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A histó ria de Santa Isabel da Hungria

William Canton

A Chuva de Rosas

Algué m fala de Santa Isabel da Hungria. Um castelo de colina cinza


ergue-se da né voa e dos pinheiros nevados da loresta da Turı́ngia, e
uma igura de menina aparece na trilha de colina gelada, deixando cair
de seu avental uma chuva de rosas angelicais. Ela traz consigo o frescor
e a cor do amanhecer de verã o e, por um momento, sua doçura simples
ilumina os confusos recessos escuros da Idade Mé dia.
Para muitos leitores, o nome de Santa Isabel signi ica agora apenas
isso. Nã o lembra a eles a criança vencedora de quatro anos de idade,
levada de sua casa real para uma terra estranha e distante; a donzela
ó rfã de mã e exposta ao escá rnio dos cortesã os e à insolê ncia dos
criados; a menina de nove ou dez anos ameaçada de repú dio e um
retorno desonrado para seu pai. Eles nã o pensam que ela se casou aos
catorze anos; viú vo aos vinte; despojada de tudo e expulsa por seus
parentes nas profundezas do inverno; morto aos vinte e
quatro; canonizada quatro anos depois e coroada em sua mortalha por
um imperador. A rosa-lenda de sua compaixã o eles mantê m na
memó ria; esqueceram a alegre sujeiçã o a um ideal de santidade
apaixonada, a entrega de um coraçã o puro à s afeiçõ es humanas
imaculadas, o sacrifı́cio de tudo o que o poder e o esplendor do mundo
poderiam dar a uma in inita piedade pelas misé rias dos pobres, o as
humilhaçõ es, os sofrimentos, as tristezas, a morte prematura, que
tornam sua histó ria uma das mais dolorosamente belas já contadas.
Dois anos antes de sua alma feliz deixar a terra, um rapaz nasceu em
Apolda, alé m da antiga loresta, na fronteira nordeste da Turı́ngia. Mais
de uma vez, seu pai pode muito bem ter visto Elizabeth enquanto ela
cavalgava com seu Landgrave de cabelos claros até a fortaleza de
Neuenburg (Naumburg), na colina com vista para o Vale
Saale. Posteriormente, o pequeno Dietrich tornou-se "o mais humilde e
indigno sacerdote e frade" da Ordem dos Pregadores de Sã o Domingos,
tornou-se um amante ardente de sua santa memó ria e ansiava por
escrever sua Vida.
Muitas coisas foram registradas sobre ela no Livrinho contendo as
lembranças de suas damas em Wartburg e duas de suas atendentes
posteriores. Havia també m a carta na qual seu diretor espiritual,
Conrado de Marburg, descreveu sua vida, morte e milagres ao Papa
Gregó rio IX. Mas isso deixou muito para um coraçã o á vido
desejar. Detalhes familiares demais na é poca para precisarem de
nomes, tı́tulos, pessoas, datas e localidades, a pró pria cor e a pró pria
vida da histó ria, haviam sido omitidos em silê ncio, e Dietrich viu que
deveria corrigir as omissõ es. Ele se voltou esperançoso para vá rias
Crô nicas escritas, leu os sermõ es comemorativos deste e daquele
irmã o, e "nã o encontrando descanso para o pé de sua saudade", agarrou
o cajado e o chifre de tinta e partiu em uma busca fervorosa.
Um o segue, peregrino apaixonado, entre as colinas e lorestas da terra
da Turı́ngia e muito alé m; visitando conventos e mosteiros, vilas, burgs,
torpes rú sticas; questionando o mais velho dos velhos em cuja palavra
ele pode con iar; conversando com homens e mulheres santos no
jardim e no claustro; contemplando com olhos brilhantes alguma
relı́quia ou memorial da santa senhora de seu amor, trê s vezes feliz se
seus lá bios profanos ou sua mã o a tocarem. No fundo, muito
Minnesinger, pode-se ver, apesar de toda sua tú nica preta grosseira e
cinto com nó s; e um bió grafo muito escrupuloso e dedicado. "Cartas a
que me dirigi (aqui e acolá ), buscando em todos esses assuntos a
verdade da coisa e lutando pela completude histó rica." Escrevendo
sobre Elizabeth dessa maneira, ele di icilmente deixaria de lado o jovem
Landgrave, seu marido Lewis, que "fomentava e compartilhava de toda
a sua bondade". Esse jovem prı́ncipe é uma peça memorá vel e estrelada
da masculinidade; na verdade, até onde se pode descobrir, o ú nico
personagem esplê ndido daqueles dias digno de uma associaçã o ı́ntima
com a inocê ncia infantil e a santidade feminina como a de Elizabeth.
Assim, aos sessenta anos, quando já era frade há mais de quarenta,
Dietrich começou a escrever. Organizaçã o, alteraçã o,
complementaçã o; à s vezes omitindo, mas na maioria das vezes
transcrevendo as palavras de suas autoridades, ele montou seu
livro; revisado e reescrito e mais uma vez reescrito muitas porçõ es dele
com suas pró prias mã os, e com a visã o falhando, pobre alma; mas nada
ele inseriu ("Eu declaro perante Deus e Seus anjos eleitos"), exceto o
que foi garantido por escritos aprovados e pela veracidade de pessoas
devotas.
O tema inspirou muitos outros antigos escritores em prosa, e pelo
menos um em verso; e o encanto daquela alma inocente, quase tã o
infantil em sua beleza no inal como era no inı́cio, nã o se perdeu em
nossa pró pria é poca. Recorre-se a Dietrich para a histó ria mais antiga,
mas qualquer coisa encontrada em outro lugar que pudesse atrair olhos
jovens, desde o outono de rosas celestiais até o pró prio "querido
esmoler do cé u", foi usado nestas pá ginas.

A Profecia de Klingsohr

Era o inı́cio do sé culo XIII, o meio-dia da Era da Fé . O povo cristã o vivia
tã o perto do invisı́vel quanto do mundo visı́vel. Os misté rios da religiã o
e a ocorrê ncia de milagres nã o deviam ser questionados mais do que a
realidade da montanha - rocha e loresta - á rvore. Os homens
acreditavam intensamente. O sangue ı́gneo de raças semibá rbaras pode
levá -los a ataques de loucura, mas o pecado in lamado ou o crime cruel
era seguido por jejum, oraçã o e torrentes de lá grimas, e talvez expiado
por um açoite pú blico na porta da igreja.
Nesse momento, a cristandade ocidental estava passando por uma
imensa transformaçã o. A velha ordem social estava se rompendo pela
vontade de um potentado que empunhava a espada deste mundo e
possuı́a as chaves do pró ximo. A Cruz Vermelha emancipou o burguê s e
o servo dos campos, libertou o devedor, libertou o criminoso, absolveu
o vassalo dos serviços prestados ao seu senhor feudal. Do sonho
cavalheiresco de entregar o Santo Sepulcro, os grandes nobres da
Europa despertaram para a percepçã o de que as propriedades
principescas haviam sido empobrecidas; vastas extensõ es de terra
mudaram de propriedade; comerciantes, mercadores e agiotas
acumularam enormes lucros, e a Igreja enriqueceu
enormemente. Ofuscando esse declı́nio do poder baronial e a
conseqü ente expansã o do governo real estava o crescimento da
supremacia papal.
Riqueza e luxo eram talvez inevitá veis em um sistema que reivindicava
suserania polı́tica sobre os reinos da terra, mas multidõ es de crentes
devotos se voltaram em desespero do esplendor do mundanismo que
desacreditou a Igreja. Sã o Bernardo, em seu tempo, gemeu em espı́rito
pelos "dias antigos, quando os apó stolos lançavam suas redes em busca
de almas humanas, nã o de ouro ou prata". Agora o protesto assumiu a
forma de numerosas heresias; mas a força que estava por trá s do
descontentamento, a obstinaçã o, a revolta dos hereges era uma crença
ardente, embora nã o escolarizada, e um anseio pela regra simples que
Nosso Senhor ensinou nas encostas das colinas da Palestina. Os Pobres
de Lyon expressaram da maneira mais iel o clamor geral dos alienados
por reforma, e em pouco tempo o retorno à s pegadas de Cristo que eles
contemplavam foi realizado com resultados mais felizes pelo Pobre
Homem de Assis e seus Frades Cinzentos.
Até agora podem-se indicar essas fases das grandes
transformaçõ es. Outros foram afetados por agitaçõ es e impulsos que
escapam ao nosso questionamento. O surgimento de uma nova alegria
na religiã o é um dos misté rios da experiê ncia. Foi como se as janelas do
cé u tivessem se aberto e um espı́rito de mú sica edi icante tivesse
soprado sobre a Europa e encontrado expressã o em muitas formas de
expressã o. Os mestres construtores sentiram e, sob suas mã os, a pedra
acelerada pegou a poderosa curva das asas sera ins e se elevou até o
arco pontiagudo, incendiou-se em torres trê mulas, expandiu-se em
galerias aé reas repletas de imagens lı́ricas. O amor, algué m poderia
dizer, expulsou o medo; os homens até entã o nesta era tinham
propiciado a Deus, agora eles O louvavam.
O espı́rito da mú sica despertou os trovadores e os trovadores. A
Provença se tornou a lor de uma literatura alegre e sensual. Entã o a
Alemanha tocou com o é pico heró ico, e riu e brilhou com a mú sica dos
Minnesingers. Nunca houve uma tubulaçã o tã o universal. A primavera,
com folhas verdes, lores e pá ssaros, veio como um visitante angelical, e
o camponê s do sulco teve um deleite consciente com a Natureza. Mas
no coraçã o sonhador do menestrel alemã o, Love nã o se contentava com
as cores doces da beleza humana; assumiu a aparê ncia de um anseio
mı́stico indescritı́vel e revelou-se por im como o "forte Filho de Deus".
E assim como Sã o Francisco percebeu na prá tica o ensino da sagrada
pobreza que havia sido antecipado por Waldo, o comerciante de Lyon,
també m, muito antes da morte de Isabel, ele inconscientemente
mesclou e espiritualizou tudo o que havia de mais puro e belo na
alegria lı́rica de Troubadour e Minnesinger. Ele també m, e seus
seguidores, eram menestré is errantes - "bardoiros de Deus" - cantando
cançõ es de tranquilidade e amor nas cidades e vilas, nos campos, nos
olivais e nos vinhedos da Umbria e das Marcas.
Como o Trovador, ele amava a mais bela das mulheres - pois o que mais
era minha Senhora da Pobreza? A serenata provençal deu uma emoçã o
româ ntica ao crepú sculo de verã o; Sã o Francisco sorria da feliz ideia
que isso sugeria e, a partir do pô r-do-sol, em todas as estaçõ es do ano,
a Ave Maria lutuava docemente sobre a colina e o vale com todos os
sinos da capela.
Será que o Minnesinger teve um prazer recé m-nascido em bosques,
á guas e prados loridos, e observou com olhos bondosos o jogo alegre
de pequenas criaturas selvagens? Sã o Francisco elevou seu sentimento
pela Natureza a um nı́vel sem precedentes de simpatia espiritual, e com
ele a simpatia esteve sempre ligada ao serviço prá tico. Ele implorou a
seus companheiros que guardassem um terreno para as lores de suas
irmã zinhas; fornecer mel e vinho para as abelhas quando chegasse o
inverno; para espalhar comida para os pá ssaros, especialmente para
"meu irmã o Lark". A tenda que um pescador deu a ele, ele colocou de
volta no lago, ordenando que ele amasse a Deus. "Por que você
atormenta meus irmã os mais novos, os cordeiros", perguntou ele,
"carregando-os amarrados e pendurados em um cajado para que
chorem lamentavelmente?" e deu sua capa para resgatá -los. O pró prio
lobo era seu bom parente, e em sua Cançã o do Sol ele reuniu no seio
feliz de um amor mundial todas as coisas criadas e a Irmã Morte.
Até mesmo a inspiraçã o dos construtores de catedrais foi elevada em
sua vida a um nı́vel mais alto. Louvor e bê nçã o deixavam pouco espaço
para a oraçã o se ajoelhar. O opressivo senso de pecado, a consternaçã o
do julgamento, o terror da condenaçã o foram consumidos no fogo de
um amor será ico, e toda a alma do homem subiu para o cé u
trans igurado, um templo vivo de Deus.
Tais eram, em um vislumbre, o aspecto e a tendê ncia da é poca.
Na recepçã o universal que saudou os Minnesingers, Hermann,
Landgrave da Turı́ngia, destacou-se entre os prı́ncipes por seu
entusiasmo e muni icê ncia. O mais brilhante dos novos poetas
frequentou sua corte. Lá você deve ter conhecido Wolfram von
Eschenbach, construtor das sagas heró icas de Parzival e Titurel , e
Walther von der Vogelweide, doce e prolı́ ico laureado da Escola do
Amor. O Wartburg, ultrapassando os altos bosques acima de Eisenach,
foi revestido com a gló ria do verso; e das competiçõ es lı́ricas realizadas
em seu nobre sangersaal cresceu a lenda poé tica de "A contenda dos
menestré is".
A mais famosa dessas competiçõ es ocorreu em 1206. Havia seis
competidores, e tã o aguçada, dizem, tornou-se a luta e tanto acirrou a
rivalidade, que o condenado foi convocado a aguardar com sua corda e
imediatamente balançar o malsucedido concorrente para a á rvore mais
pró xima. Aquele inal trá gico para uma festa de madrigais, cançõ es de
lores e elogios era possı́vel em uma é poca em que as pessoas pouco
davam conta de tortura e mutilaçã o. Henrique VI nã o havia acabado de
condenar os conspiradores sicilianos contra seu trono a assentos de
fogo e coroas em brasa? Frei Dietrich, no entanto, nada sabe sobre um
condenado mascarado e um galho de forca verde, e simplesmente
registra que a competiçã o foi suspensa antes do encerramento, e que
Klingsohr, o mestre de todas as artes musicais, foi enviado pelo
Landgrave para julgar entre os menestré is.
Assim aconteceu que, em uma tarde de verã o do ano de 1207, uma
imponente companhia de viajantes entrou na pequena cidade murada e
cinzenta de Eisenach e desceu na bela estalagem, com sua madeira
entalhada e frontõ es coloridos, perto do Portã o de Sã o Jorge.
O Mestre Klingsohr veio da Transilvâ nia, a terra dos Sete Castelos como
aquela parte da Hungria era chamada; foi o mais erudito e engenhoso
dos homens; versado em letras e ciê ncias desde a juventude, nã o menos
há bil em necromancia e na sabedoria obscura dos cé us estrelados. Para
isso ele era amigo do rei Andreas da Hungria e uma pessoa de renda
principesca. A lenda dos tempos posteriores o converteu em um
poderoso mago; estudiosos modernos o consideram um mito. Dietrich
viveu perto o su iciente da é poca para saber algo sobre a verdade do
assunto.
No frescor da noite, quando o brilho do oeste desapareceu da loresta e
as cegonhas izeram ninho, prı́ncipes, cortesã os e os cavaleiros
menestré is desceram de Wartburg para dar-lhe as boas-vindas; e
enquanto ele conversava com eles no jardim do meu an itriã o Heinrich
na amena noite de verã o, ele olhou para os labirintos brilhantes lá em
cima. Algo no aspecto dos cé us pareceu prender sua atençã o. Ele olhou
atentamente e o silê ncio caiu sobre o grupo de visitantes. Por im, um
deles aventurou-se a interromper sua abstraçã o: "Rezamos a você por
sua cortesia para nos dizer que segredo das coisas por vir você leu
nessas estrelas misteriosas."
O hú ngaro olhou para eles com um sorriso sé rio. "Já que você
perguntou", disse ele, "saiba que esta noite nasceu uma ilha do rei da
Hungria. Seu nome será Isabel. Santa ela será . Ela será dada em
casamento ao ilho deste prı́ncipe - levantando seus olhos para as
alturas escuras de Wartburg - e toda a terra se regozijará e será
exaltada na fama de sua santidade. "
E, de fato, naquela noite de verã o, como se pode facilmente acreditar
em Presburg ou na velha cidade de Saros-Patak, pois nenhum registro
autê ntico de data ou local foi preservado uma pequena donzela nasceu
de Andreas, rei da Hungria. Pode-se imaginar com que espetá culo de
clero e esplendor magiar e alegria a criança foi carregada para a fonte e
recebeu o nome de Elizabeth; mas ela era a terceira ilha do rei, e o
rumor desses incidentes di icilmente poderia ter viajado com o vento
ocioso atravé s da Austria e da Boê mia até Wartburg. Lá , sem dú vida,
eles eram conhecidos quase imediatamente apó s terem acontecido e,
estranhamente, o curso dos eventos começou a correr normalmente em
direçã o ao cumprimento da previsã o.
A contenda dos menestré is chegara a uma conclusã o feliz, e Mestre
Klingsohr cavalgou pela loresta para a terra dos Sete Castelos,
possivelmente com a certeza de ter cumprido uma missã o mais
delicada do que o julgamento de concursos poé ticos. O mestre cantor e
astro leitor també m era um diplomata astuto? Que motivos polı́ticos
poderiam ter levado Andreas a oferecer ou Hermann a buscar uma
aliança estreita com a Hungria? Dietrich ignora esses
assuntos; Klingsohr desaparece no desconhecido; mas é certo que
dentro de alguns meses a princesa Elizabeth, ainda um bebê no peito,
foi prometida ao ilho mais velho do Landgrave.
No antigo castelo alto de Presburg, com vista para as extensõ es
ensolaradas do paı́s e as amplas á guas do Danú bio, a pequena criatura
teve uma infâ ncia encantadora. Ela era alegre e alegre, de coraçã o terno
e compassiva, dada a todos os tipos de gentilezas divertidas e belas
devoçõ es; mas, alé m do mais, suponho, um pequeno mortal bastante
simples e saudá vel, nã o sem falhas de obstinaçã o e outras falhas
infantis. Santidade é uma conquista da vontade, nã o uma e lorescê ncia
de temperamento.
Olhando para trá s muito tempo depois, as pessoas devotas viram
aqueles primeiros anos atravé s do glamour de sua santidade. Eles se
lembraram de que no nascimento dela uma é poca mais feliz começou
para a Hungria, e parecia-lhes que, mesmo em seu berço, o bebê
inocente, caı́do como uma lor do Paraı́so, trouxera paz e boa vontade à
terra. Se eles se lembrassem da memó ria de seus grandes ancestrais,
era natural, pois no sangue de Arpad havia uma mistura de heroı́smo e
santidade, e as iguras mais gloriosas nos primeiros cem anos da
histó ria da Hungria como naçã o cristã eram reis canonizados. Até hoje a
mã o embalsamada de Santo Estê vã o é carregada em procissã o, e os reis
dos magiares sã o coroados com seu diadema "apostó lico"; e a lenda
ainda conta como, dois sé culos e meio apó s sua morte, Santo Ladislas se
levantou de sua tumba em Grosswardein, montou no cavalo de sua
está tua de bronze e derrotou os tá rtaros.
Sobre Andreas, Dietrich tem pouco a dizer. Ele o menciona como ilustre
por sua riqueza e poder, um homem bom e pacı́ ico. Virtuoso, piedoso,
irrepreensı́vel em seu governo, acrescenta o velho rima alemã o da Vida
mé trica; e passa a representar com as cores do romance a descoberta
de inesgotá veis minas de ouro nas montanhas e a generosidade com
que Andreas usou suas maravilhosas riquezas na construçã o de igrejas
e na fundaçã o de mosteiros. Nos escritores modernos, entretanto, nó s o
encontramos diante de nó s com toda a graça e integridade de um
soberano ideal, uma lor dos reis, cavalheiresco, generoso, santo, a
gló ria da religiã o e o deleite de seu povo. A luz fria da histó ria, a pessoa
sai dessa delineaçã o desencantada e arrependida.
O pai de Andreas, Bela III, morreu antes que pudesse realizar seu sonho
de desferir um golpe para resgatar o Santo Sepulcro. Ele acumulou um
tesouro considerá vel para esse propó sito, mas na abertura da Terceira
Cruzada, quando Barbarossa marchou pela Hungria para o Oriente, ele
nã o pô de fazer mais do que dar as boas-vindas ao imperador e ajudar
suas tropas no caminho. Em seu leito de morte, Bela entregou o cetro
ao ilho mais velho, Emeric; seu tesouro ele con iou a Andreas e rogou-
lhe que o empregasse em seu favor na entrega da Terra Santa. Assim
que o rei foi colocado em sua sepultura, Andreas reuniu um grande
exé rcito; mas o poder e os recursos que deveriam ter sido dedicados ao
serviço da Cruz Vermelha foram usados para lançar seu irmã o do
trono. Emeric foi derrotado, as provı́ncias foram invadidas e Andreas se
proclamou supremo sobre grande parte da Hungria. Em vã o o rei
apelou ao papa Inocê ncio III para que insistisse em que Andreas
cumprisse o voto de seu pai. O rebelde bem-sucedido continuou sem
controle em sua maldade e contumá cia. Por im, em 1198, os irmã os se
encontraram em armas nas margens do Drave, e ocorreu um dos
episó dios mais estranhos registrados nas crô nicas magiares.
O acampamento de Andreas ressoou com a carni icina de um grande
exé rcito con iante na vitó ria. Emeric sentou-se desanimado entre seus
partidá rios galantes, mas desesperadoramente em menor nú mero. De
repente, ele se levantou em silê ncio e saiu sozinho, coroado, com o
cetro e vestido ré gio. Ele entrou no acampamento hostil, dirigiu-se à
tenda de seu irmã o e partiu abruptamente ao ver os chefes
festeiros. "Deixe-me ver o homem", disse ele, no silê ncio de espanto que
se seguiu ao seu aparecimento, "que ousa levantar a mã o pecaminosa
contra seu rei e senhor." Avançando para o trono, ele agarrou as mã os
do irmã o, conduziu-o atravé s do bando de rebeldes, que parecia
transformado em pedra, e o levou prisioneiro para seu pró prio
acampamento. "Tal divindade protege um rei!"
Por quase seis anos, Andreas permaneceu em cativeiro. Entã o, quando
Emeric sentiu que seu pró prio im se aproximava, ele mandou coroar
seu ilho Ladislau como seu sucessor, libertou seu irmã o, perdoou-lhe
sua deslealdade e entregou a criança à sua tutela. Andreas falhou em
sua con iança. A criança foi despojada da pró pria aparê ncia de
soberania e banida com sua mã e da corte de seu protetor. Com sua
morte, alguns meses depois, Andreas assumiu a coroa de Santo
Estê vã o. O ano era 1205, e a Idade de Ouro que em tempos posteriores
o bebê Elizabeth teria trazido com ela para a terra foi o im das lutas
civis, o renascimento da prosperidade com o retorno da paz e os gastos
deslumbrantes de um rei que se deleitava com a pompa do estado e
pró digos benefı́cios pela causa da religiã o. Os homens dessa idade nã o
devem ser julgados por nossos padrõ es, mas olhe para Andreas sob
qualquer luz que possamos, nã o podemos considerá -lo um sucessor
digno dos santos coroados de sua linhagem.
Sua esposa Gertrude era da ilustre casa ducal de Merã e Dalmá cia, que
traçava uma descendê ncia direta de Carlos Magno. De seus irmã os,
Egbert era bispo de Bamberg e patriarca Berthold de Aquileia. Sua irmã
Hedwige casou-se com Henrique, duque da Silé sia, viveu e morreu em
santidade e foi inscrita entre os santos. O casamento de sua
irrepreensı́vel irmã Agnes com Filipe Augusto da França foi a causa de
uma luta amarga com o Papa, durante a qual o reino francê s foi
interditado. Sua irmã Mathilda tornou-se abadessa do grande convento
da Francô nia de Kitzingen, e nos encontraremos por um momento no
decorrer desta histó ria.
A pró pria Gertrude parece ter herdado muitas das qualidades distintas
que izeram de sua casa uma das mais poderosas e ilustres da Europa. A
uma notá vel amplitude de intelecto, ela acrescentou extraordiná ria
coragem, decisã o e rapidez de açã o. Sua beleza e força de cará ter
dominaram completamente o rei; e se ela tivesse vivido, o belo,
arrojado e irresoluto Andreas poderia ter encontrado nela os dons e
virtudes de que precisava para um reinado tranquilo e
pró spero. Infelizmente, um erro fatal neutralizou sua capacidade de ter
um governo bem-sucedido; ela parece ter feito pouco esforço para
conquistar o amor dos hú ngaros. Ela se cercou de seu pró prio povo, e
seu favoritismo e patrocı́nio extravagante levaram a uma separaçã o
desastrosa da nobreza magiar.
Trê s anos se passaram rá pida e felizmente para Elizabeth. Naqueles
dias longı́nquos, e em todos os sé culos do mundo, a infâ ncia foi a
mesma idade estranha e encantadora de descobertas e aventuras de
agora. O despertar para a percepçã o, as alegres surpresas da visã o, do
som e do tato sã o coisas que escapam aos registros, mas estã o na base
do inı́cio do cará ter. Nos jardins do palá cio, nas altas muralhas
ensolaradas, nas longas galerias, brilhando com armas lendá rias e
armaduras de malha, ou parecendo quase vivas com as imagens e
está tuas de heró is que partiram, nas janelas com vista para o grande
pá tio onde tropas de cavalos e O pé encheu o mundo com o choque e
tilintar de ferro e o esplendor de bandeiras e equipamentos de guerra,
cada dia deve ter sido repleto de magia e milagre sempre
renovados. Em seguida, havia a rica capela bizantina do castelo, com
seu profundo silê ncio e luz multicolorida, na qual, sem dú vida, quando
ela já tinha idade su iciente, veio a ela aquelas estranhas visitas do
invisı́vel que tantas vezes acontecem à s crianças alegres em seus
momentos de melancolia; e lá , em meio aos afrescos escuros e belas
imagens, ela localizou e deu forma e um signi icado pró prio, como
fazem as crianças, ao que ouvira no colo de sua mã e do cé u e dos anjos,
e de Deus e da santidade.
Foi a essa é poca que a lenda anexou o belo incidente do divino Menino
de Nazaré participando da peça simples de Isabel.
Como companheiros terrenos, ela tinha os ilhos da corte, alé m de sua
irmã Marie e a cavalheiresca Bela, que um dia seria um verdadeiro rei
de Arpad. Os severos chefes guerreiros davam muito valor à criança
amigá vel e, quanto a Andreas, ela era "a luz de seus olhos e a alegria da
vida". Com a rainha e as grandes damas, a relaçã o afetuosa era
combinada, mesmo naqueles anos, com um cuidadoso treinamento nas
majestosas graças e graves cortesias da realeza.
Aproximando-se o tempo em que, de acordo com o costume da é poca, a
princesa deveria ser con iada aos cuidados da famı́lia de seu futuro
marido, pai e mã e devem ter tido muitos pensamentos de ansiedade e
momentos de tristeza. A aliança era uma das mais brilhantes, a
perspectiva era clara, mas separar-se do pequeno ser vencedor, para
con iá -la tã o jovem e indefesa ao encargo mesmo daqueles que nã o
podiam deixar de amá -la e tratá -la com carinho, apertou seus coraçõ es,
e Elizabeth deve ter olhado muitas vezes perplexa e meio assustada
quando se viu agarrada e pressionada em seus braços em meio a uma
explosã o de lá grimas. Talvez, també m, a lembrança de outra criança por
quem nem mesmo as oraçõ es de um irmã o pudessem garantir proteçã o
ou piedade pode ter afetado Andreas com remorso e apreensã o.
No verã o de 1211, uma imponente embaixada de grandes senhores e
nobres damas, entre os quais devemos lembrar apenas o chefe, o conde
Walther von Varila, o copeiro do Landgrave, saiu de Wartburg para
escoltar a princesa até sua nova casa. Em Presburg eles foram recebidos
com a realeza, entretidos por trê s dias em majestosos serviços
religiosos, jogos marciais, danças, menestré is e festas alegres, e em sua
preparaçã o para retornar foram carregados com presentes
magnı́ icos. Vestida de seda bordada com prata e ouro e reclinada em
um berço de prata, Elizabeth foi entregue por sua mã e à s damas da
Turı́ngia. "Diga ao seu bom prı́ncipe", disse ela, "que rogo-lhe que esteja
bem e tenha alegria, porque se o Senhor me der a vida, amontoarei
riquezas sobre ele."
Alé m do dote real que seria levado ao Landgrave, o rei deu seis cavalos
magnı́ icos para o uso da criança, e a rainha Gertrudes enviou com seus
vasos de ouro e prata muitos e maravilhosos; os mais preciosos
diademas, ané is, colares e cintas de joias; um banho de prata, inú meros
vestidos e almofadas, travesseiros e colchas de seda roxa. Coisas de tal
custo e beleza como essas que a Rainha esbanjou em sua ilha nunca
tinham sido vistas na terra da Turı́ngia. Os visitantes da Turı́ngia que
tinham vindo com duas carruagens deixaram a Hungria com uma
comitiva de treze.
Antes de começarem, Andreas chamou Walther von Varila de lado. "Oh,
conde", disse ele, com os lá bios trê mulos, "em você eu con io. Prometa-
me, pela fé de um cavaleiro cristã o, que você sempre protegerá e será
um verdadeiro amigo para meu ilhinho." E Walther olhou gravemente e
com ternura para o rosto perturbado do rei: "Pela fé de um cavaleiro
cristã o, dou-lhe a minha promessa."
Nos territó rios pelos quais passaram os prı́ncipes, prelados e nobres,
que os haviam suplicado com grande honra em sua jornada para o leste,
agora os recebiam com gentileza e cortesia redobrada. Chegaram à
Turı́ngia sem contratempos, atravessaram a loresta antiga pela grande
estrada que corria abaixo das saias arborizadas e da crista nua do
Horsel e, por im, avistaram ao longe, à luz do entardecer, as torres do
Wartburg.
Assim que as notı́cias de sua aproximaçã o foram trazidas ao castelo, o
Landgrave e a Duquesa Sophia desceram com grande alegria a Eisenach
para recebê -los, e quando a cavalgada entrou pelos portõ es da velha
cidade cinzenta, ambos caı́ram de joelhos e agradeceram. a Deus pela
chegada feliz da criança-noiva.
Eles se voltaram para a bela estalagem, em cujo jardim o astro-estrela
Klingsohr previra sua chegada na noite de verã o, quatro anos
antes. Hermann pegou carinhosamente a criança nos braços, beijou-a e
chamou-a de ilha pequena. Sob o telhado da pousada Helgreven e sob a
luz das mesmas estrelas, Elizabeth entrou em sua nova vida pelas
portas abençoadas do sono.

