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são paulo
Audiências Gerais
2 de julho de 2008 a 4 de fevereiro de 2009
Capa:
A Conversão de São Paulo (detalhe)
de Caravaggio (Michelangelo Merisi da) (1573-1610)
S. Maria del Popolo, Roma, Itá l ia
© Scala / Art Resource, Nova York
Na ú ltima catequese antes das fé rias — há dois meses, no inı́cio de
julho — iniciei uma nova sé rie de temas por ocasiã o do Ano Paulino,
examinando o mundo em que viveu Sã o Paulo. Hoje gostaria de
retomar e continuar a re lexã o sobre o Apó stolo dos Gentios,
apresentando uma breve biogra ia dele. Visto que na pró xima quarta-
feira iremos dedicar ao acontecimento extraordiná rio ocorrido no
caminho de Damasco, a conversã o de Paulo, uma viragem fundamental
na sua vida depois do encontro com Cristo, detenhamo-nos hoje
brevemente no conjunto da sua vida. Encontramos os dados
biográ icos de Paulo respectivamente na Carta a Filemom, na qual ele
diz ser “um velho” (Flm 9: presbíteros ), e nos Atos dos Apó stolos, nos
quais, no momento do apedrejamento de Estê vã o, ele é descrito como
“um jovem” (7:58: neanías ). Ambas as expressõ es sã o obviamente
gené ricas, mas, de acordo com cá lculos antigos, um homem de cerca de
trinta anos era descrito como “jovem”, ao passo que seria chamado de
“velho” quando chegasse aos sessenta anos. A data do nascimento de
Paulo depende em grande parte da data da Carta a Filemom. Supõ e-se
tradicionalmente que ele o tenha escrito durante sua prisã o em Roma
em meados dos anos 60. Paulo teria nascido aproximadamente no ano
8. Ele teria, portanto, cerca de trinta anos na é poca do apedrejamento
de Estê vã o. Esta deveria ser a cronologia correta, e estamos celebrando
o Ano Paulino precisamente de acordo com esta cronologia. O ano de
2008 foi escolhido com uma data de nascimento de cerca do ano 8 em
mente. Em todo caso, Paulo nasceu em Tarso, na Cilı́cia (cf. Atos 22:3).
A cidade era a capital administrativa da regiã o e em 51 aC teve como
Procô nsul nada menos que o pró prio Marco Tú lio Cı́cero, enquanto dez
anos depois, em 41, Tarso foi o local onde Marco Antô nio e Cleó patra se
encontraram pela primeira vez. Judeu da diá spora, falava grego, embora
seu nome fosse de origem latina. Alé m disso, derivou por assonâ ncia
do original judeu Saulo/Saulos, e ele era um cidadã o romano (cf. Atos
22:25-28). Paulo aparece assim na interseçã o de trê s culturas
diferentes – romana, grega e judaica – e talvez por isso, em parte, esteja
disposto a uma fecunda abertura universalista, a uma mediaçã o entre
as culturas, a uma verdadeira universalidade. Ele també m aprendeu um
ofı́cio manual, talvez com seu pai, o de “fabricante de tendas” (Atos
18:3: skenopoios ). Isso provavelmente deve ser entendido como um
trabalhador de lã de cabra nã o cardada ou ibras de linho que as
transformava em esteiras ou tendas (cf. Atos 20:33-35). Por volta da
idade de doze a treze anos, idade em que um menino judeu se torna um
bar mitzvah (“ ilho do mandamento”), Paulo deixou Tarso e mudou-se
para Jerusalé m para ser educado aos pé s do rabino Gamaliel, o Velho,
um sobrinho do grande Rabi Hillel, de acordo com as mais rı́gidas
normas farisaicas e adquirindo grande zelo pela Torá mosaica (cf. Gl
1,14; Fl 3,5-6; At 22,3; 23,6; 26,5).
Com base nessa ortodoxia profunda que aprendeu na escola de Hillel
em Jerusalé m, ele viu o novo movimento que se referia a Jesus de
Nazaré como um risco, uma ameaça à identidade judaica, à verdadeira
ortodoxia dos pais. Isso explica o fato de que ele orgulhosamente
“perseguiu a Igreja de Deus”, como ele admitiria trê s vezes em suas
Cartas (1 Cor 15,9; Gl 1,13; Fl 3,6). Embora nã o seja fá cil imaginar em
que consistiu essa perseguiçã o, sua atitude foi intolerante. E aqui que se
encaixa o evento de Damasco; voltaremos a ela na nossa pró xima
Catequese. E certo que a partir desse momento a vida de Paulo mudou e
ele se tornou um incansá vel Apó stolo do Evangelho. Com efeito, Paulo
passou para a histó ria pelo que fez como cristã o, aliá s como apó stolo, e
nã o como fariseu. Tradicionalmente, a sua actividade apostó lica divide-
se com base nas suas trê s viagens missioná rias, à s quais se acrescenta
uma quarta, a sua viagem a Roma como prisioneiro. Todos eles sã o
relatados por Lucas nos Atos. No que diz respeito à s trê s viagens
missioná rias, poré m, é preciso distinguir a primeira das outras duas.
De fato, Paulo nã o foi diretamente responsá vel pela primeira (cf. At
13-14), que foi con iada ao cipriota Barnabé . Eles navegaram juntos de
Antioquia no rio Orontes, enviados por aquela Igreja (cf. Atos 13:1-3), e,
tendo navegado do porto de Seleucia na costa da Sı́ria, cruzaram a ilha
de Chipre de Salamina a Pafos; daqui chegaram à s costas meridionais
da Anató lia, hoje Turquia, e passaram pelas cidades de Atá lia, Perga na
Panfı́lia, Antioquia na Pisı́dia, Icô nio, Listra e Derbe, de onde
retornaram ao ponto de partida. Assim nasceu a Igreja do povo, a Igreja
dos gentios. E entretanto, sobretudo em Jerusalé m, tinha-se instaurado
um debate que durou até que, para participarem verdadeiramente nas
promessas dos profetas e entrarem efectivamente na herança de Israel,
estes cristã os vindos do paganismo foram obrigados a aderir à vida e
leis de Israel (vá rias observâ ncias e prescriçõ es que separavam Israel
do resto do mundo). Para resolver este problema fundamental para o
nascimento da Igreja futura, o chamado Concı́lio dos Apó stolos reuniu-
se em Jerusalé m para encontrar uma soluçã o, da qual dependia o
nascimento efetivo de uma Igreja universal. E foi decidido que a
observâ ncia da Lei Mosaica nã o deveria ser imposta aos pagã os
convertidos (cf. Atos 15:6-30): isto é , eles nã o deveriam ser obrigados
pelas regras do judaı́smo; a ú nica coisa necessá ria era pertencer a
Cristo, viver com Cristo e cumprir suas palavras. Assim, ao pertencerem
a Cristo, pertenciam també m a Abraã o e a Deus e eram participantes de
todas as promessas. Apó s este evento decisivo, Paulo separou-se de
Barnabé , escolheu Silas e iniciou sua segunda viagem missioná ria (At
15,36-18,22). Tendo ido alé m da Sı́ria e da Cilı́cia, viu novamente a
cidade de Listra, onde se juntou a ele Timó teo (uma igura muito
importante na Igreja nascente, ilho de uma judia e de uma pagã ), a
quem havia circuncidado; ele cruzou a Anató lia Central e chegou à
cidade de Troas, na costa norte do Mar Egeu. E aqui aconteceu outro
acontecimento importante: em sonho viu um macedô nio do outro lado
do mar, ou seja, da Europa, que dizia: “Venha nos ajudar!” Era a Europa
do futuro que pedia a luz e a ajuda do Evangelho. No ı́mpeto dessa
visã o, ele partiu para a Macedô nia e assim entrou na Europa. Tendo
desembarcado em Neá polis, chegou a Filipos, onde fundou uma bela
comunidade. Ele entã o viajou para Tessalô nica. Tendo deixado este
lugar por causa dos problemas que os judeus criaram para ele, ele
passou por Beré ia para Atenas. Nesta capital da cultura grega antiga,
pregou a pagã os e gregos, primeiro na Agora e depois no Areó pago. E o
discurso do Areó pago, mencionado nos Atos dos Apó stolos, é o modelo
de como traduzir o Evangelho na cultura grega, de como fazer entender
aos gregos que esse Deus dos cristã os e judeus nã o era um Deus
estranho à sua cultura mas o Deus desconhecido que eles esperavam, a
verdadeira resposta para as questõ es mais profundas de sua cultura.
Entã o, de Atenas chegou a Corinto, onde permaneceu por um ano e
meio. E aqui temos um evento cronologicamente muito con iá vel. E a
data mais idedigna de toda a sua biogra ia porque, durante esta
primeira estada em Corinto, foi obrigado a comparecer perante o
governador da provı́ncia senatorial da Acaia, o procô nsul Gá lio, que o
acusou de culto ilegı́timo. Em Corinto existe uma inscriçã o antiga,
encontrada em Delfos, que menciona este Gá lio e aquela é poca. Diz que
Gá lio foi procô nsul em Corinto entre os anos 51 e 53. Assim temos uma
data absolutamente certa. Paulo permaneceu em Corinto naqueles
anos. Podemos, portanto, supor que ele chegou lá por volta do ano 50 e
permaneceu até 52. Entã o, de Corinto, passando por Cencré ia, o porto
no lado oriental da cidade, ele partiu para a Palestina e chegou a
Cesaré ia Marı́tima. Daqui ele navegou para Jerusalé m, antes de retornar
a Antioquia no Orontes.
