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A CARTA DE PAULO AOS FILIPENSES

Presbitério de Jundiaí/SP - Julho e Agosto de 2020

ABNÉRIO CABRAL
Oito pontos que devemos observar na carta do apóstolo Paulo à igreja de Filipos.
Primeiro
Estou certo de que aquele que começou boa obra em vocês há de completá-la até o Dia de Cristo
Jesus. [...] ...para que vocês aprovem as coisas excelentes e sejam sinceros e inculpáveis para o Dia
de Cristo (Filipenses 1.6,10)
Nos primeiros dez versículos do capítulo 1, Paulo mostra que o Senhor começou uma obra em nós
com a finalidade de nos preparar para o “Dia de Cristo” ou o “Dia do Senhor”, conforme o profeta Joel e
o apóstolo Pedro se referiram. Hoje estamos vivendo o final dos tempos, os últimos dias da história da
humanidade, e precisamos nos preparar para este grande Dia da volta do nosso Senhor Jesus Cristo.
Segundo
Paulo enfatiza que nós estamos “em Cristo”. Jesus é o Messias, o Ungido de Deus, aquele que
morreu para nos salvar. Então nós não estamos simplesmente em um homem chamado Jesus, mas
naquele que Deus tornou “Senhor e Cristo”:
Então Jesus perguntou: E vocês, quem dizem que eu sou? Respondendo, Pedro disse: O Cristo de
Deus. (Lc 9.20)
Portanto, toda a casa de Israel esteja absolutamente certa de que a este Jesus, que vocês
crucificaram, Deus o fez Senhor e Cristo. (At 2.36)
Não estou diminuindo o nome de Jesus, mas dizendo que ele, como homem, se transformou no
Cristo mediante seu sofrimento e morte em nosso lugar, cumprindo assim a vontade de Deus.
Terceiro
Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro. (Fp 1.21)
Pedro, conforme o texto de Atos 2.36 acima, colocou uma grande responsabilidade sobre os
judeus e gentios que estavam em Jerusalém naqueles dias, convocando-os a reconhecer e servir o
Cristo. Eu e você, que somos a Igreja do Senhor, fomos chamados para participar dos sofrimentos de
Cristo.
Agora me alegro nos meus sofrimentos por vós e completo no meu corpo o que resta das aflições
de Cristo, em benefício do seu Corpo, que é a Igreja... (Cl 1.24)
Viver Cristo é uma imensa responsabilidade, pois implica em sofrimento, abnegação, mortificação
da carne, do ego:
Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora
vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.
(Gl 2.20)
Quarto
O apóstolo Pedro disse que um dos pré-requisitos para nos prepararmos para o Dia do Senhor é

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termos um amor ardente uns pelos outros:
O fim de todas as coisas está próximo; portanto, sejam criteriosos e sóbrios para poderem orar.
Acima de tudo, porém, tenham muito amor uns para com os outros, porque o amor cobre a
multidão de pecados. (1 Pd 4.7,8)
Isso sempre fez parte das orientações apostólicas, pois o próprio Jesus lhes ensinou essa verdade:
“Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.” (Jo 13.35).
Pois Deus é testemunha da saudade que tenho de todos vocês, no profundo afeto de Cristo Jesus. E
também faço esta oração: que o amor de vocês aumente mais e mais em conhecimento e toda a
percepção, para que vocês aprovem as coisas excelentes e sejam sinceros e inculpáveis para o Dia
de Cristo, cheios do fruto de justiça que vem por meio de Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus.
(Fp 1.8-11)
Paulo, reforçando as palavras de Pedro e de Jesus, enfatiza a necessidade de termos um amor que
“aumente mais e mais” nesses tempos do fim.
Quinto
Estou cercado pelos dois lados, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é
incomparavelmente melhor. Mas, por causa de vocês, é mais necessário que eu continue a viver. E,
convencido disto, estou certo de que ficarei e permanecerei com todos vocês, para que progridam
e tenham alegria na fé. Desse modo, vocês terão mais motivo para se gloriarem em Cristo Jesus
por minha causa, pela minha presença, de novo, no meio de vocês. (Fp 1.23-26)
Existe uma preocupação apostólica quanto às escolhas que fazemos. Enquanto estamos vivos,
temos a oportunidade e responsabilidade de desenvolver nosso amor pelos irmãos. Paulo amava tanto
aqueles irmãos que manifestou seu desejo de permanecer vivo por causa deles, sacrificando seu desejo
de morrer e estar com o Senhor. Jesus fez o inverso de Paulo. Ele poderia ter decidido não morrer, mas
o fez por amor a nós e ao Pai (Jo 3.16). Portanto, tanto Jesus quanto Paulo decidiram pela vontade de
Deus. E a vontade de Deus para nós é que experimentemos o sofrimento e a morte por amor a Cristo e
aos irmãos.
Todos nós temos o mesmo depósito interior que Paulo tinha; todos somos importantes para o
plano de Deus se cumprir na terra. Sendo assim, precisamos permitir que o amor de Deus que foi
derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm 5.5) transborde para os irmãos, seja conhecido
por todos.
Paulo fez inúmeras referências sobre estar tomado pela vontade de Cristo, inteiramente revestido
do perfume de Jesus (2 Co 2.15). Em seu nascimento, quando recebeu a visita dos magos do Oriente,
Jesus recebeu três presentes. Um deles era a mirra, um óleo muito cheiroso, porém, usado como unção
para morte – e tanto Jesus quanto Paulo estavam ungidos com esse perfume.
Nos dias difíceis que estamos vivendo, como podemos como identificar os falsos cristos, os falsos
profetas que vivem entre nós? Existe uma chave na Palavra para discernirmos isso: conhecer bem o que
é verdadeiro! O anticristo trará promessas de cura para os governos e nações doentes, fará sinais e
prodígios para enganar a todos, trará uma paz mundial momentânea. Porém, o nosso Senhor e Cristo irá
travar uma guerra contra as nações, irá trazer juízo e justiça sobre os poderosos da terra e estabelecer o
seu reino eterno. Os falsos cristos e profetas vão oferecer uma falsa unção, uma falsa alegria, e por isso
precisamos atentar ao que a Palavra de Deus está nos ensinando, à maneira correta de nos prepararmos
para o Dia da volta de Cristo.

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Existem muitas diferenças doutrinárias dentro do Corpo de Cristo. Alguns pensam que a Igreja vai
reinar na Terra sem a presença física de Jesus. Isso é impossível, pois as nações estão corrompidas, os
governos pertencem ao Diabo. Nossa função como Igreja é orar e abençoar os governos, mas o nosso
olhar deve estar no governo de Deus; nossa expectativa não está em homens, mas naquele que irá
descer dos céus – e esse dia está se aproximando! Aleluia! “Maranata, ora vem Senhor Jesus!”
Sexto
Dou graças pela maneira como vocês têm participado na proclamação do evangelho, desde o
primeiro dia até agora. Estou certo de que aquele que começou boa obra em vocês há de
completá-la até o Dia de Cristo Jesus. (Fp 1.5,6)
Os filipenses participavam “na proclamação do evangelho” e faziam isso vivendo, anunciando,
demonstrando o evangelho. A Bíblia fala de um povo bem ajustado nos últimos tempos, cooperando
com a obra de Cristo na terra (1 Co 3.9).
Sétimo
É verdade que alguns proclamam Cristo por inveja e rivalidade, mas outros o fazem de boa
vontade. Estes o fazem por amor, sabendo que estou incumbido da defesa do evangelho; aqueles,
porém, pregam Cristo por interesse pessoal, não de forma sincera, pensando que assim podem
aumentar meu sofrimento na prisão. (Fp 1.15-17)
Muitos estavam pregando o evangelho para discórdia, ou seja, pregando um evangelho diferente
do que haviam recebido, distorcendo ou negando o que os apóstolos ensinavam. Paulo disse:
Acima de tudo, vivam de modo digno do evangelho de Cristo, para que, ou indo até aí para vê-los
ou estando ausente, eu ouça a respeito de vocês que estão firmes em um só espírito, como uma só
alma, lutando juntos pela fé do evangelho; e que em nada se sentem intimidados pelos
adversários. Pois o que para eles é prova evidente de perdição para vocês é sinal de salvação, e isto
da parte de Deus. (Fp 1.27-28)
Portanto, o espírito do Evangelho é caminharmos em “um só espírito, como uma só alma, lutando
justos pela fé do evangelho”, ou seja, caminharmos em Unidade.
Porque vocês receberam a graça de sofrer por Cristo, e não somente de crer nele, pois vocês têm o
mesmo combate que viram em mim e que agora estão ouvindo que continuo a ter. (Fp 1.29,30)
O evangelho aponta não somente para a salvação, mas também para um estilo de vida sacrificial,
de mortificação diária. Somos chamados para crer em Cristo, como também para sofrer por ele. Isso é
um grande privilégio, chamado e responsabilidade como portadores do evangelho, da Palavra de Deus.
Paulo fala sobre os “adversários”, que são aqueles que negam o sofrimento, que afirmam que isso
foi só para Jesus e não se aplica a nós hoje. Quem ensina isso é um falso profeta, um inimigo da cruz de
Cristo, pois o falso evangelho nega o sofrimento. Nós, porém, recebemos “a graça de sofrer por Cristo, e
não somente de crer nele”. Assim, devemos permitir que essa unção nos encha, nos leve ao
arrependimento, à abnegação, à alegria de sofrer por Cristo Jesus.
Oitavo
Dou graças ao meu Deus por tudo o que lembro de vocês, fazendo sempre, com alegria, súplicas
por todos vocês, em todas as minhas orações. [...] Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é
lucro. (Fp 1.3,4,21)
Vivemos e morremos por Cristo, e fazemos isso com alegria! Paulo não tinha dúvidas que sofrer

