivo sou eu, eu que provoquei tudo isso. Eu não tinha que ter metido
você nessa e…
- Não fala besteira, Sophia, para, vocês são a minha família. E na hora eu estava destruído,
destruído por uma perca de algo que eu queria e desejei tanto…
- Desculpa, Rodrigo. - abaixo o meu rosto sobre minhas mãos e uma dor forte aperta o
meu peito. - Eu sabia o quanto você desejava aquela criança, desculpa…
- Amor, esquece. - ele passa suas mãos de leve em meu cabelo - Não se culpe por isso… A
dor que me transformou, não foi você. Foi a mistura de tudo que estava acontecendo que
acabou comigo e me fez agir daquele jeito. Você não tem culpa de nada.
Eu negava com a cabeça, o meu coração doía pelas palavras ditas e escutadas. O que me
deu ainda mais certeza de que eu precisava pensar, eu precisava de alguma forma tentar
entende-lo e com isso fazer com que a culpa de tê-lo feito fazer o que fez, vá embora…
Eu o amo incondicionalmente e disso eu não tenho nenhuma dúvida, mas eu tenho que ter
um tempo, apenas pra eu pensar nisso tudo que aconteceu.
- Rodrigo eu só te peço um tempo, por favor. Eu vou entender se você me odiar por isso,
eu sei o quanto você… Você esperou por mim… O quanto você so-sofreu. E eu te amo
ainda mais por isso, te amo ainda mais por… Por você na-não ter me abandonado. Só me
desculpe por estar parecendo ingrata, mas eu preciso pensar, eu preciso aceitar isso… Não
por você, mas por mim.
- Tu-tudo bem, Sophia. - ele pega em minhas mãos e me faz olhá-lo. - Só me prometa uma
coisa?
Aceno a cabeça e ele continua.
- Não me afasta do Gustavo, por favor. E-eu não suportaria.
Deixá-lo ver o Gustavo não mudaria nada, pois consecutivamente nós teríamos contato
também e isso seria muito difícil pra mim. Mas de jeito nenhum eu o privaria disso. Ele
realmente é um pai pro meu filho e eu não tenho coragem de afastá-los. Se eu fizer isso, aí
sim, eu seria uma puta ingrata. Pois depois de tudo que ele fez pelo meu filho todos esses
meses que eu estive em coma e fora isso também, ele sempre mostrou o carinho e o amor
que sente pelo Gustavo e vice-versa. Eu não tenho coragem e não seria justo com nenhum
dos dois, afastá-los
- Você pode vê-lo quando quiser, Rodrigo, eu não vou te impedir de fazer isso.
- Obrigado. - ele diz e se levanta secando o rosto. - Então eu-eu vou pra casa.
- Eu também vou pra minha. – digo me levantando.
- Como assim? A sua casa é aqui. - ele diz espantado.
- Não Rodrigo, a minha casa é na Rocinha.
- Não precisa disso, Sophia, eu não me importo de vocês ficarem aqui. O Gustavo já se
acostumou com tudo e você vai fazer outra mudança.
- Eu nunca, nunca me esquecerei do que você fez por mim e pelo meu filho, nunca
mesmo, muito obrigada por ter me acolhido aqui e por ter me ajudado… Mas não ajudaria
em nada eu continuar aqui. E o melhor a se fazer, Rodrigo é eu voltar pra minha casa.
- Tudo bem, Sophia. – dá um suspiro triste e abaixa o seu olhar.
- Quando você quiser vê-lo é só me ligar que eu o levo até você ou… sei lá…
- Tá… Eu… eu vou ligar.
Ele vai até o guarda roupa, pega uma muda de roupa e coloca, vai para o banheiro e alguns
longos minutos ele volta já arrumado.
- Tchau, Sophia. – diz ele olhando-me triste.
- Tcha-Tchau Rodrigo. – não consigo impedir as lágrimas que vieram violentamente.
Sinto os seus braços fortes envolto ao meu corpo, ele leva sua mão a minha cabeça
encostando-a em seu peito e deixa um beijo sobre ela.
- Me desculpa…
- Já disse que não precisa se desculpar, Sophia, eu realmente não esperava que você fosse
gostar de saber disso… Essa sua reação era tudo o que eu mais temia.
Ele me solta e segura o meu rosto em suas mãos, quando dou por mim, as nossas bocas
estão grudadas e eu não me afasto. Ele desce a sua mão e me prensa novamente ao seu
corpo, abro a minha boca e deixo que ele entre com sua língua nela. O meu coração está
quebrado, apertado e o choro se intensificou mais ainda entre o beijo. Era um claro beijo
de despedida e eu me permiti aproveitar cada segundo, pois não sabia quando seria o
próximo.
Ele separa nossas bocas, um pouco ofegante e limpa de leve o meu rosto, deixa um beijo
na minha testa e sai sem dizer nada.
Ouço-o abrindo a porta do quarto do Gus e o deixo sozinho com ele. Vou para o banheiro
e me enfio debaixo do chuveiro, querendo de alguma forma começar a entender desde já o
que havia acontecido. Começar a mandar a culpa ir embora, pois eu sei que não aguentarei
muito tempo longe dele.

[…]


- Eu não acredito que você vai fazer uma coisa dessas, Sophia.
Minha mãe dizia incrédula enquanto eu arrumava as nossas coisas para voltarmos para a
Rocinha.
- Pois eu vou, mãe.
- Você está sendo ingrata com ele, Sophia. Depois de tudo que ele fez por você e para a
gente, você vai fazer isso? Ele te esperou todo esse tempo, ele não saia do seu lado
nenhum segundo, ele se desdobrava pra conseguir dar atenção ao seu filho. – ela da ênfase
no seu – Pra conseguir fazer com que ele sofresse menos por você… E agora você vem e
faz isso com ele? Pelo simples fato de ele ter matado o cara que acabou com a sua vida? É
isso mesmo?
- Muito obrigada por me fazer sentir pior ainda do que eu já estava.
- Mas é pra você se sentir mesmo, Sophia, não é certo isso que você está fazendo com ele.
Não é… Ele sempre fez tudo por vocês, pelo bem de vocês e agora você vem com essa de
culpada? Você também não tem culpa de nada, o único culpado é o DG e ele mereceu
passar por tudo que passou nas mãos do Rodrigo.
- Não é isso que está em julgamento, mãe. Não é questão de eu achar que ele merecesse
isso ou não. É só que eu não queria que o Rodrigo tivesse feito o que fez. Não pelo DG,
mas sim pelo Rodrigo, ele não merecia e não tinha que ter se sujado daquela maneira, por
mim… E eu me sinto sim culpada por isso, eu tenho uma grande parcela de culpa nisso
tudo, sim.
- Você está enlouquecendo, a queda afetou realmente a sua cabeça.
- Mãe, eu não quero discutir com a senhora… Eu agradeceria muito se me ajudasse a
arrumar as nossas roupas para levar.
Digo andando até o guarda-roupa e pegando o restante das minhas roupas e jogando em
cima da cama para arruma-las na mala depois.
- Você não sabe o que você está fazendo, você está deixando o homem da sua vida, o
homem que te ama sair da sua vida assim… de bobeira… Eu só espero que quando você
se tocar do tamanho da burrada que você está fazendo, não seja tarde demais e ele não
esteja com outra.
Diz e sai do quarto me deixando sozinha com os meus pensamentos.
E só a hipótese de vê-lo com outra, o meu peito se aperta. Mas esse é infelizmente um
risco que eu tenho que correr. Eu simplesmente não conseguiria continuar com ele vendo-
o de outra forma e me culpando.
Não conseguiria.

[…]


Já faz uma semana que eu estou de volta na Rocinha.
Eu morro de saudades do Rodrigo, do seu beijo todos os dias, de ele indo me buscar no
trabalho para almoçar… Mas eu estou aos poucos aquietando o meu coração em relação a
tudo o que aconteceu. A culpa aos poucos está saindo, mas bem aos poucos mesmo, eu
ainda me sinto muito responsável por tudo e eu realmente estou conseguindo pensar
melhor em relação a tudo isso mais longe dele.
Aos poucos a imagem ruim, que eu certa forma formei dele dentro de mim, também está
indo embora. Eu tento colocar na minha cabeça que ele de fato não é daquele jeito. E eu
sei que não é. Ele foi apenas tomado pela raiva.
A Camila veio conversar comigo no mesmo dia em que eu voltei pra cá e eu expliquei
tudo o que aconteceu, eu sabia que nela eu podia confiar a contar isso. Ela, assim como eu,
ficou surpresa, mas não apoiou a minha atitude de me afastar, assim como minha mãe e o
Rodrigo, ela não acha que eu tenha culpa e também não acha que o Rodrigo agiu errado.
Mas por outro lado ela também conseguiu entender o meu lado de não querer que o
Rodrigo tivesse agido daquela forma, mas por ele e não pelo DG. Esse foi o único ponto
no qual ela concordou comigo, pois de resto ela teve o mesmo pensamento que minha
mãe.
E eu me sinto realmente uma ingrata agora, mas eu prefiro não me ligar muito a isso. Eu
só quero poder deitar a minha cabeça no travesseiro e não me sentir mais culpada por tudo
o que aconteceu. E aos poucos, bem aos poucos, eu estou conseguindo isso. O que me
deixava bem feliz.
Por incrível que pareça eu consegui o meu emprego no Shopping de volta. E eu agradeci
muito a Deus por isso, pois o emprego é ótimo e vai me ajudar bastante.
Quando eu voltei para cá foi exatamente como eu esperava que fosse: o falatório de
sempre. As pessoas nunca estavam satisfeitas em cuidarem da própria vida e tinham que
vigiar as vidas alheias. As fofoqueira e as assanhadas de plantão ficam ainda mais acesas
quando o Rodrigo vem aqui visitar o Gus, o que aconteceu apenas duas vezes, mas foi o
que bastou para o povo falar. Até porque, ninguém está acostumado a ver um carro preto
enorme parando em frente a minha casa e muito menos um homem do porte do Rodrigo
saindo de dentro dele.
Ai já viu né, as piriguetes da rua, como se não fosse possível, encurtam mais ainda o
pedaço de pano que elas chamam roupa e ficam em grupo paradas na rua. A minha
vontade era de enfiar a mão na cara de cada uma delas, tamanha é a minha raiva em vê-las
se oferecendo pra ele. Mas o que me satisfaz é ver que o Rodrigo nem dá bola. Assim
como ele entra sem olhar para os lados, ele sai.
Agora a Rocinha está muito mais tranquila, a UPP já conseguiu tomar conta de tudo, mas
é aquela coisa, né, o tráfico de verdade nunca acaba mesmo, só substitui para os bandidos
de farda. Não estou falando de todos os policiais que trabalham na UPP são corruptos,
pois não são, mas só nós moradores sabemos de fato o que acontece aqui dentro e a mídia
esconde, mas pelo menos está muito mais tranquilo do que há alguns meses, e já
conseguimos andar tranquilos pelas ruas sem medo de um confronto a qualquer momento.
Essa é uma grande vantagem.
Tinha acabado de chegar em casa do trabalho e encontro a minha mãe sentada na sala
dando comida ao Gus.
- Boa noite, gente.
- Boa noite, filha.
- Boa Noite, mamãe.
Vou até o Gustavo, dou um beijo em sua bochecha e logo em seguida a aperto.
- Que coisa gostosa, meu Deus.
Ele faz uma careta, como sempre odiando que eu aperte as suas bochechas.
- Ai mamãe. – ele diz passando as mãos onde eu tinha apertado.
- Desculpa, mas eu não resisto. – digo sorrindo.
Fico um tempinho na sala com a minha mãe e o Gus, tentando fazer com que os meus pés
parassem de doer por um momento. Quando minha mãe termina de alimentar o Gustavo,
ele vem para o meu colo e diz…
- Mamãe eu quero ver o meu papai. – isso sempre acontecia. Sempre.
Minha mãe me olha com um olhar de quem já sabia que isso aconteceria. E eu tento não
me importar.
- O seu papai está trabalhando, meu amor, mamãe já explicou que ele só vem quando
pode.
Digo passando as mãos pelos seus cabelos e eu já sabia que a qualquer momento ele
dormiria, seu olhar está visivelmente cansado e como ele já estava de barriga cheia,
dormiria rápido e eu agradeço por isso.
- Quero que ele ‘vem logo. – diz com sua vozinha já bem grogue.
- Dorme que ele logo vem. – digo por ultimo e ele logo pega no sono de vez.
Minha mãe me olhava como quem já queria jogar uma de suas perolas, mas eu já logo a
olhei reprovando-a. Não preciso me sentir ainda mais culpada.
Ela adorava me fazer sentir assim, e eu por um lado não posso culpá-la. Se eu tivesse
assistindo tudo isso de fora eu com certeza também me julgaria. Eu acho!
Levanto-me com o Gus nos braços e levo para o nosso quarto, o coloco sobre a cama e
retiro a minha sapatilha colocando em qualquer canto, pego uma muda de roupa e vou
para o banheiro.

[…]


Duas semanas…
Estava no restaurante junto com a Jessica no nosso horário de almoço. Conversávamos
bobagens, eu amava sair com ela, pois ela me fazia rir. A Camila que não me ouça falando
isso, ela já sente um baita ciúmes da Jessica, se me ouvir falando desse jeito então…
Sou acordada dos meus pensamentos quando o meu celular começa a tocar em cima da
mesa.
Meu coração acelera quando vejo o nome do Rodrigo na tela.
- Atende logo, Soph. – diz a Jessica me instigando.
Ela sabe que não estamos mais juntos, lógico que não sabe o real motivo da separação, eu
disse que tínhamos nos desentendido, mas também não entrei em detalhes e ela pareceu
acreditar.
Pego o celular e o atendo.
- Alô. – parece que tem uma escola de samba dentro do meu peito.
Que droga, estou parecendo àquelas adolescentes conversando com o namoradinho, toda
nervosa.
- Oi Sophia, sou eu.
Eu sei que é você.
- Oi Rodrigo, como você está?
- Bem. E você?
- Bem também.
“Melhor agora” – quis dizer, mas algo me travou.
- É… – ele coça a garganta e depois continua. – É que eu queria ver o Gustavo hoje, tudo
bem pra você?
Eu não poderia e nem queria dizer não.
Ele não vai lá desde semana passada, hoje já é sexta-feira e o Gus não para de perguntar
por ele, eu não tenho coragem de ligar pedindo pra ir lá vê-lo, então o negocio é esperar
ele querer ir. E eu sei que o Gustavo vai ficar muito feliz em vê-lo.
- Claro Rodrigo, o Gus vai ficar muito feliz.
- Não só ele. – Diz a Jessica, baixinho.
Faço uma careta para ela e logo volto a minha atenção para o Rodrigo, que falava do outro
lado da linha.
- Então eu posso passar no Shopping pra te pegar, ai nós vamos juntos?
- Eu pensei que você iria agora.
- Não, agora não dá, tenho muito trabalho na delegacia e não vai dar pra sair agora. Mas se
tiver muito tarde pra você, tudo bem, eu vou outro dia não quero atrapalhar.
- Não, não é isso… Não tem problema nenhum, é só que eu não imaginava.
- Então eu passo ai ás sete, tudo bem?
- Sim, tudo bem.
- Ok então… Até daqui a pouco. – diz e sinto a sua voz engrossar levemente, o que me faz
arrepiar de leve.
- Até.
Desligo o telefone e a Jessica já faz uma cara de safada e pergunta.
- Huum então quer dizer que o Gosto… digo.. O Rodrigo vai vim te buscar, é? – diz com
malicia em tudo, na voz, no olhar…
- Vai, mas não é nada disso que você está pensando, tá… Ele quer ver o Gustavo.
- Não é só o Gustavo que ele quer vê não.
Apenas dou uma olhada feia para ela e fico quieta na minha.
Terminamos de almoçar e como sempre de costume fomos até o Mc Donalds para
tomarmos um sorvete.
Voltamos para o trabalho, pois o nosso horário de almoço já tinha acabado. A loja estava
cheia, o que é muito bom para todas nós, conseguimos vender bastante e eu não sei quanto
a elas, mas eu já estou vendo a minha comissão bem gorda no final desse mês. Isso vai me
ajuda muito, pois esse dinheiro eu vou juntar para pagar os meus estudos…
Por incrível que pareça o horário passou bem rápido e as 19h00min logo marcava no
relógio sinalizando que eu já estava liberada.
Recebi uma mensagem do Rodrigo avisando-me que já está a minha espera na entrada do
Shopping e eu rapidamente subo para a nossa salinha e pego a minha bolsa, apenas, já que
eu irei de carro hoje não preciso colocar a sapatilha.
Despeço-me da Jessica e das outras meninas que ficariam para fechar a loja e desço
rapidamente.
Eu não entendia essa euforia…
Merda!
A quem eu estou tentando enganar?
É claro que eu entendia.
Eu estou morrendo de saudades do Rodrigo e quero vê-lo também.
Assim que chego do lado de fora do Shopping é impossível não ver aquele enorme carro
preto, muito conhecido por mim, parado em frente. O Rodrigo pisca os faróis duas vezes
para que eu tenha certeza de que era ele. Mal sabe ele que não precisa disso.
Vou até o carro, abro a porta e rapidamente entro, fechando-a novamente.
O seu perfume maravilhoso inebria todo o carro e isso me fez fechar os olhos por alguns
segundos para sentir o aroma maravilhoso.
- Oi. – digo abrindo um sorriso e não conseguindo não olhá-lo por completo.
Pois sim, ele está do jeito que eu mais amo e ao mesmo tempo odeio tanto… Fardado.
Mas agora eu não tenho mais o direito de odiar nada, eu pedi um tempo. Certo? Certo.
Assusto-me um pouco quando ele debruça o seu corpo de leve sobre o meu, passa a mão
pela minha nuca segurando o meu cabelo e fazendo-me aproximar dele. Mas o seu beijo
não é onde eu queria e sim na minha bochecha, onde ele deixa os seus lábios um tempo a
mais. Quando dou por mim os meus olhos já estavam fechados e eu me permiti sentir o
seu simples toque em minha pele.
- Oi Sophia.
Ele diz roucamente depois de me soltar.
Sinto o meu rosto esquentar ao perceber que ele me soltou e eu continuo com os olhos
fechados. Obrigo-me a abri-los e nesse momento vejo um sorriso lindo, sexy e debochado
em sua boca. Ele sabe exatamente o que causa em mim. E eu não consigo e nem preciso
disfarça nada.
- Vamos, né? – falo tentando, inutilmente, mudar o foco.
Ele sorri fraco novamente e coloca o carro em movimento.
- Como você está? – começa puxando o assunto.
- Indo… E você?
- Também estou indo… Eu estou indo num psicólogo por causa do..do que aconteceu…
Eu não estava muito bem.
Merda! Olha o que eu fiz.
Abaixo o meu olhar para as minhas mãos e digo…
- Me desculpe por iss…
- Sophia, quantas vezes eu terei que dizer que você não tem culpa de nada?
- Não adianta, Rodrigo. Eu sempre me sentirei culpada…
- E eu sempre te direi que você não tem culpa nenhuma.
Apenas aceno de leve com a cabeça, mesmo não concordando com o que ele disse.
- E… Você está vendo alguma melhora?
- Ele já não me perturba mais com tanta frequência. – ele diz um pouco cabisbaixo.
Isso que me mata, saber que ele estava mal por isso.
- Sinto muito por isso.
- Não precisa. Está tudo bem. – ele diz e me lança um breve sorriso.
Não tive coragem de dizer mais nada e ficamos calados o resto do caminho.
Algumas horas depois estávamos já na entrada do morro, como sempre os policiais
pararam o carro do Rodrigo e ele abaixou o vidro para que os policiais o vissem. Ele
mostra o seu distintivo e o policial do lado de fora se assusta.
- O senhor veio em alguma missão, Delegado? – ele pergunta e me olha rapidamente.
- Não. Vim visitar o meu filho.
Ele novamente não consegue disfarçar a surpresa, mas diante das palavras do Rodrigo ele
o deixa passar.
Alguns minutos depois já estávamos estacionando em frente de casa.
Ele retira o coldre da cintura e a arma que nele estava e a coloca na cintura dentro das
calças.
Ainda de dentro do carro já posso ver as putinhas da rua se reunindo em um grupinho
olhando para o carro.
Que raiva.
Descemos, e assim como eu esperava os cochichos voltaram com ainda mais força.
Acredito eu que seja pelo fato de elas estarem o vendo fardado, pois ele nunca veio assim.
E eu sei bem o que esse homem de farda causa nas mulheres. Ooh se sei.
Assim que entramos em casa e o Gustavo viu o Rodrigo, ele simplesmente deixa a minha
mãe e a comida de lado e vem correndo até a gente.
- Papai. – ele corre todo desengonçado e assim que chega perto do Rodrigo, ele o pega nos
braços, levantando-o e logo em seguida o abraçando.
- Que saudade, meu pequeno.
- Saudade também, papai. – o Gus o abraçava com força.
Eu deixei os dois ali e fui até o quarto. Coloquei a minha bolsa em cima da cama, tirei os
meus saltos e prendi o cabelo. Volto para sala e o Rodrigo estava sentado no sofá com o
Gustavo e os dois estavam em uma conversa muito empolgante, minha mãe estava na
cozinha e de lá ela mesmo fala.
- Fica para o Jantar, Rodrigo?
Ele me olha como se estivesse pedindo a minha permissão.
- Não pos…
- Ele vai ficar, mãe.
As palavras saem sem permissão de minha boca, mas eu não me importo. Eu realmente
quero que ele fique.

[…]


28° CAPÍTULO
Rodrigo
Eu sempre soube que ela não iria gostar de saber como aconteceu aquilo tudo,
porém, eu tinha que falar. Mas também nunca se passou pela minha cabeça que ela se
sentiria culpada por isso tudo. Me doeu e ainda dói muito quando eu lembro que não estou
mais com ela, que não posso vê-los todos os dias.
Ela não me impediu de ver o Gustavo, o que eu agradeci muito. Mas eu também quero
respeitar esse tempo que ela pediu e por isso não vou vê-lo com muita frequência, apesar
de que a minha vontade é de ir vê-los todos os dias.
Eu não me arrependo de nada que eu fiz por eles, nada. Se eu pudesse, faria tudo de novo,
eu não queria que ela fosse embora do meu apartamento, que na verdade já era dela até.
Minha mãe ficou muito triste quando soube da separação, mas eu não tive coragem de
contar pra o que eu fiz para a Sophia me deixar, eu não sabia qual seria a sua reação, mas
eu acho que ela não ficaria feliz em saber das minhas atitudes, mesmo sendo para defender
as pessoas que amo. Eu não sei se aguentaria vê-la decepcionada comigo, ai eu inventei
qualquer coisa e é obvio que ela não acreditou, mas também não insistiu em saber.
Apesar desse maldito tempo eu sei que ela ainda me ama, eu sei que sim. Ela não entraria
na frente de uma bala por mim, se não me amasse. E ela também já deixou isso claro
várias vezes. A Sophia só se sente culpada, ela acha que jogou seus problemas pra eu
resolver e deu no que deu, com esse pensamento idiota de que se afastando conseguiria
tirar essa culpa de si.
Eu sabia desde o começo como a vida dela era, eu entrei nessa porque quis, porque eu a
amo e não tem a necessidade de ela ficar se culpando. Isso me enche de raiva, a minha
vontade é de pegá-la pelos braços e dizer que ela não tem porra nenhuma com que se
culpar, pois ela não tem culpa de nada. Mas eu sei o quanto orgulhosa e cabeça dura ela
pode ser, então eu fico na minha.
Quando eu fui visitá-los na semana passada eu vi que ainda mexia com ela e a
comprovação disso foi quando ela me convidou para ficar e jantar com eles. Eu fiquei
muito feliz, apesar de não demonstrar muito, mas eu fiquei. Isso significa que ela está
conseguindo me entender e tirar a culpa que ela diz sentir de dentro dela.
Conversamos bastante, mas não tive coragem de falar sobre a gente, procurei saber como
andava o Gustavo e a ela também. Eu me preocupo e nunca deixarei de me preocupar, não
importa se estamos juntos ou não.
Quando ela me disse que queria um tempo, eu fiquei quebrado, mas ao mesmo tempo com
raiva. Raiva por pensar que ela estava defendendo aquele homem que fez tanto mal a ela.
Mas ai depois eu entendi que ela apenas não queria que fosse eu que tivesse feito aquilo
com ele, ela acha que estragou a minha vida, mas ela sabe o quanto me faz bem, o quanto
me faz sentir vivo quando estou ao seu lado. Mas eu infelizmente não podia obrigá-la a
nada. Ela quer o tempo? Eu estou dando esse tempo. E se não fosse eu a fazer aquilo quem
mais ninguém faria? Ninguém é claro. Mas eu também concordo com ela quando diz que
eu tinha que ter agido de outra forma. Não que eu deveria o prender, não. Até porque nós
sabemos muito bem o que aconteceria se ele fosse preso, mas sim matar de outra forma.
Mas o que está feito já está feito. Não adianta eu ficar me lamentando e me crucificando
por algo que já está feito. Agora é saber lidar com isso tudo. E eu graças a Deus estou
conseguindo.
Eu não os procuro com mais frequência, pois eu não quero que ela pense que estou
pressionando ela a voltarmos, por isso eu seguro a minha saudade e vou no máximo duas
vezes por semana, visitá-los.
As minhas idas à psicóloga estão ficando um pouco mais frequentes, não pelo fato de eu
estar tão mal assim. É que é bom desabafar com alguém. Hoje é dia de consulta e estou
saindo da delegacia e indo direto pra lá, por conta do meu horário de trabalho eu sempre
sou o ultimo paciente da Roberta.
Alguns minutos depois já estava estacionando o meu carro em frente ao prédio. Já tinha
retirando a minha blusa do uniforme e substitui por uma preta simples. Subo no prédio
espelhado e pego o elevador, não demorando muito a chegar ao andar do consultório.
- Boa noite senhor Rodrigo. – diz a secretária com um sorriso simpático.
- Boa noite.
Ela se levanta, anda até a mim e coloca a mão de leve em meu ombro me instigando a
andar.
- A Dr. Roberta está a sua espera.
Ela abre a porta do consultório e coloca uma parte de seu corpo para dentro e posso
escutá-la dizendo.
- Roberta, o senhor Rodrigo já chegou.
- Pode manda-lo entrar… E você já pode ir, Amanda está liberada.
- Não vai precisar mais de mim por hoje?
- Não, você pode ir.
A Amanda volta com o seu corpo para fora e abre a porta dando-me passagem para entrar.
Adentro aquela sala, agora já bem conhecida por mim, e encontro a Roberta em pé. Ela
vem até a mim com uma pasta nas mãos, na qual ela ficava a maior parta da consulta com
ela nas mãos, as vezes a via anotando algo, mas eu não fazia a menor ideia do que era.
- Boa noite, Rodrigo. – ela diz e me dá dois beijos no rosto.
Ela sempre fazia isso.
- Boa noite, Roberta.
- Sinta-se a vontade. – diz ela com um sorrisinho e esticando os braços em direção ao divã
e á uma poltrona que tinha perto.
Como sempre, me sento na poltrona e a reclino de leve, ela arrasta a sua cadeira e se senta
um pouco próximo de mim.
- Então Rodrigo, como você está se sentindo? Como passou esses últimos dias?
- Bem melhor… Como eu disse na ultima consulta, não tenho mais os pesadelos me
atormentando e consigo dormir em paz, não tão em paz, mas… – digo dando de ombros.
Como ela sempre fazia, em alguns momentos anotava algumas coisas na sua folha dentro
daquela pasta e logo depois voltava sua atenção total pra mim.
A consulta correu muito tranquila, eu me sentia cada vez mais aliviado a cada consulta e
isso é ótimo pra mim.
Pra ficar melhor só faltava uma coisa…
- Então por hoje acabou. – diz a Rebeca se levantando da cadeira.
- Mas já? – olho o meu relógio e vejo que já são sete e meia. A hora passou voando.
- Sim. – diz sorrindo. – Fico muito feliz em saber que as consultas estão te ajudando.
Ela vai até a mesa, coloca a pasta fechada, já fechada, sobre ela e começa a arrumar alguns
papeis.
- Eu também. – digo bem baixo.
Ela guarda uns papeis em sua bolsa e depois se vira para mim.
- Fico muito feliz mesmo em saber disso. – ela me olha um pouco envergonhada, parece
querer dizer algo e leva a sua mão a cabeça a coçando de leve. – É..o que você acha de…
aah! Esquece.
Ela diz ficando completamente vermelha.
- O que foi Roberta? Pode falar.
- É que eu pensei que poderíamos, se você quisesse é claro, jantarmos juntos. Como
amigos. – ela se apressa em dizer. – Como uma forma de comemoração, digamos assim,
por estar dando tudo certo com você.
Eu realmente não queria ir jantar, eu só queria ir para a minha casa, tomar um banho,
comer a comida deliciosa da minha empregada e depois dormir, pois amanhã eu acordaria
extremamente cedo. Mas eu também não poderia fazer uma desfeita dessas com a Roberta.
- Vamos sim. – digo.
- Eu não quero que se sinta obrigado a aceitar nada, Rodrigo.
- Não tem problema, vai ser bom sair da rotina um pouco.
- Então vamos. – ela diz levemente animada.
Que porra, eu sei que ela é a minha psicóloga e pode ser que realmente isso tudo seja sem
maldade nenhuma. Mas eu não quero que ela pense que pelo fato de eu ter aceitado o
convite para o jantar, eu esteja dando algumas chances. Até porque ela sabe mais do que
ninguém que eu não quero e nem estou nem um pouco preparado para um compromisso,
seja ele qual for. Mas é só um jantar sem segundas intenções, como ela diz, e eu acredito,
pois nunca vi “maldade” em nada que ela fazia ou dizia.
Bom, da minha parte eu sei que realmente será um jantar entre uma psicóloga e seu
paciente.
- Vamos… E você está de carro?
- Eu não sei dirigir.
- Tudo bem então, vamos no meu.
Saímos da sala e depois eu a ajudei a fechar o consultório, descemos e entramos no carro.
- Pra onde vamos? – pergunto.
- Tem um restaurante que eu amo, ele é bem próximo do Barra Shopping. –
automaticamente me lembrei da Sophia. Mas coloco o carro em movimento e me obrigo a
prestar atenção na conversa com a Roberta, Demoramos um pouco mais que o normal para
chegarmos lá, pois o transito estava um inferno, mas chegamos.
Eu mesmo estacionei o carro e logo nós descemos.
O restaurante é bem aconchegante, mas eu já sei que aqui tem aquelas comidas que eu
odeio. Mas eu torço para que tenha, pelo menos, alguma massa.
Nos acomodamos e logo o garçom nos trouxe o cardápio. Para a minha sorte tem sim
vários tipos de massa, apesar de não ser um restaurante italiano. Então eu pedi uma
lasanha.
Enquanto a comida não chegava a Roberta começou a puxar assunto.
- Rodrigo eu queria te dar um concelho agora. – diz levando a taça com água até a boca. –
Mas é como uma amiga, não sua psicóloga.
- Pode falar. - Agora se eu vou consegui seguir esse conselho é outra coisa.
- Eu acho que você deveria viajar, sabe? Pedir licença do trabalho e viajar, passar um
tempo longe disso tudo aqui. Agora como sua psicóloga, eu vou falar que você está bem
pra isso e até te ajudaria a superar mais ainda o que aconteceu.
- Eu não sei…
Não é uma má ideia, mas eu não sei se aguentaria ficar tanto tempo longe.
- Vai por mim, Rodrigo, é a melhor coisa a se fazer nesse momento. Esfriar a cabeça, sair
de perto de tudo que te liga a…
- Sophia?
- Desculpa Rodrigo… Mas sim. Você mesmo diz que não quer pressioná-la, quer deixá-la
pensar com calma e isso vai ser ótimo, tanto pra você, quanto pra ela.
- Não é uma má ideia. Eu vou pensar sobre isso.
- E não tenha medo de perdê-la, vocês…
- Eu acho que já perdi. – digo.
- Pois eu acho que não. Ela só precisa pensar sobre tudo o que aconteceu e um sinal de que
você não a perdeu e de que ela ainda te ama. É o fato de ela te querer perto do filho dela,
ela praticamente te convidado para jantar na casa dela outro dia, como você mesmo disse.
Eu não a conheço então não posso afirmar com certeza, mas ela está apenas confusa… Eu
acho e culpada, como você mesmo disse… E se for pra ser, Rodrigo, será. Você não
precisa ter medo.
Ouço as suas palavras e apenas aceno em concordância no final. Não sei o que dizer, mas
eu sei que ela tem razão…
As nossas comidas chegaram, começamos a comer e ao mesmo tempo eu pensava em tudo
o que ela me disse. Realmente seria bom eu viajar, mas eu não sei se aguentaria ficar tanto
tempo longe deles.
Faz anos que eu não tiro umas férias, eu realmente estou precisando. Mas pensarei com
mais calma sobre isso, depois.
Terminamos o jantar e eu fiz questão de pagar a conta, ela até quis dividir, mas eu não
deixei. Vai como um agradecimento por me ajudar. Depois eu a deixei em casa e fui para a
minha.
Já são 21h45min e eu estou sentado no sofá da sala de TV assistindo algo qualquer que
passava. E fazendo como todas as noites, olhando fixamente para o celular em minhas
mãos e uma guerra dentro de mim em ligar ou não ligar para a Sophia. E como eu sempre
fazia, joguei o celular de lado e engoli a vontade de ligar pra ela e ouvir sua voz. Começo
a prestar atenção no programa que passava na TV. E de tão cansado que eu estava, acabei
pegando no sono ali mesmo.

