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original em inglês:
The Benefits of Belief
Os textos bíblicos citados neste livro foram extraídos da Nova Versão Internacional, salvo outra
indicação.
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio,
sem prévia autorização escrita do autor e da Editora.
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PREFÁCIO
A religião sempre teve o seu papel na vida da humanidade. A análise histórica de
cada civilização irá revelar um forte componente religioso intimamente
relacionado à vida de homens e mulheres. Aliás, grande parte dos tesouros
arquitetônicos e artísticos das culturas antigas traz muitos emblemas da fé. De
maneira bastante específica, as práticas religiosas têm exercido um papel
fundamental na saúde e na cura das pessoas ao longo da História.
É também verdade que os impressionantes avanços da ciência nos últimos
séculos têm despertado questionamentos quanto à credibilidade da fé e da religião.
Os patrocinadores da cosmovisão naturalista sentem-se incomodados com
fenômenos religiosos como a fé, pois estes são difíceis de avaliar cientificamente.
No entanto, os fatos demonstram que, quando sobrevém a adversidade, as pessoas
se voltam para Deus e para a religião a fim de enfrentar o sofrimento e a angústia
que tais acontecimentos causam. Numa pesquisa realizada no fim dos anos 1990,
foi feita a seguinte pergunta a pacientes hospitalizados: “Até que ponto você se
apega à religião para lidar com as adversidades?” Entre as respostas obtidas, 23%
disseram que a religião tinha de moderado a muito significado; 27% afirmaram
que tinha muito significado ou era extremamente significativa; e 40%
consideravam a religião o fator mais importante para mantê-los confiantes e
1
animados.
Durante os últimos vinte e cinco anos, testemunhamos um tremendo
crescimento nas pesquisas acadêmicas sobre o papel do envolvimento religioso na
prevenção, controle e tratamento das doenças físicas e mentais. A segunda edição
2
do Handbook of Religion and Health [Manual de Religião e Saúde] analisou
mais de 3.700 estudos quantitativos publicados em revistas acadêmicas,
relacionados à temática de religião e saúde. Quando comparamos o número dessas
publicações entre as duas edições do livro, descobrimos que a literatura de
pesquisa havia quase que triplicado nos últimos dez anos. Esse crescimento é
refletido também na prática. Em 2015, o Medical College Admission Test
(MCAT) [Exame de admissão para a Faculdade de Medicina nos Estados Unidos]
passou a incluir uma nova seção relacionada às bases psicológicas, sociais e
biológicas do comportamento para verificar se os estudantes de Medicina
entendem os processos psicológicos de modo que estejam mais bem preparados
para enfrentar o currículo da Escola de Medicina, que está sendo modificado para
incorporar os aspectos psicológicos, sociais, culturais e/ou religiosos da pessoa. Os
médicos residentes também participam de seminários e workshops para entender
melhor a vida religiosa dos pacientes e, assim, poder auxiliá-los quanto à prática
da oração, adoração, hábitos devocionais, atendimento aos necessitados e outras
atividades que contribuam positivamente para a sua recuperação.
O livro Crer Faz Bem enquadra-se nesse contexto. Esta obra apresenta
pesquisas recentes na área da religião e da saúde, tanto física como mental. Julián
Melgosa relaciona a experiência religiosa às pesquisas científicas para responder a
perguntas como: A oração é um meio eficaz para ajudar as pessoas a se manterem
calmas e tranquilas? Ela ajuda a prevenir a depressão? A leitura da Bíblia promove
realmente a saúde e o bem-estar? O perdão pode se tornar um instrumento para a
cura emocional, física e mental? O perdão pode ajudar a melhorar algumas
condições específicas, como a fadiga crônica, a fibromialgia ou problemas
cardíacos? É possível melhorar a qualidade dos relacionamentos conjugais e
constatar visível bem-estar quando as pessoas participam de uma comunidade
religiosa? O serviço em favor de outros, realizado por motivos religiosos,
proporciona saúde e felicidade, além de prevenir os sintomas da depressão? A
frequência regular à igreja está relacionada, de modo positivo, a melhor saúde
física e mental? Ela ajuda a prevenir os problemas físicos e mentais entre as
crianças e adolescentes? Como a religião e a fé afetam a capacidade da pessoa de
ser feliz? A religião tem verdadeiramente a tendência de promover uma vida mais
feliz? A religião e a espiritualidade promovem bons relacionamentos interpessoais?
Como o enfrentamento religioso é utilizado para lidar com a doença e o
infortúnio? Será que as pessoas sentem maior força e conforto quando se apegam à
religião para enfrentar seus problemas? Será que a prática religiosa ajuda os fiéis a
enfrentar os traumas e a se transformar em pessoas melhores durante esses
processos?
Além disso, para responder a essas e outras perguntas, o autor utiliza
personagens e textos bíblicos para ilustrar, com base em pesquisas, os benefícios
que as pessoas recebem por serem religiosas. Isso é feito de maneira acessível a
todo o público leitor. Para ilustrar suas ideias, o autor também relata experiências
pessoais e outras ocorridas em vários países e culturas da Europa, Ásia e América,
onde viveu.
Por ser baseado em pesquisas, este livro revela que a fé e a religião, longe de
serem obrigações desagradáveis, são uma forma positiva de viver a vida em toda a
sua plenitude. Embora a vida religiosa não garanta a ausência da dor e do
sofrimento, ela nos oferece meios para que possamos viver conectados com Deus
e permanecer confiantes em sua providência, a fim de desfrutarmos ao máximo os
resultados da atuação divina em meio a circunstâncias adversas. Em síntese, Crer
Faz Bem enfatiza o conceito de que se deve viver uma vida religiosa para que sua
influência sobre os princípios, crenças e comportamento traga muitos dividendos
em termos de melhor saúde física e emocional.
Dr. Harold G. Koenig
Professor de Psiquiatria e Ciências Comportamentais Professor Associado de
Medicina Diretor do Centro Para a Espiritualidade, Teologia e Saúde no Centro
Médico da Universidade de Duke, em Durham, Carolina do Norte, Estados Unidos
Professor Adjunto na Universidade Rei Abdulaziz, Jeddah, na Arábia Saudita
1
Harold G. Koenig et al., 2012 Summer Research Workshops on Spirituality and Health (Durham, NC:
Duke Center for Spirituality, Theology and Health, 2012), p. 61.
2
Harold G. Koenig et al., Handbook of Religion and Health, 2a ed. (Nova York: Oxford University
Press, 2012).
INTRODUÇÃO
“Só Ele cura os de coração quebrantado e cuida das suas
feridas.”
Salmo 147:3
1
“Live Your Life Well: You Can Live Your Life Well”, Mental Health America, acessado em 21 de maio de
2013, http://www.liveyourlifewell.org.
2
Embora alguns fiéis isolados já estivessem praticando alguns princípios de saúde adotados mais tarde pela
comunidade em geral, a mensagem adventista de saúde começou a ser pregada no dia 6 de junho de 1863,
quando Ellen White recebeu a visão sobre saúde em Otsego, no Michigan, Estados Unidos.
3
Howard S. Friedman e Leslie R. Marting, The Longevity Project (Nova York: Hudson Street Press, 2011).
4
Howard S. Friedman, “How Prayer Leads to Better Health and Longer Life”, Huffington Post, acessado
em 13 de maio de 2013, http://www.huffingtonpost.com/howard-s-friedman-phd/where-exactly-is-the-heal_b_838603.html .
CAPÍTULO 1
OS BENEFÍCIOS DA ORAÇÃO
“Ouve a minha oração, Senhor; escuta o meu grito de
socorro.”
Salmo 39:12
N a noite anterior, antes de sairmos para fazer nossa trilha, minha esposa e eu
repassamos a lista: Previsão do tempo? OK. Equipamentos? OK. Roupas?
OK. Alimento e água? OK. Combinamos de acordar às 5h e partir às 6h para
aproveitarmos ao máximo a luz do dia. Como estávamos bastante cansados, fomos
para a cama mais cedo, a fim de desfrutarmos uma boa noite de sono.
Na manhã seguinte, eu me levantei, tomei meu banho e acordei Annette com
um leve toque, avisando-a de que eram 5h15. Ela disse que já ia se levantar. Desci
as escadas para ir adiantando o desjejum e arrumar o restante das coisas.
O tempo estava passando, mas eu não ouvia nenhum movimento no andar de
cima. Fiz tudo o que podia no preparo para a caminhada e me assentei para ler. O
relógio continuava correndo, e eu não conseguia me concentrar na leitura.
Comecei a pensar que, se Annette não se levantasse, nosso dia estaria perdido; não
teríamos tempo para alcançar nosso destino e retornar ainda com o dia claro.
Minha costumeira sensação de bem-estar pela manhã estava se transformando em
nervosismo. Previ que aquele seria um dia frustrante, sem tempo suficiente para ir
até o lago, conforme o planejado. De repente, observei sinais de movimento, que
me deram um sentimento de alívio. Mas logo percebi que as coisas iam muito
devagar. Estas são algumas frases que eu estava ensaiando para dizer a ela: Por que
demorar tanto para se aprontar? Nós não estamos indo para nenhum jantar de gala,
estamos? Já estamos atrasados quase uma hora! Não combinamos na noite passada que
iríamos sair por volta das 6h?
“Pare!”, eu disse para mim mesmo, e comecei a orar: “Senhor, ajuda-me a ficar
calmo. Ajuda-me a ser paciente e gentil quando ela descer. Ajuda-me a não
pronunciar nenhuma palavra de reprovação.” Depois disso, permaneci em
silêncio, com os olhos fechados por alguns momentos para receber
completamente as bênçãos da minha prece.
Essa pequena oração foi de extrema importância, pois, quando Annette
apareceu, minha súplica para não dizer nenhuma palavra de reprovação… nenhuma
palavra de reprovação… ecoava em minha mente, e Deus me abençoou com um
sorriso e uma conversa que não tinha nada que ver com seu atraso. Tivemos um
agradável desjejum e passamos um dos dias mais alegres e divertidos junto ao Lago
Aneroid, no alto das Montanhas Wallowa. O fato de partirmos com um atraso de
45 minutos não fez absolutamente diferença alguma. É terrível imaginar o que
uma discussão, logo pela manhã, teria significado para todo aquele dia que
passamos juntos.
A oração foi o ponto decisivo para aquele dia. Ao perceber minha agitação,
sabia que precisava de ajuda, e Deus a providenciou. A oração foi o instrumento
fundamental para que houvesse harmonia entre nós. Como veremos neste
capítulo, a oração é muito mais do que pedir ajuda em um momento de
necessidade; entretanto, estou agradecido a Deus por sua disponibilidade e boa
vontade em operar simples mudanças que podem produzir paciência, sabedoria,
atitudes adequadas e palavras apropriadas.
A maioria dos fiéis de todas as crenças considera a oração um dos principais
meios de crescimento espiritual e um vínculo seguro de comunhão com Deus.
Nos últimos anos, as pesquisas têm mostrado que a oração proporciona não
somente bênçãos espirituais, mas também ajuda a manter as pessoas longe das
doenças físicas e mentais. Além disso, a oração tem sido relacionada positivamente
ao bem-estar subjetivo (o termo de pesquisa usado para a felicidade). Essa é uma
confirmação de que Deus designou a oração para que seus filhos tivessem saúde
completa.
Os benefícios da oração
Os meus tempos de faculdade na Universidade de Madri, na Espanha, foram
marcados por desordem social e profundas mudanças na sociedade. Após 40 anos
vivendo sob um regime de ditadura, a maioria das pessoas desejava libertar-se da
tradição de haver uma única ideologia política e uma única denominação religiosa
– o catolicismo romano. Na esfera política, os antigos partidos que haviam sido
reprimidos foram legalizados e muitos outros começaram a surgir. Entretanto, não
aconteceu o mesmo com relação à religião. Muitas pessoas não queriam que
houvesse uma pluralidade de crenças, mas rejeição completa da religião. Isso
aconteceu provavelmente porque o povo relacionava a religião com o catolicismo
romano; também porque, pelo fato de a igreja e o Estado terem permanecido
intimamente ligados por décadas, muitos deixaram de ir à igreja.
Em pouco tempo, fazer oração e ir à igreja tornou-se obsoleto, e muitos
desistiram das práticas religiosas. Mas isso significa que as pessoas pararam de orar?
A maioria provavelmente não. Pelo menos essa era a minha impressão quando
conversava com meus colegas. Muitos continuavam orando como faziam antes,
mas não falavam tanto sobre isso. Alguns anos mais tarde, percebi a mesma coisa
entre os alunos do Newbold College, na Inglaterra, numa época em que a religião
não era algo “legal” e estava fora de moda na Europa. Conduzi então uma
pesquisa qualitativa sobre a experiência religiosa com os alunos da faculdade.
Embora a maioria dos meus entrevistados fosse adventista do sétimo dia, havia
vários alunos de outras religiões e também descrentes. Mesmo assim, não
encontrei um deles sequer que não orasse com certa regularidade. Parece que a
oração é uma necessidade e traz benefícios suficientes para que a maioria das
pessoas não venha a descartá-la tão facilmente. Pesquisas realizadas ao longo dos
últimos quatro ou cinco anos, mostram que cerca de 50% a 90% dos americanos
afirmam que oram diariamente.
Há também setores da população que oram mais que outros: pessoas com
poucos recursos, com pouco autocontrole, pessoas que vivem sob estresse e
aquelas que podem levar alguma desvantagem devido ao gênero (as mulheres,
mais comumente), idade (os idosos), membros pertencentes a minorias
(especialmente grupos oprimidos) e pessoas com baixo nível educacional. Isso
pode ajudar a entender as Bem-Aventuranças pronunciadas por Jesus: os que são
pobres e humildes, os que choram, os que são vítimas da injustiça e os que são
perseguidos por fazerem as coisas corretas são especialmente abençoados (Mt 5:3-
12). É a bênção trazida pela adversidade; é a oração que assume o lugar quando se
sente a dependência de Deus. Na verdade, Jesus se agrada em responder às
orações daqueles a quem Ele veio ajudar, especialmente os pobres, os cativos, os
cegos e os oprimidos (Lc 4:18).
Por que as pessoas oram? As pessoas geralmente oram porque passam por algum
tipo de dificuldade. Na cultura em que nasci, temos o seguinte ditado: “Ele ora a
Santa Bárbara quando ouve o trovão” (nessa tradição, Santa Bárbara é a quem se
atribui a proteção dos perigos das tempestades com raios e trovões). Outros oram
porque acham que devem orar; oram por obrigação, talvez pressionados pelos
preceitos religiosos. As pessoas também oram porque estão agradecidas e desejam
demonstrar seu reconhecimento e apreciação a Deus. Outros oram ainda porque a
oração lhes traz o sentimento de estar mais próximo a Deus; sentem sua presença
e o conforto de estar perto do Todo-Poderoso. As pessoas também oram em
favor de outros, pedindo a Deus que intervenha na vida de um amigo, parente ou
alguém que esteja passando por uma necessidade especial. Isso pode ser feito
porque a pessoa pediu ou aquele que ora foi movido por amor e compaixão.
Eu oro porque a oração se tornou um hábito em minha vida. Sei que os hábitos
correm o risco de se tornar rotineiros e perder o significado, e tenho o cuidado
para que isso não aconteça. Oro porque necessito manter ligação com Deus para
seguir em frente, tendo o sentimento de que não estou sozinho e que Ele me
envolve com sua bondade e amor. Oro, cada dia, ao sair de casa. Agradeço a Deus
pela noite que passou e pelas estrelas (costumo contemplar as estrelas porque,
onde moro, o céu é sempre mais limpo). Agradeço a Deus por minha esposa e
meus filhos, e também por outas pessoas que fazem parte da minha vida: amigos,
familiares, colegas e alunos. Agradeço a Ele pelo trabalho que tenho, pelas
oportunidades de crescimento, por poder partilhar minhas experiências com
outros e aprender com eles também. Louvo a Deus por todas as suas provisões e
especialmente pelo dom de Cristo Jesus e da salvação que temos por meio dele.
As petições surgem então facilmente em minhas orações; assim, oro pelos
membros da minha família, um por um, de acordo com os desafios que eles
enfrentam. Depois oro em favor de outros que sei que estão passando por lutas.
Oro por mim mesmo e pelas tarefas que tenho à frente. Invariavelmente, peço
por sabedoria ao tomar minhas decisões, no trato com as pessoas, ao conduzir
minha vida, meus pensamentos e ações, como também por saúde e força, e por
entendimento para saber como preservá-los. Oro então para pedir perdão,
especificamente por pensamentos pecaminosos, palavras, maneiras de agir, e ainda
por me angustiar com preocupações desnecessárias. Por último, falo do meu
desejo de dedicar minha vida a Ele e peço-lhe que me ajude a cumprir esse ideal.
Dou imenso valor à minha vida de oração, pois sei que me traz grandes
benefícios. Não preciso fazer estudos empíricos para demonstrar que a oração é
algo bom. No entanto, há pessoas que podem revelar seu interesse na oração e na
religião, apenas por lerem esses estudos. Além disso, é útil e importante saber que
a comunidade acadêmica reconhece o valor da oração e de outros fatores
religiosos e espirituais.
Nas últimas duas décadas, estudos têm demonstrado as diferenças que há entre
aqueles que dizem que oram e aqueles que não oram. Os resultados revelam que
as pessoas que oram têm a tendência de ser mais saudáveis do que aquelas que não
oram, tanto física como mentalmente. É verdade que não podemos fazer uso da
oração da mesma forma que utilizamos uma pílula ou uma pomada – a oração é o
resultado de um relacionamento. É bom, porém, estarmos cientes de alguns
possíveis benefícios obtidos por meio da oração.
Atividade cerebral
Uma das primeiras tentativas feitas para registrar a atividade cerebral durante a
oração foi conduzida por Walter Survillo e Douglas Hobson, na Escola de
1
Medicina da Universidade de Louisville. Foi esse o modesto início dos estudos
neurológicos sobre a oração, antes mesmo dos tempos em que começou a ser
utilizada a ressonância magnética funcional por imagem (RMFi). Os
pesquisadores inscreveram seis adultos, três homens e três mulheres, membros da
Igreja de Deus, em Anderson, Indiana, nos Estados Unidos, como participantes
do estudo. A atividade eletrocortical foi registrada via eletroencefalogramas
(EEGs) realizados durante a oração. O objetivo era descobrir se, durante a oração,
o ritmo era mais lento do que normalmente acontece em estado de repouso.
Esperavam encontrar esses ciclos de diminuição da velocidade durante a oração,
da mesma forma que haviam sido descobertos em outra pesquisa com relação à
meditação transcendental. Entretanto, os resultados não demonstraram evidência
de redução da velocidade nos EEGs durante os períodos de oração desses três
homens e três mulheres. Na verdade, o que observaram foi um aumento na
velocidade dos EEGs de todos eles.
Essas descobertas mostraram a diferença que há entre a oração cristã e a
meditação transcendental. Enquanto a oração cristã mantém o foco em uma
conversa pessoal com Deus, a meditação transcendental está centralizada na
repetição calma e em voz baixa de um mantra – que pode ser uma sílaba, uma
palavra ou um grupo de palavras. Os EEGs mais rápidos são produto de uma
atividade cognitiva mais intensa, devido ao alto nível de concentração
demonstrado por aqueles que estão orando. Isso foi confirmado por meio de
conversações feitas pessoalmente com os participantes que relataram haver uma
intensa atividade mental enquanto oravam com fervor.
Isso, de fato, não é estranho para aqueles que praticam a oração como “o abrir
2
do coração a Deus como a um amigo”. Quando vou à presença de Deus e
divido o fardo com Ele, tento expor o que penso a respeito da questão e peço a
Deus que intervenha. Falo sobre minhas preocupações e a maneira como vejo o
problema. É claro, Deus o conhece muito melhor, mas isso não impede que
continue a minha conversa porque sei que, ao orar, estarei fortalecendo a minha
fé, e isso me ajuda a aceitar o que virá a acontecer como uma resposta que teve a
bênção direta do Senhor. Quando agradeço a Deus as bênçãos recebidas, procuro
buscar na mente os múltiplos detalhes que tornaram uma bênção tão especial e me
admiro diante das circunstâncias que envolveram essa bênção. Para fazer isso,
necessito de concentração e esforço mental. Orações fervorosas não são
necessariamente orações que acalmam. Elas podem, na verdade, ser bastante
intensas para tornar a comunicação mais significativa para mim; por isso é que
foram observados EEGs mais rápidos nos estudos citados. Entretanto, o verdadeiro
alívio vem após a oração: um sentimento de libertação por ter deixado meus
pesados fardos sobre Jesus, como Ele me convida a fazer (Mt 11:28). Esse é
considerado um dos maiores benefícios da oração.
Mais recentemente, um estudo conduzido por Mario Beauregard,
neurocientista da Universidade de Montreal, avaliou a atividade cerebral de 15
freiras da Ordem das Carmelitas durante sua experiência espiritual, na qual a
3
oração era o principal componente. Não foi fácil para ele convencer essas
mulheres a participar do estudo. Elas vivem uma vida de silêncio e de oração.
Com exceção de vinte minutos após o almoço e outros vinte após o jantar,
quando elas conversam umas com as outras, as freiras carmelitas passam a vida
trabalhando e rezando. Seu dia consiste em trabalhar no jardim, costurar, lavar,
manter em ordem as dependências do convento e fazer artesanato e doces para
obter alguma renda. O restante do tempo é dedicado à oração e contemplação.
Beauregard calculou que, até a época em que foi realizado esse estudo, as 15
participantes haviam passado um total de 210.000 horas em oração ao longo de
4
sua vida. Por terem passado a maior parte da vida dessa forma, as freiras que
vivem enclausuradas em um convento da moderna Montreal tinham suas dúvidas
e imaginavam que os pesquisadores pretendiam refutar a validade de sua devoção.
Beauregard explicou então que a equipe de pesquisadores não era materialista e
que eles tinham o sincero propósito de utilizar as técnicas da neuroimagem para
identificar como funcionam as reações eletroquímicas do cérebro durante a oração
e a meditação. Na verdade, essas freiras faziam parte das poucas pessoas no mundo
que poderiam ajudar. Negociações feitas com a madre superiora do convento e
uma carta enviada pelo arcebispo tornaram possível a realização da pesquisa.
As freiras participantes tinham entre 23 e 64 anos de idade, com uma média de
50 anos. Elas já pertenciam à Ordem por 19 anos, proporcionalmente, e nenhuma
delas possuía histórico de desordem psiquiátrica ou neurológica. Nenhuma delas
fumava ou estava tomando medicamentos psicotrópicos na época desses exames
de escaneamento da atividade cerebral. Beauregard utilizou a RMFi para observar
a atividade em várias áreas do cérebro. A experiência espiritual representava,
naquele momento, um estado de intimidade com Deus, evidenciado por
inúmeras declarações como: “Eu senti profunda alegria”, “Passei por uma
experiência que sabia ser algo sagrado” ou “Tive uma experiência que não
consigo exprimir em palavras”. Por ocasião das entrevistas, as freiras afirmaram
que, durante aqueles momentos de oração elas sentiram “a presença de Deus, seu
5
incondicional e infinito amor, além de um sentimento de plenitude e de paz”.
Estas foram algumas das descobertas do estudo: o núcleo caudado, uma área do
cérebro que estudos anteriores associaram com a felicidade, amor maternal, alegria
e amor incondicional, estava em grande atividade durante a experiência religiosa.
O tronco cerebral esquerdo, também associado com o equilíbrio da alegria e do
amor incondicional, estava especialmente ativo durante os momentos de oração.
A ínsula, que controla o sistema nervoso central e está conectada com as respostas
viscerais para sentimentos positivos, também estava brilhando durante o
escaneamento. Por último, foram observados altos níveis de atividade na região
cortical pré-frontal, a área de controle do prazer subjetivo, particularmente com
relação ao paladar, ao olfato ou à música.
Dois anos depois, Beauregard dirigiu outro experimento, mas com 14 das 15
6
freiras que participaram do primeiro estudo. Dessa vez, ele utilizou a
eletroencefalografia (EEG) para obter dados durante as experiências espirituais.
Várias áreas corticais foram registradas com elevada atividade durante a
experiência, ao serem comparadas com o estado de repouso e com a condição de
controle. Estas eram algumas delas:
1. A frontal anterior, uma área relacionada ao sentimento de paz, alegria e amor
incondicional.
2. O córtex parietal, normalmente associado a imagens visuais mentais de fundo
religioso.
3. O giro temporal médio direito, a área em que estudos anteriores detectaram
estar bastante ativa durante a meditação.
Além disso, a coerência neural (um índice de conectividade funcional entre
duas ou mais regiões corticais) foi detectada nas seguintes áreas:
1. Conectividade entre os córtices frontal e posterior, que é a conexão que
havia sido tradicionalmente associada com as experiências emocionais positivas.
2. Conectividade entre os lobos frontal direito, o temporal e o parietal.
3. Conectividade entre o lobo direito central e o parietal.
Os itens 2 e 3 indicam a redução nos processos sensoriais; em outras palavras,
quando as participantes estavam no meio de suas orações, os estímulos sensoriais
não eram percebidos conscientemente (isto é, não eram facilmente afetados por
barulho, luz, toque, etc., durante a oração), o que se pode presumir que seja
devido à concentração e à intimidade com a experiência da oração.
Observações como essas enfatizam a notável e singular atividade eletroquímica
do cérebro durante a oração. Isso me ajuda a entender por que o apóstolo Paulo
nos aconselha a orar “continuamente” (1Ts 5:17). Quando as observações por
meio de laboratório demonstram que a oração coloca em atividade as áreas do
sistema nervoso central responsáveis pelo controle das emoções, como a
felicidade, bem-estar, alegria, gratidão, amor e compaixão, só posso concluir que
Deus designou a oração não somente como a principal forma de comunicação
com seus filhos, mas também como um meio para proporcionar efeitos
restauradores em um mundo de sofrimento, injustiça e desespero. Isso também
vem me ensinar que Deus se comunica com os seres humanos por intermédio
desse complexo emaranhado de estruturas neurais.
Por vezes, essas estruturas neurais extremamente complexas podem ficar
danificadas, mas há muitos relatos que ilustram como Deus age no cérebro
humano, a despeito dos danos sofridos.
Nesse contexto, o caso de Julie, uma professora que foi atingida por um carro, é
um ótimo exemplo de como um cérebro lesado pode trabalhar para restaurar a
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habilidade de se comunicar com Deus. No acidente, Julie sofreu inúmeros e
graves ferimentos na cabeça. Ficou surda, com grande dificuldade na fala e
mobilidade bastante reduzida. Recebeu terapia ocupacional por vários anos no
Centro Médico da Universidade de Loma Linda, nos Estados Unidos, e
desenvolveu fortes laços de amizade com os terapeutas e outros membros da
equipe que a atendia. Passado algum tempo, ela conseguiu enviar suas mensagens
por meio de um aparelho de comunicação Dynavox.
Depois de quatro anos de terapia, e para honrar uma tradição familiar, Julie teve
o desejo de preparar pelo menos uma simples refeição para sua família, mas isso a
colocou diante de um grande desafio, devido a suas limitações. Peggy, que a
auxiliava em suas terapias, ofereceu-se para ajudá-la. Assim, elas planejaram o
evento juntas. Julie fazia tudo o que estava ao seu alcance, e Peggy finalizava as
tarefas. No grande dia, Peggy levou Julie para casa e ajudou-a no preparo dos
alimentos e na decoração, e então foi embora para sua casa. Quando a mãe e o
irmão de Julie chegaram e viram tudo tão deliciosa e agradavelmente preparado,
ficaram muito impressionados. A mãe de Julie pediu a ela que orasse pelo
alimento. Ela fez então a oração do “Pai Nosso” inteira, a mais longa mensagem
verbal que havia conseguido pronunciar desde o dia do acidente.
Para ela foi uma grande bênção fazer essa oração depois de lutar por anos para
conseguir falar apenas umas poucas palavras entrecortadas! O cérebro é um órgão
maravilhoso, com surpreendente plasticidade, e Deus, por vezes, decide ampliar a
sua capacidade utilizando belos efeitos como resultado – dessa vez, para
pronunciar a Oração do Senhor numa ocasião especial.
Embora uma pessoa de fé não necessite ter conhecimento dos processos
eletroquímicos associados com as orações que faz, é maravilhoso poder ter pelo
menos um vislumbre de como Deus concebeu todo o processo de comunicação
no ser humano. A conscientização a respeito desse mecanismo pode ajudar muitos
a entenderem que a oração é composta de emoções altamente positivas e que a
comunicação com Deus é também positiva, poderosa e transforma vidas.
Calma e serenidade
Quando uma pessoa, sobrecarregada com as preocupações, tiver a oportunidade
de conversar com um amigo chegado, numa atmosfera de cordialidade, aceitação
e confiança, grande parte de seus pesados fardos serão aliviados, ainda que o
problema em si não fique resolvido. Uma sincera e fervorosa oração a Deus pode
trazer os mesmos resultados. Aqueles que cultivam o hábito de orar
constantemente aprenderam a realidade deste belo hino por experiência própria:
Na oração encontro calma,
Na oração encontro paz;
Orar a Deus faz bem à alma,
Falar com Deus me satisfaz.
Autores: Lineu Soares e Valdecir Lima.
Claire Hollywell e Jan Walker, da Universidade de Southampton, no Reino
8
Unido, confirmaram esse conceito. Eles lideraram uma análise sistemática de
pesquisa sobre a oração como parte do procedimento para pacientes
hospitalizados. Os dados obtidos de todos os estudos relevantes, revisados por
especialistas nessa área e encontrados em oito base de dados, revelaram que a
frequência da oração em particular estava associada com os baixos níveis de
ansiedade. (Descobriram também que havia a mesma ligação para o estado de
depressão.) É interessante notar que, quando as orações eram feitas devido a uma
emergência ou necessidade imediata, porém não acompanhada de uma vida de fé
já existente, a angústia aumentava, resultando numa diminuição das funções da
pessoa. No entanto, quando a oração fazia parte de um contínuo e íntimo diálogo
com Deus, o otimismo, o bem-estar e melhora da capacidade funcional estavam
presentes. Em todos esses estudos que foram analisados, a oração contribuiu para
que houvesse esse sentimento de paz e de conforto tão grandemente desejado.
Amy Ai, da Universidade de Pittsburgh, e outros quatro pesquisadores
conduziram um estudo exaustivo para avaliar o papel da oração particularem
pacientes cardíacos, antes da cirurgia aberta e seus efeitos na qualidade de vida
9
desses pacientes. No total, 294 pacientes da Clínica Cardiológica do Centro
Médico da Universidade de Michigan, que estavam agendados para fazer a
cirurgia cardíaca em caráter não emergencial e não envolvendo transplantes,
foram convocados para participar do estudo. Em sua maioria, eles eram
provenientes de tradições judaico-cristãs. Os pacientes passaram por uma
entrevista pessoal duas semanas antes da cirurgia, e depois por uma entrevista ao
telefone dois dias antes. Finalmente, foram entrevistados 36 dias após a operação.
Além disso, para a obtenção de dados clínicos e sociodemográficos, os pacientes
forneceram informações quanto à prática da oração particular como forma de lidar
com a ansiedade, tanto antes como depois da cirurgia para obterem melhor
qualidade de vida. Foi administrado atendimento psicológico a eles para avaliar a
fadiga, sintomas mentais, depressão, ansiedade, superação, apoio social, sintomas
pós-traumáticos e enfrentamento pela oração (uso da oração para lidar com a
ansiedade).
Os resultados foram mais amplos em relação às conclusões que outros
pesquisadores obtiveram com pacientes da área de cirurgia cardíaca: o estudo
realizado por Ai revelou que os pacientes cardíacos que costumavam orar eram
capazes de lidar melhor com o estresse e com a ansiedade diante de uma cirurgia
iminente. Além disso, conseguiam obter melhor qualidade de vida nas semanas
seguintes à cirurgia. Descobriu-se que essa forma bem-sucedida de lidar com a
situação estava associada tanto à área cognitiva como à comportamental. Em
outras palavras, aqueles que costumavam orar sistemática e fielmente estavam mais
capacitados a usar seus pensamentos e processos mentais para chegar a ter uma visão
mais positiva e favorável em relação à cirurgia e ao seu restabelecimento; além do
mais, conseguiam agir de modo a evitar complicações e alcançar melhor qualidade
de vida após a intervenção.
Os estudos afirmam, com toda propriedade, que recorrer a um poder superior,
ou seja, a Deus, é um mecanismo adequado para controlar as crises, e que a
religião oferece um amplo contexto no qual se enquadram as crises pessoais. Os
autores declaram também que a oração particular “faz brilhar uma incessante luz
10
em que se antevê um futuro promissor, mesmo diante da adversidade”.
A oração, portanto, promove a paz e a calma diante de ameaças significativas,
como é o caso de uma cirurgia. A oração é um antídoto efetivo contra o medo e
a ansiedade. E não é de admirar que expressões como “não temas” e “confie no
Senhor” apareçam tantas vezes nas Escrituras, quando Deus nos convida a nos
aproximarmos dele em oração, a aceitarmos sua graça e proteção, e a colocarmos
de lado o temor e a ansiedade.
Depressão
Bárbara Kilbourne é professora PhD de Sociologia e Serviço Social na
Universidade Estadual do Tennessee. Ela, juntamente com Sherry Cummings,
também PhD, e o médico Robert Levine deram sequência aos estudos que
exploravam a depressão e a religião entre participantes portadores de diabetes,
provenientes de bairros menos favorecidos de uma cidade de médio porte no sul
11
dos Estados Unidos. Sabe-se bem que a incidência de depressão em diabéticos
é mais alta que na população em geral, havendo por isso o interesse de estudar
esse segmento em particular. Durante um período de dois anos, as análises
estatísticas (correlacionais) demonstraram que havia relações significativas, como
também negativas, entre quatro indicadores de religiosidade e os níveis de
depressão. Em outras palavras, quanto maiores os níveis de religiosidade, menores
eram a intensidade e os sintomas de depressão. Os quatro elementos para avaliar a
religiosidade eram: oração, leitura religiosa, frequência aos cultos e crenças
religiosas. Novamente, o componente religioso se demonstrou um fator de
proteção contra a depressão.
Outro grupo com alto risco de sofrer depressão é o das mulheres após o parto.
