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Novo Testamento

– São Paulo e
suas Cartas
Aula ministrada no Curso de Teologia para Leigos e
Consagrados da Região II por Pe. Marcelo Henrique
Gonzalez Dias
1. O contexto histórico-religioso dos tempos de
São Paulo
 Para bem conhecer São Paulo, precisamos entrar em contato com as
informações que São Lucas nos apresenta que At e, obviamente, com as
próprias cartas escritas pelo grande Apóstolo dos Gentios.
 Porém, faz-se também necessário conhecer melhor o contexto histórico do
mundo em que São Paulo viveu e pregou o Evangelho. Como estava a
organização política daquela sociedade? Quais eram as religiões e filosofias
existentes? Como o Apóstolo lidou com tal contexto, a fim de melhor pregar o
Evangelho?
 Quem nos ajuda a responder tais perguntas é o papa Bento XVI (1927-2022).
Enquanto Sumo Pontífice, Bento XVI promulgou o Ano Paulino, que durou de
29 de junho de 2008 até a mesma data do ano seguinte, com o objetivo de
comemorar os 2 mil anos do nascimento de São Paulo.
 Por isso, naqueles anos ele deu uma série de catequeses sobre São Paulo, sua vida
e seus ensinamentos doutrinais. Elas foram ministradas nas audiências gerais das
quartas-feiras e estão disponíveis em português no site do Vaticano.
 Eis o link para acessá-las: https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/
audiences/2008.index.html. A primeira delas é de 2 de junho de 2008 e a última é
de 4 de fevereiro de 2009(O link da última destas catequeses:
https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2009/documents
/hf_ben-xvi_aud_20090204.html)
 Valeria a pena ler cada uma das 20 catequeses que o grande papa teólogo
ministrou a respeito de São Paulo. Elas não são longas, além de terem linguagem
acessível aos não-especialistas.
 Na primeira destas audiências (cf. https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/
audiences/2008/documents/hf_ben-xvi_aud_20080702.html), Bento XVI
responde justamente ao presente tópico destes slides: o contexto histórico-
religioso dos tempos de São Paulo. Vejamos.
A situação dos judeus

 “Ele vem de uma cultura bem específica a circunscrita, certamente


minoritária, que é a do povo de Israel e da sua tradição. No mundo
antigo e nomeadamente no âmbito do Império Romano, como nos
ensinam os estudiosos da matéria, os judeus deviam representar cerca
de 10% da população total; depois em Roma, por volta dos meados
do século I o seu número era ainda menor, alcançando ao máximo
3% dos habitantes da cidade”. (Bento XVI)
 “Os seus credos e o seu estilo de vida, como acontece também hoje,
distinguiam-nos claramente do ambiente circunstante; e isto podia ter dois
resultados: ou a ridicularização, que podia levar à intolerância, ou então a
admiração, que se exprimia de várias formas de simpatia, como no caso
dos "tementes a Deus" ou dos "prosélitos", pagãos que se associavam à
sinagoga e partilhavam a fé no Deus de Israel”. (...) Sem dúvida, o
número de judeus, como de resto acontece ainda hoje, era muito maior
fora da terra de Israel, ou seja na diáspora, do que no território que os
outros chamavam Palestina.” (Bento XVI)
 Em resumo: o povo judeu, ao qual São Paulo pertencia, era
respeitado em seus direitos, mas visto também com desconfiança e
estranhamento. Estava espalhado por todo o Império Romano,
sobretudo na Terra Santa e nas grandes cidades do Império.
A situação político-cultural
 “Dois fatores favoreceram o compromisso de Paulo. O primeiro foi a
cultura grega, ou melhor helenista, que depois de Alexandre Magno se
tinha tornado património comum pelo menos do Mediterrâneo
oriental e do Médio Oriente, mesmo que tenha integrado em si
muitos elementos das culturas de povos tradicionalmente
considerados bárbaros. Um escritor dessa época afirma, a este
propósito, que Alexandre "ordenou que todos considerassem como
pátria toda a ecumene... e que o Grego e o Bárbaro já não se
distinguissem" (Plutarco, De Alexandri Magni fortuna aut virtute 6.8).”
(Bento XVI)
 “O segundo fator foi a estrutura político-administrativa do império
romano, que garantia paz e estabilidade desde a Britânia até ao
Egipto meridional, unificando um território de dimensões nunca
vistas. Neste espaço podia-se mover com suficiente liberdade e
segurança, usufruindo entre outras coisas de um sistema rodoviário
extraordinário, e encontrando em cada ponto de chegada características
culturais de base que, sem prejudicar os valores locais, representavam
contudo um tecido comum de unificação super partes” (Bento XVI)
 Em resumo: A cultura helenista produziu certa unidade de língua
(a grega) e de pensamento. A estrutura política do Império
Romano deu estabilidade, unidade e paz a toda a bacia do Mar
Mediterrâneo, formando um único país que corresponde atualmente a
parte de três continentes (Europa, África e Ásia) e de dezenas de
países, que são hoje bem diferentes em cultura, língua, religião e nível
de desenvolvimento.
A situação religiosa
 “Na época de São Paulo havia também uma crise da religião tradicional, pelo
menos nos seus aspectos mitológicos e também cívicos. Depois que Lucrécio já um
século antes, tinha polemicamente asseverado que "a religião conduziu a muitas
injustiças" (De rerum natura, 1, 101), um filósofo como Séneca, indo muito além de
todo o ritualismo exteriorista, ensinava que "Deus está próximo de ti, está contigo,
está dentro de ti" (Cartas a Lucílio, 41, 1). Analogamente, quando Paulo se dirige a
um auditório de filósofos epicureus e estóicos no Areópago de Atenas, diz
textualmente que "Deus não habita em santuários feitos por mãos humanas... mas
nele vivemos, nos movemos e existimos" (Act 17, 24.28). Com isto, ele certamente
faz ressoar a fé judaica num Deus não representável em termos antropomórficos,
mas põe-se também numa sintonia religiosa que os seus ouvintes conheciam bem”.
 Em resumo: a religião pagã tradicional, com seus deuses, templos e ritos
oficiais, estava desgastada. Quase todos estavam buscando um Deus a quem
eles ainda não conheciam.
São Paulo, o homem de três culturas
 “O Apóstolo Paulo, figura excelsa e quase inimitável, mas de qualquer maneira
estimulante, está diante de nós como exemplo de total dedicação ao Senhor e à sua
Igreja, bem como de grande abertura à humanidade e às suas culturas. (...)
 A visão universalista típica da personalidade de São Paulo, pelo menos do Paulo cristão
sucessivo ao acontecimento do caminho de Damasco, deve certamente o seu impulso
básico à fé em Jesus Cristo, enquanto a figura do Ressuscitado se situa além de qualquer
limite particularista; com efeito, para o Apóstolo "já não há judeu nem grego; não há
servo nem livre, não há homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo"
(Gl 3, 28). Todavia, também a situação histórico-cultural do seu tempo e do seu
ambiente não deixou de influenciar as escolhas e o seu compromisso. Alguém definiu
Paulo "homem de três culturas", tendo em consideração a sua matriz judaica, a
sua língua grega e a sua prerrogativa de "civis romanus", como atesta também o
nome de origem latina.”
2. A vida de São Paulo