A terceira viagem missioná ria (cf. At 18,23-21,16) começou, como
todas as suas viagens, em Antioquia, que se tornou o nú cleo originá rio
da Igreja dos gentios, da missã o aos gentios, e foi també m o lugar onde
o termo “cristã o” foi cunhado. Foi aqui, diz-nos Sã o Lucas, que os
seguidores de Jesus foram chamados pela primeira vez de “cristã os”. De
Antioquia, Paulo partiu para Efeso, capital da Provı́ncia da Asia, onde
permaneceu dois anos, exercendo um ministé rio cujos efeitos frutı́feros
se izeram sentir em toda a regiã o. Foi de Efeso que Paulo escreveu as
Cartas aos Tessalonicenses e aos Corı́ntios. A populaçã o da cidade,
poré m, foi colocada contra ele pelos ourives locais, que viram seus
rendimentos diminuir com a reduçã o do nú mero de adoradores de
Artemis (o templo a ela dedicado em Efeso, o Artemysion , era um dos
sete maravilhas do mundo antigo); Paulo foi assim forçado a fugir para
o norte. Ele atravessou a Macedô nia mais uma vez e voltou para a
Gré cia, provavelmente para Corinto, onde permaneceu por trê s meses e
escreveu sua famosa Carta aos Romanos.
A partir daqui, ele refez seus passos: ele voltou pela Macedô nia,
chegando a Trô ade de barco, e entã o, permanecendo muito brevemente
nas ilhas de Mitilene, Quios e Samos, chegou a Mileto, onde fez um
importante discurso aos anciã os da Igreja. de Efeso, traçando o retrato
de um verdadeiro Pastor da Igreja (cf. Act 20). Daqui ele partiu para
Tiro, de onde veio para Cesaré ia Marı́tima, em sua viagem de volta a
Jerusalé m. Aqui ele foi preso com base em um mal-entendido. Certos
judeus haviam confundido outros judeus de origem grega com gentios,
que Paulo havia levado ao recinto do templo reservado aos israelitas.
Ele foi poupado da inevitá vel sentença de morte pela intervençã o do
tribuno romano de guarda na á rea do templo (cf. At 21,27-36); isso
aconteceu enquanto o procurador imperial na Judé ia era Antô nio Fé lix.
Depois de um perı́odo na prisã o (cuja duraçã o é debatida), e como
Paulo, como cidadã o romano, era apelado de Cé sar (naquela é poca,
Nero), o procurador subseqü ente, Pó rcio Festo, o enviou a Roma sob
escolta militar.
A viagem para Roma envolveu escalar as ilhas mediterrâ neas de
Creta e Malta e depois as cidades de Siracusa, Rhegium Calabria e
Puteoli. Os cristã os romanos desceram a Via Apia para encontrá -lo no
Fó rum Appii (cerca de 70 km [43,5 milhas] da capital), e outros foram
até Trê s Tavernas (cerca de 40 km [25 milhas]). Em Roma, ele se
encontrou com os delegados da comunidade judaica, a quem disse que
era “a esperança de Israel” que ele estava preso (Atos 28:20). No
entanto, o relato de Lucas termina com a mençã o de dois anos passados
em Roma sob moderada vigilâ ncia militar. Lucas nã o menciona nem
uma sentença de Cé sar (Nero) nem, menos ainda, a morte do acusado.
As tradiçõ es posteriores falam da sua libertaçã o, que teria sido propı́cia
quer para uma viagem missioná ria a Espanha, quer para um episó dio
posterior no Oriente, nomeadamente em Creta, Efeso e Nicó polis no
Epiro. Ainda a tı́tulo hipoté tico, conjectura-se uma nova detençã o e uma
segunda prisã o em Roma (onde se supõ e que tenha escrito as trê s
chamadas Cartas Pastorais, ou seja, as duas a Timó teo e a Carta a Tito),
com um segundo julgamento isso teria se mostrado desfavorá vel para
ele. No entanto, uma sé rie de razõ es induzem muitos estudiosos de Sã o
Paulo a encerrar sua biogra ia com a narrativa de Lucas nos Atos.
Voltaremos ao seu martı́rio mais adiante no ciclo das nossas
catequeses. Por enquanto, nesta breve lista das viagens de Paulo, basta
notar como ele se dedicou ao anú ncio do Evangelho, nã o poupando
energias, enfrentando uma sé rie de graves provaçõ es, das quais ele nos
deixou uma lista na Segunda Carta aos Corı́ntios (cf. 11:21-28). Alé m
disso, é ele quem escreve: «Faço tudo por causa do Evangelho» (1 Cor 9,
23), exercendo com generosidade sem reservas o que chamou «a
ansiedade pelas Igrejas» (2 Cor 11, 28). Vemos um compromisso que só
se explica por uma alma verdadeiramente fascinada pela luz do
Evangelho, apaixonada por Cristo, uma alma sustentada por uma
convicçã o profunda; é preciso levar a luz de Cristo ao mundo, anunciar
o Evangelho a todos nó s. Isto me parece ser o que nos resta desta breve
revisã o das viagens de Sã o Paulo: ver a sua paixã o pelo Evangelho e
assim compreender a grandeza, a beleza, aliá s, a profunda necessidade
do Evangelho para todos nó s. Rezemos ao Senhor que fez Sã o Paulo ver
a sua luz, que o fez ouvir a sua palavra e comoveu profundamente o seu
coraçã o, para que també m nó s possamos ver a sua luz, para que
també m o nosso coraçã o seja tocado pela sua Palavra e assim també m
nó s possa dar a luz do Evangelho e a verdade de Cristo ao mundo de
hoje, que dela tem sede.
3
Paulo, os Doze e a
Igreja pré-paulina *
Hoje gostaria de falar da relaçã o de Sã o Paulo com os Apó stolos que o
precederam no seguimento de Jesus. Estas relaçõ es foram sempre
marcadas por um profundo respeito e aquela franqueza em Paulo que
brotava da defesa da verdade do Evangelho. Embora tenha sido
praticamente contemporâ neo de Jesus de Nazaré , nunca teve a
oportunidade de conhecê -lo durante sua vida pú blica. Por isso, depois
de ter icado cego no caminho de Damasco, sentiu a necessidade de
consultar os primeiros Discı́pulos do Mestre, aqueles que ele havia
escolhido para levar o Evangelho até os con ins da terra.
Na Carta aos Gá latas, Paulo escreve um importante relato dos
contatos que teve com alguns dos Doze: em primeiro lugar com Pedro,
escolhido como Cefas , termo aramaico que signi ica rocha, sobre o qual
a Igreja estava sendo edi icados (cf. Gl 1,18), com Tiago, «irmã o do
Senhor» (cfr. Gl 1,19), e com Joã o (cfr. Gl 2,9). Paulo nã o hesita em
reconhecê -los como “colunas” da Igreja. Particularmente importante é o
encontro com Cefas (Pedro), em Jerusalé m: Paulo icou com ele quinze
dias para “consultá -lo” (cf. Gl 1,19), ou seja, para conhecer a vida
terrena do Ressuscitado que o havia “agarrado” no caminho de
Damasco e estava transformando radicalmente sua vida; de
perseguidor da Igreja de Deus, tornou-se evangelizador daquela fé no
Messias cruci icado e Filho de Deus, que no passado havia procurado
destruir (cf. Gl 1,23).
Que tipo de informaçã o Paulo reuniu sobre Jesus Cristo durante os
trê s anos que se seguiram ao encontro de Damasco? Na Primeira Carta
aos Corı́ntios podemos notar duas passagens que Paulo aprendeu em
Jerusalé m e que já foram formuladas como elementos centrais da
tradiçã o cristã , uma tradiçã o constitutiva. Paulo os transmitiu
verbalmente, como os havia recebido, com uma fó rmula muito solene:
“Pois eu lhes entreguei como de primeira importâ ncia o que també m
recebi”. Ele insiste, portanto, na idelidade ao que ele mesmo recebeu e
ielmente transmite aos novos cristã os. Estes sã o elementos
constitutivos e dizem respeito à Eucaristia e à Ressurreiçã o; sã o
passagens que já foram formuladas na dé cada de 30. Chegamos assim à
morte de Jesus, à sua sepultura no seio da terra e à sua ressurreiçã o (cf.
1 Cor 15, 3-4). Tomemos as duas passagens: para Paulo, as palavras de
Jesus na Ultima Ceia (cf. 1 Cor 11, 23-25) sã o verdadeiramente o centro
da vida da Igreja: a Igreja é edi icada sobre este centro, tornando-se
assim ela mesma. Alé m deste centro eucarı́stico, no qual a Igreja
renasce constantemente – també m em toda a teologia de Sã o Paulo, em
todo o seu pensamento – estas palavras tê m um impacto considerá vel
na relaçã o pessoal de Paulo com Jesus. Por um lado, testemunham que a
Eucaristia ilumina a maldiçã o da Cruz, tornando-a uma bê nçã o (Gl 3,13-
14), e por outro, explicam a importâ ncia da morte e ressurreiçã o de
Jesus. Nas Cartas de Sã o Paulo, o “por vó s” da Instituiçã o da Eucaristia é
personalizado, tornando-se “para mim” (Gl 2,20) — pois Paulo
percebeu que naquele “tu” ele mesmo era conhecido e amado por Jesus
— como bem como ser “para todos” (2 Cor 5:14). Este “para vó s” torna-
se “para mim” e “para ela [a Igreja]” (Ef 5,25), ou seja, “para todos”, no
sacrifı́cio expiató rio da Cruz (cf. Rm 3,25). A Igreja constró i-se a partir e
na Eucaristia e reconhece-se como «Corpo de Cristo» (1 Cor 12, 27),
alimentada todos os dias pela força do Espı́rito do Ressuscitado.
O outro texto, sobre a Ressurreiçã o, mais uma vez nos transmite a
mesma fó rmula de idelidade. Sã o Paulo escreve: “Porque em primeiro
lugar vos transmiti o que també m recebi: que Cristo morreu pelos
nossos pecados, segundo as Escrituras, que foi sepultado, que
ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e que apareceu a
Cefas, depois aos Doze” (1 Cor 15:3-5). Este “pelos nossos pecados”
repete-se també m nesta tradiçã o transmitida a Paulo, que põ e a tó nica
na doaçã o que Jesus fez de si mesmo ao Pai para nos libertar do pecado
e da morte. Deste dom do pró prio Jesus, Paulo extrai as expressõ es
mais envolventes e fascinantes de nosso relacionamento com Cristo:
“Por nossa causa, ele o fez pecador, aquele que nã o conheceu pecado,
para que nele fô ssemos feitos justiça de Deus” (2 Cor 5:21); “Você s
conhecem a graça de nosso Senhor Jesus Cristo: embora fosse rico, por
amor de você s se fez pobre, para que pela sua pobreza você s se
tornassem ricos” (2 Corı́ntios 8:9). Vale a pena lembrar o comentá rio
feito por Martinho Lutero, entã o um monge agostiniano, sobre estas
palavras paradoxais de Paulo: “Este é aquele misté rio que é rico em
graça divina para os pecadores, no qual, por uma troca maravilhosa,
nossos pecados nã o sã o mais nossos, mas de Cristo, e a justiça de Cristo
nã o é de Cristo, mas nossa” ( Comentários aos Salmos de 1513-1515). E
assim somos salvos.
