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Índice

Introduçã o
1. Como sabemos sobre Sã o Paulo
2. Vida de Sã o Paulo
3. Pensamento de Sã o Paulo
4. Cartas de Sã o Paulo
5. Sã o Paulo e Nó s
6. Referência Rá pida para Doutrinas e Prá ticas Cató licas na Vida e Obra
de Sã o Paulo
7. O Citável Sã o Paulo
8. Oraçõ es a Sã o Paulo
9. Para Leitura Adicional
Scott Hahn
Introduçã o 7
1. Como sabemos sobre Sã o Paulo 11
2. Vida de Sã o Paulo 13
3. Pensamento de Sã o Paulo 30
4. Cartas de Sã o Paulo 55
5. Sã o Paulo e nó s 73
6. Referência Rá pida para Doutrinas e Prá ticas Cató licas na Vida e Obra
de Sã o Paulo 78
7. O Citável Sã o Paulo 81
8. Oraçõ es a Sã o Paulo 89
9. Para Leitura Adicional 93

Tentar escrever A Pocket Guide to St. Paul é mais do que um pouco


como escrever A Pocket Guide to Nuclear Physics ou A Pocket Guide to
Neurosurgery. Sã o Paulo é o escritor mais influente da histó ria da
literatura. Sua obra compreende uma parte significativa do livro mais
influente de toda a histó ria humana. Sua erudiçã o era vasta, seu
pensamento complexo e suas realizaçõ es prodigiosas. Pela magnitude
de seu efeito no curso dos eventos humanos, ele nã o tem rival, exceto
seu mestre, Jesus Cristo, cujo Evangelho Sã o Paulo serviu e proclamou.
No entanto, aqui estamos nó s, tentando colocar Sã o Paulo em nossos
bolsos!
Os primeiros historiadores cristã os nos dizem que o apó stolo Paulo
era realmente de pequena estatura, talvez com pouco mais de um
metro e meio de altura. No entanto, ele está diante de nó s como um
gigante. As realizaçõ es de Alexandre, o Grande, César Augusto, William
Shakespeare, Albert Einstein - por mais grandiosas que sejam -
parecem pequenas quando comparadas à s realizaçõ es de Sã o Paulo. CS
Lewis imaginou que um encontro com Sã o Paulo, mesmo no céu, seria
"uma experiência avassaladora". Ele lembrou que "quando Dante viu os
grandes apó stolos no céu, eles o afetaram como montanhas".

Paulo tinha dons singulares. Alguns estudiosos argumentam que, se


ele tivesse entrado na filosofia, teria superado Platã o e Aristó teles. Mas
ele nã o era apenas um pensador. Ele também era pastor e missioná rio.
Ele viajou por toda parte para ganhar almas. Ele negociou a paz da
Igreja. Ele corrigiu e encorajou as pessoas. Ele pregou e escreveu com
paixã o e inteligência. Ele sofreu muito e, finalmente, morreu pela causa.
Ele pretendia estender o alcance do cristianismo por todas as terras
ocidentais do Império Romano. E ele conseguiu em um grau
surpreendente. No final de sua vida - e em grande parte graças aos seus
esforços - o cristianismo desfrutou de uma presença mundial. Dentro
de um século - em grande parte devido ao ímpeto da pregaçã o de Paulo
- a Igreja cresceu tanto que foi percebida como uma ameaça à ordem
social romana. Menos de três séculos apó s o martírio de Paulo, Roma
era uma cidade cristã à frente de um império cristã o.

Essa foi sua primeira revoluçã o, mas nã o a ú ltima. Ele emergiu


repetidamente ao longo dos milênios como uma nova voz, convencendo
pregadores, governantes e cristã os comuns a imaginar uma nova
maneira de viver. No século V, Santo Agostinho repensou o mundo de
acordo com as linhas que ele discerniu em Sã o Paulo. No século 16, as
cartas de Paulo estiveram no centro das controvérsias da Reforma
Protestante e da Contra-Reforma Cató lica - controvérsias que
remodelaram o mundo.
É difícil exagerar a importâ ncia de Sã o Paulo, embora algumas
pessoas o façam. Ele nã o foi o "fundador do cristianismo" ou seu
"inventor", como afirmam alguns estudiosos. O pró prio Cristo fundou a
Igreja e fundou-a sobre outro Apó stolo: Sã o Pedro. Mas Cristo chamou
Saulo de Tarso e o comissionou para receber o Evangelho e levá -lo ao
mundo. Paulo reconheceu com gratidã o sua dívida nã o apenas para
com Jesus, mas também para com os apó stolos Pedro, Tiago e Joã o (ver
Gl 1:18; 2:9). Assim, embora Paulo nã o tenha fundado a Igreja de Jesus
Cristo, ele fundou muitas igrejas em nome de Jesus.
Mas, exclusivamente inspirado por Deus, ele desenvolveu uma
teologia da Igreja que era autoritá ria. A autocompreensã o da Igreja
depende das palavras de Sã o Paulo. A autocompreensã o de todo cristã o
também deveria ser. Nã o podemos entender o Cristianismo a menos
que entendamos sua mensagem. Nã o podemos nos entender como
cristã os, a menos que nos vejamos à luz de suas cartas.

O Novo Testamento é nossa fonte de informaçã o mais rica, antiga e


confiável sobre Sã o Paulo. Dos seus 27 livros, 13 sã o cartas atribuídas a
Sã o Paulo. (Muitos Padres da Igreja, e um nú mero pequeno mas
crescente de estudiosos modernos, atribuem a ele também uma 14ª
carta, a Carta aos Hebreus.)
Além dessas fontes mais diretas, encontramos um relato detalhado
das viagens de Sã o Paulo nos Atos dos Apó stolos, que foi escrito por Sã o
Lucas, um dos companheiros de viagem do Apó stolo (ver 2 Tim 4:11;
Filem 24) . A Segunda Carta de Pedro também nos dá breves mas
valiosas observaçõ es sobre Paulo. Em apenas dois versículos, Pedro
consegue confirmar a autoridade e o ofício de seu companheiro
apó stolo. Ele descreve Paulo como um "irmã o amado", rico em
sabedoria, e discute os escritos de Paulo explicitamente como
"Escrituras" - embora reconheça que "há algumas coisas nelas difíceis
de entender" (2 Pedro 3:15-16). Um testemunho final do Novo
Testamento é o Evangelho de Sã o Lucas, que certamente foi
influenciado por Paulo. Assim, mais da metade do Novo Testamento dá
algum testemunho da vida e da doutrina de Paulo.

A influência de Paulo foi imediata, profunda e generalizada. Todos os


escritores da geraçã o apó s a sua - os Padres Apostó licos - mostram
familiaridade com sua obra. Muitos o citam diretamente.
Nos 2.000 anos desde o martírio de Sã o Paulo, os cristã os
produziram muitos comentá rios sobre ele. Em minha pró pria
biblioteca, tenho mais de mil desses livros - e eles sã o apenas uma
pequena fraçã o das obras impressas! E as obras impressas sã o uma
fraçã o ainda menor das obras que desapareceram da memó ria. No
entanto, a vida e a obra de Paulo ainda fascinam os cristã os - e a
reflexã o teoló gica produz novos insights até hoje. Seu ensinamento é
um tesouro inesgotável.
Vida pregressa
Sã o Paulo nasceu, provavelmente na primeira década do século I dC, na
cidade de Tarso, na província romana da Síria-Cilícia (na atual costa
sudeste da Turquia). Tarso era uma metró pole, um centro de comércio
e educaçã o. Paulo nasceu em uma família judia devota, mas nasceu
cidadã o romano (Atos 22:28), um privilégio raro, difícil de ser
alcançado nas províncias. Saul era o nome que ele usava entre seus
companheiros judeus; Paulo era seu nome romano. Quando criança, ele
aparentemente recebeu uma excelente educaçã o na cultura grega,
evidente em sua pregaçã o e escrita (Atos 17:28, por exemplo).
Ele deve ter sido uma criança muito talentosa, pois na adolescência
foi enviado à distante Jerusalém para estudar aos pés do maior mestre
vivo. Gamaliel I, conhecido como "o Grande", foi o primeiro professor
judeu a ser tratado nã o como rabino ("meu mestre"), mas rabban
("nosso mestre"). Tã o grande era sua fama que a Mishná , uma antiga
coleçã o de comentá rios judaicos, declarou: "Quando Rabban Gamaliel, o
Velho, morreu, a gló ria da Torá cessou e a pureza e a piedade
pereceram."

Como aluno de Gamaliel, Saul memorizou as Escrituras - livros


inteiros de uma vez. Estudou profundamente a Lei e os profetas para
discernir o desígnio de Deus para o Povo Eleito. Relembrando seus dias
de escola, ele lembrou que foi "educado conforme a estrita lei de nossos
pais" e "zeloso de Deus" (Atos 22:3). Ele se identificou como fariseu
(Atos 23:6). Os fariseus eram um movimento leigo no judaísmo,
dedicado ao estudo cuidadoso e à observâ ncia da Lei de Israel. Eles
aparecem frequentemente nos Evangelhos como antagonistas de Jesus.
Eles lançaram as bases para o futuro judaísmo rabínico - isto é, o
judaísmo como o conhecemos hoje.
Saulo, o Perseguidor
Saulo e os fariseus eram de fato zelosos pela Lei. Eles desejavam impor
sua estrita observâ ncia para que pudessem apressar o dia em que Deus
restauraria a Israel o reino de Davi. Como muitos judeus de seu tempo,
Paulo esperava o Messias - em grego, a palavra é Christos; em inglês,
"ungido" ou "Cristo" - que libertaria os judeus da opressã o estrangeira.
No entanto, Saul perseguiu aqueles judeus que proclamaram Jesus
como o Cristo (ver Fp 3:5-6). Ele pensou que eles estavam
abandonando o Deus de seus antepassados para adorar um homem -
um homem que se proclamou igual a Deus em 5:18) e que morreu sob
uma maldiçã o, de acordo com a Lei de Moisés (Dt 21:23). Aquele
homem, além disso, havia procurado minar a obediência aos costumes
judaicos, como a observâ ncia do sá bado (Mt 12:12), adoraçã o no
Templo em Jerusalém (Jo 4:21) e limitaçõ es estritas à comunhã o à mesa
(Lc 5:30). .
Como um "jovem" (Atos 7:58) - provavelmente em seus 20 ou 30
anos - Saulo consentiu na execuçã o sangrenta do primeiro má rtir, o
diá cono Santo Estêvã o (Atos 8:1). Depois disso, ele começou a devastar
a Igreja e "entrando de casa em casa, arrastava homens e mulheres e os
punha na prisã o" (Atos 8:3), "respirando ameaças e assassinatos contra
os discípulos do Senhor" (Atos 9 :1). Saul foi apanhado na onda de
violência motivada pela religiã o que, em poucas décadas, se tornaria
uma guerra de rebeliã o em grande escala contra Roma. Ele um dia
confessaria: “Persegui violentamente a igreja de Deus e tentei destruí-
la; :13-14).

Em seu zelo violento, Saulo serve como uma ilustraçã o vívida da


profecia de Jesus a seus discípulos: “Expulsar-vos-ã o das sinagogas;
farã o isso porque nã o conheceram o Pai, nem a mim" On 16:2-3).
Chamada e conversã o
Saul estava prestes a levar seu show para a estrada. Do sumo sacerdote
em Jerusalém, ele obteve documentos que o autorizavam a ir à s
sinagogas de Damasco e reunir os seguidores de Jesus para que "ele os
trouxesse presos" (Atos 9:2) de volta à cidade santa para serem
processados.

