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ANTONIO GONÇALVES SOBREIRA

ATOS DOS APÓSTOLOS

1ª Edição
2017

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Revisores técnico-teológico-gramatical:

● Prof. Dr. Evandro Luiz da Cunha


● Prof. Dr. Gerson Pires

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Sumário

Palavra do professor.............................................................................................7
Sobre o autor ........................................................................................................8
Ambientação à disciplina.......................................................................................9
Trocando ideias com os autores............................................................................10
Problematizando....................................................................................................11

UNIDADE DE ESTUDO 1: INTRODUÇÃO GERAL AO LIVRO DE ATOS.........12


O Propósito de Atos..............................................................................................13
A Teologia de Atos................................................................................................16
Deus em Palavra e Ação............................................................................16
Jesus Cristo................................................................................................18
Espírito Santo.............................................................................................19
A Igreja........................................................................................................20
Escatologia..................................................................................................21
As origens de Atos......................................................................................22
Estilo de Lucas............................................................................................24
Crítica Textual.............................................................................................26
Período da escrita do livro de Atos.............................................................28
Esboço do Livro de Atos........................................................................................32

UNIDADE DE ESTUDO 2: CHAVES INTERPRETATIVAS PARA O LIVRO DE


ATOS.....................................................................................................................37
Problemas com a Literatura Histórica....................................................................38
Atos como História.................................................................................................40
Uma Visão Panorâmica.........................................................................................41
O Propósito de Lucas............................................................................................43
Uma Amostra Exegética........................................................................................44
Hermenêutica de Atos...........................................................................................47

UNIDADE DE ESTUDO 3: TÓPICOS ESPECIAS NO LÍVRO DE ATOS.............52

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A Igreja no âmbito do judaísmo..............................................................................53
O Pentecostes........................................................................................................53
Ministério de Pedro.................................................................................................54
Reação dos judeus.................................................................................................56
A Igreja no âmbito do Helenismo...........................................................................57
Ministério de Paulo.................................................................................................57
A jornada missionária de Paulo..............................................................................58
Concílio de Jerusalém............................................................................................59
Salvação para judeus e gentios.............................................................................62
Uma retrospectiva sobre Paulo..............................................................................63
Missão.........................................................................................................64
Pregação da Palavra de Deus.....................................................................64
Trabalhos de Paulo......................................................................................65
Algumas cidades da época de Paulo...........................................................66
Síntese das atividades de Paulo..................................................................68

Explicando melhor com a pesquisa ........................................................................69


Leitura obrigatória....................................................................................................70
Pesquisando na internet .........................................................................................71
Saiba mais ..............................................................................................................72
Aprender vendo.......................................................................................................73
Revisando................................................................................................................75
Autoavaliação...........................................................................................................76
Bibliografia...............................................................................................................77
Webgrafia.................................................................................................................78
Vídeos .....................................................................................................................78

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PALAVRA DO PROFESSOR

Olá estudantes! Estamos iniciando mais uma disciplina!

O Livro de Atos que está classificado como literatura histórica por se tratar de
uma narrativa que quer descrever os momentos iniciais da fé cristã e como esta fé
se desenvolveu expandindo-se por todo império romano.

Entendemos que esse estudo é de fundamental importância para se


compreender a origem do cristianismo. É sempre importante conhecer as origens, e,
nesse caso, a origem da maior religião do mundo atualmente. É impressionante
como o cristianismo conseguiu sobrepujar a tantos outros movimentos existentes em
sua época, vindo a se destacar de tal forma, que já no início do quarto século veio a
se tornar a religião oficial do Império Romano sobrepujando o próprio paganismo.

Desejamos a todos um ótimo estudo e aprofundamento dos seus


conhecimentos!

Bons estudos!

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SOBRE O AUTOR

Antônio Gonçalves Sobreira é pós - graduado em Ciências


da Educação e Psicopedagogia. Graduado em Filosofia pela
Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA (2016).
Graduado em Teologia pelo Seminário Latino Americano de
Teologia-SALT (1997). Atualmente é professor no Centro
Universitário UNINTA.

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AMBIENTAÇÃO
O livro Atos dos Apóstolos apresenta as características de um livro histórico,
pois nele encontramos narrativas acerca da vida das primeiras comunidades cristãs,
por meio dele conhecemos a Igreja apostólica, em seu estágio inicial, bastante
importante para a atualidade.

Mas, diferente do que o título sugere, não apresentará a história de todos os


apóstolos de Cristo ou seus desdobramentos históricos pós-ascensão do Mestre.
Não falará dos caminhos que trilharam, das missões realizadas ou como deram suas
vidas pela causa do mestre. Nesse sentido o título acaba sendo desapropriados,
com isso muitos sugerem outro título, como: Atos do Espírito. O livro nos dará
informações preciosas de como a igreja mais antiga, que surge no contexto judaico,
expande-se pelo mundo da época. Esta Igreja teve de enfrentar muitas lutas até se
tornar a religião oficial e depois majoritária do Império Romano. Sem este livro no
Cânon, estariam perdidas informações preciosas acerca desse movimento iniciado
por Jesus de Nazaré.

Como vivia a primeira comunidade dos cristãos? Como foram os primeiros


dias da Igreja sem o Mestre? Como ela pôde vencer as barreiras culturais e o
exclusivismo judaico nos quais estavam inseridos? Como se deu a relação entre
judeus e gentios? As respostas a estas e outras questões serão apresentadas no
decorrer dos assuntos que serão discutidos durante a disciplina. Nela, você
conhecerá a importância da compreensão do Livro de Atos e verá por si mesmo a
partir da percepção das verdades deste livro, como construir sua própria reflexão
pessoal acerca de Deus e das temáticas da fé cristã. E como a percepção correta
destes itens influirá a madureza e manifestação de nossa fé.

Nossa disciplina está dividida em três partes ou unidades. Na primeira, iremos


estudar temas relacionados com a autoria, datação local e a teologia por trás do
livro, tentando identificar os temas principais nele abordados. Na segunda unidade
iremos ter noções importantes de como interpretar o livro, fornecendo princípios
hermenêuticos e chaves de leituras indispensáveis para a compreensão do mesmo.
Na terceira unidade teremos um estudo mais de conteúdo propriamente dito. Não
que já não se tenha feito anteriormente, mas nessa unidade, terá prioridade.

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TROCANDO IDEIAS COM OS AUTORES

Agora é o momento de você apreciar as leituras sugeridas e trocar ideias com


os autores abaixo. Veja o que propõe cada um deles e boa leitura!

Propomos que leia está excelente obra de RICHARD, Pablo. O Movimento de


Jesus depois da Ressurreição: Uma interpretação
libertadora dos Atos dos Apóstolos. São Paulo:
Paulinas, 2001. Esta obra apresenta uma interpretação
global do livro dos Atos dos Apóstolos, combinando
uma exegese científica com uma visão pastoral
libertadora. A ideia fundamental que guia a
interpretação é a de que o livro dos Atos dos Apóstolos
reflete sobre o período das origens do cristianismo, isto
é, sobre o período depois da ressurreição de Jesus e
antes da institucionalização da igreja.

O livro que chamamos de Atos dos Apóstolos, na verdade, é Atos do Espírito


Santo, percepção que resiste ao tempo e que é a chave
deste livro primordial. Justo González aprofunda essa
percepção, inserindo o Evangelho do Espírito em seu
contexto social. Cada versículo é discutido em termos de
suas implicações sociais e teológicas.

GONZÁLES, Justo L. Atos: O Evangelho do Espírito Santo.


São Paulo: HAGNOS, 2011.

Guia de Estudo: Elabore um texto com base na leitura das obras referidas onde
procurará destacar o diferencial da abordagem de cada autor, bem como a
contribuição significativa para o estudo do livro de Atos na sua percepção.

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PROBLEMATIZANDO

Não podemos empreender uma leitura do Livro de Atos sem antes fazermos a
seguinte pergunta: o que pretendem os Atos? O livro nos conta uma história
detalhada do início do cristianismo? Seu interesse maior é apologético? Quais os
interesses por trás da narrativa? Qual sua intenção originária? Certamente, o autor
de Atos tem um plano em mente, e cabe a nós, por meio do estudo do mesmo
descobrir esse plano, que cremos coincidir com o plano do Espírito Santo.

Guia de Estudo: A partir dos questionamentos acima elabore um resumo com as


suas principais ideias e opiniões. Não se esqueça de compartilhar com seus colegas
na sala virtual.

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INTRODUÇÃO GERAL AO
LIVRO DE ATOS

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CONHECIMENTO

Conhecer os aspectos introdutórios da disciplina Livro Histórico NT, incluindo


propósito, autoria, datação, estilo e teologia do livro.

HABILIDADE

Ser capaz de compreender e interpretar textos sobre o tema bem como ser capaz
de fazer exposição escrita, pública em eventos, palestras, seminários em ambiente
acadêmicos acerca do tema.

ATITUDE

Buscar desenvolver e exercitar capacidade reflexiva crítica acerca do objeto


estudado e incorporá-la na sua práxis.

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O PROPÓSITO DE ATOS

Lucas intencionava escrever Atos como uma história da igreja primitiva?


Dificilmente pensamos assim, pois a obra de Lucas não é uma crônica de incidentes
históricos cuidadosamente construídos. É certo que Lucas traça o nascimento,
crescimento e desenvolvimento da igreja. Mas, estritamente falando, não é um livro
de história como tal. Até o título de Atos falha em mostrar que ele é um livro de
história. Ele é conhecido como os Atos dos apóstolos.

Admitindo-se que Lucas tenha escrito um livro sobre a história da igreja cristã
primitiva, nunca foi considerado o pai da história da Igreja. Em contrapartida, Lucas
é conhecido como um evangelista. Eusébio compôs a história da Igreja, e, em razão
de seu trabalho, é chamado de historiador. Lucas, como um dos quatro evangelistas
apresenta a boa nova de salvação. Ele destina seu Evangelho a Teófilo a fim de dar-
lhe certeza daquilo que ele ensina (L.c 1.4). Ele ensina a seu amigo Teófilo as
palavras e ações de Jesus, ao concluir o Evangelho, escreve também Atos e o
destina também a Teófilo. Lucas quer dizer-lhe que a mensagem do Evangelho não
pode ser restringida à nação de Israel, pois o Evangelho que Jesus proclamou
primeiramente aos judeus deve ser proclamado ao mundo inteiro.

Assim o propósito de Atos é convencer Teófilo de que ninguém pode


prejudicar a vitoriosa marcha do Evangelho de Cristo. Por essa razão, Lucas
relata a Teófilo o progresso das boas novas de Jerusalém até Roma. Ele o faz em
harmonia com a Grande Comissão que Jesus deu aos seus seguidores (Mt
28.19). Em Atos, Lucas mostra a Teófilo que os apóstolos certamente se
aplicaram a cumprir o mandamento de Jesus (comparar com 1.8). Lucas
demonstra que Deus desejava espalhar o Evangelho e enviou o Espírito Santo
para promover a causa do Reino. Em seu primeiro livro, Lucas revela que Jesus é
o Messias a respeito de quem os profetas do Antigo Testamento profetizaram e
que viria para cumprir as promessas messiânicas. Em seu segundo livro, ele
retrata como o Evangelho entra no mundo e como o nome de Jesus é
proclamado a todas as nações (KISTEMAKER, 2006).

Assim como Lucas teve de ser seletivo com o seu material ao compor o
Evangelho, assim também se esmerou ao escolher os elementos necessários à
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composição de Atos. Ele esboça o progresso do Evangelho e, consequentemente,
devota muito tempo e esforço a visita de Pedro a Cesárea. Preenche um capítulo e
meio com o registro da visita de Pedro a casa de Cornélio (10.1–11.18). Para Lucas,
que é um cristão gentio, esse é o ponto da história no qual os gentios recebem as
boas novas da salvação e se tornam parte da comunidade daqueles que creem.

De igual modo, Lucas descreve, com elaboração, a viagem de Paulo a Roma


em quase dois capítulos (27 e 28). Seu alvo é delinear as tentativas de Satanás para
frustrar a missão de Paulo na igreja de Roma. Quando este chegou à cidade
imperial, fez de sua casa alugada a sede da missão primitiva durante dois anos.
Dessa casa, partiram missionários para todo o mundo romano. De maneira
conclusiva, Lucas cumpriu o propósito de seu livro quando o terminou com a sua
menção do trabalho de Paulo em Roma.

Atos expõe um grande número de temas que o autor tece na sua estrutura.
Podemos dividir os temas por todo o livro. E ao reconhecê-los, temos um
entendimento, mais claro do intento de Lucas quando escreveu Atos. Vejamos a
seguir:

1° Tema: O Espírito Santo. O versículo frequentemente reconhecido como


versículo-chave são os Atos 1.8: “mas recebereis poder quando o Espírito Santo vier
sobre vós, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia
e Samaria, e até os confins da terra”. O Espírito Santo é derramado sobre os judeus
em Jerusalém no dia de Pentecoste. Os samaritanos recebem o Espírito Santo
quando Pedro e João chegam, oram e lhes impõem as mãos. A seguir, o Espírito
Santo instrui Pedro a acompanhar os servos de Cornélio, viajar a Cesareia e pregar
o Evangelho aos gentios, representados por Cornélio e os de sua casa. O Espírito
Santo desce também sobre eles. Finalmente, em Éfeso, Paulo encontra os
discípulos de João Batista que desconhecem a vinda do Espirito. Quando Paulo põe
as mãos sobre esses discípulos, eles recebem o dom do Espírito Santo.

2° Tema: O trabalho missionário. Pedro e os onze proclamam o Evangelho


em Jerusalém, principalmente aos judeus de fala aramaica. Estêvão prega as boas-
novas na sinagoga dos libertos, aos judeus, cuja língua materna é o grego. Filipe vai
a Samaria, prega a palavra e batiza o povo. Quando o apóstolo chega para receber
os samaritanos como membros da igreja, Filipe viaja em direção a Gaza e explica ao
eunuco etíope a mensagem de Isaías 53. Depois de batizar o etíope, Filipe prega o

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Evangelho em numerosos lugares na costa do Mediterrâneo e chega a Cesárea.
Pedro estende seu ministério para além da cidade de Jerusalém e viaja a Lida e
Jope a fim de fortalecer as igrejas. De Jope ele viaja a Cesárea, para ensinar o
Evangelho na casa de Cornélio e dar as boas-vindas aos gentios no seio da igreja.

Paulo, convertido a caminho de Damasco, prega nas sinagogas dessa cidade,


vai a Jerusalém onde ele enfrenta debate com os judeus de língua grega, viaja para
Tarso via Cesárea e possivelmente funda igrejas na Cilícia e norte da Síria. Barnabé
é enviado a Antioquia, a fim de organizar uma igreja de cristãos judeus e gentios.
Ele e Paulo são mandados a Chipre, e à Ásia Menor a fim de pregar o Evangelho
aos gentios. Em sua segunda viagem missionária, Paulo estende o seu ministério
cruzando o Mar Egeu e inicia trabalho missionário na Europa (Macedônia e Grécia).
Durante sua terceira viagem missionária, escreve uma carta à igreja em Roma, na
qual expressa o desejo de visitar os crentes dali. Depois de dois anos de prisão,
Paulo chega à cidade imperial.

3º tema: A autoridade dos apóstolos e da igreja de Jerusalém. Os


apóstolos são elementos-chave na organização da igreja em Jerusalém, ensinando
ao povo a doutrina apostólica, recebendo doações para os pobres e nomeando sete
homens para supervisionar a distribuição diária de alimentos. Eles supervisionam
também a extensão da igreja entre os samaritanos em Samaria e os gentios de
Cesareia. A igreja de Jerusalém comissiona Barnabé para ir a Antioquia e essa
igreja assume também liderança no Concílio de Jerusalém. Por fim, ao término de
cada viagem missionária, Paulo visita Jerusalém a fim de informar a igreja a respeito
do trabalho que realizou.

4º tema: Oposição à expansão do Evangelho. É evidente do princípio ao


fim. Os zombadores no dia de Pentecostes acusam os apóstolos de estarem
embriagados. O Sinédrio prende Pedro e João por pregarem no Pórtico de Salomão.
Ananias e Safira procuram corroer a integridade da igreja por meio de fraude. Os
apóstolos são detidos, encarcerados, soltos por um anjo e castigados por ordem do
Sinédrio. Estêvão é apedrejado e morre; Paulo, tendo experiência semelhante em
Listra, sobrevive. Ele e Silas, açoitados e colocados na cadeia em Filipos, são
expulsos de Tessalônica e Bereia. Mas sempre que os apóstolos encontram
resistência e oposição, o Evangelho é pregado e a igreja floresce. Os esforços de
Satanás para impedir a divulgação do Evangelho não são apenas inúteis;
certamente eles auxiliam o crescimento da igreja.
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5º tema: Defesa do Evangelho [apologética]. Jesus informou aos seus
discípulos que eles seriam arrastados perante os concílios locais, açoitados nas
sinagogas e levados à presença de reis. Ele incentivou a não temerem, porque Deus
daria seu Espírito que falaria por intermédio deles, (Mat 10.17–20). Pedro se dirige a
uma multidão de judeus no dia de Pentecostes, resultando em que três mil se
arrependem, creem e são batizados, de pé encarando o sinédrio, Pedro e João
defendem a causa do Evangelho. Falam com tamanha intrepidez que os membros
do Sinédrio são obrigados a reconhecer que esses homens de fato foram discípulos
de Jesus. Pedro repreende a Simão, o mágico por querer comprar o dom do Espírito
Santo e Paulo se opõe a falácia de Bar-Jesus. Paulo defende o Evangelho com
habilidade diante dos filósofos atenienses e procura persuadir dois governadores
(Félix e Festo) e o rei Agripa a se tornarem cristãos. Numa das epístolas de Paulo
ficamos sabendo que, enquanto sob prisão domiciliar, Paulo foi o instrumento na
conversão da guarda palaciana e dos da casa de César (Fp 1.13; 4.22). Lucas
retrata a ambos, Pedro e Paulo, como defensores do Evangelho de Cristo.

