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NOVO TESTAMENTO II

CARTAS PAULINAS

AUTOR: PASTOR DELMO GONÇALVES

BELO HORIZONTE

2011
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SUMÁRIO
Página

I-INTRODUÇÃO 03

II-A INFÂNCIA DE PAULO 04

III- AS EPÍSTOLAS PAULINAS 06

IV- INFORMAÇÕES HISTÓRICAS E GEOGRÁFICAS DAS EPÍSTOLAS 07


DE PAULO AOS CORÍNTIOS

V- INFORMAÇÕES HISTÓRICAS E GEOGRÁFICAS DAS EPÍSTOLAS 16


DE PAULO AOS CORÍNTIOS

VI- II CARTA DE PAULO AOS CORÍNTIOS 27

VII- CARTA DE PAULO AOS GÁLATAS 33

VIII- CARTA DE PAULO AOS EFÉSIOS 39

IX- CARTA DE PAULO AOS FILIPENSES 45

X- CARTA DE PAULO AOS COLOSSENSES 51

XI- I CARTA DE PAULO AOS TESSALONICENSES 55

XII- II CARTA DE PAULO AOS TESSALONICENSES 59

XIII- I CARTA DE PAULO A TIMÓTEO 62

XIV- II CARTA DE PAULO A TIMÓTEO 65

XV- CARTA DE PAULO A TITO 67

XVI- CARTA DE PAULO A FILEMOM 70

XVII CARTA AOS HEBREUS 72

CONCLUSÃO 88

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 89
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I INTRODUÇÃO

Os escritos de Paulo às igrejas formam o conjunto pelo qual chamamos de Cartas


Paulinas. Trata-se de uma série de orientações às igrejas sobre a Fé, riscos e
cuidados que se devem tomar para alcançar a vitória em Cristo Jesus. A teologia de
Paulo é fascinante e empolgante em todos os sentidos da Fé. Em Paulo, o homem;
percebemos que sua teologia não pode ser compreendida de forma saudável à parte
de sua personalidade e história, o que nos obriga a fazer uma breve leitura dos
traços de sua biografia.

Paulo é uma fonte inesgotável de informações, e um eixo importante na caminhada


da Fé cristã. Um doutrinador por excelência e perito na essência do Evangelho foi
responsável pela leitura correta da Fé, A Igreja em sua caminhada deve muito a este
homem e sua dedicação total ao Reino de Deus.

Através da vida de Paulo a Igreja pode reavaliar e conhecer a sã doutrina evitando


cair nos laços danosos do inimigo. Paulo aponta para igreja a distância entre o erro
e o acerto com a imparcialidade da verdade e a base da santidade. Em Cartas
Paulinas encontramos um homem vestido da verdade e buscando ornamentar a
Igreja das vestes de santidade não medindo esforços para acertar e vencer o mal
em todas as suas estratégias através da Fé. Paulo revela que Igreja e mundo travam
um duelo real e perigoso obrigando o crente a se posicionar diante de Deus e sua
verdade.
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II A INFÂNCIA DE PAULO

Nasceu em Tarso, na Cilícia (Turquia), numa família judaica da Diáspora. Nasceu


numa data desconhecida mas "sem dúvida antes do ano 10 da nossa era" (Étienne
Trocme). Seu pai, em circunstâncias que se desconhece, adquiriu a cidadania
romana mantendo a fé judaica, educando-o na tradição judaica. Sua cidadania
romana foi um meio de proteção física. Como ele próprio diz, foi circuncidado ao
oitavo dia e mantém-se sempre na lei mosaica. Diz-se mesmo um Fariseu. A sua
formação primária foi feita numa escola de cultura grega, como atestam as suas
cartas. Mas ele afirma que recebeu também o ensino por parte de rabinos.

Jerusalém

Em determinada altura Paulo foi viver em Jerusalém, foi aluno do rabino Gamaliel
em Jerusalém. Não há dúvida de que alí passou uma parte importante da juventude.
Em Jerusalém que Paulo participou do apedrejamento de Estevão, um líder de um
grupo fervoroso dos seguidores de Jesus. Paulo foi um perseguidor destes
seguidores de Jesus, núcleo de cristãos que procuravam difundir a nova fé entre os
judeus de Jerusalém. Alguns autores chegam mesmo a colocar a hipótese de Paulo
ter sido um zelote.

Damasco

Foi durante a missão a Damasco que Saulo tomou o partido dos cristãos que
perseguia anteriormente. Aqui que Saulo, indo no caminho de Damasco, já perto da
cidade, viu um resplendor de luz no céu que o cercou, e caindo por terra, ouviu uma
voz que lhe dizia: "Saulo, Saulo, porque me persegues?". (Atos 9.1-22) Esta
experiência levou Saulo a mudar de lado. Abandonou o nome Saulo e, deste
momento em diante, fez-se conhecer como Paulo.
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Aspecto físico

Não temos qualquer relato confiável do aspecto físico de Paulo. Os únicos relatos
que possuímos são dos finais do século II e não são mais do que a projeção dos
ideais estéticos a uma figura lendária. Dizia-se que Paulo era manco de uma perna,
tinha problemas de vista e era calvo, tinha aproximadamente 1,50 metro de altura.

Há indícios de que Paulo tinha problemas de saúde, padecendo de uma doença


crônica e dolorosa, da qual ignoramos a natureza, mas que lhe terá sido um
obstáculo à sua atividade normal. Por volta dos anos 58–60 ele descrevia-se a si
próprio como um velho.
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III AS EPÍSTOLAS PAULINAS

É como são conhecidas o conjunto de cartas (Epístola do grego antigo ἐπιστολή,


“ordem, mensagem”, pelo Latim epistòla,ae “carta, mensagem escrita e assinada”) é
um texto escrito em forma de carta, para ser correspondido a uma ou várias
pessoas, mas se distinguindo desta por expressar opiniões, manifestos, e
discussões para além de questões ou interesses meramente pessoais ou utilitários,
sem porém deixar o estilo coloquial, que combina paixões subjetivas e apelos
intersubjetivos com o debate de temas abrangentes e abstratos. As epístolas
reunidas de um autor podem vir a ser publicadas devido a seu interesse histórico,
literário, institucional ou documental.

O termo tem uso antigo, já aparecendo na literatura latina com as epístolas de


Horácio, Varrão, Plínio, Ovídio, Sêneca e, sobretudo, de Cícero. Está presente
também na Bíblia com as Epístolas de Paulo destinadas às comunidades cristãs. Na
Idade Média, uma subdivisão da retórica é criada para tratar da redação de cartas
com base nos modelos greco-latinos. Na época, Petrarca foi um dos epistógrafos
notáveis. A partir do Renascimento houve uma grande expansão do gênero a partir
dos pensadores humanistas, numa época, antes do surgimento da imprensa
jornalística, as cartas exerciam a função de informar sobre os fatos que ocorriam no
mundo.

Na literatura, além de se constituir no gênero literário da epistolografia, surgiu um


estilo epistolar de redação sem a intenção de ser correspondência. Pode ser um
prólogo de um autor introduzindo e justificando sua obra, ou um recurso ficcional
para narração de personagens fictícios através de cartas.

Paulo escreveu as epístolas para as comunidades que visitara, pregando e


ensinando as máximas cristãs. As cartas relacionadas a seguir (conhecidas como
Corpus Paulinum) são aquelas que tradicionalmente são atribuídas a Paulo:
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IV INFORMAÇÕES HISTÓRICAS E GEOGRÁFICAS DA CARTA DE


PAULO AOS ROMANOS

A IGREJA EM ROMA

Fundação: Em sua epístola, Paulo deixa claro que ainda não conhecia Roma. Logo,
a igreja ali não foi por ele fundada. Entendemos que Pedro também não participou
desse processo, pois, se este ou outro apóstolo fosse responsável por aquela igreja,
Paulo não escreveria uma carta doutrinária para aqueles irmãos. Por outro lado, se
Pedro estivesse em Roma, o mesmo teria sido mencionado nas saudações do
último capítulo. Ambrosiastro, escritor do século IV disse: "Os romanos abraçaram a
fé em Cristo sem ver nenhum sinal de obras poderosas e nenhum dos apóstolos."
No século II surgiu a tradição segundo a qual Pedro teria exercido ministério em
Roma. No século IV iniciou-se a tradição de que ele teria sido o 1 o bispo romano.
Quem então teria fundado aquela igreja? De fato, isso não tem grande importância,
mas sempre gostamos de ter um nome para a atribuição das honras. É isso que
fomenta o surgimento das tradições. Uma das hipóteses mais prováveis é que a
igreja tenha sido fundada no ano 30 pelos judeus de Roma que estiveram em
Jerusalém no Pentecostes – At.2.10,11.

A colônia judaica em Roma - Desde a conquista de Jerusalém por Pompeu no ano


63 a.C., muitos judeus foram morar em Roma. No governo de Cláudio foram
expulsos – (At.18.2). A ordem foi revogada por Nero poucos anos depois. Quando
Paulo chegou a Roma, no ano 60 (At.28) ele encontrou judeus que ali residiam. (É
bom lembrar que o envio da epístola é anterior a essa "visita").

A igreja em Roma era composta de judeus e principalmente gentios. Na epístola,


Paulo fala aos judeus e aos gentios de forma específica e direta alternadamente
8

(Rm. 1.5-7,13; 2.17-24). Sendo pessoas de origens, tradições e costumes tão


distintos, era natural que a convivência entre eles apresentasse suas dificuldades. O
apóstolo procura tratar dessa questão no capítulo 14.

4.1 A EPÍSTOLA AOS ROMANOS

"O EVANGELHO SEGUNDO PAULO" (RM. 2.16)

Autor: Apóstolo Paulo

Escritor: Tércio – Rom.16.22.

Data – Ano 58 – entre 53 e 58 (3ª viagem missionária).

Local – Corinto.

Portadora – Febe – (Rm. 16.1-2).

Tema- O Evangelho de Cristo

Texto chave: 1.16 e 5.1

Classificação: soteriologia (doutrina da salvação).

A epístola de Paulo aos Romanos é um tratado teológico sobre a salvação. Lutero


chegou a dizer: "Se tivéssemos de preservar somente o Evangelho de João e a
epístola aos Romanos, ainda assim o cristianismo estaria a salvo."

A carta nos apresenta um resumo da Bíblia e da história humana sob o ponto de


vista teológico. O autor menciona Adão (5.14), Abraão (4.13), Moisés (5.14), Israel
(11.25), o Antigo Testamento (1.2), Jesus (10.9), a salvação (10.9), a igreja (16.1), o
juízo (2.16) e a glorificação dos salvos (8.30). Esses versículos são apenas alguns
exemplos dentre tantos que mencionam tais temas e pessoas.
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Objetivo de Paulo - Paulo queria expor aos romanos seu entendimento a respeito
do Evangelho e prepará-los para sua futura visita, quando estivesse a caminho da
Espanha. (Rm. 15.22-24).

4.2 Introdução – 1.1-17

Apresentação pessoal, saudação, tema (1.1, 16-17).

As cartas antigas eram iniciadas com três elementos: identificação do remetente,


identificação do destinatário e saudação. Vemos isso na epístola aos Romanos.
Paulo se apresenta de forma humilde, como servo, chamado para o apostolado e
separado para o Evangelho. Desse modo, a autoria fica bem definida. Os
destinatários são claramente indicados no verso 7. No próprio verso 1, o tema já
surge: "o Evangelho de Deus". A partir desse ponto, o autor para de falar de si
mesmo e passa a discorrer sobre a trindade, destacando o Filho. O Pai é
mencionado nos versos 1, 2 e 7. O Espírito Santo é mencionado no verso 4. Jesus é
mencionado em vários versículos, pois ele é o personagem principal no tema
escolhido.

Paulo apresenta o vínculo entre a história, a humanidade e a divindade. O elemento


histórico é o rei Davi. A questão humana é a descendência carnal de Cristo. O
elemento divino é a declaração da sua filiação divina. Esta abordagem demonstra
que o Evangelho de Deus está cravado no contexto humano de forma
historicamente comprovada. O ápice da apresentação do tema se dá nos versos 16
e 17.

4.3 O problema humano – 1.18 a 3.20.

O pecado, sua universalidade e suas conseqüências (condenação e morte).

No desenvolvimento da epístola, Paulo vai falar do Evangelho, mas os romanos


poderiam perguntar: para que Evangelho? O apóstolo, em sua excelente
organização literária, vai demonstrar aos seus leitores os fatores que evidenciam a
necessidade que os homens têm do Evangelho. Este seria apresentado como um
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"remédio", mas, para isso, torna-se imperioso que a "doença" seja diagnosticada.
Isto é feito de forma magistral pelo "doutor" Paulo. Nesse momento ele quer
despertar a consciência dos romanos, então chama a atenção para práticas
pecaminosas tais como a idolatria (1.23-25), o homossexualismo (1.27), a
prostituição, o homicídio, e uma lista que inclui até a desobediência aos pais (1.29-
31).

Os romanos eram a elite política do império. Os judeus eram a elite religiosa, pelo
menos para si mesmos. Os gregos eram a elite cultural. Entretanto, o autor
apresenta, de forma contundente, a universalidade do pecado. Ao citar gentios,
judeus, bárbaros, romanos, gregos, sábios e ignorantes, ele não deixa ninguém de
fora da sua abordagem (1.13-16). Isso se evidencia de forma definitiva no capítulo 3,
onde lemos: "Não há um justo sequer", (3.10). "Toda boca esteja fechada e todo o
mundo seja condenável diante de Deus" (3.19). "Todos pecaram e destituídos estão
da glória de Deus" (3.23).

O pecado é, em si mesmo, maligno. Contudo, muitas das vezes só conseguimos ver


essa malignidade através das suas conseqüências. É como uma doença que só é
notada e sentida quando surgem os sintomas. Contudo, a doença é muito mais
profunda do que os sintomas. As conseqüências do pecado são diversas e se
apresentam nas mais variadas esferas da vida humana. Contudo, os piores efeitos
são: a morte, que é o salário do pecado (6.23), e a condenação divina (3.19). Se a
morte fosse o fim, tudo estaria então resolvido. Porem, o pior vem depois. Conforme
diz a epístola aos Hebreus, depois da morte vem o juízo (Hb. 9.27).

4.4 A solução divina – A salvação: 3.21 a 5.21

A origem do pecado e a origem do perdão.

O método da salvação: justificação pela fé no sacrifício de Cristo.


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Paulo vai explicar como o pecado entrou na história humana. Paulo não se limita a
mostrar o problema humano e suas conseqüências. Após ter diagnosticado a
"doença", o autor vai buscar sua causa. Então, ele menciona Adão, como sendo o
primeiro pecador humano. Na condição de representante da humanidade, o primeiro
homem passou a natureza pecaminosa a todos os homens. Novamente, a
universalidade do pecado está evidente (3.23). Para o alívio dos leitores, não só o
pecado é universal, mas também o amor de Deus possui a característica da
universalidade. Já no capítulo 1 o autor diz que os destinatários são "amados de
Deus". Afinal, o amor de Deus é o pressuposto fundamental do Evangelho, conforme
se observa em João 3.16.

O tema da epístola aos Romanos é o Evangelho e o objetivo do Evangelho é a


salvação (1.16). Depois que o homem está convencido do seu pecado e da
respectiva condenação, a salvação se torna muito interessante. Mas, como ela
ocorre? E por quais meios? Faz parte do Evangelho a responder a essas questões.
E Paulo se dedica a explicar o método divino para a salvação do homem.

A salvação não ocorre por meio das obras e nem através da lei. Os mandamentos
da lei são santos, justos e bons (Rm. 7.12), porem não salvam. A lei serve para
mostrar o pecado e determinar a condenação. Mostrando o pecado, a lei é útil. No
entanto, não salva. A lei serve para mostrar ao homem a necessidade que ele tem
da obra de Jesus Cristo. Tal obra foi o seu sacrifício na cruz, sua morte. Entretanto,
tal obra não tem efeito automático. Se assim fosse, toda a humanidade estaria salva
a partir do momento em que Cristo expirou. Ao sacrifício de Cristo deve ser aplicada
a fé, pois a salvação é para "todo aquele que crê" (Rm. 1.16).

A fé no sacrifício de Jesus produz a justificação. Conforme diz Paulo: "sendo, pois,


justificados pela fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo."
(Rm. 5.1). Justificação é o ato divino de nos declarar justos. Voltando a Romanos
3.10, temos as palavras de Paulo dizendo: "Não há um justo sequer."
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No capítulo 5, este problema está resolvido, pois Deus nos declara justos pelos
méritos de Cristo. Por natureza, não somos justos, mas pela graça de Deus somos,
pois a justiça de Jesus nos é imputada. "Imputar", de acordo com o dicionário
Aurélio, significa "aplica um pagamento a determinada dívida". Podemos entender a
imputação como um crédito aplicado a uma conta corrente. Paulo disse que Abraão
creu e sua fé lhe foi imputada como justiça, ou seja, a fé de Abraão foi considerada
como justa. Da mesma forma a justiça do homem Jesus, sua vida santa, é imputada
a todo aquele que nele crê. Sua justiça é creditada em nossa "conta" que estava
"negativa" por causa da dívida do pecado. Assim, nosso débito é pago e ficamos em
paz com Deus, a quem jamais poderíamos pagar. Por isso, a salvação é o "dom
gratuito de Deus" (Rm. 6.23). Sendo gratuito, não faz sentido nenhum tipo de
pagamento que se pretenda estabelecer para a obtenção do perdão divino. A
gratuidade da salvação não significa que ela não tenha um preço, mas indica que
esse preço já foi satisfatoriamente pago através do sangue do nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo.

4.5 A santificação – 6 a 8.

Ação do Espírito Santo na vida do salvo.

"Onde abundou o pecado, superabundou a graça." (Rm. 5.20). Tamanha graça


divina poderia ser erroneamente interpretada como licença para o pecado.
"Permaneceremos no pecado para que a graça abunde? De modo nenhum. Nós que
estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?" (Rm. 6.1-2).

A obra de Deus na vida do crente não se resume à justificação. Podemos comparar


a justificação à saída dos israelitas do Egito. Esta é uma ilustração excelente para a
salvação. Porem, após retirar o povo do Egito, Deus precisava tirar o Egito do
coração do povo israelita. Foi o processo do deserto, o qual nós podemos comparar
com a santificação do salvo. Este consiste na formação do caráter de Cristo em nós.
É uma parte essencial do que costumamos chamar de "crescimento espiritual".

Pela justificação, Deus perdoou todos os nossos pecados passados. Pela


santificação, vamos nos livrando dos hábitos pecaminosos. Embora muitos possam
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alegar que tudo isso acontece instantaneamente quando se aceita a Jesus, a


realidade nos mostra o contrário. O próprio Paulo demonstra esse conflito quando
diz: "não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço." (Rm. 7.19).
Qual seria o escape para esse dilema prático? A operação do Espírito Santo na vida
do crente em junção com a vontade humana e o exercício pessoal da obediência
(Rm. 8.1). Nesse processo, entra, de forma determinante, a Palavra de Deus. O
Espírito Santo opera em nós na medida em que conhecemos a Palavra de Deus e
procuramos aplicá-la (Rm. 10.17; Ef. 5.26). Santificar é "separar". Santificação é a
separação do salvo de tudo aquilo que não condiz com sua nova condição espiritual.
A santificação dos crentes é uma das principais funções do Espírito Santo no
mundo. É a preparação da noiva, a igreja, para o seu encontro com o noivo, Jesus.

