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Título

original em inglês:
The Benefits of Belief

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1ª edição neste formato


Versão 1.1
2017

Coordenação Editorial: Vanderlei Dorneles


Editoração: Neila D. Oliveira e Guilherme Silva
Revisão: Adriana Seratto
Design Developer: Paloma Cartaxo
Capa: Thiago Lobo

Os textos bíblicos citados neste livro foram extraídos da Nova Versão Internacional, salvo outra
indicação.

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio,
sem prévia autorização escrita do autor e da Editora.

15733/35733
PREFÁCIO
A religião sempre teve o seu papel na vida da humanidade. A análise histórica de
cada civilização irá revelar um forte componente religioso intimamente
relacionado à vida de homens e mulheres. Aliás, grande parte dos tesouros
arquitetônicos e artísticos das culturas antigas traz muitos emblemas da fé. De
maneira bastante específica, as práticas religiosas têm exercido um papel
fundamental na saúde e na cura das pessoas ao longo da História.
É também verdade que os impressionantes avanços da ciência nos últimos
séculos têm despertado questionamentos quanto à credibilidade da fé e da religião.
Os patrocinadores da cosmovisão naturalista sentem-se incomodados com
fenômenos religiosos como a fé, pois estes são difíceis de avaliar cientificamente.
No entanto, os fatos demonstram que, quando sobrevém a adversidade, as pessoas
se voltam para Deus e para a religião a fim de enfrentar o sofrimento e a angústia
que tais acontecimentos causam. Numa pesquisa realizada no fim dos anos 1990,
foi feita a seguinte pergunta a pacientes hospitalizados: “Até que ponto você se
apega à religião para lidar com as adversidades?” Entre as respostas obtidas, 23%
disseram que a religião tinha de moderado a muito significado; 27% afirmaram
que tinha muito significado ou era extremamente significativa; e 40%
consideravam a religião o fator mais importante para mantê-los confiantes e
1
animados.
Durante os últimos vinte e cinco anos, testemunhamos um tremendo
crescimento nas pesquisas acadêmicas sobre o papel do envolvimento religioso na
prevenção, controle e tratamento das doenças físicas e mentais. A segunda edição
2
do Handbook of Religion and Health [Manual de Religião e Saúde] analisou
mais de 3.700 estudos quantitativos publicados em revistas acadêmicas,
relacionados à temática de religião e saúde. Quando comparamos o número dessas
publicações entre as duas edições do livro, descobrimos que a literatura de
pesquisa havia quase que triplicado nos últimos dez anos. Esse crescimento é
refletido também na prática. Em 2015, o Medical College Admission Test
(MCAT) [Exame de admissão para a Faculdade de Medicina nos Estados Unidos]
passou a incluir uma nova seção relacionada às bases psicológicas, sociais e
biológicas do comportamento para verificar se os estudantes de Medicina
entendem os processos psicológicos de modo que estejam mais bem preparados
para enfrentar o currículo da Escola de Medicina, que está sendo modificado para
incorporar os aspectos psicológicos, sociais, culturais e/ou religiosos da pessoa. Os
médicos residentes também participam de seminários e workshops para entender
melhor a vida religiosa dos pacientes e, assim, poder auxiliá-los quanto à prática
da oração, adoração, hábitos devocionais, atendimento aos necessitados e outras
atividades que contribuam positivamente para a sua recuperação.
O livro Crer Faz Bem enquadra-se nesse contexto. Esta obra apresenta
pesquisas recentes na área da religião e da saúde, tanto física como mental. Julián
Melgosa relaciona a experiência religiosa às pesquisas científicas para responder a
perguntas como: A oração é um meio eficaz para ajudar as pessoas a se manterem
calmas e tranquilas? Ela ajuda a prevenir a depressão? A leitura da Bíblia promove
realmente a saúde e o bem-estar? O perdão pode se tornar um instrumento para a
cura emocional, física e mental? O perdão pode ajudar a melhorar algumas
condições específicas, como a fadiga crônica, a fibromialgia ou problemas
cardíacos? É possível melhorar a qualidade dos relacionamentos conjugais e
constatar visível bem-estar quando as pessoas participam de uma comunidade
religiosa? O serviço em favor de outros, realizado por motivos religiosos,
proporciona saúde e felicidade, além de prevenir os sintomas da depressão? A
frequência regular à igreja está relacionada, de modo positivo, a melhor saúde
física e mental? Ela ajuda a prevenir os problemas físicos e mentais entre as
crianças e adolescentes? Como a religião e a fé afetam a capacidade da pessoa de
ser feliz? A religião tem verdadeiramente a tendência de promover uma vida mais
feliz? A religião e a espiritualidade promovem bons relacionamentos interpessoais?
Como o enfrentamento religioso é utilizado para lidar com a doença e o
infortúnio? Será que as pessoas sentem maior força e conforto quando se apegam à
religião para enfrentar seus problemas? Será que a prática religiosa ajuda os fiéis a
enfrentar os traumas e a se transformar em pessoas melhores durante esses
processos?
Além disso, para responder a essas e outras perguntas, o autor utiliza
personagens e textos bíblicos para ilustrar, com base em pesquisas, os benefícios
que as pessoas recebem por serem religiosas. Isso é feito de maneira acessível a
todo o público leitor. Para ilustrar suas ideias, o autor também relata experiências
pessoais e outras ocorridas em vários países e culturas da Europa, Ásia e América,
onde viveu.
Por ser baseado em pesquisas, este livro revela que a fé e a religião, longe de
serem obrigações desagradáveis, são uma forma positiva de viver a vida em toda a
sua plenitude. Embora a vida religiosa não garanta a ausência da dor e do
sofrimento, ela nos oferece meios para que possamos viver conectados com Deus
e permanecer confiantes em sua providência, a fim de desfrutarmos ao máximo os
resultados da atuação divina em meio a circunstâncias adversas. Em síntese, Crer
Faz Bem enfatiza o conceito de que se deve viver uma vida religiosa para que sua
influência sobre os princípios, crenças e comportamento traga muitos dividendos
em termos de melhor saúde física e emocional.
Dr. Harold G. Koenig
Professor de Psiquiatria e Ciências Comportamentais Professor Associado de
Medicina Diretor do Centro Para a Espiritualidade, Teologia e Saúde no Centro
Médico da Universidade de Duke, em Durham, Carolina do Norte, Estados Unidos
Professor Adjunto na Universidade Rei Abdulaziz, Jeddah, na Arábia Saudita

1
Harold G. Koenig et al., 2012 Summer Research Workshops on Spirituality and Health (Durham, NC:
Duke Center for Spirituality, Theology and Health, 2012), p. 61.
2
Harold G. Koenig et al., Handbook of Religion and Health, 2a ed. (Nova York: Oxford University
Press, 2012).
INTRODUÇÃO
“Só Ele cura os de coração quebrantado e cuida das suas
feridas.”
Salmo 147:3

N a virada Do século 19 para o século 20, logo depois da morte do irmão, um


jovem formado em Yale passou pelo primeiro episódio de psicose maníaco-
depressiva, atualmente conhecida como transtorno bipolar. Esse transtorno levou-
o a tentar o suicídio. Com lesões graves, foi encaminhado a vários hospitais, tanto
particulares como públicos, em todo o Estado de Connecticut, por três longos
anos. Como qualquer paciente mental da época, ele foi submetido a tratamentos
desumanos e testemunhou abusos terríveis praticados tanto por cuidadores como
por outros pacientes. Após três anos de internação, ele foi liberado e decidiu
revelar os maus-tratos recebidos nas instituições para doentes mentais. Seu nome
era Clifford W. Beers, e o livro por ele escrito, A Mind That Found Itself [Uma
Mente que se Encontrou Consigo Mesma], abriu os olhos do povo americano,
dando origem a um importante movimento de reforma da saúde. Em 1909, Beers
fundou a Mental Health America (MHA), a maior organização sem fins lucrativos
nos Estados Unidos, que trabalha no desenvolvimento da saúde mental e ajuda na
prevenção contra as doenças mentais e a dependência química. Essa instituição
1
promove o uso do que ela chama de “Dez Ferramentas Para Viver Bem” , que
são conselhos simples, baseados em amplas evidências científicas, recomendadas
com grande ênfase para todos aqueles que desejam desfrutar boa saúde física e
mental:
1. Conecte-se aos outros.
2. Mantenha o pensamento positivo.
3. Mantenha-se fisicamente ativo.
4. Ajude o próximo.
5. Durma o suficiente.
6. Desenvolva um ambiente de alegria e satisfação.
7. Alimente-se bem.
8. Cuide do seu lado espiritual.
9. Procure lidar melhor com os momentos difíceis.
10. Peça ajuda profissional, se necessário.
As “Dez Ferramentas” apresentadas por essa instituição de saúde mental são
inteiramente compatíveis com o viver cristão. De fato, estão implícitas nos
princípios bíblicos fundamentais e são parte central no estilo de vida promovido
pelos adventistas do sétimo dia. Por várias décadas, os adventistas têm chamado a
atenção para a importância da alimentação saudável, da prática de exercícios, da
interação positiva com outros, do otimismo, da perspectiva de uma vida com
esperança, da nutrição espiritual e da disposição para aceitar a intervenção divina
2
nos bons e maus momentos. Hoje, aumentam cada vez mais as evidências
científicas em favor desses pilares fundamentais da saúde.
Pesquisas médicas e psicológicas realizadas durante as duas últimas décadas têm
demonstrado que muitos elementos da religião, como a oração, o estudo das
Escrituras, o perdão, a esperança e o serviço em prol dos semelhantes estão
intimamente ligados à saúde e à felicidade. Uma publicação a respeito da
longevidade, lançada recentemente por Howard Friedman, da Califórnia, e por
Leslie Martin, da Universidade de La Sierra, ambas nos Estados Unidos, rastreou a
3
vida de aproximadamente 1.500 americanos que eram crianças em 1921. Além
da personalidade, formação escolar, hábitos de saúde, casamento, carreira e vida
social, Friedman e Martin descobriram que a prática religiosa contribuiu
significativamente para a longevidade dessas pessoas. As mulheres eram
particularmente as mais beneficiadas: descobriu-se que mulheres com maior
longevidade eram profundamente religiosas. Aquelas que afirmaram ser pouco
religiosas ou não praticavam religião alguma tinham mais baixa qualidade de vida
e viveram menos que as suas contemporâneas. O papel da religião na duração da
vida não foi um processo misterioso. Ao contrário, a religião produziu resultados
que são fatores conhecidos com respeito à longevidade: envolvimento na
comunidade, interação familiar, ter filhos, companheirismo, confiança, e assim
por diante. Howard Friedman assim escreveu:
“Embora não possamos fornecer uma confirmação empírica quanto ao fato de a
religiosidade ser importante para obter a vida eterna, The Longevity Project [O
Projeto Longevidade] descobriu uma boa evidência de que pelo menos alguns
aspectos da participação congregacional podem ser relevantes para a duração da
vida mortal. Foi pelo envolvimento social e o serviço realizado em favor de
outros, assim como o fato de serem religiosas, é que foi possível explicar por que
4
essas pessoas, especialmente as mulheres mais religiosas, vivem mais.”
Este livro apresenta os benefícios que cada um pode obter por seguir os
caminhos do Senhor. Jesus prometeu a seus seguidores que receberiam “cem
vezes mais, já no tempo presente” (Mc 10:30) ou “muitas vezes mais” (Lc 18:30).
É razoável pensar que essas bênçãos não são necessariamente materiais, mas que
estão relacionadas ao exercício da sabedoria, resiliência, perseverança e às muitas
virtudes estimuladas pela religião, as quais podem ser traduzidas por boa saúde,
felicidade e bem-estar.
De que maneira a religião pode ajudar? A religião fornece respostas para os
problemas existenciais: Qual é a origem do universo? Qual é o propósito da
minha existência? O que é a vida após a morte? Como devo me relacionar com
os meus semelhantes?
Uma pessoa de fé, que aceita a revelação dada por Deus, terá à disposição as
melhores respostas a essas perguntas fundamentais e será capaz de enfrentar a
jornada da vida com muito menos ansiedade, temor e incerteza do que uma
pessoa destituída de fé. A religião fornece não somente explicações, mas apresenta
as diretrizes que definem o que é apropriado ou não. Longe de restringir a
liberdade, essas diretrizes estabelecem limites razoáveis que podem proporcionar
saúde, proteção, calma e segurança para o crente.
A religião não imuniza as pessoas contra a aflição e a adversidade, mas as ajuda a
edificar sua fé e a permanecer firmes e contentes, mesmo diante da adversidade.
Isso devido à compreensão que têm de que “todas as coisas contribuem para o
bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8:28, ARC). A aceitação da vontade
divina ajuda as pessoas a também aceitarem as realidades da vida; isso, porém, com
a paz que vem de Deus. A religião pode prover orientações simples, mas de
profundo significado, e metas que ajudem a encontrar soluções bem estruturadas
para as complexidades da vida. Por fim, ao revelar seus planos ao ser humano,
Deus provê conhecimento e informação para que seus filhos estejam preparados
para enfrentar o futuro sem ansiedade e com confiança no poder do Pai (Am 3:7).
Nas páginas a seguir, o leitor terá a oportunidade de analisar os inúmeros
benefícios que as pesquisas seculares estão descobrindo hoje a favor de um estilo
de vida cristão. Bem ao contrário de ser “o ópio do povo”, a religião oferece uma
infinidade de benefícios para aqueles que decidem confiar em Deus e seguir a
direção divina.
Confie no Senhor de todo o seu coração
e não se apoie em seu próprio entendimento;
Reconheça o Senhor em todos os seus caminhos,
e Ele endireitará as suas veredas.
Não seja sábio aos seus próprios olhos;
tema o Senhor e evite o mal.
Isso lhe dará saúde ao corpo
e vigor aos ossos (Pv 3:5-8).
Que este livro ajude a aumentar sua compreensão a respeito dos efeitos
benéficos da fé religiosa em sua vida para que possa encontrar satisfação agora e, o
mais importante, que a prática das orientações aqui descritas conduza você para
mais perto de Deus, até alcançar a vida eterna.

1
“Live Your Life Well: You Can Live Your Life Well”, Mental Health America, acessado em 21 de maio de
2013, http://www.liveyourlifewell.org.
2
Embora alguns fiéis isolados já estivessem praticando alguns princípios de saúde adotados mais tarde pela
comunidade em geral, a mensagem adventista de saúde começou a ser pregada no dia 6 de junho de 1863,
quando Ellen White recebeu a visão sobre saúde em Otsego, no Michigan, Estados Unidos.
3
Howard S. Friedman e Leslie R. Marting, The Longevity Project (Nova York: Hudson Street Press, 2011).
4
Howard S. Friedman, “How Prayer Leads to Better Health and Longer Life”, Huffington Post, acessado
em 13 de maio de 2013, http://www.huffingtonpost.com/howard-s-friedman-phd/where-exactly-is-the-heal_b_838603.html .
CAPÍTULO 1
OS BENEFÍCIOS DA ORAÇÃO
“Ouve a minha oração, Senhor; escuta o meu grito de
socorro.”
Salmo 39:12

N a noite anterior, antes de sairmos para fazer nossa trilha, minha esposa e eu
repassamos a lista: Previsão do tempo? OK. Equipamentos? OK. Roupas?
OK. Alimento e água? OK. Combinamos de acordar às 5h e partir às 6h para
aproveitarmos ao máximo a luz do dia. Como estávamos bastante cansados, fomos
para a cama mais cedo, a fim de desfrutarmos uma boa noite de sono.
Na manhã seguinte, eu me levantei, tomei meu banho e acordei Annette com
um leve toque, avisando-a de que eram 5h15. Ela disse que já ia se levantar. Desci
as escadas para ir adiantando o desjejum e arrumar o restante das coisas.
O tempo estava passando, mas eu não ouvia nenhum movimento no andar de
cima. Fiz tudo o que podia no preparo para a caminhada e me assentei para ler. O
relógio continuava correndo, e eu não conseguia me concentrar na leitura.
Comecei a pensar que, se Annette não se levantasse, nosso dia estaria perdido; não
teríamos tempo para alcançar nosso destino e retornar ainda com o dia claro.
Minha costumeira sensação de bem-estar pela manhã estava se transformando em
nervosismo. Previ que aquele seria um dia frustrante, sem tempo suficiente para ir
até o lago, conforme o planejado. De repente, observei sinais de movimento, que
me deram um sentimento de alívio. Mas logo percebi que as coisas iam muito
devagar. Estas são algumas frases que eu estava ensaiando para dizer a ela: Por que
demorar tanto para se aprontar? Nós não estamos indo para nenhum jantar de gala,
estamos? Já estamos atrasados quase uma hora! Não combinamos na noite passada que
iríamos sair por volta das 6h?
“Pare!”, eu disse para mim mesmo, e comecei a orar: “Senhor, ajuda-me a ficar
calmo. Ajuda-me a ser paciente e gentil quando ela descer. Ajuda-me a não
pronunciar nenhuma palavra de reprovação.” Depois disso, permaneci em
silêncio, com os olhos fechados por alguns momentos para receber
completamente as bênçãos da minha prece.
Essa pequena oração foi de extrema importância, pois, quando Annette
apareceu, minha súplica para não dizer nenhuma palavra de reprovação… nenhuma
palavra de reprovação… ecoava em minha mente, e Deus me abençoou com um
sorriso e uma conversa que não tinha nada que ver com seu atraso. Tivemos um
agradável desjejum e passamos um dos dias mais alegres e divertidos junto ao Lago
Aneroid, no alto das Montanhas Wallowa. O fato de partirmos com um atraso de
45 minutos não fez absolutamente diferença alguma. É terrível imaginar o que
uma discussão, logo pela manhã, teria significado para todo aquele dia que
passamos juntos.
A oração foi o ponto decisivo para aquele dia. Ao perceber minha agitação,
sabia que precisava de ajuda, e Deus a providenciou. A oração foi o instrumento
fundamental para que houvesse harmonia entre nós. Como veremos neste
capítulo, a oração é muito mais do que pedir ajuda em um momento de
necessidade; entretanto, estou agradecido a Deus por sua disponibilidade e boa
vontade em operar simples mudanças que podem produzir paciência, sabedoria,
atitudes adequadas e palavras apropriadas.
A maioria dos fiéis de todas as crenças considera a oração um dos principais
meios de crescimento espiritual e um vínculo seguro de comunhão com Deus.
Nos últimos anos, as pesquisas têm mostrado que a oração proporciona não
somente bênçãos espirituais, mas também ajuda a manter as pessoas longe das
doenças físicas e mentais. Além disso, a oração tem sido relacionada positivamente
ao bem-estar subjetivo (o termo de pesquisa usado para a felicidade). Essa é uma
confirmação de que Deus designou a oração para que seus filhos tivessem saúde
completa.
Os benefícios da oração
Os meus tempos de faculdade na Universidade de Madri, na Espanha, foram
marcados por desordem social e profundas mudanças na sociedade. Após 40 anos
vivendo sob um regime de ditadura, a maioria das pessoas desejava libertar-se da
tradição de haver uma única ideologia política e uma única denominação religiosa
– o catolicismo romano. Na esfera política, os antigos partidos que haviam sido
reprimidos foram legalizados e muitos outros começaram a surgir. Entretanto, não
aconteceu o mesmo com relação à religião. Muitas pessoas não queriam que
houvesse uma pluralidade de crenças, mas rejeição completa da religião. Isso
aconteceu provavelmente porque o povo relacionava a religião com o catolicismo
romano; também porque, pelo fato de a igreja e o Estado terem permanecido
intimamente ligados por décadas, muitos deixaram de ir à igreja.
Em pouco tempo, fazer oração e ir à igreja tornou-se obsoleto, e muitos
desistiram das práticas religiosas. Mas isso significa que as pessoas pararam de orar?
A maioria provavelmente não. Pelo menos essa era a minha impressão quando
conversava com meus colegas. Muitos continuavam orando como faziam antes,
mas não falavam tanto sobre isso. Alguns anos mais tarde, percebi a mesma coisa
entre os alunos do Newbold College, na Inglaterra, numa época em que a religião
não era algo “legal” e estava fora de moda na Europa. Conduzi então uma
pesquisa qualitativa sobre a experiência religiosa com os alunos da faculdade.
Embora a maioria dos meus entrevistados fosse adventista do sétimo dia, havia
vários alunos de outras religiões e também descrentes. Mesmo assim, não
encontrei um deles sequer que não orasse com certa regularidade. Parece que a
oração é uma necessidade e traz benefícios suficientes para que a maioria das
pessoas não venha a descartá-la tão facilmente. Pesquisas realizadas ao longo dos
últimos quatro ou cinco anos, mostram que cerca de 50% a 90% dos americanos
afirmam que oram diariamente.
Há também setores da população que oram mais que outros: pessoas com
poucos recursos, com pouco autocontrole, pessoas que vivem sob estresse e
aquelas que podem levar alguma desvantagem devido ao gênero (as mulheres,
mais comumente), idade (os idosos), membros pertencentes a minorias
(especialmente grupos oprimidos) e pessoas com baixo nível educacional. Isso
pode ajudar a entender as Bem-Aventuranças pronunciadas por Jesus: os que são
pobres e humildes, os que choram, os que são vítimas da injustiça e os que são
perseguidos por fazerem as coisas corretas são especialmente abençoados (Mt 5:3-
12). É a bênção trazida pela adversidade; é a oração que assume o lugar quando se
sente a dependência de Deus. Na verdade, Jesus se agrada em responder às
orações daqueles a quem Ele veio ajudar, especialmente os pobres, os cativos, os
cegos e os oprimidos (Lc 4:18).
Por que as pessoas oram? As pessoas geralmente oram porque passam por algum
tipo de dificuldade. Na cultura em que nasci, temos o seguinte ditado: “Ele ora a
Santa Bárbara quando ouve o trovão” (nessa tradição, Santa Bárbara é a quem se
atribui a proteção dos perigos das tempestades com raios e trovões). Outros oram
porque acham que devem orar; oram por obrigação, talvez pressionados pelos
preceitos religiosos. As pessoas também oram porque estão agradecidas e desejam
demonstrar seu reconhecimento e apreciação a Deus. Outros oram ainda porque a
oração lhes traz o sentimento de estar mais próximo a Deus; sentem sua presença
e o conforto de estar perto do Todo-Poderoso. As pessoas também oram em
favor de outros, pedindo a Deus que intervenha na vida de um amigo, parente ou
alguém que esteja passando por uma necessidade especial. Isso pode ser feito
porque a pessoa pediu ou aquele que ora foi movido por amor e compaixão.
Eu oro porque a oração se tornou um hábito em minha vida. Sei que os hábitos
correm o risco de se tornar rotineiros e perder o significado, e tenho o cuidado
para que isso não aconteça. Oro porque necessito manter ligação com Deus para
seguir em frente, tendo o sentimento de que não estou sozinho e que Ele me
envolve com sua bondade e amor. Oro, cada dia, ao sair de casa. Agradeço a Deus
pela noite que passou e pelas estrelas (costumo contemplar as estrelas porque,
onde moro, o céu é sempre mais limpo). Agradeço a Deus por minha esposa e
meus filhos, e também por outas pessoas que fazem parte da minha vida: amigos,
familiares, colegas e alunos. Agradeço a Ele pelo trabalho que tenho, pelas
oportunidades de crescimento, por poder partilhar minhas experiências com
outros e aprender com eles também. Louvo a Deus por todas as suas provisões e
especialmente pelo dom de Cristo Jesus e da salvação que temos por meio dele.
As petições surgem então facilmente em minhas orações; assim, oro pelos
membros da minha família, um por um, de acordo com os desafios que eles
enfrentam. Depois oro em favor de outros que sei que estão passando por lutas.
Oro por mim mesmo e pelas tarefas que tenho à frente. Invariavelmente, peço
por sabedoria ao tomar minhas decisões, no trato com as pessoas, ao conduzir
minha vida, meus pensamentos e ações, como também por saúde e força, e por
entendimento para saber como preservá-los. Oro então para pedir perdão,
especificamente por pensamentos pecaminosos, palavras, maneiras de agir, e ainda
por me angustiar com preocupações desnecessárias. Por último, falo do meu
desejo de dedicar minha vida a Ele e peço-lhe que me ajude a cumprir esse ideal.
Dou imenso valor à minha vida de oração, pois sei que me traz grandes
benefícios. Não preciso fazer estudos empíricos para demonstrar que a oração é
algo bom. No entanto, há pessoas que podem revelar seu interesse na oração e na
religião, apenas por lerem esses estudos. Além disso, é útil e importante saber que
a comunidade acadêmica reconhece o valor da oração e de outros fatores
religiosos e espirituais.
Nas últimas duas décadas, estudos têm demonstrado as diferenças que há entre
aqueles que dizem que oram e aqueles que não oram. Os resultados revelam que
as pessoas que oram têm a tendência de ser mais saudáveis do que aquelas que não
oram, tanto física como mentalmente. É verdade que não podemos fazer uso da
oração da mesma forma que utilizamos uma pílula ou uma pomada – a oração é o
resultado de um relacionamento. É bom, porém, estarmos cientes de alguns
possíveis benefícios obtidos por meio da oração.
Atividade cerebral
Uma das primeiras tentativas feitas para registrar a atividade cerebral durante a
oração foi conduzida por Walter Survillo e Douglas Hobson, na Escola de
1
Medicina da Universidade de Louisville. Foi esse o modesto início dos estudos
neurológicos sobre a oração, antes mesmo dos tempos em que começou a ser
utilizada a ressonância magnética funcional por imagem (RMFi). Os
pesquisadores inscreveram seis adultos, três homens e três mulheres, membros da
Igreja de Deus, em Anderson, Indiana, nos Estados Unidos, como participantes
do estudo. A atividade eletrocortical foi registrada via eletroencefalogramas
(EEGs) realizados durante a oração. O objetivo era descobrir se, durante a oração,
o ritmo era mais lento do que normalmente acontece em estado de repouso.
Esperavam encontrar esses ciclos de diminuição da velocidade durante a oração,
da mesma forma que haviam sido descobertos em outra pesquisa com relação à
meditação transcendental. Entretanto, os resultados não demonstraram evidência
de redução da velocidade nos EEGs durante os períodos de oração desses três
homens e três mulheres. Na verdade, o que observaram foi um aumento na
velocidade dos EEGs de todos eles.
Essas descobertas mostraram a diferença que há entre a oração cristã e a
meditação transcendental. Enquanto a oração cristã mantém o foco em uma
conversa pessoal com Deus, a meditação transcendental está centralizada na
repetição calma e em voz baixa de um mantra – que pode ser uma sílaba, uma
palavra ou um grupo de palavras. Os EEGs mais rápidos são produto de uma
atividade cognitiva mais intensa, devido ao alto nível de concentração
demonstrado por aqueles que estão orando. Isso foi confirmado por meio de
conversações feitas pessoalmente com os participantes que relataram haver uma
intensa atividade mental enquanto oravam com fervor.
Isso, de fato, não é estranho para aqueles que praticam a oração como “o abrir
2
do coração a Deus como a um amigo”. Quando vou à presença de Deus e
divido o fardo com Ele, tento expor o que penso a respeito da questão e peço a
Deus que intervenha. Falo sobre minhas preocupações e a maneira como vejo o
problema. É claro, Deus o conhece muito melhor, mas isso não impede que
continue a minha conversa porque sei que, ao orar, estarei fortalecendo a minha
fé, e isso me ajuda a aceitar o que virá a acontecer como uma resposta que teve a
bênção direta do Senhor. Quando agradeço a Deus as bênçãos recebidas, procuro
buscar na mente os múltiplos detalhes que tornaram uma bênção tão especial e me
admiro diante das circunstâncias que envolveram essa bênção. Para fazer isso,
necessito de concentração e esforço mental. Orações fervorosas não são
necessariamente orações que acalmam. Elas podem, na verdade, ser bastante
intensas para tornar a comunicação mais significativa para mim; por isso é que
foram observados EEGs mais rápidos nos estudos citados. Entretanto, o verdadeiro
alívio vem após a oração: um sentimento de libertação por ter deixado meus
pesados fardos sobre Jesus, como Ele me convida a fazer (Mt 11:28). Esse é
considerado um dos maiores benefícios da oração.
Mais recentemente, um estudo conduzido por Mario Beauregard,
neurocientista da Universidade de Montreal, avaliou a atividade cerebral de 15
freiras da Ordem das Carmelitas durante sua experiência espiritual, na qual a
3
oração era o principal componente. Não foi fácil para ele convencer essas
mulheres a participar do estudo. Elas vivem uma vida de silêncio e de oração.
Com exceção de vinte minutos após o almoço e outros vinte após o jantar,
quando elas conversam umas com as outras, as freiras carmelitas passam a vida
trabalhando e rezando. Seu dia consiste em trabalhar no jardim, costurar, lavar,
manter em ordem as dependências do convento e fazer artesanato e doces para
obter alguma renda. O restante do tempo é dedicado à oração e contemplação.
Beauregard calculou que, até a época em que foi realizado esse estudo, as 15
participantes haviam passado um total de 210.000 horas em oração ao longo de
4
sua vida. Por terem passado a maior parte da vida dessa forma, as freiras que
vivem enclausuradas em um convento da moderna Montreal tinham suas dúvidas
e imaginavam que os pesquisadores pretendiam refutar a validade de sua devoção.
Beauregard explicou então que a equipe de pesquisadores não era materialista e
que eles tinham o sincero propósito de utilizar as técnicas da neuroimagem para
identificar como funcionam as reações eletroquímicas do cérebro durante a oração
e a meditação. Na verdade, essas freiras faziam parte das poucas pessoas no mundo
que poderiam ajudar. Negociações feitas com a madre superiora do convento e
uma carta enviada pelo arcebispo tornaram possível a realização da pesquisa.
As freiras participantes tinham entre 23 e 64 anos de idade, com uma média de
50 anos. Elas já pertenciam à Ordem por 19 anos, proporcionalmente, e nenhuma
delas possuía histórico de desordem psiquiátrica ou neurológica. Nenhuma delas
fumava ou estava tomando medicamentos psicotrópicos na época desses exames
de escaneamento da atividade cerebral. Beauregard utilizou a RMFi para observar
a atividade em várias áreas do cérebro. A experiência espiritual representava,
naquele momento, um estado de intimidade com Deus, evidenciado por
inúmeras declarações como: “Eu senti profunda alegria”, “Passei por uma
experiência que sabia ser algo sagrado” ou “Tive uma experiência que não
consigo exprimir em palavras”. Por ocasião das entrevistas, as freiras afirmaram
que, durante aqueles momentos de oração elas sentiram “a presença de Deus, seu
5
incondicional e infinito amor, além de um sentimento de plenitude e de paz”.
Estas foram algumas das descobertas do estudo: o núcleo caudado, uma área do
cérebro que estudos anteriores associaram com a felicidade, amor maternal, alegria
e amor incondicional, estava em grande atividade durante a experiência religiosa.
O tronco cerebral esquerdo, também associado com o equilíbrio da alegria e do
amor incondicional, estava especialmente ativo durante os momentos de oração.
A ínsula, que controla o sistema nervoso central e está conectada com as respostas
viscerais para sentimentos positivos, também estava brilhando durante o
escaneamento. Por último, foram observados altos níveis de atividade na região
cortical pré-frontal, a área de controle do prazer subjetivo, particularmente com
relação ao paladar, ao olfato ou à música.
Dois anos depois, Beauregard dirigiu outro experimento, mas com 14 das 15
6
freiras que participaram do primeiro estudo. Dessa vez, ele utilizou a
eletroencefalografia (EEG) para obter dados durante as experiências espirituais.
Várias áreas corticais foram registradas com elevada atividade durante a
experiência, ao serem comparadas com o estado de repouso e com a condição de
controle. Estas eram algumas delas:
1. A frontal anterior, uma área relacionada ao sentimento de paz, alegria e amor
incondicional.
2. O córtex parietal, normalmente associado a imagens visuais mentais de fundo
religioso.
3. O giro temporal médio direito, a área em que estudos anteriores detectaram
estar bastante ativa durante a meditação.
Além disso, a coerência neural (um índice de conectividade funcional entre
duas ou mais regiões corticais) foi detectada nas seguintes áreas:
1. Conectividade entre os córtices frontal e posterior, que é a conexão que
havia sido tradicionalmente associada com as experiências emocionais positivas.
2. Conectividade entre os lobos frontal direito, o temporal e o parietal.
3. Conectividade entre o lobo direito central e o parietal.
Os itens 2 e 3 indicam a redução nos processos sensoriais; em outras palavras,
quando as participantes estavam no meio de suas orações, os estímulos sensoriais
não eram percebidos conscientemente (isto é, não eram facilmente afetados por
barulho, luz, toque, etc., durante a oração), o que se pode presumir que seja
devido à concentração e à intimidade com a experiência da oração.
Observações como essas enfatizam a notável e singular atividade eletroquímica
do cérebro durante a oração. Isso me ajuda a entender por que o apóstolo Paulo
nos aconselha a orar “continuamente” (1Ts 5:17). Quando as observações por
meio de laboratório demonstram que a oração coloca em atividade as áreas do
sistema nervoso central responsáveis pelo controle das emoções, como a
felicidade, bem-estar, alegria, gratidão, amor e compaixão, só posso concluir que
Deus designou a oração não somente como a principal forma de comunicação
com seus filhos, mas também como um meio para proporcionar efeitos
restauradores em um mundo de sofrimento, injustiça e desespero. Isso também
vem me ensinar que Deus se comunica com os seres humanos por intermédio
desse complexo emaranhado de estruturas neurais.
Por vezes, essas estruturas neurais extremamente complexas podem ficar
danificadas, mas há muitos relatos que ilustram como Deus age no cérebro
humano, a despeito dos danos sofridos.
Nesse contexto, o caso de Julie, uma professora que foi atingida por um carro, é
um ótimo exemplo de como um cérebro lesado pode trabalhar para restaurar a
7
habilidade de se comunicar com Deus. No acidente, Julie sofreu inúmeros e
graves ferimentos na cabeça. Ficou surda, com grande dificuldade na fala e
mobilidade bastante reduzida. Recebeu terapia ocupacional por vários anos no
Centro Médico da Universidade de Loma Linda, nos Estados Unidos, e
desenvolveu fortes laços de amizade com os terapeutas e outros membros da
equipe que a atendia. Passado algum tempo, ela conseguiu enviar suas mensagens
por meio de um aparelho de comunicação Dynavox.
Depois de quatro anos de terapia, e para honrar uma tradição familiar, Julie teve
o desejo de preparar pelo menos uma simples refeição para sua família, mas isso a
colocou diante de um grande desafio, devido a suas limitações. Peggy, que a
auxiliava em suas terapias, ofereceu-se para ajudá-la. Assim, elas planejaram o
evento juntas. Julie fazia tudo o que estava ao seu alcance, e Peggy finalizava as
tarefas. No grande dia, Peggy levou Julie para casa e ajudou-a no preparo dos
alimentos e na decoração, e então foi embora para sua casa. Quando a mãe e o
irmão de Julie chegaram e viram tudo tão deliciosa e agradavelmente preparado,
ficaram muito impressionados. A mãe de Julie pediu a ela que orasse pelo
alimento. Ela fez então a oração do “Pai Nosso” inteira, a mais longa mensagem
verbal que havia conseguido pronunciar desde o dia do acidente.
Para ela foi uma grande bênção fazer essa oração depois de lutar por anos para
conseguir falar apenas umas poucas palavras entrecortadas! O cérebro é um órgão
maravilhoso, com surpreendente plasticidade, e Deus, por vezes, decide ampliar a
sua capacidade utilizando belos efeitos como resultado – dessa vez, para
pronunciar a Oração do Senhor numa ocasião especial.
Embora uma pessoa de fé não necessite ter conhecimento dos processos
eletroquímicos associados com as orações que faz, é maravilhoso poder ter pelo
menos um vislumbre de como Deus concebeu todo o processo de comunicação
no ser humano. A conscientização a respeito desse mecanismo pode ajudar muitos
a entenderem que a oração é composta de emoções altamente positivas e que a
comunicação com Deus é também positiva, poderosa e transforma vidas.
Calma e serenidade
Quando uma pessoa, sobrecarregada com as preocupações, tiver a oportunidade
de conversar com um amigo chegado, numa atmosfera de cordialidade, aceitação
e confiança, grande parte de seus pesados fardos serão aliviados, ainda que o
problema em si não fique resolvido. Uma sincera e fervorosa oração a Deus pode
trazer os mesmos resultados. Aqueles que cultivam o hábito de orar
constantemente aprenderam a realidade deste belo hino por experiência própria:
Na oração encontro calma,
Na oração encontro paz;
Orar a Deus faz bem à alma,
Falar com Deus me satisfaz.
Autores: Lineu Soares e Valdecir Lima.
Claire Hollywell e Jan Walker, da Universidade de Southampton, no Reino
8
Unido, confirmaram esse conceito. Eles lideraram uma análise sistemática de
pesquisa sobre a oração como parte do procedimento para pacientes
hospitalizados. Os dados obtidos de todos os estudos relevantes, revisados por
especialistas nessa área e encontrados em oito base de dados, revelaram que a
frequência da oração em particular estava associada com os baixos níveis de
ansiedade. (Descobriram também que havia a mesma ligação para o estado de
depressão.) É interessante notar que, quando as orações eram feitas devido a uma
emergência ou necessidade imediata, porém não acompanhada de uma vida de fé
já existente, a angústia aumentava, resultando numa diminuição das funções da
pessoa. No entanto, quando a oração fazia parte de um contínuo e íntimo diálogo
com Deus, o otimismo, o bem-estar e melhora da capacidade funcional estavam
presentes. Em todos esses estudos que foram analisados, a oração contribuiu para
que houvesse esse sentimento de paz e de conforto tão grandemente desejado.
Amy Ai, da Universidade de Pittsburgh, e outros quatro pesquisadores
conduziram um estudo exaustivo para avaliar o papel da oração particularem
pacientes cardíacos, antes da cirurgia aberta e seus efeitos na qualidade de vida
9
desses pacientes. No total, 294 pacientes da Clínica Cardiológica do Centro
Médico da Universidade de Michigan, que estavam agendados para fazer a
cirurgia cardíaca em caráter não emergencial e não envolvendo transplantes,
foram convocados para participar do estudo. Em sua maioria, eles eram
provenientes de tradições judaico-cristãs. Os pacientes passaram por uma
entrevista pessoal duas semanas antes da cirurgia, e depois por uma entrevista ao
telefone dois dias antes. Finalmente, foram entrevistados 36 dias após a operação.
Além disso, para a obtenção de dados clínicos e sociodemográficos, os pacientes
forneceram informações quanto à prática da oração particular como forma de lidar
com a ansiedade, tanto antes como depois da cirurgia para obterem melhor
qualidade de vida. Foi administrado atendimento psicológico a eles para avaliar a
fadiga, sintomas mentais, depressão, ansiedade, superação, apoio social, sintomas
pós-traumáticos e enfrentamento pela oração (uso da oração para lidar com a
ansiedade).
Os resultados foram mais amplos em relação às conclusões que outros
pesquisadores obtiveram com pacientes da área de cirurgia cardíaca: o estudo
realizado por Ai revelou que os pacientes cardíacos que costumavam orar eram
capazes de lidar melhor com o estresse e com a ansiedade diante de uma cirurgia
iminente. Além disso, conseguiam obter melhor qualidade de vida nas semanas
seguintes à cirurgia. Descobriu-se que essa forma bem-sucedida de lidar com a
situação estava associada tanto à área cognitiva como à comportamental. Em
outras palavras, aqueles que costumavam orar sistemática e fielmente estavam mais
capacitados a usar seus pensamentos e processos mentais para chegar a ter uma visão
mais positiva e favorável em relação à cirurgia e ao seu restabelecimento; além do
mais, conseguiam agir de modo a evitar complicações e alcançar melhor qualidade
de vida após a intervenção.
Os estudos afirmam, com toda propriedade, que recorrer a um poder superior,
ou seja, a Deus, é um mecanismo adequado para controlar as crises, e que a
religião oferece um amplo contexto no qual se enquadram as crises pessoais. Os
autores declaram também que a oração particular “faz brilhar uma incessante luz
10
em que se antevê um futuro promissor, mesmo diante da adversidade”.
A oração, portanto, promove a paz e a calma diante de ameaças significativas,
como é o caso de uma cirurgia. A oração é um antídoto efetivo contra o medo e
a ansiedade. E não é de admirar que expressões como “não temas” e “confie no
Senhor” apareçam tantas vezes nas Escrituras, quando Deus nos convida a nos
aproximarmos dele em oração, a aceitarmos sua graça e proteção, e a colocarmos
de lado o temor e a ansiedade.
Depressão
Bárbara Kilbourne é professora PhD de Sociologia e Serviço Social na
Universidade Estadual do Tennessee. Ela, juntamente com Sherry Cummings,
também PhD, e o médico Robert Levine deram sequência aos estudos que
exploravam a depressão e a religião entre participantes portadores de diabetes,
provenientes de bairros menos favorecidos de uma cidade de médio porte no sul
11
dos Estados Unidos. Sabe-se bem que a incidência de depressão em diabéticos
é mais alta que na população em geral, havendo por isso o interesse de estudar
esse segmento em particular. Durante um período de dois anos, as análises
estatísticas (correlacionais) demonstraram que havia relações significativas, como
também negativas, entre quatro indicadores de religiosidade e os níveis de
depressão. Em outras palavras, quanto maiores os níveis de religiosidade, menores
eram a intensidade e os sintomas de depressão. Os quatro elementos para avaliar a
religiosidade eram: oração, leitura religiosa, frequência aos cultos e crenças
religiosas. Novamente, o componente religioso se demonstrou um fator de
proteção contra a depressão.
Outro grupo com alto risco de sofrer depressão é o das mulheres após o parto.
Estimativas conservadoras indicam que entre 15% e 20% das mulheres sofrem de
depressão pós-parto logo depois de darem à luz. Esse transtorno é caracterizado
pela ansiedade, ataques de ira, desespero, culpa, falta de apetite, baixa
concentração, falta de interesse na criança e alterações do sono (dormir demais ou
terem falta de sono). Em um estudo liderado por Kimberley Zittel-Palamara, da
Faculdade Estadual de Buffalo, nos Estados Unidos, 45 mulheres com depressão
pós-parto (tanto por ocasião do estudo como no passado), a maioria delas
pertencentes a igrejas cristãs, foram interrogadas sobre os sintomas depressivos
após o nascimento dos filhos, como também em relação a suas práticas religiosas e
12
o apoio que obtiveram por meio da religião. Cerca de 66% das mulheres
disseram ter encontrado forças na religião. Foi constatado que a melhora que
tiveram sobre a depressão era bem maior do que nas mulheres não religiosas. A
oração foi o principal componente. Os demais elementos que ajudaram na
melhora foram a orientação espiritual, o aconselhamento religioso, o apoio da
congregação e os grupos de apoio espiritual.
Jesus afirmou que seus discípulos iriam chorar e se lamentar (estado depressivo),
mas sua tristeza se transformaria em alegria. Na verdade, Jesus ilustrou essa questão
referindo-se aos sofrimentos de uma mãe que está para dar à luz. “Quando o bebê
nasce, ela esquece a angústia por causa da alegria de ter vindo ao mundo” (Jo
16:21). Infelizmente, isso não acontece no caso da depressão pós-parto, mas,
como demonstraram as mulheres que participaram do estudo de Zittel-Palamara,
a oração particular associada ao calor humano e ao apoio oferecidos pela
comunidade de uma igreja que cuida dos fiéis podem aliviar a dor da depressão.
Saúde geral
O Survey of Health, Aging and Retirement (SHARE) [Centro de Pesquisa de
Levantamento Sobre a Saúde, Envelhecimento e Aposentadoria], realizado na
Europa, é uma das mais eficientes bases de dados; contém milhares de
participantes com idade acima dos 50 anos e abrange informações sobre saúde,
status socioeconômico e redes sociais e familiares. Com sede em Munique, na
Alemanha, o SHARE tem coletado dados da Escandinávia, Europa Central e da
Região Mediterrânea desde 2004, e é atualmente um dos grandes pilares da
European Research Area [Área de Pesquisa Europeia]. Karsten Hank e Barbara
Schaan, da Universidade de Mannheim, na Alemanha, utilizaram os dados do
SHARE para estudar a ligação existente entre a frequência da oração e a saúde
com aproximadamente 14.500 homens e mulheres da Suécia, Dinamarca,
13
Alemanha, Holanda, Suíça, Áustria, Itália, Espanha e Grécia. Os resultados
demonstraram que, conforme aumentava a frequência da oração, a saúde geral
também melhorava. A saúde geral era avaliada não somente pela maneira como os
participantes percebiam o seu nível de bem-estar, mas, além disso, como
consideravam as suas condições crônicas. Uma grande frequência na oração
também estava associada a uma baixa frequência de sintomas depressivos e a um
baixo número de limitações funcionais.
Embora os resultados correlacionais (como o citado) não possam ser usados para
estabelecer relacionamentos de causa e efeito (por exemplo: alguém poderia
inferir que a correlação pode ser forte porque a saúde é motivo de oração, e não o
oposto), o estudo sugere que a oração pode ser um recurso importante para ajudar
as pessoas, especialmente as de meia-idade ou mais idosas, a lidarem da melhor
forma com a doença e o desconforto.
A Bíblia nos apresenta inúmeras promessas de saúde relacionadas à comunhão
com Deus e à fidelidade. O salmista assim escreve:
Não seja sábio aos seus próprios olhos;
tema o Senhor e evite o mal.
Isso lhe dará saúde ao corpo
e vigor aos ossos (Pv 3:7, 8, itálicos acrescentados).
Uma promessa semelhante sobre a saúde de forma geral, fertilidade e vida longa
é apresentada em Êxodo 23:25, 26: “Prestem culto ao Senhor, o Deus de vocês, e
Ele os abençoará, dando-lhes alimento e água. Tirarei a doença do meio de vocês.
Em sua terra nenhuma grávida perderá o filho, nem haverá mulher estéril. Farei
completar-se o tempo de duração da vida de vocês.”
Saúde psicológica
A oração funciona não somente em relação ao bem-estar físico, mas também
para que haja aptidão mental e emocional. Leslie Francis, da Universidade de
Warwick, no Reino Unido, e seus colegas estudaram mais de mil católicos e mil
14
protestantes, tanto homens como mulheres, com idade entre 16 e 18 anos. Eles
eram alunos de 16 escolas de ensino médio do norte da Irlanda, com alto nível de
cultura religiosa. Esses jovens receberam parâmetros para identificar tendências
ligadas à neurose e psicose, compreendidos como um padrão de personalidade
marcado pela tendência à agressividade e hostilidade para com as pessoas: esses são
vistos como indicadores de saúde mental ou tendência a transtornos mentais.
Foram indagados também a respeito de seus hábitos de oração, em termos de
categorias de frequência para saber se oravam “diariamente/ algumas vezes/ ou
nunca”. A análise revelou uma correlação entre a frequência da oração e melhor
saúde psicológica – isso ficou evidenciado especialmente quanto aos dados sobre o
psicoticismo [tendências psicóticas mais ou menos acentuadas da personalidade].
Quanto mais frequentes eram as orações, mais baixos eram os níveis de tendências
psicóticas. O psicoticismo, levado ao extremo, torna a pessoa vulnerável à
esquizofrenia ou a outros transtornos psicóticos. Novamente, a oração
perseverante foi vista nesse estudo como uma proteção contra a doença mental e
como promotora da saúde psíquica.
Quando as pessoas são afetadas por graves condições mentais, usam a oração
para enfrentar o problema. Essa é a principal constatação feita por Steven A.
Rogers e seus colegas da Escola de Pós-Graduação em Psicologia do Seminário
15
Teológico de Fuller. Eles estudaram pacientes de uma instituição de saúde
mental do Condado de Los Angeles, que eram portadores de doença mental
crônica. Havia um total de 379 participantes (58% homens e 42% mulheres),
todos diagnosticados com transtornos psicóticos, transtornos no humor ou de
ansiedade. Os resultados mostraram que mais de 80% estavam utilizando as
crenças e atividades religiosas para enfrentar a doença. Aqueles que apresentavam
uma sintomatologia mais severa eram mais inclinados a orar que aqueles que
possuíam sintomas menos agudos. De todas as práticas religiosas, a oração foi, de
longe, o principal mecanismo religioso para lidar com a doença. A seguir, as
porcentagens para cada estratégia utilizada para lidar com a doença:

Oração 58,57%
Frequência aos cultos religiosos 35,62%
Adoração a Deus 34,82%
Meditação 32,98%
Leitura da Bíblia 31,14%
Gosto pela música religiosa 21,90%
Cântico de hinos religiosos 19,26%
Reuniões com o líder espiritual 15,04%

A oração é a estratégia utilizada por Davi no Salmo 31. Ele descreveu a si


mesmo como aflito, com angústia de alma; seus olhos estavam consumidos pela
tristeza; e sua alma e o corpo em completo desespero (v. 7-9). A angústia, o
gemido e a aflição consumiam sua vida, e seus ossos se enfraqueciam (v. 10). Ele
se sentia esquecido e frágil; o pavor o dominava, vindo de todos os lados, pelo
sentimento de que muitos conspiravam contra a sua vida (v. 12, 13). Como uma
saída para essa situação, ele clama pelo nome do Senhor e termina louvando as
suas maravilhas (v. 14-18, 21). Davi conclui dizendo:
Amem o Senhor, todos vocês, os seus santos!
O Senhor preserva os fiéis,
mas aos arrogantes dá o que merecem.
Sejam fortes e corajosos,
todos vocês que esperam no Senhor! (v. 23, 24).
Oração e cura
Um dos estudos pioneiros sobre os efeitos da cura pela oração foi conduzido
por Randolph C. Byrd, um cardiologista do Centro Médico Geral de San
Francisco, nos Estados Unidos, também professor na Universidade da
16
Califórnia. Todos os pacientes admitidos na unidade coronariana eram
elegíveis para participar do estudo, e aqueles que desejassem participar assinavam
um termo de consentimento. Foram, ao todo, 393 pacientes (33% mulheres e
67% homens) que concordaram em fazer parte do estudo, sendo então
distribuídos aleatoriamente para o grupo de oração intercessória (OI) ou para o grupo
de controle de pacientes (CP). Os pacientes, bem como os médicos e o pessoal da
unidade não “podiam ver as informações” para que não soubessem quem
participava de um ou de outro grupo. Os intercessores eram pessoas que
praticavam diariamente a oração devocional e participavam ativamente da
adoração nas igrejas que frequentavam. Eles receberam apenas o primeiro nome
dos pacientes que lhes eram designados, o diagnóstico e as condições gerais de
cada um. Cada paciente era indicado a mais de um intercessor. Eles se
comprometiam a orar pelos pacientes, tanto durante a hospitalização como por
seu pronto restabelecimento, e também para que não houvesse complicações e
nenhuma morte. Após serem examinadas as diferenças entre os dois grupos,
surgiram vários eventos clínicos, mas sem diferenças relevantes.
No entanto, houve algumas situações em que o grupo OI estava em vantagem
ao ser comparado com o grupo CP. Foram elas: falha cardíaca congestiva, uso de
diuréticos, parada cardiorrespiratória, pneumonia, uso de antibióticos e uso da
intubação ou ventilação. Os participantes da OI tiveram um número bem menor
dessas complicações que os do grupo CP. Além disso, não houve um único item
em que o grupo CP teve melhores condições que o grupo OI.
Embora houvesse 23 itens sem nenhuma diferença significativa entre os dois
grupos, aqueles que tiveram uma diferença relativamente maior estavam todos no
grupo por quem as pessoas oravam. Esse tipo de evidência não deve ser a base da
crença na oração. Paulo nos adverte sobre a profundidade da riqueza, sabedoria e
conhecimento de Deus, quão incomensuráveis, inescrutáveis são os seus juízos, e
insondáveis os seus caminhos (Rm 11:33). No entanto, para certas pessoas não
religiosas, essa pode se tornar a porta de entrada para a oração e a experiência
religiosa.
A promessa é certa: “E a oração da fé salvará o enfermo; e o Senhor o
levantará” (Tg 5:15, ARA). Pode acontecer que, às vezes, você comece a orar por
uma cura com toda a sua fé e a cura não aconteça. Mas não foi isso que ocorreu
em minha família durante a doença de nosso filho. Ele estava trabalhando no
Acampamento Sunset Lake quando ficamos sabendo que ele havia tido alguns
problemas digestivos. Não demos muita importância a isso porque ele sempre foi
muito saudável e forte. Entretanto, começamos a nos preocupar quando ele nos
telefonou e disse que precisava ir para o pronto-socorro. “Não se preocupem”,
disse ele. “Eu apenas quero fazer um check-up agora que vamos ter uma pausa no
trabalho no fim de semana.”
Depois de vários exames, o médico disse que o problema era uma úlcera
gástrica e deu início ao tratamento farmacológico, como também lhe passou as
instruções alimentares. No entanto, os sintomas persistiram – náuseas, vômitos,
fraqueza e forte dor abdominal. Ele foi mandado para casa, mas a dor era tão forte
que não conseguia ficar deitado e passou a dormir sentado. Ele dormiu no carro
por algumas noites, pois achava que lhe dava melhor apoio para conseguir
repousar um pouco.
O médico detectou uma inflamação geral e diagnosticou gastrite, prescrevendo
o tratamento correspondente. No entanto, para descartar doenças mais graves, ele
pediu uma endoscopia e uma tomografia axial computadorizada. Os resultados
desses exames marcaram uma das mais terríveis experiências na história de nossa
família. A endoscopia não mostrou nenhum problema no trato superior, mas a
tomografia revelou uma anormalidade no íleo terminal (parte final do intestino
delgado), que sugeriu ser a doença de Crohn. Foi algo que nos deixou muito
assustados, pois essa é uma condição debilitante e séria o bastante para afetar
gravemente a vida da pessoa, levá-la à cirurgia, aumentar as chances de um câncer
e reduzir os anos de vida.
Apesar da terrível perspectiva, ele estava se sentindo melhor, e isso trouxe
ânimo e coragem para a família. Infelizmente, os sintomas retornaram com toda a
força poucos dias depois. A angústia se tornou maior ainda quando foi solicitada
uma tomografia computadorizada, realçada por contraste de raios X, e os médicos
viram algo semelhante a um tumor no intestino. Esse tumor – disse-me o
gastroenterologista ao telefone – devia ter uns cinco centímetros de diâmetro. Se
havíamos orado intensamente até aquele momento, devíamos começar a orar com
muito mais fervor dali para frente. O próximo passo foi fazer uma biópsia para
que o diagnóstico final fosse preciso. Falamos a respeito da situação apenas com
amigos mais chegados e a família, e, como nunca antes, orei por sua cura.
Ele passou pela rotina de preparo para a biópsia por dois dias e o procedimento
foi realizado numa segunda-feira. Não havia sinal algum da doença de Crohn e
nenhum tumor visível, mas o médico nos disse que era necessário ver o tipo de
tecido sob análise microscópica. Foi uma longa semana de espera, pois a análise do
laboratório iria ser finalizada somente na segunda-feira seguinte. Muitíssimas
orações foram feitas em favor de nosso filho para que não tivesse que enfrentar
um diagnóstico tão injusto como esse no auge de sua vida.
Quando nós três nos dirigimos ao consultório médico para saber os resultados,
estávamos quietos e pensativos. Ao chegarmos, o médico explicou: “Todos os
exames deram resultado negativo. Não há mais nenhum sinal de anormalidade ou
patologia. Nenhum sinal da doença de Crohn. Nenhum tumor visível.” O
médico tentou então explicar as possíveis razões. Lembro-me vagamente de ouvir
alguma coisa sobre a possibilidade de inflamação no mesentério, devido a um
vírus que já pudesse ter deixado seu corpo. Mas não consigo me lembrar de
detalhes porque meu coração estava transbordante de alegria e meus olhos cheios
de lágrimas de felicidade, pois, deixando as explicações médicas à parte, para mim,
o que aconteceu foi um milagre.
Quando as orações não são respondidas
Infelizmente, muitas vezes, as orações não são respondidas, pelo menos não da
maneira como pedimos. Temos o caso de dois irmãos adolescentes que haviam se
inscrito para passar o fim de semana em um acampamento, e durante muitos dias
ficaram fazendo planos e sonhando com os momentos agradáveis que teriam.
Quando, porém, chegou a quinta-feira, começou a cair uma chuva torrencial em
toda a região. Temendo um fim de semana frustrado, os jovens recorreram a Deus
e oraram muito para que a chuva passasse. Eles oraram intensamente toda a quinta
e sexta-feira. Mas a chuva continuou, e os organizadores tiveram que cancelar o
evento. Os meninos ficaram arrasados. Não conseguiam entender por que Deus
havia deixado de atender às orações feitas com tanta sinceridade. O pai explicou a
eles que Deus, embora seja poderoso o bastante para mudar as condições do
tempo instantaneamente, nem sempre responde a nossas orações da forma que
desejamos. Assim como eles, os lavradores também estiveram orando, mas
pedindo pela chuva tão necessária para a lavoura. Nós somos simplesmente
incapazes de ver todo o contexto, e Deus normalmente não altera a ordem dos
acontecimentos apenas para que estes se adequem ao nosso bem-estar.
A Bíblia nos dá algumas pistas sobre o motivo de nossas orações não serem
respondidas da maneira como pedimos. Uma das razões mais importantes é por
que pode não ser o melhor para nós: “Não sabemos como orar” (Rm 8:26). No
contexto da oração pela cura, Ellen G. White sugere uma oração que contenha
este pensamento: “Senhor, Tu conheces todo segredo da alma. Estás familiarizado
com estas pessoas. Jesus, seu Advogado, deu a vida por elas. Seu amor por elas é
maior do que é possível ser o nosso. Se, portanto, for para tua glória e o bem dos
aflitos, pedimos, em nome de Jesus, que sejam restituídas à saúde. Se não for da
tua vontade que se restaurem, rogamos-te que a tua graça as conforte e a tua
17
presença as sustenha em seus sofrimentos.” Esse foi o caso do apóstolo Paulo
depois que uma luz mais brilhante que o Sol o fez cair ao chão na estrada para
Damasco. Isso o deixou com um tipo de dor que, por várias vezes, ele pediu ao
Senhor que a tirasse. Deus, porém, achou por bem não atendê-lo; mas disse-lhe
então estas confortadoras palavras: “Minha graça é suficiente para você, pois o
meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2Co 12:9).
Outra razão pela qual podemos não obter a resposta que desejamos para as
nossas orações tem que ver com a nossa vida de pecado: “Se eu acalentasse o
pecado no coração, o Senhor não me ouviria” (Sl 66:18). Isso não quer dizer que
a pessoa precisa estar livre do pecado para se aproximar de Deus. Jesus afirmou
claramente: “Eu não vim chamar justos, mas pecadores ao arrependimento” (Lc
5:32). O texto do livro de Salmos significa que, se alguém não sente tristeza pelo
pecado e não quer se arrepender, o Senhor não ouvirá essa pessoa.
Gosto da ideia de que a oração é eficaz em um relacionamento pessoal. Quando
há uma ligação entre mim e Jesus (quando permaneço nele) e faço o que Ele pede
(suas palavras permanecem em mim), então posso pedir o que desejo, e o meu
pedido será atendido. Essa é exatamente a linguagem utilizada em João 15:7; e, é
claro, se as condições citadas acima são válidas, eu não pediria nada que viesse a
satisfazer meus desejos egoístas.
Também é realmente importante levar em conta que Deus coloca recursos e
meios em nossas mãos para que possamos fazer a nossa parte; então Ele suprirá as
“outras necessidades”, se essa for a sua vontade. Dessa forma, a minha oração
pode não ser respondida se eu não agir de acordo com o objetivo a ser alcançado.
Novamente, nessa questão da cura, Ellen White nos aconselha a fazer a nossa
parte para aliviar a dor e cooperar com Deus, em vez de simplesmente nos
acomodarmos e ficarmos apenas orando e esperando que Deus faça o resto.
“Tendo orado pelo restabelecimento do doente, podemos trabalhar com muito
maior energia ainda, agradecendo a Deus o privilégio de cooperar com Ele, e
18
pedindo-lhe a bênção sobre os meios por Ele próprio fornecidos.”
Por fim, nossas orações podem não ser sinceras, mas mecânicas e destituídas de
fé ou feitas por razões equivocadas: “Quando pedem, não recebem, pois pedem
por motivos errados” (Tg 4:3). Jesus censurou os hipócritas de seu tempo que
gostavam de “ficar orando em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem
vistos pelos outros” (Mt 6:5), e penso que isso acontece ainda hoje quando
oramos em público. Extensas orações, primorosamente elaboradas com o uso das
mais eloquentes figuras de retórica, podem impressionar a congregação, mas não a
Deus. Essas orações são, talvez, a versão moderna daquelas mencionadas por Jesus.
Cresci na Igreja Católica Romana durante a era pré-Vaticano II, quando a
missa ainda era realizada em latim. Havia uma espécie de orgulho em responder às
orações feitas pelo padre, em perfeito latim, enquanto olhava bem para as pessoas
ao lado no banco, que não conseguiam pronunciar corretamente as palavras. Essas
orações eram não somente destituídas de significado, mas também eram feitas por
motivos errados. Lembro-me, particularmente, da minha avó que havia decorado
todas as ladainhas e costumava repetir cada dia essas rezas em casa, como parte de
suas orações. Eu ficava espantado com sua habilidade, mas logo compreendi que
ela não entendia nada do que estava dizendo, embora sua intenção provavelmente
fosse sincera. Em todo caso, para que a oração alcance o seu objetivo, deve ser
feita pelo motivo correto, como também ter significado e ser cheia de fé.
Conclusão
Consideramos os inúmeros efeitos benéficos da oração, relacionados a várias e
importantes áreas da vida. É importante sabermos que a oração pode nos
proporcionar paz e tranquilidade e que pode ajudar a promover a saúde física e
mental. A oração pode até mesmo fazer com que uma pessoa doente fique curada.
Mas além de todos esses benefícios, a oração é o canal que nos mantém ligados ao
Criador, por meio do qual podemos falar, ouvir e aprofundar nosso
relacionamento com Ele.
O desafio está em como orar de maneira significativa e sistemática, seguindo o
breve conselho dado por Paulo: “Orai sem cessar” (1Ts 5:17, ARA).
Um pequeno livro (pouco mais que um folheto) que causou o maior impacto
em minha vida de oração foi Brother Lawrence: The Practice of the Presence of God
19
[Irmão Lawrence: A Prática da Presença de Deus]. A edição original foi
impressa em 1962, na França, e contém uma coleção de apenas dezesseis cartas
escritas por Joseph de Beaufort, vigário-geral do arcebispo de Paris, naquela
época.
O vigário-geral fez uma visita ao irmão Lawrence, um membro leigo que
trabalhava como sapateiro e cozinheiro no mosteiro em Paris. Esse membro do
alto clero ouviu o irmão Lawrence com muita atenção e depois voltou para casa
para escrever essas cartas. O documento descreve como Lawrence experimentou a
presença de Deus em sua vida enquanto trabalhava em meio aos tachos e panelas,
e como ele virava um bolo ou pegava um palito do chão, fazendo tudo por amor
a Ele. O homem mantinha uma conversa familiar com Deus o tempo todo.
Admitiu que as práticas espirituais e os métodos religiosos que foi induzido a
realizar na comunidade não funcionavam para ele, e aprendeu a manter em sua
mente o senso da presença de Deus, mesmo ao fazer suas tarefas mais simples. Em
essência, ele estava em constante contato com o Mestre, a despeito do trabalho
que realizava.
Esse princípio tem ajudado a me manter em constante contato com Ele. Há
alguns anos, enquanto preparava a publicação de um livro sobre como administrar
o estresse, sugeri que os leitores mantivessem os pensamentos sob controle,
considerando cada pensamento que lhes viesse à mente e lembrando-se
constantemente da escolha correta quanto àquele pensamento. Um dos conselhos
dizia: “Quando o alarme do seu relógio soar na hora indicada, pare qualquer coisa
que estiver fazendo e dedique alguns minutos para analisar o que aconteceu no
período anterior e como está o seu estado emocional atual. Anote seus
sentimentos; procure entender por que se sente de forma diferente do que sentia
antes. Aprenda a detectar os pensamentos adversos e afaste-os.”
Então me veio à mente o pensamento de que, para manter uma vida de oração,
posso utilizar o método do alarme do relógio para me lembrar do momento de
orar. Assim, passei a fazer orações de um minuto ou dois na hora indicada.
Dentro de poucos dias, comecei a entender que meu companheirismo com Deus
estava alcançando um nível mais profundo e procurei manter esse tipo de
conversações frequentes com Ele. Cada um pode ter o próprio método.
Entretanto, diante da necessidade da oração para nos mantermos mental e
fisicamente saudáveis, e, acima de tudo, permanecer nele, é realmente importante
que cada filho do Senhor ore sem cessar.
Questões Para Estudo
• Leia Neemias 13. Tente compreender o sentimento do profeta quando fez a
breve oração descrita no verso 14. Leia Profetas e Reis, capítulo 57, “Reforma”,
para entender o contexto. Reflita sobre as dificuldades enfrentadas pela liderança
religiosa e a especial necessidade que os líderes têm de orar.
• Use uma concordância ou um mecanismo de busca em um aparelho
eletrônico para localizar a palavra oração na Bíblia. Crie uma lista das orações mais
inspiradoras encontradas nas Escrituras.
• O Salmo 6:2 traz uma oração pela cura. Localize na Bíblia outras orações
feitas pela cura, procurando palavras como: sarar, curar, reviver ou restaurar, assim
como a palavra oração.
Aplicação
• Leia a Oração do Senhor (Mt 6:9-13) em mais de uma versão bíblica. O que
cada segmento da oração significa para você? Quais são algumas coisas que você
pode mudar em sua vida ao colocar em prática essa oração?
• Jesus disse: “Pedirão o que quiserem, e lhes será concedido” (Jo 15:7). O que
isso quer dizer? Em que contexto Jesus disse essas palavras? Como você, diante das
circunstâncias pessoais que enfrenta, permanece em Jesus e as palavras de Jesus
permanecem em você?
• Medite na mensagem de Romanos 8:26: “Da mesma forma, o Espírito nos
ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o próprio Espírito
intercede por nós com gemidos inexprimíveis.” Pode isso mudar a maneira de se
expressar em suas orações? Como?