 Continuamos com Bento XVI, que ensinou o seguinte na audiência


geral datada de 27 de agosto de 2008 (cf link:
https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2008/docume
nts/hf_ben-xvi_aud_20080827.html
): “Encontramos os dados biográficos de Paulo, respectivamente, na
Carta a Filémon, onde ele se declara "velho" (Fm 1, 9: presbýtes) e nos
Actos dos Apóstolos que, no momento da lapidação de Estêvão, o
qualificam "jovem" (7, 58: neanías)”. (Bento XVI)
 As duas designações são evidentemente genéricas mas, em conformidade
com as medidas antigas, "jovem" era qualificado o homem com cerca de
trinta anos, e dizia-se "velho" quando tinha por volta de sessenta anos. Em
termos absolutos, a data do nascimento de Paulo depende em grande parte
da data da Carta a Filémon. Tradicionalmente, a sua redação é posta durante
o aprisionamento romano, nos meados dos anos 60. Paulo teria nascido no
ano 8, portanto contaria mais ou menos sessenta anos, enquanto no
momento da lapidação de Estêvão tinha trinta.” (Bento XVI)
Nasceu fora da Terra Santa, mas era judeu
“raiz”...
 “Ele nasceu em Tarso na Cilícia (cf. Act 22, 3). A cidade era capital
administrativa da região e em 51 a.C. teve como Procônsul nada menos
que Marco Túlio Cícero, enquanto dez anos mais tarde, em 41, Tarso fora
o lugar do primeiro encontro entre Marco António e Cleópatra. Judeu da
diáspora, ele falava grego, embora tivesse um nome de origem latina, de
resto derivado por assonância do originário hebraico Saul/Saulos, que
tinha a cidadania romana (cf. Act 22, 25-28). Portanto, Paulo aparece
inserido na fronteira de três culturas romana, grega e judaica e talvez
também por isso era disponível a fecundas aberturas universalistas, a uma
mediação entre as culturas, a uma verdadeira universalidade”. (Bento
XVI)
 “Ele aprendeu também um trabalho manual, talvez herdado do pai,
que consistia na profissão de "tendeiro" (cf. Act 18, 3: skenopoiós),
que provavelmente deve ser entendido como alguém que trabalha a
lã tosca de cabra ou as fibras de linho para fazer esteiras ou tendas
(cf. Act 20, 33-35). Por volta dos 12-13 anos, a idade em que o
adolescente judeu se torna bar mitzvá ("filho do preceito"), Paulo
deixou Tarso e transferiu-se para Jerusalém, para ser educado
aos pés do rabino Gamaliel, o Ancião, neto do grande Rabino
Hillel, segundo as mais rígidas normas do farisaísmo, e
adquirindo um grande zelo pela Torá mosaica (cf. Gl 1, 14; Fl
3, 5-6; Act 22, 3; 23, 6; 26, 5).” (Bento XVI)
Por que ele perseguia os cristãos?
 “Com base nesta profunda ortodoxia, que tinha aprendido na escola de Hilel em
Jerusalém, entreviu no novo movimento que se inspirava em Jesus de Nazaré um
risco, uma ameaça para a identidade judaica, para a verdadeira ortodoxia dos
pais. Isto explica o facto de que ele, ferozmente, "perseguiu a Igreja de Deus",
como três vezes admitirá nas suas Cartas (cf. 1 Cor 15, 9; Gl 1, 13; Fl 3, 6).
Embora não seja fácil imaginar concretamente em que consistia esta perseguição, de
qualquer maneira a sua atitude era de intolerância. É aqui que se insere o
acontecimento de Damasco [a conversão dele] (...). É certo que, daquele momento
em diante, a sua vida mudou e ele tornou-se um incansável apóstolo do Evangelho.
Com efeito, Paulo passou para a história mais por aquilo que fez como cristão, aliás
como apóstolo, do que como fariseu. Tradicionalmente, subdivide-se a sua
actividade apostólica com base nas três viagens missionárias, à qual se acrescenta a
quarta, a ida a Roma como prisioneiro. Todas elas são narradas por Lucas nos
Actos.” (Bento XVI)
A conversão de São Paulo
 Este acontecimento mudou os rumos da Igreja, não só em seu início, pois
ressoa em todas as épocas. Tanto é que o acontecimento é celebrado numa festa
litúrgica chamada “Conversão de São Paulo”, sempre a 25 de janeiro.
 São Lucas narra o fato no capítulo 9 de At, que também é retomado em At 22,5-
16 e 26,12-18. Como fariseu ultrazeloso, Saulo queria também prender os
judeus-cristãos de Damasco, a fim de que sofressem penalidades por
acreditarem em Jesus de Nazaré como Senhor e Messias. Continuamos agora
com Scott Hahn:
 No caminho ele caiu por terra e, envolvido por uma grande claridade, ele
entendeu que o Jesus que era adorado pelos cristãos que ele perseguia era de
fato o Messias divino. Este acontecimento extraordinário mudou para sempre
sua vida e missão.
 Tendo ficado cego por causa da grande
luminosidade da visão celeste, Saulo foi levado
para Damasco (Síria), onde ficou na escuridão
por três dias. Depois de ter sido batizado por
Ananias, Saulo aceitou o desafio oferecido a ele
por Deus e sua visão foi restaurada. Deixando
Damasco, Saulo foi para a Arábia,
presumivelmente para orar e meditar. Depois ele
retornou a Damasco e começou a pregar a fé.
Devido ao perigo de ser preso pelo governador
sob o rei Aretas ou de ser assassinado pelos
judeus da cidade (cf. At 9,23-25; 2Cor 11,32),
ele fugiu de lá, sendo descido pela muralha da
cidade dentro de um cesto.
Bento XVI sobre a Conversão de São Paulo...
 “O que é certo é que ali aconteceu uma mudança, aliás, uma inversão de
perspectiva. Então ele, inesperadamente, começou a considerar "perda" e
"esterco" tudo o que antes constituía para ele o máximo ideal, quase a razão
de ser da sua existência (cf. Fl 3, 7-8). O que tinha acontecido?
 Em relação a isto temos dois tipos de fontes. O primeiro tipo, o mais
conhecido, são as narrações pela mão de Lucas, que por três vezes narra o
acontecimento nos Actos dos Apóstolos (cf. 9, 1-19; 22, 3-21; 26, 4-23). O
leitor médio é talvez tentado a deter-se demasiado nalguns pormenores,
como a luz do céu, a queda por terra, a voz que chama, a nova condição de
cegueira, a cura e a perda da vista e o jejum”.
 Mas todos estes pormenores se referem ao centro do
acontecimento: Cristo ressuscitado mostra-se como uma
luz maravilhosa e fala a Saulo, transforma o seu
pensamento e a sua própria vida. O esplendor do
Ressuscitado torna-o cego: assim vê-se também
exteriormente o que era a sua realidade interior, a sua
cegueira em relação à verdade, à luz que é Cristo. E
depois o seu "sim" definitivo a Cristo no batismo volta a
abrir os seus olhos, faz com que ele realmente veja.”
(Bento XVI)
 “Na Igreja antiga o batismo era chamado também "iluminação", porque
este sacramento realça, faz ver realmente. O que assim se indica
teologicamente, em Paulo realiza-se também fisicamente: curado da sua
cegueira interior, vê bem. Portanto, São Paulo foi transformado não
por um pensamento mas por um acontecimento, pela presença
irresistível do Ressuscitado, da qual nunca poderá sucessivamente
duvidar, dado que foi muito forte a evidência do acontecimento, deste
encontro. Ele mudou fundamentalmente a vida de Paulo; neste
sentido pode e deve falar-se de uma conversão. Este encontro é o centro
da narração de São Lucas, o qual é possível que tenha usado uma narração
que provavelmente surgiu na comunidade de Damasco. Leva a pensar isto
o entusiasmo local dado à presença de Ananias e dos nomes quer do
caminho quer do proprietário da casa em que Paulo esteve hospedado” (cf.
Act 9, 9-11). (Bento XVI)
As viagens de São Paulo – Primeira viagem
 Explica-nos Bento XVI:
 “Com efeito, da primeira (cf. Act 13-14) Paulo não teve a responsabilidade directa,
que foi ao contrário confiada ao cipriota Barnabé. Juntamente com eles, partiram de
Antioquia sobre o Oronte, enviados por aquela Igreja (cf. Act 13, 1-3) e, depois de
terem sarpado do porto de Selêucia na costa síria, atravessaram a ilha de Chipre de
Salamina a Pafos; dali chegaram à costa meridional da Anatólia, hoje Turquia, e