O castelo na loresta

Na manhã seguinte, houve uma grande agitaçã o em Eisenach. Os


principais burgueses foram convidados para a recepçã o de sua futura
amante. Senhores e damas cavalgaram com seus vassalos das
propriedades vizinhas, e a longa ascensã o pelos bosques até Wartburg
foi alegre com cores festivas e ressoou com alegria. Doce e sé ria em
suas sedas enfeitadas com joias, a noivinha foi levada em estado para
sua casa. O noivo, duque Lewis, um rapaz de onze anos de cabelos
amarelos e ruborizado, curvou-se e beijou-lhe a mã o. A cerimô nia de
noivado foi solenizada na capela do castelo; as duas crianças foram
colocadas lado a lado sob uma colcha, e o feliz evento foi celebrado com
danças e festas e um daqueles festivais de mú sica e cançõ es de Minnes
que eram a gló ria da Turı́ngia.
Ficamos felizes com a fantasia de que neste dia, e muitas vezes depois
disso, Wolfram do Ribeiro do Freixo e Walther do Prado dos Pá ssaros
viram e perderam seus coraçõ es com essa garotinha até mesmo colocar
em seus versos, por acaso, alguma beleza ou picante dela, ao colocar
uma lor silvestre no livro que está lendo.
Entã o, com a idade de quatro anos, Elizabeth começou a vida
novamente em Wartburg. Lewis nã o era seu ú nico companheiro. Havia
seus irmã os, Hermann, Henry e Conrad; sua irmã Agnes, que tinha mais
ou menos sua idade; e ela tinha outras sete companheiras de
brincadeiras, ilhas pequenas dos nobres da casa. Uma delas, Jutta ou
Judith, um ano mais velha que Elizabeth, tornou-se sua amiga de longa
data e, apó s sua morte, escreveu suas lembranças de seus primeiros
anos.
Em ambientes amá veis, as crianças vivem de forma tã o vı́vida e sincera
no presente - há tal fascı́nio nas coisas comuns e tal alegria em
simplesmente estarem vivas - que mal tê m tempo para se lembrar de
qualquer coisa que se passou. Ao anoitecer, quando as oraçõ es simples
foram ditas, com curiosas interpolaçõ es e acré scimos, e eles se
tornaram repentinamente cientes da completa e terrı́vel solidã o que
pode se abater sobre as pequenas almas, alguma causa de tristeza,
algum sentimento de perda pode assaltá -los; há uma chuva rá pida de
abril e, entã o, enquanto as gotas ainda estã o caindo, o sono com toque
má gico esconde a cabecinha lamentá vel em seu seio.
Assim foi com Elizabeth. O passado se desvaneceu suavemente,
gradualmente os rostos daqueles que ela mais amava escureceram,
novas afeiçõ es suavemente superaram as antigas. Se à s vezes ela icava
preocupada com dor no coraçã o e saudade, isso poderia muito bem
acontecer quando devotos hú ngaros de posiçã o, voltando de Aix-la-
Chapelle e das relı́quias sagradas que Carlos Magno havia guardado lá ,
visitavam Wartburg e ouvia falar em sua mã e Na lı́ngua todas as
notı́cias de casa e uma centena de mensagens de amor, ela foi ajudada
por seu desejo constante de ser boa, pela disciplina de seu treinamento
inicial e sua alegria natural. Mal podemos perceber quã o rapidamente e
com que segurança essas experiê ncias aceleraram e aprofundaram a
piedade inata que já se havia revelado de inú meras maneiras doces e
açõ es gentis.
Apesar de todo o seu aspecto de força selvagem, o castelo era uma
residê ncia agradá vel no verã o e nã o sem sua estrondosa atmosfera
pitoresca no inverno. O cume da enorme rocha cinza sobre a qual se
erguia lembrava a pegada de um gigante, apontando para o sul. A
estrada de Eisenach, no norte, subia, acidentada e sinistra, atravé s da
escuridã o de grandes pinheiros e carvalhos e faia antigos. A esquerda
da entrada, a rocha nua descia até o sopé da montanha. Mas, do cume,
avistava-se as clareiras da loresta, torpes dispersos e terras
cultivadas. A ousada crista do Horsel se erguia no nordeste, suas
cavernas profundas ressoando com as vozes misteriosas de á guas
ocultas e a lenda de Tannhauser tomando forma na superstiçã o dos
camponeses. Mais adiante, ao sul, icavam as planı́cies em direçã o a
Salzungen e a extensã o de colinas azuis alé m.
Onde a pegada era mais ampla, os apartamentos com chaminé s da
Landgravine, o palá cio com seus salõ es nobres enriquecidos pela arte
bizantina e a bela capela icavam do lado matinal; o jardim estava
aberto ao pô r-do-sol, um jardim no ar, muito acima do canto dos
pá ssaros; o centro da pegada para a torre sul era ocupado pelo
espaçoso pá tio do palá cio. Esse era o parquinho das crianças.
Com que nitidez Jutta se lembrava de suas diversõ es infantis, e com que
inteligê ncia Elizabeth conseguia dar a tudo uma virada lú dica para a
piedade. Nenhum lugar era tã o encantador para ela como a capela; e
muito antes que ela pudesse ler, eles freqü entemente a encontravam
deitada em frente ao altar, com suas pequenas mã os cruzadas e os
Salmos abertos diante dela, como se ela estivesse orando em um grande
livro iluminado. Havia um jogo em que eles pulavam com um pé , e
quando brincavam, Elizabeth tentava perseguir as outras meninas até a
capela e, se encontrasse a porta de carvalho entalhada fechada e nã o
pudesse entrar, pressionaria os lá bios para o portal e as paredes
queridas. Em certos ring-games que tinham ela pedia a Deus que a
ajudasse a vencer, e prometia tantas genu lexõ es e Ave Marias ; e
quando ela nã o conseguia escapar dos outros para cumprir sua
promessa sozinha, ela dizia: "Vamos deitar no chã o e medir quem é
mais alto." Assim, com uma garota apó s a outra, ela se ajoelhava e
deitava até completar o nú mero de suas genu lexõ es. As vezes, eles
parecem ter jogado por apostas ou prê mios, e Elizabeth deu um dé cimo
de tudo o que ganhou para os companheiros que nã o eram tã o
pró speros quanto ela, e lhes dava outros pequenos presentes, mas eles
tinham que prometer a ela que diria um Nosso Pai ou uma Ave Maria .
Em uma palavra setecentos anos retrocedem como a né voa da encosta
da colina, e nó s estamos sob o sol com as crianças de olhos brilhantes
do velho mundo enquanto elas riem e se divertem em seus esportes e
jogos de canto imutá veis - seus Duques de Equitaçã o, e Rings o 'Roses, e
Village Raids, Nutting in Maytime, e expediçõ es à Babilô nia, onde o
perverso Soldan manté m os Lugares Sagrados escravos. A piedade
fantasiosa e alegre da donzela parece precoce e irreal? Considere esses
eventos entã o, que eram o assunto das crianças em todos os lugares, na
cidade e na vila, no berço do lenhador e na cabana do mineiro.
O apelo do Papa Inocê ncio para outra cruzada caiu em ouvidos frios
entre os poderosos, mas os pobres da cristandade foram movidos para
uma emoçã o profunda e generalizada pelas mudanças e inquietaçã o
das antigas guerras sı́rias e pelas histó rias de soldados e peregrinos; e
agora esse sentimento foi intensi icado pelas procissõ es da Cruz
Vermelha cantando nas ruas e os sermõ es apaixonados clamando pela
libertaçã o da Terra Santa. Gemidos e oraçõ es subiram ao cé u contra os
pagã os que "mantinham Deus prisioneiro". Quanto aos reis e nobres
orgulhosos que se recusaram a ir em Seu auxı́lio, o que diriam antes do
tribunal quando Deus lhes mostrasse Suas feridas e ordenasse que
prestassem contas da terra em que morrera por eles? Rumores
selvagens de visõ es terrı́veis e de vozes de advertê ncia ouvidas durante
a noite voaram de boca em boca e produziram um estado de tensa
expectativa nervosa.
De repente, uma pequena faı́sca disparou um grande trem. Em maio de
1212, Stephen, um jovem pastor de Cloyes, um vilarejo de Vendome,
revelou que tinha visto nosso bendito Senhor disfarçado de peregrino
da Palestina, e foi comissionado por Ele para pregar uma cruzada entre
os crianças. Com carteira e cajado partiu para Saint Denis, o tú mulo dos
antigos reis franceses, e lá proclamou sua mensagem à s multidõ es de
peregrinos que visitavam o santuá rio do santo padroeiro da
França. Este menino de doze anos era dotado de um pathos
maravilhoso e fervor de palavras, e as multidõ es icaram emocionadas
quando ele contou como havia chegado a hora em que Deus nã o
precisava do valor dos fortes, mas da fé dos jovens. O que os guerreiros
e exé rcitos nã o conseguiram realizar deve ser entregue nas mã os de
crianças pequenas. As grandes á guas devem se dividir diante deles, e
eles devem cruzar o mar com calços secos. Onde os an itriõ es da Cruz
Vermelha haviam anteriormente matado os pagã os, eles deveriam
batizá -los. Jerusalé m deve se alegrar em suas colinas, uma cidade da
verdade, uma cidade dourada cheia de meninos e meninas brincando
em suas ruas.
Milhares de peregrinos levaram a notı́cia da nova cruzada; o nome de
Estê vã o foi difundido pela terra; a excitaçã o se espalhou como chamas
na grama seca. De todas as partes da França, enxames de crianças, que
nã o seriam aconselhadas nem controladas, corriam por campos e
bosques, por montanhas e rios, a caminho da Terra Santa. A
Universidade de Paris condenou o movimento; o rei ordenou aos
cruzados, meninos e meninas, pastores e ilhos de nobres, que
voltassem para suas casas. Pais e mã es choraram e imploraram que nã o
fossem, mas em sua exaltaçã o selvagem nem a força nem a persuasã o
puderam detê -los. Homens e mulheres, padres e até velhos fracos
juntaram-se a eles em sua aventura desesperada. Muitos atribuı́ram seu
entusiasmo imprudente ao encantamento e à s ilusõ es de uma feitiçaria
perversa que visava sua destruiçã o.
A pitoresca cidade velha de Vendome foi ixada como seu ponto de
encontro, e daı́ nos ú ltimos dias de junho cerca de trinta mil deles,
usando o emblema vermelho, carregando bandeiras e cruzes, cantando
com coraçõ es triunfantes, voltaram seus rostos para Marselha e os
caminhos desconhecidos atravé s dos abismos azuis.
Enquanto isso, ou o movimento havia se espalhado pelos ducados da
fronteira alemã , ou a mesma estranha alucinaçã o ocorrera
simultaneamente nas provı́ncias do Reno.
Observando seu rebanho nas pastagens da aldeia perto de Colô nia,
Klaus, um menino pastor de cerca da idade de Estê vã o, viu uma cruz de
luz brilhando no cé u, e uma voz angelical ordenou-lhe que
empreendesse a mesma missã o. Ele se apressou para a ilustre cidade
onde peregrinos de todas as raças e lı́nguas da Europa cristã estavam
constantemente indo e vindo, pois na imponente catedral de Carlos
Magno estavam os Trê s Reis do Oriente consagrados. Quando o menino
tornou conhecido o chamado divino e convocou os ilhos das cidades e
vilas, ele comparou o esplendor da tumba desses reis terrestres com o
sepulcro deserto e desonrado do Senhor do cé u e da terra.
O mesmo impulso irresistı́vel varreu o paı́s; os mesmos esforços
desesperados foram feitos para impedir a reuniã o das crianças
exultantes. Havia menos meninas entre eles; mas os ilhos de casas
burguesas ricas eram mais numerosos, e dos solares feudais e
pitorescos castelos de penhascos, onde os feitos e fortunas dos
ancestrais cruzados eram guardados em vı́vida memó ria, muitos mais
heró is juvenis se juntaram ao an itriã o rú stico. No inı́cio de julho, um
grupo de vinte mil, em longos casacos cinza e chapé us largos, com a
cruz vermelha no peito e o cajado de peregrino na mã o, deixou Colô nia
e seguiu o curso do Reno para o sul, sob a liderança de Klaus. A rota
deles passava pelo Monte Cenis até o mar em Gê nova.
Mais cedo ou mais tarde, para o registro é obscuro, outro contingente,
tã o numeroso e tã o jovem, partiu sob um lı́der desconhecido, e
atravessando Suabia deveria entrar na Itá lia pelo Passo de Saint
Gothard.
Pense nas maravilhas e converse no castelo e na cabana durante esses
meses de verã o; das histó rias que inú meras outras crianças ouviram - e
certamente Elizabeth ouviu com ansiedade sem fô lego - das aventuras
dos peregrinos. Oh, as longas marchas no sol escaldante; os ventos, as
chuvas, as tempestades; as noites passadas em mercados, em celeiros e
choupanas, a sotavento das pilhas, sob as á rvores frias; a comida
grosseira, os dias de fome, os pé s doendo, os corpos cansados! Entã o
vieram rumores de contratempos, sofrimentos, desordem. As crianças
foram injustiçadas, enganadas, saqueadas pelos ru iõ es e mulheres
depravadas que seguem os acampamentos. Cavaleiros ladrõ es os
capturaram e os transformaram em servos. Alguns se afogaram nos
vaus, alguns caı́ram vı́timas de bestas selvagens, muitos adoeceram e
morreram nos campos e bosques. Muitos desistiram em desespero e se
esforçaram para encontrar o caminho de volta para casa.
O contingente sob o comando de Klaus havia perdido metade de seus
nú meros antes de cruzar os Alpes. Ainda mais morreram no frio, na
neve, nas tempestades entre as montanhas. Por im, eles chegaram a
Gê nova. Os Padres da Cidade recusaram-se a deixá -los icar mais do que
uma noite. As crianças riram uma noite, era tudo de que precisavam; no
dia seguinte o mar se abriria e um caminho maravilhoso entre paredes
de sa ira e berilo os conduziria a Jerusalé m. Mas o mar continuava com
o vento e o sol. Em Roma, na ú ltima semana de agosto, um
remanescente dos vinte mil recebeu a bê nçã o do Papa. Essas crianças
nos envergonham ", disse Inocê ncio com amargura; 'enquanto estamos
dormindo, eles marcham alegremente para conquistar a Terra Santa",
mas Sua Santidade ordenou que voltassem para suas casas até que
tivessem idade su iciente para cumprir seus votos.
Depois de di iculdades e desastres semelhantes, as crianças sob o
comando do lı́der desconhecido chegaram ao porto marı́timo de
Brindisi. O bispo, um homem sá bio e paternal, convenceu muitos deles
a abandonar sua empresa impossı́vel. Os demais, encontrando navios
nos quais lhes era prometida passagem gratuita, zarparam e nunca
mais se ouviram falar.
També m em Marselha as crianças francesas olharam impotentes para
as á guas ilimitadas, atravé s das quais nã o se abria caminho. "Pelo amor
de Deus e sem pagar", dois comerciantes marselheses se ofereceram
para levá -los ao destino. Diz-se que embarcaram cinquenta mil
peregrinos. Enquanto a frota de navios mercantes de trave larga seguia
para o Golfo, suas vozes jovens e claras foram ouvidas cantando o hino
dos Cruzados, " Veni Creator Spiritus ",
“Venha, Espı́rito Santo, Criador bendito”.
Durante vinte anos, nenhuma palavra chegou à Europa sobre o que
aconteceu a eles.
Di icilmente se pode supor que Elizabeth nã o ouviu falar desses
incidentes estranhos e cativantes. Depois disso, eles podem ter
escurecido em sua memó ria, mas as emoçõ es que despertaram nunca
desapareceram. Em uma criança de imaginaçã o tã o viva, de
pensamentos tã o graves e piedade natural, seu efeito, algué m pensa,
seria ixar sua atençã o no Santo Sepulcro e nos sofrimentos e morte de
Cristo, e com aquela inclinaçã o inicial de sua mente pode cresceram a
intensa devoçã o à Paixã o de nosso Salvador, que se tornou a
caracterı́stica suprema de sua vida espiritual.
Se algué m naquela casa imponente poderia ter substituı́do a sensaçã o
de lar para a pequena princesa, era o Landgrave. Staunch Varila era boa
e gentil, conversava e se divertia com ela sempre que a chance se
apresentava, mas ela encontrara o lugar de uma parente no afeto de
lorde Hermann. Ele estava sempre ausente, pois era um homem forte
em uma terra inquieta, e seu olho aguçado e vontade irme eram
necessá rios em todos os lugares; mas a cada retorno ele tinha uma
saudaçã o afetuosa para "sua ilhinha". Em 1197 ele havia sucedido seu
irmã o sem ilhos, Lewis III, que caiu no ataque a um forte perto de
Damietta, que foi criado "na enchente do Nilo, e só seria atingido por
torres e plataformas erguidas nos mastros de os navios dos cruzados.
" Ambos eram ilhos de Lewis II, "o Homem de Ferro".
Uma olhada neste Homem de Ferro e você terá os dias de Elizabeth
encenados em sua turbulê ncia e justiça severa. No inı́cio, dizem
as Crônicas (Monumenta) dos Landgraves da terra da Turíngia , "esse
Lewis era afá vel e gentil, de modo que foi desprezado por seus senhores
vassalos, que perseguiram cruelmente o povo rú stico". Caçando um dia,
ele chegou ao anoitecer a uma forja na loresta de Ruhla e pediu
abrigo. Sim, e quem pode ser ele ? Da suı́te do Landgrave, foi a resposta
cautelosa. "Um igo para o seu Landgrave", resmungou o
ferreiro. "Abrigo que você pode tomar, nã o por amor ao seu mestre.
Leve seu cavalo até o está bulo; há feno. Nenhuma outra cama aqui."
Durante toda aquela noite pareceu-lhe que icou acordado e ouviu o
sopro do fole e o clangor da bigorna enquanto o ferreiro, uivando um
canto selvagem de pilhagem e indignaçã o e nomeando os opressores,
forjava um Landgrave de ferro para reparar os erros dos pessoas. Ele
acordou um homem mudado.
Ele teve um tempo muito difı́cil com seus vassalos sem lei, mas ele
puxou suas fortalezas prontamente em torno de suas orelhas. Eles se
uniram contra ele; ele os derrotou e capturou. "Nã o vou matar você ,
isso foi um desperdı́cio intencional das criaturas de Deus; nã o vou
colocá -lo em resgate, pois isso está abaixo de mim; mas você
experimentará o trabalho dos camponeses que dominou." Ele os
acoplou a um arado e um criado segurou as estacas. A cada novo sulco
ele juntou um novo time. Ele lançou um anel de pedras sobre o campo -
"Quality Acre"; fez dela uma espé cie de cı́rculo de Stonehenge, um
refú gio e santuá rio para os homens pobres para sempre.
Daı́ em diante, nenhum homem teria colocado a vida do Landgrave à
custa de um al inete, mas ele sabia do perigo e passava dia e noite
usando uma cota de malha habilmente trabalhada. "Estou morrendo",
disse ele inalmente em Naumburg; "como você me ama, jure que vai
me carregar nos ombros até meu tú mulo em Reinharts - bem", a abadia
beneditina fundada por seu avô , Lewis do Salto Poderoso - de sua torre-
prisã o para o precipitado Saale. Jure que sim, suspeitando de algum
estratagema, e por dois dias ou mais carregou seu ataú de para
Reinhartsbrunn, preparado para ver o homem astuto despertar a
qualquer momento para uma vida terrı́vel. Mas ele estava morto alé m
da astú cia ou armadilha - morreu Anno Domini MCLXXII, II Idus Octob. ,
de acordo com a lá pide, sobre a qual o colocaram em efı́gie, sem barba,
sua cabeça astuta apoiada em dois leõ es; ganz eisern em einen kurass ,
todo ferro em sua cota de malha habilmente trabalhada.
Do mesmo metal, con iá vel e incisivo, era esse Hermann, seu ilho; e,
pela aparê ncia galante de menino dele, seu neto també m, Lewis, o noivo
de Elizabeth.