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por Cristo era um privilégio, uma honra, uma bem-aventurança. Infelizmente, muitos crentes se
ofendem e se revoltam quando lhes é ensinado sobre o sofrimento por amor a Cristo. Paulo foi preso,
açoitado, torturado inúmeras vezes por causa do evangelho, mas nunca reclamou ou se escandalizou
por isso, porque ele sabia que servir a Cristo incluía essas coisas.
Eu sempre leio e sou impactado pelas histórias dos irmãos que são perseguidos, torturados e
mortos nos países avessos ao evangelho. São testemunhos tremendos de pessoas que, mesmo em face
da morte, se mantêm alegres e cheios de fé, pois sua esperança não está neste mundo, mas no céu.
Querido irmão(ã): quero lhe exortar, lhe animar a glorificar a Deus, a exaltar o nome do Senhor!
Eu não sei qual é a situação que você está vivendo hoje, mas saiba que existe uma alegria indizível,
inexplicável que você pode provar mesmo diante dos seus sofrimentos. Talvez você ainda não tenha
esse nível de alegria, mas creia no que está escrito na Palavra de Deus e busque essa revelação em seu
coração.
Não negue o espírito do evangelho, não negue o poder da crucificação de Jesus. Se você quer
ressuscitar, então precisará morrer. Se você quer o prêmio final, então precisará passar por todas as
etapas desta corrida que envolve abnegação, sacrifício, sofrimento por Cristo. “Porque para mim o viver
é Cristo, e o morrer é lucro.”

MAURÍCIO NIELSEN
De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus... (Fp 2.5)
A palavra “sentimento” neste texto não representa apenas um pensamento, mas caminha junto
com uma atitude, algo concreto e não abstrato. Vemos essa atitude de Jesus nos versos seguintes:
...que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus (v. 6)
A tradução NVT da Bíblia diz:
Embora sendo Deus, não considerou que ser igual a Deus fosse algo a que devesse se apegar.
O apóstolo João disse exatamente isso em seu evangelho:
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. (Jo 1.1)
Mesmo sendo Deus, Jesus não se apoderou dessa prerrogativa. Ele abriu mão dessa posição para
que a glória fosse somente do Pai.
Mas fez a si mesmo de nenhuma reputação, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante
aos homens; (v. 7)
Conforme lemos em João 3.16, o Pai deu seu único Filho ao mundo e este aceitou esse encargo,
esvaziando-se de si mesmo, conforme lemos em João 6.38:
Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.
Vamos imaginar esta cena: o Pai disse ao Filho: “Vai, desce à Terra!”. O Filho poderia ter dito
“não”, pois ele não era obrigado a ir. Porém, ele se esvaziou da sua vontade e fez a vontade do Pai, pois
considerou a mim e a você. O amor foi o cerne da sua decisão. Assim como o Pai, o Filho amou o mundo
de tal maneira que se deu por nós. E, para concretizar esse amor, ele se esvaziou da sua forma divina e
se encarnou como homem.
E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de

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cruz. (v. 8)
O escritor C. S. Lewis disse que “a verdadeira humildade não é pensar menos de si mesmo, mas
pensar menos em si mesmo”. Jesus fez isso: ele pensou menos em si mesmo e foi obediente até a
morte. Paulo disse:
Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: “Maldito
todo aquele que for pendurado no madeiro.” (Gl 3.13)
Jesus se esvaziou de sua forma divina e se humilhou assumindo a forma humana, fazendo-se
maldito por amor a nós. Os homens sempre almejam subir na vida, mas a saga de Jesus foi totalmente
contrária a isso: ele desceu por amor ao Pai, para glorificar e satisfazer o Pai. Jesus derramou na cruz seu
sangue precioso por amor a nós, reconciliando-nos com Deus, resgatando-nos das trevas para a luz (Cl
1.13), cancelando o nosso escrito de dívidas (Cl 2.14) e tornando-nos filhos adotivos de Deus (Jo
1.12,13). E, porque ele abdicou de sua forma divina, agora podemos chamar Deus de “Pai” (Rm 8.15) e
nos tornamos coerdeiros de Deus juntamente com Jesus (Rm 8.17).
Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome
(v.9)
O próprio Senhor Jesus cumpriu essa palavra em si mesmo ao afirmar: “E o que a si mesmo se
exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado.” (Mt 23.12)
Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da
terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai. (vs. 10,11)
Aquele que não teve por usurpação ser igual a Deus, antes se humilhou assumindo forma humana,
sendo obediente até a morte de cruz, tornando-se maldito por amor a Deus e a nós, agora está exaltado
acima de tudo e de todos, e um dia todos confessarão que ele é o Senhor. É esse mesmo sentimento ou
atitude que houve em Cristo Jesus que Paulo nos ensina a ter.

TONY FELÍCIO
Em Filipenses 2, Paulo exalta a Cristo e mostra uma característica muito forte de Jesus, que é o
quanto ele abre mão de si mesmo em favor de outros. Isso completa o que aprendemos em Colossenses
sobre o mistério de Cristo. Quando Paulo explicou a ligação íntima que existe entre Cristo e a Igreja,
entendemos que, mesmo ficando maravilhados com Jesus, não podemos abrir mão do seu Corpo, pois
um faz parte do outro – e esse é o mistério que nos foi revelado.
No capítulo 1, Paulo descreveu um dilema que ele tinha:
Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é
ainda muito melhor. Mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne. E, tendo esta
confiança, sei que ficarei, e permanecerei com todos vós para proveito vosso e gozo da fé (vs. 23-
25).
Para ele, estar com Cristo seria muito melhor, porém, já explicando o que iria falar no capítulo 2,
ele diz que, pensando nos irmãos, na Igreja, entendia que era melhor ficar na terra. O dilema é que é
impossível separar Cristo da Igreja, pois os dois fazem parte de uma mesma pessoa. É justamente essa
vida prática que ele descreveu no capítulo 2 de Filipenses. Ao mesmo tempo que vemos Paulo exaltando
Cristo o tempo todo, também o vemos ressaltando a importância dos irmãos, da Igreja.
A igreja em Filipos tinha algumas características muito boas:

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Portanto, se há algum conforto em Cristo, se alguma consolação de amor, se alguma comunhão no
Espírito, se alguns entranháveis afetos e compaixões, completai o meu gozo, para que sintais o
mesmo, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma coisa. (Fp 2.1,2)
Tudo isso tem a ver com o relacionamento entre irmãos: exortação, consolo, comunhão, afeto,
compaixão. “Entranháveis” se refere a “entranhas”, considerada naquela época o centro da alma
humana, onde as dores mais profundas são sentidas (hoje fala-se muito de “coração”). Paulo dizia:
“Irmãos, vocês se amam a ponto de sentir isso profundamente, no mais íntimo de seu ser? Não algo
superficial, de palavras, mas algo que existe no cerne de suas vidas?”
“Completai o meu gozo, para que sintais o mesmo”. Paulo não estava pensando em si mesmo, mas
desejando que aqueles irmãos experimentassem essa mesma alegria. No capítulo todo ele enfatiza a
necessidade de eles fazerem algo em favor dos outros, e isso só seria possível se tivessem “o mesmo
amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma coisa.” Ou seja, o que iria completar sua alegria era se os
pensamentos, o amor e os sentimentos de um também fossem os mesmos do outro.
Quando o apóstolo diz “unidos de alma”, que segundo a minha pesquisa só é encontrada neste
capítulo da Bíblia, ele está dizendo que os irmãos precisam ser cópias uns dos outros, de maneira que
quando alguém os visse concluiria que eram irmãos gêmeos, que vieram do mesmo pai, porque
pensavam, amavam e sentiam da mesma forma. Isso é um nível maravilhoso de unidade!
O desejo de Paulo de ensinar essa unidade como família de Deus se baseava na revelação que ele
teve do mistério de Cristo, da ligação entre Cristo e a Igreja. Ele foi marcado por isso, e eu espero que
nós também sejamos definitivamente marcados com essa mesma revelação.
Na sua conversão, ele ouviu a voz do Senhor lhe dizer: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues” (At
9.5), ou seja, Jesus estava se identificando com a Igreja que Paulo perseguia. Ao perguntar o que deveria
fazer o Senhor lhe respondeu: “Levanta-te, e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer.”
(v. 6). Veja que ao mesmo tempo que Jesus apareceu a Saulo ele também o colocou diante da Igreja.
Jesus nos coloca diante dele mesmo, porque ele é o centro de todas as coisas, ele é o Deus que se
revela a nós. Mas, junto com isso, ele também nos coloca uns diante dos outros. Essa é a característica
de Deus: não para si mesmo, mas para o outro. O Pai trabalhou para dar as nações ao Filho; o Filho
trabalhou para devolver as nações ao Pai; o Espírito Santo está trabalhando para concluir a obra do Filho
e realizar o propósito do Pai. Essa é a “dança” da Trindade, onde um prefere o outro e nos inclui, nos
chama para termos “o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus”, para nos esvaziarmos de nós
mesmos e prestarmos a máxima atenção aos outros.
Assim como Jesus era unido de alma com o Pai, tinha o mesmo sentimento e pensamento com o
Pai, assim também nós fomos chamados a nos unir a Ele nesse estilo de vida focado no outro e não em
nós mesmos.
O escritor e teólogo Dietrich Bonhoeffer disse: “Desde a ascensão de Cristo, o lugar que ele
ocupava no mundo passou a ser ocupado por seu povo, a Igreja. A Igreja é a própria presença de Cristo.”
Uma coisa é concebermos a Igreja como um grupo de amigos, onde uma hora eu estou junto e outra
hora não estou, dependendo da conveniência para mim. Outra coisa é a concebermos como ela é na sua
real identidade: Cristo diante de nós! Somente dessa forma viveremos para completar a alegria do
nosso Senhor.
Em nossos momentos de comunhão gostamos de ler o Salmo 133.1: “Oh! Quão bom e quão suave
é que os irmãos vivam em união.” Porém, eu entendo que o primeiro que diz isso é o próprio Deus. É o
Pai que se alegra em olhar para os seus filhos e ver que eles estão buscando andar em unidade. Paulo,

