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GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA
Modalidade EAD
GUIA DIDÁTICO
Epístolas Gerais
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 5
Tabela I .............................................................................................................. 7
2
2.3.2 Teologia de Tiago .................................................................................... 27
4
INTRODUÇÃO
5
“As pessoas supõem, equivocadamente, que o cânon foi estabelecido
pelos concílios eclesiásticos. Não foi assim, pois vários concílios que
se pronunciavam sobre o problema do cânon do Novo Testamento
apenas os tornavam públicos... O desenvolvimento do cânon foi um
processo demorado, basicamente encerrado em 175 anos, exceto por
uns poucos livros cuja autoria era ainda discutida” (CAIRNS, 2008, p.
101)
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Tabela I
Gênero Literário Obra Autoria
História Evangelho Segundo Mateus Mateus, o apostolo
História Evangelho Segundo Marcos Marcos, o discípulo
História Evangelho Segundo Lucas Lucas, o Discípulo
História Evangelho Segundo João João, o Apóstolo
História Atos dos Apóstolos Lucas o Discípulo
Doutrina Epistola ao Romanos (sic) Paulo, o apóstolo
Doutrina I e II Coríntios Paulo, o apóstolo
Doutrina Epístola aos Gálatas Paulo, o apóstolo
Doutrina Epístola aos Efésios Paulo, o apóstolo
Doutrina Epístola aos Filipenses Paulo, o apóstolo
Doutrina Epístola aos Colossenses Paulo, o apóstolo
Doutrina I e II Epístolas aos Tessalonicenses Paulo, o apóstolo
Pessoal I e II Timóteo Paulo, o apóstolo
Pessoal Epístola a Tito Paulo, o apóstolo
Pessoal Epístola a Filemom Paulo, o apóstolo
Doutrina Epístola aos Hebreus incerta
Doutrina Epistola de Tiago Tiago, o discípulo
Doutrina I e II Pedro Pedro Apostolo
Doutrina I Epístola de João João, o Apóstolo
Pessoal II e III Epístola de João João, o Apóstolo
Doutrina Epístola de Judas Judas, meio irmão de Jesus
Escatologia Livro de Apocalipse João, o Apóstolo
(próprio autor)
No Novo Testamento apresentam dentro das literaturas as epístolas que
se dividem em: Epístolas Paulinas (escrita pelo apóstolo Paulo) e Epístolas
Gerais. Os escritos epistolares se definem como:
7
como não sendo escritos Paulinos e também são escritos universais porque
são endereçados às várias comunidades e não a uma específica conforme os
escritos paulinos. As Epístolas Gerais contêm as seguintes obras: Hebreus;
Tiago; I e II Pedro; I, II e III João e Judas. Cada epístola será analisada em seu
teor: histórico (data, autor e destinatário), doutrinário e prático.
Boas aulas e bons estudos a todos!
Rodrigo Silva
8
CAPÍTULO I – HEBREUS, A SOBERANIA DE CRISTO.
1 Marcião ou Márciom, a escrita do nome difere de acordo com o autor, ele era filho do Bispo
de Sinope, localizado na região do Ponto. Foi nesse lugar em que Márciom conheceu a fé
cristã, contudo, possuído de uma antipatia por dois aspectos; o primeiro o mundo material; o
segundo a religião judaica. Por isso sua doutrina (heresia) combina esses dois elementos. No
ano de 144 Márciom foi para Roma, onde fundou sua própria igreja conseguindo vários
seguidores. Em resposta a heresia de Márciom que deu início a compilação de uma lista de
livros sagrados. (GONZÁLEZ, 2011, p. 66-67)
2 Denominado cânon Muratoriano, pois foi descoberto por Ludovico A. Muratori (1672 – 1750),
foi datado de 180 d.C. pela Biblioteca Ambrosiana de Milão. Na lista encontrada por Muratori
forma considerados canônicos 22 livros, excluindo parte das Epístolas Gerais e Apocalipse,
que ainda eram discutidas sobre seu lugar no cânon. (CAIRNS, 2008, p. 101)
9
Interessante pensar que muitas grades de disciplina de teologia vão
apresentar o nome desta matéria como Hebreus e Epístolas Gerais, isso é
decorrente ao desenvolvimento do cânon sagrado na história, porque Hebreus
por alguns pais da igreja, ficava no corpo Paulino das epístolas. Isso vamos
observar no esquema abaixo:
3Guthrie, Donald. Hebreus – Introdução e Comentário. Tradução Gordon Chown. São Paulo,
Edições Vida Nova – 2011, p.14-17.
