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ESCOLA DIACONAL SANTO ESTÊVÃO

LEONARDO PEREIRA VIDA

TEOLOGIA MORAL I: Gaudium at Spes, 1ª parte

PATOS DE MINAS
2023
LEONARDO PEREIRA VIDA

TEOLOGIA MORAL I: Gaudium at Spes, 1ª parte

Trabalho apresentado a Escola


Diaconal Santo Estevão, como requisito
parcial de avaliação da disciplina de
Teologia Moral I.

Prof. Esp. Diác. Vitor Alexandre Pereira


de Castro.

PATOS DE MINAS
2023
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Resenha: Gaudium at Spes, 1ª parte.


Referência da obra: CONSTITUIÇÃO PASTORAL GAUDIUM ET SPES.
Documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II. Roma, 1965.

Ao longo de mais de dois mil anos de história a Igreja teve 21 concílios


sendo o 1° em Nicéia no ano de 325 e o 21° o Vaticano II convocado pelo papa João
XXIII em 1961. Se em Nicéia a Igreja reúne-se para combater a heresia do arianismo
onde Ário negava a divindade de Cristo, no concílio ecumênico do Vaticano II a
palavra-chave é Aggiornamento (Atualização). Os quatro objetivos principais do
concílio eram: a exposição da teologia da Igreja; a renovação interior da Igreja; a
promoção da unidade dos cristãos; o diálogo com o mundo contemporâneo. Ao final
do concílio, que ocorreu em 08 de dezembro de 1965 sob o papado de Paulo VI, foram
aprovados 16 documentos, sendo 04 constituições, 09 decretos e 03 declarações.
Todos os documentos aprovados pelos 2.540 1 prelados têm sua
importância particular para a atualização da Igreja e para a proposição de um diálogo
com o mundo. O papa João Paulo II em 1995 disse: “um momento de reflexão global
da Igreja sobre si mesma e sobre as suas relações com o mundo”. (Papa João Paulo
II – L’Osservatore Romano, 15/10/95). Assim, pode-se destacar o conteúdo da quarta
constituição pastoral intitulada Gaudium at Spes, cujo tema é: Sobre a Igreja no mundo
de hoje.
A Igreja peregrina recebeu e transmite a mensagem de salvação a todos.
Ela, alicerçada nos apóstolos, não faz distinção de pessoas e não coloca em grau
maior ou menor o sofrimento de um indivíduo ou de uma comunidade, pois entende
que tais sofrimentos, principalmente dos mais pobres, é também o seu sofrimento.
Nesse contexto a Gaudium at Spes nasce para toda a família humana considerando
suas realidades e o meio onde vive. Esse documento, contrariando o que se vê em
outros caminhos, não se trata de um diálogo mundano onde o individualismo leva o
homem a se corromper esquecendo seus valores e o fazendo participar de uma
corrida por bens temporais. Ele, ainda que prescrito no ano de 1965, é um abençoado
suporte na superação dos desafios vividos pelo homem e em especial a família neste
novo milênio e pode-se afirmar que seu precioso conteúdo chega para nós assim
como a Salvação chegou para a Samaritana (cf. Jo 4, 1-42).

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Wikepédia. Concílio Vaticano II. https://pt.wikipedia.org/wiki/Conc%C3%ADlio_Vaticano_II
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No capítulo I, com o título “A Dignidade da Pessoa Humana”, a