O pequeno exílio

Quanto à educaçã o de Elizabeth naquela corte culta e brilhante,


podemos tomar quase o que quisermos como certo. Sua futura posiçã o
exigia uma educaçã o liberal e distinta, e é impossı́vel pensar nesse
espı́rito brilhante e dó cil como obtuso, lento ou indiferente. Lady Jutta
nã o foi questionada sobre esses pontos, e ela nada nos conta sobre os
tempos de escola de Elizabeth.
O que ela fala, com entusiasmo e amor, sã o os traços, os atos, as
abstençõ es que marcam seu crescimento no bem. Quando ela "cresceu
um pouco", estava em seu sé timo ano, talvez, como era costume das
grandes damas atrair um santo padroeiro especial dentre os apó stolos,
Isabel colocou seu coraçã o em Sã o Joã o, o Amado, e orou
fervorosamente para que ele pudesse ser concedido como seu
protetor. Ora, neste assunto, doze velas, cada uma com o nome dos
companheiros do Senhor, foram colocadas em confusã o sobre o altar, e
quando Isabel pegou uma ao acaso, ela se alegrou ao ver que havia
desenhado o Sã o Joã o. Entã o, de repente, uma apreensã o surgiu em sua
cabecinha astuta - era apenas uma chance? As velas foram todas
misturadas novamente e recolocadas no altar. Mais uma vez ela
desenhou o Saint John's. Ainda assim ela duvidou; mas quando pela
terceira vez ela leu o nome do Amado Discı́pulo, ela icou radiante, e
durante toda a sua vida nã o havia nada que ela pudesse recusar - seja
concedendo um favor ou perdoando uma ofensa - se fosse pedido por
ele, mas cedeu livremente e alegremente mais do que foi pedido.
A cada dia seus pensamentos se voltavam cada vez mais para Deus; ela
pronunciava Seu nome com ternura, invocava-O em tudo o que fazia e
se esforçava para se conformar de todas as maneiras à Sua santa
vontade. Ela sentia o inextinguı́vel prazer magiar em dançar e, como era
saudá vel e natural, um ar vivo podia levá -la embora em movimento
lutuante; entã o, de repente, ela parava com uma risadinha. "Uma
volta", dizia ela, "é o su iciente para o prazer; o resto nã o dançarei por
amor de nosso Senhor." O mesmo acontecia com os jogos de que ela
mais gostava.
Ela nã o usava mangas aos domingos até o meio-dia e, nos festivais,
esperava até o im da missa para calçar as luvas. Essas coisas eram o
equipamento mais bonito para meninas, nada fá cil para uma menina
desistir; as mangas, sem dú vida, cortadas de algumas daquelas sedas
coloridas de fada da Hungria que ela trouxera, enquanto as luvas eram
as ricas manicas bordadas que traı́am os prı́ncipes, com delicadas
bancas de dedo, supõ e-se, e talvez uma joia nas costas da mã o. Tal como
acontece com outras pessoas pequenas, e elas nã o precisam ser
princesas, ir para a cama era uma provaçã o, e quando ela foi
"embrulhada" por im, como diria Dietrich ( cogeretur ), ela disse todas
as oraçõ es que nã o havia completado durante o dia, recitou os Pais-
Nossos e Ave-Marias que ela havia prometido, e entã o adormeceu,
lembrando-se de Deus que dá cançõ es durante a noite.
Em todas essas pequenas rendiçõ es e renú ncias, talvez houvesse pouco
senso de morti icaçã o ou austeridade, e menos ainda de penitê ncia e
expiaçã o. Eram atos de jubilosa afeiçã o, carı́cias de criança, sinais a
Deus do quanto ela O amava, compartilhando com Ele tudo de que mais
gostava, da ú nica maneira em que poderia compartilhá -lo.
Ela estava no sé timo ano quando sua primeira tristeza dolorosa se
abateu sobre ela. Notı́cias chegaram à Turı́ngia de que sua mã e estava
morta e que sua morte foi terrı́vel. A preferê ncia irresponsá vel que a
rainha Gertrudes sempre demonstrara por seus pró prios compatriotas,
a paixã o com que os colocava nos cargos mais elevados e derramava
riquezas e honras sobre eles, nã o só havia alienado muitos da nobreza
magiar, mas levantado uma facçã o resolvido nas medidas mais
desesperadas para vingar as queixas privadas e para livrar o paı́s dos
intrusos estrangeiros. Durante a ausê ncia do rei, eles surpreenderam a
rainha fazendo fé rias. na Floresta de Pilis, e irrompeu em sua tenda. Seu
ilho, Bela, que ela segurou no colo, proporcionou-lhe um breve
descanso. "Deus me livre", gritou o lı́der dos conspiradores, "que eu
derrame o sangue do meu rei!" e arrancou o menino de seus braços. No
momento seguinte, a mã e infeliz foi cruelmente assassinada.
Cheio de ira e tristeza, Andreas correu para a capital para reprimir a
revolta ameaçada, mas muito tempo depois Bela censurou-o
amargamente por ele nunca ter retribuı́do seus assassinos. Embora a
lembrança de Elizabeth de sua mã e tivesse diminuı́do com o tempo e a
mudança, só o nome da mã e e o sofrimento e a ignomı́nia de sua morte
devem tê -la oprimido com uma dor indescritı́vel. Eles trouxeram para
casa, pela primeira vez e em toda a sua realidade pessoal viva, a
angú stia e a vergonha do Calvá rio e a espada da dor que traspassou o
coraçã o da Virgem Mã e; e a partir dos dias e noites dessa experiê ncia
assombrosa, dataria o inı́cio de sua devoçã o à Paixã o de Cristo. A essa
é poca també m se atribuiria os incidentes mencionados por escritores
posteriores. Ao ver os tú mulos dos mortos, ela andava suavemente
entre os montes de grama e dizia: "Veja como todos eles estã o mortos.
Ningué m mais os conhece. Uma vez que todos eles estavam vivos como
nó s, e um dia estaremos mortos como eles"; e ela implorava a seus
companheiros que se ajoelhassem com ela e orassem: "O Senhor, por
Tua morte cruel e por Tua querida mã e Maria, livra estes mortos de sua
dor; e concede a nó s, que estamos vivos, a graça de chegar à alegria que
nã o morre. "
Sempre gentil e afetuoso com ela, o Landgrave era seu conforto e força
humana nestes dias. Com o braço dele, ela con idenciou-lhe todos os
seus problemas, e um olhar de amor em seus amá veis olhos azuis, uma
carı́cia suave em seus cabelos, uma pequena conversa alegre e um forte
abraço a colocaram em seu caminho dó cil e mais leve. coraçã o. Mas o
homem forte nã o demorou muito para ser sua grande rocha.
Quando ela tinha nove anos, algumas contendas com o arcebispo
militante de Mainz terminaram na Turı́ngia sendo interditada. O
Landgrave, "todo de ferro" ocasionalmente, como seu pai antes dele,
entrou em campo; mas antes que muitos dias tivessem se passado, a
notı́cia de sua morte repentina chegou a Wartburg. Eles o trouxeram de
volta com estandartes drapeados para Eisenach, e o enterraram no
convento de Santa Catarina, que ele construiu fora do Gallows Gate em
conseqü ê ncia de um sonho estranho.
Depois dessa perda irremediá vel, todo o mundo mudou para Elizabeth.
Lewis, seu prometido, sucedeu seu pai como Landgrave, mas como ele
ainda estava em seu dé cimo sexto ano, sua liberdade de açã o foi
amplamente controlada pelos desejos de sua mã e e a in luê ncia dos
conselheiros de seu pai. Ele era dedicado à sua noiva eleita; sua alegria,
sua caridade, as belas e curiosas observâ ncias em que sua devoçã o
encontrava uma saı́da feliz, os aproximavam muito. Nos primeiros dias
de seu casamento, eles se chamavam de "irmã o" e "irmã "; esse costume
ainda continuou e, de fato, durou todas as suas vidas.
Apó s a morte de Hermann, no entanto, a Landgravine Sophia nã o mais
reprimiu a insatisfaçã o com que olhava para Elizabeth. Ela deve tê -la
amado no inı́cio, mas ao observar o crescimento da piedade da criança,
tratou-a com frieza. Por sua afeiçã o para com seus pró prios ilhos, ela
sabia como o pequeno exilado precisava do cuidado e da ternura de
uma mã e, mas sua natureza orgulhosa e mundana havia sido irritada, e
agora que o grande Landgrave nã o estava lá para conter. para ela, a
frieza transformou-se em ressentimento irritá vel e desdenhoso.
Quando agosto trouxe a festa da Assunçã o, na qual os frutos da colheita
eram colocados em açã o de graças diante do altar, a famı́lia principesca,
coroada e revestida de esplendor, desceu em estado de Wartburg para a
Igreja de Nossa Senhora em Eisenach . Eles foram conduzidos aos seus
lugares e Isabel, ajoelhada, ergueu os olhos e viu à sua frente um grande
cruci ixo com uma igura real de Nosso Senhor. O espetá culo do
Salvador em Sua agonia a oprimiu. Tirando a coroa da cabeça, ela se
jogou no chã o, chorando amargamente. A Duquesa a ergueu rudemente
e repreendeu-a duramente por ter esquecido até entã o as regras de sua
posiçã o. Ela queria ser motivo de chacota ou estava louca por se
agachar e rastejar como uma freira maluca ou algum velho
camponê s? "Oh, senhora, nã o ique zangada comigo", respondeu
ela; "Eu nã o poderia me ajoelhar coroado com pedras preciosas e ouro
diante de meu Redentor e meu Rei coroado de espinhos."
A crueldade da Landgravine nã o passou despercebida por sua ilha, e
Agnes, que era tã o vaidosa quanto bonita e tã o rancorosa quanto
vaidosa, tentou de vá rias maneiras provocar e picar sua
companheira. Seus companheiros participaram da perseguiçã o
mesquinha; e o exemplo perverso da Duquesa re letia-se na zombaria
dos cortesã os e na insolê ncia dos criados. Ningué m parecia se lembrar
de que Elizabeth era ilha de um rei e uma garotinha.
Sim, lembrava Jutta. Em qualquer momento de sua vida, eu acho, aquela
pequena senhora teria ido por ela
"Atravé s do fogo- laught e da inundaçã o drumlie";
e Walther von Varila lembrou-se e calou-se por mais algum tempo.
Mais ou menos nessa é poca, ocorreu uma ocorrê ncia que pode lançar
luz sobre o que se segue. Quase desesperado por despertar o espı́rito
de cruzada entre os reis e prı́ncipes do Ocidente, o Papa predisse, no
Concı́lio de Latrã o em 1215, que o poder sarraceno havia atingido os
limites de sua duraçã o permitida e estava prestes a desaparecer da
terra . Durou 666 anos, o nú mero da Besta Apocalı́ptica, e ele pró prio
tomaria a Cruz Vermelha e apressaria seu im maligno.
Inocê ncio III morreu antes que seu projeto pudesse ser realizado, mas
sob seu sucessor, Honó rio, a partida da expediçã o foi ixada para 1217.
Mais uma vez a cristandade foi agitada por sinais e pressá gios. Cruzes
espectrais foram vistas no cé u - uma no norte e outra no sul, ambas
brancas; e entre os dois uma cruz escura exibia uma igura dolorosa,
com a cabeça inclinada para baixo e pregos cravados nos pé s e nas
mã os. Apesar dos votos e pressá gios, Andreas da Hungria partiu
sozinho para a Palestina, com Leopold da Austria e Lewis da Baviera
servindo sob seu comando.
Com que alegria - com que orgulho, se é que alguma vez orgulhoso
pensamento se alojou naquela alma humilde - Isabel ouviu falar de seu
glorioso empreendimento; como as oraçõ es dela o seguiram por sua
segurança, por seu sucesso, pela libertaçã o daquela terra abençoada
santi icada pela presença viva e pelo precioso sangue de Cristo. Se
algum pensamento sobre a morte de seu pai passou por sua mente, com
certeza ela respondeu com o espı́rito daquele homem de armas
heró ico: "Camarada, você está ferido" - "Eu estou morto, mas
ressuscitarei."
Há bases para supor que este evento foi encarado com pensamentos e
cá lculos muito diferentes pela Duquesa e seus conselheiros. Andreas
havia navegado para o paganismo; ele pode nunca mais voltar. Mesmo
se ele sobrevivesse, ele poderia se encontrar um andarilho sem
coroa. Seu mandato na Hungria havia muito parecia precá rio e seu
reinado tinha sido uma luta incessante para conter sua nobreza
tempestuosa. Em qualquer dos casos, agora cabia a eles, como homens
prudentes e responsá veis, pensar um pouco sobre o futuro de seu
jovem Landgrave. O mais ousado e sem escrú pulos desses ministros
aconselhou abertamente o Landgravine a repudiar o contrato de
casamento. O casamento de Elizabeth mal tinha sido celebrado com a
solenidade obrigató ria exigida pela posiçã o de tal genro e a deferê ncia
devida à sua famı́lia! Que a donzela fosse mandada para casa, para seu
pai. Entre os prı́ncipes vizinhos poderia ser encontrada uma noiva que
traria consigo um dote mais magnı́ ico, e da aliança com cuja casa um
socorro mais poderoso e imediato seria assegurado em qualquer
emergê ncia.
A Duquesa nã o disse sim nem nã o. Mais sutil do que seus conselheiros,
ela percebeu que o retiro voluntá rio de Elizabeth para a tranquilidade e
as devoçõ es agradá veis de uma vida religiosa oferecia uma soluçã o
mais adequada e menos perigosa do que a ruptura desonrosa que eles
propunham. Com a vontade de fazê -lo e a perversa sagacidade materna,
os dias de uma menina podem se tornar tã o difı́ceis e espinhosos que o
pacı́ ico claustro pode em breve parecer o ú nico lugar feliz no mundo.
Portanto, a perseguiçã o sem coraçã o foi redobrada. O menino-prı́ncipe
Hermann morrera pouco depois de seu pai. Dos outros irmã os -
Heinrich, egoı́sta e in iel; Conrad, um rapaz rude e apaixonado - ela nã o
recebeu olhares gentis nem palavras gentis. Os companheiros alegres e
de lı́ngua leve do jovem Landgrave tentaram afastá -lo de sua prometida,
mas quando ele ouviu sua conversa, um olhar que apareceu em seus
olhos azuis como os de seu pai e capaz de um vislumbre frio da
qualidade de ferro do homem os avisou que eles haviam se aventurado
ao limite da segurança.
Os deveres de seu alto cargo freqü entemente levavam Lewis para longe
de casa, mas ele nunca voltava dessas viagens sem trazer para sua
"querida irmã " algum belo sı́mbolo de sua lembrança dela. Durante
uma dessas ausê ncias, Agnes, para quem a doce e misericordiosa
paciê ncia de Elizabeth se tornara insuportá vel, atacou-a de todas as
maneiras em que pensava que poderia magoá -la. "Eu admiro seus
amigos, Elizabeth", disse ela. "Você os tem bastante comum. Qualquer
um pode ver que você nunca nasceu para ser uma dama de alta posiçã o.
E, é claro", acrescentou ela pensativamente, "você nunca estará , pelo
menos, na Turı́ngia. Pois você está muito enganado se você acha que
meu senhor, irmã o Lewis, algum dia se casará com você , a menos que,
de fato, você mude maravilhosamente. Mas talvez nã o importe que
classe de amigos você fará se voltar para sua casa na Hungria. "
Elizabeth olhou para ela com gentil surpresa e nã o respondeu; mas
quando Lewis voltou, e ela soube que, por algum azar ou esquecimento
momentâ neo, ele nã o lhe trouxera seu presente habitual, ela icou
profundamente angustiada. Walther von Varila se deparou com ela,
olhando ao longe com os olhos marejados para o mundo desconhecido
alé m da loresta. "Oh, conde Walther", disse ela enquanto ele se
aproximava, "você pode me dizer; devo ser mandada embora? Meu
senhor e meu irmã o me abandonarã o?"
"Nunca acredite, querida criança e princesa", respondeu Varila,
beijando sua mã o. "Se você ouviu alguma coisa, é apenas a malı́cia de
lı́nguas sem graça. Nã o se preocupe. Con ie em mim, tudo icará bem.
Mas este erro e vergonha já durou muito tempo. Amanhã eu caçarei
com Sua Alteza, e eu irei falar."
Amanhã , entã o, enquanto o iel portador da Taça cavalgava ao lado do
Landgrave, "Queira lhe agradar, meu senhor", ele pediu, "que eu diga o
que quiser; e você revelará o que procuro saber ? "
"Fale livremente", respondeu o prı́ncipe Lewis, com um sorriso, "e eu
responderei o que for apropriado."
"Entã o, pelo amor de Deus, que curso você deseja tomar com a ilha do
rei? Ela vai ser sua esposa ou você vai mandá -la de volta para o pai?"
"Pela verdade de Deus, Conde Walther", respondeu o Landgrave, e
apontou para as alturas rochosas do Inselberg erguendo-se sobre as
clareiras verdes, "se aquela montanha fosse transformada da raiz ao
cume todo de ouro puro, eu rejeitaria mais prontamente isso como sem
valor do que renunciaria a meu casamento com Elizabeth. Deixe os
outros pensarem o que quiserem e balbuciar como tolos. Eu amo
Elizabeth, e nada icará comigo antes de nosso casamento. "
"Querido meu senhor, posso dizer a ela?"
"Sim, diga a ela", disse Lewis; "e dar isso a ela como minha promessa!"
Da bolsa pendurada no cinto, ele deu a Walther um pequeno espelho
envolto em uma caixa de bronze. O cristal de um lado era liso, do outro
trazia a imagem do Senhor cruci icado.
Quando Walther o apresentou e Elizabeth o tirou cuidadosamente de
sua mã o, diz Frei Dietrich, ela demonstrou a alegria que isso lhe
proporcionou com uma risada muito alegre.

A criança-noiva

O incidente na loresta despertou completamente o Homem de Ferro,


embora ele nã o tenha descartado suas luvas enfeitadas com joias e
manto imponente. Os astutos conselheiros, nobres fanfarrõ es, cortesã os
obsequiosos e até a pró pria duquesa Sophia tornaram-se agudamente
cientes da forte determinaçã o que repentinamente se desenvolveu sob
a cortesia e a graciosidade ensolarada do Landgrave.
Houve um im abrupto para as conversas sobre contratos repudiados,
sobre as vantagens a serem obtidas com esta ou aquela aliança, sobre a
beleza e quase tã o essencial quanto a beleza a educaçã o cortê s de
outras damas. O desrespeito brusco, a indelicadeza estudada, a
familiaridade desdenhosa cessaram, e a insolê ncia dissimulada dos
criados transformou-se em um servilismo envergonhado. A mudança
assustou Elizabeth. Ela foi levada mais perto das lá grimas pela cessaçã o
desses insultos do que nunca pela resistê ncia deles. Quã o pouco algué m
a amou por si mesma todo esse tempo! E agora, com uma palavra ou
um olhar do Landgrave!
Oh, a bondade de seu querido senhor e irmã o em amá -la; e oh, a doçura
de ser tã o amado por ele! Ela olhou com felicidade e contentamento
indescritı́veis enquanto o sol poente, avermelhando os topos dos
pinheiros, batia nos picos de pó r iro e os iluminava com ouro. "O
querido Senhor Cristo, se estes fossem transformados das raı́zes para
se transformarem todos em ouro puro, ele os consideraria como nada
de valor pelo meu amor!" Entã o seus olhos escureciam de emoçã o
enquanto ela beijava o espelho de bronze, o abria e olhava
ansiosamente para a imagem na cruz. Aquela Presença suprema
mesclada em toda a sua dor e em todo o seu deleite.
Em uma memorá vel noite de verã o em 1218 - era a vé spera de Sã o
Killian, que havia deixado sua amada Erin quase seis sé culos antes para
trabalhar nessas regiõ es - o Landgrave se ajoelhou em vigı́lia diante de
suas armas em preparaçã o para seu tı́tulo de cavaleiro, e no seguinte
dia Engelhard, o bispo de Naumburg, consagrou sua espada a todos os
serviços de cavalaria. Lewis havia entrado na propriedade do homem, e
daı́ em diante era seu pró prio senhor - ou, mais verdadeiramente, seu
pró prio homem. O interdito ainda estava, ou fora colocado de novo, na
Turı́ngia - um abuso de poder fantasmagó rico que nã o duraria
mais. Atravessando a fronteira para Hesse, o Landgrave disparou de um
lado para outro com tais lampejos de ferro que sua Graça de Mainz foi
levada a uma mente mais moderada, e um ano depois suas diferenças
foram resolvidas.
Mas o mais feliz de todos os dias aconteceu em 1221. Ningué m
observou a data ou a estaçã o, mas digamos abril; depois que a cegonha
voltou, e a andorinha e a violeta, e os ilhos carregaram a Morte-Inverno
- um mero homem de palha agora seu reinado acabou - e o queimaram
ou afogaram no Nesse. O Wartburg estava lotado de convidados, gente
ilustre de Hesse e de todas as partes da Turı́ngia; e nã o menos distintos
entre eles, enviados magiares carregados de presentes de noiva. Muitas
damas e damas nobres, e cavaleiros e escudeiros foram alojados em
Eisenach - no sinal do Helgreven e em outros lugares, e a cidade
cinzenta parecia imensamente bem em sua bravura de casamento.
Assistida por um sé quito de damas de honra femininas, Elizabeth foi
escoltada à igreja e entregue nas mã os de seu marido pelo inabalá vel
Varila e pelo conde Meinhard de Muhlberg, que a recebeu de seu pai,
uma criança em seu berço de prata, de quase dez anos. anos antes.
Os antigos escritores, que silenciam sobre tantas coisas que nos
interessam, icaram impressionados com a beleza dos dois. Ela tinha
uma forma adorá vel e um porte majestoso, com pele castanha clara
(embora o castanho talvez fosse mais o tom oliva do sudeste da
Europa), cabelo preto e olhos escuros cativantes. Ele era de estatura
mediana, de porte ereto, com bochechas claras e rosadas e longos
cabelos amarelos. Sua voz era suave, sua risada brilhante e clara; e ele
era modesto, alé m de corado como uma empregada domé stica. E ela
tinha quatorze anos e ele vinte e um.
Por trê s dias, Eisenach viveu um turbilhã o de alegria, excitaçã o, com
justas, danças e grandes banquetes. Entã o, nas clareiras da loresta
esvoaçava o orgulho da vida; e o mundo passou, e a sua concupiscê ncia.

Durante seis anos, a vida de Elizabeth foi um idı́lio de ternura cativante,


de ardor mı́stico, de felicidade quase infantil, de que nã o me lembro em
tudo que li sobre romance ou sobre a experiê ncia humana. Era uma
existê ncia para a qual encantamento é uma palavra muito mundana e o
ê xtase muito pouco mundano. Misturando-se com esses jovens
amantes, unindo-os uns aos outros e atraindo-os para a comunhã o
divina com Ele, estava a igura coroada de espinhos do Calvá rio. Muito
em suas relaçõ es diá rias, registradas com a franca homenagem
moná stica de outra é poca, parece hoje muito espiritual e ı́ntimo para
ser tocado em palavras.
Oh, os bons dias da primeira companhia de todo o coraçã o e sem
limites!
"Nã o há alegria tã o doce
Como meditar sobre algué m que amamos,
E sentar-se a seus pé s."
Ela estaria perto dele constantemente. Em suas excursõ es e viagens por
seus territó rios, era tudo uma coisa: se a loresta era verde ou as
estradas amargas com geada e neve, ou se as enchentes estavam fora
dela, ela cavalgava ao lado dele, e
"sempre com uma recepçã o divertida levou
O trovã o e o sol."
Para aborrecimento dos altos funcioná rios, ela abandonou o lugar
imemorá vel do Landgravine à mesa para sentar-se ao lado dele durante
as refeiçõ es. Quando, por algum motivo, ela nã o pô de acompanhá -lo ao
exterior, ela " icou de luto", como deverı́amos dizer, pois ela nã o era
viú va quando ele nã o estava mais lá ? E, no entanto, era uma viú va muito
alegre, inocente como uma menina e bela que esperava sua volta para
casa. Com a notı́cia da volta dele, ela bateu palmas e vestiu suas sedas
hú ngaras mais alegres, uma touca brilhante, mangas pregueadas justas,
colar de joias e tudo o que nã o o receberia. "Isso eu nã o faço por
orgulho", disse ela a Lady Isentrude; "Desejo estar formosa em minhas
roupas puramente para Deus, pois nã o daria a meu marido qualquer
ocasiã o de pecado por ter algo em mim que o desagradasse."
Isentrude, a viú va de algum senhor de Horselgau, tornou-se a dama de
companhia de Elizabeth apó s seu casamento e viveu com ela por vá rios
anos em tal proximidade de sua pessoa que parecia compartilhar os
pensamentos mais secretos do Landgravine. "Minha senhora", diz ela,
"levantava-se à noite para orar, e o Landgrave implorava que ela se
poupasse e fosse descansar, e o tempo todo ele segurava sua mã o,
preocupado que ela sofresse algum dano. També m pedia a suas
donzelas que a acordassem suavemente enquanto ele dormia; e à s
vezes quando pensavam que ele estava dormindo, ele estava apenas
ingindo. Suas oraçõ es també m eram tã o prolongadas e ela tã o cansada
que seus olhos se fechavam e ela afundava dormir ao lado da cama. "
Sob o esplendor de suas vestes majestosas, ela constantemente usava
"Um manto de saco ao lado da pele branca e lisa."
Como Carlos Magno, ela andava descalça e vestida com sarja á spera nas
procissõ es dos Dias da Rogaçã o, quando os homens se humilhavam
diante de Deus e suplicavam Sua bê nçã o sobre os frutos da terra. Ela se
submetia à "disciplina" todas as sextas-feiras e todos os dias durante a
é poca solene da Quaresma. Em comemoraçã o ao "novo mandamento",
ela se vestiu com roupas mesquinhas na Quinta-feira Santa e lavou os
pé s de doze pessoas pobres, nã o se esquivando dos mutilados ou
leprosos, e deu a cada um pã o, roupas e um pedaço de prata .
Em todo esse "ascetismo", para usar a palavra por sua brevidade, ela
vivia em tamanha felicidade e alegria resplandecente que mal
conseguia entender a severidade e a aparê ncia sombria das pessoas
boas em suas devoçõ es. "Nã o ore tã o severamente", disse ela certa
vez; "você vai assustar a Deus!"
O segredo de Sã o Francisco era o segredo de Santa Isabel. Como a dele,
sua vida foi sustentada por uma dupla alegria - a alegria do amor e a
alegria de sofrer por amor. "Você está com uma dor terrı́vel para chorar
tanto?" Sã o Francisco foi questionado, quando uma vez foi encontrado
soluçando amargamente. "Ah eu!" ele respondeu, "é pela Paixã o de meu
Senhor Jesus que eu choro; e por isso eu nã o teria vergonha de andar
chorando pelo mundo." E na montanha de Vernia, quando ele orou na
madrugada do dia da Santa Cruz, nã o foi por nenhuma bê nçã o na terra,
nem mesmo por um lugar no cé u, mas por duas graças antes de morrer
- sentir em seu corpo, entã o tanto quanto a carne mortal pode suportar,
a tortura que Nosso Senhor sofreu na sua paixã o, e sentir no seu
coraçã o o amor excessivo pelo qual Ele estava disposto a suportar tal
angú stia.
O fervor daquele anseio mı́stico de dor encontrou talvez sua expressã o
mais clara no grito lı́rico que Bonaventura proferiu e Jacopone ecoou
em seu Stabat Mater :
"Cruci ixe, fac me fortem
Ut libenter tuam mortem
Plangam donee vixero.
Tecum volo viilnemri,
Te libenter amplexari
In cruce desidero."
Como que para enfatizar as caracterı́sticas que marcavam a diferença
entre suas austeridades e as penitê ncias e morti icaçõ es arrependidas
ou propiciató rias da é poca, o incidente da visã o do Cruci ixo, que a
dominou em sua infâ ncia, se repetiu com mais intensidade quando ela
era uma esposa.
Foi em alguma igreja nos vales, na qual ela esteve presente no
estado. Ao entrar, viu por cima do altar a imagem do Senhor
cruci icado; comovente em sua nudez, coroada de espinhos
entrançados, trans ixada por pregos. Dizendo consigo mesma: "Eis que
este é o meu Deus pendurado nu; e tu, um mortal sem valor, está s
vestido com roupas caras. Sua cabeça está perfurada por espinhos; a
tua está rodeada de ouro", ela desmaiou, e foi levado inconsciente para
o ar livre. Ela nã o orou para que pudesse carregar em seu corpo as
marcas de Sua agonia, mas daı́ em diante, exceto quando os deveres de
seu estado exigissem o contrá rio, ela nã o usava mais mantos coloridos,
vé us bordados, iletes de seda para envolver no cabelo, joias pentes
cravejados, mangas justas e longos trilhos farfalhando.
Essas experiê ncias mı́sticas fervorosas foram acompanhadas por uma
compaixã o prá tica por todos os pobres e sofredores e por uma caridade
inesgotá vel. Descendo de Wartburg para Eisenach e as regiõ es
circundantes, ela chegou o mais perto que pô de da vida das pessoas
comuns.
Abra um tomo de velhas rimas e crô nicas e você terá vislumbres como
esses das atividades cotidianas. No inı́cio da madrugada, os pá tios estã o
agitados com o barulho e agitaçã o de aves, cisnes e guindastes. O
rebanho sai e buzina, e desta rua e que o gado sai dos galpõ es e baias,
siga ele e seu cachorro e saia, uma grande manada, atravé s dos portõ es
da cidade para a loresta, fazendo uma mú sica matinal maravilhosa com
seus sinos. Ao pô r do sol eles voltam. Nas aldeias, passa-se por bandos
de duzentos ou trezentos gansos com uma pequena moça descalça ou
um rapaz de guarda. Aqui, em uma gaiola sob o beiral do telhado, está
um estorninho que aprendeu o Pai-Nosso . Quando a colheita é feita em
meados de setembro, os gansos brancos sã o transformados em restolho
da terra da aldeia e se alimentam com os bois vermelhos que obedecem
aos nomes dos antigos deuses. Estranhas crenças do velho mundo
perduram nesses locais rú sticos e sã o curiosamente mescladas com a fé
posterior. Em cada estrela cadente o povo reza pela pobre alma que
passa naquele momento.
Algo disso Elizabeth viu enquanto cumpria sua missã o de piedade,
cuidando dos enfermos, tratando das enfermidades dos enfermos,
vendo que os idosos tinham comida e fogo, aninhando bebê s recé m-
nascidos em seu seio, vestindo-os e, freqü entemente, segurando-os na
fonte.
Em um dia de inverno, ao sair com uma de suas donzelas pela trilha
acidentada chamada Knee-Smasher, com o avental ou a capa cheia de
provisõ es, ela de repente encontrou o marido voltando para casa da
perseguiçã o. Ele veio sorrindo para ela com as mã os estendidas. "Você
querida irmã , por que você se sobrecarrega assim? Deixe-me ver o que
temos aqui." Elizabeth corou, hesitou por um momento, depois abriu
sua vestimenta e eis! uma chuva de rosas vermelhas e brancas se
espalhou pelo chã o.