A TEOLOGIA DE ATOS
Embora, os atos sejam considerados livros históricos, nem por isso retira do
mesmo a característica de apresentar uma teologia embutida em suas narrativas.
É bem mais característica das Epístolas essa tarefa de apresentar assuntos
teológicos. No entanto podemos encontrar teologia no Livro de Atos.

Segundo alguns autores, apesar de Lucas ter servido a Paulo como seu fiel
companheiro, em seus escritos não demonstra nenhum conhecimento das
epístolas que Paulo enviou às várias igrejas e pessoas. Quando Lucas escreveu
o Livro de Atos muitas das cartas de Paulo haviam sido escritas e começadas a
circular na igreja primitiva. Ele escreveu suas epístolas aos gálatas e aos
tessalonicenses durante sua segunda viagem missionária e compôs suas
principais epístolas (1 e 2 Coríntios e Romanos) próxima a sua terceira viagem
missionária. Delineou as chamadas epístolas da prisão (Colossenses, Filemom,
Efésios e Filipenses) enquanto sob prisão domiciliar em Roma. Paulo exortava os
destinatários dessas epístolas a lerem-nas em outras igrejas (veja Cl 4.16; 1Ts
5.27). Logo, Lucas deve ter conhecido as epístolas de Paulo. Mas, em Atos, o

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propósito de Lucas é escrever como historiador e não como teólogo.
(KISTEMAKER, 2006).

Entretanto, isso não quer dizer que não exista nenhuma teologia nesse livro
de história. Aliás, encontramos um grande número de assuntos teológicos tratados
nos vários discursos registrados por Lucas que serão discutidos a seguir.

Deus em Palavra e Ação


No Pentecostes, Pedro enfatiza a obra de Deus em Jesus Cristo. Deus
credenciou Jesus de Nazaré, que foi morto segundo o desígnio e presciência de
Deus, mas o levantou dentre os mortos, exaltou-o a um lugar de honra no céu e fez
de Jesus Senhor e Cristo (2.22–24, 32–36). No Pórtico de Salomão, Pedro afirma
que o Deus dos patriarcas havia glorificado a Cristo e o ressuscitara (3.13–15).
Jesus veio, diz Pedro, como cumprimento da promessa de que Deus levantaria um
profeta semelhante a Moisés (3.22). Pedro e os outros apóstolos repetem esses
temas teológicos diante dos membros do Sinédrio (4.10; 5.30–32). Na casa de
Cornélio, Pedro testificou que Deus o comissionara a ir a um gentio (10.28).
Assegurou à sua plateia que Deus não demonstra favoritismo.

Ungiu a Jesus com o Espírito Santo, ressuscitou-o dentre os mortos, fez com
que fosse visto por testemunhas escolhidas por Deus e o nomeou para julgar os
vivos e os mortos (10.34–42; veja 15.7–10). No seu sermão na sinagoga judaica em
Antioquia da Pisídia, Paulo evocou os temas da graça eletiva, promessa e
propósitos de Deus (13.17–37). No discurso pronunciado no areópago, ele trata de
Deus o Criador, o Autor e o Juiz em Cristo (17.24–34). E em seu discurso de
despedida pronunciado aos anciãos efésios, ele faz referência ao propósito de Deus
e de Sua igreja (20.27–28). No que concerne à obra de Deus para salvar o homem
pecador Leon Morris (1955) observa que uma das coisas que Lucas torna
extremamente clara é que isso não deve ser considerado somente como outro
movimento humano, ou seja, não devemos pensar que alguns galileus iletrados
conseguiram persuadir o povo a compartilhar de sua sorte. Pelo contrário, houve um
grande ato divino: Deus enviou Jesus para ser Salvador. Não compreenderemos
esse movimento a não ser que enxerguemos Deus nele.

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Deus salva uma pessoa segundo o Seu plano. Logo, os gentios, a quem Deus
desde a eternidade decretou para a vida eterna, receberam alegremente o
Evangelho da parte de Paulo e Barnabé e creram (13.48). Quando Paulo sacudiu o
pó de suas roupas em protesto aos judeus e estava pronto a deixar Corinto, o
Senhor lhe falou para permanecer ali, porque ele tinha muita gente naquela cidade
(18.6–10). Nessa época, essas pessoas não haviam ainda recebido a dádiva da
salvação, apesar de já pertencerem a Deus. Por todo o livro de Atos, Lucas emprega
repetidamente as expressões: a palavra de Deus (13 vezes), a palavra do Senhor
(10 vezes), ou simplesmente, a palavra (13 vezes). Duas vezes usa a frase a
palavra da sua graça, uma vez o termo descritivo a palavra desta salvação, e uma
vez a palavra do Evangelho. Num total de 40 referências à palavra de Deus. Esses
termos denotam a revelação de Deus plenamente reconhecida em seu Filho Jesus
Cristo. Logo, os termos se referem ao Evangelho de Cristo. (KISTEMAKER, 2006).

Jesus envia seus apóstolos com a mesma mensagem que ele próprio
proclamou durante o seu ministério terreno. Para ilustrar, no seu Evangelho, Lucas
relata que nas horas vespertinas do dia da ressurreição, Jesus abriu as Escrituras
aos discípulos. Ele lhes ensinou que tudo tinha de ser cumprido de acordo com o
que estava escrito na Lei de Moises, nos Profetas e nos Salmos (Lc 24.44). Jesus se
referiu as três partes da Escritura hebraica e, assim por implicação, a todo o Antigo
Testamento. Quando Pedro pronunciou seu sermão no Pentecostes e no Pórtico de
Salomão, de igual modo citou estas três partes da palavra de Deus para provar que
Jesus havia cumprido as Escrituras.

Jesus Cristo
Em seus discursos, Pedro faz alusão à humanidade de Jesus como um
homem que realizou sinais e milagres (2.22) e que era conhecido como Jesus de
Nazaré (4.10). Jesus demonstra a realidade de Seu corpo humano, depois da
ressurreição, comendo e bebendo com os apóstolos (10.41). E, ainda, Pedro
expressa a deidade de Jesus chamando-o de Santo e Justo (3.14). Este tema está
presente também nos discursos de Estêvão e Paulo respectivamente (7.52; 17.31;
22.). “Dentre os vários nomes de Jesus em Atos, encontram-se as seguintes
designações: “Senhor” (1.24; 2.36; 10.36), “Cristo” (2.36; 3.20; 5.42; 8.5; 17.3; 18.5),

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“servo” (3.13, 26; 4.27, 30), “Profeta” (3.22), “Príncipe e Salvador” (5.31), “Filho do
homem” (7.56), “Filho de Deus” (9.20) e muitos outros.

Em geral, Lucas designa nomes a Jesus na primeira metade de seu livro,


porém não na segunda. Sugerimos que, primeiro, esses nomes refletem o ambiente
aramaico no qual tiveram origem; e, segundo, eram novos ao público gentílico que
Paulo encontrava em suas viagens missionárias. Segundo Lucas, o ponto principal
do ministério de Jesus é trazer salvação ao seu povo. No Evangelho, ele descreve o
que Jesus começou a fazer e a ensinar e em Atos ele continua a relatar a obra da
salvação que Jesus realizou. Ao enfatizar o conceito de salvação, Lucas retrata
Jesus, o doador da salvação, como figura central em sua teologia.

O Espírito Santo
Um tema predominante em Atos é do Espírito Santo. Prometido por Jesus
antes de sua ascensão, derramado no dia de Pentecoste, prometido a todo o povo e
concedido como dádiva a todo aquele que fosse batizado, a pessoa e obra do
Espírito Santo são evidentes por toda parte em Atos. O Espírito concedeu aos
crentes a capacidade de falar em outras línguas (At 2.4, 11; 10.46; 19.6). Mais tarde,
encheu os crentes quando oravam juntos depois da libertação de Pedro e João
(4.31). Estêvão ficou cheio de fé e do Espírito Santo e assim proclamava o
Evangelho com intrepidez aos judeus helenistas nas sinagogas de Jerusalém (6.5,
8, 10). O Espírito Santo foi derramado sobre os samaritanos para indicar que o muro
de separação entre os cristãos judeus e os cristãos samaritanos havia sido
efetivamente removido (8.14–17). A mesma coisa aconteceu ao público gentílico na
casa de Cornélio (10.44).

Como consequência, os cristãos judeus em Jerusalém tiveram de aceitar a


palavra de Pedro de que Deus havia dado aos gentios o mesmo dom concedido aos
de Jerusalém que haviam crido no Senhor Jesus Cristo (11.17). E, por fim, o Espírito
desceu sobre os discípulos de João Batista em Éfeso e assim eles também se
tornaram parte da comunhão cristã (19.1–7). O Espírito Santo falou por intermédio
do profeta Ágabo, predizendo uma severa fome (11.28) e a prisão de Paulo (21.10–
11). O Espírito nomeou Barnabé e Paulo para se tornarem missionários no mundo
greco-romano (13.1–2) e ordenou a Paulo e a seus companheiros que fossem à
Macedônia em vez de seguirem para a província da Ásia e Bitínia (16.6–7). O
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Espírito é identificado com o Pai (1.4–5) e com Jesus (16.7). De modo implícito,
Lucas ensina a doutrina da Trindade. O Espírito também falou por meio da Escritura
do Antigo Testamento. Pedro disse que a Escritura tinha de ser cumprida, pois “por
meio da boca de Davi” o Espírito Santo verbalizou uma profecia que na realidade
tratava de Judas (1.16). Em seguida, note-se que a oração da igreja de Jerusalém
revela a mesma fraseologia: “Falastes pelo Espírito Santo por meio da boca de
nosso pai e teu servo Davi” (4.25). Finalmente, dirigindo-se aos judeus em Roma,
Paulo disse que o Espírito falou aos antepassados por meio do profeta Isaías
(28.25). A presença do Espírito Santo era evidente na época dos santos do Antigo
Testamento, mas também o era no tempo do Concílio de Jerusalém. Na carta às
igrejas gentílicas, os membros do Concílio testificaram que sua decisão parecia bem
ao Espírito Santo (15.28). Em suma, o Espírito guia e dirige a igreja.

A Igreja
Apesar da palavra ekklesia (igreja) ocorrer apenas 3 vezes nos quatro
Evangelhos (Mt 16.18; 18.17 [2 vezes]), ela aparece 23 vezes em Atos. Lucas a
emprega no singular para expressar a união do corpo: o plural aparece com
referência às igrejas da Síria e Cilícia (15.41). É a visita de Paulo às igrejas
gentílicas quando entrega a carta do Concílio de Jerusalém (16.5). Para Lucas, a
igreja de Jerusalém é e continua sendo a igreja-mãe que proporciona liderança e
orientação às igrejas-filhas em desenvolvimento em Samaria, Cesareia, Antioquia e
outros lugares. A igreja de Jerusalém possui um grandioso contingente de liderança
quando o Concílio se reúne (15.4, 12, 22). Na conclusão de sua terceira viagem
missionária, Paulo faz um relatório a Tiago e aos anciãos da igreja em Jerusalém
(21.17—19). Lucas mostra, assim, um aspecto da centralidade dessa igreja.

O fundamento da igreja e o ensino acerca da ressurreição de Jesus; os


apóstolos proclamavam por todos os lugares, tanto a judeus quanto a gentios. A
doutrina da ressurreição de Cristo se tornou o princípio fundamental da igreja. Pedro
a proclamou ante as multidões nas cortes do templo, perante os membros do
Sinédrio e na casa de Cornélio. Nenhum outro ensinamento dividiu tanto os que
criam dos que não criam como o da doutrina da ressurreição. Tanto os cristãos
judeus como os cristãos gentios confessavam alegremente que Jesus morreu e

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ressuscitou dos mortos, ao passo que os oponentes do Evangelho rejeitavam
veementemente esse ensino. (KISTEMAKER, 2006).

O ponto crucial do discurso de Paulo no areópago apareceu quando ele


introduziu a doutrina da ressurreição dos mortos (17.32). Alguns zombavam do
ensino de Paulo, enquanto uns poucos o aceitavam. Mais tarde, quando Paulo se
dirigiu ao governador Festo e ao rei Agripa e mencionou a ressurreição de Cristo,
Festo bradou: “Paulo está louco? As muitas letras te fazem demente” (26.24). Em
Atos, a comunhão na igreja depende da fé pessoal em Jesus Cristo,
arrependimento, remissão de pecados, batismo e a habitação do Espírito Santo
(23.8, 39). A participação como membro acontece por meio do treinamento no
ensino apostólico, frequência aos cultos de adoração, participação na ceia do
Senhor e dedicação à oração (2.42). O amor ao próximo atinge o seu auge quando
os membros eliminam a pobreza do seio da igreja (4.34). Os diáconos ajudam na
distribuição de alimentos aos necessitados (6.1–6) e os presbíteros cuidam das
necessidades espirituais da igreja (14.23; 20.28). Os apóstolos passam o seu tempo
em oração e no ensino da Palavra de Deus.

Escatologia
O Evangelho de Lucas contém o discurso de Jesus a respeito da destruição
de Jerusalém e a consumação no final da era cósmica (Lc 19.42–44; 21.5–36). Mas,
em Atos, Lucas não se refere ao final dos tempos. Para ele, o progresso do
Evangelho é de suprema importância; é bem verdade que a descrição de Lucas da
ascensão de Jesus revela que ele voltará do mesmo modo como subiu (1.11;
comparar com 3.19–20); e tanto Pedro como Paulo chamam a atenção para o dia do
julgamento (10.42; 17.31). Mas a natureza histórica de Atos não se presta ao tema
doutrinário da volta de Jesus, a ressurreição total dos crentes, o dia do juízo, a vida
porvir, o céu e inferno. Lucas escreve uma história de nascimento, desenvolvimento
e progresso da igreja do Novo Testamento. Em suma, ele compõe Atos não como
um simples livro de história, mas como um livro que abre janelas teológicas para o
futuro, Lucas afirma que o Evangelho de Cristo avançou de Jerusalém até Roma via
Antioquia. E ele certifica-se de que, a partir dessa cidade imperial, as boas-novas se
espalhem até aos confins da terra (1.8). A conclusão de Atos é dirigida para o futuro,
pois “o Evangelho não pode ser detido”.
25
AS ORIGENS DE ATOS

Não havia indicação da autoria do livro de Atos até meados do fim do


segundo século da era cristã. As fontes silenciam quanto a isso. Mas em 175 d.C., o
Cânon Muratoriano registrou estas palavras: “Entretanto, os Atos de todos os
Apóstolos foi escrito em um volume. Lucas o destina ao excelentíssimo Teófilo”.
Dessa época, temos o Prólogo Antimarcionita do Evangelho de Lucas:
“Lucas, sírio de Antioquia, discípulo dos apóstolos, mais tarde seguiu Paulo até o
seu martírio. Serviu sem restrições ao Senhor, nunca se casou, nem teve filhos.
Morreu com a idade de 84 anos na Beócia, repleto do Espírito Santo”. O mesmo
também registra que o próprio Lucas escreveu os Atos dos Apóstolos. Por volta de
185 d.C., Irineu fala em termos semelhantes. No início do século terceiro, Clemente
de Alexandria, Orígenes e Tertuliano declaram que Lucas é autor tanto do
Evangelho quanto de Atos. Consequentemente, a evidência externa é forte e
unânime ao declarar Lucas como o autor de Atos. A tradição revela certos aspectos
da vida de Lucas, o que é evidenciado pelo prólogo antimarcionita escrito entre 100
e 180 d.C. (KISTEMAKER, 2006).

Paulo também registra que Lucas era médico por profissão (Cl 4. 14). A partir
de uma análise do vocabulário de Lucas no Evangelho e em Atos, ficamos cientes
de que o escritor poderia ter sido um médico, refletindo sua profissão nos seus
escritos. Tanto Eusébio quanto Jerônimo testifica que Lucas procedia de Antioquia.
Em Atos, o escritor parece ser inclinado a mencionar Antioquia. Das 15 vezes que
Antioquia da Síria é citada no Novo Testamento, 14 delas se encontram em Atos.
Para Lucas, Antioquia é importante, pois ali a igreja tinha a visão de enviar
missionários ao mundo greco-romano. Se tivesse morado em Antioquia, Lucas teria
encontrado com Barnabé. (11.22), Paulo (11.26) e Pedro (11. 2). E seguramente foi
nessa cidade que ele ouviu a mensagem do Evangelho. Converteu-se e se tornou
discípulo dos apóstolos. O Evangelho de Lucas e Atos estão estreitamente
relacionados devido a dedicatória desses dois livros a Teófilo (Lc 1.3; At 1.1).
Casualmente, o tratamento excelentíssimo Teófilo parece inferir que este pertencia a
uma alta classe social (comparem-se 23.26; 24.3; 26.25). E, ainda, o versículo
(introdutório de Atos 1.1) revela que esse é o segundo volume que Lucas escreveu e
uma continuação do primeiro (o Evangelho). No entanto, o nome Lucas se encontra

26
ausente tanto do Evangelho quanto de Atos. O Evangelho se tornou conhecido
como “o Evangelho segundo Lucas”, mas ainda assim os principais manuscritos
omitem o nome de Lucas no título de Atos. Isso não constitui obstáculo se
considerarmos que nenhum dos evangelistas menciona seu próprio nome no relato
do Evangelho que escreveu. Lucas se tornou seguidor de Paulo, como podemos
afirmar a partir das passagens em que aparece “nós”, na segunda parte de Atos
(16.10–17; 20.5–21. 18; 27.1–28.16). Ele esteve com Paulo na segunda viagem
missionária, acompanhou-o da Macedônia a Jerusalém no término da terceira
viagem missionária, aparentemente ficou na Judéia e Cesárea, enquanto Paulo
esteve na prisão, e finalmente viajou com ele até Roma. Em suas epístolas, o
próprio Paulo testifica o fato de que Lucas era seu companheiro e colaborador (Cl
4.14; 2Tm 4.11; Fm 24). Entre os ajudantes de Paulo encontravam-se Timóteo,
Silas, Tito, Demas, Crescente e Lucas, mas como autor de Atos temos de eliminar a
todos, exceto Lucas. Crescente é relativamente desconhecido (2Tm 4.10); Demas
era colaborador de Paulo (Cl 4.14; Fm 24), porém abandonou-o mais tarde (2Tm
4.10). Apesar de Tito ter acompanhado Paulo e Barnabé a Jerusalém e trabalhado
nas igrejas de Corinto, Creta e Dalmácia, parece não ter sido um dos companheiros
de Paulo a quem o apóstolo menciona nas saudações de suas epístolas. Os nomes
de Silas e Timóteo são mencionados nas passagens em que aparece “nós”, de Atos,
porém, são mencionados na terceira pessoa. Pelo processo de eliminação,
chegamos à conclusão de que Lucas é a pessoa mais provável a ter composto os
livros que lhe são atribuídos. (KISTEMAKER, 2006).

