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“IMPACTOS DO USO ABUSIVO DA INTERNET E DAS REDES SOCIAIS.

Ana Claudia Galhardo¹


Orientador: André Luiz Moraes Ramos CRP: 33084-8

RESUMO

A Internet e suas redes sociais surgiram como resposta para suprir as


necessidades de uma sociedade em transformação em função dos movimentos
sociais, econômicos e políticos de globalização e da crescente demanda pela
democratização do conhecimento. Com efeito, o presente artigo tem como
objetivo oferecer subsídios para que se possa melhor compreender as
transformações que estão ocorrendo na sociedade devido ao uso abusivo das
tecnologias proporcionadas pela internet. Este estudo é de fundamental
importância para profissionais da área da saúde e também aqueles que têm
como interesse o compromisso social. O presente artigo será instrumento para
compreensão e exercício de reflexão para as mudanças culturais ocorridas na
contemporaneidade. Foi realizada pesquisa bibliográfica, revisão da literatura
sobre esta temática, identificando os impactos negativos causados pelo uso
abusivo da internet e as redes sociais, abordando temas e termos atuais como
a dependência patológica e a nomofobia.

Palavras-chave: Dependência; Internet; Redes Sociais; Nomofobia.

ABSTRAT

The Internet and its social networks have emerged as a response to meet the
needs of a changing society in the light of the social, economic and political
movements of globalization and the growing demand for the democratization of
knowledge. In fact, this article aims to provide support to better understand the
transformations that are occurring in society due to the abusive use of the
technologies provided by the Internet. This study is of fundamental importance
for health professionals and also those who are interested in social
commitment. This article will be an instrument for the understanding and
exercise of reflection for the cultural changes occurring in the contemporary
world. It was carried out a bibliographical research, a review of the literature on
this theme, identifying the negative impacts caused by the abusive use of the
internet and social networks, addressing current themes and terms such as
pathological dependence and nomophobia.

Key words: Dependency; Internet; Social networks; Nomofobia.

¹Graduanda em Psicologia pelo Centro Unisal de Lorena. email: anac_galhardo@hotmail.com


Artigo apresentado como exigência parcial para conclusão do Curso de Psicologia, sob a
orientação do Profº. Dr. André Luiz Moraes Ramos, email: andre.lmr@uol.com.br.
Introdução

Com os avanços tecnológicos da contemporaneidade, mudanças


culturais significativas estão acontecendo em esfera mundial. O uso da internet
e seus recursos, como as redes sociais, jogos, AVAs (Ambientes Virtuais de
Aprendizagem), dentre outros, estão notavelmente presentes no cotidiano de
todas as classes sociais e faixas etárias, por propiciarem acesso fácil à
informação, segurança, comodidade, praticidade em comunicar-se,
entretenimento, diversão, entre outros. O uso da internet traz muitos benefícios
aos seus usuários, entretanto, se faz necessário, estudos e pesquisas em
relação ao uso abusivo dela. O uso cada vez mais frequente cria uma
necessidade em seus usuários e, devido à proporção do uso, já são
identificados casos de dependência de internet patológica que estão
acarretando problemas físicos e psicológicos em seus usuários. Atualmente
existe no Brasil profissionais da área da saúde mental, do Instituto de
Psiquiatria (IPUB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que já
utilizam métodos de intervenção para essa demanda, sendo o primeiro centro
especializado exclusivamente no atendimento dos usuários abusivos e
dependentes das tecnologias.

Ao que se refere dependência de internet, identificada como uma


dependência patológica, a Nomofobia pertence ao quadro das fobias. Essa
nomenclatura surgiu na Inglaterra em 2008 e vem da expressão “No Mobile
Phobia”, que significa a fobia de ficar sem o telefone celular (KING; NARDI,
2013), o que se revela de suma importância estudos e pesquisa relevantes ao
tema, com o intuito de compreender as mudanças culturais que estão
ocorrendo no contexto atual mundial no qual estamos inseridos, a fim de atuar
na conscientização do uso e proporcionar métodos de intervenção.

