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FORÇAS ARMADAS ANGOLANAS

ESTADO MAIOR GENERAL


INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO MILITAR

MANUAL DE INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

Elaborado por:
Cap. MSc. Inácio Canivete (Filo- Psi- Pedagogo)

Luanda, Agosto de 2021


“A filosofia é o conhecimento das coisas pelos seus princípios
imutáveis e não por seus fenómenos transitórios”.

Bacon
Prolegomenos
O manual que apresentamos é fruto da necessidade contínua de despertar as novas gerações
em torno das capacidades intrínsecas e únicas que a filosofia mais do que qualquer outra ciência
tem de explicar de forma sistêmica as causas primeiras e últimas dos factos, fenómenos e
noumenos1. Estamos convictos que a filosofia vai ajudar o estudante “CADETE” a ter uma
postura e cultura cientifica, ajudar a ter um pensamento lógico, crítico e reflexivo com
capacidade de sistematizar as ideias no domínio do conhecimento, potencializando-o com imputes
que ajudem-no na tomada de decisão diante dos vários desafios que terá de vivenciar como líder,
engenheiro, chefe de tropa, gestor administrativo, servidor público na defesa e na segurança do
bem-estar da sociedade em situações de guerra ou em tempos de paz, com uma visão modernistas,
em virtude das distintas fases multacionais, que as nações poderosas impõem, bem como aquelas
que interessam ao teatro militar. Para além de familiarizar o futuro oficial às constantes práticas
ideológicas a nível social, económico, político e militar, bem como poderá nutri-lo de condimentos
basilares para a construção de novos paradigmas científico-militares.

No nosso quotidiano, a filosofia tem sido adjectivada, como um conhecimento dos


duvidosos, negadora de Deus portanto dos ateus, dos complicados se não mesmo de indivíduos
lócos e malucos.

A filosofia actualmente é o ramo do saber que o mundo contemporâneo (pragmático,


materialista, hedonista, relativista e empirista), que mais questiona. E estas questões dirigem-se
mais fundamentalmente em saber qual é o lugar de estudo da filosofia no campo epistemológico
actual? O que que a filosofia produz efectivamente? Quais são as necessidades reais que a filosofia
consegue satisfazer? O que estuda de facto a filosofia?

Nosso entender, primeiro essas questões constituem-se em sequelas do positivismo e do


extremismo de paradigmas com esta tendência; segundo são consequências do tecnocentrismo com
colorários nefastos as questões relativas ao fim último da acção humana no cosmo, da proteção e
promoção da dignidade da pessoa humana, num mundo sumamente consumista. Tecnicamente diz-
se a filosofia não precisa convencer para ser cultivada já que como diz MORENTE, “ela é uma
necessidade vital. Isto justifica-se pelas seguinte razões:

 Antes de nos profissionalizar desejamos saber, mas, não como especialistas, apenas como
“mendigos” do conhecimento;

 Toda análise histórica-epistemológica remete-nos num domínio total ou parcial da


filosofia. E isto acontece quando entramos no campo da construção do conhecimento científico
como tal;
 Desconhecer a filosofia é desconhecer os alicerces da ciência como tal, é ter um
conhecimento parcial da realidade, é reflectir debilmente, é passar a vida a viver a superficialidade,
aparências e fenómenos, sem capacidade de captar a essencialidade das coisas.

1
As coisas tais como são, ou seja a essências das coisas.
CAPITULA I: PROBLEMAS INTRODUTÓRIO DA FILOSOFIA
Normalmente são chamados problemas introdutórios, aqueles que constituem base para
principiar o estudo e a compressão de quaisquer ciências, no nosso caso a Filosofia2. Deste
modo, enumeramos os principais que de seguida apresentamos.
1.1. O termo Filosofia

O termo Filosofia é de origem grega, resultado da junção de duas palras: Philos – amigo,
amor, o que busca; Sophia- sabedoria, conhecimento, razão, discurso.

A formação da palavra filosofia na Grécia antiga resulta de uma história muito curiosa,
a qual achamos pertinente para o vosso conhecimento: tudo começou quando numa dada
discussão livre entre dois gregos se quis que Pitágoras, reconhecido como sábio, resolvesse a
sua contenda. Humildemente, Pitágoras disse que não era sábio, porque sábio seria aquele que
já sabe tudo; e que entre os homens nenhum sabe tudo, porque a sabedoria pertence unicamente
aos deuses, aliás, se fosse sábio acrescentou, não teria motivos para se ocupar da investigação.
Logo só exerce essa tarefa que sabe que nada sabe – tal o dirá também Sócrates; por isso,
Pitágoras preferiu que o chamassem de amigo da sabedoria, isto é, aquele que nada sabe e que
por isso se lança a pesquisa para obter o conhecimento daquilo que não sabe. Desta feita
Pitágoras foi o primeiro a auto-intitular-se filósofo.

