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A obra “Jesus Cristo Libertador” de Leonardo Boff, contém 11 capítulos que se

propõe a discutir a responsabilidade cristã diante das questões sociais,


efetivamente acentuada entre 1960 e 1970, por meio de uma mobilização por
mudança social que era presente na América Latina devido a exploração e repressão
que atingiam a nação.
Para isso, Boff trabalha a imagem a cristologia tem seu ponto chave na ideia de que
a salvação está intrinsecamente vinculada às libertações históricas; portanto, o
Evangelho leva o cristão a anunciar uma boa nova e promover o Reino de Deus por
meio de uma luta contra a desigualdade social; de Jesus como um libertador
absoluto, que veio para salvar os homens de todas as suas opressões, o que inclui
as opressões sociais. Dessa maneira, a obra de Cristo se expande a um panorama
de libertação social, e sua mensagem, morte e ressurreição devem conduzir o olhar
do cristão ao pobre e a todo o oprimido.
No primeiro capítulo, Boff se dispõe a discorrer a respeito da imagem de Cristo
como libertador, trabalhando, assim, com uma cristologia. Na perspectiva do autor,
assim, as mudanças ocorridas nos indivíduos não podem se abster das mudanças
no sistema opressor no qual estão inseridos, limitando-se apenas a mudanças
éticas, mas devem efetuar uma libertação em todas as esferas da vida do sujeito.
No segundo capítulo, o autor trabalha a vontade de Cristo Jesus para o mundo; este
veio como a resposta para todas problemáticas que trazem dor e sofrimento aos
homens. Em suma, em Cristo Jesus vemos a participação de Deus nas dores
humanas e em toda a sua condição oprimida, e também nele temos a promessa de
um mundo até então utópico, mas que agora, para um Deus que tudo pode, é
possível e será concretizado, inaugurando, dessa forma, um novo sistema sem a
corrupção e a opressão presentes no mundo hoje.
No terceiro capítulo, o tema trabalhado é o de Jesus como libertador da condição
humana; nele vemos Jesus como o transformador do caráter humano, que, uma vez
unido a Deus, é conduzido a ser revestido de amor, agindo de maneira contrária ao
sistema caído, diabólico e dominador, e sempre servindo ao seu semelhante.
O quarto capítulo, discorre a respeito da pessoa de Cristo. Boff explica que as
atitudes de Jesus demonstraram o que “há de mais divino no homem” e o que “há de
mais humano em Deus”. Como alguém extremamente original, com bom senso e
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realista, além de ser manso e humilde, Jesus revela a vontade do Pai e liberta o
homem para que este faço o que é bom e justo, trazendo uma experiência de vida
redimida e reconciliada.
No quinto capítulo, o autor trabalha o sentido da morte de Cristo. Para ele, a morte
de Jesus na cruz teve um significado profundo do que é viver para o outro, ou como
ele diz “ser-para-os-outros”; por meio de sua morte, encarou o mal o vencendo por
meio do amor. Diante disso, o cristão é chamado a viver uma vida em semelhança a
seu Mestre, participando “da fraqueza de Deus no mundo”, compreendendo que o
sentido absoluto disto tudo se estende para depois da morte.
O sexto e sétimo capítulo estão interligados, trabalhando os temas da ressurreição e
de quem é Jesus de Nazaré; o primeiro nos mostra que a ressurreição significou a
passagem para a verdadeira liberdade. Por meio dela o caminho da nossa libertação
está trilhado, livrando-nos de todo o tipo de limitação. Por meio da ressurreição, a
Igreja estabeleceu-se e agora deve trilhar em semelhança ao Mestre, aguardando a
restauração do sistema mundial que ocorrerá com o Reino de Deus. Já o segundo
tema, mostra que por meio da ressurreição, Jesus passa a receber diversos títulos
como o de filho de Davi, Messias e mesmo o de Cristo; sendo, na realidade, o fator
de maior importância não os títulos, mas a sua forma de revelação.
O oitavo capítulo discorre a respeito da reflexão que existe por trás dos títulos de
Jesus, recorrendo aos Evangelhos e mostrando como os autores de cada Evangelho
desenvolveram sua própria reflexão por meio da vida de Cristo, como, por exemplo,
com Lucas e Mateus, interpretando Jesus como ponto ômega da história, sendo ele
o filho de Deus, o filho de Davi e o Messias.
O nono capítulo busca compreender o surgimento da dupla natureza de Cristo; Boff
concluiu que esta noção decorre de toda a vida de Jesus. Ele não perde sua
essência como Deus, nem a sua essência como homem por ter ambas as naturezas
em si. É perfeitamente cada uma delas, e por causa disso pode mediar a
humanidade e o Pai.
O décimo e penúltimo capítulo visa trabalhar o Cristo ressurreto nos dias de hoje; a
ressurreição de Cristo trouxe ao homem a possibilidade de uma vivência da fé que
supera a morte e as limitações. Garantiu a humanidade um fim de liberdade total, e
cabe ao ser humano, por meio da Igreja, trilhar este caminho já posto por Jesus
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através de sua morte e ressurreição, agindo com amor e servidão, olhando ao


