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Universidade Federal de Minas Gerais

Técnicas da Musicoterapia Neurológica


Apostila com a tradução das principais
técnicas da Musicoterapia Neurológica
de acordo com Thaut (2008) e Thaut &
Hoemberg (2014).
Professoras: Verônica Magalhães
Rosário e Cybelle Maria Veiga Loureiro.

Belo Horizonte
2017
Introdução
A Musicoterapia Neurológica é um modelo de intervenção que desenvolveu
uma série de técnicas baseadas em evidências científicas com a finalidade de
promover a reabilitação de habilidades sensório-motoras, cognitivas e de linguagem
através da utilização do estímulo musical e sua relação com funções cerebrais
(THAUT, 2008).
A metologia utilizada na musicoterapia neurológica baseia-se no Modelo
Mediador Racional Científico (Rational – Scientific Mediating Model – R-SMM), que
considera a música como um estímulo mediador capaz de proporcionar respostas
não musicais referentes à cognição, afetividade e processo sensório-motor (THAUT,
2008). As investigações em musicoterapia que fundamentam-se neste conceito
consideram que a estrutura e os padrões musicais são elementos capazes de
organizar, estimular e guiar a atenção, a percepção e o comportamento do indivíduo
(LOUREIRO: 2009).
O modelo de design transformacional (Transformation Design Model – TDM)
oferece um sistema de aplicação do modelo teórico acima mencionado (R-SMM) na
prática clínica da musicoterapia neurológica. Para tanto, utiliza-se técnicas
específicas de reabilitação estabelecidas através dos objetivos terapêuticos
(THAUT, 2008).

Reabilitação Sensório-motora

 Estimulação Auditiva Rítmica – RAS (Rhythmic Auditory Stimulation)


Consiste em equalizar os movimentos biológicos rítmicos em compassos
métricos medidos por metrônomo (no caso de outros profissionais da área da saúde)
ou pela produção musical bem acentuada (dica rítmica no caso de musicoterapeuta).
Deve-se tomar cuidado com as preferências musicais para que elas não
sejam motivo de distração. Deve-se também utilizar compassos binários simples ou
compostos que marquem tempos forte e fraco favorecendo assim uma ação e uma
reação motoras, e movimentos circulares em relação à posição da perna ao
executar o passo.
Nos padrões de marcha deve se observar:
 Cadência do passo: a quantidade de passos por segundo.
 Comprimento do passo: sua amplitude.
 Simetria dos passos largos: se são parecidos.
 Velocidade do passo e a duração do movimento.
 Quanto mais arrastado for o passo pior é a sua qualidade.
RAS deve ser sistematizado em diferentes exercícios garantindo a
generalização da mediação da música em áreas diversas do sistema nervoso,
dentre as quais se pode citar:
 Formação Reticular: Estímulos sensoriais e sua discriminação.
 Córtex motor: planejamento e execução dos movimentos.
 Cerebelo: Equilíbrio.
O Ras também estimula a atenção e a memória de curto prazo favorecendo a
elaboração e o exercício de tarefas motoras podendo ser utilizado para acelerar e
desacelerar movimentos.
Ras e Cinestesia: Cinestesia é a capacidade proprioceptiva da relação
espacial do corpo. Reconhecer o corpo em um espaço, inclusive espaço de tempo e
suas relações. Possui três vertentes: o que se sente de forma externa (tátil), interna
(emocional) e os movimentos (psicomotor). Desta última percebe-se uma relação
lógica com o Ras.