constituição levanta o tema do pecado, suas consequências individuais e coletivas;
lembra que a criação se ordena em função do homem. Um olhar para o livro do
Gênesis nos mostra que tal afirmação está fundamentada desde a criação. (cf. Gn 1,
27-28). No entanto, o homem não satisfeito com uma criação perfeita deseja alcançar
seus objetivos fora da graça do Criador. É no pecado que o homem descobre sua
nudez, se vê saindo da luz para as trevas e trava um embate entre o que é certo e o
que é errado. Essa leitura é extremamente importante para que possamos entender
dois pontos: o primeiro é que a Igreja, em seu Fundador, não condena o homem e sim
o pecado; o segundo é que sozinho o homem não se livra dessas correntes, mas em
Jesus ele encontra o seu libertador.
A Gaudium at Spes vai levando o leitor a um exame de consciência para
que ele descubra que a voz que há em seu coração vem de Deus que nos julga a
todos. É um verdadeiro despertar individual e coletivo uma vez que o cristão se une a
todos na busca da verdade que por vezes é obscurecida pelo pecado habitual. A
liberdade é outro tema discutido, pois é nela que o homem adere à fé ou fica a sua
margem por acreditar que por ser livre pode fazer qualquer coisa; essa liberdade se
conduzida de forma errada vai levá-lo à morte. A morte é tema obscuro e causa de
terror para o homem que, se não conhecedor do projeto de Salvação, será
atormentado em sua existência e será levado a um ateísmo.
A constituição pastoral trata o ateísmo como sendo um dos fatos mais
graves de nossos dias. Pois, o seu entendimento vai além de dizer que Deus não
existe, ele é uma forma hedionda de acreditar que o homem tem seu fim em si mesmo
sendo incompatível a ideia de um Deus criador. Esse mal tem sua raiz, também, na
má conduta do cristão que ao invés de mostrar o verdadeiro rosto de Deus acaba se
aderindo a modismos e ideologias que arruínam a vida religiosa, moral e social. A
Gaudium at Spes vai nos ensinar que a Igreja defende que todos nós devemos
reconhecer Deus como criador e salvador, pois a dignidade humana não é ferida por
esse reconhecimento uma vez que ela se realiza em Deus. Temos nessa parte um
conforto para a alma uma vez que a Igreja não nos deixa faltar o fundamento divino e
a esperança na vida eterna.
A última parte do primeiro capítulo fala de Cristo, o homem novo, onde
tudo se inicia e atinge sua plenitude. Jesus é o homem perfeito, viveu toda a condição
humana menos o pecado. A leitura dessa parte nos leva a um exame de consciência
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sobre nossa conduta e de que forma podemos nos assemelhar a Cristo, cordeiro
perfeito, que se entrega a cruz por amor a nós.
No capítulo II, Comunidade Humana, somos lembrados que devemos
formar uma só família e cuidar um do outro como irmãos, pois, todos nós somos
chamados a um só e mesmo fim, que é o próprio Deus. É desde a criação que somos
chamados a viver a comunidade humana onde o desenvolvimento da pessoa e da
sociedade encontra recíproca dependência. Nessa parte o documento chama nossa
atenção na forma que se dá esse desenvolvimento que pode ser positivo, mas que,
devido ao egoísmo e orgulho, pode ser negativo levando o homem a praticar o mal
devido a condição de vida que lhe é imputada. O homem tem direitos e deveres
invioláveis, sendo necessário que ele não seja cerceado dos bens básicos como
alimentos, vestuários, moradia e o direito de agir de acordo com a própria consciência.
Assim, se você quer esses direitos deve querer o mesmo para o outro, pois aí se
realiza o que foi dito pelo apóstolo: “amemo-nos uns aos outros”. (2 Jo 1, 5).
A Gaudium at Spes vai tratar de temas muito presentes na comunidade
humana os quais, infelizmente, são vistos por muitos como naturais e necessários tais
como: homicídio, genocídio, eutanásia, suicídio voluntário e aborto. A Igreja vê esses
temas como infamantes, pois entende que tudo o que corrompe e desonra o homem
vai ofender severamente a Deus. Para o cristão, o qual não aceita essas condutas, a
constituição vai pedir respeito e amor aos adversários. Ela não diz que o cristão deve
ficar indiferente, mas deve agir como verdadeiro discípulo de Cristo que anuncia a
verdade que salva e sabe que somente Deus é o justo juiz. A constituição visando a
unidade e o desenvolvimento da comunidade continua com temas como a igualdade
entre os homens; a superação da ética individualista e a responsabilidade e
