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Lição

3
Entendendo
a natureza humana

VERSO PARA MEMORIZAR: “Então o


Senhor Deus formou o homem do pó da
terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de
vida, e o homem se tornou um ser vivente”
(Gn 2:7).

Leituras da semana: Gn 1:24-27; 2:7, 19;


Mt 10:28; Ec 12:1-7; 1Rs 2:10; 22:40 wh7SXOF6

■ Sábado, 8 de outubro Ano Bíblico: Mt 11-13

A tensão entre a palavra de Deus, “Você certamente morrerá” (Gn 2:16,


17), e a falsa promessa de Satanás, “É certo que vocês não morrerão”
(Gn 3:4), não estava restrita ao Jardim do Éden. Ela tem ecoado ao lon-
go da história.
Muitas pessoas tentam harmonizar as palavras de Satanás com as pala-
vras de Deus. Para elas, a advertência: “Você certamente morrerá” se refere
apenas ao corpo físico perecível, enquanto a promessa: “É certo que vocês
não morrerão” é uma alusão a uma alma ou espírito imortal.
Mas essa abordagem não funciona. Por exemplo, palavras contraditórias
de Deus e de Satanás podem ser harmonizadas? Existe uma alma ou espí-
rito imaterial que sobreviva conscientemente à morte física? Existem mui-
tas tentativas filosóficas e até científicas para responder a essas perguntas.
Mas, como cristãos que se fundamentam na Bíblia, devemos reconhecer que
somente o Deus todo-poderoso, Aquele que nos criou, também nos conhece
perfeitamente (veja o Sl 139). Assim, somente em Sua Palavra para nós, as
Escrituras, podemos encontrar respostas para essas perguntas cruciais.
Nesta semana vamos considerar como o AT define a natureza humana
e a condição dos seres humanos na morte.
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■ Domingo, 9 de outubro  Ano Bíblico: Mt 14-16

Um ser vivente
1. L
 eia Gênesis 1:24-27 e 2:7, 19. Que semelhanças e diferenças existem en-
tre a maneira pela qual Deus criou os animais e a humanidade? O que­
Gênesis 2:7 nos diz sobre a natureza humana?
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N o sexto dia, Deus deu vida aos animais terrestres e aos primeiros se-
res humanos, um casal (Gn 1:24-27). Ele “formou da terra todos os
animais do campo e todas as aves do céu” (Gn 2:19, NVI) e “formou o ho-
mem do pó da terra” (Gn 2:7).
Embora tanto os animais quanto o ser humano tenham sido formados
“da terra”, a formação do homem foi distinta da formação dos animais sob
dois aspectos principais: primeiro, Deus moldou o homem fisicamente e
então “lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser
vivente” (Gn 2:7). O homem era uma entidade física antes de se tornar um
ser vivo. Segundo, Deus criou a humanidade como homem e mulher à pró-
pria imagem e semelhança da Divindade (Gn 1:26, 27).
Gênesis 2:7 explica que a introdução do “sopro da vida” no corpo físico
de Adão o transformou em “um ser vivente” (Heb. Nephesh chayyah) ou
literalmente “alma vivente” (ARA). Isso significa que cada um de nós não
tem uma alma que possa existir separada do corpo. Ao contrário, cada um
é um ser vivente ou uma alma vivente. A afirmação de que essa “alma” seja
uma entidade consciente que possa existir separada do corpo humano é
ideia pagã, não bíblica. Compreender a verdadeira natureza da humani-
dade nos previne de aceitar a noção popular de uma alma imaterial e todos
os erros perigosos construídos sobre essa crença.
Não há existência consciente de nenhuma parte do ser humano sepa-
rada da pessoa como um todo. Deus nos criou de uma forma assombrosa
e maravilhosa, e não devemos especular além do que as Escrituras de fato
dizem sobre esse assunto. Não apenas a própria natureza da vida é um
mistério (os cientistas ainda não chegaram a um acordo quanto ao que sig-
nifica algo estar vivo), ainda mais misteriosa é a natureza da consciência.
Como o tecido material de pouco mais de um quilo (células e compostos
químicos), o cérebro, mantém e cria coisas imateriais como pensamen-
tos e emoções? Aqueles que estudam essa ideia admitem que na realidade
não sabemos.

