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Adição à Internet: O vício da

modernidade
Tiago Valente

Julho’2020

1
Clínica Universitária de Psiquiatria e Psicologia Médica

Adição à Internet: O vício da


modernidade
Tiago Valente

Orientado por:

Dr.ª Sofia Paulino

Julho’2020

2
Resumo

A Internet é uma ferramenta revolucionária que surgiu no último século e alterou de


forma drástica o modo como a nossa vida decorre, sendo utilizada para satisfazer
diversas necessidades da vida de cada individuo em diferentes esferas da sua atividade
(lazer, trabalho, estudo). Apesar da utilização benigna da Internet ser generalizada,
há, contudo, algumas pessoas que acabam por desenvolver comportamentos
problemáticos com impacto na sua vida.

A Adição à Internet (AI) é caracterizada por uma preocupação excessiva


relativamente à Internet que origina um compromisso ou prejuízo da vida pessoal,
familiar e social. Trata-se de uma entidade que tem, nos últimos anos, despertado um
interesse cada vez maior da comunidade científica.

Em linha com esta realidade, o número de artigos, a nível internacional, publicados


relativos à Adição à Internet tem sido crescente o que realça a contemporaneidade do
tema. Contudo, no seio da comunidade cientifica, ainda se debate sobre se a AI deverá
ou não ser incluída na International Classification of Diseases (ICD-11) e no
Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5) , à semelhança do
que acontece com a Perturbação de Jogo Online, uma vez que ainda não existem
linhas orientadoras consistentes quanto ao diagnóstico, linhas de abordagem clinica e
terapêutica.

Esta revisão sistemática da bibliografia pretende apresentar uma visão geral do


conhecimento científico relativo às diferentes vertentes da AI: pontos de maior
relevância e de maior debate, e a sua importância no contexto da especialidade de
Psiquiatria.

Palavras-chave

Adição à Internet; Dependência da Internet; Conceito; Diagnóstico; Tratamento;


Neurobiologia; Epidemiologia

Abstract

The Internet is a revolutionary tool that emerged in the last century and has
dramatically changed the way our lives run. Nowadays it is being used to satisfy
various needs in the life of everyone in its different domains of activity (leisure, work,

3
study). Although the benign use of the Internet is common, there are, however, some
people who end up developing problematic behaviors that impact their lives.

Internet Addiction (IA) is characterized by an excessive concern about the Internet


that causes a compromise or loss in the personal life, with consequences for the
individual. It is an entity that has, in recent years, emerged and has aroused an
increasing interest from the scientific community.

In line with this reality, the number of articles published internationally on Internet
Addiction has been increasing, which highlights the contemporary nature of the topic.
However, within the scientific community, there is still a debate about whether IA
should be included in the International Classification of Diseases (ICD-11) and in the
Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5) , similarly to
Internet Gaming Disorder, since there is still uncertainty regarding its concept,
diagnosis ,clinical and therapeutic approach, which still remain unclear. This review
of the bibliography aims to present an overview of the scientific knowledge regarding
the different aspects of IA: the points of greatest relevance and greatest debate, and
its importance in the context of the field of Psychiatry.

Keywords

Internet Addiction; Internet Dependency; Concept; Diagnosis; Treatment;


Neurobiology; Epidemiology

O Trabalho Final exprime a opinião do autor e não da FML.