passaram pelas cidades de Atália, Perga da Panfília, Antioquia da Pisídia, Icónio,
Listra e Derbe, de onde regressaram ao ponto de partida. Assim nasceu a Igreja dos
povos, a Igreja dos pagãos. Entretanto, sobretudo em Jerusalém, nasceu um debate
árduo, até que ponto estes cristãos provenientes do paganismo eram obrigados a
entrar também na vida e na lei de Israel (várias observações e prescrições que
separavam Israel do resto do mundo), para ser realmente partícipes das promessas
dos profetas e para entrar efectivamente na herança de Israel.”
 “A fim de resolver este problema fundamental para o nascimento da
Igreja futura, reuniu-se em Jerusalém o chamado Concílio dos
Apóstolos, para decidir a respeito deste problema, do qual dependia o
nascimento efectivo de uma Igreja universal. E foi decidido não impor
aos pagãos convertidos a observância da lei mosaica (cf. Act 15, 6-30):
ou seja, não eram obrigados às normas do judaísmo; a única necessidade
era pertencer a Cristo, viver com Cristo e segundo as suas palavras.
Assim, sendo de Cristo, eram também de Abraão, de Deus e partícipes
de todas as promessas”.
Segunda viagem de São Paulo
 Seguimos com Bento XVI:
 “Depois deste acontecimento decisivo [o Concílio de Jerusalém], Paulo
separou-se de Barnabé, escolheu Sila e começou a segunda viagem
missionária (cf. Act 15, 36-18, 22). Tendo ultrapassado a Síria e a Cilícia,
reviu a cidade de Listra, onde tomou consigo Timóteo (figura muito
importante da Igreja nascente, filho de uma judia e de um pagão) e fê-lo
circuncidar, atravessou a Anatólia central e chegou à cidade de Tróade, na
costa setentrional do Mar Egeu. E aqui novamente teve lugar um
acontecimento importante: viu em sonhos um macedónio da outra
parte do mar, ou seja, na Europa, que dizia: "Vem e ajuda-me!". Era
a Europa futura que pedia a ajuda e a luz do Evangelho. Impelido por
esta visão, entrou na Europa. Daqui, sarpou para a Macedónia, entrando
assim na Europa. Tendo desembarcado em Nápoles, chegou a Filipos,
onde fundou uma bonita comunidade, depois passou por Tessalonica e,
partindo daí devido às dificuldades que lhe causaram os judeus, passou por
Bereia e chegou a Atenas.”
 “Nesta capital da antiga cultura grega pregou, primeiro no Ágora e depois
no Areópago, aos pagãos e aos gregos. E o discurso do Areópago,
mencionado nos Actos dos Apóstolos, é modelo do modo como traduzir o
Evangelho em cultura grega, de como fazer com que os gregos
compreendam que este Deus dos cristãos, dos judeus, não é um Deus
alheio à sua cultura, mas o Deus desconhecido por eles esperado, a
verdadeira resposta às mais profundas interrogações da sua cultura.
Depois, de Atenas chegou a Corinto, onde se deteve por um ano e meio. (...)
Podemos supor que chegou mais ou menos no ano 50 e permaneceu ali até
52. Depois, de Corinto, passando por Cêncreas, porto oriental da cidade,
dirigiu-se para a Palestina, chegando a Cesareia Marítima, de onde subiu a
Jerusalém e então voltou para Antioquia sobre o Oronte.”
Terceira viagem de São Paulo
 Continua Bento XVI:
 “A terceira viagem missionária (cf. Act 18, 23-21, 6) teve início como sempre em
Antioquia, que se tinha tornado o ponto de origem da Igreja dos pagãos, da missão
aos pagãos, e era também o lugar onde nasceu o termo "cristãos". Aqui, pela
primeira vez, diz-nos São Lucas, os seguidores de Jesus foram chamados
"cristãos". Dali Paulo partiu directamente para Éfeso, capital da província da Ásia,
onde permaneceu durante dois anos, desempenhando um ministério que teve
fecundas influências na região. De Éfeso, Paulo escreveu as cartas aos
Tessalonicenses e aos Coríntios. Porém, a população da cidade foi instigada
contra ele pelos cambistas locais, que viam diminuir as suas receitas pela redução
do culto a Artemides (o templo a ela dedicado em Éfeso, o Artemysion, era uma
das sete maravilhas do mundo antigo); por isso, ele teve que fugir para o norte.
Tendo atravessado novamente a Macedónia, voltou à Grécia, provavelmente a
Corinto, aí permanecendo três meses e escrevendo a célebre Carta aos Romanos”.
 “Daí voltou a percorrer os seus passos: passou de novo pela Macedónia, de
navio chegou a Tróade e depois, passando somente pelas ilhas de Mitilene,
Chio e Samo, chegou a Mileto, onde pronunciou um importante discurso
aos Anciãos da Igreja de Éfeso, dando um retrato do verdadeiro pastor da
Igreja (cf. Act 20). Daí partiu novamente, içando as velas rumo a Tiro, de
onde depois chegou a Cesareia Marítima para subir mais uma vez a
Jerusalém. Ali foi preso por causa de um mal-entendido: alguns judeus
julgaram que fossem pagãos outros judeus de origem grega, introduzidos
por Paulo na área do templo reservada exclusivamente aos israelitas. A
prevista condenação à morte foi-lhe poupada graças à intervenção do
tribuno romano de guarda na área do Templo (cf. Act 21, 27-36); isto
verificou-se quando o Procônsul na Judeia era António Felice. depois de
ter passado um período de prisão (cuja duração é discutível), e tendo
Paulo, como cidadão romano, feito apelo a César (que então era Nero), o
sucessivo Procurador Pórcio Festo convidou-o para ir a Roma sob a guarda
militar”.
Quarta viagem de São Paulo (prisioneiro
para Roma)
 “Na viagem para Roma passou pelas ilhas mediterrâneas de Creta e Malta,
e depois pelas cidades de Siracusa, Régio da Calábria e Pozuóli. Os crisãos
de Roma foram ao seu encontro na Via Ápia, até ao Foro de Ápio (aprox.
70 km a sul da capital) e outros até às Três Tavernas (aprox. 40 km). Em
Roma encontrou-se com os delegados da comunidade judaica, à qual
confiou que era "a esperança de Israel" que trazia as suas cadeias (cf. Act
28, 20). No entanto, a narração de Lucas termina com a menção de dois
anos passados em Roma sob uma branda guarda militar, sem se referir
a uma sentença de César (Nero) e muito menos à morte do acusado.
Tradições sucessivas falam de uma sua libertação, que teria favorecido
tanto uma viagem missionária à Espanha, como uma sucessiva
passagem pelo oriente e, especificamente, por Creta, Éfeso e Nicópoles
em Épiro”.
 “Sempre com base hipotética, supõe-se uma nova detenção e um
segundo aprisionamento em Roma (de onde teria escrito as três
Cartas chamadas Pastorais, ou seja, duas a Timóteo e uma a Tito),
com um segundo processo, que lhe seria desfavorável. Todavia, uma
série de motivos induz muitos estudiosos de São Paulo a rematar a
biografia do Apóstolo com a narração lucana dos Atos” (Bento XVI)
 Scott Hahn explica que provavelmente ele escreveu as Cartas aos
Colossenses, aos Filipenses, a Filêmon e talvez aos Efésios enquanto
estava prisioneiro em Roma. Por isso, tais cartas são chamadas
“Epístolas do Cativeiro”.
Consideração geral sobre a vida de São
Paulo
 “Neste breve elenco das viagens de Paulo, é suficiente saber como ele se dedicou
ao anúncio do evangelho sem poupar energias, enfrentando uma série de provas
gravosas, das quais nos deixou o elenco na segunda Carta aos Coríntios (cf. 11, 21-
28). De resto, é ele quem escreve: "Faço tudo por causa do Evangelho" (1 Cor 9,
23), exercendo com absoluta generosidade aquela à qual ele chama "solicitude por
todas as Igrejas" (2 Cor 11, 28). Vemos um compromisso que só se explica com
uma alma realmente fascinada pela luz do Evangelho, apaixonada por Cristo, uma
alma sustentada por uma profunda convicção: é necessário levar ao mundo a luz de
Cristo, anunciar o Evangelho a todos. Parece-me que é isto que permanece desta
breve resenha das viagens de São Paulo: ver a sua paixão pelo Evangelho, intuir
assim a grandeza, a beleza, aliás a profunda necessidade do Evangelho para todos
nós.” (Bento XVI)
Alguns textos autobiográficos de São Paulo:

 Os trabalhos realizados e revelações recebidas: 2Cor 11,21–12,15


 A autenticidade de seu apostolado e de sua doutrina: Gl 1,11–2,14
 Sua origem judaica e amor por Cristo: Fl 3,4-16
3. A Teologia de São Paulo
 Sabemos que Deus é verdadeiro Autor de todas a Sagrada Escritura, mas,
para tanto, Ele Se vale de autores humanos, que são, por sua vez, verdadeiros
autores. Isto porque sua forma de pensar, escrever, de se relacionar com Deus
e de ver o mundo aparece nos textos bíblicos. Tal fato não anula a inspiração
divina, mas sua valorização, porque mostra como Deus se adapta à nossa condição
humilde para poder nos dirigir Sua Eterna Palavra de salvação.
 Assim, podemos falar que existe uma Teologia de São João, de Lucas, de
Paulo, de Jeremias... Não porque eles escreveram coisas opostas, mas porque, sob
a inspiração de Deus, cada um escreveu a partir de sua experiência de vida e de
acordo com as necessidades de seus destinatários. E qual é a Teologia de São
Paulo? Podemos dividi-la em alguns temas: Teologia da Trindade, da
Salvação/Santificação e da Igreja.
 Sob a condução de Scott Hahn, vamos analisar cada um destes tópicos.
3.1 Teologia da Trindade
 Por diversas vezes Paulo afirma a doutrina judaica do monoteísmo – a crença
segundo a qual Deus é um só e que revelou a Si mesmo como o Deus da Bíblia
(Rm 3,30; Gl 3,20; 1Tm 2,5). Contudo, ele descobriu no Evangelho a verdade
de que Deus, que é Pai, tem um Filho eterno (Gl 1,16). O Filho de Deus é
igualmente o Divino Senhor, por meio do qual o mundo foi criado (1Cor 8,4-6).
Ele humilhou-se e veio ao mundo como o Homem Jesus Cristo, de maneira que
todos pudessem ser salvos por Ele (Fl 2,5-8; 1Tm 1,15).
 Cristo é, portanto, a imagem do Deus invisível (Col 1,15), aquele no qual habita
corporalmente a plenitude da divindade (Col 2,9). Sua morte de Cruz por nossos
pecados foi um sinal poderoso do amor de Deus pelo mundo (Rm 5,8).
 O mistério de Deus se desdobrou ainda mais quando São Paulo se deu conta que
o Espírito também é Deus e Senhor (2Cor 3,17). O Espírito, como o Filho, foi
enviado pelo Pai para uma missão salvadora em favor do mundo (Gl 4,4-7).
 O Divino Espírito Santo é, ao mesmo tempo, “Espírito de Deus” e
“Espírito de Cristo” (Rm 8,9). Por isso, Ele pode compreender os
pensamentos de Deus (1Cor 2,10-11). Por Sua inabitação no fiel, o
amor de Deus foi derramado no coração humano, produzindo em
nossas vidas uma colheita frutuosa de amor, paz, alegria, paciência,
fidelidade, autocontrole (Gl 5,22-23).
 Em essência, Paulo ensina que Deus é Trindade de Pessoas (2Cor
13,14), por meio das quais os dons divinos são dados aos homens
(1Cor 12,4-6) e todo o drama da salvação é preparado e levado ao
pleno cumprimento (Ef 1,13-14).
3.2 Teologia da Salvação
 Paulo é com razão conhecido por seu ensino sobre a salvação, que é mais
completo nos seus escritos do que qualquer outra parte do Novo Testamento.
Sua essência é estabelecida na doutrina paulina da justificação, ou seja, seu
ensinamento segundo o qual os fiéis são tornados justos em Cristo (Rm 5,19)
e feitos filhos de Deus por meio do Espírito (Rm 8,14-15).
 A justificação é a salvação do pecado, da morte e da separação de Deus
(At 13,38-39; Rm 5,9-11). Ela consiste no resgate de cada pessoa da
condição decaída do velho Adão, dominado pelas trevas do demônio,
levando o ser humano ao Reino do Filho de Deus (Rm 5,1.12-21; Cl 1,13-
14). A justificação se concretiza no contexto litúrgico do batismo (1Cor
6,11). E é constantemente dada novamente pelo ministério da Igreja, a
quem Cristo confiou o ministério da reconciliação (2Cor 5,18).
 Por um lado lado, Paulo insiste que a justificação não é uma conquista
humana; não é algo que nós possamos ganhar ou merecer por nós
mesmos através das obras (Rm 3,28; Ef 2,8-9; Tt 3,5). Seu argumento
é que nenhuma ação humana pode nos fazer merecer o céu. Nada, a
não ser a graça de Deus, pode estabelecer-nos em Cristo ou fazer-nos
filhos de Deus.
 Por outro lado, o dom da salvação deve ser recebido pela fé (Rm 3,21-
26; Gl 2,15-16; 3,26), a qual, na Teologia de São Paulo, não é somente
a aceitação mental do Evangelho, mas é também uma obediente
resposta a todas as exigências da vida cristã (Rm 1,5; 2,13; 6,17-22).
 Isto inclui coisas como a guarda dos mandamentos de Deus (Rm 13,8-
10; 1Cor 7,19) e o deixar-se conduzir pelo Espírito Santo (Rm 8,1-7).
Justificados/salvos, mas em constante
processo de santificação...
 A justificação/salvação acontece no Batismo, mas o processo de
santificação, de “cristificação”, ou seja, de configuração a Cristo pela
força do Espírito Santo, acontece ao longo de toda a vida. Paulo tem
explicações profundíssimas para este processo;
 Estatura do homem perfeito: “A uns ele constituiu apóstolos; a outros,
profetas; a outros, evangelistas, pastores, doutores, 12.para o
aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à
construção do corpo de Cristo, 13.até que todos tenhamos chegado à
unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o
estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo.” (Ef 4,11-13)
 Correr para Cristo, buscar a perfeição: “Não pretendo dizer que já alcancei
(esta meta) e que cheguei à perfeição. Não. Mas eu me empenho em conquistá-
la, uma vez que também eu fui conquistado por Jesus Cristo. 13.Consciente de
não tê-la ainda conquistado, só procuro isto: pres­cindindo do passado e
atirando-me ao que resta para a frente, 14.persigo o alvo, rumo ao prêmio
celeste, ao qual Deus nos chama, em Jesus Cristo. 15.Nós, mais
aperfeiçoados que somos, ponhamos nisso o nosso afeto; e se tendes outro
sentir, sobre isto Deus vos há de esclarecer. 6.Contudo, seja qual for o grau a
que chegamos, o que importa é prosseguir decididamente.” (Fl 3,12-16)
 Na vida cristã, não progredir significa andar para trás. É preciso desejar cada
vez mais ardentemente estar com Cristo e viver para Ele. Este é o sentido
central de nossa existência.
 Sermos um só com Cristo, vivermos de Sua Vida: “19.Na realidade, pela
fé eu morri para a Lei, a fim de viver para Deus. Estou pregado à cruz de
Cristo. 20.Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A
minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me
amou e se entregou por mim. 21.Não menosprezo a graça de Deus; mas,
em verdade, se a justiça se obtém pela Lei, Cristo morreu em vão.” (Gl 2,19-
21).
 É preciso vivermos de tal modo que Cristo esteja em nós e se sirva de nós
para santificar o mundo. Lembremo-nos que São Paulo dirige-se não só aos
sacerdotes, mas também aos leigos, que eram e são a maioria de nossas
comunidades cristãs. Por isso, é necessário recordar que todos somos
chamados à santidade.
Teologia da Igreja
 São Paulo desenvolve em vários textos uma teologia da Igreja. A sua
não é uma visão individualista, onde cada fiel teria uma relação
privada com Cristo. Ao contrário, São Paulo percebe que todos os
cristãos estão ligados ao Senhor pela comunhão da Igreja. Nenhuma
imagem ou metáfora pode captar por completo toda a extensão da
doutrina de São Paulo. Por isso, vemos várias imagens
complementares da Igreja ao longo de suas cartas.
 Prevalentemente Paulo apresenta a Igreja como o Corpo de Cristo.
Na sua visão, Cristo é a cabeça do corpo, e os batizados são membros
do Seu Corpo, cada um tendo um papel único a realizar (1Cor 12,12-
31; Ef 4,15; 5,23).
 Relacionada a esta imagem, a Igreja é também apresentada
como a Esposa de Cristo, unido a Ele da forma mais
íntima; o casamento cristão é uma imagem visível desta
grandiosa realidade (Ef 5,21-33; 2Cor 11,2). O pano de
fundo de tal noção é a imagem veterotestamentária do
Senhor como Esposo da Sua esposa da Aliança, que é Israel
(Es 54,5; Jr 3,1; Ez 16; Os 2,16).
 A Igreja, segundo São Paulo, está intimamente unida ao Espírito Santo.
Assim como o Espírito Santo habita em cada fiel, fazendo dele um
templo do Espírito Santo (1Cor 6,19), assim também a assembleia dos
fiéis em conjunto constitui-se como templo vivo do Espírito (1Cor
3,16; 2Cor 6,16). Esta imagem traz à tona a Santidade da Igreja como o
lugar da morada do Deus todo-poderoso (Ef 2,19-22).
 A Igreja como Família de Deus talvez seja a mais penetrante
apresentada por São Paulo. Ao contrário das outras noções, a descrição
familiar não está confinada a lugares específicos nas cartas paulinas; é
algo que está por toda parte. Por exemplo, toda vez que o Apóstolo se
dirige aos seus leitores como “irmãos”, ele está trabalhando com a
noção de que todo cristão tem irmandade espiritual com o próximo.
 A base para tanto não está no domínio da metáfora. Ao contrário, é
uma consequência da graça da adoção que faz de todos os fiéis
“filhos” com relação ao Pai (Rm 8,14-17; Gl 4,4-6);
 O dom da divina filiação foi planejada por Deus antes da fundação do
mundo (Ef 1,4-5). As diversas referências de São Paulo aos cristãos
como “herdeiros” também estão conectadas com a teologia da
consaguinidade espiritual (Rm 8,17; Gl 4,7; Ef 1São Paulo também
desenvolve a noção de dons e carismas, dados a cada fiel para o
bem de todo o Corpo da Igreja (1Cor 13–14). ,14; Cl 3,24; Tt 3,7).
 Porém, ele explica que o que nos mantém unidos a Cristo e aos
irmãos é o amor/caridade, que deve ser a base para todas as nossas
ações, pensamentos e palavras.
4. As cartas de São Paulo
 CARTA AOS ROMANOS
 PRIMEIRA CARTA AOS CORÍNTIOS
 SEGUNDA CARTA AOS CORÍNTIOS
 CARTA AOS GÁLATAS
 CARTA AOS EFÉSIOS
 CARTA AOS FILIPENSES
 CARTA AOS COLOSSENSES
 PRIMEIRA CARTA AOS TESSALONICENSES
 SEGUNDA CARTA AOS TESSALONICENSES
 PRIMEIRA CARTA A TIMÓTEO
 SEGUNDA CARTA A TIMÓTEO
 CARTA A TITO
 CARTA A FILÊMON
4.1 Carta aos Romanos
 É a mais longa carta do Apóstolo São Paulo, dirigida aos cristãos de
Roma. Ela é aclamada como os dos grandes trabalhos da Teologia cristã
e se provou ser um dos escritos mais influentes da história cristã.
 Seu objetivo central é apresentar a salvação do mundo em Cristo
(capítulos 1-8). Outros tópicos abordados consistem na salvação de
Israel (capítulos 9-11) e as responsabilidades morais dos cristãos
(capítulos 12-14).
 São Paulo escreveu esta carta provavelmente no inverno de 57-58
quando se encontrava em Corinto, durante sua terceira viagem
missionária (nesta viagem ele passou pela Grécia: At 20,2).
Pensando em projetos futuros...
 Na ocasião em que escreveu a carta, São Paulo ainda não conhecia
Roma. A pujante comunidade cristã que lá se encontrava não tinha
sido estabelecida por ele. As pessoas mencionadas por ele no
capítulo 16 certamente são pessoas conhecidas dele que poderiam
testemunhar em seu favor diante de uma comunidade que ele até
então não conhecia.
 Sua intenção era abrir o caminho para sua futura visita à Cidade
Eterna e para que a comunidade dos romanos o ajudasse em sua
planejada viagem missionária à Espanha (15,23-24), que não
sabemos se se concretizou ou não.
Objetivo do escrito
 Scott Hahn explica que vários eram os objetivos de São Paulo ao escrever sua
carta. Primeiro, ele gostaria de se apresentar à comunidade antes de sua pretendida
viagem para lá. Depois, o Apóstolo queria resolver um problema pastoral daquela
comunidade: havia uma crescente divisão entre os cristãos de origem judaica e os
de origem pagã.
 Os cristãos de origem pagã afirmavam que haviam substituído os judeus como
povo de Deus (11,13-32), uma vez que boa parte dos israelitas rejeitou a Cristo. Os
cristãos de origem judaica se afirmavam especialmente abençoados por causa das
maravilhas que Deus fez no povo de Israel, mantendo-o à parte das outras nações
(2,1–3,20).
 São Paulo explicou que israelitas e pagãos estavam sob o domínio do pecado (3,9)
e ambos foram lavados pelo Sangue de Jesus Cristo, sendo salvos pela fé nele
(11,32) e pela prática de Sua Palavra. Pagãos e judeus cristãos fazem parte de um
único povo que adora o mesmo Deus (10,12; 15,7-12).
Os temas da Carta aos Romanos

 Scott Hahn Romanos é o que no Novo Testamento há de mais


próximo a um tratado de Teologia (cf. HAHN, p. 781). Paulo
penetra profundamente nos mistérios do pecado e da salvação.
Ele destaca fortemente o Antigo Testamento para ajudar os
leitores a descobrir como o plano de Deus atingiu seu ponto
culminante na Pessoa e na Obra de Jesus Cristo. Por isso,
Romanos é às vezes difícil de compreender (cf. 2Pd 3,16).
Pecado, salvação e santificação

