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Prefá cio
Introduçã o
Algumas chaves para abrir este segredo de abandono a Deus
A Fundaçã o do Abandono: O Amor Providencial do Pai
Abandono: suas imitaçõ es e outros impasses
O abandono deve ser vivido na fé
O Movimento de Abandono em Teresa de Lisieux
A “Aná lise” do Abandono em Teresa
A primeira fase do movimento de abandono: acolhimento
A segunda fase do movimento de abandono: con iança
A terceira fase do movimento de abandono: rendiçã o
Alguns exercı́cios prá ticos de abandono a Deus na escola de
pensamento de Thé rè se
Entregando-nos a Deus
Experimentando o abandono na oraçã o
Experimentando o abandono em Deus no meio da caridade fraterna
Experimentando o abandono nas preocupaçõ es com nossos entes
queridos
Experimentando Abandono no Trabalho
Experimentando Abandono em Sofrimento
Conclusã o
Ato de oblaçã o ao amor misericordioso
FR. JOEL GUIBERT
Um bandonment
a Deus
O CAMINHO DA PAZ DE
Santa Teresa de Lisieux
Traduzido por James Henri McMurtrie
SOPHIA INSTITUTE PRESS
Manchester, New Hampshire
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As citaçõ es das Escrituras foram retiradas da Ediçã o Cató lica da Versã o Padrã o Revisada da Bı́blia
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de Cristo nos Estados Unidos da Amé rica. Usado com permissã o. Todos os direitos reservados.
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Conteú do
Prefá cio
Introduçã o
Parte 1
Algumas chaves para abrir este segredo de abandono a Deus
1. A Fundaçã o do Abandono: O Amor Providencial do Pai
2. Abandono: suas imitaçõ es e outros impasses
3. O abandono deve ser vivido na fé
Parte 2
O Movimento de Abandono em Teresa de Lisieux
4. A “Aná lise” do Abandono em Teresa
5. A primeira fase do movimento de abandono: acolhimento
6. A segunda fase do movimento de abandono: con iança
7. A terceira fase do movimento de abandono: rendiçã o
Parte 3
Alguns exercı́cios prá ticos de abandono a Deus na escola de
pensamento de Thé rè se
8. Entregando-nos a Deus
9. Experimentando o abandono na oraçã o
10. Experimentando o abandono em Deus no meio da caridade fraterna
11. Experimentando o abandono nas preocupaçõ es com nossos entes
queridos
12. Experimentando Abandono no Trabalho
13. Experimentando Abandono em Sofrimento
Conclusã o
Ato de oblaçã o ao amor misericordioso
Prefá cio
Sã o Francisco de Sales disse que abandonar-se a Deus é tudo. Como
este trabalho nos mostra amplamente, um Doutor da Igreja nã o diz
mais nada.
O Padre Joë l Guibert mergulha-nos aqui nos conceitos de con iança e
abandono, que sã o como os pilares deste “pequeno caminho”, cujo
mé dico incontestá vel é Santa Teresinha do Menino Jesus. Apoiando-se
solidamente na sua doutrina, ele nos convida a este movimento
essencial de abandono, sem o qual nã o há vida espiritual autê ntica.
O autor diz em sua introduçã o que Deus deseja ter uma relaçã o de
“abandono de amor” com cada um de nó s. Ou seja, Deus, que, segundo a
pequena Teresa, “é só Amor e misericó rdia”, nã o quer deixar de criar
uma relaçã o ilial com cada um de nó s. Durante sua peregrinaçã o a
Lisieux, por ocasiã o de sua viagem apostó lica à França em junho de
1980, o Papa Joã o Paulo II declarou que a mensagem do evangelho,
como fundamento do caminho espiritual da infâ ncia, consistia em
acreditar na paternidade de Deus sobre nó s:
De Teresa de Lisieux, pode-se dizer com convicçã o que o Espı́rito de
Deus permitiu ao seu coraçã o revelar diretamente, aos homens e à s
mulheres do nosso tempo, o misté rio fundamental, a realidade do
Evangelho: o fato de ter realmente recebido “a espı́rito de adoçã o
como crianças que nos faz clamar: 'Aba! Pai!' ”O“ Pequeno Caminho ”é
o caminho da“ infâ ncia espiritual ”. Este caminho conté m algo ú nico
que faz parte do gê nio de Santa Teresinha de Lisieux. Ao mesmo
tempo, ele conté m uma con irmaçã o e renovaçã o da verdade mais
fundamental e universal. Pois que verdade da mensagem do
Evangelho é mais fundamental e universal do que esta: que Deus é
nosso Pai e nó s somos seus ilhos?1
O Padre Guibert nos convida a mergulhar no misté rio da conexã o
divina. A primeira parte de sua obra, mais teoló gica, aborda o tema da
providê ncia divina e nos convida a contemplar uma paternidade divina
que nada tem a ver com as caricaturas a que muitas vezes a
reduzimos. Mostra que, segundo toda a grande tradiçã o da Igreja - e em
particular Santo Tomá s de Aquino, que ele frequentemente cita - Deus
tem um desı́gnio divino para cada um de nó s e nã o para de o perseguir,
apesar das nossas resistê ncias. Ele escreve que “todo o objetivo deste
livro está na resposta a esta pergunta: Posso entrar neste plano de
amor muito prá tico que Deus tem para minha vida, por meio de um
abandono con iante e ativo?”
O abandono con iante à providê ncia divina, portanto, é o tema
subjacente a esta obra, pois o misté rio providencial abre o segredo para
o caminho da infâ ncia. O movimento de abandono a Deus a que Thé rè se
nos convida, atravé s de sua vida e de todos os seus escritos, conta com
uma visã o muito positiva e re lexiva da açã o de Deus em sua vida e do
pró prio Deus. Chegou a declarar, no inı́cio de sua autobiogra ia, que
levou a pena para começar a cantar na terra o que cantará eternamente:
as misericó rdias do Senhor (Manuscrito A, 3 r).
Abandonar-se a Deus é , portanto, con iar-se totalmente, nã o a uma
força que nos seria hostil, mas a um Deus pessoal e ao Seu amor
onipotente. O caminho, que parece simples, nã o é , no entanto, tã o fá cil
quanto nosso autor enfatiza; pois para se abandonar a Deus, devemos
abandonar nosso orgulho, que está sempre pronto para superar o amor
de Deus por nó s. O caminho espiritual da infâ ncia e seu movimento de
abandono, que é um de seus pilares, junto com a con iança, mostra-se a
antı́tese do pecado original e, ao mesmo tempo, seu antı́doto mais
seguro. Pois a causa principal do primeiro pecado, o arqué tipo de todos
os outros, nã o prové m dessa autossu iciê ncia e falta de con iança em
Deus, de quem o homem quer se emancipar - esse Deus que é a fonte de
seu ser? Sua principal consequê ncia nã o prové m desse temor a Deus,
que é tã o difı́cil, desde a queda, arrancar de seu coraçã o pecaminoso?
Como O padre Dominique Barthé lemy escreve magni icamente em
uma obra que agora é clá ssica: “Só podemos receber de Deus uma vida
que se renova incessantemente se estivermos irmes e abertos a Ele
com todo o nosso ser. Assim, o homem, ao querer ser um deus, se
desligou dessa relaçã o total e con iante de abertura, que é a ú nica coisa
que lhe teria assegurado a vida ”.2
O abandono total que Thé rè se defende é o caminho que devemos
percorrer se quisermos encontrar o Pai, que nos espera na casa ardente
da Santı́ssima Trindade, nossa verdadeira casa. Este caminho requer
uma grande pobreza de espı́rito, bem como uma fé con iante e
audaciosa na bondade do Pai. Segundo Thé rè se, a pequenez da infâ ncia
torna-se uma disposiçã o essencial do coraçã o - mesmo a bem-
aventurança das mã os vazias e da pobreza de coraçã o, como també m o
motor de toda a santidade.
