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Controle de macrófitas aquáticas

Mônica Accaui Marcondes de Moura e Mello


monica_moura@biologico.sp.gov.br
Daniel Andrade de Siqueira Franco
Marcus Barifouse Matallo
Centro Experimental Central

Número 72 - 01/01/0001

Introdução

As macrófitas aquáticas são plantas que apresentam grande capacidade de adaptação e amplitude ecológica,
habitando ambientes variados de águas doce, salobra e salgadas, ambientes de água estacionária e corrente.
Em sua maioria, são capazes de suportar longos períodos de seca. Na Figura 1 observam-se os cinco
diferentes grupos que compõem a comunidade de macrófitas aquáticas.

Estas plantas são essenciais ao perfeito equilíbrio do ambiente aquático, sustentando um elevado número de
organismos, diminuindo a turbulência das águas e, conseqüentemente, sedimentando os materiais em
suspensão, principalmente naqueles pontos onde a mata ciliar foi suprimida. São também utilizadas como
substrato para a desova e refúgio de vários organismos aquáticos, como peixes e insetos.

Desenvolvimento

Com a interferência humana no represamento dos corpos d´água e seu enriquecimento pela erosão do solo
agricultável, além do aporte de esgotos de origem doméstica e industrial, tem ocorrido a eutrofização dos
recursos hídricos. Devido a isso, há o desequilíbrio do ambiente aquático, causando a depleção da
quantidade e qualidade da água dos mananciais e o comprometimento da fauna e flora associadas a eles.

Um dos sintomas deste processo é a elevada proliferação das macrófitas aquáticas, que podem impedir os
múltiplos usos dos recursos hídricos como, por exemplo, geração de energia elétrica, irrigação, navegação
por hidrovias, pesca e recreação.

Abaixo e nas Figuras 2 a 10 (Modificadas de Lorenzi, 2008²), se observam as principais características das
espécies daninhas mais impactantes na atualidade.

A elodea (Egeria densa) e o candelabro-aquático (Ceratophyllum demersum) são duas espécies que têm causado
grande prejuízo em reservatórios de usinas hidrelétricas. A primeira é uma planta daninha medianamente
freqüente que infesta mananciais de água parada como lagos, lagoas e pequenas represas, e de pequena
movimentação, como os canais de drenagem. Elas se desenvolvem abundantemente em ambientes
eutrofizados, sendo que o candelabro-aquático é, ainda, tolerante a flutuações do nível de água, podendo
atingir vários metros de profundidade.

O capim-angola (Brachiaria mutica) é muito abundante em baixadas úmidas e de brejos, infestando canais de
drenagem, beira de estradas e culturas perenes; é hospedeiro alternativo do agente causador da bruzone do
arroz. Já o Tanner-grass (Brachiaria subquadripara), que também infesta lavouras cultivadas em locais úmidos
como arroz irrigado e beira de canais, se ingerido por longos períodos, pode causar intoxicação severa no
gado e levá-lo ao óbito em poucas semanas.

A planta daninha aquática que causa mais problemas no país é o aguapé (Eichhornia crassipes), uma espécie
muito vigorosa que dobra sua área a cada 6-7 dias, quando em condições ótimas de crescimento, chegando a
produzir 480 toneladas de massa verde/ha/ano. Em segundo lugar aparece a alface d’água (Pistia stratiotes),
uma espécie que cobre totalmente o ambiente aquático, desenvolvendo-se rapidamente nos ambientes
poluídos e provocando profundas alterações no ecossistema.

A cataia-gigante (Polygonum lapathifolium) e o capim-de-peixe (Echinochloa polystachya) crescem nas margens e


leitos semi-secos de rios, lagoas e lagos; em ambientes turbulentos, desprendem-se do sedimento, formando
ilhas flutuantes gigantescas, que oferecem grande perigo à navegação.

