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O LIVRO DE ATOS

PRAXEIS APOSTOLWN
Por Marcos Alexandre R. G. Faria

“Este livro nos mostra o impacto que uma comunidade pode causar quando vive e age no poder do
Espírito Santo.” (Guilhermino Cunha)

“Graças a Deus por Atos dos Apóstolos! O Novo Testamento seria imensamente mais pobre sem ele.
Recebemos quatro relatos sobre a vida de Jesus, mas apenjas um sobre a igreja primitiva. Atos,
portanto, ocupa um espaço indispensável na Bíblia.” (John R. W. Stott)

“Vivei neste livro, eu vos exorto; ele é um tônico, o maior tônico que conheço no domínio do Espírito.”
(Martin Lloyd-Jones)

SUMÁRIO

1 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS................................................................................................................................2
1.1 A questão da historiografia lucana .........................................................................................................................2
1.2 A posição de Atos no cânon...................................................................................................................................4
2 AUTOR ......................................................................................................................................................................4
3 DATA E LOCAL/OCASIÃO ......................................................................................................................................5
Final de Atos (data) ......................................................................................................................................................5
4 PROPÓSITO E DESTINATÁRIOS ...........................................................................................................................7
Destinatário: (Teófilo) ...................................................................................................................................................9
5 CARACTERÍSTICAS E TEMAS .............................................................................................................................10
5.1 A UNIVERSALIDADE DA IGREJA.......................................................................................................................10
5.2 CONTEÚDO DA PREGAÇÃO..............................................................................................................................10
A pregação Apostólica - 9 palestras de Pedro e 9 de Paulo......................................................................................10
5.3 A COMUNHÃO FRATERNAL ..............................................................................................................................11
5.4 O CULTO..............................................................................................................................................................11
5.5 A ORAÇÃO...........................................................................................................................................................11
5.6 OS MINISTÉRIOS ESPECIAIS ............................................................................................................................11
6 ESTRUTURA DE ATOS .........................................................................................................................................12
7 POLÊMICAS E DIFICULDADES DE INTERPRETAÇÃO EM ATOS ....................................................................13
7.1 UM “PROBLEMA HERMENÊUTICO” ..................................................................................................................13
7.2 INFORMATIVO OU TAMBÉM NORMATIVO?.....................................................................................................14
7.3 O ESPÍRITO SANTO EM ATOS ..........................................................................................................................14
7.3.1 Trabalhando os Termos Gregos........................................................................................................................15
7.3.2 Alguns Aspectos da Ação do Espírito Santo em Atos ......................................................................................15
8 ESBOÇO DE ATOS ................................................................................................................................................16
9 APÊNDICES............................................................................................................................................................17
A. ASPECTOS GEOGRÁFICOS E BIOGRÁFICOS EM ATOS .................................................................................17
B. UMA VISÃO DA PESSOA E OBRA DO ESPÍRITO SANTO EM ATOS................................................................19
C. O BATISMO “EM NOME DE JESUS” NO LIVRO DE ATOS – Dr. Alderi S. Matos ..............................................22
FTBB-NT1-Estudos Introdutórios no Livro de Atos- 1ºSem/2003 – Prof. Marcos Alexandre R. G. Faria - página 2

1 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

1.1 A QUESTÃO DA HISTORIOGRAFIA LUCANA

Há um equívoco em uma leitura apressada de Lucas em pensar que sua intenção era escrever
um tratado histórico bem embasado e coerente. Sendo assim a obra de Lucas passa a ser considerada
tão somente como obra histórica e Lucas apenas um mero historiador, como podemos observar na obra
de Adolf Harnack, que chama Atos de “essa grande obra histórica”1. Cremos no entanto, que uma
leitura mais apurada do que vem a ser o "Evangelho", não pode ser reduzida a fatos históricos apenas.
Portanto, o objetivo de Lucas não era simplesmente "compilar" e ordenar dados históricos como o faria
um cronista. Lucas não era apenas um historiador; tinha mente de teólogo. Por tal motivo, não se
propõe a escrever história, senão trazer às claras o significado da história.2
Lucas escreve este evangelho, não impelido pelo embaraço da volta iminente de Jesus, mas
pela suprema confiança do avanço inevitável e bem sucedido do evangelho inaugurado por Jesus, “O
Senhor” (título que Lucas gosta muito) 3. A história em Lucas é a história da redenção, a história do
redentor, a história do "Senhor" soberano que a escreve.

O Evangelho da certeza histórica4

Em seu artigo, Ommeren trabalha a questão da historiografia em Lucas, dissertando se sua


narrativa histórica é confiável ou não. Inicia nos situando dentro do debate. A primeira questão que se
levanta é se a história é necessária à fé ou não. Embora a história não seja necessária a fé, no sentido
de que a fé precede a história, isso não implica que nossa fé não seja baseada em fatos históricos
confiáveis. Bultmann, por exemplo, pensava que a história não podia nos dar nenhum dado concreto de
fatos históricos confiáveis acerca de Jesus, mas simplesmente relatos da igreja primitiva onde temos a
expressão de fé daquele povo5.
Ommeren, que baseia seu artigo principalmente no trabalho de Howard Marshall6, Luke:
Historian and Theologian - Lucas: Historiador e Teólogo - (Exeter: Paternoster Press, 1984), nos diz que
a fé cristã está baseada na história. A vida, morte, e ressurreição do Senhor Jesus Cristo são fatos
históricos sobre os quais a fé cristã está alicerçada. Pode-se observar que Lucas dá muita importância
às testemunhas oculares que tinham visto o Senhor Jesus após Sua ressurreição. Elas confirmaram a
verdade da ressurreição como um fato histórico.
A suspeita de que os escritos lucanos não são confiáveis historicamente, se dá principalmente
pela influência da escola alemã de Tübingen, que teve como seu maior expoente, F. C. Baur (1792-
1860). Para Baur o cristianismo do primeiro século estava dividido. Havia um segmento Petrino (a parte
dos judeus) e um segmento Paulino (a parte dos gentios). Desta forma, o escritor de Atos, que é datado
depois do século dois, não foi Lucas, foi um Paulinista que ao escrever seu livro objetivava reconciliar
ambas as partes. Baur defende a idéia de que ao longo do livro de Atos o autor procura esconder as
diferenças entre as duas partes para que seu propósito se cumpra. Desta forma, segundo Baur, o
escritor de Atos não foi totalmente honesto em relação aos fatos, por isso sua história dos fatos em si
não é confiável.

1
Adolf Harnack, The Acts of the Apostles (Londres: Williams & Norgate, 1909), p. 121,146.
2
José Martínez, Hermeneutica Biblica (Terrassa: Barcelona: Libros Clie, 1987, p. 391. Para uma abordagem sobre a história no
Novo Testamento, consulte Oscar Culmann, Cristo e o Tempo (Sâo Paulo: Editora Custom, 2003), p. 55-88.
3
Só em Lucas, a palavra "Senhor" aparece 83 vezes.
4
Este texto está baseado no artigo de Nicholas M. van Ommeren, Was Luke an Accurate Historian? (Lucas foi um preciso
historiador?). Bibliotheca Sacra, January-March, 1991, pg 57-71.
5
Sobre essa sua posição, veja em português seu livro: Rudolf Bultmann: Jesus Cristo e Mitologia (São Paulo: Editora Novo
Século Ltda, 2000).
6
Veja em português, I. Howard Marshall, Atos: Introdução e Comentário (São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão).
FTBB-NT1-Estudos Introdutórios no Livro de Atos- 1ºSem/2003 – Prof. Marcos Alexandre R. G. Faria - página 3

Apesar da grande influência que essa escola exerceu7, o erudito teólogo inglês, representante da
ortodoxia, Lightfoot, demonstrou claramente o quão fraca e destituída de bases sólidas era a proposta
da Escola de Tübingen, provando a historicidade de Lucas e Atos e a confiabilidade nos escritos de
Lucas. "Por causa do trabalho de Lightfoot, as idéias da Escola de Tübingen nunca ganharam
supremacia na erudição bíblica inglesa" 8. Ao lado de Lightfoot, trabalhando essas mesmas questões,
temos outro grande representante inglês da ortodoxia: F. F. Bruce 9. Além destes, podemos ainda citar
como grandes defensores da acuidade histórica de Lucas, Sir William Ramsay10 e A. N. Sherwin-
Whte11, conforme citados por J. Stott12.
Ommeren termina seu artigo falando-nos sobre as visões da historiografia. Esses eruditos não
ortodoxos, afirmam ou se baseiam no pressuposto de que a historiografia de Lucas (ou um paulinista)
pode ser análoga a historiografia moderna, se a leitura que fazem é da perspectiva da "nova
hermenêutica", onde se dá maior valor ao texto em si do que ao seu autor, isto é, o texto é objeto
passivo de análise, enquanto o autor é sujeito ativo no processo. Desta forma não se analisa o fato em
si, pois o mesmo não é confiável. O que se analisa é a redação do autor, que modificou os fatos
relatando-os segundo os seus propósitos.
A crítica que se faz a essa posição é que Lucas ao escrever sua obra, se valeu da historiografia
de seu tempo, que não é análoga a historiografia moderna. "É melhor comparar o historiador Lucas com
os historiadores de seu tempo do que julgá-lo a partir de padrões da moderna ciência histórica"13.
Ommeren nos diz que é notório que nos escritos de seus dois livros, Lucas usou um padrão
literário aceito no seu tempo14. O objetivo de Lucas era escrever uma história de acordo com os padrões
de seu tempo. Seu objetivo era construir um relato histórico confiável, conforme podemos depreender
dos quatro primeiros versos do cap. 1 de Lucas. Podemos notar que Lucas tinha todo um interesse na
infalibilidade dos fatos que estava relatando.
Nosso autor ainda nos chama a atenção, de que a historiografia de Lucas não deveria ser
comparada apenas com a historiografia de seu tempo, mas principalmente com a do Antigo
Testamento, onde vemos Deus guiando a história (História da Salvação). Assim, à luz do AT podemos
ver Lucas indicando em seu livro, como Deus tem um plano e que Ele intervém diretamente na história
através de Seus atos a fim de cumprir Seu plano eterno.
Citando Marshall e van Unnik, Ommeren nos chama a atenção ainda para o fato de que Lucas e
outros escritores dos Evangelhos, além de terem sido historiadores, foram antes de tudo, evangelistas.
Eles escreveram de tal forma que seus ouvintes e leitores aceitassem a Jesus Cristo como seu
Salvador15.
Sobre a relação entre história e fé, Martínez16 cita Käsemmann que nos diz:

A história de Jesus é constitutiva para a fé, e o é pelo fato da revelação ter lugar uma vez por todas na
história terrena, em uma pessoa concreta no tempo e no espaço. A ação de Deus na história precede a fé.
O kerygma pascoal inclui o testemunho de que Deus, no Jesus da história, já tem atuado antes que a fé
existisse. O Senhor glorificado não é outro que o Jesus encarnado, crucificado e ressuscitado. Fuchs não
conclui de forma diferente quando sustém que ´o chamado Cristo da fé não é, na realidade, outro que o
Jesus histórico´”.