10
Neste período Cipriano de Cartago, não
Século III – faz uma proposição sobre a autoria da
Cipriano de Epístola aos Hebreus, uma vez que ele
Cartago não aceitava o escrito como pertencente
ao cânon)
11
“Não resta dúvida de que, quando foi incorporada à obra paulina –
provavelmente em Alexandria, no século II – estava sendo reconhecida
que ela possuía condição canônica. Aliás (até onde sabemos), nem em
Alexandria nem na igreja oriental nunca se duvidou de sua
canonicidade, quaisquer que fossem as dúvidas que pudesse haver
sobre sua autoria.” (CARSON; MOO E MORRIS, 1997, P.449)
4 A tradução Bíblica Nova Versão Internacional, será identificada pela sigla NVI,
conforme realizado por muitos autores em comentários Bíblicos.
12
Como todo processo de historiografia, existem aproximações e hipóteses
sobre as datas em que os eventos acontecem, com isso apresentaremos três
possíveis datas da escrita de Hebreus, assim como a hipótese levantada para
defini-las.
A primeira data é 55 d.C. A principal argumentação é a partir do texto de
Hebreus (12.4) “Na luta contra o pecado, vocês ainda não resistiram até o
ponto de derramar o próprio sangue” (Bíblia, NVI, Rio de Janeiro, 2017), no
texto citado observamos que na metáfora apresentada, possivelmente os
destinatários não haviam sofrido com martírios, devido ao período de forte
perseguição levantada pelo imperador Nero (55 – 68 d.C.), período marcado
pelo grande derramamento de sangue de cristãos. (CARVALHO, 2008, p. 19)
A segunda data é 63 d.C. Essa hipótese tem dois pontos importantes
para pensar nesse período. O primeiro é a morte de Tiago no ano 63 d.C. Que
a epístola foi escrita para igreja em que ele liderava. O segundo ponto
considera essa data por não mencionar em sua literatura a destruição do
templo no ano 70 d.C. Com isso teóricos apontam que possivelmente a data
seria o período entre 63 e 70 d.C. Existe alguns textos que apoiam essa ideia.
Hebreus (7.8; 9.6-9; 13.10). Nesses textos os verbos gregos são escritos no
tempo presente, indicando o sistema litúrgico do templo. (CARVALHO, 2008, p.
19-20)
A terceira data limite é 70 d.C. Dois aspectos se apresentam nesse
período, o primeiro, é o fato que o texto não cita a destruição do Templo de
Jerusalém, que ocorreu no ano 70 d.C. Empreendimento realizado pelo
imperador Vespasiano. O segundo é a citação sobre a soltura de Timóteo,
personagem de grande apreciação, pelo autor da carta. Hebreus 13.23 “Quero
que saibam que o nosso irmão Timóteo foi posto em liberdade. Se ele chegar
logo, irei vê-los com ele.” Teóricos que defendem esse período, posterior a 70
d.C. Argumentam que a não citação da destruição ao templo, ocorre porque o
assunto era de conhecimento geral, e que a citação sobre a libertação de
Timóteo, seria uma segunda prisão que o jovem pastor sofreu, esse fato é
relacionado com base ao ano de escrita da II Epístola a Timóteo, que é
13
datada no ano 66 d.C. Carta que Paulo escreve ao pastor de Éfeso.
(CARVALHO, 2008, p.20-21)
Todas as três hipóteses sobre a possível data da Epístola aos Hebreus
apresentadas possuem evidências internas e externas para dar base ao
argumento, contudo as três também apresentam deficiências em sustentar a
hipótese. Existem vários estudiosos que argumentam sobre uma data ou
sobre a outra, porém permanece a disputa de argumentação. Mas podemos
notar que não se pode eliminar nenhuma data entre 55 d.C. e 100 d.C.
14
demorado para aceitar a teoria da autoria Paulina. Nessa localidade também
que a carta é citada em um escrito de Clemente de Roma. A forte relação com
a Região da Itália, ocorre pela interpretação de Hebreus 13.24 “Saúdem a
todos os seus líderes e a todos os santos. Os da Itália lhes enviam
saudações.” (Bíblia, NVI, 2018), é interpretado “os da Itália”, como um grupo
de pessoas que haviam deixado a Itália e viviam em outras localidades.
A localidade em si não apresenta tanta relevância, se considerarmos o
conceito de Epístolas Gerais, porque esse conceito tem o objetivo de um
documento que pode ser lido em várias comunidades. Contudo, pelo estilo
refinado do grego de Hebreus somado as descrições do sistema de culto
levítico que contêm na epístola, podemos afirmar que era para um grupo de
judeus cristãos ou judeus helenistas.