Você é grato pelo milagre da vida e pelo milagre maior, a vida eterna?
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■ Segunda, 10 de outubro Ano Bíblico: Mt 17-20

A alma que pecar morrerá


2. Leia Ezequiel 18:4, 20 e Mateus 10:28. Como esses versos podem nos aju-
dar a entender a natureza da alma humana?
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A vida humana neste mundo pecaminoso é frágil e transitória (Is 40:1-8).


Nada infectado pelo pecado pode ser eterno por natureza. “Portan-
to, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pe-
cado veio a morte, assim também a morte passou a toda a humanidade,
porque todos pecaram” (Rm 5:12). A morte é a consequência natural do
pecado, que afeta toda a vida neste mundo.
Sobre esse assunto, há dois conceitos bíblicos importantes. Um é que
os seres humanos e os animais morrem: “O mesmo que acontece com
os filhos dos homens acontece com os animais: como morre um, assim
morre o outro. Todos têm o mesmo fôlego de vida, e o ser humano não tem
nenhuma vantagem sobre os animais [...] Todos vão para o mesmo lugar;
todos procedem do pó e ao pó voltarão” (Ec 3:19, 20).
O segundo conceito é que a morte física de uma pessoa implica a cessa-
ção de sua existência como alma vivente (Heb. Nephesh chayyah). Em Gêne-
sis 2:16, Deus havia alertado Adão e Eva de que, se pecassem, comendo o
fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, eles morreriam.
Ecoando essa advertência, o Senhor reforçou: “A alma que pecar, essa
morrerá” (Ez 18:4, 20, ARA). Essa afirmação tem duas implicações princi-
pais. Uma é que, uma vez que todos os seres humanos são pecadores, esta-
mos sob o inevitável processo de envelhecimento e morte (Rm 3:9-18, 23).
Outra é que esse conceito bíblico invalida a noção de uma suposta imorta-
lidade natural da alma. Se a alma fosse imortal e existisse em outro reino
após a morte, não morreríamos realmente afinal, não é?
A solução bíblica para o dilema da morte não é uma alma sem corpo
que migra para o paraíso ou para o purgatório, ou mesmo para o inferno.
A solução é a ressurreição final dos que morreram em Cristo. Em Seu ser-
mão sobre o Pão da Vida, Jesus declarou: “A vontade do Pai é que todo
aquele que vir o Filho e Nele crer tenha a vida eterna; e Eu o ressuscitarei
no último dia” (Jo 6:40).
A segunda vinda de Jesus é assegurada pela primeira. De que terá servido a primeira
vinda se não houver a segunda? Que esperança teríamos sem essa promessa?
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■ Terça, 11 de outubro Ano Bíblico: Mt 21-23

O espírito volte a Deus


3. L
 eia Gênesis 2:7 e Eclesiastes 12:1-7. Que contraste há entre essas duas
passagens? Como elas nos ajudam a compreender melhor a condição hu-
mana na morte? (Veja também Gênesis 7:22).
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C omo já vimos, a Bíblia ensina que o ser humano é uma alma (Gn 2:7),
e a alma deixa de existir quando o corpo morre (Ez 18:4, 20).
Mas e quanto ao “espírito”? Ele não permanece consciente mesmo após
a morte do corpo? Muitos cristãos acreditam que sim, e até tentam jus-
tificar seu ponto de vista citando Eclesiastes 12:7, que diz: “e o pó volte à
terra, de onde veio, e o espírito volte a Deus, que o deu”. Mas essa decla-
ração não sugere que o espírito dos mortos permaneça consciente na pre-
sença divina.
Eclesiastes 12:1-7 descreve, em termos bastante dramáticos, o pro-
cesso de envelhecimento, culminando com a morte. O verso 7 refere-se
à morte como a reversão do processo de criação mencionado em Gênesis
2:7. Como já foi dito, no sexto dia da semana da criação “formou o Senhor
Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida,
e o homem passou a ser alma vivente” (Gn 2:7, ARA). Mas Eclesiastes 12:7
nos diz: “o pó volte à terra, de onde veio, e o espírito volte a Deus, que o
deu”. Assim, o fôlego de vida que Deus soprou nas narinas de Adão, e que
também forneceu a todos os outros seres humanos, retorna a Deus ou,
em outras palavras, simplesmente deixa de fluir para eles e através deles.
Devemos ter em mente que Eclesiastes 12:7 descreve o processo de
morte de todos os seres humanos e o faz sem distinguir entre justos e
ímpios. Se os supostos espíritos de todos os que morrem sobrevivem como
entidades conscientes, então os espíritos dos ímpios estão com Deus? Essa
ideia não está em harmonia com o ensino das Escrituras. Como o processo
de morte ocorre da mesma forma com os seres humanos e com os animais
(Ec 3:19, 20), a morte nada mais é do que deixar de existir como ser vivo.
Como afirma o salmista: “Se escondes o rosto, eles se perturbam; se lhes
cortas a respiração, morrem e voltam ao pó” (Sl 104:29).
É certo dizer que a morte faz parte da vida? A morte não é o oposto da vida? Que espe-
rança há neste verso: “O último inimigo a ser destruído é a morte” (1Co 15:26)?
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■ Quarta, 12 de outubro Ano Bíblico: Mt 24-26