Young et al. (2011) ressaltam a questão de como são mantidas as


relações humanas atualmente, defendendo a ideia da necessidade de se
desconectar para se conectar com a realidade vivencial. A tecnologia é útil,
mas não deixa de ter um impacto sobre nossa saúde e bem-estar. Não fomos
projetados para um estado constante de excitação do sistema nervoso central
e com todos os nossos aparelhos portáteis operam em um padrão de reforço
de razão variável. Sentimos como se não pudéssemos desligá-los e
começamos a sentir que não podemos viver sem eles. A pergunta, na verdade,
passa a ser: podemos viver bem sem eles? Viver a nossa vida em ambientes
virtuais por meio de jogos ou em mundos virtuais também nos traz muitas
perguntas. Como podemos viver uma segunda vida quando na realidade não
estamos vivendo a primeira? Parece que estamos fugindo de alguma coisa,
talvez de nós mesmos. Estamos tentando nos amortecer ou lidar com o tédio,
ou nos sentimos desconectados de nós mesmos e da nossa vida. Então
seguimos conectados, mas também desconectados, nos distraindo de modo
aparentemente interminável.

Com o grande avanço tecnológico das últimas décadas, principalmente


no que tange à eletrônica e à informática, a Internet e seus recursos tornaram-
se cada vez mais populares (ABREU, et al. 2008). Seus usuários de Internet
são pessoas de todas as idades e todos os estratos socioeconômicos no
mundo todo. Com efeito, os usuários têm a possibilidade de encontrar outras
pessoas semelhantes, de achar informações rapidamente, de manter
relacionamentos, de jogar, de procurar e receber suporte emotivo e de
conhecer outras culturas (GUERRESCHI, 2007).

A utilização constante da internet também é identificada por Castells


(2000 apud TERRA, 2015) que alertava para o surgimento deste sistema
eletrônico estava promovendo mudanças na nossa cultura. Abordagens como
essas indicam a ocorrência de alteração nos padrões de comportamento das
pessoas ao utilizarem uma ferramenta tecnológica. A base para estas
conclusões foi a percepção de que a internet é caracterizada por possuir um
alcance global, por proporcionar maior interatividade e também por integrar
todos os meios de comunicação (YOUNG, 2011 at al.).

É impossível ignorar a presença da tecnologia e os avanços promovidos


por ela na sociedade contemporânea, essas ferramentas representam
contribuições para diversas esferas, como a social, acadêmica e também para
o mercado financeiro. Não as utilizar representaria um retrocesso histórico de
proporções incalculáveis.
Os benefícios decorrentes do uso de comunicadores instantâneos em
redes sociais como Facebook, Twitter, Snapchat e o uso de aplicativos em
Tablets e Smartphones como Whatsapp e Telegram já são relatados por parte
dos indivíduos mais tímidos e introvertidos como um importante recurso de
ajuda (ABREU, et al. 2008). No entanto, juntamente com o aumento na
popularidade do uso da rede mundial e dos jogos eletrônicos, surgiram relatos
na imprensa leiga e na literatura científica de indivíduos que estariam
"dependentes" da realidade virtual da Internet e dos jogos eletrônicos. Vale
ressaltar que esta é uma das queixas frequentes em consultórios psiquiátricos
por parte de pacientes mais velhos ou mesmo de pais preocupados com seus
filhos ao referirem aumento do isolamento social e piora nos rendimentos
escolares e acadêmicos (ABREU, et. al. 2008).

Contexto Histórico do surgimento da Internet à sua dependência.

A origem da internet remonta a 1969, quando em plena Guerra Fria, o


Departamento de Defesa dos Estados Unidos confiou à ARPA (Advanced
Research Project Agency) a missão de criar uma rede de ligação entre os
computadores das posições táticas militares mais importantes. Era fundamental
que não houvesse nenhum impedimento central na Rede e que todos os
computadores veiculassem a passagem da informação na entrada e na saída,
de modo que se um ou mais segmentos da Rede fossem destruídos por
bombardeios, os dados poderiam seguir outras vias e não se perderem. A
Rede militar que foi instituída foi chamada de ARPANET (Advanced Research
Projects Agency Network) (GUERRESCHI, 2007, p 22.)