7
Veja sobre esse debate, a tese de doutorado do Dr. Roberto Alves de Souza, A comparative study of Paul in Acts and in the
pauline epistles (Southern Baptist Theological Seminary, 1977).
8
Nicholas M. van Ommeren, Was Luke an Accurate Historian?, 65.
9
Seu clássico sobre o assunto é The History of New Testament Study. Sobre o mesmo assunto, em português temos Merece
Confiança o Novo Testamento? (São Paulo: Vida Nova, 1960).
10
Sir William Ramsay, St. Paul the Traveller and the Roman Citizen (Hodder & Stoughton, 1895).
11
A. N. Sherwin-White, Roman Society and Roman Law in the New Testament (Oxford University Press, 1963; Baker, 1978).
12
J. Stott, A Mensagem de Atos (São Paulo: ABU, 1994), p. 22.
13
Nicholas M. van Ommeren, Was Luke an Accurate Historian?, 69-70.
14
"Herdou Lucas as altas tradições da historiografia grega e teve acesso a várias fontes excelentes de informação quanto aos
eventos de que trata, além de haver testemunhado não poucos fatos que narra." F. F. Bruce, Merece Confiança o Novo
Testamento? (São Paulo: Vida Nova, 1960), 106.
15
Nicholas M. van Ommeren, Was Luke an Accurate Historian?, 71.
16
José M. Martínez, Hermeneutica Biblica (Terrassa-Barcelona, CLIE, 1987), 362.
FTBB-NT1-Estudos Introdutórios no Livro de Atos- 1ºSem/2003 – Prof. Marcos Alexandre R. G. Faria - página 4

1.2 A POSIÇÃO DE ATOS NO CÂNON

O livro de Atos se distingue por sua singularidade. O cânon do Novo testamento contém quatro
evangelhos e vinte e uma cartas ou epístolas; mas apenas em uma obra temos a narração dos inícios
históricos e do desenvolvimento da Igreja com suas tremendas implicações sociológicas e religiosas.
Atos constitui um elo único entre os evangelhos e o restante dos escritos do Novo Testamento, sendo
uma ponte entre os dias do ministério terreno de Jesus e a época da Igreja a partir do Pentecostes;
entre os ensinamentos do Mestre e o culto e testemunho das primeiras comunidades cristãs. Por tais
motivos este livro nos ajuda a entender algumas epístolas de Paulo e iluminam o fundo histórico das
restantes.17

2 AUTOR

Tradicionalmente, o nome de Lucas, o médico e companheiro de Paulo em suas segunda e


terceira jornadas missionárias e na viagem à Roma, é aceito como o autor de Atos. As evidências da
igreja primitiva também apontam para Lucas, como sendo o autor. Irineu (c. 130-200 d.C.), Clemente de
Alexandria (153-217 d.C.), o antigo documento anônimo — Cânon Muratório (c. 170 d.C.) e Eusébio (c.
325 d.C.) todos creditam Lucas como sendo o autor.
Há ainda a força do argumento no uso do pronome “NÓS” - Encontramos evidências para a
autoria de Lucas nos conhecidos trechos “nós”, encontrados na segunda metade do livro (16.10-17;
20:5-15; 21.1-18; 27.1—28.16). Estas passagens mostram que o narrador de Atos acompanhou a Paulo
desde Trôade na Ásia Menor, até Filipos, no continente europeu, retornando com ele para Trôade. Mais
adiante ele e Paulo viajaram da Palestina para Roma.
O autor, provavelmente, era um gentio com educação formal, como demonstra o estilo e o alto
nível do grego utilizado tanto no evangelho de Lucas quanto no livro de Atos. Em algumas ocasiões a
linguagem grega empregada chega a ser completamente clássica (Lc 1.1-4). A abordagem metódica do
autor à escrita e o interesse pela pesquisa, revelam os traços de uma pessoa educada e de treinamento
superior.
Cl 4.14 mostra que Paulo estava com Lucas “o médico amado”. No final do século XIX e no
início do século XX, vários estudiosos chamaram atenção para a terminologia médica empregada em
Lucas e Atos e para o interesse que o autor demonstrava pelas doenças (Lc 4.38; 8.43-44; At 3.7;
12.23; 13.11; 20.7-11; 28.3, 8). Em anos mais recentes um argumento tem sido apresentado no sentido
de que a utilização de terminologia médica era comum entre os autores antigos. Assim, o autor não
seria, necessariamente, um médico. Mesmo considerando essa afirmação, é evidente que existe um
interesse em questões médicas tanto em Lucas como em Atos. Considerar, portanto, Lucas o médico
como o autor é bastante razoável. (Bíblia de Genebra)
A tradição, desde Marcião e Irineu, no século II, identificou esse Lucas como o companheiro de
Paulo, médico, daquele que falam as cartas de Paulo (Cl 4.14; Fm 14; 2 Tm 4.11), e até o século XIX
não duvidou dessa identificação. As dúvidas e negativas surgiram à luz do conteúdo teológico de ambas
as obras, que alguns exegetas acreditavam que corresponderiam a problemas da igreja do século II
(Escola de Tübingen) ou do final do século I, com o que o autor não podia ser esse Lucas. No entanto,
os testemunhos explícitos mais antigos sobre Lucas e Atos dos Apóstolos são da segunda metade do
século II, na realidade são de Marcião, o Cânon Muratoriano e Santo Irineu, que atestam a autoria
lucana18.
O Prólogo Antimarcionita, atesta a autoria lucana com as seguintes palavras: “o autor do terceiro
evangelho é Lucas, de Antioquia, discípulo dos apóstolos e mais tarde de Paulo, mártir, escreveu em
Acaia para os convertidos do paganismo e, mais tarde ainda, escreveu Atos dos Apóstolos, foi
celibatário, morreu aos 84 anos na Beócia.”19

17
José M. Martínez, Hermeneutica Biblica (Terrassa:Barcelona: Libros CLIE, 1987), p. 466.
18
Rafael Aguirre Monasterio e Antonio Rodríguez Carmona, Evangelhos Sinóticos e Atos dos Apóstolos (São Paulo: Ed. Ave-
Maria, 2000), p. 331-2.
19
Idem, p. 332.
FTBB-NT1-Estudos Introdutórios no Livro de Atos- 1ºSem/2003 – Prof. Marcos Alexandre R. G. Faria - página 5

3 DATA E LOCAL/OCASIÃO

Existem três datas sugeridas para o livro de Atos: antes de 70 d.C.; de 80 a 85 d.C. e de 105 a
130 d.C.. As duas datas mais recentes baseiam-se parcialmente nas teorias que não acham provável
que Lucas seja o autor de Atos, e obtém informações sobre os revolucionários Teudas e Judas (5.36,
37) extraídas dos escritos do historiador judaico Josefo (Antigüidades 18.4-10 e 20.97-98), divulgados
na segunda metade do primeiro século. Mas o Teudas mencionado no livro de Atos pode ter sido
apenas um dos muitos revolucionários que se manifestaram, por ocasião da morte de Herodes o
Grande, e não o Teudas mencionado por Josefo. O conhecimento que Lucas tinha de Judas não foi,
necessariamente, derivado de Josefo da mesma forma que o de Josefo pode não ter sido derivado de
Lucas. Alguns têm utilizado como argumento a opinião de que Lucas utilizou o registro feito por Josefo
da morte do rei Herodes Agripa I, ocorrido em 44 d.C. (12.19-22), uma vez que ambos utilizam palavras
semelhantes na descrição do evento. Os dois relatos, entretanto, diferem consideravelmente.
A opinião de que Lucas e Atos foram escritos antes da destruição de Jerusalém, ocorrida em 70
d.C., é baseado nas seguintes considerações: Primeiro, o capítulo 28 se encerra com a prisão domiciliar
de Paulo. Enquanto aguardava sua apresentação à César ele tinha liberdade de pregar àqueles que o
procuravam. Isso teria que ter acontecido antes de 64 d.C., que é o ano que marca o grande incêndio
de Roma, cuja culpa foi colocada nos cristãos pelo imperador Nero. Em segundo lugar, o livro de Atos
não menciona a morte de Paulo, que parece iminente em 2Tm 4 e que ocorreu em torno do ano 68 d.C..
Em terceiro lugar, próximo do final de Atos, Lucas apresenta o governo romano como benevolente para
com o cristianismo. Essa atitude mudou depois do ano 64 d.C.. Em quarto lugar, parte do vocabulário
utilizado aponta para uma data mais antiga. Este vocabulário inclui: “discípulo”; “o primeiro dia da
semana” (mais tarde tornou-se “o Dia do Senhor”, Ap 1.10); uma referência ao “povo de Israel” em 4.27
(um termo que, mais tarde, compreenderia tanto os judeus como os gentios; Tt 2.14); o título mais
antigo “Filho do Homem” (7.56); bem como a linguagem utilizada na descrição de detalhes geográficos
e políticos.
Tanto Lucas 1.3 quanto Atos 1.1 são dirigidos a Teófilo. Ele pode ter sido aquele que dava
suporte, proteção ou um benfeitor de Lucas. Certamente era um gentio que havia recebido instrução
cristã (Lc 1.4). Como aquele que dava suporte à Lucas, Teófilo teria providenciado o sustento
necessário à pesquisa e escrita dos dois livros. Como comparação, sabemos que o historiador Josefo
teve como patrocinadores os generais Vespasiano e Tito além de outros benfeitores, como por
exemplo, certo Epafrodito, a quem ele dedicou o seu livro Contra Ápio.
Lucas coletou o material de sua própria experiência e de fontes semíticas de dentro e fora da
Palestina. Ele menciona o nome de várias pessoas que possivelmente o auxiliaram (16.11; 20.4). É
provável que chegou a entrevistar a Maria, mãe de Jesus, e a várias outras “testemunhas oculares e
ministros da palavra” (Lc 1.2). (Bíblia de Genebra).
Embora não seja possível determinar de forma precisa o local da escrita, temos algumas
possibilidades: Roma, levando em consideração o “nós”. Éfeso, Antioquia, Acaia, ou Ásia Menor são
possibilidades não descartadas.
Quanto ao local, a tradição antiga fala da Acaia (conforme vimos acima no prólogo
Antimarcionita) e Beócia (São Jerônimo). A análise interna aponta para um contexto helenista, fora da
Palestina, cuja geografia, por outra parte, o autor parece desconhecer20.