Estimativas conservadoras indicam que entre 15% e 20% das mulheres sofrem de
depressão pós-parto logo depois de darem à luz. Esse transtorno é caracterizado
pela ansiedade, ataques de ira, desespero, culpa, falta de apetite, baixa
concentração, falta de interesse na criança e alterações do sono (dormir demais ou
terem falta de sono). Em um estudo liderado por Kimberley Zittel-Palamara, da
Faculdade Estadual de Buffalo, nos Estados Unidos, 45 mulheres com depressão
pós-parto (tanto por ocasião do estudo como no passado), a maioria delas
pertencentes a igrejas cristãs, foram interrogadas sobre os sintomas depressivos
após o nascimento dos filhos, como também em relação a suas práticas religiosas e
12
o apoio que obtiveram por meio da religião. Cerca de 66% das mulheres
disseram ter encontrado forças na religião. Foi constatado que a melhora que
tiveram sobre a depressão era bem maior do que nas mulheres não religiosas. A
oração foi o principal componente. Os demais elementos que ajudaram na
melhora foram a orientação espiritual, o aconselhamento religioso, o apoio da
congregação e os grupos de apoio espiritual.
Jesus afirmou que seus discípulos iriam chorar e se lamentar (estado depressivo),
mas sua tristeza se transformaria em alegria. Na verdade, Jesus ilustrou essa questão
referindo-se aos sofrimentos de uma mãe que está para dar à luz. “Quando o bebê
nasce, ela esquece a angústia por causa da alegria de ter vindo ao mundo” (Jo
16:21). Infelizmente, isso não acontece no caso da depressão pós-parto, mas,
como demonstraram as mulheres que participaram do estudo de Zittel-Palamara,
a oração particular associada ao calor humano e ao apoio oferecidos pela
comunidade de uma igreja que cuida dos fiéis podem aliviar a dor da depressão.
Saúde geral
O Survey of Health, Aging and Retirement (SHARE) [Centro de Pesquisa de
Levantamento Sobre a Saúde, Envelhecimento e Aposentadoria], realizado na
Europa, é uma das mais eficientes bases de dados; contém milhares de
participantes com idade acima dos 50 anos e abrange informações sobre saúde,
status socioeconômico e redes sociais e familiares. Com sede em Munique, na
Alemanha, o SHARE tem coletado dados da Escandinávia, Europa Central e da
Região Mediterrânea desde 2004, e é atualmente um dos grandes pilares da
European Research Area [Área de Pesquisa Europeia]. Karsten Hank e Barbara
Schaan, da Universidade de Mannheim, na Alemanha, utilizaram os dados do
SHARE para estudar a ligação existente entre a frequência da oração e a saúde
com aproximadamente 14.500 homens e mulheres da Suécia, Dinamarca,
13
Alemanha, Holanda, Suíça, Áustria, Itália, Espanha e Grécia. Os resultados
demonstraram que, conforme aumentava a frequência da oração, a saúde geral
também melhorava. A saúde geral era avaliada não somente pela maneira como os
participantes percebiam o seu nível de bem-estar, mas, além disso, como
consideravam as suas condições crônicas. Uma grande frequência na oração
também estava associada a uma baixa frequência de sintomas depressivos e a um
baixo número de limitações funcionais.
Embora os resultados correlacionais (como o citado) não possam ser usados para
estabelecer relacionamentos de causa e efeito (por exemplo: alguém poderia
inferir que a correlação pode ser forte porque a saúde é motivo de oração, e não o
oposto), o estudo sugere que a oração pode ser um recurso importante para ajudar
as pessoas, especialmente as de meia-idade ou mais idosas, a lidarem da melhor
forma com a doença e o desconforto.
A Bíblia nos apresenta inúmeras promessas de saúde relacionadas à comunhão
com Deus e à fidelidade. O salmista assim escreve:
Não seja sábio aos seus próprios olhos;
tema o Senhor e evite o mal.
Isso lhe dará saúde ao corpo
e vigor aos ossos (Pv 3:7, 8, itálicos acrescentados).
Uma promessa semelhante sobre a saúde de forma geral, fertilidade e vida longa
é apresentada em Êxodo 23:25, 26: “Prestem culto ao Senhor, o Deus de vocês, e
Ele os abençoará, dando-lhes alimento e água. Tirarei a doença do meio de vocês.
Em sua terra nenhuma grávida perderá o filho, nem haverá mulher estéril. Farei
completar-se o tempo de duração da vida de vocês.”
Saúde psicológica
A oração funciona não somente em relação ao bem-estar físico, mas também
para que haja aptidão mental e emocional. Leslie Francis, da Universidade de
Warwick, no Reino Unido, e seus colegas estudaram mais de mil católicos e mil
14
protestantes, tanto homens como mulheres, com idade entre 16 e 18 anos. Eles
eram alunos de 16 escolas de ensino médio do norte da Irlanda, com alto nível de
cultura religiosa. Esses jovens receberam parâmetros para identificar tendências
ligadas à neurose e psicose, compreendidos como um padrão de personalidade
marcado pela tendência à agressividade e hostilidade para com as pessoas: esses são
vistos como indicadores de saúde mental ou tendência a transtornos mentais.
Foram indagados também a respeito de seus hábitos de oração, em termos de
categorias de frequência para saber se oravam “diariamente/ algumas vezes/ ou
nunca”. A análise revelou uma correlação entre a frequência da oração e melhor
saúde psicológica – isso ficou evidenciado especialmente quanto aos dados sobre o
psicoticismo [tendências psicóticas mais ou menos acentuadas da personalidade].
Quanto mais frequentes eram as orações, mais baixos eram os níveis de tendências
psicóticas. O psicoticismo, levado ao extremo, torna a pessoa vulnerável à
esquizofrenia ou a outros transtornos psicóticos. Novamente, a oração
perseverante foi vista nesse estudo como uma proteção contra a doença mental e
como promotora da saúde psíquica.
Quando as pessoas são afetadas por graves condições mentais, usam a oração
para enfrentar o problema. Essa é a principal constatação feita por Steven A.
Rogers e seus colegas da Escola de Pós-Graduação em Psicologia do Seminário
15
Teológico de Fuller. Eles estudaram pacientes de uma instituição de saúde
mental do Condado de Los Angeles, que eram portadores de doença mental
crônica. Havia um total de 379 participantes (58% homens e 42% mulheres),
todos diagnosticados com transtornos psicóticos, transtornos no humor ou de
ansiedade. Os resultados mostraram que mais de 80% estavam utilizando as
crenças e atividades religiosas para enfrentar a doença. Aqueles que apresentavam
uma sintomatologia mais severa eram mais inclinados a orar que aqueles que
possuíam sintomas menos agudos. De todas as práticas religiosas, a oração foi, de
longe, o principal mecanismo religioso para lidar com a doença. A seguir, as
porcentagens para cada estratégia utilizada para lidar com a doença:
Oração 58,57%
Frequência aos cultos religiosos 35,62%
Adoração a Deus 34,82%
Meditação 32,98%
Leitura da Bíblia 31,14%
Gosto pela música religiosa 21,90%
Cântico de hinos religiosos 19,26%
Reuniões com o líder espiritual 15,04%
1
Walter W. Surwillo e Douglas P. Hobson, “Brain Electrical Activity During Prayer”, Psychological Reports
43 (1978), p. 135-143.
2
Ellen G. White, Obreiros Evangélicos (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1993), p. 257.
3
Mario Beauregard e Vincent Paquette, “Neural Correlates of a Mystical Experience in Carmelite Nuns”,
Neuroscience Letters 405 (2006), p. 186-190.
4
Beauregard, The Spiritual Brain (Nova York: Harper Collins, 2007), p. 263.
5
Beauregard e Paquette, “Neural Correlates of a Mystical Experience”, p. 187.
6
Beauregard e Paquette, “EEG Activity in Carmelite Nuns During Mystical Experience”, Neuroscience
Letters 444 (2008), p. 1-4.
7
Ramona DeGuzmann, “A Prayer From the Heart”, in LOV Stories: Living Our Values, ed. Kathy
McMillan (Loma Linda, CA, Loma Linda University Medical Center, 2010), p. 5.
8
Claire Hollywell e Jan Walker, “Private Prayer as a Suitable Intervention for Hospitalized Patients: A
Critical Review of the Literature”, Journal of Clinical Nursing 18 (2008), p. 637-651.
9
Amy L. Ai et al., “Private Prayer and Quality of Life in Cardiac Patients: Patways of Cognitive Coping
and Social Support”, Social Work in Health Care 48 (2009), p. 471-494.
10
Ibid., p. 486.
11
Barbara Kilbourne et al., “The Influence of Religiosity on Depression Among Low-Income People With
Diabetes”, Health & Social Work 34 (2009), p. 137-147.
12
Kimberley Zittel-Palamara et al., “Spiritual Support for Women With Postpartum Depression”, Journal of
Psychology and Christianity 18 (2009), p. 213-223.
13
Karsten Hank e Barbara Schaan, “Cross-National Variations in the Correlation Between Frequency of
Prayer and Health Among Older Europeans”, Research on Aging 30 (2008), p. 36-54.
14
Leslie J. Francis et al., “Prayer and Psychological Health? A Study Among Sixth-Form Pupils Attending
Catholic and Protestant Schools in Northern Ireland”, Mental Health, Religion & Culture 11 (2008), p. 85-92.
15
Steven A. Rogers et al., “Religious Coping Among Those With Persistent Mental Illness”, International
Journal for the Psychology of Religion 12 (2002), p. 161-175.
16
Randolph C. Bird, “Positive Therapeutic Effects of Intercessory Prayer in a Coronary Care Unit
Population”, Southern Medical Journal 81 (1988), p. 826-829.
17
Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 229.
18
Ibid., p. 232.
19
Nicholas Herman, Brother Lawrence: The Practice of the Presence of God (Cincinnati, Oh: Forward
Movement Publications, 1900).
CAPÍTULO 2
OS BENEFÍCIOS DA LEITURA DA
BÍBLIA E DA MEDITAÇÃO
“Como são doces para o meu paladar as tuas palavras! Mais
que o mel para a minha boca!” Salmo 119:103
1
Thomas A. Arcury et al., “Faith and Health Self-Management of Rural Older Adults”, Journal of Cross-
Cultural Gerontology 15 (2000), p. 55-74. Os participantes desse estudo são provenientes de duas áreas rurais
do estado da Carolina do Norte e eram de origens diversas (33% americanos africanos; 37% americanos
europeus: e 30% americanos nativos; com uma média de 40% de homens e 60% de mulheres). Para obter
uma boa representação de vários contextos, os participantes foram recrutados de agências de serviços de saúde
em domicílio, lares de idosos, clubes de idosos, igrejas, agências de serviço social e organizações para
veteranos. Os pesquisadores coletaram dados via entrevistas pessoais exaustivas, semiestruturadas, realizadas
trimestralmente ao longo de um ano. A entrevista inicial levou por volta de três horas distribuídas em dois ou
três dias.
2
Brenda L. Beagan et al., “With God in Our Lives He Gives Us the Strength to Carry on”, Mental Health,
Religion, & Culture 15 (2012), p. 103-120. Participaram do estudo 50 mulheres africanas canadenses
moradoras da Nova Escócia. Os pesquisadores reuniram dados por meio de quatro instrumentos padronizados
e também por exaustivas entrevistas qualitativas com o objetivo de levantar discussão sobre como essas
mulheres passaram pela experiência de questões como o racismo, depressão estresse e espiritualidade.
3
Chyrell D. Bellamy et al., “Relevance of Spirituality for People With Mental Illness Attending
Consumer-Centered Services”, Psychiatric Rehabilitation Journal 30 (2007), p. 287-294. O estudo foi
quantitativo, portanto, permitiu uma ampla amostragem de 1.835 participantes provenientes de todo o estado
do Michigan em centros-dia de atendimento a pessoas com doenças mentais.
4
Vickie L. Patterson et al., “Coping With Change: Religious Activities and Beliefs of Residents in Assisted
Living Facilities”, Journal of Religious Gerontology 14 (2003), p. 79-93. O estudo foi realizado entre 55
residentes de 17 instituições de vida assistida no subúrbio de Atlanta. Os dados foram coletados por meio de
entrevistas exaustivas sobre suas práticas religiosas. A amostra foi feita com pessoas com não menos de 75 anos
de idade (89% mulheres, 98% delas caucasianas).
5
A. Quinn Stanley, “Benefits of Teacher ‘Connections’ in Stressful Educational Settings”, International
Journal of Children’s Spirituality 16 (2011), p. 47-58. Esses professores de educação especial são provenientes de
quatro escolas e relataram suas experiências quanto à maneira de lidar com os problemas por meio de oito
entrevistas exaustivas que foram gravadas, transcritas, codificadas e analisadas.
6
Arthur S. Maxwell, Your Bible and You (Washington, DC: Review and Herald, 1959), p. 59.
7
Leila Shahabi et al., “Correlates of Self-Perceptions of Spirituality in American Adults”, Annals of
Behavioral Medicine 24 (2002), p. 59-68. Os participantes do estudo foram 1.422 pessoas de 18 anos para cima,
moradoras em locais não institucionalizados; 46% eram homens e 54% mulheres, com 46 anos de idade, em
média. Essa foi uma amostra representativa confiável da população adulta em todos os Estados Unidos.
8
Brian J. Zinnbauer et al., “Religion and Spirituality, Unfuzzing the Fuzzi”, Journal of the Scientific Study of
Religion 36 (1997), p. 549-564.
9
Ellen G. White, Obreiros Evangélicos (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 302.
10
Marsha I. Wiggings et al., “The Longitudinal Effects of Spirituality on Stress, Depression, and Risk
Behaviors Among Men With HIV Infection Attending Three Clinics in the Southeastern United States”,
Journal of Spirituality and Mental Health 10 (2008), p. 145-168. Essa amostragem para estudo com 226 homens
moradores no sudoeste dos Estados Unidos foi seguida durante dois anos.
11
Hughes M. Helm et al., “Does Private Religious Activity Prolong Survival? A Six-Year Follow-up
Study of 3.851 Older Adults”, Journal of Gerontology: Medical Sciences 55A (2000), p. 400-405. Esse foi um
projeto robusto por ter incluído uma ampla amostragem (3.851 pessoas), foi longitudinal (durou seis anos), e
obteve uma boa média de resposta (80%). Os participantes eram adultos idosos (de 65 anos para cima) que
moravam em cinco municípios adjacentes do estado da Carolina do Norte, nos Estados Unidos (Durham,
Ganville, Vance, Warren e Franklin). Eles responderam a perguntas sobre suas práticas religiosas pessoais
(estudo da Bíblia, oração e meditação), quanto às atividades religiosas em público, atividades diárias
deficientes e seu histórico sobre as condições crônicas: câncer, derrame, infarto, diabetes, fraturas das costelas,
outras fraturas, angina do peito, bronquite, uso de glicosídeos cardíacos e uso de anti-hipertensivos. Eles
receberam também um pequeno questionário sobre o status mental, tiveram a pressão medida por duas vezes,
avaliação da depressão e um questionário sobre eventos negativos da vida. O seguimento realizado ao longo
de seis anos consistiu de uma entrevista feita por telefone anualmente.
12
A maioria dos pesquisadores tem adotado o uso de uma única variável denominada atividade religiosa
pessoal ou atividade religiosa não organizada (NORA, pela sigla em inglês), assim como a atividade religiosa
pública ou atividade religiosa organizada (ORA, pela sigla em inglês). Isso torna difícil sempre termos que
isolar “a leitura ou estudo da Bíblia” em si, pelo fato de muitos estudos juntarem a leitura da Bíblia e o
estudo com a oração e a devoção particular.
13
Leslie J. Francis, “The Relationship Between Bible Reading and Purpose in Life Among 13-15-year-
olds”, Mental Health, Religion & Culture 3 (2000), p. 27-36.
14
Kelly A. Davis and Catherine C. Epkings, “So Private Religious Practices Moderate the Relation
Between Family Conflict and Preadolescents´ Depression and Anxiety Symptoms?” Journal of Early
Adolescence 29 (2009), p. 693-717. Participaram desse estudo 160 pré-adolescentes (65 meninos e 85 meninas)
e a mãe de cada um deles. Foram recrutados por meio de apresentações orais em eventos esportivos,
programas educacionais e outras reuniões na comunidade. Eles foram contatados por telefone para marcar
uma reunião individual com um dos pesquisadores ou um assistente de pesquisa. A reunião foi feita para
explicar o projeto e administrar os instrumentos de pesquisa.
15
William H. Jeynes, “The Relationship Between Bible Literacy and Academic Achievement and School
Behavior”, Education and Urban Society 41 (2009), p. 419-436.
16
Liz Smith, “The Bible Makes Me Feel Stronger”, American Bible Society Record, acessado em 28 de
maio de 2013, http://record.americanbible.org/content/usa/%E2%80%98-bible-makes-mefeel-
stronger%E2%80%99%,
17
White, Parábolas de Jesus (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2000), p. 131, 132.
18
White, Orientação da Criança (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 41, 42.
19
White, Caminho a Cristo (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2013), p. 90.
20
Ver o estudo Cognitive Genesis no endereço http://www.cognitivegenesis.org.
21
White, Orientação da Criança, p. 42, 43.
22
White, Testemunhos Para a Igreja (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2012), vol. 3, p. 374.
23
White, Conselhos aos Professores, Pais e Estudantes (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2000), p. 452.
24
White, Testemunhos Para a Igreja (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2014), vol. 6, p. 393.
25
White, Caminho a Cristo, p. 88.
26
White, Mensagens Escolhidas (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2014), vol. 3, p. 307.
CAPÍTULO 3
OS BENEFÍCIOS DO PERDÃO
“Confessei-te o meu pecado […]; e Tu perdoaste a
iniquidade do meu pecado.” Salmo 32:5, ARA
1
“Murder and Forgiveness”, Squidoo, acessado em 28 de maio de 2013,
http://www.squidoo.com/murder.
2
Robert Enright e Catherine T. Coyle, “Researching the Process Model of Forgiveness With
Psychological Interventions”, in Dimensions of Forgiveness: Psychological Research and Theological Perspectives, ed.
Everett L. Worthington Jr. (London, England: Templeton Foundation, 1998), p. 139-161.
3
Kathleen A. Lawler et al., “The Unique Effects of Forgiveness on Health: An Exploration of Pathways”,
Journal of Behavioral Medicine 28 (2005), p. 157-167. Eles avaliaram de múltiplas maneiras 81 adultos com
idade média de 42,6 anos.
4
Tobi Wilson et al., “Physical Health Status in Relation to Self-Forgiveness and Other-Forgiveness in
Healthy College Students”, Journal of Health Psychology 13 (2008), p. 798-803. O estudo incluiu 266 alunos
formandos, sendo 81% do sexo feminino.
5
Jon R. Webb e Ken Brewer, “Forgiveness, Health, and Problematic Drinking Among College Students
in Southern Appalachia”, Journal of Health Psychology 15 (2010), p. 1257-1266.
6
Webb e Brewer, “Forgiveness and Health-Related Outcomes Among People With Spinal Cord Injury”,
Disability and Rehabilitation 32 (2010), p. 360-366. O estudo avaliou 140 pessoas com idade entre 19 e 82
anos.
7
Berit Ingersoll-Dayton et al., “Enhancing Forgiveness: A Group Intervention for the Elderly”, Journal of
Gerontological Social Work 52 (2009), p. 2-16.
8
Kathleen A. Lawler-Row, “Forgiveness as a Mediator of the Religiosity-Health Relationship”, Psychology
of Religion and Spirituality 2 (2010), p. 1-16.
9
Loren Toussaint et al., “Implications of Forgiveness Enhancement in Patients with Fibromyalgia and
Chronic Fatigue Syndrome”, Journal of Health and Care Chaplaincy 16 (2010), p. 123-139.
10
Jennifer P. Friedberg et al., “Relationship Between Forgiveness and Psychological and Physiological
Indices in Cardiac Patients”, International Journal of Behavioral Medicine 16 (2009), p. 205-211. Havia 56
pacientes cardíacos do sexo masculino e 29 do sexo feminino.
11
Everett L. Worthington Jr. e Michael Scherer, “Forgiveness is an Emotion-Focused Copying Strategy
That Can Reduce Health Risks and Promote Health Resilience: Theory, Review, and Hypotheses”,
Psychology and Health 19 (2004), p. 385-405. O estudo envolveu 92 homens e 96 mulheres.
12
Sonia Suchday et al., “Forgiveness and Rumination: A Cross-cultural Perspective Comparing India and
the US”, Stress and Health 22 (2006), p. 81-89.
13
Charlotte V. Witvliet et al., “Granting Forgiveness or Harboring Grudges: Implications for Emotion,
Physiology, and Health”, Psychological Science 12 (2001), p. 177-123. Foram incluídos 36 participantes do sexo
masculino e 35 do sexo feminino, todos estudantes de psicologia.
14
Gayle L. Reed e Robert D. Enright, “The Effects of Forgiveness Therapy on Depression, Anxiety, and
Posttraumatic Stress for Women After Spousal Emotional Abuse”, Journal of Consulting and Clinical Psychology
74 (2006), p. 920-929. O grupo era composto de 20 mulheres entre 32 e 54 anos de idade, que sofreram
abuso.
15
Mark S. Rye et al., “Forgiveness of an Ex-spouse? How Does It Relate to Mental Health Following a
Divorce?”, Journal of Divorce and Remarriage 41 (2004), p. 31-51. Foram incluídos 199 participantes, sendo
75% mulheres e 25% homens.
16
Ibid., p. 48.
17
Alex H. S. Harris et al., “Effects of a Group Forgiveness Intervention on Forgiveness, Perceived Stress,
and Trait-Anger”, Journal of Clinical Psychology 62 (2006), p. 715-733.
18
Jon R. Webb et al., “Forgiveness and Alcohol Problems Among People Entering Substance Abuse
Treatment”, Journal of Addictive Disease 25 (2006), p. 55-67.
19
Loren Toussaint e Kimberly Jorgensen, “Inter-parental Conflict, Parent-Child Relationship Quality, and
Adjustment in Christian Adolescents: Forgiveness as a Mediating Variable”, Journal of Psychology and
Christianity 27 (2008), p. 336-346. Os participantes do estudo eram 73,5% mulheres e 26,5% homens.
20
Peggy A. Hannon, “In the Wake of Betrayal: Amends, Forgiveness, and the Resolution of Betrayal”,
Personal Relationships 17 (2010), p. 253-278.
21
A palavra traição não foi usada nas instituições porque tem conotação de infidelidade. Nesses casos, os
incidentes foram descritos como “quebra das regras”, como contar a um amigo algo que deveria ter ficado
em particular, fazer algo prejudicial pelas costas ou flertar com outra pessoa.
22
Fred Luskin, “The power of Forgiveness: Forgiveness 101”, Guideposts, November 2011, p. 62-66.
23
Barbara A. Elliott, “Forgiveness Therapy: A clinical Intervention for Chronic Disease”, Journal of
Religion and Health 50 (2011), p. 240-247.
CAPÍTULO 4
OS BENEFÍCIOS DO
COMPROMETIMENTO
“Meu filho, escute o que lhe digo; preste atenção às Minhas
palavras.”
Provérbios 4:20
1
Francesc X. Gelabert, “439 días de prisión”, Revista Adventista, julho de 1976, p. 6, 7.
2
Gelabert, comunicação pessoal com o autor, 10 de outubro de 2012.
3
Everett Worthington et al., “The Religious Commitment Inventory – 10: Development, Refinement,
and Validation of a Brief Scale for Research and Counseling”, Journal of Counseling Psychology 50 (2003), p.
84-96.
4
William H. Jeynes, “The Effects of Religious Commitment on the Academic Achievement of Urban and
Other Children”, Education and Urban Society 36 (2003), p. 44-62.
5
Beau Abar et al., “The Effects of Maternal Parenting Style and Religious Commitment on Self-
Regulation, Academic Achievement, and Risk Behavior Among African-American Parochial College
Students”, Journal of Adolescence 32 (2009), p. 259-273.
6
Jessica L. Burris et al., “A Test of Religious Commitment and Spiritual Transcendence as Independent
Predictors of Underage Alcohol Use and Alcohol-Related Problems”, Psychology of Religion and Spirituality 3
(2011), p. 231-240. O estudo incluiu 344 jovens de 18 a 20 anos, numa proporção de 40% para homens e
60% para mulheres.
7
Byron R. Johnson, “Does Adolescent Religious Commitment Matter: A Reexamination of the Effects of
Religiosity on Delinquency”, Journal of Research in Crime and Delinquency 38 (2001), p. 22-44.
8
David Eggebeen and Jeffrey Dew, “The Role of Religion in Adolescence for Family Formation in
Young Adulthood”, Journal of Marriage and Family 71 (2009), p. 108-121.
9
William H. Jeynes, “The Effects of Religious Commitment on the Attitudes and Behavior of Teens
Regarding Premarital Childbirth”, Journal of Health and Social Policy 17 (2003), p. 1-17.
10
Emily Layton et al., ”Anchors of Religious Commitment in Adolescents”, Journal of Adolescent
Research 26 (2010), p. 381-413. O estudo envolveu 41 adolescentes do sexo feminino e 31 do sexo
masculino.
11
Mervyn J. Wighting e Jing Liu, “Relationships Between Sense of School Community and Sense of
Religious Commitment Among Christian High School Students”, Journal of Research on Christian Education 18
(2009), p. 56-68.
12
Ellen G. White, Mente, Caráter e Personalidade, 5a ed. (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2014) vol. 1, p.
308.
13
Annette Mahoney, “Religion in Families, 1999-2009: A Relational Spirituality Framework”, Journal of
Marriage and Family 72 (2010), p. 805-827. Annette Mahoney et al., “Religion and the Sanctification of
Family Relationships”, Review of Religious Research 44 (2003), p. 220-236. Annette Mahoney et al., “Religion
in the Home in the 1980s: A Meta-analytic Review and Conceptual Analysis of Links Between Religion,
Marriage, and Parenting”, Journal of Family Psychology 15 (2001), p. 559-596.
14
Nathaniel M. Lambert and David C. Dollahite, “The Threefold Cord – Marital Commitment in
Religious Couples”, Journal of Family Issues 29 (2008), p. 692-614.
15
Mary Beth Covert and Judith L. Johnson, “A Narrative Exploration of Motivation to Forgive and the
Related Correlate of Religious Commitment”, Journal of Psychology and Christianity 28 (2009), p. 57-65. A
amostragem do grupo de estudo envolveu 97 pessoas, 30% homens e 70% mulheres.
16
Nathaniel G. Wade et al., “Predicting Forgiveness for and Interpersonal Offense Before and After
Treatment: The Role of Religious Commitment, Religious Affiliation, and Trait Forgiveness”, Journal of
Psychology and Christianity 27 (2008), p. 358-367. O estudo envolve 28 homens e 72 mulheres, com uma
média de idade de 21 anos.
17
“Scientific Publications About Adventists”, Loma Linda University School of Public Health, acessado em
30 de maio de 2013, http://www.llu.edu/public-health/health/pubs.page.
18
“The Adventist Health Study: Mortality Studies of Seventh-day Adventists”, Loma Linda University
School of Public Health, acessado em 30 de maio de 2013, http://www.llu.edu/public-
health/health/mortality.page.
19
Gary E. Fraser and David J. Shavlik, “Ten Years of Life: Is It a Matter of Choice?” Archives of Internal
Medicine 161 (2001), p. 1645-1642.
20
Howard S. Friedman and Leslie R. Martin, The Longevity Project (Nova York: Hudson Street Press,
2011).
CAPÍTULO 5
OS BENEFÍCIOS DO SERVIÇO
“Como é feliz quem trata com bondade os necessitados!”
Provérbios 14:21
1
Stephen G. Post, The Hidden Gifts of Helping (Hoboken, NJ: John Wiley & Sons, 2011), p. 90.
2
Jeanna Bryner, “Happiest States of 2011: The List”, Live Science, acessado em 25 de junho de 2013,
http://www.livescience.com/18666-hapiest-states-2011-list.html.
3
U.S. Census Bureau, “Personal Income Per Capita in Current Dollars, 2007”, U.S. Census Bureau,
acessado em 25 de junho de 2013, http://www.census.gov/statab/ranks/rank29.html.
4
Sonja Lyubomirsky, A Ciência da Felicidade (Rio de Janeiro: Elsevier, 2008).
5
Paul Lee Tan, Encyclopedia of 15,000 Illustrations, entrada 11.491.
6
Chris Tkach e Sonja Lyubomirsky, “How Do People Pursue Happiness?: Relating Personality,
Happiness-Increasing Strategies, and Well-Being”. Journal of Happiness Studies 7 (2006), p. 183-225.
7
Jorge Moll et al., “Human Fronto-Mesolimbic Networks Guide Decisions About Charitable Donation”,
Proceedings of the National Academy of Sciences 103 (2006), p. 15.623-15.628.
8
David C. McClelland e Carol Kirshnit, “The Effect of Motivational Arousal Through Films on Salivary
Immunoglobulin A”, Psychology and Health 2 (1968), p. 31-52.
9
Michael f. Steger et al., “Being Good By Doing Good: Daily Eudaimonic Activity and Well-Being”,
Journal of Research in Personality 42 (2008), p. 22-42.
10
David Mellor et al., “Volunteering and Its Relationship With Personal and Neighborhood Well-Being”,
Nonprofit and Voluntary Sector Quarterly 38 (2009), p. 144-159. Os participantes tinham entre 18 e 88
anos, com uma idade média de 53 anos.
11
Emily A. Greenfield e Nadine F. Marks, “Continuous Participation in Voluntary Groups as a Protective
Factor for the Psychological Well-Being of Adults Who Develop Functional Limitations: Evidence From the
National Survey of Families and Households”, Journals of Gerontology 62B (2007), S60-S68. A amostra de
4.646 pessoas estava em uma faixa de 35 a 92 anos de idade.
12
Timothy D. Windsor et al., “Volunteering and Psychological Well-Being Among Young-Old Adults:
How Much Is Too Much?” Gerontologist 48 (2008), p. 59-70.
13
Ellen G. White, Evangelismo (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1997), p. 661.
14
Paul Lee Tan, Encyclopedia of 15,000 Illustrations, entrada 11.488.
15
World Health Organization, “Depression”, World Health Organization, acessado em 25 de junho de
2013, http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs369/en/index.html.
16
16 Kristin Layous et al., “Delivering Happiness: Translating Positive Psychology Intervention Research
for Treating Major and Minor Depressive Disorders”, Journal of Alternative and Complementary Medicine 17
(2011), p. 675-683.
17
Jerry D. Thomas, Blessings (Nampa, ID: Pacific Press, 2008), p. 27.
18
Clark Campbell et al., “Reduction in Burnout May Be a Benefit for Short-Term Medical Mission
Volunteers”, Mental Health, Religion & Culture 12 (2009), p. 627-637.
19
Carolyn E. Schwartz et al., “Helping Others Shows Differential Benefits on Health and Well-Being for
Male and Female Teens”, Journal of Happiness Studies 10 (2009), p. 431-448. O estudo incluiu 457
adolescentes com idade entre 12 e 17 anos (média de 15,6 anos).
20
Jane A. Piliavin e Erica Siegl, “Health Benefits of Volunteering in the Wisconsin Longitudinal Study”,
Journal of Health and Social Behavior 48 (2007), p. 450-464.
21
Chau-Kiu Cheung e Alex Yui-Huen Kwan, “Inducting Older Adults Into Volunteer Work to Sustain
Their Psychological Well-Being”, Ageing International 31 (2006), p. 44-58.
22
Debbie Haski-Leventhal, “Elderly Volunteering and Well-Being: A Cross-European Comparison Based
on SHARE Data”, Voluntas 20 (2009), p. 388-404.
23
23 William M. Brown et al., “Altruism Relates to Health in an Ethnically Diverse Sample of Older
Adults”, Journal of Gerontology 60B (2005), p. 143-P152.
24
Stephanie L. Brown, “Caregiving Behavior Is Associated With Decreased Mortality Risk”, Psychological
Science 20 (2009), p. 488-494.
25
Liz O’Brien, Mardie Townsend, e Matthew Ebden, “’Doing Something Positive’: Volunteers’
Experiences of the Well-Being Benefits Derived From Practical Conservation Activities in Nature”, Voluntas
21 (2010), p. 525-545.
CAPÍTULO 6
OS BENEFÍCIOS DE IR À IGREJA
“Alegrei-me quando me disseram: Vamos à Casa do
Senhor.”
Salmo 122:1, ARA
Q uando fui pela primeira vez a uma Igreja Adventista do Sétimo Dia,
impressionou-me a maneira como as pessoas pareciam realmente se
preocupar umas com as outras. Fiquei impressionado também em ver tanto o
pastor como os membros apresentarem igualmente a Palavra de Deus. Eles eram
bastante versados nas Escrituras e sabiam muitos versos de memória. O irmão
Quesada e o irmão Ballester* também eram assim. Eles eram os pilares da Igreja
Adventista do Sétimo Dia Central de Madri. Não eram pastores, mas tinham um
sólido conhecimento das Escrituras. Eu tinha prazer em ouvi-los como professores
da Escola Sabatina, pregando ou dirigindo reuniões de oração. Ainda consigo me
lembrar de algumas partes das mensagens que pregavam e até da entonação de
suas frases e expressões. Por alguns anos, eles exerceram várias funções e eram
amados e respeitados pela congregação. (*Ambos pseudônimos)
Em certa ocasião, o irmão Quesada questionou os procedimentos da sede
administrativa regional. Ele desejava que fossem feitas algumas mudanças que os
líderes não implementaram. O irmão Ballester tinha a mesma opinião, e um outro
membro da igreja também. Os três, com as famílias, pararam de ir à igreja. Eles
não falaram mal dos líderes nemprocuraram atrair outros para o lado deles.
Simplesmente não estavam mais indo à igreja. Disseram que não iriam abandonar
suas crenças nem queriam viver de maneira incoerente com as doutrinas. Eles
apenas estavam tomando a decisão de não frequentar uma igreja governada por
aqueles líderes que, aparentemente, não lhes tinham dado ouvidos. Passaram a
realizar seus cultos aos sábados nas casas de cada um ou junto à natureza. As
ofertas eles destinavam a obras de caridade. Continuaram a ensinar a lição da
Escola Sabatina aos filhos, a estudar a Bíblia, a orar juntos e a ler os escritos de
Ellen G. White. Com a exceção de estarem frequentando a igreja, eles levavam
sua vida como qualquer outro membro.
