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XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq

Centro Universitário Ritter dos Reis

Avaliação do uso de briófitas para minimizar a carga poluente no


Arroio Dilúvio

Patricia Antunes Russo


Graduanda Engenharia Ambiental e Sanitária
UNIRITTER
patipaz@ig.com.br

Natália Gamalho
Graduanda em Engenharia Ambiental e Sanitária
UNIRITTER
naty.gamalho@gmail.com

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo avaliar a potencialidade do uso


de briófitas no tratamento de efluentes. Para realização do experimento utilizou-se
a espécie Isopterygium tenerum conhecida como musgo, bastante comum em
áreas úmidas de Porto Alegre e região metropolitana. Levando em conta a grande
carga poluente despejada pelo Arroio Dilúvio no Lago Guaíba, avaliou-se a
capacidade da briófita escolhida para o estudo em minimizar essa carga através
da bioacumulação e transformação de nutrientes encontrados em excesso no
efluente. O efluente para análise foi coletado do Arroio Dilúvio bem próximo ao
deságue no Lago Guaíba. Um sistema teste foi montado e ficou em funcionamento
por 168 horas, sendo mantida a circulação do efluente pela amostra. As análises
ainda estão em andamento, mas até o momento pode-se verificar o aumento da
biomassa e a adaptação da briófita aos componentes do efluente.

1 Introdução

Em meados de 1740, nos arrabaldes de Porto Alegre na foz do Arroio


Dilúvio, ainda cercado por farta vegetação, e de águas límpidas, desenvolveu-
se um pequeno povoado de índios e pescadores. Desde lá, acompanhando
acanhadamente o desenvolvimento da região, o Riacho testemunhou fatos
históricos da cidade: o desenvolvimento do comércio, do porto, da indústria, e
alta densidade populacional, o crescimento dos bairros e os problemas de
infraestrutura e saneamento.
Como o próprio nome diz o arroio sofria alagamentos que ocasionavam
muitos transtornos às populações ribeirinhas. Com a população pauperizada,
não servida por esgoto e com áreas marginais insalubres, foco de doenças
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infecciosas, o Riacho representava uma grande barreira ao desenvolvimento


de suas zonas limítrofes.
Desde 1839 projetos de canalização da várzea tentavam resolver esse
problema, porém, somente trinta anos, aproximadamente, foram necessários
para total canalização e a criação de um novo curso para o arroio, o qual se
configura até hoje. Com todo esse processo o esgoto dos bairros da cidade, foi
direcionado para o arroio sem nenhum critério de tratamento, ocasionando a
morte do arroio como o vemos hoje.
Neste sentido, o presente trabalho busca constituir uma nova
possibilidade de metodologia ambiental que contemple a minimização do
impacto causado pela ação antrópica humana no Arroio Dilúvio, propondo
inicialmente avaliar a viabilidade de uso de briófitas para diminuir a carga
poluente que chega ao Lago Guaíba, através de processo de fito-remediação.

2 Referencial Teórico
Atualmente a demanda por água potável, vem crescendo cada vez mais,
pois a sociedade humana tem contaminado seus mananciais com poluentes
que a natureza, apesar do seu processo de resiliência, não está conseguindo
purificá-los. São recursos naturais que estão sendo descartados nos efluentes
líquidos em altas concentrações, desequilibrando o meio líquido em que estão
inseridos causando prejuízos em todos os níveis tróficos.
Este fato também acontece no Lago Guaíba, recurso hídrico que
abastece o município de Porto Alegre e algumas cidades da região
metropolitana. Neste contexto o Arroio Dilúvio se configura um grande
colaborador deste desequilíbrio, pois suas águas recebem grande
concentração de esgoto doméstico diariamente.
Buscar então formas de tratamento de efluentes se configura uma
necessidade urgente para minimizar os impactos causados por despejos
indevidos. Frente esta demanda, a tecnologia de tratamento de efluentes vem
buscando novas formas de minimizar estas ações dentre elas está a
Fitoremediação que se configura como diz Tavares (2010):

“O princípio de atuação da fito-remediação, é a capacidade de


absorção das raízes das plantas. Além de absorver águas e nutrientes que
as fazem crescer, algumas espécies são capazes de absorver do ambiente,
elementos poluentes, funcionando como filtros biológicos”.

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Neste sentido, para a minimização dos impactos ambientais do produto


gerado uma das alternativas já utilizadas é a fito-remediação, que através do
processo de rizofiltração, que consiste na utilização do sistema radicular de
plantas aquáticas, removem e remediam águas contaminadas por diversos
poluentes.
Partindo desse princípio podemos pensar em utilizar briófitas para
avaliar seu potencial neutralizador e transformador de alguns poluentes
encontrados no Arroio Dilúvio em Porto Alegre.

3 Conceituando
Briofitas é um termo genérico que se aplica a um grupo formado por
mais de 20.000 espécies de plantas pequenas que crescem habitualmente
sobre o solo, troncos de árvores e rochas de ambientes úmidos.

