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As 3 Dimensões da Kabalah - Índice

Introdução
"Religião", "Deus" e "Alma"
A linguagem da Sabedoria
A percepção da realidade
O espiritual e o material

A Alma
Néfesh - Rúach – Neshamá
A alma de acordo com a narração da Torá

Coordenadas Espirituais
A vontade, o tempo e o espaço
O espaço espiritual da alma
Os estados da vontade e do desejo

A Essência, O Infinito e A Alma


Atsmút, Ein-Sof, Neshamá

Os 32 Caminhos da Sabedoria
A Árvore das Vidas/Ets Chaím

Arte, Forma e Substância


A arte de Israel: forma e substância
A música e a arte de Israel

A Paz e a Guerra
A maldição de Caim

Antes do Nascimento e Depois da Morte


As rotações da alma

O Encadeamento dos Mundos


A articulação dos estados espirituais

Os Estados da Alma
Princípios gerais da Kabalá para o trabalho espiritual nas leis da Torá e as Mitsvót

Quatro Práticas Ancestrais

Conceitos básicos
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 1

Introdução

"Religião", "Deus" e "Alma"


Muitos dos termos que costumamos empregar ao nos referirmos a temas como
judaísmo e espiritualidade chegaram a nós através de traduções e possuem uma
carga subjetividade quanto ao seu significado e a seus objetivos.
Isso afeta não somente a quem se aproxima da Sabedoria de Israel através de
textos traduzidos, mas também chega a um nível ainda mais profundo, deformando
nossa percepção do judaísmo.
Em outras palavras: Acostumamo-nos a avaliar e interpretar a Sabedoria de Israel
de acordo com parâmetros estranhos à nossa própria tradição.

Termos tão familiares como "Religião", "Deus" e "Alma", a partir dos quais surgem
as discordâncias entre os defensores da "Religião" e dos chamados "laicos", são
conceitos estranhos ao judaísmo.
Tais conceitos baseiam-se em traduções simplistas e errôneas que dividiram os
homens e criaram confusão em nosso mundo espiritual.
O vocábulo "Religião" provém do latim re-ligare, que quer dizer "voltar a ligar
aquilo que foi desconectado".
Esse conceito não aparece nos textos da tradição hebraica, nem em nossa tradição
oral até a Idade Média.
Neste período, os sábios judeus eram pressionados a participar de confrontações
verbais, com o intuito de demonstrar a validade da espiritualidade do povo de
Israel
Baseados nisso, Sábios como o Rabino, Médico e Poeta Iehudá Halevi (século X) em
seu livro "o Cuzari", e Maiomônides (século XIII), especificamente em seu "Guia
dos Perplexos", encontraram-se forçados a declarar que a Tora de Israel é também
uma "Religião", organizada com bases lógicas e sobre uma estrutura desenvolvida.
Por isso recorreram ao vocábulo Dat, que significa norma e iniciação.
O judaísmo consiste na iniciação de um povo inteiro nas normas/mitsvot que os
aproxima, gradativamente, ao Cadósh Barúch Hú.
Essas normas constituem as leis objetivas a partir das quais o Cadósh Barúch Hú
conforma Sua Criação, e que, codificadas, nos são transmitidas através da Torá.
A palavra "Religião" não é aplicável ao judaísmo, uma vez que confunde e faz com
que este seja interpretado com base em doutrinas estranhas.
O conceito "religar" implica no ato de voltar a ligar duas ou mais coisas separadas.
A Criação está permanentemente unida ao Cadósh Barúch Hú — do contrário, não
existiria.
O dilema está na forma em que o homem, síntese da Criação, se relaciona e
percebe o Cadósh Barúch Hú: com a consciência de que Ele e sua Criação são uma
Unidade, ou fracionando a continuidade da realidade e da vida.
Nossa tradição descreve que todos os aspectos da vida são diferentes graus de uma
mesma e única realidade, o Infinito/Ein-Sof Esta realidade gerada pelo Cadósh
Barúch Hú contém todos os estados possíveis, e é ilimitada e indivisível.
A palavra "Deus" deriva do latim Deus, que, por sua vez, provém de Zeus,
divindade da mitologia grega, filho de Cronos, "Deus" do tempo.
Isto dificulta nossa compreensão e deforma nosso conceito da realidade, já que
pretende definir a base e objetivo da Torá de acordo com uma lógica humana
limitada pelo espaço e pelo tempo.
Nossa tradição nos transmite que: "Antes da emanação das emanações e da
criação dos mundos, a Luz do Infinito preenchia toda a realidade" (livro "Ets Chaím"
- a Árvore das Vidas), sendo a Criação uma projeção inferior de Sua mesma Luz.
Na Torá, nos livros dos Profetas, Escritos, etc. encontramos dez nomes gerais que
designam dez formas através das quais o homem pode perceber a plenitude da Luz
Infinita que se expande desde a Essência do Criador (consulte o vocábulo Nomes no
capítulo "Conceitos Básicos").
Todos os nomes e denominações que a Torá emprega não se referem à Essência do
Criador, já que Sua Essência encontra-se além de qualquer nome e denominação
possível. Os nomes mencionados na Torá em referência ao Criador indicam a
percepção que o homem tem da plenitude da Luz que se expande de Sua Essência,
denominada na linguagem da cabalá, Atsmút
A confusão e a falta de rigorosidade continuam quando chegamos ao conceito
"Alma".
Aqui, geralmente se multiplicam as definições, ficando finalmente o conceito
pendente em uma áurea "espiritual" e "mística", sem conteúdo, objetivo nem
direção. Isto quer dizer que, quando se fala de "Alma" ou espírito, trata-se
geralmente, como nos casos de "Religião" e "Deus", de traduções inexatas das
noções originais hebraicas.
A Luz projetada desde o Infinito dentro do espaço da Criação adquire diversas
gradações à medida que desce e distancia-se de sua origem e de sua fonte.
Estes graus da Luz do Infinito, em sua descida pelos diversos mundos, adquire
características diferentes, de acordo com a sua distância espiritual em relação à
fonte que a emite, o Infinito/Ein Sof.
Por isso, a tradição da cabalá possui uma vasta e exata nomeclatura, que indica os
diferentes graus e formas através das quais a "Alma" se manifesta.
O estudo dessa nomeclatura (a qual desenvolveremos ao longo de nosso livro),
tanto em sua forma teórica como na aplicação das Mitsvót, é a base do estudo da
Sabedoria da cabalá.

Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 2

Introdução

A Linguagem da Sabedoria
A linguagem — em sua forma escrita e oral — é a ferramenta básica para se
transmitir uma sabedoria.
Por essa razão, é impossível entender o judaísmo sem o conhecimento do real
significado dos conceitos e códigos transmitidos por esta Sabedoria.
A Sabedoria de Israel está composta da tradição escrita/ Torá shebichtáv e da
tradição oral/Torá shebealpê que, em conjunto, formam o conhecimento judaico.
A Torá de Israel, nossa Sabedoria e tradição, pode ser comparada a um grande
pomar com árvores frondosas, fortes ramos e profundas raízes das quais extraem
sua vitalidade.
Para que essas árvores dêem frutos, é necessária uma elaboração da qual
participem todos os elementos de nosso pomar.
A semente colocada na terra deve receber luz e água para finalmente dar seu fruto.
Nossa tradição nos relata que o homem é comparado a uma árvore do campo.
Para que o homem possa receber, é necessário que transforme, através de seu
trabalho, a matéria-prima do mundo.
No mundo não há edifícios já construídos; devemos construí-los.
Para comer pão, devemos plantar, colher e depois assar, etc.
O Cadósh Barúch Hú nos deu os elementos básicos para podermos completar a
Criação.
O Cadósh Barúch Hú nos deu a Torá, o plano — mas, para extrair a Sabedoria
contida na Torá, devemos nos esforçar e, auxiliados por ela, extrair os frutos do
nosso interior.
Quando a Torá não é trabalhada e estudada, é como ter-se uma semente, terra e
água, tudo potencialmente; mas, para comer o pão, falta o trabalho do homem.
E, por sua vez, para que todos possam comer, falta ensinar a arar, plantar, colher,
assar e saber dar.
A palavra pomar, em hebraico pardes, alude ao pomar da Sabedoria, visto que as
letras desta palavra formam as quatro perspectivas através das quais entendemos
a Torá.
A primeira letra refere-se ao peshat.
Peshat caracteriza o simples, é o relato literal da Torá.
É exatamente o que lemos e escutamos, sem segundas intenções.
É a origem de todas as formas de percepção.
A segunda letra alude ao rémez.
Rémez indica-nos uma insinuação. Não há uma diferença substancial com o Peshat,
mas revela o interior dele. O rémez dá uma dimensão mais profunda ao relato, já
que os personagens, as situações e todos os detalhes apresentados pela Torá,
inclusive as letras, nos transmitem uma lição sempre atual.
No Peshat as idéias são expressas de forma direta, detalhada e explicitamente,
enquanto que no rémez são mencionadas pelo caminho invisível da insinuação e,
para um bom entendedor, meias palavras bastam.
Esses dois caminhos de entendimento "cuidam" do interior da Torá, já que ocultam
mais do que revelam.
Ao entrar no laboratório de um grande cientista, sem o conhecimento dos códigos
de sua ciência, pouco ou nada entenderemos, apesar de termos tudo frente aos
nossos olhos.
A terceira letra indica-nos o drash.
Drash provém do verbo exigir. Esta leitura encerra busca, pela qual o homem exige
um significado mais profundo do texto do que nas perspectivas anteriores.
A última letra do pardes indica-nos o sod.
Sod significa segredo. O Zôhar, um dos livros mais importantes da Sabedoria da
cabalá, define o sod como causa, já que quem conhece a causa, conhece a
conseqüência, ou o "segredo".
Enquanto o peshat e o rémez são, de certo modo, passivos para o principiante, o
drash e o sod são decididamente ativos; provém de um imperativo totalmente
consciente da vontade.
Cada uma dessas perspectivas, através das quais a Torá se expressa e se
manifesta, não indicam uma mudança na essência interior da Torá, e sim na forma
pela qual ela se apresenta perante nossa percepção e entendimento.
O Rabino Ashlag nos explica que, do mesmo modo que uma pessoa se veste para
apresentar-se frente ao público, a Torá se "reveste" com diferentes "vestimentas"
para que os homens possam se aproximar dela, gradativamente, fazendo-a parte
de suas vidas.
O entendimento integral da Torá requer uma visão que sintetize a Sabedoria em
uma só e única visão, como se observássemos, ao mesmo tempo, um mesmo
acontecimento a partir de todos os ângulos possíveis.
Cada uma das perspectivas do pardes é imprescindível para que nossa
compreensão da Sabedoria seja plena.
Sendo Sod a causa, ela inclui todas, já que quando compreendo o significado
interior como consciência dos objetivos, começo a perceber a ordem na qual cada
aspecto cumpre sua função.

A Sabedoria da Torá é expressa através de quatro linguagens gerais:


1 A linguagem da Torá - Expressa nos 5 livros de Moisés (Pentateuco).
2 A linguagem da Halachá - Compêndio de leis e códigos, que inclui a Mishná, o
Talmud, o Shulchán Arúch, etc., transmitido em uma linguagem técnica e sintética.
3 A linguagem da Agadá - Midrásh, relatos que ampliam e continuam a tradição
escrita, Torá shebichtáv (Pentateuco) e a tradição oral, Tora shebealpê (Mishná,
Talmud, Shulchán Arúch, etc.)
4 A linguagem da cabalá

A linguagem da cabalá utiliza todas as linguagens antes mencionadas.


A cabalá, por ser a parte interior da Torá, não é uma matéria separada da Torá e
sim aquela que sintetiza, une e forma a Torá como um todo indivisível.
O vocábulo cabala, significa literalmente recepção, ou seja, é o estudo que prepara
o homem para receber todos os graus e planos da vida como uma única realidade

O capítulo Pirkê Avot da Mishná relata-nos que:


"Moshe kibêl Torá miSinai umessará lihoshúa..."
"Moshé recebeu a Torá do Sinai, transmitindo-a logo a Ieoshua ...".
A palavra kibêl (recebeu) refere-se à cabala/recepção.
Todos os Patriarcas, Profetas e verdadeiros Sábios do povo de Israel foram e são
Mekubalím/ Cabalistas, ou seja, receptores e transmissores da Sabedoria Interior
da Torá, a cabalá.
A cabalá permite-nos, através de seu estudo, fabricar os instrumentos para
conseguir uma leitura profunda, lúcida e objetiva da Torá escrita/Torá shebichtáv e
da Torá oral/Torá shebealpê.
O conhecimento desta Sabedoria nos introduz ao trabalho espiritual consciente a
partir do estudo das leis que regem os diversos planos da realidade.
Essas leis estão codificadas nos diversos textos da espiritualidade de Israel: a Torá,
o Sêfer Ietsirá, o Talmud, o livro Zôhar, o Ets Chaím, o Shulchán Arúch, o Sidur,
etc.
A linguagem da cabalá é denominada Linguagem das Ramificações/sfát haAnafím.
Esta linguagem dá ao vocabulário da Torá, da Halachá e da Agadá uma perspectiva
multidimensional.
Cada conceito da Linguagem das Ramificações/sfát haAnafím desprende-se de um
conceito prévio, encadeando assim causa e conseqüência, assim como uma árvore
onde cada ramo cresce de outro ramo. Quem seguir cuidadosamente o caminho
dos ramos, chegará ao tronco e, depois, às raízes que sustentam a árvore.
A Linguagem das Ramificações/sfát haAnafím não se revela ao estudioso em sua
aproximação exterior, uma vez que se dirige a causas interiores da Torá, para as
quais é imprescindível o estudo dos códigos próprios da cabalá.
Estes códigos atuam em todas as perspectivas simultaneamente e, quando
conseguimos incorporá-los, adquirimos a sabedoria para enxergar as causas e
conseqüências interiores da realidade e da vida.
Os primeiros livros mencionados por nossa tradição (de acordo com o Midrash, o
Talmud e todos os escritos cabalisticos de todas as épocas), mesmo antes da
entrega da Torá, são livros puramente de cabalá, como o livro "Raziêl ha.Malách
cuja existência supera 5000 anos, e também o "Sêfer Ietsirá" /"Livro da Formação",
escrito por Avraham Avinu.
A Torá escrita/Torá shebichtáv e a Torá oral/Torá shebealpê, formam as leis
objetivas que regem a Criação, portanto elas já existiam antes do mundo.
Isso é similar às leis da física que o homem não as inventa e sim as descobre.
Nos ensina o Rabino Ashlag que no espiritual, ao contrário do material, o ato de dar
e receber não são simultâneos.
Quando alguém me dá um objeto, eu o recebo imediatamente.
No nível espiritual, não é necessariamente igual.
O dar e o receber não são simultâneos.
Quem ensina uma sabedoria não tem garantia nenhuma de que esta seja recebida,
e sim que o "aluno" terá que se esforçar para aprendê-la.
A Torá nos foi entregue, Matán Torá, mas a recepção depende do nosso esforço.
Cada geração, através de seus Sábios, deve revelar novos aspectos da Torá, já que
a Torá é um projeto para todas as gerações.
Avraham, Yits'chác, Iaacóv, nossos Patriarcas, como indivíduos, antes da
consolidação do povo de Israel, chegaram a entender os princípios gerais contidos
na Torá mesmo antes do Matán Torá. Por outro lado, quando se pensa em todo um
povo no decorrer de todas as gerações, necessitamos de um sistema educativo
integral, baseado em princípios e leis que atinjam a todos os indivíduos, a recepção
da Torá/cabalat haTorá.
A cabalá nos introduz ao conhecimento de como receber todos os graus da
Sabedoria, através da aplicação das leis e dos códigos contidos na Torá, as Mitsvót
(Conexões/mandamentos).
Quando entendemos e realizamos as Mitsvót de forma consciente, ou seja, não
somente em sua manifestação exterior e sim, também, modificamos nossa atitude
interior, começa a surgir a verdadeira harmonia entre as pessoas.
Então poderemos pensar na verdadeira espiritualidade e na fusão do homem com o
Cadósh Barúch Hú.
Por outro lado, até chegarmos a este momento, ainda estaremos centralizados em
nós mesmos, ou seja, não estaremos prontos a dar.
Apenas quando pudermos dar, ou seja, extrair do nosso interior em função do
próximo e da sociedade, começaremos a conhecer o Cadósh Barúch Hú.
O livro Zôhar ensina-nos que o homem foi criado para realizar-se plenamente.
Só quando nos relacionamos com a vida de forma completa, podemos chegar a
perceber a ordem pela qual cada aspecto da realidade cumpre a sua função.
De acordo com a Torá, o homem e a mulher devem orientar todas as suas energias
positivas, dando assim continuidade a vida. Por essa razão, o ideal judaico é a
família, uma vez que nos proporciona o marco propício para que o homem e a
mulher manifestem seus instintos, emoções e pensamentos de forma harmônica.
Em família, aprendemos a compartilhar e assumir responsabilidades por nossos
filhos e, também, a compreender nossos semelhantes e a comunidade.
Nossa tradição nos ensina que não devemos julgar a ninguém até não nos
encontrarmos em seu lugar.
Quando damos, começamos a compreender a fonte que somente dá, o Cadósh
Barúch Hú. Disso deduzimos que dar e criar harmonia entre os homens requer uma
vontade constante, uma vez que não é suficiente dar: deve-se dar com sabedoria.
Quando pensamos apenas em receber de forma egoísta, vemos todos os homens
como nossos competidores; por outro lado, quando queremos ajudar, encontramos
nos homens aliados para o nosso projeto.
A verdadeira construção, na qual devemos investir todos os nossos esforços, é a
construção do nosso interior. Até que o homem não seja íntegro em seu interior,
nada do que faça perdurará.
A torre de Babel é um claro exemplo.
A Torá nos relata que havia uma só língua em toda a terra... e os homens quiseram
edificar uma torre cuja cúpula cheguasse ao céu...então o Cadósh Barúch Hú
confundiu a sua língua e já não puderam se entender, e pararam de construir a
torre.
Os homens quiseram se expandir exteriormente, sem levar em consideração seu
crescimento interior.
Quando não amadurecemos interiormente, compreendendo que o desejo de
receber egoísta leva à destruição, perdemos a linguagem verdadeira, os códigos
que nos dão a possibilidade de entender que, tanto o bem quanto o mal, nos
afetarão a todos por igual.
Nosso estudo e o desenvolvimento de nossa vida, de acordo com a Torá e a cabalá,
não são externos a nós. Formam nosso Saber e, fundamentalmente, nosso Ser.
A partir deles convertemo-nos em participantes do "programa da Criação", que
consiste em beneficiar infinitamente a todas as criaturas.
A mitsvá central de toda a Torá é "Amarás ao próximo — a quem está próximo a ti
— como a ti mesmo", e até que o homem não compreenda este princípio, todas as
Mitsvót serão incompletas.
Amarás ao próximo como a ti mesmo é a atitude interior que nos ajuda a não
repetir o erro da torre de Babel. Babel provém da palavra hebraica "confusão", o
que nos indica que, quando o homem pensa só em si mesmo, é porque está
confuso e não compreende a razão pela qual está nesse mundo, nem o objetivo de
sua vida e da Criação.

Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 3

Introdução

A Percepção da Realidade
A realidade do homem é geralmente limitada por sua percepção sensorial, pela
emoção, pensamento e imaginação.
Estes aspectos são os canais através dos quais nos relacionamos com a vida.
Conforme orientemos estes aspectos, perceberemos a realidade; mas a orientação
depende de que?
Depende do objetivo que tenhamos.
Nesta direção se dirigirá nossa orientação.
Um arquiteto, por exemplo, concentra seus sentidos, sua emoção, seu pensamento
e sua imaginação em como delimitar o espaço, da melhor forma, para construir
edifícios; um químico se dedicará à compreensão das leis que regem os elementos
para criar novas substâncias.
Todos, não importa qual seja sua área de interesse, concentram as próprias
potencialidades em seu objetivo, sendo este objetivo o centro imóvel que atrai
todas as nossas energias.
Em todos os âmbitos da vida existem objetivos particulares e objetivos gerais.
Quando os objetivos particulares estão em contradição com os objetivos gerais,
produzem conflitos que desembocam, geralmente, em sofrimento, tanto no plano
individual quanto no plano coletivo.
Um exemplo claro disso é o corpo humano: nosso corpo está composto por
distintos órgãos, cada um com diferentes funções, mas com um único objetivo:
servir ao bem estar do homem.
O homem está saudável quando cada órgão trabalha para esse fim.
Por outro lado, se cada órgão trabalha para si mesmo, descuidando de sua relação
com o resto do corpo, este se ressentirá e, finalmente, o próprio órgão se verá
afetado.
Devemos compreender as leis e os princípios gerais que governam a Criação, ou
seja, as 613 Mitsvót que relacionam o homem ao seu semelhante e ao Cadósh
Barúch Hú.
Ao aplicá-las, conseguiremos equilibrar nossos interesses e objetivos particulares
com o objetivo geral, que abrange todos os seres e todos os aspectos da vida.
O geral e o particular obedecem às mesmas causas; portanto, ao entender o geral,
compreenderemos melhor o particular, ou seja, o sentido de cada um dos detalhes
que formam a realidade e qual é o nosso lugar e a nossa função dentro da Criação
e da vida.
A base do sofrimento humano é conseqüência direta do desequilíbrio entre o
particular e o geral
O equilíbrio será alcançado quando as vontades individuais estejam em harmonia
com as leis e os princípios que regem a vida em todos os planos, o que deve
beneficiar todos os seres por igual.
O alcance do equilíbrio entre o particular e o geral, do homem em relação a seu
próximo, e do homem em relação a todos os aspectos da realidade, é justamente a
razão da vida.
Este processo é a Criação e consiste no aperfeiçoamento constante ao qual o
homem deve aspirar; é a razão pela qual estamos neste mundo, é a base do
trabalho espiritual de Israel, a emuná (certeza) de Israel.
A base da Torá é a emuná, que é um imun (treinamento, exercício), ou seja, um
treinamento permanente durante todos os momentos da vida, para não nos
esquecermos do objetivo geral quando o confrontarmos com nossos interesses
particulares.
Este treinamento não é algo simplesmente intelectual, e sim uma forma de vida
baseada na Torá e nas Mitsvót, que ajuda o homem a atuar em harmonia com as
leis que regem todos os âmbitos da vida e da realidade.
A Torá e as Mitsvót nos confrontam com parâmetros concretos para que saibamos
medir, a qualquer momento, nossa relação com o próximo, com a família e com a
sociedade em todas as ordens da vida.
"O mundo material influencia nossos pensamentos, emoções e atos. O gesto
exterior desperta nossa atitude interior, influindo, em última análise, sobre nosso
comportamento. O homem impressiona-se com seus próprios atos; portanto, a
perseverança escrupulosa na prática das Mitsvót, por mais que no princípio seja
sem associar seus sentimentos, no final chega ao coração, quebrando o gelo
interior. As idéias mais elevadas, caso não se materializem em atos concretos,
acabam por corromper-se e corromper seus adeptos.
Por isso, a Torá nos transmite um código de leis práticas, muito precisas, adaptadas
a qualquer circunstância da vida.
A energia mental e emocional deve ser fixada por um ato concreto; caso contrário,
corre o risco de se transformar em um sentimento irreal e em uma idéia abstrata.
Assim como a casca protege o fruto, a ação executada através das Mitsvót cuida da
integridade do coração, mantém os graus do conhecimento e preserva a claridade
da visão interior." (Conceitos extraídos do livro "Michtáv meEliahu" vol. 3).

