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COLEÇÃO TEOLOGIA

Novo Testamento I
EVANGELHOS

Marcos Antonio Fornasieri e


Sérgio Aparecido Guimarães
Marcos Antonio Fornasieri e
Sérgio Aparecido Guimarães
____________________________________________________

COLEÇÃO TEOLOGIA

Novo Testamento I
EVANGELHOS

Edições LDEL
Copyright © 2008 by Marcos Antonio Fornasieri
e Sérgio Aparecido Guimarães
Capa: Jônatas Lima Lopes
Diagramação: Jônatas Lima Lopes
Revisão: Keila Az. S. Guimarães

Fornasieri, Marcos Antonio e


Guimarães, Sérgio Aparecido

Assunto: A Biblia. (Escrituras Sagradas do Judaismo


e do Cristianismo).
ISBN: 978-85-61103-04-0
CDD: 220
Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os
direitos reservados pela LDL Editora Campinas. SP.

Edições: Lopes Distribuidora e Editora Ltda.


Email: contato@ldeleditora.com.br
ESTUDO DA DISCIPLINA NOVO TESTAMENTO I
EVANGELHOS

Neste módulo você estudará a disciplina Novo Testamento I –


Evangelhos. Esta disciplina visa proporcionar conhecimentos
sobre os quatro evangelhos abordando aspectos como o
contexto político, histórico, cultural e religioso do Novo
Testamento, além de apresentar uma análise de como cada
escritor dos Evangelhos, empregando cada um o seu próprio
estilo, apresenta de forma especial, aspectos da pessoa e obra
de Cristo. Ungidos pelo Espírito Santo, eles escreveram algo de
profunda importância para a humanidade. Nos Evangelhos está
revelado Jesus Cristo, Rei, Servo Poderoso Filho do Homem,
Filho de Deus, Salvador e nossa Esperança. Focaliza o ministério
tríplice do Senhor, Profeta, Sacerdote e Rei.
Nossos sinceros votos de sucesso em seu aprendizado e que
Deus enriqueça a sua vida com abundantes bênçãos espirituais.

O editor
AGRADECIMENTOS

A Deus toda honra para todo o sempre, louvo-o pela


sua infinita misericórdia em minha vida, agradeço também
aos demais incentivadores e aqueles que nos deram a
oportunidade, em especial a minha esposa Keila e filhos Priscila
e Silas, bem como meus pais.

Sérgio Aparecido Guimarães


PREFÁCIO

Atento ás necessidades educacionais da Igreja contempo-


-rânea, o Conselho de Educação e Cultura da 1ª Igreja
Evangéli-ca Assembleia de Deus em Aracruz - ES, na pessoa de
seu Pastor Presidente, Geraldo Pinto de Oliveira, tem a ale-
gria de apresentar o Curso Básico de Teologia em parceria com
a Lopes Editora. Tra-ta-se de um projeto desenvolvido no intui-
to de atender um público que deseja maior aperfeiçoamento
na Palavra de Deus. Esta obra será apresentada em vinte
exemplares cujo conteúdo foi cautelo-samente composto com
o que de melhor dispõem a Teologia, ofe-recendo ao estudante
a oportunidade de obter uma base sólida para o serviço cristão,
corroborando as palavras do Apóstolo Paulo que declara em II
Tm 2:15: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como
obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a
palavra da verdade.”
Vivemos tempos trabalhosos, numa época em que as exi-
-gências ministeriais tornam-se cada vez mais crescentes
e rígidas, principalmente quando novos obreiros vocacionados
por Deus são chamados para comporem o importante ministério
da Palavra. Apre-sentar-se aprovado é uma exigência para
todo cristão que não se envergonha de sua chamada Divina,
e esta coleção está voltada para a busca da excelência e qualida-
de no ensino da Palavra de Deus, e para o aperfeiçoamento do
cristão, o que sem dúvida será de grande valor para a edificação,
crescimento espiritual e embasamento na formação ministerial.
Nossa oração é que cada livro estudado possa torná-lo mais
preparado para o desempenho de suas funções eclesiásticas.

Pastor Valdo Ribeiro dos Santos


Im memoriam : Pastor Geraldo Pinto de Oliveira
Pastor Presidente da 1ª Igreja Evangélica
Assembleia de Deus em Aracruz/ES
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................... 11

UNIDADE I .............................................................................. 15
1. CONTEXTO POLÍTICO, HISTÓRICO, CULTURAL E RELIGIOSO
DO NOVO TESTAMENTO ........................................................ 17
2. AMBIENTE PARA O NOVO TESTAMENTO .................... 25
2.1 - A Contribuição Política dos Romanos ..................... 25
2.2 - Contribuições Intelectuais dos Gregos ................... 27
2.3 - Contribuições Religiosas dos Judeus ...................... 29
ATIVIDADES UNIDADE I ................................................... 33

UNIDADE II............................................................................... 34
OS EVANGELHOS ............................................................ 35
1. Definição Etimológica ................................................. 35
2. Por Que Quatro Evangelhos? ...................................... 36
3. Os Sinóticos ................................................................ 37

UNIDADE III ............................................................................ 39


O EVANGELHO DE MATEUS ............................................ 40
1. Contextualização do Livro de Mateus ........................ 40
2. A Contribuição de Mateus ......................................... 41
2.1 Esboço do livro ......................................................... 45
2.2 Análise do Livro ....................................................... 46

UNIDADE IV ............................................................................ 57
O EVANGELHO DE MARCOS ........................................... 58
1. Contextualização do Livro de Marcos ........................ 58
2. Características do Livro de Marcos ............................ 59
3. A Contribuição de Marcos ........................................ 61
3.1 Paralelo entre a Pregação de Pedro e Marcos ......... 63
4. Esboço do Livro ......................................................... 67
UNIDADE V ......................................................................69
O EVANGELHO DE LUCAS ........................................................ 70
1. Contextualização do Livro de Lucas ............................ 70
2. A Contribuição de Lucas ............................................ 71
3. Análise do Livro .......................................................... 76
4. A Teologia dos Sinóticos ............................................ 78
5. Cronologia da Vida de Jesus ....................................... 80

UNIDADE VI ............................................................................ 82
O EVANGELHO DE JOÃO .............................................. 83
1. Contextualização do Livro de João .......................... 83
2. A Contribuição de João ........................................... 86
3. Análise do Livro ....................................................... 91
ATIVIDADES UNIDADE VI ................................................. 103

MAPA 01 - O IMPÉRIO ROMANO .......................................... 104


MAPA 02 - PALESTINA DO NOVO TESTAMENTO ................... 105
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................103
AVALIAÇÃO FINAL ................................................................. 108
INTRODUÇÃO

Querido leitor, seminarista, hoje é um dia de grande


significado para você, um marco; pelo início de uma nova etapa
nesta carreira espiritual. Caracterizada pela busca da verdade e
do aprimoramento acadêmico da mais sublime das ciências; a
Teologia.
A Teologia até meados do século IX foi a rainha das
ciências e para nós continua sendo, pois, não existe nada mais
sublime e glorioso do que perscrutar e conhecer os mistérios
de Deus. O Próprio disse pela boca do Profeta Jeremias: “não se
glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte na sua força, nem o
rico na sua riqueza; mas, o que se gloriar glorie-se nisto, em me
conhecer e saber que sou Deus” (Jr 9.23).
Os grandes catedráticos da filosofia a muitos ensinaram,
levando os povos a pensar, alguns se tornaram imortais por
suas obras, mas, todos eles chegaram ao final da carreira com
enorme frustração, não conseguiram responder às três perguntas
essenciais da filosofia: “quem somos, donde viemos, para onde
vamos”. Sócrates, o pai da filosofia exclamou: “uma coisa sei,
que nada sei”. No entanto Paulo, o apóstolo, pai da teologia,
exclamou: “eu sei em quem tenho crido”.
A verdadeira Teologia é a que faz da fé o canal para o
conhecimento, assim parafraseou Agostinho: “... creio para
que possa compreender”. Os teólogos do iluminismo, por não
observarem este padrão de fé, levaram a teologia à falência,
chegando ao absurdo de decretarem a morte de Deus. Sobrepujou
então a ciência exata, em detrimento da teologia. Mas a Bíblia
já nos adverte em tempos remotos, que nos últimos dias se
levantariam homens amantes de si mesmos, e amontoariam
para si doutores, dando ouvido à doutrinas de demônios.
Porém, contigo assim não será, devido à formação cristocêntrica
que irás receber, a qual servirá de base para prosseguires nesta
jornada sucedida de pesquisa, esforço e determinação. Pois, é
na medida em que nos humilhamos em aprender, que o Senhor
desvenda nossos olhos. Como disse para Daniel: “não temas,
Daniel, porque desde o dia em que te humilhaste a compreender,
são ouvidas as tuas orações, e eu vim para te ajudar” (Dn 10.12).
Talvez esta seja a razão pela qual, Daniel é considerado um dos
homens mais sábios da Bíblia.
A vibrante paixão pelo conhecimento das escrituras
deve ser uma marca na vida daquele que é ansioso em servir a
causa do Mestre. Moisés sentiu bater forte esta emoção, quando
recebeu das mãos do próprio Deus, as tábuas da Lei, e fascinado
exclamou: “goteje a doutrina de Deus como chuvisco sobre a
erva e gotas d’água sobre a relva” (Dt 32.2). O coração de Davi
fervia com palavras boas, pois, sua língua era a pena de um
destro escritor. E, sentindo a rutilante inspiração do Espírito de
Jeová, como nenhum outro soube expressar a personalidade de
Deus de maneira tão sublime e grandiosa, a ponto do Senhor lhe
chamar de “Homem segundo o coração de Deus”. Pois, valorizava
mais o estudo da palavra de Deus do que o ouro e a prata. Não
foi diferente com o apóstolo Paulo. Homem de caráter firme e
determinado, que ao desfrutar das imensuráveis riquezas da
Teologia, extasiado exclamou:

“Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como


da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão
inescrutáveis os seus caminhos! Porque, quem compreendeu o
intento do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe
deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque
dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois a ele
eternamente. Amém” (Rm 11.33,34).

Que o brilho destes heróis possa reluzir em cada um


que abraçou este árduo e sublime ministério do discipulado,
os vocacionados estarão preparados para os melhores projetos
ministeriais. Os que não, estarão preparados para uma vida
espiritual convicta e atuante na obra de Deus.

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14
UNIDADE I

CONTEXTO POLÍTICO,
HISTÓRICO, CULTURAL
E RELIGIOSO
DO NOVO TESTAMENTO

15
1. CONTEXTO POLÍTICO, HISTÓRICO,
CULTURAL E RELIGIOSO DO NOVO
TESTAMENTO

Ao iniciar o estudo sobre o Novo Testamento, torna-se


imprescindível analisar os contextos histórico, cultural e religioso
no qual ele está inserido, pois, de outra forma não seria possível
compreendê-lo. Quer a pessoa creia ou não que Deus preparou
os eventos da história ou criou a necessidade favorável à
disseminação do Evangelho, não se pode encarar o cristianismo
isolado do contexto deste meio ambiente, impregnado por três
culturas: GREGA, ROMANA e JUDAICA.

1.1 - A GRÉCIA: A história grega começa com Felipe II,


rei da Macedônia e pai de Alexandre, que se tornou senhor da
Grécia em 338 a.C. e formou a liga Helênica. (Helênica, se refere
à Grécia antiga). Devido a influências culturais, filosóficas e
artísticas existentes na Grécia, Felipe planejou dominar o mundo
através desta liga. Assassinado antes de realizar seu plano, foi
substituído por seu filho Alexandre, com dezenove anos, que se
tornou herdeiro de sua ambição. Alexandre arrasou os persas,
avançou para o Egito, estendendo assim seu reino da Grécia ao
norte da Índia. Esse estrategista militar conseguiu tudo isso em
apenas 13 anos. Sua maior conquista foi reunir o leste e o oeste
através da propagação da cultura grega. O espírito helênico
de liberdade individual, emancipação da tirania, do costume e
da tradição, o exercício livre da pesquisa científica e da crítica,
o amor ao belo na arte e na literatura e o desenvolvimento da
mente e do corpo estenderam-se por todas as partes do mundo,
com sua política de helenização.
Alexandre derrubou barreiras raciais e nacionais,
encorajando seus soldados a se casarem com mulheres asiáticas.
O seu objetivo era estabelecer um poderoso império, que
desprezasse a diferença entre gregos e bárbaros; libertando o
homem para as relações internacionais, estabelecendo assim
colônias, igrejas, que se tornaram centros de cultura helênica.
Morto de febre alta em 323 a.C., Alexandre, com apenas 33
anos, sucumbiu, mas seu plano não. Seus generais continuaram
a missão helênica. Ptolomeu lançou mão do Egito e Seleuco
da Síria. Ambos tiveram ambição pela Palestina e os Judeus
habitantes dessa região, conseqüentemente, foram lançados no
meio do conflito.
Sob o governo de Ptolomeu, a Palestina deu um salto
para o desenvolvimento, e algo de grande importância ocorreu,
arrastando os judeus para o centro do progresso humano.
Durante o reinado de Ptolomeu Filadelfo (285-247 a.C.), o
Velho Testamento foi traduzido para a língua grega, a conhecida
tradução LXX (Septuaginta). A partir disto, a religião judaica não
ficou mais confinada ao judaísmo, mas, passou a ser conhecida
por grande parte do mundo já helenizado, pois, a helenização
trouxe a universalidade da língua grega, como é hoje o inglês.
Em 198 a.C., Antíoco, o grande rei selêucida, depois de
três tentativas para tomar a posse da Palestina, arrancou a terra
das mãos de Ptolomeu V. O reinado de Antíoco foi significativo
UNIDADE I
Contexto Político, Histórico, Cultural e Religioso
do Novo Testamento

para a história judaica, não apenas porque a Palestina não estava


mais sob a dominação dos Ptolomeus, mas, também porque o
seu reinado testemunhou a entrada dos romanos na política
asiática. Antíoco beneficiou os judeus com isenção de impostos,
fazendo até oposição à progressiva dominação romana, que
começava a ter uma envergadura significativa na região. Sua
oposição, contudo, não obteve sucesso. Morto em 187 a.C., na
Batalha de Elam, seu filho ascendeu ao trono.

1.2 – A REVOLTA DOS MACABEUS: Seleuco IV desencadeou


uma perseguição aos judeus, saqueando o tesouro do templo
em Jerusalém; Antíoco, seu irmão, reinou em seu lugar na Síria.
Este se proclamou “deus manifestante”, “Theos Epifanes”. Seu
sonho era destruir os romanos, libertar os sírios dos impostos.
Usava de tirania para forçar o povo a aderir a helenização
(cultura grega). Devido aos conflitos sacerdotais entre judeus,
Antíoco proibiu os sacrifícios no templo. Erigiu um altar a Zeus
Olimpo, destruiu cópias da Lei e sacrificou um suíno no Templo
de Jerusalém. Proibiu os judeus de possuírem cópias da Lei e
praticarem a circuncisão; e, ainda a observância do sábado.
Este ato precipitado de Epifânio desencadeou uma revolta por
parte dos judeus na cidade de Modim, perto da Lida. Ali, um
idoso sacerdote chamado Matatias, da linhagem de Hasmom,
recusou-se a realizar sacrifícios pagãos e matou um judeu por
fazê-los por ordem de Antíoco Epifânio. Judas, seu filho, com
mais quatro irmãos lideraram uma revolta contra os sírios,
obtendo sucesso. Judas Macabeu tomou posse de Jerusalém no

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Coleção Teologia: Novo Testamento I

25º dia de dezembro (Kisleu) de 165 a.C. Ele entrou no templo


e destruiu o altar de Zeus. Renovou os sacrifícios. Desde então,
colocaram em dia as festas anuais. Por isso, até hoje, nesta data é
comemorada a festa de Hanukkah (Dia da Purificação). Os judeus
da galiléia se uniram a Judas Macabeu, reforçando sua liderança,
obtendo assim um grande sucesso, porém, em 160 a.C., sua
carreira chegou ao fim.
Com a morte de Judas, Jônatas, seu irmão, desfrutou de
influência política na Palestina e os judeus passaram a ser mais
respeitados, mas só com a ascensão de Simão, seu irmão, é que
se conseguiu independência política para os judeus, por apoiar
a efetivação de Demétrio II ao trono selêucida, de forma que
do ano 142 a.C. ao 63 a.C., quando Roma invadiu a Palestina, os
judeus permaneceram como estado independente.