 Estimulação Sensorial Padronizada – PSE (Patterned Sensory


Enhancement)
Abrange todos os “elementos musicais” num trabalho multidimensional. Os
exercícios referidos como padrão aumento da sensibilidade “PSE” usam a melodia,
ritmo, harmonia e dinâmica aonde se fornece pistas temporais, espaciais e força
para o movimento que refletem exercícios funcionais e atividades da vida diária.
Promove a execução dos movimentos para prover e estabilidade e continuidade e
antecipação do acontecimento (tempo) que também integra principalmente relação
com o espaço e aspectos de força dos movimentos. O PSE integra mais
complexamento o sistema sensório- motor do que o RAS.
PSE e seus princípios clínicos:
O principal foco do PSE são as atividades diárias, trabalhando os movimentos
que funcionam organizados em padrões repetitivos, facilitando assim as atividades
de treinamento e aprendizagem. É uma estratégia efetiva para reabilitação motora.
O terapeuta deve estabelecer uma relação entre as estruturas da música e do
movimento na aplicação do PSE. A música é que segue o movimento, com a música
o musicoterapeuta traduz o movimento desejado. Para isso se requer duas
habilidades:
 Capacidade de criar e fazer analogia entre movimento e os elementos
musicais (criar de forma lógica)
 Possuir habilidades básicas como: improvisação para executar (transformar
em música).

Questões espaciais:
 Precisa-se de adaptações para realizar os movimentos desejados para
melhor conforto e cautela com o paciente.
 Questões Musicais:
 Para mudança de movimentos sagitais, frontais e horizontais são usados
padrões musicais.
 A composição e improvisação fortemente presente.
 Para ativação muscular o tempo mais rápido gera tensão e o mais lento leva
ao relaxamento.
 Quando se muda o timbre se pode obter mudanças de mais relaxamento para
contração.
 A utilização da harmonia com dominante e tônica para provocar tensão e
relaxamento respectivamente.
 Através da forma explorar o início e término, ex.: ficar sentado nos versos e
levantar nos coros.
 Os padrões devem ser precisos e em 2/4 para se referirem aos passos
(métrica). Muita atenção com as batidas, ou seja, o andamento (o foco da
terapia é aceleração e a desaceleração)
 Utilização de agudos e graves para indicar o plano vertical, ex.: linha
ascendente melódica para levantar e linha descendente para abaixar.
 Performance Musical Instrumental – TIMP (Therapeutical Instrumental
Music Performance)
O TIMP tem como objetivo terapêutico e execução dos movimentos através
do ato de tocar um certo instrumento musical. A execução em instrumentos musicais
ajuda a exercitar as funções motoras finas e grossas, dando ênfase aos movimentos
funcionais de membros inferiores e superiores.

O TIMP se baseia em três elementos para a sua execução :


 A estrutura musical facilitando a organização do movimento em tempo,
espaço e força dinâmica.
 A escolha dos instrumentos e os mecanismos para tocá-los visando uma
melhor execução dos movimentos para ter um resultado terapeuticamente
significativo.
 O arranjo espacial e localização dos instrumentos. Isso facilita a execução
dos movimentos feitos pelo corpo, é importante uma postura corporal correta
para realizar essa técnica.
A configuração espacial dos instrumentos,de quais instrumentos e dos
padrões motores para a execução dos mesmos são definidas de acordo com o
exercício para :
- Força;
- Coordenação dos Membros;
- Intervalos do Movimento;
- Resistência do Movimento;
- Movimentos Funcionais ( adução,abdução,flexão,etc) .

Os instrumentos mais usados para esse técnica são os percussivos, pois


são os de mais fácil manuseio para não-músicos e permitem também a execução de
movimentos funcionais como flexão e extensão, dentre outros.

O TIMP se mostra muito eficaz na reabilitação de pacientes com


problemas, ou sequelas motoras. Facilita o treinamento da marcha, equelíbrio e
coordenação das extremidades superiores.

Pacientes com patologias como o Parkinson, PC, Esclerose Múltipla,


vítimas de AVC, são os que mais se beneficiam com o uso dessa técnica em sua
reabilitação.
Reabilitação de Fala e Linguagem

 Terapia de Entonação Melódica – MIT (Melodic Intonation Therapy)


É uma técnica que utiliza as capacidades ilesas do paciente para cantar,
visando facilitar a produção do discurso. A prosódia musical é modelada em
pequenas frases ou palavras para serem cantadas ou entoadas pelo paciente de
maneira próxima à fala normal através de padrões de inflexão da expressão verbal.

