Você está na página 1de 298

Diário

da
alma

Joã o XXIII

Índice

Diá rio da alma


Introduçã o
1. Breve biogra ia
2. Bibliogra ia
3. Joã o XXIII
4. Diá rio da alma
1 No seminá rio de Bergamo (1895-1900)
Regras de vida a serem observadas pelos jovens que desejam
progredir na vida de piedade e de estudo
Objetivos feitos nos EUA em 1896 e con irmados em 1897 e 1898
De santa pureza
Notas espirituais
Notas espirituais no retiro mensal apó s a morte do pá roco
padre Francisco Rebuzzini, sinal sagrado da minha infâ ncia e
da minha vocaçã o
Má ximas tiradas de meditaçõ es nos EUA
Notas espirituais
Impressõ es e re lexõ es dos EUA a partir do Ano da Graça,
Seminá rio de Bé rgamo (fevereiro de 1900)
Promessa solene ao Sagrado Coraçã o de Jesus sob os
auspı́cios de Sã o Luı́s Gonzaga
Jesus, Maria e José Ano Santo 1900
2 No seminá rio de Roma (1901-1903)
Retiro espiritual
EE. EE. Com o P. Francisco Pitocchi (10-20 dezembro)
Diá rio espiritual
Notas espirituais
Pá scoa nos EUA, para pedidos de subdiá conos (1 a 10 de abril
de 1903)
Notas espirituais
Roccantica Holiday Retreat (29 de agosto de 1903)
Breves exercı́cios no inı́cio do curso Roma (1-3 de novembro
de 1903)
EUA para ordenaçã o de diá cono (9 a 18 de dezembro de
1903)
3 Ordenaçã o Sacerdotal e Secretá rio de Dom Radini Tedeschi (1904-
1914)
Ano de ordenaçã o sacerdotal
EE. De preparaçã o ao sacerdó cio, no retiro dos
Pe. Passionistas dos Santos Joã o e Paulo em Cé lio (1 a 10 de
agosto de 1904)
Peregrinaçã o à Terra Santa (18 de setembro, 22 de outubro)
Exercı́cios na casa da Sagrada Famı́lia Martinengo (1-7 de
setembro)
EUA EUA com o Sr. Bispo Martinengo (25 a 31 de outubro)
EUA EUA com o Sr. Bispo Martinengo (19 a 25 de setembro)
EUA EUA com o Sr. Bispo Martinengo (2 a 8 de outubro)
EUA EUA com o Sr. Bispo Martinengo (1 a 7 de outubro)
EUA EUA com o Sr. Bispo Martinengo (13 a 19 de outubro)
EUA EUA com o Sr. Bispo Martinengo (19 a 25 de outubro)
Apó s dez anos de sacerdó cio
USA USA com os padres do Sagrado Coraçã o, Bergamo (27 de
setembro - 3 de outubro de 1914)
4 A guerra, diretor espiritual do seminá rio de Bé rgamo e transferê ncia
para Roma, a serviço da propagaçã o da fé (1915-1924)
A Primeira Guerra Mundial
EUA depois da guerra, com os padres do Sagrado Coraçã o (28 de
abril, 3 de maio)
Ao serviço da propagaçã o da fé
5 Consagraçã o Episcopal, representante papal na Bulgá ria (1925-1934)
Os preparativos para a consagraçã o episcopal Villa Carpegna,
Roma (13 a 17 de março)
Retiro espiritual, Mosteiro de Sã o Paulo, Roma (27 de novembro, 2
de dezembro)
Retiro espiritual, Jesuit House Lubiana, Eslovê nia (9 a 13 de
novembro)
Aposentadoria anual, residê ncia PP. Lazaristas de Babek pelo
Bó sforo (20 a 24 de dezembro)
Retiro espiritual, casa PP. Passionistas de Ruschuk (28 de abril, 4
de maio)
Retiro espiritual breve, casa PP. Conventuais de Bujukada, pró ximo
ao Bó sforo (18 a 21 de junho)
Retiro espiritual com os padres. So ia Capuchinhos (4-8 de
setembro)
Retiro espiritual com os padres. Passionistas de Ruschuk (27 a 31
de agosto)
6 Representante Pontifı́cio na Turquia e Gré cia (1935-1944)
EUA EUA com meus padres Istambul (15 a 22 de dezembro)
Casa das Filhas do Sagrado Coraçã o de Ranica, Bé rgamo (13 a 16
de outubro)
Retiro espiritual com meu clero secular em Istambul (12 a 18 de
dezembro)
EUA EUA: Casa de Pensamentos e Propó sitos dos Jesuı́tas de Ayas
Pasa Istanbul (12-18 de novembro)
US US: Notes. Terapia junto à Casa das Religiosas de Nossa
Senhora de Sion do Bó sforo (25 de novembro, 1 de dezembro)
EUA EUA com meu clero Da festa de Cristo Rei à de Todos os
Santos Istambul (25-31 de outubro)
7 Representante Pontifı́cio na França (1945-1952)
Retiro durante a Semana Santa Solesmes (26 de março, 2 de abril)
EE. EE.: Pensamentos e propó sitos Villa Manresa, dos Frs. Jesuı́tas
Paris (8 a 13 de dezembro)
Retiro anual do Mosteiro Beneditino do Sagrado Coraçã o de Calcat,
Dourgne (23-27 de novembro)
Notas espirituais do meu breve retiro quinta-feira, sexta-feira,
sá bado santo e Pá scoa Oran, Argé lia (6 a 9 de abril)
Retiro espiritual Quinta, Sexta e Sá bado Santo RR. del Carmelo,
Montmartre (10 a 12 de abril)
8 Cardeal Patriarca de Veneza (1953-1958)
Retiro espiritual com os bispos da Provı́ncia de
Triveneta. Pregador: Pe. Federico da Baselga,
Capuchinho. Seminá rio de Veneza (15 a 21 de maio)
Exercı́cios pregados pelo bispo Landucci Torreglia (6 a 12 de
junho)
USA USA with the triveneto episcopate Preacher: Fr. Ricardo
Lombardi, SJ Villa Inmaculada de Torreglia, Padua (20-25 de maio)
Retiro espiritual, Seminá rio de Saú de de Veneza (11 a 15 de junho)
EUA EUA com os bispos do Episcopado Triveneto Pregador: Dom
Van Lierde, sacristã o de Sua Santidade Torreglia (2 a 7 de junho)
EE. EE. Com os Frs. Cavanis. Pregador, nomeado por mim: Dom A.
Signora, Arcebispo, Prelado de Pompé ia. Casa do Sagrado Coraçã o
Col Draga di Possagno (22 a 26 de setembro)
9 Pope (1958-1963)
EUA EUA no Vaticano para Pregador do Advento: Pe. Messori
Roncaglia, SJ (30 de novembro a 6 de dezembro)
Retiro espiritual no Vaticano. Pregador: Dom José Angrisani, Bispo
de Casale. Convidado por mim, ele produziu uma impressã o geral
e edi icante (29 de novembro, 5 de dezembro)
Retiro espiritual no Vaticano Pregador: Bispo Pirro Scavizzi,
missioná rio (27 de novembro, 3 de dezembro)
Meu retiro espiritual em preparaçã o ao octogé simo ano de minha
vida Castelgandolfo (10 a 15 de agosto)
Retiro do Vaticano Pregador: Pe. Hilarino de Milã o,
Capuchinho (26 de novembro a 2 de dezembro de 1961)
Julho e agosto
Semana de retiro pessoal do Papa (8 a 16 de setembro)
Começo do meu retiro pessoal para o Conselho na Torre de
San Juan
Ultimas notas de 1962
Palavras de despedida
Diário da
alma

Joã o XXIII

Introdução

A melhor liçã o espiritual de Joã o XXIII, um Papa inesquecivelmente


bondoso, é a evocaçã o de sua vida como aparece em seu Diário da
alma , um documento excepcionalmente autê ntico. Existe uma razã o
importante e fundamental. O leitor rapidamente percebe que, sob
pensamentos tã o cheios de serenidade espiritual, continua a bater a
alma de um Papa cuja memó ria permanece viva.
A eleiçã o do até entã o conhecido como Angel José Roncalli (1881-1963)
como Sumo Pontı́ ice foi uma surpresa para muitos. O seu ponti icado
(1958-1963) continua a ser para todos pela mensagem inesgotá vel da
sua bondade e pelo milagre da sua simplicidade evangé lica, que o
tornou um dos papas mais queridos do sé culo XX e da histó ria da
cristandade. Joã o XXIII precisa de algumas apresentaçõ es. Mas quem se
prepara para escrever sobre o bom Papa e sua atividade, é ó bvio que
deverá levar em conta seus escritos, especialmente os mais ı́ntimos,
especialmente seu diá rio. O Diario del alma foi publicado pela primeira
vez poucos meses depois de sua morte, oferecendo-nos em todas as
suas pá ginas, ı́ntimas e transparentes, toda uma sé rie de notas
espirituais, ainda mais, toda a vida de um sacerdote que se tornou Papa.
1. Breve biogra ia
Angel José Roncalli nasceu em 25 de novembro de 1881 em Sotto il
Monte, uma cidade perto de Bergamo. Terceiro de dez ilhos de Juan
Bautista Roncalli e Ana Marı́a Mazzoli, um casal de camponeses
humildes e de só lida piedade popular, que transmitiram a seus
ilhos. Angel iniciou a sua formaçã o na escola primá ria da sua
localidade, continuando como aluno do pá roco de Carvico e aluno do
Colé gio Episcopal de Celana. Aos doze anos, em 1892, foi admitido no
seminá rio de Bé rgamo. Dois anos depois, em uma idade incomum até
para sua é poca, ele recebeu a tonsura. Aos quinze anos, escreveu em
diá rio sua evoluçã o espiritual, algo que quase nunca interrompia, e cuja
leitura nos permite conhecer sua evoluçã o espiritual ao longo de sua
vida. Em setembro de 1900 mudou-se para Roma, onde continuou sua
formaçã o sacerdotal, interrompida entre 1901 e 1902 pelo serviço
militar. Em 13 de junho de 1903, obteve o doutorado em teologia, grau
que alcançou com a presença em tribunal de E. Pacelli, futuro Pio
XII. Em 10 de agosto de 1904 foi ordenado sacerdote.
O jovem sacerdote Roncalli foi nomeado, em 1905, secretá rio do bispo
de Bé rgamo, Dom Giacomo Radini Tedeschi, com quem permaneceu até
sua morte em 1914. Em Radini encontrou um pá roco comprometido
sem reservas com os mais desfavorecidos que incentivava a
participaçã o dos cató licos na vida polı́tica de seu paı́s. Por vá rios anos,
Roncalli combinou seu trabalho como secretá rio com o de professor de
histó ria eclesiá stica no seminá rio de Bé rgamo. Com a eclosã o da
Primeira Guerra Mundial, ingressou e esteve na frente, primeiro como
sargento do corpo militar de saú de, e como capelã o militar, com patente
de tenente, a partir de março de 1916. Depois da guerra, voltou para
Bé rgamo , onde fundou a Casa do Estudante, para acolher os jovens do
meio rural que vieram estudar na cidade, e é o responsá vel pela direçã o
espiritual do seminá rio. Em dezembro de 1920 foi chamado a Roma
pela Congregaçã o da Propaganda ide, presidida pelo Cardeal Von
Rossum, que o nomeou secretá rio da Congregaçã o para a Itá lia. Em
1921 foi nomeado prelado domé stico por Bento XV. Por causa de sua
posiçã o, ele teve que visitar todos os bispos italianos, o que lhe deu um
profundo conhecimento da situaçã o da Igreja na Itá lia.

Em 19 de março de 1924, Pio XI consagrou-o bispo e nomeou-o


Visitador Apostó lico na Bulgá ria, paı́s de maioria ortodoxa, onde teve
que resolver vá rios assuntos bastante polê micos. Em novembro de
1934 foi nomeado Administrador Apostó lico do Vicariato de
Constantinopla e Istambul, em contexto islâ mico em processo de
secularizaçã o, e Regente da Delegaçã o Apostó lica para a Gré cia, paı́s em
permanente con lito com a Turquia por questõ es territoriais e com
pé ssimas relaçõ es com a Igreja Cató lica, e na qual teve a oportunidade
de aprofundar seus conhecimentos do mundo ortodoxo. Nesses dois
paı́ses, ele conseguiu encurtar um pouco as enormes distâ ncias entre o
Vaticano e as hierarquias ortodoxa e muçulmana.
Em 6 de dezembro de 1944, quando tinha sessenta e trê s anos, Pio XII
nomeou-o Nú ncio Apostó lico em Paris, cargo que teve de ocupar
imediatamente. Ele sucedeu ao bispo Valeri, rejeitado por De Gaulle por
ter colaborado com o governo de Vichy. Mais uma vez teve que
enfrentar situaçõ es delicadas, que soube resolver com seu estilo
peculiar, cheio de humanidade e à s vezes distante do protocolo
diplomá tico. Sua intervençã o fez com que, dos oitenta e sete prelados
acusados de colaboracionismo pelo governo, inalmente apenas trê s
fossem destituı́dos de seus assentos. Em 1953, Roncalli recebeu o gorro
cardeal e a nomeaçã o de Patriarca da Diocese de Veneza. Durante os
seis anos que permaneceu na diocese, serviu ielmente como pastor:
abençoou templos, celebrou a visita pastoral a toda a diocese,
promoveu o sı́nodo diocesano e presidiu vá rias peregrinaçõ es
diocesanas. Uma delas, a Lourdes, realizada em julho de 1954, també m
o levou a alguns dos mais importantes centros de espiritualidade e
peregrinaçã o da geogra ia espanhola: Loyola, Javier, Begoñ a, Comillas,
Covadonga, Mondoñ edo, Santiago de Compostela, Salamanca, Alba de
Tormes, Zaragoza e Montserrat. Regressou a Lourdes em março de
1958 para consagrar o templo de Sã o Pio X, e viajou també m a Fá tima,
em maio de 1956, para representar o Papa na celebraçã o do 25º
aniversá rio da consagraçã o de Portugal ao Imaculado Coraçã o de
Maria; a Beirute, no Lı́bano, como legado pontifı́cio para presidir o
Congresso Nacional Mariano, e a outros centros de peregrinaçã o
mariana, como Einsiedeln, Mariazell ou Czestochowa. Ele costumava
passar as fé rias em Sotto il Monte, sua terra natal e onde seus irmã os
continuavam a trabalhar.

2. Bibliogra ia
B M. Z G. , Juan XXIII , San Pablo, Madrid 2000.
C LF (ed.), Juan XXIII: Cartas aos seus parentes , San Pablo, Madrid 1978.
D J. (dir.), Dicionário dos Papas, Destino, Barcelona 1963, 249-253.
E L. L HN , Juan XXIII, Sal Terrae, Santander 1980.
G J. (dir.), Los Papas. Retratos e retratos, Herder, Barcelona 1986, 233-237.
G F. C B. (dirs.), Storia dei Papi II, Panda, Padua 1989, 1118-1130;
G ́ B JL , Vida de Juan XXIII, San Pablo, Madrid 2000 2 ;
I ., Juan XXIII: Rezando, seu pensamento espiritual , Planeta, Barcelona 2000;
G M.G E. , Storia dei Papi, San Paolo, Cinisello Balsamo (Milã o) 1994, 858-897;
J XXIII, Il giornale dell´anima e altri scritti di pietà , San Paolo, Milã o 2000;
L JM , Idade Contemporânea, em B. L R. G ́ V JM L , História da Igreja
Católica V, BAC, Madrid 1999, 467-479;
L JM , Os Papas do século 20, BAC, Madrid 1998, 77-87;
P J. (dir.), Dicionário de Papas e Concílios, Ariel, Barcelona 1998, 527-547;
P M. , Um jovem de 80 anos , San Pablo, Madrid 1998 2 ;
R M. , Giovanni XIII. Nel ricordo del segretario Loris F. Capovilla, San Paolo, Cinisello
Balsamo (Milã o) 1994;
S A. , Juan XXIII , em Dicionário dos Santos II, San Pablo, Madrid 2000;
Z G. , A era contemporânea. Curso de história da igreja IV, San Pablo, Madrid 1998;
Z A. , Os Concílios do Vaticano, San Pablo, Madrid 1996.

3. João XXIII
Quando Pio XII morreu, o Cardeal Roncalli viajou a Roma para
participar do conclave. No quarto dia, 28 de outubro de 1958, aos
setenta e sete anos, foi eleito Papa. Ele imediatamente adotou o nome
de Juan, o mais comum entre os Papas, um nome muito caro a ele, já
que era o nome de seu pai. Sua idade sugeria um papa de transiçã o e
prenunciava um breve ponti icado. No entanto, o seu ponti icado foi
intenso e renovador, marcou a transiçã o para uma Igreja mais aberta à
humanidade e sensı́vel aos sinais dos tempos, e traçou caminhos que os
seus sucessores já nã o podiam ignorar. Já na encı́clica inaugural de seu
ponti icado, ele traça as linhas principais dela, propondo ao mundo a
busca da verdade, da unidade e da paz.
A iniciativa fundamental de Joã o XXIII foi, sem dú vida, a convocaçã o de
um concı́lio ecumê nico, ideia que anunciou em 25 de janeiro de 1959.
Mas antes havia surpreendido a todos com uma sé rie de medidas que
preparavam o concı́lio e envolviam uma renovaçã o. da Igreja. Em 17 de
novembro de 1958, nomeou o cardeal Tardini Secretá rio de Estado,
cargo que estava vago há quatorze anos. Em 15 de dezembro de 1958,
ele elevou vinte e trê s novos cardeais, treze deles italianos, ao posto de
cardeal, ultrapassando o nú mero de setenta que Sisto V havia
estabelecido em 1586. Entre os novos cardeais estava seu sucessor em
Veneza e o Arcebispo de Milã o, Juan Bautista Montini, que seria seu
sucessor no ponti icado. No ano seguinte nomeou mais oito cardeais e
outros dez em 1960, entre eles, pela primeira vez na histó ria da Igreja,
um japonê s, Peter Tatsuo Doi, um ilipino, Ru ino J. Santos, e um
africano, o cardeal da Tanzâ nia., Mons. L. Rugambwa. O Papa, ciente das
novas e graves questõ es no governo da Igreja, quis com isso demonstrar
sua universalidade e testemunhar sua juventude e vitalidade.

O anú ncio do concı́lio em 1959 foi recebido com frieza pela cú ria, que
deu por certo que os dias dos concı́lios haviam passado, especialmente
desde a declaraçã o da infalibilidade do papa. A diversidade de nuances
na abordagem conciliar entre a cú ria romana e os bispos foi con irmada
em 1962, quando teve inı́cio a primeira sessã o. As discussõ es levaram à
conclusã o de que o tema central deve ser a Igreja, e que també m deve
ser sobre a Igreja no mundo. Algo que coincidia com o que Joã o XXIII
havia apontado no discurso de abertura do Concı́lio: uma orientaçã o
aberta e otimista, em desacordo com os profetas das calamidades, que
manifestava mais o desejo de nã o condenar, de ajudar os homens a se
exporem mais. -atualizado e compreensı́vel da doutrina de Jesus
Cristo. Uma semana antes, Joã o XXIII surpreendeu a todos com uma
peregrinaçã o a Loreto e Assis, para rezar ali pelo sucesso do
concı́lio. Foi a primeira vez desde Pio IX que um Papa deixou a cidade
de Roma.
Em 13 de maio de 1961, ele promulgou sua primeira encı́clica, Mater et
magistra, um dos documentos mais importantes da doutrina social da
Igreja. Neste documento, o Papa esclarece a missã o da Igreja, que nã o é
apenas servir os ié is, mas també m falar a favor da evoluçã o dos
povos. Com referê ncias especı́ icas à encı́clica Rerum novarum, de Leã o
XIII, o Papa indicou as urgentes necessidades espirituais e materiais de
um mundo transformado econô mica e socialmente, caracterizado por
desequilı́brios, discriminaçõ es e injustiças.
O ecumenismo é outra de suas grandes linhas de açã o. O anú ncio da
convocaçã o do Concı́lio coincidiu no tempo, e nã o de forma casual, com
a semana de oraçã o pela unidade dos cristã os. A recepçã o entre as
igrejas cristã s foi muito favorá vel, a julgar pelo nú mero e importâ ncia
das delegaçõ es enviadas ao Conselho como observadores. Mas já havia
obtido bons resultados antes da posse do Concı́lio: em 1º de dezembro
de 1960, Joã o XXIII recebeu uma visita que despertou grande interesse
e muitas esperanças, visto que foi a primeira desde a separaçã o: o
Arcebispo Anglicano de Cantuá ria, GF Fisher. O encontro, apesar da sua
simplicidade e ausê ncia de conteú dos de particular interesse, marcou a
passagem de uma era de hostilidade a uma fase de convergê ncia.
Esta visita foi seguida por outras: seis meses depois, em 5 de maio de
1961, ela recebeu a visita o icial da Rainha Elizabeth II e seu marido, o
Duque de Edimburgo. O Moderador da Igreja Presbiteriana da Escó cia,
Archibald C. Craig, foi recebido pelo Papa em 1962; ele també m recebeu
em audiê ncia o presidente da Igreja Episcopal dos Estados Unidos. A
criaçã o de um Secretariado da Uniã o dos Cristã os foi, sem dú vida, um
passo muito importante a favor do ecumenismo. A frente do
Secretariado colocou o cardeal Bea, um jesuı́ta, ex-reitor do Instituto
Bı́blico e confessor de Pio XII. Sem dú vida, a sua atividade foi
fundamental para a aproximaçã o entre as Igrejas e in luenciou de forma
decisiva o desenvolvimento do Concı́lio.
Em sua relaçã o com o judaı́smo, Joã o XXIII suprimiu, nos cultos da
Sexta-feira Santa de 1959, o adjetivo per idis atribuı́do aos judeus: pro
per idis Iudeis. Este simples fato despertou no coraçã o dos judeus novas
esperanças por uma era de compreensã o e tolerâ ncia. Em junho de
1960 recebeu em audiê ncia o representante judeu Jules Isaac, a quem o
Papa convidou a contatar o cardeal Bea para futuras colaboraçõ es.
Em 11 de abril de 1963, Quinta-feira Santa, Joã o XXIII publicou a ú ltima
e mais famosa de suas encı́clicas, Pacem in terris. Teve a novidade de se
dirigir nã o só aos bispos, ao clero e aos ié is cató licos, mas també m, e
pela primeira vez, a todos os homens de boa vontade. A encı́clica foi um
convite a nã o se esconder por trá s do egoı́smo nacional e de posiçõ es
rı́gidas e a enfrentar, em espı́rito de colaboraçã o, os problemas cruciais
da fome, da justiça e da paz. Na primavera do mesmo ano, e em
reconhecimento à sua atividade em favor da fraternidade entre os
homens e entre todos os povos e por suas recentes intervençõ es a nı́vel
diplomá tico, foi agraciado com o Prê mio Balzan da Paz. O Papa doou
imediatamente o valor econô mico do prê mio, cento e cinquenta
milhõ es de liras, à Fundaçã o Prê mio Internacional da Paz Joã o XXIII,
instituı́da nesse mesmo ano com o desejo de que a paz se estabeleça
entre os homens com a convivê ncia na verdade, justiça, amor e
liberdade.
A ideia de atualizaçã o, de aggiornamento , propó sito mais claro do
Conselho, está presente em todas as suas açõ es e
ensinamentos. Fomentou uma nova visã o da Igreja, visã o que a dotou
de renovado vigor e vitalidade, como serva e amiga dos homens, atenta
aos sinais dos tempos, administradora da misericó rdia divina, inspirada
para o seu ministé rio pastoral na fraternidade e em comunhã o. Ele fez
da Igreja uma presença e um serviço no mundo de hoje, e conseguiu
fazer sua pró pria presença e serviço també m. Em todos os atos de seu
governo, ele se mostrou um homem cheio de fé e inteligê ncia
cristã . Practicó siempre las obras de misericordia y a irmó , con energı́a
y claridad, el derecho a la propiedad, al trabajo, a la educació n, a la
seguridad social, a la igualdad racial y al mantenimiento de la propia
individualidad é tnica, elementos todos de la dignidad do
homem. Testemunha de duas guerras mundiais, foi um defensor
entusiasta da paz como valor supremo, da liberdade e da
independê ncia dos homens e dos povos.
4. Diário da alma
Loris Francesco Capovilla, seu secretá rio, editou e prefaciou, alguns
meses depois de sua morte, Il giornale dell´anima e altri scritti di
pietà, compilou as Cartas a seus parentes e publicou a biogra ia de Joã o
XXIII. Sem dú vida, foi ele quem mais contribuiu para o conhecimento da
pessoa e da espiritualidade de um dos homens mais importantes da
histó ria da Igreja do sé culo XX. San Paolo Italia publicou treze ediçõ es
de Il giornale dell´anima , a melhor liçã o, a mais ı́ntima e pessoal do
bom Papa.
Esta ediçã o do Diario del alma reproduz basicamente, com pequenos
ajustes e ligeiras reduçõ es de alguns pará grafos, o texto original
italiano, agora republicado por SAN PAOLO, de Milã o, por ocasiã o da
beati icaçã o de Joã o XXIII no Ano do Grande Jubileu. Nossa ediçã o, com
o desejo de que um livro de tã o formidá vel testemunho espiritual seja
lido com facilidade e continue a fazer um grande bem à s novas geraçõ es
que meditam e rezam em espanhol, permitiu-se modernizar um pouco
sua linguagem, para suprimir a maior parte do citaçõ es e referê ncias
em latim, garantindo que os pensamentos do seminarista, sacerdote,
bispo, cardeal e també m do Papa Joã o XXIII possam ser facilmente
seguidos.
A revisã o do texto original italiano e a modernizaçã o da lı́ngua tê m sido
feitas procurando nã o atentar de forma alguma contra o conteú do que
Joã o XXIII queria transmitir em seus cadernos, que nem sempre sã o
fá ceis de ler e interpretar. A outra novidade desta ediçã o é a divisã o de
toda a obra em nove partes, propondo tı́tulos mais curtos para o livro e
uma divisã o em partes, epı́grafes e subepı́grafos, que revelam o enredo
do discurso autobiográ ico.
Os ú ltimos meses da vida de Joã o XXIII, já abalados por uma doença
incurá vel e dolorosa, foram os mais intensos da sua atividade e do seu
testemunho. Depois de uma longa e dolorosa agonia, ele morreu em 3
de junho de 1963. Nenhum papa foi tã o pranteado quando ele morreu:
multidõ es de bandeiras agitadas a meio mastro, entre elas a da ONU e a
do palá cio dos primatas anglicanos; a hierarquia das diferentes igrejas
cristã s, bem como o judaı́smo, o islamismo e o budismo, izeram
declaraçõ es sinceras; o luto foi generalizado na Itá lia. Joã o XXIII foi
sepultado nas grutas do Vaticano, perto do tú mulo de Pio XII. Em 1965,
Paulo VI apresentou sua causa de beati icaçã o, de initivamente ixada
por Joã o Paulo II para o dia 3 de setembro de 2000.
Os leitores de lı́ngua espanhola agora tê m um documento
excepcionalmente autê ntico na coleçã o MAESTROS. Ao ler o Diário da
Alma, percebe-se que, sob pensamentos tã o cheios de serenidade
espiritual, continua a bater a alma de um grande Papa, cuja memó ria
permanece viva na aurora do terceiro milê nio da cristandade.
J A C , SSP
Madrid, 29 de junho de 2000
Solenidade dos Santos Apó stolos
Pedro e Paulo

Diário da alma
Exercícios e notas espirituais
(1895-1963)

1
No seminário de Bergamo (1895-1900)
1895
Regras de vida a serem observadas pelos jovens que desejam progredir na
vida de piedade e de estudo
E bom que o homem carregue o jugo desde a juventude. O primeiro e
principal fundamento é escolher um diretor espiritual dos mais
exemplares, prudentes e eruditos, ter total con iança com ele e
depender dele, seus conselhos e sua direçã o com plena con iança.
Todos os dias: 1. Faça pelo menos um quarto de hora de oraçã o mental
pela manhã , imediatamente apó s se levantar; 2. Ouça, ou melhor, ajude
a Santa Missa; 3. Faça um quarto de hora de leitura espiritual; 4. A
noite, antes de ir para a cama, faça um exame geral de consciê ncia, com
o ato de contriçã o, e prepare os pontos para a meditaçã o do dia
seguinte; 5. Antes do almoço ou do jantar, ou pelo menos antes do
exame geral noturno, faça outro exame particular sobre algum vı́cio ou
defeito para corrigi-lo, ou sobre alguma virtude para adquiri-lo; 6. Ser
diligente na Congregaçã o nos dias de festa, nas aulas e nos cı́rculos nos
dias de trabalho, e dar sempre tempo conveniente para estudar em
casa; 7. Visitar o Santı́ssimo Sacramento, bem como uma igreja ou
capela dedicada à Santı́ssima Virgem, pelo menos uma vez; 8. Rezar
cinco Pais-Nossos e Ave-Marias à s feridas de nosso Senhor Jesus Cristo
entre dezoito e vinte e uma horas, e fazer pelo menos trê s atos de
morti icaçã o em honra da Virgem Maria; 9. Rezar as outras oraçõ es
vocais e outras devoçõ es ordiná rias à Virgem Maria, Sã o José , os santos
padroeiros e as almas do purgató rio; mas essas devoçõ es devem ser
aprovadas pelo diretor, assim como os livros para meditaçã o e leitura
espiritual; 10. Leia com atençã o e re lexã o um capı́tulo inteiro, ou pelo
menos uma parte, do livro mais dedicado de Thomas de Kempis em
latim; 11. Para perseverar na observâ ncia destas regras, faça uma
distribuiçã o das horas do dia reservando um certo tempo para oraçã o,
estudo, outras devoçõ es, recreaçã o e sono, consultando previamente o
diretor; 12. Adquira o há bito de elevar a mente a Deus freqü entemente,
com ejaculaçõ es breves, mas fervorosas.
Todas as semanas: 1. Confesse e receba a comunhã o; 2. Jejum na sexta e
sá bado; 3 Naquele dia faça alguma penitê ncia, com o conselho do pai
espiritual; 4. No mesmo dia, faça um quarto de hora de oraçã o ou
leitura espiritual alé m do habitual, e esta, se possı́vel, retirando-se para
uma igreja. Isso pode ser complementado por assistir a alguma palestra
espiritual, ou com outra obra de piedade substituı́da pelo diretor, de
acordo com seu julgamento; 5. Conversar, sentar ou passear com um ou
mais companheiros, sobre coisas boas e espirituais. O tema da conversa
pode ser retirado da meditaçã o feita pela manhã , ou da leitura
espiritual, ou de qualquer uma dessas regras, comunicando entre si os
bons sentimentos que tiveram, ou que entã o sã o sugeridos pelo Senhor,
como um conversa em famı́lia; 6. Todos os sá bados conte, ou ouça
contar, algum exemplo ou milagre de Santa Maria, fazendo alguma
re lexã o moral e devota sobre ele; 7. Sempre apresente desculpas
sinceras ao diretor se alguma dessas regras for quebrada; també m
expresse sua pró pria culpa quando eles deixarem de ser cumpridos, e
peça alguma penitê ncia.
A cada mês: 1. Escolha um dia de maior retiro e examine-se com maior
atençã o na correçã o dos defeitos e no uso na virtude e na observâ ncia
dessas regras; 2. Escolha um jovem dos mais exemplares e zelosos e
peça-lhe que observe bem a nossa conduta e nos avise, com sincera
caridade, dos defeitos que vê em nó s, determinando para este o dia
mencionado ou um dos mais pró ximos ; 3. Feito isso, visite o pai
espiritual e converse com ele sobre esta e outras particularidades que
possam surgir; receba seus conselhos e seja pontual em colocá -los em
prá tica; 4. Esteja determinado a que o diretor conheça suas pró prias
falhas; 5. Ter um santo padroeiro a cada mê s, alé m dos outros.
Todos os anos: 1. Faça os EUA aqui no seminá rio, durante o carnaval ou
em outra é poca e lugar, mesmo que nã o seja necessá rio para os
pedidos; em caso de impedimento legı́timo, consultar o diretor; 2.
Naquela ocasiã o, ou em outro momento mais conveniente, faça uma
con issã o geral ou anual; 3. Converse com o diretor antes de sair de
fé rias e descubra como se comportar com ele; 4. Antes das
mencionadas fé rias, dê aos companheiros e receba deles uma
lembrança, para se divertirem no Senhor.
Em todos os momentos: 1. Cuidado mais do que com qualquer grande
mal, com companheiros maus ou nã o muito bons, como, diz-se, aquele
que tem na boca erros impuros, palavras sujas, mordazes e
grosseiras; aquele que gosta de lidar com pessoas de sexos diferentes e
de falar de casos amorosos; o que entra com frequê ncia nas tabernas e
é imoderado, principalmente no que se refere à bebida; aquele que
deseja adquirir a reputaçã o de homem vingativo, briguento e
turbulento; aquele que caminha ou vagueia ociosamente por praças e
lojas; Os que vã o a jogos de azar ou també m jogam cartas ou dados em
privado e, em geral, os que dã o provas de ser um jovem contrá rio à boa
disciplina, inimigo do estudo e que só pensa em passatempos; 2. Nunca
tente, ou brinque, ou brinque, ou de qualquer outra forma, tenha muita
familiaridade com as mulheres, independentemente de sua condiçã o,
idade ou relacionamento; e nunca lhes dê o menor sinal de con iança
que possa ser de alguma forma perigoso ou suspeito; 3. Nunca jogue
jogos proibidos ou legais, principalmente cartas ou dados, e menos
ainda em pú blico e onde se reú nam todos os tipos de pessoas, nem os
assista como espectador; 4. Sob nenhum tı́tulo ou pretexto, você fala,
impõ e as mã os, persegue, empurra, bate nos outros, nem mesmo de
brincadeira, ou se entrega a outros atos ou palavras ou gestos de leveza
que engendram desprezo ou outro perigo maior.
5. Tenha muito cuidado em preservar o belo lı́rio da pureza e, para isso,
monitore cuidadosamente os sentimentos, e principalmente os olhos,
nunca os ixando no rosto das mulheres ou em outros objetos
perigosos; e evitar comer ou beber muito ou sem refeiçõ es, e evitar o
lazer; 6. Faça uma particular pro issã o de humildade e para que re lita
muitas vezes que, da nossa parte, só temos podridã o em relaçã o ao
corpo; ignorâ ncia e pecados relativos à alma; e que se há algo de bom
da natureza, fortuna e graça em nó s, é uma esmola que Deus nos
dá . Portanto, tome cuidado para nã o dizer palavras em seu pró prio
elogio e de querer ser mais ou igual como os outros; 7. Essas duas
virtudes devem ser sempre seguidas pela rainha de todas, a caridade; e
para o exercı́cio desta virtude servirá principalmente para suportar as
injú rias e ser fá cil e pronto para perdoá -las de todo o coraçã o; seja
amigo dos pobres; acima de tudo, cuidado com o interesse e desejo por
coisas materiais ou apego excessivo ao dinheiro; 8. Peça ao Senhor a
conversã o dos pecadores em geral e em particular, e especialmente os
da Congregaçã o do seminá rio, se houver; e utilizar todos os meios que
possam ajudar, pedindo conselhos, se necessá rio, em casos particulares
de pessoas discretas e prudentes e do pró prio diretor, para corrigir o
mais suave e discretamente possı́vel, afastando o mal e o escâ ndalo,
sem infâ mia do malfeitor; 9. Antes de sair do seminá rio, ao terminar os
estudos, peça ao diretor conselhos sobre os cargos e as regras a serem
seguidas pelo resto da vida.

Regras especí icas para os jovens que vestem o hábito


eclesiástico: 1. Os que já adquiriram o há bito eclesiá stico devem atender
com maior esforço em seu pró prio benefı́cio e buscar o bem e a
salvaçã o dos outros, como obrigaçã o indispensá vel deste estado.
2. Na cidade e na aldeia, ele sempre usará o há bito longo; no campo e
nas viagens, a batina curta deve ser sempre totalmente sinodal e
modesta; e també m em casa estará sempre com decê ncia e com a sua
insı́gnia eclesiá stica.
3. Será limpo, mas sem vaidade no vestir e na aparê ncia da pessoa; ele
amará a modé stia, a gravidade, o decoro nas funçõ es sagradas, nas
igrejas e sacristias; e para isso ele tentará conhecer bem os ritos
sagrados; Ele observará as constituiçõ es eclesiá sticas pró prias de seu
estado e professará obediê ncia particular a seu bispo.
4. Prestará atençã o especial ao estudo, e nã o deixará o seminá rio sem
ter concluı́do os cursos, para se tornar o mais habilidoso possı́vel para o
serviço de Deus e a salvaçã o dos outros, atravé s da pregaçã o, do
ministé rio do confessioná rio e outras ocupaçõ es sagradas semelhantes,
de acordo com seu talento.
5. Ele nunca irá aspirar ou reivindicar posiçõ es ou benefı́cios mais
honrados ou mais lucrativos ou lucrativos, mas em coisas de tal
importâ ncia e perigo ele sempre permanecerá indiferentemente
resignado à vontade de Deus, ao julgamento de superiores e ao
conselho de seu diretor espiritual. Por isso nunca deveria ter esse im e
essa intençã o nos estudos e nas boas obras, pois perderia todo o mé rito
e jamais alcançaria uma virtude só lida ou aquela paz e tranquilidade de
espı́rito: A paz de Deus que ultrapassa toda inteligência (Fil. 4.7). Paz e
misericórdia a todos os que vivem segundo esta regra e ao Israel de
Deus (Gl 6,16).
Avisos (para o Diretor) . O uso da faixa será recomendado aos
eclesiá sticos, especialmente nos sacris , alertando-os que contribui
muito para a perseverança e o bom exemplo; e que faz parte do há bito
sinodal; No passado era usado por todos, e hoje també m é usado pelos
mais exemplares e observadores, como todos deveriam ser.
Acréscimos : 1. Por ocasiã o de alguma necessidade particular de algué m,
todos devem orar por ele e aplicar a comunhã o; 2. Cada um deve
també m, em visita à Santı́ssima Virgem ou em outro momento, rezar
todos os dias pelas outras trê s Ave-Marias à Imaculada Conceiçã o, a im
de obter e conservar o dom mais importante da santa e amorosa
pureza, que é para dizer, castidade; 3. Mesmo aquele que nã o é
sacerdote, comungue uma vez por mê s a todos os outros, para que
perseverem irmes na observâ ncia das regras sagradas, na verdadeira
devoçã o a si pró prios e no zelo ardente e incansá vel por ele. Bem dos
outros . Os padres, por sua vez, irã o celebrar uma missa a cada ano no
dia que for designado para esse im, especialmente para a conservaçã o
e bom progresso, na satisfaçã o das faltas de todos e para alcançar uma
verdadeira contriçã o pelos pró prios pecados. E eterna salvaçã o; 4. Em
caso de morte de algué m, quem nã o é sacerdote deve rezar um ofı́cio
pelos mortos, ouvir uma missa, rezar a terceira parte do rosá rio, jejuar
no sá bado ou outro dia e oferecer a comunhã o, aplicando també m um
missa o mais rá pido possı́vel. pode, e alguma indulgê ncia.

Tríduo a São Francisco Xavier, 30 de novembro : 1. Imitá -lo em sua mais


profunda humildade, no esforço de chegar ao conhecimento de nó s
mesmos, de nossas misé rias com relaçã o à alma e ao corpo; buscando
em nossos estudos e boas obras nã o a estima, honra, reputaçã o dos
homens, mas somente Deus, sua gló ria, e o nosso bem e o das almas; 2.
Imitá -lo na sua morti icaçã o, opondo-se ao má ximo à nossa vontade,
aos nossos caprichos e també m morti icando-nos um pouco
externamente, evitando a posiçã o mais có moda ao sentar-se ou
ajoelhar-se e contentar-se com a escolhida de inı́cio, detendo o
desenfreado desejo de olhar, conhecer, falar, etc.; 3. Imitando o seu zelo,
para a gló ria de Deus e a salvaçã o das almas, assistir à Santa Missa com
particular e extraordiná ria visã o interior e fé , oferecendo-a pela saú de,
prosperidade e segurança do Sumo Pontı́ ice, para o triunfo de a Igreja,
para a conversã o dos in ié is e també m para nó s obtermos o espı́rito de
ardor, piedade, humildade, sacrifı́cio e desprezo por tudo o que é o
mundo, de que nossos pais nos deram tã o grandes e luminosos
exemplos.
Quarta em homenagem a São Francisco de Sales, 25 de
janeiro. Honremos este santo: 1. Imitando-o em sua doçura, tratando a
todos com jovialidade, gentileza, bom humor, mas tudo isso sempre
acompanhado de seriedade e modé stia, principalmente aqueles que
nos desagradaram, os que achamos desagradá veis, aos os perturbados
e tentados, angustiados, etc., tentando, se for o caso, levá -los a Deus; 2.
Imitá -lo na severidade que sempre usou consigo mesmo, pisoteando,
quebrantando, negando ao má ximo nossa vontade e nosso
julgamento; 3. No seu amor a Deus, imitemo-lo, oferecendo-nos
frequentemente a Deus atravé s de atos de oferta, e confessando-nos
prontos e dispostos a fazer tudo o que nestes santos Exercı́cios se digne
para nos fazer ver o que ele quer de nó s, enquanto oramos com devoçã o
para que possamos tirar proveito de você , você verá a nó s e a outros; 4.
Por im, imitemo-lo na sua caridade para com o pró ximo, rezando pelos
pecadores, pelo ê xito das missõ es cató licas, pelo Sumo Pontı́ ice e pelo
triunfo da Igreja.
Oração. Conceda-me, misericordioso Jesus, a tua graça, para que ele
esteja comigo, trabalhe comigo e persista até o im. Dê -me o que eu
quero e sempre quero o que é mais aceitá vel e agradá vel para você . Sua
vontade será minha e minha sempre seguirá a sua, e perfeitamente
conformar-se-á a ela. Tenha um querer e um nã o querer com você , e
nã o pode querer nem nã o querer senã o o que você quer e nã o quer. Dê -
me tudo no mundo para morrer, e para você querer ser desprezado e
esquecido neste sé culo. Dê -me, acima de tudo o que é desejado,
descanse em você e acalme meu coraçã o em você . Você é a verdadeira
paz do coraçã o; você o ú nico resto; Fora de você , todas as coisas sã o
irritantes e inquietas. Nesta paz, isto é , em você , Bem Supremo e Eterno,
dormirei e descansarei.
1896
Objetivos feitos nos EUA em 1896 e con irmados em 1897 e 1898
Para a maior gló ria de Deus: 1. Proponho e prometo nunca me
aproximar dos santos sacramentos por rotina ou friamente e nunca
gastar menos de um quarto de hora me preparando.
2. Proponho-me també m perseverar em fazer todos os dias, e
especialmente nas fé rias, a meditaçã o, o exame particular e geral, rezar
o rosá rio, fazer a leitura espiritual e a visita e as demais oraçõ es que
costumam ser ditas no seminá rio, e com devoçã o e de acordo com o
meu horá rio, que prometo cumprir o mais estritamente possı́vel, no
seminá rio e nas fé rias.
3. Sempre que possı́vel, rezarei també m o Salté rio e os Salmos em
honra de Maria Santı́ssima, e també m, todos os dias, trê s Ave-Marias
pela santa pureza.
4. Cuidarei de mim com atençã o, procurando nã o cair nas distraçõ es
nas oraçõ es e, principalmente, na meditaçã o, nos oito Pais-Nossos
depois da refeiçã o, nas vé speras e no rosá rio. E para isso, tanto na
oraçã o como em qualquer outra ocasiã o, pensarei na presença de Jesus,
imaginando que estou diante de alguma cena de sua vida, no Cená culo,
no Calvá rio, etc.
5. Acima de tudo, estarei em guarda contra mim mesmo, para que a
planta do orgulho nã o brote em mim; Estarei em guarda, considerando-
me inferior e pior do que todos, tanto na piedade quanto no estudo.
6. Quanto ao estudo, aplicarei-me a ele com todo o amor e ardor e com
todas as minhas forças, estudando as maté rias sobretudo sem
distinçã o, sem me deter com a desculpa de que nã o gosto delas. Meu
ú nico objetivo no estudo será a maior gló ria de Deus, a honra da Igreja,
a salvaçã o de almas, e nã o minha honra ou o desejo de me destacar de
todos os outros, e me lembrarei freqü entemente de que o Senhor me
acolherá responsá vel també m pelo talento que desperdicei em nada a
nã o ser para trazer gló ria a mim mesmo.
7. Farei um esforço especial para me morti icar, para punir acima de
tudo e sempre o amor-pró prio, meu vı́cio dominante, evitando todas as
ocasiõ es em que possa aumentar. Nã o vou me gabar de ser sá bio nas
conversas, nunca vou desculpar nenhuma açã o minha, sempre
considerando o comportamento dos outros melhor do que o meu. Nã o
vou usar gestos ou palavras que me façam parecer sá bio. Vou evitar
todo tipo de elogio e terei muito cuidado para nã o querer sempre trazer
à tona minhas açõ es, buscando ser admirado pelo ouvinte, alé m de me
dar o mı́nimo de importâ ncia.
8. Nunca me darei paz enquanto nã o tiver alcançado um grande amor e
devoçã o ao Santı́ssimo Sacramento, que será sempre o objeto mais
amado de meus afetos, de meus pensamentos, em uma palavra, de toda
a minha vida de seminarista e, se ele me ama, como um padre.
9. Prometo e juro a Santa Maria, que sempre será minha mã e mais
amada, que me guardará tã o escrupulosamente quanto possı́vel de
qualquer pensamento ou ato consensual que possa simplesmente
manchar a virtude celestial da santa pureza; e para isso invoco agora e
sempre esta Rainha das virgens, para me ajudar a afastar de mim todas
as tentaçõ es que o diabo traz contra mim para esse im.
10. Procurarei inspirar a outros, especialmente as crianças, falando com
prazer sobre ela, a devoçã o ao Santı́ssimo Sacramento e ao Sagrado
Coraçã o de Jesus, dos quais antes de tudo eu mesmo devo ser
modelo; Farei o mesmo em relaçã o à devoçã o à Santı́ssima Virgem.
11. Jamais esquecerei Sã o José , oferecendo-lhe todos os dias uma
oraçã o, por mim, pelos moribundos, pela Igreja.
12. Nas novenas, nos meses de março, maio, junho e outubro, e sempre,
praticarei uma especial morti icaçã o dos meus sentimentos, negando
aos meus apetites o que gostariam, e nos feriados, principalmente onde
haja gente, Vou me comportar com uma modé stia especial, nã o tanto
para servir de exemplo aos outros, mas para evitar ocasiõ es que podem
ser prejudiciais para mim.
13. Pedirei na minha oraçã o e farei outros pedirem ao Santı́ssimo
Sacramento, à Virgem e aos santos pela conversã o do Oriente e, em
primeiro lugar, pela uniã o das Igrejas dissidentes. Jamais esquecerei de
rezar pelo Sumo Pontı́ ice, pelo triunfo da Igreja, por meu amado bispo,
por meus parentes e benfeitores, especialmente por aqueles a quem
tenho maiores obrigaçõ es.
14. Resumindo, farei com que todas as minhas obras con irmem a
expressã o tantas vezes repetida de Santo Iná cio de Loyola: Para a maior
gló ria de Deus.
1897
De santa pureza
Convencido, pela graça de Deus e de minha mã e, Maria Santı́ssima, do
tesouro inestimá vel de santa pureza e da grande necessidade que tenho
dele porque fui chamado ao ministé rio angelical do sacerdó cio, para
manter sempre este brilho espelho liso, nestes Santos Exercı́cios que
iz, com a aprovaçã o do meu pai espiritual, e me propus cumprir
escrupulosamente estes propó sitos, que consagro à Virgem das Virgens
por mediaçã o dos trê s jovens angé licos, Luis Gonzaga, Estanislau de
Kostka, Juan Berchmans, meus protetores especiais, para que ela, atenta
aos mé ritos destes seus trê s amados lı́rios, queira abençoá -los e
conceder-me a graça de colocá -los em prá tica.
1. Em primeiro lugar, intimamente persuadido de que a santa pureza é
a graça de Deus, sem a qual e só com a minha força poderia violá -la,
colocarei aqui també m a grande base da humildade, descon iando de
mim mesma e colocando toda a minha con iança em Deus e em Santa
Maria. Por isso, todos os dias pedirei ao Senhor a virtude da santa
pureza e, sobretudo, entregarei-me a ele na sagrada comunhã o. Com a
Rainha das virgens, alé m disso, serei muito terno; Sempre aplicarei o
horá rio nobre do ofı́cio da parvo, a primeira Ave Maria do Ângelus , o
primeiro misté rio do rosá rio para a obtençã o e preservaçã o da pureza
sagrada. Procurarei també m a ajuda de Sã o José , o esposo castíssimo de
Maria, rezando -lhe duas vezes por dia a oraçã o O virginum custódio , e
serei consagrado aos trê s jovens santos mencionados, cuja pureza
procurarei copiar.
2. Terei o cuidado de morti icar severamente meus sentimentos,
mantendo-os dentro dos limites da modé stia cristã ; e farei jejuar
especialmente os olhos, chamados pelas redes insidiosas de Santo
Ambró sio e por Santo Antô nio de Pá dua ladrõ es de alma, evitando ao
má ximo as multidõ es nas festas, etc.; e quando sou forçado a intervir,
comportando-me de tal maneira que nada que possa simplesmente
evocar o vı́cio contrá rio à pureza sagrada machuca meus olhos, que por
isso, em tais ocasiõ es, estarã o sempre ixos no chã o.
3. Com grande modé stia també m me comportarei quando tiver que
passar por cidades ou outros lugares populosos, nunca olhando
anú ncios, gravuras, lojas onde possa haver algo indecente, segundo o
ditado de Sirá cida: Não percorra os olhos no ruas da cidade, ou caminhar
por suas ruas desertas (9,7). Mesmo nas igrejas, alé m de uma modé stia
edi icante nas funçõ es sagradas, nã o ixarei meus olhos em belezas de
qualquer espé cie, como pinturas, esculturas, imagens ou outros objetos
de arte em que a lei do decoro seja, por pouco, violada, especialmente
no caso de pinturas.
4. Com mulheres de qualquer condiçã o, ainda que sejam parentes ou
santas, terei cuidado especial, evitando sua convivê ncia, companhia ou
conversa, principalmente se forem jovens; Nunca vou ixar meus olhos
em seu rosto. Jamais lhes darei a menor con iança e, quando por
necessidade tiver de falar com eles, tentarei ser breve e prudente.
5. Nunca terei em minhas mã os ou olhar com meus olhos, livros de
frivolidades ou iguras que ofendem a modé stia, e todos os objetos
perigosos deste tipo que eu achar que vou quebrá -los ou jogá -los no
fogo, mesmo que estejam no mã os de meus companheiros, a menos que
isso resulte em transtornos mais graves.
6. Alé m de dar exemplo de extrema modé stia ao falar, em famı́lia
tentarei tirar das conversas assuntos que nã o convê m à santa pureza,
nunca permitindo que, principalmente na minha presença, as pessoas
falem de casos de amor, use Pequenas palavras honestas e decentes ou
cançõ es de amor sã o cantadas. Sempre corrigirei com caridade
qualquer imodé stia que os outros cometam e, se persistirem, partirei
com o mais vivo desagrado. A este respeito, no seminá rio serei
escrupuloso e com todos os olhos para afastar o gê nio, a simpatia entre
os colegas e todos os atos ou palavras que, se podem acontecer no
mundo, sã o indecentes nos eclesiá sticos.
7. A mesa, falando e comendo, nã o serei glutã o nem
intemperante; Sempre farei algumas pequenas morti icaçõ es; E quando
se trata de beber vinho, serei mais do que moderado, porque no vinho
há o mesmo perigo que na mulher: o vinho e a mulher fazem perder o
juízo (Si 19,2).
8. També m observarei comigo mesmo, no que diz respeito ao meu
corpo, uma modé stia extrema, em qualquer ocasiã o e por qualquer ato,
dos olhos, das mã os, da mente, etc., tanto em pú blico como em
privado. E para isso removerei a ocasiã o de tais atos, embora
culpados; A noite, antes de dormir, depois de colocar o rosá rio em volta
do pescoço, colocarei meus braços sobre o peito em forma de cruz,
tentando acordar de manhã nesta posiçã o.
9. Em tudo sempre lembrarei que devo ser puro como um anjo, e me
comportarei de tal maneira que de todo o meu ser, dos meus olhos, das
minhas palavras, dos meus gestos aquele santo rubor tã o tı́pico de Sã o
Luı́s , Emana Estanislao e Juan, um rubor que tanto agrada, causa
reverê ncia e é a expressã o de um coraçã o, de uma alma casta, amada
por Deus.
10. Jamais esquecerei que nunca estou só , mesmo quando estou: que
Deus, Maria e meu anjo da guarda me vê em; que sou sempre um
seminarista. E quando me vejo ofendendo ocasionalmente a santa
pureza, entã o, mais do que nunca, volto-me para Deus, para o anjo da
guarda, para Maria, repetindo frequentemente a ejaculaçã o: Maria
Imaculada, ajuda-me. Depois, pensarei na lagelaçã o de Jesus Cristo e
dos mais novos, lembrando-me do que diz o Espı́rito Santo: Em todas as
tuas obras lembra-te do im, e nunca pecas (Si 7,36).
1898
Notas espirituais
27 de fevereiro de 1898. Por ser esta a primeira semana desde que
deixei os Santos Exercı́cios, passei muito mal por causa da contı́nua
distraçã o em que caı́ nas oraçõ es. Embora me pareça que de minha
parte tenho sido diligente nisso, nã o posso negar que à s vezes tenho
sido a causa das distraçõ es, porque guardo pouca lembrança em outras
coisas. Tive uma semana preguiçosa de qualquer maneira. O pior é que,
em vez de fazer um ato de humildade ao perceber que estava distraı́do,
iquei triste, perturbado. O su iciente. Deus me perdoe. Você pode ver
que ele queria me decepcionar, ele me colocou à prova, ele me fez ver
como sou miserá vel. Bendito seja. Agora vou me esforçar para ser mais
recolhido, com a ajuda da Santı́ssima Virgem, meu anjo da guarda, meu
Sã o Joã o Berchmans. Deus sabe que mesmo em meio a todas as minhas
misé rias, eu realmente o amo e quero que todos o amem. Que ele me
abençoe e nã o queira me rejeitar, nã o importa o quã o pecador eu
seja. Senhor, tu sabes que te amo.
Domingo, 6 de março de 1898. Tenho estado menos distraı́do com as
oraçõ es, mas nã o totalmente e sempre concentrado. Nestes ú ltimos dias
tenho feito pouco uso de ejaculaçõ es, por isso nã o tenho vivido tã o
perto de Jesus como antes. A medida que vou mais longe, percebo o que
estou perdendo. A partir de agora observarei uma lembrança especial
pela manhã e à noite, no quarto; Eu pronunciarei ejaculaçõ es
interminá veis durante o dia, especialmente no recreio e no
estudo. Serei menos falante no recreio e nã o serei levado por uma
alegria excessiva. Vou agir de maneira que Jesus també m possa me
dizer as palavras que disse a Santa Teresa: Meu nome é Jesús de
Teresa . Mas primeiro é necessá rio que seja um anjo de Jesus. Assim
seja. Que Sã o José me ajude e me dê seu recolhimento. Meu Jesus,
misericó rdia.
Domingo, 13 de março de 1898. Quantas faltas també m esta semana. Na
aula, deixei escapar algumas palavras inú teis e tolas, iz o exame de
consciê ncia muito rapidamente e nã o guardei as devidas recordaçõ es
pela manhã ao me levantar, em detrimento do fruto da meditaçã o. Nem
as ejaculaçõ es foram in initas como ele havia prometido que
seriam. Terei que prestar atençã o especial a esses trê s pontos esta
semana. Nã o me deixarei cair na melancolia, pensando no estado atual
de minha famı́lia; Quando tal pensamento me ocorrer, pedirei ao bom
Jesus que se digne a ajudá -la, a conceder-lhe a renú ncia e a perdoar
aqueles que lhe fazem mal, para que nada aconteça que seja uma ofensa
de Deus. Con iarei o assunto a Maria e a José , para que a verdade e a
inocê ncia sejam conhecidas. Para mim, este é um grande teste. De
qualquer forma, aconteça o que acontecer, aconteça o que acontecer,
Deus seja bendito, o Seu santı́ssimo será feito.
Domingo, 20 de março de 1898, aposentadoria. Já se passou um mê s
desde que deixei os sagrados Exercı́cios. Onde estou no caminho da
virtude? Pobre de mim. Ao dar uma olhada geral em minhas açõ es nos
ú ltimos dias, descobri algo de que me envergonhar e me
humilhar. Descobri que em todas as minhas açõ es sempre falta algo de
perfeiçã o: nã o tenho meditado muito bem, nã o tenho ouvido bem a
Santa Missa, porque me permiti distrair-me logo que saı́ da cama,
enquanto Eu estava lavando; Nã o terminei com todo o fervor que sentia
quando visitava o Santı́ssimo; Fiz o exame geral com pouco ou nenhum
fruto, caı́ nas distraçõ es, principalmente na oraçã o das vé speras; Fui
levado pela relutâ ncia que o calor traz consigo; Em suma, descobri que
ainda estou no inı́cio da jornada que empreendi. Que confusã o. Eu
acreditava que nessa é poca seria um santo, e vejo que ainda sou
miserá vel como antes.
Vendo isso, devo me humilhar profundamente e pensar que nã o sou
capaz de nada. Humildade, humildade, humildade. Mas em meio a todas
essas misé rias, devo agradecer ao Senhor porque ele nã o me
abandonou como merecia. Ainda tenho, graças a Deus, o desejo de ser
bom e com isso devo seguir em frente. Mas o que seguir em frente? E
necessá rio começar de novo. Pois bem, vou recomeçar. O que está
faltando? Em nome do Pai e do Filho e do Espı́rito Santo, sob a proteçã o
da Virgem Maria e de Sã o José , comecemos a marcha. Os pontos sobre
os quais devo permanecer vigilante sã o o oposto das falhas que acabei
de apontar. O su iciente. No pró ximo retiro veremos onde
estamos. Nesse ı́nterim, Deus me abençoe.
Segunda-feira, 28 de março de 1898. A que chegam todas as minhas
promessas? Pobre de mim, eu já tinha esquecido. Mas se eu continuar
nesse ritmo, as coisas vã o acabar mal. Eu continuo na mesma. E se
procuro a causa, encontro em nã o ter guardado sempre a
lembrança. Portanto, minhas prá ticas de piedade sempre deixam algo a
desejar; Em suma, essa meditaçã o, essas visitas, essas vé speras, essas
vé speras benditas, esses exames, tudo, sempre falta alguma coisa. O
engraçado é que me esforço para recomendar lembranças a outras
pessoas. Que pena para mim, que devia dar o exemplo, deixar-me ser
precedido por outros no fazer o bem. Em primeiro lugar, devo colocar
em prá tica a lembrança, em tudo. Esta manhã , meditei sobre os meios
que o Senhor me deu para salvar a mim mesma e descobri muito do que
me envergonhar. Vamos acabar com isso. Até agora sempre brinquei
com Deus, mas com Deus você nã o joga. De agora em diante farei as
coisas muito bem. Observarei uma recordaçã o especial ao longo do meu
dia, nã o me deixarei distrair com o pensamento dos exames semestrais,
sobretudo evitarei quebrar as regras comuns, nomeadamente a do
silê ncio. Estarei unido a Jesus Sacramento, meu amigo e encorajador, e
tudo correrá bem. Meu Jesus, misericó rdia.
Segunda-feira, 4 de abril de 1898. Esta semana, parece-me que as coisas
melhoraram um pouco, mas nã o totalmente; De alguma forma, deixei-
me levar pela atmosfera geral da é poca de exames. Ainda tenho muito
que fazer, principalmente no que diz respeito ao recolhimento nas
oraçõ es. Devo me sacri icar e me desprezar. Este sacrifı́cio, nesta
semana santa, pede-me Jesus que sofre. Posso negar? Nã o, Jesus, nunca.
Sexta-feira, 22 de abril de 1898. A Semana Santa passou, os feriados
també m passaram e, em vez de melhorar, continuei a regredir. E
possı́vel, depois de tantas promessas? O fato é que estou neste estado,
nem mais, nem menos. E o curioso é que nã o escrevi nada, como fazia a
cada oito dias depois dos Santos Exercı́cios, e deixei passar dezoito
dias. Meu Jesus, misericó rdia.
Nã o sei como explicar. Parece-me que sinto um pouco de amor por
Jesus em mim, quero me comportar bem e, no entanto, pratico muito
mal as prá ticas de piedade, nunca coloco minha cabeça no que faço,
raramente pronuncio uma ejaculaçã o. Por outro lado, nã o sei se o
Senhor icará feliz com essas fé rias; Nã o estou totalmente insatisfeito,
mas esperava mais, maior pontualidade no atendimento à s prá ticas
piedosas, maior precisã o em tudo. Há uma coisa em que me faltou mais,
porque estava mais de acordo com o meu cará ter: querer me exibir
como sá bio, juiz, ir direto ao ponto. Pobre de mim, orgulho, orgulho,
orgulho; E o velho amor pró prio que veio à tona Isso será o su iciente
para me manter alerta para as pró ximas fé rias. Mas, no inal, tudo
passou; Nã o acho que perdi a cabeça nestas fé rias, e por isso agradeço a
Jesus Cristo. Amanhã começo outro semestre. Que alegria. O Senhor
també m está se preparando para conceder-me graças in initas nos
meses de maio e junho. Problemas familiares me atormentam; mas de
qualquer maneira, você tem que se animar. Tudo em Jesus e por Jesus, e
entã o tudo o que ele quiser que venha.
Domingo, 1 ° de maio de 1898. Oh, que lindo dia, que dia de paraı́so
depois de uma semana de pouco fervor, bastante dissipaçã o e quase
mornidã o. Bom Jesus també m me concedeu este ano a graça de fazer o
mê s de maio; Ele me ofereceu uma nova e preciosa oportunidade de
poder amá -lo mais, tentando honrar a Santı́ssima Virgem. Espero muito
este mê s da minha mã e Maria; Se ela me ajudar, com certeza darei
alguns passos à frente. Sã o duas virtudes que neste mê s pedirei à
Virgem principalmente para mim: 1) grande humildade, isto é ,
conhecimento e descon iança de mim mesmo; 2) um grande amor por
Jesus Sacramento; e esta segunda graça será aquela que pedirei mais
vezes també m para os meus companheiros. Alé m disso, sempre pedirei
a Jesus uma grande devoçã o a Maria, sua mã e e minha mã e. Assim, os
objetos do meu coraçã o, meus desejos, minhas oraçõ es chegam a Jesus
por Maria e Maria por Jesus. Sã o Joã o Berchmans vai ajudar-me este
mê s e vai interceder por mim, tenho a certeza, aquele que foi tã o devoto
de Nossa Senhora. Acima de tudo, farei o meu melhor para manter o
má ximo de recolhimento, para que possa me cuidar e aos poucos
controlar minhas paixõ es, especialmente o amor pró prio. Serei
escrupuloso no cumprimento pontual dos regulamentos, lutando
contra a minha pró pria vontade. De maneira especial, vou manter o
silê ncio na aula, nã o deixando a menor palavra escapar da minha
boca. As ejaculaçõ es nã o terã o nú mero e tentarei incutir nas
consciê ncias esta verdade: para ir direto a Jesus é preciso passar por
Maria. Em suma, farei tudo de Maria, tudo de Jesus. Em todas as coisas,
participarei dos treinos para o mê s de maio que anotei. Neste mê s serei
verdadeiramente o que decidi ser nos sagrados Exercı́cios. Meu anjo da
guarda servirá como despertador quando eu esquecer. Enquanto isso,
que Jesus e Maria me abençoem, ajudem, dê em-me tudo o que preciso,
até votos de boa sorte, e serei santo.

Domingo, 15 de maio de 1898, aposentadoria. Assim que me examinei,


pude constatar neste mê s que estou cheio de mim e muito mais meu
diretor espiritual me fez conhecer quando me apresentei a ele. Quem
sabe o que vai sair daqui. Jesus vê que nada desejo mais do que servi-lo
e me esforço para reprimir os movimentos do meu amor-pró prio. Mas
eu caio tantas vezes. Talvez Maria esperasse algo mais de mim, e eu
percebo isso, porque até agora só iz a devoçã o consistir em
super icialidades, e as faltas cometidas ainda foram muitas, e muitas
vezes me distraı́ nas oraçõ es. Se eu pudesse obter pelo menos uma
lembrança verdadeira.
Devo esperar por ele, ainda faltam quinze dias e espero conseguir
alguma coisa. Enquanto isso, nada farei senã o pedir a Jesus e a Maria
que me tornem humilde, e minha oraçã o mais preciosa será esta:
Humilde Maria, faça-me como você . Vou pedir a Jesus a humildade no
Sacramento, vou exercer a humildade acima de tudo nas coisas
adversas, humildade com os outros, humildade de pensamentos: é aqui
que caio de maneira especial, e aqui caı́ram os anjos. Jesus e Maria,
você s já sabem que eu os amo. Meu Jesus, misericó rdia.
Quinta-feira, 26 de maio de 1898. Para minha grande confusã o, devo
confessar que iz pouco bem nesta novena de Pentecostes. Se eu
continuar assim, vou destruir o pouco de bem que pareço ter feito
antes. Nã o posso fazer nada alé m de me humilhar e con iar. Ainda
faltam trê s dias para as festas solenes de Pentecostes; Farei, portanto,
um trı́duo reparador, esforçando-me de maneira especial por ser
perfeita nas prá ticas de piedade e por viver sempre muito recolhida em
Deus, em Maria, com oraçõ es muito frequentes. Rezarei de maneira
especial pelos ordenandos e pela conversã o dos pecadores e pela uniã o
das Igrejas dissidentes. Esta será també m a forma mais bonita de
encerrar o mê s de maio, e será a madrugada desse outro mê s, també m
muito querido para mim, o mê s do Sagrado Coraçã o de Jesus. Como
con irmaçã o de tudo isso observarei a má xima atençã o, o má ximo
silê ncio nas aulas. Maria, minha ú nica con iança, aceita os meus
propó sitos, envia-me o Espı́rito Santo que me fará conhecer a minha
misé ria e me fará amar Jesus.
Domingo da Santíssima Trindade, 3 de junho de 1898. Para a maior
gló ria de Deus. Louvado seja Jesus Cristo. No mê s de maio e na novena
do Espı́rito Santo, pedi a Jesus e a Maria a virtude da humildade e
parece que tive boas oportunidades de exercê -la. Parece que contaram
aos seus superiores, na minha opiniã o, coisas exageradas sobre mim,
sobre o orgulho que demonstrei nas fé rias, e recebi a devida
reprimenda. Devo ter me humilhado sem querer, mas no fundo ainda há
um pouco de razã o. Nesse caso, se os superiores vierem me olhar com
olhos ruins, o que devo fazer?
Vou deixar as coisas seguirem seu curso; Espero que venha a ser
conhecido o que é verdadeiro e o que é falso no que me foi
imputado. En im, foi um bom golpe que me fez pensar e chorar; E talvez
eu tenha ido longe demais com o pensamento. E tudo isso porque,
embora nã o tenha ocorrido, graças a Deus, aos excessos que me foram
imputados, o orgulho existe, e esse orgulho deu origem a acusaçõ es
semelhantes. Agora, inalmente, começo a abrir meus olhos e aprender
algo. Chega, recebi a liçã o. Mas agora suponha que tudo é verdade e
ponha uma laje sobre isso, nã o pensemos naquele que relatou, mas
oremos por aquele que foi talvez um instrumento nas mã os de Deus
para me fazer entrar no caminho certo.
Humildade, portanto, novamente humildade, e sobretudo preste
atençã o à queles pontos especialmente em que se diz - e em parte devo
concordar - que me faltou. Para isso, frequentemente revisarei meus
propó sitos que parecem feitos propositalmente. Um pouco mais de
uniã o com Jesus vai me ajudar nisso, porque, para falar a verdade,
tenho sido preguiçoso nesses dias; maior cuidado nos exames e visitas.
E o mê s do Sagrado Coraçã o, o meu mê s, portanto devo dar um passo
de humildade e ao mesmo tempo de amor, por isso me prepararei
melhor para essas malditas fé rias, e nã o darei mais ocasiõ es do que
novas podem ser formados. castelos acima de mim.
Por enquanto, agradeço a Jesus Cristo que me concede pelo menos a
vontade de me humilhar. Caso contrá rio, Jesus vê meu coraçã o; você
sabe o quanto eu quero te amar. Por enquanto, entã o, fervor, já que
estamos no mê s do amor.
Domingo, 12 de junho de 1898. Esta semana parece-me nã o ter passado
muito mal. Mas ainda tenho que me censurar por ter prestado pouca
atençã o nas aulas em certos horá rios especiais, isto é , durante as cartas,
e por ter, à s vezes, desejado ser engraçado, soltando alguma palavra
inú til ou tola; à s vezes no rosá rio um pouco distraı́do, muito no exame
geral, e um pouco també m na meditaçã o. Sim, bem, lindamente, volto a
ser o mesmo de antes. Entã o, novamente, você precisa de
encorajamento, de atençã o, de humildade. Um pecado que carrego
comigo é nunca ser ordenado, nem mesmo nas coisas espirituais; e o
engraçado é que estou sempre recomendando o pedido, até para outras
pessoas.
O que devo fazer é o seguinte: nunca diga aos outros algo que nã o vou
tentar colocar em prá tica mais tarde, porque até agora aconteceu o
contrá rio. Por exemplo: aqueles a quem falo do amor de Jesus
sacramentado, talvez possam formar uma boa ideia de mim a este
respeito, porque me parece que falo o mais calorosamente que
posso. Posso dizer, por outro lado, que ainda estou muito atrá s, sem
dú vida mais do que todos os meus companheiros. E necessá rio,
portanto, que eu me cuide com ordem. Para isso, nos meus exames,
estarei sempre atento a um determinado defeito meu e a ele prestarei
especial atençã o. Agora, esta semana, serei um pouco escrupuloso nas
aulas de artes, observarei uma lembrança especial na meditaçã o,
rosá rio e exame geral; e quanto ao resto, humildade sempre em tudo,
principalmente com os outros, nunca falando de mim nos aglomerados,
procurando nã o colocar ou dar oportunidade de colocar em pú blico os
defeitos dos outros, em vez de os encobrir.
Domingo, 19 de junho de 1898, retiro mensal. Se na semana passada
estive um pouco mais unido a Jesus, se por sua graça tive boas
inspiraçõ es, bons sentimentos, en im, se gozei no Coraçã o de Jesus,
especialmente na comunhã o da solenidade de Sexta-feira, a Apesar
disso, nã o posso dizer que tenha agradado ao Coraçã o de Jesus, porque
voltei a cair em quase todas as faltas de que outra vez me acusou. Por
exemplo, dizer alguma palavra inú til durante a aula, ser pouco
colecionado como é verdadeiramente meu dever ao rezar o rosá rio,
obtendo pouco benefı́cio da meditaçã o e nenhum do exame geral. Pobre
de mim, quantos espinhos pelo Coraçã o de Jesus. O que tudo isso
signi ica? Signi ica que nã o o amo como digo, amo-o apenas com
palavras, nã o com açõ es. Acima de tudo, devo me censurar por uma
incoerê ncia em minhas contı́nuas intençõ es, especialmente no que diz
respeito a nunca falar de mim mesmo, nem mesmo no mau sentido; nã o
para falar dos outros, mas para os elogiar.
Festa de São Luís, 21 de junho de 1898. No domingo, quando soou a
campainha no inal do retiro, interrompi minhas anotaçõ es para voltar
a elas neste dia, um dia muito bonito porque foi consagrado a Sã o Luı́s
Gonzaga. Ele disse outra vez que muitas vezes carecia de
humildade. Nesse sentido, uma grande recordaçã o é necessá ria para
mim, porque estou tã o cheio de orgulho que me falta mesmo quando
nã o penso nisso, mesmo quando me parece que estou indo bem, que
estou praticando a caridade. Felizmente, nã o faltam ocasiõ es
humilhantes.
Hoje, por exemplo, agi pela primeira vez como turifer nas vé speras
solenes, e iz a igura que merecia, como estou inclinado a criticar os
outros. Todo mundo riu de mim, e está bom para mim; assim,
novamente serei mais humilde e me controlarei mais. E ainda mais
considerando que, sendo prefeito, també m escâ ndalo a outros. Em
suma, esta humilhaçã o será també m para a maior honra e gló ria de Sã o
Luı́s. Mas nã o se repetirá , porque pretendo estudar as cerimô nias
nesses feriados. De resto, para alé m deste cuidado com as palavras,
necessito de um recolhimento maior em tudo, e sobretudo na piedade,
oraçõ es muito mais frequentes, etc. Saint Louis dá testemunho de
minha promessa de observar todas essas coisas; ele vai me ajudar a
cumpri-lo.
Domingo, 10 de julho de 1898. Por im, depois de um longo tempo de
distraçã o, volto a mim. Que dias ruins eu tive, quã o pouco mostrei meu
amor ao Senhor. Recebi outra graça, as duas ordens menores, o
ostiariado e o lectorado, mas continuo o mesmo. Na metade certa do
ano, faço meus exames inais. Tenho sido levado pelo cansaço nas
prá ticas de piedade, e particularmente na visita e nos exames. Agora
nã o tenho tantas dores de cabeça e quero voltar aos eixos, ainda mais
porque as fé rias estã o iminentes. Chega, ofendi demais o bom
Jesus. Que ele me ajude, estou com ele para sempre.
Terça-feira, 19 de julho de 1898. Senhor, salva-nos, perecemos (Mt
8,25). Estou de fé rias há trê s dias e já cansei. Vendo tanta misé ria, em
meio a tanta descon iança, oprimida por tantos medos, muitas vezes
suspiro, à s vezes choro. Quantas humilhaçõ es. Minha ú nica
preocupaçã o é fazer o bem, amar sinceramente mesmo aqueles que
parecem nã o me amar muito, e talvez aos olhos deles eu seja uma má
peça. As vezes, parece-me que mesmo aqueles que se interessaram por
mim, aqueles a quem con iei tudo, agora me olham com olhos
descon iados, nã o tocam em certos pontos, em certos assuntos. Que
pena. Talvez seja minha apreensã o. Espero que sim, gostaria de ter a
certeza; mas enquanto isso eu tenho que sofrer; Sofro, quando esperava
gozar.
Ah, como o mundo me abandona, no exato momento em que tento
agradá -lo. Ningué m vê meus sofrimentos, só Jesus os conhece. Só ele os
conhece, porque só a ele eu os contei, a ele só queria con iar o cuidado
de cuidar deles, nã o para que cessem para mim, mas para que todas
aquelas histó rias que precedem , e com o qual nada de bom é feito. Que
o bom Jesus me dê pelo menos o consolo de poder amá -lo tudo o que eu
quiser, de poder me humilhar em tudo o que preciso e de saber alegrar-
me apenas nas minhas humilhaçõ es. De minha parte, quero apenas me
orgulhar da cruz de nosso Senhor Jesus Cristo (Gl 6,14).
Humildade e amor, essas sã o as duas virtudes que me esforçarei para
adquirir nestas fé rias. Humildade principalmente no pensamento,
porque certamente, se da minha parte houvesse mais humildade ou,
antes, menos arrogâ ncia, talvez o que aconteceu nã o tivesse
acontecido; quanto mais prossigo, mais me convenço de que preciso de
humildade. A humildade é que vai aliviar os meus sofrimentos, que, por
muitos que sejam, nã o sã o tantos como os de Jesus Cristo, Maria e
tantos santos. O amor que se mostra, se ilumina, principalmente
quando estou na igreja e faço meus exercı́cios de piedade.
Durante as fé rias nã o tenho aulas de ciê ncias nem de letras, mas no
Sacramento Eucarı́stico tenho uma aula celestial aberta, onde o melhor
professor que se pode imaginar, Jesus Cristo em pessoa, ensina. E as
duas ciê ncias principais ensinadas aqui sã o estas: humildade e
amor. Entã o irei para a aula de Jesus; lá vou aprender a me humilhar
sempre e a amar sempre. Que Deus e a Santı́ssima Virgem me ajudem,
façam-me digno de ouvir estas liçõ es divinas, de delas aproveitar; os ex-
alunos, meus modelos, sã o os santos; meus colegas sã o aquelas almas
justas que nã o vivem a nã o ser para buscar a honra de Deus, para
expandir as fronteiras do reino de Jesus Cristo.
Mas visto que em mim a necessidade de humildade é maior do que de
amor, na medida em que a humildade é o caminho mais seguro para o
amor, trabalharei especialmente para alcançar esta virtude. Portanto,
como propus nos sagrados Exercı́cios, todas as noites escreverei todas
as minhas faltas, e principalmente as que se referem a esta virtude, para
remediar no dia seguinte. Basta: humildade e amor, e tudo o mais que
Deus quiser; se Jesus quer que meus sofrimentos continuem, a sua
vontade será feita; e quanto a mim, que ele me torne digno de tã o
grande graça, isto é , poder sofrer com ele e por ele.
De resto, devo ser forte nas tribulaçõ es, porque estas sã o apenas um
prelú dio ridı́culo para aquelas que sofrerei quando for sacerdote,
quando for sacerdote todo de Jesus Cristo. Que a Virgem me ajude, que
o meu anjo da guarda me apoie, que o meu Sã o Joã o Berchmans me
acompanhe e conserve em mim aquela paz, aquela calma, aquela
exatidã o em tudo, de que foi tã o raro exemplo. A recompensa que devo
esperar de Jesus Cristo pelas minhas obras deve ser sempre a que Sã o
Camilo de Lelis desejou: Sofrer e sofrer por ti . Um homem.
Noite de terça-feira, 19 de julho de 1898. Em geral, preciso de mais
atençã o ao recitar o ofı́cio da Virgem e o rosá rio em casa. Por outro
lado, embora me sinta unida a Jesus Eucaristia, talvez seja um pouco
de iciente nas ejaculaçõ es. Amanhã tentarei fazer tudo isso com
precisã o. També m para nã o perder tempo com conversas inú teis na
cozinha. Quanto ao amigo, devo confessar que esta semana ele se sentiu
um pouco dentro de mim, quando voltou de Baccanello depois de
visitar aquela pessoa excelente de quem parece ter recebido um
caloroso acolhimento. Ela se fez sentir, pensando nos eventos passados
de Pentecostes e na parte que essa pessoa, eu acredito, teve
neles. Chega, essas ocasiõ es deveriam servir-me cada vez mais para me
humilhar, e quando encontros semelhantes me acontecerem
novamente, tentarei imediatamente refrear o amor-pró prio dizendo:
está tudo bem para você ; o que aconteceu com você , você
mereceu; todas as boas-vindas que eles dã o a você , mesmo as mais
mesquinhas, devem ser uma honra para você , pois você nã o é nada
alé m de podridã o e vermes, ignorâ ncia e pecado.

Quarta à noite, 20 de julho de 1898. Ainda preciso de mais atençã o ao


fazer minhas oraçõ es, um pouco menos de sono durante a meditaçã o,
um maior nú mero de ejaculaçõ es, porque hoje fracassei nessas trê s
coisas. Quanto ao resto, quanto ao amigo, hoje foi discreto; fez pouco
barulho. Chega, veremos amanhã . Deus me ajude. Senhor, tu sabes que
te amo.
Quinta-feira, 21 de julho de 1898. També m hoje perdi discretamente a
recordaçã o do rosá rio. Com esse procedimento, Maria certamente nã o
gostou de mim, entã o? Agora que alguns dias se passaram desde que
cheguei de fé rias, preciso me dedicar a um estudo sé rio; portanto,
começarei amanhã . Da mesma forma, a partir de amanhã , farei mais
uma visita ao Santı́ssimo Sacramento, por volta do meio-dia; porque
hoje Jesus expressamente me fez compreender, lendo a visita de Santo
Afonso, que ele encontra as suas delı́cias entre os homens. Agora minha
pobre igreja está abandonada, ningué m vai visitá -la. Ele e eu nos vemos
duas ou trê s vezes ao todo; E justo, portanto, já que posso fazê -lo, que
vá visitá -lo mais uma vez, pelo menos para cumprimentá -lo. Como ele
icará feliz. Como você vai me pagar.
Sexta-feira, 22 de julho de 1898. Será que nã o pude guardar a
recordaçã o no rosá rio? Veremos o que acontece amanhã . Devo, de
alguma forma, me defender do sonho que me assalta quando
estudo. Você també m precisa ter cuidado para nã o falar muito nas
conversas, como você começou a fazer hoje; porque, embora hoje eu
possa ter certeza, o prové rbio é sempre verdadeiro: Em muita conversa
não falta pecado (Pv 10,19). També m com os bons pensamentos em si,
que à s vezes me surpreendem e emocionam, convé m estar alerta para
nã o cair em outras distraçõ es; e para conseguir isso: ejaculaçõ es,
ejaculaçõ es.
Sábado, 23 de julho de 1898. Apesar de tudo, hoje caı́ na mesma coisa:
fala aqui e ali, como se eu fosse o maior orador do mundo. Depois me
dou conta imediatamente e me arrependo, mas é preciso pensar
antes. Nã o estou ciente de ter falado mal dos outros, mas você tem que
estar sempre alerta. Tudo o que surge é amor pró prio, todo desejo de
ingir. Conheça a si mesmo, meu amigo, e você vai conversar menos e ao
invé s disso você icará mais contido nas oraçõ es, as ejaculaçõ es serã o
mais frequentes. Jesus, tenha piedade de mim.
Domingo, 24 de julho de 1898. No geral, ainda tenho um trabalho
perfeito a fazer. Por exemplo, uma oraçã o coletada do santo rosá rio,
etc.; hoje, até a visita ao Santı́ssimo Sacramento sofreu alguns
prejuı́zos. Que ocasiõ es para me humilhar. No ponto em que estou, nã o
mereço nenhuma graça. Amanhã serei um pouco escrupuloso em
garantir o rigor em tudo, especialmente na piedade: meditaçã o, ofı́cio,
rosá rio e visitaçã o. De resto, humildade sempre, porque quando se é
humilde Deus ajuda. Terei, portanto, o cuidado de nã o proferir nem
mesmo a menor palavra de ressentimento para com meu povo, por
qualquer ofensa feita a mim. Jesus, cuide disso.
Segunda-feira, 25 de julho de 1898. També m esta tarde chorei diante do
pá roco e diante de Jesus. O Jesus, aceita minhas dores, minhas lá grimas,
para lavar meus pecados e por eles dai humildade a mim e aos meus
parentes. Maria, você me ajuda.
Terça-feira, 26 de julho de 1898, retiro mensal. Olhando para o mê s
passado, vi que me faltou recolhimento e humildade; recordaçã o
durante os dias que passei no seminá rio, humildade nos dias de
fé rias. E agora, como estou menos doente de reminiscê ncias (mesmo
que nã o esteja completamente curado), prestarei mais atençã o à
humildade, tentando me manter irme em todas as ocasiõ es, e sã o
muitas, que me procuram para exercê -la. E para isso a uniã o de
pensamentos e afetos com Jesus Sacramento, meu amigo, me ajudará
imensamente, porque assim haverá um amor verdadeiro entre eles, e o
amor a Jesus carrega consigo a humildade. Com ele, portanto, sempre
me desabafarei, mostrarei minhas misé rias, minhas angú stias, e ele me
dará a paciê ncia de que preciso nas contı́nuas adversidades em que me
encontro. Ele vai me ajudar a cumprir a missã o de paz no meio de
minha famı́lia profundamente angustiada. Ele vai me ensinar a amar
meu pró ximo, a perdoá -lo, a desculpar suas falhas. Da mesma forma, se
chorar, se me vir ofendido ou abandonado, me consolarei pensando que
me pareço com Jesus que també m, e mais do que eu, está ofendido e
abandonado, e nunca cessa de amar. Desta forma, minhas lá grimas
serã o tanto mais meritó rias, mais preciosas, mais amargas elas sã o, e eu
nã o icarei desanimado, mas me considerarei honrado por sofrer algo
por Jesus que morreu na cruz por mim; e para mim ele está
continuamente encerrado no taberná culo.

Assim conhecerei cada vez melhor a dignidade do sacerdó cio,


ministé rio da caridade; E nisso, como nã o me humilhar? Como nã o icar
calado sobre tudo? Meu Deus, meu Deus, faça-me amar você e serei
humilde, faça-me amar muito você e serei muito humilde.
Nã o devo me surpreender com o sono antes do meio-dia, como
aconteceu esta semana. Da mesma forma, amanhã , como um presente à
Virgem, tentarei rezar o rosá rio com menos imprudê ncia do que
hoje. Por que eu nã o deveria pegar? Para me exercitar neste ú ltimo,
procurarei colocar em prá tica aquele propó sito que iz nos sagrados
Exercı́cios de uma maneira muito especial: que minhas palavras
cheguem à pasta antes da lı́ngua, evitando entrar em certas questõ es,
ou expressar minha opiniã o sobre certas questõ es totalmente inú teis
como, por exemplo, começaram a acontecer hoje. De resto, uniã o com
Jesus e oraçõ es. Meu Deus, olha quantos pecados, mas tem piedade de
mim: eu te amo.
Quarta-feira, 27 de julho de 1898. E vamos lá , nã o consigo entender que
deva icar em silê ncio com aquele bendito sacerdote, quando ele entra
em certas questõ es que nã o me convê m; Talvez eu nã o sinta falta, mas,
por enquanto, mostra minha natureza de querer decidir sendo sá bio. A
verdade é que, quando acabo, mesmo depois de colocar todos os
cuidados má ximos, sempre me dou conta de que falei demais. E isso é
excelente. Alé m disso, ico muito tempo na cozinha conversando
inutilmente; a curiosidade de querer saber coisas que nã o me
importam també m deve morti icar um pouco. També m evitarei cochilar
em meditaçã o, como esta manhã . De resto, algumas oraçõ es e, quanto
ao rosá rio, devo repetir o que disse ontem à noite, porque devo rezá -lo
simplesmente como cristã o. Oh Deus, quantos pecados. Humilhe-se
uma vez; veja o que você pode fazer com sua habilidade. Meu Jesus,
misericó rdia.
Quinta-feira, 28 de julho de 1898. Preciso de mais recolhimento na
recitaçã o de minhas oraçõ es, especialmente no ofı́cio da Virgem. Alé m
disso, nã o devo voltar, nã o inadvertidamente, como hoje, para sair da
cidade e ir para o Carvico sem chapé u. Em geral, sinto falta mesmo
daquela uniã o ı́ntima com Jesus que santi ica o dia todo, por isso
recorrerei com mais frequê ncia à s ejaculaçõ es.
Sexta-feira, 29 de julho de 1898. Pobre de mim, aos poucos estou
esfriando no amor ao Senhor. E assim que visito apenas meia hora antes
do rosá rio e, ao longo do dia, raramente penso em Jesus. Quanto ao
comé rcio, estou no mesmo. Que vergonha para mim, voltar em vez de
avançar. O bom Jesus, acende em meu coraçã o um pouco do teu amor
ardente.
Sábado, 30 de julho de 1898. E preciso a todo custo que me humilhe
conhecendo minha pequenez. Se ele soubesse como fazer isso. Eu me
considero um sera im, e sou apenas um lú cifer excelente e assim por
diante. Hoje, por exemplo, iz má visita, distraı́da; e quando a visita é
ruim, o barco nã o vai bem. També m rezo um pouco o rosá rio com a
cabeça vagando no ar; Nã o vamos falar sobre o comé rcio. E enquanto
isso Jesus me chama de seu taberná culo, e eu fujo, fujo como todos os
outros cristã os do mundo. Oh que coraçã o, que coraçã o Se ao menos eu
pudesse me unir a Jesus com ejaculaçõ es mais frequentes. Eu prometi
mil vezes e nunca iz. Portanto, deve ser feito, e com a ajuda de Deus eu
farei. Senhor, se quiseres, podes limpar-me (Lc 5,12).
Domingo, 31 de julho de 1898. Estou de volta aos mesmos passos de
antes; Alé m do mais, hoje iz apenas uma sombra de um exame privado,
omiti totalmente a oraçã o dos trê s Pais-Nossos e do Angelus do meio-
dia. Vamos terminar, entã o, enquanto o Senhor continua a me conceder
misericó rdia. Hoje termina o mê s de julho e começa outro. També m
termino pedindo perdã o a Jesus por minhas in idelidades e começando
uma nova vida amanhã . Precisamente amanhã começa o Jubileu de
Assis; portanto, me limpo e me puri ico inteiramente, e pedirei ao bom
Jesus que depois me dê a pureza, o amor e a profunda humildade do
será ico Francisco. Jesus, nã o me abandone.
Segunda-feira, 1º de agosto de 1898. Recoleçã o, oraçõ es e atençã o
especialmente no rosá rio. Guerra contra certos pensamentos
entusiasmados que, embora ó timos em si mesmos, à s vezes sã o
prejudiciais porque distraem demais a mente. Oh, Deus.
Terça-feira, 2 de agosto de 1898. Hoje, de modo geral, nã o agradei a
Jesus. Eu estive longe dele; Alé m disso, já iz a visita, ou melhor, nã o
iz. Ai, Deus, humilha-me cada vez mais, fazei-me conhecer o meu
verdadeiro nada, fortalecei convosco essa ı́ntima uniã o de mente e
coraçã o, senã o, se continuar como nestes ú ltimos dias, ico reduzido a
passos errados. Que isso nunca aconteça, Senhor; Eu protesto de agora
em diante que quero te amar para sempre. Jesus, caridade e perdã o.
Quarta-feira, 3 de agosto de 1898. Bem, isso está acontecendo. E hora de
terminar de brincar com o Senhor. Jesus me chama durante o dia, me
chama todas as noites, me implora, me invoca e eu o deixo sozinho. Até
agora temos passado por bons momentos, mas agora estamos passando
por maus momentos. Eu pergunto. Todas as noites: meu Jesus,
misericó rdia, e para o dia, ao invé s, pecados e assim por diante. E esta a
conduta de um seminarista? També m hoje, alé m de todas as outras
faltas, distraçõ es, dissipaçõ es em que caı́ nos ú ltimos dias, omiti a
leitura espiritual. Nã o fui lá para fazer nada, é verdade, mas as coisas
piedosas devem ser sempre preferidas aos outros. Portanto, as coisas
estã o claras. Vamos começar eliminando as falhas mais frequentes e
marcantes; entã o, passo a passo, chegaremos aos outros. Testemunhas
neste momento desta minha resoluçã o, meu bom anjo da guarda e meu
Sã o Joã o Berchmans. Ou amanhã visito e rezo o santo rosá rio como
deve ser, e entã o tudo vai bem; ou continuo a me comportar como
nestes ú ltimos dias, e entã o na sexta-feira nã o comerei nada até o meio-
dia e farei duas horas de meditaçã o. Vamos fazer as contas; Eu quero
vencer das duas maneiras. Jesus, salve-me um pouco també m.
Quinta-feira, 4 de agosto de 1898. Ganhei um pouco, embora ainda nã o
tenha feito tudo o que deveria; A visita, por exemplo, nã o foi das mais
fervorosas que já iz; ainda alguma distraçã o no rosá rio; mas vamos lá ,
vamos nos contentar por hoje; o resto para amanhã . Enquanto isso, a
pena em caso de transgressã o ainda permanece; Alé m disso, ao rosá rio
e à visita acrescentarei a recitaçã o do Ofı́cio da Virgem Maria. Devo
evitar discutir, à s vezes desnecessariamente, com o padre defendendo
certas pessoas ou açõ es, que de outra forma seriam
repreensı́veis; embora me pareça que nã o; Pois embora todos possam
ver que eu falo isso como uma piada, ou eu coloco a questã o como uma
piada, embora eu leve isso a sé rio, no entanto, exagerar é sempre muito,
e mesmo a menor coisa pode ser a base de um grande castelo . Chega,
nos entendemos, sejamos humildes e assim ningué m será
prejudicado. Ai Jesus.
Sexta-feira, 5 de agosto de 1898. Hoje falhei, antes de mais nada, meu
principal dever: fazer meus irmã os menores fazerem as
oraçõ es. Prometo, como um presente a Maria nesta novena que está
começando, que nã o vai acontecer de novo; Serei pontual també m
nisso. També m adquiri o vı́cio de dormir um pouco mais do que o
necessá rio depois do meio-dia; portanto, acertarei o reló gio para nã o
acordar depois de trê s quartos de hora, o que pode ser o
su iciente. Amanhã começa a novena da Assunçã o; portanto, novo
fervor em tudo e uniã o com Jesus e Maria atravé s das ejaculaçõ es de
que tanto preciso. Jesus e Maria, sejam sempre o meu ú nico amor.
Segunda-feira, 8 de agosto de 1898. Nas ú ltimas duas noites, nã o
consegui escrever nada devido a uma forte dor de dente. Este incidente,
se por um lado me deu a oportunidade de sofrer algo por Jesus, por
outro me distraiu. Se estivesse um pouco sereno, amanhã deveria
aplicar os castigos que propus, pois nã o iz muito bem os dois
principais exercı́cios de piedade: a visitaçã o e o rosá rio. E també m,
falando bem, parece que nã o estou na nona, tã o pouco é o bem que
faço. Portanto, mais fervor; nã o grandes e extraordiná rias coisas, mas
grande perfeiçã o na costumeira e sobretudo uniã o com Jesus, com o
pensamento de Maria, como sugerido esta manhã em uma carta a
Carminati. Oh Maria.
Terça-feira, 9 de agosto de 1898. Antes de iniciar minhas prá ticas de
piedade, devo lembrar estas palavras: Antes da oração, prepare sua
alma . Devo tentar chegar ao estado que os santos alcançaram: poder
passar, com a má xima facilidade e nã o com distraçõ es como eu, do
estudo ou de outras ocupaçõ es para a oraçã o. Caso contrá rio, devo
repetir o que escrevi ontem à noite. Sinto-me quase desanimado,
sempre me encontro nos mesmos passos. Jesus e Maria, dê -me um
pouco mais de fervor, senã o a aridez me dominará .
Sexta-feira, 12 de agosto de 1898. Outra noite eu nã o tinha vela; noite
passada eu nã o tinha tinta; é por isso que passei duas noites sem
escrever nada. De uma forma geral, devo dizer que, se nã o tenho que
lamentar grandes faltas, també m nã o encontro virtudes. Ainda estou no
mesmo ponto, sem dar um passo adiante. E eu acho que tudo depende
de pensar pouco, nã o comparar um dia com o outro e ver a diferença,
como exige o exame particular, que, entre parê nteses, deve dar muito
melhor. Em uma palavra, há certas pequenas coisas que nunca saem
perfeitas ou, melhor, nunca as acerto; por exemplo, o rosá rio, um pouco
també m a visita e muito mais a prá tica das ejaculaçõ es. Certamente nã o
me falta boa vontade, e por isso nã o posso deixar de dar graças ao
Senhor, porque é totalmente sua graça. Mas devo pensar que o inferno
está cheio de boas vontades. Oh, se eu soubesse o quanto preciso ser
bom e santo. Pois bem, vamos quebrar essa rotina. Amanhã confesso e
começo uma vida de maior atençã o e fervor em honra da Santı́ssima
Virgem, que tanto merece o meu amor; e começarei nunca falando com
ningué m, nem mesmo con idencialmente, sobre os pequenos defeitos
que talvez só eu vejo e que encontro nas outras pessoas. Oh Maria.