"Aquele cuja sabedoria é superior a seus atos, é comparável a uma árvore com
folhagem pesada e espessa, mas com raízes fracas, que o vento pode arrancar."
Pirkê Avót

A emuná de Israel é uma disciplina permanente no processo da vontade de dar e


beneficiar ao próximo.
Quando esta vontade e este desejo são completos, alcança-se os mais altos graus
de Sabedoria, para assim poder aplicá-los.
A cabalá é o conhecimento que nos proporciona os instrumentos para que a
vontade e o desejo se unifiquem com a plenitude da Luz Infinita/Or Ein Sof
Na medida em que o homem se esforça em beneficiar ao próximo, a Luz o ilumina
e lhe revela, gradativamente, todos os aspectos da realidade.
As Luzes/Orot que dão a força para possibilitar a realização desse processo estão
codificadas na Torá através das Mitsvót, sendo que, dependendo de nós, esse
conhecimento será aplicado ou permanecerá oculto.
Neste aspecto encontra-se o livre arbítrio do homem: ou nos conectamos com a
vida através do conhecimento das leis que regem a Criação (conscientemente), ou
sofremos por causa da nossa ignorância.
A Sabedoria da cabalá é denominada também de Sabedoria da Verdade/Chochmát
haEmét, porque se o homem a estuda com perseverança e com todo o seu ser, ela
lhe indicará aonde ele está exatamente situado frente a seus semelhantes e à vida,
e qual é o seu grau de consciência com respeito à Luz Infinita/Or Ein Sof e com
respeito ao seu Criador e Criador de tudo o que foi criado, o Cadósh Barúch Hú.

Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 4

Introdução

O Espiritual e o Material
O Rabino Iehudá Halevi Ashlag, sábio cabalista que viveu em Jerusalém até meados
do século XX, no início de seu comentário sobre o "Ets Chaím" ("Árvore das Vidas",
de Yits'chác Luria Ashkenazi, conhecido como Arizal, século XVI) nos indica que:
"Devemos recordar que toda a Sabedoria da cabalá está baseada em estratos
espirituais que não requerem nem espaço nem tempo, e nenhuma falta ou
mudança os governam, nem os afetam".
"A ausência, assim como a mudança, atua somente sobre os estados materiais,
sendo lá onde está toda a dificuldade dos principiantes. Estes, frequentemente,
entendem aqueles conceitos em sua expressão material, dentro dos domínios do
tempo e do espaço, os quais foram utilizados por seus autores apenas como
referências palpáveis de suas origens superiores".
Talmud Esser haSefirót, Or Pnimí, Capítulo 1

Para compreender o que o Rabino Ashlag nos explica, temos que nos situar sobre o
plano físico e transladarmo-nos a conceitos como alegria e tristeza, por exemplo.
A alegria e a tristeza manifestam-se no mundo emocional do homem e não ocupam
um lugar físico

Quando alguém está alegre e, por determinada circunstancia, logo entristece, não
significa que a alegria deixou de existir, e sim que esse homem perdeu,
momentaneamente, sua capacidade de estar alegre.
Mas se os estímulos que geram a alegria voltarem, a tristeza desaparecerá e a
alegria ocupará o seu lugar.
As emoções não ocupam um lugar físico; elas abrangem o mundo emocional do
homem, sendo sua influência, geralmente, mais poderosa que a realidade material.
A emoção e o pensamento são poderosos instrumentos através dos quais o homem
se conecta com a realidade. Por mais que não devamos esquecer, eles são apenas
meios para conseguir materializar nossa vontade e desejo.
A vontade e o desejo são as forças interiores que movem o homem; mas qual é o
objetivo que motiva essa poderosa força?
A vontade altruísta de ajudar e beneficiar o próximo e à sociedade ou, pelo
contrário, o desejo pessoal, egoísta.
Nesse ponto é fixada a diferença entre o espiritual e o material.
Espiritual é a vontade altruísta de beneficiar ao próximo; material é o desejo
pessoal, egoísta.
(citação do livro "Maamarei Shamáti", pág. 107, do Rabino Kabalista Barúch
Shalom Ashlag).
Por isso, nossos Mestres nos ensinam que é fundamental aprender a linguagem, a
terminologia e os objetivos da cabalá, através de um verdadeiro iniciado nesta
Sabedoria.
Desse modo evitamos interpretar certos termos fora do contexto da Torá e da
cabalá, o que resulta em sincretismo, pseudo-espiritualidade e mística.
Cabala é o estudo da ordem das causas e conseqüências espirituais que são
geradas a partir da causa primeira, o Infinito/Ein-Sof
Espiritual é tudo aquilo que não está afetado ou modificado, nem pelo espaço nem
pelo tempo.
Não depende de estados emocionais ou do que pensem sobre ele.
É a causa que gera todo o mundo material.
Explicação: no plano físico existem leis que regem a matéria, como a gravidade.
Observamos que, cada vez que um objeto entra no âmbito da força da gravidade, é
atraído inexoravelmente por ela até que uma força contrária o rejeite.
A atividade da força da gravidade não depende do que acreditamos, pensamos ou
sentimos; ela é objetiva e tem seus próprios códigos.
Quem quiser se relacionar com ela positivamente deverá conhecer seus parâmetros
e, assim, poderá usá-la em seu benefício.
A essência da força da gravidade encontra-se além do mundo material, já que não
depende da vontade dos homens.
Assim como no caso da gravidade, a essência do mundo físico tem sua origem no
plano espiritual.
As leis espirituais atuam em todos os planos: físicos, emocionais e mentais, mas só
percebemos suas conseqüências ao nos relacionarmos conscientemente com a
realidade (como no exemplo anterior sobre a lei da gravidade).
Quando o homem se relaciona com a realidade, inconscientemente, sem
conhecimento das leis que regem a vida, é como uma criança que não tem
consciência das conseqüências de seus atos.
É importante definir com precisão a área que esse estudo abrange. Caso contrário,
poderíamos nos perder num labirinto de idéias afastadas dos objetivos da cabalá.
O objetivo desse estudo é educar a vontade e o desejo do homem para o bem
coletivo, que é a meta da Torá: "Amarás a teu próximo como a ti mesmo".
A única mudança possível que podemos alcançar na vida é a atitude interior, o que
desejamos em nossos corações.
O "melhor" sistema sócio-político-econômico está destinado ao fracasso, se o
homem for egoísta. Por outro lado, quando nos modificamos interiormente,
procurando o bem coletivo, o "pior" dos sistemas exteriores funcionará.
As verdadeiras modificações e batalhas desenvolvem-se no nosso interior.
Para isso, o homem deve conhecer a si próprio e conhecer as leis que regem todos
os planos da realidade.
Então, gradativamente, tomará consciência de sua origem e objetivo, unificando-se
com todos os homens e com o Cadósh Barúch Hú.

Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 5

A Alma

Néfesh - Rúach - Neshamá


Quando a Torá narra sobre a Criação do homem, no livro do Gênesis, nos diz:

...fez o homem, formou o homem e o criou. Gênesis 1:26, 2-7, 1:27

Também no livro do Profeta Isaías encontramos o seguinte versículo:

"A todos os que são chamados em Meu nome por Mim, Eu os criei, os
formei, também os fiz". Isaías 43: 7

Por que a Torá emprega três verbos quando se refere à Criação do homem?
“Fez” refere-se ao mundo da Ação (Assiah) e ao nível da alma que se chama Néfesh
e está relacionado com os instintos.
“Formou”, nos indica o mundo da Formação (Yetzirah) e refere-se ao nível da alma
que é designado pela palavra Rúach, que abrange o aspecto emocional.
Criou designa o mundo da Criação (Beriah) e está ligado com o nível da alma
denominado Neshamá, o pensamento.

Verbo Mundo Aspecto da Alma Característica Humana


Criar Criação Neshamá Pensamento
Formar Formação Ruach Emoção
Fazer Ação Nefesh Instinto

Esses três níveis são três aspectos básicos gerais dentre os cinco que abrangem a
totalidade da alma.
Para entender cada um desses aspectos, há um exemplo tradicional que diz que um
homem é como uma carruagem, que antigamente era utilizada como meio de
transporte.
No exemplo, a carroça simboliza o corpo do homem, que sozinho não pode realizar
nenhum movimento.
Os cavalos que puxam a carroça são os instintos, o Néfesh que movimenta a
carroça fisicamente em diferentes direções.
O cocheiro simboliza a emoção, o Rúach, que indica: parar, para a direita ou para
esquerda, mais rápido, mais devagar, etc.
Mas, quando a carruagem encontra-se frente a possibilidade de seguir diferentes
caminhos, quem decide?
A carroça sozinha não pode se movimentar; os cavalos esperam a ordem do
cocheiro.
E o cocheiro, a quem obedece?
Ao passageiro, que é quem nós não vemos, mas é quem faz com que tudo se
movimente e gire em torno de sua vontade, já que foi ele quem "contratou" a
carroça com os cavalos e o cocheiro para conduzi-lo ao seu "destino".
A Neshamá — essência interior da alma — está representada pelo passageiro, e
revela-se no corpo através dos instintos, emoções e pensamentos, para chegar a
seu objetivo: a conscientização de sua natureza e de sua função no mundo, para
logo fundir-se, conscientemente, à Luz Infinita.
É possível alcançar esse objetivo através de dois caminhos:
1) Com consciência, quando os três aspectos da alma (pensamento, emoção e
ação) estão em harmonia com as leis que regem a Criação, ou
2) Com sofrimento, quando os cavalos, o cocheiro e o passageiro estão em
desacordo. Do que se deduz que, se o homem pensa de uma forma e sente de
outra, seus atos o conduzirão, inevitavelmente, ao sofrimento.
Assim como há leis que regem os fenômenos físicos, como a lei da gravidade, etc.,
há também leis que regem os planos instintivos, emocionais, mentais e espirituais.
A verdadeira liberdade surge quando o homem atua em concomitância com essas
leis, e não simplesmente de acordo com o seu sentir momentâneo, instintivo e/ou
emocional.
Por isto, através da Torá e das Mitsvót, a cabala é um estudo e um constante
treinamento para adaptar as características humanas às leis superiores que regem
todos os planos da Criação.
A Torá nos transmite as leis objetivas que regem a vida e a Criação, e as Mitsvót
nos proporcionam os elementos práticos que, quando são bem aplicados, nos
ajudam a direcionar nossos desejos para o bem de nossos semelhantes e de nós
mesmos, transformando-nos, dessa maneira, em "sócios ativos do programa da
Criação".

Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 6

A Alma

A Alma de Acordo com o Relato da Torá


As festas do povo de Israel nos ajudam a enfrentar o presente e criar o futuro, e
não apenas a recordar o passado.
Em Pêssach comemoramos a Liberdade.
Mas devemos entender o que é a Liberdade na consciência hebraica.
A Liberdade consiste em atuar de acordo com a nossa verdadeira natureza e
verdadeiros objetivos e não de acordo com um sentimento momentâneo.
Todos os planos que regem a vida têm suas leis.
É livre aquele que atua em harmonia com essas leis.
O relato de Pêssach transmite-nos esses conceitos e nos ensina qual é a natureza
do homem e seu objetivo.

Nesse relato, o Faraó simboliza o Néfesh, instintos do homem que, ao serem


utilizados incorretamente, podem escravizá-lo, assim como ocorre no Egito.
Egito, em hebraico Mits'ráim, provém da palavra meitsarím, que significa
―limitações‖.
Quando o homem é escravo de seus instintos, está preso nas limitações que ele
mesmo impôs.
Para libertar o povo do Egito, isto é, o homem de suas limitações, chega Moshé:
estrato da alma que se relaciona com o pensamento.
Moshé (Moisés), no decorrer do relato bíblico, enfrenta o Faraó com o propósito que
este deixe o seu povo sair da escravidão.
A mente, guiada pela vontade superior, quer se impor sobre os instintos para
encaminhar-se em direção do bem do povo, isto é, para o bem do homem.
Durante toda a trama bíblica, vemos como Moshé, Aharón, Minam, povo, Faraó,
Egito, desempenham — cada um — um claro e determinado papel.
Cada um deles forma um aspecto da natureza humana, e toda a trama bíblica nos
relata o drama existencial do ser humano.

Personagem Aspecto da Alma Característica humana


Moshé Neshamá Pensamento,
Compreensão superior

Aharón – Minam Rúach Emoção

Faraó Néfesh Instintos,


Desejo de receber egoísta

Povo Identificação Consciência e desejo

Egito Mits'ráim Limitação das qualidades


superiores, como a
generosidade

De acordo com a cabala, a Liberdade é alcançada quando os três níveis básicos da


alma — Néfesh/instintos, Rúach/emoções e Neshamá/pensamentos — atuam em
equilíbrio com as leis que regem a vida.
Quando a consciência humana sai do Egito/Mits'ráim, das limitações, e passa a se
identificar com os extratos superiores da alma, atuando de acordo com as leis
espirituais, só então há a verdadeira Liberdade.
No relato bíblico, quando Moshé sobe ao monte Sinai para receber a Torá, Aharón
não consegue evitar que parte do povo faça o bezerro de ouro.
Quando o Rúach/emoção/Aharón fica à mercê de um baixo nível de consciência, o
homem sucumbe.
Grande parte do povo pedia para voltar ao Egito: até onde nos levarás? —
perguntavam a Moshé, que guiava firmemente o povo para a "Terra Prometida".
Moshé simboliza o pensamento dirigido para o bem coletivo e pode ver objetivos
mais além da situação momentânea.
Quando a consciência se encontra no nível da Neshamá, nosso Moshé interior —
isto é, no nível da compreensão superior — o homem atua livre de suas próprias
limitações.
Essa é a verdadeira saída do Egito.
Na noite de Pêssach realizamos o Sêder, cujo significado é ―ordem‖.
A Torá nos transmite a ordem de como devemos sair de nossas limitações.
Por isto a Hagadá de Pêssach nos faz recordar a responsabilidade que os pais têm
em relação a seus filhos, de contar aquele episódio de geração em geração,
sentindo-se cada um como se ele mesmo tivesse saído do Egito.

Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 7

Coordenadas Espirituais

Vontade, Tempo e Espaço


"Disse Rabi Chaniná ben Acashiá: Quis o Cadósh Barúch Hú aperfeiçoar Israel e
para isso lhe deu abundância de Torá e de mitsvót."
Aqui cabe perguntar: A que aperfeiçoamento se referiu o Sábio Rabi?

As leis gerais que regem todas os estratos da realidade e da vida são a


manifestação da Força Criadora dentro do espaço e do tempo, ou seja, a Vontade
do Cadósh Barúch Hú.
O trabalho espiritual do homem consiste em elevar sua vontade e desejo à Sua
fonte, o Infinito/Ein-Sof, recipiente da plenitude de Sua Luz.
Quando isso ocorre, toda a multiplicidade da realidade e da vida encontram sua
resolução ao fundir-se com a sua origem e máxima identidade, o Cadósh Barúch
Hú.
A linguagem da cabala é uma precisa nomenclatura que designa as graduações da
manifestação da vontade e do desejo.
O grande Sábio cabalista I. L. Ashlag em sua obra "Introdução ao livro do Zôhar",
explica-nos que a vontade está além do pensamento, ou seja, quando o homem
pensa não está fazendo mais do que articular e dar forma mental à sua vontade e
desejo.
De acordo com a percepção cabalista da realidade, o pensamento não é a causa e
sim a consequência.
O ato de pensar é o resultado de como intelectualizamos e percebemos nossa
vontade e desejo.
A função do pensamento consiste em discernir se nosso desejo é egoísta ou
altruísta, prevendo assim a consequência de nossos atos.

O que é que o homem deseja?


Todos desejamos receber a plenitude, denominada na linguagem da cabala, Luz/Or.
Cada um dá à plenitude, à Luz, um nome.
Às vezes a denominamos de riqueza, outras de saúde, outras de amor, etc.
Qualquer nome que designemos à plenitude da Luz, responde a nossas próprias
limitações.
A plenitude da Luz não é influenciada por nossos interesses temporários, nem varia
com base nos nomes que lhe designamos, da mesma forma que as leis físicas,
como a lei da gravidade, etc., não são afetadas por nossos pensamentos, nem por
nosso estado de ânimo; o que muda é a nossa relação quanto a Luz.
Cada nome nos indica a forma pela qual recebemos a plenitude da Luz.
Todas as denominações que mencionamos — riqueza, amor, etc. — são
características temporais e espaciais, isto é, materiais e densas de como
percebemos a Luz.
A linguagem da cabala nos introduz em seus próprios códigos e terminologia, para
denominar nossa relação e recepção da Luz/Or, que estão além das influências
temporárias e espaciais.
A recepção da plenitude da Luz, do completo, é a força primária que move todos os
processos da Criação.
O desejo de receber essa plenitude é o essencial e comum a todos os seres; logo,
cada um o intelectualiza e o limita dentro de sua mente e/ou emoções,
transformando-o em algo intelectual e/ou emocional.
O desejo de receber é a natureza básica de tudo o que foi criado e é o que nos faz
limitar e dividir a realidade, nos afastando do que se encontra fora da área de
nossos interesses particulares.
A Torá nos ensina que a mitsvá mais importante é “amar ao próximo como a nós
mesmos”.
Essa mitsvá nos indica que, até que o homem não transforme seu desejo de
receber em desejo de dar, ele não conseguirá entender o seu próximo, a vida, nem
tampouco poderá conhecer o objetivo para o qual este mundo foi criado.
O Cadósh Barúch Hú somente dá, pois de quem haverá Ele de receber?
Nós, ao contrário, temos apenas o desejo de receber.
Quando o homem recebe para partilhar, e não por egoísmo, ele começa a entender
os outros homens.
Dessa forma, ele mesmo se transforma em "sócio ativo do programa da Criação",
que consiste em beneficiar as criaturas de forma infinita.

De acordo com a cabala, a Criação forma o espaço onde se produzem os


movimentos e as modificações ativadas pela vontade e pelo desejo.
As duas coordenadas básicas da Criação são o espaço e o tempo, o que quer dizer
que nosso desejo de receber move-se dentro do âmbito da Criação (espaço e
tempo) para conseguir satisfazer sua ânsia de plenitude.
A vontade e o desejo estão além do tempo e do espaço.
A comprovação mais contundente disso é que, quando desejo realmente algo, gero
o tempo e o espaço para consegui-lo.
Sempre temos tempo para o que realmente desejamos...
Além disso, caso esse desejo chegue ao nível de necessidade, o tempo e o espaço
não serão mais do que coordenadas nas quais a vontade se expande para alcançar
o seu objetivo.
A vontade supera o temporal e o espacial e é o que cria, modula e dirige essas
dimensões.
A vontade fornece forma e direção para tudo que existe dentro dessas
coordenadas, como o pensamento, a emoção e a ação.
Devido a isso, a educação cabalista tem como objetivo o desenvolvimento e o
fortalecimento da vontade, o que melhora e refina o pensamento, a emoção e
também nossos atos.

Nossa vontade deve agir dentro das leis objetivas que regem a Criação, caso
contrário, seríamos atingidos por influencias passageiras, ou seja, simplesmente
estaríamos escravizados em nossos desejos e emoções temporárias, e
esqueceríamos do objetivo da plenitude que abrange todos os seres e todos os
aspectos da realidade.
O homem deve ser educado para pensar de acordo com as leis objetivas que regem
os planos materiais, emocionais, mentais e espirituais como um todo indivisível.
Estas leis encontram-se codificadas na Sabedoria Interior da Torá: a cabala.
A Sabedoria da cabala dirige-se ao interior do homem, ao nosso desejo e vontade
de receber a Plenitude Infinita (cabala = recepção).
Todas as expressões da Sabedoria da cabala sobre o temporal e o espacial, não se
referem ao espaço e ao tempo, como os entendemos em nossa realidade material e
sensorial.
Na linguagem da cabalá os termos "antes" e "depois" significam "causa" e
"consequência", sendo antes a causa e depois a consequência.
Os conceitos superior-elevação referem-se à medida do refinamento do desejo,
enquanto, pelo contrário, os conceitos inferior-declínio são medidas de densificação
do mesmo.

Quando se diz que um estado foi elevado, significa que o estado inferior refinou sua
vontade e desejo, fundindo-se com o estado superior, ou seja, superou seu desejo
egoísta de receber e o transformou em altruísmo.

Ao nos aprofundar nos códigos e na linguagem da cabalá, começamos a perceber a


ordem que ocupa cada aspecto da realidade.
A partir daí, podemos entender a vida de forma objetiva; do contrário, viveríamos
em um mundo caótico, reagindo constantemente a tudo o que ocorre, sem
perceber como cada particulariedade tem sua função e seu lugar no Todo.
O estudo e a aplicação da cabalá através das Mitsvót, deve estar completamente
integrado à nossa vida cotidiana, já que a substância à qual se refere a cabalá é o
desejo, e é exatamente o desejo o que a Torá exige que refinemos em nosso
trabalho espiritual.
De acordo com a Torá, tão melhor é o homem quanto superiores são seus desejos,
ou seja, que seus desejos geram o bem.
E isso é o que expressou Rabi Chaniná ben Acashiá:
"Quis o Cadósh Barúch lIú aperfeiçoar Israel e para isso lhe deu abundância de Torá
e de Mitsvót", com o propósito de nos aproximarmos d'Ele — Origem e Fonte de
tudo o que foi criado.

Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 8

Coordenadas Espirituais

O Espaço Espiritual da Alma


De acordo com a tradição da cabalá, o Néfesh, o Rúach e a Neshamá são apenas
três aspectos gerais da totalidade da realidade.
O Néfesh contém, por sua vez, diferentes aspectos, já que os instintos possuem
também sua parte emocional e mental.
O mesmo acontece com o Rúach e a Neshamá.
O "mapa espiritual da realidade" representa uma das formas através das quais a
cabalá nos transmite os diferentes aspectos que formam o homem e a Criação.
Devemos entender que a realidade e a vida são dinâmicas, e estão além de
esquemas e termos.
O estudo preliminar da cabalá baseia-se no conhecimento do significado da
terminologia para ascender, posteriormente, à mencionada realidade.
Da mesma forma que um músico lê uma partitura, ou um cientista decifra uma
fórmula, assim também o iniciado interpreta o sentido correto dos textos quando
conhece o significado completo de cada um dos termos da linguagem da cabalá.
Néfesh, Rúach e Neshamá são os aspectos da alma que estão dentro do âmbito, do
tempo e do espaço, já que os instintos, as emoções e os pensamentos ocorrem
temporal e espacialmente.

Atsmut
A Essência

Ein-Sof
O Infinito

Or Ein-Sof
A Luz do Infinito

Tsimtsúm
Contração do Desejo de Receber a Luz do Infinito

Neshamá

Alma

Olamot (Mundos) Orot (Luzes)


Graus de Ocultamento da Luz Graus de Revelação da Luz da Alma

Adam Kadmón Atsilút Iechidá Chaiá

----------Tempo-Espaço----------

Briá Neshamá

Ietsirá Rúach

Assiá Néfesh

Existem outros aspectos da alma — em hebraico Chaia e lechidá — que estão além
da influência do tempo e do espaço, e estão relacionados com seus aspectos mais
interiores, como o desejo, a vontade e o prazer.
A vontade e o prazer estão além do pensamento, da emoção e dos instintos, sendo
eles a força motora que move os homens.
O pensamento discerne entre os diferentes aspectos de nossa vontade, para
conseguir apreender o completo, a plenitude que se expande desde a Essência do
Criador/ Atsmút.
Observamos em nosso "mapa" que a origem da alma está no Infinito/Ein-Sof, como
nos transmite a Sabedoria da cabalá:
Antes da Criação, a plenitude da Luz Infinita preenchia toda a realidade, e não
havia espaço para que o vício, e nem a necessidade, se manifestassem. ("Ets
Chaím")
Ao nível de nossa percepção, diríamos que a plenitude satisfaz todos os nossos
pensamentos, emoções e desejos, de modo que não reste nenhum outro aspecto
da realidade que possa surgir e atrair nossa atenção.
Antes que surja qualquer desejo ou vontade, a plenitude da Luz Infinita o preenche,
assim como ocorre com um feto no ventre materno, recebe alimento e calor antes
mesmo de desejá-lo.
Sem a consciência do desejo, estaríamos plenos, uma vez que, antes de surgir
qualquer desejo, a plenitude o satisfaz.
É como a história do príncipe que vive no palácio de seu pai, o rei.
Nada lhe falta.
Tudo o que pertence ao rei lhe pertence, porém ele não é o rei.
Portanto, e continuando o texto do "Ets Chaím", surge o tsimtsúm/contração do
desejo de receber a plenitude da Luz Infinita.
O príncipe deseja ser igual a seu pai, o rei, mas para isso deverá deixar o palácio e
criar o seu próprio reino.
Em conseqüência da contração do desejo de receber/ tsimtsúm, a plenitude da Luz
Infinita oculta-se deixando um vazio dela mesma.
Isto ocorre porque não há imposição no terreno espiritual; portanto, o tsimtsúm
permite o surgimento do livre arbítrio e que possamos optar pela Luz — o bem —
conforme nossa vontade, e não por imposição.
Nosso príncipe sai do palácio e surge o desejo e a consciência de tudo o que
possuía dentro do reino.
Agora, o príncipe começa a compreender seu pai, uma vez que, frente à carência,
toma consciência do valor de tudo o que possuía e da grande responsabilidade que
implica ser rei.
Como resultado do ocultamento do completo, aparece o desejo.
O desejo estava incluído no estado anterior, mas não tinha a possibilidade de se
manifestar, pois a plenitude infinita acumula o desejo sem deixar espaço para que
ele se manifeste.
No palácio, o príncipe tinha desejos, mas o rei satisfazia a todas as suas
necessidades, e o príncipe não tinha consciência do que possuía.
Ao deixar o palácio, surge no príncipe o desejo de voltar a possuir o que já era
dele, só que agora é por sua própria necessidade e não porque seu pai lhe dava.
O estado do Infinito/Ein-Sof inclui a Luz (plenitude) e o desejo de receber a Luz em
equilíbrio, mas como a Luz preenche o desejo, consequentemente não o
percebemos.
Isso é análogo ao verdadeiro amor que unifica sem deixar espaço para que outro
sentimento o extingua.
Depois do tsimtsúm/contração do desejo de receber, aparecem os dois estados de
forma independente: a Luz-plenitude e o desejo de receber a Luz.
Depois que o príncipe deixa o palácio, surge a nostalgia de sua vida anterior.
Esta nostalgia é o que faz o príncipe querer recuperar a mencionada realidade.
O espaço criado pelo desejo, a nostalgia da Neshamá em recuperar o estado da
plenitude/Ein-Sof, é a Criação.
A Criação é o processo gradativo que aproxima o desejo à plenitude da Luz, até
unificá-los novamente, como no estado de Infinito/Ein-Sof, antes do tsimtsum.
Qual é a finalidade de voltar a realizar o que já existia antes da Criação?
Como vimos: "Antes da Criação, a Luz do Infinito preenchia toda a realidade".
Esse processo é necessário para a vontade e o desejo da Neshamá, sendo que na
Luz, na plenitude, não há absolutamente nenhuma mudança ou movimento.
A Luz é completa por si mesma.
Pelo contrário, ao perder a plenitude da Luz, o desejo da Neshamá deve tentar
reconstruir o estado do Infinito conforme sua própria necessidade, e não receber a
Luz por imposição como ocorria antes da Criação.
Um exemplo claro para entender esses conceitos é a relação entre pais e filhos.
Quando o filho deixa a casa dos pais e forma uma família, ele aprende a ser
independente e auto-suficiente como sempre quiseram seus pais, passando a ser
esta sua própria necessidade e não, como era anteriormente, apenas o desejo de
seus pais.
"Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua
mulher, e serão ambos uma carne."
Gênesis 2:24
Os filhos entendem os seus pais quando, eles mesmos, tornam-se pais.
O homem começa a compreender o Criador quando, ele mesmo, torna-se um
criador, isto é, quando dá.
O desejo da alma toma consciência da Luz quando dela necessita por sua própria
vontade e consciência, e não por imposição.
A independência do desejo com respeito à Luz gera novos espaços espirituais,
indicados em nosso "mapa" pelos 3 mundos: Beriá, Ietsirá e Assiá, que indicam os
diferentes graus de recepção da Luz Infinita.
Os estratos da alma, também denominadas graus de Luz, mostram os graus de
aproximação do desejo em direção à Luz.
Na linguagem da cabalá, o desejo é chamado Klí e a Luz, Or.
Os 5 graus da Luz/Or e os 5 mundos/olamot que recebem essa Luz estão situados
em nosso "mapa" um frente ao outro, indicando assim a relação direta de cada
grau de Luz/Or com seu respectivo espaço e mundo.
O tempo e o espaço só se manifestam a partir dos 3 mundos inferiores: Beriá,
Ietsirá e Assiá.
Isto acontece uma vez que os 2 estratos superiores da alma — a vontade (Chaiá) e
o prazer (Iechidá) — encontram-se além da influência temporal e espacial.
Isso porque a vontade e o prazer da alma não dependem de mudanças; são
permanentes. A alma só deseja unificar-se com a plenitude da Luz, assim como o
amor que une o homem e a mulher para criar e dar de si mesmos.
Mas quando a vontade e o prazer revestem-se de pensamentos, sentimentos e
ações, começa a movimentação em busca da plenitude da Luz nos 3 mundos
inferiores, Assiá, Ietsirá e Beriá.
Isso produz movimento a nível humano, gerando assim tempo e espaço.
A cabalá, através do estudo da Torá e aplicação das Mitsvót, baseia-se no
desenvolvimento de todos estes aspectos, orientados para um objetivo
fundamental: guiar o desejo, a vontade e o prazer do homem para o bem coletivo
"Amarás a Teu Próximo Como a Ti Mesmo."

Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 9

Coordenadas Espirituais

Os Estados da Vontade e do Desejo


Antes da manifestação do tsimtsúm (contração original do desejo de receber a
plenitude da Luz Infinita), o Ein-Sof (Infinito) preenche toda a realidade.

"Deves saber que antes da emanação das emanações e da criação das criações, Or
Elion Pashút (Luz Suprema Simples) preenche toda a realidade.
E não há nesse estado, lugar vazio distinguível como ar, vácuo ou espaço, e sim
tudo está cheio dessa Luz Suprema Simples.
E não há nesse estado distinção de princípio nem fim, é tudo Luz Simples, igual em
uma igualdade única.
E isso é a denominada Luz Infinita (Or Ein-Sol)".
"A árvore das Vidas"/"Ets Chaím" (texto transmitido pelo Rabino e Sábio Kabalista
Yits'chác Luria Ashkenazi a seu discípulo, o Rabino Chaím Vital, no século XVI, em
Safed).

No texto "O Espaço Espiritual da Alma” Ein Sof é o estado prévio à manifestação da
Criação, na qual reina o pleno absoluto e onde o desejo é saciado antes de se
manifestar.
Antes que surja qualquer desejo ou vontade, a plenitude da Luz do Ein-Sof o
preenche, assim como ocorre com um feto no ventre materno, que recebe alimento
e calor antes de desejá-los.
Isto acontece, não porque não haja vontade ou desejo, e sim porque a plenitude da
Luz preenche toda a realidade, sem deixar espaço para que o desejo, ou outro tipo
de vontade, se manifeste.
Não existindo nenhuma vontade nem desejo, não há "movimento", uma vez que o
desejo e a necessidade são os que produzem esse "movimento".
Caso não haja movimento, tampouco regerão "ali" o tempo e o espaço.
Pelo contrário, assim que é ativado o tsimtsúm (contração e limitação), surgem a
vontade e o desejo.
Aquilo que existia apenas potencialmente, passa a se manifestar e aparecem assim
o tempo e o espaço e todo os tipos de formas e movimentos procurando reconstruir
o estado prévio ao tsimtsúm.
Nasce a Criação — o desejo e a vontade de receber a Luz que preenche a realidade
antes do tsimtsúm ser revelado..
A Criação, o novo, é o desejo.

Devemos saber que há duas formas de ver a realidade:


— A primeira é a anterior ao tsimtsúm, origem e essência de tudo.
É o equilíbrio completo no qual todas as possibilidades estão incluídas em perfeita
harmonia, o Infinito/Ein-Sof.
— A segunda é posterior ao tsimtsúm e inclui uma infinidade de possibilidades e
aspectos em sua forma de manifestar-se.

A primeira está mais além da percepção e da consciência momentânea do homem.


Encontra-se fixa em Seu Lugar, transcedendo todo espaço, tempo, mudança e
permutação.
É o estado de Infinito/Ein-Sof.
A segunda, pelo contrário, depende da vontade e do desejo de cada homem, e está
subordinada às mudanças emocionais e mentais dentro das coordenadas de espaço
e tempo às quais cada homem está submetido.
O primeiro estado, anterior ao tsimtsúm, é encontrado mais além das mudanças e
é a meta de toda atividade e movimento, ou seja, de qualquer estado que não seja
Este (o Infinito).
O segundo é o estado de manifestação no qual são produzidas todas as mudanças,
e dentro do qual tudo o que esteja fora do primeiro estado move-se
constantemente, produzindo diferentes formas ao querer assemelhar-se ao
primeiro, isto é, ao estado prévio ao tsimtsúm.
O segundo é um ocultamento do primeiro e abrange toda a variação de graus
existentes, salvo o primeiro, entendendo esses graus, e a diferença de estado,
como diferenças do que se deseja e onde se aplica a vontade.
A proximidade ou a distância entre os homens está onde cada um focaliza sua
vontade e desejo, e isso é o que aproxima ou afasta um homem de seu
semelhante.
Por isto, a educação cabalista, através da Torá e das Mitsvot, educa a vontade e o
desejo, encaminhando o ser humano, gradativamente, a depurar e elevar seu
desejo até torna-lo Um, junto à plenitude da Luz Infinita.
Quanto maior é a distância em relação ao estado pleno e completo — o Infinito/Ein-
Sof — maior é a "distância" em relação à origem.
Mas esta "distância" não é medida em termos de espaço nem de tempo, e sim pela
forma diferente de aplicar a vontade:

Desejo de receber /egoísmo, ou desejo de dar/ altruísmo.

Na Criação, percebemos uma infinidade de graus de vontade e desejo.


Desde os estados mais "afastados" e imersos nos maiores ocultamentos espirituais,
como os reinos mineral, vegetal e animal, até chegar ao ser humano e onde estão
dadas todas as possibilidades e potenciais para atingir os mais altos graus,
transcendendo assim a mecanicidade dos estados inferiores.
O homem contém em si todos os reinos existentes, desde o mineral até as
possibilidades mais esmeradas do espiritual.
Através do uso de sua vontade, o homem pode transcender sua identificação com
os estados inferiores e afastados do estado original — o Infinito/Ein-Sof — para ser
Um com a única Realidade, o Cadósh Barúch Hú.

Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 10

A Essência, o Infinito e a Alma

Atsmút, Ein-Sof, Neshamá


De um modo geral, a realidade, sob o ponto de vista espiritual, divide-se em três
índoles:
Atsmút
Ein-Sof
Neshamá

Atsmút: é a essência que não se manifesta; a precisão do Criador e seu "lugar"


estão acima da palavra e de qualquer articulação possível.
De acordo com os Mestres da cabalá, nada pode ser expresso sobre Sua Atsmút,
uma vez que não temos nenhuma possibilidade de alcance.
Tudo o que dissermos sobre a Atsmút do Criador será baseado em meras
suposições e imaginação, e a cabalá se ocupa apenas do que o homem tem a
possibilidade de alcançar através de seu esforço e superação.
Portanto, qualquer esforço direcionado a definir a Essência é contraproducente e
não responde aos propósitos da Cabalá.
Todo o vocabulário que dirige a Sabedoria da cabalá não tem de fato Atsmút, isto
é, não tem a Essência do Criador, e sim apenas a Luz que se expande Dele, em Sua
manifestação.

Ein-Sof: é o Infinito, onde está o "programa da Criação", cuja finalidade e vontade


é beneficiar, infinitamente, as criaturas.
Ein-Sof é o "lugar" de encontro entre a Essência do Criador e a Neshamá,
entendendo esse vínculo como a vontade original de dar prazer e perfeição a todas
as criaturas.
Portanto, Ein-Sof é o espaço de relação entre a Essência do Criador/Atsmut e sua
Criação.

Neshamá: é aquela à qual toda a plenitude está destinada; benefício e perfeição


contidos no Ein-Sof

“A alma tem cinco nomes que, ordenados do inferior ao superior, são: Nefesh,
Rúach, Neshamá, Chaiá e Iechidá”.
Assim começa o livro "Shaar haGuilgulím"("0 Portão das Rotações da Alma"), como
compilado pelo Rabino e cabalista Chaím Vital, que, por sua vez, o recebeu de seu
Mestre, o Rabino e Sábio cabalista Yits'chác Luria Ashkenazi, conhecido como o
Arizal.
A Luz do Infinito/Or Ein-Sof, ao ingressar no âmbito da Criação, adquire vontade e
consciência diferenciadas, que se traduzem em diferentes seres e formas.
Esse processo ocorre simultaneamente em todas as particularidades da Criação,
adotando assim a Luz do Infinito diversos graus e índoles.
No homem, esses graus de vontade e consciência formam os diversos estratos da
alma, chamados Néfesh, Rúach, Neshamá, Chaiá e Iechidá.
Os cinco estratos da alma, com sua infinidade de graduações, são os graus da Luz
do Infinito revestidos na consciência, na vontade e nos desejos do homem.
Esses 5 graus são as Luzes que logo vão iluminar gradativamente os ocultamentos
produzidos pelo ato do tsimtsúm/contração original do desejo de receber a Luz do
Infinito, nos 5 mundos denominados Adám Kadmón, Atsilút, Briá, Ietsirá e Assiá.

Mundos Graus da Alma


Adám Kadmón Iechidá
Atsilút Chaiá
Briá Neshamá
Ietsirá Rúach
Assiá Nefesh

A palavra mundo, ou “olám”, em hebraico, provém do verbo “lehialêm”, que


significa “ocultar”.
Isto significa que cada mundo é um ocultamento do seu estado anterior, e que o
mundo superior é, por sua vez, gerador e causador daquele que lhe é
imediatamente inferior.
A relação entre os mundos está regida pela lei da causa e efeito, sendo que tudo o
que ocorre nos mundos inferiores é resultado de como estes recebem o mundo
superior, e não como o superior é em si mesmo.
A única possibilidade de que todos os mundos inferiores expandam seus limites e
se unifiquem com os superiores, é elevando-se até eles.
Isso só será possível através do refinamento de nossos desejos, nossa vontade e
nossa consciência. A realização desse processo requer o conhecimento e a prática
dos aspectos fundamentais da Sabedoria da cabalá, que são:

Maassê Bereshit: Conhecimento e consciência dos mundos, planos e graus que


regem a Criação.
Na linguagem da cabalá, eles são ligados a nomes exatos que indicam, para o
iniciado, a distância espiritual com respeito aos estados superiores e à origem, o
Infinito/Ein-Sof
O estudo desse "mapa" e sua nomenclatura, introduz o iniciado nos diferentes
graus e vontades, e depende do esforço pessoal dele para que esse estudo
transceda o plano mental e passe a ser espiritualmente aplicável.

Maasse Mercava: Trabalho espiritual do homem durante sua ascensão gradativa


pelos mundos.
A base desse estudo é o refinamento da nossa vontade e desejos pessoais, sem os
quais não se "abrem" as portas de nosso coração, que é o lugar onde está a
“mercava”, a “carruagem”, que pode nos levar aos mundos superiores.

Em “maassê mercava” é fundamental trabalhar o ratsón /lecabe//vontade e desejo


de receber e o ratsón/lehashpíal/vontade e desejo de dar e beneficiar, já que o
“ratsón lecabel” faz descer a carruagem em direção aos mundos inferiores e o
„ratsón lehashpía” a eleva em direção aos mundos superiores.
Neste aspecto está, definitivamente, o livre arbítrio do homem: “ratsón lecabel”,
desejo de receber egoísta, ou “ratsón lehashpía”, desejo de dar e beneficiar.
Ratsón, desejo e vontade, é o que produz todos os movimentos do homem, tanto
em relação ao pessoal quanto ao coletivo, no espiritual e no material.
Tudo é parte de uma única realidade indivisível, da qual cada Neshamá é uma
manifestação.
O trabalho do homem consiste em transformar seu “ratsón lecabel” em “ratsón
lehashpía”.
O “ratsón lecabel” é impossível de ser anulado, pois ele é toda a Criação e a força
que move nossas vidas.
O trabalho espiritual consciente consiste em que nosso desejo de receber seja um
desejo de receber para dar.
Dessa forma, elevamos nosso pequeno e limitado mundo ao Infinito/Ein-Sof onde
todas as Neshamót são Uma e todos os olamót/mundos são Um.

Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 11

Os 32 Caminhos da Sabedoria

A Árvore das Vidas/Ets Chaím


A "Árvore das Vidas"-" Ets Chaím" abrange todos os planos através dos quais a vida
se manifesta.
Daí a denominação Árvore das Vidas; a palavra vida, em hebraico, é um plural sem
singular.
A vida é o conjunto de toda a realidade que, inclusive, transcende os limites do
tempo e do espaço.
Quando a Torá se refere à vida, ela incluí os planos físico-sensoriais, emocionais e
mentais (manifestação temporal e espacial) integrados aos planos espirituais.
A vida, em sua essência, é uma e única, mas ao manifestar-se temporal e
espacialmente (nascimentos e mortes, mudanças de estados: mineral, vegetal,
animal e humano), ela é percebida em múltiplas formas.
A palavra “Lev” (coração, em hebraico) é formada pelas letras hebraicas Lamed e
Bet, cujo valor numérico é 32 (Lamed=30 e Bet=2).
32 vezes é mencionado o nome Elokím (Elohim) no capítulo 1 do Gênesis/Bereshit,
indicando-nos os 32 caminhos gerais através dos quais a Vontade Superior
estabelece os limites temporais e espaciais da manifestação.
Elokím é um dos dez nomes gerais mencionados na Tora' relacionado com a sefirá
Guevurá/Superação, e com todos os processos de limitação e de manifestação.
O coração/lev é o instrumento que pode receber esses limites, isto é, as Leis
Superiores.
O capítulo 2:10 do Pirkê Avót nos transmite que um bom coração é o que o homem
deve procurar permanentemente, já que um bom coração é o recipiente de todas
as qualidades.
A Árvore das Vidas é conhecida também como os 32 caminhos da Sabedoria,
compostos pelas 22 letras do alfabeto hebraico, mais as 10 sefirót.
As letras são a energia básica, os elementos primordiais com os quais formamos
nossos pensamentos e articulamos nossa linguagem.
As dez sefirót são os envoltórios que cobrem a plenitude da Luz, que se expande
desde a Essência do Criador (Atsmút), para que possamos receber Sua Luz.
Cada sefirá manifesta um grau geral, um atributo da Luz Infinita.
Assim como a Luz do sol, é impossível olhar em sua direção sem lentes
apropriadas. Frente ao esplendor do sol, a luz de uma vela é imperceptível, mas
quando o sol se esconde e anoitece, a luz da vela torna-se visível.
Da mesma forma, cada sefirá revela-nos diferentes graus de Luz Infinita e, grau a
grau, sefirá por sefirá, o homem se aproxima da plenitude da Luz Infinita.
Isto quer dizer que, sem as sefirót, seria impossível para nós receber a plenitude de
Sua Luz, já que não existiríamos nem teríamos consciência; seria tudo Infinito, sem
possibilidade de tomar consciência do desejo da Neshamá.