Nesse local, é dito, o Landgrave ergueu um pilar de pedra, e uma dessas


rosas ele preservou até sua morte.
O que importa se isso foi um milagre, ou uma ilusã o, ou um dos
devaneios dos pobres da Idade da Fé ? A verdade essencial permanece a
mesma, ontem e hoje, que a compaixã o humana é a coisa mais
divinamente bela do mundo. O sé culo XIII está repleto, como um
matagal de rosas silvestres em junho, dessas lendas das lores, nas
quais o povo expressava com sua ingê nua forma poé tica sua crença na
beleza da santidade e nas interposiçõ es do amor de Deus nas crises de
necessidade do homem.
Apenas nove anos antes, quando Francisco e Clara se separaram por
causa dos maus pensamentos de mentes mesquinhas, e ela desceu a
crista á rida do Monte Subasio e ele voltou o rosto para Porciú ncula, ela
correu de volta para ele pela neve. "Oh, Irmã o Francis, você nã o disse
por quanto tempo icaremos separados; diga-me quando nos
encontraremos novamente." "Quando as rosas lorescem em Subasio",
respondeu o "pobre homem de Assis"; e pensando consigo mesma: Isso
nunca é ", Clare se virou; mas, mesmo enquanto partia com passos
lentos, diz o gentil povo pastor, a neve derretia das rochas, os arbustos
exalavam uma né voa verde e se transformavam em rosas. Clare se
encheu uma dobra de seu manto com eles, e mais uma vez correu de
volta, chamando Francisco pelo seu nome.Ao ver essas rosas o irmã o
beijou a irmã , e eles nã o deram ouvidos mais à s calú nias dos homens
ı́mpios.
Quase sete anos apó s a morte de Elizabeth, um garotinho estava
correndo pelos jardins do castelo quando seu pai, o Senhor de Aquino, o
parou e perguntou com tanto cuidado o que ele estava escondendo. O
menino mostrou o que tinha; mas em vez da comida que ele levava para
os pobres, havia grandes cachos de rosas. No tempo bom de Deus, o
nome deste pequeno sujeito foi divulgado no mundo e até hoje é tido
em alta honra - Tomá s de Aquino.
Cerca de vinte anos depois, Tannhauser, o Minnesinger, ajoelhou-se aos
pé s do Papa Urbano e confessou que durante sete anos havia morado
dentro do Horsel com a Deusa do Amor pagã em seu jardim de
delı́cias; e o Vigá rio de Cristo, horrorizado com a imensidã o de seu
pecado, empurrou-o sem remorso: "Vai-te, alma condenada; pois mais
cedo podes esperar que este cajado cresça verde e loresça novamente
do que Deus te perdoe!" E o Minnesinger saiu chorando: "Este é o im
de todos os meus feitos de armas e doce canto, voltar para minha
senhora, triste e amaldiçoada." Entã o, um dia aconteceu que o Papa,
quando ele pegava seu cajado, viu como ele havia se transformado em
lores, vermelhas e brancas, e todos os seus nó s haviam se
transformado em folhas; e com grande pavor e comovido pelo cavaleiro
que partira em desespero, um homem miserá vel e perdido, ele enviou
muitos mensageiros para procurá -lo; mas Tannhauser nã o foi mais
visto.
Entre as misé rias da é poca estava a medonha doença da lepra, que se
espalhou rapidamente no Ocidente durante as idas e vindas dos
Cruzados. Os lamentá veis sofredores - vultos perdidos em tú nicas
grosseiras cinzas, com rostos encapuzados e aplausos de Lá zaro, que
vagavam até nã o poderem prosseguir, eram temidos e odiados com um
horror que tornava os homens inumanos. Isabel, poré m, lembrando-se
de que Cristo havia se sentado à mesa na casa de um leproso e que
havia ordenado a Seus discı́pulos que curassem os enfermos e
puri icassem os leprosos, dedicou-se ao serviço mais humilde dessas
pobres criaturas.
Agora, diz o velho Rhymer, aconteceu enquanto a corte estava em
Neuenburg (Naumburg) que um dia a Duquesa Sophia encontrou o
'Landgrave quando ele desceu e, pegando sua mã o, "Venha comigo,
querido ilho", disse ela amargamente, "e você verá uma das maravilhas
que sua Elizabeth faz e eu nã o posso evitar." Ela liderou o caminho para
o sofá principesco; "Pá rias estã o deitados em sua cama, e isso me
preocupa, para que você nã o seja infectado. Procure por você mesmo,
querido ilho."
Lewis arrancou a colcha da cama; os olhos da mã e e do ilho foram
divinamente abertos, e eles viram a forma de Jesus de Nazaré se
desvanecendo em uma luz misteriosa. Profundamente comovido, o
Landgrave atendeu a Elizabeth seu pedido de que um lazar-lar deveria
ser construı́do no meio do caminho subindo o ı́ngreme do Wartburg
para receber os miserá veis errantes que nã o podiam subir até o castelo
para obter alı́vio.
Vamos icar indecisos diante desse novo milagre? Toda a vida desses
dois foi um milagre nesta é poca. "Milagre é o mundo do amor, sua casa,
seu local de nascimento." Quando o milagroso cessou, o amor
desapareceu. Eles viveram até o im em um romance que di icilmente
nos parece possı́vel, mesmo nos anos inocentes da infâ ncia.
Certa noite, enquanto estavam acordados, Isabel disse ao marido como
havia pensado em uma maneira de viver e servir melhor a
Deus. "Devı́amos ser muito pobres; e eu gostaria que tivé ssemos apenas
terra su iciente para um arado, e isso nos manteria; e cerca de duzentas
ovelhas. Entã o você poderia arar o solo e cuidar dos cavalos, fazendo
isso muito pelo amor de Deus. E eu deveria cuidar das ovelhas e tosá -
las. " "Oh, sua querida irmã ", disse o Landgrave, rindo, "se tivé ssemos
tanta terra e todas aquelas ovelhas, di icilmente serı́amos pobres; e há
gente su iciente que diria que é ramos muito ricos."
Outra vez, de humor brincalhã o entre as donzelas do palá cio, ela se
vestiu com uma capa inú til, como a que um servo usaria, cobriu seus
lindos cabelos negros com um trapo miserá vel e ingiu ser uma pobre
mendigando pã o; entã o, com uma risada curiosa, subitamente
controlada como se fosse por um relâ mpago nos dias que virã o, "Eu irei
por este caminho", disse ela, "quando Deus me der a misé ria para
suportar por Sua causa".

Nos dias dourados

Foi nesse ano nupcial, algum tempo entre o inal do verã o e o


avermelhamento das folhas que, por desejo do Rei Andreas, uma
companhia de magnatas e nobres hú ngaros cavalgou de volta para casa
por meio de Eisenach dos santos santuá rios de Aix-la- Chapelle. Sem
dú vida, ele desejava ver atravé s de seus olhos como era com sua ilha,
em que adoraçã o ela era realizada, a maneira do prı́ncipe que o
Landgrave poderia ser, e a condiçã o de seu paı́s. També m trouxeram
cartas do rei e um caloroso convite a Lewis e sua noiva para visitá -lo.
Muito honrosa foi a saudaçã o dada a esses estranhos, que chegaram
quase como parentes; mas enquanto o Landgrave os recebia nos
orgulhosos salõ es com vista para a bela terra da Turı́ngia, ele estava
muito perplexo sobre como Elizabeth deveria aparecer entre eles e
pensou com desâ nimo nos vestidos majestosos que ela havia
descartado. E, de fato, apenas nesse caso infeliz, ela era como ele
temia. Esta vestimenta foi cortada e doada, esta foi despojada de seu
ouro e prata, esta foi vendida para os pobres; até seu vestido de noiva
estava sendo tã o alterado que ela nã o conseguia mais usá -lo.
- Oh, irmã , ico constrangido por você nã o ter o que é adequado para os
nobres de nosso rei, e nã o há tempo para lhe fornecer coisas bonitas.
Minha culpa é , mas isso nã o corrige nada.
"Vamos levar isso com leveza, querido irmã o", disse Elizabeth; "Nunca
me gloriei com o que vesti. Mas falarei sobre isso com Deus, e pode
acontecer que eles nunca notem meu vestido."
O Landgrave voltou para seus convidados, ansioso para saber o que eles
pensariam quando vissem como ela estava vestida com humildade; mas
Isabel se ajoelhou e orou a Deus para vesti-la com tal encantamento e
boa vontade para que ela nã o entristecesse os homens de seu pai ou
desonrasse seu marido. Entã o ela se vestiu da maneira mais decente
que pô de, deixando todas as falhas para Deus.
Quando ela foi conduzida ao grande salã o, os Landgrave e os hú ngaros
olharam para ela com alegria; pois, como o velho monge escreve,
"Doce de cor ela era, iwis,
Como o rosado da manhã é ";
e todos os homens viram que suas vestes eram de seda, jacinto,
cintilando com um orvalho de pé rolas.
"Rainha de Frankland nã o vai,
Em sua pompa, vestida assim."
Grande entã o foi o prazer de seu encontro; o convite foi aceito; e os
hú ngaros, pensando muito até estarem em casa novamente, partiram
cavalgando, cantando louvores a esta princesa e sua feliz
propriedade. Mas quando o Landgrave pediu que ela contasse como ela
parecia tã o maravilhosamente vestida, ela sorriu e balançou a cabeça
suavemente. "Quando agrada a Deus", disse ela, "Ele sabe como fazer
essas coisas."
Na primavera seguinte, eles visitaram a Hungria. Eles foram recebidos
em Presburg com a bela exibiçã o que encantou o Rei Andreas. O tempo
foi gasto em uma brilhante sucessã o de festas, torneios e grupos de
caça; mas o mais precioso para Elizabeth eram as horas tranquilas em
que, com o iel e velho Sire von Varila a seu lado, ela se demorava entre
as cenas de sua infâ ncia. Muitas lembranças sombrias tornaram-se
vı́vidas; muitos lugares e coisas que ela nã o reconheceu mostraram o
quanto havia desaparecido de sua vida. Aqueles que a conheceram
quando ela era uma donzela alegre, icaram felizes em vê -la
novamente; mas que sensaçã o de mudança havia em toda parte!
Seu pai se casou novamente. Sua madrasta era Yolande, ilha de Pedro
de Courtenay e sobrinha do Imperador Bizantino, Henrique I, e Yolande
tinha dois ilhos pequenos, meio-irmã os de Isabel. Estranhamente, com
esse casamento, Elizabeth chegou perto de ser ilha de um imperador,
pois, com a morte de Henrique, o trono do Impé rio Latino Oriental fora
oferecido a Andreas. Felizmente por seu eu irresoluto, alegre,
aventureiro e ine icaz, ele recusou. Seu irmã o Coloman era rei na
Galı́cia, enfrentando as hordas tá rtaras. Bela, já coroado como o
sucessor de seu pai, havia crescido e se tornado uma jovem e galante
masculinidade, uma verdadeira lor da heró ica linhagem de Arpad. Foi
bom, talvez para sua paz, que ela nã o soubesse que Bela havia
defendido os direitos da nobreza oprimida contra a fraqueza do rei e a
violê ncia da oligarquia; que o "Touro de Ouro", a Magna Charta do povo
Magyar, havia sido arrancado de Andreas na ponta da espada, e que pai
e ilho se enfrentaram por um momento crı́tico nas armas. A reticê ncia
de coisas passadas havia crescido com relaçã o a essas questõ es
trá gicas, como a grama havia crescido sobre o tú mulo de sua
mã e. Nenhuma conversa sobre eles obscureceu o sol desta temporada
de fé rias.
Ao se separar, Andreas, em sua generosidade impulsiva, deu com as
duas mã os, e o Landgrave e sua comitiva, mesmo para os noivos e
criados, voltaram para a Turı́ngia com o preço do resgate de um rei. Foi
a ú ltima vez que Andreas viu sua ilha.
Nesse ano, a irmã do Landgrave, Agnes, casou-se com o duque da
Austria, e o Wartburg nã o perdeu o brilho. Chegou o inverno e a loresta
vibrou com pontas de veneno, pois Lewis era um caçador poderoso. A
neve caiu e a geada trouxe o lobo até a porta do pobre homem, e
Elizabeth saiu em suas obras de misericó rdia. Entã o, por im, no
momento em que a cegonha vem voando para o norte, trazendo
bebezinhos do Paraı́so, ela se mudou para o Castelo de Kreuzburg em
paz e repouso. Ficava sobre uma bela colina acima do sinuoso Werra,
algumas lé guas a sudoeste em direçã o a Marburg; e sua igreja antiga, e
a cruz de pedra ainda mais antiga da qual tirou seu nome, lembravam
os dias longı́nquos de nosso pró prio Winfrid ou Bonifá cio saxã o. Todo
esse paganismo arborizado ele invadiu, abençoando os poços que o
povo adorava, demolindo alegremente bosques de demô nios e imagens
profanas, derrubando os enormes carvalhos imemoriais de Thor e Odin
e transformando-os em igrejas e orató rios.
Todo este paı́s, de fato, me parece territó rio inglê s, embora Killian, da
Ilha Verde na Agua, já tivesse percorrido grande parte dele cem anos
antes; e é agradá vel ligar a vida de Elizabeth, agora em seu dé cimo
sexto ano, com o jovem Crediton de rosto brilhante que chegou a icar
tã o perto dela no lugar, se nã o a tempo. No Field of Oaks (Eichsfeld),
alguns quilô metros ao norte de Eisenach, os rudes se destacaram com
raiva por seu ı́dolo colossal da Fortuna e sua Roda; mas quando Winfrid
se virou tristemente, ele cravou o cajado no chã o; criou raı́zes, como
faria uma muda vigorosa, e lançou folhas e ramos; e em pouco tempo
surgiu ao lado dela a igreja e o mosteiro de Heiligenstadt. Em Fulda,
Amoneburg, Altenberg, Fritzlar, Kitzingen, Erfurt e em muitos
outros berg e burg , vestı́gios de seu trabalho ainda sobrevivem.
Uma igura nobre, genial e santa dos sombrios dias saxõ es de
Bede; lindamente humano de ser lembrado como amigo e conselheiro
de freiras e abadessas que o amavam com o carinho irrepreensı́vel de
irmã s ou ilhas; com quem ele estava em constante
correspondê ncia; que transcreveu as Escrituras em grande caligra ia
clara, "por causa dos meus velhos olhos"; enviaram-lhe seus poemas em
latim para corrigir, seus requintados bordados para seus altares e
presentes em dinheiro; e assegurou-lhe que, embora estivesse bem
longe no corpo, "sempre se agarrariam ao pescoço com braços de irmã ".
Ele mandou chamar vá rios deles para ajudá -lo em sua vasta tarefa de
educar a Alemanha. Theckla, que fora freira em Wimborne, governou os
grandes mosteiros de Kitzingen e Ochsenfurt (um Oxford mais antigo
que o nosso); Walburgis (posteriormente tã o curiosamente associado
em sua santidade à Noite de Walpurgis e ao antigo culto da Mã e Terra)
foi abadessa em Waldheim; sua irmã , Leofgitha ou Leobgitha, abadessa
de Bischofsheim, perto de Mainz. "Leobgitha" se tornou "Lioba" e
"Liebe", para abreviar, nosso "lief", "querida". Seu rosto "era como o de
um anjo", e ela era alegre, de coraçã o terno e singularmente criteriosa
no que se refere a comer, beber e dormir. "Tire o sono", ela costumava
dizer, "e você tira o sentido"; mas seu pró prio copo era tã o pequeno que
as irmã s o chamavam de Dilectae parvus , "Querido ilho ".
Ah, só Winfrid e essas senhoras viveram na Turı́ngia nos dias de
Elizabeth!
A Landgravine estava em Kreuzburg entã o, nestes dias da nova
primavera, e no dia 28 de março seu ilho pequeno nasceu. O Landgrave
estava ocupado com os assuntos de Estado em Marburg, mas assim que
a notı́cia o alcançou, ele correu para sua amada Elizabeth. Como uma
alegre oferta de gratidã o a Deus, Lewis removeu a velha ponte de
madeira sobre o Werra e substituiu-a por uma de pedra; e contra a face
da rocha perto do topo da ponte, Elizabeth construiu uma pequena
capela da cruz. Ligava a velha cruz de Winfrid com a cruz do Cruzado, e
ambas com aquela visã o da Paixã o que ela carregava em seu
coraçã o. No batismo, a criança recebeu o nome de seu avô , Hermann, o
ú ltimo chefe da casa.
Para reunir detalhes como esses, pode-se acrescentar que no ano
seguinte nasceu uma ilha, em Wartburg, que recebeu o nome em
homenagem à duquesa Sophia, que nunca fora muito gentil com
Elizabeth. Lewis icou contente com a vinda de uma segunda ilha em
1225; e ela també m foi batizada de So ia, em memó ria da primeira
esposa do Landgrave Hermann, que morreu em 1195, um ano apó s o
casamento, e deixou para ele duas gê meas, Jutta e So ia. Essas parentes
nã o parecem ter entrado na vida de Elizabeth. Eles tinham dezessete
anos quando ela foi trazida para Eisenach e talvez já tivessem suas
pró prias casas - Jutta como marquesa de Misnia e Sophia como
condessa de Alsatia.
Grandes festas e alegrias eram realizadas nessas ocasiõ es, mas quando
acabavam, Elizabeth, descalça e vestida de lã grossa, saı́a furtivamente
do castelo com seu ilho nos braços, descendo pelo caminho duro e
pedregoso até uma igreja distante , coloque a criança sobre o altar e
acenda uma pequena lı́ngua de oraçã o ardente. Entã o, quando ela
voltou, o vestido de lã e a capa foram dados para aliviar as necessidades
de alguma pobre mulher.

Mestre Conrad de Marburg


Já se disse o su iciente sobre aquele novo e alegre misticismo que
trouxe Sã o Francisco e Santa Isabel, desconhecidos um do outro, a tã o
ı́ntima a inidade espiritual. Nesse ponto, poré m, à medida que o
aspecto idı́lico de seu futuro começa a mudar, percebe-se uma certa
sugestividade paté tica em colocar o esboço de sua vida lado a lado com
o da dele.
No ano de seu nascimento, 1207, Francisco ressuscitou recé m-nascido
de seu leito de febre em Spoleto. Durante sua infâ ncia lindamente
piedosa em Presburg, ele estava reconstruindo as capelas em ruı́nas de
Sã o Damiã o e da Porciú ncula, e reunindo os primeiros discı́pulos da
Senhora Pobreza. No crepú sculo de seu primeiro Domingo de Ramos
em Eisenach, Clara, a ilha do cavaleiro, fugiu de Assis para Santa Maria
dos Anjos e recebeu de suas mã os o há bito cinza e a corda dos Irmã os
Menores. Durante seu crescimento juvenil em devoçã o, ele pregava a
"alegria perfeita", despertando simpatia por todas as criaturas de Deus,
ensinando homens e mulheres devotos que uma lor de santidade tã o
pura pode ser cultivada em suas casas como nas sombras do
claustro. Enquanto ela vivia a intensa visã o da Paixã o de Cristo, os
Frades Cinzentos viajavam por todas as terras, e Francisco lutava contra
o formalismo e a perda da liberdade e da simplicidade primitiva de seu
ideal. Em 1223 foi publicada a Regra o icial dos Irmã os Menores. Nã o
era a regra que ele havia preparado para sua vasta casa. Sua amada
pobreza havia se transformado em mendicâ ncia; uma rotina ascé tica
havia sido colocada no lugar dos movimentos de piedade espontâ nea, e
ele viu a imitaçã o da vida de Cristo na terra ser suplantada pela
obediê ncia à Igreja.
Os franciscanos, e especialmente a Ordem Terceira - os homens e
mulheres que abraçaram a vida religiosa em meio aos deveres e
responsabilidades do mundo - alcançaram um avanço surpreendente
na civilizaçã o da Europa, mas uma diferença cada vez maior os
separava do ideal de seu fundador. Ele mesmo caminhou até o im à luz
de seu sonho divino. Até que ponto a experiê ncia de Elizabeth re letia a
sua pró pria, mostrará a histó ria dos pró ximos anos.
Em 1221, ano de seu casamento, o primeiro dos Frades Cinzentos
apareceu na Turı́ngia. Eles receberam uma recepçã o muito amigá vel em
Eisenach; O irmã o Rodinger ou Rodeger, um dos primeiros alemã es a
entrar na Ordem, tornou-se o confessor do Landgravine. Construiu uma
casa para a irmandade, e a iaçã o da lã para as roupas foi uma das
tarefas que acrescentou à s suas numerosas obras de caridade. Desse
padre zeloso e simples, ela ouviu a estranha e bela histó ria
do poverello de Assis, de sua vida entre as pessoas comuns imitando
seu divino Mestre, da linhagem Minnesinger em seu deleite com os
irmã os e irmã s selvagens em penas e peles. , de suas cançõ es e sermõ es,
de seu governo para aqueles a quem Deus havia designado um lugar
mundano e chamado em que, se quisessem, poderiam servi-Lo com
santidade perfeita. E como os segredos daquela alma inocente foram
revelados ao bom frade, ele deve ter se maravilhado que,
inconscientemente, esta princesa se aproximasse do espı́rito puro e
alegre de Sã o Francisco do que qualquer um de seus seguidores.
Sob a orientaçã o prudente de seu confessor, ela seguiu radiante seu
caminho costumeiro de oraçã o, compaixã o e bene icê ncia incansá vel. A
maternidade deu-lhe uma percepçã o sutil dos fardos de dor, ansiedade
e tristeza que ela poderia aliviar. Crianças que ela sempre amou; seus
pró prios bebê s a ensinaram a amá -los agora com uma sabedoria doce e
paciente. Um resultado de sua nova experiê ncia foi a fundaçã o de um
hospital para crianças doentes e ó rfã s; e estes ela nutria com tanto
afeto pessoal que, sempre que aparecia, pequenas mã os estendiam-se
das camas para ela, e uma dú zia de criaturinhas vinham correndo à sua
volta com seu alegre "Mã e, mã e!" Quemadmodum pulli - "à maneira das
galinhas", pensou Frei Dietrich.
Se algué m tem o direito de esperar o milagroso, deve vir dos anjos das
crianças; tã o bem na natureza das coisas, quando uma vez Elizabeth
veio de Eisenach com sua capa cheia de coisas para brincar - ané is de
vidro, xı́caras de barro em miniatura e vá rios equivalentes medievais de
jogos de chá de boneca e similares e o cavalo tropeçou e caiu com
Elizabeth e todos os seus pertences sobre as rochas, um punhado de
asas angelicais deve ter se precipitado sob eles, pois o cavalo e a patroa
escaparam ilesos e nada se quebrou.
Duas ou trê s vezes por dia, també m, ela visitava seu hospital de
leprosos para tratar os piores casos; encontraram tempo para cuidar
dos velhos e acamados em suas pobres cabanas; e nã o raro, quando um
de seus dependentes abandonados falecia, preparava os mortos para o
enterro. Alé m de tudo isso, ela estava ocupada com seus cuidados e
deveres como princesa e chatelaine, e entre as grandes damas que
recebeu havia poucas sobre as quais ela nã o prevaleceu, diz Isentrude, a
desistir de "pelo menos uma coisinha" pelo amor de Deus de seus luxos
- dança ou mangas rendadas ou um cinto de seda ou alguma
penteadeira bonita para o cabelo. Nã o teriam considerado um grande
sacrifı́cio se soubessem que seu pró prio vestido simples - tã o caseiro
para a amante da Turı́ngia - cobria uma vestimenta de saco e os traços
crué is da disciplina.
Enquanto isso, seu marido estava fazendo um trabalho soberano em um
mundo que se mostrava incontrolá vel o su iciente para mã os fracas e
vontades lá cidas. O amadurecimento da masculinidade dera à sua
forma um vigor mais militar; As preocupaçõ es de Estado haviam
estabelecido uma marca de resoluçã o mais clara em seu rosto bonito,
mas os francos olhos azuis, o sorriso fá cil e os longos cabelos amarelos
permaneceram inalterados. Dietrich o retrata como ele foi lembrado
pelos velhos muito tempo depois. Ele mostrou uma reverê ncia tı́mida e
infantil para todas as mulheres. Seus homens de armas o adoravam por
sua generosidade e camaradagem. Para todos os homens, seu "sim" era
sim e seu "nã o", nã o, e sua mera palavra era tã o boa quanto o juramento
de outro. Sob sua justiça perspicaz e julgamentos retos, o povo vivia em
paz e segurança. Para terminar, ele temia e amava a Deus. "Uma terra
elevada e famosa era a Turı́ngia" naqueles dias bons.
Mas aqui está o pró prio homem, em dois belos episó dios que Dietrich
por algum motivo omitiu.
Certos comerciantes da Turı́ngia foram roubados e maltratados por
causa de Lubitz, na Polô nia. O Landgrave examinou suas queixas e
exigiu reparaçã o imediata. “Muito longe da Turı́ngia”, pensou o duque
Lesko V, e simplesmente ignorou o assunto. Em seguida, o sol de 15 de
julho de 1225 - a Festa da Separaçã o dos Apó stolos, foi lembrado
depois - brilhou por algumas horas em uma formaçã o formidá vel
marchando para o leste de Eisenach; ningué m sabia para onde. Em
Leipzig, onde novos contingentes se juntaram, vassalos saxõ es e tropas
misnianas contribuı́das pela meia-irmã Jutta e seu duque, Lewis
revelou seu propó sito e destino. Conceba os olhares de espanto e o
brilho do desprezo. Que guerra de um chapman! Barõ es e nobres em
aço adamascado para entrar em campo para vendedores ambulantes e
vendedores ambulantes! Lewis foi in lexı́vel. Doravante, o sú dito mais
pobre da Turı́ngia deve saber que seu Landgrave tinha a vontade de
protegê -lo e o poder de vingá -lo.
Depois da fronteira polonesa, esses novos campeõ es varreram,
saquearam e incendiaram a cidade de Lubitz e investiram a fortaleza na
colina. O duque Lesko, pego de surpresa, realmente perplexo, apressou
os mensageiros com protestos, explicaçõ es, ofertas de
compensaçã o. Tarde demais para amenidades e nutriçã o das penas do
gorro, respondeu o Landgrave: "Nã o venho tã o longe de casa por
nada"; e prosseguiu com o cerco. Pouco à vontade, mas turbulento, e
contando com algum efeito no esplendor da Igreja, Lesko enviou algum
eclesiá stico imponente para declarar seu grande descontentamento
com os procedimentos do Landgrave, para adverti-lo das proezas
polonesas e para lhe dar alguns dias de graça em qual retirar de sua
posiçã o perigosa. A tudo isso Lewis respondeu com cortê s ironia,
desceu do castelo Lubitz e voltou para casa em seu lazer, de forma
alguma o mais pobre para a expediçã o.
Assim, pelo menos por algum tempo, uma espé cie de Pax
Thuringiana protegeu até mesmo vendedores ambulantes e vendedores
ambulantes que tratavam honestamente de suas preocupaçõ es, em
lugares tã o distantes quanto a Polô nia. O prestı́gio de tal condiçã o de
coisas atingiu o mundo em geral, e as pessoas adamascadas começaram
a perceber que Iron Lewis ainda estava muito vivo em seu neto - uma
opiniã o que foi fortemente con irmada algumas semanas depois.
Em uma das grandes feiras de Eisenach, alguns anos atrá s, o Landgrave,
vagando entre as barracas e barracas e conversando afavelmente com
os chapmen, falou com um pobre mascate cujo pacote de mercadorias -
dedais, agulhas, imagens de chumbo, colheres e produtos baratos
bugigangas - pareciam pequenas o su iciente para viver. "Eu nã o icaria
doente, Alteza", disse-lhe o homem, "se pudesse ir em segurança de
cidade em cidade; sim, e como o su iciente, haveria uma bagatela no
inal do ano para aumentar o estoque." Satisfeito com sua coragem
alegre, o Landgrave concedeu-lhe um salvo-conduto e isençã o de
impostos e taxas e, dando-lhe uma quantia em dinheiro, tornou-se
só cio-humorado dele.
O comé rcio de mascate aumentava constantemente e tudo corria bem
com a nova empresa. Pouco depois do retorno do Landgrave de Lubitz,
entretanto, o bom sujeito apareceu em Wartburg com uma histó ria
dolorosa de indignaçã o e perda. Ele estivera na Itá lia e trouxera de
Veneza um belo estoque de broches e ané is, colares e adereços de joias
para a cabeça, trabalhos em mar im, contas de coral e tudo o
mais. Certos franconianos viram seus bens postos à venda em
Wurtzburg, o cercaram, arrancaram seu salvo-conduto e levaram seu
traseiro e a mercadoria. Por um feliz acaso, ele pró prio escapou. "Meu
bom parceiro", disse o Landgrave, "nã o leve isso a sé rio, mas deixe-me
recuperar nosso estoque e nosso excelente traseiro."
Em seguida, os campos da Francô nia começaram a fumegar; soldados
cavalgavam para cima e para baixo procurando um certo asno e sua
bagagem, os bens mó veis de nosso Landgrave, e espalhando o lixo até
os portõ es de Wurtzburg. Com a notı́cia de que justiça veloz o Prı́ncipe-
Bispo se agitou, deu uma olhada rá pida nos ladrõ es e devolveu o burro
e a mochila a Sua Alteza. "Uma terra elevada e famosa era a Turı́ngia
naqueles dias."
Antes desses eventos, provavelmente na primavera do ano, uma
mudança simples, mas de longo alcance, ocorreu na vida encantada de
Elizabeth. Frei Rodinger fora nomeado prior do distante mosteiro de
Halberstadt, e surgiu a questã o de outro confessor e guia
espiritual. Lewis parece ter consultado Ugolino, cardeal-bispo de Ostia,
que viajou pela Alemanha e conhecia todas as grandes famı́lias. Ugolino
era parente de Inocê ncio III e estava dentro de um ou dois anos para
ascender ao trono papal como Gregó rio IX. Recomendou a escolha do
devoto e erudito Mestre Conrado de Marburg, naquele momento, como
o Landgrave bem sabia, Enviado Apostó lico nestes paı́ses.
Mestre Conrad, diz Dietrich, "brilhou como uma estrela clara em Almain
entre os homens justos e perfeitos por quem Deus sustentou Sua Igreja.
Ele nã o desejava riqueza nem preferê ncia eclesiá stica, mas estava
contente em aparecer nas vestes humildes de um sacerdote como um
campeã o da fé cató lica e atacante de hereges. " Ardente e eloqü ente, ele
subiu e desceu a Alemanha em sua mula, despertando o espı́rito das
Cruzadas já em 1216, e apó s essa data interpondo-se em vá rias
contrové rsias e causas como representante papal, e lidando
severamente com as formas selvagens de in idelidade e revolta que
estavam invadindo a Europa naquela é poca. Pá lido e austero, pode-se
imaginar ele, de maneiras frias, já passando da meia-idade; um homem
religioso, sem dú vida, "de acordo com suas luzes", mas estreito e sem
visã o; um homem que viveu com pavor de Deus, e nã o por amor a
Ele; um formalista em quem ardia o fogo de um faná tico; um defensor
ferrenho e destemido da supremacia eclesiá stica.
Ele foi recebido com profunda reverê ncia em Wartburg, e nenhuma
prova mais forte poderia ser dada da con iança absoluta, nã o apenas da
jovem esposa, mas do lú cido Landgrave, em sua sabedoria e santidade
do que ambos consentiram na condiçã o de que sozinho ele iria assumir
sua orientaçã o espiritual, uma promessa de total obediê ncia em todas
as coisas que nã o tocassem a autoridade de seu marido. Na humildade
de seu coraçã o e na â nsia de ser conduzida para mais perto de Deus,
Isabel fez sua promessa, ignorando sua posiçã o e comprometendo suas
responsabilidades como senhora de um grande Estado. Ela mal
percebeu a extensã o da obrigaçã o. Algum tempo depois, Mestre Conrad
desejou a presença dela em um de seus sermõ es. Agnes, a duquesa de
Misnia, havia chegado para uma visita e Elizabeth nã o pô de
comparecer. Mestre Conrad bruscamente mandou recado que deixara
de ser seu diretor. Ela correu para ele o mais rá pido possı́vel, mas ele se
recusou a aceitar suas desculpas ou desculpas. Ele di icilmente foi
persuadido a perdoá -la quando ela se jogou a seus pé s com suas
donzelas, a quem ele culpou por alguma parte em sua ofensa, e a quem
ele "castigou com açoites".
Em seguida, ele exigiu um compromisso solene - prontamente
concedido por um coraçã o jovem ao qual qualquer segundo amor era
inconcebı́vel - de que, se ela sobrevivesse ao marido, viveria daı́ em
diante em viuvez perpé tua e sagrada.
Até agora, e com tã o pouco da visã o alegre de Sã o Francisco, com tã o
pouco no espı́rito do Divino Exemplo durante sua estada terrena, o
rı́gido formalista impô s suas reivindicaçõ es a uma alma simples e
inocente cujo ú nico sonho era a conformidade com a vontade de Deus e
uniã o completa com ele.
Foi, no entanto, algo alé m da imposiçã o da submissã o absoluta que para
a mente eclesiá stica é a virtude das virtudes, que levou Mestre Conrad a
prescrever um curso extraordiná rio de disciplina a seu penitente. Sua
açã o foi explicada como um protesto contra a retençã o de propriedade
arrancada da Igreja em antigas disputas, a extorsã o de funcioná rios, a
opressã o dos pobres, embora seja difı́cil conciliar a opressã o e a
extorsã o com a vigilâ ncia de Lewis e a justiça severa. Qualquer que
tenha sido o motivo, a Landgravine foi obrigada "sob obediê ncia" a se
abster de todos os alimentos que ela nã o pudesse, com a consciê ncia
limpa, considerar vindos diretamente de seus bens pessoais ou dos
rendimentos justos de seu marido. Coube a ela determinar a origem de
cada prato, cada pã o, cada xı́cara de bebida.
Muitos dias, Elizabeth icava sentada no grande salã o ao lado do
marido, brincando com a comida proibida, ingindo comer e
disfarçando sua abstinê ncia com sua atençã o graciosa para as
necessidades das pessoas ao seu redor. As vezes, ela tinha que se
contentar com um pequeno pá ssaro selvagem, à s vezes com bolos e
mel, à s vezes com pã o simples, mas nã o raramente ela e suas damas de
honra, que compartilhavam suas privaçõ es com ela, levantavam-se da
mesa quando se sentaram, e a fome a compeliu a sustentar a eles e a si
mesma em particular com sua pró pria bolsa. A restriçã o era vá lida
tanto no exterior quanto em casa. Antes de se sentar em outras mesas,
as indagaçõ es necessá rias eram impossı́veis e, para evitar o risco de
desobediê ncia, a alma escrupulosa negava a si mesma tudo, exceto o
que era necessá rio. Em uma viagem, ela cavalgou sessenta quilô metros
com nã o mais comida do que uma crosta de pã o embebida em á gua
morna.
O relato parece uma histó ria piedosa para inculcar uma auto-submissã o
heró ica, mas é Isentrude quem o conta, e uma alegria despreocupada
que o invade e só pode ser a de Elizabeth que lhe dá a cor da
verdade. Quando por acaso, por exemplo, o Landgravine descobriu,
apó s indagaçã o dos comissá rios, que a ú nica coisa permitida na mesa
seria a carne, "Hoje", ela dizia, "só comeremos", ou se fosse o vinho só
que pode ser tocado: "Hoje, só beberemos"; mas quando havia comida e
bebida, "Que adorá vel!" ela chorava, batendo palmas
alegremente; "agora vamos comer e beber."
Aos dezoito anos, Elizabeth ainda era uma menina brincalhona, embora
houvesse um bebê em seus braços e dois pequenos mortais pendurados
em seu vestido.
O outono deste ano trouxe uma colheita ruim, e já havia sinais de um
inverno angustiante quando o Landgrave foi convocado atravé s dos
Alpes para ajudar o imperador Frederico II a reprimir a revolta de
Bolonha e outras cidades lombardas. Era a primeira longa separaçã o, e
as grandes montanhas de neve se erguiam entre eles; mas apesar de
toda a sua docilidade e mansidã o, Elizabeth era de raça real; em suas
veias corria o sangue de Arpad e Carlos Magno, e o amor que
transbordou em lá grimas com a separaçã o deles nã o era sua fraqueza,
mas sua força. Sem sombra de dú vida, Lewis comprometeu a Turı́ngia
com seu governo e com o bem-estar de seu povo durante a é poca de
ansiedade que se aproximava.
Mestre Conrad parece ter estado ausente de Eisenach neste
momento. Alguma missã o especial pode tê -lo chamado para longe, ou
ele pode ter estado no exterior com os deveres de um novo cargo, pois
na extraordiná ria con iança que Lewis depositou em seu julgamento e
retidã o, ele o investiu com o controle de benefı́cios e a visitaçã o de
casas religiosas. Por enquanto, ele sai da vida de Elizabeth.