No querigma original (anú ncio), transmitido de boca em boca, o uso
do verbo “ressuscitou” em vez de “ressuscitou” – que teria sido mais
ló gico de usar, em continuidade com “morreu. . . e foi sepultado” —
merece mençã o. A forma verbal “ressuscitou” foi escolhida para
enfatizar que a Ressurreiçã o de Cristo tem um efeito na existê ncia dos
crentes ainda hoje; poderı́amos traduzi-lo como: “ressuscitou e
continua a viver” na Eucaristia e na Igreja. Assim, todas as Escrituras
dã o testemunho da morte e ressurreiçã o de Cristo porque, como
escreveria Ugo di San Vittore, “toda a divina Escritura constitui um só
livro, e este ú nico livro é Cristo, porque toda a Escritura fala de Cristo e
se cumpre em Cristo” ( De arca Noe 2, 8). Se Santo Ambró sio de Milã o
pô de dizer que “na Escritura lemos Cristo”, é porque a Igreja primitiva
reinterpretou todas as Escrituras de Israel, partindo de e voltando a
Cristo.
A enumeraçã o das apariçõ es do Ressuscitado a Cefas, aos Doze, a
mais de 500 irmã os e a Tiago culmina com a mençã o da apariçã o ao
pró prio Paulo no caminho de Damasco: ” (1 Corı́ntios 15:8). Visto que
havia perseguido a Igreja de Deus, nesta con issã o ele expressa sua
indignidade de ser considerado um Apó stolo em pé de igualdade com
aqueles que o precederam: mas a graça de Deus nele nã o foi em vã o (1
Cor 15:10). Assim, a avassaladora a irmaçã o da graça divina une Paulo
à s primeiras testemunhas da Ressurreiçã o de Cristo: “Se entã o eu ou
eles, assim pregamos e vó s crestes” (1 Cor 15, 11). A identidade e a
unidade do anú ncio do Evangelho sã o importantes; tanto eles como eu
pregamos a mesma fé , o mesmo Evangelho de Jesus Cristo que morreu
e ressuscitou e que se entrega na Santı́ssima Eucaristia.
A importâ ncia que ele confere à tradiçã o viva da Igreja, que ela
transmite à s suas comunidades, mostra como é equivocada a visã o que
atribui a Paulo a invençã o do cristianismo; antes de evangelizar Jesus
Cristo, seu Senhor, Paulo o encontrou no caminho de Damasco e o
visitou na Igreja, observando sua vida nos Doze e naqueles que o
seguiram pelos caminhos da Galilé ia. Nas pró ximas catequeses teremos
a oportunidade de examinar as contribuiçõ es que Paulo deu à Igreja
das origens. No entanto, a missã o que recebeu do Ressuscitado para
evangelizar os gentios precisava ser con irmada e garantida por aqueles
que lhe ofereciam a ele e a Barnabé a mã o direita em comunhã o, como
sinal de aprovaçã o do seu apostolado e da sua evangelizaçã o e da sua
aceitaçã o no uma só comunhã o da Igreja de Cristo (cf. Gl 2,9).
Compreende-se entã o que a expressã o «ainda que outrora olhá ssemos
a Cristo do ponto de vista humano» (2 Cor 5, 16) nã o signi ica que a sua
vida terrena tenha pouca importâ ncia para o nosso desenvolvimento na
fé , mas que, desde a sua Ressurreiçã o, a nossa a forma de se relacionar
com ele mudou. Ele é ao mesmo tempo o Filho de Deus «que descende
de David segundo a carne e foi designado Filho de Deus em poder
segundo o Espı́rito de santidade pela sua Ressurreiçã o dos mortos»,
como recordaria Paulo no inı́cio do sua Carta aos Romanos (1:3-4).
Quanto mais tentarmos seguir os passos de Jesus de Nazaré pelos
caminhos da Galilé ia, melhor compreenderemos que Ele assumiu a
nossa humanidade, compartilhando-a em tudo, menos no pecado. A
nossa fé nã o nasce de um mito ou de uma ideia, mas do encontro com o
Ressuscitado na vida da Igreja.
6
O “Conselho” de Jerusalém e o
Incidente em Antioquia *
Nas ú ltimas catequeses sobre Sã o Paulo, falei do seu encontro com
Cristo Ressuscitado que mudou profundamente a sua vida e depois da
sua relaçã o com os Doze Apó stolos chamados por Jesus —
especialmente a sua relaçã o com Tiago, Cefas e Joã o — e da sua relaçã o
com a Igreja em Jerusalé m.
A questã o permanece sobre o que Sã o Paulo sabia sobre o Jesus
terreno, sobre sua vida, seus ensinamentos, sua paixã o. Antes de entrar
neste tema, talvez seja ú til ter em mente que o pró prio Sã o Paulo
distingue entre dois modos de conhecer Jesus e, de forma mais geral,
dois modos de conhecer uma pessoa. Ele escreve em sua Segunda Carta
aos Corı́ntios: “de agora em diante, portanto, nã o consideramos
ningué m do ponto de vista humano; embora uma vez tenhamos
considerado Cristo do ponto de vista humano, nã o o consideramos mais
assim ”(5:16). Conhecer “do ponto de vista humano”, à maneira da
carne, signi ica conhecer unicamente de modo externo, por meio de
crité rios externos: pode-se ter visto uma pessoa vá rias vezes e,
portanto, conhecer seus traços e vá rias caracterı́sticas de seu
comportamento: como ele fala, como ele se move, etc. Embora algué m
possa conhecer algué m dessa maneira, nã o o conhece realmente, nã o
conhece a essê ncia da pessoa. Somente com o coraçã o se conhece
verdadeiramente uma pessoa. De fato, os fariseus e os saduceus
conheciam Jesus externamente; eles aprenderam seus ensinamentos e
sabiam muitos detalhes sobre ele, mas nã o o conheceram em sua
verdade. Há uma distinçã o semelhante em uma das palavras de Jesus.
Depois da Trans iguraçã o, perguntou aos Apó stolos: “Quem dizem os
homens ser o Filho do homem?” e: “quem você s dizem que eu sou?” As
pessoas o conhecem, mas super icialmente; eles sabem vá rias coisas
sobre ele, mas nã o o conhecem realmente. Por outro lado, os Doze,
graças à amizade que põ e em questã o o coraçã o, compreenderam pelo
menos em substâ ncia e começaram a descobrir quem é Jesus. Este
modo diferente de conhecer ainda existe hoje: há pessoas eruditas que
conhecem muitos detalhes de Jesus e pessoas simples que nã o
conhecem esses detalhes, mas o conheceram em sua verdade: “O
coraçã o fala ao coraçã o”. E Paulo quer essencialmente dizer que é
necessá rio conhecer Jesus assim, com o coraçã o, e assim conhecer a
pessoa essencialmente na sua verdade; entã o, posteriormente, saber os
detalhes sobre ele.
Dito isto, ica a pergunta: o que sabia Sã o Paulo sobre a vida prá tica
de Jesus, as suas palavras, a sua Paixã o e os seus milagres? Parece certo
que nã o o conheceu durante sua vida terrena.
Por meio dos Apó stolos e da nascente Igreja, Paulo certamente deve
ter conhecido os detalhes da vida terrena de Jesus. Nas suas Cartas
podemos encontrar trê s formas de referê ncia ao Jesus pré -pascal. Em
primeiro lugar, há referê ncias explı́citas e diretas. Paulo fala da
genealogia davı́dica de Jesus (cf. Rm 1,3), conhece a existê ncia dos seus
“irmã os” ou parentes (1 Cor 9,5; Gl 1,19), conhece a sequê ncia dos
acontecimentos da Ultima Ceia (cf. 1 Cor 11,23), e conhece outras
coisas que Jesus disse, por exemplo sobre a indissolubilidade do
matrimó nio (cf. 1 Cor 7,10 com Mc 10,11-12), sobre a necessidade de
quem proclamar o Evangelho para ser sustentado pela comunidade
porque o trabalhador merece o seu salá rio (cf. 1 Cor 9,14, com Lc 10,7).
Paulo conhece as palavras que Jesus pronunciou na Ultima Ceia (cf. 1
Cor 11,24-25, com Lc 22,19-20) e conhece també m a Cruz de Jesus.
Estas sã o referê ncias diretas a palavras e eventos da vida de Jesus.
Em segundo lugar, podemos entrever em algumas frases das Cartas
Paulinas vá rias alusõ es à tradiçã o atestada nos Evangelhos Sinó pticos.