[…]

- Eu achei essa ideia o máximo, Rodrigo. – diz a Camila levando a comida até a boca.
Ela apareceu aqui em casa de surpresa para almoçar comigo e eu nem preciso dizer que
adoro tê-la ao meu lado. Ainda mais ela toda feliz com sua profissão. Essa menina me
deixa tão orgulhoso, lutou com unhas e dentes pelo o que queria e acabou conseguindo.
Eu tinha falado pra ela do conselho que a Roberta havia me dado ontem e que eu estava
cogitando seriamente em aceitar.
- Eu acho que isso seria ótimo pra você… Mas porque eu sinto que você não quer taaaanto
assim ir, em?
- Não é isso… É que… E se a Sophia pensar que eu estou desistindo dela?
Ela larga o garfo no prato e me olha parecendo não creditar.
- Olha a Sophia é minha amiga, minha irmã. Mas ela sabe muito bem que eu não concordo
com o que ela está fazendo, eu já cansei de deixar isso bem claro pra ela. Apesar de que eu
não tenha que concordar ou discordar de nada, porque o relacionamento é de vocês… E
vocês dois sabem que eu, mais do que ninguém, torço pela felicidade dos dois. Mas eu
acho que você deveria ir sim, viajar, descansar um pouco… E que ela pense que você
desistiu dela, deixa ela pensar, vai ver assim ela não se toca de que ela não tem culpa de
nada e vai atrás de você
- Eu odeio esses tipos de joguinhos, você sabe disso.- digo um pouco irritado.
- Rodrigo não é joguinho nenhum. Você precisa sim espairecer e ela também precisa ver
que está te perdendo… Eu sei que os dois estão sofrendo com a separação, mas foi ela que
pediu esse tempo pra pensar, não foi? Então vai ser ela que vai ter que vir até você quando
esse tempo passar. E nada melhor pra ela perceber a burrice que está fazendo é sentir que
vai te perder de verdade… E antes que você diga que é infantilidade e tudo mais. Não!
Não é. Você realmente precisa de um tempo só pra você, agora que está bem melhor.
- É, você está certa.
- Aah e o principal, não fale nada pra ela sobre a viagem.
- Mas eu não vou ir sem me despedir do Gustavo… Sem me despedir dela.
- Faz uma visita normal, como você sempre faz, mas não precisa avisar que está indo
viajar.
- Porra, Camila. – levo as mãos a minha cabeça e puxo de leve os meus cabelos.
- Eu sei que depois você vai me agradecer muito por isso… Eu só quero a felicidade de
vocês.
Eu resolvi aceitar isso tudo, porque eu realmente preciso de um tempo longe, porém, eu
não sei ainda pra onde vou e nem por quanto tempo ficarei. Mas eu sei que preciso ir.
Assim eu vou estar a ajudando também. Sem a minha presença de fato, acredito eu que ela
pensará melhor.

[…]




29° CAPÍTULO

Sophia
Eu estou morta de cansada, não vejo a hora de chegar em casa, tomar um bom banho e
dormir. Com o cansaço que estou, pularia até o jantar.
Tive que ficar até mais tarde hoje na loja pra ajudar a Jessica a fechar, pois justo hoje duas
das vendedoras que ficam até o horário de fechar a loja resolveram faltar e as outras duas
estudavam e não poderiam sair mais tarde por causa da faculdade. Acabou sobrando pra
mim.
Já estava quase no horário, e tinha pouquíssimas pessoas na loja, a Jessica já começava a
descer algumas portas, para as pessoas saberem que estamos fechando. Eu só estava
preocupada em relação ao horário, se de dia o ônibus já é uma luta pra passar, a noite
então piora mais ainda.
Quando o ponteiro do relógio marcou exatamente 20h00min, a ultima cliente saiu da loja e
nós pudemos fechá-la de fato.
- Ai graças a Deus! Eu estou morta. – digo retirando os saltos.
- Estamos. – diz a Jessica fazendo o mesmo. – Agora só mais um minutinho pra fechar o
caixa e nós vamos.
Aceno e me sento na cadeira ao seu lado apenas a observando.
E como de costume, ele vem a minha cabeça. Que vontade que eu estou de ligar pra ele,
sinto tanto a sua falta. Nessas três semanas que estamos separados eu pude ver o tamanho
da burrada que eu estava fazendo. O bom é que nesse tempo eu pude realmente pensar em
tudo que aconteceu e vi que a única coisa que eu estava conseguindo nessa distância toda,
era me machucar… Nos machucar mais ainda… E isso fez o amor que eu sinto por ele
aumentar ainda mais, me fez ver o quão ruim é não tê-lo do meu lado… Eu agi pensando
no nosso bem, mas na verdade esse tempo não fez bem pra ninguém. Só serviu pra me
mostrar que eu realmente fui feita pra ele… Só pra ele.
A minha vontade é de ligar pra ele agora mesmo e pedir desculpas por não termos
enfrentados isso juntos, pedir desculpas por ter sido uma tola. Eu fiz tudo isso pensando
no nosso bem… No bem dele, mas na verdade isso só estava nos matando mais ainda…
Me matando mais ainda.
Eu não vou consegui esperar mais, acho que vou morrer de ansiedade, eu necessito falar
com ele, pedir desculpas, pedir pra voltar… Eu quero e preciso dele de volta. Na verdade
eu nem deveria ter o deixado ir.
Pego o meu celular no bolso e vou para um canto na loja, disco o seu numero, mas ele
nem chama, vai direto para aquela vozinha chata que diz que: “O celular está
impossibilitada de receber esse tipo de chamadas nesse momento…” e blábláblá. Essa
mulher sempre me irritava. Mas eu não desisti e tentei de novo, de novo, de novo e de
novo… Mas sempre dava o mesmo.
Que raiva, justo hoje, justo agora que eu resolvi conversar com ele, esse celular não
colabora.
- Soph, já terminei aqui, vou guardar o dinheiro lá no cofre e nós já vamos.
- E-eu vou subir com você, tenho que pegar a minha bolsa. – digo guardando o celular no
bolso, totalmente frustrada.
Vou até onde deixei o meu salto, o pego e logo em seguida entramos no elevador, subindo.
Enquanto eu fui para a nossa humilde salinha, a Jessica foi em direção ao escritório da
Fabiola.
Coloco o meu salto dentro da bolsa e calço a sapatilha.
- Está tudo certo já. Vamos? – Diz a Jessica entrando na sala e pegando a sua bolsa no
armário.
- Vamos.
Saímos da loja e o shopping ainda estava bastante cheio, por conta das outras lojas abertas
e pelo cinema também.
Despeço-me da Jessica que vai de elevador até o estacionamento, pois sim ela tem um
carro, enquanto eu descia a escada rolante em direção a saída principal do shopping. E um
pensamento invadiu a minha cabeça, a ideia de ir até a casa do Rodrigo me veio em mente.
Eu não aguentaria e nem poderia esperar até amanhã pra conseguir falar com ele, eu vou
resolver isso hoje, por mais cansada que eu esteja agora, eu não me importo eu vou até ele.
Eu sei que á essa hora ele já estaria em casa, é um pouco mais de oito horas da noite, e eu
vou lá, tentar trazer o Rodrigo de volta pra mim.
Saio do Shopping e vou andando até um ponto de ônibus que tem aqui mesmo perto, a
casa do Rodrigo não é muito longe daqui, mas a pé acaba ficando, então eu pegaria um
ônibus mesmo.
Assim que chego ao ponto de ônibus espero alguns minutinhos e um ônibus já logo para,
mas algo chama a minha atenção e me faz parar de andar até ele.
Eu vi um carro muito parecido com o do Rodrigo estacionando próximo á um restaurante
que tem próximo ao Shopping, eu pensei que fosse apenas uma coincidência, afinal de
contas não existe só o Rodrigo com aquele carro no mundo. Mas antes que eu possa voltar
em direção ao ônibus eu o vejo saindo de dentro do carro. Eu já estava quase indo até ele,
quando eu vejo uma mulher saindo também. Na mesma hora eu paro e o meu coração
começa a doer de uma forma que eu nunca senti antes, eu não consegui nem impedir que
as lágrimas descessem de meus olhos e tudo isso aconteceu muito rápido, sem me dar
chances nenhuma de me controlar.
Eu nem sei quem de fato é aquela mulher, mas ela é bonita, elegante, tem um sorriso
enorme no rosto, parecendo estar bem feliz ao lado dele. Eles entram no restaurante e eu
continuo em pé, parada, no mesmo lugar, olhando para onde eles entraram.
Algo dentro de mim diz pra eu ir lá como quem não quer nada, ver se eles realmente
tinham algo. Mas eu não vou fazer isso, de jeito nenhum. Eu não vou. Eu já estou
sofrendo o suficiente só de vê-los juntos, eu não quero procurar ainda mais motivos para
aumentar essa dor. Eu não quero ver coisas que eu sei que me deixarão pior ainda.
E eles poderiam ser amigos apenas, mas aquele sorriso no rosto dela, não é sorriso de uma
amiga para um amigo quando vão jantar juntos. É um sorriso de uma mulher que depois
daquele jantar provavelmente teria uma bela noite com ele. Ela deve ser algumas das
antigas submissas dele, ou não. Mas eu sei que amiga não é. Ele nunca me falou dela, na
verdade ele nunca me falou de amiga nenhuma.
O Rodrigo está seguindo a vida dele e eu não posso fazer absolutamente nada, nada pra
mudar isso. E eu nunca seria capaz de fazer algo assim. Por mais que eu o ame muito, eu
não vou atrapalhar mais ainda a vida dele…
Fico tanto tempo olhando para aquela direção que nem me toco que o meu ônibus já tinha
chegado e estava quase saindo novamente e antes que eu o perca e fique aqui até de
madrugada esperando outro, seco rapidamente o meu rosto e corro até o ônibus, entrando.
Sento-me no ultimo banco, deixo a minha cabeça cair pela janela e penso no quão tola e
burra eu fui de ter deixado-o sair da minha vida… Agora ele realmente saiu de verdade.
Tento tirar da minha cabeça os pensamentos de que o que ele fará com ela quando saírem
dali, á quanto tempo eles já estão juntos, se ele realmente me esqueceu… Deve ter
esquecido. Mas o que eu queria também? Que ele ficasse me esperando a vida inteira? Eu
já fui egoísta o suficiente, pra querer que ele me espere pra sempre.
Eu estava tão distraída e me martirizando com os meus pensamentos que quase perco a
parada do meu ponto. Mas me levanto a tempo de puxar a cigarra e descer. Já está bem
tarde, mas como é quinta-feira a maioria dos bares estavam abertos e uma mistura de
musicas podia ser ouvida do pé do morro. Eu não queria subir isso tudo a pé, então fui até
o ponto do moto taxi que fica na subida do morro e peço para que o filho da minha vizinha
me leve em casa. Ele é um dos poucos moto taxistas que eu confiava daqui.
Em questão de minutos eu já estava parando em frente de casa, retiro o dinheiro da bolsa e
pago ele, que desce com toda a velocidade do mundo novamente para o pé do morro, eu
imagino.
Entro em casa e não encontro ninguém na sala, como sempre acontecia, nas também pela
hora que é a minha mãe deve estar colocando o Gustavo pra dormir.
Jogo-me no sofá e abaixo a minha cabeça até as minhas mãos, o meu peito ainda dói toda
vez que eu me lembro daquela cena. As lágrimas começam a descer silenciosamente… Eu
cansei de tentar impedi-las.
- Oh minha filha, demorou. – diz minha mãe entrando na sala.
Eu rapidamente seco o meu rosto e me levanto.
- É eu tive que ficar pra fechar a loja, hoje.
Quando eu vou passar por ela, ela me para.
- Ei… o que aconteceu, minha filha, porque está chorando?
- Nada mãe, não estava chorando não… Só estou muito cansada.
Ela olhou pra mim e fez cara de tédio, como quem não tivesse acreditado em
absolutamente nada.
- Tá, agora me fala a verdade. O que aconteceu?
- Ah mãe… – volto a me sentar no sofá e deixo as lagrimas virem novamente. – E-eu
estava tão disposta a ir até ele e pedir desculpas, eu estava disposta a tudo para que ele me
quisesse de volta.
- E não fez por quê?
- Você tinha razão.
- Sobre?
- Ele estava com outra mulher, eu os vi entrando juntos em um restaurante próximo ao
Shopping.
- Realmente eu avisei e não foi uma vez.
Eu realmente não esperaria palavras doces e reconfortantes vindo da minha mãe nesse
momento, ela me avisou e muito. Mas nas vezes que ela falava comigo eu ainda me sentia
muito culpada de tudo, pra ficar com ele. Apesar do amor que eu sinto por ele, eu não sei
se conseguiria viver com aquela culpa te ter estragado tudo. Mas com o tempo eu fui
vendo que eu nem ao menos tentei. Esse foi o meu erro: não tentar. Mas o medo de
estragar tudo mais ainda, me privou de continuar, eu deixei o medo e a culpa falar mais
alto que o meu amor por ele, o que eu não deveria ter deixado acontecer. Até porque eu
não entrei na frente de uma bala por nada, apenas pra sentir como é levar um tiro. Eu
entrei na frente de uma bala por ele, por medo de perdê-lo pra sempre e acabou que eu
mesma o deixei sair da minha vida “de graça”.
- Desculpa, minha filha, mas você não é mais criança e merece a verdade nua e crua na
sua cara. Eu e a Camila te avisamos que quando você quisesse poderia ser tarde demais,
mas você não quis ouvir.
- É mãe, eu sei, eu sei não precisa falar mais nada. Agora não há nada que eu possa fazer
pra mudar isso.
Pego a minha bolsa novamente e vou direto para o meu quarto, não querendo mais ouvir o
que ela tinha pra me falar.
Eu já estava me sentindo culpada, estupida, burra e machucada demais pra ficar lá
ouvindo os “Eu te avisei” dela.

[…]


Acordo na sexta-feira e assim que me olho no espelho me assusto com a minha aparecia, a
minha cara está totalmente inchada e o meu olho incrivelmente vermelho. Cara de quem
passou a noite inteira chorando e se lamentando.
Vou direto para o banheiro antes, que eu perca o horário e o emprego junto, tomo um
banho bem rápido, pois se eu ficasse mais um minuto de baixo do chuveiro eu deixaria o
choro que está entalado na minha garganta sair, e o banheiro já virou o meu santuário do
choro.
Volto para o quarto e faço uma maquiagem que consiga tapar as minhas olheiras e tirar
essa cara de “Passei a noite inteira chorando”. Não sei se deu muito certo, mas fiz o meu
melhor. Coloco uma roupa melhorzinha e minha sapatilha, pois descer o morro de salto
ninguém merece.
Vou para a cozinha, tomo uma xícara de café, que a minha mãe já havia preparado, e
depois vou até o quarto, dou um beijo no Gus e saio.
Algumas irritantes horas depois eu cheguei ao Shopping, ainda estava no horário e eu
agradeci por isso.
O dia foi horrível, eu simplesmente não conseguia me concentrar em nada, ou fazer algo
direito. Eu sempre me pegava pensando no que aconteceu depois daquele jantar, me
pegava pensando quem era aquela mulher. Tive que me segurar várias vezes pra não ficar
chorando na frente das pessoas. Foi horrível!
Como sempre eu fui almoçar com a Jessica, que me perguntou o que estava acontecendo,
mas eu não disse nada, apenas inventei uma dor de cabeça, que ela não pareceu acreditar
muito, mas também não insistiu.
Eu não sei se o dia realmente foi cansativo ou eu que não estava com saco pra nada. Mas
eu nunca fiquei tão feliz assim em saber que finalmente sairia dali e iria pra casa.
Assim que chego em casa o meu celular começa a tocar e a duvida entre atender ou não,
surge dentro de mim. Mas se ele está me ligando é porque quer ver o Gustavo… Ah!
- Alô. – digo tentando deixar a minha voz o mais firme possível.
- Oi Sophia, tudo bem?
- Sim Rodrigo. E você?
- Bem também. É… Eu queria saber se posso dar uma passada ai amanhã pra ver o
Gustavo.
- Claro, pode vim, Rodrigo.
- Você vai estar em casa na parte da tarde?
Sento-me no sofá e respiro fundo.
- Não, eu ainda trabalho amanhã. Mas você sabe, minha mãe está em casa o dia inteiro e
você pode vir à hora que quiser. – digo e mordo o lábio inferior tentando conter a vontade
de chorar.
Que raiva!
- Está tudo bem, Sophia? Sua voz está estranha.
- Sim Rodrigo, está tudo bem… – uma lágrima solitária desce, mas eu logo a seco. – Um
pouco gripada, só isso… Obrigada por perguntar.
- Nada Sophia… Então, tudo bem amanhã estou ai.
- Okay… Boa noite.
Ele desliga o telefone e eu deixo que as lágrimas caiam de vez. Olho ao meu redor e não
vejo a minha mãe e nem o Gus, mas nem é tão tarde assim. Vou até o meu quarto e ela está
colocando o pijama nele.
- O Rodrigo vai vir amanhã visitar o Gustavo, tá. – digo e vou até o guarda-roupa pegando
o meu pijama também.
- Tudo bem. E pela sua carinha continua o mesmo, né?
- Sim mãe, e vai continuar. Ele está com outra, eu não vou atrapalhar os dois. Eu não
tenho esse direito.
- Você os viu se beijando ou algo do tipo?
- Não, mas o sorriso no rosto dela e ele levando-a em um restaurante pra mim já diz tudo.
- É por isso que você sofre sem necessidades. Você não pergunta, só vai tirando
conclusões precipitadas das coisas.
- Mãe..como eu vou chegar pra ele e perguntar sobre quem era a mulher que ele estava na
noite passada? Eu não tenho mais esse direito.
- A Camila está ai pra quê? Pergunta a ela, você só não pode simplesmente ver uma coisa
e achar outra completamente diferente… Tá, OK! Pode até ser que sim, ele esteja com
outra, mas e se não for? Você vai deixá-lo ir novamente? Chega uma hora que a gente
cansa, Sophia.
Ela diz e sai do quarto deixando-me aqui com os meus pensamentos e o Gustavo olhando
pra minha cara. Vou até ele, pego em meus braços, deixo um beijo em sua bochecha e ele
logo deixa a sua cabeça cair em meu ombro. Sei que ele vai dormir, então adiei o banho
por um tempo e fico com o meu filho um pouco, até ele pegar no sono.

[…]


Duas semanas depois…
Faz duas semanas que o Rodrigo não aparece, ele não liga mais pra falar com o Gustavo
ou então vem visitá-lo, e isso me faz ter ainda mais certeza de que sim, ele já está em
outra e nos esqueceu.
Eu estou me sentindo destruída, um completo nada por ter o deixado ir assim.
O Gustavo pergunta muito por ele, mas eu não sei o que dizê-lo. Eu não sei mais o que
fazer. Eu não tenho coragem de ligar pra ele e pedir pra que venha aqui, ele não tem essa
obrigação. E isso só faz com que eu a minha coragem de chegar pra ele e perguntar sobre
aquela mulher, vá completamente embora.
O meu telefone toca fazendo-me deixar esses pensamentos de lado, e assim que vejo o
nome na tela atendo.
- Oi Mila.
- Oi Soph, tudo bem?
- Sim. – NÃO
- Eu queria passar ai na loja pra gente almoçar juntas, tanto tempo que não fazemos isso,
Soph.
- Claro, pode vir. Você sabe que sinto muito a sua falta, esses nossos trabalhos estão
consumindo muito do nosso tempo. – digo sorrindo de leve.
- É verdade, mas então, está resolvido, daqui a pouco eu passo ai.
- Ta bom, amiga, vou ficar te esperando. Beijos.
- Beijos minha pretinha. – ouço uma gargalhada dela o que me fez rir também. Desde a
época da escola que ela não me chama assim. É sempre Soph.
Só ela pra me fazer um pouco melhor nessas horas.
Desligo o telefone e vou até uma cliente que entrou na loja, hoje o movimento não estava
tão grande o que por um lado era ótimo para os meus pés.
Depois que eu consegui fazer com que a mulher levasse bastante coisa da loja, ela se foi e
eu fiquei ainda mais animada por isso, um pouco mais de dinheiro pra mim.
- Jessica. – a chamo.
- Oi Sophia.
- Hoje eu não vou poder almoçar com você. A minha amiga vai passar pra almoçarmos
juntas.
- Tudo bem, Soph. – diz direcionando-me um sorriso, que eu retribuo.
Voltei ao meu trabalho e quando estava quase na hora do meu almoço, a Camila me manda
uma mensagem dizendo que já tinha chegado, faltavam poucos minutinhos, a loja estava
com pouquíssimas pessoas e a Jessica me liberou. Fui até a salinha, peguei a minha bolsa
e assim que desci já encontrei a Mila olhando algumas roupas, vou até ela e a abraço por
trás.
- Voltei. – ela dá um pulinho de leve e logo se vira me abraçando.
- Que saudades, Soph.
- Eu também estava morrendo de saudades, Mila.
Ela se separa, segura o meu rosto e deixa um beijo na minha bochecha fazendo-me rir e
depois ela me olha.
- E que carinha é essa, em?
- Podemos conversar em outro lugar?
- Claro, vamos. – ela segura na minha mão e me leva para fora da loja. – Vamos almoçar
aqui mesmo ou você tem outro lugar em mente?
- Qualquer lugar está bom, amiga, contanto que dentro de uma hora e meia eu esteja aqui
de volta.
- Então vamos ficar por aqui mesmo.
Andamos um pouco pelo shopping e entramos em um restaurante, não era o que eu estava
acostumada a almoçar, mas era tão aconchegante quanto.
O garçom traz o cardápio , fazemos os pedidos rapidamente e ele se retira logo após anotá-
los.
- Agora me fala. O que está acontecendo?
- Eu sinto falta dele. – digo de cabeça baixa.
- Então vai atrás dele, Sophia.
- Justo quando eu ia fazer isso, Camila, eu o vi com outra.
Ela levanta as sobrancelhas levemente, parecendo não entender.
- Aãn! Como assim?
- Camila eu estava decidida a ir lá na casa dele, para conversarmos e pedir pra voltar…
Mas ai eu o vi entrando em um restaurante com uma mulher… e-e foi horrível. – não
consigo impedir uma lágrima de descer, mas logo a seco. – E não precisa dizer “Eu te
avisei“ já ouvi isso o suficiente da minha mãe. E eu já entendi que fui uma idiota em
deixá-lo.
A Camila é uma ótima amiga, ela é daquelas que fala o que você precisa ouvir e não o que
você quer ouvir e eu sabia que ela falaria exatamente isso. Mas eu não estava a fim de
ouvir isso tudo novamente.
- Mas que mulher era essa?
- Eu não sei, Camila, eu nunca a vi antes. Mas ela era bem bonita, elegante e tinha um
sorriso enorme na boca, sorriso de quem teria uma ótima noite.
- Mas você perguntou a ele sobre ela?
- Com que cara eu ia chegar pra ele e perguntar quem era a mulher que estava com ele?
Em Camila? Eu perdi esse direito.
- O seu orgulho não te leva a lugar nenhum e você já teve provas o suficiente disso… E eu
não deveria te falar nada, mas essa mulher era a psicóloga dele…
- Camila, aquela mulher não olhava pra ele como uma psicóloga olha para um paciente.
- Mas era… Agora, se ela tinha outros interesses com ele, eu não posso fazer nada. Se
vocês estivessem juntos, ela não ia achar que tinha chances, ou seja lá o que passou pela
cabeça dela.
Ela tinha razão.
- Eu sei… Mas de qualquer jeito eu acho que agora eu o perdi pra sempre.
- Por que você acha isso?
- Faz duas semanas desde a última vez que ele foi visitar o Gus que ele não me liga mais
e…
- E por que VOCÊ não liga pra ele? – ela diz parecendo um pouco brava.
- Porque eu achava que ele estava com aquela mulher… e.. e-eu não queria atrapalhar
nada e…
- Não Sophia, porque você sempre espera que ele venha atrás de você. Você é acomodada,
mas ai você se esquece que quem pediu o tempo foi você e agora é você que vai ter que
correr atrás do prejuízo pra ter ele de volta… Isso se você realmente o quiser.
É doloroso, mas ao mesmo tempo é bom ter a verdade nua e crua na nossa cara. Assim
podemos abrir os olhos e ver que realmente estava errando e agora eu tenho que correr
atrás.
- É claro que eu quero..eu.. eu vou agora. – digo me levantando e pegando a minha bolsa.
- Pra onde você pensa que vai, Sophia?
- Eu vou atrás do Rodrigo, eu não vou esperar mais nenhum minuto….
- Ele não está no Rio.
Essas palavras me fizeram sentar novamente e a dor no meu coração aumentou.
- Aãn? Co-como assim? Onde ele está? Ele foi embora? – eu já chorava nesse momento e
a dor no meu peito insistia em apertar, só de pensar na possibilidade de ele ter ido embora
pra sempre.
- Isso ai eu já não posso te dizer, mas ele não está mais no Rio.
- Faz quan-to tempo que-que ele..
- Duas semanas mais ou menos.
Por isso! Por isso que ele não me liga, por isso que não aparece.
Ele foi ver o Gustavo a ultima vez como forma de despedida? E eu não sabia, eu não
estava em casa. Eu lembro que quando eu cheguei em casa naquele sábado eu vi o seu
carro virando a esquina. Mas eu nunca poderia imaginar que aquela ultima visita fosse
uma despedida.
- Ele não vai voltar mais?
- Tudo indica que não.
- Como assim, Camila? Ele não pode ter ido embora pra sempre. – digo levando as mãos
até o rosto.
- Mas ele foi…
- Não Camila, diz que isso é mentira, por favor.
- Desculpa amiga, mas não é.
- Eu não vou conseguir e-eu não quero viver sem ele…
- E o que você vai fazer em relação a isso? Vai continuar de braços cruzados e sofrendo,
ou vai tomar alguma atitude? – ela diz com os braços cruzados olhando para mim.
A comida chegou, mas eu nem sequer toquei nela, eu perdi totalmente a fome, perdi a
vontade de tudo.
A única coisa que eu quero nesse momento é ele. Só ele. Mas agora eu o perdi, ele foi
embora ele se foi sem ao menos se despedir.
A Camila terminou o seu almoço, e eu continuei ali, chorando silenciosamente e me
lamentando. Pagamos a conta e saímos do restaurante.
- E ai Sophia? Você vai deixar o amor da sua vida ir embora novamente ou vai fazer
alguma coisa pra mudar essa situação?
- Eu..eu preciso saber onde ele está – digo secando as lágrimas.
- Isso eu não posso te dizer, pois eu também não sei… liga pra ele… Eu tenho que ir agora
amiga, me horário já acabou. – ela vem até a mim, me abraça e eu a abraço mais forte
ainda.
Eu sei que ela sabe. Ele conta tudo pra ela, com certeza ela sabe, mas não quer me dizer.
Ela se vai e eu continuo sem saber o que fazer.
Pego o meu celular e ligo para a Jessica dizendo que não poderia voltar, pois não estava
me sentindo bem, ela acreditou, pois a minha voz realmente entregava o meu choro. Ela
quis saber o que houve, mas eu inventei qualquer coisa.
Depois que eu sai do Shopping, eu não sabia pra onde ir, eu não queria voltar pra casa, eu
queria ficar sozinha naquele momento.
Vou até o ponto de ônibus e pego o primeiro ônibus que passou e eu sabia que me deixaria
onde eu queria.
Durante todo o caminho do ônibus eu tentava a todo instante falar com ele, eu ligava e
ligava, mas ele não me atendia e eu sabia que era porque ele não queria, pois chamava
várias vezes, mas eu não dessistia…
Assim que o ônibus para, eu desço e retiro o meu salto. Ando pelo calçadão pensando em
tudo o que eu fiz, pensando em como eu fui tola em ter o deixado ir assim. Agora ele foi
de verdade. Foi embora e eu não sei se um dia voltará. Mas eu também não posso mais
agir com orgulho. Eu o amo. Eu preciso e quero-o do meu lado.
Por sorte o sol não estava tão quente assim, na verdade estava nublado e tinha algumas
poucas pessoas na praia, e foi ali naquela areia que eu me sentei e novamente tentei ligar
pra ele, mas nada acontecia. Dava sempre a mesma coisa.
Talvez seja porque ele já está com alguém nesse lugar e não quer mais me ver realmente.
Mas eu não vou fazer igual há duas semanas, eu vou continuar tentando, até que ele me
atenda, ou então se for preciso eu vou até ele. Como eu vou descobrir a onde ele estar, eu
não sei. Mas eu vou.

