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Teologia Bíblica – Novo Testamento

Instituto Teológico Shallom

SUMÁRIO

Páginas
TÓPICO 1 – Preparação do Novo Testamento
1 O Fundamento ................................................................................................. 04
2 As fontes............................................................................................................ 04

TÓPICO 2 – ATIVIDADE PÚBLICA DE JESUS ............................................................. 05

TÓPICO 3 – A TEOLOGIA DO REINO DE DEUS


1 O reino de Deus anunciado por Jesus ............................................................... 10
2 O Termo “Reino de Deus” ................................................................................ 11
3 O reino de Deus no Antigo Testamento............................................................ 11
4 O reino de Deus no judaísmo ........................................................................... 12
5 O reino de Deus no Novo Testamento .............................................................. 12

TÓPICO 4 – A DOUTRINA DA SALVAÇÃO


1 Salvação no Antigo Testamento........................................................................ 13
2 Salvação no Novo Testamento......................................................................... 13
3 O meio da salvação ........................................................................................... 15
4 Os elementos da salvação ................................................................................. 15

TÓPICO 5 – A TEOLOGIA DO ESPÍRITO SANTO


Introdução .......................................................................................................... 15
1 O Espírito Santo no Antigo Testamento ........................................................... 16
2 O Espírito Santo no Novo Testamento.............................................................. 17
3 O Espírito Santo na vida do cristão .................................................................. 20

TÓPICO 6 – TEOLOGIA DA IMAGEM DE DEUS NO HOMEM


1 Introdução .......................................................................................................... 21
2 Consciência própria........................................................................................... 22
3 Conhecimento Abstrato..................................................................................... 22
4 A lei moral ......................................................................................................... 22
5 A natureza religiosa do homem ........................................................................ 22
6 A criação do homem ......................................................................................... 23
7 A Bíblia e a imagem de Deus no homem .......................................................... 23

TÓPICO 7 – TEOLOGIA DO PECADO


1 A origem do pecado .......................................................................................... 26
2 Consequências imediatas .................................................................................. 27

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3 A imputação do pecado .................................................................................... 28


4 Depravação, culpa e castigo .............................................................................. 30

TÓPICO 8 – TEOLOGIA DA NOVA VIDA EM CRISTO


1 Introdução .......................................................................................................... 32
2 Nova vida é viver em Cristo .............................................................................. 32
3 Nova vida é viver no Espírito ............................................................................. 33
4 Nova vida é não viver na carne ........................................................................ 33
5 Nova vida é estar morto para a carne............................................................... 33
6 Nova vida é morrer e ressuscitar com Cristo ................................................... 33

TÓPICO 9 – TEOLOGIA DA JUSTIFICAÇÃO


1 Justificação no Antigo Testamento ................................................................... 36
2 Justificação no Novo Testamento .................................................................... 36
3 Justificação na história....................................................................................... 36
4 Natureza e características da justificação ........................................................ 37
5 Conceitos de justificação ................................................................................... 38
6 Justificação pela fé ............................................................................................ 39

TÓPICO 10 – TEOLOGIA DA SANTIFICAÇÃO


Introdução .......................................................................................................... 39
1 Diferença entre a justificação e a santificação ................................................ 41
2 A natureza da santificação................................................................................. 41
3 Evidências visíveis da santificação ................................................................... 42
4 Verdadeira santidade bíblica............................................................................. 43
5 Os meios de santificação .................................................................................. 44

TÓPICO 11 – TEOLOGIA DA GRAÇA DE DEUS


1 O significado da graça ........................................................................................ 45
2 A natureza da graça de Deus ............................................................................. 46
3 Operações da graça........................................................................................... 46
4 Função múltipla da graça de Deus ................................................................... 48

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TÓPICO 12 – A TEOLOGIA DA LEI


1 O pensamento de Paulo sobre a lei ................................................................. 49
2 A lei na época messiânica .................................................................................. 50
3 A lei como vontade de Deus ............................................................................. 51
4 O limite da lei ..................................................................................................... 52
5 A reinterpretação da lei.................................................................................... 52
6 Permanência da lei............................................................................................ 53

TÓPICO 13 – A TEOLOGIA DA FÉ
1 Termos bíblicos para a fé.................................................................................. 54
2 Expressões sobre atividade da fé ...................................................................... 55
3 O ensino sobre fé .............................................................................................. 56
4 A base da nossa fé............................................................................................. 58

TÓPICO 14 – A TEOLOGIA DO BATISMO


1 Introdução .......................................................................................................... 60
2 Analogia do batismo ......................................................................................... 60
3 A instituição do batismo .................................................................................... 60
4 A teologia do batismo na história ..................................................................... 61

TÓPICO 15 – A TEOLOGIA DA CEIA DO SENHOR


1 Analogia da Ceia................................................................................................ 62
2 Teologia da Ceia na história .............................................................................. 63
3 Significado da Ceia ............................................................................................. 64

BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 65

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TÓPICO 1
MÉTODO E AS FONTES

1 O Fundamento

Qual é o ponto de partida da teologia neotestamentária? Qual é a base que


constitui tudo o que merece o nome de Cristianismo? Paulo ao escrever a sua
carta aos coríntios, ele apresenta o fundamento – Jesus Cristo. (1 Co 3.11). Jesus
Cristo é o Nazareno crucificado, a quem o Novo Testamento anuncia como sendo
o Senhor [Kyrios] (1 Co 1.23).

A Pregação do Evangelho

O Novo Testamento explica a continuidade da atuação de Jesus. Somente


através do querigma [pregação] pascal, Jesus continua a ter um significado para
os discípulos. Querigma é a pregação cheia de ousadia, que anuncia Jesus e seus
feitos miraculosos. “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura,
e eis que estou convosco todos os dias...”

Se Jesus não fosse uma realidade vivida, presente e atuante em nossos dias,
como explicar os testemunhos de milhares de pessoas que foram salvas,
transformados pelo seu poder? Dizer que essas pessoas são transformadas em
função apenas do testemunho convincente, direto dos seus seguidores, é negar
ou desconhecer a realidade da presença vida do Cristo vivo entre nós.

2 AS FONTES DOS ESCRITOS DOS EVANGELHOS

a. Evangelhos sinóticos

Os teólogos do século XIX procuraram nos evangelhos sinóticos, a fonte


autêntica para o Jesus histórico, para isso fizeram uso da crítica literária. A
pesquisa crítico-literária em torno das fontes sinóticas chegou a um termo com a
teoria das duas fontes. Isto é, os três primeiros evangelhos serviram-se das duas
fontes: um evangelho semelhante ao evangelho de Marcos e a tradição oral.
Essas fontes é um relato primário de testemunhas oculares.

b. Evangelho de João

O evangelho de João apresenta o desenrolar da atividade de Jesus de maneira


mais variada que os sinóticos. Os sinóticos apresentam Jesus na Galileia e levam-
no, uma vez, a Jerusalém, por ocasião da páscoa de sua morte. Segundo João,
Jesus aprece ora em Jerusalém, ora na Galileia ou na Samaria. Por isso, a
pesquisa da Vida de Jesus procurou, a princípio deduzir a imagem do Jesus
histórico do evangelho de João, o evangelho de João indica três ou quatro
páscoas, indicando os três anos e meio do ministério de Jesus.

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TÓPICO 2
ATIVIDADE PÚBLICA DE JESUS

Atividades de Jesus na Galileia

Jesus voltou para a Galileia “no poder do Espírito Santo” e pregando o evangelho
de Deus: “O tempo está cumprido, e é chegado o reino de Deus. Arrependei-vos
e credo no evangelho”. O evangelho de Deus pregado por Jesus Cristo tem como
mensagem fundamental quatro grandes verdades:

O tempo determinado por Deus estava cumprido

Desde quando o homem cometeu o primeiro pecado, lá no Éden, Deus, na sua


grande misericórdia, declarou seu plano eterno de salvação do pecador e da
consequente destruição do pecado (Gn 3.15). Os patriarcas e os profetas do
Antigo Testamento sempre, em nome de Deus, traziam suas mensagens de
salvação aos pecadores, confirmando a promessa de Deus ao homem: que
haveria de nascer, da descendência da mulher um que esmagaria a cabeça da
serpente. O povo esperou a vinda do Messias milhares de anos. Finalmente, eis o
dia chegado! Jesus na Galileia prega: “O tempo está cumprido”.

A chegada do reino de Deus

O reino de Deus é também um reino espiritual, é o reino do amor de Deus no


coração do pecador arrependido e crente. Este reino do amor de Deus já havia
sido experimentado por todos os crentes, mesmo antes da vinda de Jesus Cristo
ao mundo, exatamente porque é reino espiritual. Agora, todos poderiam recebê-
lo, poderiam experimentá-lo, porque a eles estava sendo anunciado, pelo
próprio Messias, o Evangelho da Salvação. O Rei precede o Reino no desenrolar
do Evangelho. Se onde está o Rei está o Reino, então temos que
verdadeiramente o Reino chegou. Além disso, a Promessa se estende ao Milênio
e aos Novos Céus e Nova Terra.

Arrependei-vos dos vossos pecados

Sem arrependimento de pecados é impossível a salvação do pecador. Que é


arrependimento? Arrependimento é mudança em todos os níveis, mente, alma,
corpo, compondo o físico e o espiritual, é deixar o caminho do pecado e seguir as
veredas da fé, é abominar o mal e amar a justiça. Quando o pecador tendo
ouvido a palavra da verdade, o Evangelho da Salvação, reconhece que Deus é de
infinita bondade e de grande misericórdia e amor, inclina humildemente sua
vontade e coração diante dele, reconhecendo-se pecador indigno e necessitado,
Deus perdoa-lhe suas iniquidades e o torna justo e santo.

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A fé no Evangelho

“Crede no evangelho”. Juntamente com a graça do arrependimento, Deus dá ao


pecador o dom da fé. Esta fé salvadora nasce no coração do pecador quando,
arrependido, crê na pessoa divina de Jesus Cristo como o Filho de Deus e o aceita
como único e suficiente Salvador de sua alma. “Sem fé é impossível agradar a
Deus...”. O que significa crer no evangelho? Significa crer em Deus, porque o
evangelho é e está em Jesus, Ele é o Mensageiro e a Própria mensagem. Significa
crer no Filho de Deus, porque Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida. Significa
crer no Espírito Santo, porque o Espírito Santo é gera em nós Nova Vida. Crer no
evangelho é crer em Cristo nascido, crucificado, ressuscitado e glorificado.

Viagem Missionária pela Galileia. Mc 1.35-39; Mt. 4.23-25; Lc. 4.42-44

Partindo de Cafarnaum, acompanhado de quarto discípulos (Simão, André, Tiago


e João), Jesus empreende a primeira excursão pela Galileia, num tríplice
ministério de ensinar, pregar e curar. Apesar da fama crescente de Jesus,
crescem também, a oposição e a hostilidade contra ele.

A Cura de um Leproso e a Grande Excitação Popular. Mc 1.40-45; Mt 8.2-4; Lc


5.12-16

Em Cafarnaum

a. Cura um paralítico descido pelo telhado. Mc 2.1-22; Mt 9.1-8; Lc 5.17-


26.

b. Chama Levi, o publicano, e este lhe oferece um banquete. Mc. 2.13-17;


Mt. 9.9-15; Lc. 5.27-39

c. Três parábolas, em defesa dos discípulos, justificando a não participação


destes no jejum coletivo. Mc 2.18-22; |Mt.9.14-17; Lc. 5.33-39

d. Três incidentes no sábado provocam conflito e hostilidade:

1) Cura do paralítico de Betesda. João 5.1-47.

2) Voltando de Jerusalém os discípulos colhem espigas no sábado. Mc 2.23-28;


Mt. 12.1-8; Lc 6.1-5

3) Em Cafarnaum, Jesus cura a mão mirrada de um homem. Mc 3.1-6; Mt


12.9-14; Lc. 6.6-11.

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Atividades na Judéia

Nessa ocasião abrange um período de três meses, aproximadamente, que vai da


Festa dos Tabernáculos à da Dedicação, no ano 29 a.d. ou, possivelmente, um
ano mais cedo.

1. Designa outros (setenta) discípulos e os envia adiante, em campanha


rápida de evangelismo e pregação. Lc 10.1-24.

a. Jesus dá instrução aos discípulos, Lc 10.1, 12 e 16

b. Lança “ais” sobre três cidades impenitentes. Lc 10.13-15

c. Os discípulos voltam exultantes e apresentam relatório. Lc 10.17-20.

d. Jesus ora, agradecendo ao Pai. Lc 10.21-24

2. Parábola do Bom Samaritano. Lc. 10.25-37

3. Em Betânia, Perto de Jerusalém. Lc 10.38-42

4. Pela Segunda vez, Jesus Ensina os Discípulos a Orar. Lc 11.1-13

a. Jesus repete, frequentemente os ensinos antes ministrados.

b. Nesta repetição da oração, Jesus usa a ilustração do amigo importuno ,


uma antítese sugestiva a estimular os discípulos à oração. Lc. 11.5-13.

5. Uma Cura Sensacional e os Ensinos que Motivou. Lc 11.14-36; Mt 12.22-


32.

a. Um endemoninhado mudo é curado. Jesus é acusado de blasfêmia pelos


judeus. Lc 11.14-16.

b. Jesus defende-se, demonstrando a incongruência e incompatibilidade


do argumento acusatório. Lc. 11. 17-26.

c. Uma mulher exalta-lhe a maternidade, mas Jesus declara ser mais bem-
aventurada a observância de sua palavra. Lc 11.27,28.

d. Ensina quão importante é fazer bom uso dos conhecimentos e


privilégios religiosos. Lc 11.33-36.

6. Lança “Ais” [julgamento] contra os Escribas e Fariseus. Lc. 11.37-54


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a. Criticado por não haver feito a lavagem cerimonial das mãos, Jesus
defende-se com a ilustração da lavagem exterior, apenas, do copo e do prato,
numa figura de analogia. Lc 11.38, 39.

b. Condena o legalismo na prática do dízimo e as distinções sociais, tão


vaidosamente, apreciadas pelos fariseus. Lc. 11.43-44

c. Interpelado pelos doutores da lei, também, os condena, com veementes


“ais”, e recorda o ultrajoso tratamento com que seus antepassados receberam,
os profetas. Lc. 11.45-54.

7. Um Poderoso Discurso de Admoestações contra o Espírito Farisaico. Lc.


12.1-59

a. Admoestação contra a hipocrisia. Lc 12.1-3

b. Admoestação contra o temor dos homens. Lc. 12.4-7.

c. Admoestação contra a preocupação excessiva.

1. A Parábola do Rico insensato. Lc 12.13-21

2. As aves do céu e os lírios do campo, uma figura da providência divina. Lc


12.22-30.

3. O reino de Deus, o pequeno rebanho e o tesouro no céu. Lc 12.31-34

4. A Parábola do Servo Vigilante. Lc 12.35-38

d. Admoestação contra o cristianismo inativo; sobre o perigo da


negligência; e sobre a gradação de culpabilidade decorrente do grau de
conhecimento religioso daquele que rejeita o Caminho. Lc 12. 41-48

e. Admoestação sobre a importância de estar-se pronto para conhecer os


sinais dos tempos e sobre a importância da reconciliação com Deus em tempo
oportuno. Lc 12.54-59

8. Jesus Ensina numa Sinagoga, num Sábado. Lc 13.1—21

a. Cura uma mulher encurvada e defende o ato ante a crítica do príncipe


da sinagoga. Lc 13.10-17.

b. Parábola do Grão de Mostarda – simbolizando o progresso que o


evangelho faz no mundo. Lc 13.18,19

c. Parábola do Fermento –simbolizando o progresso do evangelho no


coração do crente. Lc 13.20-21.
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Atividade na Pereia

Este é o último período do ministério de Jesus e vai da Festa da Dedicação, do


ano 29, até à semana anterior à Festa da Páscoa do ano 30 a.D. Pereia era uma
região situada ao oriente do Rio Jordão e do Mar Morto, tendo por limites o Rio
Jaboque, ao norte e o Rio Arnom, ao sul.

1. Retira-se de Jerusalém para Betânia do além-Jordão, onde João batizava


no início do seu ministério precursor. João 10.40-42.

2. Percorre as Cidades e Aldeias da Pereia. Lc 13.22-30.

a. Enquanto ensina, Jesus dirige-se a Jerusalém. Lc 13.22

b. A pergunta sobre o número de salvos e o ensino condenatório da


hipocrisia. Lc 13.23-30

3. Perseguição de Herodes Antipas. Lc 13.31-35.

a. Jesus está, agora, em território de Herodes Antipas. Lc 13. 31.

b. Informado pelos fariseus, do plano homicida de Herodes, responde com


santa altivez e conhecimento de causa. Lc. 13.31-33

c. Lamentações sobre Jerusalém Lc. 13.33-35.

4. Cura, no Sábado, na Casa de um Fariseu. Lc. 14.1-24.

a. A pergunta de Jesus sobre a prática das boas obras. Lc. 14.3-6.

b. A Parábola dos Primeiros Assentos num Banquete. Lc. 14.7-14.

c. A Parábola da Grande Ceia. Lc 14.15-24.

5. A Graça de Deus Ilustrada em Três Parábolas. Lc. 15.1-32

a. A Graça de Deus Busca – Parábola da ovelha perdida. Lc. 15.3-7

b. A Graça de Deus Persiste – Parábola da Moeda perdida. Lc. 15. 8-10.

c. A Graça de Deus Perdoa – Parábola do Filho Pródigo. Lc. 15.11-32.

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TÓPICO 3
A TEOLOGIA DO REINO DE DEUS

1. O REINO DE DEUS ANUNCIADO POR JESUS

A atividade de Jesus gira em torno de um conceito fascinante. Tudo se relaciona


com ele e tudo provém dele. Esse centro é o Reino de Deus. Para
compreendermos o conteúdo dessa concepção, procuraremos dar uma visão
geral do uso e da procedência desse termo.

Quando os reis e os sacerdotes eram investidos em sua função, eles recebiam a


unção de óleo (1 Sm 10.1; Lv. 8.12). Para exercer sua função, o Sumo Sacerdote
era ungido (Lv 4.13-16; 6.15).

O rei era designado de Ungido (Messias). A tradução grega é Cristo.

O título Messias se refere a alguém que Deus escolheu para uma missão (Is.
61.1). Também o povo de Israel é designado de Messias (Sl 105.15). Inclusive um
rei estrangeiro como o persa Ciro é chamado de ungido (Is.45.1).