Entretanto, esse acordo que fizeram não durou mais que poucos meses. Se uma
das famílias não podia participar, as outras realizavam o culto em casa, sozinhos.
Quando entravam em desacordo ou tinham alguma dúvida sobre a doutrina, não
tinham nenhuma autoridade a quem recorrer. Além do mais, não havia um
contexto mais amplo de irmãos com quem se relacionar, ajudar ou pedir ajuda.
Infelizmente, eles não tiveram força ou humildade para voltar a participar da
congregação. O que começou com boas intenções, com o objetivo de continuar
vivendo sua fé, deteriorou-se sem a participação na congregação da igreja. Como
resultado, pouco a pouco deixaram de lado suas atividades espirituais ou as
preenchiam com alternativas; pior ainda, acabaram culpando os líderes regionais
por seu afastamento.
Alguns podem pensar que, pelo fato de a salvação ser pessoal, pode-se
desenvolver a própria espiritualidade isoladamente. A Bíblia, porém, tanto no
Antigo como no Novo Testamento, mostra claramente, em toda a história do
povo de Israel e por meio da vida dos primeiros cristãos, que Deus convida a
todos para participar do culto corporativo. Deve haver razões pelas quais Deus
deseja que seus filhos se reúnam a fim de adorar e fortalecer seus laços emocionais
e sociais uns com os outros na comunidade da igreja. Este capítulo traz evidências
que têm por objetivo demonstrar que pessoas que frequentam a igreja tendem a
alcançar indicadores mais elevados de saúde e bem-estar ao serem comparadas
com aquelas que não costumam ir à igreja.
Os dividendos obtidos por participar da
comunidade da igreja
O vale de Walla Walla, a leste do estado de Washington, nos Estados Unidos, é
um terreno ideal para ciclismo de estrada. É uma área bastante plana, com clima
seco na maior parte do ano e inúmeras cadeias de montanhas nas proximidades
que oferecem a opção tanto de fazer passeios na área plana como subir as
montanhas e descer pela encosta no fim da tarde. Certo dia, eu disse a mim
mesmo: Vou conseguir o equipamento adequado e percorrer essa área aproveitando todas as
opções que o mapa me oferece. Mas não fiz nada de início. Nada aconteceu até que
me tornei membro do clube Warped Wheel Cycle da Universidade de Walla
Walla. Como tinha a oportunidade de ir com outros ciclistas, percebi que poderia
fazer corridas mais longas, com mais frequência e bem mais agradáveis. Aprendi
muito sobre minha resistência como também a respeito das rotas, equipamentos,
roupas e outras coisas mais.
Devo admitir que havia certos inconvenientes por participar do grupo. Por
exemplo, observei que alguns usavam certos itens opcionais, e eu acabava
comprando coisas que, depois de usar algumas vezes, via que eram totalmente
desnecessárias. Outras vezes, via que a competição se tornava um tanto acirrada, e
nós os mais velhos tínhamos que nos esforçar para acompanhar os ciclistas mais
jovens. Mesmo assim, foram benéficos os efeitos do grupo sobre nós, e eu jamais
teria alcançado minhas metas sem a participação e o apoio dos outros ciclistas.
O princípio do apoio do grupo aplica-se à maior parte das áreas da vida,
inclusive ao crescimento espiritual. A comunidade de uma igreja saudável é o
local em que podemos ver pessoas felizes, sentindo-se contentes e como se
estivessem em casa. Quando alguém está infeliz, por certo vai encontrar o calor e
afeto necessários para melhorar o seu humor. A igreja é o lugar em que as
conversas vão além do superficial, e as emoções podem ser compartilhadas. A
verdadeira e profunda troca emocional não acontece com todos, mas há sempre
uma ou duas pessoas que se tornam nossas confidentes. Na maioria dos casos, a
comunidade da igreja proporciona um ambiente onde o altruísmo pode ser
praticado tanto com os membros como também com as pessoas que estão além de
seus muros. Com certeza, o culto corporativo deve ser um momento de louvor a
Deus por meio da música, da oração, da leitura da Bíblia e do partilhar do
conhecimento espiritual, experiências que não obtêm destaque suficiente quando
praticadas isoladamente.
De acordo com a promessa de Mateus 18:20, Jesus estará no meio daqueles que
se reúnem em seu nome. O resultado pode ser uma mudança extraordinária,
como a que seus discípulos experimentaram: o seu comportamento foi notável e
aqueles que os observavam “reconheceram que eles haviam estado com Jesus” (At
4:13). Ellen G. White, comentando esse texto bíblico, afirma que naqueles que
têm estado com Jesus “manifestar-se-ão a força, o frescor e a alegria da juventude
perpétua. O coração que recebe a Palavra de Deus, não é como um açude que se
evapora, nem como uma cisterna rota que perde o seu tesouro. É como a torrente
da montanha, alimentada por fontes inesgotáveis, cuja água fresca e borbulhante
salta, de rochedo em rochedo, refrescando os cansados, os sedentos e os
1
duramente oprimidos”.
Numa lápide do mosteiro da Catedral de Worcester, no Reino Unido, está a
inscrição Miserrimus (“Os mais miseráveis”), em um túmulo sem nome, sem data
nem texto algum. William Wordsworth (1770-1850) escreveu um poema em
referência a essa inscrição, e Willian Godwin (1756-1836) também escreveu um
romance baseado nesse local. Em contraste, nas catacumbas de Roma – os longos
túneis subterrâneos onde os cristãos primitivos se escondiam de seus ferozes
perseguidores – numa pedra há a inscrição Felicissimus (“Os mais felizes”).
Como é possível os cristãos ficarem tristes em tempos de prosperidade e
demonstrarem estar felizes em meio às condições mais difíceis e conturbadas? É
humanamente possível estar feliz mesmo sabendo que o martírio pode acontecer a
qualquer momento? Somente o poder do Espírito Santo (At 1:8; 2:2-4) pode
realizar tais tarefas aparentemente impossíveis. Um dos canais utilizados pelo
Espírito foi o apoio da comunidade de crentes, praticado sistematicamente, que,
“todos os dias, continuavam a reunir-se no pátio do templo. Partiam o pão em
suas casas, e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de
coração, louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo. E o Senhor lhes
acrescentava diariamente os que iam sendo salvos” (At 2:46, 47).
Benefícios não espirituais recebidos por ir à igreja
As bênçãos espirituais recebidas por frequentar as reuniões da igreja são
extremamente valiosas: “Que eu possa morar na Casa do Senhor todos os dias da
minha vida” (Sl 27:4, ARA). Entretanto, existem também benefícios bastante
especiais, que muitos desejam obter, até mesmo as pessoas não religiosas. Eles têm
que ver com a qualidade do desenvolvimento dos filhos e da vida familiar.
Frequentar os cultos na igreja promove a interação familiar. Isso não significa
somente que os membros da família se assentam juntos para assistir ao culto.
Significa também fazer planos para ir à igreja, levantar-se, ficar prontos e sair ao
mesmo tempo. Essas atividades estimulam os membros da família a se adaptarem
uns aos outros, ajudarem-se mutuamente e a resolverem tensões provenientes do
preparo e possível atraso. Quando ir à igreja faz parte dos hábitos regulares da
família, é criada uma sólida tradição que traz estabilidade e regularidade à vida
familiar, formando fortes laços por toda a vida e elos que podem ser passados para
as próximas gerações.
No local de adoração, a música e o ambiente de reverência que ocorre
normalmente proporcionam grandes bênçãos àqueles que vão à igreja. Um
contexto como esse se torna especialmente calmante e terapêutico para as
crianças, que provavelmente não tenham outra oportunidade para desfrutá-lo
além dos muros da igreja. Foi constatado que a música alivia a tensão muscular e
acalma os pensamentos e comportamentos agressivos. Além de proporcionar uma
excelente maneira para desenvolver o gosto pela música, pode também produzir
efeitos positivos sobre o humor e reduzir o negativismo.
As mensagens ouvidas nos cultos ou discutidas nas atividades da igreja
promovem comportamentos que nem sempre são “religiosos”, mas são
extremamente úteis para o desenvolvimento do caráter e para se viver uma vida
de harmonia com as outras pessoas: a elevação da conduta moral, a prática do
perdão, o desenvolvimento da resiliência, uma visão de esperança quanto ao
futuro, firme posicionamento diante do certo e do errado são todos valores
normalmente aprendidos e adotados no contexto da igreja. Esses princípios são
antídotos poderosos contra mensagens populares que chegam até nós como se
fossem verdadeiras, do tipo: “Se você se sente bem, faça!”
A Igreja Adventista do Sétimo Dia oferece um dos melhores sistemas de
educação religiosa para todas as idades, desde o nascimento até a idade adulta.
Uma parte significativa das ofertas doadas pelos membros vão para as divisões da
Escola Sabatina para que sejam mais bem equipadas. O importante é que essas
classes estejam ativas e sejam bem frequentadas em quase todas as igrejas ao redor
do mundo. Além do sólido conhecimento bíblico, as crianças aprendem a
partilhar, a desenvolver a paciência, o respeito aos outros, a interagir umas com as
outras, a permanecer quietas e calmas durante momentos especiais (como o da
oração), a esperar sua vez – em síntese, a desenvolver o autocontrole. Ao mesmo
tempo, a igreja procura desestimular as emoções negativas (o ódio, o ciúme, a
inveja, a raiva) e maus comportamentos (a violência, a bebida, a mentira, o sexo
pré-matrimonial, a delinquência, o fumo e o uso de outras drogas). Esses
princípios podem manter os que vão à igreja longe de muitos problemas e
aborrecimentos e contribuem para o bem-estar e a harmonia da sociedade.
A Escola Sabatina das crianças pode exercer uma grande influência sobre
aqueles que não querem nada que tenha que ver com a igreja. Minha esposa e eu
temos amigos que pertencem à nossa geração e que deixaram a igreja durante os
anos da juventude. Muitos até desenvolveram uma atitude crítica para com a
religião. Ainda assim, anos mais tarde, depois que tiveram filhos, perceberam a
necessidade que eles tinham de frequentar a Escola Sabatina e as reuniões da
igreja, e retornaram para que os pequeninos fossem enriquecidos com as mesmas
bênçãos que eles haviam recebido no passado. Concluíram que, mesmo não sendo
um lugar perfeito, a igreja ainda é a melhor opção para inculcar valores na mente
dos filhos nestes tempos preocupantes em que vivemos.
Há também oportunidades para o desenvolvimento de habilidades bastante
úteis. Por exemplo, as crianças e jovens são estimulados a falar para um pequeno
(e às vezes grande) grupo de pessoas, proporcionando-lhes as primeiras lições
sobre como falar em público em um ambiente seguro e real. O mesmo princípio
é frequentemente aplicado ao tocar instrumentos, cantar ou ler em público. Há
muitos pais que apreciariam ter essas oportunidades no contexto das escolas
públicas para onde enviam seus filhos. Entretanto, na maioria das vezes, isso não é
possível devido ao grande número de alunos por professor e também porque o
currículo escolar atualmente já vem fechado de acordo com as exigências dos
padrões acadêmicos e preparo para os testes de avaliação, não permitindo que haja
tempo para essas atividades. Além do mais, a comunidade escolar é composta de
muitos alunos mais novos e poucos adultos, enquanto a congregação na igreja
possui uma grande diversidade, onde participam pessoas de todas as idades.
Esse fato torna as igrejas um local adequado para todos desenvolverem
habilidades sociais em um ambiente real e diversificado. A igreja se assemelha a
uma grande família em que muitas vezes os membros vêm de vários níveis
econômicos e provenientes de diversas culturas, etnias, e com as mais diferentes
profissões. Essa mistura proporciona uma excelente oportunidade de sociabilização
que não é facilmente encontrada em nenhum outro lugar.
A maioria das igrejas convida pessoas de todas as idades a participar de atividades
evangelísticas e missionárias ou de viagens. Dessa forma, é prestado auxílio aos
necessitados, cumprindo assim não somente os deveres cristãos, mas também
realizando um serviço altruísta em favor da humanidade, que é de grande valor
mesmo para pessoas não religiosas. Há outras atividades que contribuem para o
desenvolvimento do caráter, como os acampamentos e outras recreações em que
as pessoas partilham dos mesmos valores e podem se reunir e interagir umas com
as outras. Normalmente, os jovens precisam dedicar algum tempo para angariar o
dinheiro suficiente, planejar, preparar, conversar a respeito dessas viagens,
evitando, portanto, inúmeras atividades arriscadas.
Enquanto eu participava de uma das três reuniões anuais que realizamos com a
Washington Association of Colleges for Teacher Education (WACTE), um dos
membros do corpo docente de uma universidade pública aproximou-se de mim e
disse: “Fiquei sabendo que o senhor trabalha para a Universidade de Walla Walla.
O senhor é adventista do sétimo dia?” Após responder-lhe afirmativamente, ele
continuou: “Minha avó era adventista. Às vezes, eu passava alguns dias na casa
dela, e ela me levava à igreja aos sábados, então eu assistia à Escola Sabatina.”
Enquanto ele descrevia brevemente esses fatos, pude ver em seu rosto um leve
sorriso ao recordar com carinho essas saudosas lembranças. Eu não sei qual foi o
real efeito que essa experiência pode ter exercido na vida daquele homem. Ao
que tudo indica, ir à igreja deve ter sido no mínimo algo bastante agradável para
ele. Que efeitos teve sobre a sua visão diante do mundo, sobre sua moral, sua
integridade, seu comportamento ou sua fé vamos ter que esperar até chegarmos à
Nova Terra, e então descobriremos.
Os pais que dão grande valor à presença nas reuniões da igreja certamente vão
infundir esse hábito desde os primeiros anos na vida de seus filhos. Aqueles que
começam a formar esses hábitos, mesmo um pouco mais tarde, podem fazer com
que se produzam alguns benefícios ainda que os filhos resistam, preferindo ficar
em casa jogando ou vendo desenho animado. Nessas situações, os pais necessitam
ser pacientes e perseverantes até que os filhos sejam atraídos à igreja e comecem a
apreciar as programações, ou até que o hábito se forme.
O hábito de ir à igreja e a saúde física
A linguagem do Salmo 18 mostra como foram as respostas de Deus à súplica de
Davi – Ele ouviu “do seu Templo” (v. 6). O resultado foi uma bênção sem
medida, revelada nas expressões de força física: “Com o teu auxílio posso atacar
uma tropa; com o meu Deus posso transpor muralhas” (v. 29). “Torna os meus
pés ágeis como os da corça, sustenta-me firme nas alturas. Ele treina as minhas
mãos para a batalha e os meus braços para vergar um arco de bronze. […] Para
que não se torçam os meus tornozelos” (v. 33, 34, 36). Aos 20 anos, eu não
pensava no tempo em que não teria mais força suficiente para levantar algo pesado
ou escalar a encosta de uma montanha coberta de pedras, mas as décadas se
passaram, e percebi que minhas forças haviam diminuído. Compreendi que o
envelhecimento é uma realidade que traz consigo certa deficiência na força física.
Esse texto passa a ter maior significado ainda quando se percebe que as forças
estão se acabando.
Deus pode intervir nos processos físicos para proporcionar saúde e força.
Algumas vezes, Ele acha melhor não fazê-lo. Todavia, é certo que Deus não
concede saúde e força àqueles que rejeitam suas bênçãos. Uma das mais preciosas
promessas feitas aos filhos de Israel foi que Ele os manteria livres de doenças:
“Prestem culto ao Senhor, o Deus de vocês, e Ele os abençoará, dando-lhes
alimento e água. Tirarei a doença do meio de vocês” (Êx 23:25).
Os epidemiologistas George Comstock e Kay Partridge, da Escola de Higiene e
Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins foram os pioneiros em pesquisas
2
que estudam a relação entre a frequência à igreja e a saúde. Suas notáveis
descobertas tornaram-se a base de muitas outras pesquisas ao longo dos 50 anos
que se seguiram. Eles coletaram várias sequências de dados nas décadas de 1960 e
1970, na região de Washington, Maryland, por meio dos dados de um censo
realizado. Comstock e Partridge descobriram inúmeras conexões entre a saúde e a
assistência aos cultos religiosos. Os dados representaram a participação de 90 mil
pessoas – mais de 98% de toda a população do município. Entre o grande número
de indicadores de saúde, uma das perguntas feitas pelos pesquisadores foi: “Essa
pessoa costuma assistir aos cultos religiosos? – Mais de uma vez por semana; cerca
de uma vez por semana; mais de uma vez por mês; duas a doze vezes ao ano;
menos de duas vezes ao ano; e nunca.” Os resultados mostraram inúmeras
ligações com a saúde:
• A incidência de tuberculose (TB) para cada 100 mil habitantes nos últimos
cinco anos foi um diferencial nos vários níveis de frequência: diagnóstico de TB
para aqueles que frequentam as reuniões da igreja pelo menos uma vez por
semana foi de 57 casos; houve 84 casos de TB no grupo que frequentava a igreja
uma vez por mês. Finalmente, foram 138 casos de TB entre aqueles que
frequentavam a igreja apenas duas vezes ao ano ou menos que isso.
• A mortalidade causada por doença cardiovascular aterosclerótica foi muito
mais elevada em homens que frequentavam esporadicamente a igreja do que em
homens que frequentavam semanalmente. O risco para os que frequentavam
regularmente era de 60% em relação aos que o faziam irregularmente. Esse foi o
resultado após levar em conta o efeito do fumo, status socioeconômico e outros
fatores.
• Nas mulheres, o índice de morte por enfisema, cirrose e suicídio foi
significativamente mais alto entre aquelas que não frequentavam a igreja
regularmente. O enfisema pulmonar foi responsável por 18 casos de morte em
cada 1.000 ocorrências, entre as mulheres que frequentavam a igreja
semanalmente, contra 52 casos para cada 1.000 mortes em mulheres que
frequentavam a igreja menos de uma vez por semana. A cirrose causou 5 mortes
por 1.000 no grupo que ia à igreja semanalmente, contra 25 que frequentavam
menos vezes. E o suicídio foi a causa de 11 mortes em cada grupo de 1.000
mulheres, para aquelas que frequentavam a igreja semanalmente, contra 25 mortes
em cada 1.000, para aquelas que frequentavam a igreja menos de uma vez por
semana.
Desde essas primeiras tentativas para analisar os elos entre a participação nas
reuniões da igreja e a saúde, muitos estudos têm conseguido estabelecer essa
relação. Harold Koenig, professor de Psiquiatria na Universidade de Duke, na
Carolina do Norte, Estados Unidos, em seu livro Handbook of Religion and Health
[Manual de Religião e Saúde], segunda edição, abrangendo a década de 2001 a
2011, analisou e registrou 1.060 estudos realizados por especialistas em que a
frequência regular à igreja foi uma das variáveis associadas a uma ou mais variáveis
3
relacionadas à saúde física e mental. A obra faz referência também a outros 429
estudos analisados por especialistas, nos quais a frequência à igreja encontrava
relação com a saúde física e mental. Embora os resultados não sejam todos
conclusivos, cerca de 70% deles apresentam evidências suficientes de que a
participação nos cultos religiosos está relacionada à boa saúde física no caso das
doenças cardíacas, hipertensão, doença cerebrovascular, demência, disfunção do
sistema imunológico, disfunção endócrina, o câncer e a mortalidade.
Atualmente, não estamos lidando com um estudo isolado aqui ou ali, para
mostrar que pessoas religiosas parecem ter um nível mais elevado de saúde que as
não religiosas. Percebemos que tem havido um volume cada vez maior de
pesquisas sólidas que apontam com clareza para as vantagens da saúde relacionadas
à religião.
Temos a seguir alguns exemplos provenientes de recentes estudos sobre a
conexão entre a saúde física e a religião. Eliezer Schnall, da Universidade de
Yeshiva, em Nova York, e outros sete pesquisadores analisaram os dados sobre a
4
saúde e a religião relacionados a 92.395 mulheres. Eles coletaram inúmeros
indicadores de saúde e um instrumento de autoavaliação em que as participantes
avaliaram sua saúde de modo geral, de acordo com um índice relacionado com a
saúde real, e descobriram como sendo esse um forte indicador de mortalidade nos
vários estudos. Os pesquisadores controlaram (de modo constante) o efeito das
variáveis demográficas, socioeconômicas e da saúde anterior para observar a
associação das variáveis selecionadas com o risco de mortalidade relacionado a
todas as causas. As variáveis selecionadas foram: afiliação religiosa, frequência aos
cultos religiosos e o nível de força e conforto proporcionado pela religião.
Constatou-se que essas três características tinham mútua relação com a diminuição
do risco de mortalidade por todas as causas. Em outras palavras, as mulheres que
tinham uma afiliação religiosa, que frequentavam os cultos regularmente e que
viam a religião como fonte de força e conforto possuíam um nível bem mais
baixo de mortalidade em comparação com aquelas que não encontraram apoio na
religião.
O estudo de Elva Arredondo esclareceu a forma como o processo realmente
5
acontece. Essa pesquisadora da Universidade Estadual de San Diego, na
Califórnia, e outros quatro associados recrutaram 211 mulheres latinas de fala
castelhana, escolhidas aleatoriamente por números da lista telefônica ligados a
sobrenomes hispânicos. O estudo, que recebeu o nome de Secretos de la Buena
Vida [Os Segredos da Boa Vida], baseava-se em uma entrevista telefônica em
espanhol, a respeito das práticas religiosas, como também a visita à casa de cada
uma delas para uma entrevista pessoal de meia hora, com o objetivo de pesquisar
as práticas de saúde (isto é, saber detalhes sobre o que elas comiam e como se
exercitavam). Ao serem comparadas com aquelas que não costumavam ir à igreja
e outras que iam ocasionalmente, as mulheres que frequentavam a igreja de modo
regular apresentaram os indicadores de comportamento ligado ao estilo de vida
mais saudáveis: elevada ingestão de fibras na dieta, mais baixa ingestão de gorduras
e três vezes mais capacidade para fazer exercícios vigorosos. A vantagem
permaneceu expressiva ainda após o controle dos indicadores socioeconômicos,
como educação, estado civil, emprego e idade. Em outras palavras, o fator
responsável com relação ao comportamento mais saudável pareceu ser a afiliação a
uma igreja e a frequência aos cultos, em vez de melhor educação, por exemplo.
Estudos como esse nos fazem lembrar de que as igrejas são excelentes centros de
promoção não somente do crescimento espiritual, mas também de práticas
relacionadas à saúde. Muitos adventistas do sétimo dia são defensores dessa missão
e vivem de acordo com a “mensagem de saúde” que tem sido firmemente
preservada ao longo de tantas décadas. Tenho, por vezes, me perguntado: “Quais
seriam minhas condições de saúde se eu não tivesse abraçado a mensagem
adventista?” Com quase 100% de certeza, e observando os meus contemporâneos
e a minha história familiar, eu estaria bebendo, fumando e comendo de tudo, sem
dar a menor importância ao que é saudável ou não. Provavelmente, estivesse
agora sofrendo de algumas “doenças típicas da vida moderna” e sendo advertido
quanto aos graves riscos para a minha saúde. Como resultado, estaria tentando
reparar a intemperança praticada no passado, procurando alcançar um nível
mínimo de práticas saudáveis de saúde para conseguir sobreviver. Fico muito feliz
por ter-me sido proporcionada essa compreensão da visão bíblica a respeito da
saúde, não somente pelos benefícios obtidos, mas também porque foi pelo amor e
graça do Senhor que o conhecimento da verdade me alcançou.
No estudo citado anteriormente, também foi constatado que as mulheres (85%
delas nasceram e cresceram no México) que frequentavam a igreja regularmente
eram mais bem adaptadas à cultura americana, quando comparadas às demais que
não frequentavam os cultos religiosos. A igreja havia sido não somente
preponderante no desenvolvimento de um estilo de vida saudável, mas um
instrumento para conseguirem se adaptar bem melhor ao meio cultural que as
acolheu.
Laura Koenig e George Vaillant pesquisaram a eficácia da assistência às reuniões
da igreja sobre a saúde e o bem-estar em homens de um grupo cuja primeira
6
avaliação foi feita aos 14 anos de idade, e a mais recente aos 79 anos. Esse foi o
maior estudo iniciado em 1950 e teve como foco principal o uso de bebidas
alcoólicas e a saúde física. No entanto, múltiplas sequências de dados foram
coletadas ao longo dos anos, como: frequência às reuniões da igreja (nunca,
ocasionalmente, mensalmente ou semanalmente). A frequência às reuniões da
igreja aos 47 anos foi um instrumento de previsão da saúde aos setenta. Um outro
ponto é que a análise estatística demonstrou que a frequência à igreja estava
indiretamente ligada à saúde – os indicadores atuais eram o uso (ou abstenção) de
bebidas alcoólicas, do fumo e a presença ou ausência do bom humor. No caso do
bem-estar, entretanto, a frequência às reuniões da igreja aos 47 anos foi uma
forma direta de se prever o bem-estar (sem mediadores) 23 anos depois, e essa é
uma excelente indicação do peso que tem a religião sobre a saúde mental e social,
desde que o bem-estar signifique satisfação com o trabalho, filhos, amigos e vida
conjugal. Esse fato nos leva à próxima seção da conexão que há entre assistir às
reuniões da igreja e a saúde mental.
O hábito de ir à igreja e a saúde mental
A depressão e a ansiedade são, nessa ordem, os maiores transtornos mentais em
todo o mundo. Na linguagem comum, eles representam um estado de grande
tristeza, desesperança, inquietação e medo. A Bíblia está cheia de expressões de
esperança, como alegria, regozijo e prazer. Deus diz: “não temas”, “não lamente”,
“não se entristeça”, “seja forte”, “seja corajoso”. Invariavelmente, essas mensagens
de segurança e confiança estão dentro do contexto do convite que Deus nos faz
para aceitá-lo, amá-lo e obedecer-lhe. Uma pesquisa recente está trazendo
descobertas contínuas sobre o fato de que frequentar a igreja contribui para a
prevenção e alívio dos transtornos mentais.
A maior parte dos estudos que analisam a relação entre essas variáveis (ir à igreja
versus saúde mental) são realizados com uma ampla diversidade de amostras em
múltiplas localidades. Mesmo assim, todas elas apontam para a mesma direção: a
frequência às reuniões da igreja parece exercer uma influência protetora contra a doença
mental. Christopher Lewis e um grupo de associados conduziram um estudo na
7
cultura altamente religiosa que há no norte da Irlanda. Eles estudaram uma
amostra de pessoas recrutadas aleatoriamente de 5 mil famílias. Os participantes
usaram como padrão uma medida de bem-estar psicológico (o GH-Q12) e
responderam a perguntas sobre a afiliação a uma denominação religiosa, assim
como acerca da frequência com que assistiam aos cultos em sua igreja. A principal
descoberta foi que a maior frequência aos cultos religiosos estava associada à
melhor saúde psicológica.
A relação entre ir à igreja e desfrutar uma mente saudável parece ser
particularmente relevante nos idosos. Jim Mitchell e Dave Wheatherly, da Escola
de Medicina da Universidade da Carolina do Norte, conduziram uma pesquisa
8
numa área rural a leste do Estado, sobre a religiosidade e a saúde mental. Os
participantes foram indagados não somente a respeito da frequência religiosa aos
cultos, mas também sobre suas crenças religiosas, oração e papel da religião ao
enfrentar uma doença. Eles responderam ainda a questões relacionadas à saúde
mental e emocional no momento, e em comparação com os cinco anos anteriores
à entrevista. Em consonância com os resultados predominantes dos estudos, as
mulheres e pessoas idosas afro-americanas eram as mais propensas a professar uma
religião e a assistir às reuniões da igreja. O ponto principal do estudo mostrou que
a diminuição da funcionalidade física e redução da saúde mental estavam
relacionadas à baixa frequência às reuniões da igreja. Da mesma forma, menos
sintomas de doença mental, de forma geral, e especificamente menor índice de
sintomas de depressão estavam associados à maior frequência à igreja.
Os resultados são semelhantes em locais distantes da América do Norte. Rita
Law e David Sbarra conduziram um estudo de acompanhamento por um período
9
de oito anos na Austrália. A frequência às reuniões da igreja tinha um efeito
protetor contra os transtornos repentinos no humor (curiosamente, essa proteção
foi mais pronunciada em pessoas casadas do que nas solteiras que tinham o hábito
de ir à igreja). Nesse estudo, a contínua assistência aos cultos fez a real diferença:
aqueles que foram aos cultos religiosos regularmente por cinco anos apresentaram
menor índice de depressão, quando comparados com aqueles cuja frequência era
esporádica. Foram encontradas também algumas diferenças em relação ao gênero:
os homens que frequentavam a igreja de maneira irregular desenvolveram maior
risco para a depressão do que as mulheres que também frequentavam a igreja
irregularmente.
Somente depois que compreendi o caráter central da assistência aos cultos na
igreja é que percebi quão importante foi para a minha família comprometer-se em
levar todos os sábados um casal de idosos à igreja em nosso carro. Era muito bom
vê-los felizes e saber que, para eles, ir à igreja tornava-se o ponto alto da semana.
Embora eu não estivesse ciente das implicações desse pequeno ato sobre a saúde
daquele casal de idosos, agora olho para trás com muito mais satisfação e
sentimento de serviço prestado em favor de outros. Provavelmente tenhamos
ajudado a retardar uma deterioração precoce naquele simpático casal de idosos, ao
irmos buscá-los em sua casa todos os sábados pela manhã.
Esse princípio não se aplica apenas aos idosos. Profissionais jovens, como
professores no Reino Unido, também deram provas de que ir à igreja os manteve
protegidos contra a instabilidade emocional. Pesquisadores da Faculdade Trinity e
da Universidade de Gales aplicaram um teste de personalidade em 311 professores
do nível fundamental que trabalhavam no sudeste da Inglaterra, para avaliar as
tendências psicóticas, assim como algumas avaliações sobre a espiritualidade,
10
inclusive a frequência aos cultos na igreja. Ficou bastante claro que a correlação
entre essas variáveis foi inversa; em outras palavras, quanto maior a frequência à
igreja, mais baixas eram as tendências psicóticas nos professores. É interessante ver
estudos como esse que revelam o efeito tranquilizador da vida religiosa em uma
das profissões mais estressantes que existem: a de professor. Os professores detêm
realmente um dos cinco tipos de trabalhos mais estressantes, ficando atrás apenas
dos controladores de tráfego aéreo, soldados em combate, bombeiros e
trabalhadores de minas de carvão.
Os próprios alunos também parecem beneficiar-se da frequência à igreja no que
diz respeito à saúde mental. Christopher Lewis, da Universidade de Ulster, em
Londonderry, no Reino Unido, e vários associados da Noruega coletaram dados
obtidos de 479 crianças e adolescentes de colégios da Noruega (com idades entre
11
11 e 18 anos). Utilizando um teste europeu comum (o Teste de Personalidade
de Eysenck), os pesquisadores observaram a correlação entre a frequência à igreja,
a oração e os indicadores para tendências psicóticas. Os resultados mostraram que
aqueles que estavam mais envolvidos nos comportamentos religiosos mencionados
apresentavam níveis menores de tendências psicóticas ao serem comparados com
seus colegas que não frequentavam a igreja ou iam esporadicamente aos cultos.
O estudo conduzido por Carlos Reyes-Ortiz parece confirmar a segurança
transmitida pelo salmista: “Mil poderão cair ao seu lado, dez mil à sua direita, mas
12
nada o atingirá” (Sl 91:7). Essa pesquisa foi centralizada apenas em mexicanos-
americanos e investigou a ligação que há entre a frequência à igreja e o medo de
cair. Um grande grupo de 1.341 homens e mulheres com 70 anos ou mais
participou do estudo. Por esse estudo, ficou constatado que o medo de cair era
maior entre as mulheres do que entre os homens. Além disso, os participantes
com um histórico de quedas, artrite, hipertensão ou incontinência urinária eram
mais temerosos do que os demais que não sofriam dessas doenças. A frequência à
igreja foi um claro indicador da redução dos níveis do medo de quedas: quanto
maior a frequência à igreja, menos medo os idosos tinham de cair. Essa relação
específica permaneceu bastante expressiva ainda, após o controle dos relevantes
dados sociodemográficos, condições médicas, sintomas depressivos, funções
cognitivas, quedas, habilidade para fazer as tarefas diárias e menor desempenho
corporal.
Uma pesquisa realizada entre religiosos e não religiosos revelou haver mais alta
imunidade contra os transtornos mentais naqueles que continuavam ativos em seu
hábito de ir à igreja regularmente. Ray Merrill e Richard Salazar, da Universidade
de Brigham Young, estudaram a relação entre a frequência à igreja e a saúde
13
mental entre 4.287 religiosos e 1.270 que não eram religiosos. Aqueles que
procuravam ajuda profissional para obter saúde mental eram os religiosos menos
ativos e aqueles que não tinham nenhuma preferência religiosa. Essa análise foi
feita após serem consideradas as variáveis quanto ao uso de bebidas alcoólicas, uso
de fumo, sobre a educação, rendimentos, atividade física, condições gerais de
saúde, emprego, índice da massa corporal, gênero e idade.
Atos 2:44-47 nos dá boas sugestões sobre o estilo de vida dessa primeira geração
de cristãos. De maneira bem resumida, somos lembrados dos benefícios para a
saúde mental por viver o estilo de vida dos cristãos primitivos:
• Partilhar (v. 44). Colocar os próprios recursos à disposição de outros
proporciona uma grande sensação de bem-estar. Traz satisfação ver que outros se
alegram ou obtêm alívio de seus sofrimentos por nossa disposição de partilhar.
Jesus chama a esses de “bem-aventurados” ou “felizes” (At 20:35).
• Adorar e louvar a Deus (At 2:46, 47). Uma pequena amostra das muitas
evidências que revelam os benefícios do culto corporativo ao longo de todo esse
capítulo.
• Comunhão (v. 46). Lembrar a Ceia do Senhor é uma forma direta de buscar a
reconciliação, um claro e poderoso processo para obter a saúde física e mental.
• Companheirismo e simpatia (v. 47). De acordo com o relato bíblico, essa
proximidade é expressa em corações alegres e sinceros, e também pela facilidade
de interação pessoal.
A síntese dessa passagem é o maravilhoso resultado que houve ao serem trazidas
mais e mais pessoas para o caminho da salvação. Observe que o registro bíblico
não atribui o sucesso aos esforços proselitistas por parte dos crentes; ao contrário,
era Deus quem “lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos” (v. 47).