Lucas é um autor que, comparado a outros autores gregos, merece respeito e


admiração ao compor um livro em estilo, toma assento entre os escritos do koiné e
entre os do período clássico. Apresenta um excelente grego. Lucas registra muitos
termos aramaicos em seu relato. Alguns desses são nomes de lugares e de
pessoas: Aceldama (1.19), Barsabás (1.23), Tabita (9.36, 40) e Barjesus (13.6).
Talvez devido ao fato de que Lucas estava registrando o que lhe era relatado
oralmente, com frequência ele adaptava seu estilo para escrever de forma popular
em vez de empregar o grego literário. Como resultado, em muitos lugares, falta
clareza e precisão à sintaxe de certa sentença ou cláusula. “Estes são alguns
exemplos de tradução literal do grego: então o capitão com seus oficiais os
trouxeram não com força, pois temiam o povo que eles não fossem apedrejados”
(5.26). O significado da última cláusula é: “pois temiam que o povo os apedrejasse”.

27
“Para muitos daqueles que tinham espíritos imundos clamando em alta voz saíram,
e muitos que tinham sido paralíticos e que eram coxos foram curados” (8.7). O
significado da primeira parte da sentença é: “espíritos maus bradando em alta voz
estavam saindo de muitas pessoas”.

“Sabeis que desde tempos remotos dentre vós Deus escolheu por meio de minha
boca os gentios para ouvirem a mensagem do Evangelho e crer” (15.7). Pedro é o
orador e ele quer dizer: “Vós sabeis que há muito tempo Deus me escolheu dentre
vós para que dos meus lábios os gentios pudessem ouvir a mensagem do
Evangelho e nela crer”.

Esses exemplos são alguns poucos dentre os incontáveis, outros espalhados


por todo o livro. Em algumas sentenças, Lucas deixa de dar o sujeito da frase, de
modo que o significado fica obscuro. Por exemplo: “E ali após ter morrido seu pai,
ele o fez mudar-se para esta terra A qual agora habitam. E não lhe deu herança”
(7.4–5). O sujeito dessas duas sentenças é Deus, que o tradutor deve providenciar a
fim de esclarecer o sentido.

Por que Lucas, que prova ser capaz de escrever em excelente grego,
apresenta gramática incompleta e defeituosa? As irregularidades gramaticais
parecem refletir as fontes que Lucas usou na composição de seu livro. Mesmo
assim, essas peculiaridades elevam e não diminuem a estatura de Atos. O livro em
si é uma obra literária que ocupa lugar entre os clássicos.

ESTILO DE LUCAS
Uma das qualidades do estilo de Lucas é a sua abordagem ao escrever a
história da igreja. É como se ele tivesse formado um álbum repleto de fotos e agora
fornecesse um comentário descritivo para explicar cada fotografia individualmente.
Ao passar de um retrato para outro, omite detalhes que levantam muitas questões.
Onde o restante dos apóstolos realizou “trabalho missionário"? Quando é que o
Evangelho foi proclamado em Alexandria, Egito, a comunidade “judaica de cerca de

28
1 milhão de pessoas? O que o eunuco etíope realizou em sua terra natal? O que
aconteceu com Cornélio de Cesareia“? Se Paulo passou três anos de sua vida
pastoreando a igreja em Éfeso (20.31), por que Lucas não relatou o crescimento e
desenvolvimento dessa igreja?

A passos céleres, Lucas conduz o leitor pela galeria histórica da igreja


primitiva. Ele menospreza detalhes e, com frequência, resume rapidamente os
acontecimentos. No entanto, esses sumários são de grande importância, porque em
sua síntese comunicam o propósito da obra de Lucas, a saber, apresentar um relato
da mensagem da salvação e Ele capta este pensamento no último versículo de Atos:
é a obra da pregação do reino de Deus e o ensino das coisas concernentes ao
Senhor Jesus Cristo (28.31). Assim, Atos é a continuação da obra que Jesus
começou a fazer e a ensinar enquanto estava na terra (1.1).

A estreita ligação entre o Evangelho de Lucas e o Livro de Atos não é apenas


óbvia por sua dedicatória a Teófilo, o relato do aparecimento de Jesus e a repetição
da narrativa da ascensão. Ela se torna aparente também quando examinamos de
perto o paralelo do último Segmento de Lucas 24 e a primeira metade de Atos 1, que
descrevem a ascensão de Jesus. Essas duas passagens revelam uma inter-relação
inerente.

São proeminentes os seguintes pontos bem destacados no quadro abaixo:

Lucas 24.42-53 Atos 4-14


Jesus comeu peixe, 42,43 Comendo com os apóstolos, 4
Promessa do Pai, 49 Promessa do Pai, 4
Revestido de poder, 49 Recebereis poder, 8
Testemunhas destas coisas, 48 Minhas testemunhas, 8
Perto de Betânia, 50 O Monte das Oliveiras, 12
Ele foi levado para os céus, 51 Ele foi elevado às alturas, 9
Discípulos retornaram a Discípulos retornaram a Jerusalém, 12
Jerusalém, 52
Louvando a Deus, 53 Em constante oração, l4

Algumas características do Evangelho de Lucas aparecem também em Atos.


Por exemplo, o interesse de Lucas pelas pessoas é evidente no seu Evangelho. Ele
menciona mais nomes próprios em seu Evangelho do que quaisquer um dos outros

29
evangelistas o fazem em seus relatos. Cita os nomes dos maridos e esposas
(Zacarias e Isabel, José e Maria), frequentemente se refere a outras pessoas não
judias (a Viúva de Sarepta, o Siro Naamã, os samaritanos) e descreve relações
sociais (como, por exemplo, refeições em casa de Maria e Marta, de Zaqueu, dos
fariseus). O mesmo é verdade em Atos, que inclui mais de 100 nomes de pessoas.
Ele apresenta maridos e mulheres (Ananias e Safira, Áquila e Priscila), ressalta a
inclusão dos samaritanos e gentios e delineia incontáveis relacionamentos sociais.

Atos é notável pelo seu paralelismo e repetição. Incidentes admiráveis na vida


de Pedro são repetidos na narrativa da vida de Paulo. Pedro curou o aleijado na
porta do templo em Jerusalém (3.1–10); do mesmo modo Paulo curou o aleijado de
Listra (14.8-10). Pedro levantou Dorcas dentre os mortos em Jope (9.36–42) e Paulo
restaurou a vida de Éutico em Troâde, (20.9–12). Preso em Jerusalém, Pedro foi
solto por um anjo (12.13–11); e Paulo encarcerado em Filipos, foi libertado quando
um terremoto sacudiu a prisão (16.26–30). O sermão que Paulo pregou em
Antioquia da Pisídia (13.16–41) possui muitos paralelos no sermão de Pedro
pronunciado na Pentecoste (2.14–36). Aliás, tanto Pedro como Paulo cita a mesma
passagem do Antigo Testamento para provar a ressurreição de Jesus (Sl 16.10). E
ambos os sermões concluem com uma ênfase sobre o perdão de pecados por meio
de Jesus Cristo (2.38; 13.38). Lucas relata 3 vezes a experiência da conversão de
Paulo: o acontecimento em si (9.1–19), o discurso de Paulo em Jerusalém (22.37–
40) e a audiência deste com o rei Agripa (26.12–18). Três vezes Lucas alude à visão
de Pedro no telhado em Jope (10.9–16; 10.28; 11.5–10). Duas vezes Pedro se
dirigiu ao Sinédrio e disse que lhe importava obedecer a Deus e não aos homens
(4.19; 5.29). E duas vezes Paulo apelou para a sua posição de cidadão romano
(16.37–38; 22.25–28). Esses são alguns poucos exemplos das características
peculiares de Lucas em Atos. Pela repetição dos mesmos aspectos de um incidente
ou dizeres, Lucas procura enfatizar e promover a causa do Evangelho
(KISTEMAKER, 2006).

CRÍTICA TEXTUAL
O leitor que comparar a versão da Bíblia King James (1611) e a nova versão
da mesma Bíblia (1979) com qualquer outra versão, imediatamente observará
diferenças na linguagem. Tanto a antiga quanto a nova versão King James

30
apresentam um texto que é mais extenso e diverso. Transmitem, desse modo, o
texto completo de versículos que foram eliminados ou encurtados em todas as
outras traduções. “Os tradutores omitiram esses versículos completamente ou em
parte porque os melhores manuscritos gregos, conhecidos como texto alexandrino,
não os trazem. Eles seguem esse texto e consideram-no autêntico e verdadeiro. As
diferenças de tradução dependem, em grande parte, do texto ocidental, do qual o
Codex Bezae constitui o melhor representante. Esse texto varia em numerosos
aspectos, dos quais a extensão é a característica mais proeminente. Bruce M.
Metzger, seguindo a narrativa de Albert C. Cleark escreve: “O texto ocidental é
quase um décimo mais extenso do que o texto alexandrino, é geralmente mais
pitoresco e circunstancial, ao passo que o texto mais curto é geralmente menos
colorido e em alguns lugares mais obscuro”. Por exemplo, Lucas relata que em
Éfeso, Paulo alugou a sala de conferências de Tirano e diariamente ensinava ali
(19.9). O Codex Bezae acrescenta nesse ponto uma nota interessante que Paulo
ensinava “da hora quinta até a hora décima”, o que equivale a 11 da manhã até às 4
da tarde, durante o calor do dia. Mesmo que esse acréscimo seja genuíno os
tradutores hesitam em incorporá-lo ao texto.

Se pesquisarmos a longa lista de numerosos pequenos acréscimos feitos pelo


Codex Bezae ao texto tradicional, teremos a clara impressão de que o texto
ocidental assume um lugar secundário. Aqui estão apenas algumas poucas
ilustrações:

Simão, o mágico, “não cessava de chorar copiosamente” (8.24). Pedro e o


anjo “desceram sete degraus” (12.10). O carcereiro “prendeu o restante” dos
prisioneiros antes de levar Paulo e Silas para fora da prisão (16.30).

Mesmo assim, a questão da autenticidade é real em alguns versículos do


texto ocidental. Uma delas se relaciona ao acréscimo do pronome nós no Codex
Bezae, em 11.27–28: “Ora, naquele tempo alguns profetas foram de Jerusalém a
Antioquia. E houve regozijo; e quando nós estávamos reunidos, um deles, chamado
Ágabo, se pôs de pé e predisse por meio do Espírito que haveria uma grande fome
por todo o mundo romano”. Se adotarmos o texto ocidental desse versículo
certamente teremos a primeira passagem “nós” e assim forneceremos apoio ao
ponto de vista de que Lucas, testemunha ocular era natural de Antioquia.

31
Qual é a origem do texto ocidental? Por volta do final do século XIX (1895), o
estudioso, alemão Friedrich Blass, propôs que Lucas fez uma cópia do seu rascunho
original de Atos, alterou várias frases e retirou algumas sentenças. O primeiro
rascunho é o texto ocidental e a cópia mudada e reduzida é o texto alexandrino.
Outra teoria é aquela de que, enquanto os escribas dos primeiros séculos copiavam
o texto, introduziam frases esclarecedoras e acrescentavam sentenças inteiras
provenientes da tradição oral. James Hardy Ropes conclui que “o texto “ocidental,”
foi feito antes, talvez até bem antes do ano 150, por um cristão de fala grega que
sabia alguma coisa do hebraico, no “Oriente”, talvez na Síria ou Palestina. O objetivo
do revisor era melhorar o texto, não restaurá-lo. Ele não viveu muito longe do tempo
em que o cânon do Novo Testamento, em seus núcleos, foi primeira e
definitivamente composto.

Nenhuma das hipóteses sugeridas tem provado ser convincente ou


assumida posição de liderança. Em geral, os estudiosos adotam o texto alexandrino
e seguem a regra de que o mais curto é o preferencial; os escribas são mais
propensos a acrescentar ao texto e melhorá-lo ostensivamente do que diminuir seu
tamanho. Isso não significa que ao grupo ocidental de testemunhas falte
credibilidade; pelo contrário, cada versículo deve ser julgado segundo os seus
próprios méritos (KISTEMAKER, 2006).

Os estudiosos que têm pesquisado o texto ocidental de Atos têm descoberto


evidências de antissemitismo. Ademais, Bruce (1988) comenta que se dissermos
que o texto alexandrino é superior ao ocidental, “não indica que aquele seja
equivalente ao original”. Ao contrário, o papiro manuscrito do século terceiro, P45,
pode muito bem ser mais antigo do que ambos os textos, o alexandrino e o
ocidental.

PERÍODO DA ESCRITA DO LIVRO DE ATOS

A data mais antiga possível para a composição de Atos é 62 d.C., que é o ano
da libertação de Paulo da prisão romana e a última referência de tempo em Atos
(“dois anos completos” [28.30]). A data final para a escrita desse livro é 96 d.C., pois
Clemente de Roma tinha conhecimento de Atos. Portanto, a data da composição
reside nesse período de 34 anos.

32
Os estudiosos da Bíblia que têm adotado a teoria da data-tardia propõem três
pontos: primeiramente chamam a atenção para Lucas (19:43 e 44 e 21:20–24), onde
o escritor descreve a queda e destruição de Jerusalém em 70 d.C. Isso significa que
a composição da sequência Lucas-Atos deve ser colocada depois da devastação de
Jerusalém. Em seguida, o Evangelho de Marcos, escrito por volta de 65 d.C., e
básico para o Evangelho de Lucas. Assim, pois, o Evangelho de Lucas e Atos
devem ter sido compilados depois do aparecimento do Evangelho de Marcos e
surgido, desse modo, nos anos 70 ou 80 d.C.

Finalmente, Lucas se apoiou nos escritos do historiador judeu, Flávio Josefo,


que terminou sua obra Guerra dos Judeus no início dos anos 70 e o seu
Antiguídades em torno de 93 d.C. São numerosas, e pesam muito, as objeções a
uma data posterior a 70 d.C. E elas minam seriamente a teoria da data-tardia.
Relacionaremos e discutiremos essas objeções ponto por ponto.

1. Proporcionalmente, em Atos, Lucas devota mais espaço a Paulo do que a


qualquer outra pessoa. Isso é compreensível, porque ele se tornou um companheiro
de viagem e cooperador. Mas Lucas intercala sua cronologia da vida de Paulo com a
mensagem de que o apóstolo passou dois anos em prisão domiciliar em Roma
(28.30). Não relata nada a respeito das contínuas viagens de Paulo, sua segunda
detenção e prisão em Roma (onde Lucas estava presente (2Tm 4.1) e sobre a morte
do apóstolo.

O argumento de que Lucas pretendia escrever um terceiro volume para


completar a trilogia é especulação e não encontra nenhum apoio nem na
Antiguidade nem na História. Se, segundo as epístolas pastorais, Paulo visitou Éfeso
depois de seu período de prisão em Roma (1Tim 3.14), Lucas não teria descrito a
comovente separação de Paulo dos anciãos efésios (20.25, 38) sem algum
esclarecimento adicional.

E se realmente Paulo visitou a Espanha (Rm 15.24, 28), como Clemente de


Roma parece assegurar quando escreve que Paulo “alcançou os limites do oeste”,
sem dúvida Lucas teria anotado isso na conclusão de Atos a fim de mostrar que a
ordem de Jesus (fazer discípulos até os confins da terra) havia sido cumprida. Se
Lucas estava presente com Paulo na prisão, é de esperar que soubesse também a
respeito de sua morte, mas Lucas não relata nada acerca da detenção, da prisão e
da execução do apóstolo.

33
2. As últimas palavras do livro de Atos (em grego) são “sem impedimento”.
Quer dizer que em Roma Paulo pregou o Evangelho do reino de Deus e a
mensagem de Jesus Cristo “com intrepidez e sem impedimento” (28.31). Por meio
de implicação, Lucas diz ao leitor que o governo romano não proibia a proclamação
do Evangelho e a fundação da igreja. Lucas conclui seu segundo volume com uma
nota alegre: o Estado não coloca objeções à obra da igreja. Ele reflete as condições
sociopolíticas de Roma na época da libertação de Paulo.

Enquanto sob custódia romana, os oficiais romanos o protegiam de danos


físicos (21.30-36). Deram-lhe oportunidade de se defender e lhe permitiram explicar
a mensagem do Evangelho (22.1–21). Colocaram-se bondosamente à disposição do
apóstolo durante a viagem a Roma (27.43) e sua prisão domiciliar na cidade imperial
(28.30–31). Isso mudou quando Nero começou a perseguir os cristãos, depois de
Roma ter sido incendiada em 64 d.C.