Sábado, 13 de agosto de 1898. Em geral, hoje me comportei melhor do


que nos outros dias. Mas ainda me falta toda aquela uniã o com Jesus e
Maria atravé s das ejaculaçõ es, como deveria ser, e també m o rosá rio e o
ofı́cio foram um pouco negligenciados. Devo també m ter cuidado com
certas pessoas para nã o tocar em certas coisas que as irritam, porque
assim se torna causa de impaciê ncia por coisas que nã o tê m nenhuma
virtude. Maria, minha mã e, se nã o me ajudas agora que tanto preciso,
que seminarista, que sacerdote serei?
Segunda-feira, 15 de agosto de 1898. Hoje tudo no chã o: meditaçã o,
leitura espiritual, exame particular, visita, etc., tudo, tudo. Mas era
quase impossı́vel fazer de outra forma. Maria me perdoe, porque, por
outro lado, nada iz mais do que colaborar de alguma forma com a
amada festa da Assunçã o que aqui, na minha pobre cidade, se soleniza
anualmente com pompa.
Noite de terça-feira, 16 de agosto de 1898. Hoje, por minha causa, caı́, ou
pelo menos corri grave perigo de cair, naquela falha que estava prestes
a me render uma reprimenda no ú ltimo Pentecostes: querer discutir as
coisas que eles nã o importam para os seminaristas. No entanto, é
verdade que, de minha parte, parece-me que procedi com a maior
cautela, que apenas falei da simplicidade, da obediê ncia, do afeto pelos
superiores, do desejo do verdadeiro bem que se exige do sacerdote; E
verdade que só falei sobre isso com o padre e apenas quando ele deu
inı́cio à discussã o, apesar de já ter antes proposto o silê ncio; mas eu
nã o sou o juiz de mim mesmo; Essas coisas vã o contra a vontade dos
superiores e é o su iciente, portanto, devo tentar icar fora dessas
questõ es o má ximo que puder, e rezar apenas para que todas as açõ es
dos sacerdotes sirvam à gló ria de Deus.
Certamente, é sempre a refeiçã o na casa do sacerdote, a reuniã o dos
sacerdotes na Assunçã o que desperta este fogo em mim; mas acima de
tudo é orgulho; portanto, saia. E ainda mais considerando que essas
coisas confundem as prá ticas de piedade, como me aconteceu hoje:
parte omiti (leitura espiritual) e parte (meditaçã o, visita, rosá rio) iz
mesmo assim. Jesus, quando vou realmente começar a te fazer feliz?
Quarta-feira, 17 de agosto de 1898. Graças a Deus. Finalmente, hoje
parece-me que passei um dia silencioso e silencioso. Graças a Deus. A
dor de dente que me atingiu antes do meio-dia a deixou ainda mais
bonita. No entanto, nã o me vejo sem falhas: por exemplo, iz a
meditaçã o com um sonho; Tenho rezado as vé speras um pouco rá pida e
apressadamente, para nã o falar das ejaculaçõ es que ainda sã o
poucas. Esta tarde, quando soube da morte daquele meu compatriota,
tive uma inspiraçã o. Naquela é poca, serei feliz ou infeliz com minha
vida? Se eu fosse como sou agora, nã o teria muito para me consolar. Oh
sim. Que eu tenha a morte do justo (Nm 23,10); mas, para isso, primeiro
tenha a vida dos justos.
Quinta-feira, 18 de agosto de 1898. Devo lembrar que tenho o dever nã o
apenas de evitar o mal, mas també m de fazer o bem. Se bem que, por
outro lado, hoje nã o posso dizer que estive totalmente isento do mal,
pois a visita e o rosá rio ainda os distraı́ram um pouco; e, alé m disso,
sempre deixo a visita para o ú ltimo momento. Com Jesus nã o é assim:
deixe sempre para o im. Meu Jesus, quando terei um pouco mais de
fervor?
Sexta-feira, 19 de agosto de 1898. Menos tagarelice durante o dia, como
iz esta manhã na cozinha, e mais atençã o à s prá ticas de piedade e
estudo, especialmente à recitaçã o do ofı́cio da Virgem e do rosá rio,
porque, Pobre mã e, ainda nã o a agradarei nenhuma vez. Este será o
meu presente para amanhã , sá bado, consagrado a ela. Meu Deus, que
pena pensar que com as graças que o Senhor me deu, eu deveria ser um
santo, pelo contrá rio, sou um grande pecador.
Sábado, 20 de agosto de 1898. Hoje també m é um dia preguiçoso. Quase
sempre antes do meio-dia com o padre, depois com o mé dico e, en im,
iz pouco ou nada de bom. Noto apenas duas coisas: 1. Preciso de mais
fervor e prestar mais atençã o na preparaçã o para os Santos
Sacramentos, especialmente a Eucaristia; 2. Ficar nas sombras, tanto
quanto possı́vel, e nem mesmo acidentalmente citar certas questõ es
que nã o me dizem respeito, como já disse em outras ocasiõ es; nem
presumem ser sá bios com fulano ou mengano, expondo o caminho que
parece ser seguido em tais circunstâ ncias. Vamos fazer este pequeno
sacrifı́cio que o meu bom Jesus tanto deseja. Jesus, me tire dessa morna.
Domingo, 21 de agosto de 1898. Senhor, Senhor, tenha misericó rdia de
mim, o maior pecador. Que mais posso dizer? Eu nã o cumpro os
propó sitos de forma alguma. Meu Deus, quantos pecados e quanto
amor de Jesus. Quantas falhas em fazer promessas. O Santo Alexandre,
que amanhã desejo visitar em peregrinaçã o, dá -me um pouco de força
para nã o faltar aos meus deveres de bom seminarista.
Terça-feira, 23 de agosto de 1898. Vendo em mim mesma tanta
negligê ncia no serviço de Deus, confusa diante dele, só posso dizer
estas duas palavras: meu Jesus, misericó rdia.
Quarta-feira, 24 de agosto de 1898. Felizmente do que ontem, mas
també m ruim, especialmente em fazer minhas oraçõ es. Permito-me ser
dissipado demais pelo pensamento das festas de Santo Alexandre,
preciso conter o meu entusiasmo, que desta vez pode ser indiscreto.
Quarta-feira, 31 de agosto de 1898, aposentadoria. Os preparativos, a
novena, as solenidades extraordiná rias de Santo Alexandre nã o me
permitiram fazer todas as minhas prá ticas de piedade, ou melhor, me
viraram completamente a cabeça. Agora, depois de voltar das festas,
recupero a calma e faço a retirada. Nã o perco tempo em dizer o quã o
mal tenho estado este mê s, as poucas notas que escrevi até agora falam
muito claramente. O que mais me apavora é minha inconstâ ncia no
serviço a Deus. Mil vezes digo com Santo Agostinho que quero me
levantar, mas, ao contrá rio de Santo Agostinho, sempre caio de novo. O
engraçado é que ultimamente, um pouco por negligê ncia, um pouco por
outras causas, tenho estado muitos dias sem con issã o. E pensar que
Sã o Carlos se confessava duas vezes por dia. Mas chega, nã o importa o
quanto eu diga, nã o posso descrever totalmente como sou miserá vel,
porque o orgulho encobre minha compreensã o. Já que o Senhor me
acolhe novamente e me admite em seu seio, vamos nos levantar
novamente. Uma fruta especial, para alé m de todo o resto deste retiro,
será : 1. Faça sempre a visita antes de ir ao pá roco, ou seja, por volta das
trê s horas; 2. Jamais, jamais entrarei em questõ es de jornais, bispos,
fatos, levando a defesa do que se ataca de maneira muito injusta e que
me parece conveniente defender, e quando me izerem entrar,
recorrerei a tudo para sair com habilidade e sempre mostrar em toda a
caridade; 3. Ejaculaçõ es, especialmente a Maria, cuja novena comecei
ontem.

Bastante poucas ejaculaçõ es: a visita, o rosá rio precisam de mais


fervor. Hoje quase toquei, embora nã o tenha caı́do nisso, a falha contra
a qual iz o segundo propó sito especial no retiro. Tenha cuidado,
portanto, e prudê ncia, porque o diabo é mais astuto do que eu. Meu
bom Jesus.
Quinta-feira, 1 ° de setembro de 1898. Nã o foi muito ruim, mas també m
nã o foi muito bom; Estou um pouco indiferente, e també m a visita e o
rosá rio exigem mais fervor, sobretudo porque estou na novena da
Virgem. Minha pobre mã e, como a amo pouco; a cada momento eu
esqueço completamente. Pois bem, para amanhã renovo pela centé sima
vez a promessa feita a Maria de ser pontual e muito fervorosa na visita
e no rosá rio. Talvez cumprir isso també m venha o resto. Oh meu Deus,
vamos esperar e con iar.
Sexta-feira, 2 de setembro de 1898. Um pouco mais cedo; mas preciso
ainda mais cuidado e atençã o na recitaçã o do ofı́cio da Santı́ssima
Virgem e, em geral, sempre que estou na igreja. Quanto ao resto, as
ejaculaçõ es sã o muito frequentes, pois podem fazer muito bem. Viva
Jesus.
Sábado, 3 de setembro de 1898. Calma, talvez até demais; Eu nã o quero
ter muitas ilusõ es. O rosá rio e as vé speras ainda deixam a
desejar. Quanto custa para uma coisa tã o pequena. E todo efeito da
minha santidade. Amigo, mais humildade. Maria, no meio das honras
que Turim te presta nestes dias, no Congresso Mariano, nã o te esqueças
do meu pobre coraçã o que se une, por ú ltimo, ao de tantos dos teus
devotos e implora as tuas graças pela Igreja e pelos pecadores.
Domingo, 4 de setembro de 1898. Aqui está o que eu preciso: mais
recolhimento na igreja quando as funçõ es pú blicas sã o
realizadas; lembrando-se de Maria com mais frequê ncia; nunca pare de
fazer bem a visita; e especialmente as ejaculaçõ es, e especialmente
aquelas com as quais posso fazer um ato de humildade ao mesmo
tempo. Oh Maria.
Segunda-feira, 5 de setembro de 1898. Preciso de mais forças para
superar o sonho que infelizmente à s vezes se apodera de mim,
principalmente pela manhã , ainda durante a sagrada comunhã o. Alé m
disso, ainda estou distraı́do com aquele rosá rio abençoado. E hora de
terminar: quando é que vou realmente querer manter Nossa Senhora
feliz? Nestes dias de alegria e triunfo para ela, quero també m unir-me,
apesar da minha misé ria, aos sentimentos de tantos prelados, de tantos
cató licos que aclamam a Rainha do Cé u em Turim; e junto com as
exclamaçõ es e principalmente com o presente mais bonito, o
rosá rio. Oh Maria.
Terça-feira, 6 de setembro de 1898. Parece realmente impossı́vel: quanto
mais proponho, menos os cumpro. Essa é a ú nica coisa que sei fazer
bem. Converse, prometa montanhas e depois? Nada. Se ao menos ele
fosse capaz de me humilhar. As vezes me envolvo demais em discussõ es
com o padre e, portanto, talvez se con irme esse ditado: Em muita
conversa não falta pecado . E també m me sinto muito feliz em satisfazer
o paladar com a fruta. Cuidado, amigo. Atençã o a ti, recolhimento e
morti icaçã o, principalmente em dar-te todos os sabores que o paladar
deseja. Este é o melhor remé dio para a alma e o mais belo presente a
Maria nestes ú ltimos dias de novena de seu nascimento.
Quarta-feira, 7 de setembro de 1898. Ainda preciso de ejaculaçõ es,
principalmente enquanto estudo; eles me darã o luz nas di iculdades
que muitas vezes, devido à pobreza do meu cé rebro, encontro, e eles
me darã o mais â nimo. Alé m disso, devo ressaltar que depois do jantar
paro de conversar muito com minha famı́lia na cozinha, e mais ainda
porque quase sempre se fala de preocupaçõ es e, portanto, enquanto
semeiam desâ nimo em meu coraçã o, nã o seria surpreendente que
sempre me faz esquecer a grande lei da caridade. Portanto, terminado o
rosá rio, direi algumas palavras e saio. Preocupaçõ es, muitas
preocupaçõ es. Mas os meus sã o de uma espé cie totalmente diferente
dos meus parentes; Ele se refere aos corpos, ao material, o meu se
refere à s almas; Isso é o que mais pesa sobre mim, e o pensamento de
que para meus entes queridos as tribulaçõ es, ao invé s de servirem para
o bem, servem para o mal. Meu Deus, você que tentou, diga como o
coraçã o se sente oprimido. O Maria, dai a verdadeira caridade ao meu
povo, para que perdoe de todo o coraçã o e carregue com resignaçã o as
cruzes que vê m de quem acredita ser seu inimigo. Chega, vamos orar.

Quinta-feira, 8 de setembro de 1898. Um dia lindo e feio ao mesmo


tempo. Bela para a memó ria de Maria em criança, feia porque nã o a
santi iquei como deveria. Sempre assim. Quando mais preciso ir bem,
faço pior, como hoje: o exame particular, as ejaculaçõ es, a visita, voou
tudo; sempre dissipaçã o. Portanto, vamos voltar à calma; lembrança,
com ejaculaçõ es. Senhor, Senhor, tenha misericó rdia de mim, o maior
pecador.
Sexta-feira, 9 de setembro de 1898. Hoje as coisas foram assim; eles
certamente poderiam ter sido melhores. Posso dizer que nã o iz a visita,
a meditaçã o tarde demais e pouco adiantou, estudo pouco, as oraçõ es
nã o muito; por outro lado, satis iz o paladar tanto quanto
posso. Portanto, nã o há muito com que se consolar. Amanhã , em honra
de Maria, farei o meu melhor para crescer e reparar, fazendo també m
algumas morti icaçõ es corporais; por exemplo, nã o provar a
fruta. Maria, faça com que ele pegue.
Sábado, 10 de setembro de 1898. Hoje me confessei e já fracassei nos
propó sitos que iz: prestar atençã o ao rosá rio e nã o perder tempo em
conversas inú teis. Esperemos que a comunhã o de amanhã me leve a
tudo e me faça viver a verdadeira vida de Jesus Cristo, como ele
ardentemente deseja. Senhor, cure minha alma.
Domingo, 11 de setembro de 1898. Quase tenho medo de me encontrar
no estado daquele pobre bispo que o Senhor ordenou que dissesse, por
meio de Sã o Joã o, que o rejeitava de sua boca porque nã o era frio nem
frio. E tal estado seria bastante deplorá vel. Eu estou nisso també m? Nã o
haveria nada de estranho nisso. Eu faço resoluçõ es e estou sempre nas
mesmas faltas; portanto, serei rejeitado pela boca, pelo coraçã o de
Jesus? Posso acreditar sem tremer? Posso acreditar sem me sentir
animado para sair desse estado? Meu Deus, faça com que pareça
real. Oh Maria.
Segunda-feira, 12 de setembro de 1898. Hoje fui a San Gervasio para
visitar um de meus companheiros e, portanto, a meditaçã o e a missa
voaram; Já iz as outras coisas, mas como costumo fazer em
circunstâ ncias semelhantes. E enquanto isso Maria sofre, e talvez as
espadas de sua dor sejam a iadas demais para mim. OMG que
confusã o. Uma coisa que notei muito especialmente hoje, é que, em
certas circunstâ ncias, deixo minha lı́ngua correr livre e talvez fale
demais; sem perceber, torno-me pregador. Esta també m é uma
morti icaçã o que devo fazer; atençã o e parcimô nia ao falar.
Terça-feira, 13 de setembro de 1898. Já iz um pouco de tudo; Nã o
estudei nada, mas isso, passe; Saı́ do exame particular, iz poucas
leituras espirituais. Em suma, estou sempre neles. Se você me olhar
super icialmente, em geral, pode dizer que nã o há nada de errado
comigo, mas se me considero em relaçã o ao que devo fazer e com as
graças que o Senhor me deu por isso, tenho vergonha eu mesmo e devo
confessar um grande pecador. E pensar que todas as noites faço essas
re lexõ es e todas as noites estou nas mesmas. Este é meu grande
pecado. També m estou no setená rio de La Dolorosa, mas faço muito
poucas morti icaçõ es e ejaculaçõ es. Maria, inundada de dor, chora
també m por mim; mas nã o porque seja ingrato, mas para que as tuas
lá grimas amolecem o meu coraçã o, quã o duro e cruel é com Jesus. Seja
feita a tua vontade.
Quarta-feira, 14 de setembro de 1898. Nã o posso fazer mais do que
repetir o que disse ontem à noite. A grande razã o pela qual nenhuma
melhora é vista em mim é o pouco benefı́cio que obtenho
especialmente no exame particular. Amanhã , pois, em homenagem a
Marı́a Dolorosa, procurarei pô r em prá tica as normas que escrevi para o
exame especı́ ico. E Deus me ajude.
Quinta-feira, 15 de setembro de 1898. Talvez nestes dias as lá grimas de
Maria tenham aumentado com minhas faltas. Pode-se dizer que as
morti icaçõ es nã o faço nenhuma ou faço muito poucas; o bendito
rosá rio sempre carece de alguma coisa; a visita de hoje foi bastante
imperfeita. E pensar que estou no setená rio da Dolorosa. Há també m
outra coisa a respeito da qual devo me repreender, que é a vontade de
ler jornais, proibida no seminá rio. Enquanto o padre disser, para
agradá -lo, entre; mas procurando por eles intencionalmente, nã o é
isso. Portanto, levando em consideraçã o tudo isso, vou pedir mais no
futuro. Doravante o meu exame particular centrar-se-á na aquisiçã o da
humildade, segundo os propó sitos que iz nos sagrados Exercı́cios deste
ano e que escrevi, e as preciosas normas que o P. Rodrı́guez dá para
esse im. Senhor, tenha piedade de mim.
Sexta-feira, 16 de setembro de 1898. Lembranças, é disso que
preciso. Oh Maria, me ajude a conseguir.
Sábado, 17 de setembro de 1898. Ainda que discretamente afastado, o
velho à s vezes é sentido com certos sonhos de inferno, nos quais à s
vezes, sem me dar conta, me enredo. Em suma, ainda sou eu mesmo, o
grande arrogante e pecador. Que pensamento humilhante. Pensar que
Deus me apó ia e parece que ele nã o tem olhos para ver minhas ofensas,
como posso nã o gostar dele, como nã o enlouquecer de vontade de amá -
lo e fazer com que ele o ame?
A Santı́ssima Virgem das Dores chora porque Jesus nã o é amado, mas
ofendido; talvez chore por mim també m. Oh, consola-te, Maria, guarda
em mim o desejo de amar muito o teu ilho e faze que, no que depender
de mim, mitigue as tuas dores amargas, levando almas a Jesus e a
ti. Para me ajudar, consagro minhas açõ es para amanhã . Puri ique-os
você mesmo, dê -lhes aquela perfeiçã o de que tanto precisam e reze o
rosá rio, pelo menos uma vez, como nunca iz até agora.
Terça-feira, 20 de setembro de 1898. Tenho grande necessidade de
recolhimento e maior presença de espı́rito, lembrando-me
freqü entemente das resoluçõ es que sã o feitas de vez em quando. Alé m
disso, em todas as minhas coisas devo mostrar que sou uma criança
verdadeira, como realmente sou, e nã o me comportar em tudo como
um iló sofo sé rio e homem de grande valor. Este é o meu natural, esta é
toda a minha substâ ncia: orgulho. De resto, grande resignaçã o à
vontade de Deus, suportando com verdadeira paciê ncia e sem cair no
mau humor as desgraças que Deus me manda na famı́lia, por exemplo, a
grave doença do meu irmã ozinho Juan. Oremos, oremos sempre por
tudo, e que tudo seja feito segundo a vontade de Deus, para honra e
gló ria de Deus. Sim, para a maior gló ria de Deus. Um homem.
Quarta-feira, 21 de setembro de 1898. Devo evitar adiar a realizaçã o de
minhas prá ticas de piedade, nã o as reservando para depois, para
agradar a mim e ao meu paladar. Isso seria um insulto a Deus e uma
prova de que nã o o amo; esta é uma espé cie de comparaçã o entre Jesus
e Barrabá s. E mais sabendo que Deus nã o se contenta com as coisas
feitas pela metade, como se fossem emprestadas. Jesus e Maria, sejam
minha salvaçã o.
Quinta-feira, 22 de setembro de 1898. Quantas tribulaçõ es. Meu irmã o
mais novo, Juan, teme muito por sua saú de, entã o oro e oro. Espero que
o Senhor se digne a me ouvir. Esta noite, pensando seriamente, as
lá grimas vieram aos meus olhos. Eu me imaginei naquela cama e me
perguntei, como você se sairia se fosse julgado neste momento? Ir para
o inferno mereceria, mas nã o espero; sim, em vez disso, ao
purgató rio. E só o pensamento do purgató rio me fez estremecer.
O que será de mim? Pobre de mim. Como sou miserá vel. Parece-me que
poderia ter uma boa morte; Nã o me falta um pouco de amor a
Deus. Mas, ao pensar nisso, sou levado por pensamentos de amor-
pró prio.
Olha, os outros diriam, que morte de anjo. E aqui que minha podridã o é
revelada e nã o pode ser escondida. Antes de mais nada, é necessá rio
que eu morra inteiramente para mim mesmo, para assim voar para o
amor de Deus e evitar, se possı́vel, até as dores do purgató rio. Bom
Jesus, dá uma olhada neste homem miserá vel, pelo menos na atençã o
ao desejo que tenho de te amar e fazer com que os outros te amem
como você merece, por mais que você seja digno e seja possı́vel para
mim. Maria, cure meu pequeno Juan.
Sexta-feira, 23 de setembro de 1898. Sempre que penso no purgató rio
tremo e nã o entendo como nã o faço com mais perfeiçã o minhas
prá ticas de piedade, todas as minhas obrigaçõ es. Preciso conter um
pouco da inquietaçã o que tenho quando visito os enfermos, usando
mais caridade ao falar com os outros. Isso tudo é coisa velha. Quanto ao
resto, o Senhor me enviou uma cruz um pouco mais pesada
atualmente. Bendito seja; que isso me faça gostar dele e cancele a pena
devido aos meus pecados. Gló ria a Deus.
Sábado, 24 de setembro de 1898. Antes do meio-dia, as coisas estavam
um pouco desordenadas; mais tarde, ou melhor, no ú ltimo minuto,
talvez tenha faltado mais do que o necessá rio nas minhas maneiras com
os presentes no que diz respeito à s atençõ es para com o meu querido
irmã o. Teria sido mais calmo. Eu entendo que, se calar à s vezes, devo
ouvir, mesmo quando me parece que estou buscando o bem maior e
devo suportar e resistir, mas é tudo em honra a Jesus e Maria, para o
bem maior de minha alma e a do meu pequeno John. Quando me sinto
tã o oprimido, parece-me que posso abandonar-me com mais con iança
nos braços de Deus e ico feliz. Oh bem-aventurados, mil vezes bem-
aventurados os religiosos que, longe dos cuidados deste mundo, só
vivem em Deus. Para mim, você é realmente digno de inveja. Mas,
inalmente, Jesus me ama assim, ele me envia a cruz para apoiá -lo. Seja
dez mil vezes abençoado.
Noite de domingo, 25 de setembro de 1898. Que cruz caiu sobre mim
hoje. Meu Deus, só de pensar nisso me dá arrepios. Meu bom pai,
aquele que tanto fez por mim, que me educou, que me guiou para o
sacerdó cio, meu pá roco, padre F. Rebuzzini, morreu e, coitado, morreu
repentinamente. Oh Jesus, você sabe a angú stia que isso traz ao meu
pobre coraçã o. Esta manhã as minhas pobres pernas nã o me
suportaram, um prego tinha penetrado no meu coraçã o; meus olhos
nã o cederam, ou deram poucas lá grimas. Nã o chore; por dentro eu me
sentia petri icado. Quando o vi no chã o, naquele estado, com a boca
aberta e vermelha de sangue, com os olhos fechados, parecia-me -
sempre guardarei esta imagem - um Jesus morto, descido da cruz. Ele
nã o falou mais, ele nã o olhou mais para mim.
Ontem ele me disse: adeus. Oh pai, quando nos encontraremos de
novo? No paraı́so. Sim, volto meus olhos para o paraı́so. Ele está lá , eu
vejo ele, daı́ ele sorri para mim, olha para mim, me abençoa. Feliz da
minha parte por poder desfrutar dos ensinamentos de um professor
tã o bom. A morte o surpreendeu de repente, mas ele estava preparado
para ela havia setenta e trê s anos. Ele morreu enquanto lutava para se
conquistar, para vencer o mal que o a ligia; e tudo para ir para celebrar
a santa missa. A morte, portanto, sempre e em todos os sentidos
preciosa e invejá vel. Se o meu també m pudesse ser assim. Como eu
disse, a posiçã o em que o encontrei me diz que ele caiu de joelhos e caiu
para trá s, incapaz de se sustentar.
Há vinte e seis anos o Coraçã o de Jesus deu-lhe a consolaçã o de vir
viver entre aqueles que seriam seus ilhos; No ano passado, o Coraçã o
de Jesus concedeu-lhe a graça de celebrar as bodas de prata com a
paró quia; Este ano o Coraçã o de Jesus preparou para você s uma festa
mais solene, uma festa eterna, e tudo isso no 4º domingo de setembro
que aqui, entre nó s, é dedicado ao Coraçã o de Jesus. E agora, depois
desse verdadeiro teste que Jesus me deu, depois da maior dor que já
sofri em minha vida, o que devo fazer?
Chega de lamentaçõ es, já demos demais à natureza. Onde está o meu
pai? Lá , ao lado do Coraçã o de Jesus, como aqueles de quem ele é
verdadeiro modelo. Portanto, olhemos lá , esforçando-nos para nos
tornarmos semelhantes a ele em tudo. Que as oraçõ es do bom pá roco,
que sem dú vida sempre rezou por mim, para que me considere seu
mais jovem, as que lhe ofereço, a sua vida que sempre terei diante dos
olhos, me tornem um verdadeiro imitador da sua , para que eu possa
cumprir a despedida de ontem à tarde e abraçar-me no paraı́so, depois
de cumprir a missã o que o bom Jesus me con iou. Que seus exemplos,
acima de tudo, de humildade, simplicidade e retidã o iquem gravados
em minha mente, para que eu possa moderar meu orgulho e me tornar
maior diante de Deus, nã o sendo orgulhoso diante de Deus, mas homem
justo, íntegro, temeroso de Deus (Jó 2,3) como meu pastor. Jesus, tem
piedade de mim, abre meus olhos para esses exemplos luminosos.
Segunda-feira, 26 de setembro de 1898. Neste dia, um pouco de dor, um
pouco de ocupaçã o, trabalho para funerais, me distraı́ram e me
desviaram das prá ticas de piedade. Mas o amor, mostrado na dor, nã o
pode de forma alguma ser prejudicial ao amor de Deus, porque santo é
o objeto que amo e santo o im. Passei a possuir, como lembrança
preciosa do pá roco, o seu Kempis, o mesmo que usava todas as noites
desde que era seminarista. E pensar que ler este livrinho se tornou um
santo. Este será sempre o livro mais querido para mim e uma das joias
mais preciosas que posso ter.
Quarta-feira, 28 de setembro de 1898. Hoje era o funeral de meu falecido
pai. Agora ele nã o está mais entre nó s com o corpo, mas com o
espı́rito; ele está com a marca das virtudes mais seletas, com seu afeto
paternal. Mas iquei ó rfã o, com danos imensos. Que pena que hoje eu
tive que fazer um esforço contı́nuo para esconder as lá grimas que à s
vezes vinham aos meus olhos. E minha maior dor, a maior de todas que
já passei. Sinto-me desorientado, nã o sei o que fazer: fazer o bem, fazer
aos outros també m; Nã o sei como me adaptar a viver como em um novo
mundo para mim.
Mas, vamos ter bom â nimo. Se meu pai desapareceu, eu tenho Jesus,
que estende os braços e me convida a ir até ele em busca de
conforto. Sim, vamos ter com ele, e com ele, em todos os dias livres de
qualquer outra coisa, participarei na comunhã o feita para este im. Ele
dará paz à alma abençoada do meu pá roco e, acima de tudo, fará de
mim um verdadeiro imitador seu, especialmente na humildade. Por
enquanto me resignarei a Deus, restaurando a calma à minha mente
fortemente atormentada e retomarei com exatidã o, no sufrá gio daquela
alma, todas as minhas prá ticas de piedade, fazendo-as com especial
fervor. Meu caro pá roco. Jesus, faça-me gostar dele. Olhe e aja de acordo
com o modelo.
Quinta-feira, 29 de setembro de 1898. Hoje fui um pouco mais ordeiro do
que ontem, mas nã o exatamente como deveria; por exemplo, nã o posso
dizer se iz a visita. Hoje tenho sempre diante dos olhos a igura sagrada
do meu pá roco e, vendo a enorme diferença entre ele e eu, nã o me sinto
feliz. Quem sabe se este exemplo luminoso, alé m dos benefı́cios que já
me trouxe, me excitará mais para a virtude, para o amor ao
pró ximo. Espero que sim; tanto era o que meu pá roco me amava. Se
alguma vez vier a mim a inspiraçã o para fazer alguma morti icaçã o, nã o
devo deixá -la escapar; Vou oferecê -lo a Deus para o descanso eterno
desta alma abençoada. Esse sacrifı́cio nã o é nada comparado ao que o
bom sacerdote fez por mim. Meu Deus, nã o nos deixe ó rfã os.
Sábado, 1º de outubro de 1898. Hoje, quase nenhuma das oraçõ es; Visita
pode-se dizer que nã o iz, e a razã o é esta: que Jesus me parece um
estranho. Meu grande mal, como observei novamente, é o pouco re lexo
e a pequena presença do espı́rito. Se pensasse um pouco mais nos
propó sitos que faço continuamente, se izesse o exame particular e
geral segundo as normas que escrevi e que li amplamente no Pe.
Rodrı́guez, nã o há dú vida de que faria um passo adiante e observe-
o; mas sou como um caracol, nã o me sinto absolutamente à toa.
Portanto, é necessá rio mais vigor. Amanhã recomeçarei, buscando
primeiro a perfeiçã o nas prá ticas de piedade, especialmente na
visitaçã o e no rosá rio, e també m tomando cuidado para nã o falar bem
de ningué m, embora os defeitos sejam mais do que evidentes. E tudo
farei també m por Maria, e Maria do Rosá rio me ajudará a tudo; ela que
é poderosa e terrı́vel como um exé rcito em ordem de batalha. Senhora,
salve-me.
Notas espirituais no retiro mensal após a morte do pároco padre
Francisco Rebuzzini, sinal sagrado da minha infância e da minha vocação
21 de outubro de 1898. Ainda tenho treze dias de fé rias. Faze-me
comportar-me neles como aquele seminarista que sempre quis ser, sem
nunca ser. Sinta-se encorajado pelos exemplos do meu amado e
pranteado pá roco, por quem imploro a gló ria e a paz eternas. Dá -me a
graça de que posso fazer bem estas duas coisas: a visita e o rosá rio. Os
outros virã o sozinhos. Jesus Eucaristia, para quem quiser consumir-me
com amor, manté m-me sempre unido a ti; que meu coraçã o esteja
pró ximo ao seu; Eu quero ser o apó stolo Joã o com você . O Maria do
Rosá rio, manté m-me reunido na recitaçã o desta oraçã o; liga-me para
sempre, atravé s do rosá rio, ao meu Jesus Eucaristia. Viva o amor de
Jesus, viva a Virgem Maria Imaculada.
24 de outubro de 1898. Hoje, de modo geral, nã o tem sido nada
ruim; mas se tivesse havido mais ejaculaçã o, nã o teria sido demais. No
rosá rio e na visita, parece-me que iz o que podia, apesar de as
distraçõ es nã o faltarem. Acredito que pode garantir, em grande medida,
o sucesso das prá ticas de piedade a preparar antes. Jesus e Maria,
proteja-me sempre.
Terça-feira, 25 de outubro de 1898. As coisas també m nã o foram ruins
hoje, e agradeço a Jesus por isso. Que prazer viver sempre assim. Mas
tome cuidado para nã o se gabar. Nã o tenho nada de bom; meus ú nicos
bens sã o os pecados. Hoje é celebrada a festa de Santa Margarita
Alacoque. Se ela també m pudesse ter a devoçã o, o amor que tinha pelo
Sagrado Coraçã o de Jesus. Hoje, há trinta dias, a alma sagrada do meu
querido pá roco passou para o paraı́so. Deus te dê descanso eterno e te
recompense com a gló ria dos santos.
Quarta-feira, 26 de outubro de 1898. Embora nã o tenham faltado bons
votos, talvez hoje nã o tenha sido inteiramente bem-sucedido. Nada
extraordiná rio. Deus me impeça de perder tempo com o que é
bom. Entã o, entã o, observarei mais lembranças, especialmente pela
manhã , quando me vestir; Serei um pouco mais severo em nã o deixar o
tempo passar inutilmente e prestarei, acima de tudo, muita atençã o à s
minhas palavras, sejam elas quais forem. Oh, meu bom Sã o José , você
també m faz algo que você pode fazer tanto diante de Deus e de Maria.
Quinta-feira, 27 de outubro de 1898. O recolhimento sempre e em tudo é
a minha salvaguarda. As vezes ico um pouco distraı́do e demoro para
me recompor em minhas prá ticas de piedade. Se eu pudesse encontrar
algo para fazer para que eu pudesse fazer o tempo passar um pouco
melhor, isso seria ó timo e eu correria menos risco de ser
distraı́do. Fique sempre de olho nas palavras, desde que nã o sejam
totalmente eliminadas e, digamos com clareza, desde que nã o sejam
escrupulosamente eliminadas ao lidar com outras pessoas, ou
procedam com excessiva impaciê ncia. Resumindo, é preciso humildade,
profunda humildade, caso contrá rio, eu construo na areia. Meu Jesus,
tem piedade de mim.
Sexta-feira, 28 de outubro de 1898. Preciso de um tapa forte no pulso. Já
faz duas tardes que mal faço a visita, mas dura um tempo decente. Nã o
tenho culpa, porque a obediê ncia criou um compromisso para mim em
outro lugar, mas se eu atendesse à inspiraçã o que à s vezes vem de fazer
esta visita um pouco mais cedo, nã o haveria nada do que me
arrepender. Alé m disso, outra coisa que amanhã e sempre devo fazer
com mais atençã o é a recitaçã o do ofı́cio de Maria, o que iz hoje
distraidamente. Vá em frente, vamos esperar que Maria també m faça
algo. De resto, preste atençã o à s palavras e à s exclamaçõ es. Jesus, tenha
piedade.
Sábado, 29 de outubro de 1898. Vejo que a memó ria do meu beato
pá roco talvez me distraia um pouco, como aconteceu na visita e no
rosá rio. Por outro lado, é necessá rio que eu abandone tantas palavras
inú teis, conversas nas quais me enredo à tarde com meus irmã os e
irmã s. Alé m disso, preciso fazer um esforço para elevar minha mente a
Deus com mais freqü ê ncia do que estou acostumada. Pobre de
mim. Com um pouco mais eu me vejo de volta aos mesmos passos de
antes. Humildade, portanto, e descon iança de mim mesmo, que,
sozinho, nada posso fazer. O Jesus, na comunhã o de amanhã , queime
meu coraçã o para que eu possa te amar perenemente, mas com o amor
dos santos.
Domingo, 30 de outubro de 1898. Hoje cometi uma ofensa grave que me
fez perder os momentos mais preciosos de comunhã o, e talvez també m
tenha causado danos a outras prá ticas de piedade, e foi a distraçã o
assim que me levantei da mesa, cama e nã o me pegar imediatamente
assim que cheguei à igreja. Esse fato merece ser lembrado. Outra coisa
que me assusta é ser tratado com aquela seriedade de raciocı́nio e de
atos com que os padres sã o tratados. Pobre de mim. E eu nã o percebo
que é tudo fumaça do diabo. Se eu apenas entendesse que isso vem de
se comportar com toda a prosopopé ia de um padre e nã o com a
simplicidade e a pequenez de um seminarista. Se ao menos eu
entendesse que tudo isso tem sua origem no meu amor-pró prio.
Segunda-feira, 31 de outubro de 1898. Para dizer a verdade, há uma
diferença discretamente perceptı́vel entre hoje e segunda-feira
passada. Mais claro: quando vou a algum lugar, nem consigo icar
sempre unido a Deus. Eu me afasto do mal, mas nã o faço o bem. E raro
que, em tais circunstâ ncias, eu nã o tenha de me arrepender de
algo. Hoje, por exemplo, as ejaculaçõ es podiam ser contadas nos
dedos. O exame especı́ ico voou. Eu rezei o ofı́cio da Virgem
distraidamente, e o rosá rio mais ou menos o mesmo. Alé m disso, esta
noite aconteceu o que eu já lamentei outras vezes, parei de falar
demais, em conversas bobas, em vez de me retirar. E nã o sei, talvez, que
també m terei de prestar contas a Deus por isso? Esperemos que o que
iz na segunda-feira passada e nã o iz hoje, possa repetir amanhã , Dia
de Todos os Santos, começando com uma boa comunhã o. Santos de
Deus, intercedei por mim, preparai-me para o novo ano de felicidade
seminarista.
Terça-feira, 1 ° de novembro de 1898. Hoje, com relaçã o à s prá ticas de
piedade, as coisas nã o vã o muito bem; e creio que estou
su icientemente desculpado por ter tido que fazer companhia, por
razõ es de conveniê ncia, aos padres da casa do pá roco. Mas no meio
desta distraçã o, encontro-me, até certo ponto, satisfeito com este dia,
porque me parece que nã o caı́ naqueles defeitos de orgulho, de
presunçã o, como aconteceu outras vezes em circunstâ ncias
semelhantes. Por enquanto, vamos nos humilhar e bendizer a Deus e
orar. Este nã o é o primeiro e o ú ltimo dia que meu velho amigo, o amor-
pró prio, o desejo de desempenhar um papel aé reo, de tornar-me sá bio,
podem ser colocados à prova e dar bons resultados.
E visto que algo també m in luenciou a comunhã o nesta manhã . Deo
gratias . Esta tarde comecei o dia dos mortos e fui dominado pela
tristeza. O Dia de Finados traz à mente a igura amada do meu pá roco. E
impossı́vel expressar todos os pensamentos. Amanhã será um dia de
sufrá gio especial para sua alma abençoada, cuja proteçã o contı́nua
sinto sobre mim quando olho para o meu amado Senhor, e já aqui na
terra, o primeiro benfeitor, Cô nego Morlani. Que minhas oraçõ es
forneçam à sua alma, se você precisar, o má ximo benefı́cio; a ele que,
mesmo na vida apó s a morte, zela por mim e me protege como se eu
ainda vivesse. Estes votos para o meu pá roco servirã o para aumentar a
minha devoçã o ao Santı́ssimo Sacramento, devoçã o admiravelmente
ligada à oraçã o pelos defuntos. Amanhã , portanto, aplicarei a nova e
extraordiná ria indulgê ncia plená ria, concedida pelo Papa por ocasiã o
do presente nono centená rio da comemoraçã o de todos os ié is
falecidos (998-1898), para a alma do meu pá roco que descanse. em paz.
Quarta-feira, 2 de novembro de 1898. Devo censurar-me por ter perdido
um pouco de tempo inutilmente, bem como por nã o ter esbanjado as
ejaculaçõ es. E preciso també m que na meditaçã o eu lute contra o sonho
e nã o me deixe abandoná -lo, como esta manhã . Jesus, misericó rdia para
mim e paz para os mortos.
Quinta-feira, 3 de novembro de 1898. Passei o dia da viagem e, portanto,
correu normalmente. Especialmente em conversas, à s vezes ico
ressentido com alguma negligê ncia que pareço receber; E tudo isso é
excelente, excelente qualidade. Alé m disso, tenho ejaculaçõ es bastante
curtas. Meu Deus, tem pena de mim por querer te amar. Amanhã é a
primeira sexta-feira do mê s e, portanto, o dia da reparaçã o ao Coraçã o
de Jesus. Ah, se o meu fosse uma verdadeira reparaçã o das minhas
ofensas. Jesus, por que nã o deveria ser, se você me ajudar?
Sexta-feira, 4 de novembro de 1898. Nã o tã o ruim quanto ontem, embora
tenha me distraı́do muito na meditaçã o, um pouco també m no rosá rio,
por isso devo buscar mais recolhimento, principalmente pela
manhã . També m serei recolhido para alcançar, tanto quanto possı́vel,
aquela mansidã o que à s vezes me falta em vá rias ocasiõ es e que é muito
necessá ria para progredir na virtude e fazer um grande bem à s
almas. Jesus, Maria, Sã o Carlos.
Sábado, 5 de novembro de 1898. Com o passar do tempo, vejo o amor de
Jesus mais do que a ingratidã o dos homens e, principalmente, do
meu. Quantos defeitos, quantas falhas, quã o poucas lembranças, quã o
poucas morti icaçõ es no sá bado. Sou bom em imaginar virtudes, mas
nã o em praticá -las. A respeito disso, só tenho pretensõ es. Tem
misericó rdia de mim, o maior dos pecadores; nunca me deixe. Amanhã
é o ú ltimo dia de fé rias e quero, Deus me ajude, comportar-me bem a
todo custo. O rosá rio, ó rosá rio, Santı́ssima Virgem, permite-me rezá -lo
como Sã o Joã o Berchmans.
Domingo, 20 de novembro de 1898, aposentadoria. Nestes dias de
seminá rio tenho estado muito alegre, de forma que a mente voou como
uma borboleta, negligenciando assim o que merece a maior
importâ ncia. Daı́ as distraçõ es, principalmente na vé spera; daı́ a falha
em manter o silê ncio adequadamente durante as aulas. En im, mesmo
que tenham cumprido substancialmente as regras do seminarista,
sempre lhes falta aquele sal, aquela perfeiçã o que os torna mais belos,
mais agradá veis a Deus e mais meritó rios. Sou como uma pintura da
qual, embora tenham sido removidas as manchas que a tornavam mais
irreconhecı́vel, ainda está coberta por uma camada de pequenos grã os
de poeira, que envolve a pintura como uma sombra e a torna
desagradá vel de olhar. Posso dizer que estou no mesmo estado
daquelas pinturas antigas e abandonadas. E entã o, como posso me
surpreender por nã o sentir em mim a in luê ncia contı́nua da graça, o
ardor da caridade, se essas minhas pequenas negligê ncias sã o um
obstá culo para ela?
Portanto, preciso fazer o que normalmente se faz com as pinturas
citadas, quando se quer devolvê -las ao seu estado, para que pareçam
belas como quando saı́ram das mã os do pintor. Uma boa lavagem com
ó leo, esse é o remé dio, se nã o quiser que iquem irreconhecı́veis. Sim, é
preciso repelir todas essas minhas imperfeiçõ es. E vou consegui-lo com
o recolhimento desde a manhã , ao acordar, e nã o dando mais alegria,
senã o termina em tolice. Cuidado com as palavras sobre os outros e,
especialmente, faça julgamentos sobre fulano ou mengano. E
exatamente aı́ que o amigo sai.
Quanto ao resto, ejaculaçõ es interminá veis e visitas fervorosas, exames
severos. E visto que o bom Jesus me enviou mais um infortú nio com a
morte do meu bom diretor, vou impor-me o dever de con iar
frequentemente ao Senhor esta alma boa juntamente com a do meu
pá roco, para que estas duas pessoas, que o conheceram a minha
consciê ncia, os meus defeitos, con iam-me a Jesus e a Maria, e alcança-
me a humildade, o amor ardente por Jesus e por todas as almas
redimidas com o seu santo sangue. Jesus, Maria e José , meus doces
amores, que ele viva, sofra e morra por você s.
Segunda-feira, 28 de novembro de 1898. Quanto ao primeiro capı́tulo
que me arrependi no domingo passado, ou seja, a alegria excessiva,
parece-me que o remediei, embora nã o totalmente. Mas, no inal, é
sempre melhor estar feliz do que triste. A visita, como um todo,
també m nã o foi tã o ruim, e Deus seja louvado por isso. Mas ainda há
muitas coisas a corrigir e, infelizmente, també m a eliminar: distraçõ es
na oraçã o, descuido e nã o valorizar as pequenas coisas, algumas
palavras durante a aula, nã o me acostumar com os colegas que, como
monitora, me sã o con iados; nã o me acostumando, direi, a falar, sempre
andando por aı́ conversando com os outros monitores. E assim que
muitas coisas boas.
Noite de quinta-feira, 8 de dezembro de 1898. Viva Maria Imaculada. O
ú nico, o mais belo, o mais sagrado, o mais agradá vel a Deus de todas as
criaturas. O Maria, você me parece tã o bonita que, se eu nã o soubesse
que só Deus deve receber a maior honra, eu a adoraria. Você é linda,
mas quem pode dizer o quã o boa você é ? Já faz um ano que me
concedeu aquela graça de que sabe muito bem o pouco que eu merecia,
e neste mesmo dia me lembra disso com a mais viva insistê ncia,
lembrando-me també m dos deveres, tã o doces, poré m, que o
acompanhada e que tive a honra de assumir. Mas, infelizmente, nem
sempre retribuı́ o seu amor, nem sempre fui como você estava
comigo. Olhando para mim, entendo muito bem como deve ser depois
de um ano, e como nã o sou. Sempre fui um pouco louco, um pouco
tonto, especialmente nos ú ltimos dias. Essa é toda a minha virtude.
Jesus parece ter se distanciado um pouco de mim, porque eu me
distanciei dele. Preciso de uma grande recordaçã o, pronunciando
ejaculaçõ es frequentes. Estamos sempre na mesma. També m é
necessá rio que eu dê grande importâ ncia à s pequenas coisas, palavras,
pensamentos, etc., evitando que eu peque levianamente, o que me
prejudicaria duplamente.
O Maria, visto que nã o tenho sido como deveria, visto que me recordas
mais vivamente do que nunca dos meus deveres especiais, manté m-me
sempre nestas disposiçõ es, isto é , com o maior fervor de espı́rito para
fazer o bem. Mais uma vez me consagro a você , minha mã e; dá -me um
pouco daquele bom gosto, desse requinte pelo bem que tanto me falta e
que tanto melhoraria o meu trabalho. Que meus pensamentos voem
para você muitas vezes, que minha boca fale de você e meu coraçã o
suspire por você . Acima de tudo, con io-lhe este assunto que bem
conhece; você me entende: torna-me humilde, e eu serei santo; torne-
me muito humilde e serei muito santo. Consagro-te as pequenas
morti icaçõ es que, com a tua ajuda, me proponho a fazer. Peço-lhe que
esteja sempre ao meu lado na piedade e també m no estudo; ilumine
minha mente sobre as verdades que dizem respeito a você e a seu
ilho. En im, ó grande Mã e Imaculada, apresente-me a Jesus, objetivo
ú ltimo dos meus afetos; atrai-me inteiramente para Jesus, ajuda-me a
enlouquecer de amor por ele. Assim seja.
Domingo, 18 de dezembro de 1898, aposentadoria. Até a Imaculada,
deixei muito a desejar; da Imaculada, menos. Obrigada de todo o
coraçã o, Maria. O que mais preciso hoje em dia é o recolhimento, com
muitas oraçõ es e muito cuidado na meditaçã o, na missa, na visitaçã o e,
principalmente, no exame. Quanto ao resto, humildade e muito
grande. no pequeno. Meu coraçã o, minha mente, deve estar mergulhado
no pensamento, no amor do Menino Jesus. Oh Jesus, faça-me pequeno
como você ; você sabe o quanto eu quero.
Máximas tiradas de meditações nos EUA
1. Deus é meu grande dono, que com uma bondade sem precedentes me
tirou do nada para louvá -lo, amá -lo, servi-lo e buscar sua honra. Sou,
portanto, uma coisa totalmente de Deus e nã o posso e nã o devo fazer
mais do que Deus quer, o que serve para sua gló ria. Portanto, todas as
minhas açõ es, todos os meus pensamentos, todas as minhas
respiraçõ es devem tender apenas para isto: Para a maior gló ria de
Deus. Conseqü entemente, quando busco apenas minha pró pria honra,
quando satisfaço meu amor pró prio, traio os desı́gnios de Deus, saio do
caminho, torno-me um homem inú til, rebelde ao meu bom Senhor, e
rejeito a recompensa que ele me deu. preparado. Que ferimento
hediondo para o Coraçã o de Jesus, abandoná -lo assim, usar tã o mal os
dons que ele me deu para amá -lo e fazê -lo ser amado. Os pá ssaros do ar,
os peixes da á gua, as feras, os animais de toda a terra servem ao Senhor
muito melhor do que eu. Que pena para mim, tã o cheio de mim mesmo,
permitir-me ser superado pelas feras no louvor ao Criador.
2. Quando tenho a oportunidade de me elevar acima dos outros, de
agradar meu amor-pró prio, eis um bom remé dio que me curará , que me
humilhará : pense em como sou um grande pecador, de que nã o sou
digno apareça diante de mim Jesus, que deve agradecer ao Senhor e
considerar uma honra ser tratado como o ú ltimo, nã o direi dos meus
companheiros, mas de todos os homens.
3. Eu sou um seminarista. Portanto, devo sempre lembrar que qualquer
falta, mesmo que mı́nima, em mim é sempre muito grave, e devo evitá -
la como se fosse um pecado mortal, do qual eu nem deveria saber o
nome. Devo, acima de tudo, pensar que nenhuma açã o minha foi jamais
isenta dessas falhas. Onde está o bom seminarista que pensei ser? Que
bom golpe para minha auto-estima.
4. Eu sou um seminarista. Portanto, devo estar com Deus como um
anjo. Que feliz coincidê ncia. A Providê ncia Divina quis fazer-me
conhecer este dever, ordenando que fosse baptizado com o nome de
Anjo. Mas que pena para mim, ser sempre chamado de anjo, deveria ser
um anjo no meu comportamento, e nunca ter sido realmente. O nome
Anjo, portanto, deveria ser um incentivo para que eu fosse um
verdadeiro anjo seminarista. Por isso, quando ele me ouvir ser
chamado por esse nome, devo fazer com que esse nome desperte em
mim a ideia da perfeiçã o a que devo chegar e me obrigar a fazer um ato
de humildade, pensando no que sou chamado e em que Realmente sou,
tudo o oposto de anjo.
5. Meu Deus, que corpo é esse que tanto mimo? Pre iro perguntar:
mimo este corpo, este saco de podridã o, este viveiro de vermes, e por
defendê -lo ofendendo a Deus? Quã o estú pido, quã o estú pido. Enquanto
isso, a alma? Pobre alma. Portanto, me gabo de ser um homem sá bio,
um homem prudente. Meu amigo, é preciso abaixar essa cabeça tã o
cheia de fumaça, é preciso que você se sinta vil, senã o você vai andar à s
cegas e cair.
6. Belo pensamento. Um anjo do paraı́so, nada menos, está sempre ao
meu lado e ao mesmo tempo é arrebatado por um contı́nuo ê xtase de
amor com seu Deus. Que delı́cia só de pensar nisso. Portanto, estou
sempre diante dos olhos de um anjo que me guarda, que intercede por
mim, que zela por minha cama enquanto durmo. Que pensamento, mas,
ao mesmo tempo, que rubor para mim. Como posso ter certos
pensamentos arrogantes, dizer certas palavras, executar certas açõ es
aos olhos do meu anjo da guarda? E ainda sim. O Espı́rito que me
acompanha, roga a Deus por mim, para que eu nã o faça, diga ou pense
coisas que possam ofender os seus olhos mais puros.
7. Se nesta vida me sinto envergonhado e nã o sei como me apresentar a
um superior que está simplesmente um tanto insatisfeito comigo, com
minhas açõ es, que terror devo sentir pensando que terei que me
apresentar diante de Deus, irado contra mim, diante de meu Criador,
meu Pai, meu Jesus, quem entã o nã o será mais meu amigo, mas meu
inimigo irado? Meu anjo da guarda? O que minha mã e Maria dirá
quando Deus me condenar? Pobre anjo, pobre mã e. Todas essas coisas
eu acredito; Poré m, quando nã o me comporto como deveria, tenho que
suportar as repreensõ es dos superiores e muito mais as terrı́veis
repreensõ es de Deus. Que absurdo. E preciso compreendê -lo de uma
vez por todas com Sã o Paulo: Se nos examinássemos, não seríamos
punidos (1Cor 11,31).
8. Devo estar convencido para sempre desta grande verdade: Jesus nã o
quer de mim, seminarista Angel Roncalli, apenas uma virtude medı́ocre,
mas absoluta; Ele nã o icará feliz comigo enquanto nã o me izer, ou pelo
menos eu nã o me dedico com todas as minhas forças para me tornar
um santo. Sã o tantas e tã o grandes as graças que ele me concedeu para
este im.
1899
Notas espirituais
15 de janeiro de 1899, retiro mensal. A morte de meu amado diretor
Isacchi, conhecendo um novo diretor, embora nã o tenham alterado
muito a maneira como as coisas estã o indo, produziu algumas pequenas
mudanças; Por exemplo, o novo diretor certamente nã o me conhece
como Isacchi me conhecia; portanto, ainda nã o tenho a intimidade que
tinha antes; mas será necessá rio dar tempo a tempo, e as coisas vã o dar
certo. Quanto a colocar minhas coisinhas por escrito, como venho
fazendo desde o ano passado até o mê s passado, parece que o novo
diretor nã o leva muito calor, como o outro. Em suma, pensa-se que é
melhor de uma forma e de outra de outra. E assim que a lagoa é
compreendida desde a ú ltima data até hoje. O pensamento da morte,
reavivado pelo recente luto do seminá rio pela morte do diretor Isacchi
e ultimamente renovado pela morte do meu amado reitor, Sr. Jacinto
Dentella - que Deus o tenha em sua gló ria e o acolha na companhia de
meu lamentado pá roco e do diretor Isacchi—, isso me abalou
fortemente.
19 de março de 1899, retiro mensal. E o dia do meu Sã o José ; Como nã o
retomar o há bito de colocar meus pensamentos por escrito, há bito
interrompido de janeiro até hoje, nã o sei se é minha culpa ou de
algué m? Como nã o nomear Sã o José ?
16 de abril de 1899, retiro mensal. Sempre que percorro estas poucas
pá ginas e chego ao inal ico envergonhado de mim mesmo, visto que
em trê s meses cumpri muito mal o propó sito feito nos EUA do ano
passado, 1898, de colocar por escrito alguma re lexã o a respeito do
estado de minha consciê ncia. Como se viu pela ú ltima vez, estava
apenas começando a escrever quando soou o im do retiro, deixando
tudo truncado para que nã o pensasse mais no assunto. Voltando agora
das fé rias da Pá scoa, neste dia de retiro quis retomar este meu ú til
há bito que, com a ajuda de Deus, espero nã o voltar a interromper.
Hoje recolhi um pouco; mas o que eu digo coletado? Aqui começam as
faltas. Ele deveria ter me buscado, mas eu nã o fui capaz de fazer isso,
exceto apenas até certo ponto. Sou bom em sugerir aos outros como
fazer a coisa certa, mas nã o sou bom em colocá -lo em prá tica. Portanto,
a partir de agora, principalmente no que diz respeito ao recolhimento,
nunca direi nada em cujo exercı́cio nã o possa servir de modelo aos
outros, como é meu dever. Darei especial atençã o à recitaçã o do Ofı́cio
da Virgem Maria, e muito especial ao rosá rio, porque a esse respeito,
nos ú ltimos dias, deixei muito a desejar. Outra coisa de que preciso, e
que pode me ajudar muito, é o exercı́cio contı́nuo de ejaculaçõ es
frequentes. Com eles, minha mente estaria sempre em Deus, e portanto
sempre presente em si mesma, e assim nã o correria o perigo, como
talvez tenha acontecido, de falar inutilmente dos outros, quando nã o se
pode falar sem apontar seus defeitos, de argumentar sem uma certa
circunspecçã o. Eis, pois, trê s coisas que considero consequê ncia e fruto
deste retiro: rosá rio, oraçõ es e discriçã o, cuidado nas conversas para
nã o falar mal dos outros inutilmente.
De resto, quanto a me mostrar simples demais, cré dulo em coisas sem
importâ ncia e, assim, dar oportunidade de ser ridicularizado pelas
minhas costas, nã o posso deixar de me alegrar, vendo assim minha
auto-estima de alguma forma humilhada e, portanto, me considerando
semelhante, embora de uma forma verdadeiramente insigni icante, ao
bom Jesus, que foi tratado como louco. Se ele me permitisse
enlouquecer de amor por ele. Portanto, eu nã o me importaria com o
resto.
Por im, no que diz respeito à s preocupaçõ es familiares, renovadas
sobretudo nestes dias de fé rias, coloquei todas elas no bendito Coraçã o
de Jesus, meu ú nico amor. Ele sabe que nã o desejo minha pró pria
riqueza e prazer, mas apenas paciê ncia e caridade. Ele sabe que, se
sinto pena, sinto pena apenas pela falta dessas virtudes neles. Que ele
me dê a graça de ver todos você s um dia no paraı́so, e tudo o que você s
quiserem pode acontecer agora; Vou me resignar a tudo para a maior
gló ria de Deus e na satisfaçã o dos meus pecados. Oh Jesus, que eu
morra de amor por você .
Segunda-feira, 24 de abril de 1899. Esta semana nã o tenho estado nada
mal, principalmente no que se refere ao recolhimento nas prá ticas de
piedade, pelas quais devo agradecer muito a Deus e pensar que, no que
depender de mim, nã o o farã o. ser coisas duradouras, tã o fraca e magra
que sou. O que mais devo experimentar é uma piedade interior, da qual
a exterior é apenas um vestido; piedade que se transforma em
verdadeira humildade, da qual tenho grande necessidade. Por isso,
prestarei mais atençã o em me morti icar, principalmente no
entendimento, para me unir mais intimamente a Deus por meio de
ejaculaçõ es muito freqü entes, e assim poder me preparar melhor para
o pró ximo mê s de maio. Assim seja.
Domingo, 7 de maio de 1899. O mê s mariano já começou há poucos
dias; e ainda preciso de recolhimento, especialmente na meditaçã o, no
rosá rio e assim por diante. Em coisas piedosas, ele pode ser um pouco
poé tico demais. De resto, parece-me que as coisas nã o vã o mal, e
agradeço a Deus e a Maria por isso. No ano passado, no mê s de maio,
pedi a Maria duas coisas: humildade e amor. No inal do mê s fui ouvido
e tive a oportunidade de exercitar ambos. Este ano eu começo de novo e
espero que Nossa Senhora me escute també m. Ela é tã o boa. Para dizer
a verdade, é difı́cil me humilhar, mas espero que seja um trabalho que
valha a pena. Tudo está em fazer com impulso, desde o inı́cio. Jesus,
Maria, você já sabe que eu quero agradar e amar você .
Segunda-feira de Pentecostes, 22 de maio de 1899, retiro. Senhor, me
perdoe, eu sou o maior pecador. Que mais posso dizer? Goste ou nã o,
devo confessar. Este é o pensamento que pode curar todos os meus
males. Nestes dias, embora, graças a Deus, nã o tenha me dado a uma
vida relaxada e muito calorosa, ainda assim a imaginaçã o trabalhou
muito, com o consequente prejuı́zo ao entendimento, que, embora nã o
tenha sido totalmente unido ao imaginaçã o e até tentou contê -lo,
poré m, nã o há dú vida de que terá sido in luenciado. A festa em
homenagem ao meu novo pá roco, os versos que escrevi para esta
ocasiã o, depois os ordenados, as secretas aspiraçõ es do amor pró prio,
ai quanto azeite ao meu orgulho. Olho para a imaginaçã o. Graças a
Deus, parece-me que o entendimento nã o aderiu a ele, mas també m o
entendimento nã o se sentiria mal por ser humilhado. De vez em
quando algué m me humilha e, por acreditar que nã o estou ofendido, me
faz sangrar. Estes sã o os tempos para icar quieto e se alegrar. Eles
dizem e acreditam que sou simples. Pode ser, mas o amor pró prio se
recusa a acreditar. Aqui está a beleza do jogo. Aqui tenho um bom
campo para me exercitar na paciê ncia, na morti icaçã o, para agradar a
Maria, minha bela Imaculada. Eu realmente nã o sei como me
expressar. O Espı́rito Santo, ó meu Jesus Eucarı́stico, ó Imaculado, você
conhece minhas necessidades, meus defeitos, meu desejo de aparecer,
minha necessidade de permanecer escondido, de me rebaixar, de ser
desprezado, e com todos esses defeitos meu desejo de amar, para me
tornar santo; Entã o me humilhe, cuide de mim, me torne
santo. Humildade e amor.

Domingo, 28 de maio de 1899. Felizmente; mas preciso ainda mais


recordaçã o, principalmente nestes ú ltimos dias do mê s de maio. Por
outro lado, fogo, fogo. E a semana do Corpus Domini , do meu Jesus
Sacramento.
1900
Impressões e re lexões dos EUA a partir do Ano da Graça, Seminário de
Bérgamo (fevereiro de 1900)
1. Quem sou eu? De onde venho? Onde vou? Eu nã o sou nada. Tudo o
que possuo, ser, vida, entendimento, vontade, memó ria, tudo me foi
dado por Deus, entã o tudo pertence a ele. Há apenas vinte anos, tudo o
que me rodeia existia: o sol, a lua, as estrelas, as montanhas, os mares,
os desertos, os animais, as plantas, os homens; no mundo, as coisas se
moviam ordenadamente sob os olhos vigilantes da Providê ncia
divina. E eu? Eu nã o existia Tudo correu seu curso sem mim, ningué m
pensava em mim, ningué m poderia ter uma ideia de mim, nem mesmo
em um sonho, porque eu nã o existia.
Meu Deus, num traço inefá vel do teu amor, tu que exististe desde os
primó rdios e antes dos sé culos, tu me tiraste do meu nada, me
comunicaste o ser, a vida, a alma, en im, todas as faculdades do corpo e
do espı́rito; você abriu minhas pupilas para esta luz que irradia seu
brilho ao meu redor, você me criou. Portanto, você é meu dono e eu sou
sua criatura. Nã o sou nada sem você , e para você sou tudo o que
sou. Sem você eu nã o posso fazer nada; Alé m do mais, se você nã o me
apoiasse em todos os momentos, eu voltaria para o lugar de onde vim,
para o nada. Isto é o que eu sou. E ainda assim me orgulho, presumo aos
olhos de Deus dos bens com que me banhou, como se fossem minhas
coisas. Oh, me engane. O que você tem que nã o recebeu? E se você o
recebeu, por que presume que nã o o recebeu? Deus me criou; e ainda
assim ele nã o precisava de mim; e a ordem do novo universo, o
ambiente que me cerca, ou seja, tudo existiria exatamente igual sem a
necessidade de mim.
Por que, entã o, acho que sou tã o necessá rio neste mundo? O que sou eu
senã o uma formiga, um grã o de areia? Por que, entã o, me considero tã o
grande diante de mim? Orgulho, orgulho, amor pró prio. Por que estou
neste mundo? Para servir a Deus. Ele é meu dono absoluto porque me
criou, porque preserva meu ser, portanto sou seu servo. Portanto,
minha vida deve ser inteiramente dedicada a ele, para cumprir sua
vontade; inteiramente e para sempre. Assim, quando nã o penso em
Deus, quando procuro minhas consolaçõ es, meu amor pró prio, meus
louvores, me falta um dever muito sé rio, torno-me um servo
desobediente. Entã o, o que Deus fará comigo? Senhor, afasta de mim os
raios da tua justiça e nã o me lances fora do teu serviço como
infelizmente mereço.
Servo de Deus . Que tı́tulo, que bela mansã o esta é . Nã o disseste, Senhor,
que o teu jugo é suave e o teu fardo é leve? Nã o está escrito em suas
escrituras que servir a você é reinar? Nã o é a maior honra para um
homem santo poder dizer dele que é um servo de Deus? E o vosso Sumo
Sacerdote, vosso Vigá rio na terra, nã o se orgulha do nome de servo dos
servos de Deus? Que alegria servir você , meu Deus. No entanto, esqueço
tã o facilmente esse dever. Que pena nã o servir a um mestre tã o justo,
tã o bom, tã o santo como você . Servir a Deus e depois ... O prê mio, a
pá tria, o cé u, o lindo paraı́so. Sim, paraı́so, paraı́so, essa é minha meta,
essa é minha paz, minha alegria. Paraı́so, onde você vê , onde meu Deus
é contemplado.
Senhor, te agradeço por este prê mio que preparaste para mim por
quatro dias de serviço; pela grande honra a que me destinastes. Eu sou
um peregrino na terra, eu olho para o cé u, meu im, minha pá tria,
minha casa. Oh baby, baby, você é linda e você é para mim. Nas
contradiçõ es, na amargura, no desâ nimo, este será o meu consolo:
alargar o meu coraçã o à bendita esperança e depois revirar os olhos e
pensar no cé u, no paraı́so. Esta é a prá tica dos santos, de Sã o Filipe
Neri, do meu Sã o Francisco de Sales, do Ven. Cottolengo que exclamava
sem parar: paraı́so, paraı́so.
Estas sã o as belas verdades que você , meu Deus, me ensinou; Eu,
infelizmente, os conheço, mas nã o os entendo. Nã o sou nada e me
considero um grande homem; Venho do nada e me orgulho desses dons
que pertencem a Deus. Devo servir ao meu Criador e, em vez disso, à s
vezes me esqueço disso, sirvo minha ambiçã o, meu amor pró prio. Sou
chamado ao paraı́so e só penso na gló ria do mundo. Que
contradiçã o. Senhor, posso compreender-te, como te pediu
Agostinho; que te conheço e me conheço, de maneira que te amo e me
desprezo. Senhor, ouve este cego que, quando passas, te clama, te roga
que o curas, tu que é s a luz dos meus olhos. Dê -me a luz, sim, deixe-o
ver.
2. Eu tenho uma alma. Que grandeza. Nã o sou uma pedra, uma planta,
um animal comum; Eu sou um homem, e um homem para a alma que
me vivi ica. Pela alma um raio da face divina brilha sobre mim, e pela
memó ria me torno semelhante ao Pai, ao Filho pelo entendimento, ao
Espı́rito Santo pela vontade. Mas nã o é só : a alma humana tem valor
in inito, sendo comprada com o sangue de um
Deus. Conseqü entemente, a alma de um selvagem é mais preciosa do
que todas as riquezas do mundo. Que valor. A alma está destinada a
desfrutar da mesma felicidade de Deus. Como entã o posso ousar
ofender esta alma linda com a pró pria beleza de Deus? Como posso
permitir que o pecado se torne semelhante aos animais, o escravo do
corpo que é dono dele? E ainda sim. Que humilhaçã o para mim. Por
meio da alma, as grandezas das perfeiçõ es divinas foram
manifestadas; na criaçã o, e muito mais na encarnaçã o, a sabedoria e o
amor de Deus brilharam em sua mais brilhante luz de onipotê ncia. Por
meio dela, Deus se submeteu aos tormentos, à pró pria morte. Por que
nã o me morti icar, nã o sofrer algo para cooperar na salvaçã o desta alma
que, a inal, nã o é alheia, mas minha?

3. Todos os homens na terra carregam a imagem de Deus; eles lhe


custaram uma dor imensa. E, no entanto, há muitos que nã o amam a
Deus, nã o o servem, pelo contrá rio, o atropelam e muitos nem mesmo o
conhecem. Aqui está o pensamento que deve despertar em mim
compaixã o por suas almas e deve acender em meu coraçã o o desejo
vivo de salvá -los també m e, se eu nã o posso fazer outra coisa, orar por
eles: considere como o sangue é inú til para eles Alé m disso, torna-se
causa de terrı́vel condenaçã o. Se todos os homens representam Deus,
por que nã o os amarei a todos, por que os desprezarei, por que nã o
serei respeitoso com eles? Esta re lexã o deveria impedir-me de ofender
meus irmã os de qualquer maneira: lembrando que todos eles sã o
imagem de Deus, e talvez sua alma seja mais bela e mais querida ao
Senhor do que a minha.
4. Sinto orgulho de mim mesmo, quase exijo as suas graças do Senhor; e
se faço algo bom, venho diante dele com a atitude de um fariseu ...
Mesmo assim, sou um pecador. Esse é o sentimento que deve sempre
me acompanhar quando entro na igreja e em todos os lugares. Eu sou
um pecador Portanto, nã o arrogâ ncia de palavras, nã o arrogâ ncia de
porte, mas olhos baixos, humildes de mente e coraçã o, afá veis com os
companheiros. Diante de Deus, entã o, minha conduta deve ser a do
publicano que, longe do altar, bate no peito dizendo: Meu Deus, tem
piedade de mim, sou pecador (Lc 18,13) e quando recebo graças e
consolaçõ es , Devo considerar todos esses dons como esmolas que Deus
me concede, sem me gabar deles, reconhecendo que nã o os mereço.
5. Todas aquelas belas idé ias de me honrar, obtidas com a ciê ncia, de
que servirã o para mim no momento da morte? Entã o, quando eles
vierem me atormentar, para inchar meu cé rebro, esta é a forma
abrupta, mas e icaz de expulsá -los: pense no momento da morte, nos
desejos que terei entã o e me pergunte: Qual é a utilidade disso para
mim? a eternidade?
6. Todas as minhas vaidades, todas as minhas distraçõ es nas prá ticas
devocionais, na meditaçã o, nos exames de consciê ncia, na recitaçã o do
ofı́cio da Santı́ssima Virgem, o rosá rio; todas as palavras, as saı́das
engenhosas pronunciadas apenas por um desejo secreto de ingir, de
mostrar direta ou indiretamente que estudei; todos os meus castelos no
ar, os castelos de cartas, os castelos da Espanha, todas as palavras ditas
em tempo de silê ncio, todas as inspiraçõ es rejeitadas: tudo, tudo ao
julgamento. Meu Deus, que medo, que acú mulo de pecados, que
confusã o para mim, que delicadeza sou quando se trata de estima, de
amor-pró prio. E, no entanto, pense bem, minha alma: ou sinta sua
cabeça agora, ou terá que se resignar a sofrer aquela humilhaçã o com
tudo o que virá depois. Coragem, pense bem nessa verdade, e antes de
repetir qualquer uma dessas falhas, faça bem a sua matemá tica para
nã o se arrepender, inutilmente, depois. Se nos examinássemos, não
seríamos punidos (1Cor 11,31)
7. O pensamento do inferno me apavora; nã o, eu nã o consigo
resistir. Parece-me quase impossı́vel, nã o consigo imaginar o meu Deus
com tanta raiva de mim que me afasta de si mesmo, depois de tanto me
ter amado. No entanto, é uma verdade muito certa. Se nã o luto contra
meu orgulho, minha arrogâ ncia, meu amor-pró prio, o inferno me
espera, infeliz de mim. E verdade, amado Jesus, que nã o posso mais te
amar? Você nã o consegue mais ver seu rosto? Me ver jogado para longe
de você ? Espero que isso nã o aconteça; mas poderia acontecer,
portanto, devo sempre viver com medo e tremendo, e assim trabalhar
pela minha salvaçã o. Trabalhe pela sua salvação com profunda
observância (Fp 2:12). E por enquanto, nã o será sem propó sito me
lembrar sempre do inferno, seja com a visã o de objetos externos ou
com modi icaçõ es. Eu vejo o fogo? Pois isso, comparado ao fogo do
inferno, nada mais é do que uma pintura. Estou com dor de dente, estou
ardendo de sede, tremo de frio, estou atormentado pela
febre? Morti iquemo-nos: o inferno é o lugar de todos os tormentos; no
inferno os condenados serã o assados, queimados como carvã o na
fornalha; no inferno haverá choro e ranger de dentes (Mt 8,12). No
inferno, você nã o será capaz de mover um dedo; E por que nã o posso
fazer uma oraçã o que conheço, o rosá rio, as vé speras, sem vacilar? No
inferno, haverá gritos agudos que irã o atordoar; E por que nã o aguento
um boato que me incomoda? No inferno haverá fome canina, e por que
nã o posso me abster de um pedaço mais requintado? No inferno
teremos que suportar a companhia dos condenados e dos demô nios; e
por que nã o sofrer com calma a presença de quem nã o é simpá tico
comigo? Nã o mereço o inferno mil vezes? E nã o poderei merecer de
novo?

Meu doce Jesus, ouça meu apelo. Envie-me, eu imploro, todos os tipos
de doenças nesta vida; pregue-me na cama para sempre; reduza-me ao
estado do leproso na selva; carregue meu corpo aqui com todas as
dores mais torturantes, aceitarei tudo em penitê ncia por meus pecados,
e serei muito grato; mas, por caridade, nã o me mandes para o inferno,
nã o me prives do teu amor, de poder contemplar-te por toda a
eternidade. Sim, Jesus, quero dizer isso para você .
8. Terrı́veis sã o, meu Deus, os decretos da tua justiça, e só de os
imaginar eu estremeço de terror. Mas quem, quem pode medir a
profundidade de sua misericó rdia? Portanto, quem quiser seus outros
atributos divinos, exalte sua sabedoria, louve seu poder, eu de minha
parte jamais deixarei de cantar suas misericó rdias. Cantarei
eternamente a misericórdia do Senhor (Sl 88,2). Nã o está a terra cheia, ó
doce Jesus, da tua misericó rdia?: A terra está cheia do amor do
Senhor (Sl 32,5). E a tua misericó rdia nã o está no cé u e acima de todas
as tuas outras obras?: Mas o teu amor, Senhor, chega ao céu, e a tua
idelidade às nuvens (Sl 35,6). E nã o é s tu o Pai das misericó rdias e Deus
de todas as consolaçõ es ?: Pai das misericórdias e de todas as
consolações (2Cor 1,3). Você nã o disse que nã o quer sacrifı́cio, mas
misericó rdia? Eu quero misericó rdia e nã o sacrifı́cio. E eu miserá vel
pecador, nã o sou uma maravilha, um protegido de sua misericó rdia? Eu
sou a ovelha perdida e tu é s o bom Pastor que, solı́cita, ansiosamente
correu à minha procura, acabou por me encontrar e, depois de mil
carı́cias, carregou-me nos teus ombros e levou-me ao redil. Eu sou
aquele infeliz que no caminho de Jericó foi atacado por ladrõ es,
espancado, ferido, despido e reduzido ao extremo; e tu, o compassivo
samaritano que me devolveu a vida, derramou-me o vinho, ou seja,
izeste-me compreender aquelas verdades terrı́veis que me sacudiram
do meu torpor, ungiste-me com o bá lsamo das tuas consolaçõ es, numa
palavra: você me fez participar da generosidade do seu bom coraçã o. Eu
sou, infelizmente, o ilho pró digo que dissipou todas as suas riquezas,
dons naturais e sobrenaturais, e fui reduzido à condiçã o mais
lamentá vel, por fugir de ti que é s a Palavra para a qual todas as coisas
foram feitas, sem a qual todos as coisas estã o ruins, porque nã o sã o
nada. Tu é s o Pai mais amoroso que me recebeu com alegria quando,
percebendo o meu erro, decidi voltar para a tua casa, voltei a procurar
refú gio na tua sombra, nos teus abraços. Você me acolheu de volta como
um ilho, você me admitiu de volta à sua mesa, para sua felicidade, você
me chamou mais uma vez de participante da sua herança. Que digo? Eu
sou o discı́pulo pé r ido que te traiu, o presunçoso que te negou, o vil
que zombou de ti; o cruel que te coroou de espinhos; Chicoteei-te,
carreguei-te com a cruz, insultei as tuas dores atrozes, dei-te uma
bofetada, dei-te bı́lis e vinagre para beberes e, impiedoso de minha
parte, perfurei-te o coraçã o com uma lança fria. Tudo isso e muito mais
iz com meus pecados. Oh, que pensamento humilhante para mim. Um
pensamento que, à força, deveria arrancar de meus olhos as lá grimas
mais amargas de arrependimento. Tu é s o meu bom Jesus, o cordeiro
manso que me chamou de amigo, olhou para mim com amor no meu
pecado, abençoou-me quando o amaldiçoei; na cruz você intercedeu
por mim, e do coraçã o traspassado você trouxe uma fonte de sangue
divino que me lavou de minha imundı́cie, limpou minha alma de minhas
iniqü idades; Você me arrancou da morte morrendo por mim e,
derrotando a morte, você ganhou minha vida, você me abriu para o
paraı́so. Oh, amor de Jesus. En im esse amor venceu, e estou com você ,
meu professor, meu amigo, meu marido, meu pai: aqui estou em seu
coraçã o. Entã o o que você quer que eu faça? Eu estava no caminho da
iniquidade e você me deslumbrou com sua luz divina, como Paulo no
caminho de Damasco. O que eu tenho que fazer, Senhor? (He
22,10). Ensine-me sua verdade, o caminho que devo seguir. Mostre-me o
caminho que devo seguir (Sl 142.8). Eu te abraçarei, te amarei, ó meu
Jesus, te amarei com o amor de Paulo, do teu amado Joã o, de todos os
teus santos; com um amor pelas obras, com um amor que é forte até a
morte. O que, o que pode me separar de sua caridade? Nem fome, nem
pobreza, nem frio, nem tribulaçõ es, nem tormentos, nem morte. Con io
muito na ajuda da tua graça, ó meu Jesus. E enquanto isso, desde que
me amou até o im, você esqueceu minhas iniqü idades e me chamou
para estar mais perto de você , seu ministro, seu parente ı́ntimo,
dispensador de seus misté rios, me amou, e para isso você
continuamente me comove com o segredo e Doces comunicaçõ es do teu
amor, com in initas inspiraçõ es, com o mel e o né ctar celestial das tuas
consolaçõ es, que este meu coraçã o queime e seja inteiramente
consumido como um holocausto por ti no altar do teu santı́ssimo
coraçã o, que suspire sempre para você , pesquise, compre para
você ; Que seja revestida do teu espı́rito, espı́rito de sabedoria e
compreensã o, e també m desperte nos pecadores os sentimentos de
conversã o, de retorno a ti, e que todos nó s, acolhendo-nos à sombra da
tua adorada cruz, possamos cantar perenemente as tuas misericó rdias.

9. Sou cristã o, alé m disso, sou seminarista; Devo, portanto, sempre


representar Jesus Cristo em todas as minhas açõ es; porque, como diz
Sã o Gregó rio Nazianceno, Cristo é o grande manto dos
sacerdotes. Portanto, aı́ está o meu espelho: Jesus Cristo. Considere
uma criança no berço. Cristo, o criador, o dono do mundo, o redentor do
gê nero humano, nã o encontra quem o receba quando faz sua primeira
entrada na terra; alé m disso, o expulsam de suas casas, nã o querem
dar-lhe alojamento, dizendo que nã o há lugar para ele, e ele é forçado a
se refugiar em um está bulo abandonado, onde faz sua primeira
apariçã o.
Oh, que humilde. E eu, que sou menos do que nada, icarei ofendido se
outro me receber com frieza, mostrar pouco apreço por mim, pela
minha ciê ncia; se, ao fazer comparaçõ es, for adiado para outras
pessoas? Ficarei profundamente chateado se aqueles a quem procuro
fazer algo de bom nã o me reconhecerem e até mesmo me
insultarem? Se os superiores nã o me consideram muito bem, eles
interpretam minhas açõ es de maneira um tanto sinistra? Se outra
pessoa me caluniar ou izer declaraçõ es injustas sobre meu
comportamento? Orgulho, rebaixe-se diante da humildade de
Jesus. Jesus, que revestiu a natureza de lores, os pá ssaros de penas
macias, ao sol com um manto majestoso de luz, que depositou as pedras
e os metais mais preciosos no seio das montanhas e nas areias dos rios.,
Nasce ele. precisa de tudo, nã o tem nem fralda para se cobrir. Quanta
pobreza. E eu, sendo tã o miserá vel e indigno de todo bem, terei a
coragem de lamentar porque nasci pobre, de pais pobres, e só vivo e me
visto da generosidade dos outros? Nã o devo antes consolar-me e
felicitar-me sinceramente e agradecer de coraçã o ao meu Jesus, porque
pelo menos nisso é muito fá cil para mim imitá -lo? Terei o menor desejo
de ser menos pobre? Posso, sem corar, desejar estar mais bem
vestida? Esquecerei assim as palavras do pró prio
Jesus: Bem - aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos
céus ?

Jesus, o esplendor da substâ ncia do Pai, nasce nas palhas á speras da


manjedoura, estremece de frio, en im, é perseguido por todas as
inclemê ncias, já se submete, pela salvaçã o do homem, a todas as
espé cies de tormentos, calem a boca e sofram. Quanta morti icaçã o. E
eu, que pelos meus muitos pecados sou obrigado a fazer a mais dura
penitê ncia, nã o terei vergonha de proferir queixas ao menor
desconforto, devo notar um pouco de ar, um incô modo de moscas, devo
me arrepender de qualquer mudança de tempo? Procurarei as posturas
mais confortá veis ao caminhar, sentar, etc? E ainda mais sendo forçado
à morti icaçã o para evitar as ocasiõ es de pecado, para me manter no
caminho certo, enquanto Jesus estava impecá vel.
10. Como era a vida de Jesus em Nazaré ? A vida de um bom
seminarista, a vida que deve levar. Uma vida escondida. Ningué m sabia
sobre ele; exteriormente, apenas o ilho de Maria, o ilho do carpinteiro,
era visı́vel nele. Por enquanto, nenhum indı́cio de sua futura grandeza,
de sua origem divina. Que bela liçã o para mim como sou pleno de mim
mesmo, e a quem o amor-pró prio sempre empurra para manifestar os
poucos dons naturais, acompanhados de outra parte dos inú meros
defeitos que possuo. Devo permanecer oculto para que, do barulho do
mundo, possa ouvir a voz do meu Jesus falando ao meu coraçã o. Meu
maior cuidado deve ser esconder o pequeno bem que com a graça de
Deus consegui fazer, para que a vaidade nã o o rebaixe, o diabo o roube
de mim. E o que é esse impulso interior que me leva a colocar tudo em
pú blico? O que sã o aqueles castelos no ar que meu cé rebro sabe fazer
de acordo com as inspiraçõ es do amor pró prio? Orgulho, orgulho. Isso é
tudo. E parece-me que a melhor maneira de me curar, pelo menos em
parte, seria con inar-me num deserto onde ningué m pode chegar, sem
qualquer comunicaçã o com os outros, para evitar que outros corram o
risco de falar de mim. . E se esta nã o é a minha vocaçã o porque Deus a
providenciou de maneira diferente, nã o obstante, devo sempre lembrar
a obrigaçã o de tentar viver escondido, aqui no seminá rio, desejando
que eles nã o me conheçam nem cuidem de mim; nas fé rias, icar
aposentado, sozinho na minha estadia. Jesus em Nazaré trabalhou de
manhã à noite. Que espetá culo. Para ver aquelas mã os que criaram os
mundos, que lançaram as estrelas em seu curso rá pido, torne-as
calejadas com a garra, a serra e os outros instrumentos de
carpinteiro. E pensar que Jesus era Deus, que ele persistiu naquela vida
cansada por trinta anos, sem um momento de tré gua, que teve que
arrastar tantos milhõ es de almas atrá s de si. Este é o seminá rio daquele
grande sacerdote que entã o desempenhou a maior missã o, selado com
o maior sacrifı́cio. Trabalhe e ore. Ele foi capaz em trinta anos sozinho
de converter, santi icar incontá veis outras almas, trabalhar Deus sabe
quais sã o as maravilhas dos prodı́gios. Mas nã o, o Pai celestial havia
organizado assim: trinta anos de vida e trabalho ocultos. Portanto, deve
ser feito, e o pró prio Jesus o fez.