Problemas e questões dos adolescentes
A delinquência e o uso de drogas estão entre os principais problemas da
adolescência em qualquer lugar do mundo. Este é um momento de luta em favor
desses jovens; em sua busca pela identidade e seu lugar no mundo, às vezes, eles
acabam explorando áreas que podem colocá-los em dificuldades. No entanto, os
filhos que apreciam a oportunidade que lhes é dada de frequentar a igreja
regularmente com a família têm maior probabilidade de continuar na igreja
durante os anos da adolescência e de se manterem protegidos desses problemas. O
álcool e o uso de drogas têm despertado um maior interesse em pesquisas na
comunidade nas últimas duas décadas. Harold Koening encontrou mais de 450
estudos científicos que associam a religião e a espiritualidade ao papel que
exercem sobre as drogas; cerca de 85% desses estudos mostraram uma importante
14
relação entre a religião e a espiritualidade e a redução do uso de drogas.
Quando ele analisou os melhores estudos apresentados (247), 90% deles tiveram
resultados positivos. A orientação é clara: pertencer a uma igreja torna-se uma
salvaguarda contra o uso de drogas, e isso é verdade especialmente em relação aos
adolescentes.
Brent Brenda, da Escola de Serviço Social da Universidade de Arkansas, nos
Estados Unidos, pesquisou a efeito exercido pela religiosidade e a frequência à
igreja com relação à delinquência juvenil, o uso de bebidas alcoólicas e de outras
15
drogas. Brenda analisou dados de 3.395 alunos da 7a à 9a série em 66 distritos
escolares em um dos estados do sul, tanto da zona rural (67%), como da zona
urbana (33%), e descobriu que a religiosidade nesses adolescentes representou uma
boa proteção contra as práticas de atos ilegais: uso do álcool, uso de outras drogas
e a delinquência. Como delinquência estavam envolvidos: brigas, roubos em lojas,
furtos em geral, ficar fora de casa até altas horas da noite sem permissão dos pais e
faltar às aulas. Foi constatado que a religiosidade era mais importante no
comportamento das meninas do que no dos meninos. A religião é especialmente
benéfica para os adolescentes devido à sua busca por significado e propósito na
vida. As comunidades religiosas apresentam razões e dão força para resistir à
tentação, como também estimulam a fazer boas escolhas. Encorajam também o
relacionamento pessoal com o onisciente e onipotente Deus – nem sempre um
tema popular no grupo. A força do grupo permaneceu uniforme nesse estudo: a
ligação específica mais forte encontrada foi o uso de bebidas alcoólicas e drogas
pelos amigos, e por eles mesmos. Em outras palavras, a fonte de proteção mais
forte contra o uso de drogas veio da associação com outros jovens da igreja que
estavam fazendo as escolhas certas.
Os adolescentes também são altamente vulneráveis ao fumo. Essa idade é a
época da iniciação, considerando que a maioria dos jovens começa a fumar por
volta dos 16 anos. Embora saibam que o fumo vicia e é perigoso para a saúde,
20% dos adolescentes americanos fumam. A cada dia, três mil adolescentes
começam a fumar, e aproximadamente mil desses jovens irão morrer devido ao
uso do fumo. Fumar torna-se também uma porta de entrada para outras drogas.
Por exemplo, adolescentes que fumam têm três vezes mais probabilidade de usar
bebidas alcoólicas, oito vezes mais tendência a fumar maconha e são 22 vezes mais
propensos a consumir cocaína.
A boa notícia para aqueles que vão à igreja é que esses riscos são
consideravelmente reduzidos, e os adolescentes irão desfrutar a proteção contra a
possibilidade da iniciação e continuidade do hábito de fumar. Carla Berg, do
Centro do Câncer na Universidade de Minnesota, em Minneapolis, nos Estados
Unidos, estudou o papel exercido pela frequência à igreja em várias áreas,
16
inclusive quanto ao uso do fumo. Ela e sua equipe verificaram que os
adolescentes com risco mais elevado de iniciar e manter o hábito de fumar eram
aqueles que tinham mais idade no grupo, baixo rendimento escolar, eram
depressivos e não frequentavam a igreja ou iam muito esporadicamente. Aqueles
cujos pais fumavam estavam especificamente em maior risco. Além disso, a atitude
dos pais em relação ao fumo apareceu como um fator bastante forte nessa
pesquisa. É importante lembrar aos pais que, por mais forte que seja o grupo de
amigos nessa idade, os adolescentes que sabem que seus pais desaprovam
totalmente o hábito de fumar têm menor probabilidade de começar a fumar e de
passar a fumar regularmente.
Esse estudo também constatou haver uma relação entre os que costumam
apresentar sintomas depressivos e a possibilidade de se tornarem fumantes. A baixa
religiosidade e a depressão serão discutidas no próximo capítulo, mas basta dizer
que, quando os adolescentes sentem falta do apoio emocional que deve ser
oferecido pela igreja e pela família, eles têm maior tendência a ser depressivos e a
recorrer a alguns tipos de comportamentos compensatórios, como o uso do fumo
e de outras drogas.
As áreas de conduta e o funcionamento social envolvem grande preocupação
para os pais, professores e membros da comunidade, e com razão. Ser capaz de
manter habilidades sociais adequadas e uma interação tranquila, sem atritos, com
outras pessoas, abre caminhos que outras habilidades e talentos não conseguiriam.
Mas como podemos incentivar os adolescentes a ser mais corteses, respeitosos e
pacientes com outros, garantindo assim sua melhor interação? Por meio de um
estudo, verificou-se que, quando as mães frequentam a igreja, a tendência é que
tenham filhos adolescentes com melhor adequação social. Stuart Varon, diretor
clínico do Centro de Saúde Mental Para Crianças Johns Hopkins, e Anne Riley,
professora associada na Escola de Higiene e Saúde Pública Johns Hopkins,
conduziram um estudo que analisou a relação entre a frequência das mães à igreja
e o funcionamento social e comportamental de seus filhos adolescentes entre os
17
11 e os 13 anos. A pesquisa foi cuidadosamente conduzida, não simplesmente
com o preenchimento de um questionário, mas mantendo entrevistas pessoais nos
lares com 143 adolescentes e a mãe da cada um deles. Com exceção da renda
familiar, a frequência das mães à igreja foi o mais forte indicador de saúde mental
e funcionamento social dos participantes adolescentes. Na verdade, a frequência
da mãe à igreja era um melhor indicador do que a religião da mãe ou sua
educação, etnia e sexo do filho ou estrutura familiar. A pesquisa constatou
também que os adolescentes cujas mães iam à igreja pelo menos uma vez por
semana desfrutavam um maior grau de satisfação na vida, eram mais envolvidos
com a família e eram mais hábeis para resolver problemas relacionados à saúde;
também sentiam maior apoio por parte dos colegas do que os jovens cujas mães
apresentavam níveis mais baixos de frequência à igreja.
Proporcionar apoio suficiente aos adolescentes e jovens para que permaneçam
na igreja é uma tarefa que todos devem ter em mente. A família talvez seja o
agente número um. O papel das escolas cristãs também pode ser decisivo em
muitos casos. Jerome Thayer, da Universidade Andrews, relata, com base em
dados obtidos de vários estudos adventistas, que um percentual significativamente
mais elevado de jovens adultos permanece na igreja se tiverem recebido uma
18
educação adventista.
Conclusão
Por meio da fiel participação e frequência às reuniões da igreja, Deus tem
concedido recompensas maravilhosas a seus filhos: melhor saúde física e mental,
melhores relacionamentos e uma lista infindável das mais úteis vantagens para uma
vida mais plena. No entanto, ir à igreja não significa apenas isso. Mais importante
ainda é que os cultos religiosos proporcionam a oportunidade de um encontro
com Deus: “O Senhor, porém, está no seu santo templo; cale-se diante dele toda
a Terra” (Hc 2:20, ARA).
Passadas várias décadas, posso ainda me lembrar dos esforços feitos por um
jovem pastor para inculcar em nós jovens a ideia de que ir à igreja significava
encontrar-se com Deus, e não apenas com os amigos. Ele utilizou o texto bíblico
de Atos 20:9: “Um jovem chamado Êutico, que estava sentado numa janela,
adormeceu profundamente durante o longo discurso de Paulo. Vencido pelo
sono, caiu do terceiro andar. Quando o levantaram, estava morto.” O pastor
explicou que foi porque Paulo “continuou falando até meia-noite” (v. 7) e por
causa do calor das “muitas candeias no piso superior” (v. 8) que Êutico facilmente
pegou no sono. Entretanto, uma importante pergunta permaneceu sem resposta:
“Para começar, por que Êutico estava sentado na janela?” A interpretação do
jovem pastor foi de que Êutico, provavelmente, não estivesse ouvindo o sermão
de Paulo; talvez ele estivesse olhando as meninas bonitas que passavam ou outras
coisas interessantes que aconteciam naquela rua de Troas!
Coisas que distraem a atenção podem ocorrer de várias formas, dependendo de
a pessoa estar motivada ou não, se é jovem ou idosa, homem ou mulher, pobre
ou rico, mas o que importa é que todos devemos estar atentos à principal razão de
ir à igreja: encontrar Deus. Frequentar a igreja fielmente, de maneira ativa e com
devoção é uma decisão pessoal que deve ser tomada. Aqueles que de fato
valorizam essa decisão estarão verdadeiramente comprometidos com ela. O rei Davi
deu seu testemunho sobre quão importante era para ele habitar na casa do Senhor:
“Melhor é um dia nos teus átrios do que mil noutro lugar; prefiro ficar à porta da
casa do meu Deus a habitar nas tendas dos ímpios” (Sl 84:10).
Deus disse a Salomão para pedir o que quisesse, e ele escolheu a sabedoria (2Cr
1:7-10). Por outro lado, Davi, seu pai, optou por um pedido diferente: “Uma
coisa pedi ao Senhor; é o que procuro: que eu possa viver na casa do Senhor
todos os dias da minha vida, para contemplar a bondade do Senhor e buscar sua
orientação no seu templo” (Sl 27:4) Por fim, Deus estabeleceu Davi, a despeito de
suas imperfeições, como um exemplo de integridade e retidão (1Rs 9:4) para
Salomão e as demais gerações de reis que se seguiram desde então.
Questões Para Estudo
• Encontre passagens bíblicas em que o leitor é aconselhado a se reunir com
outros para adorar, como em Hebreus 10:25: “Não deixemos de reunir-nos como
igreja.” Em uma concordância, busque palavras como assembleia, congregação,
casa do Senhor, tabernáculo, convocação, igreja, e assim por diante. Quais são as
diferenças entre o Antigo e o Novo Testamento com respeito a essas palavras?
Qual é o contexto de cada texto?
• Faça uma pesquisa e, descubra as expectativas de frequência aos cultos de
várias religiões. Você vê alguma diferença no benefício alcançado pelos crentes
quando se exige que frequentem a igreja ou quando são incentivados a frequentar os
cultos religiosos? Qual é o correto equilíbrio para você?
• Qual é o significado das ordens dadas por Deus para assistir às santas
convocações ou assembleias solenes no dia de sábado (Lv 23:3)?
Aplicação
• A principal razão pela qual muitas pessoas permanecem na igreja (ou a
abandonam) tem que ver com a atitude dos demais adoradores. O que você pode
fazer para que seus irmãos e irmãs continuem fiéis na igreja e no amor do Senhor?
• Como harmonizar a maneira franca de Jesus ao afirmar: “Eu não vim para
chamar justos, mas pecadores” (Mc 2:17), com o texto em que Ele declara: “Se
ele se recusar a ouvi-los, conte à igreja; e se ele se recusar a ouvir também a igreja,
trate-o como pagão ou publicano” (Mt 18:17)?
• Reflita sobre o significado destas palavras “Guarda o pé, quando entrares na
Casa de Deus; chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos,
pois não sabem que fazem mal” (Ec 5:1, ARA). Enumere algumas coisas que
você pode fazer para seguir esse conselho.
• Ellen White diz que Maria e José, embora estivessem participando de reuniões
religiosas, perderam Jesus de vista e tiveram que procurar por Ele, angustiados
durante três dias. A seguir ela afirma: “Muitos assistem a serviços religiosos e são
refrigerados e confortados pela Palavra de Deus; mas, devido à negligência da
19
meditação, vigilância e orações, perdem a bênção.” É possível frequentar
regularmente as reuniões da igreja e ainda assim perder Jesus de vista? Que
providências são necessárias em sua vida para evitar que isso aconteça?
1
Ellen G. White, Parábolas de Jesus, 15a ed. (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2015), p. 130.
2
George W. Comstok e Kay B. Partrige, “Church Attendance and Health”, Journal of Chronic Diseases 25
(1992), p. 665-672.
3
Harold Koenig, Dana King e Verna B. Carson, Handbook of Religion and Health, 2a ed. (Nova York:
Oxford University Press, 2012).
4
Eliezer Schnall et al., “The Relationship Between Religion and Cardiovascular Outcomes and All-Cause
Mortality in the Women’s Health Initiative Observational Study”, Psychology and Health 25 (2010), p. 249-
263.
5
Elva M. Arredondo e John P. Elder, “Is Church Attendance Associated With Latina’s Health Practices
and Self-Report Health?” American Journal of Health Behavior 29 (2005), p. 502-511.
6
Laura B. Koenig e George E. Vaillant, “A Prospective Study of Church Attendance and Health Over the
Lifespan”, Health Psychology 28 (2009), p. 117-124.
7
Christopher A. Lewis, “The Association Between Church Attendance and Psychological Health in
Northern Ireland: A National Representative Survey Among Adults Allowing for Sex Differences and
Denominational Difference”, Journal of Religion and Health 50 (2011), p. 986-995. O estudo incluiu 5.205
participantes, sendo 41,5% homens e 58,5% mulheres, 40% católicos e 56% protestantes, e os restantes
pertencentes a outras religiões.
8
im Mitchell e Dave Weatherly, “Beyond Church Attendance: Religiosity and Mental Health Among
Rural Older Adults”, Journal of Cross-Cultural Gerontology 15 (2000), p. 37-54. Foram utilizadas duas amostras
aleatórias de forma independente: uma de 2.178 pessoas de 60 a 104 anos (média de 73 anos) e outra de 868
participantes de 65 a 101 anos (média de 75 anos).
9
Rita W. Law e David A. Sbarra, “The Effects of Church Attendance and Marital Status on the
Longitudinal Trajectories of Depressed Mood Among Older Adults”, Journal of Aging and Health 21 (2009),
p. 803-823. Os pesquisadores acompanharam 791 pessoas com idade média de 76 anos.
10
Leslie J. Francis e Peter Johnson, “Mental Health, Prayer and Church Attendance Among Primary
Schoolteachers”, Mental Health, Religion & Culture 2 (1999), p. 153-158.
11
Christopher A. Lewis et al., “Personality, Prayer and Church Attendance Among a Sample of 11 to 18
Years Old in Norway”, Mental Health, Religion & Culture 3 (2004), p. 269-274.
12
C. A. Reyes-Ortiz et al., “Higher Church Attendance Predicts Lower Fear of Falling in Older Mexican-
Americans”, Aging & Mental Health 10 (2006), p. 13-18.
13
Ray M. Merril e Richard D. Salazar, “Relationship Between Church Attendance and Mental Health
Among Mormons and Non-Mormons in Utah”, Mental Health, Religion & Culture 5 (2002), p. 17-33.
14
Koenig, Spirituality and Health Research: Methods, Measurement, Statistics, and Resources (Conshohocken,
PA: Templeton Press, 2011).
15
Brent B. Benda, Sandra K. Pope, e Kelly J. Kelleher, “Church Attendance or Religiousness: Their
Relationship to Adolescents’ Use of Alcohol, Other Drugs, and Delinquency”, Alcoholism Treatment Quarterly
24 (2006), p. 75-87.
16
Carla Berg et al., “The Roles of Parenting, Church Attendance, and Depression in Adolescent
Smoking”, Journal of Community Health 34 (2009), p. 56-63. Participaram do estudo 299 adolescentes do sexo
feminino de uma clínica pediátrica urbana do Centro-Oeste.
17
Stuart R. Varon e Anne W. Riley, “Relationship Between Maternal Church Attendance and Adolescent
Mental Health and Social Functioning”, Psychiatric Services 50 (1999), p. 799-805.
18
Jerome Thayer, “The Impact of Adventist Schools on Students”, trabalho apresentado no Quarto
Simpósio sobre a Bíblia e a Escolaridade Adventista, em Riviera Maya, Quintana Roo, México, de 16 a 22
de março de 2008.
19
White, O Desejado de Todas as Nações, 22a ed.(Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2004), p. 83.
CAPÍTULO 7
OS BENEFÍCIOS DA ALEGRIAE
DA GRATIDÃO
“O coração alegre é bom remédio, mas o espírito abatido faz
secar os ossos.”
Provérbios 17:22, ARA
C onversei com Bob Stumph, pela primeira vez, um ano depois de ele receber
a notícia de que estava com câncer gastroesofágico, e dois meses após ser
informado de que já havia metástase no fígado, nos pulmões e nos linfonodos. O
médico lhe deu de cinco a treze meses de vida. Ele já tinha passado por cirurgia,
radioterapia e quimioterapia. Naquele momento, estava fazendo novas sessões de
quimioterapia. Tivemos uma boa conversa e notei que Bob estava animado, ao
falar sobre sua experiência com detalhes e, sobretudo, com um invejável bom-
humor, apesar do turbilhão de acontecimentos dos últimos doze meses. Suas
palavras continuavam demonstrando completa confiança no Senhor. Embora
reconhecesse não entender os porquês, colocou-se nas mãos de Deus,
incondicionalmente.
Enquanto falava sobre o momento em que ouvira, pela primeira vez, a respeito
do temível diagnóstico de câncer, ele disse: “Eu não podia imaginar que poderia
haver algo errado com minha saúde. Tinha um regime alimentar equilibrado,
fazia exercícios e tudo o mais que um bom adventista do sétimo dia pratica. Havia
sido pastor ao longo de proveitosos quarenta anos – e estava no ministério pastoral
mesmo antes de fazer Teologia. Certo dia, percebi alguns sintomas diferentes e fui
ao médico. Foi realizada uma endoscopia e, após eu acordar da anestesia, o
médico falou: ‘Não tenho boas notícias. O senhor contraiu um câncer, e já está
em estágio avançado.’ Três dias depois, o diagnóstico de câncer foi confirmado
pelo exame patológico. Os médicos afirmaram que era bastante incomum
acontecer isso a alguém que tinha um estilo de vida como o meu. Eu estava
muito confuso também. Fiz todos os planos para realizar o tratamento em Seattle,
sob os cuidados de um excelente cirurgião e um renomado oncologista, ambos
em parceria com a Universidade de Washington e o Centro de Pesquisas Sobre o
Câncer, em Vancouver, Estados Unidos. Ambos grandes especialistas na área.
Entretanto, a minha maior confiança estava realmente em Deus. No início, o
diagnóstico de câncer me trouxe muitos questionamentos: ‘O que vou fazer
agora? Sempre confiei em Deus.’ Veio então à mente uma experiência terrível,
ocorrida 25 anos antes, e que solidificou minha confiança em Deus. Do mesmo
modo como eu havia confiado naquela época, iria confiar também agora. Sim, eu
estava abalado, porém isso me tornou mais forte, mais confiante no que o Senhor
poderia fazer. Isso de modo algum iria enfraquecer minha fé.”
Uma das primeiras coisas que Bob decidiu fazer foi enviar e-mails,
semanalmente, à família e aos amigos. Eles oraram por Bob durante todos aqueles
meses de luta. Eu li as mensagens. Eram calorosas e cheias de esperança. Falavam
das notícias corriqueiras da semana, do desenvolvimento da doença e sempre
incluíam uma reflexão sobre um texto bíblico, uma história ou um incidente com
aplicações para a vida espiritual. “Minha fé nunca foi afetada – e ficou mais forte
ainda”, declarou Bob. “O que decidi fazer foi não tentar controlar as coisas
sozinho. Esse foi meu primeiro pensamento. Resolvi permitir que as pessoas
soubessem o que realmente estava ocorrendo para obter maior apoio por meio da
oração dos irmãos e da igreja em meu favor. Eu sabia que, quanto mais as pessoas
orassem, mais coisas poderosas iriam acontecer. As pessoas continuam orando por
mim todo o tempo. Ouço isso a todo instante. É como se eu sentisse suas orações.
Procuro agir exatamente de acordo com as palavras de encorajamento que me
enviam. Não posso cair no desespero com tanto apoio que recebo. As coisas que
acontecem ao meu redor me deixam totalmente animado.
“Os momentos devocionais, o estudo e a oração têm me trazido muito
conforto”, disse Bob, quando lhe perguntei como lidava com toda essa situação.
“Tenho mantido este hábito há muitos anos: à noite, começo orando o ‘Pai
Nosso’. Reflito então no significado de cada frase, de cada palavra. Nem sempre
chego ao fim da oração porque são muitas as ideias em cada trecho e há muito em
que meditar. Sei que isso torna as conexões de pensamento muito fortes durante
esses momentos.”
Falando sobre o momento em que soube que o câncer havia se espalhado,
depois de nove meses enfrentando várias formas de tratamento, Bob disse: “Eu
estava fazendo uma visita de cortesia ao oncologista e ele, naquele exato
momento, estava com o resultado do meu exame de tomografia computadorizada
em mãos e constatou que o câncer havia tido metástase. Ao me informar, ele
traduziu o resultado em números: de cinco a treze meses de vida. Isso me fez
exclamar: ‘Ah, Senhor, se Tu desejas que eu descanse, permita que seja rápido,
pois eu não vou suportar tanta dor.’ Eu vinha piorando já fazia um mês. Então o
oncologista prescreveu um novo plano de sessões de quimioterapia e me manteve
nesse plano. Ele estava muito confiante de que esse tipo de tratamento poderia me
dar cinco ou seis anos. No entanto, meu desejo era que o Senhor agisse à sua
maneira em minha vida. Qualquer que fosse a vontade do Senhor, eu estaria bem.
Os seus planos para mim são muito melhores que os meus.”
Quando questionado sobre suas fontes de maior alegria nesses momentos de
incerteza, ele disse: “Quase tudo me trouxe muita alegria. Eu não sei o que é ficar
triste. É verdade, eu às vezes choro com minha esposa, mas o que mais temos
feito é antecipar a eternidade. Penso no que vai ser passar a eternidade com minha
família e desfrutar a salvação. Essas coisas me trazem imensa felicidade. Procuro
imaginar em detalhes como será o Céu, após a ressurreição, e os eventos que se
sucederão por toda a eternidade. Fico contemplando também a vida de Cristo,
especialmente as últimas horas de sua experiência na Terra. Minha sincera oração
hoje é: ‘Senhor, sei que vais me ajudar assim como me ajudaste em toda a minha
vida, em todas as dificuldades pelas quais passei.’’’
O mesmo Deus que trouxe alegria ao rei de Israel concedeu a Bob Stumph a
emoção de antever as alegrias da eterna salvação, conforme nos diz o salmista:
“Fizeste dele uma grande bênção para sempre e lhe deste a alegria da tua
presença” (Sl 21:6). Realmente, Deus esteve presente na vida de Bob, ao longo
de toda a sua existência, e mais pessoalmente nos últimos meses difíceis por que
passou. Da mesma forma, o Senhor está disposto a abençoar e guiar toda pessoa
que deseja permitir que Ele atue em sua vida e, portanto, venha a experimentar a
alegria da salvação, mesmo em meio a este mundo cheio de pecado e sofrimento.
Estudaremos neste capítulo os benefícios que a alegria cristã, a felicidade e a
gratidão podem proporcionar ao crente, na doença e na saúde, e em quaisquer
outras circunstâncias. A Voz que exclama “Alegrai-vos!” ressoa candente do início
ao fim das Escrituras, pois Deus deseja que seus filhos sejam alegres e vivam livres
da tristeza, do pesar e do desânimo, que podem facilmente surgir em nossa vida.
A religião e a alegria
De acordo com o General Social Survey (GSS) dos Estados Unidos, nos anos de
1972 a 2008, 48% das pessoas que frequentavam os cultos da igreja mais de uma
vez por semana classificaram a si mesmas como “muito felizes”, mas somente 26%
daqueles que nunca iam aos cultos religiosos afirmaram ser “muito felizes”. Que a
religião traz alegria a quem é fiel é algo óbvio para os que são religiosos. Embora
esse fato não seja sempre tão óbvio aos outros, a comunidade científica está
utilizando as ferramentas das ciências médicas e sociais para descobrir a mesma
verdade que os fiéis já sabem por experiência de vida. Ao longo das duas últimas
décadas, Harold Koenig, em sua pesquisa de análise sobre religião e saúde,
encontrou pelo menos 326 estudos quantitativos sobre a relação que existe entre a
1
religião, a espiritualidade (R/E) e a sensação de bem-estar. Dos 120 estudos
considerados metodologicamente os mais rigorosos, 82% revelaram que maior
felicidade, satisfação com a vida e uma sensação mais ampla de que a vida é boa
foram sentimentos encontrados naqueles que tinham mais elevado nível de R/E.
Ao buscar por estudos na área da religião e da depressão, que é o extremo
oposto da alegria, Koenig encontrou 444 estudos quantitativos, realizados de 1990
a 2010. Um total de 61% dos estudos afirmam que menos depressão ou mais
rápida recuperação da depressão eram obtidas por meio da intervenção religiosa.
Em contraste, apenas 6% relataram haver maior depressão naqueles que eram mais
religiosos. Os restantes 33% encontraram correlações, mas eram muito pequenas
2
para serem consideradas estatisticamente.
O estudo empírico da religião e da felicidade remonta a mais de meio século. O
mais antigo estudo que encontrei era de 1957, quando C. T. O’Reilly fez uma
3
pesquisa aleatória entre católicos romanos de Chicago. Nesse estudo, ele
descobriu que a felicidade estava relacionada à religiosidade. Classificou os
participantes de acordo com o nível de atividade religiosa e pediu a eles que
avaliassem a si mesmos em uma série contínua de três classificações de felicidade
(muito feliz – moderadamente feliz – pouco feliz). Dentro do grupo “muito
feliz”, ele constatou que 55% eram “mais ativos” do ponto de vista religioso,
enquanto 34% estavam no nível “médio” de atividade religiosa, e apenas 11% dos
“muito felizes” eram “menos ativos” na esfera da religião. Esse estudo foi um
passo revolucionário ao indicar, de modo geral, que o envolvimento religioso
poderia ser uma fonte de felicidade. A partir de então, muitas pesquisas têm sido
desenvolvidas, apresentando repetidamente a confirmação de que a religiosidade e
a felicidade andam juntas.
Vejamos alguns exemplos. Kristopher Gauthier e a equipe de pesquisas da
Universidade de Wake Forest, em Winston-Salem, na Carolina do Norte, Estados
Unidos, analisaram mulheres e homens provenientes de três setores: classes de
formandos de (1) uma pequena faculdade de Artes Liberais do Centro-Oeste; (2)
ex-alunos da mesma faculdade; e (3) membros de igreja de várias congregações da
4
área metropolitana de Detroit. Os pesquisadores estavam interessados não
apenas na religiosidade geral relacionada a uma interface de vida satisfatória, mas,
de forma particular, em como as dúvidas religiosas se ajustavam à equação.
Entendia-se por dúvidas religiosas as incertezas ou controvérsias quanto aos
ensinos religiosos tradicionais, o sentimento de que a religião não tornava as
pessoas realmente melhores, ou o sentimento de que os ensinos religiosos, em
geral, eram contraditórios ou não faziam sentido. As descobertas indicaram que os
altos níveis de religiosidade estavam associados com os altos níveis de satisfação na
vida e que elevada quantidade de dúvidas religiosas estava relacionada à baixa
satisfação na vida. Isso não significa que as dúvidas eram interpretações erradas,
mas, no processo para resolvê-las, podiam causar dissonância cognitiva ou gerar
um sentimento de vergonha ou culpa capaz de interferir no nível de satisfação
com a vida. Por esse estudo, foi constatado também que as mulheres mantinham
um índice mais elevado de religiosidade que os homens, o que normalmente
acontece. Uma outra questão é que os homens tiveram maior pontuação quanto a
dúvidas religiosas que as mulheres.
A maioria das pesquisas sobre religiosidade, espiritualidade, felicidade pessoal,
bem-estar subjetivo e outras nessa área era proveniente dos Estados Unidos. No
entanto, descobri mais do que esperava em outros países – alguns estudos eram de
pesquisadores norte-americanos que se concentraram em populações estrangeiras,
outros realizados diretamente por pesquisadores de outros países. Por exemplo,
encontrei um estudo que foi conduzido por Christopher Lewis, da Universidade
de Ulster, em Londonderry, na Irlanda do Norte, que analisou a conexão
existente entre o enfrentamento religioso, o uso da estratégia religiosa para
5
enfrentar os problemas, e a felicidade. Esses pesquisadores coletaram dados
utilizando o amplamente aceito Questionário da Felicidade Oxford, como
também avaliações da personalidade, orientação religiosa e o enfrentamento
religioso. Eles descobriram orientações religiosas intrínsecas e inter-relações de
felicidade, bem como conexões entre o enfrentamento religioso positivo e a
felicidade. A mais forte das duas associações foi a da religião intrínseca e a
felicidade. Pessoas que dedicaram maior quantidade de tempo à meditação e à
oração (ao contrário de “é bom ir à igreja porque lá posso fazer amigos”)
apresentaram os mais altos níveis de felicidade. Da mesma forma, a felicidade foi
obtida pelo enfrentamento religioso, conforme demonstrado por aqueles que se
apoiavam em declarações como: “Eu mantenho meu foco na religião para não ter
que me preocupar com os problemas” ou “Eu sei que Deus não me abandona”.
Estatisticamente, além dessas duas descobertas, a mais forte conexão foi a da
religião intrínseca. De acordo com esse estudo, às vezes, mantemos muito o foco
no aspecto social da religião, que traz alegria ao crente, mas são os encontros
realizados a sós com o Senhor que podem ser até mesmo mais gratificantes e
poderosos.
Um encontro pessoal com nosso Deus, um diálogo face a face, é a mais
significativa experiência para o crescimento espiritual. Isso me faz lembrar o valor
do aconselhamento pessoal no campo da educação. Não importa quantos métodos
de ensino surjam, e por melhores que sejam em relação aos outros, o ensino
individual de boa qualidade é o mais eficaz. No departamento em que trabalho na
universidade, está em andamento um projeto com crianças de uma comunidade
carente em Walla. As crianças dessa comunidade, por serem aprendizes da língua
inglesa, têm dificuldades para aprender a ler. Nossos alunos da área de Educação
vão até lá regularmente. Eles ajudam essas crianças, assentando-se com cada uma,
ouvindo-as e orientando-as durante o complicado processo do desenvolvimento
da alfabetização. Estamos certos também de que essas crianças irão ver Jesus por
intermédio do trabalho realizado por seus tutores. Nossos encontros com o
Senhor são realmente momentos especiais para desenvolvermos o misterioso e
miraculoso processo do crescimento em Cristo.
O autor Emir Williams, da Unidade de Pesquisas Sobre Religiões e Educação
Warwick, do Instituto de Educação da Universidade de Warwick, no Reino
Unido, realizou, com sua equipe, um estudo com uma amostragem da região
6
transeuropeia. Esse grupo analisou a felicidade e a satisfação com a vida nos
participantes do estudo, de acordo com os vários níveis de estado civil e
frequência aos cultos religiosos. A análise dos dados coletados revelou elevados
níveis de satisfação total com a vida e sentimentos de maior felicidade nos
subgrupos que frequentavam os cultos religiosos regularmente. Esse fato foi
confirmado mesmo após o controle de importantes variáveis (idade, sexo e estado
civil) que, como se sabe, influenciam o estado de felicidade. Novamente,
podemos ver o cumprimento das promessas de Deus aos que atendem às suas
orientações: “Grandes coisas fez o Senhor por nós, por isso estamos alegres” (Sl
126:3, ARA).
Para compensar a maioria de estudos realizados com cristãos, um grupo de
pesquisadores da Universidade Estadual de Bowling Green, em Ohio, nos Estados
7
Unidos, analisou uma amostra de participantes judeus. O alvo desse estudo foi
pesquisar o papel da religiosidade judaica sobre a ansiedade, a depressão e a
felicidade. Os participantes responderam a questões como: “Numa escala de 0-7,
de maneira geral, considero-me uma pessoa ‘não muito feliz’ até ‘muito feliz’.”
Outra questão era a seguinte: “Algumas pessoas geralmente são muito felizes. Elas
apreciam a vida a despeito do que acontece, desfrutando e tirando o máximo
proveito de tudo. Até que ponto você se encaixa nessa descrição?” Os
participantes optavam por itens de 1 a 7, variando de “não muito” a
“totalmente”. Os resultados revelaram que os mais elevados níveis de confiança
em Deus estavam associados a altos índices de felicidade pessoal. Foi observado
também que um nível maior de confiança estava relacionado a menores índices de
ansiedade e depressão, demonstrando novamente o toque benéfico da fé tanto em
relação à felicidade quanto ao bem-estar.
Como a fé promove a alegria
Os mecanismos pelos quais as crenças e práticas religiosas fazem com que muitas
pessoas se sintam mais alegres e satisfeitas com a vida não são realmente
conhecidos. Entretanto, há inúmeras explicações que são produto da observação e
da lógica. A síntese delas será apresentada nos próximos parágrafos.
Os grupos religiosos possuem um conjunto ou rede de relacionamentos sociais
que lhes servem de apoio por natureza. Os membros das comunidades religiosas
partilham suas crenças e práticas, sentindo-se confortáveis e mantendo bons
relacionamentos uns com os outros. De modo geral, as religiões promovem o
altruísmo e a boa disposição de o indivíduo voluntariamente deixar de atender às
próprias necessidades para ajudar outros. Portanto, as igrejas normalmente
promovem ambientes atrativos à comunidade, onde as pessoas entram e ali
permanecem, abrigando dentro delas um sentimento de pertencer, de satisfação e
alegria.
