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SEMINÁRIO INTERDIOCESANO TOELÓGICO SÃO PIO X - MAPUTO

12º Grupo

A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA NA MODERNIDADE

Eliseu Damião

Florêncio Januário

Marques Mauricio

Docente: Pe. Salvador Bila

Cadeira: Seminário Bíblico


MAPUTO, MAIO DE 2023

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO...........................................................................................................................3
1. IMPACTO DO ILUMINISMO NA INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA...................................4
1.1. Rejeição dos relatos miraculosos.......................................................................................4
1.2. A distinção entre fé e História...........................................................................................4
1.3. Erros nas Escrituras...........................................................................................................4
2 EXEGESE CONTROLADA PELA RAZÃO...........................................................................6
2.1 A conspeção mitológica na interpretação da Bíblia............................................................7
2.2 A interpretação da Bíblia nos dois Testamentos.................................................................7
2.3 Influência Hegeliana na interpretação da Bíblia.................................................................8
3 PRINCIPAIS METODOLOGIAS CRÍTICAS..........................................................................8
3.1. Crítica das fontes...............................................................................................................8
3.2. Crítica da forma.................................................................................................................9
3.4. Crítica da redação..............................................................................................................9
3.5. Cristianismo liberal...........................................................................................................9
CONCLUSÃO...........................................................................................................................11

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INTRODUÇÃO

A interpretação da Bíblia na modernidade é influenciada pelo iluminismo, movimento


surgido no início do século XVIII, uma revolta contra o poder da religião
institucionalizada e contra a religião em geral. As pressuposições filosóficas do
movimento foram moldadas pelo racionalismo de Descartes, Spinoza e Leibiniz, e pelo
espírito de Licke, Berkley e Hume.

Embora teorias contrárias concordassem que Deus tem de ficar fora do conhecimento
humano. Isso produziu profundo impacto na hermenêutica bíblica. Alguns deles eram
ateus, Berkley, por exemplo, atribuía às leis da natureza a vontade livre de Deus não
havendo nenhuma existência afora Deus.

A subdivisão mecanicista do mundo, adoptada à concepção de Deus como criador


acabou no espírito racional que se tornou o método da ciência moderna, no qual não há
espaço para Deus que intervêm. Descartes havia dado razão ao homem como
investigação que afastou Deus para fora do conhecimento humano.

Da mesma forma, os teólogos que adoptam as perspectivas filosóficas da época, a


tentativa de combinar o racionalismo cotas verdades da fé cristã acabaram num sistema
teológico chamado deísmo, que firma a existência de Deus, mas nega a sua intervenção
na história humana, quer por meio de revelação, quer dos milagres ou da providência.

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1. IMPACTO DO ILUMINISMO NA INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA

Dentre resultados e influências do iluminismo na interpretação bíblica, o principal foi a


negação divina, quer na história, quer nos registros bíblicos. A história passou a ser
vista como suplemento uma relação natural de causas e acentua conceitos Deu se revela
aí homem e ele que intervêm e actua sobrenaturalmente na História humana foram
excluídos á priori.

1.1. Rejeição dos relatos miraculosos

Os relatos bíblicos envolvendo a actuação miraculosa de Deus na história, como a


criação do mundo e frequentemente explicados como fenómenos naturais. Apesar disso,
em sua obra Das Leven Jesu (A vida de Jesus) o racionalista Heinrich Pulus realça a
importância dos milagres de Cristo: a coisa verdadeira miraculosa a resposta de Jesus é
de mesmo, pureza, e santidade serena do carácter, o qual genuinamente humano e
adaptado por para ser imitado pela humanidade.

1.2. A distinção entre fé e História

Os milagres, registrados na Bíblia passaram a serem vistos como criação da fé aos


israelitas e da igreja primitiva e não frutos históricos. Bruno Baves o polémico teólogo
liberal alemão, reduziu a ressurreição de Cristo à fé dos discípulos: curando, na crença
de seus seguidores, ele reviveu continuou a viver na comunidade cristã. Ainda Buer
afirma que os milagres de Jesus foram inventados pelos seus discípulos quando passam
a crer que ele era Messias.

David Strauss influenciando pela obra de Herman Rimarus, o Alvo de Jesus e seus
Discípulos (1778), ele na sua obra Vida de Jesus; a declaração que os sinópticos
atribuem a Jesus morto como sacrifício propiciatório é o sistema do presente que
desenvolveu após a morte. E o quarto Evangelho na relação entre morte e vinda do
paráclito parece ser uma profecia após o evento ter acontecido.