Com o crescimento da Rede, desenvolveu-se a consciência de que ela


podia ser aproveitada também para fins comerciais. O boom dos empregos
nessa área se deu na década de 1990 e em 1991 o CERN (Conselho Europeu
para a Pesquisa Nuclear) criou uma nova arquitetura para simplificar a
navegação na Rede, a World Wide Web (www). Depois disso, o
desenvolvimento da Internet explodiu e hoje é formada por milhares de Redes,
nas quais cada uma recebe informações de um certo número de aparelhos
individuais. (GUERRESCHI, 2007, p 22.)
A era da internet tornou propício o aprimoramento de um meio de
comunicação: as redes sociais, serviços que já existiam antes mesmo da
invenção da internet e que foram modificados com o aprimoramento
tecnológico. De acordo com Silva (2009 Apud TERRA, 2015), o início das
pesquisas sobre redes sociais ocorreram no final do século XVIII, quando as
redes já eram utilizadas como forma de estabelecer vínculos entre pessoas que
compartilhavam semelhantes crenças e valores. Porém, o advento da internet
fez com que os serviços de redes sociais também fossem utilizados de forma
muito mais intensa. Neste caso, a internet atua também como um mecanismo
que modifica a forma como os serviços são prestados, alterando as formas de
comunicação e de interação entre pessoas e organizações. Estes mecanismos
de comunicação modificam os hábitos das pessoas e favorecem a expansão
da utilização das tecnologias em diferentes áreas, como, por exemplo, a
educação à distância e os ambientes virtuais de aprendizagem (AVA). As
principais vantagens dos ambientes virtuais de aprendizagem são a criação de
um ambiente de debates com a criação de fóruns e chats que utilizam a
tecnologia para qualificar as aulas (SILVA, 2006 Apud TERRA, 2015). Dessa
forma, os ambientes virtuais de aprendizagem estão cada vez mais inseridos
em uma sociedade que utiliza ferramentas tecnológicas conectadas à internet.

A primeira pesquisa sobre dependência de internet foi realizada em 1996


e este estudo inicial foi apresentado à Associação Psicológica Americana pela
Dra. Kimberly Young. Naquela oportunidade, a pesquisa revelou dados
analisados em mais de 600 usuários que apresentavam sintomas de
dependência de internet. O instrumento utilizado para identificar a Dependência
de Internet entre os usuários foi uma versão adaptada dos critérios do Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical
Manual of Mental Disorders – DSM) para o jogo de azar patológico. Este
estudo foi a base para originar o artigo “Internet Addiction: The Emergence of a
New Disorder” que foi apresentado na conferência anual da Associação
Psicológica Americana que ocorreu em Toronto (YOUNG, 2011).

Para analisar corretamente este fenômeno que é a dependência de


internet e o aumento de incidência entre os usuários, é necessário
compreender o histórico desta patologia e identificar a forma como foram
realizadas as primeiras descobertas sobre o tema. As pesquisas iniciais sobre
o tema já indicavam a existência de uso abusivo de internet entre os usuários.
Este fator foi evidenciando por um dos primeiros estudos realizados por
Greenfield em 1999, juntamente com a ABCNews.com, no qual foi realizado
com uma amostra de 17.000 respostas. Este estudo identificou que 6% dos
usuários se enquadravam no perfil mais elevado de dependência de internet,
entretanto, existia uma limitação para a pesquisa, o autorrelato. Este estudo foi
considerado um dos maiores levantamentos psicológicos realizados
exclusivamente sobre os efeitos da internet nos usuários. Este tema vem sendo
estudado por autores de diferentes partes do mundo e o instrumento
comumente utilizado para realizar estas pesquisas é o Internet Addiction
Diagnostic Questionaire, que foi desenvolvido por Young em 1998 para
identificar as características de dependência de internet nos usuários. De
acordo com Sá (2012), a dependência de internet causa prejuízos como
irritação, insônia e baixa produtividade acadêmica. Os estudos realizados para
identificar os grupos mais afetados pela dependência de internet utilizaram o
“Internet Addiction Diagnostic Questionaire” e os resultados indicaram que a
população jovem é a que apresenta os índices mais intensos desta
dependência. Em um dos estudos que pesquisou a rotina de usuários de
internet da Finlândia, os resultados demonstram a existência de um índice mais
elevado de dependência de internet entre os usuários que possuíam de 12 a 18
anos.

Definição da Dependência de Internet

A proposta da criação de uma nova categoria de diagnóstico para a


definição do uso patológico da internet não foi aceita unanimemente pela
esfera científica GUERRESCHI (2007). Alguns autores consideram não
oportuno ampliar o termo “dependência”, englobando nele comportamentos
que fazem parte dos hábitos cotidianos normais. Grohol (1999, apud
GUERRESCHI, 2007) reconhece que as pessoas que passam muito tempo
diante da Rede podem ter problemas, até graves, mas que não se pode
classificar todo hábito potencialmente perigoso como nova categoria de
diagnóstico, pois ele sustenta que provavelmente o uso excessivo da internet
pode ser uma forma de fugir de problemas tais como dificuldades relacionais e
incômodos ligados à saúde física ou mental, como a depressão, a ansiedade,
etc.