Por exemplo, as palavras que lemos na Primeira Carta aos
Tessalonicenses que dizem que “o dia do Senhor virá como um ladrã o
de noite” (5:2) nã o poderiam ser explicadas com referê ncia à s profecias
do Antigo Testamento, já que a comparaçã o com o ladrã o noturno só se
encontra nos Evangelhos de Mateus e de Lucas; portanto, é de fato
retirado da tradiçã o sinó tica. Assim, quando lemos: “Deus escolheu o
que é loucura no mundo. . .” (1 Cor 1,27-28), ouve-se o eco iel do
ensinamento de Jesus sobre os simples e os pobres (cf. Mt 5,3; 11,25;
19,30). Depois, há as palavras que Jesus pronunciou com alegria
messiâ nica: “Eu te dou graças, ó Pai, Senhor do cé u e da terra, porque
escondeste estas coisas aos sá bios e instruı́dos e as revelaste aos
pequeninos”. Paulo sabe — pela sua experiê ncia missioná ria — quã o
verdadeiras sã o estas palavras, isto é , que o coraçã o dos simples está
aberto ao conhecimento de Jesus. També m a referê ncia à obediê ncia de
Jesus “até à morte”, que lemos em Fl 2,8, só pode recordar a
disponibilidade sem reservas do Jesus terreno para fazer a vontade do
Pai (cf. Mc 3,35; Jo 4,34). Paulo conhece assim a Paixã o de Jesus, a sua
Cruz, o modo como viveu os ú ltimos momentos da sua vida. A Cruz de
Jesus e a tradiçã o sobre este evento da Cruz estã o no centro do
querigma paulino . Outro pilar da vida de Jesus conhecido por Sã o Paulo
é o “Sermã o da Montanha”, do qual citou alguns elementos quase
literalmente ao escrever aos romanos: “amem-se uns aos outros. . . .
Abençoa aqueles que te perseguem. . . . Vivam em harmonia uns com os
outros. . . vencer o mal com o bem. . . .” Por isso, nas suas Cartas se
re lete ielmente o Sermã o da Montanha (cf. Mt 5-7).
Por im, é possı́vel encontrar uma terceira forma pela qual as
palavras de Jesus estã o presentes nas Cartas de Sã o Paulo: é quando ele
realiza uma forma de transposiçã o da tradiçã o pré -pascal para a
situaçã o depois da Pá scoa. Um caso tı́pico é o tema do Reino de Deus.
Estava certamente no centro da pregaçã o do Jesus histó rico (cf. Mt 3,2;
Mc 1,15; Lc 4,43). E possı́vel notar em Paulo uma transposiçã o deste
tema porque, depois da Ressurreiçã o, é evidente que Jesus em pessoa, o
Ressuscitado, é o Reino de Deus. O Reino, portanto, chega onde Jesus
está chegando. Assim, o tema do Reino de Deus, no qual se antecipou o
misté rio de Jesus, se transforma em cristologia. No entanto, as mesmas
atitudes que Jesus pediu para entrar no Reino de Deus aplicam-se
precisamente a Paulo no que diz respeito à justi icaçã o pela fé : tanto a
entrada no Reino como a justi icaçã o exigem uma atitude de profunda
humildade e abertura, livre de presunçõ es, para acolher a vontade de
Deus graça. Por exemplo, a pará bola do fariseu e do publicano (cf. Lc
18,9-14) transmite um ensinamento que se encontra exatamente como
em Paulo, quando insiste na devida exclusã o de qualquer vangló ria a
Deus. Até as sentenças de Jesus contra publicanos e prostitutas, que
estavam mais dispostos a aceitar o Evangelho do que os fariseus (cf. Mt
21,31; Lc 7,36-50), e a sua decisã o de partilhar as refeiçõ es com eles (cf.
Mt 9: 10-13; Lc 15,1-2) sã o plenamente con irmados no ensinamento
de Paulo sobre o amor misericordioso de Deus pelos pecadores (cf. Rm
5,8-10; e també m Ef 2,3-5). Assim, o tema do Reino de Deus é
reproposto de forma nova, mas sempre em plena idelidade à tradiçã o
do Jesus histó rico.
Outro exemplo da transformaçã o iel do nú cleo doutriná rio
transmitido por Jesus encontra-se nos “tı́tulos” que utiliza. Antes da
Pá scoa, ele se descreveu como o Filho do homem; depois da Pá scoa
torna-se ó bvio que o Filho do homem é també m o Filho de Deus.
Portanto, o tı́tulo preferido de Paulo para descrever Jesus é Kýrios ,
“Senhor” (cf. Fl 2,9-11), que sugere a divindade de Jesus. O Senhor
Jesus, com este tı́tulo, aparece em plena luz da Ressurreiçã o. No Monte
das Oliveiras, no momento da extrema angú stia de Jesus (cf. Mc 14,36),
os discı́pulos, antes de adormecer, o ouviram falar com o Pai e chamá -lo
de “ Aba , Pai”. Essa é uma palavra muito familiar, equivalente ao nosso
“papai”, usada apenas pelas crianças ao conversar com o pai. Até aquele
momento era impensá vel para um judeu usar tal palavra para se dirigir
a Deus; mas Jesus, sendo um verdadeiro Filho, naquele momento de
intimidade usou esta forma e disse: “Aba, Pai”. Surpreendentemente,
nas Cartas de Sã o Paulo aos Romanos e aos Gá latas, esta palavra “Abba”,
que exprime a exclusividade da iliaçã o de Jesus, aparece nos lá bios dos
baptizados (cf. Rm 8,15; Gl 4,6 ) porque receberam o “Espı́rito do Filho”.
Eles agora carregam este Espı́rito dentro de si e podem falar como Jesus
e com Jesus como verdadeiros ilhos de seu Pai; eles podem dizer
“Abba” porque se tornaram ilhos no Filho.
E, por ú ltimo, gostaria de referir a dimensã o salvı́ ica da morte de
Jesus que encontramos no Evangelho, segundo o qual: «o Filho do
homem nã o veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em
resgate por muitos” (Mc 10:45; Mt 20:28). Uma re lexã o iel destas
palavras de Jesus aparece no ensinamento paulino sobre a morte de
Jesus como comprada (cf. 1 Cor 6,20), como redençã o (cf. Rm 3,24),
como libertaçã o (cf. . Gal 5,1) e como reconciliaçã o (cf. Rm 5,10; 2 Cor
5,18-20). Este é o centro da teologia paulina que se fundamenta nestas
palavras de Jesus.
Para concluir, Sã o Paulo nã o pensava em Jesus em termos histó ricos,
como uma pessoa do passado. Ele certamente conhecia a grande
tradiçã o da vida, palavras, morte e ressurreiçã o de Jesus, mas nã o trata
tudo isso como algo do passado; ele a apresenta como a realidade do
Jesus vivo. Para Paulo, as palavras e açõ es de Jesus nã o pertencem ao
perı́odo histó rico, ao passado. Jesus está vivo agora, ele fala conosco
agora e vive por nó s. Este é o verdadeiro caminho para conhecer Jesus e
entender a tradiçã o sobre ele. També m devemos aprender a conhecer
Jesus, nã o do ponto de vista humano, como uma pessoa do passado,
mas como nosso Senhor e Irmã o, que está conosco hoje e nos mostra
como viver e como morrer.
8
A Importância da Cristologia:
Pré-existência e Encarnação *
A Importância da Cristologia:
A Teologia da Cruz *
A importância da cristologia:
a determinação da ressurreição *
“Se Cristo nã o ressuscitou, é vã a nossa pregaçã o e vã a vossa fé . . . e
ainda estais nos vossos pecados” (1 Corı́ntios 15:14-17). Com estas
fortes palavras da Primeira Carta aos Corı́ntios, Sã o Paulo evidencia a
importâ ncia decisiva que atribui à Ressurreiçã o de Jesus. Com efeito,
neste acontecimento está a soluçã o do problema colocado pelo drama
da Cruz. A Cruz sozinha nã o poderia explicar a fé cristã , pelo contrá rio,
permaneceria uma tragé dia, uma indicaçã o do absurdo do ser. O
misté rio pascal consiste no fato de que o Cruci icado “ressuscitou ao
terceiro dia, segundo as Escrituras” (1 Cor 15,4), como atesta a tradiçã o
proto-cristã . Esta é a pedra angular da cristologia paulina: tudo gira em
torno deste centro gravitacional. Todo o ensinamento do Apó stolo
Paulo parte e chega ao misté rio daquele que o Pai ressuscitou dos
mortos. A Ressurreiçã o é um dado fundamental, quase um axioma
pré vio (cf. 1 Cor 15,12), a partir do qual Paulo pode formular o seu
anú ncio sinté tico ( kerygma ). Aquele que foi cruci icado e que assim
manifestou o imenso amor de Deus pelos homens ressuscitou e está
vivo entre nó s.
E importante compreender a relaçã o entre o anú ncio da
Ressurreiçã o, tal como o formula Paulo, e aquele em vigor desde as
primeiras comunidades cristã s pré -paulinas. Aqui, de fato, podemos ver
a importâ ncia da tradiçã o que precedeu o Apó stolo e que ele, com
muito respeito e cuidado, deseja transmitir por sua vez. O texto sobre a
Ressurreiçã o contido no capı́tulo 15,1-11 da Primeira Carta aos
Corı́ntios enfatiza a conexã o entre “receber” e “transmitir”. Sã o Paulo
atribui grande importâ ncia à formulaçã o literal da tradiçã o e no inal da
passagem em consideraçã o sublinha: “O que importa é que eu pregue o
que eles pregam” (1 Cor 15,11), chamando assim a atençã o para a
unidade do kerygma , do anú ncio para todos os crentes e para aqueles
que anunciarã o a Ressurreiçã o de Cristo. A tradição a que ele se refere é
a fonte de onde tirar. Sua cristologia nunca é original em detrimento da
idelidade à tradiçã o. O querigma dos Apó stolos sempre preside à
reelaboraçã o pessoal de Paulo; cada um dos seus argumentos parte da
tradiçã o comum, e neles exprime a fé partilhada por todas as Igrejas,
que sã o uma só Igreja. Desta forma, Sã o Paulo oferece um modelo para
todos os tempos de como abordar a teologia e como pregar. O teó logo, o
pregador, nã o cria novas visõ es do mundo e da vida, mas está a serviço
da verdade transmitida, a serviço do fato real de Cristo, da Cruz e da
Ressurreiçã o. A sua tarefa é ajudar-nos a compreender hoje a realidade
do “Deus connosco” que está por detrá s das palavras antigas e,
portanto, a realidade da verdadeira vida.