Procedimentos – As sentenças funcionais ou pequenas afirmações/expressões


são traduzidas em canção com os padrões de inflexão do discurso em prosódia
musical.
1. A entonação melódica é apresentada pelo terapeuta que auxilia o paciente,
batendo o ritmo sobre sua mão esquerda.
2. O cliente começa a executar as entonações melódicas e os dois cantam
juntos.
3. O terapeuta diminui a voz até o paciente cantar sozinho.
4. Terapeuta e paciente alternam o canto para ajuda-lo na independência do
output de iniciação verbal.
5. Na última parte o terapeuta faz perguntas e o cliente responde
primeiramente cantando, depois verbalmente (sem a música).

 Estimulação Musical da Fala – MUSTIM (Musical Speech Stimulation)


É uma técnica usada na terapia da afasia que utiliza materiais musicais e
outros materiais relacionados a música como canções , ritmos, cânticos ou frases
musicais para estimular discurso não proposicional.
O discurso não proposicional seria, por exemplo, a realização ou inicialização
de canções familiares já aprendidas, produção espontânea de palavras por meio de
associações para eliciar ou moldar a resposta do discurso funcional.

Procedimentos -O terapeuta pode começar cantando uma canção familiar com


a meta de engatilhar ou provocar o paciente para que se una ao terapeuta de forma
reflexiva. Tanto com cantigas ou apenas com instrumentos sem o canto.
Uma vez que o paciente emita uma resposta verbal ativa, o terapeuta deve
deixar de cantar durante o verso ou no final da frase para dar lugar a uma
complementação verbal de palavras emitida pelo paciente.

 Sinalização Rítmica para a Fala – RSC (Rhythmic Speech Cueing)


É uma técnica de controle de frequência que usa o ritmo auditivo, em forma
de metrônomo ou incorporada a música , para sinalizar a fala. Outra forma de RSC
utiliza o canto ao invés da fala.
População – RSC se mostrou eficaz na reabilitação das desordens da fluência
na gagueira e na confusão do controle da frequência para melhorar a inteligibilidade
em pacientes disártricos e para facilitar sequenciamento rítmico na apraxia .

Procedimentos:
1 – Sinalização Métrica -Batidas rítmicas são correspondidas com sílabas,
resultando em uma inflexão do discurso no qual cada sílaba terá igual duração no
decorrer da enunciação.
2 – Sinalização padronizada –Utiliza padrões de batidas que simulam padrões
de ênfase das inflexões do discurso normal. As durações entre as batidas são
assimétricas, dependendo dos padrões rítmicos do discurso normal. Esta técnica é
mais efetiva com disartrias brandas.

 Exercícios Respiratórios e de Motricidade Oral – RSC (Rhythmic Speech


Cueing)
Se refere ao uso do material musical e de exercícios para melhorar o controle
da articulação, apoio respiratório e o funcionamento do aparato fonatório.
População –Desordens de desenvolvimento, disartria, distrofia muscular e
outras desordens que afetam o controlemotor da fala e das funções respiratórias.

Procedimentos – Através da vocalização sonora e da execução de


instrumentos de sopro. OMREX + VIT podem trabalhar de forma interdependente
influenciando-se e trabalhando Produção + Articulação.

 Terapia de Entonação Vocal – VIT (Vocal Intonation Therapy)


Tem como objetivo reabilitar desordens da voz por meio de treinamento vocal. VIT
proporciona a melhora do controle vocal, da saúde da voz e do sistema respiratório.

Procedimentos:
1 – Relaxamento do pescoço, cabeça e tronco.
2 – Exercícios de respiração para o controle do sopro fonatório.
3 – Aquecimento Vocal –com exercícios de controle vocal para afinação,
timbre, alturas, volume, ressonância, para a utilização da respiração de forma
apropriada, etc.
4 – Exercícios de fonação e entonação com o uso de vogais e consoantes.
Estes exercícios utilizam sinalizações rítmicas e melódicas, acentos, pontos de
ênfase para treinar padrões de prosódia corretos nas expressões verbais.