Na escola de pensamento de Jesus, que é o Filho perfeito do Pai, a
Santa de Lisieux nos convida a compreender que a porta que conduz à
vida nã o se abre à força e nã o se conquista por mé ritos preliminares. A
salvaçã o é uma graça e um dom imerecido que devemos acolher com a
con iança e a dependê ncia de uma criança, que recebe dos pais tudo o
que precisa para viver. “Em verdade, eu vos digo: a menos que se
convertam e se tornem como crianças, nunca entrarã o no reino dos
cé us” (Mt 18: 3).
A pequenez da infâ ncia é a capacidade de depender daquele sem o
qual nada podemos fazer nem ser nada. Nele somente, “vivemos, nos
movemos e existimos” (Atos 17:26).
Teresa, pelo dom da sabedoria, experimentou sua pequenez
espiritual; longe de ser um obstá culo, esta pequenez tornou-se, pelo
contrá rio, um meio para Deus espalhar “as ondas da ternura do Seu
Amor in inito” nela.3 Essa pequenez, com a qual ela consentiu, permitiu
que Deus manifestasse Sua benevolê ncia paternal nela, assim como ela
permitiu que Ele a enchesse de Si mesmo e de Seu puro amor. Assim,
ela se tornou o vaso perfeito e puro da dá diva de Si mesmo que Deus
quer oferecer, um amor que é total e gratuitamente doado.
Tal abandono nã o pode acontecer sem uma luta espiritual que é “mais
difı́cil do que a batalha dos homens”, como Arthur Rimbaud disse
em Uma temporada no inferno . E a suprema luta espiritual que consiste
em abrir mã o da presunçã o de que podemos nos salvar. Pois,
abandonar-se é abandonar-se a Outro; é oferecer a nossa liberdade
Aquele que é a fonte e que pode permitir que estejamos completamente
realizados neste amor para o qual só nó s fomos criados. O Padre
Guibert nã o nega em absoluto esta dimensã o e convida-nos a
compreender o que está em jogo espiritual nesta luta interior. Ele diz
que “a mensagem de Teresa é uma graça imensa para nos ajudar a
encontrar a ligaçã o exata entre fazer algo e sentar-se e lutar e se
entregar”.
Na verdade, o Pai revela Seus segredos aos pequeninos. Ele quer
esconder essa graça daqueles que pensam que sã o sá bios e
inteligentes. Eles continuam a ser miserá veis, cegos e nus porque estã o
muito cheios de si e espiritualmente vazios.
Por outro lado, o Pai se agrada em doar-se totalmente à queles que
estã o cientes de sua fraqueza, de sua carê ncia e de sua impotê ncia para
fazer tudo bem. Thé rè se escreveu frequentemente sobre esta
mensagem. Ele tem o prazer de fazer isso com aqueles que concordam
em permitir que sejam salvos por ele.
“Quanto mais pobres e fracos formos, sem desejos ou virtudes, mais
disponı́veis estaremos para as operaçõ es do Amor.” E, novamente,
"receber é a virtude".
Deus, nosso Pai, espera que consentamos, com todo o nosso ser, em
uma disposiçã o de coraçã o completamente despojada de nó s mesmos e
con iantes na bondade do Pai. Ele espera que consentamos em nascer
de novo no Espı́rito Santo e ser queimado por este fogo de amor “que
transforma tudo em Si mesmo”. Ele espera que concordemos em nos
oferecermos com idelidade ao Amor misericordioso, a ponto de nos
comunicarmos com a Cruz de Jesus.
Pois a luta da fé é també m a da Cruz. O movimento de abandono nã o
saberia nos poupar disso. Mas, aqui novamente, nossas cruzes serã o
vividas nesta plena con iança ilial no Amor de um Pai que nunca nos
faltará . Como o Padre Guibert mais uma vez aponta em seu livro, as
ú ltimas palavras de Jesus na Cruz sã o aquelas de entrega con iante nas
mã os do Pai: “Pai, nas tuas mã os entrego o meu espı́rito!” (Lucas
23:46). O caminho espiritual da infâ ncia da pequena Teresa nos convida
a esse mesmo abandono. Este presente trabalho, que oferece um
comentá rio iel sobre ele, també m o faz.
Por meio deste comentá rio, possamos ser favorecidos com essa
atitude ilial. E a base de toda a doutrina de Teresa de Lisieux e de todo
o evangelho, pois, no Filho Unico, que é cheio de graça e de verdade,
“Deus é nosso Pai e nó s somos Seus ilhos”.
- Jean-Gabriel Rueg, OCD
1 Joã o Paulo II, homilia em Lisieux, 2 de junho de 1980, publicado em Catholic Culture,
https://www.catholicculture.org/culture/liturgicalyear/blog/index.cfm?id=157.
2 Dominique Barthé lemy, Dieu et son image (Deus e sua imagem) (Paris: Editions du Cerf,
2008), 55.
3 Ver Ato de Oblaçã o ao Amor Misericordioso de Thé rè se.
Introduçã o
Basta pronunciar as palavras “abandono” e “caminho da infâ ncia” para
que a igura de Teresa de Lisieux ganhe forma espontâ nea. No entanto,
ela nã o deté m o monopó lio dele, uma vez que cada santo se tornou
santo apenas na proporçã o de seu abandono ao Espı́rito. Posto isto, a
mensagem da con iança de Thé rè se atrai irresistivelmente o coraçã o
dos nossos contemporâ neos, porque apreciam a sua simplicidade e
sentem o seu estilo paci icador. E por isso que, ao longo deste trabalho,
adotamos Thé rè se como uma “irmã mais velha”, para que ela nos guie
neste caminho de abandono a Deus, fonte de paz.
Ao escolher um tı́tulo para este trabalho, hesitei em usar a expressã o
“abandono a Deus”. Com efeito, para as pessoas marcadas por uma
histó ria dolorosa, a palavra “abandono” expressa apenas tristeza e uma
relaçã o de amor ferida. No entanto, destaquei essa palavra neste livro,
pois parece difı́cil apagá -la de toda a tradiçã o espiritual. Alé m disso,
estes tempos parecem maduros para redescobrir seu signi icado
profundamente positivo e emocionante. Deus realmente deseja manter
uma relaçã o de “abandono amoroso” com cada um de nó s.
Nã o me parece impró prio falar assim, visto que esta disposiçã o de
abandono amoroso inundou o coraçã o de Cristo quando Ele o ofereceu
ao Pai até a cruz: “Pai, nas tuas mã os entrego o meu espı́rito!” (Lucas
23:46). En im, nosso abandono nunca é estritamente nosso, mas é o
abandono de Cristo, ao qual estamos unidos! Este movimento de
entrega a Deus, portanto, nada tem a ver com um processo
piedosamente sentimental. Leva-nos ao cerne do abandono vivido
entre as trê s Pessoas divinas e, por isso, está no cerne da vida
baptismal: «A vida que agora vivo na carne vivo pela fé no Filho de Deus
, que me amou e se entregou por mim ”(Gal. 2:20).
A aventura que este caminho sugere é fascinante, mas a observaçã o
dos nossos limites pode nos desencorajar profundamente a seguir em
frente. Fique tranquilo, diz Thé rè se, que se você tem consciê ncia de ser
“grande”, sua grandeza é o su iciente para você . O abandono é
incompreensı́vel para você . Mas se você tem um coraçã ozinho pobre,
você tem o material perfeito para ousar empreender a aventura do
abandono!