Se Lucas tivesse escrito Atos nos anos 70 da era cristã, ele teria violado seu
senso de integridade histórica por não refletir essas mesmas perseguições
instigadas por Nero. “Depois de tais acontecimentos qualquer cristão que
escrevesse com o espontâneo otimismo de Atos 28 teria sido por causa de uma
obtusidade quase subumana.”

3. O Livro de Atos reflete a teologia que rememora as três primeiras décadas


depois do Pentecoste. Considerem-se os seguintes pontos: primeiro Lucas identifica
Jesus como o Jesus de Nazaré (3.6; 4.10; 6.14; 10.38–40; 22.8; 26.9) e denomina
os convertidos de “discípulos” em Jerusalém, Damasco, Jope, Antioquia, Listra e
Éfeso. Em segundo lugar, a igreja em si consistia de numerosas congregações que
se reuniam em casas particulares. “Cada grupo veio a ser conhecido numa área
local como ekklesia.” Finalmente, o conteúdo de Atos não exibe nenhuma
preocupação teológica e eclesiástica pertinente à igreja das últimas décadas do
século primeiro.

4. Por vezes, os relatos históricos de Atos trazem um paralelo com os


trabalhos de Josefo. Mas isso não significa que Lucas dependia de Josefo para
fornecer-lhe detalhes históricos. Pelo contrário, uma comparação dos paralelos de
Lucas e Josefo indicará claramente que os dois escritores se apoiavam em tradições
independentes. Por exemplo, ambos fazem referência ao revolucionário egípcio que
guiava seus seguidores pelo deserto.

34
Lucas escreve que eram 4 mil salteadores (21.38), mas Josefo declara que o
egípcio possuía um exército de 30 mil homens, 400 dos quais foram mortos e 200
levados como prisioneiros. Em outro relato, ele escreve que a maior parte da força
egípcia foi morta ou aprisionada. No que se refere a esses números, a precisão
histórica de Josefo é definitivamente suspeita. Daí se conclui que uma análise
cuidadosa dos escritos de Josefo mostra que Lucas não dependeu daquele para
suas narrativas históricas.

5. Se Lucas escreveu seu Evangelho depois de 70 d.C., então suas palavras


a respeito da destruição de Jerusalém (Lc 19.43–44; 21.20–24) se constituem em
história descritiva. Se reconhecermos que Lucas recebeu por meio da tradição (Lc
1.2) as palavras da profecia de Jesus acerca de Jerusalém e se presumirmos que
ele sabia do seu cumprimento, Lucas poderia ter compilado seus livros depois da
ruína de Jerusalém. Mas se esta suposição for verdadeira, esperaríamos que
contivesse detalhes notáveis a respeito do acontecimento histórico de Jerusalém.

Nesse ponto, os escritos de Lucas são desprovidos de qualquer indicação de


que o autor esteja apresentando história em vez de profecia. Se crermos que Jesus
disse palavras de genuína profecia acerca de Jerusalém uns 40 anos antes de sua
destruição, podemos datar a composição tanto do Evangelho quanto de Atos para
antes de 70 d.C. Se os estudiosos fossem capazes de expressar genuína
unanimidade ao designar datas exatas para a composição dos outros Evangelhos
Sinóticos, não teriam nenhuma dificuldade em fazer o mesmo com o Evangelho de
Lucas e Atos. Devido a essa falta de consenso, cremos ser plausível uma data mais
remota para os escritos de Lucas.

Aceitamos como genuína profecia as palavras registradas no discurso acerca


da destruição de Jerusalém, pronunciadas pelo próprio Jesus (Mt 24; e Mc 13; Lc
19.41–44; 21.5–36). E para a compilação de Atos sugerimos uma data anterior a 19
de julho de 64 d.C, quando Roma foi queimada e as perseguições de Nero contra os
cristãos tiveram início. Uma data posterior ao verão de 64 teria feito Lucas alterar o
final de Atos.

Se é incerta a data de Atos, o lugar da sua composição e a localização dos


leitores que Lucas teve em mente são ainda mais incertos. Não temos nenhuma
indicação de onde Lucas escreveu Atos. Haveria ele já escrito partes antes de
acompanhar Paulo em sua viagem a Roma? Pôde manter seus documentos a salvo

35
durante o naufrágio em Malta? Terminou o livro em Roma durante os dois anos da
prisão domiciliar de Paulo? Podemos multiplicar as perguntas, porém não podemos
dar respostas definidas. Devemos confessar, no entanto, que realmente não
sabemos a resposta a esta pergunta, mas alguns estudiosos apontam Acaia como o
possível local da composição de Atos. Outros apontam Roma.

ESBOÇO DO LIVRO DE ATOS


Leituras gerais de Atos revelam, entre outras coisas, os grandes movimentos
do livro e as ênfases principais que são dadas. Em primeiro lugar, aqui está uma
síntese dos dez pontos do livro de Atos, que por sua simples disposição facilitam
melhor a compreensão dos assuntos. A partir de todas essas informações como
mostra o quadro abaixo, a estrutura do livro de Atos começa a se delinear.

Referência – Atos Episódios

1.1–26 Antes do Pentecoste

2.1–8.1a A Igreja em Jerusalém


8.1b–11.18 A Igreja na Palestina
11.19–13.3 A Igreja em Antioquia
13.4–14.28 A Primeira Viagem Missionária
15.1–35 O Concílio de Jerusalém
15.36–18.22 A Segunda Viagem Missionária
18.23–21.16 A Terceira Viagem Missionária
21.17–26.32 Em Jerusalém e Cesareia
27.1–28.31 Viagem e Permanência em
Roma

Em segundo lugar, um desenho mais completo com todos os detalhes de se


mostrar a organização estrutural do livro de Atos. Observe com atenção o quadro
abaixo:

36
ANÁLISE
I II
At (1. 1.1–26) Antes do Pentecoste (2.1–8.1a) A Igreja em Jerusalém

(1.1–8) A. Antes da Ascensão de 2. (1–47) A. Pentecoste


Jesus 1. Derramamento do Espírito, (2.1–
1. Introdução 1.1–5 3)
2. Propósito 1.6–8 2. O Sermão de Pedro, (2.14–41)
(1.9–11) B. Ascensão de Jesus 3. A Comunidade Cristã, (2.42–47)
(1.12–14) C. Depois da Ascensão de Jesus 3.1–5.16 B. O Poder do Nome de
Jesus
(1.15–26) D. A Nomeação de Matias
1. A Cura do Coxo (3.1–10)
1. Cumprimento das Escrituras. (1.15–
20). 2. O Discurso de Pedro (3.11–26)
2. Requisitos Apostólicos (1.21–22) 3. Perante o Sinédrio (4.1–22)
3. Escolha Divina (1.23–26) 4. As orações da Igreja (4.23–31)
5. O Amor dos Crentes (4.32–37)
6. A Fraude de Ananias (5. 1–11)
7. Milagres de Curas (5.12–16)
(5.17–42) C. Perseguição
1. Prisão e Soltura, (5.17–20)
2. Liberdade e Consternação (5.21–
26)
3. Acusação e Resposta (5.27–32)
4. Sabedoria e Persuasão (5.33–40)
5. Regozijo (5.41–42)
6. (1–8.1a) D. Ministério e Morte
de Estêvão
1. Nomeação de Sete Homens (6.1–
7)
2. A Prisão de Estêvão (6.8–15)
3. O Discurso de Estêvão (7.1–53)
4. A Morte de Estêvão (7.54–8.1a)

III IV

37
At (8.1b–11.18) A Igreja na Palestina (1.19 – 13) Igreja em Transição

(8.1b–3) A. Perseguição (11.19–30) A. O ministério de


Barnabé
(8.4–40) B. O Ministério de Filipe
1. A Expansão do Evangelho, 11.19–
1. Em Samaria (8.4–25)
21
2. Ao etíope, (8.26–40) 2. A Missão de Barnabé, (11.22–24).
(9.1–31) C. A Conversão de Paulo 3. Os Cristãos em Antioquia , (11.25–
8.26-40 26).
1. Paulo vai a Damasco (9.1) 4. Profecia e Cumprimento (11.27–
2. Paulo em Damasco (9.1) 30)
3. Paulo em Jerusalém (9.26–30) (12.1–19) B. Pedro é liberto da
prisão
4. Conclusão
1. Preso por Herodes (12.1–15)
(9.32–11.18) D. O Ministério de Pedro
9.31 2. Solto por um Anjo (12.6–11)
1. Milagre em Lida, (9.32–35). 3. A Igreja em oração (12.12–17)
2. Milagre em Jope, (9.36–43). 4. A Reação de Herodes (12.18–19)
3. O chamado de Pedro, (10.1–8) (12.20–25) C. Morte de Herodes
Agripa I
4. A visão de Pedro, (10.9–23a)
(13.1–3) D. Paulo e Barnabé são
5. A visita de Pedro comissionados
6. A explicação de Pedro em Cesareia
V VI
(13.4–14.28) A Primeira Viagem (15.1–35) O Concílio de Jerusalém
Missionária
(13.4-12) A. Chipre A. Cronologia
1. Sinagoga Judaica (13.4–5) (15.1–21) B. O Debate
2. Barjesus (13.6–12) 1. A Controvérsia (15.1–5)
(13.13–52) B. Antioquia da Pisídia 2. O Discurso de Pedro (15.6–11)
1. Convite 3. Barnabé e Paulo (15.12)
2. Exame do Antigo Testamento 4. O Discurso de Tiago (15.13–21)
(13.16–22) (15.22–35) C. A Carta
3. A Vinda de Jesus (13.23–25)
1. Os Mensageiros (15.22)
4. Morte e Ressurreição (13.26–31) 2. A Mensagem (15.23–29)
5. As Boas-Novas de Jesus (13.32–41) 3. O Efeito (15.30–35)
6. Renovação do Convite (13.42–45)
7. Efeito e Oposição (13.46–52)
14.1–7 C. Icônio

38
1. A Mensagem Proclamada (14.1–30
2. Divisão (14.4)
3. A Fuga (14.6–7)
14.8–20a D. Listra e Derbe
1. O Milagre (14.8–10)
2. A Resposta (14.11–13)
3. A Reação (14.14–18)
4. A Reviravolta, (14.19–20a)
14.20b–28 E. Antioquia da Síria
1. O Fortalecimento das Igrejas
(11.20b–25)
2. O Relatório a Antioquia, (14.26–28).
VII VIII
(15.36–18.22) A Segunda Viagem (18.23–21.16) A Terceira Viagem
Missionária Missionária

(15.36–16.5) A. Revisitação às Igrejas (18.23–28) A. Até Éfeso


1. A Separação (15.36–41) (19.1–41) B. Em Éfeso
2. Derbe e Listra (16.1–5) 1. O Batismo de João (19.1–7)
(16.6–17.15) B. Macedônia 2. O Ministério de Paulo (19.8–12)
1. O Chamado Macedônio (16.6–10) 3. O Nome de Jesus, (19.13–30)
2. Filipos (16.11–40) 4. O Plano de Paulo, (19.21–22)
3. Tessalônica (17.1–9) 5. A Queixa de Demétrio, (19.23–41).
4. Bereia (17.10–15) (20.1–21.16) C. Até Jerusalém
(17.16–18.17) C. Grécia 1. Pela Macedônia (20.1–6)
1. Atenas (17.16–34) 2. Em Trôade (20.7–12)
2. Corinto (18.1–17) 3. Em Mileto (20.13–38)
(18.18–22) D. Volta a Antioquia 4. A Viagem (21.1–16)

IX X
(21.17–26.32) Em Jerusalém e (27.1–28.31) A Viagem e
Cesareia Permanência em Roma

(21.17–23.22) A. Em Jerusalém (27.1–44) A. De Cesareia a Malta


1. A Chegada de Paulo (21.17–26) 1. A Creta (27.1–12)
2. A Prisão de Paulo (21.27–36) 2. A Tempestade (27.13–44)

39
3. O Discurso de Paulo (21.37–22.21) 28.1–16 B. De Malta a Roma
4. O Julgamento de Paulo (22.22– 1 . Em Malta (28. 1–10)
23.11) 2. Em Roma (28.11–16)
5. A Proteção de Paulo (23.12–22) (28.17–31) C. O Aprisionamento
(23.23–26.32) B. Em Cesareia Romano.
1. A Transferência de Paulo (23.3–5)
2. Paulo perante Félix (24.1–27)
3. Paulo perante Festo (25.1–12)
4. Paulo e Agripa II (25.13–27)
5. O Discurso de Paulo (26.13 )

40
CHAVES INTERPRETATIVAS
PARA O LIVRO DE ATOS

2
CONHECIMENTO

Conhecer os princípios e chaves hermenêuticas para bem interpretar o Livro


Histórico do NT, a fim de evitar vícios interpretativos e compreensões equivocadas
do mesmo.

HABILIDADE

Ser capaz de compreender e interpretar textos sobre o tema bem como ser capaz
de fazer exposição escrita, pública em eventos, palestras, seminários em ambiente
acadêmicos acerca do tema.

ATITUDE

Buscar desenvolver e exercitar capacidade reflexiva crítica acerca do objeto


estudado e incorporá-la na sua práxis.

41
42
PROBLEMAS COM A LITERATURA HISTÓRICA
O quinto livro do Novo Testamento é conhecido como Atos dos apóstolos.
Título impróprio por duas razões: primeiro, o livro não apresenta os atos de todos os
apóstolos; segundo, o livro narra atos de vários discípulos que não foram apóstolos:
Estevão, Filipe, Silas, Apolo, etc. Atos é o segundo volume da história do
cristianismo, o primeiro é Lucas.

Quando lemos as narrativas do Antigo Testamento, tendemos a moralizar,


alegorizar, ler entre as linhas, e assim por diante, raras vezes pensamos que estas
narrativas servem de padrões para o comportamento cristão ou para a vida da
igreja.

Raras vezes, portanto, pensamos que as histórias do Antigo Testamento


estabelecem procedentes bíblicos para nossas próprias vidas. Por outro lado, esta é
a maneira normal dos cristãos lerem Atos. Leem procurando padrões que devem ser
seguidos pelo cristão nos tempos atuais. Entendem que atos não somente conta a
história da igreja primitiva, como também serve como o modelo para a igreja de
todos os tempos. Esta é exatamente a nossa dificuldade em compreender Atos.

De modo geral, a maior parte dos setores do protestantismo evangélico tem


uma mentalidade tipo “o movimento de restauração” de volta as origens da Igreja
primitiva. Regularmente relembramos a igreja e a experiência cristã no século
primeiro ou como a norma a ser restaurada ou com o ideal para dele nos
aproximarmos. Sendo assim, frequentemente dizemos coisas tais como: “Atos nos
ensina claramente que...” Parece óbvio, no entanto, que nem a totalidade do “ensino
claro” é igualmente clara para todos.

Na realidade, é nossa falta de precisão hermenêutica quanto ao que Atos


procuram nos ensinar que nos conduzem a boa parte das divisões que achamos na
igreja. Tais práticas divergentes como o batismo de criança ou somente de adultos
crentes, a política eclesiástica congregacional ou episcopal, a necessidade de tomar
a ceia do Senhor todos os domingos, o batismo com o Espírito Santo acompanhado
por falar em línguas, a venda das posses a fim de ter todas as coisas em comum, e
até mesmo a manipulação ritual de serpentes tem sido apoiadas total ou
parcialmente em Atos.

43
Nesta unidade que se segue, teremos ocasião de nos referir regularmente à
intenção ou propósito de Lucas ao escrever Atos. Deve ser enfatizado que sempre
queremos dizer que o Espírito Santo está por trás da intenção de Lucas. Assim
como devemos desenvolver a nossa salvação, porém Deus é quem efetua em nós
(Fil 2.12–13), assim Lucas tinha certos interesses e empenhos ao escrever Lucas e
Atos. Por trás de tudo isto, no entanto, conforme cremos, estava a obra do Espírito
Santo que a tudo supervisionava.

Embora Atos seja um livro de agradável leitura, também é um livro difícil para
o estudo bíblico em grupos. A razão é que as pessoas vêm ao livro, e, portanto, ao
seu estudo, por uma grande variedade de razões. Algumas estão muito interessadas
nos pormenores históricos, ou seja: aquilo que Atos podem fornecer a respeito da
História da Igreja Primitiva.

O interesse na história, revelado por outras pessoas, é apologético, visando


comprovar que a Bíblia é verdadeira ao demostrar a exatidão de Lucas como
historiador. A maioria das pessoas, no entanto, vem ao livro por razões puramente
religiosas ou devocionais, desejando saber como eram os cristãos primitivos de
modo que possamos nos inspirar ou servir de modelo.

O motivo que leva as pessoas para Atos, portanto, faz com que um grau
considerável de seletividade ocorra enquanto leem ou estudam. Para a pessoa que
vêm com interesses devocionais, por exemplo, o discurso de Gamaliel em Atos 5
tem muito menos interesse do que a conversão de Saulo no capítulo 9 ou a prisão
de Pedro no capítulo 12.

Semelhante leitura ou estudo usualmente leva as pessoas a passarem por


cima das questões cronológicas ou históricas. Enquanto você lê os onze primeiros
capítulos, por exemplo, é difícil imaginar que o que Lucas inclui ali realmente
abrangeu um período de tempo de entre dez a quinze anos.

Nosso estudo dirige você aprender de modo atento. E auxilia a compreender


Atos em termos dos interesses de Lucas, e estimula novos questionamentos
enquanto lê.

44
ATOS COMO HISTÓRIA
Lucas era um gentio, cuja narrativa inspirada é ao mesmo tempo um exemplo
excelente da historiografia helenística, um modo de escrever história que tinha suas
raízes em Tucídides (c.de. 460 – 400 a.C.) e que floresceu durante o período
helenístico (de 300 a.C. – 200 d.C.). Semelhante história não era simplesmente para
conservar registros ou fazer uma crônica do passado. Pelo contrário, era escrita
para encorajar e para entreter, bem como para informar, moralizar, ou oferecer uma
apologética.