No que se refere à nomenclatura mais apropriada para descrever este


transtorno, o termo com maior domínio na literatura é “dependência de
internet”. Esta é a melhor definição para descrever a condição ou uso
excessivo da internet (STARCEVIC 2010 apud TERRA, 2015). Com a evolução
dos estudos sobre o tema, o conceito de dependência de internet passou a ser
aceito como um transtorno clínico legítimo que pode ser superado através de
tratamento. De acordo com Young (2007 apud TERRA, 2015), já existem
hospitais e clínicas que oferecem tratamento para este novo tipo de
dependente, enquanto isso, centros de reabilitação recebem novos casos
pessoas com transtornos e sintomas de dependência e por fim, campos
universitários iniciaram grupos de apoio para auxiliar alunos dependentes de
internet. Estes dados demonstram o cenário crescente e preocupante que é
vivenciado atualmente sobre o uso da tecnologia em nossa vida cotidiana.

King e Nardi (2013) definem dois modelos de dependência. A


dependência normal: aquela que não se configura a um risco para a saúde e
bem estar do individuo, e a dependência patológica aquela que acarreta
prejuízos a saúde mental e física do indivíduo. Para que um indivíduo seja
considerado um dependente patológico do computador e/ou internet e/ou
telefone celular, é preciso que essa dependência esteja relacionada com um
diagnóstico primário, como um transtorno de ansiedade que esteja levando
esse indivíduo a ficar dependente de uma dessas tecnologias para ajudá-lo a
enfrentar as dificuldades provenientes do quadro relativo ao seu transtorno.

Causas da Dependência de Internet

A maioria das atividades-comportamentos e substâncias que produzem


efeitos prazerosos tende a ser repetida. A consequência de um comportamento
ser positivamente reforçado é o que torna provável que ele seja repetido. O
reforço positivo ocorre quando a presença de um reforço aumenta a
probabilidade da resposta antecedente (Schwartz, 1984 apud ABREU,2008 et
al.). Esse padrão segue princípios básicos de condicionamento operante
(Ferster e Skinner, 1957 apud ABREU, et. al., 2008). É muito natural que as
pessoas aumentem o uso (e daí o abuso) de internet devido à sua natureza
prazerosa e estrutura de reforço. O Instituto de Desenvolvimento Psicológico
do CYAND (China Youth Association for Network Development) produziu um
modelo neuropsicológico de encadeamento para explicar as causas do
comportamento virtual dependente (TAO et al., 2007 apud YOUNG; YUE;
YING, 2011 apud TERRA, 2015). Define que o encadeamento da
Dependência da Internet se manifesta na seguinte ordem: Uso de Internet =
Experiência eufórica (Experiência de entorpecimento, Anestesia) = Uso
Repetido = Tolerância = Reação de Abstinência = Enfrentamento Passivo =
Impulso Primitivo (Impulso Combinado).

De acordo com a abordagem elaborada para explicar as


causas da dependência de internet, o Impulso Primitivo é o impulso do
indivíduo de obter prazer e evitar a dor, é representativo de vários
motivos para utilizar a internet. A Experiência Eufórica é definida como
a atividade virtual que estimula o sistema nervoso central do usuário,
assim o indivíduo sente-se feliz e satisfeito. Esta combinação
impulsiona o usuário a utilizar continuamente a internet com o objetivo
e prolongar a euforia. Assim, se estabelece uma dependência e a
experiência eufórica se transforma em hábito e em estado de
entorpecimento. Ao identificar a Tolerância, o limitar sensorial do
indivíduo diminui. Este fator é causado pelo uso contínuo da internet
que começa a ser praticado pelo usuário com o objetivo de repetir a
mesma experiência de felicidade. A consequência natural deste fato é
o aumento do tempo e também do apego à internet. A Reação de
Abstinência é vivenciada quando o indivíduo interrompe ou diminui a
utilização da internet. Neste estágio o usuário vivencia insônia,
instabilidade emocional e irritabilidade. O Enfrentamento Passivo é o
momento em que o usuário se confronta com frustrações ou sofre
efeitos prejudiciais do mundo exterior. Assim, surgem sentimentos
passivos de acomodação ao ambiente. Por fim, o efeito Avalanche
inclui as experiências passivas que consistem em reação de tolerância,
abstinência e impulso combinado com base do impulso primitivo do
usuário. Dessa forma, a abordagem apresenta as causas que fazem
com que o indivíduo torne-se dependente de internet. (TERRA, 2015,
p.36.)