De qualquer forma, mesmo que ainda nã o sejamos “pequenos”, nã o
lamentaremos este itinerá rio de con iança, pois é verdadeiramente
fonte de uma paz profunda e de grande liberdade interior. Se os rostos
de nossos contemporâ neos parecem tantas vezes preocupados, é , em
parte, porque este mundo está separado de sua Fonte, que é o coraçã o
de Deus. Portanto, o abandono nã o é uma nova terapia da moda. Esta
pequena forma de con iança marca simplesmente o nosso reencontro
com a nossa vocaçã o mais profunda, que é nos tornarmos ou nos
tornarmos ilhos de nosso Pai Celestial. Redescobrir nossa identidade
como ilhos de nosso Pai Celestial, estabelecendo-se com con iança no
coraçã o de nosso Pai, nã o importa o que esteja acontecendo, só pode
transbordar para todo o nosso ser como frutos de paz e alegria
serena. Depois de saborearmos os primeiros frutos do abandono,
deixamos de o “consumir” para nos deixarmos “consumir”, a ponto de
querer que o Espı́rito nos puri ique e ajuste cada vez mais
profundamente a nossa vontade à vontade do Pai. Sim, esta pequena
forma de con iança é uma á rvore que dá frutos deliciosos, mas como
toda colheita, exige trabalhar dia apó s dia e à s vezes até luta.
O abandono se tornou, para muitas pessoas, uma linguagem tã o
estranha que parece apropriado para nó s, na primeira seçã o deste livro,
olhar para a “providê ncia” do Pai. Sem esta chave fundamental, seria
difı́cil abandonar-se com total con iança. A im de evitar decepçõ es e
outras desilusõ es, també m reservaremos tempo para encontrar
algumas imitaçõ es de abandono.
Tomados esses cuidados, na segunda seçã o nos colocaremos mais
diretamente na escola de pensamento de Thé rè se para interpretar mais
efetivamente seu “movimento de abandono” em Deus - suas condiçõ es,
armadilhas e fases principais.
Seria lamentá vel simplesmente saber que Thé rè se se entregou a Deus
sem fazer isso nó s mesmas. Para tanto, na ú ltima seçã o, entraremos em
trabalhos prá ticos. “Thé rè se, conte-nos o seu segredo; ensina-nos a
viver com abandono nas situaçõ es mais triviais da vida. ” Com Thé rè se,
isso é mais profundo, mas sempre muito real. Ela nã o deixará de nos
ensinar e orientar neste belo caminho de abandono da vida quotidiana.
Aqui está um conselho para os leitores que tê m uma mente mais
pragmá tica. Eles podem considerar que a primeira seçã o deste livro - a
re lexã o sobre Deus - requer uma certa re lexã o. Nã o é imediatamente
prá tico. Sendo este o caso, nã o hesitem em começar a leitura na
segunda seçã o. Tocada pela simplicidade da escola de pensamento da
pequena Thé rè se, certamente desejarã o descobrir aquilo que “cria” este
pequeno caminho de con iança. Entã o, eles lerã o a primeira parte com
uma nova mente para contemplar o grande misté rio de Deus com mais
e iciê ncia.
Parte 1
vol. 2, 1890-1897 , trad. John Clarke (Washington, DC: Publicaçõ es ICS, 1988), 1152.
in inita. O Espı́rito Santo sabe o que Ele deseja; Ele tem um pensamento e um plano; Ele quer
alcançá -lo e Suas intervençõ es cobrem os menores detalhes. ” Padre Marie-Eugè ne do Menino
Jesus, Au souf le de l'Esprit: priere et action (No sopro do Espı́rito) (Paris: Editions du Carmel,
1990), 260.
8 Carta 164 a sua irmã Lé onie, em Cartas de Santa Teresinha de Lisieux , 2: 855.
9 Joã o Paulo II, Encı́clica Veritatis Splendor (6 de agosto de 1993), n. 88
10 Cardeal Joseph Ratzinger, Voici quel est notre Dieu (Este é o nosso Deus) (Paris: Mame,
2007), 38.
11 Santa Teresa de Lisieux, Manuscrito A, 18r, em A História de uma Alma: A Autobiogra ia de
Teresa de Lisieux , trad. John Clarke (Washington, DC: Publicaçõ es ICS, 1996), 43.
12 Tomá s de Aquino, Summa Theologica I q. 105, art. 5
13 “Em muitas ocasiõ es a Igreja teve que defender a bondade da criaçã o, inclusive a do mundo
havia forma mais adequada de curar nossa misé ria.” Agostinho, De Trinitate 13, 10, 13; Tomá s
de Aquino; Summa Theologica III, q. 24, art. 4
18 Jacques Maritain em uma palestra para os Pequenos Irmã os de Foucauld em Toulouse.
19 Agostinho, Enchiridion 27.
20 Agostinho, Enchiridion 11.
21 Tomá s de Aquino, Summa Theologica I, q. 21, art. 3; Descouvemont, Peut-on croire a la
Providence? , 62–63.
padre espanhol chamado Molinos (1628-1696) e se espalhou pela França, particularmente por
Jeanne-Marie Guyon (1648-1717). E a doutrina do “amor puro”. Quando a alma se torna
intimamente unida a Deus, ela deve se estabelecer neste estado de “abandono” e nã o deve fazer
mais nada, nem mesmo resistir à tentaçã o. Mesmo em pecado, a alma abandonada nã o
pecaria! E uma doutrina que foi condenada pela Igreja no sé culo XVII. Por ser a histó ria um
pê ndulo eterno, um certo medo do quietismo estaria na raiz de outras peculiaridades, cujo
preço estamos pagando hoje: “Algumas tendê ncias ativistas na espiritualidade, que decorrem
do orgulho, e um medo do quietismo, que se tornou doentio por ter sido muito cultivado,
destacaram o valor do esforço pessoal. També m tê m insistido excessivamente no ascetismo, a
ponto de permitir praticamente a todas as almas ignorar o equilı́brio das forças divinas e
humanas que estã o empenhadas na vida espiritual. Eles praticamente permitiram que
ignorassem a supremacia da açã o de Deus, o que, em todos os momentos, faz com que a alma
seja cooperativa. As intervençõ es diretas de Deus foram sistematicamente relegadas à s regiõ es
mais elevadas da vida espiritual. Eles foram apresentados como casos extraordiná rios e
habitualmente duvidosos. ”Padre Marie-Eugè ne do Menino Jesus, Ton amour a grandi en
moi. Un génie spirituel, Thérèse de Lisieux (Todo amor aumentou em mim: Thé rè se of Lisieux)
(Paris: Editions du Carmel, 1997), 155–156.
23 Procès de béati ication et canonization de sainte Thérèse de l'Enfant Jésus et de la Sainte
se deixar ir ?: esplendores e misé rias do abandono espiritual) (Paris: Bayard, 2008), 56.
25 Procès de béati ication et canonization , 456.
26 “A atividade missioná ria é . . . uma manifestaçã o do decreto de Deus, e seu cumprimento no
mundo e na histó ria mundial, no curso da qual Deus, por meio da missã o, manifesta a histó ria
da salvaçã o ”. Concı́lio Vaticano II, Decreto sobre a atividade missioná ria da Igreja Ad Gentes (7
de dezembro de 1965), n. 9
27 “Claro que Deus nos pede que cooperemos realmente com a sua graça e, por isso, nos
convida a investir todos os nossos recursos de inteligê ncia e energia no serviço à causa do
Reino. Mas é fatal esquecer que “sem Cristo nada podemos fazer” (cf. Joã o 15: 5). . . . Quando
este princı́pio nã o é respeitado, é de se admirar que os planos pastorais nã o dê em em nada e
nos deixem com uma desanimadora sensaçã o de frustraçã o? ” Joã o Paulo II, Carta
Apostó lica Novo Millenio Ineunte (6 de janeiro de 2001), n. 38
28 Citado em Madre Teresa, Carta da primeira sexta-feira de junho de 1962 à s irmã s religiosas,
em Tu m'apportes de l'amour, des écrits spirituels (Você me traz amor: escritos espirituais)
(Paris: Le Centurion, 1975), 98
29 “Nas mã os de Deus, nã o somos simplesmente instrumentos, ferramentas simples que um
trabalhador usa para fazer isso ou aquilo. Nã o abrimos mã o de nossa qualidade ou poder
humano, ao nos tornarmos apó stolos. Nossa cooperaçã o instrumental permanece humana, ou
seja, inclui o exercı́cio de nossa inteligê ncia, de nossa liberdade e de todas as nossas qualidades
humanas ”. Padre Marie-Eugè ne do Menino Jesus, Au souf le de l'Esprit , 266.