4.6 A soberania divina – 9 a 11

Judeus e gentios no plano de Deus.

Nessa parte da epístola, o apóstolo Paulo se dedica a mostrar aos Romanos o valor
dos judeus e sua posição no plano de salvação. Se os romanos não valorizassem os
judeus e não reconhecessem neles a origem da revelação divina, como poderiam
valorizar a pessoa de Jesus? Mesmo nós, hoje, aceitamos o cristianismo porque
entendemos que "a salvação vem dos judeus" (João 4.22). Esse destaque para
Israel parecia incompatível com a rejeição que os próprios judeus demonstraram à
pessoa de Cristo. Paulo então expõe alguns detalhes históricos do povo de Deus,
sua incredulidade, sua desobediência e seu distanciamento do Evangelho.

Dizer que Israel era o povo escolhido de Deus poderia soar muito estranho para os
romanos. Paulo demonstra enfaticamente que Deus é soberano. Ele escolhe a quem
quer e rejeita a quem quer. Logo, se Deus escolheu Israel, não se deve questioná-lo
por isso. Deus tem razões anteriores às suas soberanas decisões. Sua presciência,
conhecimento antecipado, faz com que as evidências das suas escolhas apareçam
antes dos fatos que lhes deram causa. Então, a situação pode ter aparência de
injustiça aos olhos humanos. Antes que Jacó e Esaú nascessem, Deus disse: "Amei
a Jacó e aborreci a Esaú." (Rm. 9.11-13). Então, Jacó já nasceu como escolhido de
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Deus, enquanto que Esaú nasceu rejeitado, mas tudo isso porque Deus já via qual
seria, no futuro, a decisão de cada um daqueles meninos diante do plano divino.
Deus, em sua presciência, sabia que o "enganador" se converteria e que o
primogênito desprezaria sua primogenitura. Contudo, tais atitudes não foram
determinadas por Deus, mas por eles mesmos.

O conceito de soberania poderia nos levar a pensar que abaixo de Deus, apenas a
sua vontade é feita. Mas não é assim. A soberania divina significa que acima dele
não existe mais ninguém. Abaixo dele, nem todos obedecem à sua vontade.
Contudo, até a desobediência se encontra debaixo da soberania. Os homens
desobedecem porque Deus lhes deu um limitado campo de ação onde a vontade
humana prevalece.

A soberania divina não anula a liberdade humana. Paulo mostra que podemos
escolher. Ele diz: "Não sabeis vós que a quem vos oferecerdes por servos para lhe
obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da
obediência para a justiça?" (Rm. 6.16). "Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de
Deus, que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a
Deus, que é o vosso culto racional." (Rm. 12.1). Nesses textos, observamos a
vontade humana em ativa participação no destino espiritual de cada um.

4.7 O cristianismo prático – 12 a 15.13.

A vida cristã na igreja, na sociedade e nas relações pessoais.

A transformação operada pelo Evangelho na vida humana deve ter dois aspectos: a
pessoa deve deixar de fazer o mal e começar a fazer o bem (Is. 1.16-17). A
justificação é quase um sinônimo de perdão. A santificação seria o "deixar de fazer o
mal". É o abandono de práticas pecaminosas. Contudo, o processo de ação do
Evangelho ainda não está concluído. Deixamos de fazer as coisas erradas e agora
precisamos começar a fazer as coisas certas. Deixamos de servir ao Diabo e
precisamos servir a Deus ativamente. Libertos do pecado tornamo-nos servos da
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justiça (Rm. 6.18). Por isso Paulo nos admoesta a apresentarmos os nossos corpos
para o trabalho cristão. Entendemos assim pela análise do conteúdo do capítulo 12.
O cristianismo não se resume em espiritualidade, mas em ação. As obras não
salvam, mas o salvo pratica boas obras.

Paulo nos convida ao serviço cristão. O apóstolo usa sempre os conceitos de servo
e senhor, figuras tão presentes na organização social do Império Romano. Ele
mesmo fora chamado para ser apóstolo. Sua vocação não era apenas para a
salvação, mas para o serviço sagrado. Somos convidados a apresentar os nossos
corpos (12.1) para o serviço no corpo de Cristo (12.5). Orar é bom e necessário, mas
não é tudo. É preciso ação na igreja através dos dons espirituais e dos ministérios.

A igreja não é o único campo de ação do cristão nem deve ser um esconderijo ou
lugar de alienação. Precisamos enxergar além dos limites do nosso grupo de irmãos,
não para lançar mão das imundícies do mundo, mas para desempenharmos nele o
nosso papel como bons cidadãos e agentes do bem. Por isso Paulo insere a
questão da sujeição às autoridades, o pagamento dos impostos e de toda dívida
(Rm. 13.1,6 7,8). Deve haver coerência entre nossa ação na igreja e no mundo.

4.8 Conclusão – 15.14 a 16.27

Assuntos pessoais, admoestações e saudações finais.

Exercícios de Fixação:

1° Leia a Carta de Paulo aos Romanos

2° Elabore um esboço temático com as principais divisões;

3° Faça um breve comentário pessoal sobre a importância da Carta para a sua vida.

4°Faça uma pesquisa sobre sotereologia na perspectiva: Arminianista, Calvinista e a


Declaração de fé dos Batistas Nacionais (TOGNINI, Enéas. Eclesiologia. São Paulo:
Impressão da fé, 2001 pg. 124-129).
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V INFORMAÇÕES HISTÓRICAS E GEOGRÁFICAS DAS EPÍSTOLAS


DE PAULO AOS CORÍNTIOS

A CIDADE DE CORINTO – GRÉCIA

Localização

As quatro cidades mais importantes do Império Romano eram: Roma, Corinto, Éfeso
e Antioquia da Síria. Portanto, Corinto era célebre. Localizava-se em um istmo, que
é uma porção de terra que liga uma península ao continente. Possuía dois portos.
Assim, além de ser a única passagem por terra entre o norte e o sul da Grécia, era
também passagem entre a Ásia, a Palestina e a Itália. O mar na região era muito
tempestuoso. Corinto era então um corredor de mercadorias. Além disso, suas terras
eram férteis. A cidade era rica e tinha localização estratégica no cenário mundial.

História

Corinto grega

No auge da civilização grega, Corinto já ocupava lugar de destaque. Em 146 a.C., a


cidade foi destruída pelo cônsul romano Mummius.

Corinto Romana

Devido à sua posição estratégica, a cidade foi reconstruída em 46 a.C. por Júlio
César, tornando-se capital da Província Romana da Acaia. A nova Corinto possuía
ruas amplas, praças, templos (Netuno, Apolo, etc.), estádio (I Cor. 9.24), teatros,
estátuas, e o santuário de mármore branco e azul (Rostra), onde se pronunciavam
discursos e sentenças.

A idolatria de Corinto

A idolatria fazia parte da cultura grega com seus inúmeros deuses mitológicos. Ao
sul de Corinto havia uma colina chamada Acrocorinto, que se elevava a 152 metros
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acima da cidade. Ali estava o templo de Afrodite, também chamada Astarte, Vênus
ou Vésper, – deusa do amor e da fertilidade.

A corrupção de Corinto

Os cultos a Afrodite incluíam ritos sexuais realizados por 1000 sacerdotisas, ou seja,
prostitutas cultuais. O fato de ser cidade portuária contribuía para que uma série de
problemas se estabelecesse. Muitos viajantes que por ali passavam se entregavam
à prostituição e à prática de outros delitos. O fato de estarem de passagem criava
uma sensação de impunidade, o que de fato se concretizava normalmente. Estes e
outros fatores contribuíam para uma corrupção generalizada na cidade.

A IGREJA EM CORINTO

A igreja em Corinto foi fundada pelo apóstolo Paulo durante sua 2 a viagem
missionária, entre os anos 50 e 52 d.C. Ali, Paulo permaneceu durante dezoito
meses (At.18.1-8). A igreja era composta por judeus e gentios. Entre seus membros
havia ricos e pobres, inclusive escravos.

5.1 AS EPÍSTOLAS AOS CORÍNTIOS

Em nossas Bíblias, temos duas epístolas de Paulo aos Coríntios. Entretanto,


sabemos que elas seriam pelo menos três. Em I Cor. 5.9, Paulo se refere a uma
carta anterior, a qual não chegou às nossas mãos. Em II Cor. 7.8 existem referência
a outra carta que pode ser I Coríntios. Alguns comentaristas sugerem que a carta
mencionada em II Cor. 7.8 seja outra epístola. Nesse caso, teríamos quatro
epístolas. Trabalhando ainda com hipóteses, sugere-se que essa epístola
corresponda aos capítulos 10 a 13 de II Coríntios, os quais poderiam ter sido ali
agrupados posteriormente.
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Temos então o seguinte esquema:

1a carta - desaparecida - existência garantida por I Cor. 5.9

2a carta - é a que chamamos I Coríntios.

3a carta - desaparecida – existência hipotética.

4a carta – é a que chamamos II Coríntios.

5.2 CORÍNTIOS

Autor: Paulo (1.1)

Escritor: Sóstenes (1.1)

Data: 56 d.C.

Local: Éfeso (16.8)

Texto chave: 5.7

Tema: o comportamento do cristão.

Classificação: eclesiologia (Estudos referentes à igreja).

Principais motivos da carta

Paulo não expõe os fundamentos do Evangelho. Afinal, ele já estivera doutrinando


os coríntios pessoalmente durante um ano e meio. Escreveu depois de receber uma
carta com perguntas dos coríntios (I Cor. 7.1; 8.1-13) e a visita de pessoas que
vieram trazendo más notícias (1.11; 16.17). Os problemas eram muitos. Em
destaque estavam a divisão e a imoralidade.

Divisão na igreja

Logo que Paulo saiu de Corinto, Apolo chegou e deu prosseguimento ao trabalho
(At.18.24-28). Como disse o apóstolo: "Eu plantei, Apolo regou." (I Cor. 3.6). Sua
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obra foi importante e digna de reconhecimento. Ele era homem eloqüente e


conseguiu conquistar a simpatia de muitos coríntios. Os irmãos ficaram
impressionados com a pessoa de Apolo e começaram a fazer comparações com
Paulo, que talvez não falasse tão bem. (I Cor. 2.1-5; II Cor. 10.10). Muitos chegaram
a desprezar o apóstolo Paulo, questionando sua autoridade e seu ministério. (I Cor.
1.11-14). Formaram-se então partidos dentro da igreja: os de Paulo, os de Apolo, os
de Cefas (Pedro em Aramaico) e os de Cristo (I Cor. 1.12). Não sabemos se Pedro
esteve pessoalmente em Corinto. Pode ser que sim. De qualquer forma, é mais
provável que o nome de Pedro tenha sido levado por judeus cristãos que vieram de
Jerusalém. Talvez esse grupo corresponda aos judaizantes que tantos problemas
criaram para Paulo.

O fato de alguns se intitularem "de Cristo" pode ter sentido positivo ou negativo. Isso
poderia significar uma consagração maior, uma rejeição ao partidarismo, mas pode
também indicar independência, rejeição a todo tipo de liderança e uma manifestação
"orgulho espiritual". Conquanto não possamos tirar conclusões sobre isso na
primeira epístola, o texto de II Cor. 10.7 parece mostrar que aqueles que se diziam
"de Cristo" eram os mais problemáticos.

Influências da cidade

Como vimos, a cidade de Corinto estava dominada pela idolatria, pela imoralidade e
pela corrupção generalizada. Tais fatores estavam "batendo à porta da igreja". Esta
situação não é diferente nos nossos dias, quando o "modernismo" e o "mundanismo"
estão querendo entrar no nosso meio. Não podemos simplesmente nos fechar para
tudo o que nos rodeia. Nesse caso, teríamos que "sair do mundo". Contudo,
precisamos discernir o que é aceitável e o que não é. Muitas influências podem até
ser positivas. O que não se pode admitir é à entrada do pecado na igreja. Em
Corinto, as influências da cidade estavam fazendo apodrecer a igreja. Os costumes
pagãos estavam influenciando até mesmo a organização dos cultos.
20

A carnalidade dos cristãos coríntios

A carnalidade daqueles cristãos era a porta aberta para os males externos. Assim,
surgiam diversos problemas na vida da igreja. No capítulo 2, Paulo fala sobre o
"homem natural" (v.14) e o "homem espiritual" (v.15). O homem natural é o ímpio. O
espiritual é o cristão controlado pelo Espírito Santo. No capítulo 3, verso 1, o autor
se refere ao "homem carnal". Carnalidade é o modo de vida de acordo com os
desejos descontrolados da natureza pecaminosa. O homem carnal é o crente sem o
controle do Espírito Santo. Sua vida se torna semelhante à do homem natural, onde
o domínio do pecado é visto com naturalidade.

Especificando as influências

Na seqüência, procuraremos expor o "pano de fundo" dos problemas da igreja de


Corinto. Vários elementos estavam contribuindo para aquela situação de caos. A
epístola apresenta o esforço de Paulo para colocar as coisas em seus devidos
lugares. Muitas delas deveriam ser colocadas para fora da igreja.

Religião e imoralidade (I Cor. 5.1; 6.15-18; 7.2)

A cultura de Corinto misturava religião e imoralidade. Paulo deixa bem claro que
essa mistura não poderia existir dentro da igreja. O padrão de religiosidade da
cidade não servia para os cristãos. O caso mais grave está relatado no capítulo 5:
um homem da igreja havia cometido incesto com a sua madrasta. O apóstolo
aconselhou que o mesmo fosse expulso da igreja. Em casos assim, muitos poderiam
apelar para a tolerância, o amor, etc. Contudo, a impunidade seria um forte incentivo
para que outros se deixassem levar por pecados semelhantes. A exclusão precisava
ser feita. Posteriormente, o irmão poderia ser re-admitido na congregação, como
parece ter ocorrido (II Cor. 2).
21

A imoralidade de Corinto acabava por desvalorizar o casamento. Por isso, Paulo


lhes dá diversas orientações no sentido de que o casamento fosse visto como uma
instituição divina. Embora o apóstolo afirme que é melhor estar solteiro para servir a
Deus, ele também deixa claro seu conselho no sentido de que os casados não se
separem. O casamento é colocado como um importante antídoto contra a
imoralidade.

O problema sexual deturpava também o conceito de amor. Afrodite era considerada


a deusa do amor e este possuía uma conotação principalmente sexual. Desse
contexto grego vem a palavra "erotismo", que é derivada do nome "Eros", um deus
da mitologia. Paulo parece estar preocupado com essa questão quando dedica o
capítulo 13 ao amor. Ele quer formar um conceito correto a respeito do amor,
mostrando o que ele é e o que ele não é.

Religião e ordem no culto (I Cor. 14.23,26-35)

A desordem pagã e a ordem cristã.

Sabendo que o culto a Afrodite era uma orgia, deduzimos que ali não se
encontravam ideais de reverência, ordem, decência e organização. Os cultos da
igreja, embora não incluíssem práticas sexuais, estavam bastante tumultuados.
Paulo escreveu então, procurando estabelecer princípios que pudessem
regulamentar as reuniões da igreja. Por isso ele diz para que se evite o falar em
línguas sem interpretação. E quando houvesse que não se manifestem mais do que
três profetas. Aconselha que as mulheres fiquem caladas durante o culto e que
guardem as perguntas para seus maridos em casa. Entendemos que Paulo não
pretendia criar uma "camisa de força" para nós, como se estivesse ditando um
conjunto de "leis eclesiásticas". Tais orientações foram assim radicais, pois a
situação dos coríntios era grave. De tudo isso, precisamos guardar os princípios de
ordem, decência, reverência e que só se faça no culto aquilo que puder promover a
edificação da igreja.
22

Religião e comportamento feminino

Por que será que Paulo foi tão rigoroso em relação às mulheres cristãs? Lembremo-
nos de que as mulheres ocupavam lugar de proeminência na religião pagã de
Corinto. A principal divindade era uma deusa. As mulheres oficiavam os cultos a
Afrodite. Eram 1000 sacerdotisas que se prostituíam no templo. Além disso, as
prostitutas proliferavam-se pela cidade. Comentaristas nos informam que, quando
uma mulher usava o véu, isso significava que ela estava submissa a um homem,
quer seja seu marido, seu pai ou um parente responsável. Quando se via uma
mulher sem véu e com o cabelo tosquiado ou mesmo raspado, já se deduzia que a
mesma estava totalmente disponível. Essa era a maneira como as prostitutas eram
identificadas. Sendo assim, as mulheres cristãs precisavam agir com modéstia,
precisavam usar o véu e manter seus cabelos compridos. Nos cultos não lhes seria
dado lugar de destaque ou liderança. Não se poderia deixar que o estilo pagão de
culto influenciasse a igreja. O uso do véu era importante naquele contexto cultural.
Deixar de usá-lo naqueles dias seria motivo de mau testemunho ou escândalo.
Então, era prudente que as mulheres cristãs usassem o véu. Podemos comparar
isto ao uso da aliança hoje como sinal de compromisso matrimonial. Se o homem
casado ou a mulher casada deixam de usar aliança, não estarão desobedecendo a
um mandamento bíblico específico, mas estará levantando suspeita e mau juízo, o
que não é edificante para o cristão nem para o evangelho. Reforça-se então a
necessidade que temos de extrair os princípios que tais passagens nos trazem e
não sua aplicação literal. Paulo está ensinando o uso do bom senso em relação aos
costumes culturais e também está orientando sobre a autoridade do homem sobre a
esposa.

Religião e alimentação (I Cor.8.10; 10.27).

Assim como ocorria no judaísmo, os sacrifícios de animais eram comuns em


diversas religiões. Parte do animal era queimado sobre o altar. Outra parte era
servida aos ofertantes, sacerdotes e convidados. Eram, portanto, freqüentes as
23

refeições nos templos pagãos. Desta influência surgiram dois problemas para a
igreja:

1 – Os cristãos realizavam refeições na igreja em ambiente tumultuado e chamavam


isso de ceia do Senhor. Os ricos levavam grande quantidade de comida e bebida
para a igreja. Chegavam até a ficar embriagados (I Cor.11.20-22). Enquanto isso, os
irmãos pobres muitas vezes não tinham o que levar. Isso se tornava então uma
situação constrangedora e humilhante. Por isso, Paulo perguntou: "Não tendes,
porventura, casas onde comer e beber?" As reuniões da igreja não podiam
reproduzir as refeições dos templos pagãos. Então, o apóstolo orienta como deve
ser a ceia do Senhor: com reverência, ordem e santidade (I Cor.11.23-34).

2 – Outro problema é que as refeições nos templos pagãos eram acontecimentos


sociais e, eventualmente, os cristãos poderiam ser convidados para participar.
Estariam então diante de um alimento sacrificado aos ídolos. Paulo diz que, já que o
ídolo é nada, é uma ilusão, então a carne sacrificada é como outra carne qualquer.
Porém, se um cristão, que antes adorava naquele templo pagão, vê um irmão
comendo ali a carne do sacrifício, ele pode se sentir tentado a voltar à sua prática
antiga. Cria-se então uma situação de tropeço e confusão. Se a participação em tais
refeições pode se tornar motivo de escândalo, então é melhor evitá-las (I Cor. 8). Ele
diz também que o cristão não pode participar da mesa do Senhor (ceia) e da mesa
dos demônios (refeições pagãs). Muitas vezes, a carne desses animais sacrificados
ia parar até nos mercados. Sobre isso, Paulo diz que o cristão deveria comprar sem
preocupação (10.25). Não deveria nem perguntar sobre a origem da carne. Da
mesma forma, se o cristão fosse almoçar na casa de um ímpio, deveria comer de
tudo sem perguntar (10.27).

