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Comunidade de Amor de Serviço

Trabalho realizado por:


Ema Cruz nº7
Inês Lima nº11
Luana Mauris nº13
Mariana Ferreira nº14
Índice
Introdução

A igreja como uma "Comunidade de Amor e de Serviço" representa uma perspetiva enriquecedora e
fundamental no contexto do cristianismo. Este conceito transcende as paredes institucionais,
destacando a importância intrínseca do amor mútuo e do serviço desinteressado dentro da
comunidade cristã. Ao centrar-se nessas dimensões fundamentais, a igreja não apenas se torna um
espaço de adoração, mas também em um ambiente no qual os valores centrais do Evangelho são
personificados e praticados. Neste trabalho, será possível perceber como essa compreensão da igreja
não só define a experiência religiosa dos fiéis, mas também impacta a maneira como a fé cristã se
manifesta na sociedade contemporânea, promovendo um compromisso autêntico com o amor e o
serviço ao próximo.
A igreja, realidade presente na sociedade

1.1. Diversidade de perspetivas e de leituras sobre a igreja


A diversidade de perspetivas e leituras sobre a
igreja é um tema que pode ser explorado em
várias dimensões, abrangendo tanto
interpretações teológicas quanto análises sociais
e culturais. Em termos teológicos, diferentes
correntes dentro do cristianismo podem oferecer
interpretações distintas sobre a natureza da
igreja, no seu papel da salvação e na sua relação
com Deus. Além disso, a diversidade pode
surgir em relação às práticas litúrgicas, estrutura eclesiástica e interpretação das escrituras sagradas.
Do ponto de vista social e cultural, a diversidade de perspetivas sobre a igreja reflete as diferentes
tradições, contextos culturais e experiências individuais. Pode-se observar variações nas práticas
religiosas, valores éticos e na forma como a igreja envolve-se com questões contemporâneas. A
interpretação da igreja como uma instituição benevolente e promotora de justiça social pode
coexistir com visões mais críticas que enfocam aspetos históricos problemáticos ou questões de
poder dentro da hierarquia eclesiástica.
Além disso, a diversidade de perspetivas sobre a igreja também pode se manifestar em discussões
sobre o papel da igreja na sociedade, na sua relação com outros grupos religiosos e na sua
abordagem em relação a questões contemporâneas, como diversidade de gênero, sexualidade e
justiça social. Estas diversas interpretações contribuem para um diálogo enriquecedor e para a
compreensão da complexidade da igreja como uma instituição multifacetada, sujeita a
interpretações variadas e em constante evolução.

1.2. O olhar crente sobre a Igreja


O olhar crente sobre a igreja é uma temática que destaca a perspetiva dos fiéis e dos crentes em
relação à instituição religiosa. Essa abordagem envolve a análise das crenças, valores e experiências
espirituais dos membros da igreja, influenciando as suas perceções sobre o papel da instituição na
vida espiritual e na comunidade. Sob essa perspetiva, a igreja é muitas vezes vista como um espaço
sagrado de comunhão, adoração e crescimento espiritual. Os crentes podem interpretar a igreja
como uma comunidade que oferece apoio, orientação moral e um ambiente propício para
aprofundar a sua fé.
Além disso, o olhar crente pode incluir a apreciação das práticas litúrgicas, sacramentos e
ensinamentos da igreja como elementos fundamentais para a vivência da espiritualidade. Esta visão
frequentemente ressalta a importância da comunhão entre os membros da congregação e a conexão
espiritual que a igreja proporciona.
No entanto, é importante reconhecer que a perspetiva cristã sobre a igreja pode variar
consideravelmente entre os diferentes indivíduos, dependendo da sua interpretação pessoal da fé e
das experiências vividas na comunidade religiosa. Essa diversidade de pontos de vista contribui
para a riqueza e a complexidade das experiências religiosas dentro da igreja.

1.3. O lugar da igreja no credo


O lugar da igreja no credo refere-se à posição e importância
atribuídas à igreja dentro das crenças e declarações de fé. Este
aspeto pode ser analisado tanto em termos teológicos quanto
práticos. Teologicamente, o lugar da igreja no credo destaca a
sua relevância no plano divino e na realização da obra de
Deus na Terra. A igreja pode ser vista como um instrumento
central na realização da vontade divina, com um papel vital
na salvação e na disseminação da mensagem religiosa.
Praticamente, o lugar da igreja no credo pode ser evidenciado
nas declarações de fé, liturgias e práticas religiosas que
enfatizam a comunidade de crentes como uma expressão
visível da presença divina. A igreja, nesse contexto, pode
desempenhar um papel essencial na formação espiritual, no
culto coletivo e na missão de difundir as crenças
fundamentais. A ênfase no lugar da igreja no credo pode
variar entre diferentes tradições religiosas, refletindo interpretações distintas sobre o papel da
comunidade de crentes no contexto da fé.

O caminhar da igreja na história


2.1. A igreja como realidade histórica
A igreja como realidade histórica refere-se à compreensão da instituição religiosa ao longo do
tempo, considerando seu desenvolvimento, eventos históricos e evolução. Essa perspetiva
reconhece a igreja como uma entidade que tem raízes históricas profundas, influenciada por
contextos culturais, sociais e políticos ao longo dos séculos.
Ao analisar a igreja como uma realidade histórica, os
estudiosos podem examinar a sua formação, as
mudanças na sua estrutura organizacional, os concílios
que moldaram as suas doutrinas e a maneira como
respondeu a desafios e crises ao longo da história. Isso
inclui eventos como a Reforma Protestante, os
concílios ecumênicos, as divisões denominacionais e
as interações com questões sociais relevantes em
diferentes períodos.
A compreensão da igreja como uma realidade histórica permite uma apreciação mais profunda das
influências que moldaram sua identidade e práticas ao longo dos séculos. Isso inclui também a
análise das figuras históricas significativas, movimentos religiosos e as contribuições da igreja para
a cultura e sociedade. Essa perspetiva reconhece a importância de considerar a continuidade e a
transformação da igreja ao longo do tempo para uma compreensão completa de sua natureza e
impacto histórico.

2.2. No império romano


O caminhar da igreja na história do Império Romano destaca o papel significativo desempenhado
pela instituição religiosa durante esse período histórico. A ascensão e difusão do cristianismo no
contexto do Império Romano foram marcadas por eventos cruciais, incluindo as perseguições
iniciais aos cristãos e, posteriormente, a sua aceitação e promoção como religião oficial sob o
imperador Constantino.
Durante as primeiras décadas, os cristãos enfrentaram perseguições devido à sua recusa em adorar
os deuses romanos, resultando em martírios e restrições à prática religiosa. Contudo, a virada
ocorreu no século IV, quando Constantino se converteu ao cristianismo e promulgou o Édito de
Milão, garantindo liberdade religiosa aos cristãos. A igreja então experimentou um período de
legalização e estabelecimento, transformando-se de uma comunidade perseguida em uma instituição
apoiada pelo Estado.
Esse contexto histórico moldou a estrutura e a influência da igreja no Império Romano,
contribuindo para debates teológicos, concílios ecumênicos e a formação de uma identidade cristã
mais organizada. O caminhar da igreja nesse período é crucial para compreender não apenas o
desenvolvimento do cristianismo, mas também seu impacto na cultura, na política e na sociedade do
Império Romano.

