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Redes sociais na juventude: o conflito entre o vício e os benefícios da era digital

Reflexo da chamada Era Digital, em 2017, o número de smartphones ativos no Brasil passou o de
habitantes, ao passo que mais de 65% dos brasileiros, com mais de 10 anos, estão no Facebook; dados como
esses têm feito com que profissionais da área da Saúde alertem para os riscos dos excessos e do afeto da
população pela tecnologia, sobretudo, entre os adolescentes, geração que já nasceu conectada, haja vista que,
segundo uma pesquisa da DNPontoCom, 70% dos jovens da geração Z (aqueles nascidos no fim da década
de 1990 até 2010) leem apenas os títulos das notícias.
Mais que dados sobre as novas formas de consumir informação, os levantamentos acima revelam um
entre os muitos reflexos da chamada “Era Digital” que, muito além de mudar a forma com que lemos e
reagimos a notícias, também tem transformado nosso comportamento no que diz respeito à socialização,
exposição, entre outros. Por isso, a compreensão das influências do uso excessivo de celulares e redes sociais
entre os jovens que já nasceram nesta nova era tem sido uma preocupação cada vez mais comum para
pesquisadores de todo o mundo, sobretudo, na área da Saúde mental.
A formação psíquica em tempos digitais
Os dados da Royal Society for Public Health (RSPH), organização britânica dedicada a melhorar o
bem-estar e saúde pública, revelam que metade das pessoas entre 14 e 24 anos relacionou o uso do Instagram e
do Facebook à sensação de ansiedade, enquanto sete em cada 10 afirmam que o Instagram faz com que se
sintam mal quanto a aparência pessoal.
Os problemas psíquicos assinalados pelas pesquisas supracitadas são reforçados pelas falas da
psicóloga Mônica Vagliati. Para ela, o uso excessivo das redes sociais podem ser relacionados diretamente a
distúrbios emocionais e transtornos mentais, como depressão e ansiedade. “O excesso de tecnologia causa
estresse, pois tira muito tempo de outras tarefas e acaba nos sobrecarregando. As notificações de WhatsApp são
um exemplo claro de exigência de disponibilidade, não respeitando nossos momentos de lazer e prazer no
mundo físico. Desse modo, esses aplicativos de troca de mensagem potencializam sensações de ansiedade”,
explica.
Outro estudo elucidativo foi feito pelo Phone Life Balance, projeto da Motorola que incentiva o uso
inteligente e equilibrado do smartphone, onde 49% dos usuários brasileiros da geração Z concordaram com a
sentença de que o aparelho era “seu melhor amigo”. Além disso, 36% dos jovens entrevistados afirmaram que
priorizam o celular a passar mais tempo com amigos e familiares.
Se somados, esse apego pelas redes sociais e pela tecnologia e as estimativas da Organização Mundial
da Saúde (OMS) que destacam o Brasil como o país com a maior taxa de transtorno de ansiedade do mundo,
as relações entre o uso exacerbado das tecnologias e o desenvolvimento de distúrbios mentais citados por
Mônica ganham contornos ainda mais nítidos. Segundo os dados da OMS, 9,3% dos brasileiros têm algum
transtorno de ansiedade, enquanto 5,8% da população sofre de depressão.
Desconexão com a realidade
A exposição imagética promovida por redes como o Instagram também é assinalada como mecanismo
potencializador da infelicidade, na medida em que cria ideais de mundos perfeitos que, muitas vezes, não são
possíveis de serem alcançados ou compartilhados por aqueles que os acessam pelas telas dos celulares.
Segundo a psiquiatra Verônica Lazzari, a ilusão de realidades perfeitas estampadas nas fotografias
compartilhadas nas redes, somado ao imediatismo com que os jovens estão acostumados faz com que eles
acabem se frustrando. “O mundo virtual gera falsas crenças de felicidade, dinheiro, uma vida que muitas vezes
não existe para quem assiste pelo celular. Quando não se compreende que isso não é por acaso, que tudo tem
seu tempo certo para acontecer, acaba-se gerando frustração, e quem não sabe lidar com esse sentimento,
comumente, se machuca. A pessoa pode ficar ansiosa, triste, perder a autoestima, se irritar, se automutilar,
entre outros”, explana.
O imediatismo das tecnologias nos torna intolerantes. Pensamos que tudo tem que ser para este exato
momento. Isso gera estresse, ansiedade, irritabilidade, baixa tolerância à frustração e também problemas nos
relacionamentos.