Religião e Filosofia

Os gregos eram orgulhosos por seu conhecimento filosófico. O apóstolo se esmera


por mostrar que o entendimento humano é loucura. Ele procura mostrar o verdadeiro
sentido do amor, da liberdade, da sabedoria, etc.. No texto que vai de 1.18 a 2.16,
24

Paulo confronta a sabedoria humana com a sabedoria divina. Estava em alta o


pensamento gnóstico, o qual supervalorizava o conhecimento, associando-o à
salvação humana. A ciência tomava ares de virtude espiritual. Além de enfatizar a
sabedoria divina contra a sabedoria humana, Paulo também afirma: "A ciência incha,
mas o amor edifica" (I Cor.8.1). A matéria era vista pelos gnósticos como maligna.
Daí surge várias heresias:

Se a matéria é má, o casamento também. Paulo combate essa idéia em I Cor.


7.5.
A ressurreição do corpo era vista como "materialista". Por isso Paulo expõe e
defende a doutrina da ressurreição no capítulo 15.
Enquanto que alguns gnósticos, diante da suposta malignidade da matéria,
optavam pelo ascetismo, ou seja, pela negação dos desejos sexuais e a total
abstinência, outros, combinando gnosticismo e cristianismo, julgavam-se
protegidos contra todos os males e, assim, podiam, supostamente, se
entregar aos desejos sem restrições.

Conhecimento, liberdade e amor eram elementos mal interpretados, mal


colocados e mal valorizados em Corinto. Isso veio a causar uma série de problemas
na igreja. Alguns julgavam que a liberdade cristã lhes dava direito de fazer tudo,
quer seja a participação nas refeições dos templos pagãos ou mesmo a união carnal
com as meretrizes.

Paulo se posiciona contra todas essas variações da influência filosófica e da falsa


interpretação do cristianismo. Assim, ele condena a libertinagem sexual, ao mesmo
tempo em que defende a legitimidade do sexo dentro do matrimônio (I Cor. 6.15-16
e I Cor.7). A liberdade cristã é, de fato, ampla. Contudo, o amor é o seu parâmetro
maior. Assim, se, no uso da nossa liberdade, ultrapassamos os limites do amor a
Deus e ao próximo, saímos da liberdade cristã e entramos nos domínios do pecado.
Por isso, Paulo diz: "Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me convêm." (I
Cor.10.23). "Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo?
Tomarei, pois, os membros de Cristo e fá-los-ei membros de meretriz? Não, por
certo" (I Cor.6.15). Ao usar a expressão "não sabeis", fica evidente a questão do
conhecimento. Os coríntios sabiam muita coisa, mas era urgente que soubessem
sob o ponto de vista de Deus, conforme Paulo estava procurando expor.
25

A solução

Paulo lembra aos coríntios que Jesus é o fundamento de suas vidas. Entra aí a
questão da responsabilidade dos líderes eclesiásticos. Não sabemos quem liderava
a igreja em Corinto. Ao que tudo indica, faltava ali uma liderança forte que
conseguisse conduzir a igreja. Vemos que a mesma estava dividida em grupos.
Certamente, havia líderes, mas estes não estavam conseguindo uma coesão entre
si e entre os membros da igreja. Paulo precisou enviar Timóteo (I Cor.4.17; 16.10).
Ele insistiu para que Apolo fosse até lá, mas isso não foi possível (I Cor.16.12).

O apóstolo chama a atenção da igreja para o seu fundamento: Cristo (I Cor.3.11).


Ele é também a solução para todas aquelas questões e problemas. O nosso
desenvolvimento na fé precisa utilizar doutrinas e conceitos coerentes com a pessoa
e o ensino de Cristo. Ele apresenta Jesus como a sabedoria de Deus, justiça,
santificação e redenção (1.30). Esses elementos precisam estar combinados na vida
do cristão: sabedoria, justiça, santificação e redenção. A sabedoria humana não
produz a justiça divina na vida do homem. O conhecimento humano não se vincula à
santificação e, muitas vezes, abona o pecado. O resultado de tudo isso jamais será
redenção, mas sim perdição. A filosofia como material de edificação da igreja não
lhe daria firmeza. Pelo contrário, causaria sua queda e ruína.

Macro divisão da carta

- Purificação da igreja (1.1 a 11.34);

- Orientação doutrinária (12.1 a 16.24).

5.3 HISTÓRICO ENTRE AS EPÍSTOLAS AOS CORÍNTIOS

Ao escrever a primeira epístola, Paulo se encontrava em Éfeso. Ali ocorreu grande


tumulto porque os comerciantes de imagens estavam perdendo seus lucros após as
pregações de Paulo. Diante da perseguição, o apóstolo vai para Trôade. Por esse
tempo, ele se sentia angustiado pela expectativa em relação à igreja de Corinto.
Eram "combates por fora e temores por dentro". Paulo aguardava a chegada de Tito.
26

De Trôade, Paulo vai à Macedônia. Pouco depois, Tito chega com notícias de
Corinto. (At.19.30 a 20.1 II Cor.2.12-13; 7.5-10,13).

De acordo com as informações de Tito, a epístola enviada recentemente, havia


provocado tristeza e arrependimento em alguns e rebeldia em outros. O pecador de I
Cor. 5 estava arrependido e acerca dele Paulo dá instruções em II Cor.2 para que a
igreja o receba e o perdoe.

Havia falsos apóstolos agindo entre os coríntios (II Cor.11.3,13; 12.11), os quais
procuravam desmoralizar a pessoa e a mensagem de Paulo (I Cor.1.17; 10.9-10;
11.1,6,16).

5.4 A HIPÓTESE DA CARTA DESAPARECIDA

Normalmente, se considera que as reações relatadas por Tito se refiram à epístola


que conhecemos como I Coríntios. Entretanto, existe a hipótese de que, após o
envio da primeira epístola, Paulo tenha visitado Corinto. Nessa oportunidade, ele
teria sido gravemente ofendido por alguém (II Cor.2.5-11; 7.12). Logo depois, teria
enviado uma epístola muito emocionada, a qual não teria chegado ao nosso
conhecimento ou então seria correspondente aos capítulos 10 a 13 de II Coríntios.
De acordo com essa hipótese, as reações mencionadas em II Cor.7.8-12 seriam
referentes a essa suposta epístola e o homem de II Cor.2.5 seria aquele que
ofendeu pessoalmente o apóstolo. Contudo, essa suposição não foi comprovada.

Exercícios de Fixação:

1° Leia a Carta de Paulo I Coríntios

2° Elabore um esboço temático com as principais divisões;

3° Faça um breve comentário pessoal sobre a importância da Carta para a sua vida.
27

VI - II CARTA DE PAULO AOS CORÍNTIOS

Autor: Paulo (e Timóteo)

Data: 57 d.C.

Local: Macedônia

Classificação: eclesiologia

Tema: Defesa do apostolado de Paulo

Texto chave: 3.1; 5.12; 6.3; 7.2; 10.2-3; 11.5-6; 12.11; 13.3.

6.1 CARACTERÍSTICAS DA EPÍSTOLA

Bastante pessoal e emocionada. Mistura amor, censura e indignação. Fala a dois


grupos na igreja: os obedientes e os rebeldes.

OS OBEDIENTES E OS REBELDES

No estudo da primeira epístola, vimos que a igreja de Corinto estava dividida em


partidos, de acordo com as preferências individuais. Na segunda epístola vemos a
igreja dividida em dois grupos: os obedientes e os rebeldes. Afinal, esta é diferença
que importa. É sob esse ponto de vista que Deus nos observa. Seja qual for a nossa
preferência política ou pessoal, precisamos examinar a nós mesmos a fim de
sabermos a qual grupo pertencemos no que diz respeito à obediência.

OS ATAQUES AO MINISTÉRIO DE PAULO

Muitos judeus convertidos ao cristianismo queriam impor a lei mosaica aos cristãos
gentios. Estes fizeram diversos ataques ao ministério de Paulo. Os ataques aos
ministros de Deus sempre ocorrem. O ataque é normal. As perseguições fazem
parte da vida cristã. Contudo, é preciso ver se as acusações contra nós são justas
ou não. Como disse Pedro, nenhum de nós deve padecer como transgressor, mas
como cristão (I Pd.4.15-16).
28

Como não havia nenhum motivo concreto com que pudessem acusar Paulo, os
judaizantes apelavam para quaisquer argumentos possíveis. Até mesmo uma
mudança dos planos de viagens de Paulo foi usada por eles para o acusarem de
leviandade, ou imprudência (II Cor.1.17).

Ao que tudo indica Paulo não correspondia ao padrão grego. As credenciais gregas
de um grande líder seriam, entre outras, uma ótima aparência e admirável
eloqüência. Apolo estaria mais próximo desse paradigma (At.18.24). Talvez isso
tenha contribuído para que muitos coríntios tenham se unido em torno do seu nome,
formando um partido na igreja (I Cor.1.12). Enquanto isso, Paulo era alvejado pelas
infâmias dos falsos apóstolos que pesavam o seu ministério com base em valores
humanos e filosóficos. Tais argumentos não eram associados ao judaísmo, mas
bem poderiam servir como excelentes armas circunstanciais para os ataques dos
judaizantes contra o ministério de Paulo. Além de derrubar do pedestal as
credenciais da aparência e da eloqüência, Paulo atinge frontalmente o legalismo dos
judaizantes ao se referir à lei como "ministério da morte" (3.7) e "ministério da
condenação" (3.9). Desse modo, Paulo não ridiculariza a lei, mas coloca-a no seu
devido lugar em relação à obra de Cristo.

A DEFESA DO MINISTÉRIO DE PAULO

Paulo se lança em seu discurso de defesa pessoal. No embasamento de suas


colocações, ele trata da expectativa e da perspectiva da igreja em relação aos
ministros de Deus. A expectativa se refere àquele padrão que temos em mente em
relação aos requisitos que um "homem de Deus" deve preencher. Será que tais
requisitos correspondem aos padrões divinos?

Os cristãos formavam partidos em torno dos líderes. Então, Paulo lhes escreve
dizendo que os líderes deviam ser vistos de maneira mais simples, embora
importantes quanto à sua missão. Então, em I Coríntios, o apóstolo questiona:
"Quem é Paulo? Quem é Apolo?" (I Cor.3.11). Na seqüência, utilizando figuras de
linguagem, ele apresenta os líderes como:
29

- Agricultores – aqueles que semeiam, plantam, cuidam e colhem – 3.6-8.

- Colaboradores – aqueles que ajudam - 3.10.

- Edificadores – aqueles que constroem - 3.10.

- Despenseiros – aqueles que alimentam no tempo certo - 4.1.

- Ministros (= servos) – aqueles que servem - 4.1.

- Sofredores! – 4.9-13 – (Paulo se refere aos ministros como: últimos, condenados,


espetáculo, loucos, fracos, desprezíveis. Esta seria a visão do mundo a respeito
deles).

- Exemplo para a igreja – 4.16.

Tipos de perspectiva em relação aos ministros de Deus.

Vasos de ouro ou de barro?

A perspectiva é a visão que se tem de alguma coisa. Isso varia de acordo com a
posição em que o observador se encontra em relação ao objeto observado. Essa
posição pode ser inferior, superior, distante, longínqua, etc. Essas variações vão
alterar não o objeto, mas a visão que se tem dele. Assim também, a perspectiva a
respeito dos ministros varia e, algumas vezes, torna-se distorcida por posições
extremadas.

1° Erro – Valorização exagerada

Alguns vêem os ministros como vasos de ouro. Assim, o valor não estaria no
conteúdo, mas no recipiente. Já não interessa mais o que está dentro do vaso, nem
se existe ali algum conteúdo. O valor está no vaso em si. Vistos como vasos de
ouro, os ministros são considerados inquebráveis, infalíveis. Isso pode conduzir ao
enriquecimento material do líder e a idolatria da sua pessoa. Parece que esta era a
visão dos coríntios ao formarem partidos em torno dos nomes dos apóstolos. A
história mostrou o agravamento desse problema, ao ponto de hoje haver quem se
refira aos apóstolos como santos, como ídolos, no sentido mais grave do termo. O
próprio apóstolo Paulo recebeu o título de "São Paulo" e inúmeras são as
homenagens póstumas à sua pessoa.
30

2° Erro – Desvalorização e desprezo

O outro extremo é a consideração do ministro como um vaso de material


desprezível, vazio e inútil. Essa perspectiva traz como conseqüência a falta de
submissão, falta de reconhecimento e até a falta de sustento material para o
ministro.

A perspectiva correta – ponto de equilíbrio

"Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder
seja de Deus, e não de nós." (II Cor.4.7). Os ministros devem ser vistos como vasos
de barro contendo um tesouro precioso, que é Cristo. O servo de Deus não deve ser
idolatrado, nem desprezado, mas amado. Sendo de barro, o vaso é quebrável. O
servo de Deus não é infalível. O vaso é quebrável, mas não pode estar quebrado.
Embora sejamos sujeitos ao erro, não podemos nos dar ao direito de cometer
determinados erros. Evidentemente, precisamos combater todo tipo de erro, mas
alguns são mais destrutivos do que outros, principalmente para a reputação do líder.
O vaso quebrado não tem utilidade. O vaso de barro é frágil e precisa ser tratado
com cuidado. O vaso não pode cair. Como disse Paulo, "aquele que pensa estar de
pé, cuide para que não caia." (I Cor.10.12). Embora seja de barro, esse vaso contém
um grande tesouro. O maior valor está no conteúdo e não no vaso. Contudo, o vaso
se reveste de grande importância em função do seu conteúdo e da sua utilidade.

Ao falar da fragilidade do vaso, Paulo menciona a mortalidade humana. O corpo


humano é um vaso de barro. É corruptível (II Cor.4.16). É mortal (5.4). Vai se
desfazer (5.1). Sua abordagem se concentra então sobre a questão da morte física.

Por fora Por dentro

Atribulados Não angustiados

Perplexos Não desanimados

Perseguidos Não desamparados

Abatidos Não destruídos

Morte Vida
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CARACTERÍSTICAS DO MINISTÉRIO DE PAULO

Sem lucro pessoal. II Cor.11.9.


Exercido com grande esforço e sacrifício (6.3-10; 11.23-29).
Consolador – 1.4-7.
Sofredor – 1.5-9; 4.8-12; 5.4; 6.4-10; 7.5; 11.24-28.
Santo, simples, sincero, verdadeiro – 1.12; 2.17; 4.2; 7.2.
Constante – 1.17-19; 4.1,16.
Interessado pelo bem da igreja, zeloso – 2.3-4; 7.7-8; 11.2-3,7; 12.20-21.
Triunfante – 2.14; 4.8-9; 12.10.
Abnegado (desprendido) – 4.5,11; 5.13; 11.7,9.
Motivado pelo amor de Cristo – 4.5,11; 5.14.
Espiritual – 4.18; 5.16; 10.4.
Persuasivo – 5.11,20; 6.1; 10.1-2.
Reconciliador – 5.19-21.
Produtivo – 12.12.
Com autoridade – 2.9; 13.2; 10.1-11.
Capacitado por Deus – 3.5.

6.2 CREDENCIAIS DO MINISTÉRIO DE PAULO

As credenciais esperadas pelos coríntios eram apenas boa aparência e eloqüência.


Tais fatores não são negativos em si mesmos. São até desejáveis. Porém, podem
constituir meios facilitadores do engano. Portanto, a beleza e a boa comunicação
não servem como parâmetros para se julgar um servo de Deus. Jesus disse:
"Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós disfarçados em ovelhas,
mas interiormente são lobos devoradores. Pelos seus frutos os conhecereis..."
(Mt.7.15-16). Alguns queriam também que Paulo mostrasse cartas de apresentação
(II Cor.3.1), talvez emitidas pelos apóstolos de Jerusalém.

As credenciais do servo de Deus são, primeiramente, espirituais. É o selo do Espírito


Santo, a vocação e aprovação divina, os dons para o ministério, etc. Contudo, isso
só serve como testemunho no mundo espiritual. Diante dos homens, precisamos
32

apresentar credenciais visíveis. Nessa hora, a fé não é suficiente. É necessário que


se apresentem obras. Pedro disse ao aleijado: "Olha para nós!" (At.3.4). As pessoas
estão nos olhando e precisam ver alguma coisa para que creiam. Precisam ver o
nosso testemunho.

Credenciais do apostolado de Paulo

Autenticado pelo Senhor – II Cor.1.1,21,22; 3.5,6; 4.6.


Pelas obras – II Cor. 12.12.
Pelos perigos e sofrimentos – II Cor.6.4-10; 11.23-27.
Pelas revelações divinas – II Cor.12.1-5.

6.3 GLORIANDO NA TRIBULAÇÃO E NAS FRAQUEZAS

Paulo nos surpreende quando se gloria na tribulação (II Cor.11.30). Isso nos parece
estranho, mas tal atitude se dá porque Paulo tem em vista o resultado de um
processo, e também considera uma honra sofrer pelo nome de Jesus. Como
escreveu aos Romanos, "a tribulação produz perseverança" (Rom.5.3).

A tribulação não é inútil. Ela produz alguma coisa. Nisso está o seu valor. Assim
como uma cicatriz é um tecido mais resistente do que a pele normal, a tribulação vai
produzindo em nós maior resistência, de modo que nos tornamos cada vez mais
capazes para enfrentarmos diversas dificuldades futuras.

Gloriar-se nas fraquezas não significa gloriar-se no pecado, mas nas limitações e
incapacidades próprias do ser humano. Novamente, a proposição nos surpreende.
Qual será o valor da fraqueza? É por causa das nossas fraquezas que recebemos
as manifestações do poder de Deus.

Desenvolvendo o tema, relacionamos então os seguintes elementos:

Fraqueza humana Poder de Deus.


Problemas Milagres
Crises Oportunidades
Desafios Crescimento
Necessidades Provisão.
Incapacidade Capacidade (II Cor.3.5).
33

VII CARTA AOS GÁLATAS

7.1 ÁSIA MENOR

A Galácia era uma região da Ásia Menor. Para localizarmos melhor, vamos
diferenciar Ásia de Ásia Menor. A Ásia é um continente que inclui diversos países:
Rússia, Índia, países do Oriente Médio, países do Extremo Oriente, etc. A Ásia
Menor, por sua vez, corresponde a território bem menor, que hoje é ocupado pela
Turquia.

7.2 GALÁCIA

O nome Galácia é derivado de gaulês. Os gauleses eram originários da Gália (hoje a


França), que dominaram a região centro-norte da Ásia Menor por volta do ano 300
a.C.. Em 189 a.C., esse território foi conquistado pelos romanos. Em 25 a.C., Roma
estabeleceu ali uma província que manteve o nome de Galácia. Contudo, seus
limites eram maiores que a região original. Assim, ao norte havia os gálatas étnicos.
Ao sul havia outros grupos que faziam parte da província, mas que não tinham a
mesma origem genealógica gaulesa. Por essas questões, quando o Novo
Testamento menciona os gálatas, existe dificuldade em se determinar se os autores
se referem a todo o povo da província ou apenas ao grupo étnico descendente dos
gauleses. A qual grupo o apóstolo Paulo teria escrito?