2.4. No tempo da reforma


O caminhar da igreja durante a Reforma foi um período de profunda transformação na história
cristã, marcado por mudanças teológicas, sociais e políticas. No século XVI, líderes como Martinho
Lutero, João Calvino e outros desafiaram as práticas e doutrinas da Igreja Católica Romana,
buscando reformas e retornando às fontes originais do Cristianismo.
A Reforma resultou em divisões significativas dentro da cristandade ocidental, com a formação de
várias tradições protestantes. As questões teológicas, como a justificação pela fé e a autoridade das
Escrituras, foram fundamentais nesse período. O movimento também teve implicações sociais e
políticas, influenciando a estrutura da sociedade e a relação entre a igreja e o Estado.
A Reforma trouxe consigo perseguições religiosas, conflitos armados e a formação de novas
comunidades religiosas. O caminhar da igreja nesse contexto histórico foi marcado por debates
teológicos intensos, a tradução da Bíblia para línguas vernáculas e o surgimento de diversas
confissões de fé.
Assim, o período da Reforma é crucial para entender as origens e a diversificação do Cristianismo,
bem como suas implicações na estrutura da igreja e na sociedade da época.

2.5. Na modernidade
O caminhar da igreja na modernidade reflete as transformações profundas ocorridas nos últimos
séculos, com mudanças significativas na sociedade, na cultura e no pensamento. Durante esse
período, a igreja teve de enfrentar desafios decorrentes da Revolução Industrial, avanços científicos,
movimentos sociais e mudanças políticas.
A modernidade viu o surgimento de correntes filosóficas que questionavam as estruturas
tradicionais, incluindo aquelas relacionadas à religião. O Iluminismo, por exemplo, promoveu a
razão e a ciência, muitas vezes em detrimento das tradições religiosas estabelecidas. A
secularização tornou-se um fenômeno proeminente, com uma diminuição da influência da igreja
sobre vários aspetos da vida pública.
Ao mesmo tempo, a modernidade trouxe desafios éticos e sociais, como as questões relacionadas
aos direitos humanos, justiça social e a evolução dos valores morais. A igreja, em resposta a esses
desafios, teve de se engajar em diálogos críticos e adaptar suas abordagens pastorais e teológicas
para permanecer relevante em um mundo em constante transformação.
Além disso, a modernidade testemunhou a diversificação do Cristianismo, com o surgimento de
várias denominações e movimentos religiosos. A tecnologia e os meios de comunicação também
influenciaram a disseminação das mensagens religiosas, oferecendo novas oportunidades e desafios
para a igreja.
Em resumo, o caminhar da igreja na modernidade é caracterizado por sua interação dinâmica com
as mudanças sociais, culturais e intelectuais, exigindo adaptação contínua e reflexão sobre seu papel
na vida das pessoas e na sociedade.

2.6. Na contemporaneidade
Na contemporaneidade, o caminhar da igreja continua a ser influenciado por uma série de fatores
que refletem as características e desafios do mundo atual. A igreja, ao longo do século XXI,
enfrenta uma sociedade globalizada, avanços tecnológicos, questões éticas complexas e uma
crescente diversidade cultural e religiosa. Alguns aspetos notáveis desse caminhar incluem:

● Globalização e Diversidade: A igreja contemporânea se depara com um mundo


interconectado, onde as comunidades religiosas têm acesso a diversas culturas e tradições. A
diversidade religiosa e cultural desafia a igreja a desenvolver uma compreensão mais inclusiva e
respeitosa em relação aos diferentes contextos em que ela está inserida.

● Tecnologia e Média: As tecnologias digitais e as redes sociais transformaram a forma como as


pessoas se comunicam e interagem. A igreja contemporânea utiliza essas ferramentas para
disseminar mensagens, promover o engajamento comunitário e proporcionar experiências
religiosas online.

● Questões Éticas e Sociais: Desafios éticos, como justiça social, direitos humanos, meio
ambiente e bioética, têm um impacto significativo na abordagem da igreja em relação a questões
contemporâneas. Muitas comunidades religiosas estão envolvidas em iniciativas voltadas para o
bem social e a transformação positiva da sociedade.

● Pluralismo Religioso e Secularismo: A igreja enfrenta um contexto em que o secularismo e o


pluralismo religioso são mais pronunciados. Isso exige uma reflexão contínua sobre o diálogo
inter-religioso, bem como sobre o papel da religião na esfera pública.

● Participação Ativa dos Laicos: Há uma ênfase crescente na participação ativa dos leigos na
vida da igreja, buscando uma abordagem mais colaborativa entre líderes e membros da
comunidade.
Nesse cenário, o caminhar da igreja na contemporaneidade envolve respostas adaptativas a desafios
complexos, bem como a busca por maneiras autênticas de transmitir sua mensagem espiritual e
valores em um mundo em constante transformação.

2.7. O concílio Vaticano II


O Concílio Vaticano II, também conhecido como
Concílio Ecumênico Vaticano II, foi uma
assembleia de bispos católicos convocada pelo
Papa João XXIII e realizada entre 1962 e 1965 na
Basílica de São Pedro, no Vaticano. Este concílio
representou uma das transformações mais
significativas na história recente da Igreja
Católica, introduzindo mudanças significativas
em suas práticas, liturgia e relação com o mundo
moderno. Aqui estão alguns pontos-chave relacionados ao Concílio Vaticano II:

● Abertura ao Mundo Moderno: Uma das intenções do Concílio Vaticano II era abrir a Igreja
Católica ao mundo moderno, reconhecendo e respondendo aos desafios trazidos pela
sociedade contemporânea, incluindo avanços científicos, desenvolvimentos sociais e
mudanças culturais.
● Reforma Litúrgica: Uma das mudanças mais notáveis foi a reforma litúrgica que resultou na
criação de uma nova forma da Missa, conhecida como Missa Novus Ordo. O uso de línguas
vernáculas nas celebrações litúrgicas também foi permitido, permitindo maior compreensão
por parte dos fiéis.

● Participação Ativa dos Laicos: O Concílio enfatizou a importância da participação ativa dos
leigos na vida da igreja, reconhecendo que todos os membros da comunidade têm um papel
vital na missão da Igreja.

● Diálogo Inter-religioso: Promoveu o diálogo inter-religioso, incentivando uma postura de


respeito e compreensão em relação a outras tradições religiosas.

● Declaração sobre a Liberdade Religiosa: Em sua Declaração sobre a Liberdade Religiosa


(Dignitatis Humanae), o concílio defendeu a liberdade religiosa como um direito humano
fundamental.