1
Walter W. Surwillo e Douglas P. Hobson, “Brain Electrical Activity During Prayer”, Psychological Reports
43 (1978), p. 135-143.
2
Ellen G. White, Obreiros Evangélicos (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1993), p. 257.
3
Mario Beauregard e Vincent Paquette, “Neural Correlates of a Mystical Experience in Carmelite Nuns”,
Neuroscience Letters 405 (2006), p. 186-190.
4
Beauregard, The Spiritual Brain (Nova York: Harper Collins, 2007), p. 263.
5
Beauregard e Paquette, “Neural Correlates of a Mystical Experience”, p. 187.
6
Beauregard e Paquette, “EEG Activity in Carmelite Nuns During Mystical Experience”, Neuroscience
Letters 444 (2008), p. 1-4.
7
Ramona DeGuzmann, “A Prayer From the Heart”, in LOV Stories: Living Our Values, ed. Kathy
McMillan (Loma Linda, CA, Loma Linda University Medical Center, 2010), p. 5.
8
Claire Hollywell e Jan Walker, “Private Prayer as a Suitable Intervention for Hospitalized Patients: A
Critical Review of the Literature”, Journal of Clinical Nursing 18 (2008), p. 637-651.
9
Amy L. Ai et al., “Private Prayer and Quality of Life in Cardiac Patients: Patways of Cognitive Coping
and Social Support”, Social Work in Health Care 48 (2009), p. 471-494.
10
Ibid., p. 486.
11
Barbara Kilbourne et al., “The Influence of Religiosity on Depression Among Low-Income People With
Diabetes”, Health & Social Work 34 (2009), p. 137-147.
12
Kimberley Zittel-Palamara et al., “Spiritual Support for Women With Postpartum Depression”, Journal of
Psychology and Christianity 18 (2009), p. 213-223.
13
Karsten Hank e Barbara Schaan, “Cross-National Variations in the Correlation Between Frequency of
Prayer and Health Among Older Europeans”, Research on Aging 30 (2008), p. 36-54.
14
Leslie J. Francis et al., “Prayer and Psychological Health? A Study Among Sixth-Form Pupils Attending
Catholic and Protestant Schools in Northern Ireland”, Mental Health, Religion & Culture 11 (2008), p. 85-92.
15
Steven A. Rogers et al., “Religious Coping Among Those With Persistent Mental Illness”, International
Journal for the Psychology of Religion 12 (2002), p. 161-175.
16
Randolph C. Bird, “Positive Therapeutic Effects of Intercessory Prayer in a Coronary Care Unit
Population”, Southern Medical Journal 81 (1988), p. 826-829.
17
Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 229.
18
Ibid., p. 232.
19
Nicholas Herman, Brother Lawrence: The Practice of the Presence of God (Cincinnati, Oh: Forward
Movement Publications, 1900).
CAPÍTULO 2
OS BENEFÍCIOS DA LEITURA DA
BÍBLIA E DA MEDITAÇÃO
“Como são doces para o meu paladar as tuas palavras! Mais
que o mel para a minha boca!” Salmo 119:103

G regory* é neurorradiologista em um hospital há vários anos. Como cristão


fiel, ele é amável, generoso e hospitaleiro. Conduz com facilidade a
conversa para temas da Bíblia, na maioria das vezes, a respeito de sua relação com
a ciência. Apresenta profundas análises dos textos e relatos das Escrituras, fazendo
aplicações para a nossa vida diária. Ele lê a Bíblia não somente como um
pensador; mas também a usa como fonte de apoio pessoal nos momentos de
dificuldade. (* Pseudônimo)
Um exemplo em particular se destaca, entre tantos outros. Foi logo no início,
quando surgiu a ressonância magnética por imagem (RMI), quando ele e seus
colegas ainda estavam experimentando o equipamento recém-desenvolvido.
Atualmente, essas máquinas seguem padrões de alta tecnologia, e quase não há
necessidade de testá-las. Mas grande parte do trabalho realizado no passado, na
área de radiologia, exigia um teste das diferentes sequências para verificar quais
delas tinham imagens de melhor qualidade. Era comum os radiologistas
escanearem o próprio corpo para obter as imagens. Foi aí que Gregory precisou
falar seriamente com seus colegas.
“Naquela época eu era o chefe da seção”, Gregory me disse. “Eu achava que
não devia fazer uso da autoridade que tinha para dizer a eles: ‘Não quero ficar
trabalhando no aparelho de ressonância magnética após o horário de expediente.’
Assim, por obrigação, concordei em participar regularmente nos testes. Mas não
era tão simples. Eu sofria de claustrofobia e sabia que, muito provavelmente, iria
ter sintomas de ansiedade ou mesmo um ataque de pânico se tivesse que ficar
dentro do escâner, mesmo que fosse por alguns momentos, pois era um tubo
longo e estreito. Quando meus colegas perceberam que eu tinha claustrofobia,
foram muito compreensivos e me disseram para avisá-los se a qualquer momento
eu sentisse que não estava conseguindo me controlar e precisasse sair do
equipamento. Afirmaram que parariam imediatamente. Com essa condição,
concordei em participar quando fosse a minha vez.
“Para enfrentar o desafio, pensei em relembrar textos da Bíblia, versos que
mantive na memória desde os primeiros anos escolares. Essa foi a minha estratégia!
Quando me deitei no escâner, comecei a ficar inquieto. Fechei os olhos e
comecei a recitar o Salmo 23 inteiro, com toda intensidade e fervor. As palavras
se tornaram significativas para mim; não era uma repetição sem sentido, eu podia
perceber o significado das palavras naqueles momentos difíceis. Logo depois,
comecei a pensar na Oração do Senhor. As frases se tornaram bem articuladas em
minha cabeça e passaram a ter um significado mais profundo ao recitá-las
mentalmente. No caso das Bem-Aventuranças, eu me desafiei a lembrar de cada
uma fazendo uma aplicação para a minha vida. Algumas vezes, percebia que, ao
me esforçar para relembrar as palavras exatas, isso fazia com que o tempo passasse
mais rapidamente e os sintomas não mais assumiam o controle. Entretanto, o mais
interessante é que esses textos eram tranquilizadores, eles me acalmavam e traziam
paz à minha alma. Na maioria das vezes, eu fazia isso à noite, depois de trabalhar
o dia inteiro e, apesar de estar cansado, a estratégia afastava todos esses sintomas
desagradáveis. Tinha que fazer isso pelo menos seis vezes, e até oito. E, em cada
vez, eu conseguia me manter calmo durante todo o tempo.
“As sessões não eram curtas. Levava cerca de vinte minutos para fazer um
experimento, tentar as várias sequências até obter o melhor resultado. A
informação digital tinha que ser processada para ver como haviam ficado as
imagens, e isso demorava de vinte a trinta minutos, se tivesse dado tudo certo. Às
vezes, porém, era necessário repetir os testes, e eu tinha que permanecer no
escâner por uma ou duas horas. Bem, nunca tive que pedir aos meus colegas para
me tirarem de lá, em parte também porque eles estavam de costas e ficavam
muito concentrados no trabalho. Na verdade, o mais importante é que eu sentia
que os textos bíblicos eram o canal que Deus usava para me abençoar e me livrar
de uma experiência extremamente angustiante.”
O escritor puritano Thomas Brooks afirmou: “A Palavra de Deus é uma luz
para guiá-lo, um conselheiro para orientá-lo, um consolador para confortá-lo, um
cajado para sustentá-lo, uma espada para defendê-lo e um médico para curá-lo. As
Escrituras são uma fonte para enriquecê-lo, um manto para cobri-lo e um
diadema para coroá-lo.” Muitos descobriram, por experiência própria, que a
Bíblia satisfaz muitas das nossas necessidades e assume um lugar especial em nossa
vida. Durante as duas últimas décadas, amplos esforços têm sido feitos para
observar cientificamente como a meditação e a leitura da Bíblia influenciam a
saúde, o comportamento e o bem-estar das pessoas.
Este capítulo vai analisar pesquisas atuais sobre a relação que há entre a leitura
da Bíblia, a meditação e outras variáveis positivas. Mais importante ainda: vamos
ver como o estudo das Escrituras, com fé e oração, proporciona não somente
melhor saúde mental e física, como também bênçãos espirituais em abundância,
que farão a diferença ao trilharmos o caminho da salvação.
As Escrituras e as estratégias para lidar com os
problemas
Como você enfrenta seus problemas? Essa é uma pergunta importante e que
merece reflexão. Com certa frequência, somos confrontados com sérias
dificuldades e adversidades; outras vezes, enfrentamos continuamente pesados
fardos que acabam ficando crônicos e se tornam um desafio constante. Na melhor
das hipóteses, temos que lidar com questões casuais ligadas ao trabalho,
relacionamentos, filhos, saúde, dinheiro, e tantas outras que surgem no dia a dia.
Como as pessoas reagem? Algumas tomam atitude imediata, outras aguardam;
algumas se aborrecem, outras reagem; algumas mudam de direção, outras
continuam no mesmo caminho; algumas buscam soluções de acordo com os
recursos que têm, outras buscam a ajuda de Deus por meio das Escrituras. Aqueles
que decidem por essa última opção tendem a obter recompensas duradouras.
As pessoas mais idosas frequentemente têm a tendência de confiar mais no
poder divino, por meio das Escrituras, que outras faixas etárias. Thomas Arcury e
sua equipe, pertencentes à Escola de Medicina da Universidade de Wake Forest,
na Carolina do Norte, estudaram um grupo de 145 pessoas idosas, todas acima de
1
70 anos. Os pesquisadores procuraram obter respostas para as seguintes
perguntas: “Como essas pessoas utilizavam a religião para ajudá-las a administrar
suas condições de saúde? Havia algumas diferenças étnicas ou quanto a gênero?
Havia diferenças no uso da religião relacionadas a sua saúde?”
Foram feitas também muitas perguntas específicas sobre a saúde e o estilo de
vida, e também havia uma questão religiosa aberta para dar aos participantes a
oportunidade de explicarem sua posição em detalhes: “Você recorre à oração e
aos cultos religiosos para ajudar a controlar sua saúde?” Para aqueles que
responderam afirmativamente, foi dada a oportunidade de explicar como agiam.
É interessante notar que a leitura da Bíblia e a meditação não faziam parte da
pergunta, especificamente, mas as Escrituras foram o segundo tema mais
importante, vindo após a fé e a oração, como forma de apoio no cuidado com a
saúde. Ler a Bíblia, disseram eles, é uma forma de se comunicar com Deus. “É o
que eu faço todas as noites; a última coisa que faço é ler as Escrituras, e então
posso descansar… E nesta manhã, eu disse, vou colocar Deus em primeiro lugar,
vou ler as Escrituras logo pela manhã”, afirmou uma das mulheres.
Outra senhora utiliza a meditação nos textos bíblicos para enfrentar seus
problemas emocionais: “Se eu me sinto deprimida ou triste, de alguma forma, o
mais provável é que eu procure uma passagem das Escrituras para ler e então
comece a meditar nela. Bem, eu sempre oro para continuar tendo uma boa saúde.
E qualquer coisa que tiver que fazer, enquanto eu não oro, não faço nada. Há
sempre algo que podemos fazer, e que é importante para nos mantermos
saudáveis.” Outra participante disse que buscava força nas Escrituras cada dia, um
dia de cada vez. “A Bíblia é o meu guia. Não costumo acordar à noite – mas fico
muito contente quando acordo de manhã e vejo que deixei minha Bíblia aos pés
da cama. Assim que acordo, começo a ler minha Bíblia e os meus livrinhos.
Algumas vezes, eu encontro exatamente o que necessito, e encontro em um
daqueles livros ou em uma passagem bíblica que li para me guiar naquele dia. Isso
me anima. Acho que isso é o que me dá forças para continuar.”
Outro participante, Bob, estava falando quando a esposa interveio: “Gostaria de
mencionar algo aqui. Penso que uma das coisas a que Bob pode atribuir o fato de
ser como é [calmo e tranquilo], é que ele vive lendo a Bíblia ou está mentalmente
em comunhão com o Senhor. Isso traz uma paz de espírito que nada mais pode
dar.” Os pesquisadores fizeram referência a alguns participantes que eram
adventistas do sétimo dia que buscavam na Bíblia a orientação sobre o que comer
e como prevenir as doenças. Uma senhora adventista deu o seguinte testemunho:
“As pessoas estão voltando aos ensinos da Bíblia mais ainda do que antes – e a
Bíblia nos diz que há vários tipos de ervas nas matas. Deus, quando nos fez,
quando criou o mundo e nos criou, fez as ervas para curar todo tipo de doenças
que há. E também não estava em seus planos que as pessoas viessem a comer
carne de porco. A Bíblia nos diz isso.”
Depois que Thomas Arcury leu, codificou e analisou a grande quantidade de
dados provenientes dessas entrevistas, como também de muitas observações
informais relatadas pelos responsáveis pelas entrevistas, a conclusão foi de que a
oração e a leitura da Bíblia definem o ritmo e a rotina da vida de muitos daqueles
participantes idosos, que eram solidificados por meio dos cultos de oração às
quartas-feiras à noite, dos cultos na igreja, participação no coral e reuniões da
comissão da igreja.
Outro estudo qualitativo visou alcançar mulheres de meia-idade. Esse estudo foi
conduzido por Brenda Beagan e sua equipe, pertencentes à Universidade de
2
Dalhousie, em Halifax, Nova Escócia. Foram entrevistadas mulheres afro-
canadenses para saber a maneira como encaravam assuntos como o racismo, a
depressão, o estresse e a espiritualidade. Os resultados revelaram que a leitura da
Bíblia (assim como cantar e orar) eram as principais formas que tinham para lidar
com as dificuldades, especificamente como uma forma de compensar a
discriminação racial. Esses recursos espirituais proporcionavam uma
reinterpretação cognitiva que lhes permitia lidar com o racismo e com outros
desafios. Viam isso como testes e provações que elas podiam superar com as
bênçãos e a proteção de Deus. Os pesquisadores sugerem que essas práticas
parecem ser capazes de prevenir ou atenuar complicações ligadas à saúde mental.
Um dos pesquisadores da Universidade de Yale, Chyrell Bellami, e seus
associados estudaram pessoas que passavam por transtornos mentais na ocasião
(depressão, ansiedade, transtornos ligados ao uso do álcool e drogas, além de
3
apresentarem sintomas psicóticos). Elas receberam vários questionários, que
continham perguntas como: “A espiritualidade é importante para você?” Se sim:
“De que atividades espirituais você participa?” Foram registrados itens sobre a
espiritualidade tanto em público (frequência às reuniões da igreja, estudos bíblicos
em grupo, etc.) como em particular (a oração, a leitura da Bíblia e a meditação).
A espiritualidade foi relatada como algo importante em pelo menos dois terços
do grupo, e a atividade espiritual mais comumente praticada era a de natureza
pública (78%), seguida de uma de natureza pessoal, com 30%. As mulheres eram
uma vez e meia mais inclinadas à espiritualidade que os homens. À medida que
aumentava a idade, maiores eram as tendências de haver mais comprometimento
com as atividades espirituais. Foi interessante descobrir que aquelas cujos sintomas
se exacerbaram nos últimos 30 dias anteriores à pesquisa relataram maiores níveis
de atividades espirituais. Isso corresponde ao que acontece com a natureza
humana: sentimos a necessidade de estar mais perto de nosso Pai celestial quando
surgem os desafios em nosso caminho. Os pesquisadores interpretam essa
descoberta afirmando que as pessoas com doença mental têm a tendência de
perder o controle durante os momentos em que os sintomas são mais fortes, e é
em meio a essas crises que as atividades espirituais podem ajudar a aliviar os
sintomas e trazer esperança. Eles concluem dizendo que a essência da recuperação
é acreditar e manter a esperança de que tais coisas irão melhorar.
A gerontologista Vickie Patterson, da Universidade Estadual da Geórgia, nos
Estados Unidos, com sua equipe, conduziu um estudo em que a leitura da Bíblia
e outras estratégias devocionais particulares foram observadas como ferramentas
4
para lidar com os problemas. Ficou constatado que a maioria achava a religião
importante, e os participantes afirmaram que as práticas religiosas (especificamente
a oração, frequência às reuniões da igreja e a leitura da Bíblia) ajudavam a
enfrentar as limitações impostas pela vida nos lares para idosos com necessidades
especiais. As atividades religiosas eram de múltiplas modalidades: frequência aos
cultos na igreja e reuniões devocionais, dedicar momentos à devoção particular,
orar, ler a Bíblia, leitura de revistas ou livros devocionais, sintonizar emissoras
religiosas ou assistir a sermões e programas religiosos pela TV, examinar as
correspondências da igreja e ouvir gravações de textos da Bíblia. A leitura da
Bíblia era algo comum na rotina diária dos residentes, muitas vezes para lidar com
objetivos específicos. Um dos residentes afirmou: “Bem, eu tenho um pouco [de
depressão], mas consigo lutar contra ela porque eu oro. E também leio a minha
Bíblia, pelo menos um capítulo toda noite.” Outra residente descreveu sua
maneira de enfrentar as próprias lutas como viver “deixando as coisas que para trás
ficam”, procurando manter-se ocupada com as atividades de cada dia, porque, de
acordo com a Bíblia, não devemos colocar a mão no arado e olhar para trás”.
A. Quinn Stanley, da Universidade de Wisconsin, e Stevens Point estudaram
5
um grupo bem diferente. Os participantes eram professores de alunos
caracterizados como violentos. Esse estudo teve como objetivo conhecer o tipo
de recursos utilizados pelos professores para conseguir lidar com as várias formas
de estresse do trabalho difícil que realizavam. Embora lidar com esses alunos fosse
algo extremamente desafiador, os participantes estavam comprometidos em
continuar a trabalhar com eles utilizando mecanismos de enfrentamento (parte
deles de natureza religiosa ou espiritual) para manter a eficácia e reduzir a
ansiedade. Para entendermos a dificuldade do trabalho que os professores estavam
fazendo, podemos dizer que eles estavam no comando de classes especiais em que
as ameaças de morte aos colegas e professores, bem como as agressões entre os
alunos eram comuns. Apesar de cursarem da 6a à 12a série, alguns deles eram
maiores de 21 anos. Os resultados mostraram que muitos dos mecanismos usados
pelos professores para enfrentar os problemas não eram religiosos (respirar
profundamente, manter o humor, fazer exercícios, caminhar, acampar, fazer
atividades de relaxamento e dedicar tempo à família), mas esses professores
também utilizavam métodos religiosos para lidar com as diversas situações: ler a
Bíblia, orar e ir à igreja. A maioria dos participantes considerava a religião
importante. Eles declararam que as atividades religiosas e os recursos oferecidos
proporcionavam uma excelente estrutura para enfrentar as exigências do trabalho
que realizavam.
A Bíblia e a saúde
A leitura da Bíblia e a meditação podem se tornar um poderoso redutor do
estresse. Esse efeito ocorre devido à assim chamada resposta de relaxamento que
favorece a redução dos hormônios do estresse, o cortisol e a norepinefrina (ou
noradrenalina). Considerando que o estresse pode ser a causa de uma longa lista
de doenças psicossomáticas, cada experiência relaxadora ou calmante ligada às
atividades devocionais promoverá a saúde.
Arthur S. Maxwell conta a história de Stanley Tefft, um soldado americano que
foi ferido no Sul do Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial. Alguns
moradores das ilhas, que eram mais amistosos, o conduziram a um esconderijo,
com um grupo de soldados da força aérea, onde eles permaneceram por quase três
meses, a salvo das patrulhas japonesas. Stanley descobriu que aqueles nativos eram
pessoas amigáveis, nobres e altruístas. Ao que parece, um missionário havia
distribuído Bíblias a eles no passado, e a mensagem do amor de Deus havia feito a
sua obra para transformar o coração daquele povo. Isso já era maravilhoso por si
só. Entretanto, para Tefft havia a bênção maior que vinha das Escrituras. Seus
amigos nativos aguardavam todas as noites para realizar um culto religioso com os
soldados americanos. “Aqueles cultos”, explica Tefft, “eram os únicos momentos
em que eu me esquecia dos ferimentos que tinha, dos meus nervos à flor da pele e
6
dos meus músculos já enfraquecidos pela fome.” Aquelas reuniões para o estudo
da Bíblia ajudaram Tefft a desviar completamente seu pensamento dos ferimentos,
sendo abençoado, portanto, com momentos de alívio enquanto estava ali.
Leila Shahabi, do Centro Médico Russo-Presbiteriano St. Luke, em Chicago,
conduziu um estudo com americanos adultos saudáveis para verificar as variáveis
7
relacionadas à religiosidade e à espiritualidade. Esse estudo foi amplo e variado o
suficiente para representar toda a população. Havia perguntas sobre as atividades
religiosas particulares como: Com que frequência você ora em particular em
lugares que não sejam uma igreja ou sinagoga? De acordo com a sua tradição
religiosa ou espiritual, com que frequência você faz sua meditação? Com que
frequência você leu a Bíblia no último ano? Outros questionários avaliaram
estresse, desconfiança e saúde em geral. Havia também perguntas sobre a
tolerância e a intolerância, para saber se um membro de um subgrupo específico
(um ateu, por exemplo) teria permissão para falar, ensinar em um colégio ou
universidade, ou teria seus livros na biblioteca pública. Os resultados nos
permitem identificar vários tipos de pessoas:
1. Religioso e espiritual – Esse grupo era o mais genuinamente religioso. Seus
participantes relataram maior frequência na oração particular, mais meditação,
maior índice de frequência aos cultos e mais intensa experiência espiritual diária.
Comparado ao grupo de pessoas apenas espirituais, eles tinham seus momentos de
meditação com muito maior frequência, um sentimento de profunda paz e
harmonia e eram espiritualmente tocados pela beleza da criação – característica
essencial de uma pessoa espiritual. Eles pareciam extrair sempre o melhor do lado
espiritual e religioso. Eram menos sujeitos a estados de angústia e à desconfiança, e
se demonstravam mais politicamente conservadores e mais inclinados a acreditar
que a vida tem um propósito. Assim como os participantes apenas religiosos, eles
tinham a seu favor níveis mais baixos de morbidade e de mortalidade, e níveis
mais altos de saúde. Entretanto, esse grupo aparece como o menos tolerante em
julgar os casos apresentados.
2. Somente espiritual – Esse grupo respondeu afirmativamente à linguagem que
representava experiências espirituais sem nenhuma terminologia (paz interior,
harmonia, sentir-se tocado espiritualmente, etc.). Tinham maior tendência que
qualquer outro grupo de ser politicamente liberais e de não pertencer a nenhuma
religião. Eles participavam das atividades religiosas de algum modo, mas não tão
assiduamente como os dois grupos com um elemento religioso; entretanto, eram
mais tolerantes que os grupos religiosos. De acordo com Zinnbauer e seus
8
colegas, nesse grupo talvez ficasse bem o título de “Nova Era”.
3. Somente religioso – Eram pessoas que responderam afirmativamente aos itens
numa linguagem que representava experiências espirituais com terminologia
religiosa: Jesus, igreja, oração, culto religioso, Bíblia Sagrada e outros.
Demonstravam níveis mais elevados de angústia e desconfiança que o grupo
religioso e espiritual e, conforme mencionado anteriormente, junto deles,
demonstravam ter os mais altos níveis de saúde.
4. Nem religioso, nem espiritual – As pessoas desse grupo afirmaram não
pertencer a nenhuma religião e utilizavam pouquíssimo os recursos religiosos e
espirituais. Relataram possuir alto índice de tolerância e uma perspectiva mais
liberal. Em termos de saúde, eles se comparavam ao grupo espiritual, mas, de
forma significativa, ficaram para trás do grupo religioso e espiritual, como também
do grupo somente religioso.
Esse estudo demonstrou, de modo claro, as vantagens que a pessoa tem por ser
religiosa no que diz respeito tanto à saúde mental como física. Mesmo assim, ser
intolerante foi uma característica distintiva que não representava bem as pessoas
religiosas. Como princípio geral, nos faz muito bem relembrar a declaração de
Ellen White: “Se tão somente soubéssemos o mal do espírito de intolerância,
9
quão cuidadosamente dele haveríamos de fugir!” O estudo também nos traz
alguma luz sobre a questão da religiosidade e da espiritualidade. Algumas pessoas
dizem que a religião não é relevante e que ser espiritual é o que importa. No
entanto, esse estudo mostra que as bênçãos são maximizadas quando a
espiritualidade ocorre no contexto religioso. Os autores afirmam que é possível a
espiritualidade prosperar em meio à religiosidade, e que “ir cada semana a um
lugar tranquilo, que estimula a reflexão, ouvir sermões que advogam o amor e o
serviço em prol de outros, bem como experimentar a alegria de se unir aos demais
no cântico e em fervoroso louvor podem proporcionar experiências diretas, de
maneira contínua, que reforçam as virtudes apreciadas por pessoas genuinamente
espirituais”.
Um estudo específico, realizado por Marsha Viggins e sua equipe, na
Universidade do Colorado, em Denver, foi publicado no periódico Journal of
10
Spirituality and Mental Health [Revista da Espiritualidade e Saúde Mental]. O
estudo foi feito entre homens que eram soropositivos para o vírus da
imunodeficiência humana (HIV), e tinha como objetivo observar os efeitos das
estratégias religiosas para lidar com o estresse, a depressão e os comportamentos de
risco. Os resultados indicam que as variáveis religiosas (leitura da Bíblia, oração e
ir à igreja) não estão relacionadas ao estresse, mas estão significativa e
inversamente relacionadas com a depressão e o uso das perigosas drogas ilícitas e
do álcool; em outras palavras, os homens que costumavam ler a Bíblia, oravam e
iam à igreja eram menos propensos a ter depressão e a usar tais substâncias.
Outro estudo feito pela Universidade Duke, conduzido por Hughes Helm, teve
como objetivo descobrir se a atividade religiosa pessoal aumentava a sobrevivência
11
em adultos idosos. Os resultados mostraram que aqueles que se dedicavam às
atividades religiosas pessoais (estudo da Bíblia, oração e meditação) antes de
começarem a surgir as limitações da vida diária tinham uma vantagem de
12
sobrevivência sobre aqueles que não as praticavam. Foi relatado um índice
muito mais elevado de atividades religiosas particulares entre as mulheres que
entre os homens. E entre aqueles que apresentaram pouca ou nenhuma atividade
religiosa pessoal foi relatado um índice mais alto no uso do álcool e do fumo do
que naqueles que a praticavam normalmente.
Uma das descobertas significativas desse estudo, portanto, foi a vantagem de
sobrevida mais elevada no grupo daqueles que se dedicavam à devoção pessoal
antes de aparecerem as limitações da vida diária. Entretanto, esse não foi o caso do
grupo com limitações, que não teve vantagem alguma associada às atividades
religiosas pessoais. A explicação dada pelos autores do estudo foi que uma
população idosa e doente pode não conseguir superar a força da mortalidade
iminente, mesmo utilizando medidas de adaptação que tenham efeitos positivos
relacionados à sobrevivência de populações saudáveis.
A Bíblia e os adolescentes
Leslie Francis, da Universidade de Gales, em Bangor, no Reino Unido, estudou
um grupo excepcionalmente grande como amostra, incluindo 25.888 adolescentes
entre 13 e 15 anos de idade (13.300 meninos e 12.588 meninas) de 128 escolas da
Inglaterra e País de Gales, com o objetivo principal de observar a relação que há
13
entre a leitura da Bíblia e o propósito na vida. Foi feita a eles a seguinte
pergunta: “Com que frequência vocês leem a Bíblia?” E as opções de resposta
eram: nunca, algumas vezes, pelo menos uma vez por semana e quase todos os
dias. Eles receberam também avaliações sobre a saúde mental. O estudo foi
realizado apenas com cristãos; aqueles que declararam ser afiliados a uma religião
não cristã (1.089 alunos) foram omitidos da análise.
Portanto, quando nos referimos a cristãos aqui, é necessário entender o
contexto sociológico em que o estudo foi conduzido. As pessoas do Reino Unido
consideram-se “cristãs” porque não pertencem, dizem elas, à religião muçulmana,
mas podem não acreditar em Deus ou ser membros de qualquer igreja. Isso é
evidenciado pelos resultados demográficos deste estudo: 34% dos participantes
definiram-se como agnósticos, 25% disseram ser ateus e 41% afirmaram crer em
Deus. Aproximadamente a metade (48%) desses alunos nunca foi à igreja; 19%
iam uma ou duas vezes ao ano, 14% iam várias vezes ao ano, 4% iam uma vez por
mês e 15% frequentavam os cultos quase todas as semanas. O estudo mostrou
também que dois terços (66%) desses adolescentes nunca leram a Bíblia, 29% a
liam ocasionalmente, 3% a liam semanalmente e 2% a liam diariamente. Devido à
dimensão da amostragem utilizada nesse estudo, mesmo as menores porcentagens
de meninos e meninas que liam a Bíblia ou iam à igreja representam centenas
deles. Portanto, os resultados das análises são confiáveis.
As descobertas feitas por meio desse estudo mostraram que os adolescentes que
acreditavam em Deus, que tinham o costume de ir à igreja e liam a Bíblia com
frequência revelaram baixa pontuação para tendências psicóticas e baixa
pontuação para a conformidade social. Esses três tipos de comportamento
religioso pessoal também demonstraram ser os melhores prognósticos para se
alcançar um mais elevado propósito na vida. Na verdade, nesse estudo, o que
tinha mais alto índice de correlação entre os três era a leitura da Bíblia, mais que a
frequência à igreja e a crença em Deus, mas todos os três eram elevados. Isso
significa que, em termos de estatística, a leitura da Bíblia tem, em si, um poder
preditivo adicional único sobre o propósito na vida.
Kelly Davis e Catherine Epkins, professoras de psicologia clínica na
Universidade de Tecnologia do Texas, estudaram crianças em faixas etárias
14
semelhantes nos Estados Unidos. Elas examinaram o papel das práticas
religiosas pessoais de crianças de 12 anos de idade relacionadas ao conflito que
enfrentavam na família. Os participantes responderam a uma pesquisa sobre
religiosidade e espiritualidade, que incluía perguntas relacionadas às atividades
religiosas pessoais, como a oração e a leitura da Bíblia. As pesquisadoras também
utilizaram uma escala para avaliar os conflitos no ambiente familiar (por exemplo:
“Nós brigamos muito em nossa família” ou “Os membros da família espancam
uns aos outros” foram declarações classificadas desde “Concordo totalmente” até
“Discordo totalmente”). A seguir, os pré-adolescentes responderam a um
questionário sobre os níveis de depressão e ansiedade. Os resultados foram
múltiplos, mas as práticas religiosas pessoais diminuíram a relação entre os
conflitos familiares e os sintomas da depressão. Em outras palavras, famílias que
vivem em conflitos constantes são propensas a ter níveis mais elevados de
depressão e ansiedade infantil que as famílias onde os conflitos são raros. Nesse
estudo, a relação entre o conflito, a depressão e a ansiedade era bem pequena
quando o juvenil praticava sua devoção pessoal, como a leitura da Bíblia. Isso
indicava que, embora a leitura e o estudo da Bíblia não eliminassem o conflito,
eram uma forma de refúgio e proteção contra a depressão e a ansiedade em
crianças envolvidas em brigas familiares.
Os benefícios do estudo da Bíblia influenciam até mesmo o desempenho
acadêmico e o comportamento na escola. Isso foi algo que William Jeynes
15
descobriu também. Como professor do Magistério na Universidade do Estado
da Califórnia, em Long Beach, Jeynes estudou uma amostra aleatória de 140
alunos, da 7a à 12a série, numa grande escola cristã. O objetivo da pesquisa foi
observar como o conhecimento da Bíblia está relacionado ao desempenho
acadêmico geral. Ele avaliou o domínio do conhecimento bíblico por meio de
três testes realizados: o teste do conhecimento bíblico, a facilidade com que os
alunos podiam dizer os 66 livros da Bíblia em ordem, e a nota final do último
curso bíblico que fizeram. Os resultados mostraram que alunos do curso médio,
com nível elevado de conhecimento bíblico também tinham a média das notas
mais alta. Em contraste, para aqueles que tinham baixos níveis de conhecimento
bíblico a tendência era a de ter médias baixas. Além disso, aqueles que tinham
melhor conhecimento bíblico demonstravam ter melhor comportamento na
escola, enquanto o grupo com nível mais baixo de conhecimento da Bíblia tinha
o pior comportamento na escola. Isso foi constatado tanto para o sexo masculino
como para o feminino, independentemente da origem étnica.
O estudo da influência exercida pela Bíblia nas escolas públicas não é fácil
devido à natureza secular das escolas, mas um projeto conjunto da Sociedade
Bíblica Americana e do Exército da Salvação, já em andamento, é uma exceção.
Para ajudar crianças de áreas centrais mais pobres da cidade a melhorar o nível de
leitura, essas organizações implementaram por vários anos o chamado Plano de
Alfabetização. O projeto consiste em ajudar crianças a melhorar as habilidades de
leitura tendo a Bíblia como livro principal.
Anna é aluna de uma escola na Filadélfia, beneficiada por esse programa. A
menina tinha um problema na fala, que era motivo de chacota por parte dos
colegas. Com isso, ela passou a ter medo de ler em voz alta. Os efeitos sociais
adversos foram bastante negativos, com o risco acrescentado de ficar praticamente
analfabeta para o resto da vida. O programa providenciou um tutor para trabalhar
pessoalmente com Anna, obtendo um grande êxito, a ponto de Anna superar sua
deficiência.
Como normalmente acontece em casos como esse, a autoestima da menina
permanecia muito baixa e levou algum tempo para ela se recuperar. Foi a leitura
da Bíblia que a ajudou de maneira bastante significativa. Conhecer mais os
personagens bíblicos, compreender o amor de Deus por ela e suas promessas, e
conhecer principalmente Jesus foi um ponto decisivo em sua vida. Os promotores
do programa relatam que à medida que os alunos melhoravam suas habilidades de
leitura, enquanto descobriam a alegria de ler a Palavra de Deus, também se
recuperavam dos problemas de autoestima. Anna estava tão animada com o
progresso que ela fez que não parava de dizer: “Quando leio a Bíblia, eu me sinto
16
mais forte e não tenho mais medo!”
A imaginação, a reflexão e a meditação na Bíblia
No mundo ocidental, a palavra meditação sempre esteve relacionada com as
atividades religiosas ao longo do tempo, geralmente associada à oração silenciosa e
à reflexão profunda nas Escrituras. Entretanto, nas últimas décadas, com a
explosão das religiões orientais em muitos países cristãos, a meditação se tornou
quase um sinônimo de meditação transcendental e de outras práticas semelhantes.
A primeira edição do Webster’s Dictionary [Dicionário Webster’s] define a
palavra meditação como um “pensamento íntimo ou contínuo; um assunto que
vai e volta à mente; séria contemplação”. Mas a 11a edição, além da definição
original, apresenta outra: “Envolver-se em um exercício mental (como
concentração na própria respiração ou repetição de um mantra) com o propósito
de alcançar um nível elevado de consciência espiritual.” Com isso, muitos cristãos
têm medo de dizer que meditam, com receio de que outros crentes venham a
pensar que eles estão seguindo práticas pagãs. Outros não a praticam de modo
algum e perdem, portanto, os benefícios que podem obter. Etimologicamente,
meditar (do latim meditari) significa simplesmente “pensar a respeito, refletir e
considerar”. Denota um foco intenso em um tema, a ponto de a pessoa se tornar
parcialmente alheia ao ambiente ao redor. Penso que nós, como cristãos, teríamos
alcançado muito mais as bênçãos divinas proporcionadas pelas Escrituras se as
tivéssemos estudado com tal intensidade e mais frequentemente. Isso também
abriria nossa mente para ouvir Deus falar mais claramente a nós.
A meditação transcendental (MT) é um conceito bem diferente. A MT refere-
se a alcançar o estado de vigília por meio de um mantra – uma palavra ou som –
sem nenhum significado, repetindo e repetindo constantemente até que a mente
alcance a “vigília interior”, um estado silencioso de “paz interior”. A MT insiste
que o mantra deve ser destituído de significado. Por contraste, a meditação bíblica
é plena de significado, tendo em vista que a meditação é composta de palavras
reais, pensamentos e ideias com significado claro, com base na Palavra de Deus. A
meditação bíblica traz não somente paz interior, mas também uma compreensão
mais clara das mensagens dadas por Deus, mais sabedoria para discernir entre o
bem e o mal, orientação para os passos que devemos dar e motivação para fazer o
que é correto. Esse poderoso agente é vividamente descrito nas seguintes palavras:
“Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois
gumes; ela penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga
os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4:12).
Nos meus 16 anos como católico romano, nunca tinha ouvido ou lido Hebreus
4:12. Quando tive conhecimento desse texto em meu primeiro estudo bíblico
com os adventistas, ele me tocou de tal maneira que me tornei misteriosamente
curioso, ávido e sedento pela Palavra de Deus. Que imagens poderosas foram
essas, usadas nos tempos do domínio militar romano! Uma espada, mas não uma
espada de aço para matar, e sim para comunicar vida; uma espada divina, uma
espada viva e ativa que toca os meandros mais profundos da alma e concede tão
ricos benefícios ao crente.
Sim, há grande enriquecimento em meditar na Bíblia. Todo leitor que a lê com
devoção o faz de diferentes maneiras, e Deus abençoará aqueles que honestamente
o buscam por meio de sua Palavra. Qual é minha maneira de meditar? Bem,
separo um bom tempo para isso e sigo estes passos:
1. Escolho um texto pequeno, que pode ser um único verso, um grupo de
versos relacionados ou um relato bíblico.
2. Leio o texto várias vezes para obter maior compreensão, sentir o impacto das
palavras, até que elas estejam quase memorizadas ou, se o texto é pequeno,
inteiramente memorizado.
3. Se for um verso, penso em como a ideia central se encaixa no contexto e no
restante da Bíblia, e como pode ser traduzido em uma ação real.
4. Se for um relato bíblico, tento imaginar os detalhes. Algo que ajuda é ler um
bom comentário ou enciclopédia bíblica; fecho os olhos e tento vizualizar
mentalmente a pessoa ou pessoas envolvidas, o que fazem, sua aparência, seus
sentimentos, o ambiente, a mensagem (veja o quadro a seguir como exemplo
de um bom comentário sobre o texto em que Jesus expulsou um espírito
imundo na sinagoga de Cafarnaum). Sinto-me emocionalmente envolvido no
relato e experimento um sentimento de compaixão, amor, zelo, gratidão,
tristeza e esperança.
5. Permito-me ficar em silêncio para que o Espírito Santo opere. Isso não
significa que eu ouço palavras, mas, frequentemente, experimento uma sensação
de paz e conforto. Posso então me encher de confiança no Senhor e sentir que
tudo vai ficar bem, porque Deus está no comando. “O Espírito enche a mente
17
e o coração de doce esperança, ânimo e imagens bíblicas.”
6. Encerro com uma oração, fazendo com que o texto bíblico lido se torne o
centro dessa oração.
Ellen G. White e o poder das Escrituras
Há uma enorme riqueza de bênçãos pessoais que podem ser obtidas por meio
da leitura da Bíblia, assegura Ellen G. White. Eis alguns exemplos:
A Bíblia edifica o caráter. Como conselho aos pais, Ellen White assim escreve:
“As lições da Bíblia exercem influência moral e religiosa sobre o caráter, ao serem
levadas para a vida prática. […] Uma varonilidade nobre e completa não vem ao
acaso. É resultado do processo modelador da edificação do caráter nos primeiros
anos da juventude, e da prática da lei de Deus no lar. Deus abençoará os esforços
18
fiéis de todos os que ensinam aos filhos como Ele dirigiu.” O texto é
especialmente direcionado aos pais e professores de crianças que necessitam dos
conselhos da Palavra de Deus e do exemplo de homens e mulheres de caráter.
Ouvir e ler a respeito de pessoas exemplares (heróis) pode transformar crianças e
adolescentes em adultos de caráter.
A Bíblia proporciona vigor espiritual. Como vimos, as pesquisas são apenas o
início. Os vínculos entre a leitura da Bíblia e o desempenho acadêmico são
inúmeros. “Nada há mais apropriado para fortalecer o intelecto do que o estudo
das Escrituras. Nenhum outro livro é tão capaz de elevar os pensamentos e dar
19
vigor às habilidades, como as grandiosas e enobrecedoras verdades da Bíblia.”
De fato, as atuais descobertas descritas em “Cognitive Genesis” [Gênesis
Cognitivo] revelam que os alunos das escolas adventistas – onde a Bíblia tem um
lugar de destaque – têm um desempenho acadêmico muito mais elevado que o
20
esperado, de acordo com os resultados dos testes padronizados.
A Bíblia afasta os temores. Palavras como medo, temor, pavor, terror,
inquietação aparecem centenas de vezes na Bíblia. Muitas delas representam as
palavras de encorajamento vindas de Deus: “Não temas”, “não chore”, “não
tenha medo”, pois Ele sabe que o medo pode nos atingir a qualquer momento
durante a vida. “Unicamente essa percepção da presença de Deus poderá banir
aquele receio que faria da vida um peso à criança insegura. Que ela grave na
memória esta promessa: ‘O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem,
e os livra’ (Sl 34:7). Que leia a maravilhosa história de Eliseu na cidade do monte
e, entre ele e o exército de inimigos armados, uma poderosa multidão de anjos
celestiais ao redor! Leia como, na prisão, o anjo de Deus apareceu a Pedro que
estava condenado à morte; como, depois de passarem pelos guardas armados, pelas
portas maciças e pelo grande portão de ferro com seus ferrolhos e travessas, o anjo
21
guiou o servo de Deus em segurança.” As histórias da Bíblia e as promessas
nela contidas são como salvaguardas para as terríveis experiências pelas quais
passam as crianças e também os adultos.
A Bíblia ensina a como alcançar a felicidade. “Mediante o estudo da Bíblia,
22
aprendemos a viver de maneira a fruir a maior soma de pura felicidade.”
Verdadeiramente, as Escrituras apresentam valores convincentes e princípios pelos
quais podemos viver e nos relacionar apropriadamente com outros e com Deus.
Desse modo, podemos servir, perdoar, obedecer a Deus, ter alegria, viver livres da
culpa e ter a certeza da salvação – todos elementos-chave para a felicidade.
A Bíblia torna a mente clara e firme. “A clareza de nossa visão quanto à verdade
será proporcional à compreensão que tivermos da Palavra de Deus. Aquele que dá
às Escrituras acurada atenção estudando-a com oração obterá uma clara
compreensão e um perfeito discernimento, como se, volvendo-se para Deus,
23
houvesse atingido um mais elevado grau de inteligência.” Isso pode acontecer
não somente por causa do elevado valor contido na Bíblia, mas também por seu
miraculoso poder, conforme nos diz Hebreus 4:12.
A Bíblia provê meios para afastar a tentação. “A leitura e contemplação das
Escrituras deveria ser entendida como uma audiência com o Infinito. […]
Quando Satanás pressiona a nossa mente com suas sugestões, podemos, se
quisermos, repousar sobre um ‘assim diz o Senhor’; ser introduzidos ao pavilhão
24
secreto do Santíssimo.” Vencer a tentação por meio das Escrituras nos levará
cada vez mais perto de Deus. Ellen White utiliza a expressão “pavilhão secreto”,
o termo traduzido da Bíblia na versão King James para a presença de Deus no
tabernáculo (Sl 18:11; 27:5). Essa expressão retrata uma das mais reconfortantes
imagens da máxima proteção que podemos ter ao estarmos diante da presença de
Deus, tão próximos quanto a natureza humana nos permite.
A Bíblia nutre nossa vida espiritual. A experiência espiritual durante e após
termos passado algum tempo fazendo a leitura, meditação e reflexão sobre as
Santas Escrituras é aquela profunda sensação de paz e inexprimível alegria – tanto
que isso só pode ser um dom de Deus. Ellen White nos diz: “Encha seu coração
com as palavras de Deus. Elas são a água viva que irá saciar sua sede. Elas são o
pão vivo que vem do Céu. […] Nosso corpo é formado por aquilo que comemos
e bebemos. Como acontece na vida física, assim também ocorre na espiritual: é
25
aquilo em que meditamos que dará graça e força a nossa natureza espiritual.”
A Bíblia pode guiar o pensamento científico. “Deus tem permitido que uma
torrente de luz incida sobre o mundo nas descobertas na ciência e na arte;
quando, porém, pretensos cientistas prelecionam e escrevem sobre esses assuntos
meramente do ponto de vista humano, certamente chegarão a conclusões erradas.
Os maiores intelectos, se não forem guiados pela Palavra de Deus em suas
pesquisas, ficarão desnorteados em suas tentativas para investigar as relações da
26
ciência e da revelação.” Esse texto pode ser considerado uma mensagem de
advertência para os cientistas tomarem a Bíblia literalmente. Não tem sido assim
em minha experiência. O texto confirma que as teorias e aplicações científicas,
mesmo aquelas enraizadas em pressupostos não teístas podem servir como fonte
de aprendizado e ser aplicadas, desde que sejam filtradas pela Palavra de Deus.
A psicóloga-chefe do consultório onde trabalhei pela primeira vez na Espanha
participou de um workshop na área da psicanálise, sobre como ajudar os clientes a
recuperar as memórias da infância. Por ser cristã, ela voltou do local em estado de
choque. Havia testemunhado uma sessão em que o terapeuta induziu uma cliente
à consciência das memórias do tempo em que ela era criança, e bem antes ainda.
Em dado momento, a cliente se curvou e ficou na posição fetal. O terapeuta
começou então a lhe perguntar sobre as lembranças que tinha de quando ainda
estava no ventre da mãe! E ela respondeu de imediato em seu estado de
semiconsciência! Para minha mentora e para mim, estava claro que esse era um
território proibido. Em seu melhor estado da mente, ninguém pode lembrar o
que ocorreu nos dois primeiros anos de vida, e muito menos na fase pré-natal. A
Bíblia nos diz: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor, o nosso Deus, mas as
reveladas pertencem a nós e aos nossos filhos para sempre” (Dt 29:29). Para nós,
essa técnica foi uma tentativa de entrar em um domínio “secreto”, e não compete
a nós explorá-lo. Nós entendemos que essas práticas eram bastante perigosas e
acabavam sendo dirigidas por Satanás. Comprometemo-nos a utilizar estratégias
que fossem compatíveis com os princípios bíblicos – e há várias delas, embora
muitas sejam de origem secular.
É dessa forma que vejo as Escrituras dirigindo minhas pesquisas acadêmicas e
prática profissional. Como o salmista afirma, a Palavra de Deus é “lâmpada para os
meus pés, e luz para o meu caminho” (Sl 119:105, ARA), não uma resposta para
questões científicas, mas o Guia e a referência para o pesquisador seguir em frente.
“Eu o instruirei e o ensinarei no caminho que você deve seguir; Eu o
aconselharei e cuidarei de você” (Sl 32:8). Guardando no coração essas promessas
da Bíblia, podemos levar avante qualquer projeto ou empreendimento, inclusive a
meditação na Bíblia, sabendo que Deus está ao nosso lado, nos ajudando em cada
encruzilhada da vida.
Conclusão
Kevin era um aluno do ensino médio que voltou a estudar após a idade normal
para esse estágio do curso. Ele me contou sua experiência, e passo a relatá-la a
seguir:
“Cresci em um lar cristão, mas não estava interessado em religião. Ia à igreja
com meus pais, não porque tivesse desejo de ir, mas para não ter que ouvir
sermões. Eu acreditava em Deus, mas o rejeitava. Muitos anos se passaram assim.
Quando fiz 24 anos, surgiu uma oportunidade de trabalho na Nova Zelândia.
Deixei a casa de meus pais e fui para lá. Naquele lugar, tive meu verdadeiro
encontro com a Bíblia. Comecei a lê-la do início e sentia um desejo imenso de
continuar lendo. Logo estava deixando de lado todas as outras atividades para
continuar lendo-a. Lembro-me de que passei muitos dias lendo por sete ou oito
horas, sem parar, absorvendo tudo o que nela estava escrito. Quando cheguei aos
evangelhos e li a respeito da agonia de Jesus no Jardim do Getsêmani, comecei a
chorar como uma criança. Quando li o relato do Calvário, caí de joelhos com o
rosto molhado de lágrimas e pedi a Deus que tomasse conta de minha vida. Esse
foi o momento de minha conversão.
“Então tudo mudou em minha vida. O apego e a afeição que eu tinha pela
mensagem apresentada na Bíblia me transformaram. Até essa época, as coisas mais
importantes para mim eram o fumo, o álcool, as drogas, sexo e especialmente
pilotar motos. Eu tinha uma motocicleta que custava mais de 20 mil dólares – a
coisa mais importante da minha vida. Eu a limpava e polia a cada dois ou três dias.
Tudo o que eu ganhava, colocava na moto para que ela ficasse mais incrementada
e mais veloz. Mas depois, com essa nova compreensão, não tinha mais desejo
algum de continuar naquela vida. Admito que tive que lutar entre a máquina e
Jesus de Nazaré. Quando chegou o momento de vendê-la, eu não me arrependi,
nem por um momento. A moto parecia algo insignificante para mim. Eu estava
feliz por ter escolhido Jesus. Se tivesse que escolher novamente, minha escolha
seria a mesma.”
Depois de termos analisado as múltiplas vantagens da Palavra de Deus,
especialmente seu poder de transformação, necessitamos nos comprometer a fazer
uma reflexão diária na melhor fonte em que encontramos a vontade de Deus para
a nossa vida. Por meio da leitura da Bíblia, com fé e oração, por meio da reflexão
e da meditação, obteremos melhor compreensão e a transformação operada por
seu Santo Espírito. E quando isso se tornar parte integrante de nossa vida, Cristo,
a Palavra (Jo 1:1, 14), irá habitar pela fé em nosso coração, conforme prometido
em Efésios 3:17.
Perguntas para estudo
• Você já tentou ler a Bíblia em um ano e não conseguiu? Por que não tentar
ler um livro por vez? Comece com um livro pequeno do Novo Testamento, com
Tiago, Filipenses ou as cartas a Timóteo. Depois poderá passar para os outros
livros. Pergunte a você mesmo: Qual é o tema principal do livro? Quando foi
escrito e em que circunstâncias? (Pode ser necessário consultar um comentário
bíblico.) O que a mensagem contida nesse livro diz para mim? Como posso
colocá-la em prática? Como posso partilhar as bênçãos recebidas com meus
amigos, minha família e com outras pessoas que encontrar?
• A expressão “a Palavra de Deus” ou “a Palavra do Senhor” aparece em todo o
livro dos Salmos. Procure por elas em vários textos e reflita sobre como a Palavra
de Deus o tem ajudado no passado e como você pode garantir suas bênçãos para o
futuro.
• Utilize uma concordância bíblica para encontrar quantas vezes aparece o
termo meditar e suas variáveis. Em que contexto a palavra é usada? De que modo
você pode melhorar sua meditação nas Santas Escrituras?
Aplicação
• Leia o Salmo 139 duas vezes; na primeira vez, leia num bom ritmo para sentir
a mensagem como um todo; na segunda vez, leia verso por verso, pausadamente,
refletindo em cada palavra e expressão, fazendo uma ligação da mensagem com
você. Ao ler a mensagem, quais sentimentos ela lhe traz? Que decisões podem ser
tomadas e quais comportamentos podem ser mudados como resultado da leitura
que fez?
• O poder da Palavra de Deus pode ser perfeitamente notado na vida de Jesus.
Que relato ou relatos específicos vêm à mente onde a Palavra de Deus está ativa
no ministério dele? Onde a Palavra de Deus pode ser uma bênção em sua vida?
• Utilizando uma concordância ou busca digital, procure um personagem
bíblico cuja vida atrai mais a sua atenção (por exemplo: Sara, José, Moisés, Rute,
Jônatas, Salomão, João, Pedro, etc.). Leia cada verso onde o nome do personagem
aparece e os versos mais próximos para entender o contexto. Procure imaginar as
circunstâncias do ponto de vista do personagem e do ponto de vista de outros.
Que lições você pode aprender a respeito do que as Escrituras dizem sobre o
personagem? Ore e peça a direção de Deus em sua vida.

1
Thomas A. Arcury et al., “Faith and Health Self-Management of Rural Older Adults”, Journal of Cross-
Cultural Gerontology 15 (2000), p. 55-74. Os participantes desse estudo são provenientes de duas áreas rurais
do estado da Carolina do Norte e eram de origens diversas (33% americanos africanos; 37% americanos
europeus: e 30% americanos nativos; com uma média de 40% de homens e 60% de mulheres). Para obter
uma boa representação de vários contextos, os participantes foram recrutados de agências de serviços de saúde
em domicílio, lares de idosos, clubes de idosos, igrejas, agências de serviço social e organizações para
veteranos. Os pesquisadores coletaram dados via entrevistas pessoais exaustivas, semiestruturadas, realizadas
trimestralmente ao longo de um ano. A entrevista inicial levou por volta de três horas distribuídas em dois ou
três dias.
2
Brenda L. Beagan et al., “With God in Our Lives He Gives Us the Strength to Carry on”, Mental Health,
Religion, & Culture 15 (2012), p. 103-120. Participaram do estudo 50 mulheres africanas canadenses
moradoras da Nova Escócia. Os pesquisadores reuniram dados por meio de quatro instrumentos padronizados
e também por exaustivas entrevistas qualitativas com o objetivo de levantar discussão sobre como essas
mulheres passaram pela experiência de questões como o racismo, depressão estresse e espiritualidade.
3
Chyrell D. Bellamy et al., “Relevance of Spirituality for People With Mental Illness Attending
Consumer-Centered Services”, Psychiatric Rehabilitation Journal 30 (2007), p. 287-294. O estudo foi
quantitativo, portanto, permitiu uma ampla amostragem de 1.835 participantes provenientes de todo o estado
do Michigan em centros-dia de atendimento a pessoas com doenças mentais.
4
Vickie L. Patterson et al., “Coping With Change: Religious Activities and Beliefs of Residents in Assisted
Living Facilities”, Journal of Religious Gerontology 14 (2003), p. 79-93. O estudo foi realizado entre 55
residentes de 17 instituições de vida assistida no subúrbio de Atlanta. Os dados foram coletados por meio de
entrevistas exaustivas sobre suas práticas religiosas. A amostra foi feita com pessoas com não menos de 75 anos
de idade (89% mulheres, 98% delas caucasianas).
5
A. Quinn Stanley, “Benefits of Teacher ‘Connections’ in Stressful Educational Settings”, International
Journal of Children’s Spirituality 16 (2011), p. 47-58. Esses professores de educação especial são provenientes de
quatro escolas e relataram suas experiências quanto à maneira de lidar com os problemas por meio de oito
entrevistas exaustivas que foram gravadas, transcritas, codificadas e analisadas.
6
Arthur S. Maxwell, Your Bible and You (Washington, DC: Review and Herald, 1959), p. 59.
7
Leila Shahabi et al., “Correlates of Self-Perceptions of Spirituality in American Adults”, Annals of
Behavioral Medicine 24 (2002), p. 59-68. Os participantes do estudo foram 1.422 pessoas de 18 anos para cima,
moradoras em locais não institucionalizados; 46% eram homens e 54% mulheres, com 46 anos de idade, em
média. Essa foi uma amostra representativa confiável da população adulta em todos os Estados Unidos.
8
Brian J. Zinnbauer et al., “Religion and Spirituality, Unfuzzing the Fuzzi”, Journal of the Scientific Study of
Religion 36 (1997), p. 549-564.
9
Ellen G. White, Obreiros Evangélicos (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 302.
10
Marsha I. Wiggings et al., “The Longitudinal Effects of Spirituality on Stress, Depression, and Risk
Behaviors Among Men With HIV Infection Attending Three Clinics in the Southeastern United States”,
Journal of Spirituality and Mental Health 10 (2008), p. 145-168. Essa amostragem para estudo com 226 homens
moradores no sudoeste dos Estados Unidos foi seguida durante dois anos.
11
Hughes M. Helm et al., “Does Private Religious Activity Prolong Survival? A Six-Year Follow-up
Study of 3.851 Older Adults”, Journal of Gerontology: Medical Sciences 55A (2000), p. 400-405. Esse foi um
projeto robusto por ter incluído uma ampla amostragem (3.851 pessoas), foi longitudinal (durou seis anos), e
obteve uma boa média de resposta (80%). Os participantes eram adultos idosos (de 65 anos para cima) que
moravam em cinco municípios adjacentes do estado da Carolina do Norte, nos Estados Unidos (Durham,
Ganville, Vance, Warren e Franklin). Eles responderam a perguntas sobre suas práticas religiosas pessoais
(estudo da Bíblia, oração e meditação), quanto às atividades religiosas em público, atividades diárias
deficientes e seu histórico sobre as condições crônicas: câncer, derrame, infarto, diabetes, fraturas das costelas,
outras fraturas, angina do peito, bronquite, uso de glicosídeos cardíacos e uso de anti-hipertensivos. Eles
receberam também um pequeno questionário sobre o status mental, tiveram a pressão medida por duas vezes,
avaliação da depressão e um questionário sobre eventos negativos da vida. O seguimento realizado ao longo
de seis anos consistiu de uma entrevista feita por telefone anualmente.
12
A maioria dos pesquisadores tem adotado o uso de uma única variável denominada atividade religiosa
pessoal ou atividade religiosa não organizada (NORA, pela sigla em inglês), assim como a atividade religiosa
pública ou atividade religiosa organizada (ORA, pela sigla em inglês). Isso torna difícil sempre termos que
isolar “a leitura ou estudo da Bíblia” em si, pelo fato de muitos estudos juntarem a leitura da Bíblia e o
estudo com a oração e a devoção particular.
13
Leslie J. Francis, “The Relationship Between Bible Reading and Purpose in Life Among 13-15-year-
olds”, Mental Health, Religion & Culture 3 (2000), p. 27-36.
14
Kelly A. Davis and Catherine C. Epkings, “So Private Religious Practices Moderate the Relation
Between Family Conflict and Preadolescents´ Depression and Anxiety Symptoms?” Journal of Early
Adolescence 29 (2009), p. 693-717. Participaram desse estudo 160 pré-adolescentes (65 meninos e 85 meninas)
e a mãe de cada um deles. Foram recrutados por meio de apresentações orais em eventos esportivos,
programas educacionais e outras reuniões na comunidade. Eles foram contatados por telefone para marcar
uma reunião individual com um dos pesquisadores ou um assistente de pesquisa. A reunião foi feita para
explicar o projeto e administrar os instrumentos de pesquisa.
15
William H. Jeynes, “The Relationship Between Bible Literacy and Academic Achievement and School
Behavior”, Education and Urban Society 41 (2009), p. 419-436.
16
Liz Smith, “The Bible Makes Me Feel Stronger”, American Bible Society Record, acessado em 28 de
maio de 2013, http://record.americanbible.org/content/usa/%E2%80%98-bible-makes-mefeel-
stronger%E2%80%99%,
17
White, Parábolas de Jesus (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2000), p. 131, 132.
18
White, Orientação da Criança (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 41, 42.
19
White, Caminho a Cristo (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2013), p. 90.
20
Ver o estudo Cognitive Genesis no endereço http://www.cognitivegenesis.org.
21
White, Orientação da Criança, p. 42, 43.
22
White, Testemunhos Para a Igreja (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2012), vol. 3, p. 374.
23
White, Conselhos aos Professores, Pais e Estudantes (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2000), p. 452.
24
White, Testemunhos Para a Igreja (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2014), vol. 6, p. 393.
25
White, Caminho a Cristo, p. 88.
26
White, Mensagens Escolhidas (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2014), vol. 3, p. 307.
CAPÍTULO 3
OS BENEFÍCIOS DO PERDÃO
“Confessei-te o meu pecado […]; e Tu perdoaste a
iniquidade do meu pecado.” Salmo 32:5, ARA

