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Faculdade CENSUPEG

Curso: Neuropsicopedagogia Clínica


Coordenação: Angelita Fülle
Supervisão Técnica: Rita Margarida Toler Russo
Disciplina: Fundamentos da Prática Clínica III – Estudos de Casos em
Neuropsicopedagogia Clínica

ESTUDO DE CASO - EQUIPE INTERDISCIPLINAR

PROCEDIMENTO: Após a leitura do estudo de caso monte o protocolo de


intervenção neuropsicopedagógico, tendo como base os dados obtidos da
avaliação interdisciplinar.

Menino, 8 anos, 3º ano ensino fundamental. Queixa: notas baixas em Português.


Agitação em sala de aula, falta de concentração e organização do material
escolar. Os pais relatam que o filho sempre verbaliza que “dá branco” na hora
da prova.

Histórico do nascimento e saúde: A.P. é filho único do casal XP e VP. V.P.


relata não ter tido problemas físicos e emocionais na gravidez. O filho A.P.
nasceu na 39ª semana, de parto cesariano, com 3.250kg, 50 cm. e Apgar 9 e 10,
saindo do hospital com a mãe. Teve icterícia fisiológica e retornou ao hospital
depois de 10 dias, ficando na UTI com banhos de luz por uma semana. Chorava
muito de cólica e tinha dificuldades para dormir. Quadro de otite com
acompanhamento com otorrinolaringologista. Aleitamento materno até 9 meses,
passando para a alimentação pastosa e sólida sem problemas. Engatinhou aos
10 meses e andou aos 11 meses. Falou as primeiras palavras com 13 meses e,
aos 24 meses, já falava de tudo com erros nas surdas e sonoras. Controle dos
esfíncteres: 2 anos (diurno) e 3 anos (noturno).
Saúde: tratamento para otite recorrente. Tem sinusite crônica. Ficou internado
duas vezes por pneumonia. Aos 7 anos e ½ fez audiometria e impedância, com
resultado dentro da normalidade. Fez o exame de Processamento Auditivo e este
deu alterado.

Histórico da vida escolar: iniciou a vida escolar aos 4 anos no Jardim I,


adaptando-se bem. Tinha problemas com os amiguinhos, pois se intrometia nas
brincadeiras sem ser chamado. Na alfabetização teve algumas dificuldades, pois
se distraia muito e não conseguia ficar parado na carteira. A mãe relata que as
professoras diziam ser A.P. educado, mas inquieto. Desorganizado com seus
pertences na sala de aula. Costumava perder o lápis, a borracha, o agasalho e
até a lancheira, relata a mãe. Segundo os professores a nota baixa se refere
também ao esquecimento de tarefas, a falta de concentração e as respostas
curtas na interpretação de texto.

Neuropediatria: Exame neurológico. Quadro de TDAH do tipo Misto, sem


comorbidade. No exame clínico demonstrou problemas com a memória e
desatenção.

Oftalmologia: faz uso de lentes corretivas. Miopia 05 (OD) e 1 (OE).

Neuropsicologia: A habilidade cognitiva geral do paciente encontra-se na faixa


média (QIT 96, Percentil 39), sendo seu menor desempenho nas provas do
IMO– Índice de Memória Operacional (IMO 88 – Percentil 21). O QI Total (QIT)
é derivado da combinação de pontuações de 10 subtestes e é considerado a
estimativa mais representativa do funcionamento intelectual global. Apresenta
alterações neuropsicológicas relacionadas à velocidade de pensamento,
capacidade de seguir instruções, atenção seletiva, persistência motora,
flexibilidade mental (código); velocidade de processamento, atenção seletiva
visual, vigilância, velocidade perceptiva e habilidade motora (cancelamento).
Apresentou dificuldade em atenção concentrada e dividida; compreensão de
ordens orais complexas, com melhoria de compreensão nas ordens simples;
memória de trabalho fonológica, atenção, controle mental e acesso rápidos às
informações (produção e fluência fonêmica e semântica); percepção visual e
memória imediata visual (armazenamento e recuperação de informação
episódica visuoespacial gráfica); memória de longo prazo episódica verbal e de
reconhecimento. Desempenho preservado na memória de curto prazo
episódica verbal.

Fonoaudiologia: Avaliação do Processamento Auditivo: Presença de alteração


da função auditiva central. Dificuldades na linguagem receptiva e expressiva.

Neuropsicopedagogia: Paciente muito agitado, cantarolava durante as


atividades dirigidas e, nos testes, sempre pedia para repetir as instruções.
Distrai-se com qualquer barulho, tendo dificuldade para voltar ao que estava
fazendo. No diálogo com a examinadora constatou-se erros na expressão de
palavras com substituições /x/ /j/ por /s/ /z/. No teste de leitura, o paciente lê
monossílabos e dissílabos e a partir das palavras trissílabas faz leitura silabada
e não integra. Na leitura apresentou trocas /x/ /j/ por /s/ /z/; omite as letras ”s” e
“r” no final das palavras e não respeita a pontuação.
No teste que avalia distintos aspectos da competência aritmética, incluindo
escrita por extenso de números apresentados algebricamente, escrita da forma
algébrica de números pronunciados pelo aplicador, escrita de sequências
numéricas crescente e decrescente, comparação de grandeza numérica, cálculo
de operações apresentadas por escrito e oralmente, e resolução de problemas
matemáticos, o paciente apresentou desempenho dentro da faixa alta em
relação à idade e escolaridade (pontuação-padrão entre 115 e 129).
Oportuno ressaltar que no subteste da leitura e escrita numérica, o paciente
apresentou a seguinte escrita (8=outo; 37 = trenta e sete; 69= ssnta e nove; 152
= setoesnqeta e dois. Não escreveu 7.048.
Obteve bom desempenho nos subtestes: (1) contagem numérica (ordem
crescente e decrescente); e (2) relação maior – menor.
No subteste de cálculos montados, o paciente executou corretamente a soma
com unidades e dezenas e subtração com unidades. Executou multiplicação com
a tabuada do 2 e 3 (unidades e dezenas). No subteste de cálculos orais, o
paciente armou e efetuou com unidades e dezenas.
No subteste de problemas por escrito, a examinadora leu os problemas para o
paciente, pois o paciente ao ler sozinho verbalizou dificuldade para compreendê-
los. Executou os problemas que recrutaram adição e subtração.
Apresentou desempenho na faixa média (pontuação-padrão entre 85-114) no
teste de Nomeação, que avalia a habilidade do indivíduo em nomear
verbalmente figuras que lhe são apresentadas , uma a uma, pelo aplicador. O
teste possibilita a avaliação da linguagem expressiva e do acesso ao sistema de
memória de longo prazo que armazena os nomes dos objetos. Oportuno
ressaltar os erros na verbalização das imagens: liquidificador/dilificador;
cérebro/celebo; caju/azu; chicote/sicote).

Conclusão da avaliação interdisciplinar: A.P. apresenta transtorno de déficit


de atenção e hiperatividade (TDAH), com alterações neuropsicológicas. Na área
acadêmica, o paciente apresenta dificuldades em leitura, interpretação de texto
e escrita.
A devolutiva aos pais foi feita pela neuropsicóloga da clínica e os
encaminhamentos foram pela continuidade do acompanhamento
neuropediátrico e manutenção da medicação; terapia fonoaudiológica e
atendimento neuropsicopedagógico.

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