Aqui, entã o, traçado pelo pró prio Deus, o caminho que me levará ao
altar. Vida oculta, oraçã o e trabalho. Ore e trabalhe, trabalhe
orando. Trabalhar, empenhar-se no estudo sempre, sempre: este é o
meu dever. Estudai e nã o alardes o progresso do conhecimento, estudai
incansavelmente e aproximai-vos de Jesus, que é o doador das luzes,
daquele que é o esplendor da luz eterna, e orai para que o pró prio
estudo se transforme em oraçã o. Essa é a necessidade que temos neste
mundo de dar as costas ao esforço. Portanto, vamos nos armar de
coragem e trabalhar por amor, porque o Senhor quer que seja assim. E
trabalhando com Jesus de Nazaré , escondido e em oraçã o, prepararei-
me para cumprir com mais perfeiçã o a missã o que me espera, uma
missã o de sabedoria e de amor, e merecerei ser coroada por Jesus com
a coroa, com as estrelas de o apostolado.
11. Aqui está uma ideia que pode me fazer bem. Ao aproximar-se Jesus
do castelo de Magdala, alguns correram para anunciá -lo a Maria,
dizendo: O mestre está aí e chama-te (Jo 11,28) .Que belas
palavras. Podemos imaginar a solicitude amorosa de Maria correndo ao
encontro do hó spede divino. Pois bem, no inı́cio de cada uma das
minhas açõ es, suponho que o toque da campainha me diga: O Mestre
está aı́ e te chama. Será possı́vel que antes desta re lexã o: é Jesus o
mestre, que te chama, a estudar, a rezar, a descansar, a dar um passeio, é
possı́vel que nã o me mova depressa para cumprir os meus deveres
como eles tê m de ser cumpridos, esperando por sua execuçã o algum
ensinamento de Jesus?
12. Pecado mortal. Que infâ mia. E horrı́vel só de pensar nisso. Mas o
pecado venial nã o deve ser menos evitado pela sua gravidade e pelos
efeitos desastrosos que causa, porque embora nã o mereça o inferno e a
perda da graça, desagrada muito a Deus. Agora, se eu quero amar meu
Deus completamente e para sempre, devo evitar qualquer açã o, por
menor que seja, que possa lhe causar o mı́nimo desagrado, porque o
amor é muito delicado. Meu Deus, posso te ofender
mortalmente? Nerd. Fora, entã o, mesmo as falhas veniais, ou melhor, o
apego a elas. Melhor a morte do que um pecado venial na alma. Ajuda-
me, Senhor, a manter minha alma pura, imaculada e agradá vel aos teus
olhos purı́ssimos; que posso me abandonar totalmente em seu seio
amoroso, e que ningué m, ningué m pode me separar. Você conhece
minha substâ ncia, as raı́zes ruins que carrego em mim; Estende a mã o
do bem para mim, entã o, para que eu nã o tropece no caminho; iluminar
minha mente para que conheça os defeitos que des iguram meu
espı́rito, e acendam em mim cada vez mais o desejo mais vivo de
agradar somente a você s, que sã o in initamente dignos de serem
amados.

13. Aqui estã o quatro palavras que resumem meus deveres, minhas
virtudes como seminarista: piedade, estudo, morti icaçã o e
cará ter. Piedade angé lica, estudo incansá vel, morti icaçã o contı́nua,
especialmente do amor pró prio e dos olhos, um cará ter
verdadeiramente eclesiá stico.
Promessa solene ao Sagrado Coração de Jesus sob os auspícios de São Luís
Gonzaga
27 de fevereiro de 1900. Profundamente persuadido e convencido, pela
graça de Deus, da necessidade e da mais estrita obrigaçã o que tenho,
como cristã o e como eclesiá stico, de consagrar-me inteiramente e para
sempre ao seu serviço divino e ao seu santo amor ; encorajado a
avançar cada vez mais no caminho da perfeiçã o e da caridade perfeita
ao considerar os mé ritos in initos que Jesus tem de ser amado por mim,
sua miserá vel criatura, pela sua perfeiçã o divina em geral e
especialmente pelo imenso amor do seu coraçã o santı́ssimo:
Considerando, por im, o grave perigo de nã o cumprir esta obrigaçã o
sacrossanta, nã o só por causa dos pecados mortais, mas també m por
causa dos veniais, que, mesmo os menores, resultam sempre em grave
ofensa a Jesus e, portanto, eles separe-me deste amor perfeito. Nos
Santos dos Estados Unidos deste ano de graça de 1900, dé cimo nono da
minha idade, neste ú ltimo dia do retiro sagrado (27 de fevereiro),
encontrando-me sacramentalmente unido ao Santı́ssimo Coraçã o de
Jesus pela Sagrada Comunhã o, diante de mim Santı́ssima Mã e Maria
Imaculada, de seu casto marido e meu principal protetor, Sã o José , e de
todos os outros santos, meus advogados particulares, de meu anjo da
guarda e inalmente de toda a corte celestial, eu, um seminarista Angel
José , pecador, prometo a este Santı́ssimo Coraçã o, com toda a
solenidade e força que este ato pode ter, para me manter sempre, hoje e
por toda a minha vida, puro, com a graça de Deus, de todo apego,
mesmo o menor, a qualquer pecado voluntá rio venial . E como pela
minha fraqueza nã o posso garantir no futuro que, deixado sozinho com
as minhas forças, cumprirei esta promessa, coloco-a nas mã os do jovem
angelical Sã o Luı́s Gonzaga, que icou tã o marcado pelo seu
desprendimento de todas as sombras. do pecado, e assim Ele era
imaculado em mente e coraçã o; e, escolhendo-o para este im meu
especial intercessor e patrono, peço e conjuro que ele, tã o bom e
amá vel, se digne aceitá -la, mantê -la e ajudar-me com a sua intercessã o
para que nã o falte a idelidade que devo a ela.
Aceita, meu doce Jesus, esta pequena prova do meu carinho ou, pelo
menos, do desejo mais vivo que tenho no peito de te amar de todo o
coraçã o, de me consumir de amor por ti que é s meu amigo, meu pai ,
meu marido mais amoroso. Olha, peço-te com olhos satisfeitos e, mais
do que isso, acrescenta o apoio da tua graça, sem o qual, como tu
mesmo disseste aos teus discı́pulos antes de os abandonar, e como bem
sei, nada posso fazer. Coraçã o de Jesus in lamado de amor, in lama os
nossos coraçõ es com o vosso amor.
Jesus, Maria e José
Ano Santo 1900
Quarta-feira, 22 de agosto de 1900, retiro mensal. Nas lembranças desta
manhã , mais uma vez ouvi a inspiraçã o para colocar meus pensamentos
e minhas façanhas por escrito, e desta vez nã o fui capaz de rejeitá -la. O
que ganhei com minha aposentadoria hoje? Compreendi mais uma vez
que para ser um bom seminarista, segundo o Coraçã o de Jesus, ainda
tenho muito, muito que fazer. Quando se trata de humildade,
di icilmente possuo as aparê ncias; Por dentro ainda existe uma boa
dose de amor-pró prio que nã o para de reclamar os seus direitos. Se se
trata de caridade, sim, há fervor, ou pelo menos me parece que
há ; Tenho bons votos; Mas a verdadeira caridade dos santos, a caridade
infalı́vel, o amor forte e generoso ao meu Deus, ao Coraçã o de Jesus,
ainda está longe. Nesse ı́nterim, esperamos que chegue mais perto. Se
se trata de pureza, é verdade que, graças à minha Senhora Imaculada,
nã o sinto nenhuma tentaçã o viva contra ela, mas devo confessar que
tenho dois olhos na testa que querem ver mais do que convé m, e à s
vezes , inconscientemente, como eu acredito, eles vencem o espı́rito. Se
se trata de mansidã o, tranquilidade, doçura, en im, tudo o que brilha na
mais doce igura de Sã o Francisco de Sales, meu protetor essencial e
modelo muito especial, embora nã o possa falar de excessos, també m
nã o tenho tudo o que tenho. desejo e com graça divina eu poderia
alcançar. As vezes ico um pouco excitado ao falar; outros, nã o sou nada
bom com a famı́lia, nada cortê s em minhas relaçõ es e inú meras outras
coisas. E nã o estou falando sobre as prá ticas de piedade, algumas das
quais, e antes de tudo o santo rosá rio, nã o estã o indo bem. E agora o
retiro acabou.
Renovo o meu propó sito de querer ser um verdadeiro santo, e mais
uma vez protesto diante de ti, ó dó cil Coraçã o do meu mestre Jesus, que
quero te amar como queres, que quero revestir-me do teu espı́rito. No
momento, há quatro resoluçõ es que me proponho colocar em prá tica
para dar alguns passos em frente. Em primeiro lugar, um espı́rito de
uniã o com Jesus, uma recordaçã o no coraçã o desde o primeiro
despertar pela manhã ao fechar os olhos à noite e, se possı́vel, també m
durante o sono noturno. Eu dormia, mas meu coração vigiava (Canto
5,2). Devo també m concentrar todos os meus esforços na recitaçã o do
rosá rio. Em segundo lugar, estar sempre presente para mim mesmo em
todas as minhas açõ es. Terceiro, a modé stia mais escrupulosa na
aparê ncia, nas palavras, etc. Entendemos. En im, calma, calma,
jovialidade, boas maneiras, nunca uma palavra ressentida com
ningué m, nunca se exalte na conversa; simplicidade, cordialidade; e ao
mesmo tempo franqueza sem covardia, coisas nada fá ceis. E
acrescentar: nunca fale de gente, de companheiros meus pró ximos, cuja
atuaçã o pouco alegre faz meu comportamento sobressair mais, a nã o
ser com reservas, dizer tudo de bom que é possı́vel, encobrir os defeitos
ao revelá -los é inú til e nã o adianta mais. Do que excitar meu amor
pró prio que se esconde por trá s desse vé u e na maioria das vezes sai
lindamente assim. Aqui está o fruto deste retiro.

Jesus, tu vê s o desejo vivo que arde no meu coraçã o de te amar, de fazer
de mim o teu verdadeiro ministro; conceda-me a graça de realmente
fazer algo bom. Colocarei todos esses pequenos propó sitos em
prá tica? Espero que sim de sua graça, meu Jesus.
Quarta-feira à noite, 22 de agosto de 1900. Doravante nã o se repetirá o
de adiar a visita a Jesus Cristo Sacramento para a visita que costumo
fazer ao sacerdote à tarde, a nã o ser que haja motivos graves em
contrá rio. De resto, con irmo o que disse esta manhã , porque vi que
uma coisa é propor coisas assim levianamente e outra é colocá -las em
prá tica.
Quinta-feira à noite, 23 de agosto de 1900. Em geral, as coisas nã o estã o
tã o ruins. Poré m, ainda preciso de muita vigilâ ncia em minhas palavras,
quando me pego conversando com seminaristas e eles falam de coisas
para que o meu amor-pró prio se deslumbre, buscando fazer uma bela
igura. Quanto ao resto, quanto ao meu discurso sobre o Sagrado
Coraçã o, nã o muita ansiedade; Desse modo, as idé ias sã o confundidas,
nada de bom é obtido, mas o desastre é feito.
Sexta-feira à noite, 24 de agosto de 1900. E bem verdade o que diz A
Imitação de Cristo , a saber, que há certos momentos em que, gostemos
ou nã o, a parte menos nobre do homem assume o comando sobre a
outra e a oprime. . Foi o que aconteceu comigo hoje, depois do meio-
dia. Por mais que quebrasse minha cabeça para me dedicar
efetivamente ao estudo, nã o havia como conseguir o mı́nimo de
frutos. Eu estava totalmente desorientado, completamente cansado de
sermã o e leitura: de tudo. O que fazer? De qualquer forma, louve a
Deus; estamos sempre em suas mã os, no frio e no calor. Foi uma ocasiã o
oportuna para morti icar minha exagerada â nsia de estudar, de ingir,
etc. No entanto, o bom Jesus me ajudou; e embora eu tenha aberto um
livro para fechá -lo imediatamente e pegar outro, pelo menos nã o caı́ no
ó cio e fui capaz de bancar o diabo. Graças a Deus. Mas aquele rosá rio
bendito estragou um pouco novamente esta tarde. E, no entanto,
parece-me que nã o o faço de propó sito, de vez em quando, assim que
percebo que estou distraı́do, tento me levantar. Oh mã e, oh minha
senhora, faça algo també m, porque só eu, como você pode ver, estou
bastante infeliz.
Noite de sábado, 25 de agosto de 1900. A visita foi totalmente silenciosa,
distraı́da; o rosá rio, um pouco menos. Quero imitar os maiores santos e
nã o consigo cumprir os deveres cristã os de maneira adequada. Jesus,
minha rocha e minha fortaleza (Sl 30,4).
Domingo à noite, 26 de agosto de 1900. Domingo é o Dia do
Senhor; portanto, maior recolhimento seria necessá rio em
todos. Infelizmente aconteceu o contrá rio. Ai de mim, essa resoluçã o de
quarta-feira afetará a presença do espı́rito tã o cedo? Jesus, dá -me forças
para que isso nã o se repita no futuro. Santo Alexandre, a quem este dia
está consagrado, conceda-me a sua virtude, o seu ı́mpeto, o seu
heroı́smo em fazer o bem.
Terça-feira, 28 de agosto de 1900. Ontem à noite nã o me lembrei de
colocar por escrito o resultado do meu exame. Hoje, muitas coisas
podem ser notadas. Por exemplo, adiando a visita ao Santı́ssimo
Sacramento por desculpas vã s, com o perigo de depois fazê -la pela
metade e nã o muito bem: algo que é uma ofensa para Jesus e me dá
pouca honra. Alé m disso, ica de olho na lı́ngua, meu amigo, porque por
ela o amor-pró prio faz o seu papel, principalmente quando encontro os
seminaristas. Serã o coisas de nada, tudo será verdade, mas o amor-
pró prio sempre se esgueira por aı́, e depois da conversa ico insatisfeito
e meu doce mestre Jesus, com sua voz interior, me diz que nã o gosta
disso. En im, ejaculaçõ es, ejaculaçõ es: sã o as lechas do amor que,
ferindo-o, farã o brotar do Coraçã o de Jesus a verdadeira caridade
cristã . Como estou longe de parecer a sombra do meu modelo, Sã o
Francisco de Sales. Poré m, ó Jesus, tu é s testemunha disso, sinto a
amargura desta distâ ncia; e quantas vezes me dou conta disso, quantas
vezes me arrependo e ico enojado; E quantas vezes me aproximo de ti,
parece-me que o meu peito arde, vivo, a vontade de imitar
verdadeiramente a tua humildade e mansidã o. O dulcı́ssimo Jesus,
ajuda-me, nã o ces de me fazer ouvir a tua voz sempre doce, mesmo
quando me reprova. Deixe-me ouvir sua voz (Cançã o 2.14). De resto, as
batidas do meu coraçã o sã o todas para ti, ó Jesus; E por isso acho que
posso confessar, nã o encontro em mim nenhum rancor de
ningué m. Salve-me, entã o, e o resto estará feito. Viva Jesus, Maria, José .

Quarta-feira à noite, 29 de agosto de 1900. Em suma , nada mal; Poré m,


uma coisa é certa: nos dias sem a Sagrada Comunhã o está faltando
alguma coisa. Nesta novena do Natal de Maria terei um cuidado
particular para nã o dar muito prazer ao paladar, pois esta é a é poca da
fruta que muitas vezes me vejo exagerando. Esta tarde, um acidente
perturbou minha calma que, embora nada em si, me deixou uma
impressã o profunda e dolorosa. Minha mã e, parecendo um pouco
morti icada com algumas palavras (que, para falar a verdade, poderiam
ter sido proferidas com maior doçura), palavras que sufocaram uma
curiosidade dela, icou muito ofendida e disse palavras que eu nunca
teria esperado de minha mã e. , para a qual, depois das coisas do cé u,
desejo o maior bem de que o meu coraçã o é capaz. Ouvi-la dizer que
sempre sou rude com ela, sem educaçã o, sem educaçã o, quando pareço
poder a irmar que nã o sou nada disso, ela me fez muito mal; e se ela se
magoou por minha causa, icou muito mais magoada ao ver sua dor e,
digamos també m, sua fraqueza. Despué s de tantas delicadezas, el oı́r
repetir a mi madre que no la puedo ver, y otras cosas que no tengo
fuerzas de á nimo para recordar, oh esto es demasiado para el corazó n
de un hijo, y de un hijo que siente los má s profundos sentimientos da
natureza. Foi um espinho que me encheu de amargura, feriu as ibras
mais ı́ntimas e delicadas do coraçã o. Como nã o chorar? Ai minha mã e,
se você soubesse o quanto eu te amo e o quanto quero te ver feliz, nã o,
você nã o resistiria a tanta alegria. Meu Jesus, aceita este verdadeiro
sacrifı́cio que te faço e que coloco no teu coraçã o, e dá -me cada vez mais
mansidã o e doçura, mantendo a seriedade necessá ria, e dá mais força à
minha boa e pobre mã e. Maria Dolorosa, ajude-me sempre.

Noite de sábado, 1o de setembro de 1900. Na noite de quarta-feira estive


em Bé rgamo; Ontem à noite eu estava cansado, muito cansado por
causa da viagem de Bé rgamo a Sotto il Monte, a pé , algo capaz de tornar
os mais corajosos; cansado també m pela cerimô nia, com todo o resto,
da bê nçã o dos sinos em Carvico; e esta é a causa das duas lacunas em
meu diá rio. Agora, voltando à s minhas anotaçõ es sobre mim mesmo
nestes dias, alé m daquela pequena dissipaçã o nas prá ticas de piedade
produzida pela mudança de mé todo, por ter quebrado a monotonia da
minha vida domé stica, vou apontar duas coisas caracterı́sticas, a
primeira de que se refere de maneira especial aos dias 30 e 31. E é que
à s vezes me deixo ir com meus reverendos padres fazer um pequeno
doutorado em polı́tica, falando a torto e a direito, de um fato e de outro,
en im, entrando em essas coisas mais do que é apropriado para um
seminarista da minha condiçã o. Certamente, sempre que estou ciente
disso, sinto uma forte aversã o, mas por que nã o prestar atençã o
primeiro? Principalmente nessas coisas, se você també m quiser um
pouco delicado, tem que deixar de lado o zelo, que aqui é totalmente
ine icaz, e lembrar que há um tempo para tudo e um tempo para
tudo (Qo 3,1). Quando eu for padre, tudo bem, mas agora? Leia o
má ximo que puder, aproveitando para me informar nos princı́pios
inteiramente saudá veis e seguros. Quanto ao resto, escutar, e em torno
dessas coisas ser ignorante, principalmente no caso de conversas um
pouco mais elevadas do que as familiares, com o pá roco ou outros
padres. Como Sã o Francisco de Sales se comportaria nesse caso?
Noite de domingo, 2 de setembro de 1900. A outra coisa que tive que
notar ontem à noite foi a falta de morti icaçã o em agradar ao
paladar. Isso pode estar fora de linha. Portanto, nã o percamos estas
belas ocasiõ es para homenagear Maria, especialmente nesta novena da
Natividade: tomarei o que for conveniente, mas nã o mais. Por im,
notarei aquela falta de ejaculaçã o que considero tã o prejudicial ao
progresso espiritual. Jesus e Maria, protegem-me para que eu nunca me
afaste de você s.
Segunda-feira à noite, 3 de setembro de 1900. Recoleçã o e
morti icaçã o. Jesus, veja se desejo amar-te verdadeiramente com todo o
meu coraçã o, com todo o meu ser.
Noite de terça, 4 de setembro de 1900. Graças a Deus , Deo gratias. Hoje é
dia de Sã o Gregó rio Magno, uma das maiores gló rias da Igreja, uma das
pé rolas mais brilhantes do Ponti icado Romano. Perante esta igura
majestosa, sinto o meu afecto e entusiasmo pelo Papa, pelo grande Leã o
XIII, a quem nestes dias voltam a ser dirigidos os insultos mais
lamentá veis, mais malignos, mais diabó licos. A hora é triste. Vamos
rezar. Rezemos pelo nosso Pontı́ ice Leó n.
Noite de quinta-feira, 6 de setembro de 1900. Hoje foi um dia abençoado
em que tive que fazer tudo o que meu bom Deus quis. Mandou-me uma
forte dor de cabeça e assim, embora o outro me recalcitrasse, tive que
abandonar o estudo, meu pobre discurso do Sagrado Coraçã o que se
acabará quando Jesus quiser, etc. Será um castigo bem dado à minha
â nsia de inalmente chegar a alguma conclusã o. Quanto à renú ncia,
parece-me que nã o fui mau. Graças a Deus. Estou disposto, por sua
bondade, a sofrer tudo por meu Jesus, por aquele coraçã o que tanto me
ama. Mas o que me prende a atençã o nestes dias e que nã o é um
pequeno defeito, no caso de uma novena da Virgem, é aquela forma
confusa, sim, uma forma à s vezes distraı́da, de dizer todas as minhas
oraçõ es. Ai meu Jesus, que paciê ncia deve ser a sua, quando me ouvir
pedir para lhe agradecer assim, meu amigo, que gentileza é essa? O que
dirã o os anjos que observam tudo, o que diriam os homens se ele
usasse tal linguagem com eles? Portanto, acalme-se nisso també m; Que
as oraçõ es sejam poucas, mas ore em silê ncio, pelo menos como faria se
estivesse conversando com outras pessoas. E para conseguir isso mais
facilmente, antes de mais nada, prestarei atençã o à reminiscê ncia
interior. Alé m disso, amanhã , ú ltimo dia da novena, repare todo o
passado. Em homenagem a Maria, nenhuma fruta vai tocar meus
lá bios. Mary, estou propı́cio.

Sexta à noite, 7 de setembro de 1900. Em suma , nada mal. Até a


morti icaçã o do paladar em homenagem a Maria eu pratiquei
escrupulosamente. Mas sinto um desâ nimo contı́nuo e um desprazer
vivo ao pensar no que sou e em compará -lo com o que poderia ser, com
o que foram os santos, Sã o Joã o Berchmans, Sã o Francisco de Sales, na
minha idade. Senhor, você vê meu coraçã o com seus desejos. Amanhã é
um dia consagrado ao menino Virgem; portanto, recolhimento, oraçã o
e, claro, santa alegria.

2
No seminário
de Roma (1901-1903)

1901
Retiro espiritual
3º Domingo depois da Páscoa, 28 de abril de 1901. E o primeiro retiro
que faço desde que estive em Roma. Como eu me sinto? Certamente nã o
posso reclamar das graças de Jesus, consolaçõ es inefá veis, momentos
felizes cuja in luê ncia geralmente se espalha por tudo o mais. Mas, no
que me diz respeito, devo confessar que nã o mudei nada do que era
antes. Grandes desejos de realmente fazer minhas coisas um pouco bem
e de amar como for conveniente para meu Senhor; desejos talvez um
pouco exagerados, mas nem sempre imunes ao amor pró prio, de
estudar, de aprender muito, de preparar uma boa formaçã o cientı́ ica,
de ganhar almas para Cristo por este caminho - que agora se tornou um
dos mais importantes - almas. No entanto, estou realmente perdendo
muito; e, sobretudo, um verdadeiro pedido para fazer a meditaçã o
conforme o caso, rezar o santo rosá rio, ajudar-me no exame geral e
particular, a avançar cada dia mais na renú ncia de mim mesmo, na
uniã o com Deus, na prá tica da verdadeira virtude.
Aqui em Roma, posso dizer que nã o estou carente de absolutamente
nada. Se eu quiser, també m nã o faltam oportunidades de me presentear
com um lanche que nã o é exatamente do agrado do meu amor-pró prio,
de fazer uma pequena morti icaçã o. Por isso é preciso começar com
novos espı́ritos, colocar um pouco as minhas coisas em ordem. E, por
enquanto, prestarei muita atençã o aos seguintes pontos. Acima de tudo,
me esforçarei para sempre fazer, com grande diligê ncia e fecundidade,
para ins prá ticos para o dia, meditaçã o sagrada, tornando-a um
assunto especial para exame. Durante o dia, ejaculaçõ es muito
frequentes, principalmente nas aulas e nos estudos. Vou fazer da oraçã o
do santo rosá rio uma questã o de dá diva à Virgem, no pró ximo mê s de
maio. Nunca pense em estudar imediatamente antes e muito menos
durante o tempo de prá ticas de piedade. Visite o Santı́ssimo
Sacramento com fervor e modé stia singulares. Acima de tudo, a guarda
má xima dos olhos na caminhada, principalmente em alguns
bairros. Depois da caminhada e pouco antes do estudo noturno, nunca
se descuide do exame particular que tratará do uso da lı́ngua e da
autoestima. Por im, guarde uma grande paz de espı́rito e de coraçã o,
uma grande lembrança, uma grande ordem.
Meu bom Sã o José , cujo poderoso patrocı́nio a Igreja exalta neste dia,
consagro-te de novo todo o meu ser, con io-te estes propó sitos. Que por
sua intercessã o eu possa cumpri-los; Peço-te sobretudo a graça do
recolhimento nas minhas oraçõ es e da prá tica da vida interior, como a
admiro em ti. Conceda-me, peço-lhe, e continuarei a amá -lo e a fazer
com que os outros o amem, para que todos possam compartilhar os
favores ú nicos do seu glorioso patrocı́nio.
1902
EE. EE. Com o P. Francisco Pitocchi (10-20 dezembro)
1. Quem sou eu? Qual é meu nome? Quais sã o meus tı́tulos de
nobreza? Nada nada. Eu sou um servo e nada mais. Nada me pertence,
nem mesmo a vida. Deus é meu dono, dono absoluto da vida e da
morte. Pais, parentes, senhores do mundo: meu ú nico verdadeiro dono
é Deus. Portanto, eu apenas vivo para obedecer à s ordens de Deus. Nã o
posso mover uma mã o, um dedo, um olho, nã o devo olhar para frente
ou para trá s se Deus nã o quiser. Diante dele estou de pé , imó vel, como o
menor soldado que está diante de seu superior, pronto para tudo, até
mesmo para me jogar no fogo. Este deve ser o meu trabalho ao longo da
minha vida, porque nasci assim; Eu sou um servo Devo sempre me
considerar nesta condiçã o de servo; Nã o tenho um ú nico momento em
que possa cuidar de mim, servir aos meus caprichos, à minha vaidade,
etc. Se o faço, sou um ladrã o, porque roubo um tempo que nã o é meu,
sou um servo in iel, indigno de recompensa. Oh eu, isso é o que eu iz,
que confusã o, que rubor. Tanto orgulho e presunçã o, e nem sei ser uma
serva. Senhor meu Deus, eu reconheço seus direitos sobre mim. Perdoe
minhas in idelidades. As má s inclinaçõ es freqü entemente me distraem
de prestar atençã o ao seu serviço divino. De agora em diante nã o será
mais assim. Eu amarro minhas mã os e pé s, e me apresento a você como
Javier. Olhe para mim, Senhor. Sou teu servo, dá-me inteligência para que
aprenda os teus decretos (Sl 119,125).

2. O Senhor, meu dono, deu-me a conhecer as suas ordens. Conheça-o,


ame-o, sirva-o por toda a vida. Que servidã o abençoada, que gló ria, que
honra mais elevada. Eu sou o pajem do Rei que sempre o
acompanha; Sou admitido em seus misté rios e entã o, apó s quatro dias
de serviço, eu, que devo obedecê -lo mesmo sem ser recompensado por
isso, tornarei-me participante de sua pró pria gló ria no cé u. Todas as
criaturas da terra, os dons da natureza, os colocaram à minha
disposiçã o, para que eu possa usá -los exclusivamente para me elevar
até ele, para amá -lo. Esta é a razã o de sua existê ncia. Por isso, quando
utilizo as criaturas para o meu pró prio prazer, rompo a ordem da
Providê ncia, quebro a admirá vel harmonia do universo, vou contra
Deus. Servo ruim. Criaturas, na medida em que devem me servir, na
medida em que me conduzem a Deus; porquanto devo fugir deles,
porquanto me tiram dele. Esta é a regra de ouro, o grande e
fundamental crité rio a ser aplicado em todos os casos prá ticos. Quando
no uso deles a vontade de Deus é manifestada, entã o nã o há mais nada
a dizer. Eu valorizo muito a saú de. Bem, aı́ você tem a doença. Deus
enviou para mim. Portanto, bendita seja a doença. Daı́ a prá tica daquela
santa indiferença que ele fez aos santos. Oh, se eu pudesse ter essa paz
de espı́rito, essa paz de espı́rito nas coisas pró speras e adversas, isso
tornaria minha vida mais doce e mais alegre, mesmo em meio à s
tribulaçõ es. Pobre ou rico, honrado ou desprezado, pobre padre de
aldeia ou bispo de uma vasta diocese, ele deve ser todo um, desde que
faça a vontade de meu senhor, cumpra meu dever de servo iel e me
salve. Alé m disso, se uma preferê ncia deve ser admitida, a pobreza deve
ser colocada antes da riqueza, o desprezo pelas honras, as ocupaçõ es
mais sombrias antes das posiçõ es eminentes. Gostaria de me dedicar a
um estudo especial. Os superiores nã o permitem. Bem, nã o, nã o vou me
dedicar, e sempre feliz. Eu gostaria de ter sido ordenado subdiá cono na
Pá scoa. Os superiores nã o querem saber de nada. Portanto, vou esperar,
e feliz també m. Eu gostaria que eles me deixassem em paz. Os
superiores, por outro lado, querem me dar uma posiçã o que parece me
rebaixar, fere a minha autoestima. Custa-me um grande sacrifı́cio
obedecer. Bem, tanto melhor: eu obedecerei; vamos ter bom â nimo e
alegria no Senhor. Este é o remé dio que acalma toda impaciê ncia,
ameniza a privaçã o, nos faz transbordar de alegria mesmo em meio à s
amarguras da vida.

3. Para os anjos rebeldes nã o há uma ú nica gota do sangue de Jesus, e
foi um ú nico pecado de pensamento, e foi o primeiro. Para mim, que
tantas vezes caio, todos os frutos da Paixã o, nã o apenas uma, mas mil e
mil vezes. E meu Deus ainda me espera. Que maravilha de
misericó rdia. Que confusã o para mim. Basta, Senhor, nã o mais. De agora
em diante, com a sua ajuda, estarei sempre procurando por você , em
todos os momentos, e ocuparei o lugar dos anjos caı́dos ao louvá -lo e
abençoá -lo por toda a eternidade. Os anjos caı́ram como um raio no
inferno, por um ú nico pensamento arrogante. E eu, que tenho um
cé rebro cheio disso? O que custaria a Deus para me fazer perder todos
os dons intelectuais, memó ria, razã o? Pregando-me para a cama com
uma doença? Por isso tem cuidado; menos presunçã o, mais
descon iança de si mesmo e mais humildade.
4. Quais sã o minha riqueza, minha propriedade, meu
capital? Desobediê ncias, atos de orgulho, negligê ncia em meus deveres,
pouca vigilâ ncia em meus sentimentos, distraçõ es in initas, amor-
pró prio em pensamentos, em palavras, em açõ es; pecados e pecados:
esses sã o os meus tı́tulos, verdadeiramente meus. E com essas misé rias
eu penso em me destacar, fazer nome, subir muito alto, me exibir. E
acho que sou um excelente jovem, um bom seminarista, quando nem
deveria pensar nisso. E o cú mulo da distraçã o, do absurdo, para quem
pensa que está raciocinando.
5. Meu Deus, també m estou no inferno? O pobre ignorante no paraı́so, o
turco, o selvagem; e eu, chamado na primeira hora, levantado em seu
ventre, no inferno entre os demô nios? Conheço a vida do quartel, sinto
horror só de pensar nisso. Quantas blasfê mias naquele lugar, quantas
imundı́cies. E no inferno, o que será ? E se ele batesse ali, enquanto o
camarada de armas, o pobre coitado que cresceu no meio do mal, está
no paraı́so? Devo tremer, tremer muito. Tive pena dos errantes, dai
sempre graças ao meu Deus pelas iguarias que me deu; estimá -los, mas
nã o se gabar de nada. Eu sou o pecador que sou, frá gil ao extremo. Se a
justiça de Deus superou sua misericó rdia. Senhor, Senhor, faça-me
provar de tudo, mas nã o do inferno. Pelo contrá rio, faça-me arder
perenemente no fogo do seu santo amor.
6. Todos nó s temos que morrer, todos nó s, e eu nã o penso nisso. Cada
passo que dou, cada minuto que passa, me aproxima da morte. Quantos
pensamentos tenho na cabeça, quantos ideais de estudo, trabalho e vida
ativa para a gló ria de Cristo, para o bem da Igreja e da sociedade. Coisas
grandes e bonitas, sim, mas o amor-pró prio à s vezes se esgueira entre
eles. Bem, e se eu morresse seminarista? Amanhã , no inı́cio da minha
vida sacerdotal? Esse pensamento parece uma contradiçã o para
mim. Parece que Deus esbanjou em mim o seu mais delicado e maternal
cuidado, tirou-me de muitas di iculdades e, atravé s de in initas graças,
conduziu-me aqui, a Roma, com algum objetivo singular. Do contrá rio,
nã o entendo a ternura inefá vel do meu bom Mestre. Preciso fazer um
esforço para acreditar que depois de tudo isso ele pode tirar minha
vida. E, no entanto, nada mais fá cil para ele. Ele precisa do meu
trabalho? Você me prometeu tantos anos de vida? E quem sou eu para
ingir que conheço seus projetos? E por outro lado, ele agiu diferente
com Sã o Luı́s, com Sã o Estanislau, com Sã o Joã o Berchmans? Senhor,
faze també m o que quiseres de mim, até aceito a morte com satisfaçã o e
contentamento, porque é do teu agrado. Você també m é o centro, a
sı́ntese, o termo ú ltimo de todos os meus ideais. Mas a menos que eu
morra em seu santo amor. A força que me deste para te louvar e te fazer
amar na terra, reservarei para te amar e te louvar com mais ardor no
cé u. Por outro lado, o pensamento da morte que pode estar pró xima me
ajudará a moldar-me a pensamentos de maior solidez. Abaixo o amor-
pró prio, a ambiçã o, a vaidade. Devo morrer, devo morrer, e devo prestar
atençã o a essas misé rias?

7. Da mesma forma, é estabelecido para os homens que morram apenas


uma vez e então há um julgamento (Hb 9,27). Embora eu seja Papa
quando me apresento perante o divino Juiz, embora meu nome seja
pronunciado e venerado por todas as bocas, gravado em má rmores, o
que sou eu? Grande coisa. Nã o posso acreditar que o meu bom Jesus,
que hoje me trata com tanta con iança e bondade, me apareça um dia
com o rosto in lamado de có lera divina para me julgar. No entanto, é um
artigo de fé , e eu acredito nisso. E que julgamento será seu. Aquela
palavrinha em tempo de silê ncio, aquela expressã o ligeiramente
maliciosa, aquele gesto ligeiramente galante, aquele olhar furtivo,
aquele andar com ar de certo mé dico, aquela reserva de gesto estudado
demais, a batina elegante, os sapatos da ú ltima moda, o bocado de pã o
como gula; e alé m disso, o movimento da inveja imperceptı́vel atravé s
das habilidades do pensamento, os castelos no ar, as distraçõ es em
todas as prá ticas de piedade, mesmo as menores: tudo sairá . E das
ofensas mais graves, quais serã o? Meu Deus, que confusã o para a minha
alma. E as honras, a fama de uma pessoa culta, mesmo sendo ciumenta,
santa, que valor terã o naquela hora? Tı́tulos acadê micos, belas teses,
estudos vã os, etc., como você os verá ? O meu Deus, comunica-me hoje
um pouco da tua luz divina, para que eu possa distinguir o que há de
fraco nas minhas coisas, e puri icá -lo. Abre os meus olhos, para que
nada me escape, por mais imperceptı́vel que seja, do que um dia nã o
escapará à tua luz. Senhor, ilumine os meus olhos, não durma na
morte (Sl 12,4).

8. Um globo de cristal puro, iluminado pela luz do sol, dá -me uma ideia
da pureza do coraçã o dos sacerdotes. Minha alma deve ser como um
espelho que deve re letir a imagem dos anjos, de Maria Santı́ssima, de
Jesus Cristo. Se o espelho icar embaçado, mesmo que apenas
ligeiramente, sou digno de ser feito em pedaços e jogado na lata de
lixo. Que espelho sou eu? Oh como o mundo é feio, quã o sujo, que
merda. Em meu ano de vida militar, toquei nele com a mã o. Que fonte
de podridã o é o exé rcito, podridã o que inunda as cidades. Quem se
salva desse dilú vio de lama, se Deus nã o o ajuda? Agradeço-te, meu
Deus, que me preservaste de tanta corrupçã o; Esta é realmente uma
das maiores graças, pela qual serei grato a você por toda a minha
vida. Nã o acreditava que um homem racional pudesse se rebaixar
tanto. No entanto, é um fato; e hoje, com minha pouca experiê ncia, acho
que posso dizer que mais da metade dos homens, em algum momento
de suas vidas, tornam-se animais vergonhosos. E os padres? Meu Deus,
estremeço ao pensar que nã o sã o poucos també m entre eles que
des iguram seu cará ter sagrado. Hoje nã o me admiro mais com
nada; certas histó rias nã o me impressionam mais. Tudo está
explicado. O que nã o posso explicar é como tu, ó purı́ssimo Jesus que se
alegra entre os lı́rios, podes suportar tanta impiedade, mesmo nos teus
ministros, e te dignas a descer nas mã os deles, alojar-te no coraçã o
deles, sem os castigar ao mesmo momento. Meu Senhor Jesus, eu
també m tremo por mim mesmo. As estrelas do céu caíram sobre a
terra (Ap 6,13) e eu, que sou pó , o que presumo? De agora em diante,
quero ser mais escrupuloso a esse respeito, para nã o ganhar todo o
ridı́culo do mundo. Para nã o cair em conversas impuras, acho oportuno
falar muito pouco, ou quase nada, da mesma pureza. Carregamos este
tesouro em potes de barro (2Cor 4,7). E como nã o devo tremer? Minha
carne é de bronze? Recordo todas as resoluçõ es tomadas a esse
respeito nos exercı́cios anteriores, e que escrevi, protestando a Maria
Santı́ssima, querida mã e, que desejo observá -las a todo custo.

9. Salve, Cristo Rei. Você me convida para lutar suas batalhas, e eu nã o
perco um minuto de tempo; Com o entusiasmo que meus vinte anos
proporcionam a mim e a sua graça, corajosamente me uno à s ileiras de
seus voluntá rios. Eu me consagrei ao seu serviço, pela vida e pela
morte. Você me oferece como um emblema e como uma arma de
guerra, sua cruz. Com a mã o direita estendida sobre esta arma
invencı́vel, dou-te uma palavra solene e juro-te com todo o ı́mpeto do
meu jovem coraçã o idelidade absoluta até a morte. Assim, como servo
que me criaste, pego a tua insı́gnia, torno-me soldado, cingido a tua
espada, orgulhosamente me considero cavaleiro de Cristo. Dá -me o
coraçã o de soldado, o espı́rito de cavaleiro, ó Jesus, e estarei sempre
contigo na dureza da vida, nos sacrifı́cios, nas provas, nas lutas, contigo
estarei na vitó ria. E como o sinal da luta ainda nã o soou para mim,
enquanto estou nas lojas esperando minha hora, treine-me com seus
exemplos luminosos para adquirir luê ncia, para fazer os primeiros
testes com meus inimigos internos. Eles sã o tantos, oh Jesus, e tã o
implacá veis. Há um especialmente que vale para todos: feroz, astuto,
sempre o tenho em cima de mim, afeta querer a paz e ri de mim nisso,
faz um pacto comigo, me persegue até nas minhas boas açõ es. Senhor
Jesus, tu sabes: é amor pró prio, o espı́rito de orgulho, de presunçã o, de
vaidade; que eu possa me livrar dele de uma vez por todas, ou se isso
for impossı́vel, que pelo menos eu o tenha sú dito, para que eu, mais
livre em meus movimentos, possa me juntar aos bravos que defendem
sua santa causa na brecha, e cantar com você o hino da salvaçã o.

10. Quando penso nas humilhaçõ es da Palavra divina, na grandeza de


Maria, na recompensa de sua humildade, na vida de Jesus nos primeiros
trinta anos, e entã o me olho, ico confuso e nã o nã o sei o que dizer. Esta
tarde, lembrando que ele foi submisso a eles (Lc 2,51) da Escritura, no
coló quio que tive com o Coraçã o Jovem de Jesus na o icina de José , as
lá grimas vieram aos meus olhos e chorei como uma criança . O meu
Senhor Jesus, será que nunca consigo mostrar-te que, com a tua graça,
sei imitar os teus exemplos luminosos nã o só com palavras, mas
també m com obras? Você se rebaixou in initamente, foi oprimido; Nã o
preciso de tanto, agora nã o sou nada; apenas abra meus olhos e me
olhe. Você veio para a terra pobre, e quem é mais pobre do que eu, para
quem você teve que fornecer comida até agora, garfada apó s
garfada? Desde que sou seminarista, ainda nã o coloquei uma batina que
nã o recebi por caridade de alguma pessoa boa. Você sabe porque
conheceu a obra desde os primeiros anos: desde a minha infância sou
um desgraçado, à beira da morte (Sl 87,2). Você nã o dispensou
nenhuma lei, mesmo que nã o estivesse vinculado a ela, e eu també m
tive que me submeter ao serviço militar, que é uma imposiçã o injusta e
bá rbara aos seus ministros. Em silê ncio, retirado do recolhimento da
casa de Nazaré , você viveu os primeiros trinta anos, e já se passaram
mais de dez anos desde que me retirei do mundo e vivo guardado no
seu santuá rio. Quem mais favoreceu do que eu por seus benefı́cios, e se
colocou no caminho de sua imitaçã o com menos sacrifı́cio e mais
facilidade? E, no entanto, como é que me pareço tã o pouco com você ? Já
passei do vigé simo ano da minha idade, o que iz de realmente
bom? Sã o Luı́s, Sã o Estanislau e Sã o Joã o Berchmans, nessa é poca já
eram santos consumados. E deve-se ter em mente que sua obra na
santi icaçã o teve que ser muito, mas muito mais á rdua que a minha,
porque ele se encontrou em circunstâ ncias menos felizes. Oh, quantas
vezes já tive que repetir este arrependimento de minha parte, e quantas
vezes voltei aos mesmos passos. Mas agora estou decidido a nã o repetir
esta comé dia com meu Deus. Na era em que os santos acabaram, eu
começo. Eu entro na dé cima primeira hora, mas você nã o me manda
embora por causa disso. Senhor, na confusã o em que me encontro, por
favor, pelo menos me diga o que devo fazer para seguir a sua vontade.

11. Como é agradá vel pensar no que Jesus fez para fundar a Igreja. Em
vez de convocar nas academias, nas sinagogas, nas cadeiras os eruditos,
os sá bios, pô s seus olhos amorosos em doze pobres pescadores rudes e
ignorantes. Ele os admitiu na sua escola, fez com que participassem das
suas con idê ncias mais ı́ntimas, objeto das suas mais amorosas iguarias,
con iou-lhes a grande missã o de transformar a humanidade. Com o
passar do tempo, Jesus se dignou a me chamar també m para expandir
seu reino, para participar de alguma forma na obra dos apó stolos. Ela
me tirou do campo desde pequeno, com o carinho de uma mã e amorosa
me deu tudo que eu precisava. Eu nã o tinha pã o e ele comprou para
mim, eu nã o tinha o que vestir e ele me vestiu, eu nã o tinha livros para
estudar e ele també m cuidou deles. As vezes eu me esquecia dele, e ele
me chamava gentilmente; Fui frio no seu carinho, e ele me deu o calor
do seu seio, da chama que arde perenemente no seu coraçã o. Seus
inimigos e os inimigos da Igreja me cercaram, icaram à minha espera,
me arrastaram para o meio do mundo, para a lama, para a sujeira, e ele
me preservou de todo o mal, nã o permitiu que o mar me engolisse
; Para que eu elevasse o meu espı́rito a sentimentos mais fortes de fé , de
caridade, ele me conduziu à sua terra bendita, à sombra do seu Vigá rio
junto à fonte da verdade cató lica, junto ao tú mulo dos seus apó stolos,
onde a terra ainda preserva a pú rpura do sangue de seus má rtires e o
ar é embalsamado com o perfume da santidade de seus confessores, e
nenhum momento de descanso é concedido, dia ou noite, mais do que
uma mã e é capaz de fazer com seu ilho. E a inal, como recompensa por
tantos cuidados, ele só sabe me perguntar ansiosamente: Meu ilho,
você me ama? Senhor, Senhor, o que posso responder? Olhe minhas
lá grimas, ouça como meu coraçã o bate, como meus lá bios tremem,
como a caneta escapa de minhas mã os. Que posso dizer? Senhor, tu
sabes que te amo. Que vos ame com o amor de Pedro, com o entusiasmo
de Paulo e dos vossos má rtires; Que a humildade se acrescente à
caridade, humilhaçã o de mim mesmo, desprezo pelas coisas do mundo,
e depois faça de mim o que quiser: apó stolo, má rtir, ó Senhor.

Entretanto, o importante é que nunca me envergonhe da minha


pobreza, mas que me orgulhe muito dela, como o fazem os senhores do
mundo da sua ilustre ascendê ncia, dos seus tı́tulos de nobreza, das suas
libré s. Eu sou da mesma famı́lia de Cristo; O que mais eu poderia
desejar? Preciso de algo? A Providê ncia fornecerá abundantemente,
como sempre fez até hoje. Devo sempre pensar que todo o pouco de
bem que minha auto-estima atribui ao meu mé rito, para que eu possa
me gabar dele, nã o me pertence em absoluto. Devo me convencer de
que sem o carinho especial que Jesus me mostrou, hoje eu nã o seria
nada mais do que um pobre camponê s, o mais rude, o mais ignorante e
talvez o pior de todos os camponeses que pode haver. Nã o sou
absolutamente o que penso de mim mesmo ou o que meu amor pró prio
deseja que os outros me considerem. Meu pai é um camponê s que
passa o dia todo trabalhando, cavando etc .; e nã o tenho nada mais do
que meu pai, mas muito menos, porque meu pai pelo menos é simples e
bom, enquanto eu só tenho o mal do meu. Quando o amor-pró prio cala-
se por um momento, e eu, pensando na obrigaçã o de me entregar tudo
a Deus e de mostrar com açõ es que a ele realmente me consagrei
inteiramente, sem reservas, e quero ser santa, sinto perturbado, sem
coragem, devo consolar-me pensando que este Jesus, que tantas coisas
grandiosas fez por mim, as fez com um propó sito especial, digno dele, e
que, como fez tudo até agora, até mais ainda estará disposto a
multiplicar suas graças para aperfeiçoar seu trabalho, quando
encontrar muita boa vontade de minha parte. Por im, nã o devo
esquecer que entre os doze primeiros discı́pulos de Jesus també m
houve Judas que, nã o correspondendo à s delı́cias do divino Mestre,
tornou-se insensivelmente traidor, monstro execrá vel da infâ mia. Se é
verdade que o amor afasta o medo, torna o amor mais delicado e
circunspecto.

12. Ao ver nosso doce Jesus que se humilha e se submete como um


cordeiro manso à perseguiçã o, tormento, traiçã o, morte, a alma se sente
oprimida, confusa, oprimida; é impossı́vel falar, mesmo o amor pró prio
renuncia à s suas reivindicaçõ es. Jesus, consolo da alma que
peregrina. Diante de você está minha boca muda, e meu silê ncio fala
com você . Jesus se ajoelha para lavar os pé s dos doze miserá veis
pescadores. Esta é a verdadeira democracia, cujos traços eloquentes
nó s, eclesiá sticos, devemos apresentar ao povo. Oh, quantas vezes o
bendito Senhor lavou nã o apenas meus pé s, mas minhas mã os e minha
cabeça. E terei vergonha de ter pena dos pobres, dos miserá veis?
Pegue e coma. Este é o meu corpo (Mt 26,26). Ele esgotou a sutileza de
seu amor; Ele deu tudo, até mesmo sua vida, por mim. Senhor, assim
como te colocas nas nossas mã os, à nossa disposiçã o, eu consagro a ti o
meu corpo, o meu sangue, todo o meu ser, para que possas fazer de
mim o que quiseres. Eu morro de tristeza. Fica aqui enquanto vou mais
longe para rezar (Mt 26,38). Portanto, Jesus també m conheceu a hora
triste; experimentou os efeitos da fraqueza humana. E um conforto para
nó s, que nada desanimamos, e um exemplo divino a seguir. Quando a
tristeza invade a alma e o coraçã o sangra, aproximemo-nos de Jesus, no
seu altar, con iemos a ele a nossa amargura e teremos forças e
paz. Simon, você está dormindo? (Mc 14,37). Quanta melancolia e
tristeza nestas palavras de Jesus. Quando o cansaço me oprime, nã o
tenho vontade de trabalhar, orar, imagino que Jesus me dirige essas
palavras. Jesus reza, trabalha, chora, terei coragem de dormir? E ele o
beijou (Mc 14:45; Mt 26:49). Quã o infernal é a explosã o desse beijo na
divina fronte de Jesus. No entanto, quantos padres o renovam todos os
dias; dá arrepios. O Jesus, recebe no teu coraçã o os meus beijos
afetuosos como um ilho que te ama, que te pede perdã o dos pecados e
promete nã o te ofender mais.

Jesus icou em silêncio (Mt 26,63). Eles me acusam? Eles me


caluniam? Eles me repreendem com ou sem razã o? Eles falam mal de
mim? O amor-pró prio quer que eu me vanglorie da ciê ncia, da
virtude? Jesus icou em silê ncio. Vamos registrar isso bem em
mente. Silê ncio é ouro. Eles cuspiram em seu rosto, deram-lhe tapas e
socos (Mt 26,67). Quantas noites Jesus passou na casa de Caifá s,
enquanto os discı́pulos o abandonaram ou o negaram vilmente. Este é o
prê mio dos verdadeiros sacerdotes de Deus neste mundo: Muito felizes
por terem sido dignos de ser indignados pelo nome de Jesus (He
5,41). Senhor, digna-me fazer-me participar també m desta gló ria, por
teu amor; ou pelo menos que pode atingir o desejo de ser desprezado
por você .
Verdadeiramente este era o ilho de Deus (Mt 27,54). Já que nã o posso
apresentar diante da cruz de Jesus os sentimentos de Maria, de Joã o e
das piedosas mulheres, pelo menos nã o me falta a emoçã o do centuriã o
que desceu do Calvá rio batendo no peito e confessando a divindade do
Nazareno cruci icado. Do dom das lá grimas, ó Senhor, nã o sou digno de
ser pecador. Mas tenho todos os direitos de ser puri icado em seu
sangue que foi derramado por minhas misé rias.
Viva o mais sagrado Coração de Jesus. Os EUA estã o acabados. Vamos
recolher as velas. També m desta vez a graça realmente
transbordou. Talvez nunca como hoje me senti verdadeira e irmemente
convencida da necessidade absoluta de me entregar, completa e
eternamente, ao meu Senhor, que quer usar o meu pobre para fazer o
bem na sua Igreja, para levar almas amorosas ao seu coraçã o. O mais
importante e melhor, na minha opiniã o, é ter me enviado, para iluminar
minha mente e direcionar meus passos, um bom pai espiritual, de quem
senti uma necessidade real, e ter me dado a graça de con iar
sinceramente a todos. as coisas da minha alma para ele e simplicidade,
por isso hoje me sinto mais seguro, mais consolado e com maiores
esperanças de verdadeiro progresso espiritual. Como resultado da açã o
da graça divina em mim durante estes dias e seguindo as sugestõ es do
meu novo diretor espiritual, resumirei aqui estas breves re lexõ es, ou
propó sitos, que devo sempre manter em minha mente e que com a
ajuda do Coraçã o de Jesus, prometo cumprir com escrupulosidade, para
o verdadeiro bem da minha alma.
1. Em mim, Deus é tudo e eu nada sou. Eu sou um pecador, muito mais
miserá vel do que posso imaginar. Se iz algo de bom na minha vida,
tudo é obra de Deus, que teria dado melhores frutos se eu nã o tivesse
impedido e impedido.
2. Dos sinais, das graças inefá veis com que Deus se dignou encher a
minha alma desde os primeiros anos até hoje, deduz-se claramente que,
para os seus ins adorá veis, ele me quer santo sem restriçã o de
prazo. Devo estar sempre bem persuadido disso. Devo ser santo a todo
custo. O pouco que iz até agora nada mais é do que um jogo de
criança. O tempo passa. Hoje, aos vinte e um, começo de novo. Devo
chegar a tal ponto de uniã o, de total resignaçã o de mim mesmo nas
mã os de Deus, que esteja disposto a sacri icar tudo, inclusive o estudo,
para obedecer à sua vontade divina. Todas as minhas açõ es, minhas
afeiçõ es pelas coisas aqui embaixo devem sempre ser reguladas de
acordo com este princı́pio. Devo estar emocionado no Coraçã o de Jesus.
3. O caminho que devo seguir e que corresponde exatamente ao meu
caso, é a humildade. Devo passar direto por ela e nunca mais voltar. Eu
declarei guerra ao amor pró prio, em todas as suas formas. Por esse
inimigo que sempre carrego dentro de mim, nã o devo permitir um
momento de descanso. Lembro-me també m do exercı́cio do exame
particular, que prometo cumprir rigorosamente todos os dias.
4. Os entusiasmos juvenis, ardentes e irresistı́veis com que me parece
cheio o peito pela causa de Cristo, pelo seu triunfo glorioso, pelas novas
formas de praticar a vida cristã em benefı́cio da sociedade, sã o em si
mesmas coisas santı́ssimas. , mas muito indeterminado e, portanto, um
pouco perigoso. Eles podem perder muito tempo com poucas
frutas. Hoje o meu Deus quer de mim que, sem perder de vista estes
santos ideais, o meu ardor, o meu entusiasmo, o fogo vivo que se agita
em mim, os trans ira e aplique a tudo o que serve para fazer de mim o
verdadeiro, o perfeito seminarista. Deve ser hoje e nada mais. O
regulamento deve ser objeto de todos os meus cuidados, nã o só o
regulamento em geral, mas cada uma das regras em particular. Este é o
fruto mais importante e caracterı́stico da minha EE. Nã o devo querer
ser o que nã o sou, mas ser muito bem o que sou. E o que diz meu Sã o
Francisco de Sales.
5. Deus, para me proteger do pecado e para nã o me afastar muito dele,
fez uso da devoçã o ao Santı́ssimo Sacramento e ao Sagrado Coraçã o de
Jesus. Essa devoçã o deve ser sempre o elemento mais e icaz em meu
progresso espiritual. Procurarei praticá -lo de tal forma que o afeto e a
ternura ao divino Sagrado Coraçã o me avivem em tudo, em meus
pensamentos, em minhas palavras, em minhas obras, e permeiem cada
um de meus atos. Conseqü entemente, uniã o má xima com Jesus, como
se minha vida tivesse que passar inteiramente diante do
taberná culo; ejaculaçõ es ao Santı́ssimo Sacramento, sem
nú mero; grande devoçã o e carinho nas visitas, comunhõ es, etc. Devo
considerar que vivo apenas para o Sagrado Coraçã o de Jesus.
6. O pai espiritual que Deus providencialmente me enviou é , na prá tica,
tudo para mim. Nunca me permitirei a menor coisa sem seu conselho
ou aprovaçã o. Todas as minhas menores misé rias, mesmo que fossem
coisas infantis, deveriam conhecê -las como sã o em minha consciê ncia,
eu tenho que ser honesta com ele como sou comigo mesma. Mesmo nas
coisas nã o estritamente espirituais, e mesmo nas mais naturais, serei
escrupuloso em seguir suas sugestõ es e conselhos. Suas palavras serã o
como a opiniã o da minha consciê ncia.
7. Má xima morti icaçã o, especialmente da lı́ngua; em todo caso, sempre
me humilharei, especialmente quando as coisas dã o errado. Poucas
morti icaçõ es corporais, mas contı́nuas, e sem estar muito amarrado a
elas. Eu nunca vou aceitar sal; Nunca comerei fruta à noite, nem beberei
mais do que uma taça de vinho. Alé m disso, em geral, deixarei sempre
um pedacinho de tudo o que for colocado na minha frente: vinhos,
iguarias, frutas, bolos, etc. Nunca vou pegar o menor pedaço de pã o que
nã o seja o que encontrar na mesa no inı́cio da refeiçã o, nem direi uma
palavra a ningué m sobre o que posso estar perdendo. Em geral, mais do
que materialidade, vou atender ao espı́rito de morti icaçã o, ajustando-
me à s peculiaridades de cada caso.
8. Poucas devoçõ es em particular, mas bem conservadas. Insisto no
costume da recitaçã o diá ria do ofı́cio da Virgem, aproveitando os
momentos perdidos do dia, subindo ou descendo as escadas, indo ou
saindo das aulas, da capela, para um passeio, etc. A prá tica a que mais
me aplicarei será a visita diá ria ao Santı́ssimo.
9. Alegria sempre, paz, serenidade, liberdade de espı́rito em todas as
coisas. Quando me reconhecer como iel aos meus propó sitos, louvarei
de todo o coraçã o a meu Deus que tudo fez; quando estiver ausente,
terei cuidado para nã o desanimar. Deus permitirá que me humilhe cada
vez mais e me abandone inteiramente em seu seio de amor. Depois de
uma ofensa, um ato de profunda humildade; depois recomeçarei feliz,
sempre sorrindo, como se Jesus tivesse me acariciado, me dado um
beijo, me levantado com as pró prias mã os, e retomarei minha marcha
segura, con iante, feliz em nome do Senhor. Oh bom Jesus, você sabe
que eu quero te amar.
Diário espiritual
Sábado, 20 de dezembro de 1902. Veja um pouco se nã o tenho a
oportunidade de me humilhar o tempo todo. Saı́ dos sagrados
Exercı́cios esta manhã com o desejo de me comportar bem,
principalmente de acordo com as regras, o que é fá cil imaginar depois
de tanta graça de Deus. No entanto, no exame particular de hoje e no
geral desta noite, vi claramente que já caı́ em uma sé rie de pequenas
falhas e iz um conjunto de coisas tã o imperfeitamente que me obriga a
pensar seriamente. O que é tudo isso? Tudo meu. E entã o, de outra
forma, eu encontro uma maneira de me mimar, como se eu fosse o tipo
perfeito de homem. Quantas distraçõ es na recitaçã o do ofı́cio divino
com meus companheiros recé m-ordenados e o pequeno ofı́cio da
Virgem. E a palavrinha de outra turma para o colega de classe, a outra
palavrinha no tempo de silê ncio e o falar bem feito dos pró prios fatos,
embora indiferentes, seriam atos de virtude? E assim começo a cumprir
os propó sitos?
Em geral, minhas coisas precisam daquela vitalidade sagrada que as
torna perfeitas, saborosas. A descontraçã o, o bom humor, també m sã o
necessá rios nas prá ticas de piedade, para que as oraçõ es e os pró prios
afetos nã o apareçam ao Senhor adormecidos, pois facilmente corre-se o
perigo de exaurir sua condescendê ncia. Portanto, tenha bom â nimo; e
nos humilhar. Nossos defeitos sã o mais um tı́tulo que nos estimula a
nos unirmos cada vez mais a Deus, o ú nico que pode curar nossas
doenças. Hoje eu estava errado. O que você poderia esperar de
mim? Amanhã , mais atençã o e mais con iança: Senhor, vê s a minha
indignidade, ajuda-me, tu é s a minha esperança.
22 de dezembro de 1902. Senhor Jesus, me humilho até o pó diante de
ti. Veja como estou infeliz: você me faz sentir com a sua mã o, todos os
dias, a qualquer hora, quando penso em mim. Lamento, e estou de novo
com as distraçõ es, com a falta de decisã o, de facilidade nas minhas
coisas; com tantas imperfeiçõ es, principalmente na fala. Poré m, a
vontade irme, determinada, nã o me falta; Sinto-me perturbado,
inquieto, ao descobrir o pequeno fruto prá tico dos exercı́cios
recentes. Meu Senhor Jesus, que as tuas graças nã o sejam em vã o. Nã o
tenho mais coragem de me apresentar a você . Faltam apenas dois dias
para as festas de seu nascimento, e você já está esperando meus
presentes. Senhor, só tenho a contriçã o e a dor de nã o poder agradar-te,
enquanto sinto um grande desejo de te amar, com uma vontade irme
de manifestar o meu afecto com obras. Ajuda-me para que nestes dias
eu conserte o passado, prepare a minha alma para a tua vinda, para que
no dia de natal a minha alegria seja mais profunda sabendo que me
olhas com prazer, me acaricia e me in lama na tua santa
caridade. Maria, Sã o José , um olhar e um apelo para mim
també m. Jesus, Maria e José , que ele viva, sofra e morra por
você s. Como é doce repetir essas palavras.

23 de dezembro de 1902. Hoje as coisas vã o menos mal do que


ontem; Amanhã eles devem ser melhores do que hoje, e assim sempre,
com a graça de Deus. Insisto num princı́pio que nã o meditei o
su iciente: devo fazer cada uma das coisas, rezar cada oraçã o, cumprir
aquele ponto do regulamento, como se nã o tivesse mais nada para fazer,
como se o Senhor me tivesse colocado no mundo apenas para fazer
bem essa açã o, e minha santi icaçã o dependia do sucesso dela, sem
pensar nas coisas antes ou nas coisas por vir. E um grande crité rio que,
aplicado escrupulosamente, tem a virtude de afastar as distraçõ es como
a á gua benta faz o demô nio fugir. Mas para que surta efeito é necessá rio
praticá -lo desde as primeiras açõ es da manhã . Amanhã deve ser um dia
de grande recolhimento e grande fervor. Jesus está perto, vai romper os
vé us sagrados do ventre materno; Ele já fez ouvir sua voz
amorosa: Olha, eu vou (Ap 16:15). E devo me preparar com atençã o
especial para esta vinda dela, pois espero lucros imensos dela. Tenho
grandes coisas para comunicar a ele, e ele tem inú meros grandes
benefı́cios para conceder a mim. Amanhã , meu pensamento, meu
coraçã o deve estar o dia todo antes do taberná culo, transformado
nestes dias na caverna de Belé m. Venha, Jesus, e nã o demore: minha
alma agora descansa com esperança.
24 de dezembro de 1902. A noite já caiu; estrelas claras e brilhantes
brilham na atmosfera fria; vozes altas e discordantes chegam aos meus
ouvidos da cidade: sã o os alegres do mundo que se lembram da
pobreza do Salvador com suas festanças; à minha volta, meus
companheiros dormem em seus quartos, e ainda estou acordado,
pensando no misté rio de Belé m. Venha, venha Jesus, espero por
você . Marı́a e José , sentindo a hora que se aproxima, rejeitados pela
populaçã o da cidade, saem para o campo em busca de abrigo. Sou um
pobre pastor, só tenho um está bulo miserá vel, uma pequena
manjedoura, algumas palhas; Eu te ofereço tudo, digna-te aceitar este
pobre lixã o. Depressa, Jesus, aqui está o meu coraçã o; minha alma é
pobre e nua de virtude, as palhas de minhas inumerá veis imperfeiçõ es
te machucarã o, te farã o chorar; mas, oh meu Senhor, o que você
quer? Isso é o quã o pouco eu tenho. Sua pobreza me comove, me
amolece, me traz lá grimas aos olhos; mas nã o sei como lhe oferecer
nada melhor. Jesus, embeleza a minha alma com a tua presença, enfeita-
a com as tuas graças, queime estas palhas e transforme-as em cama fofa
para o teu santı́ssimo corpo.
Jesus, espero por ti; os maus rejeitam você ; Lá fora sopra um vento
cortante; deixe você congelar, venha ao meu coraçã o; Eu sou pobre, mas
vou dar-lhe todo o carinho que puder; pelo menos quero te ver
satisfeita pelo bom desejo que tenho de te fazer uma boa recepçã o, de
te amar muito, de me sacri icar por ti. De sua parte, você é rico e vê
minhas necessidades; Vó s sois uma chama de caridade e vais puri icar o
meu coraçã o de tudo o que nã o é o vosso Santı́ssimo Coraçã o; tu é s
santidade incriada, e me encherá s de graças fecundas de verdadeiro
progresso no espı́rito. Vem, Jesus, tenho tantas coisas para te dizer,
tantas dores para te con iar, tantos votos, tantas promessas, tantas
esperanças. Quero te adorar, beijar tua testa, ó menino Jesus, me
entregar a ti mais uma vez, para sempre. Venha, Jesus, nã o demore,
aceite meu convite, venha. Mas, coitado de mim, a noite avança, o sono
me vence, a caneta cai das minhas mã os. Deixa-me dormir um pouco, ó
Jesus, enquanto tua Mã e e Sã o José preparam a estadia.

Eu deito aqui para descansar, no frescor da brisa noturna. Assim que


você vier, a clareza de sua luz deslumbrará minhas pupilas; Teus anjos
me despertarã o com as doces harmonias da gló ria e da paz, e correrei
de alegria para te receber, para apresentar meus pobres dons, minha
casa, todo o pouco que tenho, para te adorar, para te mostrar meu
carinho com o outro pastores que vê m comigo e com os espı́ritos
celestiais, que cantam hinos de gló ria ao seu coraçã o. Venha, eu espero
por você .
26 de dezembro de 1902. Ele veio e me consolou; Pude conversar com
ele em voz baixa, dizer-lhe tudo o que ele queria. Só uma coisa eu nã o
iz, ou iz de forma incompleta: deixei de expressar minha gratidã o, ao
contrá rio do que meu pai espiritual havia me dito. Gratidã o signi ica a
certeza de receber novas graças. Tenho pensado muito exclusivamente
em mim, com muito interesse, e isso é uma sé ria falta de
sutileza. Procurarei, portanto, manifestar-lhe o meu agradecimento
com uma vida ao seu gosto, imitando aquelas virtudes de que nos deu
prova tã o eloquente no seu abençoado Natal.
Mas é precisamente aqui que sinto a necessidade da sua ajuda, ao dar-
lhe graças. Se penso em meus desejos, em minhas disposiçõ es, sou um
santo, reconheço; mas se observo as obras, coitado de mim, como sou
feio, como sou deformado. Nã o consigo manter ininterrupta com Jesus
aquela torrente de santas aspiraçõ es, de presença do espı́rito, que deve
ser como a á gua em que navego.
Oh meu Saint Louis, oh Saint John Berchmans, como me vejo longe de
sua uniã o com Deus. No entanto, é preciso fazer um esforço aos poucos
e nunca me preocupar, como faço quando vejo que nã o estou
conseguindo nada; isso també m é amor pró prio. Eu també m notei outra
coisa. Como é que, depois de ter conversado muito com algué m, mesmo
sem querer o meu pró prio elogio, quando penso nisso depois me
encontro na amargura, no desâ nimo? E o amor pró prio que lamenta o
amor pró prio: sã o as lá grimas do crocodilo.
A verdade é que quanto mais falo de mim, mais perco na virtude; A
vaidade aparece em cada palavra, mesmo na que parece mais
inocente. Devo me convencer de que estando com as pessoas, com
meus colegas, com meus superiores, minha funçã o é calar-me
docemente, ou dizer apenas as palavras exigidas por necessidade ou
conveniê ncia; pelo menos nunca fale de mim, a nã o ser que me
perguntem, e mesmo neste caso digam algumas palavras, para nã o
chamar a atençã o do ouvinte. Devo sempre me considerar indigno de
estar com meus companheiros por causa de minhas falhas; Como terei
coragem de pedir desculpas a eles?
27 de dezembro de 1902, Santo Estêvão, São João Evangelista. Ontem a
Igreja recordou a memó ria de Santo Estê vã o e nã o pude resistir à
necessidade de homenagear este glorioso primeiro atleta da fé em Jesus
Cristo. Até poucos anos atrá s, Santo Estê vã o nã o chamava minha
atençã o em nada porque eu nã o o conhecia; Só depois de ter
conseguido formar uma ideia menos imprecisa de sua missã o e de sua
obra, esta grande igura de heró i se impô s em minha mente, em meu
coraçã o, e agora sinto uma simpatia especial por ele, eu o venero com
profunda e terna afeiçã o, con io-me à sua intercessã o. Santo Estê vã o foi
o primeiro a mostrar que sabia intuir, na sua totalidade, a ideia
cosmopolita da nova religiã o, e deu os primeiros golpes no exclusivismo
judaico, abrindo novos canais para a regeneraçã o de Cristo, lançando-se
com ousada certeza em um novo caminho que era considerado fechado
para a expansã o do Cristianismo, e pelo qual Cristo Jesus seria levado
ao seu triunfo por todas as naçõ es.
A grande alma de Sã o Paulo teve a gloriosa tarefa de conduzir pela mã o
a nova religiã o e, fora de Jerusalé m, fazer com que fosse reverenciada e
abraçada por gregos e romanos; Mas Estê vã o tem a honra de ter dado o
primeiro golpe e de ter selado sua gloriosa iniciativa com seu sangue, e
foi o primeiro sangue derramado apó s a morte de Jesus. Primado
glorioso, que coloca o jovem má rtir na posiçã o mais pró xima do divino
má rtir do Gó lgota, tornando assim mais preciosa e venerada a sua
coroa nobre.
Santo Estê vã o, do meu quarto solitá rio envio uma calorosa saudaçã o de
afecto fraterno, porque foste e morreste jovem como eu e pela mesma
causa pela qual vivo, e espero pelos teus restos que dormem na grande
paz do Campo Verano, junto com os de seu grande e afortunado
concorrente, o diá cono Sã o Lourenço. Conceda-me sua fé , sua coragem,
seu entusiasmo e, acima de tudo, sua força indomá vel, seu heroı́smo.
29 de dezembro de 1902. O caminho da humildade, da uniã o com Deus,
buscando em minhas obras nã o o meu gosto, mas o de Deus, esses sã o
os trê s pontos principais nos quais meu pai espiritual tem focado seus
conselhos para meu verdadeiro progresso espiritual. Existem trê s
princı́pios que devo ter sempre diante dos olhos, para colocá -los em
prá tica; esta é minha tarefa hoje, e nada mais. No que diz respeito à
humildade, evitarei falar de mim na primeira pessoa tanto quanto
possı́vel; Devo fugir dos pronomes eu, mim, como se fossem cobras; Vou
tomar cuidado com conversas vã s, especialmente em certas
circunstâ ncias e sobre certos assuntos. As superiores se dignaram a
con iar-me o cargo de enfermeira, uma nova oportunidade para me
humilhar, para praticar a caridade, a gentileza e me exercitar em algum
pequeno sacrifı́cio. Ainda esta noite nã o sei se poderei passá -lo em
paz. Desejo-o, nã o tanto para mim, que ico bastante feliz por fazer
algum bem, mas para aquele pobre colega meu que está ao lado do meu
quarto, em condiçõ es bastante sé rias e delicadas.
Meu Senhor Jesus, querida mã e Maria, se meus sacrifı́cios podem servir
de alguma forma para aliviar seus sofrimentos e afastar todos os
perigos, aqui estou eu para tudo, até mesmo me fazer sofrer o que você
quiser, terei o maior prazer em experimentá -lo em pelo menos uma vez
com minhas açõ es. Amo você e, em você , meu irmã o que o representa.
31 de dezembro de 1902. Em poucas horas este ano nã o existirá mais,
terá passado para o domı́nio da histó ria. Com o passar do ano, eu
també m e aguardo com alegria o novo amanhecer. Quantos anos ainda
verei, antes de chegar à eternidade? Talvez muitos, talvez poucos, talvez
nem mesmo um inteiro.
Meu Senhor Jesus, tu és sempre o mesmo e os teus anos não acabam (Sl
102,28). Que eu tenha minha lamparina cheia de ó leo no ano em que
você quiser me chamar, para que nã o me jogue nas sombras da
morte. Enquanto isso, caio de joelhos diante do meu Deus e, meditando
sobre os benefı́cios que me foram concedidos este ano, me humilho até
o pó e agradeço-lhe de todo o coraçã o. Devo sempre me lembrar de
1902: o ano da minha vida militar, o ano das batalhas. Pude perder
minha vocaçã o com tantos outros pobres infelizes, e nã o a perdi; santa
pureza, a graça de Deus, mas Deus nã o o permitiu. Passei pela lama e
ela impediu que me manchasse: ainda estou vivo, saudá vel, robusto
como antes, melhor do que antes. Jesus, eu te agradeço, eu te amo.
1903
Notas espirituais
1º de janeiro de 1903. Vi a primeira luz de outro ano. Bem-vindo em
nome do Senhor; Consagro ao coraçã o amoroso de Cristo, para que seja
para mim um ano verdadeiramente fecundo de boas obras, o ano em
que me torno verdadeiramente santo. Jesus, de novo e estou sempre
com você . Amanhã , primeira sexta-feira do mê s e do ano novo, é um dia
especialmente dedicado à homenagem ao Sagrado Coraçã o: será um dia
de fogo e de amor extraordiná rio. Há algum tempo depois de deixar os
sagrados Exercı́cios tenho sentido uma necessidade muito forte de me
consolidar em meus propó sitos, de despertar o espı́rito, que já começa
a se inclinar, para exemplos generosos, en im, para começar de
novo. Estou, portanto, obrigado, embora possa me arrepender, a
confessar minha infelicidade. Sou um pobre pecador, um servo in iel e
inú til; Estou cheio de orgulho para a coroa; Estou distraı́do, sou
ignorante, nã o sou nada. Meu Jesus, misericó rdia.
O ano novo começou; portanto, nova vida. Penso na Sagrada Comunhã o
de amanhã como um evento da maior solenidade; Farei como se
amanhã estivesse saindo dos sagrados Exercı́cios: vou relembrar todos
os sentimentos daquele dia, as promessas, as disposiçõ es, re letindo
especialmente naquela parte de mim mesma onde me sinto mais fraca,
segundo a triste experiê ncia desses poucos dias. Meus princı́pios
diretivos nã o mudaram: humildade em tudo, especialmente nas
palavras; uniã o com Deus, e isto é o principal, de que hoje sinto maior
necessidade; busque em tudo e sempre o gosto de Deus e nã o o meu; a
cabeça em seu lugar, em mim, atendendo à vida devota e nã o a
entusiasmos fora do tempo; por enquanto, estudo intenso, controlado e
calmo; em tudo e sempre uma grande paz e suavidade de espı́rito.
Amanhã , alé m disso, as aulas recomeçam: sinto a necessidade, a paixã o
de estudar. Iniciarei o novo perı́odo sob os auspı́cios do Sagrado
Coraçã o de Jesus, que me oferece a ocasiã o mais propı́cia para
isso. Enquanto isso, Jesus, espero por ti; cansado de minha longa
perambulaçã o distraı́da, virei cair em seu seio para me recuperar e
tomar fô lego no meu caminho. Jesus, olhe para as suas ovelhas que
voltam; prepare comida para mim, porque estou com fome.
4 de janeiro de 1903. Os estudos em que me ocupo nã o devem ser
motivo de distraçã o, mas, pelo contrá rio, asas poderosas com as quais
me elevo a Deus, moro nele, alegria e prelú dio da visã o beatı́ ica. Muitas
vezes, com os estudos, me acontece que me esqueço dos meus
propó sitos, perco a presença do espı́rito, a piedade me atrai menos,
sinto que me falta o ar puro e oxigenado que respira em torno da vida
devota. Preciso ter certeza de que meu estudo seja uma oraçã o contı́nua
e a oraçã o um estudo ininterrupto. Sobretudo vigilâ ncia à s
super icialidades, leveza, hobbies em relaçã o ao estudo, coisas novas,
novos livros, novos sistemas, novas pessoas. Tenha cuidado e preste
atençã o à s minhas palavras a esse respeito. Devo levar tudo em
consideraçã o e acompanhar o movimento ascendente da cultura
cató lica com interesse, mas com a devida proporçã o.
Sempre me lembrarei de algumas frases daquele bom e culto autor de A
Imitação de Cristo: «Certamente, no dia do juı́zo, nã o nos perguntarã o o
que lemos, mas o que izemos; nem quã o bem falamos, mas quã o
religiosamente vivemos ... Verdadeiramente aquele que se considera
pequeno é grande e tem a maior honra em nada. Na verdade, é
prudente considerar tudo o que é terreno como esterco para ganhar a
Cristo. E realmente é sá bio quem faz a vontade de Deus e abandona a
sua ”.
7 de janeiro de 1903. Minha vida é um sacri ício contínuo. Já não sou eu
que vivo, é Jesus quem vive em mim. Sã o Paulo poderia usar essas
expressõ es porque sua grande alma, seu coraçã o generoso ardia
perenemente no amor a Deus e aos homens. Desejo apenas felicidades
para os quais os fatos nã o correspondem bem. Senhor, dá -me graça
para que te mostre com obras que te amo de verdade. Nã o vou perder
mais palavras: sou um pobre mendigo, como sempre me diz meu pai
espiritual; Estendo a mã o e peço com voz queixosa: Senhor Jesus, tu é s
rico e bom, dá -me esmola.
8 de janeiro de 1903. Ontem, meu culto professor de histó ria eclesiá stica
deu um conselho que parece dirigido especialmente a mim: leia pouco,
leia pouco, mas bem. E o que se diz das leituras, aplico a tudo: pouco,
mas bom ... Quantos livros li no curso dos meus estudos, nas fé rias, no
exé rcito. Quantas obras, quantos jornais, quantas revistas. E o que eu
me lembro de tudo isso? Nada ou quase nada. Quantas obras
espirituais, quantas vidas de santos. O que eu lembro disso? Nada ou
quase nada. Sinto a mania de querer saber tudo, conhecer todos os
autores de valor, me atualizar com todo o movimento cientı́ ico em suas
mú ltiplas expansõ es, e na verdade eu leio aqui, devoro outro escrito ali,
e recebo muito pouco fruta. Portanto, acalme-se nisso
també m. Pequeno, mas bom. Não tenha muito desejo de saber, porque
nisso há grande obstáculo e engano.
9 de janeiro de 1903. Meus dias devem ser sempre muito quentes, dias
de fogo como quando sob o açoite da onda de calor no ano passado iz
aquelas marchas desesperadas em que suava uma gota a cada io de
cabelo. Estou sempre a serviço de meu Rei Jesus Cristo e sirvo a Jesus
Cristo cuidando de meus colegas que estã o na enfermaria. O sol
escaldante que carrego no peito, desde a sagrada comunhã o da
manhã . Já nã o sou eu que vivo, é Jesus quem vive em mim. Jesus, se eu
pudesse estar realmente ofegante e suado de amor prestando meu
serviço a você , meu glorioso capitã o.
11 de enero de 1903. El autor de La imitación de Cristo me da un consejo
que re leja exactamente mis necesidades de hoy, teniendo en cuenta
tambié n las circunstancias especiales en que me encuentro: Por eso,
velemos y oremos, no se nos pase el tiempo em vão. Você pode e deve falar,
são coisas que edi icam. Portanto, muita atençã o: nã o deixe escapar uma
migalha de tempo de mim conversando inutilmente; uma vez concluı́da
uma açã o, outra começará imediatamente, sem intervalos. E quando
posso falar, imponho-me como princı́pio nunca falar de mim nem bom
nem mau, nem mesmo aludir aos meus factos, a nã o ser que me
perguntem expressamente. De resto, sempre boas conversas,
impregnadas de um profundo sentido de virtude e espı́rito eclesiá stico.
13 de janeiro de 1903. Esta tarde, oitavo dia da Epifania, fui a Sã o
Silvestre in Capite para assistir, com todo o seminá rio, ao encerramento
do octavá rio de Jesus Menino instituı́do pelo Ven. Pallotti. Os bispos
representantes dos diversos ritos cató licos compareceram com grande
pompa e ostentaçã o de vestimentas muito variadas. Jesus brilhou na
hó stia aos pé s do presé pio artı́stico. Quantos pensamentos me vieram à
mente, quantas emoçõ es ao coraçã o, antes de Jesus adorado pelos
pastores e pelos Reis Magos. Pensei na vocaçã o dos gentios, nas
missõ es cristã s espalhadas pelo mundo, na Igreja verdadeiramente
cató lica, quer dizer, universal. O Senhor Jesus, a tua estrela apareceu em
todo lugar, mas quantos ainda nã o a conheceram; A voz dos apó stolos
ressoou nos con ins da terra, mas quantos nã o a ouvem ou tentam
abafá -la. Um dia, os reis vieram de Tá rsis e das ilhas para trazer seus
presentes; Hoje os reis da terra nã o cuidam de ti absolutamente, nã o
reconhecem os teus direitos, cuspiram na tua cara a triste recusa do
Faraó : Não conheço o Senhor (Ex 5,2) Que horror. Faça suas palavras se
tornarem realidade. Agora que você foi levantado do chã o, atraia todas
as coisas para você . Ela ilumina as trevas do paganismo, limpa e
desaloja a falsa luz da heresia. Que todos os povos te sirvam, te amem,
te aclamem como seu Senhor. Seu é o reino, seu poder e a glória para
sempre.

16 de janeiro de 1903. A força de tocá -lo com a mã o, convenci-me de


uma coisa: quã o falso é o conceito que formei da santidade aplicado a
mim mesmo. Em cada uma das minhas açõ es, nos pequenos defeitos
rapidamente percebidos, trazia à mente a imagem de algum santo que
me propus a imitar em todas as coisas, mesmo nas menores, como um
pintor copia exatamente uma pintura de Rafael. Ele sempre dizia se Sã o
Luı́s, nesse caso, faria assim e assim, ele nã o faria isso ou aquilo,
etc. Mas aconteceu que nunca consegui fazer o que imaginava que
poderia fazer, e isso me deixou inquieto. E um sistema errado. Da
virtude dos santos devo tirar a substâ ncia e nã o os acidentes. Nã o sou
Saint Louis, nem devo me santi icar exatamente como ele o fez, mas sim
como meu ser exige, que é diferente, meu cará ter, minhas diferentes
condiçõ es. Nã o devo ser uma reproduçã o rı́gida e seca de um cara,
embora esteja perfeitamente bem. Deus quer que, seguindo o exemplo
dos santos, absorvamos o suco vital da virtude para convertê -lo em
nosso sangue, adaptando-o à s nossas aptidõ es particulares e
circunstâ ncias especiais. Sã o Luı́s, se ele fosse o que sou, teria sido
santi icado de uma maneira diferente da que seguiu.
18 de janeiro de 1903, retiro mensal. Ontem assisti ao funeral do Cardeal
Parocchi, celebrado em San Lorenzo de Damaso. Foi um ato que
manteve minha mente absorvida ao longo do dia, e nã o foi fá cil livrar-
me de sua impressã o. No tumulto de sentimentos que enchem o meu
coraçã o, nã o pude deixar de enviar uma calorosa saudaçã o de
admiraçã o e carinho a este grande homem que só bastou para ilustrar o
Sagrado Colé gio e que, durante um quarto de sé culo, fez gente. fale dele
para o mundo cristã o. O cardeal Parocchi foi uma dessas iguras que
raramente aparecem nos anais da Igreja. Bastava pronunciar seu nome
para silenciar aqueles que acusavam a Igreja de ignorâ ncia; diante dele
até mesmo o profano se curvava em reverê ncia, e nã o havia homem de
ciê ncia que nã o hesitasse em falar em sua presença. Nã o havia parte do
conhecimento que seu talento nã o alcançasse; nã o houve pessoa
instruı́da que nã o tivesse lidado com ele. Semelhante ao seu amor pela
verdade, por tudo o que é belo e bom, o amor fervoroso e indomá vel
pela Igreja e pelo Papa ardia em seu peito. O cardeal Parocchi pode ser
julgado de maneira diferente em termos de idé ias polı́ticas: Eu sei que
nã o faltam insinuaçõ es maliciosas a esse respeito; mas ningué m poderá
jamais atacar sua impecabilidade, seu entusiasmo pela Igreja e pelo
Pontı́ ice, mesmo quando, como sempre acontece com as almas
generosas, sua virtude é severamente testada. Oh, se eu tivesse sua
ciê ncia e sua virtude, poderia muito bem me considerar satisfeito. Sua
morte foi universalmente lamentada e considerada um verdadeiro luto
pela Santa Sé . Ontem, em torno dos seus restos mortais, vi todo o
mundo representado, prestando uma ú ltima homenagem de louvor a
quem tanto iluminou ao seu redor. Cardeais, bispos, generais de ordens
religiosas, cientistas ilustres, nacionais e estrangeiros, eclesiá sticos e
seculares, representantes diplomá ticos, e todos, em tã o grande nú mero
como eu jamais os vi, bem como uma multidã o de pessoas que oravam,
haviam se reunido em torno de seu tú mulo.

