1) O documento resume o livro "Escatologia: breve tratado teológico-pastoral" de Clodovis Boff. 2) Boff discute temas como a natureza unidual do ser humano, a morte, o juízo final, o céu e o inferno. 3) Ele também aborda a escatologia coletiva e eventos como o embate final e o possível Reino de Deus na terra.
1) O documento resume o livro "Escatologia: breve tratado teológico-pastoral" de Clodovis Boff. 2) Boff discute temas como a natureza unidual do ser humano, a morte, o juízo final, o céu e o inferno. 3) Ele também aborda a escatologia coletiva e eventos como o embate final e o possível Reino de Deus na terra.
1) O documento resume o livro "Escatologia: breve tratado teológico-pastoral" de Clodovis Boff. 2) Boff discute temas como a natureza unidual do ser humano, a morte, o juízo final, o céu e o inferno. 3) Ele também aborda a escatologia coletiva e eventos como o embate final e o possível Reino de Deus na terra.
BOFF, Clodovis M. Escatologia Breve Tratado Teológico-Pastoral. 1ª. Edição. São Paulo: Editora Ave Maria, 2012.
Na introdução de sua obra, Boff estabelece de forma clara o fundamento da
doutrina escatológica: o próprio Cristo. A compreensão da palavra escatologia passa pelo conhecimento de sua raiz grega éschaton que significa “último”, portanto, a escatologia vai se dedicar às realidades últimas tanto da criação como do ser humano. Tal tema é de extrema importância para a Igreja, tanto que ela está presente nos dois grandes símbolos da fé por meio de quatro verdades escatológicas: a segunda vinda de Cristo, o juízo final, a ressurreição e a vida eterna. Entretanto, segundo o autor, a busca pelo conhecimento destas verdades últimas não é algo que interessa ao mundo moderno, voltado ao deleite dos bens temporais. Tal postura reflete uma crise pós-moderna, reforçada pelo aumento das doutrinas relativistas e niilistas na vida cotidiana, onde a ênfase no aqui e agora acaba por suprimir a ideia utópica de uma vida feliz no futuro. A secularidade e o ateísmo que acompanham esta era, apesar de bastante influentes, não refletem a maioria. Pelo contrário, é ainda relevante o número de homens e mulheres que não aceitam a morte como o fim de tudo, até porque não é novidade a crença em uma vida após a morte. Isso nos mostra o grave erro cometido por ateus e niilistas quando admitiam ser a vida humana um fim em si mesma. Tanto o é que, segundo o autor, muitos são aqueles os desejosos de conhecer mais sobre a origem última de todas as coisas, visto a falência de ideologias que se sustentaram por pouco tempo por não oferecer respostas satisfatórias. Esta procura pelas questões escatológicas revela, segundo Boff, a humanidade presente neste tema. Isto porque somente ela é capaz de oferecer a explicação sobre as grandes dúvidas da vida. Por este motivo, a escatologia nos auxilia a encontrar o sentido da vida e qual o melhor caminho para chegar a tal conhecimento. Todo ser humano, portanto, é – ainda segundo o autor – um ser escatológico porque a busca e a reflexão sobre os fins últimos são parte inerente da vida. Isso significa a impossibilidade de viver para si mesmo, pois ele é essencialmente espiritual, aberto ao transcendente e, somente nele, encontra as respostas desejadas. Por ser escatológico, há a necessidade de um estudo antropológico correto, guiado pela forma de constituição do ser humano que, por ser uma realidade complexa, a qual o Vaticano II irá chamar de unidual, isto é, composto de alma e de um corpo intrinsicamente ligados e, como tal, não podem ser compreendidos de forma fragmentada. Esta definição de origem tomista, ensina que a alma é a forma do corpo, assim, a alma sem o corpo não consegue ser o que é, e corpo sem a alma também. Tal realidade unidual não é apenas metafísica ou conceitual, mas vivida na experiência humana quando se prova os sentimentos de amor ou ódio. Assim, é um grave equívoco determinar a interioridade do ser humano como alma e limitar o corpo a exterioridade. De fato, segundo o autor, a interioridade corresponde a excelência humana, sua parte mais importante e que guia o corpo, instância que permite a ela ser, porque o transcende. Elas podem, no entanto, encontrar- se em desarmonia, quando a alma não se reconhece no corpo. Mesmo em uma situação de conflito, alma e corpo são inseparáveis e tal união só pode ser desfeita pela morte. Este conflito existente entre corpo e alma apesar de trazer consequências a cotidianidade da vida humana, promove segundo o autor, um dualismo ainda mais perigoso, neste caso, o dualismo ético que a bíblia apresenta como a relação atribulada entre corpo e espírito. Este conflito origina-se no pecado original e permanece atualmente por meio da inclinação presente em todo ser humano ao pecado. O entrelaçamento entre estas duas dimensões humanas revela a intersecção entre a vida e a morte, onde a nossa realidade exterior revela o