4
ÍNDICE

INTRODUÇÃO …………………………………………………………..PÁGINA 6

CONCEITO DE AI……………………………………………………....PÁGINA 8

DIAGNÓSTICO…………………………………………………………PÁGINA 9

EPIDEMIOLOGIA………………………………………………………PÁGINA 11

NEUROBIOLOGIA………………………………………………….......PÁGINA 12

RELAÇÃO COM OUTRAS PSICOPATOLOGIAS……………………….....PÁGINA 13

TRATAMENTO…………………………………………………………PÁGINA 15

CONCLUSÃO…………………………………………………………...PÁGINA 16

BIBLIOGRAFIA………………………………………………………...PÁGINA 18

5
Introdução
A Internet como ferramenta global
A Internet é uma ferramenta que surgiu nos anos 60, inicialmente concebida como um
sistema de comunicação com fins militares. Ao longo dos anos, com a modernização dos
meios tecnológicos e a sua utilização pela população em geral, a Internet transformou-se
numa rede de partilha de diferentes tipos de informações, conteúdos e recursos
provenientes de diversos pontos do globo, acessíveis em qualquer ponto do mundo.
Atualmente assume um papel de extrema importância nas sociedades contemporâneas, de
tal forma que modificou a forma como comunicamos, socializamos, trabalhamos,
estudamos e mesmo como nos entretemos. É especialmente relevante nas faixas etárias
dos adolescentes e jovens adultos, nas quais a literacia tecnológica é basilar para a sua
atividade académica e profissional.1
O surgimento de novos meios tecnológicos, como os smartphones ou as tablets,
contribuiu para a transformação da Internet numa ferramenta de uso global cada vez mais
acessível (uma vez que permitem o acesso à Internet em qualquer instante da vida
quotidiana): cerca de 30% das crianças com menos de 2 anos têm um smartphone ou
tablet e 80% dos adolescentes têm um destes aparelhos nos EUA.2 No Reino unido, na
Ásia e nos EUA estima-se que mais de 80% da população adolescente tenha acesso à
Internet. 3
Também é relevante o tempo passado online que tem vindo a aumentar ao longo dos anos
refletindo um uso crescente da Internet. Segundo o Youth Risk Behaviour Survey (que
avaliou o período de 2003-2013), no ano de 2003, cerca de 22% dos adolescentes nos
EUA passavam mais de 3h online em dias escolares em atividades não académicas, sendo
que em 2013 este valor já era de 41.3%.4 Dados provenientes dos EUA relativamente ao
uso de meios tecnológicos revelam que cerca de 81% dos adolescentes nos EUA, que têm
acesso a computadores, reportaram utilizar a Internet diariamente (Pew 2012) 5 e apenas
15% dos adolescentes americanos reportaram não usarem Internet .6

Benefícios e riscos associados à Internet


A Internet apresenta um conjunto de benefícios e riscos associados que devem ser
considerados: por um lado a Internet pode ser uma atividade compensatória,
principalmente, para indivíduos com dificuldades de relacionamento interpessoal ou
prazer insuficiente com a vida diária 7, podendo promover uma sensação de controlo, de

6
capacidade interativa ou de liberdade de expressão que, sendo menos acessíveis na vida
real, funcionam como incentivos para a utilização da Internet.8
Por outro lado, o ambiente anónimo do mundo cibernético, pode levar a efeitos
psicológicos de desinibição online 9. Também, o uso da Internet, para fins lúdicos ou
sociais, sem propósito educacional, pode dar origem a problemas como o sexting (envio
ou receção de mensagens de texto ou imagens de cariz sexual que pode ser utilizado por
jovens imaturos sem capacidade para filtrar conteúdos ), o cyberbullying (uso da Internet
com o objetivo de assédio indireto e anônimo dirigido a outro individuo), ou a adição a
videojogos (participação persistente e recorrente em jogos através do computador com
impacto na vida profissional e social), com consequências negativas a nível académico,
social ou mesmo emocional.10 11 Uma outra consequência do uso excessivo da Internet é
o encorajamento do sedentarismo, com o utilizador a perder a noção da passagem do
tempo 12,bem como o consumo de uma grande quantidade de tempo que pode resultar na
negligência de outras atividades recreativas 8. Num estudo foi demonstrado que o uso
excessivo da Internet pode ter consequências negativas no bem-estar psicológico dos
utilizadores já que o entusiasmo na camuflagem do eu real com um falso eu virtual, com
o potencial de obtenção uma sensação de maior controlo e de maior respeito por terceiros,
facilita o distanciamento da vida real onde as dificuldades reais se encontram e
precisariam de ser enfrentadas.13 14