[…]



Dois dias se passaram e eu já perdi as contas de quantas vezes eu já tinha ligado e
mandado mensagens pra ele e continuava sem nenhuma resposta.
Sempre quando não tinha ninguém na loja eu não perdia tempo e ligava para o Rodrigo,
mandava mensagens a todo o instante, mas nada de ele me responder. Eu estava
começando a achar que ele realmente não quisesse mais ver a minha cara.
Já fui chamada atenção pela Fabiola várias vezes por conta de eu não conseguir deixar o
celular de lado. Eu estou a ponto de perder o meu emprego. Mas agora nada mais me
importa, á não ser encontrar o Rodrigo e esclarecer as coisas. O que aconteceria depois
disso eu não sei, mas eu preciso vê-lo.
Eu estava com o celular nas mãos e já tinha sido liberada e mais uma vez estava na
tentativa de falar com ele.
“ Rodrigo, por favor, me atente. Eu preciso falar com você… eu preciso saber onde você
estar… Eu te amo.“
Enviei a mensagem sem receio nenhum de estar parecendo que estou me humilhando. Fui
eu que o perdi então eu vou fazer exatamente o que a Camila me falou, eu vou correr
atrás.
Disco o numero da Camila e ela logo atende.
- Oi Soph.
- Camila… Camila, por favor… Eu não aguento mais. Eu sei que você sabe onde ele estar.
Me fala, por favor.
- Sophia…
- Camila, por favor, eu preciso disso, eu preciso saber. Não foi você mesma que disse que
eu teria que correr atrás? Então, é isso que eu estou fazendo… Por favor, me fala.
- Tá. E-eu vou te falar. – eu sabia que ela sabia. – Ele está no Rio Grande do Sul…
Ela me disse exatamente onde ele estava. O lugar é uma chácara que ele tem por lá.
- O que você vai fazer?
- Eu vou correr atrás do meu amor.
Desligo o telefone e nele mesmo procuro passagens para o Rio Grande do Sul. Eu não vou
esperar mais nenhum minuto, eu vou atrás dele.
Eu vi que tem um vôo para amanhã de tarde e vai ser esse mesmo que eu vou. Peguei o
numero e liguei comprando a passagem, eu tenho algumas economias, na verdade é o
dinheiro que eu usaria para a minha faculdade, mas eu não me importo.
Conseguir falar com o Rodrigo, nesse momento, é muito mais importante pra mim.
Não desisto de ligar pra ele nenhum segundo…
Assim que chego em casa minha mãe logo me pergunta.
- Que cara é essa? Por que voltou tão cedo?
- Mãe, eu preciso que você fique com o Gustavo por alguns dias, eu vou ter que viajar.
- Como assim, viajar? Pra onde você vai, garota?
- Eu vou atrás do Rodrigo, eu estou cansada de ficar aqui sem respostas, de ficar sofrendo,
eu não aguento mais ficar longe dele, mãe.
- Você descobriu onde ele está?
- Rio Grande do Sul… Eu já até comprei as passagens, vou amanhã mesmo.
- Você vai pra um lugar que você nem conhece, assim? Você está louca?
- Não mãe, louca eu estava quando deixei aquele homem ir embora. Agora eu vou correr
atrás do meu prejuízo.
- E se ele não te quiser? Se estiver cansado de tudo isso? E se ele estiver com outra? O que
você vai fazer?
Odeio ter mãe realista demais.
- Se ele não me quiser mais eu volto pra casa com a consciência tranquila de que eu tentei,
mãe… E outra, eu não tenho mais nada a perder.
Vou até o Gustavo, o pego nos meus braços o abraço e dando-lhe um beijo.
- Meu amor, a mamãe vai viajar amanhã, mas eu juro que não vou demorar.
- Vai pra onde mamãe?
- Eu vou tentar fazer com que um dos amores da minha vida volte pra gente. – ele me olha
parecendo não entender nada.
- Aãn?
- Depois você vai saber do que eu estou falando, meu filho. – se ele me quiser de volta, é
claro.
Eu não quero dar falsas esperanças pra ele, falando que trarei o Rodrigo, pois eu não sei se
ele ainda me quer em sua vida.
- Tudo bem mamãe, vamos brincar? – ele diz animadinho.
- Claro, vamos sim.
Sento-me ao seu lado, pego um carrinho e começo a brincar com ele um pouco…

[…]


- Meu filho eu quero que você obedeça a sua avó, está bem?
Eu estava me despedindo dele, já estava quase na hora de eu ir para o aeroporto.
- Tá mamãe… Não demora. – diz me abraçando.
- Eu não vou demorar, meu amor, eu prometo. – deixo um beijo em sua testa – Te amo
muito, ouviu?
- Também te amo, mamãe. – deixo um outro beijo em sua bochecha e me levanto pegando
uma pequena mala de lado, apenas com algumas poucas peças de roupa. Coloco no ombro
e me despeço da minha mãe.
Tinha pego todos os documentos precisos e dinheiro também e saio de casa, com o
coração apertado por deixar o meu filho, mas por outro lado feliz por estar tomando uma
atitude de correr atrás do homem que eu amo.
Uma hora depois chego ao aeroporto e mesmo sem saber como funciona isso direito, pois
nunca viajei de avião na vida, na verdade eu nunca nem sai do Rio de Janeiro, mas eu
sabia que tinha que fazer o Check-in em algum lugar, que não foi difícil de achar. Depois
foi só esperar dá o horário de vôo que seria ás uma da tarde. Não demorou muito o meu
vôo foi anunciado e eu fui até o portão indicado, me sentei na poltrona e coloquei a minha
bolsa em meu colo e antes mesmo de falarem algo eu já estava colocando o sinto de
segurança.
Eu estou nervosa, bem nervosa.
Primeiro porque eu morria de medo de avião, sem nem mesmo andar eu já tinha medo.
Não entra na minha cabeça como um troço daquele tamanho consegue voar. E segundo
porque eu não sabia qual seria a reação do Rodrigo, não sabia se ele me aceitaria depois de
tudo. Mas mesmo assim eu iria enfrentar. Eu poderia levar um não na cara? Sim poderia.
Mas eu não vou desistir novamente, sem nem mesmo tentar.
Não vou.

[…]

30° CAPÍTULO

Rodrigo
Duas semanas atrás…
Eu fiquei muito frustrado quando fui ontem visitar o Gustavo e a Sophia não estava lá, eu
queria pelo menos me despedir dela também. Por mais difícil que fosse, eu prometi pra
mim mesmo que nem sequer ligaria pra ela.
Isso me matava, pois eu ficaria um mês fora e depois que eles entraram na minha vida eu
nunca fiquei tanto tempo assim longe do Gustavo e muito menos dela. Mas agora eu sei
que seria bom pra mim, pra gente.
Eu tinha conseguido as minhas férias fácil, pois há anos que eu não tirava, então não foi
muito difícil isso. Eu só não sabia se conseguiria ficar de fato um mês longe. Eu acho
bem difícil.
Eu escolhi viajar para o Rio Grande do Sul, eu amo aquele lugar, nesse calor do Rio de
Janeiro, nada melhor do que o frio delicioso de lá. Alguns anos atrás eu acabei comprando
uma chácara lá. Ela é enorme, tem um lago, um campo enorme para cavalgar, piscina e um
pequeno celeiro com alguns cavalos que eu adoro. Eu não os deixo sozinhos todo esse
tempo, é claro, até porque eu não costumo ir muito lá. Por isso eu pago um caseiro pra
cuidar de tudo pra mim.
Eu iria embarcar hoje mesmo e o meu coração ainda estava apertado em ter que ir sem
falar com ela. Mas eu acho que assim é até melhor, do jeito que aquela mulher me domina
é capaz de eu ficar e desistir de tudo.
A Camila e a minha mãe sabem que eu estou indo pra lá, inclusive já vieram se despedir
de mim, minha mãe também adorou a ideia de eu viajar.
Já tinha arrumado as minhas malas e pego tudo que precisaria.
Chamei um taxi, que não demorou muito a chegar, e coloco as minhas malas dentro do
carro. Partimos para o aeroporto. Faço o Check-in, despacho as minhas malas e logo meu
vôo foi anunciado e eu fui até o portão indicado.
Assim que me sento na poltrona e o avião decola, eu pego no sono. Mas sempre pensando
nela.

[…]

- Senhor… – sinto uma mão me balançando delicadamente e abro os meus olhos, dando
de cara com uma aeromoça. – Já pousamos, senhor.
- Aah..tudo bem. – me despreguiço e me levanto.
Olho as horas no relógio e vejo que o vôo foi bem rápido, são dez horas da noite e eu me
lembro de ter saído de casa as sete.
Desço do avião e vou pegar as minhas malas que não demorou muito, como sempre
acontecia. Assim que chego na sala principal vejo o Marcus, o meu caseiro.
Vou até ele que assim que me vê se levanta.
- Oh senhor Rodrigo, boa noite. – diz estendendo a mão.
- Boa noite, Marcus. – digo apertando a sua mão. – Vamos que estou cansando e ainda tem
chão pra andar, né?
- Sim senhor, vamos então.
Ele me ajudou com uma mala, mesmo eu dizendo que não precisava, e fomos para o
estacionamento, colocamos as malas no porta malas da caminhonete e entramos no carro.
Já conseguia sentir a mudança drástica de temperatura, e fui obrigado a colocar a jaqueta
que estava em minhas mãos.
Algumas longas horas depois a estrada lisa e asfaltada da cidade deu lugar as ruas
esburacadas e batidas de chão do interior. Desde a primeira vez que eu vim aqui eu me
apaixonei por esse lugar, aqui é calmo, tem um frio bom que eu adoro, mas que eu sofro
muito com a ausência dele morando no Rio. Sem falar que é sempre bom se ter um lugar
calmo pra você relaxar, pra fugir de tudo, pra se privar do mundo. Ainda mais o meu
trabalho que é estressante demais e eu já não sou uma pessoa muito compreensível e
calma, então desde quando eu vim com um amigo meu, eu descobri que precisava de um
lugarzinho assim só pra mim. E acabei comprando uma das maiores chácaras da região.
Abro um leve sorriso ao ver o nome escrito sobre a porteira “Chácara Albuquerque” a
Sophia ia adorar esse lugar, já podia imaginar nós dois aqui… quer dizer, nós três
passando as férias… Eu espero que isso realmente aconteça algum dia.
A porteira se abre e o Marcus dirige ainda um bom pedaço até chegar á casa, esse lugar é
tão bonito e calmo que não dá vontade de sair nunca daqui.
Ele estaciona o carro em frente a casa e desce para me ajudar a pegar as malas.
- A minha mulher já deixou tudo arrumadinho pro senhor, viu, tem comida nos armários e
geladeira. – diz colocando a mala no chão da enorme sala. – Amanhã de manhã ela vem
pra fazer o café da manhã do senhor.
- Obrigado Marcus… Agora você já pode ir dormir que está tarde.. Muito tarde por sinal.
- De nada senhor, se precisar de qualquer coisa é só chamar.
Aceno pra ele, que logo se retira indo para a sua casa, que fica aqui na chácara também, só
que um pouquinho afastado.
Olho ao meu redor e está tudo limpinho, exatamente do jeito que eu me lembrava quando
vim aqui uns dois anos atrás, mais o menos. Mas um cheiro forte de lavanda indicava que
haviam feito uma limpeza recente ali.
Minha barriga reclama de fome e vou até a geladeira, tem um bolo enorme de laranja com
calda de chocolate. E porra! Isso me lembrou da Sophia, ela sabe fazer o meu bolo
favorito como ninguém. Eu estou falhando completamente na minha missão, que foi de
me afastar um pouco e tentar esquecer, por um momento, tudo isso. Pois eu vim aqui
realmente pra tentar relaxar e parar de pensar nessas coisas que me tiram do sério. Mas a
quem eu estou querendo enganar? Eu não vou conseguir parar de pensar nela.
Como uma grande fatia do bolo com uma xícara de café, que também já estava pronto. O
bolo estava bom, mas não como o dela era bom.
Depois peguei as minhas malas e subi para o meu quarto, que também estava
impecavelmente limpo.
Coloco minhas malas no chão e retiro a minha jaqueta jogando sobre a cama, abro uma
das malas e pego uma toalha e uma muda de roupa.
Vou até o banheiro, tomo um banho quente e demorado, depois eu volto para o quarto e
começo a colocar as minhas roupas de qualquer jeito no guarda-roupa.
Pego o meu celular, que eu havia jogado sobre a cama e mando uma mensagem para a
Mila e para a minha mãe avisando que eu já tinha chegado. Logo em seguida eu o coloco
em modo silencioso e ponho dentro de um das malas fechando-a e jogando em cima do
guarda-roupa.
Se eu não fizer isso, eu sei que vou cair na tentação de ligar para a Sophia. Então fazendo
isso eu vou consegui me conter. Eu acho.
Como já estava bem tarde, eu fui dormir, pois amanhã eu queria aproveitar ou pelo menos
tentar aproveitar o meu dia aqui.

[…]




Dias atuais…
Duas semanas sem nenhum contato com a Sophia e o Gustavo.
E como eu estou me sentindo?
Horrível, péssimo um completo bosta.
Não aguento mais ficar sem ouvir as suas vozes, mesmo pelo telefone, sem tocá-los, sem
beijá-los. Todos os dias, antes de dormir, eu olho para a mala em cima do guarda-roupa e a
minha vontade é de ir lá, pegar o meu celular e ligar pra ela e dizer que estou voltando pra
casa, estou voltando pra ela e eu não aceitaria não nenhum como resposta. E que se fosse
preciso eu ficaria com ela a força, mas eu não a deixaria sair da minha vida. Mas ai eu
desisto, e fico firme no meu foco de continuar aqui.
Esse lugar não é ruim, como eu já disse, é ótimo para se relaxar, o que eu estou
conseguindo fazer aqui, não muito, pois sempre me pego pensando nela e em um dilema
entre voltar ou não, mas estou conseguindo… Aos poucos eu estou conseguindo.
Fico todos os dias, horas e horas andando a cavalo, essa é uma das coisas que me
tranquiliza. A primeira delas é atirar. Eu nunca pensei em ter um cavalo, até eu comprar
uma chácara e aprender a montar. É uma sensação libertadora, cavalgar, e quando estou
fazendo isso me esqueço de tudo. Quase tudo, pois eu penso o quanto o Gustavo ia adorar
esse lugar. Posso imaginá-lo jogando bola nesse enorme gramado, pescando no lago e
cavalgando comigo. Eu teria tanta coisa para ensinar a ele… Tanta coisa, que eu ensinaria
com todo o prazer do mundo.
Eu fico com o coração partido por não ter ligado pra ele nem um dia sequer, eu sinto tanto
a falta do meu filhão, eu espero que ele não fique bravo ou ressentido comigo por eu ter
sumido por tanto tempo. Se eu pudesse teria trago ele comigo, mas eu infelizmente não
podia… Mas um dia terei o prazer de trazê-lo aqui.
Alguns desses dias eu fui até a cidade espairecer um pouco, ficava algumas horinhas em
alguns bares e depois voltava para a chácara novamente.
Os meus dias aqui já estão acabando, o que por um lado me deixa feliz, porque eu
consegui ficar bastante tempo longe, consegui pensar, descasar um pouco e também
porque eu logo voltaria pra casa. Ai eu poderei conversar com a Sophia. Mas se ela ainda
continuar com aquela ideia louca na cabeça eu não sei o que sou capaz de fazer com ela…
Eu realmente não sei.
[…]



Estava dentro de casa e não tinha nada pra fazer, como sempre, o sol já estava se pondo e
o frio estava bom pra dormir, mas eu não queria fazer isso, o que eu queria mesmo era
cavalgar. Pra falar a verdade já virou uma espécie de vicio pra mim.
Pego a minha jaqueta de couro preta, coloco uma bota de borracha que estava na varanda e
saio.
Faço uma bela e longa caminhada até o celeiro. Abro a baia do Fênix, o meu cavalo, ele é
lindo, os seus pelos pretos e brilhantes, e o seu porte elegante deixa qualquer um amante
de cavalos doido, por mais que eu não fosse um, mas ele é lindo.
- É Fênix vamos dar uma volta, rapaz. – digo passando as mãos nele.
O selo rapidamente, pois depois de duas semanas fazendo isso todos os dias, acabei
pegando a pratica.
O levo para fora do celeiro e monto nele.
- Bora Fênix… Bora. – digo assoviando.
E assim ele fez, saiu cavalgando rapidamente por toda a área da chácara, quando eu vi, já
estávamos em um campo aberto enorme que tinha ali. E eu confesso que me senti um
verdadeiro fazendeiro pela forma que cavalgava com ele. Eu acho que todo mundo na vida
deveria experimentar fazer isso. É bem relaxante.
Eu nem sei por quanto tempo ficamos ali, só percebi que era hora de voltar quando uma
chuva forte começou a cair e já estava completamente escuro. A única coisa que iluminava
aquelas áreas são umas poucas luzes espalhadas pela chácara e a luz da lua.
Faço com que o Fênix volte para a casa, mas antes eu resolvi dar mais uma volta naquela
chuva. Estava tão bom, tirando a parte que estava me tremendo de frio, estava bom.
Quando estava passando próximo á entrada da chácara escuto algo que me faz puxar as
rédeas do cavalo rapidamente. Isso fez com que o Fênix ficasse em pé apenas sobre sua
patas e esse movimento brusco quase me fez ir ao chão, mas eu consegui me equilibrar e
ele logo voltou a ficar sobre as quatro patas. Só depois a minha mente pôde voltar a
prestar atenção no que me fez parar.
Uma voz me chamava e eu conhecia bem aquela voz.
- RODRIGO!! RODRIGO, APARECE!
É a Sophia… Mas não é possível. Ela não viria até aqui? Ou viria?
Isso não pode ser coisa da minha cabeça, não pode mesmo. Se for eu preciso urgentemente
voltar com as minhas consultas á psicóloga, pois estou ficando louco.
Faço com que o cavalo se aproxime mais da porteira e posso ver que realmente não era
coisa da minha cabeça… Não era.
Era ela ali, debaixo daquela chuva me chamando.
- Rodrigo, por favor, me deixa entrar. – ela diz me olhando em suplica.
Ela estava completamente molhada, mas mesmo assim eu pude perceber que chorava.
- O que você veio fazer aqui, Sophia? – digo sério, não demonstrando toda a felicidade
que me consome nesse momento.
Ela merecia um pouquinho de gelo por me fazer esperar todo esse tempo.
- E-eu vim pra gente conversar, Rodrigo… Por favor, me deixa entrar.
Desço do cavalo e vou até a porteira abrindo-a, fazendo com que ela entre rapidamente.
A vontade que eu tenho agora é pega-la pelos cabelos e beijá-la… Beijá-la como se fosse a
ultima coisa que eu fosse fazer na vida. Mas eu não posso, pelo menos não agora, tenho
que me conter.
- O que você quer?
- A-a gente.. po-pode sair dessa chuva, pri-primeiro? – ela batia os dentes, não sabia se era
do frio ou do choro.
Simplesmente me viro e monto no cavalo. A Sophia me olha parecendo não acreditar e eu
estendo uma mão pra ela.
- Vem.
- A-a gente não vai cair? – pergunta ela com medo no olhar.
- Não. Vem.
Ela anda rapidamente até a mim, pega na minha mão, coloca o pé na cela e sobe com um
pouco de dificuldade. Assim que ela se acomoda sinto os seus braços envolverem o meu
corpo e sinto a sua cabeça cair sobre as minhas costas. E porra! Isso me desmontou. Mas
eu não demonstrei. Continuei firme.
- Como eu senti falta desse perfume. – diz baixinho acariciando o meu peito.
Que droga, eu já estou começando a me excitar.
Não digo nada, apenas faço o cavalo andar e não demorou muito chegamos em frente a
casa. Eu falo para ela descer e ela imediatamente obedece.
- Me espera que eu irei levar o cavalo pra o Celeiro… Pode entrar, se quiser.
Não fico para ouvir a resposta dela e saio cavalgando.
Chego ao celeiro, retiro a cela molhada do cavalo e o tranco em sua baia novamente.
Depois volto o enorme caminho correndo, por conta da chuva, e ainda sem conseguir
acreditar que ela realmente está aqui. Ela veio atrás de mim. Isso significa que ela me quer
de volta.
Por mais que a minha vontade seja de pegá-la nos meus braços, beijá-la e tê-la pra mim
como se fosse a ultima coisa que fosse fazer na vida, eu não vou fazer isso. Se ela veio
aqui é porque ela sentiu realmente que estava me perdendo. E eu posso dizer que
imaginava tudo, menos ela vir até aqui, atrás de mim.
Isso já é uma prova de arrependimento e amor, apesar de eu nunca ter duvidado do amor
dela. Mas mesmo assim eu vou ouvir o que ela tem pra me dizer, antes de fazer qualquer
coisa. Por mas que a minha vontade nesse momento seja de mandá-la calar a boca e
apenas fodê-la a noite inteira, tamanha é a minha saudade por ela. Mas eu não vou fazer
isso.

[…]

31° CAPÍTULO

Sophia
Eu já tinha desembarcado e estava em frente ao aeroporto pensando para qual lado ir.
O frio estava demais, na verdade eu não sei se estava realmente muito frio, ou eu que não
estou acostumada a sentir frio. Mas mesmo assim eu estava com o meu casaco, que não
estava adiantando muita coisa, eu devo dizer.
A Camila tinha me explicado tudinho como que fazia para chegar nessa tal Chácara
Albuquerque que é a chácara do Rodrigo.
Eu coloquei a minha pequena mala atravessada no corpo e antes de guardar o celular na
bolsa, vejo que são quatro horas da tarde. Saio do aeroporto ainda olhando para todos os
lados vendo se, por algum acaso, eu não o encontrava por aqui, mas nada eu vi.
Depois que consegui sair do aeroporto eu avisto um ponto de ônibus e vou até lá.
Tinha algumas pessoas sentadas esperando ônibus e eu me sentei ao lado de uma senhora.
A perguntei se o ônibus que me deixava na Chácara, passaria por aqui e ela disse que sim
e até me explicou qual é.
Sento-me e fico esperando o ônibus passar, o que demorou pra caramba. Nunca mais eu
reclamo da demora dos ônibus do Rio de Janeiro. Mas depois a Senhora me explicou que
esse ônibus passava apenas de manhã e a tarde, pelo fato do destino dele ser bem para o
interior e demorar bastante tempo de viagem.
Uma hora e meia, mais o menos, sentada ali e o ônibus finalmente passou, eu entrei e
antes de pagar a minha passagem pergunto para ter realmente certeza.
- Senhor, esse ônibus me deixa na Chácara Albuquerque?
- Te deixo próximo de lá.
- Ok. – o pago e antes de passar eu falo. – O senhor poderia me avisar quando chegar? Eu
não sou daqui e é a minha primeira vez, eu não conheço nada.
- Claro, eu aviso sim. – diz simpático.
E pra ser mais fácil de ele me avisar, eu me sento na primeira fileira do ônibus.
Pego os meus fone e coloco no celular, deixo as musicas no aleatório e deixo a minha
cabeça cair na janela. Eu não sei se foi coisa do destino ou não, mas a primeira musica que
tocou foi I Won’t Give Up – Jason Mraz.
Parece que essa musica foi feita para esse momento, foi feita pra mim… pra gente… De
fato é inevitável olhar pro céu e não me vir aqueles lindos olhos a mente. Aqueles olhos,
que foram tantas vezes os primeiros que eu via ao acordar. Aqueles olhos que me fizeram
sorrir tantas e tantas vezes apenas por saber que aquele olhar era direcionado a mim… E
eu realmente não vou desistir, não vou desistir de tê-lo novamente ao meu lado… Não vou
desistir de nós.. Eu realmente não quero ficar conhecida novamente como alguém que vai
embora facilmente. Alguém que desiste antes mesmo de tentar, eu não quero mais ser
conhecida assim… Eu voltei agora, voltei pra fazer extremamente diferente. E eu sei que
posso fazer…
Quando eu dei por mim as lagrimas já molhavam o meu rosto, mas agora eu já tinha
esperanças e eu ia me agarrar nessas esperanças para tentar fazer com que ele me aceite
novamente.
Algumas longas, e intermináveis, horas depois, já estava de noite, podia ver a chuva
caindo do lado de fora e o lugar ao meu redor é estranhamente deserto e coberto por
matos. Eu torcia muito para que essa tal chácara não fosse aqui, ou em algum lugar pior.
De repente o ônibus para e o motorista me olha.
- Chegamos na sua parada, moça.
Valeu boca grande.
Respiro fundo e me levanto do banco. Coloco o meu telefone no lugar mais fundo da bolsa
que eu consegui e antes de descer do ônibus, eu pergunto.
- Pra que lado fica essa chácara, o senhor sabe me dizer?
- Olha é pra esse lado aqui. – ele apontou pro lado direito. Uma rua extremamente escura.
Que droga.
- Ai você anda um pouquinho e vai ver uma porteira enorme e o nome da chácara escrita
em cima dela. Ela é a única com esse nome, não tem como errar.
- Tudo bem… Muito obrigada, senhor.
- De nada, vai com Deus, moça. – diz depois que eu desço do ônibus.
Eu apenas aceno com a cabeça e agradeço.
Depois que o ônibus saiu do caminho eu olho bem para aquela rua deserta e extremamente
escura a minha frente e um medo toma conta de mim. Meu corpo já estava extremamente
molhado pela chuva e o mesmo tremo. Mas eu não sei se é de medo ou de frio.
Ah Rodrigo, o que eu não faço por você! O que eu não faço pra ter você de volta.
Respiro fundo e começo a andar pela escuridão dessa rua. Eu estou com medo, muito
medo. Eu nem sequer me atrevo a olhar para trás. Ando o mais rápido que consigo, estou
praticamente correndo.
Faço todas as orações possíveis para que nada aconteça comigo e para que eu ache logo
esse lugar, pois eu não estou mais suportando andar por esse lugar horrível nessa
escuridão e nessa chuva, que o torna ainda mais em um senário de filme de terror.
De longe eu consigo ver uma única luz e é nela que eu foco e ando ainda mais rápido.
Deve ser lá. Tem que ser lá.
Assim que chego próximo a enorme porteira, consigo ver que realmente é aqui a bendita
Chácara Albuquerque.
Procuro por todos os lados algum tipo de campainha e acho. Começo a apertá-la, mas nada
acontece, ninguém responde do outro lado.
O meu desespero foi ainda maior, e o meu medo também de ficar aqui sozinha a noite
inteira, o choro começou a rolar e com isso eu comecei a gritar. Eu sei que ele não me
ouvirá, pois eu mal consigo avistar a casa, então ele não seria capaz de me ouvir gritando
nessa chuva, nunca.
- RODRIGO! RODRIGO APARECE!!!
Eu balanço as grades do portão com tanta força que eu posso jurar que eu vou acabar
arrancando a qualquer momento.
Coloco o meu rosto na grade e bem de longe consigo vê-lo. Eu sei que é ele. Eu conheço
aquele corpo em qualquer lugar. Ele está montado em um cavalo. Não perco tempo e o
chamo novamente.
- RODRIGO!! RODRIGO…
Ele vem cavalgando em minha direção e para em frente ao portão. Assim que percebe a
minha presença, sua expressão é de total surpresa.
O Rodrigo está tão lindo, tão gostoso com essa jaqueta toda molhada em cima desse
cavalo e com esses cabelos molhados caindo sobre a testa.
Como eu tive medo de nunca mais conseguir vê-lo. Meu Deus eu não sei como eu
aguentei ficar tanto tempo longe disso.
- Rodrigo, por favor, me deixa entrar. – imploro, não conseguindo impedir que as lágrimas
se misturassem com a chuva que caia sobre minha cabeça.
- O que você veio fazer aqui, Sophia? – ele diz sério e frio, fazendo o meu coração se
apertar em meu peito e um medo tomar conta de mim.
- E-eu vim pra gente conversar, Rodrigo… Por favor, me deixa entrar.
Ele pensa um pouquinho, depois desce lindamente daquele cavalo e vem abrir o portão pra
mim. A vontade que eu tenho é de pular no cangote dele e não soltar nunca mais.
Ele continuava me olhando com uma postura séria, que me amedronta.
- O que você quer?
- A-a gente.. po-pode sair dessa chuva, pri-primeiro? – eu não vou conversar com ele aqui.
O Rodrigo simplesmente se vira sem dizer nada e monta no cavalo novamente. Eu não
estou acreditando que ele vai fazer isso. Ele nem sequer quer me ouvir?
Antes que eu diga algo, ele me estende a mão.
- Vem. – diz esperando que eu pegue em sua mão.
- A-a gente não vai cair? – eu nunca tinha andado em um cavalo, mas morria de medo.
Esse bicho parece ser perigoso.
- Não. Vem. – continua frio.
Que droga! Estou vendo que vai ser difícil, mas não vou desistir.
Seguro em sua mão, coloco o meu pé na cela do cavalo e subo com bastante dificuldade
no animal. Assim que consigo me sentar corretamente, passo os meus braços pelo corpo
do Rodrigo abraçando-o com toda a vontade e saudade do mundo e deixo a minha cabeça
cair nas suas costas.
O seu cheiro maravilhoso toma as minhas narinas fazendo suspirar fundo a fim de sentir
mais, bem mais… Como eu senti falta disso, desse cheiro, desse corpo. Passo minhas
mãos lentamente por sua barriga e digo…
- Como eu senti falta desse perfume.
Ele nada diz, apenas coloca o cavalo para andar. Não demorou muito chegamos em frente
a casa, ele me manda descer e eu rapidamente obedeço.
- Me espera que eu vou levar o cavalo para o Celeiro.. Pode entrar, se quiser. – ele diz sem
demostrar emoção nenhuma e não espera a minha resposta para de afastar com o cavalo.
Fico o olhando por um tempo, até ele sumir das minhas vistas, e me dou conta de que ele
me deixou aqui sozinha. Mas já estou aqui dentro, então eu já não estou com tanto medo
assim.
Resolvo entrar, ele não vai se importar de eu molhar tudo, se não ele não tinha falado para
eu entrar, se quisesse.
Giro a maçaneta e me deparo com uma sala maravilhosa, todos os moveis são em madeira,
mas ao mesmo tempo são modernos, tem um sofá enorme e uma lareira. Meu Deus! Eu
sempre quis morar em uma casa que tivesse uma lareira. Mas no calor infernal no Rio de
Janeiro, quem precisa de lareira em casa? Isso mesmo. Ninguém. Aquela cidade já parece
um inferno na terra.
Retiro a bolsa do meu corpo e coloco em um canto da sala. Não tive coragem de tocar em
nada, muito menos de me sentar, se não molharia tudo, então fiquei em pé esperando o
Rodrigo chegar.
Os meus dentes batiam um no outro tamanho é o frio que eu sinto e essas roupas molhadas
só pioram a situação. Não sei o que vou fazer em relação as minhas roupas, pois todas
elas, com certeza, estão encharcadas dentro da malinha.
Alguns minutos se passaram e ouço um barulho na varanda. Me viro dando de cara com o
Rodrigo retirando a bota de borracha do pé e sua jaqueta, colocando-os no chão e logo em
seguida entrando na casa.
Eu estava com medo, pois pela forma que eu fui recepcionada, eu não sei se ele vai querer
conversar comigo. Mas eu também não irei desistir.
- Ro-ro-drigo a-age..
- É melhor você tirar essa roupa molhada, senão vai pegar um resfriado. – diz sem me
olhar.
- Nã-não import-ta e-eu…
- Você não está conseguindo nem falar direito de tanto frio que está sentindo. Como quer
conversar desse jeito? – ele fala sério e agora, pela primeira vez, me olhou. – Tem um
banheiro na segunda porta a esquerda, lá em cima.
- As mi-minhas ro-oupas estão mo-molhadas.
- Tem um roupão lá, pode colocá-lo. – diz e se vira subindo as escadas me deixando
sozinha.
Respiro fundo e sigo o mesmo caminho, só que indo para o lugar onde ele me disse. Entro
no banheiro, fecho a porta atrás de mim e é inevitável não sentir medo do que vai
acontecer. Ele está agindo da mesma forma que agiu quando nos vimos pela primeira vez.
E isso não me tranquiliza nem um pouco, muito pelo contrário.
Retiro a minha roupa molhada e tomo a liberdade de tomar um banho, ligo o chuveiro no
quente e deixo a água morna aquecer o meu corpo por alguns poucos minutos, pego a
toalha que estava pendurada ao lado do box e me seco logo a amarrando no meu cabelo.
Pego o roupão atrás da porta e me visto com ele, o mesmo tem o cheiro forte e
maravilhoso do Rodrigo. Termino de secar o meu cabelo com a toalha e a coloco no
mesmo lugar.
Assim que desço encontro o Rodrigo na sala colocando algumas madeiras dentro da
lareira para aumentar o fogo. Todas as portas e janelas já estão fechadas e já posso sentir a
casa um pouco mais aquecida.
Fico parada próxima a escada observando-o colocar as madeiras ali dentro. Ele está lindo
com o seu conjunto de moletom, só que dessa vez ele está com um casaco também. Sorrio
ao lembrar do tempo em que eu trabalhava pra ele e era obrigada a vê-lo sempre de calça e
com a barriga de fora. Eu não admitia, mas amava aquela visão… Ainda amo.
Ele se vira de encontro a mim, me olha por alguns segundos e depois se senta no sofá de
costas pra mim. O Rodrigo não diz nada, mas eu entendo que essa é a hora de eu começar
falar o que vim fazer aqui. Vou até ele e sento ao seu lado, mas não tão perto quanto eu
queria.
- Agora pode falar o que veio fazer aqui.
Ele está tão frio e isso me retrai.
- É… – fecho os olhos, respiro fundo e logo em seguido direciono o meu olhar ao dele. –
Por que você não atendeu as minhas ligações? Nem as minhas mensagens você respondeu
e…
- Estava ocupado demais.
- Ocupado… – digo pra mim e balanço a cabeça de leve. Quis perguntar com o que, mas
engoli essa pergunta.
- Rodrigo, me desculpa… – pego na sua mão segurando-a com força. – Por favor, me
desculpa por ter sido uma tola, por não ter estado do seu lado quando você precisou pra
enfrentar os seus problemas, que na verdade eram meus também…
- Eu tentei entender a sua atitude de se afastar… – ele retira a sua mão da minha e o meu
coração dói. – E eu acho que consegui, consegui mesmo, Sophia… Mas eu só queria que
você tivesse ficado do meu lado, que a gente tivesse enfrentado isso tudo juntos. Eu queria
que você me acompanhasse nas minhas consultas…
- Eu sei, eu me sinto uma inútil por ter te deixado no momento que você mais precisou de
mim. – eu estou uma chorona de merda ultimamente. – Naa minha cabeça, aquilo era a
única solução, mas eu já vi que eu agi errado. Ao invés de nos fazer bem, como eu pensei,
só nos fez mais mal ainda… Mas eu só peço que você me perdoe e aceite o meu amor de
volta.
- O seu amor… – ele diz e solta uma risadinha passando a mão no rosto. – Quem me
garante que na primeira dificuldade que tivermos você não vai querer fazer o mesmo?
Quem me garante que você não vai querer me deixar novamente? – deixo um soluço sair
de minha boca e abaixo a minha cabeça. – Em um relacionamento tem que haver
companheirismo, quando um cair o outro estar lá pra levantar. É pra andarem juntos, mas
é juntos um ao lado do outro, enfrentando todos os problemas que virá pelo caminho…
- Eu sei, eu sei Rodrigo… Você não sabe o quanto eu me arrependo de não ter nem ao
menos tentado superar isso do seu lado… Mas eu juro, eu aprendi da pior forma possível,
mas eu aprendi, que não valeu apena. Aprendi que sim, eu devia ter ficado do seu lado,
pois nós dois íamos nos ajudar… Mas eu fui perceber isso tarde demais… Eu te amo, te
amo muito e você sabe disso, porém, infelizmente eu precisei te perder pra ver o tamanho
da burrada que eu estava fazendo, nos afastando… Eu enfrentei todas as barreiras pra estar
aqui agora, possivelmente perdi o meu emprego por sair sem dar satisfação, mas eu não
me importo. A única coisa que eu preciso agora é o seu perdão, Rodrigo. Só isso. Eu vou
entender se não quiser me aceitar de volta. Mas eu preciso que você me perdoe, pra eu
poder pegar o meu caminho de volta para o Rio e recomeçar a minha vida, se for o caso.
Eu realmente já tinha perdido o resto das esperanças que eu tinha. Pelo jeito que ele fala,
frio e sem nem sequer me olhar direito, isso me mata aos poucos e a cada minuto que
passa eu tenho ainda mais certeza de que ele desistiu de mim, de verdade.
- Eu fiz tantos planos pra gente, Sophia… tantos… – ele diz se levantando e passando as
suas mãos freneticamente pelos cabelos.
- Eu também fiz e ainda os tenho aqui, vivos dentro de mim…
- Eu queria tantas coisas com você.
- E não quer mais? – digo deixando as lágrimas rolarem.
Eu não estou me importando se estou fazendo papel de ridícula. Se estou me humilhando.
Eu não me importo. A essa altura do campeonato eu não me importo com mais nada.
- Me responde, Rodrigo. – digo me levantando. – Você não quer mais?
E ele nada diz. E isso pra mim soa como um sim.
- Tu-tudo bem. Eu já entendi. Eu realmente estraguei tudo… – digo tentando secar as
lágrimas, o que foi em vão. – Mas obrigada, obrigada mesmo por ter me feito a mulher
mais feliz do mundo, enquanto estávamos juntos… Obrigada por nunca ter me
abandonado. Mas eu sei que chega uma hora que a pessoa cansa de esperar, não é mesmo?
Muito obrigada por ter cuidado de mim quando eu precisei e desculpa por não ter
conseguido retribuir nem metade das coisas que você fez por mim… Eu te amo e nunca
vou deixar de te amar…
Eu nunca seria capaz de amar outra pessoa no mundo além dele, nunca. Nunca faria por
outra pessoa, além do meu filho e da minha mãe, o que eu fui capaz de fazer por ele e isso
eu tenho certeza absoluta… Mas eu também não me arrependo de nada. Eu me
arrependeria de não ter tentado novamente.
- Eu espero realmente que você encontre uma pessoa que possa te dar tudo o que você
merece. Tudo que eu não fui capaz de te dar… Bom… é… e-eu vou embora então. Não
tenho mais nada que fazer aqui.
Dou a volta no sofá, na intenção de ir até o banheiro e colocar a minha roupa e ir embora.
Eu não tenho mais nada que fazer aqui. Eu não faço a mínima idéia de para onde ir agora,
mas eu não ficarei aqui.
Quando ia colocar o meu pé na escada, sinto o meu corpo sendo puxado para trás, com a
força pela qual eu fui puxada, eu dou de cara com o peito musculoso do Rodrigo e na
mesma hora sinto os seus braços prenderem-me fortemente contra seu corpo. Seus braços
me evolvem com tamanha força que chega a me machucar.
- Eu não vou deixar você ir pra porra de lugar nenhum. – o sinto fungar e sei que também
chora.
- Ro-Rodrigo, por…
- Eu ainda quero fazer milhares e milhares de coisas com você… Você realmente acreditou
que eu não te queria mais, Sophia?
Balanço a cabeça e ele sorri de leve.
- Eu sei que te fiz sofrer, Rodrigo, eu não fui a namorada que deveria ser pra você… E
como a minha mãe diz: Chega uma hora que a gente cansa de esperar.
- É… – ele me solta e eu consigo respirar aliviada. Ele pega o meu rosto em suas mãos e
diz, olhando dentro dos meus olhos. – Mas eu ainda não desisti de você e nem vou… Eu já
disse que você é minha… só minha… E eu posso dizer que se você não viesse aqui atrás
de mim, quando eu voltasse pra casa você ficaria comigo de um jeito ou de outro, porque
eu não aguento mais ficar sem você.
- Eu também não, Rodrigo, me desculpa por isso, por favor…
- Shiiiiu.. – ele diz e passa o polegar contornando a minha boca. – Esquece, vamos
recomeçar do zero, agora. Vamos esquecer tudo que aconteceu… Vamos deixar tudo no
passado e recomeçar a partir daqui.
- Eu te amo tanto… tanto.
Ele não espera mais nenhum minuto e me beija. E como eu senti falta do seu beijo, do seu
gosto, do seu toque. Não sei como pude aguentar tanto tempo longe dele, eu realmente não
sei. Ele desce sua mão agarrando com força a minha cintura me grudando ao seu corpo e
sua outra mão segura com força o meu cabelo. Abro a minha boca para dar acesso pra sua
língua entrar e ele faz com agilidade, não perco tempo e começo a chupá-la e ele geme.
Em um movimento rápido sinto as suas mãos descerem para as minhas pernas levantando-
me e fazendo com que eu enrole-as em sua cintura. Sem desgrudar as nossas bocas, ele
anda comigo em seu colo e se senta no sofá. Separo as nossas bocas e ambos estamos
ofegantes, mas ele continua distribuindo beijos pelo meu pescoço e abaixa de leve a alça
do roupão, deixando um beijo no meu ombro. Ele segue fazendo a trilha de beijos
conforme ele vai deixando a minha pele nua.
- Eu vou te foder tanto. – ele diz com a voz rouca.
- Romantismo zero, né Rodrigo. – digo rebolando de leve em seu colo e um gemido sai de
minha boca quando sinto-o chupar o meu peito com força. Mas ele logo o solta para me
responder.
- Estou excitado demais pra ser romântico… Mas tudo bem. – chupa o meu peito de novo
e eu rebolo mais em seu colo. – Primeiro eu vou te foder… E o resto na noite a gente faz
amor.. – o chupa outra vez. – Gostoso.
- Uhuum… Faz o que você quiser. – digo desamarrando o roupão abrindo-o de leve.
De repente esse lugar ficou bem quente.
O Rodrigo me deita no sofá e se levante. Antes que eu pergunte o que ele irá fazer, ele vai
até os interruptores e apaga todas as luzes da casa, fazendo com que ficasse iluminado
apenas pela lareira. O único som presente é o da chuva caindo do lado de fora, o que deixa
o lugar ainda mais excitante.
Retiro o roupão de vez, ficando completamente nua, sem nenhum pudor. Quando o
Rodrigo volta e me vê deita, completamente nua no sofá, ele para e me observa por alguns
segundos e leva a sua mão até o seu membro apertando-o ao mesmo tempo que morde os
lábios.
- Puta que pariu.
No segundo seguinte ele já estava retirando o seu casaco do moletom jogando-o em
qualquer lugar, dando-me a maravilhosa visão do seu lindo peitoral. O Rodrigo se deita
por cima de mim, captura a minha boca novamente e segura o meu peito com força. Ele
retira a sua boca da minha e passa para o meu seio, chupando-o com toda a vontade,
fazendo gemidos altos saírem de minha boca. Ao mesmo tempo ele desce sua outra mão e
começa a tocar a minha intimidade de forma bruta, mas deliciosa, eu me contorço toda
embaixo dele e os gemidos então são cada vez mais altos.
- Oh Rodrigo!
- Isso geme… geme o meu nome. – diz e enfia dos dedos em mim.
E eu fiz exatamente o que ele mandou. Ele aumentou o ritmo na sua mão e mudou de seio.
Eu já posso sentir os espasmos me invadindo e eu rebolo ainda mais na sua mão.
- Amor, não para. – digo segurando a sua cabeça contra o meu seio, que está em sua boca,
e puxando os seus cabelos.
E como se não fosse possível ele aumentou a velocidade das estocadas e isso me fez gozar
violentamente em sua mão. O Rodrigo retira os seus dedos de dentro de mim e dá um tapa
no meu clitóris, logo em seguida levando os dedos a boca os chupando.
- Tão gostosa… Tão minha.
Ele desce beijando o meu corpo inteiro e quando chega em minha intimidade, segura as
minhas pernas uma de cada lado do seu rosto e passa a sua língua em toda a sua região.
Isso fez o meu corpo se arrepiar por completo. Ele deixa mais alguns beijos na minha
intimidade e sobe novamente para me beijar. Rodrigo me puxa para sentar em seu colo e
eu começo a distribuir chupões e mordidas em seu pescoço, faço o mesmo em seu peitoral
e saio do seu colo me ajoelhando no chão de frente para ele. Passo as minhas mãos de leve
sobre sua ereção, ainda tampada pela calça e ele solta um longo suspiro. Sua cabeça está
encostada nas costas do sofá e sua boca, levemente aberta. Levo as minhas mãos até o cós
da calça a retirando e junto com ela a boxer veio, fazendo com que o seu membro salte. O
Rodrigo me ajuda a retirar as calças e eu a jogo de lado voltando a atenção para o seu
membro grande e rígido a minha frente.
O pego pela base e começo a fazer movimentos lentos e precisos em toda a sua extensão,
aproximo a minha boca de sua glande e a engulo, fazendo com que um gemido rouco
saísse da boca dele. Continuo com os meus movimentos em minhas mãos na parte que
está fora de minha boca e continuo chupando com vontade a sua glande.
- Mais, coloca mais… – ele diz rouco e sua mão passa de leve acariciando o meu rosto.
Faço o que ele pede e coloco até onde dá, dentro de minha boca, a parte que não coube eu
continuei com os meus movimentos com uma mão e a outra eu amaciava de leve as suas
bolas.
- Aah Sophia… Essa sua boquinha é tão gostosa. – diz segurando o meu cabelo com força,
mas sem pressionar.
Aumento os movimentos e posso sentir o seu membro ainda mais duro que anteriormente.
Sou surpreendida quando sinto-o levantar a minha cabeça retirando o seu membro de
minha boca. Ele me faz levantar e me leva para o seu colo.
- Eu não aguento mais… Eu preciso estar dentro de você, agora. – ele agarra a minha
cintura co força e segura o seu membro em direção a minha intimidade. – Senta vai.
Obedeço imediatamente e vou deslizando sentindo cada centímetro do seu membro me
preencher.
- Porra, Sophia, como você consegue ser tão apertadinha assim… Aaah… Gostosa! – ele
deixa um tapa forte na minha bunda e isso faz com que eu o deixe me penetrar por
completo e um gemido alto de prazer sai da minha boca.
- Oooh!
Gemo e rebolo de leve em seu membro. O Rodrigo segura a minha cintura e começa a
fazer movimentos de subir e descer com o meu corpo. Ele me penetra com força e
agilidade. Eu acabo pegando o ritmo e começo a fazer os movimentos, sozinha. Suas mãos
apertam com força a minha bunda, horas deixava alguns tapas nela, outras apenas apertava
com força e isso me fazia ficar ainda mais excitada. Ele suga meus seios ao mesmo tempo
em que eu cavalgo em seu membro. Eu já não estou aguentando mais de tanto prazer. Meu
orgasmo estava chegando então eu aumentei mais ainda a velocidade dos movimentos.
Sinto as mãos do Rodrigo segurando a minha bunda com ainda mais força e ouço sua voz
rouca e falhada no meu ouvido.
- Diz a quem vo-cê pertence.
- AH! A você, amor.. só você. Eu sou toda sua. Só sua e de mais ninguém… Eu fui feita
pra você. Só pra você… aaaaah Rodriigo!
Ele segura a minha cintura com mais força e me penetra com força, fazendo com que o
seu membro encoste em um lugarzinho que fez o meu orgasmo vir na mesma hora
violentamente, fazendo com que eu mordesse de leve o seu queixo. O meu corpo
relaxando. Sinto alguns jatos quentes dentro de mim e eu sei que ele também já gozou.
- Que saudade que eu estava de você… Do seu corpo. – ele deixa um beijo no meu ombro
e sinto suas mãos passando na minha bunda, onde ele em alguns momentos batia.
- Eu também.. – deixo um beijo em sua boca e me abraço nele novamente deixando a
minha cabeça cair sobre seu ombro.
Como eu tive medo de nunca mais poder ficar assim com ele. Meu Deus, eu não quero
nem pensar em como seria se eu o tivesse perdido de vez.
- Já descansou?
- Aãn?
- Agora eu quero te amar, calmo… Devagar… – ele retira o cabelo do meu pescoço,
colocando-o para o outro lado, e deixa um beijo na parte exposta. – Não só agora, mas o
resto da semana.
- Como assim, o resto da semana? – digo retirando o meu rosto do seu ombro para olhá-lo.
- Eu só tenho mais uma semana de férias. Então, já que você está aqui a gente podia
aproveitar esse lugar maravilhoso pra tirar esse tempinho pra gente.
- Tem o Gustavo, amor, minha mãe não vai aguentar ficar com ele sozinha esse tempo
todo.
- Droga, é verdade… Mas e até segunda?
- Ai sim, tudo bem. – digo sorrindo.
Tem o meu trabalho também, que na verdade eu nem sei se tenho mais, mas eu não quero
pensar nisso agora.
- Então me deixa te amar do jeito que você merece…
O Rodrigo se retira de dentro de mim, me faz sair de cima dele e me deita no enorme
tapete macio e aconchegante de frente para a lareira.
E ali ele me amou da maneira que quis. O Rodrigo me fez ainda mais dele, da forma que
só ele sabe fazer.