● Atualização da Doutrina: Procura uma "atualização" (aggiornamento) da doutrina e da


prática da igreja, visando torná-las mais relevantes para o mundo contemporâneo.
O Concílio Vaticano II teve um impacto duradouro na Igreja Católica, influenciando as dinâmicas
internas da instituição e suas relações com outras tradições religiosas e o mundo em geral. Suas
decisões continuam a moldar o entendimento e a prática do catolicismo até os dias atuais.

Identidade e missão da igreja


● Será o Antigo Testamento importante para compreender a Igreja de hoje?
● Que relação existe entre o povo de Israel e a Igreja?
● Qual era, afinal, a religião de Jesus e dos seus apóstolos?
● Quando é que surge, de facto, a Igreja?
● Quais os grandes desafios lançados à missão da Igreja na atualidade?

Como referido nos anteriores capítulos, a Igreja é uma realidade divina e humana, com uma longa
história e feita de encontros e desencontros.
Neste capítulo, vamos procurar compreender a ligação existente entre a Igreja e o antigo povo de
Israel, no sentido de uma melhor compreensão da sua identidade e missão.
Haverá uma continuidade, uma complementaridade, entre o antigo povo de Deus e a Igreja?
A Igreja está vitalmente ligada ao acontecimento de Jesus e só lhe pode ser fiel na força da ação do
Espírito Santo, que a capacita para um compromisso permanente.

3.1. Igreja preparada na história do povo de Israel


O passado é, como já vimos, essencial para compreendermos o presente e projetarmos o futuro.
Para uma melhor compreensão da igreja e da sua missão, temos ainda de revisitar a Bíblia, a
começar pelo Antigo Testamento lança para as igrejas as sementes que conduzem à verdadeira
Esperança para a igreja: Jesus Cristo. De facto, a Igreja só se compreende à luz de uma história de
salvação que Deus quis e quer concretizar na história da humanidade, Por conseguinte, a origem da
Igreja tem de ser situada na eleição de Deus que escolhe o povo de Israel, na história de Jesus, que é
a definitiva manifestação do mesmo Deus, e na ação do Espírito Santo, que atualiza o significado e
a força salvíficos do acontecimento Jesus no início da Igreja e ao longo da história.

3.1.1. A relação particular entre judaísmo e cristianismo

Reconhece-se, assim, a importância do Antigo (ou primeiro) Testamento para a compreensão do


mistério da Igreja e a existência de uma particular relação entre o judaísmo e o cristianismo. A
Igreja na sua relação com o povo de Israel não se pode dizer pura e simplesmente, que a igreja,
'novo' povo de Deus, substitui ou absorveu o 'antigo' povo de Deus. Há uma continuidade, uma
complementaridade que precisa de ser respeitada.

Em síntese, é importante reconhecer que a essência da fé cristã e da Igreja pertence.


● Necessariamente um relacionamento com o judaísmo, A Igreja tem a sua raiz no judaísmo:
Jesus era judeu, os fundadores apostólicos das primeiras comunidades cristãs eram judeus, os
Escritos Sagrados do judaísmo pertencem à Sagrada Escritura;
● Uma diferença fundamental em relação ao judaísmo: na cruz de Jesus Cristo ultrapassa-se a
separação entre judeus e não judeus, de modo que todos os povos do mundo têm agora a
possibilidade de ser introduzidos no novo 'povo de Deus' (catolicidade da Igreja).
3.1.2. Igreja enraizada na experiência crente de Israel

Na sequência do que já foi referido anteriormente, e olhando a experiência crente de Israel,


encontramos elementos fundamentais para a compreensão da Igreja e de diversos aspetos
estruturantes da sua realidade ao longo dos tempos, também no nosso.

3.2. A igreja de Jesus Cristo


3.2.1. A origem da Igreja em Jesus

Preparada na história de Israel, a igreja tem a sua origem no acontecimento de Jesus. Encontra o seu
fundamento na vida, morte e ressurreição de Jesus. Para se perceber profundamente a relação da
igreja com Jesus, é preciso olhar numa perspetiva de globalidade. Essa não ignora o significado
singular de determinados gestos e acontecimentos para o (futuro) da Igreja, mas considera, antes de
mais, a vida de Jesus no seu conjunto, consumada e iluminada.

3.2.2. O anúncio do Reino de Deus

Para uma adequada compreensão da identidade da Igreja, é necessário situá-la no anúncio do Reino
de Deus. Este anúncio constitui o centro da mensagem de Jesus, a razão de ser da sua vida, o
pressuposto fundamental que motiva as suas palavras e as suas ações, o elemento determinante do
seu agir livre e do seu horizonte de futuro. Com o anúncio do Reino/Reinado de Deus, Jesus não
está a falar de uma região ou de um lugar, de algo delimitado e fixo no tempo, mas de uma
realidade em movimento, de um acontecimento. É o acontecimento do agir de Deus que constrói a
sua soberania, que age como Senhor e Rei. Reino/Reinado de Deus (poderia traduzir-se por "Deus
chegou") fala da soberania salvífica, amorosa e misericordiosa de Deus.
O Reino de Deus e, pois, acontecimento de salvação, 'Boa-Nova' para os seres humanos. Dele se
fala em parábolas que mostram o que acontece quando se acolhe a soberania amorosa de Deus. Em
causa está a consistência, a verdade, a plenitude de qualquer vida humana. Olhemos quatro
momentos significativos da vida de Jesus, Idos à luz do anúncio e do testemunho atuante do Reino
de Deus:
● O grupo dos discípulos, chamados por Jesus, que se abrem ao acolhimento do Reino e procuram
seguir Jesus, pode ser visto como a comunidade (embrionária) da futura igreja;
● A eleição e missão do grupo dos doze (colunas da igreja) exprime a vontade de Jesus de reunir
de novo e definitivamente o conjunto do povo das doze tribos;
● As refeições de Jesus com os pecadores e com os seus discípulos devem ser vistas como ações
simbólicas, como sinais eficazes da presença ativa do Reino que se espera e que, antes de tudo,
graça e perdão. Sinalizam o amor salvífico universal de Deus;
● Na última ceia Jesus afirma a sua convicção crente de que a comunhão com os discípulos não
será rompida pela sua morte que está iminente. A entrega da sua vida, como consequência do
seu anúncio do Reino de Deus, como última oferta de aliança por parte de Deus a Israel e,
assim, a toda a humanidade.

A recusa da pessoa e mensagem de Jesus, culminada na sua morte. A igreja nasce, pois, a partir
do que se revela no seu pleno sentido apenas no acontecimento da Páscoa. A Igreja nasce, pois,
a partir do grupo de discípulos constituído como fruto do anúncio que Jesus faz do Reino de
Deus.