 Canto Terapêutico – TS (Therapeutic Singing)


Uso específico das atividades de canto, em grupo ou não, para facilitar a
iniciação, desenvolvimento e articulação da fala e linguagem, além de melhorar o
funcionamento do aparato respiratório.
População –Utilizado em uma variedade de disfunções neurológicas ou do
desenvolvimento da fala e da linguagem.
Os objetivos são treinar unidades como sinalização do discurso rítmico,
motricidade oral e exercícios de respiração. OMREX e VIT podem ser reforçados e
seguidos do TS, de maneira aplicada e integrada.

 Treinamento de Desenvolvimento da Fala e Linguagem Através da


Música – DSLM (Developmental Speech and Language Training Through
Music)
É desenvolvido para utilizar música e materiais relacionados para melhorar e
facilitar o discurso e o desenvolvimento da linguagem.
População –Crianças com atraso de desenvolvimento da fala e da linguagem.
Nestes casos se necessita de uma técnica terapêutica efetiva para acessar funções
cognitivas e motoras subjacentes ao discurso e a linguagem de maneira ampla,
integrativa e global.
Procedimentos -Experiências musicais são adaptadas para enfatizar
desenvolvimento cognitivo e motor.
Desenvolvimento do conceito em áreas como números, letras, sons,
movimento, cores, formas e seres animados podem ser traduzidos e ensinados de
forma criativa por meio de atividades musicais.
Desde formas simples como cantar e tocar até compor, vocalizar ou aprender
números e formas na performance de exercícios em instrumentos musicais.

 Treinamento de Orientação Simbólica Através da Música – SYCOM


(Symbolic Communication Training Through Music)
Uso da música como um sistema de linguagem não verbal, sensorialmente
estruturado, que requer consciência social, tem forte saliência afetiva, evolui em
tempo real e pode estimular de forma efetiva estruturas de comunicação em padrões
de interação social. Também pode ser usado em conjunto com o aprendizado de
sistemas alternativos de comunicação para construir melhoramentos da
compreensão das regras, funções e significados das interações da linguagem em
geral com outras pessoas.
População –Em casos graves de perda completa da linguagem expressiva,
na ausência ou em disfunções do desenvolvimento da linguagem funcional.

Procedimentos -Exercícios estruturados de improvisação instrumental e


vocal para treinar e estimular comportamentos e regras de comunicação estrutural
como dialogar(P e R), escutar e responder, gestos apropriados da fala, iniciação e
terminação do ato de comunicar-se, reconhecimento apropriado da mensagem
recebida.
Em fases mais avançadas do treinamento da SYCOM a música com seus
significados extramusicais associados(tristeza, felicidade, melancolia) pode ser util.
Reabilitação Cognitiva

Atenção

A atenção é uma função cognitiva fundamental por permitir a interação


eficaz do indivíduo com o seu ambiente, e também subsidiar a organização dos
processos mentais (LIMA, 2005). O Modelo de Funções da Atenção (“Model of
Attention Functions”), desenvolvido a partir dos trabalhos de Mateer (2000) e
Sohlberg e Matter (1989) divide a atenção em cinco categorias: focalizada
(habilidade de responder a um estímulo específico), sustentada (habilidade de
manter uma resposta atencional constante durante uma atividade contínua e
repetitiva), seletiva (habilidade de selecionar estímulos relevantes dentre outros
menos relevantes), alternada (habilidade de trocar a atenção, alternando-a entre
diferentes estímulos) e dividida (habilidade de responder simultaneamente a
múltiplos estímulos) (THAUT, 2008).