1.3 – OS DIVERSOS GRUPOS RELIGIOSOS NA CULTURA


JUDAICA: É neste contexto da Revolta dos Macabeus que
surgem quatro grupos no judaísmo, a saber: SADUCEUS,
FARISEUS, ESSÊNIOS e ZELOTES. Todos estes, com exceção dos
essênios, são mencionados no Novo Testamento. Os fariseus
eram remanescentes dos hasidins, “judeus da revolta dos
macabeus”, que preferiram morrer a violar a Lei e a tradição dos
anciãos. A palavra fariseu significa: “SEPARADOS”. Os fariseus se
consideravam sucessores dos profetas; enquanto os saduceus
se consideravam sucessores dos sacerdotes. Estes eram menos
radicais e, portanto, maleáveis a helenização. Ocuparam-se
em buscar o poder político e sua influência. A palavra saduceu

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UNIDADE I
Contexto Político, Histórico, Cultural e Religioso
do Novo Testamento

veio de Zadoque, sumo-sacerdote no tempo do Rei Salomão.


Os saduceus só aceitavam o Pentateuco e desconsideravam os
livros proféticos e históricos. Por isso, não acreditavam em anjos,
nem demônios e nem em ressurreição; enquanto os fariseus
acreditavam em ambas as crenças e aceitavam a Lei, os profetas
e os escritos como autoridade divina. Os saduceus enfatizavam o
livre arbítrio, enquanto os fariseus, a predestinação.
Os Zelotes era o terceiro grupo, fundado por Judas em 47
a.C., que liderou uma revolta contra Roma, porém, sem sucesso.
Estes Zelotes foram os mesmos que se revoltaram em 66 a.D.,
o que desencadeou a destruição do templo em Jerusalém. Os
essênios, desacreditados dos rituais que se faziam no templo
desde a abominação de Antíoco Epifânio, em 160 a.C., retiraram-
se para as proximidades do Mar Morto e ali se tornaram
uma comunidade monástica e sectarista. Consideravam-se
os remanescentes de Israel, conforme as profecias de Isaías.
Dedicavam-se à observância de cerimônias e a produzir cópias
de livros do Torah e outras literaturas judaicas. Não admitiam
mulheres, os adeptos tinham que vender tudo para fazer parte
desta comunidade.

2. O Governo Romano, de 63 a.C. a 70 a.D. – Hircano


II permaneceu como o governante eclesiástico dos judeus,
mas, os negócios políticos do país passaram a ser dirigidos por
Antípater. Foi bom, para os judeus, que tivessem um homem
como Antípater para guiá-los durante os difíceis anos de guerras
civis romanas. Eles odiavam-no, a despeito do fato de que ele

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Coleção Teologia: Novo Testamento I

lhes havia assegurado muitos privilégios, pelo fato de agir com


cautela em política, e sempre se sair do lado dos vencedores.
Desprezavam-no porque ele representava um poder estrangeiro
em sua política administrativa, e também porque era Idumeu.
Através das guerras civis, que começaram com Júlio César e
Pompeu, e terminaram com a guerra entre Otaviano e Antonio,
na Batalha de Áccio, em 31 a.C.; Antípater e, depois da sua morte,
o seu filho Herodes, foram sempre leais ao general romano que
dominasse o Oriente.
Em 42 a.C., depois da Batalha de Filipos, Herodes, que
sucedeu o pai como governador da Judéia, encontrou-se em
uma posição assaz embaraçosa. Ele havia apoiado Cássio, e agora
que Cássio e Bruto haviam sofrido derrota em batalha, precisava
conseguir o apoio de Antonio e Otaviano. Isto ele foi capaz de
fazer. Em 40 a.C., Herodes foi a Roma para encontrar-se com
Otaviano, e obteve o reinado da Palestina, mas, não conseguiu
estabelecer-se no trono senão no ano 37. Reinou sobre a Palestina
até a sua morte, em 4 a.C. Foi durante o seu reinado que Jesus
nasceu em Belém.
Herodes, o Grande, era por natureza; ambicioso,
explosivo, sensual e cruel; todavia, a despeito destas falhas, ele
foi um rei enérgico e capaz, embora inescrupuloso. Os judeus
não gostavam dele, parcialmente porque ele era Idumeu, e
parcialmente por causa dos impostos excessivos. Ele ficava
devendo a Roma devido a sua posição como soberano, e não
estava disposto a permitir que os saduceus obtivessem poderio
secular, ao lado do seu poder eclesiástico. Ocasionalmente

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UNIDADE I
Contexto Político, Histórico, Cultural e Religioso
do Novo Testamento

Herodes favorecia os fariseus, porque estes eram mais inclinados


a se restringirem aos negócios religiosos e deixar a política para
outrem. Os judeus, sob a liderança dos fariseus, desagradaram-se
quando Herodes construiu um teatro em Jerusalém e encorajou
adoração pagã no seu reino. No seu programa de construções,
que foi extenso, ele tomou providências para a reconstrução
do Templo. Os judeus receberam isto como um ato nobre. Se
eles estivessem dispostos a aceitá-lo como seu rei, Herodes teria
sido menos violento em suas irrupções de temperamento contra
eles.
Em seguida à morte de Herodes, o Grande, o seu
território foi dividido entre três de seus filhos. Arquelau recebeu
a Judéia, Samaria e Iduméia, e ostentou o título de etnarca. Em
6 a.D. ele foi deposto. Desde esse tempo, com a exceção de um
período de quase quatro anos (41 a 44), quando Herodes Agripa,
foi rei, essa área da Palestina foi governada por procuradores
romanos. Herodes Antipas tornou-se o tetrarca da Galiléia e
Peréia. Foi responsável pela morte de João Batista, e foi durante
o seu reinado que Jesus começou e continuou o seu ministério
na Galiléia. Quando o imperador romano: Caio Calígula indicou
Agripa I, o irmão da esposa de Antipas, Herodias, como sucessor
de Herodes Filipe, ele lhe deu o título de rei. A promoção
levou Herodias a persuadir Antipas, a buscar a mesma honra,
para si próprio. Agripa não gostava de Antipas, e acusou-o de
negociações traiçoeiras com os partos. Calígula depôs Antipas e
baniu-o para a Gália em 39 a.D. o imperador então deu como
prêmio a região da Peréia e da Galiléia a Agripa I. A parte de

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Coleção Teologia: Novo Testamento I

Filipe, no testamento de Herodes, o Grande, incluiu a Ituréia,


Traconites, Gaulanites, Auranites e Panias. Ele governou sobre
essas regiões e se aproximou da Cesaréia de Filipe, estava na
tetrarquia de Herodes Filipe.
De 6 a 66 d.C. nada menos do que 44 procuradores foram
enviados pelos imperadores romanos para governar a província da
Judéia. A maioria desses homens exerceu uma administração de
baixa qualidade, e foram muitas vezes, cruéis no desempenho de
suas funções. Admite-se que o ofício de procurador não era para
se invejar, por causa da lealdade dos judeus à sua fé religiosa e a
sua resistência teimosa a qualquer controle estrangeiro. Alguns
dos procuradores que se nos apresentam no Novo Testamento
são Pôncio Pilatos (26 a 36), diante de quem Jesus foi julgado;
Félix (51 a 60), que julgou a causa de Paulo; e Pórcio Festo (60 a
62), procurador diante de quem Paulo fez apelo a Roma.
Os grupos reacionários cresceram em número a tal ponto,
e os procuradores se tornaram tão rudes em sua política, que a
revolta aberta contra Roma irrompeu em 66 a.D. este levante
resultou na destruição de Jerusalém e do Templo, em 70 a.D.,
sob o comando do general romano Tito.

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UNIDADE I
Contexto Político, Histórico, Cultural e Religioso
do Novo Testamento

2. AMBIENTE PARA O NOVO TESTAMENTO

2.1 - A Contribuição Política dos Romanos

Os romanos, como nenhum outro povo até então,


desenvolveram um sentido da unidade da espécie sob uma lei
universal. Este sentido da solidariedade do homem no Império
criou um ambiente favorável à aceitação do Evangelho que
proclamava a unidade da raça humana, baseada no fato de que
todos os homens estavam sob a pena do pecado e no fato de que,
a todos era oferecida a salvação, que os integra num organismo
universal, a Igreja Cristã, o Corpo de Cristo.
A movimentação livre em torno do mundo mediterrâneo
teria sido mais difícil para os mensageiros do Evangelho antes de
César Augusto (27 a.C. a 14 d.C.). A divisão do mundo antigo em
grupos, cidades-estados ou tribos. Pequenos e enciumados um
do outro, impediam a circulação e a propagação de idéias. Com
o aumento do poderio imperial romano no período da expansão
imperial, um período de desenvolvimento pacífico ocorreu nos
países ao redor do Mediterrâneo. Pompeu tinha varrido os
piratas do Mediterrâneo e os soldados romanos mantinham a paz
nas estradas da Ásia, África e Europa. Este mundo relativamente
pacífico tornou mais fácil a movimentação dos primeiros cristãos
nas cidades onde pregavam o Evangelho a todos os homens.
Os romanos criaram um ótimo sistema de estradas que
iam do marco áureo no fórum a todas as regiões do Império.

25
Coleção Teologia: Novo Testamento I

As estradas principais eram de concreto e duraram séculos.


Elas passavam por montes e vales até chegarem aos pontos
mais distantes do Império; algumas delas são usadas até hoje.
Um estudo das viagens de Paulo indica que ele se serviu muito
deste ótimo sistema viário para atingir os centros estratégicos
do Império Romano. As estradas romanas e as cidades
estrategicamente localizadas às margens dessas estradas; foram
de ajuda indispensável na concretização da propagação do
Evangelho.
O papel do exército romano no desenvolvimento do ideal
de uma organização universal e na propagação do Evangelho
não pode ser ignorado. Os romanos adotavam, a prática de usar
habitantes das províncias no exército como forma de suprir falta
de cidadãos romanos atingidos pelas guerras e pelo conforto
da vida. Os provincianos entravam em contato com a cultura
romana e ajudavam a divulgar suas idéias através do mundo
antigo. Em muitos casos, alguns destes homens converteram-se
ao cristianismo e levaram o Evangelho às regiões para onde eram
designados.
As conquistas romanas levaram muitos povos à falta de fé
em seus deuses, uma vez que eles não foram capazes de protegê-
los dos romanos. Tais povos foram deixados num vácuo espiritual
que não estava sendo satisfeito pelas religiões de então.

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UNIDADE I
Contexto Político, Histórico, Cultural e Religioso
do Novo Testamento

2.2 - Contribuições Intelectuais dos Gregos

Embora importante para a preparação à vinda de Cristo,


a contribuição romana foi ofuscada pelo ambiente intelectual
criado pela mente grega. A cidade de Roma pode ser identificada
com o ambiente político do cristianismo, mas, foi Atenas que
ajudou a criar um ambiente intelectual propício à propagação
do Evangelho. Os romanos podem ter sido os conquistadores
dos gregos, mas, como indicou Horácio (65 a.C. a 8 d.C.), em sua
poesia, os gregos conquistaram os romanos culturalmente. A
mente prática dos romanos pode ter construído boas estradas,
pontes fortes e belos edifícios, mas, a grega erigiu os grandiosos
edifícios da mente. Foi graças à influência grega que a cultura
basicamente rural da antiga República deu lugar à cultura
intelectual do Império.
O Evangelho universal precisava de uma língua universal
para poder exercer um impacto real sobre o mundo. Os homens
têm procurado desde a Torre de Babel criar uma língua universal
para que possam comunicar suas idéias uns aos outros sem
problemas. Assim como o inglês no mundo moderno e o latim no
mundo medieval erudito, o grego se tornou no mundo antigo, ao
tempo em que o Império Romano apareceu, a língua universal.
Os romanos mais ilustres falavam; grego e latim.
O processo pelo qual o grego se tornou o vernáculo do
mundo é interessante. O dialeto ático usado pelos atenienses
começou a ser usado amplamente no quinto século antes de

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Coleção Teologia: Novo Testamento I

Cristo com a solidificação do Império Ateniense. Mesmo depois


de o Império ser destruído ao final do quinto século, o dialeto de
Atenas, que se originara da literatura grega clássica, tornou-se a
língua que Alexandre, seus soldados e os comerciantes do mundo
helenístico, entre 338 e 146 a.C., modificaram, enriqueceram e
espalharam através do mundo mediterrâneo.
Foi por intermédio deste dialeto do homem comum,
conhecido como Koinê e diferente do grego clássico, que os
cristãos foram capazes de se comunicar com os povos do mundo
antigo, usando-o inclusive para escrever o seu Novo Testamento,
o mesmo fazendo os judeus de Alexandria para escrever seu
Velho Testamento, a Septuaginta. Só recentemente se soube
que o grego do Novo Testamento era o grego do homem comum
dos dias de Jesus Cristo, o que o diferencia do grego clássico.
A forma com que os grandes filósofos gregos contribuíram para o
cristianismo está ligada ao fato de chamarem a atenção dos gregos
para uma realidade que transcendia o mundo temporal e visível
em que viviam. Tanto Sócrates quanto Platão ensinaram cinco
séculos antes de Cristo que este presente mundo temporal dos
sentidos é apenas uma sombra do mundo real em que os ideais
supremos são; ao mesmo tempo, abstrações intelectuais, o bem,
a beleza e a verdade. Insistiam que a realidade não era temporal
e material, mas espiritual e eterna. Sua busca da verdade jamais
lhes conduziu a um Deus pessoal, mas, evidenciou que o melhor
que o homem deve fazer é buscar a Deus através do intelecto.
O cristianismo ofereceu a este povo que aceitava a filosofia de
Sócrates e Platão, a revelação histórica do Bem, da Beleza e da

28
UNIDADE I
Contexto Político, Histórico, Cultural e Religioso
do Novo Testamento

Verdade na pessoa do Deus-Homem, Jesus Cristo. Os gregos


aceitavam a imortalidade da alma, mas não tinham lugar para a
ressurreição do corpo.

2.3 - Contribuições Religiosas dos Judeus

Ao contrário dos gregos, os judeus não intentavam


encontrar a Deus pelos processos da razão humana. Eles criam na
sua existência e lhe prestavam o culto que sentiam lhe dever. O
povo judeu foi muito influenciado a estas atitudes pelo fato de que
Deus o procurou e se revelou a ele na história por suas aparições
a Abraão e a outros grandes líderes da raça humana. Jerusalém
tornou-se o símbolo de uma preparação religiosa positiva para
a vinda do cristianismo. A salvação viria, pois, “dos judeus”,
como Cristo diria à mulher no poço (Jo 4.22). Desta pequenina
nação cativa situada no caminho da Ásia, África e Europa; viria
o Salvador. O judaísmo tornou-se o berço do cristianismo e, ao
mesmo tempo, forneceu o abrigo inicial da nova religião.

2.3.1 - Monoteísmo

O judaísmo contrastava flagrantemente com a maioria


das religiões pagãs, a fundamentar-se num sólido monoteísmo
espiritual. Nunca, depois da sua volta do cativeiro babilônico, os
judeus caíram na idolatria. A mensagem de Deus para eles através
de Moisés ligava-os ao único Deus verdadeiro de toda a terra.

29
Coleção Teologia: Novo Testamento I

2.3.2 - Esperança Messiânica

Os judeus ofereceram ao mundo a esperança de um


Messias que estabeleceria a justiça na Terra. Esta esperança
messiânica estava em claro antagonismo com as aspirações
nacionalistas pintadas por Horácio no poema em que descreveria
um rei romano ideal que haveria de vir, o filho que nasceria a
Augusto. A esperança de um Messias tinha sido popularizada no
mundo romano a partir desta firme proclamação pelos judeus.
Até mesmo os discípulos depois da morte e ressurreição de Cristo
ainda esperavam por um reino messiânico sobre a terra (At 1.6).

2.3.3 - Sistema Ético

O elevado padrão proposto nos Dez Mandamentos se


chocava não só com os sistemas éticos prevalecentes, como
também com as práticas por demais corruptas dos sistemas morais
pelos quais se pautavam. Esta perspectiva moral e espiritual do
Velho Testamento favoreceu uma doutrina de pecado e redenção
que, realmente, resolvesse o problema do pecado.

2.3.4 - O Antigo Testamento

O povo judeu foi ao longo da história, sendo usado por


Deus para preparar o caminho para a vinda do cristianismo ao
legar à Igreja em formação um livro sagrado, o Velho Testamento.

30
UNIDADE I
Contexto Político, Histórico, Cultural e Religioso
do Novo Testamento

Mesmo um estudo superficial do Novo Testamento revela a


profunda correlação entre os dois períodos bíblicos. Muitos
gentios também o leram e se familiarizaram com os fundamentos
da fé judaica. Este fato é indicado pelos relatos de vários prosélitos
(indivíduos convertidos a uma doutrina) judeus.

31
Coleção Teologia: Novo Testamento I

32
UNIDADE I
Contexto Político, Histórico, Cultural e Religioso
do Novo Testamento

ATIVIDADES UNIDADE I

1. Comente sobre o cenário que antecede o Novo Testamento, e


sobre a importância; histórico, cultural e religiosa da época.

2. No ambiente para o Novo Testamento, discorra sobre as


contribuições dos Romanos.

3. Quais as importâncias dos Gregos para o Novo Testamento.

4. De suma importância foi à contribuição dos Judeus, como foi


esta participação.

33
UNIDADE II

OS EVANGELHOS
UNIDADE I
Contexto Político, Histórico, Cultural e Religioso
do Novo Testamento

OS EVANGELHOS

1. Definição Etimológica:

A palavra grega para evangelho é “euangelion”, vinda da


palavra latina evangelium. Na igreja primitiva significava não um
livro que tratava das obras e palavras de Cristo, e sim Boa Nova
de salvação. Na setpuaginta, em Is 52.7 diz; “Quão suaves são
sobre os montes os pés do que anuncia as boas novas, que faz...”
– boas novas é evangelho. No Antigo Testamento, boas novas é
salvação futura, no Novo Testamento é salvação já consumada.
Evangelho pode ser a pregação do próprio Jesus (Mt 11.5; Mc
1.14; Lc 4.18), ou a pregação feita pelos apóstolos e a igreja
primitiva (At 5.42; Rm 1.16).
No Novo Testamento, portanto, o evangelho é anunciação
do Reino de Deus e evangelista é o pregador, ou anunciador. No
inicio do século II, evangelho passou a significar o que foi escrito
sobre a vida e os ensinos de Jesus.
Em suma, o evangelho é a exposição da narrativa histórica
do sofrimento, morte e ressurreição de Jesus Cristo, prefaciada
por um relato do seu ministério, nunca com a intenção de dar a
biografia de Jesus, e nem mesmo relatar todos os seus feitos.
O Novo Testamento foi escrito em Grego, porquanto este
idioma era a língua oficial no Oriente Médio e Ocidente. Este
importante documento providenciado por Deus foi dividido por
alguns estudiosos em:

35
a) Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João, registram a
manifestação do Filho de Deus.
b) Atos, propagação da manifestação.
c) Epístolas Paulinas: As Cartas de Paulo - Romanos, 1
e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e
2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo Tito e Filemon, explicação
teológica e doutrinária.
d) Epístolas Gerais: Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3
João e Judas, doutrinas e aconselhamentos. E,
e) Revelação: Apocalipse.

2. Por que Quatro Evangelhos?

Esta pergunta tem sido constante entre os estudiosos


do Novo Testamento. Portanto, torna-se necessário analisar a
questão para responder por que quatro e não um evangelho
sobre a vida de Jesus. Seria mais fácil para o estudante um só
evangelho, todavia o documento seria alvo de muito mais
críticas do que já são os quatro evangelhos, devido ao monopólio
de informações que chegaria até nós. Deus em sua sabedoria
providenciou quatro escritores para relatar as obras da Pessoa
do Senhor Jesus Cristo.
Cada escritor deu ênfase em aspectos históricos que seriam
relevantes para sua obra. Assim sendo, chegou até nós quatro
relatos da obra e pessoa do Senhor Jesus Cristo, as quais têm
esclarecido algumas contradições, faz-se necessário analisar os
relatos fazendo harmonia entre os quatro. Uma coisa é omissão;
contradição é outra. Por exemplo, Mateus e Lucas relatam que
o galo cantou, Marcos é mais específico na quantidade de vezes
que o galo cantou. Os quatro relatos só enriquecem o conteúdo
dos evangelhos, não havendo contradição entre eles e sim
limitação da parte do estudioso.
Mateus preocupa-se em apresentar Jesus Cristo com
características proféticas da esperança judaica. Marcos enfatiza
mais suas obras do que discurso ou palavras. Lucas busca em
Jesus Cristo, o homem; belo, perfeito e sábio. Porém, todos os
três enfatizam a humanidade de Jesus Cristo, objetivando trazer
o homem para o Reino de Deus. Por outro lado, João enfatiza
sua Deidade. Sendo assim, o ângulo de visão que cada escritor
apresenta da pessoa e obra de Jesus Cristo, constitui um alicerce
da concretização do plano de Deus para o homem. O ministério
de Jesus Cristo é a manifestação deste plano. De forma que
os quatro evangelhos se completam, demonstrando em sua
essência um único evangelho, o poder de Deus para a salvação
de todo aquele que crê.

3. Os Sinóticos

A palavra, sinótico, que significa “mesma ótica, visão


ou mesmo ponto de vista”; “ver em conjunto”, tem sido usada
pelos estudiosos para identificar os três primeiros evangelhos,
a saber: Mateus, Marcos e Lucas, devido à homogeneidade de
seus relatos sobre o ministério de Jesus. Alguns até preferem
acreditar que Marcos teria sido uma fonte para Lucas e Mateus,
pelo fato de 90% de Marcos estar contido em Mateus; e, Lucas
ter inserido em seu Evangelho 430 versículos de Marcos, o que
representa 65%. É também de consenso entre os eruditos que
Marcos foi o primeiro a ser escrito. Todavia, podemos classificá-
los de sinóticos por suas características peculiares.
Os sinóticos, Mateus, Marcos e Lucas enfatizam a
humanidade de Jesus Cristo, enquanto João enfatiza sua Deidade.
Os sinóticos apresentam o ministério de Jesus Cristo na Galiléia,
enquanto João apresenta-o na Judéia. Os sinóticos registram
aproximadamente um ano e meio de ministério, enquanto João
registra três anos a três anos e meio. Os sinóticos dão ênfase
aos discursos de Jesus Cristo e suas obras; enquanto, João dá
ênfase às palavras mais íntimas de Jesus Cristo, suas orações
e revelações teológicas. João usa conceitos filosóficos de fácil
entendimento para definir a vida e a morte, o finito e o infinito,
o abstrato e o concreto.
UNIDADE II
Os Evangelhos

UNIDADE III

O EVANGELHO SEGUNDO
MATEUS

39
Coleção Teologia: Novo Testamento I

O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS

1. Contextualização do Livro de Mateus

Foi escrito, aproximadamente, em 65 d.C. Este cobrador


de impostos, também chamado Levi, foi escolhido para ser um
dos doze apóstolos (Mt 9.9). Apesar de completar sua obra trinta
anos mais tarde, esboçou de forma bela e sublime os momentos
vividos em companhia do Mestre por excelência - Jesus Cristo. Em
sua introdução, Mateus procura provar a seus leitores que Jesus
Cristo fora gerado por obra do Espírito Santo e que Maria, sua
mãe, era da descendência de Abraão, bem como descendente
de Davi, linhagem Real. Com isto, Mateus quer provar aos judeus
que Jesus Cristo é o Rei Messias de quem todos os profetas
falaram. Os judeus esperavam um Rei, um Libertador, que fosse
da linhagem Real e Abraâmica. Mateus apresenta o Rei esperado,
e este é Jesus Cristo.
O evangelho de Mateus é de escopo judaico, isto é, escrito
aos judeus. Ele se preocupa com detalhes cerimoniais, leis de
purificação. É o mais extenso dos registros batismais e tem por
volta de 128 referências ao Antigo Testamento. A palavra “para
que se cumprisse o que está escrito”, aparece mais do que em
todos os outros evangelhos.
Só em Mateus os magos trazem presentes ao Rei, Jesus

40
UNIDADE II
Os Evangelhos

Cristo. O evangelista Mateus não diz se eram três homens,


tampouco se eram reis. Apenas revela que magos vieram do
oriente para visitar Jesus e lhe trouxeram presentes. Estes, talvez
fossem astrólogos, estudantes das estrelas.
Só em Mateus, Jesus Cristo se preocupa em reinterpretar as
leis de forma surpreendente e inédita. Observemos os capítulos
5, 6 e 7. Só Mateus e Lucas descrevem parte da infância e origem
de Jesus Cristo. Mateus é o evangelho que mais tem referências
ao Reino de Deus; pois os judeus esperavam um Reino.

2. A Contribuição de Mateus
Devido aos fortes vínculos entre os evangelhos
sinóticos, a contribuição feita por um, deve ser avaliada à luz da
contribuição feita por todos os três. Se Mateus desaparecesse
repentinamente, grande parte de seu conteúdo ainda seria
encontrado, mais ou menos intacto, em Marcos e Lucas. Nesse
sentido não se pode dizer que Mateus ofereça o mesmo tipo
de contribuição independente que, por exemplo, Hebreus ou
Apocalipse fazem.
Os evangelhos sinóticos como um todo, proporcionam
uma contribuição insubstituível. Ao lado de João, eles constituem
o testemunho basilar acerca da pessoa, ministério, ensino, paixão
e ressurreição de Jesus Cristo - o Messias. Também não é correto
considerar os evangelhos sinóticos um testemunho meramente
redundante. Cada um dá o seu próprio enfoque, e juntos
oferecem uma profundidade tridimensional que de outra sorte
estaria quase totalmente ausente. E, num nível secundário, cada

41
Coleção Teologia: Novo Testamento I

um oferece uma janela que permite enxergar a vida da Igreja na


época em que foi escrito. Mas deve-se insistir em que essa janela
nunca é transparente: na melhor das hipóteses é translúcida, e
as sombras que alguém nela enxerga deve ser interpretadas com
muito cuidado.
Dentro desse arcabouço podem-se ressaltar algumas das
ênfases de Mateus e, dessa forma, algumas das contribuições
peculiares que esse evangelho dá ao cânon sagrado.

1) Mateus preserva, nos decursos já enumerados, grandes


blocos de ensinos de Jesus Cristo. É indubitável que esse foi um
dos principais motivos para esse evangelho ser tão popular na
Igreja primitiva. Qualquer que tenha sido o modo como vieram
a ser preservados, não pode haver sombra de dúvida de que
a Igreja estaria grandemente empobrecida sem o Sermão da
Montanha, a lista de parábolas registradas por Mateus, sua
versão do discurso escatológico, e assim por diante.

2) Mateus completa os outros evangelhos, particularmente


Lucas, ao oferecer um relato alternativo da concepção virginal de
Jesus Cristo, apresentado a partir da perspectiva de José. Com
exceção dos acontecimentos da narrativa do nascimento dos
quais não há outro registro (a visita dos magos, a fuga para o
Egito), todo o relato tem fortes vínculos com a revelação anterior
encontrada naquilo que agora chamamos de Antigo Testamento.

42
3) Num sentido mais geral, o uso que Mateus faz do
Antigo Testamento é particularmente rico e complexo. É
motivo de debate o significado exato dessas características. O
que fica evidente, é que a apreciação que Mateus tem pelos
vínculos entre a antiga e a nova aliança caracteriza-se por
nuanças extraordinariamente evocativas. Por exemplo, não se
pode reduzir sua noção de profecia e de cumprimento à mera
predição verbal e cumprimento histórico em acontecimentos
isolados (embora às vezes inclua essa noção). Ele emprega várias
formas de tipologia e argumentos à parte, e adota uma leitura,
fundamentalmente cristológica do Antigo Testamento.
É assim que, por exemplo, as tentações de Jesus Cristo
(Mt 4.1-11) são em certo sentido; uma encenação das tentações
experimentadas no deserto por Israel, o “filho” de Deus (Êx
4.22,23); com a diferença de que Jesus Cristo, o Filho de Deus,
é totalmente vitorioso sobre elas porque Ele é a Palavra Viva de
Deus.
4) Da mesma forma, o tratamento dispensado por Mateus
à Lei é especialmente sugestivo. Embora muitos pensem
que Mateus interiorize a Lei, radicalize-a, subordine-a ao
mandamento do amor, em vez disso, torna absolutas apenas
suas dimensões morais ou trata-a (ao estilo Paulino) como um
preceptor que conduz as pessoas a Cristo, é melhor utilizar a
própria classificação de Mateus: Jesus vem para “cumprir” a
Lei (Mt 5.17). Da mesma forma como Mateus o usa, o verbo
pressupõe que mesmo a própria Lei desempenha uma função
teleológica e profética.
5) O evangelho de Mateus serve de base não apenas
quando se olha atrás para as escrituras da antiga aliança, mas,
também quando se olha adiante para aquilo que a Igreja veio a
ser. Os debates posteriores sobre o relacionamento entre Israel
e a Igreja têm grande parte de sua gênese em Mateus, João,
Romanos e Hebreus. No que diz respeito a Mateus, boa parte
desse debate tem focalizado o tratamento que ele dispensa aos
líderes judeus.

6) Por fim, no retrato que Mateus pinta de Jesus, retrato que


certamente é o âmago de seu evangelho; existem características
que lhe são exclusivas. Nesse aspecto é importante tornar a
dizer que grande parte daquilo que é central no pensamento de
Mateus não é exclusivamente; seu.
Não é apenas em Mateus que Jesus é o Cristo, o Filho de
Davi, o Filho de Deus, o Filho do Homem, o Servo do Senhor,
e assim por diante. Qualquer que seja a coloração especial que
esses títulos assumam em Mateus, a sobreposição semântica
de tais títulos com o seu uso em outros evangelhos é ainda
mais marcante. Nem é justificável tentar isolar um único título
cristológico como aquele que explica ou hermenêuticamente
controla todos os outros títulos nesse evangelho. Mas, tendo
levantado essas cautelas, as nuanças de Mateus são importantes.
Ele pode chegar a tal nuança ao associar um título em particular
a algum tema, como quando ele repetidamente associa “Filho de
Davi” ao ministério de cura realizado por Jesus Cristo (e Ele não
se encontra só nessa associação).
UNIDADE III
O Evangelho de Mateus

Ele também pode fazê-lo ao introduzir títulos que os outros


evangelistas não mencionam, como quando ele insiste que, Jesus
Cristo é Emanuel, “Deus conosco” (Mt 1.23).
Contém muitas prefigurações do fim; o próprio João nos
lembra que, “como ouvistes que vem o anticristo, também agora,
muitos anticristos têm surgido” (1Jo 2.18).

2.1 Esboço do livro

O Evangelho de Mateus é apresentado em cinco


discursos:
Mt 7.28 “E aconteceu que, concluindo Jesus este
discurso, ...”
Mt 11.1 “E, aconteceu que, acabando Jesus de dar
instruções aos doze discípulos,...”
Mt 13.53 “E aconteceu que Jesus, concluindo estas
parábolas, se retirou dali.”
Mt 19.1 “E aconteceu que, concluindo Jesus estes discursos,
saiu ...”
Mt 26.1 “E aconteceu que, quando Jesus concluiu todos
estes discursos, disse aos seus discípulos”.

Material só encontrado em Mateus: convite aos cansados e


sobrecarregados (Mt 11.28ss), as parábolas do joio entre o trigo;
do tesouro, da pérola, da rede (cap.13), o imposto do templo
(Mt 17.24ss); as parábolas do credor incompassivo (Mt 18.23ss),

45
Coleção Teologia: Novo Testamento I

dos trabalhadores na vinha (Mt 20.1ss), dos filhos desiguais (Mt


21.28ss), das dez virgens e do julgamento do mundo (cap 25), os
guardas do sepulcro (Mt 27.62ss) etc.

2.2 Análise do Livro

O Evangelho de Mateus prima por apresentar Jesus Cristo


como o Messias esperado por Israel. Veja que, no primeiro
versículo é ressaltado que Ele é Filho de Davi, portanto da
descendência real. A genealogia apresentada por Mateus passa
pelos principais reis de Israel em cumprimento a profecia de
Gênesis 49.10 “... o cetro não se arredará de Judá,(....) até que
venha Siló, e a ele se congregarão os povos”.

2.2.1 - O Nascimento: O Nascimento de Jesus é


apresentado, dando ênfase que “ele salvará o seu povo de seu
pecado” (Mt 1.21). A visita dos magos, vindos do Oriente, é outra
honra concedida a Jesus por ser Ele o Rei dos Judeus. Jesus vai ao
Egito para cumprimento de mais uma profecia a seu respeito “Do
Egito chamei meu filho” (Os 11.1). João é o porta-voz anunciado
pelo profeta Isaías (Is 40), ele não somente anuncia a vinda do
Salvador, mas também a descida do Espírito Santo.

2.2.2 - O Batismo: No batismo Jesus recebe pela primeira


vez o testemunho de Deus “Este é o meu filho amado, em quem
me comprazo” (Mt 3.17). Ao pronunciar estas palavras, Deus está

46
UNIDADE III
O Evangelho de Mateus

dizendo ao mundo: “Estou lhes enviando o meu filho amado, é o


que eu tenho de mais precioso”.

2.2.3 – A Tentação: Observemos a descrição da tentação


de Jesus (Mt 4.1-11): em primeiro lugar, Jesus é desafiado por
Satanás para sair da dependência de Deus: “transforme estas
pedras em pães, não espere que Deus lhe socorra, você não é Seu
Filho?”. Jesus é desafiado a usar a sua filiação a seu bel-prazer,
independente da vontade de Deus. Ao rejeitar, Jesus se submete
integralmente a vontade do Pai para satisfação de todas as
suas necessidades terrenas e durante toda a sua atuação neste
mundo.
Em segundo lugar, Jesus é convidado para fazer uma
aparição grandiosa, sem precisar andar pelas ruas da Palestina,
tão pouco atender os necessitados a beira do caminho, nem
a cegos e coxos, nem se misturar com pecadores. Ele poderia
ser reconhecido como Senhor, ao pular do pináculo do templo
e todos, imediatamente, teriam conhecimento de quem Ele
é. A proposta de Satanás é que Jesus experimente se Deus
é realmente Deus. Mas Jesus está consciente de que a Sua
obediência é incondicional, Ele irá até o madeiro, pois foi para
isso que Ele veio.
Em terceiro lugar, a Jesus são oferecidos todos os reinos
do mundo e a glória deles. Satanás diz a Jesus: “me adore e todo
reino será Seu; eu não vou interferir em nada, poderá fazer aquilo
que quiser”. Em outras palavras, ele estava dizendo a Jesus, “faça
um acordo comigo e as coisas ficarão mais fáceis”.

