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quatro partes, sendo elas os títulos cristológicos referentes à obra terrena de Jesus,
os referentes à obra futura, à obra presente e à preexistência de Cristo,
respectivamente. O autor defende sua tese, que é dividida e categorizada por meio
destas quatro partes, partindo de um olhar analítico, que abraça a filologia e a
história, examinando cada título conferido a Jesus Cristo de maneira separada,
levando em consideração o idioma original de passagens bíblicas, tal como as
crenças judaicas e helenísticas que poderiam ter influenciado os títulos
cristológicos.
Na tentativa de compreender a funcionalidade e aplicabilidade dos títulos, Cullmann
começa pelo de “profeta”, referente à obra terrena de Cristo. No período
neo-testamentário, havia duas definições, distintas, a respeito do que era um
profeta. A primeira definição tinha o profeta como um entre os muitos profetas que
haviam existido; este era alguém levantado por Deus para revelar sua vontade e,
possivelmente, trazer predições sobre o juízo do Senhor. A segunda, por sua vez,
fazia referência a um profeta escatológico, ou seja, aquele que viria como realização
última de todas as profecias anteriores, trazendo uma mensagem a respeito do fim
dos tempos e preparando o caminho de Yahweh. Por meio da análise filológica e
histórica, Cullmann conclui que Jesus Cristo cumpre o papel de profeta na medida
em que é um pregador, revestido de autoridade, que prepara o caminho de Yahweh.
No entanto, o título de profeta não satisfaz toda a cristologia. Ele não abarca
questões como o Cristo assentado à direita do Pai, o Cristo preexistente, sua obra
redentora ou sua obra expiatória. O título de profeta apenas diz respeito a uma
“missão preparatória”, e não pode explicar toda a obra terrena de Jesus, tampouco a
esperança presente nos cristãos que viveram e vivem posteriormente ao período
neo-testamentário.
O segundo título analisado é o de “Ebed Iahweh”; o “servo sofredor” parece ser uma
figura de grande importância na cristologia. Para Cullmann, o Ebed Iahweh é, na
realidade, o centro da cristologia do NT, tendo como base principal a ideia de
substituição progressiva e de uma aliança. No entendimento do autor, esse título
cabe perfeitamente em Jesus, se relacionando com a obra e vida de Cristo. É
possível concluir que a noção de substituição e aliança eram aspectos presentes na
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participação total de Cristo na divindade do Pai. Não obstante, há uma relação entre
o título de Sumo Sacerdote e o de Filho de Deus na medida em que o Único Filho,
participante da criação e que veio do Pai assume a qualidade do homem, mediando
a humanidade e Deus.
O último título é o de “Deus”; em resumo, as passagens no qual o título de “Deus” é
atribuído a Cristo revelam ao menos duas coisas: em primeiro lugar, há uma relação
com a elevação de Jesus à dignidade de Kyrios, e em segundo, há por trás a idéia de
que Jesus não somente traz a revelação do Pai, mas é esta revelação.
Dessa maneira, Cullmann conclui a obra “Cristologia do Novo Testamento” por meio
de uma análise filológica e histórica, compreendendo que cada concepção particular
aponta para uma compreensão geral da obra de Jesus. A diversidade de títulos, no
fim, está unida numa mesma história da salvação por meio do esquema do Cristo
encarnado, o que volta, o presente e o preexistente. Tal convicção foi, como bem
mostrado pelo autor, abraçada na Igreja primitiva e deve continuar a ser estudada e
trabalhada pela Igreja contemporânea.
● Conclusão
A obra de Cullmann é rica não somente por proporcionar um estudo completo a
respeito dos títulos cristológicos, mas também pela forma como o autor consegue
dialogar com diferentes vertentes da teologia cristã. Sua tese se comunica tanto
com o liberal, como com o conservador, sendo uma obra intermediária e bastante
imparcial na medida do possível. Apesar de certos aspectos serem de maior
dificuldade, a leitura é bastante envolvedora e consegue prender o leitor e fazê-lo
enxergar os títulos atribuídos a Cristo Jesus de forma muito mais profunda e
consistente. Raros momentos são os que trazem alguma discordância, isto não pela
vertente teológica do leitor, mas pela riqueza de argumentos bem fundamentados
usados por Cullmann. A leitura de “Cristologia do Novo Testamento” foi, sem sombra
de dúvidas, uma das melhores leituras do ano de 2020.
Referência Bibliográfica: