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Davi foi encaminhado a esse serviço com queixa de dificuldades de aprendizagem. Realizou avaliação do
Processamento Auditivo Central (PAC) e avaliação neuropsicológica. Dessa forma, foram avaliados hoje, aspectos
relacionados à linguagem (oral e escrita) e demandas relacionadas. Das queixas apresentadas, as mais relevantes
estão relacionadas aos gaps do processo de aprendizagem e desenvolvimento pedagógico e à comunicação oral.
Durante a avaliação, quando os comandos tinham mais de duas ou três informações, Davi pedia para a
avaliadora repetir o que havia dito. Após a repetição, a criança atendia, demonstrando que compreendia o que lhe
havia sido solicitado. Em vários momentos da avaliação, Davi demonstrou dificuldades em processar a informação
auditiva, o que é compatível com os achados em sua Avaliação do PAC. Na avaliação da linguagem expressiva,
Davi demonstrou capacidade de abstração, organização do pensamento, narrativa, organização semântica e
pragmática adequadas para sua idade/etapa de desenvolvimento. Dessa forma, os achados até aqui, sugerem
diagnóstico de Dislalia (CID F80).
Para a avaliação da linguagem escrita usamos instrumentos para verificar: habilidades de consciência
fonológica, habilidades de leitura, habilidades de escrita, memória visual e auditiva, percepção visual, percepção
auditiva de surdos e sonoros e noções de lateralidade. Foram utilizadas provas do CONFIAS, PROLEC, ABFW e caixa
piagetiana. Além do manual de avaliação da linguagem escrita de Jaime Zorzi.
Os achados na avaliação fonoaudiológica clínica são compatíveis com os achados na avaliação do PAC. O
Transtorno do Processamento Auditivo Central O Transtorno do Processamento Auditivo Central – TPAC pode ser
descrito como uma dificuldade que o sujeito tem em lidar com as informações que chegam através da audição. É um
transtorno funcional da audição, no qual o indivíduo detecta os sons normalmente, mas tem dificuldades em
interpretá-los. Também pode ser considerado como uma dificuldade em processar a informação auditiva da forma
correta. Crianças com Transtorno do Processamento Auditivo Central podem apresentar os seguintes sinais1:
Na comunicação oral: Atraso na aquisição e desenvolvimento da fala. Dificuldades para compreender
palavras e expressões com duplo sentido (piadas, ironias). Dificuldades na evocação vocabular, nomeação e fluência.
Ausência de linearidade temporal no discurso. Trocas de fonemas na fala (desvios ou processos fonológicos).
Vocabulário reduzido e sintaxe simplificada. Dificuldades em recontar histórias e narrar fatos cotidianos.
Na linguagem escrita: Dificuldades no processo de alfabetização. Dificuldades na compreensão de
enunciados e textos, especialmente os muito longos e com mais de uma informação. Alterações nas habilidades de
consciência fonológica. Dificuldades em ordenar o pensamento e organizá-lo por meio da escrita. Dificuldades em
representar graficamente os sons da língua, acarretando em trocas, omissões e inversões de letras.
No comportamento auditivo: Pede para repetir a mensagem falada (perguntas como Hã?! O que? Oi?!).
Dificuldade e incômodo para ouvir e se comunicar em ambientes ruidosos. Confundem o que ouvem. Dificuldades
para reter e resgatar informações auditivas. Dificuldades na discriminação fonêmica. Problemas para prestar
atenção e lembrar a informação que é apresentada oralmente.
No comportamento social: Podem apresentar comportamento semelhante ao de crianças com TDAH.
Demonstram ansiedade e estresse quando escutam. Tempo de atenção mais curto. São desorganizados. Impulsivos.
Necessitam de mais tempo para processar a informação.
Conclusão:
1Segundo BELLIS, T. J. Assessment and management of central auditory processing disorders in the educational setting. Califórnia: Thomson
Delmar Learning, 2002. FERRE, J.M. Processing power: a guide to CADP assessment and management. Texas: Communication Skill Builders,
1997.
Os achados na avaliação fonoaudiológica são compatíveis com Transtorno do Processamento Auditivo
Central, Dislalia e Transtorno do Desenvolvimento das Atividades Escolares (CID F80 em comorbidade com F81).
Dessa forma, Davi necessita de terapia fonoaudiológica para reabilitação das habilidades auditivas, para
reabilitação da fala e da linguagem escrita. Davi é uma criança afetuosa, solícita, sensível e com potencialidades
que necessitam ser exploradas e enfatizadas em detrimento de seus desafios.
Algumas ações podem minimizar os prejuízos pedagógicos dos estudantes com TPAC:
O estudante nunca deve sentar-se nas laterais. Deve estar sempre na 1ª ou 2ª filas, tendo o arco de braço do
professor como referência de distância.
Utilizar o pré-ensino das informações novas, onde o professor antes de explicar a matéria que seja novidade
para a turma, use demonstrações e exemplos práticos do conteúdo (através de filme, vídeos curtos, palavra-
chave, leitura de um pequeno texto, entre outros).
Caso perceba que o aluno não compreendeu a informação, é necessário que o professor repita,
reestruturando as informações. Importante associar às informações/orientações orais para a realização das
atividades, com as mensagens escritas ou através de desenhos. A estratégia facilitadora do desenho ou escrita
vai depender do nível acadêmico da criança/adolescente.
Dar mais tempo para o aluno entender e desenvolver a atividade proposta, seja ela cópia, correção ou
prova. As provas/avaliações devem ser realizadas em ambiente tranquilo, de preferência fora de sala de
aula e sem controle de tempo.
Quando o professor escrever no quadro para que o aluno tenha que copiar (textos, correções, tarefas,
atividades, bilhetes, etc.), verificar se conseguiu anotar/copiar efetivamente tudo que foi repassado.
Para trabalhar as questões pedagógicas relacionadas ao processo de alfabetização: crianças com transtornos
de aprendizagem precisam de atividades pedagógicas que privilegiem métodos multissensoriais e estimulo
diário e constantes das habilidades de consciência fonológica. Alfabetização baseada em evidências
científicas, conforme sugere o Ministério da Educação com ênfase nos aspectos fônicos e nas relações grafo-
fonêmicas, são os indicados. Lembrando que, o uso dessas metodologias privilegia TODOS os estudantes e
promovem uma alfabetização e o processo de letramento de forma mais eficaz e funcional.