D epois que terminou os estudos de pós-graduação na Universidade Andrews,


o pastor Ruimar de Paiva, a esposa e os dois filhos mudaram-se para a Ilha
de Palau. Ele atuava como pastor de uma grande igreja adventista do sétimo dia e
também coordenava o trabalho da Missão na ilha. Eram brasileiros e haviam se
tornado cidadãos americanos alguns anos antes.
Muitos dos moradores locais amavam essa família. O casal e os filhos eram
bondosos para com todos e sempre recebiam bem qualquer pessoa que chegasse a
sua casa. Estudantes missionários que trabalhavam como professores na escola
secundária da igreja adventista local adotaram a família Paiva como sua família e
planejavam passar a noite de Natal na casa deles, naquele período de festas de
2003. Infelizmente, esse encontro não chegou a acontecer porque, no dia 22 de
dezembro, um ladrão entrou na casa deles à noite e matou Ruimar, a esposa e o
filho de 11 anos. A seguir, tentou estuprar a filha do casal, colocou-a no carro e a
abandonou à margem da estrada.
Em uma comunidade relativamente pequena e com a descrição dada pela
menina, o assassino foi localizado e preso imediatamente, no momento em que
estava tentando cometer suicídio. Seu nome era Justin Hirosi e havia consumido
drogas antes do assassinato. Logo após a tragédia, os pais do pastor Ruimar
chegaram para assistir ao funeral e levar a neta de volta para a América a fim de
decidir seu futuro. Durante os dias que se seguiram, a mãe do pastor Paiva teve
um encontro com o homem que assassinou seu filho, a nora e o neto. O
comportamento dela foi absolutamente sem precedentes. Essa mãe, dilacerada pela
dor, conversou amavelmente com Justin e orou com ele. A seguir, disse-lhe que
já o havia perdoado. Justin chorou.
No dia do funeral, a Sra. Paiva, percebendo que a mãe do criminoso estava
presente, pegou o microfone e a convidou a se aproximar. Então a abraçou
ternamente e disse: “Aqui estão duas mães chorando pelos filhos que perderam.”
A seguir, fez um pequeno discurso e um apelo à comunidade de Palau para não
guardar rancor contra a família de Justin, assegurando-lhes que sua família não
estava culpando a família dele e que ninguém mais deveria fazê-lo. Ela disse ainda
que ambas as mães haviam tentado educar bem seus filhos e ensiná-los a discernir
entre o certo e o errado, e que isso todas as mães podem fazer.
Essa atitude levou o chefe maior da ilha a elogiar a generosidade da família das
vítimas e a expressar vergonha, arrependimento e tristeza por parte da família de
Justin. Ele comunicou também que a família de Justin e o clã, embora tivessem
recursos muito limitados, tinham vendido seus bens e doado à família Paiva dez
mil dólares para financiar a educação da menina. Toda a população da ilha foi
transformada para sempre por causa da atitude perdoadora demonstrada pela Sra.
Paiva.
Comentando a respeito das mudanças positivas ocorridas na comunidade, um
morador disse que “a família Paiva havia feito maior bem depois de sua morte do
que antes!” John P. Rutlege, assessor jurídico para o Governo do Estado de
Koror, estava no funeral. Suas palavras retratam a magnitude de seus sentimentos:
“Sou agora um orgulhoso membro do clã Paiva e fazemos as coisas de modo um
tanto diferente. Amor e perdão, isso é o que importa. Levou 31 anos e uma
tragédia tão grande para eu entender isso. Mas [...] finalmente entendi… Nós,
1
finalmente, entendemos isso.”
O valor do perdão
O perdão é, talvez, a qualidade moral mais estudada do ponto de vista
psicológico. A culpa, muitas vezes resultante da falta de perdoar, é uma tremenda
barreira para a saúde mental e bem-estar psicológico. Essa é a razão por que os
profissionais da área sentiram a necessidade de estudar o perdão, como se
relaciona, de que depende e de que maneira causa uma série de fatos e
experiências. Conforme veremos neste capítulo, além das extraordinárias bênçãos
espirituais de conceder o perdão aos ofensores, as pesquisas demonstram que as
pessoas que estão dispostas a dar e a receber perdão são física e mentalmente mais
saudáveis do que aquelas que não têm essa disposição.
Receber o perdão (de Deus e daqueles a quem ofendemos) e conceder o
perdão aos outros são experiências de alto valor psicológico. O perdão é um tema
tão central nas Escrituras pelo fato de ser uma experiência de cura necessária em
nossa vida marcada pelo pecado.
Há dois tipos de mensagens a respeito do perdão na Bíblia: (1) aquelas que
mostram a necessidade de buscar o perdão de um Deus amoroso, que proveu os
canais para retirar a culpa e obter a purificação moral, e (2) aquelas que estimulam
as pessoas a perdoar umas às outras. Ambos os processos são essenciais, e a segunda
é uma condição para a primeira: O perdão de Deus não se torna viável sem que
seja concedido o perdão aos outros (Mt 5:24; 6:14, 15; Mc 11:25; Lc 6:37). Essa
não é uma questão de capricho. Está claro que, para obter o perdão de Deus, é
necessário arrepender-se e abandonar todo pecado, mesmo que a pessoa venha a
pecar novamente no futuro. Mas não perdoar um ofensor é o mesmo que orar:
“Pai, perdoa todos os meus pecados, exceto a mágoa que tenho contra aquela
pessoa que o Senhor sabe quem é.” O perdão completo simplesmente não pode
acontecer. Não é que Deus não tenha o desejo de perdoar; é que a pessoa não
quer abandonar um estado de falha moral.
A importância e a urgência da reconciliação (que implicitamente asseguram o
perdão) são retratadas no sermão proferido por Jesus no monte: “Portanto, se
você estiver apresentando sua oferta diante do altar, e ali se lembrar de que seu
irmão tem algo contra você, deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro
reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta” (Mt 5:23, 24).
O tema do perdão faz parte tanto do Antigo como do Novo Testamentos.
Antes de sua morte, Jacó deixou uma mensagem para José perdoar seus irmãos
(Gn 50:17), Saul pediu a Samuel que o perdoasse por não ter seguido sua
instrução (1Sm 15:24, 25) e Abigail pediu que Davi a perdoasse por sua presunção
(1Sm 25:28). Quando o povo agrada a Deus, Ele “faz que até os seus inimigos
vivam em paz com ele” (Pv 16:7).
É, porém, no Novo Testamento, que a ênfase sobre o perdão se torna mais
forte. Jesus se achava em uma cultura em que o perdão humano não era
considerado uma virtude, e o ódio era por vezes encorajado: “Vocês ouviram o
que foi dito: ‘Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo’” (Mt 5:43, itálico
acrescentado). Por meio de seu exemplo e preceito, Jesus não deixou qualquer
dúvida com respeito à virtude do perdão: “‘Senhor, quantas vezes deverei perdoar
[…]?’ Jesus respondeu: ‘Eu lhe digo: Não até sete, mas até setenta vezes sete’”
(Mt 18:21, 22).
Entretanto, o perdão não é compreendido da mesma forma em todas as
religiões. Os conceitos fundamentais do budismo são a tolerância e a compaixão.
O perdão não faz necessariamente parte dele, embora os budistas que estejam
dispostos a perdoar possam também estar dispostos a se reconciliar. O islamismo
valoriza e estimula o perdão, mas é prerrogativa da vítima concedê-lo. O
judaísmo também valoriza e estimula o perdão, mas seus adeptos não consideram
proveitoso conceder o perdão ao ofensor que não reconhece o erro cometido.
Comparativamente, os cristãos mantêm o mais alto padrão (Mt 6:12; 18:22; Mc
11:25; Lc 23:34), embora não esteja claro que os cristãos perdoam mais que os
não cristãos ou pessoas não religiosas.
Um instrumento de cura
O poder do perdão foi redescoberto, passando a ser alvo de maior atenção nas
duas últimas décadas. Os psicólogos, conselheiros e assistentes sociais têm
observado que a maior parte dos casos que buscam a psicoterapia estão
relacionados aos problemas interpessoais: conflitos matrimoniais, ofensas, conflitos
no trabalho ou entre amigos, questões judiciais e outros. Eles também chegaram à
compreensão de que o perdão é a base de todos os relacionamentos e que não
perdoar é prejudicial à interação humana e à saúde física e mental.
Como resultado, muitos psicoterapeutas estão utilizando o perdão como
instrumento de cura, um processo incorporado à terapia para libertar as pessoas de
certos fardos que carrega. Inúmeros modelos ou procedimentos terapêuticos já
foram adotados. Um protocolo amplamente aceito e utilizado por muitos clínicos
é o modelo proposto por Robert Enright, professor de psicologia educacional da
Universidade de Wisconsin–Madison, nos Estados Unidos, pioneiro no estudo
2
científico a respeito do perdão. É baseado no pressuposto de que o perdão não
acontece instantaneamente; requer tempo e envolve alguns passos. Enright
também reconhece que, embora muitos clientes entendam que deveriam perdoar
(porque é um preceito religioso ou porque é uma atitude moral a ser tomada),
eles não sabem como proceder. O modelo consiste de quatro fases:
1. Descoberta. Os pacientes recebem ajuda para entender como a ofensa está
causando dor e ira em relação ao ofensor. Esse é o momento de aprender técnicas
para parar de pensar e a organização das rotinas diárias que vão ajudar a controlar
a ira. O conselheiro e a pessoa que está sendo aconselhada discutem os efeitos da
ofensa, não somente sobre si mesmo, mas em outras pessoas cujo relacionamento
é mais próximo (por exemplo: a família e demais entes queridos), que podem
sentir os efeitos da ira, animosidade e outras emoções negativas. O conselheiro
cristão, em acordo com um paciente cristão, pode sugerir a meditação nas
promessas da Bíblia, como também o poder de Deus para obter ajuda na
compreensão e no caminho do perdão. As palavras de Jesus, conforme
encontramos nestes textos: “E quando estiverem orando, se tiverem alguma coisa
contra alguém, perdoem-no, para que também o Pai celestial lhes perdoe os seus
pecados (Mc 11:25), ou “Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os
perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos Céus” (Mt
5:44, 45), podem ser usadas para estabelecer alvos.
2. Decisão. O conselheiro ensina ao paciente os benefícios do perdão, tanto
físicos como mentais, e também os perigos que há em não perdoar. O primeiro
alvo é decidir abandonar o ressentimento e se desprender de qualquer intensidade
de ódio que sinta. O alvo mais importante a alcançar é conseguir perdoar o
ofensor. Dependendo do nível de dano causado e da personalidade do paciente,
esse processo pode ser rápido ou extremamente vagaroso. Alguns podem levar
dias ou semanas para alcançar esses alvos. Outros podem precisar de meses e até
anos. A pessoa de fé precisa entender que pode ser humanamente impossível
perdoar certas ofensas que se caracterizam como muito graves e que se deve
suplicar a intervenção do poder divino de maneira sobrenatural, conforme a
promessa: “Dar-lhes-ei um só coração, espírito novo porei dentro deles; tirarei da
sua carne o coração de pedra e lhes darei coração de carne” (Ez 11:19, ARA).
3. Ação. O alvo principal da terceira fase é chegar ao perdão. Muito tempo é
gasto discutindo as circunstâncias da vida do transgressor que podem ter levado à
ofensa. O propósito não é justificar o erro, mas obter uma compreensão que ajude
a diferenciar entre a pessoa e o ato. Quando a transgressão pode ser vista em seu
contexto (por exemplo, quando o ofensor usou drogas, se foi afetado por um
transtorno mental ou tinha sido vítima de abuso na infância), o paciente pode
conseguir separar a pessoa da ofensa, demonstrar empatia pelo transgressor e
conceder o perdão. Um terapeuta cristão pode fazer referência a relatos bíblicos,
como a oração de Jesus: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc
23:34, ARA), para mostrar que uma grande ofensa pode ser feita por alguém que
não compreende a dimensão da dor causada ou as implicações dela decorrentes.
Isso pode ser feito no momento em que o paciente faz uma concessão moral,
como, por exemplo, dizer (oralmente ou por escrito) ao ofensor que o perdoa.
4. Exame profundo. Os pacientes nesse nível têm que lidar com a desafiadora
tarefa de encontrar um significado no sofrimento produzido por todo o processo
pelo qual passaram. Isso parece ser mais fácil para uma pessoa de fé,
particularmente para um cristão que compreende que há uma razão para a dor e o
sofrimento. Jesus não garantiu uma vida sem sofrimento para seus seguidores,
embora tenha lhes deixado a verdadeira paz (Jo 14:27). Um alvo consequente é a
compreensão de que, após passar pela experiência da ofensa, seguida da dor e do
perdão, a vida pode tomar um novo rumo e alcançar um propósito mais elevado
do que tinha antes.
Depois de haver concedido o perdão completo, as pessoas experimentam a cura
psicológica e emocional, a libertação do fardo do passado, e passam a viver com
mais amor e confiança, e menos rancor e hostilidade. Elas dormem melhor, têm
melhor desempenho no trabalho e, a longo prazo, estão se prevenindo contra as
doenças físicas e mentais. Acima de tudo, o caminho para o perdão agrada a Deus
e leva as pessoas para mais perto de seu reino.
Com exceção de situações altamente complexas, ou em casos de pessoas
extremamente resistentes, não há necessidade de seguir um modelo sistematizado,
dirigido por um terapeuta profissional. É suficiente compreender alguns princípios
úteis. Por exemplo, perdoar não significa que a pessoa que ofendeu você esteja
certa ou que você esteja desculpando os atos do ofensor; em vez disso, você está
se desapegando da ira, frustração e amargura. Você está seguindo o conselho do
Mestre, amando generosa e altruisticamente o seu inimigo, quer seja possível ou
não a reconciliação. Mark Twain disse certa vez: “O perdão é a fragrância que a
violeta exala no calcanhar de quem a esmaga.” Um outro princípio é o de que o
perdão não significa mudar o passado, mas o presente e o futuro, pois quando
você perdoa está transformando a sua atitude e se libertando do fardo que o
impede de agir corretamente. Corrie ten Boon assim escreveu: “Perdoar é libertar
um prisioneiro e nos dar conta de que o prisioneiro éramos nós mesmos.”
É importante lembrar também que o verdadeiro perdão ocorre somente por
meio da influência divina. Não faz parte da natureza humana receber ofensa,
insulto, humilhação, desdém, ser vítima de calúnia, zombaria e, a seguir, pensar e
dizer de coração: “Eu perdoo você.” O mesmo Jesus que aconselhou seu povo a
dar a outra face é quem pode nos fortalecer “com poder, mediante o seu Espírito
no homem interior” (Ef 3:16, ARA). Mas é sua responsabilidade fazer a sua parte
enquanto permite que Deus aja. Você deve lutar para dissipar os sentimentos de
ira e ódio, e a melhor maneira de fazer isso é entender que os sentimentos
negativos têm origem nos pensamentos. Portanto, abrigue em sua mente apenas
pensamentos que não deem espaço para coisas negativas. Quando surgem
pensamentos de ira e amargura, algumas pessoas dizem “Pare!”, e procuram
ocupar a mente com lembranças agradáveis; alguns cantam alto; outros saem para
caminhar ou telefonam para um amigo. Uma excelente maneira de desviar os
pensamentos e sentimentos negativos é agradecer a Deus o quanto você progrediu
e comprometer-se a continuar perseverando no caminho do perdão com a ajuda
dele.
Por fim, o perdão torna-se uma bênção ao ofensor arrependido. Pode ajudar a
obter o perdão completo oferecido por Deus e assim alcançar a pureza moral.
Saúde geral e bem-estar
Um bom número de estudos conduzidos em várias localidades, com uma ampla
gama de participantes, revelaram uma tendência em particular: a saúde e o bem-
estar vêm acompanhados da prática do perdão. E quando a prática do perdão
diminui, a saúde também diminui. Kathleen Lawler, da Universidade do
Tennessee, em Knoxville, nos Estados Unidos, realizou, com sua equipe, um
3
estudo específico e confiável a respeito do perdão e a saúde. Eles reuniram uma
ampla base de dados sobre o perdão, a saúde, habilidades sociais, espiritualidade,
sentimentos e estresse. A maior parte dos dados relacionados à saúde teve como
base as avaliações fisiológicas, como verificação da pressão sanguínea, frequência
cardíaca, pressão arterial média e o duplo-produto (DP), que é resultante da
multiplicação da pressão arterial sistólica (PAS) pela frequência cardíaca (FC),
importante parâmetro na avaliação da função ventricular. Para se assegurarem de
que as variáveis demográficas não estavam intervindo, os pesquisadores
verificaram se todos os aspectos relacionados à avaliação do perdão não estavam
relacionados ao gênero, hábito de fumar, idade, peso, altura, etnia ou estado
matrimonial. As correlações feitas entre o perdão e as avaliações sobre a saúde
incluíram 38 resultados estatisticamente significativos. Estes são alguns dos mais
relevantes:
• A qualidade do sono e o perdão. Quanto mais alta for a tendência para perdoar,
melhor será a qualidade do sono. Faz sentido pensar que aqueles que são dispostos
a perdoar desfrutam paz de consciência e um sono contínuo e restaurador.
• A vingança e a medicação. Os dados dos participantes deram origem a uma
correlação extremamente significativa entre essas duas variáveis. Especificamente,
maior desejo de procurar se vingar estava relacionado a maior quantidade de
medicamentos usados no mês anterior.
• O comportamento de fuga e a medicação. Houve também uma forte correlação
entre essas duas variáveis, significando que altos níveis de fuga do transgressor
estavam associados a grande quantidade de medicamentos ingeridos no mês
anterior.
• O comportamento de fuga e os sintomas físicos da doença. Essa correlação indica que
aqueles que exerciam uma grande determinação em evitar o seu ofensor
demonstravam maior número de sintomas da doença; da mesma forma, aqueles
que tinham baixos níveis de fuga tinham também menos sintomas patológicos.
• A fadiga e o perdão. Essa foi uma correlação negativa indicando que, à medida
que a tendência para perdoar aumentava, a intensidade da frequência da fadiga
diminuía. Da mesma forma, a resistência em perdoar estava associada a grande
fadiga.
• A medicação e o perdão. Essa também foi uma correlação negativa. Quanto
maior a disposição para perdoar, mais baixo era o consumo de medicamentos
usados no mês anterior.
• A vingança e a qualidade do sono. Esses dois itens estavam também
significativamente associados, inclusive de maneira inversa: quanto mais altos os
níveis de sentimentos de vingança, mais insatisfatória era a qualidade do sono.
As descobertas parecem consistentes em relação às várias faixas etárias. Por
exemplo, alunos de faculdade participaram de vários estudos, como o que foi
4
conduzido por Tobi Wilson e seus colegas. A pesquisa de Wilson foi realizada
em uma universidade em Ontário, no Canadá. Foi fornecida uma escala de
perdão aos alunos para avaliar o perdão praticado para com os outros e para
consigo mesmos, bem como uma apreciação subjetiva a respeito de sua saúde
física. A análise relacional demonstrou que aqueles que relataram maior disposição
em perdoar os outros tinham a tendência de usufruir um estado de saúde mais
positivo. Isso estava de acordo com o que ficou constatado em estudos anteriores.
Finalmente, os resultados dos estudos indicaram que o estado de saúde estava
associado a não somente perdoar os outros, como também a perdoar a si mesmos.
Um projeto semelhante desenvolvido por Jon Webb e Ken Brewer obteve
resultados compatíveis com uma amostragem composta por alunos de faculdade
5
do sul dos Apalaches, que enfrentavam problemas com bebida alcoólica. Depois
de terem removido as influências de todas as variáveis (inclusive a religiosidade),
eles confirmaram que o perdão (e especialmente o perdão de si mesmos) exerceu
papel preponderante em sua saúde. É interessante perceber resultados similares
com amostragens bastante diferentes – alunos comuns e alunos com problemas
com a bebida. É interessante notar também que ambos eram grandemente
beneficiados quando perdoavam a si mesmos.
Entretanto, a ideia de perdoar a si mesmo, conforme apresentada pela maior
parte da literatura profissional não corresponde aos ensinos bíblicos sobre o
perdão. Perdoar a si mesmo é compreendido como algo assim: Eu faço mal, causo
danos ou ofendo alguém, ou cometo um grave erro que resulta em dor para outros e para
mim. Como consequência, sinto o peso da culpa e meus pensamentos e comportamento são
profundamente afetados. Aqueles a quem ofendi podem me perdoar, mas eu ainda vou
sentir o fardo sobre mim: eu não estou me perdoando! Eu devo me perdoar! O perdão de
Deus é deixado de fora dessa equação. A literatura profissional tem a tendência de
dar maior ênfase ao fato de perdoar a mim mesmo quando, na verdade, Deus é
quem pode me perdoar para que eu seja purificado moralmente e não venha a
sentir vergonha e culpa nunca mais.
Além dos jovens participantes dos estudos anteriores, outras faixas etárias foram
beneficiadas com o perdão. A forma de lidar com o perdão é uma das
incumbências que afeta mais profundamente as pessoas envolvidas em acidentes
automobilísticos: perdão da outra parte, se a pessoa no outro carro é considerada
infratora, ou perdoar a si mesmo se é considerado o responsável pelo acidente.
Uma equipe de pesquisadores do Luther College, na Universidade do Leste do
Tennessee, e da Universidade do Michigan estudou uma amostragem de pessoas
6
com lesão da medula espinal para descobrir a relação entre o perdão e a saúde.
Os participantes eram 48% de tetraplégicos e 52% de paraplégicos com lesões na
medula espinal em decorrência de acidentes com veículos motorizados e por
violência. Após o controle das variáveis demográficas, perdoar a si mesmo estava
significativamente associado ao comportamento em relação à saúde e à satisfação
na vida; e o perdão da outra parte estava significativamente associado com a saúde
geral em todos os aspectos. Quanto mais evidente a presença do perdão, melhores
eram as condições de saúde e o nível de satisfação, em todos os casos.
Estudos realizados com pessoas idosas confirmam que elas também recebem os
benefícios do perdão. Esse foi o caso de um estudo conduzido por Berit Ingersoll-
7
Dayton e seus associados, da Universidade do Michigan, em Ann Arbor. Eles
reuniram um pequeno grupo de vinte homens e mulheres idosos para fornecer a
eles apoio e ajuda psicológica, e então observar os resultados. Os participantes
deveriam ter sido emocionalmente feridos por alguém, ter alguma coisa para
perdoar, não ser psiquiatricamente vulneráveis e ter 60 anos de idade ou mais.
Eles participaram de oito sessões realizadas semanalmente, com acompanhamento
por quatro meses, para ensinar a esses idosos os benefícios do perdão e como
conseguir perdoar seguindo os passos de Enright (citados anteriormente). Os
ofensores eram um dos pais, o cônjuge, uma criança, parente, amigo, ou outra
pessoa qualquer. Foi solicitado aos participantes que mantivessem um registro
com anotações e perguntas sobre o seu processo de desenvolvimento da
compaixão e do perdão para com quem os havia ofendido. Ao serem comparados
os testes realizados antes e após as oito semanas de seminários, eles não somente
confirmaram que a capacidade de perdoar havia melhorado em todas as áreas do
perdão (afetiva, comportamental, cognitiva e geral), mas que a qualidade de sua
saúde tinha aumentado significativamente e, quando os sintomas de depressão
estavam presentes, eles haviam sido reduzidos durante o período de treinamento.
A qualidade do perdão é tão importante que poderia ser o elemento de maior
relevância de todo o fator religiosidade que afeta a saúde. Essa foi a principal
8
conclusão da pesquisa realizada por Kathleen Lawler. Seu relatório, que tem
como título: “O Perdão Como um Mediador da Relação Entre a Saúde e a
Religiosidade”, inclui três estudos que tiveram a participação de 938 adultos de
meia-idade e idosos. Nas três pesquisas realizadas, o perdão aparece como
mediador parcial ou total da relação entre a religião e a saúde. Isso significa que o
poder de influência da religião sobre a saúde é significativamente atenuado ou
eliminado quando o mediador do perdão é acrescentado ao modelo. Nesses
estudos, nenhuma das outras variáveis (frequência aos cultos, frequência das
orações e a crença em um Deus que cuida) teve o mesmo peso sobre a saúde
como o perdão.
Fadiga crônica e fibromialgia
Loren Toussaint, do Luther College, em Decorah, Iowa, nos Estados Unidos, e
seus colegas da Clínica Mayo e da Universidade de Stanford revisaram a literatura
médica sobre a fibromialgia e a síndrome da fadiga crônica, como também os
estudos psicológicos sobre o perdão, para desenvolver um modelo que pudesse
9
aliviar os sintomas dessas doenças. A fibromialgia é uma síndrome crônica de
dor generalizada que afeta no mínimo três quadrantes do corpo, como também
cerca de onze ou mais pontos dolorosos, em via de regra. A síndrome da fadiga
crônica é caracterizada por uma contínua, debilitante e inexplicável fadiga (com
duração de seis meses ou mais) que não melhora com o descanso.
Devido ao fato de a fibromialgia e a fadiga crônica serem conhecidas por
causarem ira, frustração, estresse, medo e ressentimento, que por sua vez
produzem níveis mais elevados de dor, fraqueza e baixa qualidade de vida, e
também porque as pesquisas indicam que os efeitos saudáveis do perdão sobre a
saúde geral, e especificamente sobre a ira, o estresse e outras consequências
negativas relacionadas ao estado emocional da pessoa, sugere-se que a prática do
perdão como estratégia para lidar com esses sentimentos irá compensar as emoções
negativas que acompanham a fibromialgia e a fadiga crônica, aliviando os
dolorosos sintomas delas decorrentes.
Ao ler estudos como esse, não posso deixar de pensar nas seguintes palavras de
Davi:
Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada […].
Enquanto calei os meus pecados [ou quando não confesso meu pecado e,
portanto, não obtenho o perdão], envelheceram os meus ossos
Pelos meus constantes gemidos todo o dia (Sl 32:1, 3, ARA; itálico
acrescentado).
Misericórdia, Senhor, pois vou desfalecendo!
Cura-me, Senhor, porque os meus ossos tremem (Sl 6:2, itálico acrescentado).
Embora não possamos reconhecer se essa é uma figura de linguagem ou
realmente uma dor reumática, podemos, por certo, relacioná-la a uma grande
preocupação por não obter o perdão. É verdade que a agonia de Davi tem sua
origem no sentimento de não ser perdoado, e a maior parte dos estudos mantém
seu foco nos problemas que ocorrem por não se conceder o perdão. Ambos os
casos parecem muito fortes e dolorosos o suficiente para fazer alguma coisa com
relação a essa situação.
Doenças cardíacas
O perdão pode até mesmo trazer benefícios aos portadores de doenças
cardíacas. Inúmeros estudos revelaram que pessoas perdoadas (hipertensas ou
normais) percebem, de maneira significativa, maior redução nos níveis de pressão
sanguínea que aquelas que não se sentem dispostas a perdoar. Um estudo posterior
foi um passo além ao avaliar a conexão com o perdão em pacientes hospitalizados
e diagnosticados com doenças cardíacas.
Jennifer Frielberg, da Escola de Medicina da Universidade de Nova York, e sua
equipe reuniram dados de 85 pacientes hospitalizados, portadores de doença
arterial coronária (DAC) para observarem a relação entre o perdão, o bem-estar
10
psicológico e os índices psicológicos. Os pesquisadores obtiveram vários
parâmetros de perdão, estresse, ansiedade, depressão e dados psicológicos
relacionados ao colesterol total, lipoproteína de alta densidade (HDL ou “bom”
colesterol) e lipoproteína de baixa densidade (LDL ou “mau” colesterol). Os
níveis mais elevados de perdão estavam associados não somente aos mais baixos
níveis de ansiedade, depressão e estresse, mas também a uma taxa de colesterol
total mais baixa em relação ao HDL, assim como a uma taxa de LDL mais baixa
em relação ao HDL. E isso foi constatado mesmo após o controle quanto à idade
e sexo.
Saúde mental
Não perdoar é um estado mental negativo que causa estresse. O perdão é a
maneira lógica e adaptável de lidar com o estresse, mesmo quando em termos
humanos a vítima está certa e o ofensor é o responsável pelo dano causado.
Entretanto, muitas pessoas não acham que seja algo fácil de se fazer, então elas
tentam reduzir sua angústia de várias formas. Algumas tentam se vingar, e até
mesmo resolver na base do “olho por olho”. Outras buscam justiça e podem
apelar para uma fonte externa de autoridade para restaurar o que acham ser certo.
Há também aquelas que contam uma nova versão a respeito da infração (“Poderia
ter sido feito de forma diferente” ou “Uma maneira muito melhor é…”).
Algumas negam o que aconteceu, outras evitam falar sobre o assunto enquanto há
aquelas que ficam na defensiva, e algumas se tornam vítimas para sempre.
Alternativas para evitar o perdão não se concretizam sem antes cobrar o seu
preço. Talvez seja essa a razão para o conselho bíblico: “Não diga: ‘Eu o farei
pagar pelo mal que me fez!’ Espere pelo Senhor, e Ele dará a vitória a você” (Pv
20:22). Da mesma forma, um dos propósitos de seguir a mensagem dada por Deus
pode ser a de preservar a saúde mental daqueles que desejam seguir a Jesus:
“Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está
escrito: ‘Minha é a vingança; Eu retribuirei’, diz o Senhor. Ao contrário: ‘Se o
seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber. Fazendo
isso, você amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele’” (Rm 12:19, 20).
Enquanto o perdão não for concedido, o estresse é experimentado em maior ou
menor grau. Everett Worthington e Michael Scherer consideram a indisposição
de perdoar uma reação de estresse diante de uma transgressão; em contrapartida,
eles veem o perdão como uma estratégia de enfrentamento que pode reduzir os
11
riscos à saúde e promover a resistência. Na análise da pesquisa que fizeram, eles
se referem aos estudos que utilizam a tecnologia da RMI funcional, análises do
sangue e dos níveis de cortisol na saliva para demonstrar o seguinte:
• O ato de não perdoar está relacionado à ira, e a ira inibe a atividade cognitiva
no córtex pré-frontal, aumentando a atividade do sistema límbico – que é o
núcleo do estresse.
• As mudanças hormonais, isto é, as variações do cortisol, ocorrem quando os
participantes pensam na falta do perdão por parte de seus parceiros, conforme
observado em um estudo com pessoas que haviam terminado um relacionamento
amoroso mais recentemente.
• Há mudanças significativas na atividade do sistema nervoso simpático
(evidenciadas pela tensão facial, frequência cardíaca, pressão arterial média e
condutância da pele) quando os participantes ficam pensando no ato cometido ou
na pessoa contra quem guardam rancor.
• A química do sangue é muito semelhante quando a pessoa não se sente
perdoada ou quando enfrenta o estresse e/ou outras formas de emoções negativas.
• Quando sentem que há uma disposição favorável para o perdão, as pessoas
têm as chances de viscosidade no sangue reduzidas (um risco da atividade
fisiológica) e aumentam as atividades que previnem a toxidade no sangue.
• O perdão reduz o estresse relacionado ao ato de não perdoar, por estar
associado com a pressão arterial mais baixa.
Os itens descritos são considerados benefícios da saúde mental relacionados a
uma contínua atitude de perdão (traço característico de perdão), e eles revelam
também os benefícios da disposição de perdoar uma simples ofensa (estado de
perdão). No estudo mencionado anteriormente, realizado por Jennifer Friedberg
e seus colegas, as pontuações na escala de perdão dos pacientes cardíacos podia
prever, com segurança, seus níveis de estresse e ansiedade.
Sonia Suchday, da Universidade Yeshiva, em Nova York, estudou uma amostra
de 188 alunos de faculdade, provenientes de Mumbai, na Índia, e relatou
12
conclusões similares. Os participantes desse estudo eram alunos de uma
faculdade afiliada à Universidade de Mumbai. Um total de 35% dos alunos era de
origem cristã, e o restante era hindu, jaina, pársi e budista. A despeito dessa
diversidade, o perdão fez uma significativa diferença em sua saúde mental. Os
resultados demonstram que os níveis mais baixos de perdão estavam associados ao
elevado grau de pensamentos repetitivos negativos e de estresse, embora esse
estudo não encontre relação entre o perdão e a saúde física. Estudos como esse
dizem respeito à universalidade dos resultados do perdão em todas as culturas e
religiões.
Charlotte Witvliet e seus colegas deram um suporte adicional com relação aos
13
resultados do perdão sobre as emoções, a psicologia e a saúde. O estudo por
eles realizado teve como foco um grupo que tinha disposição mental de conceder
perdão e outro que ficava remoendo mentalmente memórias dolorosas e rancores.
Foi solicitado aos participantes que pensassem especificamente em um ofensor, em
uma situação da vida real e dedicassem tempo ensaiando e repetindo o tema
correspondente. Os participantes do grupo do “perdão” apresentaram melhoras
significativamente mais amplas com relação às medições cardiovasculares
(frequência cardíaca, pressão sanguínea) e quanto ao funcionamento do sistema
nervoso simpático (condutância da pele, eletromiograma do músculo corrugador)
que os participantes do grupo do “não perdão”. Resultados dessa natureza
relembram-nos de quão poderosos são os nossos pensamentos e como a simples
imaginação do que é certo ou errado coloca vários mecanismos psicológicos em
ação para melhorar as reações orgânicas saudáveis e não saudáveis. Quando a falta
de perdão, o ressentimento, o rancor e outros sentimentos negativos são
exercitados e repetidos continuamente, cria-se o hábito, e a doença pode se
instalar.
Gayle Reed e Robert Enright, da Universidade de Wisconsin, em Madison,
observaram os efeitos da terapia do perdão sobre a depressão, a ansiedade e o
transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) em mulheres, depois de terem
14
sofrido abuso emocional por parte do marido. As mulheres relataram várias
agressões como: crítica, ridicularização, ciúme controlador, ignorar
intencionalmente, ameaças de abandono, ameaças de agressão pessoal, ameaças à
propriedade ou aos animais e exposição ao ridículo ou ameaças seguidas por
exigências de favores sexuais. Essas mulheres estavam separadas por dois anos ou
mais. Elas foram distribuídas aleatoriamente tanto para a terapia de grupo onde o
perdão (Grupo do Perdão – GP) era o foco central do treinamento, como para
um grupo de terapia alternativo (Grupo Alternativo – GA), onde os temas em
foco eram as expressões de raiva, a assertividade e habilidades interpessoais. A
terapia em ambos os grupos era de uma hora por semana, durante oito meses. As
mulheres que faziam terapia no GP sentiram uma melhora significativamente
maior, não somente em relação à depressão, ansiedade e TEPT, mas também na
autoestima, domínio do ambiente e capacidade de encontrar significado no
sofrimento. Esse estudo demonstrou que o tratamento com base no perdão
desempenha um papel fundamental na prevenção e redução das sequelas
psicológicas típicas do abuso.
Em outro estudo, que analisou as adaptações pós-divórcio, Mark Rye e seus
colegas, todos da Universidade de Dayton, constataram que o perdão é uma
15
variável extremamente benéfica na recuperação. Participaram do estudo 199
homens e mulheres que frequentavam uma das 25 organizações da comunidade
para pessoas de várias cidades do Centro-Oeste dos Estados Unidos. Essas pessoas
relataram que os ex-cônjuges procederam mal, inclusive praticavam a infidelidade,
agressão verbal, abuso emocional, agressão física, tratavam mal os filhos, mentiam,
faziam falsas acusações, distribuição injusta dos bens, uso de drogas ou álcool, além
de outros maus atos. Eles foram então questionados sobre o nível de perdão em
relação aos seus ex-cônjuges, de acordo com os seguintes itens: já perdoado,
tentando perdoar, não tentando perdoar, indecisos quanto a perdoar, nenhuma intenção de
perdoar. Vários questionários foram aplicados para analisar os dados demográficos,
religiosidade, esperança, depressão, ira, bem-estar espiritual e duas escalas de
perdão. Depois de serem removidos estatisticamente os efeitos das variáveis
demográficas, o perdão do ex-cônjuge estava mais positivamente relacionado ao
bem-estar (inclusive o bem-estar religioso), e relacionado de forma negativa com
a depressão e a ira. Os resultados foram previsíveis: quanto mais praticavam o
perdão, menos depressão tinham e menos ira sentiam. Os resultados apontam os
benefícios para a saúde mental que obtinham pelo fato de perdoarem o ex-
cônjuge.
É interessante notar que esse estudo fez uma diferenciação entre o perdão que
se desdobra no abandono dos pensamentos, sentimentos e comportamentos
negativos em relação ao ex-cônjuge e o perdão que evolui para uma resposta
positiva em relação ao ex-cônjuge. Com esses dados em particular, os benefícios
para a saúde foram mais claros para o primeiro tipo de perdão do que para o
segundo. Os autores reconhecem que o segundo tipo de perdão pode ter outros
benefícios. Entretanto, os dados obtidos podem estimular aqueles que desejam
“perdoar, mas acreditam que seja algo irrealista ou impraticável para responderem
16
positivamente em relação ao ex-cônjuge”.
O treinamento para o perdão tem ajudado as pessoas a administrar suas
emoções, controlar melhor a ira e a lidar com seu estresse de maneira adequada.
Essa é, em essência, a conclusão do estudo conduzido por Alex H. S. Harris, da
17
Universidade de Stanford, na Califórnia, nos Estados Unidos. Um total de 259
participantes adultos (com idade entre 25 a 50 anos), que tinham passado pela
experiência da afronta interpessoal, foram distribuídos aleatoriamente para o
seminário de treinamento para o perdão ou para um grupo de controle sem
treinamento. Aqueles que participaram do grupo do perdão foram ensinados a
cultivar um estado de mente mais tranquilo, a reduzir os estímulos à raiva quando
eram surpreendidos por lembranças desagradáveis de ofensas recebidas, a reduzir a
agitação fisiológica proveniente de pensamentos e emoções por não perdoar e, em
síntese, obter o controle das próprias emoções e aprender a respeito da aplicação
tanto geral como específica do perdão. Os participantes do grupo de treinamento
para o perdão demonstraram ter um nível significativamente maior de perdão em
relação aos seus ofensores, suas emoções eram mais positivas em relação a
qualquer tipo de ofensa, experimentaram mais altos níveis de recuperação e
tiveram uma melhora expressiva em relação ao estresse e à ira.
O perdão é, definitivamente, um fator decisivo em todas as áreas da saúde
mental. As emoções negativas que a falta do perdão produz não podem
permanecer vivas por muito tempo sem que venham a afetar nossa sanidade.
Entretanto, nesse processo está envolvido mais que sanidade. Jesus de Nazaré
deixou bem claro por sua vida e por palavras que, sem o perdão da nossa parte,
não pode haver o perdão divino, e sem o perdão divino, as consequências são
eternas.
Transtornos relacionados ao uso de substâncias
tóxicas
Foi constatado que o perdão tem também efeitos positivos sobre a saúde mental
de uma população específica: aqueles que enfrentam problemas devido ao uso do
álcool. John Webb, da Universidade Estadual do Leste do Tennessee, como
também Elizabeth Robinson e Kirk Brower, da Universidade do Michigan,
conduziram um estudo de acompanhamento com 157 adultos inscritos, vindos de
um centro comunitário para o tratamento do uso de substâncias tóxicas, localizado
18
no sudoeste do Michigan. Eles passaram por várias avaliações relacionadas ao
perdão e à saúde mental. O estudo teve a duração de seis meses. Após a análise
dos dados, foram encontradas dezenas de correlações importantes entre o perdão e
os indicadores específicos de saúde mental. De forma especial, os altos escores de
perdão estavam relacionados aos baixos níveis de depressão, ansiedade,
somatização, compulsão obsessiva, hostilidade, fobia, ideação paranoide e
psicoticismo. A maioria dessas importantes correlações continuou inalterada após
seis meses, indicando que o perdão pode ser um bom indicador de saúde mental
entre aqueles que lutam contra o uso de substâncias tóxicas.
Relacionamentos
Parece natural que uma atitude de perdão para com os erros e ofensas
cometidos por outros venha a proporcionar uma melhor qualidade no
relacionamento. E isso foi confirmado pelas pesquisas. Dois exemplos se seguem:
um que trata do relacionamento entre pais e adolescentes, e o outro do
relacionamento no namoro e entre pessoas casadas.
Loren Toussaint e Kimberly Jorgensen, de Luther College, em Decorah, Iowa,
Estados Unidos, e a Universidade de Dakota do Norte, respectivamente,
inscreveram 260 alunos que se identificavam como cristãos e que haviam
preenchido inúmeros questionários sobre os conflitos entre os pais, qualidade do
relacionamento entre pais e filhos, como também sobre a saúde mental e o bem-
19
estar. Da mesma forma que os vários estudos anteriores, houve associações
entre o perdão, a saúde mental e o bem-estar. Além disso, foi observada uma
melhora no relacionamento entre pais e filhos: níveis mais elevados de perdão,
como um traço da personalidade (contínuo, estável, firme tendência para perdoar)
estavam associados ao menor índice de conflito entre os pais e um relacionamento
entre pais e filhos de mais alta qualidade. O perdão como um estado (disposição
para perdoar uma ofensa específica cometida pelo pai ou pela mãe) estava até mais
substancialmente relacionado com a qualidade do relacionamento com os
respectivos pais. Essa descoberta enfatiza o papel do perdão na qualidade das
relações familiares. É possível ensinar a crianças e adolescentes que tanto suas
ofensas quanto a dos pais podem ser perdoadas. Isso melhora não somente a saúde
física de todos na família, mas também torna muito mais fortes os
relacionamentos.
No âmbito dos relacionamentos conjugais, Peggy Hannon, da Universidade de
Washington, e seus colegas da Universidade de Vrije, em Amsterdam, na
Holanda, e da Universidade de Londres publicaram um trabalho com base em três
20
estudos, um deles tendo casais já casados como participantes. Os pesquisadores
pediram aos casais que identificassem uma “traição” não resolvida, ou um
21
incidente em que houve uma “quebra de regras”. A seguir, cada um dos 75
casais discutia a questão, e observadores treinados gravavam a discussão em vídeo
e faziam a avaliação. A análise das gravações mostrou que, quando um ofensor
procurava fazer as pazes, estimulava a vítima a perdoar, e quando a vítima
perdoava, estimulava o ofensor a fazer as pazes. Ambas as hipóteses foram
confirmadas, e esse estudo levou à conclusão de que uma análise dos problemas
baseada na interação tem maior probabilidade de levar as pessoas a perdoar.
Quando ambos os parceiros são capazes de desempenhar comportamentos
construtivos após uma traição e planejam os próximos passos para promover uma
interação, têm maior possibilidade de alcançar as recompensas de um
relacionamento aprimorado. Em resumo, é muito mais fácil perdoar quando o
ofensor faz as pazes e os próximos passos são discutidos juntos.
Mesmo que o ofensor nem sempre esteja disposto a fazer as pazes, o perdão
pode ter o seu lugar. Essa foi uma experiência vivenciada também por Fred
22
Luskin. Fred cresceu com um amigo querido por nome Sam. Eles eram como
irmãos – o irmão que Fred nunca teve. E as coisas continuaram assim por anos até
que Sam conheceu uma jovem na faculdade. Ela não gostava da amizade que
havia entre Sam e Fred. Devido a sua persistente influência, ela fez com que Sam
ignorasse e até mesmo rejeitasse Fred. Eles se casaram e nem sequer informaram
Fred. Ele não conseguiu aceitar isso facilmente e guardou essa dor por muitos
anos. Carregava esse fardo que se tornou cada vez pior após também ter se casado.
A situação se tornou tão difícil de suportar que ele a descreve desta forma:
“Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que o outro morra. Esse
era eu.” Certo dia a esposa lhe disse: “Fred, eu o amo, mas não gosto de ver essa
pessoa em que você se tornou.”
Esse foi um ponto decisivo em sua vida. E ele começou a estudar o tema do
perdão, já que era um aluno de pós-graduação em Psicologia. Em seus exaustivos
estudos, tornou-se convencido de que tinha que perdoar Sam, e assim deixou
para trás a ira que sentia por ele. Seu problema com Sam, em suas palavras,
parecia ter-se tornado mais uma bênção. Ele é agora o Dr. Fred Luskin, diretor
do “Projeto Perdão” na Universidade de Stanford, e seu trabalho consiste em
coordenar pesquisas sobre o perdão e ajudar pessoas a perdoar e a vencer o
ressentimento, sendo um exemplo para homens e mulheres em ambos os lados da
violência, na Irlanda do Norte. Ele tem ajudado organizações e treinado
advogados, médicos, líderes de igreja, congregações, pessoal da área hospitalar,
professores e outros profissionais a desenvolver o espírito do perdão. Sua
experiência foi de extrema importância na escolha e desenvolvimento do trabalho
que realiza.
Conclusão
O perdão está se tornando uma nova forma de medicina. Pesquisas médicas e
psicológicas estão descobrindo que o perdão, um tema central no cristianismo, é
um fator altamente eficaz para a saúde tanto física como mental. Uma análise
recente de materiais publicados sobre o perdão, realizada por Barbara Elliott, da
Escola de Medicina da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, conclui
que a intervenção do perdão irá se tornar uma ferramenta poderosa no arsenal da
23
saúde pública e pessoal. Isso se mostra particularmente verdadeiro no caso do
tratamento de doenças crônicas com etiologias em experiências interpessoais e
sociais do passado: dependência, condições da saúde mental, obesidade, doença
obstrutiva pulmonar crônica (DPOC), bronquite crônica e enfisema, e a cirrose.
Como exatamente esses campos aparentemente não relacionados se conectam? De
acordo com Elliot, as etiologias são extremamente complexas e muitas doenças
são confundidas com ocorrências da vida diária, como o abuso físico, emocional e
sexual; ou por ter crescido em uma casa em que alguém estava na prisão; a mãe
foi tratada com violência; um membro da família era alcoólatra ou usuário de
drogas; alguém em casa tinha depressão crônica, mentalmente doente ou suicida;
ou ainda o paciente perdeu um dos pais durante a infância.
Quando as experiências do passado são a causa de doenças físicas e mentais e
quando certas pessoas intencionalmente ou não infligiram algum sofrimento por
longo tempo, o perdão se torna uma necessidade para a cura física, mental e
espiritual. Não é uma atitude sábia resistir ao perdão e continuar culpando o
passado e os outros (se bem que totalmente responsáveis) por nossos problemas e
conflitos atuais. As experiências remotas não são apenas a raiz dos problemas. Os
problemas de relacionamento atuais com o cônjuge, filhos, pais, parentes, amigos,
vizinhos, supervisores, empregados, irmãos e irmãs da igreja, autoridades civis e
outros necessitam de perdão. Algumas vezes é fácil perdoar, mas há casos em que
as ofensas tocam os pontos sensíveis mais íntimos da alma, e então o perdão não
ocorre tão facilmente. Apenas o Senhor pode fazer a diferença, “porque Deus é
quem efetua em vós tanto o querer quanto o realizar, segundo a sua boa vontade”
(Fp 2:13, ARA; itálico acrescentado). É, sem dúvida, absolutamente agradável a
Deus que concedamos o perdão aos outros, e Ele promete colocar em nosso
coração tanto o desejo de perdoar como também o de agir para conceder o
perdão.
Questões Para Estudo
Encontre passagens no Novo Testamento que afirmem que, se você não
perdoar, o Pai também não perdoará você. Por que é tão necessário agir de
acordo com o princípio “perdoar para ser perdoado”?
Há um pecado que não tem perdão (Mt 12:30-32). Qual é esse pecado e o que
ele significa? Leia Testemunhos Para a Igreja, vol. 5, p. 634, para saber o que Ellen
G. White disse a um irmão que perguntou a ela se havia cometido o pecado que
não tem perdão.
Leia a parábola do filho pródigo (Lc 15:11-31). Quais são algumas evidências
do perdão extremamente generoso do pai? Como o filho é transformado pelo
perdão de seu pai?
Aplicação
É o perdão um estado mental ou uma série de ações? Ou são ambos? Reflita a
respeito de Colossenses 3:13.
O perdão é interpretado de forma diferente por diferentes tradições religiosas.
Como você pode mostrar de modo prático que a interpretação cristã é a mais
completa?
Jesus disse: “Se o seu irmão pecar, repreenda-o e, se ele se arrepender, perdoe-
lhe” (Lc 17:3). O que você faria se ele não se arrependesse? Jesus acrescenta a
seguir: “Se pecar contra você sete vezes no dia, e sete vezes voltar a você e disser:
‘Estou arrependido’, perdoe-lhe” (v. 4). Qual é o princípio que há por trás dessa
passagem?

1
“Murder and Forgiveness”, Squidoo, acessado em 28 de maio de 2013,
http://www.squidoo.com/murder.
2
Robert Enright e Catherine T. Coyle, “Researching the Process Model of Forgiveness With
Psychological Interventions”, in Dimensions of Forgiveness: Psychological Research and Theological Perspectives, ed.
Everett L. Worthington Jr. (London, England: Templeton Foundation, 1998), p. 139-161.
3
Kathleen A. Lawler et al., “The Unique Effects of Forgiveness on Health: An Exploration of Pathways”,
Journal of Behavioral Medicine 28 (2005), p. 157-167. Eles avaliaram de múltiplas maneiras 81 adultos com
idade média de 42,6 anos.
4
Tobi Wilson et al., “Physical Health Status in Relation to Self-Forgiveness and Other-Forgiveness in
Healthy College Students”, Journal of Health Psychology 13 (2008), p. 798-803. O estudo incluiu 266 alunos
formandos, sendo 81% do sexo feminino.
5
Jon R. Webb e Ken Brewer, “Forgiveness, Health, and Problematic Drinking Among College Students
in Southern Appalachia”, Journal of Health Psychology 15 (2010), p. 1257-1266.
6
Webb e Brewer, “Forgiveness and Health-Related Outcomes Among People With Spinal Cord Injury”,
Disability and Rehabilitation 32 (2010), p. 360-366. O estudo avaliou 140 pessoas com idade entre 19 e 82
anos.
7
Berit Ingersoll-Dayton et al., “Enhancing Forgiveness: A Group Intervention for the Elderly”, Journal of
Gerontological Social Work 52 (2009), p. 2-16.
8
Kathleen A. Lawler-Row, “Forgiveness as a Mediator of the Religiosity-Health Relationship”, Psychology
of Religion and Spirituality 2 (2010), p. 1-16.
9
Loren Toussaint et al., “Implications of Forgiveness Enhancement in Patients with Fibromyalgia and
Chronic Fatigue Syndrome”, Journal of Health and Care Chaplaincy 16 (2010), p. 123-139.
10
Jennifer P. Friedberg et al., “Relationship Between Forgiveness and Psychological and Physiological
Indices in Cardiac Patients”, International Journal of Behavioral Medicine 16 (2009), p. 205-211. Havia 56
pacientes cardíacos do sexo masculino e 29 do sexo feminino.
11
Everett L. Worthington Jr. e Michael Scherer, “Forgiveness is an Emotion-Focused Copying Strategy
That Can Reduce Health Risks and Promote Health Resilience: Theory, Review, and Hypotheses”,
Psychology and Health 19 (2004), p. 385-405. O estudo envolveu 92 homens e 96 mulheres.
12
Sonia Suchday et al., “Forgiveness and Rumination: A Cross-cultural Perspective Comparing India and
the US”, Stress and Health 22 (2006), p. 81-89.
13
Charlotte V. Witvliet et al., “Granting Forgiveness or Harboring Grudges: Implications for Emotion,
Physiology, and Health”, Psychological Science 12 (2001), p. 177-123. Foram incluídos 36 participantes do sexo
masculino e 35 do sexo feminino, todos estudantes de psicologia.
14
Gayle L. Reed e Robert D. Enright, “The Effects of Forgiveness Therapy on Depression, Anxiety, and
Posttraumatic Stress for Women After Spousal Emotional Abuse”, Journal of Consulting and Clinical Psychology
74 (2006), p. 920-929. O grupo era composto de 20 mulheres entre 32 e 54 anos de idade, que sofreram
abuso.
15
Mark S. Rye et al., “Forgiveness of an Ex-spouse? How Does It Relate to Mental Health Following a
Divorce?”, Journal of Divorce and Remarriage 41 (2004), p. 31-51. Foram incluídos 199 participantes, sendo
75% mulheres e 25% homens.
16
Ibid., p. 48.
17
Alex H. S. Harris et al., “Effects of a Group Forgiveness Intervention on Forgiveness, Perceived Stress,
and Trait-Anger”, Journal of Clinical Psychology 62 (2006), p. 715-733.
18
Jon R. Webb et al., “Forgiveness and Alcohol Problems Among People Entering Substance Abuse
Treatment”, Journal of Addictive Disease 25 (2006), p. 55-67.
19
Loren Toussaint e Kimberly Jorgensen, “Inter-parental Conflict, Parent-Child Relationship Quality, and
Adjustment in Christian Adolescents: Forgiveness as a Mediating Variable”, Journal of Psychology and
Christianity 27 (2008), p. 336-346. Os participantes do estudo eram 73,5% mulheres e 26,5% homens.
20
Peggy A. Hannon, “In the Wake of Betrayal: Amends, Forgiveness, and the Resolution of Betrayal”,
Personal Relationships 17 (2010), p. 253-278.
21
A palavra traição não foi usada nas instituições porque tem conotação de infidelidade. Nesses casos, os
incidentes foram descritos como “quebra das regras”, como contar a um amigo algo que deveria ter ficado
em particular, fazer algo prejudicial pelas costas ou flertar com outra pessoa.
22
Fred Luskin, “The power of Forgiveness: Forgiveness 101”, Guideposts, November 2011, p. 62-66.
23
Barbara A. Elliott, “Forgiveness Therapy: A clinical Intervention for Chronic Disease”, Journal of
Religion and Health 50 (2011), p. 240-247.
CAPÍTULO 4
OS BENEFÍCIOS DO
COMPROMETIMENTO
“Meu filho, escute o que lhe digo; preste atenção às Minhas
palavras.”
Provérbios 4:20

M eu amigo Francesc Gelabert estava preso em Madri, há 14 meses, porque


se recusou a ficar de joelhos diante da hóstia na missa de encerramento das
atividades no campo de treinamento. Isso ocorreu entre 1974 e 1975. Após a
guerra civil na Espanha (1936 – 1939), por quatro décadas, não houve liberdade
religiosa no país. Não ser um católico romano era ilegal, e os seguidores de outras
religiões enfrentavam problemas. Por exemplo, para estudar em uma escola
pública era necessário apresentar o certificado de batismo na Igreja Católica. Se
um pequeno grupo se reunia para estudar a Bíblia, poderia ser levado para o
departamento de polícia para interrogatório. Alguém que distribuísse livros sem o
imprimatur [uma espécie de licença] católico romano poderia ser preso. Os
adventistas do sétimo dia estavam particularmente expostos em virtude da guarda
do sábado: tinham que lidar com o problema dos exames aos sábados; a maioria
dos postos de trabalho se tornava inacessível por causa do sábado; e o serviço
militar obrigatório geralmente estava em conflito com sua fé.
Meu amigo era um homem corajoso e de nobres qualidades. Como ancião da
igreja que pastoreei durante alguns anos, Francesc tornou-se para mim o modelo
de um cristão adventista do sétimo dia dos tempos atuais. Ele foi encarcerado
imediatamente após ter se recusado a ficar de joelhos, sendo considerado culpado
por crime de desobediência a uma autoridade militar. Ele foi privado de todos os
seus livros (inclusive da Bíblia católica romana) e colocado em uma cela onde as
visitas eram extremamente restritas. Sua noiva não teve permissão para vê-lo por
dois meses após sua primeira tentativa de fazer-lhe uma visita. O Departamento
de Liberdade Religiosa da Igreja Adventista do Sétimo Dia tentou fazer a
mediação, mas não obteve êxito. Depois de oito meses de prisão preventiva, a
corte marcial sentenciou Francesc a três anos de prisão militar e, após cumprir essa
primeira etapa, deveria completar o restante da pena em um batalhão disciplinar.
Foi difícil superar, mas ele encontrou refúgio na oração, em sua Bíblia e em
Deus. Muitas vezes repetia para si mesmo a promessa que havia memorizado
quando era criança, na Escola Sabatina: “Sabemos que todas as coisas cooperam
para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu
propósito” (Rm 8:28, ARA). Algum tempo depois, encontrou um outro texto
que se tornou especialmente precioso para ele: “Porque para mim tenho por certo
que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a
ser revelada em nós” (v. 18, ARA). Não foi tranquilamente que ele passou por
esses momentos difíceis. Muitas vezes, sentia-se culpado por trazer sofrimentos
desnecessários à família, aos amigos, à igreja, e especialmente a sua mãe e à noiva.
Ele também se sentia derrotado devido aos insultos, zombarias e momentos de
solidão e desconfiança por que passava.
Por meio de algumas negociações por parte da administração superior da Igreja
Adventista e da esposa (ele se casou enquanto cumpria a sentença), o já bem frágil
General Franco assinou seu perdão no dia 23 de maio de 1975, exatamente seis
meses antes de falecer. Após catorze meses de prisão, Francesc foi libertado apenas
para ser obrigado a cumprir os 13 meses que faltavam de disciplina no serviço
militar. Felizmente, nesse tempo, seus princípios religiosos foram respeitados, e ele
1
foi então liberado completamente em 12 de junho de 1976.
Alguém poderia perguntar: “Valeu a pena se recusar a ficar de joelhos por dez
segundos no fim da missa?” Para Francesc, valeu a pena, e muito. Conversamos, e
ele me disse: “Embora eu não recomende a prisão a ninguém, hoje posso ver os
2
aspectos enriquecedores que essa experiência me trouxe.” Ele me contou que
havia aprendido muito mais a respeito da política, sociologia, economia e religião
na prisão do que quando estava fora. “Atrás das grades, aprendi a cultivar a
paciência, uma das virtudes que mais me faltava. Aprendi também que há pessoas
de bom coração mesmo entre aqueles prisioneiros e chefes militares. Mas, acima
de tudo, minha fé cresceu e foi confirmada. Naquela época, eu considerei isso
uma ‘vitória’, e considero até hoje. Essa experiência me conduziu para mais perto
de Deus, tornou-me um cristão mais feliz e melhor, e me levou a viver a bendita
esperança mais intensamente.”
Ser leal e obediente a Deus nem sempre é fácil. Pode até mesmo levar-nos a
consequências desagradáveis a curto prazo. Todavia, o Senhor é fiel em sua
promessa: “Obedeçam-me, e Eu serei o seu Deus e vocês serão o meu povo.
Vocês andarão em todo o caminho que Eu lhes ordenar, para que tudo lhes vá
bem” (Jr 7:23). Às vezes, a pessoa pode ver isso apenas em perspectiva, após anos
de espera, para então entender a que o Senhor se refere ao dizer “para que tudo
lhes vá bem”.
Este capítulo analisa os benefícios de sermos fiéis e obedientes a Deus e de
vivermos de acordo com os princípios da fé que decidimos adotar. A literatura
profissional denomina esse conceito de “comprometimento religioso”, que é
definido como “a intensidade com que a pessoa faz uso de seus valores religiosos,
3
de suas crenças e práticas, como se mantém fiel a eles e os utiliza na vida diária”.
Pessoas comprometidas com seus ideais e princípios religiosos não somente
internalizam as doutrinas e ensinamentos de sua religião, mas também respeitam as
regras e códigos de conduta que os acompanham. O comprometimento vai, além
da assistência aos cultos, para ações mais proativas – a fé se torna parte central de
sua vida e está sempre presente em todos os aspectos da existência.
A experiência é compensadora em si mesma: produz uma agradável sensação de
ter feito o que é correto. No entanto, seus efeitos vão além desse sentimento
reconfortante. O Senhor é generoso e promete uma bênção mais duradoura:
“Obedeçam aos seus decretos e mandamentos que hoje Eu lhes ordeno, para que
tudo vá bem com vocês e com seus descendentes, e para que vivam muito tempo
na terra que o Senhor, o seu Deus, lhes dá para sempre” (Dt 4:40). Pesquisas
atuais confirmam os benefícios da fidelidade – benefícios que têm que ver com
um comportamento livre de preocupações, melhores relacionamentos, melhor
saúde mental e física, e vida mais longa.
Uma bênção para os jovens
Ao ler uma pesquisa atual sobre os efeitos do comprometimento religioso,
descobri várias áreas em que vale a pena a pessoa ser comprometida com suas
crenças; porém, a área mais repetidamente estudada foi a das bênçãos do
comprometimento religioso para os jovens. A pesquisa revela que o jovem que
não apenas vai à igreja, mas que segue suas crenças e as coloca em prática, tem
melhor desempenho acadêmico, não se coloca em comportamentos de risco,
acaba se casando, em vez de coabitar, e tem uma atitude equilibrada diante dos
desafios da vida.
William Jeynes, da Universidade do Estado da Califórnia, em Long Beach,
analisou os dados do National Education Longitudinal Survey do Departamento
de Educação dos Estados Unidos, que avaliou 18.726 alunos do 3o ano do ensino
4
médio. Uma das perguntas foi: Adolescentes religiosos praticantes têm melhor
desempenho acadêmico do que seus colegas menos religiosos? Ele descobriu que
os alunos do 3o ano, que são altamente comprometidos com sua fé, tiveram, em
geral, uma pontuação significativamente mais alta que os menos comprometidos.
Quando os alunos, tanto de escolas públicas como particulares, de escolas
religiosas e seculares, foram incluídos nos dados, foi feita a seguinte pergunta:
Esses resultados se explicam pelo fato de os adolescentes mais religiosos serem,
muito provavelmente, alunos de escolas religiosas particulares com altas
expectativas acadêmicas? Os resultados se mantiveram constantes em todos os
tipos de escolas. Com relação ao aspecto étnico, socioeconômico e de gênero nos
subgrupos, ele encontrou novamente uma forte associação entre a elevada
consagração religiosa e o elevado desempenho acadêmico.
Beau Abar, da Universidade do Estado da Pensilvânia, estudou uma
amostragem composta de alunos de faculdade, ao todo 30 rapazes e 55 moças,
5
selecionados aleatoriamente da Universidade Oakwood, no Alabama. Desse
grupo, 93% eram afro-americanos, e 86% eram adventistas do sétimo dia. Os
resultados revelaram que os alunos com elevado nível de profunda religiosidade
tinham também maior média geral em suas notas, menor índice de
comportamento de risco, melhor autorregulamentação acadêmica e melhores
habilidades de estudo do que seus colegas. Aqueles que tinham um firme
comprometimento com suas crenças religiosas tinham a tendência de ser mais
competentes em suas habilidades de estudo e eram capazes de atingir um melhor
desempenho acadêmico.
No entanto, as conclusões obtidas quanto aos comportamentos de risco tiveram
mais efeitos transcendentais. De acordo com o índice de comportamento
utilizado, foi perguntado aos participantes com que frequência fumavam maconha
e usavam outras drogas, inclusive álcool e fumo. Foram incluídos também
problemas de comportamento, como mentir, brigar, “matar” aulas e questões de
maior vulto, como roubar, furtar lojas e danificar propriedades. Aqueles que eram
comprometidos com suas crenças tinham participação mínima nesses tipos de
ocorrência.
Jessica Burris e outros pesquisadores da Universidade do Kentucky, nos Estados
Unidos, encontraram resultados semelhantes em uma universidade pública com a
6
maioria de alunos de origem caucasiana (89%). Ela analisou um total de 344
rapazes e moças de 18 a 20 anos de idade. Entre os alunos, alguns afirmavam:
“Minhas crenças religiosas estão por trás de todas as atividades que tenho na vida”,
ou: “Gosto muito de participar das atividades religiosas da minha organização”,
ou ainda: “A religião é realmente muito importante para mim porque responde a
muitas perguntas sobre o significado da vida”. Esses eram os que tinham menos
tendência a usar bebidas alcoólicas. O grupo de amostragem era composto de
usuários do álcool em sua maioria: foram 73% que afirmaram ter usado bebida
alcoólica pelo menos uma ou duas vezes por semana, e a maior parte deles bebia
duas ou três doses em cada ocasião. Desses, 59% disseram ter ficado bêbados uma
vez por mês, e 37% deles se embebedaram pelo menos uma vez por semana. É
confortante saber que os alunos que eram firmes em suas convicções religiosas
estavam no extremo oposto.
Byron Johnson, outro pesquisador da Universidade da Pensilvânia, realizou,
com sua equipe, um estudo em nível nacional que revelou uma distinta diferença
entre os adolescentes religiosos consagrados, que iam à igreja por terem
7
convicções próprias, e aqueles que iam à igreja por obrigação. Esse estudo foi
feito para verificar a relação entre o comprometimento religioso e a delinquência.
Ficou constatado que estar comprometido com uma religião tornava-se uma
salvaguarda contra a delinquência. Isso foi verificado ser verdade tanto para os atos
“menores” (danos à propriedade, mentir a idade, comprar bebida alcoólica para
um menor), quanto para os crimes “maiores” (roubar um veículo motorizado,
roubar objetos de mais de 50 dólares, assalto em circunstâncias agravantes, lutas
entre gangues, abuso sexual, assalto a mão armada, violação de domicílio ou
veículo).
Um estudo diferente explorou a influência que o comprometimento religioso
tem sobre a formação de uma família, em termos de casamento versus coabitação.
David Eggebeen e Jeffrey Dew, da Universidade Estadual da Pensilvânia e da
Universidade da Virgínia, respectivamente, estudaram uma amostragem em nível
nacional, que incluiu 13.895 adolescentes e fizeram o acompanhamento para ver
8
como o fervor religioso afetava a escolha entre a coabitação e o casamento. A
seguir, passaram a observar duas formas de coabitação: (1) aqueles que entram nela
como uma forma de namoro avançado com a intenção de se casarem mais tarde, e
(2) uma união de coabitação em que vivem maritalmente sem a intenção de se
casar.
Uma comparação feita entre protestantes conservadores e católicos também
conservadores demonstrou que, nesse último caso, havia menos probabilidade de
viverem maritalmente. Entretanto, uma vez que os católicos já estavam vivendo
maritalmente, era menos provável que a união se concretizasse em casamento do
que no caso dos protestantes conservadores, demonstrando que os protestantes
mantinham o conceito tipo 1 e os católicos o conceito tipo 2 sobre a ideia da
coabitação.
Outro estudo analisou uma questão diferente com relação à família: as atitudes
quanto a ter filhos fora do casamento. William Jeynes utilizou os dois conjuntos
de dados do National Education Longitudinal Survey do Departamento de
9
Educação dos Estados Unidos, com cerca de 20 mil estudantes cada um. Ele
procurou obter dados de todo o país. Um dos objetivos de Jeynes foi descobrir
como alunos do 3o ano do ensino médio se sentiam por terem um filho fora do
casamento. Os resultados foram muito claros: os adolescentes mais devotos
religiosamente, quando comparados com seus colegas menos religiosos, eram
contrários a ter um filho fora do casamento e consideravam extremamente
importante estarem casados antes de se tornarem pais. Embora seja lógico supor
que as pessoas mais religiosas não aprovem que se tenha filhos fora do casamento,
a importante lição a aprender vem do fato de serem religiosamente
comprometidos. É comum hoje os adultos ensinarem aos adolescentes que a
religião é algo completamente irrelevante, que é coisa do passado, quando, na
verdade, a religião pode ajudar a corrigir muitos problemas sociais. William Jeynes
afirma que “o envolvimento do adolescente religioso deve ser estimulado, e não
desencorajado”, e ele também recomenda que os psicólogos, assistentes sociais e
conselheiros trabalhem em parceria com os líderes religiosos para tentar resolver
essa questão, prevenindo assim o nascimento de crianças fora do casamento.
A religião e o comprometimento religioso fazem a diferença na vida dos jovens.
Mesmo aqueles que crescem em um ambiente completamente secular podem se
beneficiar de um vislumbre da presença de Jesus em sua vida. Doug Brown,
pastor associado da igreja que frequento, desenvolve um ministério para os alunos
do ensino médio na escola pública local. Com a ajuda de estudantes de Teologia
da Universidade de Walla Walla, o pastor Brown convidou esses jovens para
participar de diversas atividades e para também discutir temas atuais e questões de
cunho espiritual. Muitos que vieram de famílias não religiosas nunca haviam
orado ou ido à igreja, e acreditavam que Jesus era apenas um bom homem que
viveu há mais de dois mil anos no passado. Embora, de início, estivessem
relutantes, os alunos começaram a desenvolver sua confiança com o passar das
semanas. Passaram a demonstrar interesse nas histórias e personagens da Bíblia, a
procurar os líderes em busca de aconselhamento e até para orar. Um dos
estudantes de Teologia contou sua experiência: “Eu orei [com um dos alunos] e
pedi a Deus que o abençoasse. Depois que terminei a oração, olhei para ele para
ver se desejava orar também. Ele olhou para mim e disse: ‘OK, aí vai. Eu nunca
fiz isso antes!’ Que bênção é poder ajudar jovens não pertencentes à igreja,
desinteressados e totalmente desmotivados, a começar a tomar gosto e a sentir
fome pelas coisas de Deus!”
Dada a importância da religião na juventude, algumas perguntas surgem: Como
isso acontece? Como o mundo adulto pode obter mais êxito em instilar esses
valores para que a próxima geração possa adotá-los e assim receber as bênçãos
prometidas por Deus? Emily Layton e dois outros pesquisadores, todos da
10
Universidade Brigham Young, conduziram um estudo qualitativo. Ela
entrevistou 80 adolescentes de diversas formações religiosas, provenientes de
famílias do norte da Califórnia e da Nova Inglaterra. Eles tinham entre 10 e 21
anos de idade, com uma faixa etária média de 15 anos. Estudos como esse
permitem aos adolescentes a liberdade de se expressar, em vez de apenas
responder questões de “Sim” ou “Não”, ou outras perguntas fechadas
semelhantes.
Esse método é chamado de “entrevista intensiva” e consiste de uma lista de
perguntas abertas que não forçam o entrevistado a escolher respostas
preestabelecidas. Por exemplo: Sua vida é dirigida pela religião? Como? Quais são
os desafios de viver em uma família religiosa em meio à cultura que o cerca? E
outras questões semelhantes. Nesse estudo, foi feito um grande esforço para ouvir
a mais ampla variedade de denominações, entre as quais estavam incluídos seis
batistas, dez católicos, um da Aliança Cristã e Missionária, três cientistas cristãos,
dois congregacionalistas, três episcopais, dois testemunhas de Jeová, 16 judeus
(conservadores, ortodoxos modernos, reformados e ultraortodoxos), 11 mórmons,
três luteranos, dois metodistas, sete muçulmanos, cinco cristãos ortodoxos, um
pentecostal, três presbiterianos e cinco adventistas do sétimo dia. O entrevistador
foi sempre o mesmo: David C. Dolahite, um dos autores do estudo. Ele foi
pessoalmente à casa de cada um e utilizou 26 questões abertas para conduzir a
conversação. Frequentemente eram feitas perguntas complementares para
esclarecer as respostas. Cada entrevista durou mais de uma hora. A análise do
conteúdo completo deu origem aos seguintes temas que os autores chamam de
“Âncoras do Comprometimento”:
1. Comprometimento com as tradições religiosas. As tradições e rituais podem ser
apenas sombras de coisas de maior significado na religião, mas os jovens
demonstram grande apreciação por elas. Os jovens judeus contribuíram com
várias declarações positivas sobre o sucote, o hanukkah, o purim e a pesach
[páscoa]; os cristãos falaram sobre rotinas, como ir à igreja e como seria realmente
bom se toda a família se reunisse e fosse à igreja. Um jovem adventista de 18 anos
também comentou a “Festa dos Tabernáculos” realizada em sua igreja, da qual
todos participaram. Ele disse sentir muito porque essas cerimônias não eram
realizadas com mais frequência.
2. Comprometimento com Deus. Deus foi considerado a Fonte de toda a
autoridade. Alguém que está perto de nós e com quem podemos ter um
relacionamento pessoal. Um dos jovens se referiu a Deus como “um amigo”, mas
também falou sobre a responsabilidade que temos para com Ele.
3. Comprometimento com a tradição da fé ou da denominação. Para todos esses
jovens, a vida religiosa não é possível sem uma organização. Eles descobriram uma
identidade pessoal em sua tradição de fé, e, com essa identidade, veio um senso de
fidelidade para com a filiação pessoal a essa fé.
4. Comprometimento com outros membros da denominação. Os jovens entrevistados
apreciaram o sentimento de comunidade, um sentimento de pertencer e um forte
sentimento de família, onde podiam encontrar apoio pessoal. Eles perceberam que
havia uma grande força na possibilidade de partilhar da comunhão com outros
crentes. Apreciaram também o relacionamento entre as várias gerações.
5. Comprometimento com os pais. Os jovens crentes demonstraram haver uma base
muito firme de comprometimento com seus pais. Eles viam os pais com afeição,
como uma fonte de autoridade religiosa. Confiar, respeitar e honrar os pais foram
as principais formas de expressão positiva da parte deles. Um adolescente
mórmon, de 14 anos, explicou por que não toma bebidas alcoólicas: “Porque
meus pais me ensinaram a não fazer isso, e eu os respeito.”
6. Comprometimento com as Escrituras ou textos sagrados. Eles frequentemente se
referiam à Bíblia ou aos escritos sagrados da fé que professavam como fonte de
autoridade e de verdade. Uma jovem batista, de 18 anos, afirmou: “Eu me
lembro apenas de estar assistindo a uma aula de inglês no ano passado, e estávamos
discutindo várias coisas; lembro-me de estar lá e pensando quão confusa seria a
minha vida aqui na Terra se eu não tivesse a Bíblia para viver de acordo com os
padrões de moralidade requeridos por Deus.”
7. Comprometimento com os líderes religiosos. Os jovens responsáveis pela
informação referiram-se aos pastores, rabinos, líderes de jovens, bispos e outros
como fonte de autoridade espiritual. Eles acatavam essas autoridades devido a sua
posição proeminente, embora esse tipo de compreensão fosse mais comumente
notada nos jovens com menos idade do que nos mais velhos.
Com base em relatórios como esse e em observações informais obtidas em
congregações religiosas, percebemos que há um sentimento óbvio de comunidade
que se torna fundamental para estimular a fidelidade religiosa na juventude. As
conclusões obtidas em outro estudo realizado, dessa vez, em menor escala,
confirmam que o nível de comprometimento é alcançado por meio do
envolvimento na comunidade. Mervyn Wighting e Jing Liu, da Universidade
Regent, na Virgínia, e da Escola Northfield Mount Hermon, em Massachusetts,
11
nos Estados Unidos, conduziram o estudo. Os dados foram reunidos em uma
pequena escola cristã de ensino médio, no sudoeste da Virgínia, entre alunos do
2o e 3o anos. Esses alunos demonstraram como uma mentalidade de grupo
ajudou a desenvolver seu comprometimento religioso. As descobertas revelaram
que a fidelidade aos princípios religiosos estava intimamente ligada ao sentimento
de comunidade da escola, tanto acadêmica como socialmente. A intensidade dessa
ligação teve alta classificação em todos os participantes; porém, apresentou-se
muito mais alta em relação ao sexo feminino. É como se fosse virtualmente
impossível aos jovens obter uma base firme em sua religião sem a presença e apoio
de outros jovens que também caminham com Jesus. Consequentemente, os
autores do estudo sugerem atividades múltiplas para desenvolver o senso de
comunidade, o ambiente ideal para promover a fidelidade e a devoção à religião.
Eles recomendam atividades como viagens missionárias, oportunidades para ajudar
nas escolas bíblicas de férias, participação nos serviços comunitários, retiros
espirituais, grupos de estudos bíblicos, classes bíblicas, debates sobre temas
controversos, pregação, oradores convidados especiais e grupos de oração.
Certamente, a boa notícia é saber que jovens comprometidos com a religião e
os ideais de moralidade são abençoados de várias maneiras, muitas delas com
consequências eternas. Sobre isso, assim escreve Ellen White: “Exercem-se, no
círculo da família, ao redor da mesa, influências cujos resultados são duradouros
como a eternidade. Acima de quaisquer dotes naturais, os hábitos estabelecidos
nos primeiros anos decidem se um homem será vitorioso ou vencido na batalha
da vida. A juventude é o tempo da semeadura. Determina o caráter da colheita,
12
para esta vida e para a outra.”
Êxito matrimonial
Os escândalos matrimoniais de personalidades religiosas públicas tornaram-se
comuns nas manchetes atuais. “Testemunho Anticristão: Membro do congresso
Pró-vida pede à amante para abortar o filho” (referindo-se ao republicano Scott
Desjarlais, renomado membro do Congresso dos Estados Unidos, defensor dos
valores familiares). Notícias como essas são comuns.
Será que casos como esse representam o que acontece na população em geral?
Eles refletem a vida da maioria das pessoas religiosas que entraram para a aliança
matrimonial com a bênção da igreja? Muito provavelmente não! Essas são
histórias “picantes” que as pessoas parecem gostar de ler, mas esses relatos não
explicam o verdadeiro papel da sagrada vida matrimonial. Quando verificamos os
dados provenientes de um grande número de pessoas comuns espalhadas por todo
o país, podemos concluir que a religião, de modo geral, torna-se uma bênção para
os casais. É verdade que ela não garante a felicidade e não confere imunidade
contra o divórcio, mas traz melhores resultados que a ausência de fé no lar.
Annette Mahoney, professora da Universidade Estadual de Bowling Green, no
Kentucky, Estados Unidos, e seus colegas realizaram inúmeras pesquisas para
demonstrar que os adultos religiosos casados têm maior probabilidade de
permanecer casados e demonstram ter mais altos níveis de satisfação e
13
comprometimento matrimonial do que os casais não religiosos. Além desse
fato, pessoas religiosas têm a tendência de obter melhores resultados nas relações
conjugais do que as não religiosas.
Para mencionar um exemplo de um estudo qualitativo bastante detalhado e
profundo, vou descrever os resultados obtidos por Nathaniel Lambert e David
Dollahite, da Universidade Estadual da Flórida e da Universidade Brigham
14
Young, respectivamente. Esses pesquisadores inscreveram nesse estudo 57
casais provenientes de comunidades judaicas, muçulmanas e cristãs, incluindo
adventistas do sétimo dia, com idade média de 48 anos para os homens e 45 para
as mulheres. Eles passaram uma hora em entrevista intensiva, casal por casal,
fazendo perguntas sobre suas práticas religiosas e o pacto que fizeram em seu
casamento. Após analisar e codificar todas aquelas horas de entrevistas gravadas,
um conceito central se destacou claramente: incluir Deus no casamento melhorou e
estabilizou o compromisso matrimonial. As análises identificaram também três temas
principais. As crenças e práticas religiosas ajudaram os casais a entender o seguinte:
1. Ter Deus no Casamento. Eles acreditavam que Deus estava presente desde o
início de seu relacionamento, ajudando-os a permanecer juntos. Eles viram os
votos de casamento como um pacto que os uniu um ao outro e também a Deus.
Esses votos eram lembrados periodicamente após a cerimônia de casamento.
Vários confirmaram que Deus era um Parceiro contínuo em seu casamento, e
outros disseram que Deus era o centro de seu matrimônio.
2. Ver o casamento como uma entidade religiosa concebida para durar. Os casais tinham
a clara percepção de que a instituição matrimonial pode e deve ser permanente.
Muitos se referiram à declaração feita por Jesus em Mateus 19:6: “De modo que
já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o
separe o homem” (ARA). O fato de tomar sua decisão para não se divorciarem
deu aos casais uma motivação maior para lidar com seus problemas. Além do
mais, saber que Deus desaprova o divórcio serviu de incentivo para que o
evitassem.
3. Encontrar significado no casamento. A religiosidade ajudou os casais a encontrar
significado em seu casamento, não vendo sua união como uma obrigação
desagradável para toda a vida, mas uma poderosa e sagrada vocação. Estar
comprometidos um com o outro, também no sentido religioso, ajuda-os a lidar
com as dificuldades e os infortúnios que surgem.
Esses conceitos espirituais com relação ao casamento podem ser
incompreensíveis para muitos que vivem neste mundo secular contemporâneo –
“pois lhe são loucura” (1Co 2:14), mas faz um sentido imenso para aqueles que
aceitam plenamente o conceito bíblico do casamento, que conduz à mais elevada
escolha de permanecerem casados e felizes.
Assim diz o pregador:
E se dois dormirem juntos, vão manter-se aquecidos.
Como, porém, manter-se aquecido sozinho?
Um homem sozinho pode ser vencido,
mas dois conseguem defender-se.
Um cordão de três dobras não se rompe com facilidade
(Ec 4:11, 12; itálicos acrescentados).
A segunda metade de Eclesiastes 4 é dedicada aos aspectos positivos dos
relacionamentos. A união do casal e o sentimento de estarem juntos oferece
grande apoio emocional, proteção e satisfação mútuas. Entretanto, a última frase
do verso 12 acrescenta um elemento inesperado: “Um cordão de três dobras não
se rompe com facilidade.” Embora muitos vejam isso como uma afirmação
relacionada à força e energia que se pode obter adicionando mais recursos
humanos ao projeto, gosto muito da interpretação dada por muitos pastores nas
cerimônias de casamento: os casais podem optar por permitir a presença de Jesus
(a Terceira Dobra) em seu matrimônio para lhes trazer abundantes bênçãos à vida
conjugal e impedir que o cordão se rompa.
A fidelidade à religião promove nos casais um sentimento de união que os
estimula a permanecer sempre juntos em todas as dificuldades e a incluírem Deus
e os princípios por Ele determinados em suas decisões durante o processo.
Pertencer a uma igreja também ajuda, principalmente se ela desestimula
totalmente o divórcio. Por outro lado, casais que não praticam religião alguma
têm muito maior propensão a viverem juntos sem se casar e, quando se casam, é
muito mais alto o risco de divórcio do que nos casais religiosos.
Motivação para perdoar
O perdão já foi analisado anteriormente, mas esse é um tema que entra em ação
neste contexto também. A falta de disposição que as pessoas têm de perdoar é
uma questão que tem atraído a atenção de muitos estudiosos que, cientes da
importância do perdão nas relações interpessoais, pretendem remover os
obstáculos que ocorrem. Mary Beth Covert e Judith Johnson, da Universidade
Regent, por outro lado, desejavam encontrar respostas para saber por que as
pessoas decidem perdoar, e descobriram que a maioria das pessoas que estavam
15
dispostas a perdoar eram leais aos seus princípios religiosos. Elas reuniram uma
amostra com 97 pessoas da comunidade universitária cristã do Meio-Atlântico,
nos Estados Unidos. Utilizaram uma pesquisa online para responder às seguintes
questões:
1. Descreva brevemente uma situação dolorosa pela qual passou nos últimos
cinco anos em que você foi magoado ou prejudicado por outra pessoa.
2. A pessoa o prejudicou intencionalmente, de maneira vingativa?
3. Você estava motivado a perdoar a pessoa?
4. Descreva qual era a sua motivação para perdoar. Que razões havia por trás da
motivação?
Os dados obtidos por meio desse relatório semiestruturado permitiram a
realização de análises tanto qualitativas como quantitativas, acrescentando
objetividade e profundidade aos resultados. Esses resultados mostraram que as
ofensas mais comuns eram feitas na forma de palavras ou atos ofensivos, traição,
rejeição, falta de apoio, acusação, mentiras e abuso. De modo geral, os agressores
eram os amigos, os parceiros, os colegas e as mães. Quando aqueles que estavam
dispostos a perdoar eram questionados sobre sua motivação para conceder o
perdão e que razões havia por trás dessa motivação, a razão número um era a
religiosa, e estava presente em 43% das respostas. As demais razões eram:
relacionais (30%), desejo de ficar bem (29%), sentimentos de tristeza (21%), ofensa
não intencional (16%), sentimento de culpa (16%), razões morais (12%), e outras
menos significativas. É interessante notar que a religião exerceu um papel que foi
superior até mesmo às razões morais.
Nathaniel Wade, da Universidade Estadual de Iowa, Estados Unidos, e sua
equipe descobriram que os estudantes cristãos da faculdade estavam sempre mais
16
dispostos a perdoar do que seus colegas não cristãos. Eles reafirmaram também
sua opinião sobre os perigos que há em ficar remoendo as ofensas. A amostra em
observação era formada por 249 alunos da faculdade, 90% dos quais eram
solteiros, 50% protestantes, 20% católicos, e o restante deles eram hindus,
muçulmanos, judeus, budistas, de outras religiões e também os não religiosos. O
estudo teve como foco esse comportamento em que a pessoa fica remoendo as
ofensas, principalmente quando é por parte do ofensor. Tal atitude age como uma
repetição compulsiva das memórias desagradáveis do passado e é um traço de
personalidade que conduz à depressão. Descobriu-se que ficar remoendo as
ofensas só causa sentimentos de amargura, rancor e espírito de vingança. Também
é fato conhecido que, quanto mais a pessoa ficar remoendo seus sentimentos,
menos disposta estará a perdoar. Nesse estudo, os resultados mostraram que os
cristãos passavam muito menos tempo remoendo sobre uma determinada situação
do que os não cristãos. Além do mais, os participantes que demonstraram ter um
comprometimento religioso eram mais propensos, ao longo do tempo, a mudar
seus sentimentos de vingança para sentimentos de neutralidade quanto à ofensa, e
depois para o perdão, em relação aos demais, mesmo em relação aos outros
participantes religiosos que não tinham tal comprometimento.
O Dr. Aaron Beck, criador da terapia cognitivo-comportamental, afirma que
no início de sua carreira como psiquiatra, desejando provar as alegações
psicanalíticas em suas entrevistas com pacientes depressivos, ele descobriu que o
problema era realmente o modo de pensar – eles apresentavam padrões de
pensamentos negativos a respeito de si mesmo, do mundo à sua volta e também
com relação ao futuro. Procurar mudar esses padrões de pensamento era o
caminho para mudar o comportamento dessas pessoas, e foi assim que a terapia
cognitiva teve seu início. O mesmo princípio pode ser muito útil para os cristãos,
pois a tentação funciona de modo semelhante. Ficar remoendo, por exemplo,
sobre como meu velho amigo foi extremamente mesquinho comigo e continuar
repetindo muitas vezes o mesmo tipo de atitude, definitivamente, faz com que eu
não tenha a mínima vontade de perdoá-lo. Mas se eu procurar desenvolver o bom
hábito de captar o mais cedo possível esse processo de ruminação que está se
iniciando na mente e dirigir meus pensamentos para alguma coisa agradável,
melhor ainda, para um momento de oração, a fim de pedir a Deus que tire esses
pensamentos, estarei me aproximando cada vez mais do perdão e da reconciliação.
Eu tinha por volta de cinco anos de idade quando comecei a entender a
importância do pensamento. Como menino católico, fui ensinado a fazer o sinal
da cruz, e, em seguida, fazer as outras três pequenas cruzes com o polegar direito
– uma na testa, outra nos lábios e outra no peito. Diziam-me que o sinal na testa
era para me proteger dos maus pensamentos; o sinal nos lábios, das más palavras;
e, no peito, das más ações. Ainda me lembro da reflexão silenciosa que era feita
nesse ritual: Não é só ser desobediente, mas até pensar em desobedecer não é correto! A
Bíblia também chama a atenção para a estreita ligação que há entre pensar, fazer e
ser: “Porque, como imagina em sua alma, assim ele é” (Pv 23:7, ARA).
Saúde e longevidade
O Guinness World Records [Guinness – O Livro dos Recordes Mundiais]
reconheceu Gertrude Baines (1894-2009) como a pessoa mais idosa do mundo.
Ela nasceu e cresceu em Shellman, na Geórgia, Estados Unidos, morou em
Connecticut, Ohio e, por fim, na Califórnia. Viveu sozinha até 1999, quando
completou 105 anos, passando então a morar no lar para idosos Western
Convalescent Home, em Jefferson Park, Los Angeles, quando veio a falecer.
Quando estava com 111 anos, foi entrevistada por um correspondente da CNN
que lhe pediu para explicar por que ela achava que tinha conseguido viver uma
vida tão longa. Ela respondeu: “Deus. Pergunte a Ele. Eu me cuidei da maneira
que Ele desejava que eu me cuidasse.”
A mensagem adventista de saúde é outro exemplo da intervenção de Deus na
saúde e na longevidade – questões que afetam milhões de pessoas. Ela remonta ao
tempo em que Ellen G. White teve a primeira visão mais abrangente sobre a
reforma da saúde, no dia 6 de junho de 1863. Desde então, obedecer a uns
poucos e simples princípios de saúde tem trazido cura e bem-estar a muitos.
Como era de se esperar, no século 19, ideias sobre uma dieta baseada em
alimentos vegetais, abstinência, ar puro, limpeza, vestimenta adequada, luz do sol
e exercícios como forma de obter mais saúde eram normalmente rejeitados.
Entretanto, de modo geral, pessoas que seguiram esses princípios foram
grandemente abençoadas com uma vida mais longa e saudável.
Hoje, há evidências suficientes para provar que esses simples conceitos estavam
corretos. A página da internet da Escola de Saúde Pública da Universidade de
Loma Linda enumerou, até o primeiro semestre de 2012, 335 estudos científicos
catalogados na Medline [página a serviço da Biblioteca Nacional de Medicina dos
17
Estados Unidos], mais outros 72 estão indexados em outros locais, a maioria
por ser de nível internacional. São todas publicações científicas provenientes dos
Estudos de Saúde Adventista, como também de estudos sobre os adventistas
realizados em várias partes do mundo. A maioria desses relatórios revela que há
uma vantagem quanto à saúde física e mental dos adventistas sobre os demais
grupos.
Os Estudos de Saúde Adventista (conhecido mais recentemente como Estudo
da Mortalidade Adventista) teve início em 1958, incluindo 22.940 participantes
18
adventistas residentes na Califórnia. O projeto foi organizado pela
Universidade de Loma Linda e consistiu de cinco anos de intenso
acompanhamento, mais um acompanhamento informal por 25 anos. Os resultados
foram comparados com resultados de um estudo similar realizado com a
população geral pela Sociedade Americana do Câncer (ACS). Ambas as amostras
eram semelhantes em suas características demográficas. Os especialistas em saúde
pública recomendaram que dessem especial atenção ao nível educacional, pois
pessoas mais instruídas são propensas a ter melhor saúde que aquelas que têm
menos instrução; porém, quanto a essa comparação em particular, os participantes
da ACS tinham um nível de educação ligeiramente superior ao dos adventistas.
Os resultados mostraram que a mortalidade por câncer era, com frequência, em
menor índice do que nos participantes da ACS. Com relação a alguns tipos de
câncer, a diferença era bastante ampla e favorecia os adventistas, especialmente
quanto ao câncer de pulmão e o colorretal (mais provavelmente relacionados ao
estilo de vida); e as diferenças tornaram-se menos expressivas quando eram
comparados os dados sobre o câncer de mama, próstata, linfoma ou leucemia, para
os quais o estilo de vida exerce menor influência.
Também foram comparadas as mortes devido a outras causas (como doença
cardíaca e derrame cerebral). Novamente, os adventistas estavam em situação mais
favorável. Considerando que o hábito de fumar não faz parte do estilo de vida
adventista, pode-se afirmar que as diferenças são realmente atribuídas ao uso do
fumo; entretanto, quando os pesquisadores compararam as taxas de mortalidade
de populações não fumantes, ficou claro que, embora a diferença fosse pequena,
os adventistas ainda possuíam menor taxa de mortalidade.
Nas fases posteriores, o Estudo de Saúde Adventista continua a confirmar essas
diferenças e a oferecer melhores escolhas de estilo de vida ligadas à prevenção de
tipos específicos de câncer. Por exemplo, o hábito de consumir frutas
regularmente demonstrou ser altamente protetor contra o câncer de pulmão e de
estômago; comer legumes, produtos à base de carne vegetal, tâmaras, passas e
outras frutas secas protege contra o câncer do pâncreas e do cólon; comer carne
bovina praticamente dobrou o risco de contrair câncer da bexiga; frutas secas,
tomates e feijões reduzem o risco de câncer de próstata. Não foi encontrado
nenhum fator dietético associado ao câncer de mama.
Ser vegetariano é um fator altamente protetor, não somente devido ao regime
alimentar, mas porque os vegetarianos têm a tendência de manter outras formas
de comportamentos saudáveis que os não vegetarianos não têm. Por exemplo,
tendem a ser menos obesos, bebem menos café e se exercitam mais
frequentemente que os não vegetarianos. Muitos adventistas são vegetarianos e,
por serem adventistas, fica difícil a comparação (de acordo com alguns
pesquisadores) porque a população adventista tem características tão específicas
que certos segmentos dos dados não têm parâmetros de comparação com a
população não adventista. Em outras palavras, ser um cristão adventista do sétimo
dia é muito, muito mais do que seguir uma lista do que se deve ou não se deve
fazer. Isso implica em todo um conjunto de crenças, comportamentos e atitudes,
de modo que é difícil destacar os fatores diferenciais. É por isso que os
interessados na área da saúde vão em busca da prova mais importante: a
longevidade.
Talvez a mais forte e sólida evidência relacionada à questão das taxas de
mortalidade e longevidade de uma população de adventistas seja o estudo
conduzido por Gary Fraser e David Shavlik, publicado pela renomada área de
19
Arquivos de Medicina Interna da Associação Médica Americana. Nesse estudo,
foram acompanhados 34.192 adventistas do sétimo dia que moravam na
Califórnia, de 1976 a 1988, com participantes entre 30 a 104 anos de idade. As
comparações também foram feitas com moradores não adventistas da Califórnia.
Todos os participantes preencheram um questionário que incluía seu histórico
médico, regime alimentar, atividade física e inúmeras variáveis psicossociais. Eles
foram contatados anualmente depois disso, e o estudo obtinha os dados
atualizados, bem como as informações clínicas sempre que qualquer dos
participantes era hospitalizado.
As mortes também foram registradas e comparadas com os grupos de controle
de idade. Os resultados mostraram que os adventistas do sétimo dia tinham um
índice mais elevado de sobrevivência do que o grupo de controle dos não
adventistas; ou seja, um acréscimo de 7,3 anos para homens e 4,4 anos para
mulheres. Esses dados se referem a toda a população. Quando o subgrupo dos
adventistas vegetarianos (definidos como aqueles que “nunca” comiam carne, ou
comiam “menos de uma vez por mês”) foi estudado separadamente, foram
acrescentados dois ou mais anos à expectativa de vida para os homens, e três ou
mais anos para as mulheres. Ao analisar outras variáveis, os pesquisadores
observaram que a expectativa de vida foi diferente. Por exemplo: os vegetarianos
que se exercitavam três ou mais vezes por semana, comiam castanhas cinco ou
mais vezes por semana e nunca haviam fumado tinham uma expectativa de 10,8
anos mais elevada para homens, e de 9,8 anos a mais para as mulheres do que a
média dos demais moradores da Califórnia. Por essa razão, o estudo foi intitulado
“Dez Anos de Vida: É essa uma Questão de Escolha?”
Tais resultados devem nos dizer alguma coisa com relação à confirmação da
promessa divina: “Se vocês derem atenção ao Senhor, o seu Deus, e fizerem o
que Ele aprova, se derem ouvidos aos seus mandamentos e obedecerem a todos os
seus decretos, não trarei sobre vocês nenhuma das doenças que Eu trouxe sobre os
egípcios, pois Eu sou o Senhor que os cura” (Êx 15:26). Hoje, para uma pessoa
que procura conscientemente aderir a práticas de saúde comprovadas pela ciência
pode ser uma questão de lógica, mas devemos nos lembrar de que alguns dos
participantes do estudo de Fraser e Shavlik nasceram no século 19, e a maior parte
deles, na primeira metade do século 20, quando não havia nenhum dado
científico conclusivo relacionado à dieta, hábito de fumar, luz do sol, exercícios,
atitudes, religiosidade e outros elementos relacionados às estratégias de saúde total
propostas pelos adventistas. A maioria dos participantes do estudo seguia esses
princípios pela fé, reconhecendo que Deus confiou a mensagem de saúde a uma
jovem e frágil mulher, para o benefício de seu povo, independentemente do que
a ciência médica dizia naquela época. Embora seja bom ter nossos princípios
confirmados por instrumentos externos, objetivos e científicos, muitas vezes, as
razões para obedecer a Deus podem não estar disponíveis e, assim, não podemos
simplesmente ficar esperando até que as provas apareçam.
Existem outras fontes, além da população adventista, que também revelam
maior expectativa de vida para pessoas comprometidas com as crenças religiosas e
que desejam obedecer a Deus. Um exemplo disso são os dados [estatísticos] da
coorte, que começaram a ser analisados em 1921, por Lewis Terman, psicólogo
da Universidade de Stanford. Recordo-me dos meus tempos de estudante de
Psicologia na Universidade de Madri, durante a década de 1970. Tive
conhecimento a respeito desse grupo de crianças de alto nível de inteligência que
estavam sendo estudadas durante as várias fases de sua vida. Essas pessoas estavam
começando a se aposentar na época em que eu havia acabado de me formar.
Vários relatórios foram publicados ao longo dos anos sobre o seu desempenho
profissional, vida familiar, ajustamento, saúde, e outras situações relacionadas à
vida desse grupo, mas o que eu não podia imaginar é que a conexão entre a sua
vida religiosa e a longevidade estariam disponíveis no século 21. Foi isso que
fizeram Howard Friedman, psicólogo na área da saúde e professor de Psicologia
na Universidade da Califórnia, em Riverside, e Leslie Martin, professor de
Psicologia na Universidade de La Sierra, e publicaram em seu livro The Longevity
20
Project [O Projeto Longevidade].
O livro faz o relato de uma pesquisa que acompanhou a vida de 1.500
americanos que ainda eram crianças quando foram convidados por Terman para
participar desse estudo histórico que seria realizado ao longo de sua vida.
Recentemente, Friedman e Martin analisaram os dados acumulados ao longo das
décadas e entraram em contato com os poucos participantes que ainda estavam
vivos para fazer uma avaliação. Eles revisaram as informações sobre as variáveis
como a personalidade, habilidade de se ajustar, vida familiar, carreira profissional,
vida social, com informações também sobre suas crenças e práticas religiosas. Essas
pessoas, que estavam se aproximando dos 100 anos de idade conservavam traços
marcantes, como a persistência, sociabilidade ou resiliência. Mas uma proporção
bem maior tinha ainda um firme comprometimento com seus princípios
religiosos. Isso foi algo constatado particularmente nas mulheres que pareciam ter
suas habilidades sociais mais destacadas. Elas haviam levado uma vida bastante
ocupada, porém equilibrada, eram profundamente religiosas e tinham sido pessoas
ativas em sua igreja. Por outro lado, as mulheres menos religiosas tinham menos
probabilidade de chegar a uma idade avançada. Elas eram inteligentes, ativas e
produtivas, mas não conseguiram permanecer casadas e ter filhos, tanto quanto as
mulheres que foram fiéis a suas crenças religiosas. Elas eram menos extrovertidas e
menos confiantes do que as mulheres religiosas. A explicação dada pelos
pesquisadores para tais diferenças foi que fatores associados à longevidade fazem
parte do envolvimento religioso: companheirismo, vida familiar, bom
relacionamento entre jovens e idosos, apoio e confiança mútuos.
Conclusão
Depois de procurar por muito tempo, o agricultor Hassel viu um jovem que
parecia ser o melhor lavrador que lhe fora possível encontrar. Hassel parecia
confuso por causa de alguma coisa que o candidato ao trabalho havia lhe dito com
um grande sorriso: “Eu consigo dormir quando o vento sopra!” Mas, mesmo
assim, o jovem foi contratado para o trabalho. Dias mais tarde, uma forte
tempestade despertou o casal Hassel. Como o vento se aproximava com força fora
do comum, eles começaram a verificar vários locais da propriedade para terem
certeza de que o vento não iria causar danos. Eles encontraram as janelas bem
fechadas, as portas barradas, a entrada livre, o galpão fechado com segurança e
com todas as ferramentas dentro, o celeiro devidamente trancado e os animais em
seu lugar com alimento suficiente. Quando foram até o quarto do moço eles o
encontraram dormindo profundamente. Então eles conseguiram entender o que
ele disse ao ser contratado: “Eu consigo dormir quando o vento sopra.” Seu
empregado havia aprendido cedo na vida que não precisava fazer qualquer coisa
espetacular e fora do comum – apenas realizar o seu trabalho fiel e lealmente, de
maneira coerente e eficaz, e assim poderia descansar em paz mesmo quando o
vento estivesse soprando.
A Bíblia contém promessas para aquele que é obediente e fiel. Elas se tornam
fontes de encorajamento para todos nós:
• “O fiel será ricamente abençoado” (Pv 28:20).
• “Que o amor e a fidelidade jamais o abandonem; prenda-os ao redor do seu
pescoço, escreva-os na tábua do seu coração. Então você terá o favor de Deus e
dos homens, e boa reputação” (Pv 3:3, 4).
• “Obedeçam-me, e Eu serei o seu Deus e vocês serão o meu povo. Vocês
andarão em todo o caminho que Eu lhes ordenar, para que tudo lhes vá bem” (Jr
7:23).
Neste capítulo analisamos bênçãos específicas que advêm da fidelidade, lealdade
e comprometimento com o Senhor. A lista de benefícios apresentada aqui é
bastante limitada porque as bênçãos da obediência a Deus são incontáveis.
Entretanto, mais importante ainda são as bênçãos com consequências eternas
prometidas àquele que é fiel: “Seja fiel até à morte, e Eu lhe darei a coroa da
vida” (Ap 2:10).
Questões Para Estudo
Leia a história de Ezequias em 2 Reis, capítulos 18-20. É-nos dito que ele
“confiava no Senhor, o Deus de Israel. Nunca houve ninguém como ele entre
todos os reis de Judá, nem antes nem depois dele” e que “ele se apegou ao Senhor
e não deixou de segui-lo; obedeceu aos mandamentos que o Senhor tinha dado a
Moisés” (2Rs 18:5, 6). Ainda assim, ele teve que suportar uma boa parte dos
problemas e enfrentar uma grave doença. Como você consegue conciliar essa
aparente contradição? O que diria a um amigo que, tendo sido fiel a Deus, está
passando por infortúnios?
Leia Jeremias 35, a respeito da fidelidade dos recabitas. Mesmo não fazendo
parte do povo escolhido, eles estavam, apesar de tudo, sendo usados por Deus
para ensinar uma lição a Judá. Pense no que você pode aprender com outros
grupos de pessoas, mesmo os descrentes, por sua lealdade, fidelidade e coerência
na escolha de seus ideais.
Use uma concordância bíblica ou busca eletrônica para encontrar textos que
mencionem as palavras “obediência” e “fidelidade”. Qual a semelhança e qual a
diferença entre a fidelidade de Deus e a dos homens? O que você pode aprender a
respeito dos resultados obtidos por seguir as ordens do Senhor?
Aplicação
Você pode se lembrar de experiências do passado, quando o fato de ser
obediente lhe trouxe grandes bênçãos? Que bênção se tornou óbvia na ocasião ou
ficou bem mais clara com o passar do tempo? Que lições você pode aprender
mesmo não conseguindo ver mais claramente as coisas no presente?
Por ser tão importante que os jovens encontrem apoio na comunidade da igreja
para permanecerem fiéis, o que você pode fazer para ajudar os jovens da
congregação local?
Como você pode usar as experiências e bênçãos recebidas em razão de seu
comprometimento com Deus, a fim de testemunhar aos outros?