 Pecado, salvação e santificação dominam a discussão dos


capítulos 1 ao 8. O pecado é a má notícia que prepara o mundo
para a Boa Nova do Evangelho. Por isso, Paulo inicia a carta
com uma severa condenação ao pecado, que se espalhou como
uma doença mortal não somente entre os pagãos (1,18-32),
mas também entre o povo da Aliança (2,1-30).
 O resultado é que todos os povos, judeus e pagãos, encontram-se
encurralados nas garras do pecado (3,9). A salvação, tão
desesperadamente necessária para o mundo, é finalmente cumprida
em Jesus, que revela a justiça de Deus e oferece a salvação como um
presente para ser recebido pela fé (3,21-26).
 A graça derramada por meio de Sua Morte e Ressurreição gera a
justificação do pecador – a ação de Deus que transfere o fiel da desgraçada
família de Deus para o estado da justiça em Cristo (5,1-21). A santificação
é parte deste mistério e é trabalho do Espírito Santo, que derrama o
amor de Deus dentro do coração humano (5,5) e habilita os cristãos
para obedecer as justas leis de Deus (8,1-13).
 Por meio do Espírito, os fiéis são preenchidos com a graça da divina
filiação, pela qual Deus se torna Seu Pai (8,14-17) e Cristo Se torna o
Irmão mais velho (8,29).
A salvação de Israel
 Este é o tema dos capítulos 9 ao 11. O tema precisou ser tratado porque, uma, o
Evangelho encontrou grande rejeição entre o Povo Eleito (9,1-5; 10,1-4). Outra,
porque certos cristãos fizeram a falsa inferência de que o Povo Eleito foi
rejeitado por Deus e foi substituído pela Igreja dos gentios (11,13-32).
 Paulo, por isso, teve de explicar que o lugar de judeus e pagãos no plano da salvação.
Israel não foi rejeitado por Deus (11,1). Pelo contrário, o plano de Deus é salvar “todo
Israel” (11,26) – e por tal coisa Paulo entende um representativo remanescente das
doze tribos de Israel, não somente os judeus da tribo de Judá (cf. Mt 19,28; Ap 7,1-8).
 Os fiéis de origem pagã, segundo Paulo, não substituíram Israel, mas foram,
qual ramos de oliveira, enxertados no tronco da árvore israelita (11,17-19).
 Portanto, continua Paulo, os pagãos deveriam ficar maravilhados em razão da
misericórdia de Deus em seu favor, dando-se conta que Deus está pronto para
restaurar o Israel descrente no momento mesmo em que ele aderir à fé em Cristo
(11,20-24).
Instruções práticas para a vida cristã

 Estas se encontram nos capítulos de 12 ao 15. Responsabilidades


são impostas aos cristãos enquanto membros do corpo eclesial
(12,1-21) e enquanto membros do corpo civil do Estado (13,1-7).
 O imperativo dominante é o amor pelo próximo (13,8-10), de
forma que se respeite a liberdade dos outros (14,1-23). Fazendo
assim, o fiel irá se assemelhar mais a Cristo, que Se fez servo de
todos (15,1-13).
4.2 As Cartas aos Coríntios
 A primeira carta tinha o objetivo de corrigir os abusos na
comunidade; cercear a desunião que tinha emergido na comunidade
e responder a diversas questões que lhe foram enviadas sobre
moralidade, matrimônio, celibato, sobre Eucaristia e ressurreição do
corpo.
 A segunda carta procurou clarificar o que se seguiu ao envio da
primeira carta, sobretudo para refutar falsos apóstolos que estavam
lançando descrédito sobre Paulo na comunidade de Corinto. Ambas
as cartas estão repletas de Teologia paulina, mas elas também nos
dão uma vívida descrição da comunidade cristã primitiva e da
vibrante personalidade de São Paulo.
4.3 Primeira Carta aos Coríntios
 Ela foi escrita por São Paulo em Éfeso quando ele se encontrava na
terceira viagem missionária (53-58), mais exatamente na primavera do
ano 56. Ele havia estabelecido a Igreja em Corinto por volta do ano 51
(At 18,1-18). A acolhida inicial do Evangelho havia sido bem intensa,
mas com o passar dos anos a comunidade foi tomada por divisões,
abusos litúrgicos, problemas morais e escândalos diante dos gentios.
 O Apóstolo tenta recolocar a comunidade no eixo, pregando-lhes que a
verdadeira salvação e libertação estão em Jesus Cristo Crucificado,
escândalo para os judeus, loucura para os pagãos, para verdadeira
sabedoria para os que creem.
Esquema de 1Cor
 1. Introdução (1,1-9)
 2. Divisões na Igreja de Corinto (1,10–4,21)
 3. Imoralidade sexual (5,1–6,20)
 4. Respondendo às perguntas dos coríntios (7,1–14,40):
casamento e celibato, comida oferecida aos ídolos,
assembleias litúrgicas, dons espirituais
 5. A Ressurreição dos Mortos (15,1-58)
 6. Epílogo (16,1-24)
4.4 Segunda Carta aos Coríntios
 Paulo também escreveu a Segunda Carta aos Coríntios durante a terceira
viagem missionária (At 18,23–21,16). Ele a escreveu na Macedônia, no
norte da Grécia, para onde ele tinha viajado depois de sair de Éfeso, onde
escreveu 1Cor. 2Cor foi provavelmente escrita no final de 56 ou no começo
de 57.
 Os problemas que o motivaram a escrever 1Cor estavam largamente
resolvidos, mas surgiu um novo problema: chegaram a Corinto os famosos
judaizantes (“falsos apóstolos”, segundo 2Cor 11,13), que queriam impor a
Lei de Moisés aos cristãos de origem pagã e desacreditavam a missão de
Paulo, como aconteceu, aliás, na Galácia e em Antioquia.
 Paulo ficou chocado ao saber que vários coríntios ficaram
do lado deles e passaram a vê-lo com maus olhos. Mais
tarde, a maior parte da comunidade fez uma declaração de
sua fidelidade ao Apóstolo, mas ainda permaneceu
existindo uma minoria que lhe fazia oposição (12,20-21).
Esquema de 2Cor

 1. Introdução (1,1-11)
 2. Trabalhos apostólicos de Paulo (1,12–7,16)
 3. A coleta para a Igreja de Jerusalém (8,1–9,15)
 4. Paulo defende seu ministério (10,1–13,10)
 5. Despedidas e bênção (13,11-14)
As cartas de São Paulo (retomando)
 CARTA AOS ROMANOS
 PRIMEIRA CARTA AOS CORÍNTIOS
 SEGUNDA CARTA AOS CORÍNTIOS
 CARTA AOS GÁLATAS
 CARTA AOS EFÉSIOS
 CARTA AOS FILIPENSES
 CARTA AOS COLOSSENSES
 PRIMEIRA CARTA AOS TESSALONICENSES
 SEGUNDA CARTA AOS TESSALONICENSES
 PRIMEIRA CARTA A TIMÓTEO
 SEGUNDA CARTA A TIMÓTEO
 CARTA A TITO
 CARTA A FILÊMON
4.5 Carta aos Gálatas
 A Carta aos Gálatas é dirigida a vários grupos de fiéis certamente
espalhados pela província da Galácia, na Ásia Menor, sendo
atualmente a região oeste da Turquia. Nela Paulo combate
vigorosamente os judaizantes, cristãos de origem judaica que
queriam impor a prática da Lei de Moisés aos cristãos de origem
pagã. Scott Hahn explica que a Carta aos Gálatas foi certamente
escrita no começo do ano 50, pouco depois do Concílio de
Jerusalém, que reuniu-se no ano anterior e definiu que os cristãos
de origem pagã não estariam obrigados a praticar a Lei de Moisés.
 O Apóstolo dos Gentios defende a origem divina de seu
ministério (1,11-17) e sua comunhão com a doutrina pregada
pelos demais apóstolos, especialmente São Pedro, que
reconheceu a legitimidade de seu ministério (2,1-10).
 Em seguida, ele explica que a salvação vem a todos pela Morte
e Ressurreição de Jesus Cristo, não pela prática da Lei de
Moisés. Esta foi uma preparação para a salvação, dando ao
povo a consciência do pecado, mas não lhe dando a
possibilidade de ser redimido dele.
 O Apóstolo explica que mesmo a circuncisão, originada na
época de Abraão e mais antiga que a Lei de Moisés,
também não é necessária para se obter a salvação, pois o
Novo Testamento levou a pleno cumprimento essas antigas
práticas, que eram sombra dos bens futuros.
 Cristo se tornou maldição por nós, morrendo na Cruz para
nos libertar da maldição da Lei (Gl 3,13). Nascendo de
mulher, Ele mesmo sujeito à Lei, a fim de nos resgatar e de
nos dar a filiação adotiva (4,4-5).
Esquema de Gl