Os dois volumes de Lucas se ajustam bem a este tipo de história. São leituras
especialmente boas; ao mesmo tempo, Lucas tem interesses que incluem mais do
que simplesmente entreter ou informar o leitor. Tomar nota desses interesses é de
importância especial enquanto você lê ou estuda Atos. A exegese de Atos, portanto,
inclui não apenas as questões puramente históricas, tais como: o que aconteceu?
Mas também as teológicas, tais como: Qual era o propósito de Lucas ao selecionar e
formular a matéria desta maneira?

A questão da intenção de Lucas é, ao mesmo tempo, a mais importante e a


mais difícil. É a mais importante porque é crucial à nossa interpretação. Se puder ser
demostrado que a intenção de Lucas em Atos era determinar um padrão para a
igreja para todos os tempos, logo, tal padrão decerto torna-se normativo, ou seja: é o
que Deus requer de todos os cristãos em qualquer condição. Mas se a sua intenção
for outra, devemos, pois, postular as perguntas hermenêuticas de maneira diferente.
Descobrir a intenção de Lucas, no entanto é algo especialmente difícil, parcialmente
porque não sabemos quem era Teófilo, nem porque Lucas teria escrito para ele, e
parcialmente porque Lucas parece ter tido vários interesses diferentes. Nosso
interesse exegético, no entanto, está tanto no quê e no por que. Devemos começar
com quê antes de perguntarmos por quê?

O primeiro passo. Como de costume, a primeira coisa que fazemos é ler,


preferivelmente, o livro inteiro numa assentada. E enquanto você ler aprenda a fazer
observações e perguntas. O problema como fazer observações e perguntas
enquanto ler Atos, naturalmente, é que a narrativa prende tanto a atenção que é
frequente simplesmente nos esquecermos de fazer as perguntas. Abaixo
recomendamos alguns passos para melhor entendimento e facilitar a compreensão
da obra:
45
1º passo=> Ler Atos do início ao fim em uma ou duas sessões;

2º passo=> Enquanto ler faça anotações de temas, lugares e pessoas chaves,


anotar as divisões naturais.

3º passo=> Faça a si mesmo a pergunta: por que Lucas escreveu este livro?

UMA VISÃO PANORÂMICA


Atos tem sido dividido frequentemente com base no interesse de Lucas em
Pedro (1–12) e em Paulo (13–28).

Ou na expansão geográfica do Evangelho (1–7, Jerusalém; 8–10, Samaria e


Judeia; 11–28, até os confins da terra).

Mas há outro indício dado pelo próprio Lucas, que parece vincular tudo muito
melhor. São declarações de resumo em (6.7; 9.31; 12.24; 16.4; e 19.20). Em cada
caso, a narrativa parece fazer uma pausa por um momento antes de tomar algum
tipo de direção nova. A partir deste indício, Atos pode ser visto como sendo
composto de seis seções, que dão à narrativa um movimento para a frente, a partir
do seu âmbito judaico baseado em Jerusalém, tendo Pedro como sua personagem
de liderança, em direção a uma igreja predominantemente gentia, tendo Paulo como
sua personagem de liderança, e com Roma, a capital do mundo gentio, como o alvo.
Uma vez que Paulo chega a Roma, onde mais uma vez se volta para os gentios,
porque eles escutarão (28.28), a narrativa chega ao fim. (FEE; STUART, 2011).

Você deve notar, portanto, ao ler, como cada seção contribui para este
“movimento”. Nas suas próprias palavras, procure descrever cada painel, tanto no
seu conteúdo quanto na sua contribuição ao movimento para frente. Qual parece ser
a chave para cada novo movimento para frente? Aqui está uma tentativa:

Atos 1.1 – 6.7. Uma descrição da igreja primitiva em Jerusalém, sua


pregação primitiva, sua vida em comum, sua propagação e a oposição inicial a ela
Note quão judaico é tudo, inclusive os sermões, a oposição, e o fato de que os
crentes primitivos continuam suas associações com o templo e as sinagogas. O
painel termina com uma narrativa que indica que uma divisão começara entre os
crentes de idiomas gregos e os de idioma aramaico.

46
Atos 6.8 – 9.31. Uma descrição da primeira expansão geográfica, levada a
efeito pelos helenistas (cristãos de idioma grego) para os judeus da diáspora ou os
quase judeus (samaritanos e um prosélito). Lucas também inclui a conversão de
Paulo, que era um helenista, um opositor judaico, e aquele que estava para liderar a
expansão especificamente gentia. O martírio de Estevão é a chave a esta expansão
inicial.

Atos 9.32 – 12.24. Uma descrição da primeira expansão aos gentios. A chave
e a conversão de Cornélio, cuja história é contada duas vezes. A relevância de
Cornélio é que sua conversão foi um ato direto da parte de Deus, que não usou os
helenistas nessa ocasião, que teriam sido suspeitos, mas, sim, Pedro, o líder
reconhecido da missão judaico-cristã. Incluída também está a história da Igreja em
Antioquia, onde a conversão dos gentios agora é levada a efeito pelos helenistas de
modo resoluto.

Atos 12.25 – 16.5. Uma descrição da primeira expansão geográfica para


dentro do mundo gentio, com Paulo na liderança. Os judeus agora rejeitam de modo
regular o Evangelho porque incluem gentios. A igreja reúne em Concílio e não rejeita
seus irmãos e irmãs gentios, nem impõe sobre estes exigências judaicas. Este
último fato serve como a chave para a plena expansão no mundo gentio.

Atos 16.6 – 19.20. Uma descrição da expansão adicional, sempre em direção


ao ocidente, no mundo gentio, agora entrando na Europa. Repetidas vezes, os
judeus rejeitam o Evangelho, e os gentios lhe dão as boas-vindas.

Atos 19.21 – 28.30. Uma descrição dos eventos que levam Paulo e o
Evangelho para Roma, com muito interesse pelo julgamento de Paulo, no decurso
dos quais três vezes é declarado inocente de qualquer culpa.

Procure ler Atos com este esboço, este senso de movimento diante de si,
para ver por si mesmo se ele parece captar aquilo que está acontecendo. À medida
que você lê, notará que nossa descrição do conteúdo inclui um fator crucial — a
saber: o papel do Espírito Santo em tudo isso. Você notará enquanto lê que a cada
conjuntura-chave, em cada pessoa chave, o Espírito Santo desempenha o papel de
liderança total. De acordo com Lucas, a totalidade deste movimento não aconteceu
pelo desígnio do homem. Aconteceu porque foi da vontade de Deus e porque o
Espírito Santo o levou a efeito.

47
O PROPÓSITO DE LUCAS EM ATOS
Devemos ter cuidado para não avançarmos por demais levianamente deste
panorama daquilo que Lucas fez para uma expressão fácil ou dogmática daquilo que
era seu propósito inspirado em tudo isto. Algumas poucas observações, porém,
estão em ordem, parcialmente baseadas também naquilo que Lucas não fez, a
saber:

1. A chave para o entendimento de Atos parece estar no interesse de Lucas


por este movimento, orquestrado pelo Espírito Santo, do Evangelho, a partir dos
seus inícios baseados em Jerusalém e orientados para o judaísmo, até tornar-se um
fenômeno de âmbito mundial, predominantemente gentio. Com base na estrutura e
no conteúdo isoladamente, qualquer declaração do propósito que não inclua a
missão aos gentios e o papel do Espírito Santo naquela missão certamente está
perdida a mensagem do livro.

2. Este interesse pelo movimento é substanciado ainda mais por aquilo que
Lucas não nos conta. Primeiramente, não se interessa pelas vidas, ou seja, pelas
biografias, dos apóstolos. Tiago é o único cujo fim ficamos sabendo (Atos 12.2).
Uma vez que o movimento para os gentios entra em pleno andamento, Pedro
desaparece de vista a não ser no cap.15, onde certifica a missão gentílica. À parte
de João, os demais apóstolos nem sequer são mencionados, e o interesse que
Lucas tem por Paulo é quase completamente em termos da missão aos gentios. Em
segundo lugar, tem pouco ou nenhum interesse pela organização e política da
igreja.

Os sete do capítulo 6 não são chamados diáconos, e de qualquer maneira,


saem logo de Jerusalém. Lucas nunca nos conta por que ou como aconteceu que a
igreja em Jerusalém passou da liderança de Pedro e dos apóstolos para Tiago,
irmão de Jesus (12.17; 15.13; 21.18); nem chega a explicar como qualquer das
igrejas locais era organizada em termos da política ou da liderança, a não ser sua
menção de presbíteros nomeados (14.23).

Em terceiro lugar não há palavra alguma acerca de qualquer outra expansão


geográfica a não ser na única linha direta de Jerusalém para Roma. Não se
menciona Creta (Tito 1.5), o Ilírico (Rm 15.19 – a moderna Iugoslávia). Nem Ponto, a
Capadócia e a Bitínia (1Ped. 1.1), sem mencionar a expansão da Igreja para o leste,

48
em direção à Mesopotâmia, ou para o sul, em direção ao Egito. Tudo isso em
conjunto diz que a história da igreja, por si só, simplesmente não era a razão de
Lucas ter escrito.

3. O interesse de Lucas não parece, tampouco, ser o de padronizar as coisas,


colocando tudo de modo uniforme. Quando registra conversões individuais,
usualmente há dois elementos incluídos: o batismo na água e o dom do Espírito
Santo. Mas estes podem ser na ordem invertida, com ou sem a imposição das mãos,
com ou sem a menção de línguas, e quase nunca com uma menção específica do
arrependimento, mesmo depois daquilo que Pedro diz em 2.38–39. De modo
semelhante, Lucas nem diz nem subentende que as igrejas gentias experimentaram
uma vida comunitária semelhante àquela de Jerusalém em Atos 2.42–47 e 4.32–35.
Semelhante diversidade provavelmente signifique que nenhum, exemplo está sendo
proposto com o único modelo para a experiência cristã ou a vida eclesiástica.

A questão é: o que Lucas estava querendo dizer aos seus primeiros leitores?

4. Mesmo assim, cremos que Lucas pretendia que boa parte de Atos servisse
como modelo. Mas o modelo não está tanto nos pormenores específicos quanto no
quadro global. Conforme a própria maneira de Deus tê-lo movido a estruturar e
narrar esta história, parece provável que devamos ver esta expansão triunfante,
alegre e progressiva do Evangelho, com o poder do Espírito Santo, e resultando em
vidas transformadas e comunidades locais, como sendo a intenção de Deus para a
igreja que continua existindo. E exatamente porque este é o objetivo de Deus para a
igreja, nada pode impedi-lo, nem o Sinédrio nem a sinagoga, nem a dissensão nem
as mentes fechadas, nem prisões nem complôs. Lucas, portanto, provavelmente
pretendia que a igreja fosse como aquelas, mas no sentido mais amplo, ao invés de
modelar-se conforme qualquer exemplo específico.

UMA AMOSTRA EXEGÉTICA


Examinaremos duas narrativas: 6.1–7 e 8.1–25.

Qual a razão de ser dessa narrativa? Por que a incluiu aqui? Tende dar uma
resposta provisória. Os helenistas eram provavelmente judeus de idioma grego, ou
seja: judeus da diáspora que agora estavam morando em Jerusalém. Muitos de tais
helenistas voltaram para Jerusalém em idade mais avançada, para morrerem e

49
serem enterrados perto do Monte Sião. Visto que não eram nativos de Jerusalém,
quando morriam, suas viúvas não tinham meios regulares de sustento. Estas viúvas
eram cuidadas por subsídios diários; este sustento causava um peso econômico
considerável em Jerusalém. Fica claro em Atos 6.9 que os helenistas tinham sua
própria sinagoga de idioma grego, da qual tanto Estevão como Saulo, provenientes
de Tarso (6.9), foram membros. A evidência de Atos 6 é que a igreja primitiva tinha
feito considerável penetração nesta sinagoga — note a menção de “as viúvas deles”,
o fato de que todos os sete escolhidos para tratarem desta questão tem nome
gregos, e que a oposição intensa provém da sinagoga da Diáspora. Finalmente, os
sete nunca são chamados diáconos. São simplesmente os sete. (21.8), que, sem
dúvida, devem supervisionar os subsídios diários de alimentos para as viúvas de
idioma grego, mas que também são claramente ministros da Palavra (Estevão,
Filipe). (FEE; STUART, 2011).

Este conhecimento do conteúdo ajudará especialmente a extrair o sentido


daquilo que se segue. Em 6.8–8.1, pois, Lucas focaliza um dos sete como sendo a
figura-chave na primeira expansão fora de Jerusalém. Diz-nos explicitamente que o
martírio de Estevão tem este resultado (8.1–4). Você deve notar também nessa
última passagem quão importante esta comunidade de cristãos de idioma grego em
Jerusalém é para o plano de Deus. São forçados a deixar Jerusalém por causa da
perseguição, mas de qualquer maneira não eram nativos dali. Sendo assim,
simplesmente saem e compartilham a palavra “pelas regiões da Judeia e da
Samaria”.

A narrativa em 6.1–7, portanto, não é dada para nos contar acerca da


organização original da igreja em clérigos e diáconos leigos. Funciona para colocar o
cenário para a primeira expansão da igreja fora de sua base em Jerusalém.

A narrativa em 8.5–25 é de tipo diferente.

Aqui temos a própria história da primeira expansão conhecida da igreja


primitiva. Essa narrativa é importante porque contém várias dificuldades exegéticas.
Como sempre devemos começar lendo o texto, vez após outra, fazendo observação
e nota.

50
Observações sumárias: A história é suficientemente simples. Começa
narrando o ministério inicial de Filipe em Samaria, que foi acompanhado por curas e
por libertações de demônios (8.5–7). Muitos samaritanos parece terem se tornado
cristãos, visto que creram e foram batizados. Os milagres eram tão poderosos, que
até Simão, praticante da magia, chegou a crer (8.9–13).

Quando a Igreja de Jerusalém ouviu falar de tais fenômenos, enviou Pedro e


João, e somente então os samaritanos receberam o Espírito Santo. (8.14–17).
Simão queria comprar o dom e ser um ministro, Pedro passou a repreender Simão,
mas o final não fica claro (8.24) se se arrependeu ou se sofreu o julgamento
invocado por Pedro (8.20–23).

O modo de Lucas entretecer estas narrativas torna claro que dois interesses
claramente predominam: a conversão dos samaritanos e a questão de Simão. Os
problemas exegéticos com estas duas questões que as pessoas encontram tem sua
origem basicamente no seu conhecimento e convicções prévios. Tendem a pensar
que as coisas simplesmente não devem acontecer assim. Visto que Paulo diz em
Rm 8 que sem o Espírito a pessoa não pode ser cristã, como é que estes crentes
não receberam o Espírito? E o que se diz de Simão, era realmente um crente que se
desviou? Ou apenas professou sem ter fé salvífica?

Provavelmente, o problema verdadeiro tenha sua origem no fato de que o


próprio Lucas não procura harmonizar tudo para nós, que interesse tem ele em
apresentar esta história? Como funciona em seu trabalho global? No que diz
respeito às conversões samaritanas, duas coisas parecem ser relevantes para ele: a
missão para a Samaria, que foi a primeira expansão geográfica do Evangelho, foi
levada a efeito por um helenista à parte de qualquer desígnio ou programa da parte
dos apóstolos. Mesmo assim, é importante para os leitores de Lucas saberem que a
missão tinha aprovação divina e apostólica, conforme é evidenciado pela retenção
do Espírito até que as mãos dos apóstolos fossem impostas. Está de acordo com o
interesse global de Lucas demostra que a obra missionaria dos helenistas não era
um movimento dissidente, embora tenha acontecido à parte de qualquer conferência
apostólica sobre o crescimento da igreja. (FEE; STUART, 2011).

Embora não possamos provar isso – porque o texto não nos conta e está fora
das preocupações de Lucas — é provável que o que foi retido até a vinda de Pedro
e João era a evidência visível e carismática da presença do Espírito.

51
HERMENÊUTICA DE ATOS
A pergunta hermenêutica decisiva aqui é se as narrativas bíblicas que
descrevem aquilo que aconteceu na igreja primitiva, também funcionam como
normas que pretendem delinear o que deve acontecer na vida contínua da igreja.
Há exemplos em Atos acerca dos quais podemos dizer apropriadamente: “Devemos
fazer isto”, ou devemos meramente dizer: “podemos fazer isto”?

Nossa suposição, juntamente com muitas outras é que, a não ser que a
Escritura explicitamente nos mande fazer alguma coisa, aquilo que é meramente
narrado ou descrito nunca pode funcionar de modo normativo. Há boas razões para
fazermos esta suposição.

De modo geral, declarações doutrinárias derivadas das Escrituras dividem-se


em três categorias: a teologia cristã (aquilo que os cristãos acreditam), a ética cristã
(como os cristãos devem comportar-se.) e a experiência ou a prática cristã (aquilo
que os cristãos fazem).

Dentro destas categorias poderíamos distinguir, ainda, dois níveis de


declarações, que chamaremos de primário e secundário. No nível primário há
aquelas declarações doutrinarias derivadas das proposições explicitas ou
imperativos da Escritura (o que a escritura pretende ensinar). No nível secundário há
aquelas declarações derivadas apenas incidentalmente, por implicação ou por
precedente.

Por exemplo: na categoria da teologia cristã, declarações tais como: Deus é


um só, Deus é amor, todos pecaram, Cristo morreu pelos nossos pecados, a
salvação é pela graça, e Jesus Cristo é divino, são derivadas de passagens onde
são claramente ensinadas, e são, portanto, primárias.