3.3. Igreja, realidade pós-pascal


3.3.1. O significado dos acontecimentos pascais

O acontecimento da morte de Jesus e suas circunstâncias não foram de fácil leitura para os
discípulos, antes apontavam para o fracasso da pretensão de Jesus e do seu anúncio do Reino de
Deus. Só a fé na ressurreição é que permite encontrar uma resposta positiva e iluminadora sobre o
sentido da sua vida e sobre a sua pessoa.
Os fenômenos de visão, as aparições do Senhor Ressuscitado e a notícia do túmulo vazio
convergiram na indicação de que a morte não foi a última palavra de Deus sobre a vida de Jesus:
pelo contrário, emerge a experiência e a certeza da fé de que o Senhor está vivo. A fé que reúne os
discípulos de Jesus é a fé na ressurreição. É a partir dessa experiência que a Igreja vai começar a
existir.

3.3.2. A consciência de ser comunidade definitiva da salvação

Os acontecimentos da Páscoa são compreendidos como sinal antecipador da soberania amorosa de


Deus (Reino de Deus) já presente em Jesus. Isto é, os discípulos entendem que, na pessoa de Jesus e
por Jesus, a salvação definitiva atinge já a todos os que o acolhem.
A consciência, por parte dos primeiros discípulos de Jesus, de serem a comunidade definitiva do
Ressuscitado e objeto da eleição de Deus, manifesta-se de modo expresso e inovador nalguns sinais
que ganham forma identificadora da Igreja na vida das primeiras comunidades cristãs:
● O batismo como rito de purificação e incorporação na comunidade cristã;
● As refeições comunitárias (fração do pão) celebradas em ambiente de alegria;
● As orações e súplicas de claro conteúdo escatológico (o uso da expressão "Maranatha": "Vem,
Senhor" cf. 1 Cor 16,23).
A consciência de ser "Igreja' - o verdadeiro povo de Deus dos tempos definitivos pelo cumprimento
das promessas de Deus, a comunidade separada de Israel em razão do acontecimento Jesus e aberta
aos pagãos - não foi algo de imediato, mas exigiu um processo de amadurecimento que durou o seu
tempo.

3.4 A Igreja, comunidade de vida


No conjunto dos escritos do Novo Testamento, a relação da Igreja, de cada um dos cristãos, a Jesus,
sobretudo, em duas grandes figuras:

Comunidade de discípulos

A Igreja como comunidade de discípulos que são chamados a seguir Jesus.

- A luz dos Evangelhos, ser cristão é procurar seguir a Jesus nas possibilidades reais e nas
circunstâncias próprias de cada história de vida.

- Concretiza-se: na abertura aos apelos de Deus no concreto da história; na fidelidade à própria


consciência, segundo o Mandamento Novo (Jo 13, 34) e respeitando os critérios das Bem-
Aventuranças (Mt 5,1-12); na disponibilidade de ser para os outros, integrando os desafios e
exigências da vida.

Corpo de Cristo

A Igreja como Corpo de Cristo no mundo pela ligação profunda e vital dos cristãos a Jesus,
significa que:

- A Igreja é um organismo vivo;


- Jesus, como 'cabeça', é o guia deste organismo;
- Há interdependência, articulação e cooperação entre os cristãos, na diversidade de serviços e
funções que desempenham.

3.5. A Igreja, Templo do Espírito

O Espírito Santo é para os crentes a alma da Igreja. A Igreja é constituída verdadeiramente pelo
envio do Espírito, que é o seu princípio de vida. O Espírito Santo é, assim, o princípio animador da
vida da Igreja, é condição fundamental e fonte permanente da existência crente e da vida eclesial
em todos os seus aspetos.
Nada de relevante pode ser pensado na igreja sem essa referência vital ao Espírito Santo, que vem
ao encontro de cada crente e o salva em cada tempo e lugar.

Na perspetiva da vida comunitária, o Espírito Santo é o princípio estruturador da comunidade


eclesial enquanto origem e fonte dos carismas e ministérios. A ação do Espírito faz-se
particularmente notar nos carismas que são dados para o serviço e para a construção da
comunidade. Só Ele possibilita o aprofundamento, a plena compreensão, a assimilação existencial,
fiel e mais autêntica do significado do acontecimento de Jesus na diversidade de tempos e de
espaços, ao longo da história.

O Espírito Santo é, assim, fonte de comunhão, criador da unidade na diversidade. O Espírito Santo
une e diversifica, fazendo ressaltar a identidade e a vocação próprias de cada um. Tudo o que a
igreja transporta consigo - palavra, sinais, estruturas, instituições... - só encontra o seu sentido na
medida em que é presença eficaz e forma de existência histórica crível do Espírito de Jesus Cristo.
Para a existência crente individual e comunitária decorre daqui uma sensibilidade espiritual aberta à
dimensão criativa, inovadora, da vida quotidiana da Igreja, nas suas diversas expressões.
Ver a Igreja como 'criação do Espírito' é, pois, uma atitude fundamental para compreender e
aprofundar a vida da Igreja na sua constante necessidade de renovação e na sua busca de resposta
aos 'sinais dos tempos'. De certa forma, a Igreja nunca está totalmente feita, está a fazer-se num
caminho que só termina no fim da história.
Se a verdadeira medida do amor é amar sem medida, Jesus desafia os seus discípulos - de ontem e
de hoje - a amar sempre e amar a todos. O amor é o núcleo do testemunho dos cristãos que colhem
das palavras de Jesus, na proclamação das Bem-Aventuranças, os critérios para uma vida em
abundância e feliz. Com efeito, a vida concreta de cada pessoa, em particular a dos mais frágeis e
desfavorecidos, jamais será indiferente à missão da Igreja, para que possa cumprir a sua missão
como 'Povo de Deus', 'Corpo de Cristo' e 'Templo do Espírito'.

SÍNTESE

● A origem da Igreja tem a sua raiz na eleição do povo de Israel por parte de Deus;
● A história do povo de Israel, escolhido por Deus, e importante para a compreensão da igreja de
Jesus Cristo;
● 'Povo de Deus' é, no Antigo Testamento, uma expressão central que integra e sublinha a
identidade mais profunda do povo eleito;
● Há uma relação de continuidade entre o povo de Israel e a Igreja, o novo Povo de Deus;
● A Igreja só se entende à luz da mensagem de Jesus;
● A igreja nasce a partir de um grupo de discípulos como fruto do anúncio que Jesus faz do Reino
de Deus;
● E a partir da experiência da ressurreição que a Igreja começa a existir;
● A igreja é constituída verdadeiramente pelo envio do Espírito Santo, que é o seu princípio de
vida;
● A igreja nunca está totalmente feita, está a fazer-se num caminho que só termina no fim da
história;
● A Igreja é desafiada a ter capacidade criativa para poder responder de modo mais autêntico aos
desafios de cada situação e às interpelações das pessoas em cada época;
● Jesus desafia os seus discípulos - de ontem e de hoje - a amar sempre e amar a todos;

4. Introdução

A Igreja, comunidade de amor e serviço, desenvolve a sua missão na defesa e promoção da


dignidade da vida humana, no cuidado com os mais frágeis e no cuidado da Casa Comum.
É chamada a acolher e a anunciar o amor salvador de Deus como esperança e sentido definitivo de
vida para cada ser humano e para a humanidade no seu conjunto.

