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Trabalho Acadêmico
1. Escolha do texto
O texto escolhido é Ecl 3,18-22.
2. Delimitação da Perícope
A perícope escolhida para este trabalho possui um assunto diferente da perícope
anterior e a posterior. A perícope utilizada neste estudo tem como tema a morte (v.19)
enquanto acontecimento que iguala homens e animais. A perícope anterior (16-17), por
sua vez, tem como tema o problema da injustiça social, ao observar a ausência da justiça
na prática do direito. A partir desta realidade, Coelét ressalta a brevidade desta situação,
afinal, como há um tempo para todas as coisas, Deus, no tempo oportuno, saberá separar
o justo do ímpio e oferecer a ambos a devida recompensa. A perícope posterior, irá
refletir sobre outra temática: a felicidade dos mortos em comparação aos vivos (4,1-3).
Esta felicidade, segundo Coelét, deriva-se da “sorte” dos mortos (4,2) – e daqueles que
ainda não nasceram (4,3) - que não podem mais ser oprimidos devido a sua condição.
Os vivos, ao contrário, além do problema do sofrimento originado desta opressão, não
encontram quem os possa consolar (4,1).
Ademais, é importante perceber a presença de um termo muito conhecido e que
acaba caracterizando todo o livro de Eclesiastes: a vaidade. Esta palavra é a tradução da
palavra hebraica Hebel, no entanto, conforme destaca Lindez, tal tradução não
corresponde ao conceito o qual tal palavra carrega1. Segundo ele:
Quanto ao sentido original e primário de hebel, há
unanimidade entre os lexicógrafos e intérpretes, o termo significa
vento, sopro, aura, brida, vapor, transpiração, fumaça.
A partir deste significado, é possível delimitar o trecho escolhido enquanto
perícope. Enquanto a perícope anterior ressalta, como dissemos anteriormente, a
questão da injustiça social e a posterior a “sorte” daqueles que já morreram e os não-
nascentes em comparação com os viventes. A perícope em questão destaca o caráter
efêmero da vida humana, efemeridade esta que o iguala aos animais, não tendo motivos,
portanto, para questionar os sofrimentos da vida presente diante de Deus.
3. Segmentação textual
Ecl 3, 18-22
18a) Quanto aos homens penso assim:
18b) Deus os põe à prova
18c) para mostrar-lhes que são animais.
19a) Pois a sorte do homem e a do animal é idêntica:
19b) como morre um, assim morre o outro,
19c) e ambos têm o mesmo alento;
19d) o homem não leva vantagem sobre o animal,
19e) porque tudo é vaidade.
20a) Tudo caminha para um mesmo lugar:
20b) tudo vem do pó
20c) e tudo volta ao pó.
21a) Quem sabe se o alento do homem sobe para o alto
21b) e se o alento do animal desce para baixo, para a terra?
22a) Observo que não há felicidade para o homem a não ser alegrar-se com suas obras:
22b) essa é a sua porção;
22c) pois quem lhe mostrará o que vai acontecer depois dele?
4.2 O enredo
III O destino da vida humana
20a) Tudo caminha para um mesmo lugar:
20b) tudo vem do pó
20c) e tudo volta ao pó.
IV Indecisão sobre o
II Característica da vida humana: destino da alma
21a) Quem sabe se o
19a) Pois a sorte do homem e a do animal é
alento do homem sobe
idêntica:
19b) como morre um, assim morre o outro, para o alto
19c) e ambos têm o mesmo alento; 21b) e se o alento do
19d) o homem não leva vantagem sobre o Ecl 3,18-22 animal desce para baixo,
para a terra?
animal,
19e) porque tudo é vaidade.
18b) Deus os põe à prova homem a não ser alegrar-se com suas obras:
22b) essa é a sua porção;
18c) para mostrar-lhes que são
22c) pois quem lhe mostrará o que vai
animais.
acontecer depois dele?
5. Comentário
Se ambos morrem da mesma maneira, seria também igual o que vivifica o corpo? Para
Lorenzin, a resposta desta pergunta é fundamental para a manutenção de seu argumento
anterior.6 Tendo como referência novamente a tradição israelita - Gn 2,7 -, Coelét
acredita que a ruah que gerou a vida ao homem também se encontra nos animais,
igualando-os de forma completa7.
5
IBIDEM, p.193
6
LORENZIN, Tiziano. Livros sapienciais e poéticos: introdução aos estudos bíblicos, Petrópolis, RJ,
Vozes, 2020, p.100.
7
LÍNDEZ, p. 192
19e) porque tudo é vaidade.
O termo vaidade – hebel – é um conceito importantíssimo em Eclesiastes. No entanto, a
tradução como “vaidade” não é uma unanimidade 8. As traduções mais aceitas como
vento, sopro, aura. Em toda a Sagrada Escritura, por 73 vezes tal termo se apresenta,
segundo Líndez, no livro de Eclesiastes, hebel é originalmente relacionada com ruah
(vento) influenciado, talvez, por uma realidade onde os bens materiais recebiam um
valor superior ao que realmente mereciam9.
Coelét, neste versículo, não faz conjecturas, mas afirma categoricamente que homens e
animais não somente possuem o mesmo destino como também vão para o mesmo
lugar.10
8
LÍNDEZ, p.173
9
IBIDEM, p.174
10
IBIDEM p.193
11
IBIDEM p. 194
Se o homem é pó, o que resta deste após a morte? A dúvida de Coelét se limita ao lugar
onde o alento (espírito) irá se dirigir. Este alento, contudo, não se refere a existência da
alma ou a sua imortalidade, mas se o alento que anima o corpo humano é o mesmo dos
animais.
22a) Observo que não há felicidade para o homem a não ser alegrar-se com suas obras
Como não há resposta para a pergunta feita no versículo anterior, há aqui a ideia de que
diante de tantas incertezas, o homem encontra uma certeza: alegrar-se com as obras que
realiza. Segundo Lorenzin13, acolher o que se apresenta em sua vida temporária é o
melhor a ser feito.
Alegrar com os momentos da vida presente é o que sobra ao homem, logo, não pode ser
desprezado.
22c) pois quem lhe mostrará o que vai acontecer depois dele?
A importância do alegrar-se com seus feitos encontra sentido quando o homem reflete
sobre sua total ignorância para com o pós-morte. A felicidade, portanto, é algo
passageiro. Por ser pó, o homem não pode perder a oportunidade de ser feliz, ainda que
momentaneamente, pois não há certezas sobre o que virá.
BIBLIOGRAFIA
12
LÍNDEZ, p.195
13
LORENZIN, p. 100
LINDEZ, J. V. Sabedoria e sábios em Israel. São Paulo: Loyola, 2014.
LORENZIN, T. Livros sapienciais e poéticos: introdução aos estudos bíblicos.
Petrópolis: Vozes, 2020.
ZENGER, E. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, 2016.