Mas enquanto ele se aproximava de Damasco, algo estranho


aconteceu. A histó ria é tã o importante para nossa compreensã o da
histó ria cristã primitiva que aparece três vezes nos Atos dos Apó stolos
(nos capítulos 9, 22 e 26). Primeiro, "uma luz do céu brilhou" diante de
Saul, e "ele caiu por terra e ouviu uma voz que lhe dizia: 'Saulo, Saulo,
por que você me persegue?'
Saul perguntou: "Quem és tu, Senhor?"
E a voz respondeu: "Eu sou Jesus, a quem tu persegues" (Atos 9:3-5).
A voz ordenou a Saulo que fosse para Damasco, onde receberia mais
instruçõ es. Enquanto isso, na cidade, o Senhor ordenou a um crente
chamado Ananias que encontrasse Saulo e o curasse. Ananias, porém,
conhecia Saulo de reputaçã o e o temia. Mas o Senhor o tranquilizou:
“Vá , porque [Saulo] é um instrumento escolhido por mim para levar
meu nome perante os gentios, reis e filhos de Israel” (Atos 9:15).

Saulo foi, em pouco tempo, curado, batizado e recebido na


comunidade de crentes.
Desde entã o, o "Caminho para Damasco" serviu de atalho para o
fenô meno da conversã o. Mas devemos ter cuidado quando falamos da
experiência de Saul como uma "conversã o", porque ele nã o mudou de
uma religiã o para outra. Nã o foi assim que ele percebeu o evento, e nã o
foi assim que ele falou sobre isso.
Saulo era um judeu zeloso viajando para Damasco para acabar com o
movimento cristã o primitivo entre os judeus. Na época, nã o existia algo
como "Cristianismo" ou uma "Igreja" que existisse além da sinagoga. Os
seguidores de Jesus adoravam com judeus comuns, em seus lugares
comuns de adoraçã o. Na verdade, o pró prio Paulo continuaria, por toda
a sua vida, a se identificar como judeu (Atos 21:39).
Saul viu sua conversã o nã o como uma renú ncia à religiã o de sua
infâ ncia e juventude, mas sim como sua realizaçã o. Falava dela em
termos de vocaçã o, como o chamado recebido pelos profetas do Antigo
Testamento (cf. 1 Sm 3,4). Ele falou disso em termos de apariçã o,
revelaçã o e comissionamento (ver Gl 1:15-16; 1 Cor 15:8-10), mas
nunca como um abandono da religiã o de Israel.

Saulo soube que o dia que tanto ansiava - o dia da salvaçã o, o dia do
Messias - havia chegado. Ele realmente havia passado por uma
conversã o, mas nã o para uma nova religiã o. Foi, ao contrá rio, uma
experiência mais profunda, uma nova visã o da religiã o que ele sempre
conheceu e amou. Antes daquele clarã o ofuscante de luz, ele havia
conhecido Jesus apenas "segundo a carne" (2 Coríntios 5:16). Mas
compreendeu que, no encontro da estrada de Damasco, Deus «aprouve
revelar-me o seu Filho» (Gal 1, 16).
Saulo "foi para a Ará bia" (Gá latas 1:17) por três anos, talvez para orar
e meditar nas Escrituras e na recente reviravolta dos acontecimentos,
talvez para receber mais treinamento dos seguidores de Jesus.

Por fim, porém, ele voltou a Damasco e entrou nas sinagogas que
antes pretendia expurgar, e ali pregou Jesus como "o Filho de Deus",
chocando e enfurecendo seus companheiros judeus. Eles planejaram
matá -lo por sua reversã o traiçoeira, e entã o ele fugiu para Jerusalém,
onde o drama se repetiu: Saulo pregou Jesus como o Messias, e logo ele
foi alvo de uma trama de assassinato.
Aqueles que seguiram "o Caminho" procuraram protegê-lo enviando-
o para sua cidade natal, Tarso (Atos 9:20-30).
Primeira viagem missioná ria
Algum tempo depois, Saulo foi escolhido para se juntar a uma equipe
missioná ria liderada pelo apó stolo Barnabé (Atos 13). Partindo de
Selêucia, o porto marítimo da Antioquia da Síria, eles navegaram cerca
de 80 milhas até a ilha de Chipre. Lá eles pregaram nas sinagogas, onde
o procô nsul romano foi convertido (Atos 13:6-12).
No decorrer da viagem, Saulo foi gradualmente se destacando,
tornando-se o líder da equipe de evangelistas. Agora, no mundo gentio,
ele usava quase que exclusivamente seu nome romano, Paulo.

A jornada os levou para o norte em Perga na Panfília (terras agora na


Turquia). Eles continuaram no interior até a Antioquia da Pisídia, onde
Paulo, convidado pelos líderes da sinagoga, pregou seu primeiro
sermã o registrado (Atos 13:16-51). Os apó stolos tiveram grande
sucesso entre judeus e gentios, mas seus oponentes judeus
conspiraram contra eles e "incitaram a perseguiçã o".
Paulo e Barnabé partiram para Icô nio (Atos 14) e tiveram sucesso
semelhante lá , até que "os judeus incrédulos incitaram os gentios e
envenenaram suas mentes" contra eles. Eles resistiram, até que uma
multidã o se preparou para apedrejá -los. Entã o eles fugiram dali para
Listra, onde novamente pregaram o Evangelho. As pessoas ficaram tã o
impressionadas com Paulo e Barnabé que tentaram adorá -los como
deuses. Mas a multidã o foi facilmente influenciada. Logo, os
perseguidores de Antioquia e Icô nio, ainda em perseguiçã o, incitaram o
povo de Listra a apedrejar Paulo, expulsá -lo e deixá -lo como morto.
Ele nã o morreu, no entanto, e continuou com Barnabé a pregar em
Derbe antes de retornar a todas as paradas anteriores em sua rota,
nomeando anciã os (clero) para cada uma das igrejas antes de voltar
para casa em Antioquia. Em Antioquia, Paulo tirou uma liçã o de suas
dificuldades - "através de muitas tribulaçõ es devemos entrar no reino
de Deus" (Atos 14:22) - e explicou aos crentes "como ele abriu uma
porta de fé aos gentios" ( Atos 14:27). Isso foi para Paulo o
cumprimento do plano de Deus para Israel por meio do reino de Davi.
"E o reino / ... será dado ao povo dos santos do Altíssimo; / seu reino
será um reino eterno, e todos os domínios os servirã o e obedecerã o"
(Dan 7:27).
O Concílio de Jerusalém
Mas nem todos ficaram satisfeitos com o anú ncio de Sã o Paulo. De fato,
um grupo da Judéia foi a Antioquia para informar aos gentios
convertidos que, para se tornarem cristã os, primeiro deveriam
observar o ritual judaico e as leis dietéticas. Seus termos eram rígidos:
"A menos que você seja circuncidado de acordo com o costume de
Moisés, você nã o pode ser salvo" (Atos 15:1). Paulo e Barnabé
discordaram disso e foram com uma delegaçã o a Jerusalém para
encaminhar a questã o aos apó stolos.

A delegaçã o deu conta do sucesso da sua viagem missioná ria, notícia


que foi acolhida calorosamente pelos Apó stolos. Alguns fariseus,
porém, continuaram na oposiçã o. Eles desejavam reservar a salvaçã o
como um movimento separatista e nacionalista. Eles queriam que os
gentios se tornassem judeus e observassem todas as leis e costumes do
judaísmo; assim, essa facçã o ficou conhecida como "judaizantes".
Em Jerusalém, os apó stolos se reuniram para ouvir os dois lados do
debate. Pedro resolveu a questã o anunciando que judeus e gentios
foram salvos pela fé e nã o pela adesã o à lei ritual judaica. James seguiu
apresentando um plano pastoral sensível para integrar comunidades de
gentios e judeus - exigindo comportamento moral correto e a evitaçã o
de prá ticas idó latras pagã s. Os apó stolos enviaram Paulo e Barnabé de
volta a Antioquia para fazer o anú ncio.

Ainda assim, os judaizantes nã o cederam, e até mesmo Pedro parecia


intimidado por eles. Paulo, em sua Carta aos Gá latas, conta como Pedro
mais tarde relutou em compartilhar uma refeiçã o com cristã os gentios
em Antioquia. Paulo lembra que ele "opô s-se [a Pedro] face a face",
dizendo: "Se tu, embora judeu, vives como gentio e nã o como judeu,
como podes obrigar os gentios a viverem como judeus?" (Gl 2:11, 14).
Alguns leitores interpretaram erroneamente isso como a rejeiçã o de
Paulo à autoridade suprema de Pedro entre os apó stolos. Mas é
exatamente o oposto. Paulo nã o se opô s à doutrina de Pedro, mas sim à
sua covardia e insinceridade (Gl 2:13). Ele exortou o primeiro papa a
viver de acordo com seu pró prio ensinamento infalível.
Segunda Viagem Missioná ria
Sã o Paulo fez sua segunda viagem missioná ria acompanhado de Silas
(Atos 15-18). Eles viajaram por terra desta vez (Atos 16), através da
Síria e da Cilícia natal de Paulo, revisitando Derbe e Listra antes de
seguirem para o norte, para a Galá cia, onde Paulo permaneceu por um
longo tempo (Gá latas 4:13-14). De acordo com Atos, "o Espírito de
Jesus" impediu Paulo de entrar na Bitínia e o impeliu para o oeste, em
direçã o à Grécia e à Europa. Essa direçã o foi confirmada em uma visã o.

Entã o ele atravessou o estreito e foi para a Europa (Atos 16-17), e


com ele foi o Evangelho. Na Grécia, Paulo e Silas obtiveram grande
sucesso - junto com as adversidades usuais, turbas e breves prisõ es - ao
estabelecerem igrejas em Filipos, Tessalô nica e Beréia. Paulo foi para
Atenas, onde pregou para as elites intelectuais da cidade, baseando-se
em seu profundo conhecimento da cultura, literatura e religiã o gregas.
Mas ele converteu apenas alguns.
Paulo viajou para Corinto, um centro de governo e comércio na
regiã o (Atos 18). Lá ele trabalhou com uma populaçã o acolhedora,
tanto judeus quanto gentios, e permaneceu por um ano e meio. Foi de
Corinto que ele escreveu as duas primeiras de suas cartas, aos
tessalonicenses.

Depois de quase três anos de viagem, ele desejou estar de volta a


Jerusalém para a festa de Pentecostes, entã o ele voltou para o leste por
mar até Cesaréia (fazendo paradas ao longo do caminho), e de Cesaréia
ele foi para Jerusalém.
Terceira Viagem Missioná ria
Em sua terceira viagem missioná ria (Atos 18-2 1), Sã o Paulo foi por
terra para a Galá cia, voltando para sua antiga casa em Tarso. Ele
estabeleceu uma loja em É feso, onde permaneceu quase três anos (Atos
19), pregando, operando milagres e convertendo muitas pessoas. Ele
entrou em conflito com os ourives, que fabricavam ídolos para o grande
templo da deusa Diana, porque viam o Evangelho como uma ameaça ao
seu sustento. Em É feso, Paulo escreveu sua Primeira Carta aos
Coríntios.
Paulo parou na Macedô nia a caminho da Grécia (Atos 20). Ao
retornar à sua base, ele celebrou a Festa dos Pã es Asmos em Filipos. Ele
fez muitas outras paradas a caminho de Chipre e depois navegou para a
Síria. Ele foi por terra para Jerusalém.