Final de Atos (data)

- Datas sugeridas: 62-70; 80-95; 115-130.

As datas limites seriam 62, data do relato com que termina o livro dos Atos dos Apóstolos e 150,
data aproximada do Cânon Muratoriano e dos primeiros testemunhos sobre Lucas-Atos. Dentro dessas

20
Rafael Aguirre Monasterio e Antonio Rodríguez Carmona, op. cit, p. 335.
FTBB-NT1-Estudos Introdutórios no Livro de Atos- 1ºSem/2003 – Prof. Marcos Alexandre R. G. Faria - página 6

datas, na atualidade, seguem-se propondo todas as possibilidades, embora a amioria dos exegetas
situe a dupla obra no decênio 80-90, primeiro Lucas e depois Atos dos Apóstolos.21

- Lucas termina seu segundo volume de forma abrupta.


- Termina quando Paulo, já há 2 anos preso, espera julgamento.
- O que acontece depois? Lucas se cala surpreendentemente.
- Com isso Lucas tencionava escrever um terceiro volume?
- Seu rolo de papiro chegou ao fim?
- Conseguiu cumprir seu propósito? O progresso do cristianismo, de Jerusalém a Roma,
capital do Mundo, o Império Romano.
- Seria irrelevante Lucas escrever o livro depois que Nero se voltara contra os cristãos (64
d.C.). Seria tarde para se apelar junto aos governantes.(Gundry)
- Antes da destruição de Jerusalém (70 d.C.) – (Broadus Hale)
- 62 d.C. (Carson)
- Kümmel. Lucas escrito antes de 80. Atos escrito depois de Lucas. Há uma diferença de
estilo de escrita entre Lc e At. Infere-se com isso um bom intervalo de tempo entre os
dois.
- Entre 80 e 90, sem excluir 90-100 (Kümmel)

Pela sua atualidade, e a título de pesquisa, abaixo transcrevo o parecer dos dois grandes
eruditos espanhóis da área do Novo Testamento: Rafael Aguirre Monasterio e Antonio Rodríguez
Carmona, sobre as recentes pesquisas sobre a data de Lucas-Atos22:

Até o século XVIII, Lucas-Atos foi situado na primeira geração cristã, entre o ano de 63 e uma data
imediata à sua morte, o ano de 67, certamente antes do ano de 70. A primeira data, que se deduz do final
de Atos dos Apóstolos e de 2 Timóteo 4.11, é sugerida por Eusébio (HE II 22) e São Jerônimo a confirma
(De viris ill., 7). Por sua parte, Irineu (Adv. Haer.,III 1,1) e o Prólogo antimarcionita situam essas duas
obras depois da morte de Paulo, sendo este o ponto de vista mais difundido na antiguidade. Atualmente,
esse ponto de vista é minoritário, junto com o que propõe uma data no século II. O final de Atos dos
Apóstolos, que fala de Paulo no cárcere em que permaneceu por dois anos, que nos situa nos anos de
62/63, foi a razão pela qual, a partir do século IV com Eusébio, até recentemente, fosse situada a dupla
obra nos anos 60-63 (cf. no século XX A. Harnack, M. Michaelis, B. Reicke, J. A. T. Robinson, e nos
setores católicos J. Cambier, L. Cerfaux, M. Meinertz e outros). Mas, a maioria dos exegetas acredita que
esse dado é redacional-teológico, por isso, não se pode deduzir nada dele. À objeção de que Lucas supõe
a destruição de Jerusalém, os autores que defendem a data antecipada, respondem como C. H. Dodd que
Lucas 21.20 não alude à destruição de Jerusalém realizada por tito, mas à de Nabucodonosor, já que é
um texto profético que emprega a linguagem do Antigo Testamento. Pode ser que seja assim, mas isso
não exclui de per si o fato da destruição de Tito, e por outra parte as pistas que aludem à guerra contra
Roma não se limitam a 21.20, pois, aparecem em outros lugares como 21.8s. J. A. T. Robinson deduz do
silêncio explícito sobre a destruição de Jerusalém em todo o Novo Testamento que tudo foi escrito antes
de 70, mas, a dedução não é correta, já que existem dados que implicitamente supõem a destruição,
como o fato de que Jerusalém e o judeu-cristianismo tinham deixado de ser o centro sociológico do
cristianismo. Os defensores da data no século II costumam fundamentar-se em diversas razões. A Escola
de Tübingen, no século passado, baseou-se em reconstrução arbitrária da história da Igreja primitiva.
Atualmente, J. C. O´Neill afirma que há relações entre Atos dos Apóstolos e Justino, por isso situa Atos
entre os anos de 115-130, mas esta relação não foi aceita pela maioria.

21
Idem, p. 334.
22
Idem, p. 335.
FTBB-NT1-Estudos Introdutórios no Livro de Atos- 1ºSem/2003 – Prof. Marcos Alexandre R. G. Faria - página 7

4 PROPÓSITO E DESTINATÁRIOS

Como já vimos no item 1, Lucas não escreveu Atos para tentar resolver um problema entre
Paulo e Pedro/Tiago23, seu trabalho também não apresenta evidências internas de que a ênfase
principal é apologética (defesa da fé)24, e por fim, sua obra também não tinha intenção nenhuma em
ser um tratado histórico. Gordon Fee25 assevera que “a história da igreja por si só simplesmente não era
a razão de Lucas ter escrito” Atos. John Stott também afirma: “relatar a história não pode ter sido o
único propósito de Lucas, pois a história que ele apresenta é seletiva e incompleta.”26 Nesta mesma
linha, François Bavon27 afirma: “Todavia, a destinação do livro dos Atos para as nações mostra que
Lucas, diversamente dos historiadores judeus, visa a uma outra meta, além da descrição e elogio de um
povo privilegiado.” Sendo assim, qual foi o real propósito em Lucas escrever sua obra?
Não podemos deixar de considerar o livro de Atos como sendo parte de uma única obra
inicialmente planejada: Lucas-Atos. A obra completa circulou junta até que no final do primeiro século
os quatro evangelhos foram reunidos formando o que se passou a denominar “O Evangelho”. Desta
forma Lucas ficou dividido e a sua segunda parte (Atos) se conservou independente da obra anterior.
Na própria narrativa de Lucas podemos notar esta unidade entre Lucas-Atos. Primeiramente
notemos as introduções de ambos os livros:

Lucas Atos
ARA* 1:1 Visto que muitos houve que empreenderam uma ARA 1:1 Escrevi o primeiro livro, ó Teófilo, relatando todas
narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram, as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar
2 conforme nos transmitiram os que desde o princípio foram
deles testemunhas oculares e ministros da palavra,
3 igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada
investigação de tudo desde sua origem, dar-te por escrito,
excelentíssimo Teófilo, uma exposição em ordem,
4 para que tenhas plena certeza das verdades em que
foste instruído.
*ARA = Almeida Revista e Atualizada

Observem na expressão “o primeiro livro” (At 1.1) – como o próprio autor o denomina – se expõe
“todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar” durante seu ministério público. Em sua
“segunda obra” (Atos), narra o que Jesus, ainda que fisicamente ausente, continua fazendo e ensinando
mediante o Espírito Santo por meio do ministério apostólico.
Notamos portanto, um propósito em mostrar a continuidade do ministério terreno de Jesus por
meio da sua igreja. Lucas deixa claro que a cruz não foi capaz de parar o desenvolvimento do
cristianismo, visto que, Cristo não morreu, mas ressuscitou. Lucas termina seu evangelho, não com a
morte e ressurreição de Jesus, mas nos mostra que ele ressuscitou e foi elevado aos céus e portanto
vivo está. O livro de Atos inicia da mesma forma, mostrando Cristo vivo depois de sua crucificação, se
despedindo de seus discípulos e sendo elevado aos céus.
Lucas está escrevendo sobre verdades eternas. As “verdades em que fostes instruído” (Lc 1.4) é
uma referência ao Evangelho, que não é outro senão o próprio Jesus (At 4.12; Rm 1.16; 2 Tm 1.8-9). A
revelação destas verdades nos foram dadas no tempo e no espaço, ou seja, na história. Os fatos
históricos, apontados por Lucas em seu relato, tão somente atestam a veracidade do fato (Cristo e sua
Igreja) em si. Sem dúvida Lucas está nos mostrando a origem e o desenvolvimento da Igreja. Mas
Lucas não nos revela todos os detalhes históricos, muito menos todos os atos de Pedro ou Paulo. Os
dados históricos são minuciosamente selecionados por Lucas, assim como as narrativas dos
acontecimentos empreendidos por Pedro e Paulo, que por sua vez também foram dois personagens