“As redes sociais são a institucionalização da ignorância”
As pessoas dizem que é mais fácil para os jovens acessarem o conhecimento hoje, mas que tipo de
informação eles têm acessado?”. As redes sociais não acrescentaram em termo de conhecimento, até porque
o conhecimento que se tem na internet é discutível. Essa é a institucionalização da ignorância, pois hoje
qualquer opinião é considerada uma fonte, não há embasamento teórico.
“Queremos colocar a escola no Século XXI”
Embora seja um defensor do uso da tecnologia, Misturini acredita que ainda falta no país aquilo que
chama de “educação digital”, ou seja, uma forma de auxiliar os jovens a utilizarem as redes sociais e a internet
de modo correto e sem prejuízos. “A internet é território livre, onde se tem acesso a muita informação falsa e
perigosa, além de se presenciar a disseminação de preconceitos. Por isso, a falta de equilíbrio entre o virtual e
o real é algo perigoso”, assinala. Entre outros problemas observados, destaca ainda, o imediatismo que gera
impaciência, o cyberbulling e constantes erros na escrita, quando o aluno, sem perceber, acaba utilizando
abreviações e o “internetês”, no lugar da norma culta.
A visão dos adolescentes sobre as redes sociais
Segundo os estudantes, o que mais utilizam é o WhatsApp e o Instagram. Os motivos e as expectativas
de ambos também são semelhantes. “O Whats é para conversa mesmo, o Instagram é para postar aquelas fotos
que achei que ficaram boas”, comenta Isadora. Quando as fotos não são bem recebidas, no entanto, o modo
de agir é bem claro. “Se ninguém comenta, corro apagar e não uso mais aquela foto, mas não me sinto mal”,
diz. Martins, por sua vez, afirma que não lida tão bem quando não alcança o que esperava. “Eu sim, me sinto
mal. Quando posto, quero curtida, mas comentário é bom também”, complementa rindo.
Para ela, o mais complicado é conseguir se concentrar e evitar distrações. “Às vezes, sento para fazer
tema, mas o celular está ali e chama mais atenção, aí deixo tudo de lado. Penso que só vou olhar a notificação
por cinco minutinhos, mas quando percebo, já estou rolando a linha do tempo por horas”, diz.
Para além da saúde mental
Além de distúrbios psíquicos e emocionais que podem resultar do uso excessivo de redes sociais, o
abuso do uso de smartphones também é relacionado, por profissionais da saúde, a problemas físicos. Um dos
efeitos do uso excessivo dos dispositivos móveis diz respeito aos problemas de coluna resultantes da postura
que, normalmente, mantemos quando estamos digitando, lendo ou vendo algo no celular. Um vício postural
tão comum que já tem até nome: text neck, em tradução livre, “pescoço de texto”.
A exposição constante a luz emitida pelas telas e o esforço a que nos submetemos quando nos
concentramos desmedidamente nos celulares, conforme explica o oftalmologista Marcelo Piletti, também têm
afetado negativamente os olhos. “Como é uma atividade em que nos centramos muito, a frequência do piscar
é reduzida em até 10 vezes, resultando em menor troca lacrimal e, consequente, ressecamento ocular, gerando
sintomas como ardência, vermelhidão e lacrimejamento. Além disso, o alongamento gradual do globo ocular
visando uma melhor focalização da tela também começa a ser relacionado ao aumento de graus de miopia”,
argumenta.
Outro distúrbio causado pelo uso dos dispositivos eletrônicos, como celulares e tablets, são problemas
de sono. A luz azul-violeta emitida pelos dispositivos prejudica a produção de melatonina, hormônio
fundamental para o sono. “Por esse motivo, há recomendações cada vez maiores de limitação do uso diário
para os diversos dispositivos eletrônicos”, alerta. Publicado em: 11 de maio de 2019
Atividades:
1) Por que a internet pode ser perigosa?
2) Quais sãos malefícios que as tecnologias podem nos causar? E os benefícios?
3) Como você vê a sua relação com a tecnologia? Prejudicial ou benéfica? Comente.
4) Tente fazer você mesmo: Quantas horas você permanece conectado durante o dia? Qual o intervalo
de tempo que você fica desconectado? Através disso, tente ficar o tempo que esteve conectado, fazendo
uma outra atividade como ler um livro ou praticar um exercício físico. (É preciso tentar, adquirir novos
hábitos). Vamos lá, vocês conseguem!

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