[…]

32° CAPÍTULO
Sophia
- Então quer dizer que você me viu com a Roberta?
Estávamos deitados na cama, na verdade nós não saímos dela desde sexta-feira, amanhã
iríamos voltar pra casa. Na verdade eu não quero ir. Eu quero ficar aqui pra sempre
juntinho dele e nunca mais o soltar, mas nós temos uma vida no Rio.
Uma chuva fraca cai lá fora, o que ajudava bastante para que não quiséssemos sair da
cama nesses últimos dias e eu estou amando isso.
- Sim. Eu estava disposta a ir à sua casa e pedir desculpas por tudo. Eu não estava
aguentando mais ficar longe de você. Mas ai eu te vi com ela e imaginei tudo errado.
- Era só ter me perguntado quando eu te liguei. – ele diz e solta uma risadinha.
- Eu não me sentia no direito de te perguntar mais nada naquela altura do campeonato… E
outra, a cara dela não era de quem estava em um jantar de amigos, apenas.
- Como assim? – diz sorrindo.
Sentando-me na cama, puxo a coberta para tampar os meus seios e o encaro.
- A cara dela era de quem estava indo á um encontro e que depois do jantar ela seria a
sobremesa.
- Claro que não, amor.
- Claro que sim… Mas agora que você me disse que não rolou nada, eu acredito. Mas
mesmo assim, nada me tira da cabeça que essa psicóloga tem segundas, terceiras e até
quartas intenções com você.
- Não viaja amor, eu nunca vi nada demais.
- Aaah tá, me admira você, um homem esperto nunca ter percebido nada.
- Pois não, eu não percebi e ainda acho que é coisa da sua cabeça. – ele pega na minha
cintura e me deita sobre ele novamente roubando-me um beijo. – Mas eu não quero falar
sobre isso.
Ele desce os seus beijos pelo meu pescoço e sua mão percorre todo o meu corpo nu sobre
o seu.
- Vamos aproveitar, pois amanhã temos que voltar. – diz baixinho no meu ouvido deixando
uma mordidinha ali.
- Uhuum.
Eu já estava completamente rendida e deixei que ele fizesse o que quisesse comigo… E
ele realmente fez.
Estávamos tirando o atraso de alguns meses que ficamos longe. O Rodrigo é tão
maravilhoso, ele me faz sentir a mulher mais desejada do mundo quando estou em seus
braços… Me faz sentir única e muito amada…
Meus olhos estão quase se fechando e o meu corpo está completamente relaxando em
cima do dele. Agora minha respiração já está um pouco mais regular, assim como a dele.
Já estava deixando o cansaço tomar conta do meu corpo quando eu ouço aquelas palavras
saindo de sua boca.
- Casa comigo?
Obrigo o meu corpo a reagir e abro lentamente os meus olhos, não acreditando ainda no
que ele tinha dito.
- O-o que você disse? – digo ainda um pouco sonolenta e obrigo o meu corpo a levantar.
- Isso mesmo que você ouviu, Sophia… Casa comigo?
Abro o maior sorriso do mundo e já posso sentir as lágrimas transbordando dos meus
olhos. Não respondo nada e capturo a sua boca em um beijo, ele leva a suas mãos
rodeando a minha cintura apertando-me com força em seus braços.
- Isso é um sim? – ele diz com sua boca ainda bem próxima a minha.
Eu só consigo olhá-lo. Eu acaricio o seu rosto e penso o quão sortuda eu fui de ter ido
naquele bendito almoço. De ter ido parar na casa de um cara arrogante, mal humorado e
muito gostoso. Sorrio com esse ultimo adjetivo. O quão sortuda eu fui de ele ter aparecido
na minha vida e ter me mudado tanto, de ter me ensinado a amar, ter me tornado mulher,
ter me feito a mulher mais feliz e completa do mundo quando estou ao lado dele. O quão
sortuda eu fui de ter o Rodrigo do meu lado. Ele foi o responsável por trazer aquela
Sophia sonhadora de volta a vida, os meus sonhos e vontades de formar uma família havia
morrido alguns anos atrás, mas tudo mudou quando ele apareceu.
E tudo que eu mais quero agora é me casar com ele e juntos, eu ele e o Gustavo,
formarmos uma família…
- Você ainda pergunta? É claro que eu aceito meu amor. – distribuo beijos por todo o seu
rosto e paro especialmente em seus lábios.
- Eu quero que seja o mais rápido possível. – diz assim que separo nossas bocas. – Que tal
semana que vem?
- Como assim, semana que vem, Rodrigo? Não dá pra fazer isso rápido assim, temos que
organizar tudo e…
- Como que você sonha o seu casamento?
- Eu sempre sonhei em me casar na praia, eu acho tão lindo e intimo…
- Então tudo bem. A gente casa na praia.
- Você está falando sério, Rodrigo?
- Claro que estou. Será que você consegue arrumar tudo em uma semana?
- E-eu não sei… Tem o vestido, a praia e os convidados, que da minha parte não são
muitos, mas tem você e…
- Da minha também não são…
- Tem também o Juiz de Paz e eu sei que isso demora e…
- Isso você deixa comigo que eu resolvo e a questão da praia também… Só ficará pra você
a responsabilidade do seu vestido e a decoração de tudo.
- Meu Deus Rodrigo isso é lou…
- Você acha que consegue fazer isso em uma semana? Eu peço pra minha mãe e a tia
Patrícia de ajudarem… Já que a Mila eu sei que fará isso de qualquer jeito.
- Bom… Se for assim, eu acho que dá.
- Então está tudo certo… – ele deixa um beijo rápido na minha boca e me faz deitar em
seu peito.
Não! Não está tudo certo. Ele não tem noção do quão trabalhoso é arrumar um casamento,
seja ele o mais simples possível?
Na verdade nem eu tenho, mas eu imagino.
Agora mesmo que eu não vou conseguir dormir pensando em tudo que eu tenho que fazer
pra dar tudo certo. Meu Deus! Eu não faço a menor ideia de por onde começar.


[…]

Hoje é terça-feira e acabamos de desembarcar no Rio. A nossa vontade era de ficar no Rio
Grande do Sul por uns dois meses mais ou menos, mas não podíamos. Não agora. Mas
quem sabe numa próxima.
Assim que o Rodrigo conseguiu pegar as malas dele, nós fomos direto para o ponto de
taxi.
Assim que chegamos na casa do Rodrigo e encontramos o Gustavo e a minha mãe a nossa
espera, assim como o Rodrigo havia pedido à minha mãe. Quando o Gustavo percebeu a
nossa presença, ele veio correndo de encontro ao Rodrigo, que o pega nos braços com toda
força.
- Oh meu filho, eu senti tanto a sua falta. – o Rodrigo acaricia os cabelos do Gustavo, que
não desgruda dele um minuto sequer. – Me perdoa por ter sumido por tanto tempo.
A voz do Rodrigo falha, mas ele não se entrega ao choro.
- Eu senti muito a sua falta, papai. – diz e leva o seu olhar ao do Rodrigo. – Você me disse
que não ia demorar pra voltar, mas demorou.
- Eu sei, meu filho, me desculpa. Eu prometo que nunca mais faço isso. – o Rodrigo volta
a abraçá-lo fortemente e dessa vez eu vi uma lagrima escorrer. – Me desculpa.
O Gustavo levanta o corpo e olha para o pai.
- Tudo bem, papai, não precisa chorar. – diz e passa suas mãos no rosto do Rodrigo para
limpar as suas lágrimas. – Eu sabia que você ia voltar.
O Rodrigo o abraça com mais força e deixa um beijo em seu rosto.
- Você só sentiu falta do papai, Gus? E de mim, não? – digo com uma falsa tristeza.
O Gustavo levanta o seu corpo, olha para mim e depois olha para o Rodrigo que ri para ele
e diz.
- Eu acho que a mamãe ficou com ciúmes.
O Rodrigo vem até a mim e passa o seu outro braço envolto do meu corpo, levando-me de
encontro ao seu. O Gustavo leva a sua mão ao meu rosto, acariciando-me com carinho.
- Não fica com ciúmes não, mamãe, eu também senti sua falta. – eu apenas sorrio e o
abraço fortemente.
O Rodrigo me envolve mais em seu abraço, sinto um beijo sendo deixado no topo da
minha cabeça e logo em seguida ele diz…
- Eu amo vocês…
[…]


Por Deus eu não perdi o meu emprego. Eu realmente achei que depois de sair sem dar
satisfação e ficar dois dias sem comparecer na loja, eu estaria no olho da rua. Mas a
Jessica me deu uma bela cobertura, ela disse que a Fabiola não tinha aparecido na loja no
fim de semana e na segunda ela não perguntou por mim. Eu acabei explicando a ela o
motivo do meu desaparecimento do trabalho e foi ai mesmo que ela me deu a maior
cobertura.
Ontem já chegamos jogando a noticia do nosso casamento para todos, eles lógico acharam
meio louco esse casamento tão rápido assim. Só tínhamos quatro dias para organizar tudo
e por sorte a tia Patrícia e a Julia tem uma amiga dona de buffet e a parte da comida e a
arrumação já estava praticamente resolvidos. A Camila também fez questão de participar
dessa parte e eu super confiei nela pra isso, pois ela conhece o meu gosto.
Só faltava o meu vestido.
- Então Sophia, já foi passado pra mim que o casamento é no sábado agora e que você está
desesperada atrás de um vestido. Deixou o principal pra ultima hora, foi mocinha? – diz a
estilista que vai fazer o meu vestido.
A dona Julia, minha futura sogra, e a minha mãe vieram comigo para me ajudar a escolher
o vestido.
- Não… – digo sorrindo. – O que acontece é que o noivo é um pouco apressadinho e não
quer esperar mais nenhum dia pra se casar. – digo divertida.
- É que o meu filho é um pouquinho impaciente. – completa a Julia nos fazendo rir.
- Nossa! Isso sim é amor e muita vontade de te ter ao lado dele.
- Põe vontade nisso. – diz a minha mãe.
A mulher à nossa frente sorri.
- Então vamos lá, o que você tem em mente? – pergunta a mim.
- Bom, o casamento será na praia. Então, eu não queria aqueles vestidos extravagantes,
sabe? Eu queria algo praiano, mas ao mesmo tempo não muito.
- Huum entendi… – ela diz pensativa e pega um papel, um lápis e começa a fazer traços e
mais traços nele.
Conforme ela ia desenhando, ela me perguntava o meu gosto, se eu queria decote ou não e
por ai vai.
No final, o resultado ficou lindo… Pelo menos no papel.
- O que você achou?
- Eu amei. – digo sorrindo.
- Aqui no caso eu não exageraria no decote da frente, pois já terá o de trás. – diz me
mostrando os dois lados do vestido.
- Não. Está ótimo! Perfeito. Eu acho que nunca imaginaria um vestido assim.
- Ah que bom que gostou. Vamos tirar as medidas, então?
- Vamos.
Levanto-me e ela abriu uma gaveta da sua mesa, tirou uma fita métrica. Ela mediu o meu
busto, cintura e quadril.
Eu estou muito nervosa e ainda não acredito que isso está acontecendo. Nervosa por achar
que não vou conseguir fazer todas as coisas até sábado, que o buffet não vai conseguir
chegar em Arraial do Cabo, pois é lá que será o casamento. O Rodrigo tem uma casa lá
também. E sem pretensão nenhuma, ele vai conseguir realizar dois dos meus sonhos de
uma vez só: o casamento na praia e conhecer aquela cidade, pois o meu sonho sempre foi
ir pra lá, onde pra mim, tem as praias mais lindas do Rio.
- Então Sophia, eu preciso que você venha aqui amanhã pra fazer a prova do vestido.
- Nossa, mas ele já vai estar pronto amanhã? – pergunto espantada.
Eu sei que o casamento é só daqui a quatro dias, mas eu não esperava que ela deixasse o
vestido pronto em um dia.
- Sim, eu já vou mandar as suas medidas e o desenho agora mesmo para as costureiras
começarem o trabalho. E se tiver algum ajuste pra fazer nós fazemos amanhã mesmo para
que na sexta-feira ele já esteja em suas mãos.
- Tudo bem, amanhã eu estou aqui novamente.
Levanto-me, me despeço dela e me retiro do seu ateliê. A sorte é que ele é localizado no
Shopping, então eu ainda posso aproveitar essas meia horinhas do meu horário de almoço
e comer algo, pois estou morta de fome.
- Minha querida, agora eu tenho que ir, pois tem algumas coisas do buffet que nós temos
que acertar com os organizadores. Mas não se esqueça que amanhã eu passo aqui de novo
para a gente ir fazer a prova do bolo e escolher as comidas.
- Tudo bem, Julia, qualquer coisa, me liga.
- Okay. – ela me dá um beijo no rosto e fala antes de sair. – Fica bem.
- Fica com Deus, minha filha. – diz a minha mãe e me abraça, deixando um beijo no meu
rosto.
Elas se foram e me deixaram louca no meio desse Shopping, sem saber o que fazer. Não
tenho muito tempo pra comer, então não vou em nenhum restaurante, pois eu sei que vai
demorar muito. O que eu queria mesmo era comer um hambúrguer do Mc Donalds, mas
eu não quero engordar se não eu não entrarei no vestido… Mas… Se eu comer um só não
vai fazer diferença, né?
Vou até o Mc Donalds mais próximo e acabei pedindo um Mc lanche feliz, pra não ficar
com a consciência mais pesada do que ela já estava, e no lugar do sorvetinho de sempre eu
acabei comendo as maçãs que vieram. Guardo o brinquedinho dentro da bolsa, pois eu
sabia que o Gus ia amar, e volto para a loja.

[…]


Meu deus! É amanhã, eu nem estou acreditando que isso realmente vai acontecer. Eu vou
me casar!
Já estávamos todos na casa do Rodrigo aqui em Arraial. As praias são ainda mais lindas
do que nas fotos. A casa do Rodrigo é realmente na praia, você abre a porta da sala e o seu
quintal é a areia branquinha, logo em seguida vem o mar com águas incrivelmente azuis.
Mas aqui é um pouco mais abandonado, digamos assim, pois não fica quase ninguém
nessa área da praia.
Tínhamos acabado de chegar e ao invés de ver a casa, eu preferi dar uma volta na praia
com essa vista maravilhosa para ver se eu consigo me acalmar. Chego bem perto da água e
deixo que a mesma molhe os meus pés.
Só de pensar que eu quase perdi tudo isso, chega me dar um aperto no peito.
- Está nervosa, amor?
Assusto-me com a voz do Rodrigo e dou um pequeno pulo, mas logo sinto os seus braços
envolvendo a minha cintura e seu rosto bem próximo ao meu pescoço cheirando-o e como
sempre, me provocando arrepios.
- Um pouco. – digo abraçando os seus braços e me aconchegando mais neles.
- Está pensando em que?
- No quão tola eu fui por ter te tirado da minha vida por algo que, na verdade, nenhum de
nós dois tivemos realmente culpa. – me viro e beijo sua boca. – Não me perdoaria nunca
se tivesse te perdido pra sempre.
- Esquece isso, amor. – diz e tenta inutilmente tirar os meus cabelos do meu rosto, que são
insistentemente bagunçados pelo vento. – Qual a parte do recomeçar do zero e esquecer o
passado, você não entendeu? – deixa um selinho rápido em minha boca e sorri de lado.
- Desculpa, mas é que é inevitável.
- Tá, mas vamos prometer que a partir de hoje, não vamos mais falar ou pensar sobre isso.
- Tudo bem… Já até me esqueci. Do que estávamos falando mesmo? – digo soltando uma
gargalhada e ele me acompanha.
- Estávamos falando do quanto eu estou ansioso para ficarmos só nós dois, pois com essa
casa cheia eu não posso fazer o que eu quero fazer com você. – ele diz e morde a minha
orelha de leve.
- E o que você quer fazer comigo, em? – passo os meus braços pelo seu pescoço e busco o
seu olhar pra mim.
- Não vou falar. Surpresa para a Lua de Mel. – ele leva as suas mãos e aperta de leve a
minha bunda fazendo-me soltar um leve gemido.
- Huuum… Não faz isso, Rodrigo.
- Aaah faço. Faço sim… – sinto sua língua passando lentamente pelo meu pescoço e um
beijo de leve sendo deixado ali. Fiquei ainda mais arrepiada.
- Rodrigo… – gemo de leve o seu nome e ele solta uma gargalhada rouca no pé do meu
ouvido, que piora mais ainda a situação. – Eu vou mandar todo mundo embora e você faz
logo o que tem que fazer.
- Que isso, amor! Não se apresse, nós temos todo o tempo do mundo.
- Mas você já me deixou excitada e eu quero que você me mostre tudo que quer fazer
comigo, agora.
- Não mesmo… – ele diz e nega com a cabeça.
- Não acredito que você vai fazer isso.
- Eu quero esperar até termos nós dois apenas em casa. Eu não quero você poupando
gemidos…
Ele dizia tudo no modo: “Rodrigo sensual e molha calcinha” ligado. Isso dificultava
mais ainda a minha situação.
Eu já apertava as minhas pernas uma na outra tentando me aliviar de alguma forma, o que
devo dizer, foi inútil. E pra acabar mais ainda comigo, ele me beija. Suas mãos sobem
novamente para a minha cintura, levando-me para mais próximo dele e a sua outra mão
segura a minha nuca. O Rodrigo passa a sua língua de leve na minha boca fazendo com
que eu a abra, dando espaço para que ele me invadisse com a mesma. Nossas línguas se
enroscam uma na outra e pra piorar mais a situação entre minhas pernas, ele começa a
fazer um tipo de dança erótica com elas o que me faz soltar um leve gemido entre o beijo.
Aproveito mais alguns segundos e antes de nos separarmos ele morde o meu lábio inferior
de leve e logo em seguida dá uma leve chupada no mesmo.
- Eu te amo, minha morena…
- E eu nesse momento te odeio.
Ele solta uma gargalha, joga a cabeça pra trás e depois toma a minha boca na sua
novamente.