47
Coleção Teologia: Novo Testamento I

2.3 – A Anunciação de que o Reino de Deus é Chegado: Dos


capítulos 5 a 7, temos a proclamação feita por Jesus do código
de conduta que está sendo estabelecido para o Reino de Deus
na terra. Vejamos que, em muitas coisas, Jesus faz questão de
demonstrar a partir da Lei, visto que os judeus a conheciam
muito bem. Nos capítulos 8 e 9, Mateus faz questão de relatar
dez milagres realizados por Jesus (talvez para contrapor com as
dez pragas no Egito), são eles:

1. A cura do leproso.
2. A cura do empregado do centurião de Cafarnaum.
3. A cura da sogra de Pedro.
4. Jesus acalma a tempestade.
5. A cura dos dois gadarenos.
6. A cura do paralítico.
7. A ressurreição da filha de Jairo.
8. A cura da mulher com hemorragia.
9. A cura dos dois cegos à beira do caminho.
10. A cura de um mudo.

No capítulo 10, os doze discípulos são chamados, e em


seguida, enviados. Porém, antes, recebem instruções específicas
de Jesus sobre a sua missão, dentre as quais, destacamos:
Não ir aos gentios e samaritanos (v.5); procurar as ovelhas
perdidas da casa de Israel (v.6); pregar o evangelho do reino
(v.7); curar os enfermos, ressuscitar os mortos, expulsar os
demônios (v.8); fazer deliberadamente (de graça) (v.9); seriam

48
UNIDADE III
O Evangelho de Mateus

odiados, entregues aos tribunais, odiados pela própria família,


perseguidos nas cidades (v.16-23).
São estimulados com estas palavras: não estão acima de
seu mestre (v.24,25); a mensagem um dia será conhecida em
todo mundo (v.26,27); na pior das hipóteses, o corpo poderia ser
morto (v.28); o Pai cuida dos enviados (v.29-31); quem confessa a
Jesus diante do mundo será reconhecido no céu (v.32,33); Jesus
o pacificador, também traz a espada (v.34-39); quem recebe a
Jesus está recebendo o próprio Deus (v.40-42).
João Batista é confortado por Jesus antes de sua morte,
e também recebe testemunho público (11.2-19); às cidades de
Corazim, Betsaida e Cafarnaum recebem lamento por ter visto
tantos sinais e não se arrependerem (11.20-24); a exclamação de
louvor e salvação de Jesus (11.25-30).
O capítulo 13 é significativo para os judeus, pois é através
destas parábolas que Jesus diz a eles como o reino dos céus
tomará a sua forma:

1) Em primeiro lugar, o reino crescerá através da semeadura.


Observe que a semente (a palavra), nem sempre vai cair em terra
que terá boa germinação. Isto nos mostra que, para a expansão
do reino dos céus, embora a semente deva ser lançada em todos
os terrenos, nem todas produzirão. O mundo todo, apesar de se
tornar conhecedor da verdade, não será totalmente convertido
e o reino dos céus sempre prospera por intermédio da Palavra.

49
Coleção Teologia: Novo Testamento I

2) A parábola do joio e do trigo - o joio foi semeado


porque os homens dormiram. De acordo com a parábola, o trigo
cresce tal como cresce o joio e deve esperar até a colheita para
exterminar o joio, isto não está falando de disciplina, corrigir e
sim, julgar e julgamento não cabe aos discípulos e sim ao Filho
do Homem e seus anjos.

3) A parábola do grão de mostarda - ao designar algo


muito pequeno, um adágio popular falava da “sementinha de
mostarda”1. Depois que essa sementinha de mostarda havia
crescido até ser uma árvore, formava um arbusto de 3 a 4 metros
de altura. Este reino que é pregado em fraqueza, loucura, por fim
se tornará tão grande que todas as nações terão que reconhecê-
lo e se dobrarão perante ele.
4) A parábola do Fermento - o reino cresce e parece ser
maior do que realmente é; ainda mais porque Deus usa coisas
que não são para confundir as que são. (1Co 1.27-29).
5) A parábola do tesouro escondido e da pedra preciosa:
estas parábolas falam do alto valor e da natureza oculta da
propriedade celestial e nos mostra que o reino é alcançado sem
mérito próprio.
6) A parábola da rede lançada ao mar: Jesus apresenta a
tarefa de pescarmos tudo o que conseguirmos, e somente na
eternidade será revelado quem terá direito a herança. “Ide por
todo mundo, pregai o evangelho a todas as criaturas. Quem crer

1 Rienecker, F, O Evangelho de Mateus Comentário Esperança. Ed.


Evangélica Esperança. 1998. pg 228.
50
UNIDADE III
O Evangelho de Mateus

e for batizado será salvo, quem não crer será condenado” (Mc
16.15). A graça é oferecida a todos, e há lugar para todos; a igreja
só alcançará a perfeição nos céus.
A morte de João Batista faz com que Jesus se retire para
um lugar deserto (Mt 14.1-13a); sabendo disso a multidão o
segue e Ele movido de compaixão faz a primeira multiplicação de
pães e peixes (Mt 14.13b-21); em seguida, Jesus sobe ao monte
para orar sozinho e pela manhã encontra com seus discípulos do
outro lado do mar (Mt 14.22-33).
Os fariseus e escribas vão até Jesus, preocupados com
a tradição dos anciãos que está sendo deixada de lado pelos
discípulos (Mt 15.1-20). Ao realizar o milagre da filha da mulher
cananéia, Jesus vai até o território dos gentios. No entanto, fiel
a sua missão, Mateus registra que Jesus não foi enviado senão
às ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 15.21-28); multidões
são curadas junto ao mar da Galileia (Mt 15.29-31); quatro mil
pessoas são alimentadas na segunda multiplicação (Mt 15.32-
39).
Os fariseus e saduceus pedem sinal (Mt 16.1-4); Jesus
adverte os discípulos quanto ao fermento dos fariseus (16.5-
12); A confissão de Pedro é um marco na vida dos discípulos,
pois em Mateus 8.27, eles estão a perguntar: Quem é este?
Agora pelo Espírito Santo ele, Pedro, afirma: “Tu és o Cristo, o
Filho do Deus vivo” (Mt 16.16). Jesus os adverte a não propagar
este conhecimento a ninguém, porém, logo no capítulo 21, por
ocasião de sua entrada em Jerusalém, a multidão O reconhece
como Jesus Cristo, o filho de Davi.

51
Coleção Teologia: Novo Testamento I

Após a revelação de que Jesus é o Cristo, os discípulos


são informados pela primeira vez que Ele irá sofrer; morrer e
ressuscitar (Mt 16.21). A um pequeno grupo, Jesus mostra a sua
glória, por ocasião da transfiguração (Mt 17.1-9) e pela segunda
vez ecoa a voz de Deus, dizendo; “este é o meu filho amado, em
quem me comprazo; a ele ouvi”.
Jesus vê agora que é necessário deixar alguns critérios para
formação da Igreja (Mt 18.1-35), em resumo podemos dizer que
é o amor e o perdão:
1º) é necessário ser tão frágil e inocente como uma criança
para ser o maior no reino dos Céus;
2º) o cuidado em não fazer tropeçar nenhum destes
pequeninos;
3º) é dever buscar as ovelhas perdidas e desgarradas (Mt 12-
14);
4º) sobre a disciplina e perdão (Mt 15-18);
5º) oração será atendida pelo Pai (Mt 19,20);
6º) sempre prontos a perdoar (Mt 21,22);
7º) a parábola do servo que não está pronto a perdoar (Mt 23-
35).
Quatro questões importantes para a igreja que está sendo
formada:
a) A questão do matrimônio (Mt 19.1-9);
b) As crianças pertencem ao reino de Deus (Mt 19.13-15);
c) A questão da propriedade (Mt 19.16-30);
d) Seremos recompensados pela qualidade e não pela
quantidade de trabalho realizado (Mt 20.1-16).

52
UNIDADE III
O Evangelho de Mateus

No capítulo 20.17-19, Jesus faz o terceiro anúncio da Paixão.


Nos versículos 20-23, a mãe dos filhos de Zebedeu (Tiago e João)
pede para seus filhos um lugar de honra no céu; em seguida, os
outros dez irmãos ficam indignados (Mt 20.24-28) e Jesus lhes
ensina uma preciosa lição:
“Quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que
vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será vosso
servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido,
mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (Mt 20:
25-28).
Jesus segue em caminho para Jerusalém, onde se dará
todo o seu sofrimento, morte e ressurreição. Antes, porém, Ele
é aclamado como Rei, sem coroa, sem espada, sem cetro, sem
corte. Esta mesma multidão que o recebe como rei será a mesma
que irá crucificá-lo, expulsá-lo da cidade e levá-lo até o Gólgota.
Após a sua entrada triunfal em Jerusalém, Jesus vai até o
templo e expulsa os cambistas e os vendedores (Mt 21.10-17),
e Mateus registra que surgem ali as crianças cantando; “Hosana
ao Filho de Davi”, isto é, reconhecendo que a salvação está
acontecendo e que Ele é o Messias.
Segue a maldição sobre a figueira e consequentemente ela
seca. Aqui está representado o povo de Israel que, embora Jesus
tenha vindo a eles, não encontrou nenhum fruto (Mt 21.18-22).
Os sacerdotes e anciãos ainda tentam entender quem é Jesus,
porém Ele não tem mais nada a dizer a este povo que já o rejeitou
e, mantém sua autoridade (Mt 21.23-27).
A parábola descrita em Mateus 21.28-32 é proposta dentre

53
Coleção Teologia: Novo Testamento I

o próprio povo judeu, uns disseram que iam e não foram - aqueles
que guardavam a lei. Outros rejeitaram e depois resolveram
trabalhar na vinha; Jesus diz que estes são os publicanos,
meretrizes que aceitaram o convite.
A segunda parábola proposta por Jesus é uma clara
condenação à nação de Israel e a seus líderes (Mt 21.33-46).
A terceira parábola os acusa de estar recusando o convite
de Deus, convite este que já havia sido feito há muito tempo.
Portanto, o Rei convida outros e estes aceitam (Mt 22.1-14).
Observemos que todos eles são convidados dentro do próprio
povo judeu.
Três inimigos atacam Jesus (Mt 22.15-46): primeiro, os
herodianos - a disputa pela moeda do imposto; segundo, os
saduceus - a pergunta da ressurreição; terceiro, os fariseus - a
pergunta do principal mandamento. Jesus questiona os fariseus:
“Que pensais vós do Cristo? De quem é filho? Responderam eles:
de Davi” (Mt 22.41-46).
Jesus condena os fariseus, ataca-os com veemência porque
eles são os professores da lei e ao final lamenta sobre a cidade
de Jerusalém (cap.23).
Do capítulo 24 ao 25-46, vimos a narrativa de Mateus sobre
as profecias de juízo sobre Jerusalém e o mundo. Os primeiros
sinais (Mt 24.4-14); Juízo sobre Jerusalém (Mt 24.15-22); dos
versículos 23 ao 31 do capítulo 24, há relato de um futuro
mais distante até o julgamento final do mundo. Nestes textos
o estudante da Bíblia precisa tomar muito cuidado para não
misturar profecias que são aos judeus, especialmente aquelas

54
UNIDADE III
O Evangelho de Mateus

que falam da destruição de Jerusalém que ocorreram no ano 70


d.C.
Há necessidade de vigilância constante (Mt 24.32-44) e
sobre isto, são propostas três parábolas:
1º) A parábola dos dois servos (24.45-51).
2º) A parábola das dez virgens (25.1-13).
3º) A parábola dos talentos (25.14-30).

Segue descrição dos fatos relacionados ao sofrimento e


morte do Senhor (Mt 26:1-75; 27:1-50)
1. A decisão do Sinédrio: prender Jesus e matá-lo (26.1-5).
2. Jesus é ungido em Betânia na casa de Simão (26.6-13).
3. Judas Iscariotes o trai por trinta moedas de prata (26.14-16).
4. A última ceia pascal, e a instituição da Ceia (26.17-30).
5. No caminho do Getsêmani (26.31-46).
6. O interrogatório perante o Sinédrio (26.57-68).
7. A negação de Pedro (26.69-75).
8. Perante Pilatos (27.1,2, 11-26).
9. O fim do traidor (27.3-10).
10 .Jesus é submetido ao escárnio (27.27-30).
11. A execução de Jesus (27.31-50).

Acontecimentos logo após a morte:

a) O véu do templo é rasgado, os abalos e ressurreição de


mortos (Mt 27.51-53).
b) O testemunho do capitão gentio sobre Jesus (27.54).

55
Coleção Teologia: Novo Testamento I

c) Os enlutados junto à cruz (27.55,56).


d) O sepultamento do Senhor (27.57-61).
e) A guarda e o lacre da sepultura (27.62-66).
f) A Ressurreição de Jesus (28.1-10).
g) Os guardas do sepulcro são subornados (28.11-15).
h) A grande comissão (28.16-20).

Mateus termina seu evangelho com as seguintes palavras


de Jesus: “... todo poder me foi dado no céu e na terra”, o Rei
apresentado em (Mt 1.1), o filho de Davi, recebe agora todo o
poder (Mt 28.18).

56
UNIDADE III
O Evangelho de Mateus

UNIDADE IV

O EVANGELHO SEGUNDO
MARCOS

57
Coleção Teologia: Novo Testamento I

O EVANGELHO SEGUNDO MARCOS

1. Contextualização do Livro de Marcos

Marcos não foi uma testemunha ocular, nem era um dos


apóstolo de Jesus. Todavia, há informações bíblicas de que
Marcos conviveu com Pedro na Igreja primitiva. É provável que
tenha obtido informações com Pedro para montar a narrativa
simples, porém densamente agrupada de detalhes que só
poderiam se obter de alguém muito próxima de Jesus, como o
foi Pedro. É o mais curto dos Evangelhos. A data provável em que
foi escrito é fixada em 50 d. C.
O evangelho segundo Marcos foi escrito para cristãos não-
judeus. O escritor, que também é conhecido como João Marcos
(At 12.12,25; At 13.5,13; At 15.37,39; Cl 4.10; Fm 24; 2Tm 4.11;
1Pe 5.13), trabalhou ao lado de Barnabé, Pedro e viajou um
pouco com paulo em suas missões. Seu nome João, é hebraico e
Marcos, romano; certamente ele viveu algum tempo em Roma.
Marcos deve ter acompanhado a Pedro em diversas de suas
viagens e pregações, bem como em alguns momentos conviveu
com os doze e, provavelmente, tenha seguido a Jesus (Mc 14.51).
(Como discípulo oculto, ou seguiu Jesus de longe).

58
UNIDADE III
O Evangelho de Mateus

2. Características do Livro de Marcos

O relato que Marcos apresenta do ministério de Jesus Cristo,


dá ênfase à ação, resumindo seus ensinos e omitindo parábolas.
Marcos faz trocas rápidas de cenas. As palavras “imediatamente”,
“logo após” e “em seguida” aparecem centenas de vezes. Em
Marcos, Jesus Cristo está em constante movimento, curando,
expulsando demônios, confrontando adversários e instruindo os
discípulos.
É de consenso entre os eruditos, que Marcos tenha escrito
seu evangelho objetivando alcançar os romanos, pois, estes
detinham poder político e influência de cidadania por todo o
Oriente Médio e Ocidente. O poder político de Roma havia se
propagado por todas as regiões onde Paulo projetara evangelizar.
Marcos apresenta Jesus como o grande conquistador;
neste evangelho não há genealogia, pois, aos romanos isto não
interessava, mas, sim, conquistas espirituais e sociais. Conquanto
Marcos seja o mais resumido dos evangelhos, é o mais completo
em obras e o mais básico dos sinóticos.
O batismo e a tentação são relatados em apenas cinco
versículos. Só no primeiro capítulo são relatadas três curas e neste
capítulo, Jesus Cristo convoca os discípulos para uma missão
específica: PREGAR (Mc 1.38).
● O relato da multiplicação é mais extenso, apesar de este
ser o único milagre de Jesus que é relatado nos quatro evangelhos.
Acalmar a tempestade, andar por cima do mar, expulsar

59
Coleção Teologia: Novo Testamento I

demônios e curar enfermos, é algo bem peculiar deste evangelho.