7.3 AS IGREJAS DA GALÁCIA

A carta aos gálatas destina-se a várias igrejas, acerca das quais não temos
informações específicas. Sabemos que, entre tantas cidades localizadas na
província da Galácia, Paulo fundou igrejas em Antioquia da Psídia, Icônio, Listra e
Derbe, durante sua primeira viagem missionária (At.13-14).

7.4 MOTIVO DA CARTA

Os judeus estavam presentes em todo o Império Romano, principalmente nas


cidades mais importantes. Muitos deles se converteram ao cristianismo e, dentre os
convertidos, havia aqueles que queriam impor a lei mosaica sobre os cristãos
34

gentios. São os já mencionados "judaizantes". Assim como os fariseus e saduceus


perseguiram Jesus durante o período mencionado pelos Evangelhos, os judaizantes
pareciam estar sempre acompanhando os passos de Paulo a fim de influenciar as
igrejas por ele estabelecidas. Essa questão entre judaísmo e cristianismo percorre o
Novo Testamento, tornando-se até um elemento que testifica a favor da unicidade e
autenticidade histórica dessas Escrituras.

7.5 O ATAQUE DOS JUDAIZANTES CONTRA PAULO E O EVANGELHO

Aqueles judeus davam a entender que o Evangelho estava incompleto. Para


conseguirem uma influência maior sobre as igrejas, eles procuravam minar a
autoridade de Paulo. Para isso, atacavam a legitimidade do seu apostolado, como
tinham feito em Corinto. Pelas palavras de Paulo, deduzimos os argumentos de seus
acusadores. Eles não admitiam que Paulo pudesse ser apóstolo já que não era um
dos 12 nem tinha andado com Jesus.

7.6 O EVANGELHO JUDAIZANTE

Os judaizantes chegavam às igrejas com o Antigo Testamento "nas mãos". Isso se


apresentava como um grande impacto para os cristãos. O próprio Paulo ensinava a
valorização das Sagradas Escrituras. Como responder a um judeu que mostrava no
Antigo Testamento a obrigatoriedade da circuncisão e da obediência à lei? Além
disso, apresentava Abraão como o modelo para os servos de Deus. Só a revelação
e a experiência com Deus poderiam vencer esse desafio. O conhecimento não seria
suficiente.

POR QUE NÃO GUARDAMOS A LEI?

1o – A lei de Moisés foi dada aos filhos de Israel (Ex.19,3,6). Nós, cristãos gentios,
não somos filhos de Israel;
35

2o – Jesus cumpriu a lei cerimonial. Tal cumprimento significa não apenas sua
obediência, mas a satisfação das exigências da lei cerimonial através da obra de
Cristo;

Precisamos entender que os mandamentos da lei mosaica se dividem em vários


tipos. Vamos, basicamente, dividi-los em mandamentos morais, civis e cerimoniais;

Os mandamentos morais dizem respeito ao tratamento para com o próximo: Não


matarás; Não adulterarás; Não furtarás e etc. Tais ordenanças estão vinculadas à
palavra amor;

Os mandamentos civis são aqueles que regulamentavam a vida social do israelita.


São regras diversas que se aplicam às relações da sociedade. Um bom exemplo é o
regulamento da escravidão;

Os mandamentos cerimoniais são aqueles que se referem estritamente às questões


religiosas. São as ordenanças que descrevem os rituais judaicos.

A lei moral se resume no amor a Deus e ao próximo (Gálatas 5.14). Os princípios


morais permanecem válidos no Novo Testamento. Hoje, não matamos o próximo,
mas não por causa da lei de Moisés e sim por causa da lei de Cristo (Gálatas 6.2), à
qual os gálatas deviam obedecer. A lei de Cristo é a lei do amor a Deus e ao
próximo.

As leis civis do povo de Israel não se aplicam a nós. Além dos motivos já expostos,
nossas circunstâncias são bastante diferentes e temos nossas próprias leis civis
para observar. O cristão deve obedecer às leis estabelecidas pelas autoridades
humanas enquanto essas leis não estiverem ordenando transgressão da vontade de
Deus (Rm.13.1).

As leis cerimoniais judaicas foram abolidas por Cristo na cruz. Por esse motivo,
mesmo os judeus que se convertem hoje ao cristianismo estão dispensados da lei
cerimonial judaica. Por isso, não fazemos sacrifícios de animais, não guardamos o
sábado, não celebramos as festas judaicas, etc.
36

Se alguém quiser observar algum costume judaico, isso não constituirá problema
(Rm.14.5), desde que a pessoa não veja nisso uma condição para a salvação,
porque, se assim for, a obra de Cristo estará sendo colocada em segundo plano,
como algo incompleto e insuficiente (Gálatas 5.4).

A RESPOSTA DE PAULO

Diante das alegações e acusações dos judaizantes, Paulo elabora sua resposta: a
carta aos gálatas com amor e censura. Sua epístola apresenta:

- Defesa do seu ministério. Nessa parte, a carta aos gálatas parece


continuação de II Coríntios.

- Defesa do seu Evangelho – sua origem e conteúdo.

Origem do Evangelho de Paulo: revelação direta de Jesus Cristo. No início da


epístola, após expor sua perplexidade diante da inconstância dos gálatas, o autor
relata suas viagens e seus poucos contatos com os apóstolos de Jerusalém. Ele
deixa claro que não recebeu o Evangelho de homem algum, mas através de uma
revelação direta do Senhor Jesus. Tal colocação tinha o objetivo de demonstrar e
defender sua autoridade apostólica.

7.7 Conteúdo do Evangelho

A perniciosidade da influência judaica na Galácia estava no fato de atentar contra a


essência do Evangelho. Os judeus queriam acrescentar a circuncisão como
condição para a salvação. Se assim fosse, o cristianismo seria apenas mais uma
seita do judaísmo. Então, Paulo vem reforçar o ensino de que a salvação ocorre pela
fé na suficiência da obra de Cristo. Para se conhecer a suficiência é preciso que se
entenda o significado. Em sua exposição, Paulo toma Abraão como exemplo, assim
como fez na epístola aos Romanos, afirmando que o patriarca foi justificado pela fé
e não por obediência à lei. Tal exemplo era de grande peso para o judeu que lesse a
epístola. Na seqüência, o apóstolo expõe diversos aspectos da obra de Cristo e do
Espírito Santo na vida do salvo sem as imposições da lei.
37

COMPARAÇÃO ENTRE CARACTERÍSTICAS E EFEITOS DA LEI E DA GRAÇA

LEI / MOISÉS JESUS / CRUZ / EVANGELHO

Mostra o pecado Perdoa o pecado.

Traz maldição Leva a maldição

Traz prisão e Traz libertação e vida


morte

Enfatiza a carne Enfatiza o espírito

Infância Maturidade

Vários sacrifícios Sacrifício único que conduz ao Pai

ÊNFASE NA CARNE E ÊNFASE NO ESPÍRITO

A lei mosaica se concentrava em questões visíveis, embora não fosse omissa com
relação ao espiritual. Os pecados ali proibidos eram, principalmente, físicos. Assim
também, a adoração era bastante prática. Seus preceitos determinavam o local, a
postura, a roupa, o tempo apropriado, etc. No Novo Testamento, Jesus vem
transferir a ênfase para o espiritual, embora não seja omisso em relação ao físico.
Ao falar com a mulher samaritana, Jesus observa que ela estava muito preocupada
com os aspectos exteriores da adoração a Deus. Isso era característica da ênfase
do Antigo Testamento. Jesus lhe disse: "A hora vem e agora é em que os
verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e em verdade." (João 4.23).
Vemos nisso a ênfase do Novo Testamento: o que é espiritual.

SALVAÇÃO E LIBERDADE CRISTÃ

Salvação é libertação. Quando falamos sobre a salvação, normalmente nos


referimos ao livramento do sofrimento eterno da alma e à vida eterna. Entretanto, a
obra de Cristo tem também outros efeitos salvíficos. Ele nos salva do castigo, da lei,
do reino das trevas, e "de nós mesmos".
38

PRESERVAÇÃO DA LIBERDADE

Paulo admoestou os gálatas para que se lembrassem do significado da obra de


Cristo, a qual teve o objetivo de libertá-los. Agora que eram livres, não deveriam
voltar ao domínio da lei.

Os gálatas precisavam se apegar à liberdade cristã. Essa questão se mostrou


complexa na experiência das primeiras igrejas cristãs. Os gálatas corriam o risco de
perder a liberdade. Os coríntios, por sua vez, abusavam da liberdade. Escrevendo a
estes, o apóstolo foi muito enérgico no sentido de expor-lhes os limites que a
santidade e o amor colocam para a liberdade. O diabo sempre quer nos prender.

O amor é o parâmetro da nossa liberdade. Isto é focalizado também nas cartas aos
Romanos e aos Coríntios. Não existe liberdade absoluta. Ou somos servos do
pecado ou servos da justiça (Rm.6.18).

A liberdade cristã existe dentro dos limites estabelecidos por Deus. Os limites não
são necessariamente contrários à liberdade. Somos como os passageiros de um
navio, que podem andar para onde quiserem, mas sempre dentro dos limites da
embarcação. As restrições que Deus nos propõe são para o nosso próprio bem. São
como cercas à beira do abismo. Só não somos livres para fazer o que destruiria a
nossa liberdade.

MARCAS IDENTIFICADORAS

A circuncisão era símbolo de status religioso para os judeus. Era a marca que
identificava um adepto do judaísmo.

Os judaizantes estavam querendo impor a marca da circuncisão como se esta fosse


um valor cristão. Entretanto, Paulo conduz os gálatas a um exame mais profundo da
questão. O sinal exterior tem valor quando corresponde à condição interior. Como
disse aos Romanos, "a circuncisão é proveitosa se tu guardares a lei." (Rm.2.25).
Entretanto, se os judaizantes faziam mesmo questão de marcas físicas, Paulo
possuía as "marcas de Jesus", sinais de todo o seu sofrimento pela causa do
Evangelho (Gálatas 6.17).
39

VIII CARTA AOS EFÉSIOS

8.1 A cidade de Éfeso

Uma das maiores cidades do Império Romano, capital da província chamada Ásia
Menor, cujo território pertence hoje à Turquia. Localizava-se às margens do rio
Cayster. Entre suas construções, destacava-se o templo da deusa Diana, também
conhecida como Artêmis. Os cultos ali realizados incluíam a prostituição em seus
rituais. Tal edifício estava entre as sete maravilhas do mundo antigo. O templo foi
incendiado no dia em que nasceu Alexandre Magno. Posteriormente, o próprio
Alexandre ofereceu-se para reconstruí-lo. Contudo, sua oferta foi recusada pelos
efésios, os quais reconstruíram o santuário, tornando-o mais esplêndido do que
antes. Quando escreveu a primeira carta aos coríntios, Paulo estava em Éfeso.
Talvez por isso, diante da grandiosidade daquela construção, o apóstolo fala sobre a
igreja de Cristo, comparando-a a um edifício. Ele menciona o processo de
edificação, o fundamento, os construtores e o material utilizado (I Cor.3.9-17). Mais
tarde, quando escreve aos Efésios, Paulo volta a essa comparação (Ef.2.19-22).

Havia em Éfeso uma grande biblioteca e um teatro com lugares para 25 mil pessoas
assentadas. A cidade possuía o principal porto da Ásia, colocando-se, assim, na rota
comercial do Império. Foi construído naquela cidade um templo para a realização de
cultos ao imperador romano. Hoje, existem apenas ruínas daquele grande centro
urbano, entre as quais se destaca a fachada da antiga biblioteca.

8.2 Fundação da igreja

Paulo fundou a igreja em Éfeso por ocasião da sua primeira visita, durante a
segunda viagem missionária (At.18.19). Na segunda vez em que foi à cidade
(At.19.1), permaneceu lá durante um período superior a dois anos. Éfeso tornou-se o
centro dos trabalhos missionários do apóstolo. Naquele período, toda a Ásia Menor
foi evangelizada (At.19.10).

A permanência de Paulo em Éfeso foi interrompida por uma grande perseguição.


Através de suas pregações, muitos se converteram a Cristo. Com isso, o comércio
das imagens da deusa Diana estava se enfraquecendo. Tomados de ira, os
fabricantes de ídolos provocaram grande tumulto, tentando fazer com que Paulo
40

fosse publicamente condenado por pregar uma doutrina que estaria "prejudicando" a
cidade (At.19.21-40; I Cor.15.32). Afinal, o turismo e o comércio estavam
estabelecidos sobre a idolatria. Diante de disso, Paulo se retira. Depois de algum
tempo, mandou chamar os líderes da igreja de Éfeso para se encontrarem com ele
em outra cidade, Mileto. Ali, Paulo se despede deles, dizendo que não mais o veriam
(At.20.16-38).

Timóteo, Apolo, Áquila e Priscila trabalharam na igreja de Éfeso (At.18.18,19,24; I


Tm.1.3; II Tm.4.19). De acordo com a tradição, o apóstolo João também exerceu
ministério naquela cidade e ali morreu. A Bíblia não confirma isso. O que temos de
concreto é que João escreveu uma carta à igreja de Éfeso assim como fez a outras
seis igrejas da Ásia (Apc.2.1).

8.3 A EPÍSTOLA AOS EFÉSIOS

Local de origem: Roma.

Data: entre 60 e 61 d.C.

Portador: Tíquico (Ef.6.21-22).

Tema: a unidade da igreja.

Texto chave – Ef.4.13.

Seqüência chave – Ef.1.10; 2.6, 14-22; 4.3-16.

Palavras e expressões em destaque: Mistério; "em Cristo"; graça; salvação; riqueza;


igreja; unidade; vida; armadura.

8.4 COMENTÁRIO

A carta que hoje conhecemos como "Epístola de Paulo aos Efésios", parece ter sido
uma correspondência circular destinada às diversas igrejas da Ásia Menor. Seu
conteúdo não é pessoal nem trata de questões ou problemas específicos de uma
comunidade em particular. Não possui saudações pessoais, como seria natural em
uma carta dirigida a um grupo determinado. De acordo com os estudiosos dos
manuscritos do Novo Testamento, a expressão "que vivem em Éfeso" (1.1).
41

8.5 Motivo de envio da carta

As igrejas cristãs estavam se estabelecendo em diversas cidades do Império


Romano, começando dos principais centros, onde Paulo procurava concentrar suas
atividades evangelísticas. Nesses mesmos centros, encontravam-se colônias
judaicas, já que, por motivos diversos, milhares de judeus estavam espalhados por
vários lugares. Eles se estabeleciam com mais freqüência nas principais cidades,
como seria natural, uma vez que nesses locais se concentravam as atividades
comerciais, culturais e religiosas, sendo os melhores campos para o trabalho e o
enriquecimento.

Desse modo, em todos os lugares Paulo encontrava uma sinagoga e ali pregava
para os judeus. Assim, apesar dos protestos e perseguições, alguns se convertiam.
Logo estava estabelecida a igreja e sua formação incluía gentios e judeus. Percebe-
se então uma dicotomia imediata na comunidade. Além disso, como era natural, a
igreja era formada por homens e mulheres, servos e senhores, escravos e livres,
ricos e pobres.

Tudo isso nos mostra que era fácil que a igreja se dividisse internamente entre o
grupo dos judeus e o grupo dos gentios. Então, Paulo insiste na doutrina da unidade
da igreja. Afinal, Cristo chamou pessoas tão diferentes e as uniu em um corpo para
que aprendessem o amor que supera todas as desigualdades e até mesmo ajuda a
minimizá-las ou eliminá-las quando possível.

8.6 Unidade da igreja

Paulo menciona a localização de gentios e judeus dentro do plano de salvação e da


igreja. Seu objetivo é demonstrar que no corpo de Cristo, esse tipo de diferença é
irrelevante. Ele tenta fazer com que seus leitores vejam que, no passado, todos eles
eram pecadores (Ef.2.1-3) e que agora todos são salvos. Estes são os adjetivos que
importam. Não interessa saber quem é judeu e quem é gentio. Essas verificações só
serviam para dividir a igreja. Paulo diz que agora, após a conversão, ninguém era
mais estrangeiro, como se tivesse um tratamento diferente dentro da igreja. Somos
todos concidadãos (Ef.2.19). Dizer isso para gentios e judeus era mostrar que não
mais importava o lugar onde nasceram nem a sua origem genealógica. Agora,
42

somos cidadãos na mesma cidade, a Nova Jerusalém. Afinal, nascemos de novo.


Agora somos parte da mesma família.

Precisamos deixar de lado muitos conceitos plurais, que destacam nossas


diferenças, e voltar para afirmações singulares. Por isso, Paulo usa tanto a palavra
"um" e seus derivados na epístola aos Efésios:

"de ambos (judeus e gentios) fez um" (Ef.2.14); "um novo homem" – Ef. 2.15.
"um só corpo" – Ef.2.16. "um Espírito" – Ef.2.18. "unidade do Espírito"- Ef.4.3.
"um corpo" – Ef.4.4. "um Espírito" – Ef.4.4. "numa só esperança" – Ef.4.4.
"um só Senhor" – Ef.4.5. "uma só fé" – Ef.4.5. "um só batismo" – Ef.4.5.
"um só Deus e Pai" – Ef.4.6. "unidade da fé" – Ef.4.13. "comunidade" -
Ef.2.12. "unirá" - Ef.5.31. "uma só carne" - Ef.5.31 (fala sobre o casal e sobre
Cristo e a igreja).

A palavra "todos" também demonstra o desejo pela unidade ou fala de uma situação
comum: 1.15; 2.3; 3.8,9,18; 4.6,13; 6.18,24

A palavra "congregar" em 1.10, a preposição "com", o advérbio "juntamente" e


outros termos semelhantes reforçam a doutrina da unidade dos irmãos em torno da
pessoa de Cristo. Ele é a base da nossa unidade.

"Com" - 1.15; 2.5,6; 2.16; 3.18; 4.25; 4.28 ("com o que tiver..."); 6.9.

Em 5.7, a preposição aparece mostrando "com" quem não devemos nos associar.
Não existe unidade entre o cristão e o mundano. Convivência, sim. Unidade, não.

"Co-herdeiros" e "co-participantes" - 3.6. "Juntamente" - 2.5,6,22. "Juntas" - 4.16.

A expressão "em Cristo", bastante freqüente nos escritos de Paulo, mostra a


centralidade do Senhor Jesus no plano de Deus, na igreja e na vida do cristão.
Observe esta e outras expressões similares em Efésios:

"Em Cristo" - 1.1,3,6,10,12,15,20; 2.6,7,10,13; 3.11,21; 4.32. "Em Jesus" - 4.21.

"Com Cristo" - 2.5.


43

Observe a relação entre 2.12 ("sem Cristo") e 2.13 ("em Cristo"), demonstrando a
situação antes e depois da conversão.

8.7 A igreja - edifício de Deus

Continuando sua doutrina, Paulo mostra que somos parte do edifício de Deus, a
igreja (Ef.2.20-22).

Na construção, os elementos que parecem ser os mais fortes, encontram-se


absolutamente dependentes dos que são reputados como inferiores. O cimento é
visto como aquele que dá firmeza. Contudo, o que faríamos com ele se não
tivéssemos a areia, que muitas vezes é vista como frágil e inconstante? Um vai
suprir a fraqueza do outro e juntos vão formar o sólido concreto.