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então, expressa seu desejo que a igreja de Filipos tenha essa unidade profunda e lhes apresenta Jesus
como o padrão para isso.
Há uma coisa que descreve de forma bem prática o que Jesus fez por nós:
Não façam nada por interesse pessoal ou vaidade, mas por humildade, cada um considerando os
outros superiores a si mesmo, não tendo em vista somente os seus próprios interesses, mas
também os interesses dos outros. (2.3,4)
Em outras palavras: “Não viva sua vida voltada para os seus interesses; não prenda sua atenção
apenas àquilo que é seu, mas trabalhe para ocupar sua vida com os interesses dos irmãos.” Porém, isso
não significa que eu deva viver e trabalhar apenas para que a vontade deles seja feita!
Para entendermos isso, Paulo cita dois homens que exemplificaram com suas vidas a forma como
Jesus viveu. O primeiro foi Timóteo:
Espero no Senhor Jesus enviar-lhes Timóteo o mais breve possível, a fim de que eu me sinta
animado também ao receber notícias de vocês. Porque não tenho ninguém com esse mesmo
sentimento e que se preocupe tão sinceramente por vocês. Todos os outros buscam os seus
próprios interesses e não os de Jesus Cristo. (2.19-21)
Timóteo era alguém que vivia na prática o que Jesus ensinou e praticou, alguém que tinha o
mesmo sentimento de Paulo, que pensava o mesmo que ele, que amava a igreja da mesma forma que
ele, que se envolvia com os irmãos semelhantemente a ele. “Todos os outros buscam os seus próprios
interesses e não os de Jesus Cristo.” Concluímos, então, que se envolver com os interesses dos irmãos
significa conhecer os interesses de Cristo para eles e trabalhar para promover isso na vida deles. Ora, se
eu me envolvo com meu irmão apenas para fazer a vontade dele, o que vai acontecer se a vontade dele
estiver errada e não cooperar para que a vontade de Deus se cumpra?
Jesus se esvaziou de si mesmo porque ele tinha o mesmo interesse do Pai pelas pessoas. Ele
morreu na cruz porque o Pai amou o mundo. Ele se uniu ao Pai para atrair as pessoas. Então, o que
Paulo quer dizer é: “Se unam a Cristo para amar as pessoas e para edificar a Igreja pela qual Jesus viveu
e morreu.” Portanto, vamos sair de nós mesmos e vivermos uma vida em favor dos outros.
O segundo homem que Paulo apresentou e que vivia dessa forma foi Epafrodito:
No entanto, julguei necessário enviar-lhes Epafrodito, meu irmão, cooperador e companheiro de
lutas, e, da parte de vocês, mensageiro e auxiliar nas minhas necessidades. (v. 25)
Esse homem se juntou a Paulo nos interesses de Cristo pela Igreja, trabalhou com ele por ela como
“cooperador e companheiro de lutas”. É maravilhoso quando todos nós trabalhamos para construir
relacionamentos assim. Se somos irmãos, viemos do mesmo Pai, temos a mesma gênesis, e isso nos faz
ser UM. Epafrodito era um “auxiliar” nas necessidades de Paulo, era alguém interessado na igreja de
Filipos assim como Paulo era.
Ele tinha muita saudade de todos vocês e estava angustiado porque vocês ficaram sabendo que ele
adoeceu. De fato, adoeceu e estava à beira da morte. Mas Deus se compadeceu dele — e não
somente dele, mas também de mim —, para que eu não tivesse tristeza sobre tristeza. Por isso,
tanto mais me apresso em mandá-lo, para que, vendo-o novamente, vocês fiquem alegres e eu
tenha menos tristeza. (vs. 26-28)
Lemos nesses versos um trocadilho maravilhoso de afetos. Epafrodito não estava preocupado com
sua própria doença ou lamentando seu sofrimento, mas seu interesse era: “Eu preciso estar na igreja de
Filipos para que os irmãos me vejam e parem de ficar tristes por minha causa.”

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Nesse capítulo 2, o tempo todo vemos um se interessando em promover o bem do outro. O
apóstolo Paulo queria ver aqueles irmãos, queria mandar Timóteo porque esse tinha o mesmo coração
que ele, queria mandar Epafrodito porque esse queria alegrar os irmãos que ficaram tristes devido à sua
doença. Isso é “entranháveis afetos” de amor, comunhão e misericórdia! Timóteo e Epafrodito viveram
na prática o que Jesus fez por nós, conforme lemos nos versos 5 a 8.
Recebam-no, pois, no Senhor, com toda a alegria, e honrem sempre os que são como ele. Porque,
por causa da obra de Cristo, ele quase morreu, arriscando a própria vida, para suprir a ajuda que
vocês não podiam me dar pessoalmente. (vs. 29,30)
Como devemos receber as pessoas no contexto do nosso dia a dia, no nosso coração, na nossa
casa? Primeiro, com alegria e não tristeza. Não dá para receber alguém dizendo: “Ah, que pena que ele
chegou agora! Ah, eu tenho dificuldade com essa pessoa!” Temos de nos esforçar para que, sempre que
um irmão se aproximar de nós, seja em uma reunião, em nossa casa ou para participar de nossa vida,
recebê-lo com alegria.
Deus nos enviou verdadeiros presentes nessa vida: nossos irmãos e irmãs em Cristo, nossa família,
nossos amigos. Às vezes nos alegramos mais quando ganhamos um carro ou um objeto, porém, a
verdadeira alegria é quando recebemos pessoas, quando as consideramos superiores a nós mesmos a
ponto de celebrarmos esta honra com enorme alegria.
Quero lhe convidar a se auto examinar neste momento e fazer disso um alvo, um propósito. Não é
para você ficar com peso no coração e dizer: “Ah, mas eu não sou recebido assim por ninguém!” Se fizer
isso, você se encherá de si mesmo ao invés de se esvaziar. A pergunta correta é: “Como eu tenho
recebido meus irmãos? Com alegria? Com honra? Como sendo maior do que eu? Como alguém que eu
posso servir, ajudar, abençoar?”
Jesus agiu dessa forma quando celebrou a ceia com seus discípulos. Ele se levantou para lavar os
pés deles tomando o lugar de um escravo. Ora, se Jesus sendo Deus fez isso, eu e você precisamos fazer
o mesmo com os nossos irmãos. Precisamos servir aos outros com honra, com amor, com humildade,
procurando sempre promover e colocá-los em lugares melhores – e fazemos isso quando trabalhamos
pelos interesses de Cristo na vida deles. Deus tem interesse nos nossos irmãos e nos chama para
participar disso com Ele.
Não podemos permitir que o distanciamento físico nos distancie no coração. Vamos usar os meios
que temos, vamos nos adaptar às realidades, mas sem perder nossa identidade de Igreja, sem deixar de
crescer na comunhão. Podemos ligar uns para os outros, podemos orar juntos. Quando oramos
sozinhos, “curtimos” a presença de Jesus, porém, quando oramos com os irmãos, “curtimos” a presença
de Jesus na vida deles; reconhecemos que orar com eles é algo bom, frutífero, gostoso, edificante.
Quando oramos em dois ou três, recebemos a revelação de Cristo nessa comunhão.
Vamos praticar essas coisas de tal maneira que, quando alguém de fora conversar comigo e com
você, veja que temos o mesmo coração, sentimentos e pensamentos. Talvez ainda não tenhamos
alcançado isso, mas façamos disso um alvo, pois é o que Paulo propõe nos versos 2 a 4:
...completem a minha alegria, tendo o mesmo modo de pensar, tendo o mesmo amor e sendo
unidos de alma e mente. Não façam nada por interesse pessoal ou vaidade, mas por humildade,
cada um considerando os outros superiores a si mesmo, não tendo em vista somente os seus
próprios interesses, mas também os dos outros.
Que sejamos “unidos de alma e mente” de forma que nossas identidades se confundam. Não
porque somos todos iguais, mas porque todos parecemos com Cristo. É a revelação de Cristo, a unidade

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em torno dele que produz essa unidade de alma entre nós.
Não vamos fazer nada “por interesse pessoal ou vaidade”, por partidarismos, para fazer prevalecer
nossas próprias ideias. Isso acontece quando só relacionamos com quem pensa igual a nós e rejeitamos
os que pensam diferente. Talvez, porém, aqueles pensamentos diferentes sejam o pensamento de
Cristo, e eu preciso trabalhar com eles para termos unidade de pensamento e de sentimento, como
disse Paulo em Efésios 4:
Por isso eu, o prisioneiro no Senhor, peço que vocês vivam de maneira digna da vocação a que
foram chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando uns aos
outros em amor, fazendo tudo para preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz [...] até que
todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de pessoa
madura, à medida da estatura da plenitude de Cristo.” (vs. 1-3, 13)
Deixe essa palavra permanecer viva em seu coração: cuidar das pessoas e se envolver com elas é o
interesse de Cristo! Vivendo assim, a Igreja de Jesus será mais parecida com ele e terá um efeito
poderoso diante do mundo. Afinal, quem não vai querer participar de um ambiente onde existe esforço
de comunhão, de unidade, de amor? Um ambiente onde todos se interessam “entranhavelmente” para
ver o bem do outro? Que o Senhor nos guia a isso, em nome de Jesus! Amém!