Adição à Internet
A Adição à Internet (AI) é caracterizada por uma preocupação excessiva ou mal
controlada, ou por comportamentos relativos à Internet que originam um compromisso
ou prejuízo da vida pessoal.15 Sendo que à medida que uma maior percentagem da
população consegue acesso à Internet, os casos de Adição à Internet (AI) têm aumentado,
principalmente, na última década, de tal forma que países como a China e a Coreia do
Sul, para enfrentar esta nova realidade, reconheceram a AI como uma ameaça à Saúde
Pública.
A falta de autocontrolo associada à AI pode fazer com que seja difícil aos pacientes limitar
o seu uso da Internet 9, o que acarreta consequências, uma vez que os pacientes que
apresentam um uso excessivo da Internet podem sofrer repercussões nas diferentes
vertentes da sua vida, incluindo conflitos, fadiga, baixos resultados académicos ou
profissionais e isolamento social.16

7
Há cada vez um maior número de opiniões que suporta a inclusão da AI no DSM-5, à
semelhança do que aconteceu com a Perturbação de Jogo Online,17 tendo as publicações
com as palavras-chave “Addiction” e “Internet” vindo a aumentar de forma exponencial
nas últimas duas décadas, sendo a Psiquiatria a área do conhecimento onde mais estudos
foram publicados 18.
Esta revisão bibliográfica visa expor uma perspetiva global dos conhecimentos científicos
relativos à Adição à Internet, justificando a sua relevância no panorama contemporâneo
da Psiquiatria.

Conceito da AI
De uma forma geral, a AI pode ser definida como uma incapacidade dos indivíduos de
controlarem o uso da Internet resultando em prejuízo no seu funcionamento social e
ocupacional. Alguns dos problemas associados com a AI incluem: conflitos com família
e amigos, prejuízo de atividades sociais e vocacionais, depressão e ansiedade. 19
Os comportamentos observados, no caso da AI, inserem-se no espetro dos distúrbios do
controlo de impulsos e partilham várias características com a adição a substâncias
incluindo aspetos de tolerância, privação, tentativas mal-sucedidas e reiteradas de reduzir
ou parar o uso. 20
Embora estejam bem definidas, as características das perturbações de uso de substâncias,
o mesmo não acontece com a AI não existindo ainda consenso quanto a características
21
nucleares, como por exemplo existência de fenómenos de privação ou tolerância.
A AI, enquanto nova entidade patológica, foi categorizada em 5 subtipos: a adição
cibernética (nomeadamente a sites de cybersex ou cyberporn, que envolve a visualização,
download de conteúdo sexual online); a adição ao relacionamento cibernético (que resulta
do envolvimento excessivo em relacionamentos on-line- chat rooms e redes sociais); as
compulsões de rede (associado a atividades online especificas como é o caso dos jogos
online e das compras online); sobrecarga de informação (ligada à procura de informação
e navegação de forma excessiva em bases de dados); adição ao computador (jogar no
computador de forma obsessiva). 22 23
Esta nova patologia pode ser vista como um padrão de uso mal adaptativo, ou como uma
adição especificamente psicológica com particularidades comuns a outros tipos de
dependência.
No entanto, não há consenso na comunidade científica em relação ao termo a utilizar para
descrever o uso excessivo e abuso das tecnologias. Por um lado, há autores que defendem
8
a existência de adição às novas tecnologias, incluída nas adições comportamentais, por
outro lado, há autores que afirmam que o potencial aditivo das novas tecnologias é
24
especulativo. Alguns dos críticos do conceito de AI como diagnóstico psiquiátrico
argumentam que no caso da AI, não há uma substância química que se encontre
subjacente à adição, já que a Internet é uma ferramenta cibernética. No entanto, é
importante sublinhar que à semelhança do que ocorre no distúrbio de adição a substâncias,
no caso da Internet, o seu uso pode ser utilizado como uma forma de compensar ou lidar
com problemas da vida real, ou até mesmo, escapar destes, podendo assim a AI ser
encarada como uma dependência, sem envolvimento de uma substância. 25 Outros autores
sugerem que o termo AI deveria ser substituído por outro termo que reflita dependência
de atividades online especificas, uma vez que a AI pode estar relacionada com o uso
específico de determinadas funcionalidades e não o uso generalizado da Internet. 26
Existem, por isso, diferentes terminologias para descrever o comportamento
caracterizado pelo uso excessivo da Internet, nomeadamente: Adição à Internet, Uso
Problemático ou Patológico da Internet e Dependência da Internet, entre outros. 22