Devemos aqui ser explı́citos: Sã o Paulo, ao anunciar a Ressurreiçã o,
nã o se preocupa em apresentar uma exposiçã o doutrinal orgâ nica – nã o
deseja escrever o que seria efetivamente um manual teoló gico – mas
aborda o tema respondendo a dú vidas e perguntas concretas
perguntado a ele pelos ié is; um discurso nã o preparado, entã o, mas
cheio de fé e experiê ncia teoló gica. Encontramos aqui uma
concentraçã o do essencial: fomos “justi icados”, isto é , feitos justos,
salvos, por Cristo que morreu e ressuscitou por nó s. Acima de tudo,
emerge o fato da Ressurreiçã o, sem a qual a vida cristã seria
simplesmente vã . Naquela manhã de Pá scoa aconteceu algo
extraordiná rio, algo novo e ao mesmo tempo muito concreto, marcado
por sinais muito precisos e registrado por numerosas testemunhas.
Para Paulo, como para os outros autores do Novo Testamento, a
Ressurreiçã o está intimamente ligada ao testemunho daqueles que
tiveram a experiê ncia direta do Ressuscitado. Isso signi ica ver e ouvir,
nã o apenas com os olhos ou com os sentidos, mas també m com uma luz
interior que auxilia o reconhecimento do que os sentidos externos
atestam como fato objetivo.
Paulo dá , portanto, como os quatro Evangelhos, importâ ncia
primordial ao tema das aparições , que constituem condiçã o
fundamental para crer no Ressuscitado que deixou o sepulcro vazio.
Estes dois fatos sã o importantes: o túmulo está vazio e Jesus de fato
apareceu . Assim se forjaram os laços daquela tradiçã o que, pelo
testemunho dos Apó stolos e dos primeiros discı́pulos, haveria de
chegar à s sucessivas geraçõ es até chegar à nossa. A primeira
consequê ncia, ou a primeira forma de expressar este testemunho, é
pregar a Ressurreiçã o de Cristo como sı́ntese do anú ncio evangé lico e
como ponto culminante do itinerá rio salvı́ ico. Paulo faz tudo isso em
muitas ocasiõ es: olhando as Cartas e os Atos dos Apó stolos, podemos
ver que para ele o essencial é dar testemunho da Ressurreiçã o. Gostaria
de citar apenas um texto: Paulo, preso em Jerusalé m, é acusado perante
o Siné drio. Nesta situaçã o, onde está em jogo a sua vida, ele indica qual
é o sentido e o conteú do de toda a sua pregaçã o: “a respeito da
esperança e da ressurreiçã o dos mortos, estou sendo julgado” (At 23,6).
Esta mesma frase Paulo repete continuamente nas suas Cartas (cf. 1 Ts
1,9ss.; 4,13-18; 5,10), nas quais se refere à sua pró pria experiê ncia
pessoal, ao seu pró prio encontro com Cristo ressuscitado (cf. .Gl 1:15-
16, 1 Cor 9:1).
Mas podemos nos perguntar: qual é , para Sã o Paulo, o signi icado
profundo da Ressurreiçã o de Jesus? O que ele tem a nos dizer ao longo
desses dois mil anos? A a irmaçã o “Cristo ressuscitou” é relevante para
nó s hoje? Por que a Ressurreiçã o é tã o importante, tanto para ele como
para nó s? Paulo dá uma resposta solene a esta pergunta no inı́cio de
sua Carta aos Romanos, onde começa referindo-se ao “Evangelho de
Deus . . . a respeito de seu Filho, que foi descendente de Davi segundo a
carne, e designado Filho de Deus em poder segundo o espı́rito de
santidade por sua ressurreiçã o dentre os mortos” (Rm 1:3-4). Paulo
sabe bem, e diz muitas vezes, que Jesus sempre foi o Filho de Deus,
desde o momento da sua Encarnaçã o. A novidade da Ressurreiçã o
consiste no fato de que Jesus, ressuscitado da humildade de sua
existê ncia terrena, é constituı́do Filho de Deus “em poder”. Jesus,
humilhado até o momento de sua morte na Cruz, pode agora dizer aos
Onze: “Foi-me dada toda a autoridade no cé u e na terra” (Mt 28,18).
Cumpriu-se a a irmaçã o do Salmo 2:8: “Pede-me, e eu te darei as naçõ es
por herança, e os con ins da terra por tua possessã o”. Assim, com a
Ressurreiçã o começa o anú ncio do Evangelho de Cristo a todos os
povos – começa o Reino de Cristo, este novo Reino que nã o conhece
outro poder senã o o da verdade e do amor. A Ressurreiçã o revela assim
de initivamente a identidade real e a estatura extraordiná ria do
Cruci icado. Uma dignidade incompará vel e elevada: Jesus é Deus! Para
Sã o Paulo, a identidade secreta de Jesus revela-se ainda mais no
misté rio da Ressurreiçã o do que na Encarnaçã o. Enquanto o tı́tulo de
Cristo , ou seja, “Messias”, “o Ungido”, em Sã o Paulo tende a tornar-se o
nome pró prio de Jesus, e o de “ Senhor ” indica sua relaçã o pessoal com
os crentes, agora o tı́tulo “ Filho de Deus ” vem ilustrar a relaçã o ı́ntima
de Jesus com Deus, relaçã o que se revela plenamente no acontecimento
pascal. Podemos dizer, portanto, que Jesus ressuscitou para ser o
Senhor dos vivos e dos mortos (cf. Rm 14,9; e 2 Cor 5,15), ou, por
outras palavras, o nosso Salvador (cf. Rm 4: 25).
Tudo isto traz consequê ncias importantes para a nossa vida de
crentes: somos chamados a participar, no nosso ı́ntimo, em toda a
histó ria da morte e ressurreiçã o de Cristo. O Apó stolo diz: “morremos
com Cristo” e cremos que “viveremos com Ele”. Pois sabemos que,
sendo Cristo ressuscitado dentre os mortos, nunca mais morrerá ; a
morte nã o tem mais domı́nio sobre ele” (Rm 6:8-9). Isto signi ica
participar no sofrimento de Cristo, que é o prelú dio daquela plena
unidade com Ele atravé s da ressurreiçã o que esperamos. Foi o que
aconteceu també m com Sã o Paulo, cuja experiê ncia pessoal é descrita
nas Cartas em tons tã o dolorosos quanto realistas: “para conhecê -lo e à
força de sua Ressurreiçã o, e compartilhar seus sofrimentos, tornando-
me semelhante a ele em sua morte, para que, se possı́vel, alcance a
ressurreiçã o dentre os mortos” (Fl 3,10-11; cf. 2 Tm 2,8-12). A teologia
da cruz nã o é uma teoria – é a realidade da vida cristã . Viver na fé em
Jesus Cristo, viver na verdade e no amor, implica sacrifı́cio diá rio,
implica sofrimento. O cristianismo nã o é o caminho fá cil; é antes uma
subida difı́cil, mas iluminada pela luz de Cristo e pela grande esperança
que d'Ele nasce. Santo Agostinho diz: os cristã os nã o sã o poupados do
sofrimento, antes devem sofrer um pouco mais, porque viver a fé
expressa a coragem de enfrentar com maior profundidade os
problemas que a vida e a histó ria apresentam. Mas só assim, atravé s da
experiê ncia do sofrimento, podemos conhecer a vida na sua
profundidade, na sua beleza, na grande esperança nascida de Cristo
cruci icado e ressuscitado. O crente, poré m, encontra-se entre dois
pó los: de um lado, a Ressurreiçã o, que em certo sentido já está presente
e operante em nó s (cf. Cl 3,1-4; Ef 2,6); por outro, a urgê ncia de entrar
no processo que conduz tudo e todos rumo à quela plenitude descrita
na Carta aos Romanos com uma imagem ousada: assim como toda a
Criaçã o geme e sofre quase como em dores de parto, assim nó s
gememos na expectativa da redençã o do nosso corpo, da nossa
redençã o e ressurreiçã o (cf. Rm 8, 18-23).
Em sı́ntese, podemos dizer com Paulo que o verdadeiro crente obté m
a salvaçã o professando com a sua boca que Jesus é o Senhor e
acreditando no seu coraçã o que Deus o ressuscitou dos mortos (cf. Rm
10,9). Acima de tudo é importante o coraçã o que crê em Cristo e que na
sua fé “toca” o Ressuscitado; mas nã o basta levar a fé no coraçã o, é
preciso confessá -la e testi icá -la com a boca, com a vida, tornando assim
presente na nossa histó ria a verdade da Cruz e da Ressurreiçã o. Deste
modo, o cristã o torna-se parte daquele processo pelo qual o primeiro
Adã o, criatura da terra e sujeito à corrupçã o e à morte, se transforma
no ú ltimo Adã o, celestial e incorruptı́vel (cf. 1 Cor 15, 20-22 e 42). -49).
Este processo foi desencadeado pela Ressurreiçã o de Cristo, e é ,
portanto, nisto que encontramos a nossa esperança de que um dia
també m nó s possamos entrar com Cristo na nossa verdadeira pá tria,
que é o Cé u. Animados por esta esperança, prossigamos com coragem e
alegria.
12
Culto Espiritual *
Epístolas Pastorais:
Cartas a Timóteo e Tito *
A ú ltima das Cartas Paulinas, das quais gostaria de falar hoje, sã o
conhecidas como “Cartas Pastorais” porque foram enviadas a cada um
dos Pastores da Igreja: duas a Timó teo e uma a Tito, ambos
colaboradores pró ximos de Sã o Paulo. Em Timó teo, o Apó stolo viu
quase um “alter ego”; de facto, con iou-lhe importantes missõ es (à
Macedó nia: cf. Act 19,22; a Tessaló nica: 1 Ts 3,6-7; a Corinto: cf. 1 Cor
4,17; 16,10-11) e em seguida, escreveu um elogio lisonjeiro sobre ele:
“Nã o tenho ningué m como ele, que se preocupa genuinamente pelo seu
bem” (Fp 2:20). De acordo com a História Eclesiástica de Eusé bio de
Cesaré ia, um historiador do sé culo IV, Timó teo foi o primeiro Bispo de
Efeso (cf. 3:4). Tito també m deve ter sido muito querido pelo Apó stolo,
que explicitamente o descreve como “cheio de zelo . . . meu
companheiro e companheiro de trabalho” (2 Corı́ntios 8:17-23), e ainda
“meu verdadeiro ilho na fé comum” (Ti 1:4). A ele foram atribuı́das
algumas missõ es muito delicadas na Igreja de Corinto, cujos resultados
animaram Paulo (cf. 2 Cor 7,6-7.13; 8,6). Depois disso, segundo a
tradiçã o que nos foi transmitida, Tito juntou-se a Paulo em Nicó polis,
no Epiro, na Gré cia (cf. Ti 3,12), e foi enviado por ele à Dalmá cia (cf. 2
Tm 4,10). A Carta que lhe foi enviada sugere que mais tarde foi feito
Bispo de Creta (cf. Ti 1, 5).