8.8 Unidade e individualidade

A unidade deve ser buscada mesmo que mediante o esforço. "Esforçai-vos


diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz" (Ef.4.3). A
palavra vínculo significa nó ou tudo o que estabelece ligação. Nós como cristãos,
precisamos enfatizar os nossos vínculos acima das nossas diferenças. O mesmo
Senhor, o mesmo Espírito, o mesmo batismo, a mesma fé, a mesma esperança,
tudo isso são vínculos que nos unem. São os fundamentos do cristianismo. Não
devemos nos separar por causa de questões tão menores do que o amor de Cristo.

Em uma família, cada membro é diferente. Contudo, não vamos dispersar o grupo
familiar por causa disso.

O tema da unidade nos chama a atenção para a ajuda mútua. O tema da


individualidade nos lembra da responsabilidade pessoal. A obra de Deus é missão
da igreja. Contudo, cada tarefa deve estar designada individualmente, pois se um
serviço é de todos, normalmente ninguém o executa.

Na igreja existem homens, mulheres, servos, senhores, etc. A doutrina da unidade


poderia levar a crer que agora todos são iguais. Até certo ponto, a afirmação é
correta. Contudo, Paulo, no final da carta, fala diretamente às mulheres, aos
44

maridos, aos filhos, aos pais, aos servos e aos senhores, mostrando que cada um
tem um papel definido e que a situação individual deve ser respeitada (Ef.5.22 a
6.9).

Observe os textos de Efésios que tratam da individualidade por meio da expressão


"cada um" ou "uns":

Ef.4.7 - Oportunidade individual. Ef.4.11 - Dom individual. Ef.4.25 e 5.33 - Deveres


individuais. Ef.6.8 - Recompensa individual.

Efésios – espiritualidade em alta

Havendo unidade dentro dos padrões divinos, haverá ambiente para que se
desenvolva a espiritualidade. Esta palavra caracteriza bem a epístola aos Efésios.
Enquanto que, aos coríntios, Paulo não pode falar como a espirituais, visto que eram
carnais (I Cor.3.1), com os efésios foi diferente. O apóstolo falou sobre:

Os mistérios de Deus – Ef.1.9; 3.3; 4.9; 6.19. Lugares celestiais – Ef.1.3,20;


2.6; 3.10; 6.12. A graça de Cristo – Ef.1.6,7; 2.5,7,8; 3.2,7; 4.7,29; 6.24
As riquezas da sua graça – Ef.1.7; 2.7. As riquezas de Cristo – Ef.3.8. As
riquezas da glória – Ef.1.18; 3.16. A armadura de Deus – Ef.6.12-17.

8.9 A prática da doutrina

A espiritualidade deve se expressar na vida prática. Paulo tinha em mente essa


preocupação. Vemos em algumas de suas epístolas essa divisão: em primeiro lugar
ele fala da doutrina, depois ele dá conselhos práticos. A parte espiritual (Ef.1 a 3) se
relaciona ao verbo "ser". A parte prática (Ef. 4 a 6) se relaciona aos verbos "andar" e
"combater". Embora não sejamos salvos pelas obras (Ef.2.8-9), fomos designados
para executá-las (Ef.2.10). A posição espiritual de qualquer pessoa vai produzir
evidências visíveis. Ninguém poderia se esquivar dos ensinamentos do apóstolo
dizendo que não tinha entendido a aplicabilidade de suas palavras. Depois de falar
de fatos espirituais e regiões celestiais, Paulo parte para situações do dia-a-dia.
45

IX CARTA AOS FILIPENSES

9.1 A CIDADE DE FILIPOS

Filipos era a capital da província romana chamada Macedônia, localizada em


território que hoje pertence à Grécia. Seu nome significa "pertencente a Filipe". A
cidade foi fundada por Filipe, pai de Alexandre Magno, em 358 a.C. Era importante
devido à sua localização junto à principal estrada que cortava a Macedônia no
sentido leste-oeste, servindo de caminho entre a Ásia e Roma. Além disso, a cidade
possuía minas de ouro e prata.

9.2 A IGREJA EM FILIPOS

A 1a igreja cristã na Europa. Foi fundada por Paulo durante a segunda viagem
missionária - At.16.11-40. Ali chegando, o apóstolo foi bem recebido juntamente com
Silas. Os primeiros convertidos foram Lídia, vendedora de púrpura, e (talvez) uma
jovem que adivinhava, da qual foi expulso um espírito imundo. Sendo liberta,
cessaram os seus prognósticos. Diante disso, cessou também o lucro dos seus
senhores, os quais se enfureceram contra Paulo e Silas, incitando contra eles as
autoridades locais. Como resultado, aqueles irmãos foram espancados e lançados
na prisão (I Ts.2.2). Estando orando e louvando à meia-noite, Deus os libertou por
meio de um terremoto que abriu as cadeias. Diante de tão grande acontecimento, o
carcereiro se converteu e também a sua família.

Algum tempo depois, os irmãos filipenses enviaram ajuda financeira para Paulo - II
Cor.8.2 Fil. 4.10,15.

9.3A SITUAÇÃO DE PAULO

Ao escrever a epístola aos filipenses, Paulo se encontrava preso, correndo risco de


vida, distante de muitos irmãos e amigos e em dificuldade financeira. Na carta, ele
fala da morte várias vezes: 1.20; 2.8; 2.27; 2.30; 3.10. Entretanto, a mesma epístola
46

enfatiza a alegria, a gratidão (1.3; 4.6), e ainda admoesta contra a murmuração


(2.14).

Isso é testemunho (2.15). Alegria e gratidão no meio do sofrimento são tão


contrastantes quanto à luz no meio da escuridão, como uma estrela refulgente no
meio do negro céu. Não dá para ignorar. Paulo compara os cristãos aos luzeiros,
aos astros, e não a uma vela ou a um pavio de lamparina (2.15). O luzeiro produz
abundante luz, a qual não se apaga com o vento nem com a tempestade.

9.4 A EPÍSTOLA AOS FILIPENSES

Autor: Paulo (e Timóteo)

Portador: Epafrodito

Data: 60 ou 61.

Local: prisão em Roma.

Tema: Alegria no Senhor.

Motivo da carta: gratidão pelo auxílio enviado pelos filipenses.

Versos chave: 1.21 e 4.4

COMENTÁRIO

OS SANTOS FILIPENSES

Paulo usa a palavra "santos" para se referir aos filipenses (1.1). "Santo" significa
"separado", "consagrado". Todo cristão é santo, ou pelo menos deveria ser. Todo
servo do Senhor é separado do mundo e separado para Deus. Essa separação não
significa alienação. Podemos e devemos participar de tudo o que acontece em
nossa volta, exceto daquelas coisas que podem interferir na nossa comunhão com
Deus e contrariar o nosso compromisso com Cristo. Quando a questão ameaça esse
ponto, então nos separamos, pois somos santos.
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"Santo" não significa perfeito ou alguém que esteja livre da possibilidade de pecar.
Somente alcançaremos essa condição quando deixarmos esta terra e formos para o
nosso lar celestial. Antes disso, devemos viver num processo de aperfeiçoamento.

9.5 PERDAS E GANHOS

O Evangelho envolve perdas e ganhos (3.7-8). Isso não combina com certas
pregações de prosperidade. Paulo estava preso, privado de muitas coisas, mas
certo do seu ganho espiritual. Será que Paulo pensava em um Evangelho que lhe
proporcionaria riqueza material, uma grande casa, um lindo carro, o seu próprio
negócio? De modo nenhum. Ele assumia as tribulações e os sofrimentos como
fatores naturais no caminho do cristão e que tudo isso até contribuiria para o avanço
do reino de Deus. "... As coisas que me aconteceram têm antes contribuído para o
progresso do Evangelho." (1.12). Ele destacou ainda, de modo comemorativo, que
sua prisão tinha se tornado oportunidade para evangelizar os soldados romanos
(1.13).

Quando, ao fim da epístola, Paulo diz: "Tudo posso naquele que me fortalece"
(4.13), ele não estava ensinando uma declaração do pensamento positivo, como se
quisesse colocar o cristão numa posição de sucesso absoluto, conforme a visão que
o mundo tem de sucesso. Lendo 4.12, entendemos que Paulo estava dizendo que
ele foi capacitado por Deus para passar por qualquer situação, fosse de abundância
ou escassez, de humilhação ou honra, de fartura ou de fome. Certamente, o obreiro
de Deus precisa estar pronto para tudo isso e não apenas para ser rico.

Precisamos focalizar o ganho espiritual, o galardão celestial e não o galardão


terreno. Este, se vier, será bem-vindo. Porém, não pode ser o nosso objetivo.

OS INIMIGOS DA CRUZ

"Pois muitos andam entre nós, dos quais repetidas vezes eu vos dizia e agora vos
digo até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo; O destino deles é a perdição,
o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia; visto que só se
preocupam com as coisas terrenas. Pois a nossa pátria está nos céus, de onde
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também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o


nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória..." (Fil.3.18-21).

Além disso, precisamos colocar os valores espirituais acima dos valores terrenos.
Em sua oração pelos filipenses, Paulo pede que eles tenham amor, conhecimento,
discernimento e fruto de justiça para a glória de Deus (Fil.1.9-11). São valores
espirituais, os quais devem ser enfatizados, acima das nossas ambições materiais.

9.6 DEUSES ESTRANHOS

Paulo disse que "andam entre nós" muitas pessoas "cujo deus é o ventre." Entre nós
significa dentro da igreja. São pessoas que não estão servindo ao verdadeiro Deus,
mas estão procurando apenas seu próprio interesse. A alimentação estava acima
de tudo para elas. Outro deus da atualidade que podemos mencionar é o sexo. O
dinheiro é também um deus da humanidade. Cristo mesmo já mencionou algo
semelhante quando disse: "Não podeis servir a Deus e a Mamom" (Mt.6).

Através do jejum, das ofertas e da abstinência pelo tempo necessário, nós


demonstramos, na prática, que o Senhor Jesus está acima de tudo para nós.

REGOZIJAI-VOS NO SENHOR

Paulo, mesmo preso, estava se regozijando (1.18). Possuía uma alegria sem motivo
aparente (1.4,18,25). Ele usa não apenas a palavra alegria, mas gozo e regozijo,
que são termos ainda mais fortes, que falam de uma alegria intensa, grande
satisfação ou prazer (2.2; 2.17,18,28,29). A chave do contraste entre a prisão de
Paulo e sua alegria é a expressão: "Regozijai-vos no Senhor (3.1; 4.1,4,10). A
alegria do cristão não vem de fora para dentro, mas de dentro para fora. Alegria no
Senhor não depende de circunstâncias mas depende do Senhor, e ele não muda.
Um cristão alegre no meio da tribulação? Isso é loucura para o mundo. Tal alegria
provém de uma paz que excede todo entendimento (4.7).

Em meio a tantas expressões de alegria, o texto de 2.28 menciona a "tristeza". Isso


é bom para que não falemos do cristianismo como se fosse algo irreal, utópico.
Paulo esteve triste por causa da doença de Epafrodito. Nesse mundo podemos
passar por momentos de tristeza. Porem, ela não pode nos dominar, não pode ser
49

nossa companheira constante. Observe que, embora a tristeza tenha sido


mencionada, ela não se tornou característica nem tema da epístola. Paulo também
chorou por causa daqueles que se perdiam (Fil.3.18). Que a tristeza em nossas
vidas seja o menor versículo e que a alegria preencha longos capítulos da nossa
existência.

A expressão "alegrai-vos no Senhor" nos dá uma idéia de uma alegria que não
depende de outros fatores, mas depende do Senhor.

9.7 ALEGRIA X ANSIEDADE

Ao escrever aos filipenses sobre a alegria, Paulo estava consciente de que a


ansiedade poderia ser um empecilho nesse caminho (4.4-7). Se crermos em Deus e
no seu cuidado para conosco, isso já é um forte motivo para o nosso descanso. Em
segundo lugar vem a oração. Nossa fé se expressará através das nossas palavras.
Estamos nos sentindo ameaçados por alguma coisa ou oprimidos por alguma
necessidade? Vamos levar tudo isso diante de Deus através da oração. Quando
oramos, dividimos a responsabilidade com Deus. Se você faz tudo na vida sem orar,
então a responsabilidade é toda sua. Se der errado, a culpa é sua. Quando oramos,
estamos pedindo que Deus faça a parte que não está ao nosso alcance. Contudo,
continuamos responsáveis por aquilo que podemos fazer.

A ansiedade, seja por motivo legítimo ou não, é resultado dos nossos pensamentos.
Paulo nos aconselha a selecionar nossos pensamentos. Se pudermos agir para
resolver determinado problema, então devemos fazê-lo, mas ficar apenas cultivando
a preocupação não vai nos levar a nada. Precisamos então, pensar em coisas boas,
positivas, agradáveis, e isso serão favoráveis ao nosso bem estar e à nossa alegria.
Embora tais palavras possam parecer apenas à valorização do pensamento positivo,
Paulo coloca a pessoa de Deus como a fonte da nossa paz (4.9).
50

9.8 UNIDADE E HUMILDADE (1.27; 2.2)

Os filipenses haviam mandado uma ajuda financeira para o apóstolo (4.16-18). Ele
se regozijou muito pela comunhão que os irmãos tiveram com ele naquele momento
difícil. É na dificuldade que a comunhão e a unidade se tornam mais necessárias e
importantes.

A unidade depende da humildade (2.3-4). O orgulho e o egoísmo trazem divisão.


Para demonstrar o valor da humildade, Paulo usa a pessoa de Cristo como exemplo
(2.5-11). Afinal, não haveria exemplo melhor. O texto do capítulo 2.5 a 11 nos
mostra a trajetória de Jesus. É um quadro de humilhação progressiva até a morte na
cruz. Em seguida, vem sua exaltação acima de toda a criação.

"Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o
que é dos outros." (2.4). Cuide do problema do seu irmão como se fosse seu, desde
que não esteja havendo abuso nem aconteça de você estar atrapalhando o
crescimento da outra pessoa. Ajude o seu próximo, mas, de preferência, ensine o
seu próximo a ajudar a si mesmo.
51

X CARTA AOS COLOSSENSES

Autor: Paulo (e Timóteo). 1.1; 4.18.

Data: 60 ou 61 d.C.

Local: Prisão em Roma (4.3; 4.18).

Tema: A supremacia de Cristo

Classificação: cristologia (doutrina de Cristo).

Texto chave - 3.11.

10.1 A CIDADE DE COLOSSOS

Ficava a sudoeste da Frígia, na Ásia Menor, às margens do rio Lico. A cidade foi
importante no século V a.C.. Depois foi perdendo sua importância diante do
crescimento de Laodicéia, a 18 km, e Hierápolis (Col.4.13). O livro de Apocalipse
confirma que Laodicéia era uma cidade rica (Ap.3.18).

Colossos perdeu sua importância devido à mudança no sistema de estradas. Isso


passou a beneficiar Laodicéia.

A cidade dos colossenses foi destruída no século 12 d.C. Escavações arqueológicas


realizadas em 1835 descobriram um teatro e um cemitério da cidade.

10.2 FUNDAÇÃO DA IGREJA

A igreja em Colossos deve ter sido fundada por Epafras. Isso não está claro no Novo
Testamento, mas parece ser uma dedução coerente com as palavras de Paulo (Col.
1.7,8). É provável que Paulo nunca tenha estado em Colossos. Isso é deduzido de
Col. 2.1. Apesar de tantas questões incertas sobre a fundação da igreja, o que
sabemos com certeza é que a mesma estava sob a liderança de Epafras, como
também ocorria com as igrejas de Laodicéia e Hierápolis (Col. 4.12-13). O texto de
Colossenses 4 e também o de Filemom 23 nos dão a entender que Epafras estava
preso juntamente com Paulo, quando este escreve as chamadas "epístolas da
52

prisão": Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom. Essa circunstância comum às


quatro cartas faz com que haja algumas semelhanças entre elas, principalmente
entre Efésios e Colossenses (Exemplo: Ef.6.21-22 e Col. 4.7,9 e Fm.10,23,24.)

COMENTÁRIO

10.3 DIVISÃO DO LIVRO

A epístola apresenta duas partes: doutrina (cap. 1 e 2) e aplicação prática (3 e 4).


Paulo mostra de modo bastante consciente o valor do conhecimento e da
experiência. Quem busca apenas experiências espirituais e não quer aprender nada
sobre Deus e sobre a Bíblia, poderá, eventualmente, ter uma experiência com o
inimigo e ser enganado. Observe em Colossenses 2.18, que as visões podem estar
ligadas ao engano. Portanto, o conhecimento será o filtro para a experiência. O
conhecimento é a base para o discernimento.

Na parte prática, Paulo dá instruções para os pais, esposas, maridos, filhos, servos
e senhores. Orienta também em relação à oração, à pureza e liberdade cristã.

10.4 O PROBLEMA DOS COLOSSENSES

JUDAÍSMO E GNOSTICISMO

Epafras levou ao conhecimento de Paulo a situação dos Colossenses. O "relatório"


apresentava dois aspectos importantes. Em primeiro lugar, foi dado testemunho a
respeito da fé, do amor e do crescimento daquela igreja (1.4-8; 2.5). A outra
informação dava conta de que alguns líderes estavam se infiltrando na comunidade
e levando influências judaicas e filosóficas (2.8). Esses elementos estavam se
misturando e produzindo heresias. A parte filosófica em questão era a doutrina dos
gnósticos. Juntando tudo isso, os irmãos estavam sendo pressionados em relação
aos seguintes pontos:

Valorização dos mistérios do gnosticismo.


Adoração a anjos aos quais os gnósticos atribuíam a obra da criação.
Ascetismo exterior: abstinência de comidas e bebidas (influência gnóstica e
judaica).
Observância da lei mosaica (influência judaica) Prática da circuncisão;
Comemoração das festas judaicas; Guarda do sábado.
53

Os gnósticos acreditavam que o mal estava ligado à matéria. Este conceito produzia
outros bastantes perigosos. Criam que, sendo a matéria má, então não foi Deus
quem a criou, mas sim os anjos. Se a matéria é má, então a encarnação divina não
poderia ser considerada um fato nem uma possibilidade. Assim, estava criado um
sistema doutrinário que negava a divindade de Cristo e a obra da cruz.

Apesar de não ser diretamente responsável pela igreja em Colossos, Paulo reage
energicamente contra aquelas heresias que ameaçavam a sã doutrina. Em seu
combate, Paulo destaca a supremacia de Cristo. A sua divindade e a sua obra na
cruz eram elementos plenamente suficientes para a refutação de todos aqueles
ensinamentos judaicos e filosóficos (2.8-10). Se forma incisiva, Paulo derruba todos
aqueles sofismas. Ele destaca que o mistério que nos interessa é Cristo, o qual já foi
revelado a nós. Então, de nada importam os mistérios gnósticos (Col. 1.26-27; 2.2-3;
4.3). Se conhecermos a Cristo, não precisamos inquirir sobre nenhum outro mistério
religioso ou filosófico. O nome gnosticismo vem do termo "gnose", que significa
conhecimento. Paulo usa a mesma palavra para mostrar que o conhecimento de
Deus através de Cristo é suficiente para suprir as necessidades espirituais do
homem (Col. 1.9-10,27-28; 2.2-3; 3.16).