A Cruz Vermelha

Naquele inverno, a panela congelou no fogo, como dizem; e a angú stia


do frio foi agravada pela necessidade. Em poucas semanas, o lamento
de uma "grande fome" foi ouvido por toda a terra. Os necessitados
saı́ram para o campo e a loresta, em busca de mastros, nozes e frutos
silvestres; recolhendo ervas e musgos, arrancando raı́zes, arrancando
cascas de pinheiros mortos para moer em farinha; derrubando a torre e
a gralha; seguindo as pegadas de lobo e texugo; capturar pequenos
pá ssaros, coelhos, esquilos, ouriços, ratos do campo, vermes de todos
os tipos. Depois da fome, vieram doenças e enfermidades, e pobres
criaturas que vagavam em busca de comida penetravam em cavernas e
barrancos ocos para morrer ou caı́am na neve à beira da estrada.
O coraçã o de Elizabeth doeu de pena. Ela distribuiu aos sofredores em
todo o Ducado todo o dinheiro disponı́vel no tesouro. Apesar dos
protestos dos administradores da casa, ela abriu os celeiros, mas para
evitar o abuso de seus dons, mandou construir grandes fornos, e
enormes porçõ es de pã o eram assadas e distribuı́das individualmente,
dia apó s dia. Suprimentos eram carregados montanha abaixo para os
idosos e enfermos; e com o aumento da doença e do sofrimento, ela
ordenou a construçã o de mais dois hospitais em Eisenach.
Sua solicitude nã o se limitava a dar. Ela mesma estava presente em
todos os lugares, torcendo, consolando, veri icando o desperdı́cio,
reprovando severamente os ociosos e viciosos. O esgotamento dos
recursos sob seu comando era imenso, pois a fome prevalecia sobre
uma vasta regiã o, e sua benevolê ncia e vigilâ ncia se estendiam até as
propriedades mais distantes dos Landgrave. Ela insistiu em que as
receitas da Turı́ngia, de Hesse, do Palatinado Saxã o e de Osterland
fossem gastas no socorro do povo; e para que ela pró pria pudesse ter
uma participaçã o ı́ntima no alı́vio das misé rias de seus sú ditos, ela
vendeu as mais preciosas de suas joias e o maciço berço de prata com o
qual fora trazida quando criança para a Turı́ngia.
O descontentamento e a crı́tica nã o muito respeitosa dos agentes e
tesoureiros de Landgrave preservou-a da sutil complacê ncia que torna
fá cil dar, mas nem o protesto nem as acusaçõ es de loucura e
desperdı́cio poderiam movê -la um io de cabelo com a convicçã o de que
o primeiro dever de um prı́ncipe é a preservaçã o de seu povo.
O inverno desastroso chegou ao im. O Landgrave, inquieto com as
notı́cias de casa e ansioso para aliviar Elizabeth do pesado fardo que
havia sido colocado sobre ela, obteve a permissã o do imperador para
retornar. Nas colinas ao redor de Cremona, ele viu as fogueiras de Sã o
Joã o avermelhando a noite de verã o. Cruzando os Alpes, ele chegou a
Augsburg no dia 2 de julho, onde foi detido quinze dias devido a
assuntos imperiais. Quinze dias depois, na sexta-feira ao anoitecer, a
escuridã o verde dos pinheiros e faias familiares, extremamente fria e
agradá vel sob o sol forte da tarde - ele chegou a Wartburg. Os braços de
Elizabeth estavam presos em seu pescoço; "mil vezes e mais", diz
Berthold, o capelã o, "ela o beijou com o coraçã o e com a boca"; entã o,
enquanto a segurava um pouco longe dele e olhava em seus olhos
alegres, "Querida irmã ", ele perguntou, "o que aconteceu com seu pobre
povo durante este inverno cansativo?"
"Eu dei a Deus o que era Dele", ela respondeu suavemente, "e Deus
guardou para nó s o que era seu e meu."
Muito antes de ele chegar em casa, os ansiosos tesoureiros e
administradores o receberam com relató rios e livros de contas, com
uma pressa volú vel de colocar a culpa dos cofres e celeiros vazios na
pró diga caridade da princesa. "Deixe-a fazer o bem e dar a Deus tudo o
que quiser", respondeu Lewis, "desde que me deixe Wartburg e
Neuenburg."
Seu retorno foi saudado com alegria pela populaçã o agradecida, mas o
Landgrave logo descobriu que sua breve ausê ncia tinha sido longa o
su iciente para espı́ritos rebeldes esquecerem a mã o pesada de sua
justiça. Em seu Reinhartsbrunn favorito, o abade indicou-lhe um forte
na colina que comandava a abadia e seu vale fé rtil. Meu senhor de Salza
abocanhou o pasto alto deles em Aldenberg, fez seu ninho nas alturas e
perseguiu continuamente os monges e seus arrendatá rios. Na manhã
seguinte, no vislumbre cinzento do crepú sculo antes do amanhecer,
uma tropa de Eisenach alcançou Reinhartsbrunn. O Landgrave, que
tinha ouvido a missa, implorou que os serviços solenes - era domingo -
fossem adiados até que ele pudesse assisti-los. Uma festa surpresa
subiu a montanha; as escadas de escalada foram plantadas; o forte foi
levado e meu senhor de Salza feito prisioneiro. Enquanto os sinos da
abadia repicavam alegremente e a procissã o saı́a dos claustros, o
cavaleiro sem lei e seus soldados foram conduzidos acorrentados
diante da grande cruz; Lewis e seu povo o seguiram, e os monges
entoaram a antı́fona:
"Tu derribaste o orgulhoso como um homem ferido; com
a força do teu braço dispersaste os teus inimigos."
O forte foi arrasado e Salza foi libertado sob seu juramento de nunca
mais molestar a irmandade.
Mesmo na Francô nia, sua liçã o sobre o asno fora esquecida; mas certos
saqueadores "honrados" que haviam "transportado" vá rios cavalos e
um vinho excelente ele mandou de volta com seus despojos para a
abadia - descalços, em suas camisas, com cordas em volta do pescoço.
Nã o era aconselhá vel quebrar leis e mandamentos quando este
Landgrave estava em qualquer lugar ao alcance de sua distâ ncia.
Durante todo o verã o e outono de 1226, houve uma grande agitaçã o
entre os Estados da Alemanha. Pelo tratado de San Germane, a partida
da Cruzada projetada pelo Papa Inocê ncio foi ixada para o ano
seguinte. Legados papais - Mestre Conrado de Marburg, sem dú vida,
entre eles - estavam despertando entre as populaçõ es do Norte o
entusiasmo ardente dos velhos tempos. Um grande nú mero de
prı́ncipes já havia sido conquistado pelo Grã o-Mestre da Ordem
Teutô nica. No castelo e na cidade, no torpe e na herdade da loresta,
ouviu-se um som de preparaçã o para esta grande viagem marı́tima para
Jerusalé m. As pessoas comuns estavam tã o ansiosas para partir quanto
seus superiores,
"Graf e ritter e muitos cavaleiros,
Isso iria renovar a luta pagã ."
Um grande nú mero havia muito havia se comprometido com o
empreendimento - já em 1220 o Papa Honó rio tinha pregado a cruz no
peito do Kaiser; agora, nesta aglomeraçã o dos estandartes da Fé , o
cavalheiresco Landgrave nã o podia icar atrá s do exemplo de seu tio
Lewis, que havia caı́do em Damietta. Em Hildesheim, entã o, depois de
uma conferê ncia fervorosa com o bispo, ele aceitou a " lor vermelha do
Cristo" de suas mã os. Em sua jornada de volta para casa, entretanto, ele
percebeu as ansiedades e receios desnecessá rios que Elizabeth sofreria
antes de sua partida se ela imediatamente soubesse que ele havia se
juntado aos Cruzados; e com a intençã o de que ela vivesse um perı́odo
sem nuvens de alegria antes de sua partida, ele escondeu o distintivo na
bolsa que estava pendurada em seu cinto.
E nunca tiveram dias mais felizes juntos do que estes na luz quente do
verã o de Saint Martin, quando toda a loresta abaixo deles rolava para
as colinas em ondas de ouro e verde sombrio e marrom avermelhado, e
o ú ltimo dos migrantes se reunia para seu voo para as terras do sol do
sul. Bem-aventurado també m, como nunca antes, foi o inverno rigoroso
que coagulou os telhados de neve e pendurou pingentes de gelo nos
beirais de pedra, e o vento frio nos pinheiros oscilantes soou como uma
poderosa cançã o de Minnes. Pois, desconfortavelmente consciente da
separaçã o que estava por vir e dos longos dias em que ela estaria
sozinha, irritando seu coraçã o com pensamentos de como ele se sairia e
temeroso de todos os boatos, Lewis fazia dela sua companheira onde
quer que fosse no exterior; e buscando mais permanecer em casa,
"Ele a cercou com doces observâ ncias
e adoraçã o, nunca a deixando."
Uma noite, enquanto conversavam, Elizabeth afrouxou o cinto do
Landgrave de brincadeira e começou a examinar o conteú do de sua
bolsa. Lewis prendeu a respiraçã o, mas nã o fez nenhuma tentativa de
impedi-la. Talvez fosse a vontade de Deus que ela soubesse agora. Rindo
alegremente enquanto colocava isto e aquilo em seu colo, ela puxou
longamente o distintivo de pano vermelho. Ela nã o disse uma palavra,
mas olhou para ele; seu rosto icou branco e ela caiu para a frente
desmaiada.
Quando a consciê ncia voltou, "Querida irmã ", disse ele, enquanto a
segurava em seus braços, "o que eu iz foi pelo amor de nosso Senhor
Jesus Cristo; e isso, de fato, nã o é mais do que um serviço que eu nã o
poderia recusaram ao Kaiser, meu senhor feudal terreno, se ele tivesse
pedido. " Mas o coraçã o de Elizabeth estava cheio demais para falar; e
depois de ter se sentado por um bom tempo com as lá grimas
escorrendo silenciosamente pelo rosto, "Querido irmã o", ela disse,
" ique comigo, se nã o for contra a vontade de Deus"; e "Oh, querida
irmã ", ele respondeu, "dê -me permissã o para ir, pois assim jurei." Entã o
Isabel "deu a sua vontade à vontade de Deus" e disse: "Eu nã o iria
mantê -lo contra a boa vontade de Deus. E que Deus conceda que você
faça o que Ele quer que você faça. Eu e você eu ofereci a Ele. Em o santo
nome você deve cavalgar. "
Agora que nã o havia mais necessidade de sigilo, Lewis se ocupou com
planos e precauçõ es para o bem-estar pú blico e a administraçã o
prudente de suas propriedades durante sua ausê ncia. Ele convocou
uma convençã o dos principados em Kreuzburg, e gravemente
impressionou os barõ es e magnatas, nobres e comuns, a necessidade de
um governo justo e submissã o à s leis. Sem eles, a terra nã o poderia ter
paz nem prosperidade. Pelo amor de Deus e pelo bem-estar deles, ele
iria de boa vontade em Seu nome, deixando esposa e ilhos, queridos
irmã os, posses ricas, parentes, vizinhos, amigos e homens de boa
vontade. Por este serviço ao Senhor, nenhum imposto ou tributo deve
ser cobrado de seu povo. Todos os custos e encargos que ele deveria
pagar com seus pró prios bens, pois tudo o que possuı́a havia sido dado
por Deus. Mas ele implorava que orassem para que, se agradasse a
misericó rdia de Deus, ele fosse trazido em segurança para casa para
eles, "pois em todas as coisas eu me submeto e a você s, meus sú ditos, a
Sua Altı́ssima Majestade".
Grandes senhores e soldados, diz Dietrich, " icaram comovidos ao ouvi-
lo, e os olhos dos homens fortes escureceram, e todos os habitantes da
terra lamentaram a partida de um prı́ncipe tã o gracioso e tã o querido".
Quando a casa e o Estado foram colocados em ordem, e seu irmã o
Heinrich Raspe nomeado regente durante sua ausê ncia, a grande
aventura corria tã o continuamente em sua mente que quase parecia
que ele já estava na Palestina, avistando Jerusalé m e as colinas sagradas
; e lhe ocorreu o pensamento de como poderia compartilhar com seu
povo uma imagem tã o viva da Paixã o do Senhor que seria uma
lembrança eterna entre ele e eles.
Trê s anos antes, essa multidã o de camponeses tinha vindo na vé spera
de Natal a Sã o Francisco por sua vontade, tornando os bosques de Rieti
vivos com luzes, e na igreja ele havia mostrado a eles um está bulo com
palha, e um boi e um asno amarrados ao manjedoura, e lhes falaram dos
pastores no campo e da Virgem Mã e desabrigada em Belé m, e do
nascimento do ilho divino, de modo que todos choraram de piedade * e
de alegria. Agora, por ordem do Landgrave, um des ile ou palco foi
erguido, e os monges e frades se disfarçaram e mostraram a pró pria
imagem da traiçã o e morte do Senhor Jesus como tinha acontecido
perto de mil e duzentos anos atrá s. Duas vezes este espetá culo foi
apresentado na pequena cidade cinzenta de Eisenach para grandes
multidõ es de pessoas, e estas foram tã o feitas com tristeza e ira contra
os pagã os que mais homens fortes estavam ansiosos para servir sob a
bandeira do Landgrave do que ele poderia levar consigo. .
Em seguida, ele visitou as casas religiosas, distribuindo presentes
generosos e pedindo as oraçõ es dos irmã os. Entre os beneditinos de
Reinhartsbrunn, que lhe era muito querido, ele icou ao lado do padre
que borrifou os religiosos com á gua benta quando eles deixaram o coro
apó s as completas; e quando os monges passaram por ele, ele os
abraçou um por um, velhos e jovens, e se despediu deles, e os pequenos
eruditos ele pegou em seus braços e os beijou. Todos foram à s lá grimas
com a partida de seu gracioso protetor. Seus pró prios olhos estavam
ú midos; e prevendo os dias que virã o, "Nã o sem razã o você s
lamentam", disse ele; "pois quando eu me for, lobos selvagens cairã o
sobre você , e eu nã o estou aqui para protegê -lo. No entanto, tenho
certeza de que o Altı́ssimo, atento à minha peregrinaçã o, terá
compaixã o de você em seu bom tempo. Agora e sempre Eu imploro isso
por você em todas as minhas oraçõ es. "
Sua Alteza era o chefe do comando dos contingentes dos cruzados da
Alemanha Central, e Schmalkalden, vá rias lé guas ao sul na loresta, era
seu ponto de encontro. Era uma cidade de ferreiros e habilidosos
trabalhadores em ferro no coraçã o da regiã o do ferro, fortemente
cercada por fossos e muralhas duplas de pedra de ferro. Para lá , Lewis
partiu com toda a famı́lia no inal de junho, passando na beira do
caminho acima de Liebenstein, o grande cruci ixo na rocha saliente
onde Winfrid havia pregado há muito tempo.
Em Schmalkalden, ele se reuniu com os barõ es, condes e ritters de
todas as partes do Palatinado, Turı́ngia e Hesse. Muitos velhos amigos
estavam lá - os senhores de Muhlberg, Brandenburg, Stolberg; Rudolf,
ilho do velho Walther von Varila e, como eu imaginaria, do
Minnesinger cinza Walther von der Vogelweide, que pegou a cruz e foi
para o exterior nesta aventura.
Era a vigı́lia da natividade de Sã o Joã o, quando as moças brincavam nos
campos de linho e se banhavam, por assim dizer, nas orvalhadas lores
azuis do linho; e as fogueiras do solstı́cio de verã o arderam nas colinas -
fogos do velho mundo dos deuses pagã os, mas sua maldade foi
expurgada, e agora eles foram acesos em honra de Sã o Joã o, o Precursor
da Luz do Mundo. Homens e mulheres, rapazes e donzelas cantavam e
dançavam ao redor das fogueiras, e jogavam lores e ervas nas chamas,
coroas de absinto e amargura de lobo e espora azul, de modo que,
mesmo que fossem queimados, todos os seus problemas e
preocupaçõ es també m pode morrer em fumaça e chamas.
Aquela foi uma noite inesquecı́vel - as fogueiras brilhando nas colinas,
os sons distantes de alegria e mú sica e cantos, o zumbido e a agitaçã o
de ferro de homens armados na cidade desperta, o brilho do tempo
claro parcialmente circulando os topos escuros da loresta e as estrelas
de verã o silenciosas no alto.
Muito, muito tempo "irmã o" e "irmã " conversaram juntos naquela noite
sobre todas as coisas que estavam mais perto de seus coraçõ es. E nã o
sem lá grimas, eles falaram do bebê que Lewis nunca deveria ver com
seus olhos vivos. "Se for uma pequena donzela", disse ele, "que ela seja
nossa oferta de gratidã o, sua e minha, por todos os bons anos que Deus
nos deu para estarmos juntos; e coloque-a com as freiras de Sã o
Norberto em Altenberg (que ica perto da cidade de Wetzlar). Mas se
for um menino, deixe-o ir para a Abadia de Romersdorf. "
També m naquela noite, gosto de imaginar, Walther, o Minnesinger,
olhando para a loresta e as fogueiras do verã o e pensando no amanhã ,
compô s sua cançã o dos cruzados:
"Doce Amor, Amor verdadeiro, seja sempre
Auxı́lio em nosso fraco esforço;
O Amor, Filho de Deus,
permanece por Tua Cristandade!"
Bem cedo no dia de Sã o Joã o, quando a missa foi ouvida, o padre deu
sua bê nçã o de despedida e as tropas estavam prontas para marchar,
chegou o momento difı́cil da separaçã o. 'Foi um mundo de lamentaçã o,
diz Dietrich, quando os pais se separaram de seus ilhos e os homens de
suas esposas para irem adiante por amor à fé .
"Pesada tristeza abalou o an itriã o, de suspiros a gritos variados,
Quando eles viram a cor dos rostos de seus entes queridos mudando.
Todos estavam chorando, jovens e velhos, tanto gente humilde quanto
nobre,
Homens de armas, servos e cidadã os, em seus problemas comuns.
Eya! quem poderia ajudar chorando, para ver tais lamentaçõ es,
Dignos senhores tantos, e tantas naçõ es diversas,
homens saxõ es, homens da Turı́ngia, vê m aqui com ternura
amigos e camaradas velhos para ver antes de sua jornada para o mar? "
Pela ú ltima vez, Lewis implorou a seus irmã os Heinrich e Conrad que
tivessem sua esposa e seus ilhos sob seus cuidados amorosos, e ao
lembrá -los de sua con iança em sua gentileza e afeto irme, eles lhe
izeram suas promessas com lá grimas caindo. Em seguida, ele pegou as
crianças, que estavam segurando por seu vestido, e beijou-as repetidas
vezes; e eles o abraçaram e lhe desejaram boa noite em sua maneira
infantil, "Muitos milhares de boas noites, querido papai!"
Mas quando ele abraçou Elizabeth, mal conseguiu falar com ela; e
puxando a mã e para si com um braço e Elizabeth com o outro, ele os
abraçou, chorando silenciosamente e beijando os dois. Para pô r im, os
capelã es e os soldados que haviam chorado até a morte em suas casas
distantes ergueram a voz em uma das cançõ es dos cruzados. Entã o o
Landgrave se desvencilhou. Montando em seu cavalo, ele tomou seu
lugar entre os cavaleiros, e a marcha da hoste da lor de Cristo começou
em meio a um tumulto de câ nticos e lamentaçõ es.
De perto ("nã o muito longe", diz Dietrich, pensando, ao que parece, nas
"muitas mulheres" de quem fala Sã o Mateus) aquela senhora iel, Isabel,
seguia o seu mais doce prı́ncipe, o seu marido mais amoroso, a quem
nunca , ah eu! ela deveria ver mais. Quando ela puxou as ré deas e estava
prestes a voltar para casa, a força do amor e a angú stia da separaçã o a
compeliram a acompanhá -lo durante todo aquele dia. Quando o
amanhã chegasse, ela nã o poderia deixá -lo, e durante todo o longo
caminho daquele dia ela seguiu em frente ao seu lado.
"Assim, o dia de hoje ainda era espelhado no amanhã ;
E à medida que ela se desenvolvia no amor e na tristeza,
a dolorosa necessidade de Love estava ainda mais longe."
Mas o amor do Criador, forte como a morte, quebrou esses atrasos
persistentes no amor de Suas criaturas, e quando Rudolf, o Portador da
Taça, disse: "Querida senhora, nã o é bom que você vá mais longe com
meu senhor", ela abaixou a cabeça em submissã o. Eles se separaram e
seguiram seus caminhos separados; mas "com que soluços, você pensa,
com que apego, com que pulsaçã o selvagem do coraçã o?"
Ela voltou para sua casa; as lá grimas estavam em suas bochechas. Ela
deixou de lado as vestes da alegria e se vestiu com as vestes escuras da
viuvez. "Sentada solitá ria, a senhora das naçõ es, a senhora dos
principados, ela se voltou totalmente para Deus, e acrescentou à s suas
anteriores boas obras outras melhores."