Assim duas conclusões se podem chegar da análise etimológica: a Filosofia é o amor ao


saber. Logo, o Filósofo é o amante, amigo, aquele que busca o saber, tal como diz K. JASPERS
“Filosofia é estar a caminho”. Assim, o filósofo não se contenta, não se conforma com o que
sabe, mas, o que sabe constitui-se apenas base para novos saberes. Tal como dizia o carismático
Sócrates “só sei que nada sei”, demostrando a humildade intelectual, valor em decadência nas
sociedades contemporâneas, onde a maioria diz-se saber tudo.

PARA REFLECTIR
1. Quais são os adjectivos que o mundo científico contemporâneo atribui a Filosofia?
2. Como é encarada a Filosofia no nosso quotidiano?
3. Apresenta três refutações que se pode fazer as duas anteriores respostas.
4. Como encaras tú, agora a filosofia depois desta pequena reflexão.
5. Que importancia pode ter para a sua formação profissional?
6. Como aplicaria a Filosofia no Exrcício da sua profissão?
7. Qual é a origem etimológica da palavra Filosofia?
8. Quais são as conclusões a que chegamos quanto ao significado etimológico da Filosofia?
9. Comenta filosoficamente as seguintes proposições: “filosofia é estar a caminho; só sei que nada sei”.

2
Diferente de problemas sistémicos.
1. 2. A origem da Filosofía (as primeiras manifestações do conhecimento)
Desde os primórdios o homem teve sempre a preocupação de indagar-se cada vez mais
sobre a géneses da sua existência e do universo, as constantes tentativas da procura de respostas
sobre a génese do mundo e da sua própria existência, sobre tudo da essência da vida, fez com
que o homem se preocupasse na busca incessante do porque das coisas, pese embora não
satisfatório, dentre as várias colocações e ilações, fruto da admiração pela totalidade do real
(que é a natureza), o homem chegou a razão que existe um princípio fundamental, que está na
base da existência do universo. Correntes às que têm como fundamento da criação por Deus
outros do surgimento espontâneo do universo até mesmo os que acreditam no evolucionismo.

Origem epistemológica da Filosofia (da Mitologia a Filosofia)

A mente humana é naturalmente inquiridora, quer conhecer as razões e as causas das


coisas. Basta nós observarmos como as crianças fazem inúmeras perguntas acerca do
surgimento das coisas, dos seus pais e de inúmeras coisas que o rodeiam. Mais as mesmas
perguntas podem ser dadas respostas que podem abarcar as diversas áreas do saber que podem
ser; respostas míticas, cientificas, religiosas e filosóficas.

Mais o que nos interessa realmente são as respostas míticas, tendo em conta que iremos
nos debruçar acerca do mito. As respostas míticas são explicações que podem contentar a
fantasia, embora não sejam verdadeiras (Modim, 1981). A mitologia é uma representação
fantasiosa, que constitui a consciência social dos primeiros estádios do pensamento humano
sobre os fenómenos da natureza e da vida social de um povo. A humanidade primitiva (pode
se verificar em quase todos os povos) se contentava com as explicações míticas para qualquer
problema que assolavam as inquietações humanas. EX: a pergunta porque há poucos peixes no
mar? Dizia-se que não se sacrificou as comidas para as sereias.

Em todo o percurso mitológico o mito exerceu três funções principais e fundamentais acerca
da realidade do pensamento humano em concatenação da natureza.
1. Função religiosa;
2. Função Social;
3. Função Filosófica; que consistia numa certa atitude de curiosidade para dar uma
explicação dos fenómenos da natureza e do cosmo (universo) (Lau, 2005). Esta de facto,
constitui o fundamento da génese espistemológica da filosofia.
Origem geográfica da Filosofia

Podemos dizer que as primeiras manifestações do pensamento racional pese embora um


pouco confusa parte do oriente propriamente da Índia, China e Egipto antigo, espaços estes
que na era da antiguidade foram consideradas principais. Como nos narras a história que muitos
precursores da Filosofia antiga ocidental tiveram suas primeiras lições no Oriente sobre tudo
no Egipto antigo onde estudavam diferentes saberes desde a astrologia, a aritmética, a medicina,
a agronomia rudimentar. Mas estes saberes eram sempre alicerçados na mitologia, enquanto
carácteristica fundamental do pensamento oriental.

A Filosofia, diferente do mito explica a realidade recorrendo ao uso da razão. Assim a


filosofia nos dá uma explicação racional, profunda, analítica e crítica da realidade e não se
conformando com explicação fantástica fabulosa e superficial da realidade.

De recordar que a filosofia como diz J. SOBRERO, na passagem da reflexão mitológica


para uma reflexão racional.