As palavras solenes com que a Igreja implora de Deus a gló ria do cé u
pelos seus ilhos falecidos e anuncia a ressurreiçã o e a vida nas trevas
do tú mulo, nunca me comoveram tanto como naquela é poca. Ah, sim,
seja concedida a ele, à alma do ilustre cardeal, aquela luz eterna e plena,
que irradiava esplendorosamente; a ele que creu, que amou, que
sempre esperou a ressurreiçã o em Cristo Jesus, um justo valorizado
pela obra de seus servos ié is.
Por outro lado, os serviços fú nebres do Cardeal Parocchi introduziram-
me, sem sentir, no meu retiro mensal, que comecei ontem à noite, e
forneceram-me um material muito oportuno para a meditaçã o sobre a
morte. As aplicaçõ es foram muito fá ceis para mim, principalmente
considerando minha autoestima, minha vaidade, etc .; as deduçõ es,
surpreendentemente claras. Quanto ao resto, com a graça de Deus, o
retiro nã o deu errado e espero que seja frutı́fero e com ó timos
resultados. Do exame de consciê ncia para a minha conduta neste
primeiro mê s que me separa dos sagrados Exercı́cios, parece que se os
ú ltimos Exercı́cios trouxeram algum benefı́cio para a minha alma,
porque Deus assim o quis, ainda tenho um muito, muito, quase tudo
para fazer. Até agora eu apenas comecei a olhar para o terreno e me
orientar sobre o que fazer a seguir. A noite avança e me impede de
expor em detalhes os propó sitos feitos para o novo trabalho. Eu os
reduzo a duas palavras.
Começo do inı́cio, como se até agora nã o tivesse feito nada,
nada. Procurarei a perfeiçã o nas minhas prá ticas de piedade, nas
principais e nas pequenas. Atençã o escrupulosa à linguagem, evite
conversas prolongadas, temas quentes que na prá tica sã o pouco menos
do que inú teis; morte para si mesmo em conversas; o eu deve estar no
mundo como se nã o existisse; delicadeza e caridade requintada ao falar
dos outros. En im: uma mente serena, uma alma alegre mesmo nos
reversos do amor-pró prio, tudo exclusivamente atento para fazer o que
deve ser feito, aqui e agora, com a maior perfeiçã o; e, alé m disso,
sempre tende bom â nimo no Senhor Jesus.
20 de janeiro de 1903. Até hoje, em geral, nã o tem sido ruim: e já é algo
pelo qual devo agradecer a meu Deus. Acima de tudo, quero lembrar
duas coisas: muita calma em tudo, especialmente quando me engano e
quando pratico meus atos de piedade, e vigilâ ncia escrupulosa da
lı́ngua e de mim. Hoje, San Sebastiá n; amanhã , Santa Inê s; dois jovens,
dois heró is, um soldado, uma virgem. A eles dirijo o meu pensamento
fervoroso, a minha oraçã o, para que com a coragem, com o entusiasmo
do soldado e com a pureza imaculada da Virgem, se acrescente a sua
perseverança de má rtires.
22 de janeiro de 1903. Está chovendo lá fora, está chovendo em
abundâ ncia. Por caridade, que minha alma nã o seja destruı́da; Parece-
me que um pouco de á gua começa a penetrar nele. Muita atençã o a
certas issuras, quase imperceptı́veis, mas traiçoeiras. Pode ser uma
palavrinha a mais ou, com um pouco de amor pró prio, uma ação ou
um agimus rezado apressadamente. Olho. Depois do primeiro vem o
segundo, o terceiro, o quarto; com a palavrinha e com o ágimus mal
orado vê m as conversas inú teis, os rosá rios distraı́dos, as
meditaçõ es. Muita atençã o. O que se pode dizer de mim: Imensas águas
não poderiam extinguir o amor, nem rios, afogá-lo.
23 de janeiro de 1903. Hoje estive em Jesus e assisti ao encerramento do
trı́duo solene em honra da Sagrada Famı́lia. A questã o do divó rcio, uma
desgraça iminente para o paı́s e para a Igreja na Itá lia, reuniu em torno
dos trê s santos personagens uma multidã o incontá vel de cristã os, que
rezaram para que as famı́lias fossem libertadas de um desastre.
Parece-me impossı́vel que o Senhor nã o se digne ouvir tantas oraçõ es
fervorosas que vê m de todas as partes da Itá lia. Poré m, como o futuro
está em suas mã os, tenho certeza que tudo redundará em sua gló ria, e
isso me basta e me consola. Seja qual for o curso que as coisas
tomarem, continuarei orando. Hoje em dia, será bom para mim pensar
com freqü ê ncia na Sagrada Famı́lia; associar-me aos seus sentimentos,
implorar e imitar as suas virtudes, das quais mais tenho
necessidade. Jesus, Maria e José , meus amores mais doces: que eu viva
em vó s, sofra por vó s, morra por vó s.
27 de janeiro de 1903. Prestarei atençã o, acima de tudo, em permanecer
reservado ao falar, principalmente dos outros. Quanto mais a lı́ngua se
move, os perigos aumentam, as falhas abundam. Expansã o, sim; mas
delicadeza sempre.
29 de janeiro de 1903. Hoje foi um dia de festa; Passei-o na companhia
de Sã o Francisco de Sales, meu doce santo. Que bela igura de homem,
de padre, de bispo. Se eu fosse como ele, nã o me incomodaria, mesmo
que me izessem Papa. Muitas vezes é doce para mim pensar nele, em
suas virtudes, em sua doutrina. Quantas vezes li sua vida. Quã o suaves
suas frases ressoam em meu coraçã o. Como me sinto mais disposto a
ser humilde, meigo e calmo à luz de seus exemplos. Minha vida, o
Senhor me diz, deve ser uma có pia perfeita da vida de Sã o Francisco de
Sales, se quiser produzir algum bem. Nada de extraordiná rio em mim,
na minha conduta, fora da maneira comum de fazer as coisas. Grande e
ardente amor por Jesus Cristo e sua Igreja; serenidade de espı́rito
inalterá vel, doçura inefá vel com os outros, isso é tudo. Oh meu santo
amoroso, aqui, diante de você , neste momento, quantas coisas eu
poderia dizer a você . Amo-te com ternura: para ti terei sempre um
pensamento; para você meu olhar. Oh San Francisco, nã o tenho
palavras, veja o que sinto e faça o que preciso para ser como você .
31 de janeiro de 1903. Um minuto de tempo perdido, uma palavra dita
sem propó sito ou necessidade, é o su iciente para deixar meu coraçã o
angustiado por vinte e quatro horas. Tudo isso é excelente, nã o há
dú vida. Portanto, devo aprender à s custas de mim mesmo e de meu
orgulho. Meu bom pai espiritual vive me dizendo que devo sempre lutar
pelo mais perfeito: o que pode ser mais agradá vel a Deus. Dado este
princı́pio inabalá vel, nã o deveria haver razõ es que me compelem a
satisfazer minhas inclinaçõ es. Jesus, olhe para a minha misé ria: só você
pode me elevar até você ; Eu me coloquei em suas mã os como um
homem morto. Jesus, dê -me vida.
1º de fevereiro de 1903. A alegria pura e delicada, que sempre deve
encher meu coraçã o, encontra sua manifestaçã o mais sincera em
pequenas açõ es. Muita atençã o: portanto, nã o basta saber suportar com
certa paciê ncia as coisas opostas, para que os outros nã o percebam
nada; Devo sentir em mim uma suavidade e uma doçura inefá vel que
nunca me abandona, que faz brotar os sorrisos nos meus lá bios,
sorrisos que devem ser precisamente mais joviais quando, no esforço
de nã o me aborrecer, me sinto pelo menos inclinado à seriedade. Em
suma, minha paciê ncia deve ser alegre e sorridente, e nã o muito sé ria,
caso contrá rio, corro o risco de perder todo o cré dito.
2 de fevereiro de 1903. O pensamento de que sou obrigado, como minha
principal e ú nica tarefa, a me tornar um santo a todo custo, deve ser
minha preocupaçã o constante; mas preocupaçã o serena e calma, nã o
opressora e tirâ nica. Devo me lembrar disso o tempo todo, desde a
primeira vez que abri os olhos pela luz da manhã , até fechá -los para
dormir à noite. Portanto, nã o voltemos aos caminhos, aos costumes de
outra é poca. Serenidade e paz, mas constâ ncia e
intransigê ncia. Descon iança absoluta e baixo conceito de mim mesmo,
acompanhados de uma comunicaçã o ininterrupta de afetos com
Deus. Nesta tarefa e neste empreendimento, ajuda-me, bom
Jesus. Maria, mostre que você é minha mã e.
3 de fevereiro de 1903. Amanhã , primeira sexta-feira do mê s, grande
festa por ser dedicada ao Santı́ssimo Coraçã o de Jesus. Lembrança
extraordiná ria, morti icaçã o da lı́ngua e grande fogo. Coraçã o de Jesus,
in lamado de amor por nó s, in lama os nossos coraçõ es no vosso amor.
6 de fevereiro de 1903. A preocupaçã o mais sé ria que me agita
atualmente é a do estudo. Em ú ltima aná lise, tudo é amor
pró prio. Costuma-se pensar que é impossı́vel ser homens
verdadeiramente grandes sem possuir ciê ncia no mais alto grau. Isso é
raciocinar de acordo com as má ximas do mundo, e devemos nos
acostumar a pensar de forma diferente. Minha verdadeira grandeza
consiste em fazer plena e perfeitamente a vontade de Deus. Se Deus
quisesse que eu queimasse os livros e me tornasse um pobre leigo,
consagrado aos serviços mais humilhantes de um convento
desconhecido e desprezado, o coraçã o sangraria, mas deveria sangrar e
assim se tornaria verdadeiramente grande. Portanto, nã o vamos deixar
sua cabeça esquentar muito, por caridade.
15 de fevereiro de 1903, aposentadoria. Minhas anotaçõ es mostram dez
dias de interrupçã o. Porque isso? Nã o sei como explicar. Eu sou o
culpado? Creio que nã o. Por outro lado, nã o devo icar muito chateado
quando nã o há culpa. Do contrá rio, se isso me machuca, seria apenas
um sinal de um apego exagerado. A perfeiçã o nã o consiste nisso, mas
em amar a Deus e em me desprezar diante dele.
Hoje, embora nã o me atrevesse a chamá -lo assim, foi um dia de retiro:
um retiro sui generis. O dia todo nã o iz nada alé m de lembrar que era o
dia da aposentadoria. Passei as horas como os superiores me
impuseram: na capela, no jardim, no recreio, num passeio e nada
mais; nenhuma meditaçã o, re lexõ es especiais, prá ticas devocionais,
nada. Como está minha consciê ncia? Certamente em uma situaçã o
ligeiramente diferente de um mê s atrá s. Nã o sei o que dizer. Estamos
em um estado de progresso? Aparentemente, nã o. Abundam as
distraçõ es, aquela escrupulosa presença de espı́rito dos primeiros dias
se desvaneceu um pouco; de vez em quando, um quarto de hora
desperdiçado inutilmente e assim por diante. Com tudo isso, estou
calmo; quando eu realmente começo a querer fazer, nã o sei como achar
melhor; Nã o sei como explicar esse estado de coisas. A ú nica soluçã o
me parece esta: que o Senhor me deixe em minhas faltas para que me
humilhe cada vez mais, e diante de minhas misé rias me aproximo cada
vez mais de seu coraçã o amoroso, que é minha verdadeira vida. Por
isso, bendito Jesus, me abandono a Ti, ao teu ventre, com minhas
distraçõ es, atos de orgulho e pecados. Nã o sei fazer outra coisa. Eu nã o
faço inalidades especiais. O pensamento sempre em você ,
principalmente nestes dias de carnaval; grande tranquilidade e
resoluçã o contı́nua nas minhas faltas de cada momento; o regulamento
em tudo e por tudo, e dando graças a Deus. Jesus, esperança da alma,
lembra-te de mim.
18 de fevereiro de 1903. Um homem nunca é tã o grande como quando
está de joelhos. E uma frase bonita, digna do grande cavaleiro de Cristo
que foi Luis Veuillot. Vamos lembrar bem e sempre. A ciê ncia nã o é ,
portanto, o á pice da grandeza e da gló ria, mas o conhecimento de nó s
mesmos, de nosso nada diante de Deus; a consciê ncia da necessidade
de Deus, sem o qual somos sempre muito pequenos, mesmo que
subamos à s alturas dos gigantes. Oh Mary, oh Mary.
20 de fevereiro de 1903. Hoje é um grande dia. Nosso Santo Padre
completou o vigé simo quinto ano de seu ponti icado. O mundo cató lico
pô s-se a seus pé s para lhe apresentar as suas felicitaçõ es, as suas
homenagens por ocasiã o do fabuloso acontecimento que só aconteceu
duas vezes em dezanove sé culos. E um facto que mais maravilha e que,
num ambiente tã o cé tico, tornou palpá vel a presença do dedo de Deus
na sua Igreja: um Papa que disse estar à beira da morte quando recebeu
a tiara e que resistiu. voracidade. Cinco dé cadas de tempo, ele encheu a
terra com seu nome glorioso, e enquanto seus perseguidores passaram
e, com suas cabeças orgulhosas quebradas contra a pedra sobre a qual
está sua cadeira apostó lica, eles desceram um apó s o outro ao tú mulo,
ele sobrevive a todos, maravilhosamente jovem em seus 93 anos, para
proclamar aos povos entorpecidos as obras de Deus.
No forte aplauso com que os peregrinos lombardos, dignos de suas
tradiçõ es, saudaram o venerá vel anciã o com testemunhos de gratidã o
que se ergueram majestosamente sob a cú pula de Michelangelo, com as
notas do hino ambrosiano, a explosã o de entusiasmo dos povos, a
batida do coraçã o ardente da humanidade imensamente bem-
aventurada na alegria deste dia tã o esperado. També m junto a minha
voz à do mundo, també m rezei pelo grande Papa, hoje no meio da
multidã o, junto ao tú mulo de Sã o Pedro. Ah Leon, Leon, sobe ao cé u,
fé rtil de bê nçã os de prosperidade, de vitó ria, por ti e pelo teu trabalho,
minhas pobres oraçõ es; vem a ti, confundido com o aplauso universal,
os votos humildes mas ardentes, de um coraçã o jovem, que nã o
conheces, mas que te venera, te ama com verdadeiro afecto de ilho, te
professa adesã o indomá vel, devoçã o incondicional. Que o Senhor te
guarde, ó Leã o, para o bem da Igreja e do paı́s; para a gló ria, para o
triunfo de Cristo em seu povo; Que nunca cesse de infundir na tua
igura eté rea aquele sopro poderoso de vida divina com que abre à s
nossas almas, sedentas de felicidade, horizontes mais claros de justiça e
de caridade evangé lica; Que vos faça felizes na terra, no afecto dos
vossos ilhos, na veneraçã o da Sé Apostó lica, nos frutos abundantes da
acçã o da Igreja; Que ele te liberte dos inimigos, teus e dele, e te faça ao
menos ver de longe o alvorecer daquele grande dia de paz em que,
vencedores e perdedores, nesta luta secular pelo triunfo da verdade e
do amor, se abraçam fraternalmente diante seu trono de pai ao invé s de
soberano, enquanto você levanta sua mã o trê mula para acariciá -los e
abençoá -los. Você é Pedro: você é Cristo.
24 de fevereiro de 1903. Esta noite termina o dia de fé rias que, segundo
o costume do mundo, se chama carnaval. Duas coisas me marcaram de
maneira especial nesta festa: a festa da querida Virgem da Con iança e a
visita à s Sete Igrejas. O doce e gentil pensamento de Maria, a cuja
imagem devota, venerada na capelinha dos teó logos, estã o ligadas
tantas memó rias da histó ria ı́ntima; o santo exercı́cio da penitê ncia, que
preenche nossas mentes com as iguras majestosas dos inú meros
mortos que nos ensinaram como amar verdadeiramente a Jesus
Cristo; que inunda o nosso coraçã o de santas afeiçõ es, com propó sitos
e icazes e, ao mesmo tempo, nos une aos gloriosos santos que nos
precederam na devota peregrinaçã o, exemplo luminoso de virtudes
cristã s e sacerdotais em tempos nã o distantes e pouco diferentes dos
nossos Eles nã o podiam deixar de suscitar sentimentos de virtude e
devoçã o sincera e, espero, com a graça de Deus, duradouros. Amanhã ,
depois do ar de agitaçã o e tranquilidade destes dias, voltaremos ao
estudo sé rio, à s ocupaçõ es mais sé rias, ao exercı́cio mais atento e
recolhido da virtude. O Senhor se dignou a fazer-me passar pelas
diversõ es e passatempos destes dias sem que a alma sofresse grandes
distraçõ es, e a fazer-me sentir um té dio, como se fosse uma grande
estupidez. Nã o creio, por outro lado, que o carnaval, mesmo para nó s
eclesiá sticos, possa merecer outro nome, se nã o merece um pior.

Graças a Deus que este ano també m acabou. Enquanto isso, nesta
ú ltima noite, o mundo continua suas loucuras e, com que medida, com
que atrevimento, nos teatros, nos bailes de má scaras, nas casas do
pecado, nos jardins e até nas ruas e praças. Enquanto isso, o coraçã o
amoroso do meu Jesus está ofendido. Oh, Jesus, adormeço participando
de sua dor e pensando em sua dolorosa paixã o. Que o meu desejo vivo
de te ame faça esquecer os desejos diabó licos de tantos infelizes irmã os
meus e chegar a todos os que amanhã descerã o, solenes e fecundos de
melhores propó sitos, as palavras da Igreja, recordando o que somos e o
que queremos esteja no maior dia de nossa vida: pó você é e pó você se
tornará .
26 de fevereiro de 1903. Quaresma; portanto, seriedade, temperança,
morti icaçã o, recolhimento, oraçã o. Minha vida será assim hoje em
dia. Por outro lado, devo me preparar para a sagrada ordem do
subdiaconato. O que Saint Louis teria feito? O Jesus, estou unido em
espı́rito a ti, que jejuaste no deserto durante quarenta dias, e com a
oraçã o preparaste-te para a tua vida pú blica. Que ele aprenda algo de
você nestes dias, para que a Pá scoa marque mais um passo no caminho
da virtude, da unidade e da glori icaçã o do espı́rito com você .
3 de março de 1903. Dia do triunfo. Viva o Santo Padre. Hoje, em San
Pedro, meu coraçã o parecia que estava inundado naquele oceano de
amor de todo o mundo, ali representado, ao Papa. Durante a missa
solene, só soube protestar, diante do tú mulo dos Apó stolos, meus
sentimentos de fé viva e ardente, e minha irme resoluçã o de trabalhar
e consumir minhas forças a serviço de Jesus Cristo, da Igreja, do
Papa. Santo Padre, sou todo seu, apresento armas. Abençoe-me para me
tornar um santo, digno de ser seu ilho.
7 de março de 1903. Nã o posso encerrar este dia sem um ú ltimo
pensamento ao glorioso mé dico angelical Santo Tomá s de
Aquino. Quanta grandeza naquele pobre frade, quanta sabedoria,
quanta santidade. Dê a todos que estudam, a mim em particular, uma
grande liçã o. Quantas vezes no ardor do estudo a piedade ica em
segundo plano; e quase parece que o tempo dedicado aos exercı́cios
devocionais é considerado inú til. E, no entanto, Sã o Tomá s, antes de ser
o maior teó logo de seu tempo, foi um santo, e precisamente por ser
santo ele alcançou um alto grau de sabedoria. Santo Tomá s, enquanto
estudo nos teus preciosos volumes, faz-me compreender bem esta
verdade: se quero tornar-me verdadeiramente um homem capaz em
todos os ramos, realizar plenamente os meus ideais, ser ú til à causa de
Cristo e da Igreja, eu devo me santi icar a todo custo.
18 de março de 1903. Exames, doenças, relutâ ncia fı́sica, pedidos há
muito me impedem de colocar duas linhas por escrito. Hoje tentei de
alguma forma fazer o saque mensal. Nada de extraordiná rio nos
propó sitos. Amanhã tirarei melhor as minhas conclusõ es com o bom
Sã o José , de quem espero a graça do verdadeiro recolhimento. Hoje em
dia me sinto tã o estranha, entorpecida, pesada, que mal consigo icar de
pé ; uma dor de dente nunca para de me atormentar. Senhor, você vê . O
espı́rito está pronto, mas a carne é fraca.
19 de março de 1903. Quã o doce, calmo, gentil, sereno é o pensamento
de Sã o José . No meio da minha persistente relutâ ncia, perguntei-lhe
uma coisa: o verdadeiro espı́rito da vida interior, especialmente a graça
de fazer o bem na meditaçã o e na santa comunhã o. Eles sã o os
resultados prá ticos de minha aposentadoria; e considero sua aplicaçã o
a coisa mais necessá ria nas condiçõ es atuais de minha vida
espiritual. Glorioso Sã o José , rogai por mim.
22 de março de 1903. Tenhamos cuidado com pensamentos
inoportunos, com distraçõ es inadvertidas, mas perigosas,
especialmente nas primeiras vezes. Nunca devo me cansar de
me dedicar à leitura. Cuide de você e do que ensina (Tim 4,13,16): na
minha vida espiritual nã o há fé rias. Mais uma vez, os sagrados
Exercı́cios estã o se aproximando; portanto, preparemo-nos melhor
para receber a graça de Deus: as sagradas ordens estã o a dois
passos. Oh Senhor, oh Senhor. Sou teu? Senhor, eu nã o sou digno.
24 de março de 1903. Amanhã , grande festa. Os sinos de todo o mundo
repetirã o com alegria a primeira saudaçã o a Maria. Os anjos
responderã o com suas doces cançõ es, os homens repetirã o a saudaçã o
com entusiasmo. Maria, entre as vozes que se levantam para ti Virgem
jubilosa, benigna, doce e piedosa, ouve també m a minha. Ave Maria.
25 de março de 1903. O Verbo se fez carne. Nã o há palavras mais solenes
do que estas, que humilhaçã o, que amor. Ele se fez carne no ventre de
Maria. Quanta grandeza para a Virgem, quanta gló ria. Bem, um dia, tal
evento se repetirá atravé s de mim. O Verbo feito carne virá em minhas
mã os, descerá ao meu coraçã o sob as espé cies do pã o e do vinho,
novamente sacri icado pela minha salvaçã o e de todo o mundo. Está
chegando a hora: como posso pensar em outras coisas? Como posso
permitir que minha mente se desvie desse pensamento por um ú nico
momento? Oh Jesus, oh Mary.
1 ° de abril de 1903. Esta tarde recomeçaram os sagrados Exercı́cios de
preparaçã o para a sagrada ordem do subdiaconado. Vamos deixar as
coisas como estã o até agora, boas ou ruins, e começar um novo jogo
imediatamente. Se Jesus me concedeu apenas uma graça nestes dias:
uma grande recordaçã o nas meditaçõ es. E por que ele nã o se digna a
conceder isso para mim? Consagro estes dias de sagrado retiro ao
sofredor Sagrado Coraçã o. Venha, Espı́rito Santo, luz incriada, encha
minha mente com clareza, acenda em meu coraçã o o santo desejo de
virtude, lave minhas manchas, amoleça minha dureza, cure minhas
feridas. Maria, Virgem dolorosa, que na angú stia da cruz me deu à luz
como um ilho, mostra-te minha mã e. Sã o José , você me deu exemplos
tã o claros, deve me fazer chegar à vida interior. Santos Apó stolos Pedro
e Paulo, sua fé , seu amor. Meus mais doces protetores, Sã o Francisco de
Sales, Felipe Neri, Iná cio de Loyola, Sã o Luı́s, Estanislau e Juan
Berchmans, Sã o Alexandre o má rtir, Sã o Carlos Borromeu, intercedei
por mim. Meu anjo da guarda, a ti con io especialmente a minha
recordaçã o: tira as minhas distraçõ es, dá -me â nimo na minha
relutâ ncia, manté m-me calmo, sereno, disciplinado em tudo. Ilumine-
me, mantenha-me, guie-me, governe-me. Assim seja.
Páscoa nos EUA, para pedidos de subdiáconos (1 a 10 de abril de 1903)
Jesus, estou diante de você novamente este ano para ouvir suas liçõ es
divinas. O meu coraçã o deseja consagrar-se solenemente a Vó s, de uma
vez por todas. A Igreja me chamou, você me convida: Estou aqui (Sl
39,8). Nã o prevejo pretensõ es, nã o trago planos pré -concebidos; Eu me
esforço para me despojar completamente, nã o sou mais meu. Minha
alma está diante de você como uma pá gina em branco. Senhor, escreva
o que quiser; sou teu.
1. Amigo, o que você veio fazer? Conhecer a Deus, amá -lo, servi-lo ao
longo da vida; apó s a morte, para desfrutá -la para sempre no
paraı́so. Todas as respostas da ciê ncia nã o valem o que sã o essas
palavras curtas do catecismo das crianças. Os deveres da minha vida se
resumem nestas trê s palavras, só tenho que fazer isso: conhecer, amar,
servir a Deus, sempre e a todo custo; A vontade de Deus deve ser
minha, a ú nica que devo buscar até nas menores coisas. E este é o
primeiro e fundamental princı́pio.
E as outras coisas que me cercam? Se Deus os deu para mim, eles sã o
um acré scimo: eles nã o foram concedidos a todos, nem a todos em igual
medida. Sua razã o de ser é servir ao homem na realizaçã o de seu
im. Qualquer outro uso que eu izer deles é ruim, inverte a ordem da
natureza, me leva a uma cegueira deplorá vel. Com respeito a eles,
minhas relaçõ es se resumem naquela preciosa lei da indiferença em
que os santos realmente se destacam. Cito, para todos você s, meu Sã o
Francisco de Sales. Indiferença que nã o é apatia natural, como a de
certos personagens, mas virtude sobrenatural, desapego de tudo,
quando está em jogo a vontade ou o prazer de Deus; tranquilidade,
calma, elevaçã o de espı́rito, iloso ia profunda por meio da qual, tendo o
olhar ixo em ideais mais elevados, nã o nos preocupemos com essas
coisas, baixas e sem valor; Ou, como se apresentam, nos servem como
asas poderosas para nos elevar a Deus, para nos exercitar na virtude,
para nos tornar santos. Especi ico aqui alguns casos prá ticos, nã o sem
razã o, no que me diz respeito, que convé m manter atualizados na
memó ria.

Os bens da fortuna, as riquezas, o Senhor poderia dar a mim ou nã o; ele


nã o tinha direito a eles. Era sua vontade privar-me deles. Por que devo
lamentar? Sua ausê ncia é um meio de santi icaçã o para mim. Portanto,
bendito seja o nome do Senhor. As vezes, a necessidade severa me
obriga a contrair uma pequena dı́vida com o tesoureiro, e sinto por isso,
uma tristeza indescritı́vel. Isso nã o está indo bem. E Deus quem
permite, e isso basta.
Talento e memó ria sã o dá divas de Deus. Por que icar triste se outra
pessoa é mais rica nisso do que eu? Nã o fui capaz de receber ainda
menos do que Deus me deu? O resultado dos exames, as boas notas, sã o
coisas que, gostando ou nã o, me preocupam muito. Mas se iz tudo o
que Deus queria de mim, o que o sucesso ou o fracasso de meus estudos
importa para mim?
As vezes nas mesmas prá ticas de piedade, depois do esforço de todo o
meu ser para me manter sob controle, para sentir toda a doçura de
conversar com Deus, nada consigo: o coraçã o parece de pedra, as
distraçõ es se sucedem sem interrupçã o, o Senhor parece ter se
escondido. A tristeza, o desâ nimo me assaltam, me perturbam. Fora,
fora todas essas fraquezas. Sejamos felizes, calmos, mesmo nessas
circunstâ ncias. Ainda mais, vamos nos consolar porque Deus quer que
seja assim. A cada momento, chuva ou sol, frio ou calor, de uma forma
ou de outra os superiores grandes e pequenos, devo sempre encontrar-
me no mesmo estado de espı́rito: nunca uma palavra de reclamaçã o ou
desaprovaçã o, nem em pú blico nem em privado; Um sorriso alegre,
sincero, cordial deve sempre aparecer em meus lá bios; e os
acontecimentos agradá veis nã o devem me fazer perder a cabeça, nem a
amargura da vida esmagar meu espı́rito. Com isso, as impressõ es dos
sentidos, as vozes da natureza, nã o sã o negadas. O prazer do amor de
Deus, o doce e total abandono ao seu bom prazer deve absorver em
mim tudo o mais, ou melhor, transformar, sublimar todos os
movimentos de minha parte inferior.
A prá tica deste princı́pio deve ser o trabalho de todos os tempos, de
todos os lugares e circunstâ ncias, e um dos principais pontos de
discussã o em meus exames de consciê ncia. Jesus, manso e humilde, que
eu compreenda esta verdade e a aplique à minha vida em sua
perfeiçã o. Sim, Senhor, porque assim te pareceu bem, fecho a boca e nã o
abro de novo, porque é s tu que age. Que o nome do Senhor seja sempre
bendito. Maria, virgem e doce mã e, ajuda-me.
2. Um simples pensamento de amor pró prio foi su iciente para causar a
ruı́na eterna de uma in inidade de espı́ritos nobres. A fraqueza de Eva
em se permitir ser seduzida pela serpente foi a causa de todos os males
da humanidade. Que liçã o para mim. Se é verdade que cada pequeno
ato de virtude corresponde a um acú mulo de graças, també m deve ser
verdade que negligenciar, mesmo que um pouco, tais atos, quando o
Senhor me oferece a oportunidade de realizá -los, pode ser o inı́cio da
falta de muitos obrigado, sem os quais nã o posso fazer nada,
absolutamente nada. A luz dessa verdade, devo considerar aquelas
minhas falhas que muitas vezes sã o chamadas de pequenas e que
geralmente sã o negligenciadas. Aqui está a origem da marcha lenta e
desordenada de minha vida espiritual. Nã o é uma questã o de maior ou
menor dignidade ou benevolê ncia da parte de Deus; é uma questã o de
correspondê ncia por parte do homem. Os agradecimentos estã o
sempre prontos, nossas falhas impedem sua aplicaçã o.
Portanto, vigilâ ncia escrupulosa nas menores ocasiõ es; extrema
delicadeza em todas as minhas obras. A santidade dos santos nã o se
baseia em eventos barulhentos, mas em pequenas coisas que aos olhos
do mundo parecem ninharias. Jesus Cristo, nos primeiros trinta anos de
sua vida, oferece-me uma liçã o luminosa a esse respeito. Veja e faça de
acordo com o modelo.
3. Volto ao mesmo assunto, porque em meio à aridez e desolaçã o do
espı́rito nestes primeiros trê s dias de Exercı́cios Deus se dignou a fazer-
me compreender um pouco a sua importâ ncia para o estado atual da
minha alma. Nã o posso dizer exatamente se alguns dos deslizes de
meus primeiros anos alcançaram a maldade dos pecados
mortais. En im, para aquela idade eram coisas muito sé rias, e até hoje,
diante de Deus, tenho muita vergonha deles. Eu gemo como um
condenado; a culpa ruboriza meu rosto. Depois daquelas primeiras,
quantas e quais outras faltas aconteciam a cada dia, a cada hora:
distraçõ es, atos de amor pró prio, negligê ncia no estudo, tempo
perdido; falta de caridade nos pensamentos, nas palavras, nas
açõ es; pequenas vaidades. Meu Deus, meu Deus, que aglomeraçã o. Eles
seriam o su iciente para me esmagar. Portanto, sou um pecador e um
grande pecador, eu vejo, sinto, estou convencido, tenho vergonha
disso. Oh Deus, eu imploro que você me perdoe.
Agora, colocando as premissas, vamos raciocinar um pouco. Eu iz
penitê ncia pelos meus pecados? Nã o, em absoluto. E, no entanto, é
verdade que terei de satisfazer todos os quadrantes restantes para
tudo. Portanto, devo sempre me considerar em dı́vida com o Senhor; O
cuidado escrupuloso no cumprimento dos meus deveres mais
insigni icantes é , acima de tudo, uma obrigaçã o de justiça muito
severa; nã o uma atençã o, um acré scimo. Enquanto eu nã o pagar minhas
dı́vidas, nã o tenho o direito de reclamar de Deus porque ele me envia
tribulaçõ es, aridez de espı́rito e coisas do gê nero. Quando me sinto
oprimido, abandonado, sozinho, devo inclinar suavemente a cabeça,
contentar-me com o melhor de minha capacidade e dizer: eu mereço,
que assim seja. Jesus, eu te abençoo, eu te agradeço, eu te amo. Mesmo
em meio à s minhas misé rias, o Senhor me encheu de graças contı́nuas,
grandes e singulares. Por que eles nã o surtiram efeito? Por que neste
momento nã o sou um santo como Sã o Luı́s, Sã o Estanislau e mais do
que eles? Minhas pequenas falhas sã o as culpadas.
Como explicar a quase absoluta falta de recolhimento, de benefı́cio em
minhas meditaçõ es dos ú ltimos Exercı́cios até agora, a aridez espiritual
desses primeiros dias dos sagrados Exercı́cios, a dureza de meu coraçã o
diante dos mais sé rios e tremendos verdades que estremeceram até os
santos mais inocentes? Talvez isso possa ser explicado pela lembrança
das palavras faladas de vez em quando em tempo de silê ncio, as outras
pequenas violaçõ es das regras e assim por diante. Tudo é correlativo
em minha vida espiritual. Da mesma forma que as graças se chamam,
multiplicam-se ordenadamente, as falhas que, també m acontecendo
umas com as outras, destroem os efeitos das graças e, multiplicando-se
ad in initum, me levam à beira do precipı́cio.
O ponto principal é este: cada regra quebrada, nã o importa quã o
pequena, cada imperfeiçã o, cada palavra mal colocada, cada minuto é
um dé icit medonho em minha vida espiritual. Entã o, vamos fazer as
contas certas. Olho muito ino e severo: cuidado com os primeiros
pontos fracos.
4. Depois que a tempestade vem calma; por isso, meu bom Senhor, apó s
trê s dias de desolaçã o e espera, dignou-se a apresentar-me à sua
audiê ncia e iluminar-me com um feixe de luz. Um exame cuidadoso de
mim mesma, dos meus movimentos de amor-pró prio, fez-me descobrir
em mim, alé m da minha imaginaçã o que ela é sempre a grande louca da
casa, dois motivos, por assim dizer, que se agitam e procuram impõ em-
se: a razã o razoá vel, a minha pró pria razã o, e a razã o do outro eu que
está em mim e é meu formidá vel inimigo. Quando medito seriamente,
peneiro o bem em geral e nos casos prá ticos, é a outra razã o que
sempre encontra distinçõ es e objeçõ es, aquela que zomba de todas as
minhas resoluçõ es, sempre encontra objeçõ es e lenitivos a seu
favor; admiravelmente auxiliado pela imaginaçã o, faz todo o possı́vel
para nublar minha mente, para derramar á gua em bons
propó sitos; impõ e-se à razã o razoá vel, nã o deixa saı́da, sempre
audaciosa e impertinente, sempre tirâ nica.
Você tem que estar alerta para nã o se confundir. Na maioria das vezes é
um jogo do diabo, que tenta pescar no rio turbulento, tenta nos
desencorajar dessa forma e destruir os melhores sentimentos e
propó sitos. Basta-me conceber bons pensamentos: por exemplo, de
humildade, de rejeiçã o aos meus pecados, com seriedade e decisã o,
mesmo quando nã o vejo nem entendo todas as razõ es ı́ntimas do
assunto, e ico irme diante de qualquer agressã o, mantendo sempre a
porta do consentimento fechada. Deus está contente com isso, ele nã o
pede mais.
Sempre me lembrarei do que me sugere Sã o Francisco de Sales: «Que o
diabo (a outra razã o, isto é , a do outro) bata e grite à porta do teu
coraçã o, apresentando-te mil imaginaçõ es e pensamentos importunos
; Uma vez que ele nã o pode entrar exceto pela porta do consentimento,
mantenha-a bem fechada e nã o se preocupe muito. Nã o se preocupe
com as sombras pairando ao redor do seu barco, nem tema enquanto
Deus estiver lá . Entã o, quando se trata de pensamentos de auto-estima,
reputaçã o, honras, posiçõ es eminentes e coisas do gê nero, contanto que
eu nã o dê a eles uma chance e faça um esforço para nã o prestar atençã o
neles, eu nã o preciso estar chateado. Basta icar irme no nã o,
tenazmente, sem ouvir argumentos ou raciocı́nios capciosos, e nã o me
canso de negar meu consentimento, aduzindo pensamentos e
sentimentos de humildade. O amor-pró prio nã o terá nada a ver.
5. Sempre que penso no grande misté rio da vida oculta e humilhada de
Jesus durante seus primeiros trinta anos, minha mente ica cada vez
mais confusa e as palavras me faltam. E muito evidente: diante de uma
liçã o tã o luminosa, nã o só os julgamentos do mundo, mas també m os
julgamentos e crité rios da maioria dos eclesiá sticos, desaparecem
completamente, estã o exatamente do lado oposto. Quanto a mim,
confesso que ainda nã o tive uma ideia exata. Por mais que me estude,
parece-me que nã o alcancei mais do que a forma externa de humildade,
mas seu verdadeiro espı́rito, o ama nesciri de Jesus Cristo em Nazaré , só
me é conhecido pelo nome. E pensar que Jesus passou trinta anos de
vida oculta, sendo Deus, sendo o esplendor da substâ ncia do Pai, vindo
para salvar o mundo, e que ele fez tudo isso apenas para nos ensinar o
quã o necessá ria é a humildade e como ela deve ser praticada ... Eu, um
grande pecador, miserá vel em excesso, penso apenas em agradar-me,
em entregar-me a triunfos com vistas a um pouco de honra
mundana; Nã o sei como conceber nem mesmo o pensamento mais
sagrado, sem provar minha pró pria reputaçã o antes que outros entrem
nela; Embora aparente devoçã o, espı́rito de caridade e sacrifı́cio, nã o
sei sonhar com um ideal muito puro, sem que o outro eu venha a
procurar o seu lugar, a querer ser visto, a ser admirado de perto e de
longe, de todos, se possı́vel. E o pior é que eu, no inal das contas, nã o
sei me adaptar a nã o ser com grande esforço à ideia do verdadeiro
esconderijo, como praticado e ensinado por Jesus Cristo.

Confessemos, entã o, pelo menos - e é uma das impressõ es especiais


desses sagrados Exercı́cios, que deve ser lembrado em todos os
momentos - que: 1) Serei ainda mais verdadeiramente grande e digno
de reputaçã o diante de Deus e antes homens e será tanto mais frutı́fero
meu ministé rio, quanto mais eu amo a ocultaçã o; 2) no que diz respeito
à verdadeira humildade, ainda estou muito longe de conhecer e praticar
seu primeiro grau; 3) Devo pedir continuamente ao coraçã o amoroso
de Jesus por luz mansa e humilde, mais luz a este respeito, e ajuda para
que eu conceba, desde nada mais, desejos sinceros de humildade mais
perfeita, de despreocupaçã o pela minha estima, pela minha honra . Nã o
esquecerei que o Senhor quer que eu nã o apenas queira ser ignorado e
considerado como nada, mas també m desprezado. Devo atingir a
humildade su iciente para poder dizer: Estou cruci icado com Cristo (Gl
2,19). Por enquanto, Jesus, dê -me pelo menos o que eu realmente
quero.
6. Alé m de ser cheio de mim e apegado à minha reputaçã o, sou um
pobre ignorante; Sinto isso todos os dias, a cada hora; e quanto mais
estudo, mais me convenço disso. Devo me acostumar a me considerar
ignorante e sempre escolher a posiçã o que me convé m. Dessa forma,
certas suposiçõ es tolas perderã o suas asas. Esse sentimento deve
sempre me acompanhar na aula, no estudo, na conversa, em tudo. Terei
muito cuidado de nã o me gabar de nenhum conhecimento que possa
ter. També m nisso, meu lema será o desejo de ser ignorado; a minha
posiçã o perante os outros superiores e companheiros, será a do ilho
divino, Jesus: ouvi-los e perguntar-lhes.
7. Sinto que meu Jesus está cada vez mais perto de mim. Nestes dias, ele
me permitiu cair no mar, mergulhar na consideraçã o de minhas
misé rias, de meu orgulho, para me fazer compreender mais
imperiosamente a necessidade dele. Quando estou para afundar, Jesus,
caminhando sobre as á guas, vem ao meu encontro sorrindo para me
salvar. Queria dizer-lhe como Pedro: Afasta-te de mim, sou pecador (Lc
5,8); mas a ternura do seu coraçã o me avisa, a suavidade do seu
sotaque: Não tenhas medo (Lc 5,10). Nã o temo nada ao seu lado. Eu
descanso em seu seio; como a ovelha perdida, ouço a batida do seu
coraçã o; Jesus, sou seu mais uma vez, sempre seu. Com você eu sou
verdadeiramente grande; haste de cana fraca, sem você ; Eu sou uma
coluna, apoiada em você . Nunca devo esquecer minha misé ria, para
sempre tremer de mim mesmo; mas, embora humilhado e confuso,
devo com cada vez mais con iança apertar-me contra o teu coraçã o,
porque a minha misé ria é o trono da tua misericó rdia e do teu
amor. Bom Jesus, estou sempre com você , nã o se afaste de mim.
8. E Quinta-feira Santa, o grande dia do Coraçã o de Jesus, dia das suas
bodas e, ao mesmo tempo, do seu testamento de amor. Assim como um
raio de sol brilhante de repente dispersa as nuvens do cé u e traz a vida
de volta, assim meu bom Mestre se dignou a me erguer, iluminar-me
neste dia, que talvez seja o dia mais solene de todo o ano para
mim. Senti-me inundado de grande paz quando me aproximei para
recebê -lo; Senti toda a alegria da sua presença, ouvi com emoçã o o seu
ú ltimo discurso, as ú ltimas palavras de despedida e, tremendo
docemente em todo o meu ser porque nã o sei que ternura que
umedeceu os meus olhos, acompanhei-o ao repouso do monumento.
De que forma ele me mostra cada vez mais seu desejo de que em tudo
me consuma de amor por ele na devoçã o ao Santı́ssimo. Devo derivar
do Santı́ssimo Sacramento aquele desejo que sinto, que me agita, de
viver só para Jesus e a graça de ser preservado de tantos pecados que
certamente teria cometido sem sua ajuda. Como posso ser insensı́vel a
tal convite?
Na Ultima Ceia, Jesus, o Sumo Pontı́ ice, instituiu o sacerdó cio e agora
convida meu infeliz a participar de um ministé rio tã o elevado. Já há
vá rios anos preparado para o grande ato em vá rios graus e ordens
menores, agora me deseja ao seu serviço com uma dedicaçã o mais
solene e uma promessa indissolú vel de idelidade a si mesmo e de total
separaçã o das criaturas do mundo. Jesus, como desejo aquele momento
tã o esperado. Veja, Jesus, que eu abandono meu paı́s, parentes, minhas
redes pobres, tudo; e eu vou para o seu lado. Receba-me como você
recebeu Pedro, Juan, Mateo e os outros. Se eu nã o for digno de me
sentar à sua mesa, pelo menos estarei a seus pé s, para recolher as
migalhas que caem no chã o. Um dia nos seus tribunais vale mais que mil:
pre iro estar na soleira da casa do meu Deus para morar na casa dos
ímpios (Sl 83,11).
Só desejo uma coisa: perseverar constantemente em seu santo amor,
ser um com você , como você é um com seu pai. Como li nas tuas ú ltimas
palavras, na tristeza do teu semblante divino, a irrupçã o infernal do
beijo de Judas, do traidor. Jesus, rogo-te de mã os postas, a tremer de
medo: se sabes que um dia terei de perder as minhas promessas, faze-
me morrer imediatamente antes que eu dê o grande passo e te juro
idelidade.
9. Meu grande livro, do qual a partir de agora devo tirar, com maior
cuidado e carinho, as liçõ es divinas de alta sabedoria, é o
Cruci ixo. Devo me acostumar a julgar os eventos e todas as ciê ncias
humanas de acordo com os princı́pios desse grande livro. E muito fá cil
ser enganado por vã s aparê ncias e esquecer a verdadeira fonte da
verdade. Olhando para o Cruci ixo, verei que todas as di iculdades, as
questõ es modernas, teó ricas e prá ticas, no campo dos estudos estã o
resolvidas para mim. A soluçã o para todas as minhas di iculdades é
Cristo.
Se eu fosse recordar todos os bons pensamentos e sentimentos que o
Senhor achou por bem me inspirar e me fazer sentir durante estes dias,
ao considerar a paixã o de Jesus, uma semana nã o seria su iciente para
mim. Quando meu amor pró prio, aproveitando algum momento de
descuido, construir seus castelos no ar e quiser me fazer voar, pensarei
nestes trê s lugares: Getsê mani, a casa de Caifá s, o Calvá rio.
O cruci ixo deve servir como fonte de grande encorajamento e alı́vio em
minhas misé rias. Jesus estende seus braços na cruz para abraçar os
pecadores. Quando eu cometer algo errado ou me sentir perturbado,
imagino que estou prostrado aos pé s da cruz, como Madalena, e que
recebo na minha cabeça aquela chuva de sangue e á gua que jorrou do
coraçã o ferido do Salvador.
O Calvá rio, conclui Sã o Francisco de Sales, é a montanha dos amantes, a
academia do amor. E por isso que devo me tornar muito
familiar; també m porque ali aconteceu a primeira e mais solene
apariçã o do Sagrado Coraçã o.
Doçura inefá vel. Meu bom Jesus, quando morreu, abaixou a cabeça para
beijar aqueles que amava. E damos a Jesus tantos beijos quanto nossos
atos de amor. Longinus, diz Santo Agostinho, perfurou o lado de Cristo
com a lança, e eu entrei nele e aqui descanso seguro. Eu te louvo, Senhor,
porque me livraste, porque não permitiste que meus inimigos rissem de
mim.
10. A hora está se aproximando. Em breve, vamos preparar as
lâ mpadas: o marido já está aı́. Que alegria e conforto. Agradeço-te, ó
Jesus, porque com a sensibilidade me fazes sentir a alegria daquele
grande momento, em que, perante toda a Igreja, poderei consagrar-me
irrevogavelmente ao teu serviço no teu altar. Nã o olhe para minha
indignidade, mas para meus bons votos. Amanhã , com o primeiro sol,
quando todos os sinos do mundo te saudarem, levantado, você virá ao
meu encontro linda e cheia de gló ria, para celebrar minhas nú pcias com
você . Venha, Espı́rito Santo, nestas poucas horas que restam da noite:
in lamar, queimar, destruir, vivi icar, transformar meu coraçã ozinho,
fazer de mim um vaso digno de Jesus.
Maria, querida mã e, enxuga as tuas lá grimas: o teu ilho ressuscitará :
Rainha dos cé us, alegra-me, eu me abandono nos teus braços,
apresente-me a ele. Sã o José , casto esposo de Maria, Sã o Joã o
Evangelista, em cujo grande templo serei ordenado, tu que conheceste
as batidas do coraçã o de Jesus, comunica-me uma centelha do teu
amor. Santos Pedro e Paulo, santos má rtires de Roma e do mundo, doce
Sã o Francisco de Sales, e todos vó s, meus queridos especiais e amados
protetores, intercedei todos por mim. Prostro-me perante toda a corte
celestial, eu pecador, mas bendito por Jesus; Con io-me à s oraçõ es de
todo o paraı́so. Anjos puros que seguiram o Cordeiro imaculado,
coletaram seu sangue no Calvá rio e anunciaram sua gloriosa
ressurreiçã o, juntem-se ao meu anjo da guarda para suplicar ao
Espı́rito divino, suprir minha impotê ncia, comparecer à minha festa,
interceder por mim. Venha, venha, Senhor, minha alma o espera.
11. A doçura da minha ordenaçã o foi tã o grande que nã o sei como
expressá -la de forma alguma. Quão bela é a sua morada, Senhor Todo-
Poderoso. Minha alma suspira e desmaia pelas cortes do Senhor. Na
verdade, meu coração e minha carne estão entusiasmados em busca do
Deus vivo. A cerimô nia desta manhã em Sã o Joã o de Latrã o foi tã o
solene em si mesma - e mais solene para mim - que jamais a
esquecerei. Agora sou realmente um novo homem: a resoluçã o está
decidida. O mais eminente Cardeal Vigá rio, em nome do Sumo Pontı́ ice
e da Igreja, recebeu, abençoou e consagrou a minha renú ncia a todas as
coisas do mundo, a minha entrega total, absoluta e insubstituı́vel a
Jesus Cristo.
Quando, depois da prostraçã o solene, me aproximei do altar e o
Cardeal, recebendo meu voto, impô s-me o novo e glorioso lema,
parecia-me que os pontı́ ices, os confessores e os má rtires que
repousam nos tú mulos silenciosos do grande bası́lica Levantar-se-ã o
para me abraçar fraternalmente, cheios de alegria comigo, e se juntarã o
em coro aos anjos da ressurreiçã o cantando ao glorioso Jesus, que se
dignou a elevar tã o miserá vel criatura a esta altura. A lı́ngua nã o é
capaz de expressar a ternura daquele momento, mas sua memó ria
icará para sempre em meu coraçã o, e jamais deixarei de abençoar o
amor de meu Deus, sua grandeza, suas gló rias. A ú nica palavra que
consigo gaguejar é a expressã o de Sã o Paulo: já não vivo, é Cristo que
vive em mim (Gl 2, 20). Nã o, já nã o sou meu, pertenço a Jesus. Já o disse
muitas vezes, mas hoje o repito com maior entusiasmo: pertenço a
Jesus. Receba, Jesus, toda a minha liberdade.
Perdoa-me, Senhor, sim, cansado como estou, confuso por tã o grande
profusã o de graças, nã o sei como lhe apresentar a minha gratidã o. Este
tempo pascal será para mim uma festa ú nica, na qual, mais calma na
alegria ı́ntima da minha alma; Estarei gostando de sua doçura, nã o me
cansarei de sua festa de amor, comunicarei meus pensamentos, meus
ideais de uma nova vida em que se manifeste a chama daquele seu
amor que gentilmente acendeu em meu pobre coraçã o neste dia . O
Senhor me vestiu com o manto da alegria: aleluia, aleluia.
12. A ordenaçã o sagrada foi um epı́logo muito feliz para esses sagrados
Exercı́cios. Revestido de novas armas, transformado em outro eu, hoje
saio de novo para a batalha da vida, para a conquista do reino. Na pura
alegria que me embriaga, no entusiasmo que arde dentro do meu peito
para correr, para me sacri icar por Jesus, sou incapaz de formular
propó sitos especiais. Por outro lado, meu pai espiritual proibiu
expressamente, chamando minha mais viva atençã o para as conclusõ es
dos ú ltimos Exercı́cios do Natal passado. Cuidado escrupuloso em
cumpri-los, e o su iciente por enquanto. A partir de agora farei o que o
Espı́rito divino desejar.
Notas espirituais
12 de abril de 1903, dia de Páscoa. Este é o dia em que o Senhor agiu, seja
nossa alegria e nossa alegria. Verdadeiramente, Jesus me trouxe uma
grande Pá scoa de paz este ano. A jornada de hoje está destinada a
marcar um momento em minha vida. Depois de me preparar com os
sagrados Exercı́cios, dignou-se a conceder-me uma amostra das suas
carı́cias mais ı́ntimas, fez-me saborear de antemã o, ainda que
sensatamente, que servir a Deus é reinar. Novo subdiá cono,
o icialmente consagrado entre toda a corte celestial e toda a Igreja à
causa de Jesus como seu ministro, hoje estou verdadeiramente
embriagado pela segurança de me sentir livre com a santa liberdade
que ele nos trouxe com sua gloriosa morte e ressurreiçã o ; livre de
todos os relacionamentos na terra e mais á gil, mais cedo para subir à s
alturas do sacrifı́cio com ele e por ele. Jesus, trê mulo de reverê ncia e
amor, antes do inal deste dia sonhei e esperei tanto, prostro-me diante
de ti para te agradecer novamente, como sempre farei até que minha
vida se extinga, pela alegria com que tu te inundaste meu coraçã o, pela
divina honra que me concedeu ao me admitir entre os seus
eleitos. Ressuscitado convosco, iluminado pelo esplendor da gló ria e do
amor do vosso Coraçã o, no dia solene do triunfo, permite-me manter
sempre viva esta vossa graça que recebi nas ordens sagradas de ontem
e de hoje Eu realmente progredi.

14 de abril de 1903. Nã o me surpreenda nem lamente que nem sempre


sinto o meu Jesus tã o perto como nos dias dos Santos Exercı́cios e
especialmente nas Ordens sagradas. As outras ocupaçõ es materiais ou
outras, como estudo, recreaçã o, nã o há dú vida de que só indiretamente
me fazem direcionar minha mente e coraçã o para Deus. Mas ele
ordenou, e devo me consolar. Minha obrigaçã o é nã o me distrair com
todas essas ocupaçõ es. A ideia de agradar a Jesus e amá -lo deve ser
semelhante a envolver as minhas obras num banho saudá vel, com
memó rias frequentes e com todo um modo de trabalhar que se sustenta
na vida interior. Sã o José trabalhou de manhã à noite, mas seu coraçã o e
sua alma estavam sempre em Jesus. O santo amado, ajude-me a imitá -
lo.
16 de abril de 1903. Meu relacionamento com outras pessoas será
verdadeiramente sagrado quando eu for perfeito no falar. A este
respeito devo observar uma delicadeza singular e nunca me deixar
induzir, por qualquer motivo, a falar, ainda que menos bem, dos meus
companheiros ou do meu vizinho. As oportunidades de exercı́cio sã o
inú meras ao longo do dia. Aproveitarei para elevar a mente a Deus e
praticar atos de profunda humildade. A inal, devo estar convencido de
que meu pró ximo é sempre melhor do que eu e, portanto, digno do
maior respeito. O bom Jesus, põ e na minha boca uma sentinela e um
guardiã o à porta dos meus lá bios.
19 de abril de 1903, domingo em Albis . Hoje terminou a oitava da
Pá scoa e tive a honra de exercer a minha nova ordem na missa solene
do novo sacerdote na nossa igreja de San Apollinaris. Mas para mim a
Pá scoa continua e deve continuar sempre na verdadeira ressurreiçã o
do espı́rito, no progresso ininterrupto da minha santi icaçã o. Oh meu
Jesus, nã o, eu nã o quero me afastar de você . Fica connosco, Senhor,
porque é tarde e já amanheceu (Lc 24,29). Principalmente durante o dia,
nas ocupaçõ es normais, darei especial atençã o a duas coisas: sempre
me humilhar, em tudo, me esforçando para me desprezar diante de
Deus e també m dos meus colegas, porque eu preciso muito, eu toco.
com minha mã o o tempo todo. Em segundo lugar, permanecer sempre
humilde na presença de Jesus, radiante e luminoso no esplendor de seu
Sagrado Coraçã o sob as espé cies eucarı́sticas. O minha boa mã e,
professora da humildade, faça-me gostar de você .
22 de abril de 1903. Pecados e melancolia, um tanto descentrados. Devo
també m suportar com grande tranquilidade as coisas que ferem minha
suscetibilidade, as companhias de que nã o gosto; caso contrá rio, onde
está o mé rito, o prazer de Deus? Sempre me esforçarei para encontrar
virtudes, mesmo onde elas parecem nã o existir. Acima de tudo pensarei
que, devido ao imenso nú mero de meus defeitos, meus colegas talvez
tenham que fazer grandes sacrifı́cios para sustentar minha pobre
pessoa. Humildade, entã o; humildade sempre unida à alegria do
espı́rito, ininterrupta, feliz. Oh Jesus, faça-me humilde.
26 de abril de 1903. Hoje, 2.º domingo apó s a Pá scoa, o seminá rio
celebra a festa dos trê s santos protetores das crianças, cujos restos
mortais sã o preservados religiosamente sob o altar da capela. Foi uma
daquelas festas familiares agradá veis que fazem muito bem à alma. A
memó ria dos má rtires, da sua fé , do seu amor a Deus, aqui, nesta
bendita Roma, cuja terra ainda conserva a pú rpura do sangue cristã o, é
uma coisa quotidiana; mas é mais doce quando os laços que nos unem a
essas almas abençoadas sã o mais fortes. Eram trê s crianças pobres,
frescas como trê s lı́rios câ ndidos. A espada do perseguidor os abateu na
primavera da vida. Bem-aventurados eles. Aos olhos dos tolos, eles
pareciam morrer, mas estã o em paz. Nó s sabemos que eles viveram, que
morreram por Cristo, e nada mais. Mas Deus os conhece muito bem:
seus nomes, suas virtudes estã o escritos no livro da vida; suas testas
sã o coroadas de gló ria, sua alegria é inefá vel; sua memó ria,
imortal. Doces santos, Florentino, Só cio e Victorino, estendem a mã o
també m para que minha vida passe oculta, na abjeçã o; Que eu,
desconhecido do mundo, derrame o meu sangue pelo amor de Jesus,
para que um dia, vestido de gló ria, possa me associar à tua alegria e
acompanhar o cordeiro contigo por onde ele for.

28 de abril de 1903. Depois dos má rtires vem o confessor, aquele que
tinha todo o espı́rito do má rtir do Calvá rio, da mesma forma que tomou
o nome e a insı́gnia: Sã o Paulo da Cruz. Hoje iz uma visita aos seus
gloriosos restos mortais, ainda quase intactos, na encantadora igreja do
Monte Cé lio, na casa de dois invictos má rtires, os Santos Joã o e Paulo,
junto ao Coliseu, cuja areia ainda está manchada de sangue cristã o. Pedi
um amor verdadeiro a Jesus Cristo; à sua paixã o, um grande entusiasmo
pela vida de sacrifı́cio. Enquanto tantas almas souberam derramar o
seu sangue e, se nã o tiveram oportunidade de o fazer, encontraram a
forma de sacri icar a vida pelo amor de Jesus, nã o poderei impor a mim
mesmo a menor morti icaçã o na satisfaçã o de meus pecados, para meu
uso espiritual? para salvar almas? E algo humilhante para mim, tã o
grande pecador, diante de exemplos tã o luminosos de amor ao
sofrimento, de trabalho incessante para a gló ria de Deus. Devo me
convencer de que, sem me acostumar de agora em diante a suportar
com alegria as perseguiçõ es, as dores fı́sicas e morais, nunca me
tornarei santo, nem mesmo serei um homem que valha alguma coisa na
vinha de Jesus Cristo. O meu Senhor, pelas oraçõ es deste teu ilustre
imitador, concede-me grande e alegre paciê ncia nas minhas tribulaçõ es
e uma sede ardente de tudo suportar contigo e por teu amor. Se
sofrermos com ele, também seremos glori icados com ele (Rm 8:17).
29 de abril de 1903. Nestes dias, Roma está celebrando a vinda de
Eduardo VII, Rei da Inglaterra. Bandeiras, tapeçarias, decoraçõ es de
rua, uniformes novos em folha, plumas, soldados, des iles militares,
recepçõ es, aplausos de um povo que logo amaldiçoará amanhã . E uma
sucessã o deslumbrante, uma agitaçã o, uma comoçã o, uma confusã o,
uma loucura. A multidã o por um momento esquece suas preocupaçõ es
mais urgentes; até os empresá rios, os homens sé rios do mundo, icam
fascinados com a grande novidade, e todos gritam um
pouco. Porque? Para um homem pobre, talvez moralmente inferior a
tantos e tantos esquecidos pelo mundo e pela fortuna; um homem que
ontem, no dia da solene coroaçã o, a que assistiram os mais seletos da
Europa, o violento ataque de uma doença tornou-se objecto de
compaixã o e desilusã o; e que amanhã um novo ataque do mal pode
fazer desaparecer de cena em poucos minutos e cair no esquecimento
para sempre. Este homem está revestido de grande autoridade, é rei de
uma das maiores naçõ es e por isso merece ser honrado, respeitado.

O mundo faz barulho ao redor desse homem que agrada porque está
bem vestido e acompanhado pomposamente, e acredita que tudo que é
belo e grandioso acaba aqui, sem pensar que do alto do monte Mario
você nã o percebe mais nada do que é . na cidade; E menos ainda o
mundo pensa que acima do Monte Mario e de todas as montanhas da
Terra, onde nada se sabe das ninharias aqui embaixo, existe um Deus
que tudo vê e ouve, e diante de quem tudo isso hoje, e ele també m, este
homem, sã o como á tomos de poeira; um Deus que um dia os julgará , e
eles serã o humilhados, aniquilados, esmagados. Quã o tolo é o mundo
em seus julgamentos, quã o cego em seus julgamentos. A ostentaçã o de
uma libré , o agitar de uma pluma o perturba, o deixa fascinado, e
enquanto isso ningué m pensa em Deus, exceto para ofendê -lo e
blasfemar dele; e as pessoas sé rias també m se deixam levar, seduzidas,
como os homens do sé culo.
Eu també m vi esse homem; Mas toda essa comoçã o me entediou,
deixou meu coraçã o infeliz. A passagem rá pida dos luxuosos carros
alegó ricos da grande procissã o das majestades reais tornou mais
evidente para mim a rapidez com que passa a gló ria do mundo e a
vaidade das vaidades, tudo é vaidade (Qo 1,2).
No entanto, este homem, embora protestante, fez algo realmente bom
aqui em Roma. O que você fez? Superando certos caprichos
tendenciosos do anticlericalismo italiano e estrangeiro, no auge de sua
grandeza ele nã o se envergonhou, mas até considerou uma honra para
ele visitar e se curvar diante de outro homem, um pobre velho
perseguido, mas a quem ele reconheceu como maior do que ele:
perante o Papa, perante o vigá rio de Jesus Cristo.
Este fato é hoje tã o solene que marca uma pá gina gloriosa na histó ria
do ponti icado romano; gesto altamente signi icativo o de um rei
heré tico da Inglaterra protestante e perseguidor da Igreja Cató lica por
mais de trê s sé culos, que vem pessoalmente prestar homenagem ao
pobre e velho Papa, mantido prisioneiro em sua casa. E um sinal dos
tempos que, depois de uma noite tempestuosa, sã o iluminados por uma
nova luz que nasce do Vaticano, um lento, mas vivo e real, retorno das
naçõ es aos braços do Pai comum que as espera há tanto tempo,
clamando sua loucura, um triunfo de Cristo Rei que, ressuscitado na
cruz, atrai todas as coisas para si mais uma vez.
E por isso que a visita do rei Eduardo, ao mesmo tempo que me
con irma na vaidade dos boatos mundanos, me anima a agradecer a
Deus que tem as chaves do coraçã o humano e, em meio a todas as
intrigas da polı́tica, encontra uma maneira de fazer o gló ria do seu
nome e do brilho da sua Igreja Cató lica.
30 de abril de 1903. Da expiraçã o das coisas terrenas, o pensamento
corre rapidamente para a grandeza do cé u; do falso brilho da pompa
mundana ao sereno brilho da virtude. E reconfortante pensar no santo
de hoje que, abjeto e desprezado, se tornou digno das obras mais
ené rgicas e proveitosas para o bem da Igreja. Ele escolheu o que o
mundo considera tolice para humilhar os sá bios; o fraco, para humilhar
o forte, veri ica-se perfeitamente na grande Virgem de Sena, Santa
Catarina. A ela, que só pensava em humilhar-se, esconder, amar o seu
Esposo divino, a tarefa de devolver a paz à Igreja estava reservada para
ela, devolvendo o Papa a Roma. Comparados a ela, quais sã o os sá bios,
os conquistadores, os grandes de seu tempo? Que liçã o sublime para o
meu amor pró prio e, ao mesmo tempo, que razã o para con iar em Deus
que tudo pode, compensa a nossa de iciê ncia e nos torna
verdadeiramente grandes aos seus olhos e diante de toda a terra.
1 ° de maio de 1903. Viva Maria. Os homens de trabalho, mas sem
religiã o e sem Deus, os pobres, explorados pelos demagogos, a multidã o
inconsciente, estã o hoje em folia, gritando seus ideais, utó picos em sua
maioria, à s vezes muito justos, mas quase sempre des igurados e
profanados; os ié is, por outro lado, inauguram o mê s de maio com uma
saudaçã o à quela que é a mã e da Palavra, a grande ideia de Jesus Cristo,
prı́ncipe da paz; devoto se reú ne em torno do altar de Maria. Quanta
graça, quanta suavidade nesta devoçã o à Virgem que amolece os
coraçõ es menos habituados aos sentimentos de fé e piedade. També m
eu, com todo o impulso do meu afecto a Maria, coloco-me aos seus pé s,
consagrando-lhe, sobretudo neste mê s, o meu ser e todas as minhas
acçõ es, para que me chegue um amor cada vez mais ardente por Jesus.
Procurarei manter minha mente sempre ocupada com o pensamento de
Maria e meu coraçã o com sentimentos afetuosos por ela com
ejaculaçõ es muito freqü entes. Minha alegria será apresentar-lhe
presentes, lores, atos de virtude santi icados com a invocaçã o de seu
nome e sua proteçã o. Poré m, a melhor forma de agradar a minha
querida mã e neste mê s será a busca intensa e ininterrupta do meu
aperfeiçoamento nas coisas comuns, na exata observâ ncia dos
regulamentos; mas sem recuar de espı́rito, com espı́rito alegre e sereno,
sem me cansar de mim mesmo. O Maria, tu me geraste: ajuda-me a
seguir-te sempre com o meu pensamento, o meu coraçã o e as minhas
obras.
4 de maio de 1903. Terei cuidado especial para nã o me deixar distrair
por coisas que nã o sejam inteiramente oportunas para meu uso na vida
interior. A á gua que faz o barco afundar penetra lentamente por
rachaduras imprová veis. Em minha mente, para cada distraçã o, um
pedaço do espı́rito interior vai embora. Cuidado, entã o, com tudo,
especialmente com as pequenas coisas. O Maria, devotada Virgem,
acalme minha mente.
8 de maio de 1903. As repetidas celebraçõ es em homenagem ao
imperador Guilherme, voluntariamente ou nã o, tê m sido uma fonte de
distraçã o. A passagem brilhante da pompa mundana em seu á pice
deslumbrou meus olhos, a ponto de tornar mais difı́cil para mim a
lembrança interior. Este acontecimento, tã o extraordiná rio e de tã o
grande alcance - porque é verdadeiramente obra da Providê ncia divina,
um verdadeiro triunfo do papado, que um imperador protestante
depois de tantas lutas sobe as escadas do Vaticano com uma solenidade
e esplendor bastante ú nicos do que raro, e humilhar-se diante da
grandeza do trono pontifı́cio - se, especialmente para nó s, jovens, deve
ser motivo de esperanças alegres e de pura alegria, por outro lado, ao
invé s de nos distrair, deve enobrecer o conceito de que temos de Deus,
de Jesus Cristo, verdadeiro Rei da Igreja e dos sé culos, e nos enche de
amor sincero e ardente por Ele e pela sua obra.
Agora que o imperador, aplaudido, admirado, um imperador que senã o
um herege seria o Carlos Magno dos tempos modernos, voltou para sua
casa em Berlim, as coisas voltaram ao normal. Volto també m ao ventre
de Maria, ao Coraçã o amoroso de Jesus, e quanto mais o abraço, maior é
a necessidade que sinto, mais profundo é o vazio que as festas
mundanas me deixaram, mais ardente é o desejo de doar. algo um passo
à frente.
15 de maio de 1903. Nestes belos dias do mê s de Maria nossas coisas
estã o menos piores. O pensamento de Jesus e Maria de vez em quando
me entreté m docemente, e me alegro com isso no fundo de minha
alma. Hoje passei um feliz quarto de hora na graciosa igreja de San
Joaquı́n, nos prados de Castello, um presente afetuoso do mundo
cató lico a Leã o XIII.
Enquanto os cató licos de açã o, os animados grupos de jovens
fervorosos das diversas cidades da Itá lia e da Europa celebraram
a Rerum novarum do grande Papa dos trabalhadores e celebraram com
alegria a democracia cristã , eu, nã o estando ainda preparado para o
trabalho apostó lico, eu Nunca pensei que pudesse encontrar melhor
maneira de recordar o grande acontecimento e dar a minha modesta
colaboraçã o de louvor e ardente entusiasmo pela grande ideia, do que
unir-me mais intimamente a Jesus com afecto e oraçã o. Rezei com
fervor diante do Santı́ssimo Sacramento, verdadeiro pã o celestial que
verdadeiramente dará vida ao mundo; aos pé s da branca Virgem
Imaculada, na lorida e graciosa capela da jovem Amé rica do Norte, e
especialmente diante da bela imagem do Sagrado Coraçã o de
Montmartre, uma afetuosa homenagem à penitente e devota
França. Oh, que lindo Jesus está sentado em seu trono sobre o altar
precioso, amando naquela festa dos santos que o cercam, dos anjos que
o adoram. Oh, como a questã o social, uma questã o de vida nã o só
material, mas do espı́rito, em meio à agitaçã o das mentes, os lamentos
dos deserdados, o trabalho febril das almas apostó licas, as lutas, as
decepçõ es, os triunfos , Parece-me mais digno da minha atençã o, do
meu interesse, dos meus votos ardentes e do meu esforço, quando, no
fundo do grande quadro, pareço ver Jesus como o sol primaveril que se
levanta sobre o vasto mar; o rosto sereno e manso, os braços abertos, o
coraçã o de luz brilhante que envolve, que tudo invade. O Divino
Coraçã o, você é verdadeiramente a soluçã o para todos os
problemas; nossas esperanças estã o em você , esperamos a salvaçã o de
você .

Volte, ó Jesus, à sociedade, à famı́lia, aos espı́ritos e reine como um


soberano pacı́ ico. Ilumine as almas de quem se preocupa com o bem
do povo, seus pobres; Infunda neles o seu espı́rito, um espı́rito de
disciplina, de ordem, de doçura, mantendo sempre viva a chama do
entusiasmo em seus seios.
Jesus, se um dia, com a sua ajuda, eu puder fazer algum bem, aqui você
me tem nas ileiras dos seus lutadores. Que na sua escola eu consiga
uma preparaçã o verdadeiramente sé ria, profunda e e icaz de ó timos
resultados, pois sã o muitos os perigos de perder o norte. Que logo
chegue o dia em que te veremos voltar no meio da uniã o dos homens na
festa de todos, carregada nos ombros do povo.
26 de maio de 1903. Nestes dias de trabalho febril, o atendimento à
enfermaria e, mais do que tudo, o estudo me roubam o má ximo de
tempo possı́vel. Mas existe uma hora para tudo e uma hora para
tudo. Enquanto isso, o doce mê s de Maria está terminando e minhas
lores sã o poucas ou nã o muito bonitas. Maria, estou infeliz e sou seu
ilho; olhe para o meu coraçã o. Hoje, o pensamento de Sã o Filipe me
amparou suavemente ao longo do dia. Do palanque de uma igreja
assisti confortavelmente à s cerimô nias solenes de Vallicella, saboreei a
mú sica de Capocci, visitei com atençã o religiosa os quartos do santo,
incluindo os de San Jeró nimo de la Caridad, tã o histó ricos e
preciosos; Eu principalmente ixei meus olhos, meus pensamentos e
meu coraçã o no glorioso tú mulo, e tenho orado muito. Por que nã o terei
tempo e uma caneta á gil para escrever sobre este santo como desejo e
como meu coraçã o me ditaria? Sã o Filipe é um dos santos que mais me
conhece, a cujo nome estã o ligadas muitas doces recordaçõ es da minha
histó ria ı́ntima. Sinto um amor particular por Sã o Filipe e a ele con io-
me com grande con iança.
Meu bom pai Felipe, você me entende sem que eu fale com você . O
tempo está se aproximando; Onde está sua có pia em mim? Onde está o
espelho de suas virtudes? Que ele compreenda os verdadeiros
princı́pios de sua escola mı́stica para o cultivo do espı́rito e se
aprofunde neles: humildade e amor. Seriedade, seriedade, bendito
Felipe, e saudá vel, pura alegria e fecundo entusiasmo pelas grandes
obras. Nesta novena do Espı́rito divino, a tua novena de outro tempo,
voltarei a ti com frequê ncia. Bem-aventurado Felipe, ajude-me a
preparar a casa; Trago meu peito congelado para perto do seu
queimado de amor, com o Espı́rito Santo. Faça meu coraçã o queimar.
20 de julho de 1903. Minhas breves anotaçõ es noturnas apresentam
uma enorme lacuna. O premente trabalho da enfermaria e, em meio a
isso, a urgê ncia dos exames tiram toda possibilidade, toda sombra de
tempo livre para atender a essas ilas fugazes. Festas solenes, ocasiõ es
maravilhosas, o mê s do Sagrado Coraçã o de Jesus, dias memorá veis,
tudo se passou sem deixar o menor vestı́gio de escrita. Mas nã o
dó i. Nã o quero me apegar demais a essas pequenas coisas que estaria
disposto a jogar no fogo se pudesse prever que poderiam ser uma
ocasiã o para o amor-pró prio.
Roccantica Holiday
Retreat (29 de agosto de 1903)
O longo verã o no seminá rio, as preocupaçõ es com os exames, os
acontecimentos graves e extraordiná rios de julho e agosto e, acima de
tudo, minha misé ria, fraqueza e inconstâ ncia produziram um sensı́vel
esfriamento no fervor primitivo. A evidê ncia evidente foi o abandono
quase total do exame privado, as distraçõ es cada vez mais frequentes
na meditaçã o, quase sempre sem resultados prá ticos reais, menos
devoçã o na recitaçã o do ofı́cio divino; e, em geral, uma segurança e
facilidade bastante independentes, e essa falta de circunspecçã o, de
concentraçã o de todas as faculdades do espı́rito em torno do pró prio
progresso espiritual, que, se levado ao exagero, como nos primeiros
fervores, é muito difı́cil carregar; no entanto, até certo ponto, é
indispensá vel em todos os momentos e em todas as circunstâ ncias.
O presente retiro é um doce e amoroso convite de Deus ao fervor de
outrora. A experiê ncia do passado serve, poré m, para me manter
humilde, para me fazer ver que sou incapaz de fazer algo realmente
bom. Mas nã o desanime, mas sim mais determinaçã o e mais
coragem. Minha morte pode estar pró xima e, se minha lâ mpada estiver
vazia ... Oh bendito Jesus, tenha piedade de minha alma.
Passando ao prá tico, prometo prestar atençã o muito especial a trê s
coisas: um exame particular que, como sempre, terá por objeto minha
conduta em oraçõ es e prá ticas de piedade; ofı́cio divino, orado no lugar
e tempo certos, com grande reverê ncia e grande atençã o; visita ao
Santı́ssimo Sacramento, com interminá veis oraçõ es e atos de amor para
com ele durante o dia. E assim o bom Jesus e a Santı́ssima Virgem, cuja
novena do Natal estou começando, me receba gentilmente de volta em
seus braços, console-me na conquista de mim mesmo e no progresso da
virtude e do seu mais doce amor. Um homem.
Breves exercícios no início do curso Roma (1-3 de novembro de 1903)
O retorno à vida cotidiana do seminá rio me fez um grande
bem. Nenhuma sacudida perceptı́vel nestes exercı́cios; apenas um
convite para viver com mais recolhimento e intensidade.
Deus se preocupa com meu ganho espiritual. O que percebi no retiro de
fé rias continua sem melhora por causa da minha indolê ncia. Pobre de
mim. Que triste prova de autê ntica virtude e progresso espiritual eu dei,
depois das inú meras graças que o bom Deus achou por bem conceder-
me, especialmente no ano passado. Insisti em me passar por homem
adulto e, por acaso, sou uma criança. Bem, como uma criança que
lamenta o mal feito, volto novamente, mas com maior seriedade, aos
meus propó sitos. Hoje tenho a certeza de que nã o estarei mais ausente,
com a graça de Deus.
Em particular, quero muito me aplicar e como isso é devido ao grande
exercı́cio do exame privado diá rio. E a promessa mais solene que faço
ao sempre amoroso Coraçã o de Jesus, fruto deste santo retiro. Coloco-o
nas mã os de Sã o Carlos, o distinto defensor da regulamentaçã o
eclesiá stica. E uma vez que os superiores providenciaram que eu nã o só
assistisse à minha formaçã o, mas també m, como prefeito, à supervisã o
de outros, coloco este novo ano escolar sob os auspı́cios do grande
arcebispo, verdadeiro modelo de educadores e de coraçã o generoso de
um sacerdote e apó stolo.
Alé m de minha conduta na recitaçã o de oraçõ es e nas prá ticas gerais de
piedade, farei do uso da minha linguagem objeto de meus exames
diá rios, como algo que, mal regulado, pode comprometer ainda mais
meu cará ter e meu novo e delicado posiçã o. Será , portanto, um
princı́pio geral e uma ideia ixa, que nã o me deve abandonar um só
momento, o dever supremo que me foi imposto com a maior força para
ser bom exemplo em tudo, até nas coisas que parecem
insigni icantes. Sempre viverei como se todas as minhas açõ es
devessem ser realizadas na presença dos meus alunos e meu
comportamento fosse um crité rio infalı́vel deles. A inal, estou sempre
na presença de Jesus, que vai me julgar.
EUA para ordenação de diácono (9 a 18 de dezembro de 1903)
Ensina-me a fazer a tua vontade, pois tu és o meu Deus (Sl 142,10). Mais
uma vez - e é a terceira no curto perı́odo de um ano - o Senhor me
chama neste retiro sagrado. O Mestre está lá e chama você. Esses
exercı́cios devem ser trê s marcos no caminho da virtude; Por outro
lado, embora tenha havido algo de positivo, ainda há muito por fazer. Eu
me humilho, com vergonha de minha misé ria, mas nã o recuo. Como
peregrino nos grandes calores de verã o à s margens de um rio, lanço-me
de novo nas saudá veis á guas da graça, para me puri icar e tomar um
suave banho de amor, como dizia o venerá vel sacerdote de Ars, mais
alegre ao pensar de Jesus, que me espera sorrindo na outra
margem. Tudo, meu Deus, está em suas mã os.
Consagro estes Exercı́cios ao Coraçã o divino, em primeiro lugar, e à
Santı́ssima Virgem Imaculada, sentindo-me feliz por poder inaugurar
assim, o melhor para mim, o ano jubilar que recorda a de iniçã o
dogmá tica da sua Imaculada Conceiçã o. Con io-me à especial protecçã o
do meu bom anjo da guarda, à intercessã o de Santo Iná cio, Sã o Carlos
Borromeu - o meu protector singular neste ú ltimo curso dos meus
estudos teoló gicos e da minha preparaçã o ao sacerdó cio - do tipo Sã o
Francisco de Sales e dos dois diá conos gloriosos, Santos Esteban e
Lorenzo, modelos sublimes de caridade ardente a Deus e ao pró ximo,
má rtires invictos da fé cristã . Dá-me inteligência para cumprir a tua
lei (Sl 118,34).
1. O homem foi criado por Deus para ser reverenciado, louvado, servido
e, assim, salvo. Como uma pessoa que reverencia a Deus, devo
permanecer sempre imbuı́do do sentimento de sua presença
divina. Minha postura deve ser tã o digna como se Deus estivesse
sempre diante de mim, da maneira como costumava aparecer aos
patriarcas e profetas, deixando-os envoltos em um temor reverente. O
corpo reto, sem arrogâ ncia; cabeça erguida, olhos baixos, especialmente
em lugares lotados; o degrau, moderado e leve; o tratamento, tanto
reservado quanto espontâ neo; as palavras, oportunas e medidas; o
rosto, sempre alegre, mas també m com um certo ar de gravidade, nã o
afetado, mas natural. Todo o meu porte externo deve mostrar ao meu
pró ximo que estou ocupado no pensamento de Deus, que contemplo,
embora invisı́vel, em todos os momentos. O espı́rito deve se deixar
absorver por esse sentimento. Deus, que me vê e me ilumina com a sua
luz, olha todas as minhas pequenas açõ es, mesmo os movimentos quase
imperceptı́veis do coraçã o. A imensa misé ria, a memó ria dos pecados
cometidos e as inú meras graças passadas e presentes sã o coisas que
devem me manter tã o habitualmente unido a Deus, tã o delicado de
consciê ncia, que nã o necessito de outros argumentos que me induzam a
fazê -lo.

2. A preciosa e sublime conclusã o das meditaçõ es deste primeiro dia é o


grande princı́pio da indiferença. Em teoria, faço milagres nesse sentido,
mas na prá tica sou o homem que menos usa esse princı́pio. Quando
ocorre ao meu redor qualquer acontecimento que, mesmo que
indiretamente, afete minha pessoa, a imaginaçã o e o amor-pró prio me
atormentam de maneira extraordiná ria. No entanto, a pedra angular do
edifı́cio espiritual consiste precisamente nisto: em fazer nã o a minha
vontade, mas a de Deus; em estar habitualmente disposto a aceitar as
mais diversas coisas, por mais desagradá veis que sejam aos sentidos e
ao meu orgulho. Em questõ es importantes, o problema está resolvido:
nã o farei nem mais nem menos do que os superiores e o pai espiritual
decidem. O osso duro de roer nã o consiste em fazer as coisas segundo a
obediê ncia, mas em conformar meu entendimento e minha vontade à
vontade e conselho dos superiores, pisoteando minhas opiniõ es
particulares, embora belas e santas na aparê ncia, e as inclinaçõ es da
fantasia e dos outros. mim.
Portanto, nenhuma ansiedade ou castelos no ar; poucas idé ias, mas
corretas e sé rias, menos desejos. Só uma coisa é necessária (Lc
10,42). Sonhos dourados de trabalhar melhor de uma forma tã o
diferente, planos fantasticamente iluminados do que poderei fazer
amanhã , no pró ximo ano, mais tarde. Fogo, fogo a tudo isso. Serei o que
o Senhor quer que eu seja. E difı́cil pensar em uma vida escondida,
esquecida, talvez desprezada por todos, conhecida apenas por Deus. E o
amor pró prio que resiste. No entanto, enquanto eu nã o receber tanta
violê ncia que essa vida nã o seja indiferente, mas gentil e atraente, nã o
terei feito tudo o que Deus quer de mim.
3. O que eu seria, mesmo que tivesse toda a ciê ncia dos anjos, se
concebesse em minha mente pensamentos de orgulho como os
primeiros prevaricadores? Seria um demô nio, nem mais, nem
menos. Mas o fato é que sou imensa e incrivelmente ignorante sobre
anjos. Durante o dia, alimento inú meros sentimentos de amor-
pró prio. O que sou eu entã o? O que eu mereceria, se o Senhor quisesse
me punir todas as vezes? Oh meu Deus, é como se você começasse a
tremer só de pensar nisso. Mas é precisamente por isso que devo
pensar nisso com frequê ncia.
4. A penitê ncia é neste mundo um elemento essencial para uma vida
boa e um meio necessá rio para a felicidade plena apó s a
morte. Portanto, nã o se iludam: devo habituar-me a isso em tempo, e
nestes anos mais bonitos da minha vida, para sofrer, para amar a
morti icaçã o. Imitar os santos em sua aspereza parece impossı́vel para
mim. No entanto, devo familiarizar-me com o pensamento da
morti icaçã o, sempre, nas pequenas coisas, especialmente na
comida. Jamais levarei aos lá bios nenhum doce que nã o tenha sua gota
amarga. Nã o é essa, aliá s, a prá tica da Divina Providê ncia, que nunca
nos envia conforto sem ser acompanhada ou acompanhada de alguma
dor?
5. Entre as coisas que me sã o inconcebı́veis há també m esta: a
possibilidade em que també m a minha alma se encontra de poder um
dia cair no inferno. Nã o consigo pensar nisso sem me sentir
apavorado. E o sé rio é que també m aı́ me encaixo: basta que me
abandone à vida da mornidã o para me colocar à beira do abismo; um
pecado pode me dar o ú ltimo empurrã o, como qualquer outro pecador
infeliz. Miserá vel da minha parte. Esse ú nico pensamento deve me
manter humilhada: eu també m posso cair, e nunca penso nisso. Meu
Senhor, repito-o mais uma vez: enquanto me libertar daquele lugar,
estarei pronto para tudo, até para me deixar pisar como o pó da
estrada. Abrace-me aqui com a chama do seu amor.
6. Ó morte, bem-vinda é a tua sentença (Si 41,2). Por que penso no
amanhã , nas teses, nos doutorados e em tantas outras bobagens,
quando a voz de Deus nã o me garante o presente, muito menos me
promete o futuro? Devo fazer, com toda a aplicaçã o do espı́rito, o que
Deus quer de mim a cada momento, deixando que ele se preocupe com
o futuro. Devo tentar tornar familiar para mim o pensamento da morte,
que é a mestra da vida; Cuidarei especialmente do apego a tudo, mesmo
o pequeno: roupas, quadros, livros, escritos e até objetos de devoçã o,
visto que um dia terei que abandonar tudo, sendo abandonado por tudo
e por todos.
7. A ideia de exames me assusta; Nã o sei como me apresentar aos meus
professores, a todo o corpo docente reunido, para mostrar que
estudei. E o que fará minha alma, sozinha, pobre pecador, perante toda
a corte celestial, perante Jesus, divino e mais severo juiz? Os santos
tremeram de medo só de pensar nisso, eles se esconderam nos
desertos, e eles eram santos. Como sou estú pido. Eu tremo quando nã o
há razã o; e onde você deve estar apavorado, eu nem acho. Portanto,
tenho que ser mais objetivo. Menos medo pelos exames abaixo, e mais
aplicaçã o para ganhar mé ritos e fazer boas obras que suavizam o
tremendo julgamento de Deus.
Outra observaçã o: por que tanta angú stia e preocupaçã o com o sucesso
dos meus estudos? Em ú ltima aná lise, tudo acontece em vista da
opiniã o que se possa formar de mim, porque sou escrava do julgamento
dos homens, escrava do meu pró prio amor. Que absurdo. O que o
julgamento dos homens importa para mim? Sã o eles que me
recompensam? Deus nã o é o im de todas as minhas açõ es? Devo
aprender a enfrentar o julgamento dos homens, a nã o me preocupar
com ele, a nã o me afetar de forma alguma; porque, no exercı́cio do
ministé rio sacerdotal, muitas vezes me verei obrigado a opor-me e a
desa iá -lo, se ele quiser fazer o bem. Se ele tentasse agradar aos homens,
disse São Paulo, ele não agradaria a Deus.
8. Meu pai espiritual insiste que, durante esses sagrados Exercı́cios,
cuido sobretudo do meu amor pró prio, do outro ser, porque nã o serei
realmente grande nem ú til para nada até que me privasse
completamente de mim mesmo. Amor pró prio. Que problema, se
pensarmos sobre isso. Quem conseguiu de inir em que consiste? Que
iló sofo tratou disso? E é a questã o mais importante em mã os, uma
questã o decisiva. E quem pensa nisso? No entanto, Jesus Cristo - e estou
vendo-o nas meditaçõ es destes dias - em seus grandes ensinamentos
nã o faz nada alé m de nos mostrar como lutar na prá tica contra esse
inimigo mortal que corrompe todas as nossas açõ es.
E uma exposiçã o, um admirá vel conjunto doutrinal, que me faz
pensar; Embora nã o o ouça pela primeira vez, mostra-me certos per is
que me parecem novos, mostra-me certas profundidades
desconhecidas e maravilhosas. Mas - e aqui o espanto aumenta - a vida
de Jesus, considerada sob este prisma, é uma revoluçã o de todo o
mundo, um contraste de modos de ver, sentir e raciocinar mesmo em
pessoas piedosas e realmente boas. De nossa parte, ou somos
inteiramente santos, esforçando-nos para atingir o terceiro grau de
humildade, sofrendo e sendo desprezados, ou nã o somos nada: com o
primeiro grau, as liçõ es de Jesus di icilmente sã o infrutı́feras, e o amor
pró prio é apenas aparentemente suprimido. Essa é a conclusã o. Mas
entã o o que eu faço, quem ainda nã o atingiu o primeiro grau de
humildade?
Meu bom Jesus, coloco-me aos teus pé s, certo de que saberá s fazer o
que nem sou capaz de imaginar. Quero servi-lo o quanto você quiser, a
todo custo, com qualquer sacrifı́cio. Nã o sei fazer nada; Nã o sei me
humilhar, é a ú nica coisa que posso dizer e digo-vos com irmeza: quero
humilhar-me, quero amar a humilhaçã o, o abandono do meu
pró ximo; Atiro-me de olhos fechados, com certo gosto, no dilú vio de
desprezo, sofrimento e abjeçã o em que gostas de me colocar. Estou
relutante em dizer a você , sinto angú stia em meu coraçã o, mas eu
prometo a você ; Eu quero sofrer, quero ser desprezado por você . Nã o
sei o que vou fazer, nem acredito em mim, mas nã o desisto de querer
com todas as forças da minha alma: sofrer, sofrer e ser desprezado por
ti.
9. Ao ler o precioso livro do Pe. Faber, O Santíssimo Sacramento ,
encontrei um pensamento magistralmente desenvolvido pelo autor e
que me impressionou muito. Entre as lores do altar, ou seja, entre os
efeitos de uma boa devoçã o ao Santı́ssimo Sacramento, a alegria
espiritual ocupa o primeiro lugar; alegria como um elemento muito
importante da vida espiritual, atmosfera de virtudes heró icas, espı́rito,
instinto, gê nio, graça indescritı́vel. A alegria, em particular, deve ser
considerada como fator daquela liberdade de espı́rito que é a ú nica
capaz de unir as qualidades aparentemente incompatı́veis da vida
espiritual, libertando as ré deas da familiaridade do amor e,
secundariamente, como um amigo insepará vel da
morti icaçã o. Devemos buscar nossa alegria, para manter nosso espı́rito
morti icado, e praticar a morti icaçã o, para aumentar nossa
alegria. Portanto, devo sempre e invariavelmente permanecer alegre,
mas nunca deixar de me morti icar. E o amor pró prio que paralisa o
desenvolvimento do espı́rito e infunde tristeza; a morti icaçã o é o
princı́pio da vida, da serenidade e da paz.
Os santos estã o com um clima tã o festivo, os monges e as freiras sã o
criaturas alegres, porque, como Sã o Paulo, castigam o corpo e o
reduzem à servidã o com inexorá vel rigor e vigorosa discriçã o. Quem se
morti ica goza de uma alegria de origem puramente celestial.
10. A fé é uma virtude tã o comum que quase é ignorada, especialmente
pelos religiosos. E como o ar da vida cristã , e quem repara nisso, quem
dá atençã o ao ar que respiramos? Tudo isso me apresenta uma
aplicaçã o prá tica desta virtude, muito importante nestes
tempos. Procurarei conservar bem a minha fé , como um tesouro
sagrado, e terei muito cuidado em absorver esse espı́rito de fé que vai
desaparecendo aos poucos por causa das chamadas demandas de
crı́tica, na respiraçã o e na luz do novo vezes. Se o Senhor me conceder
uma vida longa e que eu me torne um sacerdote de algum benefı́cio
para a Igreja, quero que se diga de mim - e vou me gabar disso mais do
que qualquer outro tı́tulo - que fui um sacerdote vivo, Fé simples, unida
ao Papa, e para o Papa, sempre, mesmo nas coisas inde inidas, nas
menores formas de ver e sentir. Quero ser como aqueles bons
sacerdotes de Bé rgamo de outra é poca, cuja memó ria vive entre
bê nçã os e que nã o viram nem quiseram ver alé m do que o Papa, os
bispos, o bom senso, o espı́rito da Igreja viram.

Meu estudo sempre buscará , em todas as ciê ncias sagradas e em todas


as questõ es teoló gicas ou bı́blicas, primeiro investigar a doutrina
tradicional da Igreja, e a partir dela julgar os dados recentes da
ciê ncia. Nã o desprezo as crı́ticas e muito bem me protegerei contra
pensar mal ou desrespeitar os crı́ticos; Alé m do mais, gosto de crı́ticas e
seguirei com entusiasmo os ú ltimos resultados de suas pesquisas, me
atualizarei com os novos sistemas, seu desenvolvimento incessante,
estudarei suas tendê ncias; crı́tica para mim é luz e verdade, e a verdade
é santa e una. No entanto, sempre me esforçarei para trazer para essas
discussõ es, onde o entusiasmo irracional e as aparê ncias
deslumbrantes freqü entemente prevalecem, grande moderaçã o,
harmonia, equilı́brio e serenidade de julgamento, embora juntamente
com uma mente aberta prudente e circunspecta. Em pontos muito
duvidosos, pre iro tentar permanecer calado como um ignorante do
que arriscar proposiçõ es que podem em um ponto se desviar do
sentimento correto da Igreja. Jamais icarei surpreso com nada, mesmo
que certas conclusõ es, deixando - é claro - o sagrado depó sito da fé
intacto, acabem sendo um tanto surpreendentes; o espanto,
geralmente, é ilho da ignorâ ncia. Em vez disso, serei consolado por
Deus organizar tudo para tornar o tesouro saudá vel de sua revelaçã o
cada vez mais claro e puro. Em geral, será minha norma ouvir tudo e
todos, pensar e estudar muito, ser muito lento no julgamento, nã o
comentar, nã o fazer barulho e procurar nã o desviar nem um pouco do
sentimento da Igreja.
Enquanto isso, farei uma pro issã o especial de grande simplicidade em
observar, em ter em conta tudo, em ter pena de todos, em nã o ingir
julgar tudo em suas ú ltimas consequê ncias, especialmente naquelas
coisas em que minha piedade e sentimento popular podem alcançar
notá vel espiritualidade. vantagens. Aqui em Roma, acima de tudo, devo
aproveitar a oportunidade de todas as coisas, mesmo insigni icantes,
ainda nã o inteiramente con irmadas por certos dados ou razõ es, para
alimentar a minha fé , nunca a deixando envelhecer, para educá -la em
uma fortaleza viril e decidida, e junto com uma ternura inefá vel e uma
ingenuidade simpá tica. També m aqui se deve aplicar o grande conselho
de Jesus: Garanto-vos que, se não mudardes e se tornardes como
crianças, não entrareis no reino de Deus (Mt 18,3).
11. O que farei quando os sagrados Exercı́cios terminarem? A multidã o
de idé ias e sentimentos nos dias de hoje, especialmente em torno da
prá tica da santa humildade, criou um certo ceticismo em mim em
relaçã o à minha realizaçã o espiritual e ao meu progresso real no
caminho da perfeiçã o cristã . Nada é mais vã o do que esse ceticismo: é
uma tentaçã o do diabo.
Para nã o me sobrecarregar e me confundir sem um resultado positivo,
devo fazer apenas uma coisa - é o meu pai espiritual que me impõ e -:
viver nã o de um dia para o outro, como Santo Estanislau de Kostka, mas
de uma hora para outra. a hora, como Sã o Joã o Berchmans. A açã o que
devo realizar naquele momento, e nada mais: essa deve ser o objeto de
todos os meus cuidados e o melhor exercı́cio de perfeiçã o. A relaçã o
entre uma açã o e outra, a sé rie sucessiva de açõ es, a colaboraçã o
harmoniosa de todos para formar em mim o homem, o sacerdote
virtuoso e perfeito, será uma consequê ncia natural, embora à primeira
vista despercebida, da perfeiçã o com que eu vai tentar realizar cada um
dos atos. Deus nã o olha para o nú mero de açõ es, mas para a maneira
como as faço; ele reivindica o coraçã o, nada mais. Uma sensaçã o
primorosa da presença de Deus, como o im de tudo, e um total
esquecimento de mim mesmo: apenas essas duas coisas; minha açã o,
seja ela qual for, está completa.
Padre Faber diz que nossas açõ es devem ser como tantas outras
está tuas ajoelhadas e com atitude amorosa, com as mã os postas e os
olhos voltados para o cé u, cheios de adoraçã o e em total esquecimento
de si. Cuidarei de minhas ocupaçõ es à medida que se sucedem, com
calma, com compostura, com inefá vel simplicidade, como se eu tivesse
vindo ao mundo justamente para essa açã o, como se Jesus a tivesse
enviado a mim com sua pró pria boca e fosse por minha lado olhando
para mim. Do resto, das demais obrigaçõ es, me preocuparei depois,
uma apó s a outra, sem nenhum sinal de pressa, sem angú stia, sem
deixar nada incompleto, sem grosseria no trato, sem
negligê ncia. Perseverando assim, que lugar sobraria para o amor-
pró prio? O fruto dos sagrados Exercı́cios nã o seria entã o grande,
incalculá vel?
12. Todas as di iculdades que pareço encontrar para me lançar
generosamente no caminho do desprezo e da humilhaçã o, desaparecem
como que por encanto diante das grandes liçõ es que meu divino Mestre
me dá em sua dolorosa paixã o. E verdade e toco com a mã o: a solução
para todas as di iculdades é Cristo e este cruci icado. O venerado Padre
Claudio de la Colombiè re se maravilhava ao contemplar a franqueza, a
coragem, o sangue frio com que Jesus esperava a hora das ignomı́nias,
abraçando-as com divino entusiasmo. Eu, no meio da minha confusã o,
sem saber gaguejar uma palavra, sinto em mim um sopro indizı́vel que
me convida a experimentá -las a todo custo, a mergulhar no mar das
humilhaçõ es, assim seguro de poder me superar, com a graça de
Deus. Como as pequenas ocasiõ es em minha vida de seminá rio - e as
grandes em minha vida de ministé rio - vê m sobre mim de me rebaixar e
ser oprimido, seguirei o conselho de meu pai espiritual: imagine tantas
outras pinturas de paixã o, diante de cujo espetá culo é será fá cil para
mim fazer qualquer coisa. sacrifı́cio.
Enquanto isso, à luz viva dos exemplos de Jesus, renovo - e nã o me
cansarei de renovar - minha irme decisã o de ser humilde; humilde e
desprezado. Jesus foi traı́do por um discı́pulo que acabava de se
levantar de sua mesa; ele foi negado por outro, um objeto especial de
sua benevolê ncia; Foi abandonado por todos e só responde com
palavras de amizade e olhares amorosos de perdã o. Portanto, evitarei
dar sinais de antipatia por desatençã o, falta de gratidã o ou respeito por
parte de pessoas a quem iz algum benefı́cio.
Jesus, caluniado de sedutor, tachado de ignorante, suas doutrinas
falsi icadas, exposto ao desprezo e ao ridı́culo de todos, humildemente
calado, nã o confunde seus caluniadores, se deixa apanhar, cuspir na
cara, açoitado, tratado como louco , e nã o perde a serenidade, nã o
quebra o silê ncio.
Por isso, me permitirei ser dito o quanto quiseres, ser relegado a ú ltimo
lugar, pô r as minhas palavras e as minhas obras para o lado errado, sem
dar explicaçõ es, sem procurar desculpas, mas antes aceitando com
alegria quaisquer censuras que pode surgir. venha a mim dos
superiores, sem dizer uma palavra.
Jesus na cruz, naufragado em um imenso mar de dor e vergonha, nã o se
queixa, só tem sentimentos de compaixã o e perdã o pelos inimigos. Eu
també m, nas provaçõ es que o Senhor achar conveniente enviar-me,
procurarei nã o dizer nada, nem mesmo desabafar com meus amigos; Se
me morti icarem, principalmente com pé ssimos resultados de estudo,
inclinarei a cabeça sem implorar bajulaçã o de ningué m, sugando minha
confusã o em paz, com alegria e sem me preocupar com nada, como se
fosse um presente, uma palavra doce, um a carı́cia que Jesus me
deu. Em todas as circunstâ ncias, quero apenas me orgulhar da cruz de
nosso Senhor Jesus Cristo (Gl 6,14).
13. Nesta penú ltima tarde dos meus santos Exercı́cios, depois de ter
meditado na paixã o de Jesus Cristo, senti-me repleta de grande
paz; especialmente ao ouvir a leitura do refeitó rio, durante o jantar,
sobre a vida do venerá vel Claudio de la Colombiè re, onde se discutiram
especi icamente os movimentos de graça que nele realizaram por
ocasiã o dos Santos Exercı́cios, enquanto esteve em Londres: I
experimentei uma espé cie de desejo ardente de me entregar
totalmente, com mã o forte, à realizaçã o da santidade autê ntica,
precisamente lançando-me neste caminho de santa humildade e
abjeçã o diante de Deus e dos homens; Senti um forte impulso de
comunicar um novo e mais intenso fervor a cada uma de minhas
prá ticas de piedade e ao cumprimento de todos os meus outros deveres
como estudante e como prefeito; para rejuvenescer nesta base toda a
minha vida espiritual. Mas tenho muito medo de que, depois dessa
primeira impressã o, ela volte à s mesmas condiçõ es de antigamente; Por
isso nã o deixo - nem nunca deixarei - de pedir ao bom Jesus que nã o se
canse de manter o meu ı́mpeto, com os mesmos sentimentos que hoje
experimento; que ele sempre tenha misericó rdia de mim, sustente-me
em todas as circunstâ ncias. Prevejo as quedas, infelizmente. Mas eu nã o
os quero, Jesus, eu nã o os quero. Coraçã o de Jesus, tudo está em suas
mã os; Estou infeliz, mas amo você , amo você , amo você .

