Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Robert E. Picirilli1
I. A morte
Como resultado do pecado, toda a humanidade ficou sujeita à morte do corpo. A alma não
morre com o corpo, mas, imediatamente após a morte física, entra em um estado consciente
de felicidade ou desgraça, em conformidade com o caráter possuído nesta vida.
Não me parece necessário entrar em muito detalhe na análise desta afirmação. Vou
escolher dois pontos para reforçar.
A. A morte pessoal, antes do final dos tempos, representa a separação da alma e do corpo.
Anteriormente, na lição três, me referi à visão de dicotomia do ser humano (como corpo e
alma) em contraste com a visão tricotomista (como corpo, alma e espírito). Não tenho
intenção de voltar a esta discussão aqui. Independentemente da posição que se tenha, o
Manual se refere à morte do corpo, mas não da alma, usando este último para representar
a natureza superior do ser humano, seja chamado de alma ou espírito.
1
Autor: Robert E. Picirilli (PhD) é professor emérito de Welch College (anteriormente Free Will Baptist Bible
College), autor de Discipleship: The Expression of Saving Faith (Discipulado: A Expressão da Fé
Salvadora),Randall House, 2013; Grace, Faith & Free Will: Contrasting Views of Salvation − Calvinism and
Arminianism (Graça, Fé e o Livre Arbítrio: Visões Contrastantes da Salvação − Calvinismo e Arminianismo),
Randall House, 2002), Teacher, Leader, Shepherd: The New Testament Pastor (Professor, Líder e Pastor: o
Pastor do Novo Testamento, Randall House, 2007) e Paul, the Apostle (Paulo, o Apóstolo, Moody, 1986).
Tradutor: Pastor Kenneth Eagleton, Jr.
2
Esta é a morte física. A alma ou espírito (portanto, a natureza superior) vivencia uma
continuação da existência consciente. Isto se sucederá seja na felicidade ou na miséria –
paraíso ou inferno. No entanto, esta não é uma separação eterna. Na ressurreição (veja
mais adiante) o corpo voltará a ter vida e será reunido à alma ou espírito.
Declaro isto porque há alguns grupos (que não são cristãos bíblicos tradicionais) que creem
no que chamam de “sono da alma”, isto é, a consciência cessa a partir da morte física até à
ressurreição.
No entanto, Paulo diz que estar ausente do corpo é estar presente com Cristo (2 Co. 5:9) e é
nisto que cremos.
De qualquer forma, com exceção daqueles que estiverem vivos na Segunda Vinda (1 Co.
15:51-52 e 1 Ts. 4:17) todas as pessoas estão destinadas a morrer (Hb. 9:27), deixar o seu
corpo se decompor em um túmulo (ou outra forma de dissolução da matéria), enquanto
continuam uma existência consciente nos céus ou no inferno.
II. A Ressurreição
Este capítulo tem consequências tanto para a escatologia individual quanto para a histórica.
Visto principalmente como um fato, enfatizamos o aspecto individual: a ressurreição é a
reversão da morte para todas as pessoas. Visto pela perspectiva do tempo, enfatizamos o
aspecto histórico, visto que a ressurreição (ou as ressurreições, segundo o ponto de vista de
alguns) ocorrerá em alguma relação específica com a Segunda Vinda de Cristo. Aqui vou
lidar principalmente com as consequências individuais, guardando as consequências que
tem para o final dos tempos para a discussão mais adiante sobre a Segunda Vinda.
Já mencionei que a separação entre corpo e espírito (ou alma) que ocorre na morte não é
permanente e nem final. A doutrina da ressurreição individual assegura a ressurreição do
corpo e, portanto, a reunificação da pessoa como um todo para uma existência consciente e
eterna.
A. A cronologia da ressurreição.
Há diferentes pontos de vista sobre isto por haver diferentes pontos de vista quanto à
cronologia da Segunda Vinda de Cristo. Falarei mais detalhadamente sobre isto mais
adiante, mas por enquanto é suficiente observar que a ressurreição (seja de uma só vez ou
em fases) ocorrerá ligada à Segunda Vinda e ao final dos tempos.