Os mortos não sabem nada


4. Leia Jó 3:11-13; Salmos 115:17; 146:4 e Eclesiastes 9:5, 10. O que aprende-
mos nesses textos sobre a condição do ser humano na morte?
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A lguns argumentam que essas passagens (Jó 3:11-13; Sl 115:17; 146:4;
Ec 9:5, 10), escritas em linguagem poética, não podem ser usadas para
definir a condição do ser humano na morte. É verdade que, às vezes, a poe-
sia pode ser ambígua e facilmente mal interpretada, mas não é esse o caso
quanto a esses versos. Sua linguagem é clara e seus conceitos estão em ple-
na harmonia com os ensinamentos do AT sobre o assunto.
Primeiro, em Jó 3, o patriarca lamenta o próprio nascimento (Nos
momentos mais terríveis, quem não desejou nunca ter nascido?). Reco-
nhecia que, se tivesse morrido ao nascer, estaria dormindo e em repouso
(Jó 3:11, 13).
O Salmo 115 define o local em que os mortos são mantidos como um
lugar de silêncio, porque “os mortos não louvam o Senhor” (Sl 115:17).
Isso não parece descrever que os mortos, os fiéis (e agradecidos), estejam
no Céu adorando a Deus.
De acordo com o Salmo 146, as atividades mentais do indivíduo ces-
sam com a morte (Sl 146:4).
Eclesiastes 9 acrescenta que “os mortos não sabem nada” e, na sepul-
tura, “não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria
alguma” (Ec 9:5, 10). Essas declarações confirmam o ensino bíblico de
que os mortos são inconscientes.
O ensino bíblico da inconsciência na morte não deve gerar pânico nos
cristãos. Primeiro, não há inferno de fogo eterno, nem purgatório tempo-
rário esperando pelos que morrem perdidos. Segundo, há uma recompensa
maravilhosa esperando por aqueles que morrem em Cristo. Não é de admi-
rar que “para aquele que crê, a morte é de pouca importância [...]. Para o
cristão, a morte é apenas um sono, um momento de silêncio e e­ scuridão.
A vida está escondida com Cristo em Deus, e ‘quando Cristo, que é a nossa
vida, Se manifestar, então, vós também sereis manifestados com Ele, em
glória’” (Cl 3:4; Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 632).

Pense nos salvos. Eles fecham os olhos na morte e, quer fiquem na sepultura por
1.500 anos ou por 5 meses, não faz diferença para eles. A próxima coisa que verão será
o retorno de Cristo. Como, então, os mortos estão em melhor condição que os vivos?

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■ Quinta, 13 de outubro Ano Bíblico: Mt 27, 28

Descansando com os antepassados


5. Leia Gênesis 25:8; 2 Samuel 7:12; 1 Reis 2:10 e 22:40. O que esses textos
acrescentam à sua compreensão a respeito da morte?
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O AT expressa de diferentes maneiras os conceitos de morte e de sepul-
tamento. Uma é a ideia de ser reunido ao seu próprio povo. Por exem-
plo, a respeito de Abraão, nos é dito que ele “expirou e morreu após uma
longa velhice, e foi reunido ao seu povo” (Gn 25:8). Arão e Moisés também
foram reunidos ao seu respectivo povo (Dt 32:50).