14. Cada vez que ouço falar do Sagrado Coraçã o de Jesus ou do


Santı́ssimo Sacramento, tenho uma impressã o de alegria inefá vel; Sinto-
me como uma onda de boas recordaçõ es, de doces afetos e alegres
esperanças que se comunicam a toda a minha pobre pessoa, que me
sacodem enchendo a minha alma de ternura suave. Sã o apelos
amorosos de Jesus, que me ama todo o seu, ali onde está a fonte de todo
o bem, junto ao seu Sagrado Coraçã o, pulsando misteriosamente por
trá s dos vé us eucarı́sticos. A devoçã o ao Sagrado Coraçã o me
acompanhou por toda a minha vida. Aquele bom velhinho que foi meu
tio Javier, assim que fui, recé m-nascido, lavado na pia batismal,
consagrou-me na igrejinha da minha cidade ao Sagrado Coraçã o, para
que eu pudesse crescer sob seus auspı́cios, como um bom
cristã o. Lembro-me, entre as primeiras oraçõ es que aprendi nos joelhos
daquela linda pessoa, a bela oraçã o que hoje tanto gosto de repetir:
Doce Coraçã o de Jesus, faz-me amar-te cada vez mais.
Ainda me lembro que, quando ano apó s ano - no domingo, 4 de
setembro - se celebrava a festa do Sagrado Coraçã o na minha paró quia,
todos a chamavam de festa do meu tio Javier, e ele se preparava com
grande fervor, convidando-me, acomodado tanto na minha idade, para
fazer o mesmo. Na intençã o de meus pais e de meu tio, eu nã o seria
mais do que um bom camponê s como eles. Por outro lado, o Sagrado
Coraçã o me quis entre os seus eleitos e valeu-se daquele homem de
Deus, o Padre Rebuzzini, meu pá roco, de santa memó ria, també m
apaixonado pelo Sagrado Coraçã o, por cujo triunfo tanto trabalhou
difı́cil em sua juventude, em tempos tempestuosos
15. Nã o posso esquecer aquele ano de 1895 em que recebi a primeira
tonsura, o Congresso Eucarı́stico de Milã o, que tanto atraiu em mim
para o Santı́ssimo Sacramento. Nã o me esqueço das palestras aos
seminaristas do seminá rio e das visitas noturnas à minha pobre igreja
de Sotto il Monte, durante as longas fé rias de outono; e as repetidas
consagraçõ es ao Sagrado Coraçã o de Jesus, o laborioso estudo em torno
daquele elogio que nunca iz, a leitura de tantos livros ou escritos
referentes à preciosa devoçã o. Recordo com grande prazer estas
pequenas coisas, de pouca importâ ncia, porque foram tantos pontos de
apoio que o Sagrado Coraçã o utilizou, atravé s das minhas grandes
misé rias, para me levar à participaçã o de outras graças maiores aqui
em Roma e cuja fonte nã o parece que ainda estã o exaustos.
Hoje, tudo o que se refere ao Sagrado Coraçã o de Jesus é familiar e
duplamente querido para mim. Minha vida parece destinada a se
desenvolver na luz radiante do taberná culo; Parece-me que no Coraçã o
de Jesus devo encontrar a soluçã o para todas as minhas
di iculdades. També m me parece que estaria disposto a dar meu sangue
pelo triunfo do Sagrado Coraçã o. Meu desejo mais ardente é poder fazer
algo por esse precioso objeto de amor. As vezes, pensar em meu
orgulho, em meu incrı́vel amor pró prio, em minha grande misé ria me
assusta, me desencoraja e perco o fô lego; Mas logo encontro motivo de
consolo nas palavras que Jesus disse à Beata Margarida: «Eu te escolhi
para revelar as maravilhas do meu Coraçã o, porque é s um abismo de
ignorâ ncia e de misé ria».
Sim, quero servir o Sagrado Coraçã o de Jesus, hoje e sempre. Quero que
minha devoçã o a ele, oculta no Sacramento do amor, seja o termô metro
de todo o meu progresso espiritual. O resumo das minhas resoluçõ es
nestes sagrados Exercı́cios consistiu em querer fazer tudo o que tenho
escrito até aqui, em ı́ntima uniã o com o Sagrado Coraçã o de Jesus no
Sacramento. Assim, o pensamento da presença de Deus e o espı́rito de
adoraçã o terã o, em todos os meus atos, Jesus, Deus e o homem,
realmente presentes na Santı́ssima Eucaristia como termo imediato. O
espı́rito de sacrifı́cio, de humilhaçã o, de desprezo aos olhos do mundo,
será iluminado, sustentado e confortado pela ideia contı́nua de Jesus
humilhado, aniquilado no Santı́ssimo Sacramento.
Será uma coisa doce para mim rebaixar-me e icar confuso na uniã o
com o Coraçã o divino, tã o indignado com os homens; e quando o
mundo nã o tiver nada para mim a nã o ser esquecimento e desprezo,
minha maior alegria será buscar e encontrar fô lego apenas naquele
Coraçã o que é a fonte de todas as consolaçõ es. Chamo a atençã o do meu
espı́rito e da minha vontade para duas prá ticas especiais da vida
quotidiana: a Sagrada Comunhã o e a Visita Vespertina, sem falar nas
contı́nuas aspiraçõ es com que habitualmente me empenharei em atacar
o Coraçã o da Palavra, como fez Sã o Luı́s. Decidi nã o me conceder
descanso até que possa me considerar verdadeiramente
sobrecarregado no Coraçã o de Jesus.
O divino Coraçã o, nã o sei fazer outra coisa senã o prometer e assim
manifestar o carinho que hoje pareço sentir por ti, com muito medo,
sim, pela manutençã o dos meus propó sitos. Nã o permita que um dia,
quando voltar a estes meus pensamentos, leia neles a minha
condenaçã o.
16. Nestes santos Exercı́cios, Deus levantou-me um pouco mais o vé u
das minhas misé rias, do meu orgulho, e comunicou-me alguns impulsos
muito fortes para operar e icaz e radicalmente a minha santi icaçã o
sé ria, enquanto o Espı́rito Santo, no ordem sagrada do diaconato, está
prestes a produzir a santi icaçã o sobrenatural da minha alma. Se eu
renovasse outras resoluçõ es mais detalhadas por escrito, eu apenas me
repetiria, com pouco ou nenhum benefı́cio. Presença de Deus,
humildade, amor ardente por Jesus - isso é tudo. Faça isso e você
viverá (Lc 10,28). Concluo os meus sagrados Exercı́cios aos pé s de
Maria Imaculada, como felizmente os iniciei sob os seus auspı́cios. Este
é o ano da festa, dos triunfos de Maria, ao mesmo tempo que o ú ltimo
dos meus estudos teoló gicos, o ano da minha ordenaçã o
sacerdotal. Que feliz coincidê ncia para mim. Meu coraçã o se enche de
pura alegria só de pensar nisso. O tempo é curto, entã o nã o vamos
parar, vamos aproveitar o tempo praticando o bem. Jesus e Maria,
ajudem-me para que este seja de initivamente o meu ano de salvaçã o.

3
Ordenação Sacerdotal e Secretário de Dom
Radini Tedeschi (1904-1914)
1904
Ano de ordenação sacerdotal
Festa da Sagrada Família, 24 de janeiro de 1904 . Hoje, ao retornar à
vida neste mê s, estou prestes a rever as condiçõ es de minha
alma. Pequeno e curto. Existe alguma coisa, sim, mas muito pouco. No
fundo, ainda sou um pecador, me renovo aos poucos. Principalmente a
auto-estima tem me dado muito que fazer, no que diz respeito ao infeliz
sucesso dos meus resultados escolares. E uma verdadeira humilhaçã o,
vamos confessar; Na prá tica da humildade autê ntica e do desprezo por
mim mesmo, ainda estou dando os primeiros passos.
As oraçõ es, bastante precipitadas, aos trancos e barrancos, sem
calmaria duradoura, sem serenidade de espı́rito. Tornei-me mais
relutante na prá tica da morti icaçã o, muito fraco antes das menores
ocasiõ es; Embora eu me proponha aproveitar cada pedaço de tempo,
perco horas inteiras sem aproveitar; Tenho sido um pouco reservado na
conversa, nas expansõ es e até um pouco nas crı́ticas. Em geral, eu
preciso de uma vida mais intensa, uma vida de virtude, um aroma
espiritual maior em tudo, mais força de cará ter e perseverança de
propó sito.
Volto ao meu trabalho mais ensinado pela minha pró pria
experiê ncia. Em primeiro lugar, meditaçã o sagrada. Enquanto você
estiver ocupado em um tempo tã o precioso, é o su iciente; Poderei
pensar, se o tema proposto nã o for muito atraente, na paixã o de Jesus,
nas condiçõ es de minha alma, humilhando-me abertamente de minhas
faltas; em afeiçõ es dirigidas a Jesus, em propó sitos prá ticos para o
dia. Nas aulas, morti icaçã o da lı́ngua, severa e constante. Quantas
lores poderei apresentar Jesus todos os dias desta forma?
Na conversa, muito cuidado com o que se fala e como se fala; impeça-
me de falar mal de ningué m, mesmo indiretamente; sempre observe
uma certa dignidade nã o afetada; delicadeza má xima quando se refere
a superiores; ó timo també m nã o falar muito sobre coisas relacionadas a
mim; nã o derrubar tudo - ou tudo - o que sinto dentro de mim.
Tende grande cuidado em valorizar cada minuto que deve ser dedicado
ao estudo, longe de qualquer leitura fora dos assuntos. Neste assunto
quero ser muito rı́gido, como se todas as noites, antes de ir para a cama,
tivesse que prestar contas a Jesus das coisas aprendidas e do tempo
perdido.
Em geral, uniã o familiar e afetuosa com o Sagrado Coraçã o, com a
Virgem Imaculada, atravé s de ejaculaçõ es, pensamentos e
aspiraçõ es. Vou me deixar levar menos pelo amor pró prio que me
incita, ixando-me sempre com toda a energia da alma na atividade que
tenho em mã os, sem me preocupar com mais nada. Espero em ti,
Senhor Jesus.
Retiro da Semana Santa, de 28 a 30 de março de 1904. Para nã o repetir
os lamentos habituais, tantas vezes as mesmas coisas, limito-me a
apontar a natureza especial destes breves dias de retiro sagrado. Agora
o que está feito está feito; do passado, só tenho confusã o sobre minhas
in idelidades; e eterna gratidã o pelos favores ú nicos com que Deus me
derramou.
O dia abençoado da minha ordenaçã o sacerdotal está se aproximando e
estou saboreando sua alegria inefá vel de antemã o. Na vé spera de um
acontecimento tã o solene em minha vida, sinto-me na obrigaçã o de
redobrar a intensidade de meus esforços para me dispor a ele o menos
indignamente possı́vel, porque a graça sacerdotal é infundida apenas
uma vez e recebe mais quem pode conter.
Por isso, tentarei passar estes ú ltimos meses em grande recolhimento
de espı́rito, direcionando todos os meus pensamentos e açõ es até o
ponto onde Jesus me espera. Lembro-me de todos aqueles belos
exercı́cios de piedade desde os primeiros anos do seminá rio, para
manter sempre o meu fervor fresco, puro, perfumado, agradando-me
em ser aquele pequeno seminarista novamente pelo esforço na piedade
simples e laboriosa daqueles anos felizes. Poré m, será meu desejo
preferido dedicar-me, na medida em que as novas ocupaçõ es me
permitirem, à quelas pequenas mas doces devoçõ es, aos meus santos
protetores: os trê s jovens Luı́s, Estanislao e Juan Berchmans; Sã o Filipe
Neri, Sã o Francisco de Sales, Santo Afonso de Liguori, Santo Tomá s de
Aquino, Santo Iná cio de Loyola, Sã o Carlos Borromeu, etc., etc.
EE. De preparação ao sacerdócio, no retiro dos Pe. Passionistas dos
Santos João e Paulo em Célio (1 a 10 de agosto de 1904)
1. Nestes primeiros dias concluı́ pouco. Poré m, o pró prio lugar onde
moro e as pessoas que des ilam diante de mim provocam sentimentos
excelentes e sugerem re lexõ es sé rias. Tenho meditado especialmente
sobre a sagrada indiferença, à qual també m prestei atençã o em outros
Exercı́cios; mas, em termos de prá tica, sempre iquei no zero. Deus me
preserva de cair em pecados graves, que certamente cometerei com
grande facilidade. A irmo també m que quero chegar à perfeiçã o, mas na
verdade gostaria que o caminho da perfeiçã o fosse traçado por mim e
nã o por Deus. No inal, todos os meus medos e di iculdades durante
este curso por causa dos meus estudos, pelo perigo de ser retirado de
Roma e as razõ es a que tentei recorrer, con irmam este fato. Palavras
sã o uma coisa e açõ es sã o outra. Minha indiferença deve ser uma
grande simplicidade de espı́rito, pronta para qualquer sacrifı́cio e
pouca iloso ia; acima de tudo, oraçã o e con iança em Deus.
Devo me precaver, principalmente quando as coisas nã o vã o do meu
agrado, de desabafar com quem quer que seja, a nã o ser com quem
dirige meu espı́rito ou com quem possa me ajudar de alguma forma. Ao
comentar com outras pessoas, perco todo o mé rito que poderia
obter. Alé m disso, a alegria sagrada nunca deve me deixar, porque em
qualquer evento nela vivemos, nos movemos e existimos (He 17:28).
O que será de mim no futuro? Serei um bom teó logo, um distinto
jurista, um padre de aldeia ou um simples padre? O que mais tudo isso
me dá ? Serei tudo de acordo com as disposiçõ es divinas. Meu Deus é
tudo: Meu Deus e meu tudo. Tudo isso, meus ideais de ambiçã o, de
fazer um bom papel no mundo, Jesus já se preocupa em transformá -los
em fumaça. Devo me convencer de que, visto que Deus me ama, nã o
será para mim nenhum projeto em que haja ambiçã o; portanto, será
inú til para mim icar pensando nisso.
Eu sou um escravo: nã o posso me mover sem o consentimento do
mestre. Deus conhece meus talentos, o que posso e o que nã o posso
fazer para sua gló ria, para o bem da Igreja, para a salvaçã o de
almas. Nã o é necessá rio, pois, que vos aconselhe nas pessoas dos vossos
representantes, pois sã o meus superiores. Nã o parece, quando
estudamos os primeiros anos de vida dos santos, que eles
empreenderam um caminho totalmente contrá rio ao que as suas
aptidõ es naturais e esplê ndidas qualidades pareciam ter-lhes
destinado? Mesmo assim, eles se tornaram santos: reformadores da
sociedade, fundadores de ordens distintas. Eles tinham a prá tica da
santa indiferença: estavam dispostos a ouvir a voz de Deus, que
també m falava com eles como fala comigo; Eles nã o mediram as tarefas
com seu pró prio amor, mas decididamente se entregaram a tudo o que
Deus queria deles.
Olha, então, querida, olha e faz conforme o modelo (Ex 25,40):
tudo. Meus projetos de palavra e açã o sã o puro amor pró prio; seguindo
minhas maneiras de ver, vou trabalhar, vou suar, e depois vento,
vento. Se eu quero ser realmente grande, um grande sacerdote, devo
deixar tudo, como Jesus na cruz, e julgar todos os acontecimentos da
minha vida e as disposiçõ es superiores que me afetam, com espı́rito de
fé . Por favor, nã o vamos trazer crı́ticas a esse campo: oh santa
simplicidade, oh santa simplicidade.
2. Volto ao assunto da indiferença, porque no fundo é o osso mais duro
para mim. Vamos fazer um pequeno exame. Este ano, minhas faltas
consistiram geralmente em uma ausê ncia de fervor contra o qual
circunstâ ncias muito solenes foram inú teis. Em particular, lamento a
secura nas oraçõ es, especialmente na comunhã o e na meditaçã o:
distraçõ es quase contı́nuas, pouco cuidado em examinar o progresso
espiritual; em suma, um certo calor contı́nuo. Qual foi a causa? Na
minha opiniã o, acho que nã o me engano ao dizer que foi, antes de tudo,
a falta de indiferença. Em primeiro lugar, aquela vontade louca de
estudar, a inal com a intençã o de se sair bem nos exames, diante dos
olhos profanos do mundo eclesiá stico; em segundo lugar, o trabalho
intelectual do amor-pró prio, amedrontado, aterrorizado pela ameaça
de um aviso que tornava minhas esperanças ró seas, coisas excelentes
em si mesmas, mas nã o sem um lado fraco, pelo menos em termos de
modo. Deus, vendo que meu coraçã o começou a se dividir, a tremer, ele
me deixou um pouco da mã o dele, e eu sei o que aconteceu. Portanto,
deixe o passado ser a escola do futuro. Nã o caminhemos dia apó s dia,
mas hora apó s hora. Devo me permitir ser governado por Deus com
brandura e també m com sacrifı́cio de mim mesmo, para preservar o
fervor, a paz de coraçã o e alcançar o verdadeiro progresso espiritual.
3. O estudo. Quantos preconceitos eu tenho sobre este assunto. Acabei
julgando como o mundo julga, iquei apaixonado pelas ideias em
voga. O estudo nã o era para ser um grande negó cio: o segundo
elemento de uma vida sacerdotal e icaz e també m uma segunda tá bua
de salvaçã o em nossos tempos. Deus me proı́ba de pensar pouco no
estudo, mas tenhamos cuidado de dar ao estudo um valor excessivo e
absoluto. O estudo é um olho, o esquerdo; Se falta o direito, de que
adianta só um olho, só o estudo? A inal, o que sou com meu
doutorado? Nada, um pobre ignorante. Como isso poderia bene iciar a
Igreja? Conseqü entemente, tenho que reformar um pouco minhas
idé ias em torno do conceito que tenho do estudo. Aqui també m é
necessá rio equilı́brio, harmonia de julgamento e habilidade. Estude
sempre, sem me conceder descanso: "Digo a cada um de você s que nã o
se considerem mais do que deveriam, mas que procurem sempre se
pensar com simplicidade." Devo ser instruı́do, mas como Sã o Francisco
de Sales. A inal, o que sã o essas pessoas que se dizem inteligentes? O
que elas sabem? Muito pouco; Nã o estou falando, é claro, daqueles que
sã o eruditos no sentido estrito da palavra. Quã o sá bia é a frase de nosso
Santo Padre Pio X aos jovens seminaristas: Meus ilhos, estudem,
estudem muito; Mas seja bom, muito bom, pelo amor de Deus.

De agora em diante estudarei com mais a inco, mas sem tentar mudar o
nome das coisas; mais do que para os exames, procuro sempre estudar
para o resto da vida, para que estudar se torne uma segunda natureza
para mim.
4. O leigo que arruma o meu quarto e me serve à mesa, bom irmã o
Tomá s, me faz meditar muito. Ele já está velho, com modos muito
corretos, alto em estatura, com seu comprido há bito negro, ao qual
nunca alude sem chamá -lo de santo. Sempre alegre, ele fala apenas de
Deus e do amor divino; ele nunca fala olhando para o rosto de seu
interlocutor. Na igreja, diante do Santı́ssimo Sacramento, ele ica
prostrado na calçada nua, imó vel como uma está tua. Veio da Espanha
para Roma para se tornar Passionista e vive feliz sendo o servo de
todos, simples como uma criatura sem ideais atraentes, sem brilhantes
miragens, pobre irmã o leigo para toda a vida. Diante da virtude do
irmã o Thomas, realmente nã o sou nada. Eu deveria beijar a ponta de
seu saco e começar a ouvi-lo como professor. Mas o fato é que sou
quase um padre, cheio de tantas graças. Onde está meu espı́rito de
penitê ncia, de humildade, minha modé stia, meu espı́rito de oraçã o,
minha verdadeira sabedoria? Ah, irmã o Thomas, irmã o Thomas,
quantas coisas você me ensina. Quantos pobres irmã os leigos, quantos
religiosos estranhos um dia brilharã o com gló ria no reino de Deus. Por
que eu nã o deveria receber o mesmo? O Jesus, inspira em mim um
espı́rito de penitê ncia, de sacrifı́cio, de morti icaçã o.
5. O bom padre diretor me implorou para acompanhar um jovem
protestante que foi recebido durante as horas da caminhada para
prepará -lo para a abjuraçã o. Pobre jovem, que pena que sou. E bom,
mas nos melhores nove anos de sua vida - ele tem dezoito agora - ele foi
completamente imbuı́do das instruçõ es que os protestantes conhecem
tã o bem, à sua maneira. Nã o há preconceito contra a Igreja Cató lica que
ele nã o conheça, nã o há artigo do corpo doutrinal heré tico que ele
ignore. Para mim, a sua companhia, ao mesmo tempo que me distrai,
nã o cessa de me fazer bem, enquanto toco com a mã o outro grave
perigo que sofre a nossa fé na Itá lia, tã o ameaçada pelas seitas. E uma
pena que os ilhos das trevas sejam mais sá bios do que os ilhos da
luz. Por ora, o que quero destacar é a gravı́ssima obrigaçã o que tenho
de agradecer a Deus pelo inestimá vel dom da fé : basta conversar
algumas horas com um protestante para compreender sua
importâ ncia. Portanto, o louvor do Senhor está sempre na minha boca (Sl
33,2), de maneira especial por este motivo. Quanto aos infelizes que
estã o fora da Igreja ... tenham piedade deles, pobres ilhos, rezem muito
por eles e apliquem-se com todas as forças e com muito amor na busca
de sua conversã o.

6. Vamos pensar sobre o sacerdó cio e pensar seriamente. Estou aqui


neste retiro sagrado precisamente para este propó sito. E uma grande
coisa, o ato mais solene da minha vida. Se do alto desta montanha, cujo
cume tocarei dentro de alguns dias, volto a andar ...
Aqui terminaram as humildes notas daqueles EUA, mas as sagradas
impressõ es daqueles dias, que foram dias de bê nçã os, nã o acabaram. A
distâ ncia de oito anos (escrevo em 1912), ainda os tenho ixados em
minha mente; e que o Senhor queira que eu nunca os esqueça. Acima de
tudo, um desejo vivo, um propó sito de aniquilaçã o total de todo o meu
ser junto ao Coraçã o de Jesus, foi amadurecendo com cada vez mais
força no meu espı́rito, para que, despojando-me de mim, meu divino
Mestre me encontrasse mais dó cil à s suas insinuaçõ es, o instrumento
mais valioso para fazer o bem, o grande bem da Igreja, nã o nos lugares
e nas formas que o meu pró prio amor preferiria, mas simplesmente,
cegamente, abandonando-me à vontade dos superiores. Nos ú ltimos
dias, alguns discursos muito fervorosos de um daqueles bons pais
(foram cerca de dez ordenados, de diferentes paı́ses e escolas: havia,
entre outros, um aluno lorentino de Caprá nica, um portuguê s, Don
Nicolá s Turchi, que em 1901 foi um colega meu no Seminá rio Romano,
outro clé rigo em Roma, etc.). O exercı́cio diá rio da Via-Sacra que
fazı́amos todos juntos na capela me ajudou muito, a leitura da vida do
novo Beato, Gabriel de la Dolorosa, que se fazia por sua vez durante as
refeiçõ es, a funçã o da noite no rica capela onde repousa o corpo de Sã o
Paulo da Cruz (era a novena da Assunçã o), o grande exemplo de
austeridade dado por aqueles padres. Ainda me lembro do choque que
experimentei todas as noites quando se levantavam para as matinas, e
do som dos passos e do longo manto negro pelos corredores
escuros. Mas o que mais me impressionou foi a solenidade das
lembranças cristã s naquele lugar venerá vel. Da minha janela
contemplei o Coliseu, o Latrã o, a Via Appia. Do jardim você pode ver o
Palatino e o Cé lio com todos os monumentos cristã os que o coroam:
San Gregorio, etc. Ao lado do local onde me encontrava icava a bası́lica
dos Santos Joã o e Paulo, a qual descia todas as tardes, como já disse,
para a novena da Assunçã o. Abaixo da bası́lica, a casa dos
má rtires; perto do meu quarto, o quarto onde morreu Sã o Paulo da
Cruz. Lá nos dedicamos à tarde para ensaiar a missa sagrada. Tudo,
en im, ali me falava de santidade, generosidade, sacrifı́cio. Senhor, como
te agradeço por ter me enviado à quele lugar sagrado para minha
preparaçã o imediata para o sacerdó cio.

Na vé spera do feliz dia da minha ordenaçã o, o bom padre Luı́s do


Rosá rio, que atendeu os retirantes e me deu muitas provas de
benevolê ncia, concordou em conceder um desejo meu e acompanhar-
me em alguns lugares mais venerá veis. Fui com ele a Sã o Joã o de Latrã o
para rezar naquela bası́lica, para renovar o meu ato de fé ; depois fui
para o Scala Santa e de lá para Saint Paul Fora dos Muros. O que eu
disse ao Senhor naquela tarde no tú mulo do Apó stolo dos Gentios?
O amanhecer amanheceu naquela festa abençoada de Sã o
Lourenço. Meu vice-reitor Spolverini me encontrou no
convento. Atravessei a cidade em silê ncio. A cerimô nia inesquecı́vel
aconteceu na igreja de Santa Marı́a de Monte Santo, na Plaza del
Pó polo. Ainda me lembro perfeitamente de todas as circunstâ ncias
desse evento. O consagrador foi o Bispo Ceppetelli, vice-gerente; alguns
alunos da escola de Caprá nica ajudaram no altar. Quando, acabado,
levantei os olhos depois de proferir o eterno juramento de idelidade ao
meu superior Ordinário Praelato , vi a bendita imagem da Virgem, na
qual - confesso - nã o tinha notado antes: parecia sorrir para mim desde
o altar e infundir-me com o seu olhar uma sensaçã o de doce
tranquilidade espiritual, de generosidade, de irmeza, como se ela me
dissesse que estava feliz e sempre pronta a proteger-me; Parecia, em
uma palavra, comunicar ao meu espı́rito uma onda de doce paz que
jamais esquecerei.

O bom vice-reitor acompanhou-me ao seminá rio, onde nã o havia


ningué m, pois estavam todos no campo em Roccantica. Minha primeira
tarefa foi escrever imediatamente uma carta ao meu bispo, Dom
Guindani, de feliz memó ria. Contei-lhe em poucas palavras o que disse
ao Senhor aos pé s do Bispo Ceppetelli: Renovei a minha obediê ncia a
ele. Estou muito feliz por poder renovar essa promessa agora, oito anos
depois. Depois escrevi aos meus pais, fazendo com que eles e toda a
famı́lia partilhassem da alegria do meu coraçã o, convidando-os a
agradecer ao Senhor comigo e a pedir-Lhe que se digne a manter-me
iel. A tarde iquei só , só com meu Deus que tanto me exaltou, só com
meus pensamentos, com meus propó sitos, com minhas doçuras
sacerdotais. Deixei. Reunido com o Senhor, como se Roma estivesse
deserta, visitei as igrejas de maior devoçã o, os altares dos santos que
me eram mais familiares, as imagens de Nossa Senhora. Foram visitas
muito breves. Parecia-me que naquela tarde eu tinha uma palavra a
dizer a todos, como se aqueles santos també m tivessem uma palavra
para mim cada um. E realmente foi.
Entã o visitei Sã o Filipe, Santo Iná cio, Sã o Joã o Batista de Rossi, Sã o Luı́s,
Sã o Joã o Berchmans, Santa Catarina de Sena, Sã o Camilo de Lelis e
outros. O santos bem-aventurados, que entã o deram testemunho ao
Senhor dos meus bons votos, agora peço-lhe perdã o pelas minhas
fraquezas e ajuda-me a manter sempre acesa no meu coraçã o a chama
daquele dia inesquecı́vel.
No dia seguinte, o simpá tico vice-reitor acompanhou-me a San Pedro
para celebrar a primeira missa ali. Quantas coisas aquela grande praça
me disse quando entrei. Ele tinha estado lá muitas vezes, e sempre com
emoçã o; mas naquela manhã ... E no interior, o majestoso templo, uma
das memó rias mais venerá veis da histó ria da Igreja. Desci até a cripta,
ao lado da tumba do Apó stolo. Esteve presente um grupo de amigos, a
convite do vice-reitor. Lembro-me de Dom José Palica, meu mestre de
moral, padre Enrique Benedetti, padre Pedro Moriconi, padre José
Baldi, padre Enrique Fazi e outros. Eu disse a missa votiva dos santos
Pedro e Paulo. Que consolos naquela missa. Recordo que, entre os
sentimentos que transbordavam do coraçã o, um dominava os outros:
um grande amor pela Igreja, pela causa de Cristo, pelo Papa; uma
entrega total do meu ser ao serviço de Jesus e da Igreja; um propó sito,
um juramento sagrado de idelidade à cá tedra de Sã o Pedro, de
trabalho incansá vel pelas almas. E aquele juramento, que adquiriu uma
solenidade especial pelo lugar em que estive, pelo ato que pratiquei e
pelas circunstâ ncias que o acompanharam, ainda mantenho aqui vivo e
palpitante em meu coraçã o mais do que a pena é capaz de descrever
. Eu disse ao Senhor no tú mulo de Sã o Pedro: Senhor, tu sabes
tudo; você sabe que eu te amo. Saı́ de lá atordoado. Os pontı́ ices de
má rmore e bronze espalhados por toda a bası́lica pareciam olhar para
mim de seus tú mulos com um novo signi icado naquele dia, como se
para me inspirar grande coragem e con iança.

Por volta do meio-dia, uma nova consolaçã o me esperava: a audiê ncia


do Papa Pio X. Meu vice-reitor conseguiu para mim - como lhe estou
grato por tudo o que ele fez por mim naqueles dias abençoados - e ele
me acompanhou até lá . Quando o Papa veio até mim e o vice-chanceler
me apresentou, ele sorriu e se inclinou para me ouvir. Falei-lhe de
joelhos: disse-lhe que me sentia feliz por poder expor aos seus pé s os
sentimentos que pela manhã , durante a primeira missa, tinha
depositado junto ao tú mulo de Sã o Pedro, e expliquei brevemente eles,
da melhor maneira que pude.
O Papa entã o, permanecendo curvado e colocando a mã o na minha
cabeça, quase falando no meu ouvido, disse: «Bem, assim eu gosto, ilho,
peço ao Senhor que abençoe especialmente estes teus bons propó sitos
e seja tu mesmo um sacerdote de acordo com o coraçã o dele. També m
abençô o todas as suas outras intençõ es e todas as pessoas que se
alegram com você atualmente. Ele me abençoou e me deu um beijo de
mã o. Entã o ele continuou, conversou com outros; Eu acho que com um
polonê s. Mas de repente, como se seguindo o io de seu pensamento, ele
voltou para mim e me perguntou quando eu voltaria para casa. Eu
disse: Para o dia da Assunçã o. "Oh", respondeu ele, "que festa vai haver
em sua pequena aldeia (eu me perguntava o que era antes) e como os
belos sinos de Bé rgamo tocarã o naquele dia." E ele seguiu seu caminho
sorrindo.
Na tarde daquele dia feliz de Sã o Lourenço, fui para Roccantica, a casa
de fé rias do Seminá rio. Dom José Picirilli veio me cumprimentar na
estaçã o Poggio Mirteto. A entrada da residê ncia, mal iluminada, foi
muito comovente para mim: na capela aqueles bons companheiros
cantaram um lindo Você é padre. No dia seguinte, uma festa muito
feliz. Todos eles tomaram a comunhã o. O bispo Burgarini, o reitor,
ajudou-me na missa; meu bom diretor espiritual, Pe. Franasco Pitocchi,
um Redentorista, fez um sermã o sobre o evangelho. Aquele pai era bom
demais para mim ... o carinho cobriu seus olhos com um vé u. E a doce
festa durou o dia todo. No dia 13 celebrei a missa na Annunziata de
Florença. Cumpria assim um dever de gratidã o para com aquela
querida Virgem a quem, antes do meu serviço militar, tinha consagrado
a minha pureza. No dia 14 esteve em Milã o ao lado do tú mulo de Sã o
Carlos ... Quantas coisas eu disse a ele. A partir daquele dia, o vı́nculo de
veneraçã o e amor que já me ligava a ele se fortaleceu. Dia 15, festa da
Assunçã o, em Sotto il Monte. Considero aquele dia um dos mais alegres
da minha vida, para mim, para os parentes, para os benfeitores, para
todos.
Por que me lembrei de tudo isso? Para que també m desta funçã o surja a
voz do convite para permanecer iel à s minhas promessas, grato ao
Senhor pelo bem que me fez; para que brote um protesto perene - se
me tornar in iel - e tudo sirva para me tornar um sacerdote digno da
minha dignidade e nã o indigno de Jesus, a quem só corresponde a
gló ria.
4 de novembro de 1904, retiro espiritual no início do ano. Tudo o que
escrevi nas quatro rodadas de Exercı́cios Preparató rios para as Ordens
Sagradas permanece inalterado em termos gerais. Para manter a minha
conduta sempre ordenada e apoiar o meu progresso espiritual, em
certos pontos está veis, faço dos seguintes propó sitos o objeto de minha
diligê ncia particular, que humildemente coloco sob a proteçã o e os
auspı́cios de Sã o Carlos Borromeu neste gentil dia de sua festa .
1. De manhã , desde o momento em que acordo até algum tempo depois
da Santa Missa, vou me dedicar exclusivamente aos pensamentos e
coisas espirituais: oraçõ es vocais, leituras sagradas, meditaçã o,
recitaçã o do ofı́cio divino, etc .; 2. Serei escrupuloso em praticar
propositalmente e proveitosamente o exame especı́ ico, que farei cinco
minutos antes do meio-dia; 3. Terei todo o cuidado de fazer a visita
diá ria ao Santı́ssimo Sacramento com um fervor muito singular. Devo
tudo ao Santı́ssimo Sacramento e ao Sagrado Coraçã o de Jesus: serei,
portanto, uma alma apaixonada pelo Santı́ssimo Sacramento; 4. Nunca
irei para a cama sem ter orado pelo menos as trê s noites do dia
seguinte. Fora de tudo: o breviá rio deve ocupar sempre o lugar de
honra; 5. Serei inexorá vel em fazer o saque mensal pelo menos da tarde
anterior até o meio-dia do primeiro domingo de cada mê s; 6.
Observarei pontualmente as regras do seminá rio como se fosse um dos
mais jovens, lembrando sempre que toda a minha in luê ncia sobre os
jovens, como prefeito, dependerá inteiramente do bom exemplo que
lhes der; 7. Renovo com maior força a intençã o de praticar o má ximo
pudor nas caminhadas. Ser padre nã o me salva de quedas graves. O
cuidado com a modé stia ajuda muito a me manter controlado e a
preservar o fervor do espı́rito; 8. Má xima atençã o ao tempo, em
particular ao tempo de estudo. Primeiro, as disciplinas do curso e da
aula; entã o, com moderaçã o, as outras coisas; 9. Em tudo, humildade,
grande fervor de espı́rito, discriçã o e cortesia para com todos, sempre
alegria e serenidade de espı́rito e de coraçã o. Coraçã o de Jesus
in lamado de amor por nó s, in lama os nossos coraçõ es com o vosso
amor.

8 de dezembro de 1904, 50º aniversário da proclamação dogmática da


Imaculada Conceição de Maria . Vou me lembrar deste dia entre os mais
solenes de minha vida. Hoje experimentei uma grande alegria, com o
coraçã o cheio de pura alegria, ao testemunhar os solenes triunfos de
Maria, na Bası́lica do Vaticano e em todas as igrejas da cidade.
Foi uma competiçã o cordial e amorosa com a qual toda Roma quis
manifestar, uma vez mais, o seu afecto pela Santı́ssima Virgem. O
grande templo cheio de ié is, o esplendor da grandiosa cerimô nia: ali,
naquele lugar, o mais venerado de toda a terra, do alto da abside
resplandecente em uma gló ria de luz mais viva, parecia a imagem de
Maria Imaculada sorrir ao Papa, na majestade da pompa pontifı́cia, ao
imponente tribunal de cardeais, de bispos vindos em grande nú mero de
todas as partes da terra, de dignitá rios eclesiá sticos e leigos, enquanto
na celebraçã o dos sagrados misté rios as harmonias de Perosi se
espalharam como vozes celestiais pelas naves largas e se ergueram em
busca de ecos mais dignos até a imensa cú pula. Demonstraçã o de
fé . Triunfo de Maria. Nã o acredito que maiores e mais maravilhosos
elogios possam ser imaginados na Terra. Eu, confuso no meio da
multidã o de jovens seminaristas de todos os paı́ses, mas perto o
su iciente da con issã o para poder ver quase todo o desenvolvimento
da imponente cerimô nia.
1906
Peregrinação à Terra Santa
(18 de setembro, 22 de outubro)
Don Angel Roncalli nã o fez a habitual volta regular nos Estados Unidos
em 1905. Participou, pela primeira vez, de uma peregrinaçã o a Lourdes,
onde recebeu impressõ es felizes e indelé veis, das quais recordava com
alegria. Em seguida, ele visitou vá rios santuá rios na França, incluindo a
Bası́lica do Sagrado Coraçã o de ParayleMonial e os lugares santi icados
por Jean-Marie Vianney em Ars. De 19 a 21 de abril de 1905, antes de
iniciar sua atividade como secretá rio de Dom Radini Tedeschi, bispo de
Bé rgamo, padre Angel Roncalli passou trê s dias em retiro com os
camaldulenses de Frascati. Desses dias, nã o há nota (LoE) .
De 18 de setembro a 22 de outubro de 1906, em vez dos Estados
Unidos, participou da III peregrinaçã o italiana à Terra Santa, presidida
por Dom Radini. Desse itinerá rio, Joã o XXIII deixou-nos alguns
testemunhos impressionantes, vibrantes de piedade sincera. A seguir
reproduzimos dois de seus trechos, um escrito em Caná e outro em
Jerusalé m (NdE) .
Caná, 30 de setembro de 1906. Deixo Caná , mas nã o sem deixar aqui um
desejo, um voto cordial. Em Caná Jesus realizou seu primeiro milagre,
fez a primeira a irmaçã o de sua divindade. Mas em Caná , com cerca de
1.300 habitantes, a maioria sã o muçulmanos, o resto sã o gregos
cismá ticos; apenas alguns, muito poucos, cerca de cinquenta, sã o
cató licos, e estes, como mais ou menos todos os cató licos na Palestina,
també m nã o sã o muito bons nem fervorosos. O Senhor queira que o
novo altar hoje consagrado solenemente e dedicado ao primeiro
milagre de Jesus convoque todas essas almas dispersas ao seu redor e
as una na uniã o da fé cató lica, na prá tica fervorosa e constante da vida
cristã .
Jerusalém, 4 de outubro de 1906 . Missa Pontifı́cia do Arcebispo Radini
Tedeschi. E quando Monsenhor, depois de ter comparado o espanto das
piedosas mulheres na pedra rolada com o sentimento de espanto e dor
experimentado pelos cristã os que aqui chegaram de paı́ses distantes na
desordem e confusã o de homens e coisas, de lı́nguas, de ritos, de a fé
que cerca o santo sepulcro, saiu com um decidido convite a Cristo
triunfante para que ele volte no brilho de sua gló ria sobre a pedra
removida, nã o para dispersar, mas para reunir, e se repetir aqui acima
de tudo, e todos o Oriente o repete por sua vez, e ecoa das estepes da
Rú ssia e da Africa o eco de um ú nico rebanho e de um ú nico pastor ... Os
olhos, os coraçõ es de todos estavam pendurados nos lá bios do Bispo,
comovidos, com o coraçã o dele em um ú nico sentimento, no desejo
comum de que todos os irmã os dissidentes realmente retornem ao
redil. E por que o desejo de hoje, com a concordâ ncia unâ nime de toda a
cristandade, nã o se tornou a realidade de amanhã ? Cabe a nó s, entã o,
coletar e cultivar esse desejo tã o admiravelmente expresso. A Deus
con iamos o resto, na certeza de que a palavra de Cristo se cumprirá ,
especialmente aqui em Jerusalé m: um só rebanho e um só pastor.
1907
Exercícios na casa da Sagrada Família Martinengo (1-7 de setembro)
Finalmente consegui me levantar depois de desejar esses Exercı́cios. Eu
revisei os antigos propó sitos e experimentei as mesmas
impressõ es. Minha vida sacerdotal sofreu muito com as vicissitudes
desses meus primeiros anos de sacerdó cio, nos quais nunca tive tempo
para pensar seriamente em mim mesmo. Minha alma sempre se dividiu
entre mil pequenas preocupaçõ es e compromissos, pequenas coisas do
nada, mas que nunca acabam. Sinto a necessidade de dar graças a Deus,
nã o só por ter me preservado de graves culpas, mas també m pelas
imensas, inumerá veis, doces, ordiná rias e extraordiná rias graças com
que nunca cessou nem cessou de preencher o meu espı́rito. Muito
obrigado, meu Deus, especial, inefá vel. Este pensamento por si só é
su iciente para me convidar a reacender o fervor e me lembrar do
propó sito de uma vida sacerdotal verdadeiramente santa. Sim, Jesus,
aceito o seu convite: talvez o ú ltimo, porque quem sabe quais sã o os
seus planos para a minha vida? E eu volto para os seus braços, para o
seu coraçã o amoroso.

A minha funçã o de secretá rio do Bispo e a minha dedicaçã o ao ensino,


que aumentou este ano, caracterizam toda a minha vida, uma vida de
grande recolhimento, de oraçã o, de estudo. Em suma, voltei a ser
seminarista e, como tal, quero viver. Lembro-me de tudo que escrevi
quando estive em Roma. Sim, existem pensamentos e impressõ es
prá ticas sempre oportunas. Acrescento poucas coisas e pouquı́ssimas
inalidades, à s quais voltarei, poré m, em meus exames.
1. Minhas ocupaçõ es, em casa e fora de casa, ininterruptas, insistentes,
introduziram um pequeno desastre em meus exercı́cios de
piedade. Tudo deve voltar ao seu lugar. Pretendo ser inexorá vel neste
ponto. Matinas e laudes sempre rezarei à tarde; Antes da missa, um
pouco de meditaçã o a todo custo: meia hora, vinte minutos, um quarto
de hora e, se nã o posso fazer isso, pelo menos dez minutos, mas a
meditaçã o nunca deve ser omitida. Jamais sairei da capela sem antes ter
rezado també m nas horas menores. A hora de se levantar vai depender
do caso, para que haja tempo para tudo. Via de regra, me levanto à s
cinco e meia: mesmo indo para a cama à s onze e meia, terei seis horas
de descanso, que podem ser su icientes.
2. També m nestes Exercı́cios tenho sentido grandes impulsos de
devoçã o ao Santı́ssimo Sacramento e ao Sagrado Coraçã o de Jesus. Essa
devoçã o era tudo para mim: agora que sou padre, devo ser tudo para
ela: com ele vai, com ele vem, com ele está sempre a mente amorosa,
disse Tasso da alma apaixonada por Deus. Minha vida deve ser assim:
em torno do Santı́ssimo Sacramento. Jamais deixarei de fazer a visita
diá ria, mas tentarei voltar com freqü ê ncia a Jesus ao longo do dia, nem
que seja para saudá -lo. Devo observar com Jesus os mesmos respeitos
que observaria com um amigo a quem devo fazer as honras em casa. A
minha devoçã o ao Santı́ssimo Sacramento e ao Sagrado Coraçã o deve
re letir-se em toda a minha vida: nos meus pensamentos, nos meus
afetos, nas minhas obras, para que viva só para ela e nela. Insisto muito
na minha preparaçã o e na açã o de graças da Santa Missa. També m
presto atençã o ao retiro mensal, que farei no primeiro domingo do mê s
ou no dia mais pró ximo e oportuno, e ao exame espiritual, que farei
escrupulosamente depois do meio-dia, acrescentando-o à oraçã o das
vé speras.
3. Uma das minhas principais falhas é ainda nã o ter encontrado o
tempo certo. Devo encontrar uma maneira de fazer muitas coisas em
pouco tempo; Nesse sentido, tomarei muito cuidado para nã o perder
um só minuto com coisas inú teis, como conversas sem propó sito,
etc. Imediatamente apó s o café da manhã , despacharei os assuntos
impostos pela minha posiçã o, como correspondê ncia, etc. O tempo
restante me resta para as aulas, que sempre prepararei com grande
diligê ncia. Vou ler os jornais nas horas mais cansativas: depois do
almoço, por exemplo; em caminhadas, entre os trabalhos de casa. Todos
os dias, principalmente à noite, antes de ir para a cama, lerei um bom
livro que pode ser ú til para o meu espı́rito.
4. A minha funçã o de secretá rio do Bispo impõ e-me graves deveres e
reservas muito delicadas. Tentarei constantemente prestar atençã o a
um e ao outro. Deveres da mais alta reverê ncia para com o Bispo,
sempre: com a mente, com o coraçã o, com as obras, em privado e em
pú blico, total obediê ncia e unidade de espı́rito com ele; deveres de bom
exemplo e de conduta autenticamente sacerdotal perante
todos; deveres de caridade e gentileza em todas as ocasiõ es. Terei que
praticar uma reserva delicada principalmente com o idioma: falar
pouco e bem, principalmente sabendo icar quieto, embora sem
ostentaçã o, sem incomodar ningué m, antes preservando a má xima
tranquilidade de espı́rito e serenidade com todos, a má xima cortesia
nas maneiras e nas palavras, para que ningué m se ofenda. Em suma,
seguirei o preceito de Sã o Paulo a Tito: Apresentando-te como exemplo
de boas obras, e nunca esquecerei o que o Santo Padre Pio X me disse
quando vim a Bé rgamo com o Bispo: Entã o, Dom Angel, servo iel e
prudente ... e prudente. Quanto à s observaçõ es do mundo, alegre-se e
faça o bem, e deixe os pá ssaros cantarem.

1908
EUA EUA com o Sr. Bispo Martinengo (25 a 31 de outubro)
1. Agradeço mais uma vez a Deus porque teve misericó rdia de mim até
agora e pela nova graça destes santos Exercı́cios. O primeiro resultado é
um sentimento profundo de minha enorme misé ria e a renovaçã o do
antigo propó sito de querer santi icar-me a todo custo, a partir de
imediato, à medida que os anos bons e preciosos vã o passando.
2. Ainda noto minha falta de calma e tranquilidade em meus trabalhos,
mesmo quando isso nã o aparece externamente. As numerosas tarefas
que me sã o con iadas acabam por perturbar a minha cabeça e o meu
coraçã o e nã o me permitem prestar atençã o a nada sé ria e
integralmente, em grande detrimento do espı́rito de piedade. Portanto,
maior calma, maior ordem em tudo, e as prá ticas de piedade,
principalmente e a todo custo.
3. Sinto uma grande necessidade de um espı́rito de oraçã o mais ardente
e de uma uniã o mais ı́ntima e con iante com o Senhor no meio das
minhas ocupaçõ es. Portanto, proponho com todas as minhas forças ser
iel à s minhas prá ticas de piedade, mesmo ao ponto do
escrú pulo. Sempre me levantarei, e sem exceçã o, à s cinco e meia, para
que nunca me falte tempo para meditar; e depois da ceia sempre
rezarei matinas e laudes no dia seguinte. Você nunca vai perder uma
visita ao Santı́ssimo Sacramento, em casa ou no exterior. Acima de tudo,
insisto no recolhimento e na atençã o durante a recitaçã o do breviá rio e
do santo rosá rio. Em geral, me esforçarei para manter sempre vivo o
espı́rito de oraçã o, tã o importante para manter o fervor dos propó sitos.
4. Nestes dias o Senhor tem tido o prazer de me fazer compreender
mais o conceito que devo formar e re letir em minha vida de
sacerdote. Devo sempre me considerar nas mã os de Deus como uma
vı́tima disposta a sacri icar-me, minhas idé ias, meus confortos, minha
honra, tudo o que tenho: para a gló ria de Deus, para o meu Bispo, para o
bem da minha amada diocese: a sacri ício vivo, consagrado, agradável a
Deus (Rm 12,1). Vou me acostumar a meditar sobre o signi icado
elevado dessas palavras. Assim, sem recorrer a coisas extraordiná rias,
conseguirei icar sempre morti icado, especialmente no meu pró prio
amor e no meu conforto; Jamais poderei me arrepender, jamais
perderei a alegria interna do meu espı́rito, re letida até dentro, em
todas as minhas açõ es. Pensarei especialmente nisso quando celebrar a
Santa Missa e me unirei a Jesus Cristo, sumo sacerdote e vı́tima divina
em todo o mundo. Que belo é trabalhar incansavelmente, sofrer em
silê ncio as pequenas amarguras do dia, sem nunca se decompor, e
manter sempre vivo e vivo o desejo de sofrer cada vez mais, de
cooperar cada vez melhor pelo verdadeiro bem da diocese. , para
agradar ao bom professor Jesus Cristo.

5. Reli as breves notas que ainda guardo em alguns cadernos de


lembrança dos EUA feitos em Roma, quando era seminarista e me
preparava para as Ordens sagradas. Senhor, nã o me deixe esquecer as
boas intençõ es daqueles dias. Ainda sou o mesmo, pecador e ingrato
pela delicadeza de sua caridade. Poré m, meu desejo é sempre trabalhar
e me santi icar, para em breve servir a alguma coisa na Igreja. O
exemplo dos vossos santos, cujas vidas li, incita-me a imitá -los com
coragem. O bom Jesus, sustenta-me nas boas intençõ es, ajuda-me.
1909
EUA EUA com o Sr. Bispo Martinengo (19 a 25 de setembro)
1. Nada tenho a acrescentar ou retirar do que propus nos dois
Exercı́cios anteriores, no que diz respeito à minha vida de oraçã o. E
humilhante ter que confessar sempre a sua negligê ncia, mas é um dever
incontorná vel. Vou seguir mais o conselho do meu diretor espiritual: vá
descansar um pouco mais cedo à noite para ser pontual à s 5h30 da
manhã . O bom andamento de todo o dia depende de se levantar na hora
certa e sem demora. Colocarei també m em prá tica o bom costume de
rezar ordinariamente o ofı́cio divino na capela, diante do Santı́ssimo.
2. Vá rias vezes nestes Exercı́cios senti um forte incentivo ao estudo da
Sagrada Escritura e, nestes dias, já comecei, com prazer, a leitura das
cartas de Sã o Paulo. Pretendo continuar com este sistema, mesmo
muitas vezes usando uma passagem da Sagrada Escritura,
especialmente do Novo Testamento, como tema de minha
meditaçã o. Alé m disso, todas as noites antes de ir para a cama, lerei
calma e devotamente um capı́tulo dos Livros Sagrados.
3. Minhas ocupaçõ es, à s vezes incessantes, constituem um fardo difı́cil
para mim e confundem minha cabeça. Isso nã o está indo bem. Devo
fazer todas as minhas coisas com santa solicitude, mas nã o prejudicar
de forma alguma a tranquilidade e a calma do espı́rito. Nã o importa
aonde você vá . Acima de tudo, tentarei nã o esperar até o ú ltimo minuto
para fazer as coisas principais e à s quais estou principalmente grato.
4. Nestes dias decidi ingressar na nova Congregaçã o Diocesana dos
Presbı́teros do Sagrado Coraçã o e espero realizar o meu desejo em
breve. Este passo nã o me impõ e nada mais do que já prometi ao Senhor
por muito tempo, ou seja, manter-me como homem à total disposiçã o
de meus superiores, nunca fazendo nada que possa determiná -los em
certo sentido. em vez de em outro, no que me diz respeito. Será , no
entanto, um novo e contı́nuo estı́mulo para cumprir todos os meus
antigos propó sitos, para me santi icar verdadeiramente e dar um bom
exemplo para os outros sacerdotes, especialmente os jovens. A
incorporaçã o na nova Congregaçã o me ajudará a manter vivo em mim o
espı́rito da mais perfeita humildade e obediê ncia, e me manterá mais
decidido a nã o me buscar de forma alguma, antes de buscar sempre a
vontade de Deus, expressa no do meu bispo. O Senhor e a Virgem me
abençoem no feliz propó sito.
5. Mesmo que eu nã o faça propó sitos especiais, alé m da renovaçã o
daqueles já feitos há muito tempo, que sã o su icientes, quando eu
deixar estes exercı́cios terei que organizar minha vida de novo, para
que eu sinta em meu espı́rito todas as vantagens desta reforma. Poré m,
para me manter cada vez mais presente aos meus propó sitos, e també m
porque quero habituar-me um pouco mais ao espı́rito de morti icaçã o
cristã , que será ú til até para a saú de do meu corpo, prometo pagar
especial atençã o para me punir na comida. Comer um pouco menos do
que como nã o para de me fazer bem. Entã o vou reduzir a raçã o e
normalmente vou beber pouco vinho, e isso misturado com á gua. Se eu
pensar bem, me parece que prometo muito. No entanto, espero que o
Senhor me ajude a permanecer iel ao que prometi e torne mais fá cil
para mim fazer isso.
6. No pró ximo ano se celebrarã o na Lombardia grandes festivais pelo
terceiro centená rio da canonizaçã o de Sã o Carlos Borromeu. Já tentei
fazer algo por ele em Bé rgamo, para que venham à tona os grandes
tı́tulos que o ilustre arcebispo tem para o nosso
reconhecimento. Quanto a mim, tentarei tornar este grande santo cada
vez mais familiar à minha mente e ao meu coraçã o; Tentarei invocá -lo
com freqü ê ncia e imitá -lo. Talvez, com a ajuda do Senhor, orientando o
nosso clero para a igura de Sã o Carlos, o seu fervor apostó lico
aumente, para maior benefı́cio espiritual de toda a diocese. Talvez os
trabalhos empreendidos me custem alguns sacrifı́cios: terei todo o
gosto em fazê -los em honra de Sã o Carlos, certo de contribuir assim
mais para a realizaçã o do objectivo almejado.
1910
EUA EUA com o Sr. Bispo Martinengo (2 a 8 de outubro)
1. Um ano de agradecimento també m este que passou. Mas iz pouco
progresso na perfeiçã o e estou mais uma vez confuso e humilhado. No
entanto, nã o desanimo. Reli palavra por palavra o que escrevi e prometi
no ano passado e começo de novo, prometendo maior idelidade e
precisã o em minhas prá ticas religiosas; menos distraçã o em tantos
assuntos; contentar-me com o possı́vel e, em tudo, com um sentimento
cada vez mais delicado e profundo do meu nada; sentimento també m
de abandono habitual em Deus, que tudo é e tudo pode: só unida a ele
poderei realizar alguma coisa. Devo pensar que o Senhor leva em conta
tudo, até a palavra nã o dita, o olhar morti icado, a ejaculaçã o, o suspiro
imperceptı́vel. Por isso, vou insistir com muito cuidado em me manter
na presença de Deus, que sempre me conforta, me faz feliz, me encoraja.
2. O beato Jesus achou por bem conceder-me, nestes exercı́cios, uma luz
especial para compreender ainda mais vivamente a necessidade de
manter o meu sentido de fé e o meu sentimento com a Igreja inteira e
pura, mostrando-me també m a sabedoria sob uma luz mais
resplandecente , oportunidade e beleza das medidas pontifı́cias
destinadas a salvaguardar principalmente o clero do contá gio dos erros
modernos (chamados modernistas), que de forma enganosa e
fascinante procuram demolir os fundamentos da doutrina cató lica. As
dolorosas experiê ncias deste ano, observadas aqui e ali, as graves
preocupaçõ es do Santo Padre e a voz dos sagrados pastores
persuadiram-me, mesmo sem outros dados, que este vento do
modernismo sopra muito forte e em maior intensidade que o que à
primeira vista pode parecer; que é muito fá cil para ele bater na cara e
fazê -los perder a cabeça, mesmo aqueles que a princı́pio sã o movidos
apenas pelo desejo de adaptar a antiga virtude do Cristianismo à s
necessidades modernas. Muitos, mesmo os bons, caı́ram no erro, talvez
inconscientemente; eles passaram para o campo do erro. E o pior é que
das ideias se passa rapidamente ao espı́rito de independê ncia, de
liberdade de julgamento, em tudo e com todos.
De joelhos, agradeço ao Senhor por ter me preservado ileso no meio de
tal turbulê ncia e turbulê ncia de cé rebros e lı́nguas. Mas a experiê ncia
alheia e o ter-me preservado até agora sã o para mim um grave aviso de
que devo vigiar ainda mais as minhas impressõ es, ideias e sentimentos,
as minhas palavras e tudo o que de alguma forma poderia ser
comprometido por aquele golpe devastador. Devo recordar sempre que
a Igreja guarda em si a eterna juventude da verdade de Cristo, que
pertence a todos os tempos e que é a Igreja que transforma e salva os
povos e os tempos, nã o ela. O primeiro tesouro de minha alma é a fé , a
fé leal e ingê nua de meus pais e de meus bons velhos. Serei escrupuloso
e austero comigo mesmo, para que de forma alguma a pureza de minha
fé sofra qualquer dano.
3. A sé ria tarefa de professor de seminá rio que meus superiores me
impuseram, obriga-me nã o só a pensar em mim mesmo pela pureza de
minha fé , mas també m a fazer com que todos os meus pensamentos
sejam expostos aos seminaristas em aula, de minhas Palavras e o meu
tratamento suscita todo um espı́rito de uniã o ı́ntima com a Igreja e com
o Papa que os edi ica e os leva a pensar da mesma maneira. Por isso,
serei muito delicado em todas as minhas expressõ es, procurando
incutir nos alunos aquele espı́rito de humildade e oraçã o nos estudos
sagrados que torna o entendimento mais forte e o coraçã o mais
generoso.
1911
EUA EUA com o Sr. Bispo Martinengo (1 a 7 de outubro)
1. A memó ria do passado é sempre para mim fonte de grande
encorajamento e també m de grande confusã o. Agora me encontro de
pé s e mã os atados, a serviço de Jesus Cristo e de sua santa causa. Nã o
devo procurar mais nada, tentando manter a alegria e a calma no meio
das minhas ocupaçõ es, sem pressa nem demora, sem ruı́do ou
concentraçã o exagerada.
2. Proponho, e espero que desta vez com maiores frutos, ser muito iel à
ordem e recolhimento nas minhas prá ticas de piedade. Eu tenho uma
necessidade especial. Matinas e laudes, à noite, apó s o jantar. Levante-
se à s cinco e meia; depois, meditaçã o, ajudando o Bispo na missa e
celebrando a minha; depois da açã o de graças, a oraçã o das horas. Uma
breve visita ao retornar da aula, outra antes da aula da tarde. Vé speras,
logo apó s o curto cochilo, e o resto, tudo em seu lugar. Esses pontos
devem ser inevitá veis: o fervor cuidará de coroá -los. Este ano, inscrevi-
me na associaçã o de padres adoradores. Eu quero ser iel ao meu
tempo. Em tudo muito calmo, mas nã o menos idelidade e precisã o.
3. Lembro-me de como propus no ano passado a preservaçã o da minha
adesã o de espı́rito e de coraçã o à Igreja e ao Papa. Santo Afonso, em
dias de confusã o e tristeza, disse: Vontade do Papa, vontade de
Deus. Esse será o meu lema e meus crité rios estarã o em conformidade
com ele. Ajude-me, Senhor, eu nã o quero nada alé m de você .
1912
EUA EUA com o Sr. Bispo Martinengo (13 a 19 de outubro)
1. Estou prestes a entrar no trigé simo segundo ano de minha
vida. Pensar no passado me humilha e me confunde; Pensar no
presente me consola, porque ainda é tempo de misericó rdia; Pensar no
futuro me dá â nimo, na esperança de poder resgatar o tempo
perdido. Mas como será esse futuro? Talvez muito breve. Em qualquer
caso, longo ou curto, repito, Senhor: é todo seu.
2. Nã o é necessá rio que eu busque ou me dedique a outras maneiras de
fazer o bem. Eu vivo em obediê ncia, e a obediê ncia me sobrecarregou
com tantas ocupaçõ es que meus ombros estã o prestes a ceder sob o
peso. Mas, se Deus quiser, estou disposto a carregar isso e muito mais. O
descanso virá no cé u. Estes sã o os anos de esforço. O Sr. Obispo dá o
exemplo para eu trabalhar mais duro do que eu. Devo ser escrupuloso
para nunca perder um minuto de tempo.
3. E humilhante para mim, mas é um dever lembrar as metas feitas há
muito tempo de idelidade absoluta ao meu estilo de vida. Levantar à s
cinco e meia, meditaçã o, missa do bispo, minha missa, açã o de graças,
oraçã o das horas; visitas curtas mas frequentes ao Santı́ssimo
Sacramento; vé spera da soneca curta; Rezo com muita devoçã o ao
rosá rio; depois da ceia, matinas e laudes, invariavelmente; e uma visita
mais longa ao Santı́ssimo Sacramento; Antes de dormir, uma pequena
leitura espiritual. Esses sã o os pontos fundamentais: eles sã o meus
salva-vidas.
Oh Senhor, eu me reconheço como fraco. Ajude-me a ser muito irme
nessas prá ticas; ajude-me para que no ano que vem nã o tenha a
vergonha de ter que me confessar in iel.
4. A obrigaçã o de seguir um horá rio nas refeiçõ es e ter que pensar em
tantas coisas fortaleceu o há bito de nã o querer nada que satisfaça o
apetite. Isso está indo bem. Mas tenho que fazer mais. Meu corpo
miserá vel ica gordo e pesado: eu mesmo sinto, e isso me tira a
agilidade material que també m é necessá ria para fazer o bem. Alé m
disso, o corpo deve ser continuamente domado, para que nã o se
rebele: eu imponho uma disciplina e eu domino o meu corpo (1Cor
9,27). Portanto, terei muito cuidado para comer com moderaçã o, nã o
com gula, comendo um pouco menos em geral, comendo muito pouco. E
diga o mesmo sobre beber. O espı́rito de morti icaçã o deve ser
praticado, sobretudo, no uso dos alimentos.
5. No pró ximo dia da festa de Sã o Carlos, colocarei nas mã os do Bispo as
promessas especiais que me farã o sacerdote do Sagrado Coraçã o
(externo). Confesso: algumas di iculdades tê m tentado me aquecer no
bom propó sito. Mas sã o visõ es e di iculdades humanas apresentadas
em grande parte pelo amor pró prio. E por isso que ico feliz por pisar
em todas as coisas e correr generosamente onde Jesus me chama e me
fez entender que ele me ama. Eu nã o me importo com o que o mundo
diz, mesmo o mundo eclesiá stico. Minha intençã o, o Senhor a vê , é reta
e pura. Quero um endosso de tipo externo ao propó sito que concebi
desde os primeiros anos da minha vida clerical: ser tudo e apenas de
obediê ncia, nas mã os do meu Bispo, mesmo nas pequenas coisas. A
promessa que vou fazer quero ser també m uma declaraçã o perante a
Igreja do desejo que tenho de ser aniquilado, desprezado, esquecido,
pelo amor de Jesus, pelo bem das almas; o desejo de viver sempre
pobre e desvinculado de todos os interesses e bens da Terra.

O Senhor, nestes dias, se dignou a me fazer entender, mais uma vez a


importâ ncia que este espı́rito de imolaçã o tem para mim e para os
sucessos do meu ministé rio sacerdotal com o qual eu quero a partir de
agora, ainda mais, para impregnar minha conduta desde I estou preso
por Cristo Jesus (Ef 3,1). E todas as obras a que me dedico este ano
quero que levem, por pouco ou muito que ponha nelas, esta
caracterı́stica: tudo é feito pelo Senhor e no Senhor; muito entusiasmo,
mas nenhuma preocupaçã o com seu maior ou menor sucesso. Vou
tomá -los nas mã os como se tudo dependesse de mim e como se nada
valesse, sem o menor apego a eles, pronto para destruı́-los ou
abandoná -los por um sinal de obediê ncia. O bendito Jesus, há muito que
me proponho a fazer e sinto-me fraco porque me vejo cheio de amor
pró prio; mas a vontade é inteira e determinada. Me ajude, me ajude.
6. O sentimento vivo do meu nada deve amadurecer e aperfeiçoar em
mim o espı́rito de bondade, grande bondade, paciê ncia e indulgê ncia
com os outros na forma de julgá -los e tratá -los. No começo dos trinta,
comecei a me sentir cansado do trabalho e da in luê ncia dos meus
nervos. Nã o, nã o, por favor, quando isso acontecer comigo, vou pensar
no meu nada, na obrigaçã o que tenho de ser compreensiva com todos,
de nã o julgar mal ningué m. Isso també m contribuirá para a
tranquilidade do meu espı́rito.
7. Os ministé rios que realizo sã o bastante delicados e perigosos, pois
muitas vezes tenho que lidar com mulheres. Proponho-me, portanto,
manter sempre uma atitude de gentileza, modé stia, seriedade que,
fazendo-me esquecer, torne e icaz a minha atuaçã o na ordem
espiritual. A experiê ncia do passado é um alento para o futuro. Mas
també m nisso, sentir-se desanimado comigo mesmo, descon iado,
pensando sempre elevado ao cé u, voltando aos braços de Jesus assim
que terminar minha tarefa, será uma grande defesa. Oh, se neste
assunto, mesmo por um instante, eu pudesse me exibir.
8. O momento presente está cheio de charlatanismo. Será meu crité rio
permanecer irme nos princı́pios do amor, obediê ncia e devoçã o ao
Santo Padre, fugindo de tudo que possa enfraquecê -los em meu
espı́rito, sem me deixar levar pelo charlatanismo ou, muito menos, me
entreter neles. . Há tanto que fazer, e a palavra do Santo Padre Pio X,
assim como o campo para ele aberto ao zelo sacerdotal atualmente, sã o
tã o amplos que nã o vejo por que perder tempo com questõ es
jornalı́sticas. A parte e acima de tudo isso, será meu dever, minha honra
e minha alegria falar sempre bem do Santo Padre e de seu governo, e
comunicar aos outros aquele delicado sentimento de amor e veneraçã o
por ele que devo ter. Farei isso especialmente com meus alunos
seminaristas.
9. Reviso mais uma vez o que propus nos exercı́cios anteriores. O que
escrevi entã o em vá rias ocasiõ es ainda re lete minhas necessidades e
condiçõ es atuais.
De resto, avancemos com con iança. Vida de piedade no sentido mais
profundo e teoló gico da palavra: vida de sacrifı́cio. E no meio de tudo
isso, alegria, suavidade, paz. Que o Sagrado Coraçã o de Jesus, minha
querida Mã e Maria e meus bons santos padroeiros - que vê em o que
nã o posso expressar, mas sinto vivamente em meu coraçã o - me ajudem
a permanecer irme, bom e iel e me abençoe.
1913
EUA EUA com o Sr. Bispo Martinengo (19 a 25 de outubro)
1. E a sé tima vez que me reú no neste lugar santo e plá cido para pensar
em minha alma. O principal dever que me é imposto é sempre o
mesmo: bendizer ao Senhor, que continua a me amar, preservando-me
de graves quedas e confundindo-me no meu nada. Acho que nã o tenho
nada a acrescentar, uma vez que tudo o que foi escrito e proposto nos
anos anteriores continua em pé . Só digo ao Senhor: aqui me tens pronto
para tudo, para as alegrias e també m para as dores. Para mim, a vida é
Cristo e a morte é ganho (Fl 1,21). Estava pensando em pedir que
aliviassem um pouco o peso das minhas ocupaçõ es, indicando aquelas
que melhor respondem ao meu temperamento. Mas decidi nã o fazer
nada. Os superiores sabem tudo e isso me basta; Acima de tudo, se nã o
for solicitado, evitarei mostrar minhas preferê ncias por um ou outro
tipo de ocupaçã o. Vamos em frente, como meu pai espiritual sempre me
repete, com a cabeça na bolsa da Providê ncia Divina.
2. Talvez os ú ltimos sete anos signi iquem apenas a abundâ ncia de Deus
para mim. Os sete anos magros nã o poderiam começar agora? Eu os
mereceria, considerando minha falta de correspondê ncia a tantos
agradecimentos. Venha, entã o, se quiser, a escassez puri icadora; vem a
amargura, a humilhaçã o, a dor. Vou aceitá -los de boa vontade, como
uma garantia da sinceridade de meus sentimentos de amor por
Jesus. Portanto, será uma satisfaçã o para mim aceitar com santo prazer
todas as ocasiõ es, grandes e pequenas, que tenho durante o dia para me
confundir, para morti icar meu amor-pró prio, sem me rebelar de forma
alguma, feliz como o caracol , que coleta - e ele trabalha fechado sobre
si mesmo - as gotas de orvalho que caem do cé u. Nã o me importo de ser
humilhada, desde que tudo seja para a gló ria de Deus e meu verdadeiro
bem, para a santi icaçã o do meu espı́rito. Tentarei viver neste
sentimento contı́nuo de minha pequenez e indignidade, e quando algo
me incomodar, terei o maior prazer em repetir.
3. A manutençã o de todas as minhas boas resoluçõ es já tomadas, e que
agora renovo, me faz duvidar um pouco. Boa vontade nã o me falta; mas,
especialmente no que diz respeito à ordem das prá ticas de piedade,
tendo em conta a incerteza e o acú mulo de eventuais ocupaçõ es, nã o
posso con iar em mim mesmo.
Pois bem, faço uma promessa formal e solene a Nossa Senhora, minha
querida mã e, de rezar neste novo ano, com uma devoçã o especial, todas
as tardes o santo rosá rio. Um dos mais belos consolos da minha vida é
que sempre fui iel a essa prá tica. Mas, infelizmente, à s vezes tudo se
resumia à materialidade da oraçã o vocal. O empenho especial que agora
assumo, de uma diligê ncia e piedade mais viva, espero obter de minha
querida Mã e a compensaçã o de uma proteçã o mais forte sobre a
virtude da santa pureza, à qual, apesar dos muitos perigos do meu
ministé rio especial, eu procurem permanecer ié is e de uma ajuda mais
irme para cumprir os outros propó sitos. E se este ano fosse o ú ltimo da
minha vida? Oh, que alegria me apresentar a Maria com minha
fragrante coroa. Esse será meu melhor passaporte. Receba, Senhor, toda
a minha liberdade. Senhor, você sabe tudo; você sabe que eu te amo.
1914
Após dez anos de sacerdócio
Groppino, 10 de agosto de 1914. Um duplo sentimento enche o meu
coraçã o hoje: de alegre e doce satisfaçã o, de profunda
confusã o. Quantas graças gerais e particulares nestes dez anos. Nos
sacramentos recebidos e administrados, no exercı́cio diverso e mú ltiplo
do ministé rio: com a palavra, com as obras, em pú blico, em privado, na
oraçã o, nos estudos, entre pequenas di iculdades e cruzamentos, entre
triunfos e fracassos, com um Experiê ncia cada vez mais rica e preciosa
com o passar dos dias, em contato com os superiores, com o clero, com
pessoas de todas as idades e condiçõ es sociais. O Senhor foi
verdadeiramente iel à s promessas que me fez no dia da minha
ordenaçã o, lá em Roma, na igreja de Santa Maria de Monte Santo,
quando me disse: já não vos chamo servos, chamo-vos de amigos (Jo 15,
quinze). Jesus realmente me tratou como um amigo, abrindo-me todas
as sagradas intimidades de seu Coraçã o. Pensando em tantas coisas que
ele sabe e vê , nã o seria sincero se eu dissesse que nã o sinto grande
indulgê ncia em meu espı́rito. No campo semeado e arado existem
algumas espigas, talvez se possa formar um pequeno cacho. Bendito
sejas, Senhor, por isso, porque todo o cré dito vai para o teu amor.
Quanto a mim, como coisa minha, só posso sentir confusã o por nã o ter
feito mais, por ter colhido tã o pouco, por ter sido uma terra á rida e
deserta. Quantos, com as graças que recebi, e mesmo com muitas
menos, seriam agora santos. Quantas ligaçõ es foram feitas ao meu
coraçã o e nã o foram ouvidas. Senhor, reconheço minhas de iciê ncias,
minha profunda misé ria; perdoe-me e tenha misericó rdia de
mim. Junto com a complacê ncia e a necessidade de perdã o, o
sentimento de gratidã o loresce. Tudo, Senhor, foi realizado em sua
gló ria; Agradeço agora e sempre.
Mas o pensamento mais forte que hoje, na alegria de meus dez anos de
sacerdó cio, enche meu espı́rito, é este: Nã o sou de mim mesmo ou dos
outros, mas de meu Senhor, na vida e na morte. A dignidade sacerdotal,
os dez anos de graças de todos os tipos acumulados em mim, tã o vil e
pobre criatura, insistem em me dizer que meu eu deve ser aniquilado,
que minhas energias devem ser utilizadas apenas para cooperar com o
reinado de Jesus nas mentes e no coraçã o dos homens, sem
complicaçõ es, mesmo na ocultaçã o; mas a partir de agora, com maior
intensidade de propó sito, pensamento e obras.
As aptidõ es particulares do meu cará ter, as experiê ncias, as
circunstâ ncias, inclinam-me ao trabalho calmo, pacı́ ico, fora do campo
de batalha, mais do que à luta, à polé mica, à luta. E nã o quero me tornar
santo des igurando um original discreto, para obter uma có pia infeliz
de outros que tê m uma natureza diferente da minha. Mas esse espı́rito
de paz nã o deve ser uma concessã o ao amor pró prio, ao conforto
pró prio, ou uma passividade de pensamento, de princı́pios, de
atitudes. O sorriso habitual que aparece nos lá bios deve saber esconder
a luta interna, por vezes tremenda, do egoı́smo e representar, quando
necessá rio, as vitó rias do espı́rito sobre os movimentos dos sentidos ou
do amor pró prio, para que Deus e o meu pró ximo sempre tenho a
melhor parte de mim.
Apó s dez anos de sacerdó cio, como será minha vida
futura? Misté rio. Posso ter pouco tempo para a prestaçã o de contas
inal. Senhor Jesus, venha e receba-me. Se a minha vida se prolonga por
alguns ou muitos anos, em todo o caso quero que sejam anos de intenso
trabalho, nos braços da santa obediê ncia, com um grande traço que
indica todo um programa, mas sem nenhum pensamento que o rodeia.
alé m da obediê ncia. As preocupaçõ es do amor-pró prio com o futuro
atrasam a obra de Deus em nó s, seus caminhos, e també m nã o ajudam
os interesses materiais. Neste ponto pretendo estar vigilante todos os
dias, pois sinto que com o passar dos anos, e talvez logo, nã o me
faltarã o as lutas do amor-pró prio. Quem quiser passar e seguir em
frente; Fico, sem ansiedade, onde a Providê ncia me coloca, deixando o
caminho livre para os outros.
Quero manter minha paz, que é minha liberdade; E por isso que sempre
vou ter em mente aquelas quatro coisas de que fala Kempis: O caminho
da paz e da verdadeira liberdade, e que sã o: Tente, ilho, fazer a vontade
do outro antes da sua; sempre escolha ter menos do que mais; busque
sempre o lugar mais baixo e esteja sujeito a todos; sempre deseje e ore
para que o divino seja inteiramente realizado em você . Com estas
provisõ es, ó meu Senhor, eu mais uma vez apresento a você hoje o
precioso vaso do meu espı́rito santi icado pela sua unçã o. Encha-o com
a virtude que criou os apó stolos, os má rtires, os confessores. Faça com
que sirva para algo bom, generoso, grande: para você , para a sua Igreja,
para as almas. Eu nã o vivo, nã o quero viver exceto por isso.
Enquanto recolho estes pensamentos, no inal do dia santo que me
trouxe de volta ao coraçã o doces emoçõ es com a memó ria da minha
ordenaçã o sacerdotal, meu venerá vel bispo, que para mim é tudo (a
Igreja, Jesus Senhor, Deus), mente aqui perto em meio a longos
sofrimentos. Como sofro com ele e por ele. Como essas fé rias sã o tristes
e agitadas para mim. Oh Senhor, me cure logo, se possı́vel, meu
bispo. Devolva-o ao seu trabalho apostó lico, à sua Igreja, que é sua, para
sua gló ria, para o afeto de tantas crianças. Ainda mais comovente do
que a doce e resignada dor de meu bispo é o clamor de guerra que se
ergue em toda a Europa nestes dias. Senhor Jesus, levanto as minhas
mã os sacerdotais sobre o teu corpo mı́stico e repito com lá grimas a
oraçã o de Sã o Gregó rio, repito-a com particular fervor do espı́rito: que
hoje possas organizar os nossos dias na tua paz.
E a Igreja em meio a tal dilú vio? Salve-a, Senhor, salve-a. Há dez anos,
quando celebrei o primeiro sacrifı́cio no tú mulo de Sã o Pedro em Roma
- uma recordaçã o muito doce - tinha uma memó ria para o Papa e para a
Igreja, um pedido fervoroso. Ao longo dessas duas dé cadas, a memó ria
e o pedido ganharam vida. O Senhor, concede à tua Igreja, no meio desta
sucessã o de tempestades, no meio deste alvoroço dos povos, a
liberdade, a unidade e a paz.
USA USA com os padres do Sagrado Coração, Bergamo (27 de setembro -
3 de outubro de 1914)
1. No passado dia 10 de agosto, quando se cumpriram os primeiros dez
anos do meu sacerdó cio, pensei que, com a inauguraçã o deste novo
perı́odo da minha vida, algo ao meu redor poderia e deveria
mudar. Meu Deus, quã o inefá veis sã o seus projetos. Imediatamente a
seguir a essa data - 22 do mesmo mê s - o senhor chamou à sua alegria o
meu venerado Bispo; e aqui estou agora, sem dú vida, em um novo
horizonte. Mas nã o estou desanimado. Na hora de angú stia e dor, senti
uma grande abundâ ncia de paz e conforto espiritual. A grande e
sagrada alma da pessoa que eu amei e reverenciei tanto está no cé u
para orar por mim, para me abençoar, me proteger e me sustentar. Que
o Senhor o faça segui-la lá em cima, quando julgar conveniente mandar-
me a morte e, entretanto, que eu a imite nas suas obras sagradas.
2. Minha nova posiçã o me concentra totalmente no seminá rio, ainda
nã o deixando o ministé rio das almas. Portanto, minha vida será mais
tranquila e recolhida, exatamente como eu queria. E uma nova graça
que o Senhor me concede. Agradeço e quero aproveitar isso. Por isso,
vou me refugiar em meu quarto e em meu retiro, ocupando-me
totalmente em oraçã o e estudo.
3. Proponho, em particular, que sempre me levante à s cinco e meia. Em
seguida, farei a meditaçã o em meu quarto, depois marcharei para San
Miguel para a Santa Missa e, por im, para me confessar. Nã o insisto nos
outros pontos do meu dia, pois basta-me a memó ria das resoluçõ es já
tomadas.
4. Quero ser exemplar no cumprimento de todas as minhas funçõ es de
professor, nas vá rias relaçõ es com o Reitor do seminá rio, com os
colegas e com os alunos. Tratarei a todos com muita humildade e
gentileza, procurando contribuir para a harmonia mú tua e edi icaçã o
mú tua do espı́rito, tã o importante onde as responsabilidades comuns
sã o tã o sé rias. Acima de tudo, evitarei criticar ou reclamar de qualquer
coisa, lembrando sempre, entre outras coisas, que em lugar nenhum
poderia me encontrar tã o bem como no seminá rio.
5. Terei muito cuidado de dedicar ao meu novo Bispo, seja ele quem for,
a mesma reverê ncia e obediê ncia, o mesmo afecto sincero, generoso e
alegre que, pela graça de Deus, vim a professar e conservar sempre o
seu. antecessor inesquecı́vel. Nisto tentarei també m dar um bom
exemplo, convencido como estou de que na pessoa do Bispo é
necessá rio ver e reconhecer exclusivamente Jesus Cristo. Naturalmente,
relacionamentos diferentes irã o impor formas diferentes em mim; mas
estes, sejam eles quais forem, devem sempre inspirar-se naquelas
razõ es de respeito, prudê ncia, delicadeza ina e sincera, que sã o a lor
da caridade. Para que a minha forma de agir seja para o novo Bispo uma
fonte de satisfaçã o e consolo, e a minha pessoa nã o sirva de pedra de
tropeço, mas de pedra e instrumento de edi icaçã o. E demonstrarei este
dom e afeto ao meu Bispo com palavras e atos, ao implorar
sinceramente ao bendito Jesus que permaneça iel a todo custo a esses
bons propó sitos.
6. Estarei atento para me manter livre de todas as preocupaçõ es com o
meu futuro, nã o me deixando levar neste momento pelas vozes de
ningué m, por mais benevolente, devoto e judicioso que seja. Eu nasci
pobre e devo e quero morrer pobre, certo de que no momento certo a
Providê ncia Divina, como no passado, nã o me deixará faltar o que for
necessá rio no futuro, mesmo que me conceda o que é conveniente e
abundante. Ai de mim se, mesmo que por pouco, me apegue aos bens
da terra.
7. Quanto ao fantasma que a minha autoestima me possa apresentar, de
honras, cargos, etc., terei todo o cuidado de ignorá -lo, desprezando-o
sem mais delongas. Tais coisas perturbam a serenidade do espı́rito,
enfraquecem para o trabalho, obtê m verdadeira alegria e todo valor e
mé rito das boas obras. Quanto a mim, devo me preocupar em me
manter humilde, humilde, humilde, deixando qualquer outro
compromisso com o Senhor.
8. Eu sou um sacerdote do Sagrado Coraçã o. Portanto, o que acabei de
dizer e propor tem um signi icado especial em relaçã o à s promessas
especiais feitas ao Senhor como membro daquela
congregaçã o. Participarei o mais possı́vel nos atos comuns dos irmã os,
procurando homenagear, com meu bom exemplo perante todo o clero, a
Congregaçã o que me recebeu em seus braços e corresponder à s suas
inalidades.
Nota: Na quarta-feira tive que interromper brevemente os exercı́cios
para ir a Milã o, a im de pedir a Sua Eminê ncia o cardeal arcebispo
alguns conselhos sobre como lidar com o novo bispo em relaçã o a
certas coisas, etc. A visita me confortou e encorajou. Depois desci para
rezar longamente junto ao tú mulo de Sã o Carlos e ali renovei a minha
entrega absoluta ao Senhor pela vida e pela morte, oferecendo-me
completamente, de corpo e alma, ao serviço divino pela Igreja, pelas
almas , e em tudo de acordo com a vontade divina, pronto para
qualquer sacrifı́cio agora e sempre. Assim seja.

4
A guerra, diretor espiritual do seminário de
Bérgamo e transferência para Roma, a serviço
da propagação da fé (1915-1924)

1915
A Primeira Guerra Mundial
23 de maio de 1915 . Amanhã parto para cumprir o serviço militar na
saú de. Para onde eles vã o me mandar? Talvez para a frente do
inimigo? Voltarei a Bergamo ou o Senhor tem minha ú ltima hora no
campo de batalha pronta? Eu nã o sei nada; tudo que eu quero é a
vontade de Deus em tudo e sempre, e sua gló ria no sacrifı́cio completo
do meu ser. Assim, e só assim, pretendo viver à altura da minha vocaçã o
e demonstrar efetivamente o meu verdadeiro amor pela pá tria e pelas
almas dos meus irmã os. O espı́rito está pronto e alegre. Senhor Jesus,
mantenha-me sempre nestas provisõ es. Maria, minha boa mã e, ajuda-
me: para que em tudo Cristo seja glori icado.
Com efeito, apó s a declaraçã o de guerra contra a Austria, Joã o XXIII foi
convocado e designado para os hospitais de Bé rgamo, primeiro como
subo icial e depois, a partir de 28 de março de 1916, como capelã o. O
jovem padre, durante a Primeira Guerra Mundial, coletou algumas
anotaçõ es em um diá rio marrom. Em 10 de dezembro de 1918, ele foi
licenciado. O bispo já o havia nomeado, em novembro, diretor espiritual
do seminá rio de Bé rgamo, para atender os seminaristas que voltavam
da frente e do quartel (NdE) .
1919
EUA depois da guerra, com os padres do Sagrado Coração (28 de abril, 3
de maio)
1. Em quatro anos de guerra, passados no meio de um mundo
conturbado, quantas graças o Senhor me concedeu, quanta experiê ncia,
quantas oportunidades de fazer o bem aos meus irmã os. Meu Jesus, eu
te agradeço e te abençoo. Guardo a memó ria de muitas jovens almas
com quem entrei em contato naquele tempo: nã o acompanhei alguns
deles até a pró xima vida. Agora estou animado, e a ideia de que
implorarã o por mim me consola e me encoraja.
2. Ao despertarmos todos como à luz de um novo dia, voltam à minha
mente os princı́pios supremos da fé e da vida cristã e sacerdotal, de
forma ainda mais clara e decisiva, que, pela graça de Deus, foram o
alimento da minha juventude: a gló ria do Senhor, a minha santi icaçã o,
o paraı́so, a Igreja, as almas. O contacto destes anos com o mundo
envolve todos estes princı́pios e os eleva e os torna num sentimento de
apostolado mais ardente. Estamos na meia-idade: ou agora estou
fazendo algo prá tico ou minhas responsabilidades sã o mais terrı́veis
por ter dissipado a misericó rdia do Senhor.
3. Desejo que a base do meu apostolado seja a vida interior, orientada
para a procura de Deus em mim, para a uniã o ı́ntima com Ele, a
meditaçã o habitual e serena das verdades que a Igreja me propõ e e
segundo a abordagem de seus ensinamentos, derramados nas prá ticas
externas, pelas quais terei cada vez mais interesse e cujo horá rio quero
ser muito iel, com uma idelidade que nã o tenho observado em parte
por minha negligê ncia - e em parte porque nã o fui capaz de - durante
esses anos de vida militar. Acima de tudo, procurarei as delı́cias da vida
com Jesus Eucaristia. De agora em diante terei o Santı́ssimo Sacramento
perto de meus aposentos. Prometo fazer-lhe companhia e retribuir a
grande honra que me dá .
4. Há alguns meses, encontrei uma casa e a acomodei em tempo
há bil. Poré m, agora talvez mais do que nunca, o Senhor me faz sentir a
beleza e a doçura da pobreza de espı́rito. Sinto-me pronto para
abandonar tudo na hora e sem remorsos; e me esforçarei para sempre
preservar, enquanto eu viver, esse desapego de todas as minhas coisas,
mesmo daquelas que sã o mais queridas para mim.
Eu me forço especialmente a buscar a perfeita pobreza de espı́rito na
renú ncia absoluta de mim mesmo, sem me preocupar com cargos,
carreira, distinçõ es, etc. Já nã o fui honrado com excessos, na elevada
simplicidade do meu sacerdó cio e de um ministé rio que nã o procurei,
mas que a Providê ncia me con iou pela voz dos meus superiores?
Insisto muito neste ponto, que é fundamental para o meu
progresso. Jamais direi uma palavra, nã o darei um passo, rejeitarei
como tentaçã o qualquer pensamento que, de alguma forma, seja
dirigido aos superiores que me con iem cargos ou posiçõ es de maior
distinçã o. A experiê ncia me ensina a temer responsabilidades. Estes,
muito graves em quem os acolhe por obediê ncia, assustam quem os
procura para si, assumindo-os por iniciativa pró pria ou sem terem sido
chamados. A inal, honras e distinçõ es, mesmo no campo eclesiá stico,
sã o vaidade das vaidades: asseguram a gló ria de um dia, mas sã o
perigosas para a gló ria dos sé culos e do paraı́so; eles valem pouco,
mesmo para os padrõ es humanos. Quem já viveu entre essas ninharias,
como aconteceu comigo em Roma e nos primeiros dez anos de
sacerdó cio, pode dizer que nã o merece outro nome. Vá em frente a
quem quiser: nã o invejo nenhum desses sortudos. Para mim o melhor é
estar com Deus, coloquei o meu refúgio no Senhor (Sl 72,28).
5. Houve dias no passado em que eu nã o sabia o que o Senhor iria
querer de mim no perı́odo do pó s-guerra. Agora nã o há por que duvidar
ou buscar outra coisa: minha principal missã o, minha cruz, será o
apostolado a favor dos jovens estudiosos. Relembrando o modo, as
circunstâ ncias e a espontaneidade com que, por intermé dio dos
superiores, este desı́gnio da Providê ncia se manifestou repentinamente
e agora se desenrola, emociono-me e sou obrigado a confessar que o
Senhor está realmente ali. Quantas vezes, recordando à noite os
episó dios do dia, passados no cuidado dos meus queridos jovens, sinto
em mim algo que fez estremecer o coraçã o dos dois discı́pulos, tanto
em contacto com o divino, como em contacto com o divino de
Emaú s. Como é verdade que basta entregar-se totalmente ao Senhor
para se sentir provido de tudo. Ele gosta de quem não tem
nada e mesmo que tenhamos tudo (2Cor 6,10) se repete diante dos
meus olhos diariamente. Nã o quero dı́vidas nem as tenho. A
preocupaçã o com o futuro sempre me acompanha. Mas o que é
necessá rio é sempre fornecido a mim; à s vezes excessivamente. Essa
con irmaçã o da assistê ncia divina conforta, por um lado, minha
misé ria; mas, por outro lado, constitui um novo compromisso de honra
permanecer iel à minha vocaçã o, cooperar na grande obra que Jesus
me con iou em nome dos seus queridos jovens.