Embora possa variar bastante entre as denominações e as diversas religiões, os
grupos religiosos geralmente promovem estilos de vida saudáveis com relação ao
regime alimentar, exercícios, formas de entretenimento e outros relacionados à
comunidade religiosa. As recomendações e ensinos apresentados desestimulam as
pessoas a envolverem-se em comportamentos de risco e nos vícios. Todos esses
fatores previnem contra a degeneração da saúde e tornam seus seguidores mais
felizes, pessoas mais satisfeitas com a vida.
Essas recomendações relacionadas ao comportamento não se limitam apenas à
saúde física, estendendo-se também à saúde mental. As crenças religiosas
promovem princípios e virtudes como amor, perdão, empatia, autocontrole,
honestidade, contentamento, e desestimulam o ódio, a suspeita, a cobiça, a fraude,
a falsidade e a intemperança. Esses princípios favorecem o desenvolvimento de
um estado de espírito mais equilibrado, proporcionando, consequentemente,
maior satisfação na vida.
Além de tudo isso, as pessoas religiosas mantêm um relacionamento pessoal com
Deus. Esse relacionamento faz com que se sintam abençoadas, sabendo que
podem se arrepender de seus pecados e obter o perdão, prevenindo assim estados
deletérios como a culpa e o remorso. Podem olhar para o futuro com esperança
em vez de desespero, com o senso da direção divina que traz consolação e paz em
sua vida. Estar perto de Deus proporciona também o sentimento de que estão
sendo guiadas em cada passo da vida. A ligação com Deus é ainda uma
salvaguarda contra a devastação causada pelas provações, perdas, tristezas e
sofrimentos porque, mesmo quando essas coisas acontecem, o fiel servo de Deus
pode encontrar propósito e esperança para sua vida por saber que Deus é real e
que seu amor também é verdadeiro. No cristianismo, temos o supremo dom da
salvação, por meio da mediação feita por Cristo Jesus ao pecador para toda
transgressão humana.
A música também é uma grande fonte de alegria. Pode ser não somente
agradável, mas também terapêutica e de edificação espiritual. A melodia e a letra
de um hino ou cântico podem transformar alguém deprimido em uma pessoa de
espírito alegre rapidamente. Como a boa música é uma parte bastante importante
da adoração, as pessoas religiosas têm mais oportunidades de desenvolver e manter
esse estado de espírito alegre.
Finalmente, as pessoas de fé percebem que há ordem e sentido no universo.
Quando veem o mal, podem explicá-lo como sendo fruto do pecado, e que um
dia terá fim porque Deus fez as devidas provisões para salvar e transformar as
pessoas que aceitam a salvação em Jesus e o seguem. Crenças como essas
protegem as pessoas contra o desespero e oferecem uma perspectiva mais
agradável da vida, tanto para o presente como para o futuro.
Em síntese, a presença de Deus na vida das pessoas pode transformar o
sofrimento e trazer de volta a alegria: “Tornaste o meu pranto em regozijo, tiraste
o meu cilício, e me cingiste de alegria” (Sl 30:11, AA).
Saúde e alegria
Em sua última mensagem de Ano-Novo, a cirurgiã-geral Regina Benjamin
delineou algumas sugestões de mudança e escreveu o seguinte: “Um
comportamento saudável deve ser alegre. Meu desejo é devolver a alegria à saúde,
alegria para as pessoas e alegria para os profissionais. Jamais subestimem o poder da
8
alegria e da saúde!” Ellen G. White descreve atitudes específicas que podem nos
proteger das doenças: “Gratidão, regozijo, benignidade, confiança no amor e no
cuidado de Deus – eis as maiores salvaguardas da saúde. Elas deviam ser, para os
9
israelitas, as notas predominantes da vida.”
Como a alegria pode proporcionar saúde? Por um lado, a infelicidade crônica
desperta a resposta ao estresse, que mantém a pessoa em alerta, mas aumenta a
pressão sanguínea e baixa a imunidade, tornando o organismo vulnerável. Em
contraste, o estado de felicidade induz ao bom-humor, estimula e fortalece o
sistema imunológico, reduzindo, portanto, as chances de infecções e protegendo o
corpo de enfermidades crônicas. Além disso, pessoas felizes têm mais motivação
para cuidar da melhor forma possível de sua saúde: dão mais atenção ao regime
alimentar e à manutenção do peso, aos exercícios e fazem uso de todos os recursos
disponíveis para obter melhores condições físicas. Pessoas alegres tendem a ser
otimistas e processam as dificuldades que enfrentam de maneira mais positiva que
pessoas negativistas. Com isso, o mais provável é que não abriguem pensamentos
catastróficos, precursores da depressão. Uma pessoa alegre é normalmente mais
bem aceita pelos outros e sua rede de relacionamentos sociais, um fator
importante para a saúde, pois acaba sendo mais estável e de maior qualidade em
comparação com os relacionamentos sociais de pessoas pessimistas.
Uma das melhores análises a respeito da felicidade como um poderoso fator de
saúde foi feita por Ruut Veenhoven, um sociólogo da Universidade Erasmus, em
10
Rotterdam, na Holanda. Nesse estudo, a felicidade se destaca como um forte
indicador de longevidade em populações saudáveis. As consequências do estado
de infelicidade foram consideradas nesse estudo como tendo os mesmos efeitos do
fumo em uma pessoa que fuma continuamente. Veenhoven escolheu os melhores
estudos, de acordo com os métodos utilizados, todos longitudinais, conduzidos
em áreas de população normal. Foram realizados nos Estados Unidos, Japão,
Alemanha, Suécia, Finlândia, Canadá, Inglaterra e Holanda. Tiveram seu foco
dirigido a 24 tipos de resultados, dezesseis dos quais mostraram os efeitos positivos
da felicidade sobre a longevidade; oito também foram positivos, mas não
estatisticamente significativos, e não houve nenhum resultado negativo. A atitude
de completa felicidade acrescentou de sete anos e meio a dez anos de vida – o
mesmo resultado acrescentado para uma pessoa vegetariana!
O efeito mais significativo da alegria sobre a saúde e a longevidade é
encontrado em uma pesquisa que teve como título “Nun Study” [Estudo
Realizado com Freiras]. Deborah Danner e outras duas colegas da Universidade
do Kentucky rastrearam uma coleção de documentos preparados há mais de seis
11
décadas para analisar os efeitos da alegria sobre a longevidade. Um grupo de
180 freiras, as quais escreveram sua autobiografia nos tempos de juventude, foi
acompanhado quando elas já estavam em idade avançada (entre 75 e 95 anos). O
estudo teve início em 22 de setembro de 1930, quando a madre superiora da
Escola de Irmãs Notre Dame, na América do Norte, enviou uma carta a todas as
irmãs solicitando que começassem a escrever a sua autobiografia. Décadas mais
tarde, esses documentos, tanto escritos à mão como datilografados, tornaram-se
uma fonte de pesquisa de valor incalculável. O grupo era composto de mulheres
que se uniram à congregação de 1931 a 1943, a maioria delas de Milwaukee, em
Wisconsin; e Baltimore, em Maryland. As autobiografias foram classificadas como:
baixo índice de emoções positivas; alto índice de emoções positivas; ou índice
neutro. O trabalho foi realizado por duas pessoas que classificaram os estudos de
maneira independente, sendo depois verificados por uma terceira pessoa, o que
possibilitou um alto grau de coerência. As autobiografias com elevado índice de
emoções positivas apresentavam uma rica descrição dos estados de alegria e
felicidade. Os responsáveis pela avaliação buscavam emoções positivas, atribuindo
os valores mais altos de acordo com a sua importância, nesta ordem: felicidade,
interesse, amor, esperança, gratidão, contentamento, e outros. Da mesma forma,
pesquisaram quais eram as emoções negativas, classificando-as nesta ordem:
tristeza, medo, desinteresse, confusão, ansiedade, e assim por diante.
Os resultados mostraram que as participantes que utilizaram uma linguagem
com grande quantidade de emoções positivas quando começaram a escrever sua
autobiografia apresentaram menor risco de mortalidade em idade mais avançada.
Em termos quantitativos, o grupo com menor quantidade de emoções positivas
tinha duas vezes e meia mais risco de mortalidade. Como esse processo funciona,
é algo ainda desconhecido. Mas apenas o fato de sabermos que as emoções
expressas no início da idade adulta (entre os 18 e os 32 anos) tornam-se um
indicador de saúde e longevidade décadas mais tarde já deveria nos ajudar a tomar
a decisão de manter o coração cheio de alegria. E não estou sugerindo que a
pessoa simplesmente passe a pertencer a uma religião para conseguir isso; na
verdade, foi constatado que algumas freiras que viveram enclausuradas, mas não
cultivaram uma atitude de alegria morreram bem antes daquelas que mantinham
um espírito alegre. Estou apresentando esse fato como um exemplo de que a
alegria pode promover a saúde, o bem-estar e uma vida mais longa. Isso se torna
muito mais profundo e significativo se essa alegria estiver alicerçada em um
contínuo relacionamento com Jesus, que pode nos conceder a maior alegria se lhe
pedirmos: “Peçam e receberão, para que a alegria de vocês seja completa” (Jo 16:24,
itálico acrescentado).
Morgan Green e Marta Elliott, da Universidade de Nevada, nos Estados
Unidos, estudaram a relação entre religião, saúde e bem-estar psicológico
12
(felicidade). Utilizaram dados da Universidade de Chicago, com base no
General Social Survey (GSS), e extraíram casos com respostas relacionadas à saúde
física, felicidade e religiosidade. No contexto da saúde e da felicidade, as
descobertas mais relevantes foram aquelas nas quais as pessoas que mantinham
uma forte identificação com suas crenças religiosas apresentaram mais altos níveis
de saúde e bem-estar (felicidade). O fato de alguém afiliar-se a uma religião, por si
só, não traz maiores níveis de saúde e bem-estar. Somente aqueles que tinham um
forte sentimento de pertencer a sua religião revelaram maior tendência de obter os
benefícios de melhor saúde e bem-estar, independentemente da religião, do tipo
de trabalho ou do apoio social e familiar. A análise dos dados revelou também que
não há conexão alguma entre a renda e a felicidade, sugerindo, mais uma vez, que
não há níveis de renda específicos que ajudem a alcançar a felicidade. Há pessoas
com altos rendimentos, bem como com níveis de renda médios e baixos que são
felizes, e há também pessoas infelizes com os mesmos níveis de renda.
A alegria parece ser um bom fator de promoção da saúde, mas, algumas vezes, a
doença toma conta, como no caso de Bob, relatado no início do capítulo. Ou
acidentes acontecem, como ocorreu no estudo a seguir. No entanto, em meio a
todas as devastadoras circunstâncias, Deus está pronto a enviar raios de esperança,
de paz e de alegria ao sofredor. O estudo realizado por Irmo Marini e Noreen
Glover-Graf, da Universidade do Texas, pesquisou como a fé trouxe felicidade a
pacientes com lesões da medula espinhal, mesmo em meio à difícil situação em
13
que viviam. Os pesquisadores entraram em contato com ex-pacientes
portadores de lesões da medula espinhal (LME).
Em 90% dos casos, essas pessoas sofriam de LME devido a acidentes de trânsito,
em quedas, praticando esportes, entre outras formas. De maneira geral, afirmavam
ser religiosas: dos 156 participantes do estudo, 19 disseram não ter religião. Os
demais relataram estar afiliados a uma religião específica. Em sua maioria, os
participantes expressaram completa satisfação para com Deus e declararam que Ele
os ajudou a lidar com a doença e a alcançar a felicidade. Embora 26% tenham dito
que ficaram revoltados com Deus por causa do problema que enfrentavam, 60%
disseram sentir-se mais perto de Deus depois que adquiriram a deficiência, 64%
acreditavam que a sua espiritualidade os havia ajudado a aceitar as condições em
que estavam, 57% tornaram-se mais ligados a assuntos espirituais e 59% tornaram-
se pessoas melhores.
Os bens materiais e a alegria
Uma das mais antigas lembranças que tenho é a de que costumava ir, com
minha mãe e minha irmã, visitar uma tia que era freira e vivia enclausurada em
um convento próximo à cidade de Madri. As visitas eram todas envolvidas em
mistério. Começava por termos que bater em uma enorme e escura porta de
madeira. Primeiramente, uma das freiras verificava quem era através de uma janela
protegida por uma pesada grade de ferro. Então uma grande chave, do tamanho
de uma faca de açougueiro, era jogada para o lado de fora para que pudéssemos
abrir a porta. Uma vez dentro, íamos até a sala da recepção onde havia dois
conjuntos de grades, distantes cerca de um metro uma da outra. As freiras ficavam
atrás de uma das grades e nós atrás da outra. Não podíamos nos tocar, somente
falar e fazer gestos com as mãos. Embora a luz fosse sempre muito fraca naquele
salão de grossas paredes com apenas duas pequenas janelas, podíamos ainda ver
alguma coisa. Se desejássemos trocar algum presente ou uma foto, ou se nos
serviam alguns dos biscoitos que faziam no convento, um tambor escuro de
madeira girava, servindo como porta entre as grades. Os objetos eram colocados
no tambor e o girávamos. Passávamos uma ou duas horas ali, que mais pareciam
um dia inteiro, e saíamos após trocar muitos sorrisos e palavras de carinho.
Nas várias visitas que fizemos a minha tia durante muitos anos, o que mais me
impressionava era a expressão de felicidade daquelas mulheres após receberem
uma vista. As décadas se passaram, algumas regras foram flexibilizadas, e pude
perceber que aquele tambor giratório havia desaparecido, as duas grades
transformaram-se em apenas uma que podia ser aberta como se fosse uma janela.
Essa foi uma grande mudança. Então, certo dia, as freiras nos convidaram para ver
o jardim e a capela onde se reuniam, e fomos até o pequeno aposento onde nossa
tia dormia. Quando vi aquele lugar tão pequeno, com uma mesinha e um armário
contendo as poucas coisas que possuía, pude perceber que a alegria nada tinha que
ver com bens materiais. Minha tia possuía apenas algumas cartas, papéis, lápis,
alguns livros, livretos de orações e um pequeno guarda-roupa com vários espaços
vazios entre os hábitos de freira. Tudo estava meticulosamente limpo e em
perfeita ordem, e, quando pegava uma de suas coisas, ela a segurava como se fosse
um gatinho, sempre com um sorriso nos lábios. Conforme disse antes, a pessoa
não tem que ser pobre para ser feliz, mas parece não haver nenhuma relação entre
a felicidade e as posses que tem.
William Swinyard, da Universidade Young Brigham, e dois outros colegas
pesquisaram a relação entre a felicidade, o materialismo e o papel da religião sobre
14
essas duas variáveis. Com o propósito de fazer uma comparação, eles estudaram
grupos de adultos dos Estados Unidos (425 participantes) e de Cingapura (293
participantes). Em ambas as amostras, foi solicitado aos participantes que fizessem
a própria avaliação quanto ao grau de satisfação que sentiam na vida, desde
“horrível” até “muito satisfeito”, com cinco graduações entre esses dois extremos.
Avaliaram também as suas crenças no materialismo (com perguntas como: “Até
que ponto você acha que posses significam sucesso?”). Eles juntaram seus níveis
de religiosidade com declarações para avaliar situações como: “Eu tento colocar
minha religião acima de todas as outras coisas na vida.” Os resultados mostraram
as diferenças que havia entre os países: os adultos de Cingapura eram menos
felizes e mais materialistas que os adultos dos Estados Unidos. Além disso, foi
encontrada uma relação inversa entre o materialismo e a felicidade: nos dois
países, as pessoas materialistas tinham tendência a apresentar uma pontuação mais
baixa com relação às avaliações de satisfação na vida, e o oposto também foi
constatado em relação aos participantes menos materialistas. Nas palavras dos
pesquisadores, “as pessoas mais felizes pareciam ter um mundo espiritual interior
que os satisfazia mais. Era só olhar para os itens da intrínseca escala de
religiosidade para perceber isso: eles dedicam tempo aos assuntos religiosos, suas
crenças fornecem respostas, pelo menos para alguns de seus questionamentos
espirituais, procuram viver essas crenças em sua vida diária e estão plenamente
15
conscientes da presença divina.”
Conta-se que, quando Alexandre, o Grande, viu a extensão de seu domínio,
retirou-se para a sua barraca no acampamento e chorou, pois não havia mais
lugares no mundo a serem conquistados. A história, real ou não, ilustra a
futilidade do acúmulo de bens. Muita energia é dispendida em adquirir coisas e
mais coisas, e, quando alguns poucos conseguem alcançar o topo, a felicidade não
está lá.
A Bíblia não condena a posse de bens materiais. Há vários personagens do
Antigo Testamento, como Abraão, Jacó e Davi que se tornaram muito ricos, e
isso porque Deus lhes concedeu muitas bênçãos. José de Arimateia, no Novo
Testamento, foi um discípulo de Jesus, homem rico, que providenciou um novo
túmulo para colocar o corpo do Senhor. Em Provérbios, também é dito que a
sabedoria é capaz de trazer “riquezas e honra” (3:16). Ao mesmo tempo, porém,
somos aconselhados: “Se as suas riquezas aumentam, não ponham nelas o
coração” (Sl 62:10).
Escolhendo a alegria
Mihaly Csikszentmihalyi nasceu no dia 29 de setembro de 1934, no país que
atualmente é conhecido como a Croácia. À medida que crescia, ele observava que
os horrores da Segunda Guerra Mundial afetavam as pessoas de diferentes formas e
sempre quis saber as razões que havia por trás dessas diferenças. Mihalyi se
deparou com a psicologia por acaso. Viajou para Zurique, na Suíça, para se
divertir um pouco praticando esqui, mas a neve começou a derreter e não foi
possível esquiar. Ele tinha vontade de ir ao cinema, mas estava sem dinheiro. Viu
então o anúncio de uma palestra de psicologia com entrada gratuita, que seria
realizada numa daquelas noites no centro de Zurique, e decidiu ir até lá. Foi algo
fascinante para ele ouvir Carl Jung e conhecer sua interpretação a respeito de
como a guerra havia afetado o povo europeu. Seu desejo de saber mais sobre a
psicologia, as diferentes maneiras de lidar com o estresse e como alcançar a
felicidade levou-o à Universidade de Chicago, onde obteve o PhD em Psicologia.
Hoje, Csikszentmihalyi é um dos mais destacados pesquisadores do mundo sobre
a felicidade e a criatividade e, junto a Martin Seligman, tornou-se o fundador da
psicologia positiva. Ele promove a ideia de que a alegria e a felicidade são decisões
conscientes que as pessoas tomam. Para explicar o que é a felicidade, ele criou o
conceito do “fluxo”, um estado de completa absorção em uma tarefa que
representa um grande desafio e necessita de grande habilidade, constituindo-se no
maior nível de motivação intrínseca, uma situação em que a pessoa se mantém
totalmente envolvida, como é o caso de um músico fazendo uma apresentação ou
uma pessoa religiosa estudando e orando.
A escolha da alegria e da felicidade não implica numa grande decisão que irá
fazer a diferença por um longo tempo. Na realidade, pequenas decisões sobre
pequenas coisas podem explicar a alegria em toda a sua extensão. Esse é o
objetivo do estudo conduzido por Daniel Hurley e Paul Kwon, em Pullman,
16
Washington. Eles descobriram que a alegria, a felicidade e a sensação subjetiva
de bem-estar não são sentimentos mágicos, que estão fora do nosso controle. Eles
realmente nascem das pequenas coisas e têm muito que ver com as escolhas
individuais. Se soubermos como desfrutar os bons momentos e dar valor às coisas
comuns do dia a dia, que nos animam e nos elevam, não sendo indiferentes para
com elas, poderemos alcançar grande satisfação na vida e níveis muito mais
elevados de felicidade.
Esses pesquisadores da Universidade Estadual de Washington acompanharam
142 estudantes formandos em Psicologia e pediram que tecessem seus comentários
sobre o que significava para eles desfrutar o momento (prolongando ou
intensificando as emoções positivas enquanto está ocorrendo uma situação ou
evento agradável), como também sobre os sentimentos positivos e a satisfação na
vida. Duas semanas depois, os mesmos alunos apresentaram seus relatórios sobre
os momentos que trouxeram alegria e satisfação para eles (eventos positivos do dia
a dia, ocorridos nas duas semanas anteriores), os sentimentos positivos que
observaram e a satisfação na vida. Estas foram as duas principais descobertas feitas
por meio desse estudo:
1. Aqueles que foram mais capazes de desfrutar o momento demonstraram altos
níveis de sentimentos positivos e de satisfação com a vida.
2. Aqueles que foram mais capazes de identificar o maior número de “situações
positivas” experimentaram níveis mais elevados de sentimentos positivos e de
satisfação com a vida.
Esses resultados nos fazem lembrar de quantas escolhas temos que fazer para
decidir se vamos apreciar ou não determinada coisa, por mais simples que seja.
Todos podemos exercitar a arte de apreciar as coisas, experimentando-as por
antecipação, sentindo-nos bem ao imaginar os resultados que alcançaremos,
aprendendo a manter um espírito alegre ao fazer uma tarefa comum do dia a dia,
praticando a arte de guardar fatos na memória para nos lembrarmos deles mais
tarde, tendo prazer em olhar para trás e relembrar momentos felizes, e revivendo a
alegria das lembranças agradáveis do passado.
O que esse estudo considerou ser motivo de alegria e bem-estar não foram os
momentos de euforia e entusiasmo, mas o fato de se encontrar alegria nas coisas
do dia a dia, ao realizar um trabalho, receber ou dar apoio a alguém, conversar
com uma pessoa ou observar as coisas que normalmente acontecem ao nosso
redor. Isso nos lembra da oportunidade que temos de processar os acontecimentos
diários como eventos realmente positivos, recompensadores e enaltecedores. Em
um outro estudo, os mesmos autores treinaram os participantes para que
17
aumentassem os resultados positivos e reduzissem os negativos. Por
comparação, eles descobriram que o grupo de intervenção experimentara uma
expressiva redução nos sintomas depressivos e sentimentos negativos que o grupo
de controle não obteve, mostrando que ser alegre não é uma questão de sorte
nem se deve a fatores relacionados à personalidade ou hereditariedade; ao
contrário, é algo que pode ser ensinado e aprendido.
A pessoa de fé pode utilizar meios adicionais e mais confiáveis, como os que são
concedidos por Deus, pois Ele nos assegura do interesse que tem por seus filhos,
que, por sua vez, podem desfrutar a alegria para fazer face à tristeza e enfrentar a
angústia, a miséria e o sofrimento. Dessa maneira, seus seguidores podem se
apegar firmemente às promessas das Escrituras: “Tu me farás conhecer a vereda da
vida, a alegria plena da tua presença, eterno prazer à tua direita” (Sl 16:11).
Podem afirmar com o coração agradecido: “Sim, coisas grandiosas fez o Senhor
por nós, por isso estamos alegres” (Sl 126:3). E mesmo quando as coisas não vão
bem, Deus estará ao nosso lado para nos trazer alegria: “Quando a ansiedade já me
dominava no íntimo, o teu consolo trouxe alívio à minha alma” (Sl 94:19).
A atitude de gratidão
Ao preparar este livro, pedi a permissão de alguns velhos amigos para contar
suas experiências como parte introdutória de cada capítulo. De maneira muito
espontânea e sincera, reafirmei a um deles como estava agradecido pelas palavras
que me dissera algumas décadas no passado e o impacto que haviam causado em
minha vida, especialmente em minha jornada espiritual. Ele reagiu de maneira
muito agradável e me fez recordar do sólido fundamento religioso que possuía.
Após a conversa que tive com meu amigo naquela manhã, senti uma grande
alegria, enchi-me de energia, esperança e um estado de bem-estar geral pelo
restante do dia. Sei que emoções positivas como essas não ocorrem apenas pela
troca de boas lembranças, pois tenho conversado com velhos amigos e não senti a
mesma coisa. Estou certo de que minha alegria veio por ter expressado sincera
gratidão e verdadeira apreciação por algo precioso que recebi há muitos anos no
passado.
Mencionei também o nome de Sonja Lyubomirsky no capítulo sobre os
benefícios do serviço. Ela é chefe do laboratório de pesquisas sobre Psicologia
Positiva na Universidade da Califórnia, em Riverside, nos Estados Unidos. Seu
livro A Ciência da Felicidade explica, de modo prático, como aumentar a felicidade
18
por meio de inúmeras atividades e formas de comportamento – 12 ao todo.
Ela escolheu essas atividades não por conjectura ou pelo senso comum, mas
porque foi constatado que estavam relacionadas à felicidade, de acordo com
estudos científicos realizados. A atividade número um é expressar gratidão.
Em parceria com seus alunos de doutorado, Lyubomirsky elaborou um
experimento para descobrir o efeito causado por um simples exercício de gratidão
sobre a felicidade dos participantes. Eles instruíram o grupo a escrever (todo
sábado à noite, por várias semanas) cinco coisas pelas quais estavam agradecidos
durante a semana que passou. Instruíram também outro grupo a fazer o mesmo,
porém de maneira mais frequente – às terças, quintas e aos domingos. Todos
fizeram a avaliação do grau de felicidade, antes e depois da intervenção. Os
resultados mostraram que o aumento mais significativo nos níveis de felicidade,
antes e após a intervenção, foi naqueles que “contavam suas bênçãos”
semanalmente. Foi interessante notar que aqueles que expressavam sua gratidão
em dias alternados não apresentaram resultados significativos. Por que eles não
apresentaram crescimento? A explicação mais provável é a de que uma expressão
de verdadeira apreciação precisa ser autêntica, e quando alguma coisa é feita
frequentemente, pode se tornar rotina, apenas um hábito ou uma tarefa a ser
cumprida, e perder sua eficácia.
Como atividade regular, Lyubomirsky pede a seus alunos de Psicologia para
escreverem uma carta de gratidão a qualquer pessoa que desejarem e depois
explicar a sua experiência. Nicole, uma das alunas, fez uma carta à sua mãe e
depois disse: “Eu me sentia dominada pelo sentimento de felicidade. […]
Enquanto estava digitando a carta, pude sentir meu coração batendo cada vez
mais rápido. […] Quando estava chegando quase ao fim, enquanto lia o que já
havia escrito, meus olhos se encheram de lágrimas e fiquei com um nó na
garganta. Percebi que o sentimento de gratidão por minha mãe havia me tocado a
19
tal ponto que as lágrimas corriam pela minha face.” Alguns dias depois,
enquanto fazia as tarefas de escola em seu computador, Nicole estava chateada e
frustrada com a grande quantidade de trabalhos que tinha para terminar e resolveu
ler a carta de apreciação à sua mãe novamente. Em segundos, estava sorrindo. Foi
incrível a rapidez com que ela voltou a se sentir feliz e menos estressada ao ler a
carta outra vez.
Em outro estudo, Steven Toepfer desenvolveu um projeto em que os
20
participantes tiveram que escrever cartas de gratidão. Foram selecionados,
aleatoriamente, participantes de três campi de uma grande universidade do
Centro-Oeste dos Estados Unidos. A equipe de Toepfer incluiu não só os alunos,
mas também os membros da comunidade da universidade em geral. Eles foram
instruídos a escrever cartas de apreciação a uma pessoa real, expressando sua
gratidão. As cartas não deveriam conter assuntos triviais. Deveriam expressar
gratidão e ser entregues em envelope selado ao pesquisador para que ele as
colocasse no correio. Os participantes também concluíram as avaliações sobre a
gratidão, satisfação, felicidade e depressão, feitas no início e no fim do
experimento. Os resultados mostraram o seguinte:
1. Aumento significativo quanto à felicidade, satisfação na vida e sentimento de
gratidão ao longo do período de quatro semanas de teste e reteste.
2. Uma expressiva redução dos sintomas depressivos ao longo do mesmo
período.
3. Pontuações significativamente mais altas do que no grupo de controle (os
que fizeram as avaliações, mas não escreveram as cartas de gratidão), quanto ao
bem-estar e pontuações mais baixas de mal-estar.
Chiara Ruini e Francesca Vescovelli, psicólogas italianas da Universidade de
Bologna, trabalharam com uma amostra de 67 mulheres com câncer de mama no
21
Centro Para o Câncer de Mama do Hospital Santa Croce, em Loreto, na Itália
As mulheres que cultivavam o espírito de gratidão mostraram ter sido mais bem-
sucedidas no processo de crescimento pós-traumático. Tiveram também níveis
mais elevados de bem-estar, relaxamento e contentamento que as mulheres que
praticavam pouca ou nenhuma atitude de gratidão.
Isaías 61 foi a profecia lida por Jesus no primeiro registro que temos a respeito
de suas pregações na sinagoga de Nazaré (Lc 4:18, 19). Embora o Novo
Testamento faça referência aos dois primeiros versos apenas, o mesmo texto traz
até o presente belas promessas de esperança e da eternidade: “Em lugar da
vergonha que sofreu, o meu povo receberá porção dupla, e ao invés da
humilhação, ele se regozijará em sua herança; pois herdará porção dupla em sua
terra, e terá alegria eterna” (Is 61:7).
Certamente, essa herança citada na promessa irá nos trazer muito mais do que
jamais poderíamos esperar – uma porção dupla; e o resultado será “alegria eterna”.
Na vida real, heranças não trazem bens eternos. Na maioria das vezes, significam
aborrecimentos, desapontamentos e brigas familiares. Uma grande lição sobre os
verdadeiros valores que envolvem uma herança pode ser aprendida por meio de
uma parábola contemporânea, contada por Jim Stovall, em seu livro The Ultimate
22
Gift [O Último Presente].
A história pode ser assim resumida: Red Stevens, magnata do petróleo, morreu
bastante idoso. Quando os advogados leram seu testamento para os herdeiros, a
declaração mais surpreendente foi a de que ele havia deixado para Jason, o
sobrinho-neto de 24 anos de idade, o último presente. Antes, porém, de receber a
sua herança, o jovem teria que realizar doze tarefas mensais no prazo de um ano.
Cada tarefa era um precioso “presente” não material: trabalho, amigos,
conhecimento, problemas, família, riso, doação, sonhos, etc. Mesmo sendo um
jovem temperamental egoísta, que nunca havia trabalhado, concordou em seguir
as instruções e, por meio das provas e aflições pelas quais passou durante todos
aqueles meses, percebeu que estava ocorrendo nele uma mudança de caráter.
Um desses presentes era a gratidão. Red tinha um velho amigo dos tempos da
Grande Depressão. Ele era um andarilho, um mendigo, muito sábio e que possuía
ricas experiências de vida. Embora vivesse vagando, sem ter onde morar, nunca
havia tido um dia ruim. Seu segredo vinha de sua mãe e recebeu o nome de “A
Lista Dourada”. Seu dever consistia em olhar cada dia, antes de se levantar, para
uma placa dourada onde estavam escritas dez coisas pelas quais ele deveria ser
grato. O mendigo passou-a para Red, que praticou diariamente o que nela estava
escrito pelo resto de sua vida. Ele estava passando a Jason, então, o mesmo legado.
Jason começou a praticar a gratidão, assim como as demais virtudes, e obteve os
prometidos benefícios.
Ao fim de suas “lições”, Jason deu seu testemunho ao advogado, dizendo quão
maravilhosos haviam sido os presentes dados por seu tio-avô. Eles mudaram sua
vida totalmente e sua visão havia sido completamente renovada. Cheio de alegria
e gratidão, Jason estava já saindo do escritório do advogado, que o chamou de
volta para lhe mostrar o último vídeo gravado por Red Stevens. O tio declarou
seu orgulho por Jason ter chegado a esse ponto. Isso aconteceu porque Jason
havia apreciado todos os doze presentes. O último presente consistia de um fundo
fiduciário de caridade de Red Stevens, de mais de um bilhão de dólares. Foi
passado a Jason o controle total do fundo que era destinado ao sustento do Lar
Stevens Para Meninos, do Programa da Biblioteca Stevens, de diversos programas
de bolsas de estudo, hospitais e para qualquer outro programa que Jason
considerasse importante.
Ellen White faz uma poderosa declaração sobre a gratidão, a saúde e a
depressão, que li pela primeira vez em um pedaço de papel laminado na mesa de
um colega. Diz assim: “Coisa alguma tende mais a promover a saúde do corpo e
da alma do que um espírito de gratidão e louvor. É um positivo dever resistir à
melancolia, às ideias e sentimentos de descontentamento – dever tão grande como
23
é orar.”
Conclusão
Há alguns anos, uma edição especial da National Geographic publicou, como
matéria de capa, o artigo “Os Segredos da Longa Vida”, no qual destaca três
grupos de pessoas como as mais longevas e mais saudáveis da Terra: os moradores
de Ogimi, em Okinawa, no Japão; os Silanus, na Ilha Sardenha, Itália; e os
adventistas de Loma Linda, na Califórnia, Estados Unidos. Entre vários outros
detalhes, diz a reportagem que os moradores da Ilha Sardenha vivem em um
clima ameno e agradável, dividem as cargas do trabalho com o cônjuge e comem
alimentos com ômega-3. Sobre os de Okinawa, o artigo relata que eles mantêm
fortes laços familiares e de amizade ao longo de toda a vida, alimentam-se com
pequenas porções e procuram encontrar um propósito para a vida. A respeito dos
adventistas do sétimo dia, o artigo diz que eles comem castanhas em geral e
leguminosas, observam o sábado e cultivam a fé. O ponto comum entre os três
grupos é que eles colocam a família em primeiro lugar, não fumam, são pessoas
ativas, mantêm-se socialmente envolvidos, comem frutas, verduras, hortaliças e
grãos integrais. Os dois primeiros vivem em áreas rurais e não são necessariamente
comunidades espirituais, mas o terceiro é um grupo distintamente religioso, em
que a fé é um elemento fundamental. Essa foi uma excelente oportunidade para a
Igreja Adventista do Sétimo Dia ser apresentada como um grupo abençoado por
manter um estilo de vida saudável, associado à sua religiosidade e comunhão com
Deus.
Dan Buettner, o autor da reportagem, faz uma descrição bastante detalhada da
vida diária dessas pessoas e encerra o texto com uma frase que resume seus
encontros com essas pessoas centenárias, enfatizando as emoções positivas que os
acompanham até o fim de sua existência: “Depois de haver entrevistado mais de
cinquenta centenários em três continentes, achei-os todos muito simpáticos; não
24
havia nenhum idoso mal-humorado no grupo.”