Em Marcos, o Reino de Deus é contagiante e abrangente. A
cidadania romana é privilégio de poucos e para consegui-la, tinha
que se pagar um alto preço ou ter influência política. Porém, a
cidadania do Reino de Deus é para os humildes. Em Marcos, Jesus
Cristo é o servo sofredor, trabalhador, serviçal, mordomo de nossa
salvação (Mc 9.35), aquele que veio para servir (Mc 10.45) este
versículo é o tema do livro de Marcos “ ... o filho do homem não
veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate
de muitos”.
A característica do Filho do Homem servindo é notado em
todo livro, acompanhe estes textos:
Mc 1.32,41; 2.9; 3.3,10,13,20; 4.1,30,35; 5.2,18,21,35; 6.1,
6,34,39,45,50;7.14,24,31;8.1,15,17,25,27,30,33; 9.2,16,25,28,35;
10.1,17,21,27,32,38,49,52; 11.1,12,15,22,29; 12.1,15,38,41; 13.3;
14.6,13,18,32,48. Em todos os versos mencionados é Jesus que
toma a iniciativa de curar, chamar, orar, ensinar, perguntar, entrar,
sair, amar, ir à frente, responder, advertir, dirigir, tomar, voltar,
insistir, ordenar, percorrer, desembarcar, estender, madrugar. Ele
é o verdadeiro servo.
Marcos se propõe a explicar algumas expressões aramaicas
por exemplo: Mc 3.17; 5.41; 7.11,34; 14.36; 15.22,34. Algumas
expressões gregas ele explica o seu equivalente no latim: Marcos
12.42 – duas leptas – moeda grega, isto é, um quadrante – moeda
romana; Marcos 15.16 – o interior do pátio, isto é, Pretório. Estas e
outras evidências nos levam a concluir que o evangelho foi escrito
aos romanos.

60
Estudiosos acreditam que Marcos escreveu seu Evangelho
em Roma quando estava com pedro.
Outro fato digno de nota é a forma que Marcos utiliza para
descrever os fatos, sucinto, porém, com muitos detalhes. As
palavras logo e imediatamente dão ideia de pressa.

3. A Contribuição de Marcos

Alguém talvez se sinta tentado a agir exatamente como


a Igreja primitiva e indagar por que deveria importar-se com
Marcos? Aqueles que não consideram o evangelho uma série de
trechos extraídos de Mateus e/ou Lucas, podem muito bem achar
que a importância de Marcos encontra-se quase inteiramente
no fato de ele ter fornecido a esses evangelistas mais ricos em
conteúdo a matéria-prima básica de seus evangelhos. Segundo
esse ponto de vista, a importância de Marcos pode ser considerada
como principalmente histórica, ele foi o primeiro a redigir um
evangelho, o primeiro a apresentar um relato do ministério de
Jesus Cristo neste gênero literário específico e em grande parte
sem paralelo.
Não se deve, porém, subestimar essa façanha. Marcos é o
criador do evangelho em sua forma literária, um entrelaçamento
de temas biográficos e querigmáticos, que transmite com
perfeição qual é a relevância desse personagem ímpar da história
humana, Jesus Cristo de Nazaré, o Filho de Deus. Além disso, ao
vincular tão estreitamente a importância que Jesus Cristo tem
para a igreja a uma série específica de acontecimentos históricos
na Palestina na terceira década do século I; Marcos assegurou
que, se a Igreja for fiel aos seus documentos canônicos, jamais
abandonará a verdadeira humanidade do Cristo a quem ela adora.
Ao lembrar aos cristãos de que sua salvação depende da morte e
ressurreição de Jesus Cristo, Marcos vinculou inextricavelmente
a fé cristã à realidade de acontecimentos históricos.
UNIDADE IV
O Evangelho de Marcos

3.1 Paralelo entre a Pregação de Pedro e Marcos

At o s 1 0 Marcos
“Evangelho” (v. 36) “Princípio do Evangelho” (1.1)

“Deus ungiu a Jesus Cristo de A vinda do Espírito sobre


Nazaré com o Espírito Santo” Jesus
(v – 38) (1.10)

“Tendo começado desde a O ministério na Galiléia


Galiléia” (v – 37) (1.16) (8.26)

“[Jesus] andou por toda parte, O ministério de Jesus


fazendo o bem e curando a concentra-se em curas e
todos os oprimidos do diabo” expulsões de demônios
(v – 38)

“Nós somos testemunhas O ministério em Jerusalém


de tudo o que ele fez [...] em (caps. 11-14)
Jerusalém (v – 39)”.

“Ao qual também tiraram à vida, Destaque à morte de Cristo


pendurando-o no madeiro” (v (cap. 15)
– 39)

“A este ressuscitou Deus no Ele ressuscitou, não está
terceiro dia” (v – 40) mais aqui” (16.6).

63
Coleção Teologia: Novo Testamento I

A própria maneira de Marcos organizar essa história é


uma prova disso. A estrutura do evangelho tem sido entendida
de diversas maneiras. O teólogo Philip Carrington sugeriu que
na base da estrutura do evangelho segundo Marcos, encontra-
se uma sequência que lecionaria de sinagoga, mas, isso é muito
improvável. Igualmente improvável é a complicada série de
correspondências com o Antigo Testamento identificado por
Austin Farrer (teólogo e pastor anglicano).
A maioria crê que a geografia desempenha um papel
significativo na estrutura do evangelho, e há verdade nisso.
Mas a importância da geografia não se deve a algum esquema
teológico de Marcos, mas a progresso factual do ministério de
Jesus Cristo. C. H. Dodd (teólogo galês), exímio estudioso do
Novo Testamento, mostrou que a sequência do evangelho de
Marcos segue a mesma sequência manifesta na pregação da
igreja primitiva. Podemos observar, na tabela apresentada, o
paralelo entre a pregação de Pedro em Atos (At 10.36-40) e a
estrutura de Marcos.
Embora a sequência da tabela seja em grande parte ditada
pelo curso real dos acontecimentos, o relato objetivo de Marcos,
com ênfase na ação, preserva a sequência mais claramente do
que os outros evangelhos. A estrutura querigmática de Marcos
ajuda os leitores do evangelho a compreender os acontecimentos
salvíficos básicos e prepara-os para recitar esses eventos em sua
própria evangelização.
Essa sequência narrativa enxuta, também confere
destaque à linha divisória estrutural que é Cesaréia de Felipe.

64
UNIDADE IV
O Evangelho de Marcos

Embora frequentemente divirjam entre si quanto à estrutura


de Marcos, os comentaristas entendem que esse incidente é o
ponto crucial a partir do qual o evangelho toma outro rumo.
Os dados de Marcos 1.1 e Marcos 8.26, com sua ênfase nos
milagres de Jesus Cristo, culminam com a percepção intuitiva
concedida por Deus a Pedro da verdadeira natureza do homem,
Jesus Cristo de Nazaré. Mas, imediatamente após a confissão de
Pedro - “Tu és o Cristo” -, é interessante notar que até aqui é um
segredo, (mesmo que desde o primeiro momento os demônios
o reconheçam - Mc 1.25,34; 3.11) e após realizar alguns milagres
Ele peça segredo (Mc 5.43; 1.44; 7.36).
Aos discípulos, por duas vezes é imposto o silêncio (Mc
8.30 e 9.9), a partir do capítulo 9.9, Jesus lhes diz até quando
deveriam guardar este segredo (“até a ressurreição”). A ênfase
passa para o sofrimento e morte de Jesus Cristo, que domina o
restante do evangelho.
Conforme assinalamos, essa combinação de ênfases revela
um importante propósito cristológico de Marcos: Jesus Cristo
é o Filho SOFREDOR de Deus e só pode ser verdadeiramente
entendido em termos desse sofrimento.
Conforme também assinalamos, quando tratamos do
propósito desse evangelho, outro tema central de Marcos é
o discipulado. Os doze aparecem com grande destaque em
Marcos e servem em geral como exemplo para os discípulos a
quem Marcos se dirige em seu evangelho. Na verdade os doze
nem sempre são apresentados como modelos a serem imitados.
Seu fracasso evidente, embora até certo ponto presente nos

65
Coleção Teologia: Novo Testamento I

outros evangelhos, é especialmente proeminente em Marcos.


O evangelista descreve os discípulos como duros de coração,
espiritualmente fracos e incrivelmente obtusos. No dizer de
Guelich, Marcos apresenta os discípulos como igualmente
“privilegiados e perplexos”. Talvez dessas duas maneiras eles
sejam modelo para os discípulos dos dias tanto de Marcos
quanto de hoje. Privilegiados por pertencerem ao Reino, mas
ao mesmo tempo perplexos com os aparentes reveses que o
Reino experimenta quando os cristãos sofrem. Por outro lado,
Marcos talvez queira contrastar implicitamente a situação dos
(12) doze, que procuravam seguir a Jesus Cristo antes da cruz e
da ressurreição, com a dos discípulos cristãos da época em que
escreveu o evangelho. Estes últimos, contudo, seguem a Jesus
Cristo com a ajuda dos poderes da nova era da salvação que
raiou.
Resumo
“Esse livro não é uma biografia, mas uma história concisa da
redenção obtida mediante o trabalho expiatório de Cristo. Marcos
demonstra as reivindicações messiânicas de Jesus enfatizando
sua autoridade com o Mestre (Mc 1.22) e Sua autoridade sobre
satanás e os espírito malignos (Mc 1.27; 3.19-30), o pecado
(Mc 2.1-12), o sábado (Mc 2.27-28; 3.1-6), a natureza (Mc 4.35-
41; 6.45-52), a doença (Mc 5.21-34), a morte (Mc 5.35-43), as
tradições legalistas (Mc 7.1-13,14-20), e o templo (Mc 11.15-18).
Título de abertura do trabalho de Marcos, “Princípio do
Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1.1), fornece sua
tese central em relação a identidade de Jesus como o filho de

66
UNIDADE IV
O Evangelho de Marcos

Deus. Tanto o batismo quanto a transfiguração testemunham


sua qualidade de filho (Mc 1.11; 9.7). Em duas ocasiões, os
espíritos imundos o reconhecem como Filho de Deus (Mc
3.11; 5.7). A parábola dos lavradores malvados (Mc 12.6) faz
alusão à qualidade de filho divino de Jesus (Mc 12.6). Por fim, a
narrativa da crucificação termina com a confissão do centurião:
“Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus.” (Mc 15.39).
O titulo que Jesus usava com mais frequência para si
próprio, num total de catorze vezes em Marcos, é “Filho do
Homem”. Como designação para o Messias, este termo (ver Dn
7.13) não era tão popular entre os Judeus como o título “Filho
do Homem” para revelar e para esconder seu messianismo e
relacionar-se tanto com Deus quanto com o homem.
Marcos, atentando para o discipulado, sugere que os
discípulos de Jesus deveriam ter um discernimento amplo ao
mistério de sua identidade. Mesmo apesar de muitas pessoas
interpretarem mal sua pessoa e missão, enquanto os demônios
confessam sua qualidade de filho de Deus, os discípulos de Jesus
precisam ver além de sua missão, aceitar sua cruz e segui-lo.
A segunda vinda do Filho do Homem revelará totalmente seu
poder e glória”. Fonte: Bíblia de Estudo Plenitude, São Paulo.
SBB; 2001.

4. Esboço do Livro:

O Evangelho de Marcos pode ser lido em duas partes. A


primeira (Mc 1.18 – 8.30) trata do ministério e identidade de

67
Coleção Teologia: Novo Testamento I

Jesus; e constantemente procura-se saber “Quem é Jesus?”


A segunda parte (Mc 8.31 – 16.8) após a revelação feita pelos
discípulos Jesus começa a revelar o seu destino – a cruz.
Material exclusivo de Marcos: A parábola da semente (Mc
4.26ss), a cura do surdo-mudo (Mc 7.31ss), a cura do cego de
Betsaida (8.22ss), prisão e fuga de um jovem (Mc 14.51s) entre
outros.

68
UNIDADE IV
O Evangelho de Marcos

UNIDADE V

O EVANGELHO SEGUNDO
LUCAS

69
Coleção Teologia: Novo Testamento I

O EVANGELHO SEGUNDO LUCAS

1. Contextualização do Livro de Lucas:

Lucas, o amado médico (Cl 4.14), não foi testemunha


ocular do ministério de Jesus, mas teve contato com algumas
testemunhas diretas dos fatos que narra. Ele fez uma acurada
investigação do material de narradores e de testemunhas
oculares, e, inspirado pelo Espírito santo, relata os acontecimentos
destacando a antropologia de Jesus Cristo.
Escrevendo seu evangelho em aproximadamente 70 d.C.,
procura apresentar aos gregos, um Jesus Cristo belo e sábio.
Um homem amigo da sabedoria. Suas parábolas são lições que
provocaram dentro dos homens, conflitos, fazendo-os sentir a
necessidade urgente de mudança.
A genealogia em Lucas começa com Adão, pois, Jesus
Cristo é o segundo Adão. O Adão segundo Deus. Por isso Lucas
é o evangelho do Homem Divino e Perfeito. Neste evangelho o
homem é buscado e valorizado por Deus.
O Evangelho de Lucas é uma parte de sua obra, que é
escrita a Teófilo, possivelmente desempenhava algum cargo
no Império Romano, no evangelho Lucas faz uma narrativa dos
fatos que Jesus fez, e como ele diz: “segundo nos transmitiram os
mesmos que os presenciaram desde o princípio e foram ministros
da palavra,” (1.2), a segunda parte, está em Atos dos Apóstolos,

70
onde são descritos os fatos que ocorreram após a ascensão e a
descida do Espírito Santo, é exatamente neste ponto que Lucas
encerra o seu evangelho (Lc 24.49-51).

2. A Contribuição de Lucas

Deve-se a Lucas uma boa parte das informações que


se tem sobre Jesus Cristo. Os seus dois primeiros capítulos,
por exemplo, contam quase tudo o que se sabe a respeito do
nascimento de João Batista e a maior parte das informações
sobre o nascimento e infância de Jesus Cristo.
Só ele registra a pesca milagrosa e o efeito que ela teve
em Pedro (Lc 5.1-11), a unção de Jesus Cristo por uma pecadora
(Lc 7.36-50), as mulheres que ajudavam Jesus Cristo (Lc 8.1-3),
a rejeição de Jesus Cristo por alguns samaritanos (Lc 9.51-56), a
missão dos setenta (Lc 10.1-12) (Lc 17.20), a visita de Jesus Cristo
a Maria e Marta (Lc10.38-42), o ensino sobre o arrependimento
(Lc 13.1-5), a cura de uma mulher aleijada (Lc 13.10-17), o
ensino de Jesus Cristo sobre Herodes (Lc 13.31- 33), o homem
hidrópico (Lc 14.1-6), o convite a um banquete (Lc14.7- 14), o
ensino de Jesus Cristo sobre servos inúteis (Lc 17.7-10), a cura
de dez leprosos (Lc-17.11-19), Zaqueu (Lc 19.1-10), o lamento
por Jerusalém (Lc 19.41-44), as palavras sobre duas espadas (Lc
22.35-38), Jesus Cristo perante Herodes (Lc 23.6 - 12), as palavras
às filhas de Jerusalém (Lc 23.27-31), três das “palavras” ditas na
cruz (Lc 23.34,43,46) e todo o trecho sobre a ressurreição após o
anúncio às mulheres junto ao túmulo (Lc 24.12 -53).
Diversas parábolas acham-se apenas nesse evangelho. O
bom samaritano (Lc 10.25-37), o amigo à meia noite (Lc 11.5-8),
a figueira estéril (Lc13.6-9), a ovelha perdida, a moeda perdida
e o filho perdido (Lc 15.1-32), o mordomo infiel (Lc 16.1-9), o
rico e Lázaro (Lc 16.19-31), o juiz injusto (Lc 18.1-8) o fariseu e o
publicano (Lc 18.9-14).
O volume de informações que Lucas traz é notável.
Igualmente notável é a beleza de sua redação, de tal forma que o
cientista e historiador Ernest Renan, chamou esse evangelho de
“o mais belo livro do mundo”.
Lucas tem uma boa quantidade daquilo que se possa
chamar de material de interesse humano, que nenhum dos
outros evangelistas inclui, como; as histórias da infância de Jesus
Cristo e de João Batista. A humanidade tem a felicidade, de Lucas
ter incluído parábolas como as do Bom Samaritano e do Filho
Pródigo.
Quando Lucas escreve sobre histórias encontradas nos
outros evangelhos, ele tem a sua própria maneira de contá-
las, o que em muito enriquece a compreensão devido à sua
maneira de apresentá-las. Em sua abertura introdutória ele diz
que está escrevendo sobre “fatos que se cumpriram” (Lc 1.1),
não simplesmente sobre coisas que aconteceram. Ele está
interessado no propósito divino que opera nos acontecimentos
que registra e na maneira como esses eventos afetam o presente.
Seu interesse teológico leva-o a ressaltar verdades que são de
importância permanente na vida da Igreja. Este é o caso da
afirmação feita ao fim da seção anterior, que tratou da insistência
UNIDADE V
O Evangelho de Lucas

de Lucas na primazia da palavra. Embora Lucas não desenvolva


uma teologia da inspiração nem indique como os escritos do
Novo Testamento relacionam-se com os do Antigo Testamento,
o leitor de Lucas não fica, com qualquer dúvida de que, está
diante de um repositório autêntico da verdade cristã que deve
ser zelosamente guardado.
Lucas tem muito a dizer sobre salvação, ele é o teólogo da
ligação entre a salvação e os eventos históricos. Para Lucas é uma
ideia nova e significativa ver a salvação divina manifestada na
vida, morte, ressurreição e ascensão de Jesus Cristo e também
na vida diária da Igreja. Ele situa firmemente o seu relato no
contexto da História secular (Lc 2.1,2), (Lc 3.1), e vê Deus agindo
em tudo o que Jesus Cristo disse e fez. Foi, em Jesus Cristo, que
Deus operou a salvação para os pecadores.
Lucas considera a vida de Jesus como o alicerce da vida
contínua da igreja. A história toda gira em torno de Jesus Cristo,
e na vinda de Jesus Cristo vê-se a ação do amor de Deus. Esse
evangelho é cheio de ternura, um evangelho em que é impossível
deixar de notar a verdade de que, Deus ama os pecadores que
Jesus Cristo veio salvar.
Pela frequência com que emprega palavras como “hoje”
(onze vezes, contra oito vezes em Mateus e uma em Marcos)
e “agora” (14 vezes, contra quatro vezes em Mateus e três em
Marcos), Lucas discretamente traz à lume a verdade de que,
com a vinda de Jesus Cristo, a salvação tornou-se uma realidade
presente. Quase solitário entre os quatro evangelhos, Lucas
utiliza substantivos traduzidos por “salvação”, quatro vezes ele

73
Coleção Teologia: Novo Testamento I

emprega o termo grego σωτηρια (sotéria, nos outros evangelhos


esta palavra aparece apenas uma vez, em João) e duas vezes
somente ele emprega o termo grego σωτηρι€€ (sótérion),
havendo em Atos sete outros exemplos desses dois vocábulos.
Duas vezes ele chama Jesus Cristo de “Salvador” (e mais duas
outras em Atos), e utiliza o verbo “salvar” com mais frequência
do que qualquer outro livro do Novo Testamento. A salvação é
assunto importante para Lucas.