As Cartas dirigidas a estes dois Pastores ocupam um lugar muito
particular no Novo Testamento. A maioria dos exegetas hoje é de
opiniã o que essas Cartas nã o teriam sido escritas pelo pró prio Paulo,
mas teriam vindo da “Escola Paulina”, e que elas re letem seu legado
para uma nova geraçã o, talvez incluindo algumas palavras ou breves
passagens escritas por o pró prio Apó stolo. Algumas partes da Segunda
Carta a Timó teo, por exemplo, parecem tã o autê nticas que só poderiam
ter saı́do do coraçã o e da boca do Apó stolo.
Sem dú vida, a situaçã o da Igreja que emerge destas Cartas é muito
diferente daquela da meia-idade de Paulo. Ele agora, em retrospecto, se
de ine como o “arauto, apó stolo e mestre” da fé e da verdade para os
gentios (cf. 1 Tm 2:7; 2 Tm 1:11); ele se apresenta como algué m que
recebeu misericó rdia - ele escreve, "para que em mim, como um caso
extremo, Jesus Cristo possa mostrar toda a sua paciê ncia, e que eu
possa me tornar um exemplo para aqueles que mais tarde teriam fé
nele e ganhariam vida eterna” (1 Tm 1:16). Por isso, é de importâ ncia
essencial que em Paulo, perseguidor convertido pela presença do
Ressuscitado, se manifeste realmente a magnanimidade do Senhor para
nos encorajar e nos levar a esperar e a ter fé na misericó rdia do Senhor,
que, apesar da nossa pequenez, pode fazer grandes coisas. Os novos
contextos culturais que aqui se assumem vã o para alé m da meia-idade
de Paulo. Com efeito, faz-se referê ncia ao aparecimento de
ensinamentos que devem ser considerados bastante errô neos e falsos
(cf. 1 Tm 4,1-2; 2 Tm 3,1-5), como aqueles [ensinamentos] que
sustentavam que o casamento nã o era uma coisa boa (cf. 1 Tm 4,3a).
Podemos ver um equivalente moderno dessa preocupaçã o, porque
també m hoje as Escrituras à s vezes sã o lidas como um objeto de
curiosidade histó rica e nã o como a palavra do Espı́rito Santo, na qual
podemos ouvir a voz do pró prio Senhor e reconhecer sua presença na
histó ria. Poderı́amos dizer que, com esta breve lista de erros
apresentados nas trê s Cartas, existem alguns vestı́gios precoces
daquele movimento errô neo posterior que leva o nome de Gnosticismo
(cf. 1 Tm 2:5-6; 2 Tm 3: 6-8).
O escritor enfrenta essas doutrinas com dois lembretes bá sicos. A
primeira consiste numa exortaçã o a uma leitura espiritual da Sagrada
Escritura (cf. 2 Tm 3,14-17), isto é , a uma leitura que as considere
verdadeiramente “inspiradas” e provenientes do Espı́rito Santo, para
que se possa “instruı́dos para a salvaçã o” por eles. A maneira correta de
ler as Escrituras é entrar em diá logo com o Espı́rito Santo, a im de
obter uma luz “para o ensino, para a repreensã o, para a correçã o e para
a educaçã o na justiça” (2 Tm 3,16). Isto, acrescenta a Carta, é : «para que
o homem de Deus seja perfeitamente ı́ntegro e perfeitamente
habilitado para toda a boa obra» (2 Tm 3, 17). A outra advertê ncia é
uma referê ncia ao bom “depó sito” ( parathéke ): uma palavra especial
encontrada nas Cartas Pastorais e usada para indicar a tradiçã o da fé
apostó lica que deve ser preservada com a ajuda do Espı́rito Santo que
habita em nó s. Este “depó sito” deve, portanto, ser considerado como a
soma da tradiçã o apostó lica e como crité rio de idelidade à mensagem
evangé lica. E aqui devemos ter em mente que o termo “Escrituras”,
quando usado nas Cartas Pastorais como em todo o restante do Novo
Testamento, signi ica explicitamente o Antigo Testamento, pois os
escritos do Novo Testamento ou ainda nã o haviam sido escritos ou
ainda nã o constituı́a parte do câ non das Escrituras. Portanto, a tradiçã o
do anú ncio apostó lico, este “depó sito”, é a chave de leitura das
Escrituras, o Novo Testamento. Neste sentido, Escritura e tradiçã o,
Escritura e anú ncio apostó lico como chave, sã o colocados lado a lado e
quase se fundem para formar juntos o “ irme fundamento lançado por
Deus” (cf. 2 Tm 2,19). O anú ncio apostó lico, isto é , a tradiçã o, é
necessá rio para entrar na compreensã o das Escrituras e nelas ouvir a
voz de Cristo. Devemos, de fato, “manter-nos irmes na palavra certa
como ensinada” pelo ensino recebido (Tt 1:9). Com efeito, na base de
tudo está a fé na revelaçã o histó rica da bondade de Deus, que em Jesus
Cristo manifestou materialmente o seu «amor pelos homens», um amor
que no texto original grego se exprime signi icativamente como
ilanthropìa (Ti 3,4 ;cf.2 Tm 1:9-10); Deus ama a humanidade.
No conjunto, é claro que a comunidade cristã começa a de inir-se em
termos estritos, segundo uma identidade que nã o só se manté m alheia
a interpretaçõ es incongruentes, mas sobretudo a irma a sua vinculaçã o
aos pontos essenciais da fé , que aqui é sinó nimo de « verdade” (1 Tm
2:4, 7; 4:3; 6:5; 2 Tm 2:15, 18, 25; 3:7-8; 4:4; Ti 1:1, 14). Na fé , a
verdade essencial de quem somos, quem é Deus e como devemos viver
é esclarecida. E desta verdade (a verdade da fé ), a Igreja é descrita
como “coluna e baluarte” (1 Tm 3,15). Em todo o caso, ela permanece
uma comunidade aberta de amplitude universal que reza por todos, de
todas as classes e classes, para que todos conheçam a verdade: Deus
“quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da
verdade”. porque Cristo Jesus “se deu a si mesmo em resgate por todos”
(1 Tm 2,4-5). Portanto, o sentido de universalidade, mesmo que as
comunidades ainda sejam pequenas, é forte e conclusivo nestas Cartas.
Alé m disso, aqueles na comunidade cristã “nã o falam mal de ningué m”
e “mostram perfeita cortesia para com todos os homens” (Ti 3:2). Este é
o primeiro componente importante destas Cartas: a universalidade e a
fé como verdade, como chave de leitura da Sagrada Escritura, do Antigo
Testamento, de inindo assim um anú ncio uni icado da Escritura, uma fé
viva aberta a todos e um testemunho da amor por todos.
Outro componente tı́pico destas Cartas é a re lexã o sobre a estrutura
ministerial da Igreja. Eles sã o os primeiros a apresentar a trı́plice
subdivisã o em Bispos, presbı́teros e diá conos (cf. 1 Tm 3,1-13; 4,13; 2
Tm 1,6; Tm 1,5-9). Podemos observar nas Cartas Pastorais a fusã o de
duas estruturas ministeriais distintas e, assim, a constituiçã o da forma
de initiva do ministé rio na Igreja. Nas Cartas de Paulo da metade de sua
vida, ele fala de “bispos” (Fl 1,1) e de “diá conos”: esta é a estrutura
tı́pica da Igreja formada no tempo do mundo gentio.
No entanto, como a igura do pró prio Apó stolo permanece
dominante, os outros ministé rios só se desenvolvem lentamente. Se,
como dissemos, nas Igrejas formadas no mundo antigo, temos Bispos e
diá conos, e nã o sacerdotes; nas Igrejas formadas no mundo judaico-
cristã o, os padres sã o a estrutura dominante. No inal das Cartas
Pastorais, as duas estruturas se unem: agora aparece “o bispo” (cf. 1 Tm
3,2; Tm 1,7), usado sempre no singular com o artigo de inido “o bispo”.
E ao lado do “bispo” encontramos sacerdotes e diá conos. A igura do
Apó stolo continua a destacar-se, mas as trê s Cartas, como disse, já nã o
se dirigem à s comunidades, mas sim a indivı́duos, a Timó teo e a Tito,
que, por um lado, aparecem como Bispos e, por outro , começam a
ocupar o lugar do Apó stolo.
Esta é a primeira indicaçã o da realidade que mais tarde seria
conhecida como “sucessã o apostó lica”. Paulo diz a Timó teo nos tons
mais solenes: “Nã o desprezes o dom que recebeste quando, por
profecia, os presbı́teros te impuseram as mã os” (1 Tm 4,14). Podemos
dizer que nestas palavras se manifesta pela primeira vez o cará ter
sacramental do ministé rio. E assim temos a estrutura cató lica essencial:
Escritura e tradiçã o, Escritura e anú ncio formam um todo, mas a esta
estrutura – uma estrutura doutrinal, por assim dizer – deve-se
acrescentar a estrutura pessoal, os sucessores dos Apó stolos como
testemunhas da proclamaçã o apostó lica.
