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Quarta Sinodal 09/03 - Mt 4,22-25 - CF2022

22
Eles, deixando imediatamente o barco e o pai, o seguiram. 23Jesus percorria toda a
Galiléia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando toda e
qualquer doença ou enfermidade do povo. 24A sua fama espalhou-se por toda a Síria, de
modo que lhe traziam todos os que eram acometidos por doenças diversas e
atormentados por enfermidades, bem como endemoninhados, lunáticos e paralíticos. E
ele os curava. 25Seguiam-no multidões numerosas vindas da Galiléia, da Decápole, de
Jerusalém, da Judéia e da região além do Jordão.

Esta narrativa pertence a um contexto maior que precisa ser observado e conhecido:
é o começo do ministério público de Jesus. É uma explicação sobre como Jesus iria,
através de suas ações, manifestar a presença salvífica de Deus. Esta presença será
explicada pelo evangelista de três formas:
a) 4,12-16: declarando que o Reino de Deus está próximo;
b) 4,17: chamando pessoas para um forma de vida alternativa;
c) 4,22-25: mostrando o reinado transformador de Deus, agindo através do
ensino, pregação e cura.

22
Eles, deixando imediatamente o barco e o pai, o seguiram.

Seguiram quem? É necessário, portanto, irmos ao versículo anterior:

21
Continuando a caminhar, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão
João, no barco com o pai Zebedeu, a consertar as redes. E os chamou.

Os pescadores obedecem ao chamado de Jesus. No entanto, surgem outras


perguntas: Por que Jesus chama? De onde vem a autoridade para que ele chame pessoas?
A resposta a estas perguntas se encontram no início do Evangelho:

Mt 1,21: 21Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o nome de Jesus, pois ele salvará o
seu povo dos seus pecados". (Nomeação)

Mt 1,23: 23Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e o chamarão com o nome de
Emanuel, o que traduzido significa: "Deus está conosco". (Nomeação)

Mt 2,15: 15Ali ficou até a morte de Herodes, para que se cumprisse o que dissera o Senhor
por meio do profeta: Do Egito chamei o meu filho. (Deus chama)

A atividade salvífica de Jesus é conhecida logo em sua origem. Ele pode chamar
porque Ele nos salva dos pecados, porque Ele é o próprio Deus conosco e, por este motivo,
é chamado por Deus para salvar o mundo.
Este chamado é tão importante que os irmãos, filhos de Zebedeu, deixam o próprio
pai. Devemos nos lembrar que eles são judeus e estão sob a sua orientação. Esta
informação é relevante, pois oferece uma relevância do evangelista ao chamado de Jesus.
Vamos ao livro do Êxodo 20,12:

12
Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na teria que Iahweh teu
Deus, te dá.

A obrigação para com os familiares faz parte do cumprimento básico da lei e do


estado. Os filhos além de serem educados para ocuparem seus espaços na cidade, eram
como uma apólice de seguro para a velhice dos pais. Mesmo sabendo disso, os filhos
abandonam o pai.
Apesar de não serem comuns, tal prática não era extraordinária. Alguns filósofos e
tradições religiosas no mundo greco-romano admitiam que, diante de uma obrigação maior
a Deus, as obrigações familiares ficam em segundo plano. Entretanto, se olharmos mais
adiante, veremos que os vínculos familiares não são rompidos completamente: Mt 8,14-15;
10,2; 15,1-9;20,20. Na verdade, o seguimento a Jesus é superior a qualquer vínculo familiar,
no entanto, ser fiel a Jesus significa também participar nas estruturas sociais e econômicas.

23
Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do
Reino e curando toda e qualquer doença ou enfermidade do povo.

Neste versículo, é possível observar a proporção tomada pela ação de Jesus.


Voltemos novamente a perícope anterior:

18
Estando ele a caminhar junto ao mar da Galiléia, viu dois irmãos: Simão, chamado
Pedro, e seu irmão André, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores.
19
Disse-lhes: "Segui-me e eu vos farei pescadores de homens". 20Eles, deixando
imediatamente as redes, o seguiram. 21Continuando a caminhar, viu outros dois irmãos:
Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, no barco com o pai Zebedeu, a consertar as
redes. E os chamou.

Nela, vemos uma ação limitada de Jesus. A partir dos destaques acima, a região
percorrida por Jesus é menor, ele se encontra com apenas quatro discípulos e faz apenas
um chamado.
Voltemos então ao versículo 23. Repare que a missão de Jesus recebe uma
proporção muito maior. Veja os destaques:

23
Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho
do Reino e curando toda e qualquer doença ou enfermidade do povo.

