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Introdução
"Religião", "Deus" e "Alma"
A linguagem da Sabedoria
A percepção da realidade
O espiritual e o material
A Alma
Néfesh - Rúach – Neshamá
A alma de acordo com a narração da Torá
Coordenadas Espirituais
A vontade, o tempo e o espaço
O espaço espiritual da alma
Os estados da vontade e do desejo
Os 32 Caminhos da Sabedoria
A Árvore das Vidas/Ets Chaím
A Paz e a Guerra
A maldição de Caim
Os Estados da Alma
Princípios gerais da Kabalá para o trabalho espiritual nas leis da Torá e as Mitsvót
Conceitos básicos
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 1
Introdução
Termos tão familiares como "Religião", "Deus" e "Alma", a partir dos quais surgem
as discordâncias entre os defensores da "Religião" e dos chamados "laicos", são
conceitos estranhos ao judaísmo.
Tais conceitos baseiam-se em traduções simplistas e errôneas que dividiram os
homens e criaram confusão em nosso mundo espiritual.
O vocábulo "Religião" provém do latim re-ligare, que quer dizer "voltar a ligar
aquilo que foi desconectado".
Esse conceito não aparece nos textos da tradição hebraica, nem em nossa tradição
oral até a Idade Média.
Neste período, os sábios judeus eram pressionados a participar de confrontações
verbais, com o intuito de demonstrar a validade da espiritualidade do povo de
Israel
Baseados nisso, Sábios como o Rabino, Médico e Poeta Iehudá Halevi (século X) em
seu livro "o Cuzari", e Maiomônides (século XIII), especificamente em seu "Guia
dos Perplexos", encontraram-se forçados a declarar que a Tora de Israel é também
uma "Religião", organizada com bases lógicas e sobre uma estrutura desenvolvida.
Por isso recorreram ao vocábulo Dat, que significa norma e iniciação.
O judaísmo consiste na iniciação de um povo inteiro nas normas/mitsvot que os
aproxima, gradativamente, ao Cadósh Barúch Hú.
Essas normas constituem as leis objetivas a partir das quais o Cadósh Barúch Hú
conforma Sua Criação, e que, codificadas, nos são transmitidas através da Torá.
A palavra "Religião" não é aplicável ao judaísmo, uma vez que confunde e faz com
que este seja interpretado com base em doutrinas estranhas.
O conceito "religar" implica no ato de voltar a ligar duas ou mais coisas separadas.
A Criação está permanentemente unida ao Cadósh Barúch Hú — do contrário, não
existiria.
O dilema está na forma em que o homem, síntese da Criação, se relaciona e
percebe o Cadósh Barúch Hú: com a consciência de que Ele e sua Criação são uma
Unidade, ou fracionando a continuidade da realidade e da vida.
Nossa tradição descreve que todos os aspectos da vida são diferentes graus de uma
mesma e única realidade, o Infinito/Ein-Sof Esta realidade gerada pelo Cadósh
Barúch Hú contém todos os estados possíveis, e é ilimitada e indivisível.
A palavra "Deus" deriva do latim Deus, que, por sua vez, provém de Zeus,
divindade da mitologia grega, filho de Cronos, "Deus" do tempo.
Isto dificulta nossa compreensão e deforma nosso conceito da realidade, já que
pretende definir a base e objetivo da Torá de acordo com uma lógica humana
limitada pelo espaço e pelo tempo.
Nossa tradição nos transmite que: "Antes da emanação das emanações e da
criação dos mundos, a Luz do Infinito preenchia toda a realidade" (livro "Ets Chaím"
- a Árvore das Vidas), sendo a Criação uma projeção inferior de Sua mesma Luz.
Na Torá, nos livros dos Profetas, Escritos, etc. encontramos dez nomes gerais que
designam dez formas através das quais o homem pode perceber a plenitude da Luz
Infinita que se expande desde a Essência do Criador (consulte o vocábulo Nomes no
capítulo "Conceitos Básicos").
Todos os nomes e denominações que a Torá emprega não se referem à Essência do
Criador, já que Sua Essência encontra-se além de qualquer nome e denominação
possível. Os nomes mencionados na Torá em referência ao Criador indicam a
percepção que o homem tem da plenitude da Luz que se expande de Sua Essência,
denominada na linguagem da cabalá, Atsmút
A confusão e a falta de rigorosidade continuam quando chegamos ao conceito
"Alma".
Aqui, geralmente se multiplicam as definições, ficando finalmente o conceito
pendente em uma áurea "espiritual" e "mística", sem conteúdo, objetivo nem
direção. Isto quer dizer que, quando se fala de "Alma" ou espírito, trata-se
geralmente, como nos casos de "Religião" e "Deus", de traduções inexatas das
noções originais hebraicas.
A Luz projetada desde o Infinito dentro do espaço da Criação adquire diversas
gradações à medida que desce e distancia-se de sua origem e de sua fonte.
Estes graus da Luz do Infinito, em sua descida pelos diversos mundos, adquire
características diferentes, de acordo com a sua distância espiritual em relação à
fonte que a emite, o Infinito/Ein Sof.
Por isso, a tradição da cabalá possui uma vasta e exata nomeclatura, que indica os
diferentes graus e formas através das quais a "Alma" se manifesta.
O estudo dessa nomeclatura (a qual desenvolveremos ao longo de nosso livro),
tanto em sua forma teórica como na aplicação das Mitsvót, é a base do estudo da
Sabedoria da cabalá.
Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 2
Introdução
A Linguagem da Sabedoria
A linguagem — em sua forma escrita e oral — é a ferramenta básica para se
transmitir uma sabedoria.
Por essa razão, é impossível entender o judaísmo sem o conhecimento do real
significado dos conceitos e códigos transmitidos por esta Sabedoria.
A Sabedoria de Israel está composta da tradição escrita/ Torá shebichtáv e da
tradição oral/Torá shebealpê que, em conjunto, formam o conhecimento judaico.
A Torá de Israel, nossa Sabedoria e tradição, pode ser comparada a um grande
pomar com árvores frondosas, fortes ramos e profundas raízes das quais extraem
sua vitalidade.
Para que essas árvores dêem frutos, é necessária uma elaboração da qual
participem todos os elementos de nosso pomar.
A semente colocada na terra deve receber luz e água para finalmente dar seu fruto.
Nossa tradição nos relata que o homem é comparado a uma árvore do campo.
Para que o homem possa receber, é necessário que transforme, através de seu
trabalho, a matéria-prima do mundo.
No mundo não há edifícios já construídos; devemos construí-los.
Para comer pão, devemos plantar, colher e depois assar, etc.
O Cadósh Barúch Hú nos deu os elementos básicos para podermos completar a
Criação.
O Cadósh Barúch Hú nos deu a Torá, o plano — mas, para extrair a Sabedoria
contida na Torá, devemos nos esforçar e, auxiliados por ela, extrair os frutos do
nosso interior.
Quando a Torá não é trabalhada e estudada, é como ter-se uma semente, terra e
água, tudo potencialmente; mas, para comer o pão, falta o trabalho do homem.
E, por sua vez, para que todos possam comer, falta ensinar a arar, plantar, colher,
assar e saber dar.
A palavra pomar, em hebraico pardes, alude ao pomar da Sabedoria, visto que as
letras desta palavra formam as quatro perspectivas através das quais entendemos
a Torá.
A primeira letra refere-se ao peshat.
Peshat caracteriza o simples, é o relato literal da Torá.
É exatamente o que lemos e escutamos, sem segundas intenções.
É a origem de todas as formas de percepção.
A segunda letra alude ao rémez.
Rémez indica-nos uma insinuação. Não há uma diferença substancial com o Peshat,
mas revela o interior dele. O rémez dá uma dimensão mais profunda ao relato, já
que os personagens, as situações e todos os detalhes apresentados pela Torá,
inclusive as letras, nos transmitem uma lição sempre atual.
No Peshat as idéias são expressas de forma direta, detalhada e explicitamente,
enquanto que no rémez são mencionadas pelo caminho invisível da insinuação e,
para um bom entendedor, meias palavras bastam.
Esses dois caminhos de entendimento "cuidam" do interior da Torá, já que ocultam
mais do que revelam.
Ao entrar no laboratório de um grande cientista, sem o conhecimento dos códigos
de sua ciência, pouco ou nada entenderemos, apesar de termos tudo frente aos
nossos olhos.
A terceira letra indica-nos o drash.
Drash provém do verbo exigir. Esta leitura encerra busca, pela qual o homem exige
um significado mais profundo do texto do que nas perspectivas anteriores.