23
Confira os importantes paralelos que J. Stott (op. cit., p. 26) traça entre o ministério de Pedro e Paulo, mostrando igualdade e
não rivalidade ou supremacia de um em relação ao outro.
24
Veja abaixo o propósito “apologético-político”.
25
Gordon Fee, Atos, o problema do precedente histórico. Em FEE, Gordon; STUART, Douglas, Entendes o que Lês? (São
Paulo: Vida Nova, 1989), p. 84-5.
26
J. Stott, op. cit., p. 23.
27
François Bavon, Evangelho de Lucas e Atos dos Apóstolos. Em Auneau, J., et al., Evangelhos Sinóticos e Atos dos
Apóstolos (São Paulo: Paulinas, 1985), p. 272.
FTBB-NT1-Estudos Introdutórios no Livro de Atos- 1ºSem/2003 – Prof. Marcos Alexandre R. G. Faria - página 8

selecionados por Lucas dentre vários outros que também poderiam ter sido citados mas não o foram.
Temos assim um arranjo histórico que objetiva um fim que ultrapassa a própria intenção historiográfica.
Temos aqui um testemunho da força do evangelho. O texto de At 1.8 pode ser considerado chave para
o entendimento do propósito lucano, ou seja, mostrar a expansão deste evangelho por meio de sua
igreja na força do Espírito Santo. Martinez28, cita W. Barclay que afirma: “o propósito de Lucas foi
expor a quase milagrosa expansão do Evangelho, e conclui seu escrito ao mostrar que o cristianismo já
havia se estabelecido na capital do mundo.”29
Portanto, vemos assim, um Lucas teólogo-evangelista. Howard Marshall, expressa esse
propósito de Lucas em Atos com as seguintes palavras: “O que Atos efetivamente faz é demonstrar
como a salvação que se manifestou em Jesus durante a sua vida terrestre numa área limitada de
terreno e durante um período curto, tornou-se uma realidade para quantidades sempre maiores de
pessoas, e durante um considerável período de tempo. Como resultado disto, Lucas-Atos pode ser
considerado uma obra evangelística que proclama aos seus leitores a salvação.”30 Desta forma
notamos a história em Atos como sendo a “História da Salvação” e não uma mera narração de fatos.31
Seguindo esta mesma linha de raciocínio, Gordon Fee32 esboça o propósitos de Lucas com as
seguintes palavras:

É nossa hipótese, baseada na exegese precedente, que [Lucas] estava querendo demonstrar como a
igreja emergiu como um fenômeno mundial, principalmente gentio, a partir das suas origens como uma
seita de crentes judaicos, baseada em Jerusalém e orientada para Jerusalém, e como o Espírito Santo
foi diretamente responsável por este fenômeno de salvação universal baseada na graça somente. O
tema recorrente de que nada pode impedir este movimento para a frente da igreja no poder do Espírito
Santo nos leva a pensar que Lucas também pretendia que seus leitores fossem ver este como um
modelo para sua existência. E o fato de que Atos está no cânon nos leva a pensar, além disto, que
decerto é assim que a igreja sempre deveria ser – evangelística, alegre, dotada do poder do Espírito
Santo.

Reforçando esta idéia, François Bavon33 afirma que “enquanto Marcos e Mateus compuseram
sua obra para uso das comunidades – e serão respeitadas pelos copistas – Lucas dirige-se sem dúvida
aos cristãos, mas pensa também nos leitores profanos: sua obra apresenta , de início, um caráter
missionário e apologético.” A característica evangelística-missionária-apologética em Atos, se evidencia
também pelos sermões de Pedro e Paulo, que podem ser considerados como verdadeiros “discursos
missionários”34. Negando a intenção proeminentemente histórica de Atos, mas ressaltando seu caráter
apologético e missionário, François Bavon35 afirma:

Sua [de Lucas] intenção, entretanto, conforme o prólogo demonstra, não é unicamente histórica: é também
missionária e apologética. Quer demonstrar a respeitabilidade do “caminho”, isto é, da mensagem cristã e
da Igreja; ilustrar o vigor da missão, asinalando seus sucessos; manifestar o apoio que Deus dispensou a
Jesus e depois às testemunhas; e, mais ainda, proclamar que a vida de Jesus realiza as promessas da
Escritura, revela a afeição de Deus pelo povo e pelas nações desgarrados, oferece uma ocasião de
voltarem-se para o Deus vivo. Todos estes conceitos não são afirmados pelo próprio Lucas; ele faz com
que suas personagens o digam e o sugere pela organização do seu relato. Não inventa seus discursos,
nem os acontecimentos: limitado pela preocupação de historiador, dispõe, entretanto, de um conjunto de
táticas necessárias à sua convicção de cristão, de teólogo e de apologeta.

Notemos abaixo que quanto a um propóstio biográfico, o livro deixa a desejar, enquanto que o
argumento em favor do texto ser também apologético, já possui uma força maior.

28
José Martínez, Hermeneutica Biblica, p. 468.
29
The Acts of the Apostles, (The Westminster Press, 1955, p. XVIII).
30
I. Howard Marshall, Atos dos Apóstolos (São Paulo: Vida Nova, 1982), p. 18.
31
Confira mais detalhes sobre esta perpectiva em I. Howard Marshall, op. cit., p. 15-20 e J. Stott, op. cit., p. 27-9.
32
Gordon Fee, Atos, o problema do precedente histórico, em FEE, Gordon, STUART, Douglas, Entendes o que Lês? (São
Paulo: Vida Nova, 1989), p. 92-3.
33
François Bavon, Evangelho de Lucas e Atos dos Apóstolos. Em Auneau, J., et al., Evangelhos Sinóticos e Atos dos
Apóstolos (São Paulo: Paulinas, 1985), p. 206.
34
Idem, p. 245.
35
Idem, p. 271.
FTBB-NT1-Estudos Introdutórios no Livro de Atos- 1ºSem/2003 – Prof. Marcos Alexandre R. G. Faria - página 9

A - Registro dos Atos dos Apóstolos (Biografia)

- Os onze (1.13)
- Os únicos citados no livro:
- Pedro – freqüente até o cap. 10
- João - < freqüência, aparece junto com Pedro
- Tiago – irmão de João – no martírio com Herodes – Cap 12
- Estevão e Filipe – não são apóstolos, mas têm grande papel no livro
- Paulo - toma mais da metade dos capítulos – Cap. 13ss

B - Um documento apologético do cristianismo

i. Uma defesa do cristianismo em relação ao Estado romano36;


ii. Uma defesa de Paulo contra a crítica judaico-cristã à sua missão entre os gentios,
enfatizando suas práticas judaicas e suas boas relações com a igreja de
Jerusalém37.

Destinatário: (Teófilo)

Existem várias hipóteses sobre quem poderia ser Teófilo, aquele para quem as duas obras de
Lucas, Lucas-Atos, foram endereçadas:
- Real ou pseudonímico
- Teo-filo: Literalmente, amigo de Deus.
Designa uma pessoa ou grupo de crentes
- Excelentíssimo: designa pessoa real.
- Quem financiou a cópia de um determinado número de exemplares da obra e favoreceu,
assim, a difusão do livro. Desta forma, gozava de alguma largueza financeira.
John Stott, acredita que Lucas possui também um interesse político-apologético ao situar o
cristianismo em um contexto sócio-político muito bem definido, onde, ao invés de provocar distúrbios
sociais e políticos, tem influenciado a sociedade de forma extremamente saudável. Diante disto, Teófilo
seria a pessoa mais bem indicada como destinatário principal. Desenvolvendo seu argumento, Stott38
assim se expressa:

Apesar de o adjetivo theophiles (“amado por Deus” ou “o que ama Deus”, cf. BAGD39) poder simbolizar
qualquer leitor cristão, é mais provável que seja o nome de uma pessoa específica. E apesar de o adjetivo
kratistos (“excelentíssimo”, Lc 1.3) poder ser apenas “uma forma de tratamento honrosa usada para
pessoas que ocupavam uma posição oficial ou social mais elevada que a do orador” (BAGD), o último uso
parece ser o mais provável, pois ocorre mais tarde em referência aos procuradores, Félix (23.26; 24.3) e
Festo (26.25). Um equivalente moderno seria “Vossa Excelência”.