Para Carvalho (2008, p.21-22), a carta pode ter três grupos distintos, o
primeiro já citado, judeus cristãos; o segundo poderia ser o partido político
nominado essênios e o terceiro grupo de gentios. No grupo de judeus,
possivelmente estejam inseridos ex-sacerdotes, que deixam um lugar de
destaque na religião judaica e assumem o anonimato na nova religião, com
isso a epístola consolaria esse grupo para que não retrocedessem à velha
prática, assim abandonando a fé no Cristo. Conforme podemos ver no texto de
Hebreus 5.12-13, onde o autor reconhece o conhecimento já existente pelos
leitores.
15
da pura doutrina. Um grupo de costumes irrepreensíveis, exemplo na moral,
boa fé e pacíficos. Eles esperavam que aparecessem dois Messias. Por isso
alguns teólogos acreditam que seria bons destinatários para Epístola aos
Hebreus. Pois a carta sendo endereçada a eles corrigiria os erros da
esperança em dois Messias, um Rei-Messias, descendente de Davi e outro
Sacerdote-Messias descendente de Levi, que daria continuidade as tradições
sacerdotais, conforme Hebreus 8.1-2 “O mais importante do que estamos
tratando é que temos um sumo sacerdote como esse, o qual se assentou à
direita do trono da Majestade nos céus”. (Bíblia, NVI, 2017).
O terceiro grupo de possíveis destinatários, seria um grupo de gentios.
O principal argumento para defender esse grupo como o destinatário aparece
em algumas sentenças em Hebreus (3.12) “Cuidado, irmãos, para que
nenhum de vocês tenha coração perverso e incrédulo, que se afaste do Deus
vivo.” (Bíblia, NVI, 2017. Grifo do autor); Hebreus 6.1 “Pelo que, deixando os
rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até a perfeição, não lançando
de novo o fundamento do arrependimento de obras mortas e de fé em Deus”
(Bíblia, João Ferreira de Almeida5 Corrigida, 2009. Grifo do autor). Essas
sentenças grifadas não pertencem à tradição judaica, contudo faz mais
sentido quando aplicadas aos grupos de gentios.
Foram apresentadas muitas possibilidades sobre os destinatários, porém
é aceito pela maioria dos teólogos atuais que o público-alvo da epístola seria
os judeus, porque vários argumentos estão relacionados com o Antigo
Testamento.
5 A tradução Bíblica João Ferreira de Almeida Corrigida, será identificada pela sigla JFAC,
conforme realizado por muitos autores em comentários Bíblicos.
16
estrutura da carta e sua teologia existe uma unanimidade que a reconhece
como inspirada e possuidora de autoridade divina.
I-A II – A SUPERIORIDADE
SUPERIORIDADE DA DO MINISTÉRIO DE III – A SUPERIORIDADE
PESSOA DE JESUS JESUS CRISTO 4.4 - 10.8 DA CAMINHADA DA FÉ
17
CRISTO 1.1 - 4.13 10.19 - 13.25
A. Jesus melhor que A. Jesus melhor do que A. Um chamado a
os profetas 1.1-3 Arão 4.14--5.10 segurança total da fé
B. Jesus melhor do 1.Compreensivo e 10.19—11.40
que os anjos 1.4-2.18 compassivo 4.14---5.4 1. Um chamado a
firmeza da fé
(Primeira advertência 2.Segundo a ordem de
:contra a negligência 10.19-39
Melquisedeque 5.5-10
2.2-4) (Quarta advertência:
(Terceira advertência:
C. Jesus melhor que contra retroceder 10.26-
contra a falta de
Moisés 3 .1-13 39)
maturidade 5.11--6.20)
D. Jesus melhor que 2. Uma descrição da fé
B. O Sacerdócio de
Josué 4.1-13 11.1-3
Melquisedeque, portando
(Segunda advertência: de Jesus Cristo, melhor e 3. Heróis da fé 11.4-40
contra a descrença 4 maior do que o de Arão B. A persistência da fé
.1-3,11-13) 7.1--8.5 12.1-29
1.Arão paga dízimos a 1. A persistência de
Melquezedeque 7.1-10 Jesus 12.1-4
2.Os sacerdotes arônicos 2.O valorElaborada
da disciplina
pelo autor
não fizeram nada perfeito 12.5-24
7.11-22 (Quinta advertência :
3. Os sacerdotes arônicos contra recusar a Deus
morreram 7.23-28 12.25-29)
4. Os sacerdotes arônicos C. Admoestações sobre
serviram apenas sombras o amor 13.1-6
8.1-5 1. Amor no domínio
C. Jesus mediador de social 13.1-17
uma melhor aliança 8.6— 2. Amor no domínio
10.18 religioso 13.7-17
1. A melhor aliança D. Conclusão 13-18-25
8.6-13
2. O santuário e
sacrifícios do AT
Elaborado pelo autor
9.1-10
3. O santuário e
sacrifícios do NT
9.11—10.18 (Elaborado pelo autor)
1.3.2 TEOLOGIA NA EPÍSTOLA AOS HEBREUS
18
epístola. Para definir sua teologia, o autor pontua a exegese do Antigo
Testamento, que demonstrará a supremacia do filho de Deus, como
cumprimento das promessas descritas pelos profetas de Israel.
Uma carta envolta em tantas controvérsias e dúvidas, como ela chegou
até nós? Como ela ultrapassou concílios e debates e permaneceu no cânon?
Essas perguntas são respondidas pela qualidade teológica de Hebreus, e por
responder umas das questões mais importantes para a humanidade, como nos
aproximar de Deus. Com uma cristologia consistente e uma mensagem de
esperança a epístola coloca quem a lê no rumo correto.
Pois Cristo não entrou em santuário feito por homens, uma simples
representação do verdadeiro; ele entrou no próprio céu, para agora se
apresentar diante de Deus em nosso favor; não, porém, para se oferecer
repetidas vezes à semelhança do sumo sacerdote que entra no Santo dos
Santos todos os anos, com sangue alheio. Se assim fosse, Cristo precisaria
sofrer muitas vezes, desde o começo do mundo. Mas agora ele apareceu
uma vez por todas no fim dos tempos, para aniquilar o pecado mediante o
sacrifício de si mesmo. (BÍBLIA, NVI, 2017)
19
1.3.2.1 HEBREUS, UMA CRISTOLOGIA CONSISTENTE
20
tentação, porém, sem pecado”. (BÍBLIA, NVI, 2017). O terceiro aspecto é a
exaltação do filho, que pressupõe o filho como herdeiro supremo de todas as
coisas, existe um sentido de plena realização em Jesus. Hebreus 6.20 “onde
Jesus, que nos precedeu, entrou em nosso lugar, tornando-se sumo
sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque” (BÍBLIA, NVI,
2017).
Como ponto central dos escritos, é a superioridade de Jesus sobre a
antiga aliança e seus modos litúrgicos e líderes. Na tabela a seguir listaremos
essas comparações.
21
mas instruí seus leitores a ter fé no invisível e oculto, Hebreus 11.1” Ora, a fé é
a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos.”
(BÍBLIA, NVI, 2017). Mesmo que a argumentação gire toda na figura do
Cristo, na galeria dos heróis da fé no capítulo onze, vamos observar que pela
fé muitos participaram de eventos históricos extraordinários. No capítulo 12 é
apresentado a disciplina da vida cristã, aspecto que auxilia na perseverança
da fé, para evitar que a apostasia aconteça, diante das dificuldades do
presente século.
Finalizando esta rica epístola no capítulo 13, em que o autor de Hebreus
aconselha seus leitores sobre questões práticas, exortando sobre a vida
social, vida particular, vida religiosa e o novo altar cristão, pedindo assim em
Hebreus 13.22 “Rogo-vos, porém, irmãos, que suporteis a palavra desta
exortação; porque abreviadamente vos escrevi” (BÍBLIA, NVI, 2017). Esse
apelo convoca a todos a considerar essas palavras de extrema importância
para seus leitores.
CAPÍTULO II – TIAGO, FÉ COMO AÇÃO NA HISTÓRIA
22
sobre o nome do autor, contudo podemos notar que existiam mais de um
Tiago na narrativa bíblica, mas quem é esse Tiago? Nessa saudação
podemos constatar que o autor é alguém conhecido e que possui uma
autoridade, esse pode ser uns dos argumentos pela falta de justificativa de
quem era o autor, apresentando poucos detalhes. Com o passar do tempo
pode ter-se perdido quem era o autor, devido a mudança geracional dos
cristãos.
Carvalho (2009, p. 66) aponta quatros pessoas com o mesmo nome do
autor da epístola, que são: Tiago, o filho de Zebedeu; Tiago, filho de Alfeu;
Tiago, o pai de Judas Tadeu; Tiago, o irmão do Senhor Jesus. Essas quatro
possiblidades também são mencionadas pelos autores já citados nesse texto.
Analisando os relatos históricos teremos uma aproximação de quem seria o
possível autor da epístola de Tiago.
O primeiro Tiago, o Filho de Zebedeu também conhecido como Tiago
Boanerges, filho do trovão – Marcos 3.17, irmão de João, ambos originários da
cidade de Cafarnaum, onde moravam com seu Pai, esse personagem não
pode ser considerado como possível autor, pois o relato histórico de seu
martírio é anterior a escrita da carta. Textos em que esse Tiago é mencionado
– Mc 1.19; 5.37; 9.2; 10.35; 14.33.
O segundo Tiago, filho de Alfeu e de Maria (irmã da mãe de Jesus)
também identificado como Tiago, o menor recebe esse título por causa de sua
estatura inferior ao do irmão de João, e por ser o mais novo dos apóstolos. Nas
escrituras não existe mais registro sobre esse personagem, após ascensão de
Jesus. Contudo a tradição histórica relata que ele foi morto por ordem do sumo
sacerdote Ananias. Textos em que esse Tiago é mencionado – Mt 10.3,27; Mc
3.18; 15.40; Lc 6.15; At 1.13.
O terceiro Tiago, o pai de Judas Tadeu, devido a ausência de relatos
consistentes sobre esse personagem fica descartada a possibilidade de ele ser
o autor da epístola. Textos em que esse Tiago é mencionado – Mt 10.3; Mc
3.18; Lc 6.16; At 1.13. Ele aparece de maneira coadjuvante, seu nome é
mencionado porque seu filho fazia parte do colégio apostólico.
23
O quarto Tiago, o irmão de Jesus. Esse personagem é uma liderança
reconhecida em Jerusalém, vários teóricos o apontam como o escritor da
epístola, também reconhecido por ser meio irmão de Jesus. Figura que teve
sua elevação no cenário histórico, após a ressurreição de Jesus. Essa hipótese
ganha mais sustentação, quando colocamos em comparação as ideias do
concílio de Jerusalém Atos 15.13-21, escrito por Lucas, com as ideias da carta
de Tiago principalmente referente a ênfase doutrinária. Textos em que o meio
irmão de Jesus aparece – Mc 6.3; Jo 7.5; At 12.17; 15.13; 21.18; Gl 1.19; 2.9.
24
evidências internas na carta. De acordo com a tradição cristã, essa carta
circulou primeiramente em Jerusalém.
25
Dentre todas as epístolas do Novo Testamento, Tiago é a carta menos
doutrinária, contudo existe um aspecto prático dos escritos, com o objetivo de
animar em meio às provas, também o autor tem uma preocupação com uma
justiça social e as atitudes dos ricos para com os pobres.
26
a -A permissão para as provações atinja seu
propósito (1.2-18)
II - As Provações E A Maturidade
b - A sabedoria, a oração e a fé
Cristã (1.2-18)
c - A pobreza e a riqueza (1.9-11)
d - As provações e a tentações (1.12-18)
a - Uma exortação quanto ao falar e à ira
(1.19-20)
III - O Verdadeiro Cristianismo
b - "Tornai-vos, pois, praticantes da palavra"
Contemplado Em Suas Obras
(1.21-27)
(1.19-2.26)
c - A Imparcialidade e a lei do amor (2.1-13)
d - A fé que salva (2.14-26)
a- Os efeitos nocivos da língua em controle
(3.1-12)
b - A verdadeira sabedoria traz paz (3.13-18)
IV - As Dissenções Dentro Da
c - Os prazeres malignos são a fonte de
Comunidade (1.19-2.26)
dissensões (4.1-3)
d - Um chamado ao arrependimento (4.4-10)
e - A maledicência é proibida (4.11-12)
a - A arrogância é condenada (4.13-17)
b - Condenados aqueles que fazem mal uso
V - As Implicações De Uma
da riqueza (5.1-6)
Cosmovisão Cristã (4.13 - 5.11)
c - Um estímulo à perseverança paciente
(5.7-11)
a - Os juramentos (5.12)
VI - Exortações Finais (5.12-20) b - A oração e a cura (5.13-18)
c - Uma chamada final à ação (5.19-20)
(Elaborado pelo autor)
27
teologia contra a outra, gerando assim as controvérsias, que levam o
reformador a declarar que a teologia da epístola de Tiago era “palha”.
De acordo com Moo (2011, p. 40-41), é muito comum a Epístola de
Tiago ser analisada como um escrito sem nenhuma teologia, contudo os
escritos de Tiago são uma coleção de homilias práticas, que faz o convite a
seus leitores a mostrarem sua ortodoxia através da ortopraxia, ou seja,
precisamos observar a teologia de Tiago como algo prático. Os ensinos
teológicos desta carta contribuem para nossa compreensão sobre fé e obra; a
oração; a natureza de Deus; a origem do pecado e a sabedoria, vale ressaltar
que não são textos doutrinários como confissões de fé, mas são ensinamentos
práticos a partir desses temas.
29
“No coração de sua homilia está o sincero desejo de Tiago no sentido
de que os cristãos deixem para trás esta “meia fé”, instável e
incoerente, e avancem em direção a um compromisso com Deus, que
seja de todo coração, invariável em pensamentos, palavras e atos”.
(MOO, 2011, p.51)
30
ambiente interno, proporcionado por falsos mestres, e uma perseguição
externa, de modo que o império romano perseguia e matava os cristãos.
Nesses tempos difíceis, faz necessário uma teologia ortodoxa, que produza
esperança.
32
de nosso Deus e Salvador Jesus Cristo, receberam conosco uma fé
igualmente valiosa”. (BÍBLIA, NVI, 2017, grifo nosso). Pedro se declara com
seu nome original “Simão”, outro aspecto é a citação do relato histórico como
testemunha ocular da transfiguração.
Existe uma forte ligação entre 2 Pedro e Judas, podemos notar que 19
versículos de um total de 25 versículos de Judas são encontrados na segunda
carta do apóstolo Pedro. Mas quem seria o autor desta epístola?
No seu primeiro versículo seguindo o padrão epistolar o autor se
identifica, “Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago, aos que foram
chamados, amados por Deus Pai e guardados por Jesus Cristo” (BÍBLIA, NVI,
2017, grifo nosso). Dois aspectos sobre essa identificação dever ser
ressaltado, primeiro que o autor se identifica como servo de Jesus Cristo, a
segunda seu parentesco com Tiago, a maior probabilidade é que o Tiago
mencionado seja o meio irmão de Jesus, que era um líder em destaque na
igreja primitiva, esse seria o maior motivo dele ser citado. Com isso
observamos que Judas escritor da epístola está dentro do círculo familiar de
Jesus conforme vemos em Marcos 6.3 “Não é este o carpinteiro, filho de
Maria e irmão de Tiago, José, Judas e Simão? Não estão aqui conosco as
suas irmãs? “E ficavam escandalizados por causa dele.” (BÍBLIA, NVI, 2017,
grifo nosso). Por Judas ser coadjuvante, e não ter um nome expressivo entre
os discípulos de Jesus, ajuda a reforçar a tese que Judas, o meio irmão de
Jesus, tenha sido o autor desta epístola de apenas um capítulo.
34
igreja específica. Contudo isso não indica que os autores sagrados não tinham
um público em mente.
Pedro escreve suas duas epístolas, para um grupo diversificado de
cristãos, nesse grupo pertenciam judeus e gentios. De acordo com Carvalho
(2008, p. 105), o público de Pedro residia nas seguintes localidades: Ponto,
Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia. Por inferência podemos alegar que a
maioria desse grupo era de gentios. Cabe enfatizar que o apóstolo Pedro não
foi o evangelizador dessas pessoas conforme ele próprio afirma em 1 Pedro
1.12 (BÍBLIA, NVI, 2017, grifo nosso)
35
Judas utilizar escritos antigos como base da sua carta. Entretanto a
classificação desta carta como universal, permite que ela fosse lida em todas
as comunidades, assim auxiliaria quaisquer pessoas que passassem pelos
ataques gnósticos.
36
Mueller (2011, p.44-47) que analise interna da carta nos ajuda a
observar melhor o que nela está proposto, com isso ele divide em nove temas
principais, dentro dessa divisão existem subdivisões conforme podemos
observar no quadro IV abaixo.
37
(Elaborado pelo autor)
FONTE
COMUM
JUDAS
2 PEDRO
JUDAS 2 PEDRO
Figura 1.2
Figura 1.1
JUDAS
2 PEDRO
38
CAPÍTULO UM
a – Introdução e saudação (1.1-2)
b – Os privilégios do Cristão (1.3-4)
c – A escada da fé (1.5-7) CAPÍTULO ÚNICO
d – Cristãos estéreis e frutíferos (1.8-9) a – O autor e seus leitores (1-2)
e – Um alvo digno (1.10-11) b – A carta que Judas não escreveu,
f – A verdade aceita repetição (1.12-15) e a carta que escreveu (3-4)
g – A verdade é atestada por c – Três lembranças de advertência
testemunhas oculares apostólicas (1.16- (5-7)
18) d – Aplicadas as analogias do
h – A verdade é atestada por escrituras julgamento (8-9)
proféticas (1.19-21) e – Diatribe contra os falsos mestres
(10-13)
CAPÍTULO DOIS f – A profecia de Enoque aplica-se a
a – Acautelai-vos dos falsos mestres eles (14-16)
(2.1-3) g – As palavras dos apóstolos se
b – Três exemplos de julgamento e aplicam a eles (17-19)
livramento (2.4-10a) h – Exortações aos fiéis (20-23)
c – A insolência dos falsos mestres i – Doxologia (24-25)
(2.10b-11)
d – Sua arrogância, concupiscência e
gula (2.12-16)
e – A nulidade dos falsos mestres (2.17-
22)
CAPÍTULO TRÊS
a – Reiterando o propósito da carta (3.1-
2)
b – O escárnio dos que zombam da
segunda vinda (3.3-4)
c – Pedro argumenta na base da
história (3.5-7)
d – Pedro argumenta na base da
Escritura (3.8)
e – Pedro argumenta na base do caráter
de Deus (3.9)
f – Pedro argumenta na base das
promessas de Cristo (3.10)
g – As implicações éticas da segunda
vinda (3.11-14)
h – Pedro cita Paulo como apoio (3.15-
16)
i – Conclusão (3.17-18)
39
3.3.2 TEOLOGIAS EM 1 PEDRO
40
Pedro não trabalha somente a ideia futura para seus leitores, ele
assevera em sua teologia o viver santo e consagrado para Deus. Esse aspecto
da sua teologia está plenamente ligado aos textos veterotestamentários, como
por exemplo Levítico 11.44-45 que confirma com 1 Pedro 1.14-16. Dentro de
todo esse escopo teológico de 1 Pedro, podemos afirmar que a palavra
“esperança” é a chave no processo de interpretação. Com uma escatologia de
esperança ligado a uma cristologia presente no Cristo ressurreto, que mesmo
diante do mundo mau suportou toda as dificuldades e sendo nosso maior
exemplo, nessa novidade de vida que temos agora.
Ladd (2003, p. 792) ainda explica que a escatologia é assunto
importante nos escritos petrinos, porém ele não usa a palavra “parousia” para
descrever o evento escatológico, ele usa “apokalypsis”, que significa revelação
e descreve os eventos futuros a partir dessa ideia.
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Na cristologia de Pedro, existe um texto que vem chamando atenção dos
teólogos ao longo da história, 1 Pedro 3.18-20, texto que fala da descida de
Jesus ao “Hades”.
“Pois também Cristo sofreu pelos pecados uma vez por todas, o justo
pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. Ele foi morto no corpo,
mas vivificado pelo Espírito, no qual também foi e pregou aos
espíritos em prisão que há muito tempo desobedeceram, quando
Deus esperava pacientemente nos dias de Noé, enquanto a arca era
construída. Nela apenas algumas pessoas, a saber, oito, foram salvas
por meio da água, e isso é representado pelo batismo que agora
também salva vocês — não a remoção da sujeira do corpo, mas o
compromisso de uma boa consciência diante de Deus — por meio da
ressurreição de Jesus Cristo” (BÍBLIA, NVI, 2017, grifo nosso)
Ladd (2003, p. 796-797), aponta três principais ideias sobre esse texto,
sobre essa descida ao inferno (Hades). A primeira ideia circulou na era da
patrística, pensamento sobre o estado intermediário, e os espíritos eram de
homens que viveram na época de Noé ou tempos anteriores a Jesus histórico.
A segunda opinião elaborada e mantida por Agostinho e alguns reformadores,
é que Cristo antes de vir fisicamente ao mundo, pregou aos contemporâneos
de Noé aos que estavam vivos. Terceira e mais aceita na atualidade, é que no
estado intermediário, foi proclamado por Cristo a vitória do evangelho para os
anjos caídos, que estavam aprisionado no Hades. A pregação não está
relacionada com uma oferta de salvação, contudo é uma pregação triunfante
de Jesus que pela sua morte e ressurreição o Cristo venceu todos os inimigos
do mundo espiritual.
A teologia em 1 Pedro nos proporciona um estudo edificante, o apóstolo
não tenta formular grandes dogmas, mas a partir da sua experiência e com o
“servo sofredor” 1 Pedro 2.24, ele elabora uma mensagem de consolo em meio
as dificuldades presentes, contudo ele também vislumbra uma eternidade de
glória.
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As teologias de 2 Pedro e Judas, são elaboradas em um processo
apologético de defesa da fé genuína, ambos enfrentam falsos ensinos e sob a
perseguição de falsos mestres são obrigados a orientar seus destinatários
sobre o perigo. Para Green (2011, p.36-37) ambas as cartas combatiam um
tipo de heresia gnóstica em sua fase primitiva, ou seja, seu início, tal seita tinha
como principal debate o senhorio de Jesus, eles negavam tal fator da fé cristã,
assim como debochavam da demora da “parousia”, fator que aprece de forma
explicita em 2 Pedro.
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interpretação pessoal”. Isso demonstra que o mesmo Espírito inspira e
interpreta as escrituras, ou seja, que os falsos mestres não pertenciam a
Deus, e faziam uma interpretação falsa.
Algo interessante sobre o tema da inspiração das escrituras, conforme
declara Ladd (2003, p. 805) é que a segunda epístola de Pedro, é a
referência mais antiga da igreja apostólica que consideravam os escritos de
Paulo, ou parte deles como Escrituras conforme vemos em 2 Pedro 3.15b-16.
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fato que parte de uma experiência de revelação miraculosa do indivíduo com
Deus e com o próprio Cristo e assim também foi a experiência dos três
apóstolos no monte da transfiguração. Pedro sedimentou sua teologia com
base nos escritos antigos, demonstrando como esse evento histórico foi o
cumprimento das profecias antigas.
Diferentemente de Pedro, Judas faz uso de livros apócrifos durante seu
escrito. Green (2011, p.47) aponta pelos mesmos dois livros que Judas utiliza
na formulação do seu texto, que são: 1- Assunção de Moisés; 2- Livro de
Enoque. Sendo que o segundo Judas cita diretamente, no versículo 14 e 15.
Chegamos nas últimas três epístolas que fazem parte do bloco das
sagradas escrituras que denominamos Epístolas Gerais. Nesses capítulos
veremos os assuntos que formam os escritos Joaninos, analisaremos 1 João; 2
45
João e 3 João, conforme vimos na Tabela I, a primeira, com aspectos mais
doutrinários e as outras duas com um conteúdo mais pessoal.
Interessante é que pelas três epístolas levarem o nome de João, já nos
conduz a pensar na autoria joanina, contudo nem sempre foi assim, Stott
(2011, p. 15) aponta na história que a primeira epístola como
“homologoumena”, ou seja, livros aceitos, já as outras duas epístolas entram
como “antilegomena”, ou livros contestados.
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corrigir atitudes de alguns obreiros, referente ao abuso de autoridade e falta de
hospitalidade.
Para observarmos a diversidade de assuntos, observamos a maneira
que Stott (2011, p.49) divide o esboço as três epístolas. A primeira epístola é
dividida em sete temas principais, a segunda epístolas em três temas principais
e a terceira em quatro temas.
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(Elaborado pelo autor)
2 JOÃO 3 JOÃO
CAPÍTULO ÚNICO
CAPÍTULO ÚNICO
I – A Introdução (1-3)
I – A mensagem a Gaio (1-8)
II – A Mensagem (4-11)
II – A mensagem concernente a Diótrefes
III – A Conclusão (12,13)
(9-10)
III – A mensagem concernente a Demétrio
(11-12)
IV – A conclusão e saudação (13-14)
(Elaborado pelo autor)
“Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e,
se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo,
o justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente
pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo”. (BÍBLIA, NVI,
2017)
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Carvalho (2008, p.166) compreende que a compreensão de João sobre
a segunda vinda, está em termos apocalípticos, e que os falsos mestres
operam pelo espírito do anticristo, que na linguagem joanina tal espírito já
operava no mundo naquela época, conforme observamos em 2 João 1.7
“Porque já muitos enganadores entraram no mundo, os quais não confessam
que Jesus Cristo veio em carne. Este tal é o enganador e o anticristo”
(BÍBLIA, NVI, 2017). Para João a presença desses enganadores é um sinal
da volta de Jesus, é um prenúncio da parousia.
Para Ladd (2003, p.816) a aparição da figura do anticristo nas escrituras,
é vista como um adversário do Messias, tudo o que se opõe a obra de Cristo.
Nos escritos de João essa figura é representada, por falsos mestres, líderes
rebeldes. Porém que será manifesto em uma única pessoa no fim dos tempos.
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a ênfase da eternidade de Jesus, atributo somente dado a Deus, isso reforça a
cristologia joanina. Essa união das naturezas de Cristo será definida como
dogma na história da igreja nos concílios de Calcedônia em 451 d.C.
Base da teologia joanina é a pessoa de Jesus, nossa entrada pelo novo
nascimento e uma vida que reflita historicamente a quem pertencemos. Nas
epístolas de 2 e 3 João vemos o autor se dirigindo a problemas que as
comunidades da fé enfrentavam. Na segunda o apóstolo aconselha sobre a
hospitalidade de falsos mestres, na última carta ele fala da falta de
hospitalidade por parte de Diótrefes, e como deveria agir Gaio. Nas três
epístolas o autor sagrado busca orientar de maneira prática como deveria ser a
atitude do povo eleito.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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BIBLIOGRAFIA BÁSICA
FEE, Gordon; STAURT, Douglas. Como ler a Bíblia livro por livro: um guia
confiável pra ler e entender as escrituras. Tradução: Jorge Camargo. I.ed. –
Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2009.
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GUTHRIE, Donald. Hebreus: Introdução e comentário. Tradução: Gordon
Chown. São Paulo: Vida Nova, 2011.
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