Finalmente, o carrapatinho (Salvinia auriculata), uma espécie muito freqüente em mananciais de água parada
ou pouco movimentada e que, assim como a alface d’água, cobre toda a sua superfície, bloqueando a
passagem de luz solar e interferindo no ambiente aquático; chega a produzir 650g de biomassa seca/m2/ano.

Como o intuito de diminuir sua abundância, as grandes biomassas de macrófitas aquáticas têm sido
combatidas utilizando o controle mecânico, químico e biológico, pois ainda não há legislação específica para
seu manejo em sistema aberto. No controle mecânico as plantas precisam ser coletadas, transportadas e
depositadas em local adequado, o que torna o processo oneroso e com eficácia de curto prazo, pois em
pouco tempo os reservatórios são novamente colonizados. A retirada manual é eficiente apenas em
ambientes menores e mais rasos.

O controle químico das macrófitas aquáticas tem sido feito basicamente com o uso de herbicidas. É um
método bastante empregado em todo o mundo, porém, no Brasil, o único herbicida registrado no Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para
controle de macrófitas aquáticas das espécies Egeria densa e Egeria najas, em reservatórios de hidrelétricas, é
o fluridone. Outros ingredientes ativos têm sido testados experimentalmente em sistemas fechados, porém
seu uso não é permitido no país.

A eficiência do controle químico varia entre aplicações e dependerá de fatores da qualidade da água como
turbidez, pH, condutividade elétrica e temperatura. Nos corpos d´água de maior profundidade, como lagoas e
represas, melhores resultados são obtidos com aplicações setorizadas em baixas doses, o que permite um
controle das plantas daninhas mais eficiente e com menor risco para espécies não-alvo e a fauna associada.

Segundo os defensores deste método, o controle químico promove resultado rápido, com baixo investimento
econômico e especificidade. Entretanto, já se observou que o glyphosate, uma das moléculas mais
empregadas no mundo todo e um herbicida pós-emergente de amplo espectro e baixa persistência no
ambiente (cerca de 47 dias), pode promover mutações genéticas em tilápias (Tilapia rendalli) e mudanças
comportamentais em peixes como o mato-grosso (Hyphessobrycon eques) e o paulistinha (Danio rerio).

Do ponto de vista ambiental, o controle biológico é o mais recomendável, pois possibilita a incorporação da
biomassa de macrófitas aquáticas por animais herbívoros, como peixes e mamíferos, que podem ser
aproveitados pelo homem. No Brasil, bons resultados foram obtidos com peixes como a carpa-capim
(Ctenopharyngodon idella), a tilápia (Tilapia rendalli) e o pacu (Piaractus mesopotamicus) (Figura 11).

O pacu é capaz de realizar uma taxa de controle diário (o quanto o peixe controla por dia em relação ao seu
peso vivo, em porcentagem) de elodeas (Egeria densa, E. najas) e do candelabro-aquático (C. demersum) entre
09,3 e 20,0%, podendo eliminar uma massa verde dessas plantas, com a mesma quantidade de seu peso, em
sete dias. Resultados semelhantes foram encontrados para a carpa-capim, com essa taxa variando entre 05 e
25%, no controle de espécies como Azolla filiculoides e Lemna sp. em canais de drenagem.

Na Argentina, o uso da carpa-capim, estocada numa taxa de 100 kg.ha-1, resultou no controle efetivo de
macrófitas aquáticas submersas, após dois meses de sua introdução em canais de irrigação, sob condições
naturais. A carpa comum (Cyprinus carpio) também produziu resultados satisfatórios, quando introduzida
numa taxa de 500-2000 juvenis.ha-1, com a redução de uma biomassa de macrófitas entre 40-100% em
canais de drenagem. Um impacto negativo desta introdução, entretanto, foi o aumento da turbidez da água,
uma vez que esta espécie de peixe revolve o sedimento de fundo, em busca de alimento.