A última letra do pardes indica-nos o sod.
Sod significa segredo. O Zôhar, um dos livros mais importantes da Sabedoria da
cabalá, define o sod como causa, já que quem conhece a causa, conhece a
conseqüência, ou o "segredo".
Enquanto o peshat e o rémez são, de certo modo, passivos para o principiante, o
drash e o sod são decididamente ativos; provém de um imperativo totalmente
consciente da vontade.
Cada uma dessas perspectivas, através das quais a Torá se expressa e se
manifesta, não indicam uma mudança na essência interior da Torá, e sim na forma
pela qual ela se apresenta perante nossa percepção e entendimento.
O Rabino Ashlag nos explica que, do mesmo modo que uma pessoa se veste para
apresentar-se frente ao público, a Torá se "reveste" com diferentes "vestimentas"
para que os homens possam se aproximar dela, gradativamente, fazendo-a parte
de suas vidas.
O entendimento integral da Torá requer uma visão que sintetize a Sabedoria em
uma só e única visão, como se observássemos, ao mesmo tempo, um mesmo
acontecimento a partir de todos os ângulos possíveis.
Cada uma das perspectivas do pardes é imprescindível para que nossa
compreensão da Sabedoria seja plena.
Sendo Sod a causa, ela inclui todas, já que quando compreendo o significado
interior como consciência dos objetivos, começo a perceber a ordem na qual cada
aspecto cumpre sua função.
Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 3
Introdução
A Percepção da Realidade
A realidade do homem é geralmente limitada por sua percepção sensorial, pela
emoção, pensamento e imaginação.
Estes aspectos são os canais através dos quais nos relacionamos com a vida.
Conforme orientemos estes aspectos, perceberemos a realidade; mas a orientação
depende de que?
Depende do objetivo que tenhamos.
Nesta direção se dirigirá nossa orientação.
Um arquiteto, por exemplo, concentra seus sentidos, sua emoção, seu pensamento
e sua imaginação em como delimitar o espaço, da melhor forma, para construir
edifícios; um químico se dedicará à compreensão das leis que regem os elementos
para criar novas substâncias.
Todos, não importa qual seja sua área de interesse, concentram as próprias
potencialidades em seu objetivo, sendo este objetivo o centro imóvel que atrai
todas as nossas energias.
Em todos os âmbitos da vida existem objetivos particulares e objetivos gerais.
Quando os objetivos particulares estão em contradição com os objetivos gerais,
produzem conflitos que desembocam, geralmente, em sofrimento, tanto no plano
individual quanto no plano coletivo.
Um exemplo claro disso é o corpo humano: nosso corpo está composto por
distintos órgãos, cada um com diferentes funções, mas com um único objetivo:
servir ao bem estar do homem.
O homem está saudável quando cada órgão trabalha para esse fim.
Por outro lado, se cada órgão trabalha para si mesmo, descuidando de sua relação
com o resto do corpo, este se ressentirá e, finalmente, o próprio órgão se verá
afetado.
Devemos compreender as leis e os princípios gerais que governam a Criação, ou
seja, as 613 Mitsvót que relacionam o homem ao seu semelhante e ao Cadósh
Barúch Hú.
Ao aplicá-las, conseguiremos equilibrar nossos interesses e objetivos particulares
com o objetivo geral, que abrange todos os seres e todos os aspectos da vida.
O geral e o particular obedecem às mesmas causas; portanto, ao entender o geral,
compreenderemos melhor o particular, ou seja, o sentido de cada um dos detalhes
que formam a realidade e qual é o nosso lugar e a nossa função dentro da Criação
e da vida.
A base do sofrimento humano é conseqüência direta do desequilíbrio entre o
particular e o geral
O equilíbrio será alcançado quando as vontades individuais estejam em harmonia
com as leis e os princípios que regem a vida em todos os planos, o que deve
beneficiar todos os seres por igual.
O alcance do equilíbrio entre o particular e o geral, do homem em relação a seu
próximo, e do homem em relação a todos os aspectos da realidade, é justamente a
razão da vida.
Este processo é a Criação e consiste no aperfeiçoamento constante ao qual o
homem deve aspirar; é a razão pela qual estamos neste mundo, é a base do
trabalho espiritual de Israel, a emuná (certeza) de Israel.
A base da Torá é a emuná, que é um imun (treinamento, exercício), ou seja, um
treinamento permanente durante todos os momentos da vida, para não nos
esquecermos do objetivo geral quando o confrontarmos com nossos interesses
particulares.
Este treinamento não é algo simplesmente intelectual, e sim uma forma de vida
baseada na Torá e nas Mitsvót, que ajuda o homem a atuar em harmonia com as
leis que regem todos os âmbitos da vida e da realidade.
A Torá e as Mitsvót nos confrontam com parâmetros concretos para que saibamos
medir, a qualquer momento, nossa relação com o próximo, com a família e com a
sociedade em todas as ordens da vida.
"O mundo material influencia nossos pensamentos, emoções e atos. O gesto
exterior desperta nossa atitude interior, influindo, em última análise, sobre nosso
comportamento. O homem impressiona-se com seus próprios atos; portanto, a
perseverança escrupulosa na prática das Mitsvót, por mais que no princípio seja
sem associar seus sentimentos, no final chega ao coração, quebrando o gelo
interior. As idéias mais elevadas, caso não se materializem em atos concretos,
acabam por corromper-se e corromper seus adeptos.
Por isso, a Torá nos transmite um código de leis práticas, muito precisas, adaptadas
a qualquer circunstância da vida.
A energia mental e emocional deve ser fixada por um ato concreto; caso contrário,
corre o risco de se transformar em um sentimento irreal e em uma idéia abstrata.
Assim como a casca protege o fruto, a ação executada através das Mitsvót cuida da
integridade do coração, mantém os graus do conhecimento e preserva a claridade
da visão interior." (Conceitos extraídos do livro "Michtáv meEliahu" vol. 3).
"Aquele cuja sabedoria é superior a seus atos, é comparável a uma árvore com
folhagem pesada e espessa, mas com raízes fracas, que o vento pode arrancar."
Pirkê Avót
Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 4
Introdução
O Espiritual e o Material
O Rabino Iehudá Halevi Ashlag, sábio cabalista que viveu em Jerusalém até meados
do século XX, no início de seu comentário sobre o "Ets Chaím" ("Árvore das Vidas",
de Yits'chác Luria Ashkenazi, conhecido como Arizal, século XVI) nos indica que:
"Devemos recordar que toda a Sabedoria da cabalá está baseada em estratos
espirituais que não requerem nem espaço nem tempo, e nenhuma falta ou
mudança os governam, nem os afetam".
"A ausência, assim como a mudança, atua somente sobre os estados materiais,
sendo lá onde está toda a dificuldade dos principiantes. Estes, frequentemente,
entendem aqueles conceitos em sua expressão material, dentro dos domínios do
tempo e do espaço, os quais foram utilizados por seus autores apenas como
referências palpáveis de suas origens superiores".
Talmud Esser haSefirót, Or Pnimí, Capítulo 1
Para compreender o que o Rabino Ashlag nos explica, temos que nos situar sobre o
plano físico e transladarmo-nos a conceitos como alegria e tristeza, por exemplo.
A alegria e a tristeza manifestam-se no mundo emocional do homem e não ocupam
um lugar físico
Quando alguém está alegre e, por determinada circunstancia, logo entristece, não
significa que a alegria deixou de existir, e sim que esse homem perdeu,
momentaneamente, sua capacidade de estar alegre.
Mas se os estímulos que geram a alegria voltarem, a tristeza desaparecerá e a
alegria ocupará o seu lugar.
As emoções não ocupam um lugar físico; elas abrangem o mundo emocional do
homem, sendo sua influência, geralmente, mais poderosa que a realidade material.
A emoção e o pensamento são poderosos instrumentos através dos quais o homem
se conecta com a realidade. Por mais que não devamos esquecer, eles são apenas
meios para conseguir materializar nossa vontade e desejo.
A vontade e o desejo são as forças interiores que movem o homem; mas qual é o
objetivo que motiva essa poderosa força?
A vontade altruísta de ajudar e beneficiar o próximo e à sociedade ou, pelo
contrário, o desejo pessoal, egoísta.
Nesse ponto é fixada a diferença entre o espiritual e o material.
Espiritual é a vontade altruísta de beneficiar ao próximo; material é o desejo
pessoal, egoísta.
(citação do livro "Maamarei Shamáti", pág. 107, do Rabino Kabalista Barúch
Shalom Ashlag).