Prisõ es e martírio
Chegando a Jerusalém apó s sua terceira viagem missioná ria, Sã o Paulo
contou a Sã o Tiago e aos anciã os sobre seus sucessos entre os gentios
(Atos 21). Eles se alegraram. Mas entã o o espectro dos judaizantes
voltou, quando os anciã os contaram a Paulo os rumores de que ele
estava ensinando os judeus a abandonar a Lei de Moisés. Para reprimir
seus oponentes, os anciã os pediram a Paulo que fizesse um voto de
purificaçã o de acordo com a lei ritual, e Paulo obedeceu.
Alguns judeus, entretanto, espalharam um boato falso de que Paulo
havia trazido um gentio ao Templo - um crime capital. A multidã o
estava pronta para matar Paulo quando os soldados romanos chegaram
para restaurar a ordem. Os romanos o prenderam. Mas os oponentes de
Paulo deram relatos conflitantes de suas ofensas, entã o o tribuno
romano o prendeu para interrogató rio. Assegurando ao homem que ele
nã o era um rebelde, Paulo obteve permissã o para se dirigir à multidã o
(Atos 22). Ele contou à multidã o sua histó ria de conversã o, que foi
recebida com zombarias. Posteriormente, o tribuno soube que Paulo
era cidadã o romano e, portanto, era obrigado a dar-lhe um padrã o mais
elevado de tratamento sob a lei imperial.

O tribuno convocou o conselho dos judeus, e Paulo apelou aos


fariseus entre eles contra os saduceus, que detinham o poder (Atos 23).
Isso lançou a assembléia em violenta desordem. O tribuno fez com que
Paulo voltasse para a prisã o para proteçã o do pró prio apó stolo. Depois
de sobreviver a uma tentativa de assassinato, Paulo foi levado perante o
governador Félix. Os membros do conselho acusaram Paulo novamente
de agitaçã o e blasfêmia.
Paulo foi mantido detido por dois anos, mesmo quando Félix
terminou seu mandato e foi sucedido por um novo governador, Festo
(Atos 25). Apresentado a Festo, Paulo exerceu seu direito de cidadã o e
apelou para um julgamento perante César. Festo, entã o, foi obrigado a
enviar Paulo a Roma. Foi um movimento estratégico, seja da parte de
Paulo, seja da parte do Espírito Santo. Agora, finalmente, iria a Roma, "a
capital do mundo", para pregar o Evangelho.
Ele foi enviado por mar, mas seu navio naufragou perto da ilha de
Malta (Atos 27-28). Paulo aproveitou a oportunidade para evangelizar
os nativos, que receberam com entusiasmo o Evangelho. Paulo passou
dois anos em Roma em prisã o domiciliar, mas teve muita liberdade para
continuar seu trabalho. Em sua Carta aos Filipenses, ele menciona
alguns detalhes passageiros de suas circunstâ ncias em Roma (1:13;
4:22).

Vemos pouco mais de Paulo nas Escrituras. Parece provável que seu
apelo a César funcionou a seu favor e ele foi libertado. Em sua Carta aos
Romanos (15:24), ele expressou o desejo de ir para a Espanha, e as
tradiçõ es locais indicam que ele conseguiu esse objetivo. Os antigos sã o
unâ nimes em testemunhar que Paulo morreu como má rtir na grande
perseguiçã o do imperador Nero, entre 64 e 67 DC. Diz-se que Pedro e
Paulo foram martirizados em Roma no mesmo dia, 29 de junho: Pedro
por crucificaçã o e Paulo por decapitaçã o, uma vez que os cidadã os
romanos foram poupados da indignidade da cruz. As relíquias de Paulo
estã o guardadas em Roma sob o altar da grande basílica que leva seu
nome: Sã o Paulo Fora dos Muros.

Por que um fariseu? Por que Saulo?


Por que Deus chamou Saulo para ser apó stolo? Ao contrá rio dos outros
apó stolos, Sã o Paulo nã o foi convocado durante o ministério terreno de
Jesus. A vocaçã o de Saulo veio enquanto ele estava a caminho para
perseguir a Igreja. Por que?
Os apó stolos originais foram enviados primeiro à s terras do Israel
histó rico (ver Atos 1:8). A missã o deles era convencer o Povo Eleito de
que eles haviam perdido o tã o esperado Messias - que Jesus havia, de
fato, sido mal interpretado pelos sacerdotes, teó logos e pelos mais
conhecedores da Lei. Poderiam os apó stolos originais - trabalhadores e
homens incultos - terem apresentado um testemunho confiável contra
tais especialistas?
Foi uma luta contra as probabilidades - até que Deus chamou um
aluno brilhante do professor mais respeitado de Jerusalém. Até aquele
momento, comerciantes comuns haviam sido confrontados com
estudiosos. Agora o debate era, mesmo para os padrõ es mundanos,
mais igualitá rio.

Mas por que, entã o, Deus enviou Saulo aos gentios? Mais uma vez,
apenas um rabino com o brilho de Saul poderia persuadir seus
companheiros fariseus de que as leis rituais dos judeus - sacrifício de
animais, leis kosher e o calendá rio - nã o se aplicavam aos gentios. As
autoridades podem rejeitar, sem serem ouvidas, os argumentos dos
pescadores galileus. Mas eles nã o podiam ignorar Saul, o aluno de
Gamaliel.
Para os judeus, a característica mais ofensiva do Evangelho era que
os gentios deveriam agora ser aceitos como membros iguais da família
de Deus. Como poderiam os judeus do primeiro século assimilar essa
verdade por meios naturais, depois de séculos vendo os estrangeiros
como intocáveis? A histó ria exigia um homem com o conhecimento e o
prestígio de Saul para argumentar com sutileza e precisã o. Isso explica
seu sucesso, mas também explica a dificuldade que muitos gentios têm
em seguir os argumentos de Paulo. A maioria de nó s nã o é tã o bem
treinada nas Escrituras quanto os antigos fariseus.

A Palavra da Cruz
Outra dificuldade para Saulo, o fariseu, foi a cruz. "Cristo crucificado",
explicou ele mais tarde, foi "uma pedra de tropeço para os judeus" (1
Coríntios 1:23; veja também Gá latas 5:11). A crucificaçã o era o método
mais humilhante e degradante de tortura e execuçã o. A Lei de Moisés
amaldiçoava quem fosse pendurado em um madeiro (Dt 21:23; Gl
3:13). E um cadáver crucificado e ensanguentado nã o era a imagem de
nenhum fariseu do Messias prometido. Mas foi, pela medida deles, o
justo castigo devido a um homem que se chamava Filho de Deus. "Por
isso os judeus ainda mais procuravam matá -lo, porque ele nã o só
violava o sá bado, mas também chamava a Deus de seu Pai, fazendo-se
igual a Deus" On 5:18).
O avanço para Saulo veio quando ele encontrou Jesus e descobriu que
Jesus era realmente quem ele afirmava ser. Quando Saul viu a luz e
ouviu a voz, soube que estava na presença de Deus e, por isso, usou
uma forma divina de se dirigir: "Quem és tu, Senhor?" E a voz
respondeu: "Eu sou Jesus" (Atos 9:5). Assim, Saulo percebeu
instantaneamente que Jesus estava vivo e que era divino. Deus
"agradou revelar seu Filho a mim", disse ele mais tarde (Gl 1:16).

Como o Filho de Deus, Jesus era de fato digno de adoraçã o - e sua


cruz nã o foi amaldiçoada por Deus, mas uma revelaçã o da autodoaçã o
divina:
Cristo Jesus, embora subsistindo em forma de Deus, nã o teve por
usurpaçã o o ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo,
assumindo a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens.
E, achado na forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi
obediente até à morte, e morte de cruz. (Fp 2:5-8)
A vida e a morte de Jesus tornaram-se, para Sã o Paulo, uma revelaçã o
do amor de Deus em açã o. O Calvá rio revela a verdade do que significa
ser Deus.
As Boas Novas da Salvaçã o
Saul esperava que o Messias fosse um rei que restauraria a casa de Davi.
Deus enviou seu pró prio Filho eterno, encarnado como Filho de Davi.
Saul esperava que a libertaçã o trouxesse paz, prosperidade e liberdade
para obedecer à Lei de Moisés. Mas a ideia de salvaçã o de Deus era
muito maior: ele libertaria seu povo do pecado; ele os livraria da morte;
e o melhor de tudo, ele os entregaria para compartilhar sua pró pria
vida.

A salvaçã o nã o era meramente de alguma coisa; foi por alguma coisa.


Deus libertou seu povo do pecado para que eles se tornassem seus
filhos e filhas. Além disso, Deus estendeu essa salvaçã o além dos limites
de Israel para abranger todos os povos do mundo, cumprindo assim sua
promessa a Abraã o de que "todas as naçõ es da terra se abençoarã o por
meio dele" (Gn 18:18).
Saulo de Tarso tornou-se o Apó stolo Sã o Paulo para espalhar essa
Boa Nova. "Os gentios sã o co-herdeiros, membros do mesmo corpo e
participantes da promessa em Cristo Jesus... Deste evangelho fui feito
ministro... para pregar aos gentios as insondáveis riquezas de Cristo"
(Ef 3 :6, 7, 8). E Paulo foi um grande apó stolo pela mesma razã o que
Saulo foi um grande perseguidor. Bastou um encontro com Cristo para
redirecionar seu zelo.
Salvaçã o e Filiaçã o
Nossa adoçã o como filhos de Deus é o significado mais profundo da
salvaçã o. Abrange redençã o, justificaçã o e todas as outras metá foras:
"Mas, quando a bondade e a benignidade de Deus, nosso Salvador, se
manifestaram, ele nos salvou, nã o por causa de obras praticadas por
nó s em justiça, mas em virtude de sua pró pria misericó rdia, pelo
lavagem regeneradora e renovadora do Espírito Santo, que ele
derramou abundantemente sobre nó s por meio de Jesus Cristo, nosso
Salvador, para que pela sua graça fô ssemos justificados e feitos
herdeiros na esperança da vida eterna” (Tito 3:4-7).
Quando Sã o Paulo falava de libertaçã o, era quase como se a
linguagem humana fosse inadequada para expressar o que Jesus Cristo
havia realizado. Ele esgotou uma metá fora apó s a outra. O Apó stolo
usou a terminologia do tribunal, dizendo que fomos justificados - isto é,
absolvidos em tribunal (cf. Rm 5,16-17). Ele extraiu analogias do
mercado para enfatizar que fomos “redimidos”: “Fostes comprados por
bom preço” (1 Coríntios 7:23; veja também 2 Tito 2:13-14). Ele
desenhou analogias militares, retratando-nos como objeto de uma
missã o divina de resgate (2 Tm 4:18). Ele disse que fomos "libertos" da
"escravidã o" (Gá latas 5:1).