De agora em diante devo dirigir todos os meus cuidados, pensamentos,


afetos, labutas, estudos, humilhaçõ es e amarguras apenas para esse
objetivo, ou seja, para a busca da gló ria de Jesus, formando a nova
geraçã o de acordo com seu espı́rito. Nada mais honorı́ ico e bonito para
mim, nada mais importante, especialmente hoje, na Igreja de Deus.
6. Para ter sucesso no meu apostolado, nã o conhecerei outra escola
pedagó gica senã o a do divino Coraçã o de Jesus. Aprenda comigo, sou
manso e humilde de coração (Mt 11,29). Até mesmo a experiê ncia
con irmou a bondade de tal mé todo, que garante triunfos
verdadeiros. Amarei os jovens como uma mã e, mas sempre no Senhor e
com a intençã o de torná -los ilhos dignos da Igreja e, se possı́vel,
apó stolos generosos da verdade e do bem para o futuro, pelo mesmo
fato que estou educando em eles as mais belas esperanças de famı́lias e
do paı́s.
Procurarei, em particular, que a minha casa respire sempre um grande
aroma de pureza que in luencia os jovens, tornando-se parte daquelas
impressõ es que entã o se ixam profundamente e sobrevivem nas
longı́nquas lutas da vida. Nada de maneirismo ou artifı́cio, mas
simplicidade no tratamento e na palavra, que nã o sei o que envolveu a
pessoa dos educadores antigos e modernos como em uma atmosfera de
cé u, e os tornou instrumentos de grande bem, autê nticos forjadores de
grandes almas. Senhor, Senhor, ajuda-me a seguir, pelo menos de longe
e na minha pequenez, aqueles exemplos brilhantes de ilustres
apó stolos da juventude.
7. O trabalho iniciado é extenso; A colheita já está branca nos campos,
mas infelizmente nã o há trabalhadores. Tratarei de pedir a Deus com a
oraçã o e depois trabalhar para inspirar nos jovens seminaristas e
sacerdotes o amor e o entusiasmo por esta forma de ministé rio, que é a
mais excelente de todas; para torná -la solidá ria, especialmente para
com aqueles que receberam da Natureza e da graça aptidõ es
caracterı́sticas para a convivê ncia com os jovens. Talvez a boa palavra
dê frutos - e ainda mais o bom exemplo - e logo estarei rodeado por
uma bela coroa de irmã os, todos sedentos de um apostolado a favor dos
jovens. Procurarei com todas as minhas forças que os sacerdotes do
Sagrado Coraçã o entrem nesta ordem de ideais e obras, que foram
fundados principalmente para este im, e cujo crescimento deve ser
encorajado, pois esta nossa congregaçã o está destinada a embeber-se
de seu espı́rito. de apostolado e disciplina eclesiá stica em toda a
diocese de Bergamo.
1921-1924
Ao serviço da propagação da fé
13 a 19 de janeiro de 1924. EUA em Villa Carpegna, PP. Jesuítas,
Roma. Re lexões gerais : 1. Hoje, 18 de janeiro, festa da Cá tedra de Sã o
Pedro, já faz trê s anos que aceitei, por obediê ncia, o cargo de
presidente, pela Itá lia, da Propagaçã o da Fé no mundo. Mas tu sempre
me ajudaste, meu Senhor Jesus, com bondade e misericó rdia: as tuas
ordens são irmes, Senhor (Sl 92,5). Saı́ de Bé rgamo, com pena, daquilo
que tanto amava: o seminá rio, onde o Bispo - apesar da minha grande
indignidade - me quisera um pai espiritual, e a Casa dos Alunos, a ilha
preferida do meu coraçã o. Eu me dediquei de todo o coraçã o ao meu
novo ministé rio. Aqui devo e quero icar sem pensar em mais nada, sem
olhar para outra coisa, sem aspirar a outra coisa, tanto mais que o
Senhor me concede uma doçura indizı́vel.
2. Quem me julga de fora, me considera um trabalhador lento, mas
constante. Sim, sempre trabalho; mas, no fundo do meu ser, há uma
certa tendê ncia à preguiça e à divagaçã o. Lutarei vigorosamente, com a
ajuda de Deus, essa tendê ncia. Para minha constante humilhaçã o,
sempre direi a mim mesmo que sou preguiçoso, que devo atuar muito
mais e com mais rapidez e, portanto, devo ser chicoteado. Terei cuidado
especial para nã o deixar até o dia seguinte o que deve ser feito
rapidamente; em vez disso, vou fazer isso de uma vez. Mas, em todas as
coisas, guardando em mim e comunicando aos outros aquela calma e
compostura essenciais para que tudo corra bem. Nã o vou me preocupar
se outra pessoa fugir. Quem corre muito, mesmo nos assuntos
eclesiá sticos, logo pá ra.
3. Aponto como pontos fundamentais da reforma da minha vida o
seguinte: levantar à s seis e rezar na sala. Das sete à s oito, trabalho na
mesa. Das oito à s nove e meia, santa missa e oraçã o (meditaçã o,
etc.). Conversa depois do almoço e do jantar. Um pequeno passeio todos
os dias, e neste a visita ao Santı́ssimo Sacramento. Na cama à s onze
horas, nunca mais tarde. Vou participar ielmente, pelo menos, no caso
da moral; se posso, també m na liturgia; Jamais perderei a reuniã o
mensal dos padres em San Claudio.
4. A Obra de Propagaçã o da Fé é o alento da minha alma e da minha
vida. Para ela, tudo e sempre: cabeça, coraçã o, palavra, pena, oraçõ es,
labutas, sacrifı́cios, dia e noite, em Roma e fora de Roma; Repito: tudo e
sempre. Aceitarei outras ocupaçõ es de ministé rio, mas apenas na
medida do possı́vel, em segundo plano, e desde que sejam
subordinadas - e eu posso subordiná -las - à primeira, que é a razã o da
minha presença em Roma.
5. Para um melhor desenvolvimento da obra e de todo o meu programa,
recordarei e praticarei sempre a regra de Sã o Gregó rio, que consiste em
fazer trabalhar os outros, sem reservar tudo ou quase tudo para
mim. Felizmente, isso nã o é difı́cil para mim e, alé m disso, o Senhor me
deu excelentes colaboradores.
6. Insistirei no bom uso da morti icaçã o nas coisas gratuitas, para que o
Senhor envolva toda a minha pessoa, alma e corpo numa luz de pureza
sacerdotal, para que o perfume de Cristo se espalhe por toda a parte (Cf
2Cor 2,1415) , pensando que se Deus me ajudar, posso ser capaz de
tudo.
7. A Igreja, acima de meus mé ritos e em vista de meu ofı́cio, conferiu-
me a dignidade e a honra de um prelado. Desejo ilustrar esta dignidade
da Santa Igreja para comigo com um grande espı́rito de humildade
interior (considerando-me, como sou, o ú ltimo e mais miserá vel de
todos) e de humildade para com todos, especialmente com os pequenos
e humildes.
8. Proponho-me dedicar um cuidado especial ao domı́nio da minha
lı́ngua, evitando todas as palavras - digo todas as palavras - que possam
de alguma forma ofender a caridade. Nesse ponto, sempre encontrarei
pelo menos algo para melhorar; é por isso que vou insistir nos meus
exames.
9. A delicadeza nas palavras que procuro praticar com meu pró ximo,
especialmente com meus superiores, desejo principalmente em todos
os meus exercı́cios de piedade, que recitarei com dignidade, atençã o e
devoçã o, també m para minha alegria espiritual, e para a edi icaçã o de
outros. Coraçã o de Jesus in lamado de amor por mim, in lama o meu
coraçã o com o teu amor. Maria, mã e da graça, rogai por mim. Sã o José ,
reze por mim. Sã o Francisco Xavier, rogai por mim. Sã o Francisco de
Sales, rogai por mim. Santos Pedro e Paulo e todos os santos, intercedei
por mim.
Re lexões particulares . Estã o presentes o Padre Folli, que conheci em
Siena por ocasiã o da passagem ali pelo braço de Sã o Francisco Xavier, e
o Padre Santopaolo. Somos apenas cinco praticantes de exercı́cios; Por
isso nã o se prega: cada um se administra. Tenho sobre a mesa o lindo
comentá rio do Pe. Bucceroni; mas pre iro aplicar-me diretamente, com
humildade e fervor, ao texto de Santo Iná cio.
Meu pobre self está aqui tentando superar sua lentidã o, que ainda é
muito, ganhando em atividade e em maior rendimento. Porque todo
mundo fala que trabalho demais, mas sei que ainda faço pouco em
relaçã o ao quanto poderia dar no meu ministé rio principal, que é a
Obra de Propagaçã o da Fé . Santo Iná cio, antes mesmo da virtude, quer
ver o esforço para obtê -lo.
Eu confessei ao Padre Folli e estou muito em paz. A coisa é clara: o amor
de Deus, nã o meu; Vontade de Deus, nã o minha; o conforto dos outros,
nã o o meu. E tudo isso, sempre, em toda parte, com muita alegria ...
Jesus Cristo ressuscitado fez da vida do homem uma festa
contı́nua. Este pensamento de Santo Ataná sio fecha bem estes dias, dias
amá veis e sagrados, de emoçõ es espirituais.
Hoje é o terceiro aniversá rio da minha vinda a Roma para trabalhar na
Obra de Propagaçã o da Fé . O meu pensamento dirige-se com reverê ncia
para a Cá tedra de Sã o Pedro, de onde todo apostolado ganha sentido e
vida. Deste lindo local de meditaçã o e descanso, de onde se avista a
grandiosa cú pula, envio verdadeiramente as minhas saudaçõ es e a
fervorosa homenagem do meu entendimento e do meu coraçã o a essa
cadeira. Hoje foi o ú nico dia ensolarado. No seu calor ameno, que delı́cia
icar aqui, entre as á rvores, o sussurro dos pá ssaros e o canto dos sinos
de Sã o Pedro.

5
Consagração Episcopal, representante papal na
Bulgária (1925-1934)
1925
Os preparativos para a consagração episcopal Villa Carpegna, Roma (13
a 17 de março)
1. Nã o busquei nem desejei este novo ministé rio. Mas o Senhor me
escolheu com sinais tã o ó bvios de Sua vontade que me fez considerar
uma grave culpa me opor. Ele, entã o, é obrigado a cobrir minhas
misé rias e preencher minhas de iciê ncias. Isso me conforta, me dá
calma e irmeza.
2. Vou ser bispo. Nã o é mais hora de andar por aı́ com os
preparativos; meu estado é de perfeiçã o aquisitiva , nã o adquirida. Que
medo para mim, que me sinta e me sinta tã o infeliz e tã o cheio de
defeitos. Que razã o para ser sempre humilde.
3. O mundo nã o me atrai. Quero ser tudo e somente de Deus, penetrado
por sua luz, resplandecente de caridade para com a Igreja e as almas.
4. Vou ler c. IX, lib. III, de A Imitação de Cristo : Remeta tudo a Deus, sem
o qual o homem nada tem. Isso me impressionou profundamente na
solidã o de hoje.
5. Com o novo estado, minha vida de oraçã o deve assumir um novo
aspecto. Ele dignamente, com atençã o e devotamente tem que se
expressar em mim e para mim para edi icaçã o.
6. A inalidade e o programa geral da minha vida de bispo serã o o que
irei prometer na cerimó nia de consagraçã o, segundo as palavras graves
e comoventes do Pontifı́cio, palavras que serã o objecto frequente dos
meus exames.
7. As vestes episcopais sempre me recordarã o o esplendor da alma que
elas signi icam, como a verdadeira gló ria do bispo. Ai de mim, se eles
fossem a razã o da minha vaidade.
8. Quero que os elogios da minha pessoa sejam os do Pontifı́cio, nã o os
outros: constâ ncia na fé , amor na pureza, sinceridade na paz. Meus pé s,
preciosos para evangelizar a paz e o bem de Deus. Meu ministé rio será
de reconciliaçã o em palavras e açõ es; minha pregaçã o, nã o persuasã o
pela sabedoria humana, mas prova pelo espı́rito e virtude; O poder que
a Igreja me confere nã o usarei para minha gló ria, nem para destruiçã o,
mas para edi icaçã o. Procurarei merecer, també m como bispo, o elogio
que o Santo Padre Pio X me disse ser o mais belo elogio do secretá rio
episcopal: um servidor iel e prudente.
9. A Igreja quer que eu, como bispo, me envie à Bulgá ria, como
Visitador Apostó lico, no ministé rio da paz. Talvez muitas tribulaçõ es
me aguardem no meu caminho. Com a ajuda do Senhor, estou pronto
para tudo. Nã o procuro nem quero a gló ria deste mundo; Espero muito
bem, no outro.
10. Assumo agora o nome de José para sempre - que, aliá s, també m me
foi imposto no baptismo - em homenagem ao amado patriarca, que será
o meu primeiro patrono, depois de Jesus e Maria, e meu modelo. Meus
outros protetores especiais serã o Sã o Francisco Xavier, Sã o Carlos, Sã o
Francisco de Sales, os protetores de Roma e Bé rgamo, o Beato Gregó rio
Barbarigo.
11. Coloquei no meu escudo as palavras Obediê ncia e paz, que o P. Cé sar
Baronio pronunciava todos os dias, beijando o pé do Apó stolo em Sã o
Pedro. Essas palavras sã o, de certa forma, minha histó ria e minha
vida. Que eles sejam a glori icaçã o do meu pobre nome para sempre.
1926
Retiro espiritual, Mosteiro de São Paulo, Roma (27 de novembro, 2 de
dezembro)
1. Sou bispo há vinte meses. Como eu poderia facilmente prever, meu
ministé rio me traria muitas tribulaçõ es. Mas - coisa singular - nã o me
vê m dos bú lgaros para quem trabalho, mas dos ó rgã os centrais da
administraçã o eclesiá stica. E uma forma de morti icaçã o e humilhaçã o
que nã o esperava e que me faz sofrer muito.
2. Devo e quero habituar-me a carregar esta cruz com um espı́rito de
maior paciê ncia, calma e suavidade interior do que consegui até
agora. Acima de tudo, serei cuidadoso em demonstraçõ es a esse
respeito com quem quer que seja. Qualquer alı́vio que eu possa tirar
tira o mé rito da paciê ncia. Coloque, Senhor, um guarda sobre minha
boca. Farei desse silê ncio - silê ncio que deve ser, como me ensina Sã o
Francisco de Sales, doce e sem fel - objeto de meus exames de
consciê ncia.
3. O tempo que dedico à açã o deve ser proporcional ao que dedico à
oraçã o. Preciso dar à minha vida um tom de oraçã o mais vibrante e
contı́nuo. Portanto, medite mais e passe mais tempo com o Senhor,
lendo, recitando oraçõ es vocais, até mesmo em silê ncio. Espero que o
Santo Padre me conceda a graça de ter o Santı́ssimo Sacramento em
casa, em So ia. A companhia de Jesus será minha luz, meu conforto,
minha alegria.
4. Atençã o ao exercı́cio da caridade com a palavra. Mesmo com pessoas
con iá veis e respeitá veis, devo ser muito parcimonioso ao dizer coisas
que dizem respeito à parte mais delicada do meu ministé rio ou que
tocam a boa opiniã o das pessoas, especialmente se elas estã o revestidas
de autoridade ou dignidade. Mesmo quando o alı́vio pode ser
necessá rio, em certas horas de solidã o e abandono, o silê ncio e a
mansidã o sã o qualidades que tornam o sofrimento mais fecundo pelo
amor de Jesus.
5. A breve experiê ncia destes meses como episcopado con irma que,
para mim, nada melhor na vida do que carregar a cruz, como o Senhor a
coloca nos meus ombros e no meu coraçã o. Devo me considerar o
homem da cruz e amar aquele que Deus me dá , sem pensar em mais
nada. Tudo o que nã o é a honra de Deus, o serviço à Igreja e o bem das
almas deve ser acessó rio e sem importâ ncia para mim.
1927
Retiro espiritual, Jesuit House Lubiana, Eslovênia (9 a 13 de novembro)
1. Devo e quero ser, cada vez mais, um homem de intensa oraçã o. No
ano passado houve melhora nesse quesito. Continuarei com zelo e
fervor, dando uma importâ ncia e cuidado ainda maiores à s minhas
prá ticas: missa, breviá rio, leitura da Bı́blia, meditaçã o, exame de
consciê ncia, rosá rio, visita ao Santı́ssimo. Guardo comigo Jesus
Eucaristia e ele é a minha alegria. Que ele encontre sempre em minha
casa, em minha vida, motivo de satisfaçã o divina.
2. Mais calma ainda, mais calma, suavidade e paz nas minhas coisas. Se
nã o posso fazer todo o bem que julgo necessá rio para o benefı́cio das
almas na missã o que con iei, nã o devo icar perturbado ou preocupado
com nada. Meu dever de acordo com os impulsos da caridade e nada
mais. O Senhor sabe direcionar tudo para o triunfo de seu reino, mesmo
eu nã o podendo fazer mais, até mesmo a violê ncia que devo impor a
mim mesmo para permanecer externamente inativo. També m aos
outros, por palavra e exemplo, devo inspirar esta calma e esta paz.
3. Prestarei cada vez mais atençã o ao domı́nio da minha lı́ngua. Devo
ser mais reservado, mesmo com as pessoas mais ı́ntimas, ao expressar
meus julgamentos. Mais uma vez farei deste ponto o objeto de meus
exames particulares. Nada deve sair da minha boca que nã o seja elogio
ou julgamento gentil, ou um convite a todos à caridade, ao apostolado, a
uma vida virtuosa. Por minha natureza natural, tenho um lá bio
superabundante. Isso també m é um dom de Deus, mas deve ser tratado
com atençã o e cuidado, ou seja, com medida, para que eu ique com
falta de energia, em vez de farto.
4. Em minhas relaçõ es com todos - cató licos ou ortodoxos, grandes ou
pequenos - procurarei sempre deixar uma impressã o de dignidade e
bondade, bondade luminosa, dignidade gentil. Eu represento - embora
muito indignamente - entre essas pessoas o Santo Padre. Terei,
portanto, a preocupaçã o de fazê -lo estimar e amá -lo, també m atravé s
de mim. O que o Senhor deseja. Que tarefa e responsabilidade.
5. Para tornar-me mais ú til no meu ministé rio na Bulgá ria, estudarei
com especial interesse as lı́nguas francesa e bú lgara.
6. Devido a alguns sinais que ocorreram este ano, devo me convencer
de que estou envelhecendo, que o corpo à s vezes mostra sintomas de
sua fragilidade. Isso deve me familiarizar com o pensamento da morte,
para que torne minha vida mais alegre, mais á gil e ao mesmo tempo
mais laboriosa.
7. Jesus, Maria, José , as almas, a Igreja e o Papa, no coraçã o; serenidade,
calma, alegria de doar-se, de sacri icar-me, segundo as exigê ncias do
meu ministé rio apostó lico; e em relaçã o aos outros, dignidade,
humildade, mansidã o e longanimidade, e paciê ncia, paciê ncia ... Assim
seja, sem im.
1928
Aposentadoria anual, residência PP. Lazaristas de Babek pelo Bósforo (20
a 24 de dezembro)
1. Hoje, festa do Apó stolo Sã o Tomé , iz uma con issã o geral dos vinte e
quatro anos do meu sacerdó cio com o Padre Luciano Proy, e o Senhor
concedeu-me um rio de paz.
2. Vinte e cinco anos de sacerdó cio. Quantas graças ordiná rias e
extraordiná rias. A preservaçã o das quedas graves, as inú meras ocasiõ es
de fazer o bem, a boa saú de fı́sica, a perene tranquilidade do espı́rito, a
boa reputaçã o entre os homens, imensamente superior aos meus
mé ritos, o feliz sucesso dos vá rios empreendimentos que me foram
con iados pela obediê ncia ; depois, os destinos eclesiá sticos; en im, o
episcopado, nã o só acima, mas contra todos os meus mé ritos. Muito
obrigado, meu Deus. Isso deve me manter em uma postura constante de
amor, humilde e temerosa.
3. Quantas misé rias, quantas in idelidades em vinte e cinco anos de
sacerdó cio. Pela grande graça de Deus, mantenho meu organismo
espiritual saudá vel e robusto; Mas quanta fraqueza, quantas pequenas
concessõ es à preguiça, a um gosto preferencial por uma coisa em
detrimento de outra, à impaciê ncia interior pelo que causa
aborrecimentos e di iculdades, quantas distraçõ es na oraçã o o icial e
privada, quanta leveza à s vezes em omiti-la, como muito tempo perdido
em leituras ou em coisas menos relacionadas ao cumprimento de meu
dever imediato; quantas pequenas ligaçõ es com lugares, coisas,
ninharias, entre as quais ele deveria passar como um peregrino. Como é
fá cil sentir falta, ainda que correta e devota, da caridade para com o
pró ximo; quanto ainda se mistura, na imaginaçã o, na tendê ncia do
espı́rito, do que é humano, mundano, com o que é sagrado,
sobrenatural, divino, do espı́rito da é poca com o espı́rito da cruz de
Jesus Cristo. Devo, portanto, sempre me considerar um miserá vel, como
sou, o ú ltimo e mais indigno dos bispos da Igreja, mal tolerado entre
meus companheiros de piedade e compaixã o, merecendo apenas do
ú ltimo lugar: verdadeiramente, o servo de tudo, nã o em palavras, mas
com um profundo sentimento e manifestaçã o, mesmo exterior, de
humildade e submissã o.
4. Neste retiro espiritual voltei a sentir, e de forma viva, o dever que
tenho de ser um verdadeiro santo. O Senhor nã o me promete 25 anos
de vida episcopal, mas me diz que se eu quiser ser santo, Ele me dá
tempo e graças oportunas. Jesus, te agradeço e prometo, perante o cé u e
a terra, que farei todo o esforço para o conseguir, a partir de
agora. Santı́ssima Maria, minha boa mã e celeste, Sã o José , meu
carı́ssimo protetor, faço-te iança da minha presente promessa perante
o trono de Jesus e rogo-te que me ajudes e me ajudes a ser iel.
5. Como entendo - e agora sem di iculdade - que o princı́pio da
santidade é o meu completo abandono à santa vontade do Senhor,
mesmo nas pequenas coisas, insisto neste ponto. Nã o quero nem quero
nada fora da obediê ncia à s disposiçõ es, instruçõ es e desejos do Santo
Padre e da Santa Sé . Jamais darei um passo, direto ou indireto, para
provocar uma mudança, ou o que seja, na minha situaçã o, vivendo em
dia em tudo e sempre, deixando as pessoas dizerem e fazerem, e quem
quiser passar na minha frente, sem qualquer preocupaçã o com o meu
futuro. Minhas oraçõ es habituais serã o as duas de Santo Iná cio no Livro
dos Exercı́cios: Recebe, Senhor, toda a minha liberdade e a outra que
começa: Ó eterno Senhor de tudo, eu me entrego a ti. Todo o meu espı́rito
está nessas duas oraçõ es. O Senhor me ajude a nunca ceder, neste
momento, a qualquer seduçã o nos ambientes eclesiá sticos, onde à s
vezes penetra o sentido mundano da vida.
6. Recordo mais uma vez as minhas resoluçõ es a respeito da vida de
oraçã o e uniã o com o Senhor. Darei uma atençã o especial à sagrada
liturgia: missa e breviá rio; o rosá rio, bem considerado; cuidado nas
outras prá ticas, cujo iel exercı́cio é a salvaguarda da piedade
sacerdotal.
7. No trato com os outros, sempre dignidade, simplicidade, bondade:
bondade serena e luminosa. E també m, uma manifestaçã o constante de
amor à Cruz: amor que me faz desamparar cada vez mais das coisas da
terra; faça-me paciente, de cará ter inalterá vel, esquecido de mim
mesmo, sempre alegre nas efusõ es da caridade episcopal. Voltarei a
esse ponto com frequê ncia em meus exames e con issõ es.
1930
Retiro espiritual, casa PP. Passionistas de Ruschuk (28 de abril, 4 de maio)
Deixe-me bê bado na cruz. Um conjunto de circunstâ ncias dá à minha
recordaçã o espiritual uma nota concreta de abandono no Jesus
sofredor e cruci icado, meu mestre e meu rei. As penalidades com as
quais, nos ú ltimos meses, o Senhor quis testar minha paciê ncia para os
esforços que cercaram a fundaçã o do seminá rio bú lgaro; a incerteza,
que perdura há mais de cinco anos, quanto à inalidade de initiva do
meu ministé rio neste paı́s; a angú stia e as di iculdades de nã o poder
fazer mais e de me contentar com a vida de perfeito eremita, contra a
tendê ncia do meu espı́rito para as obras de ministé rio direto com as
almas; o descontentamento interior do que ainda é humano em minha
natureza, embora tenha conseguido mantê -lo sob controle até agora:
tudo isso me torna mais espontâ neo do que esse santo abandono, que
ao mesmo tempo gostaria de ser elevaçã o e impulso para um imitaçã o
mais perfeita do meu modelo divino.
A minha volta, nesta grande casa, solidã o absoluta e preciosa, entre os
perfumes da natureza em lor; oposto, o Danú bio; e alé m do grande rio,
a rica planı́cie romena, que à noite à s vezes ica avermelhada por causa
da queima de depó sitos de petró leo. O dia todo, silê ncio perfeito. A
tarde, o bom bispo Passionista, Bispo Theelen, vem me fazer companhia
para o jantar. O espı́rito permanece o dia todo dedicado à oraçã o e
re lexã o. Exercı́cios muito simples. Eu sigo o texto de Santo
Iná cio; conforme apropriado, eu paro ou dou um passo à frente.
Leituras: um tratado moderno de P. Plus: A loucura da Cruz, e algum
outro autor, respigando aqui e ali. Jesus, eu te agradeço por esta solidã o,
que me dá verdadeiro descanso e grande paz de espı́rito. Como lores
espirituais deste retiro, desejo reunir e postar algumas coisas aqui.
1. Pela graça divina, sinto e quero ser verdadeiramente indiferente a
tudo o que o Senhor quer de mim, em relaçã o ao meu futuro. A
conversa do mundo em torno de meus negó cios nã o me afeta em
nada. Estou disposto a viver assim, embora a situaçã o atual deva
continuar inalterada por anos e anos. Jamais expressarei o mais
distante desejo ou inclinaçã o de mudança, por mais que custe meu
sentimento. Obediê ncia e paz. E meu lema episcopal. Quero morrer com
a alegria de sempre ter feito, mesmo nas pequenas coisas, honrar o meu
slogan. Na verdade, se eu me perguntasse, nã o saberia o que querer ou
fazer alé m do que faço agora.
2. Já faz algum tempo que rezo todas as manhã s depois da Santa Missa -
e parece-me que o rezo de coraçã o - a oraçã o com a qual Santo Iná cio
conclui a grande meditaçã o sobre o Reino de Cristo. O eterno Senhor de
tudo, eu me entrego a você , etc. Na verdade, isso me custa um
pouco. Mas, como quero realmente icar completamente imerso na
santa vontade de Deus e no espı́rito de Jesus, cruci icado e desprezado,
a partir de agora farei o seguinte protesto habitual e diá rio, que é a
repetiçã o das mesmas palavras de Santo Iná cio, na passagem que
descreve o terceiro grau de humildade. Compreendo bem a repugnâ ncia
da natureza, mas conto com a graça do Senhor, que nesta base de
perfeita humildade tem podido edi icar a santi icaçã o de muitas outras
almas que se tornaram instrumentos de sua gló ria e se tornaram
ilustres no apostolado do causa da santa Igreja.
3. O amor da cruz do meu Senhor me atrai cada vez mais nos dias de
hoje. O bendito Jesus, que nã o seja um fogo inú til que se apaga com as
primeiras chuvas, mas um fogo que sempre arde sem nunca se
consumir. Nestes dias encontrei outra bela oraçã o que responde
perfeitamente à minha situaçã o espiritual. E de um santo recentemente
canonizado: Pe. Eudes. Eu humildemente o faço meu. E espero que nã o
seja muito presunçoso. No texto é intitulado: Pro issão de amor à
Cruz. O Jesus, meu amor cruci icado, adoro-te em todas as tuas
dores. Peço-lhe perdã o por todas as faltas que cometi até o presente nas
a liçõ es que julgou oportuno enviar-me. Entrego-me ao espı́rito da tua
cruz e, neste espı́rito, assim como em todo o amor do cé u e da terra,
abraço de todo o coraçã o, por teu amor, todas as cruzes de corpo e
espı́rito que vê m sobre mim. E eu professo colocar toda a minha gló ria,
meu tesouro e minha alegria em sua cruz, isto é , nas humilhaçõ es, nas
privaçõ es e nos sofrimentos, dizendo com Sã o Paulo: Eu, de minha
parte, só quero me gloriar na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo (Gal
6,14). Nã o quero para mim outro paraı́so neste mundo senã o a cruz do
meu Senhor Jesus Cristo.
Parece que tudo me leva a tornar habitual esta solene pro issã o de
amor à Santa Cruz. A profunda impressã o que recebi, e que sempre me
acompanhou, durante toda a cerimô nia de minha consagraçã o
episcopal na igreja de San Carlos en el Corso, em Roma, em 19 de março
de 1925; las asperezas y vicisitudes de mi ministerio en Bulgaria en
estos cinco añ os de Visita Apostó lica, sin otro consuelo que el de la
buena conciencia, y la perspectiva nada risueñ a del futuro me
convencen de que el Señ or me quiere todo para sı́, por el camino real da
Cruz. Por este caminho, e nã o por outro, desejo avançar.
Por isso, vou familiarizar-me com a meditaçã o sobre a paixã o de Nosso
Senhor e com os exercı́cios de piedade que a ela se referem. Vou
celebrar a Santa Missa com mais devoçã o fervorosa, deixando-me ser
completamente penetrado e embriagado pelo sangue de Jesus, o
primeiro bispo e pastor da minha alma. Oxalá eu, pobre educador,
cumprisse o grande esforço recomendado por Santo Iná cio ao meditar
sobre as dores de Jesus, para chorar, entristecer-me e chorar.
4. Uma nota caracterı́stica deste retiro espiritual foi uma grande paz
interior e alegria, que me encoraja a me oferecer ao Senhor para
qualquer sacrifı́cio que Ele queira pedir aos meus sentimentos. Quero
que essa calma e essa alegria penetrem cada vez mais, por dentro e por
fora, em toda a minha pessoa e em toda a minha vida. Nã o é algo que
custe muito para a minha natureza; mas di iculdades e contratempos
podem me incomodar no futuro. Terei muito cuidado em guardar essa
alegria interna e externa. Você tem que fazer as pessoas sofrerem, sem
nem mesmo dar a entender que estã o sofrendo. Nã o foi esse um dos
ú ltimos ensinamentos de D. Radini, de venerá vel memó ria?
Para mim, a imagem de Sã o Francisco de Sales deve ser um convite
perene, que gosto de repetir entre outros: sou como um passarinho que
canta no bosque de espinhos. Entã o, pouca con iança sobre o que pode
me fazer sofrer. Muita discriçã o e indulgê ncia no julgamento de pessoas
e situaçõ es; inclinaçã o para orar especialmente por quem está me
causando sofrimento; e em tudo, muita bondade, paciê ncia ilimitada,
lembrando que qualquer outro sentimento - macedô nio, como se pode
dizer aqui - nã o está de acordo com o espı́rito do evangelho nem com a
perfeiçã o evangé lica. Para fazer triunfar a caridade a todo custo, pre iro
ser pensado por um homem pobre. Vou me deixar esmagar, mas quero
ser paciente e bom até o heroı́smo. Só entã o eu ser digno de ser
chamado de um bispo perfeito e vai merecer a participar no sacerdó cio
de Jesus Cristo, que, ao custo de sua condescendê ncia, humilhaçã o e
sofrimento, era o verdadeiro e ú nico mé dico e salvador de toda a
humanidade: por suas feridas foram curadas (1Pe 2.24).
Con io à minha querida mã e Maria e ao meu doce patrono Sã o José
estas exigê ncias da vida espiritual. Ao sair deste retiro, pego minha cruz
novamente com alegria. Sempre adiante. Como recordo o lema de D.
Facchinetti, de venerá vel memó ria, o amá vel pai espiritual dos meus
primeiros dez anos de sacerdó cio: sempre na cruz sob a obediê ncia.
Oferecendo uma vida cruci icada . O meu Jesus, concede-me uma vida
dura, laboriosa, apostó lica e cruci icada. Digno-me a aumentar em
minha alma a fome e a sede de sacrifı́cio e sofrimento, de humilhaçã o e
abnegaçã o. Nã o quero mais satisfaçõ es, descanso, consolos ou
alegrias. A ú nica coisa que aspiro, ó Jesus, e imploro do vosso Sagrado
Coraçã o, é ser sempre, e cada vez mais, vı́tima, hospedeira, apó stolo,
virgem, má rtir do vosso amor. (Do Pe. Lintelo, Apó stolo da Eucaristia e
Reparaçã o, na Bé lgica).
1931
Retiro espiritual breve, casa PP. Conventuais de Bujukada, próximo ao
Bósforo (18 a 21 de junho)
1. E o oitavo dia da festa do Sagrado Coraçã o. Retiro do novo escritó rio
as idé ias para uma boa renovaçã o espiritual. Tenho, de fato, comigo
apenas o breviá rio e nã o leio mais nada.
2. Como gosto do pensamento de Santo Agostinho, que chama o coraçã o
de Jesus de Porta da vida. As vezes parece que no desenvolvimento da
devoçã o ao Sagrado Coraçã o nos ú ltimos anos os limites do exagero
foram tocados. Mas, se o coraçã o de Jesus é realmente a porta, nã o há
nada de excessivo ou exagerado. Você tem que passar por lá a todo
custo para entrar ou sair. Eu quero passar por lá .
3. Recentemente, a prá tica da devoçã o à s sagradas chagas de Jesus
cruci icado veio a mim de forma espontâ nea. Eles sã o o complemento
da devoçã o ao Sagrado Coraçã o. Vou insistir mais nela.
4. Durante o retiro do ano passado em Roustchouk, as circunstâ ncias
levaram-me a uma acentuaçã o do amor pela cruz e pelo sofrimento com
Jesus, meu mestre e meu rei. Pela graça do Senhor, essa meditaçã o
profunda nã o foi em vã o. Desde entã o tenho me sentido, e me sinto
mais tranquilo diante das eventualidades de minha vida, pronto
igualmente para as coisas mais dı́spares, para sucessos e fracassos,
sempre considerando que para mim é um grande sucesso
simplesmente cumprir meu dever. o serviço da Santa Sé
Apostó lica. Frequentemente voltarei a tais consideraçõ es, procurando
aumentar em mim o desejo, a santa vontade de sofrer com Jesus que
sofre, de amar o meu presente para fazer pouco, sem ilusõ es de fazer
outra coisa: a escuridã o em que a vontade do Senhor encerrou eu para
cima; incapaz como sou pelas circunstâ ncias de fazer mais, conforme
minha inclinaçã o e temperamento exigem. A inal, quem é que mais ou
menos posso fazer pelo serviço da santa Igreja no meu ministé rio
actual, ou noutros ministé rios que me poderiam ser con iados, mas nos
quais nã o penso nem quero pensar? O que é isso mais ou menos? Aos
olhos de Deus, nada mais do que as disposiçõ es internas do meu
espı́rito, que ele conhece até no ocultismo; aos olhos dos homens,
engano e engano freqü entes.

5. Vivo há cinquenta anos. Agora sou um homem maduro que se


aproxima da velhice: talvez a morte esteja pró xima. Aprendi muito
pouco durante meio sé culo de existê ncia e devoçã o sacerdotal. Eu me
humilho e me confundo diante do Senhor: peço-lhe perdã o pelos meus
inú meros excessos, mas contemplo o futuro com uma calma irme e
con iante. Coraçã o de Jesus em quem o Pai se agrada. Essa invocaçã o
me impressionou esses dias. Quando se ouviu a voz do pai expressando
sua complacê ncia, Jesus nã o tinha feito nada na vida senã o viver
escondido, no silê ncio, no trabalho humilde, na oraçã o silenciosa. Que
grande desâ nimo com este ensino.
6. Retomo meu caminho, sempre determinado a resgatar o tempo. Nisto
devo insistir e punir impiedosamente o corpo e o espı́rito. Eu quero e
devo fazer mais, mesmo em meu ministé rio atual. Portanto, sou mais
escrupuloso no uso do meu tempo: faço tudo, rá pido e bem; Nã o
espere; nã o colocar as coisas secundá rias antes das principais; sempre
rá pido, ocupado, sereno.
7. Mas, antes de tudo e em tudo, preocupada em expressar na minha
vida interior e na minha atividade exterior a imagem de Jesus, manso e
humilde de coraçã o. Deus me ajude.
1933
Retiro espiritual com os padres. So ia Capuchinhos (4-8 de setembro)
Muita calma e paz. Tive que fazer tudo sozinho, porque o bom pregador,
o padre Samuel, havia nos preparado alguns sermõ es preciosos para
seus companheiros religiosos, mas sem conhecer de todo o mé todo de
Santo Iná cio.
Insisti, desde o primeiro dia, na santa indiferença. No segundo dia
confessei ao meu habitual e excelente Pe. Alberto. Eu estava feliz e com
o coraçã o muito calmo e tranquilo. Revi os melhores propó sitos da
minha vida episcopal e os renovei com todo o fervor com que o Senhor
me agraciou. Lamento ser mesquinho e miserá vel, mas perseverei no
propó sito de querer santi icar-me a todo custo, com serenidade, com
paciê ncia, com abandono absoluto em Jesus Pastor e guardiã o da minha
vida. O pano de fundo geral de minhas resoluçõ es nestes dias é
expresso nas simples palavras de A Imitação de Cristo : "Você gostaria
que eles nã o conhecessem você ou nã o o estimassem." Em tudo isso,
sem desâ nimo, mas sempre feliz, sempre sereno, sempre animado até a
ú ltima hora. Jesus, José e Maria, que minha alma descanse em paz em
você s.
A longa vida de representante pontifı́cio neste paı́s muitas vezes me
traz sofrimentos agudos e ı́ntimos, que procuro esconder. Mas
suportarei tudo e suportarei de boa vontade, até com alegria, pelo amor
de Jesus, para assemelhar-se a ele o mais possı́vel, para fazer sua santa
vontade em todos, para o triunfo de sua graça em meio a este simples e
gente boa, mas que pena, pelo serviço da Santa Igreja e do Santo Padre,
pela minha santi icaçã o. Senhor, você sabe tudo; você sabe que eu te
amo.
1934
Retiro espiritual com os padres. Passionistas de Ruschuk (27 a 31 de
agosto)
1. O Padre Ausonio Demperat, Assuncionista, pregou-nos. Conversas
bem feitas e sé rias, mas distantes do sistema de San Ignacio. Confessei
ao Pe. Isidore Detin, Vigá rio Geral de Dom Thulen e Pá roco de Oresc. Eu
estou feliz.
2. Situaçã o do meu espı́rito, calma. Este ano foi particularmente
pacı́ ico. Fico assustada ao pensar no julgamento que o Senhor fará de
mim. Poré m, quando me pergunto o que devo fazer para agradar mais
ao Senhor, para ser santo, só percebo esta resposta: continue na
obediê ncia, como você é ; faça as suas coisas normais, dia apó s dia, sem
preocupaçõ es ou singularidades, fazendo tudo com desejo de fervor e
perfeiçã o. Seja iel à piedade sacerdotal concreta: missa, meditaçã o
curta, breviá rio, rosá rio, visita, exames, boas leituras; mas tudo com um
tom mais alto de fervor, com unçã o superabundante, como na lâ mpada
alimentada por ó leo abundante. Nã o se preocupe com o seu futuro,
pensando que talvez você esteja pró ximo à porta da eternidade, e se
mostre cada vez mais contente em viver assim, longe dos olhares e
talvez das atençõ es de seus superiores, nã o machucando ser
desvalorizado ., esforçando-se para saborear cada vez mais para nã o se
considerar nada.
3. As circunstâ ncias do meu ministé rio, conforme estã o considerando
estes dez anos que estou na Bulgá ria, nã o me aconselham ou me
permitem fazer mais do que o que eu faço: pelo menos por
enquanto. Portanto, continuarei a viver dia a dia; mas oferecendo com
mais ardente entusiasmo a Jesus este meu viver assim, esta limitaçã o
que devo impor à minha atividade externa, e toda a minha vida de
oraçã o mais intensa: pela salvaçã o e santi icaçã o da minha alma e
destes bispos e sacerdotes; pela difusã o e penetraçã o mais profunda do
espı́rito de caridade neste paı́s, onde há tanta dureza em tudo; para a
edi icaçã o e progresso religioso dos ié is cató licos; para a luz e bê nçã o
de todo esse povo bú lgaro, rebelde, mas tã o rico em disposiçõ es felizes
para o reino de Cristo e sua Igreja.
4. O que o Arcebispo Roncalli fez na monotonia de sua vida na
delegaçã o apostó lica? Mediante a santi icaçã o de si mesmo, a sua
simplicidade, a sua bondade e alegria, ele abriu uma fonte de bê nçã os e
graças - na sua vida e na sua morte - para toda a Bulgá ria. Deve ser
assim. Mas sã o essas grandes palavras e grandes realidades. Meu Jesus,
me confunde pensar neles, envergonho-me ao dizê -los. No entanto, dê -
me a graça, a força e a gló ria para cumpri-los. Todo o resto importa
pouco. Todo o resto é vaidade, grande misé ria e a liçã o de
espı́rito. Jesus, José e Maria entrego-vos o meu coraçã o e a minha alma,
agora e sempre.
6 Representante Ponti ício na Turquia e Grécia
(1935-1944)

1935
EUA EUA com meus padres Istambul (15 a 22 de dezembro)
A coisa do exercı́cio é um ditado. Fiz-os aqui, na Delegaçã o Apostó lica,
na companhia dos meus queridos sacerdotes da catedral. Eles foram
pregados - geralmente bem - pelo padre Pablo Spigre, superior dos
jesuı́tas. O que foi feito, foi feito; mas eles nã o me satis izeram de forma
alguma. Você tem que sair do meio ambiente e dos assuntos
comuns. Preocupar-se com isso, icar em casa e ao mesmo tempo cuidar
da pró pria alma nã o é possı́vel. A experiê ncia durará mais um
ano. Portanto, me limito a renovar as resoluçõ es de anos
anteriores. Desde o inal de agosto de 1934, quantas mudanças
imprevistas ao meu redor. Eu estou na Turquia Que graças ou ocasiõ es
estou perdendo aqui para me tornar um santo?
O Santo Padre, ao me enviar aqui, quis enfatizar ao Card. Sincera a
impressã o que o meu silê ncio, mantido por dez anos, causou na minha
estada na Bulgá ria, sem nunca me arrepender ou expressar desejos por
outra coisa. Serviu a um propó sito e estou feliz por ter sido iel a
ele. Quanto trabalho está aqui. Bendigo a Deus, que me enche das
consolaçõ es do sagrado ministé rio. Mas ainda devo insistir em colocar
mais calma e ordem em todas as minhas coisas. O teste de traje civil
també m foi aprovado pelo meu clero. Mas devo dar o exemplo,
espalhando gravidade e edi icaçã o. Que o Coraçã o de Jesus me in lama,
me sustente e aumente seu espı́rito em mim. Um homem.
1936
Casa das Filhas do Sagrado Coração de Ranica, Bérgamo (13 a 16 de
outubro)
Breve retiro, cheio de paz e silê ncio, nesta magnı́ ica vila que serve de
noviciado ao simpá tico instituto de Dom Benaglio e do Venerá vel
Verzeri. Com a graça de Deus, pude perceber a situaçã o do meu
espı́rito. Ainda estou longe da perfeiçã o correspondente à s minhas
obrigaçõ es e à s graças que o Senhor continua a conceder-me. Mas meu
desejo ainda está vivo e fervoroso. Nestes dias, o Padre Bellecio com o
seu Triduum sacro me orienta na boa meditaçã o .
Reconheço que já me acostumei a uma uniã o constante com Deus,
pensamento, palavra e açã o; ter em mente o binô mio: venha o seu
reino, seja feita a sua vontade; ver tudo a partir de sua coordenaçã o
com esses dois ideais. Mas como sã o falhas minhas açõ es diá rias, meus
exercı́cios de piedade. Entã o, eu quero renovar tudo.
No meu novo ministé rio na Turquia, apesar das muitas di iculdades,
estou feliz. E conveniente para mim organizar melhor meus dias e
també m minhas noites. Nunca ir para a cama antes do meio-dia nã o é
uma coisa boa. Acima de tudo, o tempo apó s o jantar precisa ser
reformado. O rá dio perde muito tempo e confunde tudo.
Regra constante: à s sete da tarde, rosá rio para todos na capela. Depois
o jantar e o recreio: trê s quartos de hora sã o su icientes para ambos. A
oraçã o das Matinas seguirá ; depois, o diá rio falado; eventualmente,
alguma boa audiçã o musical, quando houver. Aı́ todo mundo sai: a
secretá ria vai para o quarto dele, eu para trabalhar um pouco. As onze,
devo ir para a cama. Todas as manhã s, um pensamento que é orientaçã o
e programa para o dia todo. Nunca pule a meditaçã o: breve, se você nã o
puder mais, mas viva, á gil e calma. Devo evitar longas audiê ncias. Muita
gentileza a todos, como se eu só tivesse que cuidar de cada um, mas
uma palavra leve e breve.
A saú de me impõ e uma dieta. També m ao meio-dia comerei menos,
como já faço à noite. Você deve sair para dar uma caminhada todos os
dias. Meu Senhor, isso pesa sobre mim e me parece uma perda de
tempo. Mas é necessá rio: todos insistem em que eu o faça. Eu o farei,
oferecendo ao Senhor o sacrifı́cio que isso acarreta.
Parece-me estar separado de tudo: de todos os pensamentos de
promoçã o e assim por diante. Nã o mereço nada nem estou
impaciente. No entanto, dó i-me muito ver a distâ ncia entre a minha
maneira de ver as situaçõ es no terreno e certas formas de apreciaçã o
das mesmas coisas em Roma: é a minha ú nica verdadeira cruz. Quero
carregá -lo com humildade, sempre pronto para agradar meus
superiores hierá rquicos, porque isso, e só isso, é o que eu
quero. Sempre direi a verdade, mas com delicadeza, passando em
silê ncio tudo o que pareça irracional ou uma ofensa recebida, pronto
para me sacri icar e ser sacri icado. O Senhor tudo vê e me fará
justiça. Acima de tudo, quero continuar retribuindo o bem com o mal e
me esforçar para preferir, em tudo, o evangelho aos dispositivos da
polı́tica humana.
Desejo me envolver com mais cuidado e consistê ncia no estudo da
lı́ngua turca. Vejo que amo o povo turco, a quem o Senhor me enviou: é
o meu dever. Sei que o caminho que percorri nas relaçõ es com os turcos
é bom e, sobretudo, cató lico e apostó lico. Devo persegui-lo com fé ,
prudê ncia e zelo sincero, à custa de qualquer sacrifı́cio.
Jesus, a Santa Igreja, as almas, també m as almas dos turcos, como
també m as dos pobres irmã os ortodoxos: Salva o teu povo, abençoa a
tua herança (Sl 27,9).
1937
Retiro espiritual com meu clero secular em Istambul (12 a 18 de
dezembro)
1. Boa reuniã o, como uma famı́lia, para lidar com os problemas mais
sé rios e sagrados. Mas noto o mesmo que apontei no inal de 1935: esta
permanê ncia na atmosfera ordiná ria de cada dia - e para os sacerdotes
esta saı́da e entrada - diminui muito a e icá cia do retiro. Mas você nã o
poderia fazer melhor. A casa dos jesuı́tas está sob vigilâ ncia especial
hoje em dia e é perigoso icar lá como hó spedes. Paciê ncia.
2. Na revisã o do meu organismo espiritual, tı́pica destes dias, vejo que,
pela graça do Senhor, todos os seus elementos ainda estã o em
ordem. Mas quanta poeira, quanto desgaste de suas peças: algumas
estã o enferrujadas, há parafusos e molas que nã o funcionam, ou
funcionam mal. Portanto, é preciso renovar, limpar e vivi icar. A sagrada
con issã o de um ano que iz ao Pe. Spigre, pregador do retiro, enche-me
de paz. Mas o Senhor está satisfeito com minha conduta? Me assusta
pensar nisso. Só a con iança, o abandono nele me encoraja.
3. Em dezembro do ano passado, em Atenas, recebi um sé rio aviso
sobre minha saú de fı́sica. Corrigi o fracasso. Um ano depois, me
encontro perfeitamente, apesar de meu cabelo estar ralo e com sinais
de velhice. Tentarei tornar familiar o pensamento da morte para mim,
nã o por tristeza, mas por esplendor e elevaçã o alegre e serena da vida
que permanece aqui embaixo. O que mais me impressionou na minha
juventude foi a morte do meu bispo, D. Radini, de venerá vel memó ria,
aos cinquenta e seis anos: exatamente a minha idade atual. Sempre
pensei que talvez nã o fosse tã o longe. Chego agora e agradeço a
Deus. Que grave dever eu tenho de me santi icar seriamente.
4. Sinto-me calmo e satisfeito com o meu estado: apenas descontente
por nã o ser santo e exemplar em tudo como seria minha obrigaçã o e
vontade. Honras e promoçõ es na terra nã o me preocupam muito; Tenho
a impressã o de que os tenho sob controle. Senhor, ajude-me, porque a
tentaçã o pode surgir facilmente e eu sou infeliz. A Igreja já fez muito
por mim.
5. Homem eucarı́stico. Eu realmente quero ser. Neste ponto, devo
lembrar algo do que já foi decidido. Sempre vou antecipar as matinas à
tarde: isso garante que sempre faça minha meditaçã o pela manhã , apó s
a missa e nas horas menores. Depois, alé m da visita diá ria regular mais
ou menos longa, mas vibrante, serei iel à s quintas-feiras, das 10 à s 12
da noite, na hora de adoraçã o, como já comecei a fazer, pelas minhas
necessidades e pelos do Santo. Igreja.
6. As circunstâ ncias da minha vida normal aqui, em Istambul,
permitem-me apenas duas horas de trabalho tranquilo: as noturnas,
das 10 à s 12. E aconselhá vel que me adapte a elas. Mas à s 12 horas,
apó s as ú ltimas notı́cias, devo me aposentar desesperadamente para
uma breve oraçã o e dormir. Vejo que seis horas de descanso noturno
sã o su icientes para mim. Mais tarde, veremos se é possı́vel melhorar as
coisas. O importante é que tudo esteja em ordem e tranquilo, com um
ritmo á gil e sem agitaçã o.
7. Durante o jantar, no refeitó rio, Don Santiago Testas e eu lemos
algumas pá ginas de Faber sobre a benevolê ncia. Gosto do assunto,
porque vejo que está tudo aı́. Vou insistir no esforço sereno para ser
especialmente gentil e benigno, sem fraquezas, mas com perseverança
e paciê ncia para com todos. O exercı́cio da bondade pastoral e paterna -
pastor e pai - deve resumir todo o ideal da minha vida de
bispo. Bondade, caridade: que graça imensa. Todos os bens vieram com
ela (Sb 7,11).
1939
EUA EUA: Casa de Pensamentos e Propósitos dos Jesuítas de Ayas Pasa
Istanbul (12-18 de novembro)
1. Por im, os Exercı́cios que pretendia: fechados, sem contacto com o
exterior e realizados com mé todo. Convidei meus companheiros, bispos
e padres nã o religiosos para virem comigo: estã o todos lá , de todos os
ritos. Vá rios, poré m, voltam para casa à tarde para a missa de
domingo. Nã o é o melhor, mas é necessá rio. Eu comemoro por poder
icar sozinho por uma semana. E eu bendigo o Senhor.
2. O Padre Elı́as Châ d, superior dos Jesuı́tas, dá -nos os pontos segundo
o mé todo de Santo Iná cio e o faz bem. Mas deve dar mais do que os
pontos: em vez de um quarto de hora, leva meia. Entã o, seria
conveniente continuar a meditaçã o na sala. Ajudei-me lendo o texto
inaciano na traduçã o latina anotada pelo Pe. Roothaan. Mas advirto que,
mesmo para os meus padres e bispos, este dar em pequenas doses, ser
iel ao mé todo, deixando o resto à iniciativa de cada um, nã o é
prá tico. Somos todos, em parte, crianças que precisam da orientaçã o da
voz viva daquele que nos apresenta a doutrina já preparada. Oh,
aqueles bons padres de Bé rgamo que pregaram os Exercı́cios para nó s
no seminá rio. E foram muito ié is ao espı́rito e, dependendo das
circunstâ ncias, ao mé todo de Santo Iná cio.
3. Daqui a alguns dias - 25 deste mê s - terei cinquenta e oito
anos. Quando penso ter testemunhado a morte de Monsenhor Radini,
com a idade de cinquenta e sete anos, parece-me que todos os outros
acima desse valor me sã o atribuı́dos a tı́tulo de gorjeta. Senhor, eu te
agradeço. Ainda me sinto jovem em saú de e energia, mas nã o injo
nada. Quando você me quiser, estou pronto. Até mesmo para morrer -
especialmente para morrer - sua vontade será feita. Nã o faltam
sussurros ao meu redor: para cima, para cima. Nã o me iludo me
entregando à s suas carı́cias, que sã o - sim, para mim també m - uma
tentaçã o. Tento meu coraçã o nã o dar ouvidos a essas vozes, que soam
enganosas e vis. Eu os considero uma piada; Eu sorrio e sigo em
frente. Pelo pouco, pelo nada que sou na Santa Igreja, já tenho a minha
pú rpura, e é o rubor de me encontrar nesta posiçã o de honra e
responsabilidade tã o pouco valiosa. Que conforto para mim sentir-me
livre dessas aspiraçõ es que visam mudar de posiçã o e subir. Eu
considero uma grande graça do Senhor. Que ele sempre guarde para
mim.
4. Este ano o Senhor me provou com o desaparecimento de vá rias
pessoas queridas: minha mã e, venerada e doce; O bispo Morlani, meu
primeiro benfeitor; Dom Pedro Forno, meu ı́ntimo colaborador na Atti
della Visita Apostolica di s. Carlo; Dom Ignacio Valsecchi, que foi
sacerdote em Sotto il Monte durante meus anos de seminarista antes de
partir para Roma, 1895-1900: todos desapareceram. E nã o estou
falando de outros saberes e pessoas muito queridas, a primeira das
quais seria o bispo Spolverini. O mundo muda de cara para mim. Tudo
isso deve aumentar minha familiaridade com a vida apó s a morte,
pensando que em breve ela poderá estar lá . Querido morto, eu me
lembro de você e ainda te amo. Reze por mim.
5. Fiz minha con issã o anual ao Pe. Châ d e estou feliz. Para me preparar
bem, celebrei a Santa Missa, assisti expressamente a outra Missa e
depois ajoelhei-me em arrependimento e confusã o. Estou horrorizado
com meus pecados e diante de você eu sorrio; não me condene. O
confessor me diz que o Senhor está satisfeito com o meu serviço. Muito
feliz? Eu desejo. Estou apenas parcialmente feliz. Já faz muito
tempo que escolho o estado: em relaçã o à s particularidades da minha
vida e da minha atividade, tudo é muito claro e determinado pelo que
tenho e me desgastarei por vocês (2 Co 12,15): Nã o dormir em meus
deveres episcopais, mas quantos defeitos em cumpri-los. Acima de
tudo, estou atormentado pela desproporçã o entre o que faço e o que
devo fazer, e queria fazer, mas nã o cheguei lá . A culpa, em parte, deve
ser minha. Demoro demais em minhas cartas, por medo de parecer
seco e hostil, se digo menos; pelo desejo de promover os interesses da
caridade e da santa Igreja, dizendo mais. Será conveniente procurar a
linha da discriçã o, que está no meio; e, se eu achar um pequeno
tormento, sofra em paz.
6. No dia dos mortos, meu querido secretá rio, D. Santiago Testa, deixou-
me de initivamente para continuar seu caminho. Ele era um bom
menino que estava comigo há dois anos e a quem eu amava no
Senhor. Fiat . Em seu lugar já tenho outro jovem, o bispo Victor Hugo
Righi. Os superiores o enviaram para ajudá -lo na sua formaçã o ao
serviço da Santa Sé . Parece dó cil e bom para mim. Farei o possı́vel. Ao
mesmo tempo, gostaria de aliviar o peso de minha correspondê ncia
o icial, descarregando-a parcialmente sobre ele. E uma boa forma de
estabelecer a relaçã o entre o que deve ser feito e o que é feito.
7. Para a leitura no refeitó rio propus, depois da Encı́clica do novo Papa
Pio XII, o Journal intime do Arcebispo Dupanloup, que encontrei entre
os livros da Delegaçã o e que conheço bem. Vejo que essas pá ginas
causam uma impressã o muito edi icante. Acima de tudo, me interessa
com freqü ê ncia enfocar um prelado tã o dinâ mico nas prá ticas da
piedade e da vida interior: Missa, breviá rio, meditaçã o, devoçã o ao
Santı́ssimo Sacramento, à Virgem, a quem ele chama: ajuda dos
cristã os, assistê ncia de bispos, etc. Conforto para mim e ao mesmo
tempo estı́mulo. Insisto particularmente na oraçã o das matinas à
noite. O bispo Righi gosta da oraçã o em comum; De minha parte, é o
que eu quero e já comecei a colocá -lo em prá tica. A oraçã o das matinas
noturnas é uma preparaçã o preciosa para a meditaçã o do dia seguinte e
para uma elasticidade mais oportuna em tudo o mais. També m
guardarei o rosá rio em famı́lia, que já comecei. Isso foi feito com o
Bispo Radini; e com o cartã o. Ferrari em Milã o.
8. Tenho um propó sito especial, como exercı́cio de morti icaçã o, no
estudo da lı́ngua turca. Saber ainda tã o pouco, depois de cinco anos de
permanê ncia em Istambul, é uma pena, e eu denunciaria pouca ideia do
alcance da minha missã o, se nã o houvesse motivos para desculpar e
justi icar. Agora vou começar de novo e com determinaçã o. A
morti icaçã o será motivo de complacê ncia. Amo os turcos, aprecio as
qualidades naturais desse povo que també m tem seu lugar preparado
no caminho da civilizaçã o. O que eu ganho pouco? Nã o importa. O
importante é o meu dever, a honra da Santa Sé , o exemplo que devo
dar. Se ao menos pudesse permanecer iel a este irme propó sito,
consideraria o fruto dos meus exercı́cios grandes e fecundos.
9. Outros ins especiais? Nã o consigo encontrá -los, porque me sinto
totalmente cruci icado para a minha vida como vigá rio e delegado
apostó lico. Preserve a minha paz e, em paz, um grande fervor: nã o se
desvie em absoluto do sistema que me recomenda com toda a
humildade e mansidã o, qualquer que seja o impulso ou a tentaçã o que
eu sinta contra ela; mansidã o, que nunca é covarde; fale pouco, pouco
de polı́tica, e nã o perca de vista a ideia da morte.
10. Da janela do meu quarto, aqui na casa dos padres jesuı́tas, todas as
tardes observo uma multidã o de barcos ao longo do Bó sforo. Eles
aparecem à s dezenas, à s centenas, pelo Chifre de Ouro; eles se
encontram em um local combinado e depois se acendem, alguns mais
brilhantes, outros menos, formando um espetá culo fantasmagó rico de
luzes e cores impressionantes. Achei que fosse um festival marı́timo por
ocasiã o do Vairam, que hoje ocorre. Mas nã o: é a pesca organizada de
uma espé cie de atum que, dizem, vem de longe do Mar Negro. Essas
luzes duram a noite toda e as vozes alegres dos pescadores sã o
ouvidas. O show me excita. Na outra noite, por volta da uma hora,
estava chovendo forte, mas os pescadores estavam lá , destemidos em
sua difı́cil tarefa. Que confusã o para mim - para nó s, padres, pescadores
de homens - com este exemplo. Passando da igura ao igurativo, que
panorama de trabalho, zelo e apostolado que se oferece à nossa
atividade. Muito pouco resta do reino do Senhor Jesus Cristo
aqui. Remanescentes e sementes. Mas quantas almas ganhar para
Cristo, que vagueiam neste mar do Islã , do Judaı́smo, da
Ortodoxia. Imitar os pescadores do Bó sforo, trabalhar dia e noite com
as lâ mpadas acesas, cada um no seu barco, sob as ordens dos chefes
espirituais: este é o nosso grave e santo dever.

11. Meu trabalho na Turquia nã o é fá cil, mas me convé m bem e é fonte
de muitos consolos. Vejo que existe a caridade do Senhor e a uniã o dos
eclesiá sticos uns com os outros e com seu pobre pastor. A situaçã o
polı́tica nã o nos permite fazer muito, mas já me parece que vale a pena
nã o piorar por minha causa. Por outro lado, minha missã o na Gré cia,
que chato eu acho. E justamente por isso que a amo ainda mais e
prometo continuar com ela com fervor, lutando para superar todo o
meu nojo. Eles con iaram a mim; portanto, é uma questã o de
obediê ncia. Confesso que nã o sofreria se fosse con iada a outra
pessoa; mas, enquanto for meu, quero honrá -lo a todo custo. Quem
semeia com lágrimas colherá entre os cantos (Sl 125,5). Eu nã o me
importo que outra pessoa colha os frutos.
12. Este ano, poucas fé rias e preocupado com a preocupaçã o de ter que
voltar logo. Em compensaçã o, encontrei uma recepçã o extremamente
benevolente e encorajadora em Roma pelo Santo Padre, o Secretá rio de
Estado e a Congregaçã o Oriental. Obrigado senhor Isso está alé m dos
meus mé ritos. Mas nã o trabalho para elogios dos homens. Deus me
deu. Se acontecesse, como é fá cil, Deus tirou de mim, eu continuaria a
bendizer ao Senhor.
13. Como perene memó ria do maior fervor eucarı́stico e como
lembrança destes Exercı́cios, prometo rezar sempre, antes da minha
missa privada, as oraçõ es que iguram no câ non. Quem me ajudar vai
ter que esperar um pouco, mas essas oraçõ es eu tenho que dizer. A
ú nica oportunidade que me poderá poupar será a comunidade alargada
de um grande nú mero de ié is que esperam: nã o devem ser levados à
situaçã o de perder a paciê ncia. Sã o Francisco de Sales é um bom
professor para mim neste serviço de discriçã o caritativa.
1940
US US: Notes. Terapia junto à Casa das Religiosas de Nossa Senhora de
Sion do Bósforo (25 de novembro, 1 de dezembro)
1. Os con litos militares nã o permitiram ter, este ano, os Exercı́cios na
casa dos pe. Jesuı́tas de Ayas Pasa. Vim aqui como capelã o desses bons
religiosos, idosos e aposentados de todas as atividades, vindos das
casas de Yassy e Galatz, na Romê nia. Depois de mim os meus sacerdotes
do Espı́rito Santo virã o, um a um, para os seus exercı́cios. Solidã o
realmente ideal e deliciosa. Meu Jesus, eu te agradeço e te abençoo.
2. Escolhi estes dias para o meu retiro espiritual, porque sã o os
primeiros dos meus 61 anos de idade. Portanto, estou entrando no
perı́odo em que a pessoa começa a ser e a se chamar de velha. Que pelo
menos a velhice seja um esforço completo em busca daquela perfeiçã o
da qual, como bispo, devo ser mestre, mas da qual ainda estou tã o
longe. Santi icar seus começos com oraçã o e meditaçã o no espı́rito de
penitê ncia já é algo; algo agradá vel ao Senhor: é um pedido de
misericó rdia.
3. Como um exercı́cio de meu espı́rito, dispenso o mé todo habitual; e iz
do salmo Miserere o objeto de meditaçã o , ocupando- me com quatro
versos por dia. Alé m disso, tomei como guia - porque para essas coisas
sempre se exige um guia, mesmo quando se vai envelhecendo - a
extensa e fundamentada exposiçã o do Pe. Paolo Segneri, autor que
tanto admiro. Muito longo para minhas necessidades e muito racional,
um pouco forçado e barroco. No entanto, é um verdadeiro tesouro de
pensamentos e aplicaçõ es. Meditei e digitei o que me pareceu mais
interessante e prá tico. Voltarei a essas notas para minha edi icaçã o.
4. Resultado dessa concentraçã o do meu espı́rito? Nada de especial ou
chamativo. Parece-me, no entanto, um reforço de princı́pios e posiçõ es
perante o Senhor e perante o problema da minha pobre vida e do meu
sagrado ministé rio ao serviço da Santa Igreja. Mesmo sem exagerar
essa receita no ú ltimo perı́odo —poralvez rá pido e breve— da minha
vida, sinto algo mais sé rio e maduro em mim em relaçã o a tudo o que
me interessa e me rodeia: eu diria um maior distanciamento em relaçã o
ao que possa afeto ao meu futuro, uma indiferença mais pronunciada
em relaçã o a tudo; um borrã o leve e lento dos contornos das coisas,
pessoas, lugares e empresas que mais uma vez agradaram meu gosto
pessoal; uma disposiçã o mais marcada para compreender e simpatizar,
e uma maior clareza e tranquilidade de impressõ es e
julgamentos. Procurarei preservar a bela simplicidade da palavra e do
tratamento, sem atitudes esticadas; pelo contrá rio, todos devem
perceber a gravidade e a amá vel distinçã o do velho prelado, que
difunde à sua volta um ar de dignidade, prudê ncia e graça.
5. Repensei meus deveres episcopais. Acima de tudo, parei na
humildade e na paciê ncia de me proteger e de ensinar isso aos
outros. Alguns espinhos pausam e à s vezes fortes. Estritamente falando,
você deve tomar decisõ es decisivas. Isso removeria o espinho. Mas nã o
mereceria outros, talvez mais pungentes? E onde está a verdade, a
caridade, a misericó rdia? E o espı́rito do Senhor ao lidar com as almas,
ao lidar com a minha alma?
6. Este ano, a Providê ncia colocou quantias considerá veis de dinheiro
em minhas mã os. Dinheiro de minha propriedade pessoal. Distribuı́-o,
parte entre os pobres, parte para as minhas necessidades e ajuda dos
meus familiares, e parte, o principal, para restaurar a delegaçã o
apostó lica e alguns quartos dos meus sacerdotes do Espı́rito
Santo. Segundo os crité rios do mundo, que penetra nas sagradas
interioridades do clero, segundo a opiniã o da prudê ncia humana, fui
pobre de espı́rito. Agora, de fato, estou novamente na pobreza. Louve o
Senhor. Parece-me que, com sua graça, iz bem. Con io novamente na
sua bondade no que diz respeito ao futuro. Dê e será dado a você (Lc
6,38).
7. O estudo da lı́ngua turca. Claro: aos sessenta anos nã o devo desistir
de tal esforço. Trata-se de uma vontade boa e energé tica, e nã o de outra
coisa. Mesmo que o esforço tenha servido apenas para dar um bom
exemplo, seria altamente recomendá vel.
Segunda-feira à tarde, 25 de novembro de 1940. Ontem o Santo Padre
Pio XII convidou todos a se juntarem a ele no canto, gemido, ladainhas
dos santos e do Miserere. E todos nó s nos juntamos a ele e sua oraçã o,
do Ocidente e do Oriente. Aposentado em completa solidã o destes EUA
- como o pró prio Santo Padre faz nestes dias no Vaticano - para assim
começar o sexagé simo ano da minha pobre vida (25 de novembro de
1881), creio que nada será mais ú til para mim, mesmo que contribuiçã o
para o bem de todos, devemos voltar a este salmo de penitê ncia,
distribuindo cada um de seus versos - que sã o vinte e quatro para cada
dia e tornando-os objeto de piedosa meditaçã o. Acompanho de longe a
exposiçã o do Miserere do Pe. Segneri, mas com muita liberdade de
inspiraçã o e de aplicaçõ es. Muito ú til para compreender o profundo
signi icado do salmo é manter viva diante de mim a imagem do Profeta
real e as circunstâ ncias de seu arrependimento e dor. Ele é um rei que
caiu, mas um rei que se levanta.
Primeiro dia. Terça-feira, 26 de novembro de 1940. V ́
I: Misericórdia, meu Deus, por sua bondade. 1. O clamor das
nações. Chega aos meus ouvidos de toda a Europa e també m do
estrangeiro. A guerra sangrenta, que enche de horror a terra, os mares e
os cé us, é uma reivindicaçã o da justiça divina, ofendida e violada nas
obrigaçõ es que impô s à famı́lia humana. Alguns a irmam e a irmam que
Deus deve preservar esta ou aquela naçã o, ou conceder-lhe
invulnerabilidade ou vitó ria em vista dos justos que nela vivem ou do
bem que nela se realiza. Mas se esquece que, se Deus fez as naçõ es de
uma certa maneira, ele deixou a constituiçã o dos estados ao livre
arbı́trio dos homens. Ele ditou as leis de coexistê ncia a todos eles, cujo
có digo é o evangelho. No entanto, nã o deu garantias de assistê ncia
especial e privilegiada que nã o à naçã o dos crentes, que é a Santa Igreja
como tal. E mesmo freqü entar sua Igreja, preservando-a de todas as
derrotas, nã o a exime de tribulaçõ es ou perseguiçõ es.
A lei da vida para as almas e para os povos determina a justiça e o
equilı́brio universais, os limites do uso da riqueza, dos prazeres e do
poder mundano. Na medida em que essa lei é violada, as sançõ es sã o
aplicadas automaticamente, que sã o terrı́veis e inexorá veis. Nenhum
estado escapa. Todo mundo tem seu tempo. A guerra é uma das sançõ es
mais tremendas. Deus nã o o quer, mas os homens, naçõ es, estados por
meio dos quais os representa. Terremotos, inundaçõ es, fome, peste sã o
aplicaçõ es de leis cegas da natureza, cegas porque a natureza material
nã o tem inteligê ncia nem liberdade. A guerra, por outro lado, é algo que
os homens querem, de olhos abertos, apesar das leis mais sagradas. E
por isso que é muito mais sé rio. Quem o determina, quem o encoraja, é
sempre o prı́ncipe deste mundo, que nada tem a ver com Cristo, o
prı́ncipe da paz. Enquanto a guerra se desenrola, aos povos nada resta
senã o o Miserere e o abandono na misericó rdia do Senhor, para que
triunfe sobre a justiça e, com uma graça superabundante, faça
reconsiderar os poderosos do sé culo e induzi-los a propó sitos de paz. .
2. O grito da minha alma. O que acontece no mundo em grande escala,
se reproduz em pequena escala na alma de cada um, se reproduz em
mim. Foi uma graça do Senhor que a malı́cia nã o me consumiu. Existem
certos pecados que chamarı́amos de tı́picos: o de Davi, o de Sã o Pedro
ou o de Santo Agostinho. Mas para onde eu teria vindo se nã o tivesse
segurado a mã o do Senhor? Por pequenas faltas, os santos mais
delicados faziam longas e duras penitê ncias. E muitos, mesmo os
modernos, só viviam de penitê ncias; há almas cuja vida hoje é uma
expiaçã o por seus pró prios pecados e pelos pecados do mundo. E eu, o
tempo todo, mais ou menos, sempre pecador, nã o deveria chorar
continuamente? Nã o pedi um elogio que me faz tremer: o pouco que sei
de mim mesmo já me confunde. A famosa resposta do cardeal Federico
nã o perdeu sua eloqü ê ncia e emoçã o.
Longe de mim olhar as comparaçõ es para uma espé cie de pedido de
desculpas. O Miserere pelos meus pecados deve ser minha oraçã o mais
familiar. Alé m disso, o pensamento de que sou um sacerdote e bispo - e,
portanto, especialmente dedicado à conversã o dos pecadores e ao
perdã o dos pecados - deve acentuar ainda mais a minha atitude. O que
é deixar-se açoitar, deixar-se lançar sobre a terra nua, sobre as cinzas,
morrer, senã o um contı́nuo Miserere da alma sacerdotal, ansioso por ser
sempre um an itriã o de expiaçã o pelos pecados de o mundo e por si
mesmo?
3. A grande misericórdia. Qualquer misericó rdia nã o é su iciente. O peso
das injustiças sociais e pessoais é tã o grave que um simples gesto de
caridade nã o basta para perdoá -las. E por isso que grande misericó rdia
é invocada. Isso é proporcional à pró pria grandeza de Deus. Porque
assim como é a sua grandeza, assim é a sua misericórdia (Si 2,18). Com
razã o, foi dito que nossas misé rias sã o o trono da misericó rdia divina. E
foi ainda melhor dito que o mais belo nome e denominaçã o de Deus é
isso: misericó rdia. Isso deve inspirar, em meio à s lá grimas, grande
con iança. A misericórdia triunfa sobre o julgamento (Tiago
2:13). Parece demais. Mas nã o é se todo o misté rio da Redençã o
repousa sobre ela; sim, para dar um sinal de predestinaçã o e saú de, isso
aparece indicado no exercı́cio da misericó rdia. Misericó rdia, Senhor,
por sua bondade, por sua imensa compaixã o apaga minha culpa.
V II : Por sua imensa compaixão apague minha culpa . A
misericó rdia do Senhor nã o é simplesmente um sentimento do coraçã o,
mas uma profusã o de benefı́cios. Se considerarmos quantas graças
descem à alma pecadora, simplesmente por causa do perdã o de Deus, é
como que para nos confundir: 1) a remissã o amorosa da ofensa; 2) a
nova infusã o da graça santi icadora, como um amigo, como um ilho; 3)
a reintegraçã o de dons, há bitos, virtudes ligados à graça; 4) a
restituiçã o do direito à herança celestial; 5) o reavivamento dos antigos
mé ritos antes do pecado; 6) o aumento da graça que é adicionado por
este perdã o à s graças anteriores; 7) o aumento dos dons que é
proporcional ao aumento da graça, assim como com o avanço do sol os
raios crescem e com o aumento da nascente os rios crescem.
V III: Limpe completamente meu crime, limpe meu pecado. A
sagrada con issão . Trê s verbos: apagar, lavar, puri icar. Uma progressã o:
em primeiro lugar, remova a mancha da iniqü idade; a seguir, lave bem,
ou seja, elimine qualquer apego, por menor que seja; en im, puri icar,
isto é , conceber um ó dio implacá vel à iniqü idade, praticando atos
contrá rios a ela, de humildade, mansidã o, morti icaçã o, etc., de acordo
com os diversos pecados. Trê s operaçõ es sucessivas. Exclusivamente a
Deus pertence o primeiro: apagar. A Deus, em colaboraçã o com a alma,
o segundo e o terceiro: lava, puri ica. Façamos o que nó s, pobres
pecadores, podemos fazer: arrepender-se e, com a ajuda do Senhor,
lavar e puri icar-nos. Temos certeza de que o Senhor fará a primeira
operaçã o. E rá pido e imediato. Entã o você tem que acreditar sem
hesitaçã o ou hesitaçã o. Eu acredito no perdã o dos pecados. As duas
operaçõ es sucessivas, que dependem da nossa cooperaçã o, requerem
tempo, progresso, esforço. Entã o, digamos: Lave meu crime
completamente, limpe meu pecado.
Este misté rio da nossa puri icaçã o realiza-se perfeitamente na santa
con issã o, pela intervençã o do sangue de Cristo, que lava e puri ica. A
virtude desse sangue divino, aplicado à alma, atua avançando de
con issã o em con issã o. Daı́ a importâ ncia da pró pria con issã o, com
o eu te absolvo ; e o uso da con issã o frequente para aqueles que fazem
uma pro issã o de espiritualidade, para os padres, para os bispos. Como
é fá cil para a rotina substituir a verdadeira devoçã o em nossas
con issõ es semanais. Temos aqui um bom mé todo para aproveitar esta
preciosa e divina prá tica: pela santa con issã o se veri ica a doutrina de
Sã o Paulo: Cristo tornou-se para nós sabedoria, justiça, santi icação e
redenção (1Cor 1,30).
Quando eu confesso, devo, portanto, pedir a Jesus que seja sabedoria
para mim pela luz que ele me dará no exame calmo, meticuloso e
detalhado de meus pecados e sua gravidade, para que eu possa
conceber a dor sincera deles. Faça-me justiça, apresentando-me ao
confessor como meu juiz, com uma acusaçã o sincera e dolorosa. Entã o,
a santi icaçã o perfeita, quando eu me curvar para receber a absolviçã o
do sacerdote, em cujo gesto a graça santi icadora é restaurada [ou
aumentada]. En im, a redençã o, no cumprimento da escassa penitê ncia
que me é imposta pela grande dor que mereceria: pouca na verdade,
mas copiosa satisfaçã o em estar unidos, como acontece no sacramento,
com o sangue de Cristo, que intercede, satisfaz, lava e puri ica, por mim
e comigo.
Essa lava de todas deve se tornar o lema sagrado de minhas con issõ es
ordiná rias. Eles sã o o crité rio mais seguro para medir meu progresso
espiritual.
V IV: Bem, eu reconheço minha culpa, sempre mantenho meu pecado
em mente . Conhecer a si mesmo com base na sabedoria antiga já era
uma boa base para uma vida honesta e digna. Servia para o exercı́cio
comum de humildade, que é a primeira virtude dos grandes
homens. Para o cristã o, para o eclesiá stico, a ideia de ser pecador nã o é
de forma alguma uma depressã o do espı́rito, mas um abandono
con iante e habitual no Senhor Jesus, que nos redimiu e nos perdoou; é
um sentimento vivo de respeito pelos outros e pelas almas, que protege
contra o perigo de nos orgulharmos de nossos sucessos. Este guardar
sempre a cela penitente no segredo da nossa intimidade, nã o é só um
refú gio para a alma que realmente se reencontra, e ico com a calma
para decidir e agir, mas també m se forja onde o zelo pelas almas, com
uma intençã o pura, com um espı́rito desinteressado, no sentido de
recolher os triunfos externos do nosso apostolado.
David precisava da voz do Profeta: Você é aquele homem, para
reagir. Mas entã o ele percebe a presença do pecado, uma presença
contı́nua diante dele, contı́nua e instrutiva. Estou sempre ciente do meu
pecado. Segneri observa muito bem que nã o é o caso de ter em conta os
per is de cada pecado, pois nã o é ú til nem edi icante; No entanto, é
conveniente ter em mente a memó ria das fraquezas do passado, que
servem de advertê ncia e geram santo temor e zelo pelas almas. Quã o
frequente é o pensamento de pecados e pecadores na liturgia. Ainda
mais na liturgia oriental do que na latina; mas em ambos de forma
bastante expressiva. Estou sempre ciente do meu pecado. Ou seja, antes
de mim. Como os pecados dos homens estavam presentes antes da
morte de Jesus no Getsê mani, antes de Pedro no auge de seu
magisté rio, antes de Paulo na gló ria de seu apostolado, antes de
Agostinho no esplendor da ciê ncia universal e da santidade episcopal.
Ai dos infelizes que, em vez de terem pecado diante dos olhos, o tê m
nas costas. Eles nunca serã o capazes de se proteger contra os males do
passado ou do futuro.
Segundo dia. Quarta-feira, novembro 27, 1940. V V: Contra você,
contra você só eu pequei, eu cometi o mal que você odeia . O pecado é a
ofensa de Deus e, só por isso, um grave mal. Todas as outras
consideraçõ es sã o secundá rias comparadas a esta: uma esposa
estuprada, um marido assassinado sã o pouco comparados a um Deus
injuriado. E assim que David entendeu e é assim que devemos
entender. Quã o diferente é o espı́rito do mundo. Ele nã o sofre pelo
Senhor ofendido, mas por algum fracasso que se segue, por algum
desastre ou infortú nio. Os santos nã o pensaram assim: eu disse: Senhor,
tem misericórdia de mim, cura-me, porque te ofendi (Sl 40,5).
Outro pensamento. Eu só pequei contra você. O pecado, mesmo aquele
que vai contra o pró ximo ou contra si mesmo, ofende diretamente a
Deus em sua santa lei. Ganha em gravidade porque é feito diante do
olhar de Deus. Deus me vê : este lema que as nossas pobres avó s
repetiam na aldeia como um exercı́cio grosseiro da rú stica arte do
bordado, ainda se conserva nas velhas paredes das nossas casas; e
conté m uma grande advertê ncia que serve para dar um tom de respeito
a todas as açõ es de nossa vida. Quã o profunda é esta doutrina da
onipresença de Deus, do seu olhar que nos persegue até nas dobras
mais recô nditas da nossa intimidade. Esse ponto daria para escrever
um tratado inteiro sobre ascetas. Aqui se funda a mais pura beleza das
almas sagradas, lisas como cristal, sinceras como á gua limpa, sem
pretensã o com os outros ou consigo mesmas - pois acontece que à s
vezes nã o somos sinceros conosco, que é o cú mulo do inconsciente -
mesmo no custo de parecer um homem pobre. Eles zombam da
simplicidade dos justos. Que pá gina esta de Sã o Gregó rio Magno.
V ́ VI: Olha, na culpa eu nasci, um pecador que minha mãe me
concebeu. Pode parecer uma desculpa, mas é uma declaraçã o mais
explı́cita da pró pria misé ria. David fala, sim, da lei do pecado original,
da mesma que Sã o Paulo exprimirá , a lei que se faz sentir nos membros
e que contradiz a lei do espı́rito, mas nã o para procurar uma fuga, um
pretexto, uma justi icativa. E preciso reconhecer que a malı́cia está em
nó s, pois, embora nã o falte a seduçã o das coisas externas, a graça de
resistir está totalmente à nossa disposiçã o e é mais forte que a
tentaçã o. Que diabo, disse o Prof. Tabarelli ao explicar o tratado De
gratia de San Apollinaris, os demô nios somos nó s. Nó s somos
responsá veis. O conhecimento que temos da fragilidade da natureza
humana deve ser para nó s, doutores das almas, motivo para sentir
pena, exaltar e encorajar os outros; mas nã o para nos desculpar.
Grande é a nossa responsabilidade pelo que toca para conservar a graça
que temos em mã os, pelo que toca para parar a natureza. Na natureza
pobre aninham-se as inclinaçõ es perversas da ambiçã o, orgulho, gula,
impaciê ncia, inveja, ganâ ncia, preguiça, luxú ria. Eles estã o dentro de
nó s - a imagem é de Segneri - como em uma grande gaiola de bestas,
ursos, lobos, tigres, leõ es, leopardos. Eles nã o fazem mal, contanto que
o portã o esteja fechado e você os tenha como presas. Parece que eles
nã o existem. Grace os manté m afastados. Mas, se isso cessar, entã o as
feras, seguindo seu instinto natural, sairã o para desabafar. Ele ergueu
muros e defesas para nos proteger (Is 26,1). Se a graça exterior e a graça
interior caem, paredes e defesas, que fracasso para um pobre cristã o,
para um pobre padre. Veja, eu nasci culpado, um pecador que minha
mã e me concebeu: nã o nossa boa mã e imediata de acordo com a
natureza, mas a velha mã e pecadora.
V VII: Você gosta de um coração sincero, e dentro de mim você
infunde sabedoria em mim. O salmista proclama em seu Deus o amor à
verdade. A verdade está em Deus como em sua fonte, Deus é toda
verdade; e Jesus, a Palavra divina, disse-o muito claramente: Eu sou a
verdade (Jo 14,16). Tal a irmaçã o seria digna de um louco, se nã o
tivesse saı́do dos lá bios de um Deus feito homem. O procurador romano
estava em uma boa situaçã o antes de tal declaraçã o feita por Cristo, e
perguntou-lhe: E o que é a verdade?
A verdade - diz o P. Segneri - é uma virtude transcendente, que entra em
todos os assuntos bem regulados e, dependendo da diversidade deles,
assume vá rios tı́tulos. Nas escolas, é chamado de ciê ncia; no falar,
veracidade; nos costumes, pureza; na conversa, sinceridade; na açã o,
retidã o; na contrataçã o, lealdade; no aconselhamento, liberdade; no
cumprimento das promessas, idelidade; nos tribunais tem o sublime
tı́tulo de justiça. Esta é a verdade do Senhor, que permanece para
sempre.
O amor pela verdade. Agradeço ao Senhor porque me deu uma
disposiçã o particular de dizer sempre a verdade, em qualquer
circunstâ ncia, diante de todos, com educaçã o e educaçã o, certamente,
mas com calma e sem medo. Algumas pequenas mentiras da minha
infâ ncia deixaram no meu coraçã o o horror do duplo e da
mentira. Principalmente agora que estou envelhecendo, quero antes de
mais nada ser um homem sé rio por causa disso: Amar a verdade. Que
Deus me ajude. Repeti isso muitas vezes, jurando sobre o evangelho.
A manifestaçã o das coisas incertas e ocultas da sabedoria divina vê m
por si mesmas. O amor à verdade é uma infâ ncia perene, fresca,
deliciosa. E o Senhor revela os misté rios mais profundos à s crianças,
enquanto os manté m escondidos dos inteligentes e dos chamados
sá bios do sé culo.
V ́ VIII: Polvilhe-me com o hissopo: icará limpo; lava-me: será
mais branco que a neve . Aqui nos referimos ao rito mosaico da
puri icaçã o dos leprosos. Deviam ser aspergidos pelo sacerdote com um
punhado de hissopo mergulhado em sangue e depois lavado
completamente, da cabeça aos pé s, com á gua pura. Há aqui uma alusã o
aos pecados, que contaminam o corpo aviltando a alma. O hissopo é
uma erva de aparê ncia ruim, mas muito forte. Ele se acende e se enraı́za
na pedra. Quanta necessidade de aspersã o tem a humanidade. Nã o é
sem razã o que Isaı́as vê Jesus como o grande borrifador. E na imagem
usada por Davi nos é permitido descobrir o anú ncio nã o só da graça
ligada ao rito mosaico, mas també m, mais ainda, a dupla aspersã o
reservada para a raça humana atravé s dos sacramentos do batismo e da
penitê ncia. Aquele que borrifa é ele mesmo, nosso Redentor. O
mesquinho é o altar de seu sacrifı́cio, assim como o mesquinho é o
hissopo; mas poderoso é seu sangue, derramado com divina
generosidade nos corpos e nas almas dos crentes, para sua
puri icaçã o. Que graça imensa é esta, que se difunde diariamente no
mundo atravé s dos dois sacramentos da reconciliaçã o e da
salvaçã o. Graças a eles, este pobre mundo se puri ica, se lança com uma
brancura superior à da neve.