[…]





33° CAPÍTULO
Sophia
Finalmente chegou o grande dia. O dia do meu casamento.
Vou realizar um sonho que ficou por tanto tempo adormecido dentro de mim, na verdade
esquecido mesmo. Eu não queria mais saber de homem nenhum na minha vida, pra mim,
qualquer homem que encostasse-se a mim seria para me machucar. Mas com o Rodrigo foi
completamente diferente. Ele foi o único homem que eu, em momento nenhum, me senti
ameaçada perto. Muito pelo contrário. Desde o inicio ele me passava total confiança, o
jeito como ele ama e cria o meu filho como se fosse dele, o que de fato eu acho que passou
a ser, pois a partir do primeiro dia em que eles se viram e o Gustavo o chamou de pai, sem
ao menos o conhecer direito. Essa ligação que os dois têm um com o outro é muito linda.
O Rodrigo inclusive disse que faz questão de, depois que passar o casamento, entrar com
um processo na justiça para adotar o Gustavo e passar o seu nome pra ele. Eu não ousei
discordar, pois eu sabia que ele não iria desistir e eu também não me importei. Eu fiquei
bem feliz em saber que ele queria que o meu… quer dizer, nosso filho tenha o sobrenome
dele. Ele disse que uma das muitas razões para ele querer essa adoção é que ele não quer
que o Gustavo se sinta diferenciado dos irmãozinhos que virá por ai. Isso foi ele que disse.
Irmãozinhos… Meu Deus! Pra mim, só mais um filho está ótimo, mas estou vendo que se
for pelo Rodrigo, montaríamos um time de futebol.
- Sophia, mulher! Vem colocar o vestido. – diz a Camila já desesperada.
Passamos a tarde inteira em casa nos arrumando, elas contrataram um spar para vir aqui e
fazer todo o trabalho. Eu nunca fiquei tão relaxada em toda a minha vida. Quero me casar
mais vezes pra ter esse tipo de tratamento.
O Rodrigo ficou o dia inteiro com o Gustavo e os outros homens da casa se arrumando,
eles ficariam responsáveis por arrumar o Gustavo, que levará as alianças, e eu já cansei de
pedir pra Julia e minha mãe irem ver o que eles estão fazendo com o meu filho, pois se
depender do Rodrigo, o Gustavo vai de sunga. Se ele falar que não quer colocar o terninho
o Rodrigo não vai obriga-lo a colocar o terninho. Ele tem um coração muito mole quando
se trata do Gustavo.
Quem diria! Rodrigo Albuquerque com um coração mole. Se me dissessem isso há um
ano e meio, quando eu cheguei àquela casa, eu não acreditaria.
- Anda Sophia, o Rodrigo vai ficar louco se você demorar mais um minuto.
- Ai! Tá! Tá! Estou indo.
Levanto-me da cadeira e olho pela ultima vez a leve maquiagem feita em minha pele e não
pude deixar de sorrir tamanha era a minha felicidade.
Retiro o roupão e vou até a Mila e a tia Patrícia que estavam com o vestido em mãos para
me ajudar a vestir. Demorou um tempinho, mas conseguimos colocar o vestido sem borrar
a maquiagem.
- Você está linda, Soph, mas não se vira ainda que vou colocar isso em você. – diz a tia
Patrícia.
Ela vai até a mesa no canto do quarto, pega um potinho em suas mãos, que depois eu fui
ver que continha flores dentro. Ela mexe nos meus cachos, pois sim eu fiz questão de
deixar o meu cabelo natural, que por uma obra divida de Deus os meus cachos hoje
estavam especialmente lindos. Eu achei que super combinou com o clima praiano do
casamento e eu não queria deixar nada muito artificial demais, eu queria tudo simples.
Ela distribuía as pequenas flores, uma por uma pelo meu cabelo enquanto a Camila
arrumava a pequena caldo do meu vestido.
- Agora pode se virar.
Com um pouquinho de tremedeira nas pernas, eu me viro, dando de cara com uma Sophia
nunca vista por mim, antes. Eu estou me achando a noiva mais linda do mundo nesse
momento. O vestido não poderia ser mais lindo, eu acho que nem se eu idealizasse todos
os tipos de vestidos não daria nesses, ele ficou perfeito. Ele é todo delicado e ao mesmo
tempo em que tem uma pegada um pouco praiana, pelas rendas que o revestia, ele era
sofisticado, por conta do enorme decote nas costas. A estilista conseguiu superar todas as
minhas expectativas de vestido perfeito para essa ocasião… Todas.
Eu não consigo parar de me olhar.
Isso parece até ser um sonho… Na verdade, nem nos meus sonhos mais fantasiosos eu me
imaginei assim.
Sinto uma lágrima escorrendo pelo meu rosto e eu imediatamente a seco, pois eu sei que
quando elas começam a descer é difícil parar.
- Vamos amiga, já está na hora. – diz a Mila com o buquê nas mãos e um enorme sorriso
no rosto.
- Vamos. – pego o buquê de suas mãos e antes que eu possa ir, ela me para.
- Eu estou tão feliz por vocês. Você sabe que eu mais do que ninguém torci por isso que
vai acontecer aqui agora. Torci pela felicidade de vocês. Antes de vocês se conhecerem a
minha torcida era que você encontrasse um homem legal pra sua vida e de que ele também
encontrasse uma mulher que o aguentasse. Mas eu nunca imaginei que o que você
precisava estava nele e o que ele precisava estava em você… – diz e sorri. – Minha
irmãzinha e o meu segundo irmão protetor, juntos… Vocês encontraram um no outro o que
faltava em si… E eu vou te falar o mesmo que falei pra ele: Cuida bem do meu
irmãozinho, não deixe que nenhuma vagaba assanhada destrua esse amor lindo de vocês…
- Jamais vou deixar isso acontecer. Eu já senti o quão ruim é tê-lo longe de mim, não
quero nem pensar na possibilidade disso acontecer novamente… Demorou um pouco, mas
eu acho que consegui crescer como mulher, lógico que eu ainda tenho muito que aprender,
mas é aos poucos que conseguimos.
- É isso ai amiga. Agora me dá um abraço.
Sem pensar duas vezes abraço a minha irmã. Pois a Mila pra mim não é apenas uma
amiga, mas sim, irmã. Ela sempre esteve do meu lado quando eu precisei dela, uma das
poucas pessoas que conseguem descobrir o que estou sentindo apenas com o olhar e sabe
como ninguém me confortar. Mas que também não poupa esforços para me encher de
bronca e jogar a verdade nua e crua na minha cara quando é preciso. Eu acho que nem se
fossemos irmãs de sangue teríamos uma ligação tão forte como a que temos.
- Agora vamos logo que o Rodrigo está ficando maluco já. – ela diz limpando as lágrimas
do meu rosto e eu fazia o mesmo com ela.
- Vamos que eu não quero que ele venha me buscar pelos cabelos… Vai estragar toda a
magia do casamento a noiva entrando arrastada. – digo rindo e elas me acompanham.
- Aah pois não duvide da capacidade dele de realmente fazer isso.
- Mas eu não duvido mesmo não.
Saímos do quarto e descemos as escadas. Encontro o Douglas no pé da escada à minha
espera, ele que me levará até o Rodrigo.
- Vamos logo que o Rodrigo já está impaciente.
- Vamos. – digo nervosa. As borboletas em meu estomago aumentaram e minhas pernas
tremiam demais.
- Está muito linda, Sophia. – ele diz me olhando.
- Muito obrigada, Douglas. – agradeço um pouco envergonhada.
Olho ao meu redor e não vejo mais a tia e nem a Mila na sala, o que significa que elas já
foram para a praia. Ouço os primeiros acordes da musica Kiss Me – Ed Sheeran já do
lado de fora e o Douglas começa a andar.
Lembro-me que eu fiz questão de escolher a musica junto com ele, o que foi um pouco
complicado, pois ele não é muito de ouvir musica. Mas assim que nós ouvimos essa
musica, sabíamos que teria que ser essa.
Eu e o Douglas saímos da casa e já podia ver o sol se pondo, dando um charme a mais em
toda a arrumação linda que foi feita na praia.
Uma chão de madeira foi posto sobre a areia da praia, dando caminho para a pequena
cabana descoberta, onde há uma pequena mesa onde se encontra o Juiz de Paz e o Rodrigo
lindo em um terno branco. Posso ver agora a sua expressão relaxar ao me ver e seu olhar
tomou o meu pra si, tirando-me toda a atenção de qualquer coisa a minha volta. Eu só
consigo olhar pra ele apenas pra ele.
Andamos mais alguns metros de dentro de casa até chegar de fato a praia. Piso sobre a
madeira e agora a distancia que nos separava era pouca e nesse momento a vontade que eu
tenho é de correr para os seus braços, mas me contenho.
Pareceu uma eternidade o pequeno caminho até chegar a ele, mas assim que sinto suas
mãos nas minhas eu finalmente pude respirar em paz.
O Douglas diz algo antes de se retirar, que eu não fiz questão de prestar a atenção, pois
estava focada demais admirando a beleza desse homem a minha frente. Ao olhar os seus
lindos olhos da cor do mar, percebo que estão cheios de lágrimas e ao perceber isso, foi
impossível não derramar as minhas por completo.
Sinto as mãos do Rodrigo limpando o meu rosto delicadamente,porém não adiantou de
nada, pois as lágrimas insistiam em descer. Mas agora é por um motivo muito bom, eu
estou feliz. Eu estou prestes a me casar com o homem da minha vida. Sinto os seus braços
em minha cintura e o seu corpo se colando no meu. Ele não beija a minha boca, apenas me
abraça forte em seus braços e deixa um beijo no meu pescoço.
- Você está tão linda, meu amor… Tão linda. – suas mãos acariciavam de leve as minhas
costas nuas e aquilo de fato estava conseguindo fazer com que eu me acalmasse.
Posso ouvir alguns choros e umas palmas também. Algumas pessoas falavam algo como
“fofos”, “ai que lindos”, “que amor”. Mas eu não fiz questão de olhar pra ver quem era.
Afasto-me levemente do Rodrigo e o encaro. Posso ver o seu rosto também levemente
molhado. Eu sorrio e repito os seus gestos: seco o seu rosto.
- Podemos começar a cerimônia? – diz o Juiz, bem humorado, fazendo-me soltar uma leve
gargalhada.
- Sim senhor. – digo segurando firme na mão do Rodrigo e fazendo nos virar de frente
para o Juiz.
Ele sorri, acena e diz para os convidados se sentarem.
O Juiz lê um versículo da bíblia, diz algumas palavras para nós dois e não demora muito,
faz a bendita pergunta.
- Sophia Santos, você aceita o Rodrigo Albuquerque como o seu legitimo esposo?
Olho para o Rodrigo e sorrio apertando com força a sua mão.
- Sim.
- Rodrigo Albuquerque, você aceita a Sophia Santos como sua legitima esposa?
Ele repete os mesmo movimentos que eu fiz e diz.
- Sim.
- Então, que tragam as alianças.
O juiz anuncia e nessa hora o Gustavo aparece no final do corredor com uma cara um
pouco assustada e com uma almofadinha nas mãos. Ele dirige o seu olhar para o Rodrigo e
não desvia até chegar onde estamos. O Rodrigo se agacha perto dele, pega a almofada de
suas mãos e deixa um beijo em sua cabeça.
- Valeu filhão.
- De nada papai. – diz com um sorriso enorme no rosto.
Antes que ele saia eu deixo um beijo também em seu rosto e depois volto a minha atenção
para o Rodrigo. O Juiz faz um sinal para que o Rodrigo pegasse a aliança. E assim ele faz,
logo em seguida depositando a almofadinha sobre a mesa.
- Fique à vontade para dizer os seus votos, Rodrigo. – diz o Juiz.
O Rodrigo me encara por alguns segundos, segura na minha mão e respira fundo, agora
sem desgrudar os nossos olhos dos meus.
- Sophia… Meu amor. Eu quero que você receba essa aliança como uma das provas do
meu amor por você… E-eu tenho tanto, mas tanto o que te agradecer. Agradecer por ter
aparecido na minha vida e mesmo sem querer me mud… Na verdade não acho que você
me mudou… – ele diz pensativo e logo em seguida, solta um sorriso. – Não. Eu acho que
mesmo sem perceber, eu mesmo fui me moldando ao seu jeito, sem deixar o meu de lado.
– ele solta uma gargalhada e todos o acompanha. –Eu quero que você saiba que eu sempre,
sempre estarei do seu lado. Eu quero você todos os dias enfrentando tudo e todos os
problemas que tivermos, ao meu lado. Pois pra mim não existe vida longe de você, sem
você ao meu lado nada faz sentido pra mim. Eu te amo Sophia, nunca duvide disso. – ele
diz e enfia a aliança por completo.
- Nunca. – digo em um fio de voz.
As lágrimas caiam sem parar. Sinto os seus lábios na minha mão e o olho encontrando-o
quase do mesmo estado que eu.
- Sua vez Sophia. – diz o Juiz.
Seco o meu rosto um pouco e pego a aliança em minhas mãos.
Eu não tinha preparado os meus votos, foi tanta correria que eu me esqueci disso, mas eu
não poderia deixar de dizer tudo que estou sentindo agora.
Pego sua mão e aperto firme e ele logo retribui o aperto. Respiro fundo e por alguns
segundos fecho os meus olhos tentando me acalmar.
- Eu nunca pensei que um dia de fato eu estaria aqui me casando. Eu já havia perdido
todas as minhas esperanças e sonhos há muito tempo. Eu não acreditava mais em nada,
muito menos no amor de homem e mulher… Até você aparecer na minha vida. No
começo eu fiquei confusa. Eu não sabia o que estava sentindo, o que eu estava vivendo,
aquilo tudo foi muito novo pra mim. Mas aos poucos eu fui começando a entender todas
aquelas misturas de sentimentos, todas aquelas sensações que você provocava e provoca
em mim, todas as vezes que me olha… Todas as vezes que me toca. Eu entendi que eu
pertenço á você, só á você. Você foi o primeiro e único amor que eu vou levar pra vida
inteira… Eu já experimentei a sensação que é ficar longe de você. – paro um minuto e
respiro fundo tentando controlar a minha voz. – E é horrível, eu me sentia mal, parecia que
eu não era eu ,na verdade… E eu não quero nunca mais passar por isso novamente… Eu
agradeço muito por você não ter mudado nada, pois foi exatamente pelo seu jeito ogro e
meio arrogante de ser, que eu me apaixonei. – todos riem me fazendo rir também – Você
era exatamente tudo que faltava na minha vida… Na verdade eu acho que fui feita
especialmente pra você. Rodrigo você foi o meu primeiro e único amor e eu tenho certeza
de que, se eu não me casasse com você, eu não me casaria com mais ninguém, pois o amor
que eu sinto por você eu não sou capaz de sentir por ninguém mais e isso eu te afirmo com
absoluta certeza… Bom, estou vendo que estou falando demais já.
Digo e todos sorriem inclusive o Rodrigo que na mesma hora deixa uma lágrima cair.
- Mas uma ultima coisinha. Eu só quero te agradecer por tudo que você fez por mim…
Sim de novo. – digo sorrindo. – Pois eu sinto que nunca é o suficiente… – ele segura
firme minha mão e abaixa a cabeça chorando agora de verdade. – Eu quero que você
receba essa aliança como prova de todo o meu amor por você… Eu quero você do meu
lado, pra sempre e mais se nos for possível.
Assim que enfio a aliança por completo em seu dedo e deixo um beijo nele, repetindo os
seus gestos anteriores, eu sinto o meu corpo ser puxado rapidamente para o dele me
envolvendo em um abraço.
O Rodrigo não me beijou, apenas me teve em seus braços e eu entendi essa ação dele. Ele
me abraça forte e coloca sua cabeça em meu pescoço, com bastante dificuldade pelo fato
de ele ser maior que eu.
- Eu te amo tanto, Sophia. – sinto suas mãos passando carinhosamente pelas minhas costas
me fazendo arrepiar.
- Eu também… te amo… meu amor… muito. – eu dizia com um pouco de dificuldade por
conta das lágrimas.
Minhas mãos corriam lentamente pelos seus cabelos.
- Então… O noivo pode beijar a noiva, agora.
Ao ouvir isso, o Rodrigo levanta a sua cabeça e segura o meu rosto entre suas mãos
limpando de leve as minhas lágrimas que desciam. Eu tentava fazer o mesmo com ele. Ele
aproxima o seu rosto do meu e eu desço minhas mãos segurando de leve sua cintura. Sinto
seus lábios tocarem no meu, lentamente, e eu o abro dando passagem para a sua língua
entrar e ele faz com maestria.
O beijo foi lento e apaixonante, mas ao mesmo tempo também bem excitante. Não sei
quanto tempo ficamos ali, mas nos separamos quando ouvimos as palmas dos convidados.
Ele deixa um selinho de leve em minha boca.
Nos viramos para o Juiz, assinamos o livro e em seguida os padrinhos, o Douglas e a
Camila, fazem o mesmo.
Finalmente estamos casados.

[…]


Depois de cumprimentar todos os convidados, que a maioria eram familiares do Rodrigo,
os mesmo que estavam no Natal na casa da Mila: as primas e os tios. Da minha parte a
única convidada foi apenas a Jessica mesmo. Eu até chamei a Isabela, liguei pra ela
avisando do meu casamento e ela ficou muito feliz por mim. Eu e a Isabela ficamos um
pouco próximas depois do meu cárcere em sua casa. Não posso dizer que somos melhores
amigas, pois não somos, mas ela me pediu pra não afastar o Gus dela e eu não me
importei. Bem ou mal ela é tia dele e eu não vejo nenhum problema em deixa-la vê-lo. O
que não acontece com tanta frequência assim. O Rodrigo não gosta muito que eu sei, mas
ele também não fala nada.
A desculpa de ela de não vir era de que ela estava namorando o Marcelinho, o mesmo que
ajudou ela a me… Enfim, ela assumiu um compromisso com ele e por conta da ocupação
da UPP, eles não se encontram mais lá na Rocinha. Eu não perguntei mais nada sobre isso,
pois eu não quero ficar sabendo de coisas que eu sei que não acrescentará nada em minha
vida.
Enfim… Depois de falar com todos nós fomos para a festa, que seria aqui mesmo na praia
também.
A arrumação está linda, havia poucas cabaninhas montadas ao longo do espaço próximo a
casa e todos já estavam sentados, alguns nas cadeiras, outros em um dos pufes espalhados
por ali. Todos estavam sendo muito bem servidos e eu estou satisfeita por estar indo tudo
perfeitamente bem.
Eu estou muito feliz por ter conseguido realizar o meu sonho e melhor ainda, com o
homem que eu amo ao meu lado.
- Gostou amor? – diz ele baixinho no meu ouvido.
Nós estamos sentados juntos com algumas primas e primos do Rodrigo. Foi a ultima
cabana que fomos e ele resolveu ficar um tempinho por aqui e me fez sentar em seu colo.
E eu odiei, pois ele continuou me atiçando… E não. Ontem realmente não rolou nada, tipo
nada mesmo.
Enquanto ele conversava com as pessoas, sua mão subia e descia lentamente pelas minhas
costas nuas e aquilo estava começando a me deixar acesa. E depois que ele sussurrou em
meu ouvido então que piorou tudo.
- Sim amor, foi tudo maravilhoso. – deixo um selinho em sua boca. – Obrigada.
- Não precisa agradecer. – solta um sorriso malicioso e sua mão desce apertando a minha
cintura.
Posso sentir o seu membro começando a endurecer em minha bunda e isso é uma merda,
pois não podemos fazer nada aqui.
- Vamos sair daqui. – ele diz e eu entendi bem o porquê de ele quer sair. Mas agora ele
também vai ver.
- Nada disso. A gente não pode deixar os convidados assim.
- Podemos sim.
- Não podemos não.
Ele revira os olhos e aperta minha cintura novamente deixando um beijo em meu pescoço.
- Golpe baixo, Rodrigo. – sussurro em seu ouvido.
- Vão procurar um quarto, por favor. – como sempre a Camila.
Olho para ela e sinto o meu rosto queimar imediatamente, estavam quase todos que
estavam na cabana nos olhando com sorrisos bem maliciosos no rosto.
- É o que eu estou tentando fazer.
- Rodrigo. – o repreendo sentindo o meu rosto queimar mais ainda. O que fazem todos ali
rirem.

[…]


Todos já tinham ido embora, já era quase onze da noite. Algumas pessoas voltariam para o
Rio, outras, como a minha mãe, o Gus, a Mila, o Douglas, o Nando, a tia Patrícia e o
senhor Jorge, seu marido, ficariam em uma pousada da região. Ou seja, a casa todinha
para a gente até terça-feira, que seria quando voltaríamos para o Rio.
O Rodrigo queria arrancar o meu vestido inteiro de uma vez, mas eu não deixei. Se a Mila
souber que eu não usei a lingerie que ela me deu especialmente para essa ocasião, ela me
mata. Então eu entrei no banheiro e me tranquei nele. Segurei a minha excitação por um
tempinho, eu sei que vai valer muito apenar depois.
Resolvo tomar um banho rápido coloco a minúscula calcinha rendada branca, que devo
dizer, não tampa nada, e o sutiã da mesma cor, inclusive a cinta-liga, que é daquelas que
tampa mais a barriga do que a bunda, na verdade ela nem chega à bunda.
Me afasto um pouco, me olho por completa no espelho e devo dizer que gosto bastante do
que eu estou vendo.
Eu consigo ver a diferença da nossa primeira vez para o jeito que estou hoje. Eu sentia
vergonha de ficar completamente nua na frente dele no começo e agora estou eu aqui
vestindo uma lingerie super sexy e sem nem um pingo de vergonha. Muito pelo contrario.
A cada minuto que passa e eu estou aqui dentro eu fico mais excitada e morrendo de
vontade de saber o que ele quer fazer comigo…
Deixo os pensamentos de lado e vou até a bancada. Passo um pó compacto de leve no
rosto e só, não gastaria o meu tempo passando batom e outras coisas não. Já o meu cabelo
eu deixei exatamente do jeito que estava, nele eu não mexi.
Respiro fundo antes de abrir a porta e assim que a abro e entro no quarto não o encontro
mais ali. Olho para todos os lados e antes que eu possa chamar por ele, o mesmo abre a
porta e merda. Sério que ele vai fazer isso?!
- Assim você dificulta as coisas, Sophia. – diz ele lentamente e logo em seguida morde o
lábio me olhando de baixo pra cima.
Merda! Eu acho que acabei de ter um orgasmo agora mesmo, só com essa olhada.
Imagine agora.
Um homem de um metro e oitenta, lindo, gostoso… E fardado te olhando do jeito que ele
está me olhando.
Isso é pedi pra perder a lucidez.
Até armado ele estava. E quando eu falo armado é com uma arma de verdade.
Os seus braços estavam cruzados e ele começa a andar lentamente até a mim e
imediatamente o meu corpo começa a tremer. Eu posso jurar que a qualquer momento eu
cairei aqui no chão, pois minhas pernas não me aguentarão por muito tempo.
Assim que o Rodrigo chega à minha frente, ele não faz nada, nem sequer me toca, apenas
olha o meu corpo por completo outra vez. E ainda nessa postura imponente, ele dá a volta
no meu corpo e para nas minhas costas.
Ai meu deus!
Sinto as suas mãos passarem pela minha cintura e logo em seguida o seu corpo se encosta
ao meu, fazendo-me soltar um gemido por sentir sua excitação roçando em minha bunda.
- Sinto muito lhe informar… – ele diz e deposita beijos molhados pelo meu pescoço e suas
mãos acariciavam a minha barriga. – Mas a senhorita está presa.
- Aaah Rodrigo!
- É Senhor Delegado, pra você. – ele diz rígido e aperta mais o seu corpo contra o meu.
- O-okay. – eu já estou ofegante. E ele nem sequer me tocou lá.
- Okay o quê? – ele diz e morde minha orelha.
- O-okay senhor Delegado… Mas eu posso saber o por quê de eu estar sendo presa?
- Não! Não pode.
Ele diz e rapidamente me vira pra ele e toma a minha boca na sua violentamente. E eu
amo esse lado dele. É tão bom.
Suas mãos descem para a minha bunda e a aperta com força fazendo-me gemer em sua
boca.
- E o que o senhor… vai fazer… comigo, em? – pergunto ofegante.
Ele aproxima sua boca do meu ouvido e diz.
- Não sou de falar, sou de fazer.
Na mesma hora sinto suas mãos nas minhas pernas me levantando e eu enrolo as minhas
pernas em sua cintura e ele busca a minha boca novamente. Não demorou muito e eu senti
as minhas costas baterem no colchão macio da cama.
O Rodrigo esfrega a sua ereção na minha intimidade lentamente e eu gemo mais uma vez
em seus lábios. Suas mãos apertam com força as minhas coxas e eu tenho certeza que
ficaram marcadas depois, mas eu não me importo. Sinto suas mãos subindo pelo meu
corpo e ele retira os meus braços, que estavam envolto em seu pescoço, os colocando para
cima. De repente eu ouço um barulho de algo de ferro sendo fechada e logo em seguida
ouço novamente, só que agora sinto algo gelado em meu braço e quando separo minha
boca do Rodrigo e olho, posso ver que ele tinha me algemado na cabeceira da cama.
Não acredito.
Sem perder muito tempo ele pega o outro braço e faz o mesmo.
- Ro-rodrigo pra que… Isso. – falo com dificuldade, pois ainda estava bem ofegante.
- Pra você não me atrapalhar a fazer o que eu tenho que fazer.
Ele diz beijando o meu pescoço lentamente.
- Você vai me bat…
- Nunca faria uma coisa dessas com você. – diz agora me olhando. – A menos que você
me peça. - Diz e sorri maliciosamente.
Nunca pedirei, mas não falarei nada também.
O Rodrigo deixa um beijo rápido em minha boca e depois desce para os meus seios,
colocando-os para fora do sutiã e na mesma hora começou a chupá-los, um de cada vez.
Eu já me contorcia embaixo dele, estava agoniada com minhas mãos presas, eu queria
tocá-lo. Mas eu também tenho que admitir que é bem excitante.
Quando ele se sente satisfeito com os meus seios, ele desce seus beijos para a minha
barrica e para de frente para a minha intimidade. O Rodrigo passa a sua mão por ela e eu
me contorço de prazer. Eu estou á ponto de gozar e ele não fez nada praticamente.
O Rodrigo se ajoelha no chão à minha frente e puxa o meu corpo mais para a beirada da
cama, deixando-me completamente esticada. Sinto sua barba por fazer passar sobre minha
intimidade, ainda tampada pela calcinha, e mesmo assim esse contato me fez soltar um
alto gemido.
- Você está tão gostosa nessa lingerie.
Assim que ele acaba de falar, sinto minha calcinha sendo rasgada.
- Rodrigo. – digo o repreendendo.
Cacete isso foi caro.
Ele aperta com força a minha coxa e me diz sério.
- É Senhor Delegado pra você.
Não sei o que me deu, que só de ouvi-lo falando assim eu deixo um gemido alto sair de
minha boca.
Cacete ele só disse isso.
Que merda.
Sinto os seus dedos passarem de leve em toda a minha intimidade, logo me penetrando
com dois deles e depois sinto sua língua encostar-se ao meu clitóris. Eu já não conseguia
prender os gemidos e muito menos o meu corpo, que se contorcia sobre a cama. Minutos
depois, sinto os seus dedos, que me estocavam, sendo substituídos pela sua língua.
Começo a sentir algo vibrando fortemente em meu clitóris e eu não gemo mais, mas sim,
grito de prazer.
Obrigo os meus olhos a abrirem e tentar olhar o que ele estava fazendo e assim que vi, eu
entendi. Ele está com uma espécie de vibrador na mão sobre o meu clitóris, não era um
vibrador com formato de um membro, esse é diferente, não sei explicar, mas é diferente.
Não sei de onde ele conseguiu tirar isso, pois eu posso jurar que não vi nada em seus
bolsos. Mas também, em seus bolsos foram os últimos lugares no qual eu prestei
realmente atenção.
O Rodrigo mexia algumas vezes o vibrador em meu clitóris e sua língua me penetrava e
chupava com precisão.
- De-delegado… AAAAAAH!!!
Não consigo terminar, pois o meu orgasmo veio violentamente, fazendo todo o meu corpo
tremer sobre a cama. Fecho com força as minhas pernas e o Rodrigo retira o vibrador
dentre elas. O olho e posso ver o seu sorriso malicioso e safado estampado em sua cara e
desejo, muito desejo em seus olhos.
- Tão gostosa… Tão minha.
Sem desviar os seus olhos dos meus, ele retira o coldre de sua cintura jogando-o em
qualquer canto do quarto. Eu ainda estou tentando me recuperar do orgasmo que tive, mas
eu também não consigo não olhá-lo se despindo tão excitantemente pra mim. Ele leva as
suas mãos para a beirada da blusa de seu uniforme levantando-a lentamente, deixando os
seus maravilhosos músculos de fora. O Rodrigo desce sua mão e segura forte o seu
membro e solta um leve gemido, ele desabotoa a calça, a retira e junto com ela a sua bota
preta, ficando somente de boxer na minha frente.
- Ro-rodrigo… me-me solta. – minha respiração aos poucos voltava ao normal, mas ainda
está ofegante.
- Quem é Rodrigo aqui?
Diz sério.
Ele realmente não saia da fantasia um minuto.
- Senhor Delegado, me solta. Por favor.
Eu quero tocá-lo. Quero senti-lo e eu não quero fazer isso algemada.
O Rodrigo se abaixa e pega as chaves no bolso da calça. Ele se dita sobre mim e cola sua
boca na minha em um beijo lento, mas bom. Muito bom. Ele desgruda nossas bocas e se
senta na minha cintura, fazendo com que suas pernas ficassem uma de cada lado do meu
corpo, não deixando o seu peso cair sobre o meu corpo. Suas mãos vão até as algemas as
abrindo e me deixando livre, ele as joga em qualquer lugar e toma a minha boca na sua
novamente. Sinto suas mãos nas minhas costas e em seguida ele abre o sutiã e o retira de
mim, jogando-o longe.
Ele aperta os meus seios novamente com força, não chegou a doer, muito pelo contrário,
foi bem gostoso.
- Porra eu não aguento mais. Eu preciso de você… agora.
O Rodrigo diz cheio de desejo e sem me dar chances de dizer algo, ele se levanta e retira a
sua boxer. O seu membro salta para fora dela. Ele se coloca por cima de mim, gruda
nossas bocas e ao mesmo tempo sinto-o me preenchendo com facilidade, pois eu
realmente estou bastante molhada.
- Aaaah… – gemo logo após separar nossas bocas.
Ele sem esperar mais nenhum segundo me preencheu por completo e rapidamente
começou a me estocar. O Rodrigo segura a minha coxa com força e estocava cada vez
mais fundo. Ele diz coisas desconexas e safadas no meu ouvido.
Ele nos vira na cama e me faz ficar por cima dele. Percebi que ele gosta muito dessa
posição e não vou negar que também gosto. Sinto-me no controle. Começo a rebolar e ao
mesmo tempo a subir e descer em seu membro. O Rodrigo apertava com força minha
cintura, já posso sentir o meu orgasmo chegando novamente e começo a fazer os
movimentos com mais rapidez. Não demorou muito eu me desfiz em seus braços. O
Rodrigo também se desmanchou dentro de mim chamando o meu nome.
Deixo o meu corpo cair por completo sobre o dele e suas mãos envolvem minha cintura
em um abraço.
Ambos estávamos ofegantes e suados. Posso sentir suas mãos agora me acariciando
levemente.
- Eu Te amo, Sophia. – diz fazendo-me olhar em seus olhos.
- Eu te amo, Meu Delegado.