1.3. Erros nas Escrituras

A reação contra o dogmatismo que, os racionalistas, haviam prevalecido no período do


escolatismo da Pós-Reforma, se fez sentir especialmente na área da interpretação das

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Escrituras. Os estudiosos racionalistas começaram a insistir que o " dogma" da
inspiração divina da Bíblia podesse ser deixado fora da exegese, para que fosse de
forma "neutra".

Para a interpretação correcta da Bíblia seria necessário um olhar " não religioso"
desprovido de conceitos do tipo " Deus se revela" " a Bíblia é revelação infalível de
Deus", " Bíblia não possui erros". Estes conceitos foram abandonados. Começou-se a
ver a Bíblia como um Escrito cheio de erros e contradições. Por isso, Reimarus sublinha
que nenhum milagre pode provar que dois mais dois fazem cinco ou que um círculo tem
quatro cantos.

Ademais, Johann Semeler, um teólogo alemão, fez a separação entre palavra de Deus e
as Escrituras Sagradas. A palavra de Deus pelo facto de ser contida nas Escrituras não
significa que cada livro canónico seja palavra de Deus. A Escritura para ele é falível e
isenta a erros, o que levou com que rejeitasse o conceito da infalibilidade da Bíblia.

A interpretação da Bíblia na modernidade é influenciada pelo iluminismo, movimento


surgido no início do século XVIII, uma revolta contra o poder da religião
institucionalizada e contra a religião em geral. As pressuposições filosóficas do
movimento foram moldadas pelo racionalismo de Descartes, Spinoza e Leibiniz, e pelo
espírito de Licke, Berkley e Hume. Embora teorias contrárias concordassem que Deus
tem de ficar fora do conhecimento humano.

Isso produziu profundo impacto na hermenêutica bíblica. Alguns deles eram ateus,
Berkley, por exemplo, atribuía às leis da natureza a vontade livre de Deus não havendo
nenhuma existência afora Deus. A subdivisão mecanicista do mundo, adoptada à
concepção de Deus como criador acabou no espírito racional que se tornou o método da
ciência moderna, no qual não há espaço para Deus que intervêm.

Descartes havia dado razão ao homem como investigação que afastou Deus para fora
do conhecimento humano. Da mesma forma, os teólogos que adoptam as perspectivas
filosóficas da época, a tentativa de combinar o racionalismo cotas verdades da fé cristã
acabaram num sistema teológico chamado deísmo, que firma a existência de Deus, mas
nega a sua intervenção na história humana, quer por meio de revelação, quer dos
milagres ou da providência.

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2 EXEGESE CONTROLADA PELA RAZÃO

O estabelecimento da razão como medida da verdade em questões teológicas foi outro


efeito do racionalismo na hermenêutica. Os intérpretes críticos argumentaram que para
se chegar aos fatos por detrás do surgimento da religião de Israel e do Cristianismo seria
necessário reconstruir os fatos daquela época, que estavam por detrás do texto bíblico,
mediante métodos racionais. (Nigodemus, 2004, p. 242).

A razão, é o principal critério a ser empregado nessa tarefa. Os racionalistas entendiam


como sendo a medida suprema da verdade: Tudo o que chamamos de miraculoso e
sobrenatural é para ser entendido somente de forma relativa, e não é nada mais que uma
excepção óbvia ao que pode ser produzido por causas naturais.

Alguns intérpretes que ainda criam que a Bíblia era a Palavra de Deus, mas que estavam
influenciados pelo espírito da época, tentaram defender a presença do sobrenatural nas
Escrituras. Estes deístas tentavam sustentar ao mesmo tempo sua fé em Deus e nas
Escrituras e um compromisso com o racionalismo.

É o caso de Karl Hase. Sua tentativa de manter as duas coisas acaba destruindo o valor
histórico e teológico dos milagres, como podemos ver abaixo no seu pensamento sobre
a ressurreição de Jesus. Para ele, tanto faz se Jesus ressuscitou dos mortos ou
simplesmente reviveu – ambos os casos são compatíveis com a fé cristã.

Ambas as perspectivas históricas possíveis, que o Criador deu uma nova vida a um
corpo que estava realmente morto, ou que a vida latente em um corpo que estava
aparentemente morto reacendeu-se, reconhecem a ressurreição como uma prova
manifesta da Providência por causa de Jesus, e ambas devem ser reconhecidas como
cristãs.

O critério para a determinação da veracidade dos milagres passou a ser a ciência


racionalista que começava a predominar nas academias e universidades. Ernest Renan, o
cético francês, em sua obra polêmica La Vie de Jesus, que lhe custou o emprego como
professor de línguas semíticas no College de France, afirmou:

Nenhum dos milagres, dos quais as antigas histórias estão repletas, aconteceu
sob condições científicas. A observação, que nunca foi contradita sequer uma

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vez, nos ensina que milagres nunca acontecem, a não ser em épocas e lugares
nos quais as pessoas acreditam neles (Nigodemus, 2004, p. 243).

