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RELATÓRIO FONOAUDIOLÓGICO

Nome: Davi Galante Reis Data de Nascimento: 29/07/2014.


Idade: 7 anos e 7 meses
Queixa: Dificuldades escolares e alterações na fala.
Escola: BLABLABLA

Davi foi encaminhado a esse serviço com queixa de dificuldades de aprendizagem. Realizou avaliação do
Processamento Auditivo Central (PAC) e avaliação neuropsicológica. Dessa forma, foram avaliados hoje, aspectos
relacionados à linguagem (oral e escrita) e demandas relacionadas. Das queixas apresentadas, as mais relevantes
estão relacionadas aos gaps do processo de aprendizagem e desenvolvimento pedagógico e à comunicação oral.

Em avaliação da fala, foram encontradas as seguintes respostas (ABFW + Álbum Fonológico):


Distorção fonêmica dos pares mínimos assistemática: padrão de ensurdecimento.
Omissão assistemática do /r/, sendo sistemática na posição /c(r)v/.
Omissão assistemática do /l/ na posição inicial.
Omissão assistemática do /l/ na posição /c(l)v/.

Durante a avaliação, quando os comandos tinham mais de duas ou três informações, Davi pedia para a
avaliadora repetir o que havia dito. Após a repetição, a criança atendia, demonstrando que compreendia o que lhe
havia sido solicitado. Em vários momentos da avaliação, Davi demonstrou dificuldades em processar a informação
auditiva, o que é compatível com os achados em sua Avaliação do PAC. Na avaliação da linguagem expressiva,
Davi demonstrou capacidade de abstração, organização do pensamento, narrativa, organização semântica e
pragmática adequadas para sua idade/etapa de desenvolvimento. Dessa forma, os achados até aqui, sugerem
diagnóstico de Dislalia (CID F80).
Para a avaliação da linguagem escrita usamos instrumentos para verificar: habilidades de consciência
fonológica, habilidades de leitura, habilidades de escrita, memória visual e auditiva, percepção visual, percepção
auditiva de surdos e sonoros e noções de lateralidade. Foram utilizadas provas do CONFIAS, PROLEC, ABFW e caixa
piagetiana. Além do manual de avaliação da linguagem escrita de Jaime Zorzi.

Foram identificados os seguintes achados:


Alteração nas habilidades de consciência fonológica: Davi respondeu adequadamente somente às provas de
aliteração. As demais habilidades (rima, consciência silábica, consciência fonêmica e consciência de palavras)
estão inadequadas para sua idade/etapa de desenvolvimento. Vale ressaltar aqui que, durante as provas
para avaliação das habilidades descritas, Davi procurava resgatar da memória as famílias silábicas, um
“vício” comum em crianças que foram submetidas ao método silábico de alfabetização.
Teste da psicogênese: Davi encontra-se no nível pré-silábico. Durante a aplicação do teste, demonstrou
ansiedade, chegando a apresentar sudorese nas mãos. Quando questionado pela avaliadora como ele se
sentia diante do desafio de escrever ele respondeu “eu fico um pouco nervoso, porque eu sei que eu vou
errar”.
Avaliação da memória de médio, longo e curto prazo: Davi apresentou respostas adequadas nos testes de
imagem, contudo nos testes de vocábulos e dígitos, apresentou respostas abaixo do esperado para sua
idade/etapa de desenvolvimento. Quanto à memoria auditiva, Davi apresentou respostas abaixo do
esperado para sua idade/etapa de desenvolvimento. Nas provas de percepção auditiva dos pare mínimos,
a criança apresentou respostas dentro do padrão para sua idade/etapa de desenvolvimento.
PROLEC: Davi apresenta boa noção de lateralidade em si mesmo e no outro. Nas provas de identificação
de pseudo palavras e palavras reais, respondeu de maneira adequada quando lhe foram apresentadas
oralmente. Mas na leitura, não realizou diferenciação entre uma palavra e outra. Isso demonstra que Davi
necessita ser estimulado nas habilidades de consciência fonológica de maneira a desenvolver a dupla rota
cognitiva para a leitura.