Diagnóstico
A AI pode afetar a qualidade de vida de um individuo e pode ser particularmente nefasta
para a saúde mental, especificamente nos adolescentes, uma vez que estes apresentam um
elevado grau de plasticidade neurobiológica e uma incerteza relativa à sua identidade, que
no contexto não estruturante da Internet lhes permite múltiplas representações, sem
encorajar a modulação das características relacionais de cada um de forma a integrarem-
se num determinado grupo. 27 28
Estudos na área do neuro desenvolvimento dos adolescentes demonstraram que certas
experiências, como é o caso do uso excessivo da Internet, podem interferir no
desenvolvimento do córtex pré-frontal e do sistema límbico, que são regiões do cérebro
que desempenham um papel vital na regulação de comportamentos, emoções e avaliação
de riscos.29
É importante que o clínico, perante um doente no qual suspeita de AI faça uma extensa
história do uso da Internet. Deve obter a história também do ponto de vista de outros
membros da família, assim como do paciente, aferindo o tempo passado online. É
relevante incluir a extensão em que as atividades online são supervisionadas pelos pais,
onde ocorrem na casa, as regras do uso, a extensão em que os conflitos surgem
relativamente ao tempo de ecrã. O clínico deve também estar atento a certos alertas, que
9
indiquem que uma avaliação da existência de dependência da Internet é necessária,
nomeadamente: a redução das horas totais de sono, o atraso no início do sono, a redução
da qualidade do sono e a presença de sonolência diurna excessiva. 30
Existem diferentes métodos de avaliação da AI, que se baseiam em diferentes
questionários que foram desenvolvidos para quantificar este fenómeno destacando-se: o
Internet Addiction Test (IAT) mais utilizado nos EUA, Reino Unido, Finlândia e Coreia
do Sul; Chen Internet Addiction Scale (CIAS) validado em Taiwan; Compulsive Internet
Use Scale (CIUS) validado na Holanda; Problematic Internet Use Questionnaire (PIUQ)
utilizado na Hungria e o Young’s Diagnostic Questionnaire. 31 32
No caso do Young’s Diagnostic Questionnaire, por exemplo, que é um dos questionários
mais utilizados, este é composto por 8 questões que aferem sinais e sintomas de uso
problemático da Internet (o diagnóstico requer a presença de 5 ou mais critérios, sendo
33
que 3-4 critérios é indicativo de risco para desenvolvimento de AI); o Compulsive
Internet Use Scale, também utilizado frequentemente para avaliação de AI, consiste em
14 questões, que aferem a severidade do comportamento compulsivo, com scores mais
elevados indicando maior severidade da perturbação (questões com resposta variando
entre 0 - “nunca” e 4 – “frequentemente”). 34
Há várias componentes cuja presença é fulcral para poder ser diagnosticada AI que são:
uma utilização excessiva da Internet com perda de noção da passagem do tempo e
negligência de atividades básicas como sono, higiene, alimentação; a utilização para
conseguir uma mudança positiva no humor; a necessidade de cada vez mais horas online
(tolerância) para obter essa mudança no humor; o mal-estar caracterizado por cansaço,
irritabilidade ou humor depressivo (privação) quando o acesso é interrompido; o conflito
com outros significativos (por vezes com reações agressivas em contraste com traços
habituais da personalidade. 35
Têm sido propostos critérios de AI baseados em características clinicas das populações
estudadas. Utilizando, como exemplo generalizável, um estudo chinês que avaliou uma
amostra de 110 pacientes admitidos num centro para tratamento de adição em Pequim e
que definiu os seguintes critérios para diagnóstico de AI: preocupação persistente com a
Internet (o pensamento está permanentemente centrado na atividade online prévia ou na
antecipação da próxima sessão); existência de sintomas de privação, nomeadamente
humor disfórico, ansiedade, tédio ou irritabilidade quando não acede à Internet; uso da
Internet para obter uma mudança positiva no humor e necessidade de cada vez mais horas
para obter esse mesmo efeito (tolerância); tentativas prévias, mal sucedidas, de
10
controlo/limitação do uso mesmo tendo consciência das consequências físicas ou
psicológicos no próprio e do conflito com outros significativos; perda de interesse em
passatempos ou formas de entretenimento prévios como resultado direto do uso da
Internet. Por outro lado, as características clínicas não são melhor explicadas pela
existência de outra perturbação e devem provocar prejuízos funcionais (como redução de
habilidades sociais, académicas e profissionais) incluindo perda de relações
significativas, oportunidades de trabalho ou académicas.36
O facto de não haver ainda consenso na comunidade científica, relativamente ao método
de avaliação de AI levanta graves dificuldades no estudo desta entidade já que, não
existindo ainda uma base diagnóstica cientificamente comprovada, os resultados dos
estudos sobre o tema tendem a ser altamente heterogéneos.