A sinodalidade, isto é, 'caminhar juntos', é o modo de ser Igreja. Por isso, todos envolve, num
caminhar em conjunto, na transformação da humanidade e do mundo.

Neste capítulo, propomos-te um olhar sobre essa forma de ser da Igreja e de como cada cristão
encontra nela o seu lugar e a sua missão no serviço à comunidade humana.

4.1. A vocação fundamental de todos os batizados


A Igreja é chamada a acolher, viver e anunciar o amor de Deus como esperança e sentido pleno de
vida para os seres humanos e para a humanidade no seu conjunto. Todos os membros da Igreja são
convocados para serem 'sujeitos' ativos da sua fé.

Esta visão da Igreja, como toda uma comunidade que acolhe e proclama os dons de Deus para
salvação do mundo, pressupõe o reconhecimento basilar de que há uma igualdade fundamental de
todos os crentes, não obstante a diversidade dos carismas, serviços e ministérios nela existentes.

A vocação de todos os batizados concretiza-se em três 'estados de vida' que traduzem dimensões
essenciais da identidade e missão da Igreja: a vida laical, o ministério ordenado e a vida
consagrada.

Vida laical

Os cristãos leigos são todos os batizados que não pertencem à hierarquia nem à vida consagrada.
Dizem e procuram concretizar o que a Igreja é chamada a ser e a fazer neste mundo, ou seja,
lembram a toda a Igreja onde ela está e que ela existe para a libertação e a salvação do mundo.

Ministério ordenado

Os cristãos leigos são todos os batizados que não pertencem à hierarquia nem à vida consagrada.
Dizem e procuram concretizar o que a Igreja é chamada a ser e a fazer neste mundo, ou seja,
lembram a toda a Igreja onde ela está e que ela existe para a libertação e a salvação do mundo.

Vida consagrada

Põe em relevo a dimensão escatológica da existência cristã e da vida eclesial: sinaliza para onde a
Igreja vai, lembrando que está a caminho da eternidade. Seguem esta vocação os monges e monjas,
os religiosos e religiosas das ordens, congregações e institutos religiosos e seculares.

O significado teológico-eclesial destas modalidades de vida, dentro da globalidade da vocação e


missão de todo o Povo de Deus, exige que não se atribua a nenhuma delas uma primazia absoluta,
mas que se reconheça que cada uma, sob determinado ponto de vista (a sua razão de ser eclesial),
tem prioridade sobre as outras.
4.2. Diversidade de carismas, serviços e ministérios
Cada cristão é, de facto, capacitado com carismas, ou seja, com dons através dos quais se manifesta
e concretiza em cada um a graça de Deus. Esses dons correspondem a aptidões fundamentais da
pessoa, nas circunstâncias concretas da sua vida e em resposta a necessidades da comunidade cristã.

Especificam a forma concreta de o cristão servir o Reino de Deus nas diversas situações do mundo.
São exemplo deste serviço a alegria e o compromisso de jovens empenhados em cuidar dos mais
carenciados da comunidade.

Esta dimensão carismática é o elemento determinante e especificador da vocação e missão de cada


cristão las suas múltiplas realizações, como é igualmente a base estruturante dos diversos serviços e
ministérios existentes na Igreja.

No caso dos ministérios estamos perante carismas institucionalizados. De facto, alguns dos serviços
necessários na vida da comunidade eclesial foram, no passado, e podem vir a ser ainda mais no
futuro, reconhecidos como 'ministérios'.

Fala-se de um 'ministério quando, no reconhecimento da existência de dons o Espírito Santo (fala-se


normalmente da presença de uma 'vocação), estamos diante de um serviço bem determinado,
exercido no âmbito de uma tarefa necessária e de importância vital para a comunidade cristã,
conscientemente assumida por alguém, durante um período de tempo razoável (ou mesmo por toda
a vida).

4.3. Sinodalidade e corresponsabilidade na vida da Igreja


A diversidade de carismas, serviços e ministérios entende-se e pratica-se numa Igreja que procura
viver a sua realidade fundamental de comunhão ao serviço da missão.
A consciência disto tem de se traduzir num sentido de responsabilidade comum por parte dos
crentes.

Na tarefa de concretizar esse sentido de responsabilidade comum e de fomentar indispensáveis


formas de participação na vida da Igreja, a via sinodal apresenta-se como exigência de primordial
importância. Trata-se, nomeadamente, de associar e articular equilibradamente a autoridade própria
dos pastores e a participação o mais ampla e consciente possível da comunidade, no sentido de se
fomentar diversos níveis de participação, de encontrar modos de proceder mais adaptados à
sensibilidade atual e ao sentido da responsabilidade das pessoas.

Como se concretiza uma igreja sinodal? Eis algumas possibilidades:


- Com a participação representativa dos fiéis nas diferentes estruturas;
- Na articulação dos diversos serviços e ministérios;
- Através do diálogo vivo e comprometido;
- No acolhimento das pessoas;
- Pelo estímulo de uma cultura de corresponsabilidade dos crentes na vida e missão da Igreja.

A sinodalidade exprime a natureza da Igreja, a sua forma, o seu estilo, a sua missão. (Papa
Francisco)

Comunhão
Deus reúne-nos como povos diversos de uma só fé. A comunhão que partilhamos encontra as suas
raízes mais profundas no amor e na unidade da Trindade.
Participação
Um chamamento ao envolvimento de todos os que pertencem ao Povo de Deus - leigos,
consagrados e ministros orde-nados - para se empenharem no exercício de uma escuta profunda e
respeitosa uns dos outros.

Missão
A Igreja existe para evangelizar.
O crente não está centrado em si mesmo. A sua missão é testemunhar o amor de Deus no meio de
toda a família humana. O Processo Sinodal tem uma dimensão profundamente missionária.

5. Introdução

No Credo, que se reza na Missa, professa-se que a Igreja de Jesus Cristo é "una, santa, católica e
apostólica".
Os cristãos, no seu quotidiano, são desafiados a assumir uma vivência de opção. que os compromete
a ser com e para os outros e a deixar de ser uma vivência 'meramente cultural'.

Desde os primeiros tempos, os discípulos de Jesus procuraram expressar e transmitir o essencial da


sua fé em fórmulas breves, com valor normativo para a comunidade dos crentes. Há, por
conseguinte, nestas expressões sintéticas da fé da Igreja, um claro enraizamento histórico.

A Igreja não é de Pedro nem de Paulo, mas de Cristo, movida pelo Espírito Santo, o que permite
compreender melhor o duplo sentido de bivalente de Ekklesia - reunidos e chamados para a missão.

A sua universalidade/catolicidade é fundada nos apóstolos, escolhidos por Jesus Cristo, enviados
em missão, com a ajuda do Espírito Santo e continuada pelos que lhes sucederam no ofício pastoral.