30 Monsenhor Bernard Genous, Coop é ration 52 (22 de dezembro de 2004).
31 “A alma que ama qualquer outra coisa torna-se incapaz de uniã o pura com Deus e de
transformaçã o Nele. Pois o estado inferior da criatura é muito menos capaz de se unir ao
estado elevado do Criador do que as trevas com a luz. ” Sã o Joã o da Cruz, Ascent of Mount
Carmel 4, 3, Christian Classics Ethereal Library, https://www.ccel.org/ccel/john_cross/ascent.
32 Sophie Carquain, atitude de viciado: l'ère des dépendances (atitude de viciado: a era das
se espalhe sobre os objetos e o reú ne para aplicá -lo, com sua força, para cumprir a presente
vontade de Deus.” Padre Marie-Eugè ne do Menino Jesus, Je veux voir Dieu (quero ver Deus)
(Toulouse: Editions du Carmel, 1988), 332–333.
35 Santa Teresa de Lisieux, Manuscrito C, 9r, em História de uma Alma , 216.
Completes de Saint Bernard Traduction Nouvelle , ed. M. l'Abbe Charpentier, 8 vols. (Paris:
Librairie de Louis Vivè s, 1865–1867), 3: 477.
37 International Theological Commission, Some Current Questions Concerning
Eschatology (1992), no. 1
38 Santa Teresa de Lisieux, poema 52.
39 Dom Vital Lé hodey, Le saint abandon ( Santo Abandono ) (Editions DFT), 90.
40 Santa Teresa de Avila, Caminho da Perfeição , cap. 30
41 Joã o Paulo II, Carta Encı́clica Dominum et Vivi icantem (18 de maio de 1896), n. 10
42 Carta 87 a Cé line, em Cartas de Santa Teresinha de Lisieux , vol. 1, 1877–1890 , trad. John
Parte 2
Alma: A Autobiogra ia de Santa Teresa de Lisieux , Biblioteca Eté rea de Clá ssicos
Cristã os, https://www.ccel.org/ccel/therese/ autobio.xxi.html. Veja pe. Marie-Eugè ne do
Menino Jesus, OCD, Je veux voir Dieu , 848.
62 Carta 141 para Cé line, em Cartas de Santa Teresinha de Lisieux , 2: 784.
63 André Louf, Au gré de sa grâce (De acordo com Sua graça) (Paris: Desclé e De Brouwer,
1991), 65.
64 Carta 55 para Irmã Agnè s de Jesus, em Cartas de Santa Teresinha de Lisieux , 1: 442.
65 Carta 197 à Irmã Maria do Sagrado Coraçã o, nas Cartas de Santa Teresinha de Lisieux , 2:
999.
66 Padre Marie-Eugè ne do Menino Jesus, OCD, Jean de la Croix , Présence de lumière (Joã o da
sobrenatural em Deus pode ocorrer sem nos deixar uma luz, um sentimento ou qualquer
experiê ncia da riqueza que alcançamos lá . ” Padre Marie-Eugè ne do Menino Jesus, Je veux voir
Dieu , 62.
75 Santa Teresa de Lisieux, Manuscrito B, 4v – 5r, em Story of a Soul , 198.
76 “Muitas pessoas, ao pesquisar, con iam apenas em seu pensamento ló gico, sua sabedoria
humana ou sua inteligê ncia. Eles nã o se conscientizaram da forma onipotente que contaminou
seu entendimento. Deve exercer plenamente a sua funçã o, mas sendo dó cil ao Espı́rito. Eles
ignoram o que signi ica esse movimento de se tornar ensiná vel ou de se abrir para uma Luz que
dá vida, mas desconhecida. Eles se identi icam apenas com o domı́nio do conhecimento,
raciocı́nio e conhecimento intelectual e histó rico, que é transmitido em um livro. Eles nã o
sabem que só o Espı́rito pode fazer algué m entender as coisas de Deus por dentro. ” Simone
Pacot, Ouvrir la porte à l'esprit (Abrindo a porta para o Espı́rito) (Paris: Editions du Cerf,
2007), 102.
77 Santa Teresa de Lisieux, Manuscrito A, 83v, em História de uma Alma , 179.
78 “Certamente, nada nos atinge mais duramente do que esta doutrina [do pecado original]. No
entanto, neste misté rio, o mais incompreensı́vel de todos eles, somos incompreensı́veis para
nó s mesmos. O nó da nossa condiçã o dá suas voltas e se transforma neste abismo de forma que
o homem é mais inconcebı́vel sem este misté rio do que este misté rio é inconcebı́vel para o
homem ”.Blaise Pascal, Pensées, Contrariétés (Pensamentos, con litos) (Paris: Agora Les
Classiques, 2003), 142.
79 Santa Teresa de Lisieux, Manuscrito A, 3r, em História de uma Alma , 14.
80 “A alma está ciente do imenso amor que Deus tem por ela e nã o quer amá -lo menos
abertamente ou com menos perfeiçã o. Assim, aspira a esta transformaçã o de gló ria onde esta
igualdade de amor se tornará possı́vel pela transformaçã o total de sua vontade em Deus para
que as duas vontades sejam unidas de tal forma que sejam uma só . Dessa forma, haverá uma
igualdade completa de amor. ” Sã o Joã o da Cruz, Cântico espiritual A 37: 2, in Oeuvres
complètes de Saint Jean de la Croix (Paris: Editions du Cerf, 1981), 515.
81 «O homem, tentado pelo demó nio, deixe morrer no seu coraçã o a sua con iança no seu
Espı́rito de Deus traz? Alé m disso, pode esta satisfaçã o nã o criada entrar na alma se a fome que
é criada pelos apetites da alma nã o for expulsa, uma vez que dissemos que dois opostos nã o
podem existir no mesmo sujeito? ” Sã o Joã o da Cruz, Subida do Monte Carmelo , 6, 3.
83 Carta 79 à Irmã Maria do Sagrado Coraçã o, em Cartas de Santa Teresinha de Lisieux , 1: 514.
84 Tenhamos cuidado: acolher tudo no abandono nã o é necessariamente aceitar tudo! Podemos
estar profundamente assentados no abandono e lutar contra uma injustiça e lutar contra uma
doença que nos atinge: “Senhor, meu Deus, dá -me a serenidade de saber aceitar o que nã o
posso mudar. Conceda-me coragem para mudar as coisas que posso mudar. Conceda-me
també m a sabedoria para saber a diferença. ”
85 Carta 201 ao Padre Roulland, em Cartas de Santa Teresinha de Lisieux , 2: 1015.
86 Carta 55 à Irmã Agnè s de Jesus, nas Cartas de Santa Teresinha de Lisieux , 1: 442.
87 Carta 74 para Irmã Agnè s de Jesus, em Cartas de Santa Teresinha de Lisieux , 1: 499–500.
88 “Em um livro, tomei a liberdade de revelar meu passado de muitos anos de escuridã o e
angú stia, para inalmente 'me render' e me render à vontade de Deus. Foi entã o que Deus
'libertou' Seu plano de amor, libertou meu coraçã o de suas algemas e libertou meu olhar para
ver o plano de Deus operando em mim e ao meu redor ”. Ver Padre Joë l Guibert, Renaître d'en
haut: Une vie renouvelée par l'Esprit Saint (Editions de l'Emmanuel, 2008).
89 “Deus nã o organiza. Ele inspira atores, e é por meio de mediaçõ es humanas que Ele
inalmente faz as coisas por tal e tal homem ou situaçã o. E por meio do samaritano que Deus
cuida do homem vı́tima de ladrõ es ”. François Varone, Ce Dieu absent qui fait problems (Este
Deus ausente que causa um problema) (Paris: Editions du Cerf, 1981), 105.