Mas todas as metá foras parecem conduzir a uma que é a sua


preferida: a nossa adoçã o como filhos de Deus. Teria sido uma grande
coisa se Deus tivesse acabado de libertar Israel da opressã o. Teria sido
ainda maior se Deus tivesse perdoado todos os pecados de um mundo
caído. Mas ele fez muito mais em Jesus Cristo. Ele trouxe "redençã o" por
causa da "adoçã o" e "herança" (Rm 8:15-23) - "para resgatar os que
estavam debaixo da lei, para que recebêssemos a adoçã o de filhos" (Gl
4:5 ).
A Importâ ncia do Pacto
Alguns intérpretes nã o cató licos querem que paremos antes dessa
realidade. Em vez disso, eles colocam o foco na justificaçã o - e
interpretam a "justiça" pelos padrõ es do tribunal moderno. Mas ao
fazer isso, eles estã o ignorando o contexto cultural e religioso das
muitas metá foras de Sã o Paulo. Extremamente importante para ele
(como para todos os judeus do primeiro século) era a ideia de aliança.
Foi a aliança com Deus que constituiu Israel como o povo escolhido de
Deus. A aliança era o contexto de toda a vida e lei de Israel.
A aliança criou um vínculo familiar - e com a "nova aliança" de Jesus
(1 Coríntios 11:25), esse vínculo familiar tornou-se imensuravelmente
mais forte. A salvaçã o nos tornou como Jesus - filhos de Deus no eterno
Filho de Deus (ver Gl 3:26) - "participantes da natureza divina" (2 Pe
1:4). Por meio da Nova Aliança de Jesus, entramos na família imediata
de Deus. Fidelidade à aliança é o que Paulo pretende quando usa
termos como justiça e justificaçã o. A justiça nã o é apenas a recompensa
de Deus aos bons e a puniçã o dos maus, mas sim a fidelidade de Deus à
sua aliança, apesar das repetidas infidelidades da humanidade. "Que
Deus seja verdadeiro, embora todo homem seja falso" (Rm 3:4). Em
Cristo, Deus manteve suas promessas de aliança com Abraã o e Davi.

Paulo sabia que Deus nã o se contentava em ser apenas nosso juiz. Ele
quis ser nosso Pai (ver Ef 1:5). E essa é a pró pria essência da salvaçã o
em Cristo.
Este era o plano salvador de Deus desde "antes da fundaçã o do
mundo" (Ef 1:4). Na aliança com Abraã o, Deus havia prometido bênçã os
à descendência do patriarca (Gl 3:16), predizendo que "todas as naçõ es
da terra se abençoarã o por meio dele" (Gn 18:18). Jesus é descendente
de Abraã o (Gl 3:16) - e todos os crentes compartilham as bênçã os da
aliança, precisamente porque ele suportou as maldiçõ es da aliança
devido aos pecados da humanidade (Gl 3:13). Assim, as bênçã os agora
pertencem a todos aqueles que vivem "em Cristo", aqueles a quem Deus
"destinado... em amor para serem seus filhos por meio de Jesus Cristo"
(Ef 1:5) - destinados muito antes de Abraã o, muito antes de Adã o, na
verdade, desde toda a eternidade.
O escâ ndalo da paternidade de Deus
No coraçã o do evangelho de Sã o Paulo, entã o, estava a revelaçã o da
paternidade de Deus. No mundo de Paul, essa era uma afirmaçã o
chocante.

Era costume os judeus invocarem a Deus como "Pai" de sua naçã o


(ver Jo 8:41), mas nã o como Pai de um indivíduo. Fazer tal afirmaçã o,
eles presumiram corretamente, era de alguma forma tornar-se "igual a
Deus" - pois os filhos terrenos compartilham uma natureza comum com
seus pais. Isso vale tanto para as relaçõ es naturais quanto para as
adotivas. Adultos humanos podem adotar ou conceber apenas crianças
humanas. Nã o importa o quanto eu ame meus animais de estimaçã o,
nã o posso adotá -los como membros da família.
A chocante verdade é que Jesus compartilha a natureza de Deus.
Ainda mais chocante é que Jesus também deseja que compartilhemos a
natureza divina de seu Pai celestial. Isso foi, e é, uma bomba religiosa.
Uma coisa é dizer que Deus é metaforicamente "pai" para uma naçã o
ou para o mundo, porque ele criou ambos do nada. Mas outra bem
diferente é dizer que Deus é eternamente “Pai” por natureza, e que toda
paternidade terrena reflete essa verdade eterna (Ef 3:14). Se Deus é Pai
eterno, entã o deve haver um "Filho" eterno. Para a mente de um fariseu
- uma mente treinada no monoteísmo - isso parecia implicar uma
ameaça à unicidade e transcendência de Deus. Podemos apenas
imaginar a força ofuscante do evento quando Deus "aprouve revelar seu
Filho" (Gl 1:16) a Paulo.

É importante que entendamos isso direito. Paulo nã o estava dizendo


que Deus é de alguma forma como um Pai. Nã o, ele quis dizer que Deus
é eternamente Pai porque o Verbo é seu Filho eterno (ver Fp 2:6; Gl 4:4;
2Co 8:9; Cl 1:15-19).
Estamos "Em Cristo"
Além do mais, Sã o Paulo quer que saibamos que nó s, pelo batismo,
passamos a participar da filiaçã o de Cristo:
Ele nos salvou, nã o por causa de obras de justiça praticadas por
nó s, mas em virtude de sua pró pria misericó rdia, pela lavagem da
regeneraçã o e renovaçã o no Espírito Santo, que ele derramou
abundantemente sobre nó s por meio de Jesus Cristo, nosso
Salvador, para que nó s pudessem ser justificados por sua graça e se
tornarem herdeiros na esperança da vida eterna. (Tito 3:5-7; veja
também Gá latas 3:26-27)

Paulo fala repetidamente de nó s como vivendo "em Cristo" (ver


Romanos 8:1). O mais famoso é que ele cita um poeta pagã o para
defender seu ponto de vista: "Em [Deus] vivemos, nos movemos e
existimos... 'Pois de fato somos sua descendência'" (Atos 17:28). Ele
também fala de Cristo vivendo em nó s (Gl 2:20).
Somos filhos e filhas no eterno Filho de Deus. Embora Cristo tivesse a
"forma de Deus" (Fp 2:6), ele se derramou para assumir uma "forma"
humana (Fp 2:7). Por que ele fez isso? Para que possamos estar nele e
ele em nó s. Deus "nos destinou em amor para sermos seus filhos por
meio de Jesus Cristo, de acordo com o propó sito de sua vontade" (Ef
1:5). “Pois em Cristo Jesus todos sois filhos de Deus pela fé” (Gl 3:26).
Os judeus da época de Paulo frequentemente falavam da comunhã o
que compartilhavam uns com os outros por causa da aliança. A palavra
hebraica para este vínculo é chaburah; geralmente é traduzido em
grego como koinonia. Mas os judeus nunca aplicaram essas palavras ao
relacionamento entre humanos e Deus. Nã o até Paul, quero dizer.

O apó stolo deixou claro que a salvaçã o de Jesus rompeu nã o apenas


as fronteiras entre Israel e as naçõ es, mas também entre Deus e o
mundo. Agora Deus poderia compartilhar comunhã o e comunhã o com
todo o seu povo na Igreja: "O cá lice de bênçã o que abençoamos, nã o é
uma participaçã o [koinonia] no sangue de Cristo? O pã o que partimos,
nã o é uma participaçã o [ koinonia] no corpo de Cristo?" (1 Cor 10:16).
A nossa vida em Cristo é a nossa partilha, a nossa participaçã o, a nossa
comunhã o na vida de Deus. É , enfim, chaburah entre Deus e a raça
humana.
Tã o pró ximo é nosso vínculo familiar com Deus que - no "Espírito de
filiaçã o" - nó s, como Jesus, podemos nos dirigir a Deus como Abba (Rm
8:15; Gl 4:6), o nome íntimo que as crianças de língua hebraica usam
para se dirigir a seus filhos. "Papai."
A Igreja no Centro
Os crentes participam do corpo de Cristo, e a Igreja se torna o corpo de
Cristo. Essa verdade impressionou Saulo no exato momento de sua
conversã o. Ele ouviu a voz de Jesus dizer: "Saulo, Saulo, por que me
persegues?... 'Eu sou Jesus, a quem tu persegues'" (Atos 9:4-5, ênfase
adicionada). Cristo poderia ter dito: "Por que você está perseguindo
minha Igreja?" ou "meu povo?" Mas ele nã o o fez. Em vez disso, ele se
identificou com seus seguidores: tudo o que Saulo fez a eles, ele fez a
Jesus.

Sã o Paulo começa a desenvolver isso em sua Primeira Carta aos


Coríntios, onde o corpo de Cristo ressuscitado se torna um mistério
eucarístico: "O pã o que partimos nã o é uma participaçã o no corpo de
Cristo? é um só pã o, nó s, embora muitos, formamos um só corpo,
porque todos participamos de um só pã o" (10:16-17). No capítulo
seguinte, ele deixa claro que as espécies eucarísticas contêm Cristo
realmente presente (cf. 11,24-29), um "corpo" que deve ser discernido
pela fé. Mas ele é igualmente claro que este corpo eucarístico
transforma os crentes em um corpo místico - a Igreja como o corpo de
Cristo na terra.
Paulo volta a esse tema ao longo de suas cartas. "A Igreja... é o corpo
[de Cristo], a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas"
(Ef 1:22-23). "Agora você é o corpo de Cristo e individualmente
membros dele" (1 Cor 12:27). "Cristo é a cabeça da Igreja, seu corpo, e...
nó s somos membros de seu corpo" (Ef 5:23, 30; veja também
Colossenses 1:18). Novamente, é a Eucaristia que une os "membros"
com sua "cabeça".

Através de nossa vida integrada na Igreja, estamos "edificando o


corpo de Cristo" (Ef 4:11-12). Como os ó rgã os e membros de um corpo
humano, todos nó s temos papéis a desempenhar na Igreja:
Pois, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os
membros do corpo, embora muitos, formam um só corpo, assim é
com Cristo. Porque todos nó s fomos batizados em um Espírito em
um só corpo - judeus ou gregos, escravos ou livres - e a todos foi
dado beber de um Espírito.
Pois o corpo nã o consiste em um membro, mas em muitos. (1
Coríntios 12:12-14)
Paulo fala de nossa incorporaçã o pelo batismo em termos totalmente
realistas. Nã o é apenas um fenô meno psicoló gico. Nã o é apenas um
"ajuste de atitude". Nã o é meramente uma metá fora ou uma qualidade
moral. Nossa uniã o com Cristo é profunda e transformadora. Cristo nos
dá a graça de viver uma vida santa - viver a vida com sua pró pria
santidade, em seu corpo. A santidade que ele nos dá está
essencialmente ligada ao nosso culto eucarístico. É a nossa participaçã o
sacramental na vida de Deus, na sua natureza.

Os sacramentos sã o a fonte de nosso poder para viver uma vida


moral. Por causa dos sacramentos, vivemos nossas vidas em Cristo, por
sua graça, participando de sua justiça. Assim, Paulo fala de nó s como
uma "nova criaçã o" (2 Cor 5:17; Gal 6:15) no batismo. E ele nã o está se
referindo à nossa transformaçã o apó s a morte, no céu. Ele fala no
tempo presente quando diz: "E todos nó s, com rosto descoberto,
contemplando a gló ria do Senhor, somos transformados de gló ria em
gló ria à sua semelhança" (2 Cor 3:18). "Embora nossa [natureza]
exterior esteja se desgastando, nossa [natureza] interior está se
renovando a cada dia" (2 Coríntios 4:16). Vivemos "no Espírito" e "a
vida de Jesus pode ser manifestada" mesmo agora "em nossa carne
mortal" (2 Coríntios 4:11).