No nível secundário há aquelas declarações que são a decorrência lógica das


declarações primárias ou que são derivadas da Escritura por implicação. Assim
sendo, o fato da divindade de Cristo é primária; como as duas naturezas concorrem
na unidade é secundária.

Uma distinção semelhante pode ser feita no que diz respeito à doutrina da
Escritura. A palavra inspirada de Deus é primária; a natureza exata da inspiração é

52
secundária. Não se quer dizer com isto que as declarações secundárias não são
importantes. Frequentemente, terão aplicação significante à fé da pessoa no que diz
respeito às declarações primárias. Realmente, seu valor teológico imediato talvez se
relacione quão bem preservam a integridade das declarações primárias.

O que é importante notar aqui é que quase tudo quanto os cristãos derivam
da Escritura como precedente está em nossa terceira categoria, a experiência ou a
prática cristã, e sempre no nível secundário.

Por exemplo, a ceia do Senhor deve ser uma prática contínua na Igreja, é
uma declaração em nível primário. Mas a frequência da sua observação, do ponto
de vista cristão difere entre si. A necessidade do batismo (primário) e do seu modo
(secundário), ou a prática dos cristãos se reunirem juntos (primário) e a frequência e
o dia da semana (secundário). Mais uma vez: não se quer dizer com isto que as
declarações secundárias não sejam importantes.

Por exemplo, ficamos em dificuldades para comprovar que dia os cristãos se


reúnem para o culto, deve ser o sábado ou o domingo, mas em qualquer caso a
pessoa está dizendo algo de relevância teológica mediante a sua prática.

É comum entre nós dizermos: “A escritura nos ensina...”. Surgem problemas


com isso quando as pessoas passam para a área da história bíblica. Alguma coisa é
ensinada simplesmente porque é registrada – mesmo quando é registrada de modo
que pareça favorável?

É uma máxima geral da hermenêutica que a Palavra de Deus pode ser


achada na intenção da Escritura. Esta é uma questão especialmente crucial para a
hermenêutica das narrativas históricas. É um caso o historiador incluir um evento
porque serve ao propósito maior da sua obra, é coisa diferente o intérprete entender
que aquele incidente tem valor didático à parte da intenção maior do historiador.

Embora a intenção mais ampla e inspirada de Lucas seja questionável para


alguns, é nossa hipótese, baseada na exegese precedente, que estava querendo
demostrar como a igreja emergiu como um fenômeno mundial, principalmente
gentio. A partir de suas origens como uma seita de crentes judaicos, baseada em
Jerusalém e orientada para Jerusalém, e como o Espírito Santo foi diretamente
responsável por este fenômeno de salvação baseada na graça somente. O tema
recorrente que nada pode impedir este movimento para frente da igreja no poder do
Espírito nos leva a pensar que Lucas também pretendia que seus leitores fossem
53
como estes, como um modelo para sua existência. Decerto é assim que a igreja
sempre deveria ser — evangelística, alegre, dotada de poder do Espírito Santo.

Mas o que se diz dos pormenores específicos daquelas narrativas, as quais,


somente ao serem tomadas em conjunto, nos ajudam a ver a intenção maior de
Lucas? Estes pormenores tem o mesmo valor didático? Servem também como
modelos em forma de narrativas? Pensamos que não, basicamente porque a
maioria desses detalhes é incidental à lição principal da narrativa e por causa da
ambiguidade dos detalhes entre uma narrativa e outra.

Dessa forma quando examinamos Atos 6.1–7, vemos como a narrativa


funciona no plano global de Lucas, como uma conclusão à sua primeira seção
principal, que ao mesmo tempo serviu para introduzir os helenistas. É possível que
sua intenção tenha incluído, também, a demonstração da resolução amigável da
primeira tensão dentro da comunidade cristã. (FEE; STUART, 2011).

A partir desta narrativa, também podemos aprender várias outras coisas de


modo incidental. Por exemplo, podemos aprender que uma boa maneira de ajudar
um grupo minoritário na igreja é deixar aquele grupo ter sua própria liderança,
selecionada pelos próprios membros. É o que realmente fizeram. Devemos fazê-lo?
Não necessariamente, visto que Lucas não nos ordena assim, nem há qualquer
motivo para acreditar que tinha aquilo em mente quando registrou a narrativa. Do
outro lado, semelhante procedimento faz tanto sentido que duvidamos que haja
motivo para alguém ser contra essa ideia.

Nosso argumento é: seja o que for que alguém colha de semelhante narrativa,
tais respigas são apenas incidentes à intenção de Lucas. Não se quer dizer com isso
que aquilo que é incidental é falso, nem que não tem valor teológico. Quer dizer, isto
é, que a Palavra de Deus para nós naquela narrativa está primariamente relacionada
com aquilo que originalmente pretendeu ensinar. A partir desta discussão, os
seguintes princípios emergem e que diz respeito à hermenêutica da narrativa
histórica:

1. A palavra de Deus em Atos, que pode ser considerada


normativa para os cristãos, é relacionada primariamente com aquilo que uma
determinada narrativa pretende ensinar.

54
2. O que é incidental à intenção primária da narrativa, pode
realmente refletir o modo de um autor inspirado entender as coisas, mas não
pode ter o mesmo valor didático quanto àquilo que a narrativa pretendia
ensinar. Não negamos, assim, aquilo que é incidental nem subentendemos
que não tem palavra alguma para nós. O que argumentamos, sim, é que
aquilo que é incidental não deve tornar-se primário, embora sempre possa
servir de apoio adicional àquilo que é ensinado noutros trechos de modo
inequívoco.

3. O procedimento histórico, para ter valor normativo, deve ser


relacionado com a intenção. Ou seja, se puder ser demostrado que o
propósito de uma determinada narrativa é estabelecer um precedente, logo,
tal precedente deve ser considerado normativo. Por exemplo, se pudesse ser
demonstrado por razões exegéticas que a intenção de Lucas em Atos 6.1–7
era dar à igreja um precedente para selecionar seus líderes, logo, semelhante
processo de seleção deve ser seguido por cristãos posteriores. Se, porém
estabelecer um precedente não era a intenção da narrativa, logo, seu valor
como precedente para cristãos posteriores deve ser tratado de acordo com os
princípios específicos sugeridos em nossa seção seguinte.

O problema de tudo isso, naturalmente, é que tendo a deixar-nos com pouca


coisa que é normativa para aquela área ampla de interesse – a experiência e a
prática cristã. Não há ensino expresso quanto ao modo do batismo, a idade dos que
hão de ser batizados, nem aos fenômenos carismáticos específicos que devam ser
evidenciados quando alguém recebe o Espírito, nem à frequência da Ceia do
Senhor, para citar apenas uns poucos exemplos. Estas, porém, são exatamente as
áreas em que há tanta divisão entre cristãos. Invariavelmente, em tais casos, as
pessoas argumentam que é assim que eles fazem, quer derivem tais práticas das
narrativas de Atos, quer por implicação como do que é dito nas epístolas.

A Escritura simplesmente não diz que o batismo deve ser por imersão, não
diz que crianças devem ser batizadas, não diz que o cristão deve ser batizado no
Espírito Santo com a evidência das línguas como uma segunda obra da graça, e não
diz que a ceia do Senhor deve ser celebrada todos os domingos. O que fazemos,
portanto, com algo como o batismo por imersão? O que a Escritura diz? Neste caso,
pode ser argumentado a partir do significado da própria palavra, da única descrição
em Atos de “descer à agua” e de “sair da agua” (8.38–39), e da analogia de Paulo,
55
que descreve o batismo como sendo a morte, o sepultamento, e a ressurreição (Rm
6.1–3), que a imersão era a pressuposição do batismo na igreja primitiva. Não foi
ordenada em nenhum lugar, exatamente porque está pressuposta. (FEE; STUART,
2011).

Do outro lado, pode ser indicado que, sem um tanque batismal na igreja
local da Samaria, as pessoas que foram batizadas ali devem ter tido grande
dificuldade em serem imersas. Simplesmente não se conhece qualquer suprimento
de agua ali que tivesse feito da imersão uma opção viável. Derramavam água sobre
elas, como sugere aquele antigo manual da igreja, o Didaquê (c. de 100 d.C.), que
deve ser feito quando não havia suficiente água corrente. O Didaquê torna claro que
a imersão era a norma, mas também deixa claro que o ato em si é mais importante
que o modo. Embora o Didaquê não seja um documento Bíblico, é um documento
cristão muito antigo e ortodoxo, e pode ajudar a demostrar como a Igreja primitiva
fazia ajustamentos pragmáticos nesta área em que a Escritura não é explicita.

A prática normal ou regular servia como a norma. Mas porque era apenas
normal, não veio a ser normativa. Provavelmente faríamos bem em seguir esta
orientação e não confundir a normalidade com a normatividade.

56
O CONTEÚDO DO LIVRO DE
ATOS

3
CONHECIMENTO

Conhecer o conteúdo do livro Histórico do NT, bem como o contexto histórico


teológico das narrativas.

HABILIDADE

Ser capaz de compreender e interpretar textos sobre o tema bem como ser capaz
de fazer exposição escrita, pública em eventos, palestras, seminários em ambiente
acadêmico acerca do tema.

ATITUDE

Buscar desenvolver e exercitar capacidade reflexiva crítica acerca do objeto


estudado e incorporá-la na sua práxis.

57
58
A IGREJA NO ÂMBITO DO JUDAÍSMO

A Igreja cristã nasceu tendo como berço o judaísmo, tendo em comum os


patriarcas e profetas, mas o ultrapassando em virtude da grandeza da revelação de
Jesus Cristo. Assim, os primeiros relatos narrados no livro de Atos se dão no âmbito
do judaísmo.

Existiria outro livro, além de Atos dos Apóstolos que faça a ligação existente
entre o ministério de Cristo e o Cristianismo? A resposta é não, não existe. É
somente o livro de Atos que nos dá essas informações valiosas, embora bastante
resumidas, sobre esse momento marcante do desenvolvimento da nova fé. Mas não
só isso, Atos nos mostra como a comunidade dos seguidores do Messias, que é um
messias anunciado e aguardado no âmbito do judaísmo, é crido e aceito pelos
gentios. Atos nos mostra como a Igreja cristã judaica se tornou a Igreja cristã
gentílica. Sendo esta última forma a que mais êxito obteve em sobreviver apesar de
todas as adversidades e perseguições perpetradas contra ela.

O PENTECOSTES
O livro de Atos relata que após as instruções finais e a ascensão de Jesus, os
discípulos ficaram em Jerusalém aguardando o cumprimento da promessa de
receber o Espírito Santo. Isso de fato ocorreu no dia de Pentecostes, conforme Atos
2. Pentecostes é um termo do grego pentekostés. Pentecostes, que vem significar,
“quinquagésimo” – era aplicado ao quinquagésimo dia após a Páscoa — culminação
da festa das Sete Semanas, também conhecida como SHAVUÔT (Semanas). O
Judaísmo rabínico usa outros dois termos MATAN TORÁH e KABBALÁH
HaTORÁH (Entrega/recebimento da Lei) — Ex. 34.22; Deut. 16.10 Ex. 20 e Lev. 23.

No Sinai, Israel recebeu a Lei; em Jerusalém o Espírito Santo!

No dia da festa de Pentecostes, o Espírito Santo desceu sobre os discípulos,


eles passaram a falar em outras línguas, que Lucas deixa claro se tratar de idiomas
falados por várias nações, evangelizando uma multidão de judeus, prosélitos e
tementes a Deus, que vinham de várias partes do mundo para adorar em Jerusalém.
Foi estratégica a forma como tudo se deu, pois além de ouvirem a mensagem no
seu próprio idioma, rompendo a barreira linguística, puderam levar a mensagem
cristã para seus lugares de origem.
59
Pedro fez um discurso poderoso e milhares de pessoas se converteram
naquele dia. A Igreja estava dando seus primeiros passos. O Espírito Santo que
antes estava gerando a Igreja agora a traz a plena luz.

Esta foi a primeira ocasião em que os seguidores de Jesus se revelam ao


mundo. É o início de uma nova fase, em que eles são deixados sob a guia do
Espírito Santo, porém ausentes da presença física do seu mestre. Eles darão
continuidade ao trabalho que Jesus Cristo havia iniciado, pregando, ensinando,
fazendo o bem e anunciando a mensagem do arrependimento e da conversão para
perdão dos pecados.

O MINISTÉRIO DE PEDRO

O livro de Atos em sua primeira parte focaliza as atividades da jovem Igreja


no âmbito do judaísmo, até porque a Igreja cristã nasce nesse berço judaico, e
nessa etapa o personagem que mais se destaca é o apostolo Pedro.

O primeiro ato de Pedro que demonstra a sua posição como líder da Igreja, foi
quando este tomou a iniciativa de propor, numa assembleia de cento e vinte irmãos,
a eleição de uma testemunha da Ressurreição como apóstolo para ocupar o lugar
de Judas, o Traidor — o escolhido foi Matias (Leia: At 1.15–26).

Logo depois de Pentecostes, Pedro foi o porta-voz dos que estavam no


cenáculo e fez o discurso para os habitantes de Jerusalém convertendo mais de três
mil pessoas. Leia At 2.37–41. Pedro era um líder e entre seus amigos o apóstolo,
uma comunidade viva e modelo entre os irmãos: (At 2.42).

Simão Pedro, após o Pentecostes, era a figura do líder entre os cristãos, mas a
partir do momento que o primeiro milagre acontece pela intercessão de Pedro, ele
passa a ser conhecido também publicamente como o líder. O primeiro milagre
acontece com o coxo que foi curado através de Pedro e João na Porta Formosa do
Templo que, neste dia, estava cheio por ser a festa de Pentecostes. Esta notícia do
milagre espalhou-se. No segundo discurso de Pedro mais de duas mil pessoas se
converteram (At 3.1–26; 4.4)

Pedro após o Pentecostes é um homem ousado, destemido, homem da


Palavra, enfrentava o Sinédrio, os romanos, não perdia oportunidade para anunciar

60
a Boa Nova. Após o milagre, o Sinédrio não teve alternativa senão reconhecer o
milagre, mas este não podia fazer nada contra ele por causa do medo que tinham do
povo. Os doentes eram trazidos para as ruas e colocados em macas a fim de que à
passagem de Pedro, ao menos a sua sombra os cobrisse e, alguns fossem curados.
Na realidade, alguns foram curados.

Alguns sumos sacerdotes mandaram prender Pedro, mas este é solto pelo
Anjo do Senhor no meio da noite e logo de manhã lá estava Pedro pregando no
Templo. “Quando Pedro é questionado pelo Sinédrio e lhe é pedido que não
pregasse a sua doutrina ele declara: É preciso obedecer antes a Deus do que a
homens”. (At 5.29).

Durante os anos seguintes, Pedro pregava em Jerusalém, mas quando a


perseguição aumentou em Jerusalém a Igreja passou a reunir-se nas casas. Os
apóstolos ficaram em Jerusalém até que Pedro foi enviado com João à Samaria
para ver como a divulgação do Evangelho acontecia por lá.

Ora, os samaritanos tinham recebido a pregação do diácono Filipe, eles


receberam o batismo da água, mas não tinham recebido o Espírito Santo, mas
quando Pedro lá chegou com João, oraram pelos samaritanos e todos receberam
o Espírito Santo.

Neste momento, assistimos a um acontecimento que ocorreu com Pedro: um


mago de nome Simão, vendo todo o poder de Pedro quis comprar o seu poder
apostólico e o dom do Espírito Santo. Pedro repreendeu-o severamente. Este fato
deu origem ao nome de simonia [venda de coisas sagradas com fins econômicos e
políticos].

Embora tivesse um ministério voltado prioritariamente aos judeus, ele foi usado
por Deus para evangelizar o primeiro gentio, chamado Cornélio (Cf. Atos 10).

O Espírito Santo guiou os apóstolos e produziu os seus atos. Pedro também


aparece no primeiro concílio em Jerusalém, onde é debatida a questão da
circuncisão sobre os gentios, embora não seja explicado como a liderança da Igreja
em Jerusalém passou para Tiago, irmão do Senhor; Pedro aparece no concílio e sua
posição e liderança são reconhecidas.

61
REAÇÃO DOS JUDEUS

Os líderes judeus em Jerusalém haviam perseguido e levado à morte a Jesus


Cristo. Não demoraram em perseguir os seus discípulos e apóstolos. Sentiam-se
incomodados e ameaçados por esse movimento messiânico. Pensava que Jesus
fosse um impostor que levaria a nação a destruição caso não fosse parado. Eram
sábios aos seus próprios olhos, para aprender com um jovem mestre. Achavam que
já possuíam toda a revelação dada por meio da Lei de Moises e, portanto,
rejeitavam qualquer novidade e achavam conhecer o caminho da salvação, essa
vinha por meio das boas obras praticadas em harmonia com os mandamentos e a lei
do Senhor.

Assim desencadearam prisões e perseguições à jovem igreja. Estevão foi o


primeiro mártir da Igreja. Seu poderoso sermão cheio do poder do Espírito encontrou
corações endurecidos pelo preconceito e ignorância das coisas de Deus. Os
apóstolos foram açoitados em várias ocasiões, mas glorificavam a Deus por terem
sido dignos de padecer em nome de Jesus Cristo. Os líderes judeus rejeitaram a
mensagem cristã. O cristianismo segue sua marcha no cumprimento da sua missão
dada pelo Senhor e pelo Espírito. Mas logo no início, os cristãos são judeus, e o
cristianismo parece ser uma mera continuidade do judaísmo, com o diferencial de
crerem em Cristo. Pareciam ser mais uma facção dentro do judaísmo, como os
fariseus, saduceus, e outros. Mas com o passar do tempo, os seguidores de Jesus
ficaram conhecidos como a Igreja Cristã, uma nova religião distinta do judaísmo, e
posteriormente de cristianismo.