Por isso, nossos Mestres nos ensinam que é fundamental aprender a linguagem, a
terminologia e os objetivos da cabalá, através de um verdadeiro iniciado nesta
Sabedoria.
Desse modo evitamos interpretar certos termos fora do contexto da Torá e da
cabalá, o que resulta em sincretismo, pseudo-espiritualidade e mística.
Cabala é o estudo da ordem das causas e conseqüências espirituais que são
geradas a partir da causa primeira, o Infinito/Ein-Sof
Espiritual é tudo aquilo que não está afetado ou modificado, nem pelo espaço nem
pelo tempo.
Não depende de estados emocionais ou do que pensem sobre ele.
É a causa que gera todo o mundo material.
Explicação: no plano físico existem leis que regem a matéria, como a gravidade.
Observamos que, cada vez que um objeto entra no âmbito da força da gravidade, é
atraído inexoravelmente por ela até que uma força contrária o rejeite.
A atividade da força da gravidade não depende do que acreditamos, pensamos ou
sentimos; ela é objetiva e tem seus próprios códigos.
Quem quiser se relacionar com ela positivamente deverá conhecer seus parâmetros
e, assim, poderá usá-la em seu benefício.
A essência da força da gravidade encontra-se além do mundo material, já que não
depende da vontade dos homens.
Assim como no caso da gravidade, a essência do mundo físico tem sua origem no
plano espiritual.
As leis espirituais atuam em todos os planos: físicos, emocionais e mentais, mas só
percebemos suas conseqüências ao nos relacionarmos conscientemente com a
realidade (como no exemplo anterior sobre a lei da gravidade).
Quando o homem se relaciona com a realidade, inconscientemente, sem
conhecimento das leis que regem a vida, é como uma criança que não tem
consciência das conseqüências de seus atos.
É importante definir com precisão a área que esse estudo abrange. Caso contrário,
poderíamos nos perder num labirinto de idéias afastadas dos objetivos da cabalá.
O objetivo desse estudo é educar a vontade e o desejo do homem para o bem
coletivo, que é a meta da Torá: "Amarás a teu próximo como a ti mesmo".
A única mudança possível que podemos alcançar na vida é a atitude interior, o que
desejamos em nossos corações.
O "melhor" sistema sócio-político-econômico está destinado ao fracasso, se o
homem for egoísta. Por outro lado, quando nos modificamos interiormente,
procurando o bem coletivo, o "pior" dos sistemas exteriores funcionará.
As verdadeiras modificações e batalhas desenvolvem-se no nosso interior.
Para isso, o homem deve conhecer a si próprio e conhecer as leis que regem todos
os planos da realidade.
Então, gradativamente, tomará consciência de sua origem e objetivo, unificando-se
com todos os homens e com o Cadósh Barúch Hú.
Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 5
A Alma
"A todos os que são chamados em Meu nome por Mim, Eu os criei, os
formei, também os fiz". Isaías 43: 7
Por que a Torá emprega três verbos quando se refere à Criação do homem?
“Fez” refere-se ao mundo da Ação (Assiah) e ao nível da alma que se chama Néfesh
e está relacionado com os instintos.
“Formou”, nos indica o mundo da Formação (Yetzirah) e refere-se ao nível da alma
que é designado pela palavra Rúach, que abrange o aspecto emocional.
Criou designa o mundo da Criação (Beriah) e está ligado com o nível da alma
denominado Neshamá, o pensamento.
Esses três níveis são três aspectos básicos gerais dentre os cinco que abrangem a
totalidade da alma.
Para entender cada um desses aspectos, há um exemplo tradicional que diz que um
homem é como uma carruagem, que antigamente era utilizada como meio de
transporte.
No exemplo, a carroça simboliza o corpo do homem, que sozinho não pode realizar
nenhum movimento.
Os cavalos que puxam a carroça são os instintos, o Néfesh que movimenta a
carroça fisicamente em diferentes direções.
O cocheiro simboliza a emoção, o Rúach, que indica: parar, para a direita ou para
esquerda, mais rápido, mais devagar, etc.
Mas, quando a carruagem encontra-se frente a possibilidade de seguir diferentes
caminhos, quem decide?
A carroça sozinha não pode se movimentar; os cavalos esperam a ordem do
cocheiro.
E o cocheiro, a quem obedece?
Ao passageiro, que é quem nós não vemos, mas é quem faz com que tudo se
movimente e gire em torno de sua vontade, já que foi ele quem "contratou" a
carroça com os cavalos e o cocheiro para conduzi-lo ao seu "destino".
A Neshamá — essência interior da alma — está representada pelo passageiro, e
revela-se no corpo através dos instintos, emoções e pensamentos, para chegar a
seu objetivo: a conscientização de sua natureza e de sua função no mundo, para
logo fundir-se, conscientemente, à Luz Infinita.
É possível alcançar esse objetivo através de dois caminhos:
1) Com consciência, quando os três aspectos da alma (pensamento, emoção e
ação) estão em harmonia com as leis que regem a Criação, ou
2) Com sofrimento, quando os cavalos, o cocheiro e o passageiro estão em
desacordo. Do que se deduz que, se o homem pensa de uma forma e sente de
outra, seus atos o conduzirão, inevitavelmente, ao sofrimento.
Assim como há leis que regem os fenômenos físicos, como a lei da gravidade, etc.,
há também leis que regem os planos instintivos, emocionais, mentais e espirituais.
A verdadeira liberdade surge quando o homem atua em concomitância com essas
leis, e não simplesmente de acordo com o seu sentir momentâneo, instintivo e/ou
emocional.
Por isto, através da Torá e das Mitsvót, a cabala é um estudo e um constante
treinamento para adaptar as características humanas às leis superiores que regem
todos os planos da Criação.
A Torá nos transmite as leis objetivas que regem a vida e a Criação, e as Mitsvót
nos proporcionam os elementos práticos que, quando são bem aplicados, nos
ajudam a direcionar nossos desejos para o bem de nossos semelhantes e de nós
mesmos, transformando-nos, dessa maneira, em "sócios ativos do programa da
Criação".
Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 6
A Alma
Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 7
Coordenadas Espirituais
Nossa vontade deve agir dentro das leis objetivas que regem a Criação, caso
contrário, seríamos atingidos por influencias passageiras, ou seja, simplesmente
estaríamos escravizados em nossos desejos e emoções temporárias, e
esqueceríamos do objetivo da plenitude que abrange todos os seres e todos os
aspectos da realidade.
O homem deve ser educado para pensar de acordo com as leis objetivas que regem
os planos materiais, emocionais, mentais e espirituais como um todo indivisível.
Estas leis encontram-se codificadas na Sabedoria Interior da Torá: a cabala.
A Sabedoria da cabala dirige-se ao interior do homem, ao nosso desejo e vontade
de receber a Plenitude Infinita (cabala = recepção).
Todas as expressões da Sabedoria da cabala sobre o temporal e o espacial, não se
referem ao espaço e ao tempo, como os entendemos em nossa realidade material e
sensorial.
Na linguagem da cabalá os termos "antes" e "depois" significam "causa" e
"consequência", sendo antes a causa e depois a consequência.
Os conceitos superior-elevação referem-se à medida do refinamento do desejo,
enquanto, pelo contrário, os conceitos inferior-declínio são medidas de densificação
do mesmo.
Quando se diz que um estado foi elevado, significa que o estado inferior refinou sua
vontade e desejo, fundindo-se com o estado superior, ou seja, superou seu desejo
egoísta de receber e o transformou em altruísmo.
Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 8
Coordenadas Espirituais
Atsmut
A Essência
Ein-Sof
O Infinito
Or Ein-Sof
A Luz do Infinito
Tsimtsúm
Contração do Desejo de Receber a Luz do Infinito
Neshamá
Alma
----------Tempo-Espaço----------
Briá Neshamá
Ietsirá Rúach
Assiá Néfesh
Existem outros aspectos da alma — em hebraico Chaia e lechidá — que estão além
da influência do tempo e do espaço, e estão relacionados com seus aspectos mais
interiores, como o desejo, a vontade e o prazer.
A vontade e o prazer estão além do pensamento, da emoção e dos instintos, sendo
eles a força motora que move os homens.
O pensamento discerne entre os diferentes aspectos de nossa vontade, para
conseguir apreender o completo, a plenitude que se expande desde a Essência do
Criador/ Atsmút.