movimento descendente da vida humana atá a sua morte e o nosso interior, o qual São Paulo entende por “homem interior” nos conduz a eternidade. O autor encerra a primeira parte de sua obra ressaltando a pessoa de Jesus Cristo enquanto o éschaton para àqueles que envolvem-se em dúvidas sobre seu futuro ou destino último. Após a sua encarnação, a realidade final transforma-se no agora, o momento para a conversão não pode ser mais adiado, ou seja, o fim último deixa de ser relacionado com o tempo e passa a ser qualitativo. Portanto, o céu apresenta-se aqui e não mais no além-mundo, mostrando Jesus como a solução do mistério humano, no qual sua ressurreição – ápice da história - acaba por alcançar a todos, por ser, segundo o autor, antropológica. Nesse sentido, a ressurreição de Cristo produziu aquilo que o autor chama de dialética do “já” e “ainda não”. Onde o já proporciona o deleite do mundo que há de vir ainda na temporalidade, como por exemplo, as virtudes teologais. Por outro lado, o “ainda não” consiste na plenitude reservada a nós, mas que somente teremos acesso após a morte. Assim, o Cristo ressuscitado no meio de nós vive o “já”, enquanto nós, mergulhados na graça vivemos o “ainda não”. A segunda parte da obra trabalha com temas relacionados ao destino do crente. O primeiro deles é a morte, momento esse exclusivo do ser humano, impossível de ser compartilhado. O autor aponta ainda as duas formas pelas quais a modernidade, envolvida pelo secularismo, entende a morte: morte-tabu e morte soft. Para a Igreja, a separação entre a alma e o corpo e a consequente ressurreição faz parte da fé. Como também ela professa a união destes no fim dos tempos, visto que a alma é desejosa de seu reencontro com o corpo. Enquanto este dia não chega, a alma se encontra em um estado intermédio que possui três tipos de duração: eternidade, tempo e evo. O autor destaca ainda dois tipos de interpretações teológicas sobre o que acontece no momento da morte. A concepção antropológica-dualista que defende o alcance da morte somente no corpo e a concepção antropológica-monista que entende a morte como o fim de uma vida e o início de outra, ou seja, a ressurreição se dá logo após a morte. Boff, destaca três ângulos pelos quais se entende a morte: biológico, humano e teológico-espiritual. Destes, o sentido teológico destaca-se porque, por meio da ressurreição de Cristo ela passou a ter um novo sentido, perdendo todo o temor e sendo o caminho para o encontro definitivo com Ele que se dará na ressurreição. O juízo vem logo em seguida ao acontecimento da morte, neste estágio ele é apresentado não como um momento de medo, visto que pecadores que somos não subsistiríamos a ele. Para Boff, ele deve ser compreendido como um momento de graça e misericórdia. Também o juízo possui o “já” e o “ainda não”, no qual o “já” refere-se à consciência que julga aqui de diversas formas. Ele destaca ainda que ao julgar Deus não deixa de ser amoroso e se torna um justiceiro. Ao contrário, é por amar que ele julga a todos os atos humanos. O dogma do purgatório se caracteriza pelo fogo purificador que possibilita o estar na presença de Deus. Tal doutrina pode ser percebida, segundo o autor, no decorrer da Escritura e é sustentada por dois princípios: santidade divina e responsabilidade divina. Além de purificador, o purgatório deve ser compreendido como uma situação – e não um lugar – de graça. A presença das almas no purgatório não as exclui da comunhão com a Igreja, porque, segundo Boff, a Igreja crê em um Deus dos vivos. Em seguida, o autor aborda o Céu enquanto o local próprio de Deus, meta última e destino do ser humano. Porém, destaca o autor, o Céu não deve ser entendido como um lugar, mas tal como o purgatório, uma situação. Nesta situação, ainda segundo ele, participamos da glória de Deus. O inferno, última situação a ser comentada pelo autor, é segundo ele o lugar daqueles que viveram no egoísmo, amando apenas a si próprio. Criado pela Trindade, o inferno é antes de tudo, antropológico porque ao desejar não amar, vivencia em vida tal situação. O autor destaca ainda que é o próprio ser humano, em sua liberdade, quem deseja o inferno, por este motivo, ele é primeiramente, uma criação humana, um projeto de vida. Por fim, a misericórdia de Deus é trabalhada em relação ao castigo eterno no qual estão aqueles que decidem livremente não amar a Deus. Na última parte de sua obra, Boff trata do que ele chama de ‘Escatologia coletiva’, isto é, dos acontecimentos posteriores e totalmente distintos da escatologia individual, porque dizem respeito a toda criação. Ele irá dividir estes acontecimentos em sete partes sequenciais, o primeiro deles se refere ao embate no fim dos tempos. O autor se fundamenta na Sagrada Escritura para afirmar que este fim não será tranquilo, pois o poder das trevas, desde a origem do mundo, busca o protagonismo na história