O ungido passa a ter uma relação especial com Deus e participa da autoridade
divina (1 Sm 24.7 e 2 Sm 1.14).

Os judeus esperavam um Messias político, um rei vitorioso e justo da dinastia de


Davi, que libertasse Israel dos opressores estrangeiros, para estabelecer um
reino universal com a capital em Jerusalém.

Por sua vida, morte e ressurreição, Jesus foi reconhecido como o Messias (Mt
16.16).

Pela ressurreição, Jesus foi demonstrado que é Filho de Deus com poder pelo
Espírito Santo (Rm 1.4).

Jesus transcendeu o messianismo nacionalista e foi estabelecido no trono de


Filho de Deus com plenos poderes (Sl 110.1 e 2 Sm 7.9). Jesus foi enviado na
condição de Servo [de Deus], embora fosse Filho de Deus (Rm 8.3), mas a partir
de sua ressurreição ele foi instituído com plenos poderes. Os mesmos que tinha
antes da fundação do Mundo, acrescido de um Nome acima de todo nome.
Filipenses 2.9

Com seu agir e com seus ensinamentos, Jesus transcendeu o conceito


nacionalista de Messias. Jesus estabeleceu o Reino de Deus, com transformações
muito mais abrangentes e profundas.

O reino de Jesus não é deste mundo (João 18.36). O relato da tentação de Jesus
mostra que ele não aderiu a um messianismo político-nacionalista (Mt 4.8-10).
Mas no futuro abrangerá o Novo Mundo.
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2. ENSINOS DO TERMO “REINO DE DEUS"

Encontramos três variantes conotativas para a expressão “Reino de Deus”. Elas


estão especialmente nos livros de Mateus, João e nos escritos do apóstolo Paulo.

Mateus usa a variante “Reino dos céus” em vez de “Reino de Deus”. É


proveniente de um costume palestino. Evitava-se usar o santo nome de Deus e
por isso transcrevia-se “céus”. A expressão “Reino dos céus” é, portanto, o reino
daquele que está no céu, não um reino que está no céu ou que vem do céu.

João certamente não usa a expressão “Reino de Deus”, porque esse conceito não
era conhecido ou compreendido pelo homem helenista. Por esta razão João o
substitui pela expressão “a vida eterna” ou “a vida”. Provavelmente Jesus usou o
conceito vida para falar do Reino de Deus. E comum a expressão “entrar na vida”
Mc 943-45 ou o caminho que leva “a vida” Mt 25.34; Mc 10.17.

Paulo usa o termo Kyrios (Senhor) em vez de “Reino de Deus”. Como Senhor ele
é o Rei deste reino.

3. O REINO DE DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO

No Antigo Testamento, Deus é compreendido como um Rei e é dito que ele


governa como Rei. O substantivo impessoal “reino” é usado raras vezes e apenas
com o pronome possessivo relacionado com Deus. Sl. 103.19; 145.11-13. Em
nenhuma parte do Antigo Testamento encontramos a locução “reino de Deus”,
como conceito corrente.

No Antigo Testamento, já se desenvolvia a idéia de um reino eterno estabelecido


por Deus. O Antigo Testamento menciona o futuro reinado de Deus e um reino
messiânico universal (Dn. 2.44). A realeza pertence a Deus; os reis são apenas
instrumentos dentro do grande plano divino de amplitude universal (I Cr 29.11;
Is. 45.1). O livro de Daniel acentua que as potências políticas recebem o seu
poder de Deus e haverão de reconhecer o domínio soberano do único Senhor do
tempo e da história. Deus governa o mundo e assegura o cumprimento de seu
plano. Deus atua de um modo oculto, mas sua presença é reconhecida em
acontecimentos onde não ocorre a ação humana. Deus realiza seu plano através
da história. Por ora, a sucessão de impérios parece esmagar o povo de Deus.
Mas, a realidade celeste deverá se evidenciar, sendo sua manifestação esperada
aqui. O profeta Daniel apresenta uma visão política mundial e constata que
todos os impérios terrestres vão desmoronar. Surgirá então um reino novo,
eterno, estabelecido por Deus. (Dn. 2.44 e 7.9-14).

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Para os israelitas, Deus é o Rei do povo escolhido. Por isso, muitos contestaram a
escolha de um rei para governar Israel (I Sm 8 e 12). Mas, uma vez instituída a
monarquia, os reis passaram a ser vistos como representantes (ungidos) de Deus.

4. O REINO DE DEUS NO JUDAÍSMO

No judaísmo espera-se ansiosamente pelo rei messiânico, o Filho de Davi, que,


por seu reino de paz, na história, libertará Israel do domínio do inimigo.

O reino de Deus é visto a partir da lei. Fala-se a respeito dele especialmente em


duas fórmulas estabelecidas: A primeira assume-se “o jugo do reino do céu”.
Deus como criador do mundo, foi também seu rei; mas a humanidade não quis o
seu domínio. Apenas Israel no Sinai aceitou. Reino de Deus, portanto, é a
reivindicação do criador articulada na lei. A segunda na época de Jesus era
comum nas orações. Na época de Jesus era recitada duas vezes ao dia por todo
judeu piedoso. “Traze novamente os nossos juizes como antes... e sê rei sobre
nós, tu somente”. Também na oração final do culto na Sinagoga, a formulação
mais antiga diz: “Glorificado e santificado seja o seu grande nome no mundo que
ele criou, segundo a sua vontade; erga ele o seu reino durante a vossa vida... e
durante a vida de toda a casa de Israel, depressa e logo. Louvado seja o seu
grande nome de eternidade a eternidade”.

5. O REINO DE DEUS NO NOVO TESTAMENTO

O Novo Testamento anuncia que o Reino chegou com Jesus, que veio para
estabelecê-lo. O reino já está presente e em pleno desenvolvimento, mas sua
consumação final acontecerá no futuro. Jesus foi saudado como rei (Mt 21.5),
mas acentuou que seu reino não é deste mundo (João 18.36).

O Reino não está condicionado ao tempo, pois é eterno; não se restringe a uma
nação, pois é universal. Não é um reino político, à semelhança dos reinos
humanos. Também não é um reino apenas espiritual e abstrato, com ênfase na
moral, nem inteiramente ultraterrestre. O Reino de Deus consiste na soberania
do Criador sobre a criação. Onde a soberania de Deus é aceita ali o Reino está
iniciando.

João Batista e Jesus anunciaram a proximidade do Reino de Deus (Mt 3.1-2 e Mc


1.14-15).

João Batista anunciou o Reino de Deus e apontou para o julgamento divino.


Chegou a hora de toda pessoa se decidir.

A Igreja não deve ser comparada com o Reino de Deus, mas também não deve
ser separada dele. Em todo o seu agir, a igreja deve refletir os valores do Reino
de Deus.

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A perspectiva do Reino é escatológica. A igreja é a comunidade dos discípulos


que anunciam e vivenciam a proximidade do Reino. Na igreja acontecem os
“sinais” do Reino. Embora a igreja tenha recebido “as chaves do Reino dos céus”
(Mt 16.19), ela continua orando “faze com que venha o teu reinado” (Mt. 6.10).
Na oração do Pai Nosso, a igreja pede que o Reinado de Deus se manifeste em
breve e seja definitivamente reconhecido por todos.

TÓPICO 4
A DOUTRINA DA SALVAÇÃO

A palavra “Salvação” vem do latim salvare, que significa salvar. A palavra


hebraica traduzida em português por “salvação” indica “segurança”. O termo
grego soteria e suas formas cognatas têm a idéia de cura, recuperação,
redenção, e resgate. Essa palavra pode ser usada em conexões totalmente físicas
e temporais. A idéia de salvar, quando usada para indicar a salvação espiritual,
fala sobre o livramento do pecado, da degradação moral e das penas resultantes
do julgamento divino. A discussão abaixo explica mais amplamente a natureza da
salvação.

1. SALVAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO

No Antigo Testamento, a salvação pode significar a vitória numa batalha, a


restauração da saúde, a reabilitação do pobre e necessitado.

Deus salva de um perigo, de uma situação desfavorável, da morte (Sl.6.4; 56.13;


Is 25.9; 45.17; Jr 30.11 e Ez 34.22) A Bíblia apresenta Deus como o Senhor que
salva. Deus concedeu a vitória a Israel (1 Sm 11.9-13 e 19.5) e salvou o povo,
tirando-o do Egito (Ex 14.30; Sl 105.21 e At 7.25)

A Salvação é compreendida no contexto da eleição divina de Israel. E in clui a


crescente esperança no Messias. A salvação também é esperada na dimensão
universal no fim dos tempos. É o cumprimento das esperanças de Israel.

O povo vivenciou duas experiências históricas de libertação: da escravidão do


Egito (Ex 20.2) e do cativeiro da Babilônia (Sl 126).

2. SALVAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO

Embora nem todos os autores neotestamentários tenham o mesmo ponto de


vista sobre a questão da salvação. Não obstante, seus pontos de vista são
suplementares e não contraditórios. A visão da plenitude da salvação é mais
clara em alguns escritores sagrados do que em outros.

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Salvação nos evangelhos sinóticos

A salvação vem por meio de Jesus (Lc 19.9). Ele veio para salvar (Mc 3.4; Lc 4.18).
Sua missão impõe certa obrigação moral sobre os homens (Mc 8.35; Lc 7.50). A
salvação requer um coração contrito, a receptividade como a de uma criança, a
renúncia de tudo por causa de Cristo. Ela nos conduz à vida eterna, à salvação da
alma (Mt 7.13-14; Mc 8.34).

Salvação se refere ao bem-estar físico e espiritual, ao perdão dos pecados, à


adoção como filhos de Deus.

Salvação no evangelho de João

Nesse evangelho temos um ponto de vista mais similar ao de Paulo do que aos
dos evangelhos sinópticos. O princípio de filiação é associado à salvação, e isso é
um discernimento penetrante. Fica subentendido que assim como é o Filho,
assim também seremos. (I João 3.1-2). Somente no evangelho de João é que
temos o conceito da participação do homem na vida de Deus.

Os homens chegam a compartilhar dessa forma de vida, tornando-se muito mais


elevados que os anjos, tornando-se membros autênticos da família divina,
possuidores da natureza divina (II Pe 1.4). Notemos que o tipo de vida exposto
no evangelho de João faz parte integral da salvação, sendo mediado através da
ressurreição.

Salvação no livro de Atos

Neste ponto retornamos ao terreno dos evangelhos sinópticos, conforme se


poderia antecipar do fato de que Lucas, seu autor, também é o autor do livro de
Atos. O perdão dos pecados, o arrependimento, a conversão, a entrada no reino
celestial, são elementos da salvação, que são indispensáveis. Não pode haver
glorificação sem o perdão dos pecados e o arrependimento, mas esses são
apenas os passos iniciais da salvação. O livro de Atos é essencialmente uma
narrativa sobre como o evangelho de arrependimento se propagou entre todas
as nações (At. 2.38; 4.12 e 16.30).

Salvação nas epístolas paulinas

Nas epístolas Paulinas encontramos os conceitos mais elevados, os quais são


enumerados neste parágrafo. A salvação envolve nossa transformação segunda a
imagem moral e metafísica de Cristo, em que compartilharemos de sua natureza
essencial. Ef. 1.23. Ser salvo significa vir a possuir, finalmente, a “plenitude de
Cristo”. Ef. 3.19. Ser salvo significa compartilhar finalmente de “toda a plenitude
de Deus” Cl. 2.9-10. Ser salvo significa participar da plenitude da divindade, tal

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como o Filho dela participa II Co 3.18, tudo isso é produzido pelas operações do
Espírito que nos amolda segundo a natureza moral de Cristo.

3. O MEIO DA SALVAÇÃO

A salvação não vem através de obras legais ou meritórias, pois ninguém pode
tornar-se um ser semelhante a Cristo, que é o alvo da salvação. A salvação nos
vem pela graça divina (Ef. 2.l8-9), mediada pela santificação (II Ts 2.13). Ninguém
verá jamais a Deus se não for totalmente santo, como Deus é santo (Hb.12.14;
Rm 3.21).

O único meio da salvação é a obra redentora de Cristo realizada na cruz do


calvário. Ele, somente ele, levou os nossos pecados sobre si, pagou o preço de
sangue. (I Pe 1.18-19).

4. OS ELEMENTOS DA SALVAÇÃO

A salvação pode ser entendida como um ato instantâneo, como também com um
processo contínuo da alma para obter a plenitude de Deus (Ef. 3.19),
experimentando a transformação segundo a natureza e a imagem do Filho (Rm
8.29), que avança de um estágio a outro de glória, interminavelmente (II Co
3.18). A teologia tem dado nomes aos vários estágios desse processo.
(Justificação, Regeneração, Santificação, Conversão, Glorificação).

Deus salva os que nele confiam (Is 50.8; Jr 1.8).

A Salvação tem dois componentes: a pessoa é salva de e é salva para.

A pessoa é salva do pecado (Mt 1.21), da ira divina (Rm 5.9), da morte (Tg 5.20),
do diabo (At 10.38). A pessoa é salva para a vida (Ef.2.5), para o reino celeste (2
Tm 4.18).

TÓPICO 5
A TEOLOGIA DO ESPÍRITO SANTO

Nomes e títulos dados ao Espírito Santo nos revelam muita coisa a respeito dele.
Embora o nome “Espírito Santo” não ocorra no Antigo Testamento, mas a sua
ação está bastante explícita nas páginas das Sagradas Escrituras.

O título mais frequente no Antigo Testamento é “o Espírito de Yahweh”, ou o


Espírito do Senhor. “O Espírito de Yahweh estava ativo na criação, conforme
revela Gn. 1.2.”.

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1. O ESPÍRITO SANTO NO ANTIGO TESTAMENTO

Respondendo ao ataque dos críticos modernos quanto à presença do Espírito


Santo no Antigo Testamento, afirmamos que o Espírito Santo é revelado no
Antigo Testamento de três maneiras: primeira, como Espírito criador, por cujo
poder o universo e todos os seres foram criados; segunda, como o Espírito
dinâmico ou doador de poder; terceira, como Espírito regenerador, pelo qual a
natureza humana é transformada.

Espírito Criador

O Espírito Santo é a terceira Pessoa da Trindade por cujo poder o universo foi
criado. Ele pairava por sobre a face das águas e participou da glória da criação.
Gn. 1.2; Jó. 26.13; Sal.33.6

O Espírito Santo criou e sustenta o homem. Gn. 2.7; Jó 33.4. Toda pessoa, seja ou
não servo de Deus, é sustentada pelo poder criador do Espírito de Deus. Dn.
5.23; Atos 17.28. O homem deve a sua existência ao Verbo João 1.1,3 e ao
Espírito. Foi a esses que Deus dirigiu dizendo: “Façamos o homem...”.
Espírito dinâmico
A operação dinâmica do Espírito criou duas classes de ministros: primeira,
obreiros para Deus - homens de ação, organizadores, executivos; segunda,
locutores de Deus - profetas e mestres.
Obreiros para Deus
Como exemplo de obreiros inspirados pelo Espírito Santo, mencionamos Josué.
Num. 27.8-21; Otoniel, Juízes 3.9-10; José, Gn. 41.38-40; Moisés, Nm. 11.16-17;
Gideão.Juízes 6.34; Sansão, Juizes 23.24,25; etc.
Locutores de Deus
O profeta de Israel podemos dizer, era um locutor de Deus, um que recebia
mensagens de Deus e as entregava ao povo. Ele estava cônscio do poder celestial
que descia sobre ele de tempos em tempos capacitando-o para pronunciar
mensagens não concebidas por sua própria mente. Ezequiel. Ez . 8.1-3; Isaias,
Jeremias, Daniel e tantos outros.
Espírito regenerador

O Espírito Santo no Antigo Testamento é descrito como regenerador da natureza


humana. Davi reconhecia o Espírito como aquele que esquadrinha os caminhos
dos homens, e revela à luz de Deus, o mais oculto em suas vidas. Sl. 143.10. Davi
orou para que o Espírito Santo de Deus, santificasse o seu caráter. Sl. 51.11.

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2. O ESPÍRITO SANTO NO NOVO TESTAMENTO

O Novo Testamento introduz a Dispensação do Espírito, cumprindo-se a


promessa de que Deus derramaria do seu Espírito sobre toda a carne, conforme
profecia de Joel 2.

O Espírito Santo é uma Pessoa

a. O uso do pronome neutro no grego. Com referência ao Espírito Santo


faz-se uso do pronome no masculino, embora no grego apareça o gênero neutro.
“Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar”.
João 16.14.

b. O termo Consolador significa uma pessoa. “Porém, digo-vos a verdade,


que convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá para vos...”
João 16.7

c. Seu nome é mencionado com outras pessoas, o que indica sua


personalidade. “Porque pareceu bem, ao Espírito e a nós, não vos impor mais
encargo algum, senão estas coisas necessárias”. At. 15.28

d. O Espírito Santo pratica atos próprios de uma pessoa. “Então disse o


Senhor: não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque ele
também é carne”. Gn. 3.3; Lc. 12.12; Atos. 8.29; 10.19

O Espírito Santo tem os mesmos atributos de Deus

a. A primeira coisa que precisamos compreender sobre o Espírito Santo é


que Ele é Deus. “Disse então Pedro: Ananias, por que Satanás encheu teu
coração de forma que você mentiu Ao Espírito Santo... Você não mentiu aos
homens, mas a Deus. At. 5.3,4

b. O Espírito Santo é Eterno. “E a terra era sem forma e vazia; e havia


trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das
águas”. Gn. 1.2. “Quanto mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito Eterno, se
ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará a vossa consciência das obras
mortas, para servirdes ao Deus vivo”. Hb. 9.14

c. O Espírito Santo é Onipresente, Onipotente, e Onisciente. Sl. 139.7-10;


Lc.1.35; I Co.2.10,11

d. As obras que o Espírito Santo realiza, testificam que ele tem os mesmos
atributos de Deus. Criação, regeneração, ressurreição. Gn. 1.2; Jó 33.4; João 3.5-
8; Rm. 8.11

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O Espírito Santo e Cristo

Desde o princípio até o fim de sua vida terrena, o Senhor Jesus esteve
intimamente ligado ao Espírito Santo. Tão íntima foi esta relação que Paulo
descreve a Cristo como “um Espírito vivificante”. Vejamos:

Nascimento

O Espírito Santo é descrito como o agente na milagrosa concepção de Jesus. Mat.