Observamos em nosso "mapa" que a origem da alma está no Infinito/Ein-Sof, como
nos transmite a Sabedoria da cabalá:
Antes da Criação, a plenitude da Luz Infinita preenchia toda a realidade, e não
havia espaço para que o vício, e nem a necessidade, se manifestassem. ("Ets
Chaím")
Ao nível de nossa percepção, diríamos que a plenitude satisfaz todos os nossos
pensamentos, emoções e desejos, de modo que não reste nenhum outro aspecto
da realidade que possa surgir e atrair nossa atenção.
Antes que surja qualquer desejo ou vontade, a plenitude da Luz Infinita o preenche,
assim como ocorre com um feto no ventre materno, recebe alimento e calor antes
mesmo de desejá-lo.
Sem a consciência do desejo, estaríamos plenos, uma vez que, antes de surgir
qualquer desejo, a plenitude o satisfaz.
É como a história do príncipe que vive no palácio de seu pai, o rei.
Nada lhe falta.
Tudo o que pertence ao rei lhe pertence, porém ele não é o rei.
Portanto, e continuando o texto do "Ets Chaím", surge o tsimtsúm/contração do
desejo de receber a plenitude da Luz Infinita.
O príncipe deseja ser igual a seu pai, o rei, mas para isso deverá deixar o palácio e
criar o seu próprio reino.
Em conseqüência da contração do desejo de receber/ tsimtsúm, a plenitude da Luz
Infinita oculta-se deixando um vazio dela mesma.
Isto ocorre porque não há imposição no terreno espiritual; portanto, o tsimtsúm
permite o surgimento do livre arbítrio e que possamos optar pela Luz — o bem —
conforme nossa vontade, e não por imposição.
Nosso príncipe sai do palácio e surge o desejo e a consciência de tudo o que
possuía dentro do reino.
Agora, o príncipe começa a compreender seu pai, uma vez que, frente à carência,
toma consciência do valor de tudo o que possuía e da grande responsabilidade que
implica ser rei.
Como resultado do ocultamento do completo, aparece o desejo.
O desejo estava incluído no estado anterior, mas não tinha a possibilidade de se
manifestar, pois a plenitude infinita acumula o desejo sem deixar espaço para que
ele se manifeste.
No palácio, o príncipe tinha desejos, mas o rei satisfazia a todas as suas
necessidades, e o príncipe não tinha consciência do que possuía.
Ao deixar o palácio, surge no príncipe o desejo de voltar a possuir o que já era
dele, só que agora é por sua própria necessidade e não porque seu pai lhe dava.
O estado do Infinito/Ein-Sof inclui a Luz (plenitude) e o desejo de receber a Luz em
equilíbrio, mas como a Luz preenche o desejo, consequentemente não o
percebemos.
Isso é análogo ao verdadeiro amor que unifica sem deixar espaço para que outro
sentimento o extingua.
Depois do tsimtsúm/contração do desejo de receber, aparecem os dois estados de
forma independente: a Luz-plenitude e o desejo de receber a Luz.
Depois que o príncipe deixa o palácio, surge a nostalgia de sua vida anterior.
Esta nostalgia é o que faz o príncipe querer recuperar a mencionada realidade.
O espaço criado pelo desejo, a nostalgia da Neshamá em recuperar o estado da
plenitude/Ein-Sof, é a Criação.
A Criação é o processo gradativo que aproxima o desejo à plenitude da Luz, até
unificá-los novamente, como no estado de Infinito/Ein-Sof, antes do tsimtsum.
Qual é a finalidade de voltar a realizar o que já existia antes da Criação?
Como vimos: "Antes da Criação, a Luz do Infinito preenchia toda a realidade".
Esse processo é necessário para a vontade e o desejo da Neshamá, sendo que na
Luz, na plenitude, não há absolutamente nenhuma mudança ou movimento.
A Luz é completa por si mesma.
Pelo contrário, ao perder a plenitude da Luz, o desejo da Neshamá deve tentar
reconstruir o estado do Infinito conforme sua própria necessidade, e não receber a
Luz por imposição como ocorria antes da Criação.
Um exemplo claro para entender esses conceitos é a relação entre pais e filhos.
Quando o filho deixa a casa dos pais e forma uma família, ele aprende a ser
independente e auto-suficiente como sempre quiseram seus pais, passando a ser
esta sua própria necessidade e não, como era anteriormente, apenas o desejo de
seus pais.
"Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua
mulher, e serão ambos uma carne."
Gênesis 2:24
Os filhos entendem os seus pais quando, eles mesmos, tornam-se pais.
O homem começa a compreender o Criador quando, ele mesmo, torna-se um
criador, isto é, quando dá.
O desejo da alma toma consciência da Luz quando dela necessita por sua própria
vontade e consciência, e não por imposição.
A independência do desejo com respeito à Luz gera novos espaços espirituais,
indicados em nosso "mapa" pelos 3 mundos: Beriá, Ietsirá e Assiá, que indicam os
diferentes graus de recepção da Luz Infinita.
Os estratos da alma, também denominadas graus de Luz, mostram os graus de
aproximação do desejo em direção à Luz.
Na linguagem da cabalá, o desejo é chamado Klí e a Luz, Or.
Os 5 graus da Luz/Or e os 5 mundos/olamot que recebem essa Luz estão situados
em nosso "mapa" um frente ao outro, indicando assim a relação direta de cada
grau de Luz/Or com seu respectivo espaço e mundo.
O tempo e o espaço só se manifestam a partir dos 3 mundos inferiores: Beriá,
Ietsirá e Assiá.
Isto acontece uma vez que os 2 estratos superiores da alma — a vontade (Chaiá) e
o prazer (Iechidá) — encontram-se além da influência temporal e espacial.
Isso porque a vontade e o prazer da alma não dependem de mudanças; são
permanentes. A alma só deseja unificar-se com a plenitude da Luz, assim como o
amor que une o homem e a mulher para criar e dar de si mesmos.
Mas quando a vontade e o prazer revestem-se de pensamentos, sentimentos e
ações, começa a movimentação em busca da plenitude da Luz nos 3 mundos
inferiores, Assiá, Ietsirá e Beriá.
Isso produz movimento a nível humano, gerando assim tempo e espaço.
A cabalá, através do estudo da Torá e aplicação das Mitsvót, baseia-se no
desenvolvimento de todos estes aspectos, orientados para um objetivo
fundamental: guiar o desejo, a vontade e o prazer do homem para o bem coletivo
"Amarás a Teu Próximo Como a Ti Mesmo."
Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 9
Coordenadas Espirituais
"Deves saber que antes da emanação das emanações e da criação das criações, Or
Elion Pashút (Luz Suprema Simples) preenche toda a realidade.
E não há nesse estado, lugar vazio distinguível como ar, vácuo ou espaço, e sim
tudo está cheio dessa Luz Suprema Simples.
E não há nesse estado distinção de princípio nem fim, é tudo Luz Simples, igual em
uma igualdade única.
E isso é a denominada Luz Infinita (Or Ein-Sol)".
"A árvore das Vidas"/"Ets Chaím" (texto transmitido pelo Rabino e Sábio Kabalista
Yits'chác Luria Ashkenazi a seu discípulo, o Rabino Chaím Vital, no século XVI, em
Safed).
No texto "O Espaço Espiritual da Alma” Ein Sof é o estado prévio à manifestação da
Criação, na qual reina o pleno absoluto e onde o desejo é saciado antes de se
manifestar.
Antes que surja qualquer desejo ou vontade, a plenitude da Luz do Ein-Sof o
preenche, assim como ocorre com um feto no ventre materno, que recebe alimento
e calor antes de desejá-los.
Isto acontece, não porque não haja vontade ou desejo, e sim porque a plenitude da
Luz preenche toda a realidade, sem deixar espaço para que o desejo, ou outro tipo
de vontade, se manifeste.
Não existindo nenhuma vontade nem desejo, não há "movimento", uma vez que o
desejo e a necessidade são os que produzem esse "movimento".
Caso não haja movimento, tampouco regerão "ali" o tempo e o espaço.
Pelo contrário, assim que é ativado o tsimtsúm (contração e limitação), surgem a
vontade e o desejo.
Aquilo que existia apenas potencialmente, passa a se manifestar e aparecem assim
o tempo e o espaço e todo os tipos de formas e movimentos procurando reconstruir
o estado prévio ao tsimtsúm.
Nasce a Criação — o desejo e a vontade de receber a Luz que preenche a realidade
antes do tsimtsúm ser revelado..
A Criação, o novo, é o desejo.
Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 10
“A alma tem cinco nomes que, ordenados do inferior ao superior, são: Nefesh,
Rúach, Neshamá, Chaiá e Iechidá”.