"O mundo está morto"


Quando o ú ltimo som de dor foi acalmado e tropa apó s tropa feriu ao
longo das estradas da loresta, o Landgrave recuperou a mente alerta e
a serenidade de um verdadeiro lı́der de homens.
"O amor do homem é pela vida do homem uma coisa à parte,
toda a existê ncia da mulher ...
Pois tudo o que eles tê m sobre aquele dado é lançado,
E se for perdido, a vida nã o terá mais a trazer."
Repetidamente, de fato, seus pensamentos voavam para
Eisenach. Vislumbres visuais de memó ria trouxeram de volta Elizabeth
para ele, o homenzinho galante que seria Landgrave depois dele
quando seu pró prio trabalho estivesse terminado, as donzelas alegres
cujas vozes tagarelas estavam cheias de gritos de pá ssaros. Entã o ele
começou a meditar sobre a pequena vida que seria sua oferta de
agradecimento. Mas os grandes negó cios de sua posiçã o o
pressionavam com detalhes cada vez maiores. Barõ es e cavaleiros
cavaleiros juntaram-se a ele com novas companhias enquanto
cruzavam as lorestas da Francô nia e Suá bia. En iando as negativas
româ nticas do Tirol, ele cruzou as montanhas para a Itá lia.
As cidades e aldeias da vasta planı́cie lombarda estavam cheias de
rumores sobre o poderoso exé rcito que inalmente se reunia para a
recuperaçã o do bendito Sepulcro. Honó rio III morrera em março,
amargamente decepcionado com as procrastinaçõ es do Kaiser
Frederico. Seu sucessor (Gregó rio IX) foi Ugolino, cardeal-bispo de
Ostia, padroeiro e protetor de Sã o Francisco, por cuja aguçada polı́tica
vimos a Ordem "será ica" transformada em uma das legiõ es ascé ticas
da Igreja. Ele estava muito velho agora - oitenta anos para cima, mas
seus olhos nã o eram turvos, o fogo do impé rio brilhava em suas veias, e
ele havia jurado seu intelecto luminoso e vontade de ferro para a
realizaçã o dos grandes projetos papais de seus predecessores. Sob seu
olhar severo, esta Cruzada nã o seria mais obstruı́da pela vacilaçã o e
demora.
Em agosto, Lewis foi recebido de braços abertos pelo imperador em
Troja. De lá , eles marcharam juntos para Brindisi. o porto marı́timo
para o Oriente. Italianos, alemã es, franceses, havia agora cerca de
sessenta mil homens armados. Frederick estava, sem dú vida, bem
ciente da habilidade militar e da justiça sumá ria do Landgrave; a alegria
franca, a liberdade, a mera juventude do paladino de cabelos amarelos
imediatamente conquistou sua amizade. O Kaiser tinha trinta e trê s
anos; Lewis vinte e sete - ambos na lor da masculinidade.
Paramos por um momento diante dessa igura imperial, a mais
brilhante do sé culo XIII, tã o diferente de qualquer outra naquela é poca
e tã o antecipadora dos espı́ritos mais brilhantes da Renascença. Neto
da cavalheiresca Barbarossa; um poeta que se deleita com literatura,
mú sica e arte; um erudito sedento pela sabedoria oriental e pelas
tradiçõ es de Atenas e Alexandria; um soberano que olhou com
imparcialidade ilosó ica genial para todas as raças e credos em seu
grande impé rio; um estadista que cercou a força rude do Ocidente com
a astú cia e astú cia do Oriente, Frederico II deve ter parecido ao
sacerdotalismo de sua é poca uma verdadeira encarnaçã o do Mundo,
provavelmente da Carne, e certamente do "Arcanjo perdido. " Michael
Scott, o Má gico - que tocou os sinos de Notre Dame com uma estampa
de seu corcel demonı́aco; que també m traduziu Aristó teles, uma pessoa
bastante pagã - foi seu astró logo-chefe. Ele horrorizou a piedade de
uma é poca de cruzadas ao declarar que se Deus tivesse visto sua Sicı́lia,
Ele nunca teria escolhido os trechos á ridos da Palestina para o povo
eleito. Ousado, ele pensava e era irreverente no falar, mas a maior parte
do ceticismo de que era acusado provavelmente nã o passava de sua
crı́tica alegre e irô nica da corrupçã o, superstiçã o e loucura de sua
é poca.
Todos os planos da campanha e o projeto de restauraçã o do reino latino
foram discutidos entre Frederico e o Landgrave na ilha de San
Andrea; mas, infelizmente, durante essas conferê ncias, fosse porque a
pró pria ilha estava infectada ou por causa dos ventos da malá ria que
sopravam da terra, ambos foram acometidos de febre. Toda essa costa
baixa, de fato, estava assombrada por pestes, que estavam diminuindo
rapidamente as ileiras dos cruzados.
A ordem de embarque foi imediatamente dada e, na primeira semana
de setembro, os altos navios rú sticos com suas velas cruzadas rumaram
para o mar. O frio e o frescor do grande ar nã o trouxeram alı́vio e, trê s
dias depois, a frota embarcou em Otranto. A Imperatriz Yolande residia
naquela cidade, e o Landgrave em sua cavalheiresca cortesia foi
apresentar-lhe sua homenagem. Em seu retorno ao navio, ele se
deitou. O im se aproximou rapidamente. Ele chamou para seu lado os
cinco condes que o haviam acompanhado, Rudolf, seu portador da Taça,
Gunther von Kefernburg, Meinhard von Miihlberg e os demais, e
implorou que nã o o deixassem em uma terra estrangeira, mas que o
levassem de volta para sua sepultura em Reinhartsbrunn. E isso eles
prometeram a ele.
Em seguida, ele suplicou-lhes os ú ltimos ritos da Igreja, e o Patriarca de
Jerusalé m e o Bispo de Santa Cruce administraram os sacramentos da
Extrema Unçã o e do santo Viá tico. Quando sua morte estava muito
pró xima, seu rosto se iluminou de repente, e ele perguntou aos que
estavam a seu redor: "Você s nã o veem essas pombas, como sã o
brancas?" pois parecia-lhe que a cabine do navio estava cheia de um
bando de pombas no inverno do que na neve. Aqueles que olhavam por
ele pensaram que ele estava vagando em sua mente. Depois de algum
tempo, ele falou novamente: "Devo voar para longe com essas pombas
brilhantes." E assim, adormecendo no Senhor, ele partiu em paz para
seu pró prio paı́s no dia 11 de setembro de 1227.
Quando sua morte foi anunciada na frota, seu povo icou
veementemente angustiado e, por causa de uma dor intolerá vel,
levantou um selvagem "Ululu!" de modo que o mar ressoava com vozes
e batidas de mã os. "Ai, heró i!" gritaram: "Ai de mim, mestre! Como nos
deixaste exilados em uma terra estranha! Como te perdemos, luz de
nossos olhos, lı́der de nossa peregrinaçã o, esperança de nosso
retorno!" Eles colocaram o corpo de seu prı́ncipe na tumba até que
pudessem carregá -lo para casa e, ao zarpar, seguiram o longo caminho
de sua peregrinaçã o.
Muitos dos cruzados voltaram para suas casas durante a doença do
Kaiser. Mais uma vez, a partida da tã o esperada expediçã o deu em
nada. Em sua recuperaçã o, Frederico encontrou o velho pontı́ ice como
seu inimigo implacá vel. Ele foi solenemente excomungado em 29 de
setembro, festa de Sã o Miguel, e foi interditado todo lugar em que ele se
aventurasse a permanecer. A cristandade veria renovada a luta entre o
poder espiritual e o temporal, e os homens que conheceram a doçura
vencedora e o fervor gentil do Santo de Assis devem ter se maravilhado
ao contemplarem os Frades Cinzentos que ainda carregavam seu nome,
despertando os sú ditos de um imperador à rebeliã o.

Passaram-se apenas trê s meses desde que o Landgrave deixou a


Turı́ngia com a força e a beleza de sua masculinidade; trê s meses desde
o retorno de Elizabeth ao Wartburg. Apó s a primeira aguda angú stia de
separaçã o, que havia dominado sua pró pria alma, a comunhã o com seu
Salvador cruci icado, a absorçã o de si na Vontade Divina restaurou sua
paz e serenidade; e quem pode duvidar que na companhia de seus
ilhos, ouvindo sua tagarelice de pá ssaros, assistindo suas brincadeiras
alegres, sua velha alegria voltou para ela? Assuntos de Estado nã o eram
mais um fardo imposto a ela; mas ela tinha seu pró prio reino de
pobreza e doença, velhice e problemas, o que exigia uma grande receita
e uma administraçã o sempre vigilante, e Lewis providenciou para que
ela nã o fosse frustrada ou incomodada em suas obras de misericó rdia.
De vez em quando, mensageiros chegavam ao castelo com cartas do
Prı́ncipe; frades e comerciantes errantes traziam notı́cias de seu
progresso. Eles tinham visto as companhias da Cruz Vermelha nas
clareiras do Tirol; eles os haviam encontrado em um des iladeiro
alpino; eles falaram com o Landgrave em alguma cidade lombarda na
estrada que contorna o Adriá tico para Rimini. A medida que os dias
encurtavam e os bosques coloriam-se e toda a estaçã o falava de
mudança e partida, nã o duvide que ela icou com os olhos voltados para
o sul e que seu coraçã o voou como as andorinhas.
Setembro chegou ao im e na festa de Sã o Miguel e Todos os Anjos,
enquanto o velho Papa lançava "os trovõ es que transformam as almas
em cinzas". seu bebê nasceu. A oferta de agradecimento foi uma
"pequena donzela", e Elizabeth deu-lhe o nome de Gertrude, em
memó ria de sua mã e.
Nã o sei quantas horas ou dias depois desse evento, algum camarada de
armas que havia permanecido ao lado de seu tú mulo em Brindisi
chegou a Eisenach com a notı́cia da morte do Landgrave. A tristeza e a
consternaçã o se espalharam pela terra. Oprimida com sua pró pria
perda, a duquesa Sophia sentiu pena de sua nora. O conhecimento do
que tinha acontecido foi cuidadosamente escondido dela até que ela
parecia forte o su iciente para suportar o choque. Entã o, com o coraçã o
dolorido, a duquesa e algumas de suas damas visitaram Elizabeth em
seu pró prio apartamento. Ela os recebeu com sua doçura habitual e
orou para que se sentassem em sua cama.
"Querida ilha", disse a Duquesa, "seja corajosa e nã o se agite com o
que, na dispensaçã o divina, aconteceu a seu marido, meu querido ilho."
Supondo que Lewis por acaso tenha caı́do nas mã os de alguns inimigos,
como quase aconteceu uma vez, mas sem nunca pensar em sua morte,
"Se meu irmã o for mantido prisioneiro", respondeu Elizabeth, "com a
ajuda de Deus e de nossos amigos, ele pode ser libertado. "
"Ele está morto", disse a Duquesa.
Elizabeth agarrou os joelhos com os dedos entrelaçados. "O mundo está
morto para mim", disse ela, "e tudo o que há de agradá vel no mundo."
Entã o, surgindo de repente, ela fugiu chorando atravé s do grande salã o
e da galeria; e estando fora de si, ela teria corrido para qualquer lugar,
mas uma parede a impediu; e ela se agarrou a ele, como algué m se
agarra a uma grande rocha em um mar bravio. Dali as damas e suas
donzelas, chorando de pena, levaram-na gentilmente para longe.

Exilado

Um ano atrá s, e mesmo no inverno estrondoso, o rugido dos pinheiros


era uma jubilosa cançã o de Minnes. Agora a loresta crescente parecia
cheia de vozes lamentá veis, relembrando o homem forte morto, o
homem forte e justo que derrubou torres de ladrõ es e despojou ladrõ es
honrados até a camisa.
Lewis estava frio em seu tú mulo. Os irmã os repudiaram a con iança a
que se comprometeram com lá grimas. Se os sons da terra podem
perturbar a paz das almas que partiram, o mais doloroso deve ser o
grito da viú va:
"Ele nã o ousou fazer isso,
exceto que ele certamente sabia que meu senhor estava morto."
Conselheiros malvados, homens sem lei, parasitas, alguns deles
perseguidores da infâ ncia de Isabel, haviam obtido a con iança dos
prı́ncipes, que estavam ansiosos para se livrar de qualquer
restriçã o. Com a alegaçã o de que o tesouro havia sido empobrecido pela
prodigalidade de Elizabeth, a mesada atribuı́da por Lewis para seus
propó sitos benevolentes foi suspensa. As receitas de seu casamento
foram mal utilizadas, e a mais ı́n ima ninharia foi concedida para seu
sustento. Entã o Heinrich, adotando inescrupulosamente a sugestã o de
que, pela antiga lei da Turı́ngia, os principados pertenciam de direito ao
representante masculino mais velho da famı́lia, jogou de lado qualquer
pretensã o de proteçã o e se declarou Landgrave.
Os intrigantes contavam com o fato de a Landgravine ser muito dó cil e
devota para oferecer qualquer oposiçã o, mas o instinto maternal havia
despertado em Elizabeth, e ela resistiu irmemente à tentativa de
espoliar e deserdar seus ilhos. Infelizmente, os amigos leais cujas
espadas teriam saltado na causa de seu marido e nas dela estavam
muito alé m do mar. Por um tempo, provavelmente, o destino de seu
ilho tremeu na balança, mas o mais astuto ou mais covardes patifes
condenaram o derramamento de sangue desnecessá rio. O mesmo
objetivo pode ser alcançado afastando a criança e a mã e de casa. Pela
honra da feminilidade, só podemos esperar que a duquesa Sophia
protestou contra essa maldade, mas se ela interpô s, seus esforços foram
em vã o.
No crepú sculo de um dia de solstı́cio de inverno, sozinha, com apenas
20 anos, ilha de uma longa linhagem de reis, Elizabeth desceu a trilha
acidentada do castelo, uma pá ria. O rei Andreas poderia tê -la conhecido
em seu caminho doloroso, como a visã o de seu ilho teria açoitado o
pecado de sua pró pria usurpaçã o cruel! Ela entrou em Eisenach. Os
habitantes da cidade foram proibidos de ajudá -la. Poucos meses atrá s,
na representaçã o da traiçã o e morte de Cristo, as multidõ es choraram e
gritaram de raiva e amaldiçoaram os sarracenos; nesta noite de
inverno, nenhuma porta foi aberta para a viú va de seu Landgrave
morto. Elizabeth nã o poderia ter esquecido os hospitais e asilo para
crianças que fundou. Ela nã o se refugiou lá . Alé m do Gallows Gate icava
o Convento de Santa Catarina; as boas irmã s nã o podiam recusar-lhe a
caridade. Ela nã o dormia sob seu teto. Ali, em sua tumba esculpida,
repousava o velho Landgrave Hermann, que a amava. Certa vez, um
velho rei de Arpad se levantou de sua tumba ao ouvir o clamor de seu
povo; Hermann, que a amava, nã o deu nenhum sinal.
Por im, ela foi para uma estalagem, onde qualquer um pode residir
legalmente, mas até o dono da estalagem temia a violê ncia; mas no
pá tio havia um barracã o no qual ele guardava toné is e potes vazios, e o
mero cercado recebia o ferrã o do ar de inverno. Lá ela descansou e
agradeceu a Deus com alegria por ela també m nã o ter onde reclinar a
cabeça. A meia-noite, os sinos dos Frades Cinzentos tocaram para as
matinas. Era sua pró pria igreja, e ela se apressou pelas ruas geladas,
todas escuras, exceto onde aqui e ali uma luz fraca brilhava diante de
um cruci ixo ou da Virgem Mã e e seu ilho. Quando as matinas e laudes
terminaram, ela implorou aos frades que cantassem em seu nome Te
Deum laudamus , e aquele hino poderoso elevou sua alma desmaiada
como em asas gloriosas ao cé u dos cé us:
"Dia a dia nó s te engrandecemos;
E adoramos o teu nome para todo o sempre, mundo sem im."
No dia seguinte chegaram as senhoras Jutta e Isentrude trazendo os
ilhos para ela. Fazia um frio terrı́vel e Elizabeth os abraçou com pena,
dizendo: "Que Deus me ame tanto, nã o sei para onde me virar ou onde
descansar seus corpinhos, embora todo o senhorio desta cidade seja
seu, querido ilho . " Quando ela deu a suas damas permissã o para
partir, Jutta e Isentrude nã o a abandonou: "Aonde você for, senhora, nó s
també m iremos; e onde Vossa Alteza estiver, lá estaremos." Entã o Isabel
falou alegremente: "Já que os homens nã o serã o nossos an itriõ es, hoje
devemos pedir a Deus que nos leve como Seus hó spedes", e ela os
conduziu a uma igreja, onde tiveram abrigo quase todo aquele dia, até
que um padre idoso veio e pediu-lhes que fossem bem-vindos sob seu
pobre teto. Entã o, Elizabeth fez uma promessa com as joias pequenas
que usava e comprou comida para todos.
Agora, se algum som baixo de assobio chegasse ao Wartburg ou a
Duquesa Sophia chorasse vergonha por esses erros, o Landgravine e
sua famı́lia foram removidos para a residê ncia de um homem da cidade
rico. A casa era rica e espaçosa, mas eles estavam amontoados em um
pequeno canto, e o an itriã o e a an itriã os usaram com tanta maldade
que Elizabeth nã o quis icar. Olhando em volta das paredes ao sair, ela
agradeceu a eles por terem livrado o granizo, a chuva e o vento
gelado. "Homens també m", disse ela, "eu icaria feliz em agradecer, mas
nã o sei por que." Ela voltou ao seu primeiro abrigo só rdido no interior,
pois nã o havia outro refú gio. Conforme a necessidade a impelia, ela
implorou a Jutta e Isentrude que levassem seus ilhos para amigos
distantes, para que as criaturinhas nã o morressem de frio e fome.
Podemos suportar grandes misé rias incó lumes, as mesquinhas
perfuram a raiz do coraçã o. Certa vez, nesses dias sombrios, quando
Elizabeth passava por uma viela estreita onde havia pedras sobre a
lama profunda, uma velha malvada que ela havia vestido e alimentado a
empurrou das pedras de modo que ela caiu e saiu mancando com uma
risada zombeteira. "Se batermos uma terceira vez", disse Sã o Francisco
ao Irmã o Leã o, "e trouxermos o porteiro, furioso de raiva, gritando: 'Ah,
malandros corajosos e robustos, agora lhes pagarei', e se ele nos pegar
por o capô , e nos arremessa ao chã o, e nos rola na neve, espancando-
nos nó por nó com seu porrete, e tudo isso suportamos com paciê ncia e
alegria, pensando nas dores do bendito Senhor que devemos suportar
por amor Ele, entã o escreva isso, irmã o Leã o, como 'alegria perfeita'. ”E
a alegria de Sã o Francisco era a alegria de Isabel.
Em meio a suas a liçõ es, ela foi concedida a arrebatamentos de alma
que caı́ram somente sobre a porçã o dos santos. Num certo dia da
Quaresma - por tanto tempo prevaleceu a crueldade e a baixeza de seus
parentes, ela se ajoelhou encostada na parede e olhando por muito
tempo com os olhos ixos no altar. Quando inalmente voltou ao seu
humilde refú gio, levou o menor fragmento de comida, pois sua fraqueza
era extrema. Um grande suor brotou sobre ela e, enquanto se apoiava
na parede, Isentrude a puxou para o colo. Seus olhos estavam voltados
atentamente para a janela aberta. Por im, ela riu baixinho e seu rosto
brilhava de alegria. Depois de uma longa hora, ela fechou os olhos e
derramou inú meras lá grimas; entã o, em pouco tempo, ela abriu os
olhos novamente, rindo com a maior alegria que antes. Ela icou assim
até as completas, à s vezes chorando com os olhos fechados e por um
momento, à s vezes rindo com os olhos abertos, mas sempre muito mais
na alegria do que na dor. Depois de ter permanecido em silê ncio por um
grande tempo, "Entã o, Senhor", ela exclamou, "se Tu quisesses estar
comigo, eu estaria com Ti, e eu desejo nunca me separar de Ti!"
"Com quem você fala, senhora?" Isentrude perguntou e pressionou-a a
contar, e depois de muita hesitaçã o, Elizabeth cedeu. "Eu vi o cé u
aberto", disse ela, "e meu doce Senhor Jesus inclinando-se sobre mim e
me consolando pelas di iculdades e tribulaçõ es que me cercaram.
Quando O vi, iquei alegre e ri, mas quando Ele desviou o rosto como
que para me deixar, chorei, mas Ele teve compaixã o de mim e voltou seu
rosto sereno para mim, dizendo: 'Se queres estar comigo, desejo estar
contigo', e respondi como me ouviste. " Mas quando Isentrude
perguntou a ela sobre a visã o na igreja, Elizabeth nã o o revelou: "O que
eu vi lá nã o é apropriado contar; mas saiba que eu estava em grande
felicidade e vi segredos maravilhosos de Deus." Outras visõ es que teve,
embora esta fosse talvez a mais signi icativa e caracterı́stica, e durante
o tempo em que permaneceu na cidade ingrata e covarde, insultada nas
ruas e girando com suas damas pelo pã o de cada dia, sua alma se elevou
no "alegria perfeita."
Até a velha e dura duquesa Sophia inalmente adoeceu dessa longa
infâ mia, e Mathilda, a abadessa de Kitzingen, foi informada da condiçã o
de sua sobrinha. Devota como era, esta alta senhora, irmã de duas
rainhas, deve ter icado indignada. Ela imediatamente despachou seus
vassalos para reunir as crianças e levá -las com Elizabeth à
abadia. Pobres almas, que mudança poderia ter sido mais parecida com
um antegozo do Paraı́so do que os dias pacı́ icos (no inı́cio do verã o, eu
acho que foi) durante os quais as carroças leves rolavam pelas largas
lorestas montanhosas entre Eisenach e o Meno!
Depois de uma feliz estada em Kitzingen, que agora se tornou o lar
vitalı́cio da pequena Sophia, de trê s anos, Elizabeth visitou seu tio
Eckembert, o prı́ncipe-bispo de Bamberg. Ele a tratou com toda
consideraçã o e simpatia; mas aquele eminente clé rigo era um homem
do mundo e um guerreiro arrojado; ele viu sua sobrinha na lor de sua
juventude e beleza e sustentou a opiniã o do apó stolo de que as viú vas
jovens deveriam se casar. Finalmente, a Imperatriz Yolande morrera um
ou dois meses antes; O Kaiser Frederick estava fazendo uma cruzada,
apesar do Papa, e conquistando resultados pela diplomacia que nunca
haviam sido alcançados pela espada cristã . Em seu retorno, aqui estava
a esposa para ele! Ao castelo Pottenstein, nas montanhas da Francô nia,
essa bela sobrinha, com suas amá veis mulheres e uma corte modesta,
mas que está se tornando realidade, deveria ir nesse ı́nterim.
Ela foi para Pottenstein, Jutta e Isentrude com ela; mas longe de ser
despreocupado, pois Eckembert, com bom humor magistral e sabedoria
mundana cintilando (uma foto) em seu rosto forte e rosado, nã o izera
segredo do assunto para ela. E curioso imaginar a sequê ncia de tal
casamento, se o casamento tivesse sido possı́vel! Nenhum homem,
certamente nenhum homem principesco, naquela é poca era um dı́zimo
tã o prová vel quanto o Kaiser Frederick para compreender e ser atraı́do
por sua natureza espiritual; e nos perguntamos que efeito seu
misticismo e afeiçã o apaixonada teriam exercido sobre seu
temperamento poé tico e especulativo. Mas casamento - Elizabeth nã o
queria nada disso. Nenhuma dispensa poderia libertar seu coraçã o ou
sua consciê ncia dos votos que ela fez por sua pró pria vontade; e em vez
de se submeter à força, ela se des igurava para que os homens se
encolhessem diante dela de horror.
Ela se voltou, como sempre fazia, em sua inquietaçã o, para o alı́vio da
oraçã o, e a certeza de sua segurança recaiu sobre ela. Foi nessa é poca
que ela visitou o convento das Damas Brancas em Erfurt, e o Castelo
Andechs, o berço da raça de sua mã e, na Colina Sagrada com vista para
o Ammersee. O castelo fora consagrado como um mosteiro beneditino
e, sem dú vida, pensando muito em sua mã e, Elizabeth colocou sobre o
altar seu manto nupcial e uma cruz de prata contendo, acreditava-se,
relı́quias dos instrumentos da Paixã o. De repente, um mensageiro do
Prı́ncipe-Bispo chegou a Pottenstein com uma mensagem
surpreendente, chamando-a de volta a Bamberg.
Enquanto isso, os peregrinos cruzados da Turı́ngia haviam retornado
do Oriente. Desembarcando em Brindisi, eles cumpriram a promessa
feita a seu Landgrave de que ele nã o deveria ser deixado em uma terra
estranha; e juntando seus ossos, eles os levaram para casa. Uma
mortalha de pú rpura, que eles haviam tecido em sua homenagem,
cobria o esquife; uma cruz de prata incrustada com pedras preciosas foi
carregada antes dele. Assim, aquele sé quito de cavaleiros e homens de
armas bronzeados refez o longo caminho atravé s da Itá lia, atravé s das
montanhas de neve e nas lorestas profundas do Tirol e da Francô nia.
Ao pô r-do-sol, pararam em burg, cidade ou mosteiro; o cofre foi
colocado na igreja; velas sagradas foram acesas sobre ele, e pessoas
devotas e ié is passaram a longa noite em vigı́lia e oraçã o. Durante todo
o caminho de volta para casa, nenhuma escuridã o jamais descansou na
poeira de seu Landgrave. Na manhã seguinte, eles ouviram uma missa
matinal, izeram suas ofertas e deixaram o manto pú rpura em favor da
alma que partiu, usando ainda outro em seu lugar.
Com a notı́cia da chegada deles, o Prı́ncipe-Bispo chamou Elizabeth de
volta; e agora, à medida que se aproximavam, ele enviou nobres e
homens dignos para encontrar os peregrinos, em parte por causa da
honra, em parte para dar-lhe forças para que ela nã o faltasse por
tristeza. O repicar dos sinos abafados lutuava ao longe, implorando por
oraçã o. As pessoas vieram de todos os lados. Escoltado por monges
encapuzados e frades descalços, entoando Réquiem e Dirige ("pois
salutar e piedoso é a oraçã o pelos mortos"), aquele glorioso lı́der foi
trazido a Bamberg e colocado na grande igreja lá .
Quando Elizabeth icou ao lado do cofre descoberto, "eu acho", diz
Dietrich, "sua tristeza caiu sobre ela de novo, seu coraçã o doeu e seus
ossos estremeceram." Mas, lembrando-se de Deus e sufocando sua
angú stia, ela disse: "Eu te dou graças, ó Senhor, por te agradar em
conceder a Tua serva o grande desejo que tive de ver os restos mortais
de meu amado e em Tua compaixã o para confortar meus a litos alma.
Nã o lamento que ele tenha sido oferecido por ele mesmo e por mim
para o alı́vio da Tua Terra Santa, embora com todo o meu coraçã o eu o
amasse. Tu sabes, ó Deus, que eu teria a sua presença mais agradá vel
para mim antes todas as alegrias e encantamentos deste mundo, se Tua
graciosidade o tivesse rendido a mim. Mas agora coloco à Tua
disposiçã o ele e eu, como Tu queres. Nã o, embora eu pudesse chamá -lo
de volta à custa de um mı́nimo de cabelo de minha cabeça , Eu nã o o
chamaria de volta contra a Tua vontade. "
Quando ela disse isso, ela icou em silê ncio e conteve as
lá grimas. Saindo da igreja, ela sentou-se no gramado verde e implorou
aos nobres peregrinos da Turı́ngia que fossem até ela. Quando eles
chegaram, ela os fez sentar em volta dela; e falando com eles com muito
amor, ela contou-lhes, entre outras coisas, os erros e aborrecimentos
que tinha suportado. O prı́ncipe-bispo també m lamentou essas queixas
e nã o permitiria que Elizabeth partisse com eles para Reinhartsbrunn, a
menos que estivessem dispostos a vê -la corrigida. Homens verdadeiros,
que sempre estiveram ligados a ela e a seu senhor, os cruzados se
comprometeram a pô r em ordem a questã o de seu dote e tudo o que
dizia respeito a sua condiçã o de dama. Com a bê nçã o de Eckembert,
eles retomaram sua triste jornada, levando Elizabeth com eles e
levando seu mestre para o local de descanso de seu desejo.
Se muitos vieram de todos os lados em Bamberg, muitos mais vieram
agora - condes e nobres, soldados e burgueses, e todo tipo de gente
pobre, pois toda a terra da Turı́ngia foi agitada com essa volta para
casa. Em Reinhartsbrunn, que Lewis amava acima de todas as casas
religiosas, ele foi enterrado. Sua mã e e seus irmã os, Heinrich e Conrad,
viram-no enterrado; e "quã o grande era o luto! Só Ele sabe quem
considera a tristeza".
Para ele, havia poucos motivos para lamentar. Medida pelo conto de
anos, sua vida foi breve, mas foi cheia de amor e alegria, com
pensamentos elevados, com açã o rá pida e cavalheiresca, com honra,
como raramente caem no destino de um homem. Eles esculpiram sua
imagem em seu tú mulo em sua cota de malha; cabelos compridos e sem
barba; um fecho Pater-noster prendendo seu manto em seu ombro
direito; em seu peito uma concha de peregrino; seu escudo com o Leã o
diante de seu corpo; sua espada em um cinto largo em seu lado direito -
Lewis, Landgrave da Turı́ngia, Prı́ncipe de Hesse, Conde Palatino da
Saxô nia.
Quando os ritos fú nebres terminaram, trê s dos nobres cruzados da
Turı́ngia abordaram o Landgrave Heinrich. Esses eram os seus nomes,
"que serã o mantidos para sempre em homenagem à memó ria": Rudolf
von Varila, o portador da Taça, Lutolf von Berlstette, Hartmund von
Erfa, e com eles estava o Sire Walther, pai de Rudolf. Outros foram
chamados para testemunhar e, enquanto permaneciam em volta, Rudolf
falou: "Nó s ouvimos, e nossas mentes estã o perturbadas e nossos
rostos estã o cobertos de confusã o que tal desgraça e deslealdade
devam ser. Eya, meu senhor! O que você fez ? A viú va triste de seu
irmã o, ilha de um nobre e justo rei, a quem cabia consolar e ter em
honra, você , sem justa causa, roubou seus bens e expulsou sem abrigo, e
deixou a mendigar em suas necessidades como embora ela fosse uma
criatura vil. Os ilhinhos de seu irmã o, a quem era seu dever proteger, se
separaram de sua mã e e se espalharam por causa de sua indigê ncia.
Onde entã o está seu amor de irmã o? Como poderia uma mulher fraca,
uma desolada viú va, um exilado a lito resistiu a você ? Que mal poderia
ter feito algué m tã o santo? Oh, que vergonha! Você irritou a Deus, se
desonrou, confundiu a Turı́ngia, diminuiu seu belo nome; na verdade,
podemos muito temer que a vingança de Deus irá ov errai esta terra, a
menos que você a apazigue pela reconciliaçã o com uma senhora tã o
santa. "
Espantados icaram todos os espectadores ao ouvir este homem irme
falar tã o vigoroso e ao ver o jovem prı́ncipe icar envergonhado e
silencioso. Quando Rudolf terminou, Heinrich começou a chorar e
respondeu: "Pelo que foi feito, lamento profundamente. O que quer que
minha irmã Elizabeth possa desejar, farei para ganhar seu favor e você
julgará ."
"Isso, senhor", disse o portador da Taça, "você precisa fazer se deseja
escapar da ira de Deus e reparar o que nossa senhora sofreu."
Quando os cruzados contaram a Elizabeth tudo o que tinha acontecido,
"Castelos", ela disse, "cidades, burgos, domı́nios que me envolveriam e
me assediariam, nã o farei isso. Mas as receitas de meu dote que sã o
devidas a mim, essas implorar ao meu irmã o que me dê de boa vontade,
para ter, usar e gastar gratuitamente para o bem-estar da minha amada
e do meu pró prio. "
Com o desejo de estar em paz e afetuosa com os parentes, Isabel
prontamente os perdoou por todos os seus sofrimentos. As questõ es
que afetavam seu estado e receitas foram resolvidas, os direitos de seu
ilho de suceder seu pai como Landgrave da Turı́ngia e Hesse foram
reconhecidos, e Elizabeth voltou com trê s de seus ilhos para Wartburg.
Mas quando o usurpador manteve a fé ; ou o errante, perdoado, já
perdoou o perdã o?