36
J. Stott, op. cit., p. 23-7.
37
Hipótese defendida por Matthias Schneckenburger, Über den Zweck der Apostelgeschichte (“Sobre o propósito de Atos”),
1841; conf. Citado por J. Stott, op. cit., p. 25.
38
J. Stott, op. cit., p. 23.
39
BAGD = Walter Bauer, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature (University of
Chicago Press, 1979).
FTBB-NT1-Estudos Introdutórios no Livro de Atos- 1ºSem/2003 – Prof. Marcos Alexandre R. G. Faria - página 10

5 CARACTERÍSTICAS E TEMAS

O livro de Atos é uma história cuidadosa do desenvolvimento da igreja primitiva. Lucas


apresentou uma descrição cheia de detalhes políticos e geográficos, dos ocupantes de cargos
governamentais e de suas ações, dos procedimentos imperiais, de uma viagem marítima à Itália,
contendo uma terminologia náutica exata. Todos esses registros procedem de um cuidadoso
pesquisador sendo ele próprio testemunha ocular de muitos desses eventos.
Lucas tinha vários propósitos. Nos vs. 1.1, 2 indica que no evangelho houve o relato da vida de
Jesus até o momento da ascensão. Ele resume o tema geral de Atos da seguinte forma: o Senhor irá
expandir o seu trabalho “em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra”. O livro
de Atos é chamado “Atos dos Apóstolos”, mas Lucas esboça apenas os ministérios de Pedro (caps. 1-
12) e de Paulo (caps. 13-28). Alguns têm detectado, em Lucas, a intenção de defender o cristianismo ou
de demonstrar que este não representava uma ameaça ao império romano. O livro de Atos é um mapa
do progresso da igreja pelo mundo antigo, mostrando o surgimento da presente era. (Bíblia de Genebra)

5.1 A UNIVERSALIDADE DA IGREJA

É precisamente o acontecido na casa de Cornélio (At 10) o que revela o caráter universal que
havia de distinguir a Igreja e a total emancipação que ela haveria de chegar em relação ao judaísmo.40
O Espírito Santo também atinge os gentios (10.44-45). O fato de Deus estar trabalhando com estes
gentios da mesma forma que tratou com os judeus convertidos no dia de Pentecostes significava que
em Cesaréia acabava de iniciar uma autêntica revolução religiosa promovida pelo próprio Deus.41 Deus
também tem dado aos gentios arrependimento para vida (11.18). Exemplo; Pedro - 10.9ss, 28, 34.
Nenhum homem fica excluído da graça do Evangelho por meras razões étnicas.11.1-12, 18.
A salvação não depende de cumprimento de nenhum rito, nem da vinculação de nenhuma forma
institucionalizada de religião, senão da resposta afirmativa na fé no Deus que nos interpela e nos chama
por sua Palavra.

5.2 CONTEÚDO DA PREGAÇÃO

A pregação Apostólica - 9 palestras de Pedro e 9 de Paulo

• Pedro - 2
• Estevão - 7
• Pedro ante Cornélio - 10
• Paulo - 13.16ss; 14.15ss; 17.22ss; 20.18ss; 22.1ss; 24.10ss

A pregação é bíblica e cristocêntrica


Observemos que a pessoa de Jesus, e não mais a Escritura lida no seu sentido primeiro, que se
converte no centro e novo fundamento do sentido que comporta a vida do crente.
Se adapta ao seu auditório
A evangelização se une ao ensino e exortação - 2.42

40
José Martínez, Hermeneutica Biblica, p. 472.
41
Idem.
FTBB-NT1-Estudos Introdutórios no Livro de Atos- 1ºSem/2003 – Prof. Marcos Alexandre R. G. Faria - página 11

5.3 A COMUNHÃO FRATERNAL

A distribuição dos bens (2.44-47; 4.32-37). Este é uma aspecto impressionante no livro de
Atos. Algo como que sui generis. Não se encontra na história uma experiência de alcance social tão
profundo. A partir da daí pergunta-se se a igreja deveria ter o mesmo comportamento, ou seja, o relato
é informativo apenas ou também normativo? Martínez42 nos responde esta questão: “Que a experiência
comunitária da primeira igreja cristã não teve caráter normativo se depreende da ausência de dados
que confirmem tal prática em tempos posteriores. Quando a igreja mãe se viu mais adiante em apuros
econômicos, a solução na veio de uma ampliação no sistema comunal nos restantes das igrejas locais,
senão de ofertas enviadas a Jerusalém provenientes de diversos lugares (11.27-30; Rm 16.1-4; 2 Co
8.1-4; 9.1ss).”

A fraternidade está intimamente relacionada às três funções principais da Igreja43:


• pregar (Kerigma - kh,rugma )
• servir (Diakonia - diakoni,a|)
• seguir (Koinonia - koinwni,a|)

A KOINONIA é o corolário inexorável do kerigma e da diakonia. A Koinonia se torna a


manifestação da palavra pregada (encarnação)
Harvey Cox: Koinonia “aquele aspecto da responsabilidade da igreja... que exige
demonstração visível do que a igreja está dizendo no seu Kerigma e indicando na sua
Diakonia.” (A Cidade de Deus)
A tônica e força motriz desta koinonia sem dúvida é o amor.

5.4 O CULTO
Partir do pão se converteu em centro de adoração e testemunho - 2.46,47
Lembremos o contexto de profunda pobreza dos irmãos de Jerusalém.
O batismo também se torna um ato de destaque em Atos (2.38, 41; 8.12; 8.36-38; 9.18; 10.47;
16.15, 33; 18.8; 19.5).

5.5 A ORAÇÃO
A oração também toma uma lugar de destaque em Atos (2.42; 3.1; 4.24ss; 6.6; 7.59, 60; 9.40;
12.5,12; 13.3; 14.23; 16.25; 20.36; 21.5). É muito mais que uma prática piedosa a ser observada em
determinados momentos (3.1). É uma expansão espontânea da fé, uma expressão de gratidão, de
louvor, de comunhão com Deus, ou ainda um clamor em petição e auxílio. Nela a comunidade cristã
encontra uma fonte inesgotável de poder tanto para o mantimento e vitalidade espiritual como para
anunciar ousadamente o Evangelho.

5.6 OS MINISTÉRIOS ESPECIAIS


De forma admiravelmente equilibrada, Lucas nos apresenta em seu livro dois aspectos básicos
da vida eclesial: por um lado, a fraternidade da comunidade cristã, em cujo seio todos os membros
participam do chamado sacerdócio universal dos crentes; por outro lado, a existência de ministérios
especiais destinados a instruir e robustecer a Igreja para o cumprimento de sua missão (6.1-3; 15.22;
11.30; 14.23; 15.2,22; 16.4; 20.17; 11.27; 13.1; 15.32; 21.10).
Os ministérios eram de acordo com a necessidade.... Todos participavam. “Em Atos a igreja não
aparece dividida em dois grupos, o dos atores e o dos espectadores, como sucederia depois. Nela
todos os seus membros eram protagonistas.”44

42
Ibid., p. 475.
43
Idéias principais tiradas do texto de de Cone, James H., A Igreja Branca e o Poder negro. Em: Wilmore, Gayraude S., Cone,
James H., Teologia Negra (São Paulo: Paulinas, 1986), p. 135-159.
FTBB-NT1-Estudos Introdutórios no Livro de Atos- 1ºSem/2003 – Prof. Marcos Alexandre R. G. Faria - página 12

Alguns exemplos além da função apostólica (At 1.2; 14.14):


a. Anciãos ou presbíteros (11.30; 14.23; 15.2,22; 16.4; 20.17) – encarregados do ensino e
bom governo da igreja local;
b. Os Profetas (11.27; 13.1; 15.32; 21.10) – transmissores de mensagens especiais da parte
de Deus durante o período apostólico;
c. Os Evangelistas (21.8; com. 8.5ss).;
d. Diáconos (6.1-4).

Apóstolos e presbíteros aparecem em nível igual: 15.2,4,6,22,23; 16.4.

6 ESTRUTURA DE ATOS

I - Expansão geográfica:
Jerusalém: 1.1 – 7.60
Judéia/Samaria: 8.1 – 12.25
Confins da Terra: 13.1 – 28.31

II - Pedro e Paulo45
Pedro Cap 1-12
Paulo Cap 13-28

III - De uma Igreja judaica a uma igreja gentílica (6 seções)46

i. 1.1 – 6.7 - Uma igreja judaica ligada ao templo e sinagoga


ii. 6.8 - 9.31 - Os judeus helenistas levam a igreja a expandir-se. Estevão é a
chave. Os da diáspora são alcançados
iii. 9.32 – 12.24 - A primeira expansão aos gentios. Cornélio é a chave. Pedro
lidera.
iv. 12.25 – 16.5 - Expansão geográfica para o mundo gentio. O Concílio é a chave.
Paulo lidera.
v. 16.6 – 19.20 - O Evangelho chega à Europa. Os judeus rejeitam, os gentios lhe
dão boas-vindas.
vi. 19.21 – 28.30 - O Evangelho chega à Roma, a capital do mundo.

IV – O Crescimento da Igreja

Geralmente se afirma, baseado em At. 8.1-4: que a perseguição espalhou a igreja


(Judéia e Samaria 8.1-12.25). Talvez deveríamos pensar o contrário, isto é, devido ao grande
crescimento da igreja, a mesma começou a ser perseguida.
Podemos notar que Lucas ressalta a força e o poder deste evangelho que é fortíssimo,
e se espalha por todo mundo NÃO OBSTANTE AS BARREIRAS e CRISES QUE ENFRENTA.
Um nítido perfil que caracteriza a igreja primitiva já pode ser delineado:
- A igreja é capaz de crescer na adversidade. Isto não representa perigo ao
crescimento da igreja.
- A igreja é vocacionada para a vitória, não importam as batalhas.
- A igreja cresce na visão de que o mundo é seu campo missionário. Rompe as
barreiras nacionalistas e se expande como nunca.