O gnosticismo atribuía a criação aos anjos, colocando-os como objeto de culto


(2.18). A isso, Paulo combate ao dizer que Cristo, sendo Deus, é o criador de todas
as coisas, inclusive dos anjos (1.13-17). Acrescenta ainda, que o Senhor Jesus está
acima de todos os poderes angelicais, sejam eles principados ou potestades, os
quais estão sujeitos ao senhorio de Cristo (2.10,15). Adorando anjos, os gnósticos
estavam, de fato, adorando demônios, pois os anjos de Deus não recebem culto.
Paulo associa os "anjos dos gnósticos" aos demônios quando diz que Cristo
despojou os principados e potestades, expondo-os ao desprezo.

Com relação às questões judaicas, Paulo insiste naqueles pontos já presentes nas
outras epístolas. Cristo já nos resgatou do domínio das exigências cerimoniais da lei.
Ele a cravou na cruz (2.14). O significado de Cristo em nós (1.27) supre totalmente o
que poderíamos buscar através da circuncisão (2.11; 3.11), ou das festas, ou dos
sábados (2.16-17).
54

Os gnósticos afirmando que a matéria é má impunham severas regras de


alimentação e disciplina. Tal rigor poderia até ter utilidade para o corpo, mas era
inútil para a alma e não poderia ser colocado como questão espiritual, religiosa, ou
relacionada à salvação eterna. No capítulo 3, Paulo fala do que realmente afeta a
alma humana: o pecado. Então, o apóstolo toca no que realmente era importante, ao
invés de ficar preocupados com questões de alimentação, eles deviam se preocupar
em combater a prostituição, a avareza, a impureza, etc, pois estes elementos
atrairiam a ira de Deus sobre os homens (Col. 3.5-6). Falando assim, Paulo mostra
que, enquanto os gnósticos associavam o mal à matéria, o mal está é no pecado, na
natureza pecaminosa do homem, e não na matéria em si.

10.5 O ATAQUE DE PAULO CONTRA AS HERESIAS

DESTAQUE PARA A SUPREMACIA DE CRISTO

A natureza de Cristo – Sua divindade e usa unidade com o Pai - (Col. 1.15-19)

Imagem do Deus invisível – Col. 1.15; Criador – Col. 1.16; Mantenedor da criação –
Col. 1.17.

A vinda de Cristo ao mundo e sua obra na cruz – (Col. 1. 20-23; 2.13-15).

Os colossenses precisavam ser conscientizados ou lembrados a respeito da pessoa


de Cristo, sua natureza e sua obra. A periculosidade de muitas correntes filosóficas
e religiosas reside no fato de valorizarem muitos elementos, personagens, práticas e
conceitos, tirando assim a atenção e a fé que deveriam estar na pessoa de Jesus.

Cristo é tudo o que precisamos para a nossa salvação. Seus ensinamentos são os
únicos que vão reger a nossa vida espiritual. Nele estão todas as riquezas espirituais
de Deus para os seus filhos. (1.27; 2.2; 3.16).
55

XI I CARTA AOS TESSALONICENSES

Autor: Paulo

Data : 50 ou 51 d.C.

Local de origem: Corinto

Tema principal: segunda vinda de Cristo.

Textos-chave: 1.10; 2.19-20; 3.13; 4.13-18; 5.23.

Classificação: escatologia.

Fundação

A igreja dos tessalonicenses foi fundada por Paulo em sua 2 ª viagem missionária.
Tendo se levantado grande perseguição contra Paulo, este fugiu para Corinto.
Depois Timóteo voltou a Tessalônica para saber a situação da igreja a fim de
informar ao apóstolo. Alguns irmãos haviam morrido e isso preocupava a igreja.
Será que os irmãos mortos ficariam para trás quando Jesus voltasse? Para
esclarecer o assunto, Paulo escreveu a primeira epístola aos tessalonicenses.

Esboço comentado

1 - Saudações, elogios e exortações - 1.1-10.

Em sua introdução, Paulo elogia a igreja. Os motivos de elogio são: a fé, o serviço, a
influência exemplar, o abandono da idolatria, a esperança, a paciência e
receptividade à palavra. Observe o destaque dado a questões espirituais.

O serviço, ou trabalho, está em destaque. Vejamos os verbos empregados nos


versículos 9 e 10 do capítulo 1: "Convertestes .... para servirdes ..... e esperardes ..."
1.9-10. A preposição "para" nos dá idéia de objetivo. Nós nos convertemos para
servir e não para sermos servidos. Estamos neste mundo para fazer a vontade Deus
e não para que ele faça a nossa. A igreja espera a segunda vinda de Cristo (v.10),
mas, não espera ociosa. Espera trabalhando.
56

A questão do exemplo também está em destaque. Paulo seguia o exemplo de


Cristo. Os tessalonicenses seguiam o exemplo de Paulo e tornavam-se exemplo
para as outras igrejas (1.6-8).

2 - O ministério de Paulo em Tessalônica – 2.1-20

No capítulo 2, Paulo fala sobre seu ministério irrepreensível e baseado em boas


motivações. Em suas cartas, muitas vezes o apóstolo fala de seu trabalho nas
igrejas. Embora pareça que o autor está muito envolvido com sua própria biografia,
isso é de grande importância para nós, pois, de outro modo, como teríamos acesso
a essas informações? A auto-apresentação de Paulo nos fornece muitos parâmetros
para os ministérios eclesiásticos da atualidade.

Sendo perseguido, o apóstolo não recuava, mas se tornava mais ousado ao


evangelizar (2.2).

3 - Alegria de Paulo com as notícias de Timóteo. 3.1-13

Paulo saiu de Tessalônica em meio a uma grande perseguição. Ficou então


preocupado com os novos convertidos daquela cidade. Será que eles iriam
permanecer firmes diante de tanta oposição? Timóteo trouxe então notícias da
firmeza espiritual dos tessalonicenses. Isso foi motivo de grande alegria para o
apóstolo.

4 - Admoestações sobre questões morais - 4.1-12.

A epístola nos mostra que a igreja dos tessalonicenses estava bem. Contudo, Paulo
diz que eles podiam alcançar um estado ainda melhor (4.1,9,10). Sempre existe um
nível superior a ser alcançado. Além disso, o autor admoesta contra alguns riscos
que poderiam ameaçar a estabilidade espiritual daqueles irmãos. Por isso, o capítulo
4 toca na questão moral. A admoestação que se destaca é a que se refere à
prostituição.

O capítulo 4 enfatiza a santificação (4.3) pela observância de alguns preceitos


fundamentais.

- Abster-se da prostituição (4.3); - Não enganar nem oprimir. (4.6);


57

- Amor fraternal (4.9);- Cuidar dos próprios negócios (4.11); - Trabalhar (4.11); - Ser
honesto (4.12); Conseqüência: não ter necessidade (4.12).

Depois de apresentar mandamentos aos tessalonicenses, Paulo diz: "Não quero,


porém, irmãos, que sejais ignorantes..." A parte dos mandamentos nos admoesta à
obediência. O versículo 13 do capítulo 4 nos chama a atenção para o valor do
conhecimento. Sejamos obedientes, mas não ignorantes. Os tessalonicenses eram
obedientes, mas não se destacavam pelo exame das Escrituras (At.17.11). Isso era
um risco para aqueles irmãos. Quem é obediente e ao mesmo tempo ignorante,
pode acabar obedecendo a ordens contrárias à Palavra de Deus. Nesse texto
específico, Paulo chama a atenção para o conhecimento a respeito da segunda
vinda de Cristo e os fatos a ela relacionados. O objetivo era mostrar que os irmãos
que haviam morrido não ficariam para trás no dia do Senhor.

5 - A volta de Cristo, a ressurreição, o arrebatamento, e a necessidade de


vigilância. 4.13 a 5.24.

Nessa parte, temos um quadro escatológico resumido. Apesar de breve, constitui-se


uma passagem obrigatória para os estudiosos do assunto. Paulo destaca a ordem
cronológica dos fatos. A trombeta tocará anunciando a chegada de Cristo. Nesse
instante, os justos mortos ressuscitarão. Em seguida, todos os salvos serão
arrebatados para encontrarem com o Senhor nos ares.

Nós não estamos nas trevas (5.5). As trevas caracterizam a condição daquele que é
cego ou de quem está dormindo. A cegueira representa a ignorância. O sono
representa indiferença ou incredulidade. Se tivermos conhecimento sobre os últimos
dias, não sejamos indiferentes ou incrédulos, pois assim, o conhecimento não nos
seria útil.

De acordo com o texto de I Tessalonicenses 4.13, precisamos saber, precisamos do


conhecimento. Porém, não saberemos tudo a respeito da segunda vinda de Cristo
(5.2). Está então demonstrado o limite do nosso conhecimento e também o limite da
58

nossa pregação e da nossa profecia. Jamais poderemos dizer algo sobre uma
possível data da vinda de Cristo. Os que se atreveram a fazê-lo caíram em
descrédito e vergonha.

Portanto, "quando disserem: Há paz e segurança, então lhes sobrevirá repentina


destruição." (5.3). Muitos estão dizendo muitas coisas por aí a respeito da vinda de
Cristo e do fim do mundo. Alguns marcam datas, outros negam que tais fatos
venham ocorrer. Acreditaremos? Se tivermos conhecimento e conhecemos bem o
limite do que podemos conhecer, então poderemos discernir o erro ou identificá-lo.

O versículo 3 do capítulo 5 nos mostra ainda a impossibilidade da paz mundial até


que Cristo volte. Isso pode estar relacionado aos conflitos do Oriente Médio,
principalmente a Israel, cuja menção é clara nas profecias dos combates
escatológicos.

6 - Saudações finais - 5.25 -28.


59

XII II CARTA DE PAULO AOS TESSALONICENSES

Autor: Paulo

Data : 51 d.C.

Local: Corinto.

Tema: 2 a vinda de Cristo.

MOTIVO DA CARTA

Paulo escreveu a segunda epístola pouco tempo depois da primeira. Os


tessalonicenses ainda estavam confusos e perturbados sobre os fatos dos últimos
dias, "como se o dia de Cristo já tivesse chegado." (2.2). Talvez tenham recebido
uma falsa carta com o nome de Paulo. Por isso, o apóstolo coloca sua assinatura
em 3.17. Talvez tenha havido um erro de interpretação dos ensinos da primeira
epístola. Observe que nela, o próprio Paulo se incluía no arrebatamento da igreja:
"Nós, os que ficarmos vivos...” (I Ts.4.17). Alguns membros da igreja parecem ter
deixado o trabalho, considerando que a 2 a vinda era iminente (3.6-12).

Na primeira epístola, Paulo falou sobre a segunda vinda de Cristo. Depois, escreveu
a segunda para avisar que antes deveriam ocorrer a manifestação do iníquo e a
apostasia.

COMENTÁRIO

Novamente, Paulo faz elogios à igreja em relação à sua fé, seu amor e firmeza no
meio das tribulações. A tribulação pode tê-los feito pensar que já se tratava da
"grande tribulação" escatológica.
60

Capítulo 1 - A segunda vinda de Cristo

Ao introduzir o assunto da segunda vinda de Cristo, Paulo mostra que Ele trará
recompensa para os justos e ímpios (1.6-10), os quais serão encaminhados aos
seus destinos eternos.

Capítulo 2 – A apostasia

Apostasia significa abandono da fé. O apóstolo sempre se preocupava com a saúde


doutrinária das igrejas, temendo que elas fossem desviadas do caminho cristão (II
Cor.11.3; I Tm.4.1; II Tm.4.3). Afinal, não se tratava apenas de um temor, mas de
uma certeza: a apostasia aconteceria. Mas que apostasia é essa? Em todos os
tempos houve quem se desviasse do caminho. Porém, o desvio mencionado por
Paulo parece assumir características peculiares, talvez em função de sua
profundidade doutrinária e da quantidade de desviados.

Capítulo 2 – O iníquo

O homem da iniqüidade, mencionado por Paulo, é normalmente identificado como o


Anticristo. Paulo mesmo nunca usou essa expressão em suas epístolas. João foi o
único que falou explicitamente em "anticristo" e "anticristos" (I Jo.2.18-22; 4.3; II
Jo.7). É bastante comum a posição dos comentaristas sobre a identificação do
anticristo no texto de II Tessalonicenses 2. Além disso, as próprias editoras que
imprimem a Bíblia colocam tal entendimento no título do capítulo.

Anticristo é, antes de tudo, um espírito, ou uma atitude contra Cristo. Sob esse
enfoque, João diz que "muitos anticristos têm surgido". Uma forma de sua
manifestação é a oposição a Cristo. Outra maneira é a tentativa de se fazer passar
por Cristo, tentando assumir o seu lugar e tomar a sua honra.

A expectativa a respeito do Anticristo vem do Antigo Testamento. O reino do


Messias deveria ser precedido por uma grande manifestação maligna. Tal
personagem é muitas vezes identificado como um homem, um grande líder político.
Sob esse ponto de vista são interpretadas algumas profecias do AT. O mesmo
indivíduo é simbolizado através da figura de animais. Estaria então relacionado com
pelo menos uma das bestas do Apocalipse. Textos geralmente associados ao
61

assunto: Ez.38 e 39; Dn. 7.9-12; Dn.9.24-27; Dn. 11.21,36 a 12.2; Mt.24.5-30;
Apc.13.1,11,12,13; 19.19-20; Jo.5..43.

Os títulos do Anticristo: Homem violento - Is.16.4; -Homem do pecado - II Ts.2.3;

-O príncipe que há de vir - Dn.9.26; -O rei do norte - Dn.11.40;-O angustia dor -


Is.51.13; -O filho da perdição - II Ts.2.3; -O iníquo - II Ts.2.8; -O mentiroso - I
Jo.2.22; - O enganador - II Jo.7; -O anticristo - I Jo.2.18,22; 4.3; -A besta - Apc.11.7;
13.1,7.

O texto diz que algo ou alguém impede a manifestação do Anticristo. Quem ou o quê
o detém? Ninguém sabe dizer. As especulações a esse respeito são tão variadas
que há quem diga que Satanás impede tal manifestação. Um grupo bem maior
acredita que o Espírito Santo o detém.

Suas ações - sinais e injustiça. Ele mostrará o poder do diabo em ação. Embora
muitos digam o contrário, o Diabo tem poder. Ele pode fazer o que Deus permite que
ele faça. O Diabo faz sinais. E é importante que se diga que a realização de sinais
não determina a origem divina de um fato ou a autoridade divina de um líder. O
Diabo faz sinais, mas não ensina a justiça. O objetivo dos seus sinais é manter o
homem preso.

A identificação do Anticristo: O sinal, o número 666 e o seu nome. Ap.13-16-17.


Sua destruição: aniquilado por Cristo, na sua 2a vinda.

Capítulo 3 – Exortações éticas e práticas

A ênfase nesse capítulo está sobre o trabalho. Não devemos usar a expectativa da
segunda vinda de Cristo como desculpa para a preguiça, a ociosidade e a
negligência. Existe nesse ponto o risco de se adotarem posições extremas.

1 - Viver como se Cristo não fosse voltar. Isso poderia levar a um comportamento
errado como aconteceu com os israelitas quando pensaram que Moisés não
desceria mais do monte.

2 - Viver como se ele fosse voltar imediatamente.


62

XIII I CARTA DE PAULO A TIMÓTEO

Autor: Paulo

Texto chave – 3.15.

Local: Macedônia.

Data: 64 d.C. (datas prováveis variam entre 64 e 67) (entre as duas prisões em
Roma).

Timóteo estava em Éfeso.

Essa foi uma das epístolas pastorais de Paulo (I Tm, Tt, II Tm.), escrita com o
objetivo de animar, estimular e instruir o jovem Timóteo a respeito de questões
bastantes práticas. Com Paulo surgiu o que poderíamos chamar de uma "escola
ministerial". Paulo ensinou a Timóteo que, por sua vez, deveria ensinar a outros e
estes continuariam a transmissão do ensinamento.

Timóteo

Seu nome significa: "que adora (ou honra) a Deus". Seu pai era grego. Sua mãe
(Eunice) e avó (Lóide) eram judias cristãs. Elas foram o exemplo e a origem dos
primeiros conhecimentos que Timóteo recebeu a respeito de Deus. Quando Paulo
esteve em Listra, encontrou Timóteo, o qual passou a acompanhá-lo em suas
viagens (At.16.1; II Tm.1.5; 3.14-15).

Timóteo foi circuncidado por Paulo. Sua condição de filho de grego não favorecia
seu livre curso na comunidade judaica. Paulo então o circuncidou. Tal ato faria com
que ele fosse tratado como se fosse um prosélito judaico (At.16.3).

Paulo o chama de filho amado. Diz que ele é fiel. Além de ter sido companheiro de
viagens de Paulo (2a e 3a viagens missionárias), Timóteo foi enviado pelo apóstolo a
vários lugares. (At.16.1-4; 17.13-15; 18.1,5; 19.22; 20.4; Rm.16.21; I Cor.16.10-11; II
Cor.1.1,19; Col.1.1; Fp.1.1; 2.19; Fm.1; I Ts.1.1; 3.2; II Ts.1.1; II Tm.4.9,21). Por fim,
foi encarregado de cuidar da igreja em Éfeso – I Tm.3.2. Em alguma ocasião esteve
preso e depois foi solto – Hb.13.23. A tradição informa que Timóteo foi o 1 o bispo de
Éfeso. Se for verdadeira a informação, então podemos vislumbrar a progressão
daquele ministro, que começando como evangelista, tornou-se pastor da igreja de
63

Éfeso e acabou chegando ao bispado (I Tm.4.14; I Tm.1.3; II Tm.1.6; 4.5). Ainda,


segundo a tradição, Timóteo foi martirizado em Éfeso.

Esboço comentado

1 – Saudação – 1.1-2.

2 – A incumbência de opor-se aos falsos mestres – 1.3-11.

Os gnósticos e os judaizantes estavam em plena atividade. Isso se constituía em


problema para a igreja. Paulo estava preocupado com as falsas doutrinas e a futura
apostasia.

3 – O testemunho de Paulo – 1.12-17.

Destacado como exemplo para Timóteo.

4 – Exortação a que se milite a boa milícia – 1.18-20.

A vida cristã e o ministério não são apresentados como meio de enriquecimento nem
como um descanso confortável. É uma milícia, um combate constante.

5 – A oração – 2.1-8.

6 – Os deveres das mulheres cristãs – 2.9-15

(veja 3.11 e Rm.16.1 – mulheres no serviço da igreja).

(Confira com I Cor.11.3-16 e 14.34-40 e I Pd.3.1-6.

7 – Oficiais da igreja – bispos e diáconos – 3.1-13.

Paulo especifica qualificações, requisitos, o caráter, as capacidades e os deveres


dos líderes eclesiásticos. Isso era extremamente necessário para que se evitasse a
infiltração dos falsos mestres na igreja.

8 – Admoestações contra a apostasia e as doutrinas de demônios – 3.14 a 4.5.

Apesar de todo o cuidado de Paulo, o Espírito Santo já o tinha avisado que a


apostasia seria inevitável. As doutrinas de demônios seriam adotadas por muitos.
64

Observe as estratégias do maligno. Em algumas circunstâncias ele quer nos fazer


acreditar que tudo é permitido, em outros momentos, ele nos diz que não podemos
fazer nada. É o tipo de estratégia apresentada em I Tm.4.3: "Proibindo o casamento
e ordenando a abstinência de alimentos que Deus criou para os fiéis."

