Você está na página 1de 6

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE TEOLOGIA NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO

Trabalho Acadêmico

Interpretação de Ap 4, 1-11

Aluno: Walmir Cardoso dos Santos


Professor: Ms. João Cláudio Rufino
Disciplina: Gênero apocalíptico e Apocalípse

São Paulo, 14 de Novembro de 2019.


O texto a ser trabalhado será Ap 4, 1-11
1Depois disso, tive uma visão: havia uma porta aberta no céu, e a primeira voz,
que ouvira falar-me como trombeta, disse: Sobe até aqui, para que eu te mostre as coisas
que devem acontecer depois destas. 2 Fui imediatamente movido pelo Espírito: eis que
havia um trono no céu, e no trono, Alguém sentado... 3O que estava sentado tinha o
aspecto de uma pedra de jaspe e cornalina, e um arco-íris envolvia o trono com reflexos
de esmeralda. 4Ao redor desse trono estavam dispostos vinte e quatro tronos, e neles
assentavam-se vinte e quatro Anciãos, vestidos de branco e com coroas de ouro sobre a
cabeça. 5Do trono saíam relâmpagos, vozes e trovões, e diante do trono ardiam sete
lâmpadas de fogo: são os sete Espíritos de Deus. 6À frente do trono, havia como que
um mar vítreo, semelhante ao cristal. No meio do trono" e ao seu redor estavam quatro
Seres vivos, cheios de olhos pela frente e por trás. 7O primeiro Ser vivo é semelhante a
um leão; o segundo Ser vivo, a um touro; o terceiro tem a face como de homem; o
quarto Ser vivo é semelhante a uma águia em voo. 8Os quatro Seres vivos têm cada um
seis asas e são cheios de olhos ao redor e por dentro. E, dia e noite sem parar,
proclamam: "Santo, Santo, Santo, Senhor, Deus todo-poderoso, 'Aquele-que-era,
Aquele-que-é e Aquele-que-vem'". 9 E, a cada vez que os Seres vivos dão glória, honra
e ação de graças àquele que está sentado no trono e que vive pelos séculos dos séculos,
10 os vinte e quatro Anciãos se prostram diante daquele que está sentado no trono para
adorarem aquele que vive pelos séculos dos séculos, depondo suas coroas diante do
trono e proclamando: 11"Digno és tu, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra
e o poder, pois tu criaste todas as coisas; por tua vontade elas não existiam e foram
criadas".
Legenda dos tipos de linguagem:
Símile / Hipocatástase / Metonímia / Metáfora

Esboço exegético de Ap 4, 1-11


I. Em sua visão, João relata um chamado vindo de uma porta aberta no céu,
para observar acontecimentos futuros que, a princípio, irão continuar. Ele
é transportado pelo Espírito até estar diante de um trono no qual Deus
está sentado. Entretanto, no texto, Deus é caracterizado como sendo
“alguém”. (v 1-4)
A. João utiliza duas figuras de linguagem neste primeiro versículo: um
símile - “como” – para destacar que a voz a qual ele escuta é alta e
estridente tal qual uma trombeta. Desta forma, ele parece afirmar que
não havia como ignorar tal chamado. E uma hipocatástase, que
destaca o chamado vindo de uma “porta aberta no céu”, para observar
acontecimentos futuros que, a princípio, irão continuar. Esta “porta”,
aparenta garantir ao leitor que a voz é divina devido à sua origem.
(V.1)
B. João inicia se utilizando novamente de uma hipocatástase “trono no
céu” para permitir que o leitor compreenda que quem fala com ele é
Deus. Essa compreensão, portanto, deve ser realizada a partir da
relação entre a palavra “trono” e “céu” visto que ele evita utilizar o
nome de Deus. (V.2)
C. João se dedica a reforçar ao leitor que quem fala com ele é Deus.
Para isso, ele irá novamente se utilizar de uma figura de linguagem: a
metonímia. Para falar da beleza esplêndida de Deus - a qual é
impossível definir ou limitar – o apóstolo faz uso da beleza de pedras
preciosas para auxiliar o leitor a entender que ele está falando com
Deus. Da mesma forma, ao se referir ao trono no qual Ele está
sentado - posição de ensino - o apóstolo faz uso novamente da
metonímia “arco-íris” como forma de assegurar veracidade a sua fala.
(V.3)
D. João parece concluir o fundamento de sua visão, isto é, para provar
ao leitor que não está fantasiando, ele irá recorrer novamente a uma
figura de linguagem. Como está diante do trono de Deus, ele o
associa a 24 tronos onde estão sentados 24 anciãos ao redor do trono
de Deus. Segundo Brown, este número – usado somente neste livro -
é fruto da soma do antigo (doze tribos de Israel) e do novo Israel
(doze apóstolos de Cristo).1