44
José Martínez, Hermeneutica Biblica, p. 477.
45
Veja no final desta apostila o esboço traçado a partir deste esquema.
46
Esboço sugerido por Gordon Fee, Atos, o problema do precedente histórico, em FEE, Gordon; STUART, Douglas, Entendes
o que Les? (São Paulo: Vida Nova, 1989), p. 83-4.
FTBB-NT1-Estudos Introdutórios no Livro de Atos- 1ºSem/2003 – Prof. Marcos Alexandre R. G. Faria - página 13

Notemos o quadro que Lucas nos apresenta deste crescimento:

At. 1.2; 13-14 - Mandamento aos apóstolos que escolhera


- Perseveravam em oração
1.15 - 120 pessoas
2.41 - Quase 3.000 pessoas
2.47 - Acrescentando-lhes os salvos dia a dia
4.4 - Quase 5.000 homens
5.14 - Uma multidão de crentes
5.28 - Jerusalém está cheia desta doutrina
6.1 - Multiplica-se o número dos discípulos
6.7 - Cresce a palavra e multiplica-se o número de discípulos e
sacerdotes
8.4-8 - Multidões ouvem a palavra
- Muitos são curados e libertos
9.31 - A igreja cresce em espiritualidade e em número
9.35,42 - Todos os habitante de Lídia e Sarona se convertem ao Senhor
- Muitos crêem no Senhor
11.19-21 - Muitos crendo, se converteram ao Senhor
11.22-26 - Muita gente se uniu ao Senhor
- Numerosa multidão
12.24 - A palavra do Senhor, crescia e se multiplicava
14.1 - Grande multidão passa a crer
16.5 - As igrejas eram fortalecidas e aumentavam em número
17.4 - Numerosa multidão e muitas distintas mulheres se convertiam
17.12 - Muitos creram, não poucos homens
18.10 - Muito povo de Deus
19.10 - Todos os habitantes da Ásia ouvem a palavra de Deus
21.20 - Dezenas de milhares de judeus crêem na palavra de Deus

7 POLÊMICAS E DIFICULDADES DE INTERPRETAÇÃO EM ATOS

7.1 UM “PROBLEMA HERMENÊUTICO”

Não há dúvidas quanto a autenticidade dos textos narrados em Atos. O que muitas vezes é
questionado é a atualidade destes textos para os dias de hoje. Ou seja, a experiência da comunidade
da igreja primitiva deve continuar reproduzindo-se ainda hoje? O batismo com o Espírito Santo no dia
de Pentecostes tem de repetir-se na experiência individual do crente em particular e da igreja? Os dons
devem ser manifestados da mesma maneira? Estes dons cessaram ou continuam? Desta forma, a
pergunta que fica é se o livro de Atos possui um caráter meramente informativo ou possui também um
valor normativo.
FTBB-NT1-Estudos Introdutórios no Livro de Atos- 1ºSem/2003 – Prof. Marcos Alexandre R. G. Faria - página 14

7.2 INFORMATIVO OU TAMBÉM NORMATIVO?

O livro de Atos possui um caráter meramente informativo ou também normativo? A questão


principal é que não podemos tomar por normativo o que é simplesmente informativo, e não podemos
tomar exclusivamente por informativo o que também é normativo. É necessário bom censo,
discernimento e a avaliação do texto bíblico à luz de toda a revelação. Tem que se levar em
consideração o contexto do acontecimento, a intenção do autor em sua narrativa e o condicionamento
do que foi narrado. Donald Guthrie47, ao que me parece, de forma acertada, afirma que “nós podemos
observar imediatamente que as evidências do livro de Atos não fornece-nos nenhum subsídio para uma
reflexão sobre a teologia do Espírito. Ele está completamente interessado em sua atividade. [...] O
principal interesse do escritor é a narração das atividades da igreja muito mais do que as atitudes dos
indivíduos ou grupos.”
Ao contrário de Guthrie, embora eu acredite que temos evidências em Atos que nos suprem com
bons subsídios para uma reflexão sobre a teologia do Espírito, creio que ele acerta ao afirmar que o
Livro não pode ser a base para construirmos uma teologia do Espírito aplicada ao indivíduo ou a igreja
como grupo de cristãos, visto que, as manifestações do Espírito em Atos são extremamente variadas, o
recebimento do Espírito acontece sem qualquer referencial fixo, o que dificulta estabelecer uma norma a
partir daquilo que é apenas experiência. Diante desta diversidade e falta de padronização, Gordon Fee48
afirma que “semelhante diversidade provavelmente significa que nenhum exemplo está sendo proposto
como o único modelo para a experiência cristã ou a vida eclesiástica.” Aonde Lucas está apenas
narrando experiências, não posso estabelecer princípios normativos. Isto no entanto, não nega de forma
alguma a experiência, ou mesmo a atuação do Espírito Santo naqueles dias e nos nossos dias.
Gordon Fee49 acredita que “a não ser que a Escritura explicitamente nos mande fazer alguma
coisa, aquilo que é meramente narrado ou descrito nunca pode funcionar de modo normativo.”
Martínez50 conclui dizendo que “a grande lição de Atos sobre o Espírito Santo é que deve-se
atribuir a Ele, o continuador do ministério de Cristo, o nascimento, o desenvolvimento, a vitalidade e o
testemunho eficaz da Igreja. Na medida em que esta vive sob o influxo do Espírito, se edifica, se
consolida, se expande.”

7.3 O ESPÍRITO SANTO EM ATOS51

No século XVII, Johann Albrecht sugeriu para o livro de Atos o título de “Atos do Espírito Santo”.
John Stott52, nos informa que “Albrecht escreveu que o segundo volume da obra de Lucas descreve não
tanto os Atos dos Apóstolos, mas, sim, os Atos do Espírito Santo, assim como o primeiro tatado contém
os Atos de Jesus Cristo. Esse conceito, segundo Stott53, foi popularizado por Arthur T. Pierson (1895).
Stott54, concorda que o Espírito Santo está em evidência em Atos, mas não podemos enfatizar
sua pessoa em detrimento dos apóstolos, que são os instrumentos por meio dos quais o Espírito age.
Sendo assim, Stott55 sugere para o livro de Atos o seguinte título: “As Palavras e obras de Jesus que
Continuam Através de Seu Espírito por Intermédio dos Apóstolos.”

47
Donald Guthrie, New Testament Theology (England: Inter-Varsity Press, 1981), p. 548-9.
48
Op. Cit., p. 86.
49
Op. Cit., p. 91.
50
José Martínez, Hermeneutica Biblica, p. 471.
51
Confira também no Apêndice B desta apostila mais informações sobre o assunto.
52
Op. cit., p. 31.
53
Idem.
54
Ibid., p. 31-2.
55
Ibid, p. 32.
FTBB-NT1-Estudos Introdutórios no Livro de Atos- 1ºSem/2003 – Prof. Marcos Alexandre R. G. Faria - página 15

7.3.1 Trabalhando os Termos Gregos


Há uma ênfase muito grande em Atos sobre a pessoa do Espírito Santo. Podemos notar que a
palavra “Espírito Santo” aparece 44 vezes no livro e a palavra “Espírito” aparece 64 vezes.
A palavra “Poder” aparece 11 vezes, sendo que, a palavra “poder” (duvnamiß56) aparece 09
57
vezes ( At 1:8; 3:12; 4:7; 4:33; 6:8; 8:10; 10:38; 20:32; 27:15) e a palavra “poder” (evxousiva ) aparece 02
58
vezes ( 5:4; 8:19); eutovnw" aparece 01 vez (18:28), onde na ARC se lê “veemência” = forçosamente,
veementemente.

7.3.2 Alguns Aspectos da Ação do Espírito Santo em Atos

A. Jesus Cristo - o referencial básico para entendermos o Espírito Santo

O ES não ocupa um lugar que não seja o de Jesus - I Co 12.3 Por isso, vos faço compreender
que ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: Anátema, Jesus! Por outro lado, ninguém pode
dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo.

B. O relacionamento entre Palavra e Espírito - Gn 2.7 - 2 Tm 3.16; 2 Pe 1.21; Sl 33.6

NOTEMOS A ORDEM - Não é quem não tem o Espírito Santo que não tem Cristo, É O
INVERSO, quem não tem Cristo não tem o Espírito Santo!!!

C. O Ministério do Espírito Santo

a. Inspira a pregação - 2.14ss


b. Fortalece o testemunho - 4.8ss; 5.32ss
c. Infunde valor aos fiéis - 4.31
d. Capacita para o serviço - 6.3
e. Abre a porta do Evangelho aos Samaritanos - 8.15ss e gentios - 10.44ss
f. Impulsiona os apóstolos à evangelização - 8.29; 13.2,4; 16.6,7
g. Ainda que invisível, foi o presidente de Assembléia em Jerusalém - 15.28
h. Designa os pastores das igrejas - 20.28
i. Concede revelações proféticas - 21.4,11

56
duvnamiß, (1) É algo capaz de produzir um forte efeito, significando “poder”, “grande força”, “resistência” (At 1.8); O plural
pode ter um significado de poderes dominadores universais ou sobrenaturais (MT 24.29); (2) Pode significar também
capacidade para fazer algo: “habilidade”, “capacidade”, “recurso”, “condições” (2Co 8.3); (3) Possui também p sentido de
habilidade para comunicar por meio da linguagem, “força no argumento” (1Co 14.11); (4) Também pode assumir o sentido de
manifestações sobrenaturais de poderes miraculosos, “prodígios”, (AT 2.4); (5) Assume em alguns casos, o sentido de
“utilidade” e “proveito” de dinheiro e riquezas como fontes (Ap 18.3).
57
evxousiva, “autoridade”, “direito”, “poder” (1) deonta o poder de se tomar decisões, especialmente como possibilidades
ilimitadas de ação, que são próprias de Deus, assumindo o significado de “autoridade” e “poder” (At 1.7); (2) Denonta o poder
de Deus manifesto na natureza, tendo também o significado de “poder”, “autoridade” (Ap 9.10, 19); (3) Pode denotar
autoridade limitada para agir, dado a Satanás em sua esfera de dominação, tendo assim o significado de “poder”, “esfera de
poder”, “dominação” (At 26.18); (4) Poder irrestrito dado ao divino Jesus para exercer sua liberdade de agir de acordo com sua
própria vontade, significando também “poder” e “autoridade” (Jo 10.18); (5) autoridade transmitida à comunidade para que sua
ordem interna seja mantida, significando assim “direito”, “controle” e “autoridade” (2Co 13.10); (6) Diz respeito também àqueles
sobre quem a autoridade para governar repousa, autoridade sobrenatural e humana, especialmente no plural, “oficiais”,
“autoridades”, “dignatários”, “o governo” (Cl 1.16); (7) sibolicamente a autoridade pode vir representada por meio de uma
vestimenta que simboliza o casamento, como a cabeça coberta de uma mulher, é um “símbolo”, “sinal de autoridade” exercida
pelo homem (1Co 11.10).