74
UNIDADE V
O Evangelho de Lucas

Conteúdo do Livro:

I. Do templo ao término do
(1.5 a 9.50)
ministério da Galiléia
Propósito do Livro (1.1-4)
O anuncio do Nascimento
(1.5 – 2.52)
(Jesus e João)
Jesus é apresentado e
(3.1 – 4.13)
inicia seu Ministério
A proclamação na
(4.14 – 9.50)
Galiléia
II. Da Galiléia a Jerusalém (9.51 - 19.27)
III.Seus últimos dias em
(19.28- 24.53)
Jerusalém
Ministério em
(19.28– 21.38)
Jerusalém
Inicia-se sua Paixão (caps.22 e 23)
A Ressurreição e últimas
Cap. 24
instruções

75
Coleção Teologia: Novo Testamento I

3. Análise do Livro

Iniciando sua narrativa procura deixar bem claro quais


são suas fontes de informações para escrever, no entanto, não
podemos lê-lo como um tratado científico. Ao depurar com mais
cuidado os fatos que ocorreram, o evangelista propõe algumas
modificações que se fizeram necessárias, por exemplo, Herodes
é o tetrarca e não “rei” ( Lc 9.7), a transfiguração se dá “quase
oito dias depois da confissão feita por Pedro” ( Lc 9. 18 – 28), o
lago é chamado Genesaré e não mar da Galiléia (Lc 5.1).
A introdução deste evangelho liga-o ao Antigo Testamento,
veja (Ml 4.5 e Lc 1.17), e mais uma vez quando o evangelista relata
as atividades do sacerdote Zacarias (Lc 1.5), bem como a espera
do povo aguardando no pátio do templo a saída do sacerdote
para abençoá-los (Lc 1.21,22), somente a partir destes eventos
ele introduz o nascimento de Jesus. Registrando a genealogia
de Jesus, é opinião de diversos teólogos que Lucas faz da árvore
genealógica de Maria, principalmente pelo fato de que o anúncio
é feito a Maria e não a José como em Mateus.
É de Lucas o registro dos cânticos de: Maria, Zacarias, do
Exército Celestial, o louvor de Simeão e da profetiza Ana, registra
também a visita feita pelos pastores e não a dos magos como
Mateus.
O registro de grande número de parábolas dá-nos a ideia
do evangelho escrito para povos de boa cultura; é notória ainda

76
UNIDADE V
O Evangelho de Lucas

a participação de todo tipo de pessoa na história da salvação,


pobres, ricos, homens, mulheres, samaritanos, etc.
As mulheres têm grande destaque no evangelho segundo
Lucas: Isabel (1.40,41); Maria (1.29); Ana (2.36); a viúva de Naim
(7.11,12); a “pecadora” (7.37); Maria, chamada Madalena,
Joana, Suzana e muitas outras (8.2,3); Marta e Maria (10.38 -
41); a viúva persistente (18.1 – 8), entre outras.
É dele o único registro de alguns fatos da infância de Jesus.
Ao fazer a apresentação de Jesus iniciando o seu ministério,
Lucas se utiliza das palavras proferidas por Ele na leitura feita
na sinagoga de Nazaré (4.16 – 21), profecia registrada em (Is
61.1,2), tendo o cuidado de deixar de fora apenas a parte que
se cumpriria em sua segunda vinda “o dia da vingança do nosso
Deus, a consolar a todos os que choram”.
Com grande severidade Lucas fala em seu evangelho do
perigo das riquezas: “... ai de vós, os ricos” (Lc 6.24); “Insensato...
assim acontece com quem guarda para si riquezas, mas não é
rico para com Deus (Lc 12.20,21); “... qualquer que não renunciar
a tudo o que possui não pode ser meu discípulo” (Lc 14.33); “...
não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16.13); “... é mais
fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico
entrar no Reino de Deus” (Lc 18.22). Lucas não apregoa a pobreza,
embora traga o relato de que Jesus veio ao mundo como pobre,
recebe a visita de pastores (Lc 2.16), seus pais deram a oferta de
pobres (Lc 2.24, Lv 12.8); a ênfase do evangelista está em que,
nossa confiança deve estar somente em Deus, e devemos deixar
tudo para segui-lo, o preço do discipulado exige renúncia de

77
Coleção Teologia: Novo Testamento I

todas as coisas (Lc 14.25-26).


A oração na vida de Jesus mostrada em diversas ocasiões
contagia os discípulos de tal maneira que eles pedem a Jesus
que os ensine a orar (Lc 11.1). Neste sentido, Lucas fecha o seu
evangelho antes da ascensão relembrando as palavras ditas por
Jesus que deveriam ficar aguardando a promessa do pai, isto é, o
revestimento do poder (Lc 24.49).
Este evangelho se encerra com a compreensão dos
discípulos (Lc 24.45) de tudo quanto Jesus lhes havia dito, e
também cientes da responsabilidade que estava sobre eles para
pregar o evangelho a todas as nações (Lc 24.46-48).
O livro iniciado com a história de um casal obediente
aos mandamentos de Deus (Lc 1.5,6), finda com um grupo de
discípulos que retornam a Jerusalém em obediência as palavras
de Jesus e com grande alegria (Lc 24.52, 53).
Alegria que é constante nos relatos: há cânticos (Lc 1.46
– 55; 1.67 – 79; 2.14; 2.29 – 32); alegria pelo retorno da ovelha
perdida, por encontrar a dracma perdida e pelo retorno do filho
pródigo (cap. 15), Zaqueu, o recebe com alegria em sua casa
(19.6), os discípulos retornam com alegria de sua missão e, por
fim, Jesus também se alegra no Espírito Santo (Lc 10.17 – 21).

4. A Teologia dos Sinóticos

Os evangelhos sinóticos: Mateus, Marcos e Lucas, formam


em si uma teologia peculiar, a teologia do Reino de Deus. Esta

78
UNIDADE V
O Evangelho de Lucas

teologia é simples, deve ser ensinada, mas principalmente vivida.


Este Reino já está entre os homens, na pessoa de Jesus
Cristo, pois se aproxima dos homens (Mt 3.2), (Mt 4.17); pode
vir (Mt 6.10); chegar (Mt 12.28); aparecer (Mt 19.11); ser ativo
(Mt 11.12). Deus pode dar o Reino aos homens (Mt 21.43). Mas
os homens não podem dar ou tirar de si mesmo, muito embora
possam impedir que os outros entrem no Reino. Os homens
podem entrar no Reino, mas nunca foram aconselhados a erigi-
lo ou edificá-lo. Os homens podem receber o Reino (Mc 10.15),
herdá-lo (Mt 25.34), e possuí-lo, mas nunca devem estabelecê-
lo (Lc 10.11); os homens podem rejeitar o Reino, recusar-se a
recebê-lo (Lc 10.11), ou a entrar nele (Mt 23.13), mas não podem
destruí-lo. Podem procurar por ele (Lc 23.51), orar por sua vinda
(Mt 6.10) e buscá-lo (Mt 6.33) (Lc 12.31), mas, a informação
bíblica é de que o Reino cresce. Os homens podem realizar
certas coisas por causa do Reino (Mt 19.12), (Lc18.29), mas são
conclamados a agirem em relação ao próprio Reino.
Os indivíduos podem pregar o Reino (Mt 10.7) (Lc 10.9),
mas somente Deus o dará aos homens. O Reino gera a Igreja. O
domínio dinâmico de Deus, presente na missão de Jesus Cristo,
desafiou os homens a manifestarem uma resposta positiva,
introduzindo-os em um novo grupo de comunhão. A presença
do Reino significou o cumprimento da esperança messiânica
no Novo Testamento que fora prometida a Israel, mas quando
Israel como um todo rejeitou a oferta, os que a aceitaram foram
constituídos como o novo povo de Deus, os filhos do Reino,
o verdadeiro Israel, a Igreja incipiente. A Igreja não é senão o

79
Coleção Teologia: Novo Testamento I

resultado da vinda do Reino de Deus ao mundo por intermédio


da missão de Jesus Cristo.

5. Cronologia da Vida de Jesus.


Não há nenhuma preocupação dos evangelistas em nos
apresentar datas, ou os eventos relacionados em uma ordem
cronológica, porém, alguns fatos desprendem dos seus escritos:
a) Seu nascimento – de acordo com o relato de Mt 2.1 e
Lc 1.5, o nascimento ocorreu no reinado de Herodes, o Grande,
morreu no ano 4 d.C. 2 (...deu-se a sua morte quando tinha setenta
anos de idade, e trigésimo quarto ano de seu reinado, contados
desde o tempo em que foi nomeado rei...). O evangelho de
Lucas 2.1,2 nos informa do censo ordenado por César Augusto,
imperador de 27 a.C até 14 d.C), outras discussões podem ser
suscitadas, porém, podemos aceitar que Jesus nasceu antes do
ano 4 a.C.
b) O ministério público – os sinóticos parecem indicar que
o ministério de Jesus durou apenas um ano, ou talvez um ano
e meio, mas ao verificar o evangelho de João, encontra-se a
menção de três festas da Páscoa (2.13,23; 6.4; 12.1) e, em 5.1 há
menção de uma outra festa que alguns consideram como outra
Páscoa, o que dá um ministério de mais de três anos.

2 Davis J.J. Dicionário da Bíblia. Ed Juerp. Rio de Janeiro. 1960 pg 271


80
UNIDADE V
O Evangelho de Lucas

c) A morte de Jesus – os evangelhos concordam que Jesus


morreu na sexta-feira (Mt 27.62; Mc 15.42; Lc 23.54; Jo 19.31).
João informa que os judeus não entraram no pretório para não
se contaminar, e assim poder comer a páscoa (18.28). No mesmo
dia Jesus foi crucificado (imolado, o nosso Cordeiro 1Co 5.7).

81
Coleção Teologia: Novo Testamento I

UNIDADE VI

O EVANGELHO SEGUNDO
JOÃO

82
O EVANGELHO SEGUNDO JOÃO

1. Contextualização do Livro de João:

O apóstolo amado, o que havia convivido com Jesus Cristo,


escreveu seu evangelho endereçado a todos os cristãos, talvez
com o objetivo de reforçar a fé cristã.
A data em que foi escrito é de aproximadamente 90 a 100
a.D., época em que a filosofia gnóstica começava a despontar.
Por algum tempo tentaram dissociar o apóstolo João de ter
escrito este evangelho, porém, o capítulo 21 deste evangelho
não deixa dúvidas quanto a isto. Vejamos os versículos 7, 20 e
finalmente o versículo 24: “Este é o discípulo que dá testemunho
dessas coisas e que as registrou. Sabemos que seu testemunho é
verdadeiro”. João não relata a genealogia humana, mas começa
seu relato da origem de Jesus Cristo como um ser incriado, pois
era LOGOS, estava com Deus, era o próprio Deus. Todas as coisas
foram feitas por Ele, e sem Ele, nada do que foi feito se fez. Este
evangelista enfatiza a Deidade de Jesus Cristo em igualdade com
o Pai.
A palavra LOGOS era uma palavra muito conhecida pela
filosofia. Segundo Platão, o logos era a expressão pela qual o
homem poderia tornar-se perfeito, sábio. Através do logos, o
homem ultrapassa os limites racionais, as barreiras éticas e sociais
e se relaciona com o mundo físico e metafísico. O logos de Platão
elevaria o homem a uma nova dimensão. João identifica Jesus
Cristo como sendo este logos, ou seja, a expressão mais sublime
de Deus. Em Jesus Cristo, Deus revelou-se de forma “sui generis”.
Jesus Cristo é a expressa imagem do Seu Ser. N’Ele estava a vida
e a vida era a luz dos homens. Este logos se fez carne, Deus se
expressa num recipiente humano. O carisma de Deus se revela
na pessoa de Cristo. Deus nunca foi visto por homens, mas se faz
conhecido na pessoa de Seu Filho Jesus Cristo.
Em João, já no segundo capítulo, Maria recomenda
que façam tudo quanto Jesus Cristo ordenar. A metamorfose
(salvação em Cristo) é uma experiência que todo homem deve
provar. A transformação da água em vinho, o novo nascimento
de Nicodemos.
Em João, Jesus Cristo salienta a necessidade do homem
em compreender os antagonismos da vida, mas que estão
interligados, por exemplo: Eu sou de cima; vós sois de baixo - Luz
e trevas - Dia e noite - Morte e vida - Espírito e carne - e etc.
Por diversas vezes João usa as palavras “EU SOU”
referindo-se a Jesus Cristo. Palavra que comumente só era
usada para Deus. No capítulo 5 e versículo 18, diz que os judeus
procuravam matá-lo porque não só quebrantava o sábado, mas
também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a
Deus. Em João a vida eterna está escondida em Jesus Cristo (Jo
5.24).
Neste evangelho, Jesus Cristo é: o Pão, a Vida, o Bom
Pastor e a Porta. O Pai e o Filho são um. Quem não conhece o Pai
também não conhece o Filho e vice-versa. Aqui o Filho não tem
pecado (veja Jo 8.46), o Filho é antes de Abraão (Jo 8.58).
UNIDADE VI
O Evangelho de João

No capítulo 9, Ele é a Luz do mundo;


no capítulo 10, o Bom Pastor;
no capítulo 11, a Ressurreição e a Vida;
no capítulo 12, o Rei esperado;
no capítulo 13, o Mestre e Senhor;
no capítulo 14, o Caminho, a Verdade e a Vida;
no capítulo 15, é a Videira Verdadeira;
no capítulo 16, tudo o que é do Pai é d’Ele;
no capítulo 17, o Pai e o Filho são um;
no capítulo 18, Ele é o Rei;
no capítulo 19, é o Rei dos judeus;
no capítulo 20, Ele é Deus e Senhor (v28);
no capítulo 21, Suas obras são inefáveis e inexprimíveis
(v25).
O que podemos entender deste livro é que Jesus Cristo
está em igualdade com o Pai. É a expressa imagem do Pai, é Deus
conosco.
Aqui é ressaltada com cores mais vivas a rejeição de Jesus
pelo seu povo, a começar pelo primeiro capítulo (Jo 1.11), em
todo o evangelho é constante a rejeição que os líderes têm por
Jesus sejam: sacerdotes, fariseus, saduceus, os zelotes, chegando
a um ponto de Jesus chamá-los de filhos do diabo (Jo 8.44).