1.20; Lc. 1.35. Jesus esteve relacionado com o Espírito de Deus desde o primeiro
momento da sua existência humana. O Espírito Santo desceu sobre Maria, o
Poder do Altíssimo cobriu-a com sua sombra, e àquele que dela nasceu foi dado
o direito de ser chamado santo, Filho de Deus.

O efeito dessa intervenção divina revela-se no estado imaculado de Cristo, sua


perfeita consagração ao Pai. O poder do pecado foi destruído, e Um nascido de
mulher, ao mesmo tempo que era homem e santo, era também o Filho de Deus.
O segundo Homem é do céu. I Co. 15.47. Sua vida era de cima, João 8.23; sua
passagem pelo mundo representa a vitória sobre o pecado. Aquele que nenhum
pecado cometera e que salva o seu povo dos seus pecados, necessariamente
teria de ser gerado pelo Espírito.

No seu batismo

Com o passar dos anos, começou uma nova relação com o Espírito. Aquele que
havia sido concebido pelo Espírito foi ungido com o Espírito. Assim como o
Espírito desceu sobre Maria na concepção, assim também no batismo o Espírito
desceu sobre o Filho, ungindo-o como Profeta, Sacerdote e Rei.

No seu ministério

Logo foi levado pelo Espírito ao deserto Mc. 1.12 para ser tentado por Satanás.
Ali ele venceu as sugestões do príncipe deste mundo.

Ele exerceu seu ministério com o conhecimento “íntimo de que o poder divino
habitava nele. Sabia que o Espírito do Senhor Deus estava sobre ele para cumprir
o ministério predito acerca do Messias Lc. 4.18; e pelo dedo de Deus expulsou
demônios. Luc. 11.20, At. 10.38.

Na sua crucificação

O mesmo Espírito que o conduziu ao deserto e o sustentou ali também lhe deu
força para consumar seu ministério sobre a cruz, onde, “pelo Espírito eterno se
ofereceu a si mesmo, imaculado a Deus” Hb. 9.14. Ele foi à cruz com a unção
ainda sobre ele. O Espírito manteve diante dele as exigências inflexíveis de Deus.
O Espírito Santo encheu-lhe a mente de ardor, zelo e amor persistentes, os quais

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o conduziram a completar seu sacrifício. Seu espírito humano estava de tal modo
saturado pelo Espírito de Deus que vivia no eterno e invisível, e pôde “suportar a
cruz, desprezando a afronta”. Hb. 12.2.

Na sua ressurreição

O Espírito Santo foi o agente vivificador na ressurreição de Cristo. Rom. 1.4; 8.11.
Alguns dias depois desse evento, Cristo apareceu a seus discípulos, soprou sobre
eles, e disse: “Recebei o Espírito Santo” João 20.22; At. 1.2. Essas palavras não
podem significar um símbolo daquilo que havia de ocorrer cinquenta dias depois,
isto é, um lembrete do Pentecostes vindouro.

Na sua ascensão

1. Na sua concepção, o Espírito de Deus foi, desde esse momento, o


Espírito de Jesus, o poder vivificante e santificador.

2. Com o passar dos anos começou uma nova relação com Espírito. O
Espírito de Deus veio a ser o Espírito de Cristo, para exercer o ministério
messiânico.

3. Depois da ascensão, o Espírito veio a ser o Espírito de Cristo no sentido


de ser concedido a outros.

Depois da ascensão o Senhor Jesus exerceu a grande prerrogativa messiânica


que lhe foi concedida - enviar o Espírito sobre outros. At. 2.33; Apoc. 5.6

O Espírito Santo na experiência humana

Operando Convicção

Em João 6.7-11 Jesus descreve a obra do Espírito em relação ao mundo. O


Espírito trabalha no sentido de convencer os homens quanto ao conhecimento
das verdades eternas, até então rejeitadas pela humanidade. Os homens não
sabem o que é pecado, a justiça e o juízo; portanto, precisam ser convencidos da
verdade espiritual. Por exemplo, seja inútil discutir com uma pessoa que
declarasse não ver beleza alguma numa rosa, pois sua incapacidade
demonstraria falta de apreciação pelo belo. Precisa ser despertado nela um
sentido de beleza; precisa ser “convencida” da beleza da flor. Da mesma
maneira, a mente e a alma obscurecidas nada discernem das verdades espirituais
antes de serem convencidas e despertadas pelo Espírito Santo.

Do pecado de incredulidade

Quando Pedro pregou, no dia de Pentecostes ele nada disse acerca da vida
licenciosa do povo, do seu mundanismo, ou de sua cobiça; ele não entrou em

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detalhes sobre sua depravação para os envergonhar. O pecado do qual os


culpou, e do qual mandou que se arrependesse, foi a crucificação de Cristo; o
perigo do qual os avisou foi o de se recusarem a crer em Jesus.

Portanto, descreve o pecado da incredulidade como o pecado único, porque, nas


palavras dum erudito, “onde esse permanece, todos os demais pecados surgem
e quando esse desaparece todos os demais desaparecem”. A consciência poderá
convencer o homem dos pecados comuns, mas nunca do pecado da
incredulidade. Jamais homem algum foi convencido desse pecado, a não ser pelo
próprio Espírito Santo.

Da justiça de Cristo

Da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais. João 16.10. Jesus
Cristo foi crucificado como malfeitor e impostor. Mas depois do dia de
Pentecostes, o derramamento do Espírito e realização do milagre em sua nome
convenceram a milhares de judeus de que não somente ele era justo, mas
também era a fonte única e o caminho da justiça. O Espírito Santo não somente
convenceu os judeus de que haviam crucificado o Senhor da Justiça, At. 2.36,37,
mas também ele lhes assegurou que havia perdão e salvação em seu nome. At.
2.38

Do juízo sobre satanás

“É do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado”João 16.11. Como se


convencerão as pessoas na atualidade de que o crime será castigado? Pela
descoberta do crime e seu subsequente castigo; em outras palavras, pela
demonstração da justiça. A cruz foi uma demonstração da verdade de que o
poder de Satanás sobre a vida dos homens foi destruído, e de que sua completa
ruína foi decretada. Heb. 2.14,15; I João 3.8. Pela morte de Cristo todos os
homens são resgatados do domínio de Satanás. Cabe ao homem ser convencido
pelo Espírito Santo de que na verdade já estão livres. João 8.32; 8.36.

3. O ESPÍRITO SANTO NA VIDA DO CRISTÃO

Ele testifica sobre o nosso relacionamento com Deus

“O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus”.
Rom. 8.1; I João 3.24.

Ele ensina

“Mas o Conselheiro, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, lhes
ensinará todas as coisas e lhes lembrará de tudo o que Eu lhes disse”. João 14.26.

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Ele nos guia

“...porque os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus”. Rom.
8.14.

Ele nos ajuda na oração

“Da mesma forma o Espírito Santo nos ajuda em nossas fraquezas. Não sabemos
o que deveríamos orar, mas o Próprio Espírito intercede por nós com gemidos
que as palavras não conseguem exprimir”. Rom. 8.26.

Ele vivifica os nossos corpos

“E se o Espírito de Deus ressuscitou a Jesus dentre os mortos. Aquele que


ressuscitou a Cristo dentre os mortos também vivificará os seus corpos mortais
através do Seu Espírito, o Qual habita em vocês”. Rom. 8.11.

Ele dá poder e intrepidez

“Mas recebereis poder e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a


Judéia, e Samaria e em todos os confins da terra”. At. 1.8; 2.14-40

O Novo Testamento fala do Espírito Santo como uma Pessoa, e nunca como uma
influência. Suas referências a Ele são sempre com o pronome masculino e nunca
neutro.

Billy Graham, ao escrever para a revista “Decision’, disse: “A maior necessidade


do mundo hoje é de cristãos espiritualmente maduros que não somente tenham
professado sua fé em Cristo, mas que vivam essa fé cada dia”. E conclui: “Por que
não entregas a tua vida ao Senhor para deixá-lo mudar a direção, rumo à
maturidade espiritual? Esta é a maior necessidade atual.

TÓPICO 6
TEOLOGIA DA IMAGEM DE DEUS NO HOMEM

1. INTRODUÇÃO

De acordo com a Bíblia, o homem foi criado à imagem de Deus. Os primeiros Pais
da Igreja concordavam plenamente de que o homem fora criado à imagem e
semelhança de Deus.

Ao criar o homem, Deus tinha um maravilhoso plano e propósito para ele. Ele
desejava ter seres que pensassem e sentissem como Ele, seres com os quais Ele
pudesse compartilhar a sua vida e que dominassem sobre a terra. Assim sendo,
Ele criou o homem - em Sua própria imagem.

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Em que consiste a imagem de Deus no homem? Que efeito teve a queda do


homem sobre a imagem de Deus? O que realmente significa “imagem e
semelhança” de Deus?

Antes de responder a estas questões, vamos analisar algumas características que


distinguem o homem dos animais irracionais:

2. CONSCIÊNCIA PRÓPRIA

O primeiro ponto que serve de distinção entre o homem e os irracionais, é a


consciência própria. O homem tem o dom de fixar em si mesmo o pensamento,
isto é, ele consciência da sua própria personalidade. A faculdade que ele tem de
proferir o pronome EU, faz surgir um abismo intransponível entre ele e os outros
animais. Os animais jamais pronunciariam “EU”, porque eles não têm consciência
própria.

3. CONHECIMENTO ABSTRATO

Este é o segundo ponto que separa o homem dos outros animais. Qualquer
animal pode ser ensinado a pensar numa cor, será uma cor identificada com
algum objeto. O homem tem a capacidade de pensar não só na cor
independente de qualquer objeto colorido, como também em outras coisas
abstratas, tais como: ódio, amor, prazer, etc.

A faculdade de cogitar das coisas abstratas é privilégio exclusivo do homem,


privilégio que lhe abre um campo vastíssimo de desenvolvimento, que ao
irracional está completamente fechado. Por exemplo: as artes como a pintura, a
escultura, etc.

4. A LEI MORAL

Em terceiro lugar, queremos chamar a atenção para o fato de que o homem


reconhece a existência de uma lei moral a que ele está sujeito. Por meio dela, o
homem tem ciência da diferença entre o bem e o mal, e compreende o dever de
obedecer à lei moral, não somente pelo respeito de qualquer autoridade
exterior, como também por um constrangimento interior.

5. A NATUREZA RELIGIOSA DO HOMEM

A natureza religiosa estabelece um ponto de profundo contraste entre o homem


e o animal. A natureza religiosa revela que o homem é um ser espiritual, foi feito
alma vivente. Gen. 2.7. O espírito é imaterial e invisível. Ele habita no corpo e age
por meio dele. Esta alma tem três modos de agir:

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a. Intelecto → que é a capacidade que o homem tem de julgar, recordar,


imaginar e raciocinar.

b. Afeição → que é a capacidade de sentir dor, prazer, ódio, etc.

c. Vontade → que é a capacidade de escolher, rejeitar, tomar decisões.

6. SOMENTE O HOMEM FOI CRIADO À SEMELHANÇA DE DEUS

A capacidade intelectual que o homem tem o faz semelhante a Deus. Se não


houvesse conformidade, na estrutura mental, seria impossível a comunicação de
um com outro. O fato de Deus manifestar-se ao homem prova que o homem
pode receber e compreender tal revelação.

Há ainda a semelhança moral, porque assim foi o homem criado por Deus. Essa
semelhança moral consistia nas qualidades morais que faziam, e ainda hoje
fazem parte do caráter de Deus.

O homem não somente possui a imagem de Deus. A imagem de Deus não é algo
acidental, é algo essencial a natureza humana.

7. O QUE A BÍBLIA DIZ SOBRE A IMAGEM DE DEUS NO HOMEM

As palavras “imagem” e “semelhança” são empregadas como sinônimos,


portanto não se refere a duas coisas diferentes. Em Gen. 1.26 são empregadas as
duas palavras, mas no verso 27, somente a primeira delas. Em Gen. 5.1, só
ocorre a palavra “semelhança”. Em Gen. 9.6 contém somente a palavra
“imagem” como uma expressão completa da idéia. No Novo Testamento,
somente a palavra “imagem” é empregada em Col. 3.10 e só “semelhança” em
Tiago 3.9. Isto implica que o homem foi deveras criado também à semelhança de
Deus, e que esta semelhança não é algo de que ele foi revestido mais tarde. A
opinião comum é que a palavra “imagem” foi acrescentada para expressar a
idéia de que a imagem era uma imagem muito semelhante, perfeita. Deus é o
original do qual o homem foi feito uma cópia.

A expressão “imagem de Deus” inclui o que geralmente se chama “justiça,


conhecimento e santidade”. A Bíblia diz que Deus fez o homem bom e reto. Gen.
1.31; Eclesiastes 7.29. Portanto, estes três elementos (um estado de verdadeiro
conhecimento, justiça e santidade), constituem a justiça original. Mas não se
deve restringir a imagem de Deus ao conhecimento, à justiça e santidade; ela
inclui também elementos que pertencem à constituição natural do homem,
como as faculdades intelectuais, os sentimentos naturais e a liberdade moral.

Outro elemento que faz parte da imagem de Deus é o da espiritualidade. Deus é


espírito, e é simplesmente natural esperar que este elemento de espiritualidade
também se ache no homem.
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Antes do cair em pecado, ele refletia perfeitamente a imagem de Deus, vejamos:

O homem reflete a imagem de Deus como um ser que é relacional. Ele não vive
isolado, assim como Deus não vive só. Deus é tri-pessoal. Gen. 1.26.

O homem reflete a imagem de Deus pela sua capacidade de dominar sobre as


outras coisas criadas. Gen. 1.26-28.

O homem reflete a imagem de Deus por ter atributos que inerentes a sua
própria natureza.

Poder intelectual: É a faculdade de raciocinar, inteligência e outras que refletem


aquilo que Deus tem.

Afeições naturais: É a capacidade que o homem tem de ligar emocionalmente e


afetivamente a outros seres e coisas. Deus tem esta capacidade.

Liberdade moral: Capacidade que o homem tem de agir, obedecendo e


respeitando princípios morais.

Analisemos os quatro estágios da imagem de Deus no homem

Imagem original – Gen 1.26-27

O que significa ser criado à imagem e semelhança? Significa que o homem foi
criado para refletir, espelhar e representar Deus. Agostinho diz que o homem foi
criado “capaz de não pecar”. Berkhof diz que a imagem de Deus consiste na
integridade original da natureza do homem, que se expressa:

No conhecimento verdadeiro

Col. 3.10 “E vos revestistes do novo homem, que se refaz para o pleno
conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou”.

Na justiça

Ef. 4.24 “E vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e
retidão procedentes da verdade”.

Na santidade

Ef. 4.24 “E vos revistais do novo homem, que, segundo Deus, é criado em
verdadeira justiça e santidade”.

Imagem foi desfigurada – Gen 5.3

O estado original não foi mantido pelos nossos primeiros pais. Veio a
desobediência e consequentemente a queda. Foram criados para refletir Deus e

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não passaram no teste. Provados, caíram e deformaram a imagem de Deus


neles.

Quando o homem caiu, perdeu completamente a imagem de Deus? Não. Com a


queda, o homem perdeu o verdadeiro conhecimento, à justiça e à santidade
originais mas os elementos que pertencem à constituição natural do homem, ele
não perdeu, que são: as faculdades intelectuais, os sentimentos naturais e a
liberdade moral, sem os quais ele deixa de ser homem. Esta parte da imagem de
Deus no homem, foi corrompida pelo pecado, mas ainda permanece no homem.
Note que o homem mesmo após a queda, é apresentado como imagem de Deus.
Gen. 9.6; I Cor. 11.7; Tiago 3.9

Para Calvino, a imagem de Deus não foi totalmente aniquilada com a queda,
mas foi terrivelmente deformada. Ele descreveu esta imagem depois da queda
como “uma imagem deformada, doentia e desfigurada”. Rom. 3.10-19

Imagem restaurada

O homem antes criado para refletir Deus, agora após a queda, precisa ter esta
condição restaurada. Restauração esta que se estenderá por todo o processo da
redenção. Esta restauração da imagem só é possível através de Cristo, porque
Cristo é a imagem perfeita de Deus, e o pecador precisa agora tornar-se mais
semelhante a Cristo. Col. 1.15 “Ele é a imagem do Deus invisível” e em Rom. 8.29
diz que Deus nos predestinou para sermos “Conforme a imagem de Seu Filho” . I
João 3.2; II Cor. 3.18.

Imagem aperfeiçoada

A perfeição da imagem de Deus no homem, somente na participação da


glorificação de Cristo. A glorificação dos cristãos ocorrerá junto com a
glorificação do Senhor Jesus. Col. 3.4 “Quando Cristo que é a vossa vida, se
manifestar, então vós também sereis manifestados com ele, em glória”.

A glorificação é voltar à perfeição com a qual fomos criados por Deus, é voltar a
imagem de Deus. Este é o propósito final da redenção. E isto só é possível em
Cristo. Em Cristo, o cristão não apenas volta ao que era Adão antes de pecar, mas
vai um pouco mais além.

Adão ainda podia perder a impecabilidade, mas aos santos glorificados isso não
poderá mais ocorrer. Os santos na glória não serão capazes de pecar nem de
morrer. Isaias 25.8; I Cor. 15.42,54; Ef. 5.27; Apoc. 21,4.

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TÓPICO 7
TEOLOGIA DO PECADO

Apesar do homem admitir a realidade do pecado, ele não é capaz de explicar a


sua origem e sua presença na natureza humana. Neste estudo iremos considerar
o pecado e suas consequências na vida de nossos primeiros pais.

1. A ORIGEM DO PECADO

Considerando que há diversos pontos de vista quanto a questão da origem do


pecado, eliminemos primeiro os fatos para depois considerar o verdadeiro.

O pecado não é eterno

O dualismo cósmico afirma que há dois princípios auto-existentes e eternos: o


bem e o mal. Esta idéia significa que o pecado sempre existiu. O bem e o mal tem
estado em conflito um com o outro por toda a eternidade e continuarão sempre
em conflito.

Rejeitamos esta teoria porque ela faz de Deus um ser finito e dependente. Não
pode duas coisas infinitas na mesma categoria, e Deus não pode ser ao mesmo
tempo soberano e limitado por algo que nem criou e nem pode evitar. Esta idéia
elimina o conceito do pecado como um mal moral. Se o pecado é uma parte
inseparável da nossa natureza, fica sem efeito o sentido de responsabilidade ou
culpabilidade humana.