Por ú ltimo, é importante notar que nestas Cartas a Igreja se vê em
termos muito humanos, aná logos ao lar e à famı́lia. Particularmente em
1 Timó teo 3:2-7 lemos instruçõ es altamente detalhadas a respeito do
Bispo, como estas: ele deve ser “irrepreensı́vel, marido de uma só
mulher, só brio, sensato, digno, hospitaleiro, mestre há bil, nã o beberrã o,
nã o violento mas gentil, nã o briguento e nã o amante do dinheiro. Ele
deve administrar bem sua pró pria casa, mantendo seus ilhos sob
controle e respeitoso em todos os sentidos, pois se um homem nã o
souber administrar sua pró pria casa, como poderá cuidar da Igreja de
Deus? . . Alé m disso, ele deve ser bem visto por pessoas de fora.” Uma
nota especial deve ser feita aqui sobre a importâ ncia da aptidã o para o
ensino (cf. també m 1 Tm 5:17), que encontra eco em outras passagens
(cf. 1 Tm 6:2c; 2 Tm 3:10; Ti 2: 1), e també m de uma caracterı́stica
pessoal especial, a da “paternidade”. Com efeito, o Bispo é considerado
o pai da comunidade cristã (cf. també m 1 Tm 3,15). A propó sito, a ideia
da Igreja como “a casa de Deus” está enraizada no Antigo Testamento
(cf. Nm 12,7) e é repetida em Hebreus 3,2.6, enquanto em outro lugar
lemos que todos os cristã os nã o sã o já nã o sã o estrangeiros ou
hó spedes, mas concidadã os dos santos e membros da famı́lia de Deus
(cf. Ef 2,19).
Peçamos ao Senhor e a Sã o Paulo que també m nó s, como cristã os,
nos caracterizemos cada vez mais, em relaçã o à sociedade em que
vivemos, como membros da “famı́lia de Deus”. E rezamos para que os
Pastores da Igreja adquiram cada vez mais sentimentos paternos —
ternos e ao mesmo tempo fortes — na formaçã o da Casa de Deus, da
comunidade e da Igreja.
20
A sé rie de nossas Catequeses sobre Sã o Paulo chegou ao im; hoje
falaremos do im de sua vida terrena. A antiga tradiçã o cristã
testemunha unanimemente que Paulo morreu como consequê ncia do
seu martı́rio aqui em Roma. Os escritos do Novo Testamento nã o nos
dizem nada sobre o evento. Os Actos dos Apó stolos terminam a sua
narraçã o com a mençã o da prisã o do Apó stolo, que soube, no entanto,
acolher todos os que iam ter com ele (cf. Act 28, 30-31). Somente na
Segunda Carta a Timó teo encontramos estas palavras premonitó rias:
“Porque já estou para ser sacri icado; chegou a hora de zarpar” (2 Tm
4,6; cf. Fl 2,17). Aqui sã o utilizadas duas imagens, a imagem religiosa do
sacrifı́cio que ele havia usado anteriormente na Carta aos Filipenses,
interpretando o martı́rio como parte do sacrifı́cio de Cristo, e a imagem
ná utica do repú dio: duas imagens que juntas aludem discretamente ao
evento da morte e de uma morte brutal.
O primeiro testemunho explı́cito da morte de Sã o Paulo chega até nó s
em meados dos anos 90 do primeiro sé culo, ou seja, mais de trê s
dé cadas depois de sua morte real. Consiste precisamente na Epístola
que a Igreja de Roma, com o seu Bispo Clemente I, escreveu à Igreja de
Corinto. Naquele texto epistolar está um convite a manter os olhos ixos
no exemplo dos Apó stolos, e, logo apó s a mençã o ao martı́rio de Pedro,
lê -se: “Por inveja, també m Paulo obteve o galardã o da paciê ncia, depois
de ter sido sete vezes lançado em cativeiro, forçado a fugir e
apedrejado. Depois de pregar tanto no oriente como no ocidente, ele
ganhou a reputaçã o ilustre devido à sua fé , tendo ensinado a retidã o a
todo o mundo, e chegou ao limite extremo do ocidente, e sofreu o
martı́rio sob os prefeitos. Assim foi afastado do mundo e foi para um
lugar santo, tendo-se mostrado um notá vel exemplo de paciê ncia” ( 1
Clem 5:2). A paciê ncia de que fala Clemente é expressã o da comunhã o
de Paulo com a Paixã o de Cristo, da generosidade e constâ ncia com que
aceitou um longo caminho de sofrimento para poder dizer “Trago no
meu corpo as marcas de Jesus”. (Gl 6:17). No texto de Sã o Clemente
ouvimos que Paulo havia chegado ao “limite extremo do ocidente”. Se
esta é uma referê ncia a uma viagem na Espanha empreendida por Paul
está aberta à discussã o. Nã o há certeza sobre isso, mas é verdade que
em sua Carta aos Romanos Sã o Paulo expressa sua intençã o de ir para a
Espanha (cf. Rm 15,24).
A seqü ê ncia na carta de Clemente dos dois nomes de Pedro e Paulo é ,
no entanto, muito interessante, mesmo que fossem invertidos no
testemunho de Eusé bio de Cesaré ia no quarto sé culo. Referindo-se ao
imperador Nero, Eusé bio escreveria: “Está , portanto, registrado que
Paulo foi decapitado na pró pria Roma, e que Pedro també m foi
cruci icado durante o reinado de Nero. Este relato é corroborado pelo
fato de que seus nomes se conservam no cemité rio daquele lugar até os
dias de hoje” ( História Eclesiástica 2, 25, 5). Eusé bio entã o faz
referê ncia à declaraçã o anterior de um padre romano chamado Gaius,
que remonta ao inı́cio do segundo sé culo: “Posso mostrar os trofé us dos
apó stolos. Pois se você for ao Vaticano ou no Caminho Ostian,
encontrará os trofé us daqueles que lançaram os fundamentos desta
Igreja” ( ibid ., 2, 25, 6-7). “Trofé us” sã o monumentos sepulcrais; estes
eram os tú mulos reais de Pedro e Paulo que ainda hoje veneramos,
depois de dois mil anos, naqueles mesmos lugares: o de Sã o Pedro aqui
no Vaticano e o do Apó stolo dos Gentios na Bası́lica de Sã o Paulo Fora
dos Muros na Via Ostian.
E interessante notar que os dois grandes apó stolos sã o mencionados
juntos. Embora nenhuma fonte antiga fale de um ministé rio
contemporâ neo de ambos em Roma, o conhecimento cristã o posterior,
com base em seu enterro comum na capital do Impé rio, també m
associou-os como fundadores da Igreja de Roma. De fato, isso pode ser
lido em Irineu de Lyon, no inal do segundo sé culo, a respeito da
sucessã o apostó lica nas vá rias Igrejas: “Pois seria muito tedioso, em um
volume como este, contar as sucessõ es de todas as Igrejas. . . [fazemos
isso] indicando aquela tradiçã o derivada dos Apó stolos, da grandiosa,
antiquı́ssima e universalmente conhecida Igreja fundada e organizada
em Roma pelos dois mais gloriosos Apó stolos, Pedro e Paulo” ( Adversus
Haereses 3, 3, 2).
No entanto, deixemos agora Pedro de lado e nos concentremos em
Paulo. Seu martı́rio é relatado pela primeira vez nos Atos de Paulo ,
escritos no inal do segundo sé culo. Dizem que Nero o condenou à
morte por decapitaçã o, ordem que foi imediatamente cumprida (cf.
9,5). A data da sua morte já varia nas fontes antigas, que a situam entre
a perseguiçã o desencadeada pelo pró prio Nero apó s o incê ndio de
Roma em 64 de julho e o ú ltimo ano do seu reinado, ou seja, o ano 68
(cf. Jerô nimo, De viris ill . 5, 8). O cá lculo depende fortemente da
cronologia da chegada de Paulo a Roma, uma discussã o na qual nã o
podemos entrar aqui. Tradiçõ es posteriores especi icam dois outros
elementos. Uma, a mais lendá ria, é que seu martı́rio ocorreu na Aquae
Salviae , na Via Laurentina, e que sua cabeça ricocheteou trê s vezes,
dando origem a uma fonte de á gua cada vez que tocou o solo, razã o pela
qual, a esta dia, o lugar é chamado de “Tre Fontane” [trê s fontes] ( Atos
de Pedro e Paulo pelo Pseudo-Marcelo , sé culo V). A segunda versã o, em
harmonia com o antigo relato do sacerdote Caio mencionado acima, é
que seu sepultamento nã o ocorreu apenas “fora da cidade . . . na
segunda milha do Caminho Ostian”, mas mais precisamente “na fazenda
de Lucina”, que era uma matrona cristã ( Paixão de Paulo pelo Pseudo-
Abdias , sé culo IV). Foi aqui, no sé culo IV, que o imperador Constantino
construiu uma primeira igreja. Entã o, entre os sé culos IV e V foi
consideravelmente ampliado pelos imperadores Valentiniano II,
Teodó sio e Arcá dio. A atual Bası́lica de Sã o Paulo Fora dos Muros foi
construı́da aqui apó s o incê ndio em 1800.
Em todo o caso, a igura de Sã o Paulo eleva-se muito acima da sua
vida terrena e da sua morte; de fato, ele nos deixou uma herança
espiritual extraordiná ria. També m ele, como verdadeiro discı́pulo de
Cristo, tornou-se sinal de contradiçã o. Embora fosse considerado
apó stata pela Lei mosaica entre os “Ebionitas”, grupo judaico-cristã o, a
grande veneraçã o por Sã o Paulo já aparece nos Atos dos Apó stolos.
Gostaria agora de prescindir da literatura apó crifa, como os Atos de
Paulo e Tecla e uma coleçã o apó crifa de Cartas entre o apó stolo Paulo e
o iló sofo Sê neca. E sobretudo importante notar que as Cartas de Sã o
Paulo muito cedo entraram na liturgia, onde a estrutura profeta-
apó stolo-Evangelho é determinante para a forma da Liturgia da Palavra.
Assim, graças a esta “presença” na liturgia da Igreja, o pensamento do
Apó stolo deu imediatamente alimento espiritual aos ié is de todas as
é pocas.