BRYON (grego) = musgo


PHYTON (grego) = planta

Essa divisão compreende vegetais terrestres com morfologia bastante


simples, conhecidos popularmente como "musgos" ou "hepáticas". São
organismos eucariontes, fotossintetizantes, pluricelulares, onde apenas os
elementos reprodutivos são unicelulares, enquadrando-se no Reino Plantae,
como todos os demais grupos de plantas terrestres.
Quanto a sua classificação científica, as briófitas se dividem em três
grupos: Hepatopsida ou Marchantiopsida (hepáticas), Bryopsida (musgos) e
Anthocerotopsida (antocerotas).
No Brasil ocorrem 22 espécies de antóceros, 978 de hepáticas e 1.970
de musgos.
Toleram condições ambientais extremas (já que são capazes de
sobreviver como esporos dormentes) e por isso sua distribuição geográfica é
muito ampla, ocorrendo desde os polos até zonas tropicais. Elas apenas não
são encontradas em ambiente marinho, mas toleram aspersão de água
salgada.
As briófitas são características de ambientes terrestres úmidos, embora
algumas apresentem adaptações que permitem a ocupação dos mais variados
tipos de ambientes, resistindo tanto à imersão, em ambientes totalmente
aquáticos, como a desidratação quando atuam como sucessores primários na
colonização, por exemplo, de rochas nuas ou mesmo ao congelamento em

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regiões polares. Apresentam-se, entretanto, sempre dependentes da água, ao


menos para o deslocamento do anterozóide flagelado até a oosfera.
Os substratos onde as briófitas podem ser encontradas são inúmeros e
diversos, como solo, rochas, tronco e galhos de árvores, madeira em
decomposição, folhas, base de troncos, telhados, muros, entre outros.
As briófitas são pioneiras no processo de sucessão vegetal. Elas
auxiliam no processo de formação do solo e, propiciam o meio adequado para
a germinação das sementes, o que levará ao estabelecimento das
comunidades vegetais. Os extensos tapetes de musgos que conseguem reter
grande quantidade de água são importantes substratos para a germinação das
sementes das plantas vasculares. Algumas espécies de briófitas associam-se a
cianobactérias, aumentando a fixação de nitrogênio.
São excelentes contedoras de erosão nas encostas de morros e beiras
de rios, auxiliando na manutenção do balanço hídrico do solo. Em algumas
partes do mundo desempenham um importante papel no ciclo do carbono, pois
armazenam grandes quantidades de carbono como componentes da biomassa.
Um dos principais usos das briófitas é como indicadores ambientais ou
bioindicadores. Como indicadores ecológicos, estudos mostram que elas
podem ser boas indicadoras da qualidade do solo nas florestas, das condições
de pH e níveis de água e indicam a presença de cálcio e outros nutrientes na
água.
Elas também são indicadores de poluição da água e do ar, pois
apresentam uma ampla distribuição geográfica e crescem em hábitats diversos;
por não possuem epiderme e cutícula; por obterem nutrientes da precipitação
ou deposição de material seco sobre seu gametófito; por transportar água e
nutrientes com facilidade entre as células devido à falta de vasos lignificados e
por acumularem metais de forma passiva.
Alguns estudos comprovam sua utilidade na purificação de água com
altos índices de compostos fosforados e nitrogenados, pois possuem a
capacidade de carregar íons metálicos retirando-os da água e liberando-os em
locais onde a concentração destes compostos é menor, como por exemplo, em
estações de tratamento de esgoto.
Desta forma as briófitas podem ser testadas quanto a sua eficiência
frente ao tratamento dos efluentes, pois são consideradas bioindicadoras do
nível de pH do local onde se encontram, relacionando sua ocorrência com a
presença de cálcio e de certos nutrientes.

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4 Metodologia

Para realizar a avaliação da capacidade de absorção de briófitas em


efluentes descartados no Arroio Dilúvio, inicialmente iremos utilizar a espécie
Isopterygium tenerum conhecida como musgo, bastante comum em áreas
úmidas de Porto Alegre e região metropolitana.
Na montagem do sistema utilizamos:
 Mesa
 Mangueira
 Moto bomba
 Tela
 Amostras de musgos
 Efluente retirado do final da canalização do Arroio Dilúvio, antes
de desaguar no Lago Guaíba.

5 Experimento

1) Protótipo

Fonte: Elaborado pelos autores, com base na pesquisa realizada.


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2) Amostra de Isopterygium tenerum

Fonte: Elaborado pelos autores, com base na pesquisa realizada.

Etapas:
1) Preparo:
a) Montagem da base.
b) Coleta da amostra de Isopterygium tenerum de uma parede da
residência.
c) A amostra foi colocada na tela de plástico para se ambientar com o
novo local durante 7 dias.
d) Respeitou-se a mesma posição solar em que a amostra se
encontrava.
e) Fez- se a coleta do efluente e encaminhou-se a amostra para análise
dos seguintes componentes: pH, DBO, DQO, N total e P total.