58
eutovnw" = “estritamente”, “rigorosamente”, “com todo esforço”; “veementemente”, “forçosamente”, “vigorosamente”.
FTBB-NT1-Estudos Introdutórios no Livro de Atos- 1ºSem/2003 – Prof. Marcos Alexandre R. G. Faria - página 16

- Pentecostes Samaritano - 8.14ss


- Pentecostes dos Gentios - 10.1ss

Em Atos o Espírito Santo é o continuador do ministério de Cristo à medida em que a


igreja vive sob o influxo do Espírito Santo, se edifica, se consolida, se expande.

8 ESBOÇO DE ATOS

I. PEDRO e o evangelho aos judeus em Jerusalém, Judéia e Samaria (1.1-12.24)

A. Instruções de Jesus e a espera pelo Espírito (cap.1)

B. A fundação da Igreja em Jerusalém (caps. 2-7)

1. O derramamento do Espírito Santo e o 1° sermão de Pedro(2.1-41)


2. A comunhão dos crentes (2.42-47)
3. O mendigo curado e o segundo sermão de Pedro (cap. 3)
4. A perseguição pelo Sinédrio (4.1-31)
5. A Igreja: comunidade e disciplina (4.32-5.11)
6. Mais perseguição pelo Sinédrio (5.12-42)
7. A escolha dos sete (6.1-7)
8. Perseguição e morte de Estêvão (6.8-7.60)

C. Espalhado pela perseguição, o Evangelho é disseminado pela Judéia, Samaria e para

além (8.1-12.24)

1. Filipe prega em Samaria e ao eunuco etíope (cap. 8)


2. A conversão de Saulo (9.1-31)
3. O ministério de Pedro em Lida e Jope (9.32-43)
4. O ministério de Pedro em Cesaréia: o Espírito Santo é derramado sobre os gentios

(10.1-11.18)
5. A igreja em Antioquia da Síria (11.19-30)
6. A perseguição de Herodes Agripa I à Igreja e a sua morte (12.1-24)

II. PAULO e o evangelho aos gentios (12.25-28.31)

A. Paulo expande o evangelho até a Ásia Menor e à Europa (12.25—21.16)

1. A primeira viagem missionária de Paulo — Chipre e Ásia Menor (12.25-14.28)


2. O Concílio de Jerusalém (15.1-35)
3. A segunda viagem missionária de Paulo — o retorno à Ásia Menor e à Europa
(15.36-18.22)
4. A terceira viagem missionária de Paulo — o fortalecimento das igrejas da Ásia
Menor, Macedônia e Grécia (18.23-21.16)

B. Paulo leva o evangelho a Roma (21.17-28.31)

1. A prisão de Paulo o seu julgamento e encarceramento na Palestina (21.17-26.32)


2. A viagem à Roma (27.1-28.16)
3. Os dois anos do ministério de Paulo em Roma (28.17-31)
FTBB-NT1-Estudos Introdutórios no Livro de Atos- 1ºSem/2003 – Prof. Marcos Alexandre R. G. Faria - página 17

9 APÊNDICES

A. ASPECTOS GEOGRÁFICOS E BIOGRÁFICOS EM ATOS59


I. AS NAÇÕES DO DIA DE PENTECOSTES

No primeiro século da era cristã as comunidades judaicas estavam localizadas primariamente na


parte oriental do império romano, região na qual o grego era a linguagem falada. Essas comunidades se
estendiam, entretanto, até à Itália, na direção ocidental e, na direção do Oriente, até a Babilônia. Além
de habitantes das cercanias, estiveram presentes no Dia de Pentecostes (At 2.9-11) visitantes da
Mesopotâmia e até de regiões situadas mais ao oriente, como a Pártia, a Média e o Elam (atualmente,
Irã).

A Obra do Espírito Santo (2.4)


No Princípio
Ativo e presente na criação, movendo-se sobre condições ainda não ordenadas (Gn 1.2)
No Antigo Testamento
A origem de habilidades sobrenaturais (Gn 41.38)
O doador de talentos artísticos Êx 31.2-5)
A fonte de poder e força (Jz 3.9, 10)
A inspiração da profecia (1Sm 19.20, 23)
O que equipa mensageiros de Deus (Mq 3.8)
Nas Profecias do Antigo Testamento
A purificação do coração para uma vida santa (Ez 36.25-29)
Na Salvação
Regenera o crente (Tt 3.5)
Habita no crente (Rm 8.9-11)
Santifica o crente (2Ts 2.13)
No Novo Testamento
Declara as verdades sobre Cristo (Jo 16.13, 14)
Reveste do poder necessário à proclamação do evangelho (At 1.8)
Derrama o amor de Deus nos corações (Rm 5.5)
Intercede (Rm 8.26)
Concede os dons para o ministério (1Co 12.4-11)
Possibilita os frutos necessários a uma vida santa (Gl 5.22, 23)
Fortalece o ser interior (Ef 3.16)
Na Palavra Escrita
Inspirou as Sagradas Escrituras (2Tm 3.16; 2Pe 1.21)

ii. As viagens missionárias de Filipe

As viagens de Filipe (ver At 6.5) estão registradas em At 8.5-13 e 8.26-40. A grande reação à
sua pregação, em Samaria, fez com que Pedro e João se dirigissem para lá com a finalidade de
ministrar aos novos convertidos. Filipe seguiu a instrução divina de viajar pela estrada que atravessa o
deserto na direção sul, de Jerusalém a Gaza. Pelo caminho, ele batizou o eunuco etíope. Depois desse
incidente, Filipe continuou pregando ao longo da planície costeira que vai de Azoto a Cesaréia.

iii. As viagens missionárias de Pedro

Pedro e João viajaram até Samaria para se unir a Filipe no reavivamento que ali ocorria (At 8.14-
25). O esforço missionário de Pedro, registrado em Atos 9.32-10.48, demonstra a operação do poder de
Deus. Ele viajou para Lida, onde Enéias foi curado. Em Jope ele restaurou a vida de Dorcas e ali ficou
muitos dias com Simão o curtidor. A visão dos animais e pássaros impuros preparou a Pedro para a

59
João Alves dos Santos, Panorama do NT (São Paulo: CPPGAJ, 2000).
FTBB-NT1-Estudos Introdutórios no Livro de Atos- 1ºSem/2003 – Prof. Marcos Alexandre R. G. Faria - página 18

pronta aceitação do convite de Cornélio para que se dirigisse à Cesaréia, onde o evangelho foi
poderosamente recebido pelos gentios.
iv. Paulo vai à Galácia (A primeira viagem missionária, At 13; 14)

Paulo e Barnabé foram enviados pela igreja de Antioquia (At 13.1-3) e se dirigiram às cidades da
Galácia, na Ásia Menor. As sinagogas judaicas, nessas cidades, providenciaram a Paulo uma
plataforma para a pregação do evangelho. Em certas ocasiões, entretanto, ele encontrou oposição nas
próprias sinagogas.

v. Paulo vai à Grécia (A segunda viagem missionária, At 15.39-18.22)

Iniciando a viagem em Jerusalém, Paulo levou consigo a Silas para visitar mais uma vez as igrejas
da
Galácia. O jovem Timóteo uniu-se a eles em Listra. Juntos partiram para a Macedônia e para Acáia
(atualmente, Grécia). Nessa viagem o carcereiro filipense foi salvo, os de Beréia “pesquisaram
diariamente as escrituras” (At 17.11) e Paulo pregou em Atenas, no Areópago.

vi. Novas visitas à Ásia e à Grécia (A terceira viagem missionária de Paulo, At 18.23-21.16)

Paulo visitou as igrejas da Galácia pela terceira vez e então se estabeleceu em Éfeso por mais
de dois anos. Quando saiu de Éfeso, Paulo viajou mais uma vez à Macedônia e à Acáia (Grécia) onde
permaneceu durante três meses. Ele retornou para a Ásia passando pela Macedônia.
Nessa terceira viagem Paulo escreveu de Éfeso 1 Coríntios e, da Macedônia, 2 Coríntios. De
Corinto ele escreveu a carta aos Romanos.

vii. A caminho de Roma (A quarta viagem missionária de Paulo, At 27.1-28.16)

Em Jerusalém após a sua terceira viagem missionária, Paulo teve um conflito com os judeus que
o acusavam de haver profanado o templo (At 21.26-34). Ele foi colocado sob custódia dos romanos, em
Cesaréia, durante dois anos. Depois de apelar à César, foi enviado de navio a Roma. Depois da partida
da ilha de Creta, o navio de Paulo naufragou na ilha de Malta, por causa de uma grande tempestade.
Três meses depois ele finalmente chegou à cidade imperial.

viii. A carreira do apóstolo Paulo (28.31)

Origem: Tarso, na Cilícia (At 22.3)


Tribo de Benjamim (Fp 3.5)
Treinamento: Aprendeu a arte de fazer tendas (At 18.3)
Estudou com Gamaliel (At 22.3)
Religião anterior: Hebreu e Fariseu (Fp 3.5)
Perseguidor dos cristãos (At 8.1-3; Fp 3.6)
Salvação: Encontrou Cristo ressurreto no caminho de Damasco(At 9.1-8)
Cheio do Espírito Santo e batizado em uma rua chamada Direita (At 9.17, 18; 22.12-16)
Chamado às Missões: A igreja de Antioquia foi ordenada pelo Espírito Santo a enviar Paulo em uma missão (At
13.1-3)
Levou o evangelho aos gentios (Gl 2.7-10
Eventos: Falou em favor da igreja de Antioquia no concílio de Jerusalém (At 15.1-4,12)
Opôs-se a Pedro (Gl 2.11-21)
Disputou com Barnabé sobre João Marcos (At 15.36-41)
Realizações: Três extensas viagens missionárias (At 13-20)
Fundou várias igrejas na Ásia Menor, na Grécia e, possivelmente, na Espanha (Rm 15.24,
28)
Escreveu cartas a várias igrejas e a vários indivíduos, que agora formam uma quarta parte
do nosso Novo Testamento
Final de sua vida: Após ser preso em Jerusalém, foi enviado à Roma (At 21.27; 28.16-31)
De acordo com a tradição cristã, foi solto da prisão e empreendeu trabalho missionário
adicional. Foi preso novamente em Roma e decapitado num local fora da cidade.