90 Santa Teresa de Lisieux, Manuscrito A, 76r, em História de uma Alma , 165.
91 Carta 129 para Cé line, em Letters of St. Thérèse of Lisieux , 2: 729.
92 Padre André Manaranche, Pour nous les hommes la Redemption (Redençã o para nó s,
Deus da alegria in inita; mas em Seu amor, Ele chega a implorar por esse consolo. Poder
consolar a Deus permitindo-nos ser consolados por Ele - que perspectiva!
103 Carta 261 ao Padre Belliè re, em Cartas de Santa Teresinha de Lisieux , 2: 1164–1165.
104 Santa Teresinha de Lisieux, poema 30: 3.
105 Santa Teresinha de Lisieux, Caderno Amarelo , 11, 6 de julho, em Últimas Conversas , 89.
106 Santa Teresinha de Lisieux, Caderno Amarelo , 9, 3 de maio, em Últimas Conversas , 43.
107 Santa Teresa de Lisieux, Caderno Amarelo , 3, 2 de julho, em Últimas Conversas , 71.
108 Santa Teresinha de Lisieux, Correspondência Geral , 1010.
109 Carta 226 ao Padre Roulland, em Cartas de Santa Teresinha de Lisieux , 2: 1093–1094.
longe. Aquilo que foi muito ú til agora se torna um obstá culo quase inevitá vel, pois essas almas
nã o podem perceber que sua razã o fecha o caminho da perfeiçã o para elas ”. Padre Marie-
Eugè ne do Menino Jesus, Je veux voir Dieu , 280.
113 “A alma precisa de muita coragem para se entregar completamente, para se aventurar e para
lutar contra os medos quando pensamos que a vida ou nossos sentidos estã o em
perigo.” Palestra proferida por Marthe Robin, 10 de fevereiro de 1930.
114 Carta 205 à Irmã Maria de Sã o José , em Cartas de Santa Teresinha de Lisieux , 2: 1033.
115 Existe preocupaçã o e existe preocupaçã o! Se estivermos experimentando uma ansiedade
paralisante, o abandono começará por nos entregarmos à s mã os de um mé dico, enquanto
aceitamos possı́vel ajuda psicoló gica. O abandono autê ntico nunca causa curto-circuito em
nossa humanidade; sempre leva em conta a pobreza e outros limites.
116 “O diabo, no esforço de nos impedir de nos abandonarmos a Deus, nos faz imaginar que, se
colocarmos tudo nas mã os de Deus, Deus efetivamente tomará tudo e 'estragará ' tudo em
nossas vidas! E isso desperta uma sensaçã o de terror que nos paralisa completamente. ” Padre
Jacques Philippe, Procurando e Mantendo a Paz: Um Pequeno Tratado sobre a Paz de
Coração , trad. George e Jannic Driscoll (Staten Island, NY: Society of St. Paul, 2002), 40.
117 Santa Teresinha de Lisieux, Caderno Amarelo , 27 de maio, 2, em Últimas Conversas , 50.
118 Santa Teresinha de Lisieux, Caderno Amarelo , 7, 3 de julho, em Últimas Conversas , 77.
119 Carta 161 para Cé line, em Letters of St. Thérèse of Lisieux , 2: 851.
120 Procès de béati ication et canonization , 468.
121 “Somos tã o lentos em dar a Deus o dom absoluto de nó s mesmos que nã o acabamos de nos
preparar para esta graça.”Santa Teresa de Avila, Thérèse d'Avila: Vie écrite par elle-même ,
trad. Gré goire de Saint Joseph (Paris: Editions du Seuil, 2014), cap. 11, 103–104.
122 Carta 74 para Irmã Agnè s de Jesus, em Cartas de Santa Teresinha de Lisieux , 1: 500.
123 Santo Iná cio de Loyola, Exercícios Espirituais , n. 23
124 “Se pudé ssemos, de uma só vez, com nosso olho interior, ver tudo o que é bom e
misericordioso no plano de Deus para cada um de nó s, mesmo naquelas coisas que chamamos
de escâ ndalos, tristezas ou a liçõ es, nossa felicidade consistiria em lançar-nos nos braços da
Vontade Divina com o abandono de uma criança que se lança nos braços da mã e. Agirı́amos, em
todas as coisas, com a intençã o de agradar a Deus, e entã o permanecerı́amos em santo
descanso, muito persuadidos de que Deus é nosso Pai e que Ele deseja nossa salvaçã o, mais do
que nó s mesmos ” (Marie de a Encarnaçã o).
125 Santa Teresinha de Lisieux, Manuscrito A, 38r, em História de uma Alma , 83.
126 Monsenhor François-Xavier Nguyen Van Thuan, J'ai suivi Jésus. Un évêque témoigne (Eu
segui Jesus: um bispo dá testemunho) (Paris: Mé diaspaul, 1997), 22-23.
127 “As vezes, por exemplo, muitos optam, em primeiro lugar, pelo casamento, que é o meio, e
em segundo lugar, por servir a nosso Senhor Deus no casamento, ao passo que servir a Deus é o
im. . . . Eles fazem do im um meio e os meios um im. ” Santo Iná cio de Loyola, Exercícios
espirituais , n. 169
128 Santa Teresa de Lisieux, Conselhos e Reminiscências da Irmã Geneviè ve (Lisieux: Central
Parte 3
Entregando-nos a Deus
As seguintes palavras de Thé rè se, numa mensagem ao Padre Belliè re,
resumem muito bem o que entendemos por entrega-se a Deus: “Sigo o
caminho que Ele está traçando para mim. Procuro nã o estar mais
ocupado comigo mesmo em nada, e me abandono ao que Jesus acha
adequado fazer em minha alma, pois nã o escolhi uma vida austera para
expiar minhas faltas, mas as dos outros. ”140 Sentimos em que direçã o
a santa de Lisieux quer nos conduzir, mas para vivenciar essa entrega
legı́tima de si mesmo é importante limpar o terreno.
Falsa Auto-Aceitação
Auto-aceitaçã o nã o é a recusa derrotista de progredir. Minha histó ria
pode ter, muito cedo, incluı́do algumas di iculdades - um sentimento de
abandono, rejeiçã o, falta de amor e assim por diante. Como resultado,
anos depois, em situaçõ es semelhantes, ainda estou paralisado por
di iculdades anteriores. A auto-aceitaçã o nã o tem nada a ver com a
recusa em curar ou renascer: “Foi assim que aconteceu; é certo que
tenho mancado desde entã o, mas seria tã o complicado e caro tentar
sair disso que pre iro icar do jeito que estou! ” Teresa de Lisieux,
ferida desde muito cedo com a morte da mã e, nã o quis suportar esta
ferida durante toda a vida. Como ela revelou, ao relatar a graça de sua
cura interior que recebeu na noite de Natal de 1886, ela
deliberadamente trabalhou na realizaçã o de atos de virtude por dez
anos com a intençã o de se opor à sua natureza ferida: “O trabalho que
eu tinha sido incapaz fazer em dez anos foi feito por Jesus em um
instante, contentando-se com a minha boa vontade que nunca faltou.
”141 E verdadeiramente uma alma agressiva que empreende o caminho
da cura con iante!