A rizipiscicultura no sul do país é um bom exemplo das vantagens do controle biológico de macrófitas. Um
sistema que emprega a carpa comum, as carpas chinesas [prateada (Hypophthalmichthys molitrix), capim (C.
idella) e cabeça grande (Aristichthys nobilis)] e o jundiá (Rhamdia quelen) (Figura 12), em consórcio com a
rizicultura, tem suprimido/reduzido a dependência da utilização de agroquímicos na produção do arroz
irrigado.

A piscicultura entra como atividade paralela, elevando a rentabilidade da rizicultura (os peixes substituem as
máquinas no preparo do solo, reduzindo de 40% a 50% os custos de produção, e não afetam o rendimento
do arroz); otimiza o uso do solo e da água, inclusive na entressafra do cereal, gerando receita em torno de R$
3 mil/ha de espelho d’água, com uma produtividade em torno de 400kg peixe/ha. Como fatores limitantes
citam-se a falta de informação para a adoção do sistema, principalmente no que diz respeito à densidade e
época de estocagem dos animais, e de padronização dos tabuleiros de arroz, o que muitas vezes impede sua
drenagem completa e, deste modo, a despesca total dos peixes.

Conclusão

Pelas informações aqui apresentadas, pode-se concluir que enquanto não se combaterem as fontes
eutrofizadoras dos recursos hídricos, não será possível o controle efetivo das macrófitas aquáticas, que
sempre terão o substrato necessário para seu desenvolvimento. A utilização de métodos biológicos no
controle destas plantas daninhas certamente é o menos impactante, mas deve ser realizado de forma
criteriosa, para que não se incorra em erros graves como a introdução de espécies exóticas, que muitas vezes
competem por recursos com os organismos endêmicos e não têm predadores naturais. A introdução de
espécies exóticas é apontada como uma das principais causas de perda da biodiversidade, juntamente com a
destruição de habitats e a sobre exploração dos recursos naturais.

Bibliografia consultada
¹Esteves, F. A. Fundamentos de limnologia. 2.ed. Rio de Janeiro: Interciência - FINEP, 1998. 575p.

²Lorenzi, H. Plantas daninhas do Brasil: terrestres, aquáticas, parasitas e tóxicas. 4.ed. Nova Odessa: Instituto
Plantarum, 2008. 640p.

³As imagens dos peixes apresentadas foram obtidas a partir do site: http://www.fishbase.org/home.htm
(http://www.fishbase.org/home.htm).
Fig. 1 - Comunidade de macrófitas aquáticas (Modificado de Esteves, 1998¹).

(uploads/artigos/72/1.jpg)
Fig. 2 - Elodea (Egeria densa).

(uploads/artigos/72/2.jpg)
Fig. 3 - Candelabro-aquático (Ceratophyllum demersum).

(uploads/artigos/72/3.jpg)

Fig. 4 - Capim-angola (Brachiaria mutica).

(uploads/artigos/72/4.jpg)
Fig. 5 - Tanner-grass (Brachiaria subquadripara).

(uploads/artigos/72/5.jpg)

Fig. 6 - Aguapé (Eichhornia crassipes).

(uploads/artigos/72/6.jpg)
Fig. 7 - Alface d’água (Pistia stratiotes).

(uploads/artigos/72/7.jpg)

Fig. 8 - Cataia-gigante (Polygonum lapathifolium).

(uploads/artigos/72/8.jpg)
Figura 9 - Capim-de-peixe (Echinochloa polystachya).

(uploads/artigos/72/9.jpg)

Fig. 10 - Carrapatinho (Salvinia auriculata).

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Fig. 11 - Espécies que podem ser empregadas no controle biológico de macrófitas aquáticas. a) Tilapia rendalli; b)
Piaractus mesopotamicus.³

(uploads/artigos/72/11.jpg)
Fig. 12 - Espécies que podem ser utilizadas em sistema de policultivo consorciado com a rizicultura. a) Carpa
comum; b) Carpa prateada; c) Carpa capim; d) Carpa cabeça grande; e) Jundiá³.

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