É preciso preservar a liberdade cristã. Sem manipulações (4.1-10). As necessidades


básicas são legítimas, mas não podem nos dominar através do excesso ou da
licenciosidade.

9 – Instruções sobre a conduta do ministro – 4.6 a 6.19.

O valor do estudo e do ensino para combater o erro. (4.13).

Santidade pessoal. 4.11-16.

10 – O tratamento com os transgressores, as viúvas, os anciãos, os escravos, os


ricos. 5.1 a 6.19. Confira com Tito 1.10 a 3.11.

11 – Conclusão – 6.20-21.
65

IX - II CARTA DE PAULO A TIMÓTEO

Autor: Paulo - Data: Entre 64 e 66 d.C.

Esboço

I – Saudações – 1.1-5

II – Incumbência para Timóteo: desperte o dom – 1.6-18.

III – 2a incumbência – seja forte – 2.1-19.

IV – 3a incumbência – seja vigilante – 2.20 a 3.17.

V - 4a incumbência – pregue a palavra – 4.1-8.

VI – Saudações finais – 4.9-22.

Comentário

Paulo se encontrava preso novamente em Roma. Dessa vez, seria morto. O


apóstolo demonstra coragem, mesmo estando consciente do seu destino (4.6-8). Ele
não se entrega a murmurações. Encontra-se velho e teme pelo inverno que se
aproxima. Pede que Timóteo vá ter com ele levando sua capa e seus livros
(4.13,21).

A segunda epístola tem muita semelhança com a primeira. Paulo se aplica a


encorajar Timóteo, o orientado no que diz respeito à vida cristã e ao ministério.
Lembrando os ensinamentos que o jovem pastor recebera na infância, bem como as
profecias a respeito de seu ministério e também sua consagração mediante a
imposição de mãos, o apóstolo o encoraja a assumir seu papel de obreiro de Deus.
A epístola fala dos desafios e da postura determinada do obreiro. Timóteo deveria
despertar o dom ministerial (1.6) e defender a sã doutrina contra o erro (1.13).

Paulo compara o obreiro ao soldado (2.3). Na prisão, Paulo estava cercado por
soldados. Assim, observava a disciplina militar e aplicava tudo isso à sua própria
vida espiritual. Como um soldado, o obreiro de Deus deve ser:

Forte (2.1).
66

Disciplinado.
Submisso.
Preparado para o combate.
Firme e constante em seu objetivo, sem desistir.
Vestido com a armadura de Deus (Ef.6.12-17).

O ministro é ainda comparado ao atleta (2.5), o qual persegue um objetivo e para


isso se aplica a disciplina e de muitas coisas se abstém (I Cor.9.24-27). A cultura
grega havia valorizado muito o atleta. Foi desse contexto que surgiram as
olimpíadas em homenagem aos deuses mitológicos.

Paulo também compara o obreiro de Deus a um lavrador (2.6), utilizando de


comparações, Paulo passa a Timóteo a orientação para que ele fosse um ministro
fiel, cuidando do rebanho, pregando e sendo, antes de tudo, exemplo. Deveria
também ser vigilante e evitar contendas. De nada adiantaria se Timóteo fosse forte,
mas não vigilante. Seria como um forte que está dormindo. Assim poderia ser
destruído.
67

XV CARTA DE PAULO A TITO

Local de origem: Macedônia.

Data: Entre 64 e 66 d.C. Após a libertação de Paulo de sua primeira prisão em


Roma.

Essa é uma das epístolas pastorais. (Em ordem cronológica: I Tm. Tito e II Tm.)

Tema: Organização da igreja e comportamento cristão.

Texto chave: 1.5

Classificação: eclesiologia.

TITO

Embora fosse grego, seu nome vem do latim e significa "louvável". As referências a
Tito no Novo Testamento apresentam seu itinerário ministerial:

Tito 1.4 – Paulo o trata como "filho na fé", dando a entender que sua conversão se
deu mediante a pregação do apóstolo. Paulo demonstra ligação espiritual e fraternal
com Tito.

Gálatas 2.1,3 – Tito acompanhou Paulo na viagem a Jerusalém e esteve presente


no concílio de Atos 15, embora não tenha sido mencionado naquele livro.

II Cor.2.13; 7.6-7; 7.13-15; 8.6; 8.16-18; 8.23-24; 12.18 – Tito trabalhou em Corinto e
levou relatório para Paulo sobre a situação da igreja.

Tito 1.5 – Trabalhou também em Creta.

Tito 3.12 – Foi encontrar-se com Paulo em Nicópolis.

II Tm.4.10 – Trabalhou também na Dalmácia.

De acordo com a tradição, Tito se estabeleceu em Creta, ficando ali até a sua
velhice.

CRETA

É uma ilha do Mar Mediterrâneo, pertencente à Grécia e ao continente europeu.


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Passagens de Paulo por Creta – At.27.7-13,21 (A caminho da prisão em Roma). Tito


1.5 (Fazendo trabalho missionário após sua libertação).

Os cretenses eram imorais e preguiçosos. O Trabalho seria difícil para Tito.

Seu poeta famoso, Epimênides (600 a.C.), foi citado por Paulo (1.12).

Havia em Creta muitas cidades e, conseqüentemente, muitas igrejas (1.5), as quais


podem ter sido fundadas por Paulo, conforme nos parece pela epístola. Entretanto,
algumas podem ter surgido pela ação de judeus convertidos no dia de Pentecostes
(At.2.11).

ESBOÇO COMENTADO

1-Introdução – 1.1-4.

2 – Deveres e qualificações dos ministros – 1.5-9.

Bastante semelhante à primeira epístola. Apresenta requisitos para os obreiros da


igreja.

1.5 - "Por esta causa te deixei em Creta". Se em algum momento Tito se sentisse
incomodado com os problemas das igrejas e do povo de Creta, a situação poderia
não ser muito confortável para Tito, mas se tudo estivesse bem, sua presença não
seria necessária e recebeu a incumbência de constituir ministros. É relevante
observamos nisso a capacidade de Tito e confiança de Paulo em sua pessoa.

3 – Os falsos mestres – 1.10-16.

Paulo demonstra novamente sua constante preocupação com os falsos mestres e a


saúde doutrinária das igrejas. Entre esses, estavam "os da circuncisão" (1.10,14).
Em 3.10-11, Paulo instrui Tito a como tratar o herege, o qual deveria ter
oportunidade, através de admoestações. Contudo, isso também teria um limite:
"Depois da primeira e segunda admoestação, evita-o". Se não chegarmos a um
acordo rapidamente, então não permitamos que isso vire contenda (3.9).

4 – Instruções em relação ao comportamento cristão – 2.1-10.


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Paulo apresenta instruções práticas para a vida cristã. Ele se refere a várias classes
de pessoas que faziam parte da igreja. Sabendo que o povo de Creta era imoral e
preguiçoso, os convertidos deveriam ter um padrão de comportamento diferente.

5 – A salvação – 2.11-15.

Paulo dedica parte de sua epístola para reforçar o ensinamento a respeito dos
fundamentos da fé cristã.

2.11 – Universalidade da graça divina: "a todos os homens". Esse texto é um dos
que derrubam a teoria da predestinação absoluta para a salvação ou para a
perdição.

2.13 – Divindade de Cristo.

2.14; 3.1,8,14 – Essas passagens destacam o valor das boas obras, ou frutos do
cristão. Não se trata apenas de obras de caridade, mas ações justas de modo geral.
A salvação é pela graça e pelo amor de Deus (3.4-5), mas as boas obras
acompanham a salvação. É o testemunho diário do cristão.

6 – A vida cristã na sociedade – 3.1-11.

A epístola fala das relações na igreja, na família, no trabalho e na sociedade. Em


todos esses lugares existe o conceito de autoridade e governo. O Evangelho afetará
todas as áreas da vida do convertido.

7 – Conclusão – 3.12-15

Paulo parece apressado ao escrever essa epístola, pois não especifica nomes na
saudação e abrevia a benção final (3.15).
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XVI CARTA DE PAULO A FILEMOM

Autor: Paulo (e Timóteo)

Data: 60 ou 61 d.C.

Local: Roma. Epístolas da prisão: Ef. Col. Fm. Fp.

Tema: Retorno do escravo Onésimo.

Epístola de caráter pessoal.

FILEMOM

Era um homem rico da cidade de Colossos. Seu nome grego significa "amável".

ESBOÇO COMENTADO

v.1,9,10,13 – Paulo estava velho e preso em Roma.

v.2 – Na casa de Filemom se reunia uma igreja. De acordo com os comentaristas,


Áfia seria o nome da esposa de Filemom e Arquipo, seu filho.

v.8-20 – Retorno do escravo Onésimo.

Onésimo havia fugido para Roma. Era um escravo esperto e visionário. Foi logo
para a capital do Império. Talvez tenha furtado de Filemom antes de fugir. Em
Roma, encontra-se com o apóstolo Paulo e se converte ao Evangelho. Em seguida
retorna a Colossos junto com Tíquico, levando a carta a Filemom e também a
epístola aos Colossenses - Col.4.9.

O nome Onésimo significa "útil", exatamente o que não tinha sido para Filemom,
mas passaria a ser (v.11).

A carta enfatiza a transformação de uma vida. O convertido precisa reparar o erro


cometido, se isso for possível. Para Onésimo, era possível voltar à casa do seu
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senhor. Portanto, devia fazê-lo. Restituir o dinheiro furtado, entretanto, não era
possível (v.18).

Nessa carta, chama-nos a atenção a questão da escravidão. Paulo não condenou tal
prática. Afinal, estava mandando o escravo de volta ao seu dono. Temos uma idéia
de escravidão muito vinculada à prática portuguesa no Brasil. Entretanto, podemos
amenizar esse conceito quando estudamos a respeito da servidão entre os judeus.
Um judeu poderia se tornar escravo do outro como forma de pagamento de uma
dívida. O contexto de Onésimo não era judaico, mas devemos observar que Paulo
aconselhou Filemom a tratar o escravo como um irmão amado. Então, o texto não
está endossando a prática de crueldades contra os escravos. Mesmo assim, a
questão parece não estar ainda resolvida. Talvez esperássemos que Paulo
"proclamasse a liberdade" de Onésimo. Contudo, não o fez. O fato é que o
Evangelho não é uma metodologia de revolução social, mas de revolução pessoal.
Paulo não poderia simplesmente dizer que Onésimo estava livre. Onde ele iria morar
ou quem garantiria o seu sustento? Então, o melhor a fazer era retornar à casa de
Filemom.

v.17-19 – A epístola a Filemom mostra o empenho de Paulo a favor de um escravo,


a fim de que seu senhor o recebesse pacificamente. O escravo convertido passa a
ser chamado de irmão amado (v.16), filho (v.10) e fiel (Col.4.9). É fácil ver alguém se
empenhando a favor dos abastados. Entretanto, o amor de Cristo deve nos fazer
agir a favor dos menos favorecidos.
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XVII CARTA AOS HEBREUS

Autoria: incerta. Paulo é um dos mais prováveis nomes sugeridos.

Data: entre 60 e 70 d.C.

Local de origem: talvez Itália (Hb.13.24).

Tema principal: A superioridade de Cristo.

Palavra-chave: melhor (ou superior, ou mais excelente).

Classificação: cristologia

Destinatários: judeus cristãos que talvez residissem em Jerusalém.

O NOME DA EPÍSTOLA

"Hebreu" era o nome dados aos israelitas pelas nações vizinhas. Talvez tenha
derivado de Éber ou Héber, que significa "homem vindo do outro lado do rio" (Jordão
ou Eufrates) (Gn.10.21,24; 11.14-26; 14.13 Js.24.2). Abraão foi chamado de
"hebreu".

Temos então várias designações para o mesmo povo:

- Hebreu: designa descendência.

- Israel: destaca o aspecto religioso.

- Judeu: da tribo de Judá ou habitante do reino de Judá.

Alguns desses termos foram mudando um pouco de sentido com o passar do tempo.
O "judeu" do Antigo Testamento estava estritamente ligado à tribo de Judá. Depois
do cativeiro, a maior parte dos que regressaram a Canaã eram da tribo de Judá.
Então, "judeu" tornou-se quase um sinônimo de israelita, já que quase todos os
israelitas eram judeus. O termo tem esse mesmo sentido genérico até hoje.

O "hebreu" do Antigo Testamento era todo indivíduo israelita. No Novo Testamento,


esse termo passa a designar mais especificamente aquele israelita que fala
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aramaico e é mais apegado ao judaísmo ortodoxo, em contraposição ao "helenista",


que é o israelita que fala grego e está mais influenciado pela cultura grega. Nesse
sentido, veja Filipenses 3.5 e II Coríntios 11.22, nos quais o apóstolo Paulo cita com
orgulho o fato de ser "hebreu", assim como eram seus pais.

OS DESTINATÁRIOS

A epístola aos hebreus nos mostra que seus destinatários eram judeus cristãos. Ao
mesmo tempo em que o autor está se dirigindo a pessoas convertidas a Cristo
(Hb.10.19), ele dá a entender que elas tinham um passado de vínculo com o
judaísmo. Tais irmãos pertenciam a uma igreja, cujos líderes são anonimamente
referenciados no capítulo 13 (versos 7, 17 e 24). A localização de tal igreja é objeto
de especulação por parte dos estudiosos e comentaristas. As sugestões mais
comuns são: Roma, Jerusalém, Antioquia, Cesaréia e Alexandria. Como se vê, as
possíveis cidades eram grandes centros. Jerusalém e Cesaréia eram cidades da
Judéia. Nas outras se localizavam grandes colônias judaicas. Naturalmente, em
todas elas havia igrejas locais que contavam com a presença de muitos judeus
cristãos.

AUTORIA

A epístola não apresenta o nome do seu autor. Muitos atribuem a Paulo sua escrita.
Em alguns manuscritos antigos encontra-se o título: "Epístola de Paulo aos
Hebreus". Evidentemente, o título traz a conclusão de algum copista ou autoridade
religiosa, visto que não faz parte do texto. Alguns "pais da igreja" atribuíam a autoria
a Paulo sem dificuldades. Os defensores dessa hipótese, utilizam as palavras de
Pedro em sua segunda epístola (3.15). A passagem nos informa que Paulo escreveu
aos judeus. Contudo, isso não encerra a questão, pois tal escrito pode ter sido a
chamada carta aos hebreus, mas pode também ter sido outra. A referência que o
autor faz a Timóteo (Hb.13.23) também é usada como argumento. Além disso, a
epístola está dividida em dois blocos: doutrinário (capítulos 1 a 11), e prático
(capítulos 12 e 13). Isso nos lembra o método paulino. No texto prático do capítulo
13, temos uma lista de admoestações curtas, à maneira de Paulo. A doxologia
(13.20-21) e a bênção final (13.25) também reforçam a tese.
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Os comentaristas que se opõem à autoria paulina, argumentam sobre a diferença de


estilo da carta aos Hebreus quando comparada às epístolas paulinas. Alguns
creditam a autoria a Barnabé, Lucas, Apolo, ou Priscila.

DATA

A referência a Timóteo e ao fato de sua prisão faz a datação do livro se projetar para
o final dos anos 60 do primeiro século. Já que as epístolas paulinas não dizem que
Timóteo tenha sido preso, então é possível que a carta aos Hebreus tenha sido
produzida depois daquelas identificadas paulinas. O livro fala de um sacerdócio em
funcionamento no templo de Jerusalém (10.1,11; 9.6-8). Isso nos faz concluir que o
livro não pode ter sido escrito depois do ano 70, data da destruição do templo.
Portanto, a datação, embora indefinida, fica entre 60 e 70 d.C.

CARACTERÍSTICAS

O livro tem teor cristológico, ou seja, apresenta um verdadeiro tratado sobre a


pessoa de Cristo, principalmente no que tange à sua obra vicária.

O livro é apologético. Seu discurso é um forte pronunciamento em defesa da fé


cristã contra recuos ou desvios.

A carta aos Hebreus liga o Antigo e o Novo Testamento de modo brilhante. Temos
na obra os seguintes confrontos:

- Valores da lei X valores da graça

- Símbolos X realidade

- Antiga aliança X nova aliança

- Passado X futuro (Hb.2.5)


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TEMA

A superioridade de Cristo sobre os profetas, os anjos, a lei, sobre Moisés, Josué,


Aarão e sobre os sacerdotes (Hb.1.4; 6.9; 7.7,19,22; 8.6; 9.23; 10.34; 11.16,35,40;
12.24).

O PROBLEMA - ENTRE O PASSADO E O FUTURO.

Lendo a epístola, podemos delinear o problema que deu ensejo à sua produção. Os
hebreus, a quem a carta foi destinada, eram judeus que, tendo se convertido ao
cristianismo, se sentiam tentados a recuar, retornando ao judaísmo. Estavam em
uma situação de paralisação espiritual. Viviam em um dilema e, com isso, não
cresciam espiritualmente (Hb.5.11-14). O autor escreveu para mostrar a esses
irmãos que eles estavam livres da Antiga Aliança. Tal propósito era de grande
envergadura. Se já era difícil provar aos gentios convertidos que eles não
precisavam observar a lei, quão árdua seria a tarefa de demonstrar o mesmo
princípio para judeus cristãos! As realidades da graça já eram presentes. Contudo,
ainda se encontravam no futuro para aqueles que hesitavam em relação à
apropriação das mesmas.

O PASSADO O PRESENTE / FUTURO

Lei Evangelho

Valores da lei Valores da graça

Templo (material) Igreja (espiritual)

Personagens: Moisés, Aarão, profetas, Jesus e o Espírito Santo


anjos

Símbolos Realidades

Sombras Realidades

O visível O invisível

Aparência Essência

Material Espiritual
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Transitório Permanente

Temporário Eterno

Realidade física Realidade espiritual

Cópia Modelo original

Figura Verdadeiro

Antiquado, envelhecido Novo

Terreno Celestial

Diversos elementos da Antiga Aliança podem ser comparados à maquete de uma


obra futura. Diante daquele modelo, todos ficam entusiasmados e esperançosos. A
obra de Cristo está consumada. Não precisamos mais ficar apegados aos símbolos
do passado que apontavam para Cristo. Seria como ficar extasiado diante de uma
placa indicativa ao invés de se dirigir ao lugar que ela aponta. Paulo diz que a lei era
o aio que nos conduziu a Cristo. O aio era o servo que levava a criança para a
escola. Lá chegando, o interesse se voltava para o mestre. Se encontrarmos o
Mestre Jesus, já não faz sentido o apego ao aio da lei.

A situação dos hebreus foi ilustrada através de uma etapa de sua própria história. O
autor demonstra que, assim como seus antepassados estavam no deserto,
hesitando diante de Canaã (Hb.4.1), os hebreus estavam hesitantes diante da graça
de Deus e seus benefícios. O livro admoesta radicalmente a respeito dos riscos
representados pelo retrocesso, pela apostasia (Hb.4.1; 6.1-6; 10.38-39). O desvio
encontra-se relacionado à incredulidade, desobediência e rebelião (Hb.2.1-3;
3.12,16-19; 4.11). Em lugar do desvio, os hebreus são aconselhados a avançar com
ousadia (Hb.10,19).
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O aspecto cerimonial da Antiga Aliança era algo grandioso. Eles ainda estavam
apegados ao culto judaico, mas precisavam se acostumar a viver sem ele, pois sua
destruição estava bem próxima (Hb.8.13).