O pecado não é resultado da limitação humana

Leibnitz e Spinoza afirmavam que o pecado tem sua origem na limitação


humana. Portanto não é mais do que um resultado necessário das limitações de
nosso ser.

Esta teoria significa dizer que o mal moral é o antecedente e a condição


necessária para o bem moral. Não poderíamos conhecer o bem moral se não
existisse o mal moral.

Rejeitamos esta teoria porque ela ignora a distinção entre o elemento físico e
moral. Mesmo que o homem tenha sido criado com algumas fraquezas e
limitações físicas, ele não foi criado com fraquezas e limitações morais. Ele
poderia ter obedecido a Deus, se tivesse escolhido fazer. I Co. 3.10

1. O pecado se originou no ato da livre escolha de Adão

Se o pecado não é eterno, nem devido à limitação ou sensualidade do homem,


como foi que se originou? As escrituras explicam que através de um homem o
pecado entrou no mundo, e com ele todas as suas consequências. Rom.5.12-19; I
Cor.15.21,22. Este homem foi Adão e este pecado foi tomar do fruto da árvore
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do conhecimento do bem e do mal. Gen. 3.1-8; I Tim. 2.13,14. A árvore do


conhecimento do bem e do mal era boa em si mesma, e seu fruto era bom; pois
não era a árvore, como pensam alguns, mas, sim a desobediência que traria a
morte. Em outras palavras, Deus colocou diante do homem duas coisas boas: a
árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal, e não uma coisa
boa e outra coisa má. Ele proibiu o comer da árvore não porque ela era má, mas
porque ele queria fazer um simples teste da obediência do homem à Sua
vontade.

A narrativa da queda em Gn. 3.1-8 não é uma narração alegórica, mas sim
histórica, isto fica evidenciado pelo contexto de fatos históricos e por escritores
posteriores considerarem como histórica. Prova disto é que os nomes Adão e Eva
não são simbólicos. Também o Jardim, os rios, as árvores e os animais são
claramente fatos históricos, literais. Não podemos aceitar a hipótese da queda
alegórica, pois o próprio Jesus e os apóstolos trataram a narrativa do Gênesis
como histórica. João 8.44; II Cor. 11.3; Apoc. 20.2.

2. AS CONSEQUÊNCIAS IMEDIATAS DO PECADO

Vamos considerar os efeitos do primeiro pecado sobre a relação de nossos


primeiros pais com Deus, sobre sua natureza, sobre seus corpos e sobre seu
meio ambiente.

Seu efeito sobre o relacionamento deles com Deus

Antes da queda, Deus e Adão estavam em comunhão um com o outro; após a


queda, essa comunhão foi quebrada. Nossos primeiros pais sentiram o peso do
aborrecimento de Deus sobre si; haviam desobedecido sua ordem explícita para
não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, eram culpados. Sabiam
que haviam perdido seu lugar diante de Deus, e que sua condenação repousava
sobre eles. Portanto, ao invés de buscar sua comunhão, eles agora tentavam
fugir dEle. Suas consciências culpadas não lhes davam sossego, por isso tentarem
se livrar da responsabilidade. Adão disse que Eva, a mulher que Deus havia dado,
o havia levado ao pecado; Eva acusou a serpente. Eram culpados, mas tentaram
jogar a responsabilidade por seu pecado sobre outrem.

Seu efeito sobre sua natureza

Quando saíram das mãos do Criador, eles eram não apenas inocen tes, mas
também santos. Sua natureza não era pecaminosa. Agora tinham uma sensação
de vergonha, degradação e poluição. Havia algo a esconder. Estavam nus e não
poderiam comparecer diante de Deus em sua condição decaída. Foi esta
sensação de impropriedade que os levou a fazer para si mesmos vestes de folhas
de figueira. Estavam moralmente arruinados. Deus havia dito a Adão a respeito

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da árvore proibida: “No dia em que dela comeres, certamente morrerás”. Gn.
2.17. Portanto, por um só homem entrou o pecado no mundo. Rom.5.12

Seu efeito sobre seus corpos

Quando Deus disse que se desobedecesse, o homem “certamente morreria”. Ele


estava falando também à respeito do corpo imediatamente após o delito, Deus
disse a Adão: “Porque tu és pó, e ao pó tornarás”. Gen. 3.19. As palavras de
Paulo: “Pois assim como em Adão todos morreram” I Cor. 15.22, fazem
referência principalmente à morte física. Paulo estava tratando aqui do assunto
da ressurreição física e a sobrepõe ao fato da morte física. Quando ele diz que
“por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte” Rm.
5.12, ele quer dizer todo mal penal, morte espiritual e eterna, bem como a morte
física. O hebraico de Gn. 2.17 pode ser traduzido como “morrendo, morrerás”. A
partir do momento que o homem comeu da árvore proibida, já estava morrendo.
Os germes destrutivos foram introduzidos naquela mesma ocasião.

Seu efeito sobre o meio ambiente

A serpente foi amaldiçoada “entre todos os animais domésticos e entre todos os


animais selváticos”. Gen. 3.14. É evidente que a criação animal sofreu com o
pecado de Adão. Na era futura esta maldição será retirada, e as feras selvagens
se deitarão com os dóceis animais domésticos. Isaias 11.6-9; 65.25; Oséias 2.18.
Maldita é a terra por tua causa: em fadigas obterás dela o sustento durante os
dias de tua vida. Ela produzirá cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo.
No suor do teu rosto comerás o pão, até que tornes à terra. Gn. 3.17-19. Aqui
fica evidente que até a natureza inanimada sofre a maldição do pecado do
homem. As escrituras nos dizem que está chegando a hora em que ä própria
criação será redimida do cativeiro da corupção, para a liberdade da glória dos
filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação tem estado “sujeita e suporta
angústia até agora”. Rm. 8.21,22

3. A IMPUTAÇÃO DO PECADO

A Teoria Traduciana mostra que a alma é derivada de Adão tanto quanto o


corpo. Acredito que esta teoria responde a questão da imputação do pecado
sobre a raça humana. Entretanto, os homens têm proposto outras teorias, e
iremos examinar e refutar as principais delas, e daí estabelecer aquilo que
consideramos como a doutrina bíblica de maneira mais detalhada.

A Teoria Pelagiana

Pelágio foi um monge inglês, que nasceu mais ou menos em 370 AD. Ele expôs
uma teoria, onde afirma que o pecado de Adão afetou apenas a ele; que toda a
alma humana é criada por Deus imediatamente, e criada inocente, livre de

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tendências depravadas e capaz de obedecer a Deus como o era Adão; que Deus
imputa aos homens apenas aos que eles fizerem pessoal e conscientemente; e
que o único efeito de pecado de Adão sobre sua posteridade é o de ser um mau
exemplo.

Na verdade esta teoria nunca foi conhecida como bíblica, nem formulada em
uma confissão por qualquer ramo da igreja; que as Escrituras, pelo contrário,
mostram que todo o ser humano herdou uma natureza pecaminosa. Rm. 5.12; Sl.
51.5; Ef. 2.3; Jó 14.4 que os homens se tornam culpados de atos pecaminosos
tão logo entrem de posse da consciência moral. Sal. 58.3; Is. 48.8

A Teoria Arminiana

Armínio (1560-1609) foi um catedrático na Holanda. Sua interpretação é


considerada de semi-pelaganismo. É o ponto de vista definido pela igreja grega e
pelos metodistas. De acordo com esta teoria, o homem está doente. Como
resultado da transgressão de Adão, os homens estão por natureza destituídos da
retidão original. Segundo a teoria Arminiana, a tendência do homem para o mal
pode ser chamada de pecado, mas não envolve culpa ou castigo. Somente
quando o homem consciente e voluntariamente se apropria dessas tendências
más é que Deus lhas impunha como pecado.

De acordo com as Escrituras, o homem pecou em Adão e, portanto, culpado


antes de cometer pecado pessoal; que a natureza pecaminosa do homem resulta
de seu pecado em Adão.

A teoria federativa

A teoria federativa parece ter começado com Cocceius (1603-1669). Catedrático


na Holanda, mas foi elaborada mais detalhadamente por Francis Turretin (1623-
1669), também catedrático holandês. Esta teoria diz que Deus fez Adão o
representante da raça humana e entrou em uma aliança com ele. Pelos termos
desta aliança, Deus prometeu conceder vida eterna a Adão e sua posteridade se
ele, como o cabeça representativo, obedecesse a Deus, e denunciou o castigo de
morte, caso desobedecesse. Como Adão pecou, Deus considera todos os seus
descendentes como pecadores, e os condena por causa da transgressão de
Adão. Portanto, Ele cria imediatamente cada alma da posteridade de Adão com
uma natureza corrupta, que leva a atos de pecado.

Rejeitamos tal teoria, porque não há nenhuma menção de uma tal alian ça com
Adão; a palavra hebraica traduzida “Adão” em Oséias 6.7 deve mais
provavelmente ser traduzida como “homem”. Esta idéia contradiz à Escritura,
por fazer do primeiro pecado de Adão o fato de Deus considerar e tratar a raça
como pecadores. A Escritura, pelo contrário, declara que a ofensa se Adão nos

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constitui pecadores. Rom. 5.19. Não somos pecadores simplesmente porque


Deus nos considera e trate como tais, mas Deus nos considera como pecadores
porque o somos. Está escrito que a morte “passou a todos os homens”, não
porque foram considerados e tratados como pecadores, mas “porque todos
pecaram”. Rom. 5.12.

4. DEPRAVAÇÃO, CULPA E CASTIGO

Após ter feito nossa consideração acerca da doutrina da imputação do pecado e


suas consequências na vida de Adão e seus descendentes, faremos agora
algumas considerações sobre depravação, culpa e castigo.

Significado de depravação
Com depravação queremos dizer a falta que o homem tem de justiça original e
de afeições santas para com Deus, e também a corrupção de sua natureza moral
e sua tendência para o mal. O ensinamento bíblico é claro sobre este assunto:
“Não há ninguém que não peque”. I Reis 8.46; “porque a tua vista não há justo
nenhum vivente”. Sl. 143.2. “Quem pode dizer: Purifiquei o meu coração, limpo
estou do meu pecado”. Pv. 20.9 “Não há homem justo sobre a terra, que faça o
bem e que não peque”. Ec. 20.9 “Não há justo, nem se quer um... não há quem
faça o bem, não há nenhum sequer”. Rm.3.19. “Pois todos pecaram e carecem
da glória de Deus”. Rm. 3.23.
Culpa
O fato de considerarmos a culpa depois da depravação não significa que ela
venha mais tarde. Todas estas consequências caem sobre o homem
simultaneamente como o resultado da queda.
O Significado da Culpa
Culpa significa o merecimento do castigo. A santidade de Deus reage contra o
pecado, esta é a “ira de Deus”. Rm. 1.18. Portanto o pecado é uma ofensa a Deus
e sujeito à Sua ira.
Os graus da culpa
As Escrituras reconhecem diferentes graus de culpa que resultam de diferentes
tipos de pecados (Strong).
Pecado de natureza
A natureza pecaminosa que existe dentro de cada ser humano o leva cometer
atos de transgressão. As palavras de Jesus “porque dos tais é o reino dos céus”
Mt.19.14, falam da inocência relativa da criança; enquanto que suas palavras aos
escribas e fariseus: “Enchei-vos, pois, à medida de vossos pais” Mt. 23.32, se
referem a transgressão pessoal acrescentada à depravação herdada.

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Pecado de ignorância e de conhecimento


Aqui a culpa é determinada de acordo com a quantidade de informação que o
indivíduo possua. Quanto mais conhecimento, maior a culpa. Mt.10.15;
Luc.12.47-48; Rm.1.32; 2.12; I Tm. 1.13,15,16.
Pecado é fraqueza

A quantidade de força de vontade aqui envolvida indica o grau de culpa. O


profeta Isaias fala daqueles que puxam para si iniquidade com cordas de
injustiça, e o pecado como com tirantes de carro” Is. 5.18, isto é, com
conhecimento e determinação cedem ao pecado. Exemplo: Pedro ao negar
Cristo demonstrou pecado de fraqueza.

Natureza do castigo

Embora seja verdade que as consequências naturais do pecado já sejam uma


forma de castigo, temos que lembrar que o castigo em sua plenitude aguarda um
dia futuro.

O Significado do Castigo

Castigo é aquela dor ou perda que é infligida pelo Legislador em vindicação de


sua justiça que foi ultrajada pela violação da lei. Em todo castigo existe um
elemento pessoal, a sabe, a ira santa do Legislador. À vista disto, é fácil ver que a
intenção essencial do castigo não é de produzir a reforma do transgressor. Existe
uma diferença entre correção e punição. A correção procede do amor e é dada
como corretivo. Jer. 10.24; Heb. 12.6; mas castigo procede da justiça e, portanto
não tem a intenção de reformar o transgressor. Ez.28.22; 36.21,22; Apoc. 15.1,4
16,5; 19.2. O castigo infligido pela lei não é uma correção mas sim uma justa
retribuição, não é um meio, mas um fim.

O Caráter do Castigo
Morte física

A morte física é a separação entre a alma e o corpo. Gen.2.17; 3.19; Num. 16.29;
27.3; Sl. 90.7-11; Is. 38.17,18 João. 8.44; Rm.5.12,14,16-17. Para o cristão, a
morte não é mais um castigo, pois Cristo sofreu a morte como castigo do pecado.
Para ele, ela se torna como um sono para o corpo, um portal para a alma, através
do qual ele entra em plena comunhão com seu Senhor. II Cor. 5.8; Fl.1.21-23
Morte espiritual

A morte espiritual é a separação entre a alma e Deus. O castigo anunciado no


Éden, que recaiu sobre a raça, é primeiramente esta morte da alma. Gen. 2.17,
Rom. 5.21; Ef. 2.1,5. Por ela, o homem perdeu a presença e o favor de Deus, e

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também o conhecimento de Deus e o desejo por Ele. Devido a isto, precisa se


revivido dos mortos. Luc. 15.32; João.5.24; 8.51.
Morte eterna

A morte eterna, é simplesmente, a culminação e aperfeiçoamento da morte


espiritual. É a separação eterna entre a alma e Deus. Mt. 25.41; 10.28; II Ts.1.9;
Hb.10.31; Ap. 14.11.
TÓPICO 8
TEOLOGIA DA NOVA VIDA EM CRISTO

1. INTRODUÇÃO

A Nova Vida em Cristo está resumida nas palavras do apóstolo Paulo: “Pelo que,
se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que
tudo se fez novo” II Cor. 5.17. Este versículo fala de uma experiência subjetiva,
isto é. Todos os desejos e apetites deste homem não-regenerado passaram e
foram substituídos por um conjunto de desejos e apetites inteiramente novo.

Os profetas ansiavam pelo dia em que Deus faria algo de novo. Is. 43.19; Jer.
31.22. Quando Deus completar sua obra redentora, fará um novo trato com seu
povo. Jer. 31.31; Ez. 34.25; 37.27; ele implantará um novo coração e um novo
espírito dentro deles. Ez. 11.19; 36.26. A afirmação, de que, “em Cristo”, o que é
velho já passou e tudo se fez novo é um enunciado escatológico, que teve seu
cumprimento com a vinda de Cristo. Com ele veio a nova criação, a criação de
um novo homem. Em Cristo, os homens não precisam mais se conformar com o
século antigo. Rm. 12.2. O novo pacto com deus já existe. I Co. 11.25. Deus forjou
uma nova criação em Cristo, que deve se expressar em boas obras. Ef. 2.10. Ele
criou um novo homem, que é constituído de todos aqueles que estão em Cristo,
sejam judeus ou gentios. Ef. 2.15.

2. NOVA VIDA É VIVER EM CRISTO

Em Cristo, os homens não precisam mais se conformar com o velho sistema. Rm.
12.2. O novo pacto com Deus já existe. I cor. 11.25. Esta nova criação é uma nova
natureza interior que capacita a viver em justiça, porque já se despiram do velho
homem e estão revestidos do novo homem, “que se renova para o pleno
conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou”. Col. 3.9-10.

Em Cristo, significa comunhão consciente com ele. Nada poderá nos separar do
amor de Deus em Cristo Jesus. Rom. 8.39. A nova vida significa justiça, paz e
alegria no Espírito Santo. Rm. 14.17.

Em Cristo, equivale a estar no corpo de Cristo. Rm. 12.5. Todos os crentes são um
em Cristo Jesus. Gl. 3.28. Deus nos escolheu em Cristo. Ef. 1.4, e nos predestinou

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Ef. 1.7. Tanto a redenção Rm. 3.2 como a santificação I Co. 1.2 foram forjadas em
Jesus Cristo. A reconciliação do mundo se deu em Cristo. II Co. 5.19. A
justificação chega aos homens em Cristo. Ef. 4.32.

O apóstolo Paulo fala de duas raças de homens. Os homens naturais estão em


Adão; os homens renovados, em Cristo. Como Adão é o chefe e representante da
velha raça, Cristo é o chefe e representante da nova humanidade. Em Adão
vieram o pecado, a desobediência, a condenação e a morte; em Cristo, a justiça,
a obediência, e a vida. Rm. 5.12. Aqueles que estão em Adão pertencem a velha
raça, que é escravidão ao pecado e a morte; aqueles que estão em Cristo
pertencem a nova humanidade que é liberdade e vida.

3. NOVA VIDA É VIVER NO ESPÍRITO SANTO

O homem em Cristo está também “no Espírito”. Se o oposto de “em Cristo” é


estar em Adão, o oposto de “no Espírito” é estar “na carne”. Rm. 8.9. Aqueles
que estão “em Adão” estão também “na carne”. Por outro lado, o homem que
está “em Cristo”, está também no Espírito.

Em I Co. 6.11 estar escrito: “mas fostes lavados, mas fostes santificados, mas
fostes justificados... no Espírito do nosso Deus”. Lavados, significa
primariamente, ser purificado do pecado. Justificados, significa o ato de
absolvição. Santificados, significa o processo daqueles que estão vivendo em
Cristo. Estes são fatos presentes na vida daqueles que estão vivendo em Espírito.

4. A NOVA VIDA É NÃO VIVER NA CARNE

Correspondente ao fato de que os crentes estão no Espírito está o fato de que


eles não estão mais vivendo na carne. “Vos, porém, não estais na carne, mas no
Espírito” Rm. 8.9

Em Rm. 7.5 encontramos: “quando estávamos na carne”, indica que aqueles que
estão no Espírito não estão mais na carne. Aqui encontramos dois modos de
viver a vida: o velho, na carne - do pecado e da morte; e o novo, no Espírito - da
justiça e da vida.