Paulo vê os sacramentos em termos realistas, participacionistas e


místicos. O pró prio Deus, diz o Apó stolo, "proporcionará para nó s o
escape", além do pecado, além da morte (1 Cor 10,13) - e esse escape é
a Eucaristia, como nos mostra nos versículos seguintes em 1 Coríntios
(10:14-17). A Eucaristia nos dá o poder de viver como Cristo em seu
corpo.
fé e obras
Assim, seria um erro acreditar que nossas açõ es morais sã o
irrelevantes para nossa salvaçã o. Sã o Paulo deixa claro que somos
chamados nã o apenas à fé, mas à "obediência da fé" (Rm 1:5, 16:26). Ele
diz que "nã o sã o os que ouvem a lei que sã o justos diante de Deus, mas
os que praticam a lei que serã o justificados" (Rm 2:13). O que Deus
quer de nó s é "a fé que opera pelo amor" (Gl 5:6). Ou, como o apó stolo
Sã o Tiago, companheiro de Paulo, coloca: "Um homem é justificado
pelas obras e nã o somente pela fé" Gá s 2:24), pois "a fé por si só , se nã o
tiver obras, está morta" (Tg 2: 17).

Paulo de fato afirma que "o homem é justificado pela fé,


independentemente das obras da lei" (Rm 3:28). Mas por "obras da lei"
ele nã o quer dizer a lei moral, e certamente nã o os Dez Mandamentos.
Ele nã o está nos isentando de bom comportamento ou nos dando um
passe em nossos pecados. No primeiro século, "obras da lei" era uma
frase comum para os requisitos cerimoniais: sacrifício de animais,
circuncisã o e calendá rio de culto. Na Nova Aliança, nã o somos
obrigados a observá -los, como os judeus faziam na Antiga Aliança.
Nã o é que Paulo se oponha em princípio à adoraçã o ritual. Ele
sustenta, por exemplo, que o batismo é poderoso de uma forma que a
circuncisã o nã o era. O batismo causa nossa morte para o pecado e
nossa uniã o com Cristo. Os sacramentos da Nova Aliança, em
comparaçã o com a Antiga, sã o em menor nú mero, mais fá ceis de
realizar e muito mais poderosos.
Os sacramentos nos dã o o poder de que precisamos para viver em
retidã o. Santo Agostinho colocou isso de forma memorável: A lei foi
dada de modo que a graça buscaríamos; a graça foi dada para que
possamos guardar a lei. No entanto, permanecemos livres para nos
separar dos sacramentos - e de Cristo - por meio do pecado grave. Paulo
nunca prega segurança eterna absoluta. Ele pergunta: "Quem nos
separará do amor de Cristo?" (Rm 8:35). Mas precisamos continuar
lendo além desse ponto de interrogaçã o. Paulo continua perguntando
no mesmo versículo: "Será tribulaçã o, ou angú stia, ou perseguiçã o, ou
fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?" Ele fala de nossa perseverança
através do sofrimento, nã o do pecado! Ele nã o pergunta se assassinato,
roubo, mentira ou adultério "nos separará do amor de Cristo", porque
ele sabe que somos livres para nos separar por tais graves
transgressõ es contra a lei moral de Deus.

Enquanto o sofrimento nos une ao sofrimento de Cristo na cruz, o


pecado certamente pode nos separar dele. Nó s temos o Espírito para
que possamos guardar a Lei. Deus nos dá essa liberdade, e com ela vem
a liberdade de rejeitá -lo também.
O problema da dor
Ao identificar os crentes com Cristo, Sã o Paulo deu-nos a chave para
compreender o mistério do sofrimento: "Penso que as afliçõ es do
tempo presente nã o se comparam com a gló ria que nos há de ser
revelada" (Rm 8: 18).

Embora ele tenha treinado seus olhos na gló ria, Paulo sabia que teria
que sofrer muito enquanto estivesse "na carne" (Gá latas 2:20), e que
um dia ele morreria (Fp 1:23).
Para aqueles de nó s que nã o compartilham dos grandes dons
teoló gicos de Paulo, o sofrimento e a morte permanecem mistérios
profundos. Sabemos que eles entraram no mundo por causa do pecado
(Rm 5:12). No entanto, também cremos que Cristo nos libertou do
poder do pecado e da morte (Rm 8:2). Se é assim, por que ainda
devemos sofrer e morrer?
Paulo ensinou que o pró prio Jesus Cristo sofreu, nã o como substituto
da humanidade pecadora, mas como nosso representante. Assim, a
paixã o salvadora de Cristo nã o nos isentou do sofrimento, mas dotou
nosso sofrimento de poder divino e valor redentor.
Paulo poderia até mesmo "regozijar-se" em seus problemas,
"sabendo que o sofrimento produz perseverança, e a perseverança
produz cará ter, e o cará ter produz esperança, e a esperança nã o nos
decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos coraçõ es
pelo Espírito Santo" (Rom. 5:3-5).

Através do Espírito de Deus, somos filhos de Deus. E Deus dá a seus


filhos tudo o que tem, compartilhando até mesmo sua natureza divina.
Mas ele nã o poupou seu Filho do sofrimento. O sofrimento era central
para a missã o de Jesus como redentor. E assim faz parte da nossa
participaçã o na sua vida e missã o.
Assim, o sofrimento nã o é um componente opcional da vida cristã .
Paulo nos diz que "somos filhos de Deus... co-herdeiros de Cristo,
contanto que soframos com ele para que também com ele sejamos
glorificados" (Rm 8:16, 17).
Entã o: Sem sofrimento, sem gló ria.
E, no entanto, nã o é a grandeza do sofrimento de Cristo que nos salva,
mas sim a grandeza do seu amor. O amor transforma seu sofrimento em
sacrifício. E esse amor é a Eucaristia. É a Eucaristia que transforma o
Calvá rio em sacrifício e nã o meramente em execuçã o. Paulo sabe que o
sofrimento sem amor é insuportável, mas também que o amor sem
sofrimento é impossível.

Partilhamos do amor de Cristo através da Eucaristia; e assim nosso


sofrimento - como o sofrimento de Jesus - tem poder redentor. "Agora
me alegro em meus sofrimentos por vocês, e na minha carne completo
o que falta à s afliçõ es de Cristo por causa de seu corpo, isto é, a Igreja"
(Cl 1:24). O sofrimento redentor é uma participaçã o na vida de Cristo,
no corpo de Cristo, na Eucaristia e na Igreja. Através do Espírito, temos
comunhã o com ele, e em nossos corpos reproduzimos e representamos
sua vida e amor, sua filiaçã o e sacrifício, sua morte e ressurreiçã o.
E isso em si é um privilégio e uma fonte de paz: "Porque, assim como
participamos abundantemente dos sofrimentos de Cristo, assim
também participamos abundantemente da consolaçã o por meio de
Cristo" (2 Cor 1, 5).
Gló ria na Cruz
Partilhamos da vida de Cristo e, portanto, da sua cruz. É por meio da
cruz que passamos a participar de sua gló ria. Sã o Paulo traçou o nosso
caminho no grande hino a Cristo que está no centro da sua Carta aos
Filipenses. Vale repetir aqui:
Tende entre vó s o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, o
qual, subsistindo em forma de Deus, nã o teve por usurpaçã o o ser
igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, assumindo a forma de
servo, nascendo na semelhança de homens. E, achado na forma
humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e
morte de cruz. Por isso Deus o exaltou soberanamente e lhe deu o
nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se
dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda
língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a gló ria de Deus
Pai. (Fp 2:5-11)
Se quisermos ser como Cristo, o caminho é claro: nã o devemos nos
apegar aos nossos privilégios, mas nos esvaziar, como fez Jesus. Cristo
deu tudo o que tinha, por nossa causa. Ele deu como Deus deu, sem
reter nada. Ele nos deu seu corpo na Eucaristia. Ele deu a vida por nó s
na cruz.

Para nó s, compartilhar a vida do Filho de Deus significa viver como


ele viveu, dar como ele deu, dar a nossa vida, momento a momento,
pelo bem dos outros. "Apresentem seus corpos", Paulo nos diz, "como
um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o seu culto
espiritual" (Rm 12:1).
Escolhemos ser fracos pelos padrõ es mundanos porque Cristo o fez.
"Deus escolheu o que é fraco no mundo para envergonhar o forte" (1
Cor 1:27). Pois o pró prio Senhor disse a Paulo: "A minha graça te basta,
porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza" (2 Coríntios 12:9).
Assim, a cruz se torna o ponto focal para Paulo. Para ele, a cruz é
"poder" (1 Cor 1,17-18), gló ria (Gl 6,14) e paz (Ef 2,16).
Paulo nã o vê outra razã o para "gló ria senã o na cruz de nosso Senhor
Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o
mundo" (Gl 6:14). É pelo sangue de Cristo, derramado na cruz, que nos
tornamos "filhos de Deus e, se filhos, herdeiros, herdeiros de Deus e co-
herdeiros de Cristo". Mas o caminho dele deve se tornar o nosso
caminho, e nó s o conhecemos como o Caminho da Cruz. Somos filhos de
Deus agora, "coerdeiros de Cristo, contanto que soframos com ele para
que também sejamos glorificados com ele" (Rm 8:16-17).
A questã o da autoria
A tradiçã o cristã atribui 13 (à s vezes 14) cartas ao Apó stolo dos
Gentios. Nã o devemos nos surpreender que essas cartas variem muito
em estilo e conteú do.
Afinal, as cartas de Sã o Paulo serviram a muitos propó sitos
diferentes, para muitas igrejas diferentes, ambientadas em muitas
culturas diferentes e passando por necessidades muito diferentes. Eles
foram escritos ao longo de mais de uma década - um período em que
Paulo amadureceu natural e sobrenaturalmente.
Seu alcance é notável. Romanos é um tour de force doutriná rio.
Gá latas é uma repreensã o severa. Filemom é um apelo insinuante.
Filipenses está cheio de encorajamento caloroso e gratidã o alegre. As
cartas a Timó teo e Tito sã o manuais de conselhos prá ticos, de um
pastor experiente a seus jovens colegas.

Essa variedade de estilos e preocupaçõ es levou alguns estudiosos


modernos a questionar se todas as cartas "paulinas" poderiam ter sido
escritas pelo mesmo autor. A resposta deve ser um sim imediato de
qualquer pessoa cujo trabalho exija uma extensa escrita por um longo
período de tempo. O estilo, o conteú do e o vocabulá rio de um escritor
podem mudar com frequência, dependendo de seus objetivos, pú blico,
circunstâ ncias - e até mesmo de seu humor!
Além do mais, as cartas de Paulo foram, como ele pró prio admitiu, à s
vezes redigidas por um associado ou ditadas a um secretá rio. Esses
colegas de trabalho sã o frequentemente identificados na saudaçã o ou
assinatura das cartas. Primeira Coríntios é dirigida por Paulo e
Só stenes; Primeira e Segunda Tessalonicenses de Paulo, Silvano e
Timó teo. Filipenses, Colossenses e Filemom vêm de Paulo e Timó teo.
Em Romanos, Tércio se identifica como o escritor da epístola (16:22), e
Timó teo é, novamente, identificado como um colega de trabalho
(16:21).
Paulo permanece, no entanto, a mente e a autoridade por trá s de
todas as cartas - e a Tradiçã o da Igreja, testemunhada pelos Padres,
atribui a ele a autoria das cartas. Um nú mero crescente de estudiosos
chegou, por meio de pesquisas, a conclusõ es semelhantes.
Por que alguns estudiosos questionam a autoria de Paulo?
Principalmente porque existem diferenças reais de letra para letra.
Essas diferenças podem ser explicadas por outros fatores? Eu penso
que sim. Vale a pena mencionar que pelo menos algumas das atitudes
mais críticas em relaçã o a Paulo surgiram do viés anti-institucional dos
intérpretes modernos. O estudioso protestante paulino Michael J.
Gorman chega a chamá -lo de "viés anticató lico", que permitiu que
"preferências teoló gicas" afetassem os julgamentos histó ricos. Alguns
estudiosos, por exemplo, rejeitam as cartas a Timó teo e Tito
simplesmente porque assumem a existência da hierarquia da Igreja, da
liturgia e de uma ortodoxia bem desenvolvida em questõ es
doutriná rias.
Para os propó sitos limitados deste pequeno livro, simplesmente
reconheceremos que a questã o da autoria é certamente complexa, e
entã o prosseguiremos com nossa discussã o das cartas que aparecem no
câ non bíblico sob o nome de Sã o Paulo. Consideraremos as cartas em
ordem canô nica, pois é assim que a maioria dos leitores as encontra.
Discutiremos, separadamente, o caso especial da Carta aos Hebreus.