A conjunção das vinte e duas letras do alfabeto hebraico, somada às dez sefirót,
representam a expressão articulada de todos os aspectos da vida expandidos a
partir da Essência do Criador.
Essa conjunção estabelece os códigos fundamentais da cabalá, denominados pelos
Mekubalím (Sábios da Cabalá) de “linguagem das ramificações/sfat haAnafim”.
A linguagem das ramificações é articulada através dos condutos ou ramos pelos
quais flui a energia da vida.
Dessa forma, cada ramo da Árvore das Vidas está relacionado com seu ramo
vizinho, até unirem-se todos eles no Infinito (Ein-Sof), a raiz que os gerou.
Através da aplicação consciente da linguagem das ramificações/sfat haAnafim, o
homem pode discernir sua vontade e desejo, dando forma a seus pensamentos,
conforme será exposto na seqüência.
- A sefirá Chéssed (entrega , generosidade....), é a energia que fundamenta todos
os processos criativos, tanto os materiais quanto os espirituais.
Qualquer processo criativo, qualquer início, é gerado por uma entrega, por uma
vontade.
— A sefirá Guevurá (superação, limite, coragem...) é a energia que limita e dá
forma à Chéssed/entrega.
No Ets Chaím (Árvore das Vidas), a sefirá Chéssed está conectada com a sefirá
Guevurá pela letra Alef, primeira letra do alfabeto hebraico.
Chéssed—Guevurá é a primeira direção que surge na Árvore das Vidas, já que a
Guevurá constitui as limitações que surgem em qualquer início, ou seja, frente a
qualquer iniciativa surge a correspondente Guevurá.
Essas limitações e "dificuldades", geradas pela Guevurá, não representam um
obstáculo, e sim ajudam-nos a delimitar nosso contato com a realidade, fazendo-
nos discernir entre o real e o imaginário.
Frente às limitações nos conscientizamos quão real são nossa vontade e nosso
desejo, percebendo se eles se desvanecem ou se fortalecem frente às dificuldades.

- A sefirá Chochmá (sabedoria, pensamento da Criação...) é a energia que nos


ajuda a superar as limitações geradas pela sefirá Guevurá.
A segunda direção que observamos na Árvore Sefirótica é a letra Bet, segunda letra
do alfabeto hebraico, que liga a sefirá Chéssed com a sefirá Chochmá. Isto significa
que, face às limitações geradas pela Guevurá teremos que nos sobrepor, elevando
a sefirá Chéssed à Chochmá.
Devemos encontrar a sabedoria que nos ajude a superar as limitações e
dificuldades, consolidando nossa vontade e desejo.
Isto acontece sempre e quando nossa vontade e nosso desejo se encontram em
harmonia com as leis da Criação.
Caso contrário, toda essa realidade desvanecerá no tempo e no espaço, sem que
fique nenhuma recordação dela.
É interessante notar que Chéssed e Guevurá estão no mesmo plano, enquanto que
a Chochmá está em um plano superior.
Isto ocorre constantemente no âmbito espiritual: para conseguir chegar até a
Chochmá/sabedoria, devemos nos elevar para além de nossa realidade, ou seja,
sobre as dificuldades e limitações.
Teremos que levar nosso grau de entrega, nosso desejo de bem, a um plano
superior, transformando assim o nosso egoísmo em altruísmo.
A Chochmá sozinha não é suficiente.
A ela devem acompanhar o entendimento e a inteligência, através dos quais a
sabedoria é aplicada.

- A sefirá Biná (entendimento, inteligência...) é a energia que consegue dar forma e


discernimento à Chochmá/sabedoria, para que esta possa ser aplicada. Isto ocorre
quando nossa vontade é projetada além de nossos interesses particulares, então
surge a direção Guimel, terceira letra do alfabeto hebraico, conseguindo assim
extrair as limitações da sefïrá Guevurá e transformá-las em coragem e superação,
para elevar-nos à sefirá Biná.

- Kéter (coroa) é a origem a partir da qual é gerada a energia que vivifica os


mundos.
Kéter é o contato com o Infinito/Ein-Sof
A quarta direção na Árvore Sefirótica é a letra Dalet, quarta letra do alfabeto
hebraico, que liga a sefirá Kéter com Tiferet.
A sefirá Tiferet (harmonia, manifestação equilibrada do desejo e da vontade de dar
e beneficiar...) é ativada pela sefirá Kéter, manifestando harmonia e equilíbrio só
quando o trabalho do homem é completo e íntegro em seu contato com
Chéssed/generosidade e Guevurá/superação dos limites.
É então que o homem recebe Chochmá e Biná, Sabedoria e Inteligência Superior,
tanto nos planos espirituais quanto materiais, sendo que suas ações são dirigidas
ao benefício coletivo, e não a um mero ato egoísta.
Este processo é desenvolvido, de forma inexorável, abrangendo a totalidade dos
aspectos da Criação.
Nós o observamos à elevação de cada ciclo de manifestação, ou seja, na resolução
das tensões temporais de curto e longo alcance e, às vezes, somente ao final de
longos períodos.
O processo de elevar Chéssed e Guevurá à Chochmá e Bina pode ser comparado ao
exemplo do agricultor que, com seu esforço e perseverança, lavra a terra, mas
depende das chuvas para obter os frutos.
As chuvas, o superior, trazem benefício para o mundo, assim como a sefirá Keter
ao manifestar-se na sefirá Tiféret.
Quanto maior é o trabalho do homem em busca do refinamento de seus desejos e
de sua vontade de dar, traduzidos em atos concretos—Mitsvót, e não em mera
especulação mental - maior será sua aptidão para receber os graus superiores da
Luz Infinita, chuvas superiores que provém do Kéter.
Quem deseja dar sempre tem, uma vez que sua vontade e seus desejos estão
sempre em harmonia com a Luz Infinita/Or Ein-Sof, e portanto com as leis
objetivas que regem a vida.
Quem recebe Chochmá e Biná superiores por ser completo e íntegro, gera benefício
e abundância/shéfa a todos os seres.
Essa abundância/shéfa é a direção Dalet que traz harmonia/Tiféret ao mundo
diretamente da fonte que a gera, que está representada na Árvore das Vidas pela
sefirá Kéter.
É justamente Kéter, a coroa, que está por cima de tudo e que nutre a todos com
Generosidade Superior/ Chéssed Elión.

As sefirót, de acordo com a linguagem da Kabalá , são os condutores e recipientes


espirituais que transmitem e revelam a Luz do Infinito, a energia da vida que
preenche todos os mundos e seres.
Qualquer ser, fenômeno, grau e manifestação da realidade, está conformado por
esta escala e graduação de recipientes da Luz.
Esse sistema de transmissão - recepção da Luz Infinita, que também é manifestado
no mundo físico e no corpo, tem sua origem nos mundos espirituais.
Lá, as sefirót não estão revestidas por matéria física ou corporal, e sim manifestam
tendências sutis da vontade, ou seja, direções do fluxo da Luz.
Estas características dos movimentos da vontade revelam-se tanto ao emitir a Luz
a partir do Infinito até os mundos, assim como no trabalho espiritual do homem ao
elevar a sua vontade e projetar essa mesma Luz em sua direção original.
O livro do Zôhar define esses movimentos através dos termos "de cima para baixo"
para a projeção da Luz superior, e " de baixo para cima" para nosso trabalho
espiritual.
Os mesmos condutos são os que transmitem a Luz em ambas as direções, e é a
vontade que rege essa passagem.
Cada sefirá é composta por dez sefirót, uma vez que, na realidade ,cada partícula
compreende todo o sistema (macro e micro).
Para que cada sefirá receba de outra superior sua Luz, deve antes completar suas
dez sefirót interiores.
Essas ordens e relações são, definitivamente, o código e a linguagem da Torá.
Os resultados dessas relações revelam diferentes graus e diferentes possibilidades
de recepção da Luz.
A Luz sempre está presente, mas para nós ela apenas se revela ao se revestir em
nossos atos concretos (Mitsvót).
A posição, estrutura e inter-relação das sefirót dentro da Árvore das Vidas, marcam
o roteiro e a forma de manifestação e recepção da Luz.
Na Criação, tudo obedece às relações entre a Luz e seus recipientes (“Or” e”klí”),
ou seja, a forma através da qual recebemos a plenitude Infinita (egoísmo ou
altruísmo).
Estas ordens e relações das dez sefirót obedecem a distintos graus de revelação da
Luz dentro das distintas vasilhas, e formam nossa linguagem de relação com a Luz.
Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 12

Arte, Forma e Substância

A Arte de Israel: Forma e Substância


Todas as artes procuram a perfeição da forma.
De acordo com a Torá, a forma é o resultado de como a realidade se reveste em
nossa vontade, desejo e consciência.
O Rabino Ashlag assinala quatro caminhos pelos quais intelectualizamos nossa
percepção da realidade. Eles são:
Substância
Forma da substância
Forma abstrata
Essência

1) Substância
De acordo com o exposto pelo Rabino Ashlag, o desejo de receber é a substância
básica comum a todos os seres. O desejo manifesta-se como consequência do
tsimtsúm, o ocultamento da plenitude da Luz Infinita, ou seja, é o que surge a
partir da ausência.
Esse conceito é denominado, na linguagem da cabalá, Iesh Mi Áin.
Iesh significa Há — existência.
Mi significa De.
Áin significa Nada — inexistente.

Nossa tradição ensina que o Cadósh Barúch Hú: "Forma Luz e Cria Escuridão".
Esta passagem que aparece no Sidur (ordem da tefilá/oração) nos indica que o ato
da Criação oculta a plenitude da Luz ("Cria Escuridão") e, ao mesmo tempo, dentro
desse espaço escuro que é a Criação, o Cadósh Barúch Hú dá forma à Luz para que
o homem possa recebê-la ("Forma Luz").
"Cria Escuridão" refere-se ao conceito Iesh Mi Áin e "Forma Luz" a Iesh Mi Iesh.
Iesh Mi Áin é o desejo, o espaço no qual desenvolve-se a Criação, que surge como
consequência da ausência da plenitude da Luz.
Iesh Mi Iesh é a Luz/Or que existe a partir do "existente", o original.

O desejo não tem possibilidade de se manifestar de forma independente antes da


Criação, isto é, no estado de Infinito.
O desejo é o novo que surge com a Criação, é a substância que move todos os
processos que acontecem, pessoal e coletivamente.
O desejo é a matéria prima, a substância que o homem modela ao longo de sua
existência.

2) Forma da substância
O desejo tem duas formas básicas:
a)desejo de receber
b)desejo de dar
No caminho espiritual, o homem deverá transformar o seu desejo de receber em
desejo de dar para conseguir superar sua dependência com respeito aos planos
inferiores da realidade.
Em cada momento e situação que nos vemos frente ao desejo de receber, a Torá e
as Mitsvót nos orientam, canalizando nosso desejo em função do bem coletivo, em
direção ao altruísmo, um desejo de dar com sabedoria.

3) Forma abstrata
A forma abstrata é a idealização, as qualidades independentes da substância, como
por exemplo, o bem, a beleza, a verdade (e seus opostos).
A Sabedoria da Torá só valoriza estas qualidades quando revestidas de substância,
do desejo concreto dos homens.
Ao contrário, quando separamos estas qualidades da situação onde se realizou, por
exemplo, um ato de bem, tomando o conceito de bem como algo independente,
estamos omitindo esta qualidade e correndo o risco de generalizá-la e idealizá-la
erroneamente.
Todos concordamos quão importante é a verdade, mas se nos vemos frente a uma
situação onde há que se mentir para se salvar uma vida, o que é mais importante:
a verdade ou a vida?
Segundo a Torá, não há nada mais importante que a vida.
Essa verdade é uma verdade parcial, e portanto já não é "verdadeira".
O bem, a verdade etc., para serem completos devem estar conectados com a vida
em todas os estratos nos quais ela se manifesta, ou seja, nos âmbitos corporais,
emocionais, mentais e espirituais, contemplando a todos como diferentes aspectos
da mesma realidade.
Toda qualidade e/ou situação é definida e valorizada somente em relação ao
contexto no qual se manifesta.
Quando a separamos das condicionantes que a geraram, corremos o risco de julgá-
la de forma errada (como no exemplo da verdade, mencionado anteriormente).
O funcionamento dos órgãos do corpo constitui um claro e visível exemplo de como
estes conceitos atuam na realidade.
Cada órgão do corpo funciona corretamente apenas quando cumpre seu objetivo de
servir ao corpo.
Se avaliado como um ente isolado, sem levar em conta sua função dentro do
sistema, não estarei observando a realidade de forma completa, o que colocará em
perigo todo o sistema, ou o corpo ao qual este órgão pertence.
De acordo com a Torá, cada detalhe da vida é um componente insubstituível da
realidade, e, portanto deve ser sempre avaliado em relação ao Todo.
Cada partícula que o Cadósh Barúch Hú criou tem seu lugar insubstituível na
Criação, assim como uma simples engrenagem, que sozinha não parece
importante, mas que quando não está em seu exato lugar, causa a paralização de
todo o mecanismo.
É por isso que os judeus, dizem todos os dias Shemá Israel Hashem Elokeinu
Hashem Echad*, já que todos os detalhes da aparente multiplicidade que nos
rodeiam, se empregados corretamente, constituem instrumentos insubstituíveis que
conseguem harmonizar a realidade e a vida
Observamos como a forma abstrata não é uma forma de conhecimento válida, já
que nos faz avaliar a realidade de forma parcial, correndo o risco de cair em
sistemas que valorizaram mais a "verdade abstrata" que a própria vida.
A partir dessa concepção, nascem os sistemas que limitam o livre arbítrio e
destroem tudo o que se interpõe em seu caminho, em nome da "verdade abstrata"
ideal.

4) Essência
Da essência não temos compreensão nem percepção.
Os cinco sentidos humanos, somados ao máximo que nossa imaginação possa
transmitir, são, na melhor das hipóteses, a manifestação do efeito das atividades
da essência, porém nada podem oferecer sobre a essência por si mesma.
Nossos cinco sentidos, emoções e pensamentos, transmitem-nos luz, calor, som,
idéias etc., até onde seu alcance lhe permite, mas além desse âmbito há outros
aspectos da realidade.
A essência em si mesma é impossível de ser conhecida, uma vez que a essência de
toda a realidade é a mesma, é Uma e Única.
Exemplo:
Quando nos referimos a nosso semelhante, o fazemos de acordo com a forma pela
qual conhecemos aquela pessoa: é meu amigo, meu médico, meu pai, etc.
Cada um desses termos é uma forma através da qual conhecemos aquela pessoa,
por mais que esse indivíduo seja tudo isso e muito mais.
Da mesma maneira, a essência está além de todos os nomes que lhe dermos, pois
é ilimitada, e quando a nomeamos, estamos colocando limites em nossa percepção
Apesar disso os limites representam a única forma de conhecimento, uma vez que,
no infinito, minha percepção é diluída e não consegue alcançar a realidade.
Quando um arquiteto propõe construir um edifício, estabelece primeiro os limites e
depois, dentro deles, desenvolve um projeto.
Uma cidade começa com uma casa, depois outra e outra, até ser completamente
construída.
O objetivo do Cadósh Barítch Hú é dar e beneficiar de forma infinita e, para isso,
limitou a plenitude de Sua Luz/ tsimtsúm frente a nós.
A Criação é o grande projeto no qual o homem deve transformar seu desejo de
receber em desejo de dar.
Como qualquer plano, começa de um ponto para depois se espalhar por toda a
realidade.

De acordo com a Torá, na essência e na forma abstrata não temos possibilidade


alguma de assimilar a realidade e a vida.
Apenas a substância, vontade e desejo, e a forma da substância, egoísmo ou
altruísmo, são caminhos de conhecimento válidos.
Esta forma de conhecimento se manifesta quando prevalece em nossos atos o
desejo egoísta/ratsón lecabel, ou quando, ao contrário, prevalece o nosso desejo de
ajudar ao próximo/ratsón lehashpía.
Quando liberamos nossa vontade e consciência mais além de nós mesmos, nossa
realidade se expande transcendendo os limites do nosso egoísmo/ratsón lecabel;
então surge o altruísmo/ratsón lehashpía.
É assim que o homem amplia seu campo de ação e seu mundo se expande em
todos os âmbitos da realidade.
O homem começa, aí, a se aproximar gradativamente do mundo do Cadósh Barúch
Hú, uma vez que, agora, não está mais centrado em si mesmo, e sim suas
motivações se dirigem para beneficiar o resto das criaturas.
Agora o homem é um "sócio ativo do programa da Criação", que consiste em
beneficiar a todos os seres de forma infinita.
Quando a arte e a vida são utilizados com a finalidade de transformar o desejo de
receber em desejo de dar, essa arte e essa vida são judaicas por excelência.
Como expressou o Grande Sábio Rabi Akiva, Mestre do Rabi Shimón Bar Iochái (o
mais destacado tanaíta autor do livro do Zôhar, século II da era comum):
"O meu é teu e o teu é teu"
Rabi Akiva, como todos os verdadeiros Sábios de Israel, difundiu em todos os seus
atos e com sua própria vida a mitsvá mais importante da Torá:
"Amarás a teu próximo como a ti mesmo"

Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 13

Arte, Forma e Substância

A Música e a Arte de Israel


Oculto por nossos sentidos, em nosso interior, está o Profeta, nossa Neshamá, que
nos ajudará a desvendar a ordem que rege a vida e a Criação. Em hebraico, o
termo Profeta/Naví provém do verbo “―entender―,
“discernir/lehavín―, que se relaciona com a sefirá Biná. O profeta é quem
discerne os graus superiores da Chochmá/Sabedoria, através da sefirá Biná (vide
nosso texto "A Árvore das Vidas"). Ao contrário, o Sábio/Chacham discerne através
da sefirá Chochmá. Nosso profeta interior, a Neshamá, capta a realidade superior,
mas de acordo com o nosso grau de Sabedoria, assim será nosso discernimento.
Por isso, nossa tradição nos ensina que um Sábio é preferível a um Profeta
Continuando:A música e a arte, em geral, podem ser um instrumento que nos leve
aos domínios do Profeta, e depois, de suas mãos, aos reinos da eternidade. No
judaísmo, não há fragmentação da realidade; existem causas e efeitos que são
desencadeados a partir da causa primeira, o Infinito/Ein-Sof Essas causas e efeitos
unem o material com o espiritual, designando o material como um efeito-
consequência do espiritual. O que ocorre no plano material é consequência direta
de nossa vontade, pensamentos e emoções. Quer dizer que a realidade se
desencadeia desde o plano mais sutil até os mais densos. Com o ocultamento da
Luz Infinita, tsimtsúm, surgem os mundos; entende-se por mundos o espaço
espiritual onde a alma se manifesta (vide nosso texto "O espaço espiritual da
Alma"). A linguagem da cabalá, ao referir-se ao desencadeamento da realidade a
partir dos planos espirituais-elevados até os mais concretos-densos (vide nosso
texto "Atsmút, Ein-Sof, Neshamá"), indica-nos a forma pela qual a realidade se
manifesta. Ao contrário, quando se refere à percepção da realidade a partir de
nossa perspectiva, a partir dos planos mais densos do desejo de receber/ratsón
lecabel em direção aos mundos superiores, o desejo de dar/ratsón lehashpía nos
indica o processo inverso, ou seja, a conscientização através do nosso trabalho
espiritual. A vida e a realidade são um todo indivisível de causas e efeitos. Os
estratos materiais da realidade recebem sua vitalidade dos estratos superiores-
espirituais. Mas para que os estratos materiais recebam a realidade
harmonicamente, deverão elevar-se aos planos superiores e não limitar a realidade
a eles mesmos. Quando transformamos nosso egoísmo em altruísmo, nos
chegamos a um grau superior, uma vez que transcendemos os limites de nosso Eu
para entender o próximo. O homem sempre se encontra em um plano
intermediário, uma vez que recebemos e também damos, e sobre toda a realidade
está a origem e a fonte da vida, o Cadósh Barúch Hú, o Único que somente dá, pois
de quem há de receber? O Rabino e Sábio cabalista Iehudá Leib haLevi Ashlag nos
ensina que há 4 graus em nosso desejo de receber: - Quem recebe pelo simples
fato de recebeEsse é o estado mais denso da realidade, no qual nosso desejo de
receber se traduz em puro egoísmo. Nesse estado, o homem está centrado em si
mesmo, sem dar a menor importância às consequências de seus atos. - Quem dá
para receber algo em troca. Este estado é superior ao anterior, pois, apesar de
haver um interesse, o homem começa a expandir sua realidade, pois começa a
pensar e ter consciência de seu semelhante. É o primeiro grau do desejo de
dar/ratsón lehashpía. - Quem dá e sente satisfação do fato do outro receber. Esse
estado é incalculavelmente superior ao anterior, já que, quem alcança esse nível de
altruísmo em seus atos, consegue vencer o seu egoísmo e expandir sua realidade a
todos os aspectos da vida. É como o coração, que só deseja distribuir vitalidade
para todo o corpo. É o segundo grau do desejo de dar, pois agora não espera
receber nada em troca, mas deseja dar de seu modo. Quer dizer que ainda há certo
grau de desejo de receber não resolvido, pois pensa no outro porém de acordo com
a forma na qual ele deseja dar. - Quem recebe para dar. Este estado é a perfeição
e a resolução de todos os estratos da realidade e da vida. Quando o homem
alcança este grau de desejo, é como a mente que sabe receber tudo o que
acontece com o corpo e colocá-lo em seu exato lugar. É o terceiro grau do desejo
de dar. O homem que chega a esse grau é capaz de receber todos os aspectos da
realidade e orientá-los em direção ao bem coletivo. No estado anterior, o homem
consegue vencer o seu egoísmo, enquanto que neste também concretiza o objetivo
da Criação, já que o Cadósh Baruch Hú manifesta a Criação para que recebamos
toda a Sua plenitude, da mesma forma que um homem e uma mulher formam sua
família para dar a seus filhos o melhor de si. Na realidade e na vida não existe
casualidade, e sim causa-lidades, causas e efeitos que encadeiam-se entre si, sem
deixar espaço para o azar. Devemos ver a sabedoria que há por trás de cada
aspecto e fato da vida. A Torá nos ensina que o Cadósh Barúch Hú fez tudo com
Sabedoria/Chochmá e descobri-la é o objetivo da vida, pois a verdadeira Sabedoria
é a arte de transformar nosso egoísmo/ratsón lecabel em altruísmo/ratsón
lehashpía. O vocábulo “arte― — “omanút―, em hebraico — provém
da raíz “amén―, igual a “lehitamén/treinar― “generosidade― e
“entrega―, “oménet/ama―, “que dá de si mesma―,
“imán/treinamento― e “emuná―, que se traduz, insuficientemente,
como ‘fé―. Emuná é o treinamento do conhecimento espiritual. Emuná é a
base do trabalho espiritual de Israel e tem dois aspectos que a constituem: emuná
simples (peshutá), e emuná com conhecimento (shebedáat). A emuná é como o
amor que não mede nem limita, mas que não pode substituir e sim é alimentado
pelo conhecimento. Quando realmente há amor, há entrega, junto-me e me unifico
a quem amo. Para poder alcançá-lo, devo conhecer profundamente a quem amo,
para me oferecer a ele de acordo com sua necessidade e seu desejo. Então, esse
amor será completo. Daí a “emuná― de Israel ser um treinamento constante
de generosidade, de entrega e de dar para servir ao próximo e à sociedade, e ser
Um com o Um, sem segundo. O artista — em hebraico “omán― — é quem
aperfeiçoa seu instrumento para dar e entregar de si, da forma mais perfeita e
harmoniosa possível. Neste aperfeiçoamento existem dois aspectos, um exterior
— sua obra — e outro interior — seu desejo, sua intenção e vontade, sua
Neshamá. A arte do povo de Israel não consiste na busca da beleza estética, e sim
na materialização do desejo da alma pela paz e pela harmonia. Na arte judaica, o
estético isolado não tem um valor transcedental. Cada elemento é ressaltado e
valorizado somente em relação ao objetivo total, que é a fusão de nossa vontade
com a Vontade Superior — o Cadósh Barúch Hú — através da aplicação das leis
objetivas codificadas na Tbrá. Toda manifestação que leve o homem a esse objetivo
é arte judaica. Para isso, o artista deve treinar sua entrega/ratsón lehashpía, e
corresponde que estude conjuntamente com sua arte (onde seu ratsón lecabel se
encontra) as leis que regem a vida e a criação, com o fim de fazer seu trabalho
conscientemente e na direção correta. É assim que aquele artista alcança a
harmonia do desejo, como explicamos no princípio do texto, no ítem: receber para
dar. A arte judaica, a emuná e omanút, é o processo de realização e concretização
dessa perfeição que abrange todos os estratos da existência. A arte judaica é,
fundamentalmente, uma forma de vida. O Rei David, Betsalel e o Rei Salomão,
quando criavam, respectivamente, música, poesia e arquitetura, ensinaram e nos
transmitiram o que é a arte hebraica por exelência, e esta é a nossa fonte. Esta
arte foi cultivada pelo povo de Israel, ainda que nem sempre com consciência
coletiva. Isso é devido à dispersão que sofreram por quase vinte séculos. Contudo e
apesar disso, não esqueceram jamais do centro imóvel, no qual confluem a unidade
indivisível da Tbrá de Israel, o Povo de Israel e a Terra de Israel. O fortalecimento
dessa unidade é o treinamento constante e a base da emuná de Israel, arte
hebraica por excelência, o que a torna universal, aproximando-a gradativamente da
origem de toda a criação: o Infinito/Ein-Sof.

Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 14

A Paz e a Guerra

A Maldição de Caim

"Cada vez que há derramamento de sangue, a maldição de Caim é ativada."


(Rabi Nachman de Bratslav )

"Aquele que matar Caim, sete vezes será castigado."


(Gênesis 4:15)

O número sete indica os ciclos temporais e espaciais, os processos que entram nos
domínios do tempo e do espaço.
Em seis dias o Cadósh Barúch Hú criou os céus e a terra, e no sétimo dia descansou
(Shabat).
O número sete figura, constantemente, nos textos da tradição escrita e oral: sete
dias formam uma semana, durante sete dias é celebrada a festa de Pêssach; sete
semanas depois é Shavuót; e sete meses depois de Pêssach é Sucót, etc.
Este ciclo de sete indica o processo realizado pela alma em seu caminho espiritual:
a escravidão no Egito (Pêssach), passando pela entrega da Torá (Shavuót),
desembocando em Sucót, para chegar à Terra Prometida.
As festividades de Israel baseiam-se em um permanente treinamento para elevar o
desejo da alma.
Cada sete dias é Shabat, ou seja, uma vez por semana o homem deve superar a
dependência com respeito ao mundo físico.
O Shabat cria um espaço fora do tempo para que a Neshamá se manifeste e o
homem aprenda a libertar-se do peso do materialismo.
O judaísmo não procura eliminar o material, e sim pretende aperfeiçoá-lo,
colocando-o a serviço do espiritual em prol do beneficio coletivo.
As leis espirituais estão além do tempo e do espaço.
É por isso que, tanto ao Shabat quanto às outras festividades de Israel, não lhes
corresponde o conceito de "antigos" ou "modernos", pois estão dirigidos para a
essência interior do homem, à vontade e ao desejo da alma.
O número sete não é um dado arbitrário que a Torá fala para o homem; o sete nos
indica a percepção do homem — sete são os orifícios que o homem tem em sua
cabeça: 2 olhos, 2 ouvidos, 2 narinas e a boca.
Na cabeça estão situadas as faculdades mais elevadas e os sentidos através dos
quais o homem percebe o mundo.
Os orifícios pares — olhos, ouvidos e narinas — transmitem-lhe a informação que a
mente e a emoção elaboram de acordo com objetivos e desejos.
A boca, o sétimo e o único ímpar, refere-se à articulação sonora, à expressão de
como o homem percebe e compreende a realidade.
De acordo com o que o homem manifesta, conheceremos seus desejos e
aspirações.
Na boca há dois aspectos que atuam em sentido inverso, sendo a palavra o que sai
da boca e o alimento, que nutre o homem, o que entra através dela.
Assim como temos leis e códigos espirituais com respeito ao que sai e entra pela
boca (Kashrút (“o que é apropriado”) material, através da abstenção de certos
alimentos, e Kashrút espiritual, evitando a calúnia e a mentira, etc.), o mesmo
ocorre com a percepção, uma vez que geralmente atuo de acordo com o que penso
e sinto.
Por ser nosso mundo emocional e mental poderosamente influenciado pelo que
vemos e ouvimos, é de vital importância para a vida espiritual que nossa Kashrút
não seja restrita à dieta alimentar, e que chegue também ao "alimento" que nutre a
emoção e a mente.
O homem deve ter consciência dos objetivos que o conduzem a cada um de seus
atos. É por isso que o trabalho em relação a Torá e as Mitsvót deve ser dirigido
para o depuração do desejo e da vontade, pois através da vontade, o pensamento
e a emoção estabelecem os limites. É através do estudo da Torá (leis objetivas da
Criação) e a aplicação das Mitsvót (atos concretos dirigidos ao bem coletivo) que o
homem libera sua mente e sua emoção da especulação sem objetivo.
Dessa forma, os pensamentos e as emoções dirigem-se a objetivos que
transcendem o momentâneo e o passageiro.
Quando um conflito é resolvido interiormente, ele não desce aos domínios do tempo
e do espaço; ele encontra a harmonia no plano espiritual.
Nesse caso, nenhum elemento externo o afeta, pois não tem necessidade de
ingressar nos ciclos temporais e espaciais para ser resolvido.
O desejo, força interior que move o homem, é provocado, na maioria dos casos,
por algo exterior a ele, por algo que não possui, de modo que, se o tivesse, não o
desejaria.
Este desejo o empurra para que se mova dentro do tempo e do espaço, na busca
por saciá-lo, gerando uma infinidade de ações e reações.
Todo movimento material e exterior é provocado por algo que nasce do interior, do
espiritual, e sua resolução só é possível no lugar exato onde foi gerado.
Estes conflitos serão finalmente resolvidos no campo espiritual, isto é, no interior
do homem.
Enquanto o homem não compreender este conceito e o colocar em prática, isso
provocará uma infinidade de ações e reações que o conduzirão a diferentes
situações, muitas delas com sofrimento, até chegar a resolução interior do conflito.
Os ciclos temporais são a exteriorização deste desejo original que, ao não ser
resolvido no plano interior-espiritual tem a necessidade de ingressar no plano do
espaço e do tempo para, finalmente, retornar à sua origem, ao espiritual, onde
encontrará sua resolução.

Há outra natureza pouco comum do desejo, totalmente espiritual e provocada pela


vontade interior da alma: o desejo de beneficiar e ajudar.
Essa segunda natureza é a característica dos justos/tsadikim e responde ao ideal do
judaísmo.
Segundo a tradição da cabalá, a alma do primeiro homem, Adam, contém todas as
almas que se manifestarão a partir da perda do Éden.
Esta perda é experimentada através da descida em direção aos planos materiais
afetados pelo tempo e pelo espaço.
Caim e Abel representam duas formas de percepção da realidade e da vida
Na narração bíblica, Caim aproxima-se, oferecendo elementos do reino vegetal e
Abel, elementos do reino animal.
À primeira vista, a oferta de Caim parece ser superior à de Abel.
Mas, sem dúvida, no relato do Gênesis encontramos que a ação de Abel é vista com
agrado, enquanto a de Caim é vista como incompleta.
Para compreender isso profundamente devemos saber que, de acordo com a
cabalá, o vegetal e o animal são níveis da vontade e do desejo.
Cada um dos quatro reinos da natureza — mineral, vegetal, animal e humano-
falante — representam os diferentes graus do desejo de receber, que o homem
atravessa durante sua vida espiritual.
Os aspectos mineral e vegetal do desejo de receber são menos intensos que o
desejo animal, e, mínimos, se comparados com a vontade e o desejo do homem.
O animal representa o estado do desejo concentrado totalmente em nós mesmos,
no passageiro, sem se conscientizar da projeção e do alcance de nossa vida.
Ao tomar consciência do alcance de nossos atos, vendo na vida algo mais que o
momentâneo, assim como fez Abel, começamos a transcender os limites do nosso
egoísmo.
Tanto Caim quanto Abel estão dispostos a dar de si, a limitar seu egoísmo em prol
de seu semelhante, só que Caim o faz de forma incompleta, uma vez que limita sua
entrega ao vegetal, ou seja, meu intelecto, minhas ideias, mas não os meus atos,
minhas ações concretas.
Ao contrário: Abel está disposto a se entregar por completo, envolvendo assim seu
pensamento, emoção, instintos e seus desejos mais apreciados.
A ação de Abel consegue elevar o desejo animal para o nível do homem, pois foi
capaz de enxergar mais além de sua própria realidade vencendo seu egoísmo.
Tudo foi criado para o bem.
O mal é o resultado do uso incorreto de nossa energia.
A eletricidade é boa ou má?
Depende de como me relaciono com ela.
Se ignoro seu funcionamento, isso poderá me causar muitos danos; se, por outro
lado, sei como aproveitá-la, ela pode me oferecer luz, calor etc.
O homem não deve anular nada do que o Cadósh Barúch Hú criou.
Devemos saber colocar cada aspecto da vida em seu devido lugar para atingir a
finalidade do "programa da Criação", que é receber a plenitude para a qual fomos
criados.
A morte de Abel, provocada por seu irmão Caim, ocorre dentro do homem cada vez
que não comprometemos nosso corpo e atos concretos no trabalho espiritual.
Por isso todo o sistema de Torá e Mitsvót atua, por último, de acordo com a relação
que temos com o desejo, o material, o sensorial e o corpóreo.
Ao transformar o aspecto animal e instintivo que há no homem, conseguimos
fabricar o recipiente capaz de conter os graus superiores, ou seja, o grau espiritual
por excelência.
De acordo com o que transmitiu o Sábio Cabalista, o Rabino Iehudá Leib haLevi
Ashlag, o desejo egoísta de receber é o material, pois limita o homem em si
mesmo.
Ao contrário, o desejo de dar, a generosidade, o atuar não apenas de acordo com
as próprias necessidades e interesses, e sim de acordo com as necessidades do
próximo — este é o espiritual.
Por isto, os verdadeiros Sábios são aqueles que exercem a maior influência positiva
sobre os homens.
Todo derramamento de sangue ativa a maldição de Caim, já que o homem, ao
invés de expandir o seu desejo em direção à vida como um todo, limita-se ao plano
material-sensorial, reduzindo assim a realidade em si mesmo.
Ainda assim, em numerosas circunstâncias não é possível evitar o confronto e a
guerra.
Enquanto não aprendemos a resolver os conflitos no nível interior-espiritual, a
maldição de Caim se ativará, criando novas formas e limites que, como válvulas de
escape, permitem ao mundo sobreviver.
A partir disso, aparece uma nova possibilidade de resolver o conflito pelo caminho
espiritual.
A finalidade deste mundo e da Criação em geral é que, lentamente, o homem
chegue a tal grau de rejeição pela violência e pelos conflitos materialistas, que
deseje a paz assim como o sedento deseja a água.
Não nos referimos a uma paz baseada simplesmente no aspecto material, pois
voltaríamos a ativar a maldição de Caim, deixando de fora novamente o aspecto de
Abel que há dentro de nós.
É justamente neste ponto que está o poder de escolha do homem: ou matamos
Abel e ativamos a maldição de Caim, ou fazemos o trabalho espiritual de forma
completa, abrangendo todos os aspectos da realidade e da vida.

Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 15

Antes do Nascimento e Depois da Morte

As Rotações da Alma
A Torá está baseada em revelações interiores.
Receber a Torá é como receber uma forma de vida em equilíbrio com as leis da
Criação, e não simplesmente algo intelectual.
A Torá começa com o livro denominado Gênesis/Bereshit.
Este nome provém de sua palavra inicial, “Bereshit”, que significa: “no princípio” —
“com o princípio” — “a partir do princípio”, etc.
Isso assinala que existe uma finalidade, um plano, e como qualquer plano, é
compreendido à medida que o estudamos e o absorvemos.
"No princípio criou Elokim os céus e a terra..." — o superior e o inferior, o
altruísmo, o desejo de ajudar e de beneficiar e o desejo de receber.

Na linguagem da cabalá, ratsón lehashpía (desejo de dar) e ratsón lecabel (desejo


de receber).
É assim que, desde o princípio, foi criada a possibilidade de escolha, o livre arbítrio,
que forma o espaço espiritual onde atuam os pensamentos e as emoções que dão
forma à vontade e aos desejos do homem.
É nesse espaço espiritual que a Neshamá decide por si mesma o caminho de
retorno à sua origem; esse processo é gerado pelo desejo e pela vontade da
Neshamá de retornar à sua origem e causa, o Infinito/Ein-Sof.
Esse retorno é possível através de dois caminhos: o caminho da consciência,
simbolizado pela Árvore das Vidas do Éden, ou o caminho do sofrimento,
simbolizado pela Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal.
A Árvore das Vidas é a fonte da sabedoria e a Árvore do Bem e do Mal é a fonte da
experiência concreta.
Quando o homem atua de acordo com a Árvore das Vidas, ele adquire a sabedoria
necessária para evitar seu próprio sofrimento e o de seus semelhantes, ou seja, ele
aprende a distinguir entre o bem e o mal, e assim se transforma em "sócio ativo do
programa da Criação".

"Vês aqui hoje te tenho proposto a Vida (Chaím) e o Bem, e a Morte e o


Mal...escolhe, pois, a Vida, para que vivas, tú e a tua semente..."
(Deuteronômio 30:15,19)

Chaím: Vida em hebraico é um plural sem singular.


Nascimento e Morte: são etapas no processo do retorno da Neshamá à sua origem,
o Ein-Sof

"e formou IHVH Elokim o homem do pó da terra e soprou em suas narinas a


neshamá da vida..."
(Gênesis 2:7)

IHVH e Elokim: são transcrição dos nomes que indicam diferentes formas pelas
quais a Luz do Infinito/Ein-Sof se apresenta no mundo.
O nome IHVH designa a sefirá Biná ou Tiféret, dependendo da sua pontuação
(nikud).
O nome Elokim designa a sefirá Guevurá.

Neshamá: é o eterno que existe dentro do homem; é a centelha da Essência que


transcende o mundo material.
Falemos da Neshamá.
O Rabino Ashlag ensina-nos que, ao contrário da opinião de muitos, a Neshamá não
é o pensamento nem a emoção; ela se apresenta através destes e esses são seus
meios de projeção espacial e temporal.
A palavra Neshamá é utilizada como um nome geral na denominação da alma e,
em particular, para designar o terceiro dos cinco estados da alma humana (Nefesh,
Rúach, Neshamá, Chaiá e lechidá)
A Neshamá está relacionada à vontade e ao prazer, e sua origem transcende o
tempo e o espaço.
Tanto nesse mundo quanto nos mundos espirituais, a Neshamá é sempre atraída
para a realidade com a qual se identifica e onde sua vontade e anseio se
encontram.
Após o descida do corpo, a Neshamá relaciona-se com a realidade que desejou e na
qual investiu sua energia.
Se a alma voltar a este mundo, ela voltará exatamente no nível de vontade que
alcançou em seu “guilgul hacodem”/”rotação anterior”.

Guilgulím: têm origem na palavra “galgal”, que significa “roda”.


Os guilgulím são rotações da Neshamá, que atravessam diversos estados, desde o
mais inferior e egoísta do Néfesh, elevando-se em altruísmo através do Rúach, da
Neshamá e da Chaiá, até o estado de Iechidá, que abrange a totalidade da
realidade.
Devemos entender o guilgúl/rotação da alma em sua natureza espiritual, e não
materializar os conceitos.
O livro "Shaar haGuilgulím"/"0 Portão das Rotações", explica que os cinco aspectos
da alma — Néfesh, Rúach, Neshamá, Chaiá e Iechidá — são cinco graus da Luz do
Infinito que o homem alcança gradativamente, conforme a medida de bem que
consegue realizar.
À medida em que o homem aperfeiçoa sua vontade e seus desejos, transformando
seu desejo de receber em desejo de dar, a realidade do homem e sua vida se
aproximarão dos estados superiores da Neshamá.
Quando o homem sente a necessidade e o desejo de seu semelhante assim como o
seu próprio, sua vontade e sua consciência transcendem o estado limitado do
Nefesh e se expande aos níveis mais elevados da Rúach, Neshamá, etc.

"Deves saber que todas as Nefashot (plural de Néfesh) pertencem ao mundo da


Assiá/Ação, todas as Ruchót (plural de rúach) ao mundo da Yetsirá/Formação e
todas as Neshamót (plural de neshamá) ao mundo da Beriá/Criação. a maioria dos
homens não possuem os cinco estratos da alma (nefesh, rúach, neshamá, chaiá e
iechidá), possuem apenas a parte do nefésh que corresponde ao mundo da
Assia/Ação. por sua vez, existem no nefesh vários graus, já que o mundo da ação
divide-se em cinco estratos.
O homem, antes de alcançar seu rúach no mundo da Yetsirá/Formação, deve estar
completo nos cinco estratos do nefesh do mundo da ação..." (Ver Figura 1 abaixo)

Adam/Adão (Designa os aspectos masculino e feminino unificados, o dar e receber


em equilíbrio), o primeiro homem, antes de perder o estado edênico (Relativo ao
jardim do Éden), tinha sua Neshamá próxima ao nível de Iechidá.
A Neshamá de Adão inclui todas as Neshamot que se manifestaram após a perda
do estado edênico.
Quer dizer que os guilgulím/rotações da Neshamá de Adám constituem o processo
da Criação.
No estado edênico, o homem tinha à sua disposição a totalidade da realidade,
porém não tinha consciência nem desejo que o transcendesse, já que não havia a
quem direcionar este desejo.
Quando Eva — o aspecto feminino — se manifestou, surgiu o desafio do desejo (o
fruto proibido); surgiu a possibilidade de conquistar o estado edênico por sua
própria vontade e consciência.
Adam fracassa no seu contato com o desejo, gerando assim todo o ciclo dos
guilgulím.
Aqueles guilgulím, ciclos de rotação da Neshamá, terminarão quando o homem
aplicar as Mitsvót da forma correta, através do estudo e da compreensão da Torá,
com a consciência de transformar seu ratsón lecabel/egoísmo, em ratsón lehashpía/
altruísmo.
Então a Neshamá adquirirá, por sua própria vontade e desejo, o grau de Iechidá,
unificando-se com a Luz Infinita, tornando-se Uma com o Primeiro, o Cadósh
Barúch Hú.
(Ver Figura 2 abaixo)
Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 16

O Encadeamento dos Mundos

A Articulação dos Estados Espirituais


O objetivo da Luz Infinita/Or Ein-Sof é beneficiar e dar plenitude a tudo o que foi
criado.
Para pôr em prática esses objetivos, deve-se atravessar, obrigatoriamente, várias
etapas:
1) Ein-Sof — Estado de Infinito no qual o desejo não limita a plenitude da Luz,
uma vez que, ao não haver limite nem medida, tampouco há consciência do desejo
como ente separado da Luz.
Nesse estado, a Luz e o desejo de receber a Luz são Um só.

2) Tsimtsúm — Contração do desejo de receber com o fim de criar um espaço


vazio de Luz, onde a Criação se desenvolverá.
O ―espaço vazio‖/‖chalal panúi‖ é necessário, caso contrário a Luz Infinita
"preencheria toda a realidade" (Ets Chaím).
Se fosse assim, não haveria nenhum espaço onde a vontade pudesse manifestar-se
de forma independente, bem ou mal, anulando dessa forma, o livre arbítrio
outorgado ao homem. Além disso, sem esse espaço vazio não existiria a Criação, e
continuaria sendo tudo Infinito, sem possibilidade de conscientização por parte do
desejo da Neshamá.

3) Cav — Linha de Luz que provém do Infinito e chega ao espaço vazio. A Luz
Infinita penetra lenta e gradativamente no espaço vazio, outorgando ao desejo da
alma a possibilidade de assimilá-la.
Dessa maneira, o desejo da Neshamá pode discernir e optar entre a Luz do Infinito
e a escuridão do espaço vazio.
Esta consciência é a que faz com que a vontade da Neshamá amadureça
espiritualmente, e deseje a Luz por si mesma.
No estado de Infinito, ao contrário, a plenitude é recebida sem consciência, sem
vontade nem desejo.
Este processo é similar a qualquer processo de aprendizagem. Se o Mestre não
contrai (tsimtsúm) sua sabedoria e a ensina gradativamente, não somente o
discípulo não conseguirá assimilar nada, como também lhe faltarão desejo e
vontade em relação a essa sabedoria, por desconhecimento de seus objetivos.
Portanto, se a plenitude da Luz do Infinito não se contrai, ocultando-se do desejo
da alma (tsimtsúm) e logo expandindo-se através da linha da Luz/Cav, a Criação
não tem possibilidade de existir.

Resumindo as três etapas gerais:


1) O estado de Infinito/Ein-Sof.
2) A contração da Luz do Infinito/tsimtsúm.
3) A linha da Luz que se expande a partir do Infinito até o espaço vazio onde se
desenvolverá a Criação - Cav (―Luz direta‖ – ―Or iashar‖).

Até aqui tudo ocorre natural e automaticamente, em todos os âmbitos da Criação.