Epidemiologia
Os dados relativos à prevalência da AI apresentam discrepâncias significativas consoante
a localização geográfica e a metodologia adotada, já que ainda não estão padronizados
critérios diagnósticos universalmente aceites.
Numa meta-análise de 80 estudos com idade média da amostra de 18.42 anos, foi
encontrada uma prevalência global de AI de 6% com uma prevalência distinta consoante
a área geográfica estudada: 10.9% no Médio Oriente , 8% na América do Norte, 7.1% na
Ásia , 6.1% na Europa do Sul e Este , 4.3 % na Oceânia , 2.6% na Europa do Norte e
37
Oeste e 0% na América do Sul . Outras pesquisas, estimam que a prevalência de AI
entre jovens varie entre 1.5 e 8.2%. 38
O projeto EU Kids Online, no seu relatório de 2010 (no qual Portugal está integrado),
revelou que 60% de um total de 25142 crianças e adolescentes entre 9 e16 anos utilizava
a Internet diariamente. Para além de uma utilização mais frequente, os resultados
confirmam também uma tendência para um início mais precoce da utilização da Internet.
O projeto Net Children Go Mobile apurou que, na Europa, 1 em cada 5 adolescentes tem
pelo menos 2 comportamentos associados com o uso excessivo da Internet
(especificamente a incapacidade de reduzir o tempo passado online e a sensação de
incómodo quando não se encontra online) e que em Portugal 16% utiliza a Internet de
forma excessiva, valor inferior à média europeia (21%) tendo em conta os 7 países
envolvidos neste projecto (Bélgica, Dinamarca, Itália, Reino Unido, Portugal, Irlanda,
Roménia). 39 A AI tem sido alvo de maior estudo no Oriente sendo que estudos realizados
na China apontam para uma prevalência de 10.2% de indivíduos que usavam Internet de
11
forma moderada e 0.6% de forma severa. Em Taiwan um estudo com estudantes
universitários de 1º ano demonstrou uma taxa de AI de cerca de 17.1% 31
As diferenças culturais podem oferecer explicação para as prevalências mais elevadas
observadas nos países do Sudeste Asiático. Os países do Ocidente como os EUA e os
países europeus parecem ter uma cultura mais individualista do que os países asiáticos. 40
41
Um nível mais elevado de individualismo pode traduzir uma maior necessidade de
autonomia e de dominância e uma necessidade mais baixa de afiliação, associada a um
grau mais baixo de AI.42 As diferenças geográficas também poderão sugerir uma
influência de fatores ambientais associados. Neste contexto identificaram-se variáveis
estatisticamente relevantes associadas à AI, nomeadamente idade mais jovem, sexo
masculino, exposição precoce à Internet, frequência do uso e disponibilidade de tempo.43