romanos
Esta carta foi escrita durante a ú ltima fase da terceira viagem
missioná ria de Sã o Paulo, provavelmente por volta de 57-58 DC. Roma,
como capital de um vasto império, era um movimentado centro de
poder militar, comércio e cultura. Paulo escreveu para uma comunidade
cristã vibrante e bem estabelecida, cujos membros ele nunca havia
conhecido. Ele queria se apresentar e preparar os romanos para sua
visita planejada. Ele também esperava aliviar as tensõ es entre gentios e
judeus, pois cada grupo se orgulhava de seu lugar na histó ria da
salvaçã o. Os judeus se gabavam de serem herdeiros das promessas; os
gentios sustentavam que haviam substituído os judeus como povo de
Deus.
Paulo faz um argumento para a unidade e catolicidade da Igreja. Ele
enfatiza a fé e o batismo - justificaçã o e filiaçã o - em oposiçã o à s obras
da antiga Lei, como a circuncisã o. Composta no final de sua carreira
apostó lica, Romanos reflete a reflexã o teoló gica madura de Paulo. Ele
fala da necessidade de salvaçã o da humanidade desde o pecado de
Adã o; dos feitos poderosos de Deus ao chamar e libertar seu povo; do
lugar de Israel e sua restauraçã o; e da plenitude da salvaçã o em Jesus
Cristo. Romanos influenciou a teologia e a histó ria cristã mais do que
qualquer outra carta de Paulo.
1 Coríntios
Sã o Paulo escreveu esta carta enquanto estava em É feso, provavelmente
durante sua terceira viagem missioná ria, por volta de 56 DC. Corinto
era um pró spero centro comercial e administrativo, uma estaçã o
intermediá ria nas viagens entre a Á sia e a Itá lia. Era famosa por eventos
esportivos e infame por sua baixa moral. O pró prio Paulo fundou a
Igreja em Corinto (veja Atos 18:1-18) e passou muito tempo lá . Agora,
apó s vá rios anos de ausência, ele ouviu relatos sobre a falta de
disciplina da comunidade, evidente na imoralidade sexual, divisã o,
abusos litú rgicos, negligência dos pobres e descrença nas doutrinas
centrais.

Paulo escreve, como um pai para seus filhos, para remediar a


situaçã o. Ele instrui os coríntios na piedade eucarística bá sica, que deve
estar no centro de sua vida cristã . Ele discute o celibato vitalício, bem
como o casamento cristã o. Ele é especialmente sensível à s dificuldades
de viver em um ambiente predominantemente pagã o. A idolatria está
em toda parte e afeta até mesmo os cortes de carne oferecidos no
mercado. Riqueza e sofisticaçã o trazem seus pró prios perigos,
especialmente orgulho e egoísmo. Paulo exorta os coríntios a se
voltarem para as necessidades uns dos outros e para o bem maior de
todo o "corpo", a Igreja. Ele fala da Igreja como o Templo do Espírito,
onde o sacrifício de Cristo é oferecido. Sua exortaçã o culmina com o
famoso hino à caridade altruísta: "O amor é paciente..."
2 Coríntios
Esta carta foi escrita logo apó s 1 Coríntios, como uma continuaçã o, e é a
mais pessoal e autobiográ fica dos escritos de Sã o Paulo. O apó stolo
escreveu da Macedô nia, provavelmente em 56 DC. Ele escreveu para
neutralizar a influência de "falsos apó stolos" que tentaram minar seu
trabalho em Corinto e até o atacaram pessoalmente durante uma visita
recente. A maioria dos cristã os coríntios falhou em se levantar em sua
defesa. Embora alguns tenham se arrependido mais tarde, outros nã o, e
a comunidade permaneceu dividida. Os capítulos 11-12 fornecem um
notável catá logo de sofrimentos suportados pelo apó stolo,
demonstrando que a fraqueza é sua força (12:10). Ao escrever, Paulo
esperava fortalecer sua base leal e defender sua autoridade apostó lica
contra sua oposiçã o. Ele também escreveu para solicitar fundos para
apoiar os cristã os pobres em Jerusalém. Segunda Coríntios pode
realmente ser a fusã o de duas ou mais cartas de Paulo.
Gá latas
A Carta aos Gá latas foi provavelmente escrita no início ou meados dos
anos 50 dC A província romana da Galá cia cobria uma grande á rea onde
hoje é a Turquia central.

A carta é a defesa apaixonada de Sã o Paulo contra os judaizantes, que


pressionavam os cristã os gentios a serem circuncidados e a observar as
leis cerimoniais da Antiga Aliança. Paulo explica que a Nova Aliança
estabelecida por Cristo dispensou as obrigaçõ es rituais da Lei de
Moisés. Ao morrer na cruz, Cristo redimiu a humanidade das maldiçõ es
da Antiga Aliança e liberou as bênçã os divinas da Nova Aliança,
inaugurando uma nova criaçã o e um Israel renovado. A Nova Aliança de
Cristo cumpre a aliança de Deus com Abraã o, que prometeu bênçã os
para todas as naçõ es por meio da família de Abraã o; ao mesmo tempo,
pô s fim à aliança mosaica, restrita a Israel. Quem tem fé em Cristo
torna-se descendente espiritual de Abraã o e filho de Deus por adoçã o.
O tom de Paul à s vezes é furioso, e ele recorre até mesmo a
xingamentos para expor seus pontos de vista, que ele considera de
suma importâ ncia. Mas o impulso geral da carta é positivo, dando
orientaçã o para a verdadeira liberdade que advém da vida cristã .

Efésios
Esta carta foi escrita durante uma das penas de prisã o de Sã o Paulo,
provavelmente sua prisã o domiciliar em Roma em 60-62 DC. Assim, é a
primeira das chamadas "Cartas do Cativeiro". (Os outros sã o Filipenses,
Colossenses e Filemom.) É dirigido à Igreja na principal metró pole da
província romana da Á sia (hoje sudoeste da Turquia). Paulo passou
vá rios anos ministrando ao povo de É feso.
Grande parte de Efésios se ocupa da teologia no sentido mais estrito:
reflexã o sobre Deus e seu misterioso "desígnio" salvífico para a histó ria.
Paulo explica que Deus nos destinou com amor para sermos seus filhos
antes da fundaçã o do mundo. A chave para entender toda a histó ria
intermediá ria é a morte salvadora de Jesus Cristo, que foi um sacrifício
pela redençã o de todas as pessoas, tanto de Israel quanto dos gentios.
Agora entronizado no céu, Cristo governa o céu e a terra, a humanidade
e os anjos.
Esta carta contém a reflexã o mais sustentada e desenvolvida de Paulo
sobre a Igreja, que ele vê como a Família de Deus, o Corpo de Cristo e o
Templo do Espírito. A visã o é internacional, universal e
verdadeiramente cató lica. Estar na Igreja, diz Paulo repetidamente, é
estar "em Cristo". A Carta aos Efésios mostra a notável versatilidade de
Paulo ao passar de pontos de teologia mística a conselhos prá ticos
minuciosos para casais.
filipenses
Esta é outra Carta do Cativeiro, e é dirigida à Igreja em Filipos, a maior
cidade da Macedô nia oriental. Filipos era uma colô nia militar romana,
principalmente gentia, com apenas uma pequena populaçã o judaica.
Sã o Paulo evangelizou a á rea durante sua segunda viagem missioná ria e
voltou para lá pelo menos uma vez.
Paulo escreve para expressar sua gratidã o pelas oraçõ es e ajuda
financeira dos filipenses, que ele vê como evidência de sua fé. A carta é
cheia de afeto e alegria, com apenas algumas advertências sobre as
ameaças à paz da Igreja: divisõ es entre os fiéis e a possível incursã o de
missioná rios judaizantes.

Filipenses é mais conhecido por seu tratamento prolongado de Jesus


como o servo abnegado - o Filho de Deus que deixou de lado sua
divindade para se tornar o mais humilde dos homens e morrer a morte
mais humilhante. Por causa disso, Deus Pai o exaltou em gló ria. Assim,
Paulo exorta a Igreja a adorar Jesus como Deus e a imitar a doaçã o do
Senhor. A carta também preserva a reflexã o mais íntima de Paulo sobre
seu pró prio apostolado até hoje e sua disposiçã o para o martírio. Paulo
conclui oferecendo conselhos para manter a equanimidade cristã em
todas as circunstâ ncias, seja pobreza ou prosperidade, liberdade ou
perseguiçã o.
colossenses
Mais uma das Cartas do Cativeiro de Sã o Paulo, Colossenses
provavelmente foi composta em Roma no início dos anos 60 dC Sã o
Paulo escreve, nesta carta, para uma igreja que ele nã o fundou e nunca
visitou. Principalmente uma comunidade gentia, Colossos foi
evangelizada por um de seus discípulos, Epafras. É de Epafras que
Paulo fica sabendo dos problemas da Igreja Colossense com algumas
pessoas espalhando falsas doutrinas. (Nã o está claro se esses
encrenqueiros eram pagã os, cristã os rebeldes ou judeus.)
q p g j )

Estilisticamente e tematicamente, Colossenses tem alguma


semelhança com Efésios. Ambas as cartas também contêm conselhos
prá ticos para o casamento e a vida familiar. Em Colossenses, Paulo
mostra Jesus Cristo reinando supremo sobre o cosmos, preeminente
como criador sobre todas as criaturas. Jesus é divino e é vitorioso sobre
todos os espíritos malignos. Paulo enfatiza que os cristã os nã o estã o
sujeitos à Lei de Moisés. Os cristã os sã o completos em Cristo.
1 Tessalonicenses
Esta é quase certamente a primeira carta escrita por Sã o Paulo. Seu
relato no capítulo 3 parece concordar com os capítulos 17-18 de Atos,
entã o a carta provavelmente foi escrita em 50-51 DC de Corinto.
Tessalô nica era a capital da província da Macedô nia (no que hoje é o
norte da Grécia).

A principal preocupaçã o de Paulo ao escrever é encorajar os


tessalonicenses ao enfrentarem a perseguiçã o. Sua ênfase doutriná ria
está no julgamento final, quando Cristo virá do céu para livrar os fiéis
da "ira vindoura" (1:10). O apó stolo ouviu que alguns tessalonicenses
estã o ansiosos porque seus entes queridos morreram antes da volta do
Senhor. Paulo assegura-lhes que os mortos ressuscitarã o como Cristo
ressuscitou. O fim virá de repente, diz ele, e surpreendentemente. Ele
exorta os tessalonicenses à vigilâ ncia moral e espiritual.
2 Tessalonicenses
Esta carta é uma continuaçã o de 1 Tessalonicenses. O período
intermediá rio parece nã o ter trazido alívio da perseguiçã o, e a
congregaçã o parece igualmente irritada com as questõ es do fim dos
tempos. De fato, o problema foi agravado por uma carta, forjada em
nome de Sã o Paulo, que declara que os ú ltimos dias já chegaram e que a
volta de Jesus é iminente. Como resultado, algumas pessoas pararam de
trabalhar. Paulo instrui os tessalonicenses sobre os eventos que
precederã o a volta de Jesus, eventos que ainda nã o aconteceram. Paulo
admoesta os cristã os a trabalhar diligentemente, como ele mesmo
trabalhou diligentemente quando estava em Tessalô nica.