85
Coleção Teologia: Novo Testamento I

2. A Contribuição de João

O pensamento de João é tão maravilhosamente bem


integrado, que tentativas de dividi-lo mediante classificação de
seus componentes estão de algum modo fadadas a distorcê-lo.
Os melhores sumários de contribuições teológicas são dados por
Barret e Schnachenburg. Entre as mais importantes contribuições
de João encontra-se:

1) Em comparação com os relatos sinóticos, João acrescenta


um elemento tridimensional ao quadro que podemos ter de
Jesus Cristo e seu ministério, morte e ressurreição. Por contar
a mesma história de outro ângulo, com muitas omissões do que
os sinóticos incluem e muitas ênfases que eles tratam por alto, o
quadro geral são imensamente mais ricos do que de outra forma
se alcançaria.

2) A apresentação que João faz de quem Jesus Cristo é;


está no cerne de tudo que é distintivo desse evangelho. Não
é simplesmente uma questão da mudança atribuída a certos
títulos cristológicos, sejam eles encontrados apenas no quarto
evangelho (Cordeiro de Deus, Verbo, Eu Sou) ou vistos em
todos os quatro (Filho do Homem, Cristo, Rei). Em vez disso,
é fundamental a tudo mais que se diz sobre Ele, Jesus Cristo
é especialmente o Filho de Deus, ou simplesmente o Filho.
Conquanto “Filho de Deus” possa servir de sinônimo aproximado

86
UNIDADE VI
O Evangelho de João

de “Messias”, o título é enriquecido pelo relacionamento ímpar


que Jesus Cristo, como Filho de Deus, tem com seu Pai. Do
ponto de vista funcional Ele está subordinado ao Pai e faz e diz
somente aquilo que o Pai lhe dá para fazer e dizer, mas Ele faz
tudo o que o Pai faz, pois, o Pai lhe mostra tudo o que Ele próprio
faz (Jo 5.19 e ss). A perfeição da obediência de Jesus Cristo e a
natureza incondicional de sua dependência tornam-se, portanto,
as esferas em que, Jesus Cristo, revela nada menos do que as
palavras e obras de Deus.

3) Apesar da forte ênfase em Jesus Cristo, como aquele


que revela o seu Pai; a salvação não vem (como no gnosticismo)
meramente por intermédio da revelação. A obra de João é um
evangelho, todo o andamento da trama é em direção da cruz e
da ressurreição. A cruz não é um simples momento revelador, é
a morte do pastor por suas ovelhas (Jo 10), o sacrifício de uma
pessoa por sua nação (Jo 11), a vida que é dada em favor do
mundo (Jo 6), a vitória do Cordeiro de Deus (Jo 1), o triunfo do
Filho obediente que, como conseqüência, lega sua vida, sua paz,
sua alegria, seu Espírito (Jo14.16).

4) A ênfase distintiva que João dá à escatologia está


ligada ao uso que faz do tema da “hora” (às vezes traduzido
por “tempo”). Todos os mais importantes escritores do Novo
Testamento demonstram, em suas respectivas obras, a tensão
de tentar simultaneamente: (1) expressar a maravilhosa verdade
de que no ministério, morte, ressurreição e exaltação de Jesus

87
Coleção Teologia: Novo Testamento I

Cristo os “últimos dias” prometidos por Deus já chegaram e (2)


insistir em que a plenitude da esperança ainda há de chegar.
Autores diferentes revelam a tensão de diferentes maneiras. Em
João “vem à hora, e já chegou” (Jo 4.23), (Jo 5.25); Jesus Cristo
legou sua paz, mas neste mundo teremos problemas (Jo16.33).
Acima de tudo, no rastro da exaltação de Jesus Cristo e de sua
dádiva do Espírito, podemos possuir a vida eterna agora mesmo,
isso é característico de João, que inclina sua ênfase para, o
desfrutar das bênçãos escatológicas no tempo presente. Mas
isso jamais acontece; à custa de, toda a esperança futura, está
chegando o tempo em que aqueles que estão nos túmulos sairão
para enfrentar o julgamento daquele a quem todo julgamento
foi confiado pelo Pai (Jo 5.28-30).
Se, de um lado, João afirma que mesmo agora Jesus Cristo
se faz presente entre seus seguidores na pessoa de seu Espírito
(Jo 14.23), de outro ele também insiste em que o próprio Jesus
Cristo há de voltar para reunir; todos os seus, na morada que
lhes preparou (Jo 14.1- 3).

5) Conquanto o ensino com ênfase sinótica (Jo 3.34), e


(Lc 4.14 -21) há numerosos elementos que lhe são peculiares.
Jesus Cristo somente traz e outorga o Espírito, mas, ao legar o
Espírito escatológico, se desincumbe da tarefa de trazer aquilo
que é característico segundo a nova aliança (Jo 3.5), (Jo 7.37-39).
No discurso de despedida (Jo 14.16), o Espírito, o Consolador,
claramente é outorgado como conseqüência da morte e exaltação
de Jesus Cristo. Os elementos daquilo que veio a ser chamado de

88
UNIDADE VI
O Evangelho de João

doutrina na Trindade são, dentro do Novo Testamento, expressos


mais claramente no evangelho de João.

6) Embora João não cite o Antigo Testamento com tanta


frequência como, por exemplo, Mateus; o uso que ele faz do
Antigo Testamento caracteriza-se por um número extraordinário
de alusões e, acima de tudo, por sua insistência em que, em
certos aspectos, Jesus Cristo assume o lugar de personagens
e instituições reverenciadas da antiga aliança (templo, videira,
tabernáculo, serpente, páscoa). A hermenêutica subjacente que
se pressupõe merece um estudo mais detalhado.

7) Nenhum outro evangelho preserva melhor a maneira


como Jesus Cristo foi mal entendido por seus contemporâneos,
incluindo por seus próprios seguidores. Esse aspecto, conforme
já visto, não apenas descortina várias questões históricas, mas, é
ele próprio; uma reflexão sobre a relação entre a antiga e a nova
aliança. Pois o mesmo evangelho que insiste em que, Jesus Cristo
cumpre e em certa forma substitui muitos aspectos do Antigo
Testamento insiste igualmente em que a maioria dessas lições
não era compreendida pelos discípulos de Jesus Cristo senão
depois da exaltação deste.

8) Não pouca atenção é dedicada àquilo que significa


pertencer ao povo de Deus. Embora nada se fale sobre a ordem
eclesiástica em si, há muita coisa sobre a eleição, vida, origem,
natureza, testemunho, sofrimento, frutificação, oração, amor e

89
Coleção Teologia: Novo Testamento I

unidade do povo de Deus.

9) Percebem-se em João, certos aspectos, que


proporcionam uma visão mais profunda do que são os evangelhos
sinóticos, mas em temas relativamente restritos. Essa é uma
das principais razões por que seu vocabulário é relativamente
pequeno, com certas palavras e expressões ocorrendo repetidas
vezes. Essa repetição torna-se um referencial de algumas das
coisas que são importantes para ele. Por exemplo, ele emprega
o verbo na língua grega πιστευω (pisteuõ, “crer”) 98 vezes; as
palavras relacionadas com “amor” 57 vezes; κοσµοδ (kosmos,
“mundo”) 78 vezes; os verbos com o sentido de “enviar” (πεµπω
[pempó] αοστελλο [apostelló]), 60 vezes; “Pai” 137 (a maioria
com referência a Deus). Por mais enganoso que seja abordar a
teologia de um autor mediante estudos do vocábulo, no caso
de João esses estudos constituem um importante acesso à sua
teologia.

10) Os aspectos complexos que vinculam entre si a eleição,


a fé e a função dos sinais são explorados repetidas vezes. Se
a fé brota como conseqüência daquilo que é revelado nos
sinais, ótimo; sinais servem legitimamente como base para
a fé. Em contraste, as pessoas são duramente censuradas por
dependerem apenas de sinais (Jo4.48). A fé que ouve e crê
é melhor que aquela que vê e crê (Jo 20.29). Mas, em última
análise, a fé gira em torno da eleição soberana pelo Filho (Jo
15.16), de fazer parte da dádiva do Pai ao Filho (Jo 6.37-44). Essa

90
UNIDADE VI
O Evangelho de João

verdade acha-se no âmago de um livro que é decididamente,


evangelístico.
11) É de uma profundidade muito superior aos outros
evangelhos, porque tudo nos leva a entender que João está
escrevendo à igreja já formada, portanto encontramos diversas
lições para a igreja em todo o tempo, não é somente encontrado
relatos de milagres da vida de Jesus, mas ensinos para igreja em
todo o tempo.

3. Análise do Livro

O Evangelho de João é de particular interpretação,


principalmente pelo fato do livro estar sendo escrito para a
igreja que já estava formada, bem como tendo as primeiras
influências de doutrinas externas, principalmente os gnósticos.
São poucos os milagres relatados neste evangelho, ele não tem a
intenção de voltar a escrever a igreja fatos que a mesma já tivera
conhecimento através dos sinóticos.
Jesus inicia seu ministério na Peréia (Jo 1.28) e em seguida
vai para a Galiléia (Jo 2.11), onde realiza o primeiro milagre numa
festa de casamento, este milagre mostra entre outras coisas a
benção da Nova Aliança sobre a família, a mesma que a Trindade
havia abençoado em Gênesis 2.21-24. Jesus manifesta a sua
glória e seus discípulos crêem Nele.
O cenário de Jesus muda para Cafarnaum e em seguida
para Jerusalém (Jo 2.12,13), sua entrada no templo em Jerusalém

91
Coleção Teologia: Novo Testamento I

mostra o zelo pela casa do Pai (Sl 69.9), devido às grandes


distâncias percorridas para adoração os sacerdotes preferiram
vender animais e fazer a troca de moeda dentro do próprio
templo. Lendo as palavras de Jesus em João 2:16, percebe-se
que não tinha somente o caráter de beneficiar, na verdade havia
se tornado um negócio lucrativo, que certamente beneficiava
aqueles que serviam no templo.
A conversa com Nicodemos, fariseu e membro do sinédrio
(composto por setenta pessoas de boa conduta moral mais o sumo
sacerdote), o encontro é fruto da atuação de Jesus em Jerusalém,
é tão significativa que os líderes judeus ficam impressionados e
querem conhecer melhor. Nicodemos procura Jesus à noite, não
com o intuito de esconder-se, Werner3 diz que “é provável que
naquele tempo se valorizasse muito as tranqüilas horas noturnas
para manter diálogos sem interrupções”. O seu encontro com
Jesus logo se tornará um encontro pessoal, porém, no inicio ele
está representando o seu grupo “Mestre sabemos que...”.
Nicodemos e seu grupo reconhecem que Jesus veio de Deus
e certamente pairava em sua mente muitos questionamentos.
No entanto, ele é conduzido a um diálogo com a finalidade de
reconhecer que é necessário o novo nascimento. Entende-se
pelo Evangelho de João que Nicodemos recebeu a Jesus (Jo 7.50
e 19.39).

3 BOOR, Werner. Evangelho de João I: comentário esperança (Tradu-


ção de Werner Fuchs) Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2002.

92
UNIDADE VI
O Evangelho de João

É interessante notar a informação que João dá em seu


evangelho que o ministério de Jesus e de João Batista, coexistem
por algum tempo, antes de João ser encarcerado (Jo 3.22-24).
O capítulo 4 anuncia o ministério de Jesus rompendo a
barreira que havia entre os judeus e os samaritanos, este fato
perdurava desde 722 a.C. por ocasião do cativeiro do Reino
do Norte pelos Assírios. Em 2Rs 17, encontra-se o relato e no
versículo 24 somos informados sobre os povos que vieram
habitar este território. Portanto era uma mistura de raça e
por este motivo os judeus desprezavam os samaritanos. Eles
tinham consigo o Pentateuco e também a adoração que era
feita no monte Gerezim no templo ali construído, este templo
foi destruído por João Hircano (135 -105 a.C.). A esta mulher
Jesus se apresenta como o verdadeiro Messias “Eu sou o que
falo contigo” (Jo 4.25-26).
É a primeira vez no livro que temos esta confirmação,
nem Nicodemos ouviu isto. Este relato também fala da primeira
evangelização em massa realizada por um novo convertido.
Os sinais e milagres realizados por Jesus têm por objetivo
principal apresentá-lo como o Filho de Deus e a autoridade que
Ele tem para curar, ressuscitar, curar cegos, ser Senhor do sábado,
andar sobre o mar, etc. Estes sinais sempre incitam debate com
os líderes da época, pois eles não reconhecem que Jesus era o
Filho de Deus.
O apóstolo João narra, dos capítulos 5 a 11, o conflito de
Jesus com os Judeus, são partes preponderantes deste conflito:

93
Coleção Teologia: Novo Testamento I

a) a cura junto ao tanque de Betesda num sábado (5.9);


b) a sua estreita relação com o Pai (5.19-47);
c) a sua apresentação como o pão que desceu do céu
(6.33,41);
d) a Instituição da Santa Ceia (6.51 – 59).
Finalizando os embates do capítulo 6, Jesus está sozinho
com os doze (Jo 6.67), a multidão que o acompanhava achou
muito duro este discurso.
Outra vez Jesus deixa a Galileia e volta para Jerusalém (Jo
7.1,14) e os seus ensinos agravam ainda mais os conflitos com os
judeus. Ao ser procurado pelos fariseus que tentam prendê-lo (Jo
7.32), Jesus se apresenta como água da vida, pois o cerimonial
realizado lembrava a salvação que viria (Is 12), “Se alguém tem
sede vem a mim e beba” – a salvação já chegou. Estes ensinos
causam dissensão entre o povo (Jo 7.43) e enviam guardas para
prendê-lo (Jo 7.45).
Antes do terceiro debate é apresentada a Jesus uma
mulher adúltera (Jo 8.1-11), aos rigores da lei Jesus devolve a
eles a responsabilidade de apedrejá-la se estiverem sem pecado.
Os adversários são acusados pela própria consciência (Rm 3.2),
e a mulher recebe de Jesus o perdão. Este debate inicia-se com
Jesus dando testemunho de si mesmo (Jo 8.12) – A luz do mundo,
diante da contestação dos judeus, de forma mais acentuada
Jesus lhes fala abertamente que serão condenados (Jo 8.24), sois
do diabo (Jo 8.44), até o ponto de concluírem que Jesus é maior
que Abraão (Jo 8.53), neste momento eles tentam apedrejá-lo
(Jo 8.59), porém Jesus se oculta deles.

94
UNIDADE VI
O Evangelho de João

No penúltimo debate Jesus sai do templo e vê um cego de


nascença. A preocupação de Jesus não está em seus adversários,
e sim com os aflitos e necessitados do mundo, “caminhando
Jesus, viu um homem, cego de nascença” (Jo 9.1).
Este milagre traz mais uma reação adversa dos fariseus,
porque Jesus cura num sábado. O homem curado é testemunha
perante todos do milagre ocorrido, chega a causar divisão
entre os fariseus (Jo 9.16), tentam negar a realidade do milagre
ocorrido, e também fracassam, por ultimo dizem ao cego que
Jesus é pecador (Jo 9.24). Este argumento não abala a confiança
do recém curado, muito pelo contrário ele desafia os dirigentes
judeus (Jo 9.30-33), ao ver que não conseguem demovê-lo de
sua fé o expulsam (Jo 9.34).
O milagre de cura do cego de nascença abre um novo
debate com os dirigentes a partir de (Jo 9.39), neste ponto Jesus
fala do juízo para aqueles que não querem ver e os fariseus
entendem que é para eles (Jo 9.40,41). Jesus agora retoma um
tema que foi assunto de diversos profetas entre eles Ezequiel
34; Jeremias 23.9-40, aos falsos pastores de Israel; usando uma
figura bem conhecida Jesus diz que quem entra pela porta das
ovelhas este é o pastor, diferente do que sobe por outra parte
– este é ladrão e salteador. Mas as ovelhas conhecem a voz do
pastor, bem como o pastor conhece suas ovelhas, o mercenário
ao ver surgir o lobo, abandona as ovelhas e foge.
Jesus é o modelo de Pastor. Como pastor, ele dá a vida
pelas suas ovelhas –“ Por isso o Pai me ama, porque eu dou
a minha vida para retomá-la. Ninguém a tira de mim, pelo

95
Coleção Teologia: Novo Testamento I

contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para


entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu
Pai” Jo (10.17,18).
Este texto é muito significativo, embora tudo contribua
para levar Jesus a cruz e tirar-lhe a vida, porém, ele é o príncipe
da vida (1.4), somente ele pode entregá-la. Surge nova divisão
entre os dirigentes pelas palavras de Jesus (Jo 10.19-21).
João 10.22-42 inicia falando da festa de dedicação, conforme
Davis D. J.4 a Festa de Dedicação é: Nome de uma festa anual,
instituída por Judas Macabeus no ano 165 a.C. para comemorar
a purificação e a renovação do templo, três anos depois que
havia sido profanado pela idolatria grega introduzida por Antíoco
Epifanes... com duração de oito dias, começando no dia 25 de
Chisleu, dezembro, e, portanto, na estação invernosa. Jesus
compareceu a esta solenidade, pelo menos uma vez, quando
pronunciou um discurso ao povo que concorria a Jerusalém, (Jo
10.22). Os judeus até hoje celebram a festa da dedicação.
Nesta festa os dirigentes judeus vêm até Jesus e lhe
perguntam se ele é o Cristo – o Messias. Jesus não lhe responde
confirmando o título, mas diz a eles que as obras que faz, em
nome do Pai testificam a seu respeito (Jo 10.25-26); mas as
ovelhas o reconhecem. Novamente tentam apedrejá-lo (Jo
10.31), neste episódio Jesus se declara ser o Filho de Deus (Jo
10.36), e tentam prendê-lo, mas ele se retirou para além do
Jordão e muitos creram nele.