1
Francesc X. Gelabert, “439 días de prisión”, Revista Adventista, julho de 1976, p. 6, 7.
2
Gelabert, comunicação pessoal com o autor, 10 de outubro de 2012.
3
Everett Worthington et al., “The Religious Commitment Inventory – 10: Development, Refinement,
and Validation of a Brief Scale for Research and Counseling”, Journal of Counseling Psychology 50 (2003), p.
84-96.
4
William H. Jeynes, “The Effects of Religious Commitment on the Academic Achievement of Urban and
Other Children”, Education and Urban Society 36 (2003), p. 44-62.
5
Beau Abar et al., “The Effects of Maternal Parenting Style and Religious Commitment on Self-
Regulation, Academic Achievement, and Risk Behavior Among African-American Parochial College
Students”, Journal of Adolescence 32 (2009), p. 259-273.
6
Jessica L. Burris et al., “A Test of Religious Commitment and Spiritual Transcendence as Independent
Predictors of Underage Alcohol Use and Alcohol-Related Problems”, Psychology of Religion and Spirituality 3
(2011), p. 231-240. O estudo incluiu 344 jovens de 18 a 20 anos, numa proporção de 40% para homens e
60% para mulheres.
7
Byron R. Johnson, “Does Adolescent Religious Commitment Matter: A Reexamination of the Effects of
Religiosity on Delinquency”, Journal of Research in Crime and Delinquency 38 (2001), p. 22-44.
8
David Eggebeen and Jeffrey Dew, “The Role of Religion in Adolescence for Family Formation in
Young Adulthood”, Journal of Marriage and Family 71 (2009), p. 108-121.
9
William H. Jeynes, “The Effects of Religious Commitment on the Attitudes and Behavior of Teens
Regarding Premarital Childbirth”, Journal of Health and Social Policy 17 (2003), p. 1-17.
10
Emily Layton et al., ”Anchors of Religious Commitment in Adolescents”, Journal of Adolescent
Research 26 (2010), p. 381-413. O estudo envolveu 41 adolescentes do sexo feminino e 31 do sexo
masculino.
11
Mervyn J. Wighting e Jing Liu, “Relationships Between Sense of School Community and Sense of
Religious Commitment Among Christian High School Students”, Journal of Research on Christian Education 18
(2009), p. 56-68.
12
Ellen G. White, Mente, Caráter e Personalidade, 5a ed. (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2014) vol. 1, p.
308.
13
Annette Mahoney, “Religion in Families, 1999-2009: A Relational Spirituality Framework”, Journal of
Marriage and Family 72 (2010), p. 805-827. Annette Mahoney et al., “Religion and the Sanctification of
Family Relationships”, Review of Religious Research 44 (2003), p. 220-236. Annette Mahoney et al., “Religion
in the Home in the 1980s: A Meta-analytic Review and Conceptual Analysis of Links Between Religion,
Marriage, and Parenting”, Journal of Family Psychology 15 (2001), p. 559-596.
14
Nathaniel M. Lambert and David C. Dollahite, “The Threefold Cord – Marital Commitment in
Religious Couples”, Journal of Family Issues 29 (2008), p. 692-614.
15
Mary Beth Covert and Judith L. Johnson, “A Narrative Exploration of Motivation to Forgive and the
Related Correlate of Religious Commitment”, Journal of Psychology and Christianity 28 (2009), p. 57-65. A
amostragem do grupo de estudo envolveu 97 pessoas, 30% homens e 70% mulheres.
16
Nathaniel G. Wade et al., “Predicting Forgiveness for and Interpersonal Offense Before and After
Treatment: The Role of Religious Commitment, Religious Affiliation, and Trait Forgiveness”, Journal of
Psychology and Christianity 27 (2008), p. 358-367. O estudo envolve 28 homens e 72 mulheres, com uma
média de idade de 21 anos.
17
“Scientific Publications About Adventists”, Loma Linda University School of Public Health, acessado em
30 de maio de 2013, http://www.llu.edu/public-health/health/pubs.page.
18
“The Adventist Health Study: Mortality Studies of Seventh-day Adventists”, Loma Linda University
School of Public Health, acessado em 30 de maio de 2013, http://www.llu.edu/public-
health/health/mortality.page.
19
Gary E. Fraser and David J. Shavlik, “Ten Years of Life: Is It a Matter of Choice?” Archives of Internal
Medicine 161 (2001), p. 1645-1642.
20
Howard S. Friedman and Leslie R. Martin, The Longevity Project (Nova York: Hudson Street Press,
2011).
CAPÍTULO 5
OS BENEFÍCIOS DO SERVIÇO
“Como é feliz quem trata com bondade os necessitados!”
Provérbios 14:21

T enho visto dezenas de jovens em operações de força-tarefa ou como


estudantes missionários, em seu país ou no exterior, servindo como
professores, enfermeiros, pastores, preceptores, construtores, em serviços de
manutenção, de alimentação, e em tantas outras áreas. Por estar ligado ao
magistério, normalmente tenho mais oportunidade de conversar com aqueles que
trabalham como professores.
Esse foi o caso de Sarah*, que serviu como missionária e foi professora-
assistente numa das ilhas do Sul do Pacífico. Como lecionava a língua inglesa em
uma escola internacional, Sarah não precisou aprender o idioma local, mas tinha
que saber uma porção de coisas sobre a cultura que a acolhia. Embora tenha
iniciado um curso superior diferente na faculdade, depois que voltou para casa,
estava firmemente decidida a prosseguir na área do ensino. Foi por isso que ela
veio conversar comigo, pois queria saber como conseguir seu diploma de
professora. Quando lhe perguntei sobre o trabalho que realizava no exterior, seu
rosto se iluminou, e ela começou a falar mais descontraidamente: “O campo
missionário mudou a minha vida, sou uma pessoa totalmente diferente hoje.
Posso compreender muito melhor as pessoas e a mim mesma também! Tinha
amente muito fechada até um ano atrás, mas agora posso ver o mundo sob
umaperspectiva diferente – muito mais gratificante. Minha personalidade também
mudou. Eu era bastante introvertida, agora consigo me aproximar das pessoas e
iniciar uma conversa com facilidade. Raramente sinto medo de alguma
coisa.”(*Pseudônimo)
A experiência positiva de Sarah não se limitou a ela e seu relacionamento com
outras pessoas. Na verdade, ela havia passado por um reavivamento espiritual:
“Quando estava trabalhando como missionária, aprendi a depender inteiramente
de Deus e a ter Jesus como meu melhor Amigo. Eu orava com tal fervor e fé,
antes totalmente desconhecidos para mim. Quando nos faltam coisas ou
habilidades, e não temos nossos pais por perto ou em que nos apoiar, buscamos a
Deus com muito mais intensidade. Essa experiência religiosa me transformou
espiritualmente.”
Ao ouvir isso, eu disse comigo mesmo: “Que coisa emocionante! Ela volta da
missão mais feliz do que se estivesse voltando para casa depois de receber o
Prêmio Nobel!” Então me vieram à mente as palavras de Paulo aos anciãos
efésios, quando citou “as palavras do próprio Senhor Jesus: ‘Mais bem-aventurado
é dar do que receber’” (At 20:35, ARA).
É óbvio que Sarah havia sido abençoada por servir a outras pessoas. Ao
contrário dela, muitos não têm a oportunidade de dedicar um período de sua vida
para ajudar outros em terras distantes. No entanto, há infinitas maneiras de realizar
um serviço pessoal na própria comunidade. Qualquer pessoa pode experimentar a
mesma alegria, conforme a promessa feita por Jesus, ao servir como voluntária,
nem que seja apenas duas horas por semana.
Está comprovado que o serviço em prol de outros tem sido uma das maiores
bênçãos para as pessoas, e particularmente para aquelas que sofrem, quer por
doenças físicas ou mentais. Este capítulo tem por objetivo apresentar as evidências
que mostram que aqueles que se oferecem para ajudar os que passam por
necessidades, sejam quais forem, podem ser abençoados, conforme foi prometido
em Provérbios 14:21, em Atos 20:35 e em tantas outras passagens bíblicas. Apoiar,
auxiliar e ajudar outros é o foco central da doutrina pregada por Jesus e, portanto,
é estimulado por sua igreja. É por essa razão que as comunidades religiosas
oferecem múltiplas oportunidades para levar esperança, prestar auxílio e aliviar a
dor e o sofrimento de tantos que necessitam de ajuda. Os benefícios do serviço
são grandes para aqueles que o recebem, mas são muito maiores para os que se
doam em favor dos outros.
Uma fonte de felicidade
Sarah parecia empolgada quando começou a falar a respeito de sua experiência
de ensino nas ilhas do Pacífico. Isso aconteceu também com nossa filha, Cláudia,
quando retornou do Haiti, depois de ter participado de uma viagem missionária
para prestar serviços como veterinária naquele país. Seu rosto brilhava ao falar a
respeito de uma família que tinha um cavalo com uma ferida nas costas. A família
necessitava daquele animal para ajudar no cultivo da terra, a fim de poder
sobreviver, e todos se sentiram muito gratos pela ajuda. Ela parecia estar
imensamente feliz ao mostrar as fotos de muitos animais de estimação e animais
das fazendas que foram tratados pelo grupo. Aliviar o sofrimento dos animais e
ajudar seus donos foi o suficiente para lhe dar nova disposição e irradiar aquele
brilho peculiar por ter prestado um bom serviço.
Qual é a verdadeira fonte da felicidade? Ao ver o comportamento humano,
poderíamos concluir que seria o poder, o dinheiro e tudo o que possa ser
conquistado por meio deles. Esse seria o caminho para a felicidade. Mas sabemos,
pela Bíblia, que não é assim. Recentemente, as teorias e as pesquisas estão
chegando a uma compreensão menos materialista a respeito da felicidade. Stephen
G. Post, professor de Medicina Preventiva na Universidade Stony Brook, em
Nova York, em seu livro The Hidden Gifts of Helping [As Bênçãos Ocultas por
1
Ajudar], identifica três tipos de felicidade:
1. A felicidade baseada no poder. Na busca pela felicidade, muitos procuram
alcançar posições de poder e influência. Isso é tão real que a corrida até o topo
pode se tornar extremamente cruel para os competidores. Apesar de todos os
esforços, esse tipo de “felicidade” é sempre incompleto – por mais elevado que
seja o posto alcançado, sempre haverá alguém que não desiste. Como resultado,
essa forma de felicidade não satisfaz, e a pessoa continua na busca de mais e mais
poder.
2. A felicidade baseada no desejo. Essa é uma via comumente percorrida. É a busca
pelo dinheiro e por tudo o que almejamos ter. É temporária, incerta e faz com
que a pessoa sempre tenha o desejo de possuir mais. Pesquisas de opinião pública
a respeito da felicidade, realizadas nas décadas de 1940 e 1950, tiveram pontuações
muito mais altas que sessenta anos mais tarde, quando os rendimentos e os bens
pessoais triplicaram! Mihalyi Csikszentmihalyi, um dos principais pesquisadores no
estudo sobre a felicidade, faz para si mesmo a pergunta: “Se somos tão ricos, por
que não somos felizes?” Se fizermos uma busca no catálogo da Gallup-Healthways
Well-Being Index [Índice Gallup-Healthways de Bem-estar] para saber em que
estados americanos as pessoas são mais felizes, encontraremos o Havaí, Dakota do
2
Norte, Minnesota, Utah e Alaska no topo da lista, nessa mesma ordem.
Descobrimos então que a renda per capita, nesses estados, estava em 18o, 29o, 11o,
3
45o e 15o lugares, respectivamente. Nenhum dos dez estados mais ricos
aparecia no topo da lista. Uma vida de alegrias e satisfação não depende de
riquezas. Jesus mesmo já havia dito: “A vida de um homem não consiste na
abundância dos bens que ele possui” (Lc 12:15, ARA) “É mais fácil passar um
camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus!” (Mc
10:25, ARA).
3. Profunda felicidade. Essa é a felicidade obtida por contribuir para que outras
pessoas sejam felizes. Servir aos outros é um estímulo para o bem-estar pessoal.
Quando isso se torna um hábito, a maior felicidade possível terá lugar neste
mundo imperfeito. Isso está se tornando cada vez mais claro aos estudiosos da
felicidade, conforme veremos a seguir em um exemplo dos estudos já realizados.
A diferença entre os primeiros dois tipos e o terceiro está na direção que
tomam: a felicidade número um e a número dois vêm de fora para dentro (para
mim mesmo) e me permitem ter apenas um controle parcial, enquanto a número
três flui de dentro para fora (para os outros) e me permite fazer a escolha e manter
o controle. Na verdade, o apóstolo Paulo faz uma ligação dessa direção “de
dentro para fora” com a liberdade de escolha para ajudar outros: “Irmãos, vocês
foram chamados para a liberdade. Mas não usem a liberdade para dar ocasião à
vontade da carne; ao contrário, sirvam uns aos outros mediante o amor” (Gl
5:13). O texto reafirma a ideia de que a liberdade, a vontade, a iniciativa pessoal e
a escolha são usadas da melhor maneira quando empregadas para ajudar outros em
vez de agradar a si mesmo.
Fazer o bem nos faz sentir bem e, se a boa ação for feita em favor de alguém,
então a felicidade se torna completa. Isso é o que Sonja Lyubomirsky descobriu
ao longo dos anos em seu laboratório de psicologia na Universidade da Califórnia,
em Riverside, nos Estados Unidos. A professora Lyubomirsky e seus alunos
candidatos ao doutorado estão estudando a estrutura da felicidade sustentável. Por
meio de estudos realizados com os participantes, como também por meio de
análises de dados e de pesquisas externas, esses pesquisadores estão identificando os
mecanismos que promovem a influência positiva a longo prazo, os benefícios de
ser feliz, as diferenças quanto ao conceito de felicidade nas diversas culturas, as
barreiras para a felicidade, o efeito cascata da generosidade nas relações sociais e
outros temas nessa área. Resultados de estudos obtidos com gêmeos levaram a
professora Lyubomirsky à conclusão de que 50% do grau de felicidade humana
são de origem genética (temperamento básico, constituição e traços de
personalidade), 10% são afetados pelas circunstâncias da vida (por pessoas,
acontecimentos ao redor, etc.), e os restantes 40% dependem da escolha e do
controle da própria pessoa (mudança no modo de pensar, iniciar um plano de
exercícios, estabelecer um objetivo e fazer tudo para alcançá-lo, etc.). O objetivo
dessa equipe é direcionar esses 40% para que as pessoas saibam conduzir sua vida
de maneira mais razoável e satisfatória, evitando escolhas que vão torná-las
infelizes.
O livro de Sonja Lyubomirsky, A Ciência da Felicidade, apresenta aplicações
4
práticas obtidas por meio das descobertas feitas em sua pesquisa. Novamente,
“ter” não torna as pessoas felizes, mas “decidir agir” de determinadas maneiras.
Lyubomirsky sugere, baseada em estudos científicos, que as atividades que levam à
felicidade expressam gratidão, cultivam o otimismo, estimulam o relacionamento,
concedem o perdão, e promovem outros bons sentimentos. Uma das atividades
de maior importância é a prática da bondade. Os atos de bondade, fazer boas
coisas para os outros, pode ser relativamente simples na vida diária. No entanto,
isso faz uma enorme diferença. Pessoas que praticam atos de bondade
costumeiramente tornam-se cada vez mais felizes ao longo do tempo. Aquelas que
possuem atitudes altruístas consideram-se boas pessoas e estão prontas a fazer
sempre mais. Então, os que recebem essas boas atitudes e ações demonstram sua
apreciação que, por sua vez, reforça tal comportamento, gerando assim mais
felicidade.
No processo de ajudar os outros há sempre o risco de adotar uma atitude que
possa trazer uma consequência desagradável em vez de uma bênção. Isso pode
implicar numa tendência paternalista, um ar de condescendência para com aqueles
que estão sendo ajudados. Completa humildade é a única solução.
A princesa Guilhermina, da Holanda, nasceu em 1880, em Haia. Quando estava
com quatro anos de idade, sua meia-irmã faleceu, e ela se tornou a herdeira do
trono. No dia 23 de novembro de 1890, o pai dela, Rei William II, também
faleceu. A menina tornou-se rainha no mesmo instante e foi coroada em uma
cerimônia que atraiu milhares que vieram ao palácio para aclamar a nova rainha.
Ao ver a multidão, e sem entender muito o peso e a importância da ocasião, ela
olhou para a mãe e disse: “Mamãe, todas essas pessoas pertencem a mim?” Com
um gentil sorriso, sua mãe respondeu: “Não, minha querida filha, você é que
5
pertence a todas essas pessoas.”
Jesus falou a respeito das bênçãos que recebemos por praticar a caridade. Ele
prometeu recompensas por isso. “Tenham o cuidado de não praticar suas ‘obras
de justiça’ diante dos outros para serem vistos por eles. Se fizerem isso, vocês não
terão nenhuma recompensa do Pai celestial. […] Mas quando você der esmola,
que a sua mão esquerda não saiba o que está fazendo a direita, de forma que você
preste a sua ajuda em segredo. E seu Pai, que vê o que é feito em segredo, o
recompensará” (Mt 6:1, 3, 4).
Torna-se claro que os atos de beneficência são recompensados. O arrogante
receberá a recompensa imediata logo a partir do olhar do observador; no entanto,
qual é a verdadeira recompensa, a recompensa que vem do Pai? Não pode ser a
vida eterna, porque a salvação é concedida somente pela graça, por meio da fé, e
não pelas obras (Ef 2:8, 9). A recompensa que Jesus promete (a última parte do
verso 4 de Mateus 6) pode estar relacionada às consequências naturais de se fazer o
bem: sentimentos de ternura, desejo de fazer mais, proximidade com o Criador e
uma lembrança agradável e duradoura.
Conta-se a história de uma mãe e sua filha adolescente que viviam em uma área
rural de Montana, Estados Unidos, nos tempos da Grande Depressão. Quando a
mãe viu a filha lendo um livro de romance, disse a ela: “Logo depois que acabar
de ler esse livro, você vai se esquecer da história. Mas vou lhe dizer o que você
pode fazer, e por certo vai se lembrar por muitos anos.” Então lhe falou sobre a
Sra. Eberhart, uma idosa que morava ao lado e vivia com muito poucos recursos.
Quanto bem lhe faria e como ficaria feliz se pudesse receber um agasalho de lã
quentinho. “Faça um casaco de tricô e deixe na porta da casa dessa senhora sem
que ela saiba que foi você.” A filha seguiu a sugestão dada pela mãe e, assim que
terminou de tricotar o casaco, fez um belo pacote e o colou na soleira da porta da
vizinha com um bilhete: “Um presente de alguém que se preocupa muito com a
senhora!” Por muitos invernos, essa jovem e sua mãe puderam ver a Sra. Eberhart
usando aquele casaco de tricô. Quarenta anos depois, ainda se lembrava desse fato
com carinho – uma recompensa que veio conforme a promessa de Mateus 6:4.
Alguns criticam os jovens universitários de hoje, dizendo que estão numa faixa
de idade em que são muito egoístas. Bem, essa crítica pode também ser dirigida a
toda a humanidade, mas, ao chegar o tempo de desenvolver estratégias pessoais
para encontrar a verdadeira felicidade, muitos estudantes podem estar certos,
conforme nos mostra o estudo conduzido por Chris Tkach e Sonja
6
Lyubomirsky. Um total de 500 estudantes formandos forneceram dados por
escrito relacionados a seu estado de felicidade e a suas estratégias para alcançar
maior bem-estar, como mantê-lo e como melhorá-lo. A análise das múltiplas
respostas revelou que as estratégias de engajamento social eram o primeiro fator e
as mais frequentemente utilizadas. As estratégias incluíam atividades como ajudar
outros, apoiar e encorajar os amigos, comunicar-se/relacionar-se com os amigos e
desfrutar o momento.
Duas coisas importantes podem ser aprendidas desse estudo. A primeira é que
são as próprias pessoas, e não a sorte ou o destino, que constroem a sua felicidade;
a segunda mostra que, quando estão interessadas em alcançar a felicidade e o seu
bem-estar, as pessoas têm a tendência de escolher com quem devem se associar e,
mais especificamente, o apoio que devem dar aos outros.
Isso é precisamente o que Paulo escreveu aos crentes de Filipos: “Se há, pois,
alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, alguma comunhão do
Espírito, se há entranhados afetos e misericórdias, completai a minha alegria, de
modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma,
tendo o mesmo sentimento. Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por
humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha
cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos
outros” (Fp 2:1-4, ARA). Paulo desejava que os membros daquela comunidade
de fé fossem felizes e os aconselhou a praticarem exatamente o que nos diz a
mensagem central do evangelho: amar o próximo (Mc 12:31) e até mesmo o seu
inimigo (Mt 5:44).
O que acontece internamente?
Mais recentemente, os cientistas têm estudado os processos bioquímicos
associados aos comportamentos de ajuda. O que acontece no cérebro quando
ajudamos uma pessoa idosa a comprar mantimentos para a semana? Que processos
biológicos ocorrem enquanto demonstramos sincera empatia ao ouvir um amigo
nos contar a respeito de algum problema sério que está enfrentando? Nosso
cérebro trabalha de uma única maneira quando cuidamos dos filhos de uma mãe
que vive sozinha para que ela possa fazer as tarefas necessárias?
O ato de ajudar alguém desencadeia uma série de respostas orgânicas que
trazem grandes benefícios à saúde física e mental. Por exemplo, o envolvimento
em um projeto beneficente ilumina o sistema mesolímbico do cérebro (o centro
da motivação, do prazer, da recompensa e, em parte, do aprendizado) e começa a
liberar substâncias químicas específicas. A dopamina é uma delas: tem efeito
calmante e transmite uma sensação de bem-estar geral. Sabe-se que os portadores
da doença de Parkinson não têm a dopamina circulando de maneira adequada
(devido à perda dos neurônios que secretam esse hormônio). Da mesma forma, é
um mau sinal haver uma atividade excessiva, como é o caso da esquizofrenia que
envolve níveis elevados de atividade da dopamina, gerando várias reações
químicas no sistema mesolímbico.
A serotonina é outra reação química liberada por certos neurônios quando a
pessoa realiza atividades associadas aos comportamentos de ajuda. Esse
neurotransmissor está associado ao bom humor. Aliás, muitos medicamentos
utilizados no tratamento da depressão têm como objetivo aumentar a
concentração desse hormônio e melhorar sua atividade. A oxitocina também se
torna mais abundante e ativa com ações caridosas. Ela tem sido chamada de “o
hormônio da compaixão” ou o “hormônio do amor”.
A oxitocina é liberada em grandes quantidades em mães que dão à luz, fazendo
com que se fortaleçam os laços entre mãe e filho. Esse hormônio interfere
também na resposta ao estresse, preservando o estado de tranquilidade, evitando
manifestações agressivas e a perda do autocontrole. Esses hormônios e
neurotransmissores citados afastam as emoções negativas como o ódio, a vingança,
a hostilidade, o medo e o ressentimento.
Utilizando a ressonância magnética por imagem (RMI), Jorge Moll, dos
Institutos Nacionais de Saúde nos Estados Unidos, e sua equipe de pesquisadores
internacionais obtiveram imagens de ressonância do cérebro de 19 adultos
7
saudáveis que receberam 128 dólares cada um por participarem do estudo.
Além disso, os fundos foram disponibilizados para doações a entidades
beneficentes. Eles também podiam doar parte do que ganharam para obras de
caridade e decidir, em todos os casos, que tipo de serviço beneficente iria receber
suas doações. Os pesquisadores observaram que a atividade cerebral foi afetada não
só pelo ato de doar, mas também enquanto discutiam as alternativas específicas
para a doação ou não do dinheiro a obras assistenciais. Novamente, o sistema
mesolímbico ficava especialmente ativo quando doavam e menos ativo quando se
recusavam a doar. De maneira notável, o córtex pré-frontal (a área mais específica
do cérebro humano que controla a tomada de decisões, planejamento,
ajustamento às ações ou reações, de acordo com as circunstâncias, etc.) estava
nitidamente ativa quando prevaleciam as escolhas altruístas, em lugar daquelas
mais egocêntricas.
David McClelland, da Universidade Harvard, em Cambrige, Massachusetts, e
Carol Kirshnit, da Universidade Loyola, em Chicago, Illinois, nos Estados
Unidos, estudaram as variações da imunoglobulina salivar A (IgA-s) em
8
voluntários que assistiram a dois filmes diferentes. A IgA-s ajuda a fortalecer a
imunidade do corpo. Eles descobriram a influência que a compaixão exerce sobre
as secreções internas. Um total de 132 alunos universitários, divididos em
pequenos grupos, assistiram a um filme que retratava o poder da motivação (cenas
políticas), ou a um outro que apresentava a motivação para a ação social (Madre
Teresa de Calcutá cuidando das pessoas). As mudanças no IgA-s foram
monitoradas antes e depois de assistirem aos filmes. Os níveis de IgA-s não
mudaram significativamente com o primeiro filme, mas se elevaram de maneira
bastante expressiva naqueles que assistiram ao segundo filme. Essa diferença
permaneceu por uma hora após essa experiência.
É algo surpreendente poder entender os processos benéficos que ocorrem
internamente no corpo humano quando a pessoa realiza ações altruístas.
Entretanto, seria o altruísmo parte integrante de nossa natureza? O que move
alguém a ser altruísta? Entender o altruísmo representa um enorme desafio para os
biólogos evolucionistas. Se a sobrevivência é tão importante na continuidade das
espécies, por que uma pessoa põe em prática atitudes altruístas que podem ser
arriscadas, dispendiosas ou dolorosas para favorecer alguém que não é nada seu?
Por que não usar esses recursos para prover bem-estar para si mesmo no ambiente
difícil da sobrevivência do mais forte?
Para mim, a explicação é bastante clara: o Criador colocou mecanismos que
oferecem recompensas transitórias para comportamentos bons e honestos. É
verdade que, com as gerações que se sucederam em um ambiente de pecado e o
afastamento do plano original de Deus, o sistema tornou-se imperfeito, mas é
gratificante ver que Deus fez com que fosse possível a humanidade ainda preservar
desejos ocasionais de fazer o bem.
O serviço voluntário e o bem-estar psicológico
Bem-estar e felicidade são termos diferentes, mas frequentemente usados um no
lugar do outro até mesmo pelos cientistas. O bem-estar se refere às condições
ideais relacionadas à saúde, prosperidade e ao ambiente social e físico. A
felicidade, ao contrário, é o estado da mente que a pessoa experimenta sobre si
mesma. O bem-estar objetivo não implica em que a pessoa seja feliz, e
circunstâncias adversas nem sempre significam infelicidade. Um paciente com
doença crônica pode ser feliz mesmo em meio a suas condições deficitárias de
saúde. Por outro lado, alguém em perfeitas condições de saúde, profissão invejável
e boa rede de amigos pode ser uma pessoa miseravelmente infeliz. Uma definição
de felicidade bastante acurada define os dois conceitos juntos: felicidade é a
percepção do bem-estar.
Em razão de muitos estudos com fins de pesquisa utilizarem o conceito do
bem-estar para entender suas conexões com o serviço, o altruísmo e
comportamentos de ajuda, passarei a descrever alguns desses estudos para enfatizar
os benefícios que obtemos por ajudar outras pessoas.
Há um novo avanço na arena psicológica que parece bastante compatível com a
cosmovisão cristã. É o conceito do bem-estar eudaimônico versus o bem-estar
hedônico. Aristóteles foi o originador do termo eudaimonia (a verdadeira natureza
do bem-estar). Na época em que ele viveu, hedonia (a busca do prazer) tinha a
conotação de felicidade. Assim, Aristóteles considerava a felicidade-hedonia uma
ideia vulgar. Conforme ele argumentou corretamente, a hedonia pode propiciar o
prazer, mas não necessariamente o bem-estar. Dentro desse contexto, ele criou o
termo eudaimonia para referir-se a um objetivo mais nobre: viver uma vida
virtuosa que conduza à verdadeira satisfação. A partir do século 20, esse conceito
foi retomado para fazer a diferença entre o bem-estar egoísta e outras formas de
bem-estar altruísta. Dessa forma, os tipos 1 e 2 da classificação dada pelo professor
Stephen Post sobre a felicidade (analisado anteriormente) seriam hedônicos, e o
tipo 3 eudaimônico.
Michael Steger, psicólogo da Universidade de Louisville, no Kentucky, Estados
Unidos, e seus associados testaram essa teoria solicitando a um grupo de 65
estudantes universitários que mantivessem um diário on-line no qual fariam
anotações diárias sobre o seu tipo de comportamento – hedônico (ou busca do
9
prazer) versus eudaimônico (ações significativas). Exemplos de comportamento
hedônico seriam: comprar algo para mim mesmo ou comer um alimento favorito;
exemplos de comportamento eudaimônico seriam: estender a mão a alguém que
passa por necessidade ou ouvir os problemas de um amigo. Os participantes
registravam regularmente os níveis de bem-estar percebidos. Após a pesquisa, os
resultados mostraram que, quanto mais envolvidos em ajudar outros e em
atividades que tivessem algum significado, mais felizes eles se sentiam e mais
sentido viam para a vida. Além disso, o estudo descobriu que havia uma sequência
temporal em que as atividades altruístas estavam relacionadas a uma sensação de
maior bem-estar no dia seguinte. A conclusão de Steger e de seus colegas é que
“fazer o bem” torna-se uma forma eficaz de as pessoas obterem uma vida mais
significativa e gratificante.
Nessas descobertas, vejo novamente as marcas do Criador: Ele colocou em nós
um mecanismo pelo qual fazer o bem nos traz realização e satisfação. E,
naturalmente, quando incorremos em más ações e atitudes, nossa consciência nos
leva a sentir o peso do pecado. É verdade que há exceções – são aqueles que
escolhem voluntariamente afastar-se do Senhor. Entretanto, para aqueles que
decidem atender à voz divina, são concedidas a capacidade de discernir e a
habilidade de observar as consequências:
Então você entenderá o que é justo, direito e certo,
e aprenderá os caminhos do bem.
Pois a sabedoria entrará em seu coração,
e o conhecimento será agradável à sua alma.
O bom senso o guardará,
e o discernimento o protegerá (Pv 2:9-11).
Analisar a maneira como as pessoas realizam um trabalho voluntário e observar
sua condição de bem-estar tem sido uma das maneiras preferidas pelos
pesquisadores para estudar a relação que há entre esses dois fatores. David Mellor,
da Universidade Deakin, em Melbourne, na Austrália, e seus associados coletaram
10
dados de todo o país, abrangendo 1.289 participantes. Essas pessoas foram
entrevistadas por telefone e acompanhadas por meio de uma pesquisa que incluía
questões sobre seu padrão de vida, sentimentos de proteção e segurança,
conquistas feitas na vida, disponibilidade de recursos, relacionamentos, autoestima,
otimismo e se prestavam serviço voluntário. Os resultados revelaram que, em
todas as idades, os voluntários apresentavam um nível de bem-estar mais elevado
do que naqueles que não realizavam serviço voluntário, e isso também foi
constatado após serem considerados os fatores psicossociais e de personalidade.
Além disso, verificou-se ainda que os voluntários eram mais extrovertidos, menos
nervosos, mais otimistas e tinham maior nível de controle percebido do que os
não voluntários. Essas descobertas, assim como outras semelhantes obtidas
repetidamente em diversos lugares, permitiram aos autores concluírem que é
bastante forte a relação entre o serviço voluntário e o bem-estar.
Foi constatado que o serviço voluntário tem um poder especial: ele reduz o
risco de desenvolver limitações funcionais à medida que as pessoas começam a
envelhecer. Essa foi uma descoberta singular feita por Emily Greenfield e Nadine
Marks, do Departamento de Desenvolvimento Humano e Estudos da Família na
Universidade de Wisconsin, Madison, nos Estados Unidos, que estudou uma
11
amostra de 4.646 pessoas. Nesse estudo, grupos normalmente com baixa
representatividade foram, na verdade, os mais representativos: afro-americanos,
porto-riquenhos, mexicanos-americanos, famílias monoparentais, famílias com
filhos adotivos, casais em união estável e pessoas recém-casadas. Os resultados
foram bastante positivos para aqueles que estavam envolvidos em atividades
voluntárias nas entidades destinadas à recreação, grupos religiosos e iniciativas
urbanas. Devido à natureza longitudinal da metodologia (de acompanhamento)
esse estudo confirmou a relação causa-efeito entre o voluntariado e o bem-estar: o
envolvimento em tarefas voluntárias gera maior bem-estar psicológico, e as
pessoas são menos afetadas pelas limitações funcionais associadas à idade.
Outro estudo trouxe mais luz sobre o equilíbrio necessário que deve haver com
relação ao tempo dedicado às iniciativas voluntárias. O Centro de Pesquisas para a
Saúde Mental da Universidade Nacional Australiana patrocinou um estudo
dirigido por Timothy Windsor, com o objetivo de descobrir qual quantidade de
12
horas investidas no serviço comunitário teria influência sobre o bem-estar. Esse
estudo foi realizado em Camberra, capital da Austrália, com 2.551 participantes
entre 64 e 68 anos de idade. Os resultados foram bastante atípicos, tendo em vista
que a correlação entre o tempo de trabalho voluntário realizado e o bem-estar
psicológico era não linear, com curva em forma de U entre o tempo investido e
os ganhos quanto ao bem-estar. Isso significa que qualquer mudança no bem-estar
não era notada pelas pessoas que dedicavam menos de duas horas por semana em
serviço altruísta. Quanto mais tempo investiam, mais elevada era a sensação de
bem-estar, alcançando o nível ideal entre três e 15 horas por semana. A partir do
momento em que os participantes passaram a dedicar mais de 15 horas de serviço
voluntário por semana, houve um expressivo aumento no efeito negativo e uma
diminuição no nível de satisfação em sua vida.
Esses resultados nos fazem lembrar da necessidade de equilíbrio. Algo tão bom
como ser útil aos outros pode alcançar um extremo em que nosso próprio bem-
estar fica comprometido. A percepção de uma grande necessidade pode levar
pessoas bem-intencionadas a prestar ajuda incessantemente. Isso acontece tanto
com profissionais como com ajudantes voluntários. No entanto, essa não é uma
atitude sensata; algumas medidas preventivas para evitar que os limites sejam
ultrapassados incluem aprender a dizer “não” sem se sentir culpado, estabelecer
limites claros, ter consciência de quando está fazendo algo além do possível,
respeitar os intervalos no trabalho, melhorar a própria capacidade de
administração do tempo e obter os benefícios das bênçãos espirituais da oração e
da meditação na Palavra de Deus.
Em repetidas ocasiões, Ellen G. White aconselhou os ministros, tornando-se
um bom exemplo de ajuda profissional para impor limites no trabalho: “Foi-me
mostrado que por vezes os que fazem parte do ministério são forçados a trabalhar
dia e noite, e viver com uma alimentação escassa. Ao sobrevir uma crise, cada
nervo e cada músculo é forçado a pesada tensão. Pudessem esses homens sair à
parte e descansar um pouco, empenhando-se em trabalho físico, seria grande
13
alívio.”
Pesquisas sobre o serviço prestado e o bem-estar têm seu foco no status do
serviço e na autopercepção do bem-estar, mas o processo não deveria parar nesse
ponto, tornando-se apenas um sentimento prazeroso – até mesmo a alegria não é
o objetivo principal. É verdade que os cristãos deveriam se regozijar sempre (1Ts
5:16), mas seu comportamento deveria causar impacto sobre outros, assim como
aconteceu com Pedro e João quando foram presos e levados ao sinédrio, e os
líderes presentes “ficaram admirados e reconheceram que eles haviam estado com
Jesus” (At 4:13). A tradição de ficar em pé durante a apresentação do hino
“Aleluia”, de Handel, do oratório O Messias, vem da primeira apresentação do
coral em Londres, no ano de 1743, quando o rei George II, embevecido e
impressionado com a magnificência daquela música, automaticamente se
levantou; as pessoas no auditório fizeram o mesmo, permanecendo todos em pé
até o fim da apresentação. Alguns dias depois, Friedrich Handel foi visitar George
Henry Hay, 8o Duque de Knnoull, um diplomata britânico e ex-membro do
parlamento que felicitou calorosamente o compositor pela extraordinária
apresentação do oratório e por proporcionar um entretenimento de tamanha
nobreza para a cidade. “Meu senhor”, disse Handel, “eu lamentaria muito se
14
apenas os tivesse entretido. Meu desejo foi torná-los melhores.”
Os atos de bondade e a depressão
Mário*, um aluno do ensino médio, veio conversar comigo no centro de
aconselhamento de uma escola onde eu trabalhava como psicólogo. A pressão dos
estudos, tristeza e problemas na família deram origem a vários sintomas de
depressão, o suficiente para diagnosticá-lo como alguém que estava passando por
um episódio depressivo maior. Após duas sessões de aconselhamento, foi feito um
plano de tratamento em acordo com Mário, seus pais, um professor e um médico.
O plano incluía várias metas de curto prazo (habilidades para resolver problemas
de maior vulto conforme aprendido na terapia, afastar imaginações
autodestrutivas, substituindo-as por pensamentos positivos, controlar as formas de
comunicação com a família e estimular as técnicas de estudo de acordo com a
forma como são monitoradas nas sessões de aconselhamento). O plano continha
também atividades importantes, como fazer inscrição em um clube para praticar
esportes e participar de um ministério para ajudar alunos imigrantes do curso
fundamental com dificuldades na leitura. Mário concordou em realizar todas as
tarefas que lhe foram designadas e assinou um compromisso conosco. A tarefa
menos árdua, segundo Mário, foi ajudar as crianças das primeiras séries do curso
fundamental. Exigia poucos esforços e trouxe grandes recompensas. Cada vez que
Mario saía para ir trabalhar com as crianças, seu humor melhorava, e uma
sensação de bem-estar o acompanhava por vários dias.(*Pseudônimo)
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a depressão é um grave
15
transtorno que afeta mais de 350 milhões de pessoas em todo o mundo. Menos
de 25% (10% nos países em desenvolvimento) das pessoas que sofrem de depressão
recebem alguma forma de tratamento devido à falta de recursos e ao estigma
social. No entanto, existem intervenções por meio de atividades positivas que
ajudam a aliviar os sintomas a um baixo custo, e isso foi constatado pelo menos
em casos de transtornos depressivos menores. Kristin Layous, da Universidade da
Califórnia, em Riverside, com seus colegas dessa universidade e outros da
Universidade de Duke fizeram uma análise dos estudos de pesquisa (de forma
aleatória), relacionados a intervenções administradas pelo próprio paciente, em
16
casos de menores graus de depressão. As duas principais e mais bem-sucedidas
intervenções foram: “contar as bênçãos” e “atos de bondade”. Se pessoas com
depressão leve (algumas a caminho de umadepressão mais severa) apenas
soubessem que contar as bênçãos e realizar atos de bondade iriam aliviar
consideravelmente os sintomas da doença, elas mesmas iriam em busca dessas
tarefas diariamente.
No entanto, as coisas podem não ser tão simples como seria prescrever:
“Tratamento: Dois atos de bondade diariamente.” Na verdade, deve-se permitir
que o poder divino opere. Para que esses atos de bondade produzam seus
dividendos, devem eles ser realizados com c omprometimento e pela atitude
certa. Quando a pessoa ajuda por obrigação ou porque alguém a está observando,
se faz o trabalho com raiva ou para obter alguma vantagem, os processos
bioquímicos que aliviam os sintomas não funcionam tão bem como quando os
atos de bondade são feitos de coração. Tais atitudes equivocadas podem, de fato,
se tornar prejudiciais. É necessário, portanto, que a pessoa seja verdadeiramente
honesta em relação a esse processo.
Para que isso aconteça, o poder do Espírito Santo é imprescindível, conforme
escreveu Ellen G. White ao comentar as Bem-Aventuranças. Numa adaptação de
Jerry D. Thomas do texto original encontrado no livro O Maior Discurso de Cristo,
lemos o seguinte pensamento: “O coração humano é naturalmente frio e egoísta.
Sempre que alguém demonstra bondade ou compaixão isso ocorre devido à
influência do Espírito Santo, quer a pessoa reconheça isso ou não. Deus é a fonte
de toda misericórdia. Ele não nos trata como mereceríamos ser tratados; Ele não
pergunta se merecemos ser amados. Ele simplesmente nos ama, e esse amor é o
17
que nos proporciona o sentimento de valor e autoestima.”
Altruísmo, saúde e longevidade
Todos sabem que a boa alimentação, exercícios físicos, ar puro, água em
abundância e a boa qualidade do sono promovem a saúde e aumentam os anos de
vida. Entretanto, poucos levam em consideração o impacto positivo que a boa
disposição de ajudar outras pessoas pode ter sobre a saúde e a longevidade, pois os
resultados das pesquisas a respeito da importância do serviço voluntário em prol
de outros surgiram apenas nos últimos anos.
O estresse relacionado ao trabalho e à vida no lar geram a exaustão e o
esgotamento, uma grande preocupação para a saúde mental pública. Quando as
exigências e necessidades se tornam mais intensas por um período de tempo
prolongado, muitos chegam à exaustão física e emocional, à despersonalização e à
falta de realização pessoal. Seria razoável pensar que, se pessoas que sofrem de
esgotamento acrescentassem serviços altruístas e de cuidado aos outros em sua
agenda, iriam tornar sua situação ainda pior. No entanto, Clark Campbell,
professor de psicologia da Universidade George Fox, Oregon, nos Estados
18
Unidos, descobriu o oposto. Ele monitorou um grupo de 36 médicos e
enfermeiras que havia participado de uma viagem médico-missionária à América
do Sul. Esse grupo de profissionais fez três exaustivas escalas antes de embarcar e
enfrentou estressantes incidentes médicos ocorridos, como foi o caso da falta de
controle do tempo e a pressão por atender o máximo de pacientes no menor
espaço de tempo. Ao retornarem, a pontuação quanto ao esgotamento nos testes
havia diminuído e continuou a diminuir após a viagem missionária, conforme foi
constatado durante os seis meses de acompanhamento.
Ações altruístas são benéficas à saúde das pessoas de todas as idades. Por
exemplo, Carolyn Schwartz, do Hospital Batista da Nova Inglaterra, em Boston,
19
conduziu um estudo com 457 adolescentes da Igreja Presbiteriana. Práticas
altruístas demonstraram ser benéficas para a saúde dos adultos, segundo esses
pesquisadores. Eles desejavam então descobrir o efeito que as mesmas práticas
teriam sobre os adolescentes. Os participantes receberam questionários sobre as
práticas altruístas e a qualidade de vida relacionada à saúde, entre outras áreas.
Descobriu-se que as práticas altruístas beneficiavam a saúde física das meninas e a
saúde mental dos meninos. Uma das principais conclusões obtidas por meio desse
estudo é que se pode incentivar os adolescentes a ajudar os necessitados, pois isso
pode melhorar sua qualidade de vida dentro de um curto espaço de tempo.
No contexto de pessoas com idade mais avançada, os dados do Estudo
Longitudinal de Wisconsin (WLS) revelaram os efeitos benéficos obtidos pela
prática de ajudar outros. O Estudo de Wisconsin é um projeto de longo prazo
para estudar e acompanhar uma amostra aleatória de 10.317 homens e mulheres
que terminaram o ensino médio nas escolas de Wisconsin em 1957. A base de
dados, que é controlada pela Universidade de Wisconsin, em Madison, nos
Estados Unidos, proporcionou uma excelente oportunidade para observar o ciclo
da vida, relacionamento entre as várias gerações, interação familiar, saúde física e
mental, bem-estar e a morbidade e mortalidade desde a adolescência até a idade
adulta. Os dados dos participantes foram coletados sistematicamente ao longo dos
anos, como também os dados de irmãos, irmãs, cônjuges, viúvas e viúvos.
Jane A. Piliavin e Erica Siegl utilizaram esse banco de dados para estudar a
20
relação entre o serviço voluntário e a saúde. Perguntaram aos participantes a
respeito de sua posição quanto ao serviço voluntário (se participavam como
voluntários, a intensidade do trabalho, com que frequência o faziam, a diversidade
do serviço prestado) e sobre sua saúde. A amostra sob análise foi de
aproximadamente 4 mil pessoas que participavam do WLS. Da mesma forma que
nos demais estudos, havia uma ligação entre o serviço voluntário e a saúde. Foi
constatado também que, quanto maior era a diversidade e a regularidade do
serviço prestado, melhores índices de saúde possuíam. Devido à natureza
longitudinal do estudo, foi possível descobrir uma relação entre causa e efeito –
comportamentos de ajuda ocorridos em 1992 serviram para prever tanto a saúde
física como psicológica para 2004. Os pesquisadores descobriram também que o
ato de se importar com os outros (“As pessoas necessitam da minha assistência” ou
“As pessoas sabem da minha presença e que estou ao lado delas”) foi um bom
fator mediador. Em outras palavras, os serviços prestados foram mais benéficos em
relação à saúde quando havia o senso de importância para com os outros.
Finalmente, esse estudo possibilitou observar a diferença entre o envolvimento
social e atividades orientadas em favor de outros, revelando que a importância do
primeiro sobre a saúde foi desprezível, mas do segundo foi bastante significativo.
Esses resultados se repetiram em várias partes do mundo, como na China ou na
Europa. Chau-Kiu Cheung e Alex Yui-Huen Kwan, da Universidade Chinesa de
Hong Kong e da Universidade da Cidade de Hong Kong, respectivamente,
lideraram um estudo com pessoas idosas, no qual participaram 719 mulheres e
21
homens chineses acima de 60 anos, com uma média de idade de 79,9 anos.
Conforme esperado, os resultados revelaram os efeitos altamente positivos do
serviço voluntário na autoestima das pessoas mais idosas, na satisfação de viver e
na saúde. Os pesquisadores observaram também que, quando os assistentes sociais,
de maneira cordial e bondosa os convidavam a se unir no serviço aos outros, os
efeitos benéficos sobre os idosos tornavam-se bem mais visíveis.
Do outro lado do mundo, um estudo em larga escala descobriu resultados
compatíveis. A Pesquisa Sobre Saúde, Envelhecimento e Aposentadoria da
Europa (SHARE, sigla em inglês) mantém um banco de dados que inclui vinte
países europeus com informações sobre saúde, condições socioeconômicas e redes
sociais e familiares com mais de 55 mil participantes com 50 anos ou mais.
Utilizando esses dados, Debbie Haski-Leventhal fez uma análise do envolvimento
22
no serviço voluntário em toda a Europa Ocidental, inclusive em Israel. Tendo
a participação de 30.023 pessoas, ela descobriu que, em pessoas que prestavam
serviço voluntário, foram registrados maiores índices de saúde física, satisfação de
viver, menos depressão e maior dose de otimismo por estarem vivendo mais.
William Brown, da Universidade Rugers, e seus associados da Universidade de
Long Island, nos Estados Unidos, procuraram investigar se os atos de dar ou
23
receber ajuda e benefícios sociais teriam maior impacto sobre a saúde.
Participaram do estudo 1.118 pessoas de diversas etnias, todos adultos idosos,
moradores da comunidade, no bairro do Brooklyn, em Nova York. Os dados
foram coletados por meio de entrevistas, e os resultados revelaram que aqueles
que prestavam assistência e ajuda a outros idosos tinham índices mais baixos de
morbidade, enquanto os demais que recebiam apoio não tinham esses mesmos
índices. Essa relação se manteve mesmo quando sob o controle de outras
importantes variáveis. Novamente, essas observações estão em pleno acordo com
as palavras de Jesus: “Mais bem-aventurado é dar do que receber” (At 20:35,
ARA).
Finalmente, Stephanie Brown, da VA Serviços de Pesquisas de Saúde & Centro
de Desenvolvimento da Excelência em Ann Arbor, Michigan, nos Estados
Unidos, conduziu um estudo longitudinal com o objetivo de avaliar as variações
24
na mortalidade em uma ampla amostra de 3.376 casais de idosos. Entre os
critérios utilizados para a seleção, ficou definido que tinham que ser moradores da
comunidade, numa casa com duas pessoas em que uma cuidava da outra, de
acordo com a necessidade do cônjuge. Stephanie Brown acompanhou os
participantes por sete anos; eles forneceram informações sobre a quantidade de
horas que dedicavam para cuidar do cônjuge, as necessidades do parceiro, sua
saúde e morte do cônjuge, caso ocorresse, e quando. Ao todo, 909 participantes
faleceram durante os anos de estudo. Esses dados revelaram que aqueles que
dedicavam cerca de 14 horas ou mais, por semana, prestando cuidados ao cônjuge
tinham a taxa de mortalidade reduzida de modo significativo em comparação com
aqueles que dedicavam menos de 14 horas. Isso foi constatado
independentemente das limitações dos esposos que recebiam os cuidados e de
outras variáveis demográficas e de saúde.
Torna-se um grande sacrifício cuidar de um ente querido gravemente enfermo,
mas o Senhor é justo e provê a ajuda necessária ao cuidador para que ele ou ela
possam renovar suas forças, ter melhor saúde e vida mais longa. E para aqueles
que confiam no Senhor, a promessa é certa:
“Mas aqueles que esperam no Senhor
renovam as suas forças.
Voam alto como águias;
correm e não ficam exaustos,
andam e não se cansam” (Is 40:31).
Outros benefícios do serviço
Além de um amplo leque de benefícios para a saúde mental e física existem
outras vantagens. Eis algumas delas:
• Proporciona melhores relacionamentos sociais. As oportunidades para o
serviço vêm acompanhadas da possibilidade de encontrar amigos e fortalecer os
laços e os relacionamentos sociais. O trabalho é realizado normalmente em meio a
uma atmosfera familiar, com pessoas que têm a tendência de ser sociáveis, de bom
coração e que mantêm princípios sólidos. Quando o trabalho é realizado no
contexto da igreja, a qualidade do relacionamento é ainda melhor, sendo possível
estabelecer amizades sólidas e duradouras com as pessoas que partilham da mesma
fé e dos mesmos valores.
• É divertido. O serviço voluntário organizado torna-se agradável e, mesmo no
início, quando a pessoa pode não estar apreciando muito a tarefa, a prática ajuda a
tornar as tarefas cada vez mais prazerosas.
• Pode abrir oportunidades profissionais. O serviço voluntário pode desenvolver
novas habilidades e abrir caminhos que de outra maneira não estariam disponíveis.
Muitos empregadores, especialmente aqueles que buscam pessoas mais jovens,
desejam pessoas já com alguma experiência. Preferem também pessoas que
demonstrem ter atitudes dirigidas ao voluntariado, que frequentemente são uma
evidência de fidelidade e comprometimento com elevados padrões e princípios.
• Não se limita a ajudar pessoas apenas. De acordo com o estudo realizado por
Liz O’Brien, Mardie Townsend e Matthew Ebden, vários benefícios podem ser
obtidos por meio do serviço voluntário em prol do meio ambiente, onde não há
25
pessoas carentes envolvidas. Os pesquisadores dedicaram tempo para estudar
grupos de voluntários do norte da Inglaterra e sul da Escócia que cuidavam da
natureza, e os participantes relataram obter benefícios por meio de melhor
condicionamento físico, estarem mais alertas, encontrar outros voluntários e a
redução nos níveis de estresse. A análise geral revelou que a atividade
proporcionou grande sensação de bem-estar físico, social e mental, a despeito do
fato de os voluntários desse estudo serem de várias origens e esferas da vida.
Conclusão
Um rei colocou uma enorme pedra na estrada que passava pelo palácio e se
escondeu para ver quem teria a boa vontade de tirá-la do meio do caminho. As
pessoas que passavam pela estrada ficavam imaginando como aquela pedra havia
ido parar lá. Outras reclamavam alto e gesticulavam culpando o governo pela falta
de cuidado. Havia aquelas que simplesmente davam a volta e continuavam seu
caminho. Ninguém tomou tempo ou fez qualquer esforço para remover a pedra
daquele lugar. Por fim, um humilde camponês viu a pedra e pacientemente a
rolou para fora da estrada para liberar o tráfego. Ao olhar para trás, no local em
que estava a pedra, ele viu uma bolsa. Voltou até lá e, ao abri-la, percebeu que
estava cheia de moedas de ouro. O rei o parabenizou e lhe disse que aquela era a
recompensa para a pessoa que se dispusesse a tirar a pedra do caminho.
Conforme vimos neste capítulo, os benefícios obtidos por servir aos outros com
amor não são materiais, mas o ouro pode representar a grandeza da recompensa:
saúde, bem-estar, longevidade e, acima de tudo, a bênção de estar seguindo o
exemplo de Cristo, o que nos aproximará de Deus.
Questões Para Estudo
• Leia aleatoriamente algumas partes do livro de Provérbios e procure frases
específicas que incentivem o amor, o apoio, encorajamento, ajuda e cuidado pelos
semelhantes. Reflita sobre os resultados obtidos por colocar esses conselhos em
prática.
• Reflita na mensagem apresentada em Levítico 23:22 e imagine como poderia
aplicar essa prática do Antigo Testamento no século 21.
• Leia Deuteronômio 15 e pense nos resultados que se poderia obter ao colocar
esses conselhos em prática nos dias atuais.
Aplicação
• Marcos 1:34, 35 nos diz que Jesus atendeu a muitos que necessitavam de cura
e depois foi a um local mais retirado para orar. Como você poderia colocar em
prática esse exemplo em sua vida?
• Que sugestões daria a um amigo que vem até você e lhe diz: “Eu gostaria de
ajudar as pessoas, mas sou muito inibido, envergonhado e introvertido”?
• Faça uma lista de seus dons e habilidades pessoais e, a seguir, faça outra com as
necessidades das pessoas que vivem mais perto de você. Como você poderia
combinar essas duas listas? O que poderia fazer para ajudar essas pessoas?