Este passo foi protagonizado, por TALES de MILETO filósofo grego nascido na Jónia
no (s. VI a.C). Que pela primeira vez utilizou o método racional- especulativo para indagar a
origem, constituição e o movimento do cosmo fundamentalmente dos astros em particular. Por
estas e outras razões a tradição filosófica atribui a Tales a paternidade da filosofia. Ou
seja, A Filosofia surge na Grécia, por volta do século VI A.C, «como tentativa de racionalizar
a interpretação do homem e do universo, das relações dos homens entre si e destes com a
natureza». Foi na Grécia onde se desenvolveu o pensamento científico dos Gregos, sobretudo
em Mileto, colónia Grega, na Ásia Menor (Actual Turquia): ela abarcava todo o tipo do saber
daquela altura (matemática, astronomia, retórica, etc.), assim, a Filosofia ficava conhecida
como Mãe de todas as ciências.

A Filosofia aí nasceu porque houve condições favoráveis como justificam as três razões:

 Era uma cidade marítima frequentada por muita gente conhecedora do saber daquele
tempo;
 A Grécia vivia em paz e tranquilidade, isto favoreceu a especulação racional;
 Os gregos tinham grande capacidade de observação e investigação.

Assim, quanto a origem local da filosofia, embora alguns autores divergirem quanto a este
assunto isto devido o património cultural de outras sociedades, mas a maioria dos autores são
unânimes na afirmação de que a filosofia enquanto conhecimento racional é da originalidade
grega.
PARA REFLECTIR

1. Quais são as duas perspectiva a ter em conta quando indagamos a origem da filosofia?
2. Qual é a origem epistemológica da filosofia?
3. Porque Tales é considerado pai da filosofia?
4. Qual é a real diferença entre filosofia e o mito?
5. Quais são as características essências do mito?
6. Quais as principais funções do mito nas civilizações antigas?
7. Quais são as características essências da filosofia enquanto conhecimento racional?
8. Porque razão se pode considerar Tales pai da filosofia?

1. 3. O objecto de estudo da filosofia


Chama-se objecto de estudo de uma ciência ao problema ou assunto de que procura
conhecer e descobrir. O objecto será aquilo que uma ciência se dedica a investigar. E todo o
saber alcança a categoria de ciência quando começa a reivindicar a sua autonomia, a partir do
momento em que se veja diante do seu objecto.

É precisamente a que onde consta o problema do diálogo das ciências particulares com a
filosofia. Porque muitos cientistas contemporâneos questionam “o que estuda a filosofia
realmente”, tal como já dissemos anteriormente.

Falar do objecto de estudo da filosofia não é tão simples assim tal como falamos por
exemplos do objecto das ciências particulares (Psicologia, Direito, Economia, Sociologia,
Antropologia, Medicina, Biologia, Geografia, História, Moral e outras ciências).

Deste modo, o que é que estuda a Filosofia? O objecto de estudo da Filosofia é a


«totalidade das coisas do universo»; estuda tudo. Para perceber esta caracterização será
importante prestar atenção aos vários problemas estudados pela Filosofia desde a Grécia antiga
até aos nossos dias. Por isso, é também importante compreender os vários períodos de
desenvolvimento da Filosofia, as suas teorias ou os seus sistemas e problemas para entender tal
totalidade.

O obejeto de estudo da Filosofia é a “totalidade do real” conforme diz KARL MARX.


A filosofia estuda todas as coisas que existem no universo. A filosofia estuda tudo, conforme
afirma SÓCRATES, que a filosofia é uma descrição sintética da natureza e do Universo.
PARA REFLECTIR

1. Porque que o objecto de estudo da filosofia constitui um dos elementos de


discrepância da filosofia e as ciências particulares?
2. Qual é a diferença do objecto de estudo da filosofia e das ciências particulares?
3. Qual é a diferença do ser e as suas partes?
4. Qual é o objecto material e formal da filosofia?
5. Que relação podemos establcer entre a visão holistica do enhengeiro militar e o
objcto de estudo da filosofia?

1.3.1. Objectivos da Filosofia (Funções)


Todas as ciências em função da sua preponderância, tem determinado objectivos que
constituem assim a sua finalidade. A finalidade consiste em saber o que se pretende, enquanto
um modelo aberto que é a ciência.

Qualquer estudo feito sobre um problema prende-se a certos objectivos. A Filosofia,


desde que começou o seu estudo, sempre esteve vinculada as seguintes finalidades:

 Obtençao do conhecimento pelo conhecimento, permitindo deste modo a elaboração


de uma cosmovisão (visão geral do mundo);
 Estimular a pesquisa, quer seja científica quer seja especulativa (a sua excelência
pedagógica);
 Promover a cultura da humanidade;
 Elevar os sensos motivacionais da pesquisa, para indagar, se aprofundar, na pesquisa
científica, bem como, na pesquisa especulativa (teoria);
 Promover a cultura Axiológica e a dignidade do homem pelo homem (humanismo);

Reflectir em torno da acção do homem no cosmo e as possiveis consequencias para o homem


e para o cosmo.

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