JAMÊ NOBRE
Voltando um pouco ao capítulo 1 do livro de Filipenses, é muito importante percebermos como
Paulo se referiu a si mesmo: “Paulo e Timóteo, servos de Jesus Cristo” (v.1). A relação entre eles era de
muita amizade e companheirismo, e Timóteo era filho espiritual e aluno de Paulo. Porém, Paulo se
colocou no mesmo nível de Timóteo e chamou ambos de “servos”. Esta palavra no grego é doulos,
normalmente usada para se referir ao mais baixo nível de escravos. No final do versículo ele novamente
usa a palavra escravo quando se refere a diácono: “serviçal; aquele que serve”.
Esse “escravo” que Paulo afirma ser, muitas vezes nas Escrituras refere-se aos escravos que
trabalhavam nas galés dos barcos romanos e gregos, os remadores que não tinham nenhuma liberdade
de sair daquele lugar, pois viviam acorrentados o tempo todo. Era o nível mais baixo de escravo que
alguém poderia ser. Por esse motivo, Paulo precisava abordar essa palavra logo no início da carta, pois
ele falaria da atitude de total esvaziamento de Jesus Cristo no capítulo 2. Compreendo, então, que essa
foi uma carta de Paulo para mostrar o caráter de Jesus quando ele se esvaziou, propondo para nós essa
mesma atitude.
Paulo construiu o capítulo 1 mostrando como Cristo serviu a Deus como escravo, como ele se
esvaziou e se entregou por completo renunciando a tudo em favor da humanidade. No capítulo 2, ele
mostrou Jesus como nosso exemplo ou modelo a ser seguido:
Tende em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, que, existindo em forma de Deus,
não considerou o fato de ser igual a Deus algo a que devesse se apegar, mas, pelo contrário,
esvaziou a si mesmo, assumindo a forma de servo e fazendo-se semelhante aos homens. (2.5-7)
Depois disso, nos versículos 19 a 30, Paulo falou como funciona uma equipe de escravos, quando
um é servo do outro. Entrando no capítulo 3, ele disse: “Finalmente, irmãos meus, regozijai-vos no
Senhor” (v.1a). Outra versão diz “resta, irmãos meus”, ou seja, eles não tinham outra alternativa senão
se alegrarem naquela condição de escravos. Paulo montou todo um fundamento nos dois primeiros
capítulos e depois disse que deveriam aceitar essa condição e se alegrarem “no Senhor” (kyrius, dono de

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tudo e todos). Portanto, a nossa condição como servos de Deus, como aqueles que se entregaram ao
Senhor é de nos alegrarmos em Jesus Cristo, aquele que nos deu o exemplo máximo de esvaziamento
total, completo.
No verso 2, Paulo diz que devemos nos proteger de três tipos de pessoas: “Acautelai-vos dos cães!
Acautelai-vos dos maus obreiros! Acautelai-vos da falsa circuncisão!”
Primeiro: “Cães” – pessoas que só visam seus próprios interesses. No verso 19, ele diz que essas
pessoas tinham como deus o “seu próprio ventre”; obreiros que usavam o ministério em proveito
próprio, não se importando com os outros; que só pensavam em sua própria glória e não na glória de
Deus ou na Igreja; que visavam apenas seu lucro pessoal.
Segundo: “Maus obreiros” – pessoas displicentes, negligentes, preguiçosas, invejosas, que
“proclamam a Cristo por inveja e porfia” (1.15), “lobos vorazes, que não pouparão o rebanho [...]
falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás de si” (At 20.29,30). Obreiros que fazem
coisas no ministério apenas porque gostam e não porque Deus gosta: gostam de tocar, de cantar, de
pregar, etc. Ora, se se eu faço algo porque gosto então devo parar de fazer, pois o que importa é se
Deus gosta ou não. Se Ele não gosta, não devo fazer. Portanto, o meu ponto de referência é se Deus
gosta! Se eu não gosto, não tem problema algum; vou continuar fazendo, porque Ele gosta e eu sou
escravo dele.
Terceiro: “falsa circuncisão” – pessoas que têm uma religião sem conteúdo, sem poder de
transformar suas vidas e a de outros. Fazem as coisas apenas exteriormente, como disse Jesus: “Este
povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim.” (Mt 15.8). Isso parece ser um pouco
exagerado, mas quantas vezes nós cantamos sem ao menos prestarmos atenção às letras? Ou, da
mesma forma, ao lermos ou ouvirmos a Palavra? Estamos de “corpo presente”, mas com os
pensamentos em coisas que precisamos fazer ou, até mesmo, julgando que outros é que deveriam estar
ouvindo aquilo! O nosso culto deve ser racional (Rm 12.1), ou seja, com uma entrega total, completa,
cantando exatamente o que está em nosso coração. Muitas vezes, os nossos atos estão divorciados das
palavras que cantamos ou pregamos.
“Falsa circuncisão”, então, se refere à falsa religiosidade, a um culto cheio de rituais, mas sem
essência. A palavra “religião” significa “religar”, ligar novamente com Deus. Então, cada reunião que
participamos precisa ser uma expressão da nossa “religação” com o Pai, uma expressão do que Ele é em
nós e para nós.
Falando sobre o caráter e o esvaziamento de Jesus, há um texto muito forte em Zacarias e que se
repete em Mateus:
Alegre-se muito, ó filha de Sião! Exulte, ó filha de Jerusalém! Eis que o seu rei vem até você, justo e
salvador, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de jumenta. (Zc 9.9)
Digam à filha de Sião: Eis que o seu Rei vem até você, humilde, montado em jumenta, e num
jumentinho, cria de animal de carga. (Mt 21.5)
Ora, é humanamente impossível juntar majestade com humildade, porém, Jesus Cristo fez isso:
...pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si
mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens (Fp
2.6,7)
Entrar em Jerusalém montado em um jumentinho era uma posição de extrema humildade. Aquele
era o dia do maior triunfo (no sentido natural) de Jesus, pois a multidão o recebeu com grande gozo e

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alegria. Seria natural ele entrar montado em um grande cavalo ou camelo para demonstrar seu poder e
majestade. Porém, o Rei de tudo e de todos escolheu um jumentinho justamente para mostrar o caráter
do seu reino, sua posição de humildade, de alguém que desceu do céu para morar conosco. Fato é que
ele nasceu em uma estrebaria e foi colocado em uma manjedoura.
Ora, se nós temos um Deus como esse, precisamos ter essa mesma postura ou atitude. Se o Rei
dos reis lavou os pés dos discípulos, como podemos nos recusar a lavar os pés dos irmãos, daqueles que
são melhores do que nós conforme aprendemos em Filipenses 2.3? (“considerando cada um os outros
superiores a si mesmo”). Não é só fazer de conta, mas é dizer ao irmão: “Você é melhor do que eu!” Isso
muda tudo em nossa vida!
Quando Jesus entrou em Jerusalém ele se dirigiu ao templo para purificá-lo dos cambistas (Mt
21.12,13). Essa sua atitude de profunda humilhação e entrega foi para purificar sua Igreja, para livrá-la
de toda arrogância, soberba, orgulho. Esse é o padrão, o modelo que devemos seguir. Sua indignação
não era por si mesmo, mas porque o zelo da Casa de Deus o consumia (Sl 69.9; Mt 21.13), porque Deus
Pai estava ofendido.
Em João 6.15, após Jesus multiplicar os pães, o povo se ajuntou para torná-lo rei, porém, o texto
diz que ele escapou deles e foi para o monte orar. Ele não queria ser proclamado rei pelas pessoas, pois
sabia que seu reino não era deste mundo, mas veio do Céu e deveria retornar ao Pai. Este é o nosso Rei
Jesus: justo, salvador e humilde que se ofereceu como exemplo para nós.