5.1. Os símbolos como expressão-síntese dos conteúdos da fé


Desde os primeiros tempos, e sobretudo em relação com a celebração do batismo, os discípulos de
Jesus procuraram expressar e transmitir o essencial da sua fé em fórmulas breves, com valor
normativo para a comunidade dos crentes.

É o caso das 'profissões de fé' (a fé que os cristãos professam), 'símbolos da fé' (expressões que
exprimem a identidade dos crentes e criam ligação entre eles) ou 'Credos' (aquilo que cada cristão e
todos acreditam em comum), que surgiram em diversos contextos históricos e perduram até aos
nossos dias.

No Credo Niceno-Constantinopolitano, os cristãos professam a sua fé na Igreja una, santa, católica


e apostólica. Trata-se de uma das maneiras mais densas de falar do mistério da Igreja.
Nestas quatro 'notas' da Igreja emergem aquelas características ou dimensões, nas quais se
manifesta a relação estrutural da Igreja com o mistério de Cristo que está na sua origem e a sustenta.
Por isso mesmo, elas constituem realidades intimamente unidas entre si e interdependentes.

Há, por conseguinte, nestas expressões sintéticas da fé da Igreja, um claro enraizamento histórico: o
Credo cristão não é um credo abstrato, feito de verdades teóricas, é um 'Credo histórico', isto é, fala
de acontecimentos na nossa história em que emergiu o agir salvífico de Deus. O núcleo da fé cristã
concentra-se nos acontecimentos pascais (morte e ressurreição de Jesus), que permitem reconhecer
quem é, em definitivo, a pessoa de Jesus e o Mistério de Deus que nele se revela e que continua
atuante na força do Espírito Santo. Estamos, assim, diante da estrutura essencialmente trinitária do
Credo. Tendo em conta essa estrutura trinitária, podemos sublinhar em termos confessionais (de
conteúdo da confissão de fé), como elementos nucleares e essenciais, os seguintes:
A fé é encontro e adesão a uma Pessoa, Jesus Cristo, como revelação do amor definitivo e salvador
do Deus Uno e Trino.

 CRER
 CRER EM DEUS QUE É PAI, FILHO E ESPÍRITO SANTO
 CRER QUE DEUS É PAI E CRIADOR
 CRER EM JESUS CRISTO
 CRER NO ESPÍRITO SANTO
 CRER NA IGREJA
 (UNA, SANTA, CATÓLICA E APOSTÓLICA)

5.2. A unidade da Igreja como dom e tarefa

5.2.1. A compreensão católica da unidade da Igreja


A compreensão católica da unidade da Igreja
A confissão de fé na Igreja una afirma nuclearmente que há uma só Igreja de Jesus Cristo, e isto
como preposto óbvio, só indiretamente refletido nos textos do Novo Testamento face a concretos
problemas de ameaças de divisões nas comunidades primitivas. Mesmo assim, lê-se em Ef. 4,4-6:

Esta convicção de fé de que há uma só Igreja de Jesus Cristo é nos indicada, desde logo, também
pelas principais figuras da Igreja: Identidade e missão da Igreja. O motivo mais profundo da
unidade e da unicidade da Igreja reside, pois, no próprio Mistério de Deus, na fé em Jesus Cristo
como único Mediador e Salvador, no reconhecimento da ação do único
Espírito.

A fé católica professa a unidade e a unicidade da Igreja, vendo nela o 'lugar' do encontro com Jesus
Cristo, que é o caminho, a verdade e a vida na busca humana de abertura ao verdadeiro Deus.

Assim, é convicção católica que, apesar das divisões ocorridas ao longo dos séculos, a unidade da
Igreja nunca se perdeu completamente.

A unidade da Igreja é vista, pois, como dom irrevogável que permanece, apesar da e para além da
realidade das divisões cristãs, dom ligado ao caráter definitivo do acontecimento Jesus Cristo e ao
significado que a Igreja tem nesse acontecimento.

Naturalmente que esta autoconsciência católica de ser a verdadeira Igreja de Jesus Cristo nas
circunstâncias da história não é uma afirmação exclusiva sua. Com a mesma intensidade isso
acontece, por exemplo, por parte das Igrejas ortodoxas. E mesmo nas outras Comunidades eclesiais,
por mais que esta questão possa ser enquadrada num horizonte de compreensão algo diferente, há
certamente a convicção, pessoal e comunitária, de se estar a seguir o caminho mais adequado em
termos de verdade e de fidelidade ao Evangelho.

5.2.2. Identidade ecuménica da Igreja


O Concílio Vaticano II reafirmou a convicção do papel singular da Igreja católica, mas superou uma
visão que excluía toda a eclesialidade fora do seu espaço, reconhecendo a presença, nas Igrejas e
Comunidades cristãs não católicas, de elementos eclesiais próprios da Igreja de Cristo.

Não se exclui a existência, fora das estruturas visíveis da Igreja católica, de cristãos que procurem
ser fiéis ao Evangelho, antes reconhece-se também a ação do Espírito Santo e a existência de frutos
de santidade nas outras Igrejas e Comunidades eclesiais (cf. Unitatis Redintegratio, 3).

Neste sentido, a Igreja reconhece como sua marca identitária e tarefa permanente a dimensão
ecuménica, concretizada no encontro, no diálogo e reflexão conjuntos e na promoção de momentos
celebrativos entre cristãos das diversas igrejas cristãs.

5.3. Santidade da Igreja

A afirmação crente da santidade da Igreja radica nos frutos da ação do Espírito Santo e constitui,
desde os primeiros séculos, um dos dados basilares da visão da Igreja, sublinhada de novo pelo
Concílio Vaticano II: "A nossa fé crê que a Igreja, cujo mistério o sagrado Concílio expõe, é
indefetivelmente santa." (Lumen Gentium, 39).

De facto, a afirmação do Credo na 'santa Igreja' quer dizer, fundamentalmente, que a Igreja é santa e
que os cristãos são santos por obra de Deus, enquanto santificados pelo amor de Deus, que os
escolheu para uma missão. Isso mesmo é uma realidade verificável ao longo de dois mil anos de
história e na vida de muitos crentes nos dias de hoje, apesar de todas as suas fragilidades. A
afirmação crente de que a Igreja é santa lembra, por isso e de modo particular, o chamamento de
todos os crentes à santidade como processo de maturação no seguimento de Jesus.

Este chamamento universal à santidade ultrapassa, aliás, as fronteiras da Igreja católica, pelo que
importa também acolher e reconhecer os frutos de santidade existentes nas outras Igrejas e
Comunidades eclesiais e o seu significado ecuménico na busca da unidade da Igreja.

Cada cristão é chamado a viver a santidade no seu quotidiano e na relação com os outros,
centrando a sua ação no Amor, que responde à questão introdutória da parábola do Bom
Samaritano: 'Quem é o meu próximo?".