Voltarei a este versı́culo novamente por ocasiã o de minha con issã o


semanal. Pulverize-me com o cotonete, estarei limpo. Que o Senhor me
puri ique de meu amor pró prio, que inclui - como diz Segneri - trê s
apegos: à minha vontade, ansioso para operar a seu pró prio modo; à
minha reputaçã o, que nã o tolera desprezo; aos meus confortos,
inimigos do sofrimento e amigos dos passatempos.
També m penso na aspersã o aos domingos na paró quia, antes da missa,
com á gua benta. Devemos retornar ao signi icado mı́stico de tais ritos e
fazer com que o povo cristã o goste deles. Como nã o lembrar o
aparecimento de Cristo que se apresentou como sumo sacerdote dos
bens vindouros, nã o com o sangue de bodes e bezerros, mas com o seu
pró prio sangue, adquirindo para nó s uma eterna redençã o, aspergindo
assim os ié is?
Terceiro dia. Quinta-feira, 28 de novembro de 1940. V ́ IX: Deixe-
me ouvir a alegria e alegria, deixe os ossos quebrados regozijar . O
anú ncio de perdã o. O Senhor esqueceu que seu pecado é motivo de
alegria e felicidade. Já o experimentamos muitas vezes, quando nos
levantamos dos pé s do confessor apó s a absolviçã o, especialmente por
ocasiã o dos Estados Unidos ou em alguma circunstâ ncia mais solene de
nossa vida. A alegria vem da inteligê ncia, a alegria vem do coraçã o. A
esse duplo sentimento responde també m a elasticidade espiritual e o
choque fı́sico do corpo: alegrem-se os ossos quebrados. Existem
expressõ es bı́blicas de surpreendente vivacidade neste ponto. Como
quando Isaı́as nos fala, seu coração se enche de emoção (Is 60,5) e em
Prové rbios diz-se que um coração feliz torna o rosto feliz (Pv 15,13).
O misté rio da alegria espiritual, que é uma caracterı́stica das almas
santas, aparece em toda a sua beleza e encanto. O Senhor nos deixa
inseguros quanto à nossa salvaçã o eterna, mas nos oferece uma sé rie de
indicaçõ es que bastam para nossa calma interior e fazer lorescer a
alegria. O mesmo Espírito testi ica junto com o nosso espírito que somos
ilhos de Deus (Rm 8,16). Isso nã o é pouco: sentir que somos ilhos de
Deus. Esta certeza, que muitas vezes está no coraçã o sem que o
percebamos, é a fonte inesgotá vel da nossa alegria, a base mais só lida
da verdadeira devoçã o. A verdadeira devoçã o consiste em desejar tudo
o que é o serviço pleno e amoroso do Senhor. Querê -lo com e icá cia e
rapidez: isso é o essencial. Amá -lo com alegria, isto é , com ternura de
afeto, com doçura, com deleite, com alegria: isso é acidental e
secundá rio, mas també m importante. O sentimento da bondade do
Senhor para conosco e nossas misé rias forma um complexo de alegria e
tristeza ao mesmo tempo. Mas a tristeza é amenizada: torna-se um
estı́mulo para o apostolado pelo ideal mais nobre: tornar Jesus Cristo
conhecido, amar e servir e tirar os pecados do mundo.
Diante dos meus olhos aparece o espetá culo da santidade, sorrindo em
meio a tribulaçõ es e cruzes. A calma interior, fundada nas palavras de
Cristo e nas suas promessas, produz a serenidade imperturbá vel que
emerge no rosto, nas palavras, no tratamento, que é um exercı́cio de
caridade conquistadora. Uma renovaçã o das energias fı́sicas e
espirituais ocorre em nó s: doçura para a alma e remédio para o
corpo (Pv 16:24). Viver em paz com o Senhor, sentir-se perdoado - e,
por sua vez, exercer o perdã o dos outros - estabelece aquela substâ ncia
e abundâ ncia de que fala o salmista e faz o Magni icat lorescer para
sempre em nossos lá bios.
V X: Desvie sua visão do meu pecado, apague toda a culpa de mim. O
apelo do rei arrependido torna-se insistente e se estende até que ele
compreenda todos os pecados cometidos por ele, exceto o mais grave
que o Salmo Miserere determinou . Como é emocionante esta invocaçã o
da face do Senhor, ou seja, os olhos, a expressã o, um traço caracterı́stico
que expressa indignaçã o e raiva. Esse rosto reaparecerá no ú ltimo dia e
será confusã o e horror eterno para o ré probo.
Devo me familiarizar com esse versı́culo, por meio de um renovado
escrú pulo. Nã o devemos ter medo de confessar pecadores. Qualquer
exagero nas formas se arruı́na, e cada um deve se expressar de acordo
com seu temperamento; mas, como sempre precisamos do perdã o do
Senhor, devemos sempre nos manter em atitude de sú plica e con iança
na misericó rdia divina. Coraçã o contrito e humilde, Senhor, nã o
desprezes. David vai te contar muito em breve. Mas é conveniente nã o
perder nenhuma das formas que podem expressar esta humilde
contriçã o.
V ́ XI: Ó Deus, cria em mim um coração puro, renova-me por
dentro com um espírito irme. O coraçã o é a vontade e o espı́rito a
compreensã o. Assim, uma vontade pura e um intelecto renovado sã o
necessá rios. Quantos laços, quantas tentaçõ es assediam a vontade,
principalmente por parte do sentimento: objetos, pessoas,
circunstâ ncias. A seduçã o do ambiente, talvez um encontro casual, a
coloca à prova. O coraçã o nã o se sustenta sozinho. Quando foi
estragado, permitindo-se ser enfraquecido pelas super luidades, uma
nova criaçã o se torna necessá ria. Os patches sã o de pouca
utilidade. Logo ele cai de volta. O coraçã o de Paulo, o coraçã o de
Agostinho, era uma nova criaçã o. Meu Deus, que maravilha. Uma vez
que a nova direçã o foi tomada, essas vontades nã o se desviaram nem
um pouco. Na hora extrema, eles continuaram a ressoar como metal
dourado.
Isso é su iciente para renovar o espı́rito certo, ou seja, a penetraçã o da
inteligê ncia no que é mais importante no julgamento e na açã o. Trata-se
de uma visã o mais exata dos princı́pios que inspiram o pró prio
comportamento, um conhecimento mais adequado do que
praticamente cada um deve fazer. Essa reforma deve, antes de tudo, ser
interna e profunda - por dentro - para que depois possa ser expressa
externamente nas vá rias manifestaçõ es da vida: reforma no falar, no
ver, no ouvir, no escrever; um novo estilo de vida que responde a uma
nova concepçã o do mesmo.
V ́ XII: Não me afaste do teu rosto, não tire o teu espírito santo de
mim. A puniçã o mais grave que Davi poderia impor a seu ilho Absalã o
por sua traiçã o foi esta: Você nunca mais verá meu rosto. Entende-se
por que ele implora ao Senhor que nã o o rejeite de sua presença. Uma
coisa é Deus desviar seus olhos da iniqü idade, e outra é desviar o
pecador de sua vista. Quã o impressionante e tremendo o misté rio da
face do Senhor é revelado aqui. E como, ao contrá rio, é a alegria
suprema da alma compreendida à vista da face do Senhor. Que o Senhor
me conceda a graça de nã o ser rejeitado. Que ele me admita em sua
misericó rdia, mesmo quando eu for o ú ltimo e o mais indigno de
contemplá -lo sem im.
Outro ponto: a presença do Espı́rito Santo na alma iel. Aqui, na falta de
livros e comentá rios, nã o posso veri icar se este Espı́rito Santo do
Senhor deve ser identi icado com a terceira Pessoa da Santı́ssima
Trindade. Mas me parece ó bvio supor. A atividade da graça na alma se
expressa nas palavras: Viremos a ele e viveremos nele (Jo 14,23). E sobre
as trê s Pessoas divinas. Cada um ocupa sua posiçã o com propriedades
pessoais caracterı́sticas. O Espı́rito Santo é Senhor e doador de vida. A
santi icaçã o da alma o toca. Nã o é o templo cristã o vivo do Espı́rito
Santo? E que riqueza de frutos para a alma é derivada desta
permanê ncia do Espı́rito do Senhor nela. Sã o Paulo os lista. Eles tê m
vinte e quatro anos. Eles começam com paz e alegria.
Quarto dia. Sexta-feira, 29 de novembro de 1940. V ́
XIII: Devolva-me a alegria da sua salvação, proteja-me com um espírito
generoso. Devolva-me a alegre certeza de que será minha salvaçã o: a
feliz certeza do seu Salvador. A verdadeira alegria de uma alma
perdoada, o primeiro fruto do Espı́rito Santo, que habita em nó s,
consiste em sentir-nos contados na multidã o dos eleitos. E tudo, pelos
mé ritos de Jesus, que derramou seu sangue para resgatar nossa alma,
para penetrar nela de sua virtude e de sua vida. Essa segurança deve
ser acompanhada pelo medo, porque carregamos o tesouro da graça em
um vaso frá gil; um pequeno tropeço pode nos colocar em perigo: o
vidro se quebra de novo: coitados de nó s. Mas se izermos tudo o que
pudermos, o Senhor preservará a graça para nó s: aquela graça deliciosa
de sentir para sempre, aquela maravilha da familiaridade eterna que
reservamos para o dia que nunca terá im. E o pensamento de que
nosso salvador é Jesus. David cantou nostalgicamente pelo Antigo e
Novo Testamentos, quanta alegria isso espalha em meu espı́rito, de
manhã à noite. Os antigos cristã os sintetizaram esta doutrina nos
peixes: Jesus Cristo, o Filho de Deus Salvador, e colocaram-na como
sı́mbolo sobre os tú mulos, como anú ncio da ressurreiçã o e, ao mesmo
tempo, como vé u do misté rio eucarı́stico, conhecido apenas por os
iniciados. O que é mais suave para mim, padre e bispo, do que o contato
diá rio com o grande sacramento, promessa de gló ria futura?
E o espı́rito generoso? E a condiçã o indispensá vel para que a alegre
segurança do paraı́so permaneça em nó s. E uma fonte habitual de ajuda
contı́nua, que manté m a alma constantemente inclinada para o bem,
como acontece com os santos no cé u, sem hesitaçã o; uma con irmaçã o
na graça, um dom ú nico que o Senhor concede sem sequer dar a
conhecer à criatura eleita, para que a incerteza de possuı́-la ajude o
exercı́cio de muitas virtudes que dela decorrem: medo casto, vigilâ ncia,
humildade, recurso perpé tuo Deus e outros.
Davi també m implorou por esse dom e o chamou de espı́rito nobre, isto
é , nã o um plebeu, mas digno de um prı́ncipe muito escolhido, um
espı́rito elevado, desinteressado, nã o contaminado pelo amor pró prio,
preocupado apenas com Deus, com sua gló ria. Sã o Paulo també m
implorou por isso, mas no ato de submeter seu corpo à morti icaçã o e
disciplina, tremendo que depois de pregar aos outros, eu seria
desquali icado. Eu també m, Senhor, imploro com Davi e Paulo, mas tã o
mesquinhos por seu lado. També m o imploro, como uma grande graça:
aquele espı́rito que me con irma no sentimento baixo de mim mesmo,
no meu nada, na saudade pura de ti, pela qual só tenho que viver,
porque tu morreste por mim.
V ́ XIV: V ensinar os maus seus caminhos, os pecadores vão
voltar para você. O meu sacerdó cio nã o é apenas um sacrifı́cio pelos
pecados do mundo e pelos meus, mas també m um apostolado da
verdade e da caridade. E a isso que minha vocaçã o me leva. O
pensamento de quã o pouco iz até agora e o perdã o que o Senhor
concedeu à s minhas misé rias passadas devem induzir-me com maior
fervor. Os caminhos do Senhor são amor e lealdade (Sl 25:10). E aı́ que
devo me distinguir. Nã o preciso ser professor de polı́tica, de estraté gia,
de ciê ncias humanas: há muitos professores nessas disciplinas. Eu sou
um professor de misericó rdia e verdade. Assim poderei ser digno
també m na ordem social, pois també m se diz no Salté rio: O amor e a
idelidade se encontrarão, a justiça e a paz se envolverão (Sl 84,11). Meu
ensino deve prosseguir com palavras e exemplos; raciocı́nios e
advertê ncias dos lá bios, exemplos da minha conduta antes de todos:
cató licos, ortodoxos, turcos, hebreus. As palavras se movem; exemplos
arrastar.
Os pecadores voltarão para você . O problema da conversã o do mundo,
ı́mpio e prevaricante, conté m um dos problemas mais angustiantes do
meu espı́rito. Poré m, nã o cabe a mim resolvê -lo: é um segredo do
Senhor. Cabe a mim, todos os sacerdotes, todos os cató licos, cooperar
na conversã o do mundo in iel, no retorno dos hereges e cismá ticos à
unidade da Igreja, na proclamaçã o de Cristo també m entre os judeus
que eles mataram. Nã o somos responsá veis pelo resultado. O ú nico
consolo, su iciente para nossa tranquilidade interior, é saber que Jesus
Cristo está muito mais interessado do que nó s na salvaçã o das
almas. Ele quer salvá -los com a nossa cooperaçã o, mas o que os salva
em ú ltima instâ ncia é a sua graça, e a sua graça nã o faltará no momento
oportuno. Este momento será uma das mais agradá veis surpresas do
espı́rito, glori icado no cé u.
V ́ XV: Livra-me do sangue, ó Deus, Deus, meu Salvador, e minha
língua cantará a tua justiça . Meu bom padre Segneri dedicou a este
versı́culo nada menos que quinze pá ginas de comentá rio, em que diz
coisas belas, mas que tê m um ar de divagaçã o barroca. Para mim a
interpretaçã o é mais simples e prá tica. Quem sã o essas pessoas
sanguiná rias de quem o salmista real pede ao Senhor para libertá -
lo? Nã o sei a interpretaçã o dos exegetas. Pre iro considerá -los
referindo-se a mim mesmo.
1. Os movimentos interiores da luxú ria carnal, herança da fraqueza da
natureza, do sangue rançoso que corre nas veias da raça humana desde
a primeira fonte da Eva pecadora. O passar dos anos - quando se
caminha, como eu, pelos anos sessenta - apaga um pouco o mau humor,
e é sinceramente agradá vel notar o silê ncio e o repouso da carne, que se
torna velha e insensı́vel aos estı́mulos que turva os anos de vigor jovem
ou maduro. Mas você tem que ter cuidado.
2. Apego excessivo aos familiares que, ultrapassando os limites da
caridade, torna-se um estorvo e uma amarra. A lei do apostolado e do
sacerdó cio é superior à lei da carne e do sangue. Amar, pois, os meus
familiares e amigos ı́ntimos, para remediar a sua eventual pobreza -
uma obrigaçã o para quem faz tantas esmolas a estranhos - mas tudo
com discriçã o, com um espı́rito primorosamente sacerdotal, com ordem
e imparcialidade. Meus parentes mais pró ximos - irmã os, irmã s,
sobrinhos - sã o, com raras exceçõ es, cristã os exemplares e uma fonte de
conforto para mim. Mas tome cuidado para nã o me deixar ser
perturbado por seus assuntos e problemas, de modo que isso me
distraia de minha missã o de servo da Igreja e bispo.
3. O sentimento de amor pela pá tria, que é legı́timo e pode ser santo,
mas també m pode degenerar em nacionalismo, extremamente
prejudicial à dignidade do meu ministé rio episcopal. Deve ser mantido
acima das questõ es nacionalistas. O mundo está intoxicado com
nacionalismo doentio, baseado em raça e sangue, em contradiçã o com o
evangelho. Especialmente neste ponto, que é surpreendentemente
atual, livra-me do sangue, meu Deus. Aqui a invocaçã o vem a calhar:
Meu Deus Salvador, o Salvador Jesus, que morreu por todas as naçõ es,
sem distinçã o de raça ou sangue, sendo o primeiro dos irmã os da nova
famı́lia humana, fundada nele e no seu evangelho.
Com quanta decisã o e com que maior liberdade a linguagem do
sacerdote e do bispo, livre dos obstá culos terrenos, poderá anunciar a
todos os preceitos do Senhor, louvar com alegria a sua justiça, a sua
misericó rdia, a sua paz, em nome do Pai , que é Deus de justiça, do
Filho, que é Deus de salvaçã o, e do Espı́rito Santo, que é Deus de paz. No
gozo desta liberdade sagrada, o ministé rio das almas torna-se mais
alegre. Teus decretos são o objeto de minha canção na mansão de minha
peregrina (Sl 118,54). Vinde, alegremo-nos ao Senhor, aclamemos a
rocha que nos salva (Sl 94,1).
V ́ XVI: O Senhor abrirá meus lábios e minha boca proclamará
seu louvor . Este é um dos versı́culos mais agradá veis de todo o salmo. A
oraçã o das Matinas - sacrifı́cio de louvor - do sacerdote, começa com
aquelas palavras, que tanto inspiram poesia e ternura à alma. O padre
també m é professor, e seus lá bios devem proteger a ciê ncia. Seria bom
começar palestras, sermõ es e todas as formas de ensino com esta frase:
Senhor, abre meus lá bios. Por esta invocaçã o começa todo o ofı́cio,
distribuı́do nas vá rias horas da noite e do dia. Entoado assim, todo o
sagrado ministé rio da palavra continua, que é a proclamaçã o da boa
nova, a exaltaçã o da verdade religiosa, um hino de gló ria ao Senhor.
Quando o P. Segneri chega a este verso, dá um verdadeiro salto de
oitava e, independentemente do primeiro sentimento dos inté rpretes
sagrados, leva a alma na sua contemplaçã o para ver nela o seu louvor
proclamará a exaltaçã o da maior obra realizada pelo Senhor, no qual
utilizou a plenitude de seus atributos, ou seja, o fundamento da santa
Igreja, ocorrido dez sé culos depois de Davi, mas por ele imaginado
como a obra-prima de Deus por meio de seu Cristo. Diz-se, de fato, em
outro lugar: Grande é o Senhor e digno de louvor na cidade do nosso
Deus (Sl 47,1). Mais onde? Na terra? Na á gua? No ar? No fogo? No cé u?
Nas estrelas? No sol? Nã o; antes, na cidade de nosso Deus, no seu
monte santo. Segneri encontra motivos para concluir que, procurando
David prestar a Deus o maior louvor possı́vel como contrapartida dos
muitos bens recuperados com o perdã o obtido, escolheu este como o
tema principal da harpa para o concerto. Ela seria a obra mais ilustre de
todos os sé culos, e ele, que a admirava com espı́rito profé tico, queria
para si a honra de anunciá -la. Minha boca proclamará seu louvor.
Se pensarmos que estas palavras se repetem sempre nas Matinas, em
nome da Igreja, que reza por si mesma e pelo mundo inteiro, e pelos
milhares e centenas de milhares de bocas abertas ao toque da graça que
invocamos, entã o amplia o panorama e, ao ser iluminada, se
completa. A Igreja se apresenta nã o como um monumento histó rico do
passado, mas como uma instituiçã o viva. Nã o é a santa Igreja como um
edifı́cio que é construı́do depois de um ano. E uma cidade vasta que
deve ocupar todo o universo: o Monte Sião é uma bela altura, alegria do
mundo, o extremo norte, capital do grande rei (Sl 47,3). A construçã o
começou há vinte sé culos, mas continua e se espalha por todas as terras
até que o nome de Cristo é adorado em todos os lugares. E à medida
que prossegue, o novo povo salta de alegria com o anú ncio: Causa
grande alegria a todos os irmãos (He 15,3). O pensamento inal do
piedoso e audacioso comentador é també m belo, edi icante para todo
sacerdote que reza o breviá rio: convé m que cada um esteja atento à
construçã o dessa santa Igreja. Quem se dedica a tã o bela obra por meio
da pregaçã o, diga ao Senhor como anú ncio do seu evangelho: Senhor,
abrirás os meus lábios e a minha boca proclamará o teu louvor. Quem
nã o é missioná rio, anseia també m por cooperar no grande esforço do
apostolado e, quando recita os salmos sozinho na sua cela, diga ao
Senhor que o Senhor abre os lábios, porque també m aı́, pela
comunicaçã o da caridade, vó s deve-se considerar como sua linguagem
qualquer linguagem que está naquele momento anunciando o
evangelho, que é o supremo louvor divino que serviu de assunto deste
versı́culo, mais carregada de misté rios, escondidos em segundo plano,
do que de palavras.

Quinto dia. Sábado, 30 de novembro de 1940: Festa de Santo André


Apóstolo. V ́ XVII: O sacri ícios não o satisfazem: Se eu lhe
oferecesse um holocausto, você não iria querer. Essas palavras revelam a
prontidã o de Davi para o sacrifı́cio, para todo o sacrifı́cio. A impressã o
do pecado cometido continua pesando em seu coraçã o. Desde que ele
aprendeu a profundidade de seu duplo crime, o estupro da esposa de
outro e o assassinato de um homem inocente - e ele levou um ano para
entender isso - ele sentiu que a expiaçã o apropriada seria a morte. Isso
é o que, ao mesmo tempo, teria correspondido à legislaçã o
mosaica. Mas, já que o profeta Natã lhe havia assegurado: O Senhor
perdoa o seu pecado, você não vai morrer, o rei sabia que era sua
obrigaçã o dar ao Senhor tudo que fosse expressã o de morte, ou seja, de
aniquilaçã o total antes do ofendeu a majestade divina: daı́ o sacrifı́cio
de acordo com as prescriçõ es legais, e, uma vez que era rico alé m da
medida, um sacrifı́cio mais copioso em holocaustos, em vı́timas da
terra. Mas o Senhor nã o queria dele as formas de sacrifı́cio prescritas
aos hebreus vindos do Egito, acostumados a manusear palha, terra e
cal. Para um progenitor de Cristo, para um homem feito segundo o
coraçã o de Deus, essas eram formas muito vulgares de adoraçã o e
expiaçã o. E por isso que o Senhor nã o os queria dele: holocaustos nã o
me agradam. Nã o menos, poré m, foi seu mé rito em apresentá -los: por
se mostrar disposto em qualquer caso a cumprir a vontade divina.

Pronta disponibilidade para o sacrifı́cio, como o Senhor o quer


particularmente de cada um e na medida que Ele quer, o que deve ser
um grande ensinamento e advertê ncia para mim. Essa é a devoçã o mais
segura e leal. Nã o consiste simplesmente em derramar doces lá grimas
durante a oraçã o, mas em ter uma perfeita disposiçã o de vontade para
qualquer serviço divino. Meu coração está pronto, ó Deus, meu coração
está pronto (Sl 65,8) para muito e para pouco, para o que Deus quer e
para o que Deus nã o quer e que, portanto, nã o deve ser feito. Quantas
decepçõ es neste momento. Nó s facilmente forjamos formas de serviço
ao Senhor que nada mais sã o do que nosso gosto, nossa ambiçã o, nosso
capricho. A soberba do teu coração te enganou, tu que viveste nas
cavernas das rochas (Abd 3): mal sabes dar, a serviço de Deus, um passo
para fora dos buracos em que te encontras, como um tarâ ntula, para se
refugiar da adversidade dos tempos, e quer se convencer de que voaria
como uma á guia, se fosse chamado para alé m das montanhas e dos
mares. Você se engana em sua devoçã o e nã o percebe isso. Cuide para
que a disposiçã o da vontade se manifeste nas obras que visam cumprir
a vontade do Senhor, como você s sabem dia apó s dia, e nã o se
demonstram apenas pelo fervor dos suspiros.
V ́ XVIII: Meu sacri ício é um espírito quebrantado; um coração
quebrantado e humilde, você não despreza. O que mais agrada ao Senhor
é o sacrifı́cio e um espı́rito perturbado, ou melhor, uma contribuiçã o,
visto que o sofrimento fı́sico do corpo muitas vezes se soma ao
sofrimento do espı́rito, que a alma tanto desempenhou em fazer o
mal. Elevar esta doutrina acima das contingê ncias particulares de Davi,
pecador arrependido, nos coloca diante do grande misté rio da cruz e do
sofrimento, que constitui o caminho mais seguro para a perfeiçã o
sacerdotal e episcopal.
Na minha aposentadoria de Roustchouk, em maio de 1930, permaneci
totalmente devotado a esta doutrina que, aliá s, me foi apresentada com
evidê ncias surpreendentes quando me prostrei diante do altar de Sã o
Carlos, em Roma, como parte do rito de minha episcopal consagraçã o, e
eu me levantei dessa cerimô nia levando mais vivo o traço, pelo menos
virtual, da semelhança com Cristo cruci icado. Deixe-me bê bado na
cruz. Devo repetir esta invocaçã o com freqü ê ncia. Até agora, sofri
pouco. Uma certa alegria de temperamento, que é um grande dom do
Senhor, manteve-me fora das a liçõ es que acompanham os espı́ritos
intré pidos e generosos, lançados como chamas vivas à s obras do zelo
pastoral. Mas é muito natural que, antes que minha pobre vida acabe, o
Senhor me visite com tribulaçõ es particularmente dolorosas. Sim, estou
disposta, desde que o Senhor, que os envia a mim, també m me conceda
a força para enfrentá -los com calma, com dignidade, com doçura. Li na
vida da ú ltima amante das noviças destas Irmã s de Siã o, das quais sou
uma feliz hó spede - Madre Maria Alfonsa -, que o espı́rito deste
Instituto consiste na abnegação souriante . Essa palavra vem a mim de
propó sito. Deseo estar siempre muy atento al sacri icio interior,
soportado con humildad, con espı́ritu de penitencia, con corazó n
contrito— corazó n contrito como cenizas—, como se dice de todos los
personajes má s insignes del Antiguo Testamento, como se lee de los
santos má s populares del Novo Testamento. Basta lembrar Sã o
Francisco de Assis, cuja oraçã o era sempre a mesma: Jesus, tem piedade
de mim, pecador. Para formar este espı́rito contributivo, a celebraçã o
cuidadosa e fervorosa da Santa Missa, que me introduz no Getsê mani,
no santuá rio mais ı́ntimo das dores de Jesus, e na sucessã o de tantos
espinhos diá rios, nos quais devo me esforçar para encontrar o acordo
perfeito entre condescendê ncia, paciê ncia, resignaçã o e justiça,
dignidade, paz.

V ́ XIX: Senhor, por tua bondade, favorece Sião, reconstrói os


muros de Jerusalém. Aqui a exegese bı́blica tem a oportunidade de se
aplicar magni icamente à busca dos trê s sentidos: literal, alegó rico ou
mı́stico e analó gico. O profeta real, livre de sua culpa, pronto para o
sacrifı́cio, contempla o futuro e deseja-o de glori icaçã o para seu Deus
misericordioso. A bondade que invoca pela sua casa, aninhada em Siã o,
e que lhe permitirá reconstruir os muros da cidade real, aponta para a
vinda de Cristo Salvador, como diz Sã o Paulo: Deus, nosso Salvador, pela
manifestação da sua bondade e seu amor pelos homens, ele nos
salvou (Tit 3,4). Siã o cobrará a sucessã o dos reis de Judá , que entã o
passará para Constantino, ou melhor, para a monarquia religiosa
pontifı́cia mais segura e indefectı́vel. Jerusalé m é a santa Igreja, que
estende seus pavilhõ es a todas as partes do mundo e tem paredes
só lidas e fortes, à s vezes rompidas aqui e ali, mas logo reconstruı́das e
defendidas melhor do que nunca. Da Jerusalé m mı́stica, ou Igreja
militante, o olhar sobe para a Jerusalé m celeste, ou Igreja triunfante,
que nos espera na consumaçã o inal. As ú ltimas notas do Miserere de
David dã o o tom ao Apocalipse de Sã o Joã o, que termina, apó s a
descriçã o da bendita visã o da paz com o Vinde, Senhor, Jesus (Ap 22,20).

Minha pobre alma també m permanece extasiada e cheia de ternura em


meio a tais clarõ es, tirando daı́ coragem para cooperar com o melhor de
minha capacidade para a a irmaçã o do espı́rito de Jesus de Siã o e para a
extensã o, para a reconstruçã o dos muros de Jerusalé m, ao serviço da
Santa Igreja, como a Providê ncia providenciou para mim, o ú ltimo dos
bispos e dos representantes da Santa Sé , embora esteja ansioso por nã o
desonrar a minha vocaçã o.
Esses anos restantes de minha vida devem ser os melhores de uma
cooperaçã o sé ria e efetiva, digna do grande trabalho realizado pela
Igreja Cató lica, desde as alturas santi icadas de Siã o até as encostas de
Jerusalé m. Que Jesus aceite pelo menos o bom propó sito e o abençoe
graciosamente.
V ́ XX: Então você aceitará os sacri ícios rituais, ofertas e
holocaustos, em seu altar os touros serão sacri icados. E sobre o grande e
verdadeiro sacrifı́cio que Jesus ofereceu de si mesmo por nó s,
quando Cristo nos amou e se entregou a Deus por nós como oferta e
sacri ício com cheiro agradável (Ef 5,2). Davi o contemplou de longe e
icou surpreso: um verdadeiro sacrifı́cio de justiça e expiaçã o universal
que, do topo da montanha sagrada que ica entre Siã o e Moriá , deveria
consumar todos os sacrifı́cios do universo e ao mesmo tempo espalhar
uma virtude divina sobre todos os sacrifı́cios que mais tarde seriam
celebrados nos membros de todos os milhares e bilhõ es que, ao longo
dos sé culos, seduzidos pelo ardor da cruz, ofereceriam um espetá culo
de penitê ncia e sofrimento, na participaçã o do corpo mı́stico de Cristo .
Em torno desta cruz é bonito contemplar oblaçõ es e
holocaustos. Existem os apó stolos, os confessores, os má rtires, os
santos de todos os tempos, as virgens, cuja vida foi e continua a ser a
gló ria da Santa Igreja, todo ardor, todo sacrifı́cio, todo sangue. Ele os
aceitou como holocausto (Sb 3,6). Conjunto de oblaçõ es e holocaustos,
muitas vezes ignorados e ocultos, que sobem ao Altı́ssimo com voz de
propiciaçã o em todo o mundo. E o bezerro ou bezerros colocados no
altar? Os comentadores concordam em ver aqui uma imagem da
Sagrada Eucaristia, pela qual o sacrifı́cio da cruz é misticamente
perpetuado e renovado, e nã o menos realmente. Que honra para um
sacerdote e um bispo, neste ministé rio que lhe foi con iado, colocar
diariamente a vı́tima divina no altar. Mas que responsabilidade perante
o cé u e a terra. Senhor Jesus, afundo no meu nada, imploro misericó rdia
e perdã o pelas minhas misé rias, renovo a consagraçã o da minha vida ao
teu culto, ao teu amor, ao teu altar. Misericó rdia, Senhor, misericó rdia.
1942
EUA EUA com meu clero Da festa
de Cristo Rei à de Todos os Santos Istambul (25-31 de outubro)
1. No ano passado nã o pude fazer os Exercı́cios, por mais ocupado que
estava, na Gré cia, no exercı́cio das obras de misericó rdia, em nome do
Santo Padre. Este ano gostaria de ter voltado com o PP. Jesuı́tas, como
em 1939. Mas persistem os motivos que desaconselham qualquer
movimento de gente naquela casa; os pró prios pais estã o duvidosos e
assustados. Decidi, portanto, contentar-me com os Exercı́cios em casa,
como em 1935 e 1937. Convidei també m o Exmo. Srs. Kiredjian,
arcebispo dos armê nios, e Varuhas, ordiná rio dos gregos de rito
bizantino. Trouxe seus trê s eclesiá sticos: os Padres Bası́lio e Policarpo e
o Diá cono Haralampos. As cabeças dos trê s ritos foram acrescentadas:
Chami, dos Melquitas; Fakir, dos sı́rios, e Nikoloff, dos bú lgaros. Os
bispos e estes trê s chefes de rito icam para comer na delegaçã o. Ao
todo, quinze praticantes de exercı́cios: um bom nú mero. Pe. Folet, um
jesuı́ta francê s, prega com sucesso e com viva insistê ncia na Sagrada
Escritura. Silê ncio em casa e idelidade aos horá rios: um conjunto de
boas disposiçõ es por parte de cada um e de todos, que dá prazer ao
espı́rito e edi icaçã o mú tua.
2. Na festa dos Santos Simã o e Judas, confessei-me com o P. Folet,
depois de celebrar a Santa Missa e assistir ao Padre, em preparaçã o
para o sacramento da puri icaçã o. Estendi meu exame e acusaçã o para
os dois anos de 1940 até agora. Penitê ncia: reze o Miserere e
o Magni icat. Mas tenho que me acostumar com penitê ncias muito
diferentes, se quero entrar no cé u com facilidade e honra. Que o Senhor
me conceda um espı́rito de penitê ncia cada vez maior. O tempo de
grande penitê ncia para o mundo inteiro está se aproximando. E justo
que os bispos e padres sigam em frente. Como Sã o Carlos Borromeu e o
Card. Federico, nos dias da calamidade: iam em procissã o, descalços,
com uma corda ao pescoço e um saco na cintura, carregando a relı́quia
da Santa Cruz.
3. Minha dor persistente, que muitas vezes é um anseio secreto,
continua a mesma, a mesma de sempre: nã o ser capaz de acompanhar o
ritmo das coisas a fazer, ter que estar constantemente vigilante para
superar a acidez do meu cará ter, inclinado à tranquilidade , caminhar
devagar, ainda sem parar para se mover por um momento. Essa dor me
humilha e gostaria de icar triste. Devo recolher tudo o que é motivo de
humilhaçã o e tomar boa nota; mas nã o perca a calma e a paz
interior. Essa é a minha tortura. Nã o chegar mais cedo pode depender
de vá rias causas; por exemplo, de um verdadeiro excesso de trabalho,
das circunstâ ncias particulares da minha posiçã o aqui e na Gré cia. Mas
devo preferir reconhecer minha inadequaçã o neste estado de
coisas. Sofra pelo menos com paciê ncia, se nã o puder com alegria, como
diz o Kempis. Há també m a outra frase do mesmo livro de A Imitação de
Cristo : que nã o devo me considerar verdadeiramente humilde até que
reconheça que sou verdadeiramente inferior a todos.

4. Os pontos fundamentais da vida espiritual sã o irmes, graças a


Deus. Desapego absoluto do meu nada; abandono completo na vontade
do Senhor; desejo de viver exclusivamente para fazer um pouco de
apostolado e de bom serviço à Santa Igreja; nenhuma preocupaçã o com
meu futuro; prontidã o para qualquer sacrifı́cio, até mesmo o da vida —
se o Senhor me considerar digno de tanto—, para a gló ria divina, para o
cumprimento de meu dever; grande fervor de vida espiritual, na
direçã o da santa Igreja e da melhor tradiçã o, sem exagero de formas ou
mé todos externos; zelo vigilante e manso com atençã o a tudo, mas
sempre com muita paciê ncia e doçura, lembrando o que Card. Mercier:
essa doçura é a plenitude da força; en im, a familiaridade com o
pensamento da morte, que serve para dar à vida tantas facilidades e
alegrias.
5. Acho um pouco morti icante voltar à s mesmas coisas, mas é uma
necessidade do meu espı́rito. Por isso, renovo o propó sito da minha
idelidade à prá tica de rezar as matinas sempre à noite, o que me
garante tempo para meditaçã o pela manhã ; o estudo das lı́nguas turca e
grega. Há alguns meses venho me aplicando em grego e estou
feliz. Assim que puder, recorrerei ao turco, nã o porque pretenda ser
advogado nessas lı́nguas, mas simplesmente para cumprir o meu dever
e dar um bom exemplo aos meus sucessores.
6. O ministé rio na Gré cia é o mais difı́cil para mim. Nestes meses,
poré m, ele me deu os maiores confortos. Enquanto estiver aqui em
Istambul, jamais gostaria de partir para aquele paı́s que se tornou
um locus tormentorum . Mas quando estou lá , sou como um peixe em
seu elemento. A ideia de que o Bispo Giacomo Testa está a trabalhar lá e
a fazê -lo bem dá -me grande consolo, mas pouco diminui as minhas
responsabilidades, enquanto a Santa Sé achar conveniente preservá -las
para mim.
7. Os dois grandes males que envenenam o mundo hoje sã o o
secularismo e o nacionalismo. A primeira é caracterı́stica dos
governantes e leigos. Os eclesiá sticos també m contribuem para o
segundo. Estou convencido de que os italianos, especialmente os padres
seculares, estã o menos contaminados. Mas devo estar muito vigilante,
como bispo e como representante da Santa Sé . Uma coisa é o amor pela
Itá lia, que sinto fervendo no meu coraçã o, e outra coisa é a a irmaçã o
disso em pú blico. A santa Igreja, que represento, é a mã e das naçõ es, de
todas as naçõ es. Todas as pessoas com quem entro em contacto devem
admirar no representante papal aquele sentimento de respeito pela
nacionalidade de cada um, embelezado pelos bons modos e suavidade
de julgamento, que conquista a con iança universal. Portanto, muita
prudê ncia, silê ncio respeitoso e correçã o em todos os momentos. Será
bom que eu insista que esta linha de conduta seja seguida por aqueles
que me rodeiam, dentro e fora do paı́s. Mais ou menos, estamos todos
infectados com o nacionalismo. O delegado apostó lico deve ser
encontrado e mostrar-se livre de contá gio. Deus me ajude.
8. Vivemos uma é poca de grandes acontecimentos e diante de nó s está
o caos. Precisamos tanto mais ir aos princı́pios bá sicos da ordem social
cristã e julgar os fatos de acordo com a doutrina evangé lica,
reconhecendo, no terror e no horror que nos cerca, as terrı́veis sançõ es
que a lei divina impõ e até na terra. O bispo deve distinguir-se na visã o e
na difusã o, como é devido, desta iloso ia da histó ria, mesmo da histó ria
que agora acrescenta pá ginas de sangue a pá ginas de desordem polı́tica
e social. Desejo reler o De civitate Dei de Santo Agostinho e fazer dessa
doutrina suco e sangue para julgar tudo, diante de quem se aproxima
do meu ministé rio, com sabedoria que ilumina e conforta.
9. O bom Padre Renato Folet, que prega os Exercı́cios com um sentido
impregnado das Sagradas Escrituras, saiu certa vez daquelas pá ginas
para apresentar uma imagem do bispo perfeito, com as palavras de
Santo Isidoro de Sevilha pronunciadas em homenagem a Sã o Fulgê ncio.
(Liber II, Of iciorum , cap. 5). Gostaria que minha vida fosse uma
reproduçã o dessa doutrina.
O ano de 1943 foi cheio de incertezas quanto aos Exercı́cios. Estas
foram ixadas e preparadas para o inal de 1944. Deviam ser pregadas
pelo Padre Leveque, dos Lazaristas. Precisamente naqueles dias antes
do Natal, a obediê ncia chegou a Paris. De fato, em 6 de dezembro de
1944, chegou a comunicaçã o reservada da nomeaçã o de Nú ncio
Apostó lico na França (NdE) .

7 Representante Ponti ício na França (1945-


1952)

1945
Retiro durante a Semana Santa Solesmes (26 de março, 2 de abril)
Pensamentos e propósitos. 1. Aqueles que con iam em Deus não temem. O
que aconteceu à minha pobre vida nestes trê s meses nã o cessa de
produzir estupor e confusã o. Quantas vezes tenho a oportunidade de
con irmar o bom princı́pio de nã o me preocupar com nada, de nã o
procurar nada no que diz respeito ao meu futuro. Aqui estou,
transferido de Istambul para Paris e tendo superado - felizmente, ao
que parece - as primeiras di iculdades da introduçã o. Mais uma vez, a
obediê ncia e a paz trouxeram bê nçã os. Que tudo isto me sirva de
motivo de morti icaçã o interior, de procura de uma humildade ainda
mais profunda, de um abandono con iante, de consagrar a minha
santi icaçã o ao Senhor, na edi icaçã o das almas, durante os anos que
ainda terei de viver e servir. para a santa Igreja.
2. Nã o devo esconder a verdade: estou de initivamente no meu caminho
para a velhice. O espı́rito se rebela e protesta, ainda se sentindo tã o
jovem, leve, á gil e fresco. Mas basta que eu me olhe no espelho para me
encher de confusã o. E a é poca da maturidade; Devo, portanto, produzir
mais e melhor, pensando que talvez o tempo que reservei para viver
seja curto e que agora estou perto dos portõ es da eternidade. Com esse
pensamento, Ezequias se virou para a parede e chorou. Eu nã o choro.
3. Nã o, nã o choro, nem quero voltar para fazer melhor. Con io à
misericó rdia de Deus o que iz, mal ou menos bem, e olho para o futuro,
curto ou longo que seja aqui embaixo, porque o quero santi icado e
santi icador.
4. As coisas de Deus. O contacto com os monges beneditinos, a
participaçã o na sua liturgia da Semana Santa, inspira-me com maior
fervor a recitaçã o do meu breviá rio. Agora que consegui ter minha sala
de estudos ao lado da capela, irei sempre recitar minhas horas na
capela , sempre me antecipando à s matinas da noite ou da noite
anterior e seguindo as regras moná sticas para levantar e sentar,
especialmente nas matinas. Alé m disso, essa disciplina externa do
corpo contribui para a lembrança espiritual. També m farei um estudo
mais intensivo do salté rio, para que se torne mais familiar e o
compreenda mais profundamente. Quanta doutrina e quanta poesia nos
Salmos.
5. Para tornar tudo simples, vou lembrar as virtudes teoló gicas e
cardeais. O primeiro dos cardeais é a prudê ncia. E aqui que papas,
bispos, reis e lı́deres lutam e muitas vezes sã o derrotados. Essa é a
virtude caracterı́stica do diplomata. Devo professar um culto
preferencial para ele. A noite, um exame rigoroso. Minha facilidade de
falar muitas vezes me leva à exuberâ ncia em minhas manifestaçõ es
verbais. Atençã o: saber calar, saber falar com medida, saber nã o julgar
as pessoas e as tendê ncias [e nã o o fazer], salvo quando os meus
superiores ou os interesses mais sé rios o impõ em. Em suma, dizer
menos e nã o mais, e medo de falar muito, relembrando os elogios que
Santo Isidoro de Sevilha faz a Sã o Fulgê ncio. Observe especialmente a
tutela da caridade. Essa é minha regra.
1947
EE. EE.: Pensamentos e propósitos Villa Manresa, dos Frs. Jesuítas Paris (8
a 13 de dezembro)
1. Estou terminando o terceiro ano de minha nunciatura na França. O
sentimento de minha pequenez nã o cessa de me dar boa companhia: a
con iança em Deus me torna habitual e, como vivo em constante
exercı́cio de obediê ncia, me encoraja e afasta todo medo. O Senhor
achou por bem me ajudar. Eu te abençoo e te dou graças.
2. Voltei aos Exercı́cios em comum, de acordo com o mé todo
antigo. Somos trinta sacerdotes seculares, alguns religiosos e talvez
missioná rios. Eles sã o pregados por um jovem padre jesuı́ta, o padre de
Soras, um capelã o da Açã o Cató lica inteligente e fervoroso. Boa
doutrina, apresentada de uma forma interessante mas muito moderna:
estrutura, expressã o, imagens. Eu confessei a ele, compreendendo
o tempo desde meu retiro de Pá scoa em Solesmes -
março de 1945 - até agora. Tenho sido feliz e encorajado.
3. Quanto à minha vida, o pensamento central desses dias é o da morte,
talvez pró xima, e o de estar preparado para ela. No inı́cio dos sessenta e
sete anos, tudo pode acontecer. Esta manhã , 12 de dezembro, celebrei a
Santa Missa pro gratia bene moriendi . Na adoraçã o ao Santı́ssimo
Sacramento, à tarde, recitei os salmos penitenciais com as litanias e
també m as oraçõ es de recomendaçã o da alma. Parece uma boa devoçã o
a mim. Vou repetir com alguma frequê ncia. Familiarizar o espı́rito com
o pensamento desse trâ nsito servirá para amenizar e amenizar a
surpresa, quando chegar a hora de constatá -la.
4. Para isso, retoco o meu testamento, que é de 1938 e deve ser
adaptado à nova realidade da minha famı́lia em Sotto il Monte. O
Senhor vê meu desprendimento dos bens da terra, em espı́rito de
pobreza absoluta. Se sobrar alguma coisa, será para o asilo da paró quia
e para os pobres.
5. Nã o sou mais afetado por nenhuma tentaçã o de honras no mundo ou
na Igreja. E uma confusã o para mim o quanto o Santo Padre achou por
bem fazer por mim, enviando-me a Paris. Ter outro diploma na
hierarquia ou nã o tê -lo é totalmente indiferente para mim. Isso me dá
uma grande paz. E me dá agilidade para cumprir meu dever, a todo
custo e a todo custo. Esteja preparado para alguma grande morti icaçã o
ou humilhaçã o. Este será o sinal da minha predestinaçã o. Que o cé u seja
que ela marca o inı́cio da minha verdadeira santi icaçã o, como
aconteceu com as almas mais eleitas, que receberam, nos ú ltimos anos
de suas vidas, o toque da graça que as tornou autê nticas santas. A ideia
do martı́rio me assusta. Temo por minha resistê ncia à dor fı́sica. Poré m,
se eu pudesse dar a Jesus o testemunho do sangue, que graça e que
gló ria para mim.
6. Quanto ao meu relacionamento com Deus nas prá ticas religiosas,
parece-me que estou indo bem. Tendo divagado na doutrina de vá rios
autores ascé ticos, estou muito feliz com o missal, o breviá rio, a Bı́blia, A
Imitação de Cristo e Bossuet, Meditações e Elevações. A sagrada liturgia
e a Sagrada Escritura fornecem-me um alimento precioso para a
alma. Entã o, simpli ico cada vez mais e me sinto melhor. No entanto,
quero dedicar uma atençã o mais iel e dedicada à Santı́ssima Eucaristia,
que tenho a graça de manter sob a minha tenda, junto aos meus
quartos, em comunicaçã o imediata. Cultivarei especialmente a visita ao
Santı́ssimo Sacramento, tornando-a variada e atraente com prá ticas
unicamente dignas de reverê ncia e devoçã o. Por exemplo, salmos
penitenciais, Estaçõ es da Cruz, ofı́cio pelos mortos. A Sagrada Eucaristia
nã o resume tudo?
7. Enchi a minha sala de livros que gosto de ler: todos eles, livros sé rios
e de acordo com as exigê ncias da vida cató lica. Mas esses livros sã o uma
distraçã o que muitas vezes cria uma desproporçã o entre o tempo que
devo dedicar imediatamente e de preferê ncia aos meus negó cios
normais, para relató rios à Santa Sé ou outras coisas, e o tempo que
realmente acabo gastando na leitura. Tenho que fazer um esforço
notá vel aqui e farei o meu melhor para fazê -lo. O que signi ica esta
vontade de saber e ler, em suma, se é em detrimento do que toca mais
de perto as minhas responsabilidades de nú ncio apostó lico?
8. Está tudo bem em casa. A paciê ncia me sustenta nos defeitos e
imperfeiçõ es de mim mesmo e daqueles que trabalham comigo. Mas me
lembro do elogio a Sã o Fulgê ncio feito por Santo Isidoro de Sevilha e
que aparece entre minhas anotaçõ es sobre os Exercı́cios de 1942 em
Istambul. E uma ó tima pá gina. Terei cuidado nas conversas, que devem
ser caracterizadas pela ausê ncia de todo julgamento precipitado e por
todo desrespeito pela dignidade episcopal de quem quer que seja e dos
superiores eclesiá sticos, mais ou menos elevados, dos quais depende a
nunciatura. Mesmo ao preço de morti icaçõ es ı́ntimas e de minhas
humilhaçõ es pessoais, desejo alcançar isso a todo custo. Aqueles que
moram comigo vã o entender isso e serã o uma fonte de conforto para
mim. E o mesmo se diz da hospitalidade na nunciatura.
9. Meu temperamento e a educaçã o recebida me ajudam no exercı́cio da
bondade para com todos, da indulgê ncia, da cortesia e da
paciê ncia. Nã o vou me desviar desse caminho. Sã o Francisco de Sales é
meu grande professor. Eu gostaria de ser realmente parecido com ele e
em tudo. Contanto que eu nã o quebre o grande preceito do Senhor,
estarei disposto a enfrentar até zombaria e desprezo. O afável e humilde
de coração (Mt 11,29) nã o deixará de ser o halo mais resplandecente e
glorioso de um bispo e representante do Papa. Guarde para os demais o
acervo da astú cia e da dita destreza diplomá tica: continuo contente
com minha gentileza e simplicidade de sentimento, palavra e
tratamento. No inal das contas, os relatos sã o sempre vantajosos para
quem permanece iel à doutrina e ao exemplo do Senhor.
10. A minha longa estada na França torna este grande paı́s cada vez
mais digno de admiraçã o e de sincero afecto este nobre povo da
Gá lia. No entanto, noto na minha consciê ncia um contraste que à s vezes
se torna escrupuloso, entre o elogio que até gosto de fazer a estes
corajosos e amados cató licos da França, e o dever, que me parece
inerente ao meu ministé rio, de nã o encobrir, por mera obediê ncia ou
por receio de causar desagrado, a constataçã o das reais de iciê ncias e
do verdadeiro estado do primogé nito da Igreja, no que se refere à
prá tica religiosa, o desgosto pela questã o escolar nã o resolvida, a
insu iciê ncia do clero, a propagaçã o do laicismo e comunismo. Meu
dever especı́ ico neste ponto é reduzido a uma questã o de forma e
medida. Do contrá rio, o nú ncio nã o é mais digno de ser considerado os
olhos e os ouvidos da Santa Sé , se se limitar a elogiar e exaltar até o que
pode ser doloroso e grave.
Isso requer vigilâ ncia contı́nua sobre minhas efusõ es verbais. Um doce
silê ncio sem aspereza: palavras benevolentes e inspiradas de
misericó rdia e compreensã o farã o mais do que certas declaraçõ es
deixadas para escapar com con iança e com boas intençõ es. De resto,
nã o procuro a minha honra, há quem a busque e ele fará justiça. Ajude-
me o Coraçã o de Jesus, na terra que honrou e abençoou
particularmente, a Santı́ssima Virgem e Sã o José , padroeiro dos
diplomatas e minha especial luz e inspiraçã o, junto com todos os santos
protetores da França, conforto e bê nçã o.
1948
Retiro anual do Mosteiro Beneditino do Sagrado Coração de Calcat,
Dourgne (23-27 de novembro)
1. No dia 25 de novembro, tenho 68 anos. Ontem à tarde fui confessar-
me com o P. Prior Germain Barbier de Auxerre. Meu espı́rito está em
paz. De minha pequena cama beneditina iz minha preparaçã o para a
morte, orando lentamente as oito oraçõ es indicadas por Bossuet para
este exercı́cio. Com isso, considero minha vida terminada. O que o
Senhor achar por bem me conceder ainda, anos ou dias, vou estimar
como uma gorjeta. Devo repetir com frequê ncia as palavras de Sã o
Paulo e vivê -las: morri e minha vida está escondida com Cristo em
Deus (Colossenses 3, 3).
2. Este estado de morte mı́stica quer signi icar, mais decididamente do
que nunca, um desapego absoluto de todos os laços terrestres: de mim
mesmo, dos meus gostos, honras, sucessos, bens materiais e
espirituais; a absoluta indiferença e independê ncia diante de tudo que
nã o seja a estrita vontade do Senhor para comigo.
3. Ao rever neste retiro as notas escritas no ano passado em Villa
Manresa, residê ncia dos pe. Jesuı́tas em Clamart, també m os acho
coincidentes, em tudo, com a minha situaçã o atual. Você nã o precisa
repeti-los. Será su iciente para mim relê -los de vez em quando para
minha correçã o e encorajamento.
4. Quanto mais amadureci em anos e experiê ncias, mais estou
convencido de que o caminho mais seguro para a minha santi icaçã o
pessoal e para o melhor resultado do meu serviço e dedicaçã o à Santa
Sé é sempre o esforço vigilante para reduzir tudo - princı́pios, diretrizes
, posiçõ es, questõ es - com a má xima simplicidade e tranquilidade,
cuidando de podar minha vinha em todos os momentos do que sã o
apenas folhas ou ramos inú teis, marchando direto para o que é verdade,
justiça e caridade; acima de tudo, caridade. Qualquer outro sistema de
açã o nada mais é do que ostentaçã o e desejo de a irmaçã o pessoal, que
logo é traı́do e se torna irritante e ridı́culo.
O simplicidade do Evangelho, do livro Imitação de
Cristo, das Florzinhas de Sã o Francisco, das pá ginas mais primorosas de
Sã o Gregó rio na Morália: “Zombam da simplicidade dos justos”, com o
que se segue. Todos os sá bios do sé culo, todos os astutos da terra,
mesmo os da diplomacia vaticana, que papel mesquinho eles
desempenham, colocados à luz da simplicidade e da graça que emana
daquele grande e fundamental ensinamento de Jesus e seus santos. Esta
é a habilidade mais segura, que confunde a sabedoria do mundo e se
adapta igualmente bem - ou até melhor - com requinte e senhorio
autê ntico, ao que é mais elevado na ordem da ciê ncia - ciê ncia humana
e ciê ncia també m. Da vida social - na de acordo com as demandas de
tempos, lugares e circunstâ ncias. O auge da iloso ia é prudentemente
simples. O pensamento é de Sã o Joã o Crisó stomo, meu grande patrono
do Oriente. Senhor Jesus, preserva para mim o sabor e a prá tica desta
simplicidade que, mantendo-me humilde, me aproxima do teu espı́rito
e atrai e salva almas.
5. Meu temperamento, inclinado à condescendê ncia e a descobrir
imediatamente o lado bom das pessoas e das coisas, ao invé s de crı́ticas
e julgamentos temerá rios, bem como a notá vel diferença de idade,
carregada de uma experiê ncia mais longa e uma maior profundidade de
compreensã o do coraçã o humano , nã o raro me colocam em um
irritante contraste interior com o ambiente que me rodeia. Qualquer
forma de descon iança ou tratamento indelicado de algué m -
especialmente se for fraco, pobre ou inferior - qualquer aspereza ou
imprudê ncia me traz dor e sofrimento ı́ntimo. Estou em silê ncio, mas
meu coraçã o está sangrando. Estes meus colaboradores sã o
eclesiá sticos magnı́ icos: aprecio as suas excelentes qualidades, estimo-
os e eles merecem tudo. Mas sofro com a discordâ ncia de meu espı́rito
em relaçã o a eles. Alguns dias e em algumas circunstâ ncias, sou tentado
a reagir de forma decisiva. Mas pre iro o silê ncio, esperando que seja
mais eloqü ente e e icaz para sua educaçã o. Isso nã o é fraqueza? Devo e
quero continuar a carregar em paz esta cruz leve, que aumenta o
sentimento já morti icante da minha pequenez, e deixarei que o faça o
Senhor, que penetra nos coraçõ es e os atrai para as subtilezas da sua
caridade.

6. Recordo, a este propó sito, todo o nú mero 8 das notas que escrevi nos
Exercı́cios de Villa Manresa, em Clamart, no ano passado. Conservo
vivas, passados quarenta anos, as edi icantes memó rias das conversas
mantidas, no bispado de Bé rgamo, com o meu venerado Bispo, D.
Radini Tedeschi. Do povo do Vaticano, do Santo Padre para baixo,
nenhuma expressã o menos reverente, gentil ou respeitosa: nunca. E de
mulheres, ou formas femininas e coisas, nenhuma palavra,
nenhuma; como se nã o houvesse mulheres no mundo. Este silê ncio
absoluto, mesmo na intimidade, foi uma das liçõ es mais fortes e
profundas da minha juventude sacerdotal; e sou grato, mesmo agora, à
memó ria distinta e bené ica daquele que me educou em tal disciplina.
7. Hoje em dia nã o tenho conseguido ler muito a Sagrada Escritura. Mas
meditei cuidadosamente sobre a epı́stola cató lica de Tiago, o Menor. Os
cinco capı́tulos que o compõ em sã o um resumo admirá vel da vida
cristã . A doutrina sobre o exercı́cio da caridade, o uso da linguagem, a
dinâ mica do homem de fé , a colaboraçã o pela paz, o respeito pelos
outros, as ameaças aos ricos injustos e gananciosos, assim como o
convite à con iança, otimismo, oraçã o ..., todos estes e outros pontos
constituem um tesouro incompará vel de diretrizes e exortaçõ es para a
nossa responsabilidade como eclesiá sticos, em particular, e para os
leigos, de acordo com a necessidade de todos os tempos. Seria
conveniente memorizar toda essa doutrina celestial, prová -la e regulá -
la de tempos em tempos. No inı́cio dos sessenta e oito anos, nã o há mais
nada para um, a nã o ser envelhecer. Mas a sabedoria está lá , no Livro
Divino. Aqui está um exemplo: Quem é sábio e experiente entre
vocês? Que ele mostre, com seu bom comportamento, sua doçura e sua
sabedoria. Mas se você tem inveja amarga e um espírito de contradição
em seus corações, não presuma ou minta contra a verdade. Essa
sabedoria não vem de cima, mas é terrena, sensual, demoníaca; pois onde
há inveja e espírito de contradição, há desordem e todo tipo de obras
más. A sabedoria de cima, ao contrário, é antes de tudo pura, pací ica,
condescendente, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos,
imparcial, sem hipocrisia. O fruto da justiça semeia-se na paz para quem
trabalha a paz (Sant 3,1318).

1950
Notas espirituais do meu breve retiro quinta-feira, sexta-feira, sábado
santo e Páscoa Oran, Argélia (6 a 9 de abril)
Trê s dias de descanso, no inal da minha longa viagem ao Norte de
Africa, de 19 de março, 25º aniversá rio da minha consagraçã o
episcopal, a 9 de abril, festa da Pá scoa. O Bispo de Oran, D. Lacaste,
recebe-me com uma hospitalidade fraterna, pela qual estou muito
grato; E assim participo, com oraçã o, meditaçã o e silê ncio na pulsaçã o
imensa das almas ı́gneas em todas as partes da terra, em todas as
Igrejas, em torno de Jesus sofredor e vitorioso, neste trı́duo sagrado
anterior à Pá scoa. Passou um quarto de sé culo desde que a Santa Igreja
me fez bispo, embora muito indigno e pobre, gosto de pensar no meu
passado, no meu presente, no meu futuro.
Quinta-feira Santa: meu passado. Trouxe comigo, nesta viagem, os
fascı́culos das notas espirituais escritos durante estes anos - de 1925 a
1950 - para meu encorajamento e compunçã o, para aumentar o meu
fervor episcopal, nas vá rias ocasiõ es de retiro espiritual que tive no
meu caminho para a Bulgá ria, Turquia e França. Li tudo mais uma vez,
com calma, como numa con issã o, e recito o Miserere, que é meu, e
o Magni icat, que é tudo do Senhor, para minha penitê ncia e para um
exercı́cio de humildade sincera e con iante. Vinte e cinco anos depois,
reviso o nú mero quatro de minhas primeiras notas, escritas em Villa
Carpegna de 13 a 17 de março de 1925, na preparaçã o imediata para a
consagraçã o episcopal - 19 de março, festa de Sã o José - na Igreja de Sã o
Carlos no Corso. Ele me prometeu o seguinte: freqü entemente lerei o
capı́tulo IX, lib. III, de A Imitação de Cristo : "Referir tudo a Deus como
objetivo inal." Isso me impressionou profundamente na solidã o de
hoje. Em poucas palavras, está realmente tudo. Foi assim que escrevi na
vé spera de começar minha nova vida; Sinto-me assim agora, e agrada-
me voltar a ela e recordar aquele ensinamento de Jesus à distâ ncia de
um quarto de sé culo, no qual mostrei fraquezas, novos impulsos e,
graças ao Senhor, um tenaz, iel vontade e convencido, acima das
seduçõ es e tentaçõ es do espı́rito mundano.
Meu Jesus, quantos agradecimentos te dou por me teres mantido iel a
este princı́pio: de mim tira á gua, como de uma fonte viva, os pequenos e
os grandes, os pobres e os ricos. Estou entre os pequenos e os
pobres. Na Bulgá ria, as circunstâ ncias ainda mais que as dos homens,
bem como a monotonia daquela vida penosamente adornada com
espinhos diá rios, custaram-me muita morti icaçã o e silê ncio. Mas sua
graça manteve minha alegria interior, o que me ajudou a esconder
minha angú stia e decepçã o. Na Turquia, a dedicaçã o ao trabalho
pastoral trouxe-me tormento e alegria. Nã o poderia eu ter feito mais,
com um esforço mais determinado, e resistido à inclinaçã o do meu
temperamento? Na mesma busca de paz e tranquilidade, que considerei
mais de acordo com o espı́rito do Senhor, nã o estaria escondida uma
espé cie de relutâ ncia em usar a espada e uma preferê ncia pelo que é
pessoalmente mais confortá vel e fá cil para mim, até . quando de fato a
doçura é de inida como plenitude de força? O meu Jesus, tu penetra nos
coraçõ es e só tu sabes o ponto preciso em que a pró pria busca da
virtude pode levar a um defeito ou a um excesso.
O que considero meu dever nã o é nada in lar, atribuindo tudo à tua
graça: sem a qual o homem nada tem. E assim meu Magni icat está
completo, apropriadamente. Gosto muito da expressã o: "Meu mé rito é
sua misericó rdia"; e a de Santo Agostinho: "Mé ritos coroados, coroas a
tua graça".
Mais uma vez, obrigado sem im, meu Jesus: «A caridade divina vence
tudo e expande todas as forças da alma. Mesmo que compreendam, em
mim só tens que alegrar-te e em mim só tens que ter esperança,
porque o único bom é Deus (Lc 18,19) ». Assim termina, ao inal de
meus vinte e cinco anos como episcopado, o capı́tulo de A Imitação de
Cristo com o qual os iniciei. O que sempre me deixa, para a morti icaçã o
saudá vel do meu espı́rito, a lembrança da minha culpa em
pensamentos, palavras e atos, quantos, quantos em vinte e cinco
anos. Ao mesmo tempo, permite-me a con iança inesgotá vel do meu
sacrifı́cio diá rio, divino e imaculado an itriã o, oferecido pelos meus
inú meros pecados, ofensas e negligê ncias. Vinte e cinco anos de Missas
Episcopais, oferecidas com todo o esplendor das boas intençõ es e
també m com todo o pó do caminho, que misté rio de graça e, ao mesmo
tempo, de confusã o. A graça da ternura de Jesus pastor e bispo por
aquele que escolheu como seu sacerdote; sua confusã o, que nã o
encontra consolo a nã o ser no abandono con iante.
Sexta-feira Santa: meu presente. Ontem à tarde, Matinas completamente
sozinhas; esta manhã na capela, as horas com os quatro miseráveis, e a
liturgia de hoje, acompanhados no espı́rito, lendo o missal, como se
assistissem à cerimó nia em alguma Igreja solene; como se, mais uma
vez, eu mesmo o presidisse em So ia ou no Espı́rito Santo de Istambul.
Meu presente. Aqui estou eu vivo, com sessenta e nove anos de
evoluçã o, prostrado diante do cruci ixo, para beijar seu rosto e as
feridas santı́ssimas, para beijar seu coraçã o nu; aqui estou eu em um
ato de amor e dor. Como posso nã o renovar minha gratidã o a Jesus por
me encontrar ainda jovem e robusto de corpo, espı́rito e
coraçã o? Alguns olham para minha pobre pessoa com admiraçã o e
simpatia; mas, graças a Deus, tenho vergonha de mim mesmo, das
minhas insu iciê ncias, de quã o pouco sou para um cargo tã o
importante, onde o Santo Padre me amou e me apó ia por causa de sua
bondade. Durante muito tempo e sem esforço iz uma pro issã o de
simplicidade, repreendendo gentilmente todos os espı́ritos que, ao
pedirem os dons de um diplomata da Santa Sé , preferem as aparê ncias
da embalagem exterior aos frutos saudá veis e maduros. E permaneço
iel ao meu princı́pio, que continua a ter, me parece, um lugar de honra
no Sermã o da Montanha: bem-aventurados os pobres, os mansos, os
pacı́ icos, os misericordiosos, os que tê m sede de justiça, os puro de
coraçã o., o perturbado, o perseguido. O meu presente, pois, é feito de
energia, num acto de idelidade a Cristo obediente e cruci icado, como
tantas vezes tenho repetido nestes dias: Cristo tornou-se obediente,
pobre e humilde como ele, com ardor da caridade divina, pronto a
sacrifı́cio e morte, por ele e por sua Igreja.
A viagem ao Norte da Africa me fez lembrar com mais naturalidade o
problema da conversã o dos in ié is. E aı́ que reside a vida e a razã o de
ser da Igreja, do sacerdó cio, da autê ntica e boa diplomacia: dá-me as
almas e tira de mim tudo o mais.
Sábado Santo: o meu futuro. Em quase 70 anos há pouco para contar
com o futuro. A duração da nossa vida é de setenta anos, a do mais forte,
oitenta, mas a maior parte não é nada mais do que trabalho e miséria
porque passam rapidamente e nós voamos (Sl 89,1011). Entã o, eu nã o
deve ter ilusõ es, mas familiarizar-se com o pensamento do im; nã o
com o desâ nimo que enfraquece, mas com a con iança que preserva o
espı́rito para viver, para trabalhar, para servir. Há muito tempo eu
proposto para ser iel a este respeito, a essa expectativa da morte, que
deve ser o ú ltimo sorriso da minha alma, a ponto de abandonar esta
vida. Nã o é o caso de recordar que muitas vezes ao té dio dos outros,
mas de mantê -lo sempre em mente, porque o julgamento de morte,
quando nó s torná -lo familiar a nó s mesmos, é bom e ú til para morti icar
vaidade, impor ao todo senso de contençã o e calma. Quanto à s minhas
coisas temporais, vou dar a minha vontade um toque-up. Eu sou pobre,
graças a Deus, e assim que eu tento morrer.
Quanto ao espı́rito, reavivarei minha chama, pois o tempo que devo
resgatar passa mais rá pido. Eu me afasto, entã o, das coisas da terra:
dignidades, honras, coisas preciosas ou apreciadas. Desejo intensi icar
os esforços para terminar a publicaçã o da Visita Apostólica de São
Carlos Borromeu a Bérgamo. Mas també m estou pronto para a
morti icaçã o de ter que desistir. Alguns, para me lisonjear, falam sobre o
roxo. Nã o me interessa. Repito o que escrevi em outra ocasiã o. Mesmo
que nã o acontecesse, como pode acontecer, eu consideraria isso um
sinal de predestinaçã o e agradeceria a Deus por isso.
Eu deveria ser encorajado pelo pensamento de que meus conhecidos,
as almas que eu amei e que amo, estã o quase todos na vida apó s a
morte, esperando por mim e orando por mim. O Senhor me amará em
breve na pá tria celestial? Aqui você me preparou. Só peço que me
receba atempadamente. Ele ainda me reserva alguns ou talvez alguns
anos de vida? Eu te agradecerei por isso, mas sempre te implorando
que nã o me mantenhas na terra se eu for um inú til para a Santa Igreja
ou servir de estorvo. Mas també m nisso, a santa vontade do Senhor e
nada mais. Termino estas notas ao som dos sinos da Pá scoa da vizinha
Catedral do Sagrado Coraçã o. E recordo com alegria a ú ltima homilia de
Pá scoa em Istambul, onde comentei as palavras de Sã o Gregó rio
Nazianceno: “A vontade de Deus é a nossa paz”.
1952
Retiro espiritual Quinta, Sexta e Sábado Santo RR. del Carmelo,
Montmartre (10 a 12 de abril)
Trê s dias semelhantes aos do enterro do Senhor, no sentido que julguei
oportuno admitir, na Santa Missa da Quinta-feira Santa, as minhas
Irmã s da Nunciatura; A tarde, visita a pé a quatro igrejas da cidade
sagrada: San Pedro, San Juan, ND de Clignancourt, o Martyrium. Na
sexta-feira, mais duas horas da tarde para presidir a liturgia de rito
oriental em Saint JulienlePauvre, e minha con issã o com o Pe. Fugazza,
nos Lazaristas. No entanto, a atividade contı́nua do espı́rito nã o foi
muito comprometida. Acima de tudo, sinto-me confortado por ter me
refugiado, como um mendigo, sob o teto da grande Bası́lica do Sagrado
Coraçã o e por ter de concluir este retiro no esplendor da noite sagrada
da Ressurreiçã o. As circunstâ ncias deste retiro nã o me permitiram
escrever muitas coisas, nem para exame, nem para
contemplaçã o. Quero anotar aqui alguns pensamentos que nã o
deixarã o de fazer bem ao meu espı́rito, quando os reler de vez em
quando.
1. Agradeça. A duraçã o normal da vida humana - setenta anos - já foi
ultrapassada. Eu reviso meus setenta anos. Devo dizer: depois da
amargura da minha alma (Is 38,15). Carrego comigo o sentimento de
confusã o e dor pelos meus inú meros pecados, ofensas e negligê ncias,
pelo pouco que aprendi e pelo muito mais que poderia e deveria ter
feito a serviço do Senhor, da Santa Igreja, de almas. Mas, ao mesmo
tempo, nã o posso esquecer o acú mulo de graças e misericó rdias com
que Jesus me deu generosamente contra todos os meus
mé ritos. Portanto, o seu louvor estará sempre na minha boca (Sl 33,2).
2. Simplicidade de coraçã o e palavras. Quanto mais avanço, melhor
percebo a dignidade e a beleza conquistadora da simplicidade, no
pensamento, no tratamento, nas palavras. Uma tendê ncia que se aplica
para simpli icar tudo o que é complexo, para reduzir tudo ao má ximo
da espontaneidade e da clareza, sem se preocupar com sutilezas ou
confusã o de pensamentos ou palavras. Seja simples com sabedoria. O
lema de Sã o Joã o Crisó stomo. Quanta doutrina em duas frases.
3. Bondade, calma e paciê ncia inabalá vel. Devo sempre lembrar que a
palavra suave apazigua a raiva. Quantos fracassos nascem da aspereza,
impulsividade, falta de resistê ncia. As vezes, o medo de ser menos
valorizado, de aparecer como gente de pouco valor, torna-se um
incentivo para icar de pé , para dar tom, para impor um pouco. Isso é
contrá rio ao meu cará ter. Ser simples, sem pretensõ es, nã o me custa
nada. E é uma grande graça que o Senhor me concede. Eu quero ir em
frente e me tornar digno disso.
4. Grande compreensã o e respeito pelos franceses. A longa
permanê ncia entre eles me coloca em posiçã o de apreciar as altı́ssimas
qualidades espirituais deste povo e o fervor dos cató licos de todas as
tendê ncias; mas també m me permite descobrir suas falhas e
excessos. Isso impõ e a maior atençã o à s minhas manifestaçõ es
verbais. Sou livre para julgar, mas devo me precaver contra crı́ticas,
mesmo brandas e benevolentes, que podem prejudicar sua
suscetibilidade. Nã o fazer ou dizer aos outros o que nã o gostarı́amos
que nos fosse feito ou dito. Neste ponto, estamos todos um tanto
fracos. Atençã o, entã o, à s expressõ es mı́nimas que reduziriam a e icá cia
da dignidade de nossa atuaçã o. Digo por mim mesmo e devo ser
professora e exemplo disso com meus colaboradores. Uma carı́cia é
melhor do que uma beliscada, seja ela quem for.
5. Mais rá pido nas prá ticas mais importantes, especialmente na
nomeaçã o dos bispos, nas relaçõ es com a Santa Sé , nas informaçõ es
oportunas e importantes. Nem pressa nem lentidã o. Este ponto
especı́ ico será o assunto do meu exame diá rio.
6. Em todas as coisas, tenha em mente o im. O im vem ao meu
encontro com o passar dos dias da minha vida. Devo me preocupar
mais em morrer logo e bem do que em perder tempo em sonhos de
uma vida longa. Mas sem melancolia, sem nem mesmo falar muito
sobre isso. A vontade de Deus é nossa paz. Sempre na vida; ainda mais
na morte.
7. Nã o estou incomodado ou preocupado com o que pode vir a mim:
honras, humilhaçõ es, negaçõ es ou o que seja. Espero concluir este ano a
publicaçã o da Visita Apostólica Atti della de São Carlos Borromeu a
Bérgamo. E o que me basta como bom Bergamasco, e nã o desejo o
contrá rio.
8. Eu só quero que minha vida termine de uma maneira sagrada. Tenho
medo de ter que suportar dores, responsabilidades, provaçõ es alé m de
minhas forças, mas con io no Senhor, sem qualquer pretensã o de
triunfos ou mé ritos notá veis e singulares.
9. Estarei atento a uma piedade religiosa mais intensa. Evite o excesso
de prá ticas secundá rias e novas, antes, a idelidade à s fundamentais,
com fervor vibrante. Santa Missa, breviá rio, rosá rio, meditaçã o, leituras
edi icantes, uniã o ı́ntima e frequente com o Bem-aventurado Jesus.
10. Este retiro nã o foi caracterizado por prá ticas ou meditaçõ es
laboriosas. Parece-me que a minha consciê ncia está em paz e con io em
Jesus, na sua gloriosa e amorosa Mã e e minha, em Sã o José , o santo
preferido do meu coraçã o; em Sã o Joã o Batista, em torno do qual gosto
de ver minha famı́lia e parentes reunidos segundo a carne e o sangue. E
vou subir ao Templo do Sagrado Coraçã o, que me espera para uma
noite luminosa e solene, que quer ser um sı́mbolo da ressurreiçã o das
almas, da Santa Igreja e das naçõ es. A cruz de Jesus, o coraçã o de Jesus,
a graça de Jesus: isso é tudo na terra; E o inı́cio da gló ria futura,
reservada aos eleitos para sempre: «Coraçã o de Jesus, a nossa vida e
ressurreiçã o, a nossa paz e reconciliaçã o, a salvaçã o dos que esperam
em vó s, a esperança dos que morrem em vó s, deleite de todos os Santos,
Coraçã o de Jesus, tende piedade de nó s ».
8 Cardeal Patriarca
de Veneza (1953-1958)

1953
Retiro espiritual com os bispos da Província de Triveneta. Pregador: Pe.
Federico da Baselga, Capuchinho. Seminário de Veneza (15 a 21 de maio)
Notas dispersas. 1. Desde abril do ano passado, quando me reuni na
sombra do Sagrado Coraçã o em Montmartre, Paris, até maio deste ano,
que me encontra aqui aos pé s da Grappa como Cardeal e Patriarca de
Veneza, que transformaçã o tem ocorrido em torno de mim. Nã o sei em
que parar mais, em que alegria quando me contaram (Sl 121,1) com o
que se segue, ou melhor, na minha confusã o, que me leva a sentimentos
de humildade e abandono no Senhor. Foi ele quem realmente fez tudo, e
o fez sem mim, que nem remotamente poderia ter imaginado ou
aspirado tanto. Uma fonte de alegria interior é que manter-me humilde
e modesto nã o me custa muito trabalho e corresponde ao meu
temperamento natural. Encher-se de orgulho ou de se orgulhar, de quê ,
meu Senhor, nã o é tudo misericó rdia do Senhor?
2. E curioso que a Providê ncia me tenha devolvido ao lugar onde a
minha vocaçã o sacerdotal deu os primeiros passos, isto é , ao serviço
pastoral. Agora estou no meio do ministé rio direto à s almas. Na
verdade, sempre pensei que para uma diplomacia eclesiá stica, como tal,
deve haver um espı́rito pastoral; do contrá rio, nã o vale nada e torna
ridı́cula uma missã o sagrada. Agora me encontro diante dos
verdadeiros interesses da Igreja, em relaçã o ao seu propó sito, que é
salvar almas, conduzi-las para o cé u. Isso é o su iciente para mim e
agradeço ao Senhor. Disse isso em Veneza, em San Marcos, no dia 15 de
março, dia da minha entrada. Eu nã o quero ou me importo com outra
coisa senã o viver e morrer pelas almas que me sã o con iadas. O bom
pastor dá a vida pelas ovelhas ... Eu vim para que tenham vida e a tenham
em abundância (Jo 10,11 e 10).
3. Eu começo meu ministé rio direto com a idade - setenta e dois anos -
quando outros o terminam. Portanto, estou no limiar da
eternidade. Meu Jesus, primeiro pastor e bispo das nossas almas, o
misté rio da minha vida e da minha morte está nas tuas mã os, perto do
teu coraçã o. Por um lado, temo a aproximaçã o da hora extrema; por
outro, con io e olho para mim dia apó s dia. Sinto-me na condiçã o de Sã o
Luı́s Gonzaga. Para continuar minhas ocupaçõ es, sempre á vido pela
perfeiçã o, mas ainda mais pensando na misericó rdia divina. Nos poucos
anos que me restam da minha vida, quero ser um santo pastor em
plenitude de mandato, como o beato Pio X, meu predecessor, como o
venerá vel cardeal Ferrari, como meu bispo Radini Tedeschi enquanto
viveu e se teve continuei vivendo que Deus me ajude.
4. Nestes dias li Sã o Gregó rio e Sã o Bernardo, ambos preocupados com
a vida interior do pastor, que nã o deve sofrer os cuidados materiais
externos. Minha jornada deve ser sempre uma oraçã o; a oraçã o é minha
respiraçã o. Prometo rezar diariamente o rosá rio completo de quinze
misté rios, com a intençã o de con iar ao Senhor e à Virgem - se possı́vel,
na capela, diante do Santı́ssimo Sacramento - as necessidades mais
graves dos meus ilhos de Veneza e dioceses: o clero, seminaristas,
virgens sagradas, autoridades pú blicas e pobres pecadores.
5. Já tenho aqui dois espinhos dolorosos, em meio a tanto esplendor de
dignidade eclesiá stica e respeito, como cardeal e patriarca. A escassa
renda da mesa e a multidã o de pobres e os pedidos de empregos e
ajuda. Quanto à mesa, nã o me é impossı́vel melhorar as suas condiçõ es,
nã o só para mim, mas també m para servir os meus sucessores. No
entanto, gosto de abençoar o Senhor por essa pobreza um tanto
humilhante e muitas vezes constrangedora. Graças a ela, pareço mais o
pobre Jesus e Sã o Francisco, certo que nã o morrerei de
fome. Abençoada pobreza, que me garante uma bê nçã o maior para os
demais e para o que há de mais importante no meu ministé rio pastoral.
6. A entrada triunfal em Veneza e estes primeiros dois meses de
contacto com os meus ilhos sã o a prova da bondade natural dos
venezianos para com o seu patriarca: dã o-me um grande incentivo. Nã o
quero impor outros preceitos a mim mesmo. Vou continuar no meu
caminho e com meu temperamento. Humildade, simplicidade,
idelidade, verbo et operar o evangelho, com intré pida mansidã o, com
inatacá vel paciê ncia, com paternal e insaciá vel zelo pelo bem das
almas. Vejo que estou sendo ouvido de boa vontade, e minha palavra
simples vai direto ao coraçã o. No entanto, terei muito cuidado em me
preparar bem, para que minhas falas tenham sempre dignidade e
alcancem cada vez mais edi icaçã o.
7. Aos poucos, minha casa episcopal adquirirá o aspecto normal. Se o
Santo Padre me conceder o bispo auxiliar que desejo, poderei organizar
tudo.
8. As vezes, a ideia de quã o pouco tempo me resta de vida diminuiria
minha queimaçã o. Mas ele nã o terá sucesso, com a ajuda do
Senhor. Nã o temo a morte nem me recuso a viver. A vontade do Senhor
ainda é minha paz. O arco da minha vida humilde - muito honrado pela
Santa Sé , muito acima dos meus mé ritos - da minha aldeia natal curva-
se entre as cú pulas e piná culos de San Marcos. Tenciono colocar em
testamento o pedido de que me reserve um nicho na cripta da bası́lica
junto ao tú mulo do Evangelista, já tã o querido e familiar ao meu
espı́rito e à minha oraçã o. Marcos, ilho de Sã o Paulo, discı́pulo e
inté rprete de Sã o Pedro.
1954
Exercícios pregados pelo bispo Landucci Torreglia (6 a 12 de junho)
Sem nota. Em vez disso, iz o testamento. Para tudo, referindo-se à s
conclusõ es dos Exercı́cios do ano passado. Especi icamente, nesses dias
encontrei a meditaçã o bem distribuı́da nos doze capı́tulos do segundo
livro de A Imitação de Cristo: Exortaçã o à Vida Interior: Sobre a
Conversaçã o Interior. De humilde submissã o. Do homem bom e
pacı́ ico. De coraçã o puro e intençã o simples. Da auto-consideraçã o. Da
alegria de uma boa consciê ncia. De amor a Jesus acima de todas as
coisas. Da amizade familiar com Jesus. De faltar tudo. De gratidã o pela
graça de Deus. Quã o poucos sã o os que amam a cruz de Cristo. Da
estrada real da santa cruz.
1955
USA USA with the triveneto episcopate Preacher: Fr. Ricardo Lombardi, SJ
Villa Inmaculada de Torreglia, Padua (20-25 de maio)
Notas e objetivos. 1. Setenta e quatro anos de vida. O mesmo que Sã o
Lourenço Justiniano, o primeiro Patriarca de Veneza, quando morreu (8
de janeiro de 1456). Estou preparando a celebraçã o cinco vezes
centená ria desse trâ nsito abençoado. Nã o seria també m uma boa
preparaçã o para a minha morte? Pensamento sé rio e saudá vel para
mim. Mas a vida que deixei nã o quer ser nada mais do que uma alegre
preparaçã o para a morte. Aceito e espero com con iança, nã o em mim,
porque sou pobre e pecador, mas pela in inita misericó rdia do Senhor, a
quem devo tudo o que sou e tenho. Cantarei para sempre as
misericórdias do Senhor (Sl 89,2).
2. A ideia da morte tornou-me uma dolorosa mas boa companhia desde
o dia da minha nomeaçã o para Cardeal e Patriarca de Veneza. Em
dezessete meses, perdi trê s de minhas queridas irmã s; dois
especialmente queridos, porque viviam apenas para o Senhor e para
mim; por mais de trinta anos você s tê m sido os guardiã es de minha
casa, em silê ncio esperando para se unir nos ú ltimos anos a seu irmã o
bispo. A separaçã o me custou muito, mais para o coraçã o do que para o
sentimento. Gosto - mesmo sem parar para orar por eles - vê -los no Cé u
implorando por mim, mais alegre em me ajudar e me esperar lá do que
aqui. Ancila e Marı́a, já unidas na alegre luz do cé u à s outras duas,
Teresa e Enriqueta, as quatro tã o boas e tementes a Deus: Lembro-me
sempre de ti, clamo por ti e ao mesmo tempo te abençoo. Hoje vejo
claramente que esta separaçã o també m foi arranjada pelo Senhor, para
que, na minha dedicaçã o ao bem espiritual das almas dos meus ilhos
em Veneza, apareça como Melquisedeque sem pai, sem mãe e sem
antepassados (Hb 7, 3). Sim, devo amar os meus parentes no Senhor,
tanto mais porque sã o todos cristã os pobres e dignos, e deles nunca
recebi mais do que respeito e consolaçã o; Mas devo viver sempre longe
deles, por exemplo deste, aliá s, bom clero de Veneza, que por vá rias
razõ es, em parte desculpando, tem muitos parentes com eles, que
resultam de um grande obstá culo ao seu ministé rio pastoral em sua
vida, na morte e depois da morte.
3. Da minha vida pastoral —e esta é a minha vida agora—, o que
dizer? Estou feliz, porque realmente me dá um grande conforto. Nã o
preciso usar formulá rios á speros para manter a boa ordem. A gentileza
atenta, paciente e generosa vai muito mais longe e mais rá pido do que o
rigor e o chicote. E nã o estou desapontado ou duvidoso neste
ponto. Mas a ideia de nã o poder ver tudo e com maior profundidade me
angustia, de nã o alcançar tudo; a tentaçã o de me deixar levar um pouco
pelo meu temperamento pacı́ ico, o que me faria preferir uma vida
tranquila ao risco de posiçõ es incertas. O princı́pio do Cardeal Gusmini:
“Nã o se proclama um decreto episcopal, se nã o é certo que o cumprirá ”,
nã o é desculpa para o meu conforto, por medo de que a reaçã o suscite
mais di iculdades do que remé dios para os males que você está
tentando corrigir? Alé m disso, o pastor deve ser, acima de tudo, bom,
bom. Do contrá rio, sem ser lobo como o mercená rio, corre o risco de
adormecer, de ser inú til e ine icaz. O Jesus, bom pastor, que o teu
espı́rito me invada completamente, para que a minha vida seja, nos
ú ltimos anos, sacrifı́cio e holocausto pelas almas dos meus queridos
venezianos.

4. Insistirei mais uma vez - e agora mais do que nunca - na preocupaçã o


por uma vida interior e sobrenatural mais intensa. O passar dos anos
torna tudo mais agradá vel na vida de oraçã o: a Santa Missa, o breviá rio,
o rosá rio, a companhia do Santı́ssimo Sacramento em casa. Manter-me
sempre com Deus, de manhã à tarde e até à noite, com Deus ou com as
coisas de Deus, dá -me uma alegria perene e induz-me a ter calma e
paciê ncia em tudo. Mas as ocupaçõ es ministeriais ou mais ou menos
relacionadas com o ministé rio ocupam-me muito e quase me oprimem,
impedindo-me de uma maior calma e tranquilidade para as minhas
prá ticas e devoçõ es. Insistirei mais neles: pelo menos no rosá rio, que
desejo que seja rezado em comum com todos em casa. Será a memó ria
destes o meu Rosá rio EE EE em comum com a secretá ria, as freiras, as
criadas e os convidados.
5. Estes Exercı́cios com o P. Lombardi foram orientados por ele para o
aspecto nã o da vida individual de cada bispo, mas das relaçõ es do
episcopado em geral - e do Veneto em particular - face aos problemas
dos melhores. mundo. També m é vá lido aqui examinar tudo e guardar
os bons (Tess 5,21). Nã o devo me perder em detalhes ou minú cias
secundá rias. Este movimento traz a marca da aprovaçã o e do
encorajamento do Santo Padre Pio XII, que o iniciou. Portanto, estamos
no caminho certo. També m aqui somos apresentados com as sete
lâ mpadas da santi icaçã o: as virtudes teoló gicas e cardeais. Minha alma:
sua estada neste mundo está chegando ao im; seus passos sã o
direcionados para o pô r do sol. Avante sem desmaiar; nã o te faltará luz,
nem graça, nem alegria. Na expectativa celestial, até a cruz será doce e
encorajadora para você .
6. Um dos primeiros frutos desta re lexã o com o P. Lombardi é a
intençã o de abordar mais intensamente as aulas de religiã o em todas as
suas formas. Para isso recorrerei ao meu bispo auxiliar, que já é o
responsá vel pela catequese.
1956
Retiro espiritual, Seminário de Saúde de Veneza (11 a 15 de junho)
Breves notas. 1. A peregrinaçã o a Fá tima impediu-me de participar na
sé rie de Exercı́cios dos mais excelentes bispos e meus companheiros da
regiã o veneziana, realizada em Torreglia e pregada por D. Bosio,
Arcebispo de Chieti. Aproveitei para me juntar aos meus padres
diocesanos reunidos no seminá rio para os Exercı́cios pregados por
Dom Pardini, Bispo de Jesi. Excelente pregador de exercı́cios para o
clero. Mas o fato de estar com meus padres e em contato com seus
problemas tirou a paz de espı́rito para pensar em mim. Portanto,
tentarei visitar novamente meus sacerdotes e conversar com eles em
suas vá rias reuniõ es ou onde quer que estejam; mas icarei com os
bispos, para atender apenas à minha alma.
2. A tı́tulo prá tico deste ano, renovei o propó sito de cumprir com maior
perfeiçã o aquilo que foi o objetivo de tantos e tã o repetidos esforços de
progresso espiritual, no que se refere à minha oraçã o sacerdotal e à
obra pelo bem das almas e das a Santa Igreja, dia apó s dia: mansidã o,
paciê ncia, caridade. E tudo isso a qualquer custo, mesmo com o perigo
de aparecer e ser tomado por um homem pobre, um homem infeliz.
3. Este sentido da minha pequenez, que sempre me acompanha e
impede que me ensoberbece, é uma grande graça do Senhor: manté m-
me no espı́rito de simplicidade e livra-me do ridı́culo. Eu nã o teria
medo de enfatizar isso, se por acaso o ridı́culo fosse um argumento a
favor da profunda convicçã o que tenho - e repetirei enquanto viver - de
que o evangelho é imutá vel, que o ensino de Jesus no evangelho é
mansidã o e modé stia; naturalmente, nã o fraqueza ou
simplicidade. Tudo o que tem ares e tom de imposiçã o pessoal nada
mais é do que egoı́smo e fracasso.
4. A conseqü ê ncia é que nã o me convé m fazer os Exercı́cios junto com
meus sacerdotes; porque, tendo que estar atento à s dú vidas e
solicitaçõ es de todos, nã o tenho tempo nem sossego para atender à
minha intimidade de espı́rito. Nem é preciso dizer que gostaria muito
de pregar os Exercı́cios, mas com uma preparaçã o silenciosa, pró xima e
remota. A memó ria de Fá tima e as consolaçõ es que aı́ recebi tornam
cada vez mais amá vel o preceito do Senhor: Evangelizar os pobres e
curar com o coração contrito (Lc 4, 18).
1957
EUA EUA com os bispos do Episcopado Triveneto Pregador: Dom Van
Lierde, sacristão de Sua Santidade Torreglia (2 a 7 de junho)
Minhas notas pessoais. 1. Senhor, estamos na vé spera. Setenta e seis
anos em andamento. O grande presente do Pai celestial é a vida. Trê s
quartos dos meus contemporâ neos já cruzaram para a outra
margem. També m devo estar preparado para o grande momento. O
pensamento da morte nã o me perturba. Um dos meus cinco irmã os
també m foi embora; e foi o penú ltimo: meu querido Juan. Que vida
santa e que morte linda. Minha saú de é excelente e ainda robusta, mas
nã o devo con iar em mim: quero poder dizer que estou aqui para
qualquer chamado, mesmo que seja repentino.
2. O envelhecimento - que é també m um grande dom do Senhor - deve
ser para mim motivo de silenciosa alegria interior e abandono
quotidiano ao pró prio Senhor, em quem tenho o olhar ixo, como uma
criança nos braços abertos do pai. .
3. Minha humilde e longa vida tem se desenrolado como uma bola, sob
o signo da simplicidade e da pureza. Nã o é difı́cil para mim reconhecer
e repetir que nã o sou nada ou nã o valho absolutamente nada. O Senhor
me deu à luz uma famı́lia pobre e ele tem se preocupado com tudo. Eu o
deixei fazer isso. Como jovem sacerdote, a obediência e a paz do Padre
Cé sar Baronio tocaram- me a alma , de cabeça baixa, beijando os pé s da
está tua de Sã o Pedro; Deixei-me fazer e deixei-me levar em perfeita
conformidade com as disposiçõ es da Providê ncia. Na verdade, a
vontade de Deus é minha paz. E a minha esperança está totalmente
baseada na misericó rdia de Jesus, que me quis para ser seu sacerdote e
ministro; que perdoou meus inú meros pecados, ofensas e negligê ncias
e me manté m á gil e vigoroso.
4. Creio que o Senhor Jesus reserva para mim, para minha completa
morti icaçã o e puri icaçã o, a im de me admitir em sua gló ria eterna,
algumas grandes tristezas e a liçõ es de corpo e espı́rito antes de
morrer. Sim, tudo aceito de boa vontade, desde que tudo resulte em sua
gló ria e bem-estar de minha alma e de meus queridos ilhos
espirituais. Temo por minha fraca resistê ncia e peço-lhe que me ajude,
pois tenho pouca ou nenhuma con iança em mim mesmo, embora tenha
total con iança no Senhor Jesus. O exército de mártires elogia você.
5. As portas do paraı́so sã o duas: inocê ncia e penitê ncia. Quem pode
esperar, pobre homem frá gil, encontrar o primeiro aberto? Mas o
segundo també m é seguro. Jesus passou por ela carregando a cruz, em
expiaçã o pelos nossos pecados, e nos convida a segui-lo. E segui-lo
signi ica fazer penitê ncia, deixar-se lagelar e lagelar-se um pouco. Meu
Jesus, as minhas circunstâ ncias permitem-me uma vida de morti icaçã o,
entre tantos consolos que o meu ministé rio episcopal me
proporciona. Eu os aceito de boa vontade. As vezes, fazem meu amor
pró prio sofrer um pouco; Mas, mesmo sofrendo, eu gosto, e repito
diante de Deus: "A humilhaçã o me faz bem." A grande frase de Santo
Agostinho me acompanha e me conforta.
1958
EE. EE. Com os Frs. Cavanis. Pregador, nomeado por mim: Dom A.
Signora, Arcebispo, Prelado de Pompéia. Casa do Sagrado Coração Col
Draga di Possagno (22 a 26 de setembro)
1. Este canto elevado nas encostas da Grappa é delicioso. Os pais do
Instituto Cavanis deram-me um excelente acolhimento. O padre
Pelegrı́n Bolzonello é um diretor cheio de unçã o e compostura. Fui
acompanhado pelo prová rio, Monsenhor Gottardi, Monsenhor Capovilla
e o pessoal da Cú ria, vá rios pá rocos e có negos, Monsenhor Vecchi e
Spavento, etc. Meus jovens padres sã o numerosos. O arcebispo Signora
foi inteligente e bem-sucedido. Uma voz infeliz para mim, que o ouvia
de lado e, portanto, com esforço; mas a doutrina era excelente, bem
adornada e transbordando de zelo profundo e sincero. Havia també m
alguns padres de Vittorio Veneto. Um cená rio sé rio e digno.
2. Mas, infelizmente, cheguei à conclusã o - e esta é a segunda vez - que
preciso do lugar deserto para descansar um pouco. Para agradá -los, eu
també m tive que falar aos que estavam reunidos. Primeira tarde: é
padre; segundo: a cabeça do sacerdote; terceiro: cinco pontos de
Faenza; quarto: o coraçã o, o cará ter, a linguagem do sacerdote - com
fortes alusõ es aos mansos e humildes, ao cará ter, à linguagem - com
referê ncia à cortesia e pregaçã o. Nã o Assim nã o. Nos Exercı́cios, devo
estar sozinho, longe dos assuntos da cú ria, e ocupado exclusivamente,
em silê ncio e bem, comigo mesmo e com meus interesses espirituais.
3. Minha idade avançada deveria impor maiores reservas ao aceitar
compromissos extras de pregaçã o em minha diocese. Tenho que
escrever tudo antes, e isso me custa, alé m da constante humilhaçã o que
sinto pela minha pequenez. Que o Senhor me ajude e me perdoe.