 1. Saudação (1,1-5)
 2. O falso Evangelho (1,6-9)
 3. A autoridade apostólica de Paulo (1,10–2,21)
 4. Lei e Fé (3,1–4,31)
 5. A Liberdade cristã (5,1–6,10)
 6. Exortações finais e bênção (6,11-18)
4.6 Carta aos Efésios
 Nesta carta São Paulo se preocupa especialmente em explicar a doutrina da
Igreja como Corpo Místico de Cristo. Efésios é uma das “Cartas do
Cativeiro” (com Colossenses, Filipenses e Filêmon), pois foram escritas
enquanto ele estava na prisão (provavelmente em Roma).
 Em Ef São Paulo também explica o processo de santificação, dá conselhos
práticos de vida fraterna e de retidão moral, além de apresentar a vida
presente como uma luta contra o Mal e, por isso, o cristão deve usar a
armadura e as armas necessárias para vencer Satanás e triunfar com Cristo.
 A cidade de Éfeso ficava na província romana da Ásia. Era uma grande
cidade portuária e onde havia um vigoroso culto à deusa Ártemis. Ali São
Paulo formou uma forte comunidade cristã.
4.1 Autoria e data da redação

 Por duas vezes na carta o apóstolo São Paulo se apresenta como autor
(Ef 1,1; 3,1). Esta autoria foi aceita tranquilamente até o final do
século XVIII, mas a partir deste período começaram a surgir algumas
contestações e certos estudiosos começaram a afirmar que um
discípulo de São Paulo escreveu a carta em seu nome.
 Segundo eles, a carta não tem um tom pessoal como as outras cartas do
Apóstolo, a linguagem parece um pouco diferente e os temas não
seriam abordados da maneira como São Paulo costumava fazer.
 Contudo, é muito sólida a afirmação de que São Paulo é
realmente o autor de Efésios. A epístola tem um estilo
diferente, mas isso se deve à motivação do escritor e ao
contexto dos seus destinatários.
 Não havia grandes problemas a resolver, como na
comunidade de Corinto ou entre os Gálatas. Por isso, o tom
poderia ser mais pacífico, cabendo apenas recordar os
grandes temas da vida cristã (Cristo Salvador, Igreja, vida
moral, combate espiritual...)
 A Carta foi provavelmente escrita em Roma depois do ano 65, enquanto
São Paulo estava preso. O contexto desta prisão é explicado no final do
livro dos Atos dos Apóstolos.
 Porém, é bem provável que a Carta tenha sido dirigida a um conjunto de
comunidades, dentre as quais se encontrava a de Éfeso. Por quê? Bom, em
primeiro lugar porque a expressão “aos Efésios” não se encontra no texto.
Algumas versões a trazem, mas provavelmente não vem de São Paulo
 Em segundo lugar, São Paulo parece não conhecer os cristãos para quem
ele dirige a carta (1,15; 4,21) e também parece não ser conhecido por eles
(3,2-4), não obstante ele ter residido em Éfeso por 3 anos (At 19,8; 10,22;
20,31).
 Por isso, alguns estudiosos acreditam que São Paulo
tenha escrito uma carta geral para as comunidades da
Ásia Menor e que a cópia que circulou por Éfeso foi
a que sobreviveu à ação do tempo. Daí o tom mais
impessoal. Se for verdade esta teoria, o Apóstolo
tinha os efésios em sua mente, já que a eles também
era endereçada sua missiva, embora não de modo
exclusivo.
4.2 Estrutura e temas da Carta aos Efésios
 1. Saudações (1,1-2)
 2. Questões doutrinais (1,3–3,21)
 Bênção em Cristo (1,3,14)
 Oração pela Igreja (1,15-23)
 Nova vida em Cristo (2,1-22)
 Mistério da Igreja (3,1-13): mistério revelado em Cristo
 Oração pela Igreja (3,14-21): conhecer o amor de Cristo
 3. Questões morais
 Unidade do Corpo de Cristo (4,1-16): uma só fé, Igreja e batismo
 A velha e a nova vida (4,17–5,20)
 O lar cristão (5,21–6,9): amor, respeito, submissão, espírito de entrega
 A armadura do cristão (6,10-20)
 4. Questões pessoais e bênção (6,21-24)
 A Carta de São Paulo aos Efésios é um tratado ou homilia em forma de
carta. Ela tem um tom mais formal e impessoal, diferente, por exemplo,
da Carta aos Colossenses, embora ambas tratem, em parte, dos mesmos
temas.
 Efésios, como vimos, é dividida em duas partes principais: a seção
dogmática (1,3–3,21) e a seção moral (4,1–6,20). Num magnífico hino
cristológico (1,13-14), Paulo louva a Deus pelas bênçãos que Ele
derramou sobre os fiéis de acordo com Seu eterno plano de salvação.
 É necessário especial auxílio divino para se compreender o mistério
cristão (1,9-12). São Paulo fala de seu entendimento do mistério (3,2-4) e
implora aos fiéis que também peçam a Deus a graça da compreensão
(3,16-19)
O mistério da Igreja