O fiel servo de Deus pode passar por tempos de turbulência em sua vida. Isso
faz parte da jornada na Terra. No entanto, ao contemplarmos o cenário em seu
todo, confiando firmemente nas promessas de Jesus, nossa perspectiva mudará
completamente e nos encherá de alegria. O apóstolo Pedro descreve esse quadro
de maneira suprema:
Nisso vocês exultam, ainda que agora, por um pouco de tempo, devam ser
entristecidos por todo tipo de provação. Assim acontece para que fique
comprovado que a fé que vocês têm, muito mais valiosa do que o ouro que
perece, mesmo que refinado pelo fogo, é genuína e resultará em louvor, glória
e honra, quando Jesus Cristo for revelado. Mesmo não o tendo visto, vocês o
amam; e apesar de não o verem agora, creem nele e exultam com alegria
indizível e gloriosa, pois vocês estão alcançando o alvo da sua fé, a salvação das
suas almas (1Pe 1:6-9).
Questões Para Estudo
• Use a internet ou vá à biblioteca mais próxima para encontrar os princípios
básicos da “psicologia positiva”. Como a compreensão dos psicólogos que
estudam a psicologia positiva se difere do conceito de alegria apresentado na
Bíblia? Em que é semelhante? Como você pode se prevenir contra a influência
exercida pelos conceitos mundanos e, ainda assim, se beneficiar do que eles
oferecem de útil para um cristão?
• Habacuque 3:17 apresenta um cenário extremo de falta de alimento e de
meios para sobreviver. Qual seria a maneira de sair dessa situação, de acordo com
os versos 18 e 19? Qual deveria ser a sua oração agora ao se preparar para os
tempos de escassez, para que mesmo em tal situação possa regozijar-se no Senhor?
• Lucas 10:21 fala de Jesus se regozijando no Espírito (cheio de alegria e
contentamento). O que isso significa? Como esse regozijo pode ser comparado à
alegria humana?
Aplicação
• Decida ser uma pessoa alegre pelo restante do dia. Respire bem
profundamente e diga ao Senhor que decidiu ser alegre hoje. Peça então a Ele
para lhe ajudar a alcançar esse objetivo.
• Sempre que você se sentir triste, procure observar o tipo de pensamentos,
conversas e lembranças que teve ou de leituras feitas anteriormente. Ore para que,
de alguma forma, encontre uma solução para essas coisas que perturbam seu
estado de espírito ou peça a Deus forças para colocá-las de lado, caso nada possa
ser feito.
• Você consegue se lembrar de uma ou mais pessoas cujas palavras ou atitudes
foram uma bênção em sua vida? Faça uma carta ou e-mail de agradecimento e
envie a essas pessoas. Tome tempo para expressar sua apreciação por elas e veja
quais são seus sentimentos depois.
1
Harold G. Koenig, Spirituality and Health Research (West Conshohocken, PA: Templeton Press, 2011), p.
15, 16.
2
Ibid., p. 17.
3
C. T. O’Reilly, “Religious Practice and Personal Adjustment of Older People”, Sociology and Social
Research 42 (1957), p. 119-121. Participaram do estudo 108 homens e 102 mulheres.
4
Kristopher J. Gauthier et al., “Religiously, Religious Doubt, and the Need for Cognition: Their
Interactive Relationship With Life Satisfaction”, Journal of Happiness Studies 7 (2006), p. 139-154.
Participaram do estudo 123 mulheres e 65 homens de 18 a 78 anos de idade, com idade média de 32 anos.
5
Christopher A. Lewis et al., “Religious Orientation, Religious Coping and Happiness Among UK
Adults”, Personality and Individual Differences 38 (2005), p. 1193-1202. Foram inscritos 138 adultos do Reino
Unido para esse estudo, sendo 55 homens e 83 mulheres.
6
Emyr Williams et al., “Marriage, Religion and Human Flourishing: How Sustainable is the Classic
Durkheim Thesis in Contemporary Europe?” Mental Health, Religion & Culture 13 (2010), p. 93-104. O
grupo de amostragem consistiu de 20.383 pessoas da Grã-Bretanha, Itália, Holanda, Irlanda do Norte,
Espanha e Suécia. Os dados foram coletados em três etapas, com uma entrevista individual com participantes
de 18 anos para cima.
7
David H. Rosmarin et al., “The Role of Religiouness in Anxiety, Depression, and Happiness in a Jewish
Community Sample: A Preliminary Investigation”, Mental Health, Religion & Culture 12 (2009), p. 97-113.
Os autores inscreveram 565 participantes, numa proporção de 42% de homens para 58% de mulheres. A
média de idade foi de 37 anos, variando entre os 17 e 77 anos.
8
Regina M. Benjamin, “Surgeon General Benjamin: Put the Joy Back Into Health”, vídeo publicado no
YouTube, acessado em 24 de junho de 2013. Disponível em:
http://www.surgeongeneral.gov/videos/2012/01/joy-back-back-in-health.html.
9
Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1997), p. 281.
10
Ruut Veenhoven, “Healthy Happiness: Effects of Happiness on Physical Health and the Consequences
for Preventive Health Care”, Journal of Happiness Studies 9 (2008), p. 449-469.
11
Deborah D. Danner et al., “Positive Emotions in Early Life and Longevity: Findings From the Nun
Study”, Journal of Personality and Social Psychology 80 (2001), p. 804-813.
12
Morgan Green and Marta Elliott, “Religion Health and Psychological Well-Being”, Journal of Religion
and Health 49 (2010), p. 149-163. Participaram do estudo 439 homens e 561 mulheres, a maioria de origem
caucasiana, mas com representação afro-americana de 14% e hispânica de 8%.
13
Irmo Marini e Noreen M. Glover-Graf, “Religiosity and Spirituality Among Persons With Spinal Cord
Injury: Attitudes, Beliefs, and Practices”, Rehabilitation Counseling Bulletin 54 (2011), p. 82-92. Foram
pesquisados 156 participantes (94 homens e 62 mulheres).
14
William R. Swinyard et al., “Happiness, Materialism, and Religious Experience in the US and
Singapore”, Journal of Happiness Studies 2 (2001), p. 13-32.
15
Ibid., 28.
16
Daniel B. Hurley e Paul Kwon, “Savoring Helps Most When You Have Little: Interaction Between
Savoring the Moment and Uplifts on Positive Affect and Satisfaction With Life”, Journal of Happiness Studies
(2012); publicado primeiramente on-line. Disponível em: DOI:10.1007/s10902-012-9377-8.
17
Daniel B. Hurley e Paul Kwon, “Results of a Study to Increase Savoring the Moment: Differential
Impact on Positive and Negative Outcomes”, Journal of Happiness Studies 13 (2012), p. 579-588.
18
Sonja Lyubomirsky, A Ciência da Felicidade (Rio de Janeiro: Elsevier, 2008).
19
Ibid., p. 99, 100.
20
Steven M. Toepfer et al., “Letters of Gratitude: Further Evidence for Author Benefits”, Journal of
Happiness Studies 13 (2012), p. 187-201. Participaram do estudo 219 homens e mulheres com idade média
de 26 anos.
21
Chiara Ruini e Francesca Vescovelli, “The Role of Gratitude in Breast Cancer: Its Relationships With
Post-Traumatic Growth, Psychological Well-Being and Distress”, Journal of Happiness Studies (2012);
publicado primeiramente on-line. Disponível em: DOI: 10.1007/s10902-012-930-x.
22
Jim Stovall, The Ultimate Gift (Colorado Springs: Cook Communications Ministries, 2001).
23
White, p. 251.
24
Dan Buettner, “The Secrets of Long Life”, National Geographic 208 (2005), p. 2-27.
CAPÍTULO 8
OS BENEFÍCIOS DOS
RELACIONAMENTOS
INTERPESSOAIS
“Como é bom e agradável quando os irmãos convivem em
união!”
Salmo 133:1
1
J. Reavis, comunicação pessoal, 2 de dezembro de 2012.
2
Masoud Bahrami, “Meanings and Aspects of Quality of Life for Cancer Patients: A Descriptive
Exploratory Qualitative Study”, Contemporary Nurse 39 (2011), p. 75-84.
3
Kelly R. Morton, “Religious Engagement in a Risky Family Model Predicting Health on Older Black
and White Seventh-day Adventists”, Psychology of Religion and Spirituality 4 (2012), p. 298-311.
4
Neal Krause e Elena Bastida, “Church – Based Social Relationships, Belonging, and Health Among
Older Mexican Americans”, Journal for the Scientific Study of Religion 50 (2011), p. 397-409. A amostra era
composta de 663 pessoas aposentadas, de 66 anos de idade para cima (com média de 73 anos), sendo 39%
homens e 61% mulheres, 77% católicos e 23% protestantes, na média com seis anos de escolaridade.
5
Ann Skingley e Hilary Bungay, “The Silver Song Club Project: Singing to Promote the Health of Older
People”, British Journal of Community Nursing 15 (2010), p. 135-140. O estudo envolveu cinco homens e
doze mulheres, com 77 anos de idade, em média.
6
“Alan R. King e Cheryl Terrance, “Best Friendship Qualities and Mental Health Symptomatology
Among Young Adults”, Journal of Adult Development 15 (2009), p. 25-34. O estudo incluiu 398 homens e
mulheres adultos, alunos universitários iniciantes e veteranos, sendo 26% homens e 74% mulheres, com
média de idade de 23 anos, e na grande maioria caucasianos (94%).
7
Robert J. Waldinger e Marc S. Shulz, “What’s Love Got to Do With It? Social Functioning, Perceived
Health, and Daily Happiness in Married Octogenarians”, Psychology and Aging 25 (2010), p. 422-431. Esses
eram os que ainda estavam vivos após o estudo longitudinal que foi iniciado pelo Serviço de Saúde da
Universidade Harvard em 1939, quando os participantes estavam entre 18 e 19 anos. Quando foi realizado o
último estudo, os homens tinham em média 82,9 anos de idade e as mulheres 78,8.
8
Brian H. McCorkle et al., “Compeer Friends: A Qualitative Study of a Volunteer Friendship Programme
for People With Serious Mental Illness”, International Journal of Social Psychiatry 55 (2009), p. 291-205.
9
Ellen W. T. Harley et al., “Friendship in People With Schizophrenia: A Survey”, Social Psychiatric
Epidemiology 47 (2012), p. 1291-1299. O relato do transtorno era de 20,4 anos, em média. Os pacientes
entraram em várias escalas, de acordo com o status social, amizades e os sinais visíveis da doença. Participaram
também de entrevistas individuais para conversar sobre suas amizades.
10
Meliksah Demir et al., “I Am So Happy ‘Cause My Best Friend Makes Me Feel Unique: Friendship,
Personal Sense of Uniqueness and Happiness”, Journal of Happiness Studies 13 (2012). Disponível em: DOI:
10.1007/s10902-012-9376-9. Participaram do estudo 2.429 pessoas: 17% homens e 73% mulheres.
11
Julianne Holt-Lunstad et al., “Can Hostility Interfere With the Health Benefits of Giving and Receiving
Social Support? The Impact of Cynical Hostility on Cardiovascular Reactivity During Social Support
Interactions Among Friends”, Annals of Behavioral Medicine 35 (2008), p. 319-330. Participaram do estudo
214 pessoas, 56 duplas femininas e 51 duplas masculinas.
12
Robert Fulghum, Tudo que eu devia saber aprendi no jardim de infância (Rio de Janeiro: Best Seller, 1989).
13
Emma K. Adam et al., “Adverse Adolescent Relationship Histories and Young Adult Health:
Cumulative Effects of Loneliness, Low Parental Support, Relationship Instability, Intimate Partner Violence,
and Loss”, Journal of Adolescent Health 49 (201), p. 278-286.
14
Chris Segrin et al., “Loneliness and Poor Health Within Families”, Journal of Social and Personal
Relationships 29 (2012), p. 597-11. Participaram 456 adultos de 169 unidades familiares.
15
Li-Juan Liu e Qiang Guo, “Loneliness and Health-Related Quality of Life for the Empty Nest Elderly in
the Rural Area of a Mountainous County in China”, Quality of Life Research 16 (2007), p. 1275-1280. O
estudo envolveu 275 idosos que moravam sozinhos e 315 que moravam em companhia de outros, todos de
uma área rural montanhosa. A média de idade de cada grupo era de 70 anos, e aqueles que apresentavam
deficiências físicas ou mentais não participaram do estudo.
16
Ingrid Nielsen et al., “Subjective Well-Being of Beijing Taxi Drivers”, Journal of Happiness Studies 11
(2010), p. 721-733. A maioria em homens (95,8%) que afirmaram estar trabalhando em média 12,57 horas
por dia, seis dias e meio por semana.
17
Paul Lee Tan, Encyclopedia of 15,000 Illustrations, entrada 1672.
18
Pamela E. King e James L. Furrow, “Religion as a Resource for Positive Youth Development: Religion,
Social Capital, e Moral Outcomes”, Psychology of Religion and Spirituality 5 (2008), p. 34-49. Um total de 735
alunos de escolas públicas de ensino médio estavam incluídos na amostra em estudo. Quanto ao gênero
estavam bem equilibrados (47% do sexo masculino e 53% do sexo feminino), na faixa dos 13 aos 19 anos de
idade.
19
Richard Rymarz, “Nurturing Well-Being Through Religious Commitment: Challenges for Mainstream
Christian Churches”, International Journal of Children Spirituality 14 (2009), p. 249-260.
CAPÍTULO 9
OS BENEFÍCIOS DO
ENFRENTAMENTO RELIGIOSO
“Sejam fortes e corajosos, todos vocês que esperam no
Senhor!”
Salmo 31:24
A doutora Edelweiss Ramal, professora de Enfermagem na Universidade de
Loma Linda, contou-me sua história enquanto trabalhávamos em um processo
de acreditação na Universidade de Montemorelos, Nuevo León, no México. Ela
pôde, verdadeiramente, colocar em prática o conselho do apóstolo Paulo que diz:
“Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e
com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que
excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo
Jesus” (Fp 4:6, 7).
“Eu havia memorizado Filipenses 4:6, 7 poucos meses antes de receber o
diagnóstico de que estava com câncer de mama”, disse ela. É um bom hábito
memorizar textos-chave das Escrituras. Essa passagem, especialmente, iria adquirir
um significado muito importante para a doutora Edelweiss. “Nunca poderia
imaginar o quanto essa promessa, em particular, iria causar tanto impacto em
minha vida física, emocional, social e espiritual”, ela assegurou.
Depois que o diagnóstico foi confirmado, Edelweiss teve que lidar com as
difíceis questões relacionadas à doença e com o caos emocional que se instalou.
“Como isso pôde acontecer, se eu sempre mantive um estilo de vida saudável e
não possuía nenhum dos fatores de risco? Os temores começaram a tomar conta:
O que vai acontecer comigo? Com minha família? E então veio a apreensão e a
ansiedade com relação ao tratamento: Qual devo escolher? O tratamento
convencional ou o alternativo? E se minha família não concordar com o
tratamento que preferi seguir? Enquanto passava toda essa confusão de emoções,
pensamentos e sentimentos que ocorrem a uma pessoa vítima de câncer, o texto
de Filipenses 4:6, 7 começou a assumir um significado todo especial e pessoal para
mim.”
Ela encontrou o conforto de que necessitava na leitura da Bíblia e na oração.
Sentiu como se o próprio Deus estivesse lhe falando por meio de Filipenses 4:
“Não fique ansiosa, mesmo tendo que enfrentar esse câncer. Sim, ore e suplique a mim,
mas sempre encontre algo para agradecer; na verdade, procure descobrir várias coisas pelas
quais deve ser grata. Minha filha, se você preencher a condição exigida por essa promessa,
vai alcançar tanta paz que acabará surpreendendo a todos. E mais: você mesma não vai
entender como consegue ter tanta paz, mesmo diante de uma das mais temíveis doenças.”
O verso não disse que a oração da doutora Edelweiss seria respondida com a cura,
mas lhe assegurou que ia ser abençoada com uma paz muito além do que ela
conseguia compreender. E foi isso que o Senhor fez. A paz se tornou uma
realidade.
No dia em que ela foi internada para fazer a cirurgia, a paz de Deus, que está
além da compreensão humana, guardava seu coração e sua mente em Cristo Jesus.
O esposo tirou algumas fotos dela enquanto ia para o hospital e depois na sala de
cirurgia. Meses mais tarde, recuperada, ao rever aquelas fotos e ver seu rosto
radiante, ela disse: “Não posso entender como conseguia sentir tanta paz ao
enfrentar a cirurgia! Esse tipo de paz realmente transcende todo entendimento!”
Alguns anos se passaram, e ela continua louvando o Senhor, não somente por
tê-la curado, mas por proporcionar à sua vida tanta paz e alegria. Recentemente,
ela me escreveu dizendo: “Cada vez que eu era tentada a me deter em
sentimentos negativos, ou sentir alguma ansiedade pela decisão que fora tomada,
repetia o texto mentalmente e clamava pela promessa de Deus. Ele tem sido fiel
em guardar meu coração e minha mente por meio de Cristo Jesus. Faz seis anos
que fui diagnosticada com a doença, e a vida ainda me tem trazido outras
experiências que causam ansiedade. No entanto, continuo sentindo a maravilhosa
paz que vem de Deus, e Ele continua protegendo meu coração (sentimentos e
emoções) e minha mente (pensamentos e decisões a serem tomadas). Por vezes,
ainda me surpreendo e surpreendo outras pessoas. Essa pode ser a sua experiência
1
também.”
Situações estressantes, como conviver com uma doença física ou mental, perder
um ente querido ou enfrentar problemas financeiros se tornam grandes desafios
tanto aos crentes como aos descrentes. Inúmeros estudos revelam que muitos se
voltam para a fé e a religião em busca de conforto, esperança e propósito para a
vida. Se existe alguma força para enfrentar as provações, ela vem de Deus;
portanto, necessitamos nos apegar a esse poder e ajudar aqueles que sofrem a fazer
o mesmo.
Este capítulo aborda o enfrentamento religioso, ou seja, as estratégias para lidar com
os problemas por meio da religião, como uma maneira eficaz que Deus
providenciou para as pessoas superarem as adversidades. É mais um benefício da fé
à nossa disposição enquanto vivemos nesta Terra. Há um grande número de
estudos realizados nos últimos 20 anos, com o objetivo de mostrar que, em
momentos de dificuldade, a maioria das pessoas recorre ao enfrentamento
religioso para lidar melhor com a dor e o sofrimento. As pesquisas revelam
também que o enfrentamento religioso positivo proporciona conforto, apoio e
esperança quando a pessoa é acometida por uma doença física ou mental, um
trauma ou passa por situações estressantes. Entretanto, o enfrentamento religioso
negativo (revoltar-se contra Deus, abrigar dúvidas religiosas devido a uma
adversidade) pode ocasionar um desequilíbrio no bem-estar psicológico, embora,
em alguns casos, isso traga algum alívio, possivelmente como um mecanismo
temporário para que a pessoa se livre das frustrações.
Serão analisados, neste capítulo, alguns estudos recentes realizados para
descobrir como as pessoas enfrentam várias situações difíceis. A Bíblia também
traz exemplos de pessoas que enfrentaram a perda, o temor, a ansiedade, a solidão,
a dor e o desânimo. Alguns personagens serão mencionados como exemplos na
maneira de proceder em meio às provações e adversidades.
O enfrentamento
Enfrentamento é um termo da Psicologia que remonta aos tempos em que essa
disciplina começou a ser estudada como ciência moderna. Isso significa a volta à
era de Sigmund Freud, que viu no enfrentamento a maneira pela qual os
mecanismos de defesa funcionam. Com base nessa premissa, o enfrentamento
seria um processo inconsciente. Por exemplo: pessoas que se mudam para um
outro país – onde tudo é diferente de suas experiências passadas – acabam
buscando a companhia de seus compatriotas, utilizam o mesmo tipo de
alimentação a que estavam acostumados desde criança e assistem aos noticiários e
partidas de esportes praticados em seu país. Fazem isso para compensar situações
estressantes, sem pensar ou ficar planejando a sua forma de comportamento – é
uma atitude inconsciente. Isso é chamado de regressão e, assim como essas, há
outras inúmeras formas de mecanismos de defesa que Freud descobriu e que a
filha dele, Ana, explicou posteriormente. Ainda hoje, as interpretações dos
mecanismos de defesa relacionados ao enfrentamento são válidas, mas aplicáveis a
uma pequena proporção de situações apenas, a maioria delas quando causadas por
extrema ansiedade.
O conceito atual do enfrentamento, ou seja, as estratégias utilizadas para lidar
com situações difíceis, é aquele em que a própria pessoa que enfrenta o problema
interage com o meio em que está, voluntária e intencionalmente, via processos
mentais ou comportamentos. Isso é feito de maneira estratégica, utilizando uma
variedade de recursos que dependem de como as circunstâncias se apresentam e
do contexto em que a pessoa vive. O objetivo da pessoa é entender, suportar,
reduzir ou eliminar as situações estressantes.
As pessoas também podem enfrentar situações difíceis confrontando o
problema, afastando-se dele, buscando apoio social (seja por uma ajuda de modo
prático ou apoio emocional) e também tentando evitar ou fugir de situações que
causem estresse. Outros procuram se desligar ao máximo do problema, mantendo
seus pensamentos em coisas totalmente diferentes, ou até mesmo recorrem ao
álcool e às drogas, o que lhes abre uma porta para mais problemas. Outros ainda
enfrentam suas dificuldades buscando um sentido para a vida. Procuram crescer e
superar a adversidade aceitando a realidade da existência do problema e se voltam
para Deus e para a religião, enquanto ativamente buscam soluções. Quando
incluímos Deus e a religião como parte central da equação, estamos enfrentando
os problemas por meio da religiosidade – que é o que chamamos de enfrentamento
religioso.
São muitos os que utilizam a religião para enfrentar os problemas e dificuldades.
Numa pesquisa de autoavaliação sobre o enfrentamento religioso, foi feita a
seguinte pergunta: “De que modo você usa a religião para enfrentar seus
problemas?” Entre os participantes, 40% consideraram que o enfrentamento
religioso é o fator mais importante; 27,3% afirmaram que o utilizam bastante;
22,7% de forma moderada; 5% usam de pouco a moderadamente; e 5% não o
2
utilizam de forma alguma. Essa é uma das mais fortes evidências da necessidade
que os seres humanos têm de Deus!
Como funciona o enfrentamento religioso?
De maneira geral, as pesquisas mostram que o enfrentamento religioso aumenta
o bem-estar diante das dificuldades, mas não deixam claro como isso funciona.
Podemos, no entanto, formular algumas hipóteses. Harold G. Koenig apresenta
3
uma explicação razoável, que passo a descrever a seguir. A religião nos oferece
uma visão positiva do mundo, um conjunto de crenças que trazem grande
esperança, tendo seu foco na redenção. Por meio da religião, podemos ver Deus
como um Ser amoroso e misericordioso. A religião também traz significado e
propósito para a existência (não apenas uma perspectiva positiva). De fato, ela nos
ajuda a explicar a causa das aflições temporárias que temos aqui, de acordo com o
plano final idealizado por Deus. A religião favorece a integração psicológica que
permite ao crente entender o conflito que existe entre o bem e o mal, evitando,
portanto, o estresse gerado pelos acontecimentos mundiais. A religião também
apresenta a seus seguidores a visão da esperança que os motiva a viver e trabalhar,
sem se desesperar, fazendo-os compreender que as coisas se tornarão melhores de
acordo com o plano de Deus. A religião fortalece os fiéis, mesmo sendo pobres,
discriminados e desamparados. Dá forças para agir e transformar o ambiente em
vez de deixar uma vítima sem esperança. A religião atribui o controle de todas as
coisas a Deus, acabando com o temor e a ansiedade. Além do mais, a religião
apresenta bons exemplos de vitória no sofrimento. Por exemplo, a Bíblia traz o
relato de histórias de pessoas cuja vida foi abençoada por Deus, apesar das
tribulações que enfrentaram. A religião também oferece orientação ao se tomar
decisões, recomendando padrões de comportamento que protegem as pessoas de
muitos problemas. Apresenta respostas satisfatórias a questões importantes como:
De onde eu vim? Para onde vou? Por que existe o bem e o mal? Como será o fim
de todas as coisas? As organizações religiosas oferecem apoio social constante e um
lugar onde as pessoas podem obter ajuda e motivação para confiar em Deus como
aquele que pode solucionar todas as coisas. Finalmente, a religião proporciona
estabilidade. A religiosidade perdura sob todas as circunstâncias. Por meio da
religião, a oração, a meditação e o senso da presença de Deus transcendem o
tempo e o espaço.
Como as pessoas lidam com a religiosidade? Muito frequentemente, aqueles
que encontram na religião o apoio que necessitam para enfrentar as dificuldades
possuem o sentimento da presença divina: têm aquela certeza de que Deus está
muito próximo, atento, ouvindo, animando e dando forças. Eles mantêm um
relacionamento mental com o Criador por meio da oração. Têm o sentimento de
que Deus os ama e os guia tanto na rotina das atividades diárias como em sua vida
espiritual. Encontram forças e conforto no estudo da Bíblia, na reflexão sobre as
promessas nela contidas, nas doutrinas e crenças. Além das experiências que têm
normalmente, as pessoas religiosas mantêm um relacionamento com Deus e
obtêm força espiritual por meio do adoração coletiva. É confortador saber que
pesquisas atuais estão descobrindo que aqueles que vivem essas práticas podem
não evitar a adversidade, mas conseguem, pelo menos, lidar com elas com maior
êxito.
Uma das mais desoladoras experiências é ouvir que seu filho tem uma doença
crônica debilitante que vai reduzir muito a expectativa de vida. Daniel
Grossoehme e Judy Ragsdale, que pertencem à pastoral do Centro Médico do
Hospital Infantil de Cincinnati, em Ohio, estudaram a maneira como os pais de
4
crianças portadoras de fibrose cística lidam com o problema. Essa doença está
associada ao mau funcionamento do sistema respiratório. Os pacientes necessitam
de fisioterapia respiratória diária para eliminar as secreções. Esse problema pode
causar complicações como má absorção dos nutrientes, diabetes, infertilidade (nos
meninos) e insuficiência pancreática. O mais temido sintoma relacionado à fibrose
cística é a insuficiência respiratória, pois pode levar à morte. Em consequência da
doença, a expectativa de vida desses pacientes é de apenas 37 anos. Para a
realização desse estudo, os pesquisadores entrevistaram exaustivamente 15 pais.
Entre eles, foram encontradas 16 maneiras diferentes de enfrentar a doença. Estas
foram as mais comuns:
1. Súplica – Os pais de crianças com fibrose cística relataram que suplicaram
intensamente a Deus pela cura de seus filhos ou rogaram para que se sentissem
mais confortáveis e não sofressem tanto. Essa foi a forma mais comum de
enfrentamento religioso. Um dos pais disse: “Houve momentos em que
implorávamos e suplicávamos em favor dela, principalmente quando estava com
muita dor, e eu me sentia impotente. Assim, quando nos sentimos desanimados e
oramos para obter forças, penso que Ele nos concede de acordo com sua
vontade.”
2. Colaboração – Trabalhar com Deus para promover a cura ou melhora dos
sintomas. “O meu sentimento é de que estamos trabalhando juntos porque
podemos orar e fazer todo o possível para que ela se sinta bem; mas, além do que
fazemos, há muita coisa que Ele pode fazer”, disse um pai. Outros, talvez exaustos
dos tratamentos diários e sobrecarregados pelo estresse, diziam: “O jeito é viver
um dia de cada vez e deixar o restante nas mãos de Deus.”
3. Reavaliações religiosas altruístas – Isso inclui a compreensão de que Deus pode
não intervir na solução total, mas conduzir as coisas de maneira adequada a seu
tempo, de acordo com sua onisciência. “Ele nos deu uma tarefa”, afirmou um dos
pais, “os médicos estão nos dizendo o que devemos fazer para nos prevenir. Nossa
tarefa é seguir em frente e deixar os resultados com Deus.”
4. Busca de apoio espiritual – Eles também encontraram pais que procuraram
ajuda no ministério e nos membros da igreja. Alguns relataram o contato que
tiveram com um pastor ou sacerdote. Outros contaram com detalhes a bondade
dos membros.
Outra maneira de lidar com a doença foi manter a esperança acima de tudo,
sabendo que esse não é o fim, e voltar-se para Deus em busca de conforto. Muitos
optaram por orar pelos outros, praticar os ritos religiosos como forma de desviar a
mente do que lhes causava estresse e entender que o sofrimento traz a
oportunidade de crescimento espiritual. Houve também formas negativas de lidar
com os problemas da doença, como se revoltar contra Deus e achar que a doença
veio como um castigo divino.
O enfrentamento religioso e a saúde
O uso do enfrentamento religioso para lidar com os problemas de saúde mental
e física é uma área que está sendo amplamente estudada. Numa análise das
pesquisas realizadas sobre esse tema, o retorno foi tão grande que delimitei a
pesquisa apenas aos estudos mais recentes. Isso mostra que, em um tempo em que
a ciência médica está em alto desenvolvimento, as pessoas entendem que elas
devem, sim, buscar a intervenção humana, mas necessitam se reconectar com
Deus, que está acima e além da saúde e da cura, e que Ele é o único que pode
tornar o ser humano verdadeiramente saudável.
Thomas Carpenter, com outros colegas da Universidade Seattle do Pacífico,
estudou as possíveis relações existentes entre o enfrentamento religioso, o estresse
e os sintomas depressivos em adolescentes que frequentavam escolas católicas e
5
protestantes na Região Noroeste do Pacífico. Durante oito semanas, esses
adolescentes relataram, periodicamente, os sintomas que lhes causavam estresse e
depressão. Sabendo-se que os fatores que provocam o estresse tendem a causar
sintomas depressivos, o objetivo foi verificar se o enfrentamento religioso poderia
reduzir ou mesmo prevenir essa relação.
Os resultados mostraram que o enfrentamento religioso negativo tornou essa
relação entre estresse e depressão ainda mais forte. Fez com que as coisas
piorassem ainda mais. Por outro lado, os adolescentes que recorreram ao
enfrentamento religioso positivo passaram pelos efeitos do estresse de maneira
mais tranquila que os demais. Os mesmos resultados foram constatados na
população adulta. Um exemplo disso é um estudo feito com 336 adultos da Igreja
Protestante, conduzido por Jeffrey Bjorck e John Thurman. Eles descobriram os
efeitos benéficos do enfrentamento religioso positivo relacionados a situações
6
estressantes. Os participantes que afirmaram utilizar os métodos do
enfrentamento religioso positivo (a oração, o sentimento da presença de Deus, a
busca de um propósito para a dor, etc.) tiveram maior capacidade para reduzir os
efeitos deletérios de situações negativas em comparação com outros que não
utilizaram esses métodos.
Enfrentar a perda de um ente querido é algo devastador. Para compensar o
pesar e a dor, muitas pessoas recorrem às estratégias do enfrentamento religioso.
Buscar um propósito para isso torna-se um fator-chave para lidar com o luto. Um
estudo feito recentemente teve por objetivo determinar se a busca desse propósito
relacionada a uma maior ligação com Deus traria melhores resultados que outras
abordagens que não procuram encontrar um propósito para as coisas que
acontecem. Melissa Kelley e Keith Chan, da Faculdade de Boston, em
Massachusetts, nos Estados Unidos, coletaram dados de mulheres que haviam
passado pela experiência de uma morte dolorosa para elas durante o ano
7
anterior. Na maioria, as mortes foram de um parente ou do marido. Cerca de
metade dessas mortes (48%) eram esperadas, e a outra metade (52%) não eram
esperadas. De maneira geral, todo grupo apresentou sintomas de depressão
associados à perda.
No entanto, a frequência e a intensidade dos sintomas eram diferentes,
dependendo de certas variáveis. (1) As mulheres que se mantinham firmemente
ligadas a Deus tiveram menor grau de depressão e de pesar. (2) Aquelas que
utilizaram as estratégias do enfrentamento religioso positivo também tiveram um
aumento na capacidade de lidar com o estresse. (3) Quando havia uma forte
ligação com outros, também houve maior capacidade de superação do estresse. (4)
Uma forte ligação com Deus trouxe um propósito mais claro, que, por sua vez,
trouxe mais benefícios à saúde mental.
A participação em missões estudantis é uma opção comum para jovens
universitários nos Estados Unidos. Entretanto, não têm sido feitos muitos estudos
quanto à maneira que esses moços e moças enfrentam a missão a ser cumprida.
Uma exceção é o estudo liderado por Jeffrey Bjorck e Jean-Woo Kin, do
Seminário Teológico de Fuller, e pelo Hospital Metropolitano Estadual, em
8
Norwalk, na Califórnia. Eles tinham vários objetivos, mas o que teve maior
relevância para o propósito deste livro foi a pesquisa sobre como o enfrentamento
religioso por parte dos missionários que realizam tarefas temporárias estava
relacionado a seu funcionamento psicológico, enquanto participavam da missão.
Rapazes e moças partiram em uma viagem missionária de dois meses de duração.
Eles tiveram diversos destinos, alcançando 11 países ao todo. Os estudantes
missionários forneceram relatórios durante o período de treinamento anterior à
viagem e após retornarem da viagem. Os dados coletados incluíram o
enfrentamento religioso, o apoio religioso (quanto apoio os participantes sentiram
que receberam de Deus, da congregação e da liderança da igreja), bem como o
funcionamento psicológico. Os resultados revelam que aqueles que utilizavam o
enfrentamento religioso de modo negativo tinham maior tendência para a ira.
Aqueles que costumavam utilizar o enfrentamento religioso positivo sentiam um
grande apoio vindo de Deus: portanto, experimentavam um claro aumento de
satisfação na vida.
Divórcio e enfrentamento religioso
Outra pesquisa relevante diz respeito ao divórcio, um processo altamente
estressante que frequentemente causa sintomas depressivos. Um estudo dirigido
por Amy Webb, da Universidade do Texas, em Austin, nos Estados Unidos, teve
por objetivo descobrir como o enfrentamento religioso pode ajudar nos casos de
9
depressão associados ao divórcio. Ela foi assistida por colegas tanto da
Universidade do Texas como da Universidade de Loma Linda. O principal tema
da pesquisa foi: “Qual é o papel da religião quanto à maneira de lidar com a
depressão entre as pessoas divorciadas?” Os participantes eram membros da Igreja
Adventista do Sétimo Dia que estavam incluídos no Estudo de Saúde Adventista–
2. Os pesquisadores estudaram um subgrupo dessa imensa base de dados composta
de 96 mil participantes, utilizando uma amostra de 10.988 participantes em um
estudo sobre a religião e a saúde. Eles forneceram dados sobre sintomas
depressivos, divórcio e formas de enfrentamento religioso. Dentro desse
subgrupo, 4% das pessoas que responderam aos questionários haviam passado pela
experiência do divórcio no período de cinco anos anteriores à pesquisa. Esse foi o
principal foco da análise.