Jesus veio primeiramente para as ovelhas perdidas da casa de Israel, ou seja,


ele veio para os judeus, o povo da aliança. Mas sua missão não envolvia a salvação
apenas dos judeus, mas de toda humanidade. O judaísmo era de natureza bastante
exclusivista, se achavam os eleitos, os escolhidos e todo restante do mundo estava
perdido e desprezado aos olhos de Deus. Eles eram os canais e se alguém quisesse
a salvação deveria busca em Israel, e por meio da aliança Mosaica. Jesus e a Igreja
posteriormente derrubaram o muro de inimizade, no dizer de Paulo, ou seja, a
salvação podia ser obtida por meio da fé, independente da nacionalidade. Um gentio
poderia ser salvo por meio de Cristo sem se tornar um judeu.

62
Esse fator certamente contribuiu para a separação dessas duas religiões que
possuíam um berço comum, pois os judeus jamais admitiriam no seu seio pessoas
que não cumprissem a lei de Moises. Já a Igreja entendeu que Deus não fazia
acepção de pessoas, e mostrou isso a Pedro por ocasião da conversão de Cornélio
e a sua casa (Cf. Atos 10 e 11).

A IGREJA NO ÂMBITO DO HELENISMO


No livro de Atos, as narrativas seguem um determinado movimento e
interesse. Lucas passa a predizer, depois de alguns capítulos, as atividades da
Igreja no âmbito do helenismo. Com isso queremos indicar as atividades
missionárias voltadas para os não judeus. Essa atividade principia com a pregação
aos samaritanos, a conversão de Cornélio, basicamente, pelo menos é o que o livro
de Atos nos mostra. A grande expansão se deu quando um certo Saulo de Tarso,
fariseus, converte-se ao cristianismo. O ministério de Paulo recebe grande destaque
no livro de Atos

O MINISTÉRIO DE PAULO
Após sua conversão na Estrada de Damasco, Paulo começou na sinagoga de
Damasco, a dar testemunho de sua nova fé. O tema de sua mensagem concernente
a Jesus era: “Este é o Filho de Deus” (At 9.20). Mas Paulo tinha de aprender
amargas lições antes que pudesse apresentar-se como líder cristão confiável e
eficiente. Descobriu que as pessoas não se esquecem com facilidade; os erros do
homem podem persegui-lo por um longo tempo, mesmo depois que ele os tenha
abandonado. Muitos dos discípulos suspeitavam que Paulo os odiasse. Ele pregou
por breve tempo em Damasco, foi-se para a Arábia e depois voltou para Damasco.

A segunda tentativa de Paulo de pregar em Damasco igualmente não teve


bom resultado. Um ano ou dois haviam decorrido desde a sua conversão, mas os
judeus se lembravam de como ele havia desertado de sua primeira missão em
Damasco. O ódio contra ele inflamou-se de novo e “deliberaram entre si tirar-lhe a
vida” (At 9.23). A dramática história da fuga de Paulo por sobre a muralha, num
cesto, é conhecida por muitos.

63
Os dias de preparação de Paulo não estavam terminados. O relato que ele
faz aos gálatas continua dizendo: “Decorridos três anos, então subi a Jerusalém...“
(Gl 1.18). Ali ele encontrou a mesma hostil recepção que teve em Damasco. Uma
vez mais foi obrigado a fugir.

Paulo desapareceu por alguns anos. Esses anos que ele passou escondido
deram-lhe convicções amadurecidas e estatura espiritual de que ele necessitaria em
seu ministério.

Em Antioquia, os gentios estavam sendo convertidos a Cristo. A Igreja em


Jerusalém teve de decidir como cuidar desses novos crentes. Foi então que
Barnabé se lembrou de Paulo e se dirigiu a Tarso à sua procura (At 11.25). Barnabé
já tinha sido instrumento na apresentação de Paulo em Jerusalém, num esforço por
afastar suspeita contra ele.

A esses dois homens foram confiados à tarefa de levar socorro à Judeia onde
os seguidores de Jesus estavam passando fome. Quando Barnabé e Paulo voltaram
a Antioquia, missão cumprida trouxe consigo o jovem João, apelidado Marcos,
sobrinho de Barnabé (At 12.25).

A JORNADA MISSIONÁRIA DE PAULO (ATOS 15.36 E 21.16)

O livro de Atos dos Apóstolos depois de descrever como o dom do Espírito


Santo equipou os discípulos de Jesus para, através deles, continuar contando a
história do início da igreja em Jerusalém, sua expansão nas áreas mais longínquas
da Judéia e da Samaria, e depois, seu movimento progressista da Antioquia da
Síria, através da Ásia Menor, da Macedônia e da Grécia, até a chegada de Paulo em
Roma com toda a sua pompa de cidade central do mundo antigo.

Paulo fez três viagens missionárias. Da Bíblia de Thompson, pp. 1481-1485,


extraímos o que segue:

1ª Viagem – De Antioquia da Síria viaja a Selêucia, e logo após, de barco, a


Salamina, no Chipre. De Salamina a Pafos, ainda no Chipre, onde seu nome é
mudado de Saulo para Paulo. (1Cor. 13.9, 13).

64
De Pafos vai a Perge da Panfília, de lá segue a Antioquia da Pisídia. De
Antioquia a Icônio, depois a Listra, onde é apedrejado pela mesma multidão que quis
adorá-lo. (At. 14.8–19).

Segue de Listra a Derbe. De lá regressa até Perge de onde segue para Atália.
De Atália vai a Antioquia da Síria, o ponto de partida.

2ª Viagem – Viajou de Antioquia da Síria a Listra onde Timóteo se une a


Paulo e Silas. De Listra a Trôade, depois a Filipos. Aqui o Evangelho chega à
Europa. Os primeiros conversos deste continente são Lídia (At. 16.13–15), e o
carcereiro da prisão At. 16.29–33). De Filipos viaja a Tessalônica, depois a Bereia.
Daqui vai a Atenas e a Corinto, onde Sóstenes é espancado. De Corinto segue a
Éfeso, Jerusalém e retorna a Antioquia da Síria.

3ª Viagem – De Antioquia da Síria vai à Galácia. Passando pela Frígia vai a


Éfeso, onde os conversos queimam livros de magia. (At. 19.19). De Éfeso passando
pela Macedônia chega a Corinto e a Trôade, onde um jovem (Êutico) dorme devido
o extenso discurso do apóstolo, cai da janela, morre e é ressuscitado por Paulo. (At.
20.9). De Trôade segue a Mileto e passando por Rodes e Pátara chega a Tiro. De
Tiro passando por Cesareia termina sua viagem em Jerusalém.

A mensagem de Jesus se espalhava por todos os lugares e cidades, a


mensagem estava inundando o mundo. Alguns cristãos foram para Antióquia da
Síria pensando encontrar um terreno fértil para o evangelismo. E outra vez se
surpreenderam, com multidões aceitando a mensagem sobre o humilde Carpinteiro
de Nazaré.

CONCÍLIO DE JERUSALÉM
A convocação de um concílio pode ser extremamente valiosa, se o seu
propósito é esclarecer alguma doutrina, acabar com controvérsias e promover a paz.
E este era o propósito precípuo do Concílio de Jerusalém. De acordo com Atos 15,
os irmãos de Antioquia resolveram enviar Paulo e Barnabé e alguns outros dentre
eles a Jerusalém, aos apóstolos e presbíteros de lá. Assim que chegou a Jerusalém,
Paulo se reuniu em particular com os apóstolos e presbíteros e lhes deu um relatório
completo acerca do Evangelho que estava pregando aos gentios. Como os líderes

65
tiveram de reconhecer, era o mesmo Evangelho pregado por eles aos judeus (cf.
Atos 15.4).

A dependência contínua dos discípulos do Espírito Santo é indicada em Atos


15.28: “Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós”. Como alguém comentou na igreja
primitiva o presidente do conselho era o Espírito Santo. Jesus prometera que o
Espírito Santo guiaria os fiéis em toda a verdade (João 16.13). Certamente, o
Concílio foi liderado pelo apóstolo Tiago, que era o líder da Igreja de Jerusalém (cf
Atos 21.18). Embora Pedro tenha iniciado a discussão não significa que ele presidira
o Concílio. Pedro iniciou o debate porque, certamente, ele foi aquele que Deus
primeiramente instigou a quebrar a barreira de comunicação e de relacionamento
que havia entre os judeus e gentios (Atos 10).

O debate foi aberto pelo partido farisaico da igreja de Jerusalém, o qual insistia
que os convertidos entre os gentios tinham de ser circuncidados e obrigados a
guardar a lei - “Insurgiram-se, entretanto, alguns da seita dos fariseus, que haviam
crido. É necessário circuncidá-los e determinar-lhes que observem a lei de Moisés“
(Atos 15.5).

Segundo John Stott, “eles estavam sendo completamente bíblicos ao valorizar


a circuncisão e a lei como dádivas de Deus para Israel. Mas iam além, tornando-as
obrigatórias para todos, inclusive para os gentios”. Circuncisão e observância da lei,
insistiam, eram essenciais para a salvação. “Então se reuniram os apóstolos e os
presbíteros para examinar a questão” (Atos 15.6), apesar de estarem presentes
também outras pessoas (15.12).

Lucas não nos fornece detalhes do “grande debate” (15:7a) que se deu, mas
ele resume os discursos decisivos, feitos sucessivamente pelos três apóstolos
envolvidos: o apóstolo Pedro (15:7–11); o apóstolo Paulo apoiado por Barnabé
(15.12); e o apóstolo Tiago (15:13–21).

Vejamos, a seguir, a participação de cada um.

a) Pedro (15.7–11). Quando Pedro tomou a palavra, os judaizantes talvez


tenham imaginado que ele defenderia a posição deles; afinal, Pedro era o apóstolo
da circuncisão. Quando Pedro começou a falar, porém, tais expectativas foram logo
frustradas. O apóstolo lembrou a assembleia da ordem dada por Deus alguns anos
atrás para que “ouvissem os gentios a palavra do Evangelho por intermédio” dele.

66
Pedro obedeceu a essa ordem quando pregou na casa de Cornélio. Ao ver os
gentios buscarem-no pela fé, o Senhor concedeu o “Espírito Santo a eles, como […]
concedera” aos judeus no Pentecostes. Naquela ocasião, Deus não exigiu que os
gentios fossem circuncidados. O fato de serem gentios não fez nenhuma diferença;
o Senhor purificou o coração deles pela fé.

Uma vez que Deus havia aceitado os gentios com base na fé, e não na
observância da lei, Pedro perguntou aos presentes: Por que colocar os gentios sob o
jugo da lei, “um jugo que nem nossos pais puderam suportar, nem nós?”. A lei
jamais havia salvado alguém. Seu ministério era de condenação, e não de salvação.
A lei revela o pecado, mas não salva do pecado.

A decisão final de Pedro é particularmente notável. O apóstolo expressou a


convicção profunda de que, como os gentios, os judeus foram salvos pela graça do
Senhor Jesus (e não pela observância da lei). Pelo fato de Pedro ser judeu, seria de
esperar que ele dissesse que os gentios foram salvos da mesma forma que os
judeus. Aqui, porém, a graça triunfa sobre as distinções étnicas.

b) Paulo e Barnabé (15.12). Quando estes dois começaram a falar “toda a


multidão silenciou” (15.12), evidentemente por profundo respeito. Eles relataram
como Deus havia operado no meio dos gentios e autenticado a pregação do
Evangelho com sinais e prodígios, sem o ritualismo judaico e nem os seus encargos.
Isso era a prova de que essas práticas não serviam para salvação. O testemunho
esmagador de Paulo de Barnabé, somado ao discurso de Pedro, testificava contra
os judaizantes.

c) Tiago (15.13–21). “Tiago, o Justo”, como se tornaria conhecido mais tarde


devido à sua reputação como homem justo e piedoso, era um dos irmãos de Jesus,
que provavelmente se converteu depois de ver Jesus ressuscitado (At 1.14; 1Co
15.7). Provavelmente contado entre os apóstolos (Gl 1.19) e já reconhecido como
um (até mesmo “o”) líder da igreja de Jerusalém (Atos 12.17; Gl 2.9; cf. Atos 21.18);
evidentemente ele era o coordenador da assembleia.

Tiago esperou que os líderes missionários — Pedro, Paulo e Barnabé —


terminassem seus discursos. Então, “depois que eles terminaram, falou Tiago”,
chamando seu público, respeitosamente, de “irmãos” e pedindo que lhe ouvissem
(15.13). Ele não atacou os legalistas e muito menos os “liberais”, pois o seu
compromisso era com a Palavra de Deus. Ele resumiu seu testemunho com as

67
seguintes palavras: “Expôs Simão como Deus primeiro visitou os gentios, a fim de
constituir dentre eles um povo para o seu nome” (15.14).

A afirmação de Tiago é consideravelmente mais importante do que parece à


primeira vista, pois as expressões “povo” e “para o seu nome” são regularmente
empregados no Antigo Testamento em relação a Israel. Tiago estava expressando
sua crença de que os convertidos gentios agora faziam parte do Israel verdadeiro,
chamados e escolhidos por Deus para pertencerem ao seu único povo e para
glorificar o seu nome.

Assim, Tiago declarou que estava de pleno acordo com Pedro, Paulo e
Barnabé. A inclusão dos gentios não era uma ideia posterior de Deus, mas algo
predito pelos profetas. A citação de Amós 9.11–12 apenas indica uma das muitas
passagens do Antigo Testamento que prevê a salvação dos gentios (Gn 22.18; Sl
22.27; Is 9.2; 42.4; 45.22; 49.6; 60.3; Dn 7.14, etc.). As próprias Escrituras
confirmavam os fatos experimentados pelos missionários. O que Deus havia feito
através dos apóstolos conferia com o que Ele havia dito através dos profetas. Essa
concordância entre Escrituras e experiência, entre o julgamento dos profetas e o dos
apóstolos, era conclusiva para Tiago. Ele estava pronto para declarar o seu
julgamento — “Pelo que julgo…” (At 15.19).

As decisões da Igreja não devem ser tomadas pelo homem apenas; este deve
buscar a direção do Espírito Santo, mediante oração e jejum e a fidelidade à Palavra
de Deus até que a vontade divina seja claramente discernida (cf. At 13.2–4).

SALVAÇÃO PARA OS JUDEUS E GENTIOS


Paulo expôs os grandes princípios do Evangelho aos judeus e aos gentios.
“Ele afirmava a sua posição nas questões que agitavam as igrejas judaicas e
gentílicas e mostrava que as esperanças e promessas que haviam pertencido
outrora aos judeus especialmente, eram agora oferecidas também aos gentios.” Ou
seja, com toda clareza era apresentada a doutrina da justificação pela fé em Cristo.

O livro de Atos mostra os discípulos de Cristo rompendo barreiras


geográficas, étnicas, religiosas, econômicas e sociais para dizer que a todos os
seres humanos era estendido o braço da salvação. Desta forma diz o apóstolo

68
Paulo: “Não há judeu nem grego, não há servo nem livre, não há macho nem fêmea,
pois todos vós sois um em Cristo Jesus.”.

“E se sois de Cristo, então sois descendentes de Abraão, e herdeiros


conforme a promessa” (Gál. 3.28–29).

O apóstolo Paulo, não fez parte do grupo dos doze apóstolos que conviveram
com Cristo. Isso levantava certas suspeitas, pois como ele poderia ser apóstolo se
não era dos doze? Cedo surgiram as dúvidas sobre o seu chamado e seu
apostolado. Seria Paulo um intruso, um impostor que estava tentando desvirtuar a
verdadeira pregação evangélica? Tinha ele autoridade para pregar o Evangelho? A
vida e a obra de Paulo falam por si. De um fanático judeu a um dos maiores
expositores do Evangelho de Jesus.

UMA RETROSPECTIVA SOBRE PAULO


Paulo nasceu em Tarso, um cidadão romano igual aos demais. (Atos 16.37).
O nome Paulo de Tarso vem do Grego, que significa pequeno, era também
conhecido como Saulo de Tarso antes de sua conversão. Fazia parte da genealogia
da tribo de Benjamim, era membro do partido dos fariseus, de onde tinha autoridade
para perseguir os judeus cristãos segundo o relato bíblico, (Atos 26.10). Um dos
acontecimentos importantes da história do cristianismo foi sem dúvida a causa da
conversão de Saulo. Estava Paulo andando pela estrada de Damasco e encontrou a
Cristo. Esse encontro foi fruto interino da Graça de Cristo que o atingiu de uma
forma extraordinária:

a) A Bíblia afirma que sua conversão aconteceu "repentinamente" (Luc. 22.6);

b) A manifestação do Deus Soberano, semelhante à luz do sol (Luc. 26.13);

c) Ele diz que foi "conquistado" por Aquele que ele perseguia (Fil. 3.2);

d) Timóteo diz que ele foi "inundado" pela suprema graça de Deus (1Tim.
1.14);

e) Foi maravilhosamente "iluminado" (1Tim. 1.14).

A conversão de Paulo aparentemente foi rápida, mas não o foi, na realidade.

Ele havia resistido aos "aguilhões" que era ferramenta para amansar touros
(Atos 26.14). Ou seja: esses aguilhões foram suas provações, quanto mais ele se
69
opunha a Cristo mais se enfraquecia sobre as suas próprias convicções de
perseguição a Cristo. Cada vez mais ele entendia que mais vale servir a Deus do
que ao mundo.

Missão

Podemos ver o trabalho e a missão dos apóstolos, através da atuação do


Espírito Santo. Por parte dos apóstolos a ênfase é muito centralizada no eu, por isso
era necessário o poder transformador oriundo do Espírito Santo.