1
Stephen G. Post, The Hidden Gifts of Helping (Hoboken, NJ: John Wiley & Sons, 2011), p. 90.
2
Jeanna Bryner, “Happiest States of 2011: The List”, Live Science, acessado em 25 de junho de 2013,
http://www.livescience.com/18666-hapiest-states-2011-list.html.
3
U.S. Census Bureau, “Personal Income Per Capita in Current Dollars, 2007”, U.S. Census Bureau,
acessado em 25 de junho de 2013, http://www.census.gov/statab/ranks/rank29.html.
4
Sonja Lyubomirsky, A Ciência da Felicidade (Rio de Janeiro: Elsevier, 2008).
5
Paul Lee Tan, Encyclopedia of 15,000 Illustrations, entrada 11.491.
6
Chris Tkach e Sonja Lyubomirsky, “How Do People Pursue Happiness?: Relating Personality,
Happiness-Increasing Strategies, and Well-Being”. Journal of Happiness Studies 7 (2006), p. 183-225.
7
Jorge Moll et al., “Human Fronto-Mesolimbic Networks Guide Decisions About Charitable Donation”,
Proceedings of the National Academy of Sciences 103 (2006), p. 15.623-15.628.
8
David C. McClelland e Carol Kirshnit, “The Effect of Motivational Arousal Through Films on Salivary
Immunoglobulin A”, Psychology and Health 2 (1968), p. 31-52.
9
Michael f. Steger et al., “Being Good By Doing Good: Daily Eudaimonic Activity and Well-Being”,
Journal of Research in Personality 42 (2008), p. 22-42.
10
David Mellor et al., “Volunteering and Its Relationship With Personal and Neighborhood Well-Being”,
Nonprofit and Voluntary Sector Quarterly 38 (2009), p. 144-159. Os participantes tinham entre 18 e 88
anos, com uma idade média de 53 anos.
11
Emily A. Greenfield e Nadine F. Marks, “Continuous Participation in Voluntary Groups as a Protective
Factor for the Psychological Well-Being of Adults Who Develop Functional Limitations: Evidence From the
National Survey of Families and Households”, Journals of Gerontology 62B (2007), S60-S68. A amostra de
4.646 pessoas estava em uma faixa de 35 a 92 anos de idade.
12
Timothy D. Windsor et al., “Volunteering and Psychological Well-Being Among Young-Old Adults:
How Much Is Too Much?” Gerontologist 48 (2008), p. 59-70.
13
Ellen G. White, Evangelismo (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1997), p. 661.
14
Paul Lee Tan, Encyclopedia of 15,000 Illustrations, entrada 11.488.
15
World Health Organization, “Depression”, World Health Organization, acessado em 25 de junho de
2013, http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs369/en/index.html.
16
16 Kristin Layous et al., “Delivering Happiness: Translating Positive Psychology Intervention Research
for Treating Major and Minor Depressive Disorders”, Journal of Alternative and Complementary Medicine 17
(2011), p. 675-683.
17
Jerry D. Thomas, Blessings (Nampa, ID: Pacific Press, 2008), p. 27.
18
Clark Campbell et al., “Reduction in Burnout May Be a Benefit for Short-Term Medical Mission
Volunteers”, Mental Health, Religion & Culture 12 (2009), p. 627-637.
19
Carolyn E. Schwartz et al., “Helping Others Shows Differential Benefits on Health and Well-Being for
Male and Female Teens”, Journal of Happiness Studies 10 (2009), p. 431-448. O estudo incluiu 457
adolescentes com idade entre 12 e 17 anos (média de 15,6 anos).
20
Jane A. Piliavin e Erica Siegl, “Health Benefits of Volunteering in the Wisconsin Longitudinal Study”,
Journal of Health and Social Behavior 48 (2007), p. 450-464.
21
Chau-Kiu Cheung e Alex Yui-Huen Kwan, “Inducting Older Adults Into Volunteer Work to Sustain
Their Psychological Well-Being”, Ageing International 31 (2006), p. 44-58.
22
Debbie Haski-Leventhal, “Elderly Volunteering and Well-Being: A Cross-European Comparison Based
on SHARE Data”, Voluntas 20 (2009), p. 388-404.
23
23 William M. Brown et al., “Altruism Relates to Health in an Ethnically Diverse Sample of Older
Adults”, Journal of Gerontology 60B (2005), p. 143-P152.
24
Stephanie L. Brown, “Caregiving Behavior Is Associated With Decreased Mortality Risk”, Psychological
Science 20 (2009), p. 488-494.
25
Liz O’Brien, Mardie Townsend, e Matthew Ebden, “’Doing Something Positive’: Volunteers’
Experiences of the Well-Being Benefits Derived From Practical Conservation Activities in Nature”, Voluntas
21 (2010), p. 525-545.
CAPÍTULO 6
OS BENEFÍCIOS DE IR À IGREJA
“Alegrei-me quando me disseram: Vamos à Casa do
Senhor.”
Salmo 122:1, ARA

Q uando fui pela primeira vez a uma Igreja Adventista do Sétimo Dia,
impressionou-me a maneira como as pessoas pareciam realmente se
preocupar umas com as outras. Fiquei impressionado também em ver tanto o
pastor como os membros apresentarem igualmente a Palavra de Deus. Eles eram
bastante versados nas Escrituras e sabiam muitos versos de memória. O irmão
Quesada e o irmão Ballester* também eram assim. Eles eram os pilares da Igreja
Adventista do Sétimo Dia Central de Madri. Não eram pastores, mas tinham um
sólido conhecimento das Escrituras. Eu tinha prazer em ouvi-los como professores
da Escola Sabatina, pregando ou dirigindo reuniões de oração. Ainda consigo me
lembrar de algumas partes das mensagens que pregavam e até da entonação de
suas frases e expressões. Por alguns anos, eles exerceram várias funções e eram
amados e respeitados pela congregação. (*Ambos pseudônimos)
Em certa ocasião, o irmão Quesada questionou os procedimentos da sede
administrativa regional. Ele desejava que fossem feitas algumas mudanças que os
líderes não implementaram. O irmão Ballester tinha a mesma opinião, e um outro
membro da igreja também. Os três, com as famílias, pararam de ir à igreja. Eles
não falaram mal dos líderes nemprocuraram atrair outros para o lado deles.
Simplesmente não estavam mais indo à igreja. Disseram que não iriam abandonar
suas crenças nem queriam viver de maneira incoerente com as doutrinas. Eles
apenas estavam tomando a decisão de não frequentar uma igreja governada por
aqueles líderes que, aparentemente, não lhes tinham dado ouvidos. Passaram a
realizar seus cultos aos sábados nas casas de cada um ou junto à natureza. As
ofertas eles destinavam a obras de caridade. Continuaram a ensinar a lição da
Escola Sabatina aos filhos, a estudar a Bíblia, a orar juntos e a ler os escritos de
Ellen G. White. Com a exceção de estarem frequentando a igreja, eles levavam
sua vida como qualquer outro membro.
Entretanto, esse acordo que fizeram não durou mais que poucos meses. Se uma
das famílias não podia participar, as outras realizavam o culto em casa, sozinhos.
Quando entravam em desacordo ou tinham alguma dúvida sobre a doutrina, não
tinham nenhuma autoridade a quem recorrer. Além do mais, não havia um
contexto mais amplo de irmãos com quem se relacionar, ajudar ou pedir ajuda.
Infelizmente, eles não tiveram força ou humildade para voltar a participar da
congregação. O que começou com boas intenções, com o objetivo de continuar
vivendo sua fé, deteriorou-se sem a participação na congregação da igreja. Como
resultado, pouco a pouco deixaram de lado suas atividades espirituais ou as
preenchiam com alternativas; pior ainda, acabaram culpando os líderes regionais
por seu afastamento.
Alguns podem pensar que, pelo fato de a salvação ser pessoal, pode-se
desenvolver a própria espiritualidade isoladamente. A Bíblia, porém, tanto no
Antigo como no Novo Testamento, mostra claramente, em toda a história do
povo de Israel e por meio da vida dos primeiros cristãos, que Deus convida a
todos para participar do culto corporativo. Deve haver razões pelas quais Deus
deseja que seus filhos se reúnam a fim de adorar e fortalecer seus laços emocionais
e sociais uns com os outros na comunidade da igreja. Este capítulo traz evidências
que têm por objetivo demonstrar que pessoas que frequentam a igreja tendem a
alcançar indicadores mais elevados de saúde e bem-estar ao serem comparadas
com aquelas que não costumam ir à igreja.
Os dividendos obtidos por participar da
comunidade da igreja
O vale de Walla Walla, a leste do estado de Washington, nos Estados Unidos, é
um terreno ideal para ciclismo de estrada. É uma área bastante plana, com clima
seco na maior parte do ano e inúmeras cadeias de montanhas nas proximidades
que oferecem a opção tanto de fazer passeios na área plana como subir as
montanhas e descer pela encosta no fim da tarde. Certo dia, eu disse a mim
mesmo: Vou conseguir o equipamento adequado e percorrer essa área aproveitando todas as
opções que o mapa me oferece. Mas não fiz nada de início. Nada aconteceu até que
me tornei membro do clube Warped Wheel Cycle da Universidade de Walla
Walla. Como tinha a oportunidade de ir com outros ciclistas, percebi que poderia
fazer corridas mais longas, com mais frequência e bem mais agradáveis. Aprendi
muito sobre minha resistência como também a respeito das rotas, equipamentos,
roupas e outras coisas mais.
Devo admitir que havia certos inconvenientes por participar do grupo. Por
exemplo, observei que alguns usavam certos itens opcionais, e eu acabava
comprando coisas que, depois de usar algumas vezes, via que eram totalmente
desnecessárias. Outras vezes, via que a competição se tornava um tanto acirrada, e
nós os mais velhos tínhamos que nos esforçar para acompanhar os ciclistas mais
jovens. Mesmo assim, foram benéficos os efeitos do grupo sobre nós, e eu jamais
teria alcançado minhas metas sem a participação e o apoio dos outros ciclistas.
O princípio do apoio do grupo aplica-se à maior parte das áreas da vida,
inclusive ao crescimento espiritual. A comunidade de uma igreja saudável é o
local em que podemos ver pessoas felizes, sentindo-se contentes e como se
estivessem em casa. Quando alguém está infeliz, por certo vai encontrar o calor e
afeto necessários para melhorar o seu humor. A igreja é o lugar em que as
conversas vão além do superficial, e as emoções podem ser compartilhadas. A
verdadeira e profunda troca emocional não acontece com todos, mas há sempre
uma ou duas pessoas que se tornam nossas confidentes. Na maioria dos casos, a
comunidade da igreja proporciona um ambiente onde o altruísmo pode ser
praticado tanto com os membros como também com as pessoas que estão além de
seus muros. Com certeza, o culto corporativo deve ser um momento de louvor a
Deus por meio da música, da oração, da leitura da Bíblia e do partilhar do
conhecimento espiritual, experiências que não obtêm destaque suficiente quando
praticadas isoladamente.
De acordo com a promessa de Mateus 18:20, Jesus estará no meio daqueles que
se reúnem em seu nome. O resultado pode ser uma mudança extraordinária,
como a que seus discípulos experimentaram: o seu comportamento foi notável e
aqueles que os observavam “reconheceram que eles haviam estado com Jesus” (At
4:13). Ellen G. White, comentando esse texto bíblico, afirma que naqueles que
têm estado com Jesus “manifestar-se-ão a força, o frescor e a alegria da juventude
perpétua. O coração que recebe a Palavra de Deus, não é como um açude que se
evapora, nem como uma cisterna rota que perde o seu tesouro. É como a torrente
da montanha, alimentada por fontes inesgotáveis, cuja água fresca e borbulhante
salta, de rochedo em rochedo, refrescando os cansados, os sedentos e os
1
duramente oprimidos”.
Numa lápide do mosteiro da Catedral de Worcester, no Reino Unido, está a
inscrição Miserrimus (“Os mais miseráveis”), em um túmulo sem nome, sem data
nem texto algum. William Wordsworth (1770-1850) escreveu um poema em
referência a essa inscrição, e Willian Godwin (1756-1836) também escreveu um
romance baseado nesse local. Em contraste, nas catacumbas de Roma – os longos
túneis subterrâneos onde os cristãos primitivos se escondiam de seus ferozes
perseguidores – numa pedra há a inscrição Felicissimus (“Os mais felizes”).
Como é possível os cristãos ficarem tristes em tempos de prosperidade e
demonstrarem estar felizes em meio às condições mais difíceis e conturbadas? É
humanamente possível estar feliz mesmo sabendo que o martírio pode acontecer a
qualquer momento? Somente o poder do Espírito Santo (At 1:8; 2:2-4) pode
realizar tais tarefas aparentemente impossíveis. Um dos canais utilizados pelo
Espírito foi o apoio da comunidade de crentes, praticado sistematicamente, que,
“todos os dias, continuavam a reunir-se no pátio do templo. Partiam o pão em
suas casas, e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de
coração, louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo. E o Senhor lhes
acrescentava diariamente os que iam sendo salvos” (At 2:46, 47).
Benefícios não espirituais recebidos por ir à igreja
As bênçãos espirituais recebidas por frequentar as reuniões da igreja são
extremamente valiosas: “Que eu possa morar na Casa do Senhor todos os dias da
minha vida” (Sl 27:4, ARA). Entretanto, existem também benefícios bastante
especiais, que muitos desejam obter, até mesmo as pessoas não religiosas. Eles têm
que ver com a qualidade do desenvolvimento dos filhos e da vida familiar.
Frequentar os cultos na igreja promove a interação familiar. Isso não significa
somente que os membros da família se assentam juntos para assistir ao culto.
Significa também fazer planos para ir à igreja, levantar-se, ficar prontos e sair ao
mesmo tempo. Essas atividades estimulam os membros da família a se adaptarem
uns aos outros, ajudarem-se mutuamente e a resolverem tensões provenientes do
preparo e possível atraso. Quando ir à igreja faz parte dos hábitos regulares da
família, é criada uma sólida tradição que traz estabilidade e regularidade à vida
familiar, formando fortes laços por toda a vida e elos que podem ser passados para
as próximas gerações.
No local de adoração, a música e o ambiente de reverência que ocorre
normalmente proporcionam grandes bênçãos àqueles que vão à igreja. Um
contexto como esse se torna especialmente calmante e terapêutico para as
crianças, que provavelmente não tenham outra oportunidade para desfrutá-lo
além dos muros da igreja. Foi constatado que a música alivia a tensão muscular e
acalma os pensamentos e comportamentos agressivos. Além de proporcionar uma
excelente maneira para desenvolver o gosto pela música, pode também produzir
efeitos positivos sobre o humor e reduzir o negativismo.
As mensagens ouvidas nos cultos ou discutidas nas atividades da igreja
promovem comportamentos que nem sempre são “religiosos”, mas são
extremamente úteis para o desenvolvimento do caráter e para se viver uma vida
de harmonia com as outras pessoas: a elevação da conduta moral, a prática do
perdão, o desenvolvimento da resiliência, uma visão de esperança quanto ao
futuro, firme posicionamento diante do certo e do errado são todos valores
normalmente aprendidos e adotados no contexto da igreja. Esses princípios são
antídotos poderosos contra mensagens populares que chegam até nós como se
fossem verdadeiras, do tipo: “Se você se sente bem, faça!”
A Igreja Adventista do Sétimo Dia oferece um dos melhores sistemas de
educação religiosa para todas as idades, desde o nascimento até a idade adulta.
Uma parte significativa das ofertas doadas pelos membros vão para as divisões da
Escola Sabatina para que sejam mais bem equipadas. O importante é que essas
classes estejam ativas e sejam bem frequentadas em quase todas as igrejas ao redor
do mundo. Além do sólido conhecimento bíblico, as crianças aprendem a
partilhar, a desenvolver a paciência, o respeito aos outros, a interagir umas com as
outras, a permanecer quietas e calmas durante momentos especiais (como o da
oração), a esperar sua vez – em síntese, a desenvolver o autocontrole. Ao mesmo
tempo, a igreja procura desestimular as emoções negativas (o ódio, o ciúme, a
inveja, a raiva) e maus comportamentos (a violência, a bebida, a mentira, o sexo
pré-matrimonial, a delinquência, o fumo e o uso de outras drogas). Esses
princípios podem manter os que vão à igreja longe de muitos problemas e
aborrecimentos e contribuem para o bem-estar e a harmonia da sociedade.
A Escola Sabatina das crianças pode exercer uma grande influência sobre
aqueles que não querem nada que tenha que ver com a igreja. Minha esposa e eu
temos amigos que pertencem à nossa geração e que deixaram a igreja durante os
anos da juventude. Muitos até desenvolveram uma atitude crítica para com a
religião. Ainda assim, anos mais tarde, depois que tiveram filhos, perceberam a
necessidade que eles tinham de frequentar a Escola Sabatina e as reuniões da
igreja, e retornaram para que os pequeninos fossem enriquecidos com as mesmas
bênçãos que eles haviam recebido no passado. Concluíram que, mesmo não sendo
um lugar perfeito, a igreja ainda é a melhor opção para inculcar valores na mente
dos filhos nestes tempos preocupantes em que vivemos.
Há também oportunidades para o desenvolvimento de habilidades bastante
úteis. Por exemplo, as crianças e jovens são estimulados a falar para um pequeno
(e às vezes grande) grupo de pessoas, proporcionando-lhes as primeiras lições
sobre como falar em público em um ambiente seguro e real. O mesmo princípio
é frequentemente aplicado ao tocar instrumentos, cantar ou ler em público. Há
muitos pais que apreciariam ter essas oportunidades no contexto das escolas
públicas para onde enviam seus filhos. Entretanto, na maioria das vezes, isso não é
possível devido ao grande número de alunos por professor e também porque o
currículo escolar atualmente já vem fechado de acordo com as exigências dos
padrões acadêmicos e preparo para os testes de avaliação, não permitindo que haja
tempo para essas atividades. Além do mais, a comunidade escolar é composta de
muitos alunos mais novos e poucos adultos, enquanto a congregação na igreja
possui uma grande diversidade, onde participam pessoas de todas as idades.
Esse fato torna as igrejas um local adequado para todos desenvolverem
habilidades sociais em um ambiente real e diversificado. A igreja se assemelha a
uma grande família em que muitas vezes os membros vêm de vários níveis
econômicos e provenientes de diversas culturas, etnias, e com as mais diferentes
profissões. Essa mistura proporciona uma excelente oportunidade de sociabilização
que não é facilmente encontrada em nenhum outro lugar.
A maioria das igrejas convida pessoas de todas as idades a participar de atividades
evangelísticas e missionárias ou de viagens. Dessa forma, é prestado auxílio aos
necessitados, cumprindo assim não somente os deveres cristãos, mas também
realizando um serviço altruísta em favor da humanidade, que é de grande valor
mesmo para pessoas não religiosas. Há outras atividades que contribuem para o
desenvolvimento do caráter, como os acampamentos e outras recreações em que
as pessoas partilham dos mesmos valores e podem se reunir e interagir umas com
as outras. Normalmente, os jovens precisam dedicar algum tempo para angariar o
dinheiro suficiente, planejar, preparar, conversar a respeito dessas viagens,
evitando, portanto, inúmeras atividades arriscadas.
Enquanto eu participava de uma das três reuniões anuais que realizamos com a
Washington Association of Colleges for Teacher Education (WACTE), um dos
membros do corpo docente de uma universidade pública aproximou-se de mim e
disse: “Fiquei sabendo que o senhor trabalha para a Universidade de Walla Walla.
O senhor é adventista do sétimo dia?” Após responder-lhe afirmativamente, ele
continuou: “Minha avó era adventista. Às vezes, eu passava alguns dias na casa
dela, e ela me levava à igreja aos sábados, então eu assistia à Escola Sabatina.”
Enquanto ele descrevia brevemente esses fatos, pude ver em seu rosto um leve
sorriso ao recordar com carinho essas saudosas lembranças. Eu não sei qual foi o
real efeito que essa experiência pode ter exercido na vida daquele homem. Ao
que tudo indica, ir à igreja deve ter sido no mínimo algo bastante agradável para
ele. Que efeitos teve sobre a sua visão diante do mundo, sobre sua moral, sua
integridade, seu comportamento ou sua fé vamos ter que esperar até chegarmos à
Nova Terra, e então descobriremos.
Os pais que dão grande valor à presença nas reuniões da igreja certamente vão
infundir esse hábito desde os primeiros anos na vida de seus filhos. Aqueles que
começam a formar esses hábitos, mesmo um pouco mais tarde, podem fazer com
que se produzam alguns benefícios ainda que os filhos resistam, preferindo ficar
em casa jogando ou vendo desenho animado. Nessas situações, os pais necessitam
ser pacientes e perseverantes até que os filhos sejam atraídos à igreja e comecem a
apreciar as programações, ou até que o hábito se forme.
O hábito de ir à igreja e a saúde física
A linguagem do Salmo 18 mostra como foram as respostas de Deus à súplica de
Davi – Ele ouviu “do seu Templo” (v. 6). O resultado foi uma bênção sem
medida, revelada nas expressões de força física: “Com o teu auxílio posso atacar
uma tropa; com o meu Deus posso transpor muralhas” (v. 29). “Torna os meus
pés ágeis como os da corça, sustenta-me firme nas alturas. Ele treina as minhas
mãos para a batalha e os meus braços para vergar um arco de bronze. […] Para
que não se torçam os meus tornozelos” (v. 33, 34, 36). Aos 20 anos, eu não
pensava no tempo em que não teria mais força suficiente para levantar algo pesado
ou escalar a encosta de uma montanha coberta de pedras, mas as décadas se
passaram, e percebi que minhas forças haviam diminuído. Compreendi que o
envelhecimento é uma realidade que traz consigo certa deficiência na força física.
Esse texto passa a ter maior significado ainda quando se percebe que as forças
estão se acabando.
Deus pode intervir nos processos físicos para proporcionar saúde e força.
Algumas vezes, Ele acha melhor não fazê-lo. Todavia, é certo que Deus não
concede saúde e força àqueles que rejeitam suas bênçãos. Uma das mais preciosas
promessas feitas aos filhos de Israel foi que Ele os manteria livres de doenças:
“Prestem culto ao Senhor, o Deus de vocês, e Ele os abençoará, dando-lhes
alimento e água. Tirarei a doença do meio de vocês” (Êx 23:25).
Os epidemiologistas George Comstock e Kay Partridge, da Escola de Higiene e
Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins foram os pioneiros em pesquisas
2
que estudam a relação entre a frequência à igreja e a saúde. Suas notáveis
descobertas tornaram-se a base de muitas outras pesquisas ao longo dos 50 anos
que se seguiram. Eles coletaram várias sequências de dados nas décadas de 1960 e
1970, na região de Washington, Maryland, por meio dos dados de um censo
realizado. Comstock e Partridge descobriram inúmeras conexões entre a saúde e a
assistência aos cultos religiosos. Os dados representaram a participação de 90 mil
pessoas – mais de 98% de toda a população do município. Entre o grande número
de indicadores de saúde, uma das perguntas feitas pelos pesquisadores foi: “Essa
pessoa costuma assistir aos cultos religiosos? – Mais de uma vez por semana; cerca
de uma vez por semana; mais de uma vez por mês; duas a doze vezes ao ano;
menos de duas vezes ao ano; e nunca.” Os resultados mostraram inúmeras
ligações com a saúde:
• A incidência de tuberculose (TB) para cada 100 mil habitantes nos últimos
cinco anos foi um diferencial nos vários níveis de frequência: diagnóstico de TB
para aqueles que frequentam as reuniões da igreja pelo menos uma vez por
semana foi de 57 casos; houve 84 casos de TB no grupo que frequentava a igreja
uma vez por mês. Finalmente, foram 138 casos de TB entre aqueles que
frequentavam a igreja apenas duas vezes ao ano ou menos que isso.
• A mortalidade causada por doença cardiovascular aterosclerótica foi muito
mais elevada em homens que frequentavam esporadicamente a igreja do que em
homens que frequentavam semanalmente. O risco para os que frequentavam
regularmente era de 60% em relação aos que o faziam irregularmente. Esse foi o
resultado após levar em conta o efeito do fumo, status socioeconômico e outros
fatores.
• Nas mulheres, o índice de morte por enfisema, cirrose e suicídio foi
significativamente mais alto entre aquelas que não frequentavam a igreja
regularmente. O enfisema pulmonar foi responsável por 18 casos de morte em
cada 1.000 ocorrências, entre as mulheres que frequentavam a igreja
semanalmente, contra 52 casos para cada 1.000 mortes em mulheres que
frequentavam a igreja menos de uma vez por semana. A cirrose causou 5 mortes
por 1.000 no grupo que ia à igreja semanalmente, contra 25 que frequentavam
menos vezes. E o suicídio foi a causa de 11 mortes em cada grupo de 1.000
mulheres, para aquelas que frequentavam a igreja semanalmente, contra 25 mortes
em cada 1.000, para aquelas que frequentavam a igreja menos de uma vez por
semana.
Desde essas primeiras tentativas para analisar os elos entre a participação nas
reuniões da igreja e a saúde, muitos estudos têm conseguido estabelecer essa
relação. Harold Koenig, professor de Psiquiatria na Universidade de Duke, na
Carolina do Norte, Estados Unidos, em seu livro Handbook of Religion and Health
[Manual de Religião e Saúde], segunda edição, abrangendo a década de 2001 a
2011, analisou e registrou 1.060 estudos realizados por especialistas em que a
frequência regular à igreja foi uma das variáveis associadas a uma ou mais variáveis
3
relacionadas à saúde física e mental. A obra faz referência também a outros 429
estudos analisados por especialistas, nos quais a frequência à igreja encontrava
relação com a saúde física e mental. Embora os resultados não sejam todos
conclusivos, cerca de 70% deles apresentam evidências suficientes de que a
participação nos cultos religiosos está relacionada à boa saúde física no caso das
doenças cardíacas, hipertensão, doença cerebrovascular, demência, disfunção do
sistema imunológico, disfunção endócrina, o câncer e a mortalidade.
Atualmente, não estamos lidando com um estudo isolado aqui ou ali, para
mostrar que pessoas religiosas parecem ter um nível mais elevado de saúde que as
não religiosas. Percebemos que tem havido um volume cada vez maior de
pesquisas sólidas que apontam com clareza para as vantagens da saúde relacionadas
à religião.
Temos a seguir alguns exemplos provenientes de recentes estudos sobre a
conexão entre a saúde física e a religião. Eliezer Schnall, da Universidade de
Yeshiva, em Nova York, e outros sete pesquisadores analisaram os dados sobre a
4
saúde e a religião relacionados a 92.395 mulheres. Eles coletaram inúmeros
indicadores de saúde e um instrumento de autoavaliação em que as participantes
avaliaram sua saúde de modo geral, de acordo com um índice relacionado com a
saúde real, e descobriram como sendo esse um forte indicador de mortalidade nos
vários estudos. Os pesquisadores controlaram (de modo constante) o efeito das
variáveis demográficas, socioeconômicas e da saúde anterior para observar a
associação das variáveis selecionadas com o risco de mortalidade relacionado a
todas as causas. As variáveis selecionadas foram: afiliação religiosa, frequência aos
cultos religiosos e o nível de força e conforto proporcionado pela religião.
Constatou-se que essas três características tinham mútua relação com a diminuição
do risco de mortalidade por todas as causas. Em outras palavras, as mulheres que
tinham uma afiliação religiosa, que frequentavam os cultos regularmente e que
viam a religião como fonte de força e conforto possuíam um nível bem mais
baixo de mortalidade em comparação com aquelas que não encontraram apoio na
religião.
O estudo de Elva Arredondo esclareceu a forma como o processo realmente
5
acontece. Essa pesquisadora da Universidade Estadual de San Diego, na
Califórnia, e outros quatro associados recrutaram 211 mulheres latinas de fala
castelhana, escolhidas aleatoriamente por números da lista telefônica ligados a
sobrenomes hispânicos. O estudo, que recebeu o nome de Secretos de la Buena
Vida [Os Segredos da Boa Vida], baseava-se em uma entrevista telefônica em
espanhol, a respeito das práticas religiosas, como também a visita à casa de cada
uma delas para uma entrevista pessoal de meia hora, com o objetivo de pesquisar
as práticas de saúde (isto é, saber detalhes sobre o que elas comiam e como se
exercitavam). Ao serem comparadas com aquelas que não costumavam ir à igreja
e outras que iam ocasionalmente, as mulheres que frequentavam a igreja de modo
regular apresentaram os indicadores de comportamento ligado ao estilo de vida
mais saudáveis: elevada ingestão de fibras na dieta, mais baixa ingestão de gorduras
e três vezes mais capacidade para fazer exercícios vigorosos. A vantagem
permaneceu expressiva ainda após o controle dos indicadores socioeconômicos,
como educação, estado civil, emprego e idade. Em outras palavras, o fator
responsável com relação ao comportamento mais saudável pareceu ser a afiliação a
uma igreja e a frequência aos cultos, em vez de melhor educação, por exemplo.
Estudos como esse nos fazem lembrar de que as igrejas são excelentes centros de
promoção não somente do crescimento espiritual, mas também de práticas
relacionadas à saúde. Muitos adventistas do sétimo dia são defensores dessa missão
e vivem de acordo com a “mensagem de saúde” que tem sido firmemente
preservada ao longo de tantas décadas. Tenho, por vezes, me perguntado: “Quais
seriam minhas condições de saúde se eu não tivesse abraçado a mensagem
adventista?” Com quase 100% de certeza, e observando os meus contemporâneos
e a minha história familiar, eu estaria bebendo, fumando e comendo de tudo, sem
dar a menor importância ao que é saudável ou não. Provavelmente, estivesse
agora sofrendo de algumas “doenças típicas da vida moderna” e sendo advertido
quanto aos graves riscos para a minha saúde. Como resultado, estaria tentando
reparar a intemperança praticada no passado, procurando alcançar um nível
mínimo de práticas saudáveis de saúde para conseguir sobreviver. Fico muito feliz
por ter-me sido proporcionada essa compreensão da visão bíblica a respeito da
saúde, não somente pelos benefícios obtidos, mas também porque foi pelo amor e
graça do Senhor que o conhecimento da verdade me alcançou.
No estudo citado anteriormente, também foi constatado que as mulheres (85%
delas nasceram e cresceram no México) que frequentavam a igreja regularmente
eram mais bem adaptadas à cultura americana, quando comparadas às demais que
não frequentavam os cultos religiosos. A igreja havia sido não somente
preponderante no desenvolvimento de um estilo de vida saudável, mas um
instrumento para conseguirem se adaptar bem melhor ao meio cultural que as
acolheu.
Laura Koenig e George Vaillant pesquisaram a eficácia da assistência às reuniões
da igreja sobre a saúde e o bem-estar em homens de um grupo cuja primeira
6
avaliação foi feita aos 14 anos de idade, e a mais recente aos 79 anos. Esse foi o
maior estudo iniciado em 1950 e teve como foco principal o uso de bebidas
alcoólicas e a saúde física. No entanto, múltiplas sequências de dados foram
coletadas ao longo dos anos, como: frequência às reuniões da igreja (nunca,
ocasionalmente, mensalmente ou semanalmente). A frequência às reuniões da
igreja aos 47 anos foi um instrumento de previsão da saúde aos setenta. Um outro
ponto é que a análise estatística demonstrou que a frequência à igreja estava
indiretamente ligada à saúde – os indicadores atuais eram o uso (ou abstenção) de
bebidas alcoólicas, do fumo e a presença ou ausência do bom humor. No caso do
bem-estar, entretanto, a frequência às reuniões da igreja aos 47 anos foi uma
forma direta de se prever o bem-estar (sem mediadores) 23 anos depois, e essa é
uma excelente indicação do peso que tem a religião sobre a saúde mental e social,
desde que o bem-estar signifique satisfação com o trabalho, filhos, amigos e vida
conjugal. Esse fato nos leva à próxima seção da conexão que há entre assistir às
reuniões da igreja e a saúde mental.
O hábito de ir à igreja e a saúde mental
A depressão e a ansiedade são, nessa ordem, os maiores transtornos mentais em
todo o mundo. Na linguagem comum, eles representam um estado de grande
tristeza, desesperança, inquietação e medo. A Bíblia está cheia de expressões de
esperança, como alegria, regozijo e prazer. Deus diz: “não temas”, “não lamente”,
“não se entristeça”, “seja forte”, “seja corajoso”. Invariavelmente, essas mensagens
de segurança e confiança estão dentro do contexto do convite que Deus nos faz
para aceitá-lo, amá-lo e obedecer-lhe. Uma pesquisa recente está trazendo
descobertas contínuas sobre o fato de que frequentar a igreja contribui para a
prevenção e alívio dos transtornos mentais.
A maior parte dos estudos que analisam a relação entre essas variáveis (ir à igreja
versus saúde mental) são realizados com uma ampla diversidade de amostras em
múltiplas localidades. Mesmo assim, todas elas apontam para a mesma direção: a
frequência às reuniões da igreja parece exercer uma influência protetora contra a doença
mental. Christopher Lewis e um grupo de associados conduziram um estudo na
7
cultura altamente religiosa que há no norte da Irlanda. Eles estudaram uma
amostra de pessoas recrutadas aleatoriamente de 5 mil famílias. Os participantes
usaram como padrão uma medida de bem-estar psicológico (o GH-Q12) e
responderam a perguntas sobre a afiliação a uma denominação religiosa, assim
como acerca da frequência com que assistiam aos cultos em sua igreja. A principal
descoberta foi que a maior frequência aos cultos religiosos estava associada à
melhor saúde psicológica.
A relação entre ir à igreja e desfrutar uma mente saudável parece ser
particularmente relevante nos idosos. Jim Mitchell e Dave Wheatherly, da Escola
de Medicina da Universidade da Carolina do Norte, conduziram uma pesquisa
8
numa área rural a leste do Estado, sobre a religiosidade e a saúde mental. Os
participantes foram indagados não somente a respeito da frequência religiosa aos
cultos, mas também sobre suas crenças religiosas, oração e papel da religião ao
enfrentar uma doença. Eles responderam ainda a questões relacionadas à saúde
mental e emocional no momento, e em comparação com os cinco anos anteriores
à entrevista. Em consonância com os resultados predominantes dos estudos, as
mulheres e pessoas idosas afro-americanas eram as mais propensas a professar uma
religião e a assistir às reuniões da igreja. O ponto principal do estudo mostrou que
a diminuição da funcionalidade física e redução da saúde mental estavam
relacionadas à baixa frequência às reuniões da igreja. Da mesma forma, menos
sintomas de doença mental, de forma geral, e especificamente menor índice de
sintomas de depressão estavam associados à maior frequência à igreja.
Os resultados são semelhantes em locais distantes da América do Norte. Rita
Law e David Sbarra conduziram um estudo de acompanhamento por um período
9
de oito anos na Austrália. A frequência às reuniões da igreja tinha um efeito
protetor contra os transtornos repentinos no humor (curiosamente, essa proteção
foi mais pronunciada em pessoas casadas do que nas solteiras que tinham o hábito
de ir à igreja). Nesse estudo, a contínua assistência aos cultos fez a real diferença:
aqueles que foram aos cultos religiosos regularmente por cinco anos apresentaram
menor índice de depressão, quando comparados com aqueles cuja frequência era
esporádica. Foram encontradas também algumas diferenças em relação ao gênero:
os homens que frequentavam a igreja de maneira irregular desenvolveram maior
risco para a depressão do que as mulheres que também frequentavam a igreja
irregularmente.
Somente depois que compreendi o caráter central da assistência aos cultos na
igreja é que percebi quão importante foi para a minha família comprometer-se em
levar todos os sábados um casal de idosos à igreja em nosso carro. Era muito bom
vê-los felizes e saber que, para eles, ir à igreja tornava-se o ponto alto da semana.
Embora eu não estivesse ciente das implicações desse pequeno ato sobre a saúde
daquele casal de idosos, agora olho para trás com muito mais satisfação e
sentimento de serviço prestado em favor de outros. Provavelmente tenhamos
ajudado a retardar uma deterioração precoce naquele simpático casal de idosos, ao
irmos buscá-los em sua casa todos os sábados pela manhã.
Esse princípio não se aplica apenas aos idosos. Profissionais jovens, como
professores no Reino Unido, também deram provas de que ir à igreja os manteve
protegidos contra a instabilidade emocional. Pesquisadores da Faculdade Trinity e
da Universidade de Gales aplicaram um teste de personalidade em 311 professores
do nível fundamental que trabalhavam no sudeste da Inglaterra, para avaliar as
tendências psicóticas, assim como algumas avaliações sobre a espiritualidade,
10
inclusive a frequência aos cultos na igreja. Ficou bastante claro que a correlação
entre essas variáveis foi inversa; em outras palavras, quanto maior a frequência à
igreja, mais baixas eram as tendências psicóticas nos professores. É interessante ver
estudos como esse que revelam o efeito tranquilizador da vida religiosa em uma
das profissões mais estressantes que existem: a de professor. Os professores detêm
realmente um dos cinco tipos de trabalhos mais estressantes, ficando atrás apenas
dos controladores de tráfego aéreo, soldados em combate, bombeiros e
trabalhadores de minas de carvão.
Os próprios alunos também parecem beneficiar-se da frequência à igreja no que
diz respeito à saúde mental. Christopher Lewis, da Universidade de Ulster, em
Londonderry, no Reino Unido, e vários associados da Noruega coletaram dados
obtidos de 479 crianças e adolescentes de colégios da Noruega (com idades entre
11
11 e 18 anos). Utilizando um teste europeu comum (o Teste de Personalidade
de Eysenck), os pesquisadores observaram a correlação entre a frequência à igreja,
a oração e os indicadores para tendências psicóticas. Os resultados mostraram que
aqueles que estavam mais envolvidos nos comportamentos religiosos mencionados
apresentavam níveis menores de tendências psicóticas ao serem comparados com
seus colegas que não frequentavam a igreja ou iam esporadicamente aos cultos.
O estudo conduzido por Carlos Reyes-Ortiz parece confirmar a segurança
transmitida pelo salmista: “Mil poderão cair ao seu lado, dez mil à sua direita, mas
12
nada o atingirá” (Sl 91:7). Essa pesquisa foi centralizada apenas em mexicanos-
americanos e investigou a ligação que há entre a frequência à igreja e o medo de
cair. Um grande grupo de 1.341 homens e mulheres com 70 anos ou mais
participou do estudo. Por esse estudo, ficou constatado que o medo de cair era
maior entre as mulheres do que entre os homens. Além disso, os participantes
com um histórico de quedas, artrite, hipertensão ou incontinência urinária eram
mais temerosos do que os demais que não sofriam dessas doenças. A frequência à
igreja foi um claro indicador da redução dos níveis do medo de quedas: quanto
maior a frequência à igreja, menos medo os idosos tinham de cair. Essa relação
específica permaneceu bastante expressiva ainda, após o controle dos relevantes
dados sociodemográficos, condições médicas, sintomas depressivos, funções
cognitivas, quedas, habilidade para fazer as tarefas diárias e menor desempenho
corporal.
Uma pesquisa realizada entre religiosos e não religiosos revelou haver mais alta
imunidade contra os transtornos mentais naqueles que continuavam ativos em seu
hábito de ir à igreja regularmente. Ray Merrill e Richard Salazar, da Universidade
de Brigham Young, estudaram a relação entre a frequência à igreja e a saúde
13
mental entre 4.287 religiosos e 1.270 que não eram religiosos. Aqueles que
procuravam ajuda profissional para obter saúde mental eram os religiosos menos
ativos e aqueles que não tinham nenhuma preferência religiosa. Essa análise foi
feita após serem consideradas as variáveis quanto ao uso de bebidas alcoólicas, uso
de fumo, sobre a educação, rendimentos, atividade física, condições gerais de
saúde, emprego, índice da massa corporal, gênero e idade.
Atos 2:44-47 nos dá boas sugestões sobre o estilo de vida dessa primeira geração
de cristãos. De maneira bem resumida, somos lembrados dos benefícios para a
saúde mental por viver o estilo de vida dos cristãos primitivos:
• Partilhar (v. 44). Colocar os próprios recursos à disposição de outros
proporciona uma grande sensação de bem-estar. Traz satisfação ver que outros se
alegram ou obtêm alívio de seus sofrimentos por nossa disposição de partilhar.
Jesus chama a esses de “bem-aventurados” ou “felizes” (At 20:35).
• Adorar e louvar a Deus (At 2:46, 47). Uma pequena amostra das muitas
evidências que revelam os benefícios do culto corporativo ao longo de todo esse
capítulo.
• Comunhão (v. 46). Lembrar a Ceia do Senhor é uma forma direta de buscar a
reconciliação, um claro e poderoso processo para obter a saúde física e mental.
• Companheirismo e simpatia (v. 47). De acordo com o relato bíblico, essa
proximidade é expressa em corações alegres e sinceros, e também pela facilidade
de interação pessoal.
A síntese dessa passagem é o maravilhoso resultado que houve ao serem trazidas
mais e mais pessoas para o caminho da salvação. Observe que o registro bíblico
não atribui o sucesso aos esforços proselitistas por parte dos crentes; ao contrário,
era Deus quem “lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos” (v. 47).
Problemas e questões dos adolescentes
A delinquência e o uso de drogas estão entre os principais problemas da
adolescência em qualquer lugar do mundo. Este é um momento de luta em favor
desses jovens; em sua busca pela identidade e seu lugar no mundo, às vezes, eles
acabam explorando áreas que podem colocá-los em dificuldades. No entanto, os
filhos que apreciam a oportunidade que lhes é dada de frequentar a igreja
regularmente com a família têm maior probabilidade de continuar na igreja
durante os anos da adolescência e de se manterem protegidos desses problemas. O
álcool e o uso de drogas têm despertado um maior interesse em pesquisas na
comunidade nas últimas duas décadas. Harold Koening encontrou mais de 450
estudos científicos que associam a religião e a espiritualidade ao papel que
exercem sobre as drogas; cerca de 85% desses estudos mostraram uma importante
14
relação entre a religião e a espiritualidade e a redução do uso de drogas.
Quando ele analisou os melhores estudos apresentados (247), 90% deles tiveram
resultados positivos. A orientação é clara: pertencer a uma igreja torna-se uma
salvaguarda contra o uso de drogas, e isso é verdade especialmente em relação aos
adolescentes.
Brent Brenda, da Escola de Serviço Social da Universidade de Arkansas, nos
Estados Unidos, pesquisou a efeito exercido pela religiosidade e a frequência à
igreja com relação à delinquência juvenil, o uso de bebidas alcoólicas e de outras
15
drogas. Brenda analisou dados de 3.395 alunos da 7a à 9a série em 66 distritos
escolares em um dos estados do sul, tanto da zona rural (67%), como da zona
urbana (33%), e descobriu que a religiosidade nesses adolescentes representou uma
boa proteção contra as práticas de atos ilegais: uso do álcool, uso de outras drogas
e a delinquência. Como delinquência estavam envolvidos: brigas, roubos em lojas,
furtos em geral, ficar fora de casa até altas horas da noite sem permissão dos pais e
faltar às aulas. Foi constatado que a religiosidade era mais importante no
comportamento das meninas do que no dos meninos. A religião é especialmente
benéfica para os adolescentes devido à sua busca por significado e propósito na
vida. As comunidades religiosas apresentam razões e dão força para resistir à
tentação, como também estimulam a fazer boas escolhas. Encorajam também o
relacionamento pessoal com o onisciente e onipotente Deus – nem sempre um
tema popular no grupo. A força do grupo permaneceu uniforme nesse estudo: a
ligação específica mais forte encontrada foi o uso de bebidas alcoólicas e drogas
pelos amigos, e por eles mesmos. Em outras palavras, a fonte de proteção mais
forte contra o uso de drogas veio da associação com outros jovens da igreja que
estavam fazendo as escolhas certas.
Os adolescentes também são altamente vulneráveis ao fumo. Essa idade é a
época da iniciação, considerando que a maioria dos jovens começa a fumar por
volta dos 16 anos. Embora saibam que o fumo vicia e é perigoso para a saúde,
20% dos adolescentes americanos fumam. A cada dia, três mil adolescentes
começam a fumar, e aproximadamente mil desses jovens irão morrer devido ao
uso do fumo. Fumar torna-se também uma porta de entrada para outras drogas.
Por exemplo, adolescentes que fumam têm três vezes mais probabilidade de usar
bebidas alcoólicas, oito vezes mais tendência a fumar maconha e são 22 vezes mais
propensos a consumir cocaína.
A boa notícia para aqueles que vão à igreja é que esses riscos são
consideravelmente reduzidos, e os adolescentes irão desfrutar a proteção contra a
possibilidade da iniciação e continuidade do hábito de fumar. Carla Berg, do
Centro do Câncer na Universidade de Minnesota, em Minneapolis, nos Estados
Unidos, estudou o papel exercido pela frequência à igreja em várias áreas,
16
inclusive quanto ao uso do fumo. Ela e sua equipe verificaram que os
adolescentes com risco mais elevado de iniciar e manter o hábito de fumar eram
aqueles que tinham mais idade no grupo, baixo rendimento escolar, eram
depressivos e não frequentavam a igreja ou iam muito esporadicamente. Aqueles
cujos pais fumavam estavam especificamente em maior risco. Além disso, a atitude
dos pais em relação ao fumo apareceu como um fator bastante forte nessa
pesquisa. É importante lembrar aos pais que, por mais forte que seja o grupo de
amigos nessa idade, os adolescentes que sabem que seus pais desaprovam
totalmente o hábito de fumar têm menor probabilidade de começar a fumar e de
passar a fumar regularmente.
Esse estudo também constatou haver uma relação entre os que costumam
apresentar sintomas depressivos e a possibilidade de se tornarem fumantes. A baixa
religiosidade e a depressão serão discutidas no próximo capítulo, mas basta dizer
que, quando os adolescentes sentem falta do apoio emocional que deve ser
oferecido pela igreja e pela família, eles têm maior tendência a ser depressivos e a
recorrer a alguns tipos de comportamentos compensatórios, como o uso do fumo
e de outras drogas.
As áreas de conduta e o funcionamento social envolvem grande preocupação
para os pais, professores e membros da comunidade, e com razão. Ser capaz de
manter habilidades sociais adequadas e uma interação tranquila, sem atritos, com
outras pessoas, abre caminhos que outras habilidades e talentos não conseguiriam.
Mas como podemos incentivar os adolescentes a ser mais corteses, respeitosos e
pacientes com outros, garantindo assim sua melhor interação? Por meio de um
estudo, verificou-se que, quando as mães frequentam a igreja, a tendência é que
tenham filhos adolescentes com melhor adequação social. Stuart Varon, diretor
clínico do Centro de Saúde Mental Para Crianças Johns Hopkins, e Anne Riley,
professora associada na Escola de Higiene e Saúde Pública Johns Hopkins,
conduziram um estudo que analisou a relação entre a frequência das mães à igreja
e o funcionamento social e comportamental de seus filhos adolescentes entre os
17
11 e os 13 anos. A pesquisa foi cuidadosamente conduzida, não simplesmente
com o preenchimento de um questionário, mas mantendo entrevistas pessoais nos
lares com 143 adolescentes e a mãe da cada um deles. Com exceção da renda
familiar, a frequência das mães à igreja foi o mais forte indicador de saúde mental
e funcionamento social dos participantes adolescentes. Na verdade, a frequência
da mãe à igreja era um melhor indicador do que a religião da mãe ou sua
educação, etnia e sexo do filho ou estrutura familiar. A pesquisa constatou
também que os adolescentes cujas mães iam à igreja pelo menos uma vez por
semana desfrutavam um maior grau de satisfação na vida, eram mais envolvidos
com a família e eram mais hábeis para resolver problemas relacionados à saúde;
também sentiam maior apoio por parte dos colegas do que os jovens cujas mães
apresentavam níveis mais baixos de frequência à igreja.
Proporcionar apoio suficiente aos adolescentes e jovens para que permaneçam
na igreja é uma tarefa que todos devem ter em mente. A família talvez seja o
agente número um. O papel das escolas cristãs também pode ser decisivo em
muitos casos. Jerome Thayer, da Universidade Andrews, relata, com base em
dados obtidos de vários estudos adventistas, que um percentual significativamente
mais elevado de jovens adultos permanece na igreja se tiverem recebido uma
18
educação adventista.
Conclusão
Por meio da fiel participação e frequência às reuniões da igreja, Deus tem
concedido recompensas maravilhosas a seus filhos: melhor saúde física e mental,
melhores relacionamentos e uma lista infindável das mais úteis vantagens para uma
vida mais plena. No entanto, ir à igreja não significa apenas isso. Mais importante
ainda é que os cultos religiosos proporcionam a oportunidade de um encontro
com Deus: “O Senhor, porém, está no seu santo templo; cale-se diante dele toda
a Terra” (Hc 2:20, ARA).
Passadas várias décadas, posso ainda me lembrar dos esforços feitos por um
jovem pastor para inculcar em nós jovens a ideia de que ir à igreja significava
encontrar-se com Deus, e não apenas com os amigos. Ele utilizou o texto bíblico
de Atos 20:9: “Um jovem chamado Êutico, que estava sentado numa janela,
adormeceu profundamente durante o longo discurso de Paulo. Vencido pelo
sono, caiu do terceiro andar. Quando o levantaram, estava morto.” O pastor
explicou que foi porque Paulo “continuou falando até meia-noite” (v. 7) e por
causa do calor das “muitas candeias no piso superior” (v. 8) que Êutico facilmente
pegou no sono. Entretanto, uma importante pergunta permaneceu sem resposta:
“Para começar, por que Êutico estava sentado na janela?” A interpretação do
jovem pastor foi de que Êutico, provavelmente, não estivesse ouvindo o sermão
de Paulo; talvez ele estivesse olhando as meninas bonitas que passavam ou outras
coisas interessantes que aconteciam naquela rua de Troas!
Coisas que distraem a atenção podem ocorrer de várias formas, dependendo de
a pessoa estar motivada ou não, se é jovem ou idosa, homem ou mulher, pobre
ou rico, mas o que importa é que todos devemos estar atentos à principal razão de
ir à igreja: encontrar Deus. Frequentar a igreja fielmente, de maneira ativa e com
devoção é uma decisão pessoal que deve ser tomada. Aqueles que de fato
valorizam essa decisão estarão verdadeiramente comprometidos com ela. O rei Davi
deu seu testemunho sobre quão importante era para ele habitar na casa do Senhor:
“Melhor é um dia nos teus átrios do que mil noutro lugar; prefiro ficar à porta da
casa do meu Deus a habitar nas tendas dos ímpios” (Sl 84:10).
Deus disse a Salomão para pedir o que quisesse, e ele escolheu a sabedoria (2Cr
1:7-10). Por outro lado, Davi, seu pai, optou por um pedido diferente: “Uma
coisa pedi ao Senhor; é o que procuro: que eu possa viver na casa do Senhor
todos os dias da minha vida, para contemplar a bondade do Senhor e buscar sua
orientação no seu templo” (Sl 27:4) Por fim, Deus estabeleceu Davi, a despeito de
suas imperfeições, como um exemplo de integridade e retidão (1Rs 9:4) para
Salomão e as demais gerações de reis que se seguiram desde então.
Questões Para Estudo
• Encontre passagens bíblicas em que o leitor é aconselhado a se reunir com
outros para adorar, como em Hebreus 10:25: “Não deixemos de reunir-nos como
igreja.” Em uma concordância, busque palavras como assembleia, congregação,
casa do Senhor, tabernáculo, convocação, igreja, e assim por diante. Quais são as
diferenças entre o Antigo e o Novo Testamento com respeito a essas palavras?
Qual é o contexto de cada texto?
• Faça uma pesquisa e, descubra as expectativas de frequência aos cultos de
várias religiões. Você vê alguma diferença no benefício alcançado pelos crentes
quando se exige que frequentem a igreja ou quando são incentivados a frequentar os
cultos religiosos? Qual é o correto equilíbrio para você?
• Qual é o significado das ordens dadas por Deus para assistir às santas
convocações ou assembleias solenes no dia de sábado (Lv 23:3)?
Aplicação
• A principal razão pela qual muitas pessoas permanecem na igreja (ou a
abandonam) tem que ver com a atitude dos demais adoradores. O que você pode
fazer para que seus irmãos e irmãs continuem fiéis na igreja e no amor do Senhor?
• Como harmonizar a maneira franca de Jesus ao afirmar: “Eu não vim para
chamar justos, mas pecadores” (Mc 2:17), com o texto em que Ele declara: “Se
ele se recusar a ouvi-los, conte à igreja; e se ele se recusar a ouvir também a igreja,
trate-o como pagão ou publicano” (Mt 18:17)?
• Reflita sobre o significado destas palavras “Guarda o pé, quando entrares na
Casa de Deus; chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos,
pois não sabem que fazem mal” (Ec 5:1, ARA). Enumere algumas coisas que
você pode fazer para seguir esse conselho.
• Ellen White diz que Maria e José, embora estivessem participando de reuniões
religiosas, perderam Jesus de vista e tiveram que procurar por Ele, angustiados
durante três dias. A seguir ela afirma: “Muitos assistem a serviços religiosos e são
refrigerados e confortados pela Palavra de Deus; mas, devido à negligência da
19
meditação, vigilância e orações, perdem a bênção.” É possível frequentar
regularmente as reuniões da igreja e ainda assim perder Jesus de vista? Que
providências são necessárias em sua vida para evitar que isso aconteça?