No velho, isto é, na carne, as preocupações do mundo, da vida natural eram o


foco e o principal objetivo da sua existência; no novo, isto é, no Espírito, as coisas
de Deus e de Cristo tornaram-se seu amor principal.

5. A NOVA VIDA É ESTAR MORTO PARA A CARNE

Uma outra maneira do apóstolo Paulo dizer a mesma verdade é através da


expressão de morrer e crucificar-se na carne. Quando uma pessoa passa a viver
no Espírito, ela é liberta do domínio da carne. Isto é visto como morte; a carne
foi crucificada. Gl. 5.24. Paulo expressa a mesma verdade quando diz que ele
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morreu: “Estou crucificado com Cristo”. Gl. 2.20. Este não é um enunciado
subjetivo de algo que aconteceu na consciência cristã, mas uma afirmação
teológica da posição de alguém em Cristo. A mesma idéia se repete quando
Paulo afirma que foi crucificado para o mundo, e o mundo, para ele. Gl. 6.14.

Somos novas criaturas, a antiga vida de servidão à morte e ao pecado já passou,


e a nova vida de liberdade e justiça já chegou.

6. A NOVA VIDA É MORRER E RESSUSCITAR COM CRISTO

Paulo usa a expressão de morrer e ressuscitar com Cristo para expressar a


mesma verdade. Rm. 6.1-11. O batismo em Cristo v.3, significa união com ele em
sua morte e ser sepultado com ele, o que, por sua vez, significa morte para o
pecado; a crucificação do homem velho e a destruição do “corpo do pecado” v.6,
significa libertação do pecado e vida para Deus. Nesta passagem, a ressurreição
com Cristo é futura e escatológica v.5 e 7, mas Efésios 2.5,6 explana de uma
ressurreição presente com Cristo, e a afirmação de que estamos vivos para Deus,
v. 11.

A nova vida é ser circuncidado em Cristo

A metáfora da morte e da ressurreição é acoplada à circuncisão, em Colossenses


2.11,12. “No qual também fostes circuncidados com a circuncisão de Cristo;
tendo sido sepultados com ele no batismo, no qual também fostes ressuscitados
pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos”. Muitos
comentadores entendem a circuncisão de Cristo como uma metáfora de sua
morte, e “despir-se do corpo da carne” estar se referindo a Cristo em sua
crucificação. Contudo, visto que Paulo fala de uma circuncisão do coração, feita
não por mãos, portanto refere-se a uma circuncisão espiritual. Rm. 2.29.
Seguindo este raciocínio, “despir-se do corpo da carne” equivale a despir-se do
homem velho. Cl. 3.9. Fora de Cristo os homens estão mortos em transgressão e
alienados dos pactos de Israel, Ef. 2.11,12; Cl. 2.13; porém, Deus os vivificou com
Cristo.

A vida em que o crente foi introduzido é explicada em termos de perdão de


nossos pecados Cl. 2.13 e do cancelamento do “escrito de dívida que havia
contra nós em suas ordenanças”, v. 14. Um “escrito” é um enunciado legal de
dívida - uma promissória assinada pelo devedor. O judeu está em débito com
Deus porque não cumpriu a Lei; o gentio está em débito com Deus porque não
seguiu nem a luz da natureza Rm. 1.20 nem a da consciência Rm. 2.15. Cristo em
sua crucificação tomou para si este escrito de débito, de pecado, de condenação
e revogou o débito, ao assumir sua penalidade - a morte. Assim, a morte de
Cristo vale para transferir o crente do domínio da dívida, da condenação e da
morte para o domínio da vida em Cristo Jesus.

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A nova vida é morrer para o mundo

A união do crente com Cristo, em sua morte, significa que ele também morreu
para o mundo Cl. 2.20. Esta não é uma experiência, mas um fato, em que o
cristão deve aceitar pela fé. Visto que ele morreu para o mundo, ele não tem
mais que viver como se fosse um mero ser legalista, definido por regras
legalísticas de práticas ascéticas, para obter um nível mais elevado de santidade,
em vez de experimentar a liberdade que está em Cristo. Cristo ressuscitou e está
assentado no céu, à destra de Deus. O crente ressuscitou com Cristo e foi
elevado ao céu, e a sua “vida está escondida com Cristo em Deus”. Gl. 3.3. Por
haver sido elevado ao céu, o crente tem que pensar “nas coisas que são de cima,
e não nas que são da terra”. Cl. 3.2. Claro que esta ordem não significa total
indiferença com os compromissos e responsabilidades inerentes à nossa
existência diária.

A NOVA VIDA É SER HABITAÇÃO DE CRISTO

O homem renovado não está apenas em Cristo e no Espírito; mas tanto Cristo
como o Espírito habitam nele. Estes são dois aspectos da mesma realidade. Rm.
8.9-10. “Vos, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de
Deus habita em vós... Ora, se Cristo está em vós..”. Aqui encontramos os lados
objetivo e subjetivo da mesma realidade. Aqui fica claro que Cristo habita no
crente. O crente foi crucificado com Cristo, mas tem uma nova vida, porque
Cristo vive nele. Gl. 2.20

É Cristo habitando no crente assegura-lhe a esperança da redenção. Cl. 1.27.


Portanto “que Cristo habite pela fé nos vossos corações”. Ef. 3.17

CONCLUSÃO

Concluímos dizendo que a união do crente com Cristo, em sua morte e


ressurreição, a habitação de Cristo e do Espírito, a bênção da vida eterna, são
modos diferentes de descrer a mesma realidade: a situação do homem de fé,
que se tornou uma nova criatura em Cristo.

Quando Paulo diz que fora de Cristo os homens estão mortos Ef. 2.1, ele deve
querer dizer espiritualmente mortos. Ele não pode estar querendo dizer que os
homens não redimidos não têm espírito. Estar morto em seu espírito significa
que eles não estão vivendo em comunhão com Deus. Ao serem eles vivificados
significa que foram trazidos a comunhão com o Deus vivo.

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TÓPICO 9
TEOLOGIA DA JUSTIFICAÇÃO

1. JUSTIFICAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO

O termo hebraico para “justificar” significa “declarar judicialmente que o estado


de uma pessoa está em harmonia com as exigências da lei”. Ex. 23.7; Dt. 25.1; Pv.
17.5. Certos representantes da teoria da influência moral e também alguns
teólogos liberais modernos negam o significado legal do termo “justificar” e lhe
atribuem o sentido moral. Mas se observarmos cuidadosamente as Escrituras
somos induzidos a aceitar o sentido legal de justificação. Por exemplo: a) alguns
termos postos em contraste como justificar e condenar, Dt. 25.1; Pv. 17.15;
Is.5.23; b) Outros termos que indicam um processo de julgamento, Gen. 18,25;
Sal. 143.2; c) Outras vezes encontramos expressões equivalentes à declaração
judicial, Gn. 15.6; Sl. 32.1,2. Há duas passagens em que a palavra significa mais
que simplesmente “declarar justo”, que são, Is. 53.11 e Dn. 12.3. Mas mesmo
nestes casos o sentido não é de “tornar bom ou santo” mas sim, “alterar a
condição de modo que o homem possa ser considerado justo”.

2. JUSTIFICAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO

a. O verbo justificar. Este verbo significa “declarar que uma pessoa é


justa”. Ocasionalmente se refere a uma declaração pessoal de que o caráter
moral da pessoa está em conformidade com a lei. Mt.12.37; Luc.7.29; Rm. 3.4.

b. A palavra justificar nunca expressa o que uma coisa é em si mesma, mas


sempre o que é em relação a alguma outra coisa, a algum padrão que está fora
dela, ao qual ela deveria corresponder. No Grego clássico, o termo justificado é
aplicado a um carro, a um cavalo ou a qualquer outra coisa, com o fim de indicar
que a coisa referida é própria para o uso pretendido. Nas Escrituras, um homem
pode ser chamado justificado quando, a juízo de Deus, a sua relação com a lei é o
que deveria ser.

c. O substantivo justificação. Vê-se apenas em dois lugares do Novo


Testamento, a saber, em Rm. 4.25 e 5.18. Denota o ato de Deus declarar os
homens livres da culpa e aceitáveis a Ele.

3. A DOUTRINA NA HISTÓRIA

A doutrina da Justificação pela fé nem sempre foi claramente compreendida. Na


verdade, até a época da Reforma, ela era bem definida.

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A doutrina da justificação antes da reforma

Alguns dos mais antigos Pais da Igreja, já falavam da justificação pela fé embora
não tivessem um claro entendimento da justificação e da sua relação com a fé.
Não distinguiam entre Santificação e Justificação. Nem mesmo Agostinho tinha
uma correta compreensão da Justificação como ato legal, distinto do processo
moral de santificação.

Na Idade Média o assunto ainda era confuso, não havia uma distinção clara entre
Justificação e Santificação. Os Escolásticos afirmavam que justificação inclui dois
elementos: os pecados do homem são perdoados e ele é transformado em justo
ou reto. Tomaz de Aquino inverteu a ordem dos Escolásticos, ensinava que a
graça é infundia no homem e esta graça o torna justo e a seguir teria seus
pecados perdoados. Este conceito prevaleceu na Igreja Católica Romana. Claro
que este conceito contribuiu para o surgimento da doutrina dos méritos
humanos, que se desenvolveu gradativamente na Idade Média. O homem é
justificado com base nas suas boas obras. Nos Cânones e Decretos do Concílio de
Trento, no Capítulo IX está escrito; “Se alguém disser que somente pela fé o
ímpio é justificado em termos tais que signifique que nada mais se requer para
cooperar para a obtenção da graça da justificação, e que de modo nenhum é
necessário que ele seja preparado e ajustado pelos impulsos da sua própria
vontade, seja anátema”.

A doutrina da justificação depois da reforma

A doutrina da justificação foi o grande princípio material da Reforma. Com


respeito à natureza da justificação, os Reformadores corrigiam o erro de
confundir a justificação com a santificação, salientando o seu caráter legal e
descrevendo-a como um ato da livre graça de Deus pelo qual Ele perdoa os
nossos pecados e nos aceita como justos aos Seus olhos.

Com relação ao meio da justificação, eles davam ênfase ao fato de que o homem
é justificado gratuitamente pela fé que recebe e descansa unicamente em Cristo
para a salvação. Além disso, eles rejeitaram a doutrina de uma justificação
progressiva, e afirmavam que ela é instantânea e completa e não depende para a
sua consumação de mais nenhuma satisfação pelo pecado.

4. NATUREZA DA JUSTIFICAÇÃO

A justificação é um ato judicial de Deus, no qual Ele declara, com base na justiça
de Jesus Cristo, que todas as reivindicações da lei são satisfeitas com vistas ao
pecador. A Bíblia ensina que justificação é muito mais que o perdão. Os que são
justificados têm “paz com Deus”, segurança da salvação, Rm. 5.1-10 e uma
“herança entre os que são santificados”. At. 26.18.

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A justificação remove a culpa do pecado e restaura o pecador a seu


estado de filho de Deus, incluindo uma herança eterna.

A justificação acontece uma vez por todas. É completa e para sempre.

5. CONCEITOS DE JUSTIFICAÇÃO

Conceito católico romano

Confunde a justificação com a santificação. Inclui os seguintes elementos na


justificação: a) a expulsão do pecado que há no homem: b) infusão da graça
divina; e c) perdão de pecados. O pecador recebe uma graça especial que o leva
à convicção de pecado, ao arrependimento, a uma segura confiança na graça de
Deus, aos princípios da nova vida e ao desejo de ser batizado.

Conceito Luterano

A justificação ocorre em dois tempos: objetiva ou passiva e subjetiva ou ativa. A


justificação objetiva ou passiva ocorre fora do pecador no tribunal de Deus e não
muda em nada a vida interior do pecador. Ela consiste apenas de uma declaração
feita no tribunal de Deus. O pecado é declarado justo em vista do fato de que a
justiça de Cristo lhe é imputada. Esta justificação se deu na eternidade passada,
antes da criação do homem. A justificação subjetiva ou ativa ocorre quando o
pecador tem consciência do seu pecado e pela fé toma posse desta declaração
feita por Deus. A analogia usada é a seguinte: A concessão de perdão a um
prisioneiro não significaria nada, se as alegres novas não lhe fossem comunicadas
e as portas da prisão não fossem abertas.

Este conceito é extremamente perigoso porque, primeiro confunde o decreto


eterno de eleição com a justificação; segundo esta posição significa que somos
justificados antes de crermos. A Bíblia ensina que a justificação se dá pela fé. Se a
justificação se realiza pela fé, certamente não precede à fé, no sentido
cronológico. Rm. 4.25.

Conceito Arminiano

Os arminianos ensinavam que o sacrifício de Cristo, não atendeu plenamente à


justiça de Deus, mas que foi aceito como satisfatório, para justificação do
pecador. Este sacrifício só serviu para zerar contas passadas. Deus imputa ao
crente uma fé para justiça. Neste caso a fé não é mais o simples instrumento da
justificação, mas a base sobre a qual a justificação repousa. Neste caso, a
justificação não é um ato judicial, mas sim um ato soberano de Deus.

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5 JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ
A relação da fé com a justificação

Diz a Escritura que somos justificados pela fé. Rm.3.25, 28, 30; 5.1; Gl. 2.16;
Fl.3.9. A fé é o instrumento pelo qual nos apropriamos da justificação. A
preposição “ek” indica que a fé precede à nossa justificação. A Bíblia não diz que
somos justificados por causa da fé, isto porque a fé nunca é apresentada como a
base da nossa justificação. Se fosse, então seria considerada como obra meritória
do homem. Rm.3.21, 27, 28; 4.3, 4.

A fé é apenas o instrumento

A Bíblia diz que Deus justifica o pecador pela fé, Rm.3.30. Pela fé, o pecador se
apropria da justiça de Cristo e estabelece uma união consciente entre ele e
Cristo.

É maravilhoso saber que pelo fato de estarmos em Cristo Jesus somos tirados da
posição de culpa e da ira de Deus e inseridos numa posição de inocência diante
de Deus e num relacionamento de amor com Deus. Bendito seja o Senhor, o
justo juiz que usando da sua infinita misericórdia nos declara “não culpado”
porque Jesus fez tudo o que era necessário.

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TÓPICO 10
TEOLOGIA DA SANTIFICAÇÃO

Temos a profunda convicção de que a verdadeira santidade prática e a inteira


consagração a Deus não são assuntos de interesse dos crentes modernos. O
assunto da santidade pessoal tem ficado em segundo plano. O padrão de vida
que vivemos está muito abaixo daquele que Cristo estabeleceu para nós em
Mateus cap. 5 a 7.

Analisando a doutrina da santificação na história, verificamos que os Pais da


Igreja deixaram muito pouca coisa a respeito da doutrina da santificação. Antes
da Reforma, a preocupação maior foi saber qual a relação da graça de Deus na
santificação com a fé; qual a relação da santificação com a justificação. A fé que
justifica é a mesma que santifica. Desenvolveram concepções defeituosas do
pecado, abriu-se as portas para o legalismo, e na questão da santificação o
ascetismo veio a ser considerado da maior importância.

Será que podemos falar de fé como única coisa necessária e requerida para se
obter santificação? Será que a santificação se dá pela fé somente sem qualquer
participação humana? Será que a fé em Cristo é a base de toda a santidade e que
devemos apenas confiar em Cristo? Será que a fé purifica os corações porque a
fé é a vitória que vence o mundo?

As Escrituras nos ensinam que para seguir a santidade o verdadeiro crente


precisa ter fé e também exercer esforço pessoal. Veja o que o apóstolo Paulo
escreveu: “Antes corro, assim luto, esmurro o meu corpo”; “purifiquemo-nos de
toda impureza, esforcemos-nos por entrar... desembaraçando-nos de todo peso.
I Co. 9.26; II Co. 7.1, Hb. 4.11; 12.1”.

A Bíblia em parte alguma ensina que a fé nos santifica no mesmo sentido e da


mesma maneira como a fé nos justifica.

É correto dizer “a fé justifica”. Rm. 4.5. Porém, não é igualmente correto dizer “a
fé santifica”. A Bíblia nos ensina que somos justificados pela fé, independente
das obras da lei. Mas ela não diz que somos santificados pela fé independente
das obras da lei.

Como crentes somos exortados a aperfeiçoar “a nossa santificação no temor do


Senhor” e “a deixar-se levar para o que é perfeito”. II Co.7.1; Hb.6.1; II Co.13.11

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1. DIFERENÇA ENTRE JUSTIFICAÇÃO E SANTIFICAÇÃO

Vejamos primeiramente algumas semelhanças

Ambas procedem da graça gratuita de Deus. É somente pela graça inefável que
somos justificados e santificados.

Fazem parte da Obra de Salvação que Jesus Cristo realizou em favor do seu povo.
Cristo é a fonte da vida, nele temos tanto o perdão dos pecados como modelo de
santificação.

Começam no mesmo tempo. No momento em que uma pessoa torna-se


justificada, também começa o processo de santificação.

São necessárias à salvação. Ninguém jamais chegou ao céu sem a graça d a


santificação. Hb. 12.14

Vejamos em segundo lugar algumas diferenças

A justificação ocorre mediante uma declaração feita por Deus com base nos
méritos do Senhor Jesus Cristo. A santificação é o desenvolver progressivo da
justiça no interior do homem.

Na justificação, as nossas obras não desempenham qualquer papel, é a simples


fé na Obra redentora de Cristo; já na santificação as obras desempenham papel
importante.

A justificação é uma obra terminada, completa, o crente está perfeitamente


justificado a partir do instante em que crê. A santificação é obra progressiva, ela
só será completada quando deixarmos este corpo corruptível e recebermos o
corpo incorruptível.

A justificação refere-se a nossa pessoa, no sentido posicional, diante de Deus. A


santificação está relacionada à nossa natureza e a renovação moral dos nossos
corações.

A justificação nos confere direitos de ir para o céu. A santificação nos torna


adequados para habitar no céu.

A justificação é um ato de Deus a nosso respeito, não podendo ser facil mente
percebido por outras pessoas. A santificação é uma obra de Deus dentro de nós,
a qual pode ser vista pelos homens. II Reis 4.

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2. A NATUREZA DA SANTIFICAÇÃO

Santificação é uma operação experimental interna que o Senhor Jesus Cristo


realiza em uma pessoa pelo Espírito Santo, quando Ele a chama para ser um
verdadeiro crente.