 O mistério de Jesus Cristo foi escondido na Antiga Aliança e é


agora revelado no Novo Testamento. Todas as coisas no céu e na
terra são unidas sob a autoridade de Cristo (1,20) e, por meio de
Sua morte sobre a Cruz, o Salvador redimiu Israel e todas as
nações (1,7; 2,16; 5,2).
 Ele trouxe o mundo, aprisionado e corrompido pela pecado, de
volta para Deus e restaurou a paz entre a humanidade e Deus Pai.
 O ensinamento sobre o mistério se refere também à Igreja.
Como em Colossenses, o Apóstolo apresenta a Igreja como
Corpo de Cristo (Cl 1,18; Ef,22-23), cuja Cabeça é Cristo.
A Igreja é também a Esposa de Cristo e Ele é o Esposo
(5,22-32), um santo templo para o Senhor, lugar da
habitação de Deus (2,21-22).
 A unidade da Igreja é marcada pela unidade entre judeus e
gentios (pagãos), unidos em Cristo, que salvou a ambos
pela morte de Cruz, formando a família da Nova Aliança
(2,11-22; 3,4-6).
4.7 Carta aos Filipenses
 A Carta aos Filipenses foi dirigida aos cristãos de Filipos, a principal cidade da
província romana da Macedônia, no norte da atual Grécia. É uma das “Cartas do
Cativeiro”, escrita numa das diversas ocasiões em que Paulo esteve prisão. Nela ele
menciona a “guarda pretoriana” (Fl 1,13). Portanto, certamente ela também foi
escrita enquanto ele estava preso em Roma, provavelmente no ano 62.
 Ela não trata especificamente de algum problema a ser resolvido. Paulo conforta os
filipenses, porque eles já vinham sofrendo perseguições das autoridades civis (1,29-
30), os chama calorosamente de “queridos, amados” (2,12; 4,1), agradece-lhes a
ajuda humana e financeira que lhe enviaram enquanto esteve preso (4,18) e os
convida a viver a plenitude da vida cristã.
 São Paulo tinha predileção pelos Filipenses, pois manifestou-lhes especial carinho e
aceitou sua ajuda financeira, coisa que normalmente não fazia.
“Tende os mesmos sentimentos de Cristo
Jesus...”
 Ponto alto do escrito é Filipenses 2,5-11, pois nele o Apóstolo os exorta a
viverem à medida de Cristo, que, sendo Deus, “esvaziou-se” (“kénosis”),
sendo obediente até a morte de Cristo por amor a nós. Exaltado por Deus
Pai, Seu Nome deve ser adorado no céu, na terra e nos infernos.
 Paulo os exorta a conhecer o poder da Ressurreição de Cristo,
partilhando Seus sofrimentos e Sua morte (3,10).
 Finalmente, destaca-se em Filipenses a presença da alegria: “Gaudete in
Domino”: “Alegrai-vos no Senhor”.
4.8 Carta aos Colossenses
 Trata-se de um escrito de São Paulo dirigido à então jovem
Igreja de Colossos, também na Ásia Menor. Ela também foi
provavelmente composta no período de sua prisão romana
entre os anos de 60 e 62. Ela está muito próxima do
ambiente da Carta a Filêmon: ambas são enviadas
juntamente por Paulo e Timóteo (Cl 1,1; Fm 12),
mencionam a prisão de Paulo (Cl 4,3; Fm 1), este aparece
rodeado dos mesmos amigos (Cl 4,10-14; Fm 23-24) e
ambas tratam da fuga do escravo Onésimo (Cl 4,9; Fm 12).
 São Paulo nunca visitou a cidade de Colossos, mas recebeu um relatório
sobre a situação daquela comunidade (4,12) e resolveu escrever a carta, a
fim de exortá-los a crescer na fé e a corrigir alguns erros pontuais. A
comunidade era composta, em sua maioria, de cristãos de origem pagã.
 Porém, nela circulava uma espécie de erro sincretista, que misturava
elementos do Cristianismo, Judaísmo e do pensamento grego (“tradição
humana”: 2,8). Alguns estudiosos afirmam que lá estavam em ação os
precursores dos gnósticos, que fariam um grande estrago nas comunidades
cristãs ao longo do século II.
 São Paulo destaca novamente que aos cristãos não é necessário seguir as
preceitos judaicos e suas proibições alimentares. Ele também se mostra
preocupado com a tensão entre os cristãos e a comunidade judaica local.
 Colossenses destaca a divindade de Cristo (1,15-20;
2,9.15): Ele é Criador e Redentor de todas as coisas, nele
habita a plenitude da Divindade e por Ele Deus quis
reconciliar todas as coisas, trazendo a paz pelo sangue de
Sua cruz (1,19-20). A Criação tem sua verdadeira existência
por meio de Cristo e nEle encontra seu sentido.
 Paulo insiste em questões morais, exortando os colossenses
a viverem a plenitude de Cristo e faz referência a dois
evangelistas: Marcos (4,10) e Lucas (4,13).
Esquema de Cl
 1. Endereçamento (1,1-2)
 2. Ação de graças (1,3-14)
 3. O papel de Cristo (1,15–2,23): a Supremacia de Cristo,
o ministério de Paulo, plenitude da vida em Cristo
 4. Os deveres cristãos (3,1–4,6): nova vida em Cristo, a
família cristã, oração e conversão em Cristo;
 5. Mensagens pessoais (4,7-18)
4.9 Primeira Carta aos Tessalonicenses
 As duas cartas são separadas por um curto espaço de tempo e
foram escritas provavelmente quando Paulo estava em Corinto.
Ambas são cartas pastorais, mas tocam em assuntos de
doutrina, como a Segunda Vinda de Cristo.
 São Paulo se dirige à comunidade de Tessalônica, capital da
província romana da Macedônia. Tal Igreja havia sido
estabelecida por Paulo, Silvano e Timóteo (1,1) em torno do
ano 50, quando o Apóstolo dos Gentios estava na segunda
viagem missionária (At 17,1-9).
 A comunidade cristã local enfrentava crescente hostilidade
(1Ts 1,6; 2,14; 2Ts 1,4) e era formada, em sua maioria, por
cristãos vindos da gentilidade (pagãos).
 1Ts é a carta mais antiga de São Paulo e provavelmente o
escrito mais antigo de todo o NT, sendo escrito no ano 50.
2Ts a sucede com pouca diferença de meses.
 Paulo teve de sair às pressas de Tessalônica, em razão de
perseguições. Algum tempo depois Timóteo é enviado até lá
para ver a situação da comunidade e percebe que os mesmos
que perseguiram Paulo ainda se encontram em ação, mas
também percebe que a comunidade em geral está fervorosa e
perseverante na fé.
 Ao receber a notícia, Paulo escreve a carta para lhes manifestar
sua alegria pelo crescimento deles (1Ts 1,8) e para encorajá-lo a
permanecerem firmes na prática das virtudes cristãs. Paulo lhes
fala também da Segunda Vinda de Cristo e da Ressurreição dos
Mortos.
4.10 Segunda Carta aos Tessalonicenses
 Este texto foi escrito com a intenção de explicar melhor a carta
precedente no que toca à Segunda Vinda de Cristo. Era
necessário deixar claro que a Parusia não seria para já, porque
várias coisas teriam ainda de acontecer, sobretudo o surgimento
do “homem do pecado” (o Anticristo), que encantaria os fracos
com seu poder (2Ts 2,3.9-10). Paulo exorta todos a seguirem a
vida com o cumprimento de suas obrigações, pois alguns,
alegando a iminência da Parusia, tinham parado de trabalhar.
 Ele pede para que suas exortações sejam acolhidas, pois ele os
alerta como a amigos (2Ts 3,15).
4.11 Primeira e Segunda Cartas a Timóteo
 Esta é a primeira das três Cartas Pastorais (1Tm, 2Tm e Tt), assim chamadas
porque estão focadas no ministério pastoral. Paulo, já experimentado pelos
anos, prepara-se para entregar o ministério pastoral à nova geração, aqui
representada pelos discípulos Timóteo e Tito, que àquele altura já eram
bispos.
 1Tm e 2Tm foram dirigidas a Timóteo, seu homem de confiança, que estava
em Éfeso com a missão de reformar a comunidade cristã (1Tm 1,3). O
primeiro escrito destaca a responsabilidade pastoral pela preservação da
unidade doutrinal, enquanto o segundo escrito é o testamento espiritual de
Paulo enquanto aprisionado em Roma. A primeira foi escrita em meados da
década de 60, enquanto a segunda foi escrita provavelmente no ano 67,
quando São Paulo foi “derramado em sacrifício”.
4.12 Carta a Tito
 Tito era um cristão de origem pagã (Gl 2,3) que se tornou fiel colaborador de
Paulo (2Cor 8,23). Depois de várias missões diferentes que lhe foram
confiadas por Paulo, ele foi enviado para a ilha de Creta, onde assumiu a
tarefa de organizar a comunidade cristã, rodeada por judeus e por pagãos de
conhecida decadência moral.
 A Carta a Tito também foi escrita em meados da década de 60. Nela, o
apóstolo São Paulo trata da escolha dos ministros sagrados, que deveriam
antes de tudo saber administrar a própria casa (1,6). Os ministros sagrados
também deveriam ser hábeis em pregar a santa doutrina.
 Tito é exortado a cercear os que causam tumultos. Nele Paulo expressa total
confiança.
Esquema de Tt
 1. Endereçamento a Tito (1,1-4)
 2. Qualificações para a liderança cristã (1,5-9)
 3. O problema dos falsos mestres (1,10-16)
 4. O comportamento cristão (2,1-10)
 5. O compromisso cristão (2,11–3,1-7)
 6. Conclusão (3,8-15)

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