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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

MÁRIO TAKANAGE JUNIOR

RUBENS ROMÃO CORREA JUNIOR

MORAL CRISTÃ NO ANTIGO E NOVO TESTAMENTO

CAMPINAS
SETEMBRO/ 2015
MÁRIO TAKANAGE JUNIOR – R.A. 15600174
RUBENS ROMÃO CORREA JUNIOR – R.A. 15600042

MORAL CRISTÃ NO ANTIGO E NOVO TESTAMENTO

Trabalho apresentado à Professora Lúcia


Maria Q. D. Gomes, da disciplina
Teologia Moral Fundamental para o
cumprimento de atividades avaliativas,
do curso de Teologia

Pontifícia Universidade Católica de Campinas

Campinas – 30/09/2015
INTRODUÇÃO 1:
Numa sociedade que vive em tempos líquidos impera notoriamente
também, e quase que especialmente, uma relativização da moral cristã, onde cada
um deseja viver de acordo com as suas normas e acatar da moral proposta pelo
Cristo e resgatada pela Igreja, somente aquilo que convêm e favorece a vida
individual.
Ao passo que se oferece uma Teologia Sólida, fundamentada na tradição e
no agir e atuar de Jesus, inspirado pelo Espírito Santo, em processo de reditus
(retorno a Deus), o mundo propõe uma moral da felicidade, onde esta consiste em
viver sem freios e da forma que melhor cabe ao cidadão, sem parâmetros de bem
comum, de certo ou errado, senão apenas de parâmetros totalmente individualistas.
Diante desta realidade, a Sagrada Escritura, interpretada à luz da Sagrada
Tradição pelo Magistério da Igreja, nos oferece um caminho vivencial e
interpretativo da moral cristã, salvaguardada pelo depósito da Fé, contida de
maneira geral em seus textos do antigo e do novo testamento. Cabe-nos interpretar,
perceber aquilo que nos é pedido, colocando em ação a prática do amor, que não
passa pelo sentimento, mas por uma consciência de pertencer ao outro por meio de
Deus, Pai de todos, reunidos pelo Cristo, nosso irmão e orientados pela “ruah” do
Espírito Santo, e que tem seu início no respeito e no serviço ao outro, considerado
pelo próprio apóstolo dos gentis como, em caso de necessidade e impaciência, em
sua carta aos cristãos Colossenses capítulo 3, versículo 13: “suportai-vos uns aos
outros.”.
Sendo assim, analisaremos a seguir duas passagens da Sagrada Escritura,
Antigo e Novo Testamento, que propõem o vínculo com Deus, de onde emana e
provém a Moral (teônoma), vivenciada e aplicada de forma perfeita pelo Cristo,
quem nos convida a assumir esta árdua forma de vida, que é sustentada pela graça
do Espírito e que tem como prêmio a salvação eterna, o reditus, ou seja, o retorno
Àquele que de onde partimos, exitus, e de quem procede todo o amor e sinal de
entrega.2 Desta forma, nos auxiliarão o livro dos Números, do Pentateuco, e o

1
BINGEMER, Maria Clara Lucchetti, Uma Teologia Sólida em Tempos Líquidos, in: Abreu, Elza Helena, de
Souza, Nei, Concilio Vaticano II Memórias e Esperança para os tempos atuais, São Paulo: Paulinas,
Unisal, 2014, p.179-199.
2
Q. D. Gomes, Lúcia Maria, Teologia Moral Fundamental, p. 1.
Evangelho segundo Mateus, quem apresenta também o discurso das bem
aventuranças em paralelo ao texto do Decálogo.

MORAL NO ANTIGO TESTAMENTO:


Observando a perícope do livro de Números, capítulo 14, versículos de 10
a 25, nos deparamos com a moral a partir do ethos da Aliança, onde se coloca em
evidência justamente a questão de honrar ao Senhor diante de tantos sinais por Ele
realizados e a incredulidade do povo (cf. v. 11).
Importante notar que “a moral no Antigo Testamento fundamenta-se por
essa Aliança que Deus firma entre Ele e os homens”3, e neste caso, o texto
apresenta o Senhor Iahweh como um Deus justo:“lento para a cólera e cheio de
amor, tolera a falta e a transgressão, mas não deixa ninguém impune, ele que
castiga a falta dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração.” (Nm. 14, 18)
A apresentação de Iahweh como este Deus justo e amoroso é importante
para a segunda parte do texto, já que diante da súplica de Moisés, observando a
realidade deste povo que não crê em seus sinais, o Senhor os perdoa, mas coloca
como condição a necessidade de reconhecê-lo e obedecer a sua voz, já que sua
glória enche toda a terra, e diante da não observância de sua vontade, e da crença
nEle, o não cumprimento da promessa de ver a terra prometida, o que diferencia de
Caleb, o servo justo, que observando a vontade do Senhor, animado pelo Espírito,
entraria na terra prometida.
Trata-se, portanto, de observar que a moral no Antigo Testamento,
fundamentada pela Aliança, é também trazida para a realidade atual, tendo como
Terra Prometida a salvação das almas, o céu, e a observância da Aliança através de
honrar a lei do Senhor e viver a proximidade, intimidade que perpassa a realidade
humana, e a orienta, através da Moral Teônoma, para uma vivência profunda da
Lei que não é apenas pela Lei enquanto tal, mas que orienta ao Amor.
Observamos então que, nesta perícope, o homem justo é aquele que,
imbuído de um profundo amor (temor) de Deus, crendo n’Ele, vive retamente na
sua Lei, animado pelo Espírito Santo, quem inspira e “sopra” a força necessária
para vivê-la, e que o pleno cumprimento da Lei, por amor ao Reino, e não apenas
pela própria lei, é o que agrada ao Senhor, possibilitando o cumprimento da

3
Q. D. Gomes, Lúcia Maria, Teologia Moral Fundamental, p. 7.
promessa que, no Antigo Testamento, trata-se da descendência, da terra prometida,
da prosperidade, e que nos dias atuais, representam a conquista do Céu, a santidade
e especialmente a forma de orientar-se pelo bem, pelo reto agir.