O VISÍVEL E O INVISÍVEL (Aparência x essência)

Os hebreus estavam muito apegados aos aspectos visíveis do judaísmo. Aliás, o ser
humano, em geral, tem essa tendência. Por isso é que muitos objetos acabam
sendo incorporados à prática religiosa que, em princípio, é essencialmente espiritual.
Na igreja, podemos usar recursos visíveis, uma vez que a Bíblia nos dá exemplos
disso. Os lenços de Paulo curavam (At.) Contudo, precisamos ter cuidado para não
elaborarmos doutrinas e condicionamentos para a nossa fé.

O autor aos hebreus se esforçava por conduzi-los a um novo nível, em que não
dependeriam de objetos sagrados, lugares físicos ou sacerdotes terrenos.

O autor coloca em destaque: a fé. O capítulo 11, tão utilizado quando se estuda
sobre a fé, ali está com esse objetivo: mostrar aos hebreus que até mesmo seus
antepassados, os pais, juízes e profetas, viveram e serviram a Deus e venceram
pela fé e não por vista. Portanto, convinha que os hebreus seguissem tal exemplo e
se desvencilhassem de toda dependência visual contida no cerimonial judaico.

Hb.11.1 - A fé é a certeza das coisas que não se vêem. Os leitores precisavam


entrar nessa nova realidade. Não podiam mais depender da aparência. O autor
enfatiza que tudo o que vemos foi feito do que não é aparente. Logo, o invisível é
anterior e superior ao visível.

O mundo espiritual é invisível para nós hoje, mas um dia poderemos vê-lo. Hoje,
podemos falar apenas de uma "visão espiritual", como acontecia com os patriarcas
(Hb.11.13,26,27). Pela fé, "vemos" o cumprimento das promessas. Um dia, porém,
Cristo aparecerá (Hb.9.28). Então, o invisível se tornará visível.
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TERRA E CÉU

Utilizando os termos "terra" e "céu", o autor tenta fazer com que seus destinatários
"mudem o foco" de sua espiritualidade.

Jesus já havia apresentado essa ênfase em sua mensagem ao ensinar sobre o


Reino dos céus, tesouro nos céus, Pai nosso que estais no céu, assim na terra como
no céu. Qual é a ênfase do nosso Evangelho: a terra ou o céu? Valores terrenos ou
valores celestiais?

Hb. 1.10 - Terra e céu.

Hb. 4.14 - Penetrou nos céus

Hb. 7.26 - Mais sublime que os céus.

Hb. 8.1 - Assentou nos céus.

Hb. 9.23 - Figura das coisas que estão no céu.

Hb. 9.24 - santuário no céu.

Hb. 12.23 - Primogênitos inscritos nos céus.

Hb. 12.25 - Aquele que é dos céus.

Hb. 12.26 - Terra e céus.

A realidade celestial

3.1 - Vocação celestial (passado). Deus nos chama.

6.4 - dom celestial (presente). Deus nos capacita.

8.5 - coisas celestiais (embora já existam, são futuras para nós).

9.23 - coisas celestiais (futuras para nós).

11.16 - pátria celestial (futura para nós).

12.22 - Jerusalém celestial. (futura para nós).


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Para o escritor aos hebreus, o céu não é um lugar vazio, envolto em névoa branca.
Ele fala de uma cidade celestial, de um santuário celestial e coisas celestiais, as
quais se constituem em mistério para nós. Em destaque está o santuário celestial, o
qual foi visto por Moisés no monte e serviu de modelo para a construção do
santuário terreno. Portanto, os hebreus não deveriam ficar apegados ao terreno,
mas sim ao santuário celestial, onde Cristo entrou depois de oferecer sua própria
vida como sacrifício.

A SOLUÇÃO

O problema dos hebreus consistia no apego a algo bom. Como disse o apóstolo
Paulo em Romanos 7, "a lei é santa e o mandamento é santo, justo e bom". O apego
ao que é bom pode nos privar daquilo que é melhor. A epístola vem mostrar "o
melhor" para os hebreus. Esta é a palavra chave da carta. As expressões "superior",
ou "tão superior", ou "maior" ou "mais excelente", variando conforme a tradução,
também são freqüentes e demonstram o pensamento do autor no seu esforço por
apresentar a superioridade de Cristo e do Evangelho no confronto com a lei e a
Antiga aliança.

Melhor: Hb.1.1-4; 6.9; 7.4,19-22; 8.6; 9.23; 10.34; 11.16; 11.35; 11.40; 12.24;

Tão superior: Hb.1.4

Maior: Hb.3.3; 7.7; 9.11; 10.29; 11.26;

Mais excelente: Hb.1.4; 8.6; 11.4.

“A expressão “tão superior” e mais excelente” contêm uma ênfase muito forte.
Bastaria dizer que Cristo é superior ou excelente. Contudo, o autor utiliza uma
terminologia que demonstra a insuperabilidade do Senhor Jesus.

Mostrar algo melhor para um povo que já tem um pacto com Deus é um desafio
muito grande. Contudo, o autor se saiu muito bem na produção de sua apologia. Seu
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argumento central é a apresentação da pessoa de Jesus. É verdade que ele estava


escrevendo para cristãos, pessoas que já conheciam a Cristo. Porém, ainda não
haviam compreendido plenamente sua personalidade e sua obra.

Os hebreus estavam ainda apegados aos personagens do Antigo Testamento:


Abraão, Moisés, Aarão, Josué, Davi, profetas, anjos, etc. Então, a epístola apresenta
afirmações contundentes sobre Cristo. Ele é apresentado como:

Filho de Deus - Hb.1.1; 4.14.


Sumo sacerdote - Hb.6.20
Autor da salvação - Hb.2.10.
Autor e consumador da fé. - Hb.12.2. etc.

Tais afirmações destroem qualquer tentativa de comparação ou desejo de exaltação


de homens ou anjos. Todos se reduzem drasticamente diante da grandeza do
Senhor Jesus Cristo. Sendo assim, a graça por ele oferecida, a nova aliança, o
Evangelho e a igreja, estão suficientemente afiançadas para que sejam aceitos sem
hesitação. Jesus é o fiador e o mediador da nova aliança (Hb.7.22; 9.15).

Na apresentação da superioridade de Cristo, apresenta-se um paradoxo. Os


grandes, na concepção humana, são exaltados, servidos, obedecidos e fazem
sofrer. Jesus, o maior, foi humilhado, servo, obediente e sofredor. Contudo, todo o
seu sofrimento era necessário para ser nosso legítimo representante no exercício do
seu sacerdócio (Hb.2.14-18).

Ao se falar no sacerdócio de Cristo, os hebreus poderiam levantar o seguinte


questionamento: Como Cristo poderia ser sumo sacerdote tendo nascido da tribo de
Judá? Os sacerdotes vinham da tribo de Levi. Por isso, o autor diz que Cristo era
sumo sacerdote da ordem de Melquisedeque, a qual é anterior e superior à ordem
de Aarão, que descendia de Levi.
81

Para que o impasse dos hebreus se resolvesse, eles deveriam entrar na nova
realidade apresentada por Cristo: a Nova Aliança com Deus. A nova realidade é
acessada por meio da fé. De fato, sendo judeus convertidos, eles criam em Cristo,
mas ainda não usufruíam de todos os recursos da graça.

FUNDAMENTOS DA NOVA PROPOSTA

Qual é o fundamento da nossa fé? A fé é o fundamento das coisas que se esperam


(Hb.11.1) e o fundamento da fé é a Palavra de Deus. "A fé vem pelo ouvir... a
palavra de Deus". (Rm.10.17). O autor da epístola aos Hebreus faz então um exame
de toda a estrutura cristã, a qual poderia comparar a uma construção, onde cada
parte está firmada sobre a anterior, que, por sua vez, precisa ser sólida e bem
fundamentada.

O fundamento da nossa fé é aquilo em que nós cremos. Pela fé aguardamos que um


fato aconteça. Então vem a questão crucial: o fato que se espera foi prometido por
Deus? Se a resposta for positiva, então nossa fé está fundamentada na promessa,
na Palavra de Deus. Se a resposta for negativa, então estamos esperando algo que
não virá.

Havendo fé na palavra dita por Deus, ainda cabe, em muitos casos, a ação humana
coerente com a palavra. É a obediência. Algumas profecias divinas são absolutas e
incondicionais. Vão acontecer de qualquer forma. Outras vêm acompanhadas de
uma ordem ou mandamento e estão condicionadas à obediência. Por exemplo, a
promessa de Deus a Abraão estava ligada a uma ordem: "Sai da tua terra e da tua
parentela." Sobre esta palavra, Abraão depositou sua fé e acrescentou a obediência.
Abraão saiu sem saber para onde ia. Desse modo, "o que se espera" (Hb.11.1) vem.
"O que há de vir virá e não tardará." (Hb.10.37). Se, por outro lado, formos
incrédulos e desobedecermos à palavra, estará também juntando elementos que
trarão o castigo, que também é um cumprimento da Palavra de Deus. Contudo,
sempre há um tempo para o arrependimento e a retomada do rumo certo.
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Para ilustrar o conceito dos fundamentos, construímos o quadro a seguir:

O que você espera... virá?

O que você não vê... existe?

Sua fé tem base na palavra de Deus ou base na imaginação humana?

Tem base na vontade de Deus ou na vontade humana?

Seu fundamento é rocha ou areia? Jesus comparou sua palavra à rocha (Mt.7.24). A
obediência, que pressupõe fé, seria a construção sobre a palavra. A desobediência
também seria um tipo de construção, destinada a ruir sobre o seu construtor.

A palavra é verdadeira, mas sem fé ou sem obediência não produz o efeito desejado
(Hb.3,18,19; 4.1,2,11). Aqui temos um lado positivo e um lado negativo. No esquema
abaixo, temos o vazio de uma falsa fé ou uma falsa palavra.
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A fé precisa estar fundamentada na palavra. Observe que, em Hebreus, a "palavra",


ou "promessa", ocupam lugar de destaque. A "fé" e a "esperança" do mesmo modo.
A "incredulidade" é condenada. Nesse caso, a fé na promessa é substituída pela fé
no castigo, a qual é chamada de "expectação terrível" (Hb.10.27).

Vejamos as ocorrências dessas palavras e outras derivadas no texto:

Palavra(s) - Hb.1.3; 2.2; 4.2,12; 5.13; 6.5; 7.28; 10.28; 11.3; 12.19,27; 13.7,22.
Temos nessas passagens, quase sempre, a Palavra de Deus. Aparecem também as
palavras dos anjos, das testemunhas e do próprio autor da carta.

Promessa(s) - Hb.4.1; 6.12,13,15,17; 7.6; 8.6; 9.15; 10.23,36; 11.9,13,17,33,39.

Prometido - Hb.11.11; 12.26.

Fé - Hb.4.2-3; 6.1,12; 10.22,38; 11.1,3,4-9,11,13,17,20-25,27,29-31,33,39; 12.2;


13.7.

Creia - Hb.11.6; Esperança - Hb.3.6; 6.11,18; 7.19; 10.23; Esperando - Hb.6.15;


Esperam - Hb.9.28; 11.1; Esperando - Hb.10.13; Esperava - Hb.11.10; Expectação -
Hb.10.27; Incredulidade - Hb.3.12,19; Obediência - Hb.5.8 e Desobediência e
desobedientes - Hb.2.2; 3.18; 4.6,11; 11.31.

Para os irmãos do primeiro século, a palavra escrita de Deus era apenas o Antigo
Testamento. A carta aos hebreus está bem fundamentada nessa porção das
Escrituras. Afinal, não pretende negar o Antigo Testamento, e sim mostrar o seu
cumprimento em Cristo e no Evangelho.
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CITAÇÕES DO A.T. NA EPÍSTOLA AOS HEBREUS

Hebreus Antigo Testamento

1.5 a Salmo 2.7

1.5 b I Samuel 7.14; I Crônicas 17.13

1.7 Salmo 104.4

1.8-9 Salmo 45.6-7

1.10-13 Salmo 102.25-27

2.6-8 Salmo 8.4-6

2.12 Salmo 22.22


2.13 Isaías 8.17-18

3.7-11 Salmo 95.7-11

3.15 Salmo 95.7-8

4.3 Salmo 95.11

4.4 Gênesis 2.2

4.5 Salmo 95.11

4.7 Salmo 95.7-8

5.5 Salmo 2.7

5.6 Salmo 110.4

6.14 Gênesis 22.16-17

7.17 Salmo 110.4

7.21 Salmo 110.4

8.8-12 Jeremias 31.31-34

10.5-9 Salmo 40.6-8

10.16-17 Jeremias 31.33-34

10.30 Deuteronômio 32.35

10.37-38 Habacuque 2.3-4

11.4-37 Diversos episódios do VT

12.5-6 Provérbios 3.11-12

12.20 Êxodo 19.12-13

12.26 Ageu 2.6

13.5 Deut.31.6-8; Josué 1.5

13.6 Salmo 118.6


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É digna de destaque a leitura messiânica que o autor faz dos textos citados. Temos,
portanto, sólida base, para ver Cristo no Antigo Testamento. É bastante forte a
expressão do autor ao escrever: "Assim, pois, como diz o Espírito Santo." (3.7-11).
As palavras seguintes são do Salmo 95, escrito por Davi. Notamos então que o autor
reconhecia e declarava claramente que o salmo foi inspirado pelo Espírito Santo, ou
podemos até dizer, "ditado" por ele. Tal reconhecimento é óbvio, mas é bom
sabermos que o texto está mostrando isso, de modo que temos uma prova
inequívoca de tal afirmação.

EXORTAÇÕES

O autor da epístola mostra o problema dos Hebreus e a solução necessária. Se


conhecermos a doença e o remédio, o que nos resta? O tratamento. Da mesma
forma, o escritor apresenta diversas exortações aos seus leitores. Não basta saber.
É preciso fazer algumas coisas, enquanto outras são evitadas. As exortações são
expressões imperativas que pretendem induzir à ação, ao movimento, à iniciativa.
Existem atitudes a serem tomadas e ações a serem executadas em relação ao
passado e ao futuro. O passado precisa ser abandonado. O futuro precisa ser
focalizado, crido e realizado.

Se alguém se encontra à beira de um abismo, diversas orientações podem ser


dadas. Poderíamos dizer: "Não se mova! Acalme-se! Vire-se lentamente! Dê um
passo! Agora ande mais rápido! Corra!" A primeira preocupação é evitar o pior, evitar
a queda. Depois procuramos mudar a situação, eliminar o risco, colocando a pessoa
a salvo.
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A epístola contém exortações que podem ser agrupadas da seguinte forma:

Para evitar o pior Para deixar o Para conquistar o presente


passado /futuro

Não abandone - Deixemos - Hb.12.1 Esforcemo-nos por entrar -


Hb.10.25 Hb.4.11

Não se endureça - Saiamos - Hb.13.13 Cheguemo-nos - Hb.4.16


Hb.3.8

Temamos - Hb.4.1 Tendo intrepidez para entrar -


Hb.10.19

Aproximemo-nos - Hb.10.22

Guardemos - Hb.10.23

Consideremo-nos - Hb.10.24

Corramos - Hb.12.1

Prossigamos - Hb.6.1

Sirvamos - Hb.12.28

Ofereçamos - Hb.13.15

Conservemos - Hb.4.14

Retenhamos - Hb.12.28

Apeguemos - Hb.2.1

Os hebreus precisavam sair de uma situação indesejável e entrar na nova realidade


proposta. Estavam um tanto quanto deslocados em relação ao propósito de Deus.
Por isso são convidados a entrar. Estavam distantes. São convidados a se
aproximar do trono da graça. Estavam lentos (5.11-12) em sua jornada espiritual. O
autor os convida a "correr" (12.1).

O verbo "cheguemo-nos" encontra-se na voz reflexiva. Indica um tipo de ação em


que nós somos, ao mesmo tempo, sujeito e objeto. É uma ação que o indivíduo
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executa sobre si mesmo. O que Ele decidiu fazer por nós nesse sentido, ele já fez.
Jesus já veio e já subiu "abrindo um novo e vivo caminho" (Hb.10.20). O caminho
está aberto. Entrar, caminhar, correr, aproximar, são ações que dependem de cada
um.

A observação dos verbos mencionados, seu tempo, modo e pessoa, muito nos
ensinam. A maioria dos verbos se encontra conjugada na primeira pessoa do plural.
Isso mostra que o autor se inclui em quase tudo o que diz, em quase todas as
propostas que faz. É uma atitude desejável para os que pregam, ensinam ou
lideram.

Os verbos "retenhamos", "apeguemos", "guardemos" e "conservemos" nos mostram


claramente que algo podia ser perdido pelos hebreus. O risco da apostasia está
evidente em todas essas expressões.
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CONCLUSÃO

Somos gratos a Deus que em seu rico propósito nos permite crescer em
conhecimento da Sua vontade. Em todo momento percebemos a ação do Espírito
Santo a instruir por meio do seu servo Paulo a igreja que inicialmente necessitava
repensar sua conduta à luz de Cristo.

Percebe-se que Paulo sempre teve compreensão do seu chamado e se predispôs


viver segundo a vontade Daquele que o vocacionou. Sentiu o prazer da
responsabilidade de divulgar o Evangelho como experimentar o padecer por ele.

Temos em Paulo um bom exemplo de serviço à igreja. Um homem temente,


experimentado, reflexivo, culto e obediente. Exaltou o Nome de Jesus com os seus
ensinamentos e com a sua vida. Sendo grande se humilhou e na sua pequenez nos
deixa grandes ensinamentos.

Que cada livro analisado sirva-nos de estímulo por haver neles ensinamentos do
Senhor para a divulgação do Evangelho, na compreensão do ser humano caído, da
salvação em Cristo Jesus, da atuação do Espírito Santo na vida do crente, de ânimo
e esperança na perseguição, na certeza da fé que Jesus voltará para buscar sua
igreja e que tudo já fora realizado por Cristo necessário à comunhão com o Pai
através do seu sacrifício e mediatizado pelo Espírito Santo.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BECKER, J. Apóstolo Paulo: vida, obra e teologia. São Paulo: Ed. Academia Cristã
Ltda, 2007.

Bíblia de Referência Thompson - Tradução de João Ferreira de Almeida - Versão


Contemporânea - Ed. Vida.

BITTENCOURT, B.P. A Personalidade Vida de Paulo. São Paulo: Publicação da


Associação Acadêmica João Wesleu, n°3, 1964.

COTHENET, Edouard. Paulo: apóstolo e escritor. São Paulo: Paulinas, 1999.

CULLMANN, Oscar. A Formação do Novo Testamento - Editora Sinodal.

DOUGLAS, J.D., O Novo Dicionário da Bíblia – Ed. Vida Nova.

ELWELL, Walter A.. Manual Bíblico do Estudante - CPAD.

GIBERT, Pierre. Como a Bíblia Foi Escrita. Editora Paulinas.

GONZÁLEZ, Justo L..Uma História Ilustrada do Cristianismo. Editora Vida Nova.

HOUSE, H. Wayne. O Novo Testamento em Quadros. Editora Vida

JOSEFO, Flávio. A História dos Judeus - CPAD

PACKER, J.I., TENNEY, Merril C., WHITE JR., William. O Mundo do Novo
Testamento. Editora Vida.

SÁNCHEZ, Tomás Parra. Os Tempos de Jesus. Editora Paulinas.

TURNER, Donald D., Introdução do Novo Testamento.Imprensa Batista Regular.

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