Os dados relativos à prevalência da Adição à Internet são limitados por dificuldades


metodológicas relativas ao diagnóstico e à heterogeneidade de ferramentas de
diagnóstico, o que torna comparação entre países complicada. Não existe, atualmente um
gold standart na classificação da AI existindo cerca de 21 ferramentas desenvolvidas para
a sua avaliação com o Young’s Diagnostic Questionnaire e o Chen Internet Addiction
Scale entre as ferramentas mais utilizadas. As prevalências diferem consoante as
ferramentas utilizadas e os cut-offs estabelecidos. 44

Neurobiologia
Vários estudos neuro-imagiológicos realçaram que as alterações estruturais e funcionais
observadas em indivíduos com AI são semelhantes às encontradas noutros tipos de
comportamentos aditivos, como é o caso da perturbação de uso de substâncias.
Estudos utilizando PET como método imagiológico para estudar indivíduos com AI
demostraram níveis reduzidos de recetores dopaminérgicos D2 em regiões implicadas no
controlo de impulsos e processamento da recompensa (nomeadamente no núcleo estriado
e putámen), alterações também encontradas noutras perturbações aditivas. 45
Outros estudos envolvendo a utilização de EEG sugerem que indivíduos com AI
apresentam um limiar inferior de ativação relativamente à deteção de conflitos e uma
eficiência inferior no que diz respeito ao processamento de informação e controlo
cognitivo. 46
Em estudos com utilização de Ressonância Magnética, encontraram-se, em indivíduos
com AI, várias regiões cerebrais alteradas, nomeadamente aquelas associadas a funções
12
que contribuem para comportamentos aditivos (por exemplo, atrofia da substância
cinzenta no córtex pré-frontal que se associa a défices na inibição, regulação do controlo
de impulsos e decisão).47
Várias atividades que a Internet oferece como o jogo online, compras, redes sociais têm
qualidades hedônicas 47 promovendo mais facilmente a recompensa imediata facilitando
a utilização excessiva para esse fim, sendo que em indivíduos vulneráveis que usem a
Internet de forma excessiva, as suas competências sociais e ocupacionais acabam por ser
prejudicadas 23 (a interação social online é mais fácil porque não implica o contacto
ansiogénico presencial, no entanto, não favorece o desenvolvimento de competências
sociais necessárias à convivência em sociedade).
Como observado nos doentes com perturbações de uso de substância, os doentes com AI
demonstraram, em estudos comportamentais, uma reduzida flexibilidade cognitiva, com
respostas estereotipadas, comportamentos inapropriados em relação às circunstâncias e
consequências negativas a nível social e profissional. 48

Relação com outras psicopatologias


Tanto o uso excessivo da Internet em atividades online específicas, como o seu uso em
geral, aparentam produzir sintomatologia aditiva em alguns utilizadores com prejuízo
físico e psicológico (nomeadamente quando a atividade online reflete comportamentos
mal adaptativos e falha nos mecanismos de coping ou nos processos adaptativos) 49, o que
parece traduzir-se, nas situações mais graves, em sentimentos de solidão, humor
deprimido e compulsividade.50 O desenvolvimento dos smartphones aumentou
51
consideravelmente o nível de AI entre os mais jovem , podendo provocar ansiedade,
depressão e stress .52
Numa revisão sistemática, a associação entre AI e psicopatologia comórbida foi variada
com uma prevalência de AI e depressão de 26.3% (em comparação com 11.7% nos
controlos); e de AI e ansiedade de 23,3 % (em comparação com 10.3% nos controlos); de
AI e PHDA de 21,7% (em comparação com 8.9% nos controlos). Estes resultados
sugerem uma associação do AI com diferentes entidades psicopatológicas. 52

Perturbação depressiva e ansiedade


Também é de sublinhar que a frequência do uso descontrolado da Internet parece estar
aumentada em indivíduos com alto nível de sintomatologia depressiva e ansiedade dado
que a Internet providencia uma sensação temporária de suporte social e sucesso num
13
mundo virtual permitindo ao individuo ignorar essas mesmas dificuldades no mundo
real.7 Um artigo comparou a prevalência de ideação suicida numa população com AI em
contraste com uma amostra saudável. Os resultados contribuem para demonstrar que a AI
está associada a um aumento do risco para desenvolver ideação suicida e por isso
representa uma doença mental que deve ser encarada com seriedade. 53