Nenhum milagre jamais ocorreu diante de um homem capaz de testar seu caráter
miraculoso. As pessoas comuns e os leigos não estão preparados para fazer isto. Requer
grande precaução e longos hábitos de pesquisa científica. (Nigodemus, 2004, p. 243).

2.1 A conspeção mitológica na interpretação da Bíblia.

O conceito de “mito” começa a ser aplicado aos relatos miraculosos do Antigo e Novo
Testamentos. Mito era a maneira pela qual a raça humana, em tempos primitivos,
articulava aquilo que não conseguia compreender.

Segundo os intérpretes críticos, as fontes que os autores bíblicos usaram estavam


revestidas de mitos. Surge o termo “alta crítica” para se referir a essa tarefa de “criticar”
o relato bíblico e “limpá-lo” dos acréscimos mitológicos.

Outros estudiosos preferiram usar o termo “saga” para se referir às lendas criadas por
Israel sobre suas origens e pela Igreja apostólica sobre Jesus. Um dos pioneiros em
explicar os evangelhos consistentemente como sendo mitológicos foi David Strauss.
Para ele, nenhum evangelho foi escrito por uma testemunha ocular. Portanto, são
misturas de História e mito (Nigodemus, 2004, p. 244).

Apesar de que a vida terrena do Senhor cai dentro dos tempos históricos, se assumirmos
que somente uma geração passou entre sua morte e a composição dos evangelhos, tal
período teria sido suficiente para permitir que o material histórico se misturasse com
mitos. Ernest Renan, o crítico francês, declarou: “Que os evangelhos são em parte
legendários é evidente, visto que estão cheios de milagres e do sobrenatural”.

2.2 A interpretação da Bíblia nos dois Testamentos.

Houve ainda uma reação dos estudiosos críticos contra a interpretação do Antigo
Testamento feita do ponto de vista do Novo, que era a interpretação cristológica
defendida e desenvolvida pelos reformadores. Argumentavam que não se podia usar o

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Cristianismo como pressuposto para entendimento dos escritos do Antigo Testamento, o
qual deveria ser lido como um livro judaico.

Os críticos insistiam na separação dos Testamentos para que o Antigo pudesse ser lido
sem a interferência do Novo e para que o Novo fosse lido sem a interferência das
doutrinas e dogmas da Igreja. Disseram que só assim poderiam fazer justiça aos autores
Bíblicos.

2.3 Influência Hegeliana na interpretação da Bíblia.

A filosofia hegeliana marcou o final desse período. Esse “método” (assim considerado
por Hegel) oferecia uma visão da História sem Deus, explicando os acontecimentos, não
em termos da intervenção divina, mas em termos de um movimento conjunto do
pensamento, fazendo sínteses entre os movimentos contraditórios (tese e antítese).

Hegel afirmava que o processo dialético contínuo leva ao conhecimento absoluto. Um


importante teólogo alemão, Ferdinand Baur, usando a dialética de Hegel, tentou explicar
a história da igreja primitiva como sendo o embate entre o Cristianismo de Pedro
(legalista) e o de Paulo (mais aberto). A síntese desses movimentos opostos foi o
surgimento da Igreja Católica incipiente no século II (Nigodemus, 2004, p. 244).

3 PRINCIPAIS METODOLOGIAS CRÍTICAS

A enorme influência do racionalismo, permitiu que a tarefa da hermenêutica passa-se a


ser considerada como metodológica, ou seja, cabia à hermenêutica elaborar um método
por meio do qual se pudesse, com a razão e a ciência moderna como ferramentas,
alcançar o sentido verdadeiro de um texto. Esse método que a hermenêutica devia
elaborar designou-se por histórico-crítico, que nasce no final do século XVII.

Alem deste, alguns outros métodos de interpretação foram desenvolvidos durante esse
período todo, são eles: a crítica das fontes, da forma, da redação, literária, histórica, da
tradição.

3.1. Crítica das fontes

A crítica das fontes pretende identificar e isolar as supostas fontes escritas que foram
usadas pelos arquivistas, colecionadores ou editores para compor o texto bíblico como o

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temos hoje, e estudar a teologia, assim se pode dizer, dessas fontes. No entanto, há uma
hipótese trazida por Graff-Wellhausen, a chamada Hipótese documentaria, que defende
a existência de quatro fontes documentárias por detrás da composição do Pentateuco.
De acordo com esta hipótese, essas supostas fontes foram produzidas em diferentes
períodos e por diferentes autores, que foram o Javista (J), o Eloísta (E), o
Deuteronomista (D) e o Sacerdotal.