5.4. Catolicidade da Igreja como desafio permanente

5.4.1 Catolicidade e seu sentido

No uso da palavra 'católica' não se tem em vista apenas a universalidade geográfica, mas também a
plenitude de verdade e de salvação que brota da ação redentora de Jesus Cristo, testemunhada na
vida da comunidade eclesial. Prevalece, de um modo geral, o sentido primeiro e mais denso, que vê
'Igreja cató-lica' como expressão sinónima de Igreja 'verdadeira', 'ortodoxa', 'completa', 'íntegra', na
qual se manifesta a plenitude de graça e de verdade dada em Jesus Cristo.

A dimensão da catolicidade da Igreja está intimamente ligada à legítima diversidade e à riqueza de


expressões teológicas, litúrgicas, espirituais e canónicas da fé católica no seio das Igrejas
particulares.
Traduz-se, para a Igreja, na necessidade de encarnar nas condições sociais e culturais dos diversos
povos, de modo a poder oferecer a todos o mistério de salvação e a vida trazida por Deus.

No Decreto Unitatis Redintegratio, no 4, no contexto do problema ecuménico, entende-se a


catolicidade da Igreja como vivência da comunhão que procura guardar "a unidade nas coisas
necessárias", conservando ao mesmo tempo "a devida liberdade tanto nas várias formas de vida
espiritual e de disciplina, como na diversidade de ritos litúrgicos e até mesmo na elaboração
teológica da verdade revelada".

5.4.2. A tarefa da catolicidade

A catolicidade da igreja é a expressão histórica de que o Espírito Santo, fonte de unidade


e de diversidade, constrói a comunhão, assumindo, sem as destruir, as diversidades
específicas, as particularidades concretas da vida dos seres humanos no seu contexto
existencial próprio.
A catolicidade é tanto tarefa da Igreja universal como da Igreja local. A capacidade de
comunhão no meio das diversidades legítimas é uma das expressões indispensáveis de
autêntica catolicidade.
A catolicidade apresenta-se também como tarefa ecuménica. A experiência da divisão
confessional mostra que todos os cristãos são afetados pela possibilidade de uma
vivência mais autêntica e plena da catolicidade.

5.5. A igreja Apostólica, fiel a Jesus

A igreja está para sempre ligada ao


testemunho original, fundante, dos
apóstolos (“enviados”).
Entendida como fidelidade ao
testemunho e à doutrina dos apóstolos,
percebe-se bem que toda ela é chamada
a viver a apostolicidade, a ser fiel ao
Evangelho de Jesus, testemunhado
pelos apóstolos. Toda a igreja e todos os
seus membros estão envolvidos nessa
tarefa de fidelidade e na
responsabilidade de testemunho da te apostólica.

Na perspetiva católica, a sucessão apostólica ministerial só é plenamente realizada pela


sucessão no ministério episcopal, pois só ao bispo é dada, pela consagração episcopal, a
plenitude do sacramento da ordem.
Com a ordenação episcopal, cada bispo passa a ser membro do colégio dos bispos, que,
em continuidade com a missão dos apóstolos, tem a missão de conservar na sua
integridade a verdade da fé e a comunhão das Igrejas locais e da Igreja inteira. Segundo
a convicção católica, o episcopado como um todo, em união com o Romano Pontífice,
sucessor de Pedro, mantém-se fiel à verdade fundamental do Evangelho.
A Igreja católica entende a sucessão apostólica no ministério episcopal como sinal e
serviço da sua aposto-locidade e como garantia, sob a condução do Espírito Santo, da
permanência na mesma fé ao longo dos tempos e em todos os lugares.

SÍNTESE

A unidade da Igreja nunca se perdeu completamente, apesar das divisões ocorridas ao


longo dos séculos.
A igreja é santa e os cristãos são santos por obra de Deus, enquanto santificados pelo
amor de Deus que os escolheu para uma missão. Pede-se-lhes que sejam testemunho
dessa santidade nas suas vidas.
A catolicidade como fruto da ação do Espírito exige, ao mesmo tempo, sensibilidade
atenta e aberta às riquezas diversas que tecem o viver humano, tanto a nível individual
como comunitário. Ela apresenta-se também como tarefa ecumênica.
Toda a igreja é chamada a viver a apostolicidade, a ser fiel ao Evangelho testemunhado
pelos apóstolos. Todos os membros da igreja estão envolvidos nessa tarefa de fidelidade
e na responsabilidade de testemunho da fé apostólica.

6. Igreja que peregrina na história

Introdução
Hoje, vivemos num mundo plural/global, com tudo o que de bom e de mau isso possa
significar, cujos desafios antropológicos e culturais são sentidos pelos jovens como
proposta de vida. Eles têm a possibilidade de ser os protagonistas do seu viver, mas,
muitas vezes, sem herança e sem memória e com grande decepção para com as
instituições.
As implicações e consequências da vivência cristã obrigam a uma promoção da coerência
por parte dos crentes, entre o que professam e rezam nas suas casas, ou lugares
sagrados, e a sua vida profissional, de vizinhança, etc.. Levam cada um a "reconhecer
nos pobres e nos que sofrem a imagem do seu fundador pobre e sofredor, procurando
aliviar as suas necessidades e tentando servir neles a Cristo". Implica, também, uma
maior atenção aos sinais dos tempos e um dinamismo de saída, de ir para fora, numa
atitude de abertura e de acolhimento.

6.1.1. Os 'sinais dos tempos' como interpelação à missão da Igreja


Um dos elementos fundamentais da renovação eclesial posta em relevo pelo Concílio
Vaticano II foi a perceção de que a Igreja, peregrina na história, vive inserida nas
circunstâncias do mundo, com as suas mudanças e evoluções. Assim, está também
sujeita aos condicionamentos, limites e fragilidades do tempo que passa (cf. LG, 48). Há
agora a consciência de que só no reconhecimento dos seus limites e falhas e num esforço
constante de renovação é que a Igreja pode cumprir a sua missão. O testemunho
autêntico do Evangelho de Jesus não passa por uma atitude fixista e imóvel, mas exige a
disponibilidade mental, espiritual e prática para uma atitude de 'contemporaneidade' com
o tempo (J. B. Metz), sem que isso signifique uma simples 'adaptação' ao tempo, isto é,
um deixar-se levar por correntes e tendências conjunturais do viver humano na história.
É neste contexto que se entende a afirmação do Concílio Vaticano II de que a Igreja tem
de estar atenta aos 'sinais dos tempos', isto é, àqueles acontecimentos e transformações
na sociedade que podem ser não só indicativos de profundas e legítimas aspirações
humanas, mas também expressões sinalizadoras do plano de Deus para a humanidade.
A leitura crente dos sinais dos tempos, como escuta da ação do Espírito na história, não é
tarefa fácil nem imediata. Por isso, a resposta da fé exige um trabalho árduo e longo de
discernimento, a busca corajosa de fidelidade aos critérios evangélicos e o esforço de
perceber os verdadeiros sinais do Amor de Deus no meio da complexidade da história
humana.