Novas atitudes começam a surgir, ele percorre toda a região da Galileia e, um fato
interessante que não deveria, mas passa despercebido: o destinatário de todas as ações de
Jesus é o povo. Ele não se aproxima da elite, não possui um local fixo para ensinar.
Ao ensinar nas sinagogas, o evangelista pronome possessivo suas. Não a toa,
afinal é preciso separar o ensino de Jesus daquele ensino o qual Ele se opõe e considera
hipócrita (Mt 12, 9-14):
9
Partindo dali, entrou na sinagoga deles. 10Ora, ali estava um homem com a mão
atrofiada. Então perguntaram-lhe, a fim de acusá-lo: "É lícito curar aos sábados?" 11Jesus
respondeu: "Quem haverá dentre vós que, tendo uma ovelha e caindo ela numa cova em
dia de sábado, não vai apanhá-la e tirá-la dali? 12Ora, um homem vale muito mais do que
uma ovelha! Logo, é lícito fazer o bem aos sábados". 13Em seguida, disse ao homem:
"Estende a mão". Ele a estendeu e ela ficou sã, como a outra. 14Então os fariseus, saindo
dali, tramaram contra ele, sobre como acabariam com ele.

Como Jesus ensina? Em primeiro lugar, é preciso destacar que o seu ensino tem
como objetivo os mais pobres, oprimidos e sem qualquer tipo de instrução. É um ensino
voltado para assuntos éticos, como a correta interpretação dos mandamentos da Lei (Mt 5,
17-19):

17
Não penseis que vim revogar a Lei e os Profetas. Não vim revogá-los, mas dar-lhes
pleno cumprimento, 18porque em verdade vos digo que, até que passem o céu e a terra,
não será omitido nem um só i, uma só vírgula da Lei, sem que tudo seja realizado.
19
Aquele, portanto, que violar um só desses menores mandamentos e ensinar os homens
a fazerem o mesmo, será chamado o menor no Reino dos Céus. Aquele, porém, que os
praticar e os ensinar, esse será chamado grande no Reino dos Céus.

E necessita de obediência: (Mt 28,20a):

20
e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei.

Jesus também prega o Evangelho. Obedecendo a missão que lhe foi entregue por
Deus, Jesus torna conhecido um novo império, neste caso, a presença salvadora de Deus.
O Evangelho é boa nova porque transforma, criando uma nova comunidade com novos
mandamentos. É uma boa nova que não oprime, não explora como faz o império romano,
portanto, é uma má notícia para quem não acolhe as novas exigências de Deus.
Jesus cura toda e qualquer doença ou enfermidade do povo. Este novo império
anunciado por Jesus vai muito além da mera cura física. Ela atinge o homem por completo
(Mt 11, 2-6)

2
João, ouvindo falar, na prisão, a respeito das obras de Cristo, enviou a ele alguns dos seus
discípulos para lhe perguntarem: 3"És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar um
outro?"? 4Jesus respondeu-lhes: "Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: 5os cegos
recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são purificados e os surdos ouvem, os
mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados. 6E bem-aventurado aquele que não
ficar escandalizado por causa de mim!"

As ações de Jesus são conhecidas para além da Galileia. Chega até a Síria,
porque sua boa nova chega também aos pagãos. Além disso, ela chega a todos:
acometidos por doenças diversas e atormentados por enfermidades, bem como
endemoninhados, lunáticos e paralíticos. (Mt 4,24). Cada uma destas palavras reflete a
situação miserável pessoal e social no qual se encontravam as pessoas.
Os atormentados (βασάνοις) são aqueles torturados pelo império romano.
Os endemoninhados (δαιμονίζομαι) são aqueles que resistem aos propósitos de
Deus e que, como Satanás, quer controlar o mundo. Derrotar o diabo consiste em rejeitar
o império romano.
Os lunáticos (σεληνιάζομαι) consiste na cura daqueles que sofriam os efeitos da
deusa da lua, Selene. É a reafirmação do controle de Deus sobre a lua.
Os paralíticos (παραλυτικός) são aqueles que, devido ao controle violento do
império, recusam-se a fazer a vontade de Deus, estão “paralisados” pelo medo.

25
Seguiam-no multidões numerosas vindas da Galiléia, da Decápole, de Jerusalém, da
Judéia e da região além do Jordão.

A elite não acolhe a Boa Nova, ao contrário da multidão, os mais pobres.


Entretanto, elas precisam continuar firmes na escuta dos ensinamentos de Jesus e,
principalmente, manter a fé. É importante notar: as multidões não são chamadas, elas
seguem, entretanto, não são possuem o compromisso firmado por Jesus com os
apóstolos.

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