II. Após assegurar ao leitor que a sua visão foi verdadeira, João passa a
descrever tudo o que observava. (v. 5-8)

1
BROWN, 1021.
A. Neste versículo, João faz uso novamente de duas metáforas. A
primeira para relatar que estava diante de uma teofania (Ex 19,16) e a
segunda para apresentar a perfeição (o número sete) e a característica
do Espírito de Deus (lâmpadas de fogo). (V.5)
B. Neste versículo, João faz uso de um símile para apresentar o que se
encontra a frente do trono, neste caso, águas cristalinas que não só
permitem a visão como também parece separar o sagrado (Deus) do
profano (apóstolo). Em seguida, ele utiliza outra figura de linguagem,
a hipocatástase, onde os seres que possuem diversos olhos só poderão
ser compreendidos nos versículos seguintes. (V.6)
C. Neste versículo, João faz uso de símiles para caracterizar cada um
dos seres presentes no versículo anterior, com o objetivo de facilitar a
compreensão do leitor. (V.7)
D. João, neste versículo, faz uso – pela última vez neste capítulo -de
uma hipocatástase, para que o leitor perceba, na sequência da leitura,
que tais seres são semelhantes a anjos, quando os descreve com asas
e cantando um hino de louvor a Deus. Aqui, ao contrário do primeiro
versículo, já não é um “alguém” sentado no trono, mas o próprio
Deus. (V.8)

III. Ao descrever sua visão detalhadamente, João conclui a apresentação de


sua visão apontando que o próprio Senhor e Deus de todas as coisas era
quem estava, de fato falando com ele. (v. 9-11)
A. João apresenta uma nova forma de ressaltar ao leitor que o próprio
Deus o chamou nesta visão. A adoração dos seres e dos anciãos bem
como o reconhecimento de que Ele é o criador de todas as coisas. (V.
9-11)

Esboço homilético

I. Os acontecimentos futuros estão sob o domínio de Deus, o qual


possui o poder de mostrar a quem ele quiser os acontecimentos
futuros. (v.1-4)
A) Quando Deus nos chama, não há como evitar. (v.1)
B) Não há como se enganar diante deste chamado, somente quem é Rei possui
tal poder. (v.2)
C) Deus não se apresenta tal como Ele é, não é possível ver o seu rosto, no
entanto, a forma como ele se manifesta – sentado – e a sua incrível beleza
são a garantia de que é, realmente, Deus quem fala. (v.3)
D) Todos os reinos lhe pertencem, portanto, todos os demais reinos lhe devem
louvor e obediência. (v.4)

II. É dever do apóstolo descrever aos fiéis, nos mínimos detalhes, o que Deus
lhe foi revelado. (v.5-8)
A) Os sinais que se manifestavam diante de João, são semelhantes a
manifestações anteriores de Deus. Ele é quem procura a humanidade. (v.5)
B) A presença de seres vivos e das águas mostra que Deus se revela no mundo
por Ele criado. (v.6)
C) Estes seres ao redor do trono, descritos por João como semelhantes às
criaturas feitas por Deus reforçam a proximidade de Deus com a sua criação.
(v.7)
D) A presença destas criaturas, bem como a postura e o louvor delas diante do
trono, garantem que quem chama João é o próprio Deus. (v.8)

III. Todo ser vivente deve reconhecer que Deus é o Senhor. Sua presença é
inconfundível, seus sinais são claros e todo o universo contempla a sua
grandeza. (v. 9-11)
A) É imprescindível ouvir o que o Senhor irá falar. O universo lhe pertence e a
sua majestade não tem fim.

Nesta passagem, antes de apresentar a visão recebida, João faz questão de


descrever detalhadamente que quem fala com ele é o Senhor. Diante desta certeza, a
visão em sequência não poderá ser questionada, pois, todas criaturas celestes
reconhecem também que Ele é Deus.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BROWN, E. Raymond. Introdução ao Novo Testamento. 2ª. ed. São Paulo:
Paulinas, 2012.

Você também pode gostar