A entrega de si mesmo també m nã o leva ao relaxamento. As
Escrituras confundem o caminho da infâ ncia. Por um lado, convida-nos
a abandonar-nos com a con iança de uma criança: “A menos que se
transformem e se tornem como crianças, nunca entrarã o no reino dos
cé us” (Mt 18: 3). Por outro lado, exige grande esforço ascender ao
monte da santidade: “Sede perfeitos, como o vosso Pai celestial é
perfeito” (Mt 5:48; veja Lv 19: 2). O abandono autê ntico controla com
segurança e serenidade a luta contra as tendê ncias e os
pecados. Thé rè se realmente combinou bem esse paradoxo em uma de
suas ú ltimas conversas. Madre Agnè s de Jesus pediu-lhe explicaçõ es
sobre o caminho que ela gostaria de ensinar à s almas depois de sua
morte. Aqui está a resposta de Thé rè se: “Mã e, é o caminho da infâ ncia
espiritual, é o caminho da con iança e do abandono total.” Este é o
aspecto agradá vel do abandono: a con iança da criança. Sem demora,
ela acrescenta: “Quero ensinar-lhes os pequenos meios que tã o
perfeitamente me deram certo, dizer-lhes que só há uma coisa a fazer
aqui na terra: lançar em Jesus as lores dos pequenos sacrifı́cios, levá -lo
por carı́cias; é assim que O tenho tomado, e é por isso que serei tã o
bem recebido ”.142 E este é o aspecto mais desa iador do abandono, que
é insepará vel do primeiro: a luta, as “obras”, os sacrifı́cios que se fazem
por amor.
Por que a autoaceitação é tão di ícil?
A autoaceitaçã o nã o é fá cil por duas razõ es principais: (1) nosso
orgulho tem di iculdade em ver seus limites e (2) tememos nã o ser
mais amados.
Nosso orgulho tem di iculdade em ver seus limites
A consciê ncia de nossos fracassos e pecados, especialmente com raı́zes
profundas, perturba rapidamente nossa autossatisfaçã o. Isso é orgulho
sutil, que sussurra: "Você ainda nã o é tã o ruim assim!" A auto-
aceitaçã o nã o é excessiva, pois temos que concordar em chorar por nó s
mesmos até certo ponto. Nã o é inato. E preciso aprender: “Eu també m
tenho minhas fraquezas, mas me regozijo nelas. . . . Ainda estou no
mesmo lugar de antes! Mas digo isso a mim mesma com muita
gentileza e sem qualquer tristeza! E tã o bom sentir que um é fraco e
pequeno! ”143 Nó s nos parecemos com uma pessoa que, em seu quarto,
tem apenas duas coisas na parede - um lindo espelho e um ı́cone de
Cristo. Ele passou grande parte de sua vida se contemplando em seu
belo espelho. Um dia, o lindo espelho se quebra e as belas virtudes
junto com ele. Esta pobre alma tem duas soluçõ es. Ou ele vai passar o
resto de sua vida reclamando diante da exibiçã o de suas virtudes
mesquinhas que foram quebradas em mil pedaços, ou ele vai aceitar a
quebra desse espelho e escolher olhar para o ı́cone de Cristo, que nunca
vai cair da parede! Nã o, nã o é tã o simples para nosso orgulho ver nosso
ideal de perfeiçã o se despedaçar.
O medo de não ser mais amado
O livro de Gê nesis é uma liçã o psicoló gica magnı́ ica sobre o
pecador. Em Gê nesis 3:10, vemos que Adã o e Eva, logo apó s seu pecado,
tentaram se esconder de Deus. Assim é com todo pecador. Assim que
for cometido o pecado, ferida de amor, o homem será dominado pelo
medo de nã o ser mais amado pelo Amor, que foi ferido por
ele. Estejamos muito convencidos de que se, por meio de nossos
pecados, caı́mos ainda mais baixo, a misericó rdia de Deus vai descer
ainda mais para nos abraçar: “Para todo pecado, misericó rdia, e Deus é
poderoso o su iciente para dar estabilidade até mesmo à s pessoas que
nã o tê m nenhuma.”144
Como experimentamos uma legítima auto-aceitação?
Entre as palavras de Thé rè se, as dirigidas à irmã Geneviè ve na Carta
243 parecem uma entrada nesta legı́tima auto-aceitaçã o em Deus:
“Alinhemo-nos humildemente entre os imperfeitos, consideremo-nos
como pequenas almas que Deus deve sustentar a cada
momento. Quando Ele vê que estamos muito convencidos de nosso
nada, Ele estende Sua mã o para nó s. Se ainda quisermos tentar fazer
algo grande mesmo sob o pretexto de zelo, o Bom Jesus nos deixa em
paz. . . . SIM, basta humilhar-se, suportar as pró prias imperfeiçõ es. Isso
é verdadeira santidade! ”145
Rejeitar a nós mesmos é exaustivo
Nã o percebemos quanto tempo e energia preciosos perdemos ao nos
recusar a aceitar nossas limitaçõ es ou reclamar do que nã o somos. Nã o
acolher a minha pró pria inadequaçã o é exaustivo, simplesmente
porque é uma realidade e nã o há nada a fazer para mudá -la no
momento. Posso queimar todas as minhas forças recusando essa
realidade. A complexidade de quem eu sou sempre me lembrará de
minhas limitaçõ es e fragilidades! Entã o, vamos abraçar a sabedoria de
Thé rè se. “Vamos nos alinhar humildemente entre os imperfeitos.”
Deus pode agir apenas na realidade de quem eu sou
Se passo meu tempo - inconscientemente ou nã o - me recusando a
aceitar quem sou e principalmente meu lado sombrio e minhas
limitaçõ es, com a desculpa de que nã o é um retrato laudató rio, estou
vivendo, de certa forma, fora de mim. Entã o, Deus, o Ser mais real que
existe, só me encontra na complexidade de quem eu sou, inclusive o
que é “muito complexo”! Um pouco de misericó rdia para si mesmo nã o
é , portanto, um luxo, mas o mı́nimo necessá rio para experimentar
nossa humanidade de maneira justa.146
Aceitando-me suavemente olhando para mim mesmo com os olhos de
Deus
E o Deus Altı́ssimo quem dá sentido, valor e beleza à nossa humildade.
O que paralisa a açã o da graça em nossas vidas nã o sã o tanto nossos
pecados, mas nossa rejeiçã o da misericó rdia divina quando caı́mos. Um
grande Thé rè sian transmitiu isso tã o bem nos famosos Diálogos das
Carmelitas . Georges Bernanos escreveu sobre um postulante muito
novo no convento. Seu sá bio superior deu-lhe apenas estas instruçõ es:
“Acima de tudo, nunca se despreze. E muito difı́cil desprezar a si mesmo
sem ofender a Deus em nó s mesmos. . . . Se a sua natureza é objeto de
luta ou campo de batalha, oh, nã o desanime nem ique triste. Terei
prazer em dizer: ame a sua pobreza, pois Deus dispensa Sua
misericó rdia sobre ela. ”
Em ú ltima aná lise, devemos olhar para nó s mesmos nã o no nı́vel do
homem, mas no nı́vel de Deus! Fora da misericó rdia divina, o homem
tem todas as oportunidades, em um momento ou outro, de se
desesperar consigo mesmo. A graça de pedir misericó rdia é nos vermos
nos olhos do bom Senhor. Ao contemplar Sua extrema misericó rdia e
in inita paciê ncia para conosco, acabaremos tendo um respeito divino
por nó s mesmos: “Sim, basta humilhar-nos e suportar com suavidade
as nossas imperfeiçõ es. Essa é a verdadeira santidade. ” Que conexã o
com o chamado universal à santidade! Mas uma auto-aceitaçã o legı́tima
pressupõ e uma kenosis - um esvaziamento do ego irreal e de todas as
suas fortalezas internas, que foram construı́das na forma de castelos de
areia para esconder nossa pobreza. Quando oferecido à s ondas suaves
da misericó rdia, acabará caindo, abrindo caminho para o Amor. Que
tsunami abençoado!