oprimido e perseverando até a consumação já conquistada por meio do Libertador.
O décimo primeiro e último capítulo questiona como devemos chamar Cristo hoje.
Boff encerra sua tese com a compreensão de que a pergunta que indaga quem é
Jesus hoje está no confronto de quem somos em relação a quem ele é, não tendo
como maior preocupação os títulos que ele carregou e carrega, mas procurando
viver da mesma maneira em que ele viveu, ou seja, para o outro, buscando o centro
do homem não em si, mas em Deus e nos seus e semelhantes.
O autor conclui, então, falando sobre a essência do cristianismo; para o mesmo, o
cristianismo tem por base o próprio Cristo, sua humanidade e sua singularidade
enquanto rompimento de todo tipo de interpretação religiosa existente até então.
Ser cristão, por sua vez, é viver na “radicalidade do mistério de Deus”, em
semelhança ao Cristo. E para que o cristão encontre a harmonização com Deus, é
necessário que também esteja em harmonização com o semelhante pelo vínculo
perfeito do amor. Por fim, Boff acredita que todas as religiões são formas ordinárias
pelas quais o homem se dirige a Deus e experimenta a salvação, não validando com
isso todas suas doutrinas; mas, para o autor, a Igreja Católica Romana é a
“concretização institucional mais perfeita e acabada, de tal forma que nela já se
realiza, em germe, o próprio Reino de Deus e já vive os primeiros frutos da nova terra
e do novo céu” (2012, p. 222). Enquanto isso, devemos aguardar com nossos olhos
fitos no futuro conquistado por meio de Jesus, vivendo em semelhança a Ele por
meio do amor.

● Conclusão:
A obra de Boff é, indiscutivelmente, uma leitura importante para todo o teólogo.
Apesar de ser visto com maus olhos por grande parte da cristandade, ele executa de
maneira rica o que se propõe a trabalhar. Sua ênfase no social é explicada por meio
do objetivo que tem em sua teologia, ou seja, trazer a reflexão da responsabilidade
diante da sociedade; isso, no entanto, não impede as discordâncias. Mesmo que,
como supracitado, sua ênfase seja explicada por seu objetivo, em alguns momentos,
Boff parece não aplicar com profundidade a problemática do pecado, trazendo um
Cristo que parece tão mais interessado no social, que, por vezes, não dá espaço para
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a ira de Deus contra a transgressão de todos homens, satisfeita na pessoa de Jesus.


Além disso, em outros momentos, pouco mais específicos, parece um pouco
eucumenista, o que, para um leitor de matriz conservadora, pode ser bem
problemático. Todavia, ainda que hajam discordâncias com a teologia de Leonardo
Boff, a obra é rica para agregar o conhecimento teológico do leitor, e possui pontos
relevantes, que merecem ser ouvidos e analisados pelo cristão.

● Referência Bibliográfica:
BOFF, Leonardo. Jesus Cristo Libertador: ensaio da cristologia crítica para o nosso
tempo. Petrópolis: Vozes, 2012.

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