B. A universalidade da ressurreição.
Alguns teólogos cristãos falam de uma ressurreição “geral”. Todos podem concordar com
esta terminologia se geral for entendido como universal; isto é, todos serão ressurretos da
morte física. Se, no entanto, significar que todos serão ressurretos ao mesmo tempo, nisto
não há concordância e será discutido mais adiante no estudo da Segunda Vinda.
C. A natureza da ressurreição.
É uma ressurreição corporal. 1 Coríntios 15:35-50 é o ensino bíblico mais claro sobre o
assunto, apesar de que o que é dito ali somente é inteiramente verdadeiro para os que
creem. O descrente, apesar de ter seu corpo restaurado à vida e reunido à sua alma ou
espírito, não pode esperar a bênção implícita pela descrição desta passagem.
D. A garantia da ressurreição.
Como no capítulo anterior sobre a ressurreição, este capítulo também lida com questões
relacionadas às escatologias individual e histórica. Como mero fato (que se aplica ao
indivíduo) o julgamento e a retribuição são individuais. Mas quando se considera a
cronologia do julgamento e sua consequente retribuição, isto é histórico e está intimamente
relacionado à Segunda Vinda de Cristo e ao final dos tempos. Aqui vou tratar principalmente
dos aspectos pessoais, deixando os aspectos históricos para a discussão sobre a Segunda
Vinda mais adiante.
A. A cronologia do julgamento.
Como é o caso com a ressurreição, existem também diferentes pontos de vista relacionados
com a escatologia histórica, que discutirei mais adiante, mas todos os teólogos cristãos
concordam que todos os seres humanos serão julgados. Novamente, julgamento “geral”
pode ser usado como expiação “geral”, enfatizando sua universalidade. No entanto, alguns
usam o termo “julgamento geral” com o sentido de que todos serão julgados ao mesmo
tempo e esta é uma área de desacordo. Outros creem que os justos e os ímpios serão
julgados em dois momentos distintos.
B. A universalidade do julgamento
Como acabamos de ver, tanto os santos quanto os pecadores serão julgados. Discute-se o
momento em que este julgamento é realizado, mas este não é o ponto mais importante.
1. Os cristãos serão julgados por questões que não concernem sua salvação. Isto está
associado com o que a Bíblia chama de “tribunal de Cristo” (2 Co. 5:10 e Rm. 14:10).
Este aspecto do julgamento está relacionado às obras e ao serviço. Aparentemente é
a isto que se refere 1 Coríntios 3:12-15 quando fala daqueles que são salvos apesar
de suas obras serem queimadas.
Portanto, o Manual indica que todos serão julgados segundo suas obras.
C. Retribuição.
Quanto aos ímpios, Jesus falou de uma retribuição que seria “mais tolerável” para
alguns do que para outros (Mt. 10:14-15 e 11:20-24), o que sugere diferenças de
algum tipo no nível de castigo.
Quanto aos justos, Paulo liga seu julgamento e o de outros com a expectativa de que
então teremos o “louvor” que merecemos. Isto já resultaria aparentemente em uma
diferença de algum tipo.
Além destes indícios, hesito em dizer mais a respeito das diferenças em retribuição
que vão além de vida eterna e punição interminável.
2. Tanto o justo quanto o ímpio estão sujeitos à vida ou à punição por toda a
eternidade (conforme o caso)? A resposta bíblica é “sim” e o Manual o reafirma.
Ultimamente, alguns que se professam evangélicos em doutrina estão sugerindo que
apesar da existência dos salvos ser eterna, a existência dos perdidos não o é. Esta
moda não tem sido adotada pelos Batistas Livres que a consideram contrária ao
ensino da Bíblia.
Para os salvos, a vida é eterna. Para os perdidos, a punição é interminável. Estes últimos não
vivenciam a vida eterna, mas a morte eterna – “morte” com o sentido de separação de
Deus, que é a fonte da vida. A retribuição do perdido é uma eternidade sem esperança em
um inferno de fogo.
Deve-se notar que não há lugar para um “purgatório” nesta doutrina ou na Bíblia, da mesma
forma que não há lugar para a aniquilação dos ímpios.
O Senhor Jesus, que ascendeu às alturas e está assentado à direita de Deus, voltará no
término da dispensação do evangelho, para glorificar Seus santos e julgar o mundo.