9 Pope
(1958-1963)
1958
EUA EUA no Vaticano para Pregador do Advento: Pe. Messori Roncaglia,
SJ (30 de novembro a 6 de dezembro)
Domingo à tarde, 30 de novembro de 1958. Citado imediatamente Dom
Radini, em seu livrinho: Princípio e Fundação. Diferença entre o e a o .
Segunda-feira 1. O Pai, Criador. Primeira palestra: omitida devido à
visita do Xá do Irã , Reza Pahlavi; segunda palestra: homem, criatura de
Deus; terceira palestra: a abó bada e a pedra angular do arco, na relaçã o
entre Deus e o homem.
Terça-feira, 2. 1. Lei de Deus; 2. Pecado; 3. Gravidade; 4. Inferno.
Quarta-feira, 3 de dezembro. 1. A misericó rdia de Deus.
Quinta-feira 4 . 1. As duas bandeiras: a obra do diabo e como resistir; 2.
O apostolado: motivos, exemplo de Jesus, crité rios a seguir; 3. A oraçã o
sacerdotal; 4. A Sagrada Eucaristia faz o sacerdote.
Sexta-feira, 5 . 1. A paixã o de Jesus, dor fı́sica; 2. A paixã o de Jesus, dores
morais; 3. A gló ria de Jesus e conosco o paraı́so; 4. O amor de Deus que
acende e consome tudo.
1959
Retiro espiritual no Vaticano. Pregador: Dom José Angrisani, Bispo de
Casale. Convidado por mim, ele produziu uma impressão geral e
edi icante (29 de novembro, 5 de dezembro)
Inspiraçã o inaciana. Contexto geral das meditaçõ es e palestras: Sagrada
Escritura: o Evangelho, Sã o Paulo e Sã o Joã o. Simples, transparente,
encorajador. Infelizmente, minha aplicaçã o pessoal foi mais uma vez
distraı́da pelas circunstâ ncias, das quais nã o pude escapar
completamente. Graças a Deus e em tudo bençã o e paz. Durante as
refeiçõ es, pedi ao bispo Loris que lesse para mim algumas pá ginas
do De Considere de San Bernardo ao Papa Victor. Nada mais oportuno e
ú til para um Papa pobre como eu, e para um Papa de todos os
tempos. Algumas das coisas que nã o honraram o clero de Roma no
sé culo XII ainda sã o verdadeiras. Portanto, é necessá rio vigiar, corrigir e
perseverar.
1. Meu primeiro compromisso: colocar a vontade em ordem em
preparaçã o para a morte, talvez pró xima, e cujo pensamento me é
familiar. Procurarei determinar tudo bem: testamento de um Papa
pobre e simples, mas por escrito. Eu só tenho que escrever algumas
particularidades, já estabelecidas, para o resto, em substâ ncia. Desejo
que o exemplo do Papa seja uma fonte de encorajamento e advertê ncia
para todos os cardeais. Morrer sem boa vontade é uma ofensa grave
para todos os eclesiá sticos e uma causa de terror em vista da
eternidade.
2. Visto que o Senhor me amou, miserá vel como sou, por este grande
serviço, já nã o sinto que pertenço a nada particular da vida: famı́lia,
pá tria terrestre, naçã o, orientaçõ es particulares quanto aos estudos,
projetos, mesmo os bons. Agora, mais do que nunca, me reconheço
como um Servo de Deus humilde e indigno e um servo dos servos de
Deus. Todo mundo é minha famı́lia. Esse sentimento de pertencimento
universal deve dar tom e vivacidade à minha mente, meu coraçã o,
minhas açõ es.
3. Esta visã o, este sentimento de universalidade animará , sobretudo, a
minha oraçã o quotidiana constante e ininterrupta: breviá rio, santa
missa, rosá rio completo, visitas ié is a Jesus no taberná culo, ritual e
mú ltiplas formas de uniã o com Jesus, familiar e con idente. Um ano de
experiê ncia me dá luz e conforto para colocar ordem, corrigir, dar um
toque delicado e nã o impaciente de perfeiçã o em tudo.
4. Acima de tudo, sou grato ao Senhor pelo temperamento que Ele me
concedeu e que me preserva de preocupaçõ es irritantes e confusã o. Me
sinto obediente em tudo e vejo que icar assim, no grande e no
pequeno, dá à minha pequenez tanta força da audaciosa simplicidade
que, por ser totalmente evangé lica, pede e obté m respeito geral, e é
uma fonte de edi icaçã o para muitos. Senhor, eu nã o sou digno. Sempre
seja minha força e a alegria do meu coraçã o. Meu Deus, minha
misericó rdia.
5. O acolhimento - brevemente expresso e depois mantido - de que a
minha pobre tem sido objeto de todos os que se aproximam dela,
sempre me surpreende. O nosce teipsum é su iciente para minha calma
espiritual e para me colocar em guarda. O segredo desse sucesso deve
estar aı́: em não buscar o mais elevado e em me contentar com
os mansos e humildes de coração . Na mansidã o e humildade de coraçã o
está a oportunidade de receber, falar e negociar; a paciê ncia para
suportar, ter pena, calar a boca e encorajar. Acima de tudo, deve residir
a disposiçã o habitual para as surpresas do Senhor, que trata bem os
seus entes queridos, mas muitas vezes quer prová -los com tribulaçõ es,
que podem ser doenças do corpo, amargura do espı́rito, tremendas
contradiçõ es, capazes de transformando e consumindo a vida do servo
do Senhor e do servo dos servos do Senhor em um autê ntico
martı́rio. Sempre penso em Pio IX, em memó ria sagrada e gloriosa; e,
imitando-o nos seus sacrifı́cios, gostaria de ser digno de celebrar a sua
canonizaçã o.
1960
Retiro espiritual no Vaticano Pregador: Bispo Pirro Scavizzi, missionário
(27 de novembro, 3 de dezembro)
Eu o conheci e apreciei em meus anos como sacerdote romano, de 1921
a 1925, como pá roco de Santo Eustá cio. Capaz e bom. Fundou os temas
das meditaçõ es e palestras em vá rias passagens bı́blicas do Novo
Testamento e os desenvolveu bem, tocando os pontos fundamentais da
vida eclesiá stica em relaçã o ao clero que trabalha no serviço imediato
da Santa Sé . Dezoito cardeais e cinquenta e oito outras pessoas
participaram dos eventos na capela Matilde, incluindo prelados e
alguns funcioná rios do Vaticano: no total, incluindo eu, setenta e sete
eclesiá sticos. Tudo invisı́vel para mim, mas, segundo me disseram,
atencioso e piedoso.
No inal do retiro, antes da bê nçã o apostó lica, acrescentei trê s palavras:
Obrigado ao pregador, que foi edi icante, variado, animado com fotos
panorâ micas da Palestina e cheio de fervor, mas ao mesmo tempo
correto nas alusõ es, respeitoso e muito concreto; a) Especialmente
delicado nas referê ncias ao Sı́nodo Romano, ao Novo Testamento, à
visã o universal da Santa Igreja no mundo; b) Muito carinhoso e
agradá vel ao falar do culto e do amor do Santı́ssimo Sacramento, de
Deus conosco e da Santı́ssima Virgem. Um conjunto que é substancial e
edi icante.
Algumas idéias de fervor sacerdotal. O curso da minha vida nestes dois
anos —28 de outubro de 1958-1960— registra uma intensi icaçã o
espontâ nea e fervorosa da uniã o com Cristo, com a Igreja e com o
paraı́so que me espera. Considero como um indı́cio de uma grande
misericó rdia do Senhor Jesus para comigo o facto de me manter a sua
paz e os sinais, mesmo externos, da sua graça, que explicam, pelo que
ouço, a permanê ncia da minha calma. Isso me permite desfrutar de
uma simplicidade e doçura de espı́rito que sempre me preserva, em
todos os momentos da minha jornada, a vontade de deixar tudo e até
mesmo partir imediatamente para a vida eterna.
Os meus defeitos e misé rias, pelos quais diariamente celebro a missa,
sã o para mim motivo de confusã o interna e contı́nua, que nã o me
permite exaltar-me de forma alguma, embora nã o enfraqueça a minha
con iança, o meu abandono em Deus, cujo amor mã o que sinto sobre
mim segurando e me animando.
Nã o estou nem mesmo tentado a icar in lado ou a agradar a mim
mesmo. O pouco que sei de mim mesmo já me deixa confuso, como diz
a bela frase de Manzoni nos lá bios do cardeal Federico. Em ti, Senhor,
esperei, não serei confundido.
No inı́cio dos meus oitenta anos, o que importa é : humilhar-me,
confundir-me no Senhor e permanecer em atitude de con iança,
esperando na sua misericó rdia, para que ele me abra a porta da vida
eterna. Jesus, José e Maria, que minha alma descanse em paz em você s.
1961
Meu retiro espiritual em preparação ao octogésimo ano de minha vida
Castelgandolfo (10 a 15 de agosto)
10 de agosto de 1961. Silenciei, interrompendo-os, as ocupaçõ es
ordiná rias de meu ministé rio. Meu ú nico companheiro é o bispo
Cavagna, meu confessor comum. Na madrugada da festa de Sã o
Lourenço, à s 5h45 da manhã , rezo o ofı́cio divino no terraço de frente
para Roma.
Penso com emoçã o que hoje é o aniversá rio da minha ordenaçã o
sacerdotal - 10 de agosto de 1904 - na igreja de Santa Maria de Monte
Santo, Praça do Povo, pelas mã os de Dom Ceppetelli, vice-regente de
Roma, arcebispo e patriarca titular de Constantinopla . Cinqü enta e sete
anos de distâ ncia, tudo parece presente para mim. Daı́ até hoje, que
confusã o para mim nada: Ai, meu Deus, força minha (Sl 58.18).
Esta forma de retiro espiritual está fora das leis comuns. A memó ria se
alegra com tanta graça do Senhor, apesar da morti icaçã o de ter
correspondido com tanta pobreza de energias, francamente
desproporcional aos dons recebidos. E um misté rio que me faz tremer e
ao mesmo tempo me excita.
Depois da minha primeira missa no tú mulo de Sã o Pedro, as mã os do
Santo Padre Pio X repousaram sobre a minha cabeça numa bê nçã o
augural para mim e para a minha incipiente vida sacerdotal; e mais de
meio sé culo depois (exatamente cinquenta e sete anos), minhas mã os
estã o abertas sobre os cató licos - e nã o apenas sobre os cató licos - em
todo o mundo, em um gesto de paternidade universal, como o sucessor
do pró prio Pio X proclamado santo, e que sobrevive naquele sacerdó cio
seu e de seus predecessores e sucessores, con iado como Sã o Pedro
com o governo de toda a Igreja, una, santa, cató lica e apostó lica.
Sã o essas palavras sagradas que superam qualquer um dos meus
sentimentos de exaltaçã o pessoal inimaginá vel e me deixam no fundo
do meu nada, elevado à sublimidade de um ministé rio que ultrapassa
em altura toda a minha dignidade humana.
Quando, em 28 de outubro de 1958, os cardeais da sagrada Igreja
Romana me nomearam para a responsabilidade suprema do governo
do rebanho universal de Cristo Jesus, aos setenta e sete anos de idade, a
convicçã o de que eu seria um papa provisó rio era geral , de
Transiçã o. Mas aqui estou eu, à s vé speras do quarto ano do meu
ponti icado, com um vasto programa diante de mim que deve ser
realizado diante de todo o mundo que assiste e espera. Quanto a mim,
sinto-me como Sã o Martinho: "Nã o temo a morte, nem recuso a vida."
Devo estar sempre preparado para morrer, mesmo em breve, e viver o
que o Senhor achar adequado para me deixar aqui embaixo. Sim
sempre. As portas do meu octogé simo ano devo estar pronto: para
morrer ou viver; em ambos os casos, para atender à minha
santi icaçã o. Como eles me chamam em todos os lugares, e é minha
primeira denominaçã o, Santo Padre, é assim que eu realmente devo e
quero ser.
Minha santi icação . Ainda estou muito longe de possuı́-lo, mas o desejo
e a vontade de obtê -lo estã o realmente vivos e determinados. Esta
minha santi icaçã o caracterı́stica é apontada para mim, aqui em
Castello, por uma pá gina e uma pintura. A pá gina inesperada é de um
livro de Antonio Rosmini, La perfezione Cristiana , intitulado O que é
santidade : “Lembre-se do grande pensamento de que a santidade
consiste no prazer de ser contrariado e humilhado com ou sem
razã o; no prazer de obedecer; no prazer de esperar com muita paz; na
indiferença ao que os superiores determinam e na falta de vontade
pró pria; no reconhecimento dos benefı́cios recebidos e da pró pria
indignidade; em sentir grande gratidã o, em respeitar outras pessoas e
especialmente os ministros de Deus; em caridade
sincera; tranquilidade, resignaçã o, doçura, vontade de fazer o bem a
todos e laboriosidade. Devo partir e nã o posso dizer mais, mas chega
»(Stresa, 6 de setembro de 1840).
Para minha edi icaçã o, vejo que essas sã o as aplicaçõ es ordiná rias de
meu lema caracterı́stico tirado de Baronius: obediência e paz. Jesus,
você está sempre comigo. Agradeço por essa doutrina que me segue em
todos os lugares.
A pintura encontra-se na capela mais antiga e ı́ntima deste palá cio
apostó lico. Hoje ensinei isso a meu pai espiritual, Mons. Alfredo
Cavagna. E a pé rola escondida e mais preciosa desta residê ncia de
verã o. E da é poca de Urbano VIII (1636-1644) e serviu a sua devoçã o,
como servia a Pio IX que ali rezava missa e comparecia à sua secretá ria
apó s a sua, no pequeno orató rio adjacente que ainda existe, todo
decorado pela pintora Lagi Simone , pintor e dourado. No altar, uma tela
muito devota: Piedade, Jesus morreu e Maria Dolorosa. Nada mais
indicado, pinturas e decoraçõ es. Ao redor, cenas das dores de Jesus:
uma escola permanente para o exercı́cio de todo ponti icado.
Tudo isso - palavras e pinturas - me con irma na doutrina do
sofrimento. De todos os misté rios da vida de Jesus, este é o mais
adequado e o mais familiar à devoçã o permanente do Papa: ele sofreu e
foi desprezado com Cristo.
Esta é a primeira luz deste estudo que retomo como um exercı́cio de
perfeiçã o em preparaçã o para a minha entrada na velhice, a vontade de
Deus é a minha santi icaçã o em Cristo. O Jesus: Porque tu és a minha
ajuda e na sombra das tuas asas me divirto; Abraço-te de toda a alma e
tua destra me sustenta (Sl 62,89).
11 de agosto de 1961. Em primeiro lugar: confesso o Deus Todo-
Poderoso. Ao longo da minha vida sempre fui iel à con issã o
semanal. Vá rias vezes em minha vida, renovei a con issã o geral. Nessas
circunstâ ncias, ico contente com uma evocaçã o mais geral, sem
detalhes minuciosos, mas acatando as palavras do ofertó rio da missa
diá ria pelos meus inú meros pecados, ofensas e negligê ncias; tudo já
confessou uma e outra vez, mas sempre se arrependeu e odiou
novamente.
Pecado . Castidade: nas relaçõ es comigo mesmo, nas intimidades nã o
modestas: nada sé rio, nunca; obediê ncia: Nunca sofri ou sofri tentaçõ es
contra a obediê ncia, e agradeço ao Senhor que nã o permitiu, mesmo
quando essa obediê ncia me custou muito, pois també m me faz sofrer
agora, me vendo como um servo dos servos de Deus ...; humildade:
tenho vivo seu culto e seu exercı́cio externo. Isso nã o tira minha
sensibilidade interior devido a alguma falta de consideraçã o que eu
acho que sinto. Mas també m me regozijo por isso diante de Deus como
um exercı́cio de paciê ncia e alı́vio oculto por meus pecados, e para
obter do Senhor o perdã o de todos os pecados do mundo
inteiro; caridade: este é o exercı́cio que menos me custa, embora à s
vezes constitua para mim um sacrifı́cio e me tente e estimule a uma
certa impaciê ncia que talvez, sem eu saber, faz sofrer algué m.
Ofensas . Quem sabe quantas e quantas vezes contra a lei do Senhor e
contra as leis da santa Igreja. Mas é sempre algo que foge à s disposiçõ es
eclesiá sticas, e nunca em maté ria de pecado mortal ou venial. Sinto vivo
no coraçã o e no espı́rito o amor à s normas e prescriçõ es e a adesã o a
toda esta legislaçã o eclesiá stica, e é uma razã o comum para mim zelar
por mim, especialmente pelo exemplo e edi icaçã o do clero e dos
ié is. També m confessei todas essas ofensas, mas todas juntas e com o
propó sito de me corrigir, acrescentando, à medida que envelheço, um
esforço diá rio de delicadeza e perfeiçã o.
Negligência . Devem ser consideradas em referê ncia ao conjunto de
funçõ es da minha vida pastoral, cujo espı́rito deve ser notá vel em um
apó stolo e em um sucessor de Sã o Pedro, como todos me consideram
hoje.
A memó ria viva das carê ncias da minha longa vida de oitenta anos,
inú meros pecados, ofensas e negligê ncias, tem sido o assunto geral da
sagrada con issã o que repeti esta manhã diante do meu diretor
espiritual, o bispo Alfredo Cavagna, neste dormitó rio onde eles
dormiram os meus predecessores Pio XI e Pio XII, e onde morreu Pio
XII a 9 de Outubro de 1958, o ú nico Papa até à data que faleceu em
Castel Gandolfo, na residê ncia de verã o. Senhor Jesus, continue a ter
misericó rdia de mim, pobre pecador, assim como me asseguras do teu
grande e eterno perdã o.
Também 11 de agosto. Tarde de perdão. A bem preparada con issã o
sagrada, repetida todas as semanas, à s sextas-feiras ou aos sá bados, é
sempre uma base só lida para avançar no caminho da santi icaçã o; e ao
mesmo tempo uma visã o paci icadora que incentiva o há bito de estar
preparado para morrer bem a qualquer hora, a qualquer hora do
dia. Esta minha tranquilidade e este sentimento de que logo irei partir e
me apresentar ao Senhor ao menor sinal dele, parece-me que é uma
prova de con iança e de amor que me faz merecer de Jesus, de quem
sou chamada Vigá rio na terra, ú ltimo gesto de sua
misericó rdia. Portanto, estejamos sempre em atitude de marchar em
sua direçã o, como se ele estivesse sempre me esperando de braços
abertos.
Para encorajar a minha habitual con iança, encontro em Rosmini uma
alusã o à quele admirá vel Padre Caraffa que foi o sé timo general da
Companhia de Jesus. Ele disse que estava sempre ocupado meditando
em trê s letras que se tornaram familiares para ele: uma carta preta,
uma carta vermelha e uma carta branca. A letra negra, seus pecados; a
letra vermelha, a paixã o de Jesus Salvador; a letra branca, a gló ria dos
bem-aventurados. Essas trê s imagens resumem verdadeiramente a lor
da boa meditaçã o cristã .
A letra preta me faz conhecer e me anima a pedir a puri icaçã o de
minha alma; o vermelho me familiariza com a meditaçã o sobre os
sofrimentos de Jesus, morti icado no corpo e no espı́rito; E o branco
ajuda-me a resistir ao abatimento, à desolaçã o, à tristeza, enquanto
todos os santos perseveram na tarefa de me encorajar a sofrer,
lembrando-me com insistê ncia que os sofrimentos do tempo presente
não podem ser comparados com a glória que deve ser manifestado em
nós (Rm 8.18). Por outro lado, esta sugestã o corresponde a todo o
ascetismo dos EUA de Santo Iná cio, cujo admirá vel livro Rosmini dizia
ter sempre à mã o.
Sábado, 12 de agosto de 1961. Jesus cruci icado e a Virgem
dolorosa . Este retiro, portanto, quer marcar um progresso na tarefa da
minha santi icaçã o pessoal: nã o só como cristã o, sacerdote e bispo, mas
como Papa, como bom pastor de todos os cristã os, como bom pastor,
como o Senhor me quis, apesar da minha pequenez e
indignidade. Muitas vezes medito sobre o misté rio do precioso Sangue
de Jesus, cuja devoçã o de repente senti que deveria inspirar, como
Sumo Pontı́ ice, como complemento aos do Nome e Coraçã o de Jesus,
tã o conhecidos e difundidos, como disse.
Confesso: foi uma inspiraçã o repentina em mim. Quando criança, ainda
muito jovem, observei a devoçã o particular ao mais precioso Sangue de
Jesus em meu velho tio Javier, o primogê nito de cinco irmã os Roncalli, e
na verdade meu primeiro iniciador na prá tica religiosa que brotou
muito cedo, espontaneamente Eu diria, minha vocaçã o
sacerdotal. Lembro-me dos livros de devoçã o em seu ajoelhado, e entre
estes, Preziosissimo Sangue , que o serviu durante o mê s de julho. Oh,
memó rias sagradas e abençoadas da minha infâ ncia. Quã o precioso sois
para mim à luz desta noite da minha vida, para precisar os pontos
fundamentais da minha santi icaçã o e como visã o consoladora do que
me espera - como con io humildemente - na eternidade. Cruz e
eternidade: paixã o de Cristo à luz da eternidade sem im. Que doçura,
que paz. Assim e sempre assim deve a vida que ainda tenho de viver
aqui embaixo, aos pé s da cruz de Jesus cruci icado, regado com seu
Sangue preciosı́ssimo e com as lá grimas amargas da Dolorosa, mã e de
Jesus e minha mã e, deve ser vivi icado.
Este impulso interior que hoje se apodera de mim, sinto-o no coraçã o
como uma batida e um novo espı́rito, uma voz que me infunde
generosidade e grande fervor, que quero exprimir em trê s
manifestaçõ es caracterı́sticas: 1) Absoluta desapego de tudo e perfeita
indiferença tanto à s censuras quanto aos elogios, e por tudo de sé rio
que há e que poderia acontecer no mundo, no que me diz respeito; 2)
Diante do Senhor sou pecador e pó ; Vivo pela misericó rdia de Jesus, a
quem tudo devo e do qual tudo espero: a ele me submeto a me deixar
transformar també m pelas suas dores e sofrimentos, no abandono
radical da obediê ncia absoluta e de acordo com a sua vontade. Agora,
mais do que nunca, e enquanto eu viver, e com toda a obediê ncia e
paz; 3) Disponibilidade total de viver e morrer, como Sã o Pedro e Sã o
Paulo, e de encontrar tudo, inclusive correntes, sofrimentos, aná tema e
martı́rio, pela Santa Igreja e por todas as almas que Cristo
redimiu. Sinto a seriedade do meu compromisso e tremo ao saber que
sou fraco e frá gil. Mas con io em Cristo cruci icado e sua Mã e, e olho
para a eternidade.

Domingo, 13 de agosto de 1961. Exercício da prudência do Papa e dos


bispos. A fé , a esperança e a caridade sã o as trê s estrelas da gló ria
episcopal. O Papa, como cabeça e exemplo, e os bispos, todos os bispos
da Igreja, com ele. A sublime, sagrada e divina tarefa do Papa em toda a
Igreja e dos bispos em cada diocese é pregar o evangelho, conduzir os
homens à salvaçã o eterna, com o cuidado de garantir que nenhuma
outra preocupaçã o terrena impeça, impeça ou perturbar este primeiro
ministé rio. Os obstá culos podem vir, acima de tudo, das opiniõ es
humanas sobre questõ es polı́ticas, que se dividem e se opõ em em uma
variedade de sentimentos e pensamentos. O evangelho se eleva acima
de todas as opiniõ es e de todas as partes que abalam e abalam a
sociedade e toda a humanidade. O Papa o lê e discute com os bispos; um
e outro, nã o como participantes de qualquer tipo de interesses
mundanos, mas como homens que vivem naquela cidade de paz,
tranquila e feliz, da qual desce o governo divino que pode dirigir bem a
cidade terrena e o mundo inteiro.
Na verdade, é isso que os homens sensatos esperam da Igreja, e nada
mais. A boa consciê ncia de minha conduta como novo Papa nestes trê s
anos me tranquiliza, e peço ao Senhor que me ajude sempre a
permanecer iel no bom caminho que empreendi. E muito importante
insistir com os bispos que todos façam o mesmo e que o exemplo do
Papa seja uma escola e um incentivo para todos. Os bispos estã o mais
expostos à tentaçã o de se intrometer mais do que é conveniente, e por
isso precisam mais que o Papa os lembre de se absterem de tomar parte
em qualquer polı́tica e polê mica, e de se declararem por uma ou outra
facçã o ou facçã o. Prega justiça, caridade, humildade, mansidã o,
mansidã o e outras virtudes evangé licas a todos igualmente e de
maneira geral, defendendo com bravura os direitos da Igreja onde sã o
violados ou comprometidos.
Sempre, mas sobretudo nestes tempos, é o bispo quem derrama o ó leo
e o bá lsamo da doçura nas feridas da humanidade. Por isso, deve se
precaver de todo julgamento temerá rio, de toda palavra abusiva a quem
quer que seja, de toda bajulaçã o provocada pelo medo, de todo conluio
com o mal que lhe possa ser sugerido pela esperança de ajudar
algué m; manter uma atitude sé ria, reservada e irme; zela para que a
conversa com todos seja suave e afá vel, e ao mesmo tempo capaz de
distinguir, com sagrada doutrina, mas sem qualquer veemê ncia, o bem
do mal. Todo esforço ou intriga de habilidade humana vale pouco
nessas questõ es de interesse mundano.
Por outro lado, promovendo avidamente com oraçã o mais assı́dua e
intensa o culto divino entre os ié is, e os exercı́cios de piedade, a
frequê ncia dos sacramentos bem recomendados e administrados,
especialmente a instruçã o religiosa, isso també m contribuirá para a
resoluçã o de problemas de ordem temporal. muito melhor do que
outros dispositivos humanos. Isso atrairá bê nçã os divinas sobre as
pessoas, preservando-as de muitos males e reduzindo as mentes
perdidas a sentimentos mais justos. A ajuda vem do alto e a luz celestial
dissipa as trevas. Assim escreveu A. Rosmini em Villa Albani, Roma, no
dia 23 de novembro de 1848. E este é o meu pensamento e a minha
preocupaçã o pastoral, que deve ser de hoje e de sempre.
Segue domingo, 13 de agosto. Sugestões para um bom apostolado. Trate a
todos com respeito, prudê ncia e simplicidade evangé lica. E comumente
aceito e aceito que a linguagem do Papa, mesmo a familiar, tem um ar
de misté rio e terror circunspecto. E, por outro lado, a simplicidade mais
atraente, nã o separada da prudê ncia dos sá bios e dos santos, está mais
de acordo com o exemplo de Jesus, que conta com a ajuda de Deus. A
simplicidade pode despertar, nã o estou dizendo desprezo, mas menos
consideraçã o entre os sá bios. Mas pouco importa que os homens
sá bios, aos quais nenhuma atençã o deve ser prestada, possam in ligir
alguma humilhaçã o de julgamento e tratamento: tudo isso resulta em
dano e confusã o. O simples, reto e temente a Deus é sempre o mais
digno e o mais forte. Naturalmente sempre amparado por uma
prudê ncia sá bia e graciosa. E tem essa simplicidade aquele que nã o se
envergonha de confessar o Evangelho mesmo diante de homens que o
consideram uma fraqueza e coisa de crianças, nem de confessá -lo em
todas as suas partes, em todas as ocasiõ es, e na presença de todos; Ele
nã o se deixa enganar ou in luenciado por outros, nem perde a
compostura de espı́rito por qualquer atitude que os outros adotem
diante dele.

Prudente é aquele que sabe silenciar uma parte da verdade cuja


manifestaçã o seria inoportuna; e esse silê ncio nã o prejudica a verdade
que ele diz falsi icando-a; Aquele que sabe atingir os bons ins que se
propõ e, escolhendo os meios mais e icazes de querer e agir; aquele que
em todos os casos sabe prever e medir as di iculdades opostas e
contrá rias e sabe escolher o caminho do meio com pequenas
di iculdades e perigos; Aquele que, tendo proposto um im bom e
mesmo nobre e grande, nunca o perde de vista, consegue superar todos
os obstá culos e dá frutos; aquele que em tudo distingue a substâ ncia e
nã o se deixa incomodar por acidentes; aquele que une e direciona suas
forças para atingir a meta; aquele que, como base de tudo isso, espera o
sucesso apenas de Deus, em quem con ia; e mesmo que nã o consiga
tudo ou nã o consiga nada, sabe que fez bem e em tudo vê a vontade e a
maior gló ria de Deus.
A simplicidade nada contradiz a prudê ncia, nem vice-
versa. Simplicidade é amor; prudê ncia, pensamento. O amor reza, a
inteligê ncia observa. Observe e ore. Reconciliaçã o perfeita. O amor é
como uma pomba gemendo; A inteligê ncia ativa é como uma cobra que
nunca cai no chã o, nem tropeça, pois com a cabeça sente todos os
obstá culos do caminho.
Mantenha a calma diante de todos os eventos. E o Senhor Jesus,
fundador da santa Igreja, quem regula todos os acontecimentos com
inefá vel sabedoria, poder e bondade segundo a sua aprovaçã o e para o
bem maior dos seus eleitos que constituem a sua amada e mı́stica
esposa. Embora os acontecimentos pareçam contrá rios ao bem da
Igreja, devo gozar de uma tranquilidade perfeita, que por outro lado
nã o me exime de gemer e implorar que a tua vontade seja feita na terra
como no cé u.
Devo precaver-me contra a imprudê ncia de quem, cego de espı́rito ou
iludido por secreto orgulho, se atreve a fazer o bem sem ser chamado
por Deus, em sua Igreja, como se o divino Redentor precisasse de sua
miserá vel cooperaçã o, ou de qualquer homem. O que importa é
cooperar com Deus na salvaçã o das almas e do mundo inteiro. Esta é a
tarefa segura que corresponde ao Papa na sua expressã o mais elevada.
Em todas as coisas, tenha em mente o im. Nã o se trata aqui do im da
vida humana, mas do objetivo, da vocaçã o divina indicada ao Papa por
uma misteriosa disposiçã o da Providê ncia.
Esta vocaçã o exprime-se com um brilho triplo: a santidade pessoal do
Papa, que torna gloriosa a sua vida; o amor da santa Igreja universal
segundo a medida da graça celeste, a ú nica que pode promover e
garantir a sua gló ria; en im, a condiçã o da vontade de Jesus Cristo, o
ú nico que, por meio do Papa, dirige e governa a Igreja de acordo com a
sua aprovaçã o, em vista daquela mesma gló ria que é a mais elevada na
terra e nos cé us eternos.
O sacrossanto dever do humilde Papa é puri icar todas as suas
intençõ es nesta luz da gló ria e viver de acordo com a doutrina e a graça,
para que mereça a mais alta honra de se assemelhar a Cristo na
perfeiçã o, como seu Vigá rio: Cristo cruci icado e redentor do mundo
com o preço do seu Sangue, ú nico verdadeiro mestre dos sé culos e dos
povos.
Segunda-feira, 14 de agosto de 1961. Seis máximas de perfeição. Quanto
ao im que devo alcançar em minha vida, devo: 1) Desejar apenas ser
justo e santo e, com isso, agradar a Deus; 2) Orientar tudo,
pensamentos e açõ es, para aumentar, para servir, para a gló ria da Santa
Igreja; 3) Sentir-se chamado por Deus, e precisamente por isso, a me
manter em perfeita tranquilidade sobre tudo o que acontece, nã o só
comigo, mas també m com a Igreja, embora sempre em atitude de
trabalhar pelo bem de ela e de sofrer com Cristo por ela; 4) Estar
sempre abandonado à Providê ncia divina; 5) Sempre reconheça meu
nada; 6) Organize sempre o meu dia com clareza de visã o e em perfeita
ordem.
Minha vida de sacerdote, ainda mais - como muitas vezes se diz muito
bem para minha honra e confusã o - como prı́ncipe de todo o sacerdó cio
de Cristo, em seu nome e por sua obra, está diante dos olhos de meu
divino Mestre, o grande legislador. Ele me olha ensanguentado,
quebrado, pendurado na cruz. Ele me olha, cruza o peito, os pé s e as
mã os, e me convida a olhar sempre para ele. A justiça o levou
diretamente à caridade; e a caridade o matou. Esta deve ser a minha
sorte: o discípulo não está acima de seu mestre (Mt 10,24).
Jesus, aqui estou eu diante de você , desmaiado e morrendo por mim,
velho agora e perto do im do meu serviço, da minha vida. Segure-me
com força e abrace seu coraçã o, em uma ú nica batida com o meu. Quero
me sentir indissoluvelmente ligada a você por uma corrente de ouro,
feita de elos lindos e delicados. A primeira: a justiça que me impulsiona
a buscar sempre o meu Deus em tudo. A segunda: providê ncia e
bondade que guiarã o meus passos. A terceira: caridade com os outros,
inesgotá vel e muito paciente. O quarto: o sacrifı́cio que deve me
acompanhar, e que quero e devo gostar em todos os momentos. O
quinto: a gló ria que Jesus me garante nesta vida e na eternidade. Jesus
cruci icado, meu amor e minha misericó rdia agora e para sempre. Pai,
se quiseres, tira este cálice de mim, mas não a minha vontade, mas a tua
seja feita (Lc 22,42).
Pensamentos. I: Utilitário de tribulações . Re letindo sobre mim mesmo e
sobre as muitas vicissitudes da minha vida humilde, devo admitir que o
Senhor me tem dispensado, até agora, a partir dessas atribulaçõ es que
fazem ao serviço da verdade, da justiça, da caridade difı́cil e ingrata
para muitas almas. Eu passei a idade de infâ ncia e juventude, sem sentir
a pobreza, sem preocupaçõ es com a famı́lia, estudos, contingê ncias
perigosas, como, por exemplo, o serviço militar na idade de vinte e
durante a grande guerra, 1915-1921 pequeno e modesto como eu
reconheço mim, eu só foi bem recebido no ambiente que me acolheu, a
partir dos seminá rios Bergamo e Romano, para a minha vida de dez
anos sacerdotal com o meu bispo e na minha cidade natal; de 1921 até
hoje (1961), ou seja, a partir de Roma para Roma, para o
Vaticano. Como vou ser grato, meu Deus, para o bom tratamento que eu
sempre recebido onde quer que eu cheguei em seu nome, e sempre em
pura obediê ncia, nã o por minha vontade, mas por sua? Como eu
retribuirei ao Senhor por todo o bem que Ele me fez? (Sl 115,12). Eu vejo
muito bem que a minha resposta para mim e para o Senhor está
sempre: eu vou levantar a taça da vitória e invocai o nome do Senhor (Sl
115,13). Como já sugerido nestas pá ginas, quando as grandes assalta
tribulaçã o me, acolhê -la; e se este ainda é um pouco tarde, continuar a
beber o sangue de Jesus com o esboço de tribulaçõ es pequenos ou
grandes com os quais a bondade do Senhor gostaria de cercá -lo. O peso
momentânea e luz de nossas penas produz, acima de todas as medidas,
um peso eterno de glória (2Cor 4,17).

Pensamentos. II: Contentar-se com o apostolado cotidiano: não perder


tempo em prever o futuro. Jesus Cristo é o mesmo ontem e hoje e será
para sempre (Hb 13,8). Nã o profetize nem garanta o futuro: esta é a
regra de conduta que brota do espı́rito de tranquilidade e irmeza, da
qual os ié is e colaboradores devem receber luz e encorajamento do
Papa como primeiro sacerdote. A experiê ncia destes trê s anos de
serviço pontifı́cio, que, com temor e tremor, aceitei em pura obediê ncia
à vontade do Senhor expressa na voz do Sagrado Colé gio Cardinalı́cio
no conclave, é um testemunho e motivo só brio e perene da minha
idelidade… espı́rito a esta má xima: abandono absoluto em Deus em
relaçã o ao presente; e perfeita paz de espı́rito quanto ao futuro.
Entre as vá rias iniciativas de natureza pastoral que marcam este
primeiro ensaio de compromisso apostó lico pontifı́cio, tudo veio de
absoluto, calmo, amá vel, diria mesmo silencioso inspiraçã o do Senhor a
este seu pobre servo, que sem qualquer mé rito no seu. parte, exceto a
mais simples. Por nã o discutir, mas simplesmente apoiar e obedecer,
tem sido capaz de se tornar um instrumento nã o inú til de honra a Jesus
e de edi icaçã o para muitas almas.
Os primeiros contactos com os grandes e os humildes, algumas visitas
de caridade de vez em quando, mansidã o e humildade no trato, clareza
de ideias e fervor de encorajamento; as visitas quaresmais à s novas
paró quias, a celebraçã o do Sı́nodo diocesano com inesperado sucesso; a
abordagem do Pai para toda a cristandade na criaçã o multiplicada de
cardeais e bispos de todas as naçõ es e de todas as raças e cores; e agora
o vasto movimento, de proporçõ es imprevistas e imponentes, do
Concı́lio Ecumé nico: tudo con irma a bondade do princı́pio de esperar e
exprimir com fé , com modé stia, com fervor con iante, as boas
inspiraçõ es da graça de Jesus, que preside o governo do mundo, e o
conduz aos mais elevados propó sitos de criaçã o, de redençã o, de
glori icaçã o inal e eterna de almas e povos.
15 de agosto de 1961. Festa da Assunção. Aqui está um dos momentos
mais solenes e cativantes da piedade religiosa. Meu predecessor
imediato, o Papa Pio XII, proclamou o dogma da fé em 1º de novembro
de 1950. Eu fui um dos sortudos que compareceram à quela cerimô nia
na Praça de Sã o Pedro, como nú ncio na França. Nenhuma ansiedade de
minha parte por sempre ter admitido essa doutrina; apesar do fato de
que em meus anos orientais, meus olhos apenas contemplavam
representaçõ es do quarto b. Mariae nas igrejas de rito grego e eslavo. A
Assunçã o leva-me com ternura a Sotto il Monte, onde gostei tanto de
venerá -la nas suas duas imagens: a vestida e devotada Sansi de Brusico,
na igreja do meu baptismo, e a outra, també m bela e vigorosa, da nova
igreja paroquial, obra do escultor Manzoni. Foi um presente do pá roco
padre Carlos Marinelli, um dos sacerdotes mais familiares e dignos da
minha formaçã o eclesiá stica, de quem guardo carinhosa e grata
memó ria.
O ambiente polı́tico e mundial dos dias de hoje desperta algumas
incertezas devido aos problemas da paz. Por isso julguei oportuno
celebrar aqui, na freguesia de Castelgandolfo, a Missa da Assunçã o,
envolvendo todos os paroquianos, ordiná rios e estrangeiros. Acabou
por ser uma assembleia impressionante e respeitá vel. Houve també m o
cardeal Agagianian com o bispo Sigismondi, e uma parte notá vel do
Colé gio de Propaganda. Alé m disso, o coló quio pós-missam deixou meu
coraçã o animado e fervoroso. Ontem recebi a informaçã o sobre o
signi icado da minha cerimô nia transmitida por telefones em todo o
mundo, a saber, o convite aos cató licos de todas as naçõ es, bispos,
sacerdotes e leigos, à uniã o ı́ntima com o Papa para a invocaçã o coletiva
da Virgem. , como rainha e paci icadora sobre toda a terra.
Esta cerimô nia curta e bem realizada serviu como uma introduçã o a
este ú ltimo dia de meu retiro espiritual. O lema que expressa o
pensamento predominante do encerramento é o comum, mas tã o
precioso: A Jesus por Maria. Realmente, esta minha vida que desce em
direçã o ao pô r-do-sol nã o poderia terminar melhor do que no ato de
concentrar tudo em Jesus, ilho de Maria, e oferecida pelos seus braços
para a suavidade e encorajamento do meu espı́rito. Por isso, atenderei
com o maior cuidado e com ı́ntima e serena alegria estas trê s palavras
mais importantes e esplê ndidas que devem constituir a sı́ntese do meu
esforço de perfeiçã o: piedade, mansidã o, caridade.
Continuarei a buscar a perfeiçã o nos exercı́cios de piedade: santa missa,
breviá rio, rosá rio inteiro e grande e contı́nua intimidade com Jesus,
contemplada em imagem: menino, cruci icado; adorado no
Sacramento. O breviá rio manté m meu espı́rito continuamente
elevado; A Santa Missa o submerge no nome, no coraçã o, no sangue de
Cristo. Quã o cheia de ternura e deleite reconfortante a minha missa
matinal.
O rosá rio, que no inı́cio de 1958 me comprometi a rezar com devoçã o
na sua totalidade, tornou-se um exercı́cio de contı́nua meditaçã o e
calma e contemplaçã o quotidiana, que manté m o meu espı́rito aberto
ao vasto campo do meu ensino e ministé rio como pastor má ximo. da
Igreja., e pai universal das almas.
A medida que este retiro espiritual chega ao im, descubro claramente a
substâ ncia viva da missã o que Jesus, permitindo ou dirigindo, con iou à
minha vida.
Vigá rio de Cristo? Ah, nã o sou digno desse nome, pobre ilho de
Bautista e Mariana Roncalli, dois bons cristã os, certamente, mas muito
modestos e humildes. Vigá rio de Cristo: portanto, minha missã o é
essa. Sacerdote e vı́tima: o sacerdó cio me exalta, mas o sacrifı́cio que o
sacerdó cio acarreta me faz tremer. Bendito Jesus, Deus e
homem. Rati ico a minha consagraçã o a ti, na vida, na morte, na
eternidade.
Considerando tudo o que acontece na vida e tudo o que me rodeia, é
fá cil para mim parar muitas vezes no Calvá rio e aı́ conversar com Jesus
que morre e com a sua mã e; e do Calvá rio desça ao lado do taberná culo,
a morada de Jesus no Sacramento. O breviá rio é mais agradá vel para
mim e eu o saboreio melhor na minha mesa de trabalho comum; mas o
rosá rio e a meditaçã o dos misté rios, com as intençõ es que há muito
gosto de unir a cada dez, saboreio-os mais de joelhos junto ao vé u
sagrado da Eucaristia.
Para recordar o fervor e as alegres inspiraçõ es destes dias, quero ixar
os trê s pontos mais salientes das minhas conversas diá rias com Jesus, a
saber: 1) Pela manhã a Santa Missa apó s a reza do breviá rio (antes da
Missa até o dia 6, apó s a missa, sexta e nona e primeira parte do
rosá rio); 2) Depois de comer: Nunca vou omitir a breve visita logo apó s
sair da sala de jantar e um breve descanso; 3) A tarde, depois de um
breve descanso - nunca na cama, mas na poltrona - rezo as Vé speras e
as Completas, e a segunda parte do rosá rio, misté rios dolorosos. Esta
forma de oraçã o pode me servir bem como uma visita ao Santı́ssimo
Sacramento; 4) As sete e meia da tarde, terceiro rosá rio em comum com
a famı́lia pontifı́cia: secretá rio, religioso e domé stico. Se for confortá vel,
uma ú ltima saudaçã o ao Santı́ssimo Sacramento para lhe con iar as
horas da noite. Sobre o exercı́cio da mansidã o, nã o acrescento uma
palavra. Agradeço ao Senhor que com sua bondade me auxilia na
prá tica dos mansos e humildes de coraçã o, palavra e açã o. Idem em
termos de caridade. E o Espı́rito Santo que habita, fala e atua em nó s, e
é derramado sobre o clero e sobre o povo santo com grande paciê ncia e
bondade genuı́na.
Enriqueci com a indulgê ncia plená ria (11 de março de 1960) a Oratio
universalis, chamada pelo Papa Clemente XI: “Creio, Senhor, mas
aumenta a minha fé ”. A memó ria deste Papa, Juan Francisco Albani
(1700-1721), é també m particularmente querida para mim pela sua
piedade e pela sua devoçã o a Sã o José , em cuja festa (19 de março de
1721) morreu. Vou adquirir o há bito de dizer sua oraçã o com mais
freqü ê ncia.
A conclusão da minha aposentadoria. O meu bom Bispo Cavagna
indicou-me isso no episó dio da pesca milagrosa, que termina com o
diá logo entre Jesus e Pedro, cujo toque inal é : Apascenta as minhas
ovelhas (Jo 21,17). Grande prestı́gio nestas palavras divinas: é a
investidura do Papa na sua tarefa de pastor universal, em troca da
trı́plice a irmaçã o do amor de sua parte por Jesus, que se digna a pedi-
lo com doce insistê ncia. Portanto, o amor está no meio. Jesus pergunta a
Pedro sobre este amor: e Pedro o confessa.
O sucessor de Pedro sabe que na sua pessoa e na sua atividade é a graça
e a lei do amor que tudo susté m, anima e enfeita; e diante de todo o
mundo, a santa Igreja está na troca de amor entre Jesus e ele, Simã o ou
Pedro, ilho de Joã o, como sobre um fundamento visı́vel e invisı́vel:
Jesus invisível aos olhos da carne, o Papa Vigá rio de Cristo visível para
todo o mundo. Meditando sobre este misté rio de amor ı́ntimo entre
Jesus e o seu Vigá rio, que honra e que doçura para mim, mas ao mesmo
tempo que confusã o pela pequenez, pelo nada que sou.
Minha vida deve ser toda de amor a Jesus e ao mesmo tempo toda uma
efusã o de bondade e sacrifı́cio por cada alma e pelo mundo inteiro. E
muito rá pida a passagem do episó dio evangé lico que proclama o amor
do Papa a Jesus, e por meio dele à s almas, à lei do sacrifı́cio. O pró prio
Jesus anunciou isso a Pedro. Garanto-lhe que, quando era mais jovem,
você mesmo prendia a túnica com o cinto e ia aonde queria; Mas quando
você for velho, você vai estender as mãos, alguém vai te segurar e te levar
para onde você não quiser (Jo 21,18).
Pela graça do Senhor ainda nã o entrei no senueris, mas com meus
oitenta anos de idade me encontro à s portas. Portanto, devo estar
preparado para esta ú ltima jornada da minha vida em que limitaçõ es e
sacrifı́cios me aguardam, até o sacrifı́cio da vida corporal e a abertura
da vida eterna. Jesus, estou pronta para estender minhas mã os, já
trê mulas e fracas, para deixar algué m me ajudar a me vestir e me apoiar
no caminho.
Senhor, você adicionou Pedro para levá-lo onde você não quer. Depois de
tantas graças, multiplicadas ao longo da minha longa vida, nã o há nada
que eu nã o queira. Tu me revelaste o caminho, Jesus, eu te seguirei por
onde quer que fores (Mt 8,19), ao sacrifı́cio, à morti icaçã o, à morte.
A felicidade que todos esperamos, quando pudermos ver o Senhor e
receber a recompensa. O pensamento da morte, talvez pró xima,
certamente nã o distante, me faz lembrar do meu querido Sã o José , que
é justamente venerado como protetor dos moribundos, por ter
atendido Jesus e Maria em sua bendita e feliz passagem, assim como
toda sua vida foi. desenvolvido em sua empresa.
O hino da Igreja continua com esta evocaçã o: Você já o desfruta todos
os dias, junto com Jesus. Como me apraz selar as ú ltimas notas deste
retiro espiritual com a memó ria da ú ltima estrofe do hino litú rgico, que
a Igreja dedica à Santı́ssima Trindade de Agosto, da qual descende,
pelos mé ritos de Sã o José , esposo de Maria, todas as bê nçã os e toda a
segurança da vida esplendorosa e eterna.
Retiro do Vaticano Pregador: Pe. Hilarino de Milão, Capuchinho (26 de
novembro a 2 de dezembro de 1961)
Breves notas. 1. Recordo o quanto meditei e escrevi por ocasiã o do meu
octogé simo aniversá rio, na solidã o de Castelgandolfo com D. Alfredo
Cavagna, meu confessor (cf. manuscrito dos meus Solilóquios) .
2. Ter entrado - e agora també m saı́do - meus oitenta anos de idade nã o
perturba meu espı́rito; alé m do mais, manté m você calmo e
con iante. Continuamos o mesmo: nã o quero nada mais e nada menos
do que o que o Senhor continua a me dar. Agradeço e abençô o todos os
dias: pronto para tudo.
3. Percebo em meu corpo o inı́cio de algum desconforto que deve ser
natural em um homem idoso. Eu carrego com paz, embora à s vezes eu
ache um pouco chato e me faça temer que vá piorar. Nã o é agradá vel
pensar muito nisso; mas mais uma vez me sinto pronto para qualquer
coisa.
4. Tenho grande alegria em me ver iel à s minhas prá ticas religiosas:
Santa Missa, Ofı́cio Divino, Trı́plice oraçã o do rosá rio meditado, uniã o
contı́nua com Deus e com as coisas espirituais.
5. O exercı́cio da palavra, que deve ser substancial e nã o vã o, faz-me
querer uma aproximaçã o ao que escreveram os grandes pontı́ ices da
antiguidade. Nestes meses conheci Sã o Leã o Magno e Inocê ncio
III. Infelizmente poucos eclesiá sticos cuidam deles, por serem tã o ricos
em doutrina teoló gica e pastoral. Nã o me cansarei de ir a essas fontes
preciosas da ciê ncia sagrada e da alta e deliciosa poesia.
6. Mas, acima de tudo, quero insistir em cuidar das sagradas
intimidades com o Senhor: estar sempre em conversaçã o tranquila e
amorosa com ele. A palavra do Pai se fez carne; centro e vida do corpo
mı́stico; e na continuaçã o da fraternidade divina - divina e humana - da
qual sou seu irmã o adotivo e, com ele, ilho de Maria, sua mã e.
7. A este parentesco se somam a missã o e a dignidade de Sumo
Pontı́ ice da Santa Igreja Cató lica e Vigá rio de Cristo, como todos me
conhecem. Como sinto o sentido e a ternura do Senhor, nã o sou digno
de cada manhã com a santa hó stia na mã o e como selo de humildade e
amor.
8. A espera pelo Concı́lio Ecumê nico Vaticano II absorve grande parte
de minhas ocupaçõ es ordiná rias. Aponta em meu espı́rito o
pensamento e o desejo de envolver em minha oraçã o diá ria a oraçã o de
todo o clero cató lico secular e regular, e das congregaçõ es religiosas
femininas, de uma forma que seja o icial e universal. Vou esperar por
alguma inspiraçã o feliz.
1962
Julho e agosto
Julho e agosto de 1962 . O retiro a Castelgandolfo, deixando o trabalho
ordiná rio - e um pouco indisciplinado - que envolve sempre a sucessã o
dos acontecimentos quotidianos da vida da Santa Igreja, permitiu-me
seguir o Concı́lio na sua preparaçã o. As grandes audiê ncias de um
cará ter um tanto completo ajudaram muito, se você quiser, porque
representaçõ es de todos os paı́ses da terra participaram delas; mas
cheio de encorajamento espiritual e religioso, sempre acompanhado de
um entusiasmo sincero e piedoso, que é edi icaçã o e contribuiçã o de
otimismo. O que parece claro e providencial é a clara distinçã o entre as
impressõ es que todas essas multidõ es de italianos, e ainda mais de
estrangeiros que vê m a Roma, sabem veri icar imediatamente entre o
sagrado e o profano; isto é , a Roma capital do catolicismo, sede do
Ponti icado, e a Roma das ruı́nas antigas e o turbilhã o da vida civilizada
e mundana que també m assola nas margens do Tibre. Mas tudo isso
com uma vantagem para o respeito mú tuo dos diversos elementos
humanos, e sem o contato á spero entre italianos e nã o italianos.
Por sua vez, o Papa soube continuar no seu propó sito, muito bem
compreendido, de sair do seu caminho por tudo o que é um ministé rio
de fé , graça e espiritualidade pastoral, icando fora de qualquer
confusã o de natureza polı́tica, de qualquer gê nero ou graduaçã o. As
palavras bı́blicas do velho patriarca Jacó dirigidas a seu ilho José na
presença de sua mã e e de seus irmã os, enquanto seu pai repassava o
assunto (Gn 37:11), estavam corretas. Com efeito, cada um deve
permanecer no seu lugar, com prudê ncia; conseguimos ter, contra as
previsõ es que anunciavam o im do mundo, um presidente da repú blica,
Segni, que comunga diariamente; um prefeito de Roma, La Porta, um
excelente aluno do Instituto Massimo dos padres. Jesuı́tas, e uma
reorganizaçã o excelente e bem-disposta da administraçã o local. Eles
terã o que ter algumas di iculdades de reorganizaçã o
administrativa; mas eles vã o conseguir o acordo. O governo e a
prefeitura já estã o cuidando de cooperar da melhor maneira possı́vel na
dupla tentativa de tornar o Concı́lio digno de Roma, do ponto de vista
do governo espiritual do mundo, e que Roma, no que diz respeito à
organizaçã o logı́stica, urbana a hospitalidade e a honra prestada aos
seus hó spedes de todas as partes do paı́s, superam todas as melhores
lembranças do passado; muito melhor do que o que nos fez temer as
indisposiçõ es de certos Espı́ritos que em toda parte, mas
principalmente em Roma, estã o ao serviço do príncipe deste mundo (Jo
12,31).
Notas sobre o Conselho. A atitude da pessoa do Servo dos servos de
Deus para celebrar o Concı́lio Ecumê nico é inteiramente sua iniciativa
e jurisdiçã o capita . Breves notas informativas: sua atividade de 25 de
janeiro de 1959 —primeira comunicaçã o sobre o Concı́lio— a 11 de
outubro de 1962, inı́cio o icial da grande festa, está registrada na
crô nica desses trê s anos de preparaçã o. Sã o atas e documentos
informativos já em andamento. Aqui nos referimos apenas à s ú ltimas
formas individuais - ora et labora - do espı́rito religioso e pessoal do
inı́cio imediato do Concı́lio, pelo Papa, segundo breves indicaçõ es e
dados de datas.
Semana de retiro pessoal do Papa (8 a 16 de setembro)
Sábado, 8 de setembro de 1962. Dia de ı́ntima invocaçã o a Maria
nascente; leitura atenta dos regulamentos de initivos para o
desenvolvimento do Conselho; primeira sessã o: da festa da
maternidade à festa da Imaculada Conceiçã o de Maria (11 de outubro a
8 de dezembro). Examinou cuidadosamente os setenta artigos deste
regulamento, aos quais será conveniente voltar com freqü ê ncia.
Domingo, 9 de setembro de 1962. Preparaçã o no Vaticano para meu
retiro na Torre de San Juan, onde quero ir e icar todos esses
dias. Apenas pessoas admitidas: o Cardeal Secretá rio de Estado, se
necessá rio; e todos os dias, à s 11 da manhã , o Padre Ciappi, mestre do
Sagrado Palá cio Apostó lico, para me formar com ele na fala correta do
latim, sempre que me for necessá rio durante as sessõ es gerais
presididas por mim no Conselho; també m todos os dias das 4 à s 5 da
tarde, padre Cavagna, meu confessor ordiná rio.
Segunda-feira, 10 de setembro de 1962. Bem cedo pela manhã e em
silê ncio acompanho o Arcebispo Loris F. Capovilla na transferê ncia das
Santı́ssimas Espé cies Eucarı́sticas da capela do Vaticano para a capela
da Torre de San Juan, onde felizmente inicio meu trabalho. retiro
pessoal, pré -conciliar. Este retiro teve ontem à tarde uma inauguraçã o
de especial devoçã o na visita quase imprevista que aceitei fazer em
privado, mas que foi muito solene pela presença do pú blico, ao templo
de Santa Marı́a de los Angeles. A complexidade das circunstâ ncias
impõ e à boa disposiçã o do meu espı́rito para este retiro preparató rio
para o Concı́lio variaçõ es muito naturais quanto à s meditaçõ es
ordiná rias destes Exercı́cios. Tudo aqui é a preparaçã o da alma do Papa
para o Concı́lio: tudo, até a preparaçã o do discurso de abertura
esperado por todo o mundo reunido em Roma, como demonstrou uma
atençã o muito viva ao discurso que todos ouviram na rá dio esta tarde. .
Mas para dar uma linha do meu pensamento de concentraçã o de
espı́rito, propus ixá -lo nas trê s virtudes teoló gicas: fé , esperança,
caridade e nas quatro virtudes cardeais: prudê ncia, justiça, fortaleza e
temperança; precisamente sete pontos-chave, plenamente dignos de
meditaçã o concentrada nã o só para todo bom servo do Senhor, mas
sobretudo para a perfeiçã o da virtude santa e santi icadora de um
bispo, e especialmente do bispo dos bispos, que deve brilhar como o
má ximo ponto luminoso na gló ria de um Concı́lio.
Esta, entã o, é a ordem das datas e dos pontos de meditaçã o
concentrada: domingo, 9 de setembro, augú rio celestial: a Virgem dos
Anjos; Segunda-feira, 10: Fé e Esperança; Terça-feira, 11:
Caridade; Quarta-feira, 12: Prudê ncia; Quinta-feira 13: Justiça; Sexta-
feira 14: Fortaleza; Sá bado, 15: Temperança.
Começo do meu retiro pessoal para o Conselho na Torre de San Juan
Segunda-feira, 10 de setembro de 1962, São Nicolau de Tolentino. Santa
Missa em casa, com uma oraçã o à minha Sagrada Famı́lia na capela para
que Jesus, Maria, Sã o José e Sã o Joã o Menino me protejam e inspirem
nesta semana de solidã o espiritual. Depois da Santa Missa, e em silê ncio
absoluto, D. Loris Capovilla tirou as Espé cies Sagradas do taberná culo, e
eu o acompanhei a caminho da Torre, onde as depositou na nova capela,
sobre o altar de estilo chinê s que sempre lembrará mim do misté rio,
missioná ria da vida do Papa. As 11 horas veio o P. Ciappi, professor do
Sagrado Palá cio, com quem comecei a falar latim; Da mesma forma, à s 4
da tarde, chega Dom Cavagna, meu confessor. Vejo muito bem que a
preocupaçã o de servir ao Concı́lio prevalecerá sobre as formas
ordiná rias da chamada EE. Mas o que é esta vida do Papa senã o uma
continuaçã o diá ria de verdadeiro exercı́cio espiritual para a salvaçã o de
sua alma, ocupada em salvando almas de todos os redimidos de Cristo
Jesus, salvador do mundo?
Quarta-feira, 12 de setembro de 1962, santíssimo nome de Maria. Como é
suave para o coraçã o / seu nome, Maria. / Toda a minha doçura vem
desse seu nome. / Que bela ideia de amor / Aprendi com o teu nome, /
que lindos e ardentes desejos / desperta sempre no meu ventre.
Essas estrofes sã o o inı́cio da primeira poesia que aprendi em criança, e
aprendi no segundo livro que entã o foi usado na escola municipal. O
meu primeiro ano de escola iz na entã o casa do Camaitino, a primeira
no canto direito da chamada praça, que vem da Guardina. Do outro lado
icava a loja de Rosa Bonanomi e sua irmã Mariana, que estava
doente. Deve ter sido 1886 ou 1887. No ano seguinte, com a nova
Câ mara Municipal, foi inaugurada a nova escola no Bercio, e durante
dois anos fui um dos primeiros a utilizá -la.
Quinta-feira, 13 de setembro de 1962, Santo Maurício. Grande aplicaçã o
tem a posse da virtude da justiça, li uma vez em uma pá gina do Cardeal
Mercier; e foram algumas palavras do Eclesiá stico. Que lindo todo o
capı́tulo que fala da justiça de Deus, que rico de ensinamentos para a
vida ı́ntima, privada e pú blica. Enquanto isso, continuo minhas
conversas espirituais em latim com o bom padre Ciappi, e à tarde com o
bispo Cavagna, meu confessor. Infelizmente, as preocupaçõ es que me
acompanham aqui també m nã o me permitem aprofundar. Mas tudo
serve para me dar â nimo e sentido espiritual em ônibus. O que meu
ministé rio precisa.
Sábado, 15 de setembro de 1962, São Nicomedes. O meu retiro, sem
nenhum outro contacto senã o o do P. Ciappi e do Monsenhor Cavagna,
em preparaçã o directa e pessoal ao Concı́lio, termina hoje, embora nã o
tenha sido perfeito, como eu desejava, inteira e unicamente no espı́rito
e propó sito que eu foi corrigido. Mas foi um bom exemplo; nã o houve
distraçõ es externas ou vagas de negó cios, literatura ou qualquer outra
coisa. Tem havido uma atençã o mais intensa à uniã o com o
Senhor. Deixa em meu coraçã o um fervor crescente pelas coisas que
dizem respeito à substâ ncia do meu ministé rio e ao meu mandato
apostó lico. Senhor Jesus, compense minhas de iciê ncias. Senhor, você
sabe tudo; você sabe que eu te quero.
Compêndio de um grande agradecimento a quem tem baixa
autoestima. Compê ndio de grandes graças feito a quem tem baixa
autoestima, mas recebe boas inspiraçõ es e as aplica com humildade e
con iança.
Primeiro . Aceitar com simplicidade a honra e o peso do ponti icado,
com a alegria de poder dizer que nada fez para o provocar,
absolutamente nada; alé m disso, com um interesse cuidadoso e
consciente de minha parte em nã o fazer nada que pudesse atrair a
atençã o para mim; muito feliz, em meio à s variaçõ es do Conclave,
quando vi algumas possibilidades se dissiparem no meu horizonte e se
voltarem para outras pessoas, a meu ver, verdadeiramente dignas e
venerá veis.
Segundo . Faça com que certas ideias que nã o sã o complexas, mas muito
simples, mas de amplo escopo e responsabilidade para o futuro, e com
sucesso imediato, pareçam simples e de execuçã o imediata. Que
expressã o é você : acolher as boas inspiraçõ es do Senhor com
simplicidade e con iança. Sin haber pensado antes en ello, sacar a
relucir en un primer diá logo con mi Secretario de Estado, el 20 de enero
de 1959, las palabras Concilio ecumé nico, Sı́nodo diocesano, revisió n
del Có digo de Derecho Canó nico, en contra de toda suposició n o
imaginació n mı́a neste ponto. Fui o primeiro surpreendido com a minha
proposta, sem que ningué m me desse qualquer indicaçã o a
respeito. Depois, tudo me pareceu tã o natural em seu desenvolvimento
imediato e contı́nuo. Depois de trê s anos de preparaçã o, certamente
laboriosa, mas també m feliz e tranquila, estou aqui ao pé da montanha
sagrada. Que o Senhor me sustente para levar tudo a um bom im.
Últimas notas de 1962
1 de outubro de 1962. Bom começo para o mê s do Conselho. Rainha do
Santíssimo Rosário, rogai por nós. Tal princı́pio é marcado por um ato
diplomá tico, desde que recebi o novo embaixador da Nicará gua. Com
estes novos senhores diplomá ticas eu chegar em melhor, porque eles
sã o ainda mais insegura do que eu, que já estou habituado a este gesto
de cortesia. A reuniã o mais nobre e mais importante deste dia tem sido
com os cardeais, desde que recebi quatro: o Secretá rio de Estado,
Cardeal Cicognani; Cardinal Santiago Copello, Chanceler da Santa Igreja
Romana: simples e assuntos comuns; Cardeal Antonio Marı́a Barbieri, o
arcebispo de Montevidé u, sempre atualizado com idé ias e palavras, mas
com o declı́nio da saú de; ao Cardeal Lercaro de Bolonha, que me
informa de seu Centro de Documentaçã o, na presença de Don Dossetti e
colegas. Promessa bonita de excelente trabalho. Eles me oferecem sua
lor mais preciosa: Conciliorum Oecumenicorum Decreta. Encorajo-vos e
abençoo-vos do fundo do meu coraçã o.

2 de outubro de 1962 . A festa dos Santos Anjos é toda para mim, que
desde pequeno chamavam Angelino de pretino . Aos 81 anos, agrada-me
invocar todo o exé rcito das milı́cias celestes para proteger e servir a
Igreja universal, em cujo vé rtice está colocado este insigni icante ilho
de Bautista e Marianna Roncalli. Oh santos anjos, continuem me
protegendo, e comigo a santa Igreja. Hoje recebi o icialmente
Mesayoshi Ohira, Ministro das Relaçõ es Exteriores do Japã o. Oh, Japã o,
que conquista seria para o reino do Senhor.
3 de outubro de 1962. No inı́cio do dia, aqui está Santa Teresa do Menino
Jesus, que o Papa Pio XI declarou padroeira das missõ es. Oro e espero
que seja um promotor de pureza e espı́rito missioná rio entre moças
inocentes em todo o mundo. Hoje recebi o novo embaixador da
Espanha, de quem espero muito bem porque é um cató lico
fervoroso. As 10 horas, audiê ncia geral, a ú ltima em San Pedro antes do
Conselho. Nele coloco todo o fervor da minha palavra e do meu espı́rito
para este assunto iminente, e espero que você tenha me entendido
bem. Sinto cada vez mais o desejo de que as vá rias representaçõ es
nacionais que chegam a Sã o Pedro compreendam a palavra do Papa em
breve e bem, pelo menos nos seus traços principais. Para prepará -los
adequadamente, terei que dedicar o má ximo de tempo possı́vel a eles.
04 de outubro de 1962 . Eu teria que escrever esta data da minha vida
em letras de ouro: A peregrinação que eu desejava - e em poucos dias eu
consegui programa e tornar realidade com a ajuda do Senhor - para o
santuá rio da Virgem de Loreto e Sã o Francisco de Assis, para implorar
graças extraordiná rias em favor do concı́lio ecumê nico Vaticano II. Eu
pensei sobre isso, como eu costumo fazer, com simplicidade, e eu
decidi; o Cardeal Secretá rio de Estado teve um interesse alegre. Eu
escrevo esta nota no inal do dia que vai sempre continuar a ser um dos
mais sagrado e mais feliz da minha humilde ponti icado. Meu espı́rito
permaneceu calmo, como o Vaticano, Roma, Itá lia, e todo o mundo se
um dos consolos mais suaves na vida cató lica. A visita do Papa à Virgem
de Loreto e Sã o Francisco de Assis foram objecto de uma mú sica
agradá vel e inesquecı́vel.
5 de outubro de 1962. Dois bons encontros: no primeiro, com a sessã o
plená ria e de estudos da Pontifı́cia Academia das Ciê ncias, li algumas
palavras de satisfaçã o e de encorajamento para o futuro. As 11 horas,
visita o icial de SE Leopoldo Sé dar Senghor, presidente da promissora
Repú blica do Senegal. Ele é um cristã o cató lico muito bom e educado,
um bom conhecedor do francê s e de sua pró pria lı́ngua. Isso merece
toda a minha atençã o. O resto do dia foi de excelente descanso, sempre
estimulado pelas alegres impressõ es do grande acontecimento de
ontem que ocupa, de forma preeminente, a atençã o de todo o mundo,
em proporçõ es inesperadas.
8 de outubro de 1962. Audiê ncias: Cardeal Cicognani, Secretá rio de
Estado; Cardeal Cagiano, Arcebispo de Buenos Aires; Dom Paro, bispo
de Ciocesarea de Isauria e sucessor do meu falecido Dom Giacomo
Testa, Presidente da Pontifı́cia Academia Eclesiá stica com seus
familiares; Dom Egido Vagnozzi, Arcebispo de Mira, Delegado
Apostó lico nos Estados Unidos Especialmente importante e caro à
audiê ncia do Cardeal Esteban Wyszynski, Arcebispo de
Varsó via; primeiro sozinho e depois com os bispos polacos, nobre
grupo de distintos prelados que rodei com a mais cortê s cordialidade.
9 de outubro de 1962. Papal Chapel para o aniversá rio da morte do
Santo Padre Pio XII, de feliz memó ria. Eu queria, com o meu exemplo,
para aumentar o respeito pela memó ria digna e santa deste servo dos
servos de Deus, de quem recebi tantos bons exemplos de uma vida
totalmente consagrada à Igreja, da qual ele era como um digno e
Pontı́ ice edi icante. Noto també m o pú blico de Bishop Csaná d
(Hungria), Sandor Ková cs, bispo de Szombathely (Hungria) e Carmelo
Zazinovich, Bispo Auxiliar de Veglia (Iugoslá via): terras de dor e
grandes preocupaçõ es.
11 de outubro de 1962 . Este é o dia da abertura solene do Concı́lio
Ecumê nico. Todos os jornais dã o a notı́cia e Roma está no coraçã o
exultante de todos. Agradeço a Deus por me ter feito digno da honra de
abrir, em seu nome, este princı́pio de grandes graças para a Santa
Igreja. Ele providenciou para que a primeira centelha que ele
preparasse, durante trê s anos, esse acontecimento saı́sse da minha
boca e do meu coraçã o. Ele estava disposto a desistir até mesmo da
alegria dessa abertura. Com a mesma calma repito que seja feita a tua
vontade quanto ao facto de me manter nesta primeira posiçã o de
serviço em todos os momentos e por todas as circunstâ ncias da minha
humilde vida, ou para ser interrompido a qualquer momento, devido a
este compromisso de prosseguir, para continuar e concluir a passagem
para o meu sucessor. Seja feita a tua vontade, assim na terra como no
céu.
12 de outubro de 1962. Hoje se realizou na Capela Sistina, bem decorada
para a ocasiã o, a recepçã o das oitenta e cinco Missõ es Extraordiná rias,
e do Corpo Diplomá tico que participou ontem da festa de abertura do
Concı́lio Ecumê nico. A minha intervençã o foi bem recebida e houve
grande cordialidade nas breves conversas familiares, que renovaram o
prazer de me encontrar com ex-diplomatas de renome e outras
personalidades ilustres. Tive tempo e oportunidade de receber na sala
do trono vá rios ministros da cultura de alguns paı́ses do Conselho da
Europa com as suas delegaçõ es. Pude també m receber dois visitantes
especiais: Monsenhor Simeon Kokoff, bispo auxiliar de Só ia e
Filipó polis, e junto com trê s bispos tchecoslovacos: Edouard Necsey,
auxiliar de Nitria; Ambroz Lazik, gerente da Tirnova; e Frantosek
Tommasek: History of Sorrows and Sorrows.
13 de outubro de 1962. Audiê ncias: Bispo Dell'Acqua, sempre chama
ardente e encorajador. Uma linda visita do Cardeal Richard James
Cushing, Arcebispo de Boston. Você pode aplicar o da Bolsa de Valores
de San Carlos porque ela obté m dinheiro de obras de caridade e boas
obras, e as faz a todos. Ele é um pouco preguiçoso em latim, mas é um
anjo de bondade, zelo e espı́rito pastoral. Em seguida, recebi seus
assistentes Monsenhor Minihan e Monsenhor Riley. Depois, recebi
també m o Bispo José Bummal, de Nova Orleans, com seu coadjutor
Patrick Cody, Arcebispo de Bostra.
14 de outubro de 1962. Ontem sá bado e hoje domingo tive trê s
audiê ncias importantes. Ontem, na Sistina, os representantes da
Imprensa Internacional com um discurso que continha educadamente
sé rios e sé rios apelos à honestidade e à elevaçã o. A tarde recebi na sala
do consistó rio, mas nã o do trono, os observadores de vá rias con issõ es
nã o cató licas, um feliz encontro que parece ter deixado excelentes
impressõ es. Se Deus quiser, para sua gló ria. Muito agradá vel para mim
esta tarde de domingo foi a visita à Virgem do Parto em San Agustı́n, em
frente ao meu Seminá rio Romano, onde me era familiar desde 1901 a
entrada do local onde se encontra a imagem. Festa e acolhida popular,
comovente e devoto.
15 de outubro de 1962 . Santa Teresa. Estou acompanhado hoje pelo Dr.
Fred Pierce Corson, Presidente do Conselho Mundial
Metodista. Abracei-o para o melhor da minha capacidade, mostrando
preocupaçã o a iado para ele e para as almas dos metodistas que, ele me
disse, o nú mero de mais de 50 milhõ es em todo o mundo. Deixei-me
para abrir a doutrina da Imitação de Cristo para ele e ele acolheu muito
bem. Ele me deixou a impressã o de que você está em boa fé . Ele é pai de
famı́lia, vá rias vezes avô , sé rio e gentil. Por que nã o vou orar por ele nas
mentes das muitas almas separadas dos cató licos e, ainda assim,
redimidas pelo sangue de Cristo? O encontro mais feliz hoje foi o dos
cardeais que compõ em a Presidê ncia do Conselho: Tisserant, Tappuni,
Spellman, Pla e Daniel, Frings, Ruf ini, Caggiano, Alfrink, Lienard,
Gilroy. Tudo me dá esperança.
1963
Palavras de despedida
1º de janeiro de 1963. Louvado seja o nome do Senhor agora e para
sempre. Eu me levanto como de costume à s quatro. Manhã tranquila em
oraçã o e bom trabalho. Preparaçã o da carta aos bispos do Concı́lio. A
tarde, Cardeal Testa: as saudaçõ es de Ano Novo. Apelo ao Bispo
Cerasola e projeto para um encontro dos Bergamascos que vivem em
Roma. A noite, em La Clementina, mú sica natalina com adolescentes de
trê s instituiçõ es de caridade: Gnocchi, Orioniti, Nazareth. O concerto
contou també m com a presença de alguns recé m-casados de Medolago:
Ghisleni Virginio ilho do outro Virginio, já falecido, meu sobrinho, ilho
da minha irmã Teresa. O recé m-casado é um Carminati de
Medolago. Eles parecem promissores. Observo com alegria e gratidã o
ao Senhor que este primeiro dia de 1963 começou muito bem, até no
que diz respeito ao meu fı́sico.
2 de janeiro de 1963. Bom dia. Sã o à s quatro. A preparaçã o da minha
carta aos bispos de todo o mundo sobre a continuaçã o do Concı́lio
continua. Audiê ncia geral do meio-dia na Clementina. Falei muito e com
fervor sobre o Nome de Jesus: inspirado no breviá rio, em Sã o Bernardo
e Sã o Bernardino. Tive a impressã o de que me seguiam bem. Vou tentar
ser mais curto, como um duplo sinal do novo ano. Ontem comecei o
breviá rio segundo o ordiná rio de Sã o Joã o de Latrã o, minha verdadeira
sede, e a breve visita ao Santı́ssimo na capela, fora da sala de jantar,
como no Seminá rio de Bé rgamo. O Senhor me ajuda a continuar, com a
intençã o de que tudo aproveite a alma e o corpo. O jovem prefeito de
Istambul.
3 de janeiro de 1963. Muito agradá vel audiê ncia com o prefeito de Roma,
Professor Glauco Della Porta, que veio me desejar um feliz ano
novo. Diá logo muito feliz que se concluiu com a promessa de voltar à
Epifania para uma manifestaçã o mais solene de todo o Conselho
Capitolino, com a bandeira da cidade e com as nobres e numerosas
representaçõ es da administraçã o da Cidade. Seguiu-se uma audiê ncia
alegre e calma do Cardeal Cento, o penitenciá rio; e depois pude
divertir-me bastante com o vice-diretor, Dom Hé ctor Cunial, com quem
foi um prazer falar sobre o cuidado espiritual pelo presente e pelo
futuro do Vigá rio. Terei prazer em gastar o que tenho e me desgastar (2
Co 12,15) pelo meu rebanho espiritual, o primeiro e mais importante
para o sucessor de Pedro.
Fim de abril de 1963. Quando me sinto fraco, é quando me sinto mais
forte (2 Co 12,10). Queira Deus que estas palavras sejam o começo
entre a uniã o de algumas minhas dores fı́sicas ou morais e o maior ê xito
nos frutos espirituais do meu ministé rio pela causa da Igreja nestes
momentos de tantas dú vidas.
Quarta-feira, 1 ° de maio de 1963. A noite de 1 ° de maio transcorreu
entre Santa Catarina de Sena e suas memó rias do serviço ao Papa e as
condiçõ es atuais. A vigı́lia deu-me muitos projetos que con io a Maria e
que quero honrar. Acima de tudo, a busca de uma maior intimidade
espiritual: entre Maria e o Conselho, ao qual devo me adaptar. Hoje
passei duas horas na torre de San Juan (e pretendo voltar a ela)
examinando as Atas em preparaçã o para que sejam enviadas aos bispos
conciliares o mais rá pido possı́vel. Depois, há toda uma consagraçã o
que hoje comecei a ativar e para a qual convergirei o mé rito das dores
fı́sicas que mal me dã o tré gua. A minha presença e palavra - A Virgem,
São José, a Igreja - na grande audiê ncia desta manhã em Sã o Pedro,
espero que sejam a reverente e ressoante nota de anú ncio da minha
homenagem a Maria.
10 de maio de 1963. Estamos nos dois dias da glori icaçã o do pobre
Papa Joã o por seus mé ritos como princeps pacis. Esta manhã foi a
entrega do Prê mio da Paz da Fundaçã o Stefano Valzan na Sala Regia do
Vaticano. Recebi o Presidente da Repú blica Italiana Antonio Segni, e
mais tarde seu antecessor, Gronchi. Ao presidente Segni na Sala Regia,
quase em privacidade, a Gronchi em San Pedro, ambos em
francê s. Tudo correu bem, com satisfaçã o geral, tanto no palá cio como
no templo. A distinçã o entre a Sala Regia foi bem-sucedida , por um ato
civil que se realiza em estilo secular e o icial, contido em suas formas, e
seu triunfo diante da multidão do templo como um holocausto de
caridade perfeita digno de celebraçã o no imenso bası́lica. que santi ica
tudo. Como espetá culo religioso e comemorativo das trê s virtudes
teoló gicas, nada poderia ser mais signi icativo e comovente.
11 de maio de 1963. Que o Senhor nos conceda uma noite serena e um
descanso tranquilo. Estas palavras litú rgicas concluem muito bem o que
aconteceu nestes ú ltimos dias, quando o triunfo da paz foi proclamado
daqui, do centro do mundo. Cerimô nia dupla de ontem na Sala Regia e
no Vaticano, e esta tarde. A visita do Papa ao Quirinal com os discursos
dos dois Presidentes Gronchi e Segni, e do pró prio Papa, marcam dois
dias histó ricos e bené icos no futuro da minha vida e do meu serviço à
Santa Sé e à Itá lia. Voltando a isso, eu també m - embora eu seja um
pouco frio nessas coisas - nã o posso controlar minha emoçã o e gratidã o
ao Senhor que olhou para a humildade de seu servo ... e quem é poderoso
fez grandes coisas em mim (cf Lk 1, 4849). Quem poderia imaginar
aplicar - justamente à minha fraqueza - essas palavras misteriosas
permeadas de tanta graça?
16 de maio de 1963. Hoje, entre a ninhada e a estante, encontro dos
representantes das quatro obras missioná rias: Propagação da Fé, Santa
Infância, Obra de São Pedro, Alunos do Seminário de São
Pedro. Aconteceu na Sala Clementina. Minha resposta por escrito e
subsequente adiçã o à famı́lia. Lembro-me com entusiasmo da primeira
assembleia dos representantes dessas obras em 1923. Restam apenas
dois da primeira assembleia.
20 de maio de 1963. Caro Sã o Bernardino, favorito de meus santos. Com
a doçura de sua memó ria você me deu vá rios sinais da continuaçã o de
uma grande dor fı́sica que nã o me dá tré gua e me faz pensar e sofrer
muito. Esta manhã , pela terceira vez, tive que me contentar em receber
a comunhã o na cama, em vez de aproveitar a celebraçã o da
missa. Paciê ncia, paciê ncia. Mas nã o podia renunciar a uma visita de
despedida ao Cardeal Wyszynski, Primaz da Poló nia, Arcebispo de
Gniezno e Warszawa, com quatro dos seus bispos que regressaram
recentemente a casa. O resto do dia na cama, com vá rias crises de dores
fı́sicas intensas. Meus parentes sempre me ajudam com grande
caridade, o Cardeal Cicognani, o Bispo Capovilla, o Irmã o Federico
Belotti e os membros da famı́lia.

Índice

Diário da alma
Introdução

1. Breve biogra ia
2. Bibliogra ia
3. João XXIII
4. Diário da alma

1 No seminário de Bergamo (1895-1900)

Regras de vida a serem observadas pelos jovens que desejam progredir na


vida de piedade e de estudo
Objetivos feitos nos EUA em 1896 e con irmados em 1897 e 1898
De santa pureza
Notas espirituais
Notas espirituais no retiro mensal após a morte do pároco padre
Francisco Rebuzzini, sinal sagrado da minha infância e da minha vocação
Máximas tiradas de meditações nos EUA
Notas espirituais
Impressões e re lexões dos EUA a partir do Ano da Graça, Seminário de
Bérgamo (fevereiro de 1900)
Promessa solene ao Sagrado Coração de Jesus sob os auspícios de São Luís
Gonzaga
Jesus, Maria e José Ano Santo 1900

2 No seminário de Roma (1901-1903)

Retiro espiritual
EE. EE. Com o P. Francisco Pitocchi (10-20 dezembro)
Diário espiritual
Notas espirituais
Páscoa nos EUA, para pedidos de subdiáconos (1 a 10 de abril de 1903)
Notas espirituais
Roccantica Holiday Retreat (29 de agosto de 1903)
Breves exercícios no início do curso Roma (1-3 de novembro de 1903)
EUA para ordenação de diácono (9 a 18 de dezembro de 1903)

3 Ordenação Sacerdotal e Secretário de Dom


Radini Tedeschi (1904-1914)

Ano de ordenação sacerdotal


EE. De preparação ao sacerdócio, no retiro dos Pe. Passionistas dos
Santos João e Paulo em Célio (1 a 10 de agosto de 1904)
Peregrinação à Terra Santa (18 de setembro, 22 de outubro)
Exercícios na casa da Sagrada Família Martinengo (1-7 de setembro)
EUA EUA com o Sr. Bispo Martinengo (25 a 31 de outubro)
EUA EUA com o Sr. Bispo Martinengo (19 a 25 de setembro)
EUA EUA com o Sr. Bispo Martinengo (2 a 8 de outubro)
EUA EUA com o Sr. Bispo Martinengo (1 a 7 de outubro)
EUA EUA com o Sr. Bispo Martinengo (13 a 19 de outubro)
EUA EUA com o Sr. Bispo Martinengo (19 a 25 de outubro)
Após dez anos de sacerdócio
USA USA com os padres do Sagrado Coração, Bergamo (27 de setembro -
3 de outubro de 1914)


4 A guerra, diretor espiritual do seminário de
Bérgamo e transferência para Roma, a serviço
da propagação da fé (1915-1924)

A Primeira Guerra Mundial


EUA depois da guerra, com os padres do Sagrado Coração (28 de abril, 3
de maio)
Ao serviço da propagação da fé

5 Consagração Episcopal, representante papal


na Bulgária (1925-1934)

Os preparativos para a consagração episcopal Villa Carpegna, Roma (13


a 17 de março)
Retiro espiritual, Mosteiro de São Paulo, Roma (27 de novembro, 2 de
dezembro)
Retiro espiritual, Jesuit House Lubiana, Eslovênia (9 a 13 de novembro)
Aposentadoria anual, residência PP. Lazaristas de Babek pelo Bósforo (20
a 24 de dezembro)
Retiro espiritual, casa PP. Passionistas de Ruschuk (28 de abril, 4 de maio)
Retiro espiritual breve, casa PP. Conventuais de Bujukada, próximo ao
Bósforo (18 a 21 de junho)
Retiro espiritual com os padres. So ia Capuchinhos (4-8 de setembro)
Retiro espiritual com os padres. Passionistas de Ruschuk (27 a 31 de
agosto)

6 Representante Ponti ício na Turquia e Grécia


(1935-1944)

EUA EUA com meus padres Istambul (15 a 22 de dezembro)


Casa das Filhas do Sagrado Coração de Ranica, Bérgamo (13 a 16 de
outubro)
Retiro espiritual com meu clero secular em Istambul (12 a 18 de
dezembro)
EUA EUA: Casa de Pensamentos e Propósitos dos Jesuítas de Ayas Pasa
Istanbul (12-18 de novembro)
US US: Notes. Terapia junto à Casa das Religiosas de Nossa Senhora de
Sion do Bósforo (25 de novembro, 1 de dezembro)
EUA EUA com meu clero Da festa de Cristo Rei à de Todos os Santos
Istambul (25-31 de outubro)


7 Representante Ponti ício na França (1945-
1952)

Retiro durante a Semana Santa Solesmes (26 de março, 2 de abril)


EE. EE.: Pensamentos e propósitos Villa Manresa, dos Frs. Jesuítas Paris (8
a 13 de dezembro)
Retiro anual do Mosteiro Beneditino do Sagrado Coração de Calcat,
Dourgne (23-27 de novembro)
Notas espirituais do meu breve retiro quinta-feira, sexta-feira, sábado
santo e Páscoa Oran, Argélia (6 a 9 de abril)
Retiro espiritual Quinta, Sexta e Sábado Santo RR. del Carmelo,
Montmartre (10 a 12 de abril)

8 Cardeal Patriarca de Veneza (1953-1958)

Retiro espiritual com os bispos da Província de Triveneta. Pregador: Pe.


Federico da Baselga, Capuchinho. Seminário de Veneza (15 a 21 de maio)
Exercícios pregados pelo bispo Landucci Torreglia (6 a 12 de junho)
USA USA with the triveneto episcopate Preacher: Fr. Ricardo Lombardi, SJ
Villa Inmaculada de Torreglia, Padua (20-25 de maio)
Retiro espiritual, Seminário de Saúde de Veneza (11 a 15 de junho)
EUA EUA com os bispos do Episcopado Triveneto Pregador: Dom Van
Lierde, sacristão de Sua Santidade Torreglia (2 a 7 de junho)
EE. EE. Com os Frs. Cavanis. Pregador, nomeado por mim: Dom A.
Signora, Arcebispo, Prelado de Pompéia. Casa do Sagrado Coração Col
Draga di Possagno (22 a 26 de setembro)

9 Pope (1958-1963)

EUA EUA no Vaticano para Pregador do Advento: Pe. Messori Roncaglia,


SJ (30 de novembro a 6 de dezembro)
Retiro espiritual no Vaticano. Pregador: Dom José Angrisani, Bispo de
Casale. Convidado por mim, ele produziu uma impressão geral e
edi icante (29 de novembro, 5 de dezembro)
Retiro espiritual no Vaticano Pregador: Bispo Pirro Scavizzi, missionário
(27 de novembro, 3 de dezembro)
Meu retiro espiritual em preparação ao octogésimo ano de minha vida
Castelgandolfo (10 a 15 de agosto)
Retiro do Vaticano Pregador: Pe. Hilarino de Milão, Capuchinho (26 de
novembro a 2 de dezembro de 1961)
Julho e agosto
Semana de retiro pessoal do Papa (8 a 16 de setembro)
Começo do meu retiro pessoal para o Conselho na Torre de San Juan
Últimas notas de 1962
Palavras de despedida

Você também pode gostar