1
Ellen G. White, Parábolas de Jesus, 15a ed. (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2015), p. 130.
2
George W. Comstok e Kay B. Partrige, “Church Attendance and Health”, Journal of Chronic Diseases 25
(1992), p. 665-672.
3
Harold Koenig, Dana King e Verna B. Carson, Handbook of Religion and Health, 2a ed. (Nova York:
Oxford University Press, 2012).
4
Eliezer Schnall et al., “The Relationship Between Religion and Cardiovascular Outcomes and All-Cause
Mortality in the Women’s Health Initiative Observational Study”, Psychology and Health 25 (2010), p. 249-
263.
5
Elva M. Arredondo e John P. Elder, “Is Church Attendance Associated With Latina’s Health Practices
and Self-Report Health?” American Journal of Health Behavior 29 (2005), p. 502-511.
6
Laura B. Koenig e George E. Vaillant, “A Prospective Study of Church Attendance and Health Over the
Lifespan”, Health Psychology 28 (2009), p. 117-124.
7
Christopher A. Lewis, “The Association Between Church Attendance and Psychological Health in
Northern Ireland: A National Representative Survey Among Adults Allowing for Sex Differences and
Denominational Difference”, Journal of Religion and Health 50 (2011), p. 986-995. O estudo incluiu 5.205
participantes, sendo 41,5% homens e 58,5% mulheres, 40% católicos e 56% protestantes, e os restantes
pertencentes a outras religiões.
8
im Mitchell e Dave Weatherly, “Beyond Church Attendance: Religiosity and Mental Health Among
Rural Older Adults”, Journal of Cross-Cultural Gerontology 15 (2000), p. 37-54. Foram utilizadas duas amostras
aleatórias de forma independente: uma de 2.178 pessoas de 60 a 104 anos (média de 73 anos) e outra de 868
participantes de 65 a 101 anos (média de 75 anos).
9
Rita W. Law e David A. Sbarra, “The Effects of Church Attendance and Marital Status on the
Longitudinal Trajectories of Depressed Mood Among Older Adults”, Journal of Aging and Health 21 (2009),
p. 803-823. Os pesquisadores acompanharam 791 pessoas com idade média de 76 anos.
10
Leslie J. Francis e Peter Johnson, “Mental Health, Prayer and Church Attendance Among Primary
Schoolteachers”, Mental Health, Religion & Culture 2 (1999), p. 153-158.
11
Christopher A. Lewis et al., “Personality, Prayer and Church Attendance Among a Sample of 11 to 18
Years Old in Norway”, Mental Health, Religion & Culture 3 (2004), p. 269-274.
12
C. A. Reyes-Ortiz et al., “Higher Church Attendance Predicts Lower Fear of Falling in Older Mexican-
Americans”, Aging & Mental Health 10 (2006), p. 13-18.
13
Ray M. Merril e Richard D. Salazar, “Relationship Between Church Attendance and Mental Health
Among Mormons and Non-Mormons in Utah”, Mental Health, Religion & Culture 5 (2002), p. 17-33.
14
Koenig, Spirituality and Health Research: Methods, Measurement, Statistics, and Resources (Conshohocken,
PA: Templeton Press, 2011).
15
Brent B. Benda, Sandra K. Pope, e Kelly J. Kelleher, “Church Attendance or Religiousness: Their
Relationship to Adolescents’ Use of Alcohol, Other Drugs, and Delinquency”, Alcoholism Treatment Quarterly
24 (2006), p. 75-87.
16
Carla Berg et al., “The Roles of Parenting, Church Attendance, and Depression in Adolescent
Smoking”, Journal of Community Health 34 (2009), p. 56-63. Participaram do estudo 299 adolescentes do sexo
feminino de uma clínica pediátrica urbana do Centro-Oeste.
17
Stuart R. Varon e Anne W. Riley, “Relationship Between Maternal Church Attendance and Adolescent
Mental Health and Social Functioning”, Psychiatric Services 50 (1999), p. 799-805.
18
Jerome Thayer, “The Impact of Adventist Schools on Students”, trabalho apresentado no Quarto
Simpósio sobre a Bíblia e a Escolaridade Adventista, em Riviera Maya, Quintana Roo, México, de 16 a 22
de março de 2008.
19
White, O Desejado de Todas as Nações, 22a ed.(Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2004), p. 83.
CAPÍTULO 7
OS BENEFÍCIOS DA ALEGRIAE
DA GRATIDÃO
“O coração alegre é bom remédio, mas o espírito abatido faz
secar os ossos.”
Provérbios 17:22, ARA

C onversei com Bob Stumph, pela primeira vez, um ano depois de ele receber
a notícia de que estava com câncer gastroesofágico, e dois meses após ser
informado de que já havia metástase no fígado, nos pulmões e nos linfonodos. O
médico lhe deu de cinco a treze meses de vida. Ele já tinha passado por cirurgia,
radioterapia e quimioterapia. Naquele momento, estava fazendo novas sessões de
quimioterapia. Tivemos uma boa conversa e notei que Bob estava animado, ao
falar sobre sua experiência com detalhes e, sobretudo, com um invejável bom-
humor, apesar do turbilhão de acontecimentos dos últimos doze meses. Suas
palavras continuavam demonstrando completa confiança no Senhor. Embora
reconhecesse não entender os porquês, colocou-se nas mãos de Deus,
incondicionalmente.
Enquanto falava sobre o momento em que ouvira, pela primeira vez, a respeito
do temível diagnóstico de câncer, ele disse: “Eu não podia imaginar que poderia
haver algo errado com minha saúde. Tinha um regime alimentar equilibrado,
fazia exercícios e tudo o mais que um bom adventista do sétimo dia pratica. Havia
sido pastor ao longo de proveitosos quarenta anos – e estava no ministério pastoral
mesmo antes de fazer Teologia. Certo dia, percebi alguns sintomas diferentes e fui
ao médico. Foi realizada uma endoscopia e, após eu acordar da anestesia, o
médico falou: ‘Não tenho boas notícias. O senhor contraiu um câncer, e já está
em estágio avançado.’ Três dias depois, o diagnóstico de câncer foi confirmado
pelo exame patológico. Os médicos afirmaram que era bastante incomum
acontecer isso a alguém que tinha um estilo de vida como o meu. Eu estava
muito confuso também. Fiz todos os planos para realizar o tratamento em Seattle,
sob os cuidados de um excelente cirurgião e um renomado oncologista, ambos
em parceria com a Universidade de Washington e o Centro de Pesquisas Sobre o
Câncer, em Vancouver, Estados Unidos. Ambos grandes especialistas na área.
Entretanto, a minha maior confiança estava realmente em Deus. No início, o
diagnóstico de câncer me trouxe muitos questionamentos: ‘O que vou fazer
agora? Sempre confiei em Deus.’ Veio então à mente uma experiência terrível,
ocorrida 25 anos antes, e que solidificou minha confiança em Deus. Do mesmo
modo como eu havia confiado naquela época, iria confiar também agora. Sim, eu
estava abalado, porém isso me tornou mais forte, mais confiante no que o Senhor
poderia fazer. Isso de modo algum iria enfraquecer minha fé.”
Uma das primeiras coisas que Bob decidiu fazer foi enviar e-mails,
semanalmente, à família e aos amigos. Eles oraram por Bob durante todos aqueles
meses de luta. Eu li as mensagens. Eram calorosas e cheias de esperança. Falavam
das notícias corriqueiras da semana, do desenvolvimento da doença e sempre
incluíam uma reflexão sobre um texto bíblico, uma história ou um incidente com
aplicações para a vida espiritual. “Minha fé nunca foi afetada – e ficou mais forte
ainda”, declarou Bob. “O que decidi fazer foi não tentar controlar as coisas
sozinho. Esse foi meu primeiro pensamento. Resolvi permitir que as pessoas
soubessem o que realmente estava ocorrendo para obter maior apoio por meio da
oração dos irmãos e da igreja em meu favor. Eu sabia que, quanto mais as pessoas
orassem, mais coisas poderosas iriam acontecer. As pessoas continuam orando por
mim todo o tempo. Ouço isso a todo instante. É como se eu sentisse suas orações.
Procuro agir exatamente de acordo com as palavras de encorajamento que me
enviam. Não posso cair no desespero com tanto apoio que recebo. As coisas que
acontecem ao meu redor me deixam totalmente animado.
“Os momentos devocionais, o estudo e a oração têm me trazido muito
conforto”, disse Bob, quando lhe perguntei como lidava com toda essa situação.
“Tenho mantido este hábito há muitos anos: à noite, começo orando o ‘Pai
Nosso’. Reflito então no significado de cada frase, de cada palavra. Nem sempre
chego ao fim da oração porque são muitas as ideias em cada trecho e há muito em
que meditar. Sei que isso torna as conexões de pensamento muito fortes durante
esses momentos.”
Falando sobre o momento em que soube que o câncer havia se espalhado,
depois de nove meses enfrentando várias formas de tratamento, Bob disse: “Eu
estava fazendo uma visita de cortesia ao oncologista e ele, naquele exato
momento, estava com o resultado do meu exame de tomografia computadorizada
em mãos e constatou que o câncer havia tido metástase. Ao me informar, ele
traduziu o resultado em números: de cinco a treze meses de vida. Isso me fez
exclamar: ‘Ah, Senhor, se Tu desejas que eu descanse, permita que seja rápido,
pois eu não vou suportar tanta dor.’ Eu vinha piorando já fazia um mês. Então o
oncologista prescreveu um novo plano de sessões de quimioterapia e me manteve
nesse plano. Ele estava muito confiante de que esse tipo de tratamento poderia me
dar cinco ou seis anos. No entanto, meu desejo era que o Senhor agisse à sua
maneira em minha vida. Qualquer que fosse a vontade do Senhor, eu estaria bem.
Os seus planos para mim são muito melhores que os meus.”
Quando questionado sobre suas fontes de maior alegria nesses momentos de
incerteza, ele disse: “Quase tudo me trouxe muita alegria. Eu não sei o que é ficar
triste. É verdade, eu às vezes choro com minha esposa, mas o que mais temos
feito é antecipar a eternidade. Penso no que vai ser passar a eternidade com minha
família e desfrutar a salvação. Essas coisas me trazem imensa felicidade. Procuro
imaginar em detalhes como será o Céu, após a ressurreição, e os eventos que se
sucederão por toda a eternidade. Fico contemplando também a vida de Cristo,
especialmente as últimas horas de sua experiência na Terra. Minha sincera oração
hoje é: ‘Senhor, sei que vais me ajudar assim como me ajudaste em toda a minha
vida, em todas as dificuldades pelas quais passei.’’’
O mesmo Deus que trouxe alegria ao rei de Israel concedeu a Bob Stumph a
emoção de antever as alegrias da eterna salvação, conforme nos diz o salmista:
“Fizeste dele uma grande bênção para sempre e lhe deste a alegria da tua
presença” (Sl 21:6). Realmente, Deus esteve presente na vida de Bob, ao longo
de toda a sua existência, e mais pessoalmente nos últimos meses difíceis por que
passou. Da mesma forma, o Senhor está disposto a abençoar e guiar toda pessoa
que deseja permitir que Ele atue em sua vida e, portanto, venha a experimentar a
alegria da salvação, mesmo em meio a este mundo cheio de pecado e sofrimento.
Estudaremos neste capítulo os benefícios que a alegria cristã, a felicidade e a
gratidão podem proporcionar ao crente, na doença e na saúde, e em quaisquer
outras circunstâncias. A Voz que exclama “Alegrai-vos!” ressoa candente do início
ao fim das Escrituras, pois Deus deseja que seus filhos sejam alegres e vivam livres
da tristeza, do pesar e do desânimo, que podem facilmente surgir em nossa vida.
A religião e a alegria
De acordo com o General Social Survey (GSS) dos Estados Unidos, nos anos de
1972 a 2008, 48% das pessoas que frequentavam os cultos da igreja mais de uma
vez por semana classificaram a si mesmas como “muito felizes”, mas somente 26%
daqueles que nunca iam aos cultos religiosos afirmaram ser “muito felizes”. Que a
religião traz alegria a quem é fiel é algo óbvio para os que são religiosos. Embora
esse fato não seja sempre tão óbvio aos outros, a comunidade científica está
utilizando as ferramentas das ciências médicas e sociais para descobrir a mesma
verdade que os fiéis já sabem por experiência de vida. Ao longo das duas últimas
décadas, Harold Koenig, em sua pesquisa de análise sobre religião e saúde,
encontrou pelo menos 326 estudos quantitativos sobre a relação que existe entre a
1
religião, a espiritualidade (R/E) e a sensação de bem-estar. Dos 120 estudos
considerados metodologicamente os mais rigorosos, 82% revelaram que maior
felicidade, satisfação com a vida e uma sensação mais ampla de que a vida é boa
foram sentimentos encontrados naqueles que tinham mais elevado nível de R/E.
Ao buscar por estudos na área da religião e da depressão, que é o extremo
oposto da alegria, Koenig encontrou 444 estudos quantitativos, realizados de 1990
a 2010. Um total de 61% dos estudos afirmam que menos depressão ou mais
rápida recuperação da depressão eram obtidas por meio da intervenção religiosa.
Em contraste, apenas 6% relataram haver maior depressão naqueles que eram mais
religiosos. Os restantes 33% encontraram correlações, mas eram muito pequenas
2
para serem consideradas estatisticamente.
O estudo empírico da religião e da felicidade remonta a mais de meio século. O
mais antigo estudo que encontrei era de 1957, quando C. T. O’Reilly fez uma
3
pesquisa aleatória entre católicos romanos de Chicago. Nesse estudo, ele
descobriu que a felicidade estava relacionada à religiosidade. Classificou os
participantes de acordo com o nível de atividade religiosa e pediu a eles que
avaliassem a si mesmos em uma série contínua de três classificações de felicidade
(muito feliz – moderadamente feliz – pouco feliz). Dentro do grupo “muito
feliz”, ele constatou que 55% eram “mais ativos” do ponto de vista religioso,
enquanto 34% estavam no nível “médio” de atividade religiosa, e apenas 11% dos
“muito felizes” eram “menos ativos” na esfera da religião. Esse estudo foi um
passo revolucionário ao indicar, de modo geral, que o envolvimento religioso
poderia ser uma fonte de felicidade. A partir de então, muitas pesquisas têm sido
desenvolvidas, apresentando repetidamente a confirmação de que a religiosidade e
a felicidade andam juntas.
Vejamos alguns exemplos. Kristopher Gauthier e a equipe de pesquisas da
Universidade de Wake Forest, em Winston-Salem, na Carolina do Norte, Estados
Unidos, analisaram mulheres e homens provenientes de três setores: classes de
formandos de (1) uma pequena faculdade de Artes Liberais do Centro-Oeste; (2)
ex-alunos da mesma faculdade; e (3) membros de igreja de várias congregações da
4
área metropolitana de Detroit. Os pesquisadores estavam interessados não
apenas na religiosidade geral relacionada a uma interface de vida satisfatória, mas,
de forma particular, em como as dúvidas religiosas se ajustavam à equação.
Entendia-se por dúvidas religiosas as incertezas ou controvérsias quanto aos
ensinos religiosos tradicionais, o sentimento de que a religião não tornava as
pessoas realmente melhores, ou o sentimento de que os ensinos religiosos, em
geral, eram contraditórios ou não faziam sentido. As descobertas indicaram que os
altos níveis de religiosidade estavam associados com os altos níveis de satisfação na
vida e que elevada quantidade de dúvidas religiosas estava relacionada à baixa
satisfação na vida. Isso não significa que as dúvidas eram interpretações erradas,
mas, no processo para resolvê-las, podiam causar dissonância cognitiva ou gerar
um sentimento de vergonha ou culpa capaz de interferir no nível de satisfação
com a vida. Por esse estudo, foi constatado também que as mulheres mantinham
um índice mais elevado de religiosidade que os homens, o que normalmente
acontece. Uma outra questão é que os homens tiveram maior pontuação quanto a
dúvidas religiosas que as mulheres.
A maioria das pesquisas sobre religiosidade, espiritualidade, felicidade pessoal,
bem-estar subjetivo e outras nessa área era proveniente dos Estados Unidos. No
entanto, descobri mais do que esperava em outros países – alguns estudos eram de
pesquisadores norte-americanos que se concentraram em populações estrangeiras,
outros realizados diretamente por pesquisadores de outros países. Por exemplo,
encontrei um estudo que foi conduzido por Christopher Lewis, da Universidade
de Ulster, em Londonderry, na Irlanda do Norte, que analisou a conexão
existente entre o enfrentamento religioso, o uso da estratégia religiosa para
5
enfrentar os problemas, e a felicidade. Esses pesquisadores coletaram dados
utilizando o amplamente aceito Questionário da Felicidade Oxford, como
também avaliações da personalidade, orientação religiosa e o enfrentamento
religioso. Eles descobriram orientações religiosas intrínsecas e inter-relações de
felicidade, bem como conexões entre o enfrentamento religioso positivo e a
felicidade. A mais forte das duas associações foi a da religião intrínseca e a
felicidade. Pessoas que dedicaram maior quantidade de tempo à meditação e à
oração (ao contrário de “é bom ir à igreja porque lá posso fazer amigos”)
apresentaram os mais altos níveis de felicidade. Da mesma forma, a felicidade foi
obtida pelo enfrentamento religioso, conforme demonstrado por aqueles que se
apoiavam em declarações como: “Eu mantenho meu foco na religião para não ter
que me preocupar com os problemas” ou “Eu sei que Deus não me abandona”.
Estatisticamente, além dessas duas descobertas, a mais forte conexão foi a da
religião intrínseca. De acordo com esse estudo, às vezes, mantemos muito o foco
no aspecto social da religião, que traz alegria ao crente, mas são os encontros
realizados a sós com o Senhor que podem ser até mesmo mais gratificantes e
poderosos.
Um encontro pessoal com nosso Deus, um diálogo face a face, é a mais
significativa experiência para o crescimento espiritual. Isso me faz lembrar o valor
do aconselhamento pessoal no campo da educação. Não importa quantos métodos
de ensino surjam, e por melhores que sejam em relação aos outros, o ensino
individual de boa qualidade é o mais eficaz. No departamento em que trabalho na
universidade, está em andamento um projeto com crianças de uma comunidade
carente em Walla. As crianças dessa comunidade, por serem aprendizes da língua
inglesa, têm dificuldades para aprender a ler. Nossos alunos da área de Educação
vão até lá regularmente. Eles ajudam essas crianças, assentando-se com cada uma,
ouvindo-as e orientando-as durante o complicado processo do desenvolvimento
da alfabetização. Estamos certos também de que essas crianças irão ver Jesus por
intermédio do trabalho realizado por seus tutores. Nossos encontros com o
Senhor são realmente momentos especiais para desenvolvermos o misterioso e
miraculoso processo do crescimento em Cristo.
O autor Emir Williams, da Unidade de Pesquisas Sobre Religiões e Educação
Warwick, do Instituto de Educação da Universidade de Warwick, no Reino
Unido, realizou, com sua equipe, um estudo com uma amostragem da região
6
transeuropeia. Esse grupo analisou a felicidade e a satisfação com a vida nos
participantes do estudo, de acordo com os vários níveis de estado civil e
frequência aos cultos religiosos. A análise dos dados coletados revelou elevados
níveis de satisfação total com a vida e sentimentos de maior felicidade nos
subgrupos que frequentavam os cultos religiosos regularmente. Esse fato foi
confirmado mesmo após o controle de importantes variáveis (idade, sexo e estado
civil) que, como se sabe, influenciam o estado de felicidade. Novamente,
podemos ver o cumprimento das promessas de Deus aos que atendem às suas
orientações: “Grandes coisas fez o Senhor por nós, por isso estamos alegres” (Sl
126:3, ARA).
Para compensar a maioria de estudos realizados com cristãos, um grupo de
pesquisadores da Universidade Estadual de Bowling Green, em Ohio, nos Estados
7
Unidos, analisou uma amostra de participantes judeus. O alvo desse estudo foi
pesquisar o papel da religiosidade judaica sobre a ansiedade, a depressão e a
felicidade. Os participantes responderam a questões como: “Numa escala de 0-7,
de maneira geral, considero-me uma pessoa ‘não muito feliz’ até ‘muito feliz’.”
Outra questão era a seguinte: “Algumas pessoas geralmente são muito felizes. Elas
apreciam a vida a despeito do que acontece, desfrutando e tirando o máximo
proveito de tudo. Até que ponto você se encaixa nessa descrição?” Os
participantes optavam por itens de 1 a 7, variando de “não muito” a
“totalmente”. Os resultados revelaram que os mais elevados níveis de confiança
em Deus estavam associados a altos índices de felicidade pessoal. Foi observado
também que um nível maior de confiança estava relacionado a menores índices de
ansiedade e depressão, demonstrando novamente o toque benéfico da fé tanto em
relação à felicidade quanto ao bem-estar.
Como a fé promove a alegria
Os mecanismos pelos quais as crenças e práticas religiosas fazem com que muitas
pessoas se sintam mais alegres e satisfeitas com a vida não são realmente
conhecidos. Entretanto, há inúmeras explicações que são produto da observação e
da lógica. A síntese delas será apresentada nos próximos parágrafos.
Os grupos religiosos possuem um conjunto ou rede de relacionamentos sociais
que lhes servem de apoio por natureza. Os membros das comunidades religiosas
partilham suas crenças e práticas, sentindo-se confortáveis e mantendo bons
relacionamentos uns com os outros. De modo geral, as religiões promovem o
altruísmo e a boa disposição de o indivíduo voluntariamente deixar de atender às
próprias necessidades para ajudar outros. Portanto, as igrejas normalmente
promovem ambientes atrativos à comunidade, onde as pessoas entram e ali
permanecem, abrigando dentro delas um sentimento de pertencer, de satisfação e
alegria.
Embora possa variar bastante entre as denominações e as diversas religiões, os
grupos religiosos geralmente promovem estilos de vida saudáveis com relação ao
regime alimentar, exercícios, formas de entretenimento e outros relacionados à
comunidade religiosa. As recomendações e ensinos apresentados desestimulam as
pessoas a envolverem-se em comportamentos de risco e nos vícios. Todos esses
fatores previnem contra a degeneração da saúde e tornam seus seguidores mais
felizes, pessoas mais satisfeitas com a vida.
Essas recomendações relacionadas ao comportamento não se limitam apenas à
saúde física, estendendo-se também à saúde mental. As crenças religiosas
promovem princípios e virtudes como amor, perdão, empatia, autocontrole,
honestidade, contentamento, e desestimulam o ódio, a suspeita, a cobiça, a fraude,
a falsidade e a intemperança. Esses princípios favorecem o desenvolvimento de
um estado de espírito mais equilibrado, proporcionando, consequentemente,
maior satisfação na vida.
Além de tudo isso, as pessoas religiosas mantêm um relacionamento pessoal com
Deus. Esse relacionamento faz com que se sintam abençoadas, sabendo que
podem se arrepender de seus pecados e obter o perdão, prevenindo assim estados
deletérios como a culpa e o remorso. Podem olhar para o futuro com esperança
em vez de desespero, com o senso da direção divina que traz consolação e paz em
sua vida. Estar perto de Deus proporciona também o sentimento de que estão
sendo guiadas em cada passo da vida. A ligação com Deus é ainda uma
salvaguarda contra a devastação causada pelas provações, perdas, tristezas e
sofrimentos porque, mesmo quando essas coisas acontecem, o fiel servo de Deus
pode encontrar propósito e esperança para sua vida por saber que Deus é real e
que seu amor também é verdadeiro. No cristianismo, temos o supremo dom da
salvação, por meio da mediação feita por Cristo Jesus ao pecador para toda
transgressão humana.
A música também é uma grande fonte de alegria. Pode ser não somente
agradável, mas também terapêutica e de edificação espiritual. A melodia e a letra
de um hino ou cântico podem transformar alguém deprimido em uma pessoa de
espírito alegre rapidamente. Como a boa música é uma parte bastante importante
da adoração, as pessoas religiosas têm mais oportunidades de desenvolver e manter
esse estado de espírito alegre.
Finalmente, as pessoas de fé percebem que há ordem e sentido no universo.
Quando veem o mal, podem explicá-lo como sendo fruto do pecado, e que um
dia terá fim porque Deus fez as devidas provisões para salvar e transformar as
pessoas que aceitam a salvação em Jesus e o seguem. Crenças como essas
protegem as pessoas contra o desespero e oferecem uma perspectiva mais
agradável da vida, tanto para o presente como para o futuro.
Em síntese, a presença de Deus na vida das pessoas pode transformar o
sofrimento e trazer de volta a alegria: “Tornaste o meu pranto em regozijo, tiraste
o meu cilício, e me cingiste de alegria” (Sl 30:11, AA).
Saúde e alegria
Em sua última mensagem de Ano-Novo, a cirurgiã-geral Regina Benjamin
delineou algumas sugestões de mudança e escreveu o seguinte: “Um
comportamento saudável deve ser alegre. Meu desejo é devolver a alegria à saúde,
alegria para as pessoas e alegria para os profissionais. Jamais subestimem o poder da
8
alegria e da saúde!” Ellen G. White descreve atitudes específicas que podem nos
proteger das doenças: “Gratidão, regozijo, benignidade, confiança no amor e no
cuidado de Deus – eis as maiores salvaguardas da saúde. Elas deviam ser, para os
9
israelitas, as notas predominantes da vida.”
Como a alegria pode proporcionar saúde? Por um lado, a infelicidade crônica
desperta a resposta ao estresse, que mantém a pessoa em alerta, mas aumenta a
pressão sanguínea e baixa a imunidade, tornando o organismo vulnerável. Em
contraste, o estado de felicidade induz ao bom-humor, estimula e fortalece o
sistema imunológico, reduzindo, portanto, as chances de infecções e protegendo o
corpo de enfermidades crônicas. Além disso, pessoas felizes têm mais motivação
para cuidar da melhor forma possível de sua saúde: dão mais atenção ao regime
alimentar e à manutenção do peso, aos exercícios e fazem uso de todos os recursos
disponíveis para obter melhores condições físicas. Pessoas alegres tendem a ser
otimistas e processam as dificuldades que enfrentam de maneira mais positiva que
pessoas negativistas. Com isso, o mais provável é que não abriguem pensamentos
catastróficos, precursores da depressão. Uma pessoa alegre é normalmente mais
bem aceita pelos outros e sua rede de relacionamentos sociais, um fator
importante para a saúde, pois acaba sendo mais estável e de maior qualidade em
comparação com os relacionamentos sociais de pessoas pessimistas.
Uma das melhores análises a respeito da felicidade como um poderoso fator de
saúde foi feita por Ruut Veenhoven, um sociólogo da Universidade Erasmus, em
10
Rotterdam, na Holanda. Nesse estudo, a felicidade se destaca como um forte
indicador de longevidade em populações saudáveis. As consequências do estado
de infelicidade foram consideradas nesse estudo como tendo os mesmos efeitos do
fumo em uma pessoa que fuma continuamente. Veenhoven escolheu os melhores
estudos, de acordo com os métodos utilizados, todos longitudinais, conduzidos
em áreas de população normal. Foram realizados nos Estados Unidos, Japão,
Alemanha, Suécia, Finlândia, Canadá, Inglaterra e Holanda. Tiveram seu foco
dirigido a 24 tipos de resultados, dezesseis dos quais mostraram os efeitos positivos
da felicidade sobre a longevidade; oito também foram positivos, mas não
estatisticamente significativos, e não houve nenhum resultado negativo. A atitude
de completa felicidade acrescentou de sete anos e meio a dez anos de vida – o
mesmo resultado acrescentado para uma pessoa vegetariana!
O efeito mais significativo da alegria sobre a saúde e a longevidade é
encontrado em uma pesquisa que teve como título “Nun Study” [Estudo
Realizado com Freiras]. Deborah Danner e outras duas colegas da Universidade
do Kentucky rastrearam uma coleção de documentos preparados há mais de seis
11
décadas para analisar os efeitos da alegria sobre a longevidade. Um grupo de
180 freiras, as quais escreveram sua autobiografia nos tempos de juventude, foi
acompanhado quando elas já estavam em idade avançada (entre 75 e 95 anos). O
estudo teve início em 22 de setembro de 1930, quando a madre superiora da
Escola de Irmãs Notre Dame, na América do Norte, enviou uma carta a todas as
irmãs solicitando que começassem a escrever a sua autobiografia. Décadas mais
tarde, esses documentos, tanto escritos à mão como datilografados, tornaram-se
uma fonte de pesquisa de valor incalculável. O grupo era composto de mulheres
que se uniram à congregação de 1931 a 1943, a maioria delas de Milwaukee, em
Wisconsin; e Baltimore, em Maryland. As autobiografias foram classificadas como:
baixo índice de emoções positivas; alto índice de emoções positivas; ou índice
neutro. O trabalho foi realizado por duas pessoas que classificaram os estudos de
maneira independente, sendo depois verificados por uma terceira pessoa, o que
possibilitou um alto grau de coerência. As autobiografias com elevado índice de
emoções positivas apresentavam uma rica descrição dos estados de alegria e
felicidade. Os responsáveis pela avaliação buscavam emoções positivas, atribuindo
os valores mais altos de acordo com a sua importância, nesta ordem: felicidade,
interesse, amor, esperança, gratidão, contentamento, e outros. Da mesma forma,
pesquisaram quais eram as emoções negativas, classificando-as nesta ordem:
tristeza, medo, desinteresse, confusão, ansiedade, e assim por diante.
Os resultados mostraram que as participantes que utilizaram uma linguagem
com grande quantidade de emoções positivas quando começaram a escrever sua
autobiografia apresentaram menor risco de mortalidade em idade mais avançada.
Em termos quantitativos, o grupo com menor quantidade de emoções positivas
tinha duas vezes e meia mais risco de mortalidade. Como esse processo funciona,
é algo ainda desconhecido. Mas apenas o fato de sabermos que as emoções
expressas no início da idade adulta (entre os 18 e os 32 anos) tornam-se um
indicador de saúde e longevidade décadas mais tarde já deveria nos ajudar a tomar
a decisão de manter o coração cheio de alegria. E não estou sugerindo que a
pessoa simplesmente passe a pertencer a uma religião para conseguir isso; na
verdade, foi constatado que algumas freiras que viveram enclausuradas, mas não
cultivaram uma atitude de alegria morreram bem antes daquelas que mantinham
um espírito alegre. Estou apresentando esse fato como um exemplo de que a
alegria pode promover a saúde, o bem-estar e uma vida mais longa. Isso se torna
muito mais profundo e significativo se essa alegria estiver alicerçada em um
contínuo relacionamento com Jesus, que pode nos conceder a maior alegria se lhe
pedirmos: “Peçam e receberão, para que a alegria de vocês seja completa” (Jo 16:24,
itálico acrescentado).
Morgan Green e Marta Elliott, da Universidade de Nevada, nos Estados
Unidos, estudaram a relação entre religião, saúde e bem-estar psicológico
12
(felicidade). Utilizaram dados da Universidade de Chicago, com base no
General Social Survey (GSS), e extraíram casos com respostas relacionadas à saúde
física, felicidade e religiosidade. No contexto da saúde e da felicidade, as
descobertas mais relevantes foram aquelas nas quais as pessoas que mantinham
uma forte identificação com suas crenças religiosas apresentaram mais altos níveis
de saúde e bem-estar (felicidade). O fato de alguém afiliar-se a uma religião, por si
só, não traz maiores níveis de saúde e bem-estar. Somente aqueles que tinham um
forte sentimento de pertencer a sua religião revelaram maior tendência de obter os
benefícios de melhor saúde e bem-estar, independentemente da religião, do tipo
de trabalho ou do apoio social e familiar. A análise dos dados revelou também que
não há conexão alguma entre a renda e a felicidade, sugerindo, mais uma vez, que
não há níveis de renda específicos que ajudem a alcançar a felicidade. Há pessoas
com altos rendimentos, bem como com níveis de renda médios e baixos que são
felizes, e há também pessoas infelizes com os mesmos níveis de renda.
A alegria parece ser um bom fator de promoção da saúde, mas, algumas vezes, a
doença toma conta, como no caso de Bob, relatado no início do capítulo. Ou
acidentes acontecem, como ocorreu no estudo a seguir. No entanto, em meio a
todas as devastadoras circunstâncias, Deus está pronto a enviar raios de esperança,
de paz e de alegria ao sofredor. O estudo realizado por Irmo Marini e Noreen
Glover-Graf, da Universidade do Texas, pesquisou como a fé trouxe felicidade a
pacientes com lesões da medula espinhal, mesmo em meio à difícil situação em
13
que viviam. Os pesquisadores entraram em contato com ex-pacientes
portadores de lesões da medula espinhal (LME).
Em 90% dos casos, essas pessoas sofriam de LME devido a acidentes de trânsito,
em quedas, praticando esportes, entre outras formas. De maneira geral, afirmavam
ser religiosas: dos 156 participantes do estudo, 19 disseram não ter religião. Os
demais relataram estar afiliados a uma religião específica. Em sua maioria, os
participantes expressaram completa satisfação para com Deus e declararam que Ele
os ajudou a lidar com a doença e a alcançar a felicidade. Embora 26% tenham dito
que ficaram revoltados com Deus por causa do problema que enfrentavam, 60%
disseram sentir-se mais perto de Deus depois que adquiriram a deficiência, 64%
acreditavam que a sua espiritualidade os havia ajudado a aceitar as condições em
que estavam, 57% tornaram-se mais ligados a assuntos espirituais e 59% tornaram-
se pessoas melhores.
Os bens materiais e a alegria
Uma das mais antigas lembranças que tenho é a de que costumava ir, com
minha mãe e minha irmã, visitar uma tia que era freira e vivia enclausurada em
um convento próximo à cidade de Madri. As visitas eram todas envolvidas em
mistério. Começava por termos que bater em uma enorme e escura porta de
madeira. Primeiramente, uma das freiras verificava quem era através de uma janela
protegida por uma pesada grade de ferro. Então uma grande chave, do tamanho
de uma faca de açougueiro, era jogada para o lado de fora para que pudéssemos
abrir a porta. Uma vez dentro, íamos até a sala da recepção onde havia dois
conjuntos de grades, distantes cerca de um metro uma da outra. As freiras ficavam
atrás de uma das grades e nós atrás da outra. Não podíamos nos tocar, somente
falar e fazer gestos com as mãos. Embora a luz fosse sempre muito fraca naquele
salão de grossas paredes com apenas duas pequenas janelas, podíamos ainda ver
alguma coisa. Se desejássemos trocar algum presente ou uma foto, ou se nos
serviam alguns dos biscoitos que faziam no convento, um tambor escuro de
madeira girava, servindo como porta entre as grades. Os objetos eram colocados
no tambor e o girávamos. Passávamos uma ou duas horas ali, que mais pareciam
um dia inteiro, e saíamos após trocar muitos sorrisos e palavras de carinho.
Nas várias visitas que fizemos a minha tia durante muitos anos, o que mais me
impressionava era a expressão de felicidade daquelas mulheres após receberem
uma vista. As décadas se passaram, algumas regras foram flexibilizadas, e pude
perceber que aquele tambor giratório havia desaparecido, as duas grades
transformaram-se em apenas uma que podia ser aberta como se fosse uma janela.
Essa foi uma grande mudança. Então, certo dia, as freiras nos convidaram para ver
o jardim e a capela onde se reuniam, e fomos até o pequeno aposento onde nossa
tia dormia. Quando vi aquele lugar tão pequeno, com uma mesinha e um armário
contendo as poucas coisas que possuía, pude perceber que a alegria nada tinha que
ver com bens materiais. Minha tia possuía apenas algumas cartas, papéis, lápis,
alguns livros, livretos de orações e um pequeno guarda-roupa com vários espaços
vazios entre os hábitos de freira. Tudo estava meticulosamente limpo e em
perfeita ordem, e, quando pegava uma de suas coisas, ela a segurava como se fosse
um gatinho, sempre com um sorriso nos lábios. Conforme disse antes, a pessoa
não tem que ser pobre para ser feliz, mas parece não haver nenhuma relação entre
a felicidade e as posses que tem.
William Swinyard, da Universidade Young Brigham, e dois outros colegas
pesquisaram a relação entre a felicidade, o materialismo e o papel da religião sobre
14
essas duas variáveis. Com o propósito de fazer uma comparação, eles estudaram
grupos de adultos dos Estados Unidos (425 participantes) e de Cingapura (293
participantes). Em ambas as amostras, foi solicitado aos participantes que fizessem
a própria avaliação quanto ao grau de satisfação que sentiam na vida, desde
“horrível” até “muito satisfeito”, com cinco graduações entre esses dois extremos.
Avaliaram também as suas crenças no materialismo (com perguntas como: “Até
que ponto você acha que posses significam sucesso?”). Eles juntaram seus níveis
de religiosidade com declarações para avaliar situações como: “Eu tento colocar
minha religião acima de todas as outras coisas na vida.” Os resultados mostraram
as diferenças que havia entre os países: os adultos de Cingapura eram menos
felizes e mais materialistas que os adultos dos Estados Unidos. Além disso, foi
encontrada uma relação inversa entre o materialismo e a felicidade: nos dois
países, as pessoas materialistas tinham tendência a apresentar uma pontuação mais
baixa com relação às avaliações de satisfação na vida, e o oposto também foi
constatado em relação aos participantes menos materialistas. Nas palavras dos
pesquisadores, “as pessoas mais felizes pareciam ter um mundo espiritual interior
que os satisfazia mais. Era só olhar para os itens da intrínseca escala de
religiosidade para perceber isso: eles dedicam tempo aos assuntos religiosos, suas
crenças fornecem respostas, pelo menos para alguns de seus questionamentos
espirituais, procuram viver essas crenças em sua vida diária e estão plenamente
15
conscientes da presença divina.”
Conta-se que, quando Alexandre, o Grande, viu a extensão de seu domínio,
retirou-se para a sua barraca no acampamento e chorou, pois não havia mais
lugares no mundo a serem conquistados. A história, real ou não, ilustra a
futilidade do acúmulo de bens. Muita energia é dispendida em adquirir coisas e
mais coisas, e, quando alguns poucos conseguem alcançar o topo, a felicidade não
está lá.
A Bíblia não condena a posse de bens materiais. Há vários personagens do
Antigo Testamento, como Abraão, Jacó e Davi que se tornaram muito ricos, e
isso porque Deus lhes concedeu muitas bênçãos. José de Arimateia, no Novo
Testamento, foi um discípulo de Jesus, homem rico, que providenciou um novo
túmulo para colocar o corpo do Senhor. Em Provérbios, também é dito que a
sabedoria é capaz de trazer “riquezas e honra” (3:16). Ao mesmo tempo, porém,
somos aconselhados: “Se as suas riquezas aumentam, não ponham nelas o
coração” (Sl 62:10).
Escolhendo a alegria
Mihaly Csikszentmihalyi nasceu no dia 29 de setembro de 1934, no país que
atualmente é conhecido como a Croácia. À medida que crescia, ele observava que
os horrores da Segunda Guerra Mundial afetavam as pessoas de diferentes formas e
sempre quis saber as razões que havia por trás dessas diferenças. Mihalyi se
deparou com a psicologia por acaso. Viajou para Zurique, na Suíça, para se
divertir um pouco praticando esqui, mas a neve começou a derreter e não foi
possível esquiar. Ele tinha vontade de ir ao cinema, mas estava sem dinheiro. Viu
então o anúncio de uma palestra de psicologia com entrada gratuita, que seria
realizada numa daquelas noites no centro de Zurique, e decidiu ir até lá. Foi algo
fascinante para ele ouvir Carl Jung e conhecer sua interpretação a respeito de
como a guerra havia afetado o povo europeu. Seu desejo de saber mais sobre a
psicologia, as diferentes maneiras de lidar com o estresse e como alcançar a
felicidade levou-o à Universidade de Chicago, onde obteve o PhD em Psicologia.
Hoje, Csikszentmihalyi é um dos mais destacados pesquisadores do mundo sobre
a felicidade e a criatividade e, junto a Martin Seligman, tornou-se o fundador da
psicologia positiva. Ele promove a ideia de que a alegria e a felicidade são decisões
conscientes que as pessoas tomam. Para explicar o que é a felicidade, ele criou o
conceito do “fluxo”, um estado de completa absorção em uma tarefa que
representa um grande desafio e necessita de grande habilidade, constituindo-se no
maior nível de motivação intrínseca, uma situação em que a pessoa se mantém
totalmente envolvida, como é o caso de um músico fazendo uma apresentação ou
uma pessoa religiosa estudando e orando.
A escolha da alegria e da felicidade não implica numa grande decisão que irá
fazer a diferença por um longo tempo. Na realidade, pequenas decisões sobre
pequenas coisas podem explicar a alegria em toda a sua extensão. Esse é o
objetivo do estudo conduzido por Daniel Hurley e Paul Kwon, em Pullman,
16
Washington. Eles descobriram que a alegria, a felicidade e a sensação subjetiva
de bem-estar não são sentimentos mágicos, que estão fora do nosso controle. Eles
realmente nascem das pequenas coisas e têm muito que ver com as escolhas
individuais. Se soubermos como desfrutar os bons momentos e dar valor às coisas
comuns do dia a dia, que nos animam e nos elevam, não sendo indiferentes para
com elas, poderemos alcançar grande satisfação na vida e níveis muito mais
elevados de felicidade.
Esses pesquisadores da Universidade Estadual de Washington acompanharam
142 estudantes formandos em Psicologia e pediram que tecessem seus comentários
sobre o que significava para eles desfrutar o momento (prolongando ou
intensificando as emoções positivas enquanto está ocorrendo uma situação ou
evento agradável), como também sobre os sentimentos positivos e a satisfação na
vida. Duas semanas depois, os mesmos alunos apresentaram seus relatórios sobre
os momentos que trouxeram alegria e satisfação para eles (eventos positivos do dia
a dia, ocorridos nas duas semanas anteriores), os sentimentos positivos que
observaram e a satisfação na vida. Estas foram as duas principais descobertas feitas
por meio desse estudo:
1. Aqueles que foram mais capazes de desfrutar o momento demonstraram altos
níveis de sentimentos positivos e de satisfação com a vida.
2. Aqueles que foram mais capazes de identificar o maior número de “situações
positivas” experimentaram níveis mais elevados de sentimentos positivos e de
satisfação com a vida.
Esses resultados nos fazem lembrar de quantas escolhas temos que fazer para
decidir se vamos apreciar ou não determinada coisa, por mais simples que seja.
Todos podemos exercitar a arte de apreciar as coisas, experimentando-as por
antecipação, sentindo-nos bem ao imaginar os resultados que alcançaremos,
aprendendo a manter um espírito alegre ao fazer uma tarefa comum do dia a dia,
praticando a arte de guardar fatos na memória para nos lembrarmos deles mais
tarde, tendo prazer em olhar para trás e relembrar momentos felizes, e revivendo a
alegria das lembranças agradáveis do passado.
O que esse estudo considerou ser motivo de alegria e bem-estar não foram os
momentos de euforia e entusiasmo, mas o fato de se encontrar alegria nas coisas
do dia a dia, ao realizar um trabalho, receber ou dar apoio a alguém, conversar
com uma pessoa ou observar as coisas que normalmente acontecem ao nosso
redor. Isso nos lembra da oportunidade que temos de processar os acontecimentos
diários como eventos realmente positivos, recompensadores e enaltecedores. Em
um outro estudo, os mesmos autores treinaram os participantes para que
17
aumentassem os resultados positivos e reduzissem os negativos. Por
comparação, eles descobriram que o grupo de intervenção experimentara uma
expressiva redução nos sintomas depressivos e sentimentos negativos que o grupo
de controle não obteve, mostrando que ser alegre não é uma questão de sorte
nem se deve a fatores relacionados à personalidade ou hereditariedade; ao
contrário, é algo que pode ser ensinado e aprendido.
A pessoa de fé pode utilizar meios adicionais e mais confiáveis, como os que são
concedidos por Deus, pois Ele nos assegura do interesse que tem por seus filhos,
que, por sua vez, podem desfrutar a alegria para fazer face à tristeza e enfrentar a
angústia, a miséria e o sofrimento. Dessa maneira, seus seguidores podem se
apegar firmemente às promessas das Escrituras: “Tu me farás conhecer a vereda da
vida, a alegria plena da tua presença, eterno prazer à tua direita” (Sl 16:11).
Podem afirmar com o coração agradecido: “Sim, coisas grandiosas fez o Senhor
por nós, por isso estamos alegres” (Sl 126:3). E mesmo quando as coisas não vão
bem, Deus estará ao nosso lado para nos trazer alegria: “Quando a ansiedade já me
dominava no íntimo, o teu consolo trouxe alívio à minha alma” (Sl 94:19).
A atitude de gratidão
Ao preparar este livro, pedi a permissão de alguns velhos amigos para contar
suas experiências como parte introdutória de cada capítulo. De maneira muito
espontânea e sincera, reafirmei a um deles como estava agradecido pelas palavras
que me dissera algumas décadas no passado e o impacto que haviam causado em
minha vida, especialmente em minha jornada espiritual. Ele reagiu de maneira
muito agradável e me fez recordar do sólido fundamento religioso que possuía.
Após a conversa que tive com meu amigo naquela manhã, senti uma grande
alegria, enchi-me de energia, esperança e um estado de bem-estar geral pelo
restante do dia. Sei que emoções positivas como essas não ocorrem apenas pela
troca de boas lembranças, pois tenho conversado com velhos amigos e não senti a
mesma coisa. Estou certo de que minha alegria veio por ter expressado sincera
gratidão e verdadeira apreciação por algo precioso que recebi há muitos anos no
passado.
Mencionei também o nome de Sonja Lyubomirsky no capítulo sobre os
benefícios do serviço. Ela é chefe do laboratório de pesquisas sobre Psicologia
Positiva na Universidade da Califórnia, em Riverside, nos Estados Unidos. Seu
livro A Ciência da Felicidade explica, de modo prático, como aumentar a felicidade
18
por meio de inúmeras atividades e formas de comportamento – 12 ao todo.
Ela escolheu essas atividades não por conjectura ou pelo senso comum, mas
porque foi constatado que estavam relacionadas à felicidade, de acordo com
estudos científicos realizados. A atividade número um é expressar gratidão.
Em parceria com seus alunos de doutorado, Lyubomirsky elaborou um
experimento para descobrir o efeito causado por um simples exercício de gratidão
sobre a felicidade dos participantes. Eles instruíram o grupo a escrever (todo
sábado à noite, por várias semanas) cinco coisas pelas quais estavam agradecidos
durante a semana que passou. Instruíram também outro grupo a fazer o mesmo,
porém de maneira mais frequente – às terças, quintas e aos domingos. Todos
fizeram a avaliação do grau de felicidade, antes e depois da intervenção. Os
resultados mostraram que o aumento mais significativo nos níveis de felicidade,
antes e após a intervenção, foi naqueles que “contavam suas bênçãos”
semanalmente. Foi interessante notar que aqueles que expressavam sua gratidão
em dias alternados não apresentaram resultados significativos. Por que eles não
apresentaram crescimento? A explicação mais provável é a de que uma expressão
de verdadeira apreciação precisa ser autêntica, e quando alguma coisa é feita
frequentemente, pode se tornar rotina, apenas um hábito ou uma tarefa a ser
cumprida, e perder sua eficácia.
Como atividade regular, Lyubomirsky pede a seus alunos de Psicologia para
escreverem uma carta de gratidão a qualquer pessoa que desejarem e depois
explicar a sua experiência. Nicole, uma das alunas, fez uma carta à sua mãe e
depois disse: “Eu me sentia dominada pelo sentimento de felicidade. […]
Enquanto estava digitando a carta, pude sentir meu coração batendo cada vez
mais rápido. […] Quando estava chegando quase ao fim, enquanto lia o que já
havia escrito, meus olhos se encheram de lágrimas e fiquei com um nó na
garganta. Percebi que o sentimento de gratidão por minha mãe havia me tocado a
19
tal ponto que as lágrimas corriam pela minha face.” Alguns dias depois,
enquanto fazia as tarefas de escola em seu computador, Nicole estava chateada e
frustrada com a grande quantidade de trabalhos que tinha para terminar e resolveu
ler a carta de apreciação à sua mãe novamente. Em segundos, estava sorrindo. Foi
incrível a rapidez com que ela voltou a se sentir feliz e menos estressada ao ler a
carta outra vez.
Em outro estudo, Steven Toepfer desenvolveu um projeto em que os
20
participantes tiveram que escrever cartas de gratidão. Foram selecionados,
aleatoriamente, participantes de três campi de uma grande universidade do
Centro-Oeste dos Estados Unidos. A equipe de Toepfer incluiu não só os alunos,
mas também os membros da comunidade da universidade em geral. Eles foram
instruídos a escrever cartas de apreciação a uma pessoa real, expressando sua
gratidão. As cartas não deveriam conter assuntos triviais. Deveriam expressar
gratidão e ser entregues em envelope selado ao pesquisador para que ele as
colocasse no correio. Os participantes também concluíram as avaliações sobre a
gratidão, satisfação, felicidade e depressão, feitas no início e no fim do
experimento. Os resultados mostraram o seguinte:
1. Aumento significativo quanto à felicidade, satisfação na vida e sentimento de
gratidão ao longo do período de quatro semanas de teste e reteste.
2. Uma expressiva redução dos sintomas depressivos ao longo do mesmo
período.
3. Pontuações significativamente mais altas do que no grupo de controle (os
que fizeram as avaliações, mas não escreveram as cartas de gratidão), quanto ao
bem-estar e pontuações mais baixas de mal-estar.
Chiara Ruini e Francesca Vescovelli, psicólogas italianas da Universidade de
Bologna, trabalharam com uma amostra de 67 mulheres com câncer de mama no
21
Centro Para o Câncer de Mama do Hospital Santa Croce, em Loreto, na Itália
As mulheres que cultivavam o espírito de gratidão mostraram ter sido mais bem-
sucedidas no processo de crescimento pós-traumático. Tiveram também níveis
mais elevados de bem-estar, relaxamento e contentamento que as mulheres que
praticavam pouca ou nenhuma atitude de gratidão.
Isaías 61 foi a profecia lida por Jesus no primeiro registro que temos a respeito
de suas pregações na sinagoga de Nazaré (Lc 4:18, 19). Embora o Novo
Testamento faça referência aos dois primeiros versos apenas, o mesmo texto traz
até o presente belas promessas de esperança e da eternidade: “Em lugar da
vergonha que sofreu, o meu povo receberá porção dupla, e ao invés da
humilhação, ele se regozijará em sua herança; pois herdará porção dupla em sua
terra, e terá alegria eterna” (Is 61:7).
Certamente, essa herança citada na promessa irá nos trazer muito mais do que
jamais poderíamos esperar – uma porção dupla; e o resultado será “alegria eterna”.
Na vida real, heranças não trazem bens eternos. Na maioria das vezes, significam
aborrecimentos, desapontamentos e brigas familiares. Uma grande lição sobre os
verdadeiros valores que envolvem uma herança pode ser aprendida por meio de
uma parábola contemporânea, contada por Jim Stovall, em seu livro The Ultimate
22
Gift [O Último Presente].
A história pode ser assim resumida: Red Stevens, magnata do petróleo, morreu
bastante idoso. Quando os advogados leram seu testamento para os herdeiros, a
declaração mais surpreendente foi a de que ele havia deixado para Jason, o
sobrinho-neto de 24 anos de idade, o último presente. Antes, porém, de receber a
sua herança, o jovem teria que realizar doze tarefas mensais no prazo de um ano.
Cada tarefa era um precioso “presente” não material: trabalho, amigos,
conhecimento, problemas, família, riso, doação, sonhos, etc. Mesmo sendo um
jovem temperamental egoísta, que nunca havia trabalhado, concordou em seguir
as instruções e, por meio das provas e aflições pelas quais passou durante todos
aqueles meses, percebeu que estava ocorrendo nele uma mudança de caráter.
Um desses presentes era a gratidão. Red tinha um velho amigo dos tempos da
Grande Depressão. Ele era um andarilho, um mendigo, muito sábio e que possuía
ricas experiências de vida. Embora vivesse vagando, sem ter onde morar, nunca
havia tido um dia ruim. Seu segredo vinha de sua mãe e recebeu o nome de “A
Lista Dourada”. Seu dever consistia em olhar cada dia, antes de se levantar, para
uma placa dourada onde estavam escritas dez coisas pelas quais ele deveria ser
grato. O mendigo passou-a para Red, que praticou diariamente o que nela estava
escrito pelo resto de sua vida. Ele estava passando a Jason, então, o mesmo legado.
Jason começou a praticar a gratidão, assim como as demais virtudes, e obteve os
prometidos benefícios.
Ao fim de suas “lições”, Jason deu seu testemunho ao advogado, dizendo quão
maravilhosos haviam sido os presentes dados por seu tio-avô. Eles mudaram sua
vida totalmente e sua visão havia sido completamente renovada. Cheio de alegria
e gratidão, Jason estava já saindo do escritório do advogado, que o chamou de
volta para lhe mostrar o último vídeo gravado por Red Stevens. O tio declarou
seu orgulho por Jason ter chegado a esse ponto. Isso aconteceu porque Jason
havia apreciado todos os doze presentes. O último presente consistia de um fundo
fiduciário de caridade de Red Stevens, de mais de um bilhão de dólares. Foi
passado a Jason o controle total do fundo que era destinado ao sustento do Lar
Stevens Para Meninos, do Programa da Biblioteca Stevens, de diversos programas
de bolsas de estudo, hospitais e para qualquer outro programa que Jason
considerasse importante.
Ellen White faz uma poderosa declaração sobre a gratidão, a saúde e a
depressão, que li pela primeira vez em um pedaço de papel laminado na mesa de
um colega. Diz assim: “Coisa alguma tende mais a promover a saúde do corpo e
da alma do que um espírito de gratidão e louvor. É um positivo dever resistir à
melancolia, às ideias e sentimentos de descontentamento – dever tão grande como
23
é orar.”
Conclusão
Há alguns anos, uma edição especial da National Geographic publicou, como
matéria de capa, o artigo “Os Segredos da Longa Vida”, no qual destaca três
grupos de pessoas como as mais longevas e mais saudáveis da Terra: os moradores
de Ogimi, em Okinawa, no Japão; os Silanus, na Ilha Sardenha, Itália; e os
adventistas de Loma Linda, na Califórnia, Estados Unidos. Entre vários outros
detalhes, diz a reportagem que os moradores da Ilha Sardenha vivem em um
clima ameno e agradável, dividem as cargas do trabalho com o cônjuge e comem
alimentos com ômega-3. Sobre os de Okinawa, o artigo relata que eles mantêm
fortes laços familiares e de amizade ao longo de toda a vida, alimentam-se com
pequenas porções e procuram encontrar um propósito para a vida. A respeito dos
adventistas do sétimo dia, o artigo diz que eles comem castanhas em geral e
leguminosas, observam o sábado e cultivam a fé. O ponto comum entre os três
grupos é que eles colocam a família em primeiro lugar, não fumam, são pessoas
ativas, mantêm-se socialmente envolvidos, comem frutas, verduras, hortaliças e
grãos integrais. Os dois primeiros vivem em áreas rurais e não são necessariamente
comunidades espirituais, mas o terceiro é um grupo distintamente religioso, em
que a fé é um elemento fundamental. Essa foi uma excelente oportunidade para a
Igreja Adventista do Sétimo Dia ser apresentada como um grupo abençoado por
manter um estilo de vida saudável, associado à sua religiosidade e comunhão com
Deus.
Dan Buettner, o autor da reportagem, faz uma descrição bastante detalhada da
vida diária dessas pessoas e encerra o texto com uma frase que resume seus
encontros com essas pessoas centenárias, enfatizando as emoções positivas que os
acompanham até o fim de sua existência: “Depois de haver entrevistado mais de
cinquenta centenários em três continentes, achei-os todos muito simpáticos; não
24
havia nenhum idoso mal-humorado no grupo.”
O fiel servo de Deus pode passar por tempos de turbulência em sua vida. Isso
faz parte da jornada na Terra. No entanto, ao contemplarmos o cenário em seu
todo, confiando firmemente nas promessas de Jesus, nossa perspectiva mudará
completamente e nos encherá de alegria. O apóstolo Pedro descreve esse quadro
de maneira suprema:
Nisso vocês exultam, ainda que agora, por um pouco de tempo, devam ser
entristecidos por todo tipo de provação. Assim acontece para que fique
comprovado que a fé que vocês têm, muito mais valiosa do que o ouro que
perece, mesmo que refinado pelo fogo, é genuína e resultará em louvor, glória
e honra, quando Jesus Cristo for revelado. Mesmo não o tendo visto, vocês o
amam; e apesar de não o verem agora, creem nele e exultam com alegria
indizível e gloriosa, pois vocês estão alcançando o alvo da sua fé, a salvação das
suas almas (1Pe 1:6-9).
Questões Para Estudo
• Use a internet ou vá à biblioteca mais próxima para encontrar os princípios
básicos da “psicologia positiva”. Como a compreensão dos psicólogos que
estudam a psicologia positiva se difere do conceito de alegria apresentado na
Bíblia? Em que é semelhante? Como você pode se prevenir contra a influência
exercida pelos conceitos mundanos e, ainda assim, se beneficiar do que eles
oferecem de útil para um cristão?
• Habacuque 3:17 apresenta um cenário extremo de falta de alimento e de
meios para sobreviver. Qual seria a maneira de sair dessa situação, de acordo com
os versos 18 e 19? Qual deveria ser a sua oração agora ao se preparar para os
tempos de escassez, para que mesmo em tal situação possa regozijar-se no Senhor?
• Lucas 10:21 fala de Jesus se regozijando no Espírito (cheio de alegria e
contentamento). O que isso significa? Como esse regozijo pode ser comparado à
alegria humana?
Aplicação
• Decida ser uma pessoa alegre pelo restante do dia. Respire bem
profundamente e diga ao Senhor que decidiu ser alegre hoje. Peça então a Ele
para lhe ajudar a alcançar esse objetivo.
• Sempre que você se sentir triste, procure observar o tipo de pensamentos,
conversas e lembranças que teve ou de leituras feitas anteriormente. Ore para que,
de alguma forma, encontre uma solução para essas coisas que perturbam seu
estado de espírito ou peça a Deus forças para colocá-las de lado, caso nada possa
ser feito.
• Você consegue se lembrar de uma ou mais pessoas cujas palavras ou atitudes
foram uma bênção em sua vida? Faça uma carta ou e-mail de agradecimento e
envie a essas pessoas. Tome tempo para expressar sua apreciação por elas e veja
quais são seus sentimentos depois.

1
Harold G. Koenig, Spirituality and Health Research (West Conshohocken, PA: Templeton Press, 2011), p.
15, 16.
2
Ibid., p. 17.
3
C. T. O’Reilly, “Religious Practice and Personal Adjustment of Older People”, Sociology and Social
Research 42 (1957), p. 119-121. Participaram do estudo 108 homens e 102 mulheres.
4
Kristopher J. Gauthier et al., “Religiously, Religious Doubt, and the Need for Cognition: Their
Interactive Relationship With Life Satisfaction”, Journal of Happiness Studies 7 (2006), p. 139-154.
Participaram do estudo 123 mulheres e 65 homens de 18 a 78 anos de idade, com idade média de 32 anos.
5
Christopher A. Lewis et al., “Religious Orientation, Religious Coping and Happiness Among UK
Adults”, Personality and Individual Differences 38 (2005), p. 1193-1202. Foram inscritos 138 adultos do Reino
Unido para esse estudo, sendo 55 homens e 83 mulheres.
6
Emyr Williams et al., “Marriage, Religion and Human Flourishing: How Sustainable is the Classic
Durkheim Thesis in Contemporary Europe?” Mental Health, Religion & Culture 13 (2010), p. 93-104. O
grupo de amostragem consistiu de 20.383 pessoas da Grã-Bretanha, Itália, Holanda, Irlanda do Norte,
Espanha e Suécia. Os dados foram coletados em três etapas, com uma entrevista individual com participantes
de 18 anos para cima.
7
David H. Rosmarin et al., “The Role of Religiouness in Anxiety, Depression, and Happiness in a Jewish
Community Sample: A Preliminary Investigation”, Mental Health, Religion & Culture 12 (2009), p. 97-113.
Os autores inscreveram 565 participantes, numa proporção de 42% de homens para 58% de mulheres. A
média de idade foi de 37 anos, variando entre os 17 e 77 anos.
8
Regina M. Benjamin, “Surgeon General Benjamin: Put the Joy Back Into Health”, vídeo publicado no
YouTube, acessado em 24 de junho de 2013. Disponível em:
http://www.surgeongeneral.gov/videos/2012/01/joy-back-back-in-health.html.
9
Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1997), p. 281.
10
Ruut Veenhoven, “Healthy Happiness: Effects of Happiness on Physical Health and the Consequences
for Preventive Health Care”, Journal of Happiness Studies 9 (2008), p. 449-469.
11
Deborah D. Danner et al., “Positive Emotions in Early Life and Longevity: Findings From the Nun
Study”, Journal of Personality and Social Psychology 80 (2001), p. 804-813.
12
Morgan Green and Marta Elliott, “Religion Health and Psychological Well-Being”, Journal of Religion
and Health 49 (2010), p. 149-163. Participaram do estudo 439 homens e 561 mulheres, a maioria de origem
caucasiana, mas com representação afro-americana de 14% e hispânica de 8%.
13
Irmo Marini e Noreen M. Glover-Graf, “Religiosity and Spirituality Among Persons With Spinal Cord
Injury: Attitudes, Beliefs, and Practices”, Rehabilitation Counseling Bulletin 54 (2011), p. 82-92. Foram
pesquisados 156 participantes (94 homens e 62 mulheres).
14
William R. Swinyard et al., “Happiness, Materialism, and Religious Experience in the US and
Singapore”, Journal of Happiness Studies 2 (2001), p. 13-32.
15
Ibid., 28.
16
Daniel B. Hurley e Paul Kwon, “Savoring Helps Most When You Have Little: Interaction Between
Savoring the Moment and Uplifts on Positive Affect and Satisfaction With Life”, Journal of Happiness Studies
(2012); publicado primeiramente on-line. Disponível em: DOI:10.1007/s10902-012-9377-8.
17
Daniel B. Hurley e Paul Kwon, “Results of a Study to Increase Savoring the Moment: Differential
Impact on Positive and Negative Outcomes”, Journal of Happiness Studies 13 (2012), p. 579-588.
18
Sonja Lyubomirsky, A Ciência da Felicidade (Rio de Janeiro: Elsevier, 2008).
19
Ibid., p. 99, 100.
20
Steven M. Toepfer et al., “Letters of Gratitude: Further Evidence for Author Benefits”, Journal of
Happiness Studies 13 (2012), p. 187-201. Participaram do estudo 219 homens e mulheres com idade média
de 26 anos.
21
Chiara Ruini e Francesca Vescovelli, “The Role of Gratitude in Breast Cancer: Its Relationships With
Post-Traumatic Growth, Psychological Well-Being and Distress”, Journal of Happiness Studies (2012);
publicado primeiramente on-line. Disponível em: DOI: 10.1007/s10902-012-930-x.
22
Jim Stovall, The Ultimate Gift (Colorado Springs: Cook Communications Ministries, 2001).
23
White, p. 251.
24
Dan Buettner, “The Secrets of Long Life”, National Geographic 208 (2005), p. 2-27.
CAPÍTULO 8
OS BENEFÍCIOS DOS
RELACIONAMENTOS
INTERPESSOAIS
“Como é bom e agradável quando os irmãos convivem em
união!”
Salmo 133:1