Assim começa o livro "Shaar haGuilgulím"("0 Portão das Rotações da Alma"), como
compilado pelo Rabino e cabalista Chaím Vital, que, por sua vez, o recebeu de seu
Mestre, o Rabino e Sábio cabalista Yits'chác Luria Ashkenazi, conhecido como o
Arizal.
A Luz do Infinito/Or Ein-Sof, ao ingressar no âmbito da Criação, adquire vontade e
consciência diferenciadas, que se traduzem em diferentes seres e formas.
Esse processo ocorre simultaneamente em todas as particularidades da Criação,
adotando assim a Luz do Infinito diversos graus e índoles.
No homem, esses graus de vontade e consciência formam os diversos estratos da
alma, chamados Néfesh, Rúach, Neshamá, Chaiá e Iechidá.
Os cinco estratos da alma, com sua infinidade de graduações, são os graus da Luz
do Infinito revestidos na consciência, na vontade e nos desejos do homem.
Esses 5 graus são as Luzes que logo vão iluminar gradativamente os ocultamentos
produzidos pelo ato do tsimtsúm/contração original do desejo de receber a Luz do
Infinito, nos 5 mundos denominados Adám Kadmón, Atsilút, Briá, Ietsirá e Assiá.
Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 11
Os 32 Caminhos da Sabedoria
A conjunção das vinte e duas letras do alfabeto hebraico, somada às dez sefirót,
representam a expressão articulada de todos os aspectos da vida expandidos a
partir da Essência do Criador.
Essa conjunção estabelece os códigos fundamentais da cabalá, denominados pelos
Mekubalím (Sábios da Cabalá) de “linguagem das ramificações/sfat haAnafim”.
A linguagem das ramificações é articulada através dos condutos ou ramos pelos
quais flui a energia da vida.
Dessa forma, cada ramo da Árvore das Vidas está relacionado com seu ramo
vizinho, até unirem-se todos eles no Infinito (Ein-Sof), a raiz que os gerou.
Através da aplicação consciente da linguagem das ramificações/sfat haAnafim, o
homem pode discernir sua vontade e desejo, dando forma a seus pensamentos,
conforme será exposto na seqüência.
- A sefirá Chéssed (entrega , generosidade....), é a energia que fundamenta todos
os processos criativos, tanto os materiais quanto os espirituais.
Qualquer processo criativo, qualquer início, é gerado por uma entrega, por uma
vontade.
— A sefirá Guevurá (superação, limite, coragem...) é a energia que limita e dá
forma à Chéssed/entrega.
No Ets Chaím (Árvore das Vidas), a sefirá Chéssed está conectada com a sefirá
Guevurá pela letra Alef, primeira letra do alfabeto hebraico.
Chéssed—Guevurá é a primeira direção que surge na Árvore das Vidas, já que a
Guevurá constitui as limitações que surgem em qualquer início, ou seja, frente a
qualquer iniciativa surge a correspondente Guevurá.
Essas limitações e "dificuldades", geradas pela Guevurá, não representam um
obstáculo, e sim ajudam-nos a delimitar nosso contato com a realidade, fazendo-
nos discernir entre o real e o imaginário.
Frente às limitações nos conscientizamos quão real são nossa vontade e nosso
desejo, percebendo se eles se desvanecem ou se fortalecem frente às dificuldades.
1) Substância
De acordo com o exposto pelo Rabino Ashlag, o desejo de receber é a substância
básica comum a todos os seres. O desejo manifesta-se como consequência do
tsimtsúm, o ocultamento da plenitude da Luz Infinita, ou seja, é o que surge a
partir da ausência.
Esse conceito é denominado, na linguagem da cabalá, Iesh Mi Áin.
Iesh significa Há — existência.
Mi significa De.
Áin significa Nada — inexistente.
Nossa tradição ensina que o Cadósh Barúch Hú: "Forma Luz e Cria Escuridão".
Esta passagem que aparece no Sidur (ordem da tefilá/oração) nos indica que o ato
da Criação oculta a plenitude da Luz ("Cria Escuridão") e, ao mesmo tempo, dentro
desse espaço escuro que é a Criação, o Cadósh Barúch Hú dá forma à Luz para que
o homem possa recebê-la ("Forma Luz").
"Cria Escuridão" refere-se ao conceito Iesh Mi Áin e "Forma Luz" a Iesh Mi Iesh.
Iesh Mi Áin é o desejo, o espaço no qual desenvolve-se a Criação, que surge como
consequência da ausência da plenitude da Luz.
Iesh Mi Iesh é a Luz/Or que existe a partir do "existente", o original.
2) Forma da substância
O desejo tem duas formas básicas:
a)desejo de receber
b)desejo de dar
No caminho espiritual, o homem deverá transformar o seu desejo de receber em
desejo de dar para conseguir superar sua dependência com respeito aos planos
inferiores da realidade.
Em cada momento e situação que nos vemos frente ao desejo de receber, a Torá e
as Mitsvót nos orientam, canalizando nosso desejo em função do bem coletivo, em
direção ao altruísmo, um desejo de dar com sabedoria.
3) Forma abstrata
A forma abstrata é a idealização, as qualidades independentes da substância, como
por exemplo, o bem, a beleza, a verdade (e seus opostos).
A Sabedoria da Torá só valoriza estas qualidades quando revestidas de substância,
do desejo concreto dos homens.
Ao contrário, quando separamos estas qualidades da situação onde se realizou, por
exemplo, um ato de bem, tomando o conceito de bem como algo independente,
estamos omitindo esta qualidade e correndo o risco de generalizá-la e idealizá-la
erroneamente.
Todos concordamos quão importante é a verdade, mas se nos vemos frente a uma
situação onde há que se mentir para se salvar uma vida, o que é mais importante:
a verdade ou a vida?
Segundo a Torá, não há nada mais importante que a vida.
Essa verdade é uma verdade parcial, e portanto já não é "verdadeira".
O bem, a verdade etc., para serem completos devem estar conectados com a vida
em todas os estratos nos quais ela se manifesta, ou seja, nos âmbitos corporais,
emocionais, mentais e espirituais, contemplando a todos como diferentes aspectos
da mesma realidade.
Toda qualidade e/ou situação é definida e valorizada somente em relação ao
contexto no qual se manifesta.
Quando a separamos das condicionantes que a geraram, corremos o risco de julgá-
la de forma errada (como no exemplo da verdade, mencionado anteriormente).
O funcionamento dos órgãos do corpo constitui um claro e visível exemplo de como
estes conceitos atuam na realidade.
Cada órgão do corpo funciona corretamente apenas quando cumpre seu objetivo de
servir ao corpo.
Se avaliado como um ente isolado, sem levar em conta sua função dentro do
sistema, não estarei observando a realidade de forma completa, o que colocará em
perigo todo o sistema, ou o corpo ao qual este órgão pertence.
De acordo com a Torá, cada detalhe da vida é um componente insubstituível da
realidade, e, portanto deve ser sempre avaliado em relação ao Todo.
Cada partícula que o Cadósh Barúch Hú criou tem seu lugar insubstituível na
Criação, assim como uma simples engrenagem, que sozinha não parece
importante, mas que quando não está em seu exato lugar, causa a paralização de
todo o mecanismo.
É por isso que os judeus, dizem todos os dias Shemá Israel Hashem Elokeinu
Hashem Echad*, já que todos os detalhes da aparente multiplicidade que nos
rodeiam, se empregados corretamente, constituem instrumentos insubstituíveis que
conseguem harmonizar a realidade e a vida
Observamos como a forma abstrata não é uma forma de conhecimento válida, já
que nos faz avaliar a realidade de forma parcial, correndo o risco de cair em
sistemas que valorizaram mais a "verdade abstrata" que a própria vida.
A partir dessa concepção, nascem os sistemas que limitam o livre arbítrio e
destroem tudo o que se interpõe em seu caminho, em nome da "verdade abstrata"
ideal.
4) Essência
Da essência não temos compreensão nem percepção.
Os cinco sentidos humanos, somados ao máximo que nossa imaginação possa
transmitir, são, na melhor das hipóteses, a manifestação do efeito das atividades
da essência, porém nada podem oferecer sobre a essência por si mesma.
Nossos cinco sentidos, emoções e pensamentos, transmitem-nos luz, calor, som,
idéias etc., até onde seu alcance lhe permite, mas além desse âmbito há outros
aspectos da realidade.
A essência em si mesma é impossível de ser conhecida, uma vez que a essência de
toda a realidade é a mesma, é Uma e Única.
