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UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS

DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA
GBI181 – FISIOLOGIA DO METABOLISMO E DESENVOLVIMENTO
VEGETAL

ESTUDO DE CASO 02
A FERMENTAÇÃO É SEMPRE PREJUDICIAL?
As enchentes anuais provocadas pelo transbordamento dos rios branca e seus afluentes
alagam extensas áreas de florestas ao longo da bacia amazônica, as denominadas
várzeas. A altura média da coluna de água pode chegar a 10 m e durar até 210 dias,
submetendo as plântulas e a maioria das árvores que habitam esses ecossistemas, a
períodos de vários meses de submersão completa. O alagamento do solo exerce
profundo efeito nos organismos que nele habitam, especialmente nas plantas, por serem
sésseis. A maioria das sementes de plantas terrestres que possui alta taxa de germinação
no solo não germina na água por perder rapidamente a viabilidade sob tais condições. O
alagamento do solo restringe a disponibilidade de oxigênio para o embrião, necessário
para a ativação dos processos fisiológicos que caracterizam a germinação, impedindo-a
ou impondo dormência às sementes de muitas espécies.
Por outro lado, apesar das características ambientais peculiares da várzea, muitas
espécies de árvores crescem naturalmente nessas áreas. Em geral, as plantas que toleram
inundações periódicas devem regularmente readaptar seu metabolismo e ciclo de vida
modificando a via respiratória de forma a suportar as alterações entre condições
aeróbicas e hipóxicas (pouco oxigênio disponível) ou até mesmo anóxicas (ausência de
oxigênio), impostas pelo. Interações entre adaptações metabólicas e morfoanatômicas,
são comumente citadas na literatura em plantas sob condições de déficit de oxigênio em
decorrência do alagamento, tendo a finalidade de propiciar a desintoxicação e/ou
captação de oxigênio. A tolerância a essas condições varia, entre outras coisas, com a
idade e o tempo de exposição ao alagamento de forma que, como padrão geral, o
estresse por inundação reduz a diversidade de espécies na várzea.
Entre as espécies que habitam as áreas inundáveis da Amazônia Central encontra-se a
Himatanthus sucuuba (Spruce) Wood., Apocynaceae de nome popular sucuúba ou
sucuúba verdadeira. A árvore é lactescente, mede de 8 a 20 m de altura, com frutos
deiscentes e numerosas sementes elipsóides secas, envoltas por uma ala membranosa
circular bem desenvolvida. Esta estrutura reveste inteiramente a semente protegendo-a e
facilitando a dispersão da espécie pelo vento, anemocoria , e/ou pela água, hidrocoria.
Essa espécie distribui-se predominantemente na bacia amazônica, sendo facilmente
encontrada na terra firme ou habitando as áreas de várzea em suas porções mais baixas,
locais onde a planta pode ser submetida a uma inundação de até seis metros de altura,
com a duração de cerca de cinco meses.
Com o objetivo de identificar as estratégias de adaptação da planta em resposta ao
alagamento prolongado, foram feitos estudos germinativos e das características
morfoanatômicas e metabólicas das plântulas quando inundadas, neste último caso, a
atividade da enzima álcool desidrogenase (ADH), associada a anoxia ou hipóxia do
sistema radicular.

Durante 120 dias as plântulas foram submetidas a três tratamentos: controle (irrigação
diária), submersão parcial (sistema radicular e parte do caulículo. alagado, coluna de
água ≅ 25 cm) e submersão total (alagamento total da planta, coluna de água ≅ 70 cm).

Referência: Ferreira, C. D. S., Piedade, M. T. F., & Bonates, L. C. (2006). Germinação de sementes e
sobrevivência de plântulas de Himatanthus sucuuba (Spruce) Wood. em resposta ao alagamento, nas
várzeas da Amazônia Central. Acta Amazonica, 36, 413-418.
ESPÉCIES DE CAATINGA PARA A REVEGETAÇÃO DE MATAS CILIARES
DEGRADAS
No nordeste a degradação e assoreamento dos cursos d’água é encontrado
principalmente na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, onde dos 505 municípios
que margeiam a bacia, 57% apresenta problemas desmatamento e degradação das matas
ciliares, e apenas 7% dos municípios apresentam unidade de conservação. Ações de
recuperação das áreas degradadas estão sendo consideradas prioritárias pelo governo
federal. Porém, a falta de conhecimento dos diversos aspectos biológicos da vegetação
pertencente ao Bioma Caatinga é um fator limitante desta recuperação.