 Treinamento de Orientação Sensorial Musical – MSOT (Musical Sensory


Orientation Training)
Esta técnica usa música ao vivo ou gravada para estimular suscitar e
recuperar o estado de atenção e facilitar significativamente respostas, orientação do
tempo, lugar, e pessoa. Em estágios de recuperação ou desenvolvimento mais
avançados, o envolvimento ativo em exercícios musicais simples aumenta o estado
de vigilância e treina a manutenção básica da atenção com ênfase na quantidade
mais do que na qualidade daa respostas (Ogata 1995). Inclui estimulação sensorial,
excitação, orientação, vigilância e manutenção da atenção .
MSOT promove orientação da realidade, mantém a atenção em um período
de tempo e pode ser usado inicialmente para aguçar a percepção e também para
promover uma desensibilização em preparo de procedimentos médicos.
Para aguçar o estado de atenção vigilante é interessante música que o
paciente não é familiarizado.

Protocolo Clínico:
 Estimulaçõa sensorial
 Exciação e orientação
 Vigilância e manutenção da atenção

 Treinamento Musical na Negligência – MNT (Musical Neglect Training)


MNT incluem execução de exercícios ativos em instrumentos musicais que
estejam compostos dentro de período, tempo, e ritmo e tenha uma configuração
espacial apropriada, para focar atenção em um campo visual não atentivo ou
negligenciado. Um segundo tipo de aplicação consiste em ouvir musica receptiva
para estimular a ativação do hemisfério do cérebro enquanto engajado em
exercícios direcionados a falha visual ou a falta de atenção. (Hommel et al.1990).
Um exemplo são as atividades com claves que integram visão e audição
dentro do crescente patológico de uma neuromielite óptica trabalhando a
necessidade de foco de atenção visual, o campo de visão do indivíduo além de
promover a integração sensorial cinestésica.
Protocolo Clínico:
 Exercícios de audição musical receptiva:
- Estimulação auditiva, tátil e vibatória no campo negligenciado
- Localização sonora
 Exercícios de performance ativa com instrumentos musicais:
- O paciente toca acompanhamentos apropriados que envolvem padróes
melódicos, harmônicos e rítmicos
- Reversão da ordem dos padrões

 Treinamento de Percepção Auditiva – APT (Auditory Perception


Training)
 APT inclui percepção da audição e integração sensorial. Estimula a
percepção auditiva e integração sensorial. O treinamento é composto por xercícios
de discriminação e identificação dos diferentes componentes do som, como
andamento, métrica, duração, altura, padrões rítmicos e sons da linguagem.
Envolve a integração de diferentes modalidades sensoriais (visual, tátil e
cinestésicas) durante a realização dos exercícios musicais, como tocar a partir de
uma grafia simbólica ou notação gráfica, usando transmissão de som por meio do
tato, ou integrando movimento à música (THAUT, 2008).

Encaixam-se em APT variados tipos de treino (exemplo: mais rápido, mais


lento) de acordo com a capacidade cognitiva do paciente. Com músicas que
envolvem formas de pergunta e resposta pode se trabalhar o imediatismo de
respostas sensoriais e discriminação rítmica. Com pacientes pós AVC pode se
trabalhar discriminação de timbres e de formas.

Protocolo Clínico:
 Detecção do som:
- som x silêncio
- audição direcional
 Discriminação do som:
- andamento
- duração
- ritmo
- intensidade
- altura
 Identificação sonora:
- ritmo
- altura
- contorno melódico
- timbre
- padrões sonoros e movimento
 Combinação de estímulos:
- estímulo auditivo e táti
- estímulo auditivo e visual
 Treinamento de Controle da Atenção Musical – MACT (Musical Attention
Control Training)
 MACT inclui a aplicação de exercícios musicais estruturados, ativos ou
receptivos, envolvendo performances já compostas ou improvisadas onde os
elementos musicais sinalizam diferentes respostas musicais com o objetivo de
desenvolver os mais diversos tipos de atenção (focalizada, sustentada, seletiva,
dividida e alternada) (THAUT, 2008).