Exemplo:
Quando nos referimos a nosso semelhante, o fazemos de acordo com a forma pela
qual conhecemos aquela pessoa: é meu amigo, meu médico, meu pai, etc.
Cada um desses termos é uma forma através da qual conhecemos aquela pessoa,
por mais que esse indivíduo seja tudo isso e muito mais.
Da mesma maneira, a essência está além de todos os nomes que lhe dermos, pois
é ilimitada, e quando a nomeamos, estamos colocando limites em nossa percepção
Apesar disso os limites representam a única forma de conhecimento, uma vez que,
no infinito, minha percepção é diluída e não consegue alcançar a realidade.
Quando um arquiteto propõe construir um edifício, estabelece primeiro os limites e
depois, dentro deles, desenvolve um projeto.
Uma cidade começa com uma casa, depois outra e outra, até ser completamente
construída.
O objetivo do Cadósh Barítch Hú é dar e beneficiar de forma infinita e, para isso,
limitou a plenitude de Sua Luz/ tsimtsúm frente a nós.
A Criação é o grande projeto no qual o homem deve transformar seu desejo de
receber em desejo de dar.
Como qualquer plano, começa de um ponto para depois se espalhar por toda a
realidade.
Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 13
Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 14
A Paz e a Guerra
A Maldição de Caim
O número sete indica os ciclos temporais e espaciais, os processos que entram nos
domínios do tempo e do espaço.
Em seis dias o Cadósh Barúch Hú criou os céus e a terra, e no sétimo dia descansou
(Shabat).
O número sete figura, constantemente, nos textos da tradição escrita e oral: sete
dias formam uma semana, durante sete dias é celebrada a festa de Pêssach; sete
semanas depois é Shavuót; e sete meses depois de Pêssach é Sucót, etc.
Este ciclo de sete indica o processo realizado pela alma em seu caminho espiritual:
a escravidão no Egito (Pêssach), passando pela entrega da Torá (Shavuót),
desembocando em Sucót, para chegar à Terra Prometida.
As festividades de Israel baseiam-se em um permanente treinamento para elevar o
desejo da alma.
Cada sete dias é Shabat, ou seja, uma vez por semana o homem deve superar a
dependência com respeito ao mundo físico.
O Shabat cria um espaço fora do tempo para que a Neshamá se manifeste e o
homem aprenda a libertar-se do peso do materialismo.
O judaísmo não procura eliminar o material, e sim pretende aperfeiçoá-lo,
colocando-o a serviço do espiritual em prol do beneficio coletivo.
As leis espirituais estão além do tempo e do espaço.
É por isso que, tanto ao Shabat quanto às outras festividades de Israel, não lhes
corresponde o conceito de "antigos" ou "modernos", pois estão dirigidos para a
essência interior do homem, à vontade e ao desejo da alma.
O número sete não é um dado arbitrário que a Torá fala para o homem; o sete nos
indica a percepção do homem — sete são os orifícios que o homem tem em sua
cabeça: 2 olhos, 2 ouvidos, 2 narinas e a boca.
Na cabeça estão situadas as faculdades mais elevadas e os sentidos através dos
quais o homem percebe o mundo.
Os orifícios pares — olhos, ouvidos e narinas — transmitem-lhe a informação que a
mente e a emoção elaboram de acordo com objetivos e desejos.
A boca, o sétimo e o único ímpar, refere-se à articulação sonora, à expressão de
como o homem percebe e compreende a realidade.
De acordo com o que o homem manifesta, conheceremos seus desejos e
aspirações.
Na boca há dois aspectos que atuam em sentido inverso, sendo a palavra o que sai
da boca e o alimento, que nutre o homem, o que entra através dela.
Assim como temos leis e códigos espirituais com respeito ao que sai e entra pela
boca (Kashrút (“o que é apropriado”) material, através da abstenção de certos
alimentos, e Kashrút espiritual, evitando a calúnia e a mentira, etc.), o mesmo
ocorre com a percepção, uma vez que geralmente atuo de acordo com o que penso
e sinto.
Por ser nosso mundo emocional e mental poderosamente influenciado pelo que
vemos e ouvimos, é de vital importância para a vida espiritual que nossa Kashrút
não seja restrita à dieta alimentar, e que chegue também ao "alimento" que nutre a
emoção e a mente.
O homem deve ter consciência dos objetivos que o conduzem a cada um de seus
atos. É por isso que o trabalho em relação a Torá e as Mitsvót deve ser dirigido
para o depuração do desejo e da vontade, pois através da vontade, o pensamento
e a emoção estabelecem os limites. É através do estudo da Torá (leis objetivas da
Criação) e a aplicação das Mitsvót (atos concretos dirigidos ao bem coletivo) que o
homem libera sua mente e sua emoção da especulação sem objetivo.
Dessa forma, os pensamentos e as emoções dirigem-se a objetivos que
transcendem o momentâneo e o passageiro.
Quando um conflito é resolvido interiormente, ele não desce aos domínios do tempo
e do espaço; ele encontra a harmonia no plano espiritual.
Nesse caso, nenhum elemento externo o afeta, pois não tem necessidade de
ingressar nos ciclos temporais e espaciais para ser resolvido.
O desejo, força interior que move o homem, é provocado, na maioria dos casos,
por algo exterior a ele, por algo que não possui, de modo que, se o tivesse, não o
desejaria.
Este desejo o empurra para que se mova dentro do tempo e do espaço, na busca
por saciá-lo, gerando uma infinidade de ações e reações.
Todo movimento material e exterior é provocado por algo que nasce do interior, do
espiritual, e sua resolução só é possível no lugar exato onde foi gerado.
Estes conflitos serão finalmente resolvidos no campo espiritual, isto é, no interior
do homem.
Enquanto o homem não compreender este conceito e o colocar em prática, isso
provocará uma infinidade de ações e reações que o conduzirão a diferentes
situações, muitas delas com sofrimento, até chegar a resolução interior do conflito.
Os ciclos temporais são a exteriorização deste desejo original que, ao não ser
resolvido no plano interior-espiritual tem a necessidade de ingressar no plano do
espaço e do tempo para, finalmente, retornar à sua origem, ao espiritual, onde
encontrará sua resolução.
Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 15
As Rotações da Alma
A Torá está baseada em revelações interiores.
Receber a Torá é como receber uma forma de vida em equilíbrio com as leis da
Criação, e não simplesmente algo intelectual.
A Torá começa com o livro denominado Gênesis/Bereshit.
Este nome provém de sua palavra inicial, “Bereshit”, que significa: “no princípio” —
“com o princípio” — “a partir do princípio”, etc.
Isso assinala que existe uma finalidade, um plano, e como qualquer plano, é
compreendido à medida que o estudamos e o absorvemos.
"No princípio criou Elokim os céus e a terra..." — o superior e o inferior, o
altruísmo, o desejo de ajudar e de beneficiar e o desejo de receber.
IHVH e Elokim: são transcrição dos nomes que indicam diferentes formas pelas
quais a Luz do Infinito/Ein-Sof se apresenta no mundo.
O nome IHVH designa a sefirá Biná ou Tiféret, dependendo da sua pontuação
(nikud).
O nome Elokim designa a sefirá Guevurá.
3) Cav — Linha de Luz que provém do Infinito e chega ao espaço vazio. A Luz
Infinita penetra lenta e gradativamente no espaço vazio, outorgando ao desejo da
alma a possibilidade de assimilá-la.
Dessa maneira, o desejo da Neshamá pode discernir e optar entre a Luz do Infinito
e a escuridão do espaço vazio.
Esta consciência é a que faz com que a vontade da Neshamá amadureça
espiritualmente, e deseje a Luz por si mesma.
No estado de Infinito, ao contrário, a plenitude é recebida sem consciência, sem
vontade nem desejo.
Este processo é similar a qualquer processo de aprendizagem. Se o Mestre não
contrai (tsimtsúm) sua sabedoria e a ensina gradativamente, não somente o
discípulo não conseguirá assimilar nada, como também lhe faltarão desejo e
vontade em relação a essa sabedoria, por desconhecimento de seus objetivos.
Portanto, se a plenitude da Luz do Infinito não se contrai, ocultando-se do desejo
da alma (tsimtsúm) e logo expandindo-se através da linha da Luz/Cav, a Criação
não tem possibilidade de existir.
"Naquele dia Ele (sua Luz/Or) e Seu Nome (a vontade e desejo incluídos na Luz/klí)
serão Um."