[…]



34° CAPÍTULO
Sophia
Cinco anos depois…
Finalmente conseguimos conciliar as nossas férias e pudemos viajar.
Resolvemos voltar para um dos lugares que mais marcou a nossa vida, Arraial.
Eu nunca mais vi e verei esse lugar, essa praia, essa casa, com outros olhos. Eu vou
sempre me lembrar daqui como um lugar mágico e muito especial no qual eu realizei um
dos meus sonhos… E fantasias também, devo deixar claro.
Consegui umas férias na clinica em que eu trabalho, pois sim eu finalmente consegui fazer
a minha faculdade de fisioterapia e inclusive já tenho um emprego, em uma clinica ótima
por sinal. Eu posso dizer que não poderia estar mais realizada na vida, como eu estou
agora. Eu finalmente tinha me achado em algo que me sentia bem fazendo e eu consegui,
apesar de alguns sacrifícios, terminar a minha faculdade. Foram quatro anos de estudos e
trabalho intenso, mesmo o Rodrigo não querendo que eu continuasse trabalhando na loja
eu não dei ouvidos a ele e continuei, pois eu usava aquele dinheiro para pagar a minha
faculdade. Naquela época era tudo muito cansativo, pois eu tinha que trabalhar, estudar,
dar atenção ao meu filho, marido e casa. Mesmo tendo a dona Maria, que ainda continuou
trabalhando conosco, eu não deixava de me preocupar com as coisas que tinha que fazer
em casa.
E eu não preciso nem falar que tinha que cuidar do Rodrigo, pois as mulheres atacam sem
pena. Até na época da faculdade quando ele ia me buscar as meninas ficavam todas
assanhadas, parecia que nunca tinham visto homem na vida, mas como todos sabiam que
ele era o meu marido, nenhuma delas tinham coragem de dar em cima dele… Bom… Eu
acho que não.
Por conta disso eu ficava bastante cansada, por sorte eu tenho um marido compreensível e
ele me entendia quando eu não podia, por conta das provas ou por estar muito cansada
demais, para sair com ele os finais de semana, ou às vezes até mesmo para o sexo. O
Rodrigo queria que eu parasse de trabalhar por conta do meu cansaço, muitas vezes eu
chegava em casa e só tinha tempo de tomar um banho e já caia na cama e dormia na hora.
Ele deixou claro várias vezes que pagava a faculdade pra mim sem problemas nenhum.
Mas apesar do cansaço que eu ficava todos os dias, eu me sentia bem assim, me sentia
bem tendo que trabalhar. Eu sei que quando a gente casa não tem mais essa de: “Essas
coisas são minhas e essas as dele”. Quando nós casamos não existe essa divisão, o que é
de um é de outro e fim. Mas eu gostava tanto da minha “independência” financeira que
acabava não ligando muito para o cansaço que essa carga horária louca me causava no
final do dia. E foi assim, nesse ritmo, que depois de quatro anos, eu consegui me formar
sendo a primeira da turma.
Eu me senti tão bem, tão realizada quando eu peguei o meu diploma nas mãos e vi que eu
finalmente me formei, vi que eu finalmente encontrei algo que eu gostava
verdadeiramente de fazer.
Por conta da faculdade, também, que adiamos os planos do segundo filho. Obviamente
que o Rodrigo não gostou muito da ideia, mas depois ele conseguiu me entender e
concordou comigo que não seria uma boa hora pra mim, por conta da faculdade. Eu queria
ter a minha profissão certinha pra depois pensar em mais filhos. Mas logo depois que eu
me formei, ele voltou com a história de filhos novamente, mas ai eu teria mais uma etapa
dessa jornada a cumprir, que era conseguir um novo emprego. Só que agora na minha
área. A fisioterapia.
Coincidência ou não, eu tive a oportunidade de trabalhar na clinica da Fisioterapeuta que
me ajudou na minha recuperação. Faz quase um ano que eu estou lá e posso dizer que eu
consegui aprender bastante coisa, não só com a Simone, como com os pacientes que eu
atendo.
Uns cinco meses depois de eu finalmente ter conseguido um trabalho na minha área, ele
voltou com essa ideia de filho e eu vou confessar que já estava me sentindo preparada pra
ser mãe novamente. Desde aquele dia eu parei de tomar os meus remédios, mas até agora
nada.
- Vem amor, já chegamos. – diz o Rodrigo tirando-me dos meus devaneios.
Olho ao redor e posso ver que estávamos na garagem da nossa casa em Arraial e as
lembranças daquele dia mágico novamente me invade.
- Vamos sim, amor, pega o Gustavo pra mim.
Ele abre a porta do carro, tira o sinto que prendia o Gus no banco e o pega no colo.
Resolvemos viajar a noite para aproveitar a praia logo cedo e o Gus acabou dormindo pelo
caminho. E pelo tamanho que ele está agora, eu não aguento mais pegá-lo no colo.
Também, são oito anos.
Quem olha o Gustavo assim nem diz que ele é aquele garoto de olhos azuis de cinco anos
atrás. Acredite se quiser, mas ele não tem mais os olhos azuis, eles agora são uma mistura
de mel com verde claro. Mas o cabelo continua o mesmo, só que mais um pouco curto,
pois com o passar do tempo ele foi se enjoando daquele cabelo jogado no rosto. Ele está
um rapazinho lindo. O Gustavo fica indignado todas as vezes que vê suas fotos de quando
era bebê e em todas elas ele está com aquelas bolotas azuis arregaladas e hoje em dia a
tonalidade de seus olhos está completamente diferente.
A minha mãe acha que com o tempo ele ainda vai mudar muita coisa em sua aparência,
que está apenas começando. Isso eu não sei, mas que ele está enorme e esperto, ele está.
Ele diz que quer ser policial igual o pai. Preciso dizer que o Rodrigo fica todo orgulhoso
com isso? Acho que não, né?
Desço do carro, abro o porta malas e tiro algumas malas de lá colocando-as no chão. Não
demora muito, o Rodrigo volta para a garagem e me ajuda com as malas e com algumas
poucas sacolas de comida que nós trouxemos.
Colocamos as malas na sala e eu levei as sacolas com as comidas para a cozinha. Minutos
depois o Rodrigo entra na mesma e vai direto para a geladeira, abrindo-a.
- Ah esqueci que não tem nada aqui… Estou morrendo de sede, amor.
- Coloca as garrafas de água que nós trouxemos, dentro do congelador pra mim, por favor.
Ela faz o que eu peço e eu me viro de frente para a pia para guardar as compras que
trouxemos. De repente sinto os braços do Rodrigo envolvendo a minha cintura.
- Está com fome, amor?
Ele deixa um beijo em meu pescoço e mesmo depois de alguns anos, ele sempre consegue
me deixar louca com apenas esse gesto. E eu agradeço muito por isso.
- Sim… Estou morrendo de fome. – ele morde de leve a minha orelha e aperta a minha
cintura. – Fome de você.
Ele me vira e busca a minha boca, solto o saco de arroz na pia e passo os meus braços pelo
seu pescoço trazendo-o para ainda mais perto de mim. Ele desce suas mãos para a minha
bunda e me levanta, colocando-me sobre a bancada. Suas mãos passavam lenta e
precisamente por todo o meu corpo, ele desabotoa o meu shorts e eu o paro cortando o
beijo.
- Aqui não, amor, o Gustavo pode acordar.
- Ele não vai. – busca a minha boca de novo e já ia enfiando a mão novamente dentro do
meu shorts.
- Rodrigo… – o repreendo, mas saiu mais como um gemido.
- Que porra! – ele desfere nitidamente raivoso e me pega em seu colo, o movimento foi
tão rápido que eu pensei que cairia e envolvi os meus braços novamente em volta de seu
pescoço.
- Está me levando pra onde?
- Pra porra do quarto. Eu preciso me enterrar fundo dentro de você.
Me beija sem parar de andar em direção as escadas. Ouço-o abrindo a porta e logo depois
trancando-a. Não demorou muito ele me jogou na cama e veio pra cima de mim beijando-
me, suas mãos exploravam todo o meu corpo o que me fazia ficar ainda mais excitada a
cada toque.

[…]


Sinto aquele gosto amargo na minha boca e tudo que eu pude fazer foi correr. Correr
muito para não sujar o quarto inteiro. Por sorte eu consegui chegar até o vaso e deixar o
vômito cair dentro dele. Não sei exatamente quanto tempo eu fiquei abaixada colocando
tudo o que eu havia comido para fora, eu só sinto as mãos do Rodrigo em meus cabelos,
segurando-os em um rabo de cavalo muito desarrumado. E depois uma de suas mãos
desce lentamente pelas minhas costas.
- Rodrigo sai da… – não consigo terminar de falar e vomito mais um pouco.
- Na saúde e na doença, lembra?
- Mas eu estou nojenta. – digo já me sentindo um pouco melhor.
Já não sentia mais o vomito querendo vir, mas continuo ajoelhada. Tampo o vaso e dou
descarga. Levanto-me de vagar, pois sinto uma leve tontura, mas logo minha visão volta
ao normal. Eu vou até a pia, pego a minha escova de dente e levando até a boca
escovando-os. Olho o reflexo do Rodrigo pelo espelho e não entendo o porquê daquele
sorriso estampado na cara.
- Posso saber por que você está rindo? Botei as tripas pra fora e você acha engraçado?
Ele vem até mim e assim que eu termino de lavar a minha boca ele abraça a minha cintura,
deposita o seu queixo no meu ombro e fala me olhando pelo reflexo do espelho.
- Relaxa, amor é só o nosso filhinho avisando que está chegando.
Ele passava agora as suas mãos lentamente sobre minha barriga fazendo-me arrepiar.
- Vo-você acha?
- Sim, morena, eu acho. – ele deixa um beijo no meu pescoço e continuava acariciando a
minha barriga. – Já faz tempo que a gente tenta.
- Você tenta desde quando me conheceu. – digo divertida fazendo-o rir.
- Bobinha. – diz me apertando em seus braços. – Mas é sério. Já faz tempo que você parou
de tomar o anticoncepcional e eu nunca uso camisinha.
- Amor eu… Eu não quero matar suas esperanças assim, eu sei o quanto você quer e o
quanto eu também quero muito esse bebê. Mas é que eu menstruei esse mês e o mês
passado também. Pode parecer pessimismo, mas é que eu não quero que a gente se apegue
novamente em falsas esperanças. Nós mais do que ninguém sabemos o quanto isso é
horrível.
- Eu sei que não, amor… – ele continuava com suas mãos acariciando a minha barriga –
Mas dessa vez é diferente.. e-eu não sei explicar, mas eu sinto… Eu só sinto.
Ele abaixa o seu olhar para a minha barriga, que pra mim esta exatamente do mesmo jeito
de sempre, e suas mãos continuavam acariciando-a. O Rodrigo disse com tanta convicção
que eu resolvi que tirar essa duvida amanhã mesmo, se eu pudesse faria hoje, mas já está
muito tarde.

[…]

Acordo e não vejo o Rodrigo ao meu lado. Olho as horas no celular e me assusto ao ver
que já são onze da manhã. Meu Deus! Eu dormi muito. Nem fiz o café da manhã, daqui a
pouco já está na hora do almoço, o Gustavo deve não ter comido nada.
Levanto-me da cama, vou até o banheiro e faço minha higienes. Faço um coque no meu
cabelo, troco de roupa colocando uma bermuda jeans e uma blusinha floral que deixava
uma parte da minha barriga de fora. Apesar do frio do ar condicionado da pra ver que o
calor do lado de fora está castigado, apenas pelo sol brilhando do lado de fora.
Arrumo a cama e depois vou até o quarto do Gustavo, mas ele não estava lá então. Desço
e também não os encontro na sala, vou até a cozinha e vejo a mesa ainda posta, parece que
o Rodrigo preparou o café.
Calço os chinelos e abro a porta da sala, que dá praticamente dentro da praia, e de lá eu
posso ver o Gustavo com uma sunga e o Rodrigo com uma bermuda fina, estilo surfista,
jogando bola, ou tentando, porque tinha uma biscate com o fio dental que eu acho que ela
chamava de biquíni, no corpo.
Não pensei duas vezes e fui andando até os dois. Bem quieta e séria.Quando eu estava
chegando próximo deles ouço o Rodrigo dizendo.
- Não sei se percebeu, mas eu sou casado. – ele levanta a mão e praticamente esfrega a
aliança na cara dela. – E se me der licença, eu quero continuar brincando com o meu filho.
- Mãe! Eu pensei que não ia acordar mais. – diz o Gus quando eu estava já bem próximo
deles.
O que fez o Rodrigo e aquela mulherzinha me olhar.
Ignoro a mulher do lado dele e dou um beijo no Rodrigo. Um beijo de verdade. Pra deixar
bem claro pra essa assanhada que ele tem dona.
Separo as nossas bocas, mas continuo abraçada a ele.
- Bom dia, amor. – digo olhando nos olhos do Rodrigo, mas logo depois eu viro para o
Gustavo e digo – Filho eu perdi a noção da hora, mas podia ter me acordado.
- O papai não deixou.
Volto minha atenção para o Rodrigo e a Mulher, que estava ao nosso lado agora com uma
cara azeda e completamente sem graça.
- Oi desculpa, não te vi. – tentei fazer a melhor cara de sonsa e sorri, claramente falso,
para ela. – Você é a?
- Joyce.
- Algum problema aqui Joyce, perdeu algo no meu marido?
- Não eu…eu só estava pedindo informação… é..é que eu não sou daqui.. e como eu vi ele
saindo daquela casa pensei que…
- Pensou errado, o meu marido não é guia turístico… Tantos quiosques pela praia, ali
mesmo tem um. Por que não foi até lá?
- E-eu não sabia que ele era casado. – ela praticamente assumiu que estava dando em cima
dele.
Como se eu já não soubesse.
- Impossível, só um cego não vê essa enorme aliança na mão dele. – digo mostrando a
mão do Rodrigo.
Posso ouvir uma pequena risada do Rodrigo e eu me viro pra ele com a cara feia e ele
rapidamente fica sério.
Ridículo! Se não fosse tão gostoso eu não teria esse problema.
- Espero que esteja bem claro pra você agora que ele é casado, muito bem por sinal, e que
ele não é guia turístico, não tem necessidade de você ficar vindo aqui e perguntando isso
ou aquilo. – seguro na mão do Rodrigo e começo o arrastar, mas antes que eu saia de fato
de perto dela eu volto. – Ah e da próxima vez que eu ver você dando em cima do meu
marido, pode ter certeza de que eu não serei tão educada.
Ela ficou lá com aquela cara de puta azeda e eu fui puxando o Rodrigo e com isso o
Gustavo veio atrás.
- Hey, calma amor. – diz assim que chegamos ao quintal de casa.
- ESSAS MULHERES NÃO TEM VERGONHA NA CARA NÃO? – tudo que eu não
gritei pra biscatezinha eu vou gritar pra ele.
Ele é o culpado, ninguém manda ser tão irresistível.
- Eu falei que ela não ia gostar, pai. – o Gustavo falava aquilo com um sorriso no rosto.
- O que ela queria?
- Ah amor ela… Ela me chamou pra ir no quiosque tomar um suco com ela. Mas eu logo
cortei e disse que eu não queria, pois eu sou casado e só tenho olhos para a minha linda
esposa.
Ele diz lentamente e passa os braços pela minha cintura e começa a me beijar.
- Ai que nojo… – ouço o Gustavo falar e não aguento e me solto começando a ri.
Quando vou ver, ele nem esta mais do nosso lado.
- Acredita em mim, né?
- Claro que acredito… Mas essas mulheres me deixam loucas de raiva, elas fazem isso de
proposito. Até um dia eu de fato descer do salto e enfiar a mão na cara de uma.
Eu sei que nem todas são assim, tem mulheres que sabem respeitar um homem casado e a
sua esposa. Mas têm outras que, quanto maior for a aliança no dedo dele, maior é o
interesse. E isso me tira do sério. Eu sei quando uma mulher quer algo com o meu marido
ou não. E não, eu não faço isso com todas as mulheres que chegam perto dele, mas tem
algumas que merecem.
Ele sorri jogando a cabeça pra trás.
- Não sei qual a graça.
- Eu amo os seus ciúmes, sabia? – diz beijando o meu pescoço.
- Rodri…
- Aah! Vem cá. Eu tenho uma coisa pra você. – ele pega na minha mão e me leva para
dentro de casa.
Passamos pela sala e vi o Gustavo sentado no chão brincando com o seu tablet.
O Rodrigo me leva para o quarto, vai até o banheiro e volta com uma sacola nas mãos.
- O que é isso?
- Pra gente ter certeza que o nosso bebezinho está ai dentro.
- Onde estava que eu não vi? Quando você comprou isso?
Vou até ele e pego a sacola de suas mãos e abro vendo vários testes de farmácia lá dentro.
- Enquanto você estava dormindo e eu guardei no armário… Agora vai lá anda.
Ele diz me empurrando para o banheiro e entrando comigo.
- Sério que você vai ficar aqui, amor?
- Qual o problema?
- O problema é que eu não quero que você me veja fazendo xixi dentro de um potinho.
- Ah Soph para, estamos casados há tanto tempo, já te assisti fazendo coisa pior.
- Eu não vou conseguir fazer xixi com você me olhando, vou me sentir sob pressão.
- Aaaah tá bom… Mas não demora.
Ele sai e deixa a porta encostada.
Abro todos os testes e leio a bula de cada um, depois eu pego dois deles e faço.
- Amor, acabou? – diz o Rodrigo entrando no banheiro.
- Calma, tem que esperar alguns minutinhos agora.
O Rodrigo passa as mãos pelos cabelos apressadamente, bagunçando-os de leve. Ele está
nervoso.
Os minutos se passaram, eu fui até a bancada e peguei os testes.
E de acordo com a bula de cada um deles… Eu estava grávida.
- Vai Soph, fala… O que esses dois pontinhos ai significa? – Ele estava nervoso e sem
paciência atrás de mim.
Viro-me de frente pra ele e posso sentir os meus olhos cheios de lágrimas sorrio para ele,
que imediatamente entende e me abraça fortemente.
- Eu sabia, eu sabia, amor. – posso sentir sua voz embargada e sei que ele também está
emocionado.
O Rodrigo se ajoelha na minha frente e começa a beijar a minha barriga amostra.
- Meu Deus… Grávida! Você está grávida. Tem um bebezinho aqui dentro. – ele a essa
altura já chorava muito, passava suas mãos sobre minha barriga e beijava toda ela. –
Nosso outro filho… Aqui dentro… Obrigado, muito obrigado.
Ele se levanta, me abraça forte e eu não conseguia retribui. Eu apenas chorava… Chorava
de felicidade e um pouco surpresa também. Eu realmente não imaginava que estava
grávida, por mais que eu quisesse, eu não imaginava que já tinha um bebê aqui… Dentro
de mim.
Agora eu consigo entender por que eu tive que passar por tudo que passei. Por que eu tive
que perder uma parte de mim pelo caminho. Porque ainda não era a hora certa. Aquele não
era o momento certo. Mas agora é, eu sinto que é. Eu me sinto mais preparada, o meu
psicológico está bem pra gerar uma outra criança agora. O que naquele momento, no meio
daquela loucura toda, eu de forma nenhuma estava.


[…]

35° CAPÍTULO
Sophia
Algumas semanas depois…
Já faz duas semanas que voltamos para casa e contamos a noticia da gravidez para a
família.
E qual foi a minha surpresa em saber que a Mila também estava gravida e de três meses?
Nós não sabíamos se chorávamos ou se sorriamos com a surpresa.
Faz mais ou menos um mês que eu descobri que estou grávida, ainda não fui ao médico,
na verdade irei hoje, na mesma médica que a Mila vai, por sinal. Eu não sei ainda de
quantos meses eu estou, mas devo dizer também que já estou me sentindo um pouco
inchada, não chega a ser igual a barriguinha da Mila que já está bem aponta, mas já
começo a me sentir um pouco maior. Com isso também tem o enjôos, que não me deixam
em paz. Eu já não aguento mais, eu vomito praticamente o dia inteiro é só eu sentir um
cheiro um pouco mais forte que já coloco tudo pra fora.
O Rodrigo e o Gus não desgrudam mais da minha barriga. Eu pensei que o Gustavo iria
ficar um pouco enciumado, afinal de contas ele sempre foi o único filho e a atenção era
praticamente toda, se não toda, pra ele. Mas ele ficou tão feliz em saber que teria um
irmãozinho ou irmãzinha. E eu também fiquei muito feliz em saber que ele levou isso
numa boa. Ele quer ficar tocando na minha barriga toda hora pra saber se o bebê está bem,
ou se ele está mexendo ou não. Apesar de eu já ter dito pra ele que está muito cedo para o
bebê se mexer.
Estou vendo que essa criança vai ter dois protetores ao lado. O irmão e o pai, dois babões.
Fico imaginando se for menina. Meu Deus! Mas ela vai sofrer demais com o pai que tem.
- Mãe, eu posso ir pra piscina? – volto minha atenção para o Gus que esta no topo das
escadas.
- Claro filho.
Ele some das minhas vistas indo em direção ao seu quarto.
Me levantodo sofá e vou até a cozinha encontrando minha mãe e a dona Maria preparando
o almoço. Minha mãe não mora com a gente, ela queria continuar na favela, disse que não
queria atrapalhar a nossa vida morando aqui, mas o Rodrigo não deixou ela ficar lá, e com
o seu poder de persuasão ele conseguiu convencê-la a voltar para o apartamento em que
morávamos. Mesmo ela tendo a sua pensão, eu sempre a ajudo com algum dinheiro a
mais, por mais que ela não me peça nenhum real, eu sei que um dinheiro a mais sempre
ajuda.
Conseguimos pagar pra ela finalmente a operação para o seu joelho há algum tempo já, e
ela está novinha em folha, está até pensando em voltar a trabalhar.
Apesar de eu ainda estar de férias e poder cuidar muito bem do meu filho, essa semana ela
vem pra cá praticamente todos os dias, é ela que toma conta do Gustavo, pois a Maria é
paga somente para tomar conta da casa. Eu até tentei pagar minha mãe por isso, mas ela
diz que cuidar do neto não é nenhuma obrigação e sim um prazer. Então não vai ser eu que
vou querer arrumar uma briga com a dona Marta por causa disso.
- O que vocês duas estão fazendo ai, em? – pergunto me sentando á mesa.
- Lasanha, filha.
- Huum mãe, o cheiro está delicioso.
Agradeço por não me enjoar dessa vez. Pois eu amo lasanha e minha boca já está cheia
d’água só de sentir esse cheirinho.
- O Rodrigo chega que horas?
- Ah mãe, 12:30 mais ou menos ele está chegando.
- Que horas é a consulta?
- 14:00 horas, vamos terminar o almoço e ir direto pra lá.
Ela acena a cabeça e volta a sua atenção para a panela.
- Querem alguma ajuda ai? Estou entediada aqui sem fazer nada.
- Não precisa, filha, está tudo certo aqui, nós duas estamos dando conta.
Respiro fundo e coço a cabeça.
Como eu queria estar trabalhando. Minhas férias de fato só acabam semana que vem, no
mesmo dia em que o Gus voltará às aulas, por sinal. Já o Rodrigo voltou ao trabalho bem
mais cedo, assim que chegamos de viagem, no dia seguinte, ele já voltou para a delegacia.
- Mãe, fica na piscina comigo? Não gosto de ficar lá sozinho. – diz o Gus entrando na
cozinha.
- Claro meu filho, vou sim. Vai indo que eu vou colocar um biquíni e já volto.
- Tá bom. – ele sai com um sorriso enorme no rosto e eu sorrio com isso também.
Vou para o quarto e escolho um dos biquínis novos que eu tinha comprado, mas não havia
usado na viagem. Opto por um biquíni branco na parte de baixo e azul, com um bojo
confortante, na parte de cima e pego uma bermuda jeans, apenas pra não ter que subir isso
tudo depois.
Chego na piscina e já encontro o Gustavo dentro dela só que na parte rasa, colo o shorts
em cima da cadeira de tomar sol e sento na borda da piscina próximo a ele, deixando os
meus pés molharem na água. Faço um coque no meu cabelo para não molhá-lo e logo
sinto o Gustavo nadando perto de mim e não demorou muito ele coloca a sua cabeça para
fora da água e sorri pra mim. Ele vem para o meio de minhas pernas, abraça a minha
cintura e deixa um beijo de leve na minha barriga.
- Eu não vejo a hora da minha irmãzinha nascer.
- Mas a gente ainda nem sabe o sexo, Gustavo e nem dá pra ver. – sorrio alisando os seus
cabelos.
- Mas é uma menininha sim. Eu sei.
- Mas você não gostaria que fosse um menino? Pra brincar com você?
- Ah mãe, se for eu vou amar ele também, mas eu queria que fosse uma menina.
Ele se separa de mim e me olha.
- Pra falar a verdade eu também. Já tenho um homenzinho. – digo apertando suas
bochechas e ele revira os olhos como sempre. – Agora pra completar seria legal se fosse
uma menina.
- O meu pai vai ficar louco de ciúmes. – ele diz rindo. – Ainda mais se ela for linda igual a
senhora.
- Nem me fale Gus. Tadinho desse bebê se for uma menina.
Nós sorrimos, demos o assunto por encerrado e ele me puxou para dentro da piscina de
vez.
Ficamos ali a manhã inteira, eu sempre ficava na parte rasa, pois eu não sabia nadar e
ainda morria de medo de aprender. Sim, sou estranha. Já o Gustavo, ia para o fundo e
quando eu falava pra ele tomar cuidado ele me falava: “Ah mãe relaxa, eu sei nadar”.
Mas nem por isso eu ficava menos nervosa.
Só vi que a hora tinha passado quando vejo o Rodrigo saindo da garagem e vindo até a
piscina. Levanto-me da borda da piscina e espero ele chegar perto de mim.
- Boa tarde, meu amor. – digo com os meus braços abertos para abraça-lo.
- Morena. – ele diz passando as mãos pela minha cintura me abraçando, ele cola nossas
bocas em um beijo e sinto suas mãos descendo lentamente para a minha bunda e eu paro o
beijo.
- Rodrigo, o Gustavo está ali, para.
Ele levanta suas mãos lentamente colocando em minha cintura apertando-a.
- Oi pai. – diz o Gus saindo da piscina e vindo até a gente.
Ele abraça o Rodrigo, deixando-o levemente molhado.
- Fala filhão. - deixa um beijo sobre sua cabeça. – Cuidou da sua mãe e do seu irmãozinho
como falei?
- Sim senhor, mas eu já disse que é uma menina pai.
- Não fala isso Gustavo, pelo amor de Deus. – diz o Rodrigo com os olhos arregalados e já
passava as mãos pela cabeça rapidamente. – Não estou preparado psicologicamente para
ter uma filha, não.
- Mas não tem mistério nenhum pai.
- Você que pensa, Gustavo… Mulher é bicho complicado, vê a sua mãe, olha o trabalho
que ela me dá. Agora você imagina mais uma. Acho que vou enfartar antes dos quarenta e
cinco.
- Ei, eu não dou trabalho nenhum, Rodrigo. Quem dá trabalho aqui é você.
Digo pensando nas inúmeras vezes que tive que me segurar pra não dar na cara de alguma
mulher, ou até na dele mesmo.
- Ah pai, eu adoraria ter uma irmãzinha.
- Vamos ver se você vai continuar com esse mesmo pensamento quando crescer mais um
pouquinho e…
- Meus Deus, Rodrigo! Não envenena a mente da criança. – digo já sabendo muito bem do
que ele estava falando. – Vamos almoçar né, estou morrendo de fome e temos consulta
hoje.
- Claro amor. Meu bebê já está com fome. – ele diz e se abaixa levemente passando a mão
sobre minha barriga. – Você tem que comer direito, Sophia, não precisa ficar me
esperando. Quando o meu filho quiser comer, você da comida a ele.
- Tudo bem, amor. – digo sorrindo. – Mas é que eu prefiro te esperar.
Ele deixa um beijo na minha testa e se vira.
- Vou guardar isso aqui e te espero na cozinha. – diz se referindo a sua arma que estava em
seu coldre.
Ele nunca foi de deixar a arma em qualquer lugar da casa, nem mesmo quando eu ainda
trabalhava pra ele, e depois que começamos a namorar ele nunca gostava de deixar a arma
em um lugar acessível para o Gustavo pegar…
Pego o meu shorts em cima da cadeira e o visto. O Gustavo termina de se secar e fomos
para a cozinha. A mesa já estava posta e a lasanha estava com uma cara maravilhosa,
minha boca rapidamente se encheu d’água e minha barriga roncou. Logo o Rodrigo chega
na cozinha e todos sentamos para comer. E meu Deus! Eu nunca comi tanto em toda a
minha vida. Eu estou vendo que, o que eu não engordei na gestação do Gus, eu vou
engordar agora o dobro nessa. E eu agradeço por não ter me enjoado, pois seria uma pena
jogar a lasanha pra fora novamente.
Depois que terminamos de almoçar eu e o Rodrigo subimos para o quarto. Assim que
entramos, ele fecha a porta e sinto os seus braços passando pela minha cintura e suas mãos
alisavam minha barriga.
- Você realmente não quer que seja uma menina? – pergunto segurando de leve as suas
mãos em cima da minha barriga.
- Não é isso meu amor. – deixa um beijo o meu pescoço. – É que eu acho que não vou
saber lidar com o fato de ter duas Sophia pra eu tomar conta.
- Amoor, nada a ver.
- Você realmente acha que eu vou deixar minha filha desprotegida pra esses garotos
safados abusarem dela?
- Meu Deus! Mas a criança nem nasceu ainda.
- Mesmo assim. Eu Já estou fazendo os meus planos. Estou vendo que minha arma vai ser
mais usada para espantar esses moleques do que de fato eu uso para o meu trabalho…
Ainda mais se puxar a beleza da mãe.
- Você realmente não existe, sabia? Nunca vi tão possessivo.
- Não é ser possessivo.É ter cuidado… Bem diferente.
- Uhuum sei.
Sinto os seus beijos pelo meu pescoço e suas mãos descem para o meu short abrindo-o.
- Rodrigo…
- Quanto tempo nós temos?
Sua mão entra no meu biquíni e o sinto tocando lentamente o meu clitóris, fazendo-me
jogar a minha cabeça de leve para trás e soltar um leve gemido.
- Nã-não sei.
Minha respiração aos poucos estava ficando ofegante e os seus dedos me tocavam um
pouco mais rápido, fazendo-me contorcer levemente em seus braços.
- Acho que dá tempo.
Diz com sua boca próximo ao meu ouvido, ele rapidamente retira a sua mão de dentro do
meu short e me vira de frente para ele, esse movimento fez com que nossas bocas se
chocassem e ele aproveitou para começar um beijo. Sinto suas mãos na minha cintura
levantando-me e eu enrolo minha perna em seu corpo, meus braços estão envolta do seu
pescoço tentando trazê-lo para mais perto de mim.
O Rodrigo começa a andar e eu não sinto a cama em minhas costas, como esperei, mas
sim o gelado do mármore da pia do banheiro em minhas pernas.
- Rodrigo, a gente não pode se atrasar. – digo ofegante.
- Eu sei, meu amor, vai ser rápido. Prometo.
Sinto suas mãos nas minhas costas e ele desfaz os nós do meu biquíni. Assim que ele
consegue tirá-lo de mim, suas mãos vão para a minha cintura me retirando de cima da
bancada, fazendo-me ficar em pé. Ele leva suas mãos ao cós do meu short e o retira
lentamente, logo fazendo o mesmo com a parte de baixo do biquíni, deixando-me
completamente nua.
O Rodrigo pega na minha cintura com força, aproximando-me dele, gruda nossas bocas
em um beijo lento, mas excitante. Suas mãos, uma delas está em minha cintura, e a outra
apertando com força a minha bunda. Eu já estou completamente molhada, completamente
pronta para recebê-lo agora mesmo.
Com um pouco de dificuldade, levo minhas mãos até sua blusa e a levanto lentamente,
separo por alguns instantes, as nossas bocas e retiro a blusa por completo. A cada dia que
passa o Rodrigo fica cada vez melhor, não sei como isso é possível, mas o seu corpo está
ainda mais definido do que quando nos conhecemos, parece que quanto mais velho fica,
melhor é. Desço minhas mãos lentamente pelo seu peitoral forte, chego em sua calça e
aperto o seu membro, ainda coberto, e ele solta um leve gemido. Percebo que ele também
está prontinho pra mim. Como não tínhamos muito tempo, eu trato de desabotoar logo a
sua calça e a tiro junto com a boxer jogando-as no chão.
- Você me deixa louca, Rodrigo.
Digo olhando o seu corpo, agora completamente despido, e o seu membro ereto a minha
frente. A vontade que eu tinha era de coloca-lo em minha boca e vê-lo perdendo o
controle.
- Não faz isso. – diz severo.
- Isso o que?
- Morder os lábios enquanto olha para o meu pau desse jeito.
Eu nem percebi que estava fazendo isso.
- Senão? – digo o provocando.
- Sophia… – ele fecha os olhos e respira fundo. – Você tem sorte que não temos tempo,
senão eu te mostraria tudo que eu estou com vontade de fazer com você nesse momento.
- Não seja por isso. Eu desmarco a consulta. – digo passando minhas mãos pelo seu corpo
sentindo-o se arrepiar.
- A proposta é tentadora, mas não… E chega de conversa, eu deveria estar te fodendo
agora e não perdendo o meu tempo conversando com você. – me pega em seu colo
novamente e anda em direção ao box.
Rodrigo e o seu jeito delicado, porém, eu não posso reclamar, eu amo esse jeito dele. Mas
ele também sabe ser bem romântico quando quer.
Sinto minhas costas encostando-se ao azulejo gelado, o que fez minha pele se arrepiar um
pouco. Sinto os seus beijos no meu pescoço e suas mãos apertam lentamente os meus
seios. Suas mãos descem para a minha cintura e sua boca vai em direção ao meu pescoço,
deixando beijos e mordidas pelo local e sinto o seu membro roçando lentamente na minha
entrada.
Abro os meus olhos e vejo o Rodrigo esfregando-o repetidas vezes em minha intimidade,
mas em momento nenhum ele o penetrava.
- Ro-rodrigo… Coloca logo… – ele não espera mais nenhum minuto e me penetra por
completo, fazendo-me soltar um gemido alto, até demais.
- Tão quente… Tão gostosa… Aah! Nunca me canso disso.
- A-amor, se mexe.
Ele é um desgraçado, está me torturando. A prova disso é o sorrisinho safado e debochado
em sua cara. Ele segura a minha cintura com força e começa a me penetrar forte e fundo,
sua outra mão acariciava de leve o meu clitóris e eu tinha que me segurar para não gritar e
a casa inteira saber o que estamos fazendo. Levo minhas mãos para as suas costas,
arranhando-o com toda a vontade, já que eu não podia gritar como eu queria, ele que
aguentaria as minhas arranhadas.
- Vem Sophia… Goza comigo… Aah!
Não consigo responder nada, pois se eu abrir a boca, a única coisa que sairá dela serão
gemidos. Ele me penetra ainda mais rápido e fundo e eu já podia sentir o meu orgasmo
chegando, sinto minha intimidade contrair com mais força e o Rodrigo geme mais alto no
meu ouvido, ao mesmo tempo em que deixa um tapa na minha bunda fazendo-me liberar
por completo.
O Rodrigo da mais algumas estocadas e também se libera dentro de mim.