Protocolo clínico:
 Percepção auditiva: atenção seletiva e sustentada
 Orientação para o aqui e agora: atenção sustentada
 Seleção e foco através do ritmo
 Exercícios musicoterapêuticos para a promoção da atenção através da
variação de elementos musicais
 Alternância de atenção entre dois ou mais estímulos auditivos e
execução condicionada
 Localizar e responder a dois estímulos simultâneos

Memória

Memória pode ser definida como a capacidade neurocognitiva de


decodificar, armazenar e recuperar uma informação (TULVING, 2000). Enquanto o
aprendizado é o processo de aquisição de informação, a memória refere-se à
persistência do aprendizado em um estado que pode ser evidenciado
posteriormente (SQUIRE, 1987). Sendo assim, a memória é uma habilidade
cognitiva que permite recriar informações mentais com base em experiências
anteriores. A reabilitação cognitiva da memória é indicada quando há um dano
neurológico ou doença que interrompe ou impossibilita a ativação mnemônica
(THAUT & GARDINER, 2014).
O funcionamento da memória pode ser classificado em diferentes tipos:
- Memória de trabalho: mantém a informação em mente por alguns
segundos necessários a uma tarefa de curto prazo (PARENTE & ANDERSON-
PARENTE, 1989).
- Memória semântica: inclui informações genéricas como datas, conceitos e
vocabulário (SCHATER et al., 2000)
- Memória episódica: recordações de eventos e experiências pessoais
(SCHATER et al., 2000)
- Sistema de representação perceptual: analisa e compara novas
informações com outras anteriormente registradas (THAUT & GARDINER, 2014).
- Memória Processual: possibilita a aprendizagem e recordação de
habilidades motoras e cognitivas (SCHATER et al., 2000).
- Memória Prospectiva: capacidade de realizar ações específicas em um
tempo apropriado (SOHLBERG et al., 1992).
 Treinamento Mnemônico Musical – MMT (Musical Mnemonics Training)
Em áreas ecóicas, procedimentos, e memória declarativa MMT inclui
exercícios musicais direcionados a várias codificações e decifrações / funções para
relembrar da memória. A relembrança imediata dos sons ou palavras cantada
usando estímulos musicais direciona funções ecóicas. Estímulos musicais são
usados como dispositivo mnemônico ou padrões de memórias (exemplos em
canções, rimas ou cantigas). Os exercícios facilitam a aprendizagem da informação
não musical por sequenciar e organizar a informação em padrão temporariamente
estruturado ou em porções (Deutsch 1982; Gfeller1983; Wallace 1994; Claussenand
Thaut 1997; Maeller 1996; Wolfe and Hom 1993).
MMT trabalha a função de organizar memórias. Quando o indivíduo usa de
repetição ocorrem uma reorganização e uma associação de informações. O treino
de palavras e seus significados podem ser trabalhados em canções, rimas e sua
rítmica, parlendas, hapers. Palavras cantadas, ritmadas, acrescentadas às faladas
promovem a fortificação do vocabulário de uma pessoa.
Tais atividades podem ser usadas em casos de demências semânticas e para
trabalhar a memória procedural (como proceder e agir) assim como a declarativa (no
momento).

 Treinamento de Memória Ecóica Musical – MEM (Musical Echoic Memory


Training)
Utiliza a recordação imediata de sons musicais apresentados através do
canto, execução instrumental ou música gravada para treinar a memória ecóica
(memória sensorial auditiva).
A memória ecóica é o primeiro estágio da formação da memória auditiva e
opera como um registro da memória sensorial, sendo sua função a retenção de
informações auditivas imediatas que uma pessoa acaba de perceber até que estas
sejam processadas mais elaboradamente na memória de trabalho.
Outra função da memória ecóica é manter a informação auditiva no registro
sensorial até ouvir um som subseqüente, que então atribui significado ao primeiro
som, como é o caso do processamento rápido de sequências de sons da voz. A
memória ecóica é muito curta e é definida entre intervalo de 2-4 segundo,
aproximadamente. No entanto, é consideravelmente mais longa que a memória
icônica para informação visual, que dura menos de 1000 milissegundos, ou a
memória tátil, que dura, no máximo, 2 segundos.