1 Timó teo
Esta carta é a primeira das "Epístolas Pastorais" atribuídas a Sã o Paulo.
Essas cartas sã o como manuais de conselhos, endereçados de um
clérigo cristã o a outro. Eles se concentram nas preocupaçõ es pastorais
e nos assuntos da ordem da Igreja: liturgia, hierarquia, disciplina,
catequese e tradiçã o sagrada.
Timó teo é o companheiro de longa data de Paulo na missã o. Agora
ele está estacionado em É feso em uma missã o especial, para neutralizar
a falsa doutrina ("mitos e genealogias sem fim") espalhada por alguns
autoproclamados mestres que Paulo excomungou anteriormente.

O conselho de Paulo é muito prá tico e abrange desde as qualificaçõ es


para o cargo na Igreja até a gestã o de obras de caridade e o
estabelecimento de um có digo de vestimenta para o culto. Paulo aborda
as necessidades de todas as três ordens do clero: bispos, presbíteros
(sacerdotes) e diá conos. A carta parece ter sido escrita de Roma, em
algum momento entre a primeira prisã o de Paulo ali (60-62 dC) e o fim
de sua vida (64 ou 67 dC). Esta carta e as outras epístolas pastorais
foram reverenciadas pelos primeiros Padres da Igreja, incluindo Sã o
Clemente de Roma, que, segundo a tradiçã o, era ele pró prio um
discípulo de Sã o Paulo.
2 Timó teo
Com esta carta, Sã o Paulo, abandonado em Roma, provavelmente
durante a perseguiçã o de Nero, procura convocar seu leal companheiro
Timó teo, que ainda estava em É feso (ver 1 Tm acima). Paulo escreve
com um forte senso de paternidade espiritual (2:1). A situaçã o em
É feso piorou, entã o ele exorta Timó teo a superar suas limitaçõ es -
juventude e timidez e ser forte na graça de Deus.

Como em sua carta anterior, Paulo está especialmente preocupado


com as doutrinas especulativas que têm espalhado confusã o entre os
cristã os de É feso. Ele também aconselha Timó teo sobre cuidado
pastoral em meio a perseguiçõ es e dissensõ es internas. Há uma
qualidade inconfundível de despedida na carta: o velho Paulo parece
estar preparando sua despedida, mas garantindo que seu jovem
discípulo esteja pronto para levar a fé à pró xima geraçã o.
Tito
Esta carta, como as duas epístolas a Timó teo, é uma carta de conselho e
encorajamento dirigida a um dos antigos companheiros de viagem de
É
Sã o Paulo, que agora serve como pastor na ilha de Creta. É imperativo
para Tito ordenar homens eficazes e dignos como clérigos, entã o Paulo
esboça as qualidades de tal líder. Ele também enfatiza o forte
comportamento moral - "obras praticadas por nó s em justiça ... boas
açõ es" (3:5, 8), mesmo que o tom moral em Creta seja muito baixo
(1:12) e os professores locais nã o sejam confiáveis e divisivos (3:9-10).

Filemom
Esta carta é um pedido de clemência em nome de um escravo fugitivo,
Onésimo, que está voltando para seu mestre, o cristã o a quem a carta é
endereçada. Sã o Paulo pede que Filemom aceite Onésimo de volta como
um irmã o em Cristo, e nã o como um servo. Embora a carta seja muito
breve, ela defende eloqü entemente a igualdade de todos os cristã os
como membros da família de Deus. Paulo refere-se à sua prisã o, mas
nã o dá mais detalhes. A carta pode ter sido escrita durante sua
detençã o em Roma em 60-62 DC.
hebreus
A Carta aos Hebreus é um caso especial. Mesmo nos tempos antigos,
alguns Padres da Igreja questionaram se esta carta era obra de Sã o
Paulo ou de um de seus seguidores. O texto em si nã o reivindica Paulo
como autor, e a carta difere das outras em estilo e vocabulá rio. Ainda
assim, Hebreus certamente traz a marca da influência de Paulo.

Seu argumento central é pela superioridade de Cristo como Sumo


Sacerdote da Nova Aliança e seu sacrifício, em relaçã o aos sacrifícios de
animais da Antiga Aliança. É possível, dizem alguns, que a carta tenha
sido redigida por um associado treinado em retó rica (alguns veem
afinidades com a linguagem de Sã o Lucas). Um nú mero pequeno, mas
crescente, de intérpretes modernos passou a atribuir a origem da carta
a Paulo - incluindo especialistas respeitados como o padre James
Swetnam, SJ, do Pontifício Instituto Bíblico.

Todos os cató licos ficam nervosos com a leitura de Sã o Paulo. Afinal,


foram seus textos os mais invocados por Martinho Lutero e Joã o Calvino
durante as controvérsias do século XVI. E a propaganda anticató lica
posterior também se baseou fortemente no apó stolo. Como o teó logo
Frank Sheed disse uma vez: "Um homem nunca pode sentir o mesmo
sobre o livro mais bonito se ele acabou de levar uma surra na cabeça
com ele."
Mas vamos lá , prestando a Sã o Paulo uma honra condenada pelos
reformadores protestantes: a veneraçã o dos santos.
Lembro-me da histó ria de John England, o bispo de Charleston,
Carolina do Sul, do início do século XIX. Certa vez, enquanto viajava em
uma diligência, ele foi abordado por um jovem pregador protestante. O
bispo England relembrou: "Nã o era nada além de Paulo aqui, e Paulo ali,
e como os 'romanistas' poderiam responder a Paulo?"

O bispo estremeceu com as interpretaçõ es casuais e os termos


familiares do arrivista, até que finalmente interrompeu: "Jovem! Se você
nã o tem fé e piedade suficientes para induzi-lo a chamar o apó stolo de
'Sã o Paulo', ao menos tenha a boa educaçã o de chamá -lo "Senhor
Paulo."
Sã o Paulo merece respeito, e ele pró prio o admitiria. Sim, ele chamou
a si mesmo de "o menor dos apó stolos" (1 Cor 15:9) e "o menor de
todos os santos" (Ef 3:8). Mas mesmo esses títulos autodepreciativos
implicam uma dignidade especial e grande autoridade. Ele pode ter
sido o menor dos santos, mas ainda era um santo. Ele pode ter sido o
menor dos apó stolos, mas esse era em si um grupo extremamente
elitista. Como Apó stolo, ele falou com "o Espírito de Deus" (1 Cor 7:40)
e "a mente de Cristo" (1 Cor 2:16). Ele reconheceu uma "autoridade" da
qual ele poderia legitimamente "se vangloriar" (2 Cor 10:8), pois ele
"nã o era inferior a esses apó stolos superlativos" (2 Cor 12:11). Sua
posiçã o lhe merecia uma "reivindicaçã o legítima" de respeito (1
Coríntios 9:1-12). Ele tinha o poder de "pronunciar julgamento" sobre
os pecadores (1 Coríntios 5:3).

Pela graça, Sã o Paulo tinha uma dignidade que os cristã os tinham o


dever de observar. Eles o consideravam como um pai na família: "Pois,
embora você tenha inú meros guias em Cristo, você nã o tem muitos pais.
Pois eu me tornei seu pai em Cristo Jesus por meio do evangelho" (1
Coríntios 4:15; veja também 1 Tessalonicenses 2:11; Fp 2:22; Fp 10). O
quarto mandamento nos obriga a "honrar" nossos pais, e isso significa
dar-lhes nosso amor, respeito, obediência e, claro, imitaçã o. Uma leitura
atenta das cartas de Sã o Paulo mostra-nos que ele nã o esperava de nó s
menos do que este dever cristã o fundamental.
Embora se reconhecesse "o principal dos pecadores" (1 Tm 1,15),
Sã o Paulo sabia também que deveria servir de modelo para os cristã os.
"Sede meus imitadores", disse ele, "como eu sou de Cristo" (1 Coríntios
11:1).
O termo favorito de Sã o Paulo para os cristã os era "santos" (ver, por
exemplo, Colossenses 1:2-4). A santidade é a nossa vocaçã o e a nossa
dignidade. No entanto, ele também distinguiu entre os santos na terra
(Cl 1:2) e os "santos na luz" (Cl 1:12) - o que a devoçã o cató lica mais
tarde chamaria, respectivamente, de "Igreja militante" e "Igreja
triunfante". A Carta aos Hebreus diz-nos que os ú ltimos sã o "uma
nuvem de testemunhas" (Heb 12,1) em torno dos primeiros.

Aos santos da terra que compartilham nosso chamado, damos nosso


amor. Aos santos da luz que combateram o bom combate e venceram a
corrida, damos uma honra especial chamada veneraçã o. Nã o é o mesmo
tipo de honra que damos somente a Deus. É mais como o profundo
respeito que devemos aos nossos pais e avó s. Nó s os amamos tanto que
emolduramos suas fotos e damos a eles um lugar de destaque em
nossas casas. Nã o devemos hesitar em pedir oraçã o aos nossos pais,
nem devemos hesitar em pedir aos nossos antepassados na fé -
especialmente alguém que tem a autoridade de um Apó stolo, para nã o
mencionar o Espírito de Deus e a mente de Cristo!
Sã o Paulo disse aos colossenses que "nã o cessamos de orar por vó s"
(Cl 1,9). Eu acredito que essa promessa antiga ainda é vá lida. E assim
devemos pedir a intercessã o de Sã o Paulo, assim como ele implorou a
intercessã o de outros cristã os (ver Cot 4:3).

Precisamos ler Sã o Paulo. Devemos imitá -lo também. Mas também


devemos venerá -lo. Venerá -lo é glorificar a Cristo pela graça
manifestada na vida do Apó stolo.
O pró prio Sã o Paulo disse bem: "Já nã o sou eu que vivo, mas é Cristo
que vive em mim" (Gl 2,20).