[…]



Por causa do Rodrigo nos atrasamos para a consulta, mas devo dizer que valeu apena.
Valeu muito.
Como chegamos um pouquinho atrasados, eles colocaram outra pessoa no nosso lugar e
agora temos que esperá-la ser atendida, para entrarmos.
- Está nervoso, amor? – digo segurando sua mão tentando o acalmar, pois ele mexe as
pernas rápida e irritantemente.
- Só estou um pouco ansioso, quero ver logo como ele é.
- Eu também quero. – deixo minha cabeça cair em seu ombro e em seguida sinto os seus
braços envoltos da minha cintura, levando-me um pouco mais pra perto dele e deixando
um beijo na minha cabeça.
Olho para algumas mulheres sentadas à minha frente. Umas pareciam ser um pouco mais
velhas, já outras eu me via nitidamente nelas, quando eu estava grávida do Gustavo. Tem
meninas bem novinhas e claramente assustadas, assim como eu estava há oito anos, sem
saber o que fazer, sem ter a mínima noção de como é colocar uma vida no mundo. Eu
sabia que era muita responsabilidade e sabia também que se eu quisesse eu poderia não ter
aquela responsabilidade toda em cima de mim. Mas eu não tinha e não tenho coragem de
acabar com a vida de um ser tão inocente. E eu me vejo muito em muitas dessas jovens
que estão sentadas aqui, com suas barrigas enormes, os olhares assustados e
amedrontados.
Eu sei bem como é. A reta final é ainda pior, é onde você vê que não tem mais volta, é isso
ou é isso. A criança está prestes a nascer e você não tem nenhuma noção de como serão as
coisas; se você vai saber ser uma boa mãe, mesmo sozinha, adolescente e sem o apoio do
pai. Mas parece que essas duvidas somem por alguns instantes, quando vimos o rostinho
deles pela primeira vez. Logico que depois disso ainda é bem difícil, mas ai, eu me toquei
de que eu não deveria ficar me questionando se conseguiria ou não, eu teria que fazer e
pronto, pois agora eu tinha uma responsabilidade que seria só minha…
Já outras mulheres, eu consigo me ver nelas, como eu sou agora: Mulheres confiantes,
felizes e que sabem exatamente o que quer da vida e como quer.
Agora eu realmente me sinto muito mais preparada, com 26 anos, com a minha profissão e
casada. Eu nunca me imaginaria assim, por mais que eu já estivesse sonhado, eu nunca me
imaginava de fato com tudo isso. Uma família linda que me acolheu, um homem que me
ama de verdade e que ama o meu filho também, que ele adotou como se fosse dele, e
agora eu estou grávida. Mas eu não estou assustada e com medo, como da primeira vez.
Muito pelo contrário, eu estou bem feliz, pois eu sei que agora eu vou ter alguém ao meu
lado me apoiando. Agora eu seu que, felizmente, esse bebê vai ter uma oportunidade que o
Gus não teve por alguns anos de sua vida.
- Sophia Albuquerque.
Ouço o meu nome ser chamado e rapidamente me levanto do sofá e o Rodrigo também.
- Sim? – digo olhando para a recepcionista que estava parada na minha frente com uma
prancheta na mão.
- Pode entrar, a Doutora Vitória está te esperando. – diz com um sorriso simpático.
- Tudo bem, obrigada.
Vou até a porta que ela me indicou e bato escutando logo em seguida um “entre”. Assim
fizemos.
Assim que entramos, demos de cara com uma mulher já de idade, mas bem conservada.
Ela tem um sorriso simpático direcionado para nós.
- Boa tarde, Sophia. – diz ela me estendendo a mão e eu a cumprimento.
- Boa tarde, doutora Vitória.
- E o senhor é o pai, eu suponho? – ela faz o mesmo gesto para o Rodrigo, que também a
cumprimenta e direciona um sorriso sem dentes pra ela.
- Rodrigo.
- Prazer, Rodrigo e Sophia. Podem se sentar.
Diz apontando para as poltronas de frente para a sua mesa e assim fizemos.
- Primeiro eu queria me desculpar pelo atraso, doutora, houve um imprevisto e nos
atrasamos um pouco.
- Tudo bem, querida. – diz ela simpática. – Então… Essa é a sua primeira consulta, não é
mesmo?
- Sim, eu só fiz dois exames de farmácia um mês atrás e ficou por isso mesmo.
- Por que demorou tanto tempo pra procurar um medico, em?
- Eu disse que éramos pra ter ido ao dia seguinte, mas ela não quis. – diz o Rodrigo me
olhando de rabo de olho.
- É porque estávamos de férias e eu não queria voltar pro Rio naquele momento. Então eu
decidi esperar até as nossas férias acabar.
- Huum, okay. Mas você teve algum problema, sentiu algumas dores nesse meio tempo?
- Não. Nada. Está tudo normal… Eu só estou me sentindo já um pouco inchada, mas isso
não é um problema.
- Realmente, não é. – diz ela sorrindo. – Bom, então vamos fazer os exames, depois
conversamos mais.
- Vamos.
Ela se levanta, vai até um pequeno armário e tira um saco plástico de lá.
- Coloca esse vestido aqui pra mim… Sem calcinha, okay? E se estiver com a bexiga
cheia, esvazie-a.
- Tudo bem.
Entro no banheiro e retiro a minha roupa.
Eu estou nervosa, a minha barriga parece que ter milhões de borboletas. Eu vou ver o meu
bebê pela primeira vez!
A ultrassom que eu vou fazer é a transvaginal, com ela dá pra ver com mais perfeição de
quanto tempo eu realmente estou e é mais fácil para detectar qualquer anormalidade, tanto
com o meu corpo, quanto com o bebê.
Esvazio a minha bexiga, que de fato já estava cheia, e coloco o vestido, deixo minhas
roupas em um canto e saio do banheiro encontrando o Rodrigo e a Doutora Vitória
conversando.
- Eu só vou poder te dizer com certeza depois dos exames. Mas se estiver tudo bem, sim, o
sexo está liberado.
- Rodrigo… – o repreendo, pois eu não acredito que ele teve coragem de perguntar algo do
tipo para ela.
Ele se vira pra mim, com a cara mais lavada do mundo.
- O que foi, amor? A Doutora disse que eu podia tirar todas as minhas duvidas.
- Você me mata de vergonha. – digo levando minha mão ao rosto.
- Não precisa ter vergonha nenhuma, Sophia, essa é a pergunta que eu mais ouço dos
homens aqui no consultório. É normal essa duvida.
Ela se levanta e vem até a mim.
- Não precisa se envergonhar, agora vamos lá ver esse bebê. Pode vir também, papai.
O Rodrigo rapidamente se levanta e Doutora abre uma segunda porta que tem na sala e
entramos em um outro ambiente, esse já tem uma maca e um monitor e posso ver alguns
instrumentos que eu não faço a mínima idéia para que serve.
- Pode se deitar e abra as suas pernas pra mim, deixando os joelhos dobrados.
Com um pouco de vergonha eu me deito e faço o que ela disse, o Rodrigo vem para o meu
lado e segura a minha mão.
- Agora é a hora da verdade. Vamos ver como ele ou eles estão, vai que são dois, né? – ela
diz sorrindo.
Só a hipótese de ter duas crianças dentro de mim, me deixa assustada.
- Nem brinca, Doutora.
- Seria bem legal. – diz o Rodrigo rindo feito um bobo.
O olho com uma cara assustada. Como legal? Vai ser trabalho em dobro, tomara que seja
só um… Um de cada vez!
A médica coloca sua luva e pega a sonda, com uma espécie de preservativo na ponta, e
leva em direção a minha intimidade. Assim que ela o inseriu dentro de mim, uma imagem
meio borrada já aparece no monitor ao meu lado. Olho para o Rodrigo, que assim como eu
já estava com os olhos cheios de lágrimas.
- Eita… Eu estava brincando em, mas parece que são gêmeos mesmo. – diz a médica
sorrindo.
- Co-como assim, Doutora? – pergunto assustada. – Diz que a senhora está brincando!
- Não, eu estou falando sério. Mas espera um minuto. – ela diz sem acreditar e parecia
estar se divertindo com aquilo.
A imagem no monitor desaparece e a Doutora mexe em algumas coisas naquele aparelho.
O meu coração está acelerado. Eu não estou acreditando nisso. Meu Deus!
Olho para o Rodrigo que já está chorando.
- Meu Deus do céu. – digo apertando a mão do Rodrigo.
- Por isso que é bom a transvaginal no comecinho, detecta tudo. Eu tenho quase certeza
que são dois sim, viu.
Uma imagem de outro ângulo aparece no monitor.
- São gêmeos mesmo. – ela diz sorrindo.
- Meu Deus, você está falando sério? Tem certeza?
Eu olhava para o Rodrigo não acreditando.
- Seríssimo, olha só aqui. – ela aponta para o monitor. – Estão vendo, são gêmeos não
idênticos, cada um tem sua bolsa…
Ela passa o dedo sobre a tela mostrando a repartição entre as duas bolsas e agora eu posso
ver nitidamente os dois bebês um de cada lado.
- Rodrigo?! – olho para ele como quem estivesse indignada por ele ter colocado dois bebês
dentro de mim.
Não poderia ser um de cada vez?
O Rodrigo não sabia fazer outra coisa a não ser chorar. Parecia estar, assim como eu, sem
acreditar, mas ele não conseguia dizer nada.
- Doutora.. Olha, isso ai não tem erro, não?
- Não Sophia. – a danada parecia se diverti. – São dois mesmo, cada um tem a sua
placenta…
- Rodrigo..como… como você conseguiu colocar duas crianças dentro de mim?!
Ele ia abrir a boca pra falar, mas eu o impedi.
- Não responde.
- Vocês são demais. – ela diz rindo.
- Olha você está com oito semanas, ou seja, dois meses, quase três.
- Mas eu menstruei mês retrasado. – digo com um pouco de medo disso ter feito algum
mal aos bebês.
- Foi antes de você fazer o teste?
- Sim. Na verdade eu fiz o teste mais pra ter certeza de que eu não estava grávida, pois eu
tinha menstruado no mês anterior. Então eu não imaginava que estaria grávida, mas eu fiz
o teste e deu positivo.
- Depois disso, houve mais sangramentos?
- Não.
- É normal isso acontecer no primeiro mês de gestação, não se preocupe. E pelo o que eu
estou vendo aqui está, tudo bem com os bebês e com você também. Não precisa se
preocupar. A não ser se voltar a acontecer, ai você me procura imediatamente.
- Tudo bem.
- Meu Deus! Eu não estou acreditando. Duas crianças. – o Rodrigo diz com um sorriso
enorme no rosto.
- Sim Rodrigo, duas crianças. – digo ainda um pouco assustada.
Não é que eu não esteja feliz, mas é que imagina você esperando UM filho, ou pelo menos
achando que está esperando só um, e ai do nada vem a médica e diz que são dois. É de
assustar.
O Rodrigo deixa um beijo na minha boca e me abraça desajeitadamente.
- Obrigado.
Que droga! Isso me desmontou, fazendo-me derramar as lágrimas que estavam presas.
- Amor, não precisa agradecer.
Ele se separa de mim, deixa um beijo na minha testa e volta o seu olhar para o monitor.
Eles são tão pequenininhos, dá pra ver nitidamente que não tem quase nada formado,
perfeitamente.
- Da pra escutar o coração deles? – ele pergunta.
- Vamos ver se conseguimos.
Ela mexe em mais alguns botões e de repente uns barulhos rápidos é ouvido em toda a sala
e o Rodrigo se emociona mais ainda.
- É bem forte, né? – diz ele apertando minhas mãos.
- Sim, Rodrigo.
Ficamos mais algum tempinho ali e ela logo encerrou a consulta e eu fui me vestir.
Ainda estou um pouco surpresa, mas ao mesmo tempo feliz. Agora eu entendo o porquê
de eu estar me sentindo um pouco mais inchada em tão pouco tempo de gestação. Há duas
crianças dentro de mim.
Saio do banheiro e me sento ao lado do Rodrigo.
A Doutora conversou com a gente, explicou que estava ocorrendo tudo bem. Não tinha
nada de anormal, tanto comigo quanto com os bebês.
Ela me explicou também que os meus enjoos frequentes eram por causa da gestação
gemelar, geralmente esse tipo de gestação provoca mais enjôos, mas ela me receitou um
remédio, que segundo ela, diminuirá isso. O Rodrigo voltou a perguntar sobre o sexo e a
médica disse que estava tudo certo. Eu queria enfiar a minha cara debaixo da mesa de
tanta vergonha, mas os dois pareciam não se importar.
Depois de o Rodrigo tirar todas as duvidas e eu também, nós pegamos as fotos dos exames
e fomos embora.
- Amor, você não podia colocar uma de cada vez? – digo já dentro do carro, estávamos a
caminho de casa onde ele me deixaria e depois voltaria para a Delegacia.
- Nós esperamos tanto tempo que pra recompensar mandaram logo dois pra gente. – ele
diz divertido.
- Eu estou um pouquinho assustada ainda, são duas crianças.
- Eu estou muito feliz, isso sim. Dois bebês. – ele dizia passando a mão na minha barriga.
– Não vejo a hora de consegui ver os sexos, de senti-los mexendo.
- Aai nem eu.
- O Gustavo vai ficar louco quando souber, amor.
- Nem me fale. Está pra nascer um irmão mais babão igual a ele.
Ele sorri e volta sua atenção para a estrada. Não demorou muito e chegamos em casa, ele
nem entrou, apenas me deixou no portão e voltou rapidamente para a delegacia.
Assim que eu entro em casa o Gus já vem me bombardeando de perguntas.
- E ai mãe! Como foi? Minha irmã tá bem? Ela se mexeu? – ele diz tudo rapidamente.
- Meu Deus, quantas perguntas, filho.
Sento-me no sofá fazendo-o sentar-se no meu colo.
- Cadê a sua avó?
- Está na cozinha conversando com a Maria.
- Então vamos lá pra eu contar a novidade pra todo mundo.
Levantamos-nos e fomos até a cozinha.
- E ai minha filha, como foi? – pergunta a minha mãe sentada à mesa junto com a Maria.
- Assustador.
- Como assim? Tem algo errado com o bebê? – ela pergunta preocupada.
- Não mãe, está tudo bem com os bebês.
- Aah sim então por… Espera ai, você disse bebês?
- Sim mãe, bebês. Eu estou grávida de gêmeos.
- Meu Deus, Sophia. – ele se levanta um pouco sem acreditar também e me abraça. –
Parabéns minha filha.
- Obrigada, mãe.
- Parabéns, Sophia. – diz a Maria me abraçando também.
- Obrigada, Maria.
- Mãe, então quer dizer que eu vou ter dois irmãos de uma vez só? – diz o Gustavo
parecendo estar fascinado ouvindo isso.
- Sim, meu filho, dois de uma vez. – digo sorrindo.
- Caramba! Que legal. – ele abraça a minha cintura e deixa um beijo na minha barriga logo
depois alisando o local.

[…]


Cinco meses depois…
Já estou com sete meses, pareço uma bola de tão gorda, tenho certeza que se me jogarem
no chão eu realmente rolo. O Rodrigo diz que eu estou linda e continuo do mesmo jeito,
obviamente apenas com a barriga maior, mas eu me sinto totalmente inchada. Saltos nos
meus pés, nem pensar, por dois motivos, um porque realmente não cabe mais e outro
porque o Rodrigo não deixa. Ele acha que vou cair e me machucar.
Ele passou a ser ainda mais protetor depois da gravidez, ele cuida de mim como se eu
fosse uma criança e o pior é que ele está fazendo o nosso filho ficar ainda mais parecido
com ele, nesse quesito.
Quando o Rodrigo está na delegacia é o Gustavo que ocupa o papel dele dentro de casa
perguntando se já comi, se preciso de algo que ele irá pegar e por ai vai.
O único lugar que eu tenho paz é na clinica, lá eu posso fazer as coisas com as minhas
próprias mãos sem ter o Rodrigo falando que é perigoso para os bebês.
Onde que lavar a louça é perigoso pra alguém?
Se ele já mima essas crianças estando dentro da minha barriga, imagina quando sair. Não
vai precisar de vó pra estragar os nossos filhos, ele mesmo fará isso.
Faltam alguns meses ainda para o nascimento, mas o problema é que nunca conseguimos
ver os sexos. O quarto está quase pronto, na verdade está totalmente neutro sem cor
nenhuma, pois não conseguimos descobrir os sexos desses bebês, o mesmo acontece com
as roupinhas. Mas agora estamos aqui no consultório da Doutora Vitória para ver se
finalmente conseguimos descobrir os sexos.
- Vamos ver aqui. – ela mexe com o aparelho em minha barriga e olha fixamente para a
tela. – Eu acho que agora vai em.
Ela mexe em alguns botões no aparelho ao lado e da um sorriso. Mexe mais um pouco e
sorri novamente.
- E ai Doutora? – diz o Rodrigo aflito.
- São duas menininhas.
- Ai meu Deus, está falando sério? – digo radiante, o Gustavo vai amar essa noticia.
Eu sempre quis ter uma menina, mas vieram duas.
- Sim. Demoramos, mas conseguimos descobrir. São meninas comportadas, fizeram jogo
duro com a gente. – diz divertida.
Olho para o Rodrigo que tinha os olhos arregalados, parecendo não acreditar no que estava
ouvindo.
- Não Doutora, vê isso ai direito. – ele diz.
Eu estava morrendo de ri com a situação.
- Eu já vi Rodrigo. Duas meninas.
- Porra eu acho que vou enfarta.
- Olha a boca, Rodrigo. – digo sorrindo. – E para de palhaçada é bom pra você aprender.
- Duas… meninas. – ele fala pausadamente, parecendo digerir a noticia, ele leva as mãos a
cabeça coçando-a.
- Isso é pra você aprender a nunca mais colocar duas crianças dentro de mim de uma vez
só. – digo sorrindo.
A Doutora Vitória estava se divertindo horrores com a situação.
Não demorou muito e a consulta terminou e fomos para a casa.
Ele ainda estava um pouco sem acreditar e não disse nada mais. Como sempre fazia, ele
me deixou em casa, pois eu não tinha mais nenhum paciente hoje, e logo voltou para a
delegacia.
O Gustavo ficou radiante em saber que ele continuaria sendo o “único” homem da casa e
as meninas também gostaram, pois assim que ele chegou perto da minha barriga elas
começaram a se mexer. Isso sempre acontecia, elas… Agora eu posso dizer elas. Adoram
o Gus, assim como o Rodrigo, é só eles chegarem perto que elas começam a se mexer.
Depois de ligar para a família inteira contando a novidade de que mais duas meninas
entrariam para a família, pois a Mila também espera uma menina, a Natasha, que está
prevista para vir ao mundo no próximo mês. Todos ficaram felizes em saber. A Julia ficou
maluca e já disse que tem varias ideias para me ajudar na decoração do quarto e eu logico
não neguei sua ajuda. Depois de falar com todos, eu já estava me sentindo muito cansada e
fui para o meu quarto descansar um pouco os meus pés. Ligo o ar condicionado e me deito
na cama.
Confesso que a reação do Rodrigo me deixou um pouquinho assustada, será que ele não
vai… Não! O Rodrigo nunca faria isso. Ele queria tanto um filho e não vai ser por causa
do sexo que ele vai amá-las menos.
Deixo esses pensamentos loucos de lado e deixo o sono me levar.

[…]


Sinto uma forte movimentação dentro da minha barriga, mãos acariciando-a e ouço uma
voz no fundo.
- Desculpa se o papai foi um babaca. – sinto um beijo sobre minha barriga e a
movimentação é ainda maior. – É que eu fiquei assustado, poxa, mas eu não quero que
vocês pensem que eu não amo vocês, viu! Porque não é isso…
Abro os olhos e vejo o Rodrigo praticamente deitado sobre minha barriga, suas mãos a
acariciavam e seu olhar é fixo na mesma.
- É só que eu sou meio ogro, sabem? Eu não sei se eu vou saber lidar com duas
menininhas lindas igual a vocês duas. Mas eu prometo, prometo que vou dar o meu
máximo, eu vou cuidar de vocês duas assim como eu cuido do irmão e da mãe de vocês.
Se for preciso eu dou minha vida por vocês… – sinto uma lágrima cair sobre e minha
barriga e eu não consigo segurar as minhas também – Não vou deixar nada de ruim
acontecer com vocês duas… Nada! Eu sempre estarei aqui para protegê-las… Sempre!
Ele fica um tempo beijando a minha barriga e acariciando-a e as meninas faziam a festa.
- Tá vendo o que vocês estão fazendo comigo? Me transformaram em uma manteiga
derretida… Mas ó! Não deixem ninguém saber disso, ouviram bem? Senão o papai não
vai ter mais moral com a minha equipe… Ó! Segredinho nosso. – ele sorri e beija
novamente minha barriga.
- Que coisa linda, amor. – digo soltando um soluço.
Ele levanta sua cabeça rapidamente e parece um pouco sem jeito ao perceber que eu
acordei.
- Nem vi que você tinha acordado. – ele limpa o rosto e se deita do meu lado, puxado-me
para o seu peito.
- Você mexendo na minha barriga e a festa que elas estavam fazendo é quase impossível
não acordar. – digo sorrindo.
- Desculpa por não ter tido uma reação tão boa assim de cara. É que eu realmente fiquei
um pouco assustado. Duas meninas de uma vez não vai ser fácil pra mim.
- Amor, relaxa… Não é o fim do mundo, são só duas menininhas.
- Sophia, eu já estou pensando em quando elas crescerem e quiserem namorar.. e-eu…
Elas são minhas eu não vou dividi-las com marmanjos nenhum.
- Amoor, não é assim.
- Eu sei muito bem o que passa na cabeça de um homem e…
- Aah já entendi. Você está com medo de que apareça um homem igual a você na vida
delas, é?… Que queira fazer o mesmo que você faz comigo, só que com elas…
- Sophia você só está complicando mais ainda.
- Amor relaxa, eu também não tenho tanta pratica assim com meninas e…
- A gente as coloca num convento. Problema resolvido.
- De jeito nenhum, minhas filhas não serão freiras… A menos que elas queiram é logico.
- Elas vão querer, eu sei que vão. – ele diz convicto.
- Duvido. – digo sorrindo. – Tomara que elas pareçam com a Camila.
- Sophia não! Não fala isso. – ele diz com seus olhos arregalados.
Começo a ri, pois só eu sei, na verdade o Rodrigo também sabe, o quanto a Camila é
louca, uma louca consciente, mas louca. Ela era a que roubava a cena total na escola,
todos os nossos amigos de turma eram loucos nela, mas ela sempre esnobava todos. A não
ser quando o garoto interessava a ela, ai ela esnobava, mas depois pegava. E pela reação
do Rodrigo ele sabe muito bem como ela é. Não preciso nem falar que se parecer comigo
vai ser tímida pro resto da vida. Mas eu disse isso apenas para irritá-lo mais ainda. Mas
que seria legal vê-lo ficar de cabelos brancos por causa das filhas. Ah seria!


[…]




EPÍLOGO
Sophia
- Vamos começar. – avisa o médico.
- Amor, fica calmo. – digo sorrindo apertando a sua mão.
Ele está mais nervoso que eu. Acho que é pelo fato de eu já ter passado por isso uma vez e
agora ter um ótimo médico que me tranqüilizou, me ajudou a ficar bem calma nesse
momento, ou pode ser também pela anestesia que me deixou assim. Mas eu realmente
estou bem tranquila. Já o Rodrigo está nervoso não é de hoje, desde quando marcamos a
cesariana ele está desse jeito.
- Droga Sophia, eu estou aqui pra te tranquilizar e quem está me tranquilizando é você. –
ele fala olhando em meus olhos.
Posso ver os seus olhos já transbordando de lágrimas, eu o conheço muito bem e sei que
esta se segurando para não deixá-las cair. Por mais que eu diga que está tudo bem, ele não
fica menos nervoso, acho que só vai ficar calmo quando as meninas estiverem fora de
mim e ele poder ver que estamos as três super bem. Ele ficou ainda mais nervoso quando
foi procurar na internet vídeos de partos gêmeos cesariana. Nossa! Ele ficou
completamente desesperado e assustado pela forma que é.
- Oh olha pra mim, só pra mim tá bom? – falo segurando o riso, pois de certa forma é
engraçado e fofo essa preocupação toda.
Ele acena a cabeça e reclina o seu corpo um pouco deixando um beijo leve em minha
boca, logo depois ele separa e levanta um pouco o seu corpo só que ainda mantendo o seu
olhar ao meu. Eu aperto a sua mão lentamente tentando passar calma pra ele e acho que
estava conseguindo, pois aos poucos ele retribuía o meu aperto e sorria pra mim.
Não demorou muito e eu ouvi o primeiro chorinho, é bem fraquinho ainda, mas apenas de
ouvi-lo o meu coração se encheu todo de alegria e as lágrimas nos meus olhos embaçaram
a minha visão. Fecho os meus olhos lentamente fazendo com que as lágrimas derramem.
- Nasceu, amor… A Alicia nasceu. – diz o Rodrigo todo feliz.
Posso sentir sua voz tremula, assim como sua mão também está nesse momento. Abro os
meus olhos e vejo o Rodrigo olhando vidrado para o outro lado do pano, que impedia a
minha visão do que acontecia do outro lado. Ele tem um sorriso lindo no rosto e um
brilho, nunca visto por mim, em seus olhos. Vejo os seus olhos acompanharem algo, que
agora eu consegui ver que se trata da enfermeira com a Alicia nos braços.
- Olha mamãe, como é linda a Alicia. – ela diz e abaixa um pouco os seus braços, próximo
ao meu rosto dando-me a visão da minha filha.
Ela ainda está um pouco suja pela placenta e com um pouco de sangue também, mas
mesmo assim eu passo minha outra mão livre de leve em seu rostinho, fazendo-a ficar
mais quieta.
- Ela é linda, amor. – diz o Rodrigo emocionado.
- Agora eu tenho que levá-la. Daqui a pouco eu a trago mais limpinha, pra você. É rapido.
Aceno e ela vai com a minha filha para o outro lado da sala e começa a limpá-la.
O Rodrigo se abaixa e deixa um beijo na minha testa. Logo depois eu escuto o segundo
chorinho e o meu coração se enche novamente.
- Agora é a Giulia. – ele diz com um sorriso enorme.
E eu não conseguia falar nada, apenas chorava de emoção.
A enfermeira faz o mesmo que fez com a Alicia, traz a Giulia até a mim e logo em seguida
a leva para fazer os exames e limpá-la.
O Rodrigo se agacha do meu lado e bastante sem jeito ele me abraça forte e deixa as suas
lágrimas caírem com ainda mais força, fazendo com que, de certa forma, as nossas
lagrimas se misturassem.
- Olha as suas meninas aqui. – diz uma das enfermeiras com uma das minhas filhas no
colo. Isso fez com que o Rodrigo se separasse de mim, mas continuou agachado ao meu
lado.
A enfermeira se debruça e coloca a minha filha em um dos meus braços.
- Alicia. – diz o Rodrigo sorrindo.
- Giulia. – diz a outra enfermeira colocando-a no meu outro braço.
Eu as segurava com tanta força e mesmo tempo cuidado, pois eu estava com medo de
deixa-las cair no chão. O Rodrigo só sabia chorar olhando pra essa cena.
- Chega mais perto, amor.
Ele rapidamente vem para perto de mim e passa os seus braços cuidadosamente pelo meu
corpo, nos abraçando.
- Elas são tão lindas, igual a você. – diz e beija cada uma.
Eu apenas sorrio e aceno.
Elas são realmente bem diferentes, por mais que elas ainda não estejam realmente limpas,
dá pra ver que a Alicia é mais escurinha do que a Giulia, mas a diferença é bem pouca e
também tem outra diferença que eu realmente espero que não dê problemas daqui á alguns
anos. É o fato da Giulia ter os olhos azuis, igual aos do Rodrigo.
- A Alicia tem os seus olhos, amor. – diz o Rodrigo acariciando-a.
- E a Giulia os seus. – digo sorrindo.
Ele sorri e acena.
- Obrigado. – ele diz e abaixa a cabeça chorando mais ainda, ele está visivelmente
emocionado.
- Amor eu já disse que não pre…
- Não adianta… Eu sempre… Sempre vou te agradecer por ter realizado o meu sonho, por
ter me dado uma família linda e por ter aparecido na minha vida… Sempre. – ele diz e me
beija.
Eu entendo essa necessidade dele de me agradecer, pois eu também sempre que posso faço
o mesmo. Depois de tudo o que passamos. Depois dos erros que ambos cometemos.
Depois de por uma idiotice e infantilidade minha eu quase pus tudo a perder e mesmo
depois disso ele ter me aceitado de volta e conseguir fazer com que a nossa vida seguisse
tranquilamente, sem que os fantasmas do passado nos atrapalhasse. Eu sempre vou
agradecê-lo por ele ter feito tanto por mim e eu ainda me sinto no direito de estar sempre
agradecendo a ele por tudo que fez e por nunca ter desistido da gente… De mim, mesmo
quando eu não estive com ele quando ele precisou. Eu sei que ele fez todas as coisas sem
pensar em receber algo em troca, ele fez por amor. Assim como eu também fiz o que fiz
por amor a ele. Eu quase morri por ele, mas não. Isso não é de forma nenhuma uma queixa
ou arrependimento de tudo que fiz e muito menos falo isso pra ele se sentir culpado ou
algo do tipo. Muito pelo contrario. Lembrar dessas coisas só me faz ter ainda mais certeza
de que eu realmente fiz a coisa certa. Só me faz ter ainda mais certeza de que se não fosse
ele, não seria mais ninguém, pois ele é o primeiro e único homem da minha vida e eu
quero tê-lo sempre ao meu lado. E só a possibilidade de poder perdê-lo me da um medo
enorme. Eu não consigo mais ver a minha vida sem o Rodrigo. E se eu pudesse voltar no
tempo eu faria tudo novamente. Tudo, menos tê-lo deixá-lo de lado quando poderíamos ter
resolvido os nossos problemas juntos. Mas de certa forma essa fase da nossa vida nos
ajudou muito, pois eu amadureci bastante e eu aprendi a não deixar mais que “pequenas
coisas” atrapalhem a nossa relação. E todos os problemas que veio em nossos caminhos
nesse tempo que passou, nós soubemos resolver juntos, um ao lado do outro.
Como ele disso anos atrás.
“– Em um relacionamento tem que haver companheirismo, quando um cair o outro estar
lá para levantar. É pra andarem juntos, mas é juntos um ao lado do outro, enfrentando
todos os problemas que virá pelo caminho…”
E foi isso que eu fiz todos esses anos. Quando os problemas apareciam, nós sempre
estávamos juntos, todas as vezes que aparecia alguma dificuldade eu me lembrava dessas
palavras e me agarrava nelas. E é assim que estamos a cinco anos casados, mas são os
cinco de muitos outros que virão por ai.
Pois eu não vejo a minha vida sem esse homem.