6. Reis bons e maus foram para o mesmo lugar ao morrerem. O que isso nos
ensina a respeito da natureza da morte? 2Rs 24:6; 2Cr 32:33
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Outra maneira de descrever a morte é afirmar que alguém descan-


sou com os antepassados. Sobre a morte do rei Davi, a Bíblia diz que ele
“descansou com os seus antepassados e foi sepultado na cidade de Davi”
(1Rs 2:10, NVI). A mesma expressão é usada também a respeito de vários
outros reis hebreus, tanto fiéis como infiéis.
Identificamos pelo menos três aspectos significativos sobre descansar
com os antepassados. Um é a perspectiva de que mais cedo ou mais tarde
chegará o momento em que precisaremos descansar de nossos labores can-
sativos e sofrimentos. Outro aspecto é a convicção de não sermos os pri-
meiros e únicos a seguir essa trilha indesejável, pois nossos antepassados já
nos antecederam. Um terceiro é que, ao sermos sepultados perto deles, não
estamos sozinhos, mas permanecemos juntos mesmo durante a incons-
ciência da morte. Isso pode não fazer muito sentido para algumas cultu-
ras individualistas modernas, mas era significativo nos tempos antigos.
Aqueles que morrem em Cristo podem ser sepultados perto de seus
entes queridos, mas mesmo assim não há comunicação entre eles. Per-
manecerão inconscientes até aquele dia glorioso quando serão desperta-
dos de seu sono profundo para se juntarem aos que morreram em Cristo.
Como seria se os mortos estivessem conscientes e vissem como está a vida na Terra,
especialmente a dos seus queridos, que muitas vezes sofrem após a morte deles? Por
que, então, o fato de que os mortos dormem pode ser tão reconfortante para os vivos?
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■ Sexta, 14 de outubro Ano Bíblico: Mc 1-3

Estudo adicional

T exto de Ellen G. White: O Grande Conflito, p. 444-458 (“O mistério


da morte”).
Se você já passou por uma cirurgia e recebeu anestesia geral, pode ter

3
uma vaga ideia de como deve ser para os mortos. Mas, mesmo sob anes-
tesia, seu cérebro ainda funciona. Imagine como seria quando as funções
cerebrais parassem completamente, o que ocorre na morte. Os mortos
fecham os olhos, e o próximo evento que verão será a volta de Jesus ou
Seu retorno após o milênio (Ap 20:7-15). Até lá, todos os mortos, os jus-
tos e os ímpios, descansarão por um tempo que lhes parecerá um instante.
Para os vivos, a morte parece durar muito tempo, mas para os mortos dura
apenas um instante.
“Se fosse verdade que a alma passa diretamente para o Céu no instante
em que alguém morre, então poderíamos muito bem almejar a morte em
lugar da vida. Por causa dessa crença, muitos têm sido levados a colocar
fim à sua existência. Quando dominados pelas dificuldades, dúvidas e
frustrações, parece fácil romper o tênue fio da vida e voar além, para as
bênçãos do mundo eterno [...].
“Em parte alguma nas Escrituras Sagradas se encontra a declaração
de que é por ocasião da morte que os justos vão para sua recompensa e os
ímpios para seu castigo” (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 450, 458).

Perguntas para consideração


1. A
 Bíblia considera o ser humano um todo, que permanece consciente
apenas como pessoa indivisível. Essa noção nos ajuda a entender a na-
tureza da morte?
2. O mundo foi dominado pela teoria da imortalidade natural da alma,
com todas as suas ramificações. Por que nossa mensagem sobre o es-
tado dos mortos é tão crucial? Por que, entre os cristãos, encontramos
forte oposição a esse ensino maravilhoso?
3. A compreensão do estado dos mortos nos protege do que pode “apare-
cer” diante de nossos olhos? Por que nem sempre podemos confiar no
que vemos, principalmente se acharmos que vemos, ou pensamos ver,
o “espírito de um querido morto”?
Respostas e atividades da semana: 1. Deus moldou o homem fisicamente e depois lhe soprou nas narinas o
fôlego de vida. Ele criou homem e mulher à própria imagem e semelhança da Divindade. 2. A alma humana não é
imortal, pois pode morrer. 3. A alma morre; o espírito volta a Deus. Mas isso não quer dizer que o espírito dos mor-
tos permaneça consciente na presença Dele. O fôlego de vida deixa de fluir. Morrer é deixar de existir como ser vivo.
4. Os mortos dormem inconscientes. 5. Todos os mortos descansam inconscientes na sepultura e não têm contato
uns com os outros. 6. Que eles aguardam, inconscientes, a ressurreição e o juízo.