Todos os processos da natureza e do universo obedecem inexoravelmente estas
três etapas e leis gerais.
Sua influência é inevitável, sendo impossível escapar dela, pois a força do processo
criativo através do ―cav‖ da ―Luz direta‖/‖Or iashar‖ é a força mais poderosa da
Criação.
Este processo impulsiona a Criação, a partir da unidade primária do Infinito, à
multiplicidade do mundo, sendo seu maior exponente: a força do desejo, que se
expande por todos os âmbitos da vida.
Só a aplicação da vontade, em harmonia com as leis da Criação, pode fazer o
desejo retornar, conscientemente, a seu estado original no Infinito/Ein-Sof,
elevando consigo toda a realidade.

Se retrocedermos no tempo, observamos que tudo parte de uma unidade original,


que logo vai se subdividindo numa multiplicidade de componentes.
Olhando para atrás no tempo, observamos mais e mais uma menor quantidade de
coisas.
Por outro lado, avançando no tempo, as quantidades se multiplicam
aceleradamente.
Após a invenção do primeiro automóvel, surgiu uma infinidade de modelos e
fábricas.
Esse é um simples exemplo que ilustra como a matéria invade o mundo de forma
cada vez mais dominante, até o ponto de nos esquecermos de onde tudo provém e
qual é a origem e o objetivo de toda esta multiplicidade.
A partir de Adám, surgem Adám e Chava, Caim e Abel etc., até chegar em nosso
mundo atual.
O processo que impulsiona a unidade primária à multiplicidade do mundo material é
produzido pela energia mais poderosa da Criação: o desejo da alma de receber a
plenitude Infinita. Enquanto não orientemos nossas vidas em direção à
reconstrução da Vontade Original em sua unidade originária, anulando nosso
egoísmo, o materialismo reinará no mundo.
Quando não encontrarmos nenhuma satisfação em nosso egoísmo e quando nos
conscientizarmos de nossa verdadeira natureza, transformaremos nosso desejo
insaciável de receber em vontade de dar e beneficiar o próximo. Só então
estaremos preparados para realmente receber a Tora e colocar em prática o quarto
passo desse processo que já não é mais automático, e sim exige de nós o mais
interior e profundo de nosso ser.

4) Or Chozer - Luz que retorna: é a conscientização da vontade e do desejo da


Neshamá de retornar à sua origem e à origem de tudo o que foi criado, o
Infinito/Ein-Sof
É o produto da aplicação consciente das Mitsvót, através do estudo de leis objetivas
da Criação codificadas na Torá.
Disso se deduz que, cada vez que o homem sente um desejo, ele não se satisfará
de forma instintiva. Ao contrário, ao nos conscientizarmos do que nossos desejos
nos -"pedem", e através das leis codificadas na Torá, obtemos a vontade e
consciência para nos relacionarmos harmoniosamente em todos os âmbitos do
mundo material.
Na cabala, o homem desenvolve-se de acordo com ações concretas (Mitsvót), e não
de acordo com sentimentos e/ou pensamentos passageiros (ratsón lecabel).
Quando desejo algo do mundo, devo saber como me aproximar dele.
Se me aproximo de forma automática, sem pensar nas consequências, será
meramente um desejo egoísta de receber, que a curto ou longo prazo terminará
em sofrimento próprio e de nossos semelhantes.
Por outro lado, se me relaciono com o mundo respeitando a ecologia espiritual
codificada na Tora, significa que não apenas penso e atuo segundo meus desejos,
como também contemplo os outros seres e à totalidade da vida.
O homem deve expandir a todos os aspectos da realidade sua vontade e seu desejo
de dar. Desta forma, ampliará sua consciência e se transformará em um "sócio
ativo do programa da Criação", cujo plano consiste em beneficiar todas as criaturas
de forma infinita.
Existem quatro índoles gerais do desejo de receber, que nos indicam quatro formas
de recepção da Luz Infinita.
Elas constituem quatro graus de manifestação do desejo de receber em cada um
dos mundos: Atsilút, Beriá, Ietsirá, Assiá.
Estas índoles gerais manifestam-se, por sua vez, em cada um dos quatro mundos
de diferentes formas, sendo sua denominação no estrato material do olam Assiá
/mundo da Ação: mineral, vegetal, animal e humano-falante.
A quarta índole do ratsón lecabel, o homem, é o propósito central da Criação.
Esta índole não se manifesta de uma só vez, e sim vai se ativando, desenvolvendo-
se e gerando-se nas três índoles que a antecedem.
Vai surgindo a partir delas, gradativamente, até completar sua forma na quarta
índole.
O relato da Criação no livro de Bereshit/Gênesis nos indica que o homem é a última
criatura a se manifestar no processo criativo.
Toda a Criação está a serviço do homem, e nele está toda a Criação.
Como está escrito no livro do Zôhar: "O que está acima é igual ao que está abaixo,
e o homem é a síntese de todas as coisas".
Nos desenvolvimentos espirituais, assim como no âmbito material, o último a se
manifestar é o objetivo, sendo este, paradoxalmente, o primeiro que surge no
pensamento.
O objetivo do arquiteto é construir uma casa.
A primeira coisa que faz é um poço, depois gradativamente tudo vai tomando sua
verdadeira forma, até que finalmente vemos a casa.

As quatro índoles do ratsón lecabel/desejo de receber no estrato material do Olam


Assiá/mundo da Ação de acordo com os ensinamentos do Rabino Ashlag são:

1 Reino mineral: primeira índole do ratsón lecabel. É o princípio da revelação do


ratsón lecabel neste mundo material. Nesta índole há uma potencialidade de
movimento mínima e massiva, uma vez que não é percebido o movimento
individual. O grau de ratsón lecabel no reino mineral é ínfimo, pois controla a
totalidade de uma só vez, como planetas, astros etc., e não é percebido seu
controle sobre as particulariedades, pedras, montanhas, etc.

2 Reino vegetal: É a segunda índole do ratsón lecabel, através da qual manifesta-se


o domínio de todos os detalhes de si mesmo, uma vez que cada indivíduo possui
movimento próprio em direção à Luz. Também distingue-se no reino vegetal a
capacidade de absorver alimento e expelir resíduos.
Diferentemente do reino mineral, no reino vegetal cada ente pode atuar
individualmente.

3 Reino animal: A terceira índole do ratsón lecabel é imensamente superior, uma


vez que gera em cada indivíduo um sentido independente de si.
No reino animal, cada indivíduo pode também se relacionar com seu semelhante,
mas sua consciência a respeito do sofrimento ou da alegria do outro não possui um
discernimento prévio. Toda reação frente ao outro é meramente instintiva e está
baseada no que recebe ou pode deixar de receber.

4 Reino humano-falante: O homem é a medida final e completa do ratsón lecabel já


que tem sentido completo do outro. O homem possui um sentido tão desenvolvido
de seu semelhante que pode até chegar a sentir que lhe falta tudo o que aquele
tem, até encher-se de inveja por viver a realidade de seu próximo.
Quando tem cem, quer duzentos, e assim sua cobiça pode se expandir no mundo
inteiro.
A diferença do desejo de receber no reino humano e no reino animal é tanta —
explica-nos o Rabino Ashlag — que apenas um ser humano pode ter um desejo de
receber maior do que aquele existente no reino animal.
A potencialidade do homem é tão poderosa que, quando transforma seu desejo de
receber em desejo de dar, pode beneficiar toda a humanidade. (Ver Figura 1
abaixo)
Todos os graus da vontade de receber coexistem dentro do homem, e até que ele
consiga superá-los, estes o escravizam e impedem que todos os seus esforços
tenham frutos verdadeiros.
Como disse o Rei Salomão, o mais Sábio dos homens:
"Os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos de ouvir. O que foi, isso é o que há
de ser, e o que se fez, isso se tornará a fazer; de modo que nada há de novo
debaixo do sol."
(Eclesiastes 1:8-9)

O conceito debaixo do sol refere-se ao desejo de receber egoísta/ratsón lecabel.


Por outro lado, sobre o sol está o pleno, o desejo de dar e beneficiar/ratsón
lehashpía, que é infinito como a Luz Infinita, que dá ilimitadamente.

O trabalho espiritual consiste em canalizar todos os graus inferiores da vontade e


do desejo em direção ao bem coletivo e à identificação com os graus superiores da
vontade e da consciência, transformando assim o desejo humano em Vontade
Espiritual-Superior.
A Vontade Espiritual inclui todos os graus anteriores da vontade e do desejo em
equilíbrio.
A Vontade Espiritual aproxima o homem da Luz Infinita, em busca do beneficio para
toda a Criação.
Todas as Mitsvót estão destinadas a purificar a vontade do homem, até uni-la com
a Luz; desta forma, todos os desejos se fundem em Uma e Única Vontade.

"Naquele dia Ele (sua Luz/Or) e Seu Nome (a vontade e desejo incluídos na Luz/klí)
serão Um."
(Zacarías 14: 9)

As 4 etapas gerais — Infinito/Ein-Sof, contração da Luz/ tsimtsúm, linha da Luz/


cav e Luz que retorna/Or Chozer — nos proporcionam os elementos gerais para
entender e articular os diversos estados espirituais.
Depois de produzida a contração da Luz, o espaço vazio resultante atrai a linha da
Luz em sua própria direção, pois deseja que esta o preencha novamente, como no
estado de Infinito.
Mas como ainda não está em condições de receber tamanha abundância de Luz,
causa o ―rompimento dos recipientes de contenção da Luz‖/‖shevirát hakelim‖.
Isto acontece porque ainda não há vontade e nem desejo consolidados em direção
à plenitude da Luz e, portanto, a vontade não resiste e termina se rompendo.
Logo, a Luz voltará, mesmo que seja mais tênue, de modo que a vontade e o
desejo que imperam nesse estado possam recebê-la gradativamente.

Exemplo: quando o mestre transmite sua sabedoria, o discípulo deve discernir


entre a vontade do mestre e seu próprio desejo. O Mestre deve ensinar de maneira
que o discípulo possa entender. Se o discípulo não fizer um tsimtsúm de seus
desejos e idéias a respeito do que o mestre quer transmitir para ele, haverá um
choque entre a vontade do mestre e a vontade do discípulo. Mas, sendo que o
conhecimento do mestre será mais amplo do que o conhecimento do discípulo, o
discípulo sofrerá uma quebra em suas idéias à respeito do que ele supõe que o
mestre quer lhe ensinar (shevirát hakelim). Posteriormente, o discípulo, auxiliado
pelo mestre, reconstruirá novamente sua vontade, mas desta vez o fará com base
na experiência adquirida, o que lhe proporcionará uma visão real sobre a qual
baseará sua aprendizagem.

Este processo é análogo ao encontro entre a Luz e o desejo.


O desejo deverá, no final unir-se à Luz.
Até chegar este momento, haverá um longo processo de ações e reações na relação
entre desejo e Luz, um processo que culminará, finalmente, com o tão ansiado
equilíbrio.
A Criação é o espaço de encontro entre a Luz e o desejo, e encontrará sua
resolução apenas quando o ratsón lecabell/vontade de receber transformar-se em
ratsón lehashpía/vontade de dar. E então a Criação chegará a seu fim, reintegrando
o desejo à Luz, em todos os seus estratos e índoles, ―guemar haticún‖/‖fim da
correção‖ da vontade e desejo da Neshamá, o fim dos tempos.

A vontade e o desejo deverão reconstruir, conscientemente, o caminho que


"percorreram" do Infinito até o plano material, durante o processo de reintegração
ao seu estado original.
Neste itinerário, percebemos vários estados ou etapas espirituais que a Neshamá
atravessa a partir de sua raiz no Infinito, quando vai, então, se conscientizando de
sua identidade, função e lugar na vida.

Itinerário espiritual da vontade da alma


1) O Infinito/Ein-Sof
2) Contração do desejo de receber a Luz do Infinito/ tsimtsúm alef
3) Espaço vazio de Luz/chalal panúi
4) Aparição do filtro/massách, que filtra entre os graus de Luz que a vontade e o
desejo podem receber.
5) Linha da Luz atraída pelo espaço vazio/cav
6) Luz que retorna/Or Chozer produzida pelo choque da Luz do cav (Luz direta/Or
iashar) com o massách/discernimento.
7) Segunda Contração/tsimtsúm bet, que cria novos espaços de manifestação da
vontade e da consciência, denominados na linguagem da Cabalá: Beriá, Ietsirá e
Assiá.
8) Rompimento dos recipientes de contenção de Luz/ shevirát hakelim.
A vontade e o desejo da alma se quebram como conseqüência da abundância da
Luz. (Ver Figura 2 abaixo)

A vontade da Neshamá deve alcançar o grau de receber com o propósito de dar


para começar seu trabalho espiritual. Enquanto isso, a Neshamá deverá atravessar,
conscientemente, todos os estados de sua manifestação, seu itinerário espiritual,
até encontrar-se apta para poder transformar o desejo de receber em desejo de
dar.
Isto significa que o desejo e a vontade da Neshamá devem tomar consciência de
todos os estados da realidade para poder aplicá-los no trabalho da Torá e das
Mitsvót.
Quando despertamos, a Neshamá retorna novamente ao corpo, devolvendo-lhe a
consciência.
A Neshamá é a linha de Luz (cav) que contém todos os graus da Luz: Néfesh,
Rúach, Neshamá, Chaiá e Iechidá, provenientes do Infinito, que nos outorga
consciência, vontade e desejos.
A Luz está continuamente presente em nossas vidas mas, às vezes, não lhe damos
a oportunidade de se manifestar em sua plenitude.
A luz da vela depende da quantidade e da qualidade do ar para poder iluminar com
maior ou menor intensidade.
O ar é denominado, em hebraico, Rúach, exatamente como o segundo nível da
alma. Rúach relaciona-se com a emoção, que pode ser positiva (ratsón lehashpía)
ou negativa (ratsón lecabel).
O ratsón lehashpía oferece ar (Rúach) para a chama, nossa Neshamá, para que
brilhe mais intensamente.
De forma oposta, o ratsón lecabel impede a fluência da Luz, que fica restrita pelo
egoísmo, e que limita a nós mesmos.
O ratsón lecabel contrai a Luz ao mínimo indispensável, sendo suficiente apenas
para manifestar o Néfesh.
O estado de chalal panúi/espaço vazio e o de shevirát hakelim/ruptura dos
recipientes são dois obstáculos muito poderosos, que a vontade do homem deve
superar para ascender ao estado da Luz que retorna/Or Chozer e aos graus
superiores da Luz.

Rompimento dos recipientes/shevirát hakelím


Neste estado, a vontade encontra-se dividida, pois não pôde suportar a intensidade
da Luz. Quando a vontade não consegue indicar o rumo correto ao desejo (isto é,
receber para partilhar), e sim recebe por egoísmo, impede o fluído da Luz, e a
vontade se rompe.
Devemos saber discernir entre o real e o imaginário para não nos danificarmos e
nem danificar nossos semelhantes.
Cada aspecto da realidade tem sua exata função, e esse conhecimento proporciona-
nos a sensibilidade necessária para nos relacionar de forma harmônica com a vida.
Para entender com maior clareza o conceito de shevirát hakelim, eis um exemplo:

Um homem carente de estudos e preparação herda uma grande fortuna.


Toda essa abundância material domina-o de tal maneira, que pode chegar a se
autodestruir e a destruir os outros, se não souber como administrar toda essa
fortuna (shevirát hakelim).
No caso inverso, uma pessoa tem em suas mãos toda essa energia, através da qual
decide criar fontes de trabalho para muitas famílias, ajudar a estudiosos a
desenvolver e difundir suas idéias, etc.
Em outras palavras: possui os instrumentos para dar à mencionada energia o rumo
correto, ou seja, receber para partilhar.
Quem se vê identificado com o estado de shevirát hakelím, deverá esforçar-se para
unificar sua vontade e encontrar a sabedoria que aproxime sua vontade e desejo da
linha da Luz (cav) que provém do Infinito/Ein-Sof.
Enquanto a vontade estiver fracionada, o homem vê a si mesmo paralizado face à
vida e ao trabalho espiritual, pois não percebe a realidade dividida sem perceber a
unidade que existe sobre a aparente multiplicidade.
Mas, como em qualquer quebra-cabeças, deverá colocar as "peças" em seus exatos
lugares.

Espaço vazio de Luz/Chalal panúi


Este estado constitui o obstáculo mais perigoso para alma, e devemos evitá-lo de
todos os modos. Se cairmos neste estado, deveremos usar todas as nossas forças
para dele sair.
A força do chalal panúi é poderosíssima, pois é a ausência de Luz, o vazio, e assim
como o Infinito preenche toda a realidade com sua Luz, o chalal panúi é todo
escuridão.
Tanto no estado de Infinito/Ein-Sof quanto no estado de chalal panúi/espaço vazio,
não há possibilidade de trabalho espiritual.
No Ein-Sof não há parâmetro nem medida, pois tudo é Luz e não há o que agregar
à plenitude e perfeição lá reinantes.
Por outro lado, no chalal panúi tudo é vazio, sem nenhum parâmetro, nem medida
nem relação, e o que aparentemente é movimento, não é mais que uma ilusão,
porque o desejo e a vontade não sofrem nenhuma mudança nem aprendizagem.
Somente o cav/linha de Luz Infinita, que penetra no chalal panúi, pode nos oferecer
Luz logo em seguida ao tsimtsúm, e assim ter um parâmetro referencial de como
sair da monotonia espiritual e da dependência do desejo de receber egoísta/ ratsón
lecabel, imperante no chalal panúi.
Assim, do tsímtsúm só será possível receber a plenitude da Luz aplicando-se a
vontade e o desejo de dar. Ou seja, discernindo (filtrando através do massách)
onde e como aplicar nossa vontade e nossos desejos.
Só é possível discernir com base em parâmetros reais, apoiados nas leis objetivas
que regem os diferentes estados da realidade.
A Torá é o cav que consegue nos aproximar gradativamente dos estados luminosos,
deixando para trás a escuridão do chalal panúi.
Não obstante, devemos saber como realizar a leitura correta dos códigos que a
Torá nos transmite.
"O encadeamento dos mundos é o encadeamento das almas" — ensina-nos o Sábio
Rabino Ashlag.
A Luz da Neshamã é uma parte do Criador, já que cada aspecto da realidade é
formado por graus desta Luz, por Neshamót que formam os degraus que nos
conduzem ao Infinito/Ein-Sof.
Isto nos indica que devemos ser guiados por um verdadeiro mestre e iniciado, para
poder encontrar o caminho correto que ative nossa Neshamá.
Através dele, conseguimos decifrar a linguagem da Torá em sua forma original e
nos unir a corrente de almas e mundos, porque quem faz parte do fluxo de Luz, ele
mesmo é Luz.

Estes dois obstáculos — o rompimento dos recipientes/ shevirát hakelim e o espaço


vazio da Luz/chalal panúi — aparecem constantemente em nossas vidas.
Somente o discernimento/massách no cav/linha de Luz proveniente do Infinito pode
oferecer-nos a claridade necessária para "montar o quebra-cabeças" provocado na
raz da shevirát hakelim.
A partir disso, o cav poderá iluminar o caminho de retorno à plenitude Infinita,
conseguindo, dessa forma, sair da escuridão espiritual do chalal panúi.
O cav/linha de Luz está codificado na Tora, transmitida escrita e oralmente com o
fim de que a apliquemos.
O Or iashar/Luz direta — a manifestação de todos os aspectos da realidade
(olamót/mundos) — e o Or Choze/lLuz que retorna (Orót/graus da alma) estão
contidos e só se manifestam através do cav proveniente do Infinito (Ver Figura 3
abaixo).

O estudo profundo da Torá, através da cabalá, nos proporciona a sabedoria para


poder aplicar as Mitsvót com consciência, e alcançar a emuná/treinamento da
entrega para superar as diferentes formas que tanto o chalal panúi quanto o
shevirát hakelnn adotam em nossas vidas.
O Or circula constantemente pelo cav.
Nosso trabalho espiritual consiste em canalizar essa energia, transformando-a em
benefício coletivo (ratsón lehashpía).
Desta forma, revestem-se gradativamente os 5 graus do Or — Néfesh, Rúach,
Neshamá, Chaiá e Iechidá — nos cinco mundos: Adám HaCadmon, Atsllút, Beriá,
Ietsirá e Assiá (Ver Figura 4 abaixo).
Figura 3
Figura 4

Continua
As 3 Dimensões da Kabalah –Parte 17

Os Estados da Alma

Princípios Gerais da Cabalá para o Trabalho Espiritual nas Leis da Torá e as


Mitsvot
1) A Vontade e o Desejo da Neshamá (alma) alcançam o estado de perfeição que
não possuem antes da Criação através do trabalho sobre a Torá e as Mitsvót.
A partir disso, a Neshamá torna-se apta a receber o bem e a plenitude que estão
previstos de acordo com o "programa da Criação", o que a conduz para a fusão
com Ele.
No estado de Infinito, a plenitude da Luz e o desejo de receber a Luz coexistem em
equilíbrio, pois a plenitude da Luz não permite que o desejo da Neshamá se
manifeste e nem que se revele como tal.
Assim como a luz do Sol torna a luz de uma vela imperceptível, Sua Luz preenche o
desejo sem deixar espaço para que ele tenha necessidade de se manifestar.
A Criação torna possíveis as condições necessárias para que a vontade da alma
manifeste o desejo de receber a plenitude da Luz, por sua própria consciência e
necessidade.
Desta forma, a alma consegue unificar-se, gradativamente, à consciência e à
vontade própria, através da Luz Infinita, pois no terreno espiritual, assim como no
amor, não há imposições.
Qualquer realidade que chegue à alma por imposição, não é espiritual e sim
material-egoísta, e está destinada a desaparecer com o tempo.

2) As 5 denominações gerais do Or/Luz (Nefesh, Rúach, Neshamá, Chaiá e Iechidá)


formam os graus através dos quais o klí/vontade da alma recebe a realidade.
A Luz ativa o desejo e a vontade da alma refinando-os gradualmente até unificá-los
com a forma original, o Infinito/Ein-Sof (Ver Diagrama 3 abaixo).