1. Ele virá corporalmente. Isto está certamente implícito no que os anjos disseram em
Atos 1:10-11: “virá do modo como o vistes subir”.
2. Ele virá em glória triunfante. Quando Jesus voltar, não será no estado de humilhação
que o caracterizou quando estava por aqui antes. Ao contrário, será no estado de
glorificação que o caracteriza desde Sua ressurreição e ascensão. A Transfiguração
foi um antegosto disto (Marcos 9:2-8 – comparar com 2 Pedro 1:16-18. Veja também
1 João 3:2).
Quero enfatizar três coisas que Jesus vai realizar com o seu retorno:
2. Ele virá redimir o mundo; isto é, completar a obra de redenção que Ele iniciou
durante o período de sua humilhação, especialmente na cruz. Romanos 8:18-23
deixa claro que mesmo o universo físico aguarda ansiosamente a redenção.
Não há posição oficial ou unânime entre os Batistas Livres quanto à questão da cronologia
da vinda de Cristo. Todos concordam que Ele virá pessoal e corporalmente e em glória.
Todos concordam que Sua vinda deve ser considerada iminente (a qualquer momento).
Além destas áreas de concordância, há diferentes pontos de vista em nosso meio. Sem
tentar tornar um ponto de vista mais atrativo do que o outro, vou definir as várias posições
na próxima seção.
Em Apocalipse 20:1-7 há seis referências a um período de mil anos. Os três principais pontos
de vista diferem em como a Segunda Vinda de Cristo se relaciona a este período de mil
anos. Mil anos é um milênio, portanto, esta palavra aparece como parte do nome dos três
pontos de vista.
Nesta visão, o “Reino de Deus” não é um reinado de Cristo deste mundo no futuro
com um trono literal em Jerusalém após o seu retorno. O “Reino de Deus” seria uma
realidade presente representando o domínio de Deus (ou o Seu reinado) sobre o Seu
povo. A “paz” está nos corações do seu povo. O leão e o cordeiro que deitam juntos
(Is. 11:6-9) seria poético ou expressões figurativas de verdades espirituais, da paz
dos que são justificados pela fé.
De acordo com este ponto de vista, durante o milênio (reino milenar) haverá paz e
justiça mundial e Satanás ficará preso. No final deste período, Satanás será solto e
finalmente derrotado. Em seguida haverá o estado eterno descrito em Apocalipse
capítulos 21 e 22.
Aqueles que defendem este ponto de vista creem que aqueles que morreram
previamente como crentes serão ressurretos da morte e se unirão com os crentes
vivos que também serão transformados como os que ressuscitaram. Todos estes
ficarão diante do trono de Cristo e reinarão com Ele durante o milênio sobre todas as
nações que estavam vivas na vinda de Cristo e entraram no reino milenar.
Algumas observações resumidas: (1) não são muitos os Batistas Livres que creem no pós-
milenismo (talvez nenhum); (2) muitos creem no Amilenismo e (3) muitos creem em uma ou
outra variedade do pré-milenismo.
Poderia se apresentar estas diferenças de outra maneira: (1) alguns (pré-milenistas pré e
meso-tribulacionistas, às vezes denominados de pré-milenistas “dispensacionalistas”) creem
que a Segunda Vinda será em duas fases: o “arrebatamento”, seguido da Grande Tribulação
e depois da revelação de Cristo na terra; (2) outros creem que a Segunda Vinda será em
apenas uma fase. Este último grupo inclui os pré-milenistas pós-tribulacionistas, que creem
que haverá um reinado milenar de Cristo na terra depois que Ele voltar e antes do estado
eterno, e os amilenistas, que creem que o estado eterno segue imediatamente após a
Segunda vinda.
Talvez seja mais importante apontar para os pontos em que todos concordam:
2. Sua vinda deve ser vista como iminente. O Dia do Senhor pode vir logo e sem aviso.
Devemos estar sempre preparados.
4. O “Reino” de Deus é tanto presente quanto futuro e Jesus é o Rei. Este reino existe
atualmente com o Seu domínio sobre o Seu povo, reinando em seus corações. O
reino espera o seu auge final e permanente que somente acontecerá no final desta
era com o retorno de Cristo.
5. O Reino de Deus finalmente irá deslocar todos os reinos desta terra (Daniel 2:44;
Apocalipse 11:15).