Um aspecto fundamental para o sucesso das ações de recuperação de áreas degradadas


de mata ciliar, diz respeito às respostas das mudas de espécies nativas aos estresses
ambientais a que estarão expostas após o transplantio. Dentre as condições abióticas
estressantes, particularmente nas bacias hidrográficas do Bioma Caatinga, destaca-se a
deficiência hídrica dos solos, situação predominante nestas áreas, considerada um
problema no cultivo de muitas culturas. Entretanto, nas áreas marginais dos rios, outro
problema, de relevante preocupação, são os eventuais transbordamentos das águas
fluviais, criando condições temporárias de alagamento, com modificações severas na
concentração de oxigênio disponível para as raízes, requerendo da vegetação respostas
rápidas à nova condição imposta.
O alagamento do substrato afeta diferentes aspectos da fisiologia, morfologia e
anatomia das plantas, dependendo da espécie, intensidade, época e duração. Os
principais efeitos de anoxia na vegetação causam efeitos como: inibição da germinação,
redução no crescimento das partes aéreas e sistema radicular, redução da biomassa
como um todo gerando variações na partição de biomassa e senescência foliar total
podendo muitas vezes causar senescência desta vegetação.
Para sua recuperação é imprescindível que se conheça a ecofisiologia das espécies a
serem utilizadas para revegetação de áreas da bacia e especialmente das áreas marginais
aos cursos d’água da Caatinga. Desta forma, este trabalho teve como objetivo o estudo
do comportamento de espécies ocorrentes no Bioma Caatinga, frente ao alagamento do
solo (estresse anóxico/hipóxico), com vistas a indicação das mesmas para revegetação
de áreas marginais aos cursos d’água, situadas neste bioma. Mudas de Tabebuia aurea
(Craibeira), Caesalpinia ferrea (Pau-Ferro), Aspidosperma pyrifolium (Pereiro) e
Bauhinia forficata (Mororó), com cinco meses de idade, foram submetidas ao
alagamento do solo permanente ou temporário (alagamento seguido de drenagem). Para
o alagamento, a lâmina d’água foi mantida entre 10-20 mm acima nível do solo.
Legenda: Craibeira (A) e Pau-Ferro (B), Pereiro (C) e Mororó (D) sob três tratamentos
( Controle, Alagamento e Recuperação), Controle plantas irrigadas diariamente ( ),
Alagamento – plantas alagadas por 48 e 40 dias ( ) , e Recuperação – plantas alagadas por 34 e
28 dias seguida de drenagem do solo ( ).

PERGUNTAS NORTEADORAS
1. A capacidade de germinar em condições anaeróbicas não está restrita apenas a
espécies aquáticas, qual a importância fisiológica e ecológica das sementes
germinarem em um local com baixa ou nenhuma disponibilidade de oxigênio?
2. Na privação de O2 o piruvato não é direcionado para o ciclo de Krebs, mas sim
utilizado para a fermentação. Por que isso ocorre? E quais as principais enzimas
da fermentação? E por que as plantas preferencialmente ativam mais uma via da
fermentação do que a outra?
3. Por que as plantas submetidas ao alagamento crescem menos?
4. Quais as estratégias anatômicas, morfológicas e fisiológicas que as espécies que
estão sujeitas a inundações sazonais apresentam para tolerar a deficiência de O2?

Com base nos dois estudos de casos e as perguntas norteadoras escreva um texto
dissertativo-argumentativo sobre os benefícios e as consequências da fermentação para
as espécies que habitam locais alagados.
Referência: Ferreira, D. T. D. R. G. (2011). Alterações fisiológicas e bioquímicas em quatro espécies
florestais do bioma caatinga submetidas a alagamento.

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