E evidente que os Padres da Igreja e, posteriormente, todos os
teó logos se alimentaram das Cartas de Sã o Paulo e de sua
espiritualidade. Assim, ele permaneceu ao longo dos sé culos e até hoje
o verdadeiro mestre e apó stolo dos gentios. O primeiro comentá rio
patrı́stico que chegou até nó s sobre um texto do Novo Testamento é o
do grande teó logo alexandrino Orı́genes, que comenta a Carta de Paulo
aos Romanos. Infelizmente, apenas parte deste comentá rio existe. Sã o
Joã o Crisó stomo, alé m de comentar as Cartas de Paulo, escreveu sobre
ele sete panegı́ricos memorá veis. Foi a Paulo que Santo Agostinho
deveu o passo crucial de sua pró pria conversã o e a Paulo que retornou
ao longo de sua vida. Deste diá logo permanente com o Apó stolo deriva
a sua grande teologia cató lica, como també m a teologia protestante de
todos os tempos. Sã o Tomá s de Aquino deixou-nos um belo comentá rio
à s Cartas Paulinas , que representa o fruto mais maduro da exegese
medieval. Um verdadeiro ponto de virada foi alcançado no sé culo XVI
com a Reforma Protestante. O momento decisivo na vida de Lutero foi o
“Turmerlebnis” (1517), o momento em que descobriu uma nova
interpretaçã o da doutrina paulina da justi icaçã o. Foi uma
interpretaçã o que o libertou dos escrú pulos e ansiedades da vida
anterior e deu-lhe uma nova con iança radical na bondade de Deus que
tudo perdoa, incondicionalmente. Desde entã o, Lutero identi icou o
legalismo judaico-cristã o, condenado pelo Apó stolo, com a ordem de
vida da Igreja Cató lica. E a Igreja, portanto, apareceu para ele como uma
expressã o da escravidã o da lei que ele contrapô s com a liberdade do
Evangelho. O Concı́lio de Trento, de 1545 a 1563, interpretou
profundamente a questã o da justi icaçã o e encontrou a sı́ntese entre lei
e Evangelho em consonâ ncia com toda a tradiçã o cató lica, em
conformidade com a mensagem da Sagrada Escritura lida em sua
totalidade e unidade.
O sé culo XIX, reunindo a melhor herança do Iluminismo, conheceu
um novo ressurgimento do Paulinismo, agora desenvolvido pela
interpretaçã o histó rico-crı́tica da Sagrada Escritura, sobretudo ao nı́vel
do trabalho cientı́ ico. Aqui prescindiremos do fato de que mesmo
naquele sé culo, como mais tarde no sé culo XX, surgiu uma verdadeira e
pró pria difamaçã o de Sã o Paulo. Penso principalmente em Nietzsche,
que ridicularizou a teologia da humildade de Sã o Paulo, contrapondo-a
com sua teologia do homem forte e poderoso. Mas deixemos isso de
lado e examinemos a corrente essencial da nova interpretaçã o cientı́ ica
da Sagrada Escritura e do novo paulinismo daquele sé culo. Aqui, o
conceito de liberdade foi enfatizado como central no pensamento
paulino; nela se encontrava o coraçã o do pensamento paulino, como
Lutero, aliá s, já havia intuı́do. No entanto, o conceito de liberdade foi
entã o reinterpretado no contexto do liberalismo moderno. A
diferenciaçã o entre o anú ncio de Sã o Paulo e o anú ncio de Jesus foi
assim fortemente enfatizada. E Sã o Paulo aparece quase como um novo
fundador do cristianismo. E verdade que em Sã o Paulo a centralidade
do Reino de Deus, crucial para o anú ncio de Jesus, se transformou na
centralidade da cristologia, cujo ponto crucial é o misté rio pascal. E é do
misté rio pascal que derivam os sacramentos do Baptismo e da
Eucaristia, como presença permanente deste misté rio do qual cresce o
Corpo de Cristo e se edi ica a Igreja. No entanto, eu diria, sem entrar
aqui em detalhes, que precisamente na nova centralidade da cristologia
e do misté rio pascal se realiza o Reino de Deus e o anú ncio autê ntico de
Jesus se torna concreto, presente e atuante. Vimos nas nossas
catequeses anteriores que esta inovaçã o paulina é verdadeiramente a
mais profunda idelidade ao anú ncio de Jesus. No progresso da exegese,
sobretudo nos ú ltimos duzentos anos, aumentaram os pontos de
convergê ncia entre a exegese cató lica e a exegese protestante,
alcançando assim um notá vel consenso precisamente sobre o ponto
que esteve na origem da maior dissensã o histó rica. Há , portanto, uma
grande esperança para a causa do ecumenismo, tã o central para o
Concı́lio Vaticano II.
Finalmente, gostaria de mencionar brevemente os vá rios
movimentos religiosos com o nome de Sã o Paulo que surgiram na Igreja
Cató lica nos tempos modernos. Isso aconteceu no sé culo XVI com a
“Congregaçã o de Sã o Paulo”, conhecida como os Barnabitas; no sé culo
XIX com os “Missioná rios de Sã o Paulo”, ou Padres Paulistas; no sé culo
XX com a poliforme “Famı́lia Paulina” fundada pelo Beato Giacomo
Alberione, sem falar no instituto secular da “Companhia de Sã o Paulo”.
No essencial, temos ainda diante de nó s a luminosa igura de um
Apó stolo e de um pensador cristã o extremamente profı́cuo e profundo,
de cuja abordagem todos podem bene iciar. Em um de seus panegı́ricos,
Sã o Joã o Crisó stomo estabeleceu uma comparaçã o original entre Paulo
e Noé . Ele diz: Paulo “nã o juntou as vigas para construir uma arca; ao
contrá rio, em vez de juntar tá buas de madeira, escreveu Cartas e assim
resgatou das ondas nã o dois, trê s ou cinco membros de sua pró pria
famı́lia, mas toda a ecú mena que estava a ponto de perecer” ( Paneg . 1,
5). O apó stolo Paulo ainda pode e sempre será capaz de fazer
exatamente isso. Dele haurir, tanto do seu exemplo como da sua
doutrina, será portanto um incentivo, se nã o uma garantia, para o
reforço da identidade cristã de cada um de nó s e para o
rejuvenescimento de toda a Igreja.
Notas inais
Capı́tulo 1
* Audiê ncia Geral, 2 de julho de 2008, Sala Paulo VI. Voltar ao texto.
Capı́tulo 2
* Audiê ncia Geral, 27 de agosto de 2008, Sala Paulo VI. Voltar ao
texto.
Capı́tulo 3
* Audiê ncia Geral, 3 de setembro de 2008, Sala Paulo VI. Voltar ao
texto.
Capı́tulo 4
* Audiê ncia Geral, 10 de setembro de 2008, Sala Paulo VI. Voltar ao
texto.
capı́tulo 5
* Audiê ncia Geral, 24 de setembro de 2008, Praça Sã o Pedro. Voltar
ao texto.
Capı́tulo 6
* Audiê ncia Geral, 1º de outubro de 2008, Sala Paulo VI. Voltar ao
texto.
Capı́tulo 7
* Audiê ncia Geral, 8 de outubro de 2008, Praça Sã o Pedro. Voltar ao
texto.
Capı́tulo 8
* Audiê ncia Geral, 15 de outubro de 2008, Praça Sã o Pedro. Voltar ao
texto.
Capı́tulo 9
* Audiê ncia Geral, 22 de outubro de 2008, Praça Sã o Pedro. Voltar ao
texto.
Capı́tulo 10
* Audiê ncia Geral, 29 de outubro de 2008, Praça Sã o Pedro. Voltar ao
texto.
Capı́tulo 11
* Audiê ncia Geral, 5 de novembro de 2008, Praça Sã o Pedro. Voltar ao
texto.
Capı́tulo 12
* Audiê ncia Geral, 12 de novembro de 2008, Praça Sã o Pedro. Voltar
ao texto.
Capı́tulo 13
* Audiê ncia Geral, 19 de novembro de 2008, Praça Sã o Pedro. Voltar
ao texto.
Capı́tulo 14
* Audiê ncia Geral, 26 de novembro de 2008, Sala Paulo VI. Voltar ao
texto.
Capı́tulo 15
* Audiê ncia Geral, 3 de dezembro de 2008, Sala Paulo VI. Voltar ao
texto.
Capı́tulo 16
* Audiê ncia Geral, 10 de dezembro de 2008, Sala Paulo VI. Voltar ao
texto.
Capı́tulo 17
* Audiê ncia Geral, 7 de janeiro de 2009, Sala Paulo VI. Voltar ao texto.
Capı́tulo 18
* Audiê ncia Geral, 14 de janeiro de 2009, Sala Paulo VI. Voltar ao
texto.
Capı́tulo 19
* Audiê ncia Geral, 28 de janeiro de 2009, Sala Paulo VI. Voltar ao
texto.
Capı́tulo 20
* Audiê ncia Geral, 4 de fevereiro de 2009, Sala Paulo VI. Voltar ao
texto.
Índice
1. Ambiente Religioso e Cultural
2. Vida de Sã o Paulo antes e depois de Damasco
3. A “conversã o” de Sã o Paulo
4. O conceito de apostolado de Sã o Paulo
5. Paulo, os Doze e a Igreja pré -paulina
6. O “Conselho” de Jerusalé m e o Incidente em Antioquia
7. A relaçã o com o Jesus histó rico
8. A dimensã o eclesioló gica de Paulo
9. A importâ ncia da cristologia: pré -existê ncia e encarnaçã o
10. A Importâ ncia da Cristologia: A Teologia da Cruz
11. A importâ ncia da cristologia: a determinaçã o da ressurreiçã o
12. Escatologia: A Expectativa da Parusia
13. A Doutrina da Justi icaçã o: Das Obras à Fé
14. A Doutrina da Justi icaçã o: O Ensinamento do Apó stolo sobre Fé e
Obras
15. Ensinamento do Apó stolo sobre a relaçã o entre Adã o e Cristo
16. A Teologia dos Sacramentos
17. Adoraçã o Espiritual
18. Cartas aos Colossenses e Efé sios
19. Epı́stolas Pastorais: Cartas a Timó teo e Tito
20. Vida e Legado de Sã o Paulo
Notas