Como todos os participantes eram membros da igreja, a maior tendência foi se
apoiarem fortemente na religião para enfrentar o problema. No entanto, alguns o
fizeram mais intensamente do que outros, e essas diferenças é que tornaram
possível a realização dessa análise. Os resultados mostraram claramente que o
enfrentamento religioso positivo ajudou a aliviar os efeitos da depressão. A forma
mais eficaz de lidar com o problema foi buscar o apoio em Deus. Isso produziu o
maior impacto contra a depressão, seguido de uma atitude colaborativa em que a
pessoa deve fazer todo o possível para lutar contra a dificuldade que enfrenta e
deixar o restante com Deus. Por fim, reformular os casos ou situações que trazem
problemas, isto é, ver o cenário em toda a sua amplitude, com vistas ao passado,
presente, futuro e à eternidade. Uma análise interessante foi comparar a amostra
de divorciados com os participantes não divorciados. Todos, divorciados ou não,
apresentaram menos sintomas depressivos quando enfrentaram o problema por
meio da religiosidade, mas ficou constatado que o enfrentamento religioso
positivo trouxe benefícios antidepressivos significativamente maiores para aqueles
que haviam passado pelo divórcio.
Os autores do estudo reconheceram que o divórcio é um estressor social,
especialmente entre pessoas religiosas como os adventistas do sétimo dia, para as
quais o casamento é visto como uma instituição divina, estabelecida pelo próprio
Deus, e que deveria durar por toda a vida. Isso torna a ajuda e o apoio ainda mais
necessários para aqueles que vivem nessa condição. É imperativo, portanto, que se
adote uma atitude espiritualmente solidária em relação aos divorciados, no
ambiente das igrejas, onde o enfrentamento religioso pode ser mais apropriado. A
oração, a leitura da Bíblia, o culto, etc. podem ser excelentes maneiras de prover
o apoio necessário às irmãs e irmãos recém-divorciados em nossas igrejas.
Cuidadores e enfrentamento religioso
A saúde mental daqueles que cuidam de um membro da família com doença
crônica ou invalidez também traz grande preocupação. Cedo ou tarde, sinais de
transtornos, especialmente depressão, podem aparecer na pessoa cuidadora.
Angelica Herrera, do Centro MD Anderson Para o Câncer, na Universidade do
Texas, em Houston, e sua equipe, se perguntaram se o enfrentamento religioso
10
poderia prevenir ou aliviar os sintomas em pessoas sob tais circunstâncias. O
estudo teve como foco os cuidadores mexicano-americanos, que foram
entrevistados durante duas horas cada um, utilizando o espanhol como meio de
comunicação, quando necessário. Todos cuidavam de um parente (cônjuge,
irmão ou irmã, ou parentes dos cônjuges) acima de 50 anos. Eles receberam
avaliações sobre religiosidade, enfrentamento religioso, bem-estar, avaliações
relacionadas à pessoa sob seus cuidados e várias informações socioeconômicas e
demográficas.
Quando os dados foram examinados, foi observado que aqueles que
encontraram apoio no enfrentamento religioso demonstraram menos sintomas
depressivos e viam a sobrecarga do trabalho de cuidadores que realizavam de
maneira mais positiva que os cuidadores que não se apoiavam no enfrentamento
religioso. Além disso, altos níveis de enfrentamento religioso promoviam
paralelamente a melhora da saúde física e emocional. Aqueles que achavam muito
pesada a responsabilidade (que não utilizavam nenhuma forma de enfrentamento
religioso) tinham maior probabilidade de ser pessoas depressivas e com menor
tendência para desfrutar boa saúde mental. Uma descoberta interessante destacou
a importância da comunidade da igreja. Participantes pertencentes a uma religião
organizada eram menos propensos a achar que o seu trabalho de cuidadores era
muito pesado. Por outro lado, mesmo os que apresentavam elevados níveis de
religiosidade, mas não eram assíduos à igreja, continuavam tendo pior saúde
mental. Esse é mais um exemplo dos benefícios indiretos de pertencer a uma
igreja onde o companheirismo, o apoio emocional e social são uma fonte de
saúde para os participantes.
O enfrentamento religioso em graves problemas de
saúde
Uma equipe de pesquisadores liderada por Kelly Trevino, da Universidade
Estadual de Bowling Green, em Ohio, centralizou seus estudos em um grupo de
pacientes ambulatoriais portadores de HIV/AIDS para observar os efeitos do
enfrentamento religioso sobre os vários resultados obtidos, tanto mentais quanto
11
físicos. Os pacientes forneceram dados em duas ocasiões, com um intervalo de
doze a dezoito meses, permitindo que os pesquisadores observassem as variações
ao longo do tempo e verificassem os efeitos do enfrentamento religioso nessas
mudanças. As descobertas revelaram que o enfrentamento religioso positivo foi
um fator preditivo tanto de maior autoestima como de níveis de espiritualidade
mais elevados. Além disso, aqueles que mantinham níveis mais altos de
enfrentamento religioso positivo relataram melhoras em seu bem-estar com o
passar do tempo. Em termos de saúde física, a contagem das células CD4 – que
protegem o organismo contra a doença e são indicadoras de melhora em pacientes
com HIV/AIDS – foi feita no início e no fm do estudo. Aqueles que relataram
maior luta espiritual apresentaram baixa contagem de células CD4, indicando uma
perda das defesas após terem enfrentado a luta religiosa interna. Esses resultados
sugerem que as intervenções psíquicas e espirituais geradas para promover o uso
do enfrentamento religioso positivo – comunhão com Deus, oração, aceitar a
doença com vistas ao amplo contexto da vida aqui e além – podem contribuir
para melhorar o bem-estar psicológico, fisiológico e espiritual nos portadores de
HIV/AIDS.
Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos,
liderada por Kevin Rand, estudou um grupo de homens com câncer em estágio
avançado para observar como consideravam a doença e como o enfrentamento
12
religioso favorecia as respostas psicológicas. Os resultados mostraram que
aqueles que acharam algum significado na doença (admitiram que, por causa da
doença, eles se conheceram melhor, deram valor a coisas que de outra forma não
teriam dado importância, estabeleceram novas metas para a vida, etc.) tiveram
baixos níveis de distúrbios psicológicos e altos níveis de adaptação mental positiva.
Além desses benefícios, os pacientes com câncer que se apoiavam frequente e
intensamente no enfrentamento religioso positivo obtiveram um crescimento pós-
traumático, com efeitos positivos após o trauma. Eles conseguiram extrair algo
bom de tantas coisas ruins: a resiliência.
Embora a maioria das pesquisas publicadas sobre o enfrentamento religioso
tenha sido realizada nos Estados Unidos, há um crescente número de estudos
sendo conduzidos em outros países. Um projeto brasileiro de pesquisa, liderado
por Suzana Ramires, da Universidade do Ceará, em Fortaleza, pesquisou a relação
existente entre o enfrentamento religioso, os distúrbios psicológicos e a qualidade
de vida de 170 pacientes ambulatoriais que faziam hemodiálise, todos em estado
13
terminal da doença renal. Os pesquisadores obtiveram dados clínicos,
indicadores de sintomas de depressão e ansiedade, e informações a respeito de sete
tipos de enfrentamento religioso positivo. Os participantes também relataram sua
percepção na qualidade de vida nas áreas física e mental, nas relações sociais e no
ambiente em que vivem.
Os resultados mostraram que a maioria desses pacientes em hemodiálise se
apegava à religião para enfrentar a doença. Os níveis elevados de enfrentamento
religioso positivo sempre estavam associados a melhor qualidade de vida,
especialmente nas áreas do bem-estar mental e das relações sociais. Também foi
observado que quanto mais forte era o conflito religioso, maiores eram os
sintomas de depressão e ansiedade, e mais distúrbios psicológicos eles sofriam.
O enfrentamento religioso e o trauma
Tortura, estrupo e abuso são palavras abomináveis que retratam situações em
que ocorreram atos perversos intencionais e de extrema agressividade. O trauma é
a consequência natural. O trauma é caracterizado por estresse, depressão,
ansiedade e o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Como pessoas
traumatizadas devem enfrentar o problema? Existem benefícios no enfrentamento
religioso? Há alguma forma de superação dessas terríveis experiências?
Vários estudos mostraram que o enfrentamento religioso é um dos melhores
mecanismos para lidar com os problemas. Viktor Frankl, renomado neurologista e
psiquiatra austríaco, também um dos sobreviventes do Holocausto, passou por três
campos de concentração nos anos de 1944 e 1945. Com base em suas observações
e experiência, Frankl declarou que qualquer situação, por mais angustiante que
seja, pode ser superada se a pessoa mantiver o controle e procurar encontrar
significado e propósito durante o processo.
Somente por meio da fé em Deus é que isso se torna possível. Assim, o
enfrentamento religioso é uma forma de sobreviver às adversidades. Na verdade,
tem-se dado grande atenção à resiliência nestes últimos anos para mostrar que algo
mais forte pode advir de tudo.
As vítimas da tortura nos fornecem dados abundantes a respeito de como o
enfrentamento religioso pode ajudar pessoas que sobrevivem física e
psicologicamente a situações adversas. O estudo desenvolvido pela Universidade
George Washington, em Washington, DC, e conduzido pela professora Christina
Gee e a estudante de pós-graduação Suzanne Leaman teve como foco um grupo
14
de africanos sobreviventes de torturas, que moravam nos Estados Unidos.
Foram relatados vários tipos de tortura, classificados da seguinte forma: tortura
física, manipulações psicológicas, tortura sexual, desconforto sensorial, posições de
estresse forçadas, tratamento humilhante, privação das necessidades básicas.
O gênero, a idade e o nível de educação também foram controlados na análise,
tendo em vista que as mulheres, pessoas idosas e com nível educacional mais
elevado têm maior tendência a sofrer de depressão e de TEPT após a tortura.
Dessa forma, os resultados iriam mostrar o efeito específico do enfrentamento
religioso. As descobertas revelaram que a tortura sexual foi o que mais motivou os
sintomas de TEPT. Em relação a isso, as estratégias de enfrentamento religioso se
demonstraram um fator protetor contra o sofrimento. Por outro lado, o
enfrentamento religioso negativo resultava em sintomas de TEPT. Por fim,
aqueles que tinham sido submetidos a muita tortura física ou posições forçadas de
estresse (forçados a ficar em pé, sentados ou ajoelhados), mas que se dedicaram
mais intensamente a práticas religiosas pessoais relataram ter sofrido menos
sintomas de TEPT e depressão do que pessoas não religiosas.
Uma outra causa de trauma ocorre quando a pessoa é vítima de agressão sexual.
Não são muitos os estudos que tratam desse tema, por ser um assunto
extremamente delicado; porém, Courtney Ahrens, da Universidade Estadual da
Califórnia, em Long Beach, conseguiu fazer um estudo sobre a experiência de
15
103 mulheres que sofreram estupro. (Ela colocou cartazes em igrejas,
lavanderias automáticas, bares e cafeterias para encontrar pessoas na região.) Os
dados foram coletados por meio de entrevistas pessoais, com duração de duas
horas e meia, em média. Os temas envolveram o enfrentamento religioso, a
depressão, o TEPT, o bem-estar psicológico e o crescimento pós-traumático.
Muitas mulheres mencionaram que não receberam praticamente nenhum apoio
de líderes religiosos nem de membros da igreja, mas disseram que procuraram se
envolver nas atividades da igreja como forma de não terem que lidar diretamente
com o estupro. Elas afirmaram que “procuraram manter seu foco no mundo por
vir e não nos problemas deste mundo” ou “procuravam orar e ler a Bíblia para
manter a mente longe do problema”. Esse estudo mostrou diferenças significativas
entre as sobreviventes de estupro afro-americanas e as mulheres brancas na mesma
condição. O primeiro grupo de mulheres apoiou-se muito mais intensamente em
todos os tipos de enfrentamento religioso.
Da mesma forma que em outros estudos, quando aumentava o enfrentamento
religioso negativo, aumentavam também os sintomas de depressão, e quando
aumentava o enfrentamento religioso positivo, os sintomas depressivos
diminuíam. Além disso, as mulheres que se apoiavam no enfrentamento religioso
positivo tinham a tendência de alcançar um crescimento pós-traumático e bem-
estar muito maior que as demais.
Monica Gerber e duas outras colegas da Universidade do Norte do Texas
fizeram outro estudo com uma amostra mais geral, também relatando alguns graus
16
de experiências traumáticas. Elas centralizaram o estudo no conceito do
crescimento pós-traumático fazendo a seguinte pergunta: “Será que o
enfrentamento religioso contribui para o crescimento pós-traumático?” Pelo
menos doze tipos de eventos traumáticos foram relatados pelas participantes. Os
de maior gravidade foram os seguintes: receber notícias de ferimentos graves ou
de morte; envolvimento em acidentes automobilísticos, incêndio ou explosão; ter
sofrido abuso físico ou sexual na infância; e ter passado por um desastre natural.
Os resultados desse estudo mostraram diferenças quanto ao gênero na frequência
de eventos traumáticos. As mulheres passaram por um número bem maior de
ocorrências traumáticas que os homens, mas tiveram maior grau de crescimento
pós-traumático. Também foi constatado que o enfrentamento religioso positivo
atuou como previsor do crescimento positivo, enquanto o enfrentamento
religioso negativo trouxe indicações de sintomas de TEPT.
O cristão muitas vezes tem que suportar a dor antes que as coisas boas
aconteçam. As mulheres que participaram desse estudo suportaram maior trauma,
mas experimentaram um crescimento significativamente maior porque lidaram de
modo positivo com o problema, por meio da religião. Robert Murray M’Cheyne
afirmou: “O caminho para Sião é feito através do vale de Baca. Você deve
atravessar o deserto do Jordão se quiser chegar à Terra Prometida.”
Enfrentamento negativo
O enfrentamento negativo consiste em reagir negativamente em relação a Deus
quando acontece uma desgraça. A pessoa se revolta contra Deus ou passa a culpá-
lo pela dor e o sofrimento que está passando. Pode ocorrer também uma atitude
passiva em relação à religião (não fazer nada para aliviar a situação, esperando que
Deus resolva os problemas), haver dúvidas quanto à religião e a rejeição de pessoas
ligadas à religião. Os pesquisadores descobriram que aqueles que se apoiam no
enfrentamento religioso negativo se apegam a frases como: “Acho que minha
doença é uma maneira de Deus me punir por meus pecados”, “Tenho me
perguntado se Deus me ama mesmo” ou “Tenho duvidado de Deus”.
Embora o enfrentamento negativo não sirva de modelo para se lidar com os
problemas, especialmente para um cristão, é uma reação humana natural diante de
circunstâncias trágicas. Por vezes, as pessoas passam por perplexidades e
infortúnios: contraem uma doença grave quando elas têm sido extremamente
cuidadosas quanto à prática de hábitos saudáveis, quando têm que enfrentar a
perda de um membro da família devido a um homicídio, ou sofrem um grave
acidente quando não tiveram nenhuma culpa. Essas experiências traumáticas
abalam todos os fundamentos da pessoa. Entretanto, é possível passar por essa fase
e superá-la após o choque inicial. Estar em constante ligação com Deus antes que
surjam os problemas parece ser algo decisivo. Realmente, as pesquisas
reconhecem que o papel da ligação com Deus é extremamente importante para
17
determinar o sucesso do enfrentamento religioso.
Mesmo levando-se em conta que um pequeno grupo de estudos tenha
encontrado alguns resultados positivos no uso do enfrentamento negativo, de
maneira geral, os estudos afirmam que isso está associado aos baixos resultados
físicos e psicológicos. Por exemplo, Yaron Rabinowitz e sua equipe descobriram
que, quando as mulheres cuidadoras de parentes idosos com demência utilizavam
as estratégias do enfrentamento religioso negativo para lidar com os problemas,
elas estavam em maior risco de saúde e eram também mais propensas a ganhar
18
peso.
Laurie Burke conseguiu uma forma de interagir com 46 afro-americanos que
19
perderam familiares próximos por causas relacionadas a homicídio. Para aqueles
que insistiam no enfrentamento religioso negativo era maior a probabilidade de
terem um processo de luto mais complicado e estavam sujeitos a conflitos
espirituais seis meses depois do ocorrido, ao serem comparados àqueles que não
utilizaram o enfrentamento religioso negativo.
Steven Pirutinsky estudou de modo longitudinal um grupo de judeus
20
ortodoxos. Pessoas que utilizavam o enfrentamento religioso negativo tinham
probabilidade muito maior de apresentar sintomas de depressão que aquelas que
não agiam dessa forma. Esse estudo, por ser longitudinal, indica uma efetiva
relação de causa e efeito entre o enfrentamento religioso negativo e a depressão.
Randy Herbert fez um estudo sobre o enfrentamento religioso em mulheres
21
com câncer de mama. Ele observou que a maioria das mulheres que
participaram do estudo utilizavam as estratégias do enfrentamento religioso
positivo, mas o pequeno grupo (15%) que se apegava ao enfrentamento religioso
negativo tinha, em geral, pior saúde mental, sintomas depressivos e pouca
satisfação na vida. Esse foi um estudo de acompanhamento, e, quando as mulheres
passaram a fazer mudanças positivas em seu modo de enfrentamento negativo,
apresentaram grande melhora em relação à saúde mental e à satisfação com a vida.
O enfrentamento na Bíblia
A Bíblia faz referência a pessoas que enfrentaram situações difíceis em várias
ocasiões. Como essas pessoas lidaram com as adversidades? Há lições que podemos
aprender das experiências por elas vividas? Escolhi quatro personagens do Antigo
Testamento. Também vamos analisar como Jesus enfrentou algumas situações
difíceis.
Jó é o primeiro na cronologia. Brevemente, mas de maneira categórica, a Bíblia
declara que Jó era “íntegro e justo”. Ele “temia a Deus e evitava fazer o mal”. Era
um homem rico, conforme se percebe pelas milhares de cabeças de gado, por
outros animais que possuía e também pelo número de servos. Jó tinha uma
esposa, sete filhos e três filhas. Ele possuía não somente muitos bens materiais,
como também era grandemente respeitado. Ao referir-se a ele, a Bíblia diz: “Este
homem era o maior de todos os do Oriente” (Jó 1:3, ARA). Entretanto, em um
curto período de tempo, esse homem justo perdeu todos os seus bens, os filhos e,
embora a esposa tenha sobrevivido, ela o rejeitou e lhe disse: “Amaldiçoe a Deus,
e morra” (Jó 2:9). Então Satanás o atacou com terríveis feridas da cabeça aos pés.
Ficou sozinho, sem nenhum de seus filhos, sem nenhum de seus bens e sem
reputação alguma: “Os homens me escutavam em ansiosa expectativa, aguardando
em silêncio o meu conselho” (Jó 29:21), “mas agora eles zombam de mim” (Jó
30:1). Como esse homem consegue lidar com o fato de ter que enfrentar uma
situação de completa perda de tudo o que possuía?
Primeiramente, ele coloca a si mesmo em perspectiva, vê toda a trajetória de
sua vida e adora a Deus: “Saí nu do ventre da minha mãe, e nu partirei. O Senhor
o deu, o Senhor o levou; louvado seja o nome do Senhor” (Jó 1:21).
Em segundo lugar, ele continua a confiar no Senhor a despeito de todo o seu
sofrimento: “Embora Ele me mate, ainda assim esperarei nele” (Jó 13:15).
Um terceiro ponto importante é que ele expressa suas dúvidas e continua
perguntando a Deus: “Por quê?” Isso revela uma reação humana da maneira mais
realista possível. “Por que não morri ao nascer?” (Jó 3:11); “Ou por que não me
sepultaram?” (v. 16); “Por que vivem os ímpios?” (Jó 21:7). Ele também
manifesta seu sofrimento: “Não tenho paz, nem tranquilidade, nem descanso;
somente inquietação” (Jó 3:26).
Além disso, mesmo diante da perplexidade que enfrenta, e embora seus amigos
não sirvam para ajudá-lo em nada (“Pobres consoladores são vocês todos”, Jó
16:2.), Jó vê o fim do túnel, pois ele tem consciência do plano final de Deus e
afirma: “Eu sei que o meu Redentor vive, e que no fim se levantará sobre a
Terra” (Jó 19:25).
O caso é resolvido na parte final do livro: Deus reprova seus amigos, restaura
todos os seus bens em dobro, dá a ele uma nova família e uma longa vida,
permitindo-lhe viver até os 140 anos de idade. Mas durante todo o tempo em
que foi provado, vemos que Jó não permitiu que os sofrimentos do momento
invalidassem sua visão de Deus e do mundo. Ele possuía ideias muito claras sobre
questões fundamentais relacionadas à origem e ao destino. Continuou a
reconhecer a supremacia de Deus e confiava nele, apesar de ter algumas perguntas
não respondidas.
O caso de Jó é de vital importância para nos fazer lembrar de que nem tudo
que acontece em nossa vida é resultado direto de nosso pecado. Contrair uma
doença terminal não é prova de castigo sobre a vítima da doença. No entanto, é
muito comum encontrar pessoas que sentem o peso da culpa, além de sofrer as
consequências de sua doença ou do infortúnio de um ente querido. Nosso dever
é fazer com que essas pessoas saibam que, embora sejamos todos pecadores,
determinadas situações nem sempre ocorrem devido a pecados específicos
cometidos, e que o perdão completo está à nossa disposição quando pecamos,
independentemente de qual seja a transgressão.
Certa vez, os discípulos perguntaram a Jesus: “Mestre, quem pecou: este
homem ou seus pais, para que ele nascesse cego?” A resposta de Jesus foi a
seguinte: “Nem ele nem seus pais pecaram, mas isto aconteceu para que a obra de
Deus se manifestasse na vida dele” (Jo 9:2, 3).
Na batalha cósmica entre o bem e o mal, de nada adianta ir em busca de um
único culpado, especialmente quando a tendência é culpar a vítima. Enquanto
estava em um hotel, em outro país, para apresentar uma palestra, liguei o rádio e
comecei a ouvir um programa em que as pessoas telefonavam pedindo conselhos
para resolver os problemas que enfrentavam na vida diária. Uma senhora, que se
percebia ser bastante simples, telefonou para perguntar o que ela poderia fazer em
relação ao marido que batia nela constantemente. Quebrou-me o coração ao
ouvi-la falar, entre soluços, sobre seu problema, mas o locutor do rádio lhe
perguntava repetidamente: “A senhora consegue se lembrar de alguma coisa que
esteja fazendo para contrariá-lo? A senhora o está provocando de alguma forma?”
Estava claro que esse locutor não conseguia pensar em ninguém mais responsável
pelo problema, a não ser a mulher. Que contraste com a atitude de Jesus ao
demonstrar sua aceitação e dar esperança ao sofredor!
Encontramos na Bíblia também o caso de José, que foi tratado injustamente por
seus irmãos e passou por uma série de situações tremendamente estressantes.
Primeiramente, ele teve que suportar o ódio e o ciúme por parte dos irmãos (Gn
37:5, 8, 11). Quando foi visitá-los no campo, a pedido de seu pai, eles o
maltrataram, jogaram em uma cisterna e o venderam aos mercadores ismaelitas (v.
23, 24, 25), que por sua vez o venderam a Potifar, capitão da guarda no Egito (v.
36). Como ele conseguiu enfrentar tudo isso? Ellen White nos diz que ele sabia
que não estava preparado para lidar com as dificuldades que estavam diante dele.
Ele havia se tornado autossuficiente e exigente. Mas depois, sozinho e distante de
casa, todas as histórias sagradas que lhe foram contadas quando criança lhe vieram
à mente com muita clareza. Em meio à adversidade, José foi levado à conversão.
Ele orou, entregou-se completamente a Deus e resolveu em seu coração manter-
22
se fiel ao Senhor. Ele foi submetido a cruéis tentações e enviado injustamente
para a prisão. Mas permaneceu fiel, conferindo a Deus todo o crédito do sucesso
que obteve (ver Gn 40:8; 41:16). Sua estratégia para lidar com os problemas e
dificuldades era manter-se fiel a seu Pai celestial, orar e esperar, mesmo tendo
demorado tantos anos para receber a libertação e a vindicação de tudo o que lhe
acontecera (Gn 41).
Noemi também enfrentou grande adversidade. Tendo superado várias perdas
em sua vida, é motivo de inspiração. Os primeiros versos do livro de Rute nos
dão uma visão compacta das tragédias que ocorreram em sua vida: para fugir da
fome, a família foi forçada a ir morar em Moabe, uma nação idólatra e
incompatível com o estilo de vida dos judeus. Elimeleque, o esposo de Noemi,
morreu, deixando-a com dois filhos. Portanto, ela estava viúva, com dois filhos
órfãos, em uma terra estranha. Os filhos de Noemi, Malom e Quiliom, casaram-
se com moças daquela terra, um fato que, sem dúvida, trouxe tensões à família
por ser contra a vontade de Deus (ver Dt 23:3; Ed 9:1, 2). Algum tempo depois,
esses dois jovens também morreram.
Essa situação devastadora exemplifica os extremos do sofrimento humano.
Como Noemi conseguiu enfrentar tantas adversidades? Muito provavelmente,
guiada por Deus, ela decidiu voltar para a terra de Judá, onde poderia adorar a
Deus em liberdade e encontrar-se novamente com seus parentes que seriam
capazes de ajudá-la. Ela também estava disposta a aceitar a amável e pronta ajuda
de sua nora Rute (Rt 1:18), que viria a se tornar o caminho para a sua cura.
Noemi teve o especial cuidado de animar e ajudar Rute em sua adaptação ao
novo local em que foi morar (Rt 2:2) e no seu relacionamento com Boaz (Rt
2:19-22; 3). Aceitar ajuda e ajudar outros faz parte do plano de Deus para
lidarmos com as dificuldades, e essa parece ter sido, pelo menos em parte, a
estratégia que ajudou Noemi a enfrentar as adversidades em sua vida.
Finalmente, temos Elias, um dos profetas que esteve sujeito a situações de
extremos altos e baixos em suas experiências emocionais. Em 1 Reis 17 e 18,
lemos a descrição de uma série de grandes manifestações do poder de Deus: o
profeta sendo alimentado por corvos, a viúva de Sarepta utilizando o azeite e a
farinha que não acabavam, o filho dela que foi ressuscitado, Deus enviando fogo
sobre o Monte Carmelo, 450 falsos profetas castigados, a chuva que caiu
miraculosamente após três anos e meio de seca. E então, no capítulo 19, vemos o
protagonista amedrontado, ansioso e deprimido, depois que Jezabel pronunciou a
sentença de que iria matá-lo dentro de vinte e quatro horas. A seguir,
encontramos Elias apavorado, fugindo para se livrar das mãos de Jezabel, e
caminhando um dia inteiro até o deserto para depois pedir a Deus que lhe tirasse
a vida (1Rs 19:3, 4).
Como Elias enfrentou tantos desafios? Pelo menos uma coisa ele fez: orou. E
esse foi um passo positivo enorme. Não importa se a pessoa ora para Deus tirar-
lhe a vida, o importante é que permaneça aberta à intervenção divina, pois Ele
sempre vai fazer o melhor. Elias teve vários tipos de comportamento (alguns
induzidos por agentes divinos) que o ajudaram a enfrentar tantas dificuldades:
Dormiu. Comeu pão assado por um anjo. Dormiu novamente. Comeu de novo.
E em seguida começou a fazer um exercício físico bastante pesado – caminhou
quarenta dias e quarenta noites para cobrir quase 700 quilômetros desde o Monte
Carmelo até o Monte Horebe (v. 5-9). O plano funcionou, pois Elias teve a
saúde mental e espiritual restauradas e um encontro com Deus no Monte Horebe,
onde recebeu a última missão antes de ir para o Céu (v. 12-18).
Ao olharmos para a vida de Cristo, vamos encontrar inspiração e motivação
para seguir seus passos. Ele nos diz: “Aprendei de mim” (Mt 11:29, ARA). Ellen
G. White assim escreve sobre o início de seu ministério: “As sedutoras sugestões a
que Cristo resistiu foram as mesmas que tão difícil achamos vencer. A pressão que
exerciam sobre Ele era tanto maior, quanto seu caráter era superior ao nosso.
Com o terrível peso dos pecados do mundo sobre si, Cristo suportou a prova
23
quanto ao apetite, o amor do mundo e da ostentação, que induz à presunção.”
Também, “Ele foi deixado a lutar com a tentação. Ela o apertava a todo
24
instante.” As Escrituras proporcionaram ajuda e apoio a Jesus e, acima de tudo,
vitória sobre a tentação. A meditação nas passagens bíblicas, a repetição dos versos
que lemos e a memorização de textos-chave da Bíblia são as estratégias de
enfrentamento utilizadas pelo Mestre. Ele nos oferece essas preciosas ferramentas
para lidarmos com a tentação e outras fontes de estresse.
Os escritores dos evangelhos também mencionaram várias ocasiões em que
Jesus foi a um lugar solitário para manter comunhão com o Pai. Era dessa maneira
que Ele enfrentava tantos pedidos de ajuda que vinham do povo, a falta de
compreensão dos discípulos, a crítica e a perseguição dos inimigos e o pesado
fardo de sua missão em favor da humanidade. A oração e as Escrituras eram dois
pilares em que Ele se apoiava para enfrentar os problemas e adversidades. E eles
estão à nossa disposição também. Em tempos de provação e dificuldade, podemos
não ter motivação para estudar a Bíblia mais profundamente, com o uso de uma
concordância e outros recursos teológicos à mão. Entretanto, a repetição de
breves porções da Bíblia que guardamos na memória pode ser a solução para
melhorar nosso humor e fazer-nos esquecer dos momentos de aflição que
passamos. O quadro a seguir contém vários textos bíblicos pequenos, que podem
ser memorizados e usados de acordo com a necessidade.
Textos Bíblicos Para Memorizar que Ajudam a
Enfrentar as Adversidades
Adversidade “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das
misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola em todas as
nossas tribulações, para que, com a consolação que recebemos de Deus,
possamos consolar os que estão passando por tribulações” (2Co 1:3, 4).
Ansiedade “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e
súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz
de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a
mente de vocês em Cristo Jesus” (Fp 4:6, 7).
Desafios pela “Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o
falta de segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem
recursos alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade” (Fp
4:12).
Depressão “E os que o Senhor resgatou voltarão. Entrarão em Sião com cantos
de alegria; duradoura alegria coroará sua cabeça. Júbilo e alegria se
apoderarão deles, e a tristeza e o suspiro fugirão” (Is 35:10).
Dificuldades “Este é o Deus que em meu favor executa vingança, que sujeita
nações ao meu poder, que me livrou dos meus inimigos. Tu me exaltaste
acima dos meus agressores; de homens violentos me libertaste” (2Sm
22:48, 49).
Temor “Não temas, porque Eu sou contigo; não te assombres, porque Eu sou
o teu Deus; Eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra
fiel” (Is 41:10, ARA).
Medo e “Não te assustarás do terror noturno, nem da seta que voa de dia, nem
apreensão da peste que se propaga nas trevas, nem da mortandade que assola ao
meio-dia. Caiam mil ao teu lado, e dez mil, à tua direita; tu não serás
atingido.” (Sl 91:5-7, ARA).
Medo da “Eu os redimirei do poder da sepultura; Eu os resgatarei da morte”
morte (Os 13:14).
Pesar e “Porque o Senhor não o desprezará para sempre. Embora Ele traga
aflição tristeza, mostrará compaixão, tão grande é o seu amor infalível. Porque
não é do seu agrado trazer aflição e tristeza aos filhos dos homens” (Lm
3:31-33).
Doença “O meu corpo e o meu coração poderão fraquejar, mas Deus é a força
do meu coração e a minha herança para sempre” (Sl 73:26).
Dor e “E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já
sofrimento não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas
passaram” (Ap 21:4, ARA).
Tristeza “Agrada-te do Senhor, e Ele satisfará os desejos do teu coração” (Sl
37:4, ARA).
Provações Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem
por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz
perseverança” (Tg 1:2, 3).
Tribulações “Eu lhes disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste
mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o
mundo” (Jo 16:33).
Pensamentos “A tua benignidade, Senhor, me sustém. Nos muitos cuidados que
indesejáveis dentro de mim se multiplicam, as tuas consolações me alegram a alma”
(Sl 94:18, 19, ARA).
Fraqueza “O Senhor é a minha rocha, a minha cidadela, o meu libertador; o
meu Deus, o meu rochedo em que me refugio; o meu escudo, a força da
minha salvação, o meu baluarte” (Sl 18:2, ARA).
Conclusão
Quando o já falecido bispo de Madras passou em Travancore, na Índia, como
parte de seu itinerário de visitas ao Sul da Ásia, foi apresentado a uma garotinha
chamada carinhosamente de “a Pequena Apóstola” pelos moradores locais. O
apelido lhe foi dado porque havia sofrido violenta perseguição no tempo em que
era escrava e também por ser cristã. Ela conseguiu levar muitas pessoas a Cristo
por meio de sua atitude de calma e perseverança. Quando o bispo viu o seu rosto,
o pescoço e os braços cheios de cicatrizes e marcas de agressões, ficou
profundamente comovido e lhe disse: “Minha filha, como você foi capaz de
suportar tudo isso?” Para surpresa do bispo, ela respondeu com voz suave: “Não é
25
do seu agrado sofrer por Cristo, senhor?”
Nem todos os seguidores de Jesus serão chamados a sofrer da mesma forma, mas
todos enfrentarão dificuldades. O Senhor verdadeiramente se importa quando
temos que passar por experiências de sofrimento. A Bíblia orienta a todos:
“Lancem sobre Ele toda a sua ansiedade, porque Ele tem cuidado de vocês” (1Pe
5:7). Se você está passando por momentos difíceis ou deseja estar preparado para
quando sobrevierem as adversidades, lembre-se de que o princípio para enfrentá-
las da melhor forma é permanecer em Jesus e em seu amor (Jo 15).
Questões Para Estudo
• Leia 2 Samuel 12:1-25. Como o rei Davi reagiu à repreensão do profeta?