A psiquiatria reconhece a DI como uma patologia. Segundo Young e


Abreu (2011 apud BERGMANN; WAGNER, 2015), foi desenvolvida uma
proposta de critérios diagnósticos para este quadro clínico cujos critérios são:
preocupação excessiva com a Internet; necessidade de aumentar o tempo
conectado (on-line) para ter a mesma; exibir esforços repetidos para diminuir o
tempo de uso da Internet; presença de irritabilidade e/ou depressão; quando o
uso da Internet é restringido, apresenta labilidade emocional (Internet como
forma de regulação emocional); permanecer mais conectado (on-line) do que
programado; trabalho e relações sociais em risco pelo uso excessivo; mentir
para os outros a respeito da quantidade de horas online. Segundo a proposta
de Young, cinco ou mais critérios são necessários para o diagnóstico de
Dependência de Internet.

A Dependência de Internet (DI) pode causar um sofrimento intenso na


vida pessoal e profissional do indivíduo, quando o uso da internet se torna um
vício. Tal uso descontrolado, de acordo com Sá (2012), pode trazer prejuízos à
vida afetiva do sujeito, pois faz com que não consiga se desligar do mundo
virtual, estimulando o isolamento social e possíveis dificuldades no
estabelecimento de um relacionamento. A dependência de internet pode trazer
prejuízos na vida do indivíduo em diversas esferas de sua vida, seja em casa
ou no trabalho, quando se torna um comportamento compulsivo (SILVA et al.,
2011 apud BERGMANN; WAGNER, 2015).

A Nomofobia

A nomofobia é considerada um transtorno do mundo moderno. É o medo


de ficar incomunicável, longe do telefone celular ou da internet. Este termo foi
identificado na Inglaterra em 2008, como “nomofobia”. (KING; NARDI, 2013).
No Brasil, já são feitas pesquisas e intervenções a respeito desta problemática
com a intenção de acompanhar as reações e os comportamentos observados
nos indivíduos e sua relação com computadores e telefones celulares,
profissionais da área da saúde mental, médicos e psicólogos da equipe
multidisciplinar do Laboratório de Pânico e Respiração (LABPR) do Instituto de
Psiquiatria (IPUB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que
atendem pacientes com transtornos de ansiedade, começaram a estudar as
mudanças cognitivas e comportamentais observadas nesses pacientes
atendidos no ambulatório.

Os profissionais do LABPR começaram a perceber que alguns pacientes


manifestavam sensação de angústia, desconforto e ansiedade quando se viam
impossibilitados de estar conectados à internet ou quando não conseguiam se
comunicar pelo celular. Esses comportamentos são conhecidos como
nomofobia. Os comportamentos nomofóbicos são os sinais que os olhos
experientes dos profissionais da área da saúde precisam para identificar e
encaminhar o paciente para o tratamento (KING; NARDI, 2013).

Ela pode ser incluída entre as fobias situacionais específicas e está


diretamente relacionada à agorafobia. Alguns sintomas observados de
nervosismo, taquicardia, tremores e alterações na respiração foram
relacionados ao TP (Transtorno do Pânico). Como em qualquer caso de uso
indevido de substâncias, mesmo no caso do computador e/ou internet e/ou
telefone celular, pode-se observar a síndrome de abstinência quando o
indivíduo se vê impossibilitado do uso dessas tecnologias. Nesse caso, os
sintomas presentes de angústia, ansiedade e nervosismo são conhecidos
como nomofóbicos. Em geral, as pessoas que desenvolvem a nomofobia são
as que apresentam um perfil ansioso, dependente, inseguro e com uma
predisposição característica dos transtornos de ansiedade.

Em casos de nomofobia, o tratamento deve ser direcionado para o


transtorno primário de ansiedade, o que geralmente é realizado com o uso de
Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e/ou medicação (KING; NARDI,
2013).

Linhas Gerais das intervenções Clínicas: Tratamento com a TCC – Terapia


Cognitivo Comportamental

A TCC - Terapia Cognitivo Comportamental é a linha de intervenção


clínica que se mostra mais eficaz para o tratamento do uso abusivo de internet.
Baseada na premissa de que pensamentos geram sentimentos, a TCC parte
da visão de que estados estressantes como a depressão, ansiedade, raiva
entre outros e até mesmo uma dependência frequentemente são mantidos ou
exacerbados por maneiras de pensar exageradas ou tendenciosas. (LEAHY,
2006).