PHDA e Agressividade
Também a PHDA (Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção) parece relacionar-
se com resultados, nos testes de avaliação de AI, mais elevados, tendo sido observada
uma associação com impulsividade e falta de auto-controlo como mediadores da relação
entre AI e PHDA. 54 No que diz respeito à relação entre a AI e a agressividade, estudos
prévios encontraram associação entre comportamento agressivo e um uso da Internet mais
frequente. Foi reportado que apesar de a Internet poder reduzir o nível de angústia
providenciando recompensa imediata e oportunidade de realizar diferentes atividades, o
uso excessivo da Internet é um importante fator de risco para agressividade, uma vez que
a exposição a conteúdo violento online pode promover sentimentos de hostilidade que se
traduzem em comportamentos agressivos 55 Num outro estudo, a hostilidade também foi
associada com a AI, tendo sido sugerido uma possível interação bidirecional entre AI e
sintomas psiquiátricos, pois se por um lado o uso da Internet pode ser utilizado para lidar
ou aliviar sintomas psiquiátricos, por outro lado, o uso mal-adaptativo da Internet pode
resultar em/ou amplificar mais os sintomas psiquiátricos. 56

Um outro estudo demonstrou ainda a existência de uma associação entre AI e algumas


perturbações do comportamento alimentar, incluindo a falta de atividade física e
57
obesidade. Entre os frequentadores das redes sociais, a possibilidade de seguir certas
personalidades famosas pode afetar a perceção da própria pessoa. A sensação de
proximidade e, consequentemente, a identificação e desejo de imitação poderá estar na
origem do desenvolvimento de perturbações do comportamento alimentar, como anorexia
nervosa, bulimia nervosa, ou apenas uma preocupação excessiva com a comida. 58 59 Uma
meta-análise concluiu que estudantes com uso patológico da Internet têm maior
probabilidade de desenvolver perturbações do comportamento alimentar (neste caso a AI
pode atuar como um preditor de distúrbios alimentares). 57

14
Diversos autores sugeriram que a Internet providencia benefícios aos indivíduos que se
encontram bem ajustados e que em contraste, os indivíduos mal ajustados podem sofrer
mais os efeitos deletérios do seu uso criando assim um ciclo vicioso. 60 Foram propostos
vários mecanismos para explicar a associação entre comportamentos aditivos e distúrbios
psiquiátricos, como por exemplo: um determinado distúrbio psiquiátrico pode resultar
em, ou contribuir para os sintomas ou o curso do distúrbio aditivo; ou existem causas
subjacentes biológicas, psicológicas ou sociais compartilhadas pelos comportamentos
aditivos e distúrbios psiquiátricos; ou ainda fatores relacionados com a amostragem,
investigação, design do estudo ou a análise que resultam numa sobrestimação
inapropriada da comorbidade. 61

Assim a AI não se apresenta como entidade diagnóstica isolada podendo assim coexistir
com outras entidades psicopatológicas e, por isso, o tratamento de AI deve ser enquadrado
numa estratégia mais abrangente. 62

Dada a coexistência destas perturbações psiquiátricas com a AI em percentagens


apreciáveis das amostras, uma triagem e tratamento apropriados poderão prevenir a
eventual emergência de AI nestes casos. Por outro lado, um tratamento focado na AI, sem
ter em consideração a existência de outros distúrbios psiquiátricos associados a esta pode
resultar no insucesso do tratamento.