(Zacarías 14: 9)
Continua
As 3 Dimensões da Kabalah –Parte 17
Os Estados da Alma
b) O que se manifesta
O que se manifesta, ratsón lecabel/desejo de receber, é onde ocorrem as
modificações, aperfeiçoando-se a medida que se aproxima da Luz/Or, ou seja, o
ratsón lecabel vai se transformando gradativamente em ratsón lehashpía.
Alguém vem à nossa casa, abre a geladeira e começa a comer sem que lhe
tenhamos oferecido nada, sujando e desordenando tudo.
Ao final, vai embora sem se despedir nem agradecer.
Seguramente ficaremos com a razoável sensação de termos sido menosprezados, e
nosso primeiro pensamento será que se aproveitaram de nós.
Provavelmente nos zangaremos com nosso "hóspede".
Por outro lado, se nosso hóspede não nos pede nada e simplesmente conversamos,
e ele nos faz companhia, depois de alguns minutos nos sentiremos incômodos de
não ter oferecido nada a ele.
Surgirá em nós a necessidade de oferecer bebida e alimento, e nos sentiremos
muito contentes e satisfeitos se ele aceitar nosso convite.
Neste simples exemplo, observamos como o mesmo desejo de comer, que existe
em nosso hóspede, pode se transformar em um mero ato egoísta ou, pelo
contrário, em um ato no qual os outros participem, recebendo também gratificação.
Nos dois casos, nosso hóspede deseja comer, sendo a fome seu desejo, a causa
que não se pode anular.
No primeiro caso, seu desejo é um fim em si mesmo, sem ultrapassar os limites de
sua própria pessoa.
Em compensação, no segundo caso, seu desejo transforma-se em gratificação para
seu anfitrião, que sente prazer em oferecer sua hospitalidade.
O importante não é o que temos nem quais são nossos desejos, já que basicamente
todos os homens desejam plenitude.
A importância está no que fazemos com nosso desejo: um mero ato egoísta ou, ao
contrário, uma ação que envolva nossos semelhantes e, a partir da qual, todos,
definitivamente, receberemos.
Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 18
O Criador Infinito confere vida aos mundos através de sua Luz Infinita, projetando-
a a partir de Si mesmo.
Ele envia e emana Sua Luz para revelá-la neste mundo material.
Nós fazemos Mitsvót (conexões) para manifestar a Luz em nossas vidas.
As Mitsvót são os atos concretos, parâmetros que liberam a alma da dependência
da materialidade, do desejo egoísta/ratsón lecabel e, portanto, dos
guilgulím/rotações inferiores da alma.
Nos domínios do mundo material, esses parâmetros são imprescindíveis para nós,
pois nos ajudam a ultrapassar as limitações temporais e espaciais impostas pelo
ratsón lecabel/desejo egoísta.
A cabalá define tais parâmetros de forma geral e logo nos transmite as
particulariedades e a forma prática de sua aplicação através das Mitsvót.
As Mitsvót dividem-se da seguinte forma:
248 expressam a expansão da vontade e desejo, e
365 expressam sua contenção.
O conjunto das Mitsvót expansivas e das Mitsvót de contenção (248 + 365 = 613)
sintetizam a relação do homem com todos os graus e aspectos da manifestação do
desejo.
De acordo com o Talmud, o número 248 refere-se ao conjunto de órgãos e
articulações do corpo humano (aspecto espacial), e 365 é o número de dias do ano
(aspecto temporal).
As Mitsvót dão forma harmônica aos nossos desejos, de modo que cria uma
ecologia espiritual em todos os âmbitos da vida.
Cada vez que desejamos algo, devemos conhecer os parâmetros que nos ajudam a
avaliar se nosso desejo afeta, positiva ou negativamente, nosso semelhante.
Quando atuamos em equilíbrio com as leis espirituais, beneficiamos todas as
criaturas por igual.
Por outro lado, quando nossos desejos colocam-se à frente dos desejos de nossos
semelhantes, surgem as guerras, a pobreza e o sofrimento.
A educação cabalista, baseada na aplicação consciente das Mitsvót, modela nosso
desejo, porque as Mitsvót não foram criadas pelo raciocínio ou pela especulação dos
homens.
Elas são leis objetivas que regem toda a Criação.
A lei da gravidade, por exemplo, supera nossa vontade e estados de ânimo
momentâneos.
Assim mesmo, as leis que regem os diversos estratos da vida são objetivas e não
dependem de modas passageiras.
Tudo que foi criado, seja no terreno espiritual ou material, se manifesta através de
três aspectos gerais denominados: Olam, Shaná, Nefesh (Mundo, Ano e Alma).
Os diversos aspectos da realidade são ativados através de três coordenadas:
Espaço (Olam), Tempo (Shaná) e Alma (Nefesh), sendo Nefesh o que gera a
atividade, Olam o que gera os limites espaciais onde produz-se esta atividade, e
Shaná o que impõe o ritmo no qual é produzida esta atividade.
[O termo Nefesh, nesse caso como acepção de qualquer um dos cinco níveis da
alma: Nefesh, Rúach, Neshamá, Chaiá e Iechidá]
O Néfesh é formado pelos diversos graus de Or/Luz que se manifestam através do
Cav/linha de Luz que provém do Ein-Sof: Néfesh, Rúach, Neshamá, Chaiá e
Iechidá.
Olam/Mundo (Planos): constitui os diferentes estratos onde a alma se manifesta:
Adám Cadmon, Atsilút, Briá, Ietsirá e Assiá.
Shaná: é o processo de revelação dos diferentes aspectos da realidade e da vida.
O tempo espiritual funciona de acordo com as causas e conseqüências, sendo
"depois" o efeito resultante da energia produzida pelo estado que a precedeu.
Esses três aspectos se manifestam através de:
1) o Povo de Israel
2) a Terra de Israel
3) a Torá de Israel
Isto significa que o homem deve conhecer e unificar-se com a Luz Infinita e assim
como o Kádósh Báruch Hú, o homem deve dar e beneficiar todas as criaturas.
O trabalho espiritual na Torá e nas Mitsvót aproxima, gradativamente, o homem do
lugar e da raíz de onde toda a realidade é gerada: o Infinito/Ein-Sof
Daí os cinco nomes da alma - Néfesh, Rúach, Neshamá, Chaiá e Iechidá - que
indicam o grau e a distância espiritual do homem em relação à Luz Infinita.
Neshamá provém do verbo respirar e designa a generalidade da Luz que se
expande d'Ele.
A atividade do Rúach (que também significa vento e alento) traz a Neshamá de
vidas (Nishmát chaím) através das narinas do homem, e torna-o possuidor de um
Néfesh vivo.
Posteriormente, este alento flui e vitaliza o corpo.
A medida que a energia - Luz de vidas - flui pelos mundos, ela adquire
materialidade, ou seja, ratsón lecabel, até se concretizar na respiração e no ritmo
cardíaco. Logo após, o sangue irriga todos os órgãos do corpo, dando-lhes vida e
transformando o mencionado ratsón lecabel em atos concretos.
O trabalho espiritual do homem, através da Torá e das Mitsvót, transforma aqueles
atos concretos em ratsón lehashpía.
Por isso o trabalho espiritual de Israel concentra-se na direção superior do alento e
da respiração, unificando desse modo toda a multiplicidade do mundo material-
sensorial com a fonte da Luz, causa e origem de toda a criação.
Do contrário, dispersaríamos nossa energia, pois ao nos concentrarmos apenas nos
processos respiratórios e sensoriais, limitamos a realidade em nós mesmos,
aumentando desse modo, o ratsón lecabel, o egoísmo.
Por essa razão, a denominação empregada pela cabalá para designar a energia de
vidas é Luz - Or.
O vocábulo Or indica a direção e objetivo para o qual o homem deve orientar sua
vontade e desejo, a plenitude que abrange tudo e todas as criaturas, a Luz
Infinita/Ein-Sof
Néfesh - Impulso de fogo, a energia que abastece o corpo de calor e de movimento.
Expressa-se no Kidúsh (Kidush, literalmente, "santificação" é a bênção recitada
sobre o vinho ou suco de uva para santificar o Shabat ou uma festa judaica
(cabalista)) do sétimo dia - "Shavat vayinafash" - cujo significado é que cessa o
movimento e o trabalho logo depois de terminada a Obra (a Criação), e chega o
descanso (Shabat).
O Sábio cabalista, Rabino Ashlag, explica-nos que o significado dessa frase é o
seguinte: "Depois de finalizada a Criação, o Néfesh se perde, pois não há mais
necessidade dele".
Isso ocorre porque o Néfesh é o aspecto da Neshamá relacionado com a vida
sensorial e com o desejo de receber inferior.