Um estudo dos escritos de Lucas e Paulo rapidamente revela que o propósito


de ser cheio do Espírito Santo não é produzir uma experiência interior exaltada, pelo
contrário, essa experiência tem que ser externa, isso produz a edificação do corpo
de Cristo.

O que precisamos fazer para compreender bem a missão de Paulo?

a) Precisamos aprofundar nosso estudo sobre a pessoa do Espírito


Santo.

b) Compreendermos e permanecermos abertos a seus dons, isso nos


dirigirá à descoberta dos dons do Espírito Santo dentro do Corpo de Cristo com o
propósito de nos equipar para realizarmos a obra de Cristo.

c) Executar a Missão Paulina no sentido de edificar a igreja e colaborarmos


com o mundo, buscando a paz entre os homens.

Pregação da palavra de Deus.

Imaginemos Paulo correndo de um lado para outro, em suas viagens


missionárias deixando para traz pequenos grupos, às vezes grandes, a ponto de se
dividirem, formando assim outros grupos estabelecendo alicerces firmes de uma
comunidade cristã. Às vezes era forçado a ir embora por situações que não eram de
seu total controle. Esta estratégia divina de Paulo sempre dava certo.

70
a) (Atos 11 e 12). Antes ele só conhecia o Deus religioso, agora ele conhece o
Deus presente, que se manifesta a todo aquele que crer. O segredo foi: uma nova
relação com Deus.

b) (Atos 19). Exibe Paulo com um novo relacionamento com a igreja


(aproximação), ou seja, tinha intimidade com a igreja. Antes ele a odiava, agora ele
estava comungando a mesma fé com os irmãos de fé.

c) No capitulo 20, agora, já que ele tinha experimentado o sabor do Evangelho,


tinha sede de compartilhar com os demais, através de seu testemunho, viajando de
lugar para lugar.

Trabalhos de Paulo
A Galácia era o nome dado ao território na zona setentrional do centro da
Ásia Menor onde os invasores gauleses se tinham estabelecido no terceiro século
antes de Cristo. O território da Galácia passou para as mãos dos Romanos no ano
25 a. C. Toda essa província incluía as seguintes cidades:

a) Antioquia,

b) Icônio,

c) Derbe e Listra.

Esta região também é aquela que Paulo solicitou um donativo para os pobres
de Jerusalém. 1Cor. 16.1.

O zelo de Paulo no tocante aos campos de trabalho de pioneiro atraiu para


eles grande número de novos obreiros, evitando provavelmente um segundo
desapontamento. Por isso atraiu a Timóteo, (2Tm. 1:5; 3.14–15).

Timóteo, era estimado pela comunidade, talvez por sua mãe e avó serem
judias. Após concluir seu trabalho ao lado de Paulo, Timóteo seguiu para a
Macedônia e juntou-se a Lucas (Atos 16.10).

71
ALGUMAS CIDADES DA ÉPOCA DE PAULO
Atenas

A cidade de Atenas foi reconstruída por Júlio César em 46 a. C. Metrópole da


antiga Ática hoje capital da Grécia. Foi durante séculos, um centro de cultura
literária. Era uma cidade acentuadamente religiosa, com muitos templos sagrados e
construções. No tempo de Paulo, Atenas era uma cidade livre, ou seja, isenta de
pagamento de impostos. Não há referência histórica à igreja fundada por Paulo, mas
Dionísio, areopagita, convertido na pregação do apóstolo, no Areópago, a ele aderiu
e nele acreditou (Atos 17.34).

Éfeso

Cidade da Ásia Menor, às margens do rio Caístro. Era uma cidade livre,
centro da administração romana, habitada também por muitos judeus. A cidade de
Éfeso era muito famosa pelo templo de Artemis (Diana), riquíssimo em tesouro e
obras de arte. No livro de Atos é mencionado duas visitas de Paulo a Éfeso: Na
primeira, Paulo deixou Priscila e Áquila (o casal tinha sido obrigado a deixar Roma,
eles trabalhavam na confecção de tendas). A eles depois se juntaram a Apolo. Na
segunda vez, Paulo permaneceu ali por dois anos, acompanhando o ministério. Diz
a tradição que o apóstolo João ali viveu alguns anos antes de sua ida para Patmos.

Corinto

Esta cidade possuía dois portos, (o de Cencreia, no oriente, e o de Léquio, no


ocidente). Era uma cidade grega. Ali se realizavam os jogos ístmicos. Sua
população era cosmopolita. Foi grande centro comercial e terra de grande luxo e
licenciosidade devido à adoração à deusa Vênus, cujos cultos eram acompanhados
de ritos obscenos.

Em Corinto, Paulo escreveu a epístola aos romanos e as duas cartas aos


Tessalonicenses. A igreja de Corinto era composta de gentios e judeus
conservadores. Houve uma época em que em Corinto, no templo de Afrodite
alojavam cerca de mil sacerdotisas que eram prostitutas profissionais. Havia uma

72
mistura de ideologias e desequilíbrio socioeconômico em Corinto. Ou seja, a riqueza
e a miséria, a beleza e a desgraça, a cultura e a pobreza era a realidade de Corinto.

Depois de deixar Atenas, Paulo viajou cerca de 45 quilômetros para oeste a


procura da cidade de Corinto. Não era este um lugar muito próprio e agradável para
pregar o Evangelho. Corinto era conhecida entre todas as cidades do império
romano como sendo a mais corrupta. O próprio termo “corintianizar” passou a
significar levar uma vida terrivelmente imoral.

Felizmente Paulo encontrou um lugar decente para morar. Encontrou o apoio


hospitaleiro de Áquila e sua esposa Priscila.

Descobriu que pregar em Corinto era algo desanimador. Como podia começar
o seu trabalho num lugar cheio de lama moral, lugar onde não se conhecia o
respeito às coisas de Deus?

Diz a Palavra de Deus que Paulo duvidou de sua própria sabedoria em


procurar estabelecer uma igreja com o material que ali se encontrava. Como Paulo
estava atônito, sem saber o que fazer Deus lhe deu uma visão, e dizia: “Não temas;
antes fale e não te cales... pois tenho muito povo nesta cidade”. Paulo vendo que
mais importa obedecer a Deus que aos homens e determinado em realizar a sua
missão, aceitou a mensagem da visão e permaneceu em Corinto cerca de um ano e
meio.

Em vez de enfrentar argumento com argumento, lógica com lógica, que


certamente levava a infindáveis discussões, Paulo decidiu contar com toda a
simplicidade, a história de como Jesus morreu para salvar as pessoas. Como é
natural, nesse tempo o próprio pensamento de crucifixão fazia as pessoas torcerem
o nariz com desinteresse. A cruz era o instrumento romano de tortura para os piores
criminosos. Mas até onde lhe dizia respeito, a cruz era para Paulo o único meio de
salvação.

Em outras palavras, para Paulo a cruz significava que o pecador finalmente


havia encontrado a oportunidade de perdão. O pecador agora estava livre da
maldição do pecado. E isso foi exatamente onde estava a chave do sucesso de
Paulo, ele jamais perdia de vista o tema central na pregação das "Boas Novas."

73
SÍNTESE DAS ATIVIDADES DE PAULO
Resumo e síntese da corrida de Paulo e de sua vida compromissada com a
verdade de Cristo. Destacaremos um pouco do comportamento e das atitudes do
referido apóstolo em sua vida missionária:

1. A força motora de Paulo (Fil. 1.12–26);

2. A animação de Paulo aos irmãos em Cristo (Atos 1.27–30);

3. Tinha Jesus como modelo (Fil. 2.1–11);

4. Tinha compromisso com o serviço (Fil. 2.12–18);

5. Combatia o legalismo (Fil. 3.1–4);

6. Deu um testemunho pessoal (Fil. 3.1–16);

7. Paulo era um homem alegre e altruísta, detestava o negativismo (Fil. 4.4–7);

8. Senso de unidade. (Fil. 4.2–3);

9. No fim do seu ministério o grande apóstolo, o apóstolo dos gentios pôde


dizer: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé”. Tinha
certeza do dever cumprido e certeza da recompensa ao completar: “Desde
agora a coroa da justiça me está guardada”. (2Tim. 4.7 e 8).

74
EXPLICANDO MELHOR COM A PESQUISA
Para enriquecer seus conhecimentos sobre os assuntos discutidos neste
material de estudo, recomendamos que leia a matéria da Revista Ultimato, a
Edição de n° 340: O Espírito Santo em movimento nos Atos dos Apóstolos. Leia
também os artigos: Redescobrir os Atos dos Apóstolos. Os “sumários” da vida
cristã nos Atos dos Apóstolos: exegese bíblica e hermenêutica agostiniana

Guia de Estudo: Após a leitura dos textos, elabore um artigo de opinião expondo os
aspectos semelhantes e diferenças entre os textos lidos e qual a importância dos
mesmos para o estudo do Novo Testamento.

75
Leitura obrigatória

A série de Comentários do Novo Testamento foi preparada


para o estudante da Bíblia que deseja profundidade e clareza.
Simon Kistemaker consegue um saudável equilíbrio entre
erudição e preocupação prática. Em Atos, o autor explica as
ações e as circunstâncias de modo detalhado, bem como as
implicações para os descendentes daqueles cristãos
primitivos. Cada volume apresenta introdução e esboço, uma
tradução crítica, comentário e aplicação.

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento: Atos. São Paulo:


Cultura Cristã, 2006.

Guia de Estudo: Elabore um texto com base na leitura da obra referida fazendo
uma comparação com os assuntos estudados, bem como a contribuição significativa
para o estudo do livro de Atos na sua percepção.

76
Pesquisando na internet

Agora é a sua vez!

Para continuar aprofundando seus conhecimentos, convido para fazer uma


pesquisa na internet sobre o panorama do Livro de Atos.

Como sugestão indicamos o seguinte link:

https://bibliotecabiblica.blogspot.com/2009/07/panorama-do-livro-de-atos-dos-
apostolos.html

Guia de Estudo: Após a pesquisa elabore um texto de opinião com base em suas
principais descobertas dando ênfase às reflexões que mais lhe chamaram atenção.
Compartilhe com seus colegas na sala virtual.

77
Saiba mais

Sugerimos que leia, com atenção, uma simulação de Entrevista com o


Apóstolo Paulo no Encontro bíblico de formação para as Comunidades Diocese de
Lins, SP. O objetivo desta reflexão é abrir uma porta de entrada para a vida do
apóstolo Paulo e, assim, oferecer uma chave de leitura para as cartas que ele
escreveu. É uma porta em forma de entrevista que procura fornecer a ficha completa
do apóstolo. São realizadas 41 perguntas a Paulo e as respostas são encontradas
em suas cartas através da leitura em Atos dos Apóstolos e as informações que
temos daqueles primeiros séculos. Uma dinâmica criativa para facilitar a
compreensão e confirmar a impressionante riqueza do ministério do apóstolo que
não atravessou apenas cidades para espalhar as boas novas, mas um continente.

Guia de Estudo: A partir das respostas organize uma linha do tempo sobre a vida
do apóstolo Paulo desde a conversão até seu combate final. Em seguida organize
em forma de portfólio; fique à vontade para ilustrar. Compartilhe as ideias com seus
colegas na sala virtual.

78
VENDO COM OS OLHOS DE VER

Bem vindos à vida do apóstolo Paulo, o maior missionário, teólogo e escritor


de todo o Novo Testamento. Paulo foi um homem que, semelhante a um meteoro
brilhante, lampejou repentinamente como alguém no meio de uma crise religiosa,
resolvida pela conversão a Jesus Cristo. Desapareceu por muitos anos durante sua
preparação e treinamento. Reapareceu no papel de estadista missionário, e durante
algum tempo podemos acompanhar seus movimentos no primeiro século. Antes de
sua morte, ele faz brilhar a luz de Cristo em toda a sua força e esplendor, até o dia
em que foi decapitado.

Partindo para a proposta da obra fílmica recomendamos que assista aos


filmes e vídeos:

Sugestão de Filme 1: História do Apóstolo Paulo (Shaul)

Sugestão de Filme 2: ATOS DOS APÓSTOLOS.

79
Sugestão de Vídeo 3: Programa Evidências: A vida do Apóstolo Paulo.

Sugestão de Vídeo 4: Prof. Dr. Wilson Paroschi. O Livro de Atos. Sábado


30/06/2018. Unasp

https://www.youtube.com/watch?v=jyKI-4OUtm0

Sugestão de Vídeo 5. Prof. Dr. Wilson Paroschi. Comentários sobre o Livro de


Atos.

https://www.youtube.com/watch?v=OG6AF0F-
F2o&list=PLcM6Fxk6sPmfEnWdE3NNAcoXUaibgz8i6&index=4

Guia de Estudo:

Escolha um dos filmes em seguida elabore uma síntese destacando os


aspectos que mais lhe chamaram atenção e por quê?

80
Revisando
Como vimos, o Livro de Atos é um livro extraordinário por seu conteúdo e
função que ocupa no cânon do Novo testamento. Lucas, seu autor, tem alguns
propósitos dos quais se destaca o de produzir uma obra que contribua com a
formação espiritual e teológica de Teófilo, bem como para todos que viessem a se
converter ao Evangelho de Cristo. É um livro histórico edificante que cumpre seu
propósito: dá aos que creem, informações preciosas para que aceitem a fé cristã.
Surge com convicções bem formadas, conhecendo como as coisas ocorreram desde
o princípio. Atos propõe uma espécie de história da Igreja primitiva, mas é evidente
que não se trata de uma história completa, porém resumida, suficiente para que os
que creem tenham certeza, convicção que a fé cristã não se trata de uma farsa, uma
invencionice, mas um movimento de origem divina.

Na primeira unidade de estudo tratamos de questões com teor mais crítico


como autoria, data, local, teologia, estilo, etc. Foi um capítulo onde o estudante teve
sua iniciação ao estudo crítico do livro. Na segunda unidade tratamos de fornecer ao
leitor de Atos chaves interpretativas importantíssimas para a boa compreensão do
livro. E no último capítulo tratamos do conteúdo, das histórias e fatos mais
relevantes.

81
Autoavaliação
1. Que evidências podem ser dadas para autoria de Lucas para o livro de Atos?

2. Existe um propósito apologético no livro de Atos? Se tiver qual seria?

3. Que argumentos são usados para uma data mais tardia para o livro de Atos?

4. Que tema fundamental foi tratado no primeiro Concílio de Jerusalém?

5. Fale sobre o ministério de Pedro destacando o tema acerca da pregação aos


judeus e gentios.

6. Quem foi Paulo e qual a importância do seu ministério para a evangelização


dos gentios?

7. Como é descrita a relação de Paulo com os apóstolos e a Igreja de


Jerusalém?

8. Existe teologia no livro de Atos? Justifique sua resposta.

9. Como o livro de Atos pode ser usado para desfazer a falsa ideia de que Paulo
distorceu o Evangelho de Jesus e que não era aceito pelos outros apóstolos?

10. Em sua opinião qual o propósito do livro de Atos?

82
Bibliografia

BRUCE, Frederick Fyvie. O livro de Atos. Wm.B. Eerdmans Publishing, 1988.

DUNNET, Walter M.; DESTEFANI, Bruno G. (Trad.). Panorama do Novo


Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2005.

FABRIS, Rinaldo. Os Atos dos Apóstolos. São Paulo: Loyola, 1991.

FEE, Gordon D.; STUART, Douglas. Entendes o que lês? um guia para entender a
Bíblia com o auxílio da exegese e da hermenêutica. 3.ed. São Paulo: Vida Nova,
2011.

IRWIN, Doris; KUNZ, Marilyn; SCHELL, Catherine. De Jerusalém a Roma: estudos


para pequenos grupos: atos dos apóstolos. São Paulo: Núcleo Abu.s.s.

JENSEN, Irving L. Atos: estudo bíblico. São Paulo: Mundo Cristão, 1984.

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento: Atos. São Paulo: Cultura


Cristã, 2006.

KUMMEL, Werner Georg. Introdução ao Novo Testamento. 3.ed. São Paulo: Paulus,
2004.

MARSHALL, I.Howard. Atos dos apóstolos. São Paulo: Mundo Cristão, 1984.

MORSLEY, Richard A. SILBERMAN, Niel Asher. A mensagem e o reino: como


Jesus e Paulo deram início a uma revolução e transformação do mundo antigo. São
Paulo: Loyola, 2000.

RICHARD, Pablo. O Movimento de Jesus Depois da Ressurreição: Uma


interpretação libertadora dos Atos dos Apóstolos. São Paulo: Paulinas, 2001.

WITHERINGTON III, Bem; SILVA, Lucila Marques Pereira da (Trad.) História e


histórias do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2005.

83
Bibliografia Web

O Espírito Santo em movimento nos Atos dos Apóstolos. Revista Ultimato,


XLVI, 340, Janeiro/Fevereiro. Disponível em:
http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/340/o-espirito-santo-em-movimento-nos-
atos-dos-apostolos. Acesso em 27/04/2017

ANTONIAZZI, Alberto. Redescobrir os Atos dos Apóstolos. Disponível em:


http://www.vidapastoral.com.br/artigos/temas-biblicos/redescobrir-os-atos-dos-
apostolos/. Acesso em 27/04/2017

JUNIOR, Sanson. Revista Eletrônica Espaço Teológico ISSN 2177-952X. Vol. 9,


n. 15, jan/jun, 2015, p. 49-70. Disponível em
https://revistas.pucsp.br//index.php/reveleteo/article/view/23761/17034. Acesso em
27/04/2017

Vídeos
Vídeo 1: Filme História do Apóstolo Paulo (Shaul). Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=cONQs1DmKPw

Vídeo 2: Filme Atos dos Apóstolos Dublado Filme Completo – Raridade. Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=Or1qIyQgVuw&t=5s

Vídeo 3: Evidências - A vida do Apóstolo Paulo. Disponível em


https://www.youtube.com/watch?v=ZeiYFnGngpk

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