Como ele enfrentou o enorme fardo da culpa? Onde ele foi assim que ficou
sabendo que seu filho estava morto? Por quê? Que lições de enfrentamento você
pôde aprender desse relato?
• Leia 2 Crônicas 20. Quais foram as reações do rei Josafá quando soube das
terríveis notícias? Como ele enfrentou situações tão difíceis? O que você pode
aprender por meio da oração que ele fez a Deus? Como o problema foi resolvido?
Se tiver que enfrentar um problema sério de saúde, na família, no trabalho ou
dificuldades financeiras, como você aplicaria os princípios descritos em 2 Crônicas
20? E se a ajuda divina não vier de forma tão miraculosa como veio para Josafá?
• Leia 2 Coríntios 12:6-10. Como o apóstolo Paulo enfrentou o espinho na
carne? A que conclusão ele chegou após suplicar a cura ao Senhor e receber uma
resposta negativa?
Aplicação
• Memorize o seguinte texto bíblico: “Para os homens, é impossível; contudo,
não para Deus, porque para Deus tudo é possível” (Mc 10:27, ARA). Tenha esse
verso sempre em mente para os momentos em que qualquer coisa, seja grande ou
pequena, se torne muito difícil para você.
• O texto de 2 Coríntios 4:17, 18 descreve uma “momentânea tribulação” e faz
uma clara diferença entre as coisas que podemos ver e aquelas que estão além de
nossa visão, ou seja, entre as coisas temporais e as eternas. Como você pode
discernir o que pertence ao âmbito temporal e o que é eterno? Se vierem
momentos de aflição, como esse conceito pode ajudar você a enfrentar tais
situações?
• Ellen G. White afirma que Deus “se agrada quando insistimos em que as
26
graças e bênçãos passadas são a razão para nos conceder bênçãos maiores”. O
que você pode fazer para não se esquecer das bênçãos que recebeu?
1
E. Ramal, comunicação pessoal, em 9 de novembro de 2012.
2
Harold G. Koenig et al., 2012 Summer Research Workshops on Spirituality and Health (Durham, NC: Duke
Center for Spirituality, Theology and Health, 2012), p. 61.
3
Koenig et al., Handbook of Religion and Health, 2a ed. (Nova York: Oxford University Press, 2012), p. 91-
93.
4
Daniel H. Grossoehme et al., “Parents’ Religious Coping Styles in the First Year After Their Child’s
Cystic Fibrosis Diagnosis”, Journal of Health Care Chaplaincy 16 (2012), p. 109-122.
5
Thomas P. Carpenter et al., “Religious Coping, Stress, and Depressive Symptoms Among Adolescents: A
Prospective Study”, Psychology of Religion and Spirituality 4 (2012), p. 19-30. Participaram do estudo 111
adolescentes (28% do sexo masculino e 72% do sexo feminino).
6
Jeffrey P. Bjorck e John W. Thurman, “Negative Life Events, Patterns of Positive and Negative
Religious Coping, and Psychological Functioning”, Journal for the Scientific Study of Religion 46 (2007), p. 159-
167.
7
Melissa M. Kelley e Keith T. Chan, “Assessing the Role of Attachment to God, Meaning, and Religious
Coping as Mediators in the Grief Experience”, Death Studies 36 (2012), p. 199-227. O estudo incluiu 99
participantes com idade média de 46 anos, sendo 23% homens e 77% mulheres.
8
Bjorck et al., “Religious Coping, Religious Support, and Psychological Functioning Among Short-Term
Missionaries”, Mental Health, Religion & Culture 12 (2009), p. 611-626. Uma amostragem de 99 alunos foi
obtida das Faculdades Nazareno, com a participação de 32 rapazes e 66 moças.
9
Amy P. Webb et al., “Divorce, Religious Coping, and Depressive Symptoms in a Conservative Protestant
Religious Group”, Family Relations 59 (2010), p. 544-557. As mulheres formaram a maior representatividade,
perfazendo um total de 67% dos participantes. A média de idade foi de 61 anos, com 60% de origem branca e
33% de negros, e os restantes 7% eram principalmente de hispânicos e asiáticos.
10
Angelica P. Herrera et al., “Religious Coping and Caregiver Well Being in Mexican-American
Families”, Aging & Mental Health 13 (2009), p. 84-91. O estudo abrangeu 66 cuidadores que trabalhavam
com as famílias no condado de San Diego, na Califórnia, sendo a maioria mulheres (89,4%), em média com
48,5 anos de idade, e em sua maior parte católicos romanos (70%).
11
Kelly M. Trevino et al., “Religious Coping and Physiological, Psychological, Social, and Spiritual
Outcomes in Patients With HIV; AIDS: Cross-sectional and Longitudinal Findings”, AIDS Behavior 17
(2010), p. 379-389. Foram 429 participantes ao todo (85% homens e 15% mulheres), recrutados nos centros
médicos em Pittsburgh, Cincinnati, e em Washington, DC. Quanto à orientação sexual, 50,3%
consideravam-se gays ou lésbicas, 33,3% eram heterossexuais e 11,4% afirmaram ser bissexuais.
12
Kevin L. Rand et al., “Illness Appraisal, Religious Coping, and Psychological Responses in Men With
Advanced Cancer”, Support Care Cancer 20 (2012), p. 1.719-1.728. A amostragem foi composta de 86
homens com câncer em estágio avançado (a maioria com câncer gastrointestinal e sarcoma) e 63% deles
estavam recebendo quimioterapia na ocasião em que foi feito o estudo. Os pesquisadores recrutaram
participantes que se tratavam no Centro Simon Para o Câncer, na Universidade de Indiana, a maioria com
mais de 18 anos, sob tratamento de câncer em estágio avançado, fluentes no inglês, com capacidade para
consentir em dar as informações e com uma expectativa de vida de pelo menos três meses, sem nenhum tipo
de limitação cognitiva para o preenchimento dos questionários relacionados à pesquisa.
13
Suzana P. Ramirez et al., “The Relationship Between Religious Coping, Psychological Distress and
Quality of Life in Hemodialysis Patients”, Journal of Psychosomatic Research 72 (2012), p. 129-135.
Participaram do estudo 64% de homens e 36% de mulheres, com idade média de 48 anos. A maioria era de
cristãos (98%), sendo dois terços de católicos e um terço de protestantes.
14
Suzanne C. Leaman e Cristina B. Gee, “Religious Coping and Risk Factors for Psychological Distress
Among African Torture Survivors”, Psychological Trauma: Theory, Research, Practice, and Policy 4 (2012), p.
457-465. Dos 131 participantes (75 mulheres e 56 homens), cerca de 70% eram da Etiópia e Camarões; os
restantes eram do Quênia, Serra Leoa, Tobo, Burundi e Mali. Praticamente todos (99,2%) estavam buscando
asilo político nos Estados Unidos e estavam separados dos membros imediatos da família, que permaneceram
na África, em seu país de origem. Os dados foram coletados em inglês, francês e amárico (língua oficial da
Etiópia).
15
Courtney E. Ahrens et al., “Spirituality and Well-Being: The Relationship Between Religious Coping
and Recovery From Sexual Assault”, Journal of Interpersonal Violence 25 (2010), p. 1.242-1.263.
16
Monica M. Gerber et al., “The Unique Contributions of Positive and Negative Religious Coping to
Postraumatic Growth and PTSD”, Psychology of Religion and Spirituality 3 (2011), p. 298-307. Eles
conseguiram uma amostragem de 1.016 estudantes universitários formandos de uma grande universidade
pública no sul dos Estados Unidos, sendo 33% homens e 67% mulheres, com 20 anos de idade, em média.
Eles receberam avaliações de estratégias gerais de enfrentamento, enfrentamento religioso, um questionário
sobre acontecimentos traumáticos, um relatório sobre o crescimento pós-traumático e um checklist sobre o
Transtorno de Estresse Pós-traumático.
17
I. Ungureanu e J. G. Sandberg, “Broken Together? Spirituality and Religion as Coping Strategies for
Couples Dealing With the Death of a Child: A Literature Review With Clinical Implications”, Contemporary
Family Therapy 32 (2010), p. 202-319.
18
Yaron G. Rabinowitz et al., “Is Religious Coping Associated With Cumulative Health Risk? An
Examination of Religious Coping Styles and Health Behavior Patterns in Alzheimer’s Dementia Caregivers”,
Journal of Religion and Health 49 (2010), p. 498-512.
19
Laurie A. Burke et al., “Faith in the Wake of Homicide: Religious Coping and Bereavement Distress in
an African American Sample”, International Journal for the Psychology of Religion 21 (2011), p. 289-307.
20
Steven Pirutinsky et al., “Does Negative Religious Coping Accompany, Precede, or Follow Depression
Among Orthodox Jews?”, Journal of Affective Disorders 132 (2011), p. 401-405.
21
Randy Herbert et al., “Positive and Negative Religious Coping and Well-Being in Women With Breast
Cancer”, Journal of Palliative Medicine 12 (2009), p. 537-545.
22
Ellen G. White, Patriarcas e Profetas (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 213, 214.
23
White, O Desejado de Todas as Nações (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2004), p. 116.
24
Ibid., p. 118.
25
Paul Lee Tan, Encyclopedia of 15,000 Illustrations, entrada 12.443.
26
White, A Ciência do Bom Viver (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2004), p. 513.
CAPÍTULO 10
PLENA SAÚDE FÍSICA E MENTAL
“Descanse somente em Deus, ó minha alma; dele vem a
minha esperança.”
Salmo 62:5
H elena está agora com uns cinquenta anos de idade e passou por um episódio
de depressão quando tinha vinte anos. Ela sentia uma tristeza contínua, que
não passava mesmo diante de qualquer coisa que pudesse deixá-la animada e feliz.
Ela se distanciava dos amigos, de tudo que promovesse maior sociabilização e ia
para seu quarto, onde chorava muito, considerando-se totalmente inútil e com a
mente cheia de pensamentos negativos e pessimistas. Ela teve até mesmo sérios
pensamentos de suicídio, embora nunca tenha tentado. Felizmente, teve a
oportunidade de receber um bom tratamento, tanto médico como psicológico, e
em alguns meses conseguiu se recuperar.
O médico lhe disse que seu problema ocorreu devido à alta carga de estresse
que ela passou para cumprir as tarefas e se formar na faculdade. Helena se
recuperou completamente, casou-se, formou uma família e pôde desfrutar a vida
intensamente. Infelizmente, depois que os filhos saíram de casa, ela começou a
sentir-se depressiva novamente e a abrigar aqueles mesmos sentimentos de trinta
anos no passado. O conhecimento que tinha sobre o que podia esperar, com base
na experiência anterior, não a ajudou. Na verdade, foi pior, porque ela já previa
os sintomas e temia pelo que iria passar dentro de pouco tempo novamente. Para
complicar as coisas ainda mais, ela foi diagnosticada recentemente com doença
cardíaca, e isso trouxe ainda mais transtornos à sua vida já conturbada.
Entretanto, ocorreu algo novo e melhor nessa ocasião. Ao contrário do que
havia acontecido no tempo em que era uma garota na faculdade, ela decidiu
enfrentar esses problemas de saúde física e mental com a ajuda de seu Pai celestial.
Helena depositou os pesados fardos que carregava nas mãos de Deus e confiou
que Ele cumpriria a sua divina vontade na vida dela. Ela ainda foi ao médico e
recebeu conselhos sobre como agir, mas seu relacionamento com o Senhor se
aprofundou e se tornou mais íntimo, o que fez uma grande diferença. Orando
frequentemente com o esposo, continuou ajudando em alguns trabalhos da igreja.
Acima de tudo, ela manteve o hábito de orar e ler a Bíblia.
Helena diz que alguns versículos da Bíblia foram de grande ajuda. Ela os
personalizava (isto é, substituía o “nós” por “eu”), colava em pequenos cartões e
levava consigo aonde ia. Entre as tarefas que realizava, quando utilizava o
transporte público, ao acordar, antes de dormir e a qualquer momento em que se
sentisse desanimada, ela pegava seus cartões e lia novamente as promessas neles
contidas. Eis alguns daqueles versos que lhe traziam grande conforto:
• “Por que você está assim tão triste, ó minha alma? Por que está assim tão
perturbada dentro de mim? Ponha a sua esperança em Deus! Pois ainda o
louvarei; Ele é o meu Salvador e o meu Deus” (Sl 42:11).
• “Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável. Tuas obras são
maravilhosas! Digo isso com convicção” (Sl 139:14).
• “Tendo sido [eu], pois, [justificada] pela fé, [tenho] paz com Deus, por [meu]
Senhor Jesus Cristo, por meio de quem [obtive] acesso pela fé a esta graça na qual
agora [estou firme]; e [me glorio] na esperança da glória de Deus. Não só isso,
mas também [me glorio] nas tribulações, porque [sei] que a tribulação produz
perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado,
esperança. E a esperança não [me] decepciona, porque Deus derramou seu amor
em [meu coração], por meio do Espírito Santo que Ele [me] concedeu” (Rm 5:1-
5).
• “Coloquei toda minha esperança no Senhor; Ele se inclinou para mim e
ouviu o meu grito de socorro. Ele me tirou de um poço de destruição, de um
atoleiro de lama; pôs os meus pés sobre uma rocha e firmou-me num local
seguro. Pôs um novo cântico na minha boca, um hino de louvor ao [meu] Deus.
[Eu verei] isso e [temerei], e [confiarei] no Senhor” (Sl 40:1-3).
Uma coisa que Helena descobriu que a ajudava muito era orar ao longo do dia
– fazer orações breves, mas com maior frequência. Quando ela estava diante do
computador, o pequeno relógio no canto do vídeo a lembrava de orar por meio
minuto apenas, a cada meia hora. Ela fazia questão de orar brevemente cada vez
que pensamentos de baixa autoestima a assaltavam. E, logo em seguida, ela repetia
a mensagem encontrada em Salmo 139:14: “Graças te dou, visto que por modo
assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a
minha alma o sabe muito bem” (ARA).
A recuperação levou tempo, mas ela diz que foi muito mais fácil suportar o
processo do que aquele episódio de depressão que ela teve quando estava na
faculdade. Ela não teve mais sintomas um ano após o aparecimento dos primeiros
sinais. A depressão de Helena foi um caso agudo, e não crônico, o que é melhor
que a depressão que se instala na pessoa indefinidamente. No caso dela, o Senhor
– sem realizar nenhum tipo de milagre espetacular de cura imediata – trabalhou
pacientemente até que a depressão desaparecesse. O que essa experiência lhe
trouxe de bom? Helena obteve melhor compreensão de si mesma, do outros e de
suas lutas. Adquiriu melhor relacionamento com o esposo e, acima de tudo, uma
ligação mais forte e íntima com o Senhor.
Salmos e Provérbios
Os Salmos e os Provérbios são uma rica fonte de orientação e encorajamento
para a saúde física, mental e espiritual. Eu os recomendo às pessoas que sofrem de
depressão ou são ansiosas, ou que simplesmente passam por momentos de lutas e
dificuldades. Quando a pessoa os lê em uma atmosfera tranquila, com oração e
humildade, vários mecanismos fisiológicos são colocados em ação, o que, por sua
vez, melhora o estado de espírito e consequentemente protege contra as
enfermidades físicas.
Repassar o livro de Salmos por uma hora, reverentemente, sem a pressão do
tempo e livre de preocupações, traz grandes bênçãos ao corpo, à mente e ao
espírito. Os textos a seguir nos dão uma pequena ideia das mensagens apresentadas
nos Salmos.
As amizades com pessoas de conduta duvidosa devem ser evitadas, mas o
relacionamento com aqueles que seguem as orientações divinas traz bons frutos
(Sl 1:1-3) Estar perto de Deus traz alegrias, afasta os temores e faz a pessoa dormir
bem (3:4-6; 4:8; 5:11). O Senhor se agrada em responder às súplicas dos tristes,
dos que choram, dos que estão cansados e fracos (6:6-9). Alegramo-nos porque
Deus nos salva (9:14). Quando o pobre e o desabrigado estão com Deus, eles têm
esperança (9:18). Aos oprimidos, desamparados e sofredores o Senhor dará
segurança (12:5). O Senhor supre as nossas necessidades físicas com abundância de
alimento (17:14). Ele é a Fonte de toda a nossa confiança. (20:7). Deus ouve
aqueles que vivem em dores e não os abandona. Ele ouve seu grito de socorro
(22:14; 15, 24). Não precisamos temer em meio ao perigo, mesmo diante da
morte (23:4). O Senhor se preocupa conosco se estamos sozinhos e aflitos (25:16).
Alguns salmos são baseados em um tema central, tornando-os bastante
apropriados para situações e necessidades específicas:
• Salmo 18 – Esse é um cântico de louvor composto por Davi para exaltar o
nome do Senhor como sendo uma rocha, uma fortaleza, um escudo e torre alta.
Descreve os perigos pelos quais Davi passou, utilizando metáforas da natureza para
mostrar que qualquer pessoa que vier a passar por problemas e dificuldades
consegue entender a enormidade do sofrimento humano e pode, da mesma
forma, confiar no infinito poder de Deus. Para o salmista, a solução vem de Deus,
e essas são promessas feitas a qualquer um que passar por tribulações.
• Salmo 23 – Esse salmo apresenta o Senhor como um pastor. O mais
conhecido de todos os salmos revela o humilde, amoroso e terno caráter de Deus
ao cuidar de nós. Transmite calma e tranquilidade a qualquer pessoa que estiver
sentindo medo, inquietação, dúvida, irritação, hostilidade, fraqueza ou falta das
necessidades mais básicas.
• Salmo 34 – É um salmo que traz consolo aos que estão com o coração
quebrantado. Fala do poder do Senhor, de seu amor e boa vontade em ajudar seus
filhos quando passam por aflição, pesar, tribulações ou fadiga. O salmo termina
assegurando que nenhuma pessoa que a Ele recorrer se perderá.
• Salmo 55 – É um dos vários salmos que asseguram a proteção contra os
inimigos. Davi estava passando por extrema angústia por causa de seus adversários.
Ler esse salmo em diferentes versões ajuda-nos a perceber a riqueza de expressões
que descrevem as emoções de Davi. Deus vem em seu auxílio porque ele busca o
Senhor “à tarde, pela manhã e ao meio-dia” e Ele ouve a sua voz. Com base em
sua experiência, o escritor recomenda: “Entregue suas preocupações ao Senhor, e
Ele o susterá” (v. 22).
• Salmo 32 – É um salmo que alivia a culpa. O texto descreve o que acontece
quando a pessoa não confessa – vive gemendo e fazendo os ossos se secarem. O
fardo se torna realmente insuportável, mas o conselho do salmista é a confissão.
Ela traz perdão, liberdade, alegria e proteção.
• Salmo 46 – É a mais confortadora mensagem contra a ansiedade que há no
livro dos Salmos. Deus é apresentado como o nosso refúgio e força, pois Ele é
poderoso e insondável. Quando seus filhos permanecem ao seu lado, não têm
nada a temer, seja qual for ameaça que os aflige. Em termos atuais, um “batalhão”
de dificuldades financeiras, problemas de saúde, de relacionamento, de segurança
ou problemas profissionais que nos cercam não são nada, porque o Senhor dos
Exércitos está conosco.
• Salmo 68 – Traz esperança aos marginalizados. Aqueles que vivem nas
condições mais humildes – os órfãos, viúvas, abandonados, desolados ou
prisioneiros – podem aproximar-se confiantemente diante do Todo-poderoso
Deus. Ele faz a natureza tremer e poderosas nações ruírem. Qualquer um que se
sentir pequeno, incapaz ou indigno pode obter a força divina e ter a honra de ser
chamado de filho ou filha de Deus.
• Salmo 103 – Apresenta um retrato do caráter de Deus. Muitas qualidades do
Criador são mencionadas: Ele é justo, bondoso, misericordioso, amoroso,
compassivo, tardio em se irar. O texto traz uma mensagem que é um convite para
nos lembrarmos de que apesar de nossas dificuldades, tendo um Deus maravilhoso
ao nosso lado, todos os problemas serão superados.
• Salmo 118 – Esse salmo é para os aflitos. Mesmo diante da mais extrema dor
emocional, a pessoa pode clamar a Deus, receber forças e ser capaz de vencer
todas as dificuldades que enfrenta. Triunfo, prosperidade e salvação resultam da
bondade e misericórdia de Deus.
• Salmo 121 – Esse é o salmo da presença de Deus. Ele nos lembra de que Deus
está constantemente guardando a vida de seus filhos. Ele revela um sentimento de
total proteção. Passar por momentos de ansiedade e incerteza pode trazer grandes
dissabores. Assim, repetir as palavras desse salmo ajuda-nos a sentir a presença de
Deus de maneira bem mais real.
• Salmo 130 – É um cântico de declaração do perdão de Deus a Israel por causa
de suas transgressões. Deus é misericordioso e, da mesma maneira que Ele perdoa
seu povo, perdoa também aqueles que a Ele se achegam com todo o fardo de
pecados e lhe pedem libertação.
• Salmo 139 – Esse salmo nos mostra o cuidado pessoal de Deus. Ele conhece
tudo sobre nós, até os pensamentos mais íntimos, onde quer que estejamos e em
todas as horas do dia. Isso pode nos proporcionar um sentimento de grande paz,
sabendo que Deus pode guiar-nos em qualquer situação de nossa vida, e
finalmente nos conduzir para a eternidade.
• Salmo 143 – O salmo revela a deplorável condição do salmista. Ele se sente
humilhado até o pó, enfraquecido, com o espírito oprimido e o coração pesaroso.
Então ele clama a Deus e busca a misericórdia e bondade divinas para que o
Senhor o liberte da angústia. Da mesma maneira, qualquer um de nós, hoje, pode
clamar a Ele das profundezas da depressão e receber forças.
O livro de Provérbios contém outra série de bons conselhos para que possamos
viver uma vida melhor. É um guia extremamente útil para a formação de bons
hábitos na edificação do caráter e nas relações interpessoais em nossos dias, assim
como foi há três mil anos. Essas gotas de sabedoria apelam para o bom senso e são
comprovadas por estudos científicos. Os provérbios ensinam que o nosso coração
(a sede dos pensamentos e emoções no contexto bíblico, que para nós é a mente)
é a fonte da vida (Pv 4:23) e que nossas atitudes operam para o melhor ou para o
pior, dependendo se são positivas, e agem como remédio; ou negativas, e nos
fazem adoecer (17:22). Também nos ensinam que a ansiedade abate o espírito,
mas a boa palavra o anima. Apontam para uma ligação entre a mente e o corpo
físico – se há paz internamente, há também saúde; mas, quando a pessoa abriga a
inveja no coração, seus ossos apodrecem (14:30). Também lemos que, se estamos
felizes, nosso rosto se alegra, mas a tristeza causa abatimento (15:13). O livro traz
até mesmo alguns conselhos sobre hábitos de temperança. Eles vão fazer a
diferença em nossa saúde e comportamento: comer demais é como colocar uma
faca na garganta (23:2, 3); o uso de bebidas alcoólicas vem acompanhado de
consequências físicas e psicológicas extremamente desagradáveis (v. 29-35) e seu
uso não é aconselhável aos líderes para que eles mesmos não façam papel de tolos
(31:4-7).
Evidências dos benefícios da fé
Faz pouco tempo, um amigo me perguntou se eu estava envolvido em algum
projeto literário. Isso deu origem a uma conversa a respeito deste livro. Eu lhe
disse na ocasião: “O objetivo de Crer Faz Bem é mostrar que pessoas religiosas
obtêm muitas recompensas relacionadas à saúde e ao bem-estar justamente por
serem religiosas.” E ele respondeu: “Bem, disso eu já sabia!” Com certeza, as
pessoas que desfrutam um relacionamento pessoal com Deus já sabem disso por
experiência própria. Entretanto, há um número cada vez maior de pessoas que
deseja obter provas sobre esse assunto. E nós temos muitas agora.
Neste livro, o leitor teve a oportunidade de conferir as inúmeras recompensas
que tem por ser uma pessoa religiosa. Vimos que a oração produz baixos níveis de
ansiedade, alivia os sintomas da depressão e previne graves doenças mentais. Além
disso, a oração intercessória ajuda grupos de pacientes cardíacos a se recuperarem
mais rapidamente do que pacientes pelos quais ninguém orou. Os textos bíblicos
têm sido considerados uma poderosa ferramenta para melhorar a saúde mental e
física de pessoas de todas as idades. Muitos utilizam as passagens da Bíblia com
bastante êxito para enfrentar os momentos de estresse e de lutas, e também como
uma maneira de sentirem menos dor ao passar por alguma doença. A leitura da
Bíblia tem-se mostrado repetidamente como um meio facilitador para aprimorar
os relacionamentos e uma proteção contra o uso do álcool, do fumo e das drogas.
O perdão (tanto dar como receber perdão) é um agente de cura que nutre os
relacionamentos, eleva a qualidade do sono, traz maior sensação de bem-estar e
mais satisfação, melhora as funções cardíacas e faz as pessoas ganharem força física.
Também impede a vingança e o uso de substâncias que causam dependência. É
capaz de aliviar as dores da fibromialgia, diminuindo os sintomas da doença e
resultando na redução da quantidade de medicação ingerida.
Estar comprometido com os próprios princípios e crenças traz inúmeros
benefícios: melhor desempenho acadêmico na juventude, evita comportamentos
de risco (delinquência, drogas), melhora as interações pessoais, inclusive nos
relacionamentos matrimoniais e entre pais e filhos. O comprometimento aumenta
de maneira notável a saúde e a longevidade.
O serviço em favor de outros também traz muitas bênçãos. As pessoas que
costumam prestar serviço voluntário possuem níveis muito mais elevados de bem-
estar. Têm menos probabilidade de entrar em depressão, desfrutam melhor
condição de saúde e vida mais longa.
A frequência regular aos cultos na igreja também traz seus dividendos: menor
incidência de doença cardíaca, hipertensão, doença cerebrovascular, demência,
disfunção do sistema imunológico, disfunção endócrina, câncer e de mortalidade.
Ir à igreja ajuda as pessoas a se adaptarem aos novos locais em que vão morar,
promove a satisfação na família e fora dela. Além disso, acrescenta inúmeros
benefícios à saúde mental: baixa ocorrência de depressão, menos tendências
psicóticas, mais elevada satisfação pessoal e senso do serviço, menos temor em
relação às doenças e debilidade física, menos medo de quedas (entre os idosos),
menor índice no abuso das drogas e melhoria geral nos relacionamentos.
A alegria e a gratidão a Deus, observadas nas pessoas religiosas, têm-se provado
um benefício também: são agentes poderosos em favor do bem-estar e da saúde
de forma geral. A alegria favorece bons hábitos como o controle do peso, prática
de exercícios e um regime alimentar mais saudável. Protege contra pensamentos
negativistas e catastróficos, que são os precursores da depressão, e ajuda a diminuir
os sintomas depressivos. Na área das relações interpessoais, especialmente nas
comunidades religiosas, é um fator decisivo para ajudar os membros a reafirmarem
suas crenças, a desfrutarem melhor saúde física e mental e a realizarem ações
altruístas e a praticarem a empatia.
A religiosidade serve também como um recurso que traz resultados positivos
para lidar com os problemas em momentos de dificuldade. Pessoas que utilizam o
enfrentamento religioso positivo conseguem fazer face aos fatores estressores de
maneira muito mais eficaz que aquelas que utilizam outras estratégias. Elas podem
administrar melhor as perdas (morte de um membro da família, desemprego,
divórcio) e conseguem encontrar um propósito em meio à adversidade. O
enfrentamento religioso alivia os efeitos da depressão, e aqueles que utilizam esse
método são capazes de processar os eventos preocupantes sob uma perspectiva
mais lúcida. O enfrentamento religioso ajuda os cuidadores a atender os membros
doentes da família com uma atitude mais apropriada e melhor disposição. Pessoas
religiosas também podem lidar melhor com a doença crônica e o trauma (tortura,
agressão, abuso, acidentes).
A razão pela qual as estratégias religiosas funcionam é porque Deus é todo-
amoroso e todo-poderoso. Uma colega relatou, certa vez, que ela estava ajudando
uma criança, em sessões de aconselhamento, a lidar com seus temores. Esse
menino tinha medo do escuro, de monstros, de bruxas e de uma porção de
personagens dos desenhos animados da TV. O medo que ele sentia era tão terrível
que seus pais, depois de tentarem vários métodos, finalmente resolveram levá-lo a
um psicólogo clínico. A família possuía uma formação cristã e optou por um
psicoterapeuta também cristão. Em meio às sessões de terapia e aconselhamento, o
garoto acabou falando a respeito do Super-homem, Batman e outros personagens
poderosos que ele conhecia. Minha colega recordou com o menino as histórias da
Bíblia, mostrando-lhe o quanto Jesus é mais poderoso e que Ele poderia expulsar
todos esses monstros e bruxas. Ela o ensinou a pensar em Jesus e em seu grande
poder para protegê-lo e ajudá-lo a dormir tranquilo. Isso funcionou muito bem, e
ele concluiu o tratamento com o inestimável conhecimento de uma fé prática.
No entanto, Deus não é apenas amor e poder. Ele é também sábio e conhece o
fim desde o princípio. Não podemos nos esquecer de que a relação entre a fé
religiosa, a doença e/ou os problemas nem sempre é constante, mesmo com Deus
ao nosso lado. É uma realidade da existência humana que pessoas fiéis também
fiquem gravemente doentes e algumas vezes sofram de doenças terminais e
morram jovens. Por vezes, isso acontece até mesmo com aquelas que fazem tudo
para prevenir esses males e não têm nenhuma história familiar relacionada.
Na verdade, é aqui que a fé pode encontrar um propósito na dor e ajudar a
vítima a olhar ainda mais para o plano da salvação eterna que Deus oferece. O
sofrimento também ocorre na vida dos filhos de Deus. Podemos aprender com os
personagens bíblicos, como o apóstolo Paulo. Ele descreve seu sofrimento em
torturas, aflições, perseguição, adversidades e tribulações que teve que enfrentar
depois que aceitou a Cristo (2Co 11:16-33). Muitas situações adversas são injustas
ou não podem ser entendidas mesmo no contexto do conflito entre o bem e o
mal e do pecado generalizado. Helena, citada no início do capítulo, amadureceu e
encontrou um relacionamento mais profundo com Jesus, como resultado de sua
dor física e mental. Alguns que passam pela adversidade chegam a vivenciar uma
incrível união nas relações familiares. Outros desenvolvem firmeza e pureza de
caráter. Há aqueles que ajudam as pessoas à sua volta a obterem uma perspectiva
de vida e a se inspirarem em sua experiência pessoal. Outros, aparentemente, não
receberão nada que seja considerado positivo. Entretanto, é sempre confortador
saber que, embora possamos ver apenas o presente, Deus vê no contexto da
eternidade.
O caso oposto tem também abalado a lógica humana desde a entrada do
pecado: Por que os maus parecem prosperar em todas as áreas? Por que pessoas
que vivem transgredindo os princípios de saúde desfrutam boa saúde e morrem
em idade bastante avançada? O Salmo 73 traz um pouco de luz sobre o tema: a
primeira metade fala sobre as questões levantadas pelos observadores a respeito das
bênçãos que os ímpios recebem. A segunda metade descreve o triunfo da fé em
Deus, a segurança de que, embora não saibamos por que certas coisas acontecem,
a justiça de Deus prevalecerá. O evangelho de Lucas também acrescenta outra
perspectiva: embora os maus possam prosperar, para eles, tudo se limita a esta
vida. Eles não alcançam a eterna prosperidade (Lc 12:16-21).
Conclusão
No fim da manhã, quando os alunos do jardim de infância já não conseguiam
realizar tarefas mais pesadas, a professora colocou-os para desenhar o que
desejassem. Ela começou a passar pelas carteiras para ver como combinavam as
cores e as formas dos desenhos. Ela observou uma garotinha que estava usando
bastante todos os seus lápis de cor e perguntou o que ela estava desenhando. A
menina respondeu: “Estou desenhando Deus.” A professora foi apanhada de
surpresa e disse simplesmente: “Mas ninguém sabe como é Deus!” Sem hesitar e
continuando a fazer seu desenho, a menina disse: “Pois vão saber em um
minuto.” Que senso de confiança! Algo presunçoso em um adulto pode ser uma
inspiração em uma criança.
É nosso privilégio conhecer a Deus por meio de Jesus, e conhecê-Lo tão bem
como se pudéssemos vê-lo. Isso é o que significa ter perfeita saúde: conhecer a
Deus, falar com Ele, ouvi-lo, esperar nele e amá-lo. É desse modo que podemos
obter vida em abundância (Jo 20:31) e vida eterna (Jo 10:28).
Questões Para Estudo
• Que livro do Antigo Testamento Jesus menciona nos acontecimentos de
Mateus 27:35, 46; Lucas 23:46; e João 13:18? Quais eram as circunstâncias? O
que você pode aprender com Jesus ao referir-se a esses textos bíblicos naquelas
circunstâncias?
• Se você tem uma Bíblia eletrônica, procure pela frase “Não temas” (ou pela
palavra temor em uma concordância). Em que contexto as palavras são usadas?
Quais são algumas maneiras de evitar o medo, a apreensão, a ansiedade e a
incerteza, de acordo com esses textos?
Aplicação
• Utilize uma Bíblia digital ou on-line, ou então uma concordância para buscar
pela palavra “conforto” no livro dos Salmos. Crie uma lista ou escolha dez ou
doze versos que lhe sirvam de apoio na próxima vez que se sentir desanimado.
• Memorize um texto de encorajamento, como: “O Senhor é a minha força e o
meu escudo; nele o meu coração confia, e dele recebo ajuda. Meu coração exulta
de alegria e com o meu cântico lhe darei graças” (Sl 28:7). Tenha-o em mente
por todo o dia e reflita em seu significado sempre que puder. Ore ao Senhor para
que o verso que você escolheu se torne uma realidade em sua vida.
• O que você diria a um vizinho que, sabendo que você é um cristão, lhe
pergunta: “Por que sua fé é tão importante para você?”
• Imagine que um amigo chegue até você e lhe diga: “Eu não sinto mais o
desejo de orar. Perdi o interesse pela Bíblia. Sei que isso não é bom, mas estou
simplesmente perdendo a minha fé.” O que você diria? O que faria para ajudar
seu amigo a não perder a fé e a salvação?