Os achados na avaliação fonoaudiológica clínica são compatíveis com os achados na avaliação do PAC. O
Transtorno do Processamento Auditivo Central O Transtorno do Processamento Auditivo Central – TPAC pode ser
descrito como uma dificuldade que o sujeito tem em lidar com as informações que chegam através da audição. É um
transtorno funcional da audição, no qual o indivíduo detecta os sons normalmente, mas tem dificuldades em
interpretá-los. Também pode ser considerado como uma dificuldade em processar a informação auditiva da forma
correta. Crianças com Transtorno do Processamento Auditivo Central podem apresentar os seguintes sinais1:
Na comunicação oral: Atraso na aquisição e desenvolvimento da fala. Dificuldades para compreender
palavras e expressões com duplo sentido (piadas, ironias). Dificuldades na evocação vocabular, nomeação e fluência.
Ausência de linearidade temporal no discurso. Trocas de fonemas na fala (desvios ou processos fonológicos).
Vocabulário reduzido e sintaxe simplificada. Dificuldades em recontar histórias e narrar fatos cotidianos.
Na linguagem escrita: Dificuldades no processo de alfabetização. Dificuldades na compreensão de
enunciados e textos, especialmente os muito longos e com mais de uma informação. Alterações nas habilidades de
consciência fonológica. Dificuldades em ordenar o pensamento e organizá-lo por meio da escrita. Dificuldades em
representar graficamente os sons da língua, acarretando em trocas, omissões e inversões de letras.
No comportamento auditivo: Pede para repetir a mensagem falada (perguntas como Hã?! O que? Oi?!).
Dificuldade e incômodo para ouvir e se comunicar em ambientes ruidosos. Confundem o que ouvem. Dificuldades
para reter e resgatar informações auditivas. Dificuldades na discriminação fonêmica. Problemas para prestar
atenção e lembrar a informação que é apresentada oralmente.
No comportamento social: Podem apresentar comportamento semelhante ao de crianças com TDAH.
Demonstram ansiedade e estresse quando escutam. Tempo de atenção mais curto. São desorganizados. Impulsivos.
Necessitam de mais tempo para processar a informação.

Conclusão:

1Segundo BELLIS, T. J. Assessment and management of central auditory processing disorders in the educational setting. Califórnia: Thomson
Delmar Learning, 2002. FERRE, J.M. Processing power: a guide to CADP assessment and management. Texas: Communication Skill Builders,
1997.
Os achados na avaliação fonoaudiológica são compatíveis com Transtorno do Processamento Auditivo
Central, Dislalia e Transtorno do Desenvolvimento das Atividades Escolares (CID F80 em comorbidade com F81).
Dessa forma, Davi necessita de terapia fonoaudiológica para reabilitação das habilidades auditivas, para
reabilitação da fala e da linguagem escrita. Davi é uma criança afetuosa, solícita, sensível e com potencialidades
que necessitam ser exploradas e enfatizadas em detrimento de seus desafios.
Algumas ações podem minimizar os prejuízos pedagógicos dos estudantes com TPAC:

O estudante nunca deve sentar-se nas laterais. Deve estar sempre na 1ª ou 2ª filas, tendo o arco de braço do
professor como referência de distância.
Utilizar o pré-ensino das informações novas, onde o professor antes de explicar a matéria que seja novidade
para a turma, use demonstrações e exemplos práticos do conteúdo (através de filme, vídeos curtos, palavra-
chave, leitura de um pequeno texto, entre outros).
Caso perceba que o aluno não compreendeu a informação, é necessário que o professor repita,
reestruturando as informações. Importante associar às informações/orientações orais para a realização das
atividades, com as mensagens escritas ou através de desenhos. A estratégia facilitadora do desenho ou escrita
vai depender do nível acadêmico da criança/adolescente.
Dar mais tempo para o aluno entender e desenvolver a atividade proposta, seja ela cópia, correção ou
prova. As provas/avaliações devem ser realizadas em ambiente tranquilo, de preferência fora de sala de
aula e sem controle de tempo.
Quando o professor escrever no quadro para que o aluno tenha que copiar (textos, correções, tarefas,
atividades, bilhetes, etc.), verificar se conseguiu anotar/copiar efetivamente tudo que foi repassado.
Para trabalhar as questões pedagógicas relacionadas ao processo de alfabetização: crianças com transtornos
de aprendizagem precisam de atividades pedagógicas que privilegiem métodos multissensoriais e estimulo
diário e constantes das habilidades de consciência fonológica. Alfabetização baseada em evidências
científicas, conforme sugere o Ministério da Educação com ênfase nos aspectos fônicos e nas relações grafo-
fonêmicas, são os indicados. Lembrando que, o uso dessas metodologias privilegia TODOS os estudantes e
promovem uma alfabetização e o processo de letramento de forma mais eficaz e funcional.

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