Regeneraçã o Batismal: Tito 3:5


Bispos: 1 Timó teo 3:1-7; Tito 1:7-9
Celibato e Castidade: 1 Coríntios 7; 1 Timó teo 5:11-12
Confirmaçã o, Sacramental: 2 Coríntios 1:22; Efésios 1:13
Conselhos, Autoridade de. Atos 15
Divindade de Cristo: Filipenses 2:5-11; Colossenses 1:15-16; 2:9;
Romanos 9:5; Tito 2:13
Eucaristia (Presença Real): 1 Coríntios 10:16-17; 11:23-29
Excomunhã o: 1 Coríntios 5:3-13; 1 Timó teo 1:20; Tito 3:10
Perdendo a Salvaçã o: Gá latas 5:4; 1 Coríntios 15:1-2

Boas Obras, Mérito de. 1 Coríntios 3:8; 13:2; Gá latas 5:6; 2 Timó teo 4:7-
8
Céu: 2 Coríntios 5:1
Inferno: 2 Tessalonicenses 1:9
Heresia e dissidência: Gá latas 1:8-9; Colossenses 2:8; Efésios 4:14; 1
Timó teo 1:3-7; 6:3-5; Tito 3:10-11
Hierarquia, Igreja: Efésios 4:11-12
Ordens Sagradas: Atos 13:3; 1 Timó teo 4:14; 5:22; 2 Timó teo 1:6
Encarnaçã o de Cristo: Filipenses 2:1-11
Indulgências: 2 Coríntios 2:10
Inspiraçã o da Escritura: 2 Timó teo 3:16
Casamento Sacramental: Romanos 7:2-3; 1 Coríntios 7:10-11, 39;
Efésios 5:3 1; 1 Tessalonicenses 4:4
Missa, Obrigaçã o: 1 Coríntios 11:24-25
Pecado Mortal: Romanos 1:29-32; 1 Coríntios 6:9-10; Gá latas 5:19-21;
Efésios 5:5
Pecado Original: Romanos 5:12-19; 1 Coríntios 15:21-22; Efésios 2:3
Papado: Gá latas 1:17-19; 2:7-14

Penitência, Sacramental: 2 Coríntios 5:18-20


Oraçã o, Intercessã o: Colossenses 4:3
Sacerdó cio Cató lico: Romanos 15:15-16
Sacerdote como "Pai": 1 Coríntios 4:15; 1 Tessalonicenses 2:11;
Filipenses 2:22; Filemom 10
Purgató rio: 1 Coríntios 3:15
Relíquias: Atos 19:11-12
Ressurreiçã o dos Mortos: 1 Coríntios 15:12-14
Santos no Céu: Colossenses 1:12
Domingo (o Dia do Senhor): Atos 20:7; 1 Coríntios 16:1-2
Tradiçã o, Sagrada: 1 Coríntios 11:2; 2 Tessalonicenses 2:15; 3:6; 2
Timó teo 1:13-14; 2:2; 3:14
Trindade: 1 Coríntios 6:11; 2 Coríntios 1:21-22; 13:13; Efésios 2:18

Nã o me envergonho do evangelho: é o poder de Deus para a salvaçã o de


todo aquele que crê.
Romanos 1:16
Pois sustentamos que o homem é justificado pela fé,
independentemente das obras da lei.
Romanos 3:28
O salá rio do pecado é a morte.
Romanos 6:23
Nã o faço o bem que quero, mas o mal que nã o quero é o que faço.
Romanos 7.•19
Nã o sabemos orar como convém, mas o pró prio Espírito intercede por
nó s com suspiros inexprimíveis.
Romanos 8:26

Sabemos que em tudo Deus coopera para o bem daqueles que o amam.
Romanos 8:28
Se Deus é por nó s, quem é contra nó s?
Romanos 8:31
Apresentem seus corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus,
que é o seu culto espiritual.
Romanos 12:1
Nã o se conforme com este mundo, mas transforme-se pela renovaçã o
da sua mente.
Romanos 12:2
Nã o se deixe vencer pelo mal, mas vença o mal com o bem.
Romanos 12:21
Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem, mas para nó s,
que somos salvos, é o poder de Deus.
1 Coríntios 1:18

Deus escolheu o que é louco no mundo para envergonhar os sá bios,


Deus escolheu o que é fraco no mundo para envergonhar os fortes.
1 Coríntios 1:27
Somos colaboradores de Deus.
1 Coríntios 3:9
Pois embora ausente no corpo, estou presente no espírito.
1 Coríntios 5:3
Tornei-me tudo para todos os homens, para de qualquer maneira salvar
alguns.
1 Coríntios 9:22
Que aquele que pensa estar em pé, cuide para nã o cair.
1 Coríntios 10:12
Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, mas nã o tenha
amor, sou um gongo que soa ou um címbalo que retine. E se eu tiver
poderes proféticos, e compreender todos os mistérios e todo o
conhecimento, e se eu tiver toda a fé, a ponto de remover montanhas,
mas nã o tiver amor, nada sou. Ainda que eu dê tudo o que tenho e
entregue o meu corpo para ser queimado, mas nã o tiver amor, nada
ganho.

O amor é paciente e gentil; o amor nã o é ciumento nem arrogante;


nã o é arrogante ou rude. O amor nã o insiste no seu pró prio caminho;
nã o é irritável ou ressentido; nã o se alegra com o mal, mas regozija-se
com o bem. O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor nunca acaba; quanto à s profecias, passarã o; quanto à s
línguas, cessarã o; quanto ao conhecimento, passará . Pois nosso
conhecimento é imperfeito e nossa profecia é imperfeita; mas quando
vier o perfeito, o imperfeito passará . Quando eu era criança, falava
como criança, pensava como criança, raciocinava como criança; quando
me tornei homem, desisti de maneiras infantis. Pois agora vemos por
espelho em enigma, mas entã o veremos face a face. Agora eu sei em
parte; entã o compreenderei plenamente, assim como fui plenamente
compreendido. Portanto, permaneçam a fé, a esperança e o amor, estes
três; mas o maior deles é o amor.

1 Coríntios 13:1-13
Andamos por fé, nã o por vista.
2 Coríntios 5:7
[O Senhor] disse-me: "A minha graça te basta, porque o meu poder se
aperfeiçoa na fraqueza."
2 Coríntios 12:9
Nã o sou mais eu quem vive, mas Cristo vive em mim.
Gá latas 2:20
Um pouco de fermento leveda toda a massa.
Gá latas 5:9
Levem os fardos uns dos outros e assim cumpram a lei de Cristo.
Gá latas 6'2
Deus nã o se deixa escarnecer, pois tudo o que o homem semear, isso
também ceifará .
Gá latas 6:7

[Deus] nos escolheu nele antes da fundaçã o do mundo, para que


fô ssemos santos e irrepreensíveis diante dele.
Efésios 1:4
Vista toda a armadura de Deus.
Efésios 6:11
Viver é Cristo, e morrer é lucro.
Filipenses 1:21
Trabalhe sua pró pria salvaçã o com temor e tremor.
Filipenses 2:12
Qualquer ganho que tive, contei como perda por amor de Cristo.
Filipenses 3:7
Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo,
tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de graça, se há algo
de excelente, se há algo digno de louvor, pensem nessas coisas.
Filipenses 4:8

Aprendi, seja qual for o estado em que me encontre, a estar contente.


Eu sei ser humilhado e sei ter abundâ ncia.
Filipenses 4:11-12
Tudo posso naquele que me fortalece.
Filipenses 4:13
Eu completo o que falta nas afliçõ es de Cristo por causa de seu corpo,
isto é, a Igreja.
Colossenses 1:24
Sua vida está escondida com Cristo em Deus.
Colossenses 3:3
Ore constantemente.
1 Tessalonicenses 5:17
Teste tudo; retenha o que é bom.
1 Tessalonicenses 5:21
Se alguém nã o trabalhar, nã o coma.
2 Tessalonicenses 3:10

A lei é boa, se alguém a usa legalmente.


1 Timó teo 1:8
Use um pouco de vinho para o bem do seu estô mago.
1 Timó teo 5:23
Lute a boa luta.
1 Timó teo 6:12
Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.
2 Timó teo 4:7
Para o puro todas as coisas sã o puras.
Tito 1:15

Uma Oraçã o a Sã o Paulo


Glorioso Sã o Paulo, de perseguidor do nome cristã o, tornaste-te o seu
zelosíssimo Apó stolo. Para tornar Jesus, nosso Divino Salvador,
conhecido até os confins da terra, você sofreu prisã o, açoites,
apedrejamentos e naufrá gios, e todo tipo de perseguiçõ es, e derramou a
ú ltima gota de seu sangue.
Obtende-nos a graça de aceitar as enfermidades, sofrimentos e
infortú nios desta vida como graças da misericó rdia divina. Para que
nunca nos cansemos das provaçõ es do nosso exílio, mas nos mostremos
cada vez mais fiéis e fervorosos. Amém.
Ladainha de Sã o Paulo Apó stolo
Antífona: Tu me sondaste e me conheceste. Você sabe quando me sento
e quando me levanto.
Ore por nó s.
Santa Maria, Mã e de Deus...
Rainha concebida sem pecado original...
Sã o Paulo...
Apó stolo dos gentios...
Barco da Eleiçã o...
Sã o Paulo, foste arrebatado ao terceiro céu...
Sã o Paulo, você ouviu coisas que nã o foram dadas ao homem para
proferir...
Sã o Paulo, você nã o sabia nada além de Cristo, e este crucificado ...
Sã o Paulo, seu amor por Cristo foi mais forte que a morte...
Sã o Paulo, você queria ser dissolvido e estar com Cristo ...
Sã o Paulo, seu zelo nã o conheceu limites...
Sã o Paulo, fizeste-te tudo para todos, para ganhar tudo para Cristo...

Sã o Paulo, você se chamou prisioneiro de Cristo por nó s...


Ore por nó s.
Sã o Paulo, você estava com ciú mes de nó s, com o ciú me de Deus ...
Sã o Paulo, você glorificou apenas na cruz de Cristo ...
Sã o Paulo, você trouxe em seu corpo a morte de Cristo ...
Sã o Paulo, você exclamou: Com Cristo estou pregado na cruz! ...
Sã o Paulo, para que possamos despertar e nã o pecar mais...
Para que nã o recebamos em vã o a graça de Deus...
Para que possamos andar em novidade de vida...
Para que possamos desenvolver a nossa salvaçã o com temor e tremor...
Para que possamos vestir a armadura de Deus...
Para que possamos resistir aos enganos do maligno...
Para que possamos permanecer firmes até o fim...
Para que possamos avançar para o alvo...
Para que possamos ganhar a coroa...

Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo...


Poupe-nos, ó Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo...
Graciosamente, ouça-nos, ó Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo...
Tenha piedade de nó s.
Ó
Oremos: Ó Deus, tu que ensinaste ao mundo inteiro pela pregaçã o do
bem-aventurado apó stolo Paulo, concede que nó s, que celebramos sua
memó ria, possamos, seguindo seu exemplo, ser atraídos a ti. Por Nosso
Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que convosco vive e reina na unidade
do Espírito Santo, Deus, pelos séculos dos séculos. Amém.

Gorman, Michael J., Apó stolo do Senhor Crucificado.- Uma Introduçã o


Teoló gica a Paulo e Suas Cartas (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2004).
, Reading Paul (Eugene, OR: Cascade, 2007).
Hahn, Scott W., e Curtis Mitch, editores, The Ignatius Catholic Study
Bible: The Acts of the Apostles (San Francisco: Ignatius Press, 2002).
, The Ignatius Catholic Study Bible: The Letter of Saint Paul to the
Romans (San Francisco: Ignatius Press, 2003).
, The Ignatius Catholic Study Bible: The First and Second Letters of
Saint Paul to the Corinthians (San Francisco: Ignatius Press, 2004).
, The Ignatius Catholic Study Bible: The Letters of Saint Paul to the
Galatians and Ephesians (San Francisco: Ignatius Press, 2005).

, The Ignatius Catholic Study Bible: The Letters of Saint Paul to the
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, Enviado do Messias: Em Atos dos Apó stolos 16-28 (Steubenville, OR
Emmaus Road, 2005).
Índice
Introduçã o
1. Como sabemos sobre Sã o Paulo
2. Vida de Sã o Paulo
3. Pensamento de Sã o Paulo
4. Cartas de Sã o Paulo
5. Sã o Paulo e Nó s
6. Referência Rá pida para Doutrinas e Prá ticas Cató licas na Vida e Obra
de Sã o Paulo
7. O Citável Sã o Paulo
8. Oraçõ es a Sã o Paulo
9. Para Leitura Adicional

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