140 Carta 247 ao Padre Belliè re, nas Cartas de Santa Teresinha de Lisieux , 2: 1134.
141 Santa Teresa de Lisieux, Manuscrito A, 45r – v, em História da Alma , 98.
142 Conversa com Madre Inê s de Jesus, julho de 1897, em Últimas Conversas , 257.
143 Santa Teresa de Lisieux, Caderno Amarelo , 5 de julho, 1, em Últimas Conversas , 73–74.
144 Carta 147 para Cé line, em Letters of St. Thérèse of Lisieux , 2: 813.
145 Carta 243 para Irmã Geneviè ve, em Cartas de Santa Teresa de Lisieux , 2: 1122.
146 “Eu admiro você s cristã os. Quando você dá as boas-vindas ao estranho, você dá as boas-
vindas a Jesus. Você vê algué m que está com fome, você o alimenta e dá a Jesus. Você vê algué m
na prisã o, você o visita e você visita Jesus! Mas o que eu nã o entendo é que você nã o vê Jesus
em sua pró pria pobreza. Você quer ver a pobreza fora de você e servir os pobres, mas nã o
aceitou a pobreza em você . ” Carl Gustav Jung, psicanalista, citado em
Ré mi Schappacher , Veux-tu guérir (Você quer curar?) (Paris: Editions du Cerf, 2000), 54.
Sainte Face (Conselhos e reminiscê ncias coletados pela Irmã Geneviè ve da Santa Face) (Paris:
Editions du Cerf, 1937), 76.
151 Carta 110 para Irmã Agnè s, em Cartas de Santa Teresinha de Lisieux , 1: 651–652.
152 Santa Teresinha de Lisieux, Manuscrito A, 83v, em História de uma Alma , 179.
153 Santa Teresa de Lisieux, Manuscrito A, 75v, em História de uma Alma , 165.
154 Carta 165 a Cé line, em Cartas de Santa Teresinha de Lisieux , 2: 862.
155 Santa Teresinha de Lisieux, Manuscrito A, 79v, em Story of a Soul , 172.
10
qualquer custo, com a desculpa de nã o querer machucar os outros. Essa inibiçã o muitas vezes
esconde uma fuga vergonhosa de nossa parte do sofrimento, uma vez que geralmente nã o é
agradá vel corrigir algué m em um assunto sé rio. Meus ilhos, lembrem-se de que o Inferno está
cheio de bocas fechadas. ” José maria Escrivá , Friends of God (Nova York: Scepter, 2017), n. 161
165 Santa Teresa de Lisieux, Manuscrito C, 20v, em Story of a Soul , 235-236.
166 Santa Teresa de Lisieux, Manuscrito C, 20v-21r, em História de uma Alma , 236.
167 Ibid.
168 Santa Teresa de Lisieux, História de uma Alma , Manuscrito C, 21r – v, em História de uma
Alma , 236.
11
12
declara que: “Deus age em nó s, mas nã o age sem nó s. . . . O que é feito por Deus em mim
també m é feito por mim mesmo. ”
174 Santa Teresinha de Lisieux, Conselhos e Reminiscências , 74.
13
200.
180 Carta 89 para Cé line, em Cartas de Santa Teresinha de Lisieux , 1: 557.
181 Santa Teresinha de Lisieux, Caderno Amarelo , 4 de agosto, 4, em Últimas Conversas , 132.
182 Ultimas Conversas com Cé line, 16 de agosto, em Últimas Conversas , 224.
183 Irmã Maria da Trindade, Procès de béati ication et canonization , 2791.
184 Santa Teresa de Lisieux, Caderno Amarelo , 3, 4 de agosto, em Últimas Conversas , 130.
185 “Muitas vezes leva tempo, mesmo muito tempo, para que essa resposta comece a ser
percebida interiormente. Pois Cristo nã o responde diretamente e nã o responde de forma
abstrata a esse questionamento humano sobre o signi icado do sofrimento. O homem ouve a
resposta salvadora de Cristo à medida que ele pró prio se torna gradualmente um participante
dos sofrimentos de Cristo. ” Joã o Paulo II, Carta Apostó lica sobre o Signi icado Cristã o do
Sofrimento Salvi ici Doloris (11 de fevereiro de 1984), n. 26
186 Viktor E. Frankl, citado em “Encountering God”, 11.
187 “Cristo, o Adã o inal, pela revelaçã o do misté rio do Pai e do seu amor, revela plenamente o
homem ao pró prio homem e torna clara a sua vocaçã o suprema. . . . Por meio de Cristo e em
Cristo, os enigmas da tristeza e da morte tornam-se signi icativos. A parte do Seu Evangelho,
eles nos oprimem. ” Concı́lio Vaticano II, Gaudium et Spes no. 22
188 “Cristo nos faz entrar no misté rio e descobrir o 'porquê ' do sofrimento, na medida em que
somos capazes de compreender a sublimidade do amor divino.” Joã o Paulo II, Salvi ici Doloris ,
n. 13
189 Santa Teresinha de Lisieux, Caderno Amarelo , 5, 2 de julho, em Últimas Conversas , 74.
190 Carta 255 para o Sr. e a Sra. Gué rin, em Letters of St. Thérèse of Lisieux , 2: 1146.
191 “Os piores sofrimentos do homem sã o aqueles que ele teme.” “Todas as vezes, quando eu
estava pronto para enfrentá -los, as provaçõ es se transformaram em belos.” Etty Hillesum, Une
vie bouleversée: Journal (1941–1943) (An Uninterrupted Life: The Diaries [1941–1943])
(Paris: Editions du Seuil, 1985), 199, 230.
192 Santa Teresinha de Lisieux, Caderno Amarelo , 5 de julho, 2, em Últimas Conversas , 155.
193 “O momento presente é o lugar de encontro da alma com Deus. . . o ponto de contato com a
vontade divina. Independentemente de sua forma e conteú do, é , por sua pró pria natureza, a
expressã o da vontade de Deus para nó s. Neste preciso minuto, Deus quer que realizemos uma
açã o que muitas vezes nã o será nem extraordiná ria nem grandiosa, mas mundana e
minú scula. Seu ú nico valor será que é a vontade de Deus. Mas, para ser preciso, essa vontade
nã o é su iciente? O momento presente transmite nã o apenas a vontade divina, mas també m a
presença de Deus. Se, neste momento, o Senhor nos pede que estejamos em tal e tal lugar ou
realizemos tal e tal açã o, é porque Ele nos espera ali. Neste preciso momento, o encontramos e,
se o buscarmos em outro lugar, sentiremos sua falta ”.Padre Victor Sion, Pour un réalisme
spirituel, L'instant present (O momento presente para um realismo espiritual) (Editions des
Bé atitudes, 1989), 15-16.
194 Santa Teresa de Avila, Caminho da Perfeição , cap. 28
195 Santa Teresinha de Lisieux, Caderno Amarelo , 14 de junho, em Últimas Conversas , 64.
196 Carta 89, em Cartas de Santa Teresinha de Lisieux , 1: 558.
197 “Um ato anagó gico ou onda de amor, elevando o nosso coraçã o à uniã o divina. Graças a esta
onda, a pessoa escapa do vı́cio e da tentaçã o, apresenta-se a Deus e se une a ele. Desta forma, o
inimigo ica frustrado em sua espera e nã o encontra mais ningué m para atacar. Na verdade,
aquele que manté m seu coraçã o centrado no amor de Deus e nã o nas lutas e tentaçõ es do dia a
dia, nã o é um alvo fá cil para a tentaçã o. ” Sã o Joã o da Cruz, Conselhos de Espiritualidade , n. 5,
in Oeuvres complètes , 235. Ver també m Padre Marie-Eugè ne do Menino Jesus, Je veux voir
Dieu , 112-114.