3.2. Crítica da forma

A crítica da forma, vai mais além que a crítica das fontes e ocupa-se com a pré-história
das fontes escritas que compuseram o texto. De acordo com a crítica da forma, boa parte
dos livros que compõem o Antigo e o Novo Testamento é, em sua forma final, o
resultado de um processo de coleção, edição e harmonização de tradições antigas, fontes
anteriores (escritas ou orais) por parte de editores e escribas.

Por outro lado, a crítica da forma preocupa-se pelo estágio oral pelo qual o texto passou
antes de adquirir forma escrito; o intérprete se interessa em reconstruir o ambiente
vivencial em que essas fontes foram produzidas para assim chegar ao sentido do texto.

3.4. Crítica da redação

A crítica da redação está centrada atenciosamente na figura dos escribas, arquivistas,


editores ou colecionadores que haviam combinado as fontes para formar o texto escrito
na sua forma final. No entanto, os editores passaram a ser vistos como escritores com
habilidades literárias; e por isso tornou-se a tarefa da crítica da redação descobrir a
“teologia” desses redatores, os princípios teológicos que controlaram sua redação das
fontes e das tradições, alcançando a forma final que hoje temos.

3.5. Cristianismo liberal

Quando se optou em unir o racionalismo com a exegese bíblica, esperava-se que


houvesse resultados satisfatórios, não foi o caso, mas o método histórico-crítico legou à
igreja uma Bíblia que deixou de ser Palavra de Deus, tornou-se o testemunho de fé do
povo de Israel e da Igreja primitiva.

No decorrer de tudo isto, surge então um movimento teológico e hermenêutico dentro


do Cristianismo que se chamou liberalismo, o qual rapidamente influenciou as igrejas

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cristãs na Europa, e de lá, o mundo. Este movimento afectou também a própria Igreja
Católica, a partir do concílio Vaticano II, pois, esses liberais decidiram trazer e defender
alguns pontos caracterizando o novo Cristianismo emergido do Iluminismo:

 A Bíblia não é o registro infalível e inspirado da revelação divina, mas o


testamento escrito da religião que os judeus e os cristãos praticavam. Ela não
fala de Deus, mas do que esses criam sobre ele.
 A doutrina ou declarações proposicionais, como as que encontramos nos credos
e confissões da igreja, não são essenciais ou básicas para o Cristianismo, visto
que o que molda e forma a religião é a experiência, e não a revelação. A única
coisa permanente no Cristianismo, e que serve de geração a geração, é o ensino
moral de Cristo.
 O Cristianismo só é diferente das demais religiões quantitativamente e não
qualitativamente. Ou seja, todas as religiões são boas e levam a Deus; o
Cristianismo é apenas a melhor delas.
 Existe uma centelha divina em cada pessoa. Portanto, o homem, no íntimo, é
bom, e só precisa de encorajamento para fazer o que é certo.
 Jesus Cristo é Salvador somente no sentido em que ele é o exemplo perfeito do
homem. Ele é Deus somente no sentido de que tinha consciência perfeita e plena
de Deus. Era um homem normal, não nasceu de uma virgem, não realizou
milagres, não ressuscitou dos mortos.
 O caráter de Deus é de puro amor, sem padrões morais. Todos os homens são
seus filhos e o pecado não separa ninguém do amor de Deus. A paternidade de
Deus e a filiação divina são universais.

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CONCLUSÃO

A tentativa de se unir o racionalismo e a exegese bíblica, nos leva a ideia de que o


método histórico-crítico traz em alguns aspectos do nosso conhecimento sobre a Bíblia,
aquele conhecimento sobrenatural da Bíblia, ou seja, a Bíblia, palavra de Deus e palavra
humana, desapareceu. Os pressupostos do método, fazem entender que quando se lê a
Bíblia não é Deus que se encontra, mas a fé dos antigos.

Os resultados obtidos por esse método representaram um verdadeiro ataque à autoridade


das Escrituras e ao Cristianismo: os relatos históricos de Génesis foram descartados por
aparente falta de comprovação arqueológica. As profecias foram consideradas como
tendo sendo escritas após os eventos. Os evangelhos foram desacreditados quanto à
apresentação de Jesus e por isso, Paulo passa a ser considerado o verdadeiro fundador
do Cristianismo.

O racionalismo esqueceu-se de que a razão do homem está corrompida pelo pecado e


nem simples análise racional pode trazer o verdadeiro conhecimento de Deus ao
homem. Os intérpretes racionalistas tentaram interpretar a Bíblia deixando de lado o
pressuposto da sua inspiração e divindade, defenderam que o método histórico-crítico
era “científico”.

AUGUSTS. N. Lopes (2004) A Bíblia e seus interpretes 3ª edição São Paulo.

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