No instante em que é ativado o tsimtsúm — contração do desejo de receber a Luz


— e o homem começa seu trabalho espiritual (Ver Diagramas 3, 4 e 5), a Luz
adquire duas índoles gerais, denominadas:
a) Luz envolvente — Or Makif
b) Luz interior — Or Pnimí
A Luz envolvente é composta pelos graus da Realidade Infinita e Vontade Superior
que, finalmente, vão ocupar todos os aspectos da realidade e da vida.
A Luz interior é formada pelos graus da Luz Infinita que, a medida que o homem
aperfeiçoa seu desejo, aproximam-se da vontade e do desejo conscientes da alma.
As modificações que ocorrem durante a vida, tanto à nível pessoal quanto coletivo,
são produzidas como consequência da pressão constante provocada pela Luz
envolvente sobre o massach/discernimento (Ver Diagrama 4).
Isso acontece já que a Luz Infinita, obedecendo a sua natureza, quer preencher a
realidade assim como faz no estado de Ein-Sof, anterior ao tsimtsúm.
A pressão exercida pela Luz envolvente nos obriga a enfrentar novas situações,
depurando gradativamente o nosso discernimento (massach).
O pensamento e a emoção, dirigidos pela vontade, discerne entre os graus da Luz
que o massách aceita ou rejeita. O massách aceita os graus de Luz que o Klí está
apto a receber, ou seja, aquilo que podemos receber com o propósito de dar.
Quando o klí não está apto para receber determinados graus de Luz, isso provoca
uma rejeição por parte do massách, que os reintegra ao estado de Luz envolvente.
A Luz rejeitada deixa uma impressão em nosso discernimento e continua exercendo
pressão sobre o massách, depurando-o até que o klí esteja em condições de
recebê-la.

Todas as modificações e movimentos que nos referimos ocorrem do ponto de vista


do klí — o desejo — ratsón lecabel da Neshamá.
Por outro lado, a Luz da Neshamá não é absolutamente afetada, como ensina o
Rabino Ashlag:

"...Todas as modificações mencionadas na área da Sabedoria da Cabalá não


indicam, de modo algum, a ausência de um estado quando passa a receber outra
forma. Esta modificação aparente é somente uma forma agregada à anterior,
enquanto que a forma original não muda nem é afetada, nem movida de seu
centro..." (Talmud Esser haSefirót, início de Or Pnimí)

Quando a Luz envolvente penetrar completamente dentro do klí, ambas as índoles


da Luz se unificarão, culminando assim o processo criativo.
Enquanto o homem deseja determinada sabedoria, o conhecimento que ele quer
adquirir é comparado com a Luz envolvente/Or makíf, pois é exterior ao homem.
Na medida em que o homem aperfeiçoa sua compreensão à respeito desta
sabedoria, esta "entrará" gradativamente em sua compreensão, tornando-se
interior - Or pnimí.
O desejo do homem em relação a este conhecimento cria uma necessidade que
ativa a sua vontade. Assim o homem se verá obrigado a aperfeiçoar sua mente, seu
discernimento (massách), para atingir finalmente seu ansiado objeto.
Ao atingi-lo, esta sabedoria se faz interior e desaparecem os limites, pois o homem
e a sabedoria se unificam.
A partir da perspectiva do homem, este processo ocorrerá inexoravelmente da
seguinte forma:

a) pelo caminho da consciência, o conhecimento das leis da vida, através da


aplicação consciente da Torá e das Mitsvót, a Árvore das Vidas, ou

b) pelo caminho do sofrimento; a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal.

Ao entrar faminto em um campo cheio de cogumelos, como saberei quais são


comestíveis e quais são venenosos?
O caminho da consciência consiste na consulta de um livro cujas páginas guardam
a sabedoria e a experiência de muitas gerações, que nos transmitem os sinais
necessários para discernir entre os cogumelos comestíveis e os venenosos.
Pelo contrário, se começo a experimentar sem ter um conhecimento prévio,
correrei o risco de "intoxicar-me".

3) Na Luz não há nenhuma mudança; a mudança é produzida no receptor, de


acordo com a forma pela qual recebe a realidade. A realidade espiritual é
permanente e constante e não está afetada pela forma sob a qual é recebida.
Cada um observa a vida, a realidade, de acordo com seu estado de ânimo, seus
pensamentos e, por último, com seus desejos e objetivos.
Se o homem deseja saber como é a realidade, deve sobrepor-se aos aspectos
temporais e espaciais, superando desejos, emoções e pensamentos passageiros.
Apenas então poderá observar a realidade além de sua perspectiva pessoal e
limitada.
De cima da montanha vê-se a imagem completa com todo o seu esplendor.
Por outro lado, enquanto não tivermos chegado lá em cima, nossa visão será
parcial e restrita aos limites impomos a nós mesmos.
4) Enquanto a Neshamá não entra nos 3 mundos inferiores (Beriá, Ietsirá e Assiá)
— ou seja, nos domínios do tempo e do espaço — ela permanece na essência da
Luz.

5) Devemos distingüir em cada grau — Neshamá, Sefirá etc.— duas índoles:

a) O que está em potencial


O que está em potêncial é Or e Ratsón lehashpíal/desejo de dar, que nunca muda.

b) O que se manifesta
O que se manifesta, ratsón lecabel/desejo de receber, é onde ocorrem as
modificações, aperfeiçoando-se a medida que se aproxima da Luz/Or, ou seja, o
ratsón lecabel vai se transformando gradativamente em ratsón lehashpía.

6) o objetivo do trabalho sobre a Torá e as Mitsvót não é anular a recepção


(cabalá), pois esta é a essência da vida e da Criação.
O objetivo é depurar a forma de recepção, o que significa que receberá, mas não
por causa do desejo egoísta, ratsón lecabel, e sim com o fim de beneficiar o
próximo, ratsón lehashpía.
Desta maneira, cumpriremos a mitsvá mais importante da Torá que é:
"Amarás a teu próximo como a ti mesmo".

Alguém vem à nossa casa, abre a geladeira e começa a comer sem que lhe
tenhamos oferecido nada, sujando e desordenando tudo.
Ao final, vai embora sem se despedir nem agradecer.
Seguramente ficaremos com a razoável sensação de termos sido menosprezados, e
nosso primeiro pensamento será que se aproveitaram de nós.
Provavelmente nos zangaremos com nosso "hóspede".
Por outro lado, se nosso hóspede não nos pede nada e simplesmente conversamos,
e ele nos faz companhia, depois de alguns minutos nos sentiremos incômodos de
não ter oferecido nada a ele.
Surgirá em nós a necessidade de oferecer bebida e alimento, e nos sentiremos
muito contentes e satisfeitos se ele aceitar nosso convite.
Neste simples exemplo, observamos como o mesmo desejo de comer, que existe
em nosso hóspede, pode se transformar em um mero ato egoísta ou, pelo
contrário, em um ato no qual os outros participem, recebendo também gratificação.

Nos dois casos, nosso hóspede deseja comer, sendo a fome seu desejo, a causa
que não se pode anular.
No primeiro caso, seu desejo é um fim em si mesmo, sem ultrapassar os limites de
sua própria pessoa.
Em compensação, no segundo caso, seu desejo transforma-se em gratificação para
seu anfitrião, que sente prazer em oferecer sua hospitalidade.
O importante não é o que temos nem quais são nossos desejos, já que basicamente
todos os homens desejam plenitude.
A importância está no que fazemos com nosso desejo: um mero ato egoísta ou, ao
contrário, uma ação que envolva nossos semelhantes e, a partir da qual, todos,
definitivamente, receberemos.

7) Existem três estados da Neshamá:


a) no Infinito/Ein-Sof
b) nos domínios do tempo e do espaço imersos neste mundo, ratsón lecabel
c) depois de finalizada a Criação (guemar haticún — finalização da correção do
desejo e da vontade), o fim dos tempos.

Se estudamos que no Or não há nenhuma modificação, então como podemos dizer


que existem três estados da Neshamá, se a Neshamá é Luz e parte d'Ele?
Para compreender isto, devemos recordar que em todos os aspectos existem Or e
Klí (instrumento — vontade de recepção da Luz), ou seja, o que se manifesta e o
que está em potencial, ratsón lecabel e ratsón lehashpía.
Os três estados da Neshamá respondem a causas e consequências, nos quais o
estado anterior gera o seguinte a partir do ponto de vista do klí — desejo e vontade
da Neshamá, e este processo não afeta de modo algum, a Luz da Neshamá.
Todo o desenvolvimento da Criação, que abrange as causas e consequências,
elevações e declínios, está dirigido ao klí da Neshamá, ou seja, ao desejo — ratsón
lecabel.

A Torá e as Mitsvót não são uma filosofia, nem um sistema de coordenadas


estáticas, e sim dirigem-se pura e exclusivamente ao homem, para que este
transforme a sua vontade egoísta em vontade de dar e beneficiar o próximo.

Quando os conceitos paz e harmonia adquirem vida em nosso complexo mundo?


Só quando o homem inclui em seu desejo pessoal todos os seres e âmbitos da vida,
harmoniza-os com sua identidade, fonte e origem de tudo o que foi criado: o
Cadósh Barúch Hú.

Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte 18

Quatro Práticas Ancestrais

O Criador Infinito confere vida aos mundos através de sua Luz Infinita, projetando-
a a partir de Si mesmo.
Ele envia e emana Sua Luz para revelá-la neste mundo material.
Nós fazemos Mitsvót (conexões) para manifestar a Luz em nossas vidas.
As Mitsvót são os atos concretos, parâmetros que liberam a alma da dependência
da materialidade, do desejo egoísta/ratsón lecabel e, portanto, dos
guilgulím/rotações inferiores da alma.
Nos domínios do mundo material, esses parâmetros são imprescindíveis para nós,
pois nos ajudam a ultrapassar as limitações temporais e espaciais impostas pelo
ratsón lecabel/desejo egoísta.
A cabalá define tais parâmetros de forma geral e logo nos transmite as
particulariedades e a forma prática de sua aplicação através das Mitsvót.
As Mitsvót dividem-se da seguinte forma:
248 expressam a expansão da vontade e desejo, e
365 expressam sua contenção.
O conjunto das Mitsvót expansivas e das Mitsvót de contenção (248 + 365 = 613)
sintetizam a relação do homem com todos os graus e aspectos da manifestação do
desejo.
De acordo com o Talmud, o número 248 refere-se ao conjunto de órgãos e
articulações do corpo humano (aspecto espacial), e 365 é o número de dias do ano
(aspecto temporal).
As Mitsvót dão forma harmônica aos nossos desejos, de modo que cria uma
ecologia espiritual em todos os âmbitos da vida.
Cada vez que desejamos algo, devemos conhecer os parâmetros que nos ajudam a
avaliar se nosso desejo afeta, positiva ou negativamente, nosso semelhante.
Quando atuamos em equilíbrio com as leis espirituais, beneficiamos todas as
criaturas por igual.
Por outro lado, quando nossos desejos colocam-se à frente dos desejos de nossos
semelhantes, surgem as guerras, a pobreza e o sofrimento.
A educação cabalista, baseada na aplicação consciente das Mitsvót, modela nosso
desejo, porque as Mitsvót não foram criadas pelo raciocínio ou pela especulação dos
homens.
Elas são leis objetivas que regem toda a Criação.
A lei da gravidade, por exemplo, supera nossa vontade e estados de ânimo
momentâneos.
Assim mesmo, as leis que regem os diversos estratos da vida são objetivas e não
dependem de modas passageiras.
Tudo que foi criado, seja no terreno espiritual ou material, se manifesta através de
três aspectos gerais denominados: Olam, Shaná, Nefesh (Mundo, Ano e Alma).
Os diversos aspectos da realidade são ativados através de três coordenadas:
Espaço (Olam), Tempo (Shaná) e Alma (Nefesh), sendo Nefesh o que gera a
atividade, Olam o que gera os limites espaciais onde produz-se esta atividade, e
Shaná o que impõe o ritmo no qual é produzida esta atividade.
[O termo Nefesh, nesse caso como acepção de qualquer um dos cinco níveis da
alma: Nefesh, Rúach, Neshamá, Chaiá e Iechidá]
O Néfesh é formado pelos diversos graus de Or/Luz que se manifestam através do
Cav/linha de Luz que provém do Ein-Sof: Néfesh, Rúach, Neshamá, Chaiá e
Iechidá.
Olam/Mundo (Planos): constitui os diferentes estratos onde a alma se manifesta:
Adám Cadmon, Atsilút, Briá, Ietsirá e Assiá.
Shaná: é o processo de revelação dos diferentes aspectos da realidade e da vida.
O tempo espiritual funciona de acordo com as causas e conseqüências, sendo
"depois" o efeito resultante da energia produzida pelo estado que a precedeu.
Esses três aspectos se manifestam através de:
1) o Povo de Israel
2) a Terra de Israel
3) a Torá de Israel

As Mitsvót ramificam-se em todas as manifestações destes três aspectos, através


das diversas festividades de Israel: Pêssach, Shavuót, Sucót etc.
Isto se desenvolve por intermédio do Povo de Israel, fundamentalmente na Terra
de Israel e de acordo com o "ritmo" da Torá de Israel.

As Mitsvót se dividem em dois grupos gerais:


1) As que relacionam o homem com seu próximo (ben adam lechaverô).
2) As que relacionam o homem com o Lugar - origem e causa de toda a realidade,
o Cadósh Barúch Hú (ben adam laMacom).
As primeiras refinam o desejo do homem, através de sua relação com o seu
semelhante e com a sociedade em geral, e são sintetizadas na mitsvá: "Amarás a
teu próximo como a ti mesmo".
As demais refinam o desejo do homem em relação à Luz Infinita, fundindo-o aos
estados superiores da alma.
A origem das Mitsvót do homem em relação ao Lugar é mencionada no primeiro
postulado do Decálogo:

Isto significa que o homem deve conhecer e unificar-se com a Luz Infinita e assim
como o Kádósh Báruch Hú, o homem deve dar e beneficiar todas as criaturas.
O trabalho espiritual na Torá e nas Mitsvót aproxima, gradativamente, o homem do
lugar e da raíz de onde toda a realidade é gerada: o Infinito/Ein-Sof
Daí os cinco nomes da alma - Néfesh, Rúach, Neshamá, Chaiá e Iechidá - que
indicam o grau e a distância espiritual do homem em relação à Luz Infinita.
Neshamá provém do verbo respirar e designa a generalidade da Luz que se
expande d'Ele.
A atividade do Rúach (que também significa vento e alento) traz a Neshamá de
vidas (Nishmát chaím) através das narinas do homem, e torna-o possuidor de um
Néfesh vivo.
Posteriormente, este alento flui e vitaliza o corpo.
A medida que a energia - Luz de vidas - flui pelos mundos, ela adquire
materialidade, ou seja, ratsón lecabel, até se concretizar na respiração e no ritmo
cardíaco. Logo após, o sangue irriga todos os órgãos do corpo, dando-lhes vida e
transformando o mencionado ratsón lecabel em atos concretos.
O trabalho espiritual do homem, através da Torá e das Mitsvót, transforma aqueles
atos concretos em ratsón lehashpía.
Por isso o trabalho espiritual de Israel concentra-se na direção superior do alento e
da respiração, unificando desse modo toda a multiplicidade do mundo material-
sensorial com a fonte da Luz, causa e origem de toda a criação.
Do contrário, dispersaríamos nossa energia, pois ao nos concentrarmos apenas nos
processos respiratórios e sensoriais, limitamos a realidade em nós mesmos,
aumentando desse modo, o ratsón lecabel, o egoísmo.
Por essa razão, a denominação empregada pela cabalá para designar a energia de
vidas é Luz - Or.
O vocábulo Or indica a direção e objetivo para o qual o homem deve orientar sua
vontade e desejo, a plenitude que abrange tudo e todas as criaturas, a Luz
Infinita/Ein-Sof
Néfesh - Impulso de fogo, a energia que abastece o corpo de calor e de movimento.
Expressa-se no Kidúsh (Kidush, literalmente, "santificação" é a bênção recitada
sobre o vinho ou suco de uva para santificar o Shabat ou uma festa judaica
(cabalista)) do sétimo dia - "Shavat vayinafash" - cujo significado é que cessa o
movimento e o trabalho logo depois de terminada a Obra (a Criação), e chega o
descanso (Shabat).
O Sábio cabalista, Rabino Ashlag, explica-nos que o significado dessa frase é o
seguinte: "Depois de finalizada a Criação, o Néfesh se perde, pois não há mais
necessidade dele".
Isso ocorre porque o Néfesh é o aspecto da Neshamá relacionado com a vida
sensorial e com o desejo de receber inferior.
Após a reintegração do desejo à sua origem, do klí ao Or, também o Néfesh se
integra à Luz, e então não é possível percebê-lo como um ente separado.
As Mitsvót em relação ao próximo (ben adam lechaverô) são indispensáveis para
ascender àquelas que relacionam o homem com o Lugar (ben adam laMacom), pois
nestas últimas corremos o risco de mecanizarmo-nos e automatizar nossa vida
espiritual.
Por outro lado, nas primeiras, o dinamismo de cada situação exige de nós estar
plenamente conscientes das necessidades de nosso semelhante.
Por isso devemos trabalhar sobre todas elas por igual, mas sem esquecer que as
Mitsvót com respeito ao próximo antecedem as Mitsvót relacionadas com o Lugar.
A Halachá nos ensina que, para salvar uma vida, podemos passar sobre as Mitsvót
relacionadas com o Lugar , como o Shabat, festividades etc.
A Halachá nos ajuda a não nos enganarmos e pensar que podemos ser "altamente
espirituais" e esquecermos de quem está ao nosso lado.
A palavra Halachá provém da raíz halochlandarâ.
É o código de leis judaicas, que nos ensina como andar e se comportar de acordo
com as leis espirituais codificadas na Torá.
Os tópicos tratados pela halachá abrangem todos os detalhes e todas as
circunstâncias da vida, e nos explicam de forma prática como realizar as Mitsvot.
Os livros "Taamet Mitsvót" e "Shaar haMitsvót", transmitidos ao Rabino e Sábio
Rabalista Chaím Vital por seu mestre, o Rabino e Sabio cabalista Yits'chác Luria
Aslikenazi, o Arizal, explicam-nos o sentido interior de cada mitsvá.
Através da Circuncisão e da contenção de seus instintos, o homem dá o primeiro
passo para a liberação da dependência dos desejos inferiores e egoístas.
A energia da vida, manifestada através de nossos desejos, é poderosíssima, assim
como a força do mar.
Sem os limites adequados, também o mar pode nos destruir.
Por outro lado, se construirmos uma represa que o contenha e o regule, essa
mesma energia poderá fornecer Luz ao mundo inteiro.
O livro "Ticunê Zôhar" transmite-nos que, mediante a circuncisão, liberamos o
Nefesh da influência mais densa do ratsón lecabel.
Isto ocorre porque, ao tirar o prepúcio através da circuncisão/brit milá, libertamo-
nos de três envoltórios, cascas negativas/klipót que impedem que nossos
pensamentos, emoções e atos, manifestem o ratsón lehashpía.
O brit milá é uma iniciação, mas para que o caminho espiritual judaico seja
concretizado, devemos sobrepor sobre os diferentes aspectos que esses três
envoltórios ou cascas negativas/ klipót adotam ao longo de nossas vidas.
As três tefilót (orações, preces) diárias (shacharit - minchá - arvit) e as três
festividades anuais a de peregrinação (Pessach - Shavuót - Sucót) ajudam-nos a
vencer a influência dessas três klipót, que alimentam o desejo de receber egoísta.
Dessa forma são criadas as condições que nos ajudam, caso assim desejamos, a
processar nossa energia em direção a níveis superiores de altruísmo.
A energia dos instintos é esse mar, o Nefesh.
Se não aprendemos a encaminhá-lo adequadamente, se tornará insaciável.
Por outro lado, quando lhe atribuímos um lugar exato, ele nos proporciona a
energia necessária para trazer Luz e plenitude em todos os âmbitos da vida.
Através dos tefilín, o homem pode harmonizar o coração com a mente e, assim,
compreender as leis da Criação.
Tefilin é o nome dado a duas caixinhas de couro, cada qual presa a uma tira de
couro de animal kasher (apropriado), dentro das quais está contido um pergaminho
com os quatro trechos da Torá em que se baseia o uso dos filactérios (Shemá
Israel, Vehaiá Im Shamoa, Cadêsh Li e Vehayá Ki Yeviachá).
Filactério, vindo do termo grego fylaktérion, significa basicamente "posto
avançado", "fortificação" ou "proteção", o que explica a utilização destes objectos
como protecção ou amuleto.
O sangue, o coração e a mente constituem, respectivamente, o instrumento de
manifestação do Nefesh, do Rúach e da Neshamá.

Néfesh
"...porque o sangue é o Néfesh ..."
(Deuterônomio 12:23)
"Sem conhecimento, o Néfesh não é bom ..."
(Provérbios 19:2)

Rúach
"O coração do sábio está à sua mão direita, mas o coração do tolo está à sua
esquerda."
(Eclesiastes 10:2)
" ... para vivificar o Rúach dos humildes, para vivificar o coração dos contritos..."
(Isaías 57:15)

Neshamá
"mas há um Rúach no homem e a Neshamá de Shakai (o nome Shakai designa a
sefirá lessod) o faz entender."
(Jó 32: 8)
"A Neshamá do homem é a lâmpada do IHVH."
(Provérbios 20:27)

Estes três estratos da alma devem vibrar em concomitância com a Vontade


Superior (Chaiá).
Dessa forma, nossos atos, sentimentos e pensamentos harmonizam-se com as Leis
Superiores, encontrando assim plenitude e harmonia.
Os tefilín são colocados, um no braço esquerdo sobre os bíceps, na altura do
coração, e o outro, na cabeça.
A tefilá (prece, oração) que se coloca no braço esquerdo possui uma correia de
couro, com a qual deve-se dar sete voltas pressionando-a contra o braço.
Esta ação nos ensina que devemos limitar o instintivo desejo de receber do Néfesh
(pressão sobre a circulação sanguínea) e nossas emoções negativas, Rúach
negativo (lado esquerdo).
A tefilá da cabeça indica que devemos unir as emoções positivas, Rúach positivo
(braço direito), ao pensamento, para desse modo "despertar" nossa Neshamá.
Tefilá é também o trabalho espiritual interior (oração, prece) que nos ajuda a
transformar o.ratsón lecabel em ratsón lehashpía.
Dentro da tefilá da cabeça estão 4 compartimentos que contém os seguintes
versículos da Torá:
1- "Consagra a Mim todo primogênito..." (Êxodo 13:2 2)
2- "E quando te houver conduzido IHVH à Terra dos cananeus..." (Êxodo 13:11 3)
3- "Escuta e Ouve Israel, o IHVH Elokeinu IHVH é Um..." (Deuteronomio 6:4 4)
4- "E se ouvires atentamente Minhas Mitsvót..." (Deuteronomio 11:13)

Cada compartimento, com seu respectivo versículo, relaciona nosso trabalho


espiritual com os quatro mundos: Assiá, Ietsirá, Briá e Atsilút.

1) Assiá - "Consagra a Mim todo primogênito"


O primogênito é o desejo de receber, já que é o primeiro a se manifestar.
Quando conseguimos consagra-lo ao trabalho espiritual, iluminamos o mundo da
Ação/Olam Assiá.
Essa Luz/Or é o primeiro grau da alma/Néfesh.