Tratamento
Devido às várias comorbilidades associadas a AI e ao seu impacto na saúde humana, uma
abordagem terapêutica integrada é a mais indicada.
Há programas com envolvimento da comunidade que trabalham com os indivíduos e
famílias, de forma a reconhecer o problema e promover um estilo de vida mais
equilibrado. Nos EUA, em Seatle existe o programa RESTART - Internet Addiction
Recovery Programm e na Pennsylvania há centros de desintoxicação digital e
recuperação.63 Do outro lado do mundo, o governo coreano desenvolveu uma rede de 190
locais para aconselhamento para AI na China há mais de 300 centros de tratamento. 64
Dentro das variadas intervenções psicoterapêuticas, a mais frequentemente utilizada é a
65
cognitivo-comportamental e a terapêutica de reforço motivacional. Na maioria das
estratégias é incentivado uma utilização mais moderada e controlada da Internet em
oposição à abstinência. Num artigo, a terapia cognitivo-comportamental demonstrou
15
melhorias significativas dos sintomas antes e após terapêutica66, tendo a terapia familiar
demonstrado também redução uma significativa na severidade da adição após o
tratamento. 67
Young et al. 68,sugeriu 8 princípios terapêuticos no que diz respeito à AI, nomeadamente:
a prática do oposto (no qual o padrão de uso é interrompido através do estabelecimento
de um novo horário); travões externos ( através da exposição a eventos de vida real com
intuito de substituir as atividades online); o estabelecimento de metas; a abstenção de
certas aplicações da Internet (focando as aplicações mais atrativas e apelativas que são
encorajadas a serem alvo de abstinência); utilização de lembretes ( de forma a reforçar os
benefícios de quebrar o vicio); a elaboração de um inventário pessoal (neste caso, os
doentes são encorajados a explorar novas atividades a custo do tempo dedicado ao uso da
Internet); a participação em grupos de suporte onde a interação social é fomentada;
presença em sessões de terapia familiar (as famílias são encorajadas a abordar problemas
relacionais que podem ter sido a causa da AI) .69
No que diz respeito a farmacoterapia, num ensaio com escitalopram foi demonstrada uma
redução do uso da Internet não essencial e da compulsão para o uso, embora não tenha
70
sido significativamente superior ao placebo. Entre as várias abordagens para tratar
adição, o yoga e meditação foram comprovadas como tendo potencial terapêutico
complementar. 71
Apesar do progresso do conhecimento científico relacionado com a AI, ainda é precoce
tirar conclusões no que diz respeito ao tratamento desta, devido a limitações
metodológicas e à falta de maior quantidade de estudos focados em tratamentos
específicos. Os tratamentos utilizados atualmente, ainda não podem ser considerados bem
estabelecidos ou, mesmo, eficientes e por isso são ainda considerados experimentais. 72

Conclusão

A AI traduz uma entidade ainda em estudo, que tem ganho progressivamente mais
consistência e atenção pela comunidade científica. Embora não tenha sido ainda
reconhecida formalmente como entidade nosológica independente, os seus malefícios a
nível pessoal, social, académico e laboral parecem claros. Apesar de variável dada a
heterogeneidade de critérios usados, a sua prevalência parece significativa enfatizando a
necessidade do estabelecimento de um consenso no seio da comunidade científica no
sentido do reconhecimento formal do diagnóstico clínico.

16
A AI parece estar associada a alterações neurobiológicas ao nível de estruturas cerebrais
reconhecidas pelo seu papel no controlo de impulsos e no processamento de recompensa.

Existem também associações estatisticamente significativas entre AI e outras


perturbações psiquiátricas, sendo que, por vezes, o uso disfuncional surge como a
manifestação mais visível de psicopatologia podendo até mascarar a comorbilidade.
Neste âmbito, uma avaliação clínica integrada e minuciosa de cada individuo torna-se
ainda mais fundamental.

A terapia cognitivo-comportamental mostrou-se a modalidade mais utilizada nos centros


de tratamento de adição tecnológica. No entanto, quer a terapêutica farmacológica, terapia
familiar e entrevista motivacional são hipóteses de tratamento, embora sem eficácia
comprovada

Existe assim a necessidade de se realizarem mais estudos, com maiores amostragens para
compreender a progressão e as manifestações da AI.

17
Bibliografia

1-Emma Louise Anderson, Eloisa Steen & Vasileios Stavropoulos (2017) Internet use
and Problematic Internet Use: a systematic review of longitudinal research trends in
adolescence and emergent adulthood, International Journal of Adolescence and
Youth, 22:4, 430-454, DOI: 10.1080/02673843.2016.1227716

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