Após a reintegração do desejo à sua origem, do klí ao Or, também o Néfesh se
integra à Luz, e então não é possível percebê-lo como um ente separado.
As Mitsvót em relação ao próximo (ben adam lechaverô) são indispensáveis para
ascender àquelas que relacionam o homem com o Lugar (ben adam laMacom), pois
nestas últimas corremos o risco de mecanizarmo-nos e automatizar nossa vida
espiritual.
Por outro lado, nas primeiras, o dinamismo de cada situação exige de nós estar
plenamente conscientes das necessidades de nosso semelhante.
Por isso devemos trabalhar sobre todas elas por igual, mas sem esquecer que as
Mitsvót com respeito ao próximo antecedem as Mitsvót relacionadas com o Lugar.
A Halachá nos ensina que, para salvar uma vida, podemos passar sobre as Mitsvót
relacionadas com o Lugar , como o Shabat, festividades etc.
A Halachá nos ajuda a não nos enganarmos e pensar que podemos ser "altamente
espirituais" e esquecermos de quem está ao nosso lado.
A palavra Halachá provém da raíz halochlandarâ.
É o código de leis judaicas, que nos ensina como andar e se comportar de acordo
com as leis espirituais codificadas na Torá.
Os tópicos tratados pela halachá abrangem todos os detalhes e todas as
circunstâncias da vida, e nos explicam de forma prática como realizar as Mitsvot.
Os livros "Taamet Mitsvót" e "Shaar haMitsvót", transmitidos ao Rabino e Sábio
Rabalista Chaím Vital por seu mestre, o Rabino e Sabio cabalista Yits'chác Luria
Aslikenazi, o Arizal, explicam-nos o sentido interior de cada mitsvá.
Através da Circuncisão e da contenção de seus instintos, o homem dá o primeiro
passo para a liberação da dependência dos desejos inferiores e egoístas.
A energia da vida, manifestada através de nossos desejos, é poderosíssima, assim
como a força do mar.
Sem os limites adequados, também o mar pode nos destruir.
Por outro lado, se construirmos uma represa que o contenha e o regule, essa
mesma energia poderá fornecer Luz ao mundo inteiro.
O livro "Ticunê Zôhar" transmite-nos que, mediante a circuncisão, liberamos o
Nefesh da influência mais densa do ratsón lecabel.
Isto ocorre porque, ao tirar o prepúcio através da circuncisão/brit milá, libertamo-
nos de três envoltórios, cascas negativas/klipót que impedem que nossos
pensamentos, emoções e atos, manifestem o ratsón lehashpía.
O brit milá é uma iniciação, mas para que o caminho espiritual judaico seja
concretizado, devemos sobrepor sobre os diferentes aspectos que esses três
envoltórios ou cascas negativas/ klipót adotam ao longo de nossas vidas.
As três tefilót (orações, preces) diárias (shacharit - minchá - arvit) e as três
festividades anuais a de peregrinação (Pessach - Shavuót - Sucót) ajudam-nos a
vencer a influência dessas três klipót, que alimentam o desejo de receber egoísta.
Dessa forma são criadas as condições que nos ajudam, caso assim desejamos, a
processar nossa energia em direção a níveis superiores de altruísmo.
A energia dos instintos é esse mar, o Nefesh.
Se não aprendemos a encaminhá-lo adequadamente, se tornará insaciável.
Por outro lado, quando lhe atribuímos um lugar exato, ele nos proporciona a
energia necessária para trazer Luz e plenitude em todos os âmbitos da vida.
Através dos tefilín, o homem pode harmonizar o coração com a mente e, assim,
compreender as leis da Criação.
Tefilin é o nome dado a duas caixinhas de couro, cada qual presa a uma tira de
couro de animal kasher (apropriado), dentro das quais está contido um pergaminho
com os quatro trechos da Torá em que se baseia o uso dos filactérios (Shemá
Israel, Vehaiá Im Shamoa, Cadêsh Li e Vehayá Ki Yeviachá).
Filactério, vindo do termo grego fylaktérion, significa basicamente "posto
avançado", "fortificação" ou "proteção", o que explica a utilização destes objectos
como protecção ou amuleto.
O sangue, o coração e a mente constituem, respectivamente, o instrumento de
manifestação do Nefesh, do Rúach e da Neshamá.
Néfesh
"...porque o sangue é o Néfesh ..."
(Deuterônomio 12:23)
"Sem conhecimento, o Néfesh não é bom ..."
(Provérbios 19:2)
Rúach
"O coração do sábio está à sua mão direita, mas o coração do tolo está à sua
esquerda."
(Eclesiastes 10:2)
" ... para vivificar o Rúach dos humildes, para vivificar o coração dos contritos..."
(Isaías 57:15)
Neshamá
"mas há um Rúach no homem e a Neshamá de Shakai (o nome Shakai designa a
sefirá lessod) o faz entender."
(Jó 32: 8)
"A Neshamá do homem é a lâmpada do IHVH."
(Provérbios 20:27)
3) Briá - Shema Israel IHVH ELOKEINU IHVH Echad. Escuta e Ouve Israel,
IHVH Elokeinu IHVH é Um.
Shema: Ouve; o ouvido não para de ouvir, ou seja, a audição independe de nossa
vontade.
O ato de ouvir está fora do nosso controle.
O livre arbítrio consiste-se no que ouço.
O sentido do ouvido relaciona-se com a sefirá Biná, que representa o mundo da
Criação/Briá e o terceiro nível da alma denominado Neshamá.
O ato de ouvir dirige nossa consciência para nosso interior, ou seja, o homem deve
procurar no mais profundo de si mesmo a verdadeira natureza do desejo de sua
alma.
Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte Final
Conceitos Básicos
Or Elion: Com o termo Luz Superior/Or Elión designamos a Luz, que se expande
do Atsmút haBore/Essência do Criador, origem e causa das causas.
Ou seja, Ele Mesmo e não suas vestimentas nem nomes, nem denominações nem
manifestações.
E deves saber — nos ensina o Rabino Ashlag — que todos os nomes e adjetivos que
utiliza a Sabedoria da Cabalá não são e não existem em Atsmút haBore, mas
somente na Luz que se expande d'Ele. Em Atsmút não há para nós nenhuma
palavra nem articulação sonora, porque essa é a regra geral: Todo estado espiritual
que não conseguimos alcançar, tampouco o conhecemos pelo nome.
Cada mundo superior gera aquele imediatamente subsequente a si, sendo que os
mundos inferiores estão potencialmente contidos nos superiores.
Isso é uma analogia ao relato da Criação, no qual primeiro surge Adám, análogo ao
Adám Kadmón, logo após Adám e Chavá, análogos à Atsilút, e posteriormente
Adám, Chavá, Caim e Abel, etc. análogos à Briá, Ietsirá e Assiá.
Adám e Chavá, antes de comerem do fruto proibido — o desejo de receber/ratsón
lecabel — estavam no estado de Gan Éden/Paraíso, análogo ao olám Atsilút.
Após provar do fruto proibido — o desejo de receber/ratsón lecabel — perdem o
estado de Gan Éden/Paraíso (olam Atsilút), dando início ao ciclo temporal—espacial
(Briá, Ietsirá e Assiá).
A perda do estado edênico e a entrada nos domínios do desejo de receber — a
Criação — continuará até que todos os âmbitos da realidade alcancem a harmonia
infinita.
Luz Circular: É a Luz/Or que não faz diferença de graus nos receptores.
Luz Simples: É o Or que inclui dentro de si o Klí, ao ponto de não fazer diferença
entre o Or e o Klí.
Nomes: Os dez nomes que aparecem na Torá nos indicam dez formas gerais
através das quais o homem pode perceber a Luz.
A Luz sempre chega aos receptores, ou seja, ao nosso desejo, mas a diferença está
em como nós a recebemos: se pelo caminho da consciência, de acordo com as leis
codificadas na Torá, ou se pelo caminho do sofrimento e da experimentação
permanente.
Exemplo: A energia elétrica nos traz benefícios se a usamos de forma correta ou,
pelo contrário, pode nos causar muitos danos, se não respeitamos as leis de como
utilizá-la.
Por sua vez, a corrente elétrica manifesta-se de diferentes formas, de acordo com o
aparelho, instrumento (klí) etc., que a recebe, transmitindo-nos luz, calor, frio etc.
Os dez nomes que a Torá utiliza ao referir-se à Energia Criadora, representam dez
formas gerais nas quais a Essência do Criador se manifesta frente nossa percepção.
Cada nome reflete, de forma geral, a atividade de uma sefirá determinada (ver
figura 6)