[…]


- Ah minha filha, elas são lindas. – diz minha mãe babando nas netinhas.
Ainda teria que ficar alguns dias no hospital, aquela coisa de sempre. Mas eu já me sento
bem, se fosse por mim iria embora hoje mesmo.
- São lindas igual a tia aqui né. – diz a Camila que está com a Alicia nos braços.
Olho para o Rodrigo que coça a cabeça e nega com seus olhos levemente arregalados.
Não consigo segurar uma gargalhada e ele me olha sério.
- Não ri Sophia. – posso ver que está começando a ficar um pouquinho nervoso.
- Ih Rodrigo, você não sabe o que te espera… Quer dizer, vocês. – diz a Mila apontando
para o Rodrigo e o Douglas que estão em pé próximo a porta do banheiro.
- A Natasha já sei que vai ser igual a mãe era, aqueles olhos verdes dela vai deixar muitos
menininhos loucos por ai. – digo e começo a ri junto com a Mila.
A Natasha já está com três meses e muito esperta e linda, devo dizer ela é a cara da Mila.
E é a minha afilhada.
O Douglas olha para o Rodrigo e diz.
- A gente está muito fodido.
- Pra caralho. – diz o Rodrigo se jogando na poltrona.
- Olha a boca vocês dois. –digo sorrindo, mas já sentindo a minha barriga doer pelo
pequeno esforço.
- Não vai ter pra ninguém quando essas três crescerem.
Eu amo a Camila e o poder que ela tem de irritar o Rodrigo. Posso ver o seu rosto
vermelho de raiva. A minha barriga, eu já não aguentava mais de dor, mas mesmo assim
não consigo parar de ri.
- Oi gente, chegamos. – diz a tia Patrícia entrando na sala junto com a Julia.
Isso me fez parar de rir por um momento.
Elas vêm até a mim e me abraça, uma de cada vez.
- Como você está, minha querida? – diz a Julia deixando um beijo no meu rosto.
- Estou bem, só um pouquinho cansada.
- Que bom que correu tudo certo… Mas agora eu quero ver minhas netinhas lindas.
Ela sai de perto de mim e vai até a Mila e a minha mãe que estão com elas no colo e
começa a paparica-las, aquela coisa de vó. E a tia Patrícia também foi até elas fazer o
mesmo.
Olho para o Rodrigo que ainda está com a cara levemente emburrada e sorrio de leve.
Tadinha das minhas filhas, não sabem o pai que tem.

[…]


- Finalmente chegamos. Não aguentava mais ficar naquele hospital. – digo assim que o
Rodrigo estaciona o carro na garagem.
- E nem eu aguentava mais vim pra casa e não te encontrar aqui. – diz e deixa um beijo
rápido em meus lábios.
Ele sai do carro e logo em seguida abre a porta me ajudando a descer.
- Cuidado amor… Não é melhor eu te pegar no colo?
- Não precisa Rodrigo, obrigada. – sorrio, deixo um beijo rápido em sua boca e termino de
descer do carro. – Leva as meninas pra mim.
Na mesma hora a Maria e a minha mãe aparecem na garagem.
- Oi Sophia, que bom que chegou. A senhora quer ajuda?
- Oi Maria, pode pegar as bolsas pra mim? Eu ficaria muito agradecida. – digo e ela
acena.
O Rodrigo abre a porta de trás e retira a cadeirinha que está com a Giulia e dá para a
minha mãe, depois pega as bolsas para a Maria levar e em seguida pega a cadeira onde a
Alicia se encontra e entramos em casa.
Assim que eu passo pela porta principal da sala, vejo o Gustavo descendo as escadas,
eufórico.
- Mãe, a senhora chegou as minhas irmãs chegaram. – diz me abraçando.
- Sim meu amor, chegamos. – deixo um beijo em sua cabeça e sorrio.
Ele se separa de mim e vai até o sofá onde minha mãe já está sentada com a Giulia no
colo. O Rodrigo vai até lá e também se senta com a Alicia em seus braços, me sento no
outro sofá e fico olhando para aquela cena.
O Gustavo está fascinado com as irmãs, dava pra ver que está bastante feliz. Ele fazia
várias perguntas como: “Quem é quem?” “Por que elas são diferentes, se são gêmeas?”.
E dentre outras perguntas que o Rodrigo fez questão de responder.
- Minhas irmãs são muito lindas, pai. – ele divide sua atenção entre uma e outra.
- Eu sei, meu filho. E é por isso que eu vou precisar muito da sua ajuda.
Vai começar. Penso e sorrio.
- Como assim, pai? Ajuda pra que?
- Pra nenhum moleque metido a esperto querer encostar nas nossas meninas. Elas são
nossas, só nossas.
- Não faz isso com a criança, Rodrigo, pelo amor de Deus. – digo sorrindo.
- Mas por que não, pai?
- Daqui á alguns anos você vai entender o porquê, meu filho… Você vai entender. – ele diz
passando a mão nos cabelos do Gus.
O Gustavo nada mais disse, apenas ficou com um olhar de quem não havia entendido
nada, mas se calou.
Realmente essas meninas irão sofrer.
- Tadinha das minhas netas. – diz minha mãe sorrindo.
- Tadinho de mim, dona Marta.
Ficamos mais algum tempinho ali na sala até a Alicia decidir que era a hora de fazer as
necessidades, ai tivemos que subir para eu poder trocá-la.
O quarto delas é lindo, ele é completamente claro, na cor branca, mas com pequenos
enfeites decorativos da cor rosa. Eu tive a ajuda da Julia e da minha mãe para a decoração
do quarto e eu amei o resultado final, ficou bem delicado e eu consegui usar o rosa de uma
maneira que não ficasse enjoativo, na verdade ele quase não aparece, mas mesmo assim
está lindo.
Como o Rodrigo não sabe trocar fralda, ele passa a Alicia para os meus braços e pega a
Giulia com a minha mãe. Enquanto eu trocava a fralda da Alicia o Rodrigo estava
babando com a Giulia em seus braços sentado em uma das poltronas que tem no quarto.
Termino de trocar a fralda e a pego nos meus braços sentando-me lentamente na poltrona
ao lado do Rodrigo.
- Nunca passou pela minha cabeça um dia ser pai, até você aparecer… E olha só eu aqui,
super feliz em ser pai de duas meninas lindas, que provavelmente me farão enfartar antes
dos quarenta e cinco.
- Ai amor, você não existe. – digo sorrindo. – Você vai ver que nem vai ser tão difícil
assim… Pelo menos eu espero. – digo sorrindo e ele me acompanha.
- Mas é serio, eu estou muito feliz… Só estou com um pouco de medo de não saber lidar
com elas, quando crescerem. O Gustavo vai ser moleza, agora duas meninas, na
adolescência, hormônios a flor da pele… Agrh! Eu realmente estou com medo e não é só
na questão dos meninos. – diz e eu sorrio. – Mas é que eu realmente tenho medo de não
saber ser um pai tão bom assim, de não saber conversar com as minhas filhas, de não
conseguir aconselha-las da melhor forma possível. Eu quero ser um pai presente, não
quero ser aqueles que jogam a responsabilidade da educação apenas para a mãe. Não! Eu
quero participar de tudo, mas eu realmente não sei se tenho jeito pra fazer isso com elas. E
eu tenho medo de fracassar.
- Fica tranqüilo, amor. Pode parecer que não, mas eu também tenho um pouco de medo em
relação a isso, mas isso nós vamos aprender juntos e com o tempo. – estico a minha mão e
seguro a dele. – E eu acho que não vai ser muito diferente da forma como a gente cria o
Gustavo não. As meninas requerem um pouco mais paciência? Sim, talvez. – solto uma
gargalhada e ele me acompanha. – Mas a gente consegue… Juntos, conseguimos.
Ele abaixa a sua cabeça e deixa um beijo na minha mão.
- Eu te amo. – diz ele sorrindo.
- Também te amo, meu amor.
- Amo vocês também viu minhas princesas. – diz esticando a mão para tocar a Alicia.
Olho para a porta e vejo o Gustavo encostado nela nos olhando.
- Vem aqui filho. – o chamo e ele vem até a gente ficando em pé do nosso lado.
- Eu também te amo filhão. – diz o Rodrigo passando o braço pelos ombros do Gustavo
dando um abraço meio desengonçado.
- Também te amo pai, o senhor sabe… Minhas irmãs também e a mamãe.
Meus olhos já estão cheios de lágrimas só de ouvir isso. Eu não consigo e acho que é
impossível expressar com palavras o tamanho da minha felicidade nesse momento. Eu
tenho uma família linda que eu amo muito e que sempre está ao meu lado.
- Vocês são tudo pra mim. – digo deixando as lágrimas caírem de vez.
O Gustavo se afasta do Rodrigo e se senta no braço da poltrona me abraçando, ele não
disse nada, apenas me abraçou e isso é tão confortante.
Vejo o Rodrigo levantando bastante sem jeito, por causa da Giulia em seus braços, e se
encosta no outro braço da poltrona, ele passa um braço pelo meu pescoço e deixa um beijo
sobre a minha cabeça.
E ficamos aqui assim. Nós cinco, durantes horas, conversando e babando nas meninas.
Às vezes a vontade de chorar me invadia novamente, mas é de felicidade. Pra mim, os
meus choros são mais uma forma de agradecer a Deus por tudo que ele tem feito pra mim.
Agradecê-lo por ter colocado um homem maravilhoso na minha vida e por ter me
presenteado com uma família linda igual a minha.

[…]



Três anos depois…
- Olha aqui meninas, vocês se comportem na casa da tia Camila, tá?
Elas estão na minha frente, com os olhinhos caídos tentando fazer charme, só que comigo
não rola. Com o Rodrigo sim, mas comigo não.
Elas estão tão grandes e espertas, já sei que realmente darão trabalho daqui á alguns anos.
Imaginem duas irmãs super cúmplices, elas não se separam, praticamente tudo que uma
faz a outra tem que estar junta e eu fico muito feliz por isso. Dificilmente elas brigam
entre elas, logico que acontece de às vezes uma das duas, ou as duas, estarem viradas e
começarem a brigar, mas mesmo assim é super raro isso acontecer. É mais fácil elas se
juntarem para brigar com o Gustavo do que entre elas. Eu fico impressionada porque ao
mesmo tempo em que elas não se parecem, elas também têm muitas coisas parecidas.
Confuso, eu sei.
As duas têm cabelos cacheados, o formato dos rostos é parecido. Se tivessem o mesmo
tom de pele e a Alicia tivesse os olhos azuis da Giulia, poderia dizer que são gêmeas quase
idênticas. Sem falar na esperteza que as duas têm, eu realmente não aguento a inteligência
de dois pingos de gente igual essas meninas. Com três anos elas já falam tudo, mas tudo
mesmo. Antes mesmo de completarem um ano, elas já estavam andando… Tudo com
essas meninas foi rápido, o que de certa forma eu até acho legal…
Hoje elas irão dormir na casa Camila, eu não sei como ela vai aguentar essas três meninas
juntas. Eu realmente não sei.
E como sempre, quando elas saiam para dormir na casa das avós ou na Mila, eu falava as
mesmas coisas e elas paravam para escutar atentamente, mesmo tendo apenas três anos.
Mas as crianças nessa idade entendem sim.
- Ouviram meninas? – repito.
Elas olham uma para a outra e depois volta os seus olhares para mim e acena.
- Sim mamãe. – respondem juntas.
- Tudo bem, agora vem me dar um beijo as duas. – digo e abro os meus braços.
Elas vêm até a mim, me abraçam e deixam um beijo de cada lado da minha bochecha.
- Vamos, né meninas? – diz a Mila em pé na nossa frente.
- Vamos Titia. – diz a Alicia toda alegre.
Essa daí adora sair.
Colo as mochilinhas uma em cada e elas já estavam prontas para ir.
- Onde vocês duas pensam que vão sem falar comigo, em? – diz o Rodrigo chegando na
sala.
Ele tinha saído pra levar o Gustavo na escola, pois a escola programou um programa férias
para os alunos, eles irão ficar duas semanas em uma daquelas colônias de férias que tem
acampamento, campeonatos de futebol, musica e tudo mais. O Gustavo saiu daqui super
animado, pois ia ficar duas semanas fora de casa. Já está se sentindo O grande.
- Papai. – elas dizem ao mesmo tempo e vão até ele abraçando.
- Nem parece que elas o viram algumas horas atrás. – falo com a Mila e ela sorri.
- É assim mesmo, amiga, com a Nath é a mesma coisa, um grude que só com o pai. Nem
quis vir comigo por isso.
- O Rodrigo ama isso, olha só. – digo apontando para a cena.
Ele está com as duas nos braços, uma de cada lado, e eles conversavam animadamente.
- É papai, a gente vai dormi na casa da Nath. – diz a Alicia empolgada.
- Ah, mas eu vou ficar sozinho? Sem minhas princesinhas? Ah não!
- Papai… não.. olha, a gente vai voltar. – diz a Giulia parecendo estar com um pouco de
pena do pai, Ela passa as mãos pelo rosto do pai levemente. – Mamãe vai ficar aqui com
você.
- Poxa, então tá bom, mas não demorem, viu?
- Não papai, a gente não vai demorar. – diz a Alicia e deixa um beijo em sua bochecha e o
abraça fazendo com que a Giulia fizesse o mesmo.
- Então vamos né gostosas, a Natasha já deve estar louca porque vocês não chegam.
- Vamos titia. – diz a Alicia.
O Rodrigo as coloca no chão e deixa um ultimo beijo nelas.
- Se cuidem. E voltem logo. – diz o Rodrigo.
Elas acenam, vem para perto da gente e seguram nas mãos da Mila.
- Deixa um beijão na Nath e pode deixar que iremos buscá-las amanhã, assim eu mato as
saudades da minha afilhada.
- Tudo bem. Espero vocês para o almoço então.
Ela se despede de mim e do Rodrigo e sai com as meninas.
- Finalmente a sós. A casa só nossa agora. – digo indo até o Rodrigo e envolvendo os
meus braços em seu pescoço.
Busco sua boca para um beijo e suas mãos descem lentamente para a minha bunda,
apertando-a de leve.
- Graças a Deus. – ele diz assim que separo nossas bocas.
- Tenho planos para a gente essa noite. – digo arranhando minha unha levemente em sua
nuca, fazendo-o se arrepiar.
- Huum… Então foi tudo de caso pensado, Senhora Albuquerque?
- Pior que não, apenas aproveitei que teríamos a casa só para a gente. – deixo um beijo de
leve em seu pescoço e ele aperta a minha bunda com força.
- E eu posso saber que planos são esses?!
Eu não sei como ele vai reagir ao que eu tenho em mente, mas espero que goste.
Vejo que já está quase escurecendo e resolvo não enrolar mais, até porque, com ele
apertando a minha bunda desse jeito não dá.
Fico na ponta dos pés e mordo sua orelha de leve, dizendo.
- Me leva para o quarto e descobrirá.
Sinto os seus braços fortes me levantando rapidamente e eu enrolo as minhas pernas em
seu corpo. Suas mãos ainda estão em minha bunda apertando-a com força contra o seu
corpo.
- Você é a minha perdição.
- E você a minha. – digo e busco os seus lábios.
Sinto-o andando e logo em seguida subindo as escadas e não demorou muito para que eu
ouvisse a porta do quarto batendo.
O Rodrigo me joga sobre a cama e rapidamente retira a sua camisa, voltando para cima de
mim novamente, devorando a minha boca. Suas mãos tocam precisamente todas as partes
do meu corpo fazendo-me ficar ainda mais acesa. Mas eu não posso deixá-lo comandar
hoje. Hoje não. Então com muito sacrifício, eu consigo ficar por cima dele na cama.
Continuo o beijo e para tentar tirar o foco dele para o que eu vou fazer, começo a rebolar
lentamente sobre o seu membro, fazendo gemidos altos saírem da boca de ambos.
Estico a minha mão até o criado mudo o abrindo e retiro de lá de dentro a algema dele,
que eu já havia deixado estrategicamente aberta para facilitar o meu trabalho. Mudo a
algema de mão e ainda rebolando sobre o seu membro para distraí-lo, eu levo a minha
mão livre até a minha bunda onde ele a apertava com força. Levanto sua mão lentamente e
para ajudar na distração aprofundo ainda mais o beijo fazendo nossas línguas brigarem
excitantemente por espaço. Quando finalmente consigo ter sua mão no alto, sem pensar
muito eu fecho a algema em seu pulso junto à cabeceira da cama.
O Rodrigo rapidamente separa as nossas bocas e me olha espantado, logo em seguida
olhando para o seu braço preso.
- Porra Sophia, pra quê isso?! – diz parecendo um pouco nervoso agora e puxa com força
o braço preso.
- Nós vamos brincar um pouco.
- Mas pra isso precisa me prender, porra?
- Sim… Faz parte. Agora seja um menino bonzinho e me dê a outra mão pra fazer o
mesmo.
- Não… Me solta. – ele diz sério. Mas eu sei que se eu insistir, ele deixa.
- Amoor. – digo rebolando lentamente sobre o seu membro, fazendo um gemido sufocado
sair de sua boca. Deixo um beijo em seu pescoço e logo em seguida uma mordidinha de
leve. – Deixa vai… Você vai gostar. – ou não. – Eu prometo.
Beijo carinhosamente o seu pescoço e continuo rebolando sobre ele.
- Porra, anda logo, antes que eu me arrependa.
Rapidamente pego a outra algema dentro da gaveta e prendo sua outra mão.
Deixo um beijo rápido em sua boca e saio de cima dele.
- Onde você vai?
- Espera que eu já volto. – digo entrando no closet.
- Que merda Sophia, volta aqui… EU JÁ ESTOU ARREPENDIDO.
Sorrio com isso e pego a fantasia, que estava escondida entre as minhas coisas, e começo a
vesti-la.
Eu sempre ouvi falar que de vez em quando é sempre bom variar a hora do sexo. Por mais
que eu nunca tenha me cansado do sexo do Rodrigo é bom fazer coisas novas de vez em
quando, apesar de que, o que eu vou fazer hoje não é tão novo assim, pois ele já fez
comigo. Mas vai ser novo pra ele. Ah se vai. Do jeito que esse homem é, eu aposto que
mulher nenhuma nunca teve coragem de fazer o que eu irei fazer… Dominá-lo. Mas vai
ser bom fazer o Rodrigo provar do seu próprio veneno… Veneno delicioso, devo dizer.
Coloco o vestido extremamente curto sobre a lingerie que eu já tinha posto
antecipadamente, para adiantar o meu trabalho. O vestido é preto e vai até a beiradinha da
minha bunda, fecho apenas alguns dos botões, deixando um decote generoso e coloco a
meia preta que vai até a metade das minhas coxas.
- SOPHIA, PORRA!
- Olha a boca, amor… – digo sorrindo. Eu sei o quanto ele está irritado, pois sei como ele
odeia esperar, ainda mais quando está excitado. – Calma que eu já estou indo.
Coloco os acessórios dá fantasia, um cinto que tem um cassetete meio que emborrachado
pendurado nele e o coldre, só não colocaria nenhuma arma ali, mas tudo bem.
Olho-me no enorme espelho e pego um salto, também na cor preta, colocando-o. Dou
mais uma ultima olhada e respiro fundo.
Pego o meu celular e já o preparo, pois precisarei dele.
Vou para o quarto e encontro um Rodrigo muito vermelho e aparentando está nervoso e
sem paciência. Ele puxa os seus braços na tentativa de se soltar, mas de nada adianta.
Coloco o celular sobre a mesinha ao lado da porta e fico em pé de frente pra ele, com
meus braços cruzados e as pernas levemente abertas olhando-o com a cara fechada. São
muitos anos de convivência, acho que consegui pegar um pouco da marra desse homem
pra mim.
Não digo nada e continuo observando-o até ele reparar a minha presença ali e parar
imediatamente o que está fazendo e me olhar, visivelmente surpreso. Sua boca está aberta
mostrando incredulidade, eu acho, e seus olhos transbordam desejo.
- Puta que pariu, Sophia.
- O senhor tem uma boquinha muito suja, sabia? – digo lentamente olhando-o por
completo ainda do mesmo jeito que anteriormente. – Isso não é jeito de se falar com uma
autoridade.
- Merda! Eu não estou acreditando! Tire-me daqui, eu preciso arrancar essa roupa de você
e te foder. Agora! – posso vê-lo se mexendo meio incomodo sobre a cama.
Retiro o cassetete da minha cintura e ando lentamente até ele.
- Eu já falei que isso não é maneira de se falar… Ah e antes que eu me esqueça, é senhora
Delegada pra você.
- Sophia, não faz isso, você vai me deixar louco… Porra!
Subo lentamente na cama, me sento sobre o seu membro e debruço sobre ele falando
baixinho em seu ouvido.
- Essa é a intenção. – deixo uma mordida na sua orelha e rebolo de leve em seu colo
fazendo-o gemer em meu ouvido.
- Porra o que eu estou fazendo da minha vida… Deixando você me dominar. – diz
parecendo não se conformar com a situação.
Quem diria! Um dominador, sendo dominado.
Solto uma gargalhada e falo olhando em seus olhos.
- Eu já te dominei há muito tempo.
- Filha da… – bato com o cassetete de leve em sua perna direita, fazendo-o pular. – Porra
você me ba…
- Olha o que você vai dizer, em… O seu castigo pode ser pior… Então eu sugiro que fique
caladinho e me deixe fazer o meu trabalho. – eu rebolava de leve sobre o seu membro e
distribuía leves mordidas em seu pescoço.
- Porra, eu não estou acreditando nisso. – diz ele se rendendo. – QUE MERDA!
Solto uma gargalhada e deixo um selinho rápido em sua boca, desço beijando todo o seu
peitoral descoberto. Jogo o cassetete no chão e começo a arranha-lo de leve, fazendo com
que gemido contidos saíssem de sua boca.
Chego ao cós da sua calça e desabotoo-a lentamente, a retiro junto com os sapatos,
jogando em um canto qualquer do quarto, seu membro está praticamente estourando
dentro da sua boxer. Passo minhas mãos sobre ele, apertando-o de leve e o Rodrigo geme
mais alto. Sorrio com isso e levo minhas mãos até a sua cintura abaixando a boxer
lentamente, fazendo com que o seu membro pulasse para fora, jogo-a em qualquer lugar e
volto minha atenção para o homem maravilhoso, nu e algemado a minha frente.
Ah Rodrigo! Quem diria!
- Porra Sophia, pelo menos faça alguma coisa, eu não aguento mais.
- Isso não é maneira de se falar… Cadê a educação? – digo séria, mas ao mesmo tempo
tinha um leve sorrisinho no rosto.
- Por favor, faz alguma coisa.
Cruzo os meus braços e fecho a cara esperando ele falar o que eu quero ouvir.
Ele respira fundo e revira os olhos.
- Por favor, senhora Delegada… Faça alguma coisa.
Ando lentamente e subo novamente na cama ficando sobre ele, me sento sobre o seu
membro e posso senti-lo pulsar. Seguro toda a minha vontade de desamarrá-lo e deixá-lo
fazer o que quiser comigo e respiro fundo.
Hoje sou eu que comando.
Deixo um beijo no seu pescoço e levo minha mão até o seu membro, segurando-o de leve.
- Quem é a sua dona? A quem você pertence?
Digo lentamente e os movimentos em minhas mãos também são lentos e torturantes.
- Porra, não faz isso.
Passo minha língua lentamente pelo seu pescoço, fazendo todo o seu corpo se arrepiar e o
seu membro tremer na minha mão.
- Eu ainda não ouvi a resposta.
- Porra. VOCÊ! – ele praticamente grita e isso me faz sorrir ao ver o tamanho do seu
desespero.
- Muito bem…
Desço rapidamente e antes de leva-lo até minha boca, passo minhas mãos em sua extensão
mais algumas vezes.
- AAH SOPHIA.
Ele geme alto assim que eu o ponho na minha boca, minha língua rodeava toda sua glande
e depois o levava até onde conseguia… E assim eu fiquei por alguns minutos, até perceber
que ele já estava quase no seu limite, seu membro pulsava forte em minhas mãos….
- Ah Sophia e-eu.
Antes que ele possa gozar eu paro e o retiro de dentro da minha boca. O Rodrigo me olha
parecendo não acreditar.
- Cacete, por-porque vo-você parou?! – ele estava incrédulo.
- Não quero que você goze agora.
- Porra! Me solta. Anda, me solta! Eu quero te tocar. Quero tirar essa porra dessa roupa ai
e te…
- Eu posso fazer isso por você. – me levanto e fico por cima dele fazendo nossas bocas se
encostarem. – Um showzinho especial. O que você acha? – passo minha língua
contornando lentamente os seus lábios.
- Faz o que você quiser. Só, por favor, me deixa te tocar.
- Eu posso te soltar, com uma condição…
- Qualquer coisa.
- Enquanto eu estiver fazendo o que eu tenho que fazer, você vai ficar aqui, paradinho
apenas assistindo…
- Porra, tá, só me tira daqui. – diz me interrompendo.
- Se não eu não termino o que comecei. – continuo.
- Tudo bem, amor, agora me solta.
Sei que vou me arrepender.
Estico o meu braço até o criado mudo, pego as chaves das algemas e destranco-as. No
mesmo momento que eu retiro a segunda, eu sou surpreendida pelos braços fortes do
Rodrigo em minha cintura, agarrando-me com força nos virando na cama fazendo-o ficar
por cima de mim.
Sem me dar tempo para nada, ele gruda nossas bocas em um beijo carnal e excitante. Por
um momento eu acabei me esquecendo do que eu disse minutos atrás e me entreguei. Ele
esfrega o seu membro com força em minha intimidade já totalmente encharcada, sinto sua
mão nos meus seios os apertando com força.
- Ro-Rodrigo… – tento tirá-lo de cima de mim, mas é quase impossível. – Você prometeu.
- Porra! – ele aperta mais uma vez o meu seio e se separa um pouco de mim.
Eu o jogo para o lado e me levanto da cama.
- Fica ai. – digo.
- O que você vai fazer? – diz ele sentando agora na cama e levando sua mão ao seu
membro completamente duro.
- Você não quer me ver sem essa roupa? – digo indo até a mesinha onde deixei o celular.
- Isso é o que eu mais quero… E depois te foder.
Ignoro o seu ultimo comentário… Na verdade não ignoro nada, pois uma coisa dessas
vinda do Rodrigo não se pode ignorar.
- Então eu vou fazer esse trabalho por você, amor.
- Não prec…
- Shiiiiu. – faço um sinal para que ele se calasse e logo a musica que escolhi, PillowTalk –
Zayn Malik, é reproduzida pelo aparelho de som que tem no quarto.
Conectei o celular para que reproduzisse a musica por eles e ficar bem melhor pra fazer o
que eu tenho em mente.
Eu nunca havia feito isso, mas também não sinto um pingo de vergonha. Acho que com o
tempo de casado que temos, vergonha é uma coisa que não tenho mais com ele quando se
trata de sexo.
Deixo o ritmo sexy da musica me levar e começo a balançar o meu corpo lentamente,
passo as minhas mãos sobre os meus seios e bunda, lentamente. Olho para o Rodrigo que
tem novamente aquela expressão em seu rosto: De quem não está acreditando no que está
vendo.
Levo minhas mãos até o cinto em minha cintura e desabotôo-o, fazendo o mesmo com o
coldre, jogando-os no chão em seguida.
- Porra eu não estou acreditando. – ele dizia enquanto acariciava de leve o seu membro.
E essa visão é maravilhosa.
Começo a desabotoar o meu vestido lentamente deixando aos poucos o vermelho da
minha lingerie rendada aparecer.
Ele ama quando eu uso lingerie vermelha.
Assim que consigo deixar o vestido totalmente aberto, paro um pouco e deixo o meu
corpo levar pela batida da musica, sem desgrudar os meus olhos do dele, eu desço
rebolando lentamente até o chão. Vejo-o apertando seu membro com um pouco mais de
força e eu sorrio de uma maneira sexy pra ele.
Subo lentamente, passando as mãos pelo meu corpo e retiro o vestido do meu corpo,
jogando-o para ele, que rapidamente o pega no ar. Ele o leva até o rosto cheirando e logo
em seguida o deixando de lado voltando a prestar atenção em mim.
Passo minhas mãos pelo meu corpo, agora coberto apenas pela lingerie. Posso dizer que
depois de duas gestações e uma delas sendo de gêmeas, o meu corpo melhorou. Na
verdade eu comecei a malhar e isso ajudou também a deixá-lo ainda melhor, pois eu
realmente não engordei quase nada na minha gestação… Eu acho que é a genética.
Retiro os sapatos e vou andando lentamente até a cama, coloco uma das minhas pernas
sobre ela.
- Tira. – falo me referindo à meia.
O Rodrigo rapidamente vem para a beirada da cama se sentando ali, suas mãos vão para a
minha coxa, ele deixa um beijo nela e logo em seguida começa a descer a meia. Mas eu o
paro.
- Nada disso. – digo e faço um sinal de negação com o dedo. – Tira com a boca.
Ele me olha parecendo um pouco surpresa, mas faz o que eu mandei, sem me
contrariar.Assim que ele consegue tirá-la, ele deixa um tapa nela na minha coxa. Sorrio e
coloco a outra perna na cama e ele faz o mesmo.
Antes que eu possa pensar muito, já estou jogada na cama com ele por cima de mim
devorando a minha boca. Mas eu não recuo. Deixo que ele faça agora o que ele quiser
comigo.
A quem eu quero enganar? Eu amo quando ele toma conta da situação. Eu amo quando ele
me domina. Eu aguentei até tempo demais.
- Rodrigo, eu preciso de você… – digo enquanto suas mãos estavam ocupadas em arrancar
o meu sutiã fora.
Ele me olha e sorri malicioso.
- Eu vou te dar o que você quer.
Assim que ele tira o meu sutiã ele desce para a calcinha retirando-a de mim. Seu corpo
volta para cima do meu e com um movimento rápido, sinto-o me penetrando por
completo, fazendo-me gemer alto.
- OH RODRIGO!!!
Ele começa a estocar com força e rapidez, o que me fazia ficar ainda mais louca e
excitada, em poucos minutos já consigo sentir o meu orgasmo chegando e eu o aviso.
O Rodrigo para, nos virando na cama e se senta, fazendo-me ficar por cima dele. Tudo
isso sem sair de dentro de mim.
- Vai rebola. – diz e deixa um tapa na minha bunda.
Rapidamente começo a me movimentar e ele leva suas mãos para a minha cintura.
A musica novamente repetia. Não sei quantas vezes ela já foi tocada, mas ajudava no
clima. A batida sexy e a letra faziam um grande contraste com o momento.
Já estava sentindo novamente os espasmos me atingir e sinto que o Rodrigo também está
chegando ao seu limite.
Suas mãos fortes sobem pelas minhas costas e uma delas segura com força o meu cabelo.
O Rodrigo gruda nossas bocas em um beijo raivoso.
- Fucking you… – ele canta roucamente uma parte da musica ainda com nossas bocas
próximas e logo em seguida morde de leve o meu lábio inferior, puxando-o pra si.
Essas simples palavras e os seus gestos foram suficientes para que eu chegasse ao meu
limite, desmanchando-me em seus braços. E não demorou muito para ele fazer o mesmo.
Nossas respirações estavam ofegantes e fora isso o único som no quarto é o da musica.
Suas mãos subiam e desciam pelas minhas costas, de vez em quando apertando-a, o que
fazia o meu corpo reagir a isso.
- Porra, isso foi… Foda.
Sorrio apenas e deixo um beijo em seu pescoço.
- Você me surpreende a cada dia que passa. – diz passando sua mão retirando os cabelos
do meu rosto.
- E isso é bom? – deixo um beijo rápido em sua boca e volto minha atenção aos seus
olhos.
- Maravilhosamente bom.
Ele junta nossas bocas em um beijo calmo e terno. Suas mãos passam lentamente pelas
minhas costas fazendo-me grudar mais em seu corpo. Ele para o beijo e me faz olhá-lo e
em meio a todo esse clima gostoso ele faz como sempre e diz.
- Eu te amo, Morena.
- Eu também te amo, Meu Delegado, hoje e pra sempre.
- Pra sempre.






FIM…

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