HAROLD WALKER
Todas as vezes que falamos da grandeza do nosso Rei dá vontade se prostrar diante dele, pois não
há outro igual. É algo tremendo, maravilhoso. Podemos sempre nos lembrar dessas duas coisas: ele é
humilde até o pó, mas também é Rei, tem o zelo de Deus, e vai governar as nações com vara de ferro.
Ele é o Cordeiro na primeira vinda e o Leão na segunda vinda, mas nunca deixa uma natureza para
assumir a outra. Apocalipse 5.5,6 fala do Leão que era digno de abrir o livro e os selos, mas ele aparece
como o Cordeiro que havia sido morto, com as marcas nas mãos e no lado. Ele nunca vai deixar de nos
lembrar que é o Cordeiro que se deu por nós, e que chegaremos no céu por mérito dele somente.
É interessante pensar que Deus nunca quis que o homem pecasse, mas, quando ele pecou, ao
invés de diminuir, a glória de Deus aumentou, pois Deus revelou um aspecto da sua natureza que ainda
não havia sido manifestada, de mandar seu Filho para morrer em nosso lugar. Sua misericórdia era tão
grande que se não fosse o pecado ela não iria se manifestar. Deus é justo, puro, santo e isso sempre foi
manifesto, mas Ele é cheio de amor, misericórdia, humildade a ponto de se humilhar até o pó em nosso
favor – e isso só foi manifestado após o pecado do homem.
Neste capítulo 3 de Filipenses, Paulo diz que estava fazendo o mesmo que Jesus fez no capítulo 2.
Ele era irrepreensível quanto à Lei e fazia além do necessário para cumpri-la. Perseguiu os cristãos, pois
dizia que eles estavam transgredindo a Lei. Porém, ele viu Jesus e por causa disso abandonou tudo o
que lhe era vantagem, a honra e a posição que ele tinha, considerando-as como escória, como esterco
para alcançar a Cristo (3.4-8). Ele jogou no lixo todos os anos que se sacrificou pela Lei querendo ser
justo, pois ele só queria Jesus e mais nada:
E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo
Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para
que possa ganhar a Cristo, e seja achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a
que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé; para conhecê-lo, e o poder

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da sua ressurreição, e à participação de suas aflições, sendo feito conforme à sua morte; para ver
se de alguma maneira eu possa chegar à ressurreição dentre os mortos. Não que já a tenha
alcançado, ou que já seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também
alcançado por Cristo Jesus. (vs. 8-12)
Paulo não queria somente a glória, o galardão, o prêmio da sua vocação, mas também a
participação nos sofrimentos e na morte de Cristo. Muitos não gostam dos sofrimentos, mas querem os
louros da vitória. Ele, porém, sabia que sem sofrimento não alcançaria a intimidade com Jesus. Ninguém
conseguirá passar por tudo o que Jesus passou, mas se quisermos ter intimidade com ele precisamos
experimentar pelo menos um pouquinho do seu sofrimento. Os primeiros cristãos tinham esse desejo
em seus corações; eles tinham alegria quando passavam por perseguições e martírios. Não que eles
gostassem do sofrimento, mas gostavam e queriam ser íntimos de Jesus.
Paulo diz que ainda não tinha alcançado o mesmo amor por Jesus que Jesus tinha por ele. Ele
lutava para “alcançar aquilo para o que fui também alcançado por Cristo Jesus”, ou seja, queria ser
íntimo de Jesus, e para isso se dispôs a abandonar tudo o que ele era e tinha, sua posição e influência,
para poder alcançar “a comunhão de seus sofrimentos”, a “participação de suas aflições, sendo feito
conforme à sua morte”. Paulo queria ter o prazer de sentir e experimentar pelo menos um pouquinho
do que Jesus sentiu e experimentou. Ele não queria servir o Senhor só da boca para fora, como os
religiosos, mas queria servir pagando um alto preço por isso, mesmo sem precisar, pois Jesus já havia
pago esse preço por ele. Mas ele desejou isso!
A atitude de muitos cristãos é egoísta: “Eu sirvo a Deus para poder ganhar o céu”. Porém, a
verdadeira salvação é quando temos uma intensa paixão e vontade de “alcançar aquilo para o que fui
também alcançado por Cristo Jesus”. Nós fomos salvos pela graça, fomos amados e redimidos por Jesus,
mas agora perseguimos um alvo: nos conformarmos com ele no seu sofrimento e na sua morte.

JAMÊ NOBRE
A palavra “receber” é algo passivo, que não fazemos nada para adquirir. Nossa salvação foi assim.
Porém, no verso 12, Paulo usa a palavra “alcançar”, referindo-se a algo que devemos lutar para
conquistar. Uma figura engraçada sobre isso é: “Eu vou lutar para fisgar aquilo pelo que eu fui fisgado”.
Ou seja, Deus colocou um anzol na boca de Paulo e o fisgou!
Depois de Paulo citar todo seu histórico de vida e sua busca por Jesus, ele disse:
Sede também meus imitadores, irmãos, e tende cuidado, segundo o exemplo que tendes em nós,
pelos que assim andam. (3.17)
Assim como ele era de Cristo – o que ele fazia, como ele se entregava, a sua devoção –, era assim
que eles deveriam ser também. Por isso ele disse no verso 2 que eles não deveriam olhar para os cães,
para os maus obreiros, para a falsa circuncisão, mas deveriam olhar somente para Jesus.
Eu sempre digo que “toda doutrina tem que ter perna”, ou seja, a doutrina que não pode ser
praticada não serve. Filipenses traz toda a glória, toda a majestade para o nosso dia a dia, e por isso é
um livro muito prático, pois nos desafia a sermos perfeitos na nossa relação com Deus e com os irmãos.
Em Apocalipse 21, João fala da “esposa do Cordeiro”, e eu comecei a imaginar como é ser esposa
de um cordeiro. Algumas mulheres são casadas com verdadeiros leões: são bravos, dominadores etc.
Mas a Bíblia nos convoca a termos uma natureza de cordeiros dentro de casa. Para mim, essa é uma das
grandes lições deste livro: sermos cordeiros como Jesus.

12
HAROLD WALKER
Recentemente, acordei com uma frase em minha mente: “A aparência desse mundo passa”. Creio
que isso é algo para esse momento da Igreja no Brasil. Muitos acreditam que assim que acabar essa
pandemia, os brasileiros irão lotar os shoppings, restaurantes e pontos turísticos porque estão com seu
consumismo reprimido. Ora, não é pecado comprar coisas ou viajar, mas o consumismo em si é pecado.
É mentira que apenas o dízimo é de Deus e o restante é nosso. Damos os 10% apenas como sinal que
tudo é dele.
O consumismo é uma doença do mundo ocidental, capitalista, de comprar coisas que não são
necessárias. O Senhor é nosso Pastor e nos dá o que precisamos, e não o que achamos que precisamos.
Não estou falando de ascetismo, mas do Espírito Santo usar nosso dinheiro para ajudar os pobres, os
missionários, a obra de Deus. Por isso devemos tomar cuidado com esse espírito consumista que virá
forte sobre o Brasil. Deus me alertou quanto a isso e quero alertar a todos vocês: não se entregue ao
consumismo; cuidado com o seu dinheiro; não use para coisas desnecessárias; gaste somente com
aquilo que o Espírito Santo falar ao seu coração, com coisas corretas e necessárias; não gaste mais do
que aquilo que Ele colocar em seu coração.
Há milhões de pessoas desempregadas e sem nenhuma fonte de renda neste exato momento, e
precisamos que Deus nos ajude para socorrer quem Ele colocar no nosso coração. Com isso em mente,
quero ler uma passagem relacionada à frase que sonhei:
Isto, porém, vos digo, irmãos, que o tempo se abrevia; pelo que, doravante, os que têm mulher
sejam como se não a tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que folgam, como se
não folgassem; os que compram, como se não possuíssem; e os que usam deste mundo, como se
dele não usassem em absoluto, porque a aparência deste mundo passa. (1 Co 7.28-30)
O tempo está curtíssimo, estamos muito perto do final dos tempos. O contexto desse texto é
muito forte e real. Paulo diz que devemos usar as coisas deste mundo: trabalhar, ganhar dinheiro,
investir, comprar, mas sem confiarmos nessas coisas. A aparência deste mundo passa e essas coisas não
vão durar. Portanto, vamos investir em coisas celestiais, como lemos em Colossenses.
O capítulo 3 de Filipenses termina dizendo:
Irmãos, sede meus imitadores, e atentai para aqueles que andam conforme o exemplo que tendes
em nós; porque muitos há, dos quais repetidas vezes vos disse, e agora vos digo até chorando, que
são inimigos da cruz de Cristo; cujo fim é a perdição; cujo deus é o ventre; e cuja glória assenta no
que é vergonhoso; os quais só cuidam das coisas terrenas. Mas a nossa pátria está nos céus, donde
também aguardamos um Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o corpo da nossa
humilhação, para ser conforme ao corpo da sua glória, segundo o seu eficaz poder de até sujeitar a
si todas as coisas. (vs. 17.21)
A ambição pelas coisas não é algo ruim, pois sem ela seríamos passivos e indiferentes. Paulo disse
que ele lutava para conquistar as coisas do alto, investindo tudo o que tinha para isso. Porém, ele não
queria nada que fosse provisório, da terra, mas apenas aquilo que era permanente, do céu. “...os que
usam deste mundo, como se dele não usassem”. Podemos ter confortos, mas sabendo que tudo é
passageiro. Precisamos estar na “locomotiva” que está indo para o céu. Se for necessário irmos em pé,
com sacrifícios, iremos. Se pudermos sentar em uma poltrona melhor, ótimo. Porém, se Deus nos
mandar para um lugar onde vamos perder tudo e nos humilharmos, então vamos, porque valerá a pena.