Santificação é o resultado da união com Cristo. João 15.1; Tg.2.17-20; Tito 1.1;
Gal.5.6; I João 1.7; 3.3.

Santificação é o resultado e consequência da regeneração. I João 3.6; 2.29; 3.9-


14; 5.4-18.

Santificação é a evidência da presença habitadora do Espírito Santo. Rom. 8.9;


Gal. 5.22-23.

Santificação é o resultado dos frutos produzidos. Lc. 6.44; Mt. 25.37.

Santificação é um processo que se desenvolve em grau. Um cristão pode subir de


um nível para outro, em sua santidade. Esse é o sentido prático das palavras de
Jesus “Pai santifica-os na verdade”. O mesmo Deus de paz, vos santifique em
tudo. João 17.17; I Tess. 5.23. Essas expressões dão a entender a idéia de
crescimento na santificação.

Santificação atende a necessidade mais profunda da alma humana. Esta


necessidade está registrada em Rm. 7. De acordo com o texto existe um inimigo
no interior do homem, chamado de “lei do pecado”, v. 23; por isso há
necessidade da obra santificadora do Espírito Santo para que o pecador tenha
prazer na lei de Deus, v. 22.

Santificação capacita o crente para o serviço cristão. Santificação é algo


absolutamente necessário para promover, fortalecer o nosso testemunho diante
dos homens. Será inútil dizer que temos fé em Deus, a menos que a nossa fé
demonstre santificação em nossas vidas.

3. EVIDÊNCIAS VISÍVEIS DA SANTIFICAÇÃO

A verdadeira santificação, não consiste em conversar sobre assuntos religiosos.


Algumas pessoas gostam de falar sobre suas doutrinas preferidas, assim, tentam
passar a idéia de que são crentes autênticos. Deus não quer que sejamos
trombetas vazias, ou sino que retinem. É necessário que sejamos santificados,
não somente “de palavras, nem de línguas, mas de fato e de verdade”. I João
3.18.

A verdadeira santificação não consiste de sentimentos religiosos passageiros. As


reuniões carismáticas podem atrair muitas pessoas e produzir nelas intensa
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sensação. A igreja sempre movimentada, recebendo um novo influxo de vida,


pode até exibir uma atividade renovadora. Uma espécie de emoção pode
contagiar pessoas, outras podem chorar, regozijar -se ou ser afetadas, mas isto
pode não ser santificação.

A verdadeira santificação não consiste em formalismo externo ou em devoção


exterior. Isso é ilusão. Muitos acham que a verdadeira santificação manifesta-se
em grande demonstração de religiosidade, como presença aos cultos,
participação na Ceia, observação de jejuns, austeridade auto-imposta, no uso de
vestes peculiares ou em chavões evangélicos. Isso não passa de religiosidade
externa ocupando o lugar da verdadeira santificação.

A verdadeira santificação não consiste em isentarmos de nossas


responsabilidades comuns da vida, renunciando nossos deveres sociais. Centenas
de eremitas se tem confinado em algum deserto, outros tem se enclausurado
dentro das muralhas dos mosteiros e dos conventos, querendo escapar do
pecado e tornarem-se santos. O verdadeiro homem santificado não é aquele que
se oculta em uma caverna, mas o que glorifica a Deus como Senhor de sua vida.
Demonstramos santificação sendo um bom pai, um bom esposo, um bom filho,
uma boa esposa; quando procedemos honestamente no mundo dos negócios e
do comércio.

A verdadeira santificação consiste no respeito à lei de Deus, bem como no


esforço por viver em obediência a ela como regra de vida. O cristão não pode ser
justificado pela guarda da lei, mas a observação a lei produz santificação. O
Espírito Santo convence o crente do pecado por intermédio da lei. Não
conhecemos o pecado se a lei não disser. Paulo disse: “No tocante ao homem
interior tenho prazer na lei de Deus”. I Tm.1.8; Rm.7.22.

A verdadeira santificação consiste em viver em conformidade com a vontade de


Cristo. Essa vontade está revelada nos Evangelhos, especialmente no Sermão do
Monte.

4. A VERDADEIRA SANTIDADE BÍBLICA


A mortificação do velho homem, o corpo do pecado
Esta expressão significa a remoção gradativa da contaminação e a corrupção da
natureza humana. Esta mortificação é exposta na Bíblia como a crucificação do
velho homem. O velho homem é a natureza humana na medida em que é
dirigida pelo pecado. Rm.6.6; Gl.5.24. “E os que são de Cristo Jesus crucificaram a
carne, com as suas paixões e concupiscências”.

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Vivificação do novo homem, criado em Cristo Jesus, para boas obras


Enquanto que a primeira parte da santificação é de caráter negativo, esta é de
caráter positivo. A velha estrutura do pecado vai sendo posta abaixo aos
poucos,e uma nova estrutura é erguida em seu lugar. Estas duas partes da
santificação são simultâneas. Graças a Deus, o levantamento gradual do novo
edifício não precisa esperar até que o antigo esteja completamente demolido.

Santificação é uma obra de Deus com a participação humana. Quando se diz que
o homem participa na obra de santificação, está se dizendo que Deus efetua essa
obra em parte pela instrumentalidade do homem, o qual coopera com o Espírito
Santo. Que o homem precisa cooperar com o Espírito Santo é evidente: a) várias
advertências são feitas ao homem contra males e tentações, indicando que o
homem deve agir no sentido de evitar o pecado. Rm.12.9,16,17; I Co. (6.9,10; Gl.
5.16-23; e b) as constantes exortações a um viver santo. Estes fatos implicam
que o crente deve se esforçar no aperfeiçoamento moral e espiritual da sua vida.
Miq.6.8; João 15.2,8,16; Rm.8.12,13; 12.1,17.

5. OSMEIOS DA SANTIFICAÇÃO

Pela palavra de Deus

Jesus assim orou: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” João


17.17. A Palavra de Deus tem efeito purificador, e lava. Ef. 5.25. Ela tem efeito
penetrante. Hb.4.14; Sl. 119.9-11.

Pelo sangue de Cristo

“E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue,
padeceu fora da porta”. Heb. 13.12. O Sangue de Jesus é a base de toda a nossa
pureza e vitória. I João 1.7; Ef. 1.7.

Pelo Espírito Santo

“E o mesmo Deus de paz vos santifica em tudo” I Tes.5.23. “Deus vos escolheu
desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade”.
II Tes. 2.13.

Outras considerações:

a. A Santidade é o hábito de ter a mente de Deus na medida em que


tomamos conhecimento da sua mente descrita na Palavra. É o hábito de
concordar com os juízos de Deus, abominando aquilo que Ele abomina e amando
aquilo que Ele ama.

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b. Um homem santo se esforçará por evitar todo o pecado conhecido,


observando cada mandamento revelado. Terá prazer de cumprir a Vontade de
Deus; um maior temor em desagradar ao Senhor. “Porque no tocante ao homem
interior, tenho prazer na lei de Deus” Rm.7.22.

c. Um homem santo esforçar-se-á por ser semelhante ao Senhor Jesus


Cristo. Rom. 8.29. Seu objetivo será de paciência e perdão aos outros, tal como
Cristo perdoou. I João 2.6.

d. Um homem santo seguirá a mansidão, a longanimidade, a paciência, a


brandura do seu Mestre. Mostrará controle sobre a sua própria língua.

e. Um homem santo, esforça-se por mortificar os desejos do corpo,


crucificando a carne com seus afetos e paixões, controlando seus maus desejos,
restringindo suas inclinações carnais. I Co. 9.27.

f. Um homem santo seguirá o amor e a fraternidade. Será cheio de afeto


por seus irmãos. “Aquele que ama ao próximo, tem cumprido a lei”. Rm. 13.8.
Abominará toda a mentira, calúnia, maledicência, desonestidade, negócios
injustos. I Co. 13.

g. Um homem santo seguirá a humildade. Ele considera os outros


superiores a si mesmo. Verá mais maldade em seu próprio coração do que em
qualquer outro coração. Dirá como Abraão: “Eis que me atrevo a falar ao Senhor,
eu que sou pó e cinza”. Gn. 18.27 ou como Jocó: “Sou indigno de todas as
misericórdias que tens usado para com teu servo”. Gn. 32.10; ou como Paulo
quando afirmou: “Eu sou o principal dentre todos os pecadores”. I Tm. 1.15; ou
como Bradford, fiel mártir de Cristo, usava escrever no final de suas cartas: “Um
miserável pecador, John Bradford”.

TÓPICO 11
TEOLOGIA DA GRAÇA DE DEUS

1. O SIGNIFICADO DA GRAÇA DE DEUS

A palavra graça tem vários sentidos: quer dizer favor que se recebe ou que se faz
a alguém. O conceito mais comum da palavra “graça” é o favor imerecido de
Deus. Ef. 2.8,9; Tt. 3.5.

Nas cartas do apóstolo Paulo, graça geralmente significa a soma das bênçãos que
o homem recebe de Deus por meio de Jesus Cristo.

Graça é também o poder de capacitação de Deus. “Que o nosso Senhor Jesus e


Deus, nosso Pai, o Qual nos amou e pela Sua graça no deu um eterno

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encorajamento e uma boa esperança, possa encorajar os seus corações,


fortalecê-los em toda boa obra e palavra”. II Ts. 2.16,17. A sua graça não
somente nos torna aceitos na família de Deus, mas também supre o poder que
necessitamos para vivermos a vida cristã.

2. A NATUREZA DA GRAÇA DE DEUS

A mente humana não está devidamente capacitada para compreender a


infinitude da graça, em todas as suas múltiplas dimensões.

Ela é Abrangente

At. 4.33 – “E os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da


ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça”. A
grandeza da graça é a própria grandeza de Deus. Por ser grande, ela envolve
todo o mundo. Por ser grande, ela alcança todas as épocas. Por ser grande, ela se
torna o veículo eficaz para envolver toda a humanidade, facultando-lhe a
oportunidade de escapar da condenação eterna.

Ela é suficiente

II Co. 12.9 – “E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se


aperfeiçoa na fraqueza...”. Graça é a resposta de Deus à necessidade do homem.
Posto que a sua necessidade é altamente vasta e profundamente abrangente,
Deus sentiu a importância de estender a sua mão ao homem, oferecendo-lhe
uma graça suficiente. Assim, o Senhor tranquilizou a Paulo, afirmando-lhe: a
minha graça é suficiente, e a minha graça te basta.

Ela é rica

Ef. 2.7 – “Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua
graça, pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus”. Deus manifestou sua
graça a todos os homens, posto que haviam sido encerrados debaixo do pecado.
Esta graça é rica em perdoar, em reconciliar, em justificar, em regenerar e
também em glorificar.

Ela é soberana

Rm. 5.26 – “Onde abundou o pecado superabundou a graça”. Por longo tempo o
pecado reinou soberanamente no coração do homem. Mas agora “assim como o
pecado reinou na morte, também a graça reina pela justiça para a vida, por Jesus
Cristo nosso Senhor”. Rm. 5.21.

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3. OPERAÇÕES DA GRAÇA

Justificados pela graça – Rm. 4.4,5; Gal. 5.4; Rm. 3.24; Tito 3.7

Dinheiro algum deste mundo seria capaz de pagar a nossa culpa, demasiada a
nossa dívida e intolerável a nossa transgressão. Mesmo assim, o Senhor nos
perdoou e justificou. Por que o fez? Paulo nos afirma que fomos justificados por
sua graça.

Esta justificação significa que Deus rasgou a cédula que havia contra nós,
cravando-a na cruz do Calvário. Ele anulou a nossa “ficha”, na qual os n ossos
débitos nos condenavam e agora creditou em nossa conta o sacrifício expiatório
de seu bem-amado Jesus Cristo.

Salvos pela graça – At. 15.11; Ef. 2.5,8

A graça se manifesta em nossas vidas através da salvação que Deus nos


proporciona. A superabundante graça é experimentada através da provisão feita
pelo Redentor para os que anteriormente se encontravam debaixo da
condenação da Lei.

É impossível a qualquer ser humano salvar-se pelas obras Tt. 3.5; Rom. 4.5,6; Ef.
2.8,9; ou pela moralidade pessoal, Is. 64.6; Rom. 3.10 ou pela religiosidade, Fil.
3.3; At.7.36,50 ou por mandamentos Tiago 2.10, Gal. 2.16-21. Salvação é
exclusivamente pela graça. A graça de Deus é uma força salvadora. Tito 2.1

Perdoados pela graça – Ef. 1.7

Somente a graça explica o perdão que o Filho pródigo recebeu do Pai. Lc. 15.11-
32. Esse, pois, é o Deus que se mantém graciosamente disposto a perdoar tantos
quantos o busquem, ansiosos de uma reconciliação com ele.

A graça é o princípio operante em todo o nosso relacionamento com Deus. É a


graça que leva o Senhor a afirmar: “Com cordas de amor te atraí”. Os. 11.4

A graça de Deus na vida do crente – II Cor. 9.8

Em nosso relacionamento com Deus na medida em que caminhamos com Ele a


cada dia, constantemente nos deparamos com situações adversas, a resposta de
Deus à nossa fé é “A minha graça te basta”. O Seu poder de capacitação nos faz
triunfar em todas as situações.

a. O crente é fruto da Graça de Deus. Ef. 2.8; Rm. 3.24

b. O crente é filho de Deus pela Graça. João 1.12; Ef. 1.5,6

c. O crente é Co-herdeiro de Cristo pela Graça. Rm. 8.17; Gn. 3.29

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d. O crente é Vitorioso pela Graça. I Co. 15.57

e. O crente é Fortalecido na Graça. I Tm. 2.1

f.O crente deve crescer na Graça. II Pd. 3.18

Isto quer dizer que o caminho da graça é progressivo. Hoje podemos


experimentar a graça em maior porção que ontem. Amanhã, mais que hoje. E
assim nunca cessaremos de ver multiplicado em nosso viver a exuberante graça
do Senhor.

Temos acesso ao Trono da Graça. “Aproximemo-nos do TRONO DA GRAÇA com


confiança, a fim de que possamos receber misericórdia e ENCONTRARMOS
GRAÇA para nos ajudar em nossas necessidades”. Heb. 4.16

4. FUNÇÃO MÚLTIPLA DA GRAÇA DE DEUS

a. Graça para servir a Deus. Hb. 12.28

b. Graça para fortificar o coração. Hb. 13.9

c. Graça para ministrar. Rm. 12.6

d. Graça para contribuir. II Co. 8.6-9

e. Graça para cantar. Cl. 3.16

f. Graça para ser forte. II Tm. 2.1

g. Graça para sofrer por Cristo. Fl. 1.29

A graça de Deus é como um combustível que alimenta a nossa vida espiritual. A


graça é o “alimento” cotidiano que nos torna bem nutridos. A graça aumenta o
potencial de nossa energia espiritual. Pela graça avançamos. Pela graça
triunfamos. Sempre pela graça. Estamos debaixo da graça Rm. 6.14. “Porque o
pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo
da graça”.

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TÓPICO 12
A TEOLOGIA DA LEI
Paulo apresenta a lógica da Lei:
Os que praticam a lei serão justificados. Rm. 2.13
Os que praticam a lei encontrarão a vida. Rm. 10.5; Gl. 3.12
Paulo parte da lógica da Lei para a prática da Lei:
Que nenhum homem será justificado pelas obras da lei. Rm. 3.10
Que a lei conduz o homem a morte e não a vida. Gl. 3.21; II Co. 3.6

Nesta abordagem Paulo fala de duas maneiras de justiça: o legalismo e a fé.


Israel buscou a Lei da justiça, Rm. 9.31. Israel fracassou porque fez mau uso da
lei. Fez da lei um meio de obter a justiça, isto é, através dos seus próprios feitos e
não por meio da fé, Rm. 9.23. Assim, mostraram-se ignorantes da justiça que
vem de Deus e é recebida pela fé; pelo contrario, tentaram estabelecer sua
própria justiça pelas obras, e não se sujeitaram à justiça de Deus através da fé.
Rm. 10.1-3

1. O PENSAMENTO DE PAULO SOBRE A LEI

Para entender o pensamento de Paulo sobre o papel da lei, temos que


interpretá-lo, levando em consideração o fundamento da Religião do Antigo
Testamento, o judaísmo. A essência da religião do Antigo Testamento não pode
ser caracterizada como legalismo, nem foi a Lei dada como o meio de obtenção
de um relacionamento justo com Deus através da obediência. Pelo contrário, o
pacto que precedeu a Lei, foi feito como um ato gracioso de Deus, através do
qual Israel foi constituído povo de Deus.

A Lei foi dada como o meio de unir Israel a seu Deus. A obediência à Lei não
constitui Israel o povo de Deus; pelo contrário forneceu a Israel um padrão a ser
obedecido, pelo qual o relacionamento pactual tem que ser preservado. Assim o
objetivo da Lei é estabelecer o relacionamento na nação com Deus. Lv. 18.5 “o
homem observando-as, viverá”, isto é, gozará das bênçãos de Deus. A vida não
era uma recompensa adquirida; era em si uma dádiva de Deus.

Quando uma nação se mostrava desobediente às exigências do pacto, os


profetas anunciavam que Deus havia rejeitado a nação como um todo e ergueria,
em seu lugar, um remanescente fiel. Da forma como Deus agia com Israel, age
também com a Igreja, que tem a Lei escrita em seu coração. Jer. 31.33

No período intertestamental, ocorreu uma mudança fundamental no papel da


Lei na vida das pessoas. A Lei sobrepujou-se ao pacto e transformou-se na
condição de membro do povo de Deus. Os judeus nos tempos de Jesus, criam
que pelo fato de observarem a lei, eram filhos de Abraão. Mt. 3.9. A Lei alcança
uma posição intermediária entre Deus e o homem. Este novo papel da Lei

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caracteriza o judaísmo legalista. A Lei torna-se a única mediadora entre Deus e o


homem; todos os outros relacionamentos entre Deus e o homem, estão
subordinados à Lei. Todos os mandamentos, tanto escritos como orais, têm que
ser guardados. Violar um deles era equivalente a rejeitar toda a Lei e a recusar a
submissão a Deus. Paulo como judeu tinha uma vida de obediência legalista à
Lei. Ele mesmo diz que era um judeu submisso, um fariseu irrepreensível em
obediência à letra da Lei. Fl. 3.5,6.