A vontade quebrada

Os peregrinos cruzados se dispersaram para suas casas. Heinrich, agora


regente, nã o estava mais ameaçado por sua ligaçã o com seu lı́der morto
e sua indignada reivindicaçã o dos direitos de Elizabeth. Sua pró pria
humilhaçã o em Reinhartsbrunn doeu em sua memó ria, mas ele era sutil
e covarde o su iciente para mascarar sua maldade com falsa cortesia e
sorridente indiferença. Estes nã o foram perdidos no tribunal de
Wartburg. A mera presença de uma alma pura e exaltada, para a qual o
mundo era uma escó ria e os esplendores da vida um des ile de loucura,
era uma repreensã o e irritaçã o perpé tua para homens e mulheres que
intrigavam por lugar, riqueza e prazer.
O fato de eles a desprezarem, cessarem de visitá -la, ignorá -la com
zombaria maliciosa quando ela se dirige a eles, falarem com riso aberto
de sua piedade louca, foi apenas a sequê ncia do rancor cauteloso do
regente. Até a mansidã o e a alegre paciê ncia com que suportava suas
contusõ es aguçavam suas lı́nguas: "Em vez de esbanjar alegremente a
renda que o prı́ncipe lhe deixara, seria mais adequado se ela chorasse
por ele".
Ao chegar a Wartburg, ela fora colocada em uma posiçã o adequada à
sua posiçã o, mas nã o demorou muito para que Heinrich começasse a
aceitar as promessas que o medo arrancara dele em Reinhartsbrunn. As
disposiçõ es com as quais ele havia concordado foram gradualmente
ignoradas, e a Landgravine mais uma vez viu suas receitas reduzidas e
seus meios de subsistê ncia ameaçados. Por algum tempo, poré m, o
curso dos acontecimentos foi observado por um par dos olhos mais
iluminados da cristandade. Em meio à s lutas imperiais e à polı́tica
mundial, o velho papa Gregó rio arranjou tempo para escrever para
ela. Poucos teriam suspeitado das fontes de Elim em seu temperamento
in lexı́vel, mas as cartas do velho alerta e magistral exalavam a
solicitude e a ternura de um pai. Ele a encorajou na escolha que ela fez
das coisas que nã o passam, tomou sua pessoa e seus bens sob sua
tutela e nomeou Mestre Conrado de Marburg como seu protetor. O
Enviado Apostó lico, que desde a partida de Lewis para a Palestina
estava ocupado com a extirpaçã o da heresia na Alemanha, reapareceu
em Wartburg e regulamentou os negó cios da Landgravine com uma
mã o mais drá stica do que os bons soldados em Reinhartsbrunn.
O castelo Marburg, com o vilarejo ao pé de sua colina e as aldeias
perifé ricas, que pertencia a ela por acordo de casamento, foi cedido
pelo regente, que se comprometeu a devolver quinhentos marcos que
nunca deveriam ter sido retidos. Cada pedra nas paredes e torres
cinzentas de Wartburg lhe era cara, todos os bosques profundos e
clareiras ensolaradas na loresta; um ano - como se pode imaginar - já
se passara desde o seu retorno, e "ela teria icado mais tempo, mas
desejava paz e reclusã o"; ela esperava por ambos em Marburg, e pela
ú ltima vez ela desceu o caminho rochoso, passando pelo pilar onde ela
havia deixado cair as rosas, passando pela pedra onde o cavalo tinha
caı́do com as coisas do brinquedo, passado o asilo para as crianças e os
lazar-house, para Eisenach e a rua que conduz a oeste para o coraçã o do
paı́s de Saint Winfrid.
No Castelo Marburg, seus parentes eram hostis no pequeno vilarejo,
nã o havia lugar adequado para ela. Ela seguiu para o Thorpe de
Wehrda, nas agradá veis margens do Lahn, a cerca de uma lé gua de
distâ ncia. Ela encontrou uma cabana deserta e, nã o querendo ser um
fardo para ningué m, ela fez um abrigo de galhos frondosos ao redor da
chaminé coberta para ela e sua pequena casa. Alegremente, eles
carregaram consigo a diferença de estaçã o, o calor do sol e o barulho
dos ventos fortes e a fumaça pungente do espaço estreito, até que uma
casa pobre de madeira e barro foi construı́da para eles em Marburg.
Foi sem dú vida nos dias suaves e brilhantes deste outono de 1229 que
Isabel descobriu aquele amor pelos lugares solitá rios que nos permite
associar as colinas de Hesse à s da Umbria e da Galilé ia. Foi um novo
deleite para ela orar e contemplar sozinha em um mundo pacı́ ico, que
parecia nã o ter limite a nã o ser o cé u azul. Nã o muito longe da aldeia de
Schrock, ela descobriu uma trilha atravé s da loresta montanhosa que
levava a uma nascente, posteriormente chamada por seu nome. A
paisagem a encantou tanto que ela mandou construir um passadiço no
meio do bosque e, perto do poço, uma pequena capela, que um
sacerdote sá bio e gentil fez de sua ermida. Como bastante, foi durante
uma de suas perambulaçõ es pelos bosques e campos que ela chegou a
algum claustro onde as imagens douradas e ricos adornos que os
monges lhe mostraram em sua igreja arrancaram dela o comentá rio
contundente: "Você teria feito melhor estabeleçam o custo de suas
roupas e alimentos, em vez de suas paredes, pois essas imagens devem
ser levadas em seus coraçõ es. " Assim, com os olhos da mente, parece
que se vê o ritmo dela continuamente nesses campos e colinas; e hoje,
pelo menos, é verdade o que porventura os camponeses simplesmente
imaginavam entã o, que enquanto ela caminha, orando em seu caminho
ao ar livre, nenhum io de suas vestes ica molhado pela chuva que cai.
A lenda també m lançou seu encanto sobre um incidente que pode ter
ocorrido depois que a pequena famı́lia se mudou para a humilde casa
de madeira e barro em Marburg. Era um dos anseios de Elizabeth
construir uma igreja de beleza onı́rica, de cuja torre alta o canto
prateado dos sinos deveria ser ouvido de longe, "lin-lan-lone", na
Hungria. Um dia, enquanto caminhava ao longo da encosta, "Bem ali",
ela gritou: "Vou construir uma igreja", e atirou uma pedra que descia a
encosta e pousou no gramado perto do rio. A igreja dos sonhos nunca
foi construı́da, mas no local onde caiu a pedra ela construiu uma
pousada para os pobres, e ao lado uma pequena capela, ambas
dedicadas a Sã o Francisco, que acabara de ser canonizado.

Foi nessa é poca, mais exigente do que em qualquer outro perı́odo de


sua vida devotada e visioná ria, que Elizabeth precisava de um
conselheiro simpá tico e judicioso para controlar aqueles impulsos
ardentes e incalculá veis que tendiam com mais força a cada dia para
levá -la nã o apenas para cima as alegrias inocentes, mas també m alé m
das responsabilidades e deveres da existê ncia. Pensa-se como, no
passado longı́nquo, Santa Lioba a teria conquistado para a moderaçã o
lú cida e a doce conformidade que moldam aos ins mais nobres a
utilizaçã o dos sentidos que o pró prio Deus criou e chamou de bons, e
daquelas condiçõ es da terra e do tempo que Cristo santi icado em Sua
pró pria pessoa. Supõ e-se, també m, que aspecto diferente teria sido
apresentado nestes ú ltimos anos, se ela fosse guiada pelo "pobre de
Assis", que proibia o uso de cota de malha e faixas de ferro, que levava
pã o a um irmã o deitado sem dormir de fome e comia com ele para a
gló ria de Deus, que em uma palavra trazia aquela marca inconfundı́vel
da santidade mais semelhante a de Cristo, que embora fosse cruel
consigo mesmo, era todo ternura para com os outros.
Em seu desejo de seguir tã o de perto quanto pudesse os passos de
Nosso Senhor, Elizabeth ponderou em sua mente as vá rias Regras de
disciplina Cristã de que ela tinha algum conhecimento. A solidã o e a
perfeiçã o do claustro pareciam estar alé m dela. Ela escolheu a pobreza
literal e absoluta no mundo, e implorou ao Mestre Conrad que
permitisse que ela pedisse o pã o de porta em porta. Ele se recusou a
sancionar uma conduta que a exporia a grandes humilhaçõ es e
sofrimentos que excediam sua força feminina. Ele a instruiu a render
sua vontade, a desprezar posiçã o, riqueza, prazer e todas as coisas
mundanas, e assim castigar seu afeto para que seus ilhos nã o fossem
mais queridos para ela do que outras crianças.
Para a natureza ardente e obstinada de Elizabeth, isso parecia
insu iciente. "Pelo menos uma coisa", disse ela, "você nã o pode proibir
nem impedir, pois foi a ordem do pró prio Senhor." No dia em que Cristo
morreu, quando os altares nas igrejas sã o despojados e nus em
memó ria de Seu pendurado nu na cruz, Elizabeth, na presença de
Mestre Conrad e outros homens devotos, colocou as mã os sobre o altar
nu, e renunciou por sua pró pria vontade a seus ilhos e seus pais e seus
parentes e à s pompas deste mundo, para que assim, desnuda de todos,
ela pudesse seguir os passos de Cristo na pobreza e no amor. Mas
quando ela iria se desfazer de suas posses e receitas, Mestre Conrad a
conteve; estes ela devia reter a im de poder pagar quaisquer dı́vidas
que seu marido pudesse ter deixado, e ter os meios para dar esmolas
aos pobres.
Isso ocorreu na pequena Capela de Sã o Francisco, que ela construiu ao
lado da Pousada dos Pobres; e nessa mesma Sexta-feira Santa, 1230,
acho que foi quando seu lindo cabelo preto foi cortado, e ela estava
vestida com o há bito cinza e a corda dos Irmã os Menores; e desde entã o
ela foi descalça. Ao mesmo tempo, també m Jutta, que fora sua
companheira de brincadeiras na infâ ncia e sua companheira
insepará vel em todas as suas dores, adquiriu o há bito cinza, para que
nunca se dividissem.
Mas as crianças, as criancinhas - o mais velho de sete, o mais novo com
idade entre dois e trê s anos - as crianças que na sua idade nã o
precisavam tanto do amor de uma mã e, Mestre Conrad permitiu que ela
se afastasse dela, por causa de seu amor pois eles haviam se tornado
uma armadilha espalhada para sua alma. Hermann, o futuro Landgrave,
e Sophia, que estava noiva do menino-duque de Brabant, foram
colocados em Kreuzburg, para serem educados como se tornasse sua
posiçã o; Gertrude, a criança de agradecimento, a tagarela alegre com os
modos amorosos e interminá veis questionamentos da criança de dois
anos, foi con iada à s freiras de Altenberg.
Os doentes, os leprosos, os idosos, os pobres eram agora os ú nicos
cuidados de Elizabeth, como antes - parecia que há muito tempo! - em
Wartburg. Em sua in inita piedade pelos pobres, ela nã o podia fazer o
su iciente por eles. Assim que o regente Heinrich devolveu os
quinhentos marcos como havia prometido, ela fez com que
mensageiros saı́ssem e reunissem em certo dia todos os pobres e
enfermos em um circuito de doze milhas ao redor de Marburg. Eles
vieram em dezenas, em pontuaçõ es; servos e camponeses, velhos e
jovens, e entre eles, sem dú vida, os vagabundos e errantes
"Do lado da charneca, do lado da sebe, da colina e do shaw;
Marinheiros que nunca viram o mar,
Soldados que nunca sonharam com a guerra,
Corpos cegos unco gleg o 'the e'e,
E todos os dolorosos cantores baladas. "
A Landgravine foi entre eles, real mesmo em seu há bito cinza e corda
com nó s, e pediu-lhes que se sentassem, como as pessoas estavam
sentadas há muito tempo, "na grama verde"; e avisou-se que quem
trocasse de lugar ou recebesse duas vezes, deveria ter o cabelo
cortado. Desse modo, o total dos quinhentos marcos, uma soma
vagamente grande, foi distribuı́do em um ú nico dia. Naquela noite,
depois que os robustos pobres partiram para suas casas, vá rios idosos
enfermos icaram para trá s e se abrigaram em cantos e recantos do
recinto da Guest-House. Elizabeth os viu sob o luar forte e, pensando
em como a necessidade deles era maior do que a dos outros, nã o
apenas fez uma segunda distribuiçã o, mas enviou-lhes comida e
acendeu fogueiras para eles; e quando o lamentá vel povo começou a
cantar por puro conforto, ela exclamou com um pouco de sua velha
alegria infantil: "Já disse muitas vezes que devı́amos alegrar as
pessoas".
Durante a distribuiçã o na grama, no entanto, uma donzela chamada
Hildegund, que nada sabia sobre o aviso e que, na verdade, estava
passando para uma irmã doente, foi trazida como culpada para a
Landgravine. A decisã o de Elizabeth foi a iada e rá pida, e seu cabelo foi
prontamente cortado. Era um cabelo lindo e abundante, e Hildegund
chorou amargamente. Assim que Isabel se deu conta do engano,
mandou chamar a menina e perguntou se ela já havia pensado em se
entregar ao serviço de Deus. "Há muito tempo", respondeu Hildegund,
"eu deveria ter entrado para um convento, nã o fosse por aquele cabelo
bonito."
"Entã o, estou mais feliz que você o tenha perdido", disse Elizabeth, "do
que se meu ilho fosse feito Kaiser."
Em vá rias ocasiõ es, cerca de dois mil marcos foram gastos em esmolas
e, alé m disso, Isabel devotou aos pobres tudo o que restava das coisas
caras trazidas da Hungria em sua infâ ncia - vasos de ouro e prata, sedas
bordadas, bugigangas e joias. Duas vezes por dia ela atendia aos piores
casos de doenças no Hospital ou na Casa de Hó spedes, mas por im foi
proibida de fazê -lo por Mestre Conrad, que temia que ela mesma
pudesse ser vı́tima da lepra. També m a esmola dela, ele limitou-se a
uma ú nica moeda, e quando ela aumentou o valor da moeda, parou de
dar dinheiro; e quando ela mandou assar grandes pã es, ele limitou seus
presentes a fatias de pã o e, inalmente, proibiu toda a caridade. Mas a
visã o da necessidade e do sofrimento que ela nã o podia aliviar a
comoveu tanto que começou a adoecer.
"De vá rias maneiras", diz Lady Isentrude, "Mestre Conrad
experimentou sua constâ ncia e se esforçou para quebrar sua vontade.
Para que ele pudesse a ligi-la ainda mais, ele a privou dos que eram
queridos para ela na casa. Entã o eu també m , Isentrude, a quem ela
amava, foi mandada embora, e ela se despediu de mim em grande
angú stia e com lá grimas in initas. Por ú ltimo, Jutta, a quem ela mais
amava, foi tirada dela. Mestre Conrad (de memó ria piedosa) fez isso
com bom zelo e intençã o, porque temia que falá ssemos com ela de sua
grandeza passada e ela icaria tentada a se arrepender. Alé m disso, ele
retirou dela qualquer consolo que ela pudesse ter em nó s, pois ele
desejava que ela se apegasse somente a Deus . "
O lugar dessas senhoras foi ocupado por uma serva comum chamada
Elizabeth e Irmengarde, uma Irmã Cinzenta. Por meio deles ela sofreu
muito, pois eles a espionaram e traı́ram ao Mestre Conrad qualquer
infraçã o de suas regras, restringindo suas obras de misericó rdia, e por
cada falha Mestre Conrad, "com bom zelo e intençã o", puniu-a com
listras e tapas em o rosto. Essas listras, "de vez em quando", diz
Isentrude, "ela escolheu por grande desejo de suportar, em memó ria
das proteçõ es de nosso Senhor". Era uma vez! Nem eram esses castigos
suaves; As correçõ es prontas do Mestre Conrad deixaram marcas que
duraram trê s semanas ou mais.
Doente, meio faminto, espancado "com bom zelo e intençã o"! A pobre
vontade - a ú nica faculdade que o pró prio Deus deu gratuitamente ao
homem - foi, penso eu, inalmente quebrada por um homem. Mesmo
quando Jutta e Isentrude vinham visitá -la, ela nã o ousava falar com eles
ou colocar comida diante deles sem permissã o.
A vontade foi quebrada; o espelho brilhante das visõ es beatı́ icas
també m se despedaçara? Parece haver alguma razã o para esperar que
nã o. “Quando a senhora mais chorava”, diz a irmã Irmengarde, “ icava
mais contente. Foi uma maravilha vê -la chorar e se alegrar ao mesmo
tempo. E quando ela chorava, seu rosto nã o estava contraı́do ou
enrugado, mas sereno e alegre, e as lá grimas corriam como de uma
fonte. " Lendo isso, a gente se lembra do ê xtase na Quaresma no colo de
Isentrude, e tem esperanças.
Pelo menos alguma coisa permaneceu da vivacidade de anos
passados. "Cabe a nó s", disse ela depois de uma das puniçõ es de Mestre
Conrad, muito inı́qua para descrever, "suportar tais coisas alegremente,
pois é conosco como com junco quando o riacho está fresco; está
curvado e subjugado, mas a á gua da enchente passa sem feri-lo, e ele
surge ereto e forte. " Uma vez, també m, quando ela estava a caminho
para aconselhar-se com o eremita no poço perto de Schrock e Mestre
Conrad enviou uma mensagem para que ela voltasse, ela observou:
"Somos como o caracol que se retira para dentro de sua casa quando é
vai chover. Portanto, obedecemos e saı́mos do caminho que está vamos
indo. " Seu medo de Mestre Conrad, no entanto, era o medo dele como a
voz de Deus. "Se eu temo tanto um homem mortal", disse ela uma vez,
"quanto mais deve ser temido o Senhor Onipotente, que é Senhor e Juiz
de todos." Houve um tempo com Elizabeth em que o amor nã o deixava
espaço para o medo.
Essas atendentes, que lhe causaram tantas provaçõ es, ela tratou como
seus ı́ntimos, e nã o os consideraria para tratá -la como "Senhora" ou
"Minha senhora", mas familiarmente como "Vó s" e "Isabel".
Apesar das restriçõ es impostas a ela, a Landgravine ainda tinha
liberdade para se dedicar à s visitas aos pobres e à s obras de compaixã o
que nã o eram muito recomendadas a seus companheiros. "Que
felicidade para nó s", disse ela certa vez enquanto atendia a algum
mendigo doente, "para assim lavar nosso Senhor e vesti-Lo." "Feliz por
você , talvez", respondeu abruptamente a criada; "Nã o sei se é para os
outros."
Esta mesma ancilla Elizabeth nã o tinha grande opiniã o sobre a mesa do
Landgravine - "comida insı́pida e sem gosto; legumes, colewort, repolho
e semelhantes, por falta de melhor," ocasionalmente fumada ou "pega"
na fervura, pois minha senhora esqueceria o pote no meio de suas
devoçõ es. E se nã o deveria chance de ser algo bom e gostoso, ela teria
fugido com a ela doente no Guest-House.
Seu trabalho diá rio era iar lã - "linho que ela nã o podia iar" - que foi
comprada, um pouco abaixo do valor, creio eu, pelas freiras econô micas
de Altenberg. Ela icava doente com frequê ncia, mas fazia o turno para
girar na cama e, quando a roca fosse retirada para que ela pudesse
descansar um pouco, ela arrancaria lã para trabalhar algum dia
futuro. Cama fria també m, era inverno, por causa das cobertas escassas,
mas na geada forte ela se "enterrava" para se aquecer entre dois sacos
de lã , "deitada em nenhuma das duas".
Sua pró pria roupa combinava com o resto do ambiente. Ela vestiu o
manto curto de lã cinza com um pano de outra cor; e da mesma forma
ela remendou as mangas gastas - tã o diferentes das penteadeiras justas
de seda rendada e pregueada dos velhos tempos.
Assim, descalça, ela foi surpreendida com sua roda de iar por um nobre
hú ngaro, Panian, que tinha ouvido falar de sua propriedade caı́da. Ele
ergueu a mã o horrorizado e "se abençoou" com o sinal da
cruz. "Nunca", disse ele, "a ilha de um rei foi vista iando lã antes." Ele
se ofereceu para acompanhá -la até sua casa real na querida terra
magiar. Ela balançou a cabeça suavemente; ela havia escolhido seu
lote; ela nã o deixaria a Turı́ngia para nã o pô r em perigo o futuro de
seus ilhos. A inal, o amor materno nã o fora expulso, nem mesmo com
varas.