 Humor Associativo e Treinamento de Memória – AMMT (Associative


Mood and Memory Training)
Constitui-se na aplicação de técnicas de indução de humor para: (a) produzir
estados de humor condizentes visando a recuperação da memória, (b) acessar o
humor associativo e a memória encadeada direcionando o acesso para uma
memória específica, (c) melhorar funções de memória e aprendizagem através da
indução positiva de estados emocionais no processo de aprendizagem e
recordação.
Para facilitar a memória é interessante utilizar-se do contexto cultural do
paciente, de músicas conhecidas, familiares e significativas para ele evocando assim
estados emocionais.
Na paralisia cerebral há uma queda de inteligência que afeta questões de
humor que podem se relacionar às memórias. No Alzheimer que caracteriza dentre
outros fatores a perda de memórias recentes o humor se apresenta agressivo e na
esclerose múltipla se torna depressivo e/ou irritável. Nota-se que os chorinhos
promovem um humor neutro e ao mesmo tempo os estados de alerta.

Funções Executivas

As funções executivas compreendem a capacidade de engajamento em um


comportamento orientado a objetivos específicos através de realização de ações
voluntárias e auto-organizadas (CAPOVILLA, ASSEF & COZZA, 2007). Através das
funções executivas o individuo se capacita a formular objetivos; iniciar
comportamentos; antecipar a consequências de suas ações; planejar e organizar o
comportamento de acordo com uma sequência lógica, espacial e temporal; e
adaptar seu comportamento de acordo com o contexto (CICERONE et al., 2000).
Os principais modelos de Funções Executivas incluem três componentes
básicos: inibição (a capacidade de o sujeito inibir respostas dominantes ou
automáticas quando julgar necessário, de maneira controlada), memória de trabalho
(manutenção, manipulação ativa e atualização da informação) e flexibilidade
cognitiva (capacidade de mudar o foco atencional ou curso de ação) (DIAS et al.,
2015)

 Treinamento Musical de Funções Executivas – MEFT (Musical Executive


Function Training)
Esta técnica inclui improvisação e exercício de composição apresentado
individualmente ou em grupos para praticar a função de execução de habilidades
tais como organização, resolução de problemas, tomadas de decisões,
racionalizações, e entendimentos. O contexto musical promove elementos
terapêuticos importantes, tais como produtos de execução em tempo real, estrutura
temporal, processos criativos, conteúdo afetivo, estrutura sensorial, ou padrões de
interações sociais.
MEFT assim como as outras técnicas pode ser abordada de forma
multimodal. Unir MEFT com MNT auxilia no nível funcional em relação a atenção no
que se executa e na improvisação ou composição.

Psicossociabilidade

A psicossociabilidade é uma forma básicas da natureza humana que torna


possível a abertura para mundo exterior. A psicossocialidade pode ser definida como
uma natureza psicológica e social, ou seja, a capacidade do indivíduo de equilibrar
seu meio social com seu psicológico, dependem das estruturas mais ou menos
cômodas nas quais o mesmo se insere (NASSIF, 2010).

 Música no Treinamento Psicossocial e Aconselhamento – MPC (Music in


Psychosocial Training and Counseling)
MPC emprega a escuta musical guiada, dramatização musical e exercícios
expressivos de improvisação ou composição. MPC usa a execução musical para
dirigir procedimentos de controle do humor, expressões efetivas, coerência
cognitiva, orientação de realidade e interação social apropriada para facilitar funções
psicossociais. As técnicas são baseadas em modelos derivados a partir de
modificação do afeto, rede associativa a teoria do humor e memória, teoria de
aprendizagem social, condicionamento clássico e operante, e baseado em guia de
humor nas técnicas do princípio de ISO (o musicoterapeuta considera que o
princípio de ISO é aplicado quando se produz um canal de comunicação entre
terapeuta e paciente através da seleção de um estimulo musical que combine com o
humor do paciente, utilizando-o como ponto de partida terapêutica na tentativa de
modular o estado de humor nas direções desejadas) (Millard e Smith 1989; Unkefer
e Thaut 2002; Blood et al. 1999; Sutherland et al. 1982; Teasdale e Spencer 1984).

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