2. A LEI NA ÉPOCA MESSIÂNICA

Paulo representa uma interpretação cristã pura, que só pode ser entendida a
partir da perspectiva escatológica do próprio Paulo. Com Cristo, foi inaugurada a
era messiânica. Em Cristo, “as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez
novo”. II Co. 5.17. Antes de estar em Cristo Paulo entendia a Lei a partir do ponto
de vista humano, isto é, nos termos dos padrões da velha natureza e neste caso a
Lei era a base das boas obras, que levavam ao orgulho e à ostentação.

A partir da nova era em Cristo, a Lei assume um papel inteiramente diferente no


propósito da redenção por parte de Deus. Os profetas haviam predito um dia
quando Deus faria um novo pacto com seu povo, quando a Lei não mais seria um
código escrito externo, mas uma Lei implantada dentro do homem, escrita em
seu coração. Jer. 31.33. Baseado em tais promessas do Antigo Testamento, os
judeus debateram o papel que a Lei teria na era messiânica e no mundo
vindouro.

Com Cristo veio uma nova era, na qual a Lei desempenha um novo e diferente
papel. Paulo chama estas duas eras da Lei e do Evangelho de dois pactos. O velh o
pacto é o da “letra”, e é uma dispensação da condenação e da morte, enquanto
o novo pacto é o do Espírito, uma dispensação de vida e justiça. II Co. 3.6.

Pois Cristo é o fim da Lei para justificar todo aquele que crê. Rm. 10.4. Este
versículo pode ser interpretado de dois modos diferentes: “Cristo é o fim da Lei,
como o objetivo de justiça para todo aquele que crê”. Isto é, Cristo trouxe a Lei
ao seu fim, para que a justiça baseada na fé possa sozinha estar ao alcance de
todos os homens. Outra interpretação é: “Cristo é o fim da Lei até onde concerne
a justiça para todo aquele que crê. Isto é, a Lei não é, em si, abolida, mas chegou
ao seu fim como um modo de justiça, pois, em Cristo, a justiça é pela fé, e não
pelas obras.

A nova era em Cristo é a era da vida; e, desde que o crente foi identificado com
Cristo em sua morte e ressurreição, ele está morto para a antiga vida, incluindo a
norma da Lei. Paulo usa a metáfora de uma mulher sendo libertada de seu
marido quando ele morre, e o aplica dizendo que é o crente que morreu com
Cristo, e que está, portanto, livre da Lei. Rm. 7.4. Portanto não mais servimos a

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Deus sob servidão da Lei, mas com a nova vida do Espírito. Rm. 7.6. Atos aprova
a Lei para os judeus cristãos. Atos 21.20; por esta razão Timóteo ao fa zer parte
da obra missionária, teve que ser circuncidado, porque era meio judeu. At. 16.3.
O cristão gentio não está mais sujeito à Lei. “Pois nem a circuncisão nem a
incircuncisão é alguma coisa, mas sim o ser uma nova criatura”. A circuncisão
pertence ao velho pacto, e o homem em Cristo foi crucificado para o velho pacto.
Gl. 6.15. A Lei nunca foi dada para os gentios. Rom. 2.14,15. Paulo era judeu,
portanto quando estava em um ambiente judeu, observava a Lei, I Co. 9.20; mas
como um homem em Cristo ele não estava sujeito à Lei, junto aos gentios, vivia
como se estivesse sem Lei. I Co. 9.21. Na verdade, porque a lei nunca foi dada
aos gentios. I Co. 9.19-22

3. A LEI COMO VONTADE DE DEUS

A Lei é e permanece sendo a Lei de Deus. Rm. 7.22,25 “Porque segundo o


homem interior tenho prazer na lei de Deus”. A Lei não é pecado, Rm. 7.7, “Que
diremos, pois, é a lei pecado? De modo nenhum...”. A Lei é santa, justa e boa.
Rm. 7.12 “A lei é santa e o mandamento é santo, justo e bom”, porque vem de
Deus.

Paulo fala da Lei, usando duas palavras com sentidos diferentes: Ele usa uma
palavra grega, que significa costume, de origem humana. Ele usa também a
palavra “Torah”, que significa instrução ou ensinamentos divinos. Paulo quando
se refere ao Antigo Testamento, usa TORAH, para se referir, no sentido mais
amplo, a vontade de Deus em geral. E usa a palavra NOMOS, para designar, num
sentido mais restrito, “a lei dos mandamentos contidos em ordenanças”. Efésios
2.15.

Do ponto de vista judaico, a Lei é um padrão para a vida, e Paulo como judeu,
viveu irrepreensivelmente. Fl. 3.6. A Lei vista por este ângulo, produz orgulho e
ostentação, porque leva o homem a confiar nas obras. E a ostentação é a
essência do pecado, pois, na verdade ela exalta o ego contra Deus.

A justiça humana adquirida através de obras, Fl. 3.6 é, em si, uma negação da
verdadeira justiça; é “a minha justiça”, Fl. 3.9 e é, portanto uma base para a
ostentação. Rm. 2.23; Ef. 2.9.

Se a Lei de fato contém a vontade de Deus, então aqueles que vivem em


conformidade com a Lei ganham a vida. Rm. 7.10. Aqueles que cumprem a Lei
serão justificados Rm. 2.13. Porém, Paulo vai além do judaísmo. O judaísmo
baseava a salvação na conformidade à Lei, mas reconhecia que a maioria dos
homens não segue a Lei. Portanto, tinha que misturar sua doutrina da salvação
pela obediência à Lei com a doutrina do perdão e do arrependimento, pela qual

51
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Deus, em sua misericórdia, oferece a salvação aos homens, que são parcialmente
justos e parcialmente pecadores”.

4. O LIMITE DA LEI

Embora a Lei seja a expressão justa e sagrada da vontade de Deus, ela fracassou
em transformar os homens em justos diante de Deus.

É impossível aos homens serem justificados pelas obras da Lei. Gl. 2.16 “Sabendo
que o homem não é justificado pelas obras da Lei, mas pela fé em Jesus Cristo,
temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé de Cristo e
não pelas obras da Lei, porquanto pelas obras da Lei nenhuma carne será
justificada”.

A fraqueza e pecaminosidade do homem o fazem incapaz de prestar a


obediência que a Lei exige. A Lei é um código escrito, não uma vida concedida
pelo Espírito de Deus. Rm. 7.6. A Lei declarava a vontade de Deus, mas não
fornecia o poder aos homens, para obedecerem à vontade de Deus.

5. A REINTERPRETAÇÃO DA LEI

Reconhecendo o fracasso da Lei, Paulo chega a uma nova interpretação do papel


da Lei no propósito de Redenção por parte de Deus. Primeiro ele explica a
incapacidade da Lei em obter a salvação, mostrando que esta não era a intenção
divina. A Lei é secundária à promessa, e o modo de salvação de Deus pela fé é
encontrado na promessa.

Ao escrever sua carta aos Gálatas, Paulo argumenta que Deus fez um pacto de
promessa com Abraão muito antes de dar a Lei a Moisés. Gl. 3.15-18. Paulo
esclarece que, como um testamento humano válido não pode ser contestado ou
alterado por acréscimos, assim a promessa de Deus dada a Abraão não pode ser
invalidada pela Lei, que veio mais tarde. Este pacto era um pacto de promessa, a
possibilidade de justiça através de obras é excluída. A promessa não é ma is
promessa se tem algo a ver com a Lei.

Se a salvação é através da promessa e não da Lei, qual foi o papel da Lei no


propósito redentor de Deus? Respondendo a esta questão, Paulo chega a
conclusões que eram tanto novas como inaceitáveis para o judaísmo. A Lei foi
adicionada não para salvar os homens dos seus pecados, mas para mostrar-lhes
o que era o pecado. Rm. 3.20; 5.13,20; Gl. 3.19. A Lei é a vontade de Deus,
porque mostra o que Deus proíbe, a Lei mostra o que é o pecado. Ao proibir a
cobiça, a Lei mostra que ela é pecado. Rm.7.7. Assim, a força do pecado é a Lei. I
Co. 15.56, pois é apenas através da Lei que o pecado é claramente definido.

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A Lei é um instrumento de condenação. Rm. 5.13, ira. Rm. 4.15 e morte. Rm.
7.24; II Co. 3.6. Na verdade não é a Lei, em si, que produz esta situação, mas o
pecado no homem que faz da Lei um instrumento de morte. Rm. 7.13. A
dispensação da Lei pode ser chamada de “dispensação da morte”, II Co. 3.7; de
escravidão ao mundo, Gl. 4.1-10, de um pacto de escravidão, Gl. 4.21-31; de um
período da infância, quando se está sob o controle de tutores. Gl. 3.23-26

A passagem de Rm. 7.13-25, descreve a experiência do crente derrotado, que


ainda confia na carne, em contraste com o vitorioso, que aprendeu a confiar no
Espírito. Rm.8. A preocupação de Paulo nesta passagem, não é a natureza
pecaminosa da Lei, mas a natureza pecaminosa do homem.

6. A PERMANÊNCIA DA LEI

Jesus findou a era da Lei e inaugurou a era de Cristo, que significa libertação da
servidão e o fim da Lei para o crente. Porém, está claro que Paulo sempre
menciona a Lei como santa, justa e boa, e ele nunca pensa nela como sendo
abolida. Ela permanece sendo a expressão da vontade de Deus.

Isto está claro devido a frequente afirmação de Paulo de que a redenção em


Cristo habilita os crentes, de algum modo, a cumprir a Lei. Em Cristo, Deus fez o
que a Lei não poderia realizar, a saber, condenou o pecado na carne, para que a
justa exigência da Lei fosse cumprida naqueles que andam segundo o Espírito.
Rm. 8.3,4. Aqui temos aparentemente um paradoxo: libertando-nos da Lei,
confirmamos a Lei. Rm. 3.31. É obvio que a nova vida em Cristo habilita o crente
a guardar a Lei não como um código externo, mas em termos de sua mais alta
exigência, isto é, no próprio ponto onde a Lei era impotente, por ser um código
externo. Por esta razão é que Paulo afirma que a ética cristã essencial é o amor,
que por sua vez é uma dádiva do Espírito Santo. I Cor. 13; e quem ama cumpre a
Lei. Toda a Lei se cumpre em uma única palavra: “Amarás o teu próximo como a
ti mesmo”. Gl. 5.14. No lugar da Lei como código externo, está, agora, a Lei de
Cristo. Esta “nova Lei” não pode ser resumida a regras específicas, mas vai muito
além da legislação. Nenhum conjunto de regra pode fazer alguém suportar o
peso de outrem, Gl. 6.2; somente o amor pode nos ajudar a viver tal conduta.
Portanto, a Lei de Cristo, que é a Lei do Amor, cumpre toda a Lei Antiga. O
verdadeiro amor, não permite cometer adultério, mentira, roubo, cobiça ou
qualquer outra coisa contra o próximo. Rm. 12.8-10.

Com relação a permanência da Lei, é interessante notar o fato de Paulo apelar a


mandamentos específicos na Lei, como norma para a conduta cristã. Ele apela
para vários mandamentos que são cumpridos pelo amor. Por exemplo: Paulo cita
o mandamento de amar pai e mãe como o primeiro mandamento, com
promessa. Ef. 6.2. Assim fica evidente que o aspecto permanente da Lei é o ético

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e não o cerimonial. Paulo distingue entre os aspectos éticos e cerimoniais da Lei.


Embora a circuncisão seja um mandamento de Deus e uma parte da Lei, Paulo
coloca a circuncisão como um mandamento cerimonial. Ele separa o ético do
cerimonial - o permanente do temporal.

Assim, ele ensina aos gentios rejeitar o que é cerimonial, tais como a
circuncisão, a comida, as festas e até a guarda do sábado, pois estes são nada
mais que uma sombra da realidade que chegou com Cristo.

TÓPICO 13
A TEOLOGIA DA FÉ

A fé sempre foi a marca de um verdadeiro cristão. Os primeiros discípulos eram


conhecidos como CRENTES. Jesus disse: “Tudo é possível para aquele que crê”.
Mc.9.23

A fé significa uma total dependência de Deus. Quando Adão pecou, ele saiu da
dependência de Deus e entrou numa “in-dependência”, que significa
incredulidade.

A fé é a forma pela qual somos restaurados a um relacionamento co m Deus


(dependência de Deus). Esta dependência é chamada de fé. A fé leva além dos
seus cinco sentidos de visão, audição, paladar, olfato e tato.

1. TERMOS BÍBLICOS PARA FÉ

Significado de fé no Antigo Testamento

Embora o Antigo Testamento não tem nenhum substantivo para fé, no entanto,
há três palavras que expressam nossa plena confiança em Deus.

a. Hc. 2.4. Esta palavra significa “fidelidade”. Comparando com Rm. 1.17,
concluímos que realmente o profeta empregou o termo no sentido de fé.

b. “Confiar-se a” “apoiar-se” “confiar”. O homem que confia em Deus é


alguém que fixa nele toda a sua esperança quanto ao presente e ao futuro.

c. “Esconder-se” ou “fugir em busca de refúgio”. Também nesta é evidente


que o elemento confiança está presente.

Significado de fé no Novo Testamento

A palavra “fé” tem dois sentidos no Grego clássico, ela indica:

a) Uma convicção baseada na confiança em uma pessoa e no seu


testemunho.

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b) Uma confiança propriamente dita, na qual essa convicção descansa.

A palavra “fé” expressa a ideia no sentido de confiança tanto na Palavra de


Deus, como no próprio Deus.

a) No Antigo Testamento a palavra fé tem um sentido passivo, significando


fidelidade. Rm. 3.3; Gl.5.22.

b) No Novo Testamento a palavra fé tem sentido ativo, isto é, uma crença


no testemunho de outrem. Fl. 1.27; II Co. 4.13; II Ts. 2.13 e também significa uma
completa confiança em Deus ou mais particularmente em Cristo com vistas à
redenção do pecado. Rm. 3.22,25; Gl. 2.16; Ef. 2.8; 3.12

2. EXPRESSÕES SOBRE ATIVIDADE DA FÉ

É descrita como um olhar para Jesus

João 3.14,15 (comp. Nm.21.9). É uma figura muito apropriada, porquanto


abrange vários elementos da fé, especialmente quando esta se refere a um firme
olhar para alguém, como na passagem indicada.

É representado também por fome e sede, comer e beber

Mt. 5.6; João 6.50-58. Quando os homens têm de fato fome e sede espirituais,
sentem que algo está faltando, têm consciência do caráter indispensável daquilo
que está faltando, e se esforçam para obtê-lo. Tudo isso é típico da atividade da
fé. Quando comemos e bebemos, temos a convicção de que o alimento e a
bebida nos satisfarão. Da mesma forma quando nos apropriamos de Cristo pela
fé, temos confiança que ele nos salvará.

Finalmente há também as figuras do vir a Cristo e recebê-lo.

João 5.40; 7.37,38; 6.44,65. A figura do vir a Cristo retrata a fé como uma ação na
qual o homem olha para longe de si e dos seus próprios méritos, para ser
revestido da justiça de Jesus Cristo; e a do receber a Cristo ressalta o fato de que
a fé é um órgão de apropriação.

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3. O ENSINO SOBRE FÉ

No Antigo Testamento

É evidente que os escritores do Novo Testamento, ao salientarem a fé como o


princípio fundamental da vida religiosa, não estavam querendo substituir as
bases e abandonar o ensino do Antigo Testamento. Eles consideravam Abraão,
como tipo de todos os crentes Rm.4; Gl. 3; Heb. 11; Tiago 2 e os crentes pela fé
são filhos de Abraão. Rm. 2.28,29; 4.12,16; Gl. 3.9. Em ambos os Testamentos a
fé é a mesma entrega radical a Deus, como o gracioso Salvador.

No período patriarcal

Nas primeiras páginas do Antigo Testamento há escassas declarações a respeito


do método de salvação. A essência da religião dos patriarcas, é-nos demonstrado
pela ação. A promessa de Deus ocupa o primeiro plano, e a resposta do homem a
esta promessa é a fé.

No período da lei

A entrega da Lei não efetuou uma mudança na religião de Israel, mas apenas
introduziu uma alteração em sua forma externa. A Lei não substituiu a Promessa;
tão pouco a fé foi suplantada pelas obras. Claro que muitos israelitas viam a Lei
com espírito legalista e procuravam basear o seu direito à salvação num
escrupuloso cumprimento da lei. No entanto, sabemos que, a essência da vida
piedosa real consistia na confiança em Deus.
No Novo Testamento
Quando o Messias veio cumprindo as profecias, trazendo a esperada salvação,
tornou-se necessário que o povo fosse guiado para a pessoa do Redentor.
Nos Evangelhos
A exigência de fé em Jesus como o Redentor prometido e esperado, apareceu
como algo característico da era cristã. “Crê” significava tornar-se cristão. O
princípio desta nova dispensação é descrito como “a vinda da fé”. Gl. 3.23,25. O
que caracteriza os Evangelhos é que neles Jesus está constantemente se
oferecendo como objeto da fé, o que corresponde aos altos interesses da alma.
Em Atos
Em Atos, verifica-se, que pela pregação dos apóstolos, os homens são levados à
obediência da fé em Cristo; e esta fé vem a ser o princípio formativo da nova
comunidade.

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Em Tiago
Tiago teve que censurar a tendência judaica de conceber a fé como um simples
assentimento intelectual à verdade, fé que não dava o fruto apropriado. Sua
idéia da fé que justifica não difere da de Paulo, mas ele ressalta o fato de que
esta fé tem que se manifestar em boas obras. Se não, é fé morta, e de fato,
inexistente. A Fé é uma ação de obediência em resposta ao que Deus falou. A
verdadeira fé é expressa em: 1) Obediência e Ação; 2) ao nosso ouvir a Palavra
de Deus.

DISTINÇÃO ENTRE OS QUATRO TIPOS DE FÉ

Fé histórica

Pura e simples apreensão da verdade, vazia de qualquer proposto moral ou


espiritual. Ela abrange somente fatos e eventos históricos. Exemplo: Aceitar as
verdades da Escritura da mesma forma como uma pessoa aceita um relato
histórico. Esta fé pode ser resultado da tradição, da educação, da opinião
pública, porém, não está arraigada no coração. Mt.7.26; At. 6.27; Tg. 2.19.

Fé miraculosa

Deus pode dar a uma pessoa um trabalho para fazer, que transcende os seus
poderes naturais, e capacitá-la para fazê-lo. Para realizar uma obra dessa espécie
requer fé. Isso é bem patente nos casos em que o homem aparece apenas como
um instrumento de Deus. Mt. 17.20; Mc. 16.17,18.