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Corramos esta corrida tendo Jesus (capítulo 2) e Paulo (capítulo 3) como modelos! Não deixe que
a influência e atitude consumista das pessoas afete o seu coração. Olhe para o alto, medite na Palavra
de Deus, busque-o continuamente em oração. Não assuma dívidas, não compre ou faça coisas que não
precisa. Esse é um alerta que Deus me mandou deixar para cada um de nós hoje. Amém!

MARION
O livro de Filipenses fala muito de sentimentos, tendo 50 abordagens sobre isso. A ideia de
sentimento é uma disposição para se comover, e Paulo fala muito sobre relacionamentos, envolvimento
com pessoas. Evidentemente, a ênfase do livro é a exaltação de Jesus, mas Deus se agrada muito
quando nós nos amamos, nos relacionamos e tratamos com honra os nossos irmãos.
Logo no início do livro, Paulo agradece a Deus pelos irmãos que cooperam, que participam com
ele, dando sentido do que é Igreja:
Dou graças ao meu Deus todas as vezes que me lembro de vós, fazendo sempre com alegria
oração por vós em todas as minhas súplicas (Fp 1.3,4)
No capítulo 4, ele diz que seus companheiros de ministério, homens que se esforçavam junto com
ele em favor do evangelho, seus cooperadores e equipe, tinham seus nomes escritos no livro da vida:
E peço-te também a ti, meu verdadeiro companheiro, que ajudes essas mulheres que trabalharam
comigo no evangelho, e com Clemente, e com os meus outros cooperadores, cujos nomes estão no
livro da vida. (v.3)
Em Jundiaí hoje, nossa equipe de liderança, cooperadores do Senhor, têm se reunido todas as
quartas-feiras e isso tem nos trazido muito alegria e crescimento. Alguns desses irmãos, a exemplo do
Tadeu, tem sido uma coluna, uma sustentação para nossa congregação através da oração, como diz o
verso 6:
Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas
diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. (4.6)
Tadeu tem feito isso há 17 anos no horário das 5h30min, junto com Abnério e outros. Este é um
dom de intercessão que Deus deu a esses irmãos e que tem abençoado todas as famílias da
congregação até hoje. Isso traz sustento à nossa unidade, pois é um alicerce que nos tem feito alcançar
um ponto inimaginável. Afinal, quem poderia imaginar que quatro congregações estariam hoje unidas,
se amando, com relacionamentos íntimos e saudáveis, e Deus nos abençoando tanto? Sobre o Jamê,
que compartilha essa palavra hoje comigo, vejo que é um servo de Deus apaixonado pela unidade do
Corpo de Cristo, e isso me empolga e alegra muito.
Paulo diz a esse respeito:
Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo, para que, ou indo ver-vos ou estando
ausente, ouça, no tocante a vós outros, que estais firmes em um só espírito, como uma só alma,
lutando juntos pela fé evangélica. (1.27)
...completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais
unidos de alma, tendo o mesmo sentimento. (2.2)
No ano de 2002, quando estávamos orando e desejando fazer uma parceria com a Comunidade
Pró-Família, e começamos a conversar com os presbíteros Francisco, Renato, Élcio e outros, surgiu uma
questão: precisávamos de uma autoridade espiritual na cidade que pudesse nos abençoar, nos dar uma

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palavra de Deus e profetizar sobre isso. Aprendemos com os escritos de Watchman Nee que uma
autoridade espiritual na cidade seria alguém que estivesse antes de nós, e então nos lembramos do
Jamê e fomos procurá-lo.
Pensei que ele fosse apenas nos dar alguns conselhos e nos alertar quanto aos perigos disso,
porém, para minha surpresa, ele teve uma reação totalmente proativa e disse algo que ficou marcado
em meu coração: “Não só aprovo essa iniciativa, como quero estar junto com vocês. Vamos construir
juntos esse sonho de Deus!” Então ele abraçou essa causa e se tornou uma coluna para nós, juntamente
com vários outros irmãos que também são colunas em nosso meio. Em seguida, Jamê trouxe o Abnério,
e começamos a efetivar esse maravilhoso processo de unidade que gerou a UMC.
Não satisfeito só com a nossa unidade, Jamê continua dando sequência a essa visão, trabalhando
incansavelmente em prol da unidade não apenas em Jundiaí, mas em inúmeras partes do Brasil e do
mundo. Inclusive, ele tem um grupo de pastores de outras denominações da cidade que se reúnem em
sua casa. Dias atrás, ele nos trouxe o testemunho de um pastor que estava conosco no início e que
depois, por alguns motivos, acabou se afastando de nós, mas que agora retornou pedindo sua cobertura
e expressando o desejo de estar conosco.
Esse é um trabalho precioso e está dentro do contexto de Filipenses, quando Paulo se refere à
necessidade de andarem em unidade: “Rogo a Evódia e rogo a Síntique pensem concordemente no
Senhor.” (4.2). Mesmo estando preso, Paulo expressa seu sentimento por duas irmãs que não estavam
bem entre elas naquele momento. Esse é o mesmo chamado à unidade que todos nós temos, mas que
Jamê tem em especial, sendo uma coluna importante para as nossas vidas e ministérios.
Estou dizendo tudo isso, não somente para honrar esses irmãos que estão participando comigo
nessa mensagem, mas também para estimular toda a congregação na prática da oração e busca da
unidade. Todos nós temos diferentes dons, e é muito importante que nesses dias de final dos tempos
possamos buscar reconciliação e unidade com irmãos de diferentes denominações.
Valorizei os dons desses irmãos, e poderia falar de todos os demais, porque Paulo diz:
Irmãos, sede imitadores meus e observai os que andam segundo o modelo que tendes em nós.
(3.17)
O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso praticai; e o Deus da
paz será convosco. (4.9)
Ele diz para imitarmos o que ele fazia e, assim, a paz de Deus estará conosco. Outro texto diz:
Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando
atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram. (Hb 13.7)
Quero, então, estimular aos irmãos que imitem a fé dos nossos líderes (presbíteros, diáconos,
líderes de grupos), pois são pessoas dedicadas ao Senhor e que expressam seu amor pela congregação.
O livro aos Filipenses propõe um caminho mais excelente para a unidade. Quando terminamos de
estudá-lo, entendemos que temos um desafio maior pela frente. Muitas vezes pensamos que estávamos
em um ponto ideal, mas percebemos que ainda há muito a ser feito nesse propósito, pois somos
desafiados a sermos uma só alma, um só coração, uma só mente.
Paulo fala muito sobre a cultura de honra nesse livro. Olhando para sua humanidade, mesmo
estando preso ele honrava os irmãos. Sobre Epafrodito ele disse:
E conheceis o seu caráter provado, pois serviu ao evangelho, junto comigo, como filho ao pai. [...]

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Recebei-o, pois, no Senhor, com toda a alegria, e honrai sempre a homens como esse. (2.22,29)
Isso significa que devemos honrar uns aos outros, homens e mulheres que guardam a Palavra de
Deus, que vivem o evangelho de Cristo.
Paulo não conseguiu voltar a Filipos, mas sempre expressou seu desejo de estar com aqueles
irmãos. Vemos isso em várias declarações dele:
Dou graças ao meu Deus por tudo que recordo de vós, fazendo sempre, com alegria, súplicas por
todos vós, em todas as minhas orações [...] Aliás, é justo que eu assim pense de todos vós, porque
vos trago no coração, seja nas minhas algemas, seja na defesa e confirmação do evangelho, pois
todos sois participantes da graça comigo. Pois minha testemunha é Deus, da saudade que tenho
de todos vós, na terna misericórdia de Cristo Jesus. (1.3,4,7,8)
Um homem dessa envergadura era capaz de dizer: “vos trago no coração”, “fazendo sempre com
alegria súplicas por todos vós”, “sois participantes da graça comigo”, “saudade que tenho de todos vós”
etc. Ele fala sobre “sentir orgulho dos irmãos no dia de Cristo” (1.10,11). Inspirado em Jesus, Paulo nos
ensina a sermos humildes e considerar os outros superiores a nós mesmos, e não fazermos nada por
interesse próprio (2.3,4).
...visto que ele tinha saudade de todos vós e estava angustiado porque ouvistes que adoeceu. Com
efeito, adoeceu mortalmente; Deus, porém, se compadeceu dele e não somente dele, mas também
de mim, para que eu não tivesse tristeza sobre tristeza. Por isso, tanto mais me apresso em
mandá-lo, para que, vendo-o novamente, vos alegreis, e eu tenha menos tristeza. (2.26-28)
Veja quantas expressões de sentimentos ele usa para se referir a Epafrodito, e como essa
humanidade é importante para as nossas vidas. Enquanto estamos vivendo essa pandemia, existem
milhares de pessoas sofrendo em hospitais, amigos e irmãos que estão isolados sem poder receber e
expressar amor. Nós, assim como Paulo, estamos presos em nossas casas e não podemos estar com eles
nessa sua angústia. Às vezes, eles recebem o cuidado de enfermeiros(as) misericordiosos(as) que ligam
para seus familiares e, então, podem desfrutar de alguma mensagem de afeto e amor. Infelizmente,
muitas vezes, nós temos oportunidades de fazer declarações assim em nosso dia a dia com as pessoas,
de expressarmos nossos sentimentos, mas não o fazemos.
Certa vez, eu li um livro do médico e escritor Roberto Shinyashiki onde ele conta que trabalhou um
tempo com doentes terminais. Quando ele perguntava a essas pessoas o que mais se arrependiam de
não ter feito na vida, a resposta invariavelmente era: não ter declarado ou expressado amor, não ter
vivido relacionamentos afetivos com suas famílias e amigos. Chegará um momento na vida que não
poderemos mais fazer isso, portanto, é hora de buscarmos reconciliações, de declararmos às pessoas
como elas são importantes para nós, de honrarmos e valorizarmos suas vidas. Isso é cultura de honra.
Tempos atrás, em um dia que eu estava mal devido a notícias tristes de pessoas que estão doentes
e partindo, recebi um telefonema mas não atendi porque não havia identificação. Porém, a pessoa
insistiu e na terceira vez eu atendi. Era um irmão da igreja e ele me disse: “Irmão, estou com muita
saudade de você. A gente se reunia às segundas-feiras para orar juntos e sinto muito sua falta. Por isso,
estou ligando para dizer o quanto te amo, o quanto preciso de você, e quero orar por você. A primeira
coisa que eu e minha esposa queremos, quando terminar esse isolamento, é que vocês venham almoçar
conosco. Mas me diga o que você gosta de comer, pois ela é simples e não sabe fazer pratos
sofisticados!” Eu lhe disse: “Irmão, não se preocupe. O prato que eu mais gosto é arroz com ovo!”
Então ele disse algo que me desmontou: “Irmão, eu tenho na minha sala algumas fotos de
parentes que amo muito. Eu peguei um boletim da igreja que saiu a sua foto ministrando e coloquei lá,