198 Santa Teresa de Lisieux, Caderno Amarelo , 11, 4 de setembro, em Últimas Conversas , 188.
199 Santa Teresa de Lisieux, Manuscrito C, 7r, em História da Alma , 213.
200 Santa Teresinha de Lisieux, Caderno Amarelo , 15, 1º de junho, em Últimas Conversas , 65.
201 Santo Iná cio de Loyola, Exercícios Espirituais , n. 322: 3.
202 Santa Teresinha de Lisieux, Caderno Amarelo , 12, 3 de agosto, em Últimas Conversas , 147.
203 Santa Teresinha de Lisieux, Manuscrito C, 36r-v, em Story of a Soul , 258.
204 As ú ltimas palavras coletadas pela Irmã Maria do Sagrado Coraçã o, maio de 1897,
e do sofrimento - longe disso. Ele é mais atacado do que ningué m porque Maria, sendo a Mã e
dos vivos, dá pedaços da Arvore da Vida, que é a Cruz de Jesus, a todos os seus ilhos. Mas é
esculpindo boas cruzes para eles que ela lhes dá a graça de carregá -las com paciê ncia e até com
alegria, de modo que a cruz que ela dá à queles que pertencem a ela sejam conservas ou cruzes
doces em vez de amargas ”. Sã o Luı́s Maria Grignion de Montfort, O Segredo de Maria , par. 11
Conclusã o
Concluindo, é difı́cil usar a fó rmula usual “no inal desta jornada”, pois
devemos começar esta jornada agora! Na verdade, com Thé rè se, só
conseguimos estabelecer alguns pontos de referê ncia. Cabe agora a
cada um de nó s trilhar este caminho de con iança. E claro que muitos
nã o esperaram por este livro para experimentar o pequeno
caminho. Mas talvez nos tenha permitido organizar verbalmente o que
já foi vivido ou reavivar o desejo de um dom a Deus mais completo.
O tempo que tem sido experimentado na escola do pensamento de
Thé rè se tem sido a ocasiã o para recolher alguns ensinamentos muito
preciosos para o nosso vidas humanas e espirituais. Dois pontos
particulares chamam nossa atençã o. Eles iluminam dois aspectos
fundamentais da vida espiritual. O abandono é realmente no coraçã o da
aliança de amor entre Deus ea pessoa. Por outro lado, uma ligaçã o
ı́ntima une abandono e uma luta espiritual.
O abandono está no cerne da aliança
O abandono pode, é claro, ser considerado do ponto de vista da pessoa
que o vivencia. Nesse caso, tentaremos descrever a maneira como uma
pessoa desenvolve essa “dinâ mica de con iança”. Mas o abandono nã o
se reduz à atitude pessoal, pois conduz imediatamente ao seio de uma
relaçã o de aliança entre Deus e uma pessoa. Quando uma pessoa se
entrega a Deus, Deus, por sua vez, se entrega a essa pessoa: “Parece-me
que se Você encontrasse almas se oferecendo como vı́timas do
holocausto ao Seu Amor, Você as consumiria rapidamente; també m me
parece que icaria feliz em nã o conter as ondas de in inita ternura
dentro de você . ”209 O abandono realmente inicia uma vida
compartilhada! Nã o é simplesmente a pessoa que se entrega ao
Amado. E també m o Esposo Divino que se entrega à Sua criatura pelo
poder da Sua misericó rdia e providê ncia ativa. E por isso que me
pareceu indispensá vel mencionar a obra de Deus para realçar a
fecundidade e a força do abandono a Deus: “Quanta força conté m o
dom de si. Este desejo nã o pode deixar de atrair o Todo-Poderoso para
ser um com a nossa humildade. ”210
Abandono e o combate espiritual
As vezes, tendemos a opor o abandono ao combate espiritual. No
entanto, descobrimos vá rias vezes que o verdadeiro abandono nã o é
distinto do combate espiritual, mas que eles estã o misteriosamente
entrelaçados um no outro.
O abandono já é um combate espiritual. O abandono autê ntico precisa
usar as mesmas armas da virtude que fundamentam o combate
espiritual. Em certos momentos, devemos lutar muito para nos
entregarmos a Deus, porque nossa tendê ncia é construir-nos
sozinhos. Durante as tempestades e provaçõ es internas de nossa vida,
temos que continuar dominando nosso abandono. Por outro lado, a
puri icaçã o de nossa vontade e seu ajuste à de Deus sã o uma vitó ria que
nã o será obtida sem luta e sem entrega. Realmente existe uma luta
espiritual no abandono!
O abandono é o cenário para o combate espiritual. Nã o existe apenas
uma relaçã o entre o abandono con iante e o combate espiritual, mas
existe uma verdadeira sinergia entre eles. Se a vida cristã se reduzisse a
negar a si mesmo, sem abandono e sem a graça e misericó rdia de Deus,
provavelmente acabarı́amos nos tornando rı́gidos ou presos ao
dever. També m podemos nos tornar independentes de Deus. No inal,
nossa vida cristã se tornaria virtuosa sem Deus! Pelo contrá rio, se a
vida cristã se tornasse passiva, acabaria como um pedaço deQueijo
camembert tã o maduro que nem a casca aguenta mais. Ser passivo sem
Deus ofereceria tã o pouca estrutura que o cristianismo se espalharia e
entraria em colapso como o queijo excessivamente maduro. Portanto, o
combate e o abandono sã o os dois pulmõ es que fazem respirar uma
verdadeira vida cristã - nã o um lado ao lado do outro, mas um dentro
do outro. Até me parece que o combate espiritual deve ser “inserido” no
abandono, como uma aliança dentro de sua caixa.
O abandono, que é basicamente o acolhimento da graça de Deus,
estará sempre em primeiro lugar, em relaçã o à nossa resposta e luta. E
Deus quem sempre dá o primeiro passo em nossa direçã o: “Portanto,
nã o depende da vontade nem do esforço do homem, mas da
misericó rdia de Deus” (Rm 9:16).
Acrescentemos que o acolhimento da graça divina será sempre “igual”
da luta espiritual, pois o ú ltimo ato virtuoso tem sua origem em Deus e
nã o apenas na açã o do homem: “O mé rito nã o consiste em fazer ou dar
muito, mas antes, em receber, em amar muito. ”211
Finalmente, consentir com a misericó rdia de Deus sempre
transbordará em uma batalha espiritual. Se por acaso cairmos e
falharmos em nossa luta, nossa luta espiritual será para voltar a nos
render à misericó rdia: “No entardecer desta vida, aparecerei diante de
Ti com as mã os vazias. . . . Toda a nossa justiça está manchada em seus
olhos. Desejo, entã o, estar revestido de Sua pró pria Justiça e receber de
Seu Amor a eterna possessã o de Si mesmo . ”212
A mensagem de Thé rè se é uma graça imensa para nos ajudar a
redescobrir a conexã o exata entre açã o e açã o e entre combate e
abandono. Na vida de acordo com o Espı́rito, o recebimento da graça
sempre será o primeiro. O combate sempre será o segundo sem, no
entanto, nunca ser secundá rio. E tã o cansativo viver para trá s. E
renovador e grati icante inalmente viver com o lado certo para cima
novamente. Quando a vida sobrenatural redescobre seu movimento
natural de receber graça para melhor nos darmos em troca,
relaxamos. Aqueles que estã o ansiosos e tensos icam em paz e
realizados.
No dia em que faleceu, 30 de setembro de 1897, Thé rè se deixou
escapar estas palavras: “Nã o me arrependo de me entregar ao
Amor”.213 Se desejamos sinceramente tomar emprestado, seguindo seu
exemplo, o pequeno caminho da con iança, tenhamos certeza de que
també m nã o nos arrependeremos de nos entregarmos à Santı́ssima
Trindade! Deus entrega sua pró pria felicidade à quele que entrega sua
vida diá ria. Nã o seremos mais os mesmos. Nossa vida nunca mais será
a mesma: “Minha vida nã o tem sido amarga, porque eu soube
transformar toda amargura em algo alegre e doce”.214 Será o inı́cio da
vida real!
209 Santa Teresa de Lisieux, Manuscrito A, 84r, em História de uma Alma , 181.
210 Santa Teresa de Avila, Caminho da Perfeição , cap. 34
211 Carta 142 para Cé line, em Letters of St. Thérèse of Lisieux , 2: 794-795.
212 Santa Teresinha de Lisieux, Oraçã o nº 6, Ato de Oblaçã o ao Amor Misericordioso,
205.
214 Santa Teresinha de Lisieux, Caderno Amarelo , 30 de julho, 9, em Últimas Conversas , 119.
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