2) Ietsirá - "e quando te houver conduzido IHVH à Terra dos cananeus..."


A terra de Kenáan é a futura Terra de Israel/Érets Israel.
O vocábulo Kenáan provém da raíz cujo significado é render, derrotar e vencer.
O termo terra nos indica a vontade e o desejo (trabalhamos na terra para que ela
nos dê frutos).
Na Terra de Kenáan viviam 7 nações (Deuteronomio 7:1) que o povo de Israel teve
que vencer para transformá-la na Terra de Israel.
As 7 nações representam 7 medidas de ratsón lecabel, que impedem que nosso
altruísmo - atributo de Israel - manifeste-se.
As 7 influências astrais (Sol, Mercúrio, Vênus, Lua, Marte, Saturno e Júpiter), os 7
dias da semana, os 7 orifícios da cabeça (2 olhos, 2 ouvidos, 2 narinas e boca),
formam o espaço através do qual estas 7 nações podem se manifestar, anulando
dessa forma nossa recepção e transmissão do Or Ein-Sof/plenitude da Luz Infinita,
desejo de dar/ratsón lehashpía.
A cada dia de nossas vidas estamos expostos a diferentes impressões mentais,
emocionais, visuais, auditivas etc., que incidem poderosamente sobre nosso ratsón
lecabel/desejo de receber.
Nos alimentamos, quase permanentemente, de todo o tipo de informações que
transcendem nosso discernimento.
A Mitsvá dos Tefilín, como todas as Mitsvót realizadas com intenção e consciência, e
não de forma mecânica, nos ajudam a discernir entre os diferentes aspectos que a
vida nos oferece.
A partir daí poderemos começar o trabalho de render esses 7 povos do ratsón
lecabel que habitam nosso interior.
Quando trabalhamos com entrega e verdadeira emuná (certeza), vencendo nossos
"povos interiores", tendências egoístas, chegamos à transcendência das influências
temporais, estados emocionais flutuantes e astrais, vencendo, assim, nossa noção
egoísta da realidade e da vida.
Avraham Avinu representa esta força de entrega, a vontade constante que nos
mostra, através de sua vida, como superar as influências passageiras, as emoções
negativas e astrais para desse modo aproximarmo-nos de nosso semelhante e do
Cadósh Barúch Ilú.
Avraham Avinu era um grande astrólogo que acreditava que toda a realidade é
regida por influências astrais. Como conseqüência de sua busca do completo,
conseguiu sobrepor-se aquele âmbito e perceber uma Realidade Superior
constante, entendendo, dessa maneira, que existe uma harmonia que está acima
da aparente multiplicidade da Criação: o Cadósh Barúch Hú.
O que Avraham Avinu alcançou como indivíduo, Moshé Rabênu começou a colocar
em prática com todo o povo, sendo que, hoje em dia, somos os continuadores
desse grande legado de Torá e Mitsvót, através do qual podemos transformar
nossas vidas e ajudar aqueles que nos rodeiam.
O estudo da Torá em todos os seus extratos e a aplicação das Mitsvót, nos
proporcionam as ferramentas que ajudam a fortalecer nossa emuná,
transcendendo, assim, a dependência em relação aos estados perecíveis.
Deste modo chegamos ao nível onde o tempo não é mais que uma coordenada,
através da qual nossa vontade se expande para poder concretizar a mitsvá
fundamental da Torá: "Amarás ao teu próximo como a ti mesmo".
O verdadeiro amor não depende de estados de ânimo, nem de sentimentos
passageiros; ele é constante e está baseado em objetivos altruístas.

3) Briá - Shema Israel IHVH ELOKEINU IHVH Echad. Escuta e Ouve Israel,
IHVH Elokeinu IHVH é Um.

Shema: Ouve; o ouvido não para de ouvir, ou seja, a audição independe de nossa
vontade.
O ato de ouvir está fora do nosso controle.
O livre arbítrio consiste-se no que ouço.
O sentido do ouvido relaciona-se com a sefirá Biná, que representa o mundo da
Criação/Briá e o terceiro nível da alma denominado Neshamá.
O ato de ouvir dirige nossa consciência para nosso interior, ou seja, o homem deve
procurar no mais profundo de si mesmo a verdadeira natureza do desejo de sua
alma.

Israel: é a vontade da alma de retornar à sua fonte, o Infinito/Ein-Sof.

IHVH: é a Realidade e Vontade Superior que está em equilíbrio com as leis da


Criação.
Eu Sou IHVH...(Deuterontimio 5.6) - Primeiro postulado do Decálogo.

Elokeinu: é a Vontade Superior (IHVH) manifestando-se nos planos inferiores.


Eu Sou IHVH Teu Elokim... (Deuteronõtnio 5:6)
Os diferentes nomes (Elokim, IHVH, etc.) mencionados na Torá revelam os diversos
aspectos da vontade e leis que regem a vida.
O nome Elokim designa a forma através da qual a Luz Superior se reveste nas leis
da natureza.
O nome Elokim possui o mesmo valor numérico (guematria) que a natureza, ou
seja, 86
Quando a Torá relata sobre a Criação do homem (livro de Bereshit), utiliza o nome
IHVH só quando o homem recebe sua Neshamá de vidas (Gênesis 2:7).
Até este momento (no início do relato), a Vontade Superior é citada através do
nome de ELOKIM.
O nome IHVH atribui ao homem consciência de si mesmo, de sua verdadeira
natureza espiritual e altruísta, e do livre arbítrio para eleger entre o bem e o mal,
entre ratsón lehashpía e ratsón lecabel.

Echad: Um; indica que o Superior e Sua manifestação são Um.

O Shema Israel faz parte do treinamento judaico e cabalista, nossa emuná


(certeza).
O objetivo do Shema, assim como de todas as Mitsvót, consiste em levar nossa
vontade, desejo e consciência à unidade primária, o estado de Infinito/Ein-Sof.
É assim que temos a possibilidade de unificar nossa realidade limitada e
transcender o mundo sensorial, tanto em nossa mente como também em nosso
coração e em nossa vida.
A prática dessa mitsvá, assim como o resto da tefilá, deve envolver todo o nosso
ser e ativar o mais profundo de nós, quando nos unificamos com a Luz Infinita.
A tefilá é o momento no qual transcendemos o tempo e o espaço, e deve ser
suficientemente intensa para que possamos ultrapassar a realidade sensorial e
fundirmo-nos com o coração, a mente e todo nosso ser, na LUZ.

4) Atsilút - "E se ouvires atentamente Minhas Mitsvót..."


O conhecimento interior da Torá - a cabalá - e a aplicação intencional das Mitsvót
nos orientam em direção à percepção consciente de nossos atos.
Quando conseguimos transcender as barreiras mentais e emocionais, atuando em
busca do bem coletivo, ascendemos a um novo plano da realidade, olam Atsilút.
Este plano é o reino da vontade altruísta, onde tudo é desejo de bem; nele
desejamos receber para partilhar.
O nível da alma denominado Chaiá é o Or/Luz do olam Atsilút.
Quando o homem alcança o nível do olam Atsilút, seu desejo e vontade conseguem
se unificar com a plenitude da Luz.
O vocábulo Chaiá provém do verbo reviver, vivificar, pois quem supera o âmbito
egoísta do desejo de receber/ratsón lecabel, transformando-o em desejo de dar/
ratsón lehashpía, "revive" e pode "vivificar" seus semelhantes.
Os 4 versículos, que na tefilá da cabeça estão divididos em 4 compartimentos,
encontram-se todos juntos na tefilá do braço, à altura do coração.
Isto nos ensina que não é suficiente entender a realidade e a vida no plano mental,
senão que devemos incluir em nossos corações estes quatro planos.
A mercavá/carruagem que dirige nossa vontade e desejos em direção à sua origem,
o Infinito/ Ein-Sof, encontra-se em nosso coração e é o coração, em última
instância, o lugar onde se definem nossos objetivos.
"E lhes darei coração para que Me conheçam..."
(Jeremias 24:7)
Através do Shabat, o homem se libera do espaço, do materialismo e dos
mecanismos do tempo.
A dependência do mundo material limita a manifestação das qualidades espirituais
do homem.
O homem não deve anular o aspecto material, e sim orientá-lo em direção ao bem
coletivo; dessa forma, ele o espiritualiza, devolvendo-o à sua fonte, o Infinito.
Shabat é a suspensão da atividade criadora, a finalidade de todo movimento e
atividade.
Só é possível criar através da auto-limitação.
O arquiteto, que deseja construir, limita o terreno no qual vai realizar sua
edificação.
O escritor se limita a um determinado tema para desenvolver seu livro.
O estudante se limita em seu estudo e seus livros para se formar.
A meta do Criador é beneficiar as criaturas.
Para poder dar, Ele se autolimita (tsimtsúm) com o propósito de que as criaturas
recebam gradativamente Sua plenitude.
O homem não pode se relacionar com o Infinito; através dos limites que se auto
impõe, ele consegue assimilar, de forma gradual, a realidade.
Uma mulher (ou um homem) não pode "possuir" todos os homens (ou todas as
mulheres).
O homem que "tem" todas as mulheres, na realidade não "tem" nenhuma.
Por outro lado, quem encontra satisfação junto à sua mulher e sua família,
consegue tudo; tem o Infinito.
O Shabat é o objetivo de todo o movimento, mudanças e desejos.
Cada ato do homem deve estar dirigido para o Shabat, ou seja, para a finalidade de
plenitude em todos os aspectos.
O Shabat é um microciclo dentro do grande ciclo que é a Criação.
O Shabat nos dá a possibilidade de nos libertar da dependência do mundo material,
semana após semana. O Shabat é a "porta" que nos conduz ao Infinito, à
transcendência do tempo e do espaço, é o centro em torno do qual gira toda a
realidade.
Através do estudo da Torá, que são as leis que regem os diferentes planos da
Criação, o homem liberta sua mente da especulação no vazio.
No judaísmo, o estudo não é um fim em si mesmo, e sim um meio para chegar à
Vontade Superior, o desejo de dar e beneficiar o próximo.
A Torá proporciona ao pensamento o espaço para expandir-se e a medida da
realidade.
O judaísmo procura, através do estudo, "elevar" o homem à Luz Infinita.
A Luz é a realidade em si mesma, enquanto que a escuridão, a ausência de Luz, é
uma miragem, uma ilusão.
A realidade, a plenitude da Luz, não depende da especulação mental; portanto, não
devemos lutar contra a escuridão; basta acender a Luz em nossos atos, através das
Mitsvót.
A Sabedoria de Israel, através do estudo da Torá e da aplicação das Mitsvót, nos
ensina a adaptar os extratos inferiores do desejo à realidade objetiva superior
codificada na Torá. Assim obtemos a força e a energia para superar os instintos e
desejos temporais limitados à realidade material.
Moshe Rabênu "ascende" ao subir o Monte Sinai para unir-se ao seu Criador,
tornando-se Um junto à Luz Infinita e, em seguida, "desce" para a realidade
cotidiana, para comunicar ao povo a realidade Infinita.
Moshe Rabênu é o modelo que se pretende desenvolver, o Tsadíc, o homem cujos
desejos, vontade e objetivos se concentram em alcançar o bem infinito em todos os
âmbitos da vida e da realidade.
O Tsadíc (Justo) é o homem para quem o desejo de seu próximo é como o seu
próprio; dessa forma se transforma em "sócio ativo do programa da Criação", que
consiste em beneficiar todas as criaturas de forma infinita.
Tsadíc é quem faz a ação correta no momento correto.
Como nos transmitiu o Rabino Ashlag: O saber não é o objetivo do estudo, e sim
um meio para chegar à Vontade Superior, à vontade e desejo de dar e
beneficiar/ratsón lehashpía no coração do homem.
É isto o que mede o nível espiritual do homem.
É isto todo o homem.

Continua
As 3 Dimensões da Kabalah – Parte Final

Conceitos Básicos

Antes: O tempo espiritual funciona de acordo com a lei de causa e conseqüência,


ou seja, o antes é o que gera o depois e, por conseguinte, depois é a conseqüência
desse antes.

Depois: É o efeito resultante da energia produzida pelo estado que o precedeu.

Luz/Or: É a energia que se expande do Ein-Sof, vivificando todos os mundos e


estratos da Criação.
É para nós tudo aquilo que é recebido e contido nos olamót/mundos do ponto de
vista de iesh mi-iesh/criação a partir do criado, que compreende tudo, salvo a
substância dos kelim/instrumentos de recepção de Or, que são criados a partir da
ausência, tsimtsúm.
São os diferentes graus da Realidade Infinita, revestidos em nossas almas e
denominados, a partir de nossa recepção e apreensão, da seguinte maneira:

Hebraico Português Característica


Iechidá Unicidade Plenitude
Chaiá Vitalidade Vontade
Neshamá Aspiração Pensamento
Rúach Vigor-Sopro Emoção
Nefesh Impulso de Fogo Instinto

Or Elion: Com o termo Luz Superior/Or Elión designamos a Luz, que se expande
do Atsmút haBore/Essência do Criador, origem e causa das causas.
Ou seja, Ele Mesmo e não suas vestimentas nem nomes, nem denominações nem
manifestações.
E deves saber — nos ensina o Rabino Ashlag — que todos os nomes e adjetivos que
utiliza a Sabedoria da Cabalá não são e não existem em Atsmút haBore, mas
somente na Luz que se expande d'Ele. Em Atsmút não há para nós nenhuma
palavra nem articulação sonora, porque essa é a regra geral: Todo estado espiritual
que não conseguimos alcançar, tampouco o conhecemos pelo nome.

Or Ein-Sof: É a plenitude da Luz Infinita que preenche toda a Realidade sem


deixar espaço para que surja nenhum desejo nem vontade que a limite.
No estado de Ein-Sof/Infinito, diferentemente dos olamót/mundos, o desejo não
limita a plenitude da Luz.

Tsimtsum: Contração original.


É a ação que contrai o desejo de receber/ratsón lecabel o Or Ein-Sof, deixando ali
um espaço vazio/chalal panúi, onde se manifesta a Criação.

Olamot/Mundos: São os cinco graus gerais de ocultamento da Luz Infinita/Or Ein-


Sof. Dimensões espirituais que surgem logo após o tsimtsúm.
São os diferentes extratos que existem na realidade que, quando recebidos e
assimilados, são percebidos de forma material, instintiva, emocional, mental e
espiritual, denominados:
Adám Kadmón - Homem Primordial
Atsilút - Emanação
Briá - Criação
letsirá - Formação
Assiá - Ação
Adám Cadmon: É o primeiro mundo que recebe a Luz do Infinito/Ein-Sof e que se
manifesta logo após o primeiro tsimtsúm. Denomina-se também Linha Única/cav
echad, pois recebe toda a realidade de forma completa.
Adám Cadmon é o aspecto anterior à polarização masculina — feminina, ainda nem
em potencial; portanto, não pode gerar um espaço para que os mundos inferiores
(Briá, Ietsirá e Assiá) se manifestem.
Esses três mundos criam, formam e fazem, respectivamente, o pensamento, a
emoção e os atos (Neshamá, Rúach e Néfesh).
No Adám Cadmon a Luz Infinita ilumina com tanta intensidade que só é possível
assimlar-lo através de graus muito elevados da Neshamá (Iechidá).

Atsilút/Mundo da Emanação: É a raiz dos três mundos inferiores: Briá, Ietsirá e


Assiá. No Olam Atsilú/lmundo da Emanação, a polarização masculina-feminina,
apesar de não se manifestar como tal, já existe em potencial.
O Olam Atsilút é denominado também de Olam ha Ticún/mundo da correção do
desejo da Neshamá.
Esta denominação se deve a que, no estado anterior (Adám Cadmon), apenas a
índole da alma, denominada Iechidá, tem a possibilidade de surgir.
Por outro lado, o Olam Atsilút permite que outros aspectos da alma se manifestem
e corrijam seu desejo de receber egoísta, transformando-o em desejo altruísta.
O estudo detalhado deste processo está explicado no "Talmud Esser haSefirót"/0
Estudo das Dez Sefirót", do Rabino Ashlag.
Tudo o que ocorre nos mundos inferiores é resultado de como estes recebem o
superior, e não como o superior é por si mesmo.
Por isso devemos saber que todas as explicações sobre os mundos superiores, ou
seja, os estados superiores da alma, referem-se à nossa compreensão temporal e
espacial.
Por isso devemos depurar nossos desejos e nossa vontade através do trabalho na
Torá e nas Mitsvót, para conseguir expandir nosso limitado mundo a mundos
espirituais superiores, já que todos os mundos estão no homem. (Ver figura
abaixo)

Cada mundo superior gera aquele imediatamente subsequente a si, sendo que os
mundos inferiores estão potencialmente contidos nos superiores.
Isso é uma analogia ao relato da Criação, no qual primeiro surge Adám, análogo ao
Adám Kadmón, logo após Adám e Chavá, análogos à Atsilút, e posteriormente
Adám, Chavá, Caim e Abel, etc. análogos à Briá, Ietsirá e Assiá.
Adám e Chavá, antes de comerem do fruto proibido — o desejo de receber/ratsón
lecabel — estavam no estado de Gan Éden/Paraíso, análogo ao olám Atsilút.
Após provar do fruto proibido — o desejo de receber/ratsón lecabel — perdem o
estado de Gan Éden/Paraíso (olam Atsilút), dando início ao ciclo temporal—espacial
(Briá, Ietsirá e Assiá).
A perda do estado edênico e a entrada nos domínios do desejo de receber — a
Criação — continuará até que todos os âmbitos da realidade alcancem a harmonia
infinita.

Iesh Mi Iesh: Existe a partir do que há.


Refere-se à Luz/ Or que existe mesmo antes da Criação dos mundos.

Iesh Mi Áin: Existe a partir do que não há.


Isso se refere à ratsón lecabel/desejo de receber, que é o novo que surge com a
Criação, ou seja, o Klí.

Chalal Panúi/Espaço Vazio: Produzido pelo ato do tsimtsúm.


Antes da Criação, quando a Luz Infinita/Or Ein-Sof preenche a realidade não há
espaço vazio, um lugar livre ou algo que necessite de aperfeiçoamento ou correção
(Ticún). A Luz preenche completamente o espaço de maneira que não deixa espaço
vazio, nem possibilidade alguma para nenhum outro estado inferior surgir,
limitando assim sua perfeição.
Só por causa do tsimtsúm revela-se o estado de carência e falta como algo novo,
tornando-se um chalal panúi para a correção do desejo da alma.

Luz e Instrumento de Recepção da Luz: O desejo de receber do emanado é


denominado Klí/instrumento de recepção (ou recipiente, vasilha), e a plenitude que
recebe é denominada Or/Luz.

Luz Circular: É a Luz/Or que não faz diferença de graus nos receptores.

Luz Simples: É o Or que inclui dentro de si o Klí, ao ponto de não fazer diferença
entre o Or e o Klí.

Luz da Sabedoria/Or de Chochmá: É a primeira expansão de Luz em direção do


emanado, contendo toda sua essência e vivificação.

Luz de Entrega/Or de Chassadim: É o Or que reveste o Or de Chochmá,


propiciando-lhe a possibilidade de ser recebido pelos emanados, ou seja, pelo
desejo de receber da Neshamá.

Ar Vazio/Avir Reicani: É o Or de Chassadim antes de se revestir de Or de


Chochmá.

Um: A Luz Superior/Or Elión, que se expande a partir da Essência do


Criador/Atsmút haBore , é apenas uma, e simples como a própria Essência do
Criador.
É da mesma forma no Infinito, e inclusive no mundo da Ação/olam Assiá, ou seja,
sem mudança nem anexo, e portanto é denominada Um. Nenhuma das
modificações e nomes existem na Luz; estes surgem nos receptores que, ao limitar
sua recepção da Luz, recebem-na de forma parcial.

Criador/Bore: A denominação Criador surgiu com a Criação, a partir da qual o


desejo manifesta-se como ente autônomo fora da Luz.

Fusão, União Espiritual/Devecút: No terreno espiritual, são o desejo, a vontade


e o objetivo que unem ou separam.
Quando dois ou mais estados têm os mesmos desejos, vontades e objetivos,
encontram-se em devecút, ou seja, fundidos (acoplados)—unidos espiritualmente.

Chalal/Espaço: O desejo de receber que está incluído no Infinito, quando se


esvazia de Luz, percebe-se como a escuridão, com respeito à Luz.
Com respeito a seu instrumento de recepção, distingue-se como chalal, isto é,
como um espaço de trabalho sobre o desejo.

Klí: O desejo de receber do emanado é denominado klí.

Maatsil/Emanador: Toda causa é denominada maatsil sobre o extrato que se


desprende dele. Todo extrato que surge como conseqüência desse maatsil é
denominado neetsál/emanado.
A denominação maatsil inclui tanto a prolongação do Or que este gera, como
também o klí que vai receber aquele Or. Isto significa que no maatsíl estão
incluídos, potencialmente, todos os estados que surgirão a partir dele.

Expansão/Hitpashtut: O Or que "sai" do âmbito do Emanador e chega ao âmbito


do Emanado é denominado expansão, isto é, que emana, que sai.
"E deves saber que o Or Elión/Luz Superior não é modificada nem afetada por esse
processo, pois isto é igual aquele que acende uma vela com outra, onde não falta
nada à vela que acende, nem ela é afetada; é a vela acesa que sofre uma mudança
por causa dessa ação".
Portanto, a hitpashtút/expansão se refere ao efeito que causa nos emanados, e não
no Emanador, que permanece imutável.

Nomes: Os dez nomes que aparecem na Torá nos indicam dez formas gerais
através das quais o homem pode perceber a Luz.
A Luz sempre chega aos receptores, ou seja, ao nosso desejo, mas a diferença está
em como nós a recebemos: se pelo caminho da consciência, de acordo com as leis
codificadas na Torá, ou se pelo caminho do sofrimento e da experimentação
permanente.
Exemplo: A energia elétrica nos traz benefícios se a usamos de forma correta ou,
pelo contrário, pode nos causar muitos danos, se não respeitamos as leis de como
utilizá-la.
Por sua vez, a corrente elétrica manifesta-se de diferentes formas, de acordo com o
aparelho, instrumento (klí) etc., que a recebe, transmitindo-nos luz, calor, frio etc.

Os dez nomes que a Torá utiliza ao referir-se à Energia Criadora, representam dez
formas gerais nas quais a Essência do Criador se manifesta frente nossa percepção.
Cada nome reflete, de forma geral, a atividade de uma sefirá determinada (ver
figura 6)

Por: Chaim David Zukerwar

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