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RESUMO DA LIÇÃO 3
Entendendo a natureza humana

TEXTOS - CHAVES: Gn 1:27, 28; 2:7; Ec 12:7; 1Ts 5:23

3 ESBOÇO

Deus criou o ser humano à Sua imagem como o ato culminante de Sua criação físi-
ca. Esse fato é ressaltado pela linguagem poética empregada pela primeira vez na Bíblia:
“Deus criou o ser humano à Sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os
criou” (Gn 1:27). A história bíblica da criação é inequívoca em seu ensino de que tanto o
homem quanto a mulher foram feitos à imagem de Deus. Eles foram feitos iguais com
diferentes funções biológicas, bem como criados em total dependência de Deus. Embo-
ra não fossem imortais, pois somente Deus é imortal (1Tm 6:16), poderiam viver eterna-
mente se permanecessem em um relacionamento de confiança e amor com seu Criador.
O monismo bíblico ensina que cada ser humano foi criado como uma unidade e que
nenhuma parte de um ser humano pode viver depois que uma pessoa morre. A expressão
“alma imortal” e o ensino de que os humanos nascem imortais, ou com almas ou espíritos
imortais, não se encontram na Bíblia. Humanos ou almas não são inerentemente imor-
tais. Os seres humanos não têm existência consciente separada do corpo. Depois que ele
ou ela morre, a consciência deixa de funcionar. A imortalidade humana é sempre, e so-
mente, derivada de Deus.

COMENTÁRIO

Criados com maestria como almas viventes


O relato da criação deixa claro que os humanos foram criados pelo Senhor. Gênesis
2:7 descreve duas das ações íntimas do Criador. O resultado dessas ações foi a criação do
primeiro ser humano, Adão: “[a primeira ação] Então o Senhor Deus formou o homem
do pó da terra e [a segunda ação] lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e [o resultado]
o homem se tornou um ser vivente [nefesh khayah]” (Gn 2:7). Ontologicamente falando,
somos uma unidade (corpo + espírito = alma vivente). Deus criou Adão como uma pessoa
viva ou um ser humano, literalmente, em hebraico, “uma alma vivente” [ou “ser vivente”].
Nesse contexto, a palavra “alma” significa “pessoa”, “ser”, “personalidade”. A base da an-
tropologia bíblica não é que temos uma alma, e sim que somos uma alma. Hans Wolff per-
gunta: “O que nepheš [ou nephesh, alma] ... quer dizer aqui [em Gn 2:7]? Certamente não é
alma [no sentido tradicional dualista]. Nephesh é projetada para ser vista junto com toda
a forma do ser humano, e especialmente com sua respiração; além disso, o ser humano
não tem nephesh, ele é nephesh, ele vive como nephesh” (Hans Walter Wolff, Anthropology
of the Old Testament [Philadelphia, PA: Fortress, 1974], p. 10).

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Deus criou os seres humanos como um vibrante corpo animado, mas não como uma alma
encarnada. Assim, os humanos não foram criados com uma alma imortal, como uma
entidade dentro deles, de maneira intrínseca, mas como seres humanos eles são almas.
Essa doutrina é confirmada pelo uso posterior desse termo nas Escrituras e por outros au-
tores bíblicos. Por exemplo, (1) o livro de Gênesis conta quantas “pessoas” se mudaram
para o Egito com Jacó, e essas pessoas são chamadas de “almas” (Gn 46:15, 22, 25, 26, 27);
(2) Lucas menciona quantas pessoas foram batizadas após a pregação de Pedro no dia de

3
Pentecostes: cerca de três mil pessoas (At 2:41; literalmente, três mil almas).
O corpo, a alma e o espírito funcionam em estreita cooperação, revelando uma relação
de intensa afinidade entre as faculdades espirituais, mentais e intelectuais de uma pes-
soa. A esses aspectos precisamos acrescentar também uma dimensão social porque so-
mos criados como seres sociais. Paulo elaborou sobre esse aspecto multidimensional do
comportamento humano e explicou que, como seres humanos, precisamos deixar Deus
nos transformar por Sua graça e por Seu Espírito: “O mesmo Deus da paz os santifique em
tudo. E que o espírito, a alma e o corpo de vocês sejam conservados íntegros e irrepreen-
síveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 5:23).
Assim, tudo o que somos e fazemos deve ser santificado por Deus. Dentro de nossa
existência como humanos, experimentamos a vida em um nível físico, emocional, mental/
intelectual, espiritual e social. Não se pode separar esses aspectos. Por exemplo, quando
nos envolvemos em exercícios físicos (seja correndo, trabalhando no jardim ou dirigindo),
também envolvemos nossos sentimentos, nossos pensamentos, bem como nossas facul-
dades mentais, espirituais (no caso de orarmos ou recitarmos um texto bíblico ou mes-
mo nos deixar impressionar pelo Espírito) e sociais (se não estivermos sozinhos) durante
o tempo de nossa atividade.