Canção de um passarinho

O ano de 1231 estava chegando ao inverno. Elizabeth já estava há quase
dois anos em Marburg. Foi nos ú ltimos dias de outubro. O tempo estava
extremamente frio, com chuvas geladas e ventos cortantes. Seu corpo
frá gil quase se transformou em sombra, mas sustentado por seu
constante ê xtase de amor e alegria, ela continuou seu trabalho
devotado entre os enfermos e a litos.
Uma noite ela voltou para sua pobre morada, provavelmente
encharcada de chuva e gelada até os ossos, certamente desmaiada de
fome e vencida pelo cansaço. Naquela noite, ela acordou, ou parecia
despertar, em meio a um brilho maravilhoso; ouvi algué m chamá -
la; contemplou a pró pria face e forma do Senhor Jesus. Acordada ou
dormindo, era a visã o da Sulamita nos jardins de nogueiras de Hermon:
"A voz do meu amado! ...
Meu amado falou e disse-me:
Levanta-te, minha querida, formosa minha, e vem embora."
Para Elizabeth, nã o era nenhum sonho noturno, nenhuma ilusã o dos
sentidos, nenhuma ilusã o do coraçã o. Há muito tempo, aquela voz havia
prometido que Ele estaria sempre com ela, e ela sabia agora que se
aproximava o tempo em que ela deveria ser transformada.
Ela saiu entre os pobres para ajudá -los e consolá -los pela ú ltima
vez. Nesse clima rigoroso, Mestre Conrad també m adoeceu e pensou
que nã o se recuperaria. "Senhora e ilha", disse ele quando ela o visitou
e os dois conversaram, "você já pensou em como vai ordenar sua vida
quando eu morrer?"
"Por isso", respondeu ela, "nã o preciso pensar mais", e disse a ele que
seu im estava muito pró ximo. Depois disso, no quarto dia, ela caiu na
sua ú ltima doença; e por doze dias a vida dentro dela trabalhou como
as andorinhas trabalham em ventos fortes, fazendo a terra de sua
migraçã o.
Aconteceu em um dia em que ela estava deitada com o rosto para a
parede, sua serva Elizabeth, sentada ao pé da cama, ouviu o som da
mais doce cantoria. Pouco depois, o Landgravine se virou, dizendo:
"Onde está minha querida?" pois ela chamava seus companheiros de
"amigos" e "queridos". (Estou aqui ", disse a criada, e acrescentou:" Oh,
senhora, você cantou docemente. "
"Você ouviu alguma coisa?"
"Verdade", respondeu a empregada.
"Eu vou te dizer," disse Elizabeth; "entre mim e a parede, algum
passarinho cantou alegremente para mim; e iquei tã o comovido com
sua doçura que també m tive de cantar."
Trê s dias antes de sua morte, ela implorou que nã o permitissem a
entrada de visitantes na sala, nem mesmo as grandes damas que
freqü entemente vinham vê -la; "pois", disse ela, quando a questionaram,
"devo pensar no dia do meu julgamento e no meu onipotente Juiz." No
domingo, vé spera da oitava do dia de Sã o Martinho - ou melhor, era
quando a meia-noite de domingo já havia passado e as matinas haviam
sido ditas, mestre Conrad veio e ouviu sua con issã o; e quando ele
perguntou a ela depois o que ela desejava ter feito com as coisas que
pertenciam a ela, "Todas essas coisas eu apenas parecia possuir", ela
disse; "eles pertenciam aos pobres", e ela implorou que ele os
distribuı́sse para ela, exceto pelo há bito de lã cinza grosseiro com o qual
ela implorava que eles a enterrassem. Ela nã o faria nenhum testamento,
pois o ú nico herdeiro que desejava ter era Cristo em Seus pobres.
No inı́cio, na escuridã o da manhã , ela recebeu o Santı́ssimo Sacramento,
que ela implorou para receber; e durante todo aquele dia, até a hora da
vesper, ela permaneceu absorta em devoçã o. As vezes ela falava, e uma
vez - depois de icar em pé em espı́rito, creio eu, ao lado daquela jovem
igura corajosa esculpida na tumba de Reinhartsbrunn - ela contou
como o Senhor Jesus consolou Marta e Maria ao ressuscitar seu irmã o
Lá zaro, e Demorou-se em Sua terna compaixã o quando, chorando com
eles chorando, Ele derramou lá grimas de tristeza pelos mortos. Entã o,
aqueles ao seu redor ouviram as vozes mais doces cantando, embora
seus lá bios nunca se movessem.
Do crepú sculo em diante, seu tempo era gasto em oraçã o. A medida que
o galo começou a cantar, ela perguntou de repente: "O que devemos
fazer se o Inimigo da Humanidade aparecer diante de nó s?" Entã o, em
pouco tempo, ela gritou em voz alta e clara, como se repelisse o Espı́rito
do Mal: "Fora! Fora!" Ao primeiro canto do galo, ela pareceu reviver. A
hora está pró xima ", disse ela," quando o Senhor nasceu. Falemos de
Deus e do Menino Jesus, pois é quase meia-noite, quando Ele veio ao
mundo, e icou quieto na manjedoura, e criou por Sua onipotê ncia uma
nova estrela que ningué m nunca tinha visto antes. ”Enquanto ela disse
nessas coisas, ela era muito viva e inteligente, como se nã o enfermasse
nada. Na verdade, ela mesma disse: "Estou muito fraca, mas nã o sinto
nenhuma doença ou dor."
Dessa forma, ela passou todo aquele dia, expressando seus
pensamentos devotos, e regozijando-se em Deus, e recomendando aos
seus cuidados aqueles ao seu redor. Entã o, inalmente, caindo quieto à
noite, e sua cabeça caindo como se estivesse em sono, o espı́rito mais
inocente e doce do mundo naquela é poca voltou para Deus que o deu.

Durante trê s dias, por causa do forte desejo do povo de que ela nã o
fosse enterrada até que tivessem visto seu rosto mais uma vez, ela foi
deitada na pequena capela anexa à Casa de Hó spedes dos Pobres. Nã o
havia horror ao tú mulo, mas em seu lugar a ternura do sono juvenil e,
exceto pela palidez, uma beleza mais doce na morte do que em vida. Na
noite do terceiro dia, enquanto os Irmã os Menores cantavam o Ofı́cio
dos Mortos, a abadessa de Wechere, que estava presente, ouviu um
maravilhoso liribleamento de pá ssaros e se perguntou como isso era
possı́vel no frio do inverno, ela saiu da capela, e avistei um grande
bando de passarinhos pousados no telhado e cantando, por assim dizer,
sua endecha. Foi da mesma maneira, quando Sã o Francisco morreu e os
irmã os ainda estavam olhando para seu rosto, que inú meras cotovias
caı́ram e cantaram alegremente na palha de sua cela.
No quarto dia, em meio a uma vasta multidã o de abades, padres,
religiosos e religiosas, e pessoas de todos os tipos, ela foi colocada na
terra. Ela morreu em 19 de novembro de 1231, com quase 24 anos.
Milagres aconteceram em seu tú mulo; bem poderia ser, mas nenhum
tã o memorá vel quanto o de sua pró pria vida. Mestre Conrad de
Marburg começou a coletar as provas de santidade exigidas para a
inscriçã o de seu nome no Calendá rio dos Santos. A tarefa caiu de sua
mã o inacabada; foi retomado e completado por outros.

A coroa do Kaiser

Em 25 de maio de 1235, no convento dominicano de Perugia, todas as


provas o iciais da santidade de Isabel, ilha do rei da Hungria e
Landgravine da Turı́ngia, foram examinadas em um consistó rio
presidido pelo pró prio Papa Gregó rio. O Patriarca de Jerusalé m, que
consolou os ú ltimos momentos de seu marido, o Patriarca de Antioquia,
e uma multidã o de cardeais, arcebispos e bispos declararam a uma só
voz que seu nome deveria ser inscrito entre os nomes dos abençoados
com Deus.
No dia seguinte, festa de Pentecostes, em meio ao esplendor de uma das
mais augustas solenidades da Igreja, o Soberano Pontı́ ice, entronizado
e usando sua mitra rodeada de ouro, pronunciou sua canonizaçã o e
marcou o dia de sua migraçã o a partir deste luz terrena a ser observada
todos os anos com reverê ncia na Igreja universal. Entã o, deixando de
lado sua mitra, o maravilhoso velho, agora chegando ao seu centé simo
ano, levantou-se e entoou o Te Deum . Orgã o e coro assumiram o
glorioso hino, e os sinos da alegria repicaram as novas para as colinas
da Umbria santi icadas pelos pé s de Sã o Francisco. Se a voz do louvor
terreno se torna uma coisa viva no cé u, como algum velho pensamento
mı́stico, talvez essa cançã o de alegria tenha se encontrado e abraçado
o Te Deum laudamus que surgiu na noite de inverno da igreja dos Frades
Cinzentos em Eisenach.
A bula que proclama sua canonizaçã o ao mundo foi emitida no primeiro
dia de junho. Foi aclamado com grande alegria em toda a Alemanha, e a
histó ria maravilhosa e comovente de sua vida e morte atraiu peregrinos
de longe e de perto de seu tú mulo em Marburg. Se algum santo pode
ajudar as mirı́ades de formas de doença e dor, cuidados e necessidades
na terra, deve ser esta jovem e bela princesa, que conheceu tantas
tristezas, e que durante toda sua curta vida se entregou e tudo o que
possuı́a para os pobres e sofredores.
Sem dú vida, nunca se pretendeu que a humilde capela, diante do altar
em que ela repousava, fosse seu local de descanso inal, e muito pouco
tempo se passou antes da constante sucessã o de peregrinos buscando
sua intercessã o e as muitas ofertas que deixaram em sua homenagem. ,
sugeriu um santuá rio maior, seu cunhado Conrad, cuja natureza
turbulenta parece ter sido tocada com visitas da graça, tinha
participado muito na promoçã o de sua canonizaçã o. Com a ajuda do
clero, ele decidiu construir uma igreja digna de ser seu santuá rio. Ao
redor da pequena capela, e no mesmo local marcado pela pedra que ela
jogou para a igreja que pretendia, foram traçados os limites do novo
edifı́cio, e na vé spera da Assunçã o (14 de agosto) ele colocou a primeira
pedra.
O nome do mestre-de-obras é desconhecido, mas com o passar do
tempo surgiu um daqueles Aleluias em pedra lutuante, enriquecido
com vidros brilhantes e imagens histó ricas, de que já falei. A Igreja de
Santa Isabel é o primeiro exemplo na Alemanha desse espı́rito de luz e
de adoraçã o renovada que encontrou expressã o nas catedrais de
Amiens e Salisbury.
O primeiro de maio do ano seguinte (1236) foi designado para a
traduçã o dos vestı́gios sagrados. "Tal e tã o grande aglomeraçã o estava
lá de vá rias naçõ es, povos e lı́nguas", diz Dietrich, "como nestas terras
alemã s raramente se reuniram antes, ou nunca serã o
novamente." Certamente nenhuma tal multidã o de prı́ncipes e nobres,
pessoas da cidade e camponeses, 200.000, foi calculado, tinha sido vista
em seus dias pelos aldeõ es perto da base da Colina do Castelo. O Kaiser
Frederick estava lá , coroado de fato, mas descalço e vestido com lã
cinza grossa, e com ele veio sua noiva, Isabella, ilha do rei Joã o da
Inglaterra e sobrinha de Coeur de Lion.
"A terra daquele pequenino corpo santı́ssimo" foi removida de seu local
de descanso, envolvida em uma preciosa pú rpura e colocada em um
caixã o ricamente decorado de cobre dourado; e o Kaiser ajudou a
carregá -lo até o lugar onde deveria ser colocado para a veneraçã o da
multidã o. Quando o "Ofı́cio" ou oraçõ es especiais e hinos em
homenagem ao Santo foram cantados, Frederico foi o primeiro a
homenagear e fazer sua oferenda. Colocando em sua cabeça uma
enorme coroa de ouro, "Já que nã o pude coroar sua imperatriz
enquanto ela vivesse", disse ele, "agora vou coroá -la uma rainha imortal
no reino de Deus."
Em seguida, pegando seu ilho Hermann, um bravo rapaz de doze anos
ou mais, conduziu-o até o lado de sua mã e morta, e a Imperatriz
Isabella fez o mesmo com suas ilhas. Depois deles veio a duquesa
Sophia e seus ilhos - Heinrich, o usurpador, Conrad tocou com visitas
de graça; e estes foram seguidos por prı́ncipes e barõ es com suas belas
e desdenhosas mulheres; conselheiros brutais, homens violentos e
servidores do tempo, que a trataram com desprezo; os habitantes da
cidade que a deixaram ao vento e ao granizo; os pobres que se
esqueceram de como ela passou fome para poder alimentá -los. Sob a
emoçã o e a dor de uma emoçã o imensa, eles agora choravam. As
mulheres se despiram de suas joias para colocar a seus pé s; os
prı́ncipes amontoaram ouro e pedras preciosas sobre ela; o servo
ofereceu seu doit acumulado. Aquela que em vida Sã o Francisco
poderia ter tomado por minha Senhora da Pobreza jazia em seu caixã o
coroada, vestida de pú rpura salpicada com as receitas de um rei. Que
zombaria, nã o dos mortos, mas dos vivos!
Naquela vasta reuniã o, certamente havia um pequeno grupo de homens
cujos olhos estavam ú midos e que nã o tinham motivo para enrubescer
Rudolf, o Portador da Taça, seu velho pai cinza, o Sire Walther, e certos
Cruzados que trouxeram a poeira do Landgrave das praias de o
Adriá tico.
O caixã o, encerrado em um santuá rio de prata coberto com esculturas,
foi colocado sobre o altar da pequena capela, e as paredes da grande
igreja ergueram-se em torno dele com arco pontiagudo e coluna
elevada. Treze anos depois, foi retirado, para que o coro fosse erguido
sobre o local da capela. Em seguida, foi colocado em seu pró prio belo
santuá rio, a Capela de Santa Isabel, no transepto norte. Mais trinta e
quatro anos se passaram e, em 1 ° de maio de 1283, a igreja foi
'consagrada. Mais uma vez, sete anos e a missa foi celebrada pela
primeira vez no altar-mor. Fazia cinquenta anos desde que Conrad, o
Grã o-Mestre dos Cavaleiros Teutô nicos, colocara a primeira pedra. O
centená rio pontı́ ice, Kaiser Frederick, o rei Andreas da Hungria, o
pró prio Conrad, o ú ltimo da linha masculina do Landgrave de Ferro,
todos de fato cujas iguras passam por estas pá ginas, exceto Gertrudes,
a criança em agradecimento que havia voado do alto está gio do mundo
como as sombras de um concurso.
O tempo todo, em volta de seu leito uma lor com milagres ( lectulum
miraculis loridum , escreve Dietrich), vinham cegos e mudos, surdos e
coxos, endemoninhados e leprosos, marinheiros naufragados e homens
que morreram em masmorras, pessoas feridas com doenças, pessoas
necessitadas e em perigo, buscando alı́vio, sim, e encontrando-o na
misericó rdia de Deus; e assim, ao longo dos sé culos, pé s e joelhos
escreveram sua vaga histó ria de angú stia e de fé nos buracos que você
ainda pode ver nas pedras de sua capela em Marburg. Uma moeda, pelo
menos, foi cunhada em sua homenagem, e uma moeda ou medalha de
ouro ostentava sua imagem. A esteva, cuja lor amarela brilha por entre
as folhas arbustivas de julho a setembro, tornou-se a lor de Elizabeth; e
até hoje uma das antigas estradas principais que conduzem a Marburg
é o Caminho dos Peregrinos.

Sombras dos velhos tempos

Um por um, o pequeno grupo de homens e mulheres que viveu há


setecentos anos desaparece nas sombras dos velhos tempos.
Por um breve momento, o jovem prı́ncipe Hermann permanece sob
uma luz clara. Foi na corte de Saint Louis. Algo da doçura de sua mã e,
do porte galante de seu pai deve ter sido visı́vel no menino. Comovida
com o olhar dele, Blanche de Castela, a Rainha-Mã e, beijou-o na testa:
"ela ouvira muitas vezes que sua mã e o beijara ali". A 3 de janeiro de
1240 - imagina-se em meio a tantas alegrias de Ano Novo - morreu
envenenado por Lady Bertha von Sebeche; Dezessete anos de
idade; logo apó s assumir seu posto como Landgrave; em Kreuzburg,
onde nasceu. Em seus ú ltimos momentos, ele implorou para ser
colocado perto de sua mã e em Marburg. Heinrich, o usurpador, que foi
acusado de seu assassinato, fez com que fosse enterrado em
Reinhartsbrunn, "temendo que ela o vivi icasse em seu tú mulo".
Nã o havia ningué m agora para contestar a reivindicaçã o de Heinrich ao
tı́tulo. Na luta entre o Papa e o Imperador, foi eleito Rei dos Romanos
em 1246. Ele derrotou Conrado, ilho do Kaiser Frederico, mas no
encontro seguinte foi atingido por uma lecha, fugiu para Wartburg e
morreu lá em 1248, se que seja um alı́vio para qualquer um.
Em 1242, aos dezoito anos, So ia, a primeira ilha de Santa Isabel,
casou-se com Henrique, o Magnâ nimo, duque de Brabante, e teve um
ilho pequeno, posteriormente conhecido como Henrique, o
Menino. Com a morte do "Rei dos Romanos" em Wartburg, Henrique de
Hesse (o Ilustre, como veio a ser chamado), ilho da irmã Inê s de
Misnia, apoderou-se da Turı́ngia; mas Sophia de Brabant barrou sua
reivindicaçã o, em nome da Criança, entã o com cinco anos de
idade. Tendo deixado as coisas como estavam, Hesse foi
provisoriamente cedido ao Menino e a Turı́ngia ao Ilustre, até que o
Kaiser pudesse dar uma decisã o. A paz durou um breve perı́odo e, no
confronto seguinte de armas, Lady Sophia desceu como um
redemoinho, derrubando o portã o fechado de Sã o Jorge em Eisenach e
deixando cortes de machado no carvalho resistente visı́veis duzentos
anos depois. Por esse portã o Klingsohr havia cavalgado, e Santa Isabel
fora carregada em seu berço de prata. O sangue de Arpad correu quente
nas veias de Sophia, mas no inal (1263) o Ilustre icou com a Turı́ngia e
Hesse caiu nas mã os do Menino. Sophia morreu em 1282.
Aparentemente, foi no ano da morte de Santa Isabel que seu cunhado
Conrado entrou em choque com sua Graça de Mainz, na cena selvagem
que Carlyle descreveu de forma tã o vı́vida. O arcebispo havia cobrado
um imposto sobre todas as abadias da diocese. Reinhartsbrunn,
fundado pelos Landgraves, estava isento de todos os impostos e Conrad
proibiu o abade de pagar. "O abade recusou em conformidade; mas foi
banido pelo Papa; obrigado a obedecer, e até mesmo ser 'chicoteado
trê s vezes' antes que o dinheiro pudesse ser aceito. Duas chicotadas em
Erfurt, do arcebispo, haviam ocorrido; e uma terceira foi apenas
acontecendo lá , uma manhã , quando Conrad, viajando naquela direçã o,
acidentalmente entrou na matina. Conrad explodiu em um redemoinho
de chamas com o fenô meno revelado. 'Chicotear meu abade? E ele vai
pagar, entã o - arcebispo de Belzebu?' - e pegou o pobre arcebispo pelas
rochetes e o girou de um lado para o outro; nã o, foi para cortá -lo em
dois, nã o tinham amigos histericamente ocupados e conseguido deter a
espada em sua bainha e afastar o arcebispo. " Na é poca, Conrad tinha
cerca de vinte e oito anos; casou-se com uma ilha do Kaiser Frederick,
e ela morreu ou morreu pouco depois. Essa briga foi felizmente
composta; mas um ou dois anos depois, devido à provocaçã o grosseira,
Conrad incendiou Fritzlar, do cercado das ovelhas à torre; a sequê ncia
da qual foi a excomunhã o e, eventualmente, a absolviçã o com a
condiçã o de que Conrad reconstruı́sse Fritzlar e ingressasse em uma
ordem religiosa. Tal controle sobre os prı́ncipes teve o maravilhoso
velho Papa, perto de seu centé simo ano! Conrad fez os votos dos
Cavaleiros Teutô nicos; lançou, como vimos, os alicerces do Te
Deum gó tico de Santa Isabel ; tornou-se Grã o-Mestre de sua Ordem e
morreu inalmente em 1253.
Sophia, a jovem, tornou-se abadessa de Kitzingen, em uma sucessã o
distante da parenta de Winfrid, Theckla de Wimborne.
Gertrude, a criança que oferecia graças, criada nos claustros de
Altenberg, perto de Wetzlar, e aparentemente com apenas vinte e dois
anos quando foi eleita abadessa, ainda governava lá ( usque hodie )
quando Dietrich começou a escrever seu De Vita Beatae Elisabethae em
1289.
O "velho cavaleiro e senhor severo", Walther von Varila, é vagamente
discernı́vel, em 1248, em uma tempestuosa mas breve disputa por
justiça e justiça com certos condes de Schwarzburg e Kefernberg, e até
o crepú sculo das coisas. Estranho que ele a tivesse trazido em seu berço
de prata e se ajoelhado diante de seu santuá rio de prata.
Apó s a morte de Santa Isabel, o Magı́ster Conrado de Marburg parece
ter retomado suas funçõ es como Inquisidor Chefe na Alemanha. O rei
Henrique, o astuto ilho do cá iser Frederico, favoreceu as perseguiçõ es
selvagens que haviam ocorrido por vá rios anos. Uma grande dieta foi
convocada pelo Mestre Conrad em Mainz em 1233 para eliminar um
acú mulo de acusaçõ es de heresia. O ressentimento amargo estava se
transformando em chamas com a precipitaçã o imprudente com que o
Inquisidor executou seus julgamentos. A pretexto de heresia, foi
a irmado, muitas vı́timas infelizes - "nobres e simples, monges, freiras,
burgueses e camponeses" - foram precipitadas para uma morte
cruel; pois, "recusando-se a permitir qualquer apelaçã o, ele os executou
no mesmo dia em que foram acusados". Em Mainz, o conde von Saym
exigiu um adiamento de sua defesa, e parece que foi concedido; mas
muitos dos acusados nã o apareceram, e Mestre Conrad concedeu a Cruz
do Cruzado a todos os que pegassem em armas contra eles. Um
pequeno grupo de pessoas cujas vidas estavam em perigo o emboscou e
matou quando ele voltava para Marburg no dia 30 de julho.
Algué m pode se perguntar quantas vezes um homem, "com bom zelo e
intençã o", fez mais mal na terra de Deus em nome de Deus.
No mesmo ano de Santa Isabel, ou possivelmente em 1235, morreu
Walt her von der Vogelweide, cujo nome lembra a bela pousada e seu
jardim em Eisenach, e a profecia de Klingsohr. O Kaiser Frederick o
enobreceu, dando-lhe uma propriedade su iciente perto de Wurzburg,
onde ele morreu, e foi enterrado no claustro da New Minster, sob o
mesmo teto que o beato Killian da "Eire verde no mar". Doce cantor do
amor mais elevado e amante do mundo verde e de seus pequenos
parentes em penas, ele deixou uma herança para que o milho fosse
espalhado em seu tú mulo para os pá ssaros todos os dias ao meio-
dia. Enquanto ele també m desaparece, a sombra de um grande nome, a
cadê ncia de uma de suas cançõ es desce até mim:
"Eu vejo, Mundo, assim sou recompensado!
Tu arrebatas o que dá s aqui.
Eu e as Cançõ es que tanto deleitaram, Nó s te deixamos
agora, todos despojados e nus.
"Mil vezes, tanto a alma quanto os sentidos
, apostei em tua preocupaçã o; ainda que envelheças, zombas
de tuas pretensõ es,
Tu riras, agora que me arrependo.
"Abandone o amor terreno, ele se quebra;
por esse anseio de amor, tu te arrependerá s;
mantenha querido o amor que nunca cessa, o
amor de Deus, o constante e o verdadeiro."

PostScript
Nã o posso fechar estas pá ginas sem reconhecer minha dı́vida para com
dois livros deliciosos sobre o assunto, a Histoire de Sainte
Elisabeth (1836), do conde de Montalembert, que tinha uma ligaçã o tã o
interessante com o Santo, e Sainte Elisabeth de Hongrie (1901), de M.
Emile Horn, que aproveitou os resultados de pesquisas recentes na
Alemanha. Em muitos pontos, entretanto, fui incapaz de aceitar as
opiniõ es ou os sentimentos desses ilustres escritores, e me aventurei a
seguir os registros medievais lidos à luz dos historiadores
modernos. Em particular, nã o consigo descobrir nenhuma razã o para
adotar a conclusã o do Sr. Horn de que, em primeira instâ ncia, Santa
Isabel estava noiva do menino Hermann, a quem ele considera o ilho
mais velho do Landgrave Hermann, e que, apó s sua morte, o A questã o
de devolver o dote de Elizabeth foi a causa de seu noivado com
Lewis. Tal sucessã o de eventos di icilmente poderia ter passado sem
conhecimento para os primeiros escritores, e nã o havia razã o para
suprimir o relato deles se aconteceram.
A tentativa de explicar o cará ter e a vida de Santa Isabel com o cará ter e
a vida de Sã o Francisco de Assis é , creio eu, su icientemente justi icada
pelas a irmaçõ es do texto. O triunfo do que pode ser chamado de
ascetismo regularizado, baseado na é poca quase inteiramente no medo
pessoal da perdiçã o, destruiu um dos mais nobres, e talvez o mais
nobre, dos grandes movimentos espirituais da histó ria da Igreja.
A igreja memorial de Santa Isabel ainda sobrevive em sua beleza gó tica
pura à s margens do Lahn em Marburg. Apó s os danos causados pelas
inundaçõ es de 1847, foi restaurado e durante as obras foi necessá rio
remover o monumento de Conrado, o Grã o-Mestre da Ordem Teutô nica
e cunhado de Santa Isabel. Abaixo deste monumento foi descoberta
uma laje esculpida e, abaixo dela, outra, que cobria um caixã o de
pedra. Neste ú ltimo estava um baú de chumbo que continha o que se
acreditava serem as relı́quias de Santa Isabel. A permissã o para
examiná -los foi recusada pelas autoridades, e eles foram
imediatamente entregues à terra.
Pela sua deposiçã o na capela memorial, o santuá rio do Santo parece ter
sido, durante quase trê s sé culos, o centro de uma veneraçã o e
peregrinaçã o generalizada. No domingo, 18 de maio de 1539, Filipe, o
Magnâ nimo, entrou à força na cerca e removeu as relı́quias. Nove anos
depois, em 12 de julho, o santuá rio e as relı́quias foram restaurados,
mas a enorme coroa de ouro do Kaiser Frederico havia
desaparecido. Os restos mortais parecem ter sido secretamente
enterrados pelos Cavaleiros Teutô nicos, mas o registro do local,
preservado apenas pela tradiçã o oral, tornou-se vago e incerto. Por
volta do ano de 1718, um pequeno baú , supostamente de ferro, foi
encontrado perto da tumba de Conrado, o Grã o-Mestre. Era para conter
as relı́quias do Santo e foi imediatamente substituı́do. Do intervalo
entre essa data e a restauraçã o da igreja nada se sabe.

Sobre este e-book


O texto deste arquivo foi retirado do livro A História de Santa Isabel da
Hungria , de William Canton. Foi dedicado a May Margaret, publicado
em 1910, e uma varredura da ediçã o usada está disponı́vel
em archive.org .
As ilustraçõ es do interior sã o do mesmo livro e foram feitas por Eleanor
Fortescue-Brickdale.
A imagem da capa é um detalhe de um vitral de Santa Isabel da Hungria
dando esmolas a um homem pobre e ao mesmo tempo tendo o milagre
das Rosas. Foi trabalhado no inal do sé culo 19 por Glasmalerei
Oidtmann e está no coro da igreja de Saint Martin em Wormersdorf,
Alemanha. Ele foi fotografado em 6 de outubro de 2010 por
Reinhardhauke, e a imagem foi retirada do Wikimedia Commons .
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