4 Davis D. John . Dicionário da Bíblia , Rio de Janeiro: Juerp. 1960. pg


152
96
UNIDADE VI
O Evangelho de João

Nos relatos de João, Jesus encaminha-se para a realização


do último milagre antes de sua Paixão, neste Juan e Barreto5 diz
“o episódio da ressurreição de Lázaro, quer mostrar que a vida
comunicada por Jesus aos seus com o Espírito vence a morte
e, portanto, traz em si a ressurreição”. Após a realização deste
milagre, o conselho se reuniu (v.47) e a sentença de morte contra
Jesus é proferida (Jo 11.50-53).
O capítulo 12 narra alguns eventos do prenúncio daquilo
que Jesus iria sofrer a partir de então: a) a unção de Jesus em
Betânia; b) a entrada de Jesus em Jerusalém; c) alguns gregos
querem vê-lo; d) o Filho de Deus será exaltado; e) Israel é
endurecido; f) a Palavra de Jesus é juízo para os que a rejeitam.
Rejeitar a Jesus é o mesmo que rejeitar o próprio Deus, alguns
chegaram a crer, porém, disse Jesus: “amaram mais a glória dos
homens do que a glória de Deus” v.43 e por isto a rejeitaram.
Dos capítulos 13 a 17 temos as instruções finais aos seus
discípulos:
1) Jesus rompe com a tradição da Páscoa e estabelece a
Santa Ceia;
2) Jesus conhece o traidor;
3) Jesus sabe que o Pai entregou tudo em suas mãos;
4) Jesus levanta-se para servir (este serviço era a
demonstração de hospitalidade dada por alguém, e era feito por
um escravo não judeu);

5 Barreto, Juan. O Evangelho de São João: analise linguística e comen-


tário exegético. São Paulo: Paulus, 1999. pg 478
97
Coleção Teologia: Novo Testamento I

5) Jesus não está estabelecendo uma cerimônia de lava-


pés e sim um simbolismo de demonstrar a humildade em servir,
de dar o exemplo; simbolizando a necessidade de tirar todos os
dias a poeira (pecados) de nossa vida;
6) A traição que será feita por Judas traz angústia a Jesus
(13.21), no entanto em (13.1), encontramos que Jesus os amou
até o fim, portanto mesmo Judas sendo o traidor era amado por
Jesus;
7) Um novo mandamento: “ameis uns aos outros, como
eu vos amei... . Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos,
se tiverdes amor uns aos outros” – este amor terá que ser
reconhecido pelos homens;
8) A ida de Jesus ao céu e a promessa de seu retorno;
9) A promessa sobre a descida do Consolador, e a descrição
de sua missão.
10. Jesus faz o seu primeiro discurso de despedida, sua
despedida é saudada pela paz “Deixo-vos a paz” . A paz que dá
segurança e não traz temor (Jo 14.25-31).
Na continuação (capítulo 15) Jesus fala do modo de vida do
povo da nova aliança:
Israel perde o lugar da videira (Is 5.1-7) e Jesus assume:
O ramo ligado a esta videira tem que produzir fruto, veja
Gl 5.22,23;
O ramo que produz precisa ser limpo (podado) para que dê
mais frutos;
O segredo da produção: permanecer Nele;
O ponto de contato: permanecer no amor;

98
UNIDADE VI
O Evangelho de João

Uma revelação: fomos escolhidos por Ele, e não o contrário;


Sereis odiados pelo mundo;
Virá o Consolador;
Sereis expulsos da sinagoga;
O Consolador convencerá o mundo do pecado, da justiça
e do juízo.
No capítulo 17 temos a oração sacerdotal de Jesus por si
mesmo, pelos discípulos e pelo Mundo. Ao final de sua oração
Jesus pede a unidade de todos os que são seus.
A partir do capítulo 18 começa acontecer o processo de
condenação de Jesus, sua prisão, seu comparecimento perante
o Sumo Sacerdote Anás, perante Pilatos, a negação de Pedro, a
anistia de Páscoa, Jesus é insultado, desprezado, coroado com a
coroa de espinhos, novamente perante Pilatos e, condenado.
Na sequência temos a sua crucificação, distribuição de suas
vestimentas, as mulheres e o discípulo amado ao pé da cruz, sua
morte, seu lado perfurado e o sepultamento.
Os relatos da Ressurreição narrados no capítulo 20
são o mais significativos para todo o relato dos evangelhos,
não somente o de João, pois sem a ressurreição estes relatos
perderiam sua essência, seu valor. Ao se dar no primeiro dia da
semana, este dia é um marco sem igual para o Cristianismo, pois
como foi visto as bases para a nova aliança estavam colocadas,
neste momento temos a concretização do projeto de Deus que é
a formação de sua igreja.
João destaca que, ao terminar o seu ministério terreno (Jo
20.30,31), Jesus deixa um grupo de testemunhas daquilo que foi

99
Coleção Teologia: Novo Testamento I

realizado, “muitos outros sinais ainda, que não se acham escritos


neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creais que
Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e crendo tenhais a vida eterna”.
O objetivo é suscitar fé aos leitores.
Findo este evangelho com um epílogo; com a manifestação
de Jesus em local conhecido de seus discípulos, após uma noite
de pesca mal sucedida, Jesus pela manhã está em pé na praia,
e ordena que lancem a rede, a partir daí eles reconhecem o
Senhor e ao descerem do barco vêem que já está preparada uma
refeição – demonstrando seu amor para com aqueles que lhe
servem. Após a refeição Jesus vai restaurar a Pedro – o discípulo
que o havia negado.
Somos informados no final que muitas outras cousas fez
Jesus, porém os Evangelhos relatam uma parte muito pequena
de suas realizações.
Por último, é significativa a expressão que João utiliza
diversas vezes em seus relatos apresentando Jesus como EU SOU
(a vida, a ressurreição, a porta, o caminho, o bom pastor, etc.).
Em João 8.58 está escrito: “Antes que Abraão existisse, EU
SOU”. Esta expressão nos leva à apresentação que Moisés fez ao
povo de Israel, mandado por Deus, o que ele deveria responder
ao povo de Israel: “EU SOU o que Sou... assim dirás aos filhos de
Israel: EU SOU me enviou a vós outros” (Êx 3.13-14).
Este título é o que Deus dá a si próprio, e engloba todos
os demais conhecidos desde Abraão, Deus já havia sido feito
conhecer por diversos nomes: o Senhor que provê, o Senhor que
Sara, O Senhor justiça nossa, o Senhor da Paz; porém, este é um

100
UNIDADE VI
O Evangelho de João

título genérico que soluciona todas as questões humanas. Ogilve


6
descreve da seguinte forma:

[Aqui está um novo nome para Deus que revela sua natureza
essencial. Em Hebraico é Yahweh. Este poderoso nome de Deus
tem um significado especial. É baseado no infinitivo hebraico
hayah, “ser, ou fazer acontecer”. Quando se acrescenta Ya torna-
se a terceira pessoa do singular masculino do tempo verbal
futuro. Assim, o novo nome significa: “aquele que faz as coisas
acontecerem” A palavra hebraica Yahweh representa a auto-
revelação divina do Senhor – ele é o Senhor da criação, Senhor
de nosso destino, Senhor de nossas circunstâncias, Senhor da
vitória em nossas lutas..... É por isso que Yahweh teve que entrar
na história e habitar em nós. Jesus Cristo, o Emanuel, “Deus
conosco”].
Não é sem razão que João no início de seu evangelho nos leva ao
princípio, e nos diz “E o verbo se fez carne, e habitou entre nós,
e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de
graça e de verdade” (Jo 1.14).

6 Ogilvie J.Lloyd . A Sarça ainda Arde. Editora Vida. 1986. pg 13


101
Coleção Teologia: Novo Testamento I

102
UNIDADE VI
O Evangelho de João

ATIVIDADES UNIDADE VI

a) Em que idioma e por que os evangelhos foram escritos.

b) Por que Deus se preocupou em determinar 4 escritores para


os evangelhos?

c) Quais são os evangelhos sinóticos?

d) Para quem foram escritos os evangelhos?

e) Comente qual a contribuição de cada um dos evangelhos.

f) Comente sobre a expressão “EU SOU” no Evangelho de João.

g) Qual a finalidade das parábolas de Jesus no capítulo 13 de


Mateus?

h) Cite dois textos que nos dão as bases do dia da morte de


Jesus.

i) Quais os textos que nos dão base para dizer o tempo de


ministério de Jesus?

j) Cite pelo menos 3 fatos do capítulo 15 do Evangelho de João.

k) Escreva sobre 4 textos em Lucas que menciona a palavra


“alegria”.

l) Mencione 5 milagres do capítulo 8 e 9 de Mateus.

103
MAPA 01 – O IMPÉRIO ROMANO
MAPA 02 – PALESTINA DO NOVO
TESTAMENTO

105
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA, Weldon E. Viertel – JUERP, 1989.

BÍBLIA SAGRADA, Nova Versão Internacional (traduzido pela


comissão de tradução da Sociedade Bíblica Internacional), São
Paulo: Vida. 2000.
BÍBLIA DE JERUSALÉM, Tradução das introduções e notas de La
Sainte Bible, edição de 1973, publicada sob a direção da “Ècole
Biblique de Jerusalém”, São Paulo: Edições Paulinas. 1973.
BÍBLIA SAGRADA, “Bíblia de Estudo Plenitude”, Tradução João
Ferreira de Almeida. São Paulo. SBB. 2001.
CAIRNS, E. E. “O cristianismo através dos séculos: uma história
da Igreja Cristã”: Vida Nova – São Paulo, 1995.
CARSON, D.A. & MOO, DOUGLAS J. & MORRIS, LEON –
“Introdução ao Novo Testamento”: Ed. Vida Nova – São Paulo.
HENRIETA, “Estudo Panorâmico da Bíblia”: Ed. Vida Nova – São
Paulo.
BALEY, KENNETH E. – “As Parábolas de Lucas: a poesia e o
camponês: uma análise literário-cultural”; tradução Adiel
Almeida de Oliveira. 3ª ed. – São Paulo: Vida Nova, 1995.
HARRINGTON, WILFRID JOHN, “Chave para a Bíblia: a revelação:
a promessa: a realização / tradução Josué Xavier e Alexandre
Macintyre. São Paulo:Ed. Paulinas, 1985.
ROPS, HENRI DANIEL, “A vida diária nos tempos de Jesus” –
Tradução: Neyd Siqueira / Revisão: Júlio Paulo T. Zabatiero, São
Paulo: Vida Nova. 1983.
GARDNER, PAUL, “Quem é quem na Bíblia Sagrada” / Tradução:
Josué Ribeiro. – São Paulo: Vida. 2005.
PEARLMAN, MYER, “Através da Bíblia: Livro por Livro” / Tradução
N. Lawrence Olson – São Paulo: Vida - 26ª Impressão – 2005.
págs. 191-228.
RIENECKER, FRITZ, “O Evangelho de Mateus” / Tradução Werner
Fuchs – Curitiba – PR: Ed. Evangélica Esperança - 1ª Ed. 1998.
MATEOS, JUAN, S.J. O Evangelho de São João: análise lingüística
e comentário exegético; (tradução Alberto Costa) – São Paulo:
Paulus, 1999.
DAVIS, J.D. Dicionário da Bíblia – Rio de Janeiro: Ed. Juerp. 1960.
OGILVIE J.L . A Sarça ainda Arde. Editora Vida. 1986.
BOOR, Wernwe. Evangelho de João I: comentário esperança
(Tradução de Werner Fuchs) – Curitiba: Editora Evangélica
Esperança, 2002.
TAYLOR, Terry. Atlas Didático da Bíblia (traduzido por: Célio
Augusto Machado) – site: www.teologia.org.br em 25/03/2008

107
AVALIAÇÃO FINAL

1. Relacione os evangelhos com os seus respectivos


destinatários:
a) Mateus ( ) Gregos
b) Marcos ( ) Romanos
c) Lucas ( ) Judeus
d) João ( ) Igreja

2. Das cidades relacionadas, quais delas Jesus lamentou por não


ter recebido os milagres por ele operado:
( ) Belém ( ) Betsaida ( ) Jericó
( ) Tiro ( ) Nazaré ( ) Cafarnaum
( ) Corazim ( ) Sidom

3. Qual o livro que cita o código de ética para a nova comunidade


(igreja) que seria formada?
( ) Mateus ( ) Marcos ( ) João
( ) Lucas

4. Identifique os povos que contribuíram com a língua unificada


na época, antes do nascimento de Jesus?
( ) Romanos ( ) Judeus ( ) Gregos
( ) Europa
5. Os evangelhos abaixo relacionados, apresentam o nascimento
de Jesus com fatos diferentes, relacione-os:
a) Mateus ( ) o anjo fala em sonhos a José
b) Lucas ( ) é apresentado no templo por Simão
( ) Maria visita Isabel
( ) José vai de Nazaré para Belém
( ) o anjo fala a Maria
( ) visita dos magos
( ) visita dos pastores
( ) vai para o Egito
( ) chamará Emanuel – “Deus conosco”
( ) o cântico de Maria

6. Mateus separa o seu evangelho em _____ discursos, e em


todos eles é concluído com a expressão: ___________________
____________________________________________________

7. Marcos ao falar sobre Jesus apresenta-o como:


( ) O filho do homem
( ) O filho de Deus
( ) O filho do homem que veio para servir

8. Quais as fontes de Lucas para escrever o evangelho que leva


seu nome?
( ) ministros da palavra
( ) testemunhas oculares
( ) Teófilo

109
9. Ao fazer a menção do Antigo Testamento, que sacerdote é
citado por Lucas?
( ) João Batista ( ) Zacarias ( ) Arão
( ) Elias

10. Que texto cita as mulheres que sustentaram o ministério de


Jesus?
( ) Lc 7.11,12 ( ) Lc 7.37 ( ) Lc 8.2,3
( ) Lc 18.1-8

11. As parábolas citadas por Jesus no capítulo 13 de Mateus; tem


por finalidade:
( ) mostrar como se desenvolverá o reino dos céus
( ) falar da semente – a palavra de Deus
( ) ensinar sobre o tipo de pessoa que receberia a mensagem
do reino
( ) deixar claro que o julgamento será feito no final
( ) todas as respostas estão corretas.

12. Em que texto dos evangelhos tem a maior revelação do Filho


de Deus?
( ) Mt 11.28 ( ) Lc 19.10 ( ) Mc 10.45
( ) Jo 3.16

13. Em que evangelho fica mais evidente o conflito de Jesus com


os dirigentes judeus?
( ) Mateus ( ) Marcos ( ) João ( ) Lucas
14. João Batista ao apresentar-se aos fariseus utilizou que texto
do Antigo Testamento?
( ) Is 40 ( ) Zc 9.9 ( ) Ml 4.5

15. Defina a palavra evangelho e sua origem.


____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

16. Que significa a palavra, sinótico?


( ) mesma idéia ( ) mesmo pensamento
( ) mesma ótica ( ) igual

17. Que ligação à expressão “EU SOU” utilizada por Jesus no livro
de João tem com o Antigo Testamento?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
18. Que evangelho trata com severidade o amor às riquezas?
( ) Mateus ( ) Marcos ( ) João
( ) Lucas
19. Cite 2 lições que Jesus ensina aos seus discípulos ao lavar os
seus pés em João 13.
____________________________________________________
____________________________________________________

20. São fatos relatados por João no último capítulo de seu livro:
( ) a pesca de uma multidão de peixes
( ) o fortalecimento de João
( ) a reconciliação de Pedro
( ) a terceira vez que Jesus se manifestava aos discípulos depois
da ressurreição.

21. Cite o capítulo de João que Jesus assume o lugar da videira:


____________________________________________________
____________________________________________________

22. A que grupo judeu pertencia Nicodemos?


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____________________________________________________
23. Dos fatos abaixo quais estão relacionados com os samaritanos?
( ) cativos pela Assíria
( ) templo no monte Sião
( ) Território habitado por uma mistura de povos
( ) evangelizados por uma nova convertida.
24. Relacione os fatos acontecidos em cada uma das unções de
acordo com o texto:
a) Lc 7.36-50 ( ) na casa do fariseu
b) Jo 12.1-8 ( ) um vaso de alabastro
( ) bálsamo de nardo puro
( ) seis dias antes da páscoa

25. Mencione 5 milagres do capítulo 8 e 9 de Mateus.


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Observação: Algumas questões têm mais que uma alternativa certa.

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