Morte – a reversão da vida


A morte provoca uma reversão da atividade divina criadora, de nossa existência como
seres vivos. A coisa mais importante a saber é que nossa identidade está nas mãos de Deus.
Eclesiastes emoldura esse pensamento em linguagem poética: “Lembre-se do seu Cria-
dor, antes que se rompa o fio de prata, e se despedace o copo de ouro, e se quebre o cân-
taro junto à fonte, e se desfaça a roda junto ao poço, e o pó volte à terra, de onde veio, e
o espírito volte a Deus, que o deu” (Ec 12:6, 7). “Espírito” aqui significa “caráter” (Sl 32:2),
nossa identidade. Não somos esquecidos por Deus, pois nosso nome está no livro da vida
(Fp 4:3; Ap 3:5; 13:8; 20:15; 21:27).
Ao contrário do entendimento comum sobre a imortalidade, o espírito humano não so-
brevive à morte e não continua sua existência consciente sem fim. A alma como um ser
humano é mortal. O profeta Ezequiel deixa claro que a “alma” é mortal quando declara:
“A pessoa [hebraico, nephesh] que pecar, essa morrerá” (Ez 18:4). Uma alma, isto é, uma pes-
soa que não vive segundo a vontade de Deus, perecerá. Isso significa que uma alma (ser hu-
mano) pode pecar e morrer. Jesus confirmou isso: “Não temam os que matam o corpo, mas
não podem matar a alma; pelo contrário, temam Aquele que pode fazer perecer no infer-
no tanto a alma como o corpo” (Mt 10:28). Observe que Jesus fala sobre a pessoa inteira

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(“alma e corpo”, dimensões internas e externas de nossa existência) sendo destruídas no in-
ferno (gehenna), no lago de fogo.
A alma não existe sem o corpo e não sobrevive à morte deste. Somente Deus é capaz de
matar a alma, o que significa que a alma não é imortal. Alma aqui significa a vida de uma
pessoa, sua total existência e destino (não se refere a uma alma ou espírito imortal); enquan-
to isso, o corpo representa apenas uma existência física temporária. Claude Tresmontant
afirma corretamente: “Aplicando ao hebraico Nephesch [alma] [...] as características da psi-

3
que [alma] platônica, [...] deixamos que o significado real de Nephesch nos escape e, além
disso, ficamos com inúmeros pseudoproblemas” (Claude Tresmontant, A Study of Hebrew
Thought, tradução de Michael Francis Gibson [Nova York: Desclee Company, 1960], p. 94).
A morte é um sono ou descanso, e morrer é ser reunido ao povo de Deus, ou seja,
ser colocado na sepultura junto com eles (Gn 25:8; 2Sm 7:12; 1Rs 2:10; 22: 40; Sl 13:3;
Jo 11:11-15; At 13:36; Ap 14:13). No túmulo, os mortos não sabem nada, não louvam ao
Senhor, não trabalham nem planejam, nem fazem nenhuma outra atividade (Jó 3:11-13;
Sl 115:17; 146:4; Ec 9:5, 10).