J eremy Reavis, 32 anos, vai à mesma igreja que minha esposa e eu


frequentamos. Há alguns meses, quando estava para sair da cadeia, a mãe dele,
que também frequenta nossa igreja, pediu orações e apoio para que Jeremy
conseguisse superar esse período de transição, após ter passado dez meses usando
metanfetamina. Como resultado, o pastor Mark Etchell e Ron Cate, um membro
daigreja, visitaram Jeremy na prisão e o ajudaram nesse retorno para a vida
normal.
Conversei com Jeremy e fiquei impressionado em ver como ele estava se
saindo. “É Jesus Cristo em minha vida”, disse o jovem. “Sem Ele, eu não
conseguiria sobreviver.” Jeremy também me disse como a igreja o havia ajudado
nesse processo: “Assim que saí da prisão, fui conduzido ao Centro de Apoio
Cristão e, justamente na semana passada, mudei-me para o meu apartamento. As
pessoas da igreja têm sido maravilhosas. Algumas vinham me visitar toda semana,
e até duas vezes por semana, e eram pessoas com quem nunca havia me
encontrado antes. Elas não ficavam julgando a minha vida passada. Foram
atenciosas e me aceitaram, apesar do meu passado. Quando chegou o momento
de sair do Centro de Apoio Cristão, a igreja me ajudou a mudar para o
apartamento, trazendo tudo de que eu necessitava. Os membros demonstraram
que me amavam e estavam sempre por perto, ajudando-me com qualquer coisa
de que precisasse. No meu aniversário, fizeram uma festa para mim. Foi incrível!”
Jeremy me disse que tanto numa conversa individual como em grupos maiores,
a igreja tem dado seu apoio e atenção. Ao falar a respeito desse assunto, Jeremy
estava emocionado. A recepção calorosa, o apoio emocional e espiritual que
recebeu na igreja causaram um grande impacto em sua vida. Quando lhe
perguntaram o que ele ganhou por meio dessa interatividade com as pessoas da
igreja, ele disse: “Obtive coragem pelas conversas pessoais mantidas com o pastor
Mark e com Ron Cate, que agora é meu conselheiro. Ele é especial para mim;
ele se assenta, me ouve e me compreende. Tenho recebido também o apoio da
igreja como um todo. As pessoas procuram me animar bastante. Sinto-me como
se fizesse parte da família, e é assim que deve ser. Antes de entrar no mundo das
drogas, eu era uma pessoa generosa, e essa nova experiência com a igreja agora fez
com que ela se tornasse um lar para mim. Amar e se dedicar a uma vida de serviço
– isso é o que importa.”
Jeremy ainda está lutando para se manter longe de tudo o que se relaciona com
os vícios do passado. O trabalho que realiza atualmente como segurança em uma
das filiais de uma lanchonete o ajuda a se manter ocupado e a desviar a mente das
drogas. Quando lhe perguntei como estava enfrentando a nova vida, ele me disse:
“Preciso ser muito cuidadoso com as novas situações que enfrento, com o estresse
de cada dia e ter em mente que estou me recuperando do vício. Devo me afastar
de tudo o que é errado, não me isolar, mas buscar a companhia de pessoas cristãs.
A oportunidade para o vício está sempre aberta. Porém, o mais importante é
Jesus. É ter Cristo em minha vida. Encontro Jesus por meio da oração e lendo
minha Bíblia diariamente para me manter no caminho certo. Eu o tenho sempre
em mente, e Ele me livra de ficar pensando nas drogas. Cada dia peço a Ele:
‘Senhor, mantenha-me limpo hoje, durante todo o dia; mantenha-me no
caminho certo!’ Jesus é maravilhoso; devo tudo ao Senhor Jesus, e eu o louvo por
1
isso!”
Em grande parte, a felicidade (como também a angústia e o sofrimento) na vida
das pessoas é causada por outros. Foram as pessoas que levaram Jeremy ao mundo
das drogas, e foram outras pessoas que o ajudaram a sair delas. Ele sabe a quais
pessoas deve se unir e que companhias deve evitar. Jesus trabalha por meio de
pessoas, e Satanás também faz o mesmo. Amigos, cônjuges, parentes, pais, irmãos,
filhos, colegas de trabalho, vizinhos, irmãos e irmãs da igreja podem ser uma
grande fonte de alegria em nossa vida; mas também podem ser uma fonte de
conflitos e problemas.
Pesquisas revelam que um sistema de apoio forte e solidário, tanto
individualmente como em grandes grupos, é uma fonte de saúde e bem-estar. Da
mesma forma, relacionamentos insalubres podem causar graves transtornos
emocionais e provocar todo tipo de doença física e mental. Quando os
relacionamentos são motivados por princípios bíblicos e as pessoas envolvidas
seguem os passos dados por Cristo, os benefícios alcançados são os melhores. Este
capítulo analisa a literatura profissional sobre os relacionamentos interpessoais e
seus comprovados benefícios. O objetivo é mostrar também como os cristãos
podem se beneficiar desses relacionamentos, alcançando um sentimento de bem-
estar, melhor saúde física e mental, além de prestar melhor serviço a Deus e a seus
semelhantes.
Como funcionam os relacionamentos?
A disciplina da Psicologia Social traz respostas à questão sobre como funcionam
os relacionamentos. É matéria obrigatória em todas as áreas da Psicologia. Aliás, é
bastante requisitada pelos estudantes e uma matéria que os professores apreciam
ensinar. De fato, somos pessoas em constante relacionamento com outras pessoas
e podemos nos identificar facilmente com os temas relativos a esse assunto. É
gratificante aprender a respeito dos relacionamentos, sentimentos e pensamentos
que resultam do fato de as pessoas viverem juntas umas das outras.
Uma característica que está sempre presente nos grupos são as normas. Quer
sejam duas, três ou mais pessoas, as normas serão criadas – muitas vezes sem ser
escritas, mas, entendidas por todos. As normas refletem os valores que devem ser
compartilhados entre as pessoas envolvidas e as ajudam a dar os passos certos ou a
tomar as providências corretas para realizar as tarefas. Os casais têm suas normas
(por exemplo: quem cozinha, quem lava a roupa, quem dá banho no bebê); as
empresas, os escritórios, qualquer local de trabalho tem suas normas (horário para
chegar e horário para sair, ou a qualidade esperada do produto); as classes na
escola têm suas normas (quem diz para quando ou como a tarefa deve ser feita); os
esportes têm suas normas (quanto tempo durará a partida ou quantos jogadores de
cada time vão participar). Em outras áreas, o mesmo acontece. As normas são
necessárias por várias razões: previnem os conflitos ou mal-entendidos, promovem
o funcionamento harmonioso, ajudam a entender o comportamento dos outros e
a identificar aqueles que não as respeitam. Mas podem ser também uma fonte de
conflito, no caso de alguém quebrar uma regra que é amplamente aceita por
todos. Nesse caso, uma sanção deve ser imposta. Isso gera tensão em todo tipo de
relacionamento.
Outra característica presente nos grupos é o poder. Há sempre membros com
mais poder que outros e, dependendo de como exercitam sua autoridade e da
atitude das pessoas, pode haver dificuldades. O poder pode ter sido legitimamente
conquistado ou arbitrariamente adquirido. Algumas vezes o poder surge
naturalmente, por ser inerente a alguns tipos de personalidade ou porque a pessoa
tem a habilidade de inspirar ou porque demonstra conhecimento e sabedoria. Os
estilos de liderança são diversos, e o bem-estar e nível de sucesso do grupo irão
variar dependendo do líder.
As crenças e as atitudes dos membros do grupo são características adicionais
importantes. As pessoas são diferentes e pensam de modo diferente. Há membros
do grupo que são totalmente envolvidos, têm opiniões bem fundamentadas e
sabem se expressar; por outro lado, há outros cujas opiniões são fracas e preferem
concordar para evitar conflitos. Algumas pessoas estão sempre prontas a avançar;
outras são mais cautelosas quanto aos próximos passos a serem dados; outras ainda
desejam permanecer como estão. Quando os pontos de vista são totalmente
diferentes, aumentam as chances de conflito. Como resultado, alguns vão lutar,
enquanto outros irão se retrair.
A comunicação é um componente vital nos relacionamentos. Os problemas
surgem, muitas vezes, devido às dificuldades de comunicação. Os problemas de
comunicação são grande fonte de irritação e sérios conflitos. Em muitas situações
a mensagem enviada por uma pessoa é decodificada por quem a recebe de modo
diferente daquilo que realmente significa. A fim de evitar todos os efeitos
negativos secundários da falta de comunicação ou comunicação inadequada, as
mensagens – verbais e não verbais – necessitam ser cuidadosamente escolhidas e
enviadas com a intensidade adequada do tom emocional.
Todos esses são itens fascinantes a serem estudados, especialmente quando se
trata de um caso da vida real. Ao mesmo tempo, quando as coisas vão mal em um
grupo, podem se tornar ainda mais complicadas. Há um conceito que muitos
rejeitam porque o consideram não científico – o amor. Essa é uma simples e
profunda solução dada por Jesus para todas as formas de complicações humanas:
“Que vos ameis uns aos outros; assim como Eu vos amei” (Jo 13:34, ARA). Ele
resumiu toda a lei da seguinte forma: “Tudo quanto, pois, quereis que os homens
vos façam, assim fazei-o vós também a eles, porque esta é a Lei e os Profetas” (Mt
7:12, ARA). A essência do dever universal é amar o Senhor de todo o coração e
ao próximo como a nós mesmos (ver Mt 22:37-39). As diferenças nas normas, no
poder, na atitude, na comunicação e em outras áreas podem ser reparadas com o
amor. Qualquer relacionamento baseado no amor irá colher múltiplos benefícios.
Ao mesmo tempo, as relações interpessoais destituídas de amor estão condenadas
ao fracasso e a trazer consequências indesejáveis.
Os relacionamentos e a saúde
Os relacionamentos afetam tanto a saúde mental quanto espiritual. Sempre vou
me lembrar de um evangelista em minha cidade natal, Madri, que veio de longe
para apresentar uma série de reuniões que começaram com um seminário sobre o
controle do estresse. Ele fez uma pesquisa entre as pessoas presentes, apresentando
a seguinte pergunta, que deveria ser respondida por escrito: “Quais são as suas três
principais fontes de estresse?” Antes mesmo de os diáconos lhe trazerem o
resultado da pesquisa, ele já havia projetado na tela o texto: “Fonte Número 1 de
Estresse: os relacionamentos.” Após a reunião, alguém perguntou como ele sabia
do resultado. E o evangelista respondeu: “A resposta é sempre a mesma: cônjuge,
filhos, pais, vizinhos chefes, colegas. Eles são a principal causa de preocupação,
mas também a maior fonte de felicidade – dependendo de quão saudável é o
relacionamento.” Quando os relacionamentos não são saudáveis, normalmente
são seguidos do estresse e das doenças psicossomáticas. Isso explica a correlação
existente entre a qualidade das interações humanas e a saúde, tanto física quanto
mental.
O professor Masoud Bahrami, da Universidade de Ciências Médicas Isfahan, no
Irã, conduziu um estudo qualitativo com a ajuda de dez enfermeiras, em
2
Adelaide, no sul da Austrália. Essas enfermeiras cuidavam de pacientes com
câncer, internos e externos. Algumas das participantes foram entrevistadas mais de
uma vez para investigar o que fazia a diferença na qualidade de vida de seus
pacientes. Os resultados revelaram a presença de inúmeros temas significativos:
físicos, psicológicos, espirituais, ambientais e o tema de especial interesse para nós
neste capítulo: os vários aspectos da interação social.
Os relacionamentos foram considerados vitais. O forte e fiel apoio da família
fazia toda a diferença. Uma enfermeira fez referência às pessoas que estavam
morrendo: “Morrer é uma experiência em que se sente extrema solidão,
principalmente quando a pessoa passa por um longo período de doença e a família
já a enterrou antecipadamente. Concluíram que ela já viveu muito além do
esperado. Algumas vezes, a família já se separou da pessoa. Vi pacientes se
sentindo um fardo para a família porque não morreram no tempo previsto pelos
médicos.”
Entretanto, a experiência é totalmente diferente no caso das famílias que
realmente dão todo o apoio ao doente. As enfermeiras disseram que a qualidade
de vida do paciente melhora consideravelmente quando ele tem uma família que
sempre está ao lado, ajudando e apoiando, que interage com o paciente. Se a
mesma pessoa, numa mesma situação, deixa de ter o apoio da família, a qualidade
de vida piora sensivelmente. A interação com as pessoas, especialmente com
aquelas que as amam, é uma questão vital na qualidade de vida dos pacientes.
Outro estudo, que contou com a participação dos adventistas do sétimo dia,
trouxe melhor compreensão sobre o efeito dos primeiros relacionamentos
familiares sobre a saúde e a qualidade da interação social anos mais tarde. Uma
equipe de pesquisadores da Universidade de Loma Linda, liderada por Kelly
Morton, analisou os dados de um grupo de adultos (6.753, no total), pertencentes
a várias etnias, todos eles membros da Igreja Adventista, numa faixa de 35 a 106
3
anos de idade. Por meio de um extenso levantamento que incluiu avaliações de
saúde mental e física, bem como a qualidade atual e anterior dos relacionamentos,
os participantes forneceram dados para a realização de análises, as mais variadas. Os
resultados mostraram que aqueles que eram provenientes de famílias de risco,
caracterizadas por conflitos, agressões, caos e cujos pais eram negligentes ou
abusivos, estavam menos propensos a se envolver em questões religiosas e de
interação social. Além disso, o ambiente familiar havia motivado interações sociais
invasivas, insensíveis, de rejeição e abandono social na idade adulta. Causou
também o aparecimento de emoções negativas que tinham consequência direta
sobre a saúde física. Por esse estudo, os pesquisadores concluíram que o ambiente
familiar de risco parece ter efeito permanente e afeta a vida religiosa do próprio
adulto, a emotividade, as interações sociais e a saúde, com mais relatos de
sintomas de depressão, neuroses e efeitos negativos.
Neal Krause e Elena Bastida, da Universidade do Michigan e da Universidade
Internacional da Flórida, nos Estados Unidos, centralizaram seus estudos em um
grupo de mexicanos-americanos idosos que forneceram informações sobre como
4
o apoio emocional provido pela igreja influenciou sua saúde. Os participantes
residiam no Texas, Colorado, Novo México, Arizona e na Califórnia. Os dados
foram coletados por meio de entrevistas pessoais feitas nos lares dos participantes,
em espanhol, quando necessário.
Os participantes informaram sobre sua frequência aos cultos, apoio emocional
proporcionado pela igreja, o sentimento de pertencer à sua congregação,
percepção de controle pessoal e autoavaliação da saúde. A análise estatística
mostrou que aqueles que vão à igreja com maior frequência recebem mais apoio
emocional dos membros do que aqueles que vão apenas ocasionalmente. Além
disso, aqueles que receberam mais apoio da igreja desfrutavam um maior
sentimento de pertencer, de que realmente faziam parte de sua congregação.
Aqueles que possuíam um senso mais forte de pertencer tinham também uma
percepção mais forte de controle pessoal. Finalmente, aqueles que possuíam maior
percepção de controle pessoal eram mais propensos a desfrutar melhor saúde.
Como podemos ver, as variáveis em estudo foram todas de natureza social e
religiosa e forneceram uma cadeia de efeitos benéficos, culminando com o nível
de saúde mais elevado.
Outro estudo conduzido na Inglaterra explorou uma área interessante: os
benefícios da interação social nos idosos que cantam. Ann Skingley e Hilary
Bungay, pesquisadoras titulares da Universidade de Kent, no Reino Unido,
reuniram dados de 17 pessoas que participavam de grupos de canto na
5
comunidade. Elas coletaram informações por meio de observações de sessões de
prática e de desempenho, longas entrevistas individuais com os participantes e
discussões focadas no grupo, com voluntários dos grupos de cantores. Os
benefícios obtidos pela participação nos grupos de canto eram expressos no
contentamento, melhor saúde mental e bem-estar, mais interatividade social,
melhoras na saúde física, maior estímulo cognitivo e de aprendizado, como
também memória e lembranças mais acuradas.
Embora essa área da interação social por meio das atividades do canto não tenha
sido amplamente estudada ainda, é uma área promissora. Se pensarmos nas
atividades da igreja, vemos que sempre há, em toda igreja, um grupo que canta
(ou vários), que se reúne para praticar, discutir a atuação, o desempenho, que se
socializa e até mesmo viaja para outros lugares para se apresentar, dedicando, nesse
processo, bastante tempo em interação social de qualidade.
Interações interpessoais
Interações entre duas pessoas podem ocorrer desde uma rápida troca comercial
até uma participação na comunicação pessoal que envolve os mais íntimos
sentimentos partilhados por dois amigos. Os benefícios recebidos por meio das
amizades são extraordinários e, com relação às amizades cristãs, muitos outros
ganhos de inestimável valor são alcançados.
Uma amizade é um relacionamento intencional que proporciona satisfação
entre duas pessoas. Como exemplos de satisfação obtida pelas amizades temos o
companheirismo, segurança emocional, ajuda prática, e a afirmação pessoal e
mútua. Os amigos podem aproveitar o tempo livre juntos, evitando assim a
solidão, a atitude de ficar remoendo os problemas, o mau humor ou os
comportamentos indesejáveis que podem resultar da solidão. Os amigos também
se tornam hábeis na complexa tarefa da comunicação, especialmente se as
mensagens vão além do intercâmbio de fatos, ideias, sentimentos, emoções e
perplexidades, com toda a carga dos componentes não verbais, bem maiores que
o conteúdo verbal. Os amigos podem também discutir os temas das notícias,
política, ideias e opiniões, analisá-las em um ambiente seguro e sem medo da
crítica. Os amigos devem ser extremamente responsáveis, manter estrito sigilo, e
isso requer um comprometimento com o relacionamento. As amizades
proporcionam ainda um ambiente ideal para o apoio emocional, que é impossível
obter em encontros casuais em que não há conhecimento do contexto ou mútua
compreensão. As amizades proporcionam ainda o ambiente apropriado para
partilhar fracassos, erros cometidos ou temores quanto ao futuro, coisas que não
podem ser divididas com outros sem que a pessoa se torne mais vulnerável, e isso
só pode acontecer entre os melhores amigos. As amizades tornam-se, inclusive,
oportunidades para a pessoa aprender mais a respeito de si mesma, dos outros,
sobre perspectivas semelhantes ou diferentes e modo de pensar e agir, como
também os traços de caráter dignos de serem imitados e aqueles que seria melhor
evitá-los.
Estudos realizados ao longo das duas últimas décadas mostraram a conexão entre
a saúde, a felicidade e a qualidade das amizades – quanto mais elevada for a
qualidade da amizade, melhores serão os níveis de saúde e felicidade. O estudo
conduzido por Alan King e Cheryl Terrane revela grandes benefícios para a saúde
6
mental, provenientes das amizades. Esses pesquisadores da Universidade de
Dakota do Norte reuniram características relacionadas à saúde mental de 398
alunos, com o objetivo de tentar descobrir o grau de suas amizades mais
significativas por meio de um questionário com perguntas como estas:
“Sinto-me à vontade para revelar informações particulares ou pessoais a meu
melhor amigo?”
“Meu melhor amigo está disposto a gastar seu tempo e energia para que eu seja
bem-sucedido em minhas tarefas e projetos pessoais, mesmo que não esteja
diretamente envolvido?”
“Como considero bastante exclusivo o relacionamento que tenho com meu
melhor amigo, acharia errado ter o mesmo tipo de relacionamento com qualquer
outra pessoa?”
Os participantes também passaram por um teste clínico bastante conceituado, o
Inventário Multifásico de Personalidade de Minnesota (MMPI). Os resultados
mostraram uma estreita relação entre as amizades e as várias escalas de avaliação
apresentadas no MMPI.
Por exemplo, aqueles que tinham amizades conturbadas eram mais propensos a
apresentar características patológicas de personalidade: fobia social, isolamento,
excentricidades comportamentais, pensamento ilógico, baixa autoafirmação,
tendência a se queixar, sentimento de insegurança e tendência a exagerar os
problemas de relacionamento. Por outro lado, aqueles que mantinham
relacionamentos vibrantes e saudáveis revelaram ter uma personalidade equilibrada
e agradável. Conexões como essas indicam que bons relacionamentos contribuem
para o desenvolvimento de características de personalidade saudáveis e de fácil
adaptação – a função terapêutica de um bom relacionamento. Isso significa
também que características favoráveis ajudam a construir uma amizade mais forte
e de maior apoio mútuo.
Há vários estudos feitos com casais que mostram o amplo apoio social
proporcionado pelo casamento. Escolhi o estudo a seguir porque pertence a um
crescente setor da população: a terceira idade. Os participantes revelam a bênção
de terem vivido juntos por um tempo tão longo. É um projeto de pesquisa
realizado por Robert Waldinger e Marc Shulz, do Hospital Brigham and
Women’s e da Escola de Medicina de Harvard, em Boston, Massachusetts, nos
7
Estados Unidos. Eles centralizaram seu estudo em 47 casais adultos idosos e os
acompanharam por um período de oito dias para analisar a satisfação conjugal e o
tempo que passavam socialmente com outros. Eles também passaram por
avaliações quanto à satisfação conjugal e em relação à felicidade. Além disso, os
pesquisadores realizaram uma entrevista por telefone à noite, diariamente, durante
oito dias consecutivos para coletar dados relacionados à interação social durante as
últimas horas em que ficaram acordados. A maior porção do tempo social foi
passada com o cônjuge, seguida do tempo com os amigos, filhos e netos. A análise
dos dados revelou que, quanto mais tempo passavam com outras pessoas, maior
era o grau de felicidade que possuíam. Quando era menor o grau de felicidade,
menor era também a saúde percebida. Entretanto, a satisfação conjugal diminuía o
impacto da redução dos níveis de felicidade. Conclui-se, portanto, que a satisfação
conjugal funciona de maneira geral como uma forma de apoio contra as
flutuações de saúde percebidas na vida diária e constitui um importante fator para
a promoção da felicidade.
Por meio da combinação individualizada de voluntários da comunidade para as
atividades sociais semanais, Brian McCorkle e seus colegas pesquisaram os
benefícios e as dificuldades para o desenvolvimento de novos relacionamentos em
8
pessoas com doenças mentais graves. Esse foi um estudo qualitativo que
consistiu de 20 entrevistas pessoais com 11 voluntários e nove clientes, durante
uma hora para cada um, para indagar sobre suas amizades pessoais. Algo que
interessou particularmente foram as declarações feitas por clientes que
descreveram a experiência como “uma amizade genuína”, “como a que existe
entre irmãs”, e outros termos similares. Uma delas disse: “Eu mesma gostaria que
ela estivesse lá, quando precisei de alguém para me apoiar e com quem pudesse
conversar.” Vários clientes continuavam afirmando o quanto ajudaria se seu
amigo voluntário soubesse de sua doença mental para que eles pudessem ficar
mais calmos sobre como ele ou ela iria reagir quando descobrisse. Os
relacionamentos melhoraram com o tempo até que conseguiram se ajustar e ficar
mais à vontade uns com os outros. Aos poucos, começaram a revelar assuntos
mais íntimos relacionados à vida pessoal. Eles passaram de um relacionamento de
ajudador-ajudado para um relacionamento verdadeiro. O resultado foi que esses
pacientes, por meio de uma interação natural com seus amigos, obtiveram maior
visão, sentiam-se aceitos, melhoraram sua comunicação interpessoal e aprenderam
a fazer novas coisas. Esses pacientes se tornaram mais ativos socialmente, mais
assertivos e mais dispostos a expressar suas opiniões. Eles também demonstraram
mais atenção para com os outros e mais flexibilidade em se adaptar às outras
pessoas.
No entanto, não foram somente os clientes que alcançaram os benefícios. Os
voluntários também demonstraram satisfação pela função que desempenharam e se
tornaram mais sensíveis à força e ao equilíbrio que deve haver no relacionamento.
Além disso, disseram que, após essa experiência, tinham melhores condições de
defender seus clientes, sentiam-se envolvidos por profunda amizade e livres para
falar aberta e honestamente, o que não acontecia nos demais círculos sociais a que
pertenciam. Os resultados mostraram que as amizades cultivadas intencionalmente
podem ser um método poderoso e eficiente para ajudar pessoas mentalmente
doentes, ajudando-as a desenvolver habilidades sociais, expandir seu círculo social
e melhorar a qualidade de vida. Experiências como essas nos lembram do poder
da amizade e nos trazem muito mais esperança ao vermos que as soluções foram
obtidas por meio da simples interação entre pessoas com graves transtornos
mentais e voluntários dedicados que receberam de três a cinco horas de
treinamento.
Foram feitos muitos estudos sobre pessoas com esquizofrenia para observar as
várias características, comportamentos e aptidão, mas raramente envolveram a
amizade. Ellen Harley, da equipe de Saúde Mental do Sistema de Saúde Nacional
do Reino Unido, planejou com seus colegas um estudo para investigar os tipos de
amizades mantidas por 137 adultos, moradores do sul da Inglaterra, com histórico
9
de esquizofrenia já estabelecida.
Conforme é de se esperar em uma amostra de pessoas com esquizofrenia, os
círculos de amizades são bem pequenos, mas relativamente de alta qualidade e
grandemente valorizados. As mulheres demonstraram maior comprometimento
emocional que os homens. O grupo foi dividido em três partes iguais, em termos
de comprometimento: (1) sem nenhum comprometimento emocional nas
amizades, (2) com algum comprometimento emocional e (3) elevado
comprometimento emocional. Nenhum participante do grupo 1 tinha amigos,
58% do grupo 2 tinham amigos, e 100% do grupo 3 tinham amigos. A maioria
dos participantes que não tinha amigos não se preocupava com isso. Aqueles que
evitavam as amizades diziam que era muito difícil fazer e manter amigos, que
tinham medo de se decepcionar ou de haver muitas discussões.
Algumas respostas foram determinantes e típicas de pessoas com sintomas
psicóticos: “Tenho três amigos: o distribuidor de drogas, porque ele me repassa a
anfetamina; o que cuida do meu processo, que vem me ver toda semana; e o
dono da mercearia, que algumas vezes me vende cigarro e me deixa pagar depois.
Ouço alguns espíritos que vêm falar comigo. Eles me visitam à noite e nós
conversamos. São bons amigos, e são três que sempre aparecem.” A descoberta
mais importante nesse estudo foi que aqueles pacientes que relataram manter boas
amizades (um pouco mais da metade da amostra) fizeram referência a interações
predominantemente positivas e a um relacionamento caloroso, agradável,
descontraído, gratificante e enriquecedor. A experiência da amizade
proporcionava um grande apoio para enfrentar a doença.
Um estudo realizado na Universidade do Norte do Arizona, nos Estados
Unidos, liderado por Meliksah Demir, analisou o sentimento pessoal de
10
exclusividade que mantém vivas as amizades. Os pesquisadores limitaram o
escopo do estudo à qualidade da amizade entre pessoas do mesmo sexo, em três
amostras, cada uma delas empregando um nível diferente para a felicidade. O
processo de usar três diferentes métodos para avaliar a felicidade serviu como um
procedimento de triangulação que assegurou a confiabilidade dos resultados. O
sentimento de exclusividade que cada um experimentou nas duplas formadas
tornou a amizade sólida, gratificante e duradoura.
Qual foi o significado da exclusividade nesse contexto? A exclusividade foi
compreendida como a busca de ajuda e conselho por parte de cada um, o apoio
aos objetivos um do outro, a oportunidade de passar tempo juntos em diferentes
atividades, partilhar segredos e comemorar as realizações. A outra principal
descoberta foi que a amizade pessoal é um mediador da felicidade. Isso foi
constatado em cada um dos três grupos, tanto para homens como para mulheres.
Julianne Holt-Lunstad, da Universidade Brigham Young, fez um outro estudo
com amigos do mesmo gênero para verificar se a hostilidade influenciava a
reatividade cardiovascular no momento em que os participantes estivessem
11
conversando sobre suas experiências com os amigos. Eles inscreveram jovens
estudantes saudáveis, tanto homens como mulheres, e seus amigos do mesmo
sexo, com seis anos e meio de amizade, em média. A amostra foi dividida
aleatoriamente em dois tipos de tarefas: para um foi designado realizarem uma
conversa positiva um com o outro sobre a sua experiência pessoal passada; para o
outro foi designada uma discussão pessoal negativa (estressante), também sobre as
experiências pessoais passadas. Em cada dupla, a um era atribuído o papel de
provedor de apoio e ao outro o de recebedor de apoio.
As medições cardiovasculares foram todas registradas durante as conversas. Os
resultados demonstraram que a maior reatividade da pressão arterial diastólica e da
pressão arterial sistólica foi registrada nos jovens que estavam conversando a
respeito de experiências passadas que trouxeram grande estresse. Os resultados
sugerem que a hostilidade pode impor barreiras aos benefícios naturais das
interações interpessoais. Além do mais, essa associação entre a hostilidade e a
reatividade estava presente tanto nos recebedores de apoio como nos provedores
de apoio, sugerindo que a hostilidade poderia minar os benefícios à saúde nos dois
aspectos de trocas de apoio. Isso nos reafirma o fato de que as interações sociais
podem ser altamente satisfatórias, como também extremamente frustrantes.
A amizade cristã tem algo a acrescentar. A Bíblia apresenta padrões muito
elevados para a amizade (ver Jo 15:13) e descreve amizades exemplares, como a de
Rute e Noemi; Davi e Jônatas; o Rei Hirão e Davi; Jó e seus amigos; Elias e
Eliseu; Daniel e seus companheiros; Jesus, Maria, Marta e Lázaro; Paulo e
Timóteo. Essas amizades retratam tipos de comportamento e atitudes afetuosos,
bem como excelentes traços de caráter que têm sido uma inspiração para muitos
ao longo da história. A amizade com um amigo cristão traz inúmeros benefícios:
• As contribuições feitas por um amigo cristão incluem princípios correspondentes. Por
exemplo, ao expressar opiniões a respeito de sérias dificuldades em seu
relacionamento conjugal, o amigo cristão irá estimular o casal a tentar resolver
seus problemas ou buscar aconselhamento, em vez de optar pelo divórcio.
• Um amigo cristão está disposto a se sacrificar para ajudar você. Esse foi o caso de
Jônatas, que arriscou o próprio relacionamento com seu pai para ajudar Davi
(1Sm 20).
• Um amigo cristão perdoa. Conforme Jesus ordenou (Mc 11:25), um amigo
verdadeiro perdoa e o faz generosamente, mas não de maneira condescendente.
Ele irá procurar seguir o conselho de Paulo: “Considerem os outros superiores a
si mesmos” (Fp 2:3).
• O discernimento espiritual do amigo cristão enriquece a amizade. A observância dos
mandamentos da lei de Deus, a oração que fazem juntos e regularmente, bem
como a presença de Jesus na vida de cada um são exemplos do discernimento
espiritual que são loucura para os descrentes (2Co 2:14), mas são fontes de grandes
bênçãos para os amigos cristãos.
• Os amigos cristãos apelam para a autoridade das Escrituras. Em caso de haver algum
conflito, os amigos cristãos são sensíveis ao que a Bíblia tem a dizer com respeito
às questões fundamentais e vão aceitar humildemente a responsabilidade por
qualquer erro cometido, voltando a agir de acordo com o que diz a Palavra de
Deus.
• Os amigos cristãos animam uns aos outros no Senhor. É possível entender como
lidar com a perda ou as dificuldades dentro do contexto da batalha entre o bem e
o mal, e tendo a esperança da salvação e da volta de Jesus, obtida somente pela fé
apresentada na Bíblia.
• Um amigo cristão nada espera em troca. Os relacionamentos cristãos são baseados
no altruísmo. As trocas acontecem naturalmente, entretanto, não há nenhuma
expectativa futura por favores concedidos.
• Um amigo cristão abre o seu coração, quando necessário. Há momentos em que uma
profunda carga emocional, como uma escolha errada, um pecado ou ofensa são
partilhados com um amigo e companheiro crente para buscar conforto. Isso não
substitui a confissão a Deus, e as sequelas podem permanecer mesmo após receber
o perdão divino, por isso a necessidade de conversar com alguém.
As bênçãos da interação social
Há alguns anos, o livro Tudo que eu devia saber aprendi no jardim de infância
12
tornou-se bastante popular pela simples e profunda sabedoria que contém.
Grande parte dos conselhos apresentados nessa obra está associada à correta
interação com outros: compartilhe tudo, jogue de acordo com as regras, não bata
nos outros, arrume o que desarrumou, não pegue as coisas que não são suas, peça
desculpas quando machucar alguém, deem-se as mãos e fiquem juntos. São regras
simples o bastante para os pequenos aprenderem e, ao mesmo tempo, são capazes
de contribuir para promover harmonia e gerar outros benefícios relacionados à
saúde e bem-estar.
Parece claro que, quando as interações sociais são satisfatórias, as coisas correm
melhor. Pela literatura profissional pode-se constatar que aqueles que são bem
relacionados têm menos resfriados, pressão arterial mais baixa e menor frequência
cardíaca. Além disso, as pessoas casadas vivem mais, e os índices de uso de drogas
e doenças mentais são bem mais baixos entre pessoas que carregam consigo o
sentimento de pertencer. Adultos idosos estão em maior risco quando perdem o
cônjuge e amigos íntimos. Por essa razão, os profissionais da saúde mental
recomendam que procurem participar de grupos da mesma idade ou com os
mesmos interesses e se associar a eles, fazer novos amigos, seguir um grupo de
atividades, viajar ou ir a novos lugares, participar das atividades da igreja ou servir
como voluntários em prol de uma boa causa.
Problemas de relacionamento afetam tanto jovens como idosos e podem
ocasionar futuras complicações. Vimos isso em um estudo que acompanhou
adolescentes até à idade adulta. Uma equipe de pesquisadores, liderada por Emma
Adam, professora de Educação e Política Social da Universidade Northwestern,
em Evanston, Illinois, nos Estados Unidos, conduziu um estudo longitudinal para
13
coletar dados em três etapas. A primeira, quando os participantes tinham entre
11 e 20 anos de idade; depois, um ano mais tarde; e finalmente quando estivessem
entre 18 e 27 anos de idade. O objetivo foi determinar se as deficiências de
interação social nos primeiros anos de vida estavam associadas às más condições de
saúde durante a juventude. A doutora Emma descobriu que os maiores
indicadores de problemas com a saúde mental e física eram exatamente de
natureza social. Pessoas que relataram receber pouco apoio dos pais, solidão,
instabilidade nas relações amorosas, e os que sofriam violência por parte do
parceiro apresentaram os mais baixos níveis de saúde física e mental por ocasião da
terceira etapa da avaliação.
Um outro estudo relacionado à família, realizado pela Universidade do Arizona
e liderado por Chris Segrin, teve como objetivo determinar se a solidão nas
famílias compostas apenas de adultos estava associada às más condições de
14
saúde. Todos os participantes pertenciam a três categorias de idade: jovens
adultos, seus pais e seus avós. Receberam uma escala de solidão, uma avaliação do
estado de saúde por eles relatado e uma pesquisa dos sintomas físicos relatados. Os
resultados indicaram que os altos graus de solidão estavam associados à grande
quantidade de queixas físicas e baixos níveis de saúde. Isso foi verificado no caso
dos pais e avós, embora não tanto em adultos jovens com 21 anos de idade, em
média.
Um projeto de pesquisa diferente foi aplicado para comparar pessoas que
moravam com a família e pessoas que moravam sozinhas. Esse estudo foi
conduzido na China, tendo Li-Juan Liu e Qiang Guo, da Segunda Universidade
15
Médica Militar de Shangai como pesquisadores. Os resultados mostraram que
as pessoas que moravam sozinhas experimentavam não somente altos graus de
solidão, mas também apresentavam baixos níveis de saúde, tanto física como
mental. Isso foi algo tão marcante que cada pontuação na escala de solidão estava
relacionada negativamente com cada uma das seções da pesquisa sobre a saúde.
Em outras palavras, a tendência de encontrar saúde precária em pessoas que
viviam sozinhas não se limitava a alguns aspectos apenas, mas a todos os aspectos.
Ou seja, se pessoas que vivem sozinhas e apresentaram alto grau de solidão
conseguissem reduzir seus níveis de solidão, o resultado seria uma melhora na
saúde e na qualidade de vida.
Também na China, foi realizado um estudo para verificar como os motoristas
de táxi, na cidade de Pequim, lidavam com o alto estresse que enfrentam em seu
trabalho. Ingrid Nielsen, da Universidade Monash, em Melbourne, na Austrália, e
16
sua equipe conduziram esse estudo. Coletaram dados fornecidos por motoristas
de táxi na estação da estrada de ferro, fora de Pequim, ponto onde se reuniam
centenas de táxis. Os assistentes da pesquisa fizeram contato com os motoristas, e
512 deles concordaram em participar de uma entrevista que foi realizada ali
mesmo, naquela ocasião. Os resultados mostraram que, para esses motoristas, o
apoio obtido por meio dos relacionamentos pessoais, como também o fato de
estarem em contato constante com a comunidade, serviam como moderadores
dos altos níveis de estresse que enfrentavam constantemente em sua profissão.
O apoio da comunidade religiosa
Em 1765, o pastor batista inglês John Fawcett (1739-1817) foi enviado a uma
pequena congregação em Hebden Bridge, na Inglaterra. Durante sete anos, ele e a
esposa participaram intensamente do ministério nessa igreja, que era como uma
família. Naqueles dias, as igrejas é que deveriam pagar os seus pastores, de acordo
com os recursos que possuíam, e aqueles membros tinham muito pouco. Em vista
disso, quando Fawcett recebeu o chamado de uma igreja bem maior em Londres,
aceitou o convite após ter pastoreado a Igreja Batista de Wainsgate por todos
aqueles anos. Assim que acabaram de colocar as poucas coisas que possuíam em
uma carroça, muitos vieram se despedir. Pediram-lhe uma vez mais para
reconsiderar o chamado. Tocados pela grande demonstração de amor, ele e a
esposa começaram a chorar. Finalmente, a senhora Fawcett exclamou: “Oh, John,
eu não posso mais suportar isso. Eles precisam tanto de nós aqui!”
“Deus falou ao meu coração também”, disse ele. “Peça para descarregarem a
carroça! Nós não podemos romper esses maravilhosos laços de fraternidade que
temos com eles.”
Essa experiência inspirou Fawcett a escrever o belo hino “Blest Be the Tie That
17
Binds” [“Benditos Laços”, HA 603].
Já vimos, no capítulo 6, com alguns detalhes, os benefícios de ir à igreja
regularmente. Há estudos complementares que enfatizam as vantagens da
interação social positiva relacionada ao compromisso religioso. Pamela King e
James Furrow, do Seminário Teológico Fuller, em Pasadena, na Califórnia,
pesquisaram como a interação social, a confiança e a maneira em que a visão
religiosa é partilhada nas comunidades possibilitam a religiosidade e o
18
comportamento moral entre os alunos de escolas públicas de ensino médio.
Eles foram questionados a respeito da participação religiosa, da importância da
religião na vida pessoal e das relações sociais com a família e os amigos. Os
pesquisadores também coletaram dados sobre a empatia e o altruísmo. Os
pesquisadores descobriram que os adolescentes que tinham vivenciado uma
interação de confiança com pessoas importantes em sua vida, como os pais,
amigos e adultos que passaram a eles sua visão de vida, levavam a religião mais a
sério e tinham maior participação nas questões morais. Além disso, o contexto do
apoio e da confiança apresentados por essas associações pessoais também tinham a
tendência de aumentar as ações altruístas e os sentimentos de empatia pelos
outros.
Richard Rymarz, da Universidade de Alberta, em Edmonton, no Canadá, com
base em uma análise histórica e sociológica, concluiu que o fator mais relevante
para promover o compromisso religioso é o círculo social e o sentimento de
comunidade oferecido pelos ambientes denominacionais, como é o caso das
19
escolas. Estas são algumas das razões apresentadas:
• Quando todos acreditam, exceto um ateu que vive nas redondezas, duvidar se
torna praticamente impossível; quando poucos acreditam, o ato de duvidar passa a
ser espontâneo e a crença se torna mais difícil. O apoio social e religioso por parte
da comunidade constitui um pilar da fé, influenciando especialmente as crianças e
adolescentes.
• Uma comunidade religiosa sólida oferece o mais atrativo contexto para que as
pessoas se unam a ela, mais do que uma literatura sobre as doutrinas, porque o
grupo oferece as mais práticas e plausíveis aplicações das crenças religiosas, tendo
em vista que as publicações apresentam a verdade, mas não uma representação real
da verdade na vida das pessoas.
• O grupo oferece um ambiente em que as pessoas podem fazer as perguntas
difíceis sobre as quais têm dúvidas e participar de debates seguros sobre questões
religiosas e de fé.
• A comunidade religiosa tem conselheiros disponíveis, que podem explicar e
exemplificar as crenças e práticas da igreja.
• De acordo com o contexto de outros crentes, as pessoas podem desenvolver
uma identidade, um sentimento de pertencer a uma fé comum, que se revela em
seu estilo de vida. Onde quer que for, a pessoa leva consigo essa identidade que
representa uma âncora segura na preservação da fé. Operários irlandeses que
trabalhavam em Londres durante a Revolução Industrial costumavam jejuar às
sextas-feiras para manter na lembrança a sua tradição religiosa. Os adventistas do
sétimo dia observam o sábado e praticam o regime alimentar de acordo com as
orientações bíblicas onde quer que vão, sendo, dessa forma, lembrados cada dia e
a cada semana de sua identidade religiosa.
• A igreja pode crescer e se desenvolver de maneira mais adequada quando é
dividida em congregações, grupos ou outras formas em que os vários grupos
podem se adaptar e ocupar seu espaço.
As mídias sociais
Ao longo dos últimos anos, milhões de pessoas de todas as idades em todo o
mundo têm utilizado as várias formas de mídias sociais ou plataformas de
intercâmbio de vídeos. Os números têm aumentado ainda mais com os aparelhos
móveis que abriram novas oportunidades para as pessoas se manterem socialmente
ativas em qualquer momento e em qualquer lugar. Essas são ferramentas
poderosas, inimagináveis há apenas uma geração. Como acontece com qualquer
nova tecnologia, os cristãos têm o desejo de se manter fiéis ao estilo de vida, de
acordo com os princípios ensinados por Jesus. Assim, eles sempre devem
perguntar a si mesmos: “É apropriado para um cristão participar dessas
atividades?” As respostas variam desde aqueles que condenam as mídias sociais por
causa dos perigos ocultos que há por trás de uma aparente troca inocente de
informações até aqueles que afirmam serem esses meios grandes avenidas para
interagir com pessoas que não poderiam ser alcançadas de outra forma e podem
ajudar a partilhar a fé, usando um método novo e atual.
Há diversas vantagens nas mídias sociais. As informações podem ser partilhadas
de maneira muito rápida a grupos homogêneos que podem apresentar
informações com recursos gráficos em tempo real. Pelo fato de não haver barreiras
de distância, os crentes podem estar, digamos, orando pela mesma situação de
emergência de lugares distantes e continuar mantendo a comunicação com outros.
A mídia social é também uma maneira excelente de se manter em contato com a
família e com os amigos quando estão separados pela distância ou por horários
incompatíveis. Fotos, notícias, músicas e vídeos podem ser postados, eliminando
assim a distância que os separa. Pode servir como uma ferramenta útil para fazer
perguntas abertas, colocar soluções práticas e oportunidade de trabalho a pessoas
confiáveis. Em poucas horas, pode-se obter um grande número de ideias e
respostas. Isso é algo incrível, em comparação com o quanto todas essas formas e
troca de informações teriam custado há 30 anos.
Entretanto, essa poderosa ferramenta traz seus riscos. Um deles é a segurança.
Os sistemas são muito vulneráveis, e a facilidade de postar em pouco tempo
muitos detalhes logo disponibiliza uma grande quantidade de informações que se
tornam acessíveis a qualquer pessoa. Mesmo quando o acesso é restrito, há o risco
de pessoas mal-intencionadas obterem acesso à informação em benefício próprio,
em detrimento do usuário. Como resultado, podem ocorrer fraudes, roubos de
identidade, furtos, saques, extorsões, assaltos e estupros. Certamente, isso pode
acontecer também em muitas outras atividades on-line. Outro risco é passar muito
tempo on-line em detrimento dos encontros pessoais. Isso se torna um risco
principalmente para as crianças e adolescentes que podem crescer não aprendendo
a arte de se reunir para conversar uns com os outros. Outro problema que tem
levado muitas pessoas à sala de aconselhamento é o vício em mídias sociais, que as
torna compulsivas, sendo impelidas a postar e ler a todo momento o que os outros
postaram, e parecem incapazes de parar. Mesmo quando o uso dessas formas de
mídia não chega às proporções do vício, pode absorver grande quantidade de
tempo da pessoa todos os dias.
As mídias sociais deveriam ser usadas sempre com muita precaução, seguindo
algumas simples recomendações que podem reduzir significativamente os riscos. É
mais seguro manter um menor número de amigos que um grande número que
tenha acesso às informações postadas. É necessário que se tenha encontros pessoais
e regulares, especialmente com os mais próximos de nós. Além disso, precisamos
lembrar que o que dizemos se torna público. Finalmente, devemos ter em mente
a forma de comunicação por esse meio: o que dizemos pode nem sempre ser
entendido da maneira que pretendíamos, assim, é necessário avaliar
criteriosamente o que pretendemos transmitir antes de postar a mensagem, e ainda
estar preparados para mal-entendidos.
Os usuários cristãos devem ir um passo além. Afinal, o código de conduta
cristão e seus princípios devem estar em um patamar bem acima dos outros. Por
exemplo: alguns adolescentes que pertencem a famílias muito ricas postaram
recentemente fotos de um jantar com a mesa perfeitamente arrumada, com
maravilhosos alimentos exóticos, que formavam belos arranjos, e uma paisagem
impressionante que se podia ver através de uma enorme janela. Era óbvio que eles
estavam exibindo o que possuíam para outros garotos e garotas do mundo inteiro
que jamais poderiam receber um tratamento como esse todos os dias. Não há
nenhuma regra de etiqueta que proíba essa exibição de vaidade, mas essa forma de
ostentação está muito distante dos padrões cristãos de humildade. Outro exemplo
é a linguagem utilizada, piadas, o tom das conversas ou mensagens sarcásticas, que
parecem inteligentes e descoladas, mas, na verdade, causam dor e constrangimento
a outras pessoas. Por outro lado, mensagens bem escolhidas, apoiadoras, positivas,
de ânimo e esperança podem trazer alívio àqueles que enfrentam dificuldades e
glorificam a Deus.
Lembremo-nos das palavras do apóstolo Paulo ao dizer: “Quer comais, quer
bebais, ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (1Co
10:31, ARA). Isso também se aplica às mídias sociais. Finalmente, somos
convidados a não deixarmos de nos reunir (Hb 10:25), que nos leva ao uso
moderado da mídia social, sem nos esquecermos dos encontros pessoais.
Relacionamentos interpessoais nas epístolas
Há uma surpreendente semelhança entre a igreja primitiva apresentada nas
epístolas e a igreja cristã contemporânea em termos de relacionamento. Isso não é
de admirar porque a natureza humana mais básica e suas tendências permanecem
semelhantes ao longo do tempo. As recomendações feitas são, portanto, muito
atuais e, ao serem colocadas em prática, a maioria dos problemas interpessoais
existentes seria eliminada, ficando apenas os benefícios para serem desfrutados.
O marido é aconselhado a amar a esposa assim como Cristo amou a igreja (Ef 5:25).
Esse é, verdadeiramente, um profundo mistério (v. 32), um conselho contra a
cultura dominante. Se fosse praticado, poria fim ao abuso emocional, verbal e
físico sofrido por tantas esposas.
Os cristãos jamais devem se vingar, e sim deixar a vingança com Deus para que Ele a
retribua (Rm 12:19). O desgaste mental, assim como o tempo e energia gastos em
pagar o mal com o mal, seriam canalizados para outras ações e realizações
produtivas.
Os membros são orientados a ajudar, apoiar e animar outros que fazem parte da
comunidade da igreja (1Ts 5:11). Muitas tristezas, desânimo e dificuldades que
ocorrem entre os membros da igreja hoje seriam aliviados se aqueles que não
passam por tais problemas oferecessem ajuda aos que sofrem.
Os membros da igreja são exortados a demonstrarem alta consideração e respeito para com
os líderes (1Ts 5:12, 13). A crítica aos líderes da igreja tem se tornado um grande
obstáculo ao cumprimento da missão. Embora, por vezes, os líderes estejam em
falta, as soluções podem ser alcançadas muito mais rapidamente quando há o
respeito e amor que o apóstolo recomenda.
Os cristãos são admoestados a ouvir mais, falar menos e a serem “tardios para irar-se”
(Tg 1:19). Essa é a solução para muitos dos mal-entendidos e divergências que
encontramos por toda parte, e colocar em prática esse conselho traz grande
harmonia à comunidade da igreja.
Os crentes são aconselhados a permanecerem unidos no pensamento, no amor, no espírito
e na mente (Fp 2:2; 1Pe 3:8). A prática desse conselho faz com que as pessoas
deixem de se envolver no emaranhado de detalhes que as separam, fortalecendo
assim o corpo de Cristo em sua tarefa de levar a mensagem do evangelho àqueles
que anseiam por ele e tanto necessitam recebê-lo.
As pessoas devem manter o hábito de se reunir como igreja e sempre encorajar uns aos
outros (Hb 10:25). Participar mais dos cultos na igreja, orar mais em grupos e
reunir-se em outras ocasiões com os irmãos e irmãs compensaria sobremaneira a
letargia espiritual que se espalha por várias comunidades cristãs.
As pessoas são incentivadas a ser hospitaleiras (1Pe 4:9). A prática da hospitalidade
não somente para com os amigos familiares e vizinhos (Lc 14:12), mas também
com os necessitados, de boa vontade e demonstrando o verdadeiro amor cristão,
proporcionaria melhor saúde e bem-estar tanto ao anfitrião como ao convidado.
Os membros da igreja são aconselhados a ser bondosos, compassivos e a perdoarem uns
aos outros, assim como Deus, em Cristo, nos perdoou (Ef 4:32). Embora um ser
humano jamais possa perdoar da maneira que Deus perdoa, o perdão, mesmo
imperfeito, aperfeiçoado pela graça de Deus pode curar as mais profundas feridas
que mantêm as pessoas separadas, impedindo-as de prosseguir em sua caminhada
cristã.
Conclusão
A regra dos dois bois pode ilustrar, de alguma forma, o poder que há em unir as
forças. O trabalho em equipe soma os esforços de todos e ainda acrescenta um
bônus. Se um boi consegue puxar 450 quilos e o outro boi consegue puxar mais
450 quilos, quantos quilos os dois bois, numa parelha, puxariam juntos? A
resposta é que, como equipe, esses mesmos bois vão puxar quase duas toneladas!
A Física, a Fisiologia e a Psicologia juntas podem não ser capazes de explicar esse
fenômeno, mas ele é real.
No âmbito do comportamento humano, vimos os benefícios obtidos quando as
pessoas permanecem juntas e trabalham juntas. Provérbios 27:17 nos diz: “Assim
como o ferro afia o ferro, o homem afia o seu companheiro.” Gosto desse texto
porque não coloca uma pessoa como sendo superior a outra: ao serem afiadas,
ambas as peças de ferro perdem partículas, mas ganham na precisão do corte.
Quando ajudo ou animo uma pessoa, meu papel não é maior ou menor. Quando
alguém está me confortando ou me dando o seu apoio, essa pessoa não está acima
ou abaixo de mim. Somos todos ferro afiando ferro.
Independentemente do papel que você exerça hoje em relação a outras pessoas,
você é alguém necessário para que haja aperfeiçoamento mútuo, e a melhor
qualidade de relacionamento nos é assegurada quando seguimos a Jesus: “Se,
porém, andamos na luz, como Ele está na luz, temos comunhão uns com os
outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1Jo 1:7).
Questões Para Estudo
• Leia 1 Samuel 25. Que habilidades pessoais você pode aprender com Abigail?
Qual é o estilo de comunicação por ela apresentado, tanto verbal quanto não
verbal? Por contraste, quais são as habilidades interpessoais de Nabal? Quais são as
consequências de cada uma dessas formas de comportamento?
• Romanos 12 está repleto de bons conselhos para um cristão que deseja manter
relacionamentos saudáveis com outras pessoas. Por exemplo, o verso 10 me diz
que devo “dar honra aos outros” mais do que a mim mesmo. Faça uma lista dos
conselhos sobre relacionamento que você consegue encontrar nesse capítulo.
• O livro de Provérbios contém dezenas de sugestões para o relacionamento
com as pessoas de acordo com o espírito cristão. Leia todo o livro (levará por
volta de uma hora e meia) e faça uma lista dos conselhos que você considera mais
úteis para melhorar seus relacionamentos. Comece com Provérbios 1:8: “Ouça,
meu filho, a instrução de seu pai e não despreze o ensino de sua mãe.”
Aplicação
• O apóstolo Paulo afirmou: “Não se deixem enganar: ‘As más companhias
corrompem os bons costumes’” (1Co 15:33). Entretanto, em nossos caminhos,
cruzamos com todo tipo de pessoas. O que você pode fazer quando se encontrar
com alguém que é considerado “má companhia”? Pense em como Jesus agiu com
os excluídos da sociedade nos dias em que aqui viveu. Pense também que Jesus
chamou os pacificadores de “bem-aventurados” e “filhos de Deus” (Mt 5:9).
• Não sabemos qual era a natureza dos problemas que havia entre Evódia e
Síntique, mencionados em Filipenses 4:2, 3. Mas é triste pensar que essas pessoas,
que eram pilares da igreja primitiva, estavam afastadas uma da outra. Você
conhece pessoas na igreja que vivem esse tipo de situação? O que você pode fazer
para ajudá-las a se entenderem?
• Pense em sua vida. O que você pode fazer para melhorar os relacionamentos
pessoais? Como são as relações em grupos pequenos? E quanto às suas interações
com um grupo maior?