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para que eu e minha esposa nunca nos esqueçamos de orar sempre pelo irmão!” Eu chorei muito e isso
mudou os meus dias daí para frente.
Portanto, é muito precioso podermos abençoar uns aos outros hoje. Talvez pessoas da família que
não são cristãos; talvez amigos do passado que faz tempo que não vemos ou conversamos; talvez
pessoas com quem nos desentendemos, afinal, a Palavra diz que “o amor cobre multidão de pecados” (1
Pd 4.8). Hoje é o momento de expressarmos nossos sentimentos! Amém!

JAMÊ NOBRE
O capítulo 4 de Filipenses é o resultado dos três capítulos anteriores. Assim, eu quero trazer uma
visão geral sobre o livro e realçar alguns pontos mais interessantes.
Reafirmando o que Marion falou, nele encontramos 50 referências sobre sentimentos. Paulo fala
sobre alegria, dor, afeto, angústia, preocupação, saudade etc. Tony, em sua palavra, mencionou uma
certa “confusão” que ocorre no capítulo 2, quando Epafrodito fica preocupado com a preocupação dos
irmãos pela sua doença. Paulo, então, disse à igreja que Epafrodito realmente havia ficado doente, mas
que o Senhor o tinha curado por sua causa:
E de fato esteve doente, e quase à morte; mas Deus se apiedou dele, e não somente dele, mas
também de mim, para que eu não tivesse tristeza sobre tristeza. (2.27)
É essa “confusão” maravilhosa que eu chamo de Igreja: quando pessoas se preocupam e se
conectam com outras porque sentem preocupação por elas.
No capítulo 1, Paulo começa a carta dizendo: “Paulo e Timóteo, servos de Jesus Cristo, a todos os
santos em Cristo Jesus, que estão em Filipos, com os bispos e diáconos” (1.1). A palavra “servos” é
escravos, doulos, aqueles que servem. Ou seja, é um escravo escrevendo aos que servem (bispos e
diáconos), se colocando no mesmo nível de todos os outros. Porém, no decorrer do livro vemos que ele
se coloca em um nível inferior àqueles para quem escreve.
“Somente deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo, para que, quer vá e vos
veja, quer esteja ausente, ouça acerca de vós que estais num mesmo espírito, combatendo juntamente
com o mesmo ânimo pela fé do evangelho.” (1.27). Ele diz aqui que a nossa vida deve interpretar o
evangelho, ser a amostra do que o evangelho é.
No capítulo 2, versos 1 a 4, Paulo faz referência a 11 atitudes que devemos ter para
demonstrarmos a vida de Cristo, e fecha com o verso 5 afirmando que é dessa forma que teremos o
mesmo sentimento de Cristo Jesus: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo
Jesus”. Sentimento, aqui, é uma palavra grega que expressa sentimento, mente, atitude, motivação
interior. Ele poderia dizer: “Tendes a mesma motivação interior, a mesma mente que Cristo teve.”
Os versos 6 a 11, segundo alguns escritores, eram uma canção, possivelmente escrita pelo próprio
Paulo, que fala das três fases do Senhor Jesus: sua preexistência, sua vida encarnada e sua exaltação.
Sabemos que um cântico tem um poder muito forte de fixar verdades, então ele se torna um salmista
nesse momento, à semelhança de quando escreveu aos Romanos, capítulo 11.33-36.
Nos versos 19 a 30, temos um verdadeiro laboratório de relacionamentos. Referindo-se a
Epafrodito, Paulo o chama de irmão, cooperador e companheiro: três tipos de relacionamentos.
Irmão é alguém que não escolhemos. Gostando ou não, somos irmãos. Quando éramos crianças e
brigávamos entre nós, um dizia ao outro: “Não sou mais seu irmão!” Mas isso não mudava

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absolutamente nada. Em Cristo, Deus nos fez irmãos uns dos outros e nunca vamos poder mudar isso.
Cooperador é um colega de trabalho, de ministério. Nesse caso, entra a decisão pessoal: eu decido
ou não trabalhar junto com alguém, ser colega de trabalho. No Brasil, usa-se também a palavra
“colaborador”. Ser irmão é algo que eu não escolho, porém, ser cooperador eu posso ou não escolher,
pois está relacionado a tarefas. Terminada a tarefa, termina a cooperação.
Companheiro é um nível mais profundo de trabalho, e também é fruto de uma decisão. Paulo diz
que Epafrodito era seu companheiro de lutas, de batalhas. Esta palavra vem do latim cum pannis,
“aquele que come o pão conosco”. Quando participamos da Ceia, estamos dizendo uns aos outros que
comemos o pão juntos na luta, na dor, na tristeza, na alegria. É uma decisão de andarmos juntos.
“Porque a ninguém tenho de igual sentimento, que sinceramente cuide do vosso estado” (v.20).
Referindo-se a Timóteo, Paulo fala de um outro tipo de relação. Diz que Timóteo era seu filho, ou seja,
ele tinha o mesmo sentimento, a mesma alma que um filho tem com seu pai. E é isso que Deus quer que
nós tenhamos. Somos irmãos, cooperadores e companheiros. Tempos atrás, conversávamos sobre o
nosso presbitério não ser um “sindicato”, ou seja, vários obreiros que se juntaram para trabalhar junto,
formando uma “cooperativa”. E definitivamente não é isso que queremos! Queremos uma relação onde
temos o mesmo sentimento, a mesma alma, o mesmo coração.
No capítulo 3, Paulo começa dizendo “Finalmente” ou “No mais”. Ou seja, sobre tudo o que
ouviram, “regozijai-vos no Senhor” (v.1). Em seguida, ele alerta sobre os cães, os maus obreiros e a falsa
circuncisão. No verso 19, ele diz que esses cães e maus obreiros são pessoas que têm o próprio ventre
como deus, que trabalham para si mesmas, que pastoreiam e cuidam de outras pensando em seu
próprio benefício no sentido de receber honra, reconhecimento, exaltação, glória.
A falsa circuncisão é a religião sem a essência de Cristo. Podemos orar, cantar, participar de
reuniões sem a essência, sem o coração ou atitude de honrar as pessoas. A religião não pode ser algo
externo, mas vivida a partir do coração. É por isso que o verso 5 sustenta todo esse livro – “De sorte que
haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”. Essa é a verdadeira religião!
Nos versos 4 a 9, ele diz que não confiava em sua carne e relaciona todas as coisas que ele era e
fazia, porém, tudo isso reputou por perda, não lhe serviu para nada. Quando olhamos para Cristo e
temos o alvo de viver no poder da sua ressurreição, de participar de uma nova vida com ele, tudo o que
nos parece valioso se torna absolutamente nada.
Esse é o espírito deste livro: um espírito de esvaziamento, de entrega, de vivermos a vida de Cristo
para beneficiarmos os irmãos. Desta forma, minha vida deixa de ser o centro de todas as coisas, eu não
busco mais as coisas para mim mesmo, mas busco ao Senhor para beneficiar as pessoas que estão ao
meu lado e para a glória d’Ele, pois é assim que o livro termina: “Ora, a nosso Deus e Pai seja dada glória
para todo o sempre. Amém.” (4.20)
No capítulo 4, Paulo começa com a exortação: “estai assim firmes no Senhor”. Ou seja, “mediante
tudo o que eu lhes falei antes, fixem seus pés nessas verdades!”
“Rogo a Evódia, e rogo a Síntique, que sintam o mesmo no Senhor” (v.2). Ou seja, pensem
concordemente! É interessante que normalmente ligamos o pensamento à cabeça, mas Paulo diz para
elas pensarem com o coração. A nossa salvação não é baseada no pensamento da cabeça, mas ele diz
em Romanos 10.8-10 que devemos e crer com o coração. Se formos pensar com a nossa cabeça,
teremos muitos problemas com as pessoas. Porém, quando pensamos com o coração haverá
compaixão, afetos, misericórdia etc.