A vulnerabilidade individual, eventos de vida estressantes e distorções


cognitivas estão relacionados com o uso abusivo da internet e o foco de
intervenção utilizado pela TCC é a reestruturação cognitiva. (DAVIS, 2001
apud REVISTA BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA, 2009).

Por meio da reestruturação cognitiva os pacientes são instruídos a


monitorar e identificar pensamentos que estejam desencadeando sentimentos
que os levem a ter ações típicas da dependência. É indicado de 3 a 4 meses
de tratamento com a TCC (YOUNG; BREZING, ET. AL. 2010 APUD PIROCCA,
2012). A fase inicial do tratamento concentra-se em situações específicas, nas
quais o controle dos impulsos está ocorrendo de forma pouco eficiente.
Conforme a terapia progride o foco passa a ser cognitivo, são identificadas as
distorções que se desenvolvem sobre o uso da internet; tratamento das
crenças negativas; a racionalizações como, por exemplo, o pensamento de que
só mais alguns minutos não faz mal para ninguém (YOUNG; BREZING, ET.
AL. 2010 APUD PIROCCA, 2012).

Dentre os recursos utilizados estão: Estratégia de aprendizagem de


gestão de tempo; reconhecimento dos potenciais benefícios e malefícios da
utilização da internet; identificação dos gatilhos que levam ao uso compulsivo
da internet; aprender a gerenciar emoções e controlar impulsos relacionados
com o uso da internet; técnicas de relaxamento muscular e respiratório para
diminuir a tensão causada pela falta do uso; melhorar a comunicação
interpessoal e as habilidades sociais; melhorar estilos de enfrentamento de
situações, além de envolver em atividades alternativas (HUANG, ET. AL., 2010
APUD PIROCCA, 2012).

As estratégias comportamentais de Young incluem a identificação do


padrão de uso do paciente, estimulando-o a realizar atividades neutras durante
o tempo que comumente utilizaria a internet; uso de lembretes externos, por
exemplo, um relógio com alarme para indicar quando é a hora de parar;
estabelecer metas claras, utilização de cartões de enfrentamento, apontando
consequências negativas do uso da internet; formular uma lista com outras
tarefas que possam ser utilizadas como passatempo. (FLISHER, 2010 APUD
PIROCCA, 2012).
A compreensão da família é primordial para o processo do tratamento,
devem ser trabalhados estilos mais adaptativos de enfrentamento de situações
e fortalecer a autoestima do dependente, para isso é incluído aconselhamento
dos familiares no qual é priorizada a psicoeducação sobre o problema, que
podem ser elencadas estratégias de como lidar com a raiva e a perda de
confiança no dependente (BREZING, ET. AL., 2010; HUANG, ET AL. 2010
APUD PIROCCA, 2012).

Considerações Finais

A partir deste estudo é possível concluir que, apesar da internet ser uma
ferramenta altamente difundida na contemporaneidade, por seus avanços
progressivos em esfera mundial e por proporcionar entretenimento e
praticidade, é absolutamente necessário um olhar crítico, tanto sociopolítico
como no âmbito da saúde mental, sobre o impacto do uso abusivo das
tecnologias proporcionadas por esse vasto ambiente que é a internet e as
redes sociais.

As pesquisas feitas na literatura sobre o tema para o presente estudo


demonstram que o uso excessivo acarreta alteração nos padrões de
comportamento das pessoas, além de limitar e prejudicar a socialização com a
família e amigos, podendo causar um sofrimento intenso na vida pessoal e
profissional do indivíduo, quando se torna um comportamento compulsivo.

Sendo assim, neste artigo buscou-se problematizar as transformações


ocorridas pelas utilizações da internet e redes sociais, posto que estas práticas,
principalmente, de comunicação e entretenimento, influenciam no modo de
pensar e agir e consequentemente, nas relações interpessoais e na cultura.

Evidencia-se a importância de profissionais da Psicologia intervirem na


conscientização do uso devido das tecnologias. Como é um campo a ser
explorado por tratar de um assunto complexo e pertinente para a população,
faz-se necessário pesquisas que proporcionem entendimento mais abrangente
da temática, para que ocorram possíveis mudanças interventivas nos hábitos
das próximas gerações, pois a internet tornou-se popular, passando a ser uma
necessidade no cotidiano das pessoas, o que dificulta o diagnóstico de
dependência, que pode mascarar o comportamento viciante.

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