Fé temporal

O nome é derivado de Mt. 13.20,21. É a chamada fé temporária porque não é


permanente e não se mantém nos dias de provação e perseguição. É bem
provável que só apareça em tempo de crise pessoal. Pode-se dizer que a fé
temporal se baseia na vida emocional e na busca de satisfação pessoal, em vez
da gloria de Deus. É aquela fé que motiva os homens a buscarem benefícios
materiais (curas, empregos, aquisição de bens, etc).

Fé salvadora

A verdadeira fé salvadora tem sua sede no coração e suas raízes na vida


regenerada. Essa fé é uma potencialidade produzida por Deus no coração do
pecador. Somente depois que Deus implantou a semente da fé no coração do
homem é que ele pode exercitá-la.

Podemos definir a fé salvadora como uma convicção produzida no coração do


homem pelo Espírito Santo quanto à veracidade do Evangelho e nas Promessas
de Deus em Cristo. Cristo é o objeto da fé salvadora.

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OS ELEMENTOS DA FÉ

Ao falarmos sobre os elementos da fé, não devemos esquecer o fato de que a fé


é uma atividade do homem. Além disso, no exercício da fé, a alma funciona
através das suas faculdades comuns. Portanto, para se obter uma concepção da
fé, é necessário distinguir entre os vários elementos que ela compreende.

Um elemento intelectual ou do conhecimento

A fé consiste de um reconhecimento da verdade, em que o homem aceita como


verdadeiro tudo quanto Deus diz em Sua Palavra, e especialmente o que Ele diz a
respeito da profunda depravação do homem e da redenção que há em Cristo
Jesus. Hb. 11.1 fala que a fé é a certeza de coisas que se esperam e a convicção
de fatos que se não vêem”.

Um elemento emocional ou assentimento

Quando alguém abraça a Cristo pela fé, tem uma profunda convicção da
veracidade e da realidade do objeto da fé, sente que ele preenche uma
importante necessidade de sua vida, e tem consciência do seu real interesse por
ele - isto é assentimento.

Um elemento volitivo ou vontade

A fé não é apenas questão de intelecto e de sentimento, mas também é uma


questão de vontade. Este elemento consiste de uma confiança pessoal em Cristo
como Salvador e Senhor, incluindo a rendição da alma, culpada e corrupta, a
Cristo e o recebimento e apropriação do perdão e da vida espiritual.

4. A BASE DA NOSSA FÉ

A base para termos fé em Deus encontra-se em três importantes realidades:

A natureza de Deus

“Ao fazer a sua promessa a Abraão, já que não havia ninguém maior por quem
Ele pudesse jurar, Ele jurou por Si Próprio”. Hb. 6.13.

Ele não pode mudar

“Eu, o Senhor, não mudo...” Ml. 3.6; Tg. 1.17.

Ele não falha

“Sei que Tu podes fazer todas as coisas. Nenhum plano Teu pode ser impedido”
Jó 42.2; I Cr. 28.20.

Ele não pode mentir

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“Deus não é homem para que minta, nem filho do homem para que mude de
idéia. Porventura Ele fala e não age? Porventura Ele promete e não cumpre? Tito
1.2; Nm. 23.19”.

A obra redentora de seu Filho

“Fixemos os nossos olhos em Jesus, o autor e aperfeiçoador da nossa fé, o Qual,


pela alegria que Lhe foi proposta, suportou a Cruz, desprezando a sua afronta e
assentou-Se à destra do Trono de Deus”. Hb. 12.2. Cristo tornou-Se a fonte da
nossa fé em Deus.

A palavra de Deus

“Os céus e a terra passarão, mas as Minhas Palavras nunca passarão”. Mt. 24.35;
Is. 40.8. A Sua Palavra permanece para sempre. A fé vem quando Deus traz uma
palavra específica - de tudo o que Ele já disse - diretamente a nós, em nossas
circunstâncias.

“... porque todos os que são nascidos de Deus venceram o mundo. Esta é a nossa
vitória que vence o mundo, a NOSSA FÉ. I João 5.4. “Amados, procurando eu
escrever-vos com toda a diligência acerca da comum salvação, tive por
necessidade escrever-vos e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada
aos santos”. Judas 1.3.

Cristo tornou-se a fonte da nossa fé em Deus. O fato da Sua morte e ressurreição


fornece as bases para a nossa crença.

Sem fé é impossível agradar a Deus. Hb. 11.6

A fé é necessária para uma vida vitoriosa I Tm. 1.18

A fé elimina a auto-glorificação. Rm. 10.3,4

A fé opera o amor. Gl. 5.6

A fé produz esperança no coração do servo de Deus. Rm. 5.2

A fé é necessária para uma oração eficaz. Mt. 21.22

A fé vence todas as dificuldades. Mt. 17,20; 21.21

Portanto, a fé é mais do que certeza. Esta é um dos resultados da fé. Temos


certeza e convicção sobre o mundo espiritual e suas exigências, a nós impostas; e
isso nos vem pela fé.

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TÓPICO 14
A TEOLOGIA DO BATISMO

1. INTRODUÇÃO

Jesus ordenou que todos os que cressem n’Ele fossem batizados. “Então Jesus
veio a eles e lhes disse: Toda autoridade no céu e na terra me foi dada. Portanto,
ide e fazei discípulos de todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do
Filho, e do Espírito Santo”. Mt. 28.18,19; Atos 2.38-41.

2. ANALOGIA DO BATISMO CRISTÃO

O batismo entre os Judeus

Os judeus tinham muitas purificações, mas não tinham caráter sacramental. O


chamado batismo dos prosélitos tinha maior semelhança com o batismo cristão.
Quando gentios eram incorporados em Israel, eles eram circuncidados e, pelo
menos em tempos mais tarde também eram batizados. De acordo com as
autoridades judaicas, esse batismo tinha que ser ministrado na presença de duas
ou três testemunhas.

Outra questão que requer consideração é a relação entre o batismo de João e o


de Jesus. Os teólogos mais antigos identificavam os dois batismos, enquanto que
os de uma época mais recente dão atenção a certas diferenças. O que parece
correto é dizer que os dois são essencialmente idênticos, embora diferindo
nalguns pontos.

Semelhança entre os dois batismos

O batismo de João, como o batismo cristão, (1) foi instituído pelo próprio Deus,
Mt. 21.25; João 1.33; (2) estava relacionado com uma radical mudança de vida,
Lc. 1.1-17; João 1.20-30; (3) estava relacionado com o perdão dos pecados, Mt.
3.7,8; Mc. 1.4; Luc. 3.3; (4) empregava o mesmo elemento material, água.

Diferenças entre os dois batismos

1) o batismo de João pertencia à antiga dispensação e, como tal, apontava


para Cristo, no futuro;

2) o batismo de João estava em harmonia com a dispensação da lei, pois


acentuava a necessidade de arrependimento;

3) o batismo de João foi exclusivo para os judeus e representava mais o


particularismo do Antigo Testamento do que o universalismo do Novo;

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3. A INSTITUIÇÃO DO BATISMO CRISTÃO

Foi instituído com autoridade divina Foi instituído

O batismo foi instituído por Cristo depois que Ele consumou a obra de
reconciliação. Ao instituir o batismo, tornou-o obrigatório para todas as gerações
subsequentes. A grande comissão foi colocada nas seguintes palavras: “Ide,
portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do
Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho
ordenado”. Mt. 28.19-20; Mc. 16.15,16. Observando esta ordem, vemos os
seguintes elementos: (a) Os discípulos deveriam ir por todo o mundo e pregar o
Evangelho a todas as nações, a fim de levar as pessoas ao arrependimento e ao
reconhecimento de Jesus como o Salvador prometido; (b) Os que aceitavam a
Cristo pela fé deveriam ser batizados em nome do Deus triúno, como sinal e selo
do fato de viver de acordo com as leis do reino de Deus; (c) Deveriam ser
colocados sob o ministério da Palavra, participando assim dos privilégios e
deveres da nova aliança.

A fórmula batismal

Os apóstolos receberam instruções específicas para batizarem, significa para


uma relação com o nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A Vulgata traduziu
as primeiras palavras, “eis to onoma” pela expressão latina “in nomine” (em
nome). Dando assim o sentido de “na autoridade do trino Deus”. A preposição
“eis” (para dentro de) indica um fim, portanto pode ser interpretada no sentido
de “em relação à”. A pessoa batizada era simbolicamente introduzida no “nome
de Cristo”, isto é, tornava-se Seu discípulo, entrava num estado de lealdade a Ele
e de comunhão com Ele. A forma batismal indica que pelo batismo, o
participante é colocado num relacionamento especial com Deus.

Concernente ao batismo ministrado pelos apóstolos, At. 2.48; 8.16; 10.48; 19.5;
devemos notar que embora haja uma variação nas preposições, por exemplo:
Atos 2.38 fala do batismo “epi toi anomai lesou Christou”, não altera a forma,
apenas indica que o batismo foi realizado conforme a autoridade (ou ensino) de
Jesus. Essa fórmula já estava em uso quando a Didaquê (O Ensino dos Doze
apóstolos) foi escrita (100 AD).

4. A TEOLOGIA DO BATISMO NA HISTÓRIA

Antes da reforma

Os “pais primitivos” relacionavam o batismo ao perdão de pecados e à


comunicação da nova vida. Agostinho considerava absolutamente necessário o
batismo. Segundo ele, o batismo elimina a culpa original, mas não remove

61
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totalmente a corrupção da natureza. Essa teoria levou a Igreja Católica Romana a


considerar o batismo como um sacramento de regeneração e da iniciação na
Igreja. Para a Igreja Católica, o batismo contém uma graça que confere a todos
os batizandos os seguintes benefícios: (a) marca o participante como membro da
Igreja: (b) livra da culpa do pecado original e de todos os pecados atuais
cometidos até à hora do batismo, liberta o homem da punição eterna; (c) produz
renovação espiritual pela infusão da graça santificante e (d) incorpora o
participante na comunhão dos santos e na Igreja visível.

Depois da reforma

A Reforma Luterana não se desfez totalmente da concepção católica romana dos


sacramentos. Para Lutero, a água do batismo não é água comum, mas uma água
que, mediante a Palavra com seu poder divino inerente, veio a ser uma água da
vida, cheia de graça, uma espécie de lavamento de regeneração. Em outras
palavras, o sacramento efetua a regeneração. Esta concepção fez surgir o
batismo infantil. Para Lutero, o batismo só tinha validade, se o participante
tivesse fé. Surgiu assim, um sério problema, o caso das crianças, que ainda não
podiam exercer fé. Teólogos luteranos mais recentes criaram a idéia de uma fé
infantil como pré-condição para o batismo, ao passo que outros entendiam que
o batismo produz essa fé imediatamente.

Calvino e a Teologia Reformada partiam da pressuposição de que o batismo foi


instituído para os crentes, e não produz, mas fortalece a nova vida.

TÓPICO 15
A TEOLOGIA DA CEIA DO SENHOR

A Ceia do Senhor é uma cerimônia importantes. Nós consideremos a Ceia do


Senhor como uma Ordenança e não como um sacramento [sacramentum =
tornar sagrado]. Sacramento quando criado pela Igreja, e Ordenança quando é
estabelecido pelo próprio Senhor.

1. ANALOGIA DA CEIA

Assim como havia analogias do batismo cristão em Israel, havia também


analogias da Ceia do Senhor. Não somente entre os gentios, mas também entre
os israelitas, os sacrifícios muitas vezes eram acompanhados de refeições
sacrificiais. Isto era um traço característico das ofertas pacíficas. Destes
sacrifícios, somente a gordura ligada às entranhas era consumida no altar; o
peito movido era dado aos sacerdotes, e a coxa da oferta alçada ao sacerdote
oficiante. Lv. 7.28-34, enquanto que o restante era consumido numa refeição
sacrificial para o ofertante e seus amigos, desde que estivessem
cerimonialmente limpos. Lv. 7.19-21; Dt.12.7,12. De maneira simbólica, estas

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refeições ensinavam que, “justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus
por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” Rom. 5.1. Expressam o fato de que com
base no sacrifício oferecido e aceito. Deus recebia Seu povo como hóspedes em
Sua casa e se unia a eles em jubilosa comunhão, a vida comunitária da aliança.

Era proibido a Israel tomar parte nas refeições dos gentios exatamente porque
isto expressaria sua lealdade a outros deuses. Ex. 34.15; Nm. 25.3,5; Sl. 106.28.
As refeições sacrificiais, atestavam a união de Jeová com seu povo, eram
ocasiões de júbilo e alegria, e, nesta qualidade, às vezes sofriam abusos e davam
lugar a orgia e bebedeira, I Sam. 1.13; Pv. 7.14; Is. 28.8. O sacrifício da Páscoa
também se fazia acompanhar de semelhante refeição sacrificial.

2. A TEOLOGIA DA CEIA NA HISTÓRIA

Antes da reforma

Já na era apostólica a celebração da Ceia do Senhor era acompanhada de ágape


ou festa do amor, para as quais o povo trazia os ingredientes necessários e que
às vezes levavam a tristes abusos. I Co. 11.20-22. Alguns dos pais primitivos
(Origenes, Baílio, Gregório) tinham uma concepção simbólica ou espiritual da
Ceia, outros (Cirilo, Gregório de Nyssa, Crisóstomo) afirmavam que a carne e o
sangue de Cristo de algum modo se combinavam com o pão e o vinho no
sacramento.

Agostinho, embora falasse do pão e do vinho como o corpo e o sangue de Cristo,


ele distinguia entre o sinal e a coisa significada, e não cria numa transformação
da substância.

Durante a Idade Média o conceito Agostiniano aos poucos foi sendo substituído
pela doutrina da transubstanciação. No século onze, Lanfranc, fez a seguinte
afirmação: “o verdadeiro corpo de Cristo estava de fato nas mãos do sacerdote,
e era partido e mastigado pelos dentes dos fiéis”. Esta concepção foi definida
finalmente por Hildebert de Tours em 1.134 e designada como doutrina da
transubstanciação. Foi adotada formalmente pelo quarto Concílio de Latrão, em
1215. Mais tarde no Concílio de Trento, o assunto foi debatido e confirmado com
as seguintes palavras: “Pelas palavras de consagração, a substância do pão e do
vinho é transformada no corpo e no sangue de Cristo. Cristo completo está
presente sob cada espécie e sob cada partícula de uma e outra espécie. Cada
pessoa que receber uma partícula da hóstia, receberá o Cristo Completo”.

Depois da reforma

Os reformadores rejeitaram a teoria sacrificial da Ceia do Senhor e a doutrina


medieval da transubstanciação. Lutero substituiu a doutrina da
transubstanciação pela da consubstanciação, e segundo ele, Cristo está “em,
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com e sob” os elementos. Calvino defendia uma posição intermediária, negava a


presença corporal do Senhor no sacramento, mas insistia na presença espiritual,
do Senhor na Ceia, na presença dele como uma fonte de virtude ou poder e
eficácia. Arminianos viam na Ceia do Senhor apenas um memorial, um ato de
profissão e um meio para melhoramento moral.

3. NOMES BÍBLICOS PARA A CEIA DO SENHOR

A Ceia do Senhor

I Co. 11.20. Nos círculos evangélicos, este é o nome mais comum. A ênfase
especial recai no fato de que a Ceia é do Senhor. Não é uma Ceia para a qual os
ricos convidam os pobres e depois os tratam mesquinhamente, mas uma festa
na qual o Senhor oferece provisão a todos com abundância.

A mesa do Senhor

I Co. 10.21. Os gentios Coríntios faziam suas ofertas aos ídolos e, depois dos seus
sacrifícios, assentavam-se para as refeições sacrificiais; e o que se infere é que
alguns da Igreja de Corinto achavam que lhes era permissível juntar-se a eles,
entendendo que toda carne é igual. Mas Paulo assinala que sacrificar aos ídolos é
sacrificar aos demônios, e que se associar a essas refeições sacrificiais é
equivalente a exercer comunhão com os demônios.

4. SIGNIFICADO DA CEIA DO SENHOR

Ceia como um memorial

A Ceia é uma representação figurada da morte do Senhor. I Co. 11.26. O fato


central da redenção, figurado nos elementos visíveis. As palavras “dado por vós”
e “derramado em favor de muitos”, indicam uma analogia entre a Ceia e a morte
de Cristo. A nova aliança instituída por Jesus é um pacto de sangue. Deus
aceitou o sangue de Cristo. Hb. 9.14-24; portanto, comprometeu-se, por causa
de Cristo, a perdoar e salvar a todos os que vierem a ele.

A Ceia representa não somente a morte de Cristo como objeto de fé, que une o
crente a Cristo, mas também o efeito desse ato, dando vida, força e alegria à
alma. Isso está implícito nos elementos utilizados. Assim como o pão e o vinho
nutrem e fortalecem a vida corporal do homem, assim Cristo sustenta e revigora
a vida da alma.

A Ceia retrata também a comunhão dos crentes uns com os outros. Como
membros do Corpo de Cristo, constituímos uma unidade espiritual, comemos o
mesmo pão e bebemos o mesmo vinho, I Co. 10.17; 12.13. Essa participação em
conjunto exerce íntima comunhão uns com os outros.

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Ceia como simbolismo

A Ceia do Senhor não é somente um ato memorial, mas também um símbolo. Em


nossos dias esta visão foi perdida por muitos que têm um conceito superficial da
Ceia do Senhor, e a consideram apenas como um memorial de Cristo. Memorial
lembra apenas o passado, o que Cristo fez por nós, mas a Ceia também aponta
para o presente e para o futuro.

BIBLIOGRAFIA:

CHAMPLIN, R. N., Ph.D. BENTES, J. M., Enciclopédia bíblica teologia e filosofia,


Editora Candeia, São Paulo, 1991.

GIOIA, Efídio, Notas e comentários à harmonia dos evangelhos, 3a . Edição, Rio de


Janeiro, Editora Juerp, 1978.

GOPPELT, Leonard, Teologia do Novo Testamento, Editora Paulus e Teológica,


São Paulo, 3a . Edição, 2003.

SILVA, Gutemberg Rodrigues da, Sinopse da vida de Cristo, Casa Publicadora


Batista, Rio de Janeiro, 1963.

Apostila de Teologia Bíblica do Novo Testamento – Professor Paulo Roberto


Ruckert – Faculdade de Teologia Unida.

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