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FTBB-NT1-Estudos Introdutórios no Livro de Atos- 1ºSem/2003 – Prof. Marcos Alexandre R. G. Faria - página 19

B. UMA VISÃO DA PESSOA E OBRA DO ESPÍRITO SANTO EM ATOS60

1. PLENITUDE DO ESPÍRITO SANTO


2. BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO
3. BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO É CONVERSÃO
4. BENEFÍCIOS DESTA INTERPRETAÇÃO

1. PLENITUDE DO ESPÍRITO SANTO

“Plenitude do Espírito Santo” – Expressão não encontrada no NT

- “Ser cheio de” – Termo característico de Lucas

Lc 4.1 - E Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto.
At 11.24 - Porque era homem de bem e cheio do Espírito Santo e de fé. E muita gente se uniu ao
Senhor.

É a mesma expressão usada em Lc. 5.12 - aconteceu que, quando estava em uma daquelas
cidades, eis que um homem cheio de lepra, vendo a Jesus, prostrou-se sobre o rosto e rogou-lhe,
dizendo: Senhor, se quiseres, bem podes limpar-me. E At 13.10 - filho do diabo, cheio de todo o
engano e de toda a malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás de perturbar os retos caminhos do
Senhor?

Isto é, estar repleto de, totalmente dominado por.

• 02 MODOS DE SE ESTAR CHEIO:

a. INSTANTÂNEO

At 2.1-4 - 2:1 Cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar;
2 e, de repente, veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda
a casa em que estavam assentados.
3 E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada
um deles.
4 E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o
Espírito Santo lhes concedia que falassem.
At 4.31 - E, tendo eles orado, moveu-se o lugar em que estavam reunidos; e todos foram
cheios do Espírito Santo e anunciavam com ousadia a palavra de Deus.

At 13.9 - Todavia, Saulo, que também se chama Paulo, cheio do Espírito Santo e fixando os
olhos nele, disse:

b. UM PROCESSO

At 4.8 - Então, Pedro, cheio do Espírito Santo, lhes disse: Principais do povo e vós, anciãos de
Israel,
6.5,8 - E este parecer contentou a toda a multidão, e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e
do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Pármenas e Nicolau, prosélito de
Antioquia;
8 E Estêvão, cheio de fé e de poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo.
At 13.52 - E os discípulos estavam cheios de alegria e do Espírito Santo.

60
Este é um esboço que está baseado no livro de Caio Fábio D´Araújo Filho, Espírito Santo: O Deus que vive em Nós ( São
José dos Campos-SP: CLC Editora, 1991).
FTBB-NT1-Estudos Introdutórios no Livro de Atos- 1ºSem/2003 – Prof. Marcos Alexandre R. G. Faria - página 20

Ef 5.18 – 21 – Há um interesse do Espírito Santo em nos encher.


18 E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito,
19 falando entre vós com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao
Senhor no vosso coração,
20 dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo,
21 sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus.

2. BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO

• Não podemos criar doutrina em cima do livro de Atos – relata apenas experiências não
padronizadas.
• Não se pode transformar experiências em padrões doutrinários. Ex. a conversão de Saulo.

• Batismo com o Espírito Santo, 2ª bênção?


Nosso pressuposto: Batismo com o Espírito Santo é sinônimo de conversão,
regeneração, novo nascimento.

ARGUMENTOS:

1º ARGUMENTO: OS 120 em JERUSALÉM

At 2.1-4 - 2:1 Cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar;
2 e, de repente, veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda
a casa em que estavam assentados.
3 E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada
um deles.
4 E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o
Espírito Santo lhes concedia que falassem.

• Argumenta-se – Estes já eram salvos.


• Contra argumento:
- O Pentecostes foi o derramamento inicial do Espírito Santo.
- Seu relacionamento agora com o cristão é diferente do AT.
Ef. 3.16,17 - 16 para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais
corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior;
17 para que Cristo habite, pela fé, no vosso coração; a fim de, estando arraigados e
fundados em amor,
Agora o Espírito Santo habita permanente e plenamente no cristão.

2º Argumento: PENTECOSTES SAMARITANO At 8.4-25

- Por que Pedro e João foram lá? Estes já eram cristãos?

a. Necessidade de autenticação apostólica. Foi a 1ª região fora da Judéia.


b. Necessidade de romper o bloqueio entre judeus e samaritanos.
João e estes – Lc 9.51-56
c. Antes da bênção era necessário a reconciliação, perdão mútuo.
d. Não existia nenhum cristão!
At 8.16 - (Porque sobre nenhum deles tinha ainda descido, mas somente eram batizados
em nome do Senhor Jesus.)
Confr. V.12,13 - 12 Mas, como cressem em Filipe, que lhes pregava acerca do Reino de
Deus e do nome de Jesus Cristo, se batizavam, tanto homens como mulheres.
FTBB-NT1-Estudos Introdutórios no Livro de Atos- 1ºSem/2003 – Prof. Marcos Alexandre R. G. Faria - página 21

13 E creu até o próprio Simão; e, sendo batizado, ficou, de contínuo, com Filipe e, vendo
os sinais e as grandes maravilhas que se faziam, estava atônito.
Confr. V. 18,19 - 18 E Simão, vendo que pela imposição das mãos dos apóstolos era
dado o Espírito Santo, lhes ofereceu dinheiro,
19 dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele sobre quem eu puser as
mãos receba o Espírito Santo.

Rm 8.9 - Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus
habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.

e. Notar a experiência de conversão de Filipe sem nenhum sinal espetacular do Espírito


Santo .

3º ARGUMENTO: CORNÉLIO – At 10ss

- Falar em línguas – Não há padrão em At.


- Em At muitos creram em Jesus e O receberam sem nada ser relatado sobre fenômenos
extraordinários:
Ex: 2.41; 4.4; 5.14; 6.7; 9.17-18; 11.21-23; 16.14-15, 32-33.

- Cornélio ainda não era cristão! At 11.14 - o qual te dirá palavras com que te salves, tu
e toda a tua casa.

O Batismo era ATO SEGUNDO – At 10.47 - Respondeu, então, Pedro: Pode alguém,
porventura, recusar a água, para que não sejam batizados estes que também receberam,
como nós, o Espírito Santo?

4º ARGUMENTO: OS DISCÍPULOS DE ÉFESO – At 19

- Pararam em João Batista. Daí para frente não sabiam nada.


Não eram salvos, pois nem sabiam que existia o Espírito Santo – At 19.2 - disse-lhes:
Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes? E eles disseram-lhe: Nós nem ainda
ouvimos que haja Espírito Santo.
- Confr com Rm 8.9 - Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito
de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.
No v. 2 Paulo, em outras palavras, está dizendo que quando se crê se recebe o
Espírito Santo – Ex. At 11.17 - Portanto, se Deus lhes deu o mesmo dom que a nós, quando
cremos no Senhor Jesus Cristo, quem era, então, eu, para que pudesse resistir a Deus?
E Gl 3.2 - Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela
pregação da fé?

*****************************

3. BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO É CONVERSÃO

- No NT há 07 referências ao Batismo com o Espírito Santo


• 4 de João Batista – Mt 3.11; Mc 1.8; Lc 3.16; Jo 1.33
Mt 3.11 - eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que
vem após mim é mais poderoso do que eu; não sou digno de levar as suas sandálias; ele vos
batizará com o Espírito Santo e com fogo.
• 1 de Jesus – At 1.5 - Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados
com o Espírito Santo, não muito depois destes dias.
• 1 de Pedro – At 11.16 - E lembrei-me do dito do Senhor, quando disse: João certamente
batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo.
FTBB-NT1-Estudos Introdutórios no Livro de Atos- 1ºSem/2003 – Prof. Marcos Alexandre R. G. Faria - página 22

• 1 de Paulo – I Co 12.13 - Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um


corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um
Espírito.

- Só Paulo fala para quem é o Espírito Santo. PARA TODOS OS SALVOS!

Joel 2.28 - E há de ser que, depois, derramarei o At 2.17 17 E nos últimos dias acontecerá, diz
meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos Deus, que do meu Espírito derramarei sobre
e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos toda a carne; e os vossos filhos e as vossas
terão sonhos, os vossos jovens terão visões. filhas profetizarão, os vossos jovens terão
visões, e os vossos velhos sonharão sonhos;

Jo 17.2,9 - 2 assim como lhe deste poder sobre 1 Co 12.13 - 13 Pois todos nós fomos batizados
toda carne, para que dê a vida eterna a todos em um Espírito, formando um corpo, quer
quantos lhe deste. judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e
9 Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas todos temos bebido de um Espírito.
por aqueles que me deste, porque são teus.

- O Batismo com o Espírito Santo acontece com “TODOS NÓS” quando recebemos a vida eterna!
- “Toda carne” de Joel não é quantitativo, é qualitativo.

v. Gl. 3.28 - 28 Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea;
porque todos vós sois um em Cristo Jesus.

4. BENEFÍCIOS DESTA INTERPRETAÇÃO

1. Acaba a divisão entre batizados e não batizados

2. Não se atinge o ápice da espiritualidade aqui. Deve-se estar sempre deixando-se “encher” –
Ef. 5.18 - E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do
Espírito,

3. A evidência do Espírito Santo é o “Fruto” – Gl 5.22 - Mas o fruto do Espírito é: caridade,


gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança.

4. Os dons não cessaram.

I Co 12.13 - Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus,
quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito.

O ESPÍRITO SANTO NÃO É UM ELEMENTO DIVISOR, MAR UNIFICADOR!

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C O BATISMO “EM NOME DE JESUS” NO LIVRO DE ATOS – DR. ALDERI S. MATOS

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