humana. Enquanto este fim não chega, todo cristã deve, ainda segundo o autor, viver o embate final “já”, neste caso, por meio da oração e vigilância. Ainda sobre este embate final, o autor trata de esclarecer a hipótese milenarista de um Reino de Deus aqui na terra, apoiado em Ap 20,4-6. Acreditar, afirma ele, em um possível Reino de Deus – em toda a sua plenitude - aqui na terra, beira a ingenuidade. Isso não significa, entretanto, um abandono das obrigações pelo ser humano em vista de um Reino escatológico. Muito pelo contrário, a Igreja, principalmente após o Vaticano II, exorta a seus filhos e filhas a se comprometerem aqui neste mundo pela instauração do Reino de Deus, mesmo que imperfeito. Um segundo aspecto do acontecimento da escatologia coletiva, segundo Boff, refere-se à segunda vinda de Cristo. Ele observa que, apesar de ser uma verdade de fé para os católicos, esta verdade é pouco proclamada e vivida. A Igreja crê que sua segunda vinda será real e em seu corpo glorioso. Muitos, é verdade, se aproveitaram desta promessa e proclamaram a sua iminência causando inúmeras confusões entre os fiéis. Diante disso, a Sagrada Escritura apresenta a resposta tais delírios: estar sempre vigilante. Em seguida, a ressurreição dos mortos faz parte da escatologia coletiva, na qual a Igreja defende que a ressurreição acontecerá nos corpos os quais se movem e subsistem os seres humanos. Além disso, a ressurreição não é restrita ao corpo, mas também a alma. Em outras palavras, ela atinge o corpo inteiro, porque é ação exclusiva de Deus por intermédio de seu Espírito, movido por amor. Boff aponta também que a ressurreição não se limita a espécie humana, mas também a toda a criação. O corpo ressuscitado possui, ainda segundo o autor, qualidades específicas à sua condição: não sofrerá mais a corrupção, é um corpo glorificado, não está mais sob a influência das condições temporais e possuirá a capacidade de ser corporal, mas também pneuma, isto é, será movido pelo Espírito. O Juízo final é o quarto acontecimento da escatologia coletiva. Segundo Boff, este Juízo - tal como é uma verdade de fé – afetará a todos os filhos de Deus sem qualquer exceção, sejam eles vivos ou mortos, assim, este Juízo será tanto individual como universal. Através de Juízo será possível conhecer, de acordo com o autor, o verdadeiro sentido da história. Diversas são as imagens fornecidas deste Juízo presentes na Sagrada Escritura, no entanto, nos adverte o autor, tudo o que é possível saber sobre ele está relacionado a fé. As razões do Juízo universal, segundo o autor, se dividem em três: ele torna público as consequências da vida de cada um, pois o ser humano vive em sociedade. Para devolver aquilo que, injustamente, foi tirado por aquele que está sendo julgado e, por fim, para que, a história possa, enfim, encontrar seu verdadeiro sentido. O fim do mundo, o quinto acontecimento da escatologia coletiva, segundo Boff consiste na destruição deste mundo em vista de um futuro, totalmente renovado por meio de um processo duplo, onde o mundo não se acabará substancialmente, mas sim tudo o que causará o seu fim, o pecado. Seu acontecimento, segundo as Escrituras, depende única e exclusivamente de Deus. Ele pode acontecer a qualquer momento, no entanto, sem estar atrelado ao aspecto cronológico, mas sim quantitativo. Por este motivo, os cristãos são chamados a estar sempre preparados. Ainda segundo o autor, com a ressurreição experimentamos o “já” do fim do mundo quando decidimos verdadeiramente pelo Cristo e a implantação do seu Reino e, evidentemente, na morte em uma manifestação pessoal de Cristo. O “ainda não”, por sua vez, refere-se a plenitude da qual todos esperamos e que é anunciado pelas Escrituras. A Igreja, através do Concílio Vaticano II, ensina que toda a Criação será renovada. O sexto acontecimento da eclesiologia coletiva expressa que não somente a humanidade, mas toda a criação será transformada (Rm 8,19-22). Logo, não é aceitável imaginar uma extinção total do cosmos, por ser ela querida e amada por Deus. Por fim, o sétimo acontecimento da eclesiologia coletiva, refere-se a vida eterna. Nesta vida, no qual persistirá toda a criação, também subsistirá, segundo o autor, todas as obras culturais e civilizatórias criadas pelo ser humano que manifestam o amor de Deus. A eternidade é garantida porque se sustenta no amor de Deus. Este amor permitirá reviver todas as emoções e experiências vividas, pois Deus cria para a eternidade. Esta, por sua vez, não pode ser entendida como imóvel, entediante. A imutabilidade destas, no evo não é absoluta, a felicidade por estar ao lado do Senhor e desfrutar de sua presença é ativa e em constante movimento. As atividades corporais permanecem as mesmas, no entanto, adaptadas a vida gloriosa. O amor permanecerá, até mesmo o conjugal. No entanto, totalmente livre dos desejos carnais, sublime e ascensional.