MORAL NO NOVO TESTAMENTO:


Diante da mesma perspectiva apresentada anteriormente, podemos
observar a questão da moral no Novo Testamento como aquela orientada a cumprir
a vontade do Pai, através da pregação e do testemunho de Jesus e do impulso do
Espírito Santo.
Como já mencionado, a moral cristã é teônoma, ou seja, nos é dada através
do batismo e, portanto, nos orienta desde a Santíssima Trindade.
O evangelho da comunidade de São Mateus, capítulo 7, versículos de 21 a
29, nos coloca diante da afirmação de Jesus de que o Reino dos Céus não se
destina àqueles que se enchem de formas exteriores, que se fazem notar em suas
orações, mas àqueles que põem em prática a vontade do Pai, fundamentada na Lei
e que se orienta pelo e para o Amor.
A primeira parte do texto (vv. 21 ao 23) nos leva a considerar as práticas
exteriores, a vivência da Lei pela lei, como condenação, afastamento da vontade de
Deus e iniquidade. Enquanto que, a segunda parte, nos orienta que a perfeita
vivência do discipulado se baseia no cumprimento da palavra do Senhor,
apresentada por Jesus, em seu anúncio vocal e testemunhal, e inspirada pelo
Espírito Santo, tornando o homem sensato, semelhante aquele que “edifica sua
casa sobre a rocha” (Mt. 7, 25b).
De certa forma, somos convidados a encarnar plenamente esta perícope,
esvaziando-nos de práticas meramente exteriores, ou seja, sem observar o interior,
a motivação, que nos leva ao perfeito cumprimento da Lei. Somos também
impulsionados, a partir do momento em que assumimos esta realidade, a encarnar
o atuar humano de Jesus, guiado pela sua própria divindade, orientando-nos a
anunciar com autoridade, uma autoridade que não está expressa na forma que se
fala, mas na profunda vivência daquilo que se anuncia. Somente assim, é possível
ser reconhecidos, pelo Senhor, como seus autênticos filhos, à diferença do que
expressa a primeira parte da perícope.
Tendo observado esta realidade que nos é apresentada por Jesus, podemos
concluir que a moral cristã, também está orientada pela Aliança, onde Jesus é o
pleno cumprimento da Aliança Antiga e a torna Nova e Eterna pelo seu sangue
derramado na cruz. Jesus é o modelo da moral cristã, seu agir e comportar-se, sua
intimidade com o Pai, são os critérios que nos levam a experimentar um anúncio
que vai além de nossa humanidade, mas que reflete a divindade de Cristo em nós,
ao sermos imagem e semelhança do Senhor. A moral nos é dada por Deus,
manifestada e encarnada pelo Cristo, inspirada pelo Espírito Santo e que volta para
Deus em nosso caminho de retorno àquele que “nos chamou das trevas para sua
admirável luz” (1 Pe. 2,9).

CONCLUSÃO:
Tendo realizado esta análise de cada um dos textos, e levando em
consideração a apresentação realizada na introdução, podemos concluir que:
1. A Moral Cristã, hoje tão relativizada pelos novos valores
assumidos pela sociedade, deve ser reafirmada com ênfase no
espírito da moral, observando não somente a Lei pela Lei, mas
orientando sempre este caminho como o proposto por Cristo,
visando à busca do bem comum, da igualdade social e da
fraternidade;
2. Deus é quem nutre a moral do homem que assume o reino como sua
causa e referência de vida, possibilitando sempre a melhor forma de
assumir um estilo de vida que torna perceptível a presença de
Cristo em meio ao mundo, através de uma intimidade maior com
Ele;
3. A obediência à lei do Senhor, orientado pelo amor que Ele nos
revela (transcendência), se torna fonte de alegria, felicidade e ajuda
que a consciência sinta-se em paz, anunciando uma Verdade que
não cessa e que é capaz de orientar para o amor que tem duas
acepções: o amor ao outro, chamado também caridade, que se
entrega a serviço e da realização do outro; e a segunda, o Amor, a
moral que nos orienta para o verdadeiro Amor, Cristo, princípio de
toda moral, de onde partimos e para onde aspiramos voltar.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
 Q. D. Gomes, Lúcia Maria, Teologia Moral Fundamental, 65p. ;
 BÍBLIA. Portugues. Bible de Jerusalem. 1998. A Biblia de Jerusalem. São
Paulo (SP): Edições Paulinas, 2013. 2206 p.;
 BINGEMER, Maria Clara Lucchetti, Uma Teologia Sólida em Tempos
Líquidos, in: Abreu, Elza Helena, de Souza, Nei, Concilio Vaticano II
Memórias e Esperança para os tempos atuais, São Paulo: Paulinas, Unisal,
2014, p.179-199.

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