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“Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens. Perto está o Senhor. Não estejais
inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela
oração e súplica, com ação de graças.” (vs.5,6). Paulo coloca a sobriedade como oposição à ansiedade.
Sobriedade fala de moderação e domínio próprio, e essas coisas combatem a ansiedade. Uma pessoa
que não tem domínio próprio, que não é sóbria no que deseja, nos seus alvos e ideais, fatalmente
entrará em ansiedade. É por isso que não se pode separar esses dois versículos, pois estão interligados.
O interessante é que o contrário de sobriedade é embriaguez. O embriagado não tem controle:
fala sem pensar, age sem refletir. Portanto, que Deus nos dê sobriedade e que a nossa moderação seja
conhecida por todas as pessoas. Essa sobriedade é um fruto do Espírito, ou seja, é Ele quem nos dá.
Todos nós temos algum tipo de ansiedade. O que não podemos deixar é que ela nos domine.
Segundo a minha definição, ansiedade é o desejo de controlar as coisas – tempo, dinheiro,
acontecimentos, pessoas. Certa vez, eu estava em uma reunião de pastores e uma das esposas se
levantou na frente de todos e disse: “O maior problema na nossa igreja é o meu marido, porque ele não
me obedece!” Para não piorar a situação eu respondi, brincando: “Irmã, homem é assim mesmo! Não
tem jeito de obedecer!”
A resposta que Paulo dá para a ansiedade é: “as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante
de Deus”. Ele diz para tomarmos tudo o que está nos perturbando o coração e colocarmos diante de
Deus. Assim, é perante a luz d’Ele que veremos a real dimensão do problema que estamos vivendo. E
como fazemos isso? “pela oração e súplica, com ação de graças”.
Ele fala sobre oração e súplicas como duas coisas distintas. A oração é mais do que falar ou
discursar, é uma atitude interior. Muitas vezes, oramos com gemidos, com dor profunda, sem palavras.
Eu creio que todos nós passamos por isso. Na súplica, nos derramamos diante de Deus e humildemente
conversamos com Ele sobre a situação que nos aflige. Em seguida, nos levantamos crendo que Deus
ouviu e lhe damos graças.
Jesus disse: “Por isso, vos digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será
assim convosco.” (Mr 11.24). Esse texto traz os três tempos verbais no mesmo versículo: “tudo quanto
em oração pedirdes” (presente), “crede que recebestes” (passado), “e será assim convosco” (futuro). É
por isso que cabe a ação de graças, pois nos levantamos da oração não vendo ainda o problema
resolvido, mas crendo que Deus já nos deu, e que no momento certo vai chegar.
Paulo não está nos ensinando o autoconvencimento: ficar confessando algo até acontecer. Não!
Ele diz para orarmos crendo que Deus nos ouviu, que a resposta d’Ele já foi liberada, e que tenhamos
uma atitude de gratidão por isso.
“Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o
que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor,
nisso pensai.” (v.8). Aqui temos a receita de como escapar da ansiedade. É fato que a ansiedade sempre
começa na cabeça. Você pode estar lendo isso agora, mas pensando na roupa que não pôs no varal, no
cheque que vai cair amanhã etc. Então, Paulo nos diz tudo o que deve ocupar a nossa mente. Veio o
pensamento, julguemos segundo o crivo acima. Se ele não satisfazer esses quesitos, deixemo-lo aos pés
de Cristo, porque ele pode se transformar em um sofisma, em uma fortaleza e nos derrotar. Assim, o
apóstolo nos orienta a não ficarmos ansiosos, e também dá a receita de como podemos nos livrar da
ansiedade e permanecermos em paz.
Os versos 10 em diante é o resultado de tomarmos o padrão de Cristo em nós. Até agora, Paulo
falou de associação, comunhão, companheirismo, afeto, honra, consideração etc. Agora, ele passa a

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falar de uma oferta que os irmãos lhe enviaram. Em outras palavras: “Eu me alegrei muito quando
recebi a oferta de vocês, mas eu me alegrei não porque estivesse necessitado e o dinheiro chegou na
hora. Na verdade, eu ainda tenho daquela oferta que vocês me mandaram antes. Porém, eu me alegrei
por causa de vocês, porque ofertaram para mim e isso vai redundar em benção para vocês mesmos!”
Esse texto tem grandes lições de investimento. Ele fala de comprar ações, de crédito aumentado
na conta e de dividendos. É todo um projeto e pensamento financeiro. Vejamos:
Todavia, fizestes bem, associando-vos na minha tribulação. (v.14)
A palavra “associar” é comprar ações. Então, aqueles irmãos compraram ações na tribulação de
Paulo! Ora, isso não é um investimento um tanto louco? Um homem que não tinha parada certa, que
vivia de fazer tendas, que de vez em quando saia fugido das cidades... Era um investimento de longo
prazo e com toda a incerteza de retorno (falando em termos humanos). Mas eles o fizeram, porque
sabiam quem era Paulo e confiavam nele e no Cristo que estava nele.
E sabeis também vós, ó filipenses, que, no início do evangelho, quando parti da Macedônia,
nenhuma igreja se associou comigo no tocante a dar e receber, senão unicamente vós outros;
porque até para Tessalônica mandastes não somente uma vez, mas duas, o bastante para as
minhas necessidades. (vs.15,16)
Paulo fala que os irmãos fizeram uma sociedade com eles “no tocante a dar e receber”: eles
entravam com o dinheiro e Paulo entrava com o serviço pastoral; Paulo repartia com eles seus dons
espirituais e eles repartiam com Paulo seus dons naturais. Quando você entrega seu dízimo, está
entrando em uma associação com seus pastores, está comprando ações na vida deles.
O dízimo não é um tributo ou obrigação fria. Aliás, a primeira vez que a Bíblia cita o dízimo é
quando Melquisedeque o recebeu de Abraão, que lhe entregou como gratidão pela vitória que havia
tido na guerra contra alguns reis (Gn 14). Ele encontrou Melquisedeque, que era o “sacerdote do Deus
Altíssimo” (o próprio Cristo), e lhe entregou o dízimo. Em seguida, eles celebraram essa associação com
pão e vinho (a ceia). Portanto, o dízimo é o maior sinal de confiança entre o povo e seus líderes.
Nós, pastores, não cuidamos do povo por obrigação ou para recebermos um pagamento, mas por
amor. Nós temos um compromisso com Deus de estar com cada ovelha e supri-las. Essa é a nossa
obrigação diante de Deus, e “ai de nós” se não o fizermos, pois foi para isso que Ele nos colocou diante
de sua Igreja. Em contrapartida, cada ovelha tem a responsabilidade de entregar seus dízimos como
parte dessa associação.
Não que eu procure o donativo, mas o que realmente me interessa é o fruto que aumente o vosso
crédito. Recebi tudo e tenho abundância; estou suprido, desde que Epafrodito me passou às mãos
o que me veio de vossa parte como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus.
(vs.17,18)
Paulo diz que eles, ao darem, estavam “aumentando o crédito de sua conta” diante de Deus, pois
entregavam com o coração, sem esperar receber de volta. Não estou dizendo que se você der 10
receberá 100 de volta. Não! Dar o dízimo é como jogar o pão sobre as águas, sem expectativa de
retorno. No entanto, você vai receber de volta (Ec 11.1). Você não entrega o dízimo para trocar de carro,
para viajar no final do ano, mas entrega porque você ama – e é isso que Deus recompensa. É a sua
atitude que trará recompensa, é isso que fará aumentar seu crédito.
As pessoas que trabalham com finanças sabem que dividendos é o resultado do capital
multiplicado pela taxa de juros e pelo tempo de aplicação. Então, o que Deus usa para lhe recompensar

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quando você entrega seus dízimos e ofertas? A riqueza da glória d’Ele! Ele pega o que você tem e
multiplica pela sua riqueza! Quanto dará isso? Eu não sei, mas é muito, como diz a seguir:
E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas
necessidades. (v.19)
Paulo termina esse livro mostrando o tipo de vida que devemos ter: de associação, de amor, de
cuidado mútuo. Os filipenses cuidaram de Paulo de tal maneira, que enviaram um apóstolo (Epafrodito)
só para cuidar da vida dele. Veja que tipo de amor, de associação eles tinham!
Ao estudar novamente esse maravilhoso livro, tenho descoberto novas riquezas, a profundidade
de cada versículo, e fico animado a continuar estudando-o. Ainda há muitos tesouros, muitas pedras
preciosas nele escondidas. Eu digo que os tesouros de Deus estão “claramente ocultos” em cada
versículo que lemos. Portanto, vamos gastar tempo para meditar neste livro e Deus vai nos ensinar a
termos uma vida conforme a vida, sentimento e atitude de Cristo.
Vamos orar para que o Senhor nos ensine a viver neste padrão, neste nível. Esse é o nosso desafio.
Ainda temos muito a aprender, ainda há muitos degraus nesta escada para subirmos. Isso requer muito,
mas nós chegaremos lá. Que o Senhor nos ajude nesta caminhada de luta, sim, mas gloriosa, cheia de
recompensas, que vai produzir glória para o Pai e nos fazer viver no poder da graça de Cristo. Amém!

Transcrição e Edição: Luiz Roberto Cascaldi

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