A origem pagã da imortalidade da alma


A crença na imortalidade da alma é tirada da filosofia grega. Pitágoras (c. 571-490 a.C.),
filósofo e matemático grego, que foi contemporâneo de Daniel (c. 620-536 a.C.), embo-
ra mais jovem que o profeta, baseou seus ensinamentos religiosos no princípio da me-
tempsicose, que postula que a alma nunca morre, mas, ao contrário, está destinada a um
ciclo de renascimentos até poder libertar-se desse ciclo através da pureza de vida. Pitá-
goras acreditava na transmigração, ou na reencarnação da alma repetidas vezes nos cor-
pos de humanos, animais ou vegetais até se tornar imortal. As ideias de reencarnação de
Pitágoras foram influenciadas pela religião grega antiga.
Mais ou menos na época de Malaquias (profeta que ministrou em c. de 445-425 a.C.),
tendo sido o último profeta do AT, viveu o filósofo grego Platão (c. 428-347 a.C.), que apri-
morou esse ensino helenístico, tornando a crença da alma humana imortal tão predomi-
nante que se tornou uma visão popular. Durante o período intertestamentário, o ensino
do tormento eterno (Judite 16:17) e a prática de orar pelos mortos (2 Macabeus 12:39-45)
começou a se infiltrar no judaísmo (para exceções a essas tendências, no entanto, veja
também Tobias 14:6-8; Siríaco 7:17; 19:2, 3; 21:9; 36:7-10; Baruque 4:32-35; 1 Macabeus
2:62-64; 2 Macabeus 7:9, 14). Flávio Josefo menciona que os fariseus acreditavam na imor-
talidade da alma (ver Josephus Flavius, The Jewish War 2. 8. 14; Antiquities 18. 1. 2, 3).
Tertuliano (c. 155-220 d.C.), apologista cristão, foi um dos primeiros cristãos a afirmar
que os humanos têm uma alma imortal: “Portanto, devo usar a opinião de Platão, quan-
do declara: ‘Toda alma é imortal’” (Tertuliano, “On the Resurrection of the Flesh”, Ante-
Nicene Fathers, v. 3, ed. Alexander Roberts e James Donaldson [Peabody, MA: Hendrick-
son Publishers Inc., 2004], p. 547).
Oscar Cullmann desafia a visão de Tertuliano e se opõe a ela. Cullmann escreveu um
livro muito influente e nele argumenta que a ideia da imortalidade humana é de origem
grega, e os teólogos não podem ter as duas coisas: a crença em uma alma imortal e a

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imortalidade recebida como um dom no momento da ressurreição (Oscar Cullmann, Im-
mortality of the Soul or Resurrection of the Dead? The Witness of the New Testament [Nova
York: Macmillan Company, 1958]).
Brevard Childs explica: “Há muito observa-se que, de acordo com o Antigo Testamen-
to, o ser humano não tem alma, mas é alma (Gn 2:7). Ou seja, ele é uma entidade completa
e não uma composição de partes de corpo, alma e espírito” (Brevard S. Childs, Old Testa-
ment Theology in a Canonical Context [Philadelphia: Fortress, 1985], p. 199).

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Alguns estudiosos tentam defender a vida após a morte simplesmente apelando ao
senso comum, porque não há nenhuma declaração bíblica a respeito disso. Por exemplo,
Stewart Goetz declara: “As Escrituras como um todo não ensinam que a alma existe. As
Escrituras simplesmente pressupõem a existência da alma porque sua existência é afir-
mada pelo senso comum de pessoas comuns” (Stewart Goetz, “A Substance Dualist Res-
ponse”, in In Search of the Soul: Perspectives on the Mind-Body Problem – Four Views of the
Mind-Body Problem, ed. por Joel B. Green, 2ª ed. [Eugene, OR: Wipf e Stock, 2010], p. 139).
O “senso comum” pode, no entanto, ser muito enganador.

O dom da vida eterna


A vida eterna é um dom de Deus para aqueles que creem em Cristo Jesus como seu Sal-
vador pessoal (Jo 3:16; 5:24, 25; 10:27, 28; 17:3; Rm 2:7; 6:22, 23; Gl 6:8). A imortalidade
é condicional e depende de nossa resposta positiva à bondade de Deus e de nossa acei-
tação do evangelho. Essa imortalidade será dada aos crentes na segunda vinda de Cris-
to (1Co 15:51-55; 1Ts 4:13-18).

APLICAÇÃO PARA A VIDA

1. O que significa, social e ontologicamente, ser criado à imagem de Deus?


2. Somente Cristo, por meio de Sua graça, Espírito e Palavra pode restaurar a imagem de
Deus no ser humano. Como podemos ser feitos à imagem de Deus?
3. Se fomos criados mortais sem uma alma imortal, como podemos ter vida eterna?
4. Deus colocou em cada coração o anseio pela eternidade (Ec 3:11). Como você pode aju-
dar a despertar esse desejo profundo em colegas de trabalho ou vizinhos agnósticos ou
ateus por meio de suas ações e durante suas conversas com eles?

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Out l Nov l Dez 2022 | 39 |

P3 45100 – LIÇADP 4ºTri'22


Designer Editor(a) Custos C. Q. R. F.
Anotações
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| 40 | Vida, morte e eternidade

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