6.1.2. Uma igreja no mundo e aberta ao diálogo com o mundo

Pressuposto fundamental nesta consciência


da importância da atenção a prestar aos
'sinais dos tempos' é o modo como a Igreja
compreende a sua relação com o mundo.
Neste aspeto, a visão conciliar caracteriza-
se, antes de mais, por assumir uma
consideração positiva do mundo e do viver
cristao nas circunstâncias do mundo, a luz da
sua fé em Deus Criador e Salvador.
Neste modo de pensar, a igreja percebe que
não está simplesmente diante do mundo,
mas que ela também vive no mundo, e parte
dele como o quadro indispensável de vida e de ação da humanidade.
Estabelecem-se, assim, o princípio e a necessidade de um diálogo constante da Igreja
com a ciência, a cultura, a arte... A Igreja não só tem algo a ensinar ao mundo, como,
também, na relação com este, aprende do caminhar histórico do viver humano.

6.1.3. Igreja atenta aos “lugares” de


presença de Deus no mundo
A Igreja e cada cristão, numa atitude atenta e de diálogo, procura um modo de viver
aberto e sensível aos lugares diversos, muitas vezes inesperados, de presença concreta
de Deus no nosso mundo. Procura estar aberta a todos os homens e mulheres de boa
vontade, na convicção de que, desse modo, não só cumpre a sua missão, mas também
encontra, na vivência concreta e quotidiana, o Deus Criador e Salvador em que acredita.
Colaborando com todos os homens e mulheres na construção humana do mundo e
esforçando-se por tornar a vida mais humana, emergem como interpelação para os
crentes inúmeros “lugares” da presença de Deus na história do mundo.

O amor ao próximo é, de facto, lugar essencial de descoberta de Deus e de verdadeira


realização humana à luz de Deus. A consciência pessoal - "o centro mais secreto e o
santuário do homem, no qual se encontra a sós com Deus" (GS, 16) - é lugar privilegiado
e intocável da presença de Deus.

6.2 A Igreja ao serviço do amor e da humanidade

Inserida no mundo e colaborando na construção do mundo à luz do seguimento de Jesus,


a Igreja entende toda a sua vida e todo o seu agir como testemunho e serviço do Amor de
Deus.
A Igreja nunca pode pensar-se ou agir como se fosse um fim em si mesma, esquecendo
que está ao serviço do Espírito que dela se serve numa missão universal que a
ultrapassa: o anúncio e o testemunho do Reino de Deus que vai irrompendo neste mundo.

A Igreja é sacramento de salvação


para todo o ser humano. Nesta
ordem de ideias, a função da igreja
como comunidade querida por
Deus ao serviço da sua vontade
salvífica universal é essencialmente
uma função de ordem
representativa, não exclusiva, isto
é, a Igreja não é tudo nem é
chamada a ser tudo, mas é para
todos.
Assim, a missão específica e indispensável da Igreja pode ser caracterizada como sendo
a tarefa de sinalizar e de atualizar " a forma evangélica da salvação". Sendo a Igreja fruto
da ação redentora de Jesus Cristo, ela articula, nomeia, testemunha o caminho da
salvação que o Evangelho de Jesus ilumina e possibilita.
Isto é, a Igreja, pela força do Espírito Santo, afirma e testemunha que a salvação é dom
gratuito de Deus, oferecido a todos os homens e mulheres da nossa história.
Estando ao serviço do Evangelho de Jesus, a missão específica da igreja e de ordem
religiosa, representando um contributo de enorme significado para a humanidade dos
seres humanos e para a humanização deste mundo.
Ao acentuar-se o caráter religioso da missão da Igreja, está a dizer-se que a Igreja não
tem, própria e diretamente, uma missão de ordem social, cultural, económica ou política.
A Igreja não tem nem pode ter, como é óbvio, a mesma missão que o Estado, um partido
político, uma organização social. Todavia, quer dizer também que o específico da missão
da Igreja não se esgota no aspeto, pura e formalmente, 'religioso' (entendido como um
setor delimitado do viver humano, ligado a determinadas práticas culturais).
Na sua conceção autêntica, a fé cristã e a missão da Igreja, que a suporta e realiza, têm
que ver com a vida toda da pessoa e das comunidades humanas. Essa missão específica
de ordem religiosa não se reduz à 'salvação das almas', mas refere-se à salvação da
pessoa toda, na totalidade das suas dimensões e dos seus relacionamentos como ser
singular, concreto e histórico.

A partir desta convicção crente, a pergunta que se coloca é a de saber como é que a
missão religiosa da Igreja se pode tornar realmente, em concreto, fonte de humanização.
Nesse sentido, podem apontar-se algumas indicações fundamentais:

● A Igreja contribui para a humanização do mundo, testemunhando que o sentido


último da vida (individual e coletivo) depende do acolhimento de Deus e da sua
oferta de salvação.
● O essencial que a Igreja tem a dizer e a testemunhar consiste no anúncio do amor
gratuito e misericordioso de Deus (Christifideles Laici, 34).
● Testemunho do valor incondicional da pessoa humana.
A lgreja é chamada a afirmar o valor absoluto da pessoa humana à luz de Deus.
● O contributo humanizador da missão religiosa da Igreja passa pela defesa corajosa
e constante dos mais pobres.
● Com o seu viver, a Igreja procura favorecer o sentido do Bem Comum e a
afirmação dos fundamentos da convivência humana em sociedade.

SÍNTESE
● O estar em Igreja significa fazer caminho, o que traduz o sentido da vida em Jesus
Cristo. Isto permite perceber que o presente deve ser entendido com o que já se
viveu e com o que há de vir, mas sempre numa lógica de “passagem”.

● A Igreja é de Cristo, movida pelo Espírito Santo, onde todos os batizados são Igreja
Sacramento Universal de Salvação, realçando sempre a sua atitude
vivencial/experiencial enquanto crentes. A grande resposta da Igreja reside no
testemunho, através do modo como ela atua no mundo.

● A Igreja tem um know-how quanto à Fraternidade. Os cristãos vivem na certeza de


que a Igreja não existe para si mesma, mas para as mulheres e os homens deste
mundo.
Conclusão

Em conclusão, a abordagem da igreja como uma "Comunidade de Amor e de Serviço" revela-se não
apenas como uma expressão teológica, mas como um guia prático para a vivência da fé cristã na
contemporaneidade. Ao enfatizar o amor mútuo e o serviço desinteressado, a igreja transcende a sua
função tradicional, tornando-se um espaço dinâmico onde os princípios evangélicos se transformam
em ações concretas. Este conceito não apenas orienta a comunidade de crentes na sua jornada
espiritual, mas também desafia a igreja a envolver-se ativamente nas questões sociais e a tornar-se
numa força transformadora no mundo. Ao reconhecer a igreja como uma comunidade que procura
ativamente o amor e o serviço, reforçamos não apenas os laços entre os membros, mas também o
compromisso da fé cristã com a construção de um mundo mais compassivo e justo.

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