1
J. Reavis, comunicação pessoal, 2 de dezembro de 2012.
2
Masoud Bahrami, “Meanings and Aspects of Quality of Life for Cancer Patients: A Descriptive
Exploratory Qualitative Study”, Contemporary Nurse 39 (2011), p. 75-84.
3
Kelly R. Morton, “Religious Engagement in a Risky Family Model Predicting Health on Older Black
and White Seventh-day Adventists”, Psychology of Religion and Spirituality 4 (2012), p. 298-311.
4
Neal Krause e Elena Bastida, “Church – Based Social Relationships, Belonging, and Health Among
Older Mexican Americans”, Journal for the Scientific Study of Religion 50 (2011), p. 397-409. A amostra era
composta de 663 pessoas aposentadas, de 66 anos de idade para cima (com média de 73 anos), sendo 39%
homens e 61% mulheres, 77% católicos e 23% protestantes, na média com seis anos de escolaridade.
5
Ann Skingley e Hilary Bungay, “The Silver Song Club Project: Singing to Promote the Health of Older
People”, British Journal of Community Nursing 15 (2010), p. 135-140. O estudo envolveu cinco homens e
doze mulheres, com 77 anos de idade, em média.
6
“Alan R. King e Cheryl Terrance, “Best Friendship Qualities and Mental Health Symptomatology
Among Young Adults”, Journal of Adult Development 15 (2009), p. 25-34. O estudo incluiu 398 homens e
mulheres adultos, alunos universitários iniciantes e veteranos, sendo 26% homens e 74% mulheres, com
média de idade de 23 anos, e na grande maioria caucasianos (94%).
7
Robert J. Waldinger e Marc S. Shulz, “What’s Love Got to Do With It? Social Functioning, Perceived
Health, and Daily Happiness in Married Octogenarians”, Psychology and Aging 25 (2010), p. 422-431. Esses
eram os que ainda estavam vivos após o estudo longitudinal que foi iniciado pelo Serviço de Saúde da
Universidade Harvard em 1939, quando os participantes estavam entre 18 e 19 anos. Quando foi realizado o
último estudo, os homens tinham em média 82,9 anos de idade e as mulheres 78,8.
8
Brian H. McCorkle et al., “Compeer Friends: A Qualitative Study of a Volunteer Friendship Programme
for People With Serious Mental Illness”, International Journal of Social Psychiatry 55 (2009), p. 291-205.
9
Ellen W. T. Harley et al., “Friendship in People With Schizophrenia: A Survey”, Social Psychiatric
Epidemiology 47 (2012), p. 1291-1299. O relato do transtorno era de 20,4 anos, em média. Os pacientes
entraram em várias escalas, de acordo com o status social, amizades e os sinais visíveis da doença. Participaram
também de entrevistas individuais para conversar sobre suas amizades.
10
Meliksah Demir et al., “I Am So Happy ‘Cause My Best Friend Makes Me Feel Unique: Friendship,
Personal Sense of Uniqueness and Happiness”, Journal of Happiness Studies 13 (2012). Disponível em: DOI:
10.1007/s10902-012-9376-9. Participaram do estudo 2.429 pessoas: 17% homens e 73% mulheres.
11
Julianne Holt-Lunstad et al., “Can Hostility Interfere With the Health Benefits of Giving and Receiving
Social Support? The Impact of Cynical Hostility on Cardiovascular Reactivity During Social Support
Interactions Among Friends”, Annals of Behavioral Medicine 35 (2008), p. 319-330. Participaram do estudo
214 pessoas, 56 duplas femininas e 51 duplas masculinas.
12
Robert Fulghum, Tudo que eu devia saber aprendi no jardim de infância (Rio de Janeiro: Best Seller, 1989).
13
Emma K. Adam et al., “Adverse Adolescent Relationship Histories and Young Adult Health:
Cumulative Effects of Loneliness, Low Parental Support, Relationship Instability, Intimate Partner Violence,
and Loss”, Journal of Adolescent Health 49 (201), p. 278-286.
14
Chris Segrin et al., “Loneliness and Poor Health Within Families”, Journal of Social and Personal
Relationships 29 (2012), p. 597-11. Participaram 456 adultos de 169 unidades familiares.
15
Li-Juan Liu e Qiang Guo, “Loneliness and Health-Related Quality of Life for the Empty Nest Elderly in
the Rural Area of a Mountainous County in China”, Quality of Life Research 16 (2007), p. 1275-1280. O
estudo envolveu 275 idosos que moravam sozinhos e 315 que moravam em companhia de outros, todos de
uma área rural montanhosa. A média de idade de cada grupo era de 70 anos, e aqueles que apresentavam
deficiências físicas ou mentais não participaram do estudo.
16
Ingrid Nielsen et al., “Subjective Well-Being of Beijing Taxi Drivers”, Journal of Happiness Studies 11
(2010), p. 721-733. A maioria em homens (95,8%) que afirmaram estar trabalhando em média 12,57 horas
por dia, seis dias e meio por semana.
17
Paul Lee Tan, Encyclopedia of 15,000 Illustrations, entrada 1672.
18
Pamela E. King e James L. Furrow, “Religion as a Resource for Positive Youth Development: Religion,
Social Capital, e Moral Outcomes”, Psychology of Religion and Spirituality 5 (2008), p. 34-49. Um total de 735
alunos de escolas públicas de ensino médio estavam incluídos na amostra em estudo. Quanto ao gênero
estavam bem equilibrados (47% do sexo masculino e 53% do sexo feminino), na faixa dos 13 aos 19 anos de
idade.
19
Richard Rymarz, “Nurturing Well-Being Through Religious Commitment: Challenges for Mainstream
Christian Churches”, International Journal of Children Spirituality 14 (2009), p. 249-260.
CAPÍTULO 9
OS BENEFÍCIOS DO
ENFRENTAMENTO RELIGIOSO
“Sejam fortes e corajosos, todos vocês que esperam no
Senhor!”
Salmo 31:24
A doutora Edelweiss Ramal, professora de Enfermagem na Universidade de
Loma Linda, contou-me sua história enquanto trabalhávamos em um processo
de acreditação na Universidade de Montemorelos, Nuevo León, no México. Ela
pôde, verdadeiramente, colocar em prática o conselho do apóstolo Paulo que diz:
“Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e
com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que
excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo
Jesus” (Fp 4:6, 7).
“Eu havia memorizado Filipenses 4:6, 7 poucos meses antes de receber o
diagnóstico de que estava com câncer de mama”, disse ela. É um bom hábito
memorizar textos-chave das Escrituras. Essa passagem, especialmente, iria adquirir
um significado muito importante para a doutora Edelweiss. “Nunca poderia
imaginar o quanto essa promessa, em particular, iria causar tanto impacto em
minha vida física, emocional, social e espiritual”, ela assegurou.
Depois que o diagnóstico foi confirmado, Edelweiss teve que lidar com as
difíceis questões relacionadas à doença e com o caos emocional que se instalou.
“Como isso pôde acontecer, se eu sempre mantive um estilo de vida saudável e
não possuía nenhum dos fatores de risco? Os temores começaram a tomar conta:
O que vai acontecer comigo? Com minha família? E então veio a apreensão e a
ansiedade com relação ao tratamento: Qual devo escolher? O tratamento
convencional ou o alternativo? E se minha família não concordar com o
tratamento que preferi seguir? Enquanto passava toda essa confusão de emoções,
pensamentos e sentimentos que ocorrem a uma pessoa vítima de câncer, o texto
de Filipenses 4:6, 7 começou a assumir um significado todo especial e pessoal para
mim.”
Ela encontrou o conforto de que necessitava na leitura da Bíblia e na oração.
Sentiu como se o próprio Deus estivesse lhe falando por meio de Filipenses 4:
“Não fique ansiosa, mesmo tendo que enfrentar esse câncer. Sim, ore e suplique a mim,
mas sempre encontre algo para agradecer; na verdade, procure descobrir várias coisas pelas
quais deve ser grata. Minha filha, se você preencher a condição exigida por essa promessa,
vai alcançar tanta paz que acabará surpreendendo a todos. E mais: você mesma não vai
entender como consegue ter tanta paz, mesmo diante de uma das mais temíveis doenças.”
O verso não disse que a oração da doutora Edelweiss seria respondida com a cura,
mas lhe assegurou que ia ser abençoada com uma paz muito além do que ela
conseguia compreender. E foi isso que o Senhor fez. A paz se tornou uma
realidade.
No dia em que ela foi internada para fazer a cirurgia, a paz de Deus, que está
além da compreensão humana, guardava seu coração e sua mente em Cristo Jesus.
O esposo tirou algumas fotos dela enquanto ia para o hospital e depois na sala de
cirurgia. Meses mais tarde, recuperada, ao rever aquelas fotos e ver seu rosto
radiante, ela disse: “Não posso entender como conseguia sentir tanta paz ao
enfrentar a cirurgia! Esse tipo de paz realmente transcende todo entendimento!”
Alguns anos se passaram, e ela continua louvando o Senhor, não somente por
tê-la curado, mas por proporcionar à sua vida tanta paz e alegria. Recentemente,
ela me escreveu dizendo: “Cada vez que eu era tentada a me deter em
sentimentos negativos, ou sentir alguma ansiedade pela decisão que fora tomada,
repetia o texto mentalmente e clamava pela promessa de Deus. Ele tem sido fiel
em guardar meu coração e minha mente por meio de Cristo Jesus. Faz seis anos
que fui diagnosticada com a doença, e a vida ainda me tem trazido outras
experiências que causam ansiedade. No entanto, continuo sentindo a maravilhosa
paz que vem de Deus, e Ele continua protegendo meu coração (sentimentos e
emoções) e minha mente (pensamentos e decisões a serem tomadas). Por vezes,
ainda me surpreendo e surpreendo outras pessoas. Essa pode ser a sua experiência
1
também.”
Situações estressantes, como conviver com uma doença física ou mental, perder
um ente querido ou enfrentar problemas financeiros se tornam grandes desafios
tanto aos crentes como aos descrentes. Inúmeros estudos revelam que muitos se
voltam para a fé e a religião em busca de conforto, esperança e propósito para a
vida. Se existe alguma força para enfrentar as provações, ela vem de Deus;
portanto, necessitamos nos apegar a esse poder e ajudar aqueles que sofrem a fazer
o mesmo.
Este capítulo aborda o enfrentamento religioso, ou seja, as estratégias para lidar com
os problemas por meio da religião, como uma maneira eficaz que Deus
providenciou para as pessoas superarem as adversidades. É mais um benefício da fé
à nossa disposição enquanto vivemos nesta Terra. Há um grande número de
estudos realizados nos últimos 20 anos, com o objetivo de mostrar que, em
momentos de dificuldade, a maioria das pessoas recorre ao enfrentamento
religioso para lidar melhor com a dor e o sofrimento. As pesquisas revelam
também que o enfrentamento religioso positivo proporciona conforto, apoio e
esperança quando a pessoa é acometida por uma doença física ou mental, um
trauma ou passa por situações estressantes. Entretanto, o enfrentamento religioso
negativo (revoltar-se contra Deus, abrigar dúvidas religiosas devido a uma
adversidade) pode ocasionar um desequilíbrio no bem-estar psicológico, embora,
em alguns casos, isso traga algum alívio, possivelmente como um mecanismo
temporário para que a pessoa se livre das frustrações.
Serão analisados, neste capítulo, alguns estudos recentes realizados para
descobrir como as pessoas enfrentam várias situações difíceis. A Bíblia também
traz exemplos de pessoas que enfrentaram a perda, o temor, a ansiedade, a solidão,
a dor e o desânimo. Alguns personagens serão mencionados como exemplos na
maneira de proceder em meio às provações e adversidades.
O enfrentamento
Enfrentamento é um termo da Psicologia que remonta aos tempos em que essa
disciplina começou a ser estudada como ciência moderna. Isso significa a volta à
era de Sigmund Freud, que viu no enfrentamento a maneira pela qual os
mecanismos de defesa funcionam. Com base nessa premissa, o enfrentamento
seria um processo inconsciente. Por exemplo: pessoas que se mudam para um
outro país – onde tudo é diferente de suas experiências passadas – acabam
buscando a companhia de seus compatriotas, utilizam o mesmo tipo de
alimentação a que estavam acostumados desde criança e assistem aos noticiários e
partidas de esportes praticados em seu país. Fazem isso para compensar situações
estressantes, sem pensar ou ficar planejando a sua forma de comportamento – é
uma atitude inconsciente. Isso é chamado de regressão e, assim como essas, há
outras inúmeras formas de mecanismos de defesa que Freud descobriu e que a
filha dele, Ana, explicou posteriormente. Ainda hoje, as interpretações dos
mecanismos de defesa relacionados ao enfrentamento são válidas, mas aplicáveis a
uma pequena proporção de situações apenas, a maioria delas quando causadas por
extrema ansiedade.
O conceito atual do enfrentamento, ou seja, as estratégias utilizadas para lidar
com situações difíceis, é aquele em que a própria pessoa que enfrenta o problema
interage com o meio em que está, voluntária e intencionalmente, via processos
mentais ou comportamentos. Isso é feito de maneira estratégica, utilizando uma
variedade de recursos que dependem de como as circunstâncias se apresentam e
do contexto em que a pessoa vive. O objetivo da pessoa é entender, suportar,
reduzir ou eliminar as situações estressantes.
As pessoas também podem enfrentar situações difíceis confrontando o
problema, afastando-se dele, buscando apoio social (seja por uma ajuda de modo
prático ou apoio emocional) e também tentando evitar ou fugir de situações que
causem estresse. Outros procuram se desligar ao máximo do problema, mantendo
seus pensamentos em coisas totalmente diferentes, ou até mesmo recorrem ao
álcool e às drogas, o que lhes abre uma porta para mais problemas. Outros ainda
enfrentam suas dificuldades buscando um sentido para a vida. Procuram crescer e
superar a adversidade aceitando a realidade da existência do problema e se voltam
para Deus e para a religião, enquanto ativamente buscam soluções. Quando
incluímos Deus e a religião como parte central da equação, estamos enfrentando
os problemas por meio da religiosidade – que é o que chamamos de enfrentamento
religioso.
São muitos os que utilizam a religião para enfrentar os problemas e dificuldades.
Numa pesquisa de autoavaliação sobre o enfrentamento religioso, foi feita a
seguinte pergunta: “De que modo você usa a religião para enfrentar seus
problemas?” Entre os participantes, 40% consideraram que o enfrentamento
religioso é o fator mais importante; 27,3% afirmaram que o utilizam bastante;
22,7% de forma moderada; 5% usam de pouco a moderadamente; e 5% não o
2
utilizam de forma alguma. Essa é uma das mais fortes evidências da necessidade
que os seres humanos têm de Deus!
Como funciona o enfrentamento religioso?
De maneira geral, as pesquisas mostram que o enfrentamento religioso aumenta
o bem-estar diante das dificuldades, mas não deixam claro como isso funciona.
Podemos, no entanto, formular algumas hipóteses. Harold G. Koenig apresenta
3
uma explicação razoável, que passo a descrever a seguir. A religião nos oferece
uma visão positiva do mundo, um conjunto de crenças que trazem grande
esperança, tendo seu foco na redenção. Por meio da religião, podemos ver Deus
como um Ser amoroso e misericordioso. A religião também traz significado e
propósito para a existência (não apenas uma perspectiva positiva). De fato, ela nos
ajuda a explicar a causa das aflições temporárias que temos aqui, de acordo com o
plano final idealizado por Deus. A religião favorece a integração psicológica que
permite ao crente entender o conflito que existe entre o bem e o mal, evitando,
portanto, o estresse gerado pelos acontecimentos mundiais. A religião também
apresenta a seus seguidores a visão da esperança que os motiva a viver e trabalhar,
sem se desesperar, fazendo-os compreender que as coisas se tornarão melhores de
acordo com o plano de Deus. A religião fortalece os fiéis, mesmo sendo pobres,
discriminados e desamparados. Dá forças para agir e transformar o ambiente em
vez de deixar uma vítima sem esperança. A religião atribui o controle de todas as
coisas a Deus, acabando com o temor e a ansiedade. Além do mais, a religião
apresenta bons exemplos de vitória no sofrimento. Por exemplo, a Bíblia traz o
relato de histórias de pessoas cuja vida foi abençoada por Deus, apesar das
tribulações que enfrentaram. A religião também oferece orientação ao se tomar
decisões, recomendando padrões de comportamento que protegem as pessoas de
muitos problemas. Apresenta respostas satisfatórias a questões importantes como:
De onde eu vim? Para onde vou? Por que existe o bem e o mal? Como será o fim
de todas as coisas? As organizações religiosas oferecem apoio social constante e um
lugar onde as pessoas podem obter ajuda e motivação para confiar em Deus como
aquele que pode solucionar todas as coisas. Finalmente, a religião proporciona
estabilidade. A religiosidade perdura sob todas as circunstâncias. Por meio da
religião, a oração, a meditação e o senso da presença de Deus transcendem o
tempo e o espaço.
Como as pessoas lidam com a religiosidade? Muito frequentemente, aqueles
que encontram na religião o apoio que necessitam para enfrentar as dificuldades
possuem o sentimento da presença divina: têm aquela certeza de que Deus está
muito próximo, atento, ouvindo, animando e dando forças. Eles mantêm um
relacionamento mental com o Criador por meio da oração. Têm o sentimento de
que Deus os ama e os guia tanto na rotina das atividades diárias como em sua vida
espiritual. Encontram forças e conforto no estudo da Bíblia, na reflexão sobre as
promessas nela contidas, nas doutrinas e crenças. Além das experiências que têm
normalmente, as pessoas religiosas mantêm um relacionamento com Deus e
obtêm força espiritual por meio do adoração coletiva. É confortador saber que
pesquisas atuais estão descobrindo que aqueles que vivem essas práticas podem
não evitar a adversidade, mas conseguem, pelo menos, lidar com elas com maior
êxito.
Uma das mais desoladoras experiências é ouvir que seu filho tem uma doença
crônica debilitante que vai reduzir muito a expectativa de vida. Daniel
Grossoehme e Judy Ragsdale, que pertencem à pastoral do Centro Médico do
Hospital Infantil de Cincinnati, em Ohio, estudaram a maneira como os pais de
4
crianças portadoras de fibrose cística lidam com o problema. Essa doença está
associada ao mau funcionamento do sistema respiratório. Os pacientes necessitam
de fisioterapia respiratória diária para eliminar as secreções. Esse problema pode
causar complicações como má absorção dos nutrientes, diabetes, infertilidade (nos
meninos) e insuficiência pancreática. O mais temido sintoma relacionado à fibrose
cística é a insuficiência respiratória, pois pode levar à morte. Em consequência da
doença, a expectativa de vida desses pacientes é de apenas 37 anos. Para a
realização desse estudo, os pesquisadores entrevistaram exaustivamente 15 pais.
Entre eles, foram encontradas 16 maneiras diferentes de enfrentar a doença. Estas
foram as mais comuns:
1. Súplica – Os pais de crianças com fibrose cística relataram que suplicaram
intensamente a Deus pela cura de seus filhos ou rogaram para que se sentissem
mais confortáveis e não sofressem tanto. Essa foi a forma mais comum de
enfrentamento religioso. Um dos pais disse: “Houve momentos em que
implorávamos e suplicávamos em favor dela, principalmente quando estava com
muita dor, e eu me sentia impotente. Assim, quando nos sentimos desanimados e
oramos para obter forças, penso que Ele nos concede de acordo com sua
vontade.”
2. Colaboração – Trabalhar com Deus para promover a cura ou melhora dos
sintomas. “O meu sentimento é de que estamos trabalhando juntos porque
podemos orar e fazer todo o possível para que ela se sinta bem; mas, além do que
fazemos, há muita coisa que Ele pode fazer”, disse um pai. Outros, talvez exaustos
dos tratamentos diários e sobrecarregados pelo estresse, diziam: “O jeito é viver
um dia de cada vez e deixar o restante nas mãos de Deus.”
3. Reavaliações religiosas altruístas – Isso inclui a compreensão de que Deus pode
não intervir na solução total, mas conduzir as coisas de maneira adequada a seu
tempo, de acordo com sua onisciência. “Ele nos deu uma tarefa”, afirmou um dos
pais, “os médicos estão nos dizendo o que devemos fazer para nos prevenir. Nossa
tarefa é seguir em frente e deixar os resultados com Deus.”
4. Busca de apoio espiritual – Eles também encontraram pais que procuraram
ajuda no ministério e nos membros da igreja. Alguns relataram o contato que
tiveram com um pastor ou sacerdote. Outros contaram com detalhes a bondade
dos membros.
Outra maneira de lidar com a doença foi manter a esperança acima de tudo,
sabendo que esse não é o fim, e voltar-se para Deus em busca de conforto. Muitos
optaram por orar pelos outros, praticar os ritos religiosos como forma de desviar a
mente do que lhes causava estresse e entender que o sofrimento traz a
oportunidade de crescimento espiritual. Houve também formas negativas de lidar
com os problemas da doença, como se revoltar contra Deus e achar que a doença
veio como um castigo divino.
O enfrentamento religioso e a saúde
O uso do enfrentamento religioso para lidar com os problemas de saúde mental
e física é uma área que está sendo amplamente estudada. Numa análise das
pesquisas realizadas sobre esse tema, o retorno foi tão grande que delimitei a
pesquisa apenas aos estudos mais recentes. Isso mostra que, em um tempo em que
a ciência médica está em alto desenvolvimento, as pessoas entendem que elas
devem, sim, buscar a intervenção humana, mas necessitam se reconectar com
Deus, que está acima e além da saúde e da cura, e que Ele é o único que pode
tornar o ser humano verdadeiramente saudável.
Thomas Carpenter, com outros colegas da Universidade Seattle do Pacífico,
estudou as possíveis relações existentes entre o enfrentamento religioso, o estresse
e os sintomas depressivos em adolescentes que frequentavam escolas católicas e
5
protestantes na Região Noroeste do Pacífico. Durante oito semanas, esses
adolescentes relataram, periodicamente, os sintomas que lhes causavam estresse e
depressão. Sabendo-se que os fatores que provocam o estresse tendem a causar
sintomas depressivos, o objetivo foi verificar se o enfrentamento religioso poderia
reduzir ou mesmo prevenir essa relação.
Os resultados mostraram que o enfrentamento religioso negativo tornou essa
relação entre estresse e depressão ainda mais forte. Fez com que as coisas
piorassem ainda mais. Por outro lado, os adolescentes que recorreram ao
enfrentamento religioso positivo passaram pelos efeitos do estresse de maneira
mais tranquila que os demais. Os mesmos resultados foram constatados na
população adulta. Um exemplo disso é um estudo feito com 336 adultos da Igreja
Protestante, conduzido por Jeffrey Bjorck e John Thurman. Eles descobriram os
efeitos benéficos do enfrentamento religioso positivo relacionados a situações
6
estressantes. Os participantes que afirmaram utilizar os métodos do
enfrentamento religioso positivo (a oração, o sentimento da presença de Deus, a
busca de um propósito para a dor, etc.) tiveram maior capacidade para reduzir os
efeitos deletérios de situações negativas em comparação com outros que não
utilizaram esses métodos.
Enfrentar a perda de um ente querido é algo devastador. Para compensar o
pesar e a dor, muitas pessoas recorrem às estratégias do enfrentamento religioso.
Buscar um propósito para isso torna-se um fator-chave para lidar com o luto. Um
estudo feito recentemente teve por objetivo determinar se a busca desse propósito
relacionada a uma maior ligação com Deus traria melhores resultados que outras
abordagens que não procuram encontrar um propósito para as coisas que
acontecem. Melissa Kelley e Keith Chan, da Faculdade de Boston, em
Massachusetts, nos Estados Unidos, coletaram dados de mulheres que haviam
passado pela experiência de uma morte dolorosa para elas durante o ano
7
anterior. Na maioria, as mortes foram de um parente ou do marido. Cerca de
metade dessas mortes (48%) eram esperadas, e a outra metade (52%) não eram
esperadas. De maneira geral, todo grupo apresentou sintomas de depressão
associados à perda.
No entanto, a frequência e a intensidade dos sintomas eram diferentes,
dependendo de certas variáveis. (1) As mulheres que se mantinham firmemente
ligadas a Deus tiveram menor grau de depressão e de pesar. (2) Aquelas que
utilizaram as estratégias do enfrentamento religioso positivo também tiveram um
aumento na capacidade de lidar com o estresse. (3) Quando havia uma forte
ligação com outros, também houve maior capacidade de superação do estresse. (4)
Uma forte ligação com Deus trouxe um propósito mais claro, que, por sua vez,
trouxe mais benefícios à saúde mental.
A participação em missões estudantis é uma opção comum para jovens
universitários nos Estados Unidos. Entretanto, não têm sido feitos muitos estudos
quanto à maneira que esses moços e moças enfrentam a missão a ser cumprida.
Uma exceção é o estudo liderado por Jeffrey Bjorck e Jean-Woo Kin, do
Seminário Teológico de Fuller, e pelo Hospital Metropolitano Estadual, em
8
Norwalk, na Califórnia. Eles tinham vários objetivos, mas o que teve maior
relevância para o propósito deste livro foi a pesquisa sobre como o enfrentamento
religioso por parte dos missionários que realizam tarefas temporárias estava
relacionado a seu funcionamento psicológico, enquanto participavam da missão.
Rapazes e moças partiram em uma viagem missionária de dois meses de duração.
Eles tiveram diversos destinos, alcançando 11 países ao todo. Os estudantes
missionários forneceram relatórios durante o período de treinamento anterior à
viagem e após retornarem da viagem. Os dados coletados incluíram o
enfrentamento religioso, o apoio religioso (quanto apoio os participantes sentiram
que receberam de Deus, da congregação e da liderança da igreja), bem como o
funcionamento psicológico. Os resultados revelam que aqueles que utilizavam o
enfrentamento religioso de modo negativo tinham maior tendência para a ira.
Aqueles que costumavam utilizar o enfrentamento religioso positivo sentiam um
grande apoio vindo de Deus: portanto, experimentavam um claro aumento de
satisfação na vida.
Divórcio e enfrentamento religioso
Outra pesquisa relevante diz respeito ao divórcio, um processo altamente
estressante que frequentemente causa sintomas depressivos. Um estudo dirigido
por Amy Webb, da Universidade do Texas, em Austin, nos Estados Unidos, teve
por objetivo descobrir como o enfrentamento religioso pode ajudar nos casos de
9
depressão associados ao divórcio. Ela foi assistida por colegas tanto da
Universidade do Texas como da Universidade de Loma Linda. O principal tema
da pesquisa foi: “Qual é o papel da religião quanto à maneira de lidar com a
depressão entre as pessoas divorciadas?” Os participantes eram membros da Igreja
Adventista do Sétimo Dia que estavam incluídos no Estudo de Saúde Adventista–
2. Os pesquisadores estudaram um subgrupo dessa imensa base de dados composta
de 96 mil participantes, utilizando uma amostra de 10.988 participantes em um
estudo sobre a religião e a saúde. Eles forneceram dados sobre sintomas
depressivos, divórcio e formas de enfrentamento religioso. Dentro desse
subgrupo, 4% das pessoas que responderam aos questionários haviam passado pela
experiência do divórcio no período de cinco anos anteriores à pesquisa. Esse foi o
principal foco da análise.
Como todos os participantes eram membros da igreja, a maior tendência foi se
apoiarem fortemente na religião para enfrentar o problema. No entanto, alguns o
fizeram mais intensamente do que outros, e essas diferenças é que tornaram
possível a realização dessa análise. Os resultados mostraram claramente que o
enfrentamento religioso positivo ajudou a aliviar os efeitos da depressão. A forma
mais eficaz de lidar com o problema foi buscar o apoio em Deus. Isso produziu o
maior impacto contra a depressão, seguido de uma atitude colaborativa em que a
pessoa deve fazer todo o possível para lutar contra a dificuldade que enfrenta e
deixar o restante com Deus. Por fim, reformular os casos ou situações que trazem
problemas, isto é, ver o cenário em toda a sua amplitude, com vistas ao passado,
presente, futuro e à eternidade. Uma análise interessante foi comparar a amostra
de divorciados com os participantes não divorciados. Todos, divorciados ou não,
apresentaram menos sintomas depressivos quando enfrentaram o problema por
meio da religiosidade, mas ficou constatado que o enfrentamento religioso
positivo trouxe benefícios antidepressivos significativamente maiores para aqueles
que haviam passado pelo divórcio.
Os autores do estudo reconheceram que o divórcio é um estressor social,
especialmente entre pessoas religiosas como os adventistas do sétimo dia, para as
quais o casamento é visto como uma instituição divina, estabelecida pelo próprio
Deus, e que deveria durar por toda a vida. Isso torna a ajuda e o apoio ainda mais
necessários para aqueles que vivem nessa condição. É imperativo, portanto, que se
adote uma atitude espiritualmente solidária em relação aos divorciados, no
ambiente das igrejas, onde o enfrentamento religioso pode ser mais apropriado. A
oração, a leitura da Bíblia, o culto, etc. podem ser excelentes maneiras de prover
o apoio necessário às irmãs e irmãos recém-divorciados em nossas igrejas.
Cuidadores e enfrentamento religioso
A saúde mental daqueles que cuidam de um membro da família com doença
crônica ou invalidez também traz grande preocupação. Cedo ou tarde, sinais de
transtornos, especialmente depressão, podem aparecer na pessoa cuidadora.
Angelica Herrera, do Centro MD Anderson Para o Câncer, na Universidade do
Texas, em Houston, e sua equipe, se perguntaram se o enfrentamento religioso
10
poderia prevenir ou aliviar os sintomas em pessoas sob tais circunstâncias. O
estudo teve como foco os cuidadores mexicano-americanos, que foram
entrevistados durante duas horas cada um, utilizando o espanhol como meio de
comunicação, quando necessário. Todos cuidavam de um parente (cônjuge,
irmão ou irmã, ou parentes dos cônjuges) acima de 50 anos. Eles receberam
avaliações sobre religiosidade, enfrentamento religioso, bem-estar, avaliações
relacionadas à pessoa sob seus cuidados e várias informações socioeconômicas e
demográficas.
Quando os dados foram examinados, foi observado que aqueles que
encontraram apoio no enfrentamento religioso demonstraram menos sintomas
depressivos e viam a sobrecarga do trabalho de cuidadores que realizavam de
maneira mais positiva que os cuidadores que não se apoiavam no enfrentamento
religioso. Além disso, altos níveis de enfrentamento religioso promoviam
paralelamente a melhora da saúde física e emocional. Aqueles que achavam muito
pesada a responsabilidade (que não utilizavam nenhuma forma de enfrentamento
religioso) tinham maior probabilidade de ser pessoas depressivas e com menor
tendência para desfrutar boa saúde mental. Uma descoberta interessante destacou
a importância da comunidade da igreja. Participantes pertencentes a uma religião
organizada eram menos propensos a achar que o seu trabalho de cuidadores era
muito pesado. Por outro lado, mesmo os que apresentavam elevados níveis de
religiosidade, mas não eram assíduos à igreja, continuavam tendo pior saúde
mental. Esse é mais um exemplo dos benefícios indiretos de pertencer a uma
igreja onde o companheirismo, o apoio emocional e social são uma fonte de
saúde para os participantes.
O enfrentamento religioso em graves problemas de
saúde
Uma equipe de pesquisadores liderada por Kelly Trevino, da Universidade
Estadual de Bowling Green, em Ohio, centralizou seus estudos em um grupo de
pacientes ambulatoriais portadores de HIV/AIDS para observar os efeitos do
enfrentamento religioso sobre os vários resultados obtidos, tanto mentais quanto
11
físicos. Os pacientes forneceram dados em duas ocasiões, com um intervalo de
doze a dezoito meses, permitindo que os pesquisadores observassem as variações
ao longo do tempo e verificassem os efeitos do enfrentamento religioso nessas
mudanças. As descobertas revelaram que o enfrentamento religioso positivo foi
um fator preditivo tanto de maior autoestima como de níveis de espiritualidade
mais elevados. Além disso, aqueles que mantinham níveis mais altos de
enfrentamento religioso positivo relataram melhoras em seu bem-estar com o
passar do tempo. Em termos de saúde física, a contagem das células CD4 – que
protegem o organismo contra a doença e são indicadoras de melhora em pacientes
com HIV/AIDS – foi feita no início e no fm do estudo. Aqueles que relataram
maior luta espiritual apresentaram baixa contagem de células CD4, indicando uma
perda das defesas após terem enfrentado a luta religiosa interna. Esses resultados
sugerem que as intervenções psíquicas e espirituais geradas para promover o uso
do enfrentamento religioso positivo – comunhão com Deus, oração, aceitar a
doença com vistas ao amplo contexto da vida aqui e além – podem contribuir
para melhorar o bem-estar psicológico, fisiológico e espiritual nos portadores de
HIV/AIDS.
Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos,
liderada por Kevin Rand, estudou um grupo de homens com câncer em estágio
avançado para observar como consideravam a doença e como o enfrentamento
12
religioso favorecia as respostas psicológicas. Os resultados mostraram que
aqueles que acharam algum significado na doença (admitiram que, por causa da
doença, eles se conheceram melhor, deram valor a coisas que de outra forma não
teriam dado importância, estabeleceram novas metas para a vida, etc.) tiveram
baixos níveis de distúrbios psicológicos e altos níveis de adaptação mental positiva.
Além desses benefícios, os pacientes com câncer que se apoiavam frequente e
intensamente no enfrentamento religioso positivo obtiveram um crescimento pós-
traumático, com efeitos positivos após o trauma. Eles conseguiram extrair algo
bom de tantas coisas ruins: a resiliência.
Embora a maioria das pesquisas publicadas sobre o enfrentamento religioso
tenha sido realizada nos Estados Unidos, há um crescente número de estudos
sendo conduzidos em outros países. Um projeto brasileiro de pesquisa, liderado
por Suzana Ramires, da Universidade do Ceará, em Fortaleza, pesquisou a relação
existente entre o enfrentamento religioso, os distúrbios psicológicos e a qualidade
de vida de 170 pacientes ambulatoriais que faziam hemodiálise, todos em estado
13
terminal da doença renal. Os pesquisadores obtiveram dados clínicos,
indicadores de sintomas de depressão e ansiedade, e informações a respeito de sete
tipos de enfrentamento religioso positivo. Os participantes também relataram sua
percepção na qualidade de vida nas áreas física e mental, nas relações sociais e no
ambiente em que vivem.
Os resultados mostraram que a maioria desses pacientes em hemodiálise se
apegava à religião para enfrentar a doença. Os níveis elevados de enfrentamento
religioso positivo sempre estavam associados a melhor qualidade de vida,
especialmente nas áreas do bem-estar mental e das relações sociais. Também foi
observado que quanto mais forte era o conflito religioso, maiores eram os
sintomas de depressão e ansiedade, e mais distúrbios psicológicos eles sofriam.
O enfrentamento religioso e o trauma
Tortura, estrupo e abuso são palavras abomináveis que retratam situações em
que ocorreram atos perversos intencionais e de extrema agressividade. O trauma é
a consequência natural. O trauma é caracterizado por estresse, depressão,
ansiedade e o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Como pessoas
traumatizadas devem enfrentar o problema? Existem benefícios no enfrentamento
religioso? Há alguma forma de superação dessas terríveis experiências?
Vários estudos mostraram que o enfrentamento religioso é um dos melhores
mecanismos para lidar com os problemas. Viktor Frankl, renomado neurologista e
psiquiatra austríaco, também um dos sobreviventes do Holocausto, passou por três
campos de concentração nos anos de 1944 e 1945. Com base em suas observações
e experiência, Frankl declarou que qualquer situação, por mais angustiante que
seja, pode ser superada se a pessoa mantiver o controle e procurar encontrar
significado e propósito durante o processo.
Somente por meio da fé em Deus é que isso se torna possível. Assim, o
enfrentamento religioso é uma forma de sobreviver às adversidades. Na verdade,
tem-se dado grande atenção à resiliência nestes últimos anos para mostrar que algo
mais forte pode advir de tudo.
As vítimas da tortura nos fornecem dados abundantes a respeito de como o
enfrentamento religioso pode ajudar pessoas que sobrevivem física e
psicologicamente a situações adversas. O estudo desenvolvido pela Universidade
George Washington, em Washington, DC, e conduzido pela professora Christina
Gee e a estudante de pós-graduação Suzanne Leaman teve como foco um grupo
14
de africanos sobreviventes de torturas, que moravam nos Estados Unidos.
Foram relatados vários tipos de tortura, classificados da seguinte forma: tortura
física, manipulações psicológicas, tortura sexual, desconforto sensorial, posições de
estresse forçadas, tratamento humilhante, privação das necessidades básicas.
O gênero, a idade e o nível de educação também foram controlados na análise,
tendo em vista que as mulheres, pessoas idosas e com nível educacional mais
elevado têm maior tendência a sofrer de depressão e de TEPT após a tortura.
Dessa forma, os resultados iriam mostrar o efeito específico do enfrentamento
religioso. As descobertas revelaram que a tortura sexual foi o que mais motivou os
sintomas de TEPT. Em relação a isso, as estratégias de enfrentamento religioso se
demonstraram um fator protetor contra o sofrimento. Por outro lado, o
enfrentamento religioso negativo resultava em sintomas de TEPT. Por fim,
aqueles que tinham sido submetidos a muita tortura física ou posições forçadas de
estresse (forçados a ficar em pé, sentados ou ajoelhados), mas que se dedicaram
mais intensamente a práticas religiosas pessoais relataram ter sofrido menos
sintomas de TEPT e depressão do que pessoas não religiosas.
Uma outra causa de trauma ocorre quando a pessoa é vítima de agressão sexual.
Não são muitos os estudos que tratam desse tema, por ser um assunto
extremamente delicado; porém, Courtney Ahrens, da Universidade Estadual da
Califórnia, em Long Beach, conseguiu fazer um estudo sobre a experiência de
15
103 mulheres que sofreram estupro. (Ela colocou cartazes em igrejas,
lavanderias automáticas, bares e cafeterias para encontrar pessoas na região.) Os
dados foram coletados por meio de entrevistas pessoais, com duração de duas
horas e meia, em média. Os temas envolveram o enfrentamento religioso, a
depressão, o TEPT, o bem-estar psicológico e o crescimento pós-traumático.
Muitas mulheres mencionaram que não receberam praticamente nenhum apoio
de líderes religiosos nem de membros da igreja, mas disseram que procuraram se
envolver nas atividades da igreja como forma de não terem que lidar diretamente
com o estupro. Elas afirmaram que “procuraram manter seu foco no mundo por
vir e não nos problemas deste mundo” ou “procuravam orar e ler a Bíblia para
manter a mente longe do problema”. Esse estudo mostrou diferenças significativas
entre as sobreviventes de estupro afro-americanas e as mulheres brancas na mesma
condição. O primeiro grupo de mulheres apoiou-se muito mais intensamente em
todos os tipos de enfrentamento religioso.
Da mesma forma que em outros estudos, quando aumentava o enfrentamento
religioso negativo, aumentavam também os sintomas de depressão, e quando
aumentava o enfrentamento religioso positivo, os sintomas depressivos
diminuíam. Além disso, as mulheres que se apoiavam no enfrentamento religioso
positivo tinham a tendência de alcançar um crescimento pós-traumático e bem-
estar muito maior que as demais.
Monica Gerber e duas outras colegas da Universidade do Norte do Texas
fizeram outro estudo com uma amostra mais geral, também relatando alguns graus
16
de experiências traumáticas. Elas centralizaram o estudo no conceito do
crescimento pós-traumático fazendo a seguinte pergunta: “Será que o
enfrentamento religioso contribui para o crescimento pós-traumático?” Pelo
menos doze tipos de eventos traumáticos foram relatados pelas participantes. Os
de maior gravidade foram os seguintes: receber notícias de ferimentos graves ou
de morte; envolvimento em acidentes automobilísticos, incêndio ou explosão; ter
sofrido abuso físico ou sexual na infância; e ter passado por um desastre natural.
Os resultados desse estudo mostraram diferenças quanto ao gênero na frequência
de eventos traumáticos. As mulheres passaram por um número bem maior de
ocorrências traumáticas que os homens, mas tiveram maior grau de crescimento
pós-traumático. Também foi constatado que o enfrentamento religioso positivo
atuou como previsor do crescimento positivo, enquanto o enfrentamento
religioso negativo trouxe indicações de sintomas de TEPT.
O cristão muitas vezes tem que suportar a dor antes que as coisas boas
aconteçam. As mulheres que participaram desse estudo suportaram maior trauma,
mas experimentaram um crescimento significativamente maior porque lidaram de
modo positivo com o problema, por meio da religião. Robert Murray M’Cheyne
afirmou: “O caminho para Sião é feito através do vale de Baca. Você deve
atravessar o deserto do Jordão se quiser chegar à Terra Prometida.”
Enfrentamento negativo
O enfrentamento negativo consiste em reagir negativamente em relação a Deus
quando acontece uma desgraça. A pessoa se revolta contra Deus ou passa a culpá-
lo pela dor e o sofrimento que está passando. Pode ocorrer também uma atitude
passiva em relação à religião (não fazer nada para aliviar a situação, esperando que
Deus resolva os problemas), haver dúvidas quanto à religião e a rejeição de pessoas
ligadas à religião. Os pesquisadores descobriram que aqueles que se apoiam no
enfrentamento religioso negativo se apegam a frases como: “Acho que minha
doença é uma maneira de Deus me punir por meus pecados”, “Tenho me
perguntado se Deus me ama mesmo” ou “Tenho duvidado de Deus”.
Embora o enfrentamento negativo não sirva de modelo para se lidar com os
problemas, especialmente para um cristão, é uma reação humana natural diante de
circunstâncias trágicas. Por vezes, as pessoas passam por perplexidades e
infortúnios: contraem uma doença grave quando elas têm sido extremamente
cuidadosas quanto à prática de hábitos saudáveis, quando têm que enfrentar a
perda de um membro da família devido a um homicídio, ou sofrem um grave
acidente quando não tiveram nenhuma culpa. Essas experiências traumáticas
abalam todos os fundamentos da pessoa. Entretanto, é possível passar por essa fase
e superá-la após o choque inicial. Estar em constante ligação com Deus antes que
surjam os problemas parece ser algo decisivo. Realmente, as pesquisas
reconhecem que o papel da ligação com Deus é extremamente importante para
17
determinar o sucesso do enfrentamento religioso.
Mesmo levando-se em conta que um pequeno grupo de estudos tenha
encontrado alguns resultados positivos no uso do enfrentamento negativo, de
maneira geral, os estudos afirmam que isso está associado aos baixos resultados
físicos e psicológicos. Por exemplo, Yaron Rabinowitz e sua equipe descobriram
que, quando as mulheres cuidadoras de parentes idosos com demência utilizavam
as estratégias do enfrentamento religioso negativo para lidar com os problemas,
elas estavam em maior risco de saúde e eram também mais propensas a ganhar
18
peso.
Laurie Burke conseguiu uma forma de interagir com 46 afro-americanos que
19
perderam familiares próximos por causas relacionadas a homicídio. Para aqueles
que insistiam no enfrentamento religioso negativo era maior a probabilidade de
terem um processo de luto mais complicado e estavam sujeitos a conflitos
espirituais seis meses depois do ocorrido, ao serem comparados àqueles que não
utilizaram o enfrentamento religioso negativo.
Steven Pirutinsky estudou de modo longitudinal um grupo de judeus
20
ortodoxos. Pessoas que utilizavam o enfrentamento religioso negativo tinham
probabilidade muito maior de apresentar sintomas de depressão que aquelas que
não agiam dessa forma. Esse estudo, por ser longitudinal, indica uma efetiva
relação de causa e efeito entre o enfrentamento religioso negativo e a depressão.
Randy Herbert fez um estudo sobre o enfrentamento religioso em mulheres
21
com câncer de mama. Ele observou que a maioria das mulheres que
participaram do estudo utilizavam as estratégias do enfrentamento religioso
positivo, mas o pequeno grupo (15%) que se apegava ao enfrentamento religioso
negativo tinha, em geral, pior saúde mental, sintomas depressivos e pouca
satisfação na vida. Esse foi um estudo de acompanhamento, e, quando as mulheres
passaram a fazer mudanças positivas em seu modo de enfrentamento negativo,
apresentaram grande melhora em relação à saúde mental e à satisfação com a vida.
O enfrentamento na Bíblia
A Bíblia faz referência a pessoas que enfrentaram situações difíceis em várias
ocasiões. Como essas pessoas lidaram com as adversidades? Há lições que podemos
aprender das experiências por elas vividas? Escolhi quatro personagens do Antigo
Testamento. Também vamos analisar como Jesus enfrentou algumas situações
difíceis.
Jó é o primeiro na cronologia. Brevemente, mas de maneira categórica, a Bíblia
declara que Jó era “íntegro e justo”. Ele “temia a Deus e evitava fazer o mal”. Era
um homem rico, conforme se percebe pelas milhares de cabeças de gado, por
outros animais que possuía e também pelo número de servos. Jó tinha uma
esposa, sete filhos e três filhas. Ele possuía não somente muitos bens materiais,
como também era grandemente respeitado. Ao referir-se a ele, a Bíblia diz: “Este
homem era o maior de todos os do Oriente” (Jó 1:3, ARA). Entretanto, em um
curto período de tempo, esse homem justo perdeu todos os seus bens, os filhos e,
embora a esposa tenha sobrevivido, ela o rejeitou e lhe disse: “Amaldiçoe a Deus,
e morra” (Jó 2:9). Então Satanás o atacou com terríveis feridas da cabeça aos pés.
Ficou sozinho, sem nenhum de seus filhos, sem nenhum de seus bens e sem
reputação alguma: “Os homens me escutavam em ansiosa expectativa, aguardando
em silêncio o meu conselho” (Jó 29:21), “mas agora eles zombam de mim” (Jó
30:1). Como esse homem consegue lidar com o fato de ter que enfrentar uma
situação de completa perda de tudo o que possuía?
Primeiramente, ele coloca a si mesmo em perspectiva, vê toda a trajetória de
sua vida e adora a Deus: “Saí nu do ventre da minha mãe, e nu partirei. O Senhor
o deu, o Senhor o levou; louvado seja o nome do Senhor” (Jó 1:21).
Em segundo lugar, ele continua a confiar no Senhor a despeito de todo o seu
sofrimento: “Embora Ele me mate, ainda assim esperarei nele” (Jó 13:15).
Um terceiro ponto importante é que ele expressa suas dúvidas e continua
perguntando a Deus: “Por quê?” Isso revela uma reação humana da maneira mais
realista possível. “Por que não morri ao nascer?” (Jó 3:11); “Ou por que não me
sepultaram?” (v. 16); “Por que vivem os ímpios?” (Jó 21:7). Ele também
manifesta seu sofrimento: “Não tenho paz, nem tranquilidade, nem descanso;
somente inquietação” (Jó 3:26).
Além disso, mesmo diante da perplexidade que enfrenta, e embora seus amigos
não sirvam para ajudá-lo em nada (“Pobres consoladores são vocês todos”, Jó
16:2.), Jó vê o fim do túnel, pois ele tem consciência do plano final de Deus e
afirma: “Eu sei que o meu Redentor vive, e que no fim se levantará sobre a
Terra” (Jó 19:25).
O caso é resolvido na parte final do livro: Deus reprova seus amigos, restaura
todos os seus bens em dobro, dá a ele uma nova família e uma longa vida,
permitindo-lhe viver até os 140 anos de idade. Mas durante todo o tempo em
que foi provado, vemos que Jó não permitiu que os sofrimentos do momento
invalidassem sua visão de Deus e do mundo. Ele possuía ideias muito claras sobre
questões fundamentais relacionadas à origem e ao destino. Continuou a
reconhecer a supremacia de Deus e confiava nele, apesar de ter algumas perguntas
não respondidas.
O caso de Jó é de vital importância para nos fazer lembrar de que nem tudo
que acontece em nossa vida é resultado direto de nosso pecado. Contrair uma
doença terminal não é prova de castigo sobre a vítima da doença. No entanto, é
muito comum encontrar pessoas que sentem o peso da culpa, além de sofrer as
consequências de sua doença ou do infortúnio de um ente querido. Nosso dever
é fazer com que essas pessoas saibam que, embora sejamos todos pecadores,
determinadas situações nem sempre ocorrem devido a pecados específicos
cometidos, e que o perdão completo está à nossa disposição quando pecamos,
independentemente de qual seja a transgressão.
Certa vez, os discípulos perguntaram a Jesus: “Mestre, quem pecou: este
homem ou seus pais, para que ele nascesse cego?” A resposta de Jesus foi a
seguinte: “Nem ele nem seus pais pecaram, mas isto aconteceu para que a obra de
Deus se manifestasse na vida dele” (Jo 9:2, 3).
Na batalha cósmica entre o bem e o mal, de nada adianta ir em busca de um
único culpado, especialmente quando a tendência é culpar a vítima. Enquanto
estava em um hotel, em outro país, para apresentar uma palestra, liguei o rádio e
comecei a ouvir um programa em que as pessoas telefonavam pedindo conselhos
para resolver os problemas que enfrentavam na vida diária. Uma senhora, que se
percebia ser bastante simples, telefonou para perguntar o que ela poderia fazer em
relação ao marido que batia nela constantemente. Quebrou-me o coração ao
ouvi-la falar, entre soluços, sobre seu problema, mas o locutor do rádio lhe
perguntava repetidamente: “A senhora consegue se lembrar de alguma coisa que
esteja fazendo para contrariá-lo? A senhora o está provocando de alguma forma?”
Estava claro que esse locutor não conseguia pensar em ninguém mais responsável
pelo problema, a não ser a mulher. Que contraste com a atitude de Jesus ao
demonstrar sua aceitação e dar esperança ao sofredor!
Encontramos na Bíblia também o caso de José, que foi tratado injustamente por
seus irmãos e passou por uma série de situações tremendamente estressantes.
Primeiramente, ele teve que suportar o ódio e o ciúme por parte dos irmãos (Gn
37:5, 8, 11). Quando foi visitá-los no campo, a pedido de seu pai, eles o
maltrataram, jogaram em uma cisterna e o venderam aos mercadores ismaelitas (v.
23, 24, 25), que por sua vez o venderam a Potifar, capitão da guarda no Egito (v.
36). Como ele conseguiu enfrentar tudo isso? Ellen White nos diz que ele sabia
que não estava preparado para lidar com as dificuldades que estavam diante dele.
Ele havia se tornado autossuficiente e exigente. Mas depois, sozinho e distante de
casa, todas as histórias sagradas que lhe foram contadas quando criança lhe vieram
à mente com muita clareza. Em meio à adversidade, José foi levado à conversão.
Ele orou, entregou-se completamente a Deus e resolveu em seu coração manter-
22
se fiel ao Senhor. Ele foi submetido a cruéis tentações e enviado injustamente
para a prisão. Mas permaneceu fiel, conferindo a Deus todo o crédito do sucesso
que obteve (ver Gn 40:8; 41:16). Sua estratégia para lidar com os problemas e
dificuldades era manter-se fiel a seu Pai celestial, orar e esperar, mesmo tendo
demorado tantos anos para receber a libertação e a vindicação de tudo o que lhe
acontecera (Gn 41).
Noemi também enfrentou grande adversidade. Tendo superado várias perdas
em sua vida, é motivo de inspiração. Os primeiros versos do livro de Rute nos
dão uma visão compacta das tragédias que ocorreram em sua vida: para fugir da
fome, a família foi forçada a ir morar em Moabe, uma nação idólatra e
incompatível com o estilo de vida dos judeus. Elimeleque, o esposo de Noemi,
morreu, deixando-a com dois filhos. Portanto, ela estava viúva, com dois filhos
órfãos, em uma terra estranha. Os filhos de Noemi, Malom e Quiliom, casaram-
se com moças daquela terra, um fato que, sem dúvida, trouxe tensões à família
por ser contra a vontade de Deus (ver Dt 23:3; Ed 9:1, 2). Algum tempo depois,
esses dois jovens também morreram.
Essa situação devastadora exemplifica os extremos do sofrimento humano.
Como Noemi conseguiu enfrentar tantas adversidades? Muito provavelmente,
guiada por Deus, ela decidiu voltar para a terra de Judá, onde poderia adorar a
Deus em liberdade e encontrar-se novamente com seus parentes que seriam
capazes de ajudá-la. Ela também estava disposta a aceitar a amável e pronta ajuda
de sua nora Rute (Rt 1:18), que viria a se tornar o caminho para a sua cura.
Noemi teve o especial cuidado de animar e ajudar Rute em sua adaptação ao
novo local em que foi morar (Rt 2:2) e no seu relacionamento com Boaz (Rt
2:19-22; 3). Aceitar ajuda e ajudar outros faz parte do plano de Deus para
lidarmos com as dificuldades, e essa parece ter sido, pelo menos em parte, a
estratégia que ajudou Noemi a enfrentar as adversidades em sua vida.
Finalmente, temos Elias, um dos profetas que esteve sujeito a situações de
extremos altos e baixos em suas experiências emocionais. Em 1 Reis 17 e 18,
lemos a descrição de uma série de grandes manifestações do poder de Deus: o
profeta sendo alimentado por corvos, a viúva de Sarepta utilizando o azeite e a
farinha que não acabavam, o filho dela que foi ressuscitado, Deus enviando fogo
sobre o Monte Carmelo, 450 falsos profetas castigados, a chuva que caiu
miraculosamente após três anos e meio de seca. E então, no capítulo 19, vemos o
protagonista amedrontado, ansioso e deprimido, depois que Jezabel pronunciou a
sentença de que iria matá-lo dentro de vinte e quatro horas. A seguir,
encontramos Elias apavorado, fugindo para se livrar das mãos de Jezabel, e
caminhando um dia inteiro até o deserto para depois pedir a Deus que lhe tirasse
a vida (1Rs 19:3, 4).
Como Elias enfrentou tantos desafios? Pelo menos uma coisa ele fez: orou. E
esse foi um passo positivo enorme. Não importa se a pessoa ora para Deus tirar-
lhe a vida, o importante é que permaneça aberta à intervenção divina, pois Ele
sempre vai fazer o melhor. Elias teve vários tipos de comportamento (alguns
induzidos por agentes divinos) que o ajudaram a enfrentar tantas dificuldades:
Dormiu. Comeu pão assado por um anjo. Dormiu novamente. Comeu de novo.
E em seguida começou a fazer um exercício físico bastante pesado – caminhou
quarenta dias e quarenta noites para cobrir quase 700 quilômetros desde o Monte
Carmelo até o Monte Horebe (v. 5-9). O plano funcionou, pois Elias teve a
saúde mental e espiritual restauradas e um encontro com Deus no Monte Horebe,
onde recebeu a última missão antes de ir para o Céu (v. 12-18).
Ao olharmos para a vida de Cristo, vamos encontrar inspiração e motivação
para seguir seus passos. Ele nos diz: “Aprendei de mim” (Mt 11:29, ARA). Ellen
G. White assim escreve sobre o início de seu ministério: “As sedutoras sugestões a
que Cristo resistiu foram as mesmas que tão difícil achamos vencer. A pressão que
exerciam sobre Ele era tanto maior, quanto seu caráter era superior ao nosso.
Com o terrível peso dos pecados do mundo sobre si, Cristo suportou a prova
23
quanto ao apetite, o amor do mundo e da ostentação, que induz à presunção.”
Também, “Ele foi deixado a lutar com a tentação. Ela o apertava a todo
24
instante.” As Escrituras proporcionaram ajuda e apoio a Jesus e, acima de tudo,
vitória sobre a tentação. A meditação nas passagens bíblicas, a repetição dos versos
que lemos e a memorização de textos-chave da Bíblia são as estratégias de
enfrentamento utilizadas pelo Mestre. Ele nos oferece essas preciosas ferramentas
para lidarmos com a tentação e outras fontes de estresse.
Os escritores dos evangelhos também mencionaram várias ocasiões em que
Jesus foi a um lugar solitário para manter comunhão com o Pai. Era dessa maneira
que Ele enfrentava tantos pedidos de ajuda que vinham do povo, a falta de
compreensão dos discípulos, a crítica e a perseguição dos inimigos e o pesado
fardo de sua missão em favor da humanidade. A oração e as Escrituras eram dois
pilares em que Ele se apoiava para enfrentar os problemas e adversidades. E eles
estão à nossa disposição também. Em tempos de provação e dificuldade, podemos
não ter motivação para estudar a Bíblia mais profundamente, com o uso de uma
concordância e outros recursos teológicos à mão. Entretanto, a repetição de
breves porções da Bíblia que guardamos na memória pode ser a solução para
melhorar nosso humor e fazer-nos esquecer dos momentos de aflição que
passamos. O quadro a seguir contém vários textos bíblicos pequenos, que podem
ser memorizados e usados de acordo com a necessidade.
Textos Bíblicos Para Memorizar que Ajudam a
Enfrentar as Adversidades
Adversidade “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das
misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola em todas as
nossas tribulações, para que, com a consolação que recebemos de Deus,
possamos consolar os que estão passando por tribulações” (2Co 1:3, 4).
Ansiedade “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e
súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz
de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a
mente de vocês em Cristo Jesus” (Fp 4:6, 7).
Desafios pela “Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o
falta de segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem
recursos alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade” (Fp
4:12).
Depressão “E os que o Senhor resgatou voltarão. Entrarão em Sião com cantos
de alegria; duradoura alegria coroará sua cabeça. Júbilo e alegria se
apoderarão deles, e a tristeza e o suspiro fugirão” (Is 35:10).
Dificuldades “Este é o Deus que em meu favor executa vingança, que sujeita
nações ao meu poder, que me livrou dos meus inimigos. Tu me exaltaste
acima dos meus agressores; de homens violentos me libertaste” (2Sm
22:48, 49).
Temor “Não temas, porque Eu sou contigo; não te assombres, porque Eu sou
o teu Deus; Eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra
fiel” (Is 41:10, ARA).
Medo e “Não te assustarás do terror noturno, nem da seta que voa de dia, nem
apreensão da peste que se propaga nas trevas, nem da mortandade que assola ao
meio-dia. Caiam mil ao teu lado, e dez mil, à tua direita; tu não serás
atingido.” (Sl 91:5-7, ARA).
Medo da “Eu os redimirei do poder da sepultura; Eu os resgatarei da morte”
morte (Os 13:14).
Pesar e “Porque o Senhor não o desprezará para sempre. Embora Ele traga
aflição tristeza, mostrará compaixão, tão grande é o seu amor infalível. Porque
não é do seu agrado trazer aflição e tristeza aos filhos dos homens” (Lm
3:31-33).
Doença “O meu corpo e o meu coração poderão fraquejar, mas Deus é a força
do meu coração e a minha herança para sempre” (Sl 73:26).
Dor e “E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já
sofrimento não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas
passaram” (Ap 21:4, ARA).
Tristeza “Agrada-te do Senhor, e Ele satisfará os desejos do teu coração” (Sl
37:4, ARA).
Provações Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem
por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz
perseverança” (Tg 1:2, 3).
Tribulações “Eu lhes disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste
mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o
mundo” (Jo 16:33).
Pensamentos “A tua benignidade, Senhor, me sustém. Nos muitos cuidados que
indesejáveis dentro de mim se multiplicam, as tuas consolações me alegram a alma”
(Sl 94:18, 19, ARA).
Fraqueza “O Senhor é a minha rocha, a minha cidadela, o meu libertador; o
meu Deus, o meu rochedo em que me refugio; o meu escudo, a força da
minha salvação, o meu baluarte” (Sl 18:2, ARA).

Conclusão
Quando o já falecido bispo de Madras passou em Travancore, na Índia, como
parte de seu itinerário de visitas ao Sul da Ásia, foi apresentado a uma garotinha
chamada carinhosamente de “a Pequena Apóstola” pelos moradores locais. O
apelido lhe foi dado porque havia sofrido violenta perseguição no tempo em que
era escrava e também por ser cristã. Ela conseguiu levar muitas pessoas a Cristo
por meio de sua atitude de calma e perseverança. Quando o bispo viu o seu rosto,
o pescoço e os braços cheios de cicatrizes e marcas de agressões, ficou
profundamente comovido e lhe disse: “Minha filha, como você foi capaz de
suportar tudo isso?” Para surpresa do bispo, ela respondeu com voz suave: “Não é
25
do seu agrado sofrer por Cristo, senhor?”
Nem todos os seguidores de Jesus serão chamados a sofrer da mesma forma, mas
todos enfrentarão dificuldades. O Senhor verdadeiramente se importa quando
temos que passar por experiências de sofrimento. A Bíblia orienta a todos:
“Lancem sobre Ele toda a sua ansiedade, porque Ele tem cuidado de vocês” (1Pe
5:7). Se você está passando por momentos difíceis ou deseja estar preparado para
quando sobrevierem as adversidades, lembre-se de que o princípio para enfrentá-
las da melhor forma é permanecer em Jesus e em seu amor (Jo 15).
Questões Para Estudo
• Leia 2 Samuel 12:1-25. Como o rei Davi reagiu à repreensão do profeta?
Como ele enfrentou o enorme fardo da culpa? Onde ele foi assim que ficou
sabendo que seu filho estava morto? Por quê? Que lições de enfrentamento você
pôde aprender desse relato?
• Leia 2 Crônicas 20. Quais foram as reações do rei Josafá quando soube das
terríveis notícias? Como ele enfrentou situações tão difíceis? O que você pode
aprender por meio da oração que ele fez a Deus? Como o problema foi resolvido?
Se tiver que enfrentar um problema sério de saúde, na família, no trabalho ou
dificuldades financeiras, como você aplicaria os princípios descritos em 2 Crônicas
20? E se a ajuda divina não vier de forma tão miraculosa como veio para Josafá?
• Leia 2 Coríntios 12:6-10. Como o apóstolo Paulo enfrentou o espinho na
carne? A que conclusão ele chegou após suplicar a cura ao Senhor e receber uma
resposta negativa?
Aplicação
• Memorize o seguinte texto bíblico: “Para os homens, é impossível; contudo,
não para Deus, porque para Deus tudo é possível” (Mc 10:27, ARA). Tenha esse
verso sempre em mente para os momentos em que qualquer coisa, seja grande ou
pequena, se torne muito difícil para você.
• O texto de 2 Coríntios 4:17, 18 descreve uma “momentânea tribulação” e faz
uma clara diferença entre as coisas que podemos ver e aquelas que estão além de
nossa visão, ou seja, entre as coisas temporais e as eternas. Como você pode
discernir o que pertence ao âmbito temporal e o que é eterno? Se vierem
momentos de aflição, como esse conceito pode ajudar você a enfrentar tais
situações?
• Ellen G. White afirma que Deus “se agrada quando insistimos em que as
26
graças e bênçãos passadas são a razão para nos conceder bênçãos maiores”. O
que você pode fazer para não se esquecer das bênçãos que recebeu?

1
E. Ramal, comunicação pessoal, em 9 de novembro de 2012.
2
Harold G. Koenig et al., 2012 Summer Research Workshops on Spirituality and Health (Durham, NC: Duke
Center for Spirituality, Theology and Health, 2012), p. 61.
3
Koenig et al., Handbook of Religion and Health, 2a ed. (Nova York: Oxford University Press, 2012), p. 91-
93.
4
Daniel H. Grossoehme et al., “Parents’ Religious Coping Styles in the First Year After Their Child’s
Cystic Fibrosis Diagnosis”, Journal of Health Care Chaplaincy 16 (2012), p. 109-122.
5
Thomas P. Carpenter et al., “Religious Coping, Stress, and Depressive Symptoms Among Adolescents: A
Prospective Study”, Psychology of Religion and Spirituality 4 (2012), p. 19-30. Participaram do estudo 111
adolescentes (28% do sexo masculino e 72% do sexo feminino).
6
Jeffrey P. Bjorck e John W. Thurman, “Negative Life Events, Patterns of Positive and Negative
Religious Coping, and Psychological Functioning”, Journal for the Scientific Study of Religion 46 (2007), p. 159-
167.
7
Melissa M. Kelley e Keith T. Chan, “Assessing the Role of Attachment to God, Meaning, and Religious
Coping as Mediators in the Grief Experience”, Death Studies 36 (2012), p. 199-227. O estudo incluiu 99
participantes com idade média de 46 anos, sendo 23% homens e 77% mulheres.
8
Bjorck et al., “Religious Coping, Religious Support, and Psychological Functioning Among Short-Term
Missionaries”, Mental Health, Religion & Culture 12 (2009), p. 611-626. Uma amostragem de 99 alunos foi
obtida das Faculdades Nazareno, com a participação de 32 rapazes e 66 moças.
9
Amy P. Webb et al., “Divorce, Religious Coping, and Depressive Symptoms in a Conservative Protestant
Religious Group”, Family Relations 59 (2010), p. 544-557. As mulheres formaram a maior representatividade,
perfazendo um total de 67% dos participantes. A média de idade foi de 61 anos, com 60% de origem branca e
33% de negros, e os restantes 7% eram principalmente de hispânicos e asiáticos.
10
Angelica P. Herrera et al., “Religious Coping and Caregiver Well Being in Mexican-American
Families”, Aging & Mental Health 13 (2009), p. 84-91. O estudo abrangeu 66 cuidadores que trabalhavam
com as famílias no condado de San Diego, na Califórnia, sendo a maioria mulheres (89,4%), em média com
48,5 anos de idade, e em sua maior parte católicos romanos (70%).
11
Kelly M. Trevino et al., “Religious Coping and Physiological, Psychological, Social, and Spiritual
Outcomes in Patients With HIV; AIDS: Cross-sectional and Longitudinal Findings”, AIDS Behavior 17
(2010), p. 379-389. Foram 429 participantes ao todo (85% homens e 15% mulheres), recrutados nos centros
médicos em Pittsburgh, Cincinnati, e em Washington, DC. Quanto à orientação sexual, 50,3%
consideravam-se gays ou lésbicas, 33,3% eram heterossexuais e 11,4% afirmaram ser bissexuais.
12
Kevin L. Rand et al., “Illness Appraisal, Religious Coping, and Psychological Responses in Men With
Advanced Cancer”, Support Care Cancer 20 (2012), p. 1.719-1.728. A amostragem foi composta de 86
homens com câncer em estágio avançado (a maioria com câncer gastrointestinal e sarcoma) e 63% deles
estavam recebendo quimioterapia na ocasião em que foi feito o estudo. Os pesquisadores recrutaram
participantes que se tratavam no Centro Simon Para o Câncer, na Universidade de Indiana, a maioria com
mais de 18 anos, sob tratamento de câncer em estágio avançado, fluentes no inglês, com capacidade para
consentir em dar as informações e com uma expectativa de vida de pelo menos três meses, sem nenhum tipo
de limitação cognitiva para o preenchimento dos questionários relacionados à pesquisa.
13
Suzana P. Ramirez et al., “The Relationship Between Religious Coping, Psychological Distress and
Quality of Life in Hemodialysis Patients”, Journal of Psychosomatic Research 72 (2012), p. 129-135.
Participaram do estudo 64% de homens e 36% de mulheres, com idade média de 48 anos. A maioria era de
cristãos (98%), sendo dois terços de católicos e um terço de protestantes.
14
Suzanne C. Leaman e Cristina B. Gee, “Religious Coping and Risk Factors for Psychological Distress
Among African Torture Survivors”, Psychological Trauma: Theory, Research, Practice, and Policy 4 (2012), p.
457-465. Dos 131 participantes (75 mulheres e 56 homens), cerca de 70% eram da Etiópia e Camarões; os
restantes eram do Quênia, Serra Leoa, Tobo, Burundi e Mali. Praticamente todos (99,2%) estavam buscando
asilo político nos Estados Unidos e estavam separados dos membros imediatos da família, que permaneceram
na África, em seu país de origem. Os dados foram coletados em inglês, francês e amárico (língua oficial da
Etiópia).
15
Courtney E. Ahrens et al., “Spirituality and Well-Being: The Relationship Between Religious Coping
and Recovery From Sexual Assault”, Journal of Interpersonal Violence 25 (2010), p. 1.242-1.263.
16
Monica M. Gerber et al., “The Unique Contributions of Positive and Negative Religious Coping to
Postraumatic Growth and PTSD”, Psychology of Religion and Spirituality 3 (2011), p. 298-307. Eles
conseguiram uma amostragem de 1.016 estudantes universitários formandos de uma grande universidade
pública no sul dos Estados Unidos, sendo 33% homens e 67% mulheres, com 20 anos de idade, em média.
Eles receberam avaliações de estratégias gerais de enfrentamento, enfrentamento religioso, um questionário
sobre acontecimentos traumáticos, um relatório sobre o crescimento pós-traumático e um checklist sobre o
Transtorno de Estresse Pós-traumático.
17
I. Ungureanu e J. G. Sandberg, “Broken Together? Spirituality and Religion as Coping Strategies for
Couples Dealing With the Death of a Child: A Literature Review With Clinical Implications”, Contemporary
Family Therapy 32 (2010), p. 202-319.
18
Yaron G. Rabinowitz et al., “Is Religious Coping Associated With Cumulative Health Risk? An
Examination of Religious Coping Styles and Health Behavior Patterns in Alzheimer’s Dementia Caregivers”,
Journal of Religion and Health 49 (2010), p. 498-512.
19
Laurie A. Burke et al., “Faith in the Wake of Homicide: Religious Coping and Bereavement Distress in
an African American Sample”, International Journal for the Psychology of Religion 21 (2011), p. 289-307.
20
Steven Pirutinsky et al., “Does Negative Religious Coping Accompany, Precede, or Follow Depression
Among Orthodox Jews?”, Journal of Affective Disorders 132 (2011), p. 401-405.
21
Randy Herbert et al., “Positive and Negative Religious Coping and Well-Being in Women With Breast
Cancer”, Journal of Palliative Medicine 12 (2009), p. 537-545.
22
Ellen G. White, Patriarcas e Profetas (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 213, 214.
23
White, O Desejado de Todas as Nações (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2004), p. 116.
24
Ibid., p. 118.
25
Paul Lee Tan, Encyclopedia of 15,000 Illustrations, entrada 12.443.
26
White, A Ciência do Bom Viver (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2004), p. 513.
CAPÍTULO 10
PLENA SAÚDE FÍSICA E MENTAL
“Descanse somente em Deus, ó minha alma; dele vem a
minha esperança.”
Salmo 62:5

H elena está agora com uns cinquenta anos de idade e passou por um episódio
de depressão quando tinha vinte anos. Ela sentia uma tristeza contínua, que
não passava mesmo diante de qualquer coisa que pudesse deixá-la animada e feliz.
Ela se distanciava dos amigos, de tudo que promovesse maior sociabilização e ia
para seu quarto, onde chorava muito, considerando-se totalmente inútil e com a
mente cheia de pensamentos negativos e pessimistas. Ela teve até mesmo sérios
pensamentos de suicídio, embora nunca tenha tentado. Felizmente, teve a
oportunidade de receber um bom tratamento, tanto médico como psicológico, e
em alguns meses conseguiu se recuperar.
O médico lhe disse que seu problema ocorreu devido à alta carga de estresse
que ela passou para cumprir as tarefas e se formar na faculdade. Helena se
recuperou completamente, casou-se, formou uma família e pôde desfrutar a vida
intensamente. Infelizmente, depois que os filhos saíram de casa, ela começou a
sentir-se depressiva novamente e a abrigar aqueles mesmos sentimentos de trinta
anos no passado. O conhecimento que tinha sobre o que podia esperar, com base
na experiência anterior, não a ajudou. Na verdade, foi pior, porque ela já previa
os sintomas e temia pelo que iria passar dentro de pouco tempo novamente. Para
complicar as coisas ainda mais, ela foi diagnosticada recentemente com doença
cardíaca, e isso trouxe ainda mais transtornos à sua vida já conturbada.
Entretanto, ocorreu algo novo e melhor nessa ocasião. Ao contrário do que
havia acontecido no tempo em que era uma garota na faculdade, ela decidiu
enfrentar esses problemas de saúde física e mental com a ajuda de seu Pai celestial.
Helena depositou os pesados fardos que carregava nas mãos de Deus e confiou
que Ele cumpriria a sua divina vontade na vida dela. Ela ainda foi ao médico e
recebeu conselhos sobre como agir, mas seu relacionamento com o Senhor se
aprofundou e se tornou mais íntimo, o que fez uma grande diferença. Orando
frequentemente com o esposo, continuou ajudando em alguns trabalhos da igreja.
Acima de tudo, ela manteve o hábito de orar e ler a Bíblia.
Helena diz que alguns versículos da Bíblia foram de grande ajuda. Ela os
personalizava (isto é, substituía o “nós” por “eu”), colava em pequenos cartões e
levava consigo aonde ia. Entre as tarefas que realizava, quando utilizava o
transporte público, ao acordar, antes de dormir e a qualquer momento em que se
sentisse desanimada, ela pegava seus cartões e lia novamente as promessas neles
contidas. Eis alguns daqueles versos que lhe traziam grande conforto:
• “Por que você está assim tão triste, ó minha alma? Por que está assim tão
perturbada dentro de mim? Ponha a sua esperança em Deus! Pois ainda o
louvarei; Ele é o meu Salvador e o meu Deus” (Sl 42:11).
• “Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável. Tuas obras são
maravilhosas! Digo isso com convicção” (Sl 139:14).
• “Tendo sido [eu], pois, [justificada] pela fé, [tenho] paz com Deus, por [meu]
Senhor Jesus Cristo, por meio de quem [obtive] acesso pela fé a esta graça na qual
agora [estou firme]; e [me glorio] na esperança da glória de Deus. Não só isso,
mas também [me glorio] nas tribulações, porque [sei] que a tribulação produz
perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado,
esperança. E a esperança não [me] decepciona, porque Deus derramou seu amor
em [meu coração], por meio do Espírito Santo que Ele [me] concedeu” (Rm 5:1-
5).
• “Coloquei toda minha esperança no Senhor; Ele se inclinou para mim e
ouviu o meu grito de socorro. Ele me tirou de um poço de destruição, de um
atoleiro de lama; pôs os meus pés sobre uma rocha e firmou-me num local
seguro. Pôs um novo cântico na minha boca, um hino de louvor ao [meu] Deus.
[Eu verei] isso e [temerei], e [confiarei] no Senhor” (Sl 40:1-3).
Uma coisa que Helena descobriu que a ajudava muito era orar ao longo do dia
– fazer orações breves, mas com maior frequência. Quando ela estava diante do
computador, o pequeno relógio no canto do vídeo a lembrava de orar por meio
minuto apenas, a cada meia hora. Ela fazia questão de orar brevemente cada vez
que pensamentos de baixa autoestima a assaltavam. E, logo em seguida, ela repetia
a mensagem encontrada em Salmo 139:14: “Graças te dou, visto que por modo
assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a
minha alma o sabe muito bem” (ARA).
A recuperação levou tempo, mas ela diz que foi muito mais fácil suportar o
processo do que aquele episódio de depressão que ela teve quando estava na
faculdade. Ela não teve mais sintomas um ano após o aparecimento dos primeiros
sinais. A depressão de Helena foi um caso agudo, e não crônico, o que é melhor
que a depressão que se instala na pessoa indefinidamente. No caso dela, o Senhor
– sem realizar nenhum tipo de milagre espetacular de cura imediata – trabalhou
pacientemente até que a depressão desaparecesse. O que essa experiência lhe
trouxe de bom? Helena obteve melhor compreensão de si mesma, do outros e de
suas lutas. Adquiriu melhor relacionamento com o esposo e, acima de tudo, uma
ligação mais forte e íntima com o Senhor.
Salmos e Provérbios
Os Salmos e os Provérbios são uma rica fonte de orientação e encorajamento
para a saúde física, mental e espiritual. Eu os recomendo às pessoas que sofrem de
depressão ou são ansiosas, ou que simplesmente passam por momentos de lutas e
dificuldades. Quando a pessoa os lê em uma atmosfera tranquila, com oração e
humildade, vários mecanismos fisiológicos são colocados em ação, o que, por sua
vez, melhora o estado de espírito e consequentemente protege contra as
enfermidades físicas.
Repassar o livro de Salmos por uma hora, reverentemente, sem a pressão do
tempo e livre de preocupações, traz grandes bênçãos ao corpo, à mente e ao
espírito. Os textos a seguir nos dão uma pequena ideia das mensagens apresentadas
nos Salmos.
As amizades com pessoas de conduta duvidosa devem ser evitadas, mas o
relacionamento com aqueles que seguem as orientações divinas traz bons frutos
(Sl 1:1-3) Estar perto de Deus traz alegrias, afasta os temores e faz a pessoa dormir
bem (3:4-6; 4:8; 5:11). O Senhor se agrada em responder às súplicas dos tristes,
dos que choram, dos que estão cansados e fracos (6:6-9). Alegramo-nos porque
Deus nos salva (9:14). Quando o pobre e o desabrigado estão com Deus, eles têm
esperança (9:18). Aos oprimidos, desamparados e sofredores o Senhor dará
segurança (12:5). O Senhor supre as nossas necessidades físicas com abundância de
alimento (17:14). Ele é a Fonte de toda a nossa confiança. (20:7). Deus ouve
aqueles que vivem em dores e não os abandona. Ele ouve seu grito de socorro
(22:14; 15, 24). Não precisamos temer em meio ao perigo, mesmo diante da
morte (23:4). O Senhor se preocupa conosco se estamos sozinhos e aflitos (25:16).
Alguns salmos são baseados em um tema central, tornando-os bastante
apropriados para situações e necessidades específicas:
• Salmo 18 – Esse é um cântico de louvor composto por Davi para exaltar o
nome do Senhor como sendo uma rocha, uma fortaleza, um escudo e torre alta.
Descreve os perigos pelos quais Davi passou, utilizando metáforas da natureza para
mostrar que qualquer pessoa que vier a passar por problemas e dificuldades
consegue entender a enormidade do sofrimento humano e pode, da mesma
forma, confiar no infinito poder de Deus. Para o salmista, a solução vem de Deus,
e essas são promessas feitas a qualquer um que passar por tribulações.
• Salmo 23 – Esse salmo apresenta o Senhor como um pastor. O mais
conhecido de todos os salmos revela o humilde, amoroso e terno caráter de Deus
ao cuidar de nós. Transmite calma e tranquilidade a qualquer pessoa que estiver
sentindo medo, inquietação, dúvida, irritação, hostilidade, fraqueza ou falta das
necessidades mais básicas.
• Salmo 34 – É um salmo que traz consolo aos que estão com o coração
quebrantado. Fala do poder do Senhor, de seu amor e boa vontade em ajudar seus
filhos quando passam por aflição, pesar, tribulações ou fadiga. O salmo termina
assegurando que nenhuma pessoa que a Ele recorrer se perderá.
• Salmo 55 – É um dos vários salmos que asseguram a proteção contra os
inimigos. Davi estava passando por extrema angústia por causa de seus adversários.
Ler esse salmo em diferentes versões ajuda-nos a perceber a riqueza de expressões
que descrevem as emoções de Davi. Deus vem em seu auxílio porque ele busca o
Senhor “à tarde, pela manhã e ao meio-dia” e Ele ouve a sua voz. Com base em
sua experiência, o escritor recomenda: “Entregue suas preocupações ao Senhor, e
Ele o susterá” (v. 22).
• Salmo 32 – É um salmo que alivia a culpa. O texto descreve o que acontece
quando a pessoa não confessa – vive gemendo e fazendo os ossos se secarem. O
fardo se torna realmente insuportável, mas o conselho do salmista é a confissão.
Ela traz perdão, liberdade, alegria e proteção.
• Salmo 46 – É a mais confortadora mensagem contra a ansiedade que há no
livro dos Salmos. Deus é apresentado como o nosso refúgio e força, pois Ele é
poderoso e insondável. Quando seus filhos permanecem ao seu lado, não têm
nada a temer, seja qual for ameaça que os aflige. Em termos atuais, um “batalhão”
de dificuldades financeiras, problemas de saúde, de relacionamento, de segurança
ou problemas profissionais que nos cercam não são nada, porque o Senhor dos
Exércitos está conosco.
• Salmo 68 – Traz esperança aos marginalizados. Aqueles que vivem nas
condições mais humildes – os órfãos, viúvas, abandonados, desolados ou
prisioneiros – podem aproximar-se confiantemente diante do Todo-poderoso
Deus. Ele faz a natureza tremer e poderosas nações ruírem. Qualquer um que se
sentir pequeno, incapaz ou indigno pode obter a força divina e ter a honra de ser
chamado de filho ou filha de Deus.
• Salmo 103 – Apresenta um retrato do caráter de Deus. Muitas qualidades do
Criador são mencionadas: Ele é justo, bondoso, misericordioso, amoroso,
compassivo, tardio em se irar. O texto traz uma mensagem que é um convite para
nos lembrarmos de que apesar de nossas dificuldades, tendo um Deus maravilhoso
ao nosso lado, todos os problemas serão superados.
• Salmo 118 – Esse salmo é para os aflitos. Mesmo diante da mais extrema dor
emocional, a pessoa pode clamar a Deus, receber forças e ser capaz de vencer
todas as dificuldades que enfrenta. Triunfo, prosperidade e salvação resultam da
bondade e misericórdia de Deus.
• Salmo 121 – Esse é o salmo da presença de Deus. Ele nos lembra de que Deus
está constantemente guardando a vida de seus filhos. Ele revela um sentimento de
total proteção. Passar por momentos de ansiedade e incerteza pode trazer grandes
dissabores. Assim, repetir as palavras desse salmo ajuda-nos a sentir a presença de
Deus de maneira bem mais real.
• Salmo 130 – É um cântico de declaração do perdão de Deus a Israel por causa
de suas transgressões. Deus é misericordioso e, da mesma maneira que Ele perdoa
seu povo, perdoa também aqueles que a Ele se achegam com todo o fardo de
pecados e lhe pedem libertação.
• Salmo 139 – Esse salmo nos mostra o cuidado pessoal de Deus. Ele conhece
tudo sobre nós, até os pensamentos mais íntimos, onde quer que estejamos e em
todas as horas do dia. Isso pode nos proporcionar um sentimento de grande paz,
sabendo que Deus pode guiar-nos em qualquer situação de nossa vida, e
finalmente nos conduzir para a eternidade.
• Salmo 143 – O salmo revela a deplorável condição do salmista. Ele se sente
humilhado até o pó, enfraquecido, com o espírito oprimido e o coração pesaroso.
Então ele clama a Deus e busca a misericórdia e bondade divinas para que o
Senhor o liberte da angústia. Da mesma maneira, qualquer um de nós, hoje, pode
clamar a Ele das profundezas da depressão e receber forças.
O livro de Provérbios contém outra série de bons conselhos para que possamos
viver uma vida melhor. É um guia extremamente útil para a formação de bons
hábitos na edificação do caráter e nas relações interpessoais em nossos dias, assim
como foi há três mil anos. Essas gotas de sabedoria apelam para o bom senso e são
comprovadas por estudos científicos. Os provérbios ensinam que o nosso coração
(a sede dos pensamentos e emoções no contexto bíblico, que para nós é a mente)
é a fonte da vida (Pv 4:23) e que nossas atitudes operam para o melhor ou para o
pior, dependendo se são positivas, e agem como remédio; ou negativas, e nos
fazem adoecer (17:22). Também nos ensinam que a ansiedade abate o espírito,
mas a boa palavra o anima. Apontam para uma ligação entre a mente e o corpo
físico – se há paz internamente, há também saúde; mas, quando a pessoa abriga a
inveja no coração, seus ossos apodrecem (14:30). Também lemos que, se estamos
felizes, nosso rosto se alegra, mas a tristeza causa abatimento (15:13). O livro traz
até mesmo alguns conselhos sobre hábitos de temperança. Eles vão fazer a
diferença em nossa saúde e comportamento: comer demais é como colocar uma
faca na garganta (23:2, 3); o uso de bebidas alcoólicas vem acompanhado de
consequências físicas e psicológicas extremamente desagradáveis (v. 29-35) e seu
uso não é aconselhável aos líderes para que eles mesmos não façam papel de tolos
(31:4-7).
Evidências dos benefícios da fé
Faz pouco tempo, um amigo me perguntou se eu estava envolvido em algum
projeto literário. Isso deu origem a uma conversa a respeito deste livro. Eu lhe
disse na ocasião: “O objetivo de Crer Faz Bem é mostrar que pessoas religiosas
obtêm muitas recompensas relacionadas à saúde e ao bem-estar justamente por
serem religiosas.” E ele respondeu: “Bem, disso eu já sabia!” Com certeza, as
pessoas que desfrutam um relacionamento pessoal com Deus já sabem disso por
experiência própria. Entretanto, há um número cada vez maior de pessoas que
deseja obter provas sobre esse assunto. E nós temos muitas agora.
Neste livro, o leitor teve a oportunidade de conferir as inúmeras recompensas
que tem por ser uma pessoa religiosa. Vimos que a oração produz baixos níveis de
ansiedade, alivia os sintomas da depressão e previne graves doenças mentais. Além
disso, a oração intercessória ajuda grupos de pacientes cardíacos a se recuperarem
mais rapidamente do que pacientes pelos quais ninguém orou. Os textos bíblicos
têm sido considerados uma poderosa ferramenta para melhorar a saúde mental e
física de pessoas de todas as idades. Muitos utilizam as passagens da Bíblia com
bastante êxito para enfrentar os momentos de estresse e de lutas, e também como
uma maneira de sentirem menos dor ao passar por alguma doença. A leitura da
Bíblia tem-se mostrado repetidamente como um meio facilitador para aprimorar
os relacionamentos e uma proteção contra o uso do álcool, do fumo e das drogas.
O perdão (tanto dar como receber perdão) é um agente de cura que nutre os
relacionamentos, eleva a qualidade do sono, traz maior sensação de bem-estar e
mais satisfação, melhora as funções cardíacas e faz as pessoas ganharem força física.
Também impede a vingança e o uso de substâncias que causam dependência. É
capaz de aliviar as dores da fibromialgia, diminuindo os sintomas da doença e
resultando na redução da quantidade de medicação ingerida.
Estar comprometido com os próprios princípios e crenças traz inúmeros
benefícios: melhor desempenho acadêmico na juventude, evita comportamentos
de risco (delinquência, drogas), melhora as interações pessoais, inclusive nos
relacionamentos matrimoniais e entre pais e filhos. O comprometimento aumenta
de maneira notável a saúde e a longevidade.
O serviço em favor de outros também traz muitas bênçãos. As pessoas que
costumam prestar serviço voluntário possuem níveis muito mais elevados de bem-
estar. Têm menos probabilidade de entrar em depressão, desfrutam melhor
condição de saúde e vida mais longa.
A frequência regular aos cultos na igreja também traz seus dividendos: menor
incidência de doença cardíaca, hipertensão, doença cerebrovascular, demência,
disfunção do sistema imunológico, disfunção endócrina, câncer e de mortalidade.
Ir à igreja ajuda as pessoas a se adaptarem aos novos locais em que vão morar,
promove a satisfação na família e fora dela. Além disso, acrescenta inúmeros
benefícios à saúde mental: baixa ocorrência de depressão, menos tendências
psicóticas, mais elevada satisfação pessoal e senso do serviço, menos temor em
relação às doenças e debilidade física, menos medo de quedas (entre os idosos),
menor índice no abuso das drogas e melhoria geral nos relacionamentos.
A alegria e a gratidão a Deus, observadas nas pessoas religiosas, têm-se provado
um benefício também: são agentes poderosos em favor do bem-estar e da saúde
de forma geral. A alegria favorece bons hábitos como o controle do peso, prática
de exercícios e um regime alimentar mais saudável. Protege contra pensamentos
negativistas e catastróficos, que são os precursores da depressão, e ajuda a diminuir
os sintomas depressivos. Na área das relações interpessoais, especialmente nas
comunidades religiosas, é um fator decisivo para ajudar os membros a reafirmarem
suas crenças, a desfrutarem melhor saúde física e mental e a realizarem ações
altruístas e a praticarem a empatia.
A religiosidade serve também como um recurso que traz resultados positivos
para lidar com os problemas em momentos de dificuldade. Pessoas que utilizam o
enfrentamento religioso positivo conseguem fazer face aos fatores estressores de
maneira muito mais eficaz que aquelas que utilizam outras estratégias. Elas podem
administrar melhor as perdas (morte de um membro da família, desemprego,
divórcio) e conseguem encontrar um propósito em meio à adversidade. O
enfrentamento religioso alivia os efeitos da depressão, e aqueles que utilizam esse
método são capazes de processar os eventos preocupantes sob uma perspectiva
mais lúcida. O enfrentamento religioso ajuda os cuidadores a atender os membros
doentes da família com uma atitude mais apropriada e melhor disposição. Pessoas
religiosas também podem lidar melhor com a doença crônica e o trauma (tortura,
agressão, abuso, acidentes).
A razão pela qual as estratégias religiosas funcionam é porque Deus é todo-
amoroso e todo-poderoso. Uma colega relatou, certa vez, que ela estava ajudando
uma criança, em sessões de aconselhamento, a lidar com seus temores. Esse
menino tinha medo do escuro, de monstros, de bruxas e de uma porção de
personagens dos desenhos animados da TV. O medo que ele sentia era tão terrível
que seus pais, depois de tentarem vários métodos, finalmente resolveram levá-lo a
um psicólogo clínico. A família possuía uma formação cristã e optou por um
psicoterapeuta também cristão. Em meio às sessões de terapia e aconselhamento, o
garoto acabou falando a respeito do Super-homem, Batman e outros personagens
poderosos que ele conhecia. Minha colega recordou com o menino as histórias da
Bíblia, mostrando-lhe o quanto Jesus é mais poderoso e que Ele poderia expulsar
todos esses monstros e bruxas. Ela o ensinou a pensar em Jesus e em seu grande
poder para protegê-lo e ajudá-lo a dormir tranquilo. Isso funcionou muito bem, e
ele concluiu o tratamento com o inestimável conhecimento de uma fé prática.
No entanto, Deus não é apenas amor e poder. Ele é também sábio e conhece o
fim desde o princípio. Não podemos nos esquecer de que a relação entre a fé
religiosa, a doença e/ou os problemas nem sempre é constante, mesmo com Deus
ao nosso lado. É uma realidade da existência humana que pessoas fiéis também
fiquem gravemente doentes e algumas vezes sofram de doenças terminais e
morram jovens. Por vezes, isso acontece até mesmo com aquelas que fazem tudo
para prevenir esses males e não têm nenhuma história familiar relacionada.
Na verdade, é aqui que a fé pode encontrar um propósito na dor e ajudar a
vítima a olhar ainda mais para o plano da salvação eterna que Deus oferece. O
sofrimento também ocorre na vida dos filhos de Deus. Podemos aprender com os
personagens bíblicos, como o apóstolo Paulo. Ele descreve seu sofrimento em
torturas, aflições, perseguição, adversidades e tribulações que teve que enfrentar
depois que aceitou a Cristo (2Co 11:16-33). Muitas situações adversas são injustas
ou não podem ser entendidas mesmo no contexto do conflito entre o bem e o
mal e do pecado generalizado. Helena, citada no início do capítulo, amadureceu e
encontrou um relacionamento mais profundo com Jesus, como resultado de sua
dor física e mental. Alguns que passam pela adversidade chegam a vivenciar uma
incrível união nas relações familiares. Outros desenvolvem firmeza e pureza de
caráter. Há aqueles que ajudam as pessoas à sua volta a obterem uma perspectiva
de vida e a se inspirarem em sua experiência pessoal. Outros, aparentemente, não
receberão nada que seja considerado positivo. Entretanto, é sempre confortador
saber que, embora possamos ver apenas o presente, Deus vê no contexto da
eternidade.
O caso oposto tem também abalado a lógica humana desde a entrada do
pecado: Por que os maus parecem prosperar em todas as áreas? Por que pessoas
que vivem transgredindo os princípios de saúde desfrutam boa saúde e morrem
em idade bastante avançada? O Salmo 73 traz um pouco de luz sobre o tema: a
primeira metade fala sobre as questões levantadas pelos observadores a respeito das
bênçãos que os ímpios recebem. A segunda metade descreve o triunfo da fé em
Deus, a segurança de que, embora não saibamos por que certas coisas acontecem,
a justiça de Deus prevalecerá. O evangelho de Lucas também acrescenta outra
perspectiva: embora os maus possam prosperar, para eles, tudo se limita a esta
vida. Eles não alcançam a eterna prosperidade (Lc 12:16-21).
Conclusão
No fim da manhã, quando os alunos do jardim de infância já não conseguiam
realizar tarefas mais pesadas, a professora colocou-os para desenhar o que
desejassem. Ela começou a passar pelas carteiras para ver como combinavam as
cores e as formas dos desenhos. Ela observou uma garotinha que estava usando
bastante todos os seus lápis de cor e perguntou o que ela estava desenhando. A
menina respondeu: “Estou desenhando Deus.” A professora foi apanhada de
surpresa e disse simplesmente: “Mas ninguém sabe como é Deus!” Sem hesitar e
continuando a fazer seu desenho, a menina disse: “Pois vão saber em um
minuto.” Que senso de confiança! Algo presunçoso em um adulto pode ser uma
inspiração em uma criança.
É nosso privilégio conhecer a Deus por meio de Jesus, e conhecê-Lo tão bem
como se pudéssemos vê-lo. Isso é o que significa ter perfeita saúde: conhecer a
Deus, falar com Ele, ouvi-lo, esperar nele e amá-lo. É desse modo que podemos
obter vida em abundância (Jo 20:31) e vida eterna (Jo 10:28).
Questões Para Estudo
• Que livro do Antigo Testamento Jesus menciona nos acontecimentos de
Mateus 27:35, 46; Lucas 23:46; e João 13:18? Quais eram as circunstâncias? O
que você pode aprender com Jesus ao referir-se a esses textos bíblicos naquelas
circunstâncias?
• Se você tem uma Bíblia eletrônica, procure pela frase “Não temas” (ou pela
palavra temor em uma concordância). Em que contexto as palavras são usadas?
Quais são algumas maneiras de evitar o medo, a apreensão, a ansiedade e a
incerteza, de acordo com esses textos?
Aplicação
• Utilize uma Bíblia digital ou on-line, ou então uma concordância para buscar
pela palavra “conforto” no livro dos Salmos. Crie uma lista ou escolha dez ou
doze versos que lhe sirvam de apoio na próxima vez que se sentir desanimado.
• Memorize um texto de encorajamento, como: “O Senhor é a minha força e o
meu escudo; nele o meu coração confia, e dele recebo ajuda. Meu coração exulta
de alegria e com o meu cântico lhe darei graças” (Sl 28:7). Tenha-o em mente
por todo o dia e reflita em seu significado sempre que puder. Ore ao Senhor para
que o verso que você escolheu se torne uma realidade em sua vida.
• O que você diria a um vizinho que, sabendo que você é um cristão, lhe
pergunta: “Por que sua fé é tão importante para você?”
• Imagine que um amigo chegue até você e lhe diga: “Eu não sinto mais o
desejo de orar. Perdi o interesse pela Bíblia. Sei que isso não é bom, mas estou
simplesmente perdendo a minha fé.” O que você diria? O que faria para ajudar
seu amigo a não perder a fé e a salvação?

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