participação social. No fim desse capítulo o documento vai abordar o povo de Deus e
lembrar que o homem não foi criado para viver isoladamente e sim em sociedade.
Lembramos da primeira comunidade em Jerusalém e da forma como eles viviam:
“Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à
fração do pão e às orações”. (At 2, 42); e que o próprio Jesus participou de eventos
como as bodas de Caná e faz suas refeições ao lado de publicanos e pecadores.
O capítulo III fala sobre a atividade humana no mundo e a forma como
nos organizamos como uma só comunidade. As questões giram em torno do sentido
que se dá a toda essa atividade e como a sociedade deve usar os bens conquistados.
O documento não cria uma acirrada disputa entre Criador e criatura, mas nos faz ver
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que todo o fruto de nossas conquistas e labor manifestam a glória de Deus. Assim, o
homem pode transformar o meio onde vive de forma consciente visando melhorar sua
condição aqui na terra, mas sem esquecer que depende de Deus e que sem Ele não
pode existir. Deverá lembrar, também, que não fomos criados para este mundo e que
devemos buscar as coisas do alto, pois nós somos de Cristo e a figura desse mundo
passa. Nesse contexto aprendemos que a encarnação e o mistério da morte e
ressurreição de Cristo aperfeiçoa a nossa atividade que não se limita a criar bens
visíveis. A exemplo de Cristo devemos levar a cruz do irmão que busca paz e justiça
e pelo Espírito descobrir quais dons recebemos e colocá-los a serviço da comunidade.
O capítulo finaliza nos lembrando que de nada vale ao homem ganhar o
mundo se a si mesmo se perder; devemos continuar nossas atividades para promover
um lugar fraterno onde todos possam viver e se desenvolver, mas sem nunca
esquecer que há uma nova terra. “Porque a raiz de todos os males é o amor ao
dinheiro, por cujo desenfreado desejo alguns se afastaram da fé […] Tu, porém, ó
homem de Deus, foge destas coisas. Segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a
perseverança, a mansidão”. (1 Tm 6, 10-11).
A primeira parte da Gaudium at Spes finaliza no capítulo IV com a função
da Igreja no mundo atual. A origem da Igreja está em Cristo que por sua vontade a
quis constituir e a constituiu com homens que fazem parte da cidade terrena
organizados como sociedade neste mundo e iluminados pelo Espírito Santo. A família
dos filhos de Deus caminha junto com a humanidade e assim não se torna uma família
fechada. A Igreja não vai se limitar ao anúncio da vida divina, ela acredita que muito
pode ajudar na edificação da dignidade humana através de suas pastorais e
movimentos. Sendo ela o fermento e a alma da sociedade sabe que o homem é
desejoso de respostas sobre o sentido da vida e o que se dará após a morte; o que
ela faz é anunciar que só Deus criador de todas as coisas pode dar resposta a estas
perguntas e Ele as concede pela revelação em Cristo. A Igreja tem plena consciência
de que serve a Deus e confiante em seu plano de Salvação respeita a livre decisão
humana de aderir ou não à fé; contudo, ela rejeita todo o tipo de servidão que além
de denigrir o homem o acorrenta no pecado fazendo dele prisioneiro do próprio desejo.
Assim, sua missão não é de ordem política, econômica ou social e sim religiosa. Por
essa missão e por não ter ligação com sistemas políticos ela se mostra de forma
universal (Católica) promovendo uma comunicação clara com diversas comunidades
e nações orientando na superação de conflitos. A forma como vivemos nossa vida
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aqui na terra é tema de orientação da Igreja que pede ao cristão que não viva numa
redoma sem se importar com os problemas do mundo, pois, ao faltar com seus
deveres aqui na terra o homem falta com seus deveres para com o próximo e termina
colocando em risco a salvação. Pior sorte terá aquele que sendo membro da Igreja se
torna infiel ao Espírito. Pois, a Igreja não venda seus olhos para a má conduta de
papas, bispos, padres religiosos e religiosas que no decorrer dos séculos viraram as
costas para a cruz de Cristo e passaram a anunciar um Evangelho diferente; para
esses a Palavra é dura. (cf. Gl 1, 8).
O capítulo finaliza nos dizendo que o único fim da Igreja é o advento do Reino
de Deus. Jesus se fez homem para que todo aquele que nEle crê tenha a Salvação.
É ele que, após ser ressuscitado pelo Pai, senta-se à direita no trono e será o justo
juiz para todos.

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