2) Sistema em operação:
a) Colocou-se na estrutura um motor-bomba, mergulhado em um tonel
com o efluente e, ligado ao tonel, duas mangueiras uma na entrada do motor-
bomba e outra na saída.
b) Ligou-se o motor-bomba e a água começou a circular, passando pela
tela com a amostra em uma velocidade de 11ml/s.
c) O sistema ficou em funcionamento por 168 horas, sendo mantida a
circulação do efluente pela amostra.

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d) Ao final do tempo estimado coletou-se uma amostra do efluente para


análise.

3) Análises:

Os testes serão realizados em laboratório idôneo com certificação do


INMETRO.
Primeiro será testado uma amostra do efluente bruto, no máximo em 24h
após a coleta, para os parâmetros determinados anteriormente.
O efluente será encaminhado para o sistema de tratamento, previamente
montado, com briófitas.
Após o período de tratamento, será coletada uma amostra do sistema e
novamente, realizados os testes em laboratório, comparando os resultados
obtidos anteriormente, na amostra sem tratamento, com a amostra tratada
possibilitando, assim, avaliar a eficácia do uso de briófitas na fito-remediação.
Também será mantida uma amostra, sem passar pelo filtro de briófitas, porem
nas mesmas condições e durante o mesmo tempo, chamado de branco, para
comparar o real efeito das briófitas no tratamento, já que alguns compostos se
degradam, visto que a amostra não está mais sendo contaminada por meios
externos.

Para realização dos testes no laboratório foram utilizados os seguintes


métodos:
pH (Potencial Hidrogeniônico) – é o parâmetro que indica a acidez,
neutralidade ou alcalinidade de uma solução aquosa. Para medir o valor do pH
na amostra do efluente, o método potenciométrico foi utilizado, que consiste em
um eletrodo acoplado a um potenciômetro, onde o medidor de pH é um
milivoltímetro que converte o valor de potencial do eletrodo em unidades de pH.
DQO (Demanda Química de Oxigênio) – o método utilizado foi a
oxidação química da matéria orgânica, obtida através de um oxidante forte, o
dicromato de potássio, em meio acido, em elevada temperatura. Este método,
durante a determinação do DQO, converte a matéria orgânica a CO 2 e H2O. O
dicromato não oxida todos os compostos orgânicos, para isso é necessário
utilizar um catalisador, como o sulfato de prata.
DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) – O ensaio foi conduzido com
amostras convenientemente diluídas e acondicionadas em frascos de vidro
especiais. As amostras são incubadas a 20º.C em câmara escura por 5 dias.
Após os frascos são retirados e lê-se o nível de OD em cada um deles. O valor
da DBO é calculado considerando os valores de OD medidos e a diluição da
amostra.
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Fósforo (P) Total – a análise de Fósforo consiste em dois grandes


passos: a conversão dos compostos contendo fósforo, na forma de interesse
de orto-fosfato dissolvidos, e a determinação colorimétrica desse orto-fosfato
dissolvido. O método fósforo solúvel consiste no uso de uma digestão ácida –
catalisada pelo calor, onde ocorre a hidrólise dos compostos orgânicos,
gerando os orto-fosfatos.
Nitrogênio (N) Total – o método foi o Kjeldahl, que consiste na soma do
nitrogênio nas formas orgânica e amoniacal. O principio do método consiste na
presença de ácido sulfúrico, sulfato de potássio e sulfato de cobre, onde ocorre
a catalise de conversão das diversas formas de nitrogênio orgânico em
nitrogênio amoniacal.

6 Resultados e discussões

Após o término da experiência e das análises espera-se que:


 O efluente circulante no sistema apresente composição química distinta
quanto às condições: antes e após.
 A espécie de musgo Isopterygium tenerum apresente capacidades de
captura e consequente absorção dos poluentes maiores, representados por
N e P.
 Ocorra a redução no número de poluentes encontrados nas águas do Arroio
Dilúvio testado.
 Frente aos resultados encontrados possa-se constituir uma metodologia de
fito-remediação com viabilidade técnica e econômica, buscando a
preservação ambiental.

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Referências

MARTINS, R.J.E. Acumulação e Libertação de Metais Pesados por


Briófitas Aquáticas. Dissertação de Doutorado.Faculdade de Engenharia
Química. Universidade do Porto, Jul, 2004. Disponível em
https://bibliotecadigital.ipb.pt/bitstream/10198/2004/
1/PhD%20Thesis%20Martins%20RJE.pdf. Acesso em Junho 2014.

RAVEN, H.P.; EVERT, R.F.; EICHHORN, S.E. Biologia Vegetal. 8 ed. Rio de
Janeiro, Ed. Guanabara Koogan, 2014.

SANT’ANA JUNIOR, G. L. Tratamento biológico de efluentes: fundamentos e


aplicações. 2 ed.Rio de janeiro, Interciência, 2013.

Fitorremediação - uso de plantas para descontaminação ambiental.


Disponivel em: Tavares, Sílvio
http://hotsites.sct.embrapa.br/prosarural/programacao/2010/fitorremediacao-